Perspectivas atuais do SUS e o agir tecnológico do trabalhador ...
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XX CICLO DE DEBATES DO SERVIÇO SOCIAL
HC- UNICAMP
13 e 14/1 1 / 2 0 0 3
PERSPECTIVAS ATUAIS DO SUS
e
o agir tecn o l ó g i c o do trabalh a d or com o um atoético- polí t i c o
Prof. Dr. Emerson Elias Merhy1
As perspec t ivas atuais do SUS nos reme te ao
movimento político e a busca de parte de seus atores pela
const ruç ão de uma socieda de pautad a por uma democracia
mais substan t iva. Então, o SUS está envolvido, pelo menos,
por esse tipo de implicação; apesa r de sabermos da
existência de muitas outras . Vale també m entend e r que esse
tipo de luta, no Brasil, não é só o período da luta contra a
ditadu ra . Ele nos remete à compre e n s ã o de que na sociedad e
brasileir a, e em par ticula r no campo da saúde, nós já
tínhamos em períodos ante rio res à fase da própria ditadu r a
disputas na sociedad e brasileira , por outros formatos para as
políticas de saúde e, de uma certa manei ra , isso també m está
implicado no SUS, ou seja, o SUS é um certo arranjo no qual
há esta implicação histórica.
Assim, nosso olhar deve ser remetido aos movimentos
de luta cont ra a ditadu ra e pela const ruç ão de uma nova
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Professo r do Depar ta m e n to de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de CiênciasMédicas da Universidad e Estadual de Campinas , a pales t r a foi proferida no Auditórioda FCM em 13/11/200 3.
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democr acia e de justiça social no país, em distintos períodos,
e as épocas ante riore s de lutas de vários setores no campo da
saúde, por outras perspe c t ivas para o conjunto das politicas
publicas na saúde. Por isso, o SUS carre ga de maneira
substa ncial estes desafios, esta perspec t iva perman e n t e em
qualque r momento que a gente possa acompa n h á- lo. Há
momentos que a gente pode dizer que ele esteve em
possibilidade de avanço mais extenso ou em momen tos que a
gente mesmo pode reconhec e r , que do ponto de vista de
conquista de objetivos ele pode ter sofrido ret roce ssos . Mas
isso não rouba, dele, o conjunto dessas implicaçõe s. A
implicação de per tenc e r a um terri tório, que busca novos
desenhos das políticas de saúde no país e a implicação de
per tence r a movimentos sociais que almejam, para sociedad e
brasileir a, uma nova democracia e uma nova justiça social.
Nesta direção, eu destaca r ia que sempre que nós
estamos diante do SUS a gente vive tensões muito própria s
destes lugares . E uma das tensões , que pra mim é relevan te e
que a gente vive como uma possibilidade nesses últimos
anos, de uma maneira muito diferenciad a entre os diferen te s
atores envolvidos com o SUS, é a manei ra pela qual o SUS
vem se aprese n t a n d o , de um lado, como política pública e, de
outro, como política governa m e n t a l .
Esta dobra do Sistema Único de Saúde de ser, ao
mesmo tempo, uma ambiciosa política pública e só se
realizar enquan to política governa m e n t a l , é algo que não se
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resolve em setores específicos das políticas, no plano do
estado, ou seja, não é algo possível de ser resolvido, pois é
uma tensão consti tu tiva do campo político e social, no qual o
SUS emerg e na sociedad e brasileira . E, porta nto, não se
resolve no campo específico de uma política. Ou ela se
resolve, de uma manei ra mais ampliada no campo relacional
do estado e da sociedad e , ou ela praticam e n t e não se resolve
em nenhu m destes lugares de sujeitos sociais e práticas . Essa
é uma tensão muito prese n t e e constan t e dent ro do Sistema
Único de Saúde, que coloca os vários atores em condições de
achar , as vezes diante de certas situações , que certos
acontece r e s são ou não avanços.
Vou continua r insis tindo na discussão da tensão
constitu t iva, por achá- la nuclear . Quando a gente almeja que
um certo setor social torne- se um campo das políticas
públicas, nós temos uma ambição de que ele respeit e certas
estabilidades , do ponto de vista de princípios e diret rizes , que
não sejam ou não possam ser violados por grupos específicos,
de ocasião, que estão operan do a direção, por exemplo, de
uma certa política governa m e n t a l . Os atores forjadores do
SUS têm isso no seu discurso. Por exemplo, quando o
Sistem a Único de Saúde diz que ele é acoplado a uma diret r iz
constitucional, na qual a saúde é um direito, na qual a saúde
respond e a uma const ruç ão interse to r ial, na qual o estado é
respons ável pelo cumprime n t o deste direi to e na qual há a
perspe c t iva do controle social.
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Vejam que com isso estamos desenh a n do uma certa
image m do que significa const rui r e ocupar um terri tório de
políticas públicas, ou seja, um terri tório de políticas opera da
no plano da sociedad e , no do estado e sua maquina r i a e que
tem lógicas de estabilização. Qualque r que seja o formato
governa m e n t a l de ocasião ele não pode violar esses
princípios.
Por exemplo, o princípio do controle social seria um
dos desenhos marca dor e s desta carac t e r í s t ica da política
pública que se ambiciona como SUS. De fato, quando a gente
vivencia a const ruç ão efetiva do Sistema Único de Saúde,
nestes anos todos, a gente percebe que nem sempr e é tão
claro o que significa o conjunto dessas dire t r izes, que dão a
cara do SUS como política pública. Na realidade , a gente
pode dizer que se pudésse m os nos aproximar com uma lente
de aumen to das milhares de experiências governa m e n t a i s ,
que ocorre m nos vários municípios do Brasil, outras dezenas
de experiências governa m e n t a i s que ocorre m no plano dos
Estados, ou mesmo das experiência s governa m e n t a i s no
plano nacional, em diferent e s governos, nós diríamos que há
uma fragilidade muito significativa nesta ambição de se ser
um terri tó rio de política pública, ou seja, ele ainda não
conseguiu se assen ta r numa base social de atores que lhe
dão susten t a bilidade , para que possa atravess a r períodos de
distintos grupos governa m e n t a i s que, apesa r dos seus jogos
de intere ss e s , mante nh a m- se firmes em torno da prese rvaç ão
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da estabilidade de alguns princípios básicos como, por
exemplo, a garan t ia efetiva do cont role social.
Na prática , hoje, não podemos dizer que no Brasil o
Sistem a Único de Saúde express a uma prática de cont role
social efetiva. Na realidade , podemos relata r experiências e é
isso que nós temos vivido no SUS, temos vividos de relatos de
experiências , mais bem sucedida s , menos bem sucedidas .
Revelando que o Sistem a Único de Saúde tem, como uma de
suas constitu t ividade s , que ele continua sendo um campo de
luta, ou seja, o Sistema Único de Saúde antes de ser
efetivame n t e uma política pública, é um campo de disputa ; e
quem não perce be r isso perde terreno para o outro que
també m disputa a direção desse terri tório. Essa é uma das
marca s que gosta ri a de deixar de uma manei ra explícita
para gente pauta r um debat e sobre perspec t ivas do SUS,
hoje.
Porque, se a gente for acomp a n h a r os vários
movimentos de tenta t iva de const ruç ão de uma outra
maquiná r ia , para a política de saúde no Brasil, olhando para
o movimento dos anos 80 e, agora, nos anos 2000, a gente
perceb e que certas conquis ta s , em alguns movimentos , são
tidas como conquis t as de fato e, em outros, nem tanto. E
mais, para quem consider a que foi um avanço, se não cuidar
da const ruç ão de blocos sociais para susten t á- la, no período
seguin te , elas regride m.
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Temos vários exemplos, de políticas setoriais, na área
do Sistema Único de Saúde que most ra m isso. A saúde
mental é uma delas. A saúde mental na realidad e vive isso de
forma muito intensa e perma n e n t e , e o tempo todo ela tem
que most ra r , de maneira explícita, onde ela avançou, por
exemplo, na luta antimanicomial . Pois, como em grande
medida se apoia em experiências de governos específicos,
tem que torcer para o governo não mudar . Senão ...
Isso tem muita significação, isso most ra que na
realidade o projeto de const ruç ão do Sistem a Único de Saúde
não obedece u, nesta situação apontad a , a uma prática de
acumulação social, infelizment e porque ficou reduzida às
experiências governa m e n t a i s . A susten t a bilidade mais ampla
está em outro lugar, ela não está só num conjun to de prá ticas
governa m e n t a i s , mesmo conside r a n do que sejam, sem
dúvida, funda me n t a is e que cont ribua m na const ruç ão e
express ão da multiplicidad e e riqueza do Sistema Único de
Saúde, fazendo, deste, um processo singula r e rico no mundo
atual, se conside r a r m o s as experiências de vários outros
países.
Por tudo isso, temos que estar atentos para não
perde r m o s a perspec tiva de que estamos cravado em um
campo de luta, como eu disse há pouco, o que pode nos fazer
perde r de vista que a const ruç ão da susten t a bilidade exige
vários movimentos . Um dos movimentos , sem dúvida
nenhum a , é um movimen to que sai do ter ri tório da saúde,
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que deve ter que atingir o conjunto dos outros setore s do
estado, na medida que o Sistema Único de Saúde é algo que
ambiciona a sua realização num campo de reform a do estado,
ou seja, o Sistema Único de Saúde não tem como se
concre tiza r , enquan to uma política pública, se ele não vier de
mãos dadas com acumulações mais ampla, socialmen t e , no
plano da reforma do estado, e este é um plano no qual nós
não temos tido, nes te últimos anos, muitas evidências
positivas.
Ao contrá r io, saímos da ditadu r a com muita ambição,
ambiciona mos radicalmen t e as práticas de reforma do
estado, apesa r de termos conquist ado várias coisas, vimos
assis tindo nos últimos anos fragilizações na consolidação
desta perspec t iva, como podemos ver hoje no que se refere
as relações entre o público e o privado, no campo dessa
reforma do estado brasileiro.
Na área do Sistema Único de Saúde isso tem
expressões muito significativas para most ra r como que esse
terri tó rio é minado, como esse terri tório ainda é muito
impreciso. Por exemplo, quando a gente assis te nos últimos
anos qual o conjunto de políticas , que os governos nos níveis
nacional, estadu al e municipal têm tido para os hospitais, a
gente vai verificar isso se olhásse mos dois setores
hospitala r e s , o do hospital universi t á r io e o dos públicos não
esta tais , muito significa tivos para a const ruç ão de um SUS
mais pautado pela equidade e maior justiça social.
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Iremos consta t a r , ao olhar com atenção para esta
situação, que a política que o Sistema Único, através dos
vários governos, vem const ruindo para esses
estabelecime n tos é muito desas t ros a , e que pode ser
traduzida da seguinte forma: quer se susten t a r , privatize- se!
E aí a versão da privatização tem mil caras , a privatização no
hospital universi tá r io pode ser abri r uma segund a porta ,
terceira porta , quar ta porta, quinta porta e, normalme n t e ,
fechar a primeira porta . A idéia ou o forte desejo das
Misericórdias é começa r a vender planos, fazer o seu
“planozinho” local, para lhe dar recursos financei ros
adicionais, junto com uma relação de pres ta do r a de uma
operador a de planos maior, a fim de completa r o que fatura
como compleme n t a r do SUS, e assim por diante . Ou seja, a
política da reform a mais ampla do estado público e do lugar
do privado, no Brasil, não vem sinergica m e n t e apontan do
para uma perspec t iva de susten t a bilidad e de certos setores
fundam e n t a i s para nossa aposta de const ruç ão de um
Sistem a Único de Saúde mais democr á t ico e mais justo. Não
podemos nos sentir tranqüilo com tudo isso.
Ao cont rá r io, este front necessá r io de disputa opera
em um ter ri tó rio de muita fragilidade . Então, isso exige de
nós o entendime n t o profundo de como é frágil a consolidaç ão
do Sistema Único de Saúde, enqua n to uma política pública
mais estável, que sofre variações conjun tu r a i s significativas e
que exige dos seus militan te s atenção perma n e n t e e costura s
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ampliadora s . Ele é uma const ruç ão muito delicada porque
ainda não atingiu um patam a r de institucionalizaç ão, que lhe
permitisse poder ultrap as s a r certos períodos com maior
tranqüilidad e .
Além dessa temática, há que se levar em conta um
outro aspec to mais específico do próprio terri tório da saúde e
que não é també m um terri tó rio consolidado, do ponto de
vista da const ruç ão de uma política pública, que nos dê
tranqüilidad e . Este aspecto nos remete a especificidade do
terri tó rio da saúde, que é a opção pela const ruç ão de certas
modalidad es de produç ão do cuidado para o usuário,
individual e coletivo, à qual o Sistema Único adere .
Aqui, estou me remet en do a aquilo que é mais próprio
do campo da saúde. Ou seja, quando a gente fala em campo
da saúde, em tudo isso que eu disse sobre a reforma do
estado, o público e o privado, dent ro de algo que é singula r ,
que tem marca substancial que o diferencia dos outros
lugares , há que se ter sempre claro, o que e quem realiza o
conjunto das práticas sociais demarc a do r a s deste campo.
Afinal de contas , este campo da saúde é lugar do quê?
É lugar da const ruç ão de intervenções tecnológicas
cuja alma, cujo sentido, é a produção do cuidado em saúde,
que tenta respond e r ao que socialmen t e se consti tui e se
denomina mundo das necessida d e s de saúde dos indivíduos e
dos coletivos. Então, isso é que dá marca e é propried a d e
deste campo; aí, ele se diferencia , por exemplo, do campo
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educacional ou de um outro campo social, como o das
práticas religiosas . Na realidade , o conjunto de práticas
sociais, cuja alma é o campo da saúde, está implicada com
esse tipo de questão. Elas são práticas reconhecida s e
produzida s , neste momen to, pela sociedad e , como portado r a s
de capacida d e s tecnológicas para responde r às necessida d e s
de saúde e seu complexo mundo.
Este, també m, é um lugar de intensa s disputa s . De
disputas que fazem referênci a a nós, trabalhador e s de saúde,
no nosso dia a dia. Para nós vivencia rmos, de um modo muito
próximo, o tema que eu falei da reforma do Estado, e do
público e do privado, nós temos que se confronta r com uma
situação imedia ta de conflito, nessa área, que tenha sentido
no nosso cotidiano ou, o que nos sobra é abst r a i r , do ponto de
vista do pensa me n to e da militância , a temática da reforma
do Estado. Mas, esse outro lado, que o Sistem a Único de
Saúde está envolvido e está amar r a do, que lhe dá substâ ncia ,
esse se faz presen t e no nosso dia a dia e a nós se refere . Pois,
esta r implicado com a produção do cuidado em saúde é o
nosso lugar, nós trabalha do r e s de saúde vivemos isso. Somo
conside ra dos trabalha dor e s de saúde, e não de outra coisa
qualque r , porque somos um conjunto de sabidos singula r ,
que estamos neste campo da saúde por sermos sabidos de
processos de ações tecnológicas que responde m ao mundo
das necessida d e s de saúde. E, neste lugar, estamos
amar r a do s a certas modalidade s de se fazer isso, de certas
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maneira s de se realiza r isso. E, neste terri tório, fazemos
par te das disputa s que o campo conté m e que é muita
intensa .
É um terri tório que coloca em confron to o conjunto
dos próprios trabalhado r e s de saúde e, que na realidade , nos
remet e a opções , que enqua n to trabalha do r e s temos que ter,
implicando na nossa defesa de certas perspec t ivas para a
const ruç ão do Sistema Único de Saúde, e queira mos ou não,
aí somos militant e s cotidianos . Esse talvez seja o lugar pelo
qual nós trabalha dor e s de saúde, na nossa militância
cotidiana , com o nosso “saber ser” trabalhado r de saúde,
podemos nos torna r sujeitos políticos militan te s de um
Sistem a Único de Saúde mais eqüita tivo, mais resolutivo,
mais voltado para a vida do usuário. Nós não precisa mos nos
descola r do cotidiano para militar , ao cont rá r io, é aí, no
nosso próprio lugar de trabalha do r , que agimos
politicame n t e . Temos que nos mante r neste lugar e politizá- lo
de uma certa manei ra , e que não é a politização enquan to a
constituição de uma certa organização política, mas é a
politização enquan to a adoção de certas opções, do ponto de
vista ético e tecnológico, do nosso lugar e do nosso fazer que
mexe com a forma social de se const rui r vidas.
E neste lugar, na nossa opção ético- tecnológica do
nosso lugar e do nosso fazer, nós, como sujeitos políticos,
podemos avolumar a capacida de de acumula r na direção de
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um Sistema Único, que consiga ter mais sinergia com tudo
isso que eu coloquei. Ou, não.
Eu diria que no cotidiano, o conjun to dos atores
sociais mais impor ta n t e s para a const ruçã o das ações de
saúde, no plano do Sistema Único de Saúde, os que
identifico como os mais expressivos, são: os governa n t e s de
ocasião, os dirigente de ocasião, os trabalha do r e s de saúde,
os usuários dos serviços e os empres á r ios do setor . Diria que
desse conjunto, desta rede de atores , os trabalhado r e s de
saúde são os que mais detém potências de “auto- poder”,
conservado r ou progress is t a - que lhes dão graus
significa tivos de liberdad e para agir no cotidiano, que não
precisa m pedir muita licença a outros para const rui r a sua
ação junto do mundo das necessidad es -, de intervir na
const ruç ão de um Sistema Único mais justo e democr á t ico.
Isto traz uma implicação que tem que nos inquieta r .
Tem que nos deixar , absoluta m e n t e , preocup a d o s − no bom
ou no mau sentido − e isso depend e de cada um, não tenho
recei ta . Mas, que tem que nos deixar preocup a dos , tem.
Por quê?
Porque se somos, como se fatos somos, enquan to
trabalhador e s , atores fundam e n t a i s é porque está em nós
muitas das perspec tivas de const ruçã o de um Sistema Único
diferenciado, que a gente pode deseja r . Isto é, muito depend e
da gente mesmo, ou seja, depend e da nossa capacidad e de
ação, do ponto de vista tecnológico, como alguém que faz
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uma opção ético- política, no cotidiano; alguém que faz uma
opção por entend e r que o encont ro, entre o nosso agir
tecnológico e o mundo das necessida d e s , é um agir
tecnológico e, como tal, é um ato político.
Em que sentido ele é um ato político? Ele é um ato
político porque ele implica uma opção social, assumida por
nós trabalha dor e s , se militamos a favor da vida, ou não, ou,
até, se militamos a favor de uma morte menos sofrida. No
campo da saúde, qualque r que seja a imagem das
necessida d e s de saúde, ela sempre nos remete à seguinte
express ão: nós estamos falando de algo que nos interes s a
muito, que é o modo pelo qual podemos viver a nossa vida.
Assim, traduziria que o mundo das necessidad es de
saúde, para cada um de nós ou para os coletivos, repres e n t a
um conjunto de situações que sempre remete a possibilidade
de vivermos a nossa vida, dent ro do nosso modo de vive- la,
ou seja, sem que isso seja um fenômeno idêntico a outro
modo. Nós temos capacidad e de repres e n t a ç ã o , temos
possibilidade s de nos senti rmos alegres ou tristes , enqua n to
indivíduos ou coletivos, de maneira s diferenciad a s , nós temos
diferenç a s para compre e n d e r o que são obstáculos para o
viver a nossa vida; e, portan to, nessas diferenç as os grupos
sociais e os indivíduos, també m express a m de manei ra
diferenciad a o que são as necessida d e s , para si . Isso
constitui essa riqueza que é o conjunto das necessida d e s
sociais. Mas, de uma certa maneira a todos nós indivíduos ou
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coletivos remete a imagem de que estamos falando de viver
vidas. Ora viver vidas é uma porta para ver que vida produz
mais vida e, dent ro disso, podemos opta r para que nosso ato
vivo não produza ou não contribu a para produzi r mais morte.
Esse pode ser um dos nossos objetos, e toma- lo como
tal é um ato político. É um ato político porque nós coloca no
nosso agir tecnológico opções, como: indivíduos ou coletivos,
profissionais, trabalha dor e s de estabelecime n tos de saúde;
como alguém que se sabendo portado r de uma arma política
na mão, com o seu fazer , faz uma opção na forma de usar o
seu saber tecnológico. Alguém que aponta esta arma pra que
a vida produza mais vida, e não pra que a vida produza mais
morte , como o modelo dominan t e , médico- hege mô nico,
muitas vezes pratica.
Essa opção não está dada, automa tica m e n t e , ela é
uma opção que nós fazemos no cotidiano entre nós, que nós
fazemos no cotidiano com o usuário, que nós fazemos no
cotidiano com o nosso trabalho. Se não tivermos esta
percepç ão, a gente abandon a algo que é funda me n t a l para
essa decisão, que é nos compre e n d e r m o s como sujeitos
políticos desse ato e em ato.
No modelo, mais corriquei ro praticado, nós não nos
implicamos muitas vezes com os nossos atos, que produzem
mortes – e, olha, que são muitos os trabalha dor e s de saúde
que produzem morte e que não se implicam e nem se
respons a bilizam com isso -, e ao fazermos isso, na realidade
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estamos nos implicando e se respons a bilizando, també m,
como sujeitos políticos, mas como sujeitos que fazem a opção
ético- política por uma militância de negação de um Sistema
Único de Saúde mais democrá ti co, justo e const ru to r da
equidade social no direi to a uma vida mais qualificada .
Nesta direção, creio que essa é uma das grand es
potências que nós temos na mão, que é essa nossa implicação
na ação tecnológica , aponta n do para uma vida que ambiciona
ser mais vida. Mas, també m me remeto à perspe c t iva de
poder mos morre r de modo mais alegre, e aí lembro de um
filósofo do século XVI, que é o Espinosa , que dizia que “a
alegria é uma manifes t aç ão do viver”, e de quem faço uso um
pouco enviesad a , pois vou falar de uma outra coisa. Nós
podemos, além de produzir mais vida, produzir modos de
morre r mais alegre na nossa sociedad e, ou seja, morre r não
precisa ser a desgraç a que é, e nós não fazemos isso, nós
praticam e n t e perde mos ligações com outros humanos muitos
ante riore s a nós, que const ruí ra m ritualís ticas com a morte
muito mais saudáveis .
Acho que isso faz par te da nossa opção també m como
sujeito político no cotidiano, nós temos que nos preocup a r
com isto, e nesta direção para ir mais ou menos fechando a
minha intervenç ão, eu gosta ria de colocar o quanto isso traz
para nós respons a bilidade s . Por quê?
Porque na realidade , nós no cotidiano não temos essa
compre e n s ã o de manei ra coletiva, nem de uma forma muita
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intensa . Normalme n t e nós nos posiciona mos como vítimas do
cotidiano e não como sujeitos do cotidiano, ou seja, nós nos
posiciona mos como vítimas dos outros atores políticos, dos
outros sujeitos políticos e não nos vemos como vítimas de
nós mesmos. E, na realidade , eu gosta ria de inver te r esse
olhar , gosta ri a de dizer que na realidad e nós nos vemos como
vítima dos outros, porque somos vítimas de nós mesmos,
porque não nós reconhec e m os como sujeitos políticos, que
fazem opções ético- tecnológicas , no seu trabalha r cotidiano,
em todos os lugares onde estamos atuando, inclusive
enquan to trabalhado r .
Acho que esta é uma ques t ão nuclea r do Sistema
Único de Saúde, hoje. Por quê? Porque se eu puder fazer um
desenho de onde o Sistema Único de Saúde mais acumulou,
nestes anos todos da Constituição para cá, ou até pré-
constituição, pois já era uma aposta perseguida por muitos
antes da própria Consti tuição; se puder ver este desenho, vou
verificar que o Sistema Único de Saúde até que avançou
razoavelmen t e na sua lógica institucional jurídico–político, ou
seja, na questão da municipalização, na conquis ta , até
consolidada , do ponto de vista de lei. Do ponto de vista de lei
o cont role social está escri to, do ponto de vista da lei há a
repres e n t a ç ã o do conjunto de atores sociais nos espaços
políticos de decisão, a existência das conferência s estão
escrit as e têm que ser cumprida s , do ponto de vista de
arranjos até financei ro do setor há uma certa consolidação
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(apesa r da persis t ência forte do modo inampisado de
financia r ações de saúde). De todos setores da maquina ri a
social, os setores da saúde e educaç ão são os que têm mais
se consolidado. É só ver a recen te agress ão que a saúde
sofreu de retirad a de per to de cinco bilhões, do seu
orçame n t o, e o recuo do governo. Isso most ra que, do ponto
de vista da lógica de institucionalizaç ão, o Sistema Único de
Saúde tem avanços na const ruç ão da sua maquiná r ia , no
reconhecime n to do lugar do gestor , nos encont ros dos
gestore s , na const ruçã o das mesas de negociaç ão.
Mas se nós fôssemos ver, apesa r disso tudo, onde ele
menos avançou, veremos que é nesse terri tó rio da implicação
do trabalhador de saúde, e que faz referência ao tema da
susten t a bilidad e que tratei no começo da minha fala. Esse é
um dos lugares mais frágeis do Sistema Único de Saúde, por
dent ro. É o lugar no qual o conjunto dos trabalha do r e s ainda
não se posicionar a m como sujeitos políticos ampliados , pois
como regra eles tem se posicionado como sujeitos políticos
corpora t ivos.
Isso é um grand e problema do Sistema Único de
Saúde, o fato da gente ter milhares e milhares de forças
sociais envolvidas na const ruçã o desse cotidiano, e nós
trabalhador e s de saúde ainda não termos nos constituído e
nos reconhecido como sujeitos políticos de const ruç ão e
consolidação do SUS enquan to uma política pública. Este é
um dos grande s calcanh a r e s de Aquiles daquela dobra da
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política pública e da política governa m e n t a l , que eu tinha
aprese n t a d o para vocês.
De um lado, temos uma fragilidade do que diríamos
ser o lugar da macro- política, que é o campo da reforma do
Estado, e de outro lado, temos uma grande fragilidade que é
a nossa ação do cotidiano, que é o lugar da micropolí tica ,
lugar no qual enqua n to sujeitos const ru to r e s de novas formas
de produção da saúde, no Brasil, somos um dos principais
protagonis t a s . E, isso faz referência a todos nós como
trabalhador e s sujeitos políticos, e não a nós enqua n to
corporações profissionais.
Temos assis tido ret rocessos nesse caminho. É só
mirarmos na grande discuss ão sobre o ato médico, que a
minha categoria profissional, hegemonizad a pelo seu lado
mais conservador , trava como bandei r a de luta hoje no
Brasil; que é uma bandei ra de luta que se vitoriosa será
dest ruidor a do Sistema Único de Saúde. Tenho podido
colocar isso em nível nacional, já escrevi sobre isso, e não
perco a oportunidad e de falar de que a vitória da lei do ato
médico, defendida pelas entidade s médicas, é anti- SUS. E,
por isso, ela tem que ser um problema para os outros
trabalhador e s . Acho, inclusive, que os outros trabalhado re s
têm reagido ao ato médico de uma maneira atrasa d a , tão
atrasa d a quan to a própria propos ta de par te dos médicos,
que é a de se posiciona r també m como corporaç ão , que se
auto afirma, e neste caminho, a idéia nuclea r de sermos
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sujeitos políticos da produção da vida e de um morre r mais
alegre fica secund a r izad a , quando, realmen t e , do meu ponto
de vista, ela é a grande alma do nosso negócio: produzir
saúde.
Obrigado!
19
ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA CAMINHO S E
TENDÊNCIAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊ NCIA SOCIAL
Profª. Dr.ª. Maria Carmelita Yazbek 2
A assis tênci a social no âmbito da segurida d e é o
primo pobre, como o SUS como dizia o professor Emerson
dizia ela express a sua colocação, sua inserção na
constituição, express a de um certo lado uma mobilização de
alguns setores da sociedad e , de alguma s categor ias
profissionais, sobre tudo dos assis t en t e s sociais, de alguns
núcleos [de estudos] no Brasil como o da UNB e da própria
PUC São Paulo, tivera m uma certa interfe r ê ncia na inserção
da assis tênci a na consti tuição, mas també m ela vai express a r
esse contexto que o professor Wilson está aprese n t a n do , um
contexto de transform a ç õe s na relações de trabalho, no
mundo capitalis t a vamos dizer assim e que vai exigir política
assis te nciais . Isso acontece u no mundo todo na Europa, a
assis tê ncia social també m ganha uma cer ta visibilidade como
política.
Mas eu prefiro aqui enfatiza r o significado da inserção
da assisten t e social na consti tuição do ponto de vista das
lutas sociais, de uma moviment aç ã o da sociedad e que vai
permiti r criar para a assis tência social brasileir a até então
muito mais um conjunto de práticas de beneme r ê n c ia uma
nova matriz, uma nova condição, uma nova visibilidade. Eu
2
Coordena d or a do Progra m a de Pós- Graduaç ao em Serviço Social da PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo.
20
entendo que a Consti tuição e depois a Lei Orgânica da
Assistência criam para a assis tência social uma nova matriz −
eu tenho chama do assim − elas permite m a passage m da
assis tê ncia social para um campo novo, o campo do direi to, o
campo da universalização dos acessos, da respons a bilidade
do Estado peran t e as questões da pobreza e da exclusão, o
campo da política pública. É um trânsi to difícil: o trânsi to das
práticas de benem e r ê n c i a , filantrópicas , assis t encialis t a s ,
para o campo das políticas públicas, a inserção da assis ten te
social na segu rida d e traz pra essa política uma nova
visibilidade , uma nova inserção , trazendo- a para o campo da
política de proteç ão social que articuladas a outras políticas
no campo social, estão voltadas a garan tia de direitos e de
condições dignas de vida para a população brasileir a. Nesse
sentindo també m, com essa inserção na segurida d e eu
entendo que a assis tênci a social express a també m um
reconhecime n to público da legitimidad e da demand a , das
necessida d e s dessa população que sobrevive e que utiliza a
assis tê ncia social. Mais do que isso, é um certo espaço para
que ela amplie o seu protagonis mo e a sua presenç a uma vez
que consti tucionalm e n t e se coloca a necessida d e da
par ticipaç ão dos usuários na gestão do sistema
descen t r a l izado e par ticipa tivo de assistência .
Realment e , isso é uma novidade neste campo, trazer
esse conjun to de práticas que eram mais prá ticas , para um
outro pata m a r , pata ma r da política que se express a num
21
certo cará te r civilizatório que está presen t e na consag r a ç ã o
de todos os direitos sociais, que vai exigir que a provisões
assis te nciais sejam colocadas no plano das garan tia s de
cidadania , dos direitos sociais sobre a vigilância do Estado,
que a rede filant rópica continua existindo como nós abemos.
Esta lei nova e a Consti tuição també m nova ao afirmar
para assis tência social um cará t e r não contribu tivo, ela é
uma política pública não cont ribu tiva e també m afirma a
necess á r i a integraç ã o das políticas sociais na respos t a às
necessida d e s dessa população. Ela inova com a participação
da população no controle social, na gestão e na execução
dessa política, ela desmont a um antigo Conselho Nacional de
Serviço Social, um órgão clientelis t a e cartorial que era
objeto no momen to da promulgaç ão da lei, de processo de
corrupçã o, os “escând alos dos anões” e isso saía o tempo
todo nos jornais, entidad es fantasm a s , entidades
“Pilant rópicas” que ainda fazem parte da luta de desmon ta r
esse processo.
Ela cria Conselhos Municipais, Estadu ais , o Conselho
Nacional, órgãos paritá r ios com represe n t a ç ã o do governo e
da socieda de , com a presenç a dos trabalhador e s do setor da
assis tê ncia social e dos seus usuá rios. Sem dúvida, para os
que trabalha m há muitos anos como eu na assistência social
uma mudanç a absolut a m e n t e relevan t e , uma mudança
substa n tiva na concepção da assistência social, uma
definição legal que permite o trânsi to da assis t en t e social do
22
assis te ncialismo, do clientelismo de sua tradição de não-
política para o campo da política pública o que não é pouco.
E, como uma política pública ela passa a ser um
espaço de defesa e atenção dos interes s es e necessida de s
sobre tu do dos segme n tos mais empobre cidos da sociedade ,
aquela população que vive em extrem a s condições de
pobreza e exclusão. Essa política vai ser uma forma de
proteção social, de comba te ao subalte r nida d e , de combate a
discriminaç ão que não é só econômica , ela é econômica,
sobre tu do, mas ela é cultural , ela é política, é uma política
que vai oferece r alguma s garan t ias à população, alguma s
segura n ç a s utilizando uma express ão da Aldaíza Sposa ti que
amanh ã esta r á aqui com vocês, ela oferece alguma s
segura n ç a s que cobrem ou que deveria m cobrir , reduzir ou
preveni r algumas situações de risco e de vulnera bilidade
social em que vive essa população.
Ela atende as necessidad e s emerge n t e s ou
perman e n t e s consta n t e s decor re n t e s de problema s pessoais
ou de problem as sociais est ru tu r a i s dessa parcela da
população.
Nesse sentido a assis ten t e social é uma política que
vai dar a medida do compro misso social do Estado
exata m e n t e porque ela é a fundo perdido, não há obrigação
da cont ribuição por parte dessa população, mas há o direi to
assegur a d o . Então essa compre e ns ã o da assis tência social
como um campo de efetivação de direito, como uma política
23
estra t é gica não cont ribu t iva voltada para a const ruç ão dos
chama dos “mínimos sociais” e inclusão conforme const a na
lei e mínimos entendido aqui não como mínimos que nivelem
por baixo, mas como patam a r , de qualidade de vida e
dignidade vida abaixo do qual nenhum cidadão brasilei ro
deveria estar colocado. Então ela aponta a universalização do
acesso aos direitos que ela garan t e , ela busca romper com o
clientelismo, com o assis tencialismo que historicam e n t e
carac t e r iza não apenas a política de assis tência social nesse
país, mas as políticas, a política brasilei ra é uma política que
tem essa heranç a cultural pesada do clientelismo, da tutela,
do apad rinh a m e n t o , do favor e claro que nas ações
assis tê ncias esse peso é maior ainda porque passa pela oferta
de algum recurso, de algum serviço, de algum benefício.
Nesse sentindo ela rompe com aquela idéia
emerg e n ci al de dizer que assis tência é um projeto socorro
social, é um plantão nas situações emerg e n ci ais para
distribuir cestas , auxílios financei ros e se pensa a assis t ência
como uma política de maior consistência , com progra m a s ,
serviços, projetos que deve ser pensad a sempre na relação
com outras políticas sociais, e que apres en t a um novo
desenho institucional carac t e r izado pelo comando único que
aliás não vem sendo cumprido nesse país em cada esfera
governa m e n t a l e funcionando como uma estra t é gia de
inclusão e de atenção a seus usuários.
24
Claro que essa política é impens ável sem os fundos: o
fundo nacional de assis tência , os fundos estadu ai s de
assis tê ncia , os fundos municipais de assistência . E també m
ela é impensável sem o orçame n to público. O sistema de
descen t r a l ização funciona, tem funcionado de forma geral
como uma forma de reorde n a r essas políticas de abrir um
espaço para par ticipação de seus trabalhado r e s , de seus
usuários reconhec e n d o aí as par ticula rida d e s de cada local
onde ela se desenvolve e de que é no cotidiano do município,
no cotidiano do nível local e que o cidadão consegu e avaliar a
qualidade do serviço assis tencial: se o abrigo dos idosos
funciona com dignidad e, se o lar, se a creche e se as atenções
a adolescen t e s em riscos, se a mate rnida d e está funcionando
de fato com qualidade .
Então, a propos ta legal do processo descen t r a l izador
traz consigo, semelhan t e ao que o professor Emerson estava
dizendo, a qualificação democrá ti ca . A import ância dessa
dimens ão no controle social, da presenç a da população
acomp a n h a n d o o serviço, avaliando o serviços, fortalecen do a
experiência par ticipa t iva e a cidadania no nível local
permitindo uma ação fiscaliza tó ria mais próxima, mais perto
da vida do cidadão.
Com esta recomposição legal també m as tradicionais
entidade s pres t ado r a s de assis tê ncia social que a gente sabe
que isso não é uma unidade neste país, já em 1530 a gente
tem a primeira Santa Casa que se coloca como entidade na
25
busca da filant ropia. Esta rede passa a ser submetida a um
outro tipo de cont role, porque no momen to em que ela é
conside ra d a par te do sistema descen t r a l izado e par ticipa t ivo
de assistência social ela está sujeita a fiscalização dos
conselhos de assis tência ao cont role público, ela tem que ser
[co]validad a como uma política pública, pelo nível dos
Conselhos e pelo nível do próprio Governo Feder al porque
essas relações são mediadas pelo acesso ao fundo público e
no momen to em que uma entidad e privada acessa o fundo
público ela pres ta serviços progra m a t ic a m e n t e em nome da
política maior onde ela está inserida e ela passa a compor o
sistema na medida em que ela se comprom e t e com as
diret r izes e aquilo que está previsto na legislação que
regulam e n t a a assis tência social no país.
Essa era a propos ta que eu sempre gosto de colocar
para fazer um balanço do quan to conseguimos avança r
nesses 10 anos, − 10 anos após a LOAS − fazendo 10 anos e
acho que esse é um momen to import an t e em que nós
podemos fazer um balanço para essa política e projeta- la
para o futuro. Percebe n d o alguns pontos, eu tenho aqui
anotados alguns pontos e algumas das grande s dificuldades ,
a coisa não está muito fácil sobre tu do no âmbito federal, é
lamentavelme n t e a gente dizer, porque como professora eu
també m sou militan te do Partido dos Trabalha dor e s e se tem
uma área que esta absoluta m e n t e complicada no atual
governo é a área da assistência social que passa a ministé rio,
26
mas não faz jus a Ministé r io. Ela passa de Secre t a r i a para
Ministé rio e eu temo inclusive pela manute nç ã o desse
Ministé rio. Acho que se a minist r a cair ela leva o Ministé rio
junto tal a dificuldad e em levar um projeto conforme foi
const ruído nesse 10 anos.
Nós passa mos 10 anos const ruindo um projeto para
área que a gente vê agora ser substi tuído por uma visão
conservado r a sobre a assis tência social, sobre as famílias
culpando as pela sua pobreza, quer dizer tudo aquilo que
superou ao longo de 10 anos ou tenta supera r , parece que
retorn a numa posição bastan t e complicada . Esse ano nós
temos Conferência e eu acho que a conferência vai ser
crucial do ponto de vista da nossa sociedad e , Sociedad e civil
organizad a que vai ter que colocar clarame n t e as suas
posições.
Mas nos dez anos de balanço tem alguns rápidos
pontos, depois a gente pode convers a r um pouco melhor, a
primeira consta t a ç ão é que nesse dez anos, e que foram dez
anos de ques tiona m e n t o do clientelismo, do padrão de gestão
conservado r a dessa política é, da identificação histórica com
a filant ropia, ainda me parece que essa é uma quest ão forte
na assis tência social, a tendência a ver a assistência social
como ação filantrópica, assis tencialis t a e tuteladora ainda é
um objeto de nosso questiona m e n to , das nossas
reivindicações nas conferê ncia s municipais , nas conferê ncias
estadu ai s . O que a gente percebe u que o protagonis mo da
27
população foi muito pouco colocado nesse processo. A luta
continua na verdade a gente perceb e , me parece que se é
para pensar tendências a grande tendê ncia ainda é lutar para
que o reconhecime n to do direi to seja a medida da negociação
e da liberaç ão no campo dessa política. Não tem outra
medida, ainda nossa luta é para que o direito seja a medida ,
não dá para negocia r direto, esta luta então continua .
Uma outra consta t a ç ão nesses dez anos e que foi
observad a nas três Conferência s de Assistência Social é a
perspe c t iva focalis ta dessa política que acompa n h o u dez anos
do governo Fernan do Henrique e que não rompeu, ainda é
uma política focalizada , seletiva, para o pobre do pobre , do
pobre. Os crité rios de seleção e avaliação ainda perma n e c e m
muito focalizados nos mais pobres , no mais vulneráveis, o
que vem rest r ingindo projetos mais renovador es , renovados
dessa política.
Há experiências em municípios no país muito
interes s a n t e s , mas no nível de direção nacional a coisa está
muito complicad a ainda, nós não temos ações integra d a s ,
ações inters e to r iais , não definições de padrões de qualidade ,
não temos indicadores de avaliação, porque nós lidamos com
dados, porque nós não temos dados objetivos para avaliar o
que é um bom centro de lazer para juventude , o que é um
abrigo para crianças e adolescen t e s em risco, o que é um
abrigo para idosos? Ou um abrigo para população moradora
de rua? Nós temos dez mil morador es de rua em São Paulo,
28
São Paulo é um microcosmo do país, aqui també m deve ter,
pois em todos os municípios tem morador de rua.
Então, a gente observa que ainda não se chegou a
padrões claros, a definição do que é a ação interse to r ial, a
interse to r ialidad e é frágil, limitada . E a proteção social ainda
é vista como benevolência de Estado ou da sociedade . Um
outro ponto que eu acho que cabe ser discutido e que ainda
se coloca como uma agend a é a quest ão da const ruç ão e
mecanismos públicos e democrá t icos de regulação e de
cont role social. Tal e qual foi colocado hoje aqui na saúde é
muito intere s s a n t e como a gente pode fazer um paralelo se o
SUS tem que ser const ruído a cada dia, este sistema tem que
ser mais ainda, do que o SUS que já está na décima segund a
Conferênci a e tem uma tradição de militância forte, nós
estamos indo para a quar ta , mais ainda nós temos ainda que
const rui r mecanis mos públicos de regulaç ão e de controle
para esta área. Como é que nós vamos fiscaliza r e
acomp a n h a r , como é que nós vamos parâm e t ro s , sobre tu do
lembra n do que o parâ m e t ro é o direito e não tem outra
medida de negociação dos interes se s dessa população que é
uma população sem voz, que não existe. Outra coisa que a
gente percebe ligada a esta é a ausência de conhecime n to
dessa população, nós não sabemos como vivem esse
brasileiros entre o que são 44 ou 55, no Ministé rio estão
dizendo 55, quem são eles? Em que terri tório eles habita m,
como eles vivem? A gente às vezes pergun t a como é que
29
algué m pode para recebe r o Beneficio de Pres taç ã o
Continuad a que foi lembra do aqui o idoso ou o portado r de
deficiência um quar to do salário mínimo per capta familiar.
Quer dizer o que é isso em maté ria de recurso para
sobreviver? E que arra njos eles const róe m, então há ainda
um frágil conhecime n to e um conhecime n to cheio de
preconcei to dessa população, discrimina tó r io, não só pelo
seus hábitos de vida, pela sua crença, pelos seus valores quer
dizer é uma população que vive um conjunto muito grand e de
discriminações .
Um outro ponto que cabe avaliar e pensa r nesse
momento de const rui r uma agend a são os impac tos dessa
política sobre a possível inclusão/exclusão dessa população.
Até que ponto a assis tência social vem funcionan do como um
mecanismo de inclusão social, sabe mos que os limites entre
inclusão e exclusão são difusos, contradi tó rios, subordinados
a interes s e s econômicos, sabemos que a assis tênci a pode ser
um mecanis mos de inclusão, mas ela pode ser um
mecanismos de reiter aç ão total da exclusão social. Ela pode
criar o lugar dos pobres: são aqueles que tem o progra m a lá
de renda mínima, aqueles que recebe m a cesta . É como se
você cindisse a socieda de brasilei ra o que é cidadão, o que
par ticipa das políticas, etc. e o que está lá sobran t e , então
essa cont radição na assis tência social ela perman e c e , é uma
política ambígua porque tanto você pode oferece r ajuda para
obter a subse rviência , a lealdade . E isso na mão de
30
dete r mina do s políticos na história brasilei ra não foi supe ra do
por causa da LOAS, a gente sabe disso, é a troca, a
assis tê ncia é moeda de favor. Quando uma prefei tu r a tem
que negocia r , eu não gosto nem de falar isso que eu penso no
Governo Feder al , tem que negocia r alguma coisa para o
PMDB dá a Assistência porque qualque r um pode fazer. Em
São Paulo foi assim na Gestão da Marta Suplicy tinha que dar
para algué m, deu para o Dr. Eduardo Faria, um homem de
muita boa vontade , mas que não sabia nem o que era
Assistência Social no primeiro manda to. Então esse traço era
forte nessa política como se fazer algo pelos pobres fosse
qualque r coisa que qualque r um pudesse fazer, reite r an do
ainda um cará t e r atras a do , subse rvien t e exigindo
subse rviência dessa população, que é uma coisa muito
delicada ainda nessa política, quer dizer pode ter uma
assistê ncia emancipa tó r i a que crie o protagonis mo.
Eu tive no Rio Grande do Sul abrindo a Conferência
Estadu al e vi uma coisa muito bonita. Porque o Governo do
Rigoto cortou o renda cidadã que era um progra m a que dava
trezen tos reais à famílias e que conseguia acompa n h a r
família com equipe técnicas , tentando a sua reinserç ão ou
inserção social. Cortou esse progra m a e colocou o Progra m a
novo da Família do Governo Feder al com 95,00 reais de R$
300,00, o povo invadiu a Conferência , − foi muito bom, eu
gostei muito claro − eles não admitiam o desre sp ei to do corte.
Claro que eu não estou dizendo que a coisa se resolve dessa
31
forma. Mas para most ra r que a assist ência pode tanto mata r
a cidadania , como ela pode ser um espaço para o
protagonismo e uma organização dessa população, que é
realmen t e uma população desti tuída de poder, desti tuída de
trabalho, destituída de informaç ão , desti tuída de direito, de
oportunidad e s , de espera n ç a , realmen t e vive sob condições
muitas res t ri ta s , muito miserável e subme rs a numa socieda de
que desqualifica essa população, que a desqualifica, que tem
mil clichês para designá- las: aquelas “cidadãos às avessa”, os
“inadap t a do s”, os “casos sociais” que já são uma maioria,
maioria não, mas uma parcela muito grande . E nós sabemos
també m que nesse contexto que foi rapidam e n t e assinala do
pelo professor Emerson e pelo professor Wilson Cano, que a
gente convive com esses impactos dest ru t ivos das
transform a çõ es da sociedad es que estão sendo empur r a do s ,
pelos interes s e s da mundialização do capital. Esse processo
vai deixando marca sob os trabalhado r e s . Nós que ainda
temos alguma coisinha que paga mos a contribuição, imagina
o que deixa pra essa população que não consegue se inseri r
no trabalho, que vive desemp r e g a d o ou que tem um trabalho
intermit en t e , precá rio sem nenhu m a garan t ia , que vive sem
teto, que vive sem terra , que envelhece sem qualidade , que
mora em habitações insalubr es .
Hoje está na Folha de São Paulo o censo das favelas
em São Paulo é uma coisa assust ado r a somos os campeões .
Que tem a saúde fragilizada , que parte pelos caminhos de
32
drogas , que convive com a AIDS, a prosti tuição, com o
trabalho infantil, tudo isso é campo da assistência social.
Com alimenta ç ão insuficient e , com a fome, com o cansaço,
com as humilhações , com o fanatismo. Nós lidamos com as
explicações mágicas sobre a realidad e , é uma populaç ão
sujeitada que convive cotidiana m e n t e com a violência e
tantas e tantas outra s situações que eu acho que vocês
encont r a m cotidiana m e n t e na experiência profissional . Mas
que anunciam situações sociais limites na socieda de , o limite
da condição de humanida d e e são essas situações que
deveriam ser alvo de políticas qualificadas de proteção,
políticas emancipa tó r i as que em algumas situações é só
proteção, o idoso, o porta do r de deficiência que já não tem
nem mais como, é proteção sim é direito a proteção.
Nós sabemos então que esse é um desafio, nos
municípios no nível federal , sabemos també m que a
Assistência Social pode por essa forma de est ru tu r a ç ã o
semelhan t e a do SUS criar possibilidades de participação
para está população, criar possibilidade de protagonismo,
nos fóruns de assis t ência , nos encont ros de assis tência , todo
o desenho institucional . Ele permite uma política clara a nível
municipal do controle que os municípios tem por direi to e
obrigação fazer sobre a redes de entidad es , fortalecen do a
perspe c t iva pública, fortalecen do a ação em rede, que é outro
desafio pro próximos anos.
33
A ação em rede não existe pratica me n t e na maior
par te desses municípios, uma ação conser t a d a , as entidad e s
brigam pelo pobre é até engraç a do “esse é o meu pobre” o
“outro é o seu pobre” quer dizer é uma loucura isso! Não há
uma ação concent r a d a , até aqui vai essa, daqui vai a, aqui
não há isso né, não há cadas t ro unificado, há uma visão
equivocada dos cadas t ros inclusive a discuss ão toda no nível
federal. Não há equipa m e n tos de retagu a r d a , não há
instituições de retagua r d a para por em proteção por exemplo
as crianças vítimas de violências, as mulhere s , os idosos que
també m são vítimas de violência. Não há referência sobre a
rede pública, quer dizer o que é um bom abrigo dando
impressão de que a assis tência social ela fica apena s nas
mãos das entidade s privadas e o Estado está omisso.
Nesses tempos em que cresce o chama do “tercei ro
setor” esses dados aumen t a m nossas preocup a çõ e s porque a
fiscalização das ações sociais do chama do tercei ro setor
sobre tu do quando ela é desenvolvida com esse segme n to ela
tem sido difícil, os conselhos não estão conseguindo
acomp a n h a r . Em resumo, dez anos depois a gente ainda vive
muito sobreposição de ação, muita pulverização, muita
descont inuida de .
A colocação do professor Emerson que a gente tem
que criar sistem a s capazes de atraves sa r governo e
institucionalme n t e capazes de garan t i r algumas coisas
indepen d e n t e m e n t e dos governos como já foi assinalado. De
34
todo modo eu diria que as avaliações , eu tenho muito
mate rial em mãos, eu tenho mate rial das três primeira s
conferência s e de algumas conferências municipais. Mostra
como têm sido difícil essa tarefa , que as ambigüida d e s ainda
marca m está área, as cont radições e sobre tu do uma grande
dificuldade de trazer para a esfera pública a questão da
pobreza e da exclusão.
Eu tenho muitas críticas ao Progra m a Fome Zero, mas
eu acho que uma qualidade ele tem, quando ele foi lançado
desde a campan h a ele trouxe para discussão pública que
neste país tem fome, porque as pessoas faziam de conta que
o problem a do país era só de outra ordem, claro que o
problema é sobre tu do econômico. A inserção na ordem
capitalis t a interna cion al , mas ele trouxe para a esfera pública
a pobreza , a fome, mas ponto final, não foi muito além disso
na publicização então essa tarefa me parece que é o grande
desafio e eu já vou encaminha n d o para aqui para depois abrir
para o deba t e .
O grande desafio que se coloca para assis tência social
é trazer para a esfera pública a pobreza , a exclusão
transform a n d o consti tucionalme n t e essa política em campo
de exercício par ticipa t ivo sobre tudo dos segme n tos
subalte rn izados e excluídos. Claro que nós estamos entran do
na cont ra mão da história e ela está meio na contra mão da
história porque nós entra mo s numa dinâmica, em que há
prevalência dos destaqu e s est ru t u r a i s na esfera econômica
35
sobre o social é muito forte. A gente rema meio na cont ra
mão defenden do o social, porque há uma absoluta
subordinaç ã o do social ao econômico, aos ajustes est ru tu r a i s
da economia. Assim, se sobrar a gente cuida do social porque
primeiro é o ajuste. Acho que os dados apresen t a d os aqui na
área da própria previdência most ra m que a primeira
subordinaç ã o, o primeiro ajuste é esse processo, vem
colocando esse processo de ajuste vem desmonta n do direitos
trabalhis t a s , direitos sociais de modo geral e então, num
certo sentindo iniciativas nessa verten t e , nessa tendência
maior de desmanc h e , na iniciativa de contra desma n ch e não
tem sido fácil e isso é um desfio por várias razões.
A primeira delas eu já mencionei aqui é o fato da
histórica vinculação da assis tência com a filant ropia , isso
dificulta cria um confronto entre práticas , acer t a d a no
reconhecime n to do direitos e práticas de favor.
E a segund a dificuldade é a expansão do tercei ro setor
que despolitiza o trabalho social e valoriza o trabalho
voluntá r io. A desigualdad e é despolizada ela não é tra tad a
com uma ques tão de uma sociedad e cindida e divida em
classe a desigualdad e passa a ser um dado administ r a t ivo
pela filantropia e a gente observa que aquela articulação
histórica entre o trabalho, a proteç ão social e os direi tos que
constitui o chama do Estado de Bem Esta r e que a gente sabe
que nem chegou até aqui, ela está em transform a ç ã o , ela está
encolhendo o mundo público, está encolhendo acho que
36
també m foi dito aqui. Encolhe- se o mundo público, o cidadão
é o bem sucedido no mundo privado mercan t il . Esse quadro
coloca em ques t ão o reconhecim e n to da pobreza e da
exclusão como manifes t açõe s das questão social brasileir a
como express ão de uma organização est ru tu r a l dessa
sociedad e, ou seja, a incompa t ibilidade entre ajustes
estru tu r a is da economia e investimen tos sociais do Estado é
um desafio para assistência social.
Essa incompat ibilidade ela ainda é mais complicada
nos tempos de hoje porque ela é referencia d a , ela é apoiada
no discurso neoliberal que defende o dever moral de pres ta r
socor ro aos pobres . Os neolibera is não são contra socorre r
aos pobres , pres ta r socorro aos pobre, pobres dever
humanit á r io tudo bem, desde que isso não seja consider a do
direito social, então e isso dificulta passa r para a esfera
pública essa proposta . O que a gente está consta t an do é que
os progra m a s sociais do atual Ministé r io − Ministé rio da
Assistência Social − e, inclusive o próprio Fome Zero,
mante m- se essa fragme n t a ç ã o total. A tenta t iva de unificar
os cartões talvez seja um primeiro passo, mas ela é uma
tenta t iva técnica fora de uma política, onde está a política
nacional? Então ela é uma tenta t iva espero que ela se
caminhe melhor, mas a gente não observa propost a s que
rompa m com a ótica seletiva, emerg e n cial com as ações
focalizadas , paliativas, assis tencialis t a s em anda m e n to na
sociedad e inteira . A gente não viu inovações e há municípios
37
que tem essas inovações . As novidades parece m esta r apenas
no âmbito de alguns municípios.
Me parece que o maior desafio, e esse é para termina r
mesmo, é colocar na esfera pública, o direito que todo
cidadão brasilei ro tem de ver atendidas as suas necessida d e s
sociais. Quando eu falo público, eu estou falando da
perspe c t iva da univers alidad e , dos intere s se s coletivos, estou
falando de uma visibilidade e de uma transpa r ê n c ia pública,
qualque r cidadão devia poder acessa r no mínimo pela
interne t os dados das políticas públicas desse país. Elas
teriam que ser transpa r e n t e s , elas envolvem o cont role
social, elas envolvem a par ticipaç ão da socieda de e a
democr a t izaç ão, e é neste âmbito que a gente observa em
andam e n tos em alguns municípios alguma s iniciativas que
estão buscando dete r esse processo de privatização do
público que també m foi apontado aqui, como uma das
tensões do SUS, é a relação do público e do privados. Em
alguns municípios a gente vê essa busca pela recupe r a ç ão do
protagonismo do Estado nesta área, na sua respons a bilidade .
Quando eu falo do Estado eu falo do nível federal , do nível
estadu al e do nível municipal. É o Estado o regulador o
financiado r , o provedor e o gesto r principal dos serviços
sócio- assis tenciais . Claro que ele não faz sozinho e como isso
també m não ocorre na saúde, estou lembra n do aqui o
cará te r público no sentindo do compromisso com os
interes s es da sociedad e . E nesse sentido uma das coisas que
38
vai surgi r nesta Conferênci a é a propos t a da const ruç ão de
um Sistema Único de Assistência Social nos moldes do, o
SUAS que tem no SUS a idéia da est ru t u r a ç ão . Que respei t e
a diversidad e desse país, mas que crie altern a t ivas nessa
dimens ão mais pública, que mesmo quando é a rede privada,
ela está atenden do questões de ordem pública, de ordem da
estru tu r a ç ão da sociedad e. Tudo isso gente sem nenhu m a
ilusão porque obviamen t e diante da desigualda d e , diante da
pobreza , da subalte rn id a d e que vive a população brasilei ra ,
as políticas sociais em par ticula r essa que nós estamos
colocando aqui ela tem limites, tem const r a n g im e n t os
claríssimos de ordem estru tu r a l que vão gera r a sua baixa
efetividade e seu baixo result ado sem ultrapas s a r esses
limites . Será que da políticas sócio assis tenciais e apenas
delas resulte m melhorias no bem estar social desta
população é ilusório e ineficaz. Porque nós estamos
observan do e que há uma imensa fratur a ent re o que é
anunciado na Consti tuição, nos nossos projetos, nas nossas
Conferênci as e a realização concre t a do direito. Uma coisa é
o anuncio do direito, outra coisa é a realização concre t a e
sobre tu do porque o cará te r , cumulativo que está presen t e
nos riscos e vulnera bilidade s que marca m a vida dessa
população é um cará t e r que não será facilment e rompido, ou
seja, nós temos ilusões, não é pela via das políticas sociais,
que a sociedad e vai se altera r , mas obviamen t e sabe mos que
essa políticas sobre tudo nesta estru tu r a ç ã o atual elas
39
expande m direitos. A hora que um idoso recebe seu beneficio
de Pres t açã o Continuad a , que vai pesar na Previdência , mas
ele cumpriu o direito. Convers an do com essa população
engraç a do que eles dizem “a minha aposen t a d or ia”, ele
nunca pagou, mas ele dizem “a minha aposen t a do r ia” eles
não chama m de beneficio eles dizem “a minha
aposen t a d or i a”. Claro que essas políticas realizam direitos,
ela permi te acesso a recursos , tem uma parcela dessa
população brasileira , acho que não sobreviveria sem serviços
públicos, tem a escola pública, tem hospital público, tem o
apoio na instituição do seu bairro, tem uma parcela da
população que vive assim, é claro que criam també m
possibilidade s de interlocuç ão, entre Estado, e sobre tudo nos
conselhos e na gestão são arena s de negociação entre
Estados e a socieda de . E a sociedad e aí entendida como
usuários desses serviços, as entidade s que pres t a m esse
serviço e os trabalha dor e s do setor .
Eu acho que é um processo que nós vamos ter que
const rui r tal e qual foi colocado pelo professor Emerson,
cada dia e o peso do trabalhado re s é muito grande, eu
concordo com ele aprovei tei muito do que ele disse, porque é
uma luta de cada dia do cotidiano, mesmo, pra realiza r
direitos dessa população. Obrigad a .
40
MESA REDONDA
Data: 14/1 1 / 2 0 0 3
CIDADES E METROPOLIZAÇÃO 3
(....) mas daqui um pouquinho eu começo a passa r
as transp a r ê n c ia s , eu quero só bate r um papinho com vocês,
bom em primeiro lugar eu gosta r i a de agradec e r e
parabe niza r a Virgínia e a Sandra e toda essa equipe por
mais essa realização e todo a comissão organizadora e hã
agrade ce r o convite, a oportunidad e de esta r aqui mais uma
vez falando com vocês, eu vou falar uma pouquinho do que é
a regia foi assim que me pedira m falar o que é a região
metropoli tan a porque existe essa historia de metropolização,
todo mundo fala, fala, mas tem um sentido concre to na
nossas vidas, eu quero que vocês escute m isso, perceb a m
isso e leve isso e adiant e na vida de vocês, porque a vida
nossa ta mudan do , já mudou e muita vezes nós levamos
tempo pra saber porque de certo (....) porque (....). eu vou da
um exemplo quan ta s pessoas moram hoje em Sumaré ,
Hortolândia , ou em Monte Mor, aqui Jaguariún a ou aqui em
Valinhos, por exemplo ao lado,ou então aqui em Paulínia e
que trabalha m aqui em Campinas , diversas pessoa , milhares
de pessoas , nós temos esses dados tal que bom o que tem
haver isso com a nossa historia raram e n t e num passado
recen t e pessoas trabalhava m numa cidade e moravam em
3 Profº Dr. Jurandir Ferna nd e s – Secre t a r io de Transpor te do Estado de São Paulo
41
outra , hoje isso tão comum que gera conflitos do seguinte
tipo, conflito de cidada nia, imagina você que passa o dia
inteiro, alguém que passa o dia inteiro trabalha n do em
Campinas e vai para Sumar é ou pra uma dessas cidades onde
mora, vai dormir lá, só tem uma vida pratica m e n t e
domiciliar, em época de eleições e de deba t e , você ta lá, e ta
vendo os deba t e s aqui você passa o dia intei ro aqui, e na hora
de votar, você tem que votar numa pessoa que você não sabe
nem que é lá da sua cidade , não sabe que vai resolver , que
vereador você vai votar, que prefei to você vai votar isso (....)
segundo que é que cuida dos problem as , que diz respei to a
essa relação nossa entre as cidades , o ônibus que não
funciona você vai reclam ar pra quem, o vereador aqui de
Campinas vai dizer sabe o que é você é de Sumaré , eu não
tenho nada a ver com isso o que eu vou faze, você vai lá em
Sumaré , o que eu vou fazer lá em Campinas eles não ta
permitindo isso, não ta deixando fazer isso ou assado, então
você vive que nenhu m trapo pra lá e pra cá é uma cidadã do
que, cidadã de Sumaré , cidadã de Campinas , bom isso ta
mudando e agora você tem um guard a chuva institucional ,
hoje nós temo o que a região metropolitan a , então tem o
conselho metropoli ta no ta ti, ta ta então vamos conversa r um
pouco sobre isso, e eu isso que eu quero falar també m, agora
outra coisa que importa n t e na nossa vida e o seguinte o que
(....) falou, porque será dessa miséria, dessa desgra cei r a que
nós estamos vivendo hoje genera lizada não é, mas o Brasil
42
cresce , cresce , cresce , o país cresceu economica m e n t e no
século passa do naquele relatório que ele apontou do IBGE
dez vezes, o Brasil ficou cem vezes, o Brasil ficou cem vezes
mais ricos, mais rico de 1900 pro ano 2000 cem vezes e a
população cresceu dez vezes, nós éramos em 17 bilhões de
habitan t e lá no começo do século, em 1900 e acaba mos o
século com 170 bilhões de habitan t e s , dez e a riqueza cem e
continua mos com grande s problem as de pobreza porque?
Porque a renda não foi distribuída de forma racional, de
forma inteligen te pelo contrá r ios nós chega mos a ter
extorsões de renda até acentua d a s , este é o grande problem a
do país né, é um país que tem um potencial, é um país rico,
mas tem uma dist ribuição da suas remess a s , das suas
riquezas de forma muito desto rcida e essa distorção de
distribuição da riqueza se manifes t a em tudo é o
desloca m e n to desum a n o que muito tem o que fazer na área
de transpor t e anda quilômet ros e quilômet ros para poder ter
um ter reno mais bara to, então você perde tempo, perde
energia , gasta em trans por t e , e a distorção na questão da
escolarida de , a escola gratui t a s no Brasil pra quem pode
paga r e que não pode pagar , trabalha dia e paga escola a
noite, essas distorções todas, nós temos que ter corage m de
crivar isso daí e levar pra frente porque tem alguma coisas
quase que paradiva, não não isso não pode ser assim, não
pode ser assado, a quest ão então que tem que ser enfren t a d a
e até bom que o governo tenha mudado radicalme n t e nesse
43
aspecto, porque até mesmo que tinha condições forteme n t e
cont ra r ia está apreen d e n do na prática que uma coisa e o
blá,blá e a outra coisa é ter que realizar e ter que fazer, a
hora tem que enfren t a r o mundo da verdade , você vê que tem
que mexer em coisas doloridas, então vamos ver, vamos ver
aqui e agora como é que nós estamos vivendo nessa chamad a
região metropoli tana e o que podemos melhora r , e pra
encer r a r essa minha pré- seleção só, não adiant a um esforço
comunal intelec tual , eu Pedrinho, e todo mundo que ta na
universida de , bas ta um rato, basta um cafajes te bem
posicionado numa câmar a pra des trui r todo e qualque r plano
que você possa imagina r , a Raquel Romini que hoje é
secre t á r i a do Ministé rio da cidade tem um livro muito
interes s a n t e em que ela fala, não é que faltou planejam e n to
pra São Paulo, teve um vereador que ficou 30 anos na
câmar a de São Paulo um tal de Paulo Brasil o que ele
apron tou, o que ele fez com o uso dos pólos e especulaçõe s
imobiliárias , foi mais do que todo mundo planejou, e aqui é
assim també m to cansa ndo de vê pilhas e pilhas de projetos
de planejam e n to pra, para o diretó rio de Campinas ta cheio,
no entan to o Oziel foi criado em duas seman as , criado e
deixado acontec e r , houve um prefei to em Campinas
Bonachão até na forma ta largado, bonzão que achou que
aquilo era uma benesse , bom deixa os coitado, não é uma
questão de coitado, milhare s de pessoas ali se instalar a m
sem nenhum a infra – est ru t u r a ocupando uma área que
44
poderia ser uma área, poderia gera r renda e empre go uma
área de forte potencial econômico que agora ficou totalmen t e
degra d a d o aquele monte de gente né, 4,5,6 mil famílias
gerou um desequilíbrio monume n t a l no equipa m e n to público,
não tinha como oferece r equipam e n to público para todo
mundo de repen te , escola, saúde, água, esgoto, transpor t e e
num mome nto pro outro é obvio que isso você não resolve
numa pancada só, então vamos discuti r tudo isso aqui depois
da pales t r a pra gente abri r um debat e sobre isso, o que
acontece quando alguém né num ato apara t e m e n t e de
grande bondade pode causa r um impacto que prejudica a
todos inclusive aos que chega r a m daquela forma, vamos lá
então, bom só pra começa r dois ou três conceitos bem
pequenos , porque nós vamos falar de região metropoli tan a
né, existe na própria lei alguns concei tos, porque alguém
pode pergun t a r , porque Campinas é uma região
metropoli tan a e outras é ou não é, se fala de em micro região
quando a gente pensa num território, ter ri tório que
compre e n d e alguns municípios né, com carac t e r í s t ica s
homogê ne a s , os municípios pode ser uma micro região por
exemplo com Lindóia, uma micro região de Serra Negra que
tem um algum compor t a m e n t o turís tico, ou de algum
artesa n a to local, ou de alguma, alguma atividade econômica
local, se conside r a aquilo uma micro região, já uma
aglomer aç ã o urban a, já é uma área urbanizad a um pouco
mais extensa e as vezes o municípios (....), mas acredi ta numa
45
relação entre eles como é o caso de Jundiaí, Jundiaí não tem
um pólo é uma área urbanizad a mais ou menos continua , não
está totalmen t e (....), o governo dos municípios que fazem
fronteira ent re si né, tem múltiplas funções e interes s es
comuns, o Jundiaí não tem uma função única aquela micro
região, o aglomer a d o urbano dele não existe uma polarização
em cima de uma cidade só como é o caso de Campinas , ou
caso de São Paulo, que aí vence o seguint e né, região
metropoli tan a já existe uma cidade mãe metrópole inclusive
tem essa designaçã o cidade mãe, pressupõe uma realidad e
social e econômica cujo o cent ro de grande s (....) não temos
um cent ro dinâmico, temos uma forca dinâmica como é o
caso de São Paulo, como é o caso de Campinas , como é o
caso de Santos as três regiões que a gente tem em São Paulo.
E o pólo de atração e de disfarce de produç ão e de consumo,
mas do que isso nós vamos falar por social e se você para r e
resolver isso por uma decisão jurídica e então vamos mudar o
rendimen to social e isso tem que pagar , pagar os juros, (....),
os juros são campeões de 2% a 10% juros, nós temos
convers a r com o banquei ro, como é que nós vamos fazer, se
pode espera r algum tempo pra paga r esses juros (....)
supre m a cia do capital financei ro, tudo se move me proteção
aos serviços do capital financei ro esse, essa questão social,
ou seja é preciso que na verdade (....)m essa heranç a
políticas do país se convença não é, se convença que nós
temos vivendo num processo suicida, porque a cada dia que a
46
gente passa manten do esses juros, esse acordos com o fundo
monet á r io interna cional , o subdes e m p r e g o , os buracos das
contas externa s , das contas públicas e da violência social, ela
vem aumen to mais, porque (....) nós engraç a do , a gente se
assus ta com um crime hoje, com um crime aqui, nosso a avô
matou neto, o filho estr ang ulou a mãe (....), mas isso virou
cotidiano, isso sai na pagina do jornal no país inteiro aquele
crime nos anos atrás era uma coisa típica da baixada
fluminens e , hoje hã a baixada fluminens e é um convento de
freirinhas (risadas) é um conven to de freirinhas perto do que
é São Paulo a violência ela está discriminad a no país inteiro,
a violência é em grande medida fruto disso, é um
enfre t a m e n t o da quest ão econômica e quanto isso aí não foi
feito, nós vamos continua r papo, duran t e o nosso bate papo,
ta vamos o que eu acho interes s a n t e e você começa r a
perceb e r olhando já pra uma gravura como essa a nossa
realidade no Estado de São Paulo nós temos hoje três regiões
metropoli tan a institucionalizada quais são? Tem a aqui de
Santos, a região metropolitan a de São Paulo aqui chama
devas t ado r a de São Paulo e a nossa de Campinas . Essa
região metropolitan a de São Paulo se configurou
institucionalme n t e desde 1973 tem 30 anos, as outra s duas a
devas t ad a e a nossa tem menos de 5anos, 4anos essa daqui
tem 2 anos no entan to já trabalhava m na forma de consorcio,
já se discutia , já tinha alguns elemen tos ai agrega dor , agora
veja interes s a n t e uma coisa, não, não pode, pode deixar ali
47
mais um pouquinho por favor, essas três regiões
metropoli tan a s na verdade esta mergulha d a s naquilo que a
gente tem chamado de um complexo expandindo, num
complexo metropoli tano muito maior tem uma abrang ê n cia
forte, pega desde a região aqui de Sorocab a , Jundiaí ta aqui
no meio ta, aqui em baixo esta São Roque, mas Sorocab a é
mais forte, pega a região das Águas que é uma referenci a ,
águas hã de Lindóia, Serra Negra , Amparo, Bragan t ina
també m e vai então ao Vale da Paraíba que é a região de São
Jose dos Campos, essa região aqui do Brasil corres pond e ao
meio por cento do terri tório, olha que concen t r a ç ã o human a
que a gente vive meio por cento, não é um por cento, metade
de um e meio por cento e sabe quanto habitan t e s tem aqui
esta indo pra 27 milhões e 26 milhões beirando os 27
milhões , o que significa 27 milhões de habitan t e s significa
15% a população brasilei ra , então 15% da população
brasileir a está engrupiad a aqui nesse meio por cento do
terri tó rio, agora a forca desse terri tório é treme nd a , dessa
área que correspon d e a quase 80% do PIB do Estado de São
Paulo de tudo que São Paulo produza não é tudo, agreg a
valores está aqui dent ro e correspon d e a mais de 27% do
Brasil em termos econômicos, então a concen t r a ç ão é
fortíssima é uma área riquíssima em termos de processo
econômico, processos sociais e portan to ou em conseqüê n cia
desta fração que gera també m tem seus problema s sociais
forte, você se todo mundo lembra de uma coisa aqui, que vê
48
olha só em 1950 na idade dos seus pais você pergun t a n d o pra
eles como era o Brasil em 1950 o Brasil possuía naquele ano,
naquela década né, no começo da décad a de 18 milhões de
pessoas morando na cidade, 18 hoje o Brasil tem 138 pessoas
milhões né de pessoas morando na cidade, urbano dos 178
brasileiros, 138 são urbanos , o que acontece u me 51 nós
tivemos um crescimen to das populações urbana s de 120
milhões de pessoas , o que significa isso? Nos anos 50 se você
pega 120 e divide por 50, as nossas cidades cresce r a m quase
com dois milhões e meio de habitan t e s , então a cada ano era
em torno de dois milhões e meio de pessoas tivesse que ter
casas, postos de saúde, escolas, ou seja, em 50 anos nós
tivemos que tenta r monta r a cidade pra 120 milhões de
pessoas não teve no século nenhu m a urbanização no mundo
tão forte quanto essa, não tem China, não tem Índia, não tem
o que você pensar , a maior urbanizaç ão ocorrida no mundo,
mas nasceu tudo isso de brasileiro, não, não só nasceu como
també m se deslocou nós tivemos uma forte migração do
campo para a cidade, o que eu quero dizer com isso não é
que nós brasileiros somos todos um bando de incompe te n t e ,
nós somos um bando de corrup tos , que ningué m pres ta , que
ningué m vale nada todo mundo burro, imbecil, analfabe to
não é isso essa prática (....) até, até a impress a inocula
porque só da desgra ç a né, muitas vezes tem nego que
incorpo ra aquilo, o cara fala pó realme n t e o Brasil, o cara
fala realmen t e o Brasil tem até uma piada o país é
49
maravilhoso, mas Deus colocou aqui um povinho que não vale
nada, né, que o Brasil não tem ter re moto não tem isso, não
tem aquilo, não tem aquilo, mas (....) Deus colocou o povinho
e fala uma palavra (....), não é isso, não é isso, nós somos um
povo, não preciso badala r vocês, nós estamos né, falando
entre nós, nós somos alegres , trabalha mo s pra cachor ro,
porque eu já morei fora da Brasil, morei na França que todo
mundo fala que trabalha , lá tinha tanto feriado, que até me
cansava do feriado, e aqui do ponto de vista nunca consegui
cansa r de feriado e aqui trabalhos dez, doze horas por dia,
porque todo mundo quando pode e quando tem faz horas
extras , camelamos pra burro em transpor t e , temos
pouquinho lazer, tiramos férias (....) por que não temos nem
pra onde ir ta então vamos ergue r a cabeça e ver que o país,
é um país novíssimo, é um país muito novo que vive um
momento forte, por ter problem as , agora nós temos
corrup tos , incompe t e n t e s temos, mas estamos pegando se
Deus quise r a gente vai (....) bom aqui está os números pode
pular então, uma coisa que vocês pediram para mim falar um
pouquinho o que é essa metrópole, o que a gente sonha, o
que é a cidade do futuro, né a cidade metrópole, lá em São
Paulo nós fizemos um trabalho duran te 30 anos com diversas
comunidad e s , e nós estamos fazendo em Campinas então,
esse resulta do que deu em São Paulo, eu já vou colocar pra
vocês o resultado parcial que está dando em Campinas , aqui
em São Paulo nós tere mos uma metrópole competi tiva,
50
saudável, equilibra da , respons ável e cidadã , vamos ver um
pouquinho de cada uma dessas , dessas premissas , dessa
qualidade aqui ta, mas eu vou ver isso pra vocês já
conside ra n d o Campinas , em Campinas não apare ce u a
palavras compet i tiva vai aparece outra coisa, mas é
interes s a n t e vocês verem o que já deu aqui e depois, nós
vamos coment a r o que já deu em São Paulo, vamos lá vamos
começa r a falar da gente aqui em Campinas a única forma
mais visível por enquan to de uma situação metropolitana que
a população percebe com isso nós temos que trabalha r para
ganha r essa conscien tizaç ão metropolitana pode vim através
do transpor t e s , outras situações como é o caso da água que é
muitíssimo mais velho, nesse sentido da questão do
trans por t e muita gente não percebe a quest ão do ar da
poluição, a questão dos dejetos do lixo, como é que nós
vamos fazer com os lixos, onde é que a gente joga o lixo? O
lixo de Campinas é pra jogar onde, Campinas não tem
espaço, não tem ater ro e se não tiver, é uma cidade pequen a
encravad a como Diadem a que ta cercad a de cidades de todos
os lados como ela faz pra jogar o lixo fora. Santo André, São
Caetano, bom então há diversos problem as que você se
relaciona com os outros, aqui a ques tão do transpor t e
coletivo já tem uma intermelaç ão interes s a n t e veja bem os
municípios estão dando conta de 63% do transpor t e , o
trans por t e que tem em Campinas , tem em Sumaré , tem
Hortolândia , Jagua riún a isoladam e n t e , tem os transpor t e s
51
locais, o Estado responde pelo resto 36%, só a cidade de
Campinas 63,5% é tudo só a cidade responde u por 53% do
trans por t e de toda a região só a cidade de Campinas , com a
metrópole é forte ela é o peso maior, o resto 10% conta e
pelo ônibus que vocês vêem por aí do tipo, como do tipo de
ônibus que vocês vêem aí como Caprioli, Rápido Luxo, Ouro
Verde, hã enfim esses ônibus das cidade que vem pra cá Ava,
Bonavita enfim são esses que o Estado tem a captu r a que a
gente esta fazendo, o que a gente pretend e ? Pra começa r a
pessoa a perceb e r que está numa região metropolitan a , nós
estamos pintando os ônibus usando uma forma pra eles
própria de região metropoli tana que é aquela pintur a bonita,
assim tem uma bandei r a paulista né do Estado de São Paulo
pra que a perceb e r que aquilo é metropolitana e apesa r de
viajar cidade por cidade, nós estamos també m levando todas
as obrigações sociais para o transpor t e metropoli tano, o
passe escolar , o passe idoso, o passe deficient e a gente está
també m fazendo com que todos metropoli tam e n t e tenha m
esse direi to, isso é impor ta n t e vocês sabere m agora , nós
vamos mostra r pra vocês no final dessa fala o que mais nós
estamos fazendo para dá carac te r í s t ica metropolitan a pra cá.
Bom então pra que a gente comece a pensa r no nosso futuro,
nós estamos trabalha n do do que a gente de PITU- Plano
Integra do de Transpor t e urbano através do transpor t e nós
estamos discutindo todos os aspec tos , como é que nós
estamos fazendo isso? Essa visão de futuro nós trabalha mos
52
as duas par te s aqui, reuniões com todos municípios através
de ONGs, assembléias , a câmar a locais, execu tivo, etc,e tc. e
tivésse mos (....) e o que nós vamos fazer agora? Nós estamos
divulgando e provocan do mais inscrições para fazer uma
realiment a ç ão pra saber o que precisa melhora r vamos lá, o
que se deu aqui em Campinas , aqui se deu a seguin te forma,
eles quere m, essas populações nobres são 19 municípios
aqui em Campinas quere m que a região metropoli tan a chega,
olha que estiver copiando precisa copiar que eu deixo o
disque t e pra vocês de presen t e aí ta, pode ficar depois
algué m copia, quero mostra r pra vocês, olha saudável todo
mundo quer uma cidade , uma região metropoli tana saudável ,
integra d a , harmônios, diversificada , acessível e cidadã , como
aqui nós não estamos numa região de trabalho pra começa r a
discuti r cada uma dessas questões , eu vou expor o que foi
cada uma delas, mas depois seria intere s s a n t e que cada um
de vocês pensass e m um pouco mais e brigasse daqui pra
frente muito nesse sentido ou se divergia, ou criar outros
també m aqui não aparec e u muito a questão da
compet i t ividad e porque São Paulo é uma das duas cidades
mundiais do Brasil, o Brasil tem duas cidades que é
conside ra d a mundiais que é Rio de São Paulo, assim como
tem e Nova York, Tóquio, Londres tem umas 15, 20 cidades
que são consider a d a s cidades mundiais Campinas ainda não
é conside r a d a assim então por isso ainda não tenha talvez
não aparecido a quest ão da compet i tividade , vamos abrir um
53
pouco cada um desses debat e s , o que se pensou nesse
atribu to de ser saudável isso estamos aqui pensan do tudo
naquilo que nós querem os ter, não nós ta dent ro do que é já
lógico, nós quere mo s caminha r pra lá, se você não mapea r ,
não faz uma estrad a de um sonho você não tem o que lutar
pra concre tiza r então pode ser sonho ou não, então você tem
que fazer essa busca e a busca que nós quere mo s é essa, e
fazer com que o nosso meio ambien t e prese rva r e auto
susten t ável essa palavra auto susten t ável virou moda né,
toda hora a gente fala isso auto susten t a bilidad e , auto
susten t a bilidad e , o cara vai numa festa ele fala eu to auto
susten t ável hoje, ele vai (....) vamos o que nós temos que
senti r né que você não desequilibra o meio que você esta, não
desequilibra por que não é fácil o equilibro ecológico e
interes s a n t e até aquelas faixas que tem na lagoa do taqua r a l
e aqui també m tem, é faixa aquela lá, é aquilo Capivara a
(risadas) gente do céu eu estou até trocando a bolas, aquilo
lá é capivaras algum chega com muita boa vontade de
coração aber to, e isso executivo de coração de aber to é que
chora demais de mais pelo amor de Deus (risadas) o cara
chora fica emocionad a e fala eu vou deixar as capivaras
livres, aí tem 10 capivaras , 30 capivaras , 100 capivara s e
haja capivaras , haja capivara s e haja capivara e o cara da
mãe que lindo, cada vez mais lindo e vem um tal de
carrap a t os e ningué m sabe mais o que faz com as capivaras ,
aí fala mata tudo, mata tudo que deu carrap a to , aí algué m
54
vem e fala agora se você mata r e pior porque o carra p a to vai
procura r outro local para se alojar , agora você tem que
deixar algumas aí pro carrap a to ficar por lá, então é uma
brincad ei r a , mas tudo que você provoca de uma forma
emocional, como fazem assim ou assado, vamos ocupar desse
jeito, vamos instala r , está uma briga porque quere m fazer
uma obra aqui na estr ad a da Rhodia, uma obra não mudar o
rumo da est ra da Rhodia pra abri r mais não sei quanto mil,
mil e duzen ta s , cinco mil lotes da área rural que é um golpe
bom né, você tem uma área deixa uma fazenda , você fica
quieto todo mundo urbaniza do lado da fazenda , urbaniza
tudo e a fazenda fica no meio fica quieto e o dono fica quieto,
e todo mundo levanta lá pra frente , gasta um dinheiro como
arrum a r esgoto, água, luz e agora com a maior cara de pau, o
cara vem e eu quero deixar minha fazenda pra criar um
condomínio aqui de 10mil casas , ningué m pergun t a o que vai
acontece r com a est rad a da Rhodia, quantos ônibus vai ter,
onde vai ser as escolas dessas crianças , onde vai ser os
super m e r c a d o s , as creches , como é que vai ficar aqui a rede
de saúde da região ningué m pergun t a nada, então precisa ter
um equilíbrio, precisa sauda r , precisa cresce r devaga r ,
precisa crescer com cabeça né, bom integr ad a s as cidades da
região estão integra d a s , isso é que nós precisamos, as cidade
tem que esta r integra d a s até fisicame n t e , até fisicamen t e ,
hoje pra mim ir até Jaguariún a eu preciso ir pela a est r ad a ,
pra mim ir pra Paulínia eu vou pela estrad a , nem fisicamen t e
55
tem integraç ã o é tudo est ra da , é uma operaçã o tão grande
que pra mim ficar dent ro da minha cidade, pra mim ir pra o
bananal que é meu bairro de Campinas tenho que pagar
pedágio não é verdade , porque? Porque o safado né, o grupo
de safadeza , o lote de imobiliária , a especulaç ão em
Campinas é tão violenta que alguém foi lá loteou e não se
preocupou com o acesso não tem uma estra da , então você
perde um pouco, então falta autoridad e , gente eu ano sou
candida to a nada eu to falando de desabafo porque a 40 anos
eu ouço falar as mesma s babosei ra s , então ou nós saibamos
quando acontec e r um troco desses , ir lá no vereador pega no
pé, arrebe n t a r e falar que não que, ou vai acontece r isso, o
bananal está lá pagando pedágio ta, cidades da região estão
integra d a . A intenção e de ser corre tiva a região tem uma
admiraç ão mundial, olha que interes s a n t e a região
metropoli tan a aqui ta exigindo isso ta falando nisso, a
presenç a de viracopos não sei quem lembrou é algo que
sensibiliza a região, o aeropor to dá um torno de export açã o
e import aç ão, o Rio Tiete e todo a hidrovia do Tiete chega
aqui perto Pedrei ra s , Piracicab a , o Porto de Santos esta a
120 140 quilômet ros daqui, se você tiver o Rodoanel
fechado, pega o anel que vem vindo mais pra frente depois eu
posso explicar , nós estamos colado no cent ro de exporta çã o e
fantás t ico de Santos , e aqui dent ro de casa no viracopos ,
então cidade já pleiteia uma dimensão mundial, a região
metropoli tan a (....), nós quere mo s uma nova cidade
56
articulada por vários núcleos multifuncionais , hoje a
humanização nos meios que nós temos permit e criar lucros
multifuncionais não é verdade todo mundo aqui lembra , ou
tende a lembra r quando criança que algué m da sua casa pra
cidade, muitas vezes a gente muitas falava, vai pra cidade , to
indo pra cidade, to indo pra cidade, to indo pra cidade já é
uma coisa que a gente não fala tanto né, to indo pro cent ro,
dá pra você levar uma carta pra mim, se passa no correio, se
passa no correio pra mim, da pro se passa r no banco pra
mim, hoje isso já é muito mais facilitado, você tem mais lucro,
você tem mais possibilidade de dete r mina r para os bair ros
multifunçoes , serviços principalme n t e , não existe tanto
necessida d e daquela cidade ser esclerosa d a assim, olha lá do
distri to indust r ial social, aqui rede banca r ia , aqui vai ser só
pra morar , você imagina uma bairro de dimens ão inteira ,
qual (....), todo as mulhere s també m trabalha m, as crianças
vão pra escolas, ou tem que ir pra creches , as mulhere s
trabalha m, os maridos trabalha m, ou deviam trabalha r não é
e o bairro fica o dia fechado, o dia inteiro se desloca para
outro lugar, além de trabalha r tem que comer , tem que
compra r alguma coisa pra levar pra casa, pois quando chega
em casa não tem onde compra r então esta conforma ç ão
espacial nós quere mos mudar també m, e fazer núcleos
multifuncionais não só na cidade como nos bairros, a região é
algo cent ra d a aqui o quere mo s uma região diversificada ela é
auto susten t ável, uma atividade econômica compat ível com
57
as vocações regionais, quando você tem um município é uma
coisa quando se você tem 19 e analisa o que os 19 tem de
potencial você pode cresce r muito mais por exemplo aqui na
nossa região nós temos algumas cidades que vocês não
imagina m a forca econômica que elas tem, sabe no que em
frutas você pega ali a região de Valinhos, Vinhedo, Itatiba é
uma coisa impressiona n t e o que elas produze m de fruta,
fruta de primeira catego ria para exporta r até inatu r a pro
res to do mundo, como é o caso de goiaba, manga, uva, figo é
uma coisa fantás t ica, bom está ali uma energia tremen d a
vamos junta r essas cidades e foi o que se fez, criou- se a
cidade das frutas , o núcleo das frutas , são oito cidades, (....),
você tem lixo aqui é forte flor que é da Holamb r a então
prera í vamos criar , você tem alta tecnologia aqui da região
da UNICAMP, você tem fortes indust r ia s de metal mecânica,
metalu rgia na região de Sumar é , você pode agrega r aqui o
que um valor de turismo de convenç ão, turismo de negócios,
você tem um forte apara to de saúde na região então você
pode també m agrega r esse tipo de economias de vendas ,
enfim diversifica as atividade s econômicas compa tíveis com
votações regionais que já estão aí estabelecidas , e muitas
delas estão adorme cida s e a gente não perceb e u , então isso
que se preten d e né pra nossa região, a principio eu já
coment e i isso rapida m e n t e a mobilidade que a
regulam e n t a ç ã o deve estar assegur a d a , isso que eu falei
agora pouco, nós precisa mos criar caminhos metropoli tanos ,
58
a metrópole deve oferece r em regime públicos de qualidade
isso é obvio, mas tem estar sempre que estar martelando,
sempre falando e sempr e pensando de uma forma
metropoli tan a regional . A saúde vocês vivem que estão mais
próximos aqui na questão da assis tência social vocês vêem
muito isso, a quest ão da saúde se você não faz uma rede
inteligent e né, com um atendime n to primário, secund á r io,
terciário e até quar t en á r ia deixando em alguma s áreas do
HC, área quar t en á r i a do século da saúde, você tem gente
batendo aqui na porta com dor de bar riga, com febre, com
dor de cabeça , é obvio você tem que pensa r de uma forma
integra d a uma rede e não é só na saúde não, todo mais você
tem que pensa r , porque que o município vai criar uma
grande FATEC por exemplo no município sem pensa r em
agrega r també m estudan t e s dos outros município, porque
não se pensa em projetos incomuns , vou dar o exemplo pra
vocês, questão da moradia vai um prefei to lá em São Paulo e
fica chora ndo com razão porque ele precisa de verba pra
fazer trezen t a s casas , então seja lá de acordo dele, então um
outro prefei to coitado aqui de baixo de Indaiatub a vai lá
també m reclama que precisa de pelo menos mil casa e assim
fica, cada um deles fazendo um pedido isolada m e n t e , você
não cria massa crítica pra política, aí nós reuniões todos os
prefeitos dent ro de uma câma ra temática chama d a habitaç ão
discutiu- se quanta s moradias precisa m para tirar pessoas da
área de riscos, vamos acaba r primeiro com áreas de riscos,
59
moradias em situação de risco deu 6400mil unidade s , uma
coisa assim mais ou menos 6400 e qualque r coisa, então nós
vamos batalha r por um projeto junto ao CDHU para 6400
unidades pra acaba r com todas situações de riscos, todos os
prefeitos ganha r a m força política pagam o pedido global e
arrum a uma linha de credito de uma forma global, e se cada
um isolada m e n t e não tem essa mesma energia , essa mesma
força, porque isso cidade , uma região metropoli tana cidadã ,
eu estou aqui pensan do segundo o nossos participan t e de
trabalhados é assim todo mundo tem é obvio né, que é uma
das coisas que mais ateroriza é a insegura n ç a , e essa
insegura n ç a não é só patrimonial , é a vida né, tem a
segura n ç a do trabalho, segura nç a (....) né, tem o transi to tem
tudo, a questão da segura n ç a pública isso é um dos primeiros
aspectos a discuti r , mas que discute també m gente como que
nós um simples cidadão podemos participa r de esse improle
da segura nç a porque vai chega r um momento que não da pra
bota r um guarda em cada esquina, num da pra botar um
guarda no meio do mato pra poder ficar tranqüilo não
adiant a , não tem, não cabe se você encont r a um psicopa t a
numa situação então da, não é isso tem que haver uma serie
de cuidado, umas das coisas que nós estamos analisando é o
seguin te a população també m tem que vereficar muitas
coisas de segu ra nç a você alimenta , quando você compra um
CD pira ta que é mais bara to e cinco paus, oba legal, me da
2,3 não vou aproveita r e levar 8 que é natal, então eu já dou
60
oito presen t e s , você ta alimenta n d o um bandido, um
bandidinho pequeno aquele coitado que ta ali as vezes é um
bocó, muitas vezes nem sempre é bocó, porque de bobo
quase ningué m tem mais nada, agora a máfia que tem por de
traz disso, a organização criminosa que tem por traz , uma
pirat a r i a de CD vocês não imagina a forca que tem, inclusive
com ramos internacionais aquela atriz boboca que fala que
fuma maconha pra relaxar um pouco é uma boboca taman h a
porque como tem mais de 2,3,4,5 milhões de adolescen t e que
se miram nela porque ela é uma celebrida de ta vendo ela ta
rica, bonita, gostosa e porque eu não posso fumar
maconhinh a també m, e a boboca falou que fuma pouquinho,
dez graminhas né, digamos sei lá, agora dez graminha s vezes
cinco milhões da tonelada s , da onde vem essa tonelada , o
crime e o narcot r áfico é o mais organizado, gente é o mais
organizado, que dizer que hoje em dia se houvess e mesma
um confiança até na universidad e , eu fico bobo dent ro na
universida de ta cheio de estuda n t e com essa cabeça de
minhoca , a import ân cia do universi t á r io hoje acha que a (....),
aquele monte de lobo que tem na Colômbia é revolucioná rio,
e marxis ta , só porque tem uma cartilha de, de baixo do
braço, o caras são trafican t e s , seqües t r a do r e s , bandidos ,
estão levando instabilidade até pra América Latina, jogam o
tráfico de drogas pra cá e levam armas daqui do Paragua i pra
lá, então esse bandido super organizado ta nas 30 graminh as
daqui, 20 graminh as dali é lógico gente isso tudo pra gente
61
par ticipa r por exemplo bar aber to a noite, já (.....) fechou bar
a noite depois das 11 horas, esses bares são (....) nas favelas.
O Bar é um pronto de venda de armas clandes t inas , qualque r
um sabe, você chega num bar e, e fala me da um 38 aí de
jartão, de um jartel me dá um 38 não sei o que, me da um
raspado, 38 raspa do que não tem marca coisa, os bares da
periferia tem isso, então tem que dar um jeito de par ticipa r e
nisso fecha os bares , produ to cont rab a n d e a n d o na hora, eu
vou dizer uma coisa, eu sei de um lugar, ta procura n do sei lá
o que, ta procura n d o um DVD eu sei de um cara que traz um
DVD legal pra burro tal, tal mais bara to, além de fortalece r o
crime a medida que você esta ajudando este tipo de
formalidade esta sendo desviado dinhei ro da formalidad e que
vai gera r emprego, vai gera r hã, você ta matando até o
emprego então, eu vejo aquela menina falando coitada ou
aquele rapaz né ou adolescen t e que está precisan do de um
coisa mais bara t a procura n d o e passa e compra dois piratas ,
CD piratas lá qualque r , coisa pirat a ele ta acaba n do de
redibuta r mais uma vez o emprego próprio. Bom, mas tudo
isso é um processo não é, eu sei que não é fácil, mas a
par ticipaç ão da ques t ão da segura n ç a , não é só policia na rua
e també m policia na rua, bom vamos para r por aqui e no
debat e a gente continua . Muito obrigado.
62
KAZUO NAKANO
(.....) Eu estou acostu m a do eu trabalho com
profissional da área de Serviço Social, então pude perceb e r ,
agora tem muitos repres en t a n t e s aqui da categor ia . Queria
agrade ce r o convite pra par ticipa r desse debat e e deixar aqui
os parabé n s pelo XX aniversa r io do Ciclo de Debates que esta
sendo comemor a do e hoje deixar a saudações da professora
Aldaíza Sposa ti ela não pode vir por conta dos compromissos,
hã na Secre t a r i a da Assistência Social da Prefei tu r a de São
Paulo e ela pediu pra mim trans mi ti r as saudações . Eu
organizei uma apresen t a ç ã o curta pra da espaço pra gente
pode dialoga r mais em quat ro par tes né.
Na primeir a par te eu queria está traçando
rapida m e n t e um quadro geral das tendências de
terri to rialização né da população brasileira principalme n t e
nessa ultimas década s de 90, de 1990 a 2000 a ultima década
do século passado, e há na segund a parte queria estar
desenvolvendo alguns pontos, alguns aspectos da
terri to rialização das metrópoles brasilei ras né, pontos que eu
acho são cruciais, desse processo e que são comuns a todas
metrópoles que existe aqui nosso país, na tercei ra par te eu
queria esta r levantan do algumas questões pra gente discuti r
nos campos das políticas públicas particula r m e n t e aquelas
políticas públicas voltadas pra combate r e enfren t a r a
desigualdad e sócios terri toriais metropoli tan a e por fim na
63
quar t a par te eu queria esta r colocando hã algum pontos que
pra mim são embat es né, colocados pela própria realidade
metropoli tan a frente a esses desafios da formulaç ão e
implemen t a ç ã o de políticas públicas comba te s a
desigualdad e s sócios terri toriais. Então na primeira par te eu
vou usar o Power Point que eu trouxe alguns slides só pra
gente visualiza r essas tendência , poderia colocar o slide por
favor e esse mesmo, pode passa r pro próximo aqui como o
companh ei ro ali de mesa já colocou esses são os dados que
mostra m o nosso ritmo acelerado de urbanização da
sociedad e brasilei ra na segund a metade do século 20, de
1950 a 2000 a gente partiu na década de 50 em 36,16% da
nossa população vivendo em períme t ros urbanos e chega ndo
em 2000 com 81,25% da nossa população brasileir a vivendo
em áreas urbana s né, teve uma inversão na hã tendência do
processo de distribuição do processo populacional foi muito
vem colocado na apres en t a ç ã o ante rior , agora eu queira
levanta r alguns pontos desse processo que está bastan t e
influenciado, ele basta n t e insaciável nesse processo de
desloca m e n to inter regional da população par ticup ala r m e n t e
do campo pra cidade e també m da cidade pra cidades , das
cidades peque na s para as cidades medias, das cidades
medias para as cidades medias, das cidades medias para as
grande s cidades, para as grandes metrópoles , pode passar
um pouquinho eu queria most ra r esse mapa de 1991 com
dados de 1991 em que a gente tem município brasilei ros com
64
faixa populacional aqui eu acho não da pro pessoal lá do
fundo enxerga r , então vocês vão ter quer acredi ta r em mim
(risadas) né, nisso, nesse município clarinhos , amarelos
clarinhos são os municípios que em 1991 tinha 618 a 20 mil
habitan t e s , nesses municípios alaranjados claros de 20 mil a
100 mil, aqui no alaranjado escuro de 100 a 500 mil, no
vermelho de 500 mil a 1500 milhão e 500 no marro m de 1500
a 9600 milhões que é o município de São Paulo o maior
município brasileiro, então a gente vê aqui essas, esses
pontos mais escuros laranjas né, vermelhos , mar rom, a aqui
hã os pontos de complicação populacional nessa malha
urban a né, nessa malha principal no Brasil no começo da
década de 90. pode passar por outro por favor, aqui no ano
de 200 a gente tem o mesmo São Paulo diferenç a hã que falta
a vista compar a d a com o mapa ante rio r e essa expansão da
mancha laranja que são esses municípios de 20 a 100 mil
habitan t e s cresce ndo hã, se arras t a n do principalme n t e nessa
região norte Pará, Amazonas né e que a gente vê aí uma
frente de crescime n to populacional né e conseqü e n t e m e n t e
uma frente de expans ão urban a, essa população que esta
crescen do nessa região norte do Brasil, é uma população que
boa par te dela esta se dirigindo pra viver nas cidades , em
plena hã região amazônica essa é uma tendência né, da, do
processo de urbanização brasileiro nesta virada de milênio a
expans ão de nova frente de urbanizaç ão em regiões pouco
ocupad a s e ao mesmo tempo esse rico crescimen to dos pólos
65
de concen t r a ç ã o hã populacional urban a aqui nesses
municípios onde a gente já tinha essa concen t r a ç ã o e esses
pontos, e esse pontos (....) eles pontua m né as regiões do
país, pode passa r o segundo, aqui a gente vê os números do
Estado de São Paulo em 1991 esse corredo r né do municípios
médios aqui no Vale do Paraíba e aqui eixo de São Paulo,
batalha Santis t a , São Paulo, Campinas , Ribeirão Preto, o eixo
da Califórnia Brasileira né, e hã esse eixo de riqueza do
dinamismo econômico e hã está muito bem configurado e
aqui temo eixo da pobreza que o Vale do Ribeira , eu não
trouxe o mapa daqui, eu tenho uma serie de mapas de (....)
sócio econômico tanto do IBGE, do altas, do desenvolvimento
humano de 2002 do Brasil e São Paulo e a gente vê
clarame n t e esses dois eixos de riqueza e pobreza do Estado,
pode passa r para o outro por favor. A já passou, a gente vê
de 1991 pra 200 a diferença quase não tem diferença , o que
a gente percebe é só esse alaranjam e n t o desse eixo aqui né,
do eixo da riqueza , é claro é um eixo que está crescen do
populacionalme n t e , e isso a pesquisa da Raquel que a gente
acomp a n h o u a Raquel Novik lá no foro, most ra os municípios
com maior valores agrega dos també m são os municípios com
uma tendência forte de crescime n to populacional e també m
são os municípios com maior concen t r a ç ão de moradia
inadequ a d a , estão nós estamos reproduzindo na ultima
década do século 20, o mesmo roteiro de desenvolvimen to
econômico, o mesmo roteiro de desenvolvimen to urbano
66
baseado na concen t r a ç ã o de riqueza, na reproduç ão da
preca r ied a d e ter ri to rial no aprofunda m e n t o da
vulnera bilidade social, no principal Estado do país, pode
passa r o seguint e , aqui hã só pra gente ter um quadro das
metrópoles do Brasil hã e que most ra declara m e n t e a
polarização que o secre t a r io colocou aqui nessa região da
metrópole paulista né, São Paulo concen t r a n d o isso 10 de
16%, 6% desculpa respec tivam e n t e da população do
brasileir a né, 10% da população brasilei ra são a região
metropoli tan a de São Paulo aquilo que foi colocado já muito
bem na apres en t a ç ã o ante rio r , bom esse, essa peque no
conjunto de dados e de mapas e só pra gente ter uma visão
dessa duas tendência s da huma nizaç ão da população
brasileir a no momento atual, hã de aber tu r a de novas frentes
de crescime n t o urbano, de novas frente s crescime n to
populacional e dent ro, e dent ro meio hã dessa polarizaç ão em
alguns municípios com grand e concen t r a ç ã o da população e
també m com grande concen t r a ç ã o de (....) econômicos e
també m com grand e concen t r a ç ã o de preca rie da d e
terri to rial e de vulnera bilidad e social, agora eu queria pedir
pra acende r as luzes porque eu não vou mais projeta r os
slides. Queria passa r para segund a parte de nossa discussão
que é sobre alguns aspec tos da terri torialização das
metrópoles no Brasil e queria refletir alguns sobre desses
aspectos aqui juntos com vocês. Primeiro ponto é sobre a
terri to rialização metropolitan a consti tuída a parti r de alguns
67
processos sociais desenvolvidos por sujeitos né hã envolvidos
em dinâmicos políticas, políticas e econômicas e culturais . A
idéia e que a terri torialização da metrópole ela é um processo
social, político, econômico e cultura l promovido pela
interaç ão do diversos autore s , dos diversos grupos de
interes s es , das diversas ações políticas né, é claro que cabem
que os ter ri tórios urbanos né, ele é hã envolvido nesse jogo
de relações coletivas. A terri torialização metropolitana ela
produz localizações urbana s né, que são objetos de disputa s
sociais em qualque r cidade do Brasil, em qualque r metrópole
do Brasil nós vemos que os processos sociais, políticos,
econômicos e cultura is são processo de produções e
localização a parti r de investime n tos públicos, a par ti r de
investimen tos privados, a par ti r de trabalhos coletivos, a
par ti r de trabalho individuai, o ter ri tório urbano, ele é hã
fruto desses investime n tos coletivos, desse trabalho coletivos
que resulta m em localizações urbana s , em lugares , as
cidades elas são feitas de lugares onde as pessoas vivem,
onde as pessoas agem, onde as pessoas desiste m, onde as
pessoas atuam. Essas localizações elas não são neut r a s , as
localização urbana s elas são objetos de disputas sociais né,
elas são resultados de trabalhos coletivos, e elas são també m
objetos de disputas sociais, em geral essas localizações , as
melhores localizações , as localizações com melhores
atribu tos, aquelas que com maior concent r aç ã o de
oportunidad e de trabalho, aquelas com maior concen t r a ç ã o
68
de equipam e n to s sociais, maior concent r a ç ã o e melhor
ofertas de infra estru tu r a urban a s em geral, essas
localizações são aprop ria da s por aqueles grupos com maior
poder de articulação política, os grupos com maior poder de
captu ra , do poder público, os grupos com maior poder de
crescimen to econômicos né, enquan to que as piores
localizações urbana s acaba sendo servida de altern a t iva de
moradia por grupos hã eu detenh a as nossas (....), aqueles
grupos que defende o nosso poder político de press ão política
né, em qualque r cidade do Brasil percor r e n do bair ros ,
percor r e n do os caminhos internos da cidade a gente vê hã os
lugares , as localizações melhores , mais favorecidas são os
lugares , os melhores bair ros , são os lugares com padrões de
moradia da alta renda né, e també m bair ros precá rios, as
favelas, os loteame n tos clandes t inos , as ocupações né, então
hã esse produto que a gente vê ele tem por traz na verda de
dois processo social absoluta m e n t e conflituoso e é um
processo funda me n t a lm e n t e de disputas , de disputas pela
aprop riação da riqueza social produzida coletivamen t e ,
porque o terri tório urbano ele apesa r de todos esses
problema s, apesar essas (....) ele é riqueza social, ele é fruto
de investimen to coletivos, o problema é que essa riqueza
social, o padrão de apropriaç ão coletiva dessa riqueza sócia
ele é injusto né, ele é concen t r a do e ele reflete hã o padrão
injusto e desigual de apropriaç ão das outras riquezas ,
inclusive das riqueza s financei ra s do nosso país que faz do
69
Brasil um dos paises mias desigual do mundo, é impor ta n t e
entend e r esse processo como processo social, como processo
político, como processo feito por atores sociais, por atores
políticos e processos result an t e s de escolhas né, e import an t e
entend e r nessa dimensão e desconfiar o máximo possível
daquelas colocações que definem esses processos como
processos natur ais né, hã como se fosse uma flores ta , uma
cidade, como uma selva de pedras que um dia nasce, um dia
cresce e um dia irá morre r , e hã import an t í ssimo evitarmos
essa visão natu r a lis t a dos processos sócios políticos, porque
se nós entend e r m o s esse processo sócio político como
processos natur ais nós caímos num fatalismo que se são
processos natur a is nós não podemos fazer nada para
transform a- los, se são processos sócio políticos, nós devemos
sim nós incorpora r o processo participa r para transform a- lo,
pra retorn a r novas escolhas né, a mídia quando estava
acontece n do as ondas de ocupações de glebas na periferia ,
dos edifícios ociosos, a folha de São Paulo ela soltou um
artigo que most rava uma das ocupações na periferia de São
Paulo e colocava como titulo como nasce uma favela? Como
se uma favela nascess e e hã do mesmo modo que nasce uma
planta na cidade né, e a gente sabe que não é assim hã uma
favela é fruto de todo esse processo sócio político de disputa
por localizações na cidade. A expansões das disputa s pela
localizações urbana s nas metrópoles está o processo de
segre ga ç ão sócio espacial de exclusão sócio terri torial que
70
produze m realidades metropoli tan as marcad a por profunda s
desigualdad e s na dist ribuição das riquezas sociais, né hã as
dimensõe s dessas igualdade s , a gente vem investigando no
cent ro de estudo das desigualda d e s sócios ter ri to riais na
série dos mapas da exclusão e inclusão que a gente vem
produzindo hã e reproduzindo a parti r da metodologia
elaborad a pela Aldaíza Sposa ti inclusive a gente esta
trabalhan do os dados aqui de Campinas , já estão todo
calculados, os mapas já estão todos feitos né, algumas
discussões já acontec e r a m né, e que a gente vê
declara d a m e n t e essa realidad e excluden t e e desigual que é
afas tada do ter ri tó rio das cidades , hã os bair ros onde os
déficits nas ofertas de vagas em creches , pré infantil, ensino
fundam e n t a l , unidades básicas de saúde aparec e gritan te né,
enquan to há bairros onde as superávi t s né, bair ros onde as
condições de moradia absoluta m e n t e precá r ia s e bairros
onde as condições de moradia são bem melhores , enfim há as
dimensõe s dessa segreg a ç ã o sócio espacial, as dimensões de
processos de exclusões sócios terri to riais são múltiplas né, e
que definem e aparece m como sendo obstáculos, interdições
que as pessoas sofrem no acesso as condições de vida, a
par ti r das quais essas pessoas possa m realizar suas
capacidad e s de desenvolvimento humano,a exclusão sócio
terri to rial ela aparec e contem pla m e n t e no cotidiano de vida
das pessoas né como sofrimen to, como uma interdição, como
um obstáculo a condições de vida nas quais as pessoas
71
possam realizar as suas capacida d e s de desenvolvimen to
humano, portan to a exclusão social ela é hã ela resulta em
perdas de potencialidade human a , a exclusão social ela
resul t a em perdas de desenvolvimento humano né, por isso
que a exclusão social, a dimensão e o limite delas é o
sofrimento humano, por isso que nós trabalha mos lá no
CEDEC, além das dimensõe s políticas, as dimensões objetivas
dos processos de exclusão social, procur a mo s trabalha r
també m as dimensões subjetivas dos processos de exclusão
social, os grupos de baixa renda, os grupos pobres, eles
quando nós vamos discutir os result ados desse trabalho nas
comunidad e s , nos bair ros das periferias eles ent ra m na
discussão e chama m a atenção pro fato que para gente é uma
derrot a , ele colocam que pobre eles não morre só de fome, os
pobres de tristeza també m, os pobres morre de sofrimen to
també m, então essa é uma dimens ão que a gente entend e u
no desenvolvimen to do trabalho como sendo uma dimensão
crucial, porque hã a hã ativação dos processos de
subjetivação, são ativações que pode renduda r num processo
de transform a ç ã o inclusive nos processo de transform a ç ã o da
própria vida. A terceira , o terceiro ponto que eu queria estar
aqui discutindo aqui com vocês é sobre algumas questões no
campo da formulação e impleme n t a ç ã o de políticas públicas
voltada para reduç ão da desigualda d e sócio terri toriais, a
gente viu que o terri tório ele não é um elemen to inerce, não é
um elemen to passivo na produç ão de desigualdad e s nas
72
metrópoles , o ter ri tó rio é um processo, ele é um processo de
constituição de lugares né, que mobiliza recursos a parti r dos
vários grupos sociais exerce m seus poderes das mais
diversas ordens né, esses grupos sociais mobilizando esses
recursos no processo de consti tuição dos terri tórios eles
garan t e m certos domínios e apreciam aspec tos né, aspec tos
que propiciam condições de vida e potencializam ou não a
realizam da capacidad e s human a s , né esse é o processo de
terri to rialização, por isso é que o terri tó rio vai além do
espaço físico, o terri tório é um processo, é um processo
social, é um processo político né, é um processo
instrum e n t a l , o terri tório ele é instru me n to de transform a ç ã o
né, hã, porta nto a terri to rialização ela acupula esses
instrum e n tos para a produção da realidade e para a
transform a ç ã o de realidad e , a ter ri torizaç ão implica
necess a r i a m e n t e no agenciam e n t o de recursos institucionais ,
mate riais, informacionais , tecnológicos a até acessível né, hã
instrum e n tos de que implica tem transform a ç ã o na realidade
e vice- versa, realidades que també m implicam em
transform a ç ã o no terri tó rio, daí a import ância da gente
introduzi r a perspec tiva terri torial na formulaç ão e
implemen t a ç ã o das políticas públicas que é o que esta
experimen t a n d o hoje na Secre t a r i a Municipal da Assisten t e
Social de São Paulo, introduzir a perspec tivas terri to rial na
formulação e implemen t a ç ã o das políticas sociais, porque ao
se adota r essa perspec tiva as dimensões de vida urban a, a
73
dimensõe s da vida social começa a ent ra r em relação (....) né,
porque ao se terr itorializa r os processos a gente começa
aperceb e r que os processos de desenvolvimen to econômico
estão inter- relacionados com hã a localização dos empre gos
que afeta m a qualidade da localização da moradia né, e hã a
terri to rialização das ações no campo da comunida d e urban a,
os transpor t e s a gente começa a percebe m na vida social, na
vida urbana , esta absoluta m e n t e implicada na por exemplo
com a acessibilidade dos serviços da educação, portan to a
mobilidade urbana , o transpor t e ele deixa de ser
simples me n t e uma quest ão de deslocam e n to origem e
destino e passa a ter uma dimensão social do Serviço Social
capas de garan t i r acesso sociais, mais do que soment e acesso
soment e físicos né, dado essa realidade de grand e
concent r aç ã o de oportunida d e s em pequen a s porções do
terri tó rio da cidade, a mobilidade passa a ter dimens ão
social, a ultima pesquisa de origem e destino da região
metropoli tan a de São Paulo mostrou a queda geral da taxa de
viagem da populaç ão e essa queda na taxa de viagem ela é
muito mais alta e grave nos terri tórios de exclusão social, no
terri tó rio precá r ios da moradia , ou seja, a população pobre, a
população hã que sofre a interdições aos aspec tos sociais,
essa população esta vivendo situações de confiname n to nesse
terri tó rios, da exclusão né, elas estão sofrendo com o déficit
de mobilidade urbana né, essa população está sofrendo hoje
com o déficit de capital, de articulação ter ri to rial, portan to
74
ela esta sofrendo com déficit no seu direito habitan t e , hoje no
Brasil a gente tem diante e hã diante de toda a sociedad e o
desafio de const rui r uma nova historia de terri torialização da
nossa cidades de rete r r i to rialização das nossas cidades e das
nossas políticas públicas que sejam capazes hã de
enfre t a m e n t o hã das desigualda d e s sócios terri to riais
existen te s né, então está feito o desafio de impleme n t a r o
esta tu to da cidade que é a lei federal , hã lei federal
sancionad a em 2001 que regula m e n t a o capitulo sobre a
política urbana da consti tuição de 1988, essa lei federal ela é
uma conquis ta social, ela não é uma lei federal comum
porque ela interfe r e numa historia da socieda de brasilei ra do
últimos 30 anos que pra mim como urbanis t a é uma das
historias mais relevan te s em que precisa ser regist r a d a ,
porque hã pela primeira vez nós temos uma consti tuição
federal de 1988 que par te dela foram inscri tas por iniciativas
popula re s , por emenda s popula re s , a gente tem o capitulo da
política urbana , os artigos 1.82 e o artigo 1.83 que hã que
originara m hã de emenda s popula r e s né const ruídas
coletivame n t e por diversos atores sociais, organizações não
governa m e n t a i s , universida de s , sindica tos de arquite tos ,
sindica tos de engenh ei ros , movimentos de moradia,
movimentos de saúde, movimentos de mulheres , enfim esse
conjunto hã rico de atores sociais de atores políticos de todas
as regiões do Brasil no final da década de 1980 se
mobilizara m no movimento nacional da Reforma Urban a hã
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discutindo e foram const ruindo essas propos t a s para serem
incorpo ra d a s na consti tuição de 88 coleta r a m as 250 mil
assina tu r a s necess á r i a s , apres en t a r a m a propos t a , só que o
tema é polemico afeta grande s interes s es , intere ss e s
conservado r e s e históricos da nossa sociedade , então essa
constituição, esse capitulo apesa r de prever alguns
instrum e n tos ele não pode se aplicado porque divergiu a
regulam e n t a ç ã o em lei federal, muitos inst rum e n tos que já
tinha sido prevista na consti tuição de 1988, por exemplo o
IPTU progre ssivo no tempo, não pode ser aplicado por
porque estava aguard a n d o essa regulam e n t a ç ã o de uma lei
federal. Ainda bem, (risadas da Platéia). Essa, essa
regulam e n t a ç ã o ela teve que espera r 12 anos, a par tir de
1988 iniciou- se um novo capitulo dessa historia social no
Brasil né, que todos esses atores tiveram que mobilizar ,
inclusive fazer logo com os deput ados federais , com
senador es pra que se encaminh a s s e para tramitaç ão da lei,
das leis que iria regula me n t a r esse capitulo de depois de 12
anos de ida e vinda se conseguiu em 2001 a lei federal
10.257 mil que é o Estatu to da Cidade, e após o Estatu to da
cidade de uma nova conquis ta , uma nova conquis ta que hoje
hã coloca muitas espera nç a s pra gente, que atua e procura
transform a r e rete r r i to ri aliza r a nossa cidade que é a criação
do Ministé r io da cidades , que é a criação do Ministé rio, do
Ministé rio que é um ministé rio que foi criado junto com o
fórum nacional da reforma urban a hã, cuja a concepç ão
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passa por todas essas discussões só que essa historia ela hã é
uma historia de luta, uma historia de disputa , é ima historia
que tem seus adversá r ios, tem que ter seus adversá r ios ,
sempre teve seus adversá r ios, continua tendo seus
advers á r ios e vai continua r tendo seus adversá r io, o esta tu to
da cidade passou de ataque hã, na câmara dos deput ados
existe 40 projetos de lei em tramitaç ão para a alteraç ão do
esta tu to da cidade e são alterações que viabilizam a
implemen t a ç ã o dessa política hã enfim os nossos pares que
estão atuando no Brasil e até no governo federal estão
atuando justame n t e no sentido de tenta r hã, compra r e se
compra r moedas , també m, e pra o ministé rio da cidade a
gente esta vendo na mídia todos os dias eles també m esta no
fio de navalha , está havendo uma mobilização nacional,
consolidação nacional do movimentos, a união do movimentos
de moradia , o fórum nacional da reforma urban a está
dissemina n d o cassa em defesa do ministé rio da cidade né, hã
porque pela primeira vez, nós temos no governo federal uma
instancia institucional para opera r as políticas urban as pra
todas as cidades do Brasil pela primeira vez, e essa instancia
ela esta no fio da navalha , o esta tu to da cidade, hã o
movimento nacional da reforma urbana ele vem operan do
nessa discussão e nesse campo a par ti r de três princípios que
pra mim são fundam e n t a is , pra nós são fundam e n t a i s . E hã o
primeiro principio consag r a do na consti tuição federal de
1988 e també m no capitulo da cidade é o principio do
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cumprime n to da função social e das cidades e da proprieda d e
urban a s , ou seja, o direito a proprieda d e continua
assegur a d o , todo nós temos o direi to a propried ad e , mas em
se tratando de uma proprieda d e urbana , o uso e usufru to
dessa deve esta r alinhado com os interes s e s públicos, com o
interes s es coletivos, então um terreno localizado, um grand e
terreno, vazio, ocioso, não utilizado localizado numa área
cent ral da cidade com todas as ofertas de infra est ru tu r a e de
equipam e n t os sociais, todos os hã produtos do investimen to
público, do investimen to coletivo, esse terreno reside
especula m e n t iva m e n t e ele não pode continua r sem cumpri r
com sua denomina çã o sócio econômica , segundo os
interes s es públicos, então o esta tu to da cidade tem alguns
instrum e n tos de indução do cumprime n to da função social da
propried a d e né, hã passa pela utilização parcela m e n to
estitaficação compulsória , IPTU progres sivo no tempo ata a
desap rop r iaç ão para a reforma urbana , devendo paga me n t os
nos títulos da divida pública, tem outro conjunto, outro
principio funda m e n t a l da reforma urban a que é o principio da
redist ribuição injusta das riquezas sociais, eu havia dito no
começo que o terri tório urbano ele é uma riqueza social por
que ele é fruto desse investimen to coletivo né, então e o hã o
principio da redist r ibuição injusta dessas riquezas sociais ele
se baseia no estabelecime n to de novos padrões de
aprop riação social dessa riqueza, mas democra t ica m e n t e e
hã que garan t a e efetiva o direito a cidade a todos, e o ultimo
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principio da reforma urbana é a democr a t izaç ão da questão
publica e aqui e hã a gente tem que entende r esse principio
como um principio multidimension al que implica na
efetivação e cont role social dos investimen tos públicos no
compar t ilha m e n t o do poder e na democr a t izaç ão dos
processos na tomada de decisão principalmen t e na tomad a
de decisões com relações aos assuntos de interes s e s públicos
e coletivos né, e por fim a ultima par te eu queria tra ta r aqui
sobre os impass e das impleme n t a ç ã o desses investime n tos
dessa política nessas perspec t ivas terri to riais , interse to r i ais e
rete r r i to riais no contexto metropoli tano, vocês já devem ter
percebido que o desafio é grand e e no contexto
metropoli tano desafio é maior, porque a gente tem que não
só enfren t a r desafios, mas articula r soluções para o
enfre t a m e n t o desses desafios em âmbitos super municipal
né, a gente já, foi colocado aqui a quest ão da habitação e
sanea m e n t o ambien ta l da modernida d e urbana e da
drena g e m nas metrópoles ela não resolvidas por um
município só, as causas das enchen t e s que acontec e num
municípios X, pode estar no município vizinho né, e hã o
sanea m e n t o ambien tal a coleta e destinação adequa d a do
esgoto né, a coleta e destinação adequa d a dos resíduos
sólidos, isso só é possível na metrópole ser enfren t a do e hã a
par ti r articulações intermu nicipais , a quest ão da mobilidade
urban a a gente viu ela é estra t é gica na refunda çã o da
metrópole né, a questão habitacional a gente dada, dado o
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grande déficit não adianta o município implemen t a r uma
política habitacional , sendo que o município vizinho ta
deficitá rio, ao se oferta r unidades novas, ao se possibilita r o
acesso a ter ra para habitação de interes s e social desse
município, a demand a do município vizinho vai vim concor r e r
com estas terra s , então a necessidad e daí de termos uma
instancia de gestão metropoli tan a , uma instancia de governo
metropoli tano, isso está em discuss ão e em envolve ate
propos t a de reformulaç ão do nosso parte federa tivo criando
uma instancia , uma propost a polemica já vi condições a
favor, já vi condições contra , mas já foi colocado uma
propos t a que envolveria inclusive a criação de uma nova
instancia da federaç ão brasilei ra né, bom por fim só pra
concluir e hã eu queria deixar aqui pro nosso debat e e hã
uma reflexão que uma, a nossa colega de equipe a Dirce
Kore, a nossa colega de equipe do CEDEC ela publicou um
livro que chama “medidas de cidades” né, e tem uma frase no
livro dela em ela diz que “as transform a çõ es na vida coletiva
e na vida da nossas cidades passa necess a r ia m e n t e pelo
terri tó rio, e o terri tório ele pode ser hoje pra gente o grande
caminho pra inclusão social”. Obrigado
Falta artigo do Professor Dr. Pedro Rocha Lemos
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