Nanochips do futuro

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POUCA ABSORÇÃO DE GÁS CARBÔNICO NA AMAZÔNIA SUPLEMENTO ESPECIAL INFRA- ESTRUTURA 4 ;; e www.revistapesquisa.lapesp.br i FAPESP Nanochips do futuro Físicos brasileiros desvendam fenômeno de ruptura de nanofios de ouro, que abre perspectivas para a era pós-chips de silício

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Pesquisa FAPESP - Ed. 72

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POUCA ABSORÇÃODE GÁS CARBÔNICONA AMAZÔNIA

SUPLEMENTO ESPECIALINFRA- ESTRUTURA 4

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Nanochipsdo futuro

Físicos brasileirosdesvendam fenômenode ruptura de nanofiosde ouro, que abreperspectivas para aera pós-chips de silício

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Aviso importanteSe você já recebe mensalmentea revista Pesquisa FAPESP e desejacontinuar a recebê-Ia, acesse

www.revistapesquisa.fapesp.bre preencha o formuláriocom seus dados. O objetivodo recadastramento é melhorarnosso sistema de distribuição

Page 3: Nanochips do futuro

28Físicos descrevem as

etapas de rompimento dosnanofios de ouro e

mostram como a simulaçãopor computador pode

auxiliar no desenvolvimentode novos materiais

CARTAS ••••••••••••••..•............ 4

EDITORIAL .....•...•••.••••••••••••• S

MEMÓRIA •••••••••...•........•..••• 6OPINIÃO ••••••••••••••••..•......... 9

• POLíTICA CIENTíFICAETECNOLÓGICA ..•.....•.•••.•.••.• 10

ESTRATÉGIAS 10INCOR INVESTE NA AMPLIAÇÃODE LABORATÓRIOS DE PESQUiSA 21

• CIÊNCIA •••••••••...••••.•••••••• 24LABORATÓRIO 24CAMINHO NOVO PARA A PRODUÇÃODE FÓTONS EMARANHADOS 34

A EVOLUÇÃO DOS PEIXESDE CAVERNAS 44MACACOS TRANSMITEMVíRUS DA RAIVA ................•...... 47ENZIMA PODE ANTECIPARDIAGNÓSTICO DE MAL DE ALZHEIMER .. 48COMO O PRíON SE MULTIPLICA 52

• TECNOLOGIA .•.•.•.•.•.•.•.•.•.• S4LINHA DE PRODUÇÃO 54MICROAMBIENTE PARA BIOTÉRIOS 62INOVAÇÕES PARA O GERENCIAMENTODA PRODUÇÃO INDUSTRIAL 64SELEÇÃO GENÉTICA E COMBATEÀS DOENÇAS DO FEIJÃO 66

• HUMANIDADES •••.•.•••••••••••• 70O IDIOMA DOSBANDEIRANTES RESGATADO 74TODA A MITOLOGIADOS ORIXÃS EM LIVRO 78

LIVROS ••••••••..•••••••••••••••••• 80

LANÇAMENTOS •••••....••••••••••• 81

ARTE FINAL ••••••••••••••...••••••• 82

Capa: Hélio de AlmeidaIlustração da capa: Sirio J. B. Cançado

14Estudo da FAPESPmostraa produção científica etecnológica de São Paulo

36Pesquisa indica que a florestaamazônica absorve apenas o gáscarbônico que emite e, portanto,não pode absorver a fumaçaproduzida em outros países

58Novas metodologias comsensores e imagens desatélites e de aviões trazembenefícios à agriculturana análise de solos e naprevisão de safras agrícolas

70Livro sobre as primeirastrabalhadoras ferroviáriasda Estrada de Ferro Noroestedo Brasil, nas primeirasdécadas do século 20, revelacondições de trabalhoe preconceitos enfrentados

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRODE2002 • 3

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Revista

Sou italiano, formado na Fa-culdade de Física de Milão, Itália.Depois da formatura, obtive umabolsa de doutorado no InstitutoAstronômico e Geofísico da Uni-versidade de São Paulo (IAG/USP).Terminei o doutorado com umatese em Dinâmica Asteroidal Secu-lar Ressonante (área de astronomia)em 1999, orientado pelo professorSylvio Ferraz Mello e com o ampa-ro de uma bolsa da FAPESP. Rece-bo a revista Pesquisa FAPESP aquina Itália faz tempo e desejaria con-tinuar recebendo, pois a consideromuito interessante e preciosa. Paramim significa poder estar informa-do sobre o mundo da pesquisa bra-sileira, como também ficar por den-tro da cultura brasileira.

ALESSANDRO SIMULABergamo, Itália

A revista Pesquisa FAPESP sem-pre nos traz assuntos da mais altaimportância, sempre na vanguardado conhecimento científico e tec-nológico.

Ro ALDO POSELLA ZACCAROIaboticabal, SP

Conheci a Pesquisa FAPESP háalguns meses e achei as reportagensmuito boas. É fundamental para oprofessor estar sempre atualizado e,

4 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

CARTAS

por meio desta revista, consigo co-nhecer os projetos que estão sendodesenvolvidos pela FAPESP. Soubióloga de formação, com mestra-do em Oceanografia Biológica pelaUniversidade de São Paulo (USP) etrabalho como professora universi-tária da disciplina Botânica nas Fa-culdades Integradas de Guarulhosdesde 1996. Durante meu mestradotive bolsa da FAPESP.

MARIA SOLANGE FRANCOSSão Paulo, SP

Recebo e leio com o maior inte-resse e prazer a Pesquisa FAPESP edepois coloco os exemplares nasmãos de cientistas jovens que pode-rão receber preciosas informaçõespara sua formação. Considero a re-vista como uma grande contribui-ção da FAPESP à nossa ciência, as-sim como uma prestação de contasà sociedade.

A. BRlTO DA CUNHAInstituto de Biociências/USP

São Paulo, SP

Parabéns! Realmente fiquei sur-preso com a qualidade da revista,pois não esperava tanta informaçãode relevância transmitida de manei-ra tão eficiente.

Cf.SAR DA CÂMARA FERRElRASão Paulo, SP

Ocupo O cargo de chefe do de-partamento de Recursos Humanosdo Instituto Ambiental do Paraná(IAP) e, ao folhear a revista Pesqui-sa FAPESP, con~lui que o seu con-teúdo é muito importante e valio-so para o órgão.

ADÃO Iost LASLOWSKICuritiba, PR

Jornalistas e cientistas

O artigo Imprensa e inovação,do jornalista Marcelo Leite, publi-cado em Pesquisa FAPESP 69, éoportuno e esclarecedor. Uma fonte

necessariamente precisa dispor deinformações relevantes. Além daconsciência de que socializar os co-nhecimentos é um dever do cida-dão cientista, deve se esforçar nosentido de facilitar o trabalho dojornalista, evitando, ao máximo, alinguagem tecnicista e acadêmicapara que haja uma comunicação cor-reta dos resultados das pesquisas.Uma boa fonte não pode enganar ojornalista, criando, por exemplo,falsas expectativas ou sonegando averdade. Quer dizer, a sua condutatem de se pautar, acima de tudo, emprincípios éticos e sociais, inspiran-do a confiança do jornalista na difí-cil intermediação da notícia para asociedade. A relação entre cientistase jornalistas deve ser extremamenteprofissional. Condeno a prepotên-cia e a agressividade de ambos. Tam-bém não aprovo a pura troca de fi-gurinhas, isto é, sem o exercício deuma qualidade essencial do jorna-lista: a capacidade crítica. Ou seja, ojornalista tem a missão de divulgara ciência, mas não pode fazer pro-paganda do que desconhece ou senega a conhecer, passando, dessaforma, a ser menino de recados e,por conseqüência, enganando o lei-tor, o consumidor do produto cien-tífico. Em síntese, a confiança deveexistir; só não pode ser cega e, sim,profissional. Entendo que a humil-dade é uma companhia essencial dojornalista, principalmente daqueleque divulga ciência. Os jornalistastêm o dever de aprimorar os seusconhecimentos, atualizando-se per-manentemente. O conhecimentogeral é fundamental, mas a especia-lização torna-se cada vez mais im-perativa na profissão. No entanto,para fazer jornalismo científico nãoé preciso o jornalista virar cientistae muito menos o cientista virar jor-nalista!

MOACIR LOTH, JORNALISTAUniversidade Federal

de Santa Catarina (UFSC)Florianópolis, SC

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•Pesquisa,

PESQUISA FAPESPÉ UMA PUBLICAÇÃO MENSAL

DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISADO ESTADO DE SÃO PAULO

PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZPRESIDENTE

PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADOVlCE·PRESIDErm

CONSELHO SUPERIORADILSON AVANSI DE ABREUALAIN FLORENT STEMPFER

CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZCARLOSVOGT

FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTOHERMANN WEVER

JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDAMARCOS MACARI

NILSON DIAS VlEIRA JUNIORPAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO

RICARDO RENZO BRENTANIVAHAN AGOPYAN

CONSELHO TÉCNICO-ADMINISTRATIVOPROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI

DIRETORPRESIDENTEPROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER

DIRETDRADMINISTRATIVOPROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ

DIRETORClENTlFK:O

EQUIPE RESPONSAvELCONSELHOEDITORIAL

PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDIPROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER

PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZEDITORACHEFE

MARILUCE MOURAEDITORESADJUNTOS

MARIA DA GRAÇA MASCARENHASNELDSON MARCOLlN

EDITORDEARTEHÉLIO DE ALMEIDA

EDITORESCARLOS FIORAVANTI (CIÉNCIA)CLAUDIA IZIQUE (POLlTICA C&T)

MARCOS DE OLIVEIRA (TECNOLOGIA)EDITOR·ASSlmrm

ADILSON AUGUSTODINORAH ERENOREPóRTERESPECIALMARCOS PlvmA

ARTEJOSÉ ROBERTO MEDDA (DIAGRAM~ÇAO)

LUCIANA FACCHINI (DIAGRAMAÇAO)TÃNIA MARIA DOS SANTOS

(DIAGRAMAÇAO E PRODUÇAO GRÁFICA)FOTóGRAFOS

EDUARDO CESARMIGUEL BOYAYAN

COLABORADORESCARLOSHAAG

cASSIO LEITE VI EIRACELYCARMO

DOMINGOS ZAPAROLLIJOSÉ TADEU ARANTES

LuclLlA ATAS MEDEIROSLUIZ COSTA

MARIA APARECIDA MEDEIROSREGINA DINIZSUZEL TUNES

WAGNER DE OLIVEIRAYURI VASCONCELOS

PRÉ-IMPREssAoGRAPHBOX-CARAN E GRAFICA AQUARELA

IMPRESSÃOPADILLA INDÚSTRIAS GRAFICAS S.A.

TIRAGEM: 24.000 EXEMPLARES

FAPESPRUA PIO XI, N° 1SOO,CEP OS468-90 1

ALTO DA LAPA - SAO PAULO - SPTEL.IO - 11) 3838-4000 - FAX: 10 - 11) 3838-4181

SITE DA REVISTA PESQUISA FAPESP:http://www.revistapesquisa.fapesp.br

[email protected] artigos assinados não refletem

necessariamente a opinião da FAPESPÉ PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIALDE TEXTOS E FOTOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO

.JAI'ESPSECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA

E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

•GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

EDITORIAL

Avanços estratégicos

Esta edição de Pesquisa FAPESPapresenta como reportagem decapa, a partir da página 28, im-

portantes contribuições de físicosbrasileiros para o avanço da nanotec-nologia, área de fronteira da pesquisa,estratégica, que, entre outros efeitos,deverá produzir grandes transforma-ções na concepção dos atuais compu-tadores. São mudanças baseadas naminiaturização de componentes, comganhos na capacidade de armazena-mento e velocidade de processamentode informações, que praticamenteanunciam para não muito mais queuma década o fim do domínio doschips de silício. Dentro desse vastocampo por explorar, as proposiçõesteóricas e experiências concretas feitasem São Paulo com nanofios de ourosão contribuições tão reconhecidas quemereceram a capa de dezembro daPhysical Review Letters, uma das maisimportantes, senão a mais importan-te publicação científica internacionalde física. O assunto já apareceu na im-prensa brasileira, particularmente emreportagem publicada pela Folha de S.Paulo em 4 de janeiro, más pelo seusignificado, pelo que demonstra dacapacidade nacional para se situar nalinha de frente da pesquisa científicamesmo em áreas de fronteira, Pesqui-sa FAPESP lhe concede seu espaçomais nobre, sacrificando delibera-damente desta vez um dos critériosque quase sempre considera na esco-lha da capa de cada edição, ou seja,o da novidade.

Esta edição, contudo, está rechea-da de informações novas. Por exem-plo, há novos cálculos que indicamque a Floresta Amazônica não absor-ve tanto gás carbônico quanto se pen-sava, como relata reportagem de Mar-cos Pivetta a partir da página 36, quefoi séria candidata à capa. A revisãodos números saiu do megaprojeto in-ternacional de US$ 80 milhões, quereúne mais de 300 pesquisadores da

América Latina, Estados Unidos e Eu-ropa, liderados pelo Brasil. O trabalhoaponta para uma nova visão das pos-sibilidades ambientais da Amazônia:não é a vilã do mundo por causa dodesmatamento e das queimadas, co-mo também está longe de representara salvação do planeta. Sem dúvida,uma nova contribuição para um de-bate científico sério travado sobre aregião em diversas partes do mundo.

Vale um registro especial para in-dicadores recentes de ciência, tecno-logia e inovação em São Paulo e noBrasil, produzidos pela FAPESP,quemostram um sistema de C&T permea-do de contrastes, mas que mesmo as-sim, como relata LucíliaAtas Medeiros,em reportagem que começa na página14, avança, inova e produz, emboraem ritmo ainda lento ante suas neces-sidades e ambições. O estudo mede osdiversos ângulos do sistema científi-co-tecnológico e apresenta um painelreal da produção paulista e brasileira.

Ter uma idéia precisa do que éproduzido no campo é o resultado deuma metodologia criada para estimara tonelagem da produção de cana emuma determinada área com antece-dência de quatro a cinco meses. Cria-do por um grupo de pesquisadoresda Unicamp, o projeto, que está deta-lhado na página 58, usa imagens desatélite para fazer os cálculos corretose deu tão certo que já está em fase depatenteamento.

Também tem a ver com produçãoe trabalho o principal destaque da se-ção de Humanidades (página 70). Ne-la é contada a história das primeirasmulheres a trabalhar nas FerroviasNoroeste do Brasil, em Bauru, inte-rior do Estado, no começo do século20. Os preconceitos e as dificuldadespara desempenhar o papel de esposa,mãe e trabalhadora num ambiente in-teiramente masculino são históriasainda pouco conhecidas de uma so-ciedade que progrediu lentamente.

PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 5

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MEMÓRIA

A primeira patentePedido de privilégio industrial para máquina de descascar café é de 1822

NELDSON MARCOLIN

Nos últi~o.s anos,empresanos,economistas,

advogados, pesquisadorese autoridades do governobrasileiro começarama valorizar o direitoà propriedade industrialcomo nunca haviam feitoantes. Os efeitos daglobalização, as disputaspela redução dos preçosde medicamentosimportantes e anecessidade cada vezmaior de apoiar asdescobertas oriundas deestudos de universidadese institutos de pesquisalevam, hoje, to dós a seempenhar para protegerum número maior depatentes brasileiras aquie no exterior. O esforçoatual é indispensável, masas mais antigas medidaspara concessão de patentessão do início do século 19.A primeira resolução foitomada em 1809, um anodepois de a família realportuguesa ter transferidoa Corte para o Brasil.Até então, um alvaráda rainha Dona Maria I,de 1785, proibia fábricas,manufaturas e indústriasna distante Colônia. Essaera, na verdade, umaforma de ter monopólioscomerciais que

\

6 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

••

transferiam as riquezasdas colônias paraa metrópole, Mas, a partirda instalação do governoportuguês no Brasil, foinecessário criar meiospara o desenvolvimentoindustrial- entre eles,a concessão de privilégiosaos inventorese introdutores de novasmáquinas, que teriam

o direito exclusivo deexplorar a invenção por14 anos. Um outro alvarápermitiu a liberação derecursos para incentivarinvenções e dar prêmios.Essas e outras açõesculminaram como pedido de privilégio.industrial para umamáquina de descascare brunir (polir) café,

Projeto da máquinade descascar café:pedido de patentetinha de conter plano,desenhos e descriçãoe ser depositadanô Arquivo Público .

em julho de 1822.Foi a primeira patentebrasileira, pedida porLuiz Louvain e SimãoClothe, com base noalvará de 1809, de acordocom o livro Propriedadejndustrial no Brasil - 50Anos de História, daAssociação Brasileira dosAgentes da PropriedadeIndustrial (Abapi).Louvain e Clothe pediramo privilégio de cinco anospara o invento, uma"máquina para descascarcafé, a qual, além de serinteiramente própria dainvenção dos suplicantes,

_produz todo o bomresultado-I ...) pelaperfeição com quedescasca '0 café sem lhequebrar o grão, ou seja,pela brevidade, e

. economia, e simplicidadedo trabalho". AConstituição de 1824trazia o princípioda "propriedade doinventor" e já falava emremuneração, "em caso devulgarização do invento".

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" .

A primeira lei de patentessurgiu em 1830 e, alémde ter uma política maisampla de fomentoà indústria, protegiaos inventores, fassegurando-lhes o usoexclusivo da descobertapor períodos de cinco' .a 20 anos. A legislaçãomais antiga que se temnotícia sobre o temafoi criada em Veneza,Itália, em 1474, quandoa cidade era um grandecentro comercial. No casobrasileiro, os avançosocorreram unicamente emconseqüência da políticade fomento à indústria.Hoje, o conceito é diferente:a patente trata do direitoque qualquer cidadão,empresa ou instituiçãotêm sobre tudo o queresulta dainteligênciaou criatividade.

Plano do BalãoBrasil (1873): maisde 9 mil pedidos ,de privilégio

'industrial foramfeitos entre1870 e 1910

Guarda-chuva(1909):

modelo deAraújo.Castro

"para pôrao abrigo do Sol

as pessoas obrigadasa trabalharao ar livre"

• I

Barco Vélez (1891),útil na terra e no mar:utopiaera criar várias

invenções em uma

l\I$'I .• S,stelll'

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PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO OEl002 • 7

Page 8: Nanochips do futuro

www.scielo.br

As publicações científicas brasileirasestão ao alcance de suas mãos. Não importa

em que parte do mundo você estejaSciELO - Scientific Electronic Library Online é uma biblioteca de revistas científicas disponí-vel na Internet. Uma biblioteca virtual que reúne 65 publicações científicas brasileiras. Suainterface permite o acesso fácil aos textos completos de artigos científicos, por meio das ta-belas de conteúdos dos números individuais das revistas ou da recuperação de textos pornome de autor, palavras-chaves, palavras do título ou do resumo.

A SciELO publica também relatórios atualizados do uso e do impacto da coleção e dos tí-tulos individuais das revistas. Os artigos são enriquecidos com enlaces dinâmicos a bases dedados bibliográficas nacionais e internacionais e à Plataforma Latles no CNPq.

SciELO é produto do projeto cooperativo entre a FAPESp,a BIREME/OPAS/OMS e editorescientíficos brasileiros, iniciado em 1997, com o objetivo de tornar mais visível, mais aces-sível e incentivar a consulta das mais conceituadas revistas ciéntíficas brasileiras. Em 1998,a coleção SciELO Brasil passa a operar normalmente na Internet e projeta-se rapidamentecomo modelo de publicação eletrônica de revistas científicas para países em desenvolvimen-to, em particular da América Latina e Caribe. Ainda em 1998, o modelo é adotado pelo Chi-le e em 1999 começa a operar a coleção SciELO Saúde Pública, com as melhores revistascientíficas de saúde pública ibero-americanas. Outros países estão em processo de incorpo-rar-se à rede de coleções SciELO.

O modelo SciELO destaca e valoriza a comunicação científica brasileira. Ao mesmo tempo,proporciona mecanismos inéditos de avaliação de uso e de impacto das nossas revistas cien-tíficas, em consonância com os principais índices internacionais de produção científica.

Adote a SciELO como sua biblioteca científica.

Secretaria daCiência, Tecnologiae DesenvolvimentoEconômico

GOVERNO DO ESTADO DE

SÁOPAULO BIREME I OPAS I OMS www.fapesp.br

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OPINIÃO

FAUSTO CASTlLHO

Um exemplo de investimento

Nas Exatas e nas Biológicas, a obra de conhecimen-to depende do laboratório de pesquisa. Nas Huma-nidades, o resultado da investigação decorre em

grande medida do suporte que lhe proporciona a bibliote-ca atualizada. Mesmo o estudo de, digamos, um filósofo gre-go anterior a nossa era tem de necessariamente se apoiarno texto mais atual, a saber, no que é estabelecido a par-tir dos últimos procedimentos utilizados em papirologia.

Em anos recentes, a biblioteca do Instituto de Filosofiae Ciências Humanas da Universidade Estadual de Cam-pinas (IFCH -Unicamp ) passou por extensa e profunda re-forma. Hoje, confesso que, sempre que ali me encontro,sou preso de um misto de deslumbramento e encanto, ex-plicável decerto por motivos personalíssimos.

Passaram-se 44 anos desde quando, no segundo semes-tre de 1967, selecionei e encaminhei para aquisição ao bi-bliotecário, professor Zink, os títulos das obras que deraminicio à formação do acervo da futura biblioteca. No anoseguinte, desenhei o esboço sobre o qual se elaborou o pro-jeto arquitetônico do prédio em que a biblioteca primeira-mente se alojaria. Uma construção despretensiosa, parareceber uma dezena de milheiros de volumes, se tanto.

Mas, em sua singeleza, a construção tinha um porme-nor, para muitos enigmático, que, no entanto, a singulari-zava: havia no subsolo um enorme buraco vazio e hianteque assim ali ficou por anos e anos. É que, por determina-ção minha, o arquiteto previra um local onde se pudesseinstalar a casa-forte que daria custódia aos Arquivos Presi-denciais. Um projeto concebido à época da fundação dauniversidade que, à semelhança de outros, não foi condu-zido a bom termo.

Durante 20 anos, o prédio nos serviu de biblioteca.Não obstante as sucessivas ampliações, não foi porém su-ficiente para acomodar o crescente estoque de livros queacabou por lotá-lo de todo. Finalmente, no decorrer dosanos 1990, foi submetido à reforma que se disse. Uma re-forma radical, que começou pela reformulação de toda asua estrutura e, em conseqüência, permitiu a essa institui-ção adotar o presente estilo de funcionamento que lhe con-fere, afinal, a feição de uma verdadeira biblioteca.

O leitor há de me perdoar se demoro além da conta namenção de números de dados de ordem técnica. Entre1995 e 2000, a área da biblioteca ampliou-se mais de100%, passando de 978 metros quadrados a 1.985 metrosquadrados, quando outro edifício de dois andares, juntou-se ao existente. O número de leitores sentados subiu de

100para 280. No final de 2000, o acervo de Ciências Huma-nas era de 150mil títulos: embora ainda distante de algumasbibliotecas de países do Hemisfério Norte, era já, sem em-bargo, a mais importante do país em sua especificidade. Oacervo de filosofia, por sua qualidade e constante atualiza-ção, distinguia-se como o mais significativo no país, senãoem toda a América Latina. Em 2001, foram adquiridosmais 18,8 mil títulos ou 25 mil volumes, graças a financia-mento concedido pela FAPESP em 2000, no montante deUS$ 750 mil. Para atender à ininterrupta expansão do acer-vo, a Unicamp tem pronto um projeto arquitetônico paraedificar uma unidade suplementar, que aumentará em cer-ca de um quarto a capacidade instalada da atual biblioteca.

Recordemos, a modo de um sumário lembrete, os re-sultados maiores da reforma: recuperação, reaparelha-mento, modernização e ampliação de toda a infra-estruturada biblioteca: instalação de sistema central de ar-condicio-nado e de um sistema de pára-raios. Para o armazenamen-to das coleções: introdução de estantes e arquivos desli-zantes. Funcionalização de todo o mobiliário. Adoção denovos procedimentos de conservação e de utilização dascoleções especiais. Ampliação substancial da infra-estru-tura informalizada: serviço de fac-símile, cálculo, balançaeletrônica, acesso ao material bibliográfico multimídia -gravador, vídeo, projeção de diapositivo, retroprojetor mul-timídia, torres de CD-ROM, livro, impressora, varredou-ro, base de dados em CD-ROM. Informatização da consul-ta pela aquisão de equipamentos periféricos, para acesso àrede interna e conexão com a externa, incluindo a rede in-ternacional. Instalação de laboratório de informática. Mo-dernização da manutenção: higienização, desinfecção,restauração e encadernação. Eliminação da exposição aexcesso de ruídos. Reforço da vigilância por monitora-mento interno, fiscalização do trânsito de elementos doacervo mediante etiquetas magnéticas. Infra-estrutura pa-ra coleções especiais: TV,vídeo projetor de diapositivo, re-troprojetor, etc.

Essas mudanças a compor o que muitos consideramuma transfiguração de nossa biblioteca nós as devemos to-das à FAPESP que, em boa hora, decidiu financiar - nocaso do IFCH, por meio de dez projetos - a atualização dainfra-estrutura da pesquisa das instituições de estudo.

FAUSTO CASTILHO é fundador do IFCH-Unicamp eprofessor daUSp, da Unesp e da Unicamp. É professor emérito da Unicamp.

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 9

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• POlÍTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

ESTRATÉGIAS

Só com a realização de umprojeto mundial, semelhan-te ao do Genoma Huma-no, será possível descrevertodas as espécies vivas daTerra. O biólogo ambientalinglês David Leslie Hawks-worth, da Facultad de Far-macia de Ia UniversidadComplutense, de Madri,propõe, com outros pes-quisadores, um projeto de25 anos para identificar eclassificar todas as espécies

Um projeto para contar a vidavivas. No ritmo atual, ospesquisadores levariam 800anos para terminar o traba-lho. "Comparativamente,sabemos muito sobre as es-trelas, mas pouco dos seresvivos com quem compar-tilhamos nosso planeta",observou Hawksworth aojornal espanhol El País. Jáocorreu pelo menos umareunião sobre o tema, nosEstados Unidos, para come-çar a se planejar esse pro-

jeto internacional de biodi-versidade. De acordo com obiólogo, hoje se conhecemcerca de 1,8 milhão de es-pécies, mas a estimativa éde que existam 15 milhões,embora alguns especialistasapostem em muito mais.Um dos problemas é quecertos grupos de organis-mos são menos conhecidosdo que outros. Segundo orelatório Avaliação da Bio-diversidade Global de 1995,

publicado pelo Programadas Nações Unidas para oMeio Ambiente, se conhe-cem 90% das plantas comfloração, mas apenas 5%das espécies de fungos. Senão houver um investi-mento da comunidade cien-tífica para descrever todasas espécies, parte delas po-derá ser extinta sem que es-clareçam questões impor-tantes para o homem e oambiente. •

• Quanto valeum remédio

Um estudo do pesquisadorIoseph DiMasi, da Tufts Uni-versity, nos Estados Unidos,comprovou que desenvolvernovas drogas está cada vezmais caro. Segundo seus cál-culos, o custo médio da des-coberta de um novo medica-mento chegou a US$ 802milhões em 2001- era de US$231 milhões em 1987. En-quanto o custo total da pes-quisa aumentou 7,4% anual-mente na década de 90, só oscustos clínicos - relacionadosaos testes de drogas em sereshumanos - aumentaram 12%.

10 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

Segundo disse ao jornal TheWall Street Jo'urnal o presi-dente do laboratório Merck,Raymond Gilmartin, o au-mento dos custos clínicosdeve-se a uma exigência domercado: os laboratórios es-

tão sendo pressionados aprovar o valor das drogas emtestes com maior duração equantidade de participantes.Entidades norte-americanasde defesa do consumidor con-testam os resultados de DiMa-

Fonte: Tufts University

si. Segundo essas organiza-ções, apenas US$ 403 milhõesde seus US$ 802 milhões to-tais são realmente gastos empesquisa. O restante é custoestimado de capital investido- ou o retorno de um mon-tante que tivesse sido aplicadoa uma taxa de 11%. •

• Investimento embiodiversidade

A organização não-governa-mental Conservation Inter-national (CI) recebeu, emdezembro de 2001, a maiordoação já concedida a umaentidade privada de proteçãoambiental. A Gordon and

Page 11: Nanochips do futuro

Barcos pesqueiroschineses: país éresponsável por 15%da coleta global

Chinês expõe seuspeixes: estoques

podem ter baixado10% desde 1988

• Chineses distorcemdados sobre pesca

zado por Reg Watson e Da-niel Pauly, da University ofBritish Columbia, em Van-couver, Canadá, sugere que asestatísticas podem ter sidodistorcidas por estimativasexageradas de alguns países -particularmente a China. Elesreavaliaram as estatísticas daFAO utilizando fatores comoa abundância de alimento eprofundidade da água paraestimar níveis de pesca. Apesquisa, publicado na revis-ta Natl1re (29 de novembrode 2001), coincide com a daFAO em muitas regiões, masas pescas relatadas pela China

Betty Moore Foundationdestinou à CI US$ 261 mi-lhões. O dinheiro será em-pregado nas três grandesáreas silvestres do mundo -Amazônia, Congo e NovaGuiné - e nas 25 regiões bio-logicamente mais ricas eameaçadas do planeta, cha-madas de hotspots. "Para asse-gurar a conservação da biodi-versidade dos hotspots serãonecessários US$ 28 bilhõesnos próximos 30 anos", diz obrasileiro Gustavo Fonseca,vice-presidente do Centro dePesquisas Aplicadas à Biodi-versidade, criado pela CL •

Em vários países, as evidên-cias locais apontam para umacentuado declínio nas reser-vas mundiais de pescado.Mas os dados divulgados pe-lo Fundo das Nações Unidaspara Agricultura e Alimenta-ção (FAO) têm indicado quea área global de pesca está es-tável ou em crescimento -encorajando, conseqüente-mente, investimentos na in-dústria pesqueira. Agora, omotivo desse descompassofoi descoberto. Estudo reali-

- responsável por cerca de15% da coleta global- foramo dobro da estimada. Se ospesquisadores estão certos, oschineses exageraram nos nú-meros - e os estoques mun-diais de peixe diminuírammais de 10% desde 1988. •

• Argentinos rumoao aeroporto

Começar o ano em meio aocaos econômico e social, comsalários atrasados e o dinhei-ro retido no banco. O quepoderia ser pior para um ar-gentino? Resposta: ser umpesquisador dependendo deequipamento importado paratrabalhar. Os laboratóriosestão quase parados. E há omedo de que anos de esforçospara montar grupos interna-cionalmente competitivossejam perdidos. "A situaçãoeconômica só piora", disse àrevista Nature (10 de janeiro)Armando Parodi, do Institu-to de Pesquisas Biotecnológi-cas da Universidade Nacionalde General San Martín e pes-quisador chefe do ConselhoNacional para Ciência e Tec-nologia. Teme-se a imobilida-de ou um intenso movimentoem direção ao aeroporto. •

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 11

Page 12: Nanochips do futuro

o Estado do Amazonas de-cidiu seguir o exemplo depaíses como México, Esta-dos Unidos, Canadá, Nica-rágua e Equador e criaruma universidade exclusi-va para indígenas. A uni-versidade, que se chamaráCentro de Estudos Supe-riores Indígenas, será a pri-meira do gênero no país eestará vinculada à Univer-sidade Estadual do Amazo-nas. Funcionará em doiscampi, a partir do segundosemestre deste ano: na ca-pital Manaus e em São Ga-briel da Cachoeira, na re-gião do Alto Rio Negro. Aidéia é formar professoresespecializados na culturaindígena e em lidar com osdiferentes povos que habi-tam a Amazônia. Inicial-mente estarão disponíveis400 vagas nos cursos de li-cenciatura plena em Ciên-cias Matemáticas e da Na-

Uma universidade para índios

Aulas para crianças indígenas: professores especializados

tureza, em Ciências Huma-nas e em Linguagens, Artes

. e Literatura. Neste primei-ro ano, a missão primor-dial da universidade será ade preparar os professoresindígenas amazonenses pa-ra exercerem o magistériode 5a a 8a séries e o ensi-no médio. ''A universidade,por meio do centro, dará

mais ênfase à pesquisa, be-neficiando tanto o ensinoquanto a extensão em for-ma de serviços às comu-nidades indígenas e suasorganizações", afirma o an-tropólogo Ademir Ramos,presidente da FundaçãoEstadual de Política Indi-genista e um dos idealiza-dores do projeto. •

• Mais informaçõessobre biotecnologia

A criação de uma insulinamais barata e segura, um ar-roz com provitamina A, plan-tas com capacidade de extrairmetais pesados do solo. Essase outras possíveis conquistasdas pesquisas com transgêni-cos serão, agora, sistematica-mente divulgadas pelo Con-selho de Informações sobreBiotecnologia (CIB), órgãocriado por empresas e insti-tuições do setor, como aMonsanto, Cargill, DuPont eAssociação Brasileira das In-dústrias de Alimentação (Abia),entre outras. Segundo Belmi-ro Ribeiro da SilvaNeto, dire-

12 . fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

tor executivo do CIB, a popu-lação brasileira ainda desco-nhece o assunto e, muitas ve-zes, recebe somente umaversão da informação. "Pes-

quisa realizada pelo Ibope emjulho de 2001 mostrou queapenas 31% da populaçãobrasileira diz ter conhecimen-to suficiente sobre biotecno-

Plantação de mamão transgênico: dados claros e fáceis de achar

logia', afirma. ''Agora, há umaentidade que pode falar emnome dos que estudam e de-senvolvem a biotecnologiaem nosso país com total isen-ção e credibilidade," O CIBcontou com um orçamentode R$ 500 mil em 2001 e temprevisão de R$ 1 milhão em2002, que serão investidos empublicações, seminários, cam-panhas publicitárias e no sitewww.cib.org.br. •

• Aprovada vacinacontra leishmaniose

No final do ano passado, oMinistério da Saúde autori-zou a Biobrás a fabricar vaci-na contra a leishmaniose te-gumentar, doença que causalesões na pele, comum noNorte e Nordeste do país e emboa parte de Minas Gerais. Aautorização foi dada unica-mente para o uso terapêuticoda vacina (não profilático)criada pelo professor aposen-tado da Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG)Wilson Mayrink durante osanos 70. "Publicamos os pri-meiros trabalhos em 1979,mas a autorização só saiuagora", diz Mayrink, de 77anos, ainda pesquisador ativodo Instituto de Ciências Bio-lógicas da UFMG. Ele contaque desde a publicação dosartigos, os países do Orientecom alta incidência de leish-maniose tegumentar passa-ram a fabricar a vacina. "Foiuma luta de várias décadaspara conseguir autorizaçãopara um trabalho que já esta-va dando certo:' •

• Educação pelosobservatórios virtuais

Até meados deste semestre es-tarão prontos dois miniobser-vatórios astronômicos que se-

Page 13: Nanochips do futuro

rão usados na educação de es-tudantes e professores - umdo Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe) e ou-tro da Universidade Federaldo Rio Grande do Norte(UFRN). Os dois integram oprojeto Educação em Ciênciascom Observatórios Virtuaiscom outras quatro institui-ções de ensino superior deoutros Estados, que já têm te-lescópios. Todos vão operaros observatórios em conjuntoe as imagens poderão seracessadas remotamente poralunos e docentes de sete es-colas (públicas e privadas)que participam da fase piloto.Também telescópios norte-americanos, do programa Te-lescopesin Education, da Nasa,estarão disponíveis. O traba-lho é financiado pela Funda-ção Vitae (R$ 406 mil), mas ainfra-estrutura será usada,ainda, em outros projetos se-melhantes, como o Ensinan-do Ciências Através da Astro-nomia: Recursos Didáticos eCapacitação de Professores,coordenado pela UFRGS,com financiamento do Con-selho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq). •

Espiral de estrelas Cefeidas: estudo será feito remotamente

• Brasil no consórcio deensino a distância

Américas, de Montreal, Ca-nadá, para que a Universida-de do Sul de Santa Catarina(Unisul) e a Federal de Per-nambuco (UFPE) integrem aRede Interamericana de For-mação em Educação a Dis-tância e Telemática (RIF- ET)- um consórcio internacio-nal de oito universidades quepretende trocar informaçõese estimular o ensino a distân-cia. As duas instituições bra-sileiras têm tradição nessamodalidade de ensino e nu-merosos projetos já desen-volvidos, "O primeiro objeti-vo é montar um curso de

O ensino brasileiro vive maisum de seus paradoxos. Noano passado, o país freqüen-tou o último lugar do ran-king sobre educação no ensi-no médio. Ao mesmo tempo,o sistema de ciência e tecno-logia oriundo das universi-dades e institutos de pesquisamostrou que continua cres-cendo - o que indica a exis-tência de setores altamentequalificados dentro das uni-versidades. Prova disso foi oconvite do Colégio de Las

Lixo'plástico ganha utilidade no RioNão bastasse a poluição dematerial orgânico (esgotodoméstico) e químico (des-cartado por indústrias), asgarrafas PET (de plásticopolietileno) estão se trans-formando num dos maio-res problemas ambientaisdo Rio de Janeiro, obstruin-do galerias, provocandoinundações e coalhando ca-nais, aterros sanitários epraias. Para tentar diminuiro problema, a SecretariaMunicipal de Meio Am-biente vai usar o lixo a seu Garrafas plásticas atulham o Rio:poluição crescente

mestrado em ensino virtualjustamente para formarmosmais especialistas no setor",explica Paulo Cunha, coor-denador do Laboratório deHipermídia da UFPE e re-presentante da universidadeno consórcio. Agora, é neces-sário que o Ministério da Edu-cação aprove o curso de pós-graduação a distância. •

• Conferência deJornalistas Científicos

O Comitê Internacional da 3a

Conferência Mundial de Jor-nalistas Científicos, que será

• realizado junto com o 7°Congresso Brasileiro de Jor-nalismo Científico, de 24 a 27de novembro, está pratica-mente completo. O comitêtem representantes de todosos continentes e, segundo opresidente da Associação In-ternacional de Escritores deCiência, Iim Cornell, os no-mes foram indicados por jor-nalistas dos próprios paísesou são de jornalistas que têmrepresentatividade reconhe-cida. O evento ocorrerá naUniversidade do Vale do Pa-raíba (Univap), em São Josédos Campos, São Paulo. •

favor. A idéia é instalar umaplataforma flutuante comestrutura de madeira (espé-cie de deque), que ficaráapoiada em um colchãoformado por embalagensde PET vazias, seguras portelas plásticas. Uma tela me-tálica será presa a ela, parareter o lixo, mas deixando aágua passar. A estrutura se-rá instalada no Canal do Cu-nha, responsável por 50%do total de lixo flutuantedespejado diariamente naBaia da Guanabara. •

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 13

Page 14: Nanochips do futuro

• POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

INDICADORES DE CT&I

Saltoàfrente exigemudançaDesempenho brasileiro cresce,revela estudo, mas avanço doconhecimento ainda precisa serincorporado pelo setor produtivo

LUCÍLIA ATAS MEDEIROS

om um pé fincado na vanguarda e o outropreso às amarras do atraso, o Brasil é umpaís surpreendente. Pontilhado de "ilhasde excelência", onde são gerados produ-tos tecnologicamente nobres, convive com

padrões de escolaridade considerados baixos, mesmo secomparados aos vizinhos latino-americanos. Sua elite cien-tífica equipara-se às melhores do mundo, enquanto a maio-

Iria da população estudantil não dispõe de laboratórios emicrocomputadores nas escolas públicas. O governo ban-ca a maior parte dos investimentos destinados à pesqui-sa e desenvolvimento (P&D), contrariando uma tendên-cia mundial dos países desenvolvidos ou de economiamais dinâmica, que faz das empresas o locus preferencialda inovação.

É assim, permeado de contrastes, o país que emergedo estudo Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovaçãoem São Paulo - 2001, produzido pela FAPESP.Uma obraque dimensiona as várias faces do sistema científico-tecnológico paulista e brasileiro mostra que - apesar detodas as contradições - o Brasil avança, inova e produz,embora em ritmo ainda lento face às suas necessidades eambições.

Na geografia da inovação brasileira, São Paulo desfru-ta de uma posição bem mais confortável em relação aoresto do país, conforme vários dos indicadores obtidos

I 14 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

L~- _

Page 15: Nanochips do futuro
Page 16: Nanochips do futuro

Dispêndio estadual em P&D, por fonte de recursos - Estado de São Paulo - 1995/98em USS milhões de 1998

1997US$ %Fonte de recursos

1995 1996US$ % US$ %

Governo Federal 31.3

Governo Estadual 874 37,7 850 34,4

Empresas industriais 31,0 894 36,2

TOTAL I 2.319 100 I 2.469 100

Fonte:Anpei

1998US$ %

Evolução 95/98%

-12,0

895 31,S 871 35,S - 0,3

1.157 40,7 944 38,S 31,1

2.843 100 2.453 100 I 5,5

Indicadores de CT&I em São Paulo· 2001, FAPESP

de nações que investem na produção do conhecimento:cerca de US$ 6,5 bilhões ou 0,87% de seu Produto Inter-no Bruto (PIE). Esse montante nivela o país a economiascomo as da Itália (1%), Espanha (0,9%) e Hungria(0,7%), embora o distancie das mais dinâmicas como ados EUA (2,7%) e da Coréia do Sul (2,5%).

Desses gastos - discretos para um país que precisaevoluir no setor - maisde 65% saem dos cofrespúblicos, numa pro-porção inversa àquelaverificada nos países de-senvolvidos, onde as em-presas arcam com apro-ximadamente 60% dosrecursos. Uma das evi-dências do pequeno en-volvimento do setor em-presarial com a pesquisatecnológica é sua baixís-sima absorção de pós-graduados, especialmentedoutores, fato que con-trasta com a situação depaíses de industrializa-ção mais recente, comoCoréia do Sul e Taiwan.

Em relação ao Brasil,São Paulo investe ligeira-mente mais: entre 1995e 1998, o estado despen-deu cerca de 1% de seuPIE em pesquisa e de-senvolvimento, valores

pelo livro. É o Estado que mais despende em P&D, quereúne o maior número de pesquisadores e de núcleos in-tensivos em tecnologia, além de manter nas escolas pra-ticamente a totalidade (97%) das crianças entre 7 e 14anos. Mesmo assim, como se verá, o projeto tecnológicopaulista é ainda uma obra em construção.

Para o diretor

presidentedo ConselhoTécnico-Ad-ministrativo

da FAPESP, FranciscoRomeu Landi, coorde-nador do estudo, os In-dicadores, com suas in-formações concretas eexaustivamente trabalha-das, ajudam a comporuma imagem mais clarada atual situação do en-sino, da pesquisa e daprodução tecnológica,no Estado e no país. "Tra-ta-se de uma radiografiado setor que pode indi-car tendências e priori-dades para a formulaçãode políticas e a tomadade decisões", ressalta ele.

Distribuição porcentual do dispêndio em pesquisano Estado de São Paulo, por fonte de recursos - 1995/98

1995 1996 1997 1998

• Os dados de dispêndio da Capes para 1996 são uma média dos outros anos.Fonte: Ipen, Inpe, ITI,CPqD, Embrapa, Unifesp, UFSCar, Secretaria da Fazenda doEstado de São Paulo, IPI, USp, Unicamp, Unesp, CNPq, Finep, FAPESP (1995, 1996, 1997e 1998a, b), MCT (1997 e 1998), Salles-Fllho et aI. (2000), Mello (2000), Capes (2000).Elaboração: equipe de pesquisa (Geopi/Unicamp)Investimentos - O Brasil

ocupa hoje uma posiçãointermediária no ranking

Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

16 • fEVEREIRODE 2002 • PESQUISA FAPESP

Page 17: Nanochips do futuro

que ultrapassam os daArgentina, para uma po-pulação e PIB bastantepróximos. A média dosgastos estaduais paulis-tas no mesmo período(US$ 2,5 bilhões) corres-pondeu a cerca de 38%do total do montante na-cional em 1999.

Os investimentos pú-blicos e privados em pes-quisa podem ter grandeimpacto econômico e so-cial. Exemplo disso estáno desempenho da agri-cultura paulista, entre1948 e 1998, quando seregistraram ganhos deprodutividade superio-res a 150%. Os indicado-res mostram que, nesseperíodo, os índices de va-lor da produção agrícolae de produtividade da ter-ra cresceram junto com odesenvolvimento de no-vas tecnologias, ao mesmo tempo em que o índice de pre-ços recebidos pelos agricultores apresentaram tendênciade queda. A expansão da oferta de produtos agrícolas tevecomo resultado a redução do preço final ao consumidor.Noutra perspectiva, e tomando como base o salário naconstrução civil, devidamente deflacionado, observa-seque, a partir de 1980 e até 1999, o poder de compra de ali-

o:

siaa

,as

es

ae-

Evolução da participação porcentual de alguns paísesno total das publicações indexadas nas bases 151-1985/99

Países que contribuem com até 2%das publicações indexadas pelo ISI

2,0

1999

mentos entre consumi-dores de baixa renda teveum aumento de 180%.Os resultados sugeremque o salário de um ope-rário da construção com-prava, em 1999, quasetrês vezes mais alimentosdo que em 1980.

Quanto ao segmentoempresarial, os númerossão controversos e várioslevantamentos ainda es-tão sendo feitos. Contu-do, dados da AssociaçãoNacional de Pesquisa,Desenvolvimento e En-genharia das EmpresasInovadoras (Anpei) in-dicam uma participaçãode 71% das empresaspaulistas no total de gas-tos em P&D das empre-sas no país.

OL-__~ ~~ ~1985 1987 1993 1995 1997

Sinais de descompasso -Num mundo onde o co-

nhecimento científico é crescentemente incorporado aosprodutos - dos mais simples, como os expostos nas gôn-dolas dos supermercados, aos mais sofisticados, como ostelescópios que varrem o universo - o Brasil tem múlti-plos desafios a vencer. Entre eles, eliminar os contrastes edescompassos que emperram o seu desenvolvimento,comÇ>as barreiras existentes entre um setor de pesquisa

300

1989 1991

-BRASIL CHILE CHINA CORÉIA fNDIA MÉXICO

s Evolução do poder de compra do salário na construção civil- Estado de São Paulo - 1980/99*[-

1-

a

e

e

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5

li

250oo-;;200o00(j\

~ 150(lJ.~-oJ: 100

50

ARGENTINA

Fonte: ISI (2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

s

• Dados do 2° semestre de cada anoFonte: INCC - Conjuntura Econômica -INPC -IBGE Indicadores de CT&I em São Paulo- 2001, FAPESP

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 17

Page 18: Nanochips do futuro

Número de publicações indexadas nas bases do ISIde alguns Estados brasileiros - 1995/99

forte e uma produçãotecnológica débil. "Bastaler os números dos Indi-cadores para constatar queas empresas brasileirasprecisam investir cerca dedez vezes mais em P&D,o que está sendo feito emeconomias semelhantes ànossa. Se isso não ocor-rer, não conseguiremosavançar", avalia o presi-dente da FAPESP, CarlosHenrique de Brito Cruz.

7.000

6.000

5.000

~ 4.000'"1ij~ 3.000V><li'o~ 2.000.~:!5cr 1.000

Umdos si-

nais de queo conheci-mento nãodesempe-

nha papel central na es-tratégia de negócios dasempresas brasileiras estáno registro de patentes.Trata-se de um termôme-tro sensível do grau deevolução tecnológica deum país, especialmente porque, nas últimas décadas, temse concentrado em setores sofisticados, como o eletrôni-co e o farmacêutico. De acordo com dados levantadospelos Indicadores, as patentes concedidas no Brasil a nãoresidentes (em geral, empresas transnacionais) corres-pondem a 85% do total. Além de escassos (15%), os resi-dentes brasileiros são compostos por pessoas físicas, namaioria dos casos. Prova que é limitado o número deempresas controladas por capitais nacionais que inves-tem no conhecimento tecnológico. Quanto às transnacio-nais, seu núcleo de pesquisa "de ponta" localiza-se fora doBrasil, embora algumas realizem internamente trabalhosde desenvolvimento experimental.

A pauta do comércio internacional também espelha afragilidade da produção tecnológica brasileira. Em 1989,o saldo comercial do país era positivo em mais de US$ 16bilhões, graças ao superávit registrado para os produtosde conteúdo tecnológico intermediário. Dez anos depois, opadrão de comércio internacional revelava um contornodistinto, sobretudo no tocante às importações, que torna-ram a balança comercial deficitária em cerca de US$ 1,2bilhão. Os produtos de alta tecnologia, que correspondiama pouco menos de 30% do total das importações, salta-ram para mais de 43%. Os resultados obtidos no períodocomprovam, portanto, que a abertura econômica pro-movida no início dos anos 90 não contribuiu para o aprimo-ramento da capacidade de geração de inovação interna.

O Estado de São Paulo - responsável por 50% do PIEnacional - exibia um padrão de comércio internacional

o1985 1987 1989 1991

SÃO PAULO RIO DE JANEIRO MINAS GERAIS ~IO GRANDE DO--;Jt-PARANÀ DISTRITOFEDERAL SANTA CATARINA

mais divergente em rela-ção às importações: deaproximadamente US$ 8bilhões, em 1989, elas su-peraram a marca dosUS$ 20 bilhões em 1999,concentrando-se maisnos produtos de alta tec-nologia, cuja participa-ção elevou-se na pauta de36% para aproximada-mente 50%.

É visível, portanto,que a falta de robustezno setor mais "nobre" daprodução tecnológica co-brou seu preço na formade desequilíbrio do co-mércio. As exportaçõesbrasileiras desses produ-tos, que hoje represen-tam cerca de 5% do total,devem-se principalmen-te ao desempenho dasvendas externas de aviõesfabricados em São Josédos Campos (SP).

1993 1995 1997 1999

Fonte: 151(2000)

Nota: Estados que apresentam maior número de publicações indexadas pelo 151no ano de 1999.

Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

18 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

Qualidade e competência - O complexo aeroespacialmontado nessa região é um exemplo revelado r de que háno Brasil pesquisa de primeira linha apta a ser transfor-mada em produtos. Os Indicadores mencionam tambémos pólos instalados em Campinas (telecomunicações einformática) e São Carlos (óptica e novos materiais), re-giões paulistas reconhecidas internacionalmente comocentros de excelência na produção de alta tecnologia. Es-ses pólos - ao lado de alguns outros instalados no país -resultam sobretudo de uma bem-sucedida aliança entrepesquisadores e empresários, ambos dotados de grandeforça empreendedora.

Essa sólida competência deriva, em boa medida, damontagem de uma rede pública de ensino superior epesquisa (um dos pilares que sustentam o desenvolvi-mento científico- tecnológico) relativamente recente no

. Brasil. Começou a ser armada no início do século passa-do, mas somente em meados dos anos 60 graduação epós-graduação articularam-se de forma mais organiza-da, compondo hoje um sistema "poderoso", na classifi-cação de Brito Cruz. Apesar das dificuldades que aindaenfrenta, trata-se de um aparato maduro e bem repre-sentado por diferentes áreas do conhecimento, a pontode constituir-se referência para outros países em desen-volvimento.

São Paulo mantém uma posição hegemônica no en-sino superior brasileiro. Com cerca de 23% da popula-ção entre 18 e 24 anos do país, o Estado absorveu apro-

Page 19: Nanochips do futuro

ximadamente 32% das matrículas emescolas superiores, em 1998. Quantoà pós-graduação, titularam-se no Esta-do, naquele mesmo ano, cerca de 32%dos mestres e quase 66% dos doutoresbrasileiros.

O outro celebrado parâmetro deavaliação de qualidade, o número de ar-tigos científicos publicados no exterior,cresceu extraordinariamente nos últimosanos. As publicações brasileiras indexa-das nas bases do Institute for ScientificInformation (ISI, localizado nos EUA)passaram de 3.204 para 12.168, entre1985 e 1999. Levando-se em conta queas bases do ISI cresceram 34% nesse pe-ríodo, a participação brasileira quasetriplicou em porcentual da base, repre-sentando, em 1985, cerca de 0,4% dototal da literatura científica mundial e1,1% em 1999.

Noentanto, cerca de 50%

das publicações indexadasnas bases do ISI, no perío-do entre 1981 e 1993, ti-veram origem em apenas

dez campus universitários. Nesse ranking,a Universidade de São Paulo (USP) des-ponta como a instituição com maiornúmero de publicações. Em São Paulo,destacam-se também a UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp) e aUniversidade Estadual Paulista (Unesp),cujas contribuições à produção científi-ca nacional também têm sido significa-tivas. Em 1999, cada uma das três publi-cou, respectivamente, 3.033, 1.238 e 767artigos indexados, o que representou24,9%, 10,2% e 6,3% do total de publi-cações brasileiras.

Dentre as instituições federais, osdestaques foram a Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), a Universida-de Federal de Minas Gerais (UFMG) e aUniversidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS), que registraram cresci-mento acentuado no número de publi-cações nas bases do ISI.

Rede básica, um desafio - A extensão e aqualidade da educação básica (que en-globa os níveis fundamental e médio)são primordiais para que o país possaresponder aos desafios propostos pelasnovas tecnologias, cujo grau crescen-

MESTRES

São Paulo 1.914 3.569 4.910 156,5

Brasil

% SP/Brasil 41,6 39,7 39,2 - 5,7

DOUTORES

São Paulo 759 1.682 2.591 241,4

Brasil

% SP/Brasil 75,9 67,4 65,7 -13,5

Fonte: Elaborada com base nos dados da CAPES, Avaliação da Pós-Graduação, Síntese dos Resultados, Brasilia,

CAPES, 1999 (para o ano de 1998) e Uma Década de Pós-Graduação - 1987-1997, Brasília, CAPES, 1998 (para os

anos de 1989 e 1994), Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

Participação porcentual das principais universidades públicasno total das publicações brasileiras indexadas nas bases do 151-1999

30

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Fonte: ISI (2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRODE2002 • 19

Page 20: Nanochips do futuro

te de complexidade de-manda que haja, desde o"chão de fábrica", umamão-de-obra preparadae polivalente. Daí a im-portância de se incluirnos Indicadores estudosespecíficos sobre essarede de ensino. Além dedados quantitativos, sãoapresentadas análisesqualitativas sobre as es-colas e seus equipamen-tos e avaliaçõesquanto aorendimento escolar, estasúltimas baseadas em es-tudos do Ministério daEducação (MEC).

"O governo tem feitograndes investimentos naeducação básica e houvevários progressos. O aces-so à escola para a popu-lação brasileira entre 7 e14 anos já abrange 95%das crianças nessa faixaetária. Mas o país aindaestá longe do patamar ideal': alerta Landi.

No nível médio, o Estado de São Paulo detém a maiorfatia, 28% das matrículas brasileiras, seguido por MinasGerais, com 10%, "uma situação muito preocupante", de-fine Landi. Ainda assim, na década de 90 os desníveis re-gionais diminuíram, houve queda na taxa de analfabetis-mo e no índice de repetência e aumento nas taxas de

Evolução da matrícula no Ensino MédioBrasil e regiões - 1988/2000

9.000

8.000

7.000

g 6.000q

E 5.000~~ 4.000::l.~+-'

'"~3.000

2.000

1.000

o1988 1991 1996 1997 1998 1999 2000

~N-or-:d-es-te""~Brasil Norte Sul Centro-Oeste

Fonte: MEC/INEP/SEEC Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

escolaridade média dapopulação e no númerode matrículas.

Esses ganhos,

porém, nãosão suficien-tes para queos sistemas

educacionais brasileiro epaulista acolham todosos que o procuram, prin-cipalmente no ensinomédio. Em decorrência,apenas uma parcela dapopulação pode partici-par dos avanços cientí-ficos e tecnológicos dopaís. Mesmo em São Pau-lo, onde a situação edu-cacional é uma das me-lhores do Brasil, há queempreender um formi-dável esforço para rever-ter o quadro atual.

Propostas duradouras -A superação dos desafios desenhados pelos Indicadores -especialmente os centrados na questão educacional e nacapacidade de inovação empresarial - demandam pro-postas duradouras e de longo alcance. O Brasil ampliouseu espaço no terreno científico, deixando de ser um out-sider no panorama mundial, mas sob o aspecto tecnoló-gico a situação ainda é crítica.

Gastos públicos por aluno/ano e renda per capitaBrasil e países selecionados, em 1997

País

Argentina 10.300 1.054 1.224 1.467 1.781 1.575

Brasil 6.480 820 859 921 1.002

Chile 12.730 1.814 1.798 1.856 1.689

México 8.370 1.088* 1.015* 1.798*

Coréia 13.590 1.450* 2.135* 2.332*

Filipinas 3.320 74 373 570 570 570

França 22.030 3.242* 3.379* 6.182*

* Dados de 1996.Nota: Os valores estão expressos em dólares americanos convertidos pelo fator de "poder eqüivalente de compra"(ppp - purchasing power parities). Os dados foram também ajustados para haver uma comparabilidade entre sistemas deperíodo integral e de meio período de freqüência diária. O chamado lower secondary foi desagregado do upper secondary(nosso nível médio), dadas as diferentes formas de organização dos sistemas escolares.

Fonte: UNESCOIOECD (2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP

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Inserido num mercadoonde a competição é feroz,o país precisa não só am-pliar seus investimentosem P&D, mas fazê-lo demodo inteligente e articu-lado. "Os Indicadores dei-xam claro que já fizemoscoisas relevantes do pontode vista tecnológico e que opaís tem capacidade de de-senvolver soluções para osseus problemas", sublinhaBrito Cruz.

Repetir essa receita éuma questão que envolvenão só aspectos políticos co-mo recursos financeiros eescolha de nichos, mas tra-balho duro num ritmo ace-lerado, porque o resto domundo não vai esperar. •

Page 21: Nanochips do futuro

• POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

zão das necessidades de aprimora-mento das tecnologias de transplan-tes. "Hoje a pesquisa é ampla. A gené-tica molecular, com seus aplicativosem cardiologia, é um instrumento donosso dia-a-dia", afirma Ramires. Seuslaboratórios estão realizando, porexemplo, o mapeamento dos genesresponsáveis pela hipertensão arterial,desenvolvendo uma vacina contra afebre reumática e, ainda, estudandoa enzima responsável pelo estressevascular.

O Incor atende 250 mil pacientesanualmente e é considerado o maiorhospital da América Latina. Realizauma média de 3.800 cirurgias e 11 milcateterismos por ano. As áreas origi-nais ocupadas pelos laboratórios tor-

Lousa e banquetas com bases nitrogenadas de DNAestampadas compõem espaço em que pesquisadores debatem projetos

Incor amplia área de laboratóriosCARDIOLOGIA

Mudança no espaço físicoterá reflexos imediatosnas pesquisas aplicadas

OInstituto do Coração (Incor),da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo (USP),está ampliando suas áreas de pesqui-sa. Os laboratórios de Genética e Car-diologia Molecular, Imunologia eBiologia Vascular já estão operando,desde o início deste ano, nos dois últi-mos andares do novo prédio do Incor,numa área total de 2.400 metrosquadrados. O laboratório de Bioenge-

nharia vai ocupar, em breve, uma áreade 1.800 m' no mesmo prédio. O In-cor investe, anualmente, cerca de R$ 15milhões em pesquisa, sem consideraros gastos com infra-estrutura, que, nocaso dos novos laboratórios, soma-ram algo em torno de R$ 4 milhões."Um hospital universitário não podesó prestar assistência médica. Temobrigação de desenvolver a pesquisaaplicada em benefício dos própriospacientes': justifica o diretor do insti-tuto, José Antonio Ramires.

Desde o início da década de 80, oInstituto do Coração desenvolve pes-quisas de ponta voltadas para doençacardiovasculares. No início, as princi-pais áreas de investigação eram as debioengenharia e imunologia, em ra-

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRODE2002 • 21

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naram-se incompatíveiscom as novas demandasda pesquisa, e o projetode construção do novoprédio, inaugurado emagosto de 2000, foi redi-mensionado de forma apermitir a ampliação dainvestigação científica.

a Laboratório de Ge-nética e Cardiologia Mo-lecular, por exemplo, dei-xou um pequeno espaçono Hemocentro para ocu-par todo o 10° andar doprédio novo. De acordocom o diretor do Incor, oLaboratório de Genéticae Cardiologia Molecularfoi projetado para atenderàs necessidades de desen-volvimento de terapêuti-ca genética nos próximos15anos. a projeto arquitetônico inspi-rou-se no modelo utilizado por labora-tórios da Universidade Harvard, emBoston: as salasdos pesquisadores prin-cipais, administração, salas de reuniõ-es e estações de trabalho estão dispos-tas em torno de áreas de uso comum,onde estão localizados os seqüencia-dores de genes, setor de bacteriologia,material radioativo, entre outros, e umgrande laboratório de pesquisa. Na en-trada deste laboratório, foi construídauma área, batizada de" hall das idéi-as", equipada com lousa e banquetasestampadas com motivos que imitamas bases nitrogenadas de DNA, utili-zada por pesquisadores para a apre-sentação e debates de seus projetos.

Também está previsto espaço parainstalar dois módulos de trabalho, comlaboratórios específicos, nos quais se-rão desenvolvidas pesquisas de vetoresvirais e expressão genômica, e quatrosalas para fisiologia humana, equipa-das com ecocardiógrafo para a obser-vação da função cardíaca. "Contamosainda com o apoio de um grupo debioinformática", acrescenta José Edu-ardo Krieger, diretor.

as equipamentos, de última gera-ção, foram adquiridos com o apoio daFAPESP,da Financiadora de Estudose Projetos (Finep), do Conselho Nacio-

Laboratório de Imunologia Investiga doença de Chagas e busca vacina para a febre reumática

22 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

nal de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq) e uma pequenaparticipação da indústria farmacêutica.

a laboratório tem como focoprincipal de pesquisa o mapeamentodos genes responsáveis pela hiperten-são arterial. Krieger explica que o ob-jetivo é entender o funcionamento dosistema de controle da pressão, obser-vando o comportamento da enzimaconversora da angiotensina (ECA) -que funciona como um marcado r dedoenças em ratos e que parece ter omesmo papel em seres humanos -,sua importância biológica e a sua varia-,ção genética na população (ver Pesqui-sa FAPESP nO 69).

Com a ampliação do espaço de pes-quisa, o laboratório deverá intensifi-car a utilização de terapia gênica e ce-lular em problemas cardiovasculares, járealizada com animais e que, em breve,segundo Krieger, será testada em sereshumanos. Também serão ampliadasas análises de genes candidatos, iden-tificados como principais suspeitosnas doenças vasculares. "Com os re-sultados do Projeto Genoma, é possí-vel procurar variantes do gene e reali-zar estudos de associação e, ao mesmotempo, desenvolver estudos sobre ocomportamento da população", dizKrieger. Em parceria com a Universi-

dade Federal do Espírito Santo, o labo-ratório está iniciando estudos sobregenes candidatos numa população de1.600 habitantes da cidade de Vitória.

Imunologia - a Laboratório de Imu-nologia, criado em 1985, dividia espa-ço com o Instituto de Medicina Tro-pical, até ser transferido para o 9°andar do novo prédio do Incor, numaárea de 850 metros quadrados. Desdeo início, suas atividades estiveram li-gadas ao estudo da histocompatibili-dade para transplantes de rim, medu-la, fígado e coração. "Hoje somos umlaboratório de referência no Estadode São Paulo", diz Jorge Kalil, diretor.Mais recentemente, incorporou à sualinha de pesquisa investigações sobredoenças imunológicas cardíacas, co-mo doença de Chagas e febre reu-mática, esta última responsável porcirurgias de troca de válvulas, muitocomuns no país.

A febre reumática é uma doençaauto-imune, decorrente de infecçãopor estreptococos na garganta, quetem reflexos no coração. Para comba-tê-Ia, o laboratório trabalha no desen-volvimento de uma vacina sintéticacontra a febre reumática, já que umavacina produzida a partir da bactériapoderia desencadear a doença, adian-

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responsável pelo estressevascular. O projeto tem aparceria de Hugo Mon-teiro, do Hemocentro.

A expansão da áreado laboratório tambémpermitirá a ampliação daslinhas de pesquisa. Umadas propostas é avançarna análise do papel daenzima superóxido - dis-mutase na lesão vascular.Trata-se de uma enzimaprotetora que fica defi-ciente após a lesão vascu-lar, mas que se recompõequando há reposta no or-ganismo animal. "Já esta-mos avaliando o polimor-fismo no gene da NADPHem seres humanos, paraverificar se existem ou nãoalterações semelhantes e

se ela está ou não relacionada commaior incidência de infarto", explicaLaurindo.

Na sua avaliação, a expansão daárea e das linhas de pesquisa do labo-ratório é resultado da boa interaçãoentre o Incor e as agências de fomen-to, sobretudo a FAPESP."Não tería-mos condições de fazer essas mudan-ças sozinhos", comenta. "A maiorparte dos equipamentos do laborató-rio foi adquirida com recursos da FA-PESP e da Finep, e todo o mobiliáriofoi comprado com recursos da Reser-va Técnica da Fundação': exemplifica.

o Laboratório de Cardiologia Molecular analisa os genes responsáveis pela hipertensão arterial

ta Kalil. Nos próximos meses, serãoiniciados estudos para o desenvolvi-mento da imunologia da arterioscle-rose. Em todas as linhas de pesquisa, olaboratório utiliza técnicas de biolo-gia molecular e de proteonômica nosestudos de peptídeos e proteínas.

O laboratório integra, junto cominstitutos de clínica e alergia da Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA), oInstituto de Investigação em Imunolo-gia, um dos Institutos do Milênio se-lecionados pelo Ministério da Ciênciae Tecnologia (MCT), que contará comrecursos da ordem de R$ 4,5 milhõespara o financiamento de pesquisas,nos próximos três anos. O objetivo,explica Kalil, é levar o conhecimentoacumulado na bancada para a aplica-ção médica, abordando não apenas otratamento de doenças infecciosas,mastambém alergias que afetam um terçoda população brasileira.

Uma das propostas do Instituto deImunologia é desenvolver preparaçõesalergênicas mais bem padronizadas,de forma a criar produtos com menorefeito colateral e maior eficiência. Ka-lil lembra que há resultados promis-sores em animais e humanos com ouso de peptídeos em imunologia es-pecífica, vacina de DNA, oligonucleo-tídeos CpG e vacinas com antígenos

de microbactérias, o que leva a crerque será possível prevenir ou curardoenças atópicas no futuro, por meioda resposta imune. "Vamos, mais umavez, juntar nossa capacidade com a doInstituto Butantã, com o qual já de-senvolvemos a vacina Anti CD3, coma Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), que trabalha com a va-cina de DNA, e com a Universidade deBrasília (UnB), no estudo de anticor-pos monoclonais', relata Kalil.

Biologia Vascular - O Laboratório deBiologia Vascular, dirigido por Protá-sio Lemos da Luz e Francisco RafaelMartins Laurindo, ocupa uma área deaproximadamente 170 m', contíguaao Laboratório de Imunologia. "Pro-tásio iniciou o trabalho de pesquisana divisão de experimentação no La-boratório de Fisiologia, estudando is-quemia do miocárdio em animais",conta Laurindo, na época seu orien-tando. Hoje, Protásio dirige o GrupoClínico de Arteriosclerose e divide comLaurindo a coordenação das pesquisasem Biologia Vascular, que têm comoprincipal foco a fisiologia molecular.Um dos projetos desenvolvidos pelolaboratório é um temático financiadopela FAPESP que tem como objetivoestudar a enzima NADPH oxidado,

Bioengenharia - O Incor está reava-liando outras áreas tradicionais depesquisas, como a de bioengenharia,afirma Ramires. O laboratório serátransferido para as novas instalaçõesequipadas para desenvolver estudoscom cerâmica, eletrônica, cultura detecidos, biologia molecular.

O retorno dos investimentos estáno aprimoramento da forma de tratara doença e no benefício que isso trazaos pacientes. "A melhoria no conhe-cimento da doença e nos processos detratamento também colabora paraque outros centros adotem o mesmoprocedimento. Essa é a importânciade um hospital-escola:' •

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 23

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• CIÊNCIA L-------1LABORATÓRIO

Um estudo com imigrantesjaponeses e seus descenden-tes na cidade de São Pauloconfirma os fatores ambien-tais que prejudicam a saúdedos habitantes: má alimen-tação, consumo de tabaco ede bebidas alcoólicas, vidasedentária e estresse. O atualestilo de vida é o granderesponsável pelo crescenteaumento na incidência daschamadas doenças crônico-degenerativas, como câncer,diabetes e doenças cardio-vasculares, assegura GersonShigueaki Hamada, diretorcientífico do Centro Nipo-Brasileiro de Prevenção deDoenças e coordenador doprojeto, financiado pelaFAPESP. O Brasil abriga amaior comunidade nipôni-ca fora do Japão: cerca de1,2 milhão de pessoas. Des-

Os vilões da saúde dos japoneses

de 1984, o Centro Nacionaldo Câncer de Tóquio cons-tata diferenças significativasna incidência de doenças enas taxas de mortalidade.Um estudo de 1990, queserviu de referência para apesquisa de Hamada, mos-trou que certas doenças afe-tam mais os japoneses no Ia-

pão do que em outros paí-ses. O câncer de estômago,por exemplo, tem alta inci-dência no Japão: para cada100 mil habitantes homens,surgem 80,3 casos novospor ano. Já na população deimigrantes e descendentesde São Paulo, a incidência ésensivelmente menor: 69,3

casos. Considerada toda apopulação da cidade, o ín-dice é menor ainda: 45,7."Isso significa que o simplesfato de mudar-se do Japãopara São Paulo é suficientepara diminuir o risco de secontrair a doença': afirmaHamada. Mas há situaçõesinversas: nos casos dos cân-ceres de próstata, mama ecólon, bem como de diabe-tes e doenças cardiovascu-lares, a incidência entre osimigrantes é consideravel-mente maior. Em São Pauloa mortalidade por diabetesé 174% maior do que no Ja-pão; e a mortalidade pordoença isquêmica do cora-ção é o dobro aqui. Sabe-seque a incidência dessas doen-ças em imigrantes tende aaproximar-se do padrão dacomunidade local. •

• Sai atlas deareal gaúcho

As dimensões de uma poucaconhecida região de dunas eareais do país acabam de serdelimitadas. De acordo como recém -lançado Atlas daArenização no Sudoeste do RS,resultado de um trabalho deum grupo de professores daUniversidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS),coordenado pela geógrafaDirce Maria Surtegaray, aárea dessas formações somapouco mais de 52 quilôme-tros quadrados, equivalentesa aproximadamente 0,018%do território gaúcho. Frag-mentos dessas dunas e areaispodem ser encontrados emdez municípios do Estado. A

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existência desses segmentosáridos é conhecida desde pelomenos o início do século 19,mas havia o temor de que oaumento da fronteira agríco-la no Rio Grande do Sul, so-bretudo o avanço das áreas decultivo de soja, pudesse tercontribuído decisivamentepara a expansão das dunas.Para os cientistas, a ação dohomem pode ajudar na for-mação dos areais do sudoestegaúcho, mas a origem das du-nas é decorrente principal-mente de processos naturais.A existência dos areais gaú-chos não é um indício cabalde que a desertificação come-ça a tomar conta dos pampas.Segundo os autores do atlas,fruto de uma parceria com ogoverno do Estado, ainda não

é possível precisar se as dunasestão se expandido ou retro-cedendo. Em alguns pontos,os areais parecem estar au-mentando de tamanho; emoutros, diminuindo. •

Areal no sudoeste do RS

• Diagnósticosem invasão

Um estudo publicado no NewEngland [ournal of Medicine(27 de dezembro de 2001)traz uma nova ferramenta dediagnóstico importante ao al-cance dos cardiologistas: aressonância magnética paraidentificar artérias obstruí-das, uma das principais cau-sas de morte no mundo. Pornão ser invasivo, o exame po-deria ser uma alternativa maissegura à angiografia, métodotradicionalmente empregadopara esse fim, no qual o pa-ciente recebe uma injeção deum líquido corante, o con-traste, antes de ter suas artériasradiografadas. Na ressonân-cia magnética, a identificação

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de artérias entupidas é feita apartir de uma imagem con-gelada do coração em ativi-dade. Segundo o autor do es-tudo, o pesquisador WarrenManning, do Centro MédicoBeth Israel Deaconess, além desegura, a ressonância magnéti-ca é eficiente: os exames foramprecisos em 87% dos casos .•

• Xenotransplantesseguros à vista

No começo de janeiro desteano duas empresas anuncia-ram o nascimento de noveporcos donados com genesmodificados. O fato é impor-tante porque abre a possibili-dade de se usar órgãos de ani-mais no homem - o chamadoxenotransplante. O porco é oanimal mais adequado paraprover órgãos para transplan-te, como o coração, por exem-plo. O problema é o medo dese transmitir vírus suínos pa-ra o homem e a rejeição doorganismo humano a umtipo de açúcar produzido porum gene específico do porco.A PPL Therapeutics, da Escó-cia, divulgou primeiro a notí-cia de ter dona do cinco lei-toas com um gene desativado- justamente um dos queprovocam a rejeição no or-ganismo. Um dia depois, arevista Science publicou tra-balho de pesquisadores daUniversidade do Missouri eda empresa Immerge BioTherapeutics sobre o nasci-mento de outras quatro lei-toas transgênicas, que haviamnascido três meses antes. Acorrida entre as companhiasde biotecnologia para divul-gar a novidade ocorre porquehá no horizonte um mercadoestimado em US$ 5 bilhõesanuais só nos Estados Unidos,onde existem 75 mil pessoasna lista de espera por um ór-gão. A turma do Missouri e daImmerge está na frente - seus

Leitoas transgênicas da PPL:disputa por mercado bilionário

porcos são pequenos e os ór-gãos de tamanho compatíveiscom o do homem. Já os daPPL são uma espécie comum,que pode chegar a 450 quilose têm órgãos muito grandespara serem transplantados. •

• Células-troncos contrao mal de Chagas

O uso de células tronco reti-radas da medula para tratardo mal de Chagas é promis-sor. Os resultados de um es-

tudo com camundongos quesofriam da doença, feito pelafilial baiana da Fundação Os-waldo Cruz (Fiocruz), mos-trou que o nível de fibrose einflamação no coração dosanimais, causados pelo mal,diminuiu de 80% a 90% como emprego dessa terapia, inédi-ta no mundo. As células-tron-cos conseguem se transformarem células do músculo car-díaco, reestabelecendo asfunções do órgão. Em março,Ricardo Ribeiro dos Santos,da Fiocruz, coordenador daspesquisas, planeja iniciar estu-do semelhante com 20 doen-tes. "Não há risco de rejeição,pois, como no caso dos ca-mundongos, cada pacientevai receber células tronco desua própria medula", diz. Emseis meses, espera-se já ter in-dícios se a abordagem funcio-na com humanos. •

Um novo Vênus nas lentes de ChandraO Observatório Chandra, :

z

da Nasa, conseguiu captara primeira imagem de raiosX de Vênus, trazendo no-vas informações a respeitoda atmosfera do planetachamado pelos astrôno-mos de "irmão" da Terra,em razão das semelhançasde dimensão, massa, den-sidade e volume. Vênus vis-ta em raios X é parecidacom Vênus na luz visível,mas há significativas dife-renças. Nos raios X, o pla-neta é ligeiramente "menore mais brilhante nas extre-midades, resultado da pró-pria constituição atmosfé-rica. Enquanto a luz ópticaé causada pelo reflexo denuvens que ficam 50 a 70quilômetros da superfície,os raios X são produzidospor radiação fluorescentedo oxigênio e outros áto-

fera de Vênus que são difí-ceis de investigar por ou-tros meios': diz o coorde-nador da pesquisa KonradDennerl, do Instituto MaxPlanck para Física Extra-terrestre, da Alemanha. •

Raios X de Vênus: novas informações sobre o planeta

mos na atmosfera entre120 e 140 quilômetros aci-ma da superfície do plane-ta. "Temos, agora, a incrívelpossibilidade de usar ob-servações de raios X paraestudar regiões na atmos-

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 2S

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• Aprendizado é maiseficaz na puberdade

funcionamento do giro an-gular direito, área localizadana junção dos lóbulos tem-poral e parietal. Até esse estu-do, publicado na Nature Neu-roscience (janeiro de 2002), o

aprendizado de uma lingua-gem era, geralmente, relacio-nado ao hemisfério esquerdodo cérebro. Corina estudou océrebro de 27 pessoas capazesde se comunicar em inglês e

A idéia de que o cérebro, emseu desenvolvimento, passapor "janelas de oportunida-de", ou momentos ideais parao aprendizado de certas apti-dões, não é exatamente umanovidade na neurociência.Mas o pesquisador DavidCorina, da Universidade deWashington, Estados Unidos,reforça esse conceito com umdado surpreendente: o apren-dizado de uma linguagem,verbal ou não, se dá commaior eficiência quando ocor-re até a puberdade, graças ao

26 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

na linguagem de sinais dosdeficientes auditivos: 16 des-ses eram filhos de deficientes,mas com audição normal,tendo aprendido a linguagemde sinais quando crianças. Osoutros 11 aprenderam os si-nais depois da puberdade.Todos tiveram sua atividadecerebral medida por imagensde ressonância magnética,enquanto recebiam informa-ções nas duas formas de lin-guagem. Maior fluência na co-municação, coincidente commaior ativação do hemisfériodireito do cérebro, foram ve-rificadas nas pessoas que ha-viam aprendido as duas lin-guagens durante a infância .•

• Inaugurado oTelescópio Gemini

O primeiro dos dois telescó-pios Gemini foi inauguradodia 18 de janeiro em CerroPachón, no Chile, a 2.720 me-tros acima do nível do mar. Otelescópio de 8 metros é partede um consórcio internacio-nal de seis países, que dividi-rão o número de horas esco-lhidas proporcionalmente àparticipação nos custos. OBrasil entrou com 2,5% do fi-nanciamento de US$ 176 mi-lhões por meio do ConselhoNacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico(CNPq). Outro telescópio deigual tamanho será instaladoem Mauna Kea, no Havaí, a4.220 metros. •

• Lentidão para evitarcongestionamento

Menos força nos pedais: estáprovado que dirigir suave-mente evita congestionamen-tos. Novos modelos compu-tacionais de tráfego mostramque um fluxo pesado de veí-culos mantém-se em movi-

Page 27: Nanochips do futuro

mento desde que os motoris-tas evitem acelerações e frea-das bruscas. O estudo, divul-gado na revista Nature (24 dedezembro de 2001), foi reali-zado por um grupo de pes-quisadores alemães e france-ses ligados à Universidade deDuisburg, Alemanha, e pode-rá ajudar engenheiros a de-senvolver rodovias mais velo-zes e seguras. A partir dosmodelos testados, os cientis-tas chegaram à condusão deque, em situações de acúmu-10 de veículos, a melhor for-ma de movimentação é o flu-xo sincronizado - um dostrês estados de trânsito des-critos pelos especialistas daárea. Os outros dois são o flu-xo livre, no qual cada moto-rista está longe o suficientedos outros para imprimir avelocidade que preferir, e ocongestionamento, que podeir da lentidão à total imobili-dade. No fluxo sincronizado,há vários veículos movendo-se com mais ou menos a mes-ma velocidade e com poucasmudanças de pista - condi-ção que mantém o tráfegopesado se movendo e reduzos acidentes de trânsito. •

Entre dezembro de 2001 ejaneiro deste ano, duas no-tícias levaram os pesquisa-dores que trabalham comtécnicas de donagem deanimais a refrear o próprioentusiasmo. Ian Wilmut,do Instituto Roslin, na Es-cócia, anunciou que a ove-lha Dolly, o primeiro ma-mífero donado do mundo,estava com artrite. "O fatode Dolly ter artrite numaidade relativamente jovemsugere que possa haverproblemas", afirmou o pes-quisador. O problema é

Congestionamento: andar rápido na estrada pode ser inútil

• Teoria da Relatividadepassa em teste

que a velocidade da luz, cha-mada C, independe da posi-ção e da própria velocidadedo observador. Cogitava-seque uma pessoa dentro deum trem em movimento ve-ria a luz de um semáforocomo outra, parada a poucosmetros dos trilhos - o pro-blema era provar. Os ale-

Físicos das universidades deKonstanz e de Düsseldorf, naAlemanha, reforçaram expe-rimentalmente um dos fun-damentos da Teoria da Rela-tividade Restrita, do físicoAlbert Einstein: mostraram

Alerta sobre animais clonados,~ que não há meio de saber

se é apenas uma coincidên-cia ou se houve algo erradocom a donagem. Algumassemanas antes do anúnciode Wilmut, a empresa debiotecnologia norte-ame-ricana Advanced Cell Tech-nology divulgou informa-ções sobre pesquisas comdones de embriões de ma-cacos rhesus. Segundo apesquisadora Tanja Domin-ko, os embriões donadospareciam "uma galeria dehorrores". Tanja diz que há

Ovelha Dolly: com artrite alguma coisa nos óvulos

mães, de acordo com o expe-rimento descrito na revistaPhysical Review Letters (7 dejaneiro), inicialmente com-pararam feixes de luz se mo-vendo em diferentes direções.Em outro tipo de teste, aindamais acurado, que coroou aidéia de que C não dependenem da velocidade nem daposição do laboratório, aequipe coordenada por ClausBraxmaier e Holger Müller,da Universidade de Konstanz,manteve uma onda estacio-nária em uma cavidade res-friada durante 190 dias -nesse tempo, a Terra percor-re pouco mais da metade desua órbita ao redor do Sol e avelocidade do laboratóriovaria em cerca de 60 quilô-metros por segundo. A fre-qüência das ondas em rela-ção à cavidade, feita de safira,manteve-se estável e confir-mou o princípio relativísticocom uma precisão três vezesmaior que estudos anterio-res. Comparadas constante-mente com um relógio atô-mico, as ondas mudariam defreqüência caso a velocidadeda luz variasse com a veloci-dade do laboratório. •

dos prima tas que torna adonagem mais difícil deser conseguida do que nosoutros mamíferos. Emboraa maioria dos embriões pa-reça normal, quase todostêm o DNA alterado e mor-rem em pouco tempo - atéagora, ninguém conseguiudonar um macaco a partirdo DNA de um animaladulto. Ian Wilmut fez umapelo a todos que traba-lham com donagem paraque passem a trocar infor-mações sobre a saúde deseus animais donados. •

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 27

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FÍSICA

Átomosdeouro entram.

• •no circuitoDescobertas sobre nanofios impulsionam.a pesquisa de chips para computadoresque operam em escala molecular

28 • fEVEREIRODE2002 • PESQUISA FAPESP

Page 29: Nanochips do futuro

Raramente a teoria e a ex-

periência se integraramtão bem. No dia 17 de de-zembro do ano passado,três físicos brasileiros as-

sinaram o artigo de capa da PhysicalReview Letters, uma das mais impor-tantes revistas especializadas de físicano mundo. Em quatro páginas, des-crevem as descobertas sobre o com-portamento dos átomos de nanofiosde ouro, estruturas que medem bilio-nésimos do metro e representam ummaterial estratégico para a fabricaçãode componentes para a próxima gera-ção de computadores, que nas próxi-mas décadas devem ocupar o lugardos atuais, à base de silício. Os resul-tados se assentam sobre os dados acu-mulados desde o dia 20 de outubro de1999, quando pesquisadores do Labo-ratório Nacional de Luz Síncrotron,em Campinas, ajustaram o foco deum microscópio eletrônico de alta re-solução, com um poder de ampliaçãode 1,2 milhão de vezes, e observarampela primeira vez o rompimento denanofios de ouro.

Muito provavelmente, é a primei-ra vez que a revista concede seu espa-ço de maior destaque a um trabalhode pesquisadores brasileiros. Nas qua-tro páginas do artigo, intitulado HowDo Gold Nanowires Break? (Como seRompem os Nanofios de Ouro?), Edi-son Zacarias da Silva, da Universidadede Campinas (Unicamp), e AdalbertoFazzio e Antônio José Roque da Silva,ambos da Universidade de São Paulo(USP), mostram, por meio de uma si-mulação em computador, a formaçãoe a evolução das estruturas que apare-cem no fio de ouro antes e depois daruptura. A seqüência, descrita passo apasso, exibe um detalhamento impos-sível de ser obtido no microscópio ele-trônico, dadas as proporções do próprioátomo, mesmo o de ouro, de porte in-

termediário, com 79 elétrons aoredor do núcleo, e as limita-ções dos equipamentos."Queríamos contribuir paraa interpretação dos experi-mentos e entender os meca-

nismos envolvidos no pro-cesso dinâmico que leva à

formação da linha de átomos e final-mente à sua ruptura': diz Zacarias.

Conhecer esses processos é impor-tante por uma razão básica: o ouro, de-vido a suas características - sobretudoa capacidade de não reagir com o oxigê-nio e de poder ser estirado longamentesem se partir, a chamada ductilidade -,é visto como o melhor material paraformar os contatos elétricos entre osnovos dispositivos a serem criadospara substituir os chips de silício, ho-je o material básico dos atuais compu-tadores. As perspectivas se apóiam nasdescobertas, feitas na década de 90, deque as moléculas conseguem conduzireletricidade do mesmo modo que osfios e os próprios semicondutores.

As máquinas de hoje já são vistas co-mo seres em extinção. "A física do silí-cio, que provê todos os computadoresatuais, está com os dias contados': co-menta Fazzio. "Talvez a miniaturizaçãobaseada no silício perdure por mais 10ou 15 anos, mas dificilmente passarádisso:' Num artigo publicado tambémem dezembro na revista Nanotechno-logy, Ramón Campafió, diretor-geraldo programa europeu de desenvolvi-mento de nanocircuitos, pondera quea chamada Lei de Moore, segundo aqual a capacidade dos microprocessa-dores dobra em períodos de 18 a 24meses, foi válida durante 30.anos, masnão há mais como se manter.

Rapidez e velocidade - Uma das for-mas mais adotadas de aumentar a ra-pidez e a velocidade dos computado-res tem sido diminuir o tamanho dostransistores, as unidades que proces-sam as informações. Hoje, cabem cer-ca de 40 milhões de transistores emum chip do tamanho de um selo. Ca-da um deles é 60 mil vezes maior queuma molécula - indicação de que nãoserá fácil passar da microeletrônicapara a nanoeletrônica, na qual a in-formação corre numa dimensão de bi-lionésimos do metro, de um átomo aoutro (um nanômetro corresponde aum bilionésimo do metro). Imagina-seque, quanto menor, melhor. Os chipsda próxima geração terão de ser cen-tenas de vezes menores que os atuais.Calcula-se que suas dimensões fiquem

o

na faixa de 10 a 1.000 angstrõns, no ~<ri

máximo - o angstrõn é um décimo ~bilionésimo de metro, o equivalente ~;).ao diâmetro de um átomo médio. ~

É provável que, nos contatos para a ~transmissão da corrente elétrica, o com-putador das próximas décadas adotepelo menos uma das formas de pon-tas dos nanofios, que representa umdos principais achados científicos dotrabalho dos pesquisadores da USP eUnicamp: o chapéu francês, como foibatizado pelos pesquisadores. É umarranjo de átomos em forma de trapé-zio, com dois hexágonos (cada pontocorresponde a um átomo) nos lados eum na base, que lembra o chapéu fei-to com uma folha de jornal dobrada,adotado nas antigas brincadeiras decrianças. Os físicos concluíram que setrata de uma das formas mais estáveisdo nanofio de ouro, que se forma mo-mentos após o rompimento.

Esse trabalho põe em evidência ovalor científico da simulação compu-tacional, a técnica que permitiu a aná-lise do comportamento dos átomos. Apartir dos cálculos realizados noscomputadores do Centro Nacional deProcessamento de Alto Desempenho(Cenapad), em Campinas, analisadose visualizados nas estações de trabalhoda Unicamp e USP, os físicos pude-ram não apenas reproduzir e explicar,com admirável precisão, os resultadosque emergem da observação diretados átomos no microscópio, mastambém conseguiram informaçõesnovas sobre as formas inusitadas deorganização dos átomos, a exemplodo próprio chapéu francês, que esca-pa à observação experimental.

Com esses resultados, os físicosabriram simultaneamente uma largaporta para uma nova atuação da si-mulação em computador, que podetambém se antecipar à própria expe-rimentação e permitir, entre outrascoisas, economia de tempo e dinhei-ro: tal qual os químicos e biólogos,que já se valem de computadores paraprojetar medicamentos, molécula pormolécula, na área de pesquisa cunha-da de alquimia virtual, os físicos logopoderão se sentir à vontade para pro-jetar materiais em escala atômica.

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 29

Page 30: Nanochips do futuro

CAPA

Manipular átomos e construir molé-culas é a essência da nanotecnologia,uma área de fronteira que mobiliza omundo (ver quadro abaixo).

Na física, uma das frentes princi-pais da nanotecnologia é justamente asubstituição do silício. Em seu lugar,de acordo com as pesquisas em anda-mento, podem ser usados nanotubosde carbono e moléculas orgânicascomo os fulerenos ou buckyballs, mo-léculas de forma geodésica formadapor 60 átomos de carbono. As desco-bertas se intensificam. Em agosto doano passado, pesquisadores da IBManunciaram um circuito semicondu-tor feito com nanotubos de carbono.Em novembro, a revista Science regis-trava o desenvolvimento de transisto-res montados com moléculas orgâni-cas unidas por pontas de ouro.

artigo de dezembro so-bre os nanofios não foio único dos pesquisa-dores da USP e da Uni-camp na Physical Re-

view Letters, embora tenha sido o demaior destaque. Em 2001, o grupo li-derado por Fazzio publicou outrosdois trabalhos nessa mesma revistasobre propriedades eletrônicas e es-truturais de materiais, além de quase20 em revistas internacionais, em co-laboração com pesquisadores da Uni-camp e das universidades federais deSanta Maria (UFSM), no Rio Grandedo Sul, e de Uberlândia (UFU).

Outras descobertasbrasileiras sobre nano-fios de ouro - construí-dos em câmaras de vá-cuo ultra-alto - devemaparecer nos próximosmeses, novamente naPhysical Review Letters.Em um artigo já aceitopara publicação, On theOrigin ofAnomalous LongInteratomic Distances inSuspended Gold Chains(Origem das AnômalasDistâncias Interatõmi-cas Longas em CadeiasSuspensas de Ouro), Da-niel Ugarte e Varlei Ro-drigues, do LNLS, emcolaboração com SérgioLegoas e Douglas Gal-vão, da Unicamp, expli-cam por que a distânciaentre os átomos nosnanofios de ouro émaior do que no ouro, usado, porexemplo, para fazer jóias.

De acordo com os cálculos dogrupo, nos nanofios podem existirátomos de carbono entre os de ouro,de modo que a distância seja maiorque no ouro comum. Os intrusos jus-tificariam até mesmo distâncias ex-tremamente longas, de 5 angstrôns,enquanto para distâncias de 3 a 3,6angstrõns podem coexistir situaçõescom e sem carbono, os nanofios con-taminados e os limpos. Nesse caso,

I

A partir do alto à esquerda, o rompimento donanofio de ouro no microscópio eletrônico (acima) ...

tudo é resolvido matematicamenteporque não há como identificar o car-bono: por ter uma massa muito me-nor que a do ouro (tem apenas seiselétrons e, no núcleo, seis prótons), étransparente para o microscópio ele-trônico de transmissão.

Buscava-se desde 1998 uma expli-cação para as distâncias interatômi-cas maiores do que o esperado. Foinesse ano que pesquisadores do Ja-pão descobriram que nos nanofios adistância entre os átomos de ouro,

Os quatro centros da nanorrede brasileiraComeçam a operar este ano os

quatro centros de pesquisa selecio-nados em dezembro pelo ProgramaNacional de Nanociências e Nano-tecnologia, criado pelo ConselhoNacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq) e lança-do em novembro de 2000 para defi-nir os rumos de atuação do país numaárea considerada estratégica. O pri-meiro deles encontra-se na Universi-dade Federá! do Rio Grande do Sul

(UFRGS), será coordenado por IsraelBaumvol e incorpora as propostas doLNLS e do grupo da Universidade Fe-deral de Minas Gerais; outro está cen-trado na Unicamp, liderado por Nél-son Durán; e os dois outros estão naUniversidade Federal de Pernambuco(UFPE), coordenados por EronidesFelisberto da Silva Junior e OscarLoureiro Malta.

Os centros deverão funcionar emrede, em conjunto com cerca de 40

instituições de pesquisa do Brasil eseis do exterior, além de duas empre-sas (France Telecom e PQSD - PontoQuântico Sensores e Densímetros), ematividades que incluem o desenvolvi-mento de nanotubos de carbono, ce-râmicas, materiais semicondutores,peneiras moleculares e medicamen-tos. São objetivos tão amplos quantoa própria nanotecnologia, uma áreaque prevê, por exemplo, a criação deadesivos que possam colar ponto a

onSecuacL

30 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

Page 31: Nanochips do futuro

...e na simulação por computador: a estrutura perde a simetria hexagonal e vaise afinando até formar uma linha com cinco átomos, quando ocorre a ruptura

quando um se alinha ao lado do ou-tro, momentos antes de se soltarem,pode chegar a 3,6 angstr6ns - enquan-to no ouro normal, o das joalherias, éde 2,9 angstr6ns.

No ano seguinte, a equipe do Cen-tro de Microscopia Eletrônica de AltaResolução do LNLS, que trabalhacom nanofios de ouro, prata e platinadesde 1995, conseguiu reproduzir oachado dos japoneses e foi além. Numartigo publicado em 2000 na PhysicalReview Letters, o grupo do LNLSmos-,

trou pela primeira vez que, antes daruptura, os nanofios de ouro assu-mem somente três formas, cada umadelas com comportamentos mecâni-cos diferentes. Duas dessas formas sãodúcteis: os nanofios são facilmenteesticados, como goma de mascar. Euma é quebradiça: o nanofio se rom-pe facilmente quando esticado. "Essesresultados foram relacionados, comsucesso, com propriedades de resis-tência elétrica, não entendidas até en-tão", comenta Rodrigues.

Os mistérios se desfazem, mas omundo nanométrico permanece in-trigante, inteiramente imprevisível.Nessa escala, os nanofios não obede-cem mais à clássica Lei de Ohm, umdos pilares básicos da microeletrôni-ca, segundo a qual a intensidade dacorrente elétrica varia linearmente,numa escala regular, de acordo com odiâmetro do fio. "No caso dos nano-fios",explica Ugarte, "a corrente apre-senta patamares separados por saltos,ou seja, enquanto variamos o diâme-tro do fio, a corrente fica em um va-lor fixo (patamar), e de repente dáum salto para outro patamar':

Praça da Sé - Numa analogia, é comose os elétrons se convertessem em pes-soas que devem atravessar um espaçoe entregar um pacote, a corrente elé-trica. Num primeiro momento, queequivale à escala microeletrônica e, demodo mais amplo, a qualquer fio elé-trico, os elétrons-pessoas se movemcom dificuldade em meio a uma mul-tidão na Praça da Sé, centro de SãoPaulo. O número de elétrons-pessoasque consegue chegar do outro ladodepende do tamanho da praça: se formaior, o número de cargas trans-portadas também crescerá, de modocontínuo. A entrada de mais porta-dores de pacotes nem é percebida - esempre cabe mais um. No segundo, aescala nanométrica, os elétrons-pes-soas têm de atravessar corredores, nosquais podem avançar livremente. Mas

ee-o

m1-

ponto urna superfície em outra e dro-gas que atuem no organismo comprecisão inimaginável.

"Pelo menos não seremos espec-tadores", pondera Celso Pinto deMelo, coordenador do programa na-cional e pesquisador da UFPE. "Te-mos condições de entrar no jogo."Segundo ele, o Brasil deve investireste ano cerca de R$ 3 milhões (pou-co mais de US$ 1 milhão) e adotaruma estratégia similar à do modeloalemão, que, com um orçamento daordem de dezenas de milhões de dó-lares, resolveu criar ou consolidara

centros de excelência nas principaisvertentes da nanotecnologia. Os Es-tados Unidos já buscam a liderança,com recursos crescentes para as pes-quisas em nanotecnologia: US$ 270milhões em 2000, US$ 422 milhõesem 2001 e US$ 520 milhões (aindasujeitos à aprovação) em 2002.

Outra iniciativa brasileira é a im-plantação do Centro Nacional de Re-ferência em Nanotecnologia. CylonGonçalves da Silva, que até julho doano passado dirigia o LaboratórioNacional de Luz Síncrotron, mantidopelo Ministério da Ciência e Tecnolo-

gia, é quem está cuidando do planeja-mento, que pretende concluir aindaeste semestre. Segundo ele, o centrovai atuar em poucas áreas, que pos-sam conectar as instituições de pes-quisa e as indústrias, de modo a bene-ficiar o desenvolvimento econômicodo país. "Temos habilidade em unirpesquisa teórica e experimental': diz."O desafio é fazer com que a pesquisafundamental e a inovação andem debraços dados." O centro, cuja monta-gem conta este ano com recursos daordem de U$ 3 milhões, deve come-çar a operar em 2003.

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 31

Page 32: Nanochips do futuro

CAPAem cada corredor só cabe um elétron-pessoa por vez. Primeiro segue um edepois outro, sucessivamente. Mais deum elétron-pessoa só pode avançarao mesmo tempo se houver maiscorredores - e só é possível perceberque se alterou a quantidade de cargastransportadas quando o espaço cresceexatamente na proporção de umcorredor. A quantidade de pacotes(corrente elétrica) aumenta de mododescontínuo, aos saltos, à medida queos elétrons-pessoas ganham os corre-dores. Os físicos chamam de quanti-zação esse avanço aos saltos, já obser-vado experimentalmente.

Nos últimos anos, outros grupostentaram entender o comportamentodos átomos já dispostos em linha,momentos antes do rompimento,mas não foi gratificante. Os físicos daUSP e da Unicamp preferiram umaestratégia de mão cheia, se é que sepode dizer assim no caso de objetostão minúsculos. "Buscamos uma for-ma mais realista, o próprio nanofio,imaginando que os átomos, de algummodo, deveriam guardar a lembrançade uma estrutura a que pertenceram':diz Roque da Silva.

Os átomos, que se mostram reais- na forma de pontos pretos - nosmicroscópios do LNLS, são repre-sentados por tabelas de números quesaem dos computadores e indicam suasposições relativas ao longo do tempo.Só depois de feitos todos os cálculos,no final do trabalho, é que assumem aforma, inegavelmente mais compreen-sível, de bolinhas coloridas.

Nasimulação por com-

putador, os físicos par-tiram de uma estrutu-ra análoga à do cristalde ouro, com um áto-

mo em cada vértice de um hexágonoregular e outro no centro - é a confi-guração mais compacta possível, como maior número possível de elemen-tos por unidade de espaço. Cada he-xágono forma um plano. O empaco-tamento dessas figuras compõe ocristal, representado na simulação emcomputador por uma estrutura glo-bal de dez planos, com 70 átomos.

32 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

o desejo dos físicosTodo físico do mundo deseja ver

sua pesquisa publicada na PhysicalReview Letters ou simplesmente PRL,uma das mais - se não a mais - im-portante revista científica nessa área.Mas não é nada fácil. O prestígio des-sa publicação, editada pela AmericanPhysical Society (APS), dos EstadosUnidos, assenta-se em uma rigorosaseleção dos artigos. ''A Physical ReviewLetters só aceita trabalhos que real-mente representem avanços relevan-tes",reitera José Roberto Leite,presidente da Sociedade Bra-sileira de Física (SBF). Desde1988, o índice de aceitação detrabalhos para publicação os-cila entre 37% e 41% ao ano.

Espaço nobre: apenasquatro de cada dez artigos

enviados pelos pesquisadoressão aceitos para publicação

Em seguida, os pesquisadoresdeixaram a estrutura se recons-truir segundo as equações damecânica quântica, com os áto-mos buscando espontaneamenteas posições de menor energia. A •redistribuição dos átomos originao nanofio, uma estrutura tubularextremamente fina, cuja superfí-cie, densa e compacta, compostapelas células de sete átomos, constituia configuração de maior empacota-mento atômico possível- não há ou-tra forma geométrica que permita pôrmais átomos no mesmo espaço.

Depois de darem as coordenadaspara a formação do cristal, a única or-dem que os pesquisadores deram aocomputador foi aplicar uma força detração às duas pontas, como se duasmãos puxassem o fio, a uma tempera-tura de aproximadamente 300°C. Si-mulou-se desse modo o esticamentodo nanofio, que no primeiro momen-to evita o rompimento imediato como sacrifício de seu próprio recheio: osátomos do centro pulam para a su-

Em 2001, saíram 71 artigos de pes-quisadores de instituições brasileirasna PRL. Desse total, 30 eram de SãoPaulo.

A revista começou a circular em1Q de julho de 1958, com o objetivode divulgar resultados de pesquisa deinteresse geral para os físicos de qual-quer área - da atomística à cosmolo-gia. Não parou mais de crescer, atin-giu em 1999 o recorde de artigospublicados em um ano (2.800, esco-

17 December 200 1

Volume 87. Numbcr 25

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perfície. Como resultado, o compri-mento do fio aumenta. "Ninguémantes tinha visto o fio ficar oco", co-menta Roque da Silva.

Simetria perdida - Quando todos osátomos de dentro se esgotam, o nano-fio se vê num beco sem saída: ou que-bra ou afina. Prefere afinar e deixa deser hexágono em um ponto não espe-cificado, embora ainda procure pre-servar estruturas triangulares entre osátomos. Nesse ponto, surge um novoplano, o décimo primeiro, com apenascinco átomos. Forma-se ali um defeito,uma região de instabilidade: é onde ofio vai afinar e, mais tarde, se romper.

Page 33: Nanochips do futuro

lhidos entre os 7.650 recebidos) eprepara-se para se superar este ano,ao prever a publicação de 3.100 arti-gos e de 11.800 páginas ao longo desuas 52 edições. Seu índice de im-pacto - que dá a dimensão da im-portância da revista no meio cientí-fico, medida pelo número de citaçõesdividido pelo número de artigos pu-blicados - é de 6,10, um dos mais al-tos na área de física.

Não se recomenda chamar a pu-blicação apenas de Physical Reviewpor causa das outras publicações daAmerican Physical Society, que pu-blica também as Physical Review A, B,C, D e E, destinadas à divulgação deresultados de pesquisas em áreasainda mais específicas, a Physical Re-view Special Topics e a Review of Mo-dern Physics.

Na porção não-defeituosa do fio, asimetria fez com que, apesar de tracio-nada, a estrutura se mantenha. Já naregião de instabilidade, a deformaçãoprossegue. De acordo com as análisesrealizadas, a estrutura passa por di-versos estágios até chegar à configura-ção de um só átomo unindo duaspontas. Nesse estágio, fios de metaiscomo o sódio se romperiam, masnão o de ouro: a ductilidade do metalnobre confere ao fio uma sobrevida,com a região crítica incorporando,novos átomos, puxados das pontas,em seqüência linear.

Essa linha atômica, cujos átomoschegam a ficar 15% mais distantes doque no cristal de ouro, sustenta-se atéincorporar apenas de quatro a cincoátomos - as distâncias entre eles tam-bém foram verificadas e, novamente,concordaram com os resultados ex-perimentais. Mas os átomos alinha-dos não se sustentam: as tensões setornam insuportáveis e o fio se rom-pe. Para os pesquisadores, uma daspreocupações foi entender justamen-te as estruturas que se formam nasimediações do ponto de ruptura -são elas que possibilitam o contatodo fio de ouro com os nanodispositi-vos e lhe conferem a perspectiva de

aplicação tecnológica. É nesse mo-mento, logo após o fio se romper, queas duas pontas resultantes, com confi-gurações muito simétricas e estáveis,formam a estrutura chamada de cha-péu francês. Tamanha é a estabilidadedessa forma, segundo Roque da Silva,que nenhum átomo consegue maissair da ponta para entrar no fio queainda cresce. A constatação é sugesti-va. "Pode ser que toda vez que o fiofor puxado forme-se o chapéu francêsnas pontas", cogita ele.

Alcance amplo - Embora enfatize atual-mente o estudo de fenômenos na es-cala atômica, a simulação em compu-tador tem, geralmente, aplicaçõesmais amplas. Em um dos artigos pu-blicados no ano passado, Roque daSilva, Fazzio, o doutorando GustavoDalpian e Anderson Ianotti, ex-dou-torando da USP, simulam um experi-mento realizado em microscópio detunelamento eletrônico, para enten-der como átomos de germânio se acu-mulam na superfície do silício - maisuma vez, apenas pela prática não ti-nha sido possível entender algumasestruturas que se formam após essadeposição. Os resultados a que che-garam beneficiam tanto a microele-

OS PROJETOS

Centro de Microscopia Eletrônicade Alta Resolução

MODALIDADEPrograma de lnfra-Estrutura -Equipamento Multiusuário

COORDENADORDANIELMÁRIO UGARTE- LaboratórioNacional de Luz 5íncrotron

INVESTIMENTOR$ 5.075.635,07

Estudos de Materiais: PropriedadesEletrônicas e Estruturais

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORADALBERTOFAZZIO- Institutode Física da U5P

INVESTIMENTOR$ 143.061,48

trônica atual quanto o aperfeiçoa-mento de células solares, utilizadascomo fonte de energia elétrica.

No momento, os pesquisadoresestudam o transporte de corrente elé-trica entre, por exemplo, os nanofiosde ouro e os nanotubos de carbono.Além, evidentemente, das descober-tas que possam fazer sobre o com-portamento dos átomos, de caráterpuramente científico, a aplicação dosresultados também os inquieta. "Te-mos algo ritmos para soluções deequações da mecânica quântica quenos dão confiança no desenho de no-vos materiais no computador e noplanejamento de experimentos maisbaratos, com resultados bastante con-fiáveis" comenta Fazzio. "A simulaçãocomputacional pode ser decisiva noestudo de nanomateriais, não só nananoeletrônica, mas também na na-noquímica e na nanobiologia. O Bra-sil perdeu a oportunidade de se tornarindependente na microeletrônica,quase não produz chips, mas ainda te-mos alguma chance na nanotecnolo-gia, porque ninguém sabe exatamentequal material vai substituir o silício.Esse é o momento da escolha."

Evidentemente, não basta somen-te a ciência fundamental. Por essa ra-zão é que Fazzio considera indispen-sável o engajamento de engenheiros ede empresas no nanomundo, já que oenredo científico está pronto. Teori-camente, a partir do conhecimentodetalhado da geometria das pontasdos nanofios de ouro, pode-se pensarem aplicar uma diferença de poten-cial elétrico (cargas mais intensas deum lado e menos de outro) entre osfios. O dispositivo funciona como umtransistor de uma só molécula, noqual passa um único elétron (a cargaelétrica mínima) de cada vez. Se àpassagem do elétron for associado onúmero 1 e à não-passagem o núme-ro O, estarão criadas as condições mí-nimas para o sistema operar uma lin-guagem binária. Embora ainda seesteja longe de compreender toda afísica envolvida no processo, pode-seimaginar seu desdobramento prático:um conjunto desses dispositivos podecompor o futuro nanochip. •

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRODE2002 33

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Físi~os do Rio de Jan~irocnaram um novo meto-do de conduzir um expe-rimento em que um feixede luz parece fazer uma

viagem ao passado. Para desorganizara trajetória da luz, em vez de papéis egases especiais - adotados desde que oexperimento foi criado, no fim dosanos 60 -, usaram duas fontes de lasere um cristal. Divulgado em setembrodo ano passado num artigo da Physi-cal Review Letters, o novo experimen-to marca a entrada em cena de umgrupo criado há três anos e que noano passado publicou mais dois arti-gos em revistas de primeiro nível.

Mais que a recriação do experimen-to, o grupo do laboratório de ópticaquântica do Instituto de Física da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)mostrou como lidar com fótonsemaranhados, duas partículas de luz quemantêm uma ligação estranha, comose fossem gêmeos com capacidade tele-pática: o que acontece com uma acon-tece com a outra, mesmo que estejam amilhões de quilômetros de distância.

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o trabalho tem aplicações práticaspotenciais. Conhecer a fundo o entrela-çamento de fótons é fundamental para oavanço dos futuros computadores quân-ticos, capazes de fazer em segundos ta-refas que levariam anos no mais rápidodos computadores atuais. É decisivótambém para a criptografia quântica,que cria um código inviolável,e até mes-mo para a idéia fantástica do teletrans-porte - imaginada na série de TV Jor-nada nas Estrelas e que permite levar etrazer a tripulação da espaçonave En-terprise a lugares distantes por meio dedecomposição e recomposição atômica.

Trajetória invertida ~A impressão deuma viagem ao passado, dada peloexperimento dos anos 60 e pelo que ogrupo da UFRJ conduziu, ocorrequando um feixede luz laser incide so-bre um material difuso - uma folha depapel manteiga, por exemplo -, que odesorganiza e espalha em diversas di-reções. Ao atravessar esse anteparo, aluz laser perde sua principal caracte-rística - partículas (fótons) organiza-das em fila indiana - e fica semelhan-

te à luz comum, como a de uma lâm-pada caseira. O inesperado é que, aoencontrarem um meio não-linear -um recipiente com um gás especial,por exemplo -, os raios de luz são re-fletidos de modo a refazer as trajetó-rias de volta, atravessam de novo opapel manteiga e retomam a organi-zação inicial. Parece que voltaram notempo. "Na verdade, para esse feixerefletido, o tempo continua passandonormalmente': explica Paulo Henri-que Souto Ribeiro, coordenador do la-boratório. "Há apenas uma inversãode sua trajetória."

Ribeiro repetiu o experimentocom outro meio não-linear. A basedo experimento foram duas fontes deluz laser. A primeira, bombeadora, pas-sa por um cristal, que dá aos fótonspropriedades especiais e os divide emdois feixes. A segunda fonte, auxiliar,cruza a trajetória do primeiro laserdentro do cristal e reforça a intensida-de dos dois feixes bifurcados. A inte-ração que ocorre dentro do cristal fazcom que um dos feixes bifurcadospasse a ter exatamente as mesmas ca-

Page 35: Nanochips do futuro

racterísticas do auxiliar,mas com traje-tória invertida, o que o põe num esta-do de reversão temporal, como se ofeixe auxiliar fosse refletido num es-pelho. Para demonstrar isso, o grupopôs um anteparo que bloqueou meta-de do feixe auxiliar. O feixe conjugadoteve então a outra metade bloqueada."Exatamente como se fossem imagensnum espelho", diz o coordenador.

Poder do cristal - Ribeiro é um enge-nheiro eletricista que mandou para osares um emprego de manutenção deaviões e alçou vôo numa pós-gradua-ção na Universidade Federal de MinasGerais (UFMG). Doutorou-se em1995, passou uma temporada na Éco-le Normale Supérieure de Paris e ins-talou-se em 1998 no Rio com o obje-tivo de levar sua visão experimental aum grupo de físicos teóricos. Depois,montou o laboratório - com recursosdo Ministério da Ciência e Tecnolo-gia, da Fundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj)e da Fundação Universitária José Bo-nifácio (FUJB) - e estreitou colabora-

ções, uma delas com o professor Pau-lo Nussenweig, do Instituto de FísicadaUniversidade de São Paulo (IF-USP).

O trabalho da equipe baseia-se naspropriedades especiais que a luz ad-quire no interior de um cristal especialem forma de cubo, com aresta de umcentímetro. É ali que se formam aspartículas gêmeas - ou fótons emara-nhados' um dos fenômenos mais bi-zarros do mundo das partículas. Umavez criados os pares de fótons, qual-quer medida feita num deles afeta ins-tantaneamente a partícula companheira,mesmo que esteja a milhões de quilô-metros de distância. Por isso, já foramcomparados, por brincadeira, ao vodu,feitiço que faz a vítima sentir instanta-neamente ações executadas a distância- agulhas espetadas num boneco depano causariam dor numa pessoa nospontos em que o boneco é espetado.

Como as agulhadas, o fenômenodos pares entrelaçados é fugidio: o la-ser de hélio e cádmio usado na UFRJemite luz violeta e, a cada segundo,dispara cerca de 10 mil trilhões de fó-tons que, depois de penetrar o cristal,chocam-se contra espelhos que ab-sorvem pouquíssima luz e são capta-dos por detectores capazes de indicara chegada coincidente de cada um dospares. A cada segundo, os aparelhos -instalados sobre uma mesa com umsistema de amortecedores que impedequalquer vibração - produzem cercade mil pares de fótons gêmeos.

Mundo estranho - Os fenômenos domundo atômico e molecular, habita-do pelas partículas gêmeas, são regidospelas leis da mecânica quântica, queparecem um contra-senso para quemse atém às dimensões do mundo visí-vel. Partículas como elétrons e fótonscomportam-se como corpúsculos e on-das ao mesmo tempo e só optam porum desses comportamentos quandoobservados. Há outras coisas estra-nhas. As partículas podem ocuparduas posições no espaço ao mesmotempo ou se despedaçar em numero-sos fragmentos - ou ondas - e mesmoassim manter suas propriedades. Di-ferentemente dos corpos macroscópi-cos, nunca revelam simultaneamente

sua posição e sua velocidade. Essas pe-culiaridades levaram a um intenso de-bate os maiores cientistas do século 20.

O comportamento dos pares en-trelaçados perturbava o físico alemãoAlbert Einstein (1879-1955), que clas-sificou a ligação instantânea entre elescomo "fantasmagórica ação à distân-cia': Num artigo de 1935, tentou mos-trar o que considerava a incoerência dateoria quântica e previu que isso esta-ria resolvido quando a teoria chegassea uma fase adulta. Em resposta, o di-namarquês Niels Bohr (1885-1962),com quem Einstein manteve um de-bate por três décadas, mostrou que omicrouniverso atômico fere mesmo osenso comum e que cada um que seaventurasse a estudá-lo deveria con-formar-se com isso. A história parecedar certa vantagem à Escola de Cope-nhague, liderada por Bohr: contrarian-do a vontade de Einstein, as menoresentidades do universo continuam a secomportar estranhamente.

Perspectivas - As máquinas que po-dem ser construídas a partir de fótonsentrelaçados ainda estão em gestação.Os computadores quânticos, por en-quanto, não têm semelhança algumacom os computadores que conhece-mos. Já houve testes com criptografiaquântica, mas nada que se possa usarem transmissão segura de dados.

Em setembro último, a equipe de Eu-gene Polzik, da Universidade de Arhus,Dinamarca, relatou à revista Nature terconseguido entrelaçar duas nuvens decésio. Cada nuvem continha cerca deum trilhão de átomos e seu entrelaça-mento é considerado um primeiro pas-so para o teletransporte de partículasmassivas. "O emaranhamento quânti-co",diz Ribeiro, "é a propriedade físicapor trás da realização do teletranspor-te. O teletransporte do estado de pola-rização de um fóton foi realizado ex-perimentalmente com a utilização depares de fótons entrelaçados ou ema-ranhados': Já o teletransporte de obje-tos maiores seria bem mais complexo:o corpo humano, por exemplo, tem cer-ca de 1025 (o número 1 seguido de 25zeros) átomos, ou dez trilhões de vezeso tamanho das nuvens gêmeas. •

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 35

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• CIÊNCIA

ECOLOGIA

Pouco gásna FlorestaAmazônicaNovos cálculos sugerem que oecossistema tropical pode absorver menosdióxido de carbono do que se pensava

MARCOS PIVETTA

peso da Amazônia naluta contra o aumentodo efeito estufa, o aque-cimento excessivo doclima da Terra, pode

ser menor do que se pensava. Novoscálculos do fluxo do principal com-posto atmosférico responsável peloaumento da temperatura média doplaneta, o dióxido de carbono (C02),

revelam que a quantidade desse gásabsorvida naturalmente por esseecossistema tropical é igualou apenasligeiramente maior do que a emitida- e não absurdamente maior, comoestudos prévios indicaram.

Feita no âmbito do Experimentode Grande Escala da Biosfera -Atmos-fera na Amazônia (LBA) - megapro-jeto internacional de US$ 80 milhõesque, desde 1999, reúne mais de 300pesquisadores da América Latina, Es-

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tados Unidos e Europa, sob a lideran-ça do Brasil -, a revisão dos númerosaponta para um saldo anual positivo,em favor da absorção, de cerca de 2toneladas de carbono por hectare defloresta preservada. Balanços anterio-res, alguns conduzidos dentro do pró-prio LBA, chegaram a indicar absor-ção líquida, descontado o que foiemitido, de 5 a 8 toneladas de carbo-no por hectare. "É possível que essevalor esteja até mesmo próximo dezero", diz Paulo Artaxo, do Institutode Física da Universidade de São Pau-lo (IF/USP), responsável por um pro-

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Todas as pontasdoLBA

Desvendar o papel daAmazônia nos balanços regio-nal e planetário do carbono éum dos grandes objetivos doExperimento de Grande Es-cala da Biosfera-Atmosferana Amazônia, o LBA, masnão o único. ° projeto inter-nacional, com liderança bra-sileira, também se debruça so-bre os ciclos da energia solar,água, gases traços (compostos,como o metano e óxido nítri-co, que também contribuempara o aumento do efeito es-tufa na baixa atmosfera), ae-rossóis (partículas sólidas daatmosfera que influenciam aformação de nuvens) e ou-tros nutrientes. Iniciada em1999, essa ambiciosa inicia-tiva multidisciplinar tentaentender o funcionamento einteração de todas as partesdesse inigualável ecossiste-ma: fauna, flora, solos, rios eseu habitante, o homem.

De forma geral, o projetobusca compreender e quan-tificar de modo integrado co-mo mudanças, provocadasou não pela mão humana, nouso do solo da região - comoa derrubada de florestas paraabrir pastagens - e em seu cli-ma alteram os componentesfísicos, químicos e biológicosda própria Amazônia e, even-tualmente, de outras partesdo Brasil e do planeta. Comuma iniciativa do porte doLBA, os pesquisadores espe-ram levantar novos elementosque lhes permitam respondera uma série de questões sobrea Amazônia e auxiliar o país aelaborar uma estratégia dedesenvolvimento sustentávelpara a região.

38 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

jeto temático financiado pela FAPESPsobre o assunto e um dos coordenado-res do LBA.

Em cada 3,67 toneladas de dióxidode carbono, também conhecido comogás carbônico, há 1 tonelada do ele-mento químico carbono. Em linhasgerais, pode-se dizer que quanto maisCO2 uma floresta absorve, maior deveser a sua biomassa, medida na formade carbono, visto que a fotossíntese davegetação se intensifica. Em outraspalavras, grande absorção de CO2equivale, teoricamente, a grande cres-cimento de um ecossistema.

De acordo com a nova contabili-dade, somadas todas as fontes conhe-cidas de entrada (absorção) e saída(emissão) de CO2 da floresta, a Ama-zônia parece retirar do ar uma quan-tidade relativamente modesta dessegás por hectare de floresta preserva-da. Ainda assim, como a regiãoamazônica é imensa - abrangendoapenas em território nacionaiS mi-lhões de quilômetros quadrados(500 milhões de hectares), dos quaiscerca de 80% são florestas nativas -seu impacto no balanço mundial dedióxido de carbono pode não sernada desprezível.

Nem vilão, nem salvação - Um cálculorápido e simplista, levando em contauma taxa de fixação anual de carbo-no entre uma e duas toneladas anuaispor hectare de floresta, mostra que aAmazônia brasileira, que englobacerca de 70% desse ecossistema sul-americano, seria capaz de retirar daatmosfera algo entre 400 e 800 mi-lhões de toneladas de carbono a cada12 meses. Isso equivale a algo entre5% e 10% das emissões globais decarbono no mesmo período em ra-zão da ação do homem, basicamentedevido à queima de combustíveisfósseis e ao desmatamento de flores-tas. "O Brasil não é o vilão do mun-do por causa do desmatamento e dasqueimadas na Amazônia (que emi-tem quantidades significativas deCO2 para a atmosfera), mas suaprincipal floresta também não repre-senta a salvação do planeta", comen-ta Artaxo.

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Segundo o meteorologista CarlosNobre, do Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe), de São Josédos Campos, coordenador científicodo LBA, estima-se que todo ano aAmazônia seja responsável por despe-jar no ar aproximadamente 200 mi-lhões de toneladas de dióxido de car-bono, em razão do desmatamento deáreas antes preservadas e da práticadas queimadas, sobretudo nos mesesde seca, de julho a novembro. Até ago-ra, cerca de 14% da cobertura originalda Amazônia já foi desmatada, a umataxa de aproximadamente 0,5 por cen-to ao ano, pouco menos de 20 mil qui-lômetros quadrados.

Osaldo em favor da ab-sorção de CO2 na Ama-zônia diminuiu por queos pesquisadores doLBA descobriram im-

preClsoes metodológicas na formacomo vinham calculando o balançode dióxido de carbono na floresta tro-pical. Basicamente, três pontos foramcuidadosamente revisados. Primeirotópico reavaliado: os especialistas cons-tataram que as 12 torres de mediçãodo fluxo do gás na floresta tropical,instaladas em diversos pontos daAmazônia, não registravam adequa-damente a entrada e saída de CO2 du-rante a noite, justamente o período dodia em que as emissões de dióxido decarbono são mais altas, pois a respira-ção das plantas predomina. "Estima-mos que, anualmente, cerca de umatonelada de carbono por hectare, an-tes ignorada, é emitida à noite': avaliaArtaxo. A boa notícia é que os pesqui-sadores acreditam já ter conseguidoidentificar a origem da imprecisão e,melhor de tudo, corrigido a metodo-logia empregada.

Segundo tópico revisto: os partici-pantes do LBA verificaram que, aorespirar, a vegetação amazônica emi-te, além do CO2, níveis expressivosdos chamados Compostos OrgânicosVoláteis (VOCs). Parte desses VOCs,um conjunto de gases que contêmcarbono, transforma-se em dióxidode carbono na atmosfera, fazendodesse tipo de emissão uma fonte indi-

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Três Franças - A rigor, o dado projeta-do não se refere à Amazônia em suatotalidade, mas sim a um grande pe-daço da região, um quadrilátero de1,7 milhão de quilômetros quadra-dos, na parte central da bacia doAmazonas - equivalente a um terçoda maior floresta tropical do mundoou a três Franças. Ainda assim, é umnúmero bastante representativo dastrocas de dióxido de carbono que seprocessam na Amazônia. No artigo

r-------+YF?reta do principal agente responsávelpelo efeito estufa. "Normalmente, asaída de VOCs é considerada despre-zível na maior parte dos ecossistemasde clima temperado, mas, na Amazô-nia, é importante", destaca Artaxo.Estima-se que cada hectare preserva-do da região despeje no ar anual-mente uma quantidade de VOCscapaz de gerar cerca de meia tonela-da de carbono na atmosfera.

Por fim, os cientistas conseguiramquantificar uma terceira fonte de es-cape de CO2, até então pouco estuda-da: os rios e áreas de várzea da Ama-zônia, que se encontram saturados decarbono e, por difusão, perdem con-centrações desse gás para a atmosfera."Ninguém olhava para o papel daságuas no balanço de dióxido de car-bono", comenta Reynaldo Victoria, doCentro de Energia Nuclear na Agri-cultura da Universidade de São Paulo(Cena/USP), em Piracicaba, coorde-nador da parte de biogeoquímica daságuas do LBA e de um projeto temá-tico da FAPESP. "Os rios da região sãograndes reatores que processam ma-téria orgânica", acrescenta. Em par-ceria com colegas da Universidade deWashington, também participantes doLBA, a pesquisadora Maria VictoriaBallester, da equipe do Cena, mostrouque sai anualmente cerca de 1 tonela-da de carbono por hectare dos riosem direção à atmosfera.

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científico em que expõe seus cálculossobre a evasão de CO2 dos rios da re-gião em direção à atmosfera, subme-tido à publicação numa grande re-vista científica internacional, MariaVictoria, em conjunto com ospesquisadores norte-americanos, afir-ma que o saldo geral do ciclo de car-bono em florestas tropicais madurase intactas, levando-se em conta asoma dos ambientes terrestre e aquá-tico, deve estar perto de seu ponto debalanceamento. Em outras palavras,próximo a zero.

As correções nos números do ba-lanço de carbono se devem, em gran-de medida, ao caráter único e pionei-ro do LBA. Não há em nenhumaoutra grande floresta tropical domundo um esforço sistemático demedição do fluxo de CO2 nos moldesdo executado na Amazônia. "Essetipo de trabalho existe apenas emecossistemas temperados da Américado Norte e Europa, que são bastantediferentes da floresta tropical", diz ofísicoArtaxo. "Não temos nenhum mo-delo de pesquisa pronto para copiar ecolocar em prática aqui. Tudo precisaser desenvolvido e ajustado à realida-de da Amazônia." Em muitos casos,esse ajuste pode fazer toda a diferençana conta final. As dificuldades em in-

terpretar corretamente os dados for-necidos pelas torres instaladas naAmazônia para medir o fluxo de CO2entre a mata e a atmosfera ilustrambem essa questão.

Compradas a um custounitário de aproximada-mente US$ 200 mil, astorres, que medem 55metros de altura, foram

colocadas em 12 pontos da Amazô-nia, tentando cobrir realidades dife-rentes da imensa região. As torres nãosão tão altas à toa. Seu topo foi proje-tado para ficar entre 20 e 30 metrosacima da copa das árvores, posiçãoprivilegiada onde ficam seus sensoresde alta precisão, instrumentos capazesde medir dez vezes por segundo a ve-locidade do vento vertical e as con-centrações de CO2. Para o instru-mento, o CO2 que faz o movimentoascendente, da floresta para a atmos-fera, é contabilizado como emitidopela primeira em direção à segunda.°que realiza o percurso inverso entrano cálculo como absorvido pela vege-tação ou solo (ou seja, retirado do ar).Ao longo do tempo, o balanço (asoma do dióxido de carbono que en-trou e do que saiu) fornece o fluxo lí-quido do CO2 num local.

Como se vê, o sistema de mediçãodas torres funciona muito bem desdeque haja constante circulação e turbu-lências verticais de ar no ponto da me-dição. Isso acontece diuturnamentenas florestas temperadas da Américado Norte e Europa, matas bem maisabertas do que a Amazônia. Na flores-ta tropical, mais fechada, a densa copadas árvores, que constantemente difi-culta a passagem da luz, pode funcio-nar como uma tampa capaz de re-presar o ar abaixo de seus domínios.Durante o dia, esse efeito de aprisio-namento atmosférico proporcionadopela exuberante vegetação equatorialnão chega a atrapalhar o funciona-mento dos sistemas de medição dastorres, pois os períodos de calmariado clima (com pouca turbulência at-mosférica, sem vento ou chuvas) nãosão dominantes. Tanto o CO2 absor-vido pelas plantas durante a fotos-síntese (processo no qual os vegetaisretiram dióxido de carbono da at-mosfera e o convertem em energia ebiomassa) quanto o emitido em de-corrência de sua respiração são regis-trados a contento.

À noite, tudo muda e os períodosde calmaria, sem turbulência, passama ser dominantes - com o agravantede que o ar nesse período do dia se

omistério do carbono perdido no planetaNão é só na Amazônia que enten-

der e quantificar o ciclo do carbonoleva constantemente os pesquisado-res a rever cálculos e modificar méto-dos de trabalho. Em todo o mundo, éassim. Trata-se de um terreno cientí-fico no qual, no momento, parece ha-ver poucas certezas e muitas hipóte-ses, a despeito de toda a atençãoprovocada pelo comprovado aumen-to da concentração de CO2 na at-mosfera depois da Revolução Indus-trial do século 19 e da ameaça doaumento do efeito estufa.

Alguns pontos do ciclo do carbo-no ainda estão tão em aberto que oscientistas não sabem responder ela-

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ramente a muitas perguntas-chavespara o futuro do clima do planeta.Uma das mais importantes é sobre aquestão do chamado "carbono per-dido" e de seus sorvedouros - locaisque absorvem CO2, retirando, por-tanto, esse gás da atmosfera.

Cálculos globais feitos pelo Pai-nel Intergovernamental de Mudan-ças Climáticas (IPCC) , espécie decomitê mantido pela OrganizaçãoMundial de Meteorologia e peloprograma ambiental das NaçõesUnidas, mostram que anualmentesão emitidos cerca de 7,9 bilhões detoneladas de carbono na atmosfera,das quais 6,3 bilhões devido à quei-

ma de combustíveis fósseis (carvão,petróleo e gás natural) e 1,6 bilhãopelo desmatamento.

Para onde vai todo esse carbono?Aproximadamente 2,3 bilhões de to-neladas são absorvidos pelos ocea-nos e 3,3 bilhões de toneladas vãopara a atmosfera, sobretudo na for-ma de CO2. Como o carbono nãodesaparece, falta ainda encontrar odestino de 2,3 bilhões de toneladasque foram emitidas, mas não se sabeexatamente para onde foram. Umdesses possíveis destinos são as flo-restas, temperadas, boreais e tropi-cais como a Amazônica, que têm acapacidade de, com a fotossíntese,

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torna mais rico em CO2. Sem a pre-sença da luz do sol, as plantas não fa-zem fotossíntese. Apenas respiram,devolvendo ao ar uma parte do CO2absorvido durante o dia.

Para onde foi o (02? - Essa limitaçãona medição do fluxo noturno de CO2é mais acentuada em torres cujo raiode medição englobe áreas alagadas eque estejam instaladas em locais comtopografia não totalmente plana. Issoporque a inclinação do terreno faz oCO2, que tem dificuldade de escaparpor cima devido ao efeito tampão dacopa das árvores, "escorregar" paraos lados durante a noite. Quandoisso acontece, o dióxido de carbonoemitido logo abaixo de uma torre saide sua área de medição, não sendo,portanto, contabilizado adequada-mente pelo equipamento.

Somente em áreas extremamenteplanas, o dióxido de carbono liberadodurante a noite pela respiração dasplantas não "escorrega" e fica represa-

converter esse dióxido de carbonoem biomassa.° problema é que o homemainda não sabe com certeza qual areal capacidade de absorção - eemissão - de CO2 de cada um des-ses ecossistemas nos dias de hoje.Além disso, o status de um ecossiste-ma pode mudar com o tempo. Umafloresta jovem e em crescimento é,possivelmente, uma grande consu-midora de CO2 atmosférico, usan-do enormes quantidades de carbo-no para aumentar sua biomassa.Mas, se for um dia cortada e quei-mada num ritmo frenético, essamesma formação vegetal deixaráde fixar carbono e passará a emiti-10 na forma de CO2 devido à com-bustão de sua biomassa.

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do pelas copas até o dia seguinte. Des-sa forma, esse CO2 noturno que nãofoi registrado pela torre acaba passan-do, com alguma sorte, pelo sensor doequipamento no início do dia seguin-te, sendo, assim, contabilizado de for-ma adequada no fluxo total diurno."Descobrimos isso depois de analisardetalhadamente os dados de váriastorres do LBA, em particular as duassituadas em Manaus, operadas peloInstituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (Inpa)", conta Artaxo.

Distantesapenas 20 qui-

lômetros, as duas torresregistravam balançosde carbono diferentes.

. Uma dizia que a flores-ta absorvia de 20% a 30% a mais dedióxido de carbono do que a outra.Examinando em detalhes os locaisonde ambos equipamentos foram as-sentados, os pesquisadores verifica-ram que as porções alagadas dentrodo raio de ação de uma das torreseram bem diferentes das áreas inun-dadas dentro do campo de coberturada outra. Constataram ainda que ainclinação do terreno onde estavamassentadas as torres apresentava vari-ações significativas. Segundo Artaxo,essas peculiaridades eram suficientespara intensificar o escape horizontaldo CO2 emitido à noite em uma dastorres, explicando, dessa forma, osdados aparentemente conflitantesfornecidos pelas torres da capitalamazonense.

Para medir corretamente a quan-tidade de CO2 emitida à noite, ospesquisadores do LBA instalaramsensores desse gás em diversos pontosde cada uma das 12 torres, e tambémabaixo da copa das árvores. Assim, oregistro noturno da presença de dió-xido de carbono sob as árvores ficoumais fácil de ser obtido. Neste ano,com o auxílio de técnicas mais preci-sas de topografia, os pesquisadoresvão determinar a inclinação do relevonas áreas em que estão instaladas astorres, outra medida que visa a mino-rar eventuais imprecisões dos dadosfornecidos por esse tipo de equipa-mento e dar mais credibilidade ao

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cálculo do balanço geral de carbono."Em meados deste ano, serão instala-das duas torres na Ilha do Bananal,em Tocantins, as primeiras em áreasinundadas da Amazônia': afirma Ar-taxo. Com esse aprimoramento, maisum pequeno buraco na medição dofluxo de CO2 na Amazônia começa aser preenchido. Afinal, 14% da regiãoé coberta por rios ou áreas alagadas,um tipo de hábitat onde o LBA aindanão conta com nenhuma forma demonitoração permanente dos fluxosde CO2.

Antes mesmo da revisão dos nú-meros do balanço de carbono naAmazônia, alguns pesquisadores dopróprio LBA viam com ressalvas osprimeiros dados levantados pelo pro-jeto, que apontavam a região comoum grande sorvedouro de carbono. Ahistória da floresta tropical e suaconstituição física pareciam, de certaforma, desmentir as cifras que sinali-zavam um saldo anual em favor daabsorção de até 8 toneladas de carbo-no por hectare. Afinal de contas, a flo-resta amazônica não é uma formaçãovegetal jovem. É relativamente antigae já atingiu sua maturidade. Portan-to, teoricamente, seu fluxo de carbonodeveria ser próximo de zero. Ou seja,a quantidade de carbono absorvida eemitida deveria se equivaler.

Crescimento da floresta - Como umhectare de floresta tropical intactacorltém de 140 a 200 toneladas de car-bono na forma de biomassa, a Ama-zônia brasileira teria, teoricamente, dedobrar de tamanho a cada 28 anos se

o PROJETO

Estudos das Interações Físicas eQuímicas na Interface Biosfera-Atmosfera na Amazônia

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORPAULOARTAXO- Instituto de Físicada USP

INVESTIMENTOR$ 718.131,52 e US$ 550.954,00

sua capacidade de absorção de dióxi-do de carbono fosse equivalente a, porexemplo, 5 toneladas anuais (de car-bono) por hectare. "Isso não estáacontecendo", afirma Artaxo. "AAma-zônia não cresce nesse ritmo."

Alguns cientistas, no entanto, ar-gumentam que a floresta amazônicahoje não se comporta mais comouma clássica formação vegetal madu-ra. Florestas antigas, diz a ecologiatradicional, absorvem e emitem a mes-ma quantidade de dióxido de carbo-no, tendo um crescimento em termosde biomassa próximo a zero. A causadessa mudança de atitude seriam asaltas concentrações de CO2 encontra-das nos dias de hoje na atmosfera doplaneta, as mais elevadas da históriarecente - a concentração do gás puloude 280 ppm (partes por milhão) em1850 para os atuais 370 ppm. Commais CO2 disponível no ar para ab-sorção, o nível de fixação do dióxidode carbono por florestas maduras te-ria se elevado devido a esse aumentona oferta desse composto atmosféri-co. "No balanço geral, a maioria dastorres na Amazônia mostra mais ab-sorção do que emissão de dióxido decarbono pela floresta preservada': dizo meteorologista Carlos Nobre. "Odebate é se essa absorção é grande oumoderada."

Diretamente envolvido no proces-so de revisão dos números de balançode carbono na Amazônia, o físico Ar-taxo, da USP, figura entre os pesquisa-dores do LBAque acreditam num sal-do modesto em favor da absorção deCO2 pela floresta. Já o biogeoquímicoAntonio Nobre, do Inpa, responsávelpela operação das duas torres do LBAem Manaus, ainda não está convenci-do de que o saldo entre a quantidadede CO2 absorvida e emitida na regiãoseja tão moderado. "Pode até ser queesse balanço seja da ordem de duastoneladas anuais de carbono (porhectare de floresta preservada), mashá torres que mostram anualmenteuma absorção líquida anual de maisde 5 toneladas de carbono (por hecta-re de floresta)", diz Nobre. "É lógicoque ainda há incertezas sobre a meto-dologia aplicada nessas medições e

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sobre o ciclo do carbono, mas não dápara simplesmente ignorar esse dado.Ainda não conhecemos bem o ecos-sistema amazônico, que é muito com-plexo. As plantas se adaptam aos níveisde dióxido de carbono atmosférico ebuscam um novo equilíbrio:'

Como quase tudo em ciência, osnovos números sobre o ciclo de car-bono na Amazônia não são definiti-vos nem inquestionáveis. Ainda maisquando se sabe que esses valores ali-mentam um tema palpitante da polí-tica e diplomacia internacional, o doProtocolo de Kyoto, acordo assinadoe em processo de ratificação pelamaior parte das nações do planeta(com exceção digna de nota dos Esta-dos Unidos), que prevê metas de re-dução nos níveis de emissão de CO2para os países industrializados comoforma de reduzir o efeito estufa. "Paranão ficarmos na dependência apenasde informações vindas do estrangei-ro, extrapoladas a partir de mediçõesfeitas em florestas temperadas, nós,brasileiros, temos de entender e pro-duzir nossos próprios dados sobre ociclo de carbono na Amazônia", dizArtaxo.

Em tempo: o efeito estufa, causa-do por uma cortina de gases atmos-féricos, com destaque para o CO2,que impedem o retorno ao espaço detodo o calor irradiado pelo Sol emdireção à Terra, é um fenômeno na-tural, desejável, sem o qual não have-ria clima propício no planeta ao flo-rescimento da vida. É ele que faz oglobo terrestre ser quente o suficien-te para ser habitável. ° aumento doefeito estufa, em razão da elevaçãoexagerada dos níveis de dióxido decarbono atmosférico e outros gases,é que faz a temperatura esquentarmais do que o desejável, provocan-do o derretimento de geleiras e, even-tualmente, colocando em risco o equi-líbrio do planeta. •

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• CIÊNCIA

BIOLOGIA

A origem das espéciesEstudo de peixes que habitamcavernas revela os mecanismosde diferenciação progressivaque registram sua evolução

Escuridãopermanente e es-

cassez de alimentos estãona base das transforma-ções que diferenciaram ospeixes de caverna de seus

parentes de fora. Descobrir como es-sas mudanças ocorrem e a partir deque ponto configuram uma nova es-pécie foi o desafio de uma equipe doInstituto de Biociências da Universi-

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dade de São Paulo (IB-USP) coorde-nada por Eleonora Trajano, que pes-quisou cavernas de Goiás. O trabalho,que ajuda a entender o papel do am-biente na formação de novas espécies,já rendeu frutos em outros locais: gra-ças a ele, os bagres cegos do Valedo Ri-beira foram declarados ameaçados deextinção e o Poço Encantado da Cha-pada Diamantina, Bahia, foi interdita-do para mergulhos.

O cenário da pesquisa é o ParqueEstadual de Terra Ronca, situado nomunicípio de São Domingos, nor-deste de Goiás, na região do Alto To-cantins. Ali as águas esculpiram narocha calcárea cerca de 30 cavernas,pelo menos cinco delas com mais de5 quilômetros de extensão. A áreaapresenta a mais rica fauna de peixes

troglóbios (de cavernas) do Brasil:das 14 espécies registra das no país,cinco se encontram nessa região. Exis-tem no parque cavernas secas, algu-mas com pinturas rupestres, mas asque mais interessam à equipe da USPsão aquelas atravessadas por rios,como a Angélica, a Bezerra, a PassaTrês e a São Vicente.

"Nossa luta é pela preservação des-se santuário goiano', enfatiza Eleono-ra. O Parque Estadual de Terra Ron-ca foi tombado pela Unesco comoPatrimônio da Humanidade, a áreaestá sendo desapropriada e demarca-da, mas, devido à falta de recursos pa-ra a aquisição de terras, as nascentesdos rios ficaram fora do espaço deli-mitado. "Se as nascentes forem com-prometidas por desmatamento, quei-

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madas e poluição, toda a vida no lo-cal estará ameaçada", alerta a bióloga.

O estudo inclui o levantamento dabiodiversidade das cavernas e arredo-res, e a caracterização das espécies -não só de peixes. O grupo investiga abiologia molecular, a morfologia, aecologia e o comportamento dos ani-mais: "Muitas vezes': observa a pes-quisadora, "a biologia molecular nosdiz que dois animais pertencem àmesma espécie, enquanto as análisesmorfológica e comportamental indi-cam, com clareza, que se trata de es-pécies diferentes': Ao ser caracteriza-do, um peixe é comparado a parentespróximos que vivem fora das cavernase a espécies de caverna não aparenta-das, habitantes de outras regiões. Ométodo permite distinguir caracterís-ticas comuns a espécies não aparenta-das, que apresentam respostas con-vergentes ao mesmo ambiente - nocaso, o meio subterrâneo.

Função e regressão - Segundo ospesquisadores, ao se interromper atroca de genes entre as populações de

peixes cavernícolas e aquelas do mun-do exterior (chamadas epígeas), as su-cessivas gerações de caverna sofremuma progressiva redução do aparatovisual e da pigmentação escura (me-lânica). Pode ocorrer também umadiminuição no tamanho corporal emodificações comportamentais, comoperda da fotofobia, dos ritmos circa-dianos (diários) de atividade e do há-bito de se esconder. Outras modifica-ções notáveis nos peixes estudadossão o afilamento do focinho e a redu-ção do tamanho relativo da cabeça.

Tudo resulta de mutações genéti-cas que, sob as condições específicasdas cavernas, não são eliminadas porseleção natural como seria normal. Emambiente iluminado, um peixe quenascesse cego, por exemplo, teria pou-cas chances de sobreviver. Essas muta-ções afetam caracteres como olhos,pigmentação e ritmicidade circadiana,que perdem a função no ambientepermanentemente escuro das caver-nas e podem regredir após muitas ge-rações em isolamento nesse hábitat.Segundo Eleonora, outros caracteres,

como os envolvidos na obtenção de ali-mento, geralmente escasso em caver-nas devido à ausência das plantas, "sãoselecionados positivamente, resultan-do em maior eficiência na localização,captura e aproveitamento desse ali-mento". Num estágio das mudanças, oacúmulo de características divergen-tes define uma nova espécie, exclusi-vamente subterrânea ou troglóbia.

Casos limítrofes - Mas há formas fron-teiriças cuja conceituação é um desa-fio. Maria Elina Bichuette, integranteda equipe, conta: "Existem populaçõestroglóbias totalmente cegas e despig-mentadas. Outras apresentam essestraços de maneira apenas parcial. Sãocasos nos quais a regressão ainda nãose completou".

Há situações limítrofes nos quais aregressão parece estar em fase tão ini-cial que fica difícil distinguir comple-tamente os peixes de caverna dos doexterior. É o que ocorre com o peixeelétrico Eigenmannia vicentespelaea,da mesma ordem do poraquê, mascujas descargas não são fortes. Suaclassificação como espécie gera dúvi-das: não se observam diferenças mor-fológicas acentuadas entre a espéciesubterrânea e as parentes do ambien-

te epígeo. Os pesqui-sadores observaramna espécie caverníco-Ia não só exemplarescom olhos bem redu-zidos e despigmenta-dos, como tambémindivíduos com pig-mentação cutânea eolhos bem desenvol-vidos. Essas espécies

duvidosas são o maior quebra-cabeçaque já encontraram.

Os peixes são vistos em várias situa-ções. Alguns vivem em cavernas quese tornaram iluminadas em função dedesmoronamentos, mas são total-mente cegos e despigmentados - pro-va de que sua diferenciação ocorreu

Lapa do Angélica, uma das cavernasde São Domingos, Goiás:ambiente preserva mutações genéticas

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 45

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antes da abertura desses amploscontatos da caverna com o exte-rior. Outros habitam cavernas es-curas, mas estão apenas come-çando a se diferenciar. Pode serum sinal de que colonizaram olocal há pouco tempo, mas nemsempre. "Pode ocorrer de o ani-mal habitar a caverna há muitotempo, mas seu isolamento gené-tico ser fato recente", diz Eleo-nora. "Só quando deixam de tro-car genes com seus parentesepígeos é que os troglóbios come-çam a se diferenciar': A perda davisão, por exemplo, progride aolongo de quatro etapas: diminui-ção do tamanho dos olhos, compreservação das estruturas; de-sorganização do cristalino e deestruturas associadas; desorganizaçãoda retina; e atrofia do nervo óptico.

Caso misterioso - "Encontramos ba-grinhos troglóbios,da família Trichomyc-teridae, com olhos relativamente desen-volvidos';relataMaria Elina."Peloexamemacroscópico, acreditamos que se en-contrem entre aprimeira e a segunda eta-pa:' A redução dos olhos, no entanto,só tende a progredir, porque, segundoela, não existe uma população externacapaz de contribuir com genes associ-ados ao desenvolvimento da visão.

Se nesse caso é fácil entender a di-nâmica da diferenciação, o mesmonão se pode dizer do cascudo Ancis-trus cryptophthalmus, que tem possi-bilidade de contato com populaçõesexternas e, no entanto, está divergin-do. É um mistério. "Talvez estejamosdiante de um caso raro de especiaçãoparapátrica (sem isolamento)", dizMaria Elina. "A especiação por isola-mento, chamada alopátrica, explica ascaracterísticas da maioria das popula-ções brasileiras, mas não de todas':

A especiação alopátrica segue umroteiro conhecido. Inicialmente, have-ria uma única espécie ocorrendo tan-to dentro como fora da caverna. Então,uma mudança climática poderia eli-minar a população externa. Protegida,a população da caverna sepreserva mas,sem a população externa, deixa de ha-ver troca de genes. Então, as mutações

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Áreas de rochas solúveisem que se desenvolvemambientes subterrâneos

1• Valedo Ribeira2 • Serrada Bodoquena3·Bambul4·5ao DomingosS·Una6· RioPardo7 • Altamlra ·Italtuba

vão diferenciando essespeixes,que aca-bam por formar uma nova espécie.

"Com base nesse modelo'; diz Eleo-nora, "seria de se esperar que houves-se mais espécies troglóbias em regiõesque sofreram muitas modificações pa-leoclimáticas do que em regiões quesofreram poucas." As cavernas de SãoDomingos confirmam essa expectati-va para a fauna de invertebrados ter-restres, mas a desmentem para os pei-xes. A região passou por modificaçõespaleoclimáticas pouco acentuadas e,no entanto, ali são encontradas cinçoespécies de peixes troglóbios, mais doque em qualquer outra área cárstica -formada por rochas solúveisonde sede-senvolvem cavernas - do Brasil. O pro-blema é que o modelo alopátrico é in-suficiente para explicar essa situação.

o PROJETO

Estudo dos Peixes SubterróneosBrasileiros: Ecologiae Comportamento de Ancistruscryptophthalmus, CascudoCavernrcola da Região deSão Domingos, Goiás

MODAUDADEUnha regular de auxilio à pesquisa

COORDENADORAELEONORA TRAJANO - Instituto de8iociências da USP

INVESTIMENTOR$ 41.120,98 e US$ 1.082,87

De qualquer modo, diz a bióloga, "asexceções são importantíssimas para odesenvolvimento dos modelos, por-que lhes conferem balizas. Quantomais delimitado um modelo, maiorsua capacidade de predição':

Forma corporal - Para distinguir espé-cies, a equipe usou a morfometria geo-métrica: gravou imagens digitalizadasdos animais por um sistema de vídeoacoplado a um computador e, depois,aplicou sobre elas uma grade cartesia-na, cuja deformação indica como equanto a figura estudada diverge deuma forma padrão. O método foi apli-cado ao estudo de quatro populaçõesdo cascudo Ancistrus cryptophthalmusdas cavernas, comparadas à popula-ção epígea de Ancistrus na região.

Um gráfico desse levantamentomostra a transformação gradual, dapopulação epígea para a das cavernas."Partindo-se do princípio de que a es-pécie epígea atualmente encontradana região é uma forma pouco modifi-cada do ancestral das populações tro-glóbias, pode-se concluir que, a partirde um ancestral de cabeça grande ecorpo curto, focinho largo e olhosgrandes, originaram-se populaçõesque gradualmente sofreram reduçãodos olhos e da pigmentação, afila-mento da cabeça e aumento relativodo corpo", resume Eleonora.

Outra parte da pesquisa implicacapturar, marcar e devolver cada ani-mal ao meio - tarefas nada fáceis comambientes escuros, peixes pequenos erios que desaparecem em fendas. Essetrabalho é fundamental para a avalia-ção dos impactos ambientais, identi-ficação de espécies potencialmenteameaçadas e formulação de estraté-gias de conservação. "Os troglóbios emgeral'; diz Eleonora, "apresentam umciclo de vida longo, associado à baixafecundidade, ao crescimento indivi-duallento e à maturidade retardada':Disso resulta uma renovação popula-cionallenta. Em conseqüência, perdaspopulacionais causadas por perturba-ções ambientais são repostas com di-ficuldade, fazendo dos troglóbios or-ganismos particularmente suscetíveisàs modificações do ambiente. •

Page 47: Nanochips do futuro

• CIÊNCIA

EPIDEMIOLOGIA no perfil epidemiológico da doençano Brasil. A raiva urbana, transmi-tida por cães e gatos, encontra-secontrolada nas regiões Sul e Sudeste.Mas, como ainda é intensa nas outrasregiões, esses animais continuam aser os principais transmissores do ví-rus: causam cerca de 70% dos casosnotificados - foram, em média, 26por ano, de 1996 a 200l.

Em contrapartida, cresce a trans-missão por morcego, um dos princi-pais reservatórios silvestres do vírus,já responsável por cerca de 15% doscasos. A causa é a expansão das áreasde ocorrência, incluindo as densamen-te povoadas. "Os morcegos estão sedeslocando e atualmente são encon-trados próximos à cidade de São Pau-lo", observa Ivanete Kotait, vice-dire-tara do Instituto Pasteur de SãoPaulo. Houve casos recentes de raivaem cães e gatos transmitida por mor-cegos em Itapevi, Barueri e Santo An-dré, municípios vizinhos à capital."Não vai surpreender nada se encon-trarmos cães ou gatos contaminadosno município de São Paulo."

Em Porto Alegre, no Rio Grandedo Sul, foi registrado no ano passado

o primeiro caso de raiva em 11anos - em um gato, contami-nado provavelmente por ummorcego, de acordo com osestudos já realizados. Preocu-pa, em especial, a transmissãorealizada por meio do Desmo-dus rotundus, uma das espéciescentrais do Seminário Interna-cional Morcegos como Trans-missores de Raiva, realizadoem dezembro em São Paulo.

Outro problema que afligeos pesquisadores é que morce-gos hematófagos, chamados devampiros, infectam espéciesquenão se alimentam de sangue.Na edição de janeiro da revistado CDC, pesquisadores chile-nos relataram o primeiro casode raiva humana causada noChile por um morcego insetí-varo, o Tadarida brasiliensis,que lá é o principal reservató-rio do vírus, tal qual, no Brasil,o Desmodus rotundus. •

A raiva se espalha'-

D

taria de Saúde do Ceará, de quem par-tiu os relatos de campo que levaramàs descobertas, alerta para os riscos docontágio e incentiva a vacinação emcaso de mordidas de macacos.

Não se trata de um problema lo-cal. No início do ano passado, o Pas-teur identificou a mesma variante dovírus em um caso de raiva em huma-nos já confirmado no Piauí, tambémtransmitida por sagüi. Além disso, osmoradores de regiões mais pobresdo Nordeste capturam os sagüis quevivem nas matas e os vendem, ilegal-mente, para outras regiões. Altamenteadaptáveis, esses macacos vivem tam-bém próximos a plantações e em par-ques e áreas verdes de cidades comoSão Paulo e Rio de Janeiro.

Pesquisadores relatamprimeiros casos de transmissãodo vírus por sagüis no Cearáo

s,

ee Mantidos como animais de esti-

mação no sertão do Nordes-te, os sagüis-de-tufo-branco (Callitrixjacchus jacchus) se tornaram um mo-tivo de preocupação: podem transmi-tir o vírus da raiva. Os mais comunsdos sagüis causaram oito mortes demoradores do Ceará de 1991 a 1998,de acordo com um artigo publicadona edição de novembro-dezembro doEmerging Infectious Diseases, do Cen-tro de Controle e Prevenção de Doen-ças (CDC), dos Estados Unidos, assi-nado por pesquisadores do InstitutoPasteur de São Paulo, da SecretariaEstadual de Saúde do Ceará e do Mi-nistério da Saúde. Foi o primei-ro relato de que uma espécie deprimata é fonte de infecçãopor raiva em humanos.

Não bastasse o transmissor,as características do vírus - achamada variante - também sãonovas. Com base em análisesrealizadas no Pasteur São Pau-lo e no próprio CDC, SilvanaRegina Favoretto, pesquisado-ra do Pasteur, demonstra que ovírus encontrado nos sagüisconstitui um grupo único, semrelação com amostras encon-tradas em morcegos ou mamí-feros terrestres.

Esse trabalho reforça a sus-peita de que os sagüis sejamum reservatório natural do ví-rus da raiva: estudos anterioresjá haviam indicado que essesmacacos são altamente suscetí-veis à inoculação intracerebraldo vírus. Nélio Moraes, coor-denador de zoonoses da Secre-

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o.as.i-

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Entre morcegos - O aparecimento decasos de raiva transmitida por pri-matas no Ceará é uma das alterações

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isSagüi-de-tufo-branco: do Nordeste para outras regiões

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 47

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• CIÊNCIA

PSIQUIATRIA

EnzimadenunciaAlzheimerIdentificada molécula que podeservir para diagnosticar doençaanos antes de sua manifestação

SUZEL TUNES

Umaequipe da Faculdade de Me-

dicina da Universidade de SãoPaulo (FM-USP) obteve uma vi-tória importante na luta contra ogrande desafio do mal de Alzhei-

mer: compreender o mecanismo da degeneraçãocerebral'que caracteriza a doença para estabelecerum diagnóstico precoce e preciso. Wagner FaridGattaz, Cássio Bottino e Orestes Forlenza, do Ins-tituto de Psiquiatria, identificaram uma enzima- a fosfolipase A2 - que esperam poder ser umeficiente marcador biológico para a detecção pre-coce da doença ou mesmo a chave de sua cura.A partir da medição dessa enzima no sangue,eles pretendem atuar na prevenção de Alzheimervários anos antes de a doença se manifestar.

Atualmente, embora se baseie em evidênciasclínicas,o diagnóstico de Alzheimer é dado como"possível" ou "provável". Certeza mesmo, só naautópsia, quando o cérebro revela seu terrívelestado de degradação: tecido cerebral atrofiado,fibras nervosas emaranhadas, neurônios inva-didos por placas da proteína beta-amilóide. Ospesquisadores acreditam que os primeiros sin-tomas do mal de Alzheimer, normalmente sóaparentes depois dos 60 anos de idade, sejamo ponto culminante de um processo silenciosoque começa de 20 a 30 anos antes - mas podedeixar suas marcas no sangue desde o início.

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 49

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Gattaz examinou o sangue de idosossaudáveis e o comparou com amos-tras coletadas de pacientes de Alzheimere de transtorno cognitivo leve (TCL)- distúrbio caracterizado apenas pordeclínio de memória. Os dois gruposapresentaram diminuição dos níveisde fosfolipase A2 (ou PLA2), enzimaque atua no metabolismo dos fosfolí-pides, componentes da membrana ce-lular. Além disso, quanto mais com-prometidas as funções cerebrais,menores eram as taxas da fosfolipase.

Esquizofrenia e demência - As primei-ras hipóteses sobre a ação da fosfoli-pase no cérebro são da década de 80,quando Gattaz estava na Universida-de de Heidelberg, Alemanha, e estu-dava os mecanismos da esquizofrenia.A fosfolipase era então pouco conhe-cida.Descobriu-se que, além de ser pro-duzida como enzima digestiva pelopâncreas, está presente em todas as cé-lulas, inclusive os neurônios: "Amem-brana dos neurônios é formada poruma camada dupla de fosfolípides. Énessa camada, fronteira da célula como meio externo, que estão os neuror-receptores - responsáveis pela trans-missão de informações de um neurô-nio a outro. Alterando a composiçãodessa membrana pela ação de enzimas,você altera sua arquitetura e, conse-qüentemente, a ação dos neurorre-ceptores", explica Gattaz.

Sua hipótese inicial foi conceber aesquizofrenia como doença do pân-creas, e não do cérebro. Supôs que pu-desse ter um mecanismo semelhanteao de outros quadros neuropsiquiátri-cos, não originados primariamente docérebro, mas do metabolismo perifé-rico - como a fenilcetonúria, doençado fígado decorrente da falta de umaenzima e que leva a distúrbios da ma-turação do sistema nervoso central.Para a esquizofrenia, não se constatoufalta de fosfolipase, mas excesso.

Não demorou para que Gattaz vol-tasse a atenção para o mal de Alzheimer,por ter este uma característica oposta àesquizofrenia: é muito raro um esqui-zofrênico desenvolver esse tipo de de-mência (deterioração cerebral). Mesmoquando há déficits graves de memória

,I

50 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

e compreensão, os exames cerebraispost-mortem não revelam deposiçõesda proteína beta-amilóide - as placas,senis, marcas típicas de Alzheimer. Senos esquizofrênicos havia aumento dosníveis de fosfolipase, convinha verificarisso nos pacientes de Alzheimer. "Ve-rificamos que a fosfolipase A2 estavadiminuída no cérebro e a diminuiçãose relacionava com a intensidade dalesão cerebral: quanto mais baixo onível da enzima, maior a ocorrênciadas placas senis."

Foi encontrado um paralelo entre adiminuição da enzima no cérebro e nosangue: ''Avaliamos a presença de fos-folipase A2 tanto em tecido cerebralpost-mortem quanto em plaquetas. Apresença da fosfolipase no sangue per-mite fazer extrapolações para a ativi-dade no cérebro e facilita o acesso dopesquisador". Estava descoberto umpotencial marcado r biológico do malde Alzheimer.

Alelo suspeito - Não é o único marca-dor investigado.Num grupo de pacien-tes que acompanhou por quase cincoanos, Cássio Bottino testou um poten-cial marcado r genético, o alelo e4. Lo-calizado no cromossomo 19, o e4 éuma das três formas do gene que co-difica a apolipoproteína E, ou ApoE(as outras são os alelos e2 e eô). AApoE é uma proteína do plasma rela-cionada ao transporte de colesterolparao fígado, o cérebro e outros tecidos.Acontece que, segundo várias pesqui-sas, portadores do alelo e4 têm maischance de desenvolver o mal de AI-zheimer e tendem a apresentar os sin-tomas mais cedo do que os portado-ras de alelos e2 e e3.

Na tipagem para alelo e4 de 20 pa-cientes-controle (idosos saudáveis)"mais 41 doentes de Alzheimer e 21com TCL, Bottino confirmou estudos'que indicam nos idosos portadores,do alelo e4 um risco 2,4 vezes maiorpara o desenvolvimento de Alzheimer."Nos pacientes com TCL,o risco foi umpouquinho aumentado. Não atingiu.significância estatística, mas aponta 'uma tendência': revela.

Esse marcado r genético, porém,está longe de permitir um bom diag-

nóstico. "O risco estatístico - duas vezese meia - é muito pequeno se compa-rado a marcadores de outras doenças,onde você encontra um aumento de100, 1.000 vezes",ressalva Gattaz.

Neurotransmissor afetado - Já a fosfo-lipase A2 tem animado os pesquisa-dores com a perspectiva de ser mais doque um marcador, mas uma substânciaenvolvida na própria origem da doen-ça. "Para a doença de Alzheimer", dizGattaz, "tudo indica que essa enzima te-nha significado duplo: contribui tantopara a formação das placas senis quan-to para a diminuição da atividade co-linérgica - de liberação do neurotrans-missor acetilcolina"

A liberação de acetilcolina, um neu-rotransmissor fundamental para o fun-cionamento do cérebro, fica diminuí-da nos doentes de Alzheimer. Por isso,os remédios mais utilizados agem nosentido de aumentar essa liberação nocérebro. Entre eles,há substâncias pre-cursoras de acetilcolina e outras inibi-doras da acetilcolinesterase - enzimaque degrada esse neurotransmissor.São tratamentos sintomáticos, que me-lhoram a qualidade de vida de cerca de70% dos pacientes.

Acontece que a diminuição da en-zima fosfolipase A2 também prejudicaa formação da acetilcolina: ''A fosfoli-pase libera colina da membrana celularpara formar acetilcolina. Portanto, umadiminuição da atividade dessa enzimaresultaria num agravamento do déficitcolinérgico já existente na doença deAlzheimer. Esse déficit é primariaÍnen-te conseqüência da morte maciça deneurônios colinérgicos em regiões docérebro relacionadas com a memória".

Outro mecanismo que sofreria in-fluência dessa enzima é a própria for-mação das placas senis, segundo hi-pótese de Gattaz. Ele explica que aproteína beta-amilóide, que forma asplacas, é recortada de uma proteínamaior chamada PPA - proteína pre-cursora de amilóide - que fica anco-rada na membrana da célula nervosa.O metabolismo ou digestão da PPA éfeito pela enzima alfa-secretase, quenormalmente a quebra ao meio. Noentanto, a diminuição da fosfolipase

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Page 51: Nanochips do futuro

resulta numa redução do metabolis-mo dos fosfolípides. Isso significa queocorre um aumento na quantidade defosfolípides da membrana. A altera-ção da arquitetura da membranamuda também os pontos de clivagem(quebra) da PPA. Agora, a alfa-secre-tase que a quebrava não atua mais. Elaé, então, clivada por uma beta-secre-tase e depois por uma gama-secretase,que liberará a molécula inteira dobeta-amilóide - livre, portanto, paraformar as placas.

Alvo mundial- "Seria muito otimismopensar que a fosfolipase seja a únicacausa do Alzheimer", pondera Gattaz."No entanto, por ter uma implicaçãodireta com a produção de placas senise com a neurotransmissão colinérgi-ca, talvez possamos vir a considerá-Iacomo a doença em si - da mesma for-ma que a glicose, por exemplo, não éapenas um marcador diagnóstico parao diabetes, mas a própria doença. En-tão, poderíamos desenvolver estratégiasterapêuticas alternativas, para evitar aformação das placas. Pelo menos, esseé o nosso desejo."

É um desejo compartilhado comgrupos de pesquisa de todo o mundo.Por diferentes abordagens, a formaçãodas placas de beta-amilóide é um dosalvospreferenciaisde trabalhos que bus-cam o combate ao Alzheimer na ori-gem. Já se desenvolveuaté vacina contraessa proteína. Em 1999, o laboratórioamericano Elan Pharmaceuticals criou ,uma vacina com pequenas doses sin-tetizadas de beta-amilóide. Os resul-tados preliminares foram animado-

res: em ratos, formaram-se anticor-pos contra a proteína. Pouco depois,pesquisadores da Escola de Medicinade Harvard usaram o mesmo princípiopara criar um imunizante em forma despray nasal, também testado em ratos.

Umaoutra linha da pes-

quisa mundial com abeta-amilóide segue nosentido de evitar a agre-gação da proteína. Uma

equipe dos departamentos de Bioquí-mica Médica e de Anatomia da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro,coordenada pelo bioquímico SérgioTeixeira Perreira, desenvolveu um me-dicamento à base de nitrofenóis paraimpedir a agregação da beta-arnilóideem culturas de células neuronais e emratos. O estudo foi publicado em 20de março de 2001 no Faseb [ournal,publicação da Federação das Socieda-des Americanas de Biologia Experi-mental dos Estados Unidos.

Além de investigar a origem dadoença, a pesquisa de Alzheimer nomundo busca melhores métodos dediagnóstico e novas drogas. O Institu-to de Psiquiatria da FM-USP tambéminveste nesse campo. No Laboratóriode Neurociências, coordenado porGattaz, a equipe de Orestes Forlenzafaz culturas de neurônios e testes comcobaias, que recebem substâncias parainibir ou estimular a fosfolipase. O la-boratório, inaugurado em 1999, é dosbeneficiados pelos recursos do Pro-grama de Infra-estrutura da FAPESP:bem equipado para análises neuro-químicas, de biologia molecular e de

OS PROJETOS

Metabolismo dos Fosfolípidesna Esquizofrenia e na Doençade Alzheimer

MODALIDADE

Projeto temático

COORDENADOR

WAGNER FARID GAnAZ - Faculdadede Medicina da Usp

INVESTIMENTOR$ 1.590.193,43

Demência do Tipo Alzheimer, TranstornoCognitivo Leve e EnvelhecimentoNormal: Estudo Longitudinal de AspectosClínicos, Neuropsicológicos, Genéticos,Neuroquímicos e de Neuro-imagem

MODALIDADE

Linha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADOR

CASSIO MACHADO DE CAMPOS Bornso -FM/USP

INVESTIMENTOR$ 102.961,39 e US$ 86.119,09

genética, permite aos pesquisadoresatuar em outras frentes, como examesde neuroimagem funcional, que po-dem mostrar as regiões do cérebroonde há baixo metabolismo, e examesde ressonância magnética, nos quais sepode ver a redução de estruturas cere-brais. Bottino notou, por exemplo, quea comparação das medidas volumé-tricas da amígdala, hipocampo e giropara-hipocampal permite separar por-tadores de doença de Alzheimer leve amoderada dos saudáveis com umaprecisão de 88%.

TCL e Alzheimer - Também são pro-missores os resultados obtidos com osportadores de transtorno cognitivo leve,um distúrbio ainda pouco estudado."O TCL é diagnosticado, geralmente,em pessoas com mais de 50 anos quese queixam de problemas de memóriae apresentam piores resultados em tes-tes cognitivos, comparados aos idosossaudáveis, mas ainda não têm com-prometimento das atividades do dia-a-dia. Alguns melhoram com o passardo tempo, mas 5% a 10% evoluempara Alzheirner', revela Bottino.

Os pacientes com TCL tiveram ní-veis menores de fosfolipase A2 emrelação ao grupo controle, mas níveismaiores em relação ao grupo com Al-zheimer. Esses dados permitiram es-tabelecer um gráfico no qual o TCLocupa a porção mediana. No entanto,o grupo de TCL é muito heterogêneo:alguns tinham valores muito seme-lhantes ao da normalidade, enquantooutros beiravam os limites da demên-cia."Por isso,queremos, agora, fazer umestudo de seguimento com amostramaior. Como 10% dos portadores deTCL evoluem para demência, pre-cisamos de uma amostra com 100,150 pessoas. Assim, poderemos in-vestigar se os pacientes que se encon-tram mais para baixo no gráfico serãoaqueles que evoluirão para Alzhei-meroSeria mais um estudo confirma-tório do valor preditivo da enzima eé isso que está nos movendo agora",informa Gattaz. E resume: "Essa é amedicina do século 21. Nosso objeti-vo não é tratar ninguém, mas evitarque se fique doente". •

PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • Sl

Page 52: Nanochips do futuro

• CIÊNCIA

MEDICINA

Cerco àproteínamortalGrupo da UFRJabrecaminho paracompreender e detera reprodução do príon, quedestrói cérebros e mata

Príon é uma proteína que semultiplica como um ser vivo,

produz uma doença incurável no cé-rebro e leva à morte. Pesquisas doCentro Nacional de Ressonância Ma-gnética Nuclear de Macromoléculas(CNRMN), da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), trazem in-dícios para explicar a reprodução de-senfreada dos príons, bem como paradetê-los: o grupo descobriu umamolécula, a SFC, que pode bloquear amultiplicação dos príons.

Embora não contenha material ge-nético, o príon, uma proteína celularalterada, multiplica-se como vírus ebactérias. Atinge seres humanos e ani-mais com uma doença degenerativaque dá ao cérebro uma aparência es-ponjosa, tal o estrago que causa nascélulas nervosas, os neurônios. Nãohá cura ou tratamento para esse tipode doença, chamada encefalopatia es-pongiforme e que pode ser transrnis-sível, esporádica ou hereditária.

De duas formas da mesma proteí-na, uma é anormal: o príon. Supõe-se que se combine com seus equiva-lentes normais e os torne anormais,

S2 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

numa reação em cadeia. A doençaocorre quando um organismo é con-taminado por quantidades elevadasde príon assim geradas.

Ao se reproduzir em grande esca-la, o príon provoca as encefalopatias,que causam tremores incontroláveis,demência e morte. Uma delas é a for-ma humana do mal-da-vaca-louca,variante da doença de Creutzfeldt-Iacob, que seria causada pela inges-tão de carne bovina infectada.

Ácidos nucléicos - Como pode umaproteína multiplicar-se como um servivo?A pergunta é um desafio desde adescoberta do príon, na década de 80.Segundo propõe o grupo da UFRJ,um ácido nucléico - DNA ou RNA -desempenharia papel-chave nessamultiplicação. Por essa hipótese, umácido nucléico modularia as respostasdo organismo às proteínas anormais:assim, na presença de pequenasquantidades de príons alterados, oácido nucléico os manteria aprisiona-dos, prevenindo a replicação.

O consumo de carne contamina-da, porém, faria aumentar a concen-

tração de príons no organismo. Issodescontrolaria o ácido nucléico que, aoinvés de eliminar o príon, passaria aestimular sua multiplicação. "O ácidonucléico age, nesse caso, como um ca-talisador para a formação de placas depríons', diz Ierson Lima Silva, um dospesquisadores da equipe.

A teoria foi levantada quando tes-tes do grupo levaram a uma descoberta:os príons eram impedidos de multi-plicar-se na presença de uma substân-cia que neutraliza os ácidos nucléicos.O resultado da pesquisa foi publicadoem 16de outubro último na revista Iour-nal of Biological Chemistry, dos EstadosUnidos, em artigo assinado por LimaSilva,Débora Foguel e Yraima Cordei-ro, do CNRMN, mais os co-autores Luiz[uliano Neto e Maria Aparecida Iulia-no, da Universidade Federal de SãoPaulo (Unifesp), e Ricardo Brentani,do Instituto Ludwig de Pesquisa sobreo Câncer, de São Paulo.

Molécula salvadora - Noutro artigo,serão divulgados resultados obtidoscom uma molécula que pode servirde base para remédios que bloqueiem

Page 53: Nanochips do futuro

Mal-da-vaca-Iouca: uma dasencefalopatias causadas pelo príon.Ao lado, placas de príon em células

nervosas (em cima) e rodeadas dedegenerações espongiformes

sso,aoaaidoca-l de(ios a multiplicação dos príons. Chamada

de SFC - iniciais dos sobrenomes Sil-va, Foguel e Cordeiro - a moléculaderiva do composto anilino naftaleno,usado para mapear o enovelamentode proteínas. "Estávamos usando essamolécula para outros fins, quando ob-servamos que ela evitava a agregaçãoentre os prions', conta a bioquímicaDébora.

Essa molécula, segundo a equipe,encaixa-se em sítios de ligação entre aproteína normal (PrP) e o príon (PrP-Se), atuando como um envoltório queinibe a agregação. Impedidos de se as-sociar, os príons deixam de se multi-plicar e de formar as placas.

Nos testes, a molécula não se mos-trou tóxica a células em cultura, mes-mo quando usada em concentração50 vezes maior que a necessária à ini-bição da agregação. Os ensaios de-monstraram ainda que a SFC liga-se

es-ta:lti-ân-tos,dour-lios

ani,re

go,llosVIr

em

na mesma região onde o ácido nucléi-co une-se ao príon. Sem ter como seligar ao ácido nucléico, os príons nãose multiplicaram. "Temos um com-posto que se mostrou promissor paraa inibição da agregação de príons eque ainda compete com o DNA cata-lisador usado na multiplicação deles",diz Lima Silva.

A proteína anormal PrP-Sc foidescoberta em 1982 pelo neurologistaamericano Stanley Prusiner, da Uni-versidade da Califórnia. Ele formuloua hipótese de que o agente da doençaseria formado de material protéico eganhou o Nobel de Medicina de 1997

por seus estudos sobre o tema. Umneurônio atacado pelo príon apresen-ta buracos e forma estruturas fibrila-res, com aspecto de esponja. As ence-falopatias espongiformes provocamsintomas parecidos em homens e ani-mais: alterações no comportamento,demência; tremores violentos, parali-sia progressiva e morte. Há também di-ficuldades para falar e andar, emboraa inteligência prossiga normal. A in-cubação demora mas, quando che-gam os primeiros sinais, a doença evo-lui em poucos meses para a morte.

Vaca louca - A doença de Creutzfeldt-Iacob, uma das formas de encefalopa-tia espongiforme que atinge pessoas,também se manifesta de modos diver-

sos. O príon pode ser transmitido pelouso de hormônio do crescimento reti-rado de cadáveres (prática já abolida)ou transmitido a pessoas submetidas atransplantes de córnea. Outra forma,a hereditária, atinge pessoas que her-dam um gene mutante e desenvolvem adoença depois dos 50 anos. Há regis-tros de centenas de famílias no mundoque são portadoras dessa mutação.

Em 1986, foi descoberta uma en-cefalopatia que atinge animais e ganhounotoriedade mundial: a doença da vacalouca, cuja causa apontada foi o uso derestos de carneiro e de boi em raçõespara bovinos. Estudos divulgados emsetembro último pela Universidade deEdimburgo, Escócia, indicam que a for-ma humana das encefalopatias espongi-formes cresce 20% ao ano na Grã-Bre-tanha e 140 mil pessoas já poderiamestar atingidas. Em janeiro de 2000,uma variação dessa doença (chamadascrapie), que atinge ovelhas e cabras,foi confirmada em três animais de umafazenda de Guarapuava (PR) e moti-vou o sacrifício de 290 cabeças.

Mais proteínas - Noutra linha de tra-balho com proteínas como o príon, oalvo da equipe é o peptídeo (parte deproteína) beta-amilóide, importante nodesenvolvimento do mal de Alzheimer.Para o tratamento dessa doença, queprovoca demência e afeta milhões depessoas com mais de 65 anos, só há me-dicamentos contra os sintomas. "Esta-mos testando compostos para inibir aagregação do beta-amilóide, com re-sultados promissores", diz Débora.

O grupo estuda outra proteína, atranstirretina, responsável pela amiloi-dose sistêmica senil, doença que, segun-do os pesquisadores, atinge cerca de umquarto das pessoas acima de 80 anos.A transtirretina provoca paralisia e mor-te ao se acumular sobre células nervo-sas e do coração. A mesma substânciacontra os príons, a SFC, também inibea agregação da transtirretina. Em coo-peração com a Universidade de Har-vard, o grupo testa ainda substânciaspara bloquear a agregação de alfa-si-nucleína, proteína ligada à instalaçãodo mal de Parkinson, que tambématinge a população idosa. •

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 53

Page 54: Nanochips do futuro

• TECNOLOGIA

LINHA DE PRODUÇÃO

Sensor brasileiro vai para o espaçoEstá previsto para março o ilançamento do satélite Aqua,da Agência Espacial Nor-te-Americana (Nasa), quelevará a bordo o sensor deumidade brasileiro HSB(Humidity Sounder for Bra-ziT), produzido pela empre-sa Equatorial Sistemas, deSão José dos Campos, emparceria com a Matra Mar-coni Space, da Inglaterra. OHSB é fruto de um acordode cooperação entre a Agên-cia Espacial Brasileira (AEB)e a Nasa. Segundo CésarGuizonni, diretor da Equa-torial, o sensor será usadopara medir a radiação daatmosfera de forma a obterperfis de umidade que se-

rão empregados na previ-são do tempo. "Ele irá me-lhorar muito os modelosde previsão meteorológica',afirma Guizonni. A Equa-torial foi contratada peloInstituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe) paradesenvolver os módulos de

Na Nasa,o HSB passapor testesantes de serinstaladono Aqua

eletrônica, alguns apare-lhos de suporte e os equi-pamentos de teste do sen-sor. O valor do contrato foide US$ 2 milhões. O Brasilterá acesso aos dados doAqua por meio de uma es-tação de recepção em Cuia-bá, no Mato Grosso. •

• Aparelho móvel paracartão de crédito

Pagar uma pizza ou uma cor-rida de táxi com cartão decrédito será um procedimen-to sem muitas complicaçõesassim que o Ponto de VendasMóvel On-Line (PDV-MOL)for lançado comercialmenteno Brasil, o que está previstopara acontecer ainda no pri-meiro semestre deste ano. OPDV-MOL foi desenvolvidopela empresa Conception emparceria com a Visanet. Oaparelho, que funciona comouma dessas máquinas onde sepassa o cartão após umacompra, consiste de um dis-positivo controlador de flu-xos de dados conectado a umleitor de cartão de trilhasmagnéticas, teclado para se-nha e impressora. O sistema éadministrado por um palm

S4 . fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

top e a transmissão dos dadospode ser via celular ou satéli-te, ao contrário dos PDV mó-veis convencionais existentesno exterior, que usam radio-freqüência. "Isso faz com quenosso aparelho possa ser usa-do em qualquer lugar': diz

I

Richard Günther, diretor exe-

PDV-MOL: móvel e prático

cutivo da Conception. A em-presa, baseada em São Josédos Campos, estima em 233mil unidades o mercado parao produto nos próximos cin-co anos. Os equipamentos se-rão comprados pela Visanetpor R$ 2 mil e alugados aoslojistas por um valor entre R$60 e R$ 80 por mês. A Con-ception foi a única empresapaulista presente na 5a ediçãodo Venture Fórum Brasil,promovido pela Financiado-ra de Estudos e Projetos (Fi-nep), no final do ano passado,quando se apresentou às ins-tituições financiadoras de ca-pital de risco. "Fomos procu-rados por sete empresas e trêsainda estão interessadas", dizCünther, A Conception nego-cia um aporte financeiro deUS$ 1 milhão para: viabilizara produção em larga escala doponto-de-venda móvel. •

• Vencedoresdo prêmio da Finep

Vallée, Pollux, OPP e Embra-co foram as empresas que re-ceberam o Prêmio de InovaçãoTecnológica 2001, concedidopela Finep. O prêmio tem porobjetivo estimular empresasque se sobressaiam no merca-do em função da capacidadede criar e inovar. A Vallée, deMinas Gerais, foi a vencedorada categoria Grande Empresa.Ela fabrica vacinas, medica-mentos e suplementos ali-mentares veterinários e inves-te, anualmente, em pesquisa edesenvolvimento 5% do seufaturamento. Na categoriaPequena Empresa, a vencedo-ra foi a catarinense Pollux, lí-der nacional no mercado desistemas ópticos para inspe-ção de produtos nas linhas demontagem industriais. Dota-dos de câmaras de vídeo, essessistemas detectam produtosdefeituosos e contam peças emalta velocidade. A OPP, quepertence ao grupo Odebrecht,da Bahia, recebeu o prêmiopela categoria Processo. Acompanhia desenvolveu, como apoio do Instituto de Pes-quisas Tecnológicas (IPT),um condensador que aceleraa polimerização durante oprocesso de fabricação de tu-bos Pvc. Pelo sistema antigo,o tempo de fabricação é de 12horas. Agora, tudo é feito emtrês horas, aumentando aprodutividade da empresaem 80%. A Embraco, tam-bém de Santa Catarina, foipremiada na categoria Pro-duto, em função de seu com-pressor - equipamento essen-cial em geladeiras e freezers -que reduz em 40% o consu-mo de energia elétrica dessesaparelhos. •

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• Energia geradacom biogás de esgoto

Dentro de alguns anos, oBrasil poderá ganhar umanova matriz energética comgrandes vantagens ambien-tais: o biogás extraído do es-goto. Para que isso se tornerealidade, o Centro Nacionalde Referência em Biomassa(Cenbio), entidade ligada aoInstituto de Eletrotécnica eEnergia da Universidade deSão Paulo (IEE-USP), firmouum convênio com a Compa-nhia de Saneamento Básicodo Estado de São Paulo (Sa-besp) que prevê a realizaçãode um conjunto de estudos etestes para a geração de ener-gia elétrica a partir da utili-zação do biogás produzidoem sistemas de tratamento deesgotos. "Para testar o pro-cesso, serão instaladas na Es-tação de Tratamento de Ba-rue ri, na Grande São Paulo,duas microturbinas a gás,cada uma com capacidadepara 30 quilowatts (kW) depotência", afirmou SuaniTeixeira Coelho, secretária exe-cutiva do Cenbio e pesquisa-dora do IEE. As microturbi-nas, fabricadas pela empresanorte-americana Capstone,utilizam a mesma tecnologiadas turbinas de avião, porém,adaptadas para a geração deenergia elétrica. A pesquisa-dora estima que, em funçãodo pequeno porte das tur-binas, do tamanho de umageladeira, elas serão ideaispara geração de energia nospequenos municípios bra-sileiros. Paralelamente aostestes que serão feitos em Ba-rueri, o Cenbio vai acompa-nhar as atividades das plantasindustriais que produzemenergia elétrica a partir dobiogás extraído de esgotonos Estados norte-america-nos da Califórnia e da Pen-silvânia. •

Microturbinas a biogás: 30 quilowatts de energia elétrica

• Fertilizante quevem das pedreiras

ção dos elementos do solo,porém, sem dispensar outrostipos de adubação': A vanta-gem do material sobre os fer-tilizantes normalmente usa-dos é que o pó de brita é umrecurso renovável e bem maisbarato. Segundo o pesquisa-dor, é necessário aplicar de 50a 100 toneladas do produtopor hectare para obter a fer-tilização. Por isso, para que oprocesso seja economica-mente vantajoso, as lavourasadubadas devem estar locali-zadas a, no máximo, 100quilômetros da pedreira, se-não o gasto com o transpor-te inviabiliza o negócio. •

Pode estar nas pedreiras bra-sileiras uma alternativa para arecuperação da fertilidade dossolos do país. Pesquisa coor-denada pelo professor Jorgede Castro Kiehl, da Escola Su-perior de Agricultura Luiz deQueiroz (Esalq), da USP, de-monstrou que o resíduo emforma de pó da britagem dobasalto, encontrado em cen-tenas de pedreiras que explo-dem rochas eruptivas, temalta capacidade de fertilizaro solo. "O pó da brita", expli-ca Kiehl, "faz uma equaliza-

• Da universidadepara o mercado

Fabricar suplementos alimen-tares com fins terapêuticospara animais. Esse é o objeti-vo da Microbiol Comércio eIndústria de Alimentos, em-presa baiana sediada no dis-trito industrial de Camaçari,que permaneceu cinco anosabrigada na Incubadora deBaseTecnológica (Incubatec)do Centro de Pesquisas e De-senvolvimento (Ceped), daUniversidade Estadual daBahia. Esses suplementos ali-mentares, conhecidos comoprobióticos, regulam a floraintestinal dos animais, alémde prevenir e curar a diarréia."Eles também substituem osantibióticos e outras drogasusados como promotores decrescimento", diz a professo-ra Elenalva Maciel, da Uni-versidade Estadual de Feira deSantana, e proprietária da em-presa. Os probióticos pro-movem um melhor desen-volvimento físico do animal aoproporcionar uma conversãomais efetiva dos alimentos."Em cinco anos, os probióti-cos serão uma rotina na en-gorda de animais", afirma.Atualmente, a Microbiol temdois produtos no mercado, umdestinado a animais domésti-cos e outro para bovinos, eqüi-nos, caprinos e suínos. Embreve, será lançado um tercei-ro para aves. A capacidade deprodução da empresa é de 40mil ampolas por mês e o fa-turamento gira em torno deR$ 220 mil por ano. Para Ele-nalva, o sucesso se deve, emparte, à incubadora. "Ela foiessencial para que eu conse-guisse deslanchar o negócio."Os produtos da empresa tive-ram o seu desenvolvimentoiniciado a partir da disserta-ção de mestrado de Elenalvana Universidade Federal deViçosa, em Minas Gerais. •

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • SS

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Satélites comunicam-se por meio de laser

o que parecia coisa de filmede ficção cientifica tomou-se realidade: dois satélitesda Agência Espacial Euro-péia (ESA) conseguiram tro-car informações entre si gra-ças a um feixe de laser quetransmitiu informação nu-

ma velocidade de 50 mega-bites por segundo com umataxa de erro de 1 bite a cada1 bilhão. Foi a primeira co-municação óptica entre sa-télites realizada na história.A façanha foi concretizadapelos satélites Spot-4 e Ar-

temis, que orbitam ao redorda Terra. O Spot-4 é umsatélite de sensoreamento eo primeiro dotado de umterminal de comunicação Si-lex, a sigla em inglês para ex-periência de comunicaçãoentre satélites por meio de

Na ilustração, a simulaçãoda comunicação via laserentre os satélites daAgência Espacial Européia(ESA):Artemís e Spot-4

laser de sernicondutor. O Ar-temis é usado em telecomu-nicações. De acordo com oprofessor José Joaquim Lu-nazzi, do Instituto de FísicaGleb Wataghin, da Univer-sidade de Campinas (Uni-camp), o avanço reveste-sede importância porque atransmissão de dados no es-paço apresenta vantagens so-bre a comunicação via fibraóptica realizada na terra quenão dispensa o uso do cabo.No futuro, as transmissõesvia satélite poderão se valerde feixes de laser. ''Assim,consegue-se passar muitomais informação com me-nos interferência': diz ele.

• Eucalipto fértilcom lodo de esgoto

Pesquisadores descobriramque o lodo resultante do tra-tamento do esgoto pode serusado como adubo para plan-tações florestais com excelen-tes resultados, melhores atédo que os adubos minerais,que após dois ou três anos de-saparecem no solo. No casoda cultura de eucaliptos, porexemplo, o emprego do ma-terial aumentou em 40% aprodutividade e ainda me-lhorou a fertilidade da plan-tação. Os estudos, iniciadoshá cinco anos, são conduzi-dos pelo Instituto de Pesqui-sas e Estudos Florestais, con-veniado à Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz(Esalq), da Universidade de

56 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

São Paulo (USP) de Piracica-ba, e pela Companhia de Sa-neamento Básico do Estado deSão Paulo (Sabesp). Segundoo professor Fábio Poggiani, doCentro de Energia Nuclear naAgricultura (Cena), tambémem Piracicaba, o destino finaldo lodo produzido nas esta-ções de tratamento de esgototem sido uma das maiorespreocupações das empresasgeradoras deste resíduo, dosórgãos de controle ambien-tal e da sociedade. Ao contrá-rio do que se possa pensar, noentanto, o lodo de esgoto nãoé aplicado diretamente nasáreas de florestas. Antes, elepassa por uma série de trata-mentos biológicos que redu-zem sua carga orgânica epromovem a estabilizaçãodo material. O composto re-

sultante, chamado de biossó-lido, só é recomendado, porenquanto, em sistemas de re-florestamento, já que eles nãoestão incorporados à cadeiaalimentar humana. Mas jáestão sendo realizados testesem plantações de cana-de-açúcar, hortaliças e frutas. •

• Sensor cerâmicodetecta vazamento

A situação é muito comumna maioria dos municípiosbrasileiros: a contaminação dolençol freático por vazamen-tos ocorridos em postos decombustível. Isso acontecequando os tanques de arma-zenamentos têm fissuras, e agasolina, o álcool ou o óleodiesel atingem a água pre-sente no subsolo. Agora, gra-

ças a um projeto desenvolvidopelo Instituto de Tecnologiado Paraná (Tecpar) em parce-ria com a Universidade Fe-deral do Paraná (UFPR), queprevê o desenvolvimento desensores cerâmicos para mo-nitoramento de lençóis freá-ticos, o problema poderá serfacilmente detectado. Os sen-sores são capazes de apontar apresença de hidrocarbonetoscomo benzeno, etanol e tolue-no, presentes em combustíveis,nos lençóis freáticos. Mistu-radas à água e consumidaspela população, essas subs-tâncias podem causar câncere outros problemas à saúde.Segundo o químico AldacirPazini, assessor da diretoriatécnica da Tecpar e coordena-dor do projeto, será empre-gada a tecnologia de resso-

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• Polímero orgânicoganha instituto

nância de plasma - um estadoda matéria provocado porum gás ionizado a tempera-turas elevadas - para o de-senvolvimento do sensor, quepermitirá medições em tem-po real. Um protótipo deve-rá ficar pronto em 2003. •

o Instituto Multidisciplinarde Materiais Poliméricos(IMMP), do qual fazem parte16 instituições científicas dopaís, entre elas a Escola Poli-técnica e o Instituto de Físicade São Carlos, ambos da Uni-versidade de São Paulo (USP),é uma das entidades integran-tes do programa Institutos doMilênio, criado pelo Ministé-rio da Ciência e Tecnologia eque tem por missão apoiar odesenvolvimento de pesqui-sas que contribuam para oprogresso social e econômicodo país. O objetivo do IMMPé realizar pesquisas para aper-feiçoar tecnologias ligadas auma nova classe de materiais,os polímeros orgânicos, quepodem ser usados como ca-mada ativa em dispositivoseletrônicos, fotônicos e opto-eletrônicos. Essa é uma áreanova no mundo e é impor-tante o Brasil se manter atua-lizado nos estudos de pontasobre polímeros orgânicos.Outro campo de estudo é aárea de polímeros isolanteselétricos, usados pelas redesde distribuição de energia co-mo isoladores de cabos e aces-sórios. Pesquisas realizadaspelo IMMP mostram que épossível evitar perdas de ener-gia por falhas em rede de dis-tribuição devido à degrada-ção dos isoladores poliméricos.Segundo Roberto MendonçaFaria, coordenador do insti-tuto e professor de física daUSP de São Carlos, a tecnolo-gia de dispositivos com mate-riais poliméricos ainda estána sua "infância", mas o mer-cado para esses produtos é degrande dimensão. Até 2005,estima-se que apenas o mer-cado mundial de displays eLEDs, sinalizadores feitos commateriais poliméricos atinja,US$ 3 bilhões por ano. •

• Peixe moído evitao desperdício

Cerca de 13% das 125 miltoneladas de peixes pescadasanualmente nos rios da Ama-zônia são desperdiçadas, sejapor causa da precária infra-estrutura da indústria local oupela baixa aceitação de deter-minadas espécies de peixepela população. Por meio deprocessos de tecnologia dealimentos, uma alternativapara evitar essa perda é o min-ced fish, uma pasta produzi-da a partir da carne moída dopescado de baixo valor co-mercial. A vantagem do min-ced fish, que serve para fazerbolinhos de peixe, almônde-gas, nuggets e até sopa, é queele pode ser consumido naentressafra pesqueira, quandoa produção é baixa. Paraisso, a pasta pode ser congela-da por alguns meses. Estudosconduzidos pelo pesquisadorRogério Souza de Jesus, doInstituto Nacional de Pesqui-sas da Amazônia (Inpa),mostraram que as espéciesamazônicas aracu (Schizo-don fasciatum) e jaraqui (Se-maprochilodus sp.), usadaspara fabricação do mincedfish, podem ser mantidas sobrefrigeração por até 150 diassem que haja perda de suasqualidades protéicas. Outraespécie analisada, o mapará(Hypophtalmus edentatus),foi considerada gorda e commenor concentração de pro-teína. Hoje, o minced fish, quepode ser usado para comba-ter o desperdício e reduzir afome, ainda não é comercia-

final do ano passado, pesqui-sadores do laboratório lança-ram, a 35 quilômetros da cos-ta, um ondógrafo direcional,aparelho que mede as ondassuperficiais do oceano de for-ma muito precisa. O ondó-grafo foi projetado para aferira direção, a altura e o períodode maior energia das ondas.Depois da medição, o apare-lho, posicionado a 80 metrosde profundidade, envia os da-dos por rádio para uma esta-ção receptora em terra, queos retransmite via Internetpara o Lahimar. O passo finalserá disponibilizar essas in-formações através da home-page da instituição (www.la-himar.ufsc.br), que está no ardesde o mês passado. "Essa éuma iniciativa pioneira", afir-ma o professor Elói Melo,coordenador dos trabalhos."O sistema será uma fontepreciosíssima de dados e teráutilidade, entre outras coisas,para orientar projetos de en-genharia na zona costeira, in-clusive a construção de usinasde energia movidas por on-das do mar:' O projeto fazparte do Programa de Infor-mação Costeira On -Line daUFSC e conta com financia-mento do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq) e daFundação de Ciência e Tec-nologia do Estado de SantaCatarina (Funcitec). •

lizado em larga escala. Noentanto, graças à sua com-provada qualidade nutricio-nal, já é utilizado na meren-da escolar do Estado. •

• De olho nasondas do mar

Pescadores, surfistas, veleja-dores e outros profissionaisque trabalham no mar e nasregiões costeiras serão osgrandes beneficiados comum novo projeto desenvolvi-do pelo Laboratório de Hi-dráulica Marítima (Lahimar)da Universidade Federal deSanta Catarina (UFSC). Noido

eerde.cir

oriama-re-

.so- Ondógrafo: mais precisão

PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 57

Page 58: Nanochips do futuro

TECNOLOGIA

ENGENHARIA AGRÍCOLA

Imagensdo,ceuparaaagricultura

Sensores instalados emsatélites e em aviõescaptam informaçõespara análise dosolo e para estimar assafras agrícolas

osplantadores de cana-de-açúcar já podemdeixar de lado o velhoproblema da dificul-dade em estimar com

precisão a safra que será colhida. A so-lução está em uma nova metodologiadesenvolvida pelos pesquisadores doGrupo de Estudos em Geoprocessa-mento da Faculdade de EngenhariaAgrícola da Universidade Estadual deCampinas (Unicamp). Com imagensdigitais captadas por sensores instala-dos em aviões e satélites, eles colocamà disposição dos agricultores um sis-tema que permite prever, com antece-dência de quatro a cinco meses, a to-nelagem da produção de cana em

58 • fEVEREIRODE2002 • PESQUISA FAPESP

uma determinada área. Sob a coorde-nação do professor Iansle Vieira Ro-cha, o grupo conseguiu o fato inéditode usar as imagens de satélite para cal-cular a variabilidade da biomassa nacultura da cana. A metodologia em-pregada está em fase de patenteamen-to pela Unicamp.

Um teste preliminar feito na UsinaSão João Açúcar e Álcool, de Araras(SP), que deu apoio de campo ao pro-jeto, mostrou que, com a ajuda dasimagens de satélite, os erros de avalia-ção de biomassa caíram de 15% para2% em algumas áreas. Para o setor su-croalcooleiro, isso representa umgrande avanço. A produção de canadessa usina foi de quase 3 milhões de

toneladas na safra 2000-2001. Umerro de 15% nesse total corresponde a450 mil toneladas. Como o produtorgeralmente negocia em março o açú-car que vai ser produzido a partir dedezembro, não importa se para maisou para menos, os erros nas previsõesde safra sempre acarretam prejuízos.

O projeto, que contou com a par-ceria de dois pesquisadores do Centrode Ensino e Pesquisas em Agriculturada Unicamp (Cepagri), Rubens Au-gusto Camargo Lamparelli e JurandirZullo Iúnior, foi premiado no finaldo ano passado num evento em queforam apresentados mais de 150 tra-

I balhos do mundo todo, a Third Inter-national Conference on Geospatial ln-

MARIA APARECIDA MEDEIROS

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eaarú-de

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,formation in Agriculture and Forestry,realizada na cidade de Denver, nos Es-tados Unidos.

Outro estudo brasileiro também pre-miado no mesmo evento, coordenadopor JoséAlexandre Demattê, do Depar-tamento de Solos e Nutrição de Plan-tas da Escola Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz (Esalq) da Universi-dade de São Paulo (USP), com parti-cipação de Marcos Nanni, da Univer-sidade Estadual de Maringá (UEM),mostrou o potencial do sensoriamen-to remoto aplicado na estimativa doscomponentes do solo. As imagens desatélite foram usadas para mapear avariabilidade da composição da terra,avaliar seus componentes e servir de

dão uma visão panorâmi-ca e ao mesmo tempo de-talhada - cada ponto daimagem (pixel) corres-ponde a uma área de 25 x25 em -, mas o custo daoperação é elevado.

Já as imagens orbitais,como as do Landsat 7, uti-lizadas no projeto, que têmpixels de 30 x 30 m, difi-cultam a visualização dosdetalhes, mas têm a vanta-gem de englobar imagensde áreas muito extensas, de185 x 185 km. "Com 19imagens podemos mapeartodo o Estado de São Pau-lo", diz o pesquisador. Ocusto ainda é relativamen-te alto: R$ 1.200,00 porimagem. "Mas a tendênciaé que o preço venha a cairnos próximos anos, com olançamento de novos saté-lites", diz Rocha. "Alémdisso, as imagens podemser adquiridas num siste-ma de cooperativa, o queviabiliza o uso para os pe-quenos agricultores."

Mas, ao mapear a área de 36 hec-tares de cana cedida para a pesquisapela Usina São João em busca de cor-relações entre os três sistemas de me-dição, os pesquisadores logo percebe-ram que os mapas gerados tinhamaplicação imediata. Eles poderiam serusados como guias para os supervisa-res de campo - técnicos das usinas en-carregados de fazer as estimativas deprodução. Atualmente, os supervisa-res percorrem de carro as estradas quemargeiam as extensas áreas plantadas,observam o estado geral da plantaçãoe, com base na experiência, estimamqual será a produção daquela área."Eles têm muita experiência nessetrabalho e são capazes de fazer boas

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guia para o agricultor, indicando asáreas onde devem ser coletadas amos-tras para o levantamento dos solos epara as análises de laboratório.

Cálculos precisos - No estudo dos pes-quisadores da Unicamp, o objetivoinicial era puramente acadêmico -comparar três diferentes métodospara medir a biomassa em plantaçõesde cana: por radiometria (com sen-sor instalado em terra), videografiamultiespectral (a bordo de aviões ouhelicópteros) e imagens de satélites.O radiômetro permite fazer medidasmuito precisas, mas o seu alcance, 17x 17 em, não permite fazer mediçõesem áreas extensas. As imagens aéreas

Na imagem obtida em avião,o azul é a área com grandebiomassa, o verde pouca eo amarelo, intermediário.O vermelho é o solo

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • S9

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Foto do Landsat7: a cidade de Araras e o local da pesquisa. O que está emvermelho é cana-de-açúcar, áreas em azul são solo ou cidade. Em preto, água

estimativas", afirmaRocha. "O problemaé que eles avaliam ape-nas aquilo que podemver, ou seja, a cana queestá na periferia, masa produtividade nasplantações costumaser bastante hetero-gênea." Enquanto al-gumas áreas produ-zem 95 toneladas porhectare, outras pro-duzem apenas 50 to-neladas por hectare.

Essa variabilidadeocorre por diversosmotivos - diferentestipos de solo, pro-blemas de fertilida-de, ataque de pragas,ervas invasoras, problemas com excessode água - e muitas vezes só pode serobservada numa visão aérea, ou numaimagem de satélite, onde as manchasmais claras, ou amarelas, mostram áreasde menor produtividade, e as mais es-curas, ou vermelhas, mostram áreasmais produtivas. "Com esse mapa nasmãos e a ajuda de um GPS (Sistema dePosicionamento Global), o supervisorde campo vai ter condições de identi-ficar as áreas mais e menos produtivase, com base nisso, selecionar os locaisque precisam ser avaliados de perto':diz o pesquisador.

Estimativas mais precisas são im-portantes para evitar a repetição dosproblemas enfrentados pelo setor emdecorrência da previsão incorreta dasafra do ano passado. "Tínhamos umaestimativa de que a produção na re-gião Centro-Sul do país seria de 220milhões de toneladas, mas, no iníciode dezembro, antes do encerramentodas colheitas, a produção já atingia232 milhões de toneladas", afirmaJoão Martins, gerente agrícola da Usi-na São João. "Esses 12 milhões de to-neladas de cana produzidos a mais se-rão absorvidos na produção de álcool,gerando um excedente de 1,10 milhãode metros cúbicos, o que deve fazer opreço do produto despencar no mer-cado': diz Martins. Numa situação in-versa, se a previsão fosse 10% inferior

60 • FEVEREIRO DE21X12 • PESQUISA FAPESP

à safra, o problema seria ainda pior."Poderíamos ter uma queda no preçodo açúcar no momento da negocia-ção e um prejuízo certo na hora daentrega", afirma.

Repasse de tecnologia - Os pesquisa-dores da Unicamp receberam muitostelefonemas de empresários do setorinteressados na nova metodologia. Ogrupo já está preparado para atenderà demanda e o repasse da nova técni-ca deve acontecer em dois anos. "Noprimeiro ano vamos produzir mapas epromover cursos para que os técnicosaprendam a interpretar as imagens.No segundo, vamos implementar ossoftwares e supervisionar o trabalhonas usinas", diz Rocha. As empresasterão de arcar com os custos das ima-gens, treinamento de pessoal e presta-ção de serviços.

A Usina São João não pensa em fi-car de fora. No próximo ano, os pes-quisadores vão expandir a área de estu-do, cobrindo todos os 40.300 hectares dausina. O projeto de pesquisa terminaem abril, mas para os pesquisadoresele foi apenas um começo. "Nós par-timos de um único auxílio à pesquisae abrimos um campo enorme de tra-balho", diz o pesquisador. Atualmente,sete alunos se dedicam a pesquisas so-bre temas relacionados à variabilida-de na produção da cana-de-açúcar -

são dois doutorandos,três mestrandos edois alunos de ini-ciação científica.

Uso planejado - Ou-tro trabalho quetambém possui umamplo campo deatuação na agricul-tura é o do professorDemattê, do Depar-tamento de Solos eNutrição de Plantasda Esalq. Com a aju-da de um sensor ins-talado no laboratórioe imagens de satélite,ele constrói as basesde uma tecnologiapara auxiliar no ma-

peamento e avaliação dos solos. Osmapas de solos são informações im-portantes para a agricultura de preci-são, que tem como objetivos princi-pais o aumento da produtividade e apreservação do meio ambiente. "Co-nhecer as características do solo é abase para qualquer planejamento deuso da terra", diz o pesquisador. "Masno Brasil temos uma carência muitogrande de mapas mais detalhados."

O uso de sensores em estudos decaracterização de solos não é novida-de. As pesquisas começaram na dé-cada de 70, mas foi só a partir da dé-cada seguinte, com a evolução dossensores e o uso disseminado do GPS,que elas ganharam impulso. "Os re-sultados das pesquisas, quando rela-cionadas à quantificação dos atributosdos solos, estavam em desenvolvi-mento, mas hoje estamos retomandoesses trabalhos para rever a base eavançar, como apoio à agricultura deprecisão", explica Demattê. Desde1995, ele, juntamente com alunos deiniciação científica, mestrado e dou-torado, desenvolve pesquisas básicasnessa área. "Nossa proposta é aliar àmetodologia tradicional uma novaforma de estudar o solo, ou seja, pelasua energia eletromagnética refleti-da. O uso de sensores na agriculturaé um processo em contínuo desen-volvimento".

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Energia refletida - Os primeirospassos mostraram que a análisede solo com o uso de sensores écapaz não apenas de diferenci-ar classes de solos, como tam-bém de quantificar diversoscomponentes, como argila, fer-ro, titanita, silte e material or-gânico. Nessa etapa do estudo,o pesquisador usou um espec-trorradiômetro IRIS instaladono laboratório. As amostras desolo são expostas a uma fontede luz halógena e o sensor cap-ta a energia que reflete nos dife-rentes comprimentos de onda.Essas informações são registra-das como curvas de refletância,que indicam diversas caracte-rísticas do solo, permitindo suaidentificação e discriminação.Na medida em que os resulta-dos avançavam, Demattê pas-sou a quantificar os elementos dosolo. O estudo de refletância foi feitoem paralelo com análises químicas emlaboratório, com metodologias tradi-cionais, que serviram como base decomparação.

A etapa seguinte foi usar o senso-riamento para mapear uma área de198 hectares no município de Rafard,na região de Piracicaba. Com a ajudade um GPS, foram marcados os pon-tos de amostragem, um por hectare.Em cada ponto foram coletadas duasamostras, em profundidades de O a 20em e de 80 a 100 em. As 396 amostrasobtidas foram analisadas no sensordo laboratório. "Nós procuramos se-guir uma rotina já estabelecida entre

Usina São João: radiômetro para medir a biomassa

os agricultores. Eles trazem suas amos-tras para o laboratório e elas são ana-lisadas pelo método tradicional. Oque nós fizemos foi usar um outrométodo, também físico, porém, basea-do em informações obtidas por senso-res sem haver contato com a amostrade terra", explica o pesquisador. As in-formações espectrais dessas amostrasforam então comparadas com os re-sultados das análises químicas. "Pude-mos observar altíssimas correlaçõesentre os dois métodos para determi-nar, principalmente, argila, areia, fer-ro, matéria orgânica e inclusive CTC(capacidade de troca de cátions),"

Só a partir desse ponto Demattêcomeçou a usar as imagens de satélite.

OS PROJETOS

Sensoriamento Remoto Aplicado aoMapeamento da Variabilidade Espacialda Produtividade da Cana-de-Açúcarpara Agricultura de Precisão

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORJANSLEVIEIRA ROCHA- Flagri/Unicamp

INVESTIMENTOR$ 83.339,61 e US$ 13.837,00

Avaliação de Dados RadiométricosObtidos nos Níveis Terrestree Orbital na Caracterizaçãoe Mapeamento de Solos

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORJOSÉALEXANDREDEMAn~ - Esalq/USP

INVESTIMENTOR$ 28.145,75 e US$ 8.098,00

As informações de refletânciapela imagem de satélite do localda coleta das amostras foramcomparadas com as obtidas emanálise de laboratório tradicio-nal. "Também obtivemos boascorrelações, principalmente paraargila e ferro. Isso mostrou quehá um potencial enorme no usode sensores instalados em la-boratório e outras plataformaspara o estudo do solo'; diz o pes-quisador. Mas o objetivo, pelomenos a curto prazo, não é subs-tituir as análises tradicionais. Aidéia é que os mapas obtidos apartir de imagens sejam usa-dos como um instrumento paraorientar os agricultores na iden-tificação das classes de solos esuas características físicas e quí-micas, auxiliando na escolha dospontos mais adequados para co-

letar as amostras para análise tradicio-nal de levantamento e fertilidade.

Detalhe do solo - Atualmente, a esco-lha de locais para coleta de amostrasde terra é feita com base nas diferen-ças de cores, relevo ou tipo de culti-vo. "Dessa forma, o agricultor podeestar gastando mais dinheiro em la-boratório e insumos porque não co-letou amostras nos lugares certospara fins de fertilidade, ou seja, podeestar usando adubo em excesso ouaplicando menos que o necessário,enfim, ele perde em produtividade edegrada o meio ambiente'; ressalta De-mattê. Outra vantagem do mapea-mento mais detalhado do solo é queele permite identificar áreas com altorisco de erosão. Sabendo disso, o agri-cultor pode fazer o manejo adequa-do do solo e evitar a perda de áreasprodutivas. Por enquanto, os estu-dos envolvendo sensoriamento remo-to não permitem recomendaçõespara fins de fertilidade, ou seja, paraidentificar os nutrientes presentes nosolo. Mas, ao identificar diferenças fí-sicas e algumas químicas, auxíliamno manejo e no planejamento racio-nal do solo transformando-se em umaferramenta moderna e avançada paraa agricultura. •

PESQUISA FAPESP . fEVEREIRODE2002 61

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• TECNOLOGIA

MEDICINA VETERINÁRIA

8iotério renovadoPequena empresa lançaambiente compacto paraanimais de laboratório

As pesquisas científicas com ani-mais de pequeno porte ganha-

ram um novo ambiente de estudo,um gabinete microambiental quepode ser utilizado até na sala do pes-quisador. Concebido e construído como objetivo de criar condições ideaispara a pesquisa animal em laborató-rio, o Environs, nome comercial doproduto, garante a manutenção decondições de temperatura, umidade,iluminação, controle sanitário e dofotoperíodo, processo que imita a va-riação de luz da noite e do dia para oanimal se desenvolver de forma na-tural. Foi projetado com medidas-padrão de 2 metros de altura, 1,45metro de comprimento e 0,71 metrode largura. Suas dimensões são com-patíveis com os acessos dos laborató-rios e requerem o mínimo possívelde adaptações físicas dos biotérios.

O projeto, apoiado pela FAPESPdentro do Programa de InovaçãoTecnológica em Pequenas Empresas(PIPE), foi idealizado e coordenado porHabib Guy Nahas, diretor da HVACTecnologia em Sistemas Ambientais.Segundo Nahas, a concepção do bio-tério microambientallevou em contaas recomendações ideais para o bem-estar do animal e normas técnicas in-ternacionais que garantem a confia-bilidade nos resultados de pesquisascientíficas. Entre elas destaca -se ofato de ser totalmente fechado, oque atenua os sons e ruídos exter-nos, causa de estresse nos animais. OEnvirons tem seu lançamento previs-to ainda para este mês de fevereiro.

Os primeiros protótipos foram

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encomendados à HVAC há cincoanos, por um grupo de pesquisado-res da Faculdade de Medicina Veteri-nária e Zootecnia da Universidade deSão Paulo (USP), sob a coordenaçãodo professor José Luis Merusse, doDepartamento de Patologia. Esseprotótipo foi citado em conclusõesde trabalhos de mestra do e doutora-do orientados por Merusse. Nos es-tudos ficou caracterizado que a con-centração de amônia no sistemamicroambiental é menor que a desistemas convencionais, mesmo commaiores intervalos de troca de cama(de limpeza). O índice menor de amô-nia e os baixos níveis de umidade dosistema microambiental mantive-ram o pulmão dos animais em per-feita condição, conforme atestaramos pesquisadores da USP. Nos siste-mas convencionais é comum a pre-sença de bronquites e de pneumoni-as crônicas.

Outro resultado confirmou a efi-ciência do sistema. "Ratos acasalaelose mantidos em sistema microambien-tal com intervalo de troca de cama acada 14 dias não mostraram diferen-ças físicas, bem como no estado sani-tário' quando comparados com grupossimilares mantidos em biotério con-vencional", diz Nahas. Enquanto osresultados estavam sendo comprova-dos em laboratório, ele apresentou oprojeto ao PIPE, o que permitiu acontinuidade do desenvolvimento doproduto e a construção de dois novosprotótipos.

População de camundongos - O gabi-nete microambiental, quando fecha-do, é parecido com uma geladeiraindustrial, de porta dupla. Na sua ex-tremidade superior há indicadoresde temperatura, umidade, pressão eiluminação que permitem ao pesqui-sador controlar as condições ambien-

tais internas. Aberto, acondiciona 30caixas que comportam entre 150 e180 camundongos, com comedouroacoplado. E pode ser adaptado paraexperimentos com outros animais depequeno porte.

Na avaliação de Nahas, além docontrole de umidade e temperatura,que é independente das condiçõesdas salas, o sistema oferece vantagensem relação aos biotérios convencio-nais, como a efetiva diluição dos va-pores de amônia com a garantia denão haver mistura e cruzamento defluxo de ar, diminuindo a possibili-

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I

dade de contaminação cruzada dosanimais. Segundo o empresário, ofato de o equipamento ser rigorosa-mente fechado possibilita a pressuri-zação do ambiente, não deixa o ar saire evita a contaminação da área forado gabinete.

Outro fator positivo é a ilumina-ção interna do microambiente, decoloração azul e âmbar, projetadapara não agredir os olhos do animal."Conseguimos um sistema de ilumi-nação sem brilho, com baixos níveisde luminosidade", afirma o coorde-nador do projeto. Segundo Nahas, o

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Painel facilita o controledas condições internas detemperatura e iluminação

Environs representa baixos custosoperacionais para os bioteristas e la-boratórios, uma vez que o manejodos animais, que em biotérios con-vencionais é realizado com periodi-cidade de três dias, pode ser feito ematé 15 dias. Isso significa economiana quantidade de maravalha (aparasde madeira usadas para cobrir o chãodas caixas), no consumo de energia eágua e, principalmente, na contrata-ção de mão-de-obra.

Comemoração já - Nahas está ansio-so com o iminente lançamento doproduto. "Quero comemorar o tér-mino do projeto e comunicar a to-dos que ele já está disponível para acomercialização." Além de apresen-tar o Environs para a comunidadecientífica de universidades e institu-tos de pesquisa, Nahas prevê aindavisitas a laboratórios e indústriasfarmacêuticas.

A experiência de quase 35 anos deNahas foi importante para traçar osrumos dos negócios da HVAC. Físicocom pós-graduação em engenharianuclear, ele trabalhou em. empresasdo ramo de climatização de ambien-te, coordenou projetos de climatiza-ção em plataformas de petróleo daPetrobras, além de prestar serviçospara indústrias químicas, eletroele-trônicas e para laboratórios. Esse co-

o PROJETO

Desenvolvimento Tecnol6gicode Sistemas Microambientaispara Biotérios de Criação,Manutenção e Experimentaçãode Pequenos Animais

MODALIDADEPrograma de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPE)

COORDENADORHABIB GUY NAHAS - HVAC

INVESTIMENTOR$ 249.250,00

nhecimento foi fundamental paraque, há 20 anos, fundasse a HVAC.

Atualmente, a empresa dedica-sea climatizações em laboratórios deuniversidades e em indústrias quími-cas e farmacêuticas. O mais recenteprojeto foi desenvolvido para o Ar-quivo Público do Estado de São Pau-lo, onde foram instalados sistemas declimatização para ajudar na preser-vação de fotos, desenhos, documen-tos e mapas, alguns com até 200 anos.

Segundo Nahas, o faturamentoda empresa em 2001 ficou perto dosR$ 500 mil, um pouco abaixo dos R$700 mil faturados em 2000. Ele con-ta que o ano passado foi atípico.Houve diminuição, a partir de junho,da energia para fins de refrigeração eclimatização, o que influiu tambémna renda obtida pela empresa com amanutenção de equipamentos.

Para este ano a empresa planejatrabalhar em outro projeto, o sistemade ar-condicionado que acompanhao Environs, que custará R$ 350 milna fase de protótipo. Segundo Nahas,o aparelho consiste em um condicio-nador de ar supercompacto, comcontroles digitais. "Dessa forma, po-deremos oferecer um completo siste-ma de climatização para o laborató-rio, já que o controle do sistema derefrigeração do local onde o Envi-rons vai ser instalado também é im-portante para chegar a uma condiçãoideal de pesquisa", afirma.

Produção e pesquisas - Ainda sem pre-ço de venda do Environs, Nahas espe-ra fabricar dez gabinetes por mês. "Seeu tiver de aumentar a produção paracem equipamentos por mês, por exem-plo, aí terei de buscar ajuda financeirano mercado, seja como aporte de capi-tal de risco, sócio ou o Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES):' As chances de umaprodução alentada são grandes. "Essetipo de equipamento não existe nemno exterior:' Por tudo isso, as especta-tivas comerciais de Nahas são muitoboas e as perspectivas para as áreasdas ciências biológicas e farmacêuti-cas são de pesquisas mais eficientes,rápidas e seguras. •

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 63

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Planejamento da produção: melhor utilização dos sistemas de engarrafamento de bebidas com menor custo de estoque

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Controle avançadoEstudo traz inovaçõespara o gerenciamentoda produção industrial

Reduzir custos, melhorar a quali-dade e ser competitivo tornaram-

se palavras-chaves no mantra querege a indústria mundial em busca deespaço nos mercados. As empresasbrasileiras, na última década, investi-ram pesado em sistemas de informa-ção para gerenciar os fluxos de caixa,compras, vendas e estoques e tambémna automação das tarefas produtivas.A nova fronteira desse processo é a au-tomação dos sistemas de administra-

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ção da produção, em que há gargalospara os quais os softwares de planeja-mento e controle da cadeia produtivaainda não apontam soluções satisfá-tórias. Para colaborar na resoluçãodesses problemas, 30 pesquisadorespaulistas estudaram nos últimos trêsanos as ferramentas matemáticas ecomputacionais que estão à disposi-ção do setor produtivo para ajudarno desenvolvimento de softwares parauso nas indústrias. Eles estudaram,por exemplo, novos enfoques para sis-temas de controle da produção compossíveis aplicações em indústrias en-garrafadoras de bebidas e de móveis.

O grupo é formado por sete do-centes e alunos de mestrado e douto-rado ligados a quatro instituições: La-

boratório Associado de Computaçãoe Matemática Aplicada do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), Instituto de Ciências Matemá-ticas de São Carlos da Universidadede São Paulo (USP), Departamentode Engenharia de Produção da Uni-versidade Federal de São Carlos(UFSCar) e Faculdade de EngenhariaElétrica e de Computação da Univer-sidade Estadual de Campinas (Uni-camp), onde trabalha o coordenadordo projeto, o professor Paulo Morela-to França. "O objetivo foi promovero intercâmbio de diferentes experiên-ciase conhecimentos desenvolvidos emcada instituição", diz França. Apesarde a proposta não envolver a elabora-ção de sistemas para uso prático e co-mercial, os pesquisadores foram bus-car os objetos de seus estudos nosproblemas reais enfrentados por em-presas de manufatura.

Números produtivos - O projeto depesquisa - que gerou 17 dissertaçõesde mestra do, 6 teses de doutorado e a

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publicação de 32 artigos em periódi-cos e 86 em congressos - teve comobase a constatação de que a maioriados softwares comerciais não é capazde encontrar soluções para os proble-mas de planejamento e controle daprodução que levem em conta aspec-tos cruciais de custos e capacidades.Segundo França, "o grupo trabalhoucom algoritmos matemáticos para al-cançar a maior otimização possíveldos processos produtivos".

Os pesquisadores concentraram-se em quatro temas: planejamento e

mento das Necessidades de Material."Esse sistema é bastante criticado porseus usuários, principalmente poraqueles que comandam cadeias pro-dutivas complexas. Em geral, o siste-ma fornece uma solução única para oplano de produção, ignora restriçõesde capacidade e tem dificuldades emconsiderar questões específicas decada aplicação", conta França.

Uma das propostas mais originaisda equipe para reduzir essas deficiên-cias foi a forma de abordar os proble-mas de cortes de materiais. Foi anali-

sada a cadeia de produção de uma in-dústria de móveis. Nesse ambiente,grandes chapas de madeiras são cor-tadas para se obter itens menores, queserão então processados e montadospara compor um produto final. É co-

o PROJETO

mum na indústria a separação dosprocessos de corte e de planejamentoda produção. A equipe procurou so-luções que transformassem esses pro-cessos em um trabalho conjunto.Com isso, pode-se planejar melhor odimensionamento dos lotes das peçase executar de forma criteriosa os cor-tes da chapa, reduzindo o desperdíciode material.

Custos antecipados - Na programaçãoda produção, um dos problemas refe-re-se ao desvio de tempo de término

de tarefas de uma máquina emrelação à data de entrega. Amaior parte dos estudos sobreo assunto considera como me-dida de desempenho o tempode atraso médio e as penalida-des impostas por esses atrasos.No entanto, com a adoção dossistemas de produção do tipojust-in-time, em que é valori-zada a entrega no tempo certo,as tarefas que terminam antesda data também passaram aser um problema, porque adi-cionam aumento de custos aoestoque. É uma área de pesqui-sa recente, em que ainda nãose produziram métodos capa-zes de englobar questões comoo tempo de preparação da má-quina para a realização da ta-refa e os tempos ociosos dedi-cados à manutenção, carga e

descarga de matéria-prima.Para o empacotamento, foram es-

tudadas soluções de armazenagem etransporte da produção que reduzemos custos de logística. A organizaçãodo empacotamento permite a melhorocupação dos espaços em contêine-res, caminhões e gôndolas de super-mercados.

Todas as tarefas desenvolvidas pelogrupo têm como objetivo gerar tec-nologia para o gerenciamento das di-versas etapas da cadeia produtiva, deforma a possibilitar à indústria pro-duzir da forma mais rápida, barata eeficiente possível. Obter avanços nes-sa área e saber aplicá-los é o que dis-tingue hoje os vencedores e os perde-dores no mercado global. •

Planejamento e Controle da Produçãoem Sistemas de Manufatura

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORPAULO MORELATO FRANÇA - Unicamp

INVESTIMENTOR$ 88.000,00 e US$ 93.712,00

Organização e logística do empacotamento permitem ocupar espaços de forma mais eficiente

programação da produção, proble-mas de cortes industriais e de empa-cotamento. Na área de planejamento,uma das questões pesquisa das foi a dodimensionamento de lotes de produ-ção. Como uma engarrafadora, porexemplo, pode utilizar de forma maisapropriada seu equipamento para di-minuir custos, considerando que há vá-rios tipos de embalagens e líquidos aserem envasados ? Outra necessidadeimportante é obter o maior ganho deescala possível, atendendo adequada-mente à demanda, sem comprometercustos com estoques.

O sistema computacional maisutilizado para resolver esse tipo dequestão é o MRP, do inglês MaterialRequirements Planning ou Planeja-

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 65

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• TECNOLOGIA

AGRONOMIA

Cardápiobásico comqualidadePesquisadores realizamestudos sobreseleção genéticae controle das doençasque prometemtornar mais produtivaa cultura do feijão

Carbonell, do Centro de PlantasGraníferas do Instituto Agronômicode Campinas (IAC). Eles se dedicam,respectivamente, ao desenvolvimentode estudos de fitopatologia e de me-fhoramento genético do feijoeiro.

O desafio de Bergamin, professorde Fitopatologia da Esalq, é desen-volver uma metodologia que, futu-ramente, permita aos agricultoresadotar um calendário seguro para aaplicação de defensivos na área de cul-tivo do feijão, a exemplo do que acon-tece com outras culturas graníferascomo soja, trigo e milho. Carbonelldesenvolve uma nova seleção de varie-dades de feijão resistentes a doenças,mais especificamente à antracnose, malque provoca necrose em toda a parteaérea das plantas, inclusive os grãos, .cujo agente infeccioso é o fungo Col-letotrichum lindemuthianum. Os estu-dos de Carbonell também abrangem

a obtenção de cultivares de maiorqualidade tecnológica e culinária.

A grande preocupação desses pes-quisadores - apesar das distintas li-nhas de trabalho - é a alta incidênciade doenças nas lavouras, em especial aantracnose. Outras doenças impor-tantes que atacam o feijoeiro são amancha angular provocada pelo fun-go Phaeoisariopsis griseola e o cresta-mento bacteriano com a bactériaXanthomonas axonopodis pv. phaseoli."Essas doenças atingem as folhas e asvagens da planta, afetam a qualidadedos grãos e chegam a provocar perdasde 30% a 40% da produção agrícola,podendo levar.. em alguns casos, àperda total': diz Bergamin. "Além dis-so, os patógenos são transmissíveispelas sementes, o que comprometenão só a lavoura diretamente infecta-da, mas também as safras subseqüen-tes", completa Carbonell.

Umadas principais e

muitas vezes únicafonte de proteína nadieta alimentar dobrasileiro, o feijão é

item indispensável na cesta básica eno cardápio da população, especial-mente para as classes sociais maispobre. De acordo com a Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária (Em-brapa), cada habitante consome, emmédia, 16 quilos de feijão por ano, oque torna o Brasil o maior mercadoprodutor e consumidor de grãos daespécie Phaseolus vulgaris. A impor-tância desse alimento reforça o méritode dois inovadores estudos, realizadoscom o apoio da FAPESP.São o proje-to temático coordenado por ArmandoBergamin Filho, da Escola Superiorde Agricultura Luiz de Queiroz(Esalq-USP), e o auxílio-pesquisa dopesquisador Sérgio Augusto Morais

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ior Controle fitossanitário - Além das trêsprincipais doenças do feijoeiro, Ber-gamin investiga também a ação e ocontrole da ferrugem, causada pelofungo Uromyces appendiculatus, e domosaico dourado do feijão, causadopor um virus da família dos geminivi-rus, o Bean Golden Mosaic Virus(BGMV), que é transmitido pelamosca-branca (Bemisia tabaci). A fer-rugem causa lesões circulares nas fo-lhas do feijoeiro, circundadas por umhalo amarelado, e o mosaico douradoinfecta sistemicamente toda a planta."O mosaico dourado tem forte inci-dência no Paraná, onde há muitas la-vouras de soja. A mosca-branca vivenessas plantações e em determinadasépocas do ano é totalmente inviávelcultivar feijão nesse Estado, pois omosaico destrói entre 80% e 100% daprodução': conta. Carbonell relataque em São Paulo a época de maior

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incidência dessa doença nas lavourasvai de fevereiro a maio.

O problema dos produtores defeijão, até agora, era definir o mo-mento exato para a aplicação dos de-fensivos. "Se a pulverização não é fei-ta a tempo, essas doenças causamperdas de, no mínimo, 30% da safra",revela Bergamin. Mas a maioria dosagricultores adota um calendário fixode pulverização, pelo qual a planta-ção é tratada duas a seis vezes por sa-fra, mesmo que não haja risco de in-fecção da lavoura, ou só pulveriza aárea quando a doença já atingiu certopatamar. "No primeiro caso, além doalto custo das pulverizações, essa prá-tica polui o ambiente, pois os defensi-vos são razoavelmente tóxicos. A se-gunda alternativa, por sua vez, nãofunciona para o feijão tão bem quan-to para outras culturas de cereais:aparentemente a doença pode estar

Feijão Carioca: 70% do totalde 3 milhões de toneladas porano consumidas no Brasil

em um nível baixo, mas seu estragonas funções fisiológicas da plantapode ser irremediável."

Para calcular o chamado "limiarde dano" - o ponto em que a quedana produção "empata" com o valor doinvestimento em pesticidas e, a partirdaí, a pulverização é necessária paraque o agricultor não tenha prejuízo -,os agrônomos usam a técnica de me-dição da área foliar das plantas atingi-das pelas doenças. "Quanto maior aárea foliar doente, maior a queda naprodução, o que pode ser demonstra-do graficamente, mas não no caso dofeijão", diz Bergamin. Esse procedi-mento é bastante utilizado nos cintu-rões cerealistas dos Estados Unidos,especialmente para as culturas de tri-go e milho, nas quais há relação dire-ta entre a severidade das doenças e aperda produtiva da planta.

Nova abordagem - Diversas tentativasde adaptar essa metodologia para oagronegócio do feijão no Brasil acaba-ram em malogro, pois não há relaçãomatemática entre as medições da áreafoliar doente e o nível na produção.Bergamin partiu para nova aborda-gem e passou a medir a área foliar re-manescente. Foram realizados 12 en-saios em campo com as variedadesrosinha e carioca do feijão.

O estratagema deu certo e, dessaforma, tornou-se possível calculargraficamente o limiar do dano para ofeijoeiro. "Partimos da constataçãode que o crescimento foliar da plantavaria de 20 a 60 folhas, portanto umnúmero irregular diferente dos cereaismais cultivados, que possuem núme-ro determinado de folhas", revela Lí-lian Amorim, da Esalq. "A mediçãoda área doente não levava isso emconta." Invertendo a lógica, a equi-pe da Esalq demonstrou que, quantomaior a área foliar remanescente,maior a produção.

Além de registrar a dimensão daárea foliar sadia, os pesquisadores re-

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solveram medir também aeficiência fotossintética(RUE, do inglês RadiationUse Efficiency), o que per-mitiria avaliar a extensão dodano provocado pelas doen-ças nas folhas e vagens. "Pre-cisávamos descobrir se asdoenças ficavam restritas àárea foliar visivelmente doen-te ou se elas afetavam tam-bém a área ao redor do pon-to atingido': diz Lílian. Foiutilizada para isso uma câ-mara de troca gasosa, quemede a absorção de CO2pelas folhas e, por conse-guinte, a taxa de fotossínte-se da planta.

Por esse método, a equi-pe constatou que a antrac-nose é a doença mais preju-dicial ao feijoeiro, pois afetauma área considerável emtorno da região na qual é vi-sível a presença do fungo. Aferrugem, no outro extre-mo, praticamente só age noponto onde é possível vi-sualizar a ação do fungo. Asdemais doenças - manchaangular, crestamento bacte-riano e mosaico dourado -estariam no meio-termo,não sendo tão nocivas quan-to à antracnose nem tão bran-das, nesse aspecto, como aferrugem. O próximo passo é testaros resultados encontrados no projetoem grandes lavouras, para encontrar amelhor forma de o agricultor aplicar,na prática, os resultados confirmadospelo estudo.

Melhoramento genético - Outro re-curso cada vez mais empregado nocultivo de feijão é o plantio de cultiva-res obtidas por seleção genética. Jáexistem no mercado sementes resis-tentes a alguns dos agentes causadoresdas doenças do feijoeiro. "Hoje, maisde 90% dos produtores usam cultiva-res melhoradas geneticamente. Suassementes são duas a três vezes maiscaras que os grãos utilizados para con-sumo, geralmente usados como se-

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Amostras do Bancode Germoplasmado IAC (acima).Ao lado, folhas comantracnose

mentes pelos agricultores, mas a eco-nomia com a redução do uso de pes-ticidas, a uniformidade de plantas nalavoura e a certeza de não estar intro-duzindo novas doenças por sementesem sua propriedade valem a pena",conta Carbonel1. Entre 1998 e 1999,ele realizou seu primeiro projeto, inti-tulado Melhoramento Genético do Pei-joeiro para Resistência aos AgentesCausadores de Antracnose, ManchaAngular e Crestamento Bacteriano.Agora está desenvolvendo o segundo,que complementa o anterior.

O melhoramento genético, no en-tanto, não substitui inteiramente oprocedimento de pulverização das la-vouras, pois ainda não existem cultiva-res de feijão resistentes, ao mesmo tem-

po, a todas as doen-ças. O sonho de Car-

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as três doenças mais devastadoras daslavouras brasileiras. Para tanto, o cien-tista iniciou em 1996 um ousado pro-grama de melhoramento genético, quetinha como objetivo formar popula-ções básicas com resistência múltiplaaos patógenos e estudar a variabilida-de deles, bem como sua agressividadee distribuição no Estado de São Pau-lo. Esse projeto financiado pela FA-PESP foi coordenado por Carbonel1 edesenvolvido por mais quatro pesqui-sadores do IAC e do Centro Regio-nal Universitário de Espírito Santo doPinhal (SP).

O primeiro passo para viabilizar oprojeto foi a montagem e a organiza-ção do Banco de Germoplasma doIAC, que reúne mais de 1,2 mil tipos

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Câmara de troca gasosa mede a taxa de fotossíntese da planta

de feijão da espécie P. vulgaris. Dessebanco, Carbonell escolheu as varieda-des sabidamente resistentes a pelomenos um do patógenos das doençasestudadas para efetuar cruzamentosentre os feijoeiros. De 1996 e 1998, fo-ram feitos 134 cruzamentos múlti-plos, envolvendo os vários genes deresistência às doenças - trabalho quecontinua, atualmente, com linhagensde plantas na sexta geração.

Ao obter a população da segundageração, resultante dos cruzamentosoriginais, o pesquisador conseguiu se-lecionar, sob condições controladasem laboratório, feijoeiros resistentes, atodos os patógenos da antracnose."Foi o primeiro passo para que o IACpossa vir a produzir uma cultivar de

feijão resistente às outras doenças, oque, no futuro, poderá reduzir o usode defensivos agrícolas nas lavouras",declara. O trabalho com mancha an-gular e crestamento bacteriano aindaesbarra em dificuldades, pois a maio-ria das plantas continua suscetível aalguns desses patógenos.

Qualidade tecnológica - Em 1998,quando a série de cruzamentos atin-giu a quinta geração, Carbonell deuinício a seu segundo projeto, com aparticipação de pesquisadores do Cen-tro Regional Universitário de EspíritoSanto do Pinhal e das estações experi-mentais de agronomia do IAC nas ci-dades de Monte Alegre do Sul, Tatuí eTietê, todas de São Paulo. O intuito

o PROJETOO PROJETO

Avanço de Gerações e Seleção dePlantas, Linhas e Famílias de Feijoeiro(Phaseolus vulgaris L.) para AltaProdutividade, Resistência à Antracnosee Qualidade Tecnológica

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORSERGIOAUGUSTOMORAIS CARBONELL- IAC

INVESTIMENTOR$ 99.827,10 e US$ 4.636,00

Uma Nova Abordagem para oDesenvolvimento de um SistemaSustentável de Manejo de Doenças doFeijoeiro Baseado na Duração da ÁreaFoliar Sadia e na Eficiência Fotossintética

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORARMANDO BERGAMIN FILHO - Esalq/USP

INVESTIMENTOR$ 238.249,30 e US$ 130.892,51

desse trabalho, ainda em andamento,é selecionar as melhores linhagens re-sistentes à antracnose e, ao mesmotempo, plantas com maior qualidadetecnológica. Nesse mesmo ano, o Mi-nistério da Agricultura começou aexigir que, além de ser resistente a doen-ças, os cultivares de feijão melhoradosgeneticamente devem proporcionarqualidade culinária.

Da quinta geração, com cerca de2,5 mil linhagens de plantas selecio-nadas, a equipe do IAC separou as 98mais produtivas, com plantas de por-te ereto, totalmente resistentes à an-tracnose e com alta qualidade tecno-lógica. Entre essas plantas, 32 linhagenssão do tipo carioca - que representacerca de 70% do consumo nacionalde 3 milhões de toneladas por ano - e19 do feijão preto. Essas plantas estãosendo testadas no campo, em trêsmunicípios paulistas: Tatuí, MonteAlegre do Sul e Capão Bonito, áreasde climas diferentes, para análise doefeito da interação genótipo com oambiente. Segundo Carbonell, as li-nhagens que mostrarem bom desem-penho nas três regiões - tanto em ter-mos de resistência como de qualidade- serão escolhidas para, em 2003, en-trar em competição com variedadesde outros institutos de pesquisa.

Mudança de hábitos - O IAC é pionei-ro no Brasil nos programas de melho-ramento genético de feijão. Foi lá queo pesquisador Luís Dartagnan de Al-meida produziu a primeira variedadedo feijão carioca, o "carioquinha", lan-çado em 1970. Essa variedade - 30%mais produtiva do que os outros tiposde feijão na época - revolucionou ocultivo no país e tomou a dianteira napreferência dos brasileiros. O feijãocarioca já está em sua quarta geraçãoe passou a contar com vários genes deresistência à antracnose a partir desua terceira geração. "A quinta gera-ção de novas cultivares do feijoeiro,resistentes à antracnose e outras doen-ças e também com alta qualidade tec-nológica, está estimada para ser lan-çada em 2006 e, assim, empreenderuma nova revolução no mercado dofeijão nosso de cada dia." •

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 69

Page 70: Nanochips do futuro

HUMANIDADES

Estudo refaz a difíciltrajetória das primeirasmulheres que trabalharamna estrada de ferro Noroestedo Brasil, em Bauru

Distante350 quilômetros

da capital paulista eponto de entroncamen-to de três importantesferrovias (a Noroeste

do Brasil, a Paulista e a Sorocabana),a interiorana, mas efervescente, Bau-ru, que há pouco tempo tinha deixa-do para trás a condição de "boca dosertão': viu nascer um novo tipo demulher que exercia sua ocupa cão noambiente público, a partir de 1918.Em março desse ano, a Noroeste, apioneira e mais importante das es-tradas de ferro a cortar a cidade, queali instalara seu quartel-general em1905, rasgando o oeste paulista emdireção ao confins de Mato Grosso,contrata a primeira funcionária dosexo feminino: Flordaliza Meira Mon-te, de 16 anos, nascida na tambémpaulista Capivari, admitida em cará-ter temporário, como prática de telé-grafo, profissão que seu pai exerciana ferrovia.

Até então, das estações e oficinasaos escritórios, passando obviamentepelos vagões das composições, a com-panhia era um ambiente de trabalhoexclusivamente masculino. Saias porali só eram vistas, quando vistas, naspassageiras de algum comboio vindoda capital. Ou ainda nos cabarés e

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HISTÓRIA

As Mariasda fumaça

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bordéis, geralmente próximos à esta-ção de trem, onde predominava, parausar o linguajar corrente da época, oprotótipo de mulher pública de então,dancarinas e prostitutas, vulgarmentechamadas de "vagabundas': Portanto,o recrutamento da futura escriturá-ria, que arrumara o emprego de suavida (viria a se aposentar na própriaNoroeste por invalidez em 1942),inaugura uma nova fase na estrada deferro: a era das ferroviárias de Bau-ru, moças sérias, solteiras, geralmentevindas de várias regiões paulistas oude outros Estados, exibindo de 15 a 30anos de idade.

Como as ditas "vagabundas", comquem eram confundidas freqüente-mente, as ferroviárias também erammulheres públicas. Públicas no senti-do de que haviam optado, talvez porinfluência do cinema norte-america-

no, por trabalhar fora de casa, no es-paço coletivo da sociedade, em vez deficarem restritas aos tradicionais pa-péis de mãe e dona de casa, exercidostipicamente no ambiente privado, noseio do lar. "Para o imaginário femini-no da época, a ferrovia representavaa liberdade", diz a historiadora LidiaMaria Vianna Possas, da Universida-de Estadual Paulista (Unesp), de Ma-rilia, que rastreou fragmentos da quasedesconhecida trajetória das primeirastrabalhadoras da Noroeste, uma dasmais importantes estradas de ferro dopaís, no livro Mulheres, Trens e Trilhos(Editora da Universidade do SagradoCoração de Jesus), publicado no finalde 2001, resultado de anos de pesqui-sas. Para evitar cantadas indesejadasno serviço e dissociar sua figura dapecha de prostitutas, as trabalhadorasda Noroeste adotam uma postura de-

liberadamente sisuda no trabalho.Entre 1918 e 1945, período enfocadopelo estudo, a pesquisadora conse-guiu encontrar nos registros da Noro-este a passagem de 250 mulheres pelacompanhia, que fizeram um percursosemelhante ao da desbravadora Flor-daliza. Isso em meio a 14 mil prontuá-rios de funcionários da estrada de fer-ro vasculhados por Lidia.

Entre essas duas centenas e meiade ferroviárias, as mais instruídas, ge-ralmente oriundas da classemédia, tor-naram-se telefonistas, datilógrafas oufaziam toda sorte de serviços burocrá-ticos. As mais humildes se dedicavamaos serviços de cozinha, lavanderia,faxina e atendimento público. No se-

Funcionárias da contadoria daNoroeste do Brasil, em '944,e estação: locomotivas e machismo

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gundo grupo de mulheres, era co-mum a mudanca de ocupação,pois tinham mais dificuldade emse adaptar ao severo regime detrabalho. O trabalho feminino ra-ramente estava ligado diretamen-te à atividade fim da ferrovia: fazeros trens andarem. E pior: a figuradas mulheres, embora alvo deconstantes tentativas de assédio se-xual, é praticamente ignoradapela história oficial da estrada deferro e até por muitos ferroviáriosaposentados, que, não raro, cus-tam a se lembrar de que tambémhavia colegas do sexo oposto entreos funcionários da companhia. "Émais ou menos como se não tives-se havido mulheres trabalhandoali", comenta Lidia, uma cariocaque mora em Bauru há 15 anos."A história oficial retrata de ma- LidiaPossas: história de 250 ferroviáriasneira repetitiva a ferrovia comoinstrumento vigoroso do progresso,da luta de classes e não como agenteprovocador de mudanças de compor-tamento e valores."

Capitalismo - É claro que Bauru, a essaaltura, nos anos 1920, com 20 mil ha-bitantes, integrada pelas locomotivasao capitalismo e à modernidade, jáempregava moças em seu comércio,

exibia costureiras em seus ateliês,contava com professoras em suas es-colas e garantia o sustento das secretá-rias de seus profissionais liberais (vejaquadro). Sobre essas, no entanto, o es-tigma de ser uma mulher pública -isto é, de ser comparada às dançarinase meretrizes que trabalhavam noscabarés próximos da estação - nãopairava tão fortemente como era o

caso das empregadas da Noroeste.Afinal, o ambiente no comércioera mais familiar e menos mas-culino do que na estrada de ferro.Para afastar qualquer insinuaçãomaldosa, as ferroviárias incorpo-raram ao pé da letra a disciplina eo formalismo que a Noroeste exi-gia de seus funcionários. "Nãoqueriam ser confundidas com asprostitutas': afirma Lidia. Tantoque muitas não se casaram, nemtiveram filhos. Algumas, a partirdo anos 30, passaram a se interes-sar por política, especialmentepelo integralismo, versão nacionaldo fascismo que ganhou adeptosentre os ferroviários de Bauru.

Mulher na vaga do burro - Comoas mulheres conseguiram traba-lho na Noroeste? A forma de en-trada na companhia não é muito

clara e transparente até 1938, quandoforam instituídos concursos públicosabertos a homens e mulheres commais de 18 anos, concursos cujos pri-meiros lugares eram preenchidos fre-qüentemente por postulantes de saias.Durante muito tempo, no entanto,uma anedota circulava entre os ferro-viários - não só os de Bauru, mas osde outros lugares também - tentando

De "boca d,osertão" a cidade de espantosNum mapa da então província

(hoje Estado) de São Paulo de 1886,oúltimo povoado urbano do noroestepaulista é Bauru, então uma vila comfama de ser a "boca do sertão': Tudoa oeste do lugarejo é descrito como"terrenos desconhecidos povoadospor indígenas': parte do mundo ditoselvagem. Dez anos mais tarde, essalocalidade é elevada à condição demunicípio. Mas a cidade, que tempouco menos de 8 mil habitantes navirada do século 19, só começa a seestruturar e crescer de verdade com achegada dos trilhos de ferro. A Noro-este do Brasil, que ali instala sua sede,é inaugurada em 1905, a Paulista

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chega no ano seguinte e a Sorocaba-na, em 1910. Com o auxílio das loco-motivas, Bauru, que está no centrogeográfico do Estado, "conecta-se coma capital paulista - e com o mundoda modernidade e do capitalismonascente no país, cujas principais fi-guras viriam a ser os barões de café.

Rapidamente, quase todos os há-bitos, costumes e modas vigentes nascidades de São Paulo e do Rio de Ja-neiro são importados pelos habitan-tes de Bauru, em sua maioria foras-teiros, homens e mulheres semfamília constituída, que migrarampara a "entrada do Brasil novo." Em1920, pouco depois de as primeiras

ferroviárias serem contratadas pelaNoroeste, sua população bate na casadas 20 mil pessoas. Em 1940, essenúmero sobe para 55 mil. O comér-cio se desenvolve. Pensões e hotéissão abertos, aproveitando a vocaçãode ponto de passagem da cidade dastrês ferrovias. A vida mundana tam-bém se desenvolve. Cabarés afrance-sados, como o Maxim, abrem as por-tas perto da área ferroviária. Bordéisproliferam, como a Casa de Eny,quecriaria fama em todo o Estado.

Diante do movimento de gentevinda de todo lugar, ávida por ascen-são social e diversão, entre as quais asdrogas ilícitas, o poeta Rodrigues de

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explicar a origem de trabalhadorasnum ambiente tão masculino. A pri-meira mulher teria sido contratada navaga de um burro da ferrovia, quemorrera. Ou seja, sai o animal, entra amulher, paga com a verba anterior-mente gasta para alimentar a besta. Aanedota era tranqüilizadora: nenhumhomem cedeu vaga para mulher.

Ainda que contratadas, as mulhe-res não tinham os mesmos direitostrabalhistas dos homens. Até 1928, se-gundo o levantamento da professorada Unesp, grande parte delas não ti-nha vínculo mais formal com a Noro-este. Algumas eram registradas com onome de homens, geralmente um pa-rente que havia trabalhado na ferro-

via, do qual haviam meio que herda-do o posto de trabalho. Essa situaçãosó melhorou substancialmente com aadoção dos concursos públicos paraadmissão. As ferroviárias também ti-nham de provar constantemente queeram competentes em seus afazeres."Sempre existia aquela onda (... ) deque mulher é fraca. Mulher não podeisto e aquilo': recorda Hermínia Ma-lheiros de Oliveira, que trabalhou co-mo telefonista na Noroeste, num de-poimento concedido em 1997, quandotinha 81 anos, para o livro sobre asferroviárias da Noroeste.

Sexualidade - Além das demonstraçõesde falta de reconhecimento profissio-

Apesar de ter encontrado valiososdocumentos e registros nos arquivosdo Centro de Memória Regional, mu-seu em Bauru mantido pela Unesp eRede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA),a historiadora teve dificuldades emseguir o paradeiro da maioria das ex-funcionárias da ferrovia, sobretudo odaquelas que exerciam as funçõesmenos nobres. Os registros contêmdados apenas até o momento em queas funcionárias deixam a ferrovia - eas mais simples eram justamente asque tinham mais dificuldade em seadaptar à rigidez da empresa e acaba-vam desistindo freqüentemente doemprego ou eram mandadas embora,às vezes sem receber as devidas in-

denizações. À escassezi de documentos, so-Imam-se outros inconve-

nientes: muitas ex-fer-roviárias já morreram e,entre as vivas, há quemprefira esquecer o passa-do. "Muitas dessas mu-lheres se sentiam pes-soas fora do lugar, emrazão das inúmeras ex-clusões que sofreram':afirma Lidia.

O estudo da históriadas primeiras ferroviá-rias se encerra em 1945,quando o acesso aos con-cursos da Noroeste foipraticamente negado àsmulheres e elas mesmascomeçaram a ambicio-nar outros horizontes

profissionais. A partir dos anos 1950,o país optou por carros, em vez de lo-comotivas. Felizmente, ainda há pes-quisadores como Lidia, apaixonadapor trens desde menina. Em sua casaem Bauru, sobre a mesa de trabalho,ela mantém um telefone em forma deuma velha locomotiva. Presente deamigos, o aparelho funciona e seu to-que, em vez do tradicional "trim", re-produz o barulho de uma maria-fu-maça encostando numa estação. "Meutrabalho não é defender as ferroviárias':afirma Lidia. "Mas dar maior visibili-dade às suas trajetórias, evidenciandoa sua luta social:' •

Bauru na década de 20: calmatransformada para que ela pudesseser a "entrada do Brasil novo"

Abreu, que se mudou para a cidadeem 1923 e virou funcionário docartório local, qualifica Bauru de"Cidade de Espantos". Num trechodo poema Bauru, da década de 30,Abreu faz alusão ao espírito devanguarda e sem limites da socie-dade bauruense da época: "Eu já to-mei cocaína em teus bairros baixos,onde há Milonguitas de pálpebrasmurchas e de olhos brilhantes!':

nal, das cantadas no trabalho, da re-pressão à própria sexualidade, as fer-roviárias ainda enfrentavam incon-venientes mais comezinhos em seucotidiano na Noroeste. Só ganharambanheiros exclusivos, por exemplo,em 1934, quando foi construída anova estação ferroviária da Noroesteem Bauru. Até então, tinham de obe-decer a horários pré-determinados parair ao toalete. Um dos argumentos pa-tronais contra os banheiros femininosera o de que esses locais virariam pon-to de bate-papo entre as mulheres.Como se homens não conversassemno trabalho.

PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 73

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• HUMANIDADES

Banmertem

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Pesquisa mostra o portuguêsantigo,que saiu deSão Paulo no século 17e ainda sobrevivena linguagem cotidianade outros Estados

açadores de ouro, do-madores de índios, en-golidores de matas: osmamelucos de São Pau-lo de Piratininga avan-

çaram sertão adentro no entardecerdo século 17. Com arcabuzes, alfanjese uma bandeira puída, abriram cami-nho no mato, enquanto arrasavam al-deias, pedras preciosas, missões jesuí-tas e quilombos. Os bandeiranteseram mercenários sem escrúpulos,mas heróis da geografia e da língua.Ampliaram as fronteiras do país e ossinais de sua influência proliferam atéhoje nas culturas e línguas locais. Écom essa certeza que um grupo de es-tudiosos do idioma se largou pelo in-terior de São Paulo, Minas Gerais, Ma-to Grosso e Goiás para fisgar vestígiossertanistas na fala brasileira.

Professor de filologia e língua por-tuguesa da Universidade de São Pau-lo, Heitor Megale é o bandeirante danova expedição com seu projeto Filp-logta Bandeirante, que contou comapoio da FAPESP. "Na rota sertanistasurgiram muitos vilarejos. Alguns vi-raram cidades, como Cuiabá. Após ofim do ciclo do ouro e da escravatura,muitos permaneceram isolados, pa-rados no tempo", explica. "Com seuscostumes, manifestações culturais ereligiosas, mantiveram a variante lin-güística da época colonial ou, pelomenos, alguns traços dela."

O projeto buscou colher vestígiosdalíngua da colonização, que permane-

Bandeirante segundo Henrique Bernadelli:mercenários sem escrúpulos e ao mesmotempo heróis da geografia e da língua

ceram ou sofreram variação. A idéia éflagrar a herança oral de lugares fun-dados por sertanistas ou que surgi-ram com seu avanço. "Não há rota decolonização mais importante commovimentação demo gráfica contínuapor mais de meio século", confirmaMegale. "É possível, por isso, encon-trar traços de camada lingüística anti-ga, que se expandiram, chegaram a es-critos e acabaram restritos à fala rural."

Os pesquisadores tiveram comobase o roteiro da marcha de 1674, ini-ciada pelos 40 homens liderados porFernão Dias Paes. O trajeto originalfoi uma aventura sem par. Fernão Diasera um veterano de 65 anos quandochefiou uma imensa monção atrás deprata e esmeraldas. Saiu de São Pauloaté as cabeceiras do rio das Velhas(MG), atravessando a serra da Manti-queira. Fez pouso em arraiais comoIbituruna, Sumidouro do Rio das Ve-lhas, Esmeraldas, Mato das Pedreiras eSerro Frio, futuros núcleos do povoa-mento de Minas.

Do rio das Velhas, atravessou oVale do Jequitinhonha, até a Lagoa deVupabuçu, onde ele encontrou pedrasverdes após sete anos de trilha. Erammeras turmalinas, sem valor. Mas ocaminho aberto por Fernão Dias lan-çou as bases de expedições que desco-bririam ouro em Minas.

"Em torno dessa trilhá, prioriza-mos os caminhos usados à exaustãona caça ao ouro dos séculos 17 e 18",diz Megale. O grupo retomou a rota,ao máximo oeste (na baixada cuiaba-na) ao extremo norte, em Niquelân-dia (Goiás), Sumidouro e Diamantina(MG). "Incluímos locais de outras in-cursões e evitamos pontos com forteinfluência moderna, como Ouro Pre-to", completa um dos integrantes doprojeto, Sílvio de Almeida ToledoNeto. Além de Cuiabá, a equipe pas-sou pela picada de Goiás, por Pacara-tu e Catalão.

A equipe de 19 pesquisadores tra-balhou em duas frentes. Um esforçofoi o de coletar os traços da fala iden-tificáveis em documentos da época. Ooutro foi gravar a conversa com anal-fabetos idosos das regiões. Com isso,querem tabular marcas orais não per-

tencentes ao português-padrão paraverificar o que se reteve do arcaico. "Éna comparação entre os dados de épo-ca e a fala dos informantes que está araiz do Filologia Bandeirante': diz To-ledo Neto.

Como não há banco de dados dafala da época que vire referência paraa pesquisa de campo, o primeiro atoda equipe de Megale foi procurar a ba-se em documentos do século 17.Foramcaixas com centenas de documentoscartoriais. "Inventários de testamentos,cartas e relatórios de entradas para osertão costumavam transcrever as co-municações orais do povo': relata To-ledo Neto. Em Taubaté, o Arquivo His-tórico mantém ofícios das entradascomo as de Borba Gato e Amador Bue-no, no século 18."Protestos, causas CÍ-

veis e pregões são as notícias indiretasda língua falada no período:'

Ao todo, são 975 folhas e cópias demanuscritos dos séculos 17 e 18, alémdo arquivamento digital de docu-mentos mais antigos, de 1723. A essevolume, juntaram-se dezenas de mi-nidiscos (MD) de 74 minutos com asentrevistas de idosos analfabetos, ar-quivos ambulantes de um modo defalar remoto, popular, menos influen-ciado pela oralidade contemporânea.

Quanto mais longínquo o lugar,melhor para o projeto. No interior deMinas, 12 rincões foram varridospela equipe de Maria Antonieta Co-hen. Em São Paulo, foram seis locali-dades, enquanto em Goiás a equipede Maria Sueli Aguiar percorreu 14,duas a mais do que o grupo de Ma-noel Mourivaldo Santiago Almeida,em Mato Grosso.

As escolhas em São Paulo foramestratégicas. O movimento demográ-fico para o sertão de Cataguá, comona época se chamava a região em quese entrava, seguia pelo Vale do Paraíbaaté Pinheiros, após atravessar as gar-gantas da Mantiqueira. "Assim, a re-gião de Taubaté e Cunha nos interes-sou, pois era caminho para atravessara Mantiqueira e para o retorno doouro à casa de fundição em Taubatéou em Parati', descreve Megale.

Em cada recanto, o cuidado de se-lecionar os entrevistados a dedo. "Nós

PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 7S

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Domingos Jorge Velho: sópassou a ser chamado debandeirante no século 19

nos preocupamos me-nos em ter um númerogrande de informantesdo que com o valor deum único registro dequalidade': defende Me-gale. Sua equipe suoupara encontrá-Ias. "Tí-nhamos de andar mui-to e conversar com omáximo de moradoresdo lugar, tudo à mar-gem das instituições, co-mo a prefeitura, a Igrejaou a Emater", lembra."Quando acionávamosalguém da prefeitura,nos enviavam as pes-soas que falavam 'erra-do: mas tinham escolar-idade e usavam gíriasadquiridas com a TV:'

Foram inúmeras entrevistas antesde fechar o cerco em nomes como osmineiros José Felipe dos Santos, de 72anos, de Ibituruna; Maria CristinaReis, de 86, em São Tiago, e, em BomSucesso, José Pedro de Oliveira, com92. O que encontraram deixou os pes-quisadores boquiabertos. "Flagramostraços que nunca pensamos existir",

lembra Megale. "Uma das riquezas dapesquisa é o encontro com pessoasque vivem sem água encanada ou es-goto e padecem de problemas vitais járesolvidos nas cidades. No entanto,elas logo se põem à vontade, como sefossem amigos de infância", continua."É um encontro com um tipo de bra-sileiro que a vida urbana conside;aria

~ o passado, em seu mo-! do de agir e falar."O trabalho prelimi-

nar da equipe começouem 1997, com mapea-mento e seleção de lo-calidades, e a pesquisade campo avançou peloano passado. A parte"braçal" do projeto seencerra em 28 de feve-reiro deste ano, mas aanálise e tabulação dosdados, assim como apublicação do trabalho,avançarão até 2003.

Resultados, no en-tanto, não faltam. Du-rante a pesquisa, foramencontradas desde pala-vras obsoletas àspronún-cias de herança paulistaem território mineiro,goiano e matogrossen-se. "Todos devem tersido incorporados apósa expansão bandeiran-

te", acredita Megale.Há termos esquecidos, como

"mamparra" (fingimento), flagradona boca de José Pedra de Oliveira, emMinas, e em informantes paulistas.Pronúncias típicas do século 17, comoem "tchapéu" e "tchuva" ou o ditongonasal [õ 1 por [ãw l, como em "mão"[rnõ], "muntcho", por "muito", que se

Linguagem bandeirante ainda é um mistérioA linguagem de época é um pro-

blema para quem pesquisa os ban-deirantes. Primeiro, não há descri-ção exaustiva da língua falada noséculo 17. Segundo, o portuguêsusado pelos bandeirantes ainda écheio de mistérios. A língua tupi rei-nava nos primeiros séculos de Brasil.Os colonizadores só se impuseramno litoral no século 17 e, no interior,no 18. O mais português dos serta-nistas tinha de usar urna fala mista,de base tupi, chamada língua brasíli-ca ou geral.

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Do século 17,acredita-seque só doisde cada cinco moradores da cidade deSão Paulo falavam português. Segun-do Bruno Bassetto, em Elementos dePilologia Românica, em meados doséculo 18 a língua em comum aindaera o tupi: só um terço da populaçãousava o português, além do tupi.

"Índias casadas com brancos eramexcluídas da alfabetização, mas suascrianças ficavam expostas à língua ma-terna. Já os bandeirantes precisavamser bilíngües para tocar os negócios",diz o professor Silvio Toledo Neto.

O projeto de resgatar os traços delinguagem deixados pela rota dos ban-deirantes pode ser um passo decisivona reconstituição do idioma. "A his-tória da língua antiga está sendo fei-ta agora por iniciativas como essa",relata Heitor Megale. "É preciso cer-car o objeto de várias formas. Deixaros dados falarem, pelos documentoscartoriais e pelos resquícios encon-trados na fala de hoje': completa To-Ieda Neto.

Os documentos encontrados pelaequipe de Megale são reveladores da

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apagaram mesmo em cidades do inte-rior, e hoje ainda se realizam no Nortede Portugal, são ouvidas no interiorde Mato Grosso, Goiás, Minas Geraise São Paulo.

No sul de Minas e no interior pau-lista, encontraram-se expressões co-mo "dá uma esmolna por amor dedeus", que remontam ao português

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condição da língua do período."Não há outra língua que não oportuguês nos documentos, uma in-dicação de que os bandeirantes do-minavam até a escrita. Havia assi-naturas de 'entrantes' e transcriçãode suas falas pelos tabeliões, nos li-vros de registros", diz Megale.

O próprio termo "bandeirante"é controverso. Documentos confir-mam que não se designavam comotal. O movimento de ida para o ser-tão era chamado "armação", "entra-da", "jornada" ou "tropa". Só ga-nhou o termo "bandeirante" noséculo 19, por iniciativa de histo-riadores e escritores.

do século 13, em que o atual "esmola"era tomado por "eleernosyna", depois"esmolna"

Muitas palavras obsoletas estão emuso. Em Minas, há "demudar" usadono lugar de "mudar", assim como, emvez de "possuir", a preferência por"pessuir" ou "pessuido", do século 18.O também obsoleto "despois', em usono sul de Minas, remonta a obras ar-caicas, de uso culto nos séculos 15 e16."Preguntar', usada no século 17 al-ternadamente com "perguntar", tam-bém foi encontrado. São do portu-guês arcaico do século 13 a meados do16 que remontam as formas "quaje"

o PROJETO

Fil%gia Bandeirante

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORHEITOR MEGALE - Universidadede São Paulo

INVESTIMENTOR$19.280,OO

Encontro de Monções no Sertão, dePereira da Silva: nessas reuniões, eram

trocadas informações e palavras

ou "quage" (o atual "quase"), "quige"(( O'') "fi "("fi")qUiS , ge z.

Os sufixos de derivação, como em"mensonha" (que remonta ao século13) e "mentireiro" (Gil Vicente), sinô-nimos de "mentira" e "mentiroso",ainda hoje pontuam a fala interiora-na, preservada pelos informantes doPilologia Bandeirante.

Embora tudo deva ser editado até2003, alguns dos subprojetos do temá-tico central já começam a ser publica-dos, com resultados interessantes paraos especialistas. A meta do grupo deMegale, ao final, é mostrar que umacamada antiga da língua sobrevive emoutros pontos do país como herdeirada São Paulo colonial. "Tudo leva acrer que a língua que foi para lá, saiude São Paulo': afirma ele. "O fato éque há marcas históricas de uma lín-gua ao longo das trilhas das bandeirasauríferas que partiram de São Paulo,percorrendo os velhos caminhos dosíndios e abrindo outros:' •

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 77

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• HUMANIDADES

ENTREVISTA: REGINALDO PRANDI

A tenda ilustrada dos milagres

Todos riram quando, nofilme O Xangô de BakerStreet, de Miguel FariaJúnior (baseado no ro-mance homônimo de [ô

Soares), o vetusto detetive inglêsSherlock Holmes é reconhecido comoum filho do poderoso orixá. Mas,além das curiosidades e do que sechama erradamente de "macumba':pouco sabemos da rica crença trazidaao país pelos escravos africanos que,hoje, permeia a cultura e a arte brasi-leira. Na entrevista abaixo, o professortitular de Sociologia da Universidadede São Paulo (USP)Reginaldo Prandi,autor de Mitologia dos Orixás (Com-panhia das Letras), explica como ocandomblé foi incorporado à culturabrasileira e como se adaptou a novosconceitos sociais. Mas não se iluda:essa explicação não é tão elementarcomo gostaria o caro Watson.

• Um branco estudando a comunidadenegra. Houve algum problema?- Não. A comunidade do candom-blé está muito acostumada com a xe-retice dos brancos e há uma tradiçãode pesquisadores brancos, como Ro-ger Bastide e Pierre Verger, que tive-ram contato muito intenso com ocandomblé. Até recentemente, os can-domblés foram muito perseguidospela polícia, e então homens com al-guma importância na sociedade bran-ca, como intelectuais, artistas, milita-res, médicos etc., funcionavam comouma espécie de ponte entre o terreiroe a sociedade, defendendo os can-domblés e seus seguidores. Esses ho-mens passaram a receber do candom-blé, em retribuição, um título de altoprestígio, chamado ogã, que em ioru-bá significa superior, mestre, pai pro-tetor. São aqueles a quem se recorre

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em momentos difíceis. Passada a fasede perseguição policial, o título conti-nuou a ser atribuído aos amigos e cul-tores da tradição dos orixás. Como al-guns dos sociólogos e antropólogosque me precederam na pesquisa dosterreiros, tenho esse título de ogã. Masminhas pesquisas foram feitas antesde eu receber essa honra.

• Qual é o valor do mito?- O mito no candomblé é extrema-mente importante, pois, antes de maisnada, ele ensina quem são os orixás,quais os seus poderes mágicos, seuscampos de atuação, de onde eles vie-ram, quais as suas preferências e ta-bus, como o devoto deve se relacionarcom cada um deles. Além disso, osmitos explicam como o mundo e aprópria humanidade foram criados e,mais que isso, explicam como o serhumano é constituído. Para o cristia-nismo, por exemplo, o ser humano éformado de corpo e alma. Para o can-domblé, o ser humano é constituídod~ corpo e várias almas, sendo quecada alma contém as seguintes di-mensões do espírito: a individualida-de da pessoa ou a sua cabeça, a sua he-rança familiar ou o antepassadoreencarnado, e a sua origem primor-dial ou o orixá. Como se crê que navida tudo se repete, cada pessoa é emparte a reencarnação de alguém queviveu antes e, ao mesmo tempo, a des-cendência de um orixá determinado.Se me perguntam: "Você é filho dequem?". Respondo: "Sou filho deOxalá", assim como outra pessoapode ser um filho de Oxum, ou de Ie-manjá, Xangô, Ogum etc. Como cadapessoa herda de seu orixá as virtudese defeitos de que falam os seus mitos,os mitos podem ensinar porque so-mos assim e assim agimos.

.É difícil para quem entra no candom-blé assumir essa nova crença?- A grande dificuldade é que a lógi-ca do candomblé é diferente daquela aque alguém criado segundo os valoresocidentais está acostumado. Um novoadepto do candomblé tem que apren-der conceitos que são completamentenovos para ele, que vem de uma cul-tura branca, cristã, européia. O tem-po, por exemplo, é circular e demar-cado pela realização de tarefas e nãopelo relógio. A sabedoria se obtémcom a experiência de vida, é algo quese constrói ao longo da vida, e nuncapor meio de livros e da escola, pois ocandomblé se origina de uma culturaágrafa, em que a transmissão do co-nhecimento se faz pela oralidade. Porisso, no candomblé só os velhos po-dem ser sábios. Disso tudo derivamoutros conceitos e muitas regras queregulam a vida religiosa e interferemna vida cotidiana dos iniciados .

• O candomblé já pode ser encontradono Brasil inteiro?- Praticamente sim. Nas capitais egrandes cidades, com certeza. Nas ci-dades de 10 mil, 15 mil habitantes, émais difícil que o candomblé tenhachegado, mas a umbanda, que se pro-pagou a partir da década de 50, está lá.

• O senhor falou que o candomblé estáse transformando. Como isso ocorre?- O candomblé se formou no Nor-deste no século 19, especialmente naBahia e em Pernambuco, donde se es-palhou pelo Brasil na segunda metadedo século passado. Nesse movimentode expansão, vai se adaptando às no-vas geografias e aos tempos. Porexemplo, o candomblé usa muito aservas para preparar banhos, fazer re-médios e outras práticas rituais. Se diz

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que sem as folhas nãoexistiria o culto dos ori-xás. O terreiro ideal de-veria ter um terreno co-berto de mata, onde aservas pudessem nascerespontaneamente e sercolhidas livremente. Queterreno poderia ter seubosque sagrado numacidade como São Paulo?Em termos de preço deterra, isso é inviável.Então tem de adaptar.Buscar as ervas longe écada vez mais trabalho-so e perigoso, por causados assaltos. Melhor écomprá-Ias num forne-cedor especializado. NoLargo da Pólvora, nocentro de São Paulo,por exemplo, há bancasde vendedores que ofe-recem todas as ervas ne-cessárias aos diferentesrituais. Os vendedoressão gente da religiãocom um novo negócio,impensável há 30 anos:plantam, colhem, trans-portam e vendem as fo-lhas. Isso é uma adapta-ção à sociedade atual.Outra: antes, quandoalguém ia se iniciar, pe-gava suas trouxas, ia para o terreiro elá ficava recolhido durante um, dois,três meses, vivendo nesse períodouma vida totalmente alheia ao mun-do fora do terreiro. Hoje, o tempo derecolhimento no terreiro não podedurar mais do que as quatro semanasde férias no trabalho, um pouco me-nos até, para usar alguns dias com ou-tras providências. E assim, 21 diasacabaram se transformando no tem-po da iniciação de hoje. Essa é umaadaptação importante, que acarretaoutras mudanças em termos deaprendizado religioso e disciplina.

tos, sistematizados e reescritos, umaespécie de reunião de histórias que es-tavam espalhadas, de lendas que seencontravam por aí, em centenas defontes escritas e orais.

• No Brasil, estamos mais acostumadoscom outras mitologias.- Sim, sobretudo a grega clássica,que é, de certa forma, constituída demuitos elementos importantes dopensamento ocidental. A mitologiagreco-romana é parte da cultura oci-dental há muitos séculos. Já os mitosafricanos, quem conhece? Li um sim-pático comentário de que a mitologiaque organizei seria a maior mitologiaviva. Porque a grega está morta, sóexiste no livro. A que organizei estáviva nos terreiros dos cultos afro-brasi-

Reginaldo Prandi: organização em livro da mi!ologia viva dos terreiros

• Quais as principais descobertas emseu livro Mitologia dos Orixás?- Eu não chamaria de descobertas. Olivro é uma coleção organizada de mi-

z

~ leiros. Agora, na medidaiil" em que esse livro dispo-~ nibiliza para todos um

conhecimento que an-tes era restrito a um gru-po minoritário, os se-guidores do candomblé,talvez seu conteúdo ve-nha a ser futuramentemais conhecido. Malcomparando, veja o casoda novela Porto dos Mi-lagres, da TV Globo,transmitida no ano pas-sado. Com ela, os teles-pectadores aprenderamalgo sobre Iemanjá queantes desconheciam.Com o livro, talvez amitologia africana queestá em nossas raízesculturais possa ser apren-dida e estimada pormuitos, independente-mente da religião, e pos-sa, quem sabe, ser incor-porada pelos segmentosda cultura brasileira atéentão acostumados tãosomente com os mitosocidentais. Num tempode valorização crescenteda diversidade cultural,Mitologia dos Orixáspode ter alguma utili-dade.

«Há alguma correspondência entre mi-tos grego e os do candomblé?- Existem muitas. Xangô, por exem-plo, é um orixá muito parecido comZeus, da mitologia grega. Os dois li-dam com a justiça, com raios e ambossão grandes chefes, exercem poder so-bre os outros deuses. Oxum é a deusado amor e da beleza, como Vênus.Exu, o mensageiro do panteão, equi-vale a Hermes, e assim por diante. Nasregiões politeístas, que é o caso dessasreligiões, há uma divisão de trabalhoentre os deuses, o que nos leva a esta-belecer tais aproximações. É até possí-vel que os deuses africanos e gregostenham origens comuns, mas não hápesquisa conclusiva que nos permitaafirmar com segurança. •

PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 79

Page 80: Nanochips do futuro

LIVROS

Por um programa de educação ambientalEspecialistas discutem meios de delinear políticas públicas sobre o tema

DANIEL JOSEPH HOGAN

Ambientalismo e Par-ticipação na Contem-poraneidade é uma

coletânea de textos resul-tantes do ciclo de seminá-rios com o mesmo nome,realizados na Faculdade deSaúde Pública da Universi-dade de São Paulo (USP),como parte das atividadesprevistas no projeto Avalia-ção de Processos Participativos em Programas deEducação Ambiental: Subsídios para o Delineamen-to de Políticas Públicas, financiado pela FAPESPpor meio do Programa de Pesquisas em PolíticasPúblicas. A coordenação do trabalho foi feita porMarcos Sorrentino.

O livro apresenta uma discussão dos princi-pais eixos do pensamento necessários para conce-ber, implementar e monitorar um programa deeducação ambiental. Novos paradigmas teóricos(a referência é Boaventura Souza Santos); partici-pação como direito, como fenômeno social, psi-cológico e filosófico; e aspectos de avaliação deprojetos de intervenção são discutidos por 11 es-,pecialistas no assunto, que trazem ao tema daparticipação longas folhas de serviços prestadosnos diversos aspectos que compõem o quadro.

Não é um livro sobre a educação ambiental,mas para a educação ambiental e para todos osinteressados na questão da relação entre partici-pação, democracia e um novo paradigma de socie-dade. A confusão conceitual instalada com o sur-gimento de novos atores sociais e novas formas deação social nas últimas décadas é tratada aquicom competência e clareza. As associações reli-giosas, as comunitárias, de mútua-ajuda, de clas-se, de defesa da cidadania e as organizaçõesnão-governamentais (ONGs) não são iguais nasorigens, objetivos e participantes. Igualar tudo porbaixo sob a rubrica de ONG faz vista grossa delongas tradições de pesquisa nas ciências sociais.

Ilse Scherer- Warren coloca ordem nessa dis-cussão e prepara o terreno para uma discussão

ambientalismo eparticipação na

coutcmporaneidade1-:""=,.,:-:.==,,.-=

80 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

mais conseqüente. Lúcia daCosta Ferreira analisa o am-bientalismo da década de1990 não como um somató-rio das ações de ONGs, mascomo movimento social, daperspectiva da ação social.Trabalhos como esses contri-buirão para uma visão maiscrítica do processo participa-tivo e, conseqüentemente,para uma educação ambien-tal mais coerente.

O livro inclui, também, ensaios sobre direito(Dalmo Dallari) e poder (Carlos Walter P. Gon-çalves), entre outros assuntos. Estudos sobre rea-lidades concretas incluem o capítulo de SuzanaPasternak Taschner, resumindo seu trabalho re-cente sobre São Paulo.

Todos os autores convergem na centralidade doprocesso participativo como constituinte da sus-tentabilidade. A sustentabilidade, ou o desenvolvi-mento sustentável, é multi dimensional, não serestringindo apenas aos processos ecológicos. A di-mensão sociopolítica tem como ponto central aparticipação dos indivíduos nas decisões que afe-tam suas vidas. A essência ética do desenvolvimen-to sustentável implica que não só os fins, mas tam-bém os meios, são parte necessária do processo.Nesse sentido, o comprometimento e o engaja-mento dos indivíduos na definição dos destinoscoletivos - incluindo as relações natureza/socieda-de - são fundamentais para configurar um novoquadro de valores, sem o qual não há perspectivada sustentabilidade. Visto desse ponto de vista, oambientalismo não é um lobby a favor do verde,mas um movimento que luta para integrar os es-forços progressistas contemporâneos para fazer va-ler a cidadania.

Ambientalismoe Participação naContemporaneidade

Coordenação deMarcosSorrentino

Educ/FAPESP

229 páginasR$ 27,50

DANIEL JOSEPH HOGAN é professordo Departamento de Sociologiae Coordenador do Núcleo de Estudosde População da UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp).

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LANÇAMENTOS .

o Preço da LeituraEditora ÁticaMarisa Lajolo e Regina Zilberman183 páginas / R$ 29,90

Em geral, o tema costuma inspirarrelatos apaixonados e nostálgicos,mas as pesquisadoras decidirammostrar de que forma a realidadetoca a genialidade. Assim, o novoângulo é a maneira como o escritorse insere no universo capitalista

como um profissional da escrita, em especial ao longoda história da sociedade brasileira. São discutidos a fundoa noção de autor, propriedade literária e valor da obrade ficção, seja no seu aspecto estético, seja no econômico.Também descobrimos como Brasil e Portugal tinham leisatrasadas sobre direitos de autores. Leitura indicada.

Espaços de Representação daLoucura: Religião e PsiquiatriaPapirus EditoraAna Lúcia Machado127 páginas / R$ 21,00

Ana Lúcia Machado reúne doiscampos que por muito tempoficaram apartados: religiãoe psiquiatria. Num estudo bemarticulado, a pesquisadora discutecomo esses dois locus são espaços

importantes de representação social da loucura, paraambos um total descontrole do homem. Ana traz ummodelo alternativo para o tratamento da chamada loucura,que rejeita o manicômio e dá novas estratégias de cura.

E 5 P A ç o 5 DE

REPRESENTAÇÃO

DA lO U c U R A-~ ( l I G I A o E,, S I QUI" T R I ~

A Alegoria'do PatrimônioEstação Liberdade e Editora UNESPFrançoise Choay282 páginas / R$ 34,00

A defesa do patrimônio histórico. e artístico, hoje, é um fato que nãose questiona. Mas como se podeexplicar esse desejo de conservarobras, prédios e cidades e de queforma essa vontade acabou por

se tornar um desafio para todos os Estados civilizadosdo globo? Segundo Françoise Choay isso não se explicasó pelos óbvios conceitos de valor cognitivo e artístico,mas tem raízes mais obscuras. Esse é justamenteo tema deste estudo fascinante. Para ela, as respostassão duplas: um desejo narcisístico de se reconciliarcom o passado e ao mesmo tempo a angústiapela constatação da competência antiga de edificação,que cremos perdida.

REVISTAS

Estudos Avançados2001 - volume 43

Retomando um assunto cujaanálise foi iniciada no número 31,

EsruoosAv",,,,,,,oos 43 de 1997, a revista da Universidadede São Paulo agora encerra o ciclode discussão com um dossiê sobreo desenvolvimento rural. Entre

'iff::rOil,;,oenlo vários artigos: Velhos e NovosMitos do Rural Brasileiro, de JoséGraziano da Silva; Propriedade,

Estrutura Fundiária e Desenvolvimento Rural, de PedroRamos; O Futuro da Sociologia Rural e sua Contribuiçãopara a Qualidade da Vida Rural, de José de SouzaMartins; O Brasil Rural Ainda não Encontrou seu Eixode Desenvolvimento, de José Eli da Veiga; Os Dilemasdo Desenvolvimento Agrário, de Washington Novaes;e O Absurdo da Agricultura, de José Lutzenberger.

Revista Brasileirade Informação Bibliográficaem Ciências Sociais2001 - número 50

A publicação semestral editadapela Associação Nacionalde Pós-Graduação e Pesquisaem Ciências Sociais (ANPOCS)traz em seu volume mais recenteos seguintes textos: Política

Regulatória: Uma Revisão de Literatura, de MarcusAndre Melo; Violência, Criminalidade, SegurançaPública e Justiça Criminal no Brasil: Uma Bibliografia,de Roberto Kant de Lima, Michel Misse e Ana PaulaMendes de Miranda; Teorias Econômicas Aplicadas aoEstudo da Religião, de Alejandro Frigerio; entre outros.

Cadernos de Pesquisa daFundação Carlos Chagas2001 - número 113

A revista quadrimestral da FundaçãoCarlos Chagas traz como temade destaque de sua ediçãode julho a pesquisa em educaçãocom os seguintes artigos:Identidade de Pesquisas Qualitativas,de Ana Cristina Leonardos;

Relevância e Aplicabilidade da Pesquisa em Educação,de Alda Iudith Alves-Mazzotti; Implicações e Perspectivasda Pesquisa Educacional no Brasil Contemporâneo,de Bernadete Gatti. Ainda neste volume: A DialéticaMicro e Macro na Sociologia da Educação, de ZaiaBrandão; O FUNDEF e os Equívocos na Legislação eDocumentação Oficial, de Nicholas Davies; entre outros.

PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 81

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~}RTE FINA

LAERTE

QUISA FAPESP82 • FEVEREIRO DE 2002 • PES

Page 83: Nanochips do futuro

~::...-.-;;;GOVERNO 00 ESTADO DE

SÃO PAULO

Secretaria daCiência, Tecnoloqiae DesenvolvimentoEconômico #tJAPESP

Rua Pio XI, 1500 - Alto da Lapa05468-901 - São Paulo - SPTe!.: (11) 3838-4000www.fapesp.br

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o módulo FAP-Livros - que se tornou autônomo - eaprovados 1.044 projetos, enquadrados nos quatro mó-dulos restantes. Em 1998, no Infra IV, o módulo de fi-nanciamento de equipamentos multiusuários foi incor-porado às linhas permanentes de fomento da FAPESP,sendo, portanto, excluído do programa, e dois novosmódulos foram acrescentados para apoiar museus e ar-quivos. Naquele ano, 1.053 projetos foram aprovados.Foi realizado também uma nova fase do FAP-Livros,sendo aprovados 191 projetos. O Infra V, lançado em1999, foi dividido em dois grandes módulos: o de trata-mento de resíduos químicos e o de centros de informa-ções, incluindo bibliotecas, museus e arquivos. Nestafase foram aprovados 76 projetos e 86 encontram-se emanálise. Os investimentos já somam R$ 8.125.698,06(ver tabelas 1 e 2).

A revista Pesquisa FAPESP tem publicado, desde oano passado, uma série de suplementos especiais comreportagens sobre as diversas áreas de pesquisa beneficia-das. O primeiro Suplemento Especial, publicado juntocom a edição n= 63 da revista Pesquisa FAPESP, apresen-

INFRA-ESTRUTURA 4

Vocação para a pesquisaLaboratórios paulistas se equiparam aos melhores do mundo

Em1994,quando implantou o Programa de In-

fra-Estrutura, a FAPESP quebrou um para-digma: o de que agências de fomento deveriamfinanciar exclusivamente bolsas e auxílios àpesquisa, mas não a reforma e modernização

de laboratórios, isto é, sua infra-estrutura. Os resultadosdo programa mostram que a FAPESP estava certa. Des-de o início do Infra, a FAPESP destinou um total de R$505.215.402,68 para financiar 4.474 projetos de moder-nização de infra-estrutura apresentados pelas diversasáreas de pesquisa das universidade estaduais e federais einstitutos de pesquisa estaduais, federais e municipaislocalizados no Estado de São Paulo.

Na sua primeira fase, em 1995, o Infra I financiou849 projetos, divididos em dois módulos, o de infra-estrutura geral e o de biotérios. No Infra 11,de 1996,aprovou 1.261 projetos, desta vez em cinco módulos:equipamentos especiais multiusuários, redes locais deinformática, infra-estrutura para bibliotecas, FAP-Li-vros - destinado a compra de acervo de bibliotecas - einfra-estrutura geral. No Infra I1I, de 1997, foi excluído

PESQUISA FAPESP

Page 88: Nanochips do futuro

tou os resultados dos investimentos do Programa de In-fra-Estrutura na revitalização de bibliotecas, museus earquivos. O segundo Suplemento Especial, que acompanhaa edição nv 64 da Pesquisa FAPESP, mostra os investimen-tos e o impacto da implantação das redes de informática naprodução científica paulista. O terceiro Suplemento Es-pecial, que circulou com a edição nv 66 da revista, reu-niu reportagens sobre os resultados do apoio do programanos laboratórios das áreas de Ciências Agrárias e Veteri-nárias, Biologia e Saúde. Neste suplemento, o foco dasatenções são os laboratórios de Física, Química e Enge-nharia e as áreas de Ciências Humanas.

Nas tabelas 3, 4 e 5 estão apresentados os recursos li-berados para os laboratórios de pesquisa. Além de com-putar os recursos do programa no módulo de apoio àinfra-estrutura geral, foram incorporados, ainda, dadose valores dos invetimentos do módulo equipamentosmultiusuários, já que eles destinaram-se aos laboratóriosde pesquisa, e dados e valores do módulo de tratamentode resíduos químicos, mais uma etapa na modernizaçãodos laboratórios.

Ao todo, nesses três módulos, o programa destinouR$ 329,5 milhões para apoiar 2.751 projetos de reformae modernização de laboratórios das universidades e ins-

OS NÚMEROS DO INFRA(Situação em 30.11.2001)

INFRA I INFRA 11 INFRA 111 INFRA IV INFRA V

1.103 3.017 1.824 1.797 570

247 1.745 750 734 407

849 1.261 1.044 1.053 76

7 11 30 10

849 1.257 1.029 , 1.015

87

O INVESTIMENTO NO PROGRAMA(Situação em 30.06.2001)

PROJ. APROVADOS VALORES R$

INFRA I 849 76.901.764,51

INFRA 11 1.261 146.469.282,89

INFRA 111 1.044 121.011.151.69

INFRA IV 1.053 136.642.624,17

INFRA V 76 8.125.698,06

FAP-LlVROS IV 191 16.064.881,36

TOTAL 4.474 505.215.402,68

2

titutos de pesquisas sediados em São Paulo, em todas asáreas do conhecimento.

Engenharia, Física e Química - Nas áreas de Engenharia,Física e Química, o total de recursos ultrapassou a casa dosR$ 124milhões. Além da Universidade de São Paulo (USP),Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Univer-sidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade Es-tadual Paulista (Unesp) foram beneficiados com recursosdo Programa de Infra-Estrutura importantes institutosde pesquisa estaduais e federais como o Instituto de Pes-quisas Tecnológicas (IPT), da Secretaria Estadual de Ciên-cia, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, o Institutode PesquisasEnergéticas eNucleares (Ipen) e o LaboratórioNacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Ministério daCiência e Tecnologia (MCT). Na área de Ciências Hu-manas, foram beneficiados 168 projetos com um total derecursos da ordem de R$ 16,7 milhões.

De forma semelhante ao que ocorria com os labora-tórios das áreas de Ciências Agrárias, Biologia e Saúde,os laboratórios da áreas de Engenharia, Física, Químicae Ciências Humanas também estavam bastante deterio-rados quando do surgimento do Programa. Durantemais de duas décadas, as condições de trabalho nos la-

boratórios das universida-des públicas paulistas e nosinstitutos representaramuma séria limitação ao tra-balho dos pesquisadores.Faltavam equipamentos einstalações adequadas. So-bravam rachaduras, vaza-mentos e até cupins. No La-boratório de Física Nuclearda USP, em São Paulo, porexemplo, a torre de 40 me-tros de altura que abriga-va o acelerador Pelletron,construída há 30 anos, cor-ria o risco de rachar. Na Uni-camp, os quatro departa-

mentos do Instituto de Física Gleb Wataghin, sofriamcom constantes interrupções no fornecimento de ener-gia elétrica. O Programa de Infra-Estrutura da FAPESP,em suas diversas fases, destinou R$ 32,1 milhões paraapoiar reformas propostas em 235 projetos na área deFísica. Boa parte desses recursos foi empregada na subs-tituição das redes elétricas, hidráulicas e no sistema derefrigeração, adequando o fornecimento de energia àdemanda das pesquisas e permitindo a instalação deequipamentos modernos.

Nos laboratórios de Química a situação não era dife-rente. Recursos da ordem de R$ 37,8 milhões do Progra-ma de Infra-Estrutura para 262 projetos foram funda-mentais para que os laboratórios operassem com mais

FAP

LIVROS IV TOTAL

209 8.520

12 3.895

191 4.474

6 64

46 4.197

87

PESQUISA FAPESP

Page 89: Nanochips do futuro

A DEMANDA POR RECURSOS(Situação em 30.11.2001)

PROJETOS FASE I FASE 11 FASE 111 FASE IV FASE V TOTALINFRA BIOTÉRIOS INFRA EQUIP. INFRA EQUIP. INFRA RESíDUOS

GERAL GERAL MUlTIUSUÁRIO GERAL MUlTIUSUÁRIO GERAL

1.005 98 1.209 642 939 364 1.050 52 5.359

226 21 772 431 441 174 465 33 2.563

772 77 432 209 494 169 580 18 2.751

7 5 2 4 21 5 44

Concluídos 770 77 432 207 489 163 559 2.697

OS RECURSOS LIBERADOS(Situação em 30.11.2001)

MÓDULOS FASE I

PROJ. VALOR

APROV. R$

FASE IVPROJ VALOR

APROV. R$

FASE VPROJ VALOR

APROV. R$

FASE 11PROJ. VALOR

APROV. R$

FASE 11IPROJ. VALOR

APROV. R$

Infra Geral 772 66.903.432,73

9.998.331,78

432 50.255.342,56 494 47.661.149,53 580 68.796.334,86-

77

209 46.393.822,41 169 36.045.745,23

18

INVESTIMENTO POR ÁREA DO CONHECIMENTOsegurança. Hoje, eles estão equipados para desenvolverpesquisa de ponta com refratários, nanossensores, sínte-se de feronômios ou biossensores, apenas para citar al-guns exemplos.

As tradicionais escolas e institutos de engenhariapaulistas também tinham suas atividades de pesquisascomprometidas pela péssima qualidade das instalações.Um dos maiores problemas era a falta de espaço e as os-cilações freqüentes de energia, que acabavam por quei-mar placas e filamentos, causando prejuízos consideráveis.O Programa de Infra- Estrutura aprovou as propostas dereformas de 544 projetos e destinou R$ 54,2 milhõespara o financiamento de modernização das instalações eequipamentos.

A área de Ciências Humanas também foi beneficia-da. Foram aprovados 168 projetos que contaram comrecursos da ordem de R$ 16,7 milhões para reformas emodernização das instalações.

Este suplemento, que circula junto com a edição n-72 da Pesquisa FAPESP, traz reportagens de Silvia Men-des, Maria Aparecida Medeiros e Marcelo Tamada. Aedição deste suplemento é de Claudia Izique, e a diagra-mação, de Luciana Facchini. •

N° PROJETOS CONTRATADOS VALOR (R$)

404 57.896.935,62

17 1.727.877,58

10 768.487,70

325 38.156.780,30

9 876.610,65

544 54.282.050,82

235 32.134.791,17

113 11.022.161,28

Humanas e Sociais 168 16.730.476,08

Interdisciplinar 1 232.436,00

52 8.954.915,43

262 37.823.170,28

611 68.955.252,13

329.561.945,04

PESQUISA FAPESP 3

Page 90: Nanochips do futuro

• FíSICA

Programa cria bases sólidaspara o avanço das pesquisasReformas modernizam universidades paulistas

Ao criar condições defuncionamento adequado aosequipamentos, o Programa deInfra-Estrutura deu uma basesólida para o ensino e o avançodas pesquisas no Estado, aomesmo tempo em que ajudoua preservar e ampliar um patri-mônio incalculável em termosde instalações, ferramentasde precisão e computadores."Sem laboratório, não há físi-ca': define o diretor do Insti-tuto de Física da Universida-de de São Paulo (USP), SilvioRoberto de Azevedo Salinas.

Por meio do módulo e-quipamento multiusuário,muitos laboratórios pude-ram adquirir equipamentosde última geração, aumen-tando sua capacidade produ-tiva e a qualidade dos traba-lhos publicados. Na UFSCar,o professor Wilson AiresOrtiz, do Grupo de Supercon-dutores e Magnetismo, ins-talou, com recursos do Pro-

grama, um Squid (SuperconductingQuantum Interference Device), sen-sor de campo magnético de alto al-cance que permite analisar materiaisautomaticamente e com precisão. Apossibilidade de ter um equipamen-to desses foi fundamental para aprodução de novas teses, formar re-cursos humanos e expandir a fron-teira das áreas. "Estamos trabalhan-do num laboratório como poucosno mundo", diz Ortiz. O professorRettori concorda. "Nossa pesquisatem que ser competitiva, e nós ja-mais conseguiríamos chegar a issocom uma Infra-Estrutura de 30anos atrás." •

Durante mais de

duas décadas,as condições detrabalho nos la-boratórios de

física das universidades pú-blicas de São Paulo impuse-ram sérios limites ao trabalhodos pesquisadores, contrarian-do todo o esforço na busca damáxima precisão. Por falta deinvestimentos em Infra-Es-trutura, as instalações foramse tornando precárias, com-prometendo o desenvolvimen-to das pesquisas.

"Tínhamos dinheiro eequipamentos sofisticadospara tocar as pesquisas, masfaltava o básico", diz Vander-lei Salvador Bagnato, do Ins-tituto de Física da Universi-dade de São Paulo (USP), emSão Carlos. A lista dos proble-mas denunciava a iminentefalência dos centros de pes-quisa: faltavam bancadas,mesas, sistemas adequadosde fornecimento de gases, ilumina-ção, refrigeração, ar-condicionadoe, ainda mais grave, água e energiaelétrica.

O Programa de Infra-Estrutu-ra da FAPESP financiou a moder-nização dos laboratórios de Física,destinando R$ 32,1 milhões a 235projetos distribuídos pelos labo-ratórios de diversas instituições depesquisa. Foram beneficiados, porexemplo, os institutos da USP, tantoem São Paulo com no campus deSão Carlos, da Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp) e daUniversidade Federal de São Carlos(UFSCar).

Gás armazenado na Oficina de Criogenia, da Unicamp

, Boa parte desses recursos foi em-pregada na substituição das redeselétricas, adequando o fornecimentoà crescente demanda de energia ge-rada com a aquisição de equipamen-tos modernos, e na instalação de sis-temas de ar-condicionado. "Hoje nóstemos equipamentos altamente sen-síveise sofisticados,que requerem umaInfra- Estrutura confiável do pontode vista de estabilidade da rede elé-trica, bons aterramentos, estabilida-de da temperatura ambiente do la-boratório e da água de refrigeraçãodos equipamentos", destaca o profes-sor Carlos Rettori, do Instituto de fí-sica da Unicamp.

PESQUISA FAPESP4

Page 91: Nanochips do futuro

Da obsolescência àvanguarda da física nuclearLaboratórios da USP estão entre os melhores do mundo

oslaboratórios de físicada Universidade deSão Paulo (USP) estãoentre os mais bem e-quipados do mundo.

Sua Infra-Estrutura permite o de-senvolvimento das mais avançadaslinhas de pesquisas básicas e apli-cadas nas áreas de física nuclear eatômica, nanociências, óptica, fo-tônica, biofísica molecular e espec-troscopia, entre outras. O Progra-ma de Infra-Estrutura da FAPESPcontribuiu para que esses laborató-rios ganhassem posição de destaqueno cenário internacional, destinan-do recursos para a recuperação eampliação dos prédios, reforma dasinstalações elétricas e hidráulicas emodernização dos equipamentos.

No Laboratório de Física Nucle-ar da USP, em São Paulo,por exemplo, os pesqui-sadores participam deprojetos arrojados. Embo-ra as pesquisas sejam deinteresse puramente acadê-mico, envolvem experi-mentos que resultam nu-ma gama enorme deinformação e numa sériede equipamentos comaplicação em outras áreasdo conhecimento. "Hojeem dia, grande parte da ci-ência ambiental é baseadaem estudos e técnicas defísica nuclear. Uma grandeparte da instrumentaçãousada em ciência de mate-riais tem sua origem e fun-damento em técnicas eidéias desenvolvidas na fí-sica nuclear", exemplificaAlejandro Szanto Toledo,

PESQUISA FAPESP

coordenador do Laboratório Aber-to de Física Nuclear da Universidadede São Paulo (USP). Os equipamen-tos da física médica, como os apare-lhos de radioterapia e os traçadorespara diagnóstico em medicina nu-clear e na investigação biogenética,também são importantes subpro-dutos da física nuclear.

Mas essa posição de destaque dolaboratório é recente. Há cerca de cin-co anos, havia problemas que iamdesde o desgaste da estrutura físicado prédio até a limitação impostapor equipamentos ultrapassados.Até a torre de 40 metros de alturaque abriga o coração do laborató-rio, o acelerador Pelletron - equi-pamento que permite precipitar osnúcleos dos átomos uns sobre osoutros -, corria o risco de ser inter-

ditada. A estrutura de concreto,construída há mais de 30 anos, cor-ria o risco de rachar. Não haveria orisco de contaminação do meio am-biente, já que o laboratório só tra-balha com elementos radioativosde vida curta, mas paralisaria todaa atividade do laboratório.

Com a reforma do prédio, toda ainstalação elétrica e hidráulica foi re-feita, assim como a instalação de ar-condicionado e de ar comprimido."Estamos em pé de igualdade com asmelhores universidades da Europa edos Estados Unidos': garante o pes-quisador.

O grupo coordenado por Toledoparticipa de pesquisas que buscamprovas experimentais do exato mo-mento em que ocorreu o Big Bang.Esse trabalho é feito em conjunto com

Torre de 40 metros que abrigava o acelerador Pelletron corria risco de ser interditada

5

Page 92: Nanochips do futuro

• FíSICA

Nanociência: uma grande revoluçãoUm dos temas mais excitan-

tes no mundo científico, atual-mente, é a Nanociência. Na escalanano, os pesquisadores trabalhamcom partículas na proporção damilionésima parte do milímetro,o que significa poder manipularátomos individualmente. Paratanto, é preciso uma Infra-Estru-tura laboratorial sofisticada. "OBrasil já participa do seleto gru-po de países com tecnologia deponta': diz José Roberto Leite,chefe do Laboratório de NovosMateriais Semicondutores doInstituto de Física da Universi-dade de São Paulo (USP).

O Brasil montou uma estru-tura na pesquisa de Nanociênciana década de 80, quando foraminvestidos recursos na aquisiçãode equipamentos para pesquisa.Atualmente há 49 instituiçõesbrasileiras que pesquisam temas

pesquisadores do Relativistic HeavyIon Colider (RHIC), em Brookhaven,Nova York, um dos maiores labora-tórios do mundo capacitados parapesquisas que envolvem alta ener-gia. "Essa participação só foi pos-sível graças à excelente Infra-Estru-tura do nosso laboratório", explica opesquisador.

Os recursos da FAPESP permi-tiram ainda a modernização do la-boratório. Foram adquiridos váriosequipamentos periféricos, como de-tectores e câmaras, que permitemanalisar as partículas liberadas coma explosão do núcleo. "Hoje, 90% doinstrumental de detecção e obser-vação vem de recursos da FAPESP,tanto dos programas de Infra-Es-trutura como de auxílio em diversosprojetos temáticos,"

Com os novos investimentos, acapacidade do laboratório dobrou."No passado, chegávamos a apro-veitar apenas 20% do tempo de ope-

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relacionados à Nanociência, 75%na região Sudeste. Alguns desseslaboratórios possuem máquinassofisticadas, de última geração -raios X de alta resolução, micros-cópios eletrônicos, lasers, bobinassupercondutoras, espectrômetrosópticos e de massa por íons secun-dários, etc. "No Estado de São Pau-lo, o Programa de Infra-Estruturada FAPESP foi fundamental paracriar as condições ideais de funci-

Leite: manipulando partículas de átomos

onamento desses equipamentos':afirma Leite.

A Nanociência, acredita-se,será agente de uma revolução comefeitos comparáveis aos da po-pularização do transistor nas dé-cadas de 40 e 50. Estima-se que,atualmente, o mercado anual deprodutos originados da Nanociên-cia gire em torno de US$ 250 bi-lhões por ano, entre eles, os tran-sistores de alta velocidade usados

nos telefones celulares,radares anticolisão, te-levisão digital de alta re-solução e comunicaçãovia satélite e os lasers se-micondutores usadosnos CDs e DVDs, etc."Certamente a Nanoci-ência nos trará o com-putador quântico dofuturo", aposta o pes-quisador.

lerador linear supercondutor,que deverá expandir aindamais as atividades do labo-ratório. O novo equipamen-to tem capacidade equiva-lente a quatro aceleradoresPelletron, e foi em grandeparte financiado pela FA-PESP, incluindo toda a obracivil necessária para sua ins-talação. "É um equipamen-to de última geração, que u-

tiliza supercondutividade, o quedeverá abrir uma porta para essanova tecnologia no Brasil", afirmao pesquisador. Enquanto a visibili-dade do laboratório cresce, aumen-tam as perspectivas de participaçãonacional nos grandes projetos in-ternacionais. "Dentro de dez ou 15anos haverá uma resposta muitoclara para questões sobre a forma-ção do universo, e o Brasil temgrande chance de estar envolvidonisso", afirma. •

ração da máquina. Os outros 80%eram perdidos em função de fre-qüentes problemas na manuten-ção", conta Toledo. Hoje o acelera-dor funciona 24 horas por dia, nossete dias da semana. Com a opera-ção mais confiável, a produtivida-de aumentou. "Nossa média atual éde dois trabalhos por ano por pes-quisador, publicados nas melho-res revistas internacionais", afirmaToledo. Até o final deste ano deve-rá entrar em operação um pós-ace-

PESQUISA FAPESP

Page 93: Nanochips do futuro

uando retornou dosEstados Unidos apósconcluir o curso dedoutorado no Massa-chusetts Institute ofTechnology (MIT), em

Cambridge, em 1987, para traba-lhar na área de física atômica noInstituto de Física da USP, em SãoCarlos, Vanderlei Salvador Bagnatojamais poderia supor que, 15 anosdepois, estaria coordenando umdos mais avançados, produtivos ebem equipados centros de pesquisado país. A Infra-Estrutura que en-controu não lhe permitia sonhartão alto. Assim como tantos outrospesquisadores que passaram anosno exterior e retornaram, em mea-dos dos anos 90, Bagnato teve de ar-regaçar as mangas e começar prati-camente do zero.

Nos primeiros seis anos de tra-balho, o principal desafio foi criaras condições mínimas necessárias àatividade de pesquisa. A cada proje-to, uma pequena parte da verba era

Um marco histórico paraa expansão das pesquisasFísica da USp, em São Carlos, faz lasers para medicina

Instituto está entre os mais avançados, produtivos e bem equipados do país

destinada a corrigir problemas narede elétrica, hidráulicae refrige-ração, caso contrário, não haveriameios de ligar os equipamentos.

Como os recursos eram insuficien-tes para uma obra planejada, tudoera feito na base do improviso. "Na-quela época havia tantos fatores ex-

Soluções para agricultura e saúdeo grupo de pesquisa em Bio-

física Molecular e Espectroscopia,da USP, em São Carlos, tambémcontou com recursos do Progra-ma para trocar as velhas banca-das e a capela, que não tinha boaexaustão. ''Antes de podermos con-tar com o Programa, não haviaum sistema adequado de venti-lação e refrigeração artificiais",diz Leila Maria Beltramini, coor-denadora.

PESQUISA FAPESP

A falta de Infra-Estruturatambém comprometia o funcio-namento de equipamentos comocromatógrafos, utilizados para se-paração e purificação de amos-tras e espectrômetros, utilizadosna análise de amostras purifica-das. O sistema de refrigeração,com 12 anos de uso, estava ultra-passado e sobrecarregado. A todosesses problemas somava-se ain-da outro sério fator de risco: a in-

tensa sobrecarga na rede elétrica.''Atualmente, nossos laboratóriosequiparam-se aos do primeiromundo", diz Leila. O objeto deestudo do grupo, a estrutura deproteínas extraídas de fontes na-turais, proteínas recombinantes(obtidas pelas técnicas de enge-nharia genética) e metaloproteí-nas, é de grande interesse paraáreas como a da saúde e da agri-cultura. O grupo também veminvestigando alguns mecanismosde interação e transporte atravésde membranas biológicas.

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Page 94: Nanochips do futuro

• FíSICA L-------------:3

Na Oficina Mecânica, daUSP, em São Carlos, fabrica-sedesde um simples parafuso atéengrenagens sofisticadas. Suamodernização foi uma das prio-ridades do Instituto de Física naapresentação de projetos para oPrograma de Infra-Estrutura,conta o diretor do instituto, Ho-rácio Carlos Panepucci.

O investimento foi funda-mental para ampliar seu espaçoe instalar equipamentos quepermitissem atender à atual de-manda dos laboratórios. Hoje, os540 m' da Oficina Mecânica dis-põem de tornos e fresadores, al-guns com comando digital econtroladores numéricos. Em

ternos comprometendo o trabalhoque nós não podíamos garantir se oexperimento iniciado hoje teria con-tinuidade amanhã ou se estaria to-talmente perdido", afirma Bagnato.

A solução definitiva só veio apartir de 1995, com os recursos doPrograma de Infra-Estrutura da FA-PESP. "Tínhamos lasers de US$ 500mil, mas o chão não era apropriado,as mesas não eram firmes e nem aenergia suficiente para ligá -los",conta. A reforma beneficiou todo oInstituto de Física. Os laboratóriosganharam novas instalações elétri-cas, com uma linha de voltagem es-pecial e sistema de ar-condicionadocentral. Os problemas com a águaforam resolvidos com a construçãode um sistema fechado, que permiteque a água volte a ser refrigerada,após o uso, podendo ser reutilizada.Todos os prédios do instituto ganha-ram uma proteção especial contraraios. "Antigamente, a cada tempes-tade queimavam-se de dois a seiscomputadores e outros equipamen-tos", conta o pesquisador.

Na opinião de Bagnato, a orga-nização dos bastidores proporcio-

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Atendimento sob medidauma ala devidamente climatiza-da, estão as máquinas mais sofis-ticadas adquiridas por meio domódulo Equipamento Multiu-suários, como a Discovery 4022,um centro de usinagem que exe-cuta, com precisão de centési-mos de milímetro, peças proje-tadas em programas, como oAutocad.

Ressonância magnética para a San~a Casa

nada pelo programa foi um marcohistórico. Exemplo disso está nopróprio Centro de Pesquisa em Óp-tica e Fotônica, um dos dez Cen-tros de Pesquisa, Inovação e Difu-são (Cepids) formados com apoio daFAPESP, coordenado por Bagnato epor Carlos Henrique de Brito Cruz,diretor do Instituto de Física da Uni-campo O centro reúne pesquisadoresda USP-São Carlos, Unicamp e Ins-tituto de Pesquisas Energéticas e Nu-cleares (Ipen). Na extensa lista deprojetos, oito já resultaram em pa-tentes registradas.

Na área da física atômica, Bag-nato busca alcançar a condensaçãoBose- Einstein, um estado da maté-ria em que os átomos se encontram

Não menos importante foi ainstalação de um setor de metro-logia de precisão para medidasde dureza e rugosidade de super-fícies e para aferição e calibragemcom uso de bloco padrão. "Mui-tas vezes o que o pesquisador ne-cessita é de um produto que elepróprio criou, com uma finalida-de bem específica", conta Pane-

pucci. A Oficina cons-truiu, por exemplo, umaparelho de ressonânciamagnética que está ins-talado na Santa Casa deSão Carlos. Toda a tec-nologia, das peças aosoftware, foi desenvol-vida no campus.

paralisados. Também coor-denou o projeto que resultouna construção do primeirorelógio atômico da AméricaLatina amplamente utiliza-do em telecomunicações.Agora, ele está investindo naconstrução do Fauntain, umchafariz atômico. "São osnovos padrões de tempo efreqüência, uma tecnologia

na qual, por enquanto, poucos paí-ses estão investindo", afirma.

Na Oficina de Óptica, as pes-quisas estão focadas no desenvol-vimento de lasers para medicina eodontologia. Atualmente, o centromantém parceria com a Faculdadede Medicina da USP em RibeirãoPreto, com o Hospital Amaral Car-valho, de Iaú, a Faculdade de Odon-tologia da Unesp, em Araraquara, ea Faculdade de Odontologia de Bau-ruoUm dos trabalhos desenvolvidosé a implantação da técnica de foto-terapia dinâmica para tratamentode câncer, uma técnica extrema-mente moderna, que compete comquimioterapia e radioterapia emmuitos casos. •

PESQUISA FAPESP

Page 95: Nanochips do futuro

Durantecerca de 30 anos,

pesquisadores e alunosdos quatro departa-mentos do Instituto deFísica Gleb Wataghin,

na Unicamp, enfrentaram sérias di-ficuldades de trabalho. A falta deinvestimentos na manutenção doslaboratórios fez acumular uma sé-rie de problemas, como a obsoles-cência da rede elétrica. ''A Infra-Es-trutura dos laboratórios não tinhaacompanhado a evolução tecnoló-gica das últimas décadas': afirmaCarlos Rettori, coordenador doGrupo de Propriedades Opticas eMagnéticas dos Sólidos do Depar-tamento de Eletrônica Quântica. Eranecessário garantir, no mínimo, con-dições adequadas de funcionamen-to de equipamentos computadori-zados, propiciando boa estabilidadede temperatura e de energia.

A atualização dos laboratóriosexigiu um investimento alto e con-

Qualidade fortaleceintercâmbio com o exteriorInstituto de Física da Unicamp investe em instalações

Departamento de Eletrônica Quântica incorporou novas tecnologias

tou com o apoio do Programa deInfra-Estrutura da FAPESP.Duranteo período de obras, tudo teve de serdesligado, acarretando prejuízospara o andamento das pesquisas e a

Ofldna.de CriogeniaNo ano passado, o Instituto de

Física da Unicamp consumiumais de 28 mil litros de gás héliolíquido. Boa parte das pesquisasexige baixíssimas temperaturas.No caso dos supercondutores, porexemplo, a temperatura mínimanecessária é de 130 graus Kelvin, oequivalente a cerca de 140°C abai-xo de zero. Assim, o líquido refri-gerante (criogênico) é usado paramanter esses materiais suficiente-mente frios, condição fundamentalpara que exibam a superconduti-

PESQUISA FAPESP

vidade. "Sempre que algum grupoadquire um sistema que requerresfriamento com hélio líquido,nosso consumo aumenta consi-deravelmente': explica Maria JoséPompeu Brasil, coordenadora doCentro de Criogenia. Os registrosdo centro mostram que, ano a ano,o consumo vem aumentando. Oapoio do centro é crucial para oandamento das pesquisas em la-boratórios, como os de Heteroes-truturas de Semicondutores, deMateriais Magnéticos e de Super-

conclusão das teses dos alunos. Mas,segundo Rettori, valeu a pena espe-rar. "Hoje temos instalações adequa-das, tanto do ponto de vista daquantidade de energia como da se-

condutores. Para reduzir os gas-tos com a compra de gás hélio, oCentro de Criogenia reaproveitao gás utilizado pelos laboratórios.Para dar conta da demanda, a ofi-cina teve de passar por uma gran-de reforma, que permitiu ampli-ar a área e readequar as redeselétrica e hidráulica. Foi precisotambém adquirir novos equipa-mentos, como um liquefator de hé-lio. Segundo a coordenadora, aaprovação dos projetos peloPrograma de Infra-Estrutura foifundamental para manter o setorem atividade e expandir a produ-ção de líquidos criogênicos.

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• FíSICA

.,

gurança, com bom aterramento eproteção contra raios': diz. Foi o fimdo caos que se instalava nos dias detempestade, quando os raios chega-vam a queimar várias máquinas ecomputadores. O sistema de nobreakacabou com os freqüentes apagões, quedesligavam equipamentos e destruí-am o trabalho de várias semanas. Nafase de preparação de amostras, porexemplo, os materiais geralmenteprecisam passar por um tratamentotérmico de uma semana. "Quandoisso é interrompido, volta-se à estacazero': explica Rettori. Já na etapa deanálise, a medição das propriedadesfísicas dos materiais é feita em equi-pamentos automatizados, previa-mente programados de acordo como tipo de experimento e que precisafuncionar 24 horas por dia. "Se eleentra em colapso, nós perdemos to-das as medições:'

Os recursos do programa tam-bém permitiram a instalação de umsistema de ar-condicionado centralque garantiu o bom funcionamento

Tecnologia doplasma

O Laboratório de Plasma In-dustrial desenvolve aplicações in-dustriais do plasma térmico. Oplasma é obtido com o aqueci-mento de gases a mais de 3.000graus centígrados. Experiênciasem temperaturas tão elevadas erauma tarefa impossível no anti-go laboratório, instalado numdos edifícios do Instituto de FísicaGlebWataghin, da Unicamp. "Nósprecisávamos de um local maisadequado", diz Aruy Marotta.Nos experimentos com plasma, apotência mínima exigi da nosexperimentos é de 10 quilowatts(kW), enquanto os demais labora-tórios consomem no máximo 1kW. Além disso, o laboratóriotem alto consumo de água e de

e conservação adequada dos equi-pamentos. "Temos máquinas muitosofisticadas e sensíveis às variaçõesde temperatura': diz Rettori. É o ca-so do espectrômetro de ressonânciaparamagnética eletrônica para me-didas por microondas, equipamen-to de US$ 1 milhão recentementeadquirido num projeto temático fi-nanciado pela FAPESP. "Um equi-pamento desse porte não poderiaser instalado se não tivéssemos umaboa Infra-Estrutura."

Hoje, os laboratórios operam apleno vapor, desenvolvendo pesqui-sas tanto na análise como no desen-volvimento de novos materiais se-

micondutores, que têm diversasaplicações em tecnologia eletrônicae óptica, e supercondutores.

Parcerias - O intercâmbio com insti-tuições no exterior está cada vezmais fortalecido. O grupo desenvol-ve projetos em conjunto com equi-pes importantes, como a de Los Ala-mos National Laboratory, no NovoMéxico; Florida State University, emTallahassee, Flórida; San Diego StateUniversity, em San Diego, Califór-nia; Rattgers University, Nova [ersey;Ames Laboratory, de Iwoa; Universi-dad Del Pais Vasco, Bilbao, Espanha;e Instituto Balseiro, em Bariloche,

Argentina.A competitividade do

grupo no cenário internacio-nal, segundo Rettori, se deveem boa parte aos recursosdo Programa e aos sucessi-vos projetos temáticos quegarantiram a continuidade eo financiamento das pesqui-sas nos últimos 12 anos. •

chado de água para re-frigeração do laborató-rio, com capacidadepara 55 metros cúbi-cos por hora, sistema degases criogênicos e dear comprimido, a cen-tral de gases e de exaus-tão e até um sistema desegurança com câme-ras, já que o novo labo-ratório fica em local

isolado e sujeito a roubos. Foraminstalados dois transformadores,sendo um de 500 kVAe 440 voltssó para a tocha de plasma. Hoje,Marotta desenvolve projeto emparceria com a Villares MetalsS.A.para a aplicação de uma tochade plasma na produção de aço. Osistema atualmente usado naVillares Metals propicia uma va-riação muito grande na tempe-ratura do metal, o que compro-mete a qualidade do produto.

Instalações especiais para aplicações de plasma

gases, o que requer um sistema deexaustão adequado para evitarriscos de intoxicação. " Sem insta-lações especiais não poderíamosdar prosseguimento ao trabalho,diz Marotta.

A Unicamp solucionou partedo problema cedendo terreno erecursos para a construção deum novo prédio. A outra parteficou por conta do Programa deInfra-Estrutura, que financiou aconstrução de um circuito fe-

10 PESQUISA FAPESP

Page 97: Nanochips do futuro

Reformas, competitividadee pesquisa de fronteiraSupercondutores no Departamento de Física da UFSCar

Recursos do Infra proporcionaram espaço e instalações adequadas para ~esenvolver pesquisa de fronteira

j\Péssimas condições detrabalho no laboratório doDepartamento de Física'do Centro de CiênciasExatas e de Tecnologia

da Universidade Federal de São Car-los (UFSCar) minavam o esforçodos pesquisadores para desenvolverpesquisas competitivas. Os proble-mas de infra-estrutura eram seme-lhantes aos encontrados nas uni-versidades estaduais e institutos depesquisa: rede elétrica inadequada,falta de ar-condicionado para man-ter equipamentos funcionando comsegurança e pouco espaço para aco-modar máquinas e pessoas.

Ao longo de 25 anos, o pequenodepartamento, criado com o objeti-

PESQUISA FAPESP

vo de ensinar física, cresceu. Mas,até meados da década de 80, a ativi-dade de pesquisa ainda era poucoexpressiva. "Em 1982, menos dametade dos cerca de 40 professoresdesenvolvia alguma atividade depesquisa", afirma Wilson Aires Or-tiz, coordenador do Grupo de Su-percondutores e Magnetismo.

Novos laboratórios - Não forampoucas as dificuldades que esse pe-queno grupo de pesquisadores tevede superar para estabelecer umainfra-estrutura laboratorial que oshabilitasse a desenvolver pesquisasde fronteira. Até o final de 1994,com recursos do Ministério daEducação (MEC), foi possível du-

plicar a área construída, criandonovos laboratórios didáticos e ofici-nas. Na mesma época, surgiram osprogramas de Infra-Estrutura daFAPESP, que permitiram investi-mentos na reforma e modernizaçãodos laboratórios. O apoio da Fun-dação permitiu que toda a rede elé-trica fosse substituída para atenderà demanda de consumo do Depar-tamento. Também foi possível ins-talar um sistema de refrigeração eequipamentos de ar-condicionadode forma a criar um ambiente maisadequado para a investigação e pre-servação dos equipamentos utili-zados. "Tínhamos muitos equi-pamentos instalados de formaprecária", lembra Ortiz.

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Page 98: Nanochips do futuro

f• FíSICA

Otimizando OS investimentosNos laboratórios do Grupo

de Semicondutores, da UFSCar,coordenado por José Cláudio Gal-zerani, os recursos do Programade Infra-Estrutura financiaramas reformas de pisos, forros, ban-cadas e a construção de novas di-visórias, solucionando problemascríticos para o funcionamento desofisticados equipamentos deóptica. Os lasers operavam semrefrigeração adequada, o que re-presentava um sério risco. Mas oproblema mais grave estava nolaboratório de espectroscopiaRaman. "Sem refrigeração adequa-da e ar-condicionado, o equipa-mento funcionava abaixo das es-pecificações recomendadas pelofabricante': conta Galzerani. Asinstalações tampouco compor-tavam a operação de mais um es-pectrômetro.

Hoje, os dois laboratórios deespectroscopia estão totalmentereformados e equipados com ar-condicionado, mesas mais está-

veis, redes elétricas e de refrige-ração adequadas. Outro pontopositivo foi a construção de umasala limpa para preparação deamostras. "Agora temos capela,fluxo laminar e temperatura ade-quada, que são condições essen-ciais para o manuseio dos mate-riais': diz Galzerani. Ele trabalhacom nanoestruturas, materiaisproduzidos artificialmente cujaprincipal aplicação é a produ-ção de dispositivos optoeletrô-nicos, como lasers e memóriasde computadores. Nos últimosanos, Galzerani tem se dedicadoa estudar as super-redes semi-condutoras - camadas muito fi-nas, crescidas praticamente áto-mo a átomo, que são colocadasde forma alternada. "Conheceras características elétricas e ópti-cas desses novos materiais é fun-damental' pois eles têm um ex-celente potencial para o avanço.da indústria opto eletrônica",afirma.

parente eram refrigerados comágua corrente, o que não garantiauma refrigeração adequada e aindaprovocava um grande desperdício,pois a água não era reaproveitada. Anova rede de gás, atualmente comdezenas de pontos de alimentação,garante o fornecimento contínuode ar comprimido, argônio, nitro-gênio e oxigênio, necessários emvárias etapas dos experimentos. Arede elétrica também teve de ser re-dimensionada. "Hoje o laboratóriodispõe de energia suficiente para li-gar todos os equipamentos e aindatemos um fôlego que vai nos per-mitir instalar novas máquinas", diz.

Segurança para crescerOs recursos do Programa de

Infra-Estrutura melhoraram ascondições de trabalho do Grupo deCerâmicas Ferroelétricas, da UFS-Caro Com as reformas, foi possíveldividir os espaços dos laboratóriospara acomodar as 18 pessoas queali trabalham. Faltavam mesas paraestudo e não havia armários ondepudessem guardar seu material deestudo e as amostras usadas nos ex-perimentos. Como a construção nãopermitia uma divisão adequada acada atividade, a solução foi cons-truir divisórias, separando as salasde experimento, leitura e interpre-tação de dados das áreas de estudo.

A construção de novas bancadasI também ajudou a economizar espa-ço' acomodando os equipamentosde forma mais racional e segura.

Outro ponto fundamental parao bom funcionamento do laborató-rio foi a construção das redes elétri-ca, de refrigeração e de gases. Hoje,tubulações aparentes percorrempraticamente todas as paredes doslaboratórios e garantem o funcio-namento de dezenas de equipa-mentos. Antes das reformas, os for-nos especiais, onde as cerâmicassão queimadas a altas temperaturas,e a prensa a quente usada na prepa-ração de material cerâmico trans-

Competência - O item segurança nãofoi esquecido. Na sala de fornos,

12 PESQUISA FAPESP

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Grupo de Semicondutores:reforma de pisos, bancadase sala mais limpa

Para o Grupo de Supercondu-tores e Magnetismo, os recursos doPrograma de Infra-Estrutura fo-ram fundamentais para adequar oslaboratórios experimentais e a ofi-cina de criogenia. "Para nós, essaoficina é tão importante como terágua e luz", diz o pesquisador. Ossupercondutores, ele justifica, sãopotencialmente importantes parase fazer gravações magnéticas. Apre-sentam resistência zero, isto é, ope-ram sem perda de energia. Exigem,entretanto, temperaturas extrema-mente baixas.

Devido o alto custo para semanteruma peça dessas funcionando em tem-peraturas tão baixas, os supercondu-tores estão restritos a aplicações muitoespecíficas,como em dispositivos usa-dos nas centrais de distribuição de ener-gia elétrica para controlar as oscilaçõesde energia. "Como físicos, nossa tare-fa é entender melhor as característicasintrínsecas desses materiais, assimcomo a maneira pela qual eles sãoprocessados", diz o pesquisador. •

uma rede de exaustão se encarregade eliminar os gases tóxicos libera-dos com a queima de alguns tipos dematerial cerâmico. As estufas a vá-cuo, que estavam desligadas por fal-ta de bancadas adequadas, tambémpuderam entrar em operação. Comisso, muitos materiais preparadoscom solventes inflamáveis e tóxicospassaram a ser secados em baixa tem-peratura e a vácuo, evitando riscosde intoxicação. Também na prepa-ração química das misturas, o tra-balho ficou mais seguro. Agora o la-boratório tem duas capelas e umaducha, para o caso de acidentes comprodutos químicos.

"Graças ao Programa de Infra-Estrutura, nós pudemos não ape-nas instalar vários equipamentos

que haviam chegado recentementeao laboratório como também pre-parar toda a infra-estrutura físicapara a instalação de novos equipa-mentos que estão sendo adquiridospor meio de projetos de pesquisa jáaprovados pela FAPESP", afirmaDulcinei. É o caso do Sputtering deRF, um equipamento para a fabri-cação de filmes finos de cerâmicaferro elétrica, utilizados na confec-ção de sensores e atuadores. A pes-quisa tem como objetivo estudar odesenvolvimento de películas ade-quadas para a produção de sensoresde gases e será realizada em parce-ria com a Universidade Federal doRecife.

O Grupo de Cerâmicas da UFS-Car, que já tem tradição na pesqui-

sa fundamental dos materiais fer-roelétricos, vem ganhando cada vezmais destaque no desenvolvimentode pesquisas aplicadas. Em conjuntocom a Empresa Brasileira de Pesqui-sa Agropecuária (Embrapa), desen-volveu um equipamento para medira gordura em rebanhos de suínos.Outro trabalho bem-sucedido foi odesenvolvimento de um sensor paramedir vibrações em processos deretífica em conjunto com o Núcleode Manufatura Avançada (Numa),em Campinas. As parcerias, comose vê, somam competências. "Nósprocuramos desenvolver os materiaismais adequados e nos associamosa outros grupos com capacitaçãono desenvolvimento de produtos",explica Eiras.

PESQUISA FAPESP 13

Page 100: Nanochips do futuro

• ENGENHARIA

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ngenharia é dos setoresmais tradicionais de pes-quisa no Estado de SãoPaulo. Desde 1894, datada inauguração da Es-

cola Politécnica de São Paulo, os ins-titutos, escolas e centros de pesquisapaulistas têm tido uma participaçãodecisiva no desenvolvimento de no-vas tecnologias de ponta que têmalavancado o crescimento do país. Apartir de 1995, esses institutos passa-ram a contar com o apoio do Progra-ma de Infra-Estrutura da FAPESP,que beneficiou 544 projetos de mo-dernização e melhoria de instalaçõesde áreas de pesquisa, num total deR$ 54,2 milhões. As reformas garan-tiram um salto de qualidade nas pes-quisas básica e aplicada. O novo pa-drão de desempenho tem atraídoparcerias importantes com empre-sas, indústrias e redes de pesquisas eproduzido resultados reconhecidosnacional e internacionalmente.

"Os pesquisadores devem se con-centrar em sua missão fim, sem sepreocupar com condições de trabalho';afirma Nilson Dias Vieira [únior,chefe da Coordenadoria de Caracte-rização de Materiais do Centro deLasers e Aplicações, do Instituto dePesquisas Energéticas e Nucleares(Ipen). Ele comanda o único grupode pesquisa na América Latina queconsegue fazer crescer mono cristaisde grandes dimensões para uso emlasers, de ampla aplicação industrial,médica e odontológica.

O desenvolvimento de produtosde interesse da comunidade e a obten-ção de novas patentes em áreas im-portantes foram impulsionados porreformas realizadas em vários labo-ratórios das universidades, entre eles,

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Uma nova performancepara os centros de pesquisaModernização amplia parcerias com empresas e indústrias

o Laboratório de Bioquímica de Ali-mentos, da Escola de Engenharia deAlimentos da Unicamp. Foi de lá quesaiu o New Sugar, adoçante naturalsem calorias, obtido de processos defermentação. A modernização do la-boratório também criou condiçõespara o desenvolvimento de pesquisassobre compostos nutrientes para ali-mentos funcionais, com propriedadesantiturnorais e de controle de coleste-rol e hipertensão, entre outras, coor-denadas por Yong Park.

"Nosso principal entrave era oespaço e tipo de instala-

. ção", diz Enrique Orte-ga Rodriguez, chefe doGrupo de Sistemas AgroAlimentares da Escolade Engenharia de Ali-mentos da Unicamp.Ali, os recursos do Pro-grama de Infra-Estrutu-ra estão financiando areforma do novo prédioque abrigará um com-plexo de laboratórios.Será possível desenvol-ver projetos como os dediagnóstico ambientalda agricultura no Esta-do de São Paulo, de for-ma a atender às diretrizesda Agenda 21 para pre-servação da biodiversi-dade. Em parceria coma Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária(Embrapa), será possí-vel, com o apoio de saté-lite, analisar os principaiscultivos usando infor-mações georeferencia-das, desenvolver novastécnicas menos agressi-

vas de cultivo e propor novos meiosde gestão de bacias hidrográficas. Areforma também criará condições para,em parceria com o Serviço Brasileirode Apoio ao Micro e Pequeno Empre-sário (Sebrae), apoiar os produtoresde alimentos orgânicos, por meio deprojeto de orientação ao cultivo, ade-quando sua atividade às exigênciasde certificações e de financiamento.

Os recursos do Programa deInfra-Estrutura também beneficia-ram, dentro do mesmo Grupo deAgro Alimentos, o Laboratório de

PESQUISA FAPESP

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Automação de Processos de Alimen-tos, coordenado por Vivaldo Silveira[únior, O laboratório tem atual-mente uma área cinco vezes maior, oque permite o desenvolvimento deprotótipos de equipamentos sofisti-cados para auto mação de processa-mento de alimentos. Na avaliação deCelso Costa Lopes, do mesmo la-boratório, o Programa de Infra-Es-trutura da FAPESP permitiu queos espaços fossem mais bem apro-veitados. Ainda na Escola de Enge-nharia de Alimentos da Unicamp, doisaportes do Infra possibilitaram a cria-ção de espaços para as instalações doDepartamento de Tecnologia deAlimentos. Reformas no espaço livredo prédio original tornaram dispo-nível para pesquisa uma área total de1.000 rrr', Foram montadas instala-ções físicas completas para quatrolaboratórios - de Análise Sensorial,Embalagens, Leite e Derivados e

Processos - e um sistema de com-pressores, câmaras frias e refrigera-ção para o Laboratório de Carnes eDerivados. Importantes pesquisasforam estimuladas com o funciona-mento dessas instalações, a partir dofinal de 1999, segundo José de AssisFonseca Faria, chefe desse departa-mento. Entre elas, as de embalagensassépticas para sucos, leite, isotôni-cos e água de coco, de bandejas paraembalar carnes fatiadas, de congela-dos e a criação de cadeia industrialpara a produção de carne-seca.

No Departamento de Engenha-ria de Materiais (Dema), da Univer-sidade Federal de São Carlos (UFS-Car), a instalação de rede própriade fornecimento e transmissão deenergia elétrica, com sistemas de no-breaks, foi fundamental para os di-fratômetros de raio X e microscó-pios eletrônicos. Segundo Pedro IrisPaulin Filho, chefe desse Departamen-

PESQUISA FAPESP

to, antes dos recursos do Infra, osci-lações de energia freqüentes queima-vam placas e filamentos de milhares dedólares, impedindo a seqüência de vá-rios projetos de pesquisas.

Motivação - A melhoria das condi-ções de trabalho aumentaram a moti-vação e contribuíram para uma maiorestabilidade do quadro de pesquisa-dores das instituições e escolas bene-ficiadas."Na Faculdade de Engenhariade Ilha Solteira, da Unesp, não erarara a evasão de docentes para outrainstituição qúe lhes fornecesse me-lhor infra-estrutura de pesquisa",lembra Laurence Duarte Colvara, doDepartamento de Engenharia Elétri-ca. Com recursos do Infra, a partir de1995, foi possível melhorar a estru-tura física de alguns laboratórioscom uma rede elétrica adequada dealta -tensão.

O aumento da capacidade e qua-lidade de trabalho também foi senti-do no Departamento de Arquiteturae Urbanismo da Escola de Engenhariade São Carlos, da USP.Os recursos doPrograma de Infra-Estrutura financia-ram obras civis, aquisição de mobi-liário, implantação de rede lógica eaquisição de equipamentos que mo-dernizaram o Laboratório de Mid-Imagem. Com isso, segundo AzaelRangel de Camargo, foi possível mul-tiplicar por cinco o número de tra-balhos de editoração por semana etriplicar o número de imagens escanea-das.Na mesma escolade Engenharia deSão Carlos, os recursos do Programade Infra-Estrutura permitiram que pes-quisas, antes predominantementedirigidas à Engenharia Civil, passas-sem a atingir também outras áreas,como as de Engenharia Mecânica, En-genharia de Materiais e EngenhariaIndustrial, explica João Bento de Ha-nai, coordenador do projeto Infrapara os laboratórios do Departamen-to de Engenharia de Estruturas. •

Pesquisadora utiliza o Polidorde lônio no Departamento deEngenharia de Materiais, na UFSCar

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• ENGENHARIA

Umsofisticado equipa-

mento instalado noInstituto de PesquisasEnergéticas e Nucleares(Ipen) foi consumido

pelo fogo, em 1996. O prejuízo, deUS$ 50 mil, excluídas as perdas coma paralisação das atividades de parteda instituição, foi causado por umafalha de manutenção: não havia umachave disponível para desligar a forçado Departamento de Materiais Es-peciais - hoje Centro de Lasers eAplicações -, fato que teria evitado aquase tragédia.

O episódio, além de exemplar dafase precária vivida pelo Ipen naépoca, acabou por despertar os pes-quisadores para a necessidade deuma ampla reforma nos laborató-rios. Cinco anos depois e com recur-sos do Programa de Infra-Estruturada FAPESP, a realidade do Ipen éoutra.

O Centro de Lasers, mais uma vez,serve de exemplo. Reconhecido in-ternacionalmente, o laboratório é oúnico da América Latina que domi-na a técnica de crescimento de cris-tais de grandes dimensões para usoem laser, um processo com aplica-ções em processamento industrialde materiais, medicina, odontolo-gia e meio ambiente, conta NilsonDias Vieira Iúnior,

O Ipen, ligado à Comissão Na-cional de Energia Nuclear (CNEN),foi fundado em 1956, com o objetivode realizar pesquisas e formar espe-cialistas. Instalado no campus da USP,em São Paulo, numa área de 500mil m2

, o instituto é hoje o princi-pal centro de pesquisa e desenvolvi-mento nuclear em todo o país, ten-do sido pioneiro no domínio das

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Centro de produçãode radiofármacosIpen se destaca nas pesquisas e desenvolvimento nuclear

Laboratório de Química Atmosférica, no lpen, está preparado para crescer

tecnologias do ciclo do combustívelnuclear. Desenvolve papel impor-tante na aplicações das radiações eradioisótopos, reatores nucleares,materiais e radioproteção. É reco-nhecido internacionalmente pelaprodução e distribuição de radio-isótopos primários e radiofármacose reagentes liofilizados utilizadosno diagnóstico e terapia de váriasdoenças. Além de dois reatores nu-cleares, o instituto conta com labo-ratório de termo-hidráulica, doisaceleradores de elétrons, irradiado-res de cobalto, usinas piloto respon-sáveis por todo o composto de urâ-nio produzido no país, inclusive ogás hexafluoreto de urânio.

O Ipen dispõe ainda de várioslaboratórios de processamento ecaracterização química, isotópica e

física de materiais, entre eles, oCentro de Lasers e Aplicações.

O prédio que o Centro de Lasersdivide com outros 50 laboratóriosfoi construído em 1978.Recebia umamanutenção mínima, voltada ape-nas para emergências, como a doincêndio de 1996 que foi impossívelde se evitar. Até pequenos alaga-mentos ocorriam por falta de im-permeabilização no teto. Os recursosdo Programa de Infra-Estrutura fo-ram investidos, basicamente, na re-forma dos sistemas elétrico e hi-dráulico do prédio. Em mais de 20anos, foi o primeiro investimento sig-nificativo e lTlanejado na infra-estru-tura do prédio. "A reforma prepa-rou o centro para o crescimento enos permitiu devolver, em aplica-ções concretas para a sociedade, os

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recursos aplicados em projetoscientíficos e tecnológicos", afirmaVieira Júnior.

As novas instalações permitirama realização de importantes estudos,como o do Laboratório de Jovens Pes-quisadores. As pesquisas do gruposão baseadas em lasers de diodo, ava-

. liado em milhares de dólares, e quepodem ser danificados por alteraçõesmínimas de energia. «Uma infra-es-trutura adequada é vital': diz VieiraIúnior,

A participação do grupo no Cen-tro de Pesquisa em Optica e Fotôni-ca, um dos Cepids mantidos pelaFAPESP,ao lado dos institutos de Fí-sica de São Carlos e da Unicamp,para o desenvolvimento de novos la-sers para aplicações médicas e odon-tológicas, permitiu a criação de umcurso de mestrado profissionalizan-te para dentistas.

Parceria recente foi firmada coma Universidade Técnica de Atenas, naGrécia, para o desenvolvimento deoutra linha de pesquisa que prevê amonitoração ambiental. O laborató-rio também prepara, junto com aSecretaria do Verde e do Meio Am-biente e a Companhia de Tecnologia

de Saneamento Ambiental (Cetesb),a instalação do primeiro sistema demonitoramento ambiental a laser dacidade de São Paulo.

Outro departamento do Ipen quetambém recebeu aporte significativodo Programa de Infra-Estrutura foio de Química e Meio Ambiente, che-fiado por Ademar Benevolo Lugão.Durante décadas as suas pesquisasestiveram voltadas para os processosdo ciclo do combustível nuclear.Com a mudança da política energé-tica governamental foi preciso bus-car novos objetivos de trabalho. Aárea de diagnósticos ambientais foiconsiderada prioritária. Agora, comlaboratórios totalmente adequadosserá possível cumprir a tarefa a quese propuseram.

Benefícios - O primeiro grupo de la-boratórios a se beneficiar do Pro-grama de Infra-Estrutura foi o deDiagnóstico Ambiental. O desenvol-vimento das pesquisas exigia refor-mas das redes hidráulica e elétrica,telhados novos, centrais de gases ecabines de força, pára-raios, sistemasde nobreaks e construção de novas ca-pelas.Em 1996,o laboratório recebeu

Instalado no campus da USP, Instituto realiza pesquisas e forma especialistas

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o primeiro aporte de recursos doprograma e investiu na melhoria dasinstalações, o que tornou possíveladquirir equipamentos importantespara as novas pesquisas. O antigo la-boratório de processo pode se trans-formar em áreas de tecnologias am-bientais para pesquisas dereciclagem, aproveitamento de resí-duos industriais, etc. O segundoaporte de recursos favoreceu o grupode Tecnologia Ambiental, e o tercei-ro, entre 1999 e 2000, foi usado paracriar um terceiro grupo de laborató-rios, de Química Atmosférica, coor-denado por Luciana Vanni Gatti.

Hoje, cem pesquisadores, entrecontratados e bolsistas, participamde três grupos de laboratório. «O ga-nho científico é inquestionável', afir-ma Lugão. As reformas patrocinadaspelo programa deram suporte a umprojeto desenvolvido com a Compa-nhia de Saneamento Básico de SãoPaulo (Sabesp) de modelamento debacias hidrográficas, com estudo daqualidade da água para consumo hu-mano e identificação de fontes po-luentes. As pesquisas se desdobraramnum projeto temático associado aoestudo das condições de dispersão depoluentes em São Paulo e permitirama associação do grupo com um con-sórcio internacional, formado peloBrasil, a Agência Espacial Norte-americana (Nasa) e a ComunidadeEconômica Européia, para estudodo impacto do sistema atmosféricoda Amazônia nas condições ambien-tais mundiais.

Segundo Lugão, apenas o grupode laboratórios de Tecnologia Am-biental ainda não apresentou resul-tados de maior impacto, pois suasreformas são muito recentes. Mes-mo assim, estão em curso projetosnas áreas de reciclagem e de novastecnologias de incineração de resí-duos industriais e de desenvolvimen-to de novos polímeros mais compa-tíveis com o meio ambiente. E, comapoio da FAPESP e parceria com aUSP, estão desenvolvendo projetopara tratamento de todos os resí-duos da própria universidade. •

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• ENGENHARIA

AscolaPolitécnica da Uni-

versidade de São Paulo,fundada em 1894, intro-duziu componentes téc-nicos e científicos ao

conhecimento produzido no país, atéentão de caráter essencialmente hu-manista. Ao longo de 107 anos, aPoli tem cumprido com sucesso amissão de criar as bases para o de-senvolvimento da indústria nacional.O ritmo de desenvolvimento das pes-quisas e a ampliação do número deparcerias, no últimos anos, exigiu aampliação das instalações e a mo-dernização dos equipamentos de seusdiversos laboratórios. Desde 1995, aPoli conta com o apoio do Progra-ma de Infra-Estrutura da FAPESP,para financiar as reformas.

O Laboratório de CaracterizaçãoTecnológica (LCT), do Departamen-to de Engenharia de Minas da EscolaPolitécnica da USP,é um dos projetosbeneficiados pelo programa. Implan-tado em 1991, seu crescimento se deude forma desordenada, e em poucotempo tornou-se necessária a mo-dernização de instalações, rede deinformática e equipamentos para aten-der com qualidade à demanda cres-cente de serviços, segundo seu coor-denador, Henrique Kahn. "O Infraveio numa fase de consolidação não sóda infra-estrutura já existente comodo próprio grupo, mais amadurecidoe reconhecido pela comunidade e commaior atuação junto às empresas e àprópria universidade': diz Kahn.

Atualmente, o LCT é um centrode excelência em pesquisas de maté-ria-prima mineral, visando ao apro-veitamento de recursos não-renová-veis. Seus trabalhos estão voltadospara o processamento de amostras,

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Mais qualidade•com menor risco

Escola Politécnica da uSP reforça parcerias estratégicas

Laboratório de Caracterização Tecnológica, da Poli, pesquisa matérias-primas

microscopia eletrônica e avaliaçãode materiais, orientação de investi-mentos em projetos de mineração eresolução de seus problemas tecno-lógicos. Empresas do porte de gruposcomo Bunge, Fertifós (Bunge/Car-gill), Galvani, Companhia Vale do

Rio Doce e Votorantim vêm se bene-ficiando da qualidade das pesquisasdesenvolvidas no laboratório, se-gundo o seu coordenador, HenriqueKahn. O LCT treina e recicla pesqui-sadores e técnicos dessas empresasde mineração e oferece cursos perió-

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dicos dentro do campus da universi-dade. O laboratório também man-tém acordo com a Philips holandesapara o treinamento do pessoal deseus clientes brasileiros.

Os recursos do programa da FA-PESP foram utilizados para sanarproblemas de infra-estrutura: fia-ção em contato com água, cupins, ar-condicionado deficiente, inexistên-cia de geradores próprios e desistemas de estabilização e nobreaks.Os investimentos permitiram mo-dernizar alguns setores e equipa-mentos como os de microscopia ele-trônica de varredura, espectrômetrode raio X por extensão de compri-mento de onda, de preparação deamostras e de difratometria de raioX."Se agora temos conforto em for-necimento de energia, instalaçõesclaras, bem iluminadas, funcionaise esteticamente adequadas, deve-mos aos recursos do Infra. Houveuma melhora muito expressiva dascondições operacionais, minimizan-do riscos e aumentando a qualidadede vida de nossos pesquisadores",finaliza Kahn.

Silício poroso - Outro departamentoda Escola Politécnica beneficiadopelo Programa de Infra-Estruturafoi o de Engenharia de Sistemas Ele-trônicos. O departamento utiliza atecnologia de uso do silício porosoem pesquisas e que tem enorme po-tencial para aplicações em compo-nentes de informática. O silíciotambém é material utilizado no de-senvolvimento de uma ampla sériede sensores de larga utilização nasáreas petroquímicas e de diagnósti-co médico, segundo Francisco IavierRamirez-Fernandez, que integra aequipe do departamento. Exemplodisso é o projeto de monitoraçãoda qualidade dos combustíveis, pormeio de um "nariz eletrônico" - umsenso r que detecta aromas de dife-rentes gases químicos na composi-ção de- combustíveis. O projeto éapoiado pela Financiadora de Estu-dos e Projetos (Finep), em coopera-ção com a Petrobras. Outra parce-

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ria, com a Debis-Humaitá, subsi-diária da Mercedes- Benz, está per-mitindo o desenvolvimento de ins-trumentação inteligente para aautomação industrial.

O primeiro aporte do Programapossibilitou a criação de uma áreaexclusiva para pesquisa dos gruposligados à área de sensores. Foram

na fora do complexo da Escola Po-litécnica.

O potencial de pesquisas alavan-cado pelos recursos do Programa deInfra-Estrutura foi fundamental paraque o Departamento de Engenharia deSistemas Eletrônicos fosse cadastra-do no Projeto de Apoio e Desenvolvi-mento Científico (PADCT), do Con-

Departamento de Sistemas Eletrônicos usa tecnologia de silício poroso

construí das bancadas, algumas di-visórias e parte do piso. O segundoaporte financiou equipamentos es-peciais sofisticados, possibilitando oaumento do tempo de trabalho, ca-pacitação de recursos humanos, fi-nalização de programas de pós-gra-duação e aumento na produção depesquisas. Para Ramirez-Fernan-dez, os dois investimentos contri-buíram significativamente para odesenvolvimento de cinco gruposde trabalho em cinco laboratóriosdiferentes: Laboratório de SistemasIntegráveis (LSI), Laboratório deMicroeletrônica (LME), Laborató-rio de Engenharia Biomédica (LEB),Laboratório de Automação Agrícola(LAA) e Instituto de Ciências Bio-médicas (ICB), o único que funcio-

selho Nacional de DesenvolvimentoCientífico eTecnológico (CNPq), paracontinuar o desenvolvimento da tec-nologia do silício poroso. Permitiuainda a integração na Rede Coope-rativa de Pesquisa de Sensores deAutomação Industrial, apoiada pelaFinep, para o desenvolvimento dossensores, e ampliou a interação comoutras universidades brasileiras.

Desde1995, foram finalizados se-te programas de mestrado e três dedoutorado. Segundo Rarnirez-Fernan-dez, o salto de qualidade foi sentidotambém no aumento de publicaçõesem revistas científicas conceituadas."A capacitação local permitiu a acei-tação do nosso grupo de pesquisa emredes de âmbito nacional e interna-cional", conclui. •

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Page 106: Nanochips do futuro

• ENGENHARIA

Oprimeiro laboratóriode bioaromas do país,inaugurado em 1998,na Faculdade de Enge-nharia de Alimentos da

Unicamp, foi totalmente reformadoe ampliado com recursos do Infra daFAPESP."De uma simples 'casinha',onde eram feitas as pesquisas ini-ciais, surgiu um laboratório com ins-talações e equipamentos de ponta,que é atualmente referência no Bra-sile no exterior na produção de aromasnaturais a partir da transformaçãode microrganismos", afirma GláuciaMaria Pastore, chefe do Laboratóriode Bioaromas e Carotenóides. As no-vas instalações permitem o desenvol-vimento de pesquisas como a de ob-tenção do óxido de rosas, base paraaromatização de alimentos e cosmé-ticos, como o perfume ChanelS, imor-talizado por Marilyn Monroe. Reti-rado in natura apenas de roseiras daBulgária e em quantidades muito pe-quenas, ele é comprado a preço deouro no mercado internacional. "É umproduto tão valioso que empresasalemãs buscam em todo o mundoquem detenha a tecnologia da suaprodução': explica Gláucia Maria.

O óxido de rosas é obtido a par-tir de amostras de folhas e frutos na-tivos, extraído do solo e da água derios do interior de Alagoas e regiãodo São Francisco. As amostras sãoincubadas em meio líquido e os mi-crorganismos isolados são inocula-dos em cascas de laranja, um resíduogeralmente descartado em quanti-dade no Brasil e que contém limo-neno. O resultado é o raríssimo óxi-do de rosas.

O laboratório também produzaromas de queijo, obtidos com fun-

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Do óxido de rosasao Chanel n° 5Laboratório de Bioaromas da Unicamp ganha mercado

gos em leite, utilizados em biscoitos,arroz semipronto e outros produtosalimentícios de interesse de empre-sas brasileiras. Ainda na área alimen-tícia, são feitos testes de bactériascom função antibiótica para tentarresolver problemas como os de ar-mazenamento de salsichas em gela-deiras domésticas.

Outra linha de pesquisas, para acaracterização do licopeno, está sendodesenvolvida para a Associação deProdutores de Goiaba. O licopenotem função anticancerígena e anti-radicais livr~s e é encontrado nessafruta em quantidade e qualidade maissignificativas que no tomate.

Cooperação - O padrão de qualidadeadquirido pelo Laboratório de Bioa-romas e Carotenóides possibilitou oestabelecimento de uma linha de

cooperação com a Universidade deHannover, na Alemanha, que possuilaboratório similar, para intercâm-bio de alunos e professores. O labo-ratório também tem parceria com aUniversidade de Milão, na Itália, ecom a Ohio State University, nos Es-tados Unidos.

O quadro de pesquisadores dolaboratório inclui Délia RodriguezAmaya, considerada a maior especia-lista do mundo em carotenóides. Assuas pesquisas com pigmentos amare-los em frutas e vegetais contam comUS$ 1milhão do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq). Os resultados jáforam publicados no exterior, divul-gados em encontros internacionais egeraram acordo de colaboração comvários organismos e universidadesinternacionais. •

Engenharia de Alimentos: teste de bactéria com função antibiótica

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Page 107: Nanochips do futuro

ODepartamento de En-genharia de Materiais(Dema), do Centro deCiências Exatas e deTecnologia da Universi-

dade Federal de São Carlos (UFS-Car), é reconhecido como Núcleo deExcelência pelo Programa Pronex,do Ministério da Ciência e Tecnolo-gia (MCT). Essa posição foi garanti-da pela ampliação e racionalizaçãodos laboratórios, aquisição e instala-ção de equipamento com recursos doPrograma de Infra-Estrutura da FA-PESP destinados à área de engenha-ria. "Foram recursos que dificilmen-te seriam conseguidos por outrosmodos, dada a debilidade dos recur-sos orçamentários das instituições",diz Maurízio Ferrante, que integra aequipe do Dema.

O departamento é formado porvários laboratórios em três áreas - Po-límeros, Cerâmica e Metais. Todos pas-saram por reformas para ampliação,recuperação da rede elétrica, instala-ção de ar-condicionado central, insta-lação de sistemas de armazenagem,resfriamento e recirculação de água einfra-estrutura operacional de fabri-cação. A rede elétrica foi planejada deforma a não gerar campo magnético enem permitir oscilações de energia.A rede antiga foi desmembrada emrede "limpa': destinada a equipamen-tos de baixa potência, de instrumen-tação e medida, e a rede "suja': paraequipamentos de grande potência emuito ruído, que foram isoladoscom o novo layout das instalações.

Em apenas três anos, o Dema járegistrava os efeitos da moderniza-ção de suas instalações: praticamen-te dobraram as teses de mestrado, de22 para 4l.

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Um núcleo de excelênciano interior de São PauloRecursos beneficiam laboratórios do Dema, na UFSCar

Dema é reconhecido como Núcleo de Excelênciapelo Pronex, do MCT

Nos Laboratórios para Ensinoem Cerâmica, foram instalados pi-sos, bancadas, capelas e sistemas derefrigeração. As reformas permiti-ram a instalação de equipamentosde grande porte. Ali são realizadaspesquisas com nanoestruturas paraaplicação aeroespacial e eletrônica.O laboratório utiliza fornos de altastemperaturas, que queimam a cercade 2000oC, a vácuo. A instalação des-ses fornos só foi possível graças àsreformas de rede elétrica e de refri-geração. Sem isso, os equipamentosestariam sujeitos a explosões.

Controle de energia - No Laborató-rio de Corte e Moinhos de PÓ foiinstalada uma prensa esostática quenecessita de controle rígido deenergia. Dois aportes de recursosdo Infra criaram espaço para a

instalação de equipamentos doadospor instituições alemãs no Labora-tório de Metalurgia.

A instalação de torres de refrige-ração e rede elétrica balanceada foifundamental para o desenvolvimentodas pesquisasno Laboratório de Proces-sos Avançados, para o Lab Nano. Ali,um equipamento melt spinning pre-para material cerâmico para apli-cações aeroespaciais e eletrônicas.

O Laboratório de Ensaios Mecâ-nicos teve sua área aumentada. NaOficina Mecânica do Dema, são pro-duzidos corpos de provas, peças edispositivos para manutenção deequipamentos de outros laborató-rios. Foram adquiridas máquinascom comando numérico programável,dois tornos, duas fresas, uma plaina,duas máquinas de solda, solda plas-ma e serra de fita. •

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Page 108: Nanochips do futuro

• ENGENHARIA

~

iSSãO do centenário Insti-tuto de Pesquisas Tecnoló-gicas (IPT) é atender acomunidade, empresas eindústrias interessadas

na aplicação prática de pesquisas tec-nológicas. Ao longo desse período, oIPT construiu uma sólida parceriacom a iniciativa privada.

Desde 1995, com o apoio doPrograma de Infra-Estrutura da FA-PESP,o instituto reformou e moderni-zou seus laboratórios, o que resultouem mudanças qualitativas no seupadrão de atendimento e relaciona-mento com o meio externo.

Exemplo dessa mudança está naDivisão de Química, Inicialmente,foram beneficiados quatro grandesprojetos que abrangiam desde areforma de rede telefônica até a refor-ma de cabines de força, construídasainda na década de 50, conta MarcoGiulietti, do Agrupamento de Proces-sos Químicos/Divisão de Química. Apartir de 1998, foram contempladosos projetos ligados a laboratórios es-pecíficos. Um deles foi o Laborató-rio de Tecnologia de Partículas, coor-denado por Giulietti e Maria Inês Ré,que teve sua área ampliada de 300 m'para 600 rrr'.As novas instalações per-mitiram instalar equipamentos avalia-dos em US$ 500 mil, que estavam semuso ou alocados em outros departa-mentos.

As reformas viabilizaram o de-senvolvimento de pesquisa de proces-sos de microencapsulação de perfu-mes, aromas e produtos veterinários,além de pesquisas de gargalos tecno-lógicos e de valores a serem agrega-dos a produtos industriais. Estas últi-mas já geraram duas novas patentesde interesse de empresas nacionais.

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Tecnologia a serviçoda comunidadeMudanças ampliam as atividades de Divisão do 1PT

Laboratório de Biotecnologia estuda microrganismos, bactérias e fungos

"Nos dois últimos anos, após as re-formas feitas pelo Infra, nossa ativi-dade simplesmente dobrou e nossaprevisão é de alcançarmos US$ 35Bmil em 2001", conta Giulietti.

Os pesquisadores do Laborató-rio de Biotecnologia/Divisão deQuímica do IPT também forambeneficiados. O laboratório realiza,há mais de 20 anos, análises e de-senvolvimento de processos queutilizam microrganismos, bactérias,fungos e células animais na trans-formação de matérias-primas emprodutos de interesse da comuni-dade. Um dos maiores projetos nes-ta área tem como cliente a Coopera-tiva de Produtores de Cana, Açúcare Álcool do Estado de São PauloLtda. (Coopersucar).

Segundo Elizabeth de Fátima PiresAugusto, doo Agrupamento de Bio-tecnologia, a verba do Programa foiutilizada para adequar os laboratóri-

os às exigências de manipulação demicrorganismos patogênicos. "Semessa certificação não há possibilida-de de receber verbas federais,como asdo Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico(CNPq) e da Financiadora de Estu-dos e Projetos (Finep )", explica. Osrecursos Infra cobriram cerca de80% das despesas realizadas. O pró-prio IPT bancou o restante.

O prédio Tokio Morita dos Labo-ratórios de Análises Químicas Orgâ-nicas e Inorgânicas, da Divisão de Quí-mica do IPT, também contou comrecursos do Infra para modernizarsuas instalações. Realiza hoje cercade 300 análises de amostras por mês,com possibilidade de ampliar esseaten-dimento. Antes das reformas era umlocal com sérios problemas operacio-nais e de segurança de trabalho. Areforma atendeu às normas de se-gurança exigidas pelo Ministério do

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Page 109: Nanochips do futuro

Trabalho, de forma a evitar conta-minação por gases químicos, subs-tâncias corrosivas e acidentes pes-soais com membros da equipe,explica a prof= Regina Nagamine,chefe do Agrupamento de Materi-ais Inorgânicos. Foram substituídosos equipamentos de ar-condiciona-do, a torre de resfriamento muitoantiga e foi instalado sistema de de-tecção e alarme de incêndio. Tam-bém foram reformadas as caldeirase instalações elétricas. "O maior be-neficiado foi o cliente do IPT", con-cluiu Regina.

Gás halon - No Laboratório de Segu-rança ao Fogo, da Divisão de Enge-nharia Civil (DEC), do IPT, as pes-quisas têm como foco a prevenção eproteção de incêndios em edificações,resistência de materiais à combustãoe pesquisas de extinção de incêndios.Não existe no país outro similar, ga-rante Rosária Ono, da equipe do La-boratório. Parte da equipe pesquisaalternativas ao uso do gás halon emsistemas de prevenção e combate aincêndio em centrais telefônicas ecentros de processamentos de dados(CPDs), locais onde o fogo não podeser debelado com utilização de água.Esse gás, no entanto, é prejudicial àcamada de ozônio. A necessidade deproteção ambiental e de observânciaa protocolos internacionais de segu-rança levou concessionárias de tele-fonia, como a Telefônica e a BCP, aCompanhia da Saneamento BásicodeSão Paulo (Sabesp) e outras empresasestataise privadas a buscar soluções al-ternativas ao uso do halon. SegundoRosária, já existem várias soluções de-senvolvidas e utilizadas no exterior.A idéia inicial era testá-Ias aqui, maso grande empecilho era a falta de con-dições do laboratório.

Para resolver essa questão, um gal-pão abandonado foi reformado. Oequipamento básico das pesquisas sãoduas câmaras em escala real, resisten-tes a grandes alterações de temperatura,com sistema de exaustão, para ensaiose testes de materiais de construção ede extinção de incêndio. •

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Decifrando o códigode proteínasLNLS busca a chave para o desenho de novos fármacos

OLaboratório Nacional deLuz Síncrotron (LNLS)é um centro de pesqui-sas multidisciplinaresque possui a única fon-

te de Luz Síncrotron no HemisférioSul. A Luz Síncrotron é de altíssimavelocidade e abrange o infravermelho,o ultravioleta e os raios X.Desde 1987,o LNLSjá realizou 800 projetos cientí-ficos, sendo 221 em cristalografia deproteinas. Em 1998,ampliou sua atua-ção na área de biologia molecularimplantando o Centro de BiologiaMolecular Estrutural (CBME).

O CMBE tem papel estratégicono desenvolvimento de estudos fun-cionais dos genes seqüenciados. Aliestão instalados dois espectômetrosde ressonância nuclear magnética(RNM), além de laboratórios de-cristalografia com raios X, que per-mitem a elucidação da estrutura dasproteínas expressas por esses genes,chave para o desenho racional dedrogas inibidoras de processos pato-lógicos. Coordenado por RogérioMeneghini, integra o Centro de Bio-logia Molecular Estrutural, um dos

dez Cepids mantidos pela FAPESP.Está instalado numa área de 3 milrrr', distribuídos em dois andares deum prédio construído pelo próprioLNLS, que recebeu recursos da FA-PESP para a montagem de toda a in-fra-estrutura necessária ao seu fun-cionamento.

Proteínas - A tecnologia Luz Síncro-tron já permitiu definir a estruturatridimensional de 15 proteínas nes-tes últimos dois anos, entre elas es-tão a do DNA de células canceríge-nas, a proteína X da hepatite B e asproteínas da malária e doença deChagas. De acordo com Meneghini,a definição das estruturas dessasproteínas permite desenhar e defi-nir as características da substânciaquímica mais adequada para servirde base para a confecção de medi-camentos que possam segurar oavanço das doenças a elas relacio-nadas. Um conhecimento de gran-de importância, já que mais de 50%dos remédios empregados atual-mente agem como inibidores deproteínas.

As instalações doCBME foram con-cebidas dentro dasmais rígidas regras desegurança, limpeza,layout e qualidadedas instalações. "Aestrutura montadacom recursos do In-fra, mais estimulan-te e motivadora, vaipermitir que a equi-pe do Centro, hojecom 42 pessoas, do-bre em doia anos;'diz Meneghini. •

LNLS: a única fonte de Luz Síncrotron no Hemisfério Sul

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Page 110: Nanochips do futuro

• QUíMICA,

Investimentos colocamo risco sob controleLaboratórios reorganizam suas áreas de pesquisa

Líquida de Alta Eficiência(CLAE), do Departamentode Química da UFSCar, foipossível até criar uma Sala deReações Perigosas de uso co-mum de todo o Departamen-to de Química, conta QueziaBezerra Casso

Em 1988, uma rea-

ção de hidrogena-ção provocou umincêndio no Labo-ratório de Síntesedo

Departamento de Química doCentro de Ciências Exatas eTecnologia da UniversidadeFederal de São Carlos (UFS-Car), ferindo gravemente umaluno e um técnico. Oito anosdepois, foi a vez de um dos la-boratórios do Instituto de Quí-mica da Universidade de SãoPaulo (USP). Esses são apenasdois exemplos dos acidentesocorridos em laboratóriospaulistas. Problemas nas ins-talações elétricas, inadequa-ção das redes às necessidadesdos equipamentos, falta demanutenção e de um sistemaadequado de exaustão eramresponsáveis por incêndios,explosões, queimaduras e in-toxicações que, além de colo-car em risco pesquisadores ealunos, comprometiam o de-senvolvimento das pesquisase resultavam em graves pre-juízos aos laboratórios dasuniversidades paulistas.

A partir de 1995, os labo-ratórios de química da USP,Universidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp), Universidade Esta-dual Paulista (Unesp) e da UFSCar ede outros institutos de pesquisapaulistas, puderam contar com R$37,8 milhões do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP para financiarreformas e modernizar instalaçõespropostas em 262 projetos, de forma aviabilizar pesquisas de ponta. A me-lhoria das instalações aumentou a

Queda de energia - "Antesdas reformas, estava difíciltrabalhar já que chovia nosequipamentos", lembra Wal-ter Colli, duas vezes diretordo Instituto de Química (IQ)da USP, em São Paulo. Asquedas freqüentes de ener-gia queimavam lâmpadas deaparelhos e peças importa-das que muitas vezes demo-ravam de três a quatro me-ses para serem substituídas."Num único fim de semana,chegamos a perder US$ 30mil em produtos químicosdestinados às experiênciasque estavam estocados numfreezer, queimado numa des-sas quedas de energia." As

. bancadas de madeira, feitasartesanalmente há 30 anos,estavam corroídas por cu-pins. Uma delas, ele revela,ruiu durante uma das expe-riências. As condições das

instalações hidráulicas não erammelhores: dos canos entupidos eenferrujados jorrava "água mar-rom" que servia os laboratórios,exigindo uma tripla destilação paratorná-Ia usável. "A pesquisa científi-ca, que sempre foi de alto nível noIQ-USP, estava sendo prejudicadapela falta de infra-estrutura. Sem oauxílio da FAPESP não podería-

Laboratório de Produtos Naturais, da Unicamp

motivação para o trabalho e a quali-dade da formação dos alunos. Aspesquisas ganharam competitividadee prêmios importantes. Também cres-ceu o número de publicações de ar-tigos e de pedidos de novas patentes.

O Programa de Infra-Estruturaestabeleceu condições mais segurasde trabalho. No caso do Laboratóriode Síntese Orgânica e Cromatografia

PESQUISA FAPESP24

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Á

mos, por exemplo, estar abrigandohoje grupos do Projeto Genoma.Não tínhamos condições assépticas,nem estrutura hidráulica e estabili-dade elétrica para permitir o funci-onamento dos sensíveis seqüencia-dores de DNA", afirma.

Os recursos do Infra garantiramao Instituto de Química da Unicampum salto de qualidade em pesquisa ea possibilidade de trabalhar comequipamentos de última geração, dizAnita Jocelyne Marsaioli. O seu gru-po, formado por 24 professores e cercade cem alunos, passou a contar com umespectômetro de Ressonância Magné-tica Nuclear (RMN) no desenvolvi-mento das pesquisas, a partir de 1996.O equipamento era a última palavraem espectômetros e permitiu, entreoutras coisas, a ampliação de pes-quisas em ressonância, estudos dedifusão por RMN, determinaçõesestruturais de amostras de menos deum miligrama e RMN de Carbono13. Em dois anos, cada professor dogrupo chegou a publicar entre cincoe sete trabalhos, além das teses asso-ciadas dos alunos de pós-graduação.

Na mesma universidade, o Infrapatrocinou, em 1999, as reformasno Laboratório de Eletroquímica eEletroanálise para Desenvolvimen-to de Sensores. Segundo Lauro Tat-suo Kubota, elas contribuíram paraque o número de orientandos cres-cesse de um patamar de 6 a 8 para até16 alunos. Isso sem falar na melho-ria da qualidade e aceleração do rit-mo das pesquisas com diferentes tiposde biossensores que têm aplicaçãona detecção de microrganismos, deglutationa-peroxidase (avaliação deníveis de estresse) e de compostos fe-nólicos em efluentes. O laboratóriojá gerou cinco pedidos de patentesde biossensores no Brasil.

Na avaliação de Luiz Otávio deSouza Bulhões, do Laboratório In-terdisciplinar de Eletroquímica eCerâmica (Liec), daUFSCar, "o Infrapermitiu o crescimento e a reorgani-zação do trabalho acadêmico e depesquisa aplicada nos institutos deQuímica': •

Pesquisa atrai interessede empresas privadasInstituto de Química da USP aposta no futuro

Criado em 1970, o Insti-tuto de Química da Uni-versidade de São Paulo(IQ-USP/SP) sempre foiuma referência científica.

"Com o passar do tempo, muitos equi-pamentos e toda a estrutura física,elétrica e hidráulica dos antigos labo-ratórios foram se deteriorando': lem-bra Paulo Sérgio Santos, atual dire-tor do IQ. Cupins, falta de exaustãoadequada, sobrecarga elétrica, que-das de força e contaminação de am-biente laboratorial comprometiamos experimentos e a saúde dos pes-quisadores, e a estrutura saturada im-pedia a aquisição de equipamentosmais modernos. O IQ recursos doPrograma de Infra-Estrutura da FA-

PESP para reformar e ampliar os la-boratórios. Hoje, o instituto reúne 80grupos de pesquisadores em 50 la-boratórios, distribuídos por 13 blocos,e conta com o apoio de uma CentralAnalítica onde estão grandes equipa-mentos, como os de ressonância mag-nética nuclear e de espectometria demassas de uso comum. Esses equipa-mentos também são utilizados na pres-tação de serviços para as comunidadesinterna e externa à instituição.

"A ciência evolui rapidamente eos equipamentos e instalações podemficar ultrapassadas em pouco tempo':comenta Santos. A renovação da infra-estrutura de pesquisa exige, no en-tanto, muito dinheiro. Por isso, muitasindústrias desativaram seus labora-

Reformas permitiram a instalação de novos laboratórios no 10 da USP

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• QUíMICA

Instituto de Química da USP é referência científica em todo o país

tórios e buscaram soluções para pro-blemas e novas tecnologias em cen-tros de pesquisa como o do IQ. San-tos cita como exemplo o sistema deconversão de energia solar em energiaelétrica desenvolvido no Laborató-rio de Fotoquímica, já em fase denegociação de patente e que tem des-pertado interesse de empresas multi-nacionais.Também tem despertado in-teresse das empresas as pesquisas queestudam a relação entre estruturas mo-leculares e atividades biológicas demoléculas, realizadas no Laboratóriode Espectometria Molecular e quepoderão ajudar no estudo do diabe-tes e mal de Alzheimer.

Análises clínicas - Os recursos do In-fra permitiram também que a pes-quisadora Marina Franco Maggi Ta-vares instalasse o Laboratório deCromatografia e Eletroforese Capilar(Lace),há dois anos. Desde então, suaequipe trabalha no desenvolvimentode novos métodos de análises clíni-cas, como o de hemoglobina glicada,que permite avaliar, por um períodode dois a três meses, o tratamento deum diabético . Na linha de pesquisaem alimentação, as suas análises es-tão utilizando eletroforese capilarpara propor novas técnicas de análi-se de leites, achocolatados e cereais.

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Uma das áreas de maior investimen-to no laboratório é a de desenvolvi-mento de métodos para análise decompostos e produtos fitoterápicos ecosméticos, para atender a uma ne-cessidade de monitoramento e nor-matização da Vigilância Sanitária. "Asexcelentes condições de trabalho noLace permitiram que, no primeiro se-mestre de 2001, ele fosse o único la-boratório considerado apto pelo Ins-tituto de Tecnologia em Fármacosdo Ministério da Saúde para analisarimpurezas em remédios genéricospara Aids, distribuídos gratuitamen-te em postos de saúde", diz.

No Laboratório de Química deProdutos Naturais, a necessidade desalas assépticas sem vírus ou bactériasera fundamental para as pesquisas comcultura de tecidos vegetais. "Antes dasreformas não podíamos realizar nos-so trabalho adequadamente nem in-tegrar programas como o Biota-FAPESP': conta Paulo Moreno. Agoraé possível realizar pesquisas de iden-tificação de plantas e isolamento desubstâncias químicas de interesse,como taxol, quinino, etc. Essas li-nhas de pesquisa são importantes jáque 25% dos medicamentos existen-tes no mercado são feitos a partir deplantas ou de seus derivados com bio-atividade. •

Vanguardada pesquisaUnicamp conquista espaço

os recursos do Progra-ma de Infra-Estruturada FAPESP financia-ram as reformas e a

. modernização dos la-boratórios do Instituto de Química daUniversidade Estadual de Campinas(Unicamp). Os investimentos, numtotal R$ 5,340 milhões, garantiramcondições adequadas para o desen-volvimento do ensino e de pesquisasimportantes com aplicações nas áreasde meio ambiente, telecomunicaçõese medicina, entre outras.

O Laboratório de Química doEstado Sólido, por exemplo, contacom uma área de pesquisa total-mente modernizada. Suas instala-ções estão equipadas com pias deinox, armários embaixo das banca-das com rodízios para facilitar oacesso à rede hidráulica e elétrica,bancadas ergonômicas, linhas degases e encanamentos padronizadose sala com temperatura e umidadecontroladas. A parte elétrica rece-beu uma atenção especial, já que aspesquisas utilizam fornos de até1700°C para fusão de vidros e cerâ-micas especiais. "Precisávamos delinha elétrica específica (de 50KVA),independente da usada para oscomputadores, e equipamentos ele-trônicos mais sensíveis", relata o co-ordenador do laboratório, OswaldoLuiz Alves. Havia, ainda, a necessi-dade de realocar esses fornos insta-lados num laboratório de ensino, eque por isso só podiam ser usados ànoite, nos finais de semana ou emhorários não ocupados pelos alu-nos, e garantir que eles operassemde acordo com padrões de seguran-ças. "Trabalhamos com óxidos deenxofre e gás sulfídrico que podem

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causar reações alérgicas e até sériocomprometimento do aparelho res-piratório", justifica Alves. A instala-ção de capelas com fluxo laminarveio proporcionar a exaustão ne-cessária.

Após as reformas, várias pesqui-sas importantes puderam ser rea-lizadas nesse laboratório que, hoje,integra o Centro de Pesquisa em Óp-tica e Fotônica, um dos dez Centrosde Pesquisa, Inovação e Difusão(Cepids) mantidos pela FAPESP. Olaboratório estuda, por exemplo, odesenvolvimento de materiais po-rosos para retirada de corantes quesão descartados nos efluentes porempresas de tingimento de tecido, eque podem comprometer o ambi-ente, e tecnologias de depósito depelículas sobre substra-tos vítreos (filmes finos),que podem ser usadoscomo sensores para gasesde poluição em situaçõesindustriais. Pesquisa tam-bém a utilização de partí-culas nanométricas quedão ao vidro propriedadesópticas não lineares ouefeitos quânticos, de uti-lização em telecomunica-ções rápidas.

"Além do aumento demotivação, o Infra pro-porcionou à equipe umlaboratório de padrão in-ternacional aumentarama nossa competitividadeem relação a outras uni-versidades e despertar ointeresse de pesquisado-res estrangeiros", afirmaAlves.

criavam, muitas vezes, situaçõesembaraçosas. Numa área de apenas50m2

, pesquisadores e alunos se re-vezavam num único espectômetro.Hoje, com uma área quase cinco ve-zes maior, de 240m2

, utilizada só parapesquisas e um novo laboratóriototalmente estruturado, a equipepode se dedicar ao desenvolvimentoe aplicação de novas técnicas pararesolução de problemas analíticosde poluentes em água, solo e ar ede existência de metabólitos emfluidos biológicos, apenas para citaralguns exemplos. A infra-estruturaadequada possibilitou a instalaçãodo primeiro espectômetro concebi-do para ser um pentaquadrupolar(acopla espectômetros de massas detriplo estágio - três análises de mas-

sas). Trata-se de um aparelho maissensível, que permite multiplicar apotencialidade de uso do equipa-mento e realizar uma maior quantida-de de experimentos, explica Eberlin."Pudemos sair na frente na pesquisabásica de mecanismos de reações.Hoje, desenvolvemos novas técnicaspara determinação da homocisteína- aminoácido no sangue -, que podesubstituir com vantagens as tradicio-nais dosagens de colesterol", contaEberlin. A equipe também está pes-quisando novas técnicas de moni-toração de reações químicas em meioaquoso (análise de compostos orgâ-nicos em água).

O laboratório mantém parceriascom várias universidades de São Pau-lo e de outros Estados e cooperação

com grupos de pesquisasda Dinamarca, Finlân-dia e Estados Unidos.Junto com a Universida-de de Purdue, em Indiana(EUA), por exemplo, es- .tão sendo realizados tra-balhos com biomoléculas,baseados na descobertade processo de seleçãonatural de aminoácidosquirais.

O Laboratório deProdutos Naturais, Sín-tese e Isolamento, ondetrabalham cinco professo-res, não passava por refor-mas desde sua construção,em 1972. Segundo AnitaIocelyne Marsaioli, só aalvenaria estava intacta. Osrecursos do Programa deInfra-Estrutura permitirama reforma de suas insta-lações, numa área de 300m', e o desenvolvimentode pesquisas importantes."Uma de nossas alunas depós-doutoramento rece-beu recentemente mençãohonrosa do prêmio Má-rio Covas por suas pes-quisas de filtro solar comação anticâncer in vitro",revela Anita. •

Área maior - O Programatambém beneficiou alu-nos e pesquisadores doLaboratório Thomsonde espectometria de mas-sas do IQ-Unicamp. O seucoordenador, Marcos No-gueira Eberlin, lembraque, antes das reformas, Espectometria de Massa teve área ampliadaas condições de trabalho

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Page 114: Nanochips do futuro

• QUíMICA

Em1989, o Departamento

de Química do Centrode Ciências Exatas e deTecnologia da Universida-de Federal de São Carlos

(UFSCar), com graves problemas deespaço físico, firmou um convêniocom empresas privadas, o que possi-bilitou a aquisição da área atual. Asnovas instalações permitiram ala-vancar financiamentos importantes,mas os novos projetos ampliaram asdemandas de pesquisa e acabarampor sobrecarregar a infra-estrutura."Nossos encanamentos entupiam,os disjuntores caíam, a fiação pegavafogo. E não havia recursos da Uniãopara solucionar esses problemas",conta o professor Luiz Otávio deSouza Bulhões, do Laboratório In-terdisciplinar de Eletroquímica eCerâmica (Liec). Os recursos doPrograma financiaram a moder-nização dos laboratórios e garantirama expansão de pesquisa de ponta. OLiec, por exemplo, desenvolve atual-mente tecnologia para utilização degrafite na baterias de celulares, emparceria com a Empresa Nacional deGrafite.

A modernização da infra-estru-tura também teve contribuição deci-siva para o desenvolvimento de pes-quisas na área de cerâmica. O setorutiliza fornos especiais, que atingematé 1600 °C, e equipamentos de de-fração de raios X com tubos de emis-são que operam com 15KVA. "Comrecursos do primeiro Infra refizemosa rede elétrica e todo o cabeamento.Trocamos transformadores, adequa-mos o sistema de exaustão, solucio-namos os problemas do primeiroraio X e pudemos construir uma salaadequada e com condições de salu-

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Investigação estratégica,• •parcerias promissoras

Pesquisas deslancham na área de Química da UFSCar

Novas instalações e mais segurança nas pesquisas da área de Cerâmica

bridade para os fornos de altas tem-peraturas que eliminam gases comeventuais traços de metais pesados",explica Bulhões. O programa tam-bém financiou a instalação de sis-tema de pára-raios e aterramento e areforma da parte hidráulica. Depoisdas reformas, afirma Bulhões, o nú-meros de alunos dobrou e a produ-ção acadêmica aumentou significa-tivamente.

O suporte de Infra-Estruturapermitiu ao Liec sediar o Centro Mul-tidisciplinar para o Desenvolvimen-to de Materiais Cerâmicos, dirigidopelo professor Elson Longo da Silva,um dos dez Centros de Pesquisa,Inovação e Difusão(Cepids) manti-dos pela FAPESP. O aporte do Pro-grama de Infra-Estrutura, aliado aum financiamento de cerca de R$ 1milhão do Programa de Apoio aoDesenvolvimento Científico e Tec-nológico (PADCT), do Ministério

da Ciência e Tecnologia (MCT),possibilitou a compra de acessóriossofisticados para melhorar a perfor-mance dos equipamentos já existen-tes. Com isso deslancharam, porexemplo, as pesquisas sobre corro-são de refratários que permitiram al-terar os tipos de proteção usadosnesses materiais. Também foi possí-vel criar o refratário magnésia car-bono, muito usado na indústria si-derúrgica em carros-torpedo para otransporte do gusa do alto-forno atéo conversor e em panelas para o tra-tamento final do aço. O principalcliente é a Companhia SiderúrgicaNacional (CSN).

Para Elson Longo, do Liec, outrogrande impacto das melhorias foipermitir a realização de pesquisasem nanotecnologia para criação denanossensores de detecção de umi-dade, incêndio ou temperaturas decorpos, para uso em alarmes. As re-

PESQUISA FAPESP

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formas também permitiram o de-senvolvimento de tecnologia de adi-ção de oxigênio na temperatura de500°C a 900°C durante a queima paraa produção de cerâmicas mais bran-cas, sem defeitos ou pontos escuros,causados pela queima inadequadado material orgânico que compõe asua massa.

No laboratório de Síntese Orgâ-nica e Cromatografia Líquida de Al-ta Eficiência (Clae), os recursos doprograma financiaram a montagemde um laboratório com condições desegurança, dotado de chuveiros, es-cadas e portas de saídas rápidas paraemergências, bancadas com tampo degranito, sistema de exaustão, etc. Comas reformas, aspesquisas deslancharam."Desenvolvemos tecnologia para aná-lise de fluidos biológicos como plas-ma, urina, saliva e para separação decompostos ópticos" explica QueziaBezerraCass.O laboratório realiza,ain-da, estudos farmacocinéticos e meta-bólicos de disposição de drogas noorganismo humano. Na avaliação deMassami Yanashiro, do Clae, o pro-grama contribuiu para diminuir ainsalubridade no trabalho e trouxetranqüilidade para o desenvolvi-mento de suas pesquisas de síntesede feronômios, compostos exaladospor insetos para atrair companheirospara o acasalamento, que podem serutilizados no controle de pragas emculturas como as de milho e café.

Os recursos do Infra também be-neficiaram os pesquisadores do L~-boratório de Cinética e Aluminis-cência. ''A falta de condições me fezinterromper pesquisas durante três aquatro anos", conta Edward Ralf Dó-ckal. Hoje, com a reforma e a padro-nização de acordo com normas desegurança, não existem mais os ris-cos de intoxicações do passado. Suaspesquisas envolvem sínteses de pro-dutos inorgânicos como reações ca-talíticas - oxidação de álcool, decompostos de enxofre - e pesquisasde química analítica com biossenso-res para determinação de presençade substâncias como ácido ascórbico,peróxidos e fenóis. •

PESQUISA FAPESP

Apoio estratégico paraa indústria nacionalUSP de São Carlos investe em energias alternativas

OInstituto de Química

. da Universidade deSão Paulo (USP), emSão Carlos, desenvolvepesquisas de ponta

com energias alternativas, polímeroscondutores para aplicação aeroes-pacial e tratamento de resíduos, entreoutras investigações de interesse es-tratégico para a indústria nacional.A modernização dos laboratórios foifinanciada com recursos do Progra-ma de Infra-Estrutura da FAPESP.Os investimentos contribuíram pa-ra a reforma e ampliação das áreasde pesquisa. O novo laboratório doGrupo de Eletroquímica, por exem-plo, ocupa atualmente o antigo pré-

Destiladores de resíduos no LEI

dio da oficina mecânica do Institutode Química. Ali, seis professores coor-denam as pesquisas com energias al-ternativas com células a combustível,dispositivos eletroquímicos para con-verter energia química em energiaelétrica.

As novas instalações vão permitir,por exemplo, a expansão das áreasde testes de protótipo com células ahidrogênio, conhecidas como cé-lulas a combustível de eletrólito po-límero sólido, foco de interesse dogrupo, como explica Francisco CarlosNart. "Com a nova estrutura preten-demos desenvolver protótipos de2kW(quilowatt), capazes de moverpequenos veículos, como os utiliza-

dos em campos de futebol paratransporte de jogadores machu-cados", prevê.

O Laboratório de Eletroquí-mica Interfacial (LEI), outraárea de pesquisa do Instituto deQuímica, também foi benefi-ciado. Lá são realizadas pesqui-sas para o desenvolvimento depolímeros condutores para apli-cação aeroespacial, de interessedo Centro Técnico Aeroespacial(CTA) e da Embraer.

O uso desses polímeros con-dutores envolve ainda a preocu-pação com a proteção à corro-são, que pode ocorrer em outrostipos de condutores, explica Ar-thur de Jesus Motheo, da equipedo laboratório.

Esses estudos já renderamum recente pedido de patente,em novembro de 2001. O LEItambém desenvolve pesquisasna área de eletroquímica am-biental, com degradação de resí-duos em efluentes. •

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• QUíMICA

-

RXPansãoatual do Instituto de

Química (IQ), da Unesp deAraraquara e sua crescen-te participação em impor-tantes projetos científi-

cos estão diretamente relacionadascom as reformas realizadas com re-cursos do Programa de Infra-Estru-tura da FAPESP. "O Infra está emtoda a instituição': diz a professoraElizabeth Berwerth Stucci, diretorado IQ. OS recursos financiaram re-formas das redes elétricas, hidráulicase de sistemas de segurança. "A me-lhoria de qualidade de nossas pesqui-sas nos permitiu pleitear a participa-ção no Cepid, junto com o CentroMultidisciplinar para o De-senvolvimento de MateriaisCerâmicos da UFSCar. E paraabrigá-lo, a universidade jáestá construindo um terceiroprédio", conta Elizabeth. Amodernização dos laborató-rios possibilitou a participa-ção dos pesquisadores noprojeto de seqüenciamentodo Genoma Xanthomonas eno Programa Biota-FAPESP.

A nova estrutura possibi-litou também ao IQ participardo CT-Petro, um programa na-cional gerenciado pela Finan-ciadora de Estudos e Projetos(Finep) que investiga novasmetodologias de análise daqualidade dos combustíveis, eainda manter um Centro deMonitoramento e Pesquisa daQualidade de Combustível, emconvênio com a Fundunesp ea AgênciaNacional do Petróleo(ANP) para monitoramentode 1.340 postos de abasteci-mento no Estado.

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Instituto apóia políticaspúblicas municipaisIQ da Unesp, em Araraquara, diversifica pesquisas

nova fábrica na cidade de GaviãoPeixoto.

Paralosé Arana Varela, do Labo-ratório de Síntese de Processamen-to Cerâmico e do Centro Multidis-ciplinar para o Desenvolvimentode Materiais Cerâmicos, um dosCepids mantidos pela FAPESP, oInfra contribuiu significativamentepara o desenvolvimento da pesquisabásica. ''A construção de uma sala lim-pa com boa exaustão, ar-condicio-nado e fluxo de ar filtrado nos per-mitiu deslanchar pesquisas comfilmes finos e estudos de nanomate-riais", diz ele. "A nova estrutura detrabalho alavancou pesquisas de

ponta e vai possibilitar amelhoria de atendimento àsnecessidades de empresasde porte como a Compa-nhia Siderúrgica Nacional(CSN) e White Martins",conclui Varela.

No Laboratório de Materiais Fo-tônicos, o programa criou condi-ções para a instalação de uma torre deextensão de fibras ópticas da Telebrás,única na América Latina. Com issofoi possível fechar um convênio coma Ericsson para desenvolvimento denovas fibras ópticas.

Também no Laboratório deQuímica Ambiental, as melhorescondições de trabalho ampliarama interação com prefeituras, paracontrole e monitoramento de usi-nas de compostagem de lixo, e comempresas como a Embraer, para a-companhamento e avaliação dosmananciais da área de instalação da

Melhores condições de trabalho na vidraria da Unesp

Vidraria - A Vidraria daUnesp, única na região,também recebeu verbas parareformas no sistema deexaustão, de vital importân-cia para a atividade. "Nossosvidreiros trabalham com sí-lica e maçaricos, em altastemperaturas e muito pró-ximo das partículas de sílicaque podem causar proble-mas de saúde", explica An-tônio Eduardo Mauro, co-ordenador. Outra melhoriaproporcionada pela reformafoi a construção de uma ca-pela, anexa à oficina, para'uso de gravação em vidrosque exige a manipulação desolventes tóxicos. •

PESQUISA FAPESP

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ç:

• HUMANIDADES

A arte de protegero ensino e o patrimônioMelhoria das instalações alavancam institutos paulistas

Laboratório de fotografia da:FAU ganhou sistema de iluminação, de exaustão e aparelhos de ar-condicionado

OInstituto de Artes (IA)da Unesp, em São Pau-lo, está entre as melho-res escolas brasileirasque oferecem curso de

graduação e pós-graduação em mú-sica, artes plásticas e educação artís-tica. "Há seis anos, éramos o terceiromundo da universidade': lembra IohnBoudler, professor titular do Departa-mento de Música. A partir de 1995,re-cursos do Programa de Infra-Estrutu-ra da FAPESP,equivalentes "à receitade custeio de dois anos", na compa-ração de Boudler, permitiram a re-construção da biblioteca e do audi-tório, melhorando substancialmente

PESQUISA FAPESP

as condições de ensino. "O antigo audi-tório não tinha tratamento acústico esonoro, refrigeração e sequer banhei-ro': ele conta. Com o apoio do progra-ma também foi possível implantaruma rede de informática. As refor-mas das instalações, encerradas em1997, tiveram reflexona procura peloscursos oferecidos pelo instituto, queconta, atualmente, com 600 matrí-culas no conjunto dos cursos. "Ago-ra é hora de reestruturar o instituto",afirma Boudler.

Os recursos do Programa de In-fra-Estrutura para 142 projetos naárea de Ciências Humanas e So-ciais beneficiaram também o Insti-

tuto de Estudos Brasileiros (IEB), daUniversidade de São Paulo (USP).O IEB reúne importantes documen-tos sobre a história do pensamentobrasileiro. Integram seu acervo obrasraras, como o Incunábulo, um livrocomposto no século 15, e seus ar-quivos reúnem manuscritos e fotosde grandes personagens da culturabrasileira como Graciliano Ramos,Mário de Andrade ou Guimarães Ro-sa. Isso sem falar nas coleções de in-telectuais como lan de Almeida Pra-do e do historiador carioca AlbertoLamego.

Hoje, essa documentação está pre-servada com segurança e, ao mesmo

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• HUMANIDADES

Auditório do Instituto de Artes, da Unesp, tem tratamento acústico e sonoro

tempo, acessível ao público. No en-tanto, antes das reformas e moder-nização das instalações propiciadaspelo Infra, as condições precárias dasinstalações do IEBrepresentavam umaameaça a esse patrimônio. Não exis-tia, por exemplo, nenhuma formade proteção contra incêndio. Apenasa biblioteca contava com ar-condi-cionado. O sistema elétrico do pré-dio era gerido por centrais de forçadistintas, o que dificultava o controleda carga e aumentava o risco de sinis-tros fatais. As reformas e a melhoriadas instalações do prédio foram rea-lizadas com recursos do Programade Infra-Estrutura da FAPESP. "OInfra foi a solução", sintetiza MartaRossetti Batista, pesquisadora deHistória da Arte do 1EB.No caso dasáreas de arquivo do instituto,optou-se por um sistema de prote-ção contra incêndio à base de gáscarbônico - já que nesse tipo de do-cumentação a água pode causar tan-to estrago quanto o fogo, destruindotodo o material. No arquivo tambémfoi instalado sistema de ar-condicio-nado e construída uma central deenergia elétrica própria, indepen-dente da dos demais departamentose ainda mais potente. O programafinanciou a construção de cabines

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especiais para consultas por meio demicrofilmes e computadores, o quefacilitou o acesso dos pesquisadorese alunos aos documentos que inte-gram o seu acervo.

Os recursos do Infra financiaram,ainda, a troca do mobiliário, a comprade servidores e computadores e a mon-tagem de uma rede de informática. Acoleçãode artes visuais ganhou um sis-tema de climatização com ar-condi-cionado e umidificadores para a con-servação das obras, além de nova fiaçãoelétrica e iluminação adequada. Asreformas do espaço da biblioteca, queserá reaberta ao público este mês, au-mentaram a área disponível para guar-dar um número maior de coleções."Hoje o IEB está totalmente equipa-do': garante Marta. A consolidaçãode uma boa infra-estrutura aumen-tou o fluxo de consultas nos arquivose mudou os processos de trabalho."Foi preciso organizar e metodizar omaterial de forma a atender melhore com mais recursos", explica Marta.

O apoio do Infra também foifundamental para a consolidação eexpansão do Laboratório de Recur-sos Áudio Visuais (LRAV) da Facul-dade de Arquitetura e Urbanismo(FAU), da USP. O antigo LRAV,cria-do em 1975, reunia laboratório de

fotografia de uso dos alunos eoutro para a prestação de servi-ços. No início da década de 90,com a ampliação da área de pes-quisa de História e do número debolsistas, fez-se necessário im-plantar um terceiro laboratório,para uso exclusivo da pós-gradua-ção, com equipamentos mais so-fisticados e, conseqüentemente,mais caros, adquiridos com recur-sos da FAPESP.Mas a única áreadisponível estava no porão noprédio principal da FAU,e todo oLRAV acabou sendo transferidopara um prédio anexo. "As insta-1açõeseram péssimas e impossibi-litavam o trabalho': lembra NestorGoulart Reis Filho, do Departa-mento de História da Arquiteturada faculdade. O laboratório nãotinha sistema de exaustão de ar

para dar vazão aos vapores quími-cos que exalavam das áreas de reve-lação de fotos e a cabine de revelaçãode filmes estava instalada numa salacom janela iluminada, voltada paraos jardins da FAU.A área era contí-gua à oficina da faculdade, onde ope-ravam serras elétricas. O barulho eraensurdecedor e as paredes, de gesso,vibravam perigosamente. E mais:voltado para a face poente, o calor dolaboratório era insuportável.

"Com os recursos do Infra subs-tituímos o forro por outro, desta vezacústico, adequamos o sistema deiluminação, colocamos persianas,instalamos sistemas de exaustão ear-condicionado, reformamos o sis-tema hidráulico e ainda vedamos assalas de forma a melhorar as condi-ções de instalação dos equipamen-tos': conta Goulart.

Para maior segurança de alunos,pesquisadores e do patrimônio, fo-ram instalados detectores de fuma-ça, sistema de vigilância eletrônicae grades. As reformas permitiram,por exemplo, colocar em operaçãoum equipamento de revelação emcores que estava inoperante. As re-formas, ele diz, inauguraram umanova fase de trabalho no laboratóriode pesquisa histórica. •

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