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MONS. LUÍS CIVAM» FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO VOZES

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MONS. LUÍS CIVAM»

FORMAÇÃO PARA O

APOSTOLADO

VOZES

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MONSENHOR LUÍS CIVARDI

Formação Para o Apostolado

Versão autorizada

de

FR. ADAUTO DE PALMAS, ,0 . F. M.

II EDIÇÃO

1948EDITORA VOZES L tda., PETRóPOLIS, R. J.

RIO DE JANEIRO — SAO PAULO

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I M P R I M A T U R POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM JOSE- PEREIRA ALVES, ADMI­NISTRADOR APOSTÓLICO DA DIOCESE DE PETRÓPOLIS. PR. MATEUS HOEPERS O. P. M. PETRÓPOLIS, 20 DE DEZEMBRO

DE 1947.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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SUGESTÕES PRÁTICASPARA USO DESTE LIVRO

Os capítulos que encerra o presente volume fo­ram elaborados com o intuito de que forneçam me­lhor entendim ento dos temas que tratam os e, con­sequentemente, induzam a um apostolado leigo mais eficiente nos diferentes campos a que se re­ferem.

Para se in ic iar no Apostolado Leigo, fazemos as seguintes sugestões:

a) D edicar quinze m inutos diários à meditação e ao estudo, a fim de se abrasar no amor de Deus e se p rep ara r para a Ação Católica.

b) A ceitar como responsabilidade pessoal o tra ­balho de se instru ir acerca do ponto de vista ca­tólico no tocante aos problem as atuais.

c) T ransm itir a outros nossas opiniões e co­nhecim entos e colaborar na formação de dirigentes e m ilitantes.

d) Ler e d iscutir a m atéria aqui exposta com um ou mais amigos e destarte engendrar planos pa­ra form ar Círculos de Estudo.

e) Solicitar o Pe. Vigário ou seu Coadjutor a que assista às reuniões, presidindo-as e dirigindo os estudos.

f) Caso não pertençam os a nenhum a organiza­ção paroquial, ingressar na que nos m elhor condiz e tom ar parte ativa nos seus trabalhos.

g) Influ ir para que a organização da qual fa­zemos parte ad ira à Ação Católica e com partilhe seu apostolado, consoante o desejo do Santo Padre.

h) E n tra r em comunicação com os dirigentes diocesanos, propondo-lhes iniciativas e pedindo-lhes oportunas diretrizes.

i) Prom over a Ação Católica, m orm ente pelo bom exemplo.

Não duvidamos que todos os católicos estão con­vencidos da necessidade de aplicar rem édio im edia­to às questões aqui abordadas; todavia o assentimen-

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« FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

to m oral apenas não é suficiente, senão que se requer decidir-se a fazer algo para procurar o progresso da Ação Católica.

Seria deveras lam entável que nos contentáram os com a simples leitura dos capítulos deste livro; é im prescindível avançarm os na p rópria santificação e colaborarm os na Ação Católica do modo que va­mos apontar. Nada de fatigante ou in tricado há no movimento regenerador da Ação Católica, antes o participarm os nela se to rnará uma das m aiores sa­tisfações de nossa vida de católicos.

Digne-se a Santíssim a Virgem, Rainha dos Após­tolos, fazer com que as presentes páginas suscitem, naqueles que as estudam, o anelo ardente de tra ­balhar na recristianização do m undo por meio da Ação Católica.

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0 APOSTOLADO

Introdução

Recordemos o episódio da cura do paralítico no Tanque das Ovelhas de Jerusalém : “Havia em torno dele grande multidão de enfermos, cegos, coxos, pa­ralíticos que aguardavam o movimento da água,” F a­zia trin ta anos que estava doente e não se pudera curar. Por quê? Porque não tinha um homem que o metesse na água quando esta era agitada pelo anjo.

Quantos enfermos da alma em roda de nós! E quantos que esperam a cura! Muitos deles podem dizer com o paralítico do Tanque: “Não tenho n in ­guém que me bote na p iscina regeneradora da gra­ça.” Em outras palavras, não encontraram o após­tolo.

Dolorosa rea lid ad e : muitos são os enfermos da alma, porém poucos as médicos e enferm eiros. Pou­cos os apóstolos no laicato católico.

Por quê?Às vezes por não se conhecerem a natureza, digni­

dade e necessidade do apostolado dos leigos.Por que tantos mem bros da Ação Católica não são

apóstolos ativos e fervorosos? Certamente porque ignoram tudo isto.

Uma vez que todos os membros de nossas associa­ções devem ser apóstolos operosos, tratarem os deste assunto do Apostolado, fazendo ver:

1. " Sua natureza.2. ° Sua dignidade.3. * Necessidade do Apostolado Leigo.

Natureza do ApostoladoQue é o apóstolo?Chama o mundo de Apóstolo o que se consagra

com entusiasmo a um ideal, a uma causa pública. Contudo não se lhe dá se esta causa é boa ou má. Daí a profanação do nome de Apóstolo quando se aplica ao propagandista de ideais falsos, aos defen­sores de causas não boas.

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8 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

0 nome de Apóstolo é sagrado, tem sua consagra­ção no Evangelho. Prega Cristo a todo o mundo em razão de querer a salvação de todos. Nada obs­tante, entre todos os seguidores de sua doutrina, es­colhe doze aos quais chamou Apóstolos. Dá-lhes uma instrução especial, dispensa-lhes um trato íntim o e familiar. P o r quê? Porque serão enviados pelo mundo a continuar a missão salvadora.

A palavra Apóstolo significa, portanto, enviado. O Apostolado é missão divina; e quem envia é Je ­sus. E’ a seus Apóstolos que Ele disse: “Assim co­mo o Pai me enviou, assim vos envio a vós.”

A que obra os envia? “Ide pelo mundo todo, pre­gai o Evangelho a toda cria tura humana. Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado.”

Logo a missão dos Apóstolos é pregar o Evange­lho, salvar as almas, conduzindo-as a seus destinos eternos.

Eis o que significa Apostolado: missão espiritual para a salvação do próximo.

Não é Apóstolo o que diz: “quero salvar-me a mim próprio”, senão o que d iz : “quero comigo sal­var os outros.” O verdadeiro Apóstolo tem sempre em mente a palavra dolorosa de Cristo m oribundo: “Tenho sede.”

Em uma palavra, Apóstolo é uma alma cristã e cristianizadora, ou, segundo uma acertada expressão de Pio X I: Apóstolo é um centro de irradiação de atividade benéfica.

Dignidade do Apostolado

Nenhuma em presa hum ana pode com parar-se com a do Apóstolo. Para conhecer sua dignidade faz-se m ister conhecer antes o valor da alma humana.

Qual é o valor da alma? 0 Sangue de Cristo Nosso Senhor: “Haveis sido resgatados não a preço de ouro ou prata, mas com o Sangue precioso de Cristo.

“Chegar à Índia, salvar uma alma e então m orrer”, exclamava o grande apóstolo S. Francisco Xavier.

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O APOSTOLADO 9

Este Santo com preendera o preço de uma alma e por isso cria que a vida estava bem empregada na salvação de uma só. Concedeu-lhe o Senhor a gra­ça de salvar uma multidão ingente.

Escreve S. D ionisio: “De todas as coisas divinas, a mais divina é cooperar com Deus na salvação de um a alma.” Obra essa que terá ressonâncias eter­nas, ao passo que as obras hum anas não u ltra­passam os lim ites do tempo.

Todavia, ao passo que se fazem sacrifícios estu­pendos e por vezes heroicos para salvar a vida cor­poral do próximo, arrostando perigo de água e fo­go — quantos são os que se expõem a estes mes­mos perigos por lograr a salvação de uma alma?

Além disso, não raro se enfrentam os m aiores r is ­cos por coisas que valem muito menos do que a saúde do p róx im o: por um prémio, pelo louvor, por uma vantagem m aterial.

Mas que se faz pela salvação de uma alma?

Necessidade do Apostolado leigo

À despeito disso, o Apostolado é dever de todos: não apenas dos sacerdotes, senão também dos lei­gos, Disse-o claram ente o P a p a : “E’ um dever de am or para com Deus, de caridade para com o pró­ximo, dever imposto pelos sacram entos do batis­mo e da confirm ação.”

Hoje é esta obrigação mais prem ente e mais ne­cessária.

Porquanto, à m edida que a sociedade, como a m iúdo o declarou S. S. Pio XI, se torna cada vez mais pagã, a intervenção do alto se faz cada vez mais insuficiente para atender à grande em presa da recristianização social.

Em prim eiro lugar, os sacerdotes são mui poucos para tam anho com etim ento; e, em segundo, em ra ­zão de seu caráter sagrado, não podem penetrar to­dos os setores da vida social, e sobretudo aqueles onde mais necessária se torna sua intervenção; em terceiro lugar o m inistério do sacerdote é, vezes sem conta, ineficaz, por estar cercado de percalços e di­ficuldades de todo gênero.

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10 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

O Apóstolo leigo deve sup rir o sacerdote, porque pode en trar ali onde não chega a ação do sacerdo­te, e pode coligir messe copiosíssim a onde este só encontra repulsão e desprezo.

À vista disso, o laicato há de ser a m ilícia auxi­lia r da Igreja, e esta m ilícia chama-se Ação Cató­lica.

Conclusão

Em vésperas de uma grande batalha, Napoleão di­rigiu-se assim a seus soldados: "Soldados, preciso de vós!” Hoje a Igreja conclama seus filhos: “F i­lhos, necessito de vós!” Mas que diferença entre am­bas essas conclam ações: Napoleão convidava a uma batalha cruenta, a Igreja convida-nos a uma luta pa­cífica; Napoleão pretendia satisfazer suas ambições pessoais, a Igreja não procura outra coisa que não a glória de Deus e o bem das almas. Custou a vitó­ria de Napoleão m ilhares de vidas, a v itória da Igre­ja dá a vida eterna a todos os remidos.

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A AÇÃO CATÓLICA

Introdução

Marchava Antíoco, rei da Síria, com poderoso exército contra Jerusalém , a Cidade Santa. Judas Macabeu, com andante dos judeus, ordenou ao povo invocasse o nome do Senhor, a fim de que ajudasse a defender a cidade, e exortou os mais valorosos “a com bater varonilm ente e a defender até a morte a Lei do Senhor, o templo, a cidade, a Pátria e os cidadãos”, ameaçados por Antíoco, m inistro de Sa­tanás, e deu aos seus como santo e senha estas pa­lavras: A V itória de Deus.

De feito, ela foi obtida gloriosamente, Deus triu n ­fou, Jerusalém e o templo salvaram-se.

Judas Macabeu e seus soldados são quais p recur­sores da Ação Católica, porquanto esta é um exér­cito, muito em bora exército pacífico. Seu santo e senha são as palavras de Pio XI: “A paz de Cristo no Reino de Cristo.” E’ um exército que, à seme­lhança daqueles judeus, não combate pelo triunfo de um povo, duma dinastia ou facção, mas pela vi­tória de Deus.

Por isso a Ação Católica é uma ação dos leigos organizada, cristianizadora e necessária.

Examinemos estes característicos.

Ação dos leigos

A Ação Católica é um campo aberto a todos os leigos, de qualquer sexo, idade ou condição. E’ tal qual a vinha evangélica em que todos são convida­dos a trabalhar; não há mais pretexto para o católi­co leigo d izer: “Ninguém nos convidou ao traba­lho”.

O Pai de Fam ílias, na pessoa de seu Representan­te na terra, chamou a todos com o convite: “Ide também vós trabalhar na m inha vinha, há campo para todos.”

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Contudo mui poucos são ainda os que atendem ao chamamento, de modo que podemos dizer com os convivas do banquete : “Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.”

Ação organizada

Feito um tratado de paz com a Inglaterra, m an­dou a Holanda cunhar uma medalha comemorativado acontecim ento; num lado representava uma jun­ta de bois acolherados sob o jugo e em posição de puxar o arado, sobreposta a eles a inscrição: “Uni­dos Somos Fortes.” Noutro lado se viam dois vasos de barro a boiar num m ar agitado, com esta le­genda: Se Nos Chocarmos, Quebraremos.”

Otimamente serve esta m edalha para elucidar to­da a organização da Ação Católica — essa que é ação organizada. Quer isto significar que os leigos nela inscritos não estão isolados e independentes, mas são como as partes de um todo, quais membros de um corpo, quais soldados dum exército.

O antigo e sem pre verdadeiro anexim : “Â União Faz a Força” aponta-nos a utilidade, eficácia e ne­cessidade da organização. Requer-se, por conseguin­te, que a Ação Católica seja em todas as Nações uma força organizada com seus núcleos paroquiais, dio­cesanos e nacionais.

Sabemos por outra parte como os maus se unem para seus em preendim entos, dispersos em muitos pontos, atuam em acordo, talqualm ente Herodes e Pilatos, quando se trata de com bater o nome de Deus e a religião de Jesus Cristo. E por que não se uniriam os bons para o bem e para defender os direitos de Deus e fazer o que é bom?

Para explicar a eficiência da organização costu- rna-se recorrer a várias comparações. A preciadíssi­ma é a das varas que, separadas, facilmente se po­dem quebrar, mas unidas em feixe não se quebram. Outra não menos evidente é a do regatozinho que, à boca da fonte, cabe perfeitam ente dentro da mão; correndo, porém, através dos campos, reúne-se a outros até converter-se numa torrente a derram ar- se pelas planícies, levando a fecundidade ou a de­solação aos campos.

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A AÇÃO CATÓLICA 13

Açfio recristíanizadora0 único fim da Ação Católica é a vinda do Reina­

do de Cristo. 0 lema que tem foi dado por Jesus Cristo mesmo: “Venha a nós o Vosso Reino”.

Os Romanos Pontífices assinalaram para a Ação Católica o programa de S. Paulo: “Restaurar todas as coisas em Cristo.” Todas as coisas, não somente as consciências individuais, mas também a família, a sociedade, em todos os seus elementos constituti­vos e em todas as suas manifestações.

Ao passar S. Bernardino de Sena por alguma c i­dade, convidava todos os habitantes a inscrever o nome de Jesus nas fachadas de suas moradias, e aceitavam o convite.

A Ação Católica quer escrever este nome em todas as coisas e em todos os corações. Cristo não deve ser um Rei encerrado no tabernáculo, nos claustros ou nas casas dos vassalos fiéis; há de reinar em todas as famílias e na sociedade inteira.

Conhecida é a lenda de S. Cristóvão, homem de estatura descomunal. Depois de haver servido a al­guns patrões tiranos, põe-se ao serviço de Cristo, dedicando-se a obras de caridade. Junto ao rio Oronte, encarrega-se de transportar aos ombros a todos que quisessem atravessar.

Duma feita se lhe apresenta um menino mui for­moso, rogando-lhe a mercê de o passar ao outro la­do. O gigante leva-o sobre os ombros, mas no meio do rio, levanta-se uma borrasca com grande perigo de vida dos dois passageiros. 0 Menino brada: “Co­ragem, Cristóvão, trazes a Cristo.”

Desde aquele dia, Adócimo — tal era seu verda­deiro nome — chamou-se Cristóvão, ou seja Cristí- fero: o que leva a Cristo. Todos os membros da Ação Católica devem ser outros tantos Cristíferos a levar a Cristo no meio da sociedade, sabendo que esta obra não se fará sem dificuldades, visto como o apostola­do cristão sempre conheceu tempestades e lutas.

Donde não olvidemos o que nos diz o Papa: “Exclusivamente depois de formarmos a Cristo den­tro de nós, poderemos facilmente comunicá-Lo à família e à sociedade.” Pois ninguém dá o que não tem, ou em outros termos, não pode ser Apóstolo quem não é bom Cristão.

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Ação necessária

Mas donde vem isto de querer reform ar cristãm en­te a sociedade? Basta ab rir os olhos para se conven­cer da necessidade desta empresa.

Uma sociedade pode dizer-se deveras cristã, quan­do nela não apenas se respeitam o símbolo da fé e o decálogo, senão quando se observam todas as leis prescritas pela Igreja, quando a moral evangélica é norm a de vida quer em público quer em particular, em casa como fora.

Será esta, porventura, a condição da sociedade m oderna?

A resposta é facil. Bastará apontar alguns fatos. Gomo se respeita, por exemplo, o nome de Deus, em certas e determ inadas regiões? Como se festejam as festas do Senhor? Como se observam as norm as de m oralidade?

Como se consideram no seio da sociedade civil as regras da justiça e da caridade para com o pró­ximo? Poder-se-á dizer que a caridade — como o exige o Mestre — é o característico de seus discí­pulos?

E a família, célula e fundam ento da sociedade, em que estado se acha entre nós? E’ verdade que ainda conserva o cunho de cristã ; como se guardam, po­rém, as virtudes que a constituem o encanto da vida fam iliar: o am or cristão, o respeito, a concórdia, a fidelidade, a obediência?

A verdade é que a sociedade m oderna, como o re ­petia o chorado Pontífice Pio XI, caiu quase em sua totalidade no paganismo e necessita recristiani- zar-se; a Ação Católica está encarregada desta ta­refa.

Por isso a Ação Católica tenciona form ar bons cristãos e bons cidadãos para o bem da Igreja e da Pátria , cujos interesses vão unidos aos daquela.

Já o disse o Santo P ad re : “O verdadeiro cristão é em virtude desta mesma condição o m elhor cida­dão, amante de sua Pátria e submisso às autoridades legalmente estabelecidas.”

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A AÇAO CATÓLICA 19

Conclusão

A história do povo judeu oferece-nos outro fato que representa adm iravelm ente a Ação Católica.

Regressando da escravidão de Babilónia, os judeus puseram-se a reconstru ir o templo e os muros da Cidade Santa. Mas os numerosos inimigos impediam- lho. Fizeram-se orações ao Senhor e os obreiros sus­tinham numa mão os instrum entos de trabalho e noutra a espada.

Hoje se trata de reed ificar a Cidade de Deus, a sociedade cristã, devastada por mais de meio século pelo laicismo descristianizador, Quem levará a ca­bo tam anho em preendim ento? Todo o povo cristão, sob a direção do Papa, dos Bispos e dos Sacerdotes.

Recordemos, todavia, o que nos aplica o Papa: “Se o Senhor não é o que edifica, em vão trabalham os que edificam a cidade.” Como os antigos judeus que levantaram o templo e a cidade, assim também nós outros invoquemos antes todo o auxílio do alto. A oração preceda a ação e então estejamos seguros de obter a vitória do Senhor.

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A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER

Não é raro ouvir, quando convidamos alguém a ingressar nas fileiras da Ação Católica: “Homessa, sou católico! Ou quer você que me faça batizar de novo ?”

Tal resposta patenteia o desconhecim ento da Ação Católica e do dever de pertencer a ela.

Que coisa seja, já o dissemos no capítulo prece­dente. Agora queremos esclarecer por que é uma obrigação da vida cristã.

A Ação Católica é:a) um dever de am or para com Deus e de ca­

ridade para com o próxim o;b) um dever imposto pelos sacram entos do Ba­

tismo e da Confirmação.São caducos, portanto, os pretextos alegados para

se exim ir desta obrigação. *

Dever de caridade

I. E m r e l a ç ã o a D e u s .A um bom filho é p róprio am ar seu pai e desejar

que todos o amem e o honrem .0 que de verdade ama a Deus não pode menos

de querer que Ele seja amado e glorificado de to­dos. Esta a razão de ser a Ação Católica um apos­tolado para a glória de Deus. Seu program a pode resum ir-se nestas palavras de S. P edro : “Que Deus seja honrado em tudo.”

Por outra parte, quem ama a Deus há de querer o que Deus quer. Pois bem, aí está S. Paulo a nos en sin ar: “A vontade de Deus é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento de Deus.

Pelo que a Ação Católica é um apostolado para a salvação das almas, ou, como ensina Pio XI, é “um cuidado da própria alma e da alma dos de­mais.”

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A ACÂO CATÓLICA E’ u m d e v e r 1?Portanto é um dever de amor de Deus; isto ressal­

ta mais claro pelo seguinte exemplo.Desceu o Redentor Divino à terra, a fim de que

todos renascessem à vida sobrenatural: “Vim para que todos tenham a vida, e a tenham em abundân­cia.” Mas também esta vida, como a vida natural, Ele não a comunica diretamente senão por intermé­dio de outros. E assim como para a transmissão da vida natural instituiu,o Matrimónio, bem assim criou o apostolado para comunicar a vida sobrenatural. Não salva Deus ao homem a não ser por meio de outros homens.

II. P a r a c o m o p r ó x i m o0 poeta Metastásio põe na boca do pagão Atílio

Régulo esta sentença “Vive inutilmente quem não vive senão para si.”

Tal palavra condena o egoísmo e estaria melhor na boca do cristão, vinculado que é pela lei evan­gélica da caridade a todos os seus semelhantes.

Cristo Nosso Senhor ordena-nos amar ao próximo como a nós mesmos. Ora, ninguém ama verdadeira­mente a si próprio, se não se preocupa por sua al­ma, como também não há quem ame em verdade a seu próximo, se não trata de o salvar.

Aliviar as necessidades corporais do próximo é um dever que todos os cristãos cumprem e prati­cam, e não há quem não se indigne ao ver a conduta dos dois viajantes passando de largo, quando encon­tram o ferido no caminho de Jericó; entretanto co­move-nos profundamente o. proceder do samaritano que dele se compadeceu e o levou à hospedaria para que fosse tratado e curado.

Mas quantas almas feridas, abandonadas, não se encontram hoje no caminho? E quantos são os bons samaritanos que se inclinam até elas para as ali­viar e salvar? Além de tudo não olvidemos que as necessidades espirituais são mais urgentes do que as corporais, pois o espirito é superior ao corpo.

Se são muitos os que cumprem com o dever da caridade material, são mui poucos, ao contrário, os que praticam a caridade espiritual; crê-se ter feito bastante com o cuidar da própria alma.Formação — 2

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18 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Fez o Senhor a Caim, após o assassínio de Abel, esta pergunta: “Onde está teu irm ão?” Respondeu Caim: “Sou eu porventura o guarda de meu irm ão?” Dirigisse Deus a mesma pergunta a cada um dos cristãos hodiernos, e retorquiriam com as palavras de Caim. Todavia, sem embargo, todos somos guar­das de nossos irmãos como no-lo dizem as Sagradas E scritu ras: “Deus a cada um deu o cargo de ter cui­dado de seu irm ão.” Não há dúvida tratar-se aqui especificam ente do cuidado espiritual.

A Ação Católica é a concretização perfeita deste dever de caridade; é o socorro piedoso às necessi­dades espirituais do próxim o; é o rem édio preven­tivo contra o tão difundido e daninho egoísmo es­piritual.

Obrigação imposta pelo Batismo e Confirmação

Pelo Batismo nos fazemos cristãos, isto é, adqui­rim os o direito de cidadania nesta sociedade que se cham a Igreja Católica.

Ora, em toda sociedade, os membros todos hão de ser ativos, não em um mesmo plano nem da mesma forma, mas todos têm de contribu ir para o m elhor bem -estar da comunidade. O que procede de en tra m aneira é um parasita vergonhoso. E às vezes esta obrigação se torna tão im periosa que exige o sacri­fício da p rópria vida.

“Pois bem — ensina Leão XIII — se a lei natural nos ordena am ar e defender a sociedade em cujo seio vimos a prim eira luz, e se todo cidadão deve dar a vida pela defesa da Pátria, m aior é o amor que todo cristão há de ter para com a Igreja. Por­que esta é a Cidade de Deus, por Ele organizada, e, mesmo peregrina em a terra, chama e guia a seus cidadãos à eterna felicidade dos Céus.”

Nalgumas associações somos sócios honorários, bastando dar o nome. E nesta grande sociedade da Igreja Católica quantos não são apenas cristãos ho­norários, que não fazem honra a seu nome de ca­tólicos. Foram batizados e seus nomes figuram no registo paroquial — mas o que fazem pela Igreja? Todos devêramos ser católicos efetivos, ou melhor, ativos. ~

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A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER 19

0 apostolado é um dever exigido mais claram en­te pelo sacram ento da Crisma.

0 Batismo faz-nos cristãos; a Crisma, soldados de Cristo. Por meio deste sacram ento que aum enta a graça santificante se nos dá a fortaleza espiritual para em punhar as arm as e suster os ataques e im ­pugnações dos inimigos.

Que é, porém, a m ilícia senão altruísm o e dom de si? Um soldado egoísta é um contra-senso; é como dizer sacerdote incrédulo, mestre ignorante, juiz injusto.

A Ação Católica é uma santa m ilícia em favor de Cristo e da Igreja; Pio XI definiu-a: “batalha santa in iciada em todas as frentes.” *

D urante a Grande Guerra houve, como todos sa­bem, soldados que em vez de com bater nas prim ei­ras linhas, como era seu dever, se quedavam em pos­tos seguros da retaguarda; deu-se-lhes o nome de Emboscados. O general Castelnau, que tanto se dis­tinguiu na guerra passada e na atualidade é presi­dente de uma grande organização católica de França, chama os católicos que se quedam na retaguarda, em lugares seguros, e que recusam en trar em luta nas fileiras da Ação Católica, de “os Emboscados da P aróquia”. Quantos Emboscados desses atrás dos soldados de Cristo!

Vãos pretextos.

Mas ninguém quer ser tachado de covarde, e daí se inventaram vãos pretextos para dissim ular a ina­ção.

Dizem uns: “Isto toca aos Padres. Cristo disse aos Apóstolos: Ide e pregai — a nós outros nos compete ser bons cristãos e não mais. De outro lado, os sa­cerdotes bastam por si sós para esta em presa de recristianização da sociedade.”

No entanto o Papa manifestou-se de mui d iferen­te modo ao declarar, m ais de uma vez, que a Ação Católica é um dever não apenas do m inistério sa­cerdotal, mas igualmente da vida cristã.

Disso já indicam os as p rincipais razões.2*

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20 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

A este propósito escreve o Cardeal Maffi: “Cris­tãos, lembrai-vos que, se nós sacerdotes somos os capitães, vós sois os soldados; mais, o êxito duma batalha deve-se à perícia e tática dos generais e igualmente ao valor e fidelidade com que cada um dos soldados sabe m anter sua posição. Quantas ba­talhas de planos estratégicos impecáveis se perde­ram, porque o último dos soldados não foi fiel ao que o arregim entara. Se assim quereis, nós outros, sacerdotes, somos as sentinelas avançadas, a Com­panhia da Morte, célebre na heroica defesa de Car- roccio, e seremos os prim eiros a enfren tar os inim i­gos de Cristo; mas vós sois a ala do exército e os que haveis de sofrer o choque dos adversários.”4 Numa das derradeiras perseguições da Polónia m ártir se narra um feito que muito faz ao nosso caso. Intentavam os invasores profanar o Taberná­culo e roubar a Sagrada Eucaristia. O sacerdote in ­terpôs-se diante dos invasores no intuito de contê- los a distância; vendo, porém, baldados todos os seus esforços, corre ao Sacrário e o protege com ambas as mãos, abraça-se a ele com todas as forças, num último recurso de defesa.

Nisso, adianta-se um cossaco e desfere furioso golpe, decepando as mãos do sacerdote; este levan­ta os cotos sangrentos e grita ao povo: “A vós cabe agora a defesa de Jesus.” Irmãos, a cena comoven­te não é insólita; m uitas vezes os sacerdotes nos sentimos de mãos truncadas e nos voltamos a vós com a intim ação: “Defendei vós a Jesus!”

Dirão outros: “A Ação Católica é uma novidade. A Igreja viveu sem ela até hoje, e atualm ente há mais fé que antes e as coisas andam m elhor.”

Repetidas vezes o Papa rebateu tal asserção in ­fundada; eis algumas de suas palavras: “Á Ação Católica não constitui linda novidade dos nossos tempos, como alguns pensam, os que não estão dis­postos a receber esta novidade e não a estimam como se deveria.”

A prim eira difusão de cristianism o fez-se m edian­te a Ação Católica e não se podia realizar de outro modo. Que teriam efetuado os Doze, perdidos na im ensidade do mundo pagão, se não houvessem cha­mado em seu auxílio os meninos, jovens, donzelas,

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A AÇAO CATÓLICA E ’ UM DEVER 21

m atronas e homens, dizendo-lhes: “Trazemos co- nosco o tesouro de Cristo, ajudai-nos a distribuí-lo.”

A Ação Católica em sua natureza, quer dizer, en­quanto é a participação dos leigos no apostolado da Jerarquia, é tão antiga como a mesma Igreja.

Para o com provar, basta o seguinte fato. Após a perseguição de Jerusalém , na qual perdeu a vida S. Estêvão, m uitos cristãos leigos foram dispersados e o livro dos Atos nos diz que “andavam dum lugar para outro, anunciando a palavra de Deus. Em An- tioquia instru íram uma multidão tão numerosa que naquela cidade se deu pela vez prim eira o nome de Cristãos aos seguidores de Cristo.”

Os Apóstolos, sacerdotes, chegaram mais tarde àquela cidade. A prim eira semeada, as prim eiras conquistas, foi trabalho de leigos.

Por onde a Ação Católica não é uma novidade; a novidade está só na forma exterior, na organiza­ção. Que há de estranhar? Quantas novidades não temos adm itido na vida ord inária! Deveremos voltar à candeia de sebo por ser uma novidade a luz elé­trica? A lei é esta: para tempos novos, novas exi­gências e novos remédios.

Conclusão

Recordemos o episódio da conversão da Sama- ritana. Depois do colóquio com Jesus, deixou o cân­taro e se foi à cidade avisar seus concidadãos: “Vin­de e vereis um homem que me disse tudo o que fiz. Não será talvez o Salvador?” E muitos vieram da cidade e creram nele pela palavra da mulher.

Aí temos um exemplo vivo do Apostolado Leigo. Prega a Sam aritana a Cristo, convertendo-se ela pró­p ria a Cristo, e por meio de seu procedim ento m ui­tos outros também.

Que visa a Ação Católica? Fazer conhecer e am ar a Cristo. E’ a continuação, através dos séculos, da obra da Sam aritana,

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OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇÃO CATÓLICA

Introdução

Em Outubro de 1933, na Catedral de Santo Estê­vão em Viena, concedeu-se, de m aneira solene, a investidura da Suprema Ordem da Milícia de Cristo ao Dr. Miklas, Presidente da República de Áustria. Depois que o Núncio, em nome do Papa, celebrou a solenidade, o novo Cavaleiro da Ordem de Cristo tomou a palavra e disse:

“Ser um verdadeiro Soldado de Cristo, ou pelo menos procurá-lo ser, deve constitu ir uma das preo­cupações de todo cristão, e esse pensamento há de an im ar todo o procedim ento seja público seja par­ticular. Por boca dos Padrinhos o prometemos no Batismo, e depois, pessoalmente c de m aneira sole­ne, na Confirmação.

No respeitante a mim, em m inha vida longa e a­torm entada, tenho buscado — digo-o com franque­za — ser um verdadeiro Soldado de Cristo. Declaro- o sem rodeios e com viva satisfação, e, embora cla­ram ente conheça minha insuficiência, faltas e de­feitos e hum anas imperfeições, espero que Deus, Juiz benigno e m isericordioso que é, nos há de per­doar.”

Com estas palavras, o Presidente federal da Áus­tria não apenas se dizia católico, mas católico m ili­tante, destarte fazendo, qual verdadeiro Soldado de Cristo, profissão solene do catolicismo m ilitante, ou seja, de Apostolado, apostolado esse que hoje tem a sua mais cabal expressão na Ação Católica.

Todavia não se contentou com isso o novo Cava­leiro de Cristo; como bom conhecedor da praxe da Igreja, indicou ainda os fundam entos dogmáticos do Apostolado Leigo, quando afirm a que todo cris­tão prom ete ser soldado rle Cristo e, portanto, Após­tolo, no momento de receber o Batismo e a Crisma. Verdade que bem poucos cristãos conhecem.

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OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÕLICA 23

Por isso queremos profundá-la mais, demons­trando sucintam ente que a Ação Católica, enquanto Apostolado Leigo, é:

1) uma obrigação do Batismo;2) uma obrigação da Crisma.

-v Obrigação do Batismo

Num subúrbio parisiense, um bom sacerdote pro­pôs num belo dia a um operário incrédulo fizesse batizar um dos filhos que estava em perigo de m or­te. “Que me im porta o vosso batismo — respondeu o operário — isso não é lá mais que uma pitada de sal na boca.”

Na generalidade, os católicos têm do Batismo um conceito um pouco m elhor do que o obreiro da nossa história. Mas onde estão os que dele têm noção exata, já em seus efeitos, já sobretudo em suas obrigações?

Uma obrigação que deriva dos efeitos do Batismo é o Apostolado.

Pelo Batismo o homem se faz filho adotivo de Deus, irmão dc todos os cristãos, membro da Igreja. Destes três efeitos emana o dever do Apostolado, como passamos a dem onstrar.

I. F i l h o A d o t i v o d e D e u sQuando se batiza um menino, renova-se a cena

milagrosa que se efetuou no dia do batismo de Jesus, às orlas do Jordão. Do céu baixou a voz do Eterno P a i: “Este é o meu filho muito amado, em o qual tenho todas as m inhas com placências.”

Parecerá exagero, nada obstante é realidade. P ro ­dígio de amor infinito.

“Admirai — escreve S. João — que prova de amor nos tem dado o Pai ao querer que nos chamemos e sejamos em verdade filhos seus.”

Poucos cristãos advertem a esta altíssima digni­dade. Bem o com preendia a cam areira da filha do Rei Luís XV da F rança; ao ser repreendida por sua senhora com estas palavras: “Não sabeis que sou fi­lha do vosso Rei?” respondeu-lhe: “E* verdade; mas eu sou filha de Deus, Rei dos Reis.”

Tão grande dignidade traz consigo uma obrigação bem defin ida: a de prom over e defender a honra de Deus. Um filho não pode considerar com olhos

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24 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

indiferentes a honra de seu pai. Se, pois, somos fi­lhos de Deus, sua glória deve-nos preocupar.

Isto posto, em que consiste o Apostolado? Em ze­lar pela honra de Deus. E que é a Ação Católica? Um Apostolado para a glória de Deus.

Pelo que é o Apostolado uma obrigação direta do Batismo.

II. I r m ã o s d e T o d o s o s C r i s t ã o s

Os filhos de um mesmo pai chamam-se irmãos. Todos os cristãos são filhos de Deus; logo, irmãos entre si.

Os prim eiros cristãos denominavam-se com o no­me dulcíssimo de Irmãos. Ainda hoje em dia a li­turgia usa esta expressão: “Orai, Irm ãos” diz-nos o sacerdote na Santa Missa.

Pois bem, entre irm ãos é coisa sagrada e natural o amor, o auxílio recíproco e a comunicação dos bens. “Tudo o meu é teu” — é a fórmula da verda­deira fraternidade. O irm ão que tem mais dá ao que menos tem; não m orre de fome um irmão enquanto ao outro fica um pedaço de pão.

E se o provérbio re z a : “Amor de irmão, amor de adversário”, é verdade só no caso de o amor dege­nerar em ódio, como a miúdo sucede.

Devem os cristãos amar-se e ajudar-se m útuam en­te como irm ãos; ajudar um ao outro nas necessida­des m ateriais e sobretudo nas espirituais. Hão de procurar que todos estejam providos dos dons do Espírito, que ninguém pereça, que todos se salvem.

“Quem está enfermo, que eu não no esteja tam ­bém? Quem se escandaliza, que me eu não abrase?” Tal palavra de S. Paulo deveria estar na boca de todo cristão.

Então, que é afinal de contas a Ação Católica? Um Apostolado para a salvação espiritual de nossos Irm ãos em Cristo.

III. M e m b r o s d a I g r e j aPelo Batismo se adquire o direito de cidadania

nesta imensa sociedade que é a Igreja Católica.Ora, não devem acaso os cidadãos sofrer e traba­

lhar pelo bem da sociedade em que nasceram ou da qual são membros, sociedade que se chama Pá-

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OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÓLICA 25

tria ou Nação? As contribuições e as responsabili­dades são diversas, segundo o posto que cada qual ocupa, mas todos estão obrigados a dar algo.

Assim o sacrificar-se pela Pátria em perigo é um dever para todos; destarte vimos como na passada guerra mundial m orreram além de oito milhões de homens para defender os direitos de suas respetivas Pátrias. Aos que então tombaram se erigiram em todas as partes monumentos de justo reconhecim en­to.

Mas os cidadãos da Igreja, os súditos de Cristo Rei, não teremos os mesmíssimos deveres para com a sociedade religiosa a que pertencem os?

Pois bem, a Ação Católica é um Apostolado para a defesa e dilatação da Igreja, ou seja, do Reino de Cristo no mundo.

Obrigação imposta pela crisma.

Mais evidente é ainda que a Ação Católica é um dever resultante do sacram ento da Confirmação.

A Crisma ou Confirmação faz-nos cristãos perfei­tos, Soldados de Cristo. Aumentando a graça, robus­tece a alma e torna-a idónea para a luta.

Deve o soldado com bater e mesmo m orrer, quan­do as circunstâncias assim o exigem. Por quem? Pela Pátria, por seus concidadãos. Não por si, mas pelos outros. A m ilícia é generosidade e sacrifício de si próprio. O soldado egoísta torna-se desertor.

O Soldado de Cristo deve lu tar e combater, e até deve estar disposto a dar a vida pela causa de Cristo e pela defesa de seu reino, a Igreja.

Eis que a Ação Católica é a m ilícia santa para defender a Cristo e a sua Igreja.

A Crisma, como o ensinam as Escrituras, consa­gra-nos para o Apostolado.

Disse o Salvador a seus Apóstolos no momento de separar-se deles para voltar ao P a i: “Recebereis a força do E spírito Santo que virá sobre vós e sereis m inhas testemunhas em Jerusalém , na Judeia e Sa- m aria e até os confins da terra .”

O Espírito Santo transform ou os Apóstolos e dis­cípulos de Cristo em testem unhas, quer dizer, em pregadores de sua doutrina.

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26 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Cumpriu-se a promessa dez dias após a Ascen­são do Salvador, no dia de Pentecostes. “Cheios do Espírito Santo, começaram a falar.” No princípio tímidos, medrosos — tinham renegado e abando­nado a Cristo — depois de receber o Espírito Santo tornaram -se valorosos heróis do nome de Cristo.

Pois bem, na Confirmação o cristão recebe o Es­pírito Santo com o cortejo de seus dons e, embora não do mesmo modo que os Apóstolos, todavia em igual medida. Logo se torna testem unha de Cristo, isto é, Apóstolo.

A Confirmação é, em razão do que se disse, o Sacramento do Apostolado Leigo, o Sacramento da Ação Católica.

Conclusão

Como explicamos, a Ação Católica é uma certa m ilícia, e ainda temos de acrescentar que é m ilícia escolhida.

Representa a m ilícia de Gedeão na luta contra os inimigos. Eram muitos os guerreiros que seguiam a Gedeão, porém o Senhor ordenou-lhe fazer uma seleção e escolher só aqueles que, ao passarem pela fonte de Harade, bebessem a água na concha da mão sem dobrar os joelhos. Apenas trezentos assim procederam , e esses foram os escolhidos.

Os soldados da Ação Católica são como os de Gedeão. Malgrado todos estejam recenseados, pela Confirmação, no exército cristão, muitos deles não possuem aptidão para esta m ilícia seleta; uns em­boscaram-se, outros desertaram para o lado dos in i­migos.

Os inscritos na Ação Católica devem prefe rir os postos avançados, pelejar na vanguarda pelo triunfo de Cristo.

Sejamos fiéis ao sinal convencionado como os trezentos de Gedeão. Deus estará conosco como es­teve com eles, e onde está Deus ali brilha a vitória.

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0 APOSTOLADO DOS LEIGOS NO EVANGELHO

Introdução

Entretanto, depois de tudo, o que se entende por Leigos?

Por vontade do Fundador divino, na Igreja de Deus há duas classes de membros: os Clérigos e os Leigos. “Clérigos chamam-se aqueles que, ao me­nos com a recepção da primeira tonsura, se dedi­caram ao serviço divino.”

Todos os demais membros se chamam Leigos, ou simplesmente Fiéis.

A Ação Católica é o Apostolado dos Leigos.No Evangelho, ao lado da pessoa adorável do

Salvador, achamos já tal distinção em grau, diga­mos, inicial. Os doze Apóstolos, chamados de ma­neira especial a seguir o Salvador, são os futuros Sacerdotes que constituirão a Jerarquia da Igreja, a parte dirigente ou docente. São os cooperadores de Cristo em virtude de eleição divina.

Contudo outras pessoas, que não foram chama­das expressamente e por isso não pertenciam à Je­rarquia nascente, auxiliaram ao Messias na obra redentora, já tornando-0 conhecido, já dando a co­nhecer a sua virtude, ou defendendo a Sua missão, ou assistindo-Lhe nas necessidades materiais. Des­te número fizeram parte muitos homens e mulheres.

Estes colaboradores voluntários de Cristo, estes generosos auxiliares da obra messiânica, são de­veras os precursores dos leigos que na atualidade constituem a Ação Católica.

Desejaríamos enumerá-los a todos mas em favor da brevidade só daremos a conhecer os principais, cujo proceder nos servirá de exemplo e estímulo.

Exemplo dos Pastores

O Apostolado Leigo principiou ao lado da man­jedoura do Salvador.

Os primeiros foram os pastores que à voz do anjo

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28 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

se puseram em caminho, cheios de entusiasmo, ex­clamando: “Vamos a Belém e vejamos o que foi que sucedeu.” Vão e chegam, admiram e adoram. Não termina aqui sua missão, porém. O Evangelista acrescenta estas palavras que merecem toda nossa atenção: “Voltaram os pastores, louvando e glorifi­cando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido. E todos os que ouviram falar ficaram pasmados sobre as coisas que os mesmos narravam.”

Duas coisas nos ensinam os pastores:1. “ 0 dever do Apostolado. Referiam a todos o

que haviam presenciado; falavam-lhes do Messias esperado, tornando-0 conhecido, glorificando-0 em particular e em público, entre os parentes e com­panheiros de ofício ou profissão. Que é tudo isto se­não genuíno Apostolado cristão?

2. ° Indicam ainda os pastores o como se prepa­rar para o Apostolado.

Donde tamanho ardor apostólico nesta gente hu­milde e ingénua? Têm o coração cheio de Jesus. E donde lhes vem esta plenitude? Do contacto que ti­veram com o mesmo Jesus.

Daí se infere que não poderemos ser verdadei­ros Apóstolos se não conhecermos e amarmos inten­samente a Jesus. E para 0 conhecer e amar, deve­mos aproximar-nos d’Ele.

Onde 0 acharemos?Em nossas igrejas, ao pé do tabernáculo. Aí está

o nosso Belém (palavra que significa Casa de Pão). Digamos, pois, com os pastores: “Vamos até Belém” — e, como eles, voltaremos dali convertidos em Apóstolos.

Testemunho dos Beneficiados

E’ muito natural que aqueles que receberam algum benefício de Jesus, sentiram a necessidade de agra­decer a seu Benfeitor, publicar-Lhe o nome e apre­sentá-Lo às turbas maravilhadas, tornando-se propa­gandistas de sua missão e grandeza, ou, por outra, fazendo-se Apóstolos. Isto sucedeu quase sempre.

Às vezes o Salvador mesmo ordenou aos que d’Ele receberam algum beneficio ficassem calados. Sabia que o povo não via n’Ele senão um rei temporal que haveria de restabelecer o trono de David; o conhe-

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O APOSTOLADO DOS LÈIGÒS 2Ô

cimento dos prodígios havia de excitar a paixão política e podia ser causa de desordens.

Todavia o espasmo chega a tal ponto que não raro as m ultidões desrespeitam a proibição de Jesus. As­sim aconteceu com a cura do surdo-mudo a quem “ordenou que o não dissesse a ninguém ; mas, quan­to mais se lhe proibia, mais o publicava.”

Outras vezes, porém, ordena o próprio Salvador aos contem plados com alguma mercê que a publi­quem ; tal sucedeu com o possesso de Gérasa. L iber­tado não de um só demónio, mas duma legião deles, prostrou-se aos pés do Senhor e, reconhecido, “co­meçou a Lhe suplicar perm itisse que ele 0 acom­panhasse. Mas Jesus não o deixou, porém lhe disse: Vai a casa dos teus e anuncia quanto o Senhor te fez e como se apiedou de ti. — E retirou-se e pôs-se a divulgar na região da Decápole quanto lhe fizera Jesus; todos ficaram m aravilhados.”

Como entra pelos olhos, este homem quis ingres­sar na escola do Mestre e segui-Lo, im pulsionado pelo agradecimento para com seu Benfeitor; mas sua petição foi indeferida. F icará no século na qua­lidade de simples Leigo. Contudo frisem os bem que o mesmo Jesus lhe ordena exercer o Apostolado entre os seus, entre os seus com patriotas que ha­viam rogado a Jesus se retirasse do territó rio que habitavam . Jesus encarrega ao homem curado de O substituir ali, propagando-0 entre os patrícios.

Vamos, pois, que todos os que tinham recebido alguma graça de Jesus se apressaram em a pagar de algum modo, fazendo conhecer e am ar a seu Ben­feitor. Quantas vezes não teriam tomado a defesa d’Ele contra os m aldizentes, arrostando as lutas e perigos, haja vista o cego de nascença que fora expulso do Sinédrio por haver sustentado a divin­dade de Jesus.

Devolver favor por favor é a m elhor forma de gratidão, e essa foi a que usaram muitos dos favo­recidos por Jesus.

Também nós recebemos d’Ele muitos benefícios, entre estes o m aior e prim eiro : a graça da fé. Pois bem. O m elhor modo de m ostrarm os o nosso re­conhecim ento é transm itir aos demais o dom rece­bido; é o que nos aconselha S. P edro : “Quais bons

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30 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

dispensadores dos múltiplos favores de Deus, cada um de nós faça os outros participarem dos dons recebidos.” Eis uma bela exortação ao Apostolado.

Um leigo taumaturgo

Deu Jesus a seus discípulos o “poder de cu rar as enferm idades >e expelir os demónios.” Os discípu­los sentiam-se orgulhosos com os êxitos obtidos. Uma feita, ao regressarem de uma missão, disseram ao Mestre muito satisfeitos: “Até os demónios se nos submetem em força de vosso nome.”

Nisso estavam equivocados, julgando que tal po­der lhes fora concedido a eles exclusivamente. As­sim ao toparem certo dia com um estranho que ex­pulsava os demónios em nome de Jesus, proibiram - lho íncontinenti.

De regresso eles para casa, disse S. João, em nome de todos, ao Salvador: “Mestre, vimos alguém, que não é dos nossos, expelir em vosso nome os demó­nios e proibim os-lho.” Jesus replicou-lhes, porém : “Não lho proibais, porquanto ninguém há que faça prodígios em meu nome e que possa falar mal de mim. Pois quem não é contra vós está do vosso lado.”

O tal indivíduo que não segue a Jesus nem faz parte do Colégio Apostólico, é um leigo. A despeito disso, expulsa os demónios em o nome de Jesus, quer dizer exerce um ofício apostólico. E o Mestre não quer que lho im peçam ; com o que aprova sua atividade.

Dois ensinam entos dá-nos aqui o Salvador:a) o Apostolado não é monopólio dos sacerdotes

ou do Clero, mas em certa m edida permite-se aos leigos;

b) os que labutam no campo do Apostolado hão de se alegrar de que outros trabalhem também e talvez com fruto mais abundante, e isto sem som­bra de ciúmes, sem espírito de rivalidade, com esta única aspiração: que Deus seja glorificado por quem quer que for. O que em verdade im porta é que o bem se faça, pouco se nos dando por quem.

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O APOSTOLADO DOS LEIGOS 31

O primeiro apostolado feminino

Em o número dos colaboradores leigos de Jesus achamos outrotanto algumas mulheres eleitas. Não pregavam nem faziam milagres, porém prestavam auxílio ao Messias e aos seus discípulos.

Relata-nos S. Lucas: “Jesus andava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando o Reino de Deus; estavam com Ele os Doze e mais algumas m ulheres que haviam sido livradas dos espíritos malignos e de enferm idades: Maria, por sobrenome Madalena, da qual foram expelidos sete demónios; Joana, mu­lher de Cusa, p rocurador de Herodes; e Susana e m uitas outras que lhe assistiam com suas posses.”

Vivia Jesus de esmolas. As ditas piedosas mu­lheres punham-Lhe à disposição seus haveres, pou­pando-Lhe dessarte a preocupação do alimento e das demais necessidades da vida.

Ora, não será esta uma forma de cooperar com Jesus, de concorrer para a propagação do Evange­lho? Não será este um verdadeiro Apostolado auxi­liar?

0 Papa considera estas santas m ulheres como as prim eiras apostolas do mundo feminino. “Vede —• diz-nos — as m ulheres reunidas em torno do Sal­vador, trabalhando com Ele e para Ele. E’ tocan­te tal m anifestação da prim eira liga de m ulheres católicas, da qual as atuais derivam .”

Uma outra mulher, que não seguiu o Salvador, fez-se eficaz propagandista d’Ele: foi a Sam aritana. Recebeu muitos favores do Senhor, que a rem iu com sua doutrina sublime, resgatando-a da servidão do pecado. Depois do colóquio junto ao Poço de Jacob, conheceu ela que seu in terlocutor era o Messias de­sejado, “largou o cântaro e correu a dizer a seus pa­tríc ios: Vinde ver um homem que me disse tudo quanto fiz. Não será Ele porventura o Cristo? — Vieram muitos da cidade c creram n’Ele por causa da palavra da m ulher que assegurava: Disse-me o quanto fiz.”

Eis uma m ulher que, à semelhança do Batista, p re­para os cam inhos do Senhor — e com que êxito!

Compraziam-se os Apóstolos em se cham ar teste­m unhas da Ressurreição do Senhor. Com efeito, a Ressurreição forma o centro das prédicas dos Após-

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32 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

tolos. Mas as primeiras testemunhas da Ressurrei­ção do Senhor foram as mulheres: Maria Madalena e suas companheiras que antemanhã foram ao Se­pulcro para ungir o Corpo do Salvador.

E o Anjo deu-lhes este encargo: “Ide e avisai os discípulos de como Ele ressurgiu dentre os mortos.” E logo o próprio Jesus aparece a elas e lhes diz: “Ide e noticiai a meus Irmãos que vou à Galiléia, onde me verão.” Podia o Senhor confiar-lhes missão mais apostólica?

Conclusão

No correr desta rápida exposição, vimos como o apostolado tem sua origem no Evangelho. Os pri­meiros representantes da Ação Católica, ação au­xiliar dos Leigos para a difusão do Reino de Cristo, viviam e trabalhavam em torno da Pessoa de Cristo. Eram homens e mulheres: Ação Católica masculina e feminina.

Compreendemos agora a dignidade da Ação Ca­tólica: é divina — não só em sua finalidade, a gló­ria de Deus, senão também em sua origem, visto que podemos considerar o Salvador pelo que a instituiu.

Demos graças ao Senhor por nos ter chamado a tão sublime vocação: somos os continuadores dos Apóstolos Leigos do Evangelho. Ainda está Cristo no meio de nós, perpetuando a sua missão redentora por intermédio do Papa, Bispos e Sacerdotes. Tor­nemo-nos dignos continuadores dos primeiros co- operadores, por nosso exemplo c abnegação.

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APOSTOLADO DOS LEIGOS NA IGREJA PRIMITIVA

Introdução

"A Ação Católica — disse o Romano Pontífice — é a renovação, a continuação do que se realizou nos prim eiros séculos da Igreja, nos dias da prim eira propagação da verdade católica.” Para nos disto convencer, basta re ler as prim eiras páginas dos es­critores eclesiásticos e as epístolas. Ali estão enu­m erados os que se fizeram colaboradores dos Após­tolos na prim eira difusão do Evangelho, os quais levaram a palavra evangélica a todas as camadas, tanto entre o povo simples como até a palácio de César.

Queremos com provar esta verdade histórica, tão a m iúdo lem brada pelo Papa, aduzindo episódios da H istória da Igreja nos tempos apostólicos. Eles dir- nos-ão que o Reino de Deus sobre a terra, a saber a. Igreja, foi fundada pelos Apóstolos com a coopera­ção dos leigos, isto é, da Ação Católica.

Precursores dos apóstolos

Os leigos foram na realidade os precursores dos Apóstolos; queremos dizer que em alguns lugares a p rim eira semente da verdade não foi semeada pelos Apóstolos, pelos representantes da Jerarquia, senão pelos leigos.

Lembramos apenas duas cidades em que o Apos­tolado da Jerarqu ia foi precedido pela obra dos lei­gos.

1." Em Antioquia.Nos atos dos Apóstolos, livro não só divinam en­

te inspirado senão de reconhecida veracidade h is­tórica, se vê que os prim eiros germes do cristian is­mo foram levados a esta cidade pelos simples fiéis. Vejamos como isto se deu.

Depois do m artírio de S. Estêvão, “levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja de Jeru-Formação — 3

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salém, e todos, excetuando-se os Apóstolos, se dis­persaram pelas regiões da Judeia e Saraaria. E os que se espalharam andaram anunciando a palavra de Deus de um lugar a outro.”

E o Livro Sagrado dá-nos algumas particu larida­des desta pregação: “Os que haviam sido disper­sados da perseguição sucedida por causa de Estêvão, chegaram à Fenícia, a Chipre e a Antioquia, e pre­gavam a palavra somente aos judeus. E estavam com eles alguns habitantes de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falavam aos gregos e pregavam-lhes o Senhor Jesus. E a mão do Senhor estava com eles, e muitos creram e converteram-se ao Senhor. Quando estas notícias chegaram à Igreja que estava em Jerusalém , enviou-se Barnabé a An­tioquia. Logo que este chegou, regozijou-se ao ver a graça do Senhor e exortou a todos perseveras­sem no Senhor com firmeza de coração.”

Chegou Barnabé, o representante da Jerarquia, para com pletar a obra começada pelos fiéis; foram estes que instru íram na fé “uma tão grande m ulti­dão, que em Antioquia foi onde pela prim eira vez se deu aos discípulos de Cristo o nome de Cristãos.” • 2.° Em Roma.

Também a Roma, onde Pedro havia de estabe­lecer para sem pre sua sede, também à Capital do m undo cristão, foi levado o cristianism o pela p ri­m eira vez pelos simples fiéis, pelos leigos da Ação Católica.

Esse fato não é historicam ente certo como para Antioquia, mas tem muitas probabilidades a seu fa­vor e admitem-no historiadores de peso, como Ho- rácio Marucchi, o qual escreve:

“Os prim eiros representantes do mundo romano que tiveram a ventura de ouvir a pregação do Evan­gelho foram alguns peregrinos de Roma, os quais, como atesta o Livro dos Atos, se achavam em Jeru ­salém no dia de Pentecostes, quando pela prim eira vez se anunciou a nova fé. E’ provável que alguns desses, quer voltando diretam ente a Roma, quer in ­diretam ente por interm édio de outros, se tornaram mensageiros da verdade evangélica na grande me­trópole. 0 mesmo pode dizer-se dos soldados da co­orte itálica da guarnição de Cesareia, onde o centu- rião Cornélio se converteu por meio do Apóstolo

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Pedro. E ainda é provável que alguns soldados daquela coorte, convertidos à fé de Cristo a exemplo do centurião, de volta a Roma, anunciaram a Boa Nova na cidade de César, form ando assim o p r i­m eiro núcleo da Igreja Romana.”

Dois esposos: Áquila e Priscila

Na Epístola aos Romanos escreve S. Paulo: “Sau­dações a Áquila e Priscila, cooperadores meus em Jesus Cristo, os quais expuseram as suas cabeças por m inha salvação.”

Estes dois esposos auxiliaram a S. Paulo na evan­gelização dos romanos, e até afrontaram perigos por esta causa. São, pois, representantes autênticos da Ação Católica, tal qual a define o Papa. Que fizeram, porém, na realidade para serem citados na ordem do dia entre os Apóstolos de Roma?

A esta curiosidade, aliás legítima, respondem os Livros Sagrados. Áquila e P riscila viviam em Roma, donde foram expulsos por edito do im perador Cláu­dio, en tre os anos 49 e 50, em virtude do qual foram expulsos todos os hebreus. Em igrando para Corinto, encontraram ali a Paulo, “o qual foi viver em sua com panhia.”

Reuniam-se em sua casa os cristãos de Éfeso, pois daí escreve S. Paulo aos fiéis de C orin to : “Saúdam-vos muito no Senhor Áquila e P riscila com a Igreja de sua casa, dos quais sou hóspede.”

Para com preender o sentido desta expressão “i­greja dom éstica”, convém recordar que naqueles tempos os cristãos não tinham ainda edifícios para a celebração dos m istérios divinos, que se celebra­vam em casa de particulares. Destarte a casa destes dois santos esposos era o lugar de reunião dos cristãos de Éfeso.

Nesta populosa cidade, Áquila e P riscila se to r­naram propagandistas da religião cristã, e um fruto notável de sua pregação foi Apoio, que se tornou um dos mais valiosos cooperadores de S. Paulo.

Como lemos no Livro dos Atos, era Apoio um ju­deu, homem eloquente e versado nas Santas E scri­turas. Possuía algumas noções acerca do cristian is­mo, mas não era batizado ainda. Isso não obstante, anim ado de zelo pela religião de Cristo, pôs-se a pre-

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gá-la ná sinagoga, exemplo sublime de apostolado leigo. Tendo-o ouvido Áquila e Priscila, verificaram que era eloquente, mas tinha uma instrução religio­sa insuficiente, razão por que o tom aram consigo e lhe expuseram m inuciosam ente toda a doutrina cristã. Assim instruído, Apoio anunciou a Cristo em Éfeso, em Corinto e nas outras cidades, a respeito do que nota S. Lucas: “foi de grande vantagem aos que haviam crido, pois com grande destemor con­vencia os judeus, provando com as Escrituras que Jesus era o Messias.”

O êxito obtido por este leigo foi tal que alguns cristãos o igualaram a Pedro e Paulo.

No início do reinado de Nero, abolido o decreto de Cláudio, voltaram Áquila e P riscila a Roma e sua casa veio a ser, como em Éfeso, o lugar de reunião dos cristãos, e mais tarde teve a honra e distinção de abrigar mais uma vez a S. Paulo.

Outros cooperadores de São Paulo

Até agora lembramos três cooperadores leigos de S. Paulo, mas nos Atos e nas Epístolas há menção de outros não menos im portantes. Citaremos alguns deles.

Ao term inar a carta aos Romanos, o Apóstolo es­creve: “Recomendo-vos a nossa irm ã Febe, que es­tá no serviço da Igreja de Cêncris, para que a rece­bais no Senhor, de um modo digno dos Santos, e a ajudeis em toda coisa que de vós p recisar; porquan­to ela assistiu a muitos, e a mim em particu lar.”

Comum ente se crê que se ela encarregou de le­var a carta do Apóstolo aos romanos e daí a reco­m endação de acolherem-na e assistirem -na como a uma pessoa estrangeira e benem érita da Igreja.

Diz-se ainda que está no serviço da Igreja, ou seja, que é diaconisa. Tais eram cham adas naqueles tempos algumas piedosas m ulheres que exerciam na Igreja m inistérios de caridade espiritual e tem po­ra l: instruíam os catecúmenos, preparavam -nos pa­ra o batismo, presidiam à reunião das m ulheres na igreja, etc. Eram portanto, como se vê, m ulheres de Ação Católica.

Febe era diaconisa e tinha servido não só a m ui­tos cristãos, mas também ao próprio S. Paulo.

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Ao louvor dispensado a Febe segue um a lista de vinte e quatro nomes, encabeçados po r Áquila e P riscila , com o pedido aos cristãos de Roma que os saúdem em nome do Apóstolo uma vez que se tra ta de seus colaboradores que com ele trabalha­ram no Senhor.

Aos cristãos de Tessalonica, hoje Salonica, S. Paulo escreve estas significativas p a lav ras: “Tor­nastes-vos im itadores nossos e do Senhor, de modo que viestes a ser modelo para todos os fiéis da Ma- cedônia e da Acaia. Pois p o r meio de vós divulgou- se a palavra de Deus não só na Macedônia e na Acaia, mas por toda parte se propagou a fé em Deus, de m aneira que não temos necessidade de falar-vos disso.”

Os tessalonicenses tinham praticado estas duas formas de aposto lado: a do exemplo e da palavra. D ifundiram a palavra de Deus nas regiões circunvi­zinhas ao ponto de S. Paulo poder declarar, com evidente e benévolo encarecim ento, que sua prega­ção era ali supérflua.

O fato explica-se assim : Tessalonica era um porto muito frequentado pelos estrangeiros e seus habi­tantes viviam em contato contínuo com os de ou­tras regiões por causa do comércio. Os cristãos de Tessalonica aproveitaram -se destas circunstâncias para divulgar o cristianism o entre aqueles com quem m antinham relações comerciais.

Este é o apostolado do próprio meio, tão recom en­dado pela Ação Católica a seus membros que estão obrigados a viver e trabalhar entre os povos pagãos.

Queremos reco rdar uma passagem da carta aos fi- lipenses, na qual temos também uma exortação ao apostolado dos leigos. Ei-la: “Ajuda àqueles que tra ­balharam comigo no apostolado do Evangelho”, e acrescenta que por isto “os seus nomes estão escri­tos no livro da vida” .

Ao form ular Pio XI a definição que se tornou clás­sica da Ação Católica, inspirou-se nas palavras do Apóstolo que acabamos de citar. Falando, aos 12 de Março, aos sem inaristas que haviam seguido os cu r­sos da Ação Católica, observou que esta é verdadei­ram ente apostólica, visto como acom panhou os p ri­m eiros apóstolos, e acrescenta: “Quando S. Paulo em suas cartas elogia os que trabalham com ele na

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evangelização, falando das m ulheres e dos leigos, parece de feito p reparar a definição da Ação Ca­tólica que é participação dos leigos no apostolado jerárquico da Igreja. Não fez o Papa outra coisa se­não repetir o que há muito tempo já o dissera o Apóstolo.”

Conclusão

Pio XI deu a razão por que a Ação Católica sur­giu juntam ente com o cristianism o. “Que teriam podido fazer os doze, o eco de suas palavras, per­didos na im ensidade do mundo, se não tivessem so­licitado o auxílio dos leigos, homens, mulheres, an­ciãos, meninos, dizendo-lhes a todos: “Levamos o tesouro de Deus, ajudai-nos a distribuí-lo.”

Pois bem ; nestes tempos de paganismo renascente, os sacerdotes não são suficientes para a grande em­presa do apostolado, precisam de colaboradores lei­gos, necessitam da Ação Católica.

Oxalá que todos os que militam em suas fileiras sejam dignos colaboradores dos apóstolos, inflam a­dos do espírito de conquista, a fim de que seus no­mes estejam também escritos no livro da vida.

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0 APOSTOLADO NO PADRE NOSSO

Introdução

Conta-se que um belo dia caiu nas mãos de Ale­xandre Severo um pergam inho no qual estava escrito o Padre Nosso. Apenas o im perador o leu, quedou profundam ente comovido e perguntou quem era o autor daquela oração. Quando soube que era de Cristo Nazareno, quis levantar-Lhe uma estátua no santuário doméstico, ao lado dos deuses tutelares.

Este im perador pagão dá oportuna lição a m ui­tos cristãos que diariam ente repetem a divina pre­ce sem dar atenção ao sentido profundo e às ver­dades substanciais que se nela contêm.

Escreve Tertuliano que “o Padre-Nosso é o resu­mo de todo o Evangelho.”

Desta forma, o apostolado é uma das grandes ver­dades contidas na oração dominical. Chamou-a por isso Pio XI de “ fórmula sublime do apostolado cristão.”

Vamos p rofundar um pouco esta verdade, consi­derando como o dever do apostolado está contido im plicitam ente em todo o Padre Nosso; expiicita- mente no prelúdio, na prim eira parte e na segunda.

No prelúdio

Começa a oração dom inical com este prelúdio solene: “Padre Nosso, que estais no céu.” Palavras excelsas, encerrando as mais sublimes verdades.

Os hebreus adoravam e invocavam Javé como Senhor, C riador e Juiz, não como Pai; em razão dis­so o Antigo Testamento infunde tem or e não amor.

Um exemplo: Quando Deus chamou Moisés ao cume da m ontanha para lhe entregar a lei, ordenou que o povo se não acercasse do monte. Durante o colóquio de Deus com Moisés, ouvia o povo os tro­vões e via os relâmpagos e como o monte parecia arder. A terrados e cheios de espanto diziam todos a

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Moisés: “Fala-nos tu e te escutaremos, mas não nos fale o Senhor para que não m orram os.”

Eis, porém, que vem o Messias e suprim e a dis­tância que separava a Deus dos homens, revelando- lhes a paternidade divina. Vezes sem conta ouvimos dos lábios do Divino Mestre esta palavra dulcíssima de Pai aplicada a Deus.

Quando, pois, um dos discípulos lhe pediu: “Mes­tre, ensina-nos a o ra r”, Ele d isse : Quando orardes, dizei: “Padre Nosso”, não digais Senhor, nem Deus, nem Criador, mas Pai.

Somos, portanto, seus filhos. Ora, todo filho deve defender a honra do Pai. Por conseguinte havemos de defender a honra de Deus nosso Pai. E que outra coisa é a Ação Católica senão um Apostolado pela glória de Deus?

Diz o Salvador: Padre Nosso! — Esta palavra Nosso, que ricos ensinam entos não encerra!

Não quer Jesus que digamos Padre Meu, pois em torno de nós há outros que têm igual direito de cha­m ar a Deus com aquele nome, porque todos são seus filhos.

E se todos dizemos com igual direito P adre Nos­so, segue daí que todos somos irmãos.

Se todos somos irmãos, havemos de nos ajudar uns aos outros nas necessidades m ateriais e espi­rituais.

Mas, que é o Apostolado senão um socorro às ne­cessidades espirituais de nossos próxim os? .

Sem contestação, desde o preâm bulo o Padre Nos­so ensina o dever do Apostolado.

Ao preâm bulo segue o corpo da Oração que com­preende duas partes em que se com pendia tudo quanto devemos pedir ao Senhor.

Primeira Parte

Contém a prim eira parte três petições que faze­mos como filhos de Deus; todas as três insinuam o dever do Apostolado pela Glória de Deus.

Nelas pedim os: “Santificado seja o Vosso Nome. Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa von­tade assim na terra como no céu.”

E’ isto o que querem os? Desejamo-lo sinceram ente?Com efeito. Não fora assim, e nossa oração seria

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uma ironia e um insulto sacrílego. E isto se não pode adm itir.

Nesta suposição, todos desejamos que o Nome de Deus seja santificado por todos, que seu Reino se estenda por todo o universo, que sua vontade se cum pra na terra por todos os homens, com res­peito às suas leis divinas, como a cum prem no céu os anjos e os santos.

Contudo para lograr estes fins se requer que todos trabalhem os com todas as nossas forças para os conseguir.

Pois como desejar que venha o Reino de Deus, e não trabalhar por que se dilate cada vez mais?

Não seria isto um sentim ento vão, uma oração injuriosa?

E’ necessário, portanto, harm onizar o procedim en­to com as palavras do Padre Nosso, ou seja exercer o Apostolado.

Por isso a Ação Católica é um Apostolado pela glória de Deus e está em perfeito acordo com o Padre Nosso. E mesmo ao parecer ingressar no campo político, sempre visa a concretizar esta peti­ção que se tornou o lema da Ação Católica: “Venha a nós o Vosso Reino.”

Frequentes vezes o santo Dom Bosco se avistou com pessoas políticas para lhes relem brar os d irei­tos da Igreja conculcados pelos governos anticleri- cais. Aos que estranhavam o seu proceder e o acusa­vam de fazer política, costumava responder: “A m i­nha Política é a do Padre Nosso. Nele pedimos todos os dias que a nós venha o Reino do Pai celeste, que se estenda e que se faça sempre mais poderoso.” Eis o que exclusivamente procura Dom Bosco, quer na igreja quer diante da petizada do Oratório ou na presença dos homens públicos.

Esta Política do Padre Nosso é a que deve exe­cutar todo católico.

Segunda Parte

Na segunda parte do Padre Nosso fazemos quatro pedidos, considerando-nos irmãos de todos os nos­sos próximos. Daí nossa prece resulta num Aposto­lado pela salvação de todos eles.

Pedim os a Deus as seguintes quatro coisas: “O pfio nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as

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nossas dívidas, assim como nós perdoam os aos nos­sos devedores. Não nos deixeis cair em tentação. Mas livrai-nos do mal.”

Então para quem oramos? Só para nós? Não, cer­tamente, senão por todos, pois a fórmula da oração está na construção p lural: “dai-nos, perdoai-nos” — e n ã o : dai-me, perdoai-me.

Quantos ensinam entos não derivam desta p a rti­cularidade!

Recorda-nos que não estamos isolados no mundo, mas que muitos outros nos rodeiam que são nossos irm ãos; que entre irm ãos a solidariedade é coisa sagrada e obrigatório o auxílio mútuo, e que por is­so devemos o rar por todos e zelar pelo bem de todos.

Aqui está a reprovação im plicita da piedade egoís­ta que únicam ente pensa nas necessidades pessoais, querendo convergir a vista de Deus unicam ente para si e considerando-se como que o centro do universo.

Inquestionàvelm ente é o Padre Nosso a condena­ção do individualism o religioso que se tantas vezes encontra nas pessoas religiosas e que é a negação p rática do Apostolado. 0 Padre Nosso é deveras uma prece católica, pois tem em vista não apenas as nos­sas precisões particulares, senão a glória de Deus e o bem -estar do próximo.

Não faltam os iludidos que d izem : “Cristo impôs o dever do Apostolado aos sacerdotes e não aos lei­gos” : afirm ação desfeita pelo Padre Nosso que é para todos, assim leigos como Padres, e no qual ve­mos expresso o dever geral do Apostolado.

Conclusão

Certa vez entrou uma noviça na cela de Santa Teresinha do Menino Jesus e quedou-se m aravilha­da ante a expressão celestial da Santa. “Em que está pensando?” — perguntou a noviça. Respondeu- lhe a S an ta : “Estava refletindo sobre o Padre Nos­so, pois nada há mais doce do que cham ar a Deus: Padre Nosso” — e dos olhos da Santa brotavam lá­grimas de comoção.

Meditemos também nós outros, uma por uma, as petições do Padre Nosso, e sentirem os acender-se- nos no peito a chama do Apostolado.

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O APOSTOLADO E A COMUNHÃO DOS SANTOS

Introdução

Ao rezar cada dia o Creio em Deus Padre, os cristãos repetem as palavras: “Creio na Comunhão dos Santos.” Todavia quantos são os que com preen­dem o sentido deste dogma consolador e adm irável? Quantos conhecem os deveres que dele derivam ? Quantos o levam em consideração na vida prática?

Infelizmente pouquíssim os; e, sem embargo, é um dogma fundam ental na vida cristã. Dele emanam obrigações im portantes, especialmente o de carida­de m aterial e espiritual para com o próxim o e, de m aneira singular, o do Apostolado da Ação Católica, o que passamos a dem onstrar.

O corpo Místico de Cristo

A Igreja de Cristo assemelha-se a um exército composto de três grandes divisões: a Igreja T riun­fante, composta dos santos e bem -aventurados, a Igreja padecente, composta das benditas almas do purgatório, e a Igreja Militante, da qual fazem p ar­te os cristãos que pelejam cá na terra pela conquis­ta do céu.

E ntre todos estes membros — do céu, do purgató­rio e da te rra — circula uma correnteza poderosa, uma adm irável com unhão dos bens, intim idades de vida,- solidariedade de interesses. E ntre os membros das três com unidades, efetua-se um intercâm bio de bens, um verdadeiro comunismo espiritual, o mais belo e o único possível.

Nisto consiste o dogma da Comunhão dos Santos, ou seja a com unidade de bens e interesses entre to­dos os cristãos santificados pela graça, A palavra Santo aqui se toma em seu sentido mais amplo, a saber, enquanto designa os que são santificados pela graça divina.

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Melhor não se pode explicar este dogma da Comu­nhão dos Santos do que pela semelhança que usa o apóstolo S. Paulo e que lhe era mui grata: seme­lhança de um corpo, cuja Cabeça é Cristo e cujos membros somos nós. “Como em um corpo — diz o Apóstolo — temos muitos membros e destes cada um tem seu ofício, de modo igual somos muitos no Cor­po de Cristo e Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.”

Nossa incorporação em Cristo realiza-se pelo ba­tism o: “Todos somos balizados num mesmo esp í­rito para form arm os um só Corpo.”

Pelo batismo somos incorporados neste corpo Mís­tico que é a Igreja e do qual todo cristão é como uma célula vivente. A sem elhança paulina do corpo torna facilmente compreensível o dogma da Comu­nhão dos Santos, contudo não põe em relevo algu­mas consequências práticas que ora vamos salientar.

Membros unidos e ativos

Todo corpo vivo reclam a unidade de vida. Uma só alma vivifica todos os membros do organismo, um mesmo sangue circula por todos eles.

Ora, todos os cristãos, como se disse, são células viventes de Cristo; todos estão unidos sob a di­reção da cabeça, Cristo; todos formam um só cor­po, a Igreja. Hão de viver, portanto, na mais es­tre ita união, na mais íntim a fraternidade.

Não significa isto que há completa igualdade en­tre todos os membros da Igreja. Assim como no cor­po orgânico há m ultiplicidade e diversidade de membros, de igual m eneira sucede na Igreja.

Ademais em todo -organismo encontram os un i­versalidade de ação. Cada um dos membros é a ti­vo e passivo ao mesmo tempo. Exem plificando: a vista ilum ina e guia os pés, e estes levam a vista a se pôr em contato com os diversos objetos.

Da mesma sorte no Corpo Místico, nenhum mem­bro pode perm anecer passivo e receptivo somente: todo membro há de receber e dar. Quer isto dizer que todo cristão há de fazer algo pela glória de Deus e a salvação das almas, ou, em outras palavras, há de ser apóstolo. Bem como recebe do tesouro da Igreja, assim deve con tribu ir para o mesmo.

Eis como o dogma da Comunhão dos Santos é a

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condenação do egoísm o espiritual, do individualis­mo religioso, no qual não raro incidem as almas de vista curta e espírito estreito.

Compreender e viver este dogma é consagrar-se a um santo Apostolado.

Sem dúvida nenhuma, um dos Santos que m elhor com preendeu e viveu este dogma da Comunhão dos Santos foi Santa Teresinha do Menino Jesus, a tal ponto que se bem pode dizer que lhe toda a v ida es­teve animada e orientada por este dogma a lhe di­latar o coração na confiança e caridade, alargando os horizontes até os extrem os lim ites e derrubando as barreiras do egoísm o separatista.

“Quero ser filha da Igreja”, costumava repetir a hum ilde carm elita que, a exem plo de sua Superiora, quis morrer com o verdadeira filha da Igreja. Em­bora enclausurada num convento, não perm anecia alheia a nenhuma necessidade da Igreja.

“Amar a Jesus e salvar as almas” foi o seu ideal, pelo qual viveu, se m ortificou e morreu. Durante a última doença, a enferm eira que dela cuidava lhe aconselhou um passeiozinho diário no jardim do convento, conselho aceito com o se ordem fora. Ven­do-a uma Irmã andar com grande esforço, observou- lhe: “Nestas condições m elhor seria repousar, pois o passeio não pode trazer proveito visto que lhe m ín­gua as forças.” “E’ verdade — respondeu a Santa — mas sabe V. Reverência o que me anima a padecer? Caminho em favor de um m issionário, penso com o em terras longínquas ele se cansa e extenua nas suas jornadas apostólicas, e assim ofereço as m inhas fa­digas a Deus para dim inuir as suas.”

E não se extinguiu com a vida seu fervor apos­tólico; no leito da morte pronuncia estas palavras que são com o o seu testam ento; “Quero passar meu céu, fazendo o bem sobre a terra.”

Destarte a hum ilde religiosa continua lá do céu a servir a grande causa da Comunhão dos Santos.

Membros solidários

Em todo corpo, seja qual for, existe solidariedade de interesses entre todos os membros, Q que sign i­fica que o bem-estar ou o mau estado de um o é igualm ente de todos. “Se um membro padece — es-

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creve S. Paulo — todos os membros padecem ; se um se alegra, todos se regozijam,” Verdade experi­m ental m erece m elhor refletida.

O bem -estar de um dos membros é o bem-estar de todos eles. Recordemos a alocução de Menênio Agripa ao povo de Roma, quando este estava reuni­do no Monte Sacro para protestar contra a nobreza. “Os membros — dizia o cônsul —- conjuraram -se du­ma feita contra o estômago, porque este tudo tomava para si: mas bem depressa deixaram-se convencer que da saúde dele dependia a de todos, e tornaram ao costume antigo.”

De outro lado, se o estômago quisera guardar todo o alimento para si e não o d istribu ir aos demais mem bros se prejud icaria a si mesmo e aos demais. Todos os outros membros sofreriam de atrofia, e ele de h ipertrofia.

Por onde se vê que há verdadeira comunicação entre todos os membros do corpo.

O mesmo acontece em todo organismo social, mor- mente na Igreja, Corpo Místico de Cristo. Escreve S. Paulo a esse resp e ito : “Não há desunião entre os membros do corpo, senão que uns cuidam dos outros.”

Comprazia-se por isso S. João Crisóstomo em recordar, nas suas pregações, o dogma da Comunhão dos Santos e o dever do Apostolado que dele deri­va. “0 proveito pessoal — soía repetir — resulta do bem-estar dos demais e viceversa.” Por isso mesmo dispôs Deus que estejamos em dependência uns dos outros.

Igualmente é certo que o mal de um dos membros redunda em prejuízo de todos. Sofre o estômago e disso todo o organismo se ressente; uma simples dor dos molares paralisa toda atividade.

E assim como existe uma mútua com passividade en tre todos os membros, assim também há entre eles um a providência recíproca para a defesa dos m a­les.

Acerca disso escreve S. João Crisóstom o: “Nas ocorrências tristes, os membros unem-se mais inti- m am ente entre si e vemos que, se um espinho se no pé nos fincou, todo o corpo fica preocupado: o dorso curva-se, as mãos vão em busca do membro afetado, os olhos pesquisam com desvelo e solicitu-

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de. Bem assim zelemos uns pelos outros e se um membro padece, apiadem-se dele os demais.”

0 último pensamento do Santo Doutor é de evi­dência crista lina: se um membro padece, todos os outros sofrem com ele, pois de caso contrário so­brevirá a atrofia ou a paralisia.

Neste espírito vivia o Apóstolo quando exclama: “Quem está enfermo para que eu não sofra com ele? Quem se escandaliza para que me eu não abrase?”

S. Francisco de Assis, conforme refere S. Boaven- tura, “chorava e soluçava amargamente ao ver as almas rem idas com o Sangue de Jesus m anchadas com o pecado.”

Num belo dia em que estava absorto em oração, na igreja de Santa Maria dos Anjos, apareceu-lhe Nosso Senhor acom panhado da Virgem Santíssima e dos anjos e disse-lhe: “Pede-me tudo quanto de­sejas para ti e para tua Ordem !” Respondeu o Santo: “Peço-vos, Senhor, que todos os que entrarem nesta igreja, após terem confessado os pecados ao pé do sacerdote, recebam o perdão tanto de suas culpas como também do castigo por elas m erecido.”

Esta é a origem da indulgência cham ada da Por- ciúncula, ou do perdão de S. Francisco.

Quão bem S. Francisco com preendeu e viveu o dogma da Comunhão dos Santos! Como não con­trasta seu zelo pelas almas com o nosso desinteresse!

Conclusão

E esta indiferença nossa faz-nos recordar outra sentença de S. João Crisóstomo: “Não há frieza mais perniciosa do que a do cristão que se não preo­cupa pela salvação de seus irm ãos.”

Sentença essa muito verdadeira e que condena os cristãos que crêem na Comunhão dos Santos e vi­vem no mais intransigente egoísmo.

A Ação Católica é a execução prática deste dogma que é a base da vida cristã. Ufanemo-nos de perten­cer a ela; mas não nos contentem os com ser mem­bros passivos. A frase de Crisóstomo acim a citada dá-nos que refletir e estimula-nos para esta m ilícia do Apostolado.

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0 APOSTOLADO DA ORAÇÃO

Introdução

O Apostolado, ou seja o meio de salvar as almas, pode exercitar-se de m uitas m aneiras: pela ação, pe­la palavra, pela im prensa, pelo exemplo, etc. Contudo o prim eiro meio insubstituível é a Oração.

Existe já uma obra benem érita que se propõe o emprego deste meio e se cham a “Apostolado da Oração”. Muitos de vós estareis inscritos nele e ou­tros desejais fazê-lo.

Indiscutível é que todos os católicos, e especial­mente os m ilitantes da Ação Católica, devem p ra­ticar de um ou outro modo este Apostolado, cuja facilidade, poder e necessidade tencionam os es­clarecer.

Necessidade

Digamo-lo sem receio: o Apostolado é impossível sem a oração.

Por quê?a) Porque nada é possível sem o auxílio divino

que se obtém por meio da o ração : “Sem mim nada podeis fazer.” E frisemos como o Salvador diz que mesmo nada podemos fazer sem Ele. Portanto, nem pouco nem muito.

b) Muito menos se poderão salvar as almas; pois que a Ação Católica, com ser em inentem ente sobre­natural, exige meios da mesma natureza. A conversão de almas é obra da graça, pelo que nos diz o Salva­dor: “Ninguém pode v ir a mim, se lhe meu Pai não der a graça.

Um dia em que o grande conquistador de almas que era S. Domingos se angustiava ao ver o re­duzido núm ero de suas conquistas, não obstante seus grandes desvelos, ouviu estas palavras: Semeias mas não em vão.” Entendeu o Santo perfeitam ente o sen­tido desta advertência vinda do céu, e incontinente redobrou suas orações.

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O APOSTOLADO DA ORAÇÂ0 49

De fato o Apóstolo é tal qual um lavrador: abre o sulco e lança nele a boa semente; mas, se não vier auxílio do céu, não conseguirá o grão m edrar. Or­valho celeste é a graça, todavia só a oração pode ab rir os céus e fazê-lo descer.

Ensinou Jesus Cristo a necessidade da oração não apenas com palavras senão também pelo exemplo.

Antes de in iciar seu Apostolado, preparou-se para ele com a oração durante quarenta dias. D urante os três anos de sua vida pública vemo-Lo percorrer a Palestina, pregando, operando milagres, mas tam­bém orando. Antes de escolher os Doze passou a noi­te em oração, e do mesmo modo procedia antes de ob rar alguns de seus milagres, p. ex., a ressurreição de Lázaro.

Com isto nos ensina que todas as ressurreições, seja da alma seja do corpo, são milagres de Deus e que portanto exigem a oração.

PoderA oração não é só necessária, mas também pode­

rosa.Quase diríam os que é onipotente, porquanto põe

a onipotência divina ao serviço de nossa debilidade.E’ Jesus quem nos diz: “Tudo o que ao meu Pai

pedirdes pela Oração, Ele conceder-vos-á.”Se a oração, pois, é tão poderosa, quanto mais o

não será quando pede o que é do sumo agrado do Pai, a conversão dos pecadores? Não foi acaso para isto que do céu desceu o Salvador e m orreu numa cruz?

A oração é um meio do Apostolado mais poderoso do que o heroismo, a eloquência e os próprios m ila­gres. Estes podem, é verdade, causar adm iração; mas, desacom panhados da graça do Senhor que pe­netra os corações, perm anecem estéreis, não con­vencem, não convertem. Disto temos exemplos de sobra no Evangelho e na História.

Ainda há pouco lembrávamos a ressurreição de Lázaro. Houve alguma vez milagre mais convincen­te? Nada obstante os judeus não se converteram pre­senciando-o, antes enfureceram-se ainda mais contra o Salvador. E é de notar que tinham conhecimento do milagre, pois d iz iam : “Que faremos, visto que este homem faz muitos prodígios?” Apesar de tudo,Formação — 4

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50 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

desde aquele instante os preocupava um só pensa­m ento: m atar a Jesus e a Lázaro: “D eliberaram dar a m orte a Lázaro, porque muitos por causa dele se apartavam dos judeus e seguiam a Jesus.”

Por ocasião da morte do Salvador a natureza se comoveu, o sol se escureceu, a te rra trem eu e os mortos ressuscitaram . “E vendo o que havia sucedi­do, o centurião glorificou a Deus e disse: Certamen­te este homem era um justo. — E toda a multidão que presenciou o espetáculo e via o que estava su­cedendo, voltou para a cidade, batendo no peito .”

A que se devem estas conversões? Únicamente às ocorrências milagrosas?

Em parte se a elas devem, porém antes de mais nada à oração de Cristo agonizante, que Ele fez por seus verdugos.

Facilidade

Com ser tão necessário e poderoso o Apostolado da Oração, é ao mesmo tempo fácil para todos. Real­mente é fácil para todos e, por isso mesmo, obri­gatório para todos. “Nem todos os demais Apostola­dos são para todos — disse-o Pio XI — e onde não há possibilidade tampouco há obrigações. Mas todos podem exercer o Apostolado da Oração, pois todos podem orar.”

Podem o rar os doutos e os ignorantes; os ricos e os pobres; adultos, bem como crianças que apenas chegaram ao uso da razão.

Uma m enina de sete anos ouve falar de um grande pecador, condenado à m orte e im penitente. Propõe- se a salvá-lo com suas orações e tem o pressentim en­to de que o alcançará. Pede ao Senhor um sinal que obtém. Às vésperas da execução lê nos diários que o condenado beijou três vezes o Crucifixo.

Esta m enina era Santa Teresinha do Menino Jesus.Diz a lenda que um pregador de quaresm a gaba­

va-se muito do grande êxito de seus sermões e Nosso Senhor fez-lhe conhecer que o fruto se não devia à sua pregação, mas às preces de hum ilde irm ão lei­go que o acom panhava como servidor. Este, en­quanto o Padre pregava, ficava a um canto rogando ao Senhor abençoasse as palavras de seu irm ão de hábito.

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O APOSTOLADO DA ORAÇAO 51

Quem não poderá fazer o que fez a religiosa do Carmelo e o leigo da lenda?

Por outra parte, à diferença dos outros aposto­lados, o da Oração é possível sem pre e em todo lu­gar.

Uma alma apostólica nunca está desocupada; se não pode trabalhar e falar, certam ente pode orar.

Bastas vezes se torna impossível dar um bom con­selho a uma alma, mais ignorante que perversa, que se extraviou da senda da salvação. Pois bem, ore­mos por ela; se não podemos falar aos pecadores sobre Deus, falemos com Deus sobre os pecadores. E lucrarem os muitíssimo, ainda que nos não seja dado conhecer o sucesso de nosso Apostolado de Oração.

A quem devemos atribu ir a conversão de S. Paulo? À milagrosa aparição de Cristo no cam inho de Da­masco? Não; mas à oração de Santo Estêvão, o qual, ao ser lapidado, “dobrou os joelhos e bradou em alta voz: Senhor, não lhes leveis em conta este pe­cado.” E também orou pelo jovem Paulo, “que deu consentim ento à m orte do m ártir” , e guardava as vestes dos que o apedrejavam.

Conclusão

Ante a realidade inegável destes fatos, devemos confessar que não temos usado bastantem ente esta arm a poderosa da Oração; temos dem asiada con­fiança no poder dos meios humanos, nos recursos m ateriais. Daí nosso trabalho foi tão infrutuoso c estéril. Havemos portanto de m udar de rumo, se queremos conseguir a meta.

Para term inar, vou referir um episódio da vida de Dom Bosco; dá-nos a chave de sua prodigiosa ativi­dade apostólica.

Aos 8 de Dezembro de 1841, sublimado já à digni­dade sacerdotal, na sacristia da igreja de S. F ran­cisco de Assis, em Turim , encontrou-se com um m enino enfermo que não sabia nem sequer fazer o sinal da cruz. Cheio de compaixão se ofereceu para o instru ir, e o jovem aceitou a oferta satisfeito. Antes de in ic iar sua instrução, Dom Bosco põe-se de joelhos e reza a Ave Maria, a fim de que o Senhor lhe conceda salvar aquela alma. “Esta Ave Maria,

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52 FORMAÇÃO PARA Õ APOSTOLADO

unida à boa intenção do Santo, foi sobrem aneira fecunda”, conta-nos o biógrafo do Santo.

Ao term inar a instrução, presenteou o Santo seu aluno im provisado com uma m edalha da SS. Vir­gem e fê-lo prom eter que voltaria o domingo se­guinte; enfim, o despediu com grande afabilidade. Voltou o m enino, mas não já a sós senão com mais cinco rapazinhos mal vestidinhos como ele. À fre­quência ainda aumentou no domingo seguinte.

Eis a origem do prim eiro Oratório de Dom Bosco, semente dim inuta que se converteu, como o grão de m ostarda do Evangelho, em árvore frondosa. A obra dos Oratórios começou, como todas as obras do santo, com uma prece à SS. Virgem.

A exemplo de Dom Bosco, temos de p rincip iar toda obra de apostolado com a oração antes que pe­la ação. E’ o único expediente para se obter êxito duradouro.

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0 APOSTOLADO DO EXEMPLO

Introdução

Um senhor um tanto descrente acercou-se um dia para escutar o Cura de Ars, que dava aula de catecis­mo. Mas como a voz do m estre fosse débil, e ele, de outro lado, se achava algo distante e rodeado de m uita gente, quase nada pôde ouvir. Não via senão o rosto radiante do pregador, seus gestos suaves, seu porte devoto; contudo saiu da igreja enternecido e transform ado, exaltando a santidade do hum ilde Pá­roco: “Não o ouvi, mas vi-o — dizia — e isto me basta.”

Estas palavras nos patenteiam o poder e a eficácia do bom exemplo que, em verdade, é um dos p rin c i­pais meios do Apostolado. Para com provar esta ver­dade, sirva-nos o modo de proceder de Nossa Se­nhor e dos prim eiros cristãos.

Eficácia deste apostolado

Já o disseram os antigos: “As palavras comovem, os exemplos arrastam .” E’ inegável que as obras têm mais força persuasiva do que as palavras.

Mais fácil é converter um pecador com a p rá­tica da virtude do que com a pregação. E isto por várias razões:

a) Antes de mais nada porque o exemplo fala aos olhos, quer dizer, se faz mais sensível. E’ nossa expe­riência co tid iana: o que entra pelos olhos como­ve-nos mais profundam ente do que tudo quanto percebem os pelo ouvido. 0 exemplo é uma lição in ­tuitiva.

b) 0 exemplo é como a linguagem muda de pes­soa convencida; é coisa sabida que a convicção gera convicção, como o pranto as lágrimas.

c) Porque o bom exemplo equivale a um suave convite, a uma exortação sem palavras que se a ou­trem faz espontaneam ente, não se arvorando o

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94 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

adm oestador em mestre ou juiz, nem ofendendo a suscetibilidade alheia, mas deixando a todos a liber­dade que lhes tão cara é.

A par de eficaz, o Apostolado do exemplo é fácil.Nem todos sabem exercer o Apostolado da pala­

vra; mas todos, mesmo os ignorantes e iletrados, po­dem pregar com o bom exemplo.

De outro lado esta é uma pregação que todos com­preendem , todos, ainda que surdos de corpo ou de espirito, ainda que não queiram ou não possam ou­vir e aos quais qualquer outra pregação seria inefi­ciente.

Que é que motivou a conversão de S. Agosti­nho?

Indubitàvelm ente influíram muito em seu esp íri­to os sermões de S. Ainbrósio que o fizeram co­nhecer a verdade do cristianism o. Mas não foram suficientes. Era m ister rom per as cadeias de uma união ilegítima, e Agostinho não se sentia capaz pa­ra isto. Admirava a castidade, desejava-a ardente­mente, mas não se resolvia a praticá-la. Dizia ao Senhor: “Dai-me a continência e a castidade, mas não de repente.” “Pois — diz-nos ele próprio — temia ser atendido mui prestes e sarado de um mo­mento a outro da enferm idade da concupiscência.”

Olhando entretanto ao redor, via jovens, donzelas, meninos e anciãos que guardavam perfeita observân­cia da castidade. De súbito perguntou entre s i: “0 que estes e estas podem, por que o não hei de poder também eu?” E com a graça de Deus superou os ímpetos da carne.

Assim, pois, no espírito deste orgulhoso professor de Retórica puderam mais os exemplos dos sim­ples que a palavra de exímio orador. Esta iluminou a inteligência; aqueles, porém, dobraram a vontade.

Como Cristo exerceu este apostolado

Jesus é o Mestre, e Ele mesmo compraz-se em se assim cham ar: Intitulais-m e a mim Mestre e Se­nhor, e dizeis bem, pois realm ente o sou.”

Isto posto, como ensinou Cristo? Prim eiro com o exemplo do que com a palavra. “Começou a fazer e a ensinar.” T rin ta anos a fio seu único Apostolado foi o exemplo.

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O APOSTOLADO DO EXEMPLO 55

Com muita justeza pôde dizer a seus discípulos: “Dei-vos o exemplo, a fim de que também vós fa­çais o mesmo.”

Exemplo de hum ildade, caridade, virtudes que formam a substância de sua doutrina.

Ordenou ainda aos seus exercitassem o magisté­rio do exem plo: “Que a vossa luz resplandeça diante dos homens para que, considerando as vossas boas obras, glorifiquem ao Pai que está nos céus.”

Devemos irrad iar, portanto, a luz das boas obras, não para glória própria, senão para a honra de Deus. Com efeito, vendo os homens as obras que p ra ti­camos, sentir-se-ão estimulados a imitá-las e com isso darão glória a Deus.

Como o praticaram os primeiros Cristãos

Como discípulos de Cristo e instruídos por Ele, os prim eiros cristãos com preenderam e im itaram o exemplo de seu Divino Mestre. Que luz abundante de verdade e de bondade difundiram no mundo pagão, mais com o exemplo do que pelas palavras!

O apologista Tertuliano, que viveu no II século, diz-nos que os pagãos ficavam como encantados ao ver os exemplos de caridade que davam os cristãos, virtude empolgante e desconhecida dos pagãos, e exclamavam adm irados: “Vede como os cristãos se amam uns aos outros!”

Ao lado da caridade adm iravam neles também a fortaleza ao enfren tar os perigos e até a própria morte antes de tra ir a fé. O filósofo S. Justino chegou ao cristianism o movido pelo exemplo que davam os seus adeptos. Num dos seus escritos, en­dereçado ao im perador Antonino Pio para defender os cristãos das incrim inações que lhes faziam os pa­gãos, confessa o seguinte: “Eu mesmo, quando ainda me alimentava com as máximas de Platão, ao ver acusar os cristãos e ao vê-los afrontar com destemor a morte e toda sorte de suplícios, raciocinava que era impossível que tal gente vivesse na iniquidade e no amor dos sentidos.”

E até hoje em dia — perdoem-me — não existem acaso desconfianças contra a Igreja e a religião de Cristo? A isso, que resposta mais convincente do

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56 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

que a nossa conduta cristã, nossa fé inquebrantável e nossa fidelidade às promessas do batismo?

Hoje como ontem, as melhores conquistas são as do exemplo. Quantas almas atorm entadas pela des­ventura ou escravizadas ao respeito humano, não voltaram ao bom cam inho graças ao exemplo de um cristão verdadeiro!

Frederico Ozanam, o grande fundador das Con­ferências de S. Vicente de Paulo, quando estudante da Universidade de Paris, sentiu-se assaltado pelas dúvidas contra a fé, parecendo-lhe ela não concor­dar com os resultados da ciência. Sua alma de cató­lico vacila. Fortalecido fica, porém, com o exemplo de um bom cristão e notável homem de ciência: Ampère. “Um dia — refere o mesmo Ozanam — cheio de tristeza e abatim ento entrei na igreja de S. Estêvão do Monte, para alegrar o espírito. Esta­va a igreja quase vazia e silenciosa, só aqui e ali al­gumas pessoas oravam diante das relíquias de S. Genoveva. A um canto estava um homem mergu­lhado em profunda m editação; acerquei-me dele e reconheci Ampère hum ilhado diante da divina p re ­sença. Passado algum tempo, retirei-m e intim am ente comovido e mais unido a Deus.”

ConclusãoO bom exemplo conquista as almas não só para a

prática da religião, senão para o Apostolado.Conquistar novos sócios para a Ação Católica são

as diretrizes traçadas pelo supremo Jerarca, tal é o desejo do Papa. Contudo qualquer esforço será bal­dado se estiver separado do exemplo de uma vida cristã íntegra.

Para justificar a inércia e a indolência costu­mam alguns dizer: “Os m ilitantes da Ação Cató­lica são como os demais.”

Dos sacerdotes e de todos os que exercem o Apos­tolado exige-se uma conduta superior à comum.

Com toda razão: ser m elhor do que os outros não é para nós ambição, mas dever, pois é a condi­ção de conquistar almas para Cristo e soldados para a Ação Católica.

Também nós outros, como Cristo e os prim eiros cristãos, havemos de com eçar pela ação para ensinar depois.

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0 APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO

Introdução

Nos capítulos anteriores vimos como o Apostola­do da oração e do exemplo são eficazes e necessá­rios; ao alcance de todos e para todos obrigatórios.

Além destes ainda existe outro Apostolado acessí­vel a todos e não menos eficaz: falamos do Aposto­lado do Sacrifício e do Sofrimento.

0 sacrifício é a grande lei que, depois do peca­do original, Deus promulgou para toda a hum ani­dade. Nada de grande se faz, depois da Sexta-feira do Calvário, que não seja assinalado com o sofrim en­to.

Desta lei não está isenta a obra mais sublime que o homem pode levar a cabo em cooperação com Deus: a salvação das almas. 0 Apostolado, portanto, requer sacrifício, ou m elhor é ele mesmo um cons­tante sacrificio.

E vice-versa: o sacrifício é apostolado, isto é, um meio de salvar almas, e mesmo podemos acrescen­tar que é o meio soberano.

Esta é a verdade que agora queremos deslindar: a eficácia superior do Apostolado do Sacrificio e sua possibilidade universal.

Eficácia do apostolado do SacrifícioEscrevia S. Teresinha do Menino Jesus a um Mis­

sionário estas palavras cheias de sabedoria evan­gélica: “Desde que o Rei Divino hasteou o pendão da Cruz, todos devemos com bater e ganhar vitórias à sombra deste lábaro glorioso. Alegrai-vos, pois, de que o princíp io do vosso Apostolado se caracteriza pelo sinal da Cruz, pelo sofrim ento e pela persegui­ção, mais do que por brilhantes pregações, porque é com aqueles que o Senhor quer consolidar seu reino nas almas.”

Donde, porém, brota esta prodigiosa fecundida­de apostólica do sacrifício?

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58 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Das fontes que vamos enum erar.1. ° — 0 que vale cu s ta : e o sacrifício vale mais

que todos os outros apostolados, porque custa mais e porque exige maiores esforços à vontade.

Orar, escrever, falar — não são coisas que re­pugnem à natureza, bem que exijam algum esforço. Mas sacrificar-se significa ir contra a correnteza, porquanto o homem criado para a felicidade sente repugnância natural pela dor.

Desta forma, quando o homem vence a natureza e afronta o sacrifício, oferece a Deus o mais p re­cioso e agradável holocausto.

2. " — 0 que afasta o homem de Deus é o pecado e o pecado é o gozo ilícito, o prazer abusivo.

A reparação que satisfaz a justiça divina e resta­belece o equilíbrio destruído pelo pecado será o que há de mais oposto ao prazer: a dor que se transfor­ma em penitência.

0 padecim ento é a moeda com que se resgatam as almas escravizadas sob o jugo do pecado, e todo homem, por benigna concessão do Senhor, pode res­gatar com esta moeda não só a p rópria alma, se­não ainda a dos outros.

3. ° — Todo ato de Apostolado é uma cooperação à obra redentora de Cristo. Todavia esta redenção culm inou na cruz. “Quando eu for levantado da te r­ra, a tra ire i tudo a mim”, disse o Redentor, falando do sacrifício da Cruz. E assim se cum priu. E assim canta a Igreja: com a sua m orte Ele devolveu a vida a todos os homens.

Por conseguinte mais unidos estaremos à obra redentora de Cristo, quando nos sacrificarm os pela salvação das almas.

Maria SS., Co-redentora do gênero humano, es­tava junto de Cristo ao pé da C ruz: “Estava junto à Cruz de Jesus, Maria, sua Mãe.” Também nós ou­tros seremos co-redentores quando, a exemplo de Maria, perm anecerm os ao pé da Cruz de Jesus, com­partilhando suas dores p a ra salvar as almas.

Possibilidade universal do sacrifícioVisto que a lei do sofrim ento é universal, o Apos­

tolado do sofrim ento há de ser possível a todos.Quem não padece algo? E quem não pode oferecer

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O APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 59

algum sacrifício em expiação de seus pecados e pela salvação dos outros?

Quando algum dos outros apostolados se nos to rna impossível, sem pre nos será possível o Apostolado da dor. 0 que está enfermo não pode trabalhar nem falar, até a mesma oração se lhe to rna penosa; con­tudo sofre e na dor tem uma fonte inexaurível de m erecim entos para si e para os dem ais; fonte tanto mais copiosa, quanto maiores os sofrimentos. O po­der espiritual do sofrim ento aum enta à m edida que minguam as forças m ateriais, de modo que o pacien­te pode apropriar-se das palavras de S. Paulo Após­tolo: “Então é que sou mais forte, quando estou mais fraco.”

Eva Lavallière, célebre estrela do teatro parisien ­se, converteu-se para se fazer m issionária enferm ei­ra na África; teve contudo que abandènar o cam po de seu apostolado, por se ver acom etida de uma doença incurável. Ao despedir-se do Mons. Lemaitre, Arcebispo de Cartago, d isse : “Vim à África para ser­v ir os outros; agora sou eu quem necessito o auxí­lio deles. Tornei-m e um ser inútil para as Missões.”

“Não diga tal — respondeu com gravidade o Sr. Arcebispo; — muito ao invés, sua obra m issionária não term inou, apenas vai começar. Sua vida será uma dor continuada, mas não desanim e; assim a Sra. realizará da m aneira mais sublime o ideal m is­sionário. Será uma hóstia viva e poderá do leito, transform ado em altar, oferecer-se como vítim a pela conversão do m undo muçulmano.”

Inspirando-se no conceito da fecundidade apos­tólica da dor, a União M issionária do Clero estabe­leceu para cada ano, por ocasião da festa de Pen­tecostes, a Campanha do Sofrimento em prol das Missões. Os prom otores desta prática deveriam de ter pensado nas palavras de S. Bernadete Soubirous, a vidente de Lourdes; acom etida de grave doença que a inabilitou para todo trabalho, respondia aos que lhe perguntavam o que fazia no convento: “Fa­ço de enferm a.”

Nobilíssimo ofício, alta missão de Apostolado! Pois a enferm idade oferecida a Deus transform a-se em poderoso instrum ento de salvação.

Só no Paraíso poderem os com preender quanto bem fizeram nossos m issionários e quantas almas

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60 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

salvaram em virtude dos padecim entos dos enfer­mos, os quais são os mais eficazes colaboradores de Cristo, porque estão mais perto da Cruz.

4.° — Escreveu alguém que a dor é a m aior força m oral do mundo, sentença que perfilham os plena­m ente; todavia temos de lam entar que para muitos esta força seja completamente desconhecida e esté­ril.

As nossas m ontanhas são regadas de águas lim pís­simas que correm das alturas para os vales. Condu­zidas por canais, mercê da indústria do homem, es­tas águas movem poderosas turbinas que geram enorme quantidade de força elétrica; esta, transpor­tada às cidades e centros industriais, p resta servi­ços incontáveis à hum anidade.

Ora, toda a te rra está banhada e irrigada de to r­rentes de lágrimas. Quanta força não poderia bro tar destas fontes! Quantos benefícios para o mundo es­piritual!

Mas, talqualm ente a m aior parte das águas da m ontanha descem até às planícies sem ser utilizadas, também lágrim as sem conta derramam-se debalde. Quantas energias perdidas para a eternidade!

Conclusão

Antes de term inar, volvamos os pensam entos a Li- sieux, à cela de Santa Teresinha, cuja vida foi toda um Apostolado de oração e de sofrimentos.

Sua irm ã Celina com unicara-lhe a dolorosa notí­cia da grave enferm idade do pai. Com o coração transido de dor, mas com os olhos serenos de quem tudo contempla à luz da fé, responde a Santa: “Ce­lina, longe de lam entar-nos por esta cruz que o Se­nhor nos envia, não posso com preender o am or in ­finito que o levou a tratar-nos assim. Muito há de am ar o Senhor a nosso bom pai, visto que o sujei­ta a tal provação. E que delícias ser hum ilhado com Ele! A nossa provação é uma m ina de ouro que te­mos de explorar.”

Desses m inérios, quantos não já o Senhor nos preparou! Nossa vida de cada dia está juncada de dor, de m ortificação, de sacrifício, e podemos ofe­recê-los não só com resignação, mas até com alegria, como a hum ilde carm elita de Lisieux. Não deixe-

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- Õ APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 61

mos cair em terra os preciosíssim os grãozinhos des­te ouro que o Senhor recebe em suas mãos como sa­tisfação de nossas dívidas.

Contudo não apenas para satisfazer as nossas dí­vidas pessoais, senão também as de nossos irmãos. Devemos tornar-nos apóstolos do Sacrifício, de mo­do especial como sócios da Ação Católica.

Santa Teresinha ensina-nos também este dever, quando term ina a carta a sua irm ã com esta reco­m endação: “Ofereçamos nossos sacrifícios a Jesus pela salvação das almas.”

O convite dirige-se a nós. Aceitemo-lo como leina de nossa vida. •

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O APOSTOLADO DA FAMÍLIA

No apostolado da Ação Católica ocupa lugar de re­levo o da Fam ília, o Apostolado pela recristianiza- ção dos lares.

Devemos todos trabalhar por que Cristo reine na Fam ília, e é natural que esta obra comece pela nossa p rópria fam ília; a isto estamos obrigados pela Ca­ridade.

E’ em S. Paulo que encontram os a seguinte frase que nos muito faz refle tir: “Se alguém não cuida dos seus, e particularm ente dos de sua casa, renegou a fé e é p ior do que um infiel.” E aqui não fala o apóstolo só do cuidado m aterial, mas também do es­piritual.

Portanto devemos interessar-nos por aqueles de nossos próxim os que mais perto estão de nós: que vivem debaixo de um mesmo teto conosco, se sen­tam à mesma mesa e estão unidos a nós pelos víncu­los do sangue e a quem chamamos nossos parentes.

Disto todos estão convencidos. Como, porém, exercer o apostolado fam iliar em favor de nossa Fa­m ília?

Pela palavra e pela ação: por meio das orações feitas em favor dos que nos são chegados, por meio de caridosas exortações e, finalmente, pelo exemplo das virtudes cristãs.

Oração

Quem não terá em casa, ou entre os seus paren­tes, algum enfermo de alma, algum que vive no aban­dono, ou descuidando dos seus deveres religiosos?

E’ m ister curá-lo, buscar-lhe um médico que o atenda em sua enferm idade. E que outro médico mais sábio e poderoso senão Jesus?

Talvez em nossa casa, ou seja entre os membros de nossa família, contamos com algum que perdeu a vida sobrenatural, que não pratica a religião. Feliz­mente Cristo é um Médico singular que não apenas sabe curar os enfermos, mas também ressuscitar os mortos. Invoquemo-Lo como a Irm ã de Lázaro e su-

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O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 63

pliquemos-Lhe que devolva a vida àquele a quemamamos.

E’ certo que ressuscitar um a alma é mais difícil do que ressuscitar um corpo, pois a alm a que é li­vre pode opor resistência à obra divina. Por isso asressurreições espirituais quase nunca são repentinas, instantâneas, como a ressurreição dos corpos. E por isso é indispensável que a nossa oração seja perse­verante; uma vez que perseverarm os, obteremos a vitória, porquanto nada é impossível a Deus.

Quantas lágrim as e preces não custou a Mônica a conversão de S. Agostinho! “Chorava ela — assim nos conta o próprio filho — mais do que as outras mães choram a morte corporal de seus filhos, e suas lágrim as corriam até a te rra ; depois orava.” Um dia a Santa apresentou-se ao Sr. Bispo, homem douto e santo, para lhe rogar que chamasse Agostinho e procurasse apartá-lo dos cam inhos maus que anda­va. Mas ele respondeu-lhe: “Deixe-o e encomende-o a Deus, pois não pode acontecer que pereça um filho de tantas lágrim as.”

Palavras proféticas. As lágrim as e orações de Mô­nica deram à Igreja um Santo e um Mestre universal.

A exortação

Mas não basta falar a Deus na oração; é preciso falar também com aquele por quem oramos. E esta é a segunda poderosa arm a do Apostolado fam iliar: a exortação. Em se tratando dos membros da famí­lia, o emprego deste meio é mais fácil e eficaz.

Mais fácil; pois quantos ensejos não se apresen­tam na vida fam iliar para dizer um a boa palavra, em tempo propício, quando os corações estão mais dispostos para receber a boa semente!

Mais eficaz; porquanto fala a voz do coração e do sangue. Como resistir a ela? Como suspeitar in tu i­tos interesseiros na voz do coração?

Não contava ainda S. Tomás de Aquino vinte anos de idade, quando seus irm ãos e parentes o encarceraram no castelo de Rocasseca por te r ves­tido o hábito de S. Domingos. O pai tencionava fazer dele um glorioso cavaleiro de im pério e um poderoso abade de Montecassino, jamais, porém, um

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frade m endicante. Para o dem over de seu propósi­to, lançaram mão de violências e até das mais ver­gonhosas tram as contra a castidade do jovem. Tudo em vão. Recorrem então à lei do sangue. O que não puderam lograr a violência e a sedução, consegui­ria o amor das irmãs, que se puseram a d issuadir seu irm ão com argumentos humanos. Mas, por fim, fo­ram elas vencidas, pois Tomás falou-lhes com tal convicção da vaidade do mundo, da beleza da vida religiosa, das recom pensas eternas, que uma das irm ãs se fez monja beneditina, e a segunda viveu piedosam ente no século, acom panhando com suas orações ao irm ão em sua ascensão às alturas da ciên­cia e da santidade.

Eis o fruto do Apostolado fam iliar.Tais frutos encontram os no p róprio Evangelho.

Pedro, o prim eiro Papa, p o r quem foi conquistado para Jesus? Por seu irm ão André.

ExemploEntretanto, neste Apostolado fam iliar, como em

qualquer outro, convém sem pre pôr de acordo as palavras com as obras; quer isto dizer que a exor­tação irá acom panhada do exemplo da virtude, espe­cialm ente daquelas que são o adorno da vida fami­lia r: a caridade generosa, o espírito de sacrifício, a paciência.

“Toda árvore boa produz frutos bons.” Se, pois, a religião de Cristo é uma árvore boa, como andam os a pregar, mostremo-lo pelos frutos das boas obras; esta dem onstração de fato, esta apologia, esta lição continua do exemplo, operará m aravilhosas conver­sões no santuário doméstico.

Célebre tornou-se a conversão de Clodoveu, Rei de França, pagão casado com uma nobre cristã, S. Clotildc. Uniu-se esta àquele pagão com o único desejo de fazer cristão o m arido e com ele a nação gaulesa. Como concretizar este plano tão audaz? Fa­lando a Deus sobre o m arido e dando a conhecer a este, nos colóquios íntimos, a beleza da religião de Cristo. O Rei, todavia, não parecia adm irar-se nem comover-se. E depois que Clotilde lhe narrou a Pai­xão e morte do Redentor, o Rei, que só acreditava no domínio da força bruta, empinou-se qual cavalo de encontro a um obstáculo no cam inho: um Deus preso, morto e vencido, jam ais seria seu Deus.

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O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 65

Nada obstante, no ânim o rude e conquistador do Soberano vai operando um a m udança silenciosa a v irtude da esposa, particularm ente sua terna b ran ­dura e inalterável paciência. Deve ser um Deus ex­trao rd inário o que produz sem elhantes prodígios de v irtude; um Deus m aior do que os que adoram os pagãos, pois qual das damas de palácio é igual a sua esposa? Aos poucos se vai insinuando no cora­ção do M onarca uma certa sim patia pelo Deus de Clotilde; num belo dia de renhida batalha, Clodoveu orou assim : “0 ’ Deus de Clotilde, se me deres a vi­tória, eu me darei a ti.” Venceu e deu-se a Cristo.

Na festa do Natal de 496, antes de derram ar S. Remígio a água batism al sobre a cabeça do feroz Monarca, lhe disse: “Inclina a cabeça; queim a o que adoraste e adora o que queim aste.” A nação dos gau­leses seguiu o exemplo do rei e tornou-se a filha p r i­mogénita da Igreja.

Exemplo m aravilhoso do Apostolado fam iliar, exercido pelo exemplo, pela oração e admoestação.

ConclusãoMandaram um dia Marta e Maria dizer ao Senhor

que o irm ão delas, Lázaro, a quem Ele amava, estava doente. Jesus, contudo, chegou a Betânia, quando Lázaro já estava morto. Ao ver o Salvador, Marta disse chorando: “Senhor, se estiveras aqui, meu ir ­mão não m orrera.” Respondeu-lhe o Senhor simples­m ente: “Teu irm ão ressuscitará. Eu sou a ressurrei­ção e a vida.” E no mesmo dia o com provou pelos fatos: à ordem do Salvador, o m orto saiu da sepul­tura.

No caso de ca ir enfermo algum membro de nossa família, im itam os o exemplo das irm ãs de Betânia, oramos, chamamos a Jesus em nosso auxílio. Faze­mos, porém, outro tanto, quando se tra ta de enfer­m idade espiritual?

Jesus é a ressurreição e a vida não só do corpo, mas também da alma. Já o invocamos alguma vez como Médico dos que padecem em espírito?

Que fizemos até hoje nós outros, dedicados ao Apostolado, pela salvação dos que nos estão unidos pelos vínculos do sangue?

Impõe-se um sério exame de consciência, um a re­tificação em nosso procedim ento.Formação — 5

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0 APOSTOLADO DO MEIO AMBIENTE

Introdução

Quando se diz aos leigos que hão de praticar o Apostolado, alguns assustam-se porque dele formam um conceito exagerado. Imaginam que para ser apóstolo se requer a atividade prodigiosa de um S. Paulo, a eloquência de um Crisóstomo, a sabedoria de um Agostinho, o amor abrasado de um S. Fran­cisco de Assis, a graça m ilagrosa de um Dom Bosco. E daí inferem logicam ente a seguinte conclusão: coisa nobre e sublime é o Apostolado, mas não para nós que carecem os de capacidade e de tempo.

Esta conclusão é um erro perigosíssim o, visto com o o Apostolado é um dever que a todos incum be e igualmente está ao alcance de todos. Existem , é verdade, formas de Apostolado que não são possíveis a todos; mas outras há que todos podem exercer e desenvolver, como o Apostolado no seio da fam ília do qual acabamos de falar, bem como o Apostolado do m eio am biente, do qual vamos tratar, consideran­do :

a) em que ele consiste,b) como é fácil e eficiente,c) por que m eios se pode exercitar.

Em que consiste

Vivem os em contato não apenas com os nossos parentes, senão também com muitas outras pessoas, com as quais estamos relacionados em razão de nos­sa profissão, ocupações, interesses, etc.

N isso, o Apostolado do m eio am biente consiste em fazer bem àquelas almas com que temos de con ­viver e que se encontram nas mesmas condições de vida ou de ocupação.

E’ o Apostolado do operário pelo operário, do pro­fissional pelo colega, do estudante pelo condiscípulo, da mãe de fam ília em favor de outras mães.

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E’ ainda o Apostolado que com m aior insistência recom endou o Papa aos membros da Ação Católica: é o “ponto vital”, como ele o chama. Lemos com efei­to na encíclica Q u a d r a g é s i m o A r m o : “Os prim eiros im ediatos apóstolos dos operários são os operários; os apóstolos dos industriais e com erciários serão os industriais e com erciários.”

Todo membro da Ação Católica, homem, mulher, os jovens e as senhorinhas, devem, portanto, ser m is­sionários conquistadores de almas; a conquista far- se-á, antes de mais nada, no meio em que se desen­rola nosso viver. ■

Como se explica a rápida difusão do cristianism o no meio das nações pagãs? Fator im portantíssim o desta rápida expansão foi incontestàvelm ente o Apos­tolado do m eio ambiente, exercido pelos prim eiros fiéis, animados ainda de zelo incontido de conquista. Onde quer que houvesse um cristão se formavam co­m unidades de cristãos, seja na palhoça do pobre, seja no palácio de César, na loja do com erciante, na residência do magistrado, sob a tenda do soldado.

Em vista disso já no segundo século podia Ter- tuliano dizer: “Somos de ontem e já tudo tomamos: cidades e aldeias, teatros e palácios, o senado e o foro; apenas os tem plos dos deuses vos deixam os.”

Tomando em consideração que a Igreja, que esta­va, então, encarcerada, não tinha tem plos onde os fiéis se pudessem reunir, m elhor se com preenderá o m ilagroso daquela difusão, pois convém não esque­cer que os cristãos daqueles tempos eram todos apóstolos.

Apostolado fácil e eficazQue requer? Grande amor a Deus e ao próxim o. E’

quanto basta.Um corpo cálido com unica seu calor a quanto se

põe em contato com ele; de igual m aneira a alma do apóstolo, abrasada pelo amor de Deus, irradia espontâneam ente luz e calor em seu redor e ilum i­na a quantos estão a seu lado.

E se até agora não nos preocupam os com as al­mas que estão a nosso lado, deitem os a culpa ao nosso descuido e à nossa negligência.

No dia seguinte de sua conversão S. Agostinho deixou a cátedra de Retórica em Milão e retirou-se 5*

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à solidão de Casíaco em com panhia de alguns ami­gos não cristãos ainda. E ali, naquela solidão, se deu ao estudo, à oração e ao apostolado. A chama que abrasava o coração de Agostinho queria in fla­má-lo todo. Um dia chegará a ser tão poderosa que inflam e o mundo inteiro. Mas ele, entretanto, quer abrasar o coração de seus amigos que vivem com ele na solidão: Alípio, Nebrídio e Verecundo, os quais, enfim , se fazem cristãos.

Exem plo admirável do apostolado de um sim ples leigo no m eio ambiente.

Em verdade, esta forma de apostolado é possível a todos, sempre e em toda parte.

a ) P o s s í v e l a t o d o sQuem não pode dizer uma boa palavra ao ami­

go, ao com panheiro? Quem não pode aconselhá-lo ou apartá-lo de um cam inho perigoso? Requerer-se-á para isto ter estudado muito ou ser mui eloquente?

b ) E ’ p o s s í v e l s e m p r e0 sacerdote prega, ordinàriam ente, nos dias de

festa; nós outros podem os fazê-lo a todo m omento e com aqueles que não vão à igreja e que, por isto m es­mo, têm mais necessidade de escutar a verdade.

c) P o s s í v e l e m t o d a p a r t e0 sacerdote não pode entrar em certos m eios on­

de mais se requer sua ação benéfica. Os leigos, em razão mesmo de sua profissão, encontram -se disse­m inados em todos os lugares e ali podem irradiar a luz de seu cristian ism o: no campo, na oficina, na universidade e no colégio, nas ruas e nas praças.

d ) E f i c a zMuitos há que desconfiam do sacerdote por tê-lo

em conta de pessoa interesseira. Outros lhe têm an­tipatia ou alimentam contra ele preconceitos sem fundamento.

0 mesmo não se dá com o leigo, com panheiro de escola ou de trabalho. 0 apóstolo do próprio m eio é m elhor com preendido, porque com preende m elhor as situações.

Desde criança e antes de entrar no sem inário foi Dom Bosco um apóstolo eficaz em seu m eio infan­til. Para poder fazer-lhes o bem, aproveitou suas qualidades de saltim banco, associava-se aos m eninos,

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distraía-os e term inava a diversão com algum ser- mãozinho ou com alguma oração. Nos dias festivos o espetáculo term inava com convidá-los à igreja pa­ra assistir ao catecismo ou aos ofícios religiosos. E os espectadores seguiam-no em massa.

Haveria logrado tanto o sacerdote?

Meios de exercer este apostoladoComo para o apostolado fam iliar, também para

este a arm a m ais poderosa é a palavra: rezar a Deus e logo exortar os interessados.

Pois a palavra há de ser precedida pelo exemplo e acom panhada da caridade. Bom exem plo e ca ri­dade são como os dois braços de um a tenaz que p rende as alm as e as eleva até Deus. .

Antes de mais nada o bom exemplo. Sabido é de todos que o Pe. Gemelli, fundador e re ito r da Uni­versidade do Sagrado Coração, foi em sua mo­cidade um decidido com unista. Quem o ganhou para Deus foi o professor Vico Necchi, hoje Servo de Deus, e seu com panheiro, prim eiram ente, na un iver­sidade de M edicina em Pavia, depois no hospital m i­lita r de S. Ambrósio em Milão, situado no próprio lugar que hoje ocupa a U niversidade do Sagrado Co­ração.

A quem se deve a conversão do atual Reitor Magnífico? Por certo, que os prim eiros germes se deveram à vida edificante de seu amigo Necchi, pois Gemelli duvidava da sinceridade dos sacerdotes. Vi­vendo em com panhia de Necchi, católico m ilitante e fervoroso, quis dar-se conta de toda a sua vida. Uma tarde, ele disse: “Necchi, am anhã ao levantar-te, chama-me, quero saber o que é que fazes.”

“Com muito gosto”, replicou-lhe Necchi.E na m anhã seguinte entravam ambos na capela

e Gemelli ficou à porta observando atentam ente seu com panheiro. 0 sacerdote celebrava a santa m issa; à hora da Comunhão viu como se chegavam à mesa eucarística as religiosas, os soldados e seu amigo Necchi.

Ao term inar a missa, Gemelli saiu com seu ami­go afetando frieza e indiferença, embora, na reali­dade, estivesse profundam ente comovido. Ao dia se­guinte fez O mesmo e, pouco a pouco, as exortações

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de Vico, fecundadas pela graça de Deus, penetra­vam no coração do conturbado com panheiro e o ganharam para Deus.

Aqui um fruto notável do apostolado do meio, do com panheiro para o com panheiro. E este apostolado não começou com a palavra senão com o exemplo.

Outra arm a eficacíssim a do apostolado é a carida­de, exercida para com aquele que quer converter-se para Deus.

Volvamos a Dom Bosco. Quando ainda era lei­go e estudava em Chieri, teve por com panheiro um hebreu e propôs-se a convertê-lo. Em presa difícil! O com panheiro tinha necessidade de quem o ajudasse nos estudos e Bosco, que era o prim eiro da classe, prontificou-se a lhe ajudar. Assim o ganhou para Deus, e, enfim, teve o consolo de vê-lo receber o ba­tismo. Comecemos por ganhar os corações com a caridade e mais fàcilm ente ilum inarem os as in teli­gências para a verdade.

ConclusãoA prim eira vez que S. Paulo pregou aos pagãos

em Cesareia, disse, falando do Salvador: “Passou a fazer o bem e curando a todos os que estavam pos­suídos do demónio.”

Pois bem, quem são os possuídos do demónio?Não somente os endem oninhados, senão os que

não têm a fé e não praticam a religião; pecadores que, tendo perdido a filiação divina, caíram debaixo da escravidão do demónio.

Também nós outros devemos passar pelo mundo, curando a todos e fazendo-lhes o bem, como Cristo, ao menos a alguns dos muitos oprim idos pelo de­mónio que encontram os em nossa vida diária. Só assim seremos im itadores de Cristo e verdadeiros mem bros da Ação Católica, que é Apostolado e con­quista de almas para Deus.

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O APOSTOLADO CATEQUÉTICO

IntroduçãoEm um recente documento pontifício sobre o ca­

tecismo algo há que visa diretam ente a Ação Cató­lica e que nos im porta conhecer. O decreto Provido sane, de 12 de Janeiro de 1935, depois de convidar os Bispos e os Párocos a p reparar idóneos catequis­tas, acrescenta: “Entre os catequistas haverão de distinguir-se os membros da Ação Católica, os quais já fizeram muito neste campo e nalgumas de suas organizações com zelo que é muito de louvar; esta­beleceram nos program as anuais aulas de catecismo, em que todos devem p artic ipar.”

Não é este o prim eiro convite que a Cátedra de Roma dirige aos membros da Ação Católica a p a r­ticiparem do apostolado do catecismo. Queremos de­m onstrar como se pode partic ip ar do apostolado catequético com o exemplo e a palavra; e falaremos logo de sua excelência e da recom pensa que lhe es­tá assinalada.

Apostolado catequético do exemploO apostolado catequético consiste em trabalhar pa­

ra que o povo seja instru ído nas verdades p rin c i­pais da religião.

Pois bem, esta obra pode-se levar a efeito de m ui­tos m odos: com a palavra, com os auxílios m ateriais e com o exemplo.

O exemplo é meio eficacíssimo segundo o conhe­cido adágio dos antigos: Os exemplos arrastam. E os membros da Ação Católica têm de frequentar o ca ­tecismo paroquial por várias razões:

1. ° Para instruir-se na religião, dever prim ordialdo cristão. Fomos criados para conhecer, am ar e servir a Deus, e não podemos amá-Lo nem servi-Lo, se O não conhecemos.

2. “ Para preparar-nos a in stru ir os demais. O pro­grama da Ação Católica é: Instruir-se para in stru ir os outros, esclarecer-se para esclare­cer os demais.

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3.” Para dar bom exemplo. O apostolado do exemplo, portanto, é o mais fácil, também o mais eficaz e possível a todos; é um dever es­pecial dos sócios da Ação Católica que se consagram ao apostolado.

Falando o Papa Pio XI às associações católicas de um a paróquia de Roma, dizia-lhes: “Recomenda­mos instantem ente a todas as associações católicas, m asculinas e fem ininas, que assistam ao catecismo na paróquia e ajudem ao Clero no cum prim ento deste m inistério que a todo católico há de parecer como o mais santo e necessário.”

Esta recom endação do Pontífice dirige-se a todas as associações de Ação Católica.

Apostolado catequético da palavra

Dissemos que os membros da Ação Católica de­vem instruir-se para instru ir. De que modo se ins­tru irão?

Há um modo simples ao alcance de todos: a con­versação que oferece mil ocasiões para expor algu­ma verdade da religião, desfazer alguns erros, res­ponder às objeções mais comuns contra a religião. E este é um apostolado magnífico, individual, oca­sional.

Os leigos têm mais oportunidade que os sacerdotes para exercê-lo.

Além disto, como quer o Papa, os membros das associações da Ação Católica hão de ajudar o Clero no ensino do catecism o e a razão é evidente: A Ação Católica é a participação no apostolado da Jerarquia, ou seja a colaboração com o Clero em todas as obras do m inistério sacerdotal; e este da instrução cate- quética ocupa um lugar im portante na labtita do sacerdote. Nosso Senhor deu aos apóstolos o m an­dato especial: “Ide e ensinai a todas as nações, ba­tizando-as em nome do Padre, e do Filho, e do Es­pírito Santo.” O prim eiro é, pois, a instrução, logo vem a distribuição da graça santificante.

Por isso, a p rincipal preocupação da Igreja em todos os tempos foi a instrução religiosa dos fiéis.

E nesta excelsa missão a Igreja sem pre se há servido da colaboração dos leigos; serviram-se dela os Apóstolos, os quais, apenas chegados a uma ci-

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dade, já encontravam um bom núcleo de judeus e de pagãos instruídos nas verdades da fé pelos cristãos leigos.

E este fato repete-se ainda hoje em dia nas terras de m issões. A Agência F i d e s refere com o um vende­dor ambulante de tortas de arroz na China, conver­tido ao cristianism o, se fez fervoroso catequista, pre­gador nómade da verdade religiosa. Como não sabia ler, pediu a um catequista que lhe ensinasse todo o catecism o, aprendeu-o de cor, e logo, em razão de seu m inistério, ia às cidades para onde não po­dia ir o m issionário, e com eçava a fazer conhecer a religião, explicando as fórmulas do catecism o à sua clientela, pois era m uito popular e sim pático por causa de seu caráter jovial e decidido. Deste m odo aquele vendedor ambulante chegou a ser um grande apóstolo da religião na China e converteu às centenas pagãos que foram depois batizados pelo m issionário.

Exem plo admirável de apostolado catequético, exercido por um leigo.

Excelência do apostolado catequético

0 catequista é um perfeito im itador de Jesus Cris­to e dos Apóstolos, os quais foram os prim eiros ca­tequistas. Ensinando as m esmas verdades que Cris­to, o catequista coopera diretam ente na obra da re­denção.

Ensina o catequista a ciên cia m ais sublim e que tem por objeto a Deus m esmo; nenhuma ciên cia pode com parar-se com a da religião, e essa está condensada nas breves páginas do catecism o.

Exaltando Pio XI o livrinho do catecism o, diz que é um com pêndio adm irável de todas as verdades teológicas contidas na Suma de S. Tomás, de forma que se pode dizer que o catecism o é o livro m ais notável de todos os escritos no mundo.

O catequista ensina a c iên cia m ais necessária, que dá solução a todos os problem as da vida, forma as almas na virtude e ensina o cam inho do céu.

Bem conhecida é a obra de Diderot, célebre filó ­sofo incrédulo, que ensinava o catecism o a seu filhi- nho. Surpreendido, um dia, nesse ofício por um amigo que se m ostrou m aravilhado disso, respondeu-

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lhe: “Que quereis? Â mim importa sobremaneira educar bem meu filho e para isso não se pode en­contrar livro m elhor do que este, o catecism o.”

Não há, pois, por que m aravilhar-se, se hom ens notáveis na ciên cia não se desdenhavam de ensinar o catecism o aos m eninos. Por exem plo, A lexandre Volta, inventor da pilha elétrica, que aos dom ingos se retirava à igreja paroquial de Pavia a ensinar o catecism o às crianças; S. Francisco de Sales, gran­de doutor da Igreja, que nos domingos ia à sua igre­ja catedral a ensinar aos m eninos as verdades da religião.

Conclusão

Mas sobre todas estas razões está a da recom pen­sa que espera aos que ensinam aos demais o cam i­nho da justiça. “Aquele que ensinar será tido como grande no reino dos céus”, diz-nos o Salvador. E es­tas palavras dirigem -se também ao hum ilde cate­quista; ele também terá parte na m ais esplêndida re­com pensa que o Senhor tem aparelhado para todos os m ensageiros do Evangelho: para os Apóstolos, os Doutores, os M issionários e os pregadores. Oxalá m uitos de vós outros sejam coroados com esta au­réola.

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O APOSTOLADO PASCOAL

Introdução

Recordemos a parábola do banquete nupcial que m andou p reparar o filho do re i: “Mandou aos servos que chamassem os convidados, pois muitos deles escusavem-se porque tinham que ir uns a seus ne­gócios, outros a suas fazendas.”

Este banquete nupcial é o símbolo da Eucaristia.O Rei divino convida todos os súditos, especial­

mente neste tempo em que urge o preceito da Co­m unhão pascal. Pois muitos declinam o convite.

E quais são os servos que envia a cham ar os con­vidados? Os sacerdotes assim como os leigos. A to­dos lhes diz: “Ide às encruzilhadas e convidai a quantos encontrardes ao banquete das núpcias.”

Os leigos hão de tornar-se arautos do rei, mas de m aneira especial os m ilitantes da Ação Católica, que são os colaboradores do Clero.

E Jesus Cristo mesmo é quem nos recom enda este apostolado pascoal, ou seja a propaganda para tra ­zer a todos eles o convite da Eucaristia.

Pretendo ind icar agora a necessidade deste apos­tolado e os meios de exercê-lo.

Necessidade

Entre nós noventa e nove por cento são católicos, mas quantos destes cum prem o preceito da Igreja? E quantos que não cum prem este m andam ento cha­mam-se católicos?

Costumava dizer o Cardeal Maffi: “Eu conto os católicos na igreja.” E tinha razão, pois não basta o batism o para en tra r no céu, requer-se, além disto, para os adultos a S. Comunhão.

E esta não é opinião dos teólogos, senão vontade expressa de Cristo, que d iz : “Se não com erdes a Car­ne do Filho do Homem e não beberdes o seu San­gue, não tereis a vida em vós. Aquele que come a m inha Carne e bebe o meu Sangue, terá a vida eter-

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Vem os hoje que m uitos católicos ou pseudocatóli- cos, m orm ente nas grandes cidades, não cum prem o preceito pascal, transgredindo assim um m anda­mento da Igreja e privando-se do necessário ali­mento da vida sobrenatural.

E’ m ister convidá-los; e o Rei divino, com o na parábola do Evangelho, manda até seus criados para que chamem estes convidados ao festim eucarístico. Antes de tudo, envia seus sacerdotes; mas com o e s ­tes m ensageiros não gozam a confiança dos convida­dos e corno não podem chegar a todos, e especial­m ente àqueles que, com o filho pródigo, foram para regiões estranhas, longe da casa paterna, toca aos leigos que vivem em contato com os enferm os do espírito, levá-los ao m édico das almas e trazê-los para que se nutram com o Pão que dá a vida.

Havia em Jerusalém, nos tem pos do Salvador, a P iscina das Ovelhas, que estava rodeada de cinco pórticos: nela, como nos conta S. João, “havia uma grande quantidade de enferm os, cegos, coxos, para­líticos que esperavam o m ovim ento da água. Pois o anjo do Senhor descia em certo dia à p iscina e mo­v ia a água e o prim eiro que entrava nela ficava são de qualquer enferm idade que tivesse. Havia ali um homem que fazia trinta anos estava enferm o; vendo- o, Jesus diz-lhe: Queres ficar são? — E o enferm o responde-lhe: Senhor, não tenho quem me leve à piscina, quando a água se move, e quando trato de descer outro já desceu prim eiro. — E Jesus diz-lhe: Levanta-te, toma tua cama e anda. — E de pronto ficou são, tomou sua cama e foi andando.”

Notem os as palavras do en ferm o: não há um ho­mem; pois, se tivesse havido, muito tempo antes te­ria sido curado.

Quantos enferm os do espírito podem repetir a mesma q u e ixa : não há um homem que os submerja na m ística p iscina dos Sacram entos que dão a vida e a salvação.

E não serem os nós esses hom ens cham ados a de­volver a salvação a tantos enferm os da alma?

MeiosQuais foram os m eios em pregados pelos servos da

parábola? A palavra, para exortar, aconselhar, res­ponder às vãs escusas: e assim lograram o seu in-

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O APOSTOLADO PASCOAL 77

tento porque, pondo-se por todos os cam inhos, en­contraram muitos que atenderam ao convite, e a sa­la do banquete encheu-se.

De igual m aneira temos de proceder.Antes de tudo, o convite, o conselho, a exortação,

feita a tempo e de m aneira mais oportuna; e se é necessário, repeti-la com prudência e caridade. _

Im porta fazer conhecer bem a gravidade do p re­ceito: para e n tra r no paraíso não basta a certidão do Batismo, senão que se requer, ademais, o cum ­prim ento do preceito pascoal, que custa às vezes, porque tem como recom pensa a vida eterna.

E as mais das vezes será necessário rem over as dificuldades.

Quais?Muitos há que não se avizinham da mesa festiva,

porque têm cadeias nos pés que lhes im pedem a chegada a e la : os maus costumes, as ocasiões de pe­cado. E’ dificil de conquistá-los e é preciso recom en­dá-los a Deus para que Ele lhes dê força de rom per com aqueles maus hábitos e desvencilhar-se dessas cadeias que os impedem.

Outros há que se acham detidos po r obstáculos m ais fáceis de superar.

Outros há que não cum prem o preceito da Páscoa por negligência, po r descuido; esqueceram o cam i­nho do confessionário e só por si não podem encon­trá-lo. A estes devemos ajudar, sobretudo com o conselho, levando-os a um confessor com preensivo que lhes facilite o cum prim ento do preceito.

Outros há que o não cum prem por vão tem or; sen­tem na consciência o peso de antigas culpas e des­confiam da m isericórdia de Deus. A estes havemos de esclarecer, persuadir que nenhum pecado, por grave que seja, supera a m isericórdia do Senhor.

Outros, como o fariseu da parábola, têm demasia­da confiança em si mesmos, consideram -se justos e dizem : para salvar-se basta ser homem honrado. A estes é m ister dar a entender que a verdadeira honradez consiste em cum prir tudo o que o Senhor nos pede, e Jesus não só instituiu os sacram entos da Penitência e da Eucaristia, senão que, ademais, nos ordenou recebê-los.

Finalm ente há uma categoria de pessoas que se abstêm po r orgulho ou po r vão respeito; não querem

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ção civil de todos os católicos encam inhada a auxi­lia r a santa batalha da fé nas mais avançadas tr in ­cheiras, contribuindo com a ajuda prestada aos com batentes das prim eiras linhas. Ainda que o fim das missões é inteiram ente espiritual, contudo não se pode alcançar sem o auxílio m aterial. E a coope­ração m issionária tende a ajudar nestas necessida­des com o óbolo pelas missões.

A cooperação não é, porém, tão-sòmente m aterial; existe, além disso, a esp iritu a l: cooperação de ora­ções, para suscitar vocações m issionárias. E nesta obra hão de colaborar não somente os sacerdotes, mas também os leigos.

E esta cooperação é sumamente necessária.Os prim eiros m issionários foram os Apóstolos que

tiveram , como sabemos, grande e considerável cola­boração da parte dos leigos. O mesmo auxílio têm, hoje em dia, ainda os m issionários que trabalham no vasto campo das missões.

Necessidade

A cooperação m issionária é obrigatória, excelente e benéfica.

1. ° Obrigatória.Na realidade é um dever de caridade para com

o próxim o e um dever dos mais urgentes. “Os infiéis — disse Pio XI — são os mais pobres entre os po­bres.” E isto é assim, porque carecem do dom da fé, dom prim etro de Deus e raiz da justificação, ger­me da vida eterna.

E \ ademais, um dever de caridade para com Deus que quer que todos se salvem; e para com o R eden­tor divino que m orreu por todos.

E é, outrossim , dever de gratidão para com Deus. “Pela fé d’Ele recebida — continua o Papa — dá-se a fé aos que não a receberam . E’ uma restituição que fazemos a Deus, porque quem dá ao pobre, dá a Deus.”

2. ” Excelente.A ação m issionária foi definida pelo P apa: “A

obra m aior do cristianism o, o apostolado por exce­lência.”

E bem se com preende a razão destas afirm ações: a ação m issionária é a continuação mais perfeita dos Apóstolos e a mais integral execução do m andato

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O APOSTOLADO MISSIONÁRIO SI

de C risto: “Ide p o r todo o mundo, pregai o Evan­gelho a toda cria tura .”

3.° Benéfica.A cooperação m issionária vale tanto quanto a ação

prática, não só pelo prém io eterno que lhe está assi­nalado, senão pelas vantagens educativas que traz consigo. Realmente, a cooperação m issionária é um meio de formação religiosa e apostólica. T rabalhan­do pelas missões se enobrece o coração, a alma cura- se deste egoísmo religioso, deste individualism o es­p iritua l que é um dos males de nossos tempos.

Organização da ação missionáriaA cooperação m issionária tem hoje uma organi­

zação acabada.Há três obras pontifícias que se estendem por

todo o mundo.1. A obra da propagação da fé

A fundadora desta obra m aravilhosa foi uma hu­milde operária de Lião, Paulina Jaricot. A judada por uma boa com panheira, fundou em 1820 um a associa­ção de orações a favor das missões.

Im itando o exemplo de uma seita protestante, prescreveu que os associados pagassem uma pequena contribuição, semanalmente, em favor das missões.

Em breve a obra se estendeu e fundiu-se com ou­tras iniciativas sim ilares; em 1823 foi aprovada e enriquecida com numerosas indulgências.

Em 1922 o Papa Pio XI dispôs que a sede da obra, que, até então, fora em Lião, se mudasse para Roma.

Esta obra é que cada ano promove a Jornada Mis­sionária de orações, propaganda e recursos em di­nheiro para as missões.

2. A obra de São Pedro apóstoloTem um fim determ inado: a formação do Clero

indígena para as missões.Fim im portantíssim o porque os pagãos, por ev i­

dentes razões psicológicas, seguem m elhor a seus com patriotas.

Nasceu esta obra em 1889 e foi fundada também por um a m ulher fran cesa : Estefânia Bigard e Joana, sua filha. Tendo recebido uma carta do Bispo de Nagasaki, no Japão, na qual lhes pedia auxílio pa-Formaçâo — 6

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ra seu sem inário, as duas piedosas m ulheres resol­veram institu ir um a fundação perm anente com tal finalidade e consagraram-se a ela com tal fervor que, ao cabo de cinco anos, a mãe podia d izer: Esta obra chegou a ser a única preocupação de nossa vida.”

Aprovada pela Santa Sé, a obra tem um conselho superior em Roma.

3. A obra da Santa InfânciaFundada por um bispo francês, M onsenhor Forbin

Janson, em 1843, foi aprovada três anos m ais tarde. E’ a obra das crianças e para as crianças. Os que nela estão inscritos oferecem cada dia suas orações pelos m eninos pagãos e dão uma contribuição para ajudar ao batism o dos inesmos. No p rincip io foi institu ída em favor dos m eninos da China, mas hoje se estendeu a todos os meninos infiéis. A sede central acha-se em Roma.

Relações com a Ação CatólicaNa encíclica U ferm o propósito escreve Pio X:

“Enquanto a Igreja difunde o Reino de Deus a li on­de ainda não se pregou, trabalha de todos os modos para rep arar as perdas sentidas nas nações já con­quistadas.”

Pois bem, para espalhar o Reino de Deus ali onde não existe, a Igreja serve-se da ação e da coopera­ção m issionária; e para rem ediar as perdas sentidas nas nações já conquistadas, serve-se da Ação Cató­lica, a qual, na opinião do Papa, é uma “reevangeli- zação.”

A Ação M issionária prega a Cristo ali onde não é conhecido; a Ação Católica prega-0 onde não é reconhecido.

Por isso, Pio XI pôde cham ar as obras que consti­tuem a Ação Católica “nossas missões in ternas”, em oposição às missões estrangeiras.

A cooperação m issionária forma parte dos progra­mas da Ação Católica.

Esta é um a disposição explícita da suprem a au­toridade eclesiástica, como se depreende dos docu­mentos que vamos citar. Na carta do Cardeal Secre­tário de Estado ao Congresso N acional de Missões,

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O APOSTOLADO MISSIONÁRIO 88

reunido em Pádua, lêem-se entre outras palavras p re­cisas: “Aquele que trabalha na defesa e na difusão do Reino de Cristo em meio das nações cristãs de­ve, por isto mesmo, ser amigo e sustentador dos que, com o mesmo fim, trabalham nas nações estranhas, onde ainda não alvoreceu a luz do Evangelho.”

A Ação Católica há de colaborar nas missões pelas seguintes razões especiais:

1. ° Trabalho essencial da Ação Católica é ajudar à Jerarqu ia em tudo o que ela reclam a: pois bem, ela pede-nos que ajudemos aos m issionários.

2. “ A Ação Católica há de form ar e im por a seus membros o exercício de todos os deveres de cristãos, e já vimos que a cooperação para as missões é um dever de caridade para com Deus e para com o pró­ximo.

3. ° A Ação Católica deve procurar, por todos os meios possíveis, a formação religiosa e apostólica de seus m em bros; e a cooperação m issionária, como vimos, é um dos melhores meios para conseguir este fim.

ConclusãoNum periódico m issionário vimos, faz pouco, uma

fotografia em que se podia contem plar um m issio­nário que levava o Viático, de avião, a um m oribun­do. Onde se fabricou aquele aeroplano? Em países católicos. Com que meios? Com os recursos dados pelos católicos.

Exemplo prático do auxilio que podemos p restar aos m issionários: com a nossa cooperação o m issio­nário poderá levar o dom da fé aos infiéis.

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APOSTOLADOEM FAVOR DA MORALIDADE

Introdução

Quando ameaça uma grande epidem ia, as auto­ridades tomam precauções para evitá-las: isolamen­to dos atacados nos hospitais, ordem de denunciar os casos que se apresentem , desinfecção dos lugares e habitações, e outras providências higiénicas.

Os cidadãos, por outra parte, deverão evitar os contatos inúteis e perigosos, o expor-se aos peri­gos; deverão vigiar para que os atacados do con­tágio não o com uniquem aos que estão sãos e cola­borar com as autoridades para que o mal se não propague.

Hoje nos ameaça um mal gravíssim o: a epidem ia das almas, a im oralidade e a corrupção. As autorida­des civis tom aram providências e deram leis de de­fesa e os agentes públicos estão encarregados de vi­giar para que se cumpram. Nisso estaremos nós de mãos cruzadas? Não faremos sequer o que faríamos no caso de epidem ia corporal? — vigiar, auxi­liar, denunciar à autoridade os atacados do mal.

Cooperar na defesa da m oralidade pública é um dos deveres dos citadinos, tão urgente como o de cooperar na saúde pública.

E visto que a m oralidade é não somente um bem civil senão, além disto, religioso, a defesa da mo­ralidade é um dever não só do cidadão, mas também do católico.

E que diremos do católico m ilitante? Acaso não tem a Ação Católica como um dos pontos de seu program a a defesa da m oralidade?

Por isso queremos considerar este dever estudan­do :

1. “ A im oralidade contem porânea.2. ° Suas características e suas causas.3. ° Como havemos de combatê-la.

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APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 80

Imoralidade ContemporâneaConvém, antes de tudo, entender-nos acerca do

sentido da palavra im oralidade. Chama-se m oral tu­do quanto se acomoda à lei divina e às justas leis hum anas. Im oral é tudo o que a elas se opõe. Neste sentido a injúria, o roubo são im orais.

Em sentido mais estrito chama-se im oral tudo o que vai contra as leis da castidade, porque a palavra im oralidade designa o vicio da luxúria, considerado não só em seus efeitos, mas também em suas cau­sas, particulares e públicas, individuais e sociais. -

Neste sentido tomamos aqui a palavra im oralida­de, que se cham a também desonestidade e corrupção.

A realidade dolorosa de nossos dias é esta: a imo­ralidade é como um rio saído do leito que ameaça arrasar tudo. O mundo está atacado não só pela crise económica, mas principalm ente pela crise da imo­ralidade mais poderosa que a prim eira. Crise moral da qual sofrem todas as nações segundo seja m aior ou m enor o freio da religião.

A im oralidade não é um simples resultado de nos­sa época. Desde o pecado de Adão a natureza hum a­na ficou viciada; pois hoje vemos nações in teiras que se degradam e paganizam. Deus pode repetir a palavra que, em outro tempo, disse a Noé: “0 ho­mem tornou-se carnal”, porque vive como se dentro do invólucro do corpo não alentasse um esp írito im ortal. _

P or isso, a im oralidade apresenta nos dias que alcançam os uns caracteres de gravidade alarm antes.

Características e CausasTrês são as características que apresenta a _ imo­

ralidade de nossa época; a extensão, a precocidade a insensibilidade.

1.” E xten são

Em outras épocas o mal, em mais graves m anifes­tações, estava circunscrito nos centros mais populo­sos: hoje em dia vai mudando-se das cidades para os cam pos e para as aldeias, onde, em outros tem­pos, a pureza dos costumes era igual à do sitio. Em putras épocas a corrupção alcançava as altas esferas

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86 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

da sociedade, hoje penetra em todas as cam adas so­ciais e vai-se fazendo uma nivelação na im oralidade.

2.° PrecocidadeOutrora esta epidem ia respeitava, em parte, a p ri­

m eira infância, de tal forma que a infância e ra si­nónim o de inocência. Mas nestes dias quantos me­ninos podem repetir a palavra do Bispo de H ipona: “Ainda criança e tão pecador.”

3.° InsensibilidadeEm outros tempos houve homens corrom pidos,

mas não tinham a consciência insensível; o pecado ia acom panhado do rem orso e seguido da peni­tência. Divertiam-se no Carnaval, mas arrependiam - se na Quaresma.

Hoje muitos perderam o sentido moral e por causa desta perda m uitas almas estão sepultas nas sombras da morte, sem probabilidade de delas sair. Estão enfermos e recusam o médico; por isso, a corrupção de hoje não dá esperanças de correção. Im pera um paganismo redivivo.

Causas deste malAs principais parecem-nos as seguintes:1." a dim inuição do sentim ento religioso cau­

sado pela obra laicizante. A torrente im petuosa da im oralidade encontrou muito fracas as m argens do sentim ento religioso e passou por cima delas.

2° As novas invenções da ciência e do progresso, postas no serviço das paixões hum anas. Daí são ele­mentos de corrupção a im prensa, o cinema, o rádio, a facilidade de comunicações, e até o aumento da instrução. O progresso m aterial é causa de regresso moral. Os benefícios de Deus converteram -se em meios de depravação.

Como combatê-la?Três são as arm as de que principalm ente hão de

servir-se os sócios da Ação Católica para comba­ter a im oralidade do ambiente.

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APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 87

í.° A oraçãoNo deserto o povo de Israel se viu atacado pelos

amalecitas. 0 perigo era gravíssimo, porque os ama- lecitas eram guerreiros corajosos. Israel lança-se contra eles, conduzido por Josué. Entretanto, Moi­sés orava em cima do monte. “E quando Moisés levantava os braços, Israel vencia; mas, se os dei­xava cair, Amalech levava a m elhor parte .”

Nossa luta é com um exército poderoso como o dos amalecitas': a luxúria e avareza: a luxúria fom entada pela avareza, e esta que é o alimento daquela. E é impossível a vitória, se não rezar­mos como Moisés.

2.° O exemploAo apostolado da oração há de jun tar o não me­

nos eficaz e indispensável do exemplo. À nós nos repete S. Paulo como a seu discípulo Timóteo: “Em tudo m ostrai o exemplo de boas obras.”

Os maus costumes corrigem-se com os bons: os santos purificavam o am biente em que viviam, com a fascinação de seu exemplo. Tal era a pureza que irrad iava o rosto do jovem João Bosco que seus colegas não se atreviam a proferir, em sua p re ­sença, uma palavra menos decente ou executar uma ação menos correta; a com panhia do jovem fa­zia-os melhores.

3° A açãoTodo membro da Ação Católica h á de ser não só

um exem plar de m oralidade, mas também um apóstolo. Devemos falar e agir no am biente em que vivemos e com as forças de que dispomos, a fim de que esta enferm idade dos maus costumes perca sua eficácia e haja menos vítim as. Nossa norm a há de s e r : m anter-nos sãos, p reservar aos demais do con­tágio e p rocurar que os já atacados alcancem a cura.

Para isto convém :Dizer a tempo a palavra que ilum ina, corrige e

m e lh o ra .. . Não perm anecer indiferente ante a afluência - dos males.

D efender o conceito cristão da vida, a qual é dever e não prazer; conceito que se vai obscure­cendo até nas mentes de muitos católicos.

Opor-se enèrgicam ente a todo sem eador de es­cândalos contra o qual pronunciou o Salvador mau-

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síssim o aquelas terríveis palavras: “Ai daquele por quem vem o escândalo.” Pois bem, escandaliza-se não só com as palavras e com a conduta depravada e provocativa, mas também, dando aos dem ais oca­sião de pecado com as diversões perigosas, os bailes desonestos, as modas desavergonhadas.

Intervir, quando a ocasião particular é ineficaz, com as autoridades públicas para que im peçam os escândalos, e acabem com os focos de infecção que as mesmas le is proibem.

Opor armas às arm as: à revista licenciosa, a mo­ral; às diversões malsãs, as boas; à moda frívola, a digna e correta.

Mas, porquanto a ação repressiva e preventiva apresenta alguns inconvenientes, trataremos dela no próxim o capítulo.

Conclusão

Comovedor e sign ificativo é o diálogo entre Deus e Abraão antes da destruição de Sodoma. Deus ha­via determinado destruir a cidade por causa dos pecados de luxúria de seus habitantes e com uni­cou o desígnio a Abraão.

O qual, levado à com paixão, pediu ao Senhor, di­zendo-lhe: “Farás perecer o justo com o ím pio? Se houver na cidade cinquenta justos, perecerão tam­bém? e não perdoarás à cidade t>or amor aos c in ­quenta justos?” E o Senhor acedeu a perdoar o povo prevaricador, se houvesse nela os cinquenta justos. Mas não se encontravam . E logo Abraão repetiu a súplica, dim inuindo sempre o número dos justos até chegar a dez. “Por amor a estes dez jus­tos não a destruirei”. Mas não foram encontrados.

Como o santo Patriarca, elevem os as nossas sú- plicas ao Senhor; mas não nos contentem os com isso: façamos de m aneira que, com nossa ação mo- ralizadora, aumente o número dos justos que atraiam sobre o mundo não o castigo senão o perdão.

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0 APOSTOLADO DA MORALIDADE — SUAS FORMAS

Introdução

São Paulo escreveu estas palavras reveladoras de seu zelo apostó lico: “Quem está enfermo que eu não esteja tam bém ?”

A im oralidade do ambiente, dissemos no capí­tulo anterior, é uma imensa epidem ia moral. Todos nós temos de p rocurar precaver-nos do contágio. Mas não basta: trata-se também de preservar os de­m ais; tem-se que trabalhar, pela cura dos atacados pela doença da im oralidade. Cada um há de sen­tir-se enfermo com o irmão.

Queremos agora estudar as p rincipais causas concretas da im oralidade e os focos mais comuns de infecção, para ver que é o que convém fazer para destru ir ou ao menos para circunscrever a área do contágio.

Estudaremos, pois, as p rincipais formas de nosso apostolado contra a im oralidade.

A revista

Uma das causas p rincipais da corrupção reinante é a revista imoral. Como combatê-la?

Não perm itindo que tais revistas entrem em nos­sa casa, para que não venham a cair em mãos das crianças ou empregados.

Convidando os livreiros e periodistas que expõem imagens pornográficas a retirá-las; e se isto não se consegue, boicotar os vendedores destas im undícies.

Recorrendo à autoridade para que dite leis nas quais se castigue os que ofendem a m oralidade pú­blica com a exibição de imagens que ferem o pudor.

Espetáculos e diversões

Entre os espetáculos que mais diretam ente aten­tam contra a m oralidade tem-se que colocar em p ri­m eiro lugar o cinem a e o teatro,

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90 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Como rem ediar os males que causam?Com o boicote. Não perm itindo que nossos filhos

e empregados frequentem salões onde se rep re­sentam peças ou se exibem películas que ofendem a m oralidade e fazendo propaganda para que n in ­guém vá a tais lugares. Tal coisa vêm fazendo os católicos norte-am ericanos com a conhecida “Le­gião da Decência” , a qual, além de ter feito fechar numerosas salas de exibições im orais, conseguiu influir sobre a mesma produção cinem atográfica.

Recorrendo à autoridade para que aplique as leis contra as representações que atentam contra a mo­ralidade.

Opondo ao cinem a im oral o cinem a moral, como ensina o Papa em sua encíclica Vigilanti Cura.

Entre as diversões mais perigosas contra a mo­ralidade estão os bailes; convém, portanto, em pre­ender uma cam panha contra os salões públicos de bailes (dancings).

Mas o m elhor meio para com bater as diversões malsãs será p rocurar que haja boas. Para isto ser­vem providencialm cnte nossas associações juvenis, os Oratórios Festivos, a instituição dos escoteiros católicos, onde os moços podem divertir-se sã­mente sem ofender a Deus.

As modasOutro incentivo da im oralidade são as modas in­

decentes.E’ necessário que todos os membros da Ação Ca­

tólica sejam apóstolos da moda decente, e façam guerra sem tréguas às im orais. Mas, antes de tudo, está certo que a arm a mais eficaz, e talvez a única, é o exemplo. Que haja em cada paróquia senhoras e senhorinhas e m eninas que se proponham vestir com elegância, sim? mas com dignidade.

Pois muitas, como anotava o Papa, se deixam levar pela corrente invasora, “senhoras que não queriam ser consideradas como m undanas e que p re ­tendem ser e dizer-se c r is tã s . . . E é sobrem aneira doloroso ver como diante da corrente da vaidade capitulam não só as jovens senão também m uitas esposas e mães que deveriam ser modelo da digni­dade cristã.”

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O APOSTOLADO DA MORALIDADE 91

Importa muito atender à decência no vestir desde a prim eira idade, por muitas razões:

1. ° A m odéstia é obrigatória para todos: gran­des e pequenos.

2. ° As crianças são capazes de pecado e, real­mente, pecam por vaidade.

3. ° Vêm a perder o sentido do pudor, custódio da castidade, e se habituam às modas indecentes nos anos futuros.

Que responsabilidade para os pais, que, em vez de guardar com cuidado a castidade de suas filhas como frágil tesouro, o expõem a todas as ciladas e perigos destruindo, desde cedo, o véu do pudor!

E pelo que toca aos hom ens, também têm seus deveres neste campo, porque a m odéstia no vestir obriga-os também. Em segundo lugar devem re­frear com sua autoridade de pais, de esposos, de irmãos, a intem perança de suas filhas, esposas e irmãs, devida as mais das vezes à incom preensão e natural inadvertência.

Pode-se afirmar que ao m enos a m etade da res­ponsabilidade desta praga das sociedades m oder­nas recai sobre os hom ens. (Esta ideia deverá ser explicada numa reunião de hom ens.)

Promiscuidade de sexos

A forma da vida moderna acentuou esta causa de im oralidade: a prom iscuidade de sexos é quasecontínua, os m eninos e as m eninas, os hom ens e as mulheres andam quase sempre m esclados nas fá­bricas, nos negócios e também nas mesmas escolas.

Devemos, portanto, opor resistência a este foco de im oralidade, ou ao m enos a suas consequências, m ediante uma diligente vigilância. Recordem os que nesta matéria é de evitar o pessim ism o ou a pre­sunção; a castidade é tesouro preciosíssim o que ao m enor descuido pode perder-se.

Convém não aproxim ar demasiado a palha ao fogo, se querem os evitar o incêndio. Esta é a norma do bom sentido, que vale também para o nosso caso. A experiência demonstra, com efeito, que esta pro­m iscuidade injustificada solta a prim eira faísca donde haverá de nascer o incêndio que tudo devore.

Estejam alerta os pais para não perm itir as di-

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versões entre meninos e meninas, se não for na prim eira idade; tratem de que se evitem as ex­cursões entre jovens de ambos os sexos, e sobre­tudo os banhos mistos. Que tem pestade para a mo­ralidade a que se levanta dessa fam iliaridade in­devida e que se vai estendendo rapidam ente como um contágio desde as grandes cidades até às al­deias mais afastadas!

E que terrível responsabilidade para os pais que se mostram complacentes quando não alentadores, destes costumes que se vendem com o pomposo nome de m odernos! Não está longe o dia em que chorem com lágrim as de sangue sua complacente debilidade.

Palavras e ações contrárias à decência

A saliva é veículo de m uitas infecções, por isso vemos escrito nas paredes dos quartos, nos vagões dos bondes e dos trens: “E* proibido cuspir.”

Pois da boca do homem pode sair algo mais in- feccioso que a saliva: a palavra torpe, veículo de m icróbios contagiosos para a alma.

Portanto, impeçam-se as conversas im orais, sem­pre e em toda parte, mas especialm ente quando aten­tam contra a inocência dos meninos, unindo à prudência a coragem. Por exem plo: um operário, membro da Ação Católica, que em sua com panhia tem outros que proferem palavras obscenas, não há de perm anecer indiferente, senão que im pedirá o escândalo, prim eiro com meios persuasivos, de­pois dirigindo-se aos diretores da empresa. E as­sim em casos semelhantes.

E o nosso sinal de protesto tem mais razão de ser, quando não se trata já de palavras inconve­nientes senão de atos desavergonhados e de cenas escandalosas.

O código penal de todas as nações civilizadas castiga com penas severas todo atentado contra a m oralidade.

Conclusão

Hindemburgo passou à h istória como o vence­dor da batalha dos lagos Masurianos. De que modo venceu o general alemão o poderoso exército rus­so? Com uma retirada estratégica por meio da

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O APOSTOLADO DA MORALIDADE 98

qual atra iu o inimigo a uma região pantanosa co­berta aparentem ente por grande extensão de ver­dura. Ali pereceram m ilhares de soldados russos afogados nos pântanos e devorados pelos reptis que viviam nas águas.

Isto é a im oralidade pública: uma vasta lagoa coberta de verdura enganadora. Indivíduos e po­vos se precipitam para lá e perecem miseràvelmente no atoleiro, enquanto os im undos reptis os devoram.

A im oralidade é a ru ína dos povos e nações, sinal de decadência civil e religiosa.

Combater a im oralidade é, pois, fazer obra de fé, de civilização, de religião e de patriotism o.

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O APOSTOLADO DO CINEMA

IntroduçãoHá em Jerusalém um grande muro, ru ína do tem­

plo judaico, aonde os hebreus vão, em dias deter­m inados, a chorar e o rar; chama-se o muro das Lamentações.

Lágrimas estéreis que não fizeram ressurgir o templo magnifico destruído por Tito, nem o farão ressurgir no futuro.

A este pran to assemelha-se o de muitos cristãos que choram sobre ruínas dos templos destruídos, ou seja, das almas pervertidas pelo escândalo, m ulti­plicado hoje pelos portentosos passos do progresso moderno, como o cinema, o rádio, a im prensa, e t c . . .

Contudo não fazem nada para rep arar as ruínas.Nenhum membro da Ação Católica pode filiar-

se a esta confraria de planejadores, porque o nos­so program a é a Ação.

Na recente encíclica Vigilanti Cura, sobre o cine­ma, o Papa deplorou os males causados por esta in ­venção m oderna, mas ao mesmo tempo convidou os bons católicos a rep a ra r os danos por ela causados e a reagir. Seu convite é para nós uma ordem. To­dos temos de colaborar na moralização do cinema.

Que faremos?Indicarem os o que é que o Papa quer de todos

os bons, e em particu lar que é o que espera dos membros da Ação Católica.

Uma promessaAté há pouco, quase todas as películas que se

exibiam no mundo in teiro eram produzidas nos Estados Unidos. Já começam a produzir-se tam­bém em outras nações, todavia ainda 80 por cento nos vêm daquela nação.

De lá nos vem o mal, mas também a indicação do que faremos no terreno da moralização dos es­petáculos cinematográficos.

Im pressionados pelas ru ínas causadas pelo ci­nema, os católicos norte-am ericanos iniciaram em

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O APOSTOLADO DO CINEMA 95

1930 enérgica cam panha contra o cinem a imoral. Antes de tudo, intervieram com as casas produ­toras, as quais concordaram em regular a p ro ­dução segundo uma norm a ou código m oral apre­sentado pelos mesmos católicos.

E’ certo que este código não se observou senão po r alguns anos, porque os produtores não creram na constância da reação católica. Mas enganaram-se.

Perd ida esta batalha, iniciou-se outra com arm as distintas e mais eficazes; todo o Episcopado dos Estados Unidos em preendeu uma cam panha con­tra o cinem a im oral por meio da “Legião da De­cência”, cham ada assim porque seus fins eram os de lograr a moralização do cinema. Os membros desta Legião, legionários, comprometiam-se solene­mente a não assistir a espetáculos indecentes e a p rocurar que os demais fizessem o mesmo. Dita prom essa renova-se cada ano.

A Legião foi-se estendendo sobre todas as dioceses e reunindo numerosos aderentes, até en tre os não cató licos: protestantes, judeus, conhecedores dos males causados pelo cinem a imoral, contribuíram com os católicos a esta cruzada em favor do bem.

Os resultados práticos não se fizeram esperar: a prom essa foi fielmente cum prida por todos; os espectadores dim inuíram , as entradas das casas so­freram fortes baixas. Feridos na bolsa, que para muitos vale mais que a consciência, os produto­res reflexionaram e m elhoraram a qualidade da m ercadoria. Data de então o termos hoje nos m er­cados películas menos más.

O Papa quer que a prom essa feita pelos cató­licos norte-am ericanos seja im itada pelos de ou­tras nações.

Trata-se de uma simples promessa, não de um juram ento, pelo qual aquele que a pronuncia não se faz réu de perjúrio , se a não cum pre. Mas falta à fidelidade, virtude que obriga para com os ho­mens e muito mais para com Deus.

A prom essa obriga a não assistir aos espetáculos indecentes, em qualquer sala de exibição. Pelo qual não obriga a abster-se, por completo, de assistir às representações em geral, senão àquelas que ferem a moral. Mas nossa cam panha será m ais efetiva, se

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desertam os de um teatro em que se representam às vezes filmes que ofendem a dignidade e a decência.

A isto me d ire is : “Pois como podemos sabercom antecipação o caráter da película para nos absterm os de assistir a ela?”

O Papa pensou também nesta dificuldade e daí quer que em cada nação se estabeleça um D eparta­mento Nacional do Cine, debaixo da fiscalização da Ação Católica, a fim de que revise e classifique todas as películas e anuncie aos fiéis, por meio da im prensa, a classificação de merece. Na Colômbia esta missão vem cum prindo com adm iráveis resul­tados a “Legião Colombiana de Decência” por meio da publicação semanal na folhinha “Legião Colom­biana da Decência.” (Apartado 1476. Bogotá.)

Razões desta promessaVárias são as razões que nos devem obrigar a

fazer esta prom essa e a mantê-la.

l.° O b e m d e n o s s a s p r ó p r ia s a lm a sO cinem a im oral ou só indecente é um perigo

gravíssimo para a v irtude em razão de seu poder sugestivo: o cinem a fala aos sentidos, vista e ou­vido, por meio de quadros luminosos e, m uitas vezes, fascinadores. P or isso, abre um sulco pro­fundo em nossos ânim os: bom ou nocivo segundo o argumento projetado na tela.

Muito mais profundo é o seu influxo que o da leitura que não fala com imagens aos olhos nem aos ouvidos.

Os diários falam-nos dos delitos cinem atográfi­cos; delitos cometidos por consequência da exibi­ção de uma película. Jovens que, ao sair de um teatro, perpetraram os crim es que aí viram reali­zados e perguntados pelo Juiz acerca dos motivos que os induziram a isto responderam que o viram realizar-se numa fita.

E’ certo que este grau de sugestão supõe ind iv í­duos mui sensíveis; mas, em igualdade de c ir­cunstâncias, a sugestão opera-se até nos mais equi­librados dos espectadores.

Eis aqui um fato que comprova a nossa asserção. Ao voltar um senhor a casa encontra a em pregada

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estendida na cama e fortem ente atada. Os ladrões haviam penetrado na casa levando quanto encon­traram à mão. Denunciado o fato, a empregada é levada para os tribunais de investigação que descobrem que ela era a cúm plice do furto e que o havê-lo encontrado atada não era senão um tru ­que para despistar a polícia. Mas onde tinha apren­dido um modo tão genial para despistar os in ­vestigadores? No cinema, onde havia visto a pro­tagonista de um roubo fazer o mesmo.

2." Pelo bem dos demaisAbstendo-se de assistir a espetáculos imorais, da­

mos um bom exemplo, que vale persuadir mais que um longo discurso.

Todavia, enquanto puderm os, havemos de achar meio também de persuasão, fazendo uma verda­deira propaganda contra os espetáculos imorais. A isto nos obriga a prom essa que fizemos.

Como poderá perm anecer insensível um católico e um membro da Ação Católica ante os estragos que causa o cinema imoral, chamado pelo Papa na c i­tada encíclica: “escola de corrupção” , e “in toxi­cação das inteligências e das alm as” ? Estas di­versões são a perversão dos ânim os juvenis. No cinem a se repete todos os dias o crim e de Hero- des, quando fez degolar os inocentes, e delito mais grave até, porque se trata da morte da consciência.

E’, pois, dever urgente de apostolado e de ca­ridade im pedir ou ao menos lim itar este assassí­nio das almas.

3.° Para obter o melhoramento moral do cinemaIsto nos prova o resultado obtido pelos católicos

dos Estados Unidos. E esse efeito tornar-se-á mais vasto e sensível quando o exército dos abstencio­nistas, dos apóstolos do cinem a m oral aumentarem em todo o mundo.

Este nobre exército da salvação há de ter a sua bandeira em nossa paróquia.

ConclusãoOs governos deram providências para resolver o

problem a demográfico e económico que ameaça a vida das nações; mas hoje esta vida está sèria-Formação — 7

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mente am eaçada pela perversão dos costumes e pela relaxação da família. Já dissemos, o cinem a é um dos p rincipais fatores da quebra da m oral e da família. O qual im plica um falso conceito da vida da mesma, que é considerada por muitos, não como um dever senão como um prazer. E isto en­fraquece o sentim ento fam iliar porque a miúdo contribui a dar ao m atrim ónio e aos deveres que impõe um caráter antipático.

Nossa cam panha contra o cinem a im oral há de apoiar-se, pois, na consciência de cristãos e de cidadãos, e deve ter como fim o bem da Religião e da Pátria.

Como os legionários de Roma, combatemos pelo “altar e pelo la r” ; pro aris et focis.

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APOSTOLADO DA IMPRENSA

Escreve o fogoso apologista Tertu liano: “Dia virá para a Igreja em que o testem unho de seus escri­tores terá o valor do sangue e do m artírio .”

A com paração visa unicam ente o testemunho apo­logético, porque encerra uma grande verdade: a do inegável poder moral da imprensa.

Vejamos, pois, qual é esse poder, donde dedu­ziremos para nós o dever do apostolado da im ­prensa, dever que muitos desconhecem. Veremos fi­nalm ente como se tem de compreendê-lo e praticá-lo.

Poder da imprensaNa casa de Gutenberg, inventor da im prensa,

inscreveu-se esta legenda: “Ninguém me resiste.” Com ela nos é indicado o poder m aravilhoso da im prensa, assim como a im portância da invenção.

Pio XI diz: “A im prensa é, em nossos tempos, uma força poderosíssim a que pode converter-se na mais proveitosa ou na mais danosa para a vida do mundo e da Igreja.”

E em verdade, em nossos tempos, o povo regula a sua opinião e dirige a sua vida segundo o sen­tir do periódico.

Poderia parodiar-se o refrão castelhano que diz : “Diga-me que diário tu lês e dir-te-ei como pensas.”

Outro refrão diz: “Mais mortos fez a língua que a espada” ; e hoje poderíam os acrescentar: “Hoje a im prensa não faz menos mortos do que a lín ­gua.” O diário é arm a de largo alcance; a má lín­gua pode-se com parar com um punhal hom icida; a má im prensa tem um alcance muito maior.

Quem poderá contar os males causados pela má im prensa? O profeta Ezequiel viu em visão um campo coberto de ossos hum anos; se tivéram os a visão das almas, que cem itério vasto se ofereceria aos nossos olhos! Quantas almas m ortas para a vida sobrenatural! Pi se vamos buscando as causas encontrarem os quase sem pre as más leituras.

Dante achou no inferno a Francisca de Rím ini, culpada de adultério por ter lido, e ouviu que se7*

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lam entava dizendo: “Maldito seja o livro e quem o escreveu.”

Quantos livros, jornais, folhetos m alditos! E quan­tas almas no inferno por causa da má leitura!

E se é grande a influência da im prensa sobre a vida individual, não o é menos sobre a social; po r isso se disse que a im prensa vence canhões. E não é exagero. Vimos, durante a guerra, quanto o poder de certa im prensa anulava os efeitos dos canhões. E tão certo é que muitos governos se viram ob ri­gados a im por a censura aos jornais. Esta pública censura é a mais clara dem onstração do poder da im prensa e, em especial, da im prensa periódica.

Dever graveSe a im prensa é arma tão poderosa, e se é causa

de tantas ruínas, que faremos nós? A que rem é­dio nos socorrerem os?

O rem édio é um só: a boa im prensa. Opor a r­mas a armas. Inúteis são as lamentações e o pranto pela ruina das almas causada pela má im prensa.

Daí o grave dever do apostolado da boa im prensa.E daí o m andam ento do Pontífice Pio XI. Em o

notável discurso aos mem bros da Sociedade da Boa Im prensa de Milão, dizia: “Concebestes o desígnio de preparar, d ifundir e m ultiplicar a boa im prensa no serviço do bem. Vosso labor é o m ais eficaz e insubstituível porque o sem elhante se cura com o sem elhante.”

Esta é a necessidade im periosa dos nossos dias. Espontâneam ente nos vem à m em ória a recordação do sorriso daquele bom frade que não cria que a invenção da im prensa acabasse na te rra a trad i­cional diligência dos copistas; ou a de Maquiavel que não cria na aplicação p rática das arm as de fogo; ou a de Napoleão que não acreditava no uso do vapor como força motriz. A im prensa, como a pólvora e o vapor, impuseram-se ao mundo.

Para que há de ser a boa im prensa?O Papa responde-nos na carta ao Cardeal P a­

tria rca de Lisboa: “Por boa im prensa entendem os não só a que não contém nada contra os princíp ios da fé e as regras da moral, mas também a que se faz defensora de tais p rincíp ios.”

Portanto, não basta não falar mal de C risto: é

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APOSTOLADO DA IMPRENSA 101

necessário falar bem. Em presença de Cristo não podemos ficar neutros. O mesmo disse: “Quem não está comigo está contra mim.” E estamos com Cristo quando cremos e defendemos tudo o que Ele ensinou, quando observamos todos os seus m an­damentos, quando respeitam os os direitos e as prescrições de sua Igreja.

Isto vale para a im prensa: será boa e católica, quando, sem causar a ru ína das almas, as melho­ra, as eleva e lhes infunde um sopro de espiritua­lidade; é resolução, quando é instrum ento de edu­cação cristã.

Dever desconhecidoAgora se com preende muito bem por que o apos­

tolado da im prensa é um dos mais graves e u r­gentes para os católicos. Como descuidar um meio tão poderoso e tão apto para a difusão da verdade e do bem? E, contudo, este é um dos deveres mais desconhecidos e mal com preendidos.

Ao ver alguém os estragos que causa a má im ­prensa, disse que é invenção diabólica. Nada mais falso: todas as invenções são em si mesmas obra de Deus, enquanto são revelação e aplicação das forças da natureza, feita de Deus.

Mas também é verdade que desta como de todas as outras invenções dos últimos tempos se apode­raram os filhos das trevas, enquanto os filhos da luz se contentavam com chorar e lamentar-se, com isso cum prindo-se a palavra div ina: “Mais p ru ­dentes são os filhos das trevas que os da luz.”

0 cardeal Lavigerie, apóstolo dos negros, excla­m ara em um de seus discursos: “Uma coisa nota-se, nestes momentos, nos católicos: a caridade em prol das obras de beneficência é inesgotável, têm dinheiro para constru ir igrejas, hospitais e capelas, para ali­v iar os pobres, para desenvolver as instituições piedosas. Mas a luta destinada a defender a Igreja e a sociedade divina não parece preocupá-los e não há dúvida que esta luta é, na hora presente, im por­tante sobre toda ponderação. F undar e destinar um diário, encam inhado a defender a boa causa, é quase tão necessário como constru ir uma igreja.”

Precisa, pois, sacudir a inércia, form ar uma nova consciência.

Todos os católicos hão de em penhar-se nesta obra

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e, de m aneira particular, os agregados à Ação Ca­tólica, estes que estão consagrados ao apostolado.

O exemplo vem de cima e de longe: do mesmo S. Paulo, modelo dos apóstolos. E’ célebre a frase de Monsenhor Ketteler: “Se S. Paulo tornasse ao m un­do, far-se-ia jornalista .” Frase que Pio XI comentou em um discurso deste m odo: “Disse um que, se o apóstolo S. Paulo vivesse em nossos dias, seria jo r­nalista. Não há dúvida que S. Paulo, não obstante as dificuldades m ateriais, com suas cartas e seus es­critos tão m aravilhosam ente m ultiplicados e que, ao fim de seus dias, levou a tantas partes a luz do seu Evangelho, não há dúvida que aquele homem de al­ma tão ardente na propagação da doutrina de Cristo, se tivesse servido da mais poderosa arm a para p ro ­pagar a ideia e o pensam ento que é a im prensa.”

Como cumprir este ApostoladoEste dever há de se cum prir, especialmente, de

três m aneiras: com a leitura, com a difusão, com a ajuda m aterial c moral para a boa im prensa.

l.° Com a leituraTodos os católicos, mas de m aneira especial os

inscritos na Ayão Católica, considerarão como um de seus principais deveres o ler os diários cató­licos, instrum entos eficazes de formação religiosa, moral e social.

Alguns se escusam deste dever dizendo que os outros diários estão m elhor redigidos. Pois “se nossas publicações são até deficientes e necessi­tam m elhorar, o modo mais eficiente para alcançar isto é apoiá-las; de outro modo cairem os no cír­culo v icioso : não se apoia a im prensa católica por­que é defeituosa e im perfeita, e as publicações são im perfeitas e defeituosas porque não são apoia­das.” (Mons. G. B. G irardi, Bispo de Pavia.)

A im prensa sustém-se com a leitura e com as assinaturas.

2.° Com a difusão e com a propagandaNão basta ler um bom periódico, é preciso fa­

zer lê-lo e este é um dever particu lar da Ação Ca­tólica como ensina Pio XI: “Uma atividade a que a Ação Católica tem de atender com preferência é a de procurar a difusão da boa im prensa, e p ar­ticularm ente de im prensa d iária, a qual, por ser mais difundida, é também a que exerce m aior influxo.”

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APOSTOLADO DA IMPRENSA 103

A Ação Católica é a colaboradora da Jerarquia e era nenhum campo pode colaborar raais eficaz­mente que neste da im prensa, pois, como o diz o já citado Pontífice: “Os diários católicos são os porta-vozes da Jerarquia e de seus ensinam entos.”

Ademais, a voz do periódico sempre se ouve até quando cale a do sacerdote. Dizia um católico ale­mão num congresso: “O diário é o m elhor coadju­tor do Pároco.” O Pároco não prega senão uma vez por semana e tem-se de ir escutá-lo; o diário^ prega todos os dias e vem procurar-nos em casa.”

3.° Com a ajuda e a colaboraçãoAjuda moral, m ormente da oração. Ajuda mate­

rial, porque a im prensa, e em especial o diário, não pode sustentar-se sem uma poderosa organiza­ção financeira.

Os católicos hão de habituar-se a considerar co­mo obra de beneficência o ajudar pecuniàriam ente a im prensa. Não só de pão vive o homem, disse o Salvador; e a boa im prensa quer n u trir as almas com o pão da verdade e da virtude. Não será esta acaso obra de beneficência?

ConclusãoO célebre W indthorst, fundador do partido do

Centro, na Alemanha, dizia: “Temos necessidade de um sexto m andam ento da Igreja: ajudar à boa im ­prensa.”

Bem com preenderam a necessidade deste p re­ceito os membros de certa organização juvenil de Ação Católica, que na sede de suas reuniões insta­laram um cofre com esta legenda: “Para o diário católico”, e ali cada um podia depositar quanto quisera, em favor da boa im prensa. No fim do ano e ao abrir o cofre encontraram -se cinquenta liras com as quais se tom aram assinaturas do diário cató­lico, para os habitantes da região. Ao ano seguinte os que tinham desfrutado do benefício do diário ca­tólico queriam pagar a metade da assinatura, e as­sim o diário católico foi penetrando nos arredores.

Este é um exemplo adm irável de apostolado em favor da boa im prensa. Quando estarão anim ados de semelhante espírito todos os membros de Ação Católica?

Quando isto se alcançar, estará resolvido o pro­blema do diário católico e da boa im prensa.

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0 APOSTOLADO DO LIVROIntrodução

Elogiando o falecido Pontífice Pio XI as ativida­des da Sociedade da Boa Im prensa de Milão, dizia um dia estas palavras cheias de verdade: “Vosso trabalho é verdadeira obra de caridade, cum prida sapientissim am ente como quer o Espírito Santo.”

Quando pronunciou estas palavras, tinha o Papa consigo “Os Noivos” de Manzoni, de quem era ad­m irador. Xaqueia novela se fala da fundação da Biblioteca Ambrosiana, obra do Cardeal Frederico Borromeu, da qual se diz que “se fez lutando con­tra a ignorância, a inércia e a apatia” e o agudo novelista chama-a de “a m elhor e mais útil esmola.”

Somos do parecer de Manzoni, do Cardeal Bor­romeu e do mesmo Augusto Pontífice Pio XI, e, por isso, vamos expor as razões do nosso modo de pensar.

Dever de caridadeReza um provérbio ita liano: “Aquele que lê, co­

me” e assim é na realidade: a leitura engendra as ideias, as ideias são o alim ento da inteligência. A leitura, pois, nutre e fortalece a mente.

E assim como temos cuidado para que os ali­mentos que nutrem o corpo sejam sãos, de outro modo se converteriam em causa de intoxicação: de igual m aneira temos de velar por que os livros que são o alimento da inteligência sejam sãos.

O bom livro é o sustento do espírito.Sendo assim, será obra de caridade o procurar

que nossos irm ãos tenham sem pre alimento in te­lectual são. Dar um pedaço de pão ao esfomeado é obra de caridade muito excelente; mas será m aior o procurar o sustento de tantas almas extenuadas por falta de sãs leituras.

Mas quem cogita das necessidades da alma? Quantos são os que com preendem esta obra de ca­ridade?

Ao menos nós, membros da Ação Católica, con­sagrados ao apostolado, devemos ter cuidado de nossas próprias e das almas dos próximos, como quer o Papa, quando nos diz que a “Ação Católica

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O APOSTOLADO DO LIVRO 105

tem de preparar, d ifundir, m ultiplicar a boa im ­prensa no serviço do bem.”

Eficácia do livroAlguns, quando se lhes fala da boa im prensa,

pensam logo na im prensa periód ica: diário ou re­vista. E é natural que estas publicações, que são as mais lidas, atraiam a nossa atenção. Mas convém não olvidar as outras publicações e, sobretudo, o livro.

Na realidade, se o periódico vence ao livro em difusão, porque é mais lido, perde muito em profundidade. Com efeito, o livro, com penetrar mais na alma, deixa im pressões mais duradouras, diz mais coisas do espírito e perm anece conosco por mais tempo, até depois da leitura, como bom amigo a quem nunca se abandona.

Por isso, diz o refrão que “um bom livro é um bom amigo” e o E spírito Santo assegura-nos que “quem achou um bom amigo encontrou o m aior dos tesouros.” Ao invés, quem topa com um mau livro, dá com sua ruína, como confirm a a expe­riência de todos os dias.

A leitura de bons livros deu muitos santos à Igreja, ao passo que a de maus livros foi a causa da ru ína de muitos, especialm ente dos jovens.

Vamos provando estas asserções com alguns da­dos históricos.

Efeitos do bom livroInácio de Loiola, oficial do exército espanhol é

gravemente ferido no sitio de Pam plona, e vê-se obrigado a se re tira r a um castelo em busca da cura. Para d istra ir os ócios da enferm idade pede uma novela. Na escassa biblioteca do castelo não há mais que a vida de Cristo e algumas vidas de Santos. Pede lhe tragam a de S. Francisco de As­sis e de S. Domingos. Logo se sente transform ado e daquela leitura data a sua conversão em soldado de Cristo.

Outro fato mais recente.Bem conhecida é a biografia de Pedro Jorge

Frassati, escrita pelo salesiano Padre Antônio Coiazzi.

Um dia recebe o autor a seguinte carta muito sign ificativa:

“Ontem de tarde tomei o trem. Para m atar o tempo de longa jornada que ia fazer tinha comigo

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uma novela, mas de repente meus olhos toparam com um em brulho que me chamou a atenção e, levado pela curiosidade, o abri. Ao ver que tinha a vida de Pedro Jorge Frassati, disse entre m im : Estas são coisas de Padres e agora não estou para ler beatices. Aprofundei-me, pois, na leitura do periódico; mas, como a travessia era longa, bem depressa acabei de o ler. Tomei, então, sem inte­resse, a vida do jovem e li ao acaso algumas pá­ginas, mas, aos poucos, fui-me sentindo atraído, e não a deixei senão com a última linha.

Não saberia dizer-lhe o que experim entei, pois, apenas chegado ao term o da viagem, dirigi-me im ediatam ente à igreja, pus-me de joelhos e su­pliquei ao sacerdote que me ouvisse de confissão. Escutou-me com paciência e com carinho e con­duziu-me depois ao banquete eucarístico.

Naqueles momentos senti em mim um estrem e­cimento de bondade e supliquei a Pedro Jorge que me conservasse sem pre religioso.”

Efeito da leitura de um bom livro.E quem nos dirá os bens que produziu a lei­

tu ra da vida de S. Teresinha do Menino Jesus?Efeitos do mau livro

Mas, em outro sentido, quanto é o mal que pode causar um livro p re ju d ic ia i! Vejamos alguns exem­plos.

Faz apenas alguns anos, ventilava-se nos trib u ­nais de Paris a causa de um m enino de quinze anos, acusado do assassínio de um m enino de seis. Qual era a causa do delito? Explica-nos assim o mesmo crim inoso : “Li numa novela a história do assassínio de um m enino e isto me surpreendeu profundam ente. A casualidade pôs-me frente a este menino de cujo assassínio sou acusado e quis re­produzir e gozar a cena que tinha lido.”

Quem é o mais culpado? O m enino assassino ou o escritor do conto?

Não faz muito que a im prensa nos deu notícia de um jovem encontrado morto em seu quarto. Ao revistar a casa a autoridade achou sobre a mesa de cabeceira aberto um livro de Ortiz, no qual se narra com cores sedutoras o suicídio de um jovem. A leitura foi fatal.

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O APOSTOLADO DO LIVRO 107

E mesmo que a leitura de maus livros não con­duza sempre a estes excessos, deixa na alma o horror e a tristeza.

Conta-nos S. Teresa de Jesus, no livro de sua vida escrita por ela mesma, que esteve ao ponto de perder-se pela leitura dos livros de cavalaria. “Habituei-me a ler, escreve, e parecia-m e que não era pecado perder tanto tempo naquele vão exer­cício. A paixão apoderou-se de tal m odo de mim que não podia estar contente se não tinha algum livro novo. Comecei a vestir-me com elegância e a querer fazer boa figura, para o que cuidava muito do cabelo e de todas as outras vaidades deste gê­nero.” Por sorte o pai, cuidadoso da educação da jovem, encom endou-a a bons educadores e junto deles acabou-se o perigo das más leituras.

Normas práticasComo crislãosAmar o bom livro, grande meio de formação es­

piritual. Afeiçoar-se às vidas dos Santos, sobre­tudo dos que em nossos dias se distinguiram por uma vida exemplar.

Recusar de maneira absoluta todo livro frívolo, mesmo que não seja imoral, e pedir sempre o pa­recer de um Confessor ilustrado. '

Como apóstolosPropagar o bom liv r o : fazê-lo conhecer, acon­

selhá-lo, dá-lo emprestado. Este é um dos prin­cipais deveres dos membros da Ação Católica.

Destruir os livros m aus: este é um dos m eios de acabar com os focos de corrupção espiritual.

D epois da pregação de S. Paulo em Éfeso, os cristãos trouxeram-lhe os livros que continham fórmulas mágicas e “os queimaram em presença de todos e, feito o cômputo, acharam que valiam cinquenta m il denários”.

O exem plo vem -nos de cima e de longe.Conclusão

Um instrumento de apostolado do livro são as bibliotecas paroquiais e diocesanas. Como m em ­bros da Ação Católica favoreçam os aos nossos Pá­rocos na consecução de uma biblioteca paroquial, onde, por preços m ódicos, nos será brindado são alim ento para a alma.

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O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA

IntroduçãoS. Inácio Mártir chaina ao Papa “Presidente da

caridade”, palavra que se há de entender aqui em seu sentido estrito de beneficência.

Todos aqueles a quem o Papa chama seus f i­lhos hão de imitá-lo 11a prática desta virtude e hão de ser, portanto, m inistros e instrum entos da beneficência.

A caridade ou a beneficência é um dever de cristão.

Mas é também um grande m eio de apostolado e, por esse aspecto, queremos considerá-la por ora, porque interessa de m odo especial aos associados na Ação Católica. A qual abarca em seu programa toda forma de apostolado e, por isto mesmo, o da caridade ou. da beneficência que é um dos mais eficazes.

P io XI ensina que se tem de procurar o bem do corpo pelo amor da alma: chegar à alma por m eio do corpo. Este foi o segredo da grande ca­ridade de S. V icente, de S. Benedito Cottolengo e de S. João Bosco. Assim se explicam as gran­des conquistas das almas que é o que tem de fa­zer a Ação Católica.

Vamos estudar:1. ° Como e por que a beneficência é um m eio

de apostolado.2. ° Como usavam dela Jesus Cristo, os Após­

tolos e a Igreja.A beneficência é um meio de apostolado

Por várias razões das quais a prim eira é que a beneficência é uma demonstração efetiva da di­vindade da religião.

A le i da caridade é como o distintivo e o lema que distingue a nossa santa religião, a qual, como seu autor, é caridade. Quem senão Cristo podia dar a seus seguidores este p rece ito : Amai-vos çomo

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O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA 109

irmãos. Nenhuma religião nem filosofia nunca deu a seus adeptos este m andam ento milagroso. A ca­ridade é uma como irradiação da luz divina.

Mas que vale a caridade, se não for mais que sonido de palavras ou puro sentim entalism o? Por isso ensina-nos o apóstolo S. João: “Filhinhosmeus, amemo-nos não de palavras e de língua, se­não com as obras e de verdade.” Se de verdade amamos a nossos irmãos, temos de desejar-lhes e fazer-lhes o bem.

Por isso, a beneficência é m anifestação da ca­ridade e esta prova a divindade da religião.

Na realidade a beneficência foi sem pre um ar­gumento de propaganda e de defesa da religião cristã e, portanto, um meio de conversão à fé.

O mundo pagão converteu-se ao cristianism o por meio da pregação e dos milagres dos Apóstolos, mas, sobretudo, pelo resplendor da caridade benéfica dos prim eiros cristãos. Os nobres e senhores considera­vam seus escravos como irm ãos; todos, ricos e po­bres, participavam em dias determ inados dos ága­pes ou banquetes de caridade; cada um trazia os alimentos segundo suas possibilidades, os ricos m ui­to, pouco os pobres, mas todos comiam a uma mesma mesa e na mesma m edida. A beneficência era p ra ­ticada, não só em Jerusalém , senão em todas as com unidades cristãs, de form a que se podia dizer que nenhum a delas padecia necessidade.

Os pagãos, diz-nos Tertuliano, ficavam atónitos ante este espetáculo de fratern idade e de caridade e exclam avam : “Vede como se amam.” Este p ro ­ceder atraía sim patias à religião, autora de seme­lhantes prodígios, e daí as num erosas conversões.

Notável é a conversão de S. Pacômio. Pagão, aderente ao exército de Constantino, chegou um dia em que as tropas m orriam de fome; os cidadãos co­nhecedores da necessidade levaram espontâneam en­te alim entos aos soldados em tal abundância que Pacômio ficou m aravilhado e exclam ou: “Mas que classe de gente é esta?” Soube que eram cristãos e que sua religião lhes ordena socorrer e ajudar os necessitados. Im ediatam ente decidiu abraçar esta religião e nela chegou a ser um de seus Santos.

E não se dá o mesmo hoje em dia? As obras de

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caridade convertem mais ím pios que os livros de apologética, como sucede com a Pequena Casa da Providência de Turim , verdadeiro prodígio de ca­ridade e asilo de todas as m isérias humanas.

Jesus Cristo mesmo predisse o valor probatório da caridade, quando no Sermão da últim a Ceia rogou ao P a i: “Pai, não rogo somente por eles, senão também pelos que por sua palavra chegarem a crer em mim, para que sejam todos um e o m un­do creia que tu me enviaste.” Daí que a caridade fraterna dos cristãos é um dos meios para o mundo crer em Jesus Cristo, enviado do Padre.

Outra razão é que a beneficência toca o coração do favorecido, e, ganhando o coração, é mais fácil chegar à inteligência e à vontade.

Esta verdade apoia-se em a natureza psicológica do homem e tem para si a prova da experiência, ao m ostrar-nos que, fazendo o bem aos corpos, é m ais fácil ganhar a alma.

Isto se dava com S. Francisco de Assis, de quem se escreve no livro “F ioretti” que “a quantos cura­va o corpo, Deus lhes curava a alma.” Certa vez, num a hospedaria onde os filhos do Santo serviam a um leproso tão im paciente e insuportável que pa­recia, e assim era, estar possesso, os frades quise­ram despedi-lo, mas antes advertiram a S. F ran­cisco que vivia ali perto. O qual foi incontinenti aonde estava o leproso insuportável e o exortou à paciência, mas sem resultado nenhum. Então o San­to lhe disse: “Posto que não estás contente com teus servidores eu mesmo te servirei.” O leproso res­pondeu-lhe: “Quero que me laves todo o pus que sai de mim mesmo e que está tão fedorento que nem eu posso aguentar o mau cheiro.” Logo S. Francisco, dizem-nos “F ioretti”, fez esquentar água com ervas perfum osas e, por divino milagre, onde o Santo tocava com suas mãos a lepra se retirava, deixando são o enfermo. Começou a sarar a carne, e começou a sarar a alma; vendo o leproso que o corpo sarava, começou a sen tir grande com pun­ção e penitência de seus pecados e pôs-se a cho­ra r amargamente. E enquanto o corpo lançava fora a lepra que o afetava, a alma desprendia-se por dentro da lepra do pecado, por meio das lágrim as e do arrependim ento.

110 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

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O APOSTOLADO DA BENEFICENCIA 111

Este é o método do apostolado franciscano: cu rar a alma, sarando o corpo; ou, como diz Pio XI, ‘‘buscar a alma através do corpo”. E quantos fatos nos falam da eficácia deste método!

Exemplo de Cristo, dos Apóstolos e da IgrejaExem plo de Cristo

Diz-nos S. Lucas que o Salvador passava fazendo o bem, curando os corpos, mas, sobretudo, as almas. Lembremo-nos da cura do paralítico que trouxe­ram para que o Senhor o curasse; começou por lhe curar a alm a: “Confia, filho, teus pecados te são perdoados.” E como o acusassem de blasfêmia, res­pondeu: “A fim de que saibais que o Filho do Ho­mem tem poder de perdoar os pecados”, disse ao p a ra lítico : “Levanta-te, toma teu leito e anda.” E, deste modo, enquanto o curava da paralisia corpo­ral, cura-o da enferm idade da a lm a .. . À benefi­cência corporal vai acom panhada da espiritual.

E não aconteceu o mesmo na milagrosa m ultipli­cação dos pães? Dá às multidões o pão do corpo, mas logo lhes dá o da alm a: “T rabalhai não pelo alimento que passa, senão pelo que dura até a vida eterna. Eu sou o Pão vivo descido do céu. Quem come a m inha Carne e bebe o meu Sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia.”

A seus discípulos recom enda o mesmo m étodo: “Em qualquer cidade onde e n tra rd e s .. . curai os enfermos que ali houver e dizei-lhes: —• Aproxima- se o Reino de Deus.” P rim eiro curai e depois anun­ciai-lhes o Reino de Deus. À pregação há de p re ­ceder a beneficência, para que esta p repare os ân i­mos a receber o anúncio salutar. Os Apóstolos deve­rão evangelizar o mundo com a caridade e a palavra.

Exem plo dos ApóstolosA história diz-nos que foram fiéis seguidores do

preceito do Mestre, exercitavam o apostolado da palavra e o da beneficência, curavam os corpos para curar as almas. Basta recordar o fato da cura do paralítico na porta do templo de Jerusalém , e da qual se serve o apóstolo S. Pedro para fazer ao povo um serm ão: “O nome de Cristo curou a este

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112 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

que vedes e conheceis, e a fé que vem d’Ele deu a este a perfeita saúde.” E peia palavra de S. Pe­dro se converteram cinco mil homens. Depois do benefício, a exortação e a conversão.

Exem plo da IgrejaÀ luz destes exemplos a Igreja sem pre se tem

preocupado com socorrer às necessidades m ateriais dos povos, criando um a vasta rede de obras de beneficência que são o inais belo ornato de sua h istória b im ilenária: hospitais, asilos, institutos de correção, hospícios, e t c . . . .

E sempre, por meio destes benefícios, chegou à salvação de m uitas almas.

Já antes dissemos como a Casa da M isericórdia de Turim é um argumento em favor de nossa tese e, por isso, pôde o d iretor da obra assegurar ao Papa Bento XV que nenhum dos asilados ali tinha m orrido sem receber os últimos Sacramentos.

ConclusãoNum discurso à Juventude Católica Italiana dizia

o Papa Pio X I: “O mundo não crê hoje nas pala­vras da fé, mas, sim, nas da caridade.”

Esta verdade foi que sugeriu a F rederico Ozanam a fundação das Conferências de S. Vicente de Pau­lo. Um dia, seus com panheiros na U niversidade de Paris lhe disseram : “Tendes razão quando falais do passado; o cristianism o fez verdadeiram ente p ro d í­gios naquela época; mas hoje está morto. Portanto vós que vos orgulhais do nome de católico, que fa­zeis? Onde estão as obras que m ostram vossa fé?”

“Têm razão”, disse prontam ente Ozanam, sem embaraço. “Falta-nos pôr de acordo a fé com as obras. Mas que fazer para m ostrar-nos verdadeira­mente católicos, senão o que agrada a Deus? So­corram os, pois, o próxim o, como fazia o Salvador, e ponham os a fé sob as asas protetoras da caridade.”

Esta é a resolução que temos de tom ar os cató­licos de hoje e, em particular, nós católicos m i­litantes. Vamos à alma do povo para ganhá-lo para Cristo por meio da caridade.

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SACERDÓCIO E AÇÃO CATÓLICA

A vinte de Dezembro de 1935, Pio XI brindava o m undo com a célebre encíclica sobre o sacer­dócio, documento que teve grande aceitação em todo o universo e que não só interessa aos sacer­dotes, mas também aos que com eles colaboram nas fileiras da Ação Católica.

A encíclica divide-se em três partes: na p r i­m eira trata-se da dignidade do sacerdócio, na se­gunda da santidade e na terceira da preparação para o mesmo.

Queremos dem onstrar que, em cada uma destas partes, algo há que se relaciona com a Ação Ca­tólica.

Dignidade do sacerdócioO Papa demonstra, antes de tudo, a altíssima

dignidade do sacerdócio, m inistério que “tem por objeto não as coisas hum anas e transitórias, se­não as divinas e eternas.” O sacerdote, afirm a o Santo Padre, tem um ofício, em certo modo, su­perio r ao dos espíritos puros que estão na presença de Deus, “porque, qual dos anjos pode consagrar o Corpo de Cristo, perdoar os pecados e ab rir as portas do céu?”

Tinha, pois, razão o santo cura de Ars ao dizer: “Se me encontrasse com um sacerdote e um anjo, cum prim entaria prim eiro ao sacerdote e, depois, ao anjo.”

Que estas palavras não são um exagero, dem onstra o fato extraordinário que se lê na vida de S. F ran ­cisco de Sales. 0 Prelado acabava de ordenar um sacerdote de A nnecy: term inada a cerim ónia, en­quanto se retirava o cortejo da igreja, o novo sa­cerdote viu ao seu lado o Anjo da Guarda que o acom panhava. Chegados a casa pôs-se a um lado para deixar passar o Anjo. Mas o Anjo não se mo­veu até que o sacerdote lhe havia precedido.

Pois bem, a Ação Católica, participação no apos-Formação — 8

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114 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

tolado da Jerarquia, partic ipa também da digni­dade da mesma.

Este é o ensinam ento de Pio XI quando escreve: “Os que militam na Ação Católica, por uma graça especial de Deus, são chamados a uma dignidade muito sem elhante à do sacerdote: porque a Ação Católica não é outra coisa do que o apostolado dos fiéis que, sob a direção dos Bispos, prestam o seu auxílio à Igreja e, em certo modo, integram a sua missão pastoral. Pelo que se vê quão grande é esta institu ição!”

E na prim eira encíclica Ubi arcano Dei escre­vera o mesmo Pontífice: “Quando os fiéis, unidos aos sacerdotes e aos Bispos, participam da obra do apostolado e da redenção, então mais que nunca são a raça escolhida, o sacerdócio real, o povo santo de que fala o apóstolo S. Pedro.”

SantidadeMas quanto mais elevado é o ofício, m aiores

serão os dotes que adornem a quem o desempenha. Por isso, a dignidade do sacerdócio, como escreve o Papa na segunda parte da encíclica, “exige de quem está investido dela uma elevação de espi­rito, uma pureza de coração, uma santidade de vida correspondente à sublim idade e santidade do ofício sacerdotal.

Grave responsabilidade para os sacerdotes e para os fiéis o dever de ajudar-lhes com a oração, a fim de que possam chegar ao ideal de perfeição sacerdotal.”

Mas aos sócios da Ação Católica corresponde-lhes outro dever: em bora participem da dignidade do sacerdócio, também estão obrigados a m aior per­feição. Hão de distinguir-se entre todos os fiéis pelo exercício de todas as virtudes e, em p arti­cular, da piedade, da pureza de costumes, da ca­ridade para com o próximo.

A santidade, como o apostolado, não é, pois, um privilégio dos sacerdotes; todos os filhos da Igreja são chamados a ela e especialmente, como já disse­mos, os que se consagram a “uma obra tão seme­lhante à do sacerdote.” E todos têm a possibilidade disto, seja qual for o estado de vida que levem.

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Prova e exemplo do que acabamos de dizer é a vida do servo de Deus, Luís Necchi. Ao contar vinte e cinco anos, já médico afamado, deseja san­tificar-se, consagrando-se ao apostolado, pois ainda não decidiu qual será a sua vida, se sacerdote ou leigo, se no convento ou no século, se celibatário ou casado. Recolhe-se a uma casa de retiro e no silêncio e oração pede luzes do alto. Ao term inar o retiro escreve no livro de resoluções: “Quanto ao meu estado de vida parece-me ser a vontade de Deus que eu escolha o estado comum como meio de santificação.”

E assim foi: para este grande apóstolo da Ação Católica o estado comum foi o do m atrim ónio no qual se santificou. P or isso, dizíamos que a san­tidade não é privilégio de algumas almas senão um dever para todos.

PreparaçãoA terceira parte da encíclica começa assim : “Se

tão alta é a dignidade do sacerdócio, e tão excelsos os dotes que requer, segue-se daí a necessidade im prescindível de dar aos candidatos do Santuá­rio uma preparação conveniente.”

E’ evidente, pois, se todo ofício reclam a p repa­ração, também a exige o apostolado. Os Doze es­tiveram três anos na escola de Cristo, e hoje a Igreja quer que os aspirantes ao sacerdócio per­maneçam doze anos nos sem inários, para p repa­rar-se à sua missão por meio da oração e do estudo. E para que esta preparação seja adequada, o Papa dá, na encíclica que vamos com entando, normas para os bispos, para os diretores de sem inários, para sacerdotes e até para os leigos.

Pelo que toca às vocações sacerdotais, o Papa reclam a de m aneira especial o apoio da Ação Ca­tólica, como veremos no próxim o estudo.

Contudo os sócios da Ação não só devem cooperar na preparação dos sacerdotes, mas também prepa­rar-se a si mesmos para a obra do apostolado, obra tão semelhante à do sacerdote, para usar a expressão do Pontífice.

E também hão de preparar-se como os asp iran­tes ao sacerdócio, com a oração e o estudo.

SACERDôqjO E ACAO CATÓLICA 115

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116 FORMAÇÃO PARA O AfiOSTOLADO

Com a oração, ou seja com as obras de piedade, para form ar a Cristo em nós. O Santo Pontífice Pio X escrevia estas memoráveis p a lav ras: “Sóquando tenham os formado a Cristo em nós, po­deremos facilmente restituí-lo à família e à so­ciedade.” E mais notáveis são ainda as palavras do Padre Mateus Crawley, arauto da devoção ao Sagrado Coração: “O apóstolo é um cálice, cheio até as bordas, da vida de Jesus Cristo, e essa su­perabundância derram a-se sobre as almas.”

A oração há de preceder à ação. O célebre Pe. Monsabré, pregador de Nossa Senhora de Paris, an­tes de subir ao púlpito, rezava de joelhos o terço; e como um amigo lhe perguntasse a razão deste proceder, respondeu-lhe: “Tomo a últim a infusão.”

Com o estudo. Não é necessário que estudeis a teologia como os sem inaristas, mas, sim, deveis conhecer a doutrina cristã, o suficiente para po­der defendê-la e difundi-la no meio ambiente. Um m embro da Ação Católica há de distinguir-se por sua formação religiosa.

ConclusãoEm 1921 se ventilou, na sala de Audiências de

Milão, um processo contra um sacerdote que, afi­nal, foi absolvido. D urante a leitura da sentença um grupo de jovens da Ação Católica atira ao Padre, em sinal de alegria e de reparação, rami- lhetes de flores brancas. Logo o acom panharam e conduziram em triunfo até à casa.

Admirável este gesto dos jovens milaneses. Mas há outras flores mais preciosas que todos os mem­bros da Ação Católica devem oferecer aos sacer­dote, as flores da oração, a fim de que, com a graça de Deus, possam corresponder a todos os deveres e santificar os demais.

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A AÇÂO CATÓLICAE AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS

IntroduçãoAssim como o Clero tem deveres para com a

Ação Católica, também os fiéis os têm p ara com o Clero.

Antes de mais nada, a Ação Católica há de tra­balhar com a Jerarquia para que o Clero seja su­ficiente e bem preparado, para o qual há de fa­vorecer as vocações sacerdotais e ajudar os semi­nários.

Este dever obriga todos, mas, de m aneira espe­cial, os m ilitantes da Ação Católica.

Na encíclica sobre o sacerdócio católico de que antes fizemos menção, diz o P apa: “A Ação Ca­tólica, como participação do laicato no apostolado jerárquico da Igreja não pode desentender-se deste problem a vital das vocações sacerdotais.” Veremos, p o rtan to :

1° Por que a Ação Católica tem este dever.2. ° Alguns meios de cumpri-lo.3. ° As vantagens que daí derivam.

O deverA Ação Católica tem o dever de colaborar, por

quantos meios estejam ao seu alcance, para que as vocações sacerdotais se cultivem e cheguem a feliz coroamento.

A Ação Católica tem como fim supremo o ad­vento do Reino de Deus; mas como poderá difun­d ir este reinado suavíssimo sem sacerdotes e m i­nistros de Cristo? E como teremos bons sacerdo­tes sem uma formação conveniente?

Pois bem, o meio de form ar as vocações sacer­dotais é o sem inário, do qual depende, em grande parte, o porv ir das dioceses e das paróquias. Po­derá a Ação Católica encarar com olhos ind iferen­tes este máximo problem a?

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A Ação Católica está constituída para ajudar à Jerarquia; pois bem, a prim eira e principal so­licitude desta são os sem inários.

A partir do Concílio de Trento, a Igreja quer que cada uma das dioceses tenha o seu próprio sem inário; em Roma existe uma Congregação en­carregada de vigiar o progresso desta instituição.

S. Carlos Borromeu chamava aos sem inários o Coração do coração dos Bispos.

Como cumprir este dever

Exporei três m eios ao alcance de todos.

1." A o r a ç ã o

“Nada tão necessário, útil e oportuno — escreve Pio XI — como a oração para ter bons e santos sacerdotes. Deus mesmo ensinou-nos este m eio e revelou-o com palavras tão solenes que nenhum outro argumento teve nos lábios do Mestre expres­são tão enfática, tão alta e tão absoluta.”

“D epois da oração com que nos ensinou a re­zar ao Pai nosso que está nos céus, vem aquela outra em que nos ensina a rogar ao Pai para que envie operários à sua m esse.”

A Igreja faz rezar aos fiéis, nas quatro têm po­ras do ano, quando se conferem as Ordens Sa­cras, a fim de que o céu conceda bons sacerdotes.

Santa Teresinha do Menino Jesus declarava: “Vim para o Carmelo para salvar as almas, mas sobretudo para rezar pelos sacerdotes.”

E’ necessário, pois, rezar a Deus para que envie sacerdotes à sua Igreja; nenhuma petição pode ser mais agradável a Deus, nenhuma m ais meritória.

2.° C o m a p r o p a g a n d a

Precisa fazer com preender a alta dignidade e as sublimes recom pensas do sacerdócio, falando aos m eninos e aos adultos, aos filhos e aos pais.

Isto é o que vem fazendo a Ação Católica com o aponta, com singular com placência, o Papa da m en­cionada encíclica sobre o sacerd ócio : “Com íntim a satisfação vem os que a Ação Católica se distingue em todos os lugares e em todos os campos, mas

118 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

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A A. C. E AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS 119

de m aneira especial neste; certamente o m elhor prém io destes labores é ver as vocações sacerdotais e religiosas que vão florescendo nas associações ju­venis. Sentir-se-á verdadeiram ente orgulhosa a Ação Católica com esta honra que sobre ela recai e há de persuadir-se que, de nenhuma outra maneira, poderá colaborar m elhor neste aumento das fileiras do Clero secular e regular e participar no verda­deiro sentido daquele sacerdócio real que o Prín­cipe dos Apóstolos atribui ao povo dos rem idos.”

3.° C o m a a j u d a m a t e r i a l

0 Salvador escolheu seus apóstolos entre as classes hum ildes e sem recursos. O mesmo proce­der emprega ainda hoje em dia: as vocações sacer­dotais florescem , sobretudo, entre as fam ílias pobres.

Daí a necessidade de ajudar aos m eninos que se sentem cham ados ao sacerdócio e aos institutos onde se formam e para o qual os Bispos costu­mam prescrever semanas especiais em favor dos sem inários.

À frente desta empresa hão de estar todos os membros da Ação Católica.

Nisto a Ação Católica não faz mais que conti­nuar uma gloriosa tradição, pois desde o seu nasci­mento se tem preocupado com esta necessidade da Igreja.

VantagensMas a nossa colaboração para a obra das vo­

cações sacerdotais não só é um dever, como pro­vamos, senão também uma vantagem individual e social.

Antes de tudo, uma v a n t a g e m i n d i v i d u a l . D i­zia o Cura de Ars em um de seus notáveis cate­cism os ao p o v o : “S, Bernardo ensina-nos que to­das as graças nos vêm por interm édio de Maria, e podemos juntar que também nos vêm por in ­term édio do sacerdote, se não, ide confessar-vos à SS. Virgem ou a algum dos anjos. Ela não poderá absolver-vos, nem tão pouco um dos anjos; mas o m ais hum ilde dos sacerdotes d ir-vos-á: — Eu te absolvo, vai em paz. — Todo bem nos vem, pois, por interm édio do sacerdote.”

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120 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

E acrescentava o Santo: “Vede como tendes um grande interesse em p reparar sacerdotes para Deus e quanto mais santos sejam m aiores graças vos obterão.”

Vantagem social.Que seria da sociedade sem a religião de Cristo?E como seria possível a religião sem os sacer­

dotes?Olhemos ainda para o Cura de Ars neste ponto :

“Depois de Deus o sacerdote é tudo. Deixai uma Paróquia sem sacerdote por lapso de um ano e que será dela? Contemplai as regiões pagãs onde não há sacerdotes: ali se adoram os anim ais e as p lantas.”

Em verdade, o sacerdote de Cristo é o d istri­buidor de todos os bens da redenção, o m ensa­geiro da verdade evangélica, o arauto e guardião da civilização.

Conclusão

Como a pobre Mamãe M argarida não tem com que custear a educação de seu filho Bosco, este d iz-lhe: “Eu irei de porta em porta pedindo uma ajuda.”

Obtido o consentim ento, o m enino vai-se por toda a aldeia de Chieri, pedindo esmola. Os ha­bitantes de Murialdo, que conheciam os desejos do filho de M argarida, mostram-se com ele generosos.

Quem houvera dito àqueles hum ildes m oradores que, socorrendo ao filho de M argarida, coopera­vam na grandiosa obra dos salesianos?

Aquele que reza e sustenta as vocações sacerdo­tais receberá um dia, no além, a recom pensa de suas liberalidades. E esta vantagem há de mover-nos a ser liberais e generosos em nossa cooperação.

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Objetivos de nossa defesaIntrodução

Term inando, devemos fazer frente ao perigo que ameaça as nações católicas da América da parte das seitas protestantes, e lem brar os deveres que incumbem aos membros da Ação Católica na Cam­panha de Defesa.

Mas quais são os objetivos de nossa defesa? E’ o que queremos dar a conhecer neste estudo.

Quatro são os objetivos de nossa defesa: a re­ligião de Cristo, a m oral de Cristo, o Papado, a unidade e a grandeza da Pátria.

Defender a religião de Cristo

O Protestantism o de hoje não é o mesmo que en­sinaram Lutero e demais fundadores da Reforma. Estes destruíram muitos dos dogmas do cristian is­mo e dividiram -se em num eráveis seitas: hoje con­tam-se além de 300 somente entre as mais recentes.

Pode-se dizer que quase não há verdade reve­lada que não fosse negada pelos autores da reform a; nem mesmo se respeitou a divindade de Cristo, e algumas seitas pregam um cristianism o sem Cristo. Sua religião é um puro sentimentalismo.

Isto é o que observava o Papa, em Julho de 1934, às dirigentes da Juventude Fem inina, quan­do lhes dizia: “O Protestantism o in tenta destru ir o tesouro da vida cristã. Que resta ao protestan­tismo da vida cristã, dos sacram entos, da mesma pessoa de Cristo? Uma lenda, uma figura humana. Até a obra mesma do Redentor, sua pessoa ado­rável, foram corroídas pelo protestantism o.”

Não faz muito que no Parlam ento da Noruega, nação protestante, se discutia ou m elhor se sub­m etia à votação a divindade do Salvador, a qual se salvou por muito poucos votos. Mas para muitqs

A AÇÃO CATÓLICAE A DEFESA DA FE ’

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122 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

protestantes esta não foi válida e Cristo não é p ara estes, como diz o Papa, mais que um ser lendário ou, quando muito, m era pessoa hum ana.

Entre as glórias da Idade Média se contam as Cruzadas. Cristãos de todas as nações armaram-se e partiram para a T erra Santa, a fim de defender e libertar o Sepulcro do Senhor contra as profa­nações dos infiéis. Faz-se m ister uma nova cruzada em defesa da fé, que form a o tesouro da Verdade perm anente da Igreja e a tradição da Pátria , por­que hoje não se trata de defender o Sepulcro de Cristo senão a sua mesma adorável Pessoa amea­çada de destruição nas almas de m uitos cristãos.

A Ação Católica quer ser esta nova Cruzada, feita não com arm as sanguinolentas senão com a propaganda da im prensa, com os sacrifícios, com as orações.

Defender a moral de CristoFalseados os princíp ios da fé, o protestantism o

vai m inando os da moral. Provas? Ei-las:Todas as seitas protestantes admitem o divórcio

e a lim itação da natalidade, o que vale dizer li­mitação da prole.

A Conferência anglicana de Lambeth, depois de ter indicado que, se alguém julga ter a obrigação de lim itar a natalidade, deve usar como meio p r in ­cipal a continência e a abstenção, admite, toda­via, o uso de outros meios, com a condição de que não vão de encontro aos princíp ios cristãos.

Outras seitas protestantes im itaram o exemplo da confissão anglicana. Os m etodistas episcopais, na conferência de 1934, aprovaram a limitação científica da fam ília e sugeriram a seus m inistros o estudo da questão.

Para escusar o divórcio os protestantes dizem que a Igreja adm ite a anulação do m atrim ónio, mas andam errados sobre a significação da pala­vra, porque uma coisa é anular o m atrim ónio e outra declarar a nulidade do mesmo. A diferença que existe é a mesma que medeia entre dar m orte a uma pessoa e declarar a m orte por causa do assas­sínio.

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A AÇAA CATÓLICA E A DEFESA DA FE’ 123

Pois bem, a Igreja não anula nenhum m atrim ó­nio, só se lim ita a declarar a nulidade, a qual p re­existe a toda declaração, por causas que são dis­cutidas e provadas em juízo.

Defender o PapaO protestantism o, com todo o mosaico de suas

seitas inum eráveis, converteu-se numa Babel. 0 que uma seita afirma, a outra nega; não se pu­deram pôr de acordo senão sobre uma coisa: a negação do Prim ado de Pedro, a aversão ao Papa.

Esta negação, esta aversão é como o cimento que une os vários fragmentos do protestantism o. União negativa.

O protestantism o m oderno repete a antiga frase dos prim eiros protestantes: “A Igreja rom ana é a sinagoga de Satanás, o Papa é o A nticristo.”

Por isso, sua divisa parece ser luta contra o Pa­pado.

E, com efeito, m uitas seitas protestantes, desde há vários anos, vêm empregando as suas baterias contra Roma, centro do catolicismo e sede do Ro­mano Pontífice.

Quer-se destru ir o Papado. O que não puderam fazer os prim eiros luteranos, quando passaram os Alpes e desceram sobre Roma, levando, segundo diziam, a corda que devia estrangular o último dos Papas, querem fazer lentam ente os m odernos com sua propaganda anticatólica e antipapal.

Mas equivocam-se, porque a Igreja, conform e a prom essa de seu Fundador, é eterna; assim mes­mo são lógicos atacando o fundam ento da mesma, pois, destruído este, aquela cairá necessariam ente.

Falando na América um sacerdote apóstata em favor da propaganda protestante, dizia: “Quando se quer dar m orte com segurança a um inimigo, não se lhe fere no braço ou na mão, senão que se lhe fere na cabeça ou no coração. Por isso, se queremos acabar com a Igreja de Cristo, tem-se que tirar-lhe a cabeça ou o coração.”

O raciocínio é concludente, e assim como os protestantes se unem em seu ódio contra a ca­beça da Igreja, nós católicos havemos de unir-nos em um esforço comum de defesa contra os inimigos do Vigário de Cristo.

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124 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Defender a Unidade Nacional

Mas não é só o am or à Igreja e ao Papa que nos há de mover a lu tar contra as seitas, senão também o am or à Pátria , cuja unidade espiritual se baseia na vigorosa tradição cristã que funda­m enta a h istória de todas as nações am ericanas.

A fé católica é o mais poderoso aglutinante de nossos povos e fator de grandeza nacional; por isso as propagandas dissidentes, liberalistas, protes­tantes ou judias são um delito de lesa nacionalidade.

Combatendo-as, a Ação Católica está prestando serviço inestim ável à Pátria .

ConclusãoEstes são os objetivos e as razões de nossa luta

contra as seitas: defender a religião de Cristo, sua m oral civilizadora, o Papado e a Pátria.

E posto que os propagandistas das seitas vêm de fora, dependem de um poder estranho e são sustentados com dinheiro ou recursos estrangei­ros, e porque, combatendo a religião de Cristo, ameaçam a cultura e a unidade da Pátria, tome­mos como lema de nossas cam panhas esta dos sol­dados espanhóis contra as hostes da barbárie ver­m elha; “Não passarão.”

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A DEFESA DA FE’

Nossas armas de defesaIntrodução

Diz Nosso Senhor no Evangelho que, “enquanto os guardas do campo dormiam, veio o inimigo e semeou a cizânia no meio da boa semente.”

A cizânia representa o mal, o erro semeado no campo da Igreja, onde o bom Semeador Jesus Cristo espalhará o bom grão da verdade e do bem.

Como na parábola do Evangelho, os inimigos do bem semearam o mal enquanto os guardas da verdade dormiam.

Quem são os custódios da verdade? Somente os sacerdotes? Não somente eles senão também os fiéis: todos temos o encargo de defender e vi­giar o bom grão da verdade evangélica.

O liberalism o, o comunismo, o protestantism o, que semeiam o erro na Igreja de Cristo, são os m odernos inimigos que semeiam a cizânia no meio da boa semente.

E enquanto realizam sua obra de perdição, per­maneceremos nós dorm indo? Quais são as armas que nos servirão para a defesa de nossa Fé?

As principais são: a oração, a instrução, a be­neficência, a vigilância e a denúncia do inimigo.

OraçãoEste inimigo derrotarem os com a oração, rogando

a Jesus, o bom Semeador, que nos ajude a guardar sua Vinha, pois Ele disse: “Sem mim, nada podeis.”

A oração é necessária para toda obra boa, por­que nem mesmo um só pensam ento bom podemos ter sem a graça de Deus. Tanto mais necessária será, pois, a oração para as obras do apostolado e a defesa da religião. “Se o Senhor não defende a cidade, em vão trabalham aqueles que a defendem.”

Dizia o Papa às dirigentes da Juventude Fem i­n ina: “P restareis todo o vosso concurso a esta obra de vitalidade sem igual da defesa da fé, e fareis isso com a oração confiada, porque, como muito

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bem dizia D-om B o seo : “Deus está especialm ente obrigado a nos ajudar, em se tratando de in teres­ses não nossos, senão seus; e estará sempre conosco nesta batalha pela fé e pela vida cristã.”

A oração valoriza todas as outras armas de que vamos falar.

InstruçãoDefesa preventiva necessária é a instrução do

povo. Quando ameaça alguma epidem ia, os m édi­cos costumam aplicar todas as injeções preventi­vas contra o mal. À propaganda protestante é co­mo uma grande epidem ia perniciosa. Devemos usar das injeções preventivas antiprotestantes, ino­culando nas almas a vida católica.

E deve saber-se que os protestantes fazem as suas conquistas entre os católicos ignorantes em m atéria de religião.

O Exmo. Sr. Bispo de Parma diz em sua carta pastoral sobre o protestantism o: “Herdeiros dos Mártires e soldados da Igreja m ilitante, não tem e­m os a heresia, nem as perseguições que prepara­ram sempre os m aiores triunfos e reverdeceram a árvore da fé. Tememos, às vezes, com S, Cipriano, a enervante inércia, e m ais ainda, com Tertuliano, a ignorância orgulhosa.

As épocas m ais tristes da Igreja foram sempre caracterizadas pela ignorância religiosa.

Como as trevas se dissipam vindo à luz, assim os erros se dissipam com a verdade que nasce da instrução.”

BeneficênciaDiz um provérbio popular ita lian o : “A quem

dá pão, cham arei pai.” O que vem a ser: a quem nos faz um benefício, conservamos-lhe gratidão.

Os protestantes que dispõem de ingentes m eios m ateriais, sobretudo de recursos vindos da Ingla­terra e dos Estados U nidos, aproveitam a m iséria do nosso povo, m ormente em terryaos de crises co­mo a atual. Dão pão e ganham adeptos, socorrem ao corpo e cativam as almas.

Importa, pois, tirar-lhes da mão esta arma pre­judicial, ou m elhor que im peçam os o em prego dela, tirando-lhes as vítim as que são os pobres.

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A DEFESA DA FE ’ 127

De que modo? Indo nós ao pobre com a ver­dadeira caridade cristã, que socorre aos corpos e às almas. Deveríamos im itar o exemplo de Oza- nam, que, fundando as Conferências de S. Vicentede Paulo, pretendia defender a fé com a arma da caridade. E’ de m ister opor a caridade que edifica à que destrói.

 vigilância e a Denúncia

l.° Contra a propaganda escritaOs adversários fazem propaganda escrita e oral.A propaganda escrita faz-se por meio da difusão

entre o povo com folhas, folhetos e livros.Tal gênero de propaganda se faz em quiosques,

livrarias e por meio de vendedores ambulantes.Im porta vivamente que os católicos difundam os

bons livros e cooperem na publicação de obras baratas destinadas a contrabalançar a influência das protestantes.

2° Contra a propaganda oralConvém:

a) Avisar o Pároco da chegada de conferencis­tas ou propagandistas de falsas doutrinas, a fim de que ele, com sua prudência, ponha em resguar­do o povo confiado a seu cuidado.

b) Precaver a nossos irm ãos contra a propa­ganda dos hereges e dissuadir-lhes de dar o seu nome às seitas condenadas pela Santa Igreja.

c) Em preender com “caridade e prudência” a obra da reconquista, quando algum católico deu seu nome a alguma destas associações.

d) Não se deve en trar em discussões públicas: não se proíbe, contudo, a conversação privada, com espírito de caridade.

ConclusãoConsideremos a ofensa que se faz à Verdade e à

Igreja como se fora uma ofensa feita à Pátria por estes pregadores que vêm a “evangelizar”, como dizem, os povos, como se fôramos selvagens e não tivéram os uma tradição cristã de séculos que for­ma o nosso tesouro e o segredo de nossa unidade e da esp iritualidade das nações sul-americanas.

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Í N D I C E

Sugestões práticas para uso deste livro ........... 5O Apostolado ................ 7A Ação Católica .......................................................... 11A Ação Católica é um dever ................................ 16Os dois Sacram entos da Ação Católica ........... 22O Apostolado dos Leigos no Evangelho ........... 27Apostolado dos Leigos na Igreja Prim itiva . . 33O Apostolado no Padre Nosso .......................... 39O Apostolado e Comunhão dos Santos ............. 43O Apostolado da Oração ..................................... 48O Apostolado do Exemplo ................................. 53O Apostolado do Sacrifício ................................. 57O Apostolado da Família .................................. 62O Apostolado do Meio Ambiente ...................... 66O Apostolado Catequético ................................. 710 Apostolado Pascoal ............................................ 75O Apostolado M issionário ................................. 79Apostolado em Favor da Moralidade ............... 84O Apostolado da M oralidade .......................... 890 Apostolado do Cinema ............................... 94Apostolado da Im prensa ...................................... 99O Apostolado do Livro ........................................ 104O Apostolado da Beneficência .......................... 108Sacerdócio e Ação Católica ................................ 113A Ação Católica e as Vocações Sacerdotais . . . 117A Ação Católica e a Defesa da Fé .................. 121A Defesa da Fé ..................................................... 125

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LIVROS SOBRE A AÇAO CATÓLICA:

Capital e Trabalho, pelo Pe. Antônio de Morais Júnior. 184 pp. (Fechi) Broch.

A Família, o Divórcio e a Eugenia, por Mons. Vicente Martins. 228 pp. . (Farti) Broch.

Questão Social: as Encíclicas “Rerum Novarum”, “Qua­dragésimo Anno” e “Divini Redemptoris” em pergun­tas e respostas, por M. Vincent. 128 pp. (Flavo) Broch.

A Carta Pastoral de D. Leme, quando Arcebispo de Olinda-Recife, saudando os seus diocesanos. 152 pp.

(Fatu) Broch.

O Santo Sacramento do Batismo, por Frei Benvindo Destéfani O. F. M. 48 pp. (Certo) Broch.

O Santo Sacramento da Crisma, por Fei Benvindo Destéfani O. F. M. 48 pp. (Curto) Broch.

Formação de Estagiários- da Ação Católica, pelo Pe. Agnelo Rossi. (Filmi) Broch.

Apóstolos no Próprio Ambiente, pelo Mons. Luís Ci- vardi. 134 pp. (Fase) Broch.

Fundamento Bíblico e Dogmático da Ação Católica, pelo P. J. Will S. J. 150 pp. (Fabo) Broch.

Os Problemas da Ação Católica, pelo P. J. Will S. J. 168 pp. (Fossi) Broch.

O Corpo Místico de Cristo e a Ação Católica, pelo P. S. Tromp S. J. 144 pp. (Firtu) Broch.

A Ação Católica. Carta Pastoral de D. Antônio dos San­tos Cabral. 32 pp. (Findu) Broch.

Pedidos à Editora Vozes Ltda.Caixa postal, 23 — Petrópolis, R. J.

Filiais: Rio — S. Paulo

Palavra telegráfica deste volume — Broch. F a s a