Jornal do teatro #07

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07 Ana e Hanna Uma proposta para a geração mp3 O Que Diz Molero Dinis Machado em produção brasileira Pequenos Crimes Conjugais Margarida Marinho e Paulo Pires dirigidos por Fonseca e Costa JORNAL DO TEATRO DEZEMBRO DE 2006 ^ MENSAL PUBLICAÇÃO GRATUITA A Casa da Lenha Homenagem a Fernando Lopes-Graça

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O Jornal do Teatro surgiu da vontade de experimentar, criar e dar espaços, a quem partilha o gosto pelo teatro. Das reflexões clássicas, à problemática da contemporaneidade, o Jornal do Teatro, do Teatro Nacional D. Maria II teve como principal alvo a reflexão sobre os tempos, que se mudam e evoluem e que, em última instância, são testemunhos ricos de cada época. De 2006, 2007 e 2008, período em que foi publicado, fez-se o retrato breve de uma ‘casa da cultura’ que é, antes de mais, uma casa aberta à sociedade e ao mundo.

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Ana e Hanna

Uma proposta para a geração mp3

O Que Diz MoleroDinis Machado em produção brasileira

Pequenos Crimes ConjugaisMargarida Marinho e Paulo Pires dirigidos por Fonseca e Costa

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A Casa da LenhaHomenagem a Fernando Lopes-Graça

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Chico Buarque esteve no TNDM II

Chico Buarque visitou o Teatro Nacional D. Maria II, no dia 7 de Novembro, antecipando a adaptação para teatro do seu último romance, “Budapeste”, que será feita pelo drama-turgo espanhol José Sanchis Sinisterra. A estreia mundial da peça, prevista para Dezem-bro de 2007, reforça os elos lusófonos entre Portugal e o Brasil.

Teatro Nacional assina protocolo com o ACIME

O Teatro Nacional assina no dia 1 de Dezembro, por ocasião da estreia da peça “Ana e Hanna”, de John Retallack, um protocolo com o ACIME (Alto Comissariado para a Imigra-ção e Minorias Étnicas), representado pelo Alto Comissário Rui Marques, que firma o seu propósito de se manter atento às questões da multiculturalidade. O tema é um dos vectores centrais da programação para os próximos meses.

José Sanchis Sinisterra dirige atelier de dramaturgia

Construir um texto de raiz sobre um mundo em transformação: eis o desafio de José Sanchis Sinisterra, que, brevemente, irá levar a cabo, no Teatro Nacional, um atelier de dramaturgia para criar, de raiz, uma peça sobre as migrações e a forma como estão a mudar a distribuição geográfica mundial. O espectáculo terá o título de “Terra (Nunca) Prometida” e estreará no início da próxima temporada.

Crónicas de Lobo Antunesvão à cena

Famoso por gostar de levar à cena – sem adaptação – textos literários de qualidade (como “O que diz Molero”, de Dinis Machado, ou “A Mulher Carioca aos 22 Anos”, de João de Minas) o encenador brasileiro Aderbal Freire-Filho irá realizar no Teatro Nacional um atelier com trinta actores portugueses com vista a construir um espectáculo a partir das “Crónicas” de António Lobo Antunes. Admirador confesso da obra do escritor português, Aderbal Freire-Filho, que teve este ano em cena a peça “O Púcaro Búlgaro”, diz ter ficado “fascinado” com as crónicas do autor de “A Morte de Carlos Gardel”, que classifica de “pequenas obras-primas”. Inscrições abertas até 3 de Janeiro.

José Saramago viu A Casa da Lenha

O escritor português José Saramago (Prémio Nobel da Literatura em 1998), acompa-nhado por Pilar del Rio, esteve no Teatro Nacional D. Maria II para assistir a uma re-presentação do espectáculo “A Casa da Lenha”, produção que comemora o centenário de Fernando Lopes-Graça. Saramago – de quem o compositor chegou a musicar alguns textos (como tinha musicado Fernando Pessoa ou Eugénio de Andrade) – acabou, também, de lançar no mercado uma obra autobiográfica, “Pequenas Memórias”, com chancela da Caminho.

Anabela Duarte canta no Átrio

A cantora Anabela Duarte (ex-Mler ife Dada) dará um recital intitulado “Máquina Lírica”, no Átrio do Teatro Nacional D. Maria II. Os espectáculos estão agendados para 9 e 10 de Janeiro, a partir das 19h00, no Átrio. Serão interpretadas obras de Boris Vian e Kurt Weill.

Novidades na Livraria do Teatro

A Livraria do TNDM II tem novidades editoriais em língua inglesa, das quais destaca-mos os dramaturgos David Mamet, Sam Shepard, Tom Murphy, Anthony Minghella, Caryl Churchill e Wole Soyinka. Já está também disponível na Livraria a nova colecção de malas recicladas: os telões da Mite’06 – Mostra Internacional de Teatro foram convertidos em peças únicas que podem ser adquiridas no Teatro Nacional.

Começar a Acabar fez sucesso no Porto

O espectáculo “Começar a Acabar”, de Samuel Beckett, co-produção TNDM II / Teatro do Bolhão, interpretado por João Lagarto e que se estreou em Setembro na Sala Estúdio do Nacional, registou um grande êxito no no Porto, onde esgotou repetidamente salas. Realizou, também, uma digressão nacional com assinalável sucesso.

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EditorialA afirmação das identidades como espaço de liberdade

“Cada homem é uma raça. A pessoa é uma humanidade individual”, disse Mia Couto. Não podíamos estar mais de acordo. Com o espec-táculo “Ana e Hanna” cumprimos um dos objectivos a que nos propu-semos: promover a interculturalidade. Este trabalho de equipa revela também a música como linguagem universal geradora de afectos e de aproximação de culturas e pessoas.

Homenageámos Maria Barroso e João Perry, na estreia de “A Casa da Lenha”, que viram gravados os seus nomes no Salão Nobre. Com emoção, Maria Barroso subiu ao palco da Sala Garrett, longos anos após ter sido proibida de representar pelo regime de Salazar.

“A Casa da Lenha”, a vida de Lopes-Graça que é, também, a história de um país, “Vermelho Transparente”, de Jorge Guimarães, que tem esgotado salas e uma versão de “O que diz Molero”, de Dinis Machado,

dirigido pelo brasileiro Aderbal Freire-Filho que nos chega em Janeiro, reforçam a nossa aposta na Dramaturgia de Língua Portuguesa.

Também em 2007 apresentaremos “Pequenos Crimes Conjugais”, do conceituado Eric-Emmanuel Schmitt, “Frozen”, encenado por Mar-cia Haufrecht, nome de referência do “Actors Studio” e uma leitura ino-vadora do “Amor de Perdição”.

Por todas estas produções circulam algumas das linhas que julga-mos fundamentais para a dinamização de um Teatro Nacional. Porque, como em “A Casa da Lenha” de Lopes-Graça, encontramos todas estas vozes que são também uma só: uma voz contra todas as ditaduras.

Carlos Fragateiro

José Manuel Castanheira

DIRECÇÃO> Carlos Fragateiro

e José Manuel Castanheira

COORDENAÇÃO> Pedro Mendonça

COORDENAÇÃO EDITORIAL> A. Ribeiro dos Santos

REDACÇÃO> A. Ribeiro dos Santos,

Margarida Gil dos Reis, Ricardo Paulouro

DOCUMENTAÇÃO> André Camecelha

GRAFISMO> Nuno Patrício

FOTOGRAFIA> Margarida Dias

PROPRIEDADE> Teatro Nacional D. Maria II, SA

Praça D. Pedro IV, 1100-201 Lisboa

IMPRESSÃO> Mirandela Artes Gráficas

R. Rodrigues Faria, 103

Publicação mensal gratuita

Ficha Técnica

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Ana e Hanna >

Ana, 19 anos, vive em Tavira com a avó, de quem cuida. O irmão mais velho, Zé, é po-lícia. O namorado gosta que lhe chamem Pitbull mas, na verdade, todos lhe chamam Animal. Farta de viver em Tavira, Ana refu-gia-se no seu passatempo preferido: cantar. Certo dia, tudo muda no pequeno mundo de Ana. A chegada de uma refugiada koso-var (Hanna) será o início de uma mudança na vida das duas jovens. O encontro entre ambas é um acaso mas será o karaoke e a música que as aproximarão. Juntas, cres-cem e descobrem a cultura uma da outra.“Ana e Hanna” é uma história como tantas outras que todos os dias acontecem em qualquer parte do mundo. Uma história simples mas memorável pois nela reco-nhecemos uma pequena parte da nossa vida. Apesar das diferenças, Ana aprenderá que é possível divertir-se, cantar, chorar com aquela que será a sua nova amiga, Hanna.A música tem aqui um papel fundamental, de união entre duas culturas diferentes e entre as protagonistas. De que forma uma adolescente recém-chegada do Kosovo se

torna amiga de uma jovem portuguesa? O que promove o encontro entre ambas, ape-sar da tensão existente em termos de ex-clusão social? Contando a sua história de vida em palco, Ana e Hanna aproximam os seus caminhos através da linguagem uni-versal que é a música. A peça conta ainda com a interpretação de Rita Calçada Bastos (uma cara familiar do teatro, televisão e cinema) e Vânia (baila-rina e coreógrafa, entre outros trabalhos, da banda Delirium) que cruzam a dança e a canção, aliadas a uma coreografia con-tagiante. A encenação, essa, é de António Feio que considera esta peça “um desafio pela quantidade de questões nos coloca e nos obriga a reflectir”.Britney Spears, Fatboy Slim, Natalie Im-bruglia, entre outros (ver playlist), darão o mote para que as protagonistas acabem por cantar em conjunto. E quem sabe se, a partir dessa partilha, da qual nascerá uma verdadeira amizade, o público não é tenta-do a deixar-se levar pela música e juntar a sua voz à voz de quem canta...

Em cena na Sala Garrett

Uma história para rir, chorar e pensar

Karaoke, música pop, Britney Spears ou Natalie Imbruglia. Mistura-se tudo e qual é o resultado? Um texto sobre a amizade que mostra que as diferenças não são um problema, mas sim um valor Margarida Gil dos Reis

António Feio encenaPara além das interpretações das actrizes, Rita Calçada Bas-tos e Vânia, “Ana e Hanna” conta com a participação de no-mes de destaque do nosso panorama cultural. António Feio, nome bem conhecido do público, com a peça “2 Amores”, em cena no Teatro Villaret, ou a recente estreia de “Filme da Treta” no grande ecrã, assina a encenação. Com ce-nografia de Eric Costa e figurinos de Bárbara Gonzales Feio, esta peça conta ainda com a participação de Renato Jr. na direcção musical, Carlos Coincas na direcção vocal, Manuel Antunes e Vítor Azevedo no desenho de luz e Fernando Abran-tes no desenho de som.

Movimento de Olga RorizPorque “Ana e Hanna” vive muito da música, o movimento se-ria, necessariamente, uma área fundamental desta produção destinada sobretudo ao público mais jovem. Assegurando a direcção de movimento, Olga Roriz, bailarina e coreógrafa comemorou no ano passado 30 anos de carreira e 10 anos da sua Companhia assinalando a data, naquela que foi a sua primeira experiência como realizadora, com o filme “Felicitações Madame”.

Playlist“Ana e Hanna” abertura *

“Ray of Light” MADONNA “Trashed” SKIN

“Baby One More Time” BRITNEy SPEARS

“Right Here, Right Now” FATBOy SLIM

“Torn” NATALIE IMBRUGLIA

“Perfect” FAIRGROUND

ATTRACTION“Natal Denso” *

“Little Girl Blue” NINA SIMONE

“Ironic” ALANIS MORRISETTE

“Manifestação” *“Imagine” JOHN LENNON “Canção Folclórica do Kosovo”

“Adagietto” (excerto) DA 5.ª SINFONIA

GUSTAV MAHLER“Beautiful”

CRISTINA AGUILERA (* música incidental de Renato Jr.)

© Rodrigo César

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> Ana e Hanna

Com formações diferentes, Vânia e Rita Calçada Bastos interpretam a história de duas adolescentes – uma portuguesa, ou-tra kosovar – que se cruza e que as leva a aprenderem a viver e a conviver. Se, para Rita, o movimento, o teatro e o cinema já faziam parte do seu percurso, Vânia é uma cara bem conhecida do público por ter sido membro da banda Delirium. Nesta peça, onde a música está no centro da história, as duas actrizes complementam-se. Vânia es-treia-se na representação e Rita dá os pri-meiros passos no canto.

“Se calhar, a ideia era mesmo essa”, diz Vânia. “Trazer pessoas de áreas distintas, que pudessem dar contributos diferentes ao espectáculo. E acredito que a junção de todas essas vertentes vai agradar ao espec-tador”.

Um trabalho que, desde logo, as atraiu

pela actualidade do texto, como explica Rita: “Os filhos dos imigrantes começam a apren-der português nas escolas e a passar por uma experiência de integração. Este texto chama a atenção para um problema que pode acontecer numa escola, num bairro ou até mesmo no nosso prédio...”. É justamen-te a proximidade do tema que faz com que, no entender de Vânia, “esta peça não seja só para os jovens, mas também para os adultos porque fala de uma coisa que nós, incons-cientemente, pela idade, pela imaturidade, somos capazes de fazer”.

Os “dois lados” – o de Ana e Hanna - per-mitem-nos ter duas visões diferentes sobre esta realidade. Por um lado, Ana que “de-fende Portugal com unhas e dentes” e, por outro, Hanna “e o choro de uma pessoa que tem dificuldade em integrar-se”. Vânia, de resto, reconhece nesta história alguns as-pectos comuns à sua própria história de vida: “Quando era pequenina, dado que tenho as-cendência africana, senti muito a mensagem ‘vai para a tua terra’, ‘tu não és daqui’. Para mim está a ser um desafio e para os jovens que vierem ver a peça também”.

Se, para Rita, a grande questão da peça é a integração - “todos queremos fazer par-te de algum sítio. Se eu sair de um lugar do qual faço parte e me tentar inserir noutro, como vou ser recebida?” -, Vânia diz que o texto nos deixa “uma grande lição de vida”. “Para os pais, sobre como ensinar e, para os filhos, sobre como aprender”, conclui.

O texto, que explora as diferenças entre indivíduos, toca, no fundo, a questão cen-tral: o afecto.

Nesta peça, onde a música está no centro da história, as duas actrizes complementam-se. Uma estreia-se na representação, outra dá os primeiros passos no canto.

Vânia e Rita são Ana e Hanna

Terem integrado este projecto foi um mero acaso nas suas vidas. Vânia e Rita Calçada Bastos aceitaram este desafio de corpo e alma. Em Ana e Hanna dão vida a uma peça sobre os limites do ser humano e a sua relação com o outro Ricardo Paulouro

Uma grande lição de vida

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> Vermelho Transparente <> Gianluigi Tosto >

O que pode conter o vermelho? O sangue, a expressão da vida, mas também da morte, a paixão... Neste texto de Jorge Guimarães, en-cenado por Rui Mendes, que assinala 50 anos de carreira, vermelho é ainda o vestido de Mercedes (ou será Dora?), em torno do qual toda a história se desenvolve. O mistério pau-

ta esta peça que se revela progressivamente.Luís Esparteiro é um psicanalista que tem

em mãos uma paciente com um problema complexo. Helena Laureano dá voz a duas personagens numa só – as gémeas Merce-des e Dora. O vestido vermelho transparente que uma delas usa numa festa está no cen-

tro deste puzzle. As pistas vão-se sucedendo, baralhando e contradizendo, até que o fim é surpreendente.

Num cenário depurado, as interpretações dos actores destacam-se pela consistência e intensidade. Com um assassínio para resol-ver, a grande angústia reside, curiosamente,

na descoberta de uma identidade. A solidão e a busca interior de uma mulher são os in-gredientes de um texto onde a psicanálise se revela solução ou, pelo menos, descoberta. Pelos caminhos sinuosos da mente humana, o vermelho dá cor à vida, mesmo quando se está de frente para o abismo. MGR

“Que margens têm os rios / para além das suas margens? / Que viagens são na-vios? / Que navios são viagens?” As pala-vras são de Natália Correia mas nelas ouvi-mos o eco de Virgílio e Homero. O projecto de apresentação ao público da trilogia dos poemas épicos da Antiguidade Clássica nasceu em 1999. Desde então, Gianluigi Tosto tem-se dedicado à leitura das obras

e à redução dramatúrgica das mesmas, acompanhadas de uma investigação so-bre os instrumentos musicais adequados à narração e, claro, o enorme trabalho de memorização dos textos.

O resultado é um projecto que recupera o valor fundador do dizer, os ecos de histórias e mitos que marcaram a contemporaneida-de. Para o público, trata-se de uma expe-

riência que se quer emocionante por fazer parte integrante de um espectáculo cuja evocação atravessa a palavra e o sonho.

A palavra escrita, que é também palavra dita, é liberta pelo trabalho de um narrador: o de restituir, através da expressão e apro-fundamento da consciência experiencial do corpo, o sentido às palavras daqueles que as escreveram.

Um palco para um só actor, sem ceno-grafia, adereços ou efeitos de luzes, que interpreta uma história cujo tempo é o não-tempo do mito. A imaginação deve aqui ga-nhar asas e, quem sabe, subitamente no palco, a voz de Gianluigi nos dê a ver Aqui-les ou Heitor. MGR

Vermelho Transparente, espectáculo de Rui Mendes interpretado por Helena Laureano e Luís Esparteiro, tem repetidamente esgotado a Sala Estúdio. Uma história enigmática que reflecte sobre a linha transparente entre a emoção e a razão

O actor italiano regressa às origens do teatro com a Ilíada, a Eneida e a Odisseia. Um desafio à memória e à capacidade mimética do actor. Para ver até 16 de Dezembro

Peça de Jorge Guimarães esgota no Nacional

De que cor é a vida?

Um regresso aguardadoGianluigi Tosto interpreta Homero e Virgílio

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> A Casa da Lenha

Carlos Paulo interpreta Fernando Lopes-Graça“Representar esta peça é um grande prazer”“Esta peça representou para mim um gran-de desafio. De certa forma, é fácil de in-terpretar porque me identifico com muita coisa que está no texto. Por outro, o papel exige do actor uma enorme capacidade de transformação, ao nível de registo, e vai marcar-me, certamente. Finalmente, te-nho um prazer extraordinário em fazer este papel porque ainda vivi o período do fascis-mo como actor. Apanhei os ensaios de cen-sura, apanhei a humilhação horrível de ter espectáculos proibidos na véspera, já que a Comuna começou em 1972. Pessoas com

a grandeza e genialidade de Fernando Lo-pes-Graça devem ser homenageadas. Tem de se falar na vida destas pessoas porque é uma forma de falar de nós. Hoje, as pesso-as que são apresentadas como celebrida-des são pessoas que ninguém sabe o que fazem, que não têm uma obra e são dados à juventude como símbolos. Continuamos a ter na sombra pessoas extraordinárias, que são pessoas que fizeram a história cultural do nosso país. O Teatro Nacional é o único sítio onde podemos preservar a memória de uma coisa tão efémera como é o teatro. Ver aqui a Maria Barroso, felizmente ainda viva, a subir ao palco do Teatro Nacional, onde foi impedida de continuar a sua carreira, foi um momento muito emocionante”.

António Torrado, autor de A Casa da Lenha“da palavra escrita à verticalidade dos corpos, das luzes, da música, das vozes”

“Estava instalada alguma dúvida em re-dor de ‘A Casa da Lenha’ sobre a razão de tal título para uma peça sobre Lopes-Graça. No afogo das opiniões que se seguem sempre às estreias, senti que a dúvida se desvane-cera. Consequência da encenação, da ce-nografia, da interpretação de Carlos Paulo, uma das vozes mais vibrantes e matizadas da cena portuguesa, ou consequência da folgação colectiva que é a mágica teatral o certo é que ‘A Casa da Lenha’ se ergueu da horizontalidade da palavra escrita à verti-calidade dos corpos, das luzes, da música,

das vozes. Tudo passou a ser mais nítido até para o próprio autor do texto.

Estreei-me como dramaturgo no palco da Sala Garrett há 18 anos. Não sei avaliar se foi há muito ou pouco tempo. O que posso garantir por comentários que ouvi ao pró-prio Garrett, quando sobre ele escrevi um seriado para a televisão, é que na ideia dele o Teatro Nacional devia ter como principal missão revelar, dar a ver a dramaturgia por-tuguesa contemporânea. Hão-de de reparar se no busto de Garrett, que ornamenta o átrio do nosso primeiro teatro, perpassa ou não um sorriso… Será de apreço? Será iro-nia? Ou de educação? Ou de conformação?”

Maria Barroso sobe de novo ao palco do NacionalMaria Barroso subiu ao palco do Teatro Nacional no dia da estreia da “Casa da Lenha”. Homenageada pelo TNDM II, a ex-primeira dama, vi-sivelmente emocionada, recordou com saudades o período em que foi actriz. A polícia política impediu-a de continuar a representar, apesar de peças como “Benilde ou a Virgem Mãe” e “A Casa de Bernarda Alba” (que nunca chegou a estrear, por ordem da Pide) a terem marcado. A ocasião foi ainda pretexto para recordar alguns momentos da sua carreira, no entanto, Maria Barroso não hesitou em afirmar que o papel de mãe e mulher foram tão ou mais importantes do que a representa-ção. A noite foi emocionante até porque, amiga pessoal de Fernando Lopes-Graça, reviu muitas das situações e personagens referidas no texto de António Torrado. Para o futuro, ficou ainda uma placa com o seu nome, no Salão Nobre do Teatro. A memória, essa, já é bem anterior e inapagável.

João Perry homenageado com uma placa no Salão NobrePara além de Maria Barroso, também o prestigiado actor e encenador João Perry viu o seu nome gravado numa placa no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II. O actor, que se iniciou no teatro com Amélia Rey Colaço, integrou durante muitos anos o elenco residente desta casa, destacando-se não só como intérprete, mas também como encenador, com trabalhos como “Sonho de uma Noite de Verão”. Participou no cinema em mais de vinte filmes, tais como “Crónica dos Bons Malandros” (198�), “Vale Abraão” (1993), “Vasco Santana: o bom português” (1998), entre outros, bem como em séries de televisão.

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A Casa da Lenha >

“A Casa da Lenha”, uma co-produção entre o Teatro Nacional D. Maria II e a Co-muna – Teatro de Pesquisa, assinala o ani-versário de Fernando Lopes-Graça. Por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento, esta peça convida-nos a embarcar numa longa viagem, com para-gens em alguns dos momentos marcantes da vida do maestro e compositor.

Foi uma plateia cheia que recebeu, no dia 16, a estreia de uma peça onde, de forma quase arrepiante, surge no palco Fernan-do Lopes-Graça, ou melhor, Carlos Paulo, que interpreta este papel com tal intensi-dade que por várias vezes somos tentados a esfregar os olhos, dadas as semelhanças com o “Graça”. O extenso elenco – amigos, companheiros de tertúlias, a família, os opositores do regime – completam, ao lon-go de cerca de duas horas de espectáculo, uma visão panorâmica da vida do artista.

A partir do texto de António Torrado, João Mota encena um espectáculo onde vemos um homem marcado pelas vivências na con-turbada época do Estado Novo, onde o pro-cesso criativo era frequentemente abafado.

O Coro de Câmara Lisboa Cantat, as cantoras Verena Wachter Barroso e Cata-rina Molder, os violoncelos Mafalda Nasci-mento e Edoardo Sbaffi ou a participação do pianista Nuno Barroso, que surge como um duplo do protagonista, tocando o piano, a solo ou como acompanhador, são uma componente fundamental deste espectá-culo. Em “A Casa da Lenha”, ficamos com a ilusão de acompanhar muitas das pautas escritas por Lopes-Graça como se, fixan-do o tempo, tivéssemos o poder de teste-munhar grandes momentos de criação ou simples brincadeiras nessa casa da lenha onde Fernando se encontrava com os ami-gos. Um espaço de conspiração, por entre

o pó e as teias de aranha, mas, sobretudo, um espaço de amizades.

O cenário, de José Manuel Castanheira, é uma grande casa, como essa casa da le-nha (ou da memória portuguesa?), que joga com os tons de cinzento usados, também, nos figurinos das personagens. Nessa lon-ga viagem temos a impressão de que só a plateia e “o Graça” se movem. Todos os outros são imagens, quadros que se vão fi-

xando e que vão sendo evocados à medida da memória. O final, surpreendente, arre-pia. Naquele instante temos a certeza de que vimos em palco o artista, mas também o homem e de que, depois de aceitarmos o convite do autor do texto, deixando-nos levar nessa viagem (auto)biográfica, fomos uns privilegiados. Por um breve período de tempo aquecemo-nos no mesmo fogo que ardeu na casa da lenha de Lopes-Graça.

Este espectáculo é uma viagem a alguns dos momentos marcantes da vida de Fernando Lopes-Graça que se confunde com a história do século XX português.Um alerta contra a banalidade que parece tomar conta da nossa sociedade

A vida do compositor Fernando Lopes-Graça já está em cena no palco do Teatro Nacional. Com mais de 50 intérpretes em palco, A Casa da Lenha, de António Torrado, é um texto que respira poesia Ricardo Paulouro

Fernando Lopes-Graça

Um génio nunca morre

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< O que diz Molero

Doze anos depois da estreia, no Teatro Nacional, de “O que diz Molero”, o público de Lisboa vai ter oportunidade de ver uma nova adaptação cénica da obra de Dinis Machado. Desta feita com sotaque brasi-leiro e numa direcção de Aderbal Freire-Filho, encenador celebrado pela criativida-de e muito aplaudido pelo espectáculo que chegará à Sala Garrett no início de 2007.Estreado originalmente no Rio de Janeiro, “O que diz Molero” tem esta particularida-de: não é uma adaptação cénica no sentido estrito da palavra, mas sim uma transpo-sição pura e simples do texto do romance para o palco. Todo o trabalho de dramatur-gia consistiu, aqui, em proceder a alguns cortes cirúrgicos na obra original, para que o resultado não excedesse as duas horas em palco.Depois de cumprir carreira no Rio de Ja-neiro e em São Paulo, o espectáculo apre-sentou-se também em festivais de teatro de Curitiba, Londrina, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife, e, em Setembro de 2005, participou no Festival Internacio-nal de Teatro de Montevideu, no Uruguai, onde foi contemplado com o Prémio de Melhor Espectáculo Estrangeiro de 2005 pela Associação Uruguaia de Críticos de Teatro. Aliás, prémios foi o que não faltou a esta produção do Centro de Demolição e Construção do Espectáculo, que arrecadou também o Prémio de Melhor Espectáculo do Ano da Associação Paulista de Críticos de Arte e os Prémios Shell-Rio de Janeiro para Melhor Encenador e Melhor Actor.Na altura da sua passagem pelo Uruguai, o crítico Carlos Reys descrevia da seguin-te forma o que tinha visto: “O encenador brasileiro dirige os seus actores de modo

curioso. Eles interpretam o texto de Di-nis Machado tal como o autor o escreveu, acrescentando-lhe uma actuação profun-damente histriónica. Ou seja, os actores descrevem com gestos aquilo que as suas palavras estão a narrar.”E o próprio Aderbal Freire-Filho expli-cou, em entrevista, que não lhe interessa de todo trabalhar sobre os textos. “O que me interessa é o que se passa em cima do palco. Eu não sou escritor, sou encena-dor.” Mais tarde, acrescentaria: “‘O que diz Molero’ é a síntese do meu teatro. Desde o espectáculo ‘A Mulher Carioca aos 22 anos’ que pensava voltar ao que chamei ‘roman-ces em cena’. (...) Quando penso em pla-nos para o futuro, penso em transpor mais romances para a cena: é o meu contributo para a arte teatral.”Num cenário de José Manuel Castanheira, “ocupado por arquivos de aço que com-põem, ao mesmo tempo, arquitectura ur-bana e escritório de detectives”, movem-se os actores – muitos dos quais vedetas da televisão brasileira e conhecidos do grande público português. Em conversa com o jornalista Alfredo Goldstein, Frei-re-Filho disse: “No cinema, os melhores filmes fazem-se com as grandes estrelas, mas, por regra, quando fazem teatro as grandes estrelas interpretam peças co-merciais, textos menores. O bom teatro, fazem-nos quase sempre companhias que não têm estrelas... Ora o que eu preten-do é juntar as duas coisas: trabalhei com muitas estrelas (sobretudo da televisão), tentando sempre fazer um teatro (...) com uma ética não comercial, explorando as possibilidades cénicas mais vivas e menos convencionais.”

A obra de Dinis Machado conhece mais uma montagem teatral repleta de prémios. Elenco e encenador têm recebido os mais rasgados elogios da crítica A. Ribeiro dos Santos

Uma nova adaptação Do Brasil para a Sala Garrett

do aclamadoO que diz Molero

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Pequenos Crimes Conjugais >

Ao referir-se à sua obra, Eric-Emma-nuel Schmitt diz: “Eu não sei se escrevi uma comédia ou uma tragédia. Afinal, a qual dos géneros pertence a vida de um casal?”. “Pequenos Crimes Conjugais” é, por isso, muito mais do que uma comédia dramática em torno do casal Luísa e Jaime. Após um misterioso acidente que causou amnésia no marido, ambos tentam recons-truir a sua vida em comum apesar do clima

de desconfiança e insegurança que nasce entre ambos.

Com um casamento de longa data, Luísa e Jaime vivem aquela que é provavelmente a sua maior crise conjugal. Jaime regres-sa a casa, amnésico, e, ao lado da mulher, tenta recriar aquilo que era a vida do casal. Um clima de desconfiança abate-se sobre Luísa mas também sobre Jaime que hesita em acreditar ou não na história das suas vi-

das que lhe é contada pela mulher.Encenada por José Fonseca e Costa, esta

peça levanta questões como a fidelidade, mas também a individualidade e os seus limites. Numa tentativa de reconstruírem a memória a dois, as personagens desco-brem-se, muito mais do que no passado.

Um texto cheio de surpresas, no qual as relações matrimoniais são o tema central. Uma peça repleta de sombras, onde a cor-

tesia alterna com a violência e a verdade alterna com a insegurança. Um verdadei-ro “thriller”, através do qual Eric-Emma-nuel Schmitt manipula as personagens e o espectador como num puzzle. No final, apetece-nos quase perguntar: Em quem devemos acreditar? É esta a imagem da vida conjugal? Na verdade, nada pode ser esquecido ou apagado. A solução é reco-meçar, numa total limpidez e claridade.

Verdades e mentiras de um casal em criseFonseca e Costa estreia-se na encenação

Margarida Marinho e Paulo Pires interpretam o texto do autor francês Eric-Emmanuel Schmitt. José Fonseca e Costa dirige este diálogo entre dois cúmplices que são também adversários Margarida Gil dos Reis

Margarida MarinhoActriz muito conhecida do grande público, Margarida Marinho foi revelada pela série te-levisiva “Cobardias”, inspirada na obra de Miguel Rovisco. No entanto, foi no teatro que se iniciou. Formada pelo IFICT (Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral), estreou-se nos palcos no espectáculo “Eclipse do Sol”, dirigido por Adolfo Gutkin, em 1981. Desde então, trabalhou com encenadores como Diogo Infante, Mário Feliciano, João Grosso, João Perry, Luís Miguel Cintra ou João Canijo, sem nunca deixar de fazer televisão e cinema.

Paulo PiresFoi nas passarelas que se tornou conhecido, mas o espectáculo “A Minha Noite com o Gil”, dirigido por Fernando Heitor no Teatro Aberto, em 1996, revelou desde logo o seu talento como actor. Desde então, a sua carreira não tem parado de surpreender. Ainda em 1996 estreou-se no palco do Teatro Nacional (Sala Estúdio), no espectáculo “O Avião de Tróia”, sob a direcção de Maria Emília Correia, e aqui voltou em 1998 (“Divi-são B”) e 2000 (“Real Caçada ao Sol”). Protagonista de “Cinco Dias, Cinco Noites”, de Fonseca e Costa, volta a trabalhar com o realizador, agora em teatro.

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> Frozen <> Amor de Perdição

Quando uma criança inglesa de dez anos, Rhona, desaparece, a sua mãe, Nancy, en-trega-se a uma profunda viagem pelos ca-minhos obscuros da memória. Raptada e assassinada a caminho de casa da sua avó, Rhona é o pretexto para uma intriga que fala sobre a culpa e o perdão. “Frozen”, de Bryony Lavery, encenado por Marcia Haufrecht, é um texto sobre a sobrevivência e a necessidade

de descobrir a verdade, custe o que custar.O autor construiu uma cadeia de monólo-

gos que alternam entre si e alguns duetos. Todos falam, desabafam, descobrem-se, numa tentativa de se explicarem a si pró-prios. O resultado é uma peça que pode tam-bém ser uma dissertação sobre o crime e os seus efeitos. Nancy, a mãe da vítima, Ralph o “serial killer” e Agnetha, a psiquiatra que es-

tuda assassínios em série, contribuem para uma envolvente reflexão sobre a humanidade e a reacção das pessoas ao crime. A visão do crime em série como uma doença, mais do que um mal, remete-nos para o mar gelado que é o cérebro do criminoso.

A habilidade desta peça reside também no poder de mudar corações e mentes pois, sem nunca esquecer o crime hediondo, o autor

mostra como o perdão pode ser tão ou mais fatal do que a vingança. “Frozen” dá facilmen-te o mote à discussão e à reflexão, bem como à consciência da necessidade de protecção dos menores numa sociedade cada vez mais marcada pela violência. Mais do que viver, tenta-se sobreviver ao tempo que não pára, à própria vida, submersos no gelo e desejando permanentemente a libertação. MGR

Um dos maiores clássicos da literatura portuguesa, o “Amor de Perdição” de Ca-milo Castelo Branco, vai ser alvo de uma montagem “radical” no Teatro Nacional D. Maria II. Trata-se de uma proposta d’As Entranhas, jovem companhia que produ-ziu, até ao momento, quatro espectáculos e que se prepara para apresentar, a partir de Janeiro próximo, no Átrio do Nacional, a sua quinta produção. A obra que todos

conhecemos – e que continua a ser leitura obrigatória nas escolas secundárias – vai ser transformada num espectáculo multi-disciplinar a que os criadores, Vera Paz e Ricardo Moura, chamam “musical”.

“Como é habitual no nosso trabalho, va-mos musicar o espectáculo, vamos dançar e exibir vídeos”, explica Ricardo Moura. “No entanto, o texto do Camilo vai lá estar todo, ou quase…”

O criador que, juntamente com Vera Paz, co-assina a adaptação, a dramaturgia e a encenação deste “Amor de Perdição”, sa-lienta que esta é a primeira vez que o grupo está a trabalhar com um texto pré-existen-te. “Nos nossos espectáculos anteriores, íamos improvisando e o texto nascia dessas improvisações. Normalmente, era muito pouco texto… Desta vez, procurámos obras de referência da literatura portuguesa que

tivessem o amor como tema, e acabámos por escolher o Camilo.”

O espectáculo tem estreia marcada para dia 18 de Janeiro, e estará em cena sempre a partir da meia-noite. Para além de Vera Paz e Ricardo Moura, o elenco comporta ainda os nomes de Maria João Pereira, Pa-trícia Faustino, Mónica Garcez, Paulo Láza-ro, Rui Lacerda, Sérgio Grilo e Luís Hipólito.ARS

Frozen, encenado pela norte-americana Marcia Haufrecht, é uma peça inquietante sobre três personagens cuja vida se cruza por causa do desaparecimento de uma criança. Lídia Franco, Suzana Borges e Bruno Schiappa partilham uma história paralisante

Amor de Perdição numa releitura “livre e desimpedida”, para quem gosta de propostas diferentes a partir da meia-noite

Em ensaios, para estrear em JaneiroLídia Franco e Suzana Borgesenfrentam assassino em série

Teatro Nacional produzPerdidos de Amor por Camilo Castelo Branco

Page 11: Jornal do teatro #07

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A Casa da Lenha 21h30

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Odisseia 19h

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Eneida 19h

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Antena 2 concerto 19h

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Pequenos Crimes Conjugais 21h

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Pequenos Crimes Conjugais 21h

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Amor de Perdição 2�h

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O Actor de Teatros workshop 1�h

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Escrita Teatral workshop

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O Corpo do Actor workshop

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Amor de Perdição 19h

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SALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO SALA OFICINA TNDM II EXPERIMENTAL

DESCONTOS>DIA DO ESPECTADOR (5ª feiras) - 50% DE DESCONTOBILHETE DO DIA - entre as 13h00 e 1�h00 - €5,00(60 bilhetes Sala Garrett; 10 bilhetes Sala Estúdio)

Até 25 anos, + de 65 anos e grupos + 15 pessoas - 30% DE DESCONTODESCONTOS PARA GRUPOS - entre 30 a �0% DE DESCONTO

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RESERVAS>[email protected]> 21 325 08 35Informações> 21 325 08 27

www.teatro-dmaria.ptSALA GARRETT de €7,50 a €15,00 <> SALA ESTÚDIO €10,00 <> SALÃO NOBRE €12,00 <> ÁTRIO €8,00

Page 12: Jornal do teatro #07

7 Nov. a 23 Dez. SALA ESTÚDIO

Vermelho Transparente De JORGE GUIMARÃESPRODUÇÃO Teatro Nacional D. Maria II Encenação RUI MENDES

16 Nov. a 30 Dez. SALA GARRETT

A Casa da LenhaDe ANTóNIO TORRADOCO-PRODUÇÃO Teatro Nacional D. Maria II e Comuna - Teatro de PesquisaEncenação JOÃO MOTA

23 a 25 Nov. e 1� Dez. Ilíada de HOMERO 30 Nov. e 1, 2 e 15 Dez.Odisseia de HOMERO 7 a 9 e 16 Dez.Eneida de VIRGÍLIO Direcção GIANLUIGI TOSTO SALÃO NOBRE

1 Dez. a 27 Mar. SALA GARRETT

Ana e Hanna De JOHN RETALLACK PRODUÇÃO Teatro Nacional D. Maria II Encenação ANTóNIO FEIO