PEDRADAS COM VERSOS · mãe). Com seu exemplo de amor, e força pra lutar sempre, ela me ensinou a...

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Vitoriano Bill PEDRADAS COM VERSOS PRIMEIRA EDIÇÃO São Paulo 2014

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Vitoriano Bill

PEDRADAS COM VERSOS

PRIMEIRA EDIÇÃO

São Paulo

2014

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Capa:

Alexia Roffé

Contatos do autor:

e-mail: [email protected]

Blog: vitorianobill.blogspot.com

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

Bill, Vitoriano Pedradas com versos / Vitoriano Bill. --

São Paulo: PerSe, 2014.

ISBN 978-85-8196-762-2

1. Poesia brasileira I. Título.

14-10147 CDD-869.91

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Dedico este livro a dona Joana (minha

mãe). Com seu exemplo de amor, e

força pra lutar sempre, ela me ensinou a

seu modo, os versos que eu descobriria

nos livros, e viria a me inspirar

cotidianamente: “NÃO ACOMODAR

COM O QUE INCOMODA”.

Com todo meu respeito e admiração.

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Sumário

Apresentação .................................................................................... 9

Um Poeta Marginal ......................................................................... 11

Borboleta e a Flor ........................................................................... 13

Amar... ............................................................................................ 14

Mãe, Amor Verdadeiro ................................................................... 15

Sereno ............................................................................................. 16

Essa Moça Morena ......................................................................... 17

Daniela ............................................................................................ 18

Eclipse ............................................................................................. 20

A Moça Que Admiro ....................................................................... 21

O Beijo da Moça ............................................................................. 22

Tudo Mudou ................................................................................... 23

Lembranças ..................................................................................... 25

Traga-me o Punhal .......................................................................... 26

Tomara Que Caia ............................................................................ 27

Sobre Amores Inventados (Conversa Com Samara) ....................... 28

Gim ................................................................................................. 29

Navegando Em Ti ............................................................................ 30

Súdito .............................................................................................. 31

Santa Puta ....................................................................................... 32

O Gosto da Maçã ............................................................................ 33

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Teu beijo ......................................................................................... 34

Encontro Efêmero ........................................................................... 35

A Blusinha Branca ........................................................................... 36

Soneto de Um Novo Dia ................................................................. 38

Natal Em Cristo ............................................................................... 39

Dose de Versos ............................................................................... 40

Pedradas Com Versos ..................................................................... 41

Preta ............................................................................................... 42

São Pedro ........................................................................................ 43

Ambé e Altamira ............................................................................. 45

Sou Madiba ..................................................................................... 47

Liberdade ........................................................................................ 48

Voo .................................................................................................. 50

Vento e Vendaval............................................................................ 51

Vida Luta ......................................................................................... 52

Conselhos? ...................................................................................... 53

Rodovia de Sonhos ......................................................................... 54

É Mulher ......................................................................................... 55

Socorro ........................................................................................... 56

A Proposta ...................................................................................... 57

O Diabo Desse Inferno .................................................................... 59

A Escola Que Nos Dão ..................................................................... 60

Mercadores da Miséria ................................................................... 62

Ilusão Real ....................................................................................... 64

Festança Geral ................................................................................ 66

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Alma Preta ...................................................................................... 67

Eu, verbo ......................................................................................... 69

Discurso Perpétuo? ........................................................................ 70

Vazio ............................................................................................... 71

Conjugação Verbal no Modo do Povo ............................................ 72

Apenas Povo ................................................................................... 73

Versos Póstumos ............................................................................ 75

Aos Nascituros ................................................................................ 76

Pela Janela ...................................................................................... 77

Hipócritas ........................................................................................ 78

Véi ................................................................................................... 79

Rotina de Um Operário ................................................................... 82

Fernando, Ajudante de Pedreiro .................................................... 85

Fim .................................................................................................. 88

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Apresentação

Faça de mim um poeta; é o que você vai sentir, quando

ler o que Vitoriano Bill escreve em “Pedradas Com Versos”,

suas poesias, fazem aguçar ainda mais o interesse pelo mundo

das letras. Vitoriano é um daqueles poucos escritores que

transmitem em suas palavras o que realmente sente, um “Poeta

Marginal”, capaz de roubar sua atenção da maneira mais

sorrateira.

O poeta pode ser um fingidor, como dizia Fernando

Pessoa, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa. O poeta

Vitoriano não finge dor, ele sente e escreve, são somente suas

dores, mais também as de seus semelhantes. Característica da

pessoa humana que ele é. Dedicado aos problemas sociais,

estando sempre à frente das lutas que realmente acredita, um

poeta das causas populares.

Pedradas Com Versos, é a reunião de algumas das

diversas poesias publicadas por Vitoriano em seu blog. Pra

quem o acompanha, este livro é uma celebração. Aos que tem

agora o primeiro contato com seus textos, verá um universo

múltiplo, unificado através do olhar deste poeta.

Ser poeta é um oficio, poeta é profissional, com a

missão de transcender a realidade. Então amigo e poeta

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Vitoriano, continue seu oficio, escreva, escreva e escreva

sempre...

Aos leitores, que estas “Pedradas Com Versos” sejam

acima de tudo prazerosas e que você viaje por eles a ponto de

revisitar o tempo e espaço em que cada poema foi escrito.

Josi Feitosa

Setembro de 2014

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Um Poeta Marginal

Vitoriano Bill é um daqueles raros poetas que surgem no

acaso da vida de forma surpreendente. Suas poesias nascem com

a intensidade de quem quer viver cada segundo dessa vida sem

desperdiçá-la; são aguçadíssimas, partem da alma.

Viver e fazer poesia em Altamira nesses tempos de “belo

monte” não é tarefa fácil, principalmente para quem quer fazer

da poesia uma forma de denuncia dessa barbárie chamada

progresso. Altamira se transformou num verdadeiro caos

urbano no meio da Amazônia. Nada funciona, ou melhor, tudo

funciona de acordo com o conceito capitalista de

desenvolvimento. É neste contexto de selvageria em que nos

encontramos que Vitoriano Bill decidiu fazer da poesia uma

arma com mira e direção definidas. Suas poesias são acima de

tudo a forma mais intensa de se comunicar com o povo pobre

da periferia, aliás é da periferia que vem esse poeta, nascido às

margens da famosa rodovia Transamazônica, criado sob a labuta

de uma família simples, mas de extrema garra.

Seus poemas têm direção certa. Se fala de amor vai

direto na alma, se fala de política vai direto na ferida, não há

meias palavras. São francos e carregados de solidariedade e amor

ao povo. Vitoriano é antes de tudo um militante político guiado

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pelo mais nobre sentimento de solidariedade ao próximo. Suas

poesias nascem desse contexto de luta sócio-política, de visão de

mundo, de sensibilidade acima de tudo.

Fazer da arte um instrumento de emancipação do ser

humano tem sido um grande desafio numa sociedade pautada

pela mesmice dos grandes meios de comunicação, do culto a

idolatria do consumo, do individualismo e do egoísmo. A poesia

como forma de contestação não é nova, mas aqui em Altamira

ganha novos contornos nas pedradas com versos de Vitoriano

Bill. Ele é um dos idealizadores dos Saraus de Poesias Marginais

que se propõem a levar poesia e música de qualidade para a

periferia e para o povo. É por definição um poeta marginal que

faz dos versos a forma mais intensa de crítica e quase sempre

transforma suas poesias em pedradas certeiras, diretas,

intencionais.

Vitoriano Bill é isso e suas poesias a mais bela arte de

contestação nesta selva chamada Transamazônica.

Moisés da Costa Ribeiro

Poeta Marginal do Xingu

Março de 2014.

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Borboleta e a Flor

Quando abri a janela do meu quarto

Havia borboletas nas flores

Eram alaranjadas com pigmentos pretos,

As borboletas.

Já as flores, eram vermelhas.

Eu não sei o nome da planta

Da qual aquela flor desabrochou,

Mas a invejo

Pela beleza que ela

É capaz de trazer ao mundo.

Invejo também a borboleta

Que tem o direito

De se enamorar e consumar

Seu amor com cada uma das flores.

Feliz também é a flor

Que tem várias amantes,

Pois cada flor tem o direito de amar

Quantas borboletas vierem a sua procura.

Abri a janela do meu quarto

E vi a liberdade de amar.

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Amar...

Amar é ação voluntária.

Assim como quem contempla o pôr-do-sol

É quem dá tempo à vida,

Amar é doar tempo ao outro.

Amar é tão simples

Que sempre inventam coisas complicadas pra chamar de amor,

Até parece que pra ter encanto tem de ser complexo.

O verdadeiro amor é feito água,

Sacia, faz bem

Sem nem precisar de sabor, cheiro ou cor.

Amar é tornar-se o leito do rio.

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Mãe, Amor Verdadeiro

(À minha querida mãe Joana, e minha irmã Adriele Vitoriano)

Primeiro ela me trouxe ao mundo

Emprestando-me seu corpo como morada temporária.

Em seguida doou-me todo seu tempo

Com sua atenção e carinho verdadeiro,

Abdicou de tantos momentos

Pra garantir minha segurança

Meu bem-estar, minha felicidade.

Seus olhos me falam tanto,

Seu abraço meu refúgio,

Suas lágrimas meu perdão.

Dia ou noite

Parece sempre está de plantão

Velando pra que sua benção

Tenha existência em minha vida.

Numa cantiga de ninar

Ou até mesmo num sermão

É apenas seu amor dando-me a direção.

Mãe,

Mulher assumindo uma de suas formas divinas.

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Sereno

(à Isaura Lessa)

Na ponta da estrela brilhante

Um diamante,

Um dia amante.

Em seus olhos

Os sonhos de ontem

Revigorados pelo agora

Pela loucura que é viver.

E no sereno noturno

Gotículas de paz para o período diurno,

Pois teu rosto

Deve ser reflexo de tranquilidade

Mesmo em dias de tempestade.

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Essa Moça Morena

(À Raiany Silva)

Terra cabocla

Onde vive essa moça morena

Iara do nosso rio-mar

Encanta na tela

E rouba a cena aonde quer que vá.

Canta o sabiá

E toda fauna desse lugar

Um partido alto particular

Para a filha-benção

Desse cenário-altar.

Chora viola

Vejo florir a açucena

E congelo a imagem:

Ela se embalando numa rede

Deixando a tarde passar.

A moça morena

Tem seu reflexo nítido no Xingu

E seu riso esplendoroso desagua

Em nossas vidas como um leito de paz.

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Daniela

(À Daniela Silva)

Nesse mundo

Há em cena

Uma grande pequena

Revertida por uma linda pele morena.

Dani ela

Filha desse país aquarela

É raça, é grito na praça

Orgulho da história

Que lhe trouxe até aqui.

Estampa em suas vestes

Uma identidade ímpar

Tão suave quanto a neblina

Vinda ao amanhecer.

Pouquíssimo sei sobre Daniela

Só me ocorre vendo-a

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Numa roda de carimbó

Dançando a vida pra frente

E meu coração batendo num ritmo só.

Louvo a Deus por toda sua criação

Pelos milagres que há na Terra

Pela vida de Daniela

Tão linda como um dia de primavera.

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Eclipse

De frente ao portão da casa dela

Ficamos parados.

No silêncio, e na magia da lua

Da escuridão das ruas

Tudo se alinha,

Inclusive os olhos dela aos meus.

Esse fenômeno

Sucedido por um beijo

Se perpetua como desejo

Como eclipse.

Sim, eclipse

A beleza celeste

Sem nenhuma visão do apocalipse

Apenas nós, amando sob a lua de sangue.

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A Moça Que Admiro

A moça que admiro

É pátria

Que a liberdade fez latifúndio.

Despida de qualquer padrão

Veste-se de rebeldia

Contra o monstro-opressão.

A moça que admiro

É bruxa

Rejeita o contrato

E enfeitiça num olhar, num riso, num beijo ou no abraço.

No terreiro dos esfarrapados

Voz agitando a mente e aquecendo o sangue

Sal

Céu.

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O Beijo da Moça

O beijo da moça é multicolor

Um arco-íris libertário

Que contemplo de olhos fechados

Como o céu em fim de tarde no campo.

O corpo dela,

Brisa mansa matinal,

Tão lindo,

Desejável

E também fogo

Tarde de agosto

Queimando a pele às 15 horas.

Fico bobo

Quando num intervalo do beijo

Os olhos dela cruzam com os meus

E brinda aquele instante

Com um sorriso precioso

Digno de uma canção popular.

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Tudo Mudou

Meu mundo mudou,

Pois minha mente mudou

E minha fala cessou.

Quem eu sou?

A resposta eu não sei.

Para onde eu vou?

Não me importa saber,

Ser previsível me cansa,

Me faz sofrer.

Confirmei que não sei de nada,

Agora procuro aprender.

O poema que recitaste

Ainda não cansei de lê.

Sedentário não sou mais

Aprendi a viajar,

À companhia de Fernando Pessoa

Vou a qualquer lugar.

Procuro a perfeição

Sabendo que não vou encontrar,

Mergulho no lago