Jornal do Teatro

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Jornal do Teatro 19 Publicação Bimestral | Junho ‘08 Jornal de distribuição gratuita : :Teatro Nacional Outros Palcos Durante os meses de Verão, o Teatro Nacional abre-se à cidade de Lisboa National Theatre - Other Places The Theatre opens itself to the city during the summer

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O Jornal do Teatro surgiu da vontade de experimentar, criar e dar espaços, a quem partilha o gosto pelo teatro. Das reflexões clássicas, à problemática da contemporaneidade, o Jornal do Teatro, do Teatro Nacional D. Maria II teve como principal alvo a reflexão sobre os tempos, que se mudam e evoluem e que, em última instância, são testemunhos ricos de cada época. De 2006, 2007 e 2008, período em que foi publicado, fez-se o retrato breve de uma ‘casa da cultura’ que é, antes de mais, uma casa aberta à sociedade e ao mundo.

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Jornal do Teatro

19Publicação Bimestral | Junho ‘08 Jornal de distribuição gratuita

:

:Teatro NacionalOutros PalcosDurante os meses de Verão, o Teatro Nacional abre-se à cidade de Lisboa

National Theatre - Other PlacesThe Theatre opens itself to the city during the summer

Para responder às necessidades de umacidade cosmopolita, uma cidade que,além de coração da Lusofonia, é pontode passagem obrigatória de pessoas detodos os continentes – sobretudodurante o período de férias – o TeatroNacional vai apresentar, nos meses deJunho, Julho e Agosto, e em parceriacom o Instituto do Turismo de Portugal,um programa cultural capaz de atrairpúblicos nacionais e internacionais, desatisfazer gostos e expectativas diversifi-cados. Sob o título ‘Teatro Nacional –Outros Palcos’, a iniciativa inclui doisespectáculos de teatro e muitos concer-tos ao ar livre e ocupará espaços alterna-tivos da capital, como sejam o Palácio daIndependência ou as Ruínas do Carmo,proporcionando, para além dos espec-táculos propriamente ditos, a possibili-dade de visitar, com novo enquadramen-to e olhar renovado, lugares históricos dacidade.A ideia de incluir um cartaz de espec-táculos de grande qualidade no roteirode quem visita a cidade nesta altura doano era uma necessidade há muito senti-da por Luís Patrão, presidente doInstituto de Turismo de Portugal. “Oobjectivo é que a cidade fique maisatractiva e interessante, que exceda asexpectativas de turistas e residentes, sur-preendendo-os. Mas isso tem de ser feitocom um elevado nível de exigência cul-tural e artística, por isso nada melhor querecorrer a instituições da maior relevân-cia e prestígio na promoção e apresen-tação de espectáculos e actividadesteatrais. Daí a cooperação com o TeatroNacional”, explica.Nas Ruínas do Carmo, lugar histórico queprotagonizou, durante o 25 de Abril, ummomento chave na libertação do País, opúblico verá “Vieira – O Céu na Terra”,espectáculo com que o TNDM II home-nageia o pregador religioso portuguêsmais famoso de sempre, no ano em quese assinala o quarto centenário do seunascimento (1608-1697). Escrita porMiguel Real e Filomena Oliveira (autoresrecentemente contemplados com oGrande Prémio de Teatro SPA/TeatroAberto), a peça celebra um homem quese repartiu por muitas actividades – foimissionário, diplomata, político, orador,

:02 TNDM II:02 TNDM II

Um Teatro Global

Uma das grandes novidades do contexto contemporâ-neo em que vivemos é o sentido de globalização. Omundo é a morada do homem e as distâncias tentam serencurtadas. Com a aceleração das técnicas de comuni-cação passa-se, de facto, a questionar o conceito detempo, cuja experiência se impõe como algo instantâneo.Estaremos, então, nesta sociedade global, perante a anu-lação do tempo ou, pelo contrário, face a uma origináriaforma de temporalidade? Note-se, porém, que a globa-lização não deve implicar necessariamente uma homo-geneização. Disso tentamos dar conta através da iniciati-va “Outros Palcos”, numa parceria com o Turismo dePortugal, que pretende mobilizar a população a ir aoteatro, tendo como cenário alguns dos mais representa-tivos monumentos históricos, ou lugares, de Lisboa:Convento do Carmo, Palácio da Independência e Praça D.Pedro IV. Por aqui passarão várias manifestações artísticasque animarão as noites quentes de Verão, habitualmente,desprovidas de propostas culturais. “Vieira – O Céu na Terra”, de Miguel Real e FilomenaOliveira, a ter lugar no magnífico cenário das Ruínas doCarmo, é, talvez, a melhor proposta de aproximação deculturas. Disso tinha consciência o Padre António Vieira,de quem celebramos os quatrocentos anos do seu nasci-mento, cujo pensamento é atemporal. Grande impulsio-nador dos direitos do homem, viajante que lançou asprimeiras pontes entre Portugal e o Mundo, Vieiramostrou-nos que são o pensamento e os ideais que pro-movem uma alteração de atitude e de mentalidade. A elese deve em muito a certeza que cada vez mais se impõe:vivemos num mundo global onde ocorrem profundasmudanças e a dimensão cultural não escapa a essas trans-formações. “Sonho de uma Noite de Verão”, de WilliamShakespeare, é outra das propostas a usar como cenário oPalácio da Independência. O clássico do dramaturgoinglês continua a ter a capacidade de reunir várias gerações que se maravilham com as histórias de amor efantasia. Concertos ao ar livre no Rossio, dança e outraspropostas teatrais espalhadas pelos vários espaços doTeatro Nacional são a marca identitária de “Outros Palcos”.A internacionalização do teatro tem sido uma das nossasprioridades. Com “Outros Palcos” pretendemos reco-nhecer Lisboa como uma plataforma internacional, uma‘Plataforma’ onde várias culturas se podem encontrar oude onde várias novas propostas criativas podem partir. Olugar pode ser um território investido de sentido, espaçoonde se materializa a cultura. Lisboa tem muitos lugares.Nós apenas lhes tentamos dar visibilidade. O que é dis-tante torna-se-nos familiar e o que é nosso revela-se deoutra forma. O Padre António Vieira disse-o há algunsséculos atrás: “Nós somos o que fazemos. O que não se faznão existe. Portanto, só existimos nos dias em que faze-mos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos”. Estaé a premissa reveladora: o mundo é multicultural e cabeao teatro ‘fazer’ sempre mais, dar voz a essas linhas deforça e encurtar as distâncias que ainda nos separam.

Carlos Fragateiro

:Editorial

direcção Carlos Fragateiro assessoria da direcção Pedro Mendonçadirecção de arte Joana Esteves coordenação editorial A. Ribeiro dosSantos redacção A. Ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos Reis(colab.), Ricardo Paulouro grafismo Margarida Kol de Carvalhofotografia Margarida Dias propriedade TNDM II, E.P.E.

:Ficha Técnica

:Teatro e música ao ar livre, para ver eouvir em Julho e Agosto

DURANTE OS MESES DE VERÃO, A CAPITAL NÃO VAI PARAR E O TEATRO NACIONAL VAI OCU-PAR OUTROS LUGARES DA CIDADE COM PROPOSTAS CAPAZES DE APELAR A DIFERENTESCAMADAS DE PÚBLICO. O PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA E AS RUÍNAS DO CARMO TORNAM--SE, SOB A ÉGIDE DO TURISMO DE PORTUGAL, NOVOS PALCOS PARA O TEATRO

TEXTO DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

:TNDM II 03

Teatro Nacional colabora com École desMaîtresO Teatro Nacional D. Maria II associa-se pelaprimeira vez à prestigiada École des Maîtres,sedeada em Itália desde 1990 e que propor-ciona a jovens actores de vários países for-mação com alguns dos mais importantesencenadores mundiais, recebendo, de 7 a 12de Setembro, o espectáculo final da presenteedição, que terá encenação de Enrique Diaz.Peruano radicado no Brasil, Diaz dirige a suaprópria companhia – a Companhia dos Atores– desde 1990 e é neste momento considera-do como um dos criadores teatrais mais interes--santes e inovadores do panorama mundial.Conhecido pelas suas encenações coreografadasaté ao milímetro e pela experimentação (nosseus espectáculos costuma associar teatro evídeo), Diaz conseguiu, ao longo dos últimosdez anos, consolidar uma reputação queultrapassa largamente as fronteiras do Brasil.Sob a sua direcção, os jovens actores selec-cionados para frequentar a 18ª edição da Écoledes Maîtres irão trabalhar primeiro em Udine,na Itália, depois em Reims (França), antes deestrearem em Roma, no Teatro Quirino.Finalmente, trarão o espectáculo a Lisboa.Recorde-se que pela École já passaram grandescriadores de teatro como Luca Ronconi,Jacques Lassale, Peter Stein, Dario Fo ouEimuntas Nekrosius, entre outros. Este ano, paraalém do Teatro Nacional D. Maria II e do projecto CSS – Teatro Stabile di Inovazione delFVG, de Itália, são seus parceiros, também, oCentre de Recherche et d’Experimentation enPédagogie Artistique (Bélgica), e La Comédie deReims – Centre Dramatique National, de França,dirigido por Emmanuel Demarcy-Mota.

Padre António Vieira volta ao BrasilO espectáculo “Vieira – O Céu na Terra”, dirigi-do por Filomena Oliveira a partir de um textooriginal da própria e de Miguel Real, partiráem digressão ao Brasil na próxima temporada.Centrado na figura do Padre António Vieira,parte da acção do espectáculo referir-se-á,naturalmente, aos longos períodos de tempoque o padre português passou naquele país.Nascido em Lisboa, em 1608, Vieira foi para oBrasil com o pai quando tinha apenas seis anos,fixando-se na Bahia, e foi aí que entrou para aCompanhia de Jesus e se dedicou à evange-lização dos nativos. Só com 32 anos regressariaa Portugal, agradando de tal modo ao rei D.João IV que este o encarregou de diversas mis-sões diplomáticas um pouco por toda aEuropa. António Vieira voltaria por duas vezesao Brasil: aos 45 anos, para pregar nas cidadese na selva do Maranhão; e aos 73, velho ecansado, para morrer. Este projecto estabelecemais uma ponte criativa entre Portugal e oBrasil, país com o qual o TNDM II tem cimenta-do relações interculturais profundas, queratravés do concurso de dramaturgia de línguaportuguesa (em parceria com a Funarte doBrasil), quer através do intercâmbio de espec-táculos dos dois países.

“As Troianas” chegam em 2009O espectáculo que dá o arranque àCompanhia de Teatro Europeia, grupo detrabalho internacional que reúne actores ecriativos de diferentes países europeus e aoqual Portugal se associou através do TeatroNacional D. Maria II, chegará a Lisboa noano que vem. “As Troianas”, espectáculo que

:Internacionalização

Annalisa Bianco e Virginio Liberti encenama partir do clássico de Eurípides, conta coma participação de três actores portuguesese depois da estreia absoluta no âmbito doFestival Internacional de Teatro de Itáliadeverá apresentar-se nos vários países co-produtores: Portugal, França, Espanha eBélgica. A peça, uma tragédia do colectivo,é composta por diversos quadros, em queao público é dado a conhecer o destino dasmulheres tornadas cativas depois da quedade Tróia. Helena, cuja beleza está na origemda guerra entre gregos e troianos, é aquirepudiada, responsabilizada por todo o malque aconteceu. Eurípides, que Aristótelesconsiderou “o mais trágico dos poetas”, éconhecido por fazer das mulheres asgrandes protagonistas das suas peças,embora nem sempre as pinte com coresmuito lisonjeiras e seja por muitos consi-derado com um autor misógino. Nestapeça, em vez de uma única personagem,faz centrar a acção num grupo de mulheres.

“Tanto Amor” em NápolesÉ já nos próximos dias 20, 21 e 22 que se apre-senta, no Palácio Maschio Angioino, emNápoles, no âmbito do 1º FestivalInternacional de Teatro daquela cidade, adecorrer até dia 29, o espectáculo deEmmanuel Demarcy-Mota que assinala aprimeira co-produção internacional do TeatroNacional D. Maria II.“Tanto Amor Desperdiçado”, clássico deWilliam Shakespeare que o encenador classifi-ca como uma peça sobre a linguagem, contaa história de um grupo de cavaleiros que fazuma estranha aposta. Prometem uns aos outrosdedicarem-se apenas ao estudo, pondo o amorde lado durante três anos. No entanto, umencontro com três belas damas da corte france-sa – entre elas a princesa, e mais tarde rainha deFrança – abalará este projecto pela raiz e farácom que o amor triunfe sobre a vontade.O espectáculo – falado em português e emfrancês – conta, no elenco, com actores deambos os países e é protagonizado por NunoGil, no papel de rei de Navarra. Refira-se que oFestival de Teatro de Nápoles, cuja primeiraedição se realiza este ano, pretende vir aombrear com outras iniciativas congéneres,nomeadamente o Festival de Teatro deEdimburgo, na Escócia, ou o prestigiadoFestival de Avignon.

Tanto Amor Desperdiçado

profeta, escritor, nacionalista –, que se distinguiu emtodas elas, mas que, acima de tudo, soube sempreestar à frente do que seu tempo. (mais informação nas páginas 4 e 5)

O Palácio da Independência, um dos mais impor-tantes marcos para a Restauração da Independência,em 1640, acolherá “Sonho de Uma Noite de Verão”,comédia de William Shakespeare que o argentinoClaudio Hochman recriará aproveitando a magnificên-cia do monumento e fazendo aparecer perante osolhos do espectador um mundo onde reinampríncipes e princesas e por onde fadas e duendes sepasseiam e fazem encantamentos. A peça que HaroldBloom não hesita em chamar de “primeira obra-primade William Shakespeare”, texto insuperável de belezae perfeição formal, terá, ainda, constante acompa-nhamento musical (Alfredo Moura), para que o serãoseja completo. (mais informação na página 7)

Finalmente, a esplanada do Rossio vai reabrir – resul-tado do protocolo estabelecido entre o TNDM II e oamo.te – e, para além da comida e do convívio, pro-porcionará, todas as noites, concertos que ocuparãoo final do dia com propostas musicais diferenciadas,onde não faltarão uma pitada de pop, um toque derock, um sabor a jazz ou um cheiro a música erudita.Para usufruir em pleno a Praça do Rossio. (consultar programa na página 14)

Segundo Luís Patrão, é importante que a animaçãoaconteça, também, ao ar livre. “A oferta (cultural) temde saber sair à rua, ao encontro do turista, ao encon-tro do cidadão. Só assim deixará uma recordaçãomais memorável, pela surpresa que causa, pela ideiaque deixa de que, em Portugal, a arte e o espectácu-lo estão na rua.”

“A OFERTA (CULTURAL) TEM DE SABER SAIR À RUA, AO ENCONTRODO TURISTA, AO ENCONTRO DO CIDADÃO. SÓ ASSIM DEIXARÁ UMARECORDAÇÃO MAIS MEMORÁVEL, PELA SURPRESA QUE CAUSA,PELA IDEIA QUE DEIXA DE QUE, EM PORTUGAL, A ARTE E OESPECTÁCULO ESTÃO NA RUA.”Luís Patrão (Presidente do Turismo de Portugal)

Apoio:

:04 TNDM II

O simples desejo de retratar a vida e obra do Padre AntónioVieira numa peça de teatro foi, talvez, o que moveu FilomenaOliveira e Miguel Real a assinarem esta produção que tem lugarnum cenário tão majestoso quanto a obra do padre jesuíta. AsRuínas do Carmo, monumento edificado no século XIV e quecomeçou por ser um convento carmelita, é um palco privilegia-do mas digno desta produção e da grandiosidade da obra deVieira: “Tão majestosa é a sua obra que não sabemos o que delahavemos de pensar. Se um pedaço do céu na terra, se uma obrahumana igualada à eternidade”.Desta ligação entre o céu e a terra, ou entre o intemporal e otemporal, vem o título deste espectáculo, que pretende não sóretratar a figura de Vieira, mas também o próprio tempo históri-co. Se cabe a Filomena Oliveira a encenação, Andrzej Kowalskiassina a cenografia. Um trabalho conjunto, de modo a se con-seguir alcançar uma tão desejada unidade entre som, imagem,voz e representação, numa produção que partirá em digressãorumo ao Brasil.Desde as suas capacidades retóricas, hermenêuticas, filosóficas,teológicas, diplomáticas ou históricas, é impossível desligarVieira do tempo em que viveu: “A figura do Padre António Vieiraemerge deste ambiente histórico, evidenciando uma fabulosasingularidade”. Homem do barroco, Vieira foi um viajante e nasua vida Filomena Oliveira e Miguel Real encontraram matéria decriação: “Esta é uma peça de teatro, não um recital de decla-mação. Existem conflitos dramáticos, como em todas as peças,mas, claro, em uma ou outra parte, Vieira subirá ao púlpito epraticará a sua espantosa oratória.”Ainda hoje a metáfora de Vieira do teatro do mundo nos fazreflectir. As relações sociais continuam tão complexas como noseu tempo e nas suas reflexões encontramos, continuamente, onovo e uma fonte inesgotável de conhecimento.

:VIEIRA, O HOMEM E O PENSADOR

“Padre António Vieira foi o português mais fracassado de todosos tempos. Nada do que sonhou se cumpriu, todas as suas pro-

fecias se frustraram, todos os seusplanos políticos se goraram e toda asua glória foi póstuma”. Assim definemFilomena Oliveira e Miguel Real, empoucas palavras, o destino de umhomem que se viu, até ao fim dos seusdias, apreciado como orador, apesar devotada a sua obra e o seu papel nasociedade ao esquecimento. Tendosido o mais famoso pregador religiosoportuguês, homem de muitos ofícios –missionário, diplomata, político,

orador, escritor –, a sua imaginação social e as suas práticas reli-giosas, sociais e políticas são indispensáveis à compreensão doséculo XVII. A construção de uma sociedade livre, sem fronteiras,era apregoada através de uma retórica única onde o sermão, osbons exemplos e as boas práticas sociais vigoravam. “PadreAntónio Vieira nunca recuou perante os aleijões do seu tempo enunca deixou de denunciar os poderosos que se alimentavamdo trabalho alheio”, acrescentam Filomena Oliveira e Miguel Real.A denúncia social contra o tratamento dos negros ou a explo-ração e escravização dos índios no Brasil fizeram dele umvisionário, aquele que acreditou também na ressurreição de reise num Império Mundial sediado em Lisboa. Convicções que olevaram a ter de se confrontar com a Inquisição. Vieira arriscoutudo mas profetizou a utopia, não apenas enquanto quimera,mas como acto realizável.

NO ANO EM QUE SE COMEMORA OANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO PADREANTÓNIO VIEIRA, O TEATRO NACIONALAPRESENTA, NO CENÁRIO HISTÓRICO DASRUÍNAS DO CARMO, UMA PEÇA SOBRE UMDOS MAIORES PROSADORES DE LÍNGUAPORTUGUESA

TEXTO DE RICARDO PAULOURO

“PADRE ANTÓNIO VIEIRA FOI O PORTUGUÊS MAIS FRACAS-SADO DE TODOS OS TEMPOS. NADA DO QUE SONHOU SECUMPRIU, TODAS AS SUAS PROFECIAS SE FRUSTRARAM”

© Maria João Oliveira

© Maria João Oliveira

“Não há maior comédia que a minha vida; equando quero ou chorar ou rir, admirar-meou dar graças a Deus ou zombar do mundo,não tenho mais que olhar para mim.”

António Vieira, 1658

:Nas Ruínas do Carmo, de 18 de Julho a 16 de Agosto

:TNDM II 05

:PINTAR COM LUZ AS RUÍNAS DO CARMO

Andrzej Kowalski quis tirar o maior partido do facto de a peça serealizar nas Ruínas do Carmo. “Em termos estéticos é uma construçãode climas, de ambientes e, claro, a utilização das ruínas do Carmocomo cenário total. Neste espectáculo o espectador pode con-tar com uma recriação através do vídeo dos vários ambientesonde viveu o Padre António Vieira - o Brasil, a Bahia, a Corte”.Adaptar o cenário desta peça às Ruínas do Carmo foi uma experiência enriquecedora: “vamos pintar com luz (vai ser muitoimportante o trabalho do Orlando Worm, no desenho de luz) oConvento do Carmo e através da utilização de um tule, ondeserão projectadas imagens que envolvem todo o espaço, criaruma terceira dimensão através da luz e da sombra”.

:OS MUITOS PALCOS DE LISBOA

Foi o primeiro pensador português a atribuir uma designação avários factores, mais ou menos proféticos, que surgiram comoconsequência da célebre batalha de Ourique. O Quinto Império,assim lhe chamou Vieira, onde o sebastianismo convive lado alado com os mesmos ideais judaicos presentes nas Trovas deBandarra. Passear hoje pela cidade de Lisboa é também umaforma de reconhecer os sinais desse Quinto Império, dissemina-do pela cidade. Começar no Rossio, passando nos Restauradores,espreitar os subterrâneos de Lisboa. Observar os pórticos deigrejas como a Igreja da Conceição ou a fachada neogótica daEstação do Rossio. Olhos nos olhos com a estátua em pedra doDesejado, mão sobre a espada, segue-se até ao Convento doCarmo onde se descobrem lápides perdidas. Aqui reside a belezadas Ruínas do Carmo, já utilizadas como palco, em 2006, na apre-sentação do espectáculo “Metamorphoses”, de Ovídeo, porocasião da Mostra Internacional de Teatro.Mandado construir em 1389 pelo Condestável D. Nuno ÁlvaresPereira, onde ingressaram, pouco tempo depois, frades carmeli-tas de Moura, no dia 1 de Novembro de 1755 grande parte doconvento ruiu com o terramoto. Hoje, alvo de obras de benefi-ciação e restauro, as Ruínas do Carmo, com cabeceira sobran-ceira ao Rossio e de frente para o Castelo de São Jorge, formamum dos monumentos mais bonitos da capital.

Ruínas do Carmo

18 Jul 16 Ago3ª a Sáb 22h00

SynopsisThe historical mediaeval convent (Carmo Convent), located in the heart of the city, is thestage for a play that tells the story of the Portuguese Jesuit priest and writer AntónioVieira, who, in the XVIIth Century, astounded all by his eloquence and is defense of freedom.

© Maria João Oliveira

© Maria João Oliveira

: FICHA ARTÍSTICA

de Miguel Real e Filomena Oliveiraencenação Filomena Oliveiraespaço cénico e imagem Andrzej Kowalski desenho de luz Orlando Worm figurinos Esmeralda Bisnocamúsica e orgânica sonora David MartinscomAntónio Banha, Bruno Schiappa, Carmen SantosCláudia Faria, Félix Fontoura, João Brás, João Lagarto,José Henrique Neto, Júlio Martin, Marques D’Arede,Maurício Vitorio e Flávio Tomé, João Mais, Paula Coelho, Paulo Camposdos Reis

produção TNDM II

Apoio:

A peça “Vieira – O Céu na Terra”, a ser representada este Verãonas ruínas do Convento do Carmo, privilegiou, na sua construçãocénica, os ambientes brasileiros e lisboetas do século XVII. Nestesentido, participarão na peça uma personagem negra, represen-tante dos escravos dos engenhos do Recôncavo bahiano, emcujas capelas Pe. António Vieira invectivou os poderosos senhores do açúcar, exigindo um tratamento humano para osescravos, e uma personagem índia, representante das tribostupi, habitantes nativos do Maranhão e Grão-Pará, salvos daescravização e extinção devido ao empenho missionário de Pe. António Vieira e outros jesuítas.É, porém, a atmosfera revolucionária da Restauração em Lisboa,que, ausente-presente, se faz sentir em “Vieira – O Céu na Terra”.Lisboa, hoje desenhada verticalmente ao Tejo, seguia entãoparalela ao rio, as ruas acompanhavam os declives naturais (ascolinas, os vales). Mais do que outro símbolo urbano, eram as

igrejas e conventos que marcavam os lugares de Lisboa – e Pe.António Vieira proferirá partes de sermões declamados nasIgrejas das Chagas, de Conceição Velha e de S. Roque, igreja dosjesuítas. Dificilmente se daria um passo de uma rua para outraque não se deparasse com uma igreja, uma capela ou, na linhado horizonte, uma ermida. No lado oriental, a capela de NossaSenhora da Penha velava pelos lisboetas; do ocidental, SãoMamede, o santo abençoador dos rebanhos que pastavam àsportas da cidade. Pela cidade, dezenas de igrejas, que nenhum

bairro se sentia bairro sem que tivesse o seu santinho protector,o seu pároco particular, que baptizava os meninos, casava osjovens, consolava os adultos e amortalhava os velhos no caixão.As casas dificilmente ultrapassavam os quatro andares, todaselas com quintais, algumas com curtos jardins, cravadas umasnas outras compondo um labirinto de ruas e ruelas estreitinhaspor que dificilmente passava uma carroça larga ou uma carruagem.Burros e escravos eram os grandes carregadores da cidade.Escravas carregadoras de água para as casas das suas senhorasalinhavam-se junto ao chafariz do Terreiro do Paço, encimadopela estátua de Apolo, o Belo, ou junto ao chafariz do Rossio,muito gaiteiro com a sua estatueta de Neptuno, Rei dos Mares.

Do lado oriental, amontoavam-se frente ao Chafariz-d’El-Rei, àembocadura de Alfama. Daqui eram também as naus abasteci-das de água, em barricas, não raro carregadas por antigosescravos mouros. O povo miúdo da Mouraria abastecia-se noPoço do Borratém, à entrada da Rua da Madalena, para onde, ànoite, caminhavam os pés dos senhoritos finos, contemplandoos tornozelos trigueiros das muy guapas espanholitas do teatrono Pátio do Borratém. Nestor, escravo acompanhante de Pe.António Vieira, extasia-se com o movimento de Lisboa comocapital do Império, mas sente falta das mulatas da sua Bahia. Pelo meio da manhã, negras calhandreiras atravessavam Lisboacom as calhandras (ânforas ou potes) à cabeça recolhendo osdejectos dos lisboetas, dirigiam-se em magotes esforçados paraa zona da Boavista (perto do actual Cais do Sodré), nos limitesocidentais da cidade, a despejar os seus potes no Tejo. DeAlcântara a Monte Santo, o vento inchava umas nuvens depoeira amarelácea, que a brisa húmida do Tejo encorpava sobrea cidade, eram as pedreiras de Alcântara que abasteciam asobras de Lisboa, nelas trabalhavam escravos comprados nosmercados de Marrocos, antigos presos condenados às galés,embarcadiços caídos em desgraça. Nos velhos buracos da coli-na de Alcântara, que a escavagem e a explosão tinham aberto eexplorado, agora sem uso, acolhiam-se escravos velhos oudefeituosos atirados para a rua pelos seus antigos amos, ali viviam em cavernas ou grutas, dando origem, mais tarde, aofamoso mocambo ou quilombo de Alcântara, coutada denegros fujões do século XVIII.Atravessando o Rossio, três molequinhos negros gingam oscaniços das pernas, cabriolando à frente de dois pretos de mús-culos de bronze que suportam à cabeça uma padiola com ocorpo morto de um preto amortalhado num velho pano debaeta ou numa serapilheira esgarçada; atrás, uma, duas ou três

mulheres pretas, enroladas em túnicasde pano-da-costa, pranteiam em altosgritos a perda do Bastião, do ‘Ñgola oudo Manicongo, seguidos de quatroescravos jovens, um premindo umdjambé de peito, outro bufando umcornetim de lata, o terceiro evocandoos vodus de África e o último socandofuriosamente uma “caixa” (um tambor).

Era um funeral negro, não havia padre, raramente santa-unção.Por vezes, um frade apiedava-se daqueles corpos vocacionadospara o inferno, aprontava-se ao cimo da escadaria de uma igre-ja, tapava o nariz ao cheiro malsão exalado do tronco dos pre-tos, e abençoava o cortejo, que se dirigia para o Poço dosNegros, recolha obrigatória dos corpos mortos dos pretos. Aosábado, a Câmara despejava cinco baldões de cal a ferver sobreos corpos em apodrecimento.Cénica, Lisboa oferece-se a Pe. António Vieira como lugar daexistência futura do Quinto Império. Mas é para o Brasil, para osertão, entre negros convertidos e índios a converter, que o seucoração pulsa.

OS AUTORES DA PEÇA QUE OTEATRO NACIONAL VAI APRESEN-TAR NAS RUÍNAS DO CARMO, EMJULHO, ESCREVEM SOBRE ODESAFIO DE RECORDAR, EMTEATRO, UMA DAS FIGURASHISTÓRICAS MAIS IMPORTANTESDO SÉCULO XVII

TEXTO DE FILOMENA OLIVEIRA EMIGUEL REAL

LISBOA OFERECE-SE A PE. ANTÓNIO VIEIRA COMO LUGARDA EXISTÊNCIA FUTURA DO QUINTO IMPÉRIO. MAS É PARAO BRASIL, PARA O SERTÃO, ENTRE NEGROS CONVERTIDOS EÍNDIOS A CONVERTER, QUE O SEU CORAÇÃO PULSA

© Maria João Oliveira

:Ensaio sobre o Padre António Vieira:06 TNDM II

Muito se tem escrito sobre “Sonho de uma Noite de Verão”. A ten-tativa de descoberta das influências shakespearianas, remetendoa temática às lendas gregas, até à perícia e originalidade da escri-ta levou vários críticos, como Harold Bloom, a afirmar sem qual-quer hesitação: "Nada escrito por Shakespeare antes de ‘Sonhode uma Noite de Verão’ se equipara a essa peça e, até certoponto, nada escrito por ele depois irá superá-la. Trata-se, semdúvida, da sua primeira obra-prima, perfeita, uma das suas queapresentam força e originalidade admiráveis." Esta que é talvez a mais fascinante comédia do bardo inglêsregressa, sob a encenação do argentino Claudio Hochman, paraser apresentada ao ar livre, no Palácio da Independência. Um dosmais representativos exemplos de arquitectura seiscentista daárea urbana de Lisboa, em pleno centro histórico da cidade eencostado à muralha fernandina, serve de palco a esta peça quedesperta no espectador o desejo de sonhar de olhos abertos.Como diz Claudio Hochman, “o espaço onde a peça terá lugar éum pátio muito bonito e a montagem será ao ar livre, aprovei-tando os recursos que o próprio espaço nos oferece. A lua serátestemunha.”Claudio Hochman, shakespeariano assumido, retoma esta peçarepleta de fadas, elfos, príncipes e sonhos. Depois da sua apre-sentação na Sala Garrett do Teatro Nacional, serão alteradas algu-mas componentes do espectáculo, nomeadamente os figurinos:“Gosto de realizar estes jogos, voltar a pôr em cena uma peçamodificando alguns dos factores. Desta vez, vamos alterar oguarda-roupa em proveito de uma estética mais actual, bemcomo alguns aspectos da cenografia.” A nova versão de “Sonho de uma Noite de Verão’“ é um espectácu-lo transversal que funciona para todas as idades. Ou não falasse este

CONSIDERADO POR MUITOS A OBRA-PRIMA DEWILLIAM SHAKESPEARE, “SONHO DE UMA NOITE DEVERÃO” REGRESSA, DESTA VEZ APRESENTADO AOAR LIVRE, NO PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA, BEM

NO CORAÇÃO DA CIDADE

TEXTO DE RICARDO PAULOURO

:No Palácio da Independência, de 5 de Julho a 16 de Agosto

Palácio da Independência

5 Jul 16 Ago3ª a Sáb 22h00

SynopsisShakespeare’s beloved comedy, “A Midsummer Night’s Dream”, is presented outdoors, inthe Independence Palace, located close to Rossio. Shakespeare’s fantastical play withthree stories of love, magic and perception is an audience favorite.

:TNDM II 07

texto do amor, na sua forma mais divertida, misturando personagensda mitologia grega com duendes, nobres e plebeus. Apesar de seruma das peças mais levadas à cena, a necessidade humana da fan-tasia, do amor e do desejo não se desvanece. “Sonho” é, por isso, umapeça imperdível, segundo Hochman, pela forma como “introduz o

jogo do teatro dentro do teatro, fala de mundos reais e mágicos.Também nós vivemos num mundo cheio de rituais e burocracias, deformalismos e estruturas pouco flexíveis. ‘Sonho’ é um escape, umapeça que abre as portas à imaginação, que dá lugar ao delírio. Aliás,está repleta de humor. E esse é um alimento muito saudável.”

: FICHA ARTÍSTICA

a partir de William Shakespeare versão e encenação Claudio Hochmanmusica original e tradução de letras Alfredo Moura letras originais Claudio Hochman direcção musical Daniel Schvetzcenografia Ana Paula Rochafigurinos Rafaela Mapril desenho de luz José Carlos Nascimentocoreografia Claudio Hochman e Catarina Câmara

com Bruno Huca, Catarina Guerreiro, Diogo Mesquita,Fernanda Paulo, Joana de Carvalho, João Miguel Mota,Marta Queirós, Rita Cruz, Samuel Alves, Pedro Pernas

músicos Eduardo Jordão, Eduardo Lála, Gonçalo Santos, JorgeSilva, José Luís Carvalho

produção TNDM II

Apoio:

nadores, coreógrafos, actores e bailarinos, desenhos de luz e figurinos, proporciona, pela diferença na abordagem dos distin-tos intervenientes, uma maior consciência do domínio próprioda arquitectura, levando a reinterpretar e questionar os seuslimites. (…)

Tem trabalhado com muitos encenadores. João Lourenço,Ricardo Pais, Rogério de Carvalho, Carlos Pimenta. Fez,também, várias cenografias para dança, nomeadamentepara Olga Roriz. Há algum que goste de destacar? Algumcriador com quem tenha sentido maior cumplicidadeartística?No teatro e na dança, as grandes duplas de criativos, comoCristina Reis/Luís Miguel Cintra, Richard Peduzzi/PatriceChéreau, Gae Aulenti/Luca Ronconi, ou Peter Pabst/Pina Bausch,são feitas no pressuposto da existência de um quadro de referên-cias comuns. No meu caso, tenho efectivamente trabalhadocom muitos encenadores e coreógrafos, não existindo, neces-sariamente, uma cumplicidade estética. Nos trabalhos comRicardo Pais e Olga Roriz, o que os torna interessantes é exacta-mente a oposição entre a austeridade do meu quadro de referên-cias e a linguagem exuberante que caracteriza os seus traba-lhos. (…) Já com António Pires, e mesmo com Carlos Pimenta,os meus objectos cénicos, austeros e abstractos, vão de encon-tro à linguagem teatral por eles preconizada. No entanto, julgoque há um ponto comum em todos estes criativos, na medidaem que entendem a concepção cenográfica como algo dis-tante da representação de uma ficção a partir de um plano bidi-mensional, para se centrar na natureza tridimensional (arquitec-tónica) do espaço ou dos objectos cénicos e na sua estreitarelação com os intérpretes. (...) A cenografia, tal como a arquitec-tura, deve reflectir as relações entre o espaço e o corpo.

De todos os seus trabalhos, consegue escolher um queprefira de entre todos? Gostaria de destacar “Propriedade Privada” (1996) de Olga Rorize “D. João” (2006) de Molière, encenação de Ricardo Pais, traba-lhos onde se expressam, de forma clara, os confrontos e asrelações entre a arquitectura, a dança e o teatro. (…) Os doiscenários constituem-se como paradigmas do tema da multi-funcionalidade, frequentemente explorado nos meus trabalhosde cenografia, traduzido em objectos, ou sistemas de objectos,flexíveis e transformáveis, tornando presente a ideia de transito-riedade, associada às mudanças e à especificidade de cadacena. Nesse sentido, estes dispositivos cénicos são entendidoscomo uma espécie de corpo vivo em constante mutação. (…)

É um criador que se realiza totalmente depois do traba-lho concluído ou é daqueles artistas que está sempreinsatisfeito?Diria que depende de cada trabalho. Por exemplo, no caso de“Propriedade Privada”, achámos que o cenário ainda não tinhaesgotado todas as suas possibilidades e por isso, com o mesmodispositivo, Olga Roriz coreografou “Propriedade Pública” (1998).A este propósito, Olga refere “que poderia agarrar-se àquelacenografia e fazer o resto da sua carreira com ela, construindosempre trabalhos diferentes... porque ela é infindável” e acabapor ganhar vida própria. Tenho uma postura crítica perante osmeus trabalhos. Tento responder não só às questões colocadas

:08 TNDM II

Há um momento na vida de um artista em que o reco-nhecimento chega, inequivocamente. Este parece ser oseu. Tem consciência deste facto?Há, de facto, um reconhecimento. Mas no dia a dia não pensonisso. Estou sempre absorvido com novos projectos.

Sente-se mais cenógrafo do que arquitecto, ou vice-versa? Isto embora uma das características do seu traba-lho seja o facto de se continuar a notar, nas suascenografias, a mão do arquitecto...Sinto-me sempre arquitecto. Tal como Lina Bo Bardi, mais doque cenógrafo, sinto-me um “arquitecto de cena”. Sim, é facil-mente reconhecível, nos meus trabalhos de cenografia, a dominân-cia do gesto arquitectónico. Existe nestes trabalhos uma relaçãocom a arquitectura e com os seus temas fundamentais (peso,massa, forma, volume, espaço) onde a noção de habitar é essen-cial para a construção do objecto cénico, através do qual seexplora a reutilização de materiais conotados com a arquitec-tura. (…) No entanto, se é no campo da arquitectura que nosencontramos – como linguagem conceptual de referência – oscenários podem afirmar-se pela sua negação. Apesar de seremarquitecturas, quando transpostas para o palco, o teatro atribui--lhes outros significados, podendo representar coisas distintas.(…) Libertos de constrangimentos funcionais, pomo-nos nopapel de contadores de histórias, coleccionando imagens eacontecimentos que se adequam ao grau de dramatismo dacena. Isto é, cristaliza-se uma determinada imagem, que nor-malmente advém do mundo da arquitectura, que se adequa àdramaticidade da cena. (…)

Recentemente, foi contemplado com mais um prémiointernacional importante, o Gold Medal for Best StageDesign, em Praga. Mas no seu percurso abundam as dis-tinções – quer as nacionais quer as internacionais. Queimportância atribui a estes prémios?Os prémios são como desafios, como um estímulo para conti-nuar a trabalhar empenhadamente. Como diz Helena Almeida, achave do sucesso é a persistência. "É da exaustão, da dor interior,que surgem as soluções.” Lutar com convicção e sem tréguas poraquilo que gosto de fazer. Tenho a necessidade de trabalhar emarquitectura para existir, fundindo-se naturalmente o acto defazer arquitectura e o de viver. A minha vida é o relacionamentocom as pessoas com quem trabalho. Acredito que é uma formade viver particularmente estimulante e preciso dela.

Como aconteceu a aproximação ao teatro? Quando e emque circunstâncias fez a sua primeira cenografia e o que ofez continuar?O meu interesse pelo teatro surgiu por mero acaso e deve-sesubstancialmente a Ricardo Pais, que conheci quando era pro-fessor de Projecto em Viseu, na Faculdade de Arquitectura daUniversidade do Porto. Tudo começou em 1991 com o seu con-vite para conceber a cenografia da peça “Grupo de Vanguarda”,de Vicente Sanches, sua encenação para o TEUC. Nessa altura aminha actividade como arquitecto era ainda escassa, e emborapressentindo a distinção entre as actividades de arquitectura ecenografia, encarei esse trabalho com o mesmo empenho erigor técnico que dedico aos projectos de arquitectura. O queme fez continuar, foi perceber que a relação com os ence-

:Cenografias cruzadas

© Nuno Couceiro

pelos autores, encenadores e coreógrafos durante o processode criação, como também, posteriormente, às questões levan-tadas pelos espectadores.

É capaz de descrever sumariamente o processo de criaçãode um cenário? A metodologia varia consoante o espectáculo, mas normal-mente, quando existe um texto, parto da sua leitura e de umaprimeira conversa com o encenador ou coreógrafo. Geralmenteleio o texto uma só vez. Prefiro não o ler em detalhe antes de teruma ideia conceptual para o espaço cénico. Frequentementeconcebo as cenas não em função de uma trama literária, mas simde uma estrutura arquitectónica. Entendo que a cenografia não émera tradução literal da dramaturgia, privilegiando conteúdosparalelos como as insinuações de tensões e sentidos “narrativos” apartir de estruturas cénicas predominantemente abstractas. (…)

©

:TNDM II 09

A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO “ARQUITECTURAS EM PALCO”,PREMIADA NA QUADRIENAL DE PRAGA E QUE O TEATRONACIONAL VAI RECEBER ATÉ FINAIS DE JULHO, JOÃO MENDESRIBEIRO FALA DE ARQUITECTURA E CENOGRAFIA

ENTREVISTA DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

NUNO GABRIEL DE MELLO, CENÓGRAFO DE “UM CONTO AMERI-CANO”, QUE AINDA SE PODE VER NA SALA GARRETT ATÉ 13 DEJULHO, FALA DO SEU TRABALHO E DO IMPACTO DA SUA GIGAN-TESCA MÁQUINA DE CENA

ENTREVISTA DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

Tinha consciência, quanto o convidaram para fazer esta cenografia, de que o cenáriose tornaria um protagonista, senão mesmo o protagonista de “Um ContoAmericano”?Não foi esse o meu objectivo, mas sei que o cenário se torna muito presente no espectáculo,a ponto de ameaçar diluir o peso da interpretação dos actores. Inicialmente, tinha até conce-bido um cenário mais simples… Este tinha custos mais elevados e era arriscado, a nível daencenação. Mas quando expus os dois projectos à Maria Emília Correia, ela preferiu este.Depois de abrires o baú, já não te contentas com uma jóia. Mas o outro talvez fosse melhorpara o espectáculo como um todo. Certamente que não se iria sobrepor ao resto.

Em que moldes foi formalizado o convite para fazer esta cenografia? Quem conheciao seu trabalho ao ponto de lhe entregar uma tarefa desta envergadura?O Carlos Fragateiro. Fiz, em 1997, um cenário para um espectáculo do Teatro da Trindade quecorreu particularmente bem. Concebi uma gigantesca máquina de escrever que os actoresocupariam, criando letras. Tudo aquilo tinha de ser coreografado ao milímetro. Infelizmente,nem todos os actores concordaram em trabalhar em cima da estrutura e a máquina acaboupor funcionar apenas como pano de fundo da acção. Era bonito, mas não correu comogostaria.

© Nuno Couceiro

O cenário de “Um Conto Americano” não é, portanto, acidental. Como criador, tem apetência por máquinas cénicas?É o que sei e quero fazer.

Aí reconhece a influência de algum criador? O João Brites,do Bando, é conhecido pelo mesmo…Reconheço-me um discípulo do João Brites, que foi meu profes-sor no Conservatório e que, no primeiro ano do curso, me con-vidou para ir trabalhar com ele. Fiz, com o Bando, “A Balada daGaruma”, dois meses depois de ter entrado na escola.

Foi importante para si ter estudado em Barcelona. O quese diz sobre o alargamento de horizontes que as escolasfora do país proporcionam não é um mito?As escolas servem, fundamentalmente, para encontrar pessoascom objectivos comuns, que partilham ideias e princípiosestéticos, que perseguem as mesmas utopias. Ninguém ensinanada a ninguém: ou se está disponível para aprender, ou não.Em Barcelona, tive oportunidade de evoluir muito a nível técni-co. Coisa que não tinha acontecido no Conservatório, cujo ensi-no, há dez anos, tinha muitas lacunas, sobretudo a nível prático.Dizem-me que está melhor.

Onde se inspirou para criar este cenário?Na América dos anos 30. Nada mais. Tentei que a imagem cor-respondesse àquela estética do ferro e das linhas cruzadas. Tudomuito simples e o mais depurado possível. Não aprecio o barro-co e não gosto de decorar espaços. Só aceito trabalhar com pes-soas que me deixam experimentar e já perdi muitas oportu-nidades de trabalho por causa disso. Por exemplo: para fazeruma cozinha não é preciso pôr uma bancada e um lava-louças.Gosto mais de sugerir as coisas, de situar o público em determi-nado ambiente, do que de explicar tudo.

Foi um cenário muito difícil de construir, materialmente?Tem conhecimentos de engenharia suficientes para mon-tar uma maquinaria destas?Tenho alguma prática em fazer mecanismos complicados ealguma destreza em imaginar soluções para as máquinas. Masneste caso, em que era preciso usar pesos e contrabalanços,contei com a ajuda dos serralheiros do Leonel & Bicho, que construíram o cenário. São muito competentes.

A segurança dos actores foi, desde o início, uma preocu-pação neste projecto? Visto de fora, parece extrema-mente perigoso habitar aquele espaço.Mas não é. Não oferece grandes perigos porque tudo foi pensa-do para que assim fosse. Claro que é preciso ter algum cuidado,mas isso é válido para qualquer espectáculo e em qualquercenário.

As críticas ao espectáculo, todas se referem ao cenário,sempre em termos elogiosos. Isso é importante para si?Idealmente, um bom cenário é aquele que não se dá por ele.Não sei se algum criador alguma vez tem a certeza daquilo queestá a fazer – mesmo os mais experientes. Duvido que tenha.Mas no cômputo geral, o que é preciso, antes de mais, é que umcenário sirva a história.

:10 TNDM II

Acompanha os ensaios e dispõe-se a fazer ajustes nocenário ou apresenta a obra feita e deixa o encenador e osactores fazerem o resto?Sim, acompanho os ensaios de modo a ir aperfeiçoando ocenário até à estreia. Na construção dos cenários, salienta-se oseu carácter experimental, que se traça numa aprendizagemconsolidada em sucessivos ensaios e no contacto directo comos intérpretes. Isto porque as minhas propostas cenográficasevocam temas tradicionais da arquitectura (volume, escala,estabilidade, densidade), mas também remetem para a relaçãocom os intérpretes, convocando o corpo e afectando o modocomo este experiencia os objectos cénicos: uma espécie deinteligibilidade do objecto cénico que exige a presença docorpo. (…) A possibilidade de corrigir e modificar detalhes dodispositivo cénico, num processo experimental, é uma van-tagem que o teatro e a dança oferecem.

A exposição que vai apresentar no Teatro Nacional D.Maria II - onde, de resto, já trabalhou - como a apresen-taria? “Arquitecturas em Palco” é o tema proposto para aexposição. Com este tema pretende-se evidenciar o espíri-to contemporâneo de hibridação, experimentalismo e con-taminação entre as várias disciplinas artísticas, nomeada-mente a cenografia e a arquitectura. (…) A cenografia éabordada enquanto experimentação de processos e lin-guagens comuns à arquitectura, nomeadamente, no quetoca à modelação dos espaços a partir de temas como aescala, os aspectos compositivos e construtivos ou o recur-so a dispositivos geométricos e modulares. Esta exposiçãoconstitui uma oportunidade de materializar um projectofundado, precisamente, nessa relação interdisciplinar, queespero que venha a constituir matéria de reflexão e apro-fundamento sobre os limites e a demarcação de ter-ritórios artísticos (nos quais ainda se inclui a arquitectura)ou, pelo contrário, sobre a pluralidade e a confluência depropósitos e universos conceptuais de referência. (ver entrevista completa no site do TNDM II)

© Nuno Couceiro

A relação entre as personagens é tensa, do princípio ao fim dahistória. Carla Vasconcelos (Helena) e Ricardo Pereira (Tomás) sãoo par romântico. Mas o romance em Neil LaBute encontraentraves nos próprios preconceitos da sociedade. EnquantoHelena é uma jovem gorda que come com prazer, Tomás, ele-gante e bonito, submete-se às dietas e ao ginásio. Apesar daatracção mútua, surgem dois opositores a uma história com finalfeliz: Castro (Carlos António), o amigo mais próximo, e Joana(Maria João Falcão), contabilista e ex-namorada de Tomás. Doisarquétipos, aliás, ambos com a mesma idade e com o mesmograu de malícia, representativos de uma sociedade ostracista emrelação a quem foge aos padrões de beleza.Encenada por Amândio Pinheiro, esta peça vê a sua carreira pro-longada graças à adesão do público que nela encontra um fielretrato da sociedade contemporânea onde, do princípio ao fim,se aguarda pela resposta à questão: precisará o amor de autori-zação da sociedade para se ver concretizado?Note-se que o controverso dramaturgo e realizador norte-ameri-cano, Neil LaBute, se inspirou na sua própria história de vidaquando perdeu, repentinamente, 27 quilos e pensou ter encon-trado a harmonia e equilíbrio que tanto desejava. O próprio afir-mou, recentemente, ao blog “Theatrevoice”: “Vou onde o ventome levar: quando tenho uma história com a qual estou contente,escrevo-a e espero que seja uma noite em cheio”. Na verdade, éesse carácter humano e real, demasiado real, que faz desta peçauma história sobre as fraquezas da própria sociedade.

DEVIDO AO SUCESSO DE PÚBLICO, “A GORDA – FAT PIG”, DE NEIL LABUTE, VIU A SUACARREIRA PROLONGADA. ISTO ENQUANTO PEDRO TOCHAS SE PREPARA PARA APRESEN-TAR, NO MESMO ESPAÇO, UM ESPECTÁCULO QUE PROMETE FAZER RIR O PÚBLICO COMAS PEQUENAS COISAS DA VIDATEXTO DE MARGARIDA GIL DOS REIS

:O ONE-MAN-SHOW DE PEDRO TOCHAS

A paixão pelo teatro de rua levou Pedro Tochas aos EstadosUnidos da América e a Inglaterra estudar técnicas de malabaris-mo e comédia física. A comunicação através de imagens e da lin-guagem não verbal é uma arte que actualmente utiliza nos seusespectáculos e que o fez ganhar o prémio de melhor artista derua, em 2003, no Prosgrunn Internasjonale Teaterfestival, naNoruega. Assim se chega a este “Palhaço Escultor”, tambémvencedor do Adelaide International Buskers Festival, em 2006,onde, utilizando a técnica de “clown”, Tochas reinventa a suarelação com o público e consigo próprio enquanto malabarista. Progressivamente, os sentimentos tomam conta do malabaristaque, influenciado por várias imagens do cinema mudo, recorre aadereços, como balões, para mostrar o que sente. Ao longo decerca de uma hora, o público assiste a uma performance dinâmi-ca que recupera imagens do imaginário de cada um de nós.

SynopsisTwo plays to watch for fun. “Fat Pig” is a controversial play where the top American play-wright and director explores how society treats a romance between a young single manand his overweight girlfriend. “The Sculptor Clown” is an exercise of stand-up-comedy(International Award Winning Street Show) where the main character is a sculptorclown. This interdisciplinary work is a visual treat for all the family that will never ceaseto entertain and amaze.

:Em Junho e Julho

© Susana Paiva

:TNDM II 11

:12 TNDM II :Criadores Europeus encontram-se na Sala Garrett

“Três artistas. Três nacionalidades”. Assim é definido o conceitodeste espectáculo que reúne três criativos de diferentesproveniências: o compositor Marijan Necak, da Macedónia; e oscoreógrafos Stasa Zurovac, da Croácia, e o português Luís Sousa.“Ancient Times Today” - Um olhar actual sobre mitos na antigu-idade é uma produção da companhia de reportório CeDeCe eo colectivo croata Rijeka Ballet Ensemble. Luís Sousa trabalhoucriativamente com os bailarinos croatas, enquanto StasaZurovac investiu a sua criatividade nos bailarinos portugueses.Um intercâmbio cuja diversidade de estilos encontra a suaunidade na música, especialmente criada para esta produçãopelo compositor macedónio Marijan Necak.Na rota de aproximação da dança à comunidade, tendo comoprincipal objectivo a formação de novos públicos, a CeDeCeune-se ao Ensemble do Ballet do Teatro Nacional da Croácia,que se apresenta pela primeira vez em Portugal, no âmbito doExchange International Festival. Saliente-se que este é, aliás, umciclo dedicado à dança, no concelho de Alcobaça, cidade ondea CeDeCe se radicou desde 1992, e que teve a sua primeiraedição em 2007.Apostando num estilo de dança mais lírico mas com uma fortecomponente técnica, este espectáculo pretende ser um desafioaos limites da imaginação dos dois coreógrafos que se transpõepara os limites do corpo dos bailarinos. Stasa Zurovac parte datemática do texto bíblico “Cântico dos Cânticos”, em contrapon-to com o texto do poeta croato Janko Polic Kamov, para “criaruma peça que seja uma combinação artística” de ambos os poe-mas. Do outro lado, Luís Sousa encontrouno mito de Penélope fonte de inspiração: “Aespera de Ulisses, a sombra da sua vida(Helena), o desespero do seu filhoTelémaco, o abuso dos cavaleiros do reino,a morte das 12 aias. História. Mito. Será queo tempo da História e a Palavra do Mitoforam correctos e justos com Penélope?”.

:MÚSICA AO VIVO

A música, expressamente encomendadapara a ocasião, está a cargo de MarjanNecak, cujo trabalho é a unidade e o pontode fusão do trabalho de ambos os coreó-grafos. À interpretação dos bailarinoscroatas e portugueses, juntam-se músicos ecantores do Teatro Ivan pl. Zajc de Rijeca, naCroácia. Marjan Necak, que compõe, desde1997, para teatro, opereta, ópera, musicais ebailado, tem apresentado as suas obras nos teatros nacionais da Macedónia e daAlbânia. A versatilidade e a transdisciplinari-dade do espectáculo, bem como odinamismo da coreografia, dependem, emmuito, da música ao vivo que estimula omovimento no palco.

A SALA GARRETT RECEBE UM ESPECTÁCULO QUE FUNDE DIFERENTES LINGUAGENS – AMÚSICA E A DANÇA CONTEMPORÂNEA. AQUI, CONSTRÓI-SE UMA PONTE ARTÍSTICAENTRE O TRABALHO DE CRIADORES DE TRÊS PAÍSES QUE SE ENCONTRAM EM PALCO

TEXTO DE MARGARIDA GIL DOS REIS

Sala Garrett19 e 20 Jul 21h30

SynopsisThree artists of different countries – Portugal, Croacia and Macedonia - gather in thisdance show that focus on ancient themes from a contemporary point of view. An uniqueproduction where the biblical text and Penelope’s myth are sources of inspiration andwhere live music, especially composed for this production, unifies the choreographies.

© Sérgio Claro

APOSTANDO NUM ESTILO DE DANÇA LÍRICO MAS COM UMAFORTE COMPONENTE TÉCNICA, ESTE ESPECTÁCULO PRETENDESER UM DESAFIO AOS LIMITES DA IMAGINAÇÃO DOS DOISCOREÓGRAFOS QUE SE TRANSPÕE PARA OS LIMITES DO CORPODOS BAILARINOS

:PORTUGAL E CROÁCIA NO MESMO PALCO

Fundada e dirigida artisticamente, em 1992, por Maria Bessa eAntónio Rodrigues, a CeDeCe, radicada no centro do país, maisprecisamente em Alcobaça, tem contribuído, de forma significa-tiva, para a implementação da dança contemporânea emPortugal. No seu reportório contam-se nomes como GagikIsmailian, Jochen Heckman, Mark Haim, Sing Buller ou os por-tugueses Olga Roriz, Vasco Wellenkamp e António Rodrigues. Acelebrar os seus 16 anos de actividade contínua, a CeDeCe une--se, numa iniciativa de abertura criativa, ao Ballet Nacional daCroácia, um colectivo com um percurso diferente em termoshistóricos. Com um reportório inspirado no mundo operático, e

mais tarde num gesto de promoçãode artistas russos, foi talvez com StasaZurovac, a partir de 2003, que a dançacontemporânea passa a fazer parte,de forma mais visível, da história destacompanhia. É inteiramente devido aoExchange International Festival que oBallet do Teatro Nacional da Croáciase apresenta pela primeira vez emPortugal.

: FICHA ARTÍSTICA

direcção artística CeDeCe | Rijeka Ballet Ensemble Stasa Zurovaccoreografia Stasa Zurovac | Luís Sousamúsica Marijan Necakdesenho de luz António Rodrigues

intérpretes Bailarinos da CeDeCe | Bailarinos, Músicos e Cantores do TheatreIvan pl. Zajc

co-produção CeDeCe | Rijeka Ballet Ensemble

:TNDM II 13

Sala Garrett

16 e 17 Jul 21h30

Um espectáculo esteticamente deslumbrante e que respeita otexto original, dando a ouvir a peça Corneille em todo o seuesplendor linguístico. Eis como a crítica se tem referido a “LeCid”, espectáculo do encenador Alain Ollivier que cumpriu car-reira no Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis no final do anopassado e tem andado em digressão desde o início deste ano,chegando agora a Lisboa como resultado de uma colaboraçãoentre o Teatro Nacional D. Maria II e a Companhia de Teatro deAlmada e integrado na programação do Festival Internacionalde Teatro de Almada.Nomeado para os prestigiados Prémios Molière – Melhor ActorRevelação, para Thibaut Corrion (Don Rodrigue), e MelhorGuarda-Roupa, para Florence Sadaune – o espectáculo tem sidomuito elogiado, também, pelo desempenho do protagonista, aquem o crítico Gilles Costaz (no jornal francês “Les Echos”) clas-sificou de um “actor fascinante”.A importância de “Le Cid” não se esgota, porém, no espectáculode Alain Ollivier. Quando o texto estreou cenicamente, em 1637,a sociedade francesa mais pudica gritou, a plenos pulmões:“Escândalo!” A Academia Francesa, essa, sob o alto patrocínio doCardeal Richelieu, quis proibir Corneille de escrever “tais barbari-dades”: a peça não respeitava a regra das três unidades deAristóteles. Apesar da acção decorrer em 24 horas, como“manda a lei”, Corneille faz caber dentro deste período de tempodemasiados acontecimentos para que a história se torne credí-vel. Mas estas foram, “apenas”, as opiniões dos especialistas. Opúblico, esse, delirou, acolhendo com entusiasmo as ousadiasdo autor e fazendo do espectáculo um dos maiores êxitos dasua carreira.A peça conta a história dos amores contrariados de Chimène eDon Rodrigue, cujas rivalidades familiares desembocarão emdesgraça: o jovem cavaleiro mata o pai da amada, para grandeaflição desta. No entanto, tratando-se de uma tragi-comédia(Corneille abordou todos os subgéneros teatrais), a história teráum desfecho feliz.

UM TEXTO QUE FEZ HISTÓRIA NO TEATRODO SÉCULO XVII CHEGA A LISBOA PELASMÃOS DO ENCENADOR ALAIN OLLIVIER. AMAIS FAMOSA DAS PEÇAS DE CORNEILLE,PARA VER EM FIGURINOS DE ÉPOCA ETEXTO INTEGRALTEXTO DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

:Clássico francês integrado no Festival de Almada

SynopsisRodrigue and Chimène are in love, but their parents hate each other. In a duel, Rodriguekills her lover’s father and Chimène has no choice but to go to the king and demand thehead of the man she loves. Rodrigue goes to war, becomes a national hero and then canclaim his love for Chimène.

: FICHA ARTÍSTICA

encenação Alain Olliviercenografia Daniel Jeanneteaudesenho de luz Marie-Christine Somafigurinos Florence Sadaunecabelo e maquilhagem Catherine Saint-Severconselheiro técnico em esgrima François Rostain

com John Arnold, Irina Solano, Bruno Sermonne, PhilippeGirard, Thibaut Corrion, Mathieu Marie, Stéphane Valensi,Fabrice Farchi, Claire Sermonne, Myriam Tadessé, Júlia Vidit,Malik Rumeau

coprodução Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis-CentreDramatique National, Les Nuits de Fourvière, La Filature-Scène National de Nulhouse, Maison de la Culture d'Amiensco-apresentação Teatro Nacional D. Maria II / CulturesfranceInstituto Franco-Português / Festival Internacional de Teatrode Almada

© Bellamy

:14 TNDM II

:Notícias :Um mês de Concertos no Rossio

:TNDM II ASSINA PROTOCOLO COM amo.teO Teatro Nacional D. Maria II e o Grupo amo.te acabam de assinar umprotocolo com vista à criação do novo espaço amo.te Lisboa, quedinamizará, dentro em breve, o antigo Café Garrett. O protocolo prevêainda a abertura da nova unidade Cupido Express (sub-marca amo.te),no Villaret, passando assim os dois espaços de restauração afectos aoTNDM II a poder receber, condignamente, os frequentadores de teatroe de oferecer, aos lisboetas, novos e agradáveis locais de convívio, comboa comida em ambiente descontraído.

:DEBATES NO SALÃO NOBRE

A propósito da apresentação, na Sala Garrett, do espectáculo “Um ContoAmericano – The Water Engine”, o Teatro Nacional está a realizar umasérie de encontros/debates com personalidades de diversas áreas, comvista a discutir algumas das questões suscitadas pela peça, da autoria donorte-americano David Mamet. O texto, inicialmente destinado à repre-sentação radiofónica e posteriormente adaptado para argumento decinema, é uma fábula complexa que coloca em confronto o indivíduo ea sociedade. Conta a história de Charles Lang (Luís Gaspar), um jovemcientista que inventa um motor que funciona apenas a água e acreditaassim que vai ficar rico e viver para o campo com a irmã, Rita (PaulaNeves). No entanto, a realidade será bem diferente…Depois dos debates "História e Sociologia" e "Arte e Ciência", segue-se,no próximo dia 26 de Junho, Política e Economia". No Salão Nobre, às19h00, com entrada livre.

:LIVROS LANÇADOS NO TNDM II

“Cuidado com as Mulheres”, de Miguel Reis, e “Sete Mulheres para D.Sebastião”, de Helena Belmonte, são dois romances cujos lançamentosterão lugar no Teatro Nacional, respectivamente nos próximos dias 18 e27, ao fim da tarde. A primeira obra é uma edição da Prime Books, edi-tora que iniciou a sua actividade em 2003 e que aposta sobretudo nosautores portugueses e em conteúdos para o grande público.Inicialmente vocacionada para os temas desportivos, tem gradualmentevindo a alargar o seu espectro de acção, abarcando agora áreas como ojornalismo e a reportagem, o cinema e televisão, o turismo e as viagense a culinária. Recentemente, passou a editar, também, ficção.Quanto a “Sete Mulheres para D. Sebastião”, livro de ficção de HelenaBelmonte, é um lançamento da DG Edições, editora fundada e dirigidapor Daniel Gouveia, reconhecido especialista em fado e também eleautor de ampla obra publicada.

:“ORESTÉIA” ANIMOU O PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA

Assinalando mais uma colaboração entre o Teatro Nacional D. Maria II eo FITEI – Festival Internacional de Expressão Ibérica, o espectáculo“Orestéia – O Canto do Bode” abriu, no Palácio da Independência, a ini-ciativa “Outros Palcos”. Assinado pelo brasileiro Marco AntônioRodrigues – o mesmo que trouxe a Lisboa, na MITE de 2006, uma versãoinesperada e brechitana de “Otelo” – o espectáculo propõe uma revisãodo clássico grego adaptando-o à realidade da América Latina contem-porânea. Baseado no conhecido clássico de Ésquilo, constituído pelastragédias “Agamémon”, “Coéforas” e “Euménides”, acompanhamos asaventuras e desventuras da família dos Atridas, a quem os deuseslançaram uma maldição: até à intervenção final de Atena, que vem porfim à contenda, os membros desta família estão condenados a digladi-arem-se até à morte. Agamémnon mata a filha Efigénia, Clitemnestramata o marido Agamémnon, Orestes mata a mãe, Clitemnestra. Orestessó será poupado porque a deusa exige a paz, finalmente.

A esplanada do Teatro Nacional, no Rossio, recebe, de 16de Julho a 16 de Agosto, vários concertos que animarãoas noites da capital. Treze boas razões que o obrigarão asair de casa

A programação de “Outros Palcos” aposta na diversidade e naqualidade. Aos vários espectáculos espalhados pelos originaispalcos de Lisboa, somam-se treze concertos, de entrada gratui-ta, que recuperam o estilo do jazz e da world music. Dandoespaço à multiculturalidade, este ciclo de concertos faz daesplanada um ponto de encontro criativo, feito de cumplici-dades entre alguns dos melhores artistas portugueses. Umaexperiência que acrescenta sonoridades tradicionais ou impro-visações de base jazzística comum a todos os artistas.A abertura está, por isso, a cargo da Big Band, constituída, nasua formação por dezanove músicos, alguns dos quais artistasprofissionais experientes no panorama musical do nosso país. Orepertório, dedicado exclusivamente aos clássicos interpreta-dos pelas grandes orquestras de Jazz dos anos 50, revisita temasinesquecíveis de Glenn Miller, Duke Ellington, Frank Sinatra ouElla Fitzgerald e tenta recriar o ambiente das festas dos anos 50.Salienta-se Joana Rios e Ian Mucznik que dão voz a temas comuma originalidade única.Destaque ainda para o Bárbara Lagido Trio, uma das divas dojazz nacional, cuja capacidade interpretativa, torna os arranjosde grande temas do cancioneiro americano, como Cole Porter,Miles Davis ou Gershwin, dotados de criatividade.Marta Plantier é a senhora que se segue, onde a linguagem dojazz se cruza com várias influências de músicas do mundo eestilos musicais como o soul, blues ou african music.Open Source, apresentado à sexta-feira, junta os meios de fazerdançar através da sinergia desenvolvida em tempo real entre oconhecido DJ Johnny – bem conhecido por animar a noite lis-boeta com os seus discos, responsável pela programação dasLux Jazz sessions -, o trompetista Ricardo Pinto e o trombonistaEduardo Lála.

Concertos na Esplanada do Rossio Data

Banda de AberturaBig Band Era - Anos 50 16 Julho

On Dixie 17, 22, 26 Julho

Open Source 18 Julho e 16 Agosto

Jon Luz 19 Julho e 8 Agosto

YemanJazz 23 Julho e 15 Agosto

Little Cat Blues Band 24 Julho

Moi Non Plus 25 Julho e 6 Agosto

Marta Plantier e Luís Barrigas em “Fucking Notes” 29 Julho e 12 Agosto

Box of Blues 30 Julho

FunkOffAndFly 31 Julho e 7 Agosto

Uma coisa em forma de assim 1 Agosto

Trio Bárbara Lagido 2 e 13 Agosto

Baruk 5 Agosto

Funky Touch 9 e 14 Agosto

3ª a Sáb. 23h30 P/todos (entrada livre)

Marta Plantier e Luís BarrigasBarukTrio Bárbara Lagido

Apoio:

:TNDM II 15

Outros títulos disponíveis na Livraria: American Buffalo (1986);Romance (2006); Mamet Plays: 1 - Duck Variations; Sexual Perversity inChicago; Squirrels; American Buffalo; The Water Engine; etc (1994); MametPlays: 2 - Reunion; Dark Pony; A Life in the Theatre; The Woods; Lakeboat;Edmond (1996); Mamet Plays: 3 - Glengarry Glen Ross; Prairie du Chien; TheShawl; Speed-the-Plow (1996); Mamet Plays: 4 - Crytogram, Oleanna, TheOld Neighborhood (2002).

:3/ ANTOLOGIAAutores Vários / Modern Drama. Plays of the80’s and 90’sMethuen Drama, 2001, 425 pp.

Esta antologia reúne cinco peças contemporâneas que conheceramgrandes sucessos de público, quer ao nível nacional ou internacional.Caryl Churchill, dramaturga inglesa, é aqui representada com uma peçade 1982, “Top Girls”, já estreada em Portugal (encenação de FernandaLapa) um texto cuja estrutura híbrida oscila entre a exuberância e asconsequências das mudanças sociais e económicas. Obra notada nosanos 80 foi também a de Terry Johnson, conhecido por criar cenários apartir da cultura popular, explorando a relação entre o mito público e arealidade privada. “Hysteria” (1993), a peça que representa Johnson nestaantologia, é um ‘thriller’ intelectual que explora a ambiguidade na psi-canálise de Freud. “Blasted” (1993), de Sarah Kane, é o terceiro texto queaborda o tema de um relacionamento abusivo em Inglaterra. Traduzidoem mais de 12 línguas, é um marco na dramaturgia contemporânea,como aliás o é a obra de Sarah Kane, pela forma inovadora como explo-ra a arte dramática. Produzida pelo Royal Court e Out of Joint Theatre Company, “Shoping and Fucking” (1996), de Mark Ravenhill, centra-senas relações humanas e na forma como, à mercê do capitalismo corro-sivo, são reduzidas a transacções comerciais. Também produzida peloRoyal Court e Druid Theatre Company é a última peça desta antologia,“The Beauty Queen of Leenane” (1996), de Martin McDonagh, a suaprimeira peça para teatro aos 25 anos e a primeira parte da trilogia“Leenane Trilogy”. MGR

:4/ REVISTAArtistas UnidosNº20, Dezembro 2007, 154 pp.

Uma das melhores publicações sobre teatro, cuja particularidade é atransversalidade com que aborda temas e criativos, brinda-nos com oseu vigésimo número, desta vez contando com um tema de actuali-dade premente: “O que é feito da crítica?”. É este o dossier que abre estapublicação semestral, onde se reflecte sobre a importância que a críticatem na sociedade contemporânea, bem como os problemas inerentesao financiamento das artes, mais precisamente o mecenato. Jorge SilvaMelo, no texto de abertura, expressa com extraordinária clareza estaproblemática: “O que é feito da crítica? E dos críticos? E das relações con-flituosas, escandalosas entre crítica e arte? O que é feito da reflexão, da

:1/ ENSAIOPeter Brook / O Espaço VazioTrad. Rui Lopes, Orfeu Negro, 2008, 213 pp.

A recém-lançada chancela da editora Antígona tem-se dedicado àedição e tradução de obras no âmbito das artes contemporâneas. Dissoé o melhor exemplo esta obra de Peter Brook, referência incontornávelpara aqueles que se interessam pelas artes performativas. Publicado em1968, e adaptado a partir de várias conferências proferidas pelo autor, olivro, o primeiro sobre teatro escrito por Peter Brook, incide sobre o des-tino do teatro contemporâneo e a sua natureza. O "espaço vazio" é oconceito central desta obra, empregue por Brook para designar, em ter-mos visuais, aquilo que considera a característica privilegiada paradefinir o espaço cénico. Entendendo o espaço como uma ferramenta,passível de ser explorado quer ao nível dos seus limites físicos, quer noque diz respeito aos materiais e texturas empregues, para Brook oimportante é a criação do momento presente e a comunicação entre osactores e o público. O espaço vazio é, então, analisado na sua dupla faceta: espaço intemporal e, por isso, a-espacial, e o espaço interior(vazio) que o actor deve conceder à personagem. A edição é ainda com-plementada com fragmentos de uma conversa com o encenador, dra-maturgo e pedagogo João Mota, a propósito da sua experiência de tra-balho com Peter Brook, bem como uma bibliografia do autor. MGR

Outros títulos disponíveis na Livraria: The Open Circle. Peter Brook´sTheatre Environments, de Andrew Todd e Jean-Guy Lecat (2003); The ManWho: A Theatrical Research, de Peter Brook (2002); There are no secrets :thoughts on acting and theatre, de Peter Brook (1993); Conversations WithPeter Brook 1970-2000, de Margaret Croyden (2005), L'homme qui, suivi de:Je suis un phénomene!, de Peter Brook e Marie-Hélène Estienne (1998),Apprendre 8: avec Shakespeare, de Peter Brook (1998).

:2/ ENSAIODavid Mamet / Three Uses of the Knife. On theNature and Purpose of DramaMethuen Drama, 1998, 69 pp.

Como se constrói a peça perfeita? Para que existe o teatro?Perguntas como estas fazem parte deste guia para qualquer dra-maturgo ou teatrólogo sobre a natureza do teatro e os seus objec-tivos. "Faz parte da nossa natureza encenar", afirma o dramaturgoDavid Mamet na abertura deste ensaio, onde se definem os sereshumanos como criadores de dramas que, no seu dia a dia, impõemestruturas narrativas a tudo o que os rodeia, desde apreciaçõesmetereológicas, até previsões eleitorais. Através de um conjunto demetáforas, Mamet esmiúça os objectivos, expectativas e escolhasdas ferramentas dramáticas que usamos no quotidiano, estabele-cendo, de seguida, um paralelo com o mundo do espectáculo.Mamet distingue ainda o verdadeiro drama das suas falsas vari-antes e considera a misteriosa persistência do solilóquio no teatrocontemporâneo. MGR

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sombra da arte? Não foi isso o que a crítica nos prometeu, a sombraclara?”. Não será por acaso que a publicação abre com uma mesa-redon-da constituída por várias personalidades ligadas a orgãos de comuni-cação, a que se seguem depoimentos de Alexandre Pomar, AntónioGuerreiro, Augusto M. Seabra, Luís Miguel Oliveira, Manuel Gusmão,Pedro Boléo ou Maria Helena Serôdio. Para além de dois dossiers sobreEnda Walsh e Jean-Luc Lagarce, destaque ainda para a questão domecenato debatida por José Maria Vieira Mendes, Jacinto Lucas Pires eMiguel Castro Caldas. MGR

:5/ DVDOlga Roriz. Solos (1 e 2)Em vídeo por Rui Simões, Real Ficção, 2007

Esta é uma colecção de sete DVD’s, cujo objectivo é dar a conhecer asprincipais obras coreográficas de uma das maiores criadoras de dançacontemporânea portuguesa do século XX – Olga Roriz. Com uma jálonga carreira profissional, Olga Roriz tem tido um papel de destaquenos mais importantes movimentos de dança em Portugal nas três últi-mas décadas. Será talvez o seu estilo artístico muito próprio que faz delaum caso ímpar. A comprová-lo, Rui Simões oferece-nos, através do seuolhar, a singularidade do seu percurso. “Situações Goldberg” (51 min) e“In-Fracções” (30 min) compõem o primeiro DVD, enquanto no segundose pode assistir a “Jardim de Inverno” (36 min) e “Os Olhos de GulayCabbar” (30 min).MGR

:6/ DVDLissabon Wuppertal LisboaDe Fernando Lopes, Midas Filmes, 1998

Se há quem saiba captar a singularidade e a luz de Lisboa esse alguémé, sem dúvida, Fernando Lopes, cuja obra, onde se destacam filmescomo “Belarmino” ou “Uma Abelha na Chuva”, nos habituou a encontrarneles uma poeticidade e um olhar (o do realizador) sempre presente.“Lissabon Wuppertal Lisboa” é um documentário que acompanha o tra-balho de criação de “Masurca Fogo”, de Pina Bausch, desde o primeiroworkshop conduzido pela coreógrafa em Lisboa até à sua estreia emWuppertal. Fernando Lopes partilha aqui a experiência sublime da criação, acompanhando em termos fílmicos e de montagem o sentidocoreográfico que se quer transmitir. Quarenta horas de filmagens, reple-tas de pormenores da cidade, desde a calçada portuguesa, à música deAmália, sem esquecer a luz de Lisboa, fazem parte do processo deensaio da companhia. Fernando Lopes teve a sorte de conseguir pene-trar no universo privado de Pina Bausch, acompanhando-a nesse péri-plo entre Lisboa e Wuppertal. "Foi um dos trabalhos mais fortes que fiz.É quase uma declaração de amor", afirmou Fernando Lopes por ocasiãoda estreia do documentário, agora numa edição especial com depoi-mentos de Maria João Seixas e Augusto M. Seabra.MGR

:Destaques da Livraria

PALACIO DA INDEPENDÊNCIALargo de São Domingos, 11 1150-320 Lisboa (Junto ao TNDM II)

VILLARETAv. Fontes Pereira de Melo, 30-A, 1050-122 Lisboa

TNDM IIPraça D. Pedro IV, 1100 - 201 Lisboa

www.teatro-dmaria.pt

RUÍNAS DO CONVENTO DO CARMOLargo do Carmo1200-092 Lisboa

INFORMAÇÕES E RESERVASTel. +351 213 250 835 / +351 213 538 [email protected]

LIVRARIA DO [email protected]. 21 325 08 37

Sala Garrett

UM CONTO AMERICANO – The Water EngineM/12Até 13 Julho 3ª a SÁB. 21H30 DOM.16H00

LE CID (Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis / França) M/12

16 e 17 Julho 21H30

ANCIENT TIMES TODAY (Portugal / Croácia / Macedónia) M/12

19 e 20 Julho 21H30

Sala Estúdio

TRÍPTICO + 1 (exercício final da ESTC) M/12

1 a 13 Julho3ª a SÁB. 21H45 DOM.16H15

Villaret

A GORDA – Fat Pig M/12

Até 28 Junho 4ª a SÁB. 21H30 DOM.17H00

PEDRO TOCHAS – O PALHAÇO ESCULTOR M/12

17 a 20 Julho 5ª a SÁB. 22H00 DOM.18H00

Ruínas do Carmo

VIEIRA, O CÉU NA TERRAM/12

18 Julho a 16 Agosto 3ª a SÁB. 22H00

Palácio da Independência

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO M/4

5 Julho a 16 Agosto3ª a SÁB. 22H00

Esplanada no Rossio

CONCERTOS DE MÚSICA P/ Todos

16 Julho a 16 Agosto3ª a SÁB. 23H30

Palácio Nacional de Mafra

MEMORIAL DO CONVENTO M/12

Até 29 Junho1º SÁB. / mês 16H00 4ª a 6ª 11H00 e 15H00

(Para escolas, sob marcação.)

Jun Jul Ago

‘08

A programação poderá ser alterada por motivos imprevistos. Por favor consulte a informação no site ou bilheteira

do TNDM II.