Memórias Musicais no Palácio de Sintra fileR e nco t s - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -...

17
R e n c o n t ros e - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO - Memórias Musicais no Palácio de Sintra SALA DOS CISNES SWAN ROOM | 21:30 - FROM THE MIDDLE AGES TO THE RENAISSANCE - / Musical Memories in the Palace of Sintra Re ncounters e 3ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA 3rd PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON PSML | Diogo Rodrigues 03/06 CARLOS MAGNO – MÚSICAS PARA UMA LENDA CHARLEMAGNE – MUSIC FOR A LEGEND Queremos saber a sua opinião

Transcript of Memórias Musicais no Palácio de Sintra fileR e nco t s - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -...

Re ncontrose- DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -

Memórias Musicais no Palácio de Sintra

SALA DOS CISNES SWAN ROOM | 21:30

- FROM THE MIDDLE AGES TO THE RENAISSANCE -

/ Musical Memories in the Palace of SintraRe ncounterse

3ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA3rd PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON

PSM

L | D

iogo

Rod

rigue

s

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

reencontros_capaFOLHA.pdf 1 24/05/17 11:29

03/06 CARLOS MAGNO – MÚSICAS PARA UMA LENDA

CHARLEMAGNE – MUSIC FOR A LEGEND

Queremos saber a sua opinião

Carlos, dito Magno, restaurador do Império Romano do Ocidente,

monarca guerreiro, Defensor da Fé e, simultaneamente, um

pecador desmedido e muito sensual é, na realidade, muitos

homens. Cada homem é uma personagem, um modelo,

um arquétipo, uma grande fonte de histórias e de História.

A sua época temeu-o e respeitou-o, maravilhada tanto pelas suas

conquistas cruéis como pelas suas iluminadas reformas

– as que permitiram fazer renascer um grande passado que

se pensava morto, chamando para perto de si feros homens

de armas e pacíficos doutíssimos intelectuais.

Os historiadores e cronistas contribuíram, a par de menestréis

e contadores de histórias, para as muitas lendas ligadas à sua

fama, que foram crescendo ao longo da Idade Média: Carolus

Magnus, Charlemagne ou Karl der Große partilha com o rei Artur

a honra de ser o herói de um dos maiores ciclos narrativos

da Idade Média; mas cada século dá-lhe novas vestes

e dedica-lhe novos versos. No séc. XII houve uma tentativa

de o santificar. Continua, hoje, a ser reconhecido como “fundador”

da unidade europeia.

Não restam vestígios da música que se tocava no seu palácio

de Aquisgrana (hoje, Aachen): os manuscritos musicais

do séc. IX transmitem “apenas” o imenso património de canto

litúrgico difundido sob o respeitado rótulo de “gregoriano” mas

que foi, sobretudo, o extraordinário resultado sonoro da empresa

LAREVERDIE

Carlos Magno – Músicas para uma lenda

Charlemagne – Music for a legend

PSM

L | W

ilson

Per

eira

titânica de Carlos: unificar os territórios do seu Império, fazendo

de tantos povos uma única Cultura radicada numa única Fé.

Herdeiro exemplar dos ideais e da tradição germânica da nobreza

guerreira, abraçou a causa da Igreja com fidelidade absoluta

ao Bispo de Roma e, provavelmente, não apenas pela sua visão

política de futuro – a acreditar nos biógrafos, terá dedicado

os últimos anos da sua vida ao retiro e à oração.

Os mesmos biógrafos transmitem bastante informação sobre

as suas cinco mulheres e as muito mais numerosas concubinas,

falam do amor possessivo pelas 11 filhas, a quem negou

casamentos oficiais, da sua paixão pela boa mesa (que lhe trouxe

problemas de gota), das sessões quotidianas de natação nas

termas do palácio, para manter em forma o corpo de guerreiro,

mas… “Quando havia divergência entre os ensinamentos

cristãos e o ideal guerreiro, Carlos não perdia muito tempo

com problemas de consciência: o seu ascendente e a sua força

residiam na ingénua simplicidade da sua forma de agir

e na naturalidade com que se convencia de que qualquer

ação sua não podia ser senão justa. Em Carlos, os seus

contemporâneos reconheceram um homem como eles e, por

essa razão, nem os seus erros conseguiram fazer diminuir a sua

popularidade.” (Heinrich Fichtenau, O Império Carolíngio, 1958).

LaReverdie escolheu, do repertório musical que floresceu nos

séculos que se seguiram à criação do Sacro Império Romano-

Germânico (séc. X), alguns excertos que cantam as diversas faces

do herói Carlos, personificação do herói medieval: o Guerreiro,

o Amante, o Cristão.

Charles the Great, restorer of the Western Roman Empire,

a monarch-warrior, Defender of the Faith and, simultaneously

a rampant and highly sensual sinner is, in reality, many men. Each

of these men represents a character, a model, an archetype, a great

source of both stories and History. In his time, he was both feared

and respected, marvelled at both for his cruel and bloody conquests

and his enlightened reforms – which enabled the rebirth of a great

past hitherto deemed dead, and calling to his side both fierce men

of arms and peaceful men of great intellectual learning.

The court historians and biographers, alongside minstrels and

storytellers, contributed to the many legends surrounding his

fame and that were to grow throughout the course of the Middle

Ages: Carolus Magnus, Charlemagne or Karl der Große shared with

King Arthur the honour of being the hero of one of the greatest

narrative cycles of the period and with each century both endowing

it with new embellishments and dedicating new verses. The 12th

century saw efforts to canonise him and he today continues to gain

recognition as a “founder” of the European Union.

There is no remaining evidence of the music played in his palace

in Aquisgrano (today, Aachen): the musical manuscripts of the

9th century convey “only” the immense heritage of liturgical singing

that was handed down under the respected label of “Gregorian” but

which was above all the extraordinary sonorous result of the titanic

undertakings of Charles: unifying the territories of his Empire and

rendering so many peoples into a single Culture resting upon

a single Faith.

An exemplary heir to the Germanic ideas and traditions of the noble

warrior, he embraced the cause of the Church with absolute loyalty

to the Bishop of Rome and probably not only out of his political

vision of the future – should we believe his biographers, he would

have spent his final years in prayer and withdrawn from public life.

The same biographers also detailed substantial information about

his five wives and far more numerous concubines, speaking of his

possessive love for his eleven daughters, who were denied official

marriages, his passion for good food (which brought him problems

with gout), the daily swimming sessions in the palace thermal spa

in order to maintain his warrior body in shape, but… “Whenever

there was any divergence between the Christian teachings and the

warrior ideal, Charles would not waste much time with problems

of conscience: his ascendance and very strength derived from the

naïve simplicity of his way of acting and the naturalness with which

he convinced himself that any of his actions could only ever be

just and fair. In Charles, his contemporaries recognised a man like

themselves and for this reason not even were his errors able

to undermine his popularity” (Heinrich Fichtenau, O Império

Carolíngio, 1958).

LaReverdie chose, from the musical repertoire that flourished in the

centuries following the founding of the Holy Roman Empire (10th

century), some of those excerpts that sing of the diverse faces

of our hero Charles, the personification of the medieval hero: the

Warrior, the Lover,

the Christian.

LAREVERDIE

PSM

L | A

ngel

o H

orna

k

03/06 | 21:30

LAREVERDIE

Carlos Magno – Músicas para uma lenda

Charlemagne – Music for a legend

Claudia Caffagni voz e alaúde | voice, lute

Livia Caffagnivoz, viela e flautas de bisel | voice, vielle, recorders

Elisabetta de Mircovich voz, viela e sanfona | voice, vielle, symphonia

PSM

L | D

iogo

Rod

rigue

s

PROGRAMA PROGRAMME

O GUERREIRO | THE WARRIOR

O rei, que superava todos os príncipes do seu tempo em

sabedoria e grandeza de alma, não teve dificuldades que o

detivessem ou perigos que o dissuadissem de fazer tudo o que

tinha de ser levado a cabo ou realizado, pois tinha treinado para

suportar e aguentar o que quer que surgisse, sem ceder na

adversidade nem confiar nos enganosos favores da fortuna na

prosperidade.

The King, who excelled all the princes of his time in wisdom and

greatness of soul, did not suffer difficulty to deter him or danger to

daunt him from anything that had to be taken up or carried through,

for he-had trained himself to bear and endure whatever came,

without yielding in adversity, or trusting to the deceitful favors of

fortune in prosperity.

[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. VIII]

• Versus de Herico duce Paolino d’Aquileia (740-802)

MS 394, Biblioteca Municipal | Central Library (Berna | Bern)

• Belicha (dança | dance)

anónimo (Itália, séc. XIV) | anonymous (Italy, 14th century)

Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library

(Londres|London)

• Bonté de corps (ballade)

anónimo (França, séc. XIV) | anonymous (France,

14th century)

6771 - Codex Reina, Biblioteca Nacional de França

| National Library of France (Paris)

• Di nuovo è giunto un chavalier errante (madrigal)

Jacopo di Bologna (fl. 1335-1360)

Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library

(Londres | London)

• L’homme armé (chanson)

attr. Robert Morton (séc. XV | 15th century)

MS VI E 40, Biblioteca Nacional de Nápoles ‘Vittorio Emanuele III’

| “Vittorio Emanuele III” National Library (Nápoles | Naples)

O AMANTE | THE LOVER

Mais tarde, casou-se com uma filha de Desidério, rei dos

Lombardos, a instâncias da mãe. Mas repudiou-a ao fim de um

ano por alguma razão desconhecida, e casou-se com Hildegard,

uma mulher de alta linhagem, de origem suábia. Teve três filhos

dela - Carlos, Pepino e Luís - e outras tantas filhas - Hruodrud,

Bertha e Gisela. Teve mais três filhas além destas - Theoderada,

Hiltrud e Ruodhaid -, duas da sua terceira esposa, Fastrada, uma

mulher da França Oriental (isto é, alemã), e a terceira de uma

concubina, cujo nome me escapa. Com a morte de Fastrada

[794], casou-se com Liutgard, uma alemã que não lhe deu filhos.

Após a morte desta [4 de junho de 800], teve três concubinas.

Later he married a daughter of Desiderius, King of the Lombards,

at the instance of his mother; but he repudiated her at the end of

a year for some reason unknown, and married Hildegard, a woman

of high birth, of Suabian origin. He had three sons by her - Charles,

Pepin and Louis - and as many daughters - Hruodrud, Bertha, and

and Gisela. He had three other daughters besides these - Theodera-

da, Hiltrud, and Ruodhaid - two by his third wife, Fastrada, a woman

of East Frankish (that is to say, of German) origin, and the third by a

concubine, whose name for the moment escapes me. At the death

of Fastrada [794], he married Liutgard, an Alemannic woman, who

bore him no children. After her death [Jun4 4, 800] he had three

concubines.

[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. XV]

• Je m’estoie / docebit (moteto | motet)

anónimo (França, séc. XIII) | anonymous (France,

13th century)

MS. H196, Biblioteca da Faculdade de Medicina

| Medical School Library (Montpellier)

• Les l’ormel / Mayn se leva sire Gayrin anónimo (França, séc. XIV) | anonymous (France,

14th century)

Vari 42, Biblioteca Real | Royal Library (Torino)

• In su bei fiori (madrigal)

Jacopo da Bologna (fl. 1335-1360)

Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library

(Londres | London)

• Con bracchi assai (caccia)

Magister Piero (fl. 1340-1360)

Panciatichiano 26, Biblioteca Nacional Central | National Library

(Florença | Florence)

• Lamento di Tristano (dança | dance)

anónimo (Itália,séc. XIV) | anonymous (Italy, 14th century)

Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library,

(Londres | London)

O CRISTÃO | THE CHRISTIAN

Observava com o maior fervor e devoção os princípios da religião

cristã, que lhe tinham sido incutidos desde a infância. Daí ter

mandado construir a bela Basílica de Aquisgrana (hoje Aix-la-

Chapelle) [...] Foi um devoto assíduo nesta igreja enquanto

a saúde lho permitiu, visitando-a de manhã e ao fim da tarde,

ou mesmo após o anoitecer, e assistindo à missa. Cuidava sempre

que todos os serviços ali realizados fossemadministrados na

maior higiene, advertindo muitas vezes os sacristães para que

não deixassem coisas impróprias ou sujas entrar e permanecer

dentro do edifício. Ofereceu à basílica um grande número

de vasos sagrados de ouro e prata e uma tal quantidade

de vestes clericais que até mesmo os porteiros, cumprindo

o mais humilde dos serviços na igreja, eram obrigados a usar

diariamente as suas roupas durante o exercício das suas funções.

Pretendeu insistentemente melhorar as leituras e o canto dos

salmos na igreja, pois tinha qualificações para ambos, embora

não lesse nem cantasse em público, exceto num tom baixo

e sempre em grupo.

He cherished with the greatest fervor and devotion the principles

of the Christian religion, which had been instilled into him from

infancy. Hence it was that he built the beautiful basilica

at Aquisgrana […] He was a constant worshipper at this church

as long as his health permitted, going morning and evening, even

after nightfall, besides attending mass; and he took care that all the

services there conducted should be administered with the utmost

possible propriety, very often warning the sextons not to let any

improper or unclean thing be brought into the building or remain in

it. He provided it with a great number of sacred vessels of gold and

silver and with such a quantity of clerical robes that not even the

doorkeepers who fill the humblest office in the church were obliged

to wear their everyday clothes when in the exercise of their duties.

He was at great pains to improve the church reading and psalmody,

for he was well skilled in both although he neither read in public nor

sang, except in a low tone and with others.

[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. XXVI]

• Cum erubuerint (antífona | antiphon)

Hildegard von Bingen (1098-1179)

Cod. 9,St. Pieters & Paulusabdij (Dendermonde)

• Rosa fragrans (rondellus)

anónimo (Inglaterra, séc. XIII) | anonymous (England,

13th century)

MS B 489, Corpus Christi College (Oxford)

• Victime paschali laudes (sequentia)

Wipo von Burgund (séc. XI) | (11th century)

Graduale Romanum

• Ortorum verentium / Virga Yesse, flos virginum / Victime paschali (moteto | motet)

anónimo (séc. XIV) | anonymous (14th century)

MS BR18, Biblioteca Nacional Central | National Library

(Florença | Florence)

• Kyrie / O Sacra virgo anónimo (França, final séc. XIV) | anonymous (France,

late 14th century)

16bis, Catedral de Sainte-Anne, Biblioteca do Capítulo | Saint

Annes’s Cathedral, Chapter’s Library (Apt)

• Diana Stella Doron David Sherwin (n. 1962)

Mecum Timavi saxa novem

flumina / flete per novem

fontes redundantia / quae

salsa gluttit unda Ponti Ionici

Histris / Sausque Tissa Colpa

Marua / Natissa Corca

gurgites Isoncii:

Hericum mihi dulce nomen

plangite / Syrmium Pola tellus

Aquilegie / Iulii Forum

Cormonis ruralia/rupes Osopi

iuga Cetenensium / Attensis

humus plorat et Albenganus.

Nec tu cessare de cuius

confinio / est oriundus urbs

dives Argentea / lugere multo

gravique cum gemitu / civem

famosum perdidisti nobili /

germine natum claroque de

sanguine.

O GUERREIRO | THE WARRIOR

Chorai comigo nos vossos

leitos de seixos, / vós, novos

braços do (rio) Timavo, /

chorem copiosamente as

vossas novas fontes / que

nas salsas ondas do Adriático

desaguam! / E tu, Sava de

Ístria, vós, rios da Cárnia,

/ vós Natisone e Gurck, tu

vorticoso Isonzo: chorai

comigo o doce nome de

Erico: / chorem Cividale e

os campos de Cormons, / as

gargantas de Osoppo e os

montes de Cenesa, / chorem

as terras de Ádige e Albenga.

E não cesses tu, dentro de

cujos confins / ele nasceu,

próspera cidade da prata, /

de chorar amargamente com

longos suspiros: / perdeste

um filho ilustre, nobre /

de origem, sangue de alta

estirpe.

PSM

L | L

uís

Dua

rte

Ecclesiarum largus in donariis

/ Pauperum pater miseris

subsidium / hic viduarum

summa consolation / erat

quam mitis carus sacerdotibus

/ potens in armis subtilis

ingenio.

Barbaras gentes domuit

sevissimas / cingit quas

Drauva recludit Danubius /

celant quas iunco paludes

Meotides / Ponti coartat quas

unda salsiflui / Dalmatiarum

quibus obstat terminus.Ulmus

nec vitem gemmato cum

pampino / sustentet uva nec

in ramis pendeat / frondeat

ficus sicco semper stipite /

ferat nec rubus mala granis

punica / promat hirsutus nec

globus castanea / ubi cecidit

vir fortis in proelio, ubi cecidit

vir fortis in proelio / clipeo

fracto cruentata romphea /

lancee summo retunso nam

iaculo/ sagittis fossum fundis

saxa fortia.

Pródigo benfeitor da Igreja,

/ pai dos míseros, amparo

dos aflitos, / das viúvas

augusto protetor: / e como

era doce, caro a todo o clero,

/ em armas temível, sagaz de

engenho!

Foi ele quem domou as

feras gentes / que o Drava

e o Danúbio no seu curso

abraçam, / escondidas na

Meónia entre juncos e paúis,

/ que o salso Quarnaro

tenta conter / e de onde é

ameaçada a Dalmácia.

Nem no olmo se enrolem

os pesados sarmentos / de

cachos de uvas, de frondes

risonhas: / ofereça a figueira

ramos secos e estéreis, /

nem de mais doces frutos

abunde a romãzeiria /

ou espreitem hirsutos os

ouriços no castanheiro,

no local onde o herói foi

derrubado na batalha. /

Quebrado o escudo, a espada

ensanguentada, / em dois

pedaços a lança truncada, /

de muitas frechas

ferido: dizem que o mataram

/ os irosos arremessos das

fundas.

Bonté de corps en armes

esprouvée. / Et loyauté vous

cil que apertient; / rayson ainsi

de grant vigor parée. / Truys

en celli dont me souvient.

Riens conparer à li me

convient, / ains à bon droit

grec en ses las tient. / N’en

fait de guerre, n’a nul home

pareille, / que a l’aygl’en or à

la barre vermeille.

Di novo è giunto un chavalier

errante / s’un corrente

destrier ferrato a ghiazza

/ con balestrier assal in

ogni piazza / ferito altri nel

petto e nella fazza / e chi

non è fornito d’arme forte /

convien che stia serrato nelle

porte. Finché verrà la donna

di chalora / et ferito da lei

convien che mora

L’homme, l’homme, l’homme

armé, / L’homme armé /

L’homme armé doibt on

doubter, doibt on doubter. /

On a fait partout crier, / Que

chascun se viegne armer /

D’un haubregon de fer.

Graça temperada nas armas. /

Lealdada com quem a

merece / e sensatez coberta

de excelência vejo naquele

cuja recordação nunca me

abandona.

Ninguém o iguala, / e por

direito próprio conquistou

a glória: / nas empresas

guerreiras ninguém pode

fazer frente à Águia Negra da

barra púrpura.

Acaba de chegar um cavaleiro

andante / num cavalo de

ferraduras de gelo / com a

balestra ataca tudo em volta

/ ferindo este no peito, aquele

na face / e quem não está

armado com fortes armas

/ convém que não saia de

portas. Até chegar a dama de

fogo / e por ela ferido deverá

morrer.

O homem, o homem, o

homem armado, O homem

armado / o homem armado

deve ser temido, deve ser

temido. / Em toda a parte se

diz / Que todos devem armar-

se / Com um lorigão de malha

de ferro.

Je m’estoie mis en voie /

de querre secours / d’une

doucete dolor / qu’avoir

soloie. / Mes mais est qui

me guerroie / moustré m’a

/ ce qui me parquera / et

puisqu’au recheoir va; / de

voir sai / que resors ne serai ja

/ Ains sai bien qu’il m’ocirra /

li maus d’amours.

(Triplum) Les l’ormel à la

turelle / chevauchay l’autrier

/ Robin truis et Marotelle /

Gifroy et Gauter / chacun

ot sa pastorelle / Gifroy

ot Fressant la belle / la

fille Bertier / et Gauter ot

Peyronelle / qui desier avoyt

vestu sa cotelle / quant

elle sot la novelle / de huy

feste commenser / qui les

veyst rehaitier / Robin lor

chalemelle pour tres cher

/ tout se pust merveiller /

chacuns bayse la mayssele

/ s’amie à l’entrelacier s’en

disans moquier / Se lour vie

est toudis telle / veez me la

bercher.

O AMANTE | THE LOVER

Tinha partido em viagem /

em busca de bálsamo / para

uma doce dor / que há tempo

me atormentava. / Cruel

mensageiro é o que me faz a

guerra, / já me fez ver / o que

me matará, / e quais serão

as causas da ruína; / sei, sei

com toda a certeza / que

jamais me recomporei, / mas

morrerei / do mal de amor.

(Triplum) Para lá do olmo da

colina cavalgava outro dia,

quando topei com Robin e

Marotelle: estavam também

Gifroy e Gauter, cada um com

a sua amada pastora – Gifroy

com Fressant, a graciosa

filha de Bertier, e Gauter

com Peyronelle, que logo se

vestiu para sair, assim que lhe

chegaram novas da festa que

ia começar. Quem os tivesse

visto folgar, com Robin, que

tocava galhardamente a sua

charamela, bem poderia

maravilhar-se!

(Motetus) Mayn se leva sire

Gayrin / et clos s’a desclos

son jardin / vers le molin delès

le boys / si vit la rosée d’un

petit pié depassée / dist que

fame est la passée/si ensuit

los esclos / au molin va le ga-

los si l’a trovée / à bré mot l’a

si accordée / que par sembler

est seulée / chant par son los:

“Qui moldra m’avoyne? / li

molins est clos” / Lors li dist

Gayrin “Aubrée / seions d’un

acort / qu’ancor n’est la gent

levée / et li vilans dort”.

(Tenor) Je n’y saindrai plus

graile sainturete / mon amy

est marié / il a mis mon cuer

en si grant destresse.

In su’ be’ fiori e sulla verde

fronda / sotto nuovi arboretti

spessi e lunghi / pastorella

trovai che cogliea funghi.

In panni bigi alzati alla ritonda,

/ per un boschetto se ne giva

sola / chiamala a me per dirle

una parola.

Del grembo un fior ch’ella

avea le tolsi / sì fu çentil che

mai più bel non colsi.

(Moteto) Bem cedo se levanta

sire Gayrin, e passando pelo

jardim apressa-se em direção

ao bosque; aí, viu no orvalho a

marca de um pezinho e disse

para si próprio que devia ter

por ali passado uma donzela.

O nosso galante amigo vai até

ao moinho, onde a encontra;

num piscar de olhos tanto

a lisonjeou que a presa foi

fácil; e agora ela lamenta

a sua sorte : “Quem moerá

a minha aveia? O moinho

está fechado.” Diz-lhe então

Gayrin: “Aubrée, façamos as

pazes, por sorte as pessoas

não se levantaram ainda, e o

vilão dorme a bom dormir.”

(Tenor) Não mais ouvirei

aquela cara trombeta, casou-

se o meu amigo: em que

grande angústia deixou o meu

coração!

Junto às alegres flores e sob

os verdes ramos / das árvores

densas e longas / encontrei

uma pastora a colher

cogumelos. No seu avental

guardava os frutos, / e seguia

só pelo bosque. / Chamei-a

para lhe dizer umas palavras.

Roubei uma flor que tinha

colhido /tão gentil, nunca

colhi outra tão bela.

Con bracchi assai e con

molti sparveri / uccellavam

su per la riva d’Adda / e qual

diceva: «Dà dà!» e qual: «Va

cià, Varin, torna Picciolo. / E

qual prendea le quaglie a volo

a volo, / quando con gran

tempesta un’acqua venne.

Né corser mai per campagna

levrieri / come facea ciascun

per fuggir l’acqua / e qual

dicea: «Dà qua!» «Dammi ‘l

mantel» / e tal: «Dammi ‘l

chappello».

Quand’io ricoverai col mio

uccello / ov’una pasturella il

cor mi punse.

Perch’era sola in fra me dico

e rido: / «Eccho la pioggia, il

bosco, Enea e Dido».

Com bastos cães, bastos

falcões / passarinhávamos

na margem do rio Adda

/, um dizia: «Vai! Vai!» e

outro: «Apanha, Varin, volta,

Picciolo». / E outro caçava

as codornizes em pleno voo,

/ quando com grande fragor

caiu a chuva.

Nunca galgos correram tanto

/ como todos agora para fugir

das águas /, este dizia «Aqui!»

«Dá-me a capa» / e aquele:

«Dá-me o chapéu».

Quando me abriguei com o

meu falcão / vi uma pastora e

o meu coração saltou.

Porque estava só, para mim

rio e digo: / «Eis a chuva, o

bosque, Eneias e Dido».

Cum erubuerint infelices in

progenie sua procedentes

in peregrinatione casus tunc

tu clamas clara voce. Hoc

modo homines elevans de isto

malicioso casu.

Rosa fragrans primula vernalis

/ servos tuos libera a malis

/ tu glorie speculum solis

umbraculum / da famulis

gaudium post hoc exilium.

Victimæ paschali laudes

immolent Christiani. / Agnus

redemit oves: Christus

innocens Patri reconciliavit

peccatores. / Mors et Vita

duello conflixere mirando:

Dux Vitæ mortuus, regnat

vivus. / Dic nobis, Maria,

quid vidisti in via? Sepulcrum

Christi viventis, et gloriam vidi

resurgentis, / angelicos testes,

sudarium et vestes. Surrexit

Christus spes mea: præcedet

suos in Galilaeam. / Scimus

Christum surrexisse a mortuis

vere: Tu nobis, victor Rex,

miserere.

O CRISTÃO | THE CRISTIAN

Quando os míseros coravam

de vergonha, errando

perdidos, gerações a fio, no

exílio da queda, surgiste e

fizeste ouvir a tua límpida

voz: e assim salvaste a

humanidade da sua miseranda

condição.

Rosa perfumada, primeiro

rebento da primavera, / liberta

os teus servos do mal: / tu,

espelho da glória, receptáculo

do sol, / concede aos teus

devotos a alegria eterna após

o exílio deste mundo.

Eleve-se à vítima pascal

o sacrifício de louvor, / o

Cordeiro redimiu o rebanho,

Cristo inocente reconciliou os

pecadores com o Pai. / Morte

e Vida defrontaram-se num

duelo extraordinário: o Senhor

da vida estava morto, agora,

reina vivo. / “Maria, conta-

nos, o que viste no caminho?”

/ “O túmulo do Cristo vivo,

a glória do renascido; / e os

anjos, suas testemunhas, o

sudário e as vestes; / Cristo, a

minha esperança, ressuscitou e

precede os seus na Galileia.” /

Sabemos que Cristo ressuscitou

verdadeiramente. Rei vitorioso,

tem piedade de nós.

(Triplum) Ortorum virentium /

fons irrigans corda, / aquarum

viventium / puteus et corda; /

erga tuum filium / precantes

concorda, / et celeste bravium

/ virginum decorda.

(Motetus) Virga Yesse, flos

virginum / et immarcescibilis,

/ inter natas mulierum / nulla

tibi similis, / nobis fuit partus

tuus / multipictus utilis; / roga

tuum filium, / precor virgo

nobilis, / ne nos pro peccatis

capiat / infernus terribilis.

(Tenor) Victimae paschali

laudes/ immolent christiani.

O sacra Virgo beata, super

omnes exaltata, Kyrie eleison.

Mater Dei illibata, excellenter

coronata, Kyrie eleison.

Stella maris nuncupata, et

pauperum advocata, Kyrie

eleison.

Ora pro nobis Dominum,

patrem et tuum fillium Christe

eleison.

Ut nos a malis liberet,

virtutibus corroboret, Christe

eleison.

(Triplum) Ó fonte que do

teu abundante e fértil jardim

asperges os corações, fonte

de água vivificante, roga por

nós ao teu Filho, para que

nos conceda a recompensa

celeste.

(Moteto) Ramo de Jassé,

flor imortal das virgens,

nenhuma entre as mulheres

pode comparar-se a ti; por

nós pariste o filho que tanto

nos falta; nobre virgem, te

pedimos, roga por nós ao

teu Filho, para que o terrível

inferno não nos engula pelos

nossos pecados.

(Tenor) Eleve-se à vítima

pascal /o sacrifício de louvor.

Santa Virgem Beata, exaltada

acima de tudo, Senhor

piedade.

Mãe de Deus imaculada,

coroada de excelência, Senhor

piedade.

Proclamada estrela dos mares

e defensora dos pobres,

Senhor piedade.

Rogai por nós ao Senhor, pai e

vosso filho, Cristo piedade.

Para que nos livre do mal e

nos fortaleça na virtude, Cristo

piedade.

Tranquillitatem tribuat, in pace

nos custodiat Christe eleison.

Ut cum mors dira venerit,

preces tuas audierit, Kyrie

eleison.

Ut per te fraudes Sathane,

queamus sic evadere Kyrie

eleison.

Ut callidus dyabolus non nos

percutet invidus Kyrie eleison.

Nos conceda a tranquilidade

e nos proteja na paz, Cristo

piedade.

Para que chegada a morte

com presságios funestos ouça

as vossas preces, Senhor

piedade.

Para que através de vós

consigamos livrar-nos das

tentações do Mal, Senhor

piedade.

Para que o vil e funesto

demónio não nos tente,

Senhor piedade.

PSM

L | L

uís

Dua

rte

LAREVERDIE

Em 1986, as irmãs Claudia e Livia Caffagni

e as irmãs Elisabetta e Ella De Mircovich criaram

o grupo musical medieval laReverdie, que, ao longo

dos últimos quase 30 anos, foi cativando públicos

e críticos pela variedade da sua abordagem a um vasto

repertório da Idade Média e do início da Renascença.

Em 1993, Doron David Sherwin juntou-se ao grupo,

como tocador de corneto e cantor. Em 2008, Ella

de Mircovich deixou o grupo.

Atualmente, laReverdie apresenta-se em formatos

que variam entre os 3 e os 14 músicos, consoante

o repertório. A profunda pesquisa desenvolvida, aliada

à experiência alcançada durante a sua longa e intensa

carreira, tornou o laReverdie um grupo musical único,

tanto pelo entusiasmo que partilha e comunica

ao público como pela confiança e pelo virtuosismo

natural das suas interpretações, testemunhadas por

públicos de toda a Europa e também do México.

A sua discografia inclui vinte CD, 16 dos quais para

a Arcana/WDR, que lhe granjearam inúmeros prémios

ao longo dos anos. A sua gravação mais recente,

intitulada “Venecie Mundi Splendor” (2015), é dedicada

à música celebrativa dos doges de Veneza entre 1330

e 1430.

Desde 1997 que os membros do grupo se dedicam

ao ensino em cursos de verão, como o Curso

Internacional de Música Antiga em Urbino (Itália), bem

como em cursos de mestrado e de formação geral em

instituições como a Civica Scuola di Musica C. Abbado,

em Milão, e a Hochschule Trossingen, na Alemanha.

Projetos especiais levaram o laReverdie a colaborar

com artistas/ instituições tão diversos como Franco

Battiato, Carlos Nuñez, Teatro del Vento, Gérard

Dépardieu, Mimmo Cuticchio e David Riondino.

LAREVERDIE

In 1986, Caffagni sisters Claudia and Livia and De

Mircovich sisters Elisabetta and Ella created the

Medieval ensemble laReverdie, which for almost 30

years now has been captivating audiences and critics

alike for the variety of their approach to a vast repertoire

from the Middle Ages and early Renaissance. In 1993,

Doron David Sherwin joined the group, both as cornetto

player and singer. In 2008, Ella de Mircovich said farewell

to the group.

Presently laReverdie performs in groups ranging from 3

to 14 musicians, depending on the repertoire. The deep

research coupled with the experience reached during

their long and intense activity, have made laReverdie

a unique ensemble, both for the enthusiasm they

share and communicate to their audiences, as for the

assuredness and natural virtuosity of their performances,

witnessed by audiences all across Europe and also

in Mexico.

Their discography comprises twenty CD’s, 16 of them for

Arcana/WDR, which have earned them numerous awards

over the years. Their latest recording, called “Venecie

Mundi Splendor” (2015) is dedicated to celebrative music

for Venetian doges between 1330-1430.

Since 1997 the group’s members have been involved in

teaching at summer courses such as the International

Early Music Course in Urbino (Italy), as well as

masterclasses and regular instruction at institutions such

as the Civica Scuola di Musica C. Abbado-Milan, or the

Hochschule Trossingen, in Germany.

Special projects have lead laReverdie to collaborate with

artists/institutions as diverse as Franco Battiato, Carlos

Nuñez, Teatro del Vento, Gérard Dépardieu, Mimmo

Cuticchio or David Riondino.

PSM

L | W

ilson

Per

eira

[email protected] • Tel.(+351) 21 923 73 00 junho | June 2017

ORGANIZAÇÃO | ORGANIZATION MEDIA PARTNER APOIO | SUPPORT