O PERFIL DO EDUCADOR CORPORATIVO: COMPETÊNCIAS ......estratégia para o lucro organizacional, quais...
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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS
ANDREA MENOCCI STUGINSKI
O PERFIL DO EDUCADOR CORPORATIVO:
COMPETÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E
COMPORTAMENTO.
São Paulo
2013
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ANDREA MENOCCI STUGINSKI
O PERFIL DO EDUCADOR CORPORATIVO:
COMPETÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E
COMPORTAMENTO.
Artigo científico elaborado como
requisito para obtenção do título de
especialista em: Docência no Ensino
Superior.
ORIENTADORA: Ms. Eleni Bambini Gorgueira
São Paulo 2013
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AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho à minha filha Bruna, meu amor maior. Ao meu esposo
Marcelo e meus familiares, pelo apoio e incentivo e sem os quais não teria vencido
mais essa etapa. À Claudia Ricciuti, minha maior inspiradora, que visualizou meu
potencial como educadora. À professora Eleni Gorgueira, com quem a afinidade se
mostrou presente desde nosso primeiro encontro. E a Deus, pela proteção e missão
que me confere.
RESUMO
Neste artigo, compreenderemos o ambiente de trabalho do docente na
educação corporativa, desde as atividades da área de Treinamento e
Desenvolvimento até as Universidades Corporativas, percebendo as razões pelas
quais as empresas têm investido nesta aprendizagem; reconheceremos quem são
os profissionais que atuam como educadores nas organizações, e pela pesquisa
bibliográfica elaborada, houve o intuito de arquitetar um perfil com algumas das
competências e qualificações necessárias ao seu reconhecimento como um
instrumento efetivo nos processos de aprendizagem para o desenvolvimento das
competências e capacitações técnicas desejadas pelas organizações aos seus
colaboradores, diante da demanda pela competitividade na era do conhecimento.
PALAVRAS CHAVE
Educação corporativa; aprendizagem organizacional; educador corporativo.
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INTRODUÇÃO
Se conversarmos sobre a denominada Era do Conhecimento, precisamos
reconhecer que hoje, com o advento tecnológico, o acesso à informação se
popularizou, mas trazer as atualizações ou informações para o campo do
conhecimento é uma tarefa interessante, principalmente às organizações.
Diante do cenário contemporâneo pela busca da competitividade, as
empresas entendem que a atuação das pessoas, ou seja, o seu "capital intelectual"
é o fator que pode fazer a diferença. E pessoas, ao contrário das máquinas, não são
fabricadas em série, cada qual traz sua individualidade, experiências e saberes.
As empresas cada vez mais buscam profissionais que possuam uma
formação acadêmica que seja ajustada com suas atividades-fim, porém o que é
comum é haver uma lacuna entre o aprendizado desenvolvido nas universidades ou
ensino acadêmico e a real necessidade das organizações.
Para equilibrar essa balança, as organizações procuram investir na educação
corporativa objetivando o desenvolvimento de seus colaboradores, para que estes
retribuam este investimento com seu trabalho, buscando e superando as metas
definidas no planejamento estratégico.
Entende-se por educação corporativa as ações empreendidas de forma
organizada pelas empresas buscando a capacitação de seus colaboradores
podendo esta ser pelo aprendizado adquirido nas relações interpessoais, como nos
treinamentos dirigidos a determinadas técnicas, ou até o desenvolvimento de
competências e habilidades do sujeito sendo esta uma tarefa bastante complexa.
A demanda por este aprendizado é tão grande que diversas organizações
instituíram as chamadas Universidades Corporativas sendo estas um processo
(onde pode haver uma estrutura física ou não) que objetiva unir negócios e
educação a uma visão crítica e reflexiva do ato pedagógico e da aprendizagem.
(RICARDO, 2009, p. 10)
Daí surge a pergunta: diante desta relevância da educação corporativa como
estratégia para o lucro organizacional, quais são as competências necessárias ao
educador (ou instrutor) nessa empreitada, junto aos seus aprendizes, já que este
será o agente facilitador de tão importante aprendizagem? Como esse instrutor pode
auxiliar para um processo Ensino-Aprendizagem eficaz, onde os alunos não sejam
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agentes passivos que apenas recebem as informações, mas atuem como sujeitos na
construção do conhecimento e produzam os resultados esperados pela companhia?
Sendo assim, este artigo tem como objetivos compreender o conceito de
educação corporativa; identificar as razões para a sua implantação nas
organizações, apontando desde o alinhamento com o planejamento estratégico até
as questões da responsabilidade social nela embutida; verificar como a educação
nas empresas vem evoluindo, acompanhando a dinâmica da Era do conhecimento;
compreender como tem sido a prática pedagógica nas organizações e identificar o
perfil do educador corporativo e suas qualificações como agente facilitador da
aprendizagem nesse contexto.
A NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO CORPORATIVA
A compreensão e utilização de novos conceitos e novas técnicas, desde os
primórdios da humanidade, conduz o homem em sua perene evolução. Pode-se
dizer que a educação, como maneira de desenvolver o conhecimento, está
relacionada ao exercício do poder.
O saber, então, é compreendido como uma riqueza, onde presenciamos na
história, a preocupação com a retenção do conhecimento entre os detentores do
poder, como o Estado e a Igreja, que regulamentavam o que poderia ser ensinado e
para quem deveria ser ensinado, segundo seus interesses.
A Revolução Industrial colaborou para que as empresas percebessem que a
educação não poderia ser uma questão exclusiva do Estado, e pela demanda
crescente de atualização ou mesmo a especialização de sua mão de obra para
atender às exigências de mercado, procuraram completar o espaço vazio deixado
pela educação oferecida pelo ensino acadêmico, lacuna esta observada desde o
nível básico até mesmo pelas universidades. As instituições, portanto, dificilmente
conseguem recrutar profissionais que encaixem no perfil almejado.
Como exemplo, temos as organizações das forças armadas, onde existem as
academias militares para treinamentos.
E então, com a necessidade de capacitação dos colaboradores, as
organizações públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, necessitam das
atividades de aprendizagem para o desenvolvimento das pessoas como resposta à
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nova dinâmica do mercado. O que orquestra esta demanda são os constantes
avanços tecnológicos, profissionais cada vez mais multifuncionais, novo conceito de
tempo, onde a velocidade das informações impõe um novo estilo de trabalho e a
própria gestão do conhecimento organizacional (geração, assimilação, difusão e
aplicação, segundo EBOLI, 2002).
Neste cenário, as empresas se estruturam para administrar as atividades de
aprendizagem, com planejamento, execução, controle e avaliação dos processos
para tal fim. Para esta função são criadas as áreas de Treinamento e
Desenvolvimento (T&D) nas empresas. Posteriormente, há uma evolução desta
atividade, com foco mais estratégico e postura de formação de pessoas, e são
criadas as Universidades Corporativas (UCs), sendo estas mais sofisticadas e
complexas (GOULART; BAZZEGIO, 2011, p. 22).
O que vemos atualmente, buscar a capacitação técnica não é mais o principal
objetivo da educação corporativa. Em face do novo cenário mercadológico, exigente
e instável, há que se buscar a qualificação e o desenvolvimento de pessoas em seus
conhecimentos, habilidades e atitudes, necessários ao cotidiano, mas principalmente
procurando desvelar as oportunidades futuras.
Inovação e competitividade são conceitos interligados e atrelados ao
desempenho das empresas. A inovação tem sua base no conhecimento e no aprendizado organizacional contínuo para garantir a longevidade empresarial e exige que as empresas desenvolvam capacidades direcionadas à criação de conhecimento – envolvendo a criação, a difusão e sua incorporação a produtos, serviços e sistemas (NONAKA & TAKEUCHI, 1997 apud MIGUEL, TEIXEIRA, 2009).
Assim, alavancar produtividade reduzindo custos, inovação e proatividade,
assim como reter talentos (ou seja, manter na organização as pessoas de
destaque), contribui para que a organização não seja engolida pela concorrência.
Mas também é legítimo dizer que as ações de educação corporativa
dispendem em custo para as empresas. Dispõem de pessoal, material,
equipamentos e espaço. Mesmo nos exemplos onde os treinamentos são virtuais
(ou e-learning), haverá alguém ou uma equipe que coordena, monitora e avalia os
processos e isto demanda investimentos na implantação e manutenção deste
sistema. Surge daí a dificuldade de pequenas e médias empresas custearem estas
ações.
Obviamente, a sobrevivência de qualquer empresa depende de seu êxito em
obter lucro com as suas atividades, e o investimento em educação corporativa,
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mesmo que a médio ou longo prazo, visa este retorno financeiro, caso contrário não
seria adotada nas organizações.
O processo de educação de forma contínua nas empresas se torna uma
importante condição de sustentabilidade e êxito do planejamento estratégico da
mesma. Planejamento estratégico é a ação de definir antecipadamente o futuro da
empresa, deve conter as ações prioritárias e os desdobramentos dessas ações nas
diversas áreas da organização em direção à situação desejada. Se no planejamento
estratégico são definidas as metas e objetivos da empresa, nele deverá estar
explícito um mapeamento de quais são as competências necessárias aos seus
profissionais como capital humano criativo e eficaz. A educação corporativa
trabalhará ao encontro desses objetivos, procurando desenvolver essas
competências pela aprendizagem.
Pela educação corporativa também se desenvolve nos colaboradores outra
informação importante do planejamento estratégico, trata-se do conjunto: Missão,
Visão e Valores. Qual é a missão da empresa (para quê ela existe, o que ela faz?),
qual a visão (aonde a empresa quer chegar, o que ela deseja ser?) e principalmente,
quais são os valores (princípios que norteiam as relações da organização, tanto na
busca por seus objetivos quanto nas questões sociais). Estas informações são os
pilares e a filosofia da empresa e também denotam o seu direcionamento. Os
colaboradores que acessam essas informações e identificam-se com elas, percebem
o seu papel na organização e tornam-se mais motivados e consequentemente, mais
produtivos.
Pode-se elencar a educação corporativa também como uma das ações de
Responsabilidade Social da organização. Entendendo Responsabilidade Social
empresarial como a ética nas relações da empresa com todo o público com o qual
interage ou os chamados steakholders (funcionários, clientes, fornecedores,
governo, comunidade, mídia, entidades de classe) e as ações para o
desenvolvimento da sociedade, desde os aspectos econômicos e das relações
sociais, até os impactos ambientais (ações pela sustentabilidade), a educação nas
empresas é vista com bons olhos, tanto pela sociedade como pelo Estado, pela
contribuição social que representa. Além disso, pesquisas apontam que as
empresas que investem em educação são as que obtêm melhor satisfação de seus
colaboradores e são elencadas como as melhores para se trabalhar, de acordo com
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revistas especializadas (RICARDO, 2009, p.6), concluindo então, que a educação
corporativa promove mérito e credibilidade para as empresas.
Os objetivos da aprendizagem nas empresas são inúmeros. De acordo com
leitura de diferentes pesquisas e artigos publicados e pelas experiências de gestores
de RH (Recursos Humanos), vemos que:
[...] A aprendizagem nas empresas [...] pode representar o aumento da capacidade de competir, a superação de suas fragilidades, a estabilidade frente às turbulências do mercado, enfim, ela pode assumir valores distintos para cada organização. (RICARDO, 2009, p. 6)
A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Como visto, a necessidade das empresas em promoverem a aprendizagem
para seus colaboradores como meio de sobrevivência, impulsionou-as a se
organizarem para esta atividade, visando capacitar seus profissionais desde
procedimentos ou tarefas específicas até as questões de competência e
comportamento.
Surge então a Área ou Departamento de Treinamento e Desenvolvimento
(T&D), normalmente subordinada à área de Recursos Humanos. Com caráter
tecnicista, ou seja, atuam com necessidades específicas, onde há a necessidade de
ensinar (ou treinar) os colaboradores a operarem equipamentos ou manipularem
ferramentas de trabalho ou a conhecerem os procedimentos regulamentados pela
corporação. Com cunho pontual, prático e emergente, o T&D atua geralmente de
forma passiva, ou seja, se engaja quando é acionado pelas outras áreas da empresa
de acordo com suas demandas. Por esta razão nem sempre promove uma
continuidade no processo aprendizagem.
Exercem, na maioria das vezes, o que é chamado de evento de
aprendizagem (adestramento, popularmente falando), com foco em tarefas
direcionadas a objetivos específicos, comumente de caráter operacional.
Contudo, as exigências do ambiente empresarial novamente impulsionam a
área de T&D para um novo posicionamento, menos passivo, mas com mais
prestatividade, desenvolvendo soluções de treinamento como, por exemplo, um
menu de cursos às outras áreas da empresa. Envolvem-se no planejamento
estratégico da organização, mas ainda com autonomia restrita, procura identificar
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por si as necessidades dos clientes para assim capacitar seus profissionais. Então o
T&D adota uma preocupação com o desenvolvimento de talentos, ou seja, procura
preparar pessoas para enfrentar novos papéis na organização, com alcance em
médio prazo, similarmente a um banco de sucessores (GOULART, 2011, p.15).
“[...] A demanda por educação passa a apresentar um enorme crescimento, exigindo mudanças qualitativas, maior diversificação e personalização dos programas de formação [...] os profissionais necessitam aprender continuamente e as empresas, por sua vez, abrir novos caminhos para a aprendizagem” (Almeida, 2006, p.3).
O surgimento da Economia do Conhecimento, as inovações tecnológicas na
comunicação e sua aplicabilidade às ações de treinamento e a pluralidade de
modelos de aprendizagem corporativa pressionam o progresso da Área de T&D.
Neste contexto, surgem as Universidades Corporativas (UCs) com o intuito de
perceber e aprofundar-se nas necessidades da empresa, investigando causas e
efeitos das situações, para proporem soluções alinhadas ao crescimento da
organização e promoverem o aprendizado contínuo. Ficou claro para as
organizações que criar vantagem competitiva não depende apenas de capacitação
técnica, mas principalmente pelo desenvolvimento de competências.
A partir desse período, a área passa também a preocupar-se com os resultados de seu desempenho, com o impacto dos investimentos realizados e a ocupar uma posição mais estratégica no processo de formação e atualização dos profissionais da empresa. É o início do período em que a área de T&D compreende a necessidade de ampliar seus conceitos, de rever suas posturas e forma de atuar e de se transformar em um verdadeiro parceiro das demais áreas, ajudando-as a identificar necessidades, oportunidades e a prover recursos, instrumentos e o suporte necessário para que cada gestor possa assumir, de forma efetiva, o papel de líder educador, responsável pelo desenvolvimento de suas equipes. (ALMEIDA, 2006, p.4)
Para elucidar o conceito de competência, pode-se dizer de maneira bem
simples, que é o conjunto de conhecimentos (o saber fazer, ligado ao processo de
estudo, ao cognitivo), habilidades (o talento, o fazer acontecer) e as atitudes (modo
de agir, o querer fazer), ou seja, são as qualificações do indivíduo. Desenvolver
competências não pode ser traduzida como uma tarefa simples.
As Universidades Corporativas organizam-se para desenvolver um controle
sobre as atividades de desenvolvimento de pessoas, desde a mensuração de custos
previstos até a previsão do retorno do investimento. Atuam em alguns casos
inclusive como unidade de negócio da empresa, quando estendem seus cursos aos
parceiros ou clientes. Algumas UCs têm suas atividades baseadas por programas,
ou seja, para atender diversas necessidades de aprendizagem, desenvolve também
diversos programas de formação continuada.
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As atividades das UCs englobam desde os cursos presenciais com
educadores ou instrutores da própria empresa ou a utilização de e-learning
(aprendizagem virtual) e até mesmo contratando consultores externos ou
promovendo parcerias com instituições de ensino superior.
A prática das UCs é, portanto, a que mais se aproxima ao termo educação,
por ter este posicionamento ligado à compreensão de homem e de mundo,
promover troca de saberes e experiências e a intenção de despertar nas pessoas o
aprender a aprender e a gênese de significado às mesmas. Diferencia-se do
treinamento pelo local, conteúdo, metodologia, público-alvo, corpo docente,
frequência e meta, com uma proposta de educação mais global, sendo a UC um
processo e não apenas uma estrutura física (MEISTER, 1999, apud RICARDO,
2009, p. 9).
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS ORGANIZAÇÕES
[...] É necessário reagir e romper com essa pedagogia que nega ao educando a sua autonomia, sua capacidade de refletir e criticar. É importante sair da sala de aula tradicional e pensar em outros espaços possíveis para aprendizagem, e isso inclui o chão de fábrica. Quem pode dizer que somente na escola ou na universidade é que se constrói o conhecimento? (RICARDO, 2009, p.XIX)
De acordo com Ricardo, há uma carência de literatura sobre a prática
pedagógica nas empresas e, portanto, a maior fonte para este estudo está nas
produções acadêmicas de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, pelas
experiências e pesquisas elaboradas por seus autores. Contudo, podemos buscar
nas obras de Pedagogia e Psicologia muitas das informações que orientam o
trabalho da educação corporativa nas instituições.
De acordo com pesquisa realizada pela autora Eleonora Ricardo (2009, p.
17), respondida por instituições públicas e privadas de diversos segmentos e com
certa maturidade nas atividades de suas Universidades Corporativas, os objetivos
que direcionam suas atividades de aprendizagem são:
• Desenvolvimento de competências (39%)
• Capacitação e formação técnicas (21%)
• Aperfeiçoamento profissional (20%)
• Suprir carência de conhecimentos específicos (14%)
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E entre os que participam da estruturação e operacionalização das ações
educacionais, segundo esta mesma autora, há maior incidência dos profissionais
das áreas de Administração (18%), Psicologia (17%), Pedagogia (15%) e Informática
(10%). Com menor incidência também foram apontados profissionais de Direito,
Engenharia, Letras, Economia, Comunicação e também profissionais de nível
técnico, isto sempre segundo as necessidades e atividades das organizações. E
então podemos verificar que a pluralidade de profissionais de diferentes áreas
confere um posicionamento multidisciplinar na educação corporativa.
Assim como uma organização visualiza o direcionamento de suas ações pelo
planejamento estratégico, a educação corporativa, assim como em qualquer
entidade educacional, deverá elaborar seu Projeto Político Pedagógico (PPP) ou no
caso das empresas, Projeto Pedagógico Empresarial (PPE), ou até mesmo outro
modo de planejamento definidos por Programas de Desenvolvimento. Obviamente
que, na educação corporativa, estes projetos deverão estar coerentes com as
estratégias empresariais.
O PPP ou PPE é o resultado da reflexão sobre a ação educacional, ele revela
o coletivo, ou seja, as relações de entendimento e prática de todos os que atuam na
educação corporativa. Por meio dele se orientam as práticas educacionais, linhas
pedagógicas adotadas, metodologias, conceitos, conteúdos, objetivos, práticas de
avaliação e é passível de constante ajustamento às necessidades da organização.
Deve motivar os colaboradores da empresa em seu desenvolvimento pessoal e
profissional. Podemos dizer que é o currículo, isto é, o olhar sobre a ação educativa,
a maneira como estas ações são conduzidas em prol dos objetivos da organização.
Para melhor compreensão das linhas pedagógicas, isto é, o processo de
ensino e aprendizagem sob diferentes óticas (baseadas em estudos de notáveis
autores como Lev Vygotsky, Jean Piaget, Paulo Freire, entre outros), será adotada a
visão de Bonfim (2004), exposta aqui de maneira simplificada:
a) Pedagogia tradicional
Onde o professor é aquele que sabe, um especialista, e expõe seus
conhecimentos (com postura de autoridade máxima) aos alunos, vistos como
aqueles que não sabem. Sendo assim, o educador é transmissor de conteúdos e os
aprendizes, receptores passivos. O conhecimento é reproduzido pelo professor e
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este é o responsável por conduzir o processo educativo. Há predomínio da
exposição oral e é valorizada a memorização dos conteúdos e nos exercícios de
avaliação se verifica a reprodução dos conteúdos transmitidos, ou seja, a
memorização como absorção do conhecimento. Alguns autores a chamam de
educação bancária, onde o docente “deposita” o conhecimento no discente.
b) Pedagogia tecnicista
Mais imediatista, utilizada para se desenvolver a eficiência por meio de
estímulo e resposta, esta abordagem se relaciona com as teorias behavioristas
(Skinner, Gagné, Mager, Bloon). Aqui, o ambiente de aprendizagem é um vetor de
modelação do comportamento, por meio de técnicas específicas e condicionamento,
que se orienta no modelo de estímulos e recompensas, onde o educando é
condicionado a emitir respostas desejadas pelo educador. O aprendiz é um produto
do meio. No ensino, valorizam a tecnologia e o conhecimento pela observação e
mensuração, de forma objetiva, com pouco espaço para subjetividade.
c) Pedagogia nova
Inclui várias correntes da abordagem humanista, representada por autores
como Carl Rogers e John Dewey (movimento Escola Nova), Maria Montessori, Jean
Piaget, Anísio Teixeira, que mesmo que apresentem divergências entre si, tem um
ideal em comum: o reconhecimento da pessoa como ser livre, ativo e social, sendo o
aprendiz, portanto, o centro da atividade educacional. Nesta abordagem, o foco não
é o ensino, mas a aprendizagem. É função do educador estruturar as situações de
aprendizagem levando em conta as particularidades dos aprendizes (como situação
sociocultural, por exemplo), e assim aprimorar o desenvolvimento dos mesmos. O
educador deverá estimular a motivação dos aprendizes para que estes despertem
por si mesmos para a busca do conhecimento.
d) Pedagogia libertadora
Conhecida pela obra de Paulo Freire, oferece uma educação crítica a serviço
da transformação social. As atividades educativas são, em essência, baseadas nas
discussões do meio socioeconômico e cultural, tendo em vista a ação frente a esses
problemas, em outras palavras, a aprendizagem se dá pela realidade
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problematizada, com intensa participação do aprendiz como sujeito do processo.
Para Freire (2001, p. 16), “formar é muito mais do que puramente treinar o educando
no desempenho de destrezas”.
“O trabalho escolar não se assenta, prioritariariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata.” (GOULART, 2011, p.32).
Nas três últimas linhas pedagógicas se identifica o despertar para o
aprendizado pelas interações entre educadores, aprendizes e seu meio
sociocultural, o que caracteriza o construtivismo de Piaget (“o conhecimento é
processo de criação”) e o sociointeracionismo de Vygotsky (“construir
conhecimentos implica uma ação compartilhada, o diálogo com o outro e as
interações sociais”) (DELVAL, REGO apud RICARDO, 2009, p.35).
Sendo assim, a coordenação educacional das atividades da empresa terá o
livre arbítrio na escolha da linha pedagógica a ser adotada, identificando a que
melhor se adeque ao seu público e também aos seus interesses.
É relevante citar que, de acordo com a pesquisa citada, observa-se que uma
boa parte das UCs (48%) adota mais do que uma linha pedagógica, indicando uma
flexibilidade de suas atividades e também uma visão transcendente dos educadores.
Há a percepção da contribuição de cada teoria no desenvolvimento do ser humano,
procurando somá-las à prática pedagógica.
É preciso implementar práticas pedagógicas que ampliem as possibilidades de aprendizagem, que favoreçam a inclusão social e a atuação cidadã dos empregados inseridos nos processos produtivos, da gestão à operação (VALE apud RICARDO, 2009, p. 32).
É inevitável expor aqui, sobre Didática e Avaliação no processo de ensino-
aprendizagem. Libâneo (2001) esclarece que a Didática do professor pode ser
definida como as estratégias que o docente utiliza para alcançar o objetivo maior,
que é ensinar da melhor maneira que o aluno possa aprender. Entende-se
popularmente que o professor com “boa didática” é aquele com que os alunos terão
maior facilidade de aprender.
Dentro desse contexto, na dinâmica da didática há que se considerar quais
serão as finalidades de ensinar (ensinar para quê?), a partir daí planejar, selecionar
e organizar os conteúdos que deverão ser ensinados (ensinar o quê?) e
principalmente considerar a subjetividade dos estudantes, ou seja, o conjunto de
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experiências socioculturais juntamente com a capacidade cognitiva e nível de
conhecimento e desenvolvimento intelectual (ensinar para quem?).
Reveladas essas respostas, o educador encaminhará as aulas de modo a ser
o mediador ou o sujeito que intermediará o caminho do aluno (por ele próprio) ao
conhecimento. Neste caminhar, ainda segundo Libâneo, o aluno então assimilará
pessoal e ativamente os conteúdos de acordo com atividades propostas pelo
professor, desenvolvendo então o pensamento e suas capacidades e habilidades
intelectuais. Nesta perspectiva, a didática é considerada como um instrumento
político, pois por meio dela o professor pode ajudar os aprendizes a serem sujeitos
pensantes, críticos, capazes de lidar com conceitos, argumentar e saber enfrentar os
problemas da vida prática.
E não menos importante, temos o processo de Avaliação da aprendizagem,
onde na educação corporativa, além de verificar se os aprendizes construíram
significado ao que lhes foi ensinado, há também a preocupação em mensurar se os
investimentos em treinamento, desenvolvimento e educação (TD&E) têm contribuído
e melhorado o desempenho profissional e se as competências trabalhadas nos
programas estão sendo empregadas no contexto de trabalho desses profissionais.
Abbad (2012) comenta que pesquisas internacionais mostram que muitos dos
casos onde não se vê o retorno do investimento na educação corporativa se deve ao
fato de que nesses programas não se contempla uma avaliação rigorosa e
sistemática, havendo casos em que nem sequer é feita alguma avaliação.
Há que se considerar que a aprendizagem corporativa tem como público alvo
adultos com inúmeras diversidades que interferem na aprendizagem, como por
exemplo: idade, nível de escolaridade, cargo, comprometimento (com a carreira e
organização), competências e subjetividade (conjunto de saberes e experiências
vivenciadas pelo indivíduo), e tanto o educador corporativo quanto os instrumentos
de avaliação deverão pousar o olhar sobre essas diversidades.
Jussara Hoffmann (2005) coloca que a avaliação não pode ser concebida
como um mero teste de verificação, mas deve ser uma ação mediadora, como um
processo a favor da aprendizagem do aluno. Também nos inspira à reflexão quando
diz que o olhar avaliativo do educador, diante da impossibilidade de observar e
cuidar de cada um (principalmente quando o número de alunos é grande), acaba
tornando-se periférico, circunstancial, genérico e em termos de avaliação mediadora,
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o “todos” é o seu maior fantasma. E assim, propõe três passos no processo
avaliativo: admirar , ou seja, observar o aprendiz, reconhecer sua subjetividade;
refletir para compreender como está sendo sua aprendizagem, ou de que forma ele
aprende; e reconstruir práticas avaliativas , tomando as decisões pedagógicas que
contribuam no avanço do processo.
O educador corporativo deverá entender e praticar a avaliação como
processo no contexto de ensino-aprendizagem, mas também deverá realizar
procedimentos de avaliação que auxiliem na retroalimentação (feedback) das
informações como análise e devolução de dados, muitas vezes por meio de
símbolos numéricos traduzidos como indicadores de desempenho, já que no
ambiente empresarial todas as ações estão pautadas em levantamento das
necessidades, planejamento, execução e avaliação de resultados obtidos. Segundo
Abbad et al (2009, p. 38) “existem atualmente diversos e complexos modelos de
avaliação de TD&E, cujos critérios, dimensões e componentes principais
apresentam semelhanças e divergências”. Cada modelo ou ferramenta permite
levantar e organizar informações e como os resultados gerados podem ser usados
em benefício das organizações e de seus colaboradores.
[...] A educação corporativa deve compreender uma cultura de avaliação que auxilie a obter o retorno sobre suas ações educacionais, subsidiando por meio de instrumentos, a reestruturação de ações, correção de percursos e manutenção de suas atividades em apoio à estratégia organizacional. (RICARDO 2009, p. 30)
O PERFIL DO EDUCADOR CORPORATIVO
Se refletirmos então, sobre quem são as pessoas que atuam como
educadores na aprendizagem institucional, veremos esta posição em diversas
funções no mundo corporativo. Segundo, Goulart et al (2011, p.22) podemos
identificar esse papel desempenhado em cargos como:
• Instrutores: também chamados de monitores, mediadores, tutores,
professores e mais recentemente como educadores corporativos. São os
responsáveis pela execução das atividades educacionais. Observa-se que as
empresas buscam esses profissionais entre seus gestores ou profissionais de linha,
pois são os que mais eficazmente convergem a teoria com a prática.
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• Consultores: internos (da própria organização) ou externos (quando
contratados para este fim), são profissionais com conhecimentos específicos que
procuram diagnosticar as demandas para propor programas e cursos adequados.
Geralmente são oriundos de áreas de processos de gestão de pessoas ou
desenvolvimento organizacional.
• Designers instrucionais: especialistas que formatam as soluções para os
gaps de competências ou de acordo com o diagnóstico das necessidades de
performance. É imprescindível que conheçam os fundamentos da andragogia
aplicados à educação para o trabalho, assim como o negócio da organização e suas
estratégias. Muito se utiliza da aprendizagem mediada por tecnologia (e-learning), e
por isso devem ter domínio da tecnologia e recursos aplicáveis desde a sala de aula
à TV e Web.
• Integrantes das equipes : profissionais incluídos no processo educacional,
cuja participação deve corroborar o preparo de todo o corpo educativo.
• Gestores ou líderes de equipes : é comum identificarmos que um dos papéis
dos gestores é a responsabilidade de facilitar o desenvolvimento das pessoas que
coordenam, orientando-as e influenciando-as em seu progresso, por isso também
são educadores corporativos.
É indispensável que nas ações de desenvolvimento, cada um desses atores desempenhe adequadamente seu papel como educadores. [...] A melhoria da educação nas empresas gera também oportunidades de contribuição com a sociedade, pois complementa os esforços do governo e permite aos trabalhadores a ampliação da sua cidadania. (GOULART et al, 2011, p. 23).
E quando refletimos sobre a qualidade desse profissional que tem se
destacado nas organizações, chegamos ao questionamento: no mundo corporativo,
o que é um educador competente? As pessoas que desempenham este papel estão
preparadas para a dimensão educadora aliada aos resultados da empresa?
Destacam-se para este profissional, algumas qualificações, as quais
poderíamos denominar como competências, características ou comportamentos,
enumeradas por diversos dos autores pesquisados.
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• Competência Técnica:
Trata-se do conhecimento adquirido na formação profissional, ou a expertise
sobre a ciência da sua área de atuação. Para este domínio, é imprescindível ter a
vivência do trabalho na área (know-how), dentro ou fora da organização, sendo
desejável também a formação acadêmica, assim como cursos específicos. Exige
atualização constante, frente à obsolescência do conhecimento no mundo moderno
para enriquecer sua bagagem de conteúdos a serem discutidos.
• Competência Pedagógica:
Compreendendo a pedagogia como a ciência da educação, caracteriza-se por
uma série de atitudes que favoreçam o aprendizado. Mais do que transmitir o
conhecimento, é a capacidade de fazer com que o outro aprenda. Neste contexto,
vemos o posicionamento do educador em aprofundar-se no estudo dos processos
de ensino-aprendizagem, não executando esta atividade de um modo empírico, mas
fundamentado cientificamente com as correntes pedagógicas, enriquecendo a
didática como fator substancial do processo, compreendendo e praticando uma
avaliação mediadora e justa, com o intuito de formar cidadãos autônomos para o
aprendizado. Como diz a célebre máxima de Paulo Freire (2011), “Não há docência
sem discência”, o propósito do trabalho não estará no ensino, mas na
aprendizagem.
• Comunicação:
Trata-se da capacidade do ser humano em fazer com que o outro (receptor)
compreenda a mensagem transmitida por ele (emissor). A comunicação verbal
deverá contemplar riqueza de vocabulário, boa dicção, fluência correta do idioma e
eloquência, evitando, contudo, ser prolixo; atentar-se com o tom e timbre da voz,
para que não se canse, nem seja cansativo aos outros. A comunicação escrita
deverá ser cuidadosa na legibilidade e obedecer às regras formais de linguagem;
não podemos ignorar a comunicação não verbal ou como também é chamada, a
linguagem corporal, onde nossa postura e expressões (gestos, olhar, expressões
faciais) transmitem mensagens. Na comunicação eficaz se valoriza a assertividade
(como afirmação, clareza ou posicionamento firme) a fim de não deixar incertezas do
que foi exposto. Na comunicação é igualmente essencial saber ouvir, estimular e
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envolver os aprendizes, portanto deverá possuir a habilidade na condução de
diálogos.
• Criatividade:
Podemos interpretá-la como a habilidade de imaginar, inventando,
descobrindo, inovando e experimentando novas maneiras de realizar o óbvio. É a
capacidade de surpreender, minimizar a monotonia, improvisar, transformar a rotina
do ato pedagógico em algo diferenciado. Goulart et al (2001, p. 86) afirmam que
criatividade na educação é dispor de uma “abordagem didática que favoreça o
desdobramento da criatividade do aprendiz e construir um ambiente favorável ao
aprendizado”.
• Dinamismo:
Questionemos qualquer aluno sobre qual característica ele considera
importante em um professor, e virá a resposta imediata: ser dinâmico. Aulas
enfadonhas, além de entediarem a todos os seus participantes, não produzem
resultado algum. O educador precisa estabelecer uma rotatividade de técnicas de
aprendizagem para quebrar a monotonia. Poderá usar o lúdico, jogos educacionais,
dinâmicas de grupo, criar apresentações atrativas (mas não exageradas), utilizar
metodologias e recursos audiovisuais apropriados a fim de tornar o encontro o mais
agradável possível e instigar o desejo do aluno na participação das aulas. O objetivo
maior da utilização destes recursos é aproveitar ao máximo a atenção e a
concentração dos ouvintes.
• Ética:
Concebendo ética pelo modo como o ser humano age e relaciona-se
coletivamente, baseado em seus princípios e valores, ressaltamos a conduta ética
do educador como a chave para conquistar a reverência de seus aprendizes.
Zelando pela verdade, justiça, igualdade, solidariedade e respeito, esta postura
revela o exemplo a ser seguido. A credibilidade do ensino se dá quando o aprendiz
observa a coerência entre o discurso e a prática do educador, inspirando assim, a
confiança nos educandos. Paulo Freire (2001, p.20) nos inspira quando diz: “Como
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presença consciente no mundo não posso escapar à responsabilidade ética no meu
mover-me no mundo”.
• Empatia:
Trata-se da compreensão da percepção do outro, questionar-se o que ou
como o outro sente, deseja ou entende. É preciso sensibilidade para perceber o
estágio de desenvolvimento e necessidades individuais e do grupo. Por meio da
empatia com seus educandos, estabelecerá um diagnóstico do perfil dos mesmos,
levando em consideração suas dificuldades e potenciais, para assim definir as
estratégias de ensino que poderão satisfazê-los. Goulart et al (2011) nos lembram
que “pessoas são diferentes e aprendem através de estímulos diferentes”, o
educador usa a empatia para diferenciar as formas de inteligência de seus
educandos.
• Sociabilidade:
A facilidade de relacionar-se imprime ao educador um posicionamento
amigável, favorável à aproximação, tão necessária à prática educativa. Na interação
com o outro, seja ele seu aprendiz ou colega de trabalho, há que se ter uma postura
de flexibilidade e aceitação às diferenças, expressando assim o equilíbrio emocional
indispensável para lidar com as distintas situações do relacionamento interpessoal.
Freire (2011) nos afirma que ensinar “exige risco, aceitação do novo e rejeição a
qualquer forma de discriminação”.
• Liderança:
Podemos conceituá-la como o talento para influenciar pessoas de maneira
edificante, para que caminhem em direção aos resultados esperados. Em educação,
o professor é quem inspira seus alunos na construção do conhecimento.
Compartilha os objetivos da ação educacional e favorece a integração e o
aprendizado em equipe, promovendo um clima de desenvolvimento do grupo pela
afetividade.
• Senso crítico:
“É o exercício do questionamento, de tudo que está estabelecido” (GOULART
et al, 2001, p. 90). Ao educador, é necessário romper bloqueios, medos e zonas de
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conforto. Ter consciência que seu modelo mental também é limitado a obedece a
sua subjetividade, que o diferencia da visão de mundo dos demais seres humanos.
Muitas vezes é necessário sair do meio onde está mergulhado e procurar outros
horizontes para desatar o olhar. Vale conhecer locais ou organizações diferentes,
participar de palestras fora do seu meio cultural, enfim, procurar observar suas
ações de maneira externa.
A criticidade também permite ao educador pedir feedback sobre a condução
do seu trabalho, a fim de melhor direcioná-lo.
O senso crítico também deverá ser desenvolvido em seus educandos, “faz
parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também a
pensar certo” (FREIRE, 2011, p. 28).
• Empreendedorismo :
Compreendido como a aptidão para planejar situações futuras, executar
ações para o alcance dos objetivos, visualizar oportunidades e se arriscar para
sucesso. O educador necessita dessa visão estratégica para alcançar os objetivos
propostos no plano pedagógico empresarial, assim como ser proativo diante das
necessidades. Não nos esqueçamos de que os investimentos realizados na
educação corporativa visam retorno financeiro e a organização requer do educador
essa orientação para os resultados.
• Resiliência:
É definida como a capacidade de retornar ao seu estado normal ou primário,
após forte pressão ou impacto. Relaciona-se com a arte de lidar com problemas,
superar obstáculos, mediar conflitos. A esfera de mudanças que envolve o mundo
corporativo exige dos profissionais uma constante adaptação a essas
transformações, portanto, a resiliência, que também pode ser compreendida como
flexibilidade, favorece o autocontrole nas diversas situações que o educador
enfrenta. Além disso, cabe ao educador, por meio de análises e discussões, abrir
caminhos para as transformações e realinhamentos organizacionais, construindo
uma gestão de mudanças com seus educandos.
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• Visão sistêmica:
Ao contrário da visão segmentada, ou departamentalizada, seria a
observação do todo, onde as ações corporativas (e educativas) se integram umas
com as outras. Na organização, as áreas de marketing, produção, finanças, gestão
de pessoas, mesmo com atividades diferenciadas e específicas entre si, terão o
mesmo objetivo final. Este olhar do educador faz com que ele proponha reflexões
sobre o panorama e considere a interdisciplinaridade (relação entre diversas
ciências) como forma de construção do conhecimento pelos aprendizes, permitindo
que estes estabeleçam uma analogia entre o que acontece na organização em
relação ao seu negócio e também as influências do ambiente externo, pela análise
dos fatos, possibilitando uma ampliação do significado do seu papel na companhia.
É a capacidade de identificar e transmitir aos aprendizes a correlação entre o negócio da empresa, suas estratégias, processos, e os acontecimentos nas dimensões política, social, governamental, tecnológica, econômica, legal, cultural e o impacto destas na ação dos clientes, fornecedores e concorrentes. (GOULART et al, 2001, p. 86).
• Organização e planejamento:
Caracteriza-se pelo respeito aos seus educandos, pela atenção ao preparo e
organização dos materiais e recursos para as atividades propostas. Inclui verificação
da disponibilidade de espaço e recursos tecnológicos (assim como o seu perfeito
funcionamento), pontualidade, atualização do material didático, administração do
tempo e respeito aos horários de pausa. Diz respeito também a um plano de ação
para imprevistos, caso haja alguma intercorrência, como falta de energia ou quebra
de equipamento, por exemplo. Estas competências validam a segurança do
educador perante o grupo. Não há exemplo pior e mais desestimulante do que um
instrutor que atua com despreparo e desorganização.
• Desejo pela educação:
Dispensa maiores explanações, é o querer, profunda e intimamente, exercer a
função de se doar para o outro. É o amor pelo que faz, a paixão pelo ensino, é
satisfazer-se com o desenvolvimento do ser humano, é encorajar seus aprendizes.
Para isso busca permanentemente o autoconhecimento e autodesenvolvimento.
Mesmo estando habilitado com todas as competências citadas anteriormente, sem o
desejo de educar, este profissional não poderá ser qualificado como educador.
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CONCLUSÕES
No desenvolvimento deste artigo não houve a intenção de expor, de maneira
frugal, uma lista de competências ou qualidades que o educador corporativo deve ou
não ter, como uma tabela de conotação impositiva para a excelência.
Aqui se propôs uma análise sobre qualificações importantes para o ofício do
educador corporativo, que deverá despertar em quem exerce ou pretende exercê-lo,
o pensamento crítico sobre si mesmo, um exercício de auto avaliação, identificando
as competências aqui pesquisadas como essenciais em um currículo para a ação
educativa das organizações. Mas sem o propósito de limitá-las ao que foi
apresentado aqui, considerando ser este um assunto inesgotável. Evidentemente,
muitos se identificarão com as competências propostas neste artigo, mas fica a
sugestão para que busquem a melhoria naquelas quais ainda se sintam incipientes.
Com vontade e preparação, é legítimo exercer e desempenhar o papel de educador
corporativo com a competência que a função exige.
Como qualquer forma de trabalho, principalmente nas organizações, haverá
uma expectativa sobre o desempenho do educador corporativo, o qual também será
avaliado constantemente, segundo a sua “produção de resultados”. Desta forma é
inevitável que se mantenha atualizado, reciclando seus conceitos e inovando suas
práticas neste desafio. A humildade e a consciência que nunca estamos
perfeitamente prontos (a consciência no inacabamento, segundo Paulo Freire) é
nossa mola propulsora na busca do infinito aprendizado. E a missão do educador
corporativo vai além da arte de ensinar, é despertar e conduzir seus aprendizes na
busca por sua formação. O desenvolvimento cognitivo pelo qual o educador
trabalhará assume então um significado mais abrangente, facultando seus
educandos para a tomada de decisões e colaborando para que busquem desafios
profissionais.
[...] Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. [...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 2011, p. 25)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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