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Imagens da modernidade capitalista em Walter Benjamin
Elison Antonio Paim1
Maria de Fátima Guimarães2
Resumo
Neste artigo, trabalhamos com as imagens de modernidade capitalista na obra do filósofo Walter Benjamin. A leitura dos textos de Benjamin remetem-nos à imagem de uma teia, de um labirinto. Benjamin nos aprisiona nela como um predador, em sua voracidade pela sensibilidade e percepção do homem na modernidade capitalista. Ao tecê-la, o autor nos seduz pela sutileza das observações. Provocativo, desconstrói nossas certezas mediante a argumentação, por vezes ácida, por vezes sombria, por demais poéticas, que tece ao longo de suas análises da racionalidade instrumental que parece reger nossos olhares o tempo todo. Benjamin aponta brechas potenciais de embates, de resistências e de permanências - imperceptíveis ao olhar desatento daquele que se perde e tem seus laços identitários quebrados. Palavras-chave: Modernidade capitalista; imagens; casa de sonhos; racionalidade instrumental.
Abstract In this article with the pictures of the modernity capitalist in the Walter Benjamin work. Reading Benjamin’s texts, take us to a picture of a web, of a maze. Benjamin capture us in this like a predator, in hoi voracious to the sensibility and a men’s’ perception in the modernity capitalist. When he weaves it he seduces us across the subtlety of observations. Provocative, he destroys our certainty by the argumentation, sometimes acid, sometimes dark, and sometimes so poetic. Who weaves during his analysis of the instrumental rationality that likes govern our looks all the times. Benjamin point potential souls of dialogues, of permanence restates invisible to an inattentive look of who being hose and has across broken your identity laces. Keywords: Capitalist modernity – pictures - house of dreams – instrumental rationality
Walter Benjamin, alemão, que nasceu em 1892 e faleceu em 1940, como fugitivo
dos nazistas, é um dos pilares da Escola de Frankfurt, mas ao mesmo tempo
1 Elison Antonio Paim é doutor em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). [email protected] 2 Maria de Fátima Guimarães é doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). [email protected]
afasta-se dela à medida que avança na direção do marxismo. Crítico literário,
filósofo, ensaísta, tradutor, ficcionista e poeta.
Na leitura de Benjamin, percebemos a proximidade de algumas de suas ideias
com o Surrealismo e a Psicanálise. Boa parte de seus textos foi produzida e
guardada por muito tempo. Durante muito tempo, foi relegado na academia. As
obras dele ficaram à margem e, nas décadas de 1950 e 1960, são retomadas e
trazidas para a academia, começam as publicações e traduções. No Brasil,
chegaram na década de 1970 (KOTHE, 1991).
Quando tomamos Benjamin, considerando que a leitura de um texto e sua
compreensão é sempre lacunar, percebemos a existência de uma lógica não
linear na sua leitura. O autor transmite-nos a sensação de movimento, a
percepção de possibilidades múltiplas, permitindo diferentes versões e
interpretações de seus escritos.
Ao embrenharmos pelos textos de Benjamin, deparamo-nos com trajetórias e
olhares plurais acerca das grandes cidades, em particular Paris e Londres, no
século XIX. Reconhecemos que, sob tal perspectiva, a leitura de Benjamin
causou-nos um certo estranhamento.
Fomos impactados por ritmos dissonantes com os quais nos deparamos em
nossa empreitada ao adentrarmos pelo universo benjaminiano. Ritmos, que ora
empurraram-nos galerias adentro, ora expulsaram-nos para grandes vias
urbanas, ora aprisionaram-nos em ruas estreitas, por entre os acordes dos
grandes relógios urbanos, alçados à condição de signos emblemáticos da
racionalidade instrumental da modernidade capitalista, situados nos altos das
torres. Acordes, cujo som parecia ir ao encontro da tentativa de sincronizar e de
matematizar o tempo que regia o labor, o desejo e o pulsar da multidão.
Ainda, a leitura de Benjamin sugere que a multidão é uma representação estética
própria da modernidade capitalista. Multidão, assustadora e fascinante, sempre
em trânsito. Os olhares alegóricos dos poetas e literatos estilhaçam a imagem
dessa multidão como uma massa compacta e uniforme. Os olhares dos
engenheiros, dos médicos, dos estatísticos, dos advogados – daqueles que
enunciam um discurso a partir de novos saberes que emergiram no período;
procuram esquadrinhar, segregar e, se necessário, excluir; dentre tal massa, o
elemento anti-social. Aqui, agora identificado como o pobre, o doente e o
vagabundo.
Contudo, é necessário dizer que, ao embrenharmo-nos nos textos de Benjamin,
foi-nos impossível não atentarmos para o fato que ele, a todo instante parecia
pontuar, que estávamos a perambular por um tempo e lugar em que as relações
de trabalho assalariadas já estavam postas.
O vórtice vertiginoso das leituras benjaminianas, em alguns momentos, parecia
impelir-nos para uma lógica de mão única - a da sociedade de mercado
capitalista, no qual a força de trabalho é a mercadoria por excelência. Porém,
logo a seguir, éramos barrados bruscamente. E, como Alice no país das
maravilhas, em queda livre, estilhaçávamo-nos inesperadamente frente às
manifestações ruidosas das classes trabalhadoras premidas pelas necessidades
de sobrevivência. Manifestações operárias que estavam ocorrendo nos grandes
centros urbanos europeus, uma realidade que se colocava como nova para o
homem do século XIX. Manifestações que na trama urbana eram perpassadas
por movimentos sedutores da prostituta, dissimulados do rufião, do escroque ou
do apache, nas primeiras décadas do século XX. Todos circulando por entre
embates e disputas pelas ruas das grandes cidades com os trapeiros e
miseráveis. Em um tempo, no qual a experiência vivida deixava de ter por
cenário a penumbra da luz do lampião a gás, cedendo seus encantos para a
reluzente luz da energia elétrica.
O universo benjaminiano é desestabilizador porque faz-nos lembrar a todo
instante que, na modernidade capitalista, as relações sociais são mediadas pela
venda e troca da força de trabalho – venda de horas da vida dos seres humanos
em troca de salário - a par do que Benjamin constrói a imagem das
fantasmagorias da e na modernidade capitalista, resignifica a luta de classes a
par das experiências vividas.
A análise das relações desenvolvidas, no contexto da modernidade capitalista,
pauta-se principalmente em dois textos “Paris – capital do século XIX” e “Paris
no segundo império em Baudelaire”, de autoria de Walter Benjamin.
Benjamin divide o texto “Paris Capital do Século XIX” em: Fourier ou as
passagens; Daguerre ou os panoramas; Grandville ou as exposições universais;
Luís Felipe ou o interieur; Baudelaire ou as ruas de Paris; Haussmann ou as
barricadas. O segundo texto, “Paris do Segundo Império em Baudelaire”, ele foi
produzido entre 1937 e 1938, são três fragmentos do texto maior, a Boêmia, o
Flâneur e a Modernidade – cada um deles foi publicado num momento posterior:
a Boêmia em 1967, o Flâneur em 1968 e a Modernidade em 1969.
Tudo se transforma em mercadoria
Benjamin pensa o século XIX, quando tudo vai se transformando em mercadoria.
As questões que perpassam os textos são apresentadas concomitantemente, não
existe uma ordenação classificatória e hierárquica delas nos textos.
Uma delas é a questão das grandes cidades, o crescimento das cidades no final
do século XIX, Londres e Paris particularmente, que convivem com grande
migração da população do campo para a cidade. Paris, para exemplificarmos, em
1789 possuía menos de 600 mil habitantes; em 1851, passou para 1.226.980
habitantes e, menos de um século depois ela vai possuir 1.823.000 (BRESCIANI,
1982; KOTHE, 1991). Pensemos, então, o que eram essas grandes cidades e nas
transformações sofridas que implicam essas mudanças todas, nas relações, na
forma de produção. Vai se construindo a ideia de multidão, de massa para essas
pessoas que passaram a viver nessas cidades. É uma multidão em movimento,
em trânsito, em perigo.
Benjamin escolhe alguns literatos da França e da Inglaterra do século XIX,
quando busca elementos para expressar a ideia de mudanças estruturais que
vinham marcando as grandes cidades nos aspectos culturais, na música, pintura,
fotografia, arquitetura e literatura. Além das grandes exposições universais, o
grande comércio nessas exposições, as relações que estabelecem dentro dessas
grandes exposições.
Quando Benjamin reporta-se a Fourier para mostrar que existe uma dada leitura
da cidade, no século XIX, que silencia e apaga a existência das lutas de classes, o
que significa desconhecer a contradição imanente à relação entre capital e
relações de trabalho assalariado na modernidade capitalista. É como se fosse
possível viver numa terra sem males. Benjamin apresentou-nos a utopia de
alguns que queriam uma Paris organizada.
Assiste-se a produção de imagens contraditórias e ambíguas de Paris. A imagem
de uma Paris construída e vendida como capital mundial do luxo, da moda - o
templo mundial da cultura - o cartão postal da modernidade capitalista. E, a
imagem de uma Paris na qual viceja e impera o espetáculo da miséria.
A imagem do cartão postal da modernidade se contrapõe ao contexto e às
experiências vividas pelos contemporâneos de então. E, qual era esse contexto?
Paris era uma cidade que explodia, era uma cidade que convivia com os
movimentos operários, que assistia seus trabalhadores circulando pelas ruas.
Paris, no transcorrer das primeiras décadas do século XIX, convivia com as
mazelas da cólera, da falta de moradia, da pobreza que se vislumbrava nos
passeios públicos. Dejetos, animais e corpos imundos tomavam o espaço urbano.
A percepção da multidão como uma massa desordenada, e da epidemia como
uma ameaça a todos, que desconhece fronteiras sociais e jurídicas, legitimando à
emergência de um processo de urbanização que pressupunha a abertura de
largas avenidas, a derrubada de casebres, a desinfestação das ruas e passeios
públicos, a retirada dos pobres, famintos e miseráveis das vistas da burguesia, o
controle da entrada e da circulação dos coches, carroças e mercadorias pelas
ruas da cidade.
Essas relações não são umas separadas das outras, elas estão convivendo. São
essas relações desses sujeitos que fazem as múltiplas Paris. Benjamin utiliza
diferentes olhares sobre Paris, não de forma estanque, separada de modo que
aqui está a Paris da modernidade, da cultura e lá está a Paris do espetáculo da
miséria. Ele mostra que elas convivem, elas interagem.
Benjamin permitiu-nos enveredar por imagens da cidade de Paris na qual a
trama social é resignificada por novas sensibilidades e percepções, à luz da
racionalidade instrumental capitalista. Tem-se que as concepções de cultura e de
civilização, frente a tais sensibilidades e percepções, passaram a ter sua
inteligibilidade e apropriação no período, imbricadas no entrecruzamento de
práticas sociais voltadas à saúde, à higiene, à escolarização e à formação de
corpos dóceis e disciplinados para o trabalho, no momento posterior à
Revolução Francesa.
Aprofundando mais essas relações e o momento em que está se dando isso,
como é organizado esse espaço e esse tempo nessas relações? E, civilizar,
higienizar, escolarizar essa população? Essa população considerada massa. Para
o olhar dos literatos, ao mesmo tempo a massa é passiva, assusta e amedronta.
Benjamin mostra que existem ambiguidades nessas relações entre essa
população e a burguesia. Vamos percebendo que ela não é uma massa
homogênea como quiseram mostrar. Ela tem outros elementos, tem outras
questões no seu interior. Então, é uma massa, em que os sujeitos e os anti-sociais
se perdem.
O que seriam esses anti-sociais? Seriam justamente esses sujeitos que não se
submetem a essa normatização do espaço e do tempo. Um sujeito que resiste a
essas determinações. Há um movimento frenético dessa massa que vai e vem, se
agita, mas existem sujeitos diferentes nessa massa. Existe uma população diurna,
onde são trabalhadores, são burgueses que se movimentam nessa cidade; outra
noturna, aqueles sujeitos considerados anti-sociais: os ladrões, as prostitutas, os
jogadores, os trapeiros, os boêmios, os artistas, os bêbados, uma infinidade
desses sujeitos que estão aí, dentro dessa cidade.
Para pensar esse esquadrinhamento, vai se construindo uma espécie de rede de
controle dessa vida desregrada. Como é que vai se dando esse processo? São
diferentes atitudes, ações, de vários sujeitos, não apenas ações governamentais
para pensar, esse controle dessa vida civil. Primeiramente, a numeração das
casas. Então, define-se todo um processo de numerar as casas, determinar onde
estão esses sujeitos, qual é o número, qual é a localização exata. Benjamin
mostra que a população resiste à numeração das casas. Eles continuam dizendo:
a casa de fulano de tal. Não falam não se referem ao número, embora tenham
oficialmente o número da sua casa. Mas, continua sendo a casa do Pierre, do
Jean..., de cada um; então, continuam resistindo a essa padronização. Existe o
controle das chegadas e saídas dos carros. Também se instam portões na cidade,
nos locais de acesso à cidade, é um controle policial mesmo de quem sai, de
quem entra na cidade. As alfândegas, a cobrança de impostos, a questão do
vinho, por exemplo. O governo impõe um preço elevado e a taxação do vinho.
Como essa população vai resistir? Indo tomar vinho fora da cidade, em outros
locais, vai se afastando dos locais de maior controle. As censuras aos jornais, o
que pode ou não ser publicado. A fotografia, utilizada como mecanismo policial,
de fotografar, de fichar, de ter o controle específico das pessoas através da
fotografia; esta é uma prática que está surgindo, está se colocando no final do
século XIX. As estatísticas de recenseamento para controle de natalidade,
mortalidade, nascimentos, casamentos, quem trabalha, quem não trabalha.
Portanto, constituiu-se toda uma rede de controle, de formas de saber de onde
vem, para onde vai essa população. Tudo foi pensado e executado com o objetivo
de normatizar, esquadrinhar espaços e tempos.
No universo benjaminiano, deparamo-nos com um olhar eivado de reticências e
dúvidas em relação à construção de uma dada individualidade na modernidade
capitalista. Individualidade que não pode ser confundida com singularidade, mas
que pode ser tomada como a projeção de um homem útil à racionalidade
instrumental capitalista.
Nas reflexões de Benjamin, o ser humano é abordado como sujeito da história
para além das fronteiras e explicações historiográficas, calcadas no
determinismo econômico. Talvez, isto foi possível porque ele estava atento e
sensível ao controle, segregação e exclusão crescentes da vida civil, que ocorria
ao seu redor, prenunciando dias difíceis e sombrios – ele é contemporâneo da
ascensão do nazismo, de uma forma de governo totalitária.
A produção benjaminiana é datada. O autor sensibiliza-nos, ao rastrear com a
memória odores, sensações, sons, imagens que ganham contornos, cores e
texturas ao sabor das rememorações. Estas ressoam em encontros fortuitos de
rastros deixados ao acaso pelas experiências vividas na infância.
Neste contexto, tudo vai se transformando em fantasmagorias, imagem criada
por Benjamin que permeia as relações que vão se produzindo. É a ideia de que
tudo é sempre igual. É o novo, mas é um novo igual. É o novo da mesmice,
efêmero, fugaz, ele vai se dando num desconforto frente à memória. Há a
tentativa de apagar as trajetórias, as experiências vividas e tornar esses sujeitos
em massa, é uma tentativa de igualá-los, homogeneizá-los. Nega-se a ideia de
memória, de passado, de vida, das experiências, tudo vai sendo apagado.
Benjamin parece desdenhar a burocracia servil e perigosa que instrumentaliza a
ascensão do nazismo. O seu desprezo traz indícios dos movimentos de
resistências a Hitler que começam a se configurar por toda a Europa. Por sua
vez, tal experiência vivida parece ter sensibilizado os olhares que Benjamin
lançou para os grandes centros urbanos no século XIX.
O olhar benjaminiano resignifica as barricadas, a ociosidade, o cotidiano de uma
massa que ele percebe que não é compacta. Benjamin nos toca ao redimensionar
as práticas coletivas. Ele busca as singularidades nesta massa, por entre os
deserdados dos sonhos, assim identificadas por Baudelaire.
Porém, Benjamin pontua exemplarmente através das imagens construídas por
Baudelaire que todas e quaisquer tentativas de controle das massas pressupõem
movimentos de resistência. Para ele, essa massa em nenhum momento é passiva
ou amorfa, é uma massa que possuí laços identitários. Porém, isto por si só não
lhe garante vitórias, invencibilidade e felicidade. Benjamin, ao longo dos textos,
alerta-nos para a tensão, para a ambiguidade que cerceiam os embates
cotidianos pela sobrevivência. É uma massa que passa a viver em função das
relações do trabalho assalariado.
Na lógica da modernidade capitalista, tudo é mediatizado pela moeda, pela troca;
as relações sociais são redesenhadas por valores assentados na busca incessante
do lucro. Ao mesmo tempo, neste contexto, temos a construção de uma
individualidade pautada por tal lógica. Esta não é uma individualidade qualquer,
porque se coloca na condição de força do trabalho, que é vendida e trocada no
mercado. E, na lógica do mercado capitalista, qualquer iniciativa e todo indivíduo
deve atender a demandas de um tempo que significa dinheiro.
Desde os séculos XVI, ao longo do XVIII, a Europa assistiu à expulsão do homem
do campo para a cidade, quer pelo cercamento dos campos, quer pela fome, quer
pelas guerras. No século XIX, temos o homem que trabalha na indústria. É o
operário que começa a ser alijado do conhecimento do processo que envolve a
produção de um determinado bem, fruto de seu trabalho. Na virada para o
século XX, temos o trabalho especializado, é o homem que não tem mais o
domínio de toda a técnica que implica a produção do seu trabalho. Ele próprio
não consegue reconhecer o que é fruto do seu trabalho. Este homem é o
trabalhador assalariado.
E é Benjamin que nos incomoda, ao obrigar-nos a dirigir nossos olhares para as
hordas de famintos e esfarrapados cantados tanto por Baudelaire quanto por
Victor Hugo, porém ele prefere o poeta das Flores do Mal ao romântico autor dos
Miseráveis. Porque este último, na condição de político, enxerga essa massa
como potenciais eleitores, enquanto que Baudelaire, fascinado e seduzido pela
implacável marcha da morte sobre a vida destes desterrados da sorte, sente a
força que poderia advir daqueles que estão à margem do mercado –
desempregados, anti-sociais, escroques, prostitutas, bêbados, falsários; todo tipo
de gente que destoa do elegante cartão postal construído sobre Paris.
Benjamin traz, a partir de Baudelaire, a imagem de um labirinto urbano. Paris
como labirinto que é, precisa ser modernizada, precisa estar de acordo com esse
novo tempo, com as novas relações. E, para tanto, o prefeito Hausmann pensa a
modernização de Paris, as largas avenidas, abrir e estabelecer caminhos, as
relações entre os bairros, o embelezamento - que é estratégico, o sanitarismo, a
urbanidade.
As avenidas precisam ser largas para impedir que as barricadas sejam
construídas, permitindo o livre trânsito das tropas para os bairros operários.
Temos o embelezamento estratégico da cidade porque os projetos de
embelezamento e modernização do espaço urbano são implementados em
consonância com iniciativas que visavam manter a ordem e a segurança.
O discurso da oficialidade prega mudanças para modernizar a cidade e adequá-la
aos novos tempos. Porém, o real sentido dessa modernização é pensar formas de
controlar os tempos e espaços. Facilitar também o controle dos movimentos da
população que está nessa cidade. Como apontamos anteriormente, Paris do final
do século XIX – a belle époque - é o modelo para o mundo. Assim, temos belle
époque no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Manaus... Estas cidades se
transformam em verdadeiros “canteiros de obras”, tudo é mexido, tudo é
mudado, tudo é demolido para dar passagem às avenidas, ao esquadrinhamento,
à modernização. As grandes mudanças ocorreram especialmente nas regiões de
cais de portos, onde estavam aqueles sujeitos indesejados, que atrapalhavam a
modernidade. Portanto, era preciso retirá-los do caminho. Mas, não foi simples
como pensaram os executores. A população resistiu. As formas e movimentos
foram muitos. No Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreu a Revolta da Vacina.
Nesse ímpeto modernizante, um elemento importante é a questão das galerias
que se constituem na expressão máxima da modernidade capitalista. Nessas
construções, foram utilizados novos materiais e novas formas para a construção:
o vidro, as transparências, o cimento, o ferro e, os materiais artificiais e
sintéticos, produzidos por grandes fábricas. É interessante lembrarmos um
elemento arquitetônico, os vitrais, que até então estavam presentes no interior
das igrejas e agora se fazem presentes no interior das galerias. Podemos, então,
associar as galerias à imagem do novo templo – o templo do consumo. A
construção fantasmagórica, ela está realmente presente em cada um desses
momentos.
Benjamin chama atenção como as galerias possibilitaram, inclusive, outra
relação com o tempo e o espaço. Tudo se iguala, deixam de existir tempo e
espaço definidos. Quando adentramos a uma galeria, temos a sensação que já
estivemos lá, não distinguimos onde é essa galeria. Paris, Londres, Rio de
Janeiro? Elas são iguais em muitos sentidos. As reações que se estabelecem em
seus interiores são diferentes daquelas dos cafés e bulevares. É um outro modo
de viver, os mexericos, as fofocas, os folhetins. Há produção de uma outra
literatura mais apropriada para as relações efêmeras que aí se estabelecem.
Na virada do século XIX para o XX, temos a ascensão de novos saberes
especializados alçados às searas dos discursos competentes e legitimadores de
poder, estrategicamente chamados à baila em momentos nos quais se davam
embates político-ideológicos. Dentre tais saberes, podemos citar: a medicina
legal, a engenharia sanitária, a estatística, o urbanismo, o direito. Benjamin toma
a ruptura entre a arte e a arquitetura no período. Sugere que neste momento o
engenheiro é que assumirá as construções, porque a arte paulatinamente
tornou-se uma questão de decoração. E, sob tal enfoque, se transformou em
mercadoria.
Benjamin fala de um sujeito que caminha pela cidade, que caminha pelas ruas e
que, às vezes, até consegue se perder por essas ruas. Mas, num determinado
momento, esse sujeito já não caminha mais pelas ruas. E, por onde ele vai
caminhar? Ele vai caminhar pelas galerias. Aqui, o olhar que Benjamin lança para
esta mudança de hábito e evidencia a possibilidade humana de possuir uma
perspicácia instigante. Benjamin identifica, nesta mudança, evidências da
privatização do espaço público. Diríamos que também ocorre o “declínio do
homem público” (SENETT, 1988). Por que privatização? Porque essa galeria
apresenta os seguintes aspectos: possuí uma via, em cujas laterais situam-se
lojas e respectivas vitrines, permitindo a circulação por entre nichos de
mercadorias, daqueles identificados sempre como potenciais compradores. As
galerias não seriam espaços para os anti-sociais de Benjamin. As galerias são
cobertas e iluminadas. Neste local, a relação com o tempo da natureza passa a
ser mediada por estruturas de ferro e vidro, pelo uso de luz artificial. A tentativa
de domesticação da flora e da fauna é frequente com a construção de jardins de
inverno e internos, como recursos de decoração. Benjamin é arguto e
desconcerta-nos com sua sensibilidade. O que poderia fascinar pela aparente
tranquilidade e segurança que oferece aos compradores, pode se transformar
em uma ilusão que discrimina, aprisionam e segregam. As galerias são espaços
de compra e venda – do mercado que se pauta pela lógica da racionalidade da
modernidade capitalista, da exploração da mais valia, da alienação da força de
trabalho, de defesa da propriedade privada. Benjamin nos estarrece frente à
percepção e sensibilidade que possuía ao nos arremessar de chofre a pergunta:
A quem pertencia as lojas das galerias? E, ao propor, esta resposta apareceu logo
a resposta, a alguns poucos proprietários.
A privatização dos espaços é trabalhada pelo olhar benjaminiano, mediante uma
apurada observação da ilusão sutil de liberdade de circulação e de acesso às
mercadorias que as galerias transmitem ao comprador, longe do ruidoso e mau
gosto do populacho. Num raciocínio que parece simples, Benjamin sugere-nos
que as imagens de vias de circulação como espaços públicos passaram a ser
encaradas como espaços privados, em troca de conforto, tranquilidade e
segurança. Tais espaços também iludiam porque propiciaram a ilusão de que
toda e qualquer mercadoria de que necessitamos está ali em variedade e
quantidade, ao acesso de qualquer um. Como Benjamin desmonta esta ilusão?
Ele recorre à imagem do homem comum que caminhava pelas ruas e que, com o
advento das galerias, passa a transitar pelas galerias. Benjamin tira nosso chão: o
advento das galerias foi apenas um mote para permitir que voltássemos nosso
olhar para a privatização do espaço público. Esse detalhe, essa paulatina
privatização dos espaços públicos o é também da própria vida das pessoas.
É fundamental estar atento a esse contexto. Na ruptura entre a arquitetura e a
arte, Benjamin instaura uma brecha para refletir sobre a privatização do espaço
urbano. E, dessa mesma brecha, ele abre outro flanco de observação, remetendo-
nos para as práticas sanitárias nas quais fomos reencontrar o engenheiro
sanitário, o arquiteto, o médico, o estatístico, o advogado, a ramificação e
especialização dos saberes, mas, sobretudo, as massas ruidosas que se
manifestam, se revoltam e resistem frente à privatização de seus corpos.
Outra mudança importante é relativa aos transportes. Benjamin dialoga com
Simmel – sociólogo, sobre as mudanças nos meios de transporte, estes agora
visualizados como locais de olhares que se cruzam, de uma sensação de
encurtamento das distâncias e de aceleração do tempo. Temos a noção do
quanto mudaram as relações internas na cidade, com outras cidades, com outros
espaços. Os meios de transporte tornam-se coletivos. E as relações, como vão
acontecendo nesse transporte coletivo?
A própria a iluminação a gás, iluminação elétrica, que são desse momento, o
telégrafo, contribuem para as mudanças de maneira ampla em muitos setores
dessa vida, dessa cidade.
O filósofo nos faz resignificar valores e tradições populares em contraponto às
fantasmagorias da modernidade – fugazes, descartáveis e muitas vezes,
supérfluas. O olhar benjaminiano provoca dor, lembra-nos e nos faz pensar dos
limites intrínsecos à condição humana: somos finitos (morremos) e singulares
em nossa solidão. Benjamin coloca-nos frente a frente com a nossa impotência
diante do desejo de tudo saber, decifrar, conhecer e poder – a marca do impacto
que ele nos causa está vincada pela transitoriedade de nossas certezas.
A leitura dos textos de Benjamin remete-nos à imagem de uma teia enredada, de
um labirinto. Benjamin nos aprisiona nela como um predador, em sua
voracidade pela sensibilidade e percepção naufragas do homem na modernidade
capitalista. Ao tecê-la, o autor nos seduz pela sutileza das observações.
Provocativo, desconstrói nossas certezas mediante a argumentação, por vezes
ácida, por vezes sombria, por vezes por demais poéticas, que tece ao longo de
suas análises da racionalidade instrumental que parece reger nossos olhares o
tempo todo. Benjamin aponta brechas potenciais de embates, de resistências de
permanências imperceptíveis ao olhar desatento daquele que se perde e tem
seus laços identitários estilhaçados por entre as fantasmagorias da modernidade
capitalista.
A teia que nos enreda, em alguns lugares parece que se esgarça. E, nestes
lugares, Benjamin dispara flashs que sugerem brechas que, por sua vez, vão-nos
remeter a novas questões. A leitura de Benjamin significa a expulsão do paraíso.
Não há inocência possível frente aos horrores da guerra e da carnificina,
desnudadas na modernidade capitalista já pela I Guerra Mundial. Horrores que
se repetiram com a II Guerra Mundial e ascensão do Nazismo.
Quando falamos de vida urbana, falamos de uma dada visão da cidade, que não é
a visão da cidade antiga, agora é uma outra cidade. A cidade moderna é o lugar
no qual nos perdemos se não tivermos aliados.
A impressão que tivemos com a leitura de Paris no século XIX é que, Benjamin
trata de uma cidade que está se fazendo, de uma trama que está sendo urdida,
mas que em alguns pontos se esgarça.
Em que momentos essa trama se esgarça? Nos momentos em que ele percebe
algumas fantasmagorias, algumas coisas ainda não são mercadorias, são
inovações que trazem uma outra percepção, uma outra sensibilidade, outras
mentalidades sobre o que é a cidade, o que é o espaço urbano.
É, nesse sentido, que ele se reporta às pessoas que antes transitavam pela cidade
que só tinha iluminação a gás. Benjamin trata de ruídos, de murmúrios do
barulho de passos das prostitutas, da algazarra, das músicas, da saída dos
teatros, dos salteadores. Num determinado momento, esse véu de sombras que a
penumbra da iluminação a gás parecia criar. Aquela iluminação a gás provocava
uma certa magia, em torno da penumbra, das visibilidades parciais, que o mágico
acendedor de lampiões precisava ir lá e acender e, assim, provocar a magia.
Com a iluminação elétrica, ocorreu uma ruptura nessa magia, porque a
iluminação elétrica tirou o véu, a penumbra. Novamente Benjamim nos remete
para a relação com o tema da natureza, com esse outro tempo para além desse
tempo que é o “tempo que é dinheiro” (THOMPSON, 1998), é um tempo que quer
produção.
Como trabalhar com as imagens de movimento, de transitoriedade e da
fugacidade que são trabalhadas por Benjamin na faina diária da cidade? Neste
contexto, o que está acontecendo no cotidiano urbano? O flâneur está lá
transitando, os trapeiros, os miseráveis, a multidão está sendo toda ela,
mapeada, licenciada, mas existe nos tempos dos movimentos operários.
Nesse momento, a classe média ainda não se proletarizou. Então, o que acontece
com ela? Ela se volta para o interior. Que interior é esse? É o interior da casa. E
nesse interior da casa, ela imagina resguardar a sua intimidade, a sua
privacidade. Com essa classe média se voltando para o interior da casa, temos,
então, os colecionadores de objetos. Assim, os objetos deixaram de ser
valorizados pelo seu valor de uso, passaram a ser valorizados por um valor em
si, enquanto antiguidades. Dessa forma, temos o surgimento de uma cultura que
se identifica como colecionadora.
Relações de mercado invadem o cotidiano
Simultaneamente, o que está acontecendo na literatura? Não podemos esquecer
que, no século XIX, há o aumento da população letrada e concomitantemente
temos as relações de mercado invadindo as diferentes facetas do cotidiano
urbano dessa nova vida das pessoas. Até então, tínhamos os romances e os
jornais. E, nesse momento, o que temos? Numa grande jogada comercial nos
moldes da modernidade capitalista que se consolidava, os donos de jornais, os
editores, passaram a pagar para escritores escreverem romances, os quais
comporão os jornais, dando origem aos folhetins. Então, os jornais trouxeram
capítulos de romances diariamente.
Antes dos folhetins, o preço da assinatura dos jornais era muito alto e
consequentemente o número de assinantes era pequeno. Com o advento dos
folhetins, há um crescimento rápido do número de assinaturas e queda nos
preços. Em 1824, havia 47 mil assinantes; em 1836 passou a 70 mil; em 1846,
passaram a ser 200 mil assinantes. (KOTHE, 1991).
No momento em que os jornais incorporam esses romances com capítulos
diários, eles se transformam. As pessoas passaram a comprá-los mais pelos
romances de folhetim do que pelas notícias. E o que acontece com as notícias?
Elas se tornam mais curtas, bruscas. Elas vendem a imagem de que tudo é
novidade, o sempre novo. O antiquado é o presente recente. O que aconteceu
ontem já é antigo, precisa mudar.
A própria forma de impressão gráfica avança. Antes era monocromática, usava
apenas o preto; agora incorpora diferentes cores e também o uso de fotografias.
Esses folhetins banalizam as informações. Tudo tem que ser muito rápido, tem
que passar sempre a ideia do novo e sempre a ideia de que Paris avança, Paris
progride, Paris não tem manifestações sociais e movimentos operários.
Benjamin faz a seguinte leitura: nesse momento, é importante perceber a
formação de um mercado literário, a formação de uma literatura como
mercadoria. Ele exemplifica, através de Alexandre Dumas, que passou apenas a
assinar os romances, não mais a escrevê-los. Muitos ele nem sabia o que era e os
assinava. O que é valorizado é o nome dele e não o que está escrito. Benjamin
chamará esta nova forma de literatura, de literatura prostituída. Estabelece-se
assim, o comércio da literatura que, como mercadoria, é banalizada e superficial.
Esta literatura vai se tornando um hábito nos aperitivos, nos cafés, nas rodas de
mexericos e fofocas.
Outro marco importante para o barateamento do preço da produção dos jornais
é a inserção da propaganda. O que vende o jornal, o que garante o preço da
sobrevivência do jornal não é nem a notícia, nem o romance, mas o número de
leitores. O aumento da tiragem significa que aumentou o número de leitores, o
que, por sua vez, vai se refletir na queda de custos da impressão e distribuição. E,
no esteio desta mudança, temos a inserção da propaganda – que procura espaço
para ser veiculada no jornal, para um maior número de pessoas.
Nestes impressos, temos a circulação de imagens contraditórias e ambíguas da
cidade de Paris – centro do luxo, da moda e da cultura ocidental; espaço de
confrontos e perigos. As notícias dão conta de uma Paris cheia de diversidades.
Neste momento, Benjamin identifica a emergência das fisiologias como um novo
estilo literário, cuja temática é o cotidiano burguês. Então, festas de datas cívicas,
de casamento, de morte. O estudo das fisionomias, o estudo da vida pequeno
burguesa.
Os olhares que Benjamin propõe acerca das grandes cidades extrapolam os
olhares que se legitimariam tão somente pelo mote do controle, da segregação e
da disciplina, tendo como contraponto os movimentos de negação, revolta,
resistência e ressignificação sociais. Benjamin propõe outros olhares que se
inscrevem no entrecruzamento da produção literária de Baudelaire, Edgar Alan
Poe, Dickens, Victor Hugo, dentre outros literatos do período. São olhares
ambíguos, caóticos sobre a cidade que fascina e gera temor, na qual se percebe a
promiscuidade dos costumes e o encanto da boêmia. Os olhares destes literatos
se perdem por entre a multidão, em direções distintas, por entre percepções e
sensações múltiplas. São olhares múltiplos que transitam por diferentes lugares
e situações.
Aquele flâneur, que passou pelo processo de privatização do espaço público,
agora assina e lê os grandes magazines; assume como pessoa essa privatização
do espaço urbano, essa banalização do viver na cidade e se transforma em
mercadoria, tanto na condição de quem consome como de quem é consumido.
Leitor que é vendido por aqueles que publicam os periódicos para aqueles que
precisam divulgar seus serviços e produtos através da propaganda; tanto na
condição de ser humano que caminha quanto pela condição de trabalhador
assalariado. Ele vai virando massa, ele vai virando mercadoria, ele vai se
misturando e se perdendo na multidão.
Aparece uma outra figura no meio dessa multidão, a do detetive. É aquele sujeito
que não se perde no meio dessa massa, ele não se perde por entre os vestígios,
ele não perde aquele que é o anti-social, convive com a observação.
Benjamin fala que esse olhar de detetive é para o povo, mas não para Baudelaire
ou Dickens. Eles jamais trabalhariam com o romance policial, porque eles não
são observadores sistemáticos. Eles trabalham com o acaso, com as
possibilidades do encontro, de se perder na massa.
Benjamin sente-se incomodado com essa literatura que mascara as ideias de
filantropia, que vêm embutidas nela, que cria a acomodação mesmo, para que
esses leitores não percebam as relações de dominação, de miserabilidade. Essa
literatura vem para uma acomodação no sentido de adequação, na perspectiva
de esquadrinhamento dos tempos, dos espaços. É um outro viés, além daqueles
que já colocamos anteriormente, do esquadrinhamento das cidades, da
estatística, da enumeração, também via folhetim, via jornal, via essa literatura
mais suave, mais colorida, dando um tom colorido nas relações sociais.
Para Benjamin, tanto para Baudelaire quanto para Dickens, a multidão é fascínio.
A multidão é o espaço em que é possível se perder, é possível viver a
diversidade, é possível conviver com o acaso, é possível se encontrar com o olhar
e cruzar o olhar com a mulher que se admira e se perder nesse olhar. Enquanto
que, para Baudelaire e Dickens, existe essa possibilidade de ver, de olhar, de se
reconhecer nem que seja por um instante fugaz, que seja o primeiro e o último.
Para Benjamim, Victor Hugo não apresenta essas possibilidades. A multidão,
para ele, é um objeto de contemplação. É um objeto para olhar, observar,
contemplar, mas não interagir. Além de escrever, ele consegue se eleger para a
assembléia, é escritor e político, portanto, para ele, a multidão tem uma outra
cara, é uma multidão de eleitores e leitores.
Nessa frivolidade da literatura de mercado, as pessoas sempre se reconhecem
como vendedores, compradores; devedores, pagadores; é sempre uma
duplicidade. Porém, segundo Benjamin, Baudelaire e Dickens não trabalham com
essa visão de duplicidade do mercado.
O olhar de Victor Hugo é um olhar de fora da multidão, enquanto que os demais
autores se embrenham na multidão, eles estão presentes na multidão. Vitor
Hugo se reporta à multidão através de imagens das forças da natureza: a
tempestade, a montanha, o mar, sempre coisas grandes. Essa magnitude da
multidão está sempre vinculada à imagem da magnitude das forças da natureza.
Com isso, emerge um tipo de solidão que é diferente da solidão que trabalham
Baudelaire, Balzac, Poe e Dickens, porque eles trabalham com uma solidão que
permite o sujeito se diluir, ou melhor, transitar entre a multidão, sem perder a
identidade. Nessa relação, quando falamos dessa individualidade, ele se mantém
sujeito. Essa pessoa que está na multidão, é sujeito, tem experiência, tem vida,
embora esteja na multidão; enquanto que, para o Victor Hugo, ele é massa, é
multidão, é um número lá no meio, não é sujeito, não tem nome, não tem rosto,
não tem identidade.
A solidão da modernidade capitalista toma da magnitude da natureza para
enfatizar o sofrimento sob o viés romântico e liberal - porque tudo é muito
grande, porque tudo é muito forte; a impotência humana, seu sofrimento, se
justificam ficando aquém da possibilidade de propor mudanças e lutar por elas.
Nesse conjunto de obras que vão sendo produzidas, Benjamin afirma que
Baudelaire e o Balzac são os primeiros a perceber que nesta sociedade da
modernidade capitalista está sendo produzido o devir. Por quê? Porque eles
foram os primeiros a perceber o imediatismo, a busca incessante pelo novo, o
sempre efêmero. Porque eles trabalham com a ideia de fugacidade, com a ideia
de movimento incessante. Eles se deparam com a questão da moda. Há neles
uma inquietação e estranhamento frente à fugacidade, à rapidez que atende às
necessidades de mercado.
Benjamin capta, no entrecruzamento dos olhares de Balzac e Baudelaire, o que
ele identifica como modernidade capitalista, num momento em que o
romantismo fala de uma renúncia e prega uma aceitação e uma unidade,
reconhecendo a grandiosidade da natureza. O romantismo toma a solidão
humana, mas como a solidão de um indivíduo, dentro dele mesmo. É uma solidão
da qual se ausenta a perspectiva de uma visão crítica do social, a questão dos
conflitos, das lutas de classe que exclui a crítica ao capitalismo. O Romantismo
registra a miséria e as mazelas sociais tão somente como consequências das
forças da natureza, às quais a condição humana está submetida. Trata de um
amor idealizado.
O que Benjamin percebe nesse momento? Ele fala que vamos ter, na
modernidade capitalista, questões que estão inquietando e, que ao cotejá-las
com o romantismo, podemos vislumbrar novas percepções e sensibilidades
sendo instituídas. O romantismo e o liberalismo vão balizar os paradigmas da
modernidade capitalista.
O que propõe a modernidade? Ela segura a paixão, reconhece que são da
natureza humana a crueldade, a agressividade e o ódio. Benjamin propõe que o
homem moderno está se embriagando porque ele sonha que um dia se liga. A
proposta é que o ser humano seja humilde, renuncie, porque faz parte da
natureza, da condição humana – sofrer, perder e morrer. Ele reconhece o belo e
o mau na atividade da humanidade.
Para Benjamin, o diferencial de Baudelaire é ser um homem do seu tempo. Ele
defende a necessidade de trabalhar com o atual, com a realidade. Para ele, o que
são a realidade e o presente? São a miséria e o contraste. Para ele, o herói
moderno é o homem do seu tempo, que pode ser o homem comum, o operário, a
coquette, o trapeiro, o despossuído, o errante, o homem comum, o ocioso, o
suicida, o apache e o anti-social. O herói moderno está sempre por se fazer. Não
existe uma receitinha do herói moderno, ele está sempre por se fazer e se
fazendo.
Benjamin, a partir de intenso diálogo com Baudelaire, traz à tona uma imagem
instigante da prostituta, para tanto, ele volta um olhar ambíguo e dialético para
ela. Ao tomarmos a imagem da prostituta, através do olhar benjaminiano,
podemos perceber que ela é, ao mesmo tempo, vendedora e mercadoria.
Também, o literato quando tem sua produção voltada às demandas do mercado
editorial, assume de igual forma a posição de vendedor e de mercadoria.
Nessa perspectiva dos novos heróis modernos, Benjamin traz o apache. Apache
era um termo muito usado na Europa, em 1920, bem localizado, significava
rufião, um herói da modernidade capitalista. É o cafetão. Um sujeito que renega a
perspectiva de um lugar instituído, a necessidade de ser um operário, de ser
certinho, de seguir leis, normas e regras. Esse sujeito é a tentativa de subverter a
ordem, de negar essa ordem, renegando as virtudes, as leis, ele prescinde do
contrato social. Ele não aceita esse contrato social, não se estabelece nessa
relação. Ele se percebe, se crê separado dessa relação burguesa, não reconhece o
burguês como um cúmplice, como alguém de relação.
Na Paris do século XIX, Benjamin foi construindo imagens e personagens da
modernidade capitalista - a multidão, o flâneur (aquele que transita em todos os
sentidos e busca a memória, sem se diluir na multidão), o basbaque (aquele que
se perde na multidão). O flâneur contempla, mas busca a memória, ele transita;
enquanto que, o basbaque se perde na contemplação.
Na sequência, quando Benjamin aborda a moda, em Paris, ele se reporta aos
negociantes. Estes quando vão ao passeio público, às galerias, quando partem
para as atividades mercantis, precisam manter certa frivolidade, manter certa
postura e ter certa aparência. Benjamin os identifica com a figura do dândi.
Noutro momento, ele fala do colecionador, da burguesia que vai se apropriando
de alguns objetos de arte aos quais atribui a aura. Ao possuir alguns objetos de
arte, ele constrói a figura do esnobe, do colecionador, aquele que não consegue
se entender, que está perdido no meio da história.
Algumas considerações provisórias sobre modernidade
Então, o que é a modernidade? É o transitório, o fugitivo, o contingente, a metade
da arte, e a outra metade é o eterno, o imutável. Não dá para pensar o belo da
modernidade, se não encararmos que o belo pressupõe o feio, pressupõe o ódio,
pressupõe a agressividade. Não podemos esquecer que a modernidade tem que
impor uma mudança de sensibilidade, de percepções, da própria concepção do
que é o ser humano, o que causou um profundo mal estar e, no final das contas,
nossos paradigmas estão a cair até agora.
A imagem da massa é muito importante nisso tudo, justamente colada à figura
do artista. Que divisão de artista moderno é esse que se sente bem, se perdendo
na massa, sem perder a sua subjetividade ou perdendo-a.
O texto de Benjamin é inovador, inclusive sob o ponto de vista da apresentação
iconográfica, das imagens, das figuras, do quebra-cabeça, das figuras
panorâmicas; quer dizer, são panoramas que vão se apresentando no texto. São
tableux, são imagens de cenários que vai construindo quase como um verdadeiro
cineasta, mas sem nenhum contínuo. A ordem lógica não é a lógica do contínuo.
Então, é difícil acompanhá-lo nessas imagens dialéticas, completas, alegóricas.
Há uma riqueza muito grande presente nas suas construções, nas suas
elaborações é difícil de ser recuperado.
Procuramos recuperar a ideia fundamental nestes textos - Paris, capital do século
XIX e A Paris do segundo império em Baudelaire -, a modernidade capitalista
como produtora de fantasmagorias. Existe em geral muito explícito, não só neste
texto, mas no conjunto de textos que fazem parte de um trabalho inacabado, de
um trabalho mais amplo chamado “Trabalho das passagens”. É um conjunto de
textos que Benjamin não conseguiu concluir. São textos fragmentados, não têm o
caráter final de uma produção que foi arredondada para publicação. Ele não
conseguiu fazer isso. Então, precisamos pensar neles como algo inacabado. No
interior desse trabalho e das passagens, existe um texto do Walter Benjamin: O
capitalismo como religião em que explicita uma das matrizes fundamentais da
construção do seu pensamento, que é Max Weber. Benjamin faz um diálogo
explícito com Max Weber, nesse texto. Esse diálogo já vinha se anunciando no
Paris Capital do século XIX e no A Paris do Segundo Império em Baudelaire, onde
ele constrói vários momentos de contato com a modernidade capitalista, como
quando trabalha com o conceito de fantasmagorias.
Benjamin dialoga, mas se afasta do conceito de modernidade em Max Weber.
Max Weber concebe a modernidade como uma gaiola dura como aço, sobretudo,
a partir do protestantismo, constrói-se uma aproximação cultural, em que a
religião e os mitos não têm espaço. Ao expressar sua discordância com a forma
fechada como Weber pensa a modernidade capitalista, Benjamin pauta-se em
contato direto com Marx. A modernidade que ele concebe é a modernidade
capitalista em moldes marxistas, quer dizer, com elementos marxistas, porém
trazendo elementos míticos. Na concepção benjaminiana, a construção do
capitalismo, fundado na expropriação do trabalho não pago, não constitui
apenas uma racionalização que pode se transformar numa gaiola dura como aço,
em que os sujeitos sejam aprisionados. Mas essa modernidade capitalista
também produz sonhos, casas de sonhos. É a expressão que ele usa como
sinônimo das fantasmagorias.
Casas de sonhos, idealizações capazes de apagar os significados fundamentais de
experiências de vida tais como: tempo, espaço e relações sociais. Então, percebe-
se aí uma diferença fundamental em relação a Max Weber. Benjamin aprofunda
as experiências ao trabalhar nesse capítulo relativo ao capitalismo como religião,
dizendo: olha, mais do que o protestantismo instaura e aprofunda o próprio
capitalismo, o capitalismo também se transforma numa religião, uma religião
que não tem sábado, domingo. Ela é cotidiana, adentra o universo das pessoas e
é vivida como religiosidade, inclusive como algo que penetra que toma o corpo.
Que faz das pessoas mercadorias, que faz as relações mercadológicas,
esvaziando significados, esvaziando o outro, acaba a figura do outro, do
diferente.
O texto trabalha com as fantasmagorias, que são casas de sonhos. O elemento
sonho, no texto benjaminiano, não é um elemento apenas de idealização, de
conformização, de submissão. É o sonho numa dimensão freudiana, que, pode
trazer à tona elementos inusitados. Portanto, existe uma imagem dialética do
próprio sonho, a possibilidade do sonho se transformar em utopia. A própria
racionalidade técnica, a própria racionalização cultural, que, em Adorno, é
percebida como um grande mal, enquanto que para Benjamin, grande crítico da
racionalização cultural, a percebe como uma potencialidade. Se ele pensa que a
construção de fantasmagorias, constrói hierarquizações culturais; se ela exclui
os sujeitos diferentes, por outro lado, a racionalidade também traz em si a
potencialidade de fazer emergir uma ferramenta, uma luz, uma imagem que
possibilite sonhar com o seu fim.
Nesse texto sobre o capitalismo e a religião, usa a metáfora do machado, pois a
razão do Machado também capaz de quebrar. Quebrar essa naturalização,
quebrar essa fantasmagoria e instaurar um encontro com significados que não é
castrar a si próprio, mas ao outro também. Então, ele não desqualifica o
componente racional, mas acredita nas possibilidades. Se as ciências, como casas
de sonho, escamoteiam, hierarquizam, excluem, explodem a dimensão do tempo
e do espaço, do enraizamento da própria produção científica, se elas destacam
alguém em detrimento de tantos outros, para Benjamin, tudo isso pode se
reverter numa ferramenta de questionamento e de construção de
conhecimentos de forma mais dialogal.
Ele também se coloca como alguém que questiona a técnica. Por exemplo, a
fotografia como um instrumento de construção de uma única identidade, capaz
de ser controlada em todas as ordens, burocrática, política, cultural. Por outro
lado, também pode ser capaz de trazer à tona elementos, simulacros do próprio
fotógrafo na relação com esse sujeito, então tem essa ambiguidade. Se, por um
lado, à fotografia permite uma discussão sobre a representação e, mesmo a
questão da apreensão das fisionomias, por outro lado, na hora em que Benjamin
pensar a questão da fotografia, ele a assume como uma das oportunidades de
produção artística também. Não é meramente técnico, ele vai para além da
questão da técnica.
Ao estudarmos os textos de Benjamin, percebemos que todos querem ser novos,
todos querem ser modernos. São inúmeros os momentos em que a modernidade
e o querer ser moderno se manifestam na História brasileira: A Revolução de
1930, e a República Nova, o Movimento da Escola Nova, a Semana de Arte
Moderna, a Nova república em que se faz questão de frizar que determinadas
atitudes são tomadas porque estamos agindo como modernos.
Se nós fizermos essa relação com o que Benjamin nos propõe como moderno,
como sendo o “sempre igual”, vamos chegar ao esvaziamento do próprio tempo
e à remissão com o passado. A Antiguidade é igual a ruínas para ele. O termo
moderno, por incrível que pareça, já aparece lá na Grécia antiga. O Renascimento
é a busca de algo que significaria uma retomada do antigo, mas uma retomada
renovada, o que está dando uma volta ao antigo. Uma renovação que, ao mesmo
tempo, quer dizer valoriza-se o moderno na busca, na recuperação do antigo
renovado. Se observarmos essa relação entre o antigo e o moderno se modifica
completamente a partir da Revolução Francesa, quando a ideia de modernidade
não vai mais se acenar para o passado, mas para o futuro. O moderno vai
aparecer como um anarquista nas relações que tinham que ser eliminadas. O
moderno vai se anunciar pela Revolução Francesa, pelo novo, pelas novas
relações. A partir daí, o novo vai ter, cada vez mais, uma acepção de coisa
inusitada, do sempre novo. E o sempre novo trará, dentro de si, a própria ruína,
porque ele não satisfará mais. Hoje é o novo: amanhã a busca do mais novo, e
assim, vamos vivendo num círculo vicioso da busca do sempre novo. Até
quando?
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