IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA E DA ATENÇÃO … DA ASSISTENCIA E DA... · faculdade catÓlica...
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FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO SANTO
ELISA FRAGA GOMES
IMPORTNCIA DA ASSISTNCIA E DA ATENO FARMACUTICA APLICADA A PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
VITRIA
2013
ELISA FRAGA GOMES
IMPORTNCIA DA ASSISTNCIA E DA ATENO FARMACUTICA APLICADA A PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Farmcia.
Orientador: ProfMsc. Filipe Dalla Bernardina Folador
VITRIA 2013
ELISA FRAGA GOMES
IMPORTNCIA DA ASSISTNCIA E DA ATENO FARMACUTICA APLICADA A PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Salesiana de Vitria, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Farmcia. Aprovado em: 06 de dezembro de 2013
___________________________________________________ Prof. Msc. Filipe Dalla Bernardina Folador, FCSES - Orientador
___________________________________________________ Prof. Msc. Evandro Carlos Lebarch, FCSES
___________________________________________________ Prof. Msc. Rodrigo Alves do Carmo, FCSES
Para minha me, minha guerreira, meu alicerce, meu bem maior.
AGRADECIMENTOS
Deus pelo dom da vida.
Aos meus pais pelo amor e apoio incondicional, em todos os momentos da minha
vida.
Ao meu irmo, pelo carinho e conselhos que sempre me ajudaram a fazer a escolha
certa.
minha av pelas gargalhadas proporcionadas.
Dona ngela pelo carinho e ateno.
s minhas queridas amigas, Eliana, Ldia e Suellen pelos momentos incrveis que
me proporcionaram na minha vida acadmica.
Ao meu amado amigo Jeff, confidente, conselheiro e acima de tudo companheiro
dos momentos de alegrias. Pelos melhores sorrisos e abraos.
amiga Isabela, por ser meu maior exemplo de f e fora.
Ao meu primo e amigo Rodolfo pelo carinho e ateno que sempre teve por mim.
s amigas Las e Larissa pelas crises de risos na faculdade.
amiga Dayana Valesca por ter sido uma das primeiras a me acolher na faculdade
salesiana, e por sempre estar disposta a me ajudar.
Ao meu orientador Filipe por ter se disposto a me ajudar, aconselhar e tirar dvidas
na elaborao desse trabalho.
todos vocs minha gratido!
Todos estes que a esto Atravancando o meu caminho, Eles passaro... Eu passarinho! (Mrio Quintana)
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo ressaltar a importncia da assistncia e ateno
farmacutica aplicada a pacientes com transtornos mentais. Um dos objetivos
verificar o papel do farmacutico no mbito da sade mental, ressaltar de que
maneira a assistncia e a ateno podem contribuir com a qualidade de vida dos
pacientes e tambm os pontos crticos que envolvem os programas de Sade
Mental no Brasil. Sabe-se que existem poucos estudos sobre ateno farmacutica
voltada para pacientes com transtornos mentais, bem como a participao do
farmacutico praticamente no vista nem salientada nessa rea da sade. Na rede
de ateno Sade Mental criada a partir da reforma psiquitrica, nota-se que
mesmo na ateno bsica j existem problemas, pois nas equipes da estratgia da
sade da famlia os profissionais no esto capazes para lidar com a subjetividade
dos pacientes. Nos Centros de Ateno Psicossocial o farmacutico na maioria das
vezes no fazia parte da equipe multidisciplinar, somente quando o servio era
destinado para lcool e drogas ele era referenciado. Em relao a assistncia
farmacutica muitas vezes o paciente tem o acesso ao medicamento mas sem
nenhuma orientao adequada do farmacutico, com isso o uso racional e seguro
do medicamento acaba no ocorrendo.
Palavras-chave: Sade Mental. Ateno Farmacutica. Assistncia Farmacutica.
ABSTRACT
This study aimed to highlight the importance of pharmaceutical care and attention
applied to patients with mental disorders. One goal is to determine the role of the
pharmacist in the health mental note of how the care and attention can contribute to
the quality of life of patients and critical points involving programs of Mental Health in
Brazil.It is known that there are few studies focused on pharmaceutical care for
patients with mental disorders, as well as the participation of the pharmacist is hardly
seen or emphasized that area of health. The network for the attention to Mental
Health created from the psychiatric reform, note that even in primary care there are
already problems because the strategy teams of family health professionals are not
able to deal with the subjectivity of patients. Psychosocial Care Centers in the
pharmacist most often not part of the multidisciplinary team, only when the service
was intended for alcohol and drugs he was referenced.Regarding pharmaceutical
care the patient often has access to medication but without any proper guidance of
the pharmacist, thus the rational and safe use of the drug ends up not happening.
Keywords: Mental Health. Pharmaceutical Care.Pharmaceutical Care.
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Transtornos mentais por diagnstico ...................................................... 36
Grfico 2 Expanso do CAPS no Brasil (1998-2011) ............................................. 52
Grfico 3 Leitos psiquitricos no SUS por ano (Brasil, 2002 2011). .................... 53
LISTA DE ILUSTRAES
Ilustrao 1 - Cobertura por municpio dos CAPS ..................................................... 54
Ilustrao 2- Ficha de problemas de sade............................................................... 74
Ilustrao 3 - Ficha de medicamentos ....................................................................... 75
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Frequncia absoluta (N) e relativa (%) de licenas mdicas de servidores
pblicos estaduais devido a transtornos mentais e comportamentais, segundo
principais causas, Alagoas. Brasil, janeiro a dezembro de 2009 ............................... 35
Tabela 2- Evoluo dos diferentes tipos de CAPS .................................................... 52
Tabela 3- Medicamentos utilizados no tratamento da depresso em pacientes com
comorbidades clnicas ............................................................................................... 63
LISTA DE ABREVIATURAS
AF- Ateno Farmacutica
BZD - Benzodiazepnicos
CAPS- Centro de Ateno Psicossocial
CID-10 - Classificao Internacional de Doenas
CFF - Conselho Federal de Farmcia
CNS - Conselho Nacional de Sade
DSM IV - Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais
ESF - Estratgia da Sade da Famlia
IMAO - Inibidores da Monoaminoxidase
OMS - Organizao Mundial da Sade
PRM - Problema Relacionado ao Medicamento
RNM - Resultados Negativos Associados Medicao
SNC- Sistema Nervoso Central
SUS- Sistema nico de Sade
TGO - Transaminase glutmico oxalactica
TGP- Transaminase glutmico pirvica
WHO - Worl Health Organization
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................... 25 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................................. 31
2.1 TIPOS DE TRANSTORNOS MENTAIS ........................................................... 31
2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS ....................................... 34
2.3 POLTICAS DE ASSISTNCIA E ATENO FARMACUTICAS VOLTADAS PARA A SADE MENTAL ..................................................................................... 37
2.3.1 Polticas de Sade Mental no Brasil e na Espanha ............................... 38
2.3.2 Ateno farmacutica aplicada a pacientes com transtornos mentais ............................................................................................................................ 40 2.3.3 Assistncia farmacutica no mbito da sade mental ......................... 42
2.4 ASSISTNCIA E ATENO FARMACUTICA............................................... 43
2.5 ATENO FARMACUTICA VISANDO O USO RACIONAL DO MEDICAMENTO .................................................................................................... 48
2.6 SURGIMENTO DOS CAPS NO BRASIL ......................................................... 50
2.6.1 Tipos de atendimento oferecido pelo CAPS ......................................... 54 2.6.2 Tipos de CAPS existentes ....................................................................... 55 2.6.3 Distribuio de medicamentos para pacientes do CAPS ..................... 55 2.6.4 Ateno farmacutica e o CAPS............................................................. 56
2.7 CONTRIBUIO DO FARMACUTICO PARA A QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS .................................................... 60
2.7.1 Interaes medicamentosas e efeitos adversos dos medicamentos psicotrpicos .................................................................................................... 61
2.7.2 Contribuio do farmacutico na aplicao de ateno farmacutica aos pacientes com transtornos mentais ........................................................ 64
2.7.3 A contribuio da famlia no tratamento de pacientes com transtornos mentais .............................................................................................................. 67
2.7.4 Declarao do presidente do CFF sobre a contribuio do Farmacutico na sade mental ....................................................................... 68 2.7.5 Contribuio do farmacutico com a prescrio farmacutica ........... 69 2.7.6 Condutas farmacuticas baseadas em evidncias cientficas ............ 71
2.8 PROPOSTA DE UM ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPUTICO PARA PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS .................................................... 72
3 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................ 82
REFERNCIAS........................................................................................................85
ANEXO A .................................................................................................................95
ANEXO B .................................................................................................................96
25
1 INTRODUO As perturbaes mentais e comportamentais so uma srie de perturbaes
definidas pela Classificao Internacional das Doenas (CID-10). Embora os
sintomas variem bastante, esses comportamentos caracterizam-se, na maioria das
vezes, por uma associao de idias, emoes, comportamentos e relacionamentos
anormais com outras pessoas (BRASIL, 2002, p.31).
De acordo com dados da Organizao Mundial da Sade (BRASIL, 2002, p.30) elas
resultam de uma complexa interao de fatores biolgicos, psicolgicos e sociais.
Os fatores biolgicos seriam a relao entre a doena e por exemplo, alteraes
anatmicas e anormalidades nos circuitos neuronais. Tambm sabe-se que quase
todas as perturbaes mentais e comportamentais graves comuns esto associadas
a um expressivo componente de risco gentico.
Os fatores psicolgicos esto relacionados com a afetividade, e um dos exemplos
a relao da criana com o seu cuidador, quando ela privada de afeto por parte
deles, h maior probabilidade de manifestar perturbaes mentais e
comportamentais, que pode ocorrer durante a infncia ou at mesmo em uma outra
fase da vida (BRASIL, 2002, p.39).
Por fim os fatores sociais, como a urbanizao, causam maior stress para a
populao possibilitando o aparecimento de algum tipo de transtorno mental. A
pobreza tambm um importante fator, uma vez que os pobres e os desfavorecidos
apresentam uma prevalncia maior de perturbaes mentais e comportamentais, at
mesmo por transtornos devido ao uso de substncias lcitas e ilcitas. O racismo
tambm um fator que pode levar a pessoa a ter algum tipo de transtorno como a
depresso (BRASIL, 2002, p.39).
Sabe-se que o nmero de brasileiros com transtornos mentais cresce a cada ano,
consequentemente o consumo de psicotrpicos tambm aumenta. Dados da
Organizao Mundial da Sade (BRASIL, 2002, p.7) indicam que 450 milhes de
pessoas atualmente apresentam perturbaes mentais ou neurobiolgicas ou
problemas psicossociais, como aqueles que esto relacionados com o abuso de
lcool e de drogas.
26 A depresso atualmente uma das principais causas de incapacitao no mundo e
ocupa o quarto lugar entre as dez principais enfermidades, a nvel mundial. No
mundo inteiro, 70 milhes de pessoas so dependentes do lcool. Aproximadamente
50 milhes possuem epilepsia, e 24 milhes com esquizofrenia (BRASIL, 2002, p.7).
De acordo com relatos da Organizao Mundial da Sade (BRASIL, 2002, p.17) a
ONU proclamou princpios relativos a sade mental, dentre eles: no dever existir
discriminao por doenas mentais, todo o doente dever ter os cuidados
necessrios na sua prpria comunidade e tambm dever ser tratado de forma
menos restritiva.
Entre as legislaes criadas que envolvem a sade mental existe a portaria GM/MS
n 1.077, de 24 de agosto de 1999 (BRASIL, 2003) que cria o programa de aquisio
dos medicamentos para a rea de sade mental. No artigo 4 regulamenta-se o
incentivo assistncia farmacutica bsica visando garantir o acesso aos
medicamentos essenciais de Sade Mental, na rede pblica.
E tambm a Lei n 10.216 de 04 de junho de 2001 (BRASIL, 2001,p.10) que dispe
dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais como:
I ter acesso ao melhor tratamento do sistema de sade, condizente s suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua sade, visando alcanar sua recuperao pela insero na famlia, no trabalho e na comunidade;
VIII - ser tratada em ambiente teraputico pelos meios menos invasivos possveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em servios comunitrios de sade mental.
J no artigo 3 da mesma lei, consta:
responsabilidade do Estado o desenvolvimento da poltica de sade mental, a assistncia e a promoo de aes de sade aos portadores de transtornos mentais, com a devida participao da sociedade e da famlia, a qual ser prestada em estabelecimento de sade mental, assim entendidas as instituies ou unidades que ofeream assistncia em sade aos portadores de transtornos mentais (BRASIL, 2001, p.12).
Como os pacientes com transtornos mentais utilizam medicamentos essenciais,
mais do que necessrio que exista uma assistncia farmacutica eficaz para efetivar
o melhor tratamento para estes pacientes, j que o medicamento na maioria dos
casos psiquitricos de uso fundamental.
27 De acordo com o relatrio final da III Conferncia Nacional de Sade Mental
(BRASIL, 2002, p. 52), necessrio que o uso racional e seguro dos psicofrmacos
seja garantido, como tambm o acesso gratuito a esses medicamentos. Tambm
importante garantir que os servios de sade mental ofeream orientaes sobre a
utilizao dos medicamentos aos pacientes e seus familiares.
O captulo 64 do relatrio relata sobre a moo de apoio a elaborao de uma Poltica Nacional de Medicamentos em Sade Mental, onde existe apoio realizao de uma Poltica Nacional de Medicamentos em Sade Mental, com a execuo da assistncia farmacutica, bem como a realizao de farmacovigilncia. E tambm orientaes sobre os medicamentos, tais como informaes de efeitos colaterais, interaes medicamentosas e reaes adversas, como tambm garantir o uso racional, seguro e eficaz dos medicamentos (BRASIL, 2002, p. 185).
Apesar de estar clara a importncia da assistncia farmacutica h algumas
contradies ainda atuais que precisam ser sanadas como referidas no trabalho de
Ivama e outros (2002, p. 15) em que:
Apesar de existir definies sobre Assistncia Farmacutica e poltica de medicamentos, existem problemas relacionados a sua implementao, como: a definio de mecanismos e instrumentos para a sua organizao, e avaliao de redirecionamentos.
A assistncia farmacutica engloba desde a seleo dos medicamentos at a sua
distribuio, tem como um dos objetivos garantir o acesso dos pacientes ao
medicamento. Enquanto a ateno farmacutica um componente da assistncia
farmacutica, que possibilita um estreitamento do elo farmacutico- paciente tendo
como um dos princpios a qualidade de vida do paciente.
Inmeras so as justificativas para pacientes com transtornos mentais terem a
garantia do acesso a assistncia e a ateno farmacutica de maneira eficaz, seja
para eles terem o acesso garantido dos medicamentos psicotrpicos visando
sempre o uso racional dos medicamentos, como tambm terem um
acompanhamento farmacoteraputico que possibilite que sejam conhecidos os seus
problemas de sade e os medicamentos utilizados, para que o profissional
farmacutico possa contribuir com a sua qualidade de vida. Vrias pessoas tem
deixado seu trabalho, sua vida cotidiana por estarem incapacitadas de exercer suas
atividades normalmente devido a algum tipo de transtorno mental. Esses pacientes
precisam de ajuda de profissionais de sade habilitados, para que possam
restabelecer a sua vida normalmente. Desde a reforma psiquitrica, que teve como
princpio criar recursos substitutivos para diminuir a ocupao de leitos psiquitricos,
28 at os dias atuais, so elaboradas polticas e legislaes para apoiar esses
pacientes que muitas vezes precisam ser reinseridos na sociedade. Resta saber se
estas polticas bem como as leis so eficazes, se estes pacientes como todos os
outros que precisam do servio de sade realmente possuem acesso que tenha
equidade, integralidade e universalidade, j que esses so os princpios do sistema
nico de sade (SUS). Pacientes com transtornos mentais necessitam de uma
assistncia e ateno farmacutica com qualidade, j os pacientes tm acesso aos
medicamentos essenciais, os quais muitas vezes possuem reaes adversas e
resultados negativos associados medicao que podem ser minimizados com uma
ateno farmacutica efetiva.
importante que os pacientes tenham um diagnstico minucioso, pois o nmero
elevado de pacientes com transtornos mentais pode estar relacionado com
diagnsticos incorretos, certificar de que apresenta por exemplo, o quadro clnico de
depresso e no um simples momento de tristeza. Que o diagnstico seja fechado
corretamente para que o paciente no use medicamento de forma desnecessria.
No momento do diagnstico deve-se levar em conta a subjetividade do paciente,
seus anseios, suas aflies que so causados por serem portadores de um
transtorno mental. Outro ponto importante de ser salientado e que em alguns casos,
os pacientes so portadores de um tipo de transtorno mental mas no so
diagnosticados, talvez pelo simples fato do paciente no conseguir expressar
claramente os seus sintomas, dificultando um possvel diagnstico.
O farmacutico deve estar inserido em programas de sade mental para orientar os
pacientes sobre o uso racional dos medicamentos, j que assim como todos os
outros pacientes que possuem algum tipo de enfermidade, estes esto susceptveis
ao uso irracional de medicamentos por diversos fatores como: dificuldades em geral
devido a incompleta sanidade mental, elevado nmero de prescries e com isso
maior probabilidade de interaes medicamentosas e pelas inmeras propagandas
de indstrias farmacuticas que circulam pela mdia, impulsionando e estimulando
os pacientes na compra abusiva, sem nenhuma indicao mdica.
Alm do nmero de pacientes com transtornos mentais estar em ascenso, o
consumo de medicamentos psicotrpicos, principalmente os benzodiazepnicos
tambm tem crescido muito, fato este que foi verificado no seguinte estudo:
29
Confirma-se o uso indevido dos benzodiazepnicos (BZD) no Brasil, principalmente por idosos que esperam pelo efeito hipntico da medicao e por indivduos de meia idade, em especial as mulheres que procuram pelo efeito ansioltico (ORLANDI; NOTO, 2005, p.900).
Ainda segundo Orlandi e Noto (2005, p. 901) o uso indiscriminado pode acontecer
devido alguns fatores, tais como: falta de informao e pouca percepo das
consequncias danosas relacionadas ao uso indevido de BZD.
Tal afirmao deixa claro que o farmacutico deve realizar a ateno farmacutica,
como por exemplo no momento da dispensao de medicamentos, certificando se o
paciente realmente necessita dele, ou at mesmo se h necessidade de oferecer as
informaes necessrias ao paciente como, por exemplo, as reaes adversas e
interaes medicamentosas.
Apesar da ntida importncia do farmacutico na rea da sade mental em relao
promoo e preveno da sade, de acordo com Luccheta e Mastroianni (2012,
p.166) so poucas as informaes sobre a insero do farmacutico na rea da
ateno farmacutica em sade mental. Nota-se que a prtica farmacutica junto
com a populao portadora dessas doenas muito reduzida ou pouco divulgada.
E tambm existem poucos estudos que enfatizam a ateno farmacutica aos
pacientes com doenas mentais, pode-se perceber que normalmente a ateno
farmacutica est mais voltada para pacientes diabticos e hipertensos como
observado no trabalho de Oshiro e Castro (2006, p. 27), onde as pesquisas
envolvendo sade da mulher, sade mental, fitoterapia/homeopatia no perodo de
1999 a 2003 s somam no total 14,2%.
A partir dessa realidade fixa-se uma dubiedade que pode ser analisada em duas
partes, ou farmacutico no tem interesse em trabalhar com pacientes com
transtornos mentais, ou no so oferecidas por parte do governo oportunidades para
promover aes nessa rea, como a ateno farmacutica.
O principal objetivo do trabalho destacar a importncia da assistncia e ateno
farmacutica voltada aos pacientes com transtornos mentais.
Alm disso busca-se verificar o papel do farmacutico no mbito da sade mental,
ressaltando de que forma a assistncia e ateno farmacutica podem contribuir
para a qualidade de vida desses pacientes e adicionalmente verificar quais os
pontos crticos que envolvem os programas de sade mental no Brasil.
30 O trabalho um estudo de reviso literria sobre a importncia da assistncia e
ateno farmacutica aplicada a pacientes com transtornos mentais, realizado
mediante levantamento de artigos em revistas indexadas como Scielo, Lilacs, Capes
manuais do Ministrio da Sade e livros, para leitura e anlise do assunto em
questo.
Houve um limite quando o quesito era ano de publicao, procurando sempre por
artigos do ano de 2000 em diante, tendo preferncia pelo idioma portugus, no
excluindo o espanhol e o ingls. Alguns dos descritores utilizados foram: assistncia
farmacutica, Centro de ateno psicossocial, sade mental, ateno
farmacutica e transtornos mentais.
31 2 REFERENCIAL TERICO 2.1 TIPOS DE TRANSTORNOS MENTAIS
Existe uma enorme variedade de transtornos mentais que so classificados de
acordo com o CID-10 que vo do F00 ao F99. Os transtornos que sero abordados
no presente trabalho so aqueles considerados mais comuns e que ocorrem em
grande parte da populao como a esquizofrenia, depresso, transtorno bipolar,
ansiedade generalizada, transtorno do pnico e transtorno devido ao uso de
substncias psicoativas.
F20-F29 Esquizofrenia, transtorno esquizotpico e delirantes
Dos trs transtornos ser citada a esquizofrenia por ser mais comum na populao
em geral. A Esquizofrenia tem prevalncia de 0,5 a 1% na populao geral e incidncia de cerca de 4 casos novos por ano numa populao de 10.000 habitantes. Acometendo quase que igualmente homens e mulheres raramente ocorrem antes da puberdade ou aps os 50 anos de idade (LEITO; MARI, 2000, p. 16).
Segundo a AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2002, p.297) os sintomas da
esquizofrenia so divididos em positivos e negativos. Os sintomas positivos so:
idias delirantes, alucinaes, discurso feito de maneira desorganizada entre outros.
Enquanto os negativos incluem: embotamento afetivo e alogia, esta que constitui-se
por uma perda de compreenso (lgica) dos pensamentos.
Existem trs formas clnicas da esquizofrenia, conforme a Organizao Mundial da
Sade (1993, p.88) so elas:
Esquizofrenia paranide (F20.0): o tipo mais comum em alguns lugares do mundo, em seu quadro clnico existem delrios relativamente estveis, em alguns momentos acompanhado de alucinaes, principalmente da variedade auditiva e perturbaes da percepo. Dentre seus sintomas esto os delrios de perseguio, alucinaes olfativa e vozes alucinatrias. Esquizofrenia hebefrnica (F20.1): ocorrem mudanas afetivas de maneira proeminente, o pensamento no organizado e o discurso cheio de divagaes e incoerncias.Normalmente inicia-se entre 15 e 25 anos em muitos casos ocorre um rpido desenvolvimento dos sintomas negativos principalmente o embotamento afetivo. Esquizofrenia catatnica (F20. 2): perturbaes psicomotoras proeminentes so aspectos essenciais e dominantes, podendo ser alternado com hipercinesia e esturpor, tambm pode ser observado excitao, negativismo e rigidez.
32 importante salientar que sintomas catatnicos no podem ser considerados
diagnsticos de esquizofrenia, pois podem ser ocasionadas por doena cerebral,
perturbaes metablicas causadas por lcool e drogas, e tambm nos transtornos
de humor (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE ,1993, p.88).
Transtornos do humor (afetivos)
Entre os transtornos do humor est a sndrome depressiva. Segundo Rang (2007, p
557) deste grupo de transtorno a depresso o mais proeminente, ela pode variar
de uma afeco muito leve, beirando a normalidade, depresso psictica, em que
dentre os sintomas esto as alucinaes e os delrios. No mundo inteiro a depresso
uma grande causa de incapacidade e at mesmo de morte prematura.
Nos episdios depressivos tpicos de todas as variedades seja leve, moderado ou
baixo, o paciente sofre de humor deprimido, autoestima reduzida, alteraes do
sono, apetite diminudo entre outros (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1993,
p.117).
Enquanto nos episdios depressivos leves o paciente sente-se angustiado pelos sintomas depressivos e tem alguma dificuldade em continuar sua vida cotidiana, mas dificilmente ir abandon-la. J nos episdios moderados essa dificuldade em manter sua atividades habituais mais agravada. Por fim nos episdios depressivos graves sem sintomas psicticos, o paciente apresenta angstia ou agitao e o suicdio um grande perigo nesses casos. Enquanto nos casos que existem sintomas psicticos ocorrem sintomas de delrios, alucinaes e retardo psicomotor (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1993, p.119).
Outro tipo de transtorno de humor (afetivo) o transtorno afetivo bipolar que
conforme os estudos de Kasper (apud SANCHES; JORGE, 2004, p. 54)
considerado um dos transtornos psiquitricos mais graves e de maior prevalncia
na populao.
Ainda segundo Kasper (apud SANCHES; JORGE, 2004, p.54) o transtorno
ocasionado por variaes do humor entre exaltao e depresso, tem o curso
recorrente e crnico, ocorrendo uma elevada taxa de mortalidade e incapacidade
para seus portadores.
Conforme a classificao da Organizao Mundial da Sade (1993, p.114) um
transtorno que tem como caractersticas a alterao dos nveis de humor e tambm
da energia do paciente, podendo ocorrer a elevao e diminuio de ambos,
ocasionando a depresso e mania ou hipomania.
33
Transtornos neurticos, transtornos relacionados com o stress e transtornos
somatoformes.
Dentre esses transtornos est o transtorno do pnico, que se caracteriza pela presena de ataques de pnico peridicos que se manifestam numa sensao de medo ou mal-estar prolongado acompanhada por sintomas fsicos e cognitivos e que se iniciam de forma abrupta, atingindo intensidade mxima em at 10 minutos. (SALUM et al., 2009, p.87).
Assim como em outros tipos de transtornos ansiosos, os sintomas mais comuns so:
palpitaes, sensao de asfixia, dores torcicas de forma abrupta, tonturas e
sentimentos de irrealidade (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1993, p.137).
Outro tipo de transtorno caracterizado nesse grupo o de ansiedade generalizada
que de acordo com Silvares, Baptista e Priszkulnik (2009, p.142) apresenta sintomas
como nervosismo, tenso muscular, sudorese, tonturas e palpitaes. Sua
epidemiologia mostra uma incidncia entre 3 e 8% e a proporo homens/mulheres
de 2:1.
Nos casos de ansiedade generalizada os sintomas ansiosos excessivos
permanecem em grande parte do dia, tendo no mnimo seis meses de durao
(DALGALARRONDO, 2008, p.304).
Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substncia psicoativa
Conforme o estudo de Zaleski e outros (2006, p. 143) o abuso de substncias o
transtorno que mais tem acometido pacientes com transtornos mentais.
Ainda nesse estudo Lotufo-Neto e Gentil (apud ZALESKI et al., 2006, p. 143)
constataram que alguns sintomas de ansiedade foram encontrados em pacientes
dependentes de lcool, diagnosticados com transtorno do pnico.
Nesse grupo de transtornos mentais esto includos o lcool e diversas drogas
como: cocana, canabiides, opiceos, sedativos e hipnticos dentre outros
(ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1993, p.72).
Esses transtornos podem causar desde a intoxicao aguda, at o transtorno
psictico residual de incio tardio (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1993,
p.72).
34 O consumo de substncias psicoativas tem crescido nos ltimos anos, na maioria
dos casos os usurios comeam a consumir essas substncias na adolescncia e
no tem distino de gneros, tanto homens quanto mulheres consomem
substncias psicoativas.
verificou-se que em relao ao consumo de lcool 48% da populao adulta abstinente (sendo essa parcela composta por 35% dos homens e 59% das mulheres). Em relao faixa etria de 18 a 24 anos, apenas 38% so abstinentes, enquanto acima de 60 anos o ndice de abstinncia chega a 68% (LARANJEIRA; et al., 2007, p.72).
De todos os transtornos citados anteriormente pode-se dizer que este o que est
em maior ascenso, devido ao uso abusivo de drogas lcitas e ilcitas. Enquanto no
houver polticas eficazes que minimizem esse alto consumo de drogas, o nmero de
dependentes s aumentar.
preciso que os profissionais de sade, como o farmacutico mostrem de forma
educativa as reais consequncias do uso abusivo de substncias psicoativas, que
sejam feitas mais campanhas, programas e polticas que conscientizem a populao
sobre o uso das substncias psicoativas. Alm de salientar o perigo da associao
de, por exemplo, lcool e substncias depressoras do sistema nervoso central, como
os benzodiazepnicos, em que h efeitos potencializados podendo causar at
mesmo depresso respiratria e levar o paciente a bito.
2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS
Os transtornos mentais alm de ser um problema de sade pblica so grande
causa de incapacitao de trabalhadores, fato este que foi descrito por Silva e outros
(2009, p. 507), o qual observaram que em Alagoas, no ano de 2009, 8.249
servidores pblicos estaduais afastaram-se das suas atividades laborais por
inmeras causas. Dos afastamentos ocorridos, 1.668 (20,2%) foram ocasionadas
por transtornos mentais e comportamentais, conforme demonstrado na tabela
seguinte.
35
Tabela 1 - Frequncia absoluta (N) e relativa (%) de licenas mdicas de servidores pblicos estaduais devido a transtornos mentais e comportamentais, segundo principais causas, Alagoas. Brasil, janeiro a dezembro de 2009.
CID-10 Nmero de casos % F32.0 Episdio depressivo leve
178 10,7
F32.1 Episdio depressivo moderado
153 9,2
F32.2 Episdio depressivo grave sem sintomas psicticos
151 9,1
F33.2 Transtorno depressivo recorrente episdio atual grave sem sintomas psicticos
136 8,2
F41.0 Transtorno de pnico-ansiedade paroxstica episdica
114 6,8
F33.1 Transtorno depressivo recorrente-episdio atual moderado
113 6,8
F41.2 Transtorno misto ansioso e depressivo
92 5,5
F43.0 Reao aguda ao estresse
84 5,0
F33.0 Transtorno depressivo recorrente-episdio atual leve
78 4,7
F32.3Episdio depressivo grave com sintomas psicticos
51 3,1
F41.1 Ansiedade generalizada
45 2,7
F20.0 Esquizofrenia paranide
31 1,9
F33.3 Transtorno depressivo recorrente episdio atual grave com sintomas psicticos
30 1,8
F43.1 Estado de estresse ps traumtico
27 1,6
F31.0 Transtorno afetivo bipolar- episdio atual hipomanaco
26 1,6
Demais doenas do cdigo F
359 21,5
TOTAL 1.668 100,0 Fonte: SILVA et al.(2012, p.508)
Existe uma grande dificuldade em localizar estudos atuais que relatem a
epidemiologia dos transtornos mentais no Brasil, sem especificar algum estado ou
alguma regio brasileira. Normalmente os autores especificam uma determinada
cidade e analisam a prevalncia ou incidncia dos transtornos.
36 Foi elaborado um estudo por Porcu e outros (2007, p. 147) em que foi avaliado a
prevalncia de transtornos mentais em pacientes atendidos em um ambulatrio de
residncia mdica, dando origem ao grfico abaixo:
Grfico 1-Transtornos mentais por diagnsticos
Fonte: PORCU, M etal; 2007.
A partir da anlise do grfico pode-se perceber que a maior prevalncia a de
episdio depressivo e tambm transtorno depressivo recorrente, assim como no
estudo de Alagoas. Sendo que os pacientes que apresentam esse quadro clnico
so do sexo feminino, entre 31 e 45 anos de idade, em relao escolaridade
possuem o segundo grau completo, e tambm so casados e empregados (PORCU
et al., 2007, p. 147).
As doenas muitas vezes diferem em relao ao gnero como, por exemplo, o
alcoolismo representa o principal problema de sade mental no grupo masculino, j
37 nas mulheres percebe-se um maior predomnio dos transtornos da ansiedade,
estados fbicos e depresses (SANTOS; SIQUEIRA, 2010, p. 242).
A depresso tem probabilidade de ocorrer em mulheres duas vezes maiores do que
em homens, com o aparecimento geralmente entre os 20 e 40 anos (MORENTE;
GASTELURRUTIA, 2003, p.6).
No municpio de So Jos do Rio Preto, Berto e outros (apud MEDEIROS, 2005,
p.93), elaboraram um estudo sobre a anlise da morbidade dos transtornos
mentais, tendo como foco a populao de usurios do SUS, por meio dos
atendimentos feitos nos servios ambulatoriais e nas emergncias psiquitricas no
ano de 2002.
Os diagnsticos que foram encontrados no ambulatrio so:
transtornos de humor 49%; transtornos neurticos relacionados ao estresse e somatoformes 19%; esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e delirantes 14%; transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de lcool 4%, drogas, 1% e outros 13% (BERTO et al. apud MEDEIROS, 2005, p.93).
2.3 POLTICAS DE ASSISTNCIA E ATENO FARMACUTICAS VOLTADAS
PARA A SADE MENTAL
Conforme os estudos de Puel e outros (2004, p.16) a rede de servios pblicos de
sade mental compreende as seguintes reas de atendimento: a de ateno bsica,
onde atuam as equipes da Estratgia da Sade da Famlia (ESF), os centros de
ateno psicossocial (CAPS) que tem como um dos objetivos a reinsero do
paciente na sociedade, com o devido acompanhamento de uma equipe
multidisciplinar, as residncias teraputicas, que tem como objetivo a reabilitao e
insero social do paciente, e o atendimento hospitalar, que feito em hospitais
gerais.
A implantao da assistncia farmacutica na sade mental uma estratgia que possibilita um atendimento de qualidade e integral aos usurios do Sistema nico de Sade. Porm, deve-se considerar que a terapia medicamentosa apenas um dos recursos teraputicos utilizados para o tratamento dos transtornos mentais, portanto partem de um contexto onde outras formas de interveno associadas a ela, buscam atender as vrias necessidades do indivduo, proporcionando de forma multidisciplinar o controle da doena e melhoria da qualidade de vida (PUEL et al., 2004,p. 39).
38 A assistncia farmacutica tem muito a contribuir com o paciente pois possibilita o
acesso aos medicamentos necessrios ao seu tratamento bem como as outras
etapas do ciclo da assistncia farmacutica, mas esses pacientes necessitam muito
mais do que o medicamento, precisam de um profissional que saiba lidar com a sua
subjetividade, e que esteja disposto a possibilitar uma melhor qualidade de vida para
esses pacientes em questo.
2.3.1 Polticas de Sade Mental no Brasil e na Espanha O principal objetivo da reforma psiquitrica era a criao de servios substitutivos
que fizessem com que ocorresse uma diminuio de leitos psiquitricos no Brasil.
Com isso ocorreu a criao dos Centros de Ateno Psicossocial, as residncias
teraputicas e o programa de volta para a casa, entre outros servios que
beneficiam o paciente com transtorno mental.
Fluxograma 1 - Rede de Ateno Sade Mental
Fonte: BRASIL (2004, p.11).
39 Os servios substitutivos ento formam a chamada rede de ateno sade mental,
que envolve desde a estratgica da sade da famlia at os centros de ateno
psicossocial.
As residncias teraputicas, so casas criadas no espao urbano com intuito de oferecer moradia aos pacientes com transtornos mentais, egressas de hospitais psiquitricos ou no. Cada residncia deve estar referenciada a um Centro de Ateno Psicossocial e atuar junto rede de ateno sade mental dentro da lgica do territrio (BRASIL, 2005, p.14).
Ainda segundo dados do documento do Ministrio da Sade (BRASIL, 2005, p.16) o
programa de volta para a casa, foi criado com intuito de contribuir financeiramente
para a insero do paciente na sociedade que tem longo histrico de internao em
hospitais psiquitricos. O auxlio reabilitao de R$ 240,00.
Muitos pacientes antes de se dirigirem para um centro especializado como o CAPS,
vo para servios de ateno bsica como foi observado nos dados Ministrio da
Sade (BRASIL, 2007, p.3), o qual revela que as equipes de ateno bsica
realizam trabalhos na rea de sade mental. Porm essas equipes muitas vezes no
esto preparadas para atender esse tipo de paciente, ou por falta de recurso
pessoal, ou at mesmo falta de capacitao por parte dos profissionais.
Diante deste fato necessrio que tenha polticas de formulao e avaliao da
ateno bsica, diretrizes que acrescentem a subjetividade do paciente e os
problemas mais graves de sade mental (BRASIL, 2007, p.3).
Apesar dos rgos federais salientarem a importncia de aes na ateno bsica
visando a sade mental, os autores Tanaka e Ribeiro (2009, p.478) afirmam que a
incluso efetiva de assistncia a sade mental na ateno bsica uma realidade
que quase no ocorre.
O mesmo fato foi observado por Nunes, Juc e Valentim (2007, p. 2376) em que
tambm afirmam que: [...] existem poucos dados sobre a implementao de sade mental na rede bsica. Alm disso relatam que [...] no existe uma estratgia na ESF para ser trabalhada na sade mental, estratgia que abrange aes de promoo, de comunicao e educao em sade, de prticas coletivas, alm de prticas individuais.
Silveira e Vieira (2009, p.141) as fragilidades da Estratgia da Sade da Famlia
(ESF) na sade mental podem ocorrer devido a alguns fatores como: falta de
40 experincia dos profissionais para lidar com pacientes com transtornos mentais e
tendncia a sempre medicar os sintomas que o paciente apresenta.
Assim como no Brasil, na Espanha tambm existe uma rede de servios de sade
mental que composta por alguns servios como: Centro de Ateno a Drogo
dependencias, ateno primria de sade, centro de sade mental, comunidade
teraputica entre outros (TELLERA et al., 2000, p. 41).
Nessa rede de servios de sade mental na Espanha, o elemento central o centro de sade mental, o qual a porta de entrada para o sistema, e deve ser responsvel pelo processo teraputico do paciente. O princpio bsico da rede de ateno a sade mental que toda a estrutura deve estar orientada a dar resposta as necessidades do pacientes (TELLERA et al., 2000, p. 41).
Outra semelhana encontrada nos dois pases reside no fato de que assim como no
Brasil, pacientes com transtornos mentais na Espanha tem o primeiro contato com
servios de sade mental na ateno primria. Dados epidemiolgicos obtidos na
Consejera de Sanidade de La Comunidad de Madrid (2010, p.21) mostram que o
principal ponto de contato com a sade mental para a maioria dos pacientes a
ateno primria.
Um aspecto muito importante nesse contexto a formao de profissionais de
Ateno primria para contribuir com a aderncia dos pacientes com transtornos
mentais ao tratamento bem como com a sua continuidade (CONSEJERA DE
SANIDADE DE LA COMUNIDAD DE MADRID, 2010, p.21).
Conforme Knapp e outros (2007, p.235) existem alguns fatores que tornam a
ateno psiquitrica no nvel primrio pouco satisfatrio como: diagnstico e
tratamento dos problemas psiquitricos mais frequentes inadequados por parte dos
mdicos, falta de recursos para a resoluo de problemas psiquitricos comuns
dentre outros fatores.
Pode-se perceber que existem fragilidades nas polticas de sade mental que se
assemelham nos dois pases, tanto no Brasil quanto na Espanha necessitaria de
estratgias que capacitassem os profissionais, para lidar com o sofrimento psquico
dos pacientes bem como com a sua subjetividade.
2.3.2 Ateno farmacutica aplicada a pacientes com transtornos mentais
41 Para aplicao da ateno farmacutica em pacientes com transtornos mentais
necessrio que haja uma interao mdico-farmacutico, com destaque para alguns
pontos como:
Certificar se o paciente possui outras enfermidades diferentes do transtorno mental,
bem como toda a medicao que ele utiliza, pois na maioria das vezes os
psicotrpicos interagem com esses medicamentos causando reaes adversas, da
mesma forma que algumas doenas podem causar sintomas psiquitricos como o
hipertireoidismo, por exemplo (FRIDMAN; FILINGER, 2002, p.243).
Cuidar das interaes medicamentosas e os efeitos colaterais, os profissionais devem desmitificar o fato que o medicamento cura quaisquer doenas. Tambm importante a realizao de reunies com os profissionais da sade (enfermeiros, assistentes sociais e outros), a fim de identificar o ponto de vista de cada profissional sob o paciente para que possa ser definido os parmetros de abordagem teraputica (FRIDMAN; FILINGER, 2002, p.243).
Segundo Fridman e Filinger (2002, p.244) atualmente inconcebvel trabalhar
sozinho na rea da sade, a ateno farmacutica deve ser integrada a equipe
bsica de sade, se existe a pretenso de ser assistencial.
Morente e Gastelurrutia em seu estudo sobre seguimento farmacoteraputico para
pacientes com depresso informam a importncia do farmacutico na aderncia do
paciente no seu tratamento, j que esses pacientes podem deixar de cumprir o seu
tratamento por algumas razes, dentre elas: a ideia de que a medicao cria
dependncia, a presena de outras enfermidades que tambm necessitam da
administrao de medicamentos fazendo com que a quantidade dos mesmos
aumente e no ser consciente da importncia do medicamento. (MORENTE;
GASTELURRUTIA, 2003, p. 24 ).
necessrio que o farmacutico informe ao paciente que no incio do tratamento, sero necessrias algumas semanas para que se note uma melhora no quadro clnico, para que o paciente no pense que o medicamento no est sendo efetivo e queira interromper o tratamento. Da mesma forma quando ocorrer melhoras no quadro clnico ele tambm no dever interromper, deve-se salientar o cumprimento do tratamento dentro do prazo que foi estabelecido pelo mdico (MORENTE; GASTELURRUTIA, 2003,p.25).
Portanto, o farmacutico pode desempenhar um papel importante no
acompanhamento do tratamento antidepressivo ajudando na soluo de possveis
RNM, aumentando a satisfao do paciente com a medicao e articulando com a
42 equipe de sade para proporcionar o melhor tratamento farmacolgico para o
paciente (MORENTE; GASTELURRUTIA, 2003, p.20).
No estudo elaborado por Chamero (2004, p.106) so abordadas questes
importantes na entrevista com pacientes com transtornos mentais, algumas delas
so: na relao farmacutico-paciente ambos devem conhecer os seus respectivos
nomes, o paciente deve compreender o papel do farmacutico e deve-se explicitar
os objetivos dessa relao.
Nas condutas empticas deve-se manter ateno nos sentimentos do paciente,
demonstrar atitude de conforto no momento da entrevista e manter contato com os
olhos (CHAMERO, 2004, p. 106).
Outros pontos salientados no momento da entrevista so: organizar as perguntas
com um pouco de sensibilidade para diminuir a ansiedade do paciente, pedir para o
paciente esclarecer questes que ficaram vagas e ajudar o paciente a focar a
conversa nas preocupaes relacionadas ao seu tratamento farmacolgico
(CHAMERO, 2004, p. 106).
O farmacutico o ltimo profissional de sade em contato com o paciente
psiquitrico antes que ele administre a medicao, portanto sua contribuio para
promover uma melhor qualidade de vida ao paciente essencial (CHAMERO, 2004,
p. 106).
2.3.3 Assistncia farmacutica no mbito da sade mental
A assistncia farmacutica pode ser vista sob dois pontos: o primeiro quando diz
respeito a aes tcnico-gerenciais (como farmacovigilncia, avaliao da
assistncia farmacutica, e treinamento de profissionais) e o outro ponto so as
aes tcnico-assistenciais, (educao em sade, seguimento farmacoteraputico e
ateno farmacutica) (GOMES apud ALENCAR; CAVALCANTE; ALENCAR, 2012,
p. 492).
Os medicamentos que so disponibilizados para pacientes com transtornos mentais so aqueles encontrados na Relao Nacional de Medicamentos Essenciais, estes que devem estar disponveis desde a ateno bsica at para o atendimento hospitalar.
[...]
Porm alm de garantir o acesso do paciente ao medicamento necessrio a orientao no que diz respeito ao uso racional do medicamento, que
43
poder ser feita pelo farmacutico nas aes tcnico-assistenciais. Mas infelizmente este fato no ocorre pois o farmacutico ainda no faz parte formalmente dos programas elaborados pelas polticas do governo federal, at mesmo na Estratgia da Sade da Famlia e nos programas de sade mental (GOMES apud ALENCAR; CAVALCANTE E ALENCAR, 2012, p. 492).
lamentvel que o medicamento dispensado para pacientes com transtornos
mentais no seja realizado por um farmacutico, e seja feito por qualquer outro
profissional de sade que ir somente fazer o simples ato mecnico de entrega do
medicamento, pois estes so pacientes que mais do que qualquer outro, precisam
de um farmacutico para lhe oferecer informaes sobre o seu tratamento
farmacolgico.
Pode-se dizer que ainda existem muitos obstculos na assistncia farmacutica no
mbito da sade mental, pois somente financiar medicamentos essenciais sem uma
correta dispensao para esses pacientes, ainda muito pouco para promover a
qualidade de vida e promoo da sade dos mesmos.
2.4 ASSISTNCIA E ATENO FARMACUTICA
O conceito de assistncia farmacutica fundamenta-se em:
[...] um grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as aes de sade demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservao e controle de qualidade, a segurana e a eficcia teraputica dos medicamentos, o acompanhamento e a avaliao da utilizao, a obteno e a difuso de informao sobre medicamentos e a educao permanente dos profissionais de sade, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos (BRASIL apud CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA, 2009, p. 20).
A assistncia farmacutica de acordo com o estudo de Marin e outros (2003, p. 133)
possui um ciclo com vrias etapas, dentre elas a seleo de medicamentos em que
feito o formulrio teraputico que abrange informaes tcnico-cientficas mais
importantes e atualizadas sobre cada um dos medicamentos selecionados.
A programao consiste na garantia da disponibilidade dos medicamentos
antecipadamente selecionados nas quantidades necessrias e tempo adequado
para atender s necessidades de uma populao de interesse, por meio de um
servio ou de uma rede de servios de sade, considerando um determinado tempo
(MARIN, 2003, p. 137).
44
A aquisio que constitui num conjunto de procedimentos pelo qual tem o processo de compra dos medicamentos, conforme uma programao criada com o objetivo de suprir necessidades de medicamentos em quantidade, qualidade e menor custo-efetividade alm de manter a regularidade do sistema de abastecimento (BRASIL, 2006, p. 43).
O armazenamento abrange vrias atividades dentre elas: recebimento de
medicamentos, o estoque dos mesmos, alm da segurana, conservao e entrega
(MARIN, 2003, p. 140).
A distribuio inicia-se a partir de uma solicitao de medicamentos (que em grande
parte feita pelo requisitante) para um nvel de distribuio envolvido, com o intuito
de prover as necessidades dos medicamentos por um determinado tempo (MARIN,
2003, p. 145).
Por fim a dispensao deve certificar que o paciente receba o medicamento de boa
qualidade, na dose prescrita, na quantidade adequada e que receba as informaes
necessrias para que seja feita o seu uso racional (MARIN, 2003, p. 150).
Fluxograma 2 - Ciclo da assistncia farmacutica
Fonte: Marin et al. (2003, p.130) A assistncia farmacutica uma atividade muito importante que possibilita que as
vrias etapas que envolvem o frmaco, desde a sua pesquisa at a sua utilizao,
45 aconteam de forma segura e racional, beneficiando individualmente e
coletivamente os usurios de medicamentos do pas (STORPIRTIS et al., 2008).
de extrema e fundamental importncia a participao do farmacutico em todas as
etapas do ciclo da assistncia farmacutica, para que ocorra uma efetiva
contribuio para o uso racional do medicamento.
Um dos objetivos da assistncia farmacutica garantir o acesso dos medicamentos
aos pacientes, porm atualmente ocorrem casos de judicializao de medicamentos,
em que as pessoas, por diversos motivos buscam pleite-los na esfera judicial.
No estudo de Sartrio (2004) as argumentaes que os pacientes utilizavam para
conseguir o direito na justia ao acesso do medicamento eram: direitos
constitucionais, universalidade, a possibilidade do risco de vida, etc.
De acordo com dados de Messender, Castro e Luiza (2005, p. 527) os principais
medicamentos que eram solicitados atravs de mandados judiciais eram: para os
sistemas nervoso e cardiovascular e tambm aqueles relacionados ao trato
alimentar.
A judicializao de medicamentos merece um olhar crtico, pois acesso aos
medicamentos um direito do cidado, que a assistncia farmacutica tem como
um dos objetivos garanti-lo. necessrio que estudem as causas que levam aos
pacientes a recorrer na justia, e quais as falhas no sistema de sade Brasileiro
esto levando para acontecer esse fato.
Ateno Farmacutica um modelo de prtica farmacutica desenvolvida no contexto da Assistncia Farmacutica. Compreendem atitudes, valores ticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na preveno de doenas e na promoo e recuperao da sade, de forma integrada equipe de sade. a interao direta do farmacutico com o usurio, visando a uma farmacoterapia racional e obteno de resultados definitivos e mensurveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interao tambm deve envolver as concepes dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a tica da integralidade das aes de sade (BISSON, 2007, p. 8).
A ateno farmacutica engloba vrias atividades voltadas para o paciente entre
elas: dispensao ativa, uso racional dos medicamentos, farmacovigilncia e outros.
A dispensao ativa consiste no fornecimento do medicamento correto com
orientaes sobre a forma adequada de administrao, sobre a utilizao
teraputica e verificar se o tratamento est eficaz (MARQUES, 2008, p. 25).
46 A Ateno farmacutica pode ser feita por vrias metodologias, no Brasil as mais
citadas so: Mtodo Dder, Pharmacotherapy Work Up e Therapeutic Outcomes
Monitoring (TOM) (CORRER; OTUKI, 2011, p.1).
Porm das mais citadas, o mais utilizado por pesquisadores e farmacuticos o
Mtodo Dder e o modelo de minnesota (FREITAS; PEREIRA, 2008, p.603).
O mtodo dder se baseia na histria farmacoteraputica do paciente no qual se
obtm o conhecimento dos problemas de sade do paciente e dos medicamentos
que ele utiliza. Ele consiste em vrias etapas, que ocorrem desde a oferta do servio
para o paciente at as entrevistas sucessivas que finalizam o acompanhamento
farmacoteraputico.
O modelo de Minnesota ou dos Alcolicos Annimos, trata-se de um modelo grupal
que tem como objetivo o alcance dos 12 passos como evoluo do tratamento e
busca uma reorganizao na vida do sujeito ( ANDRETTA; OLIVEIRA, 2005,p. 130)
Atravs da ateno farmacutica feita a um paciente, pode-se verificar se existem ou
no problemas relacionados com medicamentos (PRMs). Estes que so
classificados da seguinte forma segundo Machuca e outros (2004, p.6), como
problemas de sade, entendidos como resultados clnicos negativos, derivados do
tratamento farmacolgico que, produzidos por diversas causas tem como
consequncia, o no alcance do objetivo teraputico desejado ou o aparecimento de
efeitos indesejveis.
Essa definio de PRM foi elaborada no Segundo Consenso de Granada onde
definiu que os PRMs eram resultados clnicos negativos, porm o termo problemas
relacionados com medicamentos era definido e classificado por vrios autores de
maneira diferente gerando muita confuso (HERNNDEZ; CASTRO; DDER, 2010,
p.22).
Ainda de acordo com Hernndez; Castro e Dder (2010, p.22) surgiu a necessidade
de utilizar termos biomdicos que trariam uma maior especificidade e no era
refutvel. No Terceiro Consenso de Granado ficou definido que o termo PRM seria
RNM (resultados negativos associados medicao)
Os RNM foram ento conceituados da seguinte forma:
so problemas de sade, alteraes no desejadas no estado de sade do doente atribuveis ao uso (ou desuso) dos medicamentos. Para medi-los
47
utiliza-se uma varivel clnica (sintoma, sinal, evento clnico, medio metablica ou fisiolgica, morte), que no atinge os objetivos teraputicos estabelecidos para o doente (HERNNDES; CASTRO; DDER, 2010, p. 23).
Quadro 1 - Classificao de RNM, segundo o Terceiro Consenso de Granada.
Fonte: HERNANDES; CASTRO; DADER (2009, p.28).
Assim como antes ocorria com os PRMs a classificao dos RNMs de acordo com
a necessidade, efetividade e segurana como so demonstrados pela figura.
Para analisar se o medicamento necessrio, deve-se considerar que o tratamento
apresente uma prescrio consciente por parte do mdico e que o paciente possua
um problema de sade que a justifique. Em relao efetividade, normalmente
associa-se fatores como posologia, interaes com outros medicamentos, dentre
outros fatores. J em relao a segurana, est uma caracterstica particular de
cada medicamento e tem relao com os possveis efeitos indesejados que o
mesmo possa ter.
O farmacutico o profissional mais habilitado para exercer a ateno farmacutica
pelos seguintes fatores: o profissional de sade que a populao tem mais acesso,
tem formao especializada em medicamentos, o ltimo profissional que tem
48 contato com o paciente, antes que ele opte por adquirir ou no o medicamento
(STORPIRTIS et al., 2008).
Esse mesmo fato foi relatado por Correr e Otuki (2011, p.1), que afirma que os
farmacuticos so os profissionais especializados em medicamentos por isso, so
aptos em resolver possveis problemas relacionados ao medicamento, com objetivo
de salientar o uso racional e assim garantir sua mxima efetividade e segurana.
Segundo Freitas, Maia e Iodes (2006, p. 15) a AF serve como um elo entre o
profissional farmacutico e o paciente, contribuindo para sua pronta recuperao. O
maior interesse do farmacutico o bem estar do paciente, o qual se sente seguro
em saber que est apoiado por um profissional habilitado.
Ivama e outros (2002, p. 20) relatam que a ateno farmacutica uma das portas
de entrada do sistema de farmacovigilncia, pois aponta os problemas relacionados
segurana, bem como a efetividade, e tambm os desvios da qualidade dos
medicamentos atravs acompanhamento farmacoteraputico.
Farmacovigilncia a cincia e as atividades relativas deteco, avaliao, compreenso e preveno de efeitos adversos ou quaisquer outros possveis problemas relacionados com a droga e os seus ojetivos especficos so: melhorar o cuidado e segurana do paciente em relao ao uso de medicamento e todas as intervenes mdicas e paramdicas,melhorar a sade pblica e segurana em relao ao uso de medicamentos, dentre outros (WHO, 2013).
2.5 ATENO FARMACUTICA VISANDO O USO RACIONAL DO
MEDICAMENTO
Alm de melhorar a qualidade de vida dos pacientes a AF prioriza o uso racional dos
medicamentos e o farmacutico tem como responsabilidade educar as pessoas a
fazer o uso racional, j que o nmero de pessoas que se automedicam cresce com o
passar do tempo, como foi observado no estudo de Ribeiro e outros (2004, p. 79)
em que dentre as formas dos pacientes se automedicarem as mais comuns foram
ir a uma farmcia e solicitar um remdio (12,12%), administrar medicamento por
indicao de parentes ou amigos (9,34%) e administrar remdio caseiro (8,83%).
De acordo com Aquino (2008, p.735) os dados em relao ao uso irracional de
medicamentos no Brasil so preocupantes. Dados revelam que aproximadamente
49 um tero das internaes que ocorrem no pas teve como causa o uso incorreto de
medicamentos.
A Ateno Farmacutica faz com que o profissional farmacutico volte a ter o
mesmo contato direto com o paciente de quando ainda existiam os boticrios, que
acabaram se extinguindo por causa da forte industrializao, e surgimento das
grandes indstrias farmacuticas. O paciente confia no profissional e este trabalha
para que o bem estar do paciente seja sempre contemplado. Segundo Angonesi e
Sevalho (2010, p. 3607) o profissional deve manter a sua ateno na subjetividade
do paciente e assim poder exerg-lo como uma pessoa nica.
Para Vieira (2007, p.218) a profisso farmacutica chegou a ter uma perda de
identidade alm de existir uma carncia na populao de um farmacutico mais
atuante em defesa do uso racional dos medicamentos, fatos estes que podem ser
conquistados novamente com a prtica da ateno farmacutica.
De acordo com Mendes (2008, p. 570) no mais admissvel que a atuao do
farmacutico se limite aquisio e distribuio de medicamentos. O farmacutico
deve voltar a ter o contato mais prximo com o paciente, no apenas vender o
medicamento como um balconista, mas sim esclarecer para o paciente que ele est
naquele ambiente de trabalho para ajud-lo a recuperar a sua sade tendo como
principal foco a sua qualidade de vida.
Para aplicar a AF nos pacientes necessrio que o profissional tenha os
conhecimentos tcnicos necessrios e tambm tenha habilidades na comunicao
com o paciente, para que ele consiga todas as informaes necessrias para
implementar um acompanhamento farmacoteraputico adequado.
O estudo elaborado por Oliveira e outros (2005, p. 412) demonstrou quais os
principais obstculos enfrentados na implementao da ateno farmacutica nas
farmcias, a partir do questionamento feito para os farmacuticos sobre o assunto.
Os resultados obtidos foram: 33% demonstraram desinteresse e 67% insegurana; dentre estes ltimos 18% afirmaram ter dificuldade de iniciativa, ou desejam implantar, entretanto, admitem existir muitos obstculos a serem superados, principalmente aqueles que so a aceitao por parte dos proprietrios e/ou gerentes (49%) (OLIVEIRA, et al., 2005, p.142).
50 2.6 SURGIMENTO DOS CAPS NO BRASIL
Os centros de ateno psicossocial (CAPS) so a principal referncia da rede de
ateno sade mental, em todos os estudos que envolvem a sade mental, o
CAPS sempre mencionado nos artigos cientficos da rea, por isso existe a
necessidade da abordagem do assunto, desde o seu surgimento at a distribuio
de medicamentos feitos aos pacientes.
O CAPS surgiu a partir da reforma psiquitrica que segundo Alves e outros (2009,
p.90) trata-se de um movimento que surgiu na Itlia na dcada de 60 com incio de
um projeto mais concreto de desinstitucionalizao, que teve por objetivo a
desconstruo do modelo manicomial.
No Brasil a reforma veio surgindo em 1987 com a Conferncia Nacional de Sade
Mental e o 2 Encontro de Trabalhadores em Sade Mental, estes que influenciados
pela psiquiatria democrtica Italiana lanaram o tema Por uma Sociedade sem
Manicmios (ALVES et al., 2009, p. 90).
Um dos principais objetivos da criao dos Centros de Ateno Psicossocial a
ateno voltada para complexidade do paciente, ou seja, a sua subjetividade e com
a ajuda de uma equipe multiprofissional, oferecer o melhor tratamento teraputico.
A partir de ento surgiu o projeto de lei 3.657, submetido em 12/9/1989 conforme
declarado no estudo de Gentil (1999, p.7) dispe sobre a extino progressiva dos
manicmios e a sua substituio por outros recursos assistenciais e regulamenta a
internao psiquitrica compulsria.
Conforme Oliveira e Freitas (2008, p.3) o CAPS um servio governamental que
tem como objetivo substituio de hospitais psiquitricos.
A criao do CAPS teve como principal objetivo acabar com a situao precria dos
hospitais psiquitricos, ter uma ateno voltada para o sujeito portador de
transtornos mentais com maior humanidade de forma que ele seja reinserido na
sociedade e que no sofra nenhum tipo de excluso.
A Portaria n. 336/GM Em 19 de fevereiro de 2002 no artigo primeiro estabelece que os Centros de Ateno Psicossocial so classificados nas seguintes categorias: CAPS I, CAPS II e CAPS III, CAPSi e CAPSad os quais so determinados por ordem crescente de porte/complexidade e abrangncia populacional (BRASIL, 2004, p. 31).
51 A portaria tambm define o que cada CAPS deve oferecer desde o recurso humano
at o horrio de funcionamento.
O CAPS proporciona aos pacientes a reinsero na sociedade atravs de atividades
que envolvam esportes, trabalho, cultura e lazer, sempre com o cuidado para que
eles tenham sempre o tratamento teraputico adequado (BRASIL, 2004, p. 13).
O CAPS I oferece atendimento para municpios que tem populao entre 20.000 e
70.000 mil habitantes com o horrio de funcionamento de 8 s 18horas nos cinco
dias da semana, o CAPS II destinado para a populao do municpio entre 70.000 e
200.000 mil habitantes com o mesmo horrio de funcionamento que o CAPS I. J o
CAPS III para a populao acima de 200.000 mil habitantes que funciona 24 horas
por dia todos os dias da semana (BRASIL, 2004, p.31).
J os servios voltados para populaes mais especficas como o CAPSad e o
CAPSi tem o mesmo horrio de funcionamento que o CAPS I, porm a populao
atendida pelo Capsad e acima de 70.000 mil habitantes e a do CAPSi e de 200.000
(BRASIL, 2004, p. 34).
Os pacientes que so atendidos no CAPS so aqueles que sofrem de algum tipo de
transtorno mental, desde crianas at idosos. Podem ser tambm pessoas
dependentes de substncias psicoativas, como lcool e drogas, tendo como
referncia o CAPSad para atend-las, assim como as crianas e adolescentes so
atendidas no CAPSi.
O grfico demonstra claramente a expanso do nmero de CAPS no Brasil, o
modelo assistencial criado com intuito de reduzir o nmero de leitos psiquitricos
mostra-se em ascenso.
52 Grfico 2- Expanso do CAPS no Brasil (1998-2011)
Fonte: Coordenao de Sade Mental, lcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.
Tabela 2- Evoluo dos diferentes tipos de CAPS.
Fonte: Coordenao de Sade Mental, lcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.
A tabela acima demonstra a evoluo dos tipos de CAPS a partir do ano de 2006,
pode-se dizer que todos aumentaram o seu nmero com o decorrer do tempo, sendo
53 que os servios que apresentaram um crescimento mais tmido foram aqueles
voltados para populaes especficas como, crianas e adolescentes (CAPSi) e
usurios de lcool e outras drogas (CAPSad).
Nota-se tambm a presena do CAPSad III que surgiu a partir do ano de 2011, o
servio funciona durante 24h nos 7 dias da semana.
O grfico seguinte demonstra a reduo do nmero de leitos psiquitricos com o
passar do tempo, o surgimento dos CAPS influncia diretamente na reduo do
nmero de leitos, pode- se analisar ento, que a reforma psiquitrica atingiu o seu
principal objetivo.
Grfico 3- Leitos psiquitricos no SUS por ano (Brasil, 2002 2011).
FONTE: Em 2002-2003, SIH/SUS, Coordenao de Sade Mental, lcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS e Coordenaes Estaduais. A partir de 2004, PRH/CNES e Coordenaes Estaduais. Em relao a cobertura dos centros de ateno psicossocial no ano de 2002, 2006 e
2011, pode- se analisar que em relao aos estados ocorreu um crescimento
progressivo, com maior concentrao nas regies sul, sudeste e nordeste, esta que
teve um grande adensamento, em contrapartida na regio norte existem alguns
locais que ainda no possuem o servio.
54 Ilustrao 1- Cobertura por municpio dos Centros de Ateno Psicossocial (CAPS) (parmetro de 1 CAPS para cada 100.000 habitantes)
Fonte: Coordenao de Sade Mental, lcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.
Legenda
2.6.1 Tipos de atendimento oferecido pelo CAPS Cada paciente do CAPS tem um projeto teraputico individual, respeitando a sua
especificidade, fazendo com que cada tratamento oferecido seja individualizado.
Diante disso existem trs tipos de atendimentos conforme as determinaes da
Portaria GM 336/02.
Segundo a portaria n. 336/GM em 19 de fevereiro de 2002 define-se como atendimento intensivo aquele destinado aos pacientes que conforme o seu quadro clnico atual, necessitam de acompanhamento dirio; semi-intensivo o tratamento oferecido aos pacientes que precisam de um acompanhamento frequente, fixado em seu projeto teraputico, mas no precisam estar diariamente no CAPS; no-intensivo o atendimento que em funo do quadro clnico, pode ter uma frequncia menor no CAPS (BRASIL, 2004, p.31).
A pessoa que necessita do atendimento intensivo na maioria das vezes aquela
que apresenta um estado mais grave do seu quadro clnico, um estado de crise no
qual ela no consegue um convvio com a famlia, bem como com a sociedade. J
no semi-intensivo ela j teve uma melhora do seu quadro clnico, mas ainda
necessita de uma equipe multidisciplinar para fazer o seu acompanhamento. Por fim
no atendimento no intensivo o usurio j realiza suas atividades cotidianas
55 normalmente sem nenhum problema, e relaciona-se normalmente com a famlia e
com a sociedade, ela j no precisa de um suporte contnuo.
2.6.2 Tipos de CAPS existentes
Os CAPS possuem diferenas entre si que variam de acordo com a estrutura fsica,
profissionais e diversidade nas atividades teraputicas. Difere tambm quanto ao
pblico atendido, ou seja, (CAPSad, CAPSi) (BRASIL, 2004, p.22).
Os tipos de CAPS que existem so:
CAPS I e CAPS II: so atendidos pacientes adultos com transtornos mentais severos e persistentes. CAPS III : o atendimento feito durante todos os dias da semana, diurno e noturno para pacientes com transtornos mentais e persistentes. CAPSi: atendimento de crianas e adolescentes com transtornos mentais. CAPSad: atendimento de pessoas usurias e dependentes de substncias psicoativas (lcool e outras drogas), o servio oferece leitos para que seja feito tratamento de desintoxicao (BRASIL, 2004, p.22).
Em todos os tipos de CAPS, os pacientes contam com o apoio de uma equipe
multidisciplinar composta por mdicos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, entre outros profissionais que trabalham em conjunto em prol de
proporcionar o melhor tratamento para esses pacientes.
2.6.3 Distribuio de medicamentos para pacientes do CAPS Os centros de ateno psicossocial podem ser unidades de referncia para
dispensao de medicamentos bsicos e tambm os excepcionais, de acordo com a
equipe responsvel pela gesto local (BRASIL, 2004, p.20).
Os CAPS podero receber s receitas prescritas por mdicos da ESF e tambm da rede de ateno ambulatorial da sua rea de abrangncia e inclusive em casos especficos, aos pacientes internados nos hospitais da regio que necessitam manter o uso de medicamentos excepcionais de alto custo no seu tratamento (BRASIL, 2004, p.20).
O CAPS e a sua equipe gestora, necessitam de muito empenho na capacitao e
superviso das equipes de sade da famlia para que seja feita o acompanhamento
farmacoteraputico para a realizao de prescries adequadas, tendo em foco o
uso racional dos medicamentos na rede bsica (BRASIL, 2004, p.20).
56 O credenciamento dos CAPS na rede de dispensao de medicamentos no feito
de maneira simples e tem que estar em conformidade com as normas locais da
vigilncia sanitria (BRASIL, 2004, p.20).
2.6.4 Ateno farmacutica e o CAPS
Os centros de ateno psicossocial so formados por uma equipe multidisciplinar
que tem como um dos objetivos a reinsero do paciente na sociedade. Porm
apesar da existncia dessa equipe, o paciente como no estudo de Mostazo e
Kirschbaum (2003, p.789) quando mencionam os profissionais s se limitam aos
mdicos, enfermeiros e psiclogos sendo que a equipe constituda por vrios
profissionais como: auxiliares de enfermagem, terapeutas ocupacionais, entre
outros. O profissional farmacutico raramente citado.
O mesmo fato observado por Antunes e Queiroz (2007, p.211) que apesar de
existir uma equipe multidisciplinar, o mdico o principal mentor da equipe. Por
outro lado muitas vezes o prprio usurio no quer ser atendido por essa equipe
eles procuram o servio com algum sintomas e buscam um alvio imediato para ele.
A resistncia s praticas teraputicas mais demoradas, como a psicoterapia,
grande.
Ciente de que no CAPS so dispensados medicamentos para pacientes com
transtornos mentais, em nenhum material bibliogrfico encontrado foi citada a
presena do farmacutico na equipe multidisciplinar, somente no CAPS lcool e
drogas o profissional foi referido. Salienta-se a importncia da sua incluso na
equipe, pois o profissional mais apto para dispensar medicamentos o
farmacutico, ele no deve ser substitudo por outro profissional de sade, sua
participao indispensvel, da mesma forma que os mdicos, enfermeiros e
psiclogos.
Tomasi e outros (2010, p.809) relata que no que diz respeito aos tipos de
transtornos, os de humor representaram a maior proporo dos diagnsticos (39%),
seguidos da esquizofrenia (24%) e das neuroses (13%). O mesmo foi analisado por
Pelisoli e Moreira (2005, p.273) em que os transtornos do humor e de ansiedade
representam maior proporo dos diagnsticos.
57 No CAPS so atendidos pacientes com transtornos mentais que fazem o uso de
medicamentos sujeitos ao controle especial, como os antipsicticos, ansiolticos,
barbitricos, antidepressivos, estes que agem no sistema nervoso central com
potencial efeito para a ocorrncia de reaes adversas e interaes
medicamentosas. Como j foi relatado a importncia da ateno farmacutica aos
pacientes com transtornos mentais independente de serem freqentadores do CAPS
ou no, importante salientar que, principalmente os pacientes que freqentam
esse servio deveriam ter acesso a ateno farmacutica, j que nesses centros
existe a equipe multidisciplinar e nela deveria estar integrado o farmacutico, um
profissional que poderia contribuir na qualidade de vida desse pacientes
promovendo o uso racional do medicamento, a aderncia ao tratamento, sanando
dvidas dos pacientes e familiares quanto a medicao.
Conforme a portaria n 344 de 12 de maio de 1988, a qual aprova o regulamento
tcnico sobre substncias e medicamentos sujeitos a controle especial, tanto na
guarda dos medicamentos, quanto nos balanos imprescindvel a atuao do
farmacutico, no podendo ser substitudo por outro profissional (BRASIL, 1998)
Assim como nos Centro de Ateno Psicossocial quanto em drogarias e farmcias
hospitalares que possuem medicamentos sujeitos ao controle especial, a
importncia da presena do farmacutico fundamental, no somente na
dispensao quanto na promoo do uso racional do medicamento.
Alguns autores enfatizam a preocupao do uso correto de medicamentos por
pacientes do CAPS.
[...] existe a preocupao de que a administrao dos frmacos pelos pacientes do Centro de Ateno Psicossocial (CAPS),seja feita de maneira adequada, a fim de evitar os problemas relacionados ao uso irracional de medicamentos (BRAGA et al., 2005, p.75).
Como j salientado de suma importncia aplicar a Ateno Farmacutica a
pacientes com transtornos mentais j que na maioria das vezes os pacientes fazem
uso de psicotrpicos como demonstra o estudo de Kantorski e outros (2011, p.1483)
em que, dentre os usurios, 91,8% (1.067) afirmaram administrar algum
psicotrpico. Dos usurios com transtorno depressivo maior,18% utilizavam
Diazepam.
58 Ciente da importncia que o CAPS tem em relao aos pacientes, existem ainda
muitos problemas que precisam ser sanados para que o cuidado seja ainda maior e
melhor para eles. Conforme Ballarine outros (2011, p.608) a escassez de recursos
materiais, a estrutura fsica sem adequaes, os diferentes tipos de vnculo
empregatcio e o desconhecimento do papel do CAPS por parte de alguns
profissionais figuraram como obstculos ao oferecimento do cuidado integral.
Como todas as instituies brasileiras, problemas existem e persistem, mas no
impossibilita que a equipe multidisciplinar promova um cuidado especial para estes
pacientes, e tambm necessrio que o farmacutico seja inserido nessa equipe, j
que o servio dispensa medicamentos para os pacientes, a presena deste
profissional e imprescindvel.
Da mesma forma que o CAPS promove a reinsero dos pacientes com transtornos
mentais na sociedade, o profissional farmacutico trabalha para promover o uso
racional do medicamento, analisando cada caso individualmente para proporcionar o
melhor tratamento para esses pacientes.
Atravs da aplicao do mtodo dder, bem como na realizao do estado de
situao, em que se analisa os problemas de sade do paciente e os medicamentos
que utiliza, pode ser reconhecer os possveis RNM que surgiram no tratamento
medicamentoso, por exemplo, o paciente esquizofrnico e administra uma certa
dose de medicamento no horrio correto e no tem o costume de esquecer , mas
est tendo alucinaes. Analisando o caso pode-se dizer que o paciente
provavelmente tem um RNM relacionado com a inefetividade quantitativa, ou seja,
possivelmente o medicamento est numa dose inferior do que o correto. A partir de
ento o farmacutico comunica o mdico sobre o caso do paciente para que seja
feita uma interveno no tratamento medicamentoso, a fim de que a dose prescrita
seja alterada e o paciente no tenha mais alucinaes. Aps a deciso do mdico o
paciente informado se ocorrer mudana na dose do seu medicamento ou no.
Para um melhor entendimento de como feito o trabalho de um farmacutico no
CAPS, foi feita uma pesquisa de campo no centro de ateno psicossocial lcool e
drogas, justamente por ser um dos servios em que foi mencionado em artigos
cientficos a presena desse profissional, diferente dos outros tipos de CAPS.
59 Sobre a assistncia farmacutica, na instituio elaborado um relatrio mensal
feito pelo farmacutico com o consumo de medicamentos utilizados na farmcia,
bem como o consumo de cada paciente com um devido medicamento. Os
medicamentos da farmcia so os medicamentos essenciais e da ateno bsica.
Depois de constitudo o relatrio, enviado para a central de assistncia
farmacutica (SAF) onde feita a dispensao para as unidades de sade.
Alguns medicamentos so especficos para o CAPSad como a naltrexona e o
dissulfiram.
O CAPSad no possui mdicos psiquiatras, somente dois clnicos gerais que fazem
a prescrio dos medicamentos. Munido a prescrio, o paciente vai farmcia do
prprio estabelecimento e recebe o medicamento, na falta desse medicamento o
paciente encaminhado para uma unidade de sade com o consentimento do
farmacutico.
O farmacutico presta ateno farmacutica no s para o paciente, mas tambm
para a famlia, que muitas vezes tem dvidas frequentes sobre o tratamento. Relata-
se que alm da ateno farmacutica, o profissional faz o acolhimento dos pacientes
que chegam ao servio, participa uma vez na semana de grupo com alcoolistas,
interage diariamente com profissionais de outras reas seja da enfermagem, servio
social, mdicos, artistas plsticos entre outros. Seu trabalho considerado muito
prazeroso justamente por no ficar somente na farmcia do Caps, um trabalho
multidisciplinar onde a opinio de cada profissional levada em considerao.
Em relao aos problemas que deveriam ser sanados no CAPS sabe-se que existe
falta de acessibilidade para pacientes cadeirantes, j que uma casa com escadas
quando tem alguma oficina no segundo andar o paciente impossibilitado de
participar. Tambm comenta-se que a casa onde foi alugada para o servio, teve
que ser adaptada faltando ainda algumas estruturas para melhorar o atendimento.
Outro ponto levantado que deveria haver a presena de mdicos psiquiatras e
tambm a presena de farmacutico em tempo integral, existe um nico
farmacutico da equipe que trabalha somente no horrio da manh, na parte da
tarde a equipe de enfermagem fica responsvel pelas suas funes.
A dispensao de medicamentos e o atendimento de pacientes tambm podem ser
feitas em unidades de sade que tem o programa de sade mental, possuem uma
60 equipe multidisciplinar assim como o Caps, na regio da Serra, localizadas em Feu
Rosa, Jacarape, Serra Dourada, Serra Sede, Boa Vista e Novo Horizonte.
2.7 CONTRIBUIO DO FARMACUTICO PARA A QUALIDADE DE VIDA DOS
PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
O farmacutico tem muito a contribuir na melhoria da qualidade de vida dos
pacientes com transtornos mentais, seja para esclarecer dvidas quanto a sua
doena, seja para promover a aderncia no seu tratamento medicamentoso,
salientar a importncia do uso racional dos medicamentos bem como no praticar a
auto medicao. Porm esse profissional deve saber lidar com o sofrimento psquico
do paciente, entender sua subjetividade, ter plena noo que esses pacientes em
questo no necessitam somente de uma medicao para minimizar seus
problemas, mas precisam de um apoio psicolgico aliado ao medicamento.
Em relao a aderncia, conforme Dalla e outros (2009, p.4) o seu aumento
depende na maioria das vezes na melhora da comunicao do mdico com seu
paciente, principalmente quando so salientados os aspectos da doena bem como
o seu tratamento, assim como aspectos fisiopatolgicos e os efeitos colaterais que
podem ocorrer com uso de medicamentos.
Salienta-se que essa importncia na comunicao com o paciente cabe tambm aos
farmacuticos principalmente quando o assunto em relao aos medicamentos
utilizados e situaes relacionadas ao uso, como por exemplo os efeitos colaterais.
Grande parcela de pacientes com transtornos mentais no aderem ao seu
tratamento como foi observado por Cardoso e Galera (2009, p.162) em que no
tratamento de pacientes psiquitricos, cerca de 50% das pessoas no tem aderncia
ao tratamento medicamentoso. E nesse caso, isto particularmente importante pois,
a no adeso ao tratamento farmacolgico pode contribuir para que o paciente
tenha recadas ocasionando uma possvel hospitalizao.
Os fatores que interferem na adeso do paciente ao seu tratamento podem ser os
seguintes: a no aceitao da doena, a desconfiana quanto aos pontos positivos
do tratamento, o surgimento dos efeitos colaterais, a difcil conformidade que possui
aquela doena e medo de possveis reinternaes, entre outros (CARDOSO;
GALERA, 2009, p.162).
61 Diante desses fatores o farmacutico tem muito a contribuir, esclarecendo que o
tratamento medicamentoso necessrio e benfico pois possibilita que o paciente
tenha melhora no seu quadro clnico, e que poder ocorrer efeitos colaterais que
muitas vezes fazem parte de um tratamento medicamentoso. Dever tambm
salientar que de extrema importncia que o paciente no deixe de administrar a
medicao, inclusive no horrio correto, para que no ocorra um agravamento.
Alm de o farmacutico ajudar na adeso ao tratamento medicamentoso
necessrio que o profissional esteja seguro e habilitado para lidar com esses
pacientes, para isso necessrio que tenha conhecimentos tericos bem
concretizados, como por exemplo a farmacocintica e farmacodinmica dos
medicamentos psicotrpicos.
cristalino que no a totalidade dos profissionais que possuem habilidades
plenas de lidar com pacientes com transtornos mentais, pois muitas vezes h o
conhecimento terico, entretanto uma qualidade imprescindvel saber lidar com a
subjetividade do paciente, e isto definitivamente no so todos que possuem.
Muitas vezes os pacientes no tem adeso ao seu tratamento pelo diversos efeitos
adversos provocados pelos psicotrpicos bem como as interaes medicamentosas
que possam surgir, cabe ao farmacutico analisar a melhor terapia medicamentosa
para o paciente para que ele no tenha esses efeitos indesejados.
2.7.1 Interaes medicamentosas e efeitos adversos dos medicamentos psicotrpicos
As interaes medicamentosas certamente so um dos grandes PRMs encontrados
em pacientes que utilizam medicamentos psicotrpicos. um dos grandes motivos
que certificam que esses pacientes devem ter assistncia farmacutica plena e que
sejam submetidos ao servio de farmcia clnica para que faam o uso racional dos
medicamentos e no sofram de nenhum RNM em virtude de uma interao
medicamentosa seja por potencializao ou diminuio do seu efeito.
O farmacutico aplicando a ateno farmacutica para pacientes com transtornos
mentais, fica ciente dos medicamentos que eles utilizam bem como as principais
interaes que podem ocorrer, a partir de ento pode sugerir uma interveno que
62 possibilite a resoluo desses problemas, salientando que o mdico prescritor deve
estar de acordo com a interveno.
Outro fato importante de ser enfatizado no momento da dispensao do
medicamento, o profissional poder se informar com o paciente se ele utiliza mais
algum tipo de medicamento e verificar se existe alguma interao na sua
farmacoterapia.
No estudo feito por Alano, Corra e Galato (2012, p.760) houve 163 medicamentos
envolvidos com PRMs, respectivo ao sistema nervoso eram (33,1%), sendo o
clonazepam responsvel por 3,7% do total.
Nesse estudo,as interaes medicamentosas foram causadoras de 14,5% dos PRMs estando relacionadas [...], segurana, representadas por medicamentos do SNC, como por exemplo, a interao medicamentosa entre paroxetina e risperidona, [...] (ALANO; CORRA; GALATO 2012, p.761).
Na interao entre paroxetina e risperidona, ocorre um aumento do nvel plasmtico
da risperidona ocasionando uma elevao dos sintomas extra-piramidais (ALANO;
CORRA; GALATO, 2012, p.761).
Outras interaes medicamentosas foram expostas por Fridman e Filinger (2003,
p.353) como, uso concomitante de IMAO e antidepressivos tricclicos, aumento do
metabolismo heptico provocado pelos barbitricos, e reduo do metabolismo
heptico dos barbitricos pela IMAO com aumento de sua toxicidade.
Em algumas vezes pode ocorrer do paciente ter um transtorno mental associada
com uma comorbidade clnica, como uma cardiopatia por exemplo, nesses casos
ainda mais importante o cuidado na administrao dos medicamentos para que no
acontea nenhum efeito indesejado.
Os estudiosos Teng, Humes e Demetrio (2005, p.155) citam que alguns
antidepressivos como os inibidores seletivos da recaptao da serotonina, os
antidepressivos tricclicos e os novos antidepressivos (Bupropiona, Mirtazapina,
Venfalaxina e Duloxetina) podem tratar a depresso porm elevar o risco
cardiovascular por apresentarem caractersticas cardiotxicas, mesmo que seja em
nveis teraputicos. A tabela abaixo demonstra as classes de antidepressivos
utilizados em pessoas com depresso e comorbidade clnica e quais os possveis
efeitos adversos que podem surgir.
63 Tabela 3- Medicamentos utilizadas no tratamento da depresso em pacientes com
comorbidades clnicas
Classe Nome Dosagem usual (mg/dia)
Indicaes de uso
Perfil de efeitos adversos
ISRS Fluoxetina Sertralina Paroxetina Citalopram Escitalopram Fluvoxamina
20-80 50-200 20-60 20-60 10-30 50-150
Baixo potencial arritmognico, mesmo em doses elevadas.
Grande potencial de interaes medicamentosas( exceto citalopram,escitalopram e sertralina). Agitao, alterao do sono, disfuno sexual e distrbios gastrintestinais.
Antidepressivo tricclico
Nortriptilina 50-150 Eficcia comprovada nessa populao. til em pacientes com depresso associada dor, inapetncia ou insnia
Antiarrtmico 1A ( risco de arritmias cardacas). Ba