Os Maias Episódios da Vida Romântica
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PORTUGUÊS M8Textos Narrativos/Descritivos e Textos Líricos
OS MAIASEpisódios da Vida Romântica
Publicados em 1888
EÇA DE QUEIROZ
Póvoa de Varzim, 1845Paris, 1900
Fixar o essencial
Geração de 70
foi também uma…
Problemática
Atitude mental
Interrogação sobre a
identidade nacional
1.A Questão Coimbrã preparou terreno para o
aparecimento do Realismo, pois agitou as classes
cultas e políticas do país.
2.As “Conferências do Casino” inauguraram o
Realismo, lançando ao país os objetivos e as bases
da nova estética.
3.O realismo deve ser objetivo – o “eu” deve
distanciar-se e evitar a intromissão do sentimento.
4.O realismo é uma nova expressão de arte. O Romantismo foi
a apoteose do sentimento, a expressão do individual; o
Realismo é a análise tendo em vista a verdade absoluta, a
representação mimética objetiva da realidade exterior, a
anatomia do caráter.
5.A literatura realista deve banir o excesso de sentimento e a
retórica oca e superficial, isto é, abandonar o Romantismo.
6.“É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos
próprios olhos […], para condenar o que houver de mal na
nossa sociedade.”
7.O realismo deve aliar-se ao naturalismo; os romances são
construídos para provar determinadas teses, sobretudo o
determinismo que julgavam dirigir todos os comportamentos.
8.O realismo pretende a reforma social; é necessário criticar o
que está mal na sociedade: o ócio da alta burguesia, a
depravação do clero, a ignorância da classe política, a
educação retrógrada da juventude, os maus costumes, a
imoralidade, os vícios e as taras.
9.A obra literária deve ser o reflexo da realidade.
A Ação
A ação trágica
O desfecho anunciado, a força do
destino e os presságios
Guimarães simboliza o destino (Anankê) – o seu aparecimento
fortuito altera radicalmente a vida das personagens e origina o luto da
família Maia.
DIMENSÃO TRÁGICA
Ação principalCarlos
vê Maria
Eduarda acompanhada
por Castro Gomes
Carlos declara a
sua paixão a
Maria Eduarda
e percebe
que é recíproca
Consumação do incesto
Guimarães revela a Ega a
identidade de
Maria Eduarda
Carlos realiza o incesto
de forma conscient
e
Afonso morre
Maria Eduarda
parte para Paris
Carlos Viaja pela
Europa durante 10 anos
Carlos volta a Portugal,
defendendo uma teoria de existência – o
fatalismo muçulmano
Ação Secundária
Pedro conhece
Maria Monforte
Namoro entre Pedro
e Maria
Casamento de Pedro da Maia e Maria Monforte,
ainda que contra a
vontade de Afonso – rutura
na relação pai/filho
Fuga de Maria Monforte com o
napolitano Tancredo, que Pedro ferira
involuntariamente e que
recolhera em sua casa (Maria leva consigo a filha e deixa
Carlos entregue ao marido)
Suicídio de Pedro
PARALELISMO ENTRE AÇÃO PRINCIPAL E SECUNDÁRIA
O Tempo - cronológico
1. Introdução (5 pp.): marco inicial da ação; o Ramalhete; Afonso.
2. Preparação (cerca de 85 pp.):a.juventude de Afonso;b.infância de Pedro;c.juventude, amores e suicídio de
Pedro;d.infância e educação de Carlos;e.Carlos estudante em Coimbra; f.primeira viagem de Carlos.
3. Ação (cerca de 590 pp.).
4. Epílogo (cerca de 27 pp.):a.viagem de Carlos e do Ega (1877-
78);b.cenas da estada de Carlos em
Lisboa, oito anos depois (1887).
O tempo – histórico
3 GERAÇÕES DA Família MAIAGERAÇÃO DE AFONSO DA
MAIA
- A geração das lutas liberais e absolutistas (que opuseram D. Pedro a D. Miguel) e que
corresponde, na obra, à juventude de Afonso GERAÇÃO DE PEDRO DA MAIA
- A geração ultrarromântica, a que pertence Pedro da Maia e que sobreviverá na figura de
Alencar
GERAÇÃO DE CARLOS DA MAIA
- A geração do Portugal da Regeneração, aquela em que
Carlos se insere e que continua os ideais da 1ª
geração romântica, pela sua necessidade de renovação da sociedade portuguesa e pelo papel que é atribuído à
arte enquanto elemento dinamizador dessa
regeneração, após um período de estagnação
O Espaço
O Espaço
O Espaço físico
• O Ramalhete• A Toca• A casa de Maria Eduarda• A Vila Balzac
A Casa Ramalhete não existe, mas é possível imaginá-la como seria nessa rua
O Espaço social
Época da Regeneração
E
Meio social lisboeta
Figurantes Ambientes
Personagens planas Contraste ser/parecer
Figurantes
1. Tomás de Alencar – o Ultra-romantismo
2. Conde de Gouvarinho – o poder político
3. Cohen – o poder económico
4. Palma “Cavalão” e Neves – o jornalismo
5. Dâmaso Salcede – os vícios e os defeitos da Lisboa da Regeneração
6. Eusebiozinho – a educação à portuguesa
7. Cruges
8. Craft
9. Outros figurantes: Taveira (empregado no Tribunal de Contas/ócio); Sousa
Neto (representante da Administração Pública/mediocridade intelectual);
condessa de Gouvarinho (adultério)
Ambientes
Mais tarde abordados na Crítica S
ocial
O Espaço psicológico
AS PERSONAGENS
Personagens de maior evidência
1. Afonso da Maia
Afonso representa simbolicamente a integridade moral e a
retidão de caráter. Defensor dos ideias liberais durante a
juventude, Afonso é o reflexo de um passado áureo que
corporiza a incapacidade de regeneração do país. Vítima da
moral, Afonso sucumbe ao tomar conhecimento da relação
incestuosa do neto: Carlos da Maia.
Personagens de maior evidência
2. Pedro da Maia
Filho único de Afonso da Maia e de Maria
Eduarda Runa, simboliza a geração
ultrarromântica. Educado segundo os
valores tradicionais, baseados na
religião institucional, Pedro, de caráter
débil e melancólico, revelará a sua
incapacidade de reação perante a
adversidade, optando pelo suicídio.
Personagens de maior evidência
3. Maria Monforte
É uma mulher egocêntrica, amante do luxo do fausto, que
revela a sua insatisfação e o seu caráter volúvel ao abandonar
o marido e o filho.
Personagens de maior evidência
4. Carlos da Maia
Carlos é o protagonista da obra. Descrito como um jovem
cavaleiro da Renascença, Carlos da Maia representa o Portugal
da Regeneração que, apesar da enunciada revolução de
mentalidades, não consegue reinventar-se de acordo com os
ideias da Geração de 70. Dândi e diletante, Carlos sucumbe
rapidamente aos encantos da inatividade e acaba por ser
absorvido por uma vida social e amorosa que originará a
frustração das suas capacidades. Após a desilusão amorosa,
defende o fatalismo muçulmano como forma de sobrevivência.
Personagens de maior evidência
5. Maria Eduarda
Representa o arquétipo do feminino na sua
dupla aceção,
isto é, se, por um lado, Maria Eduarda alia a
perfeição física à faceta humanista que a
aproxima de Afonso (na opinião de Carlos),
por outro, simboliza o elemento feminino que
destruirá, definitivamente, o universo
masculino da família Maia.
Personagens de maior evidência
6. João da Ega
É o melhor amigo de Carlos e será também o mensageiro da verdade revelada
por Guimarães. Representa o intelectual dos grandes ideais que não chegam a
concretizar-se. Partidário do Realismo e Naturalismo, Ega é irónico, irreverente
e crítico da sociedade. Assume-se como dândi excêntrico e exuberante.
Outras personagens / personagens tipo
1. Castro Gomes – elemento catalisador da catástrofe ao introduzir Maria
Eduarda na sociedade portuguesa.
2. Craft – assume o seu diletantismo e ociosidade. Amante do belo, é um
símbolo da época em que vive.
3. Cruges – representa o músico idealista que tenta sobreviver na acefalia
nacional. É esmagado pela mediocridade do país.
4. Guimarães – tio de Dâmaso Salcede. É o depositário da desgraça da
família Maia, pois é ele que revela a identidade de Maria Eduarda.
5. Os Vilaça – procuradores da família Maia. Vilaça filho é o mensageiro da
desgraça, uma vez que substitui João da Ega na revelação da verdadeira
identidade de Maria Eduarda a Carlos da Maia.
Outras personagens
6. Tomás de Alencar – simboliza o ultrarromantismo, a estagnação
intelectual e a recusa das novas ideias. Defensor da moral e bons
costumes, é um elemento referencial do passado de Carlos, enquanto
representação da memória de Pedro da Maia.
7. Eusebiozinho – representa as vítimas da educação tradicional, que o
tornará influenciável e cobarde. Socialmente apagado e moralmente
fraco, opõe-se a Carlos desde a infância.
8. Conde de Gouvarinho – representa o Portugal velho e conservador.
9. Steinbroken – visão dos estrangeiros face à complexidade nacional.
10. Sousa Neto – representa a Administração pública. Ignorante e vaidoso.
11. Jacob Cohen – alta finança nacional. Vaidoso, não percebe a relação
adúltera da mulher com Ega.
12. Taveira – amigo dos Maia. Representa a ociosidade da aristocracia
nacional.
Outras personagens
12. Dâmaso Salcede – é a personagem mais execrável: mesquinho, cobarde,
egoísta e egocêntrico, simboliza o que há de pior na sociedade portuguesa.
13. Condessa de Gouvarinho – mulher fútil, que despreza o marido pela sua
precaridade económica. Paixão obsessiva por Carlos. Procura emoções fora do
casamento.14. Raquel Cohen – mulher romântica
que se entrega com paixão a uma
relação adúltera, mas que, na
realidade, ama o marido.
15. Palma Cavalão e Neves – meio
jornalístico parcial e corrupto.
A Crítica social
Jantar no Hotel Central – Cap. VI- Tinha como objetivo homenagear Cohen, da parte de Ega, apesar de ser uma homenagem irónica, pois Ega andava a cortejar a mulher de Cohen.
- Apresentar Carlos à sociedade lisboeta.
- Durante as conversas entre os amigos, apercebemo-nos que Alencar defende o Romantismo, enquanto que Ega é um defensor do Realismo, achando que a realidade deve ser descrita tal como ela é.
- Craft não gostava do facto de o naturalismo expor a realidade das coisas num livro.
Jantar no Hotel Central – Cap. VI
- Para além de questões literárias, os amigos discutiram também política: Ega era um anarquista, que desejava que houvesse uma revolução provocada pela Bancarrota que se previa. Afastava-se da monarquia.
- Dâmaso revela-se um cobarde, pois admite que, no caso de uma revolução, fugiria para Paris. Há também um bajulamento de Dâmaso em relação a Carlos.
- Há uma conversa entre Carlos e Dâmaso sobre a Sra. Castro Gomes, a “bela senhora” que Carlos tinha visto à porta do Hotel Central. Dâmaso conta-lhe que é uma senhora chegada de Bordéus, residente em Paris.
- É feito um retrato de Portugal na altura: “Lisboa é Portugal! (…) Fora de Lisboa não há nada. O país está todo entre a Arcada e São Bento!...”
Corrida de Cavalos – Cap. X- Afonso achava que, para se ser um verdadeiro patriota, devia fazer-se uma tourada e não uma corrida de cavalos.
- Pretendia-se que estas corridas mostrassem uma sociedade civilizada e evoluída, no entanto há situações que revelam falta de civismo: há uma gritaria à porta do hipódromo, porque as pessoas não estavam habituadas a estes eventos.
- Crítica às corridas: visão caricatural – 1) o hipódromo parecia um palanque de arraial; 2) as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares; 3) as senhoras traziam vestidos sérios de missa; 4) o bufete tinha um aspeto nojento; 5) a corrida termina numa cena de pancadaria; 6) as 3ª e 4ª corridas acabam de forma grotesca.
- Presságio de desgraça: Carlos tem sorte ao jogo, logo azar ao amor.
Corrida de Cavalos – Cap. X- Fracasso total dos objetivos das corridas de cavalos: radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta; o verniz da civilização estalou completamente.
- Crítica às mulheres: ousadia da Gouvarinho em convidar Carlos para ir com ela a uma estalagem em Santarém.
- Contraste entre o SER e o PARECER: a sociedade lisboeta queria parecer civilizada, mas na realidade ainda era bastante provinciana.
Sarau na Trindade – Cap. XVI- Aparecimento de Guimarães
- Ausência da família real no Sarau
- Crítica a Rufino: “Anjo da esmola” revela falta de originalidade, recurso a lugares-comuns (coisas muito vistas)
- Encontro entre Ega e Guimarães para falarem sobre a carta de Dâmaso, que envergonhou toda a família
Sarau na Trindade – Cap. XVI- É neste momento que Guimarães faz uma revelação a Ega: diz que tem um cofre que, segundo a mãe de Carlos, de quem foi íntimo em Paris, tem documentos importantes. Pede então a Ega que entregue este cofre a Carlos ou à irmã, Maria Eduarda.
- Ega fica estupefacto com esta revelação e, incapaz de ser ele a revelar a verdade hedionda a Carlos, vai ter com Vilaça e conta-lhe toda a história sobre esta irmã de Carlos, de quem tomou conhecimento agora.
Episódio final – Cap. XVI- Conclusão do romance
- Adormecimento, estagnação de Lisboa e do país. Referência a 2 tipos de vadios: vadios mendigos e vadios ociosos. As pessoas estavam indiferentes ao progresso.
- Diferença entre o ser e o parecer: vestiam-se à moda mas ainda estavam muito atrasadas.
- Eça escolhe o Largo de Camões (Renascimento) para contrastar com a estagnação evidente em Portugal. Já o Chiado representa Portugal do presente.
- Crítica aos hábitos do povo: más-línguas e jogar às cartas.
- O Ramalhete está agora vazio e sem albergar os Maias – sinédoque do país, atingido pela destruição e abandono.
Episódio final – Cap. XVI- No final, Carlos e Ega acabam por concordar que não vale a pena correr por nada, “Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”
- No entanto, e por contraste, acabam os dois a correr para apanhar o elétrico.
O NARRADORCiência: Omnisciente
Focalização: Interna
Capítulos I e II
A ação do romance inicia-se no Outono de 1875, quando
Carlos já está formado em Medicina. O narrador procede a
uma analepse (recuo temporal) para dar a conhecer os
antecedentes de Carlos.
Recua 55 anos (1820). O discurso é muito menor que a
extensão da história, porque o narrador, sendo
omnisciente, recorreu a uma redução temporal, realizada
por sumários e elipses.
Capítulos I e II…continuação
Durante a analepse são narradas duas histórias: a de Afonso
da Maia e a de Pedro da Maia. A 1ª tem dois objetivos:
apresentar dois espaços históricos, sociais e culturais (o
espaço miguelista a que se ligou Caetano da Maia e o espaço
liberal a que se ligou Afonso da Maia); mostrar Mª Eduarda
Runa presa a um catolicismo retrógrado e ligada a uma
misteriosa doença – doença e religião que a consumirão e
marcarão o seu filho, Pedro.
Capítulos I e II…continuação
A história de Pedro da Maia e de Maria Monforte constitui a
intriga secundária, de índole naturalista. O percurso biográfico
e amoroso de Pedro só é explicável à luz dos fatores
naturalistas: raça, educação e meio.
Raça – paralelismo entre a mãe e o filho; Educação – a mãe
escolhe para ele uma educação dada por um padre, que lhe
impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual, tornando-
o um “fraco em tudo”; Meio – ambiente moralmente baixo.
Capítulos III e IV A educação de Carlos foi feita sob a orientação
do perceptor inglês Mr Brown, por ordem de
Afonso da Maia. Há claras diferenças entre os dois
tipos de educação presentes neste capítulo: à
portuguesa (Eusebiozinho) e à inglesa (Carlos). O
narrador, sempre crítico, opta pela educação à
inglesa.
Estamos perante dois modelos de país: um voltado
para o passado e outro voltado para o futuro.
Estudante em Coimbra, Carlos depressa mostrou a
sua tendência para o romantismo sensual,
entregando-se a duas ligações amorosas. Herança
do pai? Da mãe? Da ausência de educação moral
e religiosa?
Capítulos III e IV…continuação Carlos liga-se, em Coimbra, aos mais revolucionários e sobretudo a
João da Ega, que será seu eterno amigo e confidente.
O narrador opta por uma caracterização indireta, fornecendo
apenas o essencial sobre Carlos, deixando para o leitor o papel de
completar a caracterização.Educação “à inglesa” - Carlos Educação “à portuguesa” - Eusebiozinho
Contacto com a naturezaExercício físico
Aprendizagem de línguas vivasRigor – método – ordem
Valorização da criatividade e juízo críticoSubmissão da vontade ao dever
Alma sã em corpo são - equilíbrio
Permanência em casaContacto com livros velhos
Aprendizagem de línguas mortasSuperproteção
Valorização da memorizaçãoSuborno da vontade pela chantagem
afetiva
Alma doente em corpo doente - sentimentalismo
“Carlos partira para a sua longa viagem pela Europa. Um ano passou.
Chegara esse Outono de 1875: e o avô, instalado enfim no Ramalhete, esperava por ele ansiosamente.”
Fim da grande analepse
Capítulos V e VI
Ociosidade – parasitismo social de quem consome e nada
produz, gastando o tempo em ócios supérfluos. Afonso da
Maia, Steinbroken (um embaixador inútil que passa a vida em
serões) e outros entregam-se ao jogo.
Carlos estava “indolente e bocejando” – verbo que caracteriza
os seus projetos. Ega abandonara os seus projetos também,
mais interessado no seu caso de adultério elegante com a
Cohen. Carlos e Ega são a projeção da ineficácia prática da
Geração Revolucionária de Coimbra e a frustração (ideal vs
realidade).
Capítulos V e VI…continuação
O jantar no Hotel Central – “Episódios da Vida
Romântica”: retratar a sociedade lisboeta e apresentar
Carlos. Neste episódio desfilam perante Carlos os
principais protagonistas e problemas da vida social,
política e cultural da alta sociedade lisboeta: a crítica
literária, a literatura, a História de Portugal, as finanças
e a economia. Todos estes temas são objeto de
discussão que acaba em desacato, denunciando a
fragilidade moral dessa sociedade que pretendia
apresentar-se como civilizada.
Carlos vê pela 1ª vez “a sua deusa” e sonha com ela nessa
noite – dimensão onírica.
Capítulos VII Três personagens em evidência: Carlos, Dâmaso e
Ega.
Carlos sente-se condenado ao diletantismo – o
meio empurra-o para a inatividade.
Carlos é uma personagem modelada: adensa-se,
divide-se entre a idealização amorosa da “deusa” e
o desejo sensual da Gouvarinho.
Dâmaso tenta colar-se a Carlos – o narrador
ridiculariza-o.
Ega escreve um artigo para a “Gazeta”, elogiando
Cohen, em estilo “emplumado e cantante” - Ega
contraditório.
Capítulo VIII Viagem a Sintra: a busca (frustrada) da felicidade.
A viagem de Carlos a Sintra à procura de Maria Eduarda é
motivo para a apresentação de vários temas:
Viagem circular – eterno retorno
Dura 1 dia – brevidade do tempo, da vida, da relação
amorosa
Desilusão – indício da teoria de que nada vale a pena
Elogio do campo
Os contrastes: a “deusa” e as queijadas; a “deusa” e as
prostitutas espanholas
A desculpabilização do indivíduo para não fazer nada (típico
português)
O romantismo de Alencar vs o realismo de Cruges
Capítulo IX Indícios negativos: dia amanheceu triste, Carlos sentia-se uma
ruína.
Dispersão espacial: Ramalhete, Hotel Central, casa dos Cohen,
Quinta do Craft, Aterro, Vila Balzac, casa dos Gouvarinhos.
Ritmo lento da intriga, mas que permite apresentar indícios
para a evolução da ação:
A espada de Ega (separação de Raquel)
O sofá (leito de amor)
Olhos da mãe negros (possível consanguinidade)
Baile de máscaras (oposição entre o ser e o parecer)
Exílio do Ega em Celorico de Basto (purificação no campo)
Capítulo IX…continuação
Carlos visita Rosa
Carlos deixa-se arrastar pela Gouvarinho
– ambiguidade sentimental
Capítulo X
Capítulo X
As corridas de cavalos são o episódio onde é
caracterizada, de forma especial, a sociedade feminina
que vem no High Life. Tinham como objetivo dar à capital
uma atmosfera cosmopolita, idêntica a outras capitais
europeias. São criticados os seguintes aspetos: a
importação de modas estrangeiras e a incapacidade de
adaptação dos portugueses ao evento; inadequação dos
trajes à ocasião; o tédio e o desinteresse evidenciados
pelo público; a falta de desportivismo e a tendência para a
vulgaridade.
Capítulo X…continuação
As corridas terminam de forma grotesca e caricatural, pondo
a nu a contradição entre o ser e o parecer: imitação do que
se fazia lá fora (Londres, Paris). Estalar do verniz postiço da
civilização.
Indícios: Carlos é feliz no jogo – azar no amor; desilusão – não
encontra a “deusa”
O bilhete vindo da brasileira marca uma viragem definitiva no
curso da intriga.
As corridas e a sociedade
Ela e Carlos
Visão caricatural:- O hipódromo,
improvisado, parecia um palanque real
- As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares- As senhoras traziam
vestidos de missa- O bufete tinha um aspeto
nojento- A 1ª corrida terminou
numa cena de pancadaria
Provincianismo snob
- Ela não apareceu – desilusão
- Chegada da Gouvarinho- Sorte de Carlos no jogo- Dâmaso com notícias
dela.
Carlos em casa de Madame Castro Gomes,
Maria Eduarda: um percurso no interior e na
intimidade
A intriga começa agora!
Heróis: Carlos e Maria Eduarda. Oponentes:
Dâmaso e Afonso da Maia. Adjuvante: Ega.
O 1º encontro de Carlos com Maria Eduarda
está cheio de indícios: Nomes semelhantes,
3 lírios murchos = 3 gerações dos Maias, a
semelhança entre ela e o avô, entre outros.
Capítulo XI
Da Rua de S. Francisco para os
Olivais – a Toca: da declaração ao
incesto
Jantar em casa dos Gouvarinho.
Alvos visados: o conde de
Gouvarinho e Sousa Neto.
Objetivos: radiografar a ignorância
das classes dirigentes.
Capítulo XII
Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do
Estado: incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.
A personagem central vai-se aprofundando na divisão interior:
mantem os encontros amorosos com a Gouvarinho e os amores
platónicos com Maria Eduarda. Vai cedendo cada vez mais ao
seu romantismo – nem ouve Maria Eduarda quando esta lhe
quer contar algo.
Carlos declara-se, dá-lhe o 1º beijo e aluga a casa no campo (a
Toca) para Maria Eduarda.
Capítulo XII…continuação
Os lugares que fazem evidenciar as ruturas:
No Ramalhete – Carlos recebe uma carta da Gouvarinho em
que se queixa de este ter faltado ao rendez-vos em casa da
titi, vendo nisso uma ofensa.
Para o Grémio pela Havanesa “O Dâmaso anda por aí, por
toda a parte, falando de ti e dessa senhora, tua amiga…A ti
chama-te “pulha”, a ela pior ainda.”
No Chiado – Carlos ameaça Dâmaso de lhe “arrancar as
orelhas”
Capítulo XIII
A casa alugada nos Olivais a Craft por Carlos passa a ser o
espaço privilegiado da intriga.
São cada vez mais evidentes os indícios disfóricos desta relação:
os boatos baixos do Dâmaso, os insultos da Gouvarinho à
Brasileira, as múltiplas conotações negativas e trágicas do
espaço da Toca, o próprio nome dado à casa, etc.
Capítulo XIII…continuação
A ida de Afonso para Santa Olávia favorece os amores de Carlos.
O avô continua a ser o espinho, a perturbação essencial desta
relação.
O plano da fuga de Carlos e Maria Eduarda está cheio de indícios
de desgraça pela semelhança já referida com o de sua mãe.
A noite do incesto involuntário: indício simbólico da tempestade.
Capítulo XIV
Carlos e Maria Eduarda visitam o Ramalhete numa espécie de
simbólica receção nupcial.
A semelhança entre Carlos e a mãe de Maria Eduarda simbolizam
a hybris (desafio).
As revelações de Castro Gomes funcionam como o indício da
anagnórise (reconhecimento): este declara que “aquela senhora”
não era a sua mulher, mas sim alguém a quem ele pagava em
troca de companhia.
A história de Maria Eduarda é, primeiramente, contada por
Melanie a Carlos e, depois, pela própria Maria Eduarda.
Capítulo XIV
Na Toca: a história de Maria Eduarda. Nascera em Viena, que
pouco recordava; fora educada no convento, perto de Tours, até
aos 16 anos; depois no Parque de Monceaux, numa casa de jogo
e prostituição, sob o jugo de Mr. de Trevernnes; arruinada a mãe,
foi para Fontainebleau com Mac Gren; da ligação amorosa nasce
Rosa; rebentara a guerra com a Prússia e Mac Gren alistara-se;
partiu com a mãe para Londres e caíram na miséria; Mac Gren
morreu e voltaram a Paris, onde rebentou a Comuna; novamente
na miséria, foram salvas por Castro Gomes. ANALEPSE
Capítulo XV
Na Toca: Carlos e Ega discutem e recordam planos. Carlos e Maria
Eduarda projetam: fugir para Itália, mas encontram o “espinho” do
avô; casar secretamente e apresentar o facto consumado ao avô.
Ega aconselha Carlos a esperar pela morte do avô.
O problema da Corneta do Diabo: Ega comprou toda a tiragem; Palma
Cavalão denuncia Dâmaso e, subornado, fornece as provas.
Capítulo XV…continuação
Em casa de Dâmaso. Dâmaso, acovardado, escreve uma carta
rascunhada por Ega: desculpa-se com o argumento ridículo da
bebedeira crónica e hereditária.
No jornal “A Tarde”. Ega, furioso por ver Dâmaso e Raquel no S.
Carlos, decide destruí-lo utilizando a carta.
Capítulo XV…continuação
O Sarau da Trindade, onde se dá a anagnórise da tragédia.
Oradores: Rufino – aclamado pelo público tocado no seu
sentimentalismo ainda muito romântico. Alencar – poeta
ultrarromântico, aclamado vivamente pelo público. Cruges –
fiasco total, o público preferia um fadinho de Lisboa.
Capítulo XVI
Anagnórise: Ega – Guimarães – Largo
do Pelourinho
Ega pensa em empurrar tudo para o
Vilaça. Solução provisória: “Amanhã
logo se verá.”
Capítulo XVI
A anagnórise é feita progressivamente: Ega revela o conteúdo do
cofre a Carlos, Carlos a Afonso.
A transgressão dura ainda 5 dias, o que vai contra a unidade de
tempo das tragédias.
Carlos comete incesto voluntário. O pathos instala-se a partir da
quarta noite quando Carlos toma consciência das consequências
dos seus atos. Carlos não se preocupa com qualquer problema
moral ou religioso, apenas sente um tédio mortal.
Capítulo XVII
Afonso morre, no meio do jardim que
sempre amara: não resistiu a esta
desgraça. A catástrofe atinge mais
duramente o avô, em vez do transgressor.
Ega revela a Maria Eduarda o conteúdo dos
documentos do cofre. Esta é também
atingida pela catástrofe. Maria Eduarda
parte para Paris, numa situação que mais
se parece com um funeral.
Capítulo XVII…continuação
DOIS PERCURSOS
O Espaço – de Londres para a América. Ega e Carlos seguem para
Londres e depois para a América do Norte. Ega volta ano e meio
depois, reaparecendo no Chiado.
Carlos em Paris – Carlos instala-se em Paris, nos Campos Elísios,
fazendo a vida de um príncipe da Renascença.
O Tempo – nos fins de 1886. Elipse de 10 anos. No final de 1886
sabe-se que Carlos veio fazer o Natal perto de Sevilha.
Numa manhã de 1887 – os dois amigos, Carlos e Ega, reencontram-se
em Lisboa.
Capítulo XVIII
Lisboa revisitada:
Largo de Camões – nada mudara. Camões triste (séc. XVI vs
séc. XIX). A mesmice, a estagnação, a ociosidade.
Pelo Chiado – as pessoas. Dâmaso, mais velho, casado e
traído; Craft, doente e alcoolizado; o Taveira sempre com uma
espanhola.
Capítulo XVIII…continuação
Pela Avenida – os prédios velhos mas repintados, a nova
geração, ajanotada, ociosa, exibicionista e postiça, o
Eusebiozinho casado com uma mulher que o desanca, o
Cavalão tornado político, o Alencar – único português genuíno.
No Ramalhete – a passagem pelo Inferno: a catarse. Um ar de
claustro abandonado. No famoso jardim, a ferrugem cobria os
membros da estátua de Vénus Citereia, o cipreste e o cedro
envelheciam juntos, na cascata a gota caía gota a gota.
Ramalhete em ruína = Sinédoque de Lisboa / Portugal
Capítulo XVIII…continuação
Completo fracasso de Carlos e Ega: foi o Romantismo que sempre os
arrastou para o fracasso dos seus projetos. O Romantismo será
sempre uma das causas do atraso do país.
Os 10 anos foram um tempo catártico necessário à purificação, visível
através da passagem pelo inferno do Ramalhete = Carlos corre em
busca da vida = nada é definitivo = Portugal tem hipóteses de
modificar a sua situação = final otimista do romance.
Não houve purificação ou catarse porque Carlos regressa ao ponto de
partida: o Hotel Bragança = corre apenas para satisfazer as
necessidades biológicas = Portugal não tem futuro = o Ramalhete em
ruínas prefigura-o = final negativo do romance.
Capítulo XVIII…continuação