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MONS. LUÍS CIVAM»
FORMAÇÃO PARA O
APOSTOLADO
VOZES
MONSENHOR LUÍS CIVARDI
Formação Para o Apostolado
Versão autorizada
de
FR. ADAUTO DE PALMAS, ,0 . F. M.
II EDIÇÃO
1948EDITORA VOZES L tda., PETRóPOLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO — SAO PAULO
I M P R I M A T U R POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM JOSE- PEREIRA ALVES, ADMINISTRADOR APOSTÓLICO DA DIOCESE DE PETRÓPOLIS. PR. MATEUS HOEPERS O. P. M. PETRÓPOLIS, 20 DE DEZEMBRO
DE 1947.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
SUGESTÕES PRÁTICASPARA USO DESTE LIVRO
Os capítulos que encerra o presente volume foram elaborados com o intuito de que forneçam melhor entendim ento dos temas que tratam os e, consequentemente, induzam a um apostolado leigo mais eficiente nos diferentes campos a que se referem.
Para se in ic iar no Apostolado Leigo, fazemos as seguintes sugestões:
a) D edicar quinze m inutos diários à meditação e ao estudo, a fim de se abrasar no amor de Deus e se p rep ara r para a Ação Católica.
b) A ceitar como responsabilidade pessoal o tra balho de se instru ir acerca do ponto de vista católico no tocante aos problem as atuais.
c) T ransm itir a outros nossas opiniões e conhecim entos e colaborar na formação de dirigentes e m ilitantes.
d) Ler e d iscutir a m atéria aqui exposta com um ou mais amigos e destarte engendrar planos para form ar Círculos de Estudo.
e) Solicitar o Pe. Vigário ou seu Coadjutor a que assista às reuniões, presidindo-as e dirigindo os estudos.
f) Caso não pertençam os a nenhum a organização paroquial, ingressar na que nos m elhor condiz e tom ar parte ativa nos seus trabalhos.
g) Influ ir para que a organização da qual fazemos parte ad ira à Ação Católica e com partilhe seu apostolado, consoante o desejo do Santo Padre.
h) E n tra r em comunicação com os dirigentes diocesanos, propondo-lhes iniciativas e pedindo-lhes oportunas diretrizes.
i) Prom over a Ação Católica, m orm ente pelo bom exemplo.
Não duvidamos que todos os católicos estão convencidos da necessidade de aplicar rem édio im ediato às questões aqui abordadas; todavia o assentimen-
« FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
to m oral apenas não é suficiente, senão que se requer decidir-se a fazer algo para procurar o progresso da Ação Católica.
Seria deveras lam entável que nos contentáram os com a simples leitura dos capítulos deste livro; é im prescindível avançarm os na p rópria santificação e colaborarm os na Ação Católica do modo que vamos apontar. Nada de fatigante ou in tricado há no movimento regenerador da Ação Católica, antes o participarm os nela se to rnará uma das m aiores satisfações de nossa vida de católicos.
Digne-se a Santíssim a Virgem, Rainha dos Apóstolos, fazer com que as presentes páginas suscitem, naqueles que as estudam, o anelo ardente de tra balhar na recristianização do m undo por meio da Ação Católica.
0 APOSTOLADO
Introdução
Recordemos o episódio da cura do paralítico no Tanque das Ovelhas de Jerusalém : “Havia em torno dele grande multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos que aguardavam o movimento da água,” F azia trin ta anos que estava doente e não se pudera curar. Por quê? Porque não tinha um homem que o metesse na água quando esta era agitada pelo anjo.
Quantos enfermos da alma em roda de nós! E quantos que esperam a cura! Muitos deles podem dizer com o paralítico do Tanque: “Não tenho n in guém que me bote na p iscina regeneradora da graça.” Em outras palavras, não encontraram o apóstolo.
Dolorosa rea lid ad e : muitos são os enfermos da alma, porém poucos as médicos e enferm eiros. Poucos os apóstolos no laicato católico.
Por quê?Às vezes por não se conhecerem a natureza, digni
dade e necessidade do apostolado dos leigos.Por que tantos mem bros da Ação Católica não são
apóstolos ativos e fervorosos? Certamente porque ignoram tudo isto.
Uma vez que todos os membros de nossas associações devem ser apóstolos operosos, tratarem os deste assunto do Apostolado, fazendo ver:
1. " Sua natureza.2. ° Sua dignidade.3. * Necessidade do Apostolado Leigo.
Natureza do ApostoladoQue é o apóstolo?Chama o mundo de Apóstolo o que se consagra
com entusiasmo a um ideal, a uma causa pública. Contudo não se lhe dá se esta causa é boa ou má. Daí a profanação do nome de Apóstolo quando se aplica ao propagandista de ideais falsos, aos defensores de causas não boas.
8 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
0 nome de Apóstolo é sagrado, tem sua consagração no Evangelho. Prega Cristo a todo o mundo em razão de querer a salvação de todos. Nada obstante, entre todos os seguidores de sua doutrina, escolhe doze aos quais chamou Apóstolos. Dá-lhes uma instrução especial, dispensa-lhes um trato íntim o e familiar. P o r quê? Porque serão enviados pelo mundo a continuar a missão salvadora.
A palavra Apóstolo significa, portanto, enviado. O Apostolado é missão divina; e quem envia é Je sus. E’ a seus Apóstolos que Ele disse: “Assim como o Pai me enviou, assim vos envio a vós.”
A que obra os envia? “Ide pelo mundo todo, pregai o Evangelho a toda cria tura humana. Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado.”
Logo a missão dos Apóstolos é pregar o Evangelho, salvar as almas, conduzindo-as a seus destinos eternos.
Eis o que significa Apostolado: missão espiritual para a salvação do próximo.
Não é Apóstolo o que diz: “quero salvar-me a mim próprio”, senão o que d iz : “quero comigo salvar os outros.” O verdadeiro Apóstolo tem sempre em mente a palavra dolorosa de Cristo m oribundo: “Tenho sede.”
Em uma palavra, Apóstolo é uma alma cristã e cristianizadora, ou, segundo uma acertada expressão de Pio X I: Apóstolo é um centro de irradiação de atividade benéfica.
Dignidade do Apostolado
Nenhuma em presa hum ana pode com parar-se com a do Apóstolo. Para conhecer sua dignidade faz-se m ister conhecer antes o valor da alma humana.
Qual é o valor da alma? 0 Sangue de Cristo Nosso Senhor: “Haveis sido resgatados não a preço de ouro ou prata, mas com o Sangue precioso de Cristo.
“Chegar à Índia, salvar uma alma e então m orrer”, exclamava o grande apóstolo S. Francisco Xavier.
O APOSTOLADO 9
Este Santo com preendera o preço de uma alma e por isso cria que a vida estava bem empregada na salvação de uma só. Concedeu-lhe o Senhor a graça de salvar uma multidão ingente.
Escreve S. D ionisio: “De todas as coisas divinas, a mais divina é cooperar com Deus na salvação de um a alma.” Obra essa que terá ressonâncias eternas, ao passo que as obras hum anas não u ltrapassam os lim ites do tempo.
Todavia, ao passo que se fazem sacrifícios estupendos e por vezes heroicos para salvar a vida corporal do próximo, arrostando perigo de água e fogo — quantos são os que se expõem a estes mesmos perigos por lograr a salvação de uma alma?
Além disso, não raro se enfrentam os m aiores r is cos por coisas que valem muito menos do que a saúde do p róx im o: por um prémio, pelo louvor, por uma vantagem m aterial.
Mas que se faz pela salvação de uma alma?
Necessidade do Apostolado leigo
À despeito disso, o Apostolado é dever de todos: não apenas dos sacerdotes, senão também dos leigos, Disse-o claram ente o P a p a : “E’ um dever de am or para com Deus, de caridade para com o próximo, dever imposto pelos sacram entos do batismo e da confirm ação.”
Hoje é esta obrigação mais prem ente e mais necessária.
Porquanto, à m edida que a sociedade, como a m iúdo o declarou S. S. Pio XI, se torna cada vez mais pagã, a intervenção do alto se faz cada vez mais insuficiente para atender à grande em presa da recristianização social.
Em prim eiro lugar, os sacerdotes são mui poucos para tam anho com etim ento; e, em segundo, em ra zão de seu caráter sagrado, não podem penetrar todos os setores da vida social, e sobretudo aqueles onde mais necessária se torna sua intervenção; em terceiro lugar o m inistério do sacerdote é, vezes sem conta, ineficaz, por estar cercado de percalços e dificuldades de todo gênero.
10 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
O Apóstolo leigo deve sup rir o sacerdote, porque pode en trar ali onde não chega a ação do sacerdote, e pode coligir messe copiosíssim a onde este só encontra repulsão e desprezo.
À vista disso, o laicato há de ser a m ilícia auxilia r da Igreja, e esta m ilícia chama-se Ação Católica.
Conclusão
Em vésperas de uma grande batalha, Napoleão dirigiu-se assim a seus soldados: "Soldados, preciso de vós!” Hoje a Igreja conclama seus filhos: “F ilhos, necessito de vós!” Mas que diferença entre ambas essas conclam ações: Napoleão convidava a uma batalha cruenta, a Igreja convida-nos a uma luta pacífica; Napoleão pretendia satisfazer suas ambições pessoais, a Igreja não procura outra coisa que não a glória de Deus e o bem das almas. Custou a vitória de Napoleão m ilhares de vidas, a v itória da Igreja dá a vida eterna a todos os remidos.
A AÇÃO CATÓLICA
Introdução
Marchava Antíoco, rei da Síria, com poderoso exército contra Jerusalém , a Cidade Santa. Judas Macabeu, com andante dos judeus, ordenou ao povo invocasse o nome do Senhor, a fim de que ajudasse a defender a cidade, e exortou os mais valorosos “a com bater varonilm ente e a defender até a morte a Lei do Senhor, o templo, a cidade, a Pátria e os cidadãos”, ameaçados por Antíoco, m inistro de Satanás, e deu aos seus como santo e senha estas palavras: A V itória de Deus.
De feito, ela foi obtida gloriosamente, Deus triu n fou, Jerusalém e o templo salvaram-se.
Judas Macabeu e seus soldados são quais p recursores da Ação Católica, porquanto esta é um exército, muito em bora exército pacífico. Seu santo e senha são as palavras de Pio XI: “A paz de Cristo no Reino de Cristo.” E’ um exército que, à semelhança daqueles judeus, não combate pelo triunfo de um povo, duma dinastia ou facção, mas pela vitória de Deus.
Por isso a Ação Católica é uma ação dos leigos organizada, cristianizadora e necessária.
Examinemos estes característicos.
Ação dos leigos
A Ação Católica é um campo aberto a todos os leigos, de qualquer sexo, idade ou condição. E’ tal qual a vinha evangélica em que todos são convidados a trabalhar; não há mais pretexto para o católico leigo d izer: “Ninguém nos convidou ao trabalho”.
O Pai de Fam ílias, na pessoa de seu Representante na terra, chamou a todos com o convite: “Ide também vós trabalhar na m inha vinha, há campo para todos.”
12 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Contudo mui poucos são ainda os que atendem ao chamamento, de modo que podemos dizer com os convivas do banquete : “Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.”
Ação organizada
Feito um tratado de paz com a Inglaterra, m andou a Holanda cunhar uma medalha comemorativado acontecim ento; num lado representava uma junta de bois acolherados sob o jugo e em posição de puxar o arado, sobreposta a eles a inscrição: “Unidos Somos Fortes.” Noutro lado se viam dois vasos de barro a boiar num m ar agitado, com esta legenda: Se Nos Chocarmos, Quebraremos.”
Otimamente serve esta m edalha para elucidar toda a organização da Ação Católica — essa que é ação organizada. Quer isto significar que os leigos nela inscritos não estão isolados e independentes, mas são como as partes de um todo, quais membros de um corpo, quais soldados dum exército.
O antigo e sem pre verdadeiro anexim : “Â União Faz a Força” aponta-nos a utilidade, eficácia e necessidade da organização. Requer-se, por conseguinte, que a Ação Católica seja em todas as Nações uma força organizada com seus núcleos paroquiais, diocesanos e nacionais.
Sabemos por outra parte como os maus se unem para seus em preendim entos, dispersos em muitos pontos, atuam em acordo, talqualm ente Herodes e Pilatos, quando se trata de com bater o nome de Deus e a religião de Jesus Cristo. E por que não se uniriam os bons para o bem e para defender os direitos de Deus e fazer o que é bom?
Para explicar a eficiência da organização costu- rna-se recorrer a várias comparações. A preciadíssima é a das varas que, separadas, facilmente se podem quebrar, mas unidas em feixe não se quebram. Outra não menos evidente é a do regatozinho que, à boca da fonte, cabe perfeitam ente dentro da mão; correndo, porém, através dos campos, reúne-se a outros até converter-se numa torrente a derram ar- se pelas planícies, levando a fecundidade ou a desolação aos campos.
A AÇÃO CATÓLICA 13
Açfio recristíanizadora0 único fim da Ação Católica é a vinda do Reina
do de Cristo. 0 lema que tem foi dado por Jesus Cristo mesmo: “Venha a nós o Vosso Reino”.
Os Romanos Pontífices assinalaram para a Ação Católica o programa de S. Paulo: “Restaurar todas as coisas em Cristo.” Todas as coisas, não somente as consciências individuais, mas também a família, a sociedade, em todos os seus elementos constitutivos e em todas as suas manifestações.
Ao passar S. Bernardino de Sena por alguma c idade, convidava todos os habitantes a inscrever o nome de Jesus nas fachadas de suas moradias, e aceitavam o convite.
A Ação Católica quer escrever este nome em todas as coisas e em todos os corações. Cristo não deve ser um Rei encerrado no tabernáculo, nos claustros ou nas casas dos vassalos fiéis; há de reinar em todas as famílias e na sociedade inteira.
Conhecida é a lenda de S. Cristóvão, homem de estatura descomunal. Depois de haver servido a alguns patrões tiranos, põe-se ao serviço de Cristo, dedicando-se a obras de caridade. Junto ao rio Oronte, encarrega-se de transportar aos ombros a todos que quisessem atravessar.
Duma feita se lhe apresenta um menino mui formoso, rogando-lhe a mercê de o passar ao outro lado. O gigante leva-o sobre os ombros, mas no meio do rio, levanta-se uma borrasca com grande perigo de vida dos dois passageiros. 0 Menino brada: “Coragem, Cristóvão, trazes a Cristo.”
Desde aquele dia, Adócimo — tal era seu verdadeiro nome — chamou-se Cristóvão, ou seja Cristí- fero: o que leva a Cristo. Todos os membros da Ação Católica devem ser outros tantos Cristíferos a levar a Cristo no meio da sociedade, sabendo que esta obra não se fará sem dificuldades, visto como o apostolado cristão sempre conheceu tempestades e lutas.
Donde não olvidemos o que nos diz o Papa: “Exclusivamente depois de formarmos a Cristo dentro de nós, poderemos facilmente comunicá-Lo à família e à sociedade.” Pois ninguém dá o que não tem, ou em outros termos, não pode ser Apóstolo quem não é bom Cristão.
14 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Ação necessária
Mas donde vem isto de querer reform ar cristãm ente a sociedade? Basta ab rir os olhos para se convencer da necessidade desta empresa.
Uma sociedade pode dizer-se deveras cristã, quando nela não apenas se respeitam o símbolo da fé e o decálogo, senão quando se observam todas as leis prescritas pela Igreja, quando a moral evangélica é norm a de vida quer em público quer em particular, em casa como fora.
Será esta, porventura, a condição da sociedade m oderna?
A resposta é facil. Bastará apontar alguns fatos. Gomo se respeita, por exemplo, o nome de Deus, em certas e determ inadas regiões? Como se festejam as festas do Senhor? Como se observam as norm as de m oralidade?
Como se consideram no seio da sociedade civil as regras da justiça e da caridade para com o próximo? Poder-se-á dizer que a caridade — como o exige o Mestre — é o característico de seus discípulos?
E a família, célula e fundam ento da sociedade, em que estado se acha entre nós? E’ verdade que ainda conserva o cunho de cristã ; como se guardam, porém, as virtudes que a constituem o encanto da vida fam iliar: o am or cristão, o respeito, a concórdia, a fidelidade, a obediência?
A verdade é que a sociedade m oderna, como o re petia o chorado Pontífice Pio XI, caiu quase em sua totalidade no paganismo e necessita recristiani- zar-se; a Ação Católica está encarregada desta tarefa.
Por isso a Ação Católica tenciona form ar bons cristãos e bons cidadãos para o bem da Igreja e da Pátria , cujos interesses vão unidos aos daquela.
Já o disse o Santo P ad re : “O verdadeiro cristão é em virtude desta mesma condição o m elhor cidadão, amante de sua Pátria e submisso às autoridades legalmente estabelecidas.”
A AÇAO CATÓLICA 19
Conclusão
A história do povo judeu oferece-nos outro fato que representa adm iravelm ente a Ação Católica.
Regressando da escravidão de Babilónia, os judeus puseram-se a reconstru ir o templo e os muros da Cidade Santa. Mas os numerosos inimigos impediam- lho. Fizeram-se orações ao Senhor e os obreiros sustinham numa mão os instrum entos de trabalho e noutra a espada.
Hoje se trata de reed ificar a Cidade de Deus, a sociedade cristã, devastada por mais de meio século pelo laicismo descristianizador, Quem levará a cabo tam anho em preendim ento? Todo o povo cristão, sob a direção do Papa, dos Bispos e dos Sacerdotes.
Recordemos, todavia, o que nos aplica o Papa: “Se o Senhor não é o que edifica, em vão trabalham os que edificam a cidade.” Como os antigos judeus que levantaram o templo e a cidade, assim também nós outros invoquemos antes todo o auxílio do alto. A oração preceda a ação e então estejamos seguros de obter a vitória do Senhor.
A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER
Não é raro ouvir, quando convidamos alguém a ingressar nas fileiras da Ação Católica: “Homessa, sou católico! Ou quer você que me faça batizar de novo ?”
Tal resposta patenteia o desconhecim ento da Ação Católica e do dever de pertencer a ela.
Que coisa seja, já o dissemos no capítulo precedente. Agora queremos esclarecer por que é uma obrigação da vida cristã.
A Ação Católica é:a) um dever de am or para com Deus e de ca
ridade para com o próxim o;b) um dever imposto pelos sacram entos do Ba
tismo e da Confirmação.São caducos, portanto, os pretextos alegados para
se exim ir desta obrigação. *
Dever de caridade
I. E m r e l a ç ã o a D e u s .A um bom filho é p róprio am ar seu pai e desejar
que todos o amem e o honrem .0 que de verdade ama a Deus não pode menos
de querer que Ele seja amado e glorificado de todos. Esta a razão de ser a Ação Católica um apostolado para a glória de Deus. Seu program a pode resum ir-se nestas palavras de S. P edro : “Que Deus seja honrado em tudo.”
Por outra parte, quem ama a Deus há de querer o que Deus quer. Pois bem, aí está S. Paulo a nos en sin ar: “A vontade de Deus é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento de Deus.
Pelo que a Ação Católica é um apostolado para a salvação das almas, ou, como ensina Pio XI, é “um cuidado da própria alma e da alma dos demais.”
A ACÂO CATÓLICA E’ u m d e v e r 1?Portanto é um dever de amor de Deus; isto ressal
ta mais claro pelo seguinte exemplo.Desceu o Redentor Divino à terra, a fim de que
todos renascessem à vida sobrenatural: “Vim para que todos tenham a vida, e a tenham em abundância.” Mas também esta vida, como a vida natural, Ele não a comunica diretamente senão por intermédio de outros. E assim como para a transmissão da vida natural instituiu,o Matrimónio, bem assim criou o apostolado para comunicar a vida sobrenatural. Não salva Deus ao homem a não ser por meio de outros homens.
II. P a r a c o m o p r ó x i m o0 poeta Metastásio põe na boca do pagão Atílio
Régulo esta sentença “Vive inutilmente quem não vive senão para si.”
Tal palavra condena o egoísmo e estaria melhor na boca do cristão, vinculado que é pela lei evangélica da caridade a todos os seus semelhantes.
Cristo Nosso Senhor ordena-nos amar ao próximo como a nós mesmos. Ora, ninguém ama verdadeiramente a si próprio, se não se preocupa por sua alma, como também não há quem ame em verdade a seu próximo, se não trata de o salvar.
Aliviar as necessidades corporais do próximo é um dever que todos os cristãos cumprem e praticam, e não há quem não se indigne ao ver a conduta dos dois viajantes passando de largo, quando encontram o ferido no caminho de Jericó; entretanto comove-nos profundamente o. proceder do samaritano que dele se compadeceu e o levou à hospedaria para que fosse tratado e curado.
Mas quantas almas feridas, abandonadas, não se encontram hoje no caminho? E quantos são os bons samaritanos que se inclinam até elas para as aliviar e salvar? Além de tudo não olvidemos que as necessidades espirituais são mais urgentes do que as corporais, pois o espirito é superior ao corpo.
Se são muitos os que cumprem com o dever da caridade material, são mui poucos, ao contrário, os que praticam a caridade espiritual; crê-se ter feito bastante com o cuidar da própria alma.Formação — 2
18 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Fez o Senhor a Caim, após o assassínio de Abel, esta pergunta: “Onde está teu irm ão?” Respondeu Caim: “Sou eu porventura o guarda de meu irm ão?” Dirigisse Deus a mesma pergunta a cada um dos cristãos hodiernos, e retorquiriam com as palavras de Caim. Todavia, sem embargo, todos somos guardas de nossos irmãos como no-lo dizem as Sagradas E scritu ras: “Deus a cada um deu o cargo de ter cuidado de seu irm ão.” Não há dúvida tratar-se aqui especificam ente do cuidado espiritual.
A Ação Católica é a concretização perfeita deste dever de caridade; é o socorro piedoso às necessidades espirituais do próxim o; é o rem édio preventivo contra o tão difundido e daninho egoísmo espiritual.
Obrigação imposta pelo Batismo e Confirmação
Pelo Batismo nos fazemos cristãos, isto é, adquirim os o direito de cidadania nesta sociedade que se cham a Igreja Católica.
Ora, em toda sociedade, os membros todos hão de ser ativos, não em um mesmo plano nem da mesma forma, mas todos têm de contribu ir para o m elhor bem -estar da comunidade. O que procede de en tra m aneira é um parasita vergonhoso. E às vezes esta obrigação se torna tão im periosa que exige o sacrifício da p rópria vida.
“Pois bem — ensina Leão XIII — se a lei natural nos ordena am ar e defender a sociedade em cujo seio vimos a prim eira luz, e se todo cidadão deve dar a vida pela defesa da Pátria, m aior é o amor que todo cristão há de ter para com a Igreja. Porque esta é a Cidade de Deus, por Ele organizada, e, mesmo peregrina em a terra, chama e guia a seus cidadãos à eterna felicidade dos Céus.”
Nalgumas associações somos sócios honorários, bastando dar o nome. E nesta grande sociedade da Igreja Católica quantos não são apenas cristãos honorários, que não fazem honra a seu nome de católicos. Foram batizados e seus nomes figuram no registo paroquial — mas o que fazem pela Igreja? Todos devêramos ser católicos efetivos, ou melhor, ativos. ~
A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER 19
0 apostolado é um dever exigido mais claram ente pelo sacram ento da Crisma.
0 Batismo faz-nos cristãos; a Crisma, soldados de Cristo. Por meio deste sacram ento que aum enta a graça santificante se nos dá a fortaleza espiritual para em punhar as arm as e suster os ataques e im pugnações dos inimigos.
Que é, porém, a m ilícia senão altruísm o e dom de si? Um soldado egoísta é um contra-senso; é como dizer sacerdote incrédulo, mestre ignorante, juiz injusto.
A Ação Católica é uma santa m ilícia em favor de Cristo e da Igreja; Pio XI definiu-a: “batalha santa in iciada em todas as frentes.” *
D urante a Grande Guerra houve, como todos sabem, soldados que em vez de com bater nas prim eiras linhas, como era seu dever, se quedavam em postos seguros da retaguarda; deu-se-lhes o nome de Emboscados. O general Castelnau, que tanto se distinguiu na guerra passada e na atualidade é presidente de uma grande organização católica de França, chama os católicos que se quedam na retaguarda, em lugares seguros, e que recusam en trar em luta nas fileiras da Ação Católica, de “os Emboscados da P aróquia”. Quantos Emboscados desses atrás dos soldados de Cristo!
Vãos pretextos.
Mas ninguém quer ser tachado de covarde, e daí se inventaram vãos pretextos para dissim ular a inação.
Dizem uns: “Isto toca aos Padres. Cristo disse aos Apóstolos: Ide e pregai — a nós outros nos compete ser bons cristãos e não mais. De outro lado, os sacerdotes bastam por si sós para esta em presa de recristianização da sociedade.”
No entanto o Papa manifestou-se de mui d iferente modo ao declarar, m ais de uma vez, que a Ação Católica é um dever não apenas do m inistério sacerdotal, mas igualmente da vida cristã.
Disso já indicam os as p rincipais razões.2*
20 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
A este propósito escreve o Cardeal Maffi: “Cristãos, lembrai-vos que, se nós sacerdotes somos os capitães, vós sois os soldados; mais, o êxito duma batalha deve-se à perícia e tática dos generais e igualmente ao valor e fidelidade com que cada um dos soldados sabe m anter sua posição. Quantas batalhas de planos estratégicos impecáveis se perderam, porque o último dos soldados não foi fiel ao que o arregim entara. Se assim quereis, nós outros, sacerdotes, somos as sentinelas avançadas, a Companhia da Morte, célebre na heroica defesa de Car- roccio, e seremos os prim eiros a enfren tar os inim igos de Cristo; mas vós sois a ala do exército e os que haveis de sofrer o choque dos adversários.”4 Numa das derradeiras perseguições da Polónia m ártir se narra um feito que muito faz ao nosso caso. Intentavam os invasores profanar o Tabernáculo e roubar a Sagrada Eucaristia. O sacerdote in terpôs-se diante dos invasores no intuito de contê- los a distância; vendo, porém, baldados todos os seus esforços, corre ao Sacrário e o protege com ambas as mãos, abraça-se a ele com todas as forças, num último recurso de defesa.
Nisso, adianta-se um cossaco e desfere furioso golpe, decepando as mãos do sacerdote; este levanta os cotos sangrentos e grita ao povo: “A vós cabe agora a defesa de Jesus.” Irmãos, a cena comovente não é insólita; m uitas vezes os sacerdotes nos sentimos de mãos truncadas e nos voltamos a vós com a intim ação: “Defendei vós a Jesus!”
Dirão outros: “A Ação Católica é uma novidade. A Igreja viveu sem ela até hoje, e atualm ente há mais fé que antes e as coisas andam m elhor.”
Repetidas vezes o Papa rebateu tal asserção in fundada; eis algumas de suas palavras: “Á Ação Católica não constitui linda novidade dos nossos tempos, como alguns pensam, os que não estão dispostos a receber esta novidade e não a estimam como se deveria.”
A prim eira difusão de cristianism o fez-se m ediante a Ação Católica e não se podia realizar de outro modo. Que teriam efetuado os Doze, perdidos na im ensidade do mundo pagão, se não houvessem chamado em seu auxílio os meninos, jovens, donzelas,
A AÇAO CATÓLICA E ’ UM DEVER 21
m atronas e homens, dizendo-lhes: “Trazemos co- nosco o tesouro de Cristo, ajudai-nos a distribuí-lo.”
A Ação Católica em sua natureza, quer dizer, enquanto é a participação dos leigos no apostolado da Jerarquia, é tão antiga como a mesma Igreja.
Para o com provar, basta o seguinte fato. Após a perseguição de Jerusalém , na qual perdeu a vida S. Estêvão, m uitos cristãos leigos foram dispersados e o livro dos Atos nos diz que “andavam dum lugar para outro, anunciando a palavra de Deus. Em An- tioquia instru íram uma multidão tão numerosa que naquela cidade se deu pela vez prim eira o nome de Cristãos aos seguidores de Cristo.”
Os Apóstolos, sacerdotes, chegaram mais tarde àquela cidade. A prim eira semeada, as prim eiras conquistas, foi trabalho de leigos.
Por onde a Ação Católica não é uma novidade; a novidade está só na forma exterior, na organização. Que há de estranhar? Quantas novidades não temos adm itido na vida ord inária! Deveremos voltar à candeia de sebo por ser uma novidade a luz elétrica? A lei é esta: para tempos novos, novas exigências e novos remédios.
Conclusão
Recordemos o episódio da conversão da Sama- ritana. Depois do colóquio com Jesus, deixou o cântaro e se foi à cidade avisar seus concidadãos: “Vinde e vereis um homem que me disse tudo o que fiz. Não será talvez o Salvador?” E muitos vieram da cidade e creram nele pela palavra da mulher.
Aí temos um exemplo vivo do Apostolado Leigo. Prega a Sam aritana a Cristo, convertendo-se ela próp ria a Cristo, e por meio de seu procedim ento m uitos outros também.
Que visa a Ação Católica? Fazer conhecer e am ar a Cristo. E’ a continuação, através dos séculos, da obra da Sam aritana,
OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇÃO CATÓLICA
Introdução
Em Outubro de 1933, na Catedral de Santo Estêvão em Viena, concedeu-se, de m aneira solene, a investidura da Suprema Ordem da Milícia de Cristo ao Dr. Miklas, Presidente da República de Áustria. Depois que o Núncio, em nome do Papa, celebrou a solenidade, o novo Cavaleiro da Ordem de Cristo tomou a palavra e disse:
“Ser um verdadeiro Soldado de Cristo, ou pelo menos procurá-lo ser, deve constitu ir uma das preocupações de todo cristão, e esse pensamento há de an im ar todo o procedim ento seja público seja particular. Por boca dos Padrinhos o prometemos no Batismo, e depois, pessoalmente c de m aneira solene, na Confirmação.
No respeitante a mim, em m inha vida longa e atorm entada, tenho buscado — digo-o com franqueza — ser um verdadeiro Soldado de Cristo. Declaro- o sem rodeios e com viva satisfação, e, embora claram ente conheça minha insuficiência, faltas e defeitos e hum anas imperfeições, espero que Deus, Juiz benigno e m isericordioso que é, nos há de perdoar.”
Com estas palavras, o Presidente federal da Áustria não apenas se dizia católico, mas católico m ilitante, destarte fazendo, qual verdadeiro Soldado de Cristo, profissão solene do catolicismo m ilitante, ou seja, de Apostolado, apostolado esse que hoje tem a sua mais cabal expressão na Ação Católica.
Todavia não se contentou com isso o novo Cavaleiro de Cristo; como bom conhecedor da praxe da Igreja, indicou ainda os fundam entos dogmáticos do Apostolado Leigo, quando afirm a que todo cristão prom ete ser soldado rle Cristo e, portanto, Apóstolo, no momento de receber o Batismo e a Crisma. Verdade que bem poucos cristãos conhecem.
OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÕLICA 23
Por isso queremos profundá-la mais, demonstrando sucintam ente que a Ação Católica, enquanto Apostolado Leigo, é:
1) uma obrigação do Batismo;2) uma obrigação da Crisma.
-v Obrigação do Batismo
Num subúrbio parisiense, um bom sacerdote propôs num belo dia a um operário incrédulo fizesse batizar um dos filhos que estava em perigo de m orte. “Que me im porta o vosso batismo — respondeu o operário — isso não é lá mais que uma pitada de sal na boca.”
Na generalidade, os católicos têm do Batismo um conceito um pouco m elhor do que o obreiro da nossa história. Mas onde estão os que dele têm noção exata, já em seus efeitos, já sobretudo em suas obrigações?
Uma obrigação que deriva dos efeitos do Batismo é o Apostolado.
Pelo Batismo o homem se faz filho adotivo de Deus, irmão dc todos os cristãos, membro da Igreja. Destes três efeitos emana o dever do Apostolado, como passamos a dem onstrar.
I. F i l h o A d o t i v o d e D e u sQuando se batiza um menino, renova-se a cena
milagrosa que se efetuou no dia do batismo de Jesus, às orlas do Jordão. Do céu baixou a voz do Eterno P a i: “Este é o meu filho muito amado, em o qual tenho todas as m inhas com placências.”
Parecerá exagero, nada obstante é realidade. P ro dígio de amor infinito.
“Admirai — escreve S. João — que prova de amor nos tem dado o Pai ao querer que nos chamemos e sejamos em verdade filhos seus.”
Poucos cristãos advertem a esta altíssima dignidade. Bem o com preendia a cam areira da filha do Rei Luís XV da F rança; ao ser repreendida por sua senhora com estas palavras: “Não sabeis que sou filha do vosso Rei?” respondeu-lhe: “E* verdade; mas eu sou filha de Deus, Rei dos Reis.”
Tão grande dignidade traz consigo uma obrigação bem defin ida: a de prom over e defender a honra de Deus. Um filho não pode considerar com olhos
24 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
indiferentes a honra de seu pai. Se, pois, somos filhos de Deus, sua glória deve-nos preocupar.
Isto posto, em que consiste o Apostolado? Em zelar pela honra de Deus. E que é a Ação Católica? Um Apostolado para a glória de Deus.
Pelo que é o Apostolado uma obrigação direta do Batismo.
II. I r m ã o s d e T o d o s o s C r i s t ã o s
Os filhos de um mesmo pai chamam-se irmãos. Todos os cristãos são filhos de Deus; logo, irmãos entre si.
Os prim eiros cristãos denominavam-se com o nome dulcíssimo de Irmãos. Ainda hoje em dia a liturgia usa esta expressão: “Orai, Irm ãos” diz-nos o sacerdote na Santa Missa.
Pois bem, entre irm ãos é coisa sagrada e natural o amor, o auxílio recíproco e a comunicação dos bens. “Tudo o meu é teu” — é a fórmula da verdadeira fraternidade. O irm ão que tem mais dá ao que menos tem; não m orre de fome um irmão enquanto ao outro fica um pedaço de pão.
E se o provérbio re z a : “Amor de irmão, amor de adversário”, é verdade só no caso de o amor degenerar em ódio, como a miúdo sucede.
Devem os cristãos amar-se e ajudar-se m útuam ente como irm ãos; ajudar um ao outro nas necessidades m ateriais e sobretudo nas espirituais. Hão de procurar que todos estejam providos dos dons do Espírito, que ninguém pereça, que todos se salvem.
“Quem está enfermo, que eu não no esteja tam bém? Quem se escandaliza, que me eu não abrase?” Tal palavra de S. Paulo deveria estar na boca de todo cristão.
Então, que é afinal de contas a Ação Católica? Um Apostolado para a salvação espiritual de nossos Irm ãos em Cristo.
III. M e m b r o s d a I g r e j aPelo Batismo se adquire o direito de cidadania
nesta imensa sociedade que é a Igreja Católica.Ora, não devem acaso os cidadãos sofrer e traba
lhar pelo bem da sociedade em que nasceram ou da qual são membros, sociedade que se chama Pá-
OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÓLICA 25
tria ou Nação? As contribuições e as responsabilidades são diversas, segundo o posto que cada qual ocupa, mas todos estão obrigados a dar algo.
Assim o sacrificar-se pela Pátria em perigo é um dever para todos; destarte vimos como na passada guerra mundial m orreram além de oito milhões de homens para defender os direitos de suas respetivas Pátrias. Aos que então tombaram se erigiram em todas as partes monumentos de justo reconhecim ento.
Mas os cidadãos da Igreja, os súditos de Cristo Rei, não teremos os mesmíssimos deveres para com a sociedade religiosa a que pertencem os?
Pois bem, a Ação Católica é um Apostolado para a defesa e dilatação da Igreja, ou seja, do Reino de Cristo no mundo.
Obrigação imposta pela crisma.
Mais evidente é ainda que a Ação Católica é um dever resultante do sacram ento da Confirmação.
A Crisma ou Confirmação faz-nos cristãos perfeitos, Soldados de Cristo. Aumentando a graça, robustece a alma e torna-a idónea para a luta.
Deve o soldado com bater e mesmo m orrer, quando as circunstâncias assim o exigem. Por quem? Pela Pátria, por seus concidadãos. Não por si, mas pelos outros. A m ilícia é generosidade e sacrifício de si próprio. O soldado egoísta torna-se desertor.
O Soldado de Cristo deve lu tar e combater, e até deve estar disposto a dar a vida pela causa de Cristo e pela defesa de seu reino, a Igreja.
Eis que a Ação Católica é a m ilícia santa para defender a Cristo e a sua Igreja.
A Crisma, como o ensinam as Escrituras, consagra-nos para o Apostolado.
Disse o Salvador a seus Apóstolos no momento de separar-se deles para voltar ao P a i: “Recebereis a força do E spírito Santo que virá sobre vós e sereis m inhas testemunhas em Jerusalém , na Judeia e Sa- m aria e até os confins da terra .”
O Espírito Santo transform ou os Apóstolos e discípulos de Cristo em testem unhas, quer dizer, em pregadores de sua doutrina.
26 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Cumpriu-se a promessa dez dias após a Ascensão do Salvador, no dia de Pentecostes. “Cheios do Espírito Santo, começaram a falar.” No princípio tímidos, medrosos — tinham renegado e abandonado a Cristo — depois de receber o Espírito Santo tornaram -se valorosos heróis do nome de Cristo.
Pois bem, na Confirmação o cristão recebe o Espírito Santo com o cortejo de seus dons e, embora não do mesmo modo que os Apóstolos, todavia em igual medida. Logo se torna testem unha de Cristo, isto é, Apóstolo.
A Confirmação é, em razão do que se disse, o Sacramento do Apostolado Leigo, o Sacramento da Ação Católica.
Conclusão
Como explicamos, a Ação Católica é uma certa m ilícia, e ainda temos de acrescentar que é m ilícia escolhida.
Representa a m ilícia de Gedeão na luta contra os inimigos. Eram muitos os guerreiros que seguiam a Gedeão, porém o Senhor ordenou-lhe fazer uma seleção e escolher só aqueles que, ao passarem pela fonte de Harade, bebessem a água na concha da mão sem dobrar os joelhos. Apenas trezentos assim procederam , e esses foram os escolhidos.
Os soldados da Ação Católica são como os de Gedeão. Malgrado todos estejam recenseados, pela Confirmação, no exército cristão, muitos deles não possuem aptidão para esta m ilícia seleta; uns emboscaram-se, outros desertaram para o lado dos in imigos.
Os inscritos na Ação Católica devem prefe rir os postos avançados, pelejar na vanguarda pelo triunfo de Cristo.
Sejamos fiéis ao sinal convencionado como os trezentos de Gedeão. Deus estará conosco como esteve com eles, e onde está Deus ali brilha a vitória.
0 APOSTOLADO DOS LEIGOS NO EVANGELHO
Introdução
Entretanto, depois de tudo, o que se entende por Leigos?
Por vontade do Fundador divino, na Igreja de Deus há duas classes de membros: os Clérigos e os Leigos. “Clérigos chamam-se aqueles que, ao menos com a recepção da primeira tonsura, se dedicaram ao serviço divino.”
Todos os demais membros se chamam Leigos, ou simplesmente Fiéis.
A Ação Católica é o Apostolado dos Leigos.No Evangelho, ao lado da pessoa adorável do
Salvador, achamos já tal distinção em grau, digamos, inicial. Os doze Apóstolos, chamados de maneira especial a seguir o Salvador, são os futuros Sacerdotes que constituirão a Jerarquia da Igreja, a parte dirigente ou docente. São os cooperadores de Cristo em virtude de eleição divina.
Contudo outras pessoas, que não foram chamadas expressamente e por isso não pertenciam à Jerarquia nascente, auxiliaram ao Messias na obra redentora, já tornando-0 conhecido, já dando a conhecer a sua virtude, ou defendendo a Sua missão, ou assistindo-Lhe nas necessidades materiais. Deste número fizeram parte muitos homens e mulheres.
Estes colaboradores voluntários de Cristo, estes generosos auxiliares da obra messiânica, são deveras os precursores dos leigos que na atualidade constituem a Ação Católica.
Desejaríamos enumerá-los a todos mas em favor da brevidade só daremos a conhecer os principais, cujo proceder nos servirá de exemplo e estímulo.
Exemplo dos Pastores
O Apostolado Leigo principiou ao lado da manjedoura do Salvador.
Os primeiros foram os pastores que à voz do anjo
28 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
se puseram em caminho, cheios de entusiasmo, exclamando: “Vamos a Belém e vejamos o que foi que sucedeu.” Vão e chegam, admiram e adoram. Não termina aqui sua missão, porém. O Evangelista acrescenta estas palavras que merecem toda nossa atenção: “Voltaram os pastores, louvando e glorificando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido. E todos os que ouviram falar ficaram pasmados sobre as coisas que os mesmos narravam.”
Duas coisas nos ensinam os pastores:1. “ 0 dever do Apostolado. Referiam a todos o
que haviam presenciado; falavam-lhes do Messias esperado, tornando-0 conhecido, glorificando-0 em particular e em público, entre os parentes e companheiros de ofício ou profissão. Que é tudo isto senão genuíno Apostolado cristão?
2. ° Indicam ainda os pastores o como se preparar para o Apostolado.
Donde tamanho ardor apostólico nesta gente humilde e ingénua? Têm o coração cheio de Jesus. E donde lhes vem esta plenitude? Do contacto que tiveram com o mesmo Jesus.
Daí se infere que não poderemos ser verdadeiros Apóstolos se não conhecermos e amarmos intensamente a Jesus. E para 0 conhecer e amar, devemos aproximar-nos d’Ele.
Onde 0 acharemos?Em nossas igrejas, ao pé do tabernáculo. Aí está
o nosso Belém (palavra que significa Casa de Pão). Digamos, pois, com os pastores: “Vamos até Belém” — e, como eles, voltaremos dali convertidos em Apóstolos.
Testemunho dos Beneficiados
E’ muito natural que aqueles que receberam algum benefício de Jesus, sentiram a necessidade de agradecer a seu Benfeitor, publicar-Lhe o nome e apresentá-Lo às turbas maravilhadas, tornando-se propagandistas de sua missão e grandeza, ou, por outra, fazendo-se Apóstolos. Isto sucedeu quase sempre.
Às vezes o Salvador mesmo ordenou aos que d’Ele receberam algum beneficio ficassem calados. Sabia que o povo não via n’Ele senão um rei temporal que haveria de restabelecer o trono de David; o conhe-
O APOSTOLADO DOS LÈIGÒS 2Ô
cimento dos prodígios havia de excitar a paixão política e podia ser causa de desordens.
Todavia o espasmo chega a tal ponto que não raro as m ultidões desrespeitam a proibição de Jesus. Assim aconteceu com a cura do surdo-mudo a quem “ordenou que o não dissesse a ninguém ; mas, quanto mais se lhe proibia, mais o publicava.”
Outras vezes, porém, ordena o próprio Salvador aos contem plados com alguma mercê que a publiquem ; tal sucedeu com o possesso de Gérasa. L ibertado não de um só demónio, mas duma legião deles, prostrou-se aos pés do Senhor e, reconhecido, “começou a Lhe suplicar perm itisse que ele 0 acompanhasse. Mas Jesus não o deixou, porém lhe disse: Vai a casa dos teus e anuncia quanto o Senhor te fez e como se apiedou de ti. — E retirou-se e pôs-se a divulgar na região da Decápole quanto lhe fizera Jesus; todos ficaram m aravilhados.”
Como entra pelos olhos, este homem quis ingressar na escola do Mestre e segui-Lo, im pulsionado pelo agradecimento para com seu Benfeitor; mas sua petição foi indeferida. F icará no século na qualidade de simples Leigo. Contudo frisem os bem que o mesmo Jesus lhe ordena exercer o Apostolado entre os seus, entre os seus com patriotas que haviam rogado a Jesus se retirasse do territó rio que habitavam . Jesus encarrega ao homem curado de O substituir ali, propagando-0 entre os patrícios.
Vamos, pois, que todos os que tinham recebido alguma graça de Jesus se apressaram em a pagar de algum modo, fazendo conhecer e am ar a seu Benfeitor. Quantas vezes não teriam tomado a defesa d’Ele contra os m aldizentes, arrostando as lutas e perigos, haja vista o cego de nascença que fora expulso do Sinédrio por haver sustentado a divindade de Jesus.
Devolver favor por favor é a m elhor forma de gratidão, e essa foi a que usaram muitos dos favorecidos por Jesus.
Também nós recebemos d’Ele muitos benefícios, entre estes o m aior e prim eiro : a graça da fé. Pois bem. O m elhor modo de m ostrarm os o nosso reconhecim ento é transm itir aos demais o dom recebido; é o que nos aconselha S. P edro : “Quais bons
30 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
dispensadores dos múltiplos favores de Deus, cada um de nós faça os outros participarem dos dons recebidos.” Eis uma bela exortação ao Apostolado.
Um leigo taumaturgo
Deu Jesus a seus discípulos o “poder de cu rar as enferm idades >e expelir os demónios.” Os discípulos sentiam-se orgulhosos com os êxitos obtidos. Uma feita, ao regressarem de uma missão, disseram ao Mestre muito satisfeitos: “Até os demónios se nos submetem em força de vosso nome.”
Nisso estavam equivocados, julgando que tal poder lhes fora concedido a eles exclusivamente. Assim ao toparem certo dia com um estranho que expulsava os demónios em nome de Jesus, proibiram - lho íncontinenti.
De regresso eles para casa, disse S. João, em nome de todos, ao Salvador: “Mestre, vimos alguém, que não é dos nossos, expelir em vosso nome os demónios e proibim os-lho.” Jesus replicou-lhes, porém : “Não lho proibais, porquanto ninguém há que faça prodígios em meu nome e que possa falar mal de mim. Pois quem não é contra vós está do vosso lado.”
O tal indivíduo que não segue a Jesus nem faz parte do Colégio Apostólico, é um leigo. A despeito disso, expulsa os demónios em o nome de Jesus, quer dizer exerce um ofício apostólico. E o Mestre não quer que lho im peçam ; com o que aprova sua atividade.
Dois ensinam entos dá-nos aqui o Salvador:a) o Apostolado não é monopólio dos sacerdotes
ou do Clero, mas em certa m edida permite-se aos leigos;
b) os que labutam no campo do Apostolado hão de se alegrar de que outros trabalhem também e talvez com fruto mais abundante, e isto sem sombra de ciúmes, sem espírito de rivalidade, com esta única aspiração: que Deus seja glorificado por quem quer que for. O que em verdade im porta é que o bem se faça, pouco se nos dando por quem.
O APOSTOLADO DOS LEIGOS 31
O primeiro apostolado feminino
Em o número dos colaboradores leigos de Jesus achamos outrotanto algumas mulheres eleitas. Não pregavam nem faziam milagres, porém prestavam auxílio ao Messias e aos seus discípulos.
Relata-nos S. Lucas: “Jesus andava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando o Reino de Deus; estavam com Ele os Doze e mais algumas m ulheres que haviam sido livradas dos espíritos malignos e de enferm idades: Maria, por sobrenome Madalena, da qual foram expelidos sete demónios; Joana, mulher de Cusa, p rocurador de Herodes; e Susana e m uitas outras que lhe assistiam com suas posses.”
Vivia Jesus de esmolas. As ditas piedosas mulheres punham-Lhe à disposição seus haveres, poupando-Lhe dessarte a preocupação do alimento e das demais necessidades da vida.
Ora, não será esta uma forma de cooperar com Jesus, de concorrer para a propagação do Evangelho? Não será este um verdadeiro Apostolado auxiliar?
0 Papa considera estas santas m ulheres como as prim eiras apostolas do mundo feminino. “Vede —• diz-nos — as m ulheres reunidas em torno do Salvador, trabalhando com Ele e para Ele. E’ tocante tal m anifestação da prim eira liga de m ulheres católicas, da qual as atuais derivam .”
Uma outra mulher, que não seguiu o Salvador, fez-se eficaz propagandista d’Ele: foi a Sam aritana. Recebeu muitos favores do Senhor, que a rem iu com sua doutrina sublime, resgatando-a da servidão do pecado. Depois do colóquio junto ao Poço de Jacob, conheceu ela que seu in terlocutor era o Messias desejado, “largou o cântaro e correu a dizer a seus patríc ios: Vinde ver um homem que me disse tudo quanto fiz. Não será Ele porventura o Cristo? — Vieram muitos da cidade c creram n’Ele por causa da palavra da m ulher que assegurava: Disse-me o quanto fiz.”
Eis uma m ulher que, à semelhança do Batista, p repara os cam inhos do Senhor — e com que êxito!
Compraziam-se os Apóstolos em se cham ar testem unhas da Ressurreição do Senhor. Com efeito, a Ressurreição forma o centro das prédicas dos Após-
32 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
tolos. Mas as primeiras testemunhas da Ressurreição do Senhor foram as mulheres: Maria Madalena e suas companheiras que antemanhã foram ao Sepulcro para ungir o Corpo do Salvador.
E o Anjo deu-lhes este encargo: “Ide e avisai os discípulos de como Ele ressurgiu dentre os mortos.” E logo o próprio Jesus aparece a elas e lhes diz: “Ide e noticiai a meus Irmãos que vou à Galiléia, onde me verão.” Podia o Senhor confiar-lhes missão mais apostólica?
Conclusão
No correr desta rápida exposição, vimos como o apostolado tem sua origem no Evangelho. Os primeiros representantes da Ação Católica, ação auxiliar dos Leigos para a difusão do Reino de Cristo, viviam e trabalhavam em torno da Pessoa de Cristo. Eram homens e mulheres: Ação Católica masculina e feminina.
Compreendemos agora a dignidade da Ação Católica: é divina — não só em sua finalidade, a glória de Deus, senão também em sua origem, visto que podemos considerar o Salvador pelo que a instituiu.
Demos graças ao Senhor por nos ter chamado a tão sublime vocação: somos os continuadores dos Apóstolos Leigos do Evangelho. Ainda está Cristo no meio de nós, perpetuando a sua missão redentora por intermédio do Papa, Bispos e Sacerdotes. Tornemo-nos dignos continuadores dos primeiros co- operadores, por nosso exemplo c abnegação.
APOSTOLADO DOS LEIGOS NA IGREJA PRIMITIVA
Introdução
"A Ação Católica — disse o Romano Pontífice — é a renovação, a continuação do que se realizou nos prim eiros séculos da Igreja, nos dias da prim eira propagação da verdade católica.” Para nos disto convencer, basta re ler as prim eiras páginas dos escritores eclesiásticos e as epístolas. Ali estão enum erados os que se fizeram colaboradores dos Apóstolos na prim eira difusão do Evangelho, os quais levaram a palavra evangélica a todas as camadas, tanto entre o povo simples como até a palácio de César.
Queremos com provar esta verdade histórica, tão a m iúdo lem brada pelo Papa, aduzindo episódios da H istória da Igreja nos tempos apostólicos. Eles dir- nos-ão que o Reino de Deus sobre a terra, a saber a. Igreja, foi fundada pelos Apóstolos com a cooperação dos leigos, isto é, da Ação Católica.
Precursores dos apóstolos
Os leigos foram na realidade os precursores dos Apóstolos; queremos dizer que em alguns lugares a p rim eira semente da verdade não foi semeada pelos Apóstolos, pelos representantes da Jerarquia, senão pelos leigos.
Lembramos apenas duas cidades em que o Apostolado da Jerarqu ia foi precedido pela obra dos leigos.
1." Em Antioquia.Nos atos dos Apóstolos, livro não só divinam en
te inspirado senão de reconhecida veracidade h istórica, se vê que os prim eiros germes do cristian ismo foram levados a esta cidade pelos simples fiéis. Vejamos como isto se deu.
Depois do m artírio de S. Estêvão, “levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja de Jeru-Formação — 3
34 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
salém, e todos, excetuando-se os Apóstolos, se dispersaram pelas regiões da Judeia e Saraaria. E os que se espalharam andaram anunciando a palavra de Deus de um lugar a outro.”
E o Livro Sagrado dá-nos algumas particu laridades desta pregação: “Os que haviam sido dispersados da perseguição sucedida por causa de Estêvão, chegaram à Fenícia, a Chipre e a Antioquia, e pregavam a palavra somente aos judeus. E estavam com eles alguns habitantes de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falavam aos gregos e pregavam-lhes o Senhor Jesus. E a mão do Senhor estava com eles, e muitos creram e converteram-se ao Senhor. Quando estas notícias chegaram à Igreja que estava em Jerusalém , enviou-se Barnabé a Antioquia. Logo que este chegou, regozijou-se ao ver a graça do Senhor e exortou a todos perseverassem no Senhor com firmeza de coração.”
Chegou Barnabé, o representante da Jerarquia, para com pletar a obra começada pelos fiéis; foram estes que instru íram na fé “uma tão grande m ultidão, que em Antioquia foi onde pela prim eira vez se deu aos discípulos de Cristo o nome de Cristãos.” • 2.° Em Roma.
Também a Roma, onde Pedro havia de estabelecer para sem pre sua sede, também à Capital do m undo cristão, foi levado o cristianism o pela p rim eira vez pelos simples fiéis, pelos leigos da Ação Católica.
Esse fato não é historicam ente certo como para Antioquia, mas tem muitas probabilidades a seu favor e admitem-no historiadores de peso, como Ho- rácio Marucchi, o qual escreve:
“Os prim eiros representantes do mundo romano que tiveram a ventura de ouvir a pregação do Evangelho foram alguns peregrinos de Roma, os quais, como atesta o Livro dos Atos, se achavam em Jeru salém no dia de Pentecostes, quando pela prim eira vez se anunciou a nova fé. E’ provável que alguns desses, quer voltando diretam ente a Roma, quer in diretam ente por interm édio de outros, se tornaram mensageiros da verdade evangélica na grande metrópole. 0 mesmo pode dizer-se dos soldados da coorte itálica da guarnição de Cesareia, onde o centu- rião Cornélio se converteu por meio do Apóstolo
APOSTOLADO NA IGREJA PRIMITIVA 35
Pedro. E ainda é provável que alguns soldados daquela coorte, convertidos à fé de Cristo a exemplo do centurião, de volta a Roma, anunciaram a Boa Nova na cidade de César, form ando assim o p r im eiro núcleo da Igreja Romana.”
Dois esposos: Áquila e Priscila
Na Epístola aos Romanos escreve S. Paulo: “Saudações a Áquila e Priscila, cooperadores meus em Jesus Cristo, os quais expuseram as suas cabeças por m inha salvação.”
Estes dois esposos auxiliaram a S. Paulo na evangelização dos romanos, e até afrontaram perigos por esta causa. São, pois, representantes autênticos da Ação Católica, tal qual a define o Papa. Que fizeram, porém, na realidade para serem citados na ordem do dia entre os Apóstolos de Roma?
A esta curiosidade, aliás legítima, respondem os Livros Sagrados. Áquila e P riscila viviam em Roma, donde foram expulsos por edito do im perador Cláudio, en tre os anos 49 e 50, em virtude do qual foram expulsos todos os hebreus. Em igrando para Corinto, encontraram ali a Paulo, “o qual foi viver em sua com panhia.”
Reuniam-se em sua casa os cristãos de Éfeso, pois daí escreve S. Paulo aos fiéis de C orin to : “Saúdam-vos muito no Senhor Áquila e P riscila com a Igreja de sua casa, dos quais sou hóspede.”
Para com preender o sentido desta expressão “igreja dom éstica”, convém recordar que naqueles tempos os cristãos não tinham ainda edifícios para a celebração dos m istérios divinos, que se celebravam em casa de particulares. Destarte a casa destes dois santos esposos era o lugar de reunião dos cristãos de Éfeso.
Nesta populosa cidade, Áquila e P riscila se to rnaram propagandistas da religião cristã, e um fruto notável de sua pregação foi Apoio, que se tornou um dos mais valiosos cooperadores de S. Paulo.
Como lemos no Livro dos Atos, era Apoio um judeu, homem eloquente e versado nas Santas E scrituras. Possuía algumas noções acerca do cristian ismo, mas não era batizado ainda. Isso não obstante, anim ado de zelo pela religião de Cristo, pôs-se a pre-
36 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
gá-la ná sinagoga, exemplo sublime de apostolado leigo. Tendo-o ouvido Áquila e Priscila, verificaram que era eloquente, mas tinha uma instrução religiosa insuficiente, razão por que o tom aram consigo e lhe expuseram m inuciosam ente toda a doutrina cristã. Assim instruído, Apoio anunciou a Cristo em Éfeso, em Corinto e nas outras cidades, a respeito do que nota S. Lucas: “foi de grande vantagem aos que haviam crido, pois com grande destemor convencia os judeus, provando com as Escrituras que Jesus era o Messias.”
O êxito obtido por este leigo foi tal que alguns cristãos o igualaram a Pedro e Paulo.
No início do reinado de Nero, abolido o decreto de Cláudio, voltaram Áquila e P riscila a Roma e sua casa veio a ser, como em Éfeso, o lugar de reunião dos cristãos, e mais tarde teve a honra e distinção de abrigar mais uma vez a S. Paulo.
Outros cooperadores de São Paulo
Até agora lembramos três cooperadores leigos de S. Paulo, mas nos Atos e nas Epístolas há menção de outros não menos im portantes. Citaremos alguns deles.
Ao term inar a carta aos Romanos, o Apóstolo escreve: “Recomendo-vos a nossa irm ã Febe, que está no serviço da Igreja de Cêncris, para que a recebais no Senhor, de um modo digno dos Santos, e a ajudeis em toda coisa que de vós p recisar; porquanto ela assistiu a muitos, e a mim em particu lar.”
Comum ente se crê que se ela encarregou de levar a carta do Apóstolo aos romanos e daí a recom endação de acolherem-na e assistirem -na como a uma pessoa estrangeira e benem érita da Igreja.
Diz-se ainda que está no serviço da Igreja, ou seja, que é diaconisa. Tais eram cham adas naqueles tempos algumas piedosas m ulheres que exerciam na Igreja m inistérios de caridade espiritual e tem pora l: instruíam os catecúmenos, preparavam -nos para o batismo, presidiam à reunião das m ulheres na igreja, etc. Eram portanto, como se vê, m ulheres de Ação Católica.
Febe era diaconisa e tinha servido não só a m uitos cristãos, mas também ao próprio S. Paulo.
APOSTOLADO NA IGREJA PRIMITIVA 37
Ao louvor dispensado a Febe segue um a lista de vinte e quatro nomes, encabeçados po r Áquila e P riscila , com o pedido aos cristãos de Roma que os saúdem em nome do Apóstolo uma vez que se tra ta de seus colaboradores que com ele trabalharam no Senhor.
Aos cristãos de Tessalonica, hoje Salonica, S. Paulo escreve estas significativas p a lav ras: “Tornastes-vos im itadores nossos e do Senhor, de modo que viestes a ser modelo para todos os fiéis da Ma- cedônia e da Acaia. Pois p o r meio de vós divulgou- se a palavra de Deus não só na Macedônia e na Acaia, mas por toda parte se propagou a fé em Deus, de m aneira que não temos necessidade de falar-vos disso.”
Os tessalonicenses tinham praticado estas duas formas de aposto lado: a do exemplo e da palavra. D ifundiram a palavra de Deus nas regiões circunvizinhas ao ponto de S. Paulo poder declarar, com evidente e benévolo encarecim ento, que sua pregação era ali supérflua.
O fato explica-se assim : Tessalonica era um porto muito frequentado pelos estrangeiros e seus habitantes viviam em contato contínuo com os de outras regiões por causa do comércio. Os cristãos de Tessalonica aproveitaram -se destas circunstâncias para divulgar o cristianism o entre aqueles com quem m antinham relações comerciais.
Este é o apostolado do próprio meio, tão recom endado pela Ação Católica a seus membros que estão obrigados a viver e trabalhar entre os povos pagãos.
Queremos reco rdar uma passagem da carta aos fi- lipenses, na qual temos também uma exortação ao apostolado dos leigos. Ei-la: “Ajuda àqueles que tra balharam comigo no apostolado do Evangelho”, e acrescenta que por isto “os seus nomes estão escritos no livro da vida” .
Ao form ular Pio XI a definição que se tornou clássica da Ação Católica, inspirou-se nas palavras do Apóstolo que acabamos de citar. Falando, aos 12 de Março, aos sem inaristas que haviam seguido os cu rsos da Ação Católica, observou que esta é verdadeiram ente apostólica, visto como acom panhou os p rim eiros apóstolos, e acrescenta: “Quando S. Paulo em suas cartas elogia os que trabalham com ele na
38 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
evangelização, falando das m ulheres e dos leigos, parece de feito p reparar a definição da Ação Católica que é participação dos leigos no apostolado jerárquico da Igreja. Não fez o Papa outra coisa senão repetir o que há muito tempo já o dissera o Apóstolo.”
Conclusão
Pio XI deu a razão por que a Ação Católica surgiu juntam ente com o cristianism o. “Que teriam podido fazer os doze, o eco de suas palavras, perdidos na im ensidade do mundo, se não tivessem solicitado o auxílio dos leigos, homens, mulheres, anciãos, meninos, dizendo-lhes a todos: “Levamos o tesouro de Deus, ajudai-nos a distribuí-lo.”
Pois bem ; nestes tempos de paganismo renascente, os sacerdotes não são suficientes para a grande empresa do apostolado, precisam de colaboradores leigos, necessitam da Ação Católica.
Oxalá que todos os que militam em suas fileiras sejam dignos colaboradores dos apóstolos, inflam ados do espírito de conquista, a fim de que seus nomes estejam também escritos no livro da vida.
0 APOSTOLADO NO PADRE NOSSO
Introdução
Conta-se que um belo dia caiu nas mãos de Alexandre Severo um pergam inho no qual estava escrito o Padre Nosso. Apenas o im perador o leu, quedou profundam ente comovido e perguntou quem era o autor daquela oração. Quando soube que era de Cristo Nazareno, quis levantar-Lhe uma estátua no santuário doméstico, ao lado dos deuses tutelares.
Este im perador pagão dá oportuna lição a m uitos cristãos que diariam ente repetem a divina prece sem dar atenção ao sentido profundo e às verdades substanciais que se nela contêm.
Escreve Tertuliano que “o Padre-Nosso é o resumo de todo o Evangelho.”
Desta forma, o apostolado é uma das grandes verdades contidas na oração dominical. Chamou-a por isso Pio XI de “ fórmula sublime do apostolado cristão.”
Vamos p rofundar um pouco esta verdade, considerando como o dever do apostolado está contido im plicitam ente em todo o Padre Nosso; expiicita- mente no prelúdio, na prim eira parte e na segunda.
No prelúdio
Começa a oração dom inical com este prelúdio solene: “Padre Nosso, que estais no céu.” Palavras excelsas, encerrando as mais sublimes verdades.
Os hebreus adoravam e invocavam Javé como Senhor, C riador e Juiz, não como Pai; em razão disso o Antigo Testamento infunde tem or e não amor.
Um exemplo: Quando Deus chamou Moisés ao cume da m ontanha para lhe entregar a lei, ordenou que o povo se não acercasse do monte. Durante o colóquio de Deus com Moisés, ouvia o povo os trovões e via os relâmpagos e como o monte parecia arder. A terrados e cheios de espanto diziam todos a
40 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Moisés: “Fala-nos tu e te escutaremos, mas não nos fale o Senhor para que não m orram os.”
Eis, porém, que vem o Messias e suprim e a distância que separava a Deus dos homens, revelando- lhes a paternidade divina. Vezes sem conta ouvimos dos lábios do Divino Mestre esta palavra dulcíssima de Pai aplicada a Deus.
Quando, pois, um dos discípulos lhe pediu: “Mestre, ensina-nos a o ra r”, Ele d isse : Quando orardes, dizei: “Padre Nosso”, não digais Senhor, nem Deus, nem Criador, mas Pai.
Somos, portanto, seus filhos. Ora, todo filho deve defender a honra do Pai. Por conseguinte havemos de defender a honra de Deus nosso Pai. E que outra coisa é a Ação Católica senão um Apostolado pela glória de Deus?
Diz o Salvador: Padre Nosso! — Esta palavra Nosso, que ricos ensinam entos não encerra!
Não quer Jesus que digamos Padre Meu, pois em torno de nós há outros que têm igual direito de cham ar a Deus com aquele nome, porque todos são seus filhos.
E se todos dizemos com igual direito P adre Nosso, segue daí que todos somos irmãos.
Se todos somos irmãos, havemos de nos ajudar uns aos outros nas necessidades m ateriais e espirituais.
Mas, que é o Apostolado senão um socorro às necessidades espirituais de nossos próxim os? .
Sem contestação, desde o preâm bulo o Padre Nosso ensina o dever do Apostolado.
Ao preâm bulo segue o corpo da Oração que compreende duas partes em que se com pendia tudo quanto devemos pedir ao Senhor.
Primeira Parte
Contém a prim eira parte três petições que fazemos como filhos de Deus; todas as três insinuam o dever do Apostolado pela Glória de Deus.
Nelas pedim os: “Santificado seja o Vosso Nome. Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu.”
E’ isto o que querem os? Desejamo-lo sinceram ente?Com efeito. Não fora assim, e nossa oração seria
O APOSTOLADO NO PADRE NOSSO 41
uma ironia e um insulto sacrílego. E isto se não pode adm itir.
Nesta suposição, todos desejamos que o Nome de Deus seja santificado por todos, que seu Reino se estenda por todo o universo, que sua vontade se cum pra na terra por todos os homens, com respeito às suas leis divinas, como a cum prem no céu os anjos e os santos.
Contudo para lograr estes fins se requer que todos trabalhem os com todas as nossas forças para os conseguir.
Pois como desejar que venha o Reino de Deus, e não trabalhar por que se dilate cada vez mais?
Não seria isto um sentim ento vão, uma oração injuriosa?
E’ necessário, portanto, harm onizar o procedim ento com as palavras do Padre Nosso, ou seja exercer o Apostolado.
Por isso a Ação Católica é um Apostolado pela glória de Deus e está em perfeito acordo com o Padre Nosso. E mesmo ao parecer ingressar no campo político, sempre visa a concretizar esta petição que se tornou o lema da Ação Católica: “Venha a nós o Vosso Reino.”
Frequentes vezes o santo Dom Bosco se avistou com pessoas políticas para lhes relem brar os d ireitos da Igreja conculcados pelos governos anticleri- cais. Aos que estranhavam o seu proceder e o acusavam de fazer política, costumava responder: “A m inha Política é a do Padre Nosso. Nele pedimos todos os dias que a nós venha o Reino do Pai celeste, que se estenda e que se faça sempre mais poderoso.” Eis o que exclusivamente procura Dom Bosco, quer na igreja quer diante da petizada do Oratório ou na presença dos homens públicos.
Esta Política do Padre Nosso é a que deve executar todo católico.
Segunda Parte
Na segunda parte do Padre Nosso fazemos quatro pedidos, considerando-nos irmãos de todos os nossos próximos. Daí nossa prece resulta num Apostolado pela salvação de todos eles.
Pedim os a Deus as seguintes quatro coisas: “O pfio nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as
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nossas dívidas, assim como nós perdoam os aos nossos devedores. Não nos deixeis cair em tentação. Mas livrai-nos do mal.”
Então para quem oramos? Só para nós? Não, certamente, senão por todos, pois a fórmula da oração está na construção p lural: “dai-nos, perdoai-nos” — e n ã o : dai-me, perdoai-me.
Quantos ensinam entos não derivam desta p a rticularidade!
Recorda-nos que não estamos isolados no mundo, mas que muitos outros nos rodeiam que são nossos irm ãos; que entre irm ãos a solidariedade é coisa sagrada e obrigatório o auxílio mútuo, e que por isso devemos o rar por todos e zelar pelo bem de todos.
Aqui está a reprovação im plicita da piedade egoísta que únicam ente pensa nas necessidades pessoais, querendo convergir a vista de Deus unicam ente para si e considerando-se como que o centro do universo.
Inquestionàvelm ente é o Padre Nosso a condenação do individualism o religioso que se tantas vezes encontra nas pessoas religiosas e que é a negação p rática do Apostolado. 0 Padre Nosso é deveras uma prece católica, pois tem em vista não apenas as nossas precisões particulares, senão a glória de Deus e o bem -estar do próximo.
Não faltam os iludidos que d izem : “Cristo impôs o dever do Apostolado aos sacerdotes e não aos leigos” : afirm ação desfeita pelo Padre Nosso que é para todos, assim leigos como Padres, e no qual vemos expresso o dever geral do Apostolado.
Conclusão
Certa vez entrou uma noviça na cela de Santa Teresinha do Menino Jesus e quedou-se m aravilhada ante a expressão celestial da Santa. “Em que está pensando?” — perguntou a noviça. Respondeu- lhe a S an ta : “Estava refletindo sobre o Padre Nosso, pois nada há mais doce do que cham ar a Deus: Padre Nosso” — e dos olhos da Santa brotavam lágrimas de comoção.
Meditemos também nós outros, uma por uma, as petições do Padre Nosso, e sentirem os acender-se- nos no peito a chama do Apostolado.
O APOSTOLADO E A COMUNHÃO DOS SANTOS
Introdução
Ao rezar cada dia o Creio em Deus Padre, os cristãos repetem as palavras: “Creio na Comunhão dos Santos.” Todavia quantos são os que com preendem o sentido deste dogma consolador e adm irável? Quantos conhecem os deveres que dele derivam ? Quantos o levam em consideração na vida prática?
Infelizmente pouquíssim os; e, sem embargo, é um dogma fundam ental na vida cristã. Dele emanam obrigações im portantes, especialmente o de caridade m aterial e espiritual para com o próxim o e, de m aneira singular, o do Apostolado da Ação Católica, o que passamos a dem onstrar.
O corpo Místico de Cristo
A Igreja de Cristo assemelha-se a um exército composto de três grandes divisões: a Igreja T riunfante, composta dos santos e bem -aventurados, a Igreja padecente, composta das benditas almas do purgatório, e a Igreja Militante, da qual fazem p arte os cristãos que pelejam cá na terra pela conquista do céu.
E ntre todos estes membros — do céu, do purgatório e da te rra — circula uma correnteza poderosa, uma adm irável com unhão dos bens, intim idades de vida,- solidariedade de interesses. E ntre os membros das três com unidades, efetua-se um intercâm bio de bens, um verdadeiro comunismo espiritual, o mais belo e o único possível.
Nisto consiste o dogma da Comunhão dos Santos, ou seja a com unidade de bens e interesses entre todos os cristãos santificados pela graça, A palavra Santo aqui se toma em seu sentido mais amplo, a saber, enquanto designa os que são santificados pela graça divina.
44 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Melhor não se pode explicar este dogma da Comunhão dos Santos do que pela semelhança que usa o apóstolo S. Paulo e que lhe era mui grata: semelhança de um corpo, cuja Cabeça é Cristo e cujos membros somos nós. “Como em um corpo — diz o Apóstolo — temos muitos membros e destes cada um tem seu ofício, de modo igual somos muitos no Corpo de Cristo e Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.”
Nossa incorporação em Cristo realiza-se pelo batism o: “Todos somos balizados num mesmo esp írito para form arm os um só Corpo.”
Pelo batismo somos incorporados neste corpo Místico que é a Igreja e do qual todo cristão é como uma célula vivente. A sem elhança paulina do corpo torna facilmente compreensível o dogma da Comunhão dos Santos, contudo não põe em relevo algumas consequências práticas que ora vamos salientar.
Membros unidos e ativos
Todo corpo vivo reclam a unidade de vida. Uma só alma vivifica todos os membros do organismo, um mesmo sangue circula por todos eles.
Ora, todos os cristãos, como se disse, são células viventes de Cristo; todos estão unidos sob a direção da cabeça, Cristo; todos formam um só corpo, a Igreja. Hão de viver, portanto, na mais estre ita união, na mais íntim a fraternidade.
Não significa isto que há completa igualdade entre todos os membros da Igreja. Assim como no corpo orgânico há m ultiplicidade e diversidade de membros, de igual m eneira sucede na Igreja.
Ademais em todo -organismo encontram os un iversalidade de ação. Cada um dos membros é a tivo e passivo ao mesmo tempo. Exem plificando: a vista ilum ina e guia os pés, e estes levam a vista a se pôr em contato com os diversos objetos.
Da mesma sorte no Corpo Místico, nenhum membro pode perm anecer passivo e receptivo somente: todo membro há de receber e dar. Quer isto dizer que todo cristão há de fazer algo pela glória de Deus e a salvação das almas, ou, em outras palavras, há de ser apóstolo. Bem como recebe do tesouro da Igreja, assim deve con tribu ir para o mesmo.
Eis como o dogma da Comunhão dos Santos é a
O APOSTOLADO E A COM. DOS SANTOS 45
condenação do egoísm o espiritual, do individualismo religioso, no qual não raro incidem as almas de vista curta e espírito estreito.
Compreender e viver este dogma é consagrar-se a um santo Apostolado.
Sem dúvida nenhuma, um dos Santos que m elhor com preendeu e viveu este dogma da Comunhão dos Santos foi Santa Teresinha do Menino Jesus, a tal ponto que se bem pode dizer que lhe toda a v ida esteve animada e orientada por este dogma a lhe dilatar o coração na confiança e caridade, alargando os horizontes até os extrem os lim ites e derrubando as barreiras do egoísm o separatista.
“Quero ser filha da Igreja”, costumava repetir a hum ilde carm elita que, a exem plo de sua Superiora, quis morrer com o verdadeira filha da Igreja. Embora enclausurada num convento, não perm anecia alheia a nenhuma necessidade da Igreja.
“Amar a Jesus e salvar as almas” foi o seu ideal, pelo qual viveu, se m ortificou e morreu. Durante a última doença, a enferm eira que dela cuidava lhe aconselhou um passeiozinho diário no jardim do convento, conselho aceito com o se ordem fora. Vendo-a uma Irmã andar com grande esforço, observou- lhe: “Nestas condições m elhor seria repousar, pois o passeio não pode trazer proveito visto que lhe m íngua as forças.” “E’ verdade — respondeu a Santa — mas sabe V. Reverência o que me anima a padecer? Caminho em favor de um m issionário, penso com o em terras longínquas ele se cansa e extenua nas suas jornadas apostólicas, e assim ofereço as m inhas fadigas a Deus para dim inuir as suas.”
E não se extinguiu com a vida seu fervor apostólico; no leito da morte pronuncia estas palavras que são com o o seu testam ento; “Quero passar meu céu, fazendo o bem sobre a terra.”
Destarte a hum ilde religiosa continua lá do céu a servir a grande causa da Comunhão dos Santos.
Membros solidários
Em todo corpo, seja qual for, existe solidariedade de interesses entre todos os membros, Q que sign ifica que o bem-estar ou o mau estado de um o é igualm ente de todos. “Se um membro padece — es-
46 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
creve S. Paulo — todos os membros padecem ; se um se alegra, todos se regozijam,” Verdade experim ental m erece m elhor refletida.
O bem -estar de um dos membros é o bem-estar de todos eles. Recordemos a alocução de Menênio Agripa ao povo de Roma, quando este estava reunido no Monte Sacro para protestar contra a nobreza. “Os membros — dizia o cônsul —- conjuraram -se duma feita contra o estômago, porque este tudo tomava para si: mas bem depressa deixaram-se convencer que da saúde dele dependia a de todos, e tornaram ao costume antigo.”
De outro lado, se o estômago quisera guardar todo o alimento para si e não o d istribu ir aos demais mem bros se prejud icaria a si mesmo e aos demais. Todos os outros membros sofreriam de atrofia, e ele de h ipertrofia.
Por onde se vê que há verdadeira comunicação entre todos os membros do corpo.
O mesmo acontece em todo organismo social, mor- mente na Igreja, Corpo Místico de Cristo. Escreve S. Paulo a esse resp e ito : “Não há desunião entre os membros do corpo, senão que uns cuidam dos outros.”
Comprazia-se por isso S. João Crisóstomo em recordar, nas suas pregações, o dogma da Comunhão dos Santos e o dever do Apostolado que dele deriva. “0 proveito pessoal — soía repetir — resulta do bem-estar dos demais e viceversa.” Por isso mesmo dispôs Deus que estejamos em dependência uns dos outros.
Igualmente é certo que o mal de um dos membros redunda em prejuízo de todos. Sofre o estômago e disso todo o organismo se ressente; uma simples dor dos molares paralisa toda atividade.
E assim como existe uma mútua com passividade en tre todos os membros, assim também há entre eles um a providência recíproca para a defesa dos m ales.
Acerca disso escreve S. João Crisóstom o: “Nas ocorrências tristes, os membros unem-se mais inti- m am ente entre si e vemos que, se um espinho se no pé nos fincou, todo o corpo fica preocupado: o dorso curva-se, as mãos vão em busca do membro afetado, os olhos pesquisam com desvelo e solicitu-
O APOSTOLADO E A COM. DOS SANTOS 47
de. Bem assim zelemos uns pelos outros e se um membro padece, apiadem-se dele os demais.”
0 último pensamento do Santo Doutor é de evidência crista lina: se um membro padece, todos os outros sofrem com ele, pois de caso contrário sobrevirá a atrofia ou a paralisia.
Neste espírito vivia o Apóstolo quando exclama: “Quem está enfermo para que eu não sofra com ele? Quem se escandaliza para que me eu não abrase?”
S. Francisco de Assis, conforme refere S. Boaven- tura, “chorava e soluçava amargamente ao ver as almas rem idas com o Sangue de Jesus m anchadas com o pecado.”
Num belo dia em que estava absorto em oração, na igreja de Santa Maria dos Anjos, apareceu-lhe Nosso Senhor acom panhado da Virgem Santíssima e dos anjos e disse-lhe: “Pede-me tudo quanto desejas para ti e para tua Ordem !” Respondeu o Santo: “Peço-vos, Senhor, que todos os que entrarem nesta igreja, após terem confessado os pecados ao pé do sacerdote, recebam o perdão tanto de suas culpas como também do castigo por elas m erecido.”
Esta é a origem da indulgência cham ada da Por- ciúncula, ou do perdão de S. Francisco.
Quão bem S. Francisco com preendeu e viveu o dogma da Comunhão dos Santos! Como não contrasta seu zelo pelas almas com o nosso desinteresse!
Conclusão
E esta indiferença nossa faz-nos recordar outra sentença de S. João Crisóstomo: “Não há frieza mais perniciosa do que a do cristão que se não preocupa pela salvação de seus irm ãos.”
Sentença essa muito verdadeira e que condena os cristãos que crêem na Comunhão dos Santos e vivem no mais intransigente egoísmo.
A Ação Católica é a execução prática deste dogma que é a base da vida cristã. Ufanemo-nos de pertencer a ela; mas não nos contentem os com ser membros passivos. A frase de Crisóstomo acim a citada dá-nos que refletir e estimula-nos para esta m ilícia do Apostolado.
0 APOSTOLADO DA ORAÇÃO
Introdução
O Apostolado, ou seja o meio de salvar as almas, pode exercitar-se de m uitas m aneiras: pela ação, pela palavra, pela im prensa, pelo exemplo, etc. Contudo o prim eiro meio insubstituível é a Oração.
Existe já uma obra benem érita que se propõe o emprego deste meio e se cham a “Apostolado da Oração”. Muitos de vós estareis inscritos nele e outros desejais fazê-lo.
Indiscutível é que todos os católicos, e especialmente os m ilitantes da Ação Católica, devem p raticar de um ou outro modo este Apostolado, cuja facilidade, poder e necessidade tencionam os esclarecer.
Necessidade
Digamo-lo sem receio: o Apostolado é impossível sem a oração.
Por quê?a) Porque nada é possível sem o auxílio divino
que se obtém por meio da o ração : “Sem mim nada podeis fazer.” E frisemos como o Salvador diz que mesmo nada podemos fazer sem Ele. Portanto, nem pouco nem muito.
b) Muito menos se poderão salvar as almas; pois que a Ação Católica, com ser em inentem ente sobrenatural, exige meios da mesma natureza. A conversão de almas é obra da graça, pelo que nos diz o Salvador: “Ninguém pode v ir a mim, se lhe meu Pai não der a graça.
Um dia em que o grande conquistador de almas que era S. Domingos se angustiava ao ver o reduzido núm ero de suas conquistas, não obstante seus grandes desvelos, ouviu estas palavras: Semeias mas não em vão.” Entendeu o Santo perfeitam ente o sentido desta advertência vinda do céu, e incontinente redobrou suas orações.
O APOSTOLADO DA ORAÇÂ0 49
De fato o Apóstolo é tal qual um lavrador: abre o sulco e lança nele a boa semente; mas, se não vier auxílio do céu, não conseguirá o grão m edrar. Orvalho celeste é a graça, todavia só a oração pode ab rir os céus e fazê-lo descer.
Ensinou Jesus Cristo a necessidade da oração não apenas com palavras senão também pelo exemplo.
Antes de in iciar seu Apostolado, preparou-se para ele com a oração durante quarenta dias. D urante os três anos de sua vida pública vemo-Lo percorrer a Palestina, pregando, operando milagres, mas também orando. Antes de escolher os Doze passou a noite em oração, e do mesmo modo procedia antes de ob rar alguns de seus milagres, p. ex., a ressurreição de Lázaro.
Com isto nos ensina que todas as ressurreições, seja da alma seja do corpo, são milagres de Deus e que portanto exigem a oração.
PoderA oração não é só necessária, mas também pode
rosa.Quase diríam os que é onipotente, porquanto põe
a onipotência divina ao serviço de nossa debilidade.E’ Jesus quem nos diz: “Tudo o que ao meu Pai
pedirdes pela Oração, Ele conceder-vos-á.”Se a oração, pois, é tão poderosa, quanto mais o
não será quando pede o que é do sumo agrado do Pai, a conversão dos pecadores? Não foi acaso para isto que do céu desceu o Salvador e m orreu numa cruz?
A oração é um meio do Apostolado mais poderoso do que o heroismo, a eloquência e os próprios m ilagres. Estes podem, é verdade, causar adm iração; mas, desacom panhados da graça do Senhor que penetra os corações, perm anecem estéreis, não convencem, não convertem. Disto temos exemplos de sobra no Evangelho e na História.
Ainda há pouco lembrávamos a ressurreição de Lázaro. Houve alguma vez milagre mais convincente? Nada obstante os judeus não se converteram presenciando-o, antes enfureceram-se ainda mais contra o Salvador. E é de notar que tinham conhecimento do milagre, pois d iz iam : “Que faremos, visto que este homem faz muitos prodígios?” Apesar de tudo,Formação — 4
50 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
desde aquele instante os preocupava um só pensam ento: m atar a Jesus e a Lázaro: “D eliberaram dar a m orte a Lázaro, porque muitos por causa dele se apartavam dos judeus e seguiam a Jesus.”
Por ocasião da morte do Salvador a natureza se comoveu, o sol se escureceu, a te rra trem eu e os mortos ressuscitaram . “E vendo o que havia sucedido, o centurião glorificou a Deus e disse: Certamente este homem era um justo. — E toda a multidão que presenciou o espetáculo e via o que estava sucedendo, voltou para a cidade, batendo no peito .”
A que se devem estas conversões? Únicamente às ocorrências milagrosas?
Em parte se a elas devem, porém antes de mais nada à oração de Cristo agonizante, que Ele fez por seus verdugos.
Facilidade
Com ser tão necessário e poderoso o Apostolado da Oração, é ao mesmo tempo fácil para todos. Realmente é fácil para todos e, por isso mesmo, obrigatório para todos. “Nem todos os demais Apostolados são para todos — disse-o Pio XI — e onde não há possibilidade tampouco há obrigações. Mas todos podem exercer o Apostolado da Oração, pois todos podem orar.”
Podem o rar os doutos e os ignorantes; os ricos e os pobres; adultos, bem como crianças que apenas chegaram ao uso da razão.
Uma m enina de sete anos ouve falar de um grande pecador, condenado à m orte e im penitente. Propõe- se a salvá-lo com suas orações e tem o pressentim ento de que o alcançará. Pede ao Senhor um sinal que obtém. Às vésperas da execução lê nos diários que o condenado beijou três vezes o Crucifixo.
Esta m enina era Santa Teresinha do Menino Jesus.Diz a lenda que um pregador de quaresm a gaba
va-se muito do grande êxito de seus sermões e Nosso Senhor fez-lhe conhecer que o fruto se não devia à sua pregação, mas às preces de hum ilde irm ão leigo que o acom panhava como servidor. Este, enquanto o Padre pregava, ficava a um canto rogando ao Senhor abençoasse as palavras de seu irm ão de hábito.
O APOSTOLADO DA ORAÇAO 51
Quem não poderá fazer o que fez a religiosa do Carmelo e o leigo da lenda?
Por outra parte, à diferença dos outros apostolados, o da Oração é possível sem pre e em todo lugar.
Uma alma apostólica nunca está desocupada; se não pode trabalhar e falar, certam ente pode orar.
Bastas vezes se torna impossível dar um bom conselho a uma alma, mais ignorante que perversa, que se extraviou da senda da salvação. Pois bem, oremos por ela; se não podemos falar aos pecadores sobre Deus, falemos com Deus sobre os pecadores. E lucrarem os muitíssimo, ainda que nos não seja dado conhecer o sucesso de nosso Apostolado de Oração.
A quem devemos atribu ir a conversão de S. Paulo? À milagrosa aparição de Cristo no cam inho de Damasco? Não; mas à oração de Santo Estêvão, o qual, ao ser lapidado, “dobrou os joelhos e bradou em alta voz: Senhor, não lhes leveis em conta este pecado.” E também orou pelo jovem Paulo, “que deu consentim ento à m orte do m ártir” , e guardava as vestes dos que o apedrejavam.
Conclusão
Ante a realidade inegável destes fatos, devemos confessar que não temos usado bastantem ente esta arm a poderosa da Oração; temos dem asiada confiança no poder dos meios humanos, nos recursos m ateriais. Daí nosso trabalho foi tão infrutuoso c estéril. Havemos portanto de m udar de rumo, se queremos conseguir a meta.
Para term inar, vou referir um episódio da vida de Dom Bosco; dá-nos a chave de sua prodigiosa atividade apostólica.
Aos 8 de Dezembro de 1841, sublimado já à dignidade sacerdotal, na sacristia da igreja de S. F rancisco de Assis, em Turim , encontrou-se com um m enino enfermo que não sabia nem sequer fazer o sinal da cruz. Cheio de compaixão se ofereceu para o instru ir, e o jovem aceitou a oferta satisfeito. Antes de in ic iar sua instrução, Dom Bosco põe-se de joelhos e reza a Ave Maria, a fim de que o Senhor lhe conceda salvar aquela alma. “Esta Ave Maria,
52 FORMAÇÃO PARA Õ APOSTOLADO
unida à boa intenção do Santo, foi sobrem aneira fecunda”, conta-nos o biógrafo do Santo.
Ao term inar a instrução, presenteou o Santo seu aluno im provisado com uma m edalha da SS. Virgem e fê-lo prom eter que voltaria o domingo seguinte; enfim, o despediu com grande afabilidade. Voltou o m enino, mas não já a sós senão com mais cinco rapazinhos mal vestidinhos como ele. À frequência ainda aumentou no domingo seguinte.
Eis a origem do prim eiro Oratório de Dom Bosco, semente dim inuta que se converteu, como o grão de m ostarda do Evangelho, em árvore frondosa. A obra dos Oratórios começou, como todas as obras do santo, com uma prece à SS. Virgem.
A exemplo de Dom Bosco, temos de p rincip iar toda obra de apostolado com a oração antes que pela ação. E’ o único expediente para se obter êxito duradouro.
0 APOSTOLADO DO EXEMPLO
Introdução
Um senhor um tanto descrente acercou-se um dia para escutar o Cura de Ars, que dava aula de catecismo. Mas como a voz do m estre fosse débil, e ele, de outro lado, se achava algo distante e rodeado de m uita gente, quase nada pôde ouvir. Não via senão o rosto radiante do pregador, seus gestos suaves, seu porte devoto; contudo saiu da igreja enternecido e transform ado, exaltando a santidade do hum ilde Pároco: “Não o ouvi, mas vi-o — dizia — e isto me basta.”
Estas palavras nos patenteiam o poder e a eficácia do bom exemplo que, em verdade, é um dos p rin c ipais meios do Apostolado. Para com provar esta verdade, sirva-nos o modo de proceder de Nossa Senhor e dos prim eiros cristãos.
Eficácia deste apostolado
Já o disseram os antigos: “As palavras comovem, os exemplos arrastam .” E’ inegável que as obras têm mais força persuasiva do que as palavras.
Mais fácil é converter um pecador com a p rática da virtude do que com a pregação. E isto por várias razões:
a) Antes de mais nada porque o exemplo fala aos olhos, quer dizer, se faz mais sensível. E’ nossa experiência co tid iana: o que entra pelos olhos comove-nos mais profundam ente do que tudo quanto percebem os pelo ouvido. 0 exemplo é uma lição in tuitiva.
b) 0 exemplo é como a linguagem muda de pessoa convencida; é coisa sabida que a convicção gera convicção, como o pranto as lágrimas.
c) Porque o bom exemplo equivale a um suave convite, a uma exortação sem palavras que se a outrem faz espontaneam ente, não se arvorando o
94 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
adm oestador em mestre ou juiz, nem ofendendo a suscetibilidade alheia, mas deixando a todos a liberdade que lhes tão cara é.
A par de eficaz, o Apostolado do exemplo é fácil.Nem todos sabem exercer o Apostolado da pala
vra; mas todos, mesmo os ignorantes e iletrados, podem pregar com o bom exemplo.
De outro lado esta é uma pregação que todos compreendem , todos, ainda que surdos de corpo ou de espirito, ainda que não queiram ou não possam ouvir e aos quais qualquer outra pregação seria ineficiente.
Que é que motivou a conversão de S. Agostinho?
Indubitàvelm ente influíram muito em seu esp írito os sermões de S. Ainbrósio que o fizeram conhecer a verdade do cristianism o. Mas não foram suficientes. Era m ister rom per as cadeias de uma união ilegítima, e Agostinho não se sentia capaz para isto. Admirava a castidade, desejava-a ardentemente, mas não se resolvia a praticá-la. Dizia ao Senhor: “Dai-me a continência e a castidade, mas não de repente.” “Pois — diz-nos ele próprio — temia ser atendido mui prestes e sarado de um momento a outro da enferm idade da concupiscência.”
Olhando entretanto ao redor, via jovens, donzelas, meninos e anciãos que guardavam perfeita observância da castidade. De súbito perguntou entre s i: “0 que estes e estas podem, por que o não hei de poder também eu?” E com a graça de Deus superou os ímpetos da carne.
Assim, pois, no espírito deste orgulhoso professor de Retórica puderam mais os exemplos dos simples que a palavra de exímio orador. Esta iluminou a inteligência; aqueles, porém, dobraram a vontade.
Como Cristo exerceu este apostolado
Jesus é o Mestre, e Ele mesmo compraz-se em se assim cham ar: Intitulais-m e a mim Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois realm ente o sou.”
Isto posto, como ensinou Cristo? Prim eiro com o exemplo do que com a palavra. “Começou a fazer e a ensinar.” T rin ta anos a fio seu único Apostolado foi o exemplo.
O APOSTOLADO DO EXEMPLO 55
Com muita justeza pôde dizer a seus discípulos: “Dei-vos o exemplo, a fim de que também vós façais o mesmo.”
Exemplo de hum ildade, caridade, virtudes que formam a substância de sua doutrina.
Ordenou ainda aos seus exercitassem o magistério do exem plo: “Que a vossa luz resplandeça diante dos homens para que, considerando as vossas boas obras, glorifiquem ao Pai que está nos céus.”
Devemos irrad iar, portanto, a luz das boas obras, não para glória própria, senão para a honra de Deus. Com efeito, vendo os homens as obras que p ra ticamos, sentir-se-ão estimulados a imitá-las e com isso darão glória a Deus.
Como o praticaram os primeiros Cristãos
Como discípulos de Cristo e instruídos por Ele, os prim eiros cristãos com preenderam e im itaram o exemplo de seu Divino Mestre. Que luz abundante de verdade e de bondade difundiram no mundo pagão, mais com o exemplo do que pelas palavras!
O apologista Tertuliano, que viveu no II século, diz-nos que os pagãos ficavam como encantados ao ver os exemplos de caridade que davam os cristãos, virtude empolgante e desconhecida dos pagãos, e exclamavam adm irados: “Vede como os cristãos se amam uns aos outros!”
Ao lado da caridade adm iravam neles também a fortaleza ao enfren tar os perigos e até a própria morte antes de tra ir a fé. O filósofo S. Justino chegou ao cristianism o movido pelo exemplo que davam os seus adeptos. Num dos seus escritos, endereçado ao im perador Antonino Pio para defender os cristãos das incrim inações que lhes faziam os pagãos, confessa o seguinte: “Eu mesmo, quando ainda me alimentava com as máximas de Platão, ao ver acusar os cristãos e ao vê-los afrontar com destemor a morte e toda sorte de suplícios, raciocinava que era impossível que tal gente vivesse na iniquidade e no amor dos sentidos.”
E até hoje em dia — perdoem-me — não existem acaso desconfianças contra a Igreja e a religião de Cristo? A isso, que resposta mais convincente do
56 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
que a nossa conduta cristã, nossa fé inquebrantável e nossa fidelidade às promessas do batismo?
Hoje como ontem, as melhores conquistas são as do exemplo. Quantas almas atorm entadas pela desventura ou escravizadas ao respeito humano, não voltaram ao bom cam inho graças ao exemplo de um cristão verdadeiro!
Frederico Ozanam, o grande fundador das Conferências de S. Vicente de Paulo, quando estudante da Universidade de Paris, sentiu-se assaltado pelas dúvidas contra a fé, parecendo-lhe ela não concordar com os resultados da ciência. Sua alma de católico vacila. Fortalecido fica, porém, com o exemplo de um bom cristão e notável homem de ciência: Ampère. “Um dia — refere o mesmo Ozanam — cheio de tristeza e abatim ento entrei na igreja de S. Estêvão do Monte, para alegrar o espírito. Estava a igreja quase vazia e silenciosa, só aqui e ali algumas pessoas oravam diante das relíquias de S. Genoveva. A um canto estava um homem mergulhado em profunda m editação; acerquei-me dele e reconheci Ampère hum ilhado diante da divina p re sença. Passado algum tempo, retirei-m e intim am ente comovido e mais unido a Deus.”
ConclusãoO bom exemplo conquista as almas não só para a
prática da religião, senão para o Apostolado.Conquistar novos sócios para a Ação Católica são
as diretrizes traçadas pelo supremo Jerarca, tal é o desejo do Papa. Contudo qualquer esforço será baldado se estiver separado do exemplo de uma vida cristã íntegra.
Para justificar a inércia e a indolência costumam alguns dizer: “Os m ilitantes da Ação Católica são como os demais.”
Dos sacerdotes e de todos os que exercem o Apostolado exige-se uma conduta superior à comum.
Com toda razão: ser m elhor do que os outros não é para nós ambição, mas dever, pois é a condição de conquistar almas para Cristo e soldados para a Ação Católica.
Também nós outros, como Cristo e os prim eiros cristãos, havemos de com eçar pela ação para ensinar depois.
0 APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO
Introdução
Nos capítulos anteriores vimos como o Apostolado da oração e do exemplo são eficazes e necessários; ao alcance de todos e para todos obrigatórios.
Além destes ainda existe outro Apostolado acessível a todos e não menos eficaz: falamos do Apostolado do Sacrifício e do Sofrimento.
0 sacrifício é a grande lei que, depois do pecado original, Deus promulgou para toda a hum anidade. Nada de grande se faz, depois da Sexta-feira do Calvário, que não seja assinalado com o sofrim ento.
Desta lei não está isenta a obra mais sublime que o homem pode levar a cabo em cooperação com Deus: a salvação das almas. 0 Apostolado, portanto, requer sacrifício, ou m elhor é ele mesmo um constante sacrificio.
E vice-versa: o sacrifício é apostolado, isto é, um meio de salvar almas, e mesmo podemos acrescentar que é o meio soberano.
Esta é a verdade que agora queremos deslindar: a eficácia superior do Apostolado do Sacrificio e sua possibilidade universal.
Eficácia do apostolado do SacrifícioEscrevia S. Teresinha do Menino Jesus a um Mis
sionário estas palavras cheias de sabedoria evangélica: “Desde que o Rei Divino hasteou o pendão da Cruz, todos devemos com bater e ganhar vitórias à sombra deste lábaro glorioso. Alegrai-vos, pois, de que o princíp io do vosso Apostolado se caracteriza pelo sinal da Cruz, pelo sofrim ento e pela perseguição, mais do que por brilhantes pregações, porque é com aqueles que o Senhor quer consolidar seu reino nas almas.”
Donde, porém, brota esta prodigiosa fecundidade apostólica do sacrifício?
58 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Das fontes que vamos enum erar.1. ° — 0 que vale cu s ta : e o sacrifício vale mais
que todos os outros apostolados, porque custa mais e porque exige maiores esforços à vontade.
Orar, escrever, falar — não são coisas que repugnem à natureza, bem que exijam algum esforço. Mas sacrificar-se significa ir contra a correnteza, porquanto o homem criado para a felicidade sente repugnância natural pela dor.
Desta forma, quando o homem vence a natureza e afronta o sacrifício, oferece a Deus o mais p recioso e agradável holocausto.
2. " — 0 que afasta o homem de Deus é o pecado e o pecado é o gozo ilícito, o prazer abusivo.
A reparação que satisfaz a justiça divina e restabelece o equilíbrio destruído pelo pecado será o que há de mais oposto ao prazer: a dor que se transforma em penitência.
0 padecim ento é a moeda com que se resgatam as almas escravizadas sob o jugo do pecado, e todo homem, por benigna concessão do Senhor, pode resgatar com esta moeda não só a p rópria alma, senão ainda a dos outros.
3. ° — Todo ato de Apostolado é uma cooperação à obra redentora de Cristo. Todavia esta redenção culm inou na cruz. “Quando eu for levantado da te rra, a tra ire i tudo a mim”, disse o Redentor, falando do sacrifício da Cruz. E assim se cum priu. E assim canta a Igreja: com a sua m orte Ele devolveu a vida a todos os homens.
Por conseguinte mais unidos estaremos à obra redentora de Cristo, quando nos sacrificarm os pela salvação das almas.
Maria SS., Co-redentora do gênero humano, estava junto de Cristo ao pé da C ruz: “Estava junto à Cruz de Jesus, Maria, sua Mãe.” Também nós outros seremos co-redentores quando, a exemplo de Maria, perm anecerm os ao pé da Cruz de Jesus, compartilhando suas dores p a ra salvar as almas.
Possibilidade universal do sacrifícioVisto que a lei do sofrim ento é universal, o Apos
tolado do sofrim ento há de ser possível a todos.Quem não padece algo? E quem não pode oferecer
O APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 59
algum sacrifício em expiação de seus pecados e pela salvação dos outros?
Quando algum dos outros apostolados se nos to rna impossível, sem pre nos será possível o Apostolado da dor. 0 que está enfermo não pode trabalhar nem falar, até a mesma oração se lhe to rna penosa; contudo sofre e na dor tem uma fonte inexaurível de m erecim entos para si e para os dem ais; fonte tanto mais copiosa, quanto maiores os sofrimentos. O poder espiritual do sofrim ento aum enta à m edida que minguam as forças m ateriais, de modo que o paciente pode apropriar-se das palavras de S. Paulo Apóstolo: “Então é que sou mais forte, quando estou mais fraco.”
Eva Lavallière, célebre estrela do teatro parisien se, converteu-se para se fazer m issionária enferm eira na África; teve contudo que abandènar o cam po de seu apostolado, por se ver acom etida de uma doença incurável. Ao despedir-se do Mons. Lemaitre, Arcebispo de Cartago, d isse : “Vim à África para serv ir os outros; agora sou eu quem necessito o auxílio deles. Tornei-m e um ser inútil para as Missões.”
“Não diga tal — respondeu com gravidade o Sr. Arcebispo; — muito ao invés, sua obra m issionária não term inou, apenas vai começar. Sua vida será uma dor continuada, mas não desanim e; assim a Sra. realizará da m aneira mais sublime o ideal m issionário. Será uma hóstia viva e poderá do leito, transform ado em altar, oferecer-se como vítim a pela conversão do m undo muçulmano.”
Inspirando-se no conceito da fecundidade apostólica da dor, a União M issionária do Clero estabeleceu para cada ano, por ocasião da festa de Pentecostes, a Campanha do Sofrimento em prol das Missões. Os prom otores desta prática deveriam de ter pensado nas palavras de S. Bernadete Soubirous, a vidente de Lourdes; acom etida de grave doença que a inabilitou para todo trabalho, respondia aos que lhe perguntavam o que fazia no convento: “Faço de enferm a.”
Nobilíssimo ofício, alta missão de Apostolado! Pois a enferm idade oferecida a Deus transform a-se em poderoso instrum ento de salvação.
Só no Paraíso poderem os com preender quanto bem fizeram nossos m issionários e quantas almas
60 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
salvaram em virtude dos padecim entos dos enfermos, os quais são os mais eficazes colaboradores de Cristo, porque estão mais perto da Cruz.
4.° — Escreveu alguém que a dor é a m aior força m oral do mundo, sentença que perfilham os plenam ente; todavia temos de lam entar que para muitos esta força seja completamente desconhecida e estéril.
As nossas m ontanhas são regadas de águas lim píssimas que correm das alturas para os vales. Conduzidas por canais, mercê da indústria do homem, estas águas movem poderosas turbinas que geram enorme quantidade de força elétrica; esta, transportada às cidades e centros industriais, p resta serviços incontáveis à hum anidade.
Ora, toda a te rra está banhada e irrigada de to rrentes de lágrimas. Quanta força não poderia bro tar destas fontes! Quantos benefícios para o mundo espiritual!
Mas, talqualm ente a m aior parte das águas da m ontanha descem até às planícies sem ser utilizadas, também lágrim as sem conta derramam-se debalde. Quantas energias perdidas para a eternidade!
Conclusão
Antes de term inar, volvamos os pensam entos a Li- sieux, à cela de Santa Teresinha, cuja vida foi toda um Apostolado de oração e de sofrimentos.
Sua irm ã Celina com unicara-lhe a dolorosa notícia da grave enferm idade do pai. Com o coração transido de dor, mas com os olhos serenos de quem tudo contempla à luz da fé, responde a Santa: “Celina, longe de lam entar-nos por esta cruz que o Senhor nos envia, não posso com preender o am or in finito que o levou a tratar-nos assim. Muito há de am ar o Senhor a nosso bom pai, visto que o sujeita a tal provação. E que delícias ser hum ilhado com Ele! A nossa provação é uma m ina de ouro que temos de explorar.”
Desses m inérios, quantos não já o Senhor nos preparou! Nossa vida de cada dia está juncada de dor, de m ortificação, de sacrifício, e podemos oferecê-los não só com resignação, mas até com alegria, como a hum ilde carm elita de Lisieux. Não deixe-
- Õ APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 61
mos cair em terra os preciosíssim os grãozinhos deste ouro que o Senhor recebe em suas mãos como satisfação de nossas dívidas.
Contudo não apenas para satisfazer as nossas dívidas pessoais, senão também as de nossos irmãos. Devemos tornar-nos apóstolos do Sacrifício, de modo especial como sócios da Ação Católica.
Santa Teresinha ensina-nos também este dever, quando term ina a carta a sua irm ã com esta recom endação: “Ofereçamos nossos sacrifícios a Jesus pela salvação das almas.”
O convite dirige-se a nós. Aceitemo-lo como leina de nossa vida. •
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA
No apostolado da Ação Católica ocupa lugar de relevo o da Fam ília, o Apostolado pela recristianiza- ção dos lares.
Devemos todos trabalhar por que Cristo reine na Fam ília, e é natural que esta obra comece pela nossa p rópria fam ília; a isto estamos obrigados pela Caridade.
E’ em S. Paulo que encontram os a seguinte frase que nos muito faz refle tir: “Se alguém não cuida dos seus, e particularm ente dos de sua casa, renegou a fé e é p ior do que um infiel.” E aqui não fala o apóstolo só do cuidado m aterial, mas também do espiritual.
Portanto devemos interessar-nos por aqueles de nossos próxim os que mais perto estão de nós: que vivem debaixo de um mesmo teto conosco, se sentam à mesma mesa e estão unidos a nós pelos vínculos do sangue e a quem chamamos nossos parentes.
Disto todos estão convencidos. Como, porém, exercer o apostolado fam iliar em favor de nossa Fam ília?
Pela palavra e pela ação: por meio das orações feitas em favor dos que nos são chegados, por meio de caridosas exortações e, finalmente, pelo exemplo das virtudes cristãs.
Oração
Quem não terá em casa, ou entre os seus parentes, algum enfermo de alma, algum que vive no abandono, ou descuidando dos seus deveres religiosos?
E’ m ister curá-lo, buscar-lhe um médico que o atenda em sua enferm idade. E que outro médico mais sábio e poderoso senão Jesus?
Talvez em nossa casa, ou seja entre os membros de nossa família, contamos com algum que perdeu a vida sobrenatural, que não pratica a religião. Felizmente Cristo é um Médico singular que não apenas sabe curar os enfermos, mas também ressuscitar os mortos. Invoquemo-Lo como a Irm ã de Lázaro e su-
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 63
pliquemos-Lhe que devolva a vida àquele a quemamamos.
E’ certo que ressuscitar um a alma é mais difícil do que ressuscitar um corpo, pois a alm a que é livre pode opor resistência à obra divina. Por isso asressurreições espirituais quase nunca são repentinas, instantâneas, como a ressurreição dos corpos. E por isso é indispensável que a nossa oração seja perseverante; uma vez que perseverarm os, obteremos a vitória, porquanto nada é impossível a Deus.
Quantas lágrim as e preces não custou a Mônica a conversão de S. Agostinho! “Chorava ela — assim nos conta o próprio filho — mais do que as outras mães choram a morte corporal de seus filhos, e suas lágrim as corriam até a te rra ; depois orava.” Um dia a Santa apresentou-se ao Sr. Bispo, homem douto e santo, para lhe rogar que chamasse Agostinho e procurasse apartá-lo dos cam inhos maus que andava. Mas ele respondeu-lhe: “Deixe-o e encomende-o a Deus, pois não pode acontecer que pereça um filho de tantas lágrim as.”
Palavras proféticas. As lágrim as e orações de Mônica deram à Igreja um Santo e um Mestre universal.
A exortação
Mas não basta falar a Deus na oração; é preciso falar também com aquele por quem oramos. E esta é a segunda poderosa arm a do Apostolado fam iliar: a exortação. Em se tratando dos membros da família, o emprego deste meio é mais fácil e eficaz.
Mais fácil; pois quantos ensejos não se apresentam na vida fam iliar para dizer um a boa palavra, em tempo propício, quando os corações estão mais dispostos para receber a boa semente!
Mais eficaz; porquanto fala a voz do coração e do sangue. Como resistir a ela? Como suspeitar in tu itos interesseiros na voz do coração?
Não contava ainda S. Tomás de Aquino vinte anos de idade, quando seus irm ãos e parentes o encarceraram no castelo de Rocasseca por te r vestido o hábito de S. Domingos. O pai tencionava fazer dele um glorioso cavaleiro de im pério e um poderoso abade de Montecassino, jamais, porém, um
frade m endicante. Para o dem over de seu propósito, lançaram mão de violências e até das mais vergonhosas tram as contra a castidade do jovem. Tudo em vão. Recorrem então à lei do sangue. O que não puderam lograr a violência e a sedução, conseguiria o amor das irmãs, que se puseram a d issuadir seu irm ão com argumentos humanos. Mas, por fim, foram elas vencidas, pois Tomás falou-lhes com tal convicção da vaidade do mundo, da beleza da vida religiosa, das recom pensas eternas, que uma das irm ãs se fez monja beneditina, e a segunda viveu piedosam ente no século, acom panhando com suas orações ao irm ão em sua ascensão às alturas da ciência e da santidade.
Eis o fruto do Apostolado fam iliar.Tais frutos encontram os no p róprio Evangelho.
Pedro, o prim eiro Papa, p o r quem foi conquistado para Jesus? Por seu irm ão André.
ExemploEntretanto, neste Apostolado fam iliar, como em
qualquer outro, convém sem pre pôr de acordo as palavras com as obras; quer isto dizer que a exortação irá acom panhada do exemplo da virtude, especialm ente daquelas que são o adorno da vida familia r: a caridade generosa, o espírito de sacrifício, a paciência.
“Toda árvore boa produz frutos bons.” Se, pois, a religião de Cristo é uma árvore boa, como andam os a pregar, mostremo-lo pelos frutos das boas obras; esta dem onstração de fato, esta apologia, esta lição continua do exemplo, operará m aravilhosas conversões no santuário doméstico.
Célebre tornou-se a conversão de Clodoveu, Rei de França, pagão casado com uma nobre cristã, S. Clotildc. Uniu-se esta àquele pagão com o único desejo de fazer cristão o m arido e com ele a nação gaulesa. Como concretizar este plano tão audaz? Falando a Deus sobre o m arido e dando a conhecer a este, nos colóquios íntimos, a beleza da religião de Cristo. O Rei, todavia, não parecia adm irar-se nem comover-se. E depois que Clotilde lhe narrou a Paixão e morte do Redentor, o Rei, que só acreditava no domínio da força bruta, empinou-se qual cavalo de encontro a um obstáculo no cam inho: um Deus preso, morto e vencido, jam ais seria seu Deus.
64 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 65
Nada obstante, no ânim o rude e conquistador do Soberano vai operando um a m udança silenciosa a v irtude da esposa, particularm ente sua terna b ran dura e inalterável paciência. Deve ser um Deus extrao rd inário o que produz sem elhantes prodígios de v irtude; um Deus m aior do que os que adoram os pagãos, pois qual das damas de palácio é igual a sua esposa? Aos poucos se vai insinuando no coração do M onarca uma certa sim patia pelo Deus de Clotilde; num belo dia de renhida batalha, Clodoveu orou assim : “0 ’ Deus de Clotilde, se me deres a vitória, eu me darei a ti.” Venceu e deu-se a Cristo.
Na festa do Natal de 496, antes de derram ar S. Remígio a água batism al sobre a cabeça do feroz Monarca, lhe disse: “Inclina a cabeça; queim a o que adoraste e adora o que queim aste.” A nação dos gauleses seguiu o exemplo do rei e tornou-se a filha p r imogénita da Igreja.
Exemplo m aravilhoso do Apostolado fam iliar, exercido pelo exemplo, pela oração e admoestação.
ConclusãoMandaram um dia Marta e Maria dizer ao Senhor
que o irm ão delas, Lázaro, a quem Ele amava, estava doente. Jesus, contudo, chegou a Betânia, quando Lázaro já estava morto. Ao ver o Salvador, Marta disse chorando: “Senhor, se estiveras aqui, meu ir mão não m orrera.” Respondeu-lhe o Senhor simplesm ente: “Teu irm ão ressuscitará. Eu sou a ressurreição e a vida.” E no mesmo dia o com provou pelos fatos: à ordem do Salvador, o m orto saiu da sepultura.
No caso de ca ir enfermo algum membro de nossa família, im itam os o exemplo das irm ãs de Betânia, oramos, chamamos a Jesus em nosso auxílio. Fazemos, porém, outro tanto, quando se tra ta de enferm idade espiritual?
Jesus é a ressurreição e a vida não só do corpo, mas também da alma. Já o invocamos alguma vez como Médico dos que padecem em espírito?
Que fizemos até hoje nós outros, dedicados ao Apostolado, pela salvação dos que nos estão unidos pelos vínculos do sangue?
Impõe-se um sério exame de consciência, um a retificação em nosso procedim ento.Formação — 5
0 APOSTOLADO DO MEIO AMBIENTE
Introdução
Quando se diz aos leigos que hão de praticar o Apostolado, alguns assustam-se porque dele formam um conceito exagerado. Imaginam que para ser apóstolo se requer a atividade prodigiosa de um S. Paulo, a eloquência de um Crisóstomo, a sabedoria de um Agostinho, o amor abrasado de um S. Francisco de Assis, a graça m ilagrosa de um Dom Bosco. E daí inferem logicam ente a seguinte conclusão: coisa nobre e sublime é o Apostolado, mas não para nós que carecem os de capacidade e de tempo.
Esta conclusão é um erro perigosíssim o, visto com o o Apostolado é um dever que a todos incum be e igualmente está ao alcance de todos. Existem , é verdade, formas de Apostolado que não são possíveis a todos; mas outras há que todos podem exercer e desenvolver, como o Apostolado no seio da fam ília do qual acabamos de falar, bem como o Apostolado do m eio am biente, do qual vamos tratar, considerando :
a) em que ele consiste,b) como é fácil e eficiente,c) por que m eios se pode exercitar.
Em que consiste
Vivem os em contato não apenas com os nossos parentes, senão também com muitas outras pessoas, com as quais estamos relacionados em razão de nossa profissão, ocupações, interesses, etc.
N isso, o Apostolado do m eio am biente consiste em fazer bem àquelas almas com que temos de con viver e que se encontram nas mesmas condições de vida ou de ocupação.
E’ o Apostolado do operário pelo operário, do profissional pelo colega, do estudante pelo condiscípulo, da mãe de fam ília em favor de outras mães.
O APOSTOLADO DO MEIO AM BIENTE 67
E’ ainda o Apostolado que com m aior insistência recom endou o Papa aos membros da Ação Católica: é o “ponto vital”, como ele o chama. Lemos com efeito na encíclica Q u a d r a g é s i m o A r m o : “Os prim eiros im ediatos apóstolos dos operários são os operários; os apóstolos dos industriais e com erciários serão os industriais e com erciários.”
Todo membro da Ação Católica, homem, mulher, os jovens e as senhorinhas, devem, portanto, ser m issionários conquistadores de almas; a conquista far- se-á, antes de mais nada, no meio em que se desenrola nosso viver. ■
Como se explica a rápida difusão do cristianism o no meio das nações pagãs? Fator im portantíssim o desta rápida expansão foi incontestàvelm ente o Apostolado do m eio ambiente, exercido pelos prim eiros fiéis, animados ainda de zelo incontido de conquista. Onde quer que houvesse um cristão se formavam com unidades de cristãos, seja na palhoça do pobre, seja no palácio de César, na loja do com erciante, na residência do magistrado, sob a tenda do soldado.
Em vista disso já no segundo século podia Ter- tuliano dizer: “Somos de ontem e já tudo tomamos: cidades e aldeias, teatros e palácios, o senado e o foro; apenas os tem plos dos deuses vos deixam os.”
Tomando em consideração que a Igreja, que estava, então, encarcerada, não tinha tem plos onde os fiéis se pudessem reunir, m elhor se com preenderá o m ilagroso daquela difusão, pois convém não esquecer que os cristãos daqueles tempos eram todos apóstolos.
Apostolado fácil e eficazQue requer? Grande amor a Deus e ao próxim o. E’
quanto basta.Um corpo cálido com unica seu calor a quanto se
põe em contato com ele; de igual m aneira a alma do apóstolo, abrasada pelo amor de Deus, irradia espontâneam ente luz e calor em seu redor e ilum ina a quantos estão a seu lado.
E se até agora não nos preocupam os com as almas que estão a nosso lado, deitem os a culpa ao nosso descuido e à nossa negligência.
No dia seguinte de sua conversão S. Agostinho deixou a cátedra de Retórica em Milão e retirou-se 5*
68 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
à solidão de Casíaco em com panhia de alguns amigos não cristãos ainda. E ali, naquela solidão, se deu ao estudo, à oração e ao apostolado. A chama que abrasava o coração de Agostinho queria in flamá-lo todo. Um dia chegará a ser tão poderosa que inflam e o mundo inteiro. Mas ele, entretanto, quer abrasar o coração de seus amigos que vivem com ele na solidão: Alípio, Nebrídio e Verecundo, os quais, enfim , se fazem cristãos.
Exem plo admirável do apostolado de um sim ples leigo no m eio ambiente.
Em verdade, esta forma de apostolado é possível a todos, sempre e em toda parte.
a ) P o s s í v e l a t o d o sQuem não pode dizer uma boa palavra ao ami
go, ao com panheiro? Quem não pode aconselhá-lo ou apartá-lo de um cam inho perigoso? Requerer-se-á para isto ter estudado muito ou ser mui eloquente?
b ) E ’ p o s s í v e l s e m p r e0 sacerdote prega, ordinàriam ente, nos dias de
festa; nós outros podem os fazê-lo a todo m omento e com aqueles que não vão à igreja e que, por isto m esmo, têm mais necessidade de escutar a verdade.
c) P o s s í v e l e m t o d a p a r t e0 sacerdote não pode entrar em certos m eios on
de mais se requer sua ação benéfica. Os leigos, em razão mesmo de sua profissão, encontram -se dissem inados em todos os lugares e ali podem irradiar a luz de seu cristian ism o: no campo, na oficina, na universidade e no colégio, nas ruas e nas praças.
d ) E f i c a zMuitos há que desconfiam do sacerdote por tê-lo
em conta de pessoa interesseira. Outros lhe têm antipatia ou alimentam contra ele preconceitos sem fundamento.
0 mesmo não se dá com o leigo, com panheiro de escola ou de trabalho. 0 apóstolo do próprio m eio é m elhor com preendido, porque com preende m elhor as situações.
Desde criança e antes de entrar no sem inário foi Dom Bosco um apóstolo eficaz em seu m eio infantil. Para poder fazer-lhes o bem, aproveitou suas qualidades de saltim banco, associava-se aos m eninos,
O APOSTOLADO DO MEIO AM BIENTE 69
distraía-os e term inava a diversão com algum ser- mãozinho ou com alguma oração. Nos dias festivos o espetáculo term inava com convidá-los à igreja para assistir ao catecismo ou aos ofícios religiosos. E os espectadores seguiam-no em massa.
Haveria logrado tanto o sacerdote?
Meios de exercer este apostoladoComo para o apostolado fam iliar, também para
este a arm a m ais poderosa é a palavra: rezar a Deus e logo exortar os interessados.
Pois a palavra há de ser precedida pelo exemplo e acom panhada da caridade. Bom exem plo e ca ridade são como os dois braços de um a tenaz que p rende as alm as e as eleva até Deus. .
Antes de mais nada o bom exemplo. Sabido é de todos que o Pe. Gemelli, fundador e re ito r da Universidade do Sagrado Coração, foi em sua mocidade um decidido com unista. Quem o ganhou para Deus foi o professor Vico Necchi, hoje Servo de Deus, e seu com panheiro, prim eiram ente, na un iversidade de M edicina em Pavia, depois no hospital m ilita r de S. Ambrósio em Milão, situado no próprio lugar que hoje ocupa a U niversidade do Sagrado Coração.
A quem se deve a conversão do atual Reitor Magnífico? Por certo, que os prim eiros germes se deveram à vida edificante de seu amigo Necchi, pois Gemelli duvidava da sinceridade dos sacerdotes. Vivendo em com panhia de Necchi, católico m ilitante e fervoroso, quis dar-se conta de toda a sua vida. Uma tarde, ele disse: “Necchi, am anhã ao levantar-te, chama-me, quero saber o que é que fazes.”
“Com muito gosto”, replicou-lhe Necchi.E na m anhã seguinte entravam ambos na capela
e Gemelli ficou à porta observando atentam ente seu com panheiro. 0 sacerdote celebrava a santa m issa; à hora da Comunhão viu como se chegavam à mesa eucarística as religiosas, os soldados e seu amigo Necchi.
Ao term inar a missa, Gemelli saiu com seu amigo afetando frieza e indiferença, embora, na realidade, estivesse profundam ente comovido. Ao dia seguinte fez O mesmo e, pouco a pouco, as exortações
de Vico, fecundadas pela graça de Deus, penetravam no coração do conturbado com panheiro e o ganharam para Deus.
Aqui um fruto notável do apostolado do meio, do com panheiro para o com panheiro. E este apostolado não começou com a palavra senão com o exemplo.
Outra arm a eficacíssim a do apostolado é a caridade, exercida para com aquele que quer converter-se para Deus.
Volvamos a Dom Bosco. Quando ainda era leigo e estudava em Chieri, teve por com panheiro um hebreu e propôs-se a convertê-lo. Em presa difícil! O com panheiro tinha necessidade de quem o ajudasse nos estudos e Bosco, que era o prim eiro da classe, prontificou-se a lhe ajudar. Assim o ganhou para Deus, e, enfim, teve o consolo de vê-lo receber o batismo. Comecemos por ganhar os corações com a caridade e mais fàcilm ente ilum inarem os as in teligências para a verdade.
ConclusãoA prim eira vez que S. Paulo pregou aos pagãos
em Cesareia, disse, falando do Salvador: “Passou a fazer o bem e curando a todos os que estavam possuídos do demónio.”
Pois bem, quem são os possuídos do demónio?Não somente os endem oninhados, senão os que
não têm a fé e não praticam a religião; pecadores que, tendo perdido a filiação divina, caíram debaixo da escravidão do demónio.
Também nós outros devemos passar pelo mundo, curando a todos e fazendo-lhes o bem, como Cristo, ao menos a alguns dos muitos oprim idos pelo demónio que encontram os em nossa vida diária. Só assim seremos im itadores de Cristo e verdadeiros mem bros da Ação Católica, que é Apostolado e conquista de almas para Deus.
70 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
O APOSTOLADO CATEQUÉTICO
IntroduçãoEm um recente documento pontifício sobre o ca
tecismo algo há que visa diretam ente a Ação Católica e que nos im porta conhecer. O decreto Provido sane, de 12 de Janeiro de 1935, depois de convidar os Bispos e os Párocos a p reparar idóneos catequistas, acrescenta: “Entre os catequistas haverão de distinguir-se os membros da Ação Católica, os quais já fizeram muito neste campo e nalgumas de suas organizações com zelo que é muito de louvar; estabeleceram nos program as anuais aulas de catecismo, em que todos devem p artic ipar.”
Não é este o prim eiro convite que a Cátedra de Roma dirige aos membros da Ação Católica a p a rticiparem do apostolado do catecismo. Queremos dem onstrar como se pode partic ip ar do apostolado catequético com o exemplo e a palavra; e falaremos logo de sua excelência e da recom pensa que lhe está assinalada.
Apostolado catequético do exemploO apostolado catequético consiste em trabalhar pa
ra que o povo seja instru ído nas verdades p rin c ipais da religião.
Pois bem, esta obra pode-se levar a efeito de m uitos m odos: com a palavra, com os auxílios m ateriais e com o exemplo.
O exemplo é meio eficacíssimo segundo o conhecido adágio dos antigos: Os exemplos arrastam. E os membros da Ação Católica têm de frequentar o ca tecismo paroquial por várias razões:
1. ° Para instruir-se na religião, dever prim ordialdo cristão. Fomos criados para conhecer, am ar e servir a Deus, e não podemos amá-Lo nem servi-Lo, se O não conhecemos.
2. “ Para preparar-nos a in stru ir os demais. O programa da Ação Católica é: Instruir-se para in stru ir os outros, esclarecer-se para esclarecer os demais.
72 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
3.” Para dar bom exemplo. O apostolado do exemplo, portanto, é o mais fácil, também o mais eficaz e possível a todos; é um dever especial dos sócios da Ação Católica que se consagram ao apostolado.
Falando o Papa Pio XI às associações católicas de um a paróquia de Roma, dizia-lhes: “Recomendamos instantem ente a todas as associações católicas, m asculinas e fem ininas, que assistam ao catecismo na paróquia e ajudem ao Clero no cum prim ento deste m inistério que a todo católico há de parecer como o mais santo e necessário.”
Esta recom endação do Pontífice dirige-se a todas as associações de Ação Católica.
Apostolado catequético da palavra
Dissemos que os membros da Ação Católica devem instruir-se para instru ir. De que modo se instru irão?
Há um modo simples ao alcance de todos: a conversação que oferece mil ocasiões para expor alguma verdade da religião, desfazer alguns erros, responder às objeções mais comuns contra a religião. E este é um apostolado magnífico, individual, ocasional.
Os leigos têm mais oportunidade que os sacerdotes para exercê-lo.
Além disto, como quer o Papa, os membros das associações da Ação Católica hão de ajudar o Clero no ensino do catecism o e a razão é evidente: A Ação Católica é a participação no apostolado da Jerarquia, ou seja a colaboração com o Clero em todas as obras do m inistério sacerdotal; e este da instrução cate- quética ocupa um lugar im portante na labtita do sacerdote. Nosso Senhor deu aos apóstolos o m andato especial: “Ide e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo.” O prim eiro é, pois, a instrução, logo vem a distribuição da graça santificante.
Por isso, a p rincipal preocupação da Igreja em todos os tempos foi a instrução religiosa dos fiéis.
E nesta excelsa missão a Igreja sem pre se há servido da colaboração dos leigos; serviram-se dela os Apóstolos, os quais, apenas chegados a uma ci-
O APOSTOLADO CATEQUBTICO 73
dade, já encontravam um bom núcleo de judeus e de pagãos instruídos nas verdades da fé pelos cristãos leigos.
E este fato repete-se ainda hoje em dia nas terras de m issões. A Agência F i d e s refere com o um vendedor ambulante de tortas de arroz na China, convertido ao cristianism o, se fez fervoroso catequista, pregador nómade da verdade religiosa. Como não sabia ler, pediu a um catequista que lhe ensinasse todo o catecism o, aprendeu-o de cor, e logo, em razão de seu m inistério, ia às cidades para onde não podia ir o m issionário, e com eçava a fazer conhecer a religião, explicando as fórmulas do catecism o à sua clientela, pois era m uito popular e sim pático por causa de seu caráter jovial e decidido. Deste m odo aquele vendedor ambulante chegou a ser um grande apóstolo da religião na China e converteu às centenas pagãos que foram depois batizados pelo m issionário.
Exem plo admirável de apostolado catequético, exercido por um leigo.
Excelência do apostolado catequético
0 catequista é um perfeito im itador de Jesus Cristo e dos Apóstolos, os quais foram os prim eiros catequistas. Ensinando as m esmas verdades que Cristo, o catequista coopera diretam ente na obra da redenção.
Ensina o catequista a ciên cia m ais sublim e que tem por objeto a Deus m esmo; nenhuma ciên cia pode com parar-se com a da religião, e essa está condensada nas breves páginas do catecism o.
Exaltando Pio XI o livrinho do catecism o, diz que é um com pêndio adm irável de todas as verdades teológicas contidas na Suma de S. Tomás, de forma que se pode dizer que o catecism o é o livro m ais notável de todos os escritos no mundo.
O catequista ensina a c iên cia m ais necessária, que dá solução a todos os problem as da vida, forma as almas na virtude e ensina o cam inho do céu.
Bem conhecida é a obra de Diderot, célebre filó sofo incrédulo, que ensinava o catecism o a seu filhi- nho. Surpreendido, um dia, nesse ofício por um amigo que se m ostrou m aravilhado disso, respondeu-
74 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
lhe: “Que quereis? Â mim importa sobremaneira educar bem meu filho e para isso não se pode encontrar livro m elhor do que este, o catecism o.”
Não há, pois, por que m aravilhar-se, se hom ens notáveis na ciên cia não se desdenhavam de ensinar o catecism o aos m eninos. Por exem plo, A lexandre Volta, inventor da pilha elétrica, que aos dom ingos se retirava à igreja paroquial de Pavia a ensinar o catecism o às crianças; S. Francisco de Sales, grande doutor da Igreja, que nos domingos ia à sua igreja catedral a ensinar aos m eninos as verdades da religião.
Conclusão
Mas sobre todas estas razões está a da recom pensa que espera aos que ensinam aos demais o cam inho da justiça. “Aquele que ensinar será tido como grande no reino dos céus”, diz-nos o Salvador. E estas palavras dirigem -se também ao hum ilde catequista; ele também terá parte na m ais esplêndida recom pensa que o Senhor tem aparelhado para todos os m ensageiros do Evangelho: para os Apóstolos, os Doutores, os M issionários e os pregadores. Oxalá m uitos de vós outros sejam coroados com esta auréola.
O APOSTOLADO PASCOAL
Introdução
Recordemos a parábola do banquete nupcial que m andou p reparar o filho do re i: “Mandou aos servos que chamassem os convidados, pois muitos deles escusavem-se porque tinham que ir uns a seus negócios, outros a suas fazendas.”
Este banquete nupcial é o símbolo da Eucaristia.O Rei divino convida todos os súditos, especial
mente neste tempo em que urge o preceito da Com unhão pascal. Pois muitos declinam o convite.
E quais são os servos que envia a cham ar os convidados? Os sacerdotes assim como os leigos. A todos lhes diz: “Ide às encruzilhadas e convidai a quantos encontrardes ao banquete das núpcias.”
Os leigos hão de tornar-se arautos do rei, mas de m aneira especial os m ilitantes da Ação Católica, que são os colaboradores do Clero.
E Jesus Cristo mesmo é quem nos recom enda este apostolado pascoal, ou seja a propaganda para tra zer a todos eles o convite da Eucaristia.
Pretendo ind icar agora a necessidade deste apostolado e os meios de exercê-lo.
Necessidade
Entre nós noventa e nove por cento são católicos, mas quantos destes cum prem o preceito da Igreja? E quantos que não cum prem este m andam ento chamam-se católicos?
Costumava dizer o Cardeal Maffi: “Eu conto os católicos na igreja.” E tinha razão, pois não basta o batism o para en tra r no céu, requer-se, além disto, para os adultos a S. Comunhão.
E esta não é opinião dos teólogos, senão vontade expressa de Cristo, que d iz : “Se não com erdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós. Aquele que come a m inha Carne e bebe o meu Sangue, terá a vida eter-
76 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Vem os hoje que m uitos católicos ou pseudocatóli- cos, m orm ente nas grandes cidades, não cum prem o preceito pascal, transgredindo assim um m andamento da Igreja e privando-se do necessário alimento da vida sobrenatural.
E’ m ister convidá-los; e o Rei divino, com o na parábola do Evangelho, manda até seus criados para que chamem estes convidados ao festim eucarístico. Antes de tudo, envia seus sacerdotes; mas com o e s tes m ensageiros não gozam a confiança dos convidados e corno não podem chegar a todos, e especialm ente àqueles que, com o filho pródigo, foram para regiões estranhas, longe da casa paterna, toca aos leigos que vivem em contato com os enferm os do espírito, levá-los ao m édico das almas e trazê-los para que se nutram com o Pão que dá a vida.
Havia em Jerusalém, nos tem pos do Salvador, a P iscina das Ovelhas, que estava rodeada de cinco pórticos: nela, como nos conta S. João, “havia uma grande quantidade de enferm os, cegos, coxos, paralíticos que esperavam o m ovim ento da água. Pois o anjo do Senhor descia em certo dia à p iscina e mov ia a água e o prim eiro que entrava nela ficava são de qualquer enferm idade que tivesse. Havia ali um homem que fazia trinta anos estava enferm o; vendo- o, Jesus diz-lhe: Queres ficar são? — E o enferm o responde-lhe: Senhor, não tenho quem me leve à piscina, quando a água se move, e quando trato de descer outro já desceu prim eiro. — E Jesus diz-lhe: Levanta-te, toma tua cama e anda. — E de pronto ficou são, tomou sua cama e foi andando.”
Notem os as palavras do en ferm o: não há um homem; pois, se tivesse havido, muito tempo antes teria sido curado.
Quantos enferm os do espírito podem repetir a mesma q u e ixa : não há um homem que os submerja na m ística p iscina dos Sacram entos que dão a vida e a salvação.
E não serem os nós esses hom ens cham ados a devolver a salvação a tantos enferm os da alma?
MeiosQuais foram os m eios em pregados pelos servos da
parábola? A palavra, para exortar, aconselhar, responder às vãs escusas: e assim lograram o seu in-
O APOSTOLADO PASCOAL 77
tento porque, pondo-se por todos os cam inhos, encontraram muitos que atenderam ao convite, e a sala do banquete encheu-se.
De igual m aneira temos de proceder.Antes de tudo, o convite, o conselho, a exortação,
feita a tempo e de m aneira mais oportuna; e se é necessário, repeti-la com prudência e caridade. _
Im porta fazer conhecer bem a gravidade do p receito: para e n tra r no paraíso não basta a certidão do Batismo, senão que se requer, ademais, o cum prim ento do preceito pascoal, que custa às vezes, porque tem como recom pensa a vida eterna.
E as mais das vezes será necessário rem over as dificuldades.
Quais?Muitos há que não se avizinham da mesa festiva,
porque têm cadeias nos pés que lhes im pedem a chegada a e la : os maus costumes, as ocasiões de pecado. E’ dificil de conquistá-los e é preciso recom endá-los a Deus para que Ele lhes dê força de rom per com aqueles maus hábitos e desvencilhar-se dessas cadeias que os impedem.
Outros há que se acham detidos po r obstáculos m ais fáceis de superar.
Outros há que não cum prem o preceito da Páscoa por negligência, po r descuido; esqueceram o cam inho do confessionário e só por si não podem encontrá-lo. A estes devemos ajudar, sobretudo com o conselho, levando-os a um confessor com preensivo que lhes facilite o cum prim ento do preceito.
Outros há que o não cum prem por vão tem or; sentem na consciência o peso de antigas culpas e desconfiam da m isericórdia de Deus. A estes havemos de esclarecer, persuadir que nenhum pecado, por grave que seja, supera a m isericórdia do Senhor.
Outros, como o fariseu da parábola, têm demasiada confiança em si mesmos, consideram -se justos e dizem : para salvar-se basta ser homem honrado. A estes é m ister dar a entender que a verdadeira honradez consiste em cum prir tudo o que o Senhor nos pede, e Jesus não só instituiu os sacram entos da Penitência e da Eucaristia, senão que, ademais, nos ordenou recebê-los.
Finalm ente há uma categoria de pessoas que se abstêm po r orgulho ou po r vão respeito; não querem
80 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
ção civil de todos os católicos encam inhada a auxilia r a santa batalha da fé nas mais avançadas tr in cheiras, contribuindo com a ajuda prestada aos com batentes das prim eiras linhas. Ainda que o fim das missões é inteiram ente espiritual, contudo não se pode alcançar sem o auxílio m aterial. E a cooperação m issionária tende a ajudar nestas necessidades com o óbolo pelas missões.
A cooperação não é, porém, tão-sòmente m aterial; existe, além disso, a esp iritu a l: cooperação de orações, para suscitar vocações m issionárias. E nesta obra hão de colaborar não somente os sacerdotes, mas também os leigos.
E esta cooperação é sumamente necessária.Os prim eiros m issionários foram os Apóstolos que
tiveram , como sabemos, grande e considerável colaboração da parte dos leigos. O mesmo auxílio têm, hoje em dia, ainda os m issionários que trabalham no vasto campo das missões.
Necessidade
A cooperação m issionária é obrigatória, excelente e benéfica.
1. ° Obrigatória.Na realidade é um dever de caridade para com
o próxim o e um dever dos mais urgentes. “Os infiéis — disse Pio XI — são os mais pobres entre os pobres.” E isto é assim, porque carecem do dom da fé, dom prim etro de Deus e raiz da justificação, germe da vida eterna.
E \ ademais, um dever de caridade para com Deus que quer que todos se salvem; e para com o R edentor divino que m orreu por todos.
E é, outrossim , dever de gratidão para com Deus. “Pela fé d’Ele recebida — continua o Papa — dá-se a fé aos que não a receberam . E’ uma restituição que fazemos a Deus, porque quem dá ao pobre, dá a Deus.”
2. ” Excelente.A ação m issionária foi definida pelo P apa: “A
obra m aior do cristianism o, o apostolado por excelência.”
E bem se com preende a razão destas afirm ações: a ação m issionária é a continuação mais perfeita dos Apóstolos e a mais integral execução do m andato
O APOSTOLADO MISSIONÁRIO SI
de C risto: “Ide p o r todo o mundo, pregai o Evangelho a toda cria tura .”
3.° Benéfica.A cooperação m issionária vale tanto quanto a ação
prática, não só pelo prém io eterno que lhe está assinalado, senão pelas vantagens educativas que traz consigo. Realmente, a cooperação m issionária é um meio de formação religiosa e apostólica. T rabalhando pelas missões se enobrece o coração, a alma cura- se deste egoísmo religioso, deste individualism o esp iritua l que é um dos males de nossos tempos.
Organização da ação missionáriaA cooperação m issionária tem hoje uma organi
zação acabada.Há três obras pontifícias que se estendem por
todo o mundo.1. A obra da propagação da fé
A fundadora desta obra m aravilhosa foi uma humilde operária de Lião, Paulina Jaricot. A judada por uma boa com panheira, fundou em 1820 um a associação de orações a favor das missões.
Im itando o exemplo de uma seita protestante, prescreveu que os associados pagassem uma pequena contribuição, semanalmente, em favor das missões.
Em breve a obra se estendeu e fundiu-se com outras iniciativas sim ilares; em 1823 foi aprovada e enriquecida com numerosas indulgências.
Em 1922 o Papa Pio XI dispôs que a sede da obra, que, até então, fora em Lião, se mudasse para Roma.
Esta obra é que cada ano promove a Jornada Missionária de orações, propaganda e recursos em dinheiro para as missões.
2. A obra de São Pedro apóstoloTem um fim determ inado: a formação do Clero
indígena para as missões.Fim im portantíssim o porque os pagãos, por ev i
dentes razões psicológicas, seguem m elhor a seus com patriotas.
Nasceu esta obra em 1889 e foi fundada também por um a m ulher fran cesa : Estefânia Bigard e Joana, sua filha. Tendo recebido uma carta do Bispo de Nagasaki, no Japão, na qual lhes pedia auxílio pa-Formaçâo — 6
83 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
ra seu sem inário, as duas piedosas m ulheres resolveram institu ir um a fundação perm anente com tal finalidade e consagraram-se a ela com tal fervor que, ao cabo de cinco anos, a mãe podia d izer: Esta obra chegou a ser a única preocupação de nossa vida.”
Aprovada pela Santa Sé, a obra tem um conselho superior em Roma.
3. A obra da Santa InfânciaFundada por um bispo francês, M onsenhor Forbin
Janson, em 1843, foi aprovada três anos m ais tarde. E’ a obra das crianças e para as crianças. Os que nela estão inscritos oferecem cada dia suas orações pelos m eninos pagãos e dão uma contribuição para ajudar ao batism o dos inesmos. No p rincip io foi institu ída em favor dos m eninos da China, mas hoje se estendeu a todos os meninos infiéis. A sede central acha-se em Roma.
Relações com a Ação CatólicaNa encíclica U ferm o propósito escreve Pio X:
“Enquanto a Igreja difunde o Reino de Deus a li onde ainda não se pregou, trabalha de todos os modos para rep arar as perdas sentidas nas nações já conquistadas.”
Pois bem, para espalhar o Reino de Deus ali onde não existe, a Igreja serve-se da ação e da cooperação m issionária; e para rem ediar as perdas sentidas nas nações já conquistadas, serve-se da Ação Católica, a qual, na opinião do Papa, é uma “reevangeli- zação.”
A Ação M issionária prega a Cristo ali onde não é conhecido; a Ação Católica prega-0 onde não é reconhecido.
Por isso, Pio XI pôde cham ar as obras que constituem a Ação Católica “nossas missões in ternas”, em oposição às missões estrangeiras.
A cooperação m issionária forma parte dos programas da Ação Católica.
Esta é um a disposição explícita da suprem a autoridade eclesiástica, como se depreende dos documentos que vamos citar. Na carta do Cardeal Secretário de Estado ao Congresso N acional de Missões,
O APOSTOLADO MISSIONÁRIO 88
reunido em Pádua, lêem-se entre outras palavras p recisas: “Aquele que trabalha na defesa e na difusão do Reino de Cristo em meio das nações cristãs deve, por isto mesmo, ser amigo e sustentador dos que, com o mesmo fim, trabalham nas nações estranhas, onde ainda não alvoreceu a luz do Evangelho.”
A Ação Católica há de colaborar nas missões pelas seguintes razões especiais:
1. ° Trabalho essencial da Ação Católica é ajudar à Jerarqu ia em tudo o que ela reclam a: pois bem, ela pede-nos que ajudemos aos m issionários.
2. “ A Ação Católica há de form ar e im por a seus membros o exercício de todos os deveres de cristãos, e já vimos que a cooperação para as missões é um dever de caridade para com Deus e para com o próximo.
3. ° A Ação Católica deve procurar, por todos os meios possíveis, a formação religiosa e apostólica de seus m em bros; e a cooperação m issionária, como vimos, é um dos melhores meios para conseguir este fim.
ConclusãoNum periódico m issionário vimos, faz pouco, uma
fotografia em que se podia contem plar um m issionário que levava o Viático, de avião, a um m oribundo. Onde se fabricou aquele aeroplano? Em países católicos. Com que meios? Com os recursos dados pelos católicos.
Exemplo prático do auxilio que podemos p restar aos m issionários: com a nossa cooperação o m issionário poderá levar o dom da fé aos infiéis.
6*
APOSTOLADOEM FAVOR DA MORALIDADE
Introdução
Quando ameaça uma grande epidem ia, as autoridades tomam precauções para evitá-las: isolamento dos atacados nos hospitais, ordem de denunciar os casos que se apresentem , desinfecção dos lugares e habitações, e outras providências higiénicas.
Os cidadãos, por outra parte, deverão evitar os contatos inúteis e perigosos, o expor-se aos perigos; deverão vigiar para que os atacados do contágio não o com uniquem aos que estão sãos e colaborar com as autoridades para que o mal se não propague.
Hoje nos ameaça um mal gravíssim o: a epidem ia das almas, a im oralidade e a corrupção. As autoridades civis tom aram providências e deram leis de defesa e os agentes públicos estão encarregados de vigiar para que se cumpram. Nisso estaremos nós de mãos cruzadas? Não faremos sequer o que faríamos no caso de epidem ia corporal? — vigiar, auxiliar, denunciar à autoridade os atacados do mal.
Cooperar na defesa da m oralidade pública é um dos deveres dos citadinos, tão urgente como o de cooperar na saúde pública.
E visto que a m oralidade é não somente um bem civil senão, além disto, religioso, a defesa da moralidade é um dever não só do cidadão, mas também do católico.
E que diremos do católico m ilitante? Acaso não tem a Ação Católica como um dos pontos de seu program a a defesa da m oralidade?
Por isso queremos considerar este dever estudando :
1. “ A im oralidade contem porânea.2. ° Suas características e suas causas.3. ° Como havemos de combatê-la.
APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 80
Imoralidade ContemporâneaConvém, antes de tudo, entender-nos acerca do
sentido da palavra im oralidade. Chama-se m oral tudo quanto se acomoda à lei divina e às justas leis hum anas. Im oral é tudo o que a elas se opõe. Neste sentido a injúria, o roubo são im orais.
Em sentido mais estrito chama-se im oral tudo o que vai contra as leis da castidade, porque a palavra im oralidade designa o vicio da luxúria, considerado não só em seus efeitos, mas também em suas causas, particulares e públicas, individuais e sociais. -
Neste sentido tomamos aqui a palavra im oralidade, que se cham a também desonestidade e corrupção.
A realidade dolorosa de nossos dias é esta: a imoralidade é como um rio saído do leito que ameaça arrasar tudo. O mundo está atacado não só pela crise económica, mas principalm ente pela crise da imoralidade mais poderosa que a prim eira. Crise moral da qual sofrem todas as nações segundo seja m aior ou m enor o freio da religião.
A im oralidade não é um simples resultado de nossa época. Desde o pecado de Adão a natureza hum ana ficou viciada; pois hoje vemos nações in teiras que se degradam e paganizam. Deus pode repetir a palavra que, em outro tempo, disse a Noé: “0 homem tornou-se carnal”, porque vive como se dentro do invólucro do corpo não alentasse um esp írito im ortal. _
P or isso, a im oralidade apresenta nos dias que alcançam os uns caracteres de gravidade alarm antes.
Características e CausasTrês são as características que apresenta a _ imo
ralidade de nossa época; a extensão, a precocidade a insensibilidade.
1.” E xten são
Em outras épocas o mal, em mais graves m anifestações, estava circunscrito nos centros mais populosos: hoje em dia vai mudando-se das cidades para os cam pos e para as aldeias, onde, em outros tempos, a pureza dos costumes era igual à do sitio. Em putras épocas a corrupção alcançava as altas esferas
86 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
da sociedade, hoje penetra em todas as cam adas sociais e vai-se fazendo uma nivelação na im oralidade.
2.° PrecocidadeOutrora esta epidem ia respeitava, em parte, a p ri
m eira infância, de tal forma que a infância e ra sinónim o de inocência. Mas nestes dias quantos meninos podem repetir a palavra do Bispo de H ipona: “Ainda criança e tão pecador.”
3.° InsensibilidadeEm outros tempos houve homens corrom pidos,
mas não tinham a consciência insensível; o pecado ia acom panhado do rem orso e seguido da penitência. Divertiam-se no Carnaval, mas arrependiam - se na Quaresma.
Hoje muitos perderam o sentido moral e por causa desta perda m uitas almas estão sepultas nas sombras da morte, sem probabilidade de delas sair. Estão enfermos e recusam o médico; por isso, a corrupção de hoje não dá esperanças de correção. Im pera um paganismo redivivo.
Causas deste malAs principais parecem-nos as seguintes:1." a dim inuição do sentim ento religioso cau
sado pela obra laicizante. A torrente im petuosa da im oralidade encontrou muito fracas as m argens do sentim ento religioso e passou por cima delas.
2° As novas invenções da ciência e do progresso, postas no serviço das paixões hum anas. Daí são elementos de corrupção a im prensa, o cinema, o rádio, a facilidade de comunicações, e até o aumento da instrução. O progresso m aterial é causa de regresso moral. Os benefícios de Deus converteram -se em meios de depravação.
Como combatê-la?Três são as arm as de que principalm ente hão de
servir-se os sócios da Ação Católica para combater a im oralidade do ambiente.
APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 87
í.° A oraçãoNo deserto o povo de Israel se viu atacado pelos
amalecitas. 0 perigo era gravíssimo, porque os ama- lecitas eram guerreiros corajosos. Israel lança-se contra eles, conduzido por Josué. Entretanto, Moisés orava em cima do monte. “E quando Moisés levantava os braços, Israel vencia; mas, se os deixava cair, Amalech levava a m elhor parte .”
Nossa luta é com um exército poderoso como o dos amalecitas': a luxúria e avareza: a luxúria fom entada pela avareza, e esta que é o alimento daquela. E é impossível a vitória, se não rezarmos como Moisés.
2.° O exemploAo apostolado da oração há de jun tar o não me
nos eficaz e indispensável do exemplo. À nós nos repete S. Paulo como a seu discípulo Timóteo: “Em tudo m ostrai o exemplo de boas obras.”
Os maus costumes corrigem-se com os bons: os santos purificavam o am biente em que viviam, com a fascinação de seu exemplo. Tal era a pureza que irrad iava o rosto do jovem João Bosco que seus colegas não se atreviam a proferir, em sua p re sença, uma palavra menos decente ou executar uma ação menos correta; a com panhia do jovem fazia-os melhores.
3° A açãoTodo membro da Ação Católica h á de ser não só
um exem plar de m oralidade, mas também um apóstolo. Devemos falar e agir no am biente em que vivemos e com as forças de que dispomos, a fim de que esta enferm idade dos maus costumes perca sua eficácia e haja menos vítim as. Nossa norm a há de s e r : m anter-nos sãos, p reservar aos demais do contágio e p rocurar que os já atacados alcancem a cura.
Para isto convém :Dizer a tempo a palavra que ilum ina, corrige e
m e lh o ra .. . Não perm anecer indiferente ante a afluência - dos males.
D efender o conceito cristão da vida, a qual é dever e não prazer; conceito que se vai obscurecendo até nas mentes de muitos católicos.
Opor-se enèrgicam ente a todo sem eador de escândalos contra o qual pronunciou o Salvador mau-
88 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
síssim o aquelas terríveis palavras: “Ai daquele por quem vem o escândalo.” Pois bem, escandaliza-se não só com as palavras e com a conduta depravada e provocativa, mas também, dando aos dem ais ocasião de pecado com as diversões perigosas, os bailes desonestos, as modas desavergonhadas.
Intervir, quando a ocasião particular é ineficaz, com as autoridades públicas para que im peçam os escândalos, e acabem com os focos de infecção que as mesmas le is proibem.
Opor armas às arm as: à revista licenciosa, a moral; às diversões malsãs, as boas; à moda frívola, a digna e correta.
Mas, porquanto a ação repressiva e preventiva apresenta alguns inconvenientes, trataremos dela no próxim o capítulo.
Conclusão
Comovedor e sign ificativo é o diálogo entre Deus e Abraão antes da destruição de Sodoma. Deus havia determinado destruir a cidade por causa dos pecados de luxúria de seus habitantes e com unicou o desígnio a Abraão.
O qual, levado à com paixão, pediu ao Senhor, dizendo-lhe: “Farás perecer o justo com o ím pio? Se houver na cidade cinquenta justos, perecerão também? e não perdoarás à cidade t>or amor aos c in quenta justos?” E o Senhor acedeu a perdoar o povo prevaricador, se houvesse nela os cinquenta justos. Mas não se encontravam . E logo Abraão repetiu a súplica, dim inuindo sempre o número dos justos até chegar a dez. “Por amor a estes dez justos não a destruirei”. Mas não foram encontrados.
Como o santo Patriarca, elevem os as nossas sú- plicas ao Senhor; mas não nos contentem os com isso: façamos de m aneira que, com nossa ação mo- ralizadora, aumente o número dos justos que atraiam sobre o mundo não o castigo senão o perdão.
0 APOSTOLADO DA MORALIDADE — SUAS FORMAS
Introdução
São Paulo escreveu estas palavras reveladoras de seu zelo apostó lico: “Quem está enfermo que eu não esteja tam bém ?”
A im oralidade do ambiente, dissemos no capítulo anterior, é uma imensa epidem ia moral. Todos nós temos de p rocurar precaver-nos do contágio. Mas não basta: trata-se também de preservar os dem ais; tem-se que trabalhar, pela cura dos atacados pela doença da im oralidade. Cada um há de sentir-se enfermo com o irmão.
Queremos agora estudar as p rincipais causas concretas da im oralidade e os focos mais comuns de infecção, para ver que é o que convém fazer para destru ir ou ao menos para circunscrever a área do contágio.
Estudaremos, pois, as p rincipais formas de nosso apostolado contra a im oralidade.
A revista
Uma das causas p rincipais da corrupção reinante é a revista imoral. Como combatê-la?
Não perm itindo que tais revistas entrem em nossa casa, para que não venham a cair em mãos das crianças ou empregados.
Convidando os livreiros e periodistas que expõem imagens pornográficas a retirá-las; e se isto não se consegue, boicotar os vendedores destas im undícies.
Recorrendo à autoridade para que dite leis nas quais se castigue os que ofendem a m oralidade pública com a exibição de imagens que ferem o pudor.
Espetáculos e diversões
Entre os espetáculos que mais diretam ente atentam contra a m oralidade tem-se que colocar em p rim eiro lugar o cinem a e o teatro,
90 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Como rem ediar os males que causam?Com o boicote. Não perm itindo que nossos filhos
e empregados frequentem salões onde se rep resentam peças ou se exibem películas que ofendem a m oralidade e fazendo propaganda para que n in guém vá a tais lugares. Tal coisa vêm fazendo os católicos norte-am ericanos com a conhecida “Legião da Decência” , a qual, além de ter feito fechar numerosas salas de exibições im orais, conseguiu influir sobre a mesma produção cinem atográfica.
Recorrendo à autoridade para que aplique as leis contra as representações que atentam contra a moralidade.
Opondo ao cinem a im oral o cinem a moral, como ensina o Papa em sua encíclica Vigilanti Cura.
Entre as diversões mais perigosas contra a moralidade estão os bailes; convém, portanto, em preender uma cam panha contra os salões públicos de bailes (dancings).
Mas o m elhor meio para com bater as diversões malsãs será p rocurar que haja boas. Para isto servem providencialm cnte nossas associações juvenis, os Oratórios Festivos, a instituição dos escoteiros católicos, onde os moços podem divertir-se sãmente sem ofender a Deus.
As modasOutro incentivo da im oralidade são as modas in
decentes.E’ necessário que todos os membros da Ação Ca
tólica sejam apóstolos da moda decente, e façam guerra sem tréguas às im orais. Mas, antes de tudo, está certo que a arm a mais eficaz, e talvez a única, é o exemplo. Que haja em cada paróquia senhoras e senhorinhas e m eninas que se proponham vestir com elegância, sim? mas com dignidade.
Pois muitas, como anotava o Papa, se deixam levar pela corrente invasora, “senhoras que não queriam ser consideradas como m undanas e que p re tendem ser e dizer-se c r is tã s . . . E é sobrem aneira doloroso ver como diante da corrente da vaidade capitulam não só as jovens senão também m uitas esposas e mães que deveriam ser modelo da dignidade cristã.”
O APOSTOLADO DA MORALIDADE 91
Importa muito atender à decência no vestir desde a prim eira idade, por muitas razões:
1. ° A m odéstia é obrigatória para todos: grandes e pequenos.
2. ° As crianças são capazes de pecado e, realmente, pecam por vaidade.
3. ° Vêm a perder o sentido do pudor, custódio da castidade, e se habituam às modas indecentes nos anos futuros.
Que responsabilidade para os pais, que, em vez de guardar com cuidado a castidade de suas filhas como frágil tesouro, o expõem a todas as ciladas e perigos destruindo, desde cedo, o véu do pudor!
E pelo que toca aos hom ens, também têm seus deveres neste campo, porque a m odéstia no vestir obriga-os também. Em segundo lugar devem refrear com sua autoridade de pais, de esposos, de irmãos, a intem perança de suas filhas, esposas e irmãs, devida as mais das vezes à incom preensão e natural inadvertência.
Pode-se afirmar que ao m enos a m etade da responsabilidade desta praga das sociedades m odernas recai sobre os hom ens. (Esta ideia deverá ser explicada numa reunião de hom ens.)
Promiscuidade de sexos
A forma da vida moderna acentuou esta causa de im oralidade: a prom iscuidade de sexos é quasecontínua, os m eninos e as m eninas, os hom ens e as mulheres andam quase sempre m esclados nas fábricas, nos negócios e também nas mesmas escolas.
Devemos, portanto, opor resistência a este foco de im oralidade, ou ao m enos a suas consequências, m ediante uma diligente vigilância. Recordem os que nesta matéria é de evitar o pessim ism o ou a presunção; a castidade é tesouro preciosíssim o que ao m enor descuido pode perder-se.
Convém não aproxim ar demasiado a palha ao fogo, se querem os evitar o incêndio. Esta é a norma do bom sentido, que vale também para o nosso caso. A experiência demonstra, com efeito, que esta prom iscuidade injustificada solta a prim eira faísca donde haverá de nascer o incêndio que tudo devore.
Estejam alerta os pais para não perm itir as di-
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versões entre meninos e meninas, se não for na prim eira idade; tratem de que se evitem as excursões entre jovens de ambos os sexos, e sobretudo os banhos mistos. Que tem pestade para a moralidade a que se levanta dessa fam iliaridade indevida e que se vai estendendo rapidam ente como um contágio desde as grandes cidades até às aldeias mais afastadas!
E que terrível responsabilidade para os pais que se mostram complacentes quando não alentadores, destes costumes que se vendem com o pomposo nome de m odernos! Não está longe o dia em que chorem com lágrim as de sangue sua complacente debilidade.
Palavras e ações contrárias à decência
A saliva é veículo de m uitas infecções, por isso vemos escrito nas paredes dos quartos, nos vagões dos bondes e dos trens: “E* proibido cuspir.”
Pois da boca do homem pode sair algo mais in- feccioso que a saliva: a palavra torpe, veículo de m icróbios contagiosos para a alma.
Portanto, impeçam-se as conversas im orais, sempre e em toda parte, mas especialm ente quando atentam contra a inocência dos meninos, unindo à prudência a coragem. Por exem plo: um operário, membro da Ação Católica, que em sua com panhia tem outros que proferem palavras obscenas, não há de perm anecer indiferente, senão que im pedirá o escândalo, prim eiro com meios persuasivos, depois dirigindo-se aos diretores da empresa. E assim em casos semelhantes.
E o nosso sinal de protesto tem mais razão de ser, quando não se trata já de palavras inconvenientes senão de atos desavergonhados e de cenas escandalosas.
O código penal de todas as nações civilizadas castiga com penas severas todo atentado contra a m oralidade.
Conclusão
Hindemburgo passou à h istória como o vencedor da batalha dos lagos Masurianos. De que modo venceu o general alemão o poderoso exército russo? Com uma retirada estratégica por meio da
O APOSTOLADO DA MORALIDADE 98
qual atra iu o inimigo a uma região pantanosa coberta aparentem ente por grande extensão de verdura. Ali pereceram m ilhares de soldados russos afogados nos pântanos e devorados pelos reptis que viviam nas águas.
Isto é a im oralidade pública: uma vasta lagoa coberta de verdura enganadora. Indivíduos e povos se precipitam para lá e perecem miseràvelmente no atoleiro, enquanto os im undos reptis os devoram.
A im oralidade é a ru ína dos povos e nações, sinal de decadência civil e religiosa.
Combater a im oralidade é, pois, fazer obra de fé, de civilização, de religião e de patriotism o.
O APOSTOLADO DO CINEMA
IntroduçãoHá em Jerusalém um grande muro, ru ína do tem
plo judaico, aonde os hebreus vão, em dias determ inados, a chorar e o rar; chama-se o muro das Lamentações.
Lágrimas estéreis que não fizeram ressurgir o templo magnifico destruído por Tito, nem o farão ressurgir no futuro.
A este pran to assemelha-se o de muitos cristãos que choram sobre ruínas dos templos destruídos, ou seja, das almas pervertidas pelo escândalo, m ultiplicado hoje pelos portentosos passos do progresso moderno, como o cinema, o rádio, a im prensa, e t c . . .
Contudo não fazem nada para rep arar as ruínas.Nenhum membro da Ação Católica pode filiar-
se a esta confraria de planejadores, porque o nosso program a é a Ação.
Na recente encíclica Vigilanti Cura, sobre o cinema, o Papa deplorou os males causados por esta in venção m oderna, mas ao mesmo tempo convidou os bons católicos a rep a ra r os danos por ela causados e a reagir. Seu convite é para nós uma ordem. Todos temos de colaborar na moralização do cinema.
Que faremos?Indicarem os o que é que o Papa quer de todos
os bons, e em particu lar que é o que espera dos membros da Ação Católica.
Uma promessaAté há pouco, quase todas as películas que se
exibiam no mundo in teiro eram produzidas nos Estados Unidos. Já começam a produzir-se também em outras nações, todavia ainda 80 por cento nos vêm daquela nação.
De lá nos vem o mal, mas também a indicação do que faremos no terreno da moralização dos espetáculos cinematográficos.
Im pressionados pelas ru ínas causadas pelo cinema, os católicos norte-am ericanos iniciaram em
O APOSTOLADO DO CINEMA 95
1930 enérgica cam panha contra o cinem a imoral. Antes de tudo, intervieram com as casas produtoras, as quais concordaram em regular a p ro dução segundo uma norm a ou código m oral apresentado pelos mesmos católicos.
E’ certo que este código não se observou senão po r alguns anos, porque os produtores não creram na constância da reação católica. Mas enganaram-se.
Perd ida esta batalha, iniciou-se outra com arm as distintas e mais eficazes; todo o Episcopado dos Estados Unidos em preendeu uma cam panha contra o cinem a im oral por meio da “Legião da Decência”, cham ada assim porque seus fins eram os de lograr a moralização do cinema. Os membros desta Legião, legionários, comprometiam-se solenemente a não assistir a espetáculos indecentes e a p rocurar que os demais fizessem o mesmo. Dita prom essa renova-se cada ano.
A Legião foi-se estendendo sobre todas as dioceses e reunindo numerosos aderentes, até en tre os não cató licos: protestantes, judeus, conhecedores dos males causados pelo cinem a imoral, contribuíram com os católicos a esta cruzada em favor do bem.
Os resultados práticos não se fizeram esperar: a prom essa foi fielmente cum prida por todos; os espectadores dim inuíram , as entradas das casas sofreram fortes baixas. Feridos na bolsa, que para muitos vale mais que a consciência, os produtores reflexionaram e m elhoraram a qualidade da m ercadoria. Data de então o termos hoje nos m ercados películas menos más.
O Papa quer que a prom essa feita pelos católicos norte-am ericanos seja im itada pelos de outras nações.
Trata-se de uma simples promessa, não de um juram ento, pelo qual aquele que a pronuncia não se faz réu de perjúrio , se a não cum pre. Mas falta à fidelidade, virtude que obriga para com os homens e muito mais para com Deus.
A prom essa obriga a não assistir aos espetáculos indecentes, em qualquer sala de exibição. Pelo qual não obriga a abster-se, por completo, de assistir às representações em geral, senão àquelas que ferem a moral. Mas nossa cam panha será m ais efetiva, se
96 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
desertam os de um teatro em que se representam às vezes filmes que ofendem a dignidade e a decência.
A isto me d ire is : “Pois como podemos sabercom antecipação o caráter da película para nos absterm os de assistir a ela?”
O Papa pensou também nesta dificuldade e daí quer que em cada nação se estabeleça um D epartamento Nacional do Cine, debaixo da fiscalização da Ação Católica, a fim de que revise e classifique todas as películas e anuncie aos fiéis, por meio da im prensa, a classificação de merece. Na Colômbia esta missão vem cum prindo com adm iráveis resultados a “Legião Colombiana de Decência” por meio da publicação semanal na folhinha “Legião Colombiana da Decência.” (Apartado 1476. Bogotá.)
Razões desta promessaVárias são as razões que nos devem obrigar a
fazer esta prom essa e a mantê-la.
l.° O b e m d e n o s s a s p r ó p r ia s a lm a sO cinem a im oral ou só indecente é um perigo
gravíssimo para a v irtude em razão de seu poder sugestivo: o cinem a fala aos sentidos, vista e ouvido, por meio de quadros luminosos e, m uitas vezes, fascinadores. P or isso, abre um sulco profundo em nossos ânim os: bom ou nocivo segundo o argumento projetado na tela.
Muito mais profundo é o seu influxo que o da leitura que não fala com imagens aos olhos nem aos ouvidos.
Os diários falam-nos dos delitos cinem atográficos; delitos cometidos por consequência da exibição de uma película. Jovens que, ao sair de um teatro, perpetraram os crim es que aí viram realizados e perguntados pelo Juiz acerca dos motivos que os induziram a isto responderam que o viram realizar-se numa fita.
E’ certo que este grau de sugestão supõe ind iv íduos mui sensíveis; mas, em igualdade de c ircunstâncias, a sugestão opera-se até nos mais equilibrados dos espectadores.
Eis aqui um fato que comprova a nossa asserção. Ao voltar um senhor a casa encontra a em pregada
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estendida na cama e fortem ente atada. Os ladrões haviam penetrado na casa levando quanto encontraram à mão. Denunciado o fato, a empregada é levada para os tribunais de investigação que descobrem que ela era a cúm plice do furto e que o havê-lo encontrado atada não era senão um tru que para despistar a polícia. Mas onde tinha aprendido um modo tão genial para despistar os in vestigadores? No cinema, onde havia visto a protagonista de um roubo fazer o mesmo.
2." Pelo bem dos demaisAbstendo-se de assistir a espetáculos imorais, da
mos um bom exemplo, que vale persuadir mais que um longo discurso.
Todavia, enquanto puderm os, havemos de achar meio também de persuasão, fazendo uma verdadeira propaganda contra os espetáculos imorais. A isto nos obriga a prom essa que fizemos.
Como poderá perm anecer insensível um católico e um membro da Ação Católica ante os estragos que causa o cinema imoral, chamado pelo Papa na c itada encíclica: “escola de corrupção” , e “in toxicação das inteligências e das alm as” ? Estas diversões são a perversão dos ânim os juvenis. No cinem a se repete todos os dias o crim e de Hero- des, quando fez degolar os inocentes, e delito mais grave até, porque se trata da morte da consciência.
E’, pois, dever urgente de apostolado e de caridade im pedir ou ao menos lim itar este assassínio das almas.
3.° Para obter o melhoramento moral do cinemaIsto nos prova o resultado obtido pelos católicos
dos Estados Unidos. E esse efeito tornar-se-á mais vasto e sensível quando o exército dos abstencionistas, dos apóstolos do cinem a m oral aumentarem em todo o mundo.
Este nobre exército da salvação há de ter a sua bandeira em nossa paróquia.
ConclusãoOs governos deram providências para resolver o
problem a demográfico e económico que ameaça a vida das nações; mas hoje esta vida está sèria-Formação — 7
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mente am eaçada pela perversão dos costumes e pela relaxação da família. Já dissemos, o cinem a é um dos p rincipais fatores da quebra da m oral e da família. O qual im plica um falso conceito da vida da mesma, que é considerada por muitos, não como um dever senão como um prazer. E isto enfraquece o sentim ento fam iliar porque a miúdo contribui a dar ao m atrim ónio e aos deveres que impõe um caráter antipático.
Nossa cam panha contra o cinem a im oral há de apoiar-se, pois, na consciência de cristãos e de cidadãos, e deve ter como fim o bem da Religião e da Pátria.
Como os legionários de Roma, combatemos pelo “altar e pelo la r” ; pro aris et focis.
APOSTOLADO DA IMPRENSA
Escreve o fogoso apologista Tertu liano: “Dia virá para a Igreja em que o testem unho de seus escritores terá o valor do sangue e do m artírio .”
A com paração visa unicam ente o testemunho apologético, porque encerra uma grande verdade: a do inegável poder moral da imprensa.
Vejamos, pois, qual é esse poder, donde deduziremos para nós o dever do apostolado da im prensa, dever que muitos desconhecem. Veremos finalm ente como se tem de compreendê-lo e praticá-lo.
Poder da imprensaNa casa de Gutenberg, inventor da im prensa,
inscreveu-se esta legenda: “Ninguém me resiste.” Com ela nos é indicado o poder m aravilhoso da im prensa, assim como a im portância da invenção.
Pio XI diz: “A im prensa é, em nossos tempos, uma força poderosíssim a que pode converter-se na mais proveitosa ou na mais danosa para a vida do mundo e da Igreja.”
E em verdade, em nossos tempos, o povo regula a sua opinião e dirige a sua vida segundo o sentir do periódico.
Poderia parodiar-se o refrão castelhano que diz : “Diga-me que diário tu lês e dir-te-ei como pensas.”
Outro refrão diz: “Mais mortos fez a língua que a espada” ; e hoje poderíam os acrescentar: “Hoje a im prensa não faz menos mortos do que a lín gua.” O diário é arm a de largo alcance; a má língua pode-se com parar com um punhal hom icida; a má im prensa tem um alcance muito maior.
Quem poderá contar os males causados pela má im prensa? O profeta Ezequiel viu em visão um campo coberto de ossos hum anos; se tivéram os a visão das almas, que cem itério vasto se ofereceria aos nossos olhos! Quantas almas m ortas para a vida sobrenatural! Pi se vamos buscando as causas encontrarem os quase sem pre as más leituras.
Dante achou no inferno a Francisca de Rím ini, culpada de adultério por ter lido, e ouviu que se7*
100 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
lam entava dizendo: “Maldito seja o livro e quem o escreveu.”
Quantos livros, jornais, folhetos m alditos! E quantas almas no inferno por causa da má leitura!
E se é grande a influência da im prensa sobre a vida individual, não o é menos sobre a social; po r isso se disse que a im prensa vence canhões. E não é exagero. Vimos, durante a guerra, quanto o poder de certa im prensa anulava os efeitos dos canhões. E tão certo é que muitos governos se viram ob rigados a im por a censura aos jornais. Esta pública censura é a mais clara dem onstração do poder da im prensa e, em especial, da im prensa periódica.
Dever graveSe a im prensa é arma tão poderosa, e se é causa
de tantas ruínas, que faremos nós? A que rem édio nos socorrerem os?
O rem édio é um só: a boa im prensa. Opor a rmas a armas. Inúteis são as lamentações e o pranto pela ruina das almas causada pela má im prensa.
Daí o grave dever do apostolado da boa im prensa.E daí o m andam ento do Pontífice Pio XI. Em o
notável discurso aos mem bros da Sociedade da Boa Im prensa de Milão, dizia: “Concebestes o desígnio de preparar, d ifundir e m ultiplicar a boa im prensa no serviço do bem. Vosso labor é o m ais eficaz e insubstituível porque o sem elhante se cura com o sem elhante.”
Esta é a necessidade im periosa dos nossos dias. Espontâneam ente nos vem à m em ória a recordação do sorriso daquele bom frade que não cria que a invenção da im prensa acabasse na te rra a trad icional diligência dos copistas; ou a de Maquiavel que não cria na aplicação p rática das arm as de fogo; ou a de Napoleão que não acreditava no uso do vapor como força motriz. A im prensa, como a pólvora e o vapor, impuseram-se ao mundo.
Para que há de ser a boa im prensa?O Papa responde-nos na carta ao Cardeal P a
tria rca de Lisboa: “Por boa im prensa entendem os não só a que não contém nada contra os princíp ios da fé e as regras da moral, mas também a que se faz defensora de tais p rincíp ios.”
Portanto, não basta não falar mal de C risto: é
APOSTOLADO DA IMPRENSA 101
necessário falar bem. Em presença de Cristo não podemos ficar neutros. O mesmo disse: “Quem não está comigo está contra mim.” E estamos com Cristo quando cremos e defendemos tudo o que Ele ensinou, quando observamos todos os seus m andamentos, quando respeitam os os direitos e as prescrições de sua Igreja.
Isto vale para a im prensa: será boa e católica, quando, sem causar a ru ína das almas, as melhora, as eleva e lhes infunde um sopro de espiritualidade; é resolução, quando é instrum ento de educação cristã.
Dever desconhecidoAgora se com preende muito bem por que o apos
tolado da im prensa é um dos mais graves e u rgentes para os católicos. Como descuidar um meio tão poderoso e tão apto para a difusão da verdade e do bem? E, contudo, este é um dos deveres mais desconhecidos e mal com preendidos.
Ao ver alguém os estragos que causa a má im prensa, disse que é invenção diabólica. Nada mais falso: todas as invenções são em si mesmas obra de Deus, enquanto são revelação e aplicação das forças da natureza, feita de Deus.
Mas também é verdade que desta como de todas as outras invenções dos últimos tempos se apoderaram os filhos das trevas, enquanto os filhos da luz se contentavam com chorar e lamentar-se, com isso cum prindo-se a palavra div ina: “Mais p ru dentes são os filhos das trevas que os da luz.”
0 cardeal Lavigerie, apóstolo dos negros, exclam ara em um de seus discursos: “Uma coisa nota-se, nestes momentos, nos católicos: a caridade em prol das obras de beneficência é inesgotável, têm dinheiro para constru ir igrejas, hospitais e capelas, para aliv iar os pobres, para desenvolver as instituições piedosas. Mas a luta destinada a defender a Igreja e a sociedade divina não parece preocupá-los e não há dúvida que esta luta é, na hora presente, im portante sobre toda ponderação. F undar e destinar um diário, encam inhado a defender a boa causa, é quase tão necessário como constru ir uma igreja.”
Precisa, pois, sacudir a inércia, form ar uma nova consciência.
Todos os católicos hão de em penhar-se nesta obra
102 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
e, de m aneira particular, os agregados à Ação Católica, estes que estão consagrados ao apostolado.
O exemplo vem de cima e de longe: do mesmo S. Paulo, modelo dos apóstolos. E’ célebre a frase de Monsenhor Ketteler: “Se S. Paulo tornasse ao m undo, far-se-ia jornalista .” Frase que Pio XI comentou em um discurso deste m odo: “Disse um que, se o apóstolo S. Paulo vivesse em nossos dias, seria jo rnalista. Não há dúvida que S. Paulo, não obstante as dificuldades m ateriais, com suas cartas e seus escritos tão m aravilhosam ente m ultiplicados e que, ao fim de seus dias, levou a tantas partes a luz do seu Evangelho, não há dúvida que aquele homem de alma tão ardente na propagação da doutrina de Cristo, se tivesse servido da mais poderosa arm a para p ro pagar a ideia e o pensam ento que é a im prensa.”
Como cumprir este ApostoladoEste dever há de se cum prir, especialmente, de
três m aneiras: com a leitura, com a difusão, com a ajuda m aterial c moral para a boa im prensa.
l.° Com a leituraTodos os católicos, mas de m aneira especial os
inscritos na Ayão Católica, considerarão como um de seus principais deveres o ler os diários católicos, instrum entos eficazes de formação religiosa, moral e social.
Alguns se escusam deste dever dizendo que os outros diários estão m elhor redigidos. Pois “se nossas publicações são até deficientes e necessitam m elhorar, o modo mais eficiente para alcançar isto é apoiá-las; de outro modo cairem os no círculo v icioso : não se apoia a im prensa católica porque é defeituosa e im perfeita, e as publicações são im perfeitas e defeituosas porque não são apoiadas.” (Mons. G. B. G irardi, Bispo de Pavia.)
A im prensa sustém-se com a leitura e com as assinaturas.
2.° Com a difusão e com a propagandaNão basta ler um bom periódico, é preciso fa
zer lê-lo e este é um dever particu lar da Ação Católica como ensina Pio XI: “Uma atividade a que a Ação Católica tem de atender com preferência é a de procurar a difusão da boa im prensa, e p articularm ente de im prensa d iária, a qual, por ser mais difundida, é também a que exerce m aior influxo.”
APOSTOLADO DA IMPRENSA 103
A Ação Católica é a colaboradora da Jerarquia e era nenhum campo pode colaborar raais eficazmente que neste da im prensa, pois, como o diz o já citado Pontífice: “Os diários católicos são os porta-vozes da Jerarquia e de seus ensinam entos.”
Ademais, a voz do periódico sempre se ouve até quando cale a do sacerdote. Dizia um católico alemão num congresso: “O diário é o m elhor coadjutor do Pároco.” O Pároco não prega senão uma vez por semana e tem-se de ir escutá-lo; o diário^ prega todos os dias e vem procurar-nos em casa.”
3.° Com a ajuda e a colaboraçãoAjuda moral, m ormente da oração. Ajuda mate
rial, porque a im prensa, e em especial o diário, não pode sustentar-se sem uma poderosa organização financeira.
Os católicos hão de habituar-se a considerar como obra de beneficência o ajudar pecuniàriam ente a im prensa. Não só de pão vive o homem, disse o Salvador; e a boa im prensa quer n u trir as almas com o pão da verdade e da virtude. Não será esta acaso obra de beneficência?
ConclusãoO célebre W indthorst, fundador do partido do
Centro, na Alemanha, dizia: “Temos necessidade de um sexto m andam ento da Igreja: ajudar à boa im prensa.”
Bem com preenderam a necessidade deste p receito os membros de certa organização juvenil de Ação Católica, que na sede de suas reuniões instalaram um cofre com esta legenda: “Para o diário católico”, e ali cada um podia depositar quanto quisera, em favor da boa im prensa. No fim do ano e ao abrir o cofre encontraram -se cinquenta liras com as quais se tom aram assinaturas do diário católico, para os habitantes da região. Ao ano seguinte os que tinham desfrutado do benefício do diário católico queriam pagar a metade da assinatura, e assim o diário católico foi penetrando nos arredores.
Este é um exemplo adm irável de apostolado em favor da boa im prensa. Quando estarão anim ados de semelhante espírito todos os membros de Ação Católica?
Quando isto se alcançar, estará resolvido o problema do diário católico e da boa im prensa.
0 APOSTOLADO DO LIVROIntrodução
Elogiando o falecido Pontífice Pio XI as atividades da Sociedade da Boa Im prensa de Milão, dizia um dia estas palavras cheias de verdade: “Vosso trabalho é verdadeira obra de caridade, cum prida sapientissim am ente como quer o Espírito Santo.”
Quando pronunciou estas palavras, tinha o Papa consigo “Os Noivos” de Manzoni, de quem era adm irador. Xaqueia novela se fala da fundação da Biblioteca Ambrosiana, obra do Cardeal Frederico Borromeu, da qual se diz que “se fez lutando contra a ignorância, a inércia e a apatia” e o agudo novelista chama-a de “a m elhor e mais útil esmola.”
Somos do parecer de Manzoni, do Cardeal Borromeu e do mesmo Augusto Pontífice Pio XI, e, por isso, vamos expor as razões do nosso modo de pensar.
Dever de caridadeReza um provérbio ita liano: “Aquele que lê, co
me” e assim é na realidade: a leitura engendra as ideias, as ideias são o alim ento da inteligência. A leitura, pois, nutre e fortalece a mente.
E assim como temos cuidado para que os alimentos que nutrem o corpo sejam sãos, de outro modo se converteriam em causa de intoxicação: de igual m aneira temos de velar por que os livros que são o alimento da inteligência sejam sãos.
O bom livro é o sustento do espírito.Sendo assim, será obra de caridade o procurar
que nossos irm ãos tenham sem pre alimento in telectual são. Dar um pedaço de pão ao esfomeado é obra de caridade muito excelente; mas será m aior o procurar o sustento de tantas almas extenuadas por falta de sãs leituras.
Mas quem cogita das necessidades da alma? Quantos são os que com preendem esta obra de caridade?
Ao menos nós, membros da Ação Católica, consagrados ao apostolado, devemos ter cuidado de nossas próprias e das almas dos próximos, como quer o Papa, quando nos diz que a “Ação Católica
O APOSTOLADO DO LIVRO 105
tem de preparar, d ifundir, m ultiplicar a boa im prensa no serviço do bem.”
Eficácia do livroAlguns, quando se lhes fala da boa im prensa,
pensam logo na im prensa periód ica: diário ou revista. E é natural que estas publicações, que são as mais lidas, atraiam a nossa atenção. Mas convém não olvidar as outras publicações e, sobretudo, o livro.
Na realidade, se o periódico vence ao livro em difusão, porque é mais lido, perde muito em profundidade. Com efeito, o livro, com penetrar mais na alma, deixa im pressões mais duradouras, diz mais coisas do espírito e perm anece conosco por mais tempo, até depois da leitura, como bom amigo a quem nunca se abandona.
Por isso, diz o refrão que “um bom livro é um bom amigo” e o E spírito Santo assegura-nos que “quem achou um bom amigo encontrou o m aior dos tesouros.” Ao invés, quem topa com um mau livro, dá com sua ruína, como confirm a a experiência de todos os dias.
A leitura de bons livros deu muitos santos à Igreja, ao passo que a de maus livros foi a causa da ru ína de muitos, especialm ente dos jovens.
Vamos provando estas asserções com alguns dados históricos.
Efeitos do bom livroInácio de Loiola, oficial do exército espanhol é
gravemente ferido no sitio de Pam plona, e vê-se obrigado a se re tira r a um castelo em busca da cura. Para d istra ir os ócios da enferm idade pede uma novela. Na escassa biblioteca do castelo não há mais que a vida de Cristo e algumas vidas de Santos. Pede lhe tragam a de S. Francisco de Assis e de S. Domingos. Logo se sente transform ado e daquela leitura data a sua conversão em soldado de Cristo.
Outro fato mais recente.Bem conhecida é a biografia de Pedro Jorge
Frassati, escrita pelo salesiano Padre Antônio Coiazzi.
Um dia recebe o autor a seguinte carta muito sign ificativa:
“Ontem de tarde tomei o trem. Para m atar o tempo de longa jornada que ia fazer tinha comigo
106 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
uma novela, mas de repente meus olhos toparam com um em brulho que me chamou a atenção e, levado pela curiosidade, o abri. Ao ver que tinha a vida de Pedro Jorge Frassati, disse entre m im : Estas são coisas de Padres e agora não estou para ler beatices. Aprofundei-me, pois, na leitura do periódico; mas, como a travessia era longa, bem depressa acabei de o ler. Tomei, então, sem interesse, a vida do jovem e li ao acaso algumas páginas, mas, aos poucos, fui-me sentindo atraído, e não a deixei senão com a última linha.
Não saberia dizer-lhe o que experim entei, pois, apenas chegado ao term o da viagem, dirigi-me im ediatam ente à igreja, pus-me de joelhos e supliquei ao sacerdote que me ouvisse de confissão. Escutou-me com paciência e com carinho e conduziu-me depois ao banquete eucarístico.
Naqueles momentos senti em mim um estrem ecimento de bondade e supliquei a Pedro Jorge que me conservasse sem pre religioso.”
Efeito da leitura de um bom livro.E quem nos dirá os bens que produziu a lei
tu ra da vida de S. Teresinha do Menino Jesus?Efeitos do mau livro
Mas, em outro sentido, quanto é o mal que pode causar um livro p re ju d ic ia i! Vejamos alguns exemplos.
Faz apenas alguns anos, ventilava-se nos trib u nais de Paris a causa de um m enino de quinze anos, acusado do assassínio de um m enino de seis. Qual era a causa do delito? Explica-nos assim o mesmo crim inoso : “Li numa novela a história do assassínio de um m enino e isto me surpreendeu profundam ente. A casualidade pôs-me frente a este menino de cujo assassínio sou acusado e quis reproduzir e gozar a cena que tinha lido.”
Quem é o mais culpado? O m enino assassino ou o escritor do conto?
Não faz muito que a im prensa nos deu notícia de um jovem encontrado morto em seu quarto. Ao revistar a casa a autoridade achou sobre a mesa de cabeceira aberto um livro de Ortiz, no qual se narra com cores sedutoras o suicídio de um jovem. A leitura foi fatal.
O APOSTOLADO DO LIVRO 107
E mesmo que a leitura de maus livros não conduza sempre a estes excessos, deixa na alma o horror e a tristeza.
Conta-nos S. Teresa de Jesus, no livro de sua vida escrita por ela mesma, que esteve ao ponto de perder-se pela leitura dos livros de cavalaria. “Habituei-me a ler, escreve, e parecia-m e que não era pecado perder tanto tempo naquele vão exercício. A paixão apoderou-se de tal m odo de mim que não podia estar contente se não tinha algum livro novo. Comecei a vestir-me com elegância e a querer fazer boa figura, para o que cuidava muito do cabelo e de todas as outras vaidades deste gênero.” Por sorte o pai, cuidadoso da educação da jovem, encom endou-a a bons educadores e junto deles acabou-se o perigo das más leituras.
Normas práticasComo crislãosAmar o bom livro, grande meio de formação es
piritual. Afeiçoar-se às vidas dos Santos, sobretudo dos que em nossos dias se distinguiram por uma vida exemplar.
Recusar de maneira absoluta todo livro frívolo, mesmo que não seja imoral, e pedir sempre o parecer de um Confessor ilustrado. '
Como apóstolosPropagar o bom liv r o : fazê-lo conhecer, acon
selhá-lo, dá-lo emprestado. Este é um dos principais deveres dos membros da Ação Católica.
Destruir os livros m aus: este é um dos m eios de acabar com os focos de corrupção espiritual.
D epois da pregação de S. Paulo em Éfeso, os cristãos trouxeram-lhe os livros que continham fórmulas mágicas e “os queimaram em presença de todos e, feito o cômputo, acharam que valiam cinquenta m il denários”.
O exem plo vem -nos de cima e de longe.Conclusão
Um instrumento de apostolado do livro são as bibliotecas paroquiais e diocesanas. Como m em bros da Ação Católica favoreçam os aos nossos Párocos na consecução de uma biblioteca paroquial, onde, por preços m ódicos, nos será brindado são alim ento para a alma.
O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA
IntroduçãoS. Inácio Mártir chaina ao Papa “Presidente da
caridade”, palavra que se há de entender aqui em seu sentido estrito de beneficência.
Todos aqueles a quem o Papa chama seus f ilhos hão de imitá-lo 11a prática desta virtude e hão de ser, portanto, m inistros e instrum entos da beneficência.
A caridade ou a beneficência é um dever de cristão.
Mas é também um grande m eio de apostolado e, por esse aspecto, queremos considerá-la por ora, porque interessa de m odo especial aos associados na Ação Católica. A qual abarca em seu programa toda forma de apostolado e, por isto mesmo, o da caridade ou. da beneficência que é um dos mais eficazes.
P io XI ensina que se tem de procurar o bem do corpo pelo amor da alma: chegar à alma por m eio do corpo. Este foi o segredo da grande caridade de S. V icente, de S. Benedito Cottolengo e de S. João Bosco. Assim se explicam as grandes conquistas das almas que é o que tem de fazer a Ação Católica.
Vamos estudar:1. ° Como e por que a beneficência é um m eio
de apostolado.2. ° Como usavam dela Jesus Cristo, os Após
tolos e a Igreja.A beneficência é um meio de apostolado
Por várias razões das quais a prim eira é que a beneficência é uma demonstração efetiva da divindade da religião.
A le i da caridade é como o distintivo e o lema que distingue a nossa santa religião, a qual, como seu autor, é caridade. Quem senão Cristo podia dar a seus seguidores este p rece ito : Amai-vos çomo
O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA 109
irmãos. Nenhuma religião nem filosofia nunca deu a seus adeptos este m andam ento milagroso. A caridade é uma como irradiação da luz divina.
Mas que vale a caridade, se não for mais que sonido de palavras ou puro sentim entalism o? Por isso ensina-nos o apóstolo S. João: “Filhinhosmeus, amemo-nos não de palavras e de língua, senão com as obras e de verdade.” Se de verdade amamos a nossos irmãos, temos de desejar-lhes e fazer-lhes o bem.
Por isso, a beneficência é m anifestação da caridade e esta prova a divindade da religião.
Na realidade a beneficência foi sem pre um argumento de propaganda e de defesa da religião cristã e, portanto, um meio de conversão à fé.
O mundo pagão converteu-se ao cristianism o por meio da pregação e dos milagres dos Apóstolos, mas, sobretudo, pelo resplendor da caridade benéfica dos prim eiros cristãos. Os nobres e senhores consideravam seus escravos como irm ãos; todos, ricos e pobres, participavam em dias determ inados dos ágapes ou banquetes de caridade; cada um trazia os alimentos segundo suas possibilidades, os ricos m uito, pouco os pobres, mas todos comiam a uma mesma mesa e na mesma m edida. A beneficência era p ra ticada, não só em Jerusalém , senão em todas as com unidades cristãs, de form a que se podia dizer que nenhum a delas padecia necessidade.
Os pagãos, diz-nos Tertuliano, ficavam atónitos ante este espetáculo de fratern idade e de caridade e exclam avam : “Vede como se amam.” Este p ro ceder atraía sim patias à religião, autora de semelhantes prodígios, e daí as num erosas conversões.
Notável é a conversão de S. Pacômio. Pagão, aderente ao exército de Constantino, chegou um dia em que as tropas m orriam de fome; os cidadãos conhecedores da necessidade levaram espontâneam ente alim entos aos soldados em tal abundância que Pacômio ficou m aravilhado e exclam ou: “Mas que classe de gente é esta?” Soube que eram cristãos e que sua religião lhes ordena socorrer e ajudar os necessitados. Im ediatam ente decidiu abraçar esta religião e nela chegou a ser um de seus Santos.
E não se dá o mesmo hoje em dia? As obras de
caridade convertem mais ím pios que os livros de apologética, como sucede com a Pequena Casa da Providência de Turim , verdadeiro prodígio de caridade e asilo de todas as m isérias humanas.
Jesus Cristo mesmo predisse o valor probatório da caridade, quando no Sermão da últim a Ceia rogou ao P a i: “Pai, não rogo somente por eles, senão também pelos que por sua palavra chegarem a crer em mim, para que sejam todos um e o m undo creia que tu me enviaste.” Daí que a caridade fraterna dos cristãos é um dos meios para o mundo crer em Jesus Cristo, enviado do Padre.
Outra razão é que a beneficência toca o coração do favorecido, e, ganhando o coração, é mais fácil chegar à inteligência e à vontade.
Esta verdade apoia-se em a natureza psicológica do homem e tem para si a prova da experiência, ao m ostrar-nos que, fazendo o bem aos corpos, é m ais fácil ganhar a alma.
Isto se dava com S. Francisco de Assis, de quem se escreve no livro “F ioretti” que “a quantos curava o corpo, Deus lhes curava a alma.” Certa vez, num a hospedaria onde os filhos do Santo serviam a um leproso tão im paciente e insuportável que parecia, e assim era, estar possesso, os frades quiseram despedi-lo, mas antes advertiram a S. F rancisco que vivia ali perto. O qual foi incontinenti aonde estava o leproso insuportável e o exortou à paciência, mas sem resultado nenhum. Então o Santo lhe disse: “Posto que não estás contente com teus servidores eu mesmo te servirei.” O leproso respondeu-lhe: “Quero que me laves todo o pus que sai de mim mesmo e que está tão fedorento que nem eu posso aguentar o mau cheiro.” Logo S. Francisco, dizem-nos “F ioretti”, fez esquentar água com ervas perfum osas e, por divino milagre, onde o Santo tocava com suas mãos a lepra se retirava, deixando são o enfermo. Começou a sarar a carne, e começou a sarar a alma; vendo o leproso que o corpo sarava, começou a sen tir grande com punção e penitência de seus pecados e pôs-se a chora r amargamente. E enquanto o corpo lançava fora a lepra que o afetava, a alma desprendia-se por dentro da lepra do pecado, por meio das lágrim as e do arrependim ento.
110 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
O APOSTOLADO DA BENEFICENCIA 111
Este é o método do apostolado franciscano: cu rar a alma, sarando o corpo; ou, como diz Pio XI, ‘‘buscar a alma através do corpo”. E quantos fatos nos falam da eficácia deste método!
Exemplo de Cristo, dos Apóstolos e da IgrejaExem plo de Cristo
Diz-nos S. Lucas que o Salvador passava fazendo o bem, curando os corpos, mas, sobretudo, as almas. Lembremo-nos da cura do paralítico que trouxeram para que o Senhor o curasse; começou por lhe curar a alm a: “Confia, filho, teus pecados te são perdoados.” E como o acusassem de blasfêmia, respondeu: “A fim de que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar os pecados”, disse ao p a ra lítico : “Levanta-te, toma teu leito e anda.” E, deste modo, enquanto o curava da paralisia corporal, cura-o da enferm idade da a lm a .. . À beneficência corporal vai acom panhada da espiritual.
E não aconteceu o mesmo na milagrosa m ultiplicação dos pães? Dá às multidões o pão do corpo, mas logo lhes dá o da alm a: “T rabalhai não pelo alimento que passa, senão pelo que dura até a vida eterna. Eu sou o Pão vivo descido do céu. Quem come a m inha Carne e bebe o meu Sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia.”
A seus discípulos recom enda o mesmo m étodo: “Em qualquer cidade onde e n tra rd e s .. . curai os enfermos que ali houver e dizei-lhes: —• Aproxima- se o Reino de Deus.” P rim eiro curai e depois anunciai-lhes o Reino de Deus. À pregação há de p re ceder a beneficência, para que esta p repare os ân imos a receber o anúncio salutar. Os Apóstolos deverão evangelizar o mundo com a caridade e a palavra.
Exem plo dos ApóstolosA história diz-nos que foram fiéis seguidores do
preceito do Mestre, exercitavam o apostolado da palavra e o da beneficência, curavam os corpos para curar as almas. Basta recordar o fato da cura do paralítico na porta do templo de Jerusalém , e da qual se serve o apóstolo S. Pedro para fazer ao povo um serm ão: “O nome de Cristo curou a este
112 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
que vedes e conheceis, e a fé que vem d’Ele deu a este a perfeita saúde.” E peia palavra de S. Pedro se converteram cinco mil homens. Depois do benefício, a exortação e a conversão.
Exem plo da IgrejaÀ luz destes exemplos a Igreja sem pre se tem
preocupado com socorrer às necessidades m ateriais dos povos, criando um a vasta rede de obras de beneficência que são o inais belo ornato de sua h istória b im ilenária: hospitais, asilos, institutos de correção, hospícios, e t c . . . .
E sempre, por meio destes benefícios, chegou à salvação de m uitas almas.
Já antes dissemos como a Casa da M isericórdia de Turim é um argumento em favor de nossa tese e, por isso, pôde o d iretor da obra assegurar ao Papa Bento XV que nenhum dos asilados ali tinha m orrido sem receber os últimos Sacramentos.
ConclusãoNum discurso à Juventude Católica Italiana dizia
o Papa Pio X I: “O mundo não crê hoje nas palavras da fé, mas, sim, nas da caridade.”
Esta verdade foi que sugeriu a F rederico Ozanam a fundação das Conferências de S. Vicente de Paulo. Um dia, seus com panheiros na U niversidade de Paris lhe disseram : “Tendes razão quando falais do passado; o cristianism o fez verdadeiram ente p ro d ígios naquela época; mas hoje está morto. Portanto vós que vos orgulhais do nome de católico, que fazeis? Onde estão as obras que m ostram vossa fé?”
“Têm razão”, disse prontam ente Ozanam, sem embaraço. “Falta-nos pôr de acordo a fé com as obras. Mas que fazer para m ostrar-nos verdadeiramente católicos, senão o que agrada a Deus? Socorram os, pois, o próxim o, como fazia o Salvador, e ponham os a fé sob as asas protetoras da caridade.”
Esta é a resolução que temos de tom ar os católicos de hoje e, em particular, nós católicos m ilitantes. Vamos à alma do povo para ganhá-lo para Cristo por meio da caridade.
SACERDÓCIO E AÇÃO CATÓLICA
A vinte de Dezembro de 1935, Pio XI brindava o m undo com a célebre encíclica sobre o sacerdócio, documento que teve grande aceitação em todo o universo e que não só interessa aos sacerdotes, mas também aos que com eles colaboram nas fileiras da Ação Católica.
A encíclica divide-se em três partes: na p r im eira trata-se da dignidade do sacerdócio, na segunda da santidade e na terceira da preparação para o mesmo.
Queremos dem onstrar que, em cada uma destas partes, algo há que se relaciona com a Ação Católica.
Dignidade do sacerdócioO Papa demonstra, antes de tudo, a altíssima
dignidade do sacerdócio, m inistério que “tem por objeto não as coisas hum anas e transitórias, senão as divinas e eternas.” O sacerdote, afirm a o Santo Padre, tem um ofício, em certo modo, superio r ao dos espíritos puros que estão na presença de Deus, “porque, qual dos anjos pode consagrar o Corpo de Cristo, perdoar os pecados e ab rir as portas do céu?”
Tinha, pois, razão o santo cura de Ars ao dizer: “Se me encontrasse com um sacerdote e um anjo, cum prim entaria prim eiro ao sacerdote e, depois, ao anjo.”
Que estas palavras não são um exagero, dem onstra o fato extraordinário que se lê na vida de S. F ran cisco de Sales. 0 Prelado acabava de ordenar um sacerdote de A nnecy: term inada a cerim ónia, enquanto se retirava o cortejo da igreja, o novo sacerdote viu ao seu lado o Anjo da Guarda que o acom panhava. Chegados a casa pôs-se a um lado para deixar passar o Anjo. Mas o Anjo não se moveu até que o sacerdote lhe havia precedido.
Pois bem, a Ação Católica, participação no apos-Formação — 8
114 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
tolado da Jerarquia, partic ipa também da dignidade da mesma.
Este é o ensinam ento de Pio XI quando escreve: “Os que militam na Ação Católica, por uma graça especial de Deus, são chamados a uma dignidade muito sem elhante à do sacerdote: porque a Ação Católica não é outra coisa do que o apostolado dos fiéis que, sob a direção dos Bispos, prestam o seu auxílio à Igreja e, em certo modo, integram a sua missão pastoral. Pelo que se vê quão grande é esta institu ição!”
E na prim eira encíclica Ubi arcano Dei escrevera o mesmo Pontífice: “Quando os fiéis, unidos aos sacerdotes e aos Bispos, participam da obra do apostolado e da redenção, então mais que nunca são a raça escolhida, o sacerdócio real, o povo santo de que fala o apóstolo S. Pedro.”
SantidadeMas quanto mais elevado é o ofício, m aiores
serão os dotes que adornem a quem o desempenha. Por isso, a dignidade do sacerdócio, como escreve o Papa na segunda parte da encíclica, “exige de quem está investido dela uma elevação de espirito, uma pureza de coração, uma santidade de vida correspondente à sublim idade e santidade do ofício sacerdotal.
Grave responsabilidade para os sacerdotes e para os fiéis o dever de ajudar-lhes com a oração, a fim de que possam chegar ao ideal de perfeição sacerdotal.”
Mas aos sócios da Ação Católica corresponde-lhes outro dever: em bora participem da dignidade do sacerdócio, também estão obrigados a m aior perfeição. Hão de distinguir-se entre todos os fiéis pelo exercício de todas as virtudes e, em p articular, da piedade, da pureza de costumes, da caridade para com o próximo.
A santidade, como o apostolado, não é, pois, um privilégio dos sacerdotes; todos os filhos da Igreja são chamados a ela e especialmente, como já dissemos, os que se consagram a “uma obra tão semelhante à do sacerdote.” E todos têm a possibilidade disto, seja qual for o estado de vida que levem.
Prova e exemplo do que acabamos de dizer é a vida do servo de Deus, Luís Necchi. Ao contar vinte e cinco anos, já médico afamado, deseja santificar-se, consagrando-se ao apostolado, pois ainda não decidiu qual será a sua vida, se sacerdote ou leigo, se no convento ou no século, se celibatário ou casado. Recolhe-se a uma casa de retiro e no silêncio e oração pede luzes do alto. Ao term inar o retiro escreve no livro de resoluções: “Quanto ao meu estado de vida parece-me ser a vontade de Deus que eu escolha o estado comum como meio de santificação.”
E assim foi: para este grande apóstolo da Ação Católica o estado comum foi o do m atrim ónio no qual se santificou. P or isso, dizíamos que a santidade não é privilégio de algumas almas senão um dever para todos.
PreparaçãoA terceira parte da encíclica começa assim : “Se
tão alta é a dignidade do sacerdócio, e tão excelsos os dotes que requer, segue-se daí a necessidade im prescindível de dar aos candidatos do Santuário uma preparação conveniente.”
E’ evidente, pois, se todo ofício reclam a p reparação, também a exige o apostolado. Os Doze estiveram três anos na escola de Cristo, e hoje a Igreja quer que os aspirantes ao sacerdócio permaneçam doze anos nos sem inários, para p reparar-se à sua missão por meio da oração e do estudo. E para que esta preparação seja adequada, o Papa dá, na encíclica que vamos com entando, normas para os bispos, para os diretores de sem inários, para sacerdotes e até para os leigos.
Pelo que toca às vocações sacerdotais, o Papa reclam a de m aneira especial o apoio da Ação Católica, como veremos no próxim o estudo.
Contudo os sócios da Ação não só devem cooperar na preparação dos sacerdotes, mas também preparar-se a si mesmos para a obra do apostolado, obra tão semelhante à do sacerdote, para usar a expressão do Pontífice.
E também hão de preparar-se como os asp irantes ao sacerdócio, com a oração e o estudo.
SACERDôqjO E ACAO CATÓLICA 115
8*
116 FORMAÇÃO PARA O AfiOSTOLADO
Com a oração, ou seja com as obras de piedade, para form ar a Cristo em nós. O Santo Pontífice Pio X escrevia estas memoráveis p a lav ras: “Sóquando tenham os formado a Cristo em nós, poderemos facilmente restituí-lo à família e à sociedade.” E mais notáveis são ainda as palavras do Padre Mateus Crawley, arauto da devoção ao Sagrado Coração: “O apóstolo é um cálice, cheio até as bordas, da vida de Jesus Cristo, e essa superabundância derram a-se sobre as almas.”
A oração há de preceder à ação. O célebre Pe. Monsabré, pregador de Nossa Senhora de Paris, antes de subir ao púlpito, rezava de joelhos o terço; e como um amigo lhe perguntasse a razão deste proceder, respondeu-lhe: “Tomo a últim a infusão.”
Com o estudo. Não é necessário que estudeis a teologia como os sem inaristas, mas, sim, deveis conhecer a doutrina cristã, o suficiente para poder defendê-la e difundi-la no meio ambiente. Um m embro da Ação Católica há de distinguir-se por sua formação religiosa.
ConclusãoEm 1921 se ventilou, na sala de Audiências de
Milão, um processo contra um sacerdote que, afinal, foi absolvido. D urante a leitura da sentença um grupo de jovens da Ação Católica atira ao Padre, em sinal de alegria e de reparação, rami- lhetes de flores brancas. Logo o acom panharam e conduziram em triunfo até à casa.
Admirável este gesto dos jovens milaneses. Mas há outras flores mais preciosas que todos os membros da Ação Católica devem oferecer aos sacerdote, as flores da oração, a fim de que, com a graça de Deus, possam corresponder a todos os deveres e santificar os demais.
A AÇÂO CATÓLICAE AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS
IntroduçãoAssim como o Clero tem deveres para com a
Ação Católica, também os fiéis os têm p ara com o Clero.
Antes de mais nada, a Ação Católica há de trabalhar com a Jerarquia para que o Clero seja suficiente e bem preparado, para o qual há de favorecer as vocações sacerdotais e ajudar os seminários.
Este dever obriga todos, mas, de m aneira especial, os m ilitantes da Ação Católica.
Na encíclica sobre o sacerdócio católico de que antes fizemos menção, diz o P apa: “A Ação Católica, como participação do laicato no apostolado jerárquico da Igreja não pode desentender-se deste problem a vital das vocações sacerdotais.” Veremos, p o rtan to :
1° Por que a Ação Católica tem este dever.2. ° Alguns meios de cumpri-lo.3. ° As vantagens que daí derivam.
O deverA Ação Católica tem o dever de colaborar, por
quantos meios estejam ao seu alcance, para que as vocações sacerdotais se cultivem e cheguem a feliz coroamento.
A Ação Católica tem como fim supremo o advento do Reino de Deus; mas como poderá difund ir este reinado suavíssimo sem sacerdotes e m inistros de Cristo? E como teremos bons sacerdotes sem uma formação conveniente?
Pois bem, o meio de form ar as vocações sacerdotais é o sem inário, do qual depende, em grande parte, o porv ir das dioceses e das paróquias. Poderá a Ação Católica encarar com olhos ind iferentes este máximo problem a?
A Ação Católica está constituída para ajudar à Jerarquia; pois bem, a prim eira e principal solicitude desta são os sem inários.
A partir do Concílio de Trento, a Igreja quer que cada uma das dioceses tenha o seu próprio sem inário; em Roma existe uma Congregação encarregada de vigiar o progresso desta instituição.
S. Carlos Borromeu chamava aos sem inários o Coração do coração dos Bispos.
Como cumprir este dever
Exporei três m eios ao alcance de todos.
1." A o r a ç ã o
“Nada tão necessário, útil e oportuno — escreve Pio XI — como a oração para ter bons e santos sacerdotes. Deus mesmo ensinou-nos este m eio e revelou-o com palavras tão solenes que nenhum outro argumento teve nos lábios do Mestre expressão tão enfática, tão alta e tão absoluta.”
“D epois da oração com que nos ensinou a rezar ao Pai nosso que está nos céus, vem aquela outra em que nos ensina a rogar ao Pai para que envie operários à sua m esse.”
A Igreja faz rezar aos fiéis, nas quatro têm poras do ano, quando se conferem as Ordens Sacras, a fim de que o céu conceda bons sacerdotes.
Santa Teresinha do Menino Jesus declarava: “Vim para o Carmelo para salvar as almas, mas sobretudo para rezar pelos sacerdotes.”
E’ necessário, pois, rezar a Deus para que envie sacerdotes à sua Igreja; nenhuma petição pode ser mais agradável a Deus, nenhuma m ais meritória.
2.° C o m a p r o p a g a n d a
Precisa fazer com preender a alta dignidade e as sublimes recom pensas do sacerdócio, falando aos m eninos e aos adultos, aos filhos e aos pais.
Isto é o que vem fazendo a Ação Católica com o aponta, com singular com placência, o Papa da m encionada encíclica sobre o sacerd ócio : “Com íntim a satisfação vem os que a Ação Católica se distingue em todos os lugares e em todos os campos, mas
118 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
A A. C. E AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS 119
de m aneira especial neste; certamente o m elhor prém io destes labores é ver as vocações sacerdotais e religiosas que vão florescendo nas associações juvenis. Sentir-se-á verdadeiram ente orgulhosa a Ação Católica com esta honra que sobre ela recai e há de persuadir-se que, de nenhuma outra maneira, poderá colaborar m elhor neste aumento das fileiras do Clero secular e regular e participar no verdadeiro sentido daquele sacerdócio real que o Príncipe dos Apóstolos atribui ao povo dos rem idos.”
3.° C o m a a j u d a m a t e r i a l
0 Salvador escolheu seus apóstolos entre as classes hum ildes e sem recursos. O mesmo proceder emprega ainda hoje em dia: as vocações sacerdotais florescem , sobretudo, entre as fam ílias pobres.
Daí a necessidade de ajudar aos m eninos que se sentem cham ados ao sacerdócio e aos institutos onde se formam e para o qual os Bispos costumam prescrever semanas especiais em favor dos sem inários.
À frente desta empresa hão de estar todos os membros da Ação Católica.
Nisto a Ação Católica não faz mais que continuar uma gloriosa tradição, pois desde o seu nascimento se tem preocupado com esta necessidade da Igreja.
VantagensMas a nossa colaboração para a obra das vo
cações sacerdotais não só é um dever, como provamos, senão também uma vantagem individual e social.
Antes de tudo, uma v a n t a g e m i n d i v i d u a l . D izia o Cura de Ars em um de seus notáveis catecism os ao p o v o : “S, Bernardo ensina-nos que todas as graças nos vêm por interm édio de Maria, e podemos juntar que também nos vêm por in term édio do sacerdote, se não, ide confessar-vos à SS. Virgem ou a algum dos anjos. Ela não poderá absolver-vos, nem tão pouco um dos anjos; mas o m ais hum ilde dos sacerdotes d ir-vos-á: — Eu te absolvo, vai em paz. — Todo bem nos vem, pois, por interm édio do sacerdote.”
120 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
E acrescentava o Santo: “Vede como tendes um grande interesse em p reparar sacerdotes para Deus e quanto mais santos sejam m aiores graças vos obterão.”
Vantagem social.Que seria da sociedade sem a religião de Cristo?E como seria possível a religião sem os sacer
dotes?Olhemos ainda para o Cura de Ars neste ponto :
“Depois de Deus o sacerdote é tudo. Deixai uma Paróquia sem sacerdote por lapso de um ano e que será dela? Contemplai as regiões pagãs onde não há sacerdotes: ali se adoram os anim ais e as p lantas.”
Em verdade, o sacerdote de Cristo é o d istribuidor de todos os bens da redenção, o m ensageiro da verdade evangélica, o arauto e guardião da civilização.
Conclusão
Como a pobre Mamãe M argarida não tem com que custear a educação de seu filho Bosco, este d iz-lhe: “Eu irei de porta em porta pedindo uma ajuda.”
Obtido o consentim ento, o m enino vai-se por toda a aldeia de Chieri, pedindo esmola. Os habitantes de Murialdo, que conheciam os desejos do filho de M argarida, mostram-se com ele generosos.
Quem houvera dito àqueles hum ildes m oradores que, socorrendo ao filho de M argarida, cooperavam na grandiosa obra dos salesianos?
Aquele que reza e sustenta as vocações sacerdotais receberá um dia, no além, a recom pensa de suas liberalidades. E esta vantagem há de mover-nos a ser liberais e generosos em nossa cooperação.
Objetivos de nossa defesaIntrodução
Term inando, devemos fazer frente ao perigo que ameaça as nações católicas da América da parte das seitas protestantes, e lem brar os deveres que incumbem aos membros da Ação Católica na Campanha de Defesa.
Mas quais são os objetivos de nossa defesa? E’ o que queremos dar a conhecer neste estudo.
Quatro são os objetivos de nossa defesa: a religião de Cristo, a m oral de Cristo, o Papado, a unidade e a grandeza da Pátria.
Defender a religião de Cristo
O Protestantism o de hoje não é o mesmo que ensinaram Lutero e demais fundadores da Reforma. Estes destruíram muitos dos dogmas do cristian ismo e dividiram -se em num eráveis seitas: hoje contam-se além de 300 somente entre as mais recentes.
Pode-se dizer que quase não há verdade revelada que não fosse negada pelos autores da reform a; nem mesmo se respeitou a divindade de Cristo, e algumas seitas pregam um cristianism o sem Cristo. Sua religião é um puro sentimentalismo.
Isto é o que observava o Papa, em Julho de 1934, às dirigentes da Juventude Fem inina, quando lhes dizia: “O Protestantism o in tenta destru ir o tesouro da vida cristã. Que resta ao protestantismo da vida cristã, dos sacram entos, da mesma pessoa de Cristo? Uma lenda, uma figura humana. Até a obra mesma do Redentor, sua pessoa adorável, foram corroídas pelo protestantism o.”
Não faz muito que no Parlam ento da Noruega, nação protestante, se discutia ou m elhor se subm etia à votação a divindade do Salvador, a qual se salvou por muito poucos votos. Mas para muitqs
A AÇÃO CATÓLICAE A DEFESA DA FE ’
122 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
protestantes esta não foi válida e Cristo não é p ara estes, como diz o Papa, mais que um ser lendário ou, quando muito, m era pessoa hum ana.
Entre as glórias da Idade Média se contam as Cruzadas. Cristãos de todas as nações armaram-se e partiram para a T erra Santa, a fim de defender e libertar o Sepulcro do Senhor contra as profanações dos infiéis. Faz-se m ister uma nova cruzada em defesa da fé, que form a o tesouro da Verdade perm anente da Igreja e a tradição da Pátria , porque hoje não se trata de defender o Sepulcro de Cristo senão a sua mesma adorável Pessoa ameaçada de destruição nas almas de m uitos cristãos.
A Ação Católica quer ser esta nova Cruzada, feita não com arm as sanguinolentas senão com a propaganda da im prensa, com os sacrifícios, com as orações.
Defender a moral de CristoFalseados os princíp ios da fé, o protestantism o
vai m inando os da moral. Provas? Ei-las:Todas as seitas protestantes admitem o divórcio
e a lim itação da natalidade, o que vale dizer limitação da prole.
A Conferência anglicana de Lambeth, depois de ter indicado que, se alguém julga ter a obrigação de lim itar a natalidade, deve usar como meio p r in cipal a continência e a abstenção, admite, todavia, o uso de outros meios, com a condição de que não vão de encontro aos princíp ios cristãos.
Outras seitas protestantes im itaram o exemplo da confissão anglicana. Os m etodistas episcopais, na conferência de 1934, aprovaram a limitação científica da fam ília e sugeriram a seus m inistros o estudo da questão.
Para escusar o divórcio os protestantes dizem que a Igreja adm ite a anulação do m atrim ónio, mas andam errados sobre a significação da palavra, porque uma coisa é anular o m atrim ónio e outra declarar a nulidade do mesmo. A diferença que existe é a mesma que medeia entre dar m orte a uma pessoa e declarar a m orte por causa do assassínio.
A AÇAA CATÓLICA E A DEFESA DA FE’ 123
Pois bem, a Igreja não anula nenhum m atrim ónio, só se lim ita a declarar a nulidade, a qual p reexiste a toda declaração, por causas que são discutidas e provadas em juízo.
Defender o PapaO protestantism o, com todo o mosaico de suas
seitas inum eráveis, converteu-se numa Babel. 0 que uma seita afirma, a outra nega; não se puderam pôr de acordo senão sobre uma coisa: a negação do Prim ado de Pedro, a aversão ao Papa.
Esta negação, esta aversão é como o cimento que une os vários fragmentos do protestantism o. União negativa.
O protestantism o m oderno repete a antiga frase dos prim eiros protestantes: “A Igreja rom ana é a sinagoga de Satanás, o Papa é o A nticristo.”
Por isso, sua divisa parece ser luta contra o Papado.
E, com efeito, m uitas seitas protestantes, desde há vários anos, vêm empregando as suas baterias contra Roma, centro do catolicismo e sede do Romano Pontífice.
Quer-se destru ir o Papado. O que não puderam fazer os prim eiros luteranos, quando passaram os Alpes e desceram sobre Roma, levando, segundo diziam, a corda que devia estrangular o último dos Papas, querem fazer lentam ente os m odernos com sua propaganda anticatólica e antipapal.
Mas equivocam-se, porque a Igreja, conform e a prom essa de seu Fundador, é eterna; assim mesmo são lógicos atacando o fundam ento da mesma, pois, destruído este, aquela cairá necessariam ente.
Falando na América um sacerdote apóstata em favor da propaganda protestante, dizia: “Quando se quer dar m orte com segurança a um inimigo, não se lhe fere no braço ou na mão, senão que se lhe fere na cabeça ou no coração. Por isso, se queremos acabar com a Igreja de Cristo, tem-se que tirar-lhe a cabeça ou o coração.”
O raciocínio é concludente, e assim como os protestantes se unem em seu ódio contra a cabeça da Igreja, nós católicos havemos de unir-nos em um esforço comum de defesa contra os inimigos do Vigário de Cristo.
124 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Defender a Unidade Nacional
Mas não é só o am or à Igreja e ao Papa que nos há de mover a lu tar contra as seitas, senão também o am or à Pátria , cuja unidade espiritual se baseia na vigorosa tradição cristã que fundam enta a h istória de todas as nações am ericanas.
A fé católica é o mais poderoso aglutinante de nossos povos e fator de grandeza nacional; por isso as propagandas dissidentes, liberalistas, protestantes ou judias são um delito de lesa nacionalidade.
Combatendo-as, a Ação Católica está prestando serviço inestim ável à Pátria .
ConclusãoEstes são os objetivos e as razões de nossa luta
contra as seitas: defender a religião de Cristo, sua m oral civilizadora, o Papado e a Pátria.
E posto que os propagandistas das seitas vêm de fora, dependem de um poder estranho e são sustentados com dinheiro ou recursos estrangeiros, e porque, combatendo a religião de Cristo, ameaçam a cultura e a unidade da Pátria, tomemos como lema de nossas cam panhas esta dos soldados espanhóis contra as hostes da barbárie verm elha; “Não passarão.”
A DEFESA DA FE’
Nossas armas de defesaIntrodução
Diz Nosso Senhor no Evangelho que, “enquanto os guardas do campo dormiam, veio o inimigo e semeou a cizânia no meio da boa semente.”
A cizânia representa o mal, o erro semeado no campo da Igreja, onde o bom Semeador Jesus Cristo espalhará o bom grão da verdade e do bem.
Como na parábola do Evangelho, os inimigos do bem semearam o mal enquanto os guardas da verdade dormiam.
Quem são os custódios da verdade? Somente os sacerdotes? Não somente eles senão também os fiéis: todos temos o encargo de defender e vigiar o bom grão da verdade evangélica.
O liberalism o, o comunismo, o protestantism o, que semeiam o erro na Igreja de Cristo, são os m odernos inimigos que semeiam a cizânia no meio da boa semente.
E enquanto realizam sua obra de perdição, permaneceremos nós dorm indo? Quais são as armas que nos servirão para a defesa de nossa Fé?
As principais são: a oração, a instrução, a beneficência, a vigilância e a denúncia do inimigo.
OraçãoEste inimigo derrotarem os com a oração, rogando
a Jesus, o bom Semeador, que nos ajude a guardar sua Vinha, pois Ele disse: “Sem mim, nada podeis.”
A oração é necessária para toda obra boa, porque nem mesmo um só pensam ento bom podemos ter sem a graça de Deus. Tanto mais necessária será, pois, a oração para as obras do apostolado e a defesa da religião. “Se o Senhor não defende a cidade, em vão trabalham aqueles que a defendem.”
Dizia o Papa às dirigentes da Juventude Fem in ina: “P restareis todo o vosso concurso a esta obra de vitalidade sem igual da defesa da fé, e fareis isso com a oração confiada, porque, como muito
126 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
bem dizia D-om B o seo : “Deus está especialm ente obrigado a nos ajudar, em se tratando de in teresses não nossos, senão seus; e estará sempre conosco nesta batalha pela fé e pela vida cristã.”
A oração valoriza todas as outras armas de que vamos falar.
InstruçãoDefesa preventiva necessária é a instrução do
povo. Quando ameaça alguma epidem ia, os m édicos costumam aplicar todas as injeções preventivas contra o mal. À propaganda protestante é como uma grande epidem ia perniciosa. Devemos usar das injeções preventivas antiprotestantes, inoculando nas almas a vida católica.
E deve saber-se que os protestantes fazem as suas conquistas entre os católicos ignorantes em m atéria de religião.
O Exmo. Sr. Bispo de Parma diz em sua carta pastoral sobre o protestantism o: “Herdeiros dos Mártires e soldados da Igreja m ilitante, não tem em os a heresia, nem as perseguições que prepararam sempre os m aiores triunfos e reverdeceram a árvore da fé. Tememos, às vezes, com S, Cipriano, a enervante inércia, e m ais ainda, com Tertuliano, a ignorância orgulhosa.
As épocas m ais tristes da Igreja foram sempre caracterizadas pela ignorância religiosa.
Como as trevas se dissipam vindo à luz, assim os erros se dissipam com a verdade que nasce da instrução.”
BeneficênciaDiz um provérbio popular ita lian o : “A quem
dá pão, cham arei pai.” O que vem a ser: a quem nos faz um benefício, conservamos-lhe gratidão.
Os protestantes que dispõem de ingentes m eios m ateriais, sobretudo de recursos vindos da Inglaterra e dos Estados U nidos, aproveitam a m iséria do nosso povo, m ormente em terryaos de crises como a atual. Dão pão e ganham adeptos, socorrem ao corpo e cativam as almas.
Importa, pois, tirar-lhes da mão esta arma prejudicial, ou m elhor que im peçam os o em prego dela, tirando-lhes as vítim as que são os pobres.
A DEFESA DA FE ’ 127
De que modo? Indo nós ao pobre com a verdadeira caridade cristã, que socorre aos corpos e às almas. Deveríamos im itar o exemplo de Oza- nam, que, fundando as Conferências de S. Vicentede Paulo, pretendia defender a fé com a arma da caridade. E’ de m ister opor a caridade que edifica à que destrói.
 vigilância e a Denúncia
l.° Contra a propaganda escritaOs adversários fazem propaganda escrita e oral.A propaganda escrita faz-se por meio da difusão
entre o povo com folhas, folhetos e livros.Tal gênero de propaganda se faz em quiosques,
livrarias e por meio de vendedores ambulantes.Im porta vivamente que os católicos difundam os
bons livros e cooperem na publicação de obras baratas destinadas a contrabalançar a influência das protestantes.
2° Contra a propaganda oralConvém:
a) Avisar o Pároco da chegada de conferencistas ou propagandistas de falsas doutrinas, a fim de que ele, com sua prudência, ponha em resguardo o povo confiado a seu cuidado.
b) Precaver a nossos irm ãos contra a propaganda dos hereges e dissuadir-lhes de dar o seu nome às seitas condenadas pela Santa Igreja.
c) Em preender com “caridade e prudência” a obra da reconquista, quando algum católico deu seu nome a alguma destas associações.
d) Não se deve en trar em discussões públicas: não se proíbe, contudo, a conversação privada, com espírito de caridade.
ConclusãoConsideremos a ofensa que se faz à Verdade e à
Igreja como se fora uma ofensa feita à Pátria por estes pregadores que vêm a “evangelizar”, como dizem, os povos, como se fôramos selvagens e não tivéram os uma tradição cristã de séculos que forma o nosso tesouro e o segredo de nossa unidade e da esp iritualidade das nações sul-americanas.
Í N D I C E
Sugestões práticas para uso deste livro ........... 5O Apostolado ................ 7A Ação Católica .......................................................... 11A Ação Católica é um dever ................................ 16Os dois Sacram entos da Ação Católica ........... 22O Apostolado dos Leigos no Evangelho ........... 27Apostolado dos Leigos na Igreja Prim itiva . . 33O Apostolado no Padre Nosso .......................... 39O Apostolado e Comunhão dos Santos ............. 43O Apostolado da Oração ..................................... 48O Apostolado do Exemplo ................................. 53O Apostolado do Sacrifício ................................. 57O Apostolado da Família .................................. 62O Apostolado do Meio Ambiente ...................... 66O Apostolado Catequético ................................. 710 Apostolado Pascoal ............................................ 75O Apostolado M issionário ................................. 79Apostolado em Favor da Moralidade ............... 84O Apostolado da M oralidade .......................... 890 Apostolado do Cinema ............................... 94Apostolado da Im prensa ...................................... 99O Apostolado do Livro ........................................ 104O Apostolado da Beneficência .......................... 108Sacerdócio e Ação Católica ................................ 113A Ação Católica e as Vocações Sacerdotais . . . 117A Ação Católica e a Defesa da Fé .................. 121A Defesa da Fé ..................................................... 125
LIVROS SOBRE A AÇAO CATÓLICA:
Capital e Trabalho, pelo Pe. Antônio de Morais Júnior. 184 pp. (Fechi) Broch.
A Família, o Divórcio e a Eugenia, por Mons. Vicente Martins. 228 pp. . (Farti) Broch.
Questão Social: as Encíclicas “Rerum Novarum”, “Quadragésimo Anno” e “Divini Redemptoris” em perguntas e respostas, por M. Vincent. 128 pp. (Flavo) Broch.
A Carta Pastoral de D. Leme, quando Arcebispo de Olinda-Recife, saudando os seus diocesanos. 152 pp.
(Fatu) Broch.
O Santo Sacramento do Batismo, por Frei Benvindo Destéfani O. F. M. 48 pp. (Certo) Broch.
O Santo Sacramento da Crisma, por Fei Benvindo Destéfani O. F. M. 48 pp. (Curto) Broch.
Formação de Estagiários- da Ação Católica, pelo Pe. Agnelo Rossi. (Filmi) Broch.
Apóstolos no Próprio Ambiente, pelo Mons. Luís Ci- vardi. 134 pp. (Fase) Broch.
Fundamento Bíblico e Dogmático da Ação Católica, pelo P. J. Will S. J. 150 pp. (Fabo) Broch.
Os Problemas da Ação Católica, pelo P. J. Will S. J. 168 pp. (Fossi) Broch.
O Corpo Místico de Cristo e a Ação Católica, pelo P. S. Tromp S. J. 144 pp. (Firtu) Broch.
A Ação Católica. Carta Pastoral de D. Antônio dos Santos Cabral. 32 pp. (Findu) Broch.
Pedidos à Editora Vozes Ltda.Caixa postal, 23 — Petrópolis, R. J.
Filiais: Rio — S. Paulo
Palavra telegráfica deste volume — Broch. F a s a