III GRUPO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL · 2012. 2. 10. · secretaria de estado da educaÇÃo...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS COORDENAÇÃO DOS DESAFIOS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEOS III GRUPO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Prezados Profissionais da Educação, Nos Grupos de Estudos de 2008, de acordo com a LEI 9795/99, discutiu-se a Educação Ambiental numa perspectiva interdisciplinar, pois a mesma não constitui-se como um novo componente curricular, nem mesmo está restrita às disciplinas que tradicionalmente abordaram esta temática, como Ciências, Biologia e/ou Geografia. Na continuidade desta reflexão propomos trabalhar numa maior aproximação entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais. Neste sentido a problemática ambiental tem se apresentado como um novo campo de estudo da História. De acordo com Woster (1991, p.199): “a idéia de uma História Ambiental começou a surgir na década de 1970, à medida que se sucediam conferências sobre a crise global e cresciam os movimentos ambientalistas entre os cidadãos de vários países. Em outras palavras, ela nasceu numa época de reavaliação e reforma cultural em escala mundial” Segundo Bitencourt (2003, p. 40) “Os historiadores, ao se aproximarem e se preocuparem com as lutas e conflitos vividos no tempo presente, passaram a rever e a reconsiderar o lugar da natureza no viver social. Surge, assim, a História Ambiental”. Este ramo da História trabalha em três diferentes níveis: o entendimento da natureza propriamente dita; a análise do domínio sócio-econômico e a apreensão de percepções, valores éticos, leis, mitos e outras estruturas de significação que ligam um indivíduo ou um grupo à natureza, conduzindo também suas ações sobre o mundo físico. Nesta perspectiva, a relação Homem/Natureza é uma construção histórica. Por meio desta abordagem pretendemos evidenciar que até o século XX, esta relação se deu através de uma visão de domínio (controle dos elementos naturais), onde a apropriação da Natureza é associada à idéia de progresso e civilização. A Natureza, dessa forma, é entendida como um recurso, um meio para se atingir um fim. Em concordância com essa primeira característica está o caráter antropocêntrico do pensamento moderno. O homem, o sujeito, é colocado, ao mesmo tempo em oposição e como dominador do objeto, no caso o mundo natural, conforme afirma o historiador Josimar Paes de Almeida sobre o trabalho dos historiadores ambientais: Nossos esforços estão buscando superar descrições típicas de processos históricos tradicionais, com seus personagens que mencionam em passagens de suas obras, problematizações e ou elegias* à Natureza como algo separado do humano. Assim, afirmamos que não há compreensão sobre a natureza que não seja humana, pois ao entendermos que as interpretações, análises, representações, enfim, o conceito mediador que se possa escolher para dialogar com a natureza é criado pelo homem histórico, possuindo desta forma a sua inserção sócio-cultural no tempo e espaço. 1 Tendo como referência estes apontamentos, os textos propostos neste Grupo de Estudos têm como objetivo propiciar reflexões sobre os aspectos históricos do discurso sobre o processo de ocupação do território paranaense, que tradicionalmente tem produzido 1 ALMEIDA, Josimar Paes de. História e patrimônio ambiental: artifícios naturais do poder público em Londrina. IN: História – Hoje: revista eletrônica de História. Vol. 1, n.3. mar2004. <http://www.anpuh.uepg.br/historia-hoje/vol1n3/londrina.htm> acessado em 22/03/2009. * Elegia: poema lírico, cujo tom é quase sempre terno e triste. No texto trata-se de uma visão romântica da natureza. 1

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  • SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

    DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISCOORDENAÇÃO DOS DESAFIOS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEOS

    III GRUPO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTALPrezados Profissionais da Educação,

    Nos Grupos de Estudos de 2008, de acordo com a LEI 9795/99, discutiu-se a Educação Ambiental numa perspectiva interdisciplinar, pois a mesma não constitui-se como um novo componente curricular, nem mesmo está restrita às disciplinas que tradicionalmente abordaram esta temática, como Ciências, Biologia e/ou Geografia.

    Na continuidade desta reflexão propomos trabalhar numa maior aproximação entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais. Neste sentido a problemática ambiental tem se apresentado como um novo campo de estudo da História. De acordo com Woster (1991, p.199): “a idéia de uma História Ambiental começou a surgir na década de 1970, à medida que se sucediam conferências sobre a crise global e cresciam os movimentos ambientalistas entre os cidadãos de vários países. Em outras palavras, ela nasceu numa época de reavaliação e reforma cultural em escala mundial”

    Segundo Bitencourt (2003, p. 40) “Os historiadores, ao se aproximarem e se preocuparem com as lutas e conflitos vividos no tempo presente, passaram a rever e a reconsiderar o lugar da natureza no viver social. Surge, assim, a História Ambiental”.

    Este ramo da História trabalha em três diferentes níveis: o entendimento da natureza propriamente dita; a análise do domínio sócio-econômico e a apreensão de percepções, valores éticos, leis, mitos e outras estruturas de significação que ligam um indivíduo ou um grupo à natureza, conduzindo também suas ações sobre o mundo físico.

    Nesta perspectiva, a relação Homem/Natureza é uma construção histórica. Por meio desta abordagem pretendemos evidenciar que até o século XX, esta relação se deu através de uma visão de domínio (controle dos elementos naturais), onde a apropriação da Natureza é associada à idéia de progresso e civilização. A Natureza, dessa forma, é entendida como um recurso, um meio para se atingir um fim. Em concordância com essa primeira característica está o caráter antropocêntrico do pensamento moderno. O homem, o sujeito, é colocado, ao mesmo tempo em oposição e como dominador do objeto, no caso o mundo natural, conforme afirma o historiador Josimar Paes de Almeida sobre o trabalho dos historiadores ambientais:

    Nossos esforços estão buscando superar descrições típicas de processos históricos tradicionais, com seus personagens que mencionam em passagens de suas obras, problematizações e ou elegias* à Natureza como algo separado do humano. Assim, afirmamos que não há compreensão sobre a natureza que não seja humana, pois ao entendermos que as interpretações, análises, representações, enfim, o conceito mediador que se possa escolher para dialogar com a natureza é criado pelo homem histórico, possuindo desta forma a sua inserção sócio-cultural no tempo e espaço.1

    Tendo como referência estes apontamentos, os textos propostos neste Grupo de Estudos têm como objetivo propiciar reflexões sobre os aspectos históricos do discurso sobre o processo de ocupação do território paranaense, que tradicionalmente tem produzido

    1 ALMEIDA, Josimar Paes de. História e patrimônio ambiental: artifícios naturais do poder público em Londrina. IN: História – Hoje: revista eletrônica de História. Vol. 1, n.3. mar2004.

    acessado em 22/03/2009.* Elegia: poema lírico, cujo tom é quase sempre terno e triste. No texto trata-se de uma visão romântica da natureza.

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  • uma visão da “expansão civilizatória” calcada na idéia de pioneirismo, desenvolvimento, modernidade e progresso, como produto das apropriações humanas que se expressam no espaço geográfico.

    Para continuidade dos estudos propomos: 1. Leitura, análise e discussão do texto “Espaço, Natureza e Idéias” (Anexo –

    01) referente ao capítulo 1 do livro As guerras dos índios Kaingang, de Lúcio Tadeu Mota.

    2. Sistematize as considerações do grupo a partir dos apontamento das relações identificadas entre o texto (Anexo – 1) e a citação abaixo, destacando-se os aspectos da construção histórica do conceito de Natureza, descrito por DRUMMOND (1991) como:

    Um campo importante da história ambiental [são os] valores humanos atribuídos à natureza. Embora o campo derive da história intelectual ou literária, os historiadores ambientais têm investido nele com resultados importantes […] Em Primeiro lugar vem Leo Marx […] [que] produziu, no início da década de 1960, um livro extremamente influente entre os historiadores ambientais: The machine in the garden technology and the pastoral ideal in América (London, Oxford University Press, 1964) [...] Marx retoma a tradição clássica greco-romana do pastorialismo e mostra como quase todas as paisagens elogiadas pelos escritores clássicos e contemporâneos amantes da natureza são na verdade ‘jardins’, áreas rurais criadas e manejadas pelos humanos. Marx mostra como o homem ocidental ama as paisagens que ele mesmo controla ou constrói, forma nada sutil de gostar de si mesmo. Quanto à natureza “selvagem”, “intocada”, “incontrolável”, ele tem pavor ou um apetite insaciável de controlar, domesticar, civilizar. Essas atitudes afetam profundamente as ações das sociedades humanas em relação aos seus ambientes naturais. Muitas vezes uma sociedade acredita que está “salvando a natureza”, mas “salva” apenas uma obra sua.2

    3. Trabalho com documentos: a partir do trecho da reportagem e da imagem do Anexo – 2 descreva uma possibilidade de uso didático deste material problematizando o conceito de Progresso construído até meados do século XX e as atuais reflexões em torno do conceito de Desenvolvimento Sustentável.

    4. Tendo como referência o texto do historiador Gilmar Arruda, na apresentação do livro A Natureza dos Rios: história, memória e territórios (Anexo – 3), aponte possibilidades de se trabalhar com a proposta atual de Educação Ambiental na construção da Agenda 21 Escolar, dentro do Programa de Gestão Integrada em Micro-Bacias do estado do Paraná (citado no primeiro Grupo de Estudos), utilizando uma metodologia de investigação histórica3 que demonstre como a comunidade local se relacionou com o rio de sua região, em outros tempos e na atualidade.

    2 DRUMMOND, José Augusto. A história Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.4, n.8, 1991. p.190-1.3 Para aprofundamento sugere-se ler o texto: BITTENCOURT, Circe Maria. Meio ambiente e ensino de História. IN: História & Ensino. Londrina, v. 9, p. 50-58, out. 2003.

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  • Sugestões para aprofundamento:

    a) Leitura complementar

    DUARTE, Regina Horta. História & Natureza. Belo Horizonte : Autêntica, 2005.O livro aborda um dos temas mais importantes e polêmicos de nossa

    contemporaneidade – a questão ambiental – a partir de uma perspectiva histórica das relações entre as sociedades humanas e o meio natural .

    MARTINEZ, Paulo Henrique. História Ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo : Cortez, 2006

    O que é um Laboratório de História e Meio Ambiente? Há alguma relação entre a colonização portuguesa na América e a devastação ambiental no Brasil? Como estudar a História do meio ambiente, na escola e na universidade? Esta obra pretende refletir sobre essas perguntas. No Brasil, educação, cidadania, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento humano não poderão ser encontrados sem a colaboração dos historiadores, na pesquisa e no ensino de sua disciplina.

    b) Filme: Na Natureza Selvagem.Direção Sean Penn.O filme conta a história real do jovem Christopher McCandles, baseado no livro do

    jornalista Jon Krakauer. No início da década de 1990, após formar-se na faculdade, Chris resolve abandonar tudo e com uma mochila nas costas tornar-se um andarilho em busca de um novo sentido à sua vida. Desconfiado das relações humanas e influenciado pelas suas leituras, que incluíam Tolstói e Thoureau, ansiava por chegar ao Alasca, onde poderia estar longe da sociedade e em comunhão com a natureza selvagem e pura. Durante sua peregrinação transforma a vida de todos aqueles com quem toma contato, mas ao mesmo tempo não cria nenhum vinculo pessoal. O filme, além de belo, traz uma profunda reflexão sobre nosso papel na sociedade e nossa relação com a natureza. (Drama, EUA /2007. 140 min.)http://pt.wikipedia.org/wiki/Into_the_Wild_(filme)

    Referências:

    ARRUDA, Gilmar (org.). A natureza dos rios: história, memória e territórios. Curitiba : UFPR, 2008. p. 8-12, 25

    BITTENCOURT, Circe Maria. Meio ambiente e ensino de História. IN: História & Ensino. Londrina, v. 9, p. 37-62, out. 2003.

    DRUMMOND, José Augusto. A história Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. IN: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.4, n.8, 1991. p.177-197.

    MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos índios Kaingang. Maringá : EDUEM, 1994. p. 09-15 (disponível na Biblioteca do Professor)

    WORSTER, Donald. Para fazer História Ambiental. IN: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.4, n.8, 1991. p.198-215

    Equipe de Educação AmbientalCoordenação dos Desafios Educacionais Contemporâneos

    Diretoria de Políticas e Programas Educacionais

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    http://pt.wikipedia.org/wiki/Into_the_Wild_(filme

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  • ANEXO – 2

    Um século de fogo e machados

    Imagens das extensas matas que cobriam quase todo o interior do Estado, hoje, só existem em fotos ou na memória dos pioneiros. E não foi preciso muito para mudar a paisagem natural. Duas ou três gerações bastaram. Em alguns casos, apenas uma. A história do Paraná no século XX foi escrita a ferro e fogo, dos machados e das queimadas (...) Em 1900, mais de 80% do Paraná era coberto por florestas. Meio século depois, metade já tinha sido destruída. Hoje estima-se que as matas nativas cubram só 7,5% do Estado. A devastação da araucária – árvore símbolo dos paranaenses – foi mais surpreendente. Menos de 1% dos pinheirais originais estão bem preservados.

    (Gazeta do Povo, 03/06/2001).

    Colonização do Oeste Paranaense/ Maripá-PR – década de 1950(acervo Projeto Sesquicentenário do Paraná/SEED-2004)

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  • ANEXO – 3

    A NATUREZA DOS RIOS:História, Memória e Territórios

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  • [...] Nos tempos atuais, com a crescente presença dos problemas ambientais, a floresta ocupou o cenário dos debates sobre a preservação. No entanto [...] não existe a possibilidade de se construir a sustentabilidade se não pensarmos também no ciclo da água. O rio é um dos momentos desse ciclo. Para protegê-los, preservá-los, assim como o resto da natureza, devemos começar a “pensar como um rio”.

    Gilmar ArrudaLondrina, outubro de 2008.

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