PRECONCEITO RACIAL NO COTIDIANO ESCOLAR Resumo · aprendizagem e de socialização entre alunos...

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PRECONCEITO RACIAL NO COTIDIANO ESCOLAR

Autora: Célia Regina Colotário Lima1

Orientadora: Profª Drª Janete Leiko Tanno2

Resumo

O presente trabalho, com o título "Preconceito racial no cotidiano escolar”, tem por preocupação abordar alguns aspectos da história da cultura afro­brasileira e africana para possibilitar ao aluno conhecer a diversidade e a complexidade do continente Africano  e  as  marcantes  contribuições  dessa  população  na  formação da  cultura brasileira,   além   de   promover   uma   reflexão   sobre   as   questões   relacionadas   ao preconceito   racial.   Nesse   sentido,   a   percepção   de   algumas   dificuldades   de aprendizagem e de socialização entre alunos descendentes de diversas etnias no Colégio   Estadual   Margarida   Franklin   Gonçalves,   local   de   aplicação   do   projeto, apontou a necessidade de conhecimento da cultura afro­brasileira e a reflexão sobre preconceito racial e discriminação entre os alunos a fim de amenizar tais situações, além de promover a autoafirmação étnica dos afro­brasileiros (re) construindo sua identidade   e   elevando   sua   autoestima.   Dentro   do   contexto   ora   apresentado,   a questão que norteou este estudo foi a aplicação de ações que podem combater o preconceito racial no espaço escolar.

Palavras­chave: Preconceito racial; Escola; Cultura africana e afro­brasileira.

1 Introdução

Como uma das ações do PDE, este artigo traz os resultados das reflexões 

sobre o preconceito racial existente nas relações sociais estabelecidas no ambiente 

escolar, obtidos a partir da implementação ocorrida no segundo semestre de 2011, 

1 Pós­graduação em História; graduação em Estudos Sociais; atua no Col.Est.do Campo Margarida Franklin Gonçalves.2Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná –CCHE/Jacarezinho.                     

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com alunos da 8ª série do ensino Fundamental, do Colégio Estadual do Campo Profª 

Margarida Franklin Gonçalves. 

É  comum na prática escolar da disciplina de História não trabalharmos a 

diversidade cultural advinda da África, sendo assim, as atividades planejadas a partir 

de uma unidade didática, como uma das fases do Programa de Desenvolvimento 

Educacional   (PDE),   discutindo   questões   relacionadas   a   História   e   cultura   afro­

brasileira  e  o  preconceito   racial,   justificam esse artigo  e   também o  fato  de  que 

enquanto   professora   observou­se   algumas   dificuldades   de   aprendizagem   e   de 

socialização entre alunos na escola advindas das discriminações existentes entre 

crianças negras e brancas.

Nesse sentido, o conhecimento da cultura afro­brasileira e a reflexão sobre 

preconceito   racial   e   discriminação   entre   os   alunos   pretendem   amenizar   tais 

situações,   além   de   promover   a   auto­afirmação   étnica   dos   afro­brasileiros   (re) 

construindo   sua   identidade   e   elevando   sua   autoestima.   Dentro   desse   contexto 

apresentado, a questão que norteia este estudo é conhecer quais são os tipos de 

ações que podem combater o preconceito   racial  no Colégio Estadual  do Campo 

Profª Margarida Franklin Gonçalves.

Desta forma, objetivou­se proporcionar aos alunos da 8ª série uma reflexão 

da história da cultura africana e afro­brasileira, para aquisição de conhecimentos e 

articulação   dos   conteúdos   com   o   preconceito   racial   que   vivenciam   na   escola, 

observando as diferenças e preconceitos existentes no espaço escolar e lutar pela 

construção de uma sociedade mais democrática, respeitando a diversidade cultural 

e suas expressões em todos os espaços sociais.

É comum na sociedade, deparar­se com conflitos de caráter étnico racial, 

não   sendo   diferente   no   interior   da   escola,   onde   se   excluem   e   desconsideram 

sujeitos em decorrência da aparência, raça, cor, sexo, etc. Dessa forma sustenta­se 

o preconceito e a discriminação no cotidiano escolar. Esse fato reflete nos aspectos 

psicológicos e cognitivos dos alunos que ainda estão em processo de formação, 

assim contribuindo para o aumento dos índices de atraso e evasão escolar.

O trabalho foi realizado com base em teóricos que analisam temas como o 

preconceito   racial   e   a   discriminação,   como   Cavalleiro   (2001);  Gomes   (2005); 

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Munanga (2005); Sant'Ana (2005), bem como nas legislações brasileiras que tratam 

sobre as mesmas questões como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as 

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico­Raciais e 

para o Ensino de História e Cultura Afro­Brasileira e Africana (2004).

Utilizou­se,   também   da   pesquisa   em   ação   na   qual   aplicou­se   diversas 

atividades no decorrer de cinco meses no ano letivo de 2011 para alunos da 8ª série 

no colégio de implementação que tiveram por objetivos: mostrar a importância de 

combater o preconceito racial no espaço escolar; conhecer determinados  conceitos 

para aprender a valorizar os contrastes e diferenças entre as pessoas; melhorar o 

relacionamento entre os alunos e elevar a autoestima das crianças negras; favorecer 

a identificação de alunos com raiz afro­descendente; valorizar a cultura negra como 

forma de amenizar as situações de preconceito, racismo e discriminação em sala de 

aula; compreender as representações de estigma, discriminação e estereótipo, a fim 

de superar as ações geradas pelo preconceito; desmistificar a visão estereotipada 

do negro,  para  que ele  deixe  de  ser  o  diferente;  contribuir  para  a  formação da 

identidade e para a cidadania de negros e não negros; melhorar o relacionamento 

entre os alunos, bem como promover a reflexão e a compreensão acerca da história 

do povo brasileiro.

A partir das ações desenvolvidas foi possível trabalhar com os alunos sobre 

a problemática da existência do racismo nas relações sociais dentro da escola e 

ainda a prevenção como uma forma de diminuir, amenizar ou mesmo eliminar as 

situações de preconceito, racismo e discriminação no espaço escolar. Considerou­

se   importante   a   aquisição   de   conhecimentos   sobre   o   negro   e   sua   história, 

possibilitando,  por  meio do  reconhecimento da história  da  trajetória  do negro no 

Brasil, o desenvolvimento de ações de respeito e tolerância. 

Ao   final   da   implementação   do   projeto,   evidenciou­se   o   aumento   da 

autoestima de alunos negros e afrodescendentes bem como maior  respeito pela 

diversidade e o valor da cultura negra. A unidade didática possibilitou uma abertura 

para a escola trabalhar o tema do preconceito racial e, acrescentou mais um tijolinho 

na construção da cidadania. Proporcionou aos alunos o reconhecimento de que é 

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possível viver e conviver com costumes e modos de vidas diferentes, num espaço 

de respeito mútuo. 

 Sendo assim, este trabalho, em última instância, pretende proporcionar aos 

profissionais da educação e principalmente aos alunos  fazer uma reflexão sobre as 

atitudes   de   preconceito   presente   no   seu   cotidiano,   que   às   vezes   passam 

despercebidas e causam marcas indeléveis no desenvolvimento afetivo, cognitivo e 

emocional de quem a sofre.

2 Preconceito e Racismo: Discriminação Racial

No   Brasil,   a   discriminação   racial   é   reconhecida   pela   Constituição 

Federal/1988 (CF) e pune severamente o crime de racismo, entretanto, observa­se 

que a prática de atitudes preconceituosas,  nem sempre consegue ser  inibida. O 

problema na sociedade brasileira  não é  a   falta  de   leis,  mas sim a   falta  da  sua 

aplicabilidade.

A Constituição Federal nos seus artigos 5º,  inciso l  do art.  210, Art.  206, 

inciso l do Art. 242, Art. 215 e art. 216, bem como nos Art. 26 A e 79 B dispostos na 

LDB   n.   9.394/96   asseguram   o   direito   à   igualdade   de   condições   de   vida   e   de 

cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a 

nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a 

todos os brasileiros (BRASIL, 2011b). 

Sendo assim, estes dispositivos legais são utilizados para fundamentar as 

reflexões sobre o racismo e preconceito nas escolas da rede pública e privada no 

país, bem como no empenho da valorização da História e cultura dos afro­brasileiros 

e africanos, além do comprometimento com a educação étnico­raciais em que todos, 

igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.

Consoante   a   esses   dispositivos   elencados,   tem­se   como   forma   de 

orientação  e  parâmetros  para  ser   trabalhado  nas escolas  brasileiras  o  que  está 

disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como tema transversal, isto 

é,   a   Pluralidade   Cultural   que   traz   que   essa   temática   está   relacionada   "ao 

conhecimento e à  valorização de características étnicas e culturais dos diferentes 

grupos sociais [...], às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais 

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discriminatórias   e   excludentes",   que   estão   presentes   na   sociedade   brasileira, 

"oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, 

multifacetado e algumas vezes paradoxal" (BRASIL, 1997, p. 121).

Todavia, o legislado na Constituição Federal/88, na LDB n. 9.394/96 e as 

orientações   dadas   pelos   PCN/97,   não   foram   suficientes   para   que   a   escola 

trabalhasse e minimizasse os problemas relacionados com o racismo e preconceito 

racial existente no contexto escolar.

Entendendo­se que a escola tem um papel fundamental, enquanto espaço 

onde se  dá  a  convivência  entre  alunos   "de  diferentes  origens,  com costumes  e 

dogmas religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo 

diversas daquela que compartilha em família" (PCN, 1997, p. 123), cabe a análise da 

presença do passado no presente e das identidades nesta convivência.

Como   local   onde   as   regras   sociais   são   ensinadas,   a   escola   deve 

desenvolver o convívio democrático com a diferença e, também, ao apresentar aos 

alunos   os   conhecimentos   sistematizados   sobre   o   país   e   o   mundo,   possibilitar 

discussões e reflexões sobre a realidade plural  de um país como o Brasil  (PCN, 

1997).

Neste  aspecto,  Gomes   (2005,   p.   154)   explica  que  a  escola   sendo  uma 

instituição   que   tem   o   papel   de   atuar   junto   à   formação   humana,   incluindo­se   a 

diversidade   étnico­racial,   não   deve   ficar   alheia   e   nem   enfatizando   somente   o 

conhecimento conteudista "esquecendo de que o humano não se constitui apenas 

de   intelecto,  mas   também de  diferenças,   identidades,  emoções,   representações, 

valores, títulos". Sendo assim, a autora diz que entende "o processo educacional de 

uma maneira  mais  ampla  e  profunda"  acreditando que  é  possível  um avanço  e 

trabalho competente, por parte dos professores, "em relação à diversidade étnico­

racial" (GOMES, 2005, p. 154).

A autora citada enfatiza a importância do papel social da escola, alertando 

que a mesma não deve priorizar somente o aprendizado de conteúdos, mas antes 

disto e com isto atender aos aspectos das diferenças entre as pessoas, na verdade, 

de atender ao sujeito como ser total.

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Ainda que se compreenda o papel da escola e as legislações, somente a 

partir do ano 2003, com os ajustes na LDB n. 9.394/96, advindos da implantação da 

História da África e Cultura Afro­Brasileira, através da lei 10.639/03, que estabelece 

a obrigatoriedade nos currículos escolares em toda a rede de ensino pública ou 

privada  e  das  Diretrizes  Curriculares  Nacionais   para  a  Educação  das  Relações 

Étnico­Raciais   e   para   o   Ensino   de   História   e   Cultura   Afro­Brasileira   e   Africana 

(DCN),   aprovada   em   10/3/2004,   é   que   a   escola   focalizou   o   tema   racismo   e 

preconceito racial.

Foi nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN, 1998) que se intensificou a 

decisão política,  que acabou abrangendo,   inclusive,  a   formação dos professores 

quanto à inclusão de História e cultura afro­brasileira e africana, em que reconhece a 

importância da valorização da história e cultura do povo negro. 

Partindo desse contexto é que as Diretrizes Curriculares  Nacionais para a 

Educação das Relações Étnico­Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro­

Brasileira   e   Africana   trata   das   políticas   de   reparações,   de   reconhecimento   e 

valorização, de ações afirmativas em “que o Estado e a sociedade tomem medidas 

para   ressarcir   os   descendentes   de   africanos   negros,   dos   danos   psicológicos, 

materiais,  sociais,  políticos  e  educacionais  sofridos  sob o   regime escravista   [...]” 

(BRASIL, 2004, p. 3).

Neste   sentido,   as   DCN   (1998)   indicam   que   estudar   o   povo   negro,   não 

significa a restrição a ela apenas, "ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros, 

uma   vez   que   devem   educar­se   enquanto   cidadãos   atuantes   no   seio   de   uma 

sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática" 

(BRASIL, 1998, p. 17).

Indica­se,   pois   que   não   adianta   somente  manter   vagas   para   negros   na 

escola, mas a atenção das políticas públicas na educação seja de abertura de vagas 

vinculada a permanência deles na escola e o respeito aos direitos destes enquanto 

pessoa humana deve, também, estar inseridos no trabalho escolar.

Possivelmente, com a  inserção destas  legislações na educação brasileira 

priorizou­se o tema racismo e preconceito racial nas escolas, pois compreende­se 

que "o silêncio que atravessa os conflitos étnicos na sociedade é  o mesmo que 

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sustenta o preconceito e a discriminação no interior da escola" (CAVALLEIRO, 2001, 

p. 98). 

No   entanto,   promover   políticas   públicas   na   área   da   educação   requer 

"medidas de  ampliação do acesso e  melhoria  da  qualidade do atendimento  aos 

grupos historicamente discriminados – negros, indígenas, mulheres, homossexuais, 

entre   outros".   Analogamente,   as   ações   de   respeito   à   diversidade   e   combate   à 

discriminação devem fazer parte da formação acadêmica, já que fica evidenciada o 

não   respeito   à   diversidade   e   "tampouco   contemplado   o   debate   dos   temas" 

(PARANÁ, 2009, p. 262). 

Neste  sentido,  é  preciso   implantar  ações,  na  prática,  objetivando  romper 

atitudes racistas na escola e criar um espaço escolar de cooperação, onde todos 

possam sentir­se iguais, tendo os mesmos direitos. Para criar estratégias educativas 

e pedagógicas com critério igualitário, reconhecendo, valorizando e respeitando o 

outro,   é   preciso   e   urgente,   então,   a   abordagem   desses   temas   nos   cursos   de 

formação inicial e continuada de professores. 

Entretanto, Munanga (2005, p. 17) registra que é necessário muito mais que 

leis,  formação e conhecimento para que se trate do tema preconceito e racismo, 

explicando que "não existem  leis  no mundo que sejam capazes de erradicar  as 

atitudes   preconceituosas   existentes   nas   cabeças   das   pessoas,   atitudes   essas 

provenientes dos sistemas culturais de todas as sociedades humanas".

 Neste sentido, Munanga (2005) lembra que a escola é capaz, através de 

seu papel social e não só como transmissora de conteúdos, de provocar reflexões 

em seu   interior  com as atividades no  cotidiano  sem que se  espere  que as   leis 

aconteçam para acabar com atitudes preconceituosas.

Castro  (2005  apud  PARANÁ,   2009,   p.   32),   aborda   a   importância   dos 

professores serem estimulados ao exercício e conhecimento de uma educação para 

a cidadania e o respeito às diferenças,   já  que o papel  destes profissionais é  de 

extrema importância no contexto escolar, dizendo que é  necessário "estimular os 

professores para estarem alertas, para o exercício de uma educação por cidadanias 

e  diversidade  em cada contato,  na  sala  de  aula  ou   fora  dela,  em uma brigada 

vigilante anti­racista", confirmando ações de respeito aos "direitos das crianças e 

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jovens, tanto em ser, como em vir a ser; não permitindo a reprodução de piadas que 

estigmatizam [...]. O racismo, [...] que temos em nós se manifesta de forma sutil; não 

é necessariamente intencional e percebido".

Sendo assim, cada pessoa,  enquanto professor    tem suas concepções e 

práticas de acordo com a vivência pessoal,   familiar  e cultural    e que se não for 

trabalhada podem interferir no trato com os alunos no cotidiano da escola, da sala 

de aula e por esta razão se tem a necessidade de estimular os professores (as) para 

o exercício da cidadania.

Dadas tais questões é preciso que se entenda o significado (conceituação) 

de preconceito existente na sociedade que se reflete no contexto escolar e que, pela 

vivência profissional da pesquisadora, se revela no dia a dia da escola, seja em sala 

de aula como em outros espaços escolares, quando se compreende que preconceito 

"é uma opinião preestabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele 

regula  as   relações de uma pessoa com a  sociedade",  de  acordo com Sant'Ana 

(2005, p. 62). 

De   qualquer   modo,   o   conceito   de   preconceito   se   refere   a   estigmas   e 

estereótipos   julgados  previamente  de   forma negativa  que  as  pessoas   fazem do 

outro.

Depois de conhecer o significado de preconceito, é   importante esclarecer 

que neste trabalho faz­se uma abordagem específica ao preconceito racial, que de 

acordo com Valente (apud  LOPES, 2005, p. 188) quer dizer "ideia preconcebida, 

suspeita  de  intolerância e aversão de uma raça em relação a outra,  sem razão 

objetiva ou refletida [...]. Discriminação racial é atitude ou ação de distinguir [...]."

Isto indica que o preconceito é sempre uma atitude de alguém para com o 

outro,  ou para com grupos de pessoas, é  sempre negativa e de desvalorização, 

considerando   a   pessoa   ou   grupo   "indigno   de   convivência   no   mesmo   espaço, 

excluído moralmente", conforme indica Lopes (2005, p. 188).

No material de Gênero e Diversidade na escola há a seguinte explicação de 

racismo: 

   "[...] doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a superioridade natural  e,  portanto,  hereditária,  de umas sobre as outras. A atitude racista, por sua vez, é aquela que atribui qualidades 

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aos   indivíduos   ou   grupos   conforme   o   seu   suposto   pertencimento biológico a algumas das diferentes raças e, portanto, conforme as suas supostas qualidades ou defeitos inatos e hereditários. Assim, o racismo não é  apenas  uma  reação ao  outro,  mas uma  forma de subordinação do outro”. (PARANÁ, 2009, p. 35).

E sendo forma de subordinação do outro, a discriminação racial e o racismo, 

enquanto  conduta  e  doutrina  violam os direitos  da  pessoa,  e  é  condenada pela 

Constituição   Federal/88   e   tratado   também   na  Convenção   da   ONU   sobre   a 

Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial que em seu artigo 1º, define 

discriminação  racial   como  "qualquer  distinção,  exclusão,   restrição ou  preferência 

baseados em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha por 

objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou o exercício [...]" 

assinalando, também, que seja "em condições de igualdade, dos direitos humanos e 

liberdades  fundamentais  no  domínio  político,  econômico,  social  e  cultural  ou em 

qualquer outro domínio da vida pública". (BRASIL, 2011, p. 1).

De todo modo, é  necessário e urgente que se valorize a diversidade e a 

memória coletiva nacional, seja na sociedade e no contexto escolar, para que cada 

cidadão reconheça o seu valor na construção da identidade nacional, independente 

da cor da pele e, que todos comprometidos com a educação de negros e brancos, 

venham   relacionar­se   com   respeito,   sendo   capazes   de   corrigir   atitudes   de 

desrespeito e discriminação (DCN, 1998). 

Sobre a construção da identidade e da memória coletiva nacional, voltada 

para   a   população   negra,   Munanga   (2005,   p.   16)   expressa   que   "o   resgate   da 

memória   coletiva  e  da  história  da  comunidade  negra  não   interessa  apenas  aos 

alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências 

étnicas, principalmente branca", já que não cabe somente a ela, mas inclusive aos 

brancos que acabaram por ser afetados, tanto uma quanto a outra, por preconceitos 

na memória cultural dos povos.

Daí dizer que essa memória coletiva "pertence a todos, tendo em vista que a 

cultura da qual nos alimentamos, [...] é fruto de todos os segmentos étnicos [...] que, 

contribuíram   [...]   na   formação   da   riqueza   econômica   e   social   e   da   identidade 

nacional” (MUNANGA, 2005, p.16). 

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No entanto, ainda que se queira resgatar a memória coletiva e a história da 

comunidade negra,  observa­se que a população negra é  menor  que a branca e 

geralmente pobre e indigente, o que marca o preconceito racial enraizado na cultura 

brasileira, que é explicitado por Henriques (2003 apud PARANÁ, 2009, p. 225): 

   [...] os negros, em 1999, representavam 45% da população brasileira, mas 64% da população pobre e 69% da população indigente. Os brancos, por sua vez, correspondiam a 54% da população total, mas somente 36% dos pobres e 31% dos  indigentes.  Ocorre  que dos 53 milhões de brasileiros pobres, 19 milhões são brancos, 30,1 milhões, pardos e 3,6 milhões, pretos. Entre os 22 milhões de indigentes temos 6,8 brancos, 13,6 pardos e 1,5 pretos.

 Estes dados indicam as desigualdades sociais e a discriminação racial da 

população negra e pobre no Brasil e que incide no preconceito racial na sociedade 

brasileira,  que  também está   relacionado aos conceitos dados na escola,  durante 

muito tempo, através dos livros e materiais didáticos e, inclusive, das atitudes dos 

professores  e  outros  profissionais   que  atuam no  contexto  escolar,   situação  que 

Munanga   (2005,   p.   16)   afirma   dizendo   que   "não   precisamos   ser   profetas   para 

compreender que o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade 

em lidar profissionalmente com a diversidade,  [...]  desestimulam o aluno negro e 

prejudicam seu aprendizado". Estas, entre outras situações do cotidiano escolar são 

pontuadas   pela   autora   como   sendo   a   causa   "de   repetência   e   evasão   escolar 

altamente  elevado  do  alunado  negro,   comparativamente  ao  do  alunado  branco" 

(MUNANGA, 2005, p. 16).

Este é um indicativo do quanto a escola precisa refletir sobre as experiências 

vivenciadas por negros no contexto escolar que reforçam as imagens estereotipadas 

e   preconceituosas   nos   alunos   e   do   quantos   estes   contribuem   para   o   fracasso 

escolar. 

Finalmente, espera­se que os alunos vençam os preconceitos, estereótipos 

e estigmas, garantindo­lhes uma sociedade mais  justa, mais democrática e mais 

igualitária e que venha transformar a estrutura do espaço escolar em local melhor 

para a convivência de todos. Nesse sentido, Hasenbalg (2003, p. 98), cita sobre "a 

importância   e   a   urgência   em   se   erradicar   todas   as   formas   de   discriminação, 

11

baseadas   em   gênero,   raça,   cor,   etnia,   idade,   nacionalidade,   religião   e   demais 

critérios".

Acredita­se   que   para   a   garantia   dos   "direitos   civis,   políticos,   sociais, 

econômicos e culturais, ou seja, para se assegurar o pleno exercício da cidadania, 

próprio dos regimes democráticos de direito", é prioritário e essencial que se elimine 

todas as formas de discriminação.

O conhecimento é  direito de todos e um instrumento fundamental para a 

conquista   da   cidadania,   e   a   escola   representa   um   espaço   privilegiado   para 

providenciar   meios   de   inserir   oportunidades,   de   ampliar   seus   conhecimentos   e 

ajudar a formação da identidade étnico­cultural dos alunos negros e não negros.

O essencial é que se faça conhecer o que determina as leis e aprendam a 

conviver   com   elas   num   espaço   democrático   de   respeito   e   não   somente   de 

obrigação.

A despreocupação com a questão da convivência entre várias culturas e 

etnias,   quer   na   família,   quer   na   escola,   pode   colaborar   para   a   formação   de 

indivíduos preconceituosos e discriminadores. 

No espaço escolar há toda uma linguagem não verbal expressa por meio de 

comportamentos sociais e disposições; formas de tratamento, atitudes, gestos, tons 

de   voz   e   outras   que   transmite   valores   marcadamente   preconceituosos   e 

discriminatórios, comprometendo, assim, o conhecimento a respeito do grupo negro.

Menezes (2002, p. 79), evidencia o fato da necessidade de reeducação para 

que a sociedade possa refletir  sobre as opressões racistas, o que confirma Silva 

(2005,   p.   26)   quando   explica   que   vários   professores   ainda   representam   baixa 

expectativa   relacionada  aos  alunos  negros  e  de  classes  populares.   "As  origens 

dessa baixa expectativa podem estar na internalização da representação do negro 

como   pouco   inteligente,   'burro',   nos   meios   de   comunicação   e   materiais 

pedagógicos".

Confirmando as evidências que Munanga (2005)   faz sobre os problemas 

existentes  na escola,   também em relação às atitudes dos professores é  que se 

evidencia   na   abordagem   feita   por   Silva   (2005)   que   considera   o   desinteresse, 

12

repetência   e   evasão   escolar   com   base   no   que   a   cultura   disseminou   e,   ainda 

dissemina, com relação aos negros sobre a capacidade intelectual dessa população. 

Ao se achar igualitária, livre do preconceito e da discriminação, a escola tem 

perpetuado   desigualdades   de   tratamento   e   minado   efetivas   oportunidades 

igualitárias   a   todas   as   crianças   e,   que   segundo   Cavalleiro   (2005,   p.   59)   está 

pontuada nas agressões verbais e físicas emanadas aos afro­brasileiros no contexto 

escolar que não são levados como importantes e sérios, o que o autor indica "que 

uma parcela significativa da sociedade subestima a relevância social, moral e ética 

dos procedimentos antissociais, não raciocinando as conseqüências localizadas e 

amplas de tais fatos".

Com base no referencial teórico adotado, a linguagem verbal e não verbal 

usada   na   escola   é   impregnada   de   preconceitos,   resultando   em   atos,   atitudes 

discriminatórias e ofensas raciais, fortalecendo cada vez mais o racismo.

Gomes (2005, p. 143­146) ao discutir sobre o documentário intitulado Olhos 

Azuis3 considera necessário que seja trabalhado na escola a questão do preconceito 

racial. Entretanto, a autora alerta para os cuidados que é preciso ter ao tratar do 

assunto   e   indica   que   para   que   a   escola   avance   em   relação   aos   problemas 

relacionados entre conteúdos (saberes escolares) e a realidade social "é preciso que 

os   (as)   educadores   (as)   compreendam   que   o   processo   educacional   também   é 

formado por dimensões como a ética, as diferentes  identidades, a diversidade, a 

sexualidade, a cultura, as relações raciais, entre outras".

Nesse   contexto,   a   escola   deveria   ser   então   um   lugar   que   mostre   os 

caminhos, amplie horizontes, que possibilite aos alunos aquisição do conhecimento 

de   que   necessitam   para   viverem   como   cidadãos   plenamente   reconhecidos   e 

conscientes de seu papel na sociedade, tendo em vista objetivos comuns, visando a 

uma   sociedade   mais   justa   e   igualitária,   ao   invés   de   contribuir   para   perpetuar 

situações discriminatórias e excludentes com consequências desastrosas tanto para 

a autoestima quanto para o aproveitamento escolar dos alunos.

3 Esse documentário relata a experiência da Sra. Jane Eliot, professora e psicóloga branca nos EUA, que  organiza   e   desenvolve   um  workshop  com pessoas   de  diferentes  grupos  étnico/raciais  para discutir sobre o racismo e seus desdobramentos. (GOMES, 2005, p.143).

13

3 Ações e Resultados do Projeto de Implementação

A proposta a partir da unidade didática iniciou­se com a apresentação do 

projeto aos alunos. O ponto inicial para a discussão da temática foi a análise de 

imagens   de   pessoas   brancas   e   negras.   Os   alunos   discutiram   as   imagens   e 

relataram o que pensavam da frase de Gilberto Freyre: “Todo brasileiro mesmo o 

alvo, de cabelo loiro traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a 

pinta, do indígena ou do negro”. (FREYRE, 2000, p. 343).

Nessa atividade,  os  alunos dispuseram­se em círculo,  sentados no chão 

observaram e   analisaram as  imagens,  dando a sua opinião,    um de cada vez, 

falando e ouvindo. Nesse primeiro momento os alunos estavam retraídos e tímidos 

ao darem sua opinião em público. Pôde­se observar que se sentiram sensibilizados 

ao serem despertados para essa atividade, passando a reconhecer o processo de 

desvalorização da imagem do negro e a idealização e a compreensão do mundo dos 

brancos. Muitos alunos presentes no grupo com características afrodescendentes 

negligenciavam os seus valores referentes às raízes africanas.

Na sequência, em outra aula, no dia 11 de agosto de 2011, realizou­se com 

o  grupo de alunos,  um  levantamento  prévio  sobre  os  seguintes  conceitos:   raça, 

preconceito, discriminação e estereótipo. Esta atividade teve como propósito inicial 

observar   o   conhecimento   que   os   alunos   possuíam   destes   conceitos   e   seus 

respectivos   significados.   Pôde­se   observar   que   eles   tiveram   dificuldades   de 

expressarem­se de forma oral e escrita os conceitos relacionados à questão racial e 

não   manifestaram   nenhuma   atitude   de   repúdio   às   práticas   preconceituosas. 

Portanto, o desafio maior da unidade foi no decorrer deste trabalho, despertar nos 

alunos   a   necessidade   de   mudança   de   conduta   em   relação   ao   preconceito   e 

discriminação, estimulando­os a convivência e a aceitação em relação às diferenças 

étnico­raciais.

No terceiro encontro, em 18 de agosto de 2011, apresentou­se um texto da 

Revista   Vida   Simples,   escrito   por   Bernardo   Ramirez   (2010),   com   o   título 

“Preconceito, eu?”, em que o escritor aborda o fato das pessoas não reconhecerem 

o preconceito, ou seja, que ninguém admite ser preconceituoso.

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Nesse dia,   também aconteceu a exibição do vídeo TV pendrive, sobre o 

clássico da  literatura nacional  “Menina bonita do  laço de fita”,  de autoria de Ana 

Maria Machado (2000), que trata do respeito às próprias diferenças e as do outro.

O preconceito camuflado, conforme revelam as pesquisas indicadas no texto 

de Ramirez (2010) traz a reflexão da importância de se pensar sobre o que cada 

pessoa considera sobre o outro, enquanto que Machado (2000) revela o respeito a si 

próprio e a aceitação de sua cor ao falar do negro e do branco.O objetivo desta 

atividade foi a sensibilização para o tema, a partir da leitura e a observação das 

cenas do vídeo. A história possibilitou apresentar aos alunos o valor da diversidade 

étnico­cultural e contribuir para promover a igualdade racial a partir da raça negra, 

favorecendo a  identificação dos alunos negros com a sua raiz cultural  africana e 

também elevar a sua autoestima. 

Procurou­se enfatizar a luta pela democratização e que a sala de aula deve 

ser   um   encontro   da   diversidade,   do   respeito   às   diferenças   culturais,   religiosas, 

raciais e outras. Um espaço que garante a igualdade racial no sistema de ensino. 

Foi   observado   que   os   alunos   reconheceram   a   importância   da   construção   da 

identidade étnica. Eles também perceberam o valor da diversidade a partir da raça 

negra. Ao término da aula montaram cartazes com frases que valorizam o negro e, 

transmitem ideias que combatem o preconceito racial e a discriminação, como as 

seguintes:

“Diga não ao preconceito”;

“Eu sou branco, você é negro e vivemos juntos”;

“Preconceito racial você pensou nisso?”;

“Viver em paz: brancos e negros...racismo nunca mais”.

 No quarto momento, em 25 de agosto de 2011, para iniciar a aula foi feita a 

leitura de um texto veiculado na internet4  e divulgado por Gilmar Lopes (2010) de 

uma   situação,   que   aconteceu   dentro   de   uma   aeronave   da   empresa   TAM,   de 

preconceito   racial.   Todos   receberam   uma   cópia   do   texto,   leram,   refletiram   e 

trocaram ideias sobre atitudes discriminatórias e as consequências desastrosas que 

o racismo causa no indivíduo, interferindo nos sentimentos e emoções. 

4Disponível em: http://www.e­farsas.com/preconceito­em­um­voo­da­tam­termina­com­final­feliz.html

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Neste dia também foi feito o estudo acerca da Lei Federal 10.639/03, que 

obriga o ensino da história e cultura africanas e afro­brasileiras, considerando que é 

preciso conhecer para respeitar. 

Foi   discutida   também a  Constituição  Federal  de  1988,   a   lei  máxima  no 

Brasil, que afirma que somos iguais perante a lei, não sendo admitidos preconceitos 

de origem de raça, sexo e cor, idade, ou quaisquer outras formas de discriminação. 

Estas atividades de conhecimento sobre as legislações permitem que elas 

façam parte do cotidiano escolar e social do aluno. É fundamental que os alunos 

conheçam e discutam as medidas legais antirracistas no combate ao racismo e a 

discriminação, para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária. 

Ao estudarem de forma analítica o Art. 5 da Constituição Federal de 1988, 

que   determina   a   prática   do   racismo   como   crime   inafiançável   e   imprescritível, 

observou­se que os alunos ficaram assustados ao tomarem conhecimento das leis 

que regem a nossa sociedade. Reconheceram a dimensão, o peso e a importância 

das normas constitucionais e, que devem ser cumpridas e respeitadas. 

Assim que concluíram este trabalho, os alunos apresentaram em sala de 

aula aos demais colegas do ensino fundamental (5° ao 9°ano) o que aprenderam 

em relação às leis e de que maneira estas podem colaborar nas transformações 

sociais,   políticas   e   educativas.   Os   alunos,   de   modo   geral,   demonstraram 

conhecimento, entusiasmo e confiança durante a apresentação. 

Entre 01 e 08 de setembro de 2011, fez­se a apresentação das imagens da 

reportagem: Preconceito, eu? de Ramirez (2010) que foram salvas no pendrive e 

mostradas na TV da sala de aula. Cada imagem trazia uma frase que foi discutida 

com os alunos conforme pode se observar nas figuras 1 e 2, abaixo:

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Figura 1:  Quando o assunto é preconceito, sempre achamos que o problema está no outro.Foto: Marcelo ZocchioFonte:http://mdemulher.abril.com.br/bem­estar/reportagem/auto­ajuda/preconceito­eu­609350.shtml

Figura 2: Somos imperfeitos, mas é importante conhecer nossos preconceitos mais velados para poder combatê­los.Foto: Marcelo ZocchioFonte:http://mdemulher.abril.com.br/bem­estar/reportagem/auto­ajuda/preconceito­eu­609350.shtml

Com essas imagens os alunos observaram as diferenças entre as frutas na 

figura 1 e discutiram a frase concluindo que cada pessoa observa a  imagem de 

acordo com sua própria interpretação que segue a visão que eles têm do mundo e 

das pessoas. Disseram que muitas vezes aconteceu de terem tido atitudes e falas 

preconceituosas sem terem se dado conta disso.

Na   figura   2   observaram   a   imagem   dizendo   que   as   diferenças   podem 

conviver bem e que os homens também deveriam perceber que não é   tão difícil 

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conviver com as diferenças.  Tomando a  frase como verdadeira,   refletiram que o 

homem precisa pensar melhor nos seus atos e falas.

Por meio dessas atividades os alunos puderam reconhecer que todas as 

pessoas  têm um tipo de preconceito  camuflado e que é  preciso combater  estas 

atitudes de preconceito e discriminação. Mesmo tendo costumes e modos de vidas 

diferentes,   pode­se   viver   e   conviver   com   respeito   mútuo   em   todos   os   espaços 

sociais.

Na aula seguinte, retomaram as imagens sem as frases e apresentou­se 

outra,   de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua 

pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam 

aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.5

Nesse momento os alunos compreenderam que a questão do preconceito 

pode ser desaprendida e de que é possível sim vencer a discriminação, respeitando 

as diferenças que existem entre as pessoas.

A   realização   de   pesquisa   sobre   a   história   do   negro   no   Brasil   intitulada 

“Escravidão no Brasil”, aconteceu na biblioteca da escola em duas datas, 22 e 29 de 

setembro  de 2011,  momentos em que os  alunos aprenderam a  utilizar   recursos 

como   livros,   internet,   entre   outros.   Este   momento   foi   muito   especial,   pois 

apresentaram o   resultado  do   trabalho  acerca  do   tema para  os  demais  colegas. 

Conseguiram expor e manifestar suas indignações às práticas racistas e condições 

desumanas em que viviam e eram tratados os negros.

No encontro do dia 06 de outubro de 2011, o senhor Emídio Rodrigues dos 

Santos, cidadão negro ibaitiense, narrou sua história de vida e mostrou a luta que 

enfrenta   para   superar   o   preconceito   racial.   Discursou   sobre   a   promoção   da 

igualdade, ressaltou a discriminação que há séculos perseguem os negros e relatou 

suas   experiências   de   sucesso   para   o   enfrentamento   do   preconceito   racial. 

Aprofundou os debates acerca do que é ser negro no Brasil nos dias de hoje.   

Em 13 de outubro de 2011, promoveu­se a exibição do filme “Vista Minha 

Pele”  em que  foi  convidado o palestrante Sr.  Emídio Rodrigues dos Santos que 

compareceu e assistiu na companhia dos alunos. Este vídeo teve o propósito de 

5 PÉ NA ÁFRICA. Disponível em: http://geografia2011.wordpress.com/.

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incrementar a discussão sobre o racismo e preconceito racial. Foi distribuída uma 

ficha catalográfica, para que os alunos preenchessem após a exibição do filme. Em 

seguida, ocorreu um espaço para debate, diálogo e troca de experiências vividas 

pelos alunos em relação aos problemas enfrentados, semelhantes à história do filme 

como ofensas, humilhações e desrespeito.Finalmente, os alunos mostraram grande 

interesse   pelo   assunto   e   o   entendimento   de   atitudes   que   podem   combater   a 

discriminação e os preconceitos. Se colocar na pele de quem sofre o preconceito, é 

a melhor maneira para entender a discriminação. 

Dando continuidade  às  ações  para   implementação do  projeto,  nos  cinco 

encontros do mês de novembro as seguintes atividades foram desenvolvidas:

1.  Montagem de  um painel,   com  frases  afirmativas  contra  o  preconceito 

racial, com a finalidade de promoção da Igualdade Racial:

“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda 

haverá guerra” (Bob Marley); 

“O mundo é  um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que 

fazem o mal, mas sim, por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer” 

(Albert Einstein); 

“A minha pele é  memória,  sonhos; desejos escondidos em cada povo. A 

minha   pele   é   manhã,   tarde,   mas   sobretudo   noite”   (Cuti   escritor   do   grupo 

Quilombhoje6); 

“Eu odeio o racismo, pois o considero uma coisa selvagem, venha ele de um 

negro ou de um branco” (Nelson Mandela); 

“O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz­se, basta a 

simples reflexão.”(Machado de Assis)

”Enfrentar   preconceitos   é   o   preço  que  se  paga  por   ser   diferente.”   (Luiz 

Gasparretto).

6  O QUILOMBHOJE LITERATURA, grupo paulistano de escritores, foi fundado em 1980, por Cuti, Oswaldo   de   Camargo,   Paulo   Colina,   Abelardo   Rodrigues   e   outros,   com   objetivo   de   discutir   e aprofundar a experiência  afro­brasileira na literatura. O grupo tem como proposta incentivar o hábito da leitura e promover a difusão de conhecimentos e informações, bem como desenvolver e incentivar estudos,   pesquisas   e   diagnósticos   sobre   literatura   e   cultura   negra.   Disponível   em: http://www.quilombhoje.com.br/quilombhoje/historicoquilombhoje.htm

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O painel ficou exposto no refeitório do colégio, com o propósito de que todos 

os alunos visualizassem todos os dias estas frases, a fim de sensibilizar e despertar 

o respeito ao diferente e, desse modo, contribuir para mudar atitudes de preconceito 

e de discriminação.

2.   Dinâmica   de   Grupo:   “Valorização   da   etnia   Negra:   Respeitando   as 

Diferenças”  em que cada grupo confeccionou uma boneca negra  de  papel  para 

contextualizar   a   compreensão   dos   conceitos:   preconceito,   discriminação   e 

estereótipo.   O   trabalho   possibilitou   desenvolver   atitudes   de   solidariedade   e 

cooperação, além do respeito ao outro, mesmo que este seja diferente.

3. Apresentação da música “Racismo é  Burrice” (Gabriel  o Pensador7).  A 

música foi escolhida como uma estratégia, para sensibilizar os alunos a trabalharem 

a questão racial no espaço escolar. Gabriel o Pensador, expressa na letra, um grito 

de protesto ao preconceito racial,  que impera em nossa sociedade. A análise da 

letra da música foi realizada em dois momentos: no primeiro, os alunos destacaram 

palavras ou frases que manifestavam atitudes preconceituosas, discriminatórias e 

excludentes.   No   segundo   momento,   o   grupo   buscou   relacionar   os   problemas 

gerados pelo preconceito apresentados na música e analisaram a forma como o 

autor critica o preconceito racial. Em seguida, os alunos responderam as seguintes 

questões em uma discussão em grupo e depois socializaram para a turma:

1. O preconceito aumenta e reforça o racismo? Por quê?

2.   Quais   os   problemas   que   podem   ocorrer   com as   pessoas   vítimas   de 

preconceito?

A conclusão dos alunos,  a partir  das discussões na classe,   foram que o 

preconceito fere a pessoa, ofende­a e de que a sociedade ainda precisa discutir e 

refletir mais sobre as questões de preconceito e racismo.

Para finalização das propostas, em dezembro, fez­se a apresentação final 

do projeto à comunidade escolar. Juntamente com a comemoração do Dia Nacional 

da  Consciência  Negra8,   realizada  por   uma  equipe   interdisciplinar,   com shows  e 

apresentações,   os   alunos   do   projeto   tiveram   a   oportunidade   de   participar 

7 Músico brasileiro.8 Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

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ativamente, cantando o Rap de Gabriel o Pensador e dançando a música Black or  

White de Michael Jackson9. 

CONCLUSÃO

Ao   final   dos   trabalhos,   percebeu­se   o   fortalecimento   da   autoestima   dos 

alunos,   principalmente   dos   afrodescendentes,   no   momento   em   que   eles   se 

perceberam integrantes de uma cultura valorizada.

Aprenderam a  identificar,  controlar, enfrentar e superar os preconceitos e 

estereótipos implícitos  nas relações do dia a dia, dentro e fora da escola. Tornaram­

se mais  sensíveis  e  propícios  a  enfrentar  sua condição  racial,   sem se sentirem 

diferentes de ninguém.  

Foi possível observar que no decorrer das atividades os alunos construíram 

uma imagem positiva do continente africano, valorizando a História afro­brasileira, 

desmistificando a visão estereotipada que se tem do negro, assim como acendeu a 

curiosidade acerca da cultura africana. 

Enfim,   a   experiência   contribuiu   para   amenizar   a   discriminação   racial   e 

promover  a  melhor  convivência  entre  os  alunos no espaço escolar,   fato  que se 

comprova ao  verificar  que  atitudes  preconceituosas   foram evitadas pelos  alunos 

passando a uma harmonização e relacionamento mais adequado entre eles.

Estes foram os passos iniciais, compreendendo que um trabalho desse porte 

deve   ser   frequente  no   ambiente  escolar   visto   que,     a   médio   e   a   longo   prazo, 

possibilita   aos   alunos   e   aos   educadores   formas   de   convivência   harmoniosa, 

contribuindo no  combate ao preconceito racial e promovendo a igualdade racial no 

sistema de ensino.

REFERÊNCIAS

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9 Cantor e compositor americano.

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______.  Parecer   n.º   CNE/CP   003/2004.  Trata   sobre   as   Diretrizes   Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico­Raciais e para o Ensino de História e   Cultura   Afro­Brasileira   e   Africana.   Disponível   em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf. Acesso em: 10 fev. 2011.

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