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7 GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM CLÍNICA MÉDICA MARIANA GÓES DE ALCANTARA HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO CAUSADO POR UM TUMOR ADRENAL INFREQUENTE RELATO DE CASO FORTALEZA 2016

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7

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM CLÍNICA MÉDICA

MARIANA GÓES DE ALCANTARA

HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO CAUSADO POR UM TUMOR ADRENAL

INFREQUENTE – RELATO DE CASO

FORTALEZA

2016

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MARIANA GÓES DE ALCANTARA

HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO CAUSADO POR UM TUMOR ADRENAL

INFREQUENTE – RELATO DE CASO

Monografia apresentada ao Programa de

Residência Médica do Hospital Geral de

Fortaleza, como requisito parcial para

obtenção do Título de Residente em Clínica

Médica.

Orientador: Otílio José Nicolau de Oliveira

FORTALEZA

2016

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AGRADECIMENTO

Este trabalho representa o final de mais uma etapa de minha formação

médica. Várias pessoas foram muito importantes para que eu pudesse chegar até

aqui. Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por me dar forças e não me

deixar desistir nos momentos difíceis; à minha família, que sempre esteve ao meu

lado desde sempre e me dando todo o apoio necessário; e finalmente, aos meus

colegas de residência que tornaram todos os momentos mais agradáveis e fizeram

os últimos dois anos passarem mais rápido do que realmente foram.

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RESUMO

O hiperaldosteronismo é considerado a causa mais comum de hipertensão

secundária. É causado pela produção excessiva de aldosterona pela glândula

adrenal a despeito da regulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. As

principais etiologias associadas são a hiperplasia adrenal bilateral e o adenoma

produtor de aldosterona. O objetivo dessa monografia é apresentar um caso de uma

paciente com hiperaldosteronismo primário por adenoma produtor de aldosterona

que chama a atenção pela discordância com o que é apresentado na literatura no

que diz respeito a relação entre o tamanho do tumor e a presença de malignidade.

Foi feito coleta de dados através de revisão de prontuário e de literatura através do

Pubmed com a expressão "hiperaldosteronismo primário" para obtenção de dados e

comparação do caso relatado com o presente na literatura.

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ABSTRACT

The hyperaldosteronism is considered the most common cause of secondary

hypertension. It is caused by excessive aldosterone production by the adrenal gland,

despite its regulation by the renin-angiotensin-aldosterone system. The main

pathologies associated are bilateral adrenal hyperplasia and aldosterone-producing

adenoma. Here we report a case in a patient with primary hiperaldosteronism due to

an aldosterone-producing adenoma. The above mentioned case disagrees with the

current literature on two topics: relationship between tumor size and the presence of

malignancy. The data was collected through systematic revision of the patient

medical record. Finally, we compared the patient´s medical record with what is

currently published on PUBMED about the expression "primary aldosteronism"

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 7

2. OBJETIVOS................................................................................................ 8

2.1. OBJETIVO GERAL.............................................................................. 8

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................... 8

3. RELATO DE CASO.................................................................................... 9

4. DESENVOLVIMENTO................................................................................ 11

4.1. HISTÓRICO........................................................................................ 11

4.2. DIAGNÓSTICO................................................................................... 14

4.3. TRATAMENTO................................................................................... 20

5. DISCUSSÃO.............................................................................................. 22

6. CONCLUSÃO............................................................................................ 24

7. REFERÊNCIAS.......................................................................................... 25

8. ANEXOS..................................................................................................... 27

9. APÊNDICE................................................................................................. 30

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), a hipertensão arterial

é diagnosticada em aproximadamente 40% dos adultos com mais de 25 anos. Níveis

pressóricos acima de 140x90 mmHg confirmados em duas consultas médicas

distintas são confirmatórios de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Esta pode ser

dividida em duas formas: hipertensão primária ou essencial e hipertensão

secundária (1).

Hipertensão secundária é diagnosticada em cerca de 5-10% do pacientes

com aumento dos níveis pressóricos, dentre suas causas, a mais prevalente é o

hiperaldosteronismo primário, o qual é caracterizado pela produção excessiva de

aldosterona a despeito do controle exercido pelo sistema renina-angiotensina-

aldosterona (SRAA) (2). Hiperaldosteronismo deve ser suspeitado quando o

paciente apresentar hipertensão arterial associada a hipocalemia, entretanto

hipocalemia é encontrada em uma minoria de casos. Atualmente, os dados

demonstram que 60% dos pacientes encontram-se normocalêmicos no momento do

diagnóstico (3).

O caso que será relatado descreve uma paciente jovem, 23 anos, com HAS

de díficil controle diagnosticada há um ano que evoluiu para um quadro de fraqueza

muscular generalizada com dificuldade de deambulação associada a hipocalemia,

além de um RNM de abdome que demonstrou lesão em adrenal direita, medindo no

maior eixo 10 cm.

A singularidade nesse caso é que apesar de na literatura ser descrito que

massas adrenais > 6 cm são frequentemente malignas (3), a lesão foi considerada

benigna devido aos achados macroscópicos durante a cirurgia.

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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Descrever o caso de uma paciente jovem com HAS associada a hipocalemia

diagnosticada no Hospital Geral de Fortaleza com hiperaldosteronismo primário.

2.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS

Analisar dados de epidemiologia, fisiopatologia, métodos diagnósticos de

rastreio e confirmatórios, apresentação clínica e tratamento do caso

apresentado.

Comparar o caso com o que há descrito na literatura.

Expor as principais diferenças macroscópicas e radiológicas entre adenomas

e carcinomas de adrenais.

Fazer uma revisão de literatura sobre o tema apresentado.

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3. RELATO DE CASO

MTS, sexo feminino, 23 anos, procedente de Fortaleza – CE, solteira.

Paciente diagnosticada com HAS de difícil controle aos 22 anos, procurou o

atendimento médico no setor da emergência em 14 de abril de 2014 com o seguinte

quadro clínico, parestesias em mãos e pés que evoluiu para fraqueza muscular

generalizada após 6 dias do inicio dos sintomas, apresentava dificuldade de

deambulação, associada a paresia da musculatura cervical e disfagia.

Ao exame físico na admissão apresentava quadriparesia, com predomínio em

musculatura proximal e ausência de reflexos bicipitais e tricipais.

A paciente foi internada na enfermaria de clínica médica do HGF para

investigação diagnóstica. Durante o internamento hospitalar, foram realizados

exames laboratoriais que evidenciaram hipocalemia e elevação de CPK. Foi

realizada punção liquorica para análise de líquor cefalorraquidiano que não

apresentou alterações. A eletroneuromiografia foi sugestiva de paralisia periódica

hipocalêmica. Prosseguindo com a investigação, foi realizado a dosagem de

aldosterona sérica ( 615,69 pg/ml valor de referência: 10 -160) e atividade

plasmática de renina ( 0,37 ng/ml/h valor de referência: 0,4 – 0,7). Em ressonância

magnética do abdome foi evidenciada lesão em adrenal direita, medindo no maior

eixo 10 cm. A paciente foi submetida à adrenalectomia direita por videolaparoscopia

após melhora dos níveis pressóricos e normalização dos eletrólitos com tratamento

farmacológico.

Durante o procedimento cirúrgico foi observado lesão encapsulada, bem

delimitada, sem invasão de tecidos adjacentes, medindo 8,5x7,5x5,4 cm. A análise

microscópica demonstrou quadro histológico sugestivo de adenocarcinoma cortical

de supra-renal de padrão difuso, capsulado, não foi detectado invasão neoplásica

capsular ou vasos angiolinfáticos. Como observação, foi sugerida a realização de

imunohistoquímica para diagnóstico diferencial. A análise do perfil

imunohistoquimico em conjunto com os achados morfológicos é consistente com

adenoma cortical de adrenal.

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Após tratamento cirúrgico, a paciente evoluiu bem, com controle dos níveis

pressóricos e normalização dos eletrólitos, sem necessidade de tratamento

farmacológico.

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4. DESENVOLVIMENTO

4.1. HISTÓRICO

A investigação para hipertensão secundária é inconcebível em todos os

pacientes que são diagnósticados com HAS, porém tal busca deve ser feita em

grupos selecionados, devido ao potencial de cura ou melhora considerável do

quadro com o tratamento das causas primárias. Algumas características clínicas

sugerem uma causa secundária a hipertensão (3):

1. Desenvolvimento do quadro cedo (<30 anos) em pacientes sem fatores de

risco.

2. Hipertensão resistente (>140/90 mmHg) mesmo com o uso de 3 classes

de drogas antihipertensivas.

3. Hipertensão grave ( >180/110 mmHg) ou emergência hipertensiva.

4. Aumento repentino da pressão arterial em um paciente previamente

estável.

5. Presença de lesão em órgão-alvo.

O hiperaldosteronismo primário é a causa mais comum de hipertensão

secundária, totalizando cerca de 10% dos casos na população em geral e 20% dos

casos de hipertensão de dificil controle, refratária ao tratamento farmacológico (4). É

caracterizado pela produção excessiva autônoma de aldosterona pela glândula

adrenal, a despeito da regulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (5), as

duas principais causas são o adenoma produtor de aldosterona (APA) e a

hiperplasia adrenal bilateral (HAB), além das formas hereditárias presentes em 1-5%

dos casos de hiperaldosteronismo primário, Hiperaldosteronismo Familiar tipos I, II e

III (6).

É importante diferenciar os subtipos de hiperaldosteronismo primário pois são

variadas as formas de tratamento indicadas para cada subtipo, o que requer uma

difenciação apropriada a fim de estabelecer o melhor tratamento e dessa forma,

obter melhores resultados no seguimento dos pacientes.

Descrito pela primeira vez em 1966 por Jerome W. Conn, o adenoma produtor

de aldosterona, cujo epônimo, síndrome de Conn, homenagea seu descritor, é

caracterizado pela presença de tumores no cortex adrenal, cuja formação

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permanece ainda inexplicada e a origem esporádica do tumor é controversa (1).

Estudos recentes demostraram que os APAs frequentemente albergam mutações

somáticas heterozigóticas em um de seus quatros canais iônicos: KCNJ5, ATP1A1,

ATP2B3 E CACNA1D, o que altera a homeostase intracelular do cálcio, ocasionando

uma produção excessiva de aldosterona independente dos mecanismos de

feedback extracelulares (7). A presença de adenomas unilaterais é bem mais

frequente que bilaterais, o que determina uma lateralização na produção excessiva

de aldosterona por uma das glândulas adrenais, tal fato é de fundamental

importância para se estabelecer um diagnóstico diferencial com outra causa comum

de hiperaldosteronismo primário, a hiperplasia adrenal bilateral.

A hiperplasia adrenal bilateral é considerada a forma mais comum de

hiperaldosteronismo primário, sendo responsável por 60-70% dos casos

diagnosticados (1). É caracterizada pelo aumento da secreção de aldosterona em

ambas as glândulas, com o achado histológico de hiperplasia da zona glomerulosa.

Estas duas formas de hiperaldosteronismo, ambas esporádicas,

compreendem a maior parte dos casos. Menos frequente, o hiperaldosteronismo

familiar corresponde a cerca de 5-6% dos casos e é subdividido em 4 grupos (8).

A primeira forma de hiperaldosteronismo familiar descrita, também chamada

de aldosteronismo corrigível por glicocorticoide ou FH I, causada pela formação de

um gene quimérico através da fusão da região promotora do gene CY11B1 que

codifica a 11b-hidroxilase com o gene CYP11B2 responsável pela codificação da

aldosterona. Tal mutação determina a regulação da produção de aldosterona pelo

promotor do gene codificante da 11b-hidroxilase, o qual é regulado pelo ACTH. Isso

explica a resposta ao tratamento com baixas doses de glicocorticoides que inibem a

secreção de ACTH (8).

A FH II é indistinguível do hiperaldosteronismo esporádico, sendo

diagnosticada pela historia de doença em membros da familia. O mecanismo

genético ainda é desconhecido, mas estudos recentes apontam para a associação

do braço curto do cromossomo 22 (8).

A FH III foi recentemente descrita por Choi em 2011 e é caracterizada pelo

desenvolvimento precoce de hipertensão arterial, associada ao hiperaldosteronismo

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que em muitas ocasiões requer uma adrenalectomia bilateral para controle dos

sintomas. É causado por uma mutação no gene KCNJ5 que codifica um canal de

potássio KIR.

O hiperaldosteronismo familiar mais recentemente descoberto é o tipo IV, o

qual é causado por uma mutação no gene CACNA1H, que codifica um canal de

cálcio voltagem dependente altamente expresso na zona glomerulosa.

Identificar o hiperaldosteronismo primário como causa da hipertensão arterial

sistêmica é essencial por dois motivos principais: 1) existem formas de tratamento

eficazes e em alguns casos com potencial de cura do quadro que tem um impacto

positivo na vida dos pacientes e 2) é sabido que o excesso de aldosterona é um

fator independente de aumento do risco cardiovascular e suas complicações (9).

O excesso de aldosterona contribui para a fibrose e espessamento da parede

de vasos arteriais, além de piorar a função endotelial pelo aumento do estresse

oxidativo e status inflamatório. É bem estabelecido que a aldosterona induz a uma

hipertrofia da camada muscular vascular com migração de células da adventícia,

mecanismo que induz a aterosclerose do vaso. Como consequência dessa

atividade, é descrito que paciente com hiperaldosteronismo primário possuem uma

maior taxa de eventos cardiovasculares, com aumento da incidência de infarto

agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico, também como sequelas renais

quando comparados a pacientes com mesmos níveis pressóricos com hipertensão

arterial essencial (5). Estudos recentes observaram um aumento na incidência de

hipertrofia ventricular esquerda, fibrose miocárdica, espessamento da carótida e

aumento da velocidade da onda de pulso femoral, o que demonstra um

enrijecimento do vaso (10).

Recentemente foi constatado uma associação positiva entre o excesso de

aldosterona e a obesidade. A aldosterona exacerba a resistência periférica a

insulina, que é considerado atualmente pela sociedade científica como o evento

base da síndrome metabólica. Também foi evidenciado que o aumento da

adiposidade está ligado a alterações da função da glândula adrenal com aumento

dos níveis de aldosterona circulante e atividade do receptor mineralocorticoide via

adipócito-adrenal (11).

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4.2 DIAGNÓSTICO

No passado, muitos estudos apontavam que a hipocalemia era um marcador

para o diagnóstico do hiperaldosteronismo primário, entretanto atualmente tem-se a

convicção que somente uma minoria dos pacientes desenvolvem hipocalemia cerca

de 9 a 37%. Dessa forma, a hipertensão arterial normocalêmica se constitue na

forma mais comum de apresentação da doença, com a hipocalemia presente em

somente alguns casos, o que se pode inferir que a ocorrência de hipocalemia

apresenta baixa sensibilidade e sua ausência possui um baixo valor preditivo

negativo para o diagnóstico (10). Em seu estudo, Gordon (2004), demonstrou que

pacientes normocalêmicos com hiperaldosteronismo primário não tinham sido

diagnosticados por não terem sido incluidos no rastreio, entretanto cada vez mais

tem se tornado que eles existem e por muito tempo foram subestimados (12).

Dessa forma, mesmo na ausência de hipocalemia e alcalose, os médicos

devem estar atentos no rastreio de pacientes para hiperaldosteronismo primário,

visto que o atraso no diagnóstico ocasiona um aumento no risco cardiovascular e

dimuinui a probabilidade de cura através do tratamento farmacológico ou cirúrgico

devido ao remodelamento na parede dos vasos ocasionado pela aldosterona (13).

É recomendado o rastreio de casos de hiperaldosteronismo em pacientes

com níveis pressóricos > 150/100 mmHg em pelo menos 3 aferições em dias

diferentes, pacientes com hipertensão arterial resistente ao tratamento com 3

classes diferentes de anti-hipertensivos, incluindo um diurético, ou pacientes que

conseguem controlar os níveis pressóricos com o uso de 4 classes diferentes de

anti-hipertensivos, hipertensos que apresentem hipocalemia espontânea ou induzida

por diuréticos, hipertensos que possuam um acidentaloma em adrenal, hipertensos

com apneia do sono, hipertensos com historia familiar de hipertensão arterial de

inicio precoce ou AVE em uma idade inferior a 40 anos e todos os hipertensos com

parentes de 1º grau com diagnóstico de hiperaldosteronismo familiar (10).

Após selecionada a população alvo para a pesquisa, a primeira etapa é o

exame de rastreio, isto requer um teste com alta sensibilidade e valor preditivo

negativo, a fim de que se possa triar todos os pacientes com possível

hiperaldosteronismo. Nas últimas decadas, diversos grupos têm buscado o melhor

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critério para o rastreio para detectar o excesso de aldosterona e consequente

inibição da renina. Os dados da literatura dos últimos 20 anos demonstram que o

uso da razão aldosterona/renina (RAA) apresenta uma sensibilidade alta para o

rastreio do hiperaldosteronismo primário quando comparado com outros métodos já

utilizados: nível potássio sérico, nível plasmático ou urinário de aldosterona (14).

Apresenta um valor preditivo negativo de aproximadamente 100% para casos

de síndrome de Conn, entretanto, sua sensibilidade varia entre diversos estudos

devido a diferenças nos limites máximo e mínimos, métodos de ensaio e condições

de coleta das amostras, o que torna uma desvatagem ao critério, pois não há uma

padronização entre os estudos (14). Entretanto, apesar de não possuir uma

padronização bem estabelecida, atualmente o rastreio é feito com a razão

aldosterona/renina.

Em um caso suspeito de hiperaldosteronismo primário, o primeiro passo é

calcular a razão aldosterona/renina, através da medida em uma mesma amostra do

nível plasmático de renina e a atividade plasmática de renina ou a renina direta. A

coleta das amostras deve ser feita sob algumas condições padrão: pela manhã, com

mais de duas horas após o despertar, após cerca de 5-15 minutos do paciente estar

sentado, sob condições normais de ingesta de sódio pela dieta, nível sérico de

potássio dentro dos padrões de normalidade, sem uso de drogas anti-hipertensivas

por pelo menos duas semanas, no caso de antagonistas da aldosterona ou

inibidores direto da renina a interrupção do uso deve ser de pelo menos seis

semanas, com exceção para os bloqueadores do canal de cálcio e alfa-

bloqueadores que podem ter seu uso continuado, sem uso de estrogênio ou

progesterona (14). Há ainda divergência entre diversos grupos de estudo sobre qual

o melhor parâmetro a respeito da renina que deve ser utilizado no cálculo da RAA, o

que se tem visto é o uso mais frequente da medida da renina direta por ser mais

rápida e mais custo-efetiva em relação a atividade da renina plasmática.

O limite inferior da razão aldosterona/renina foi definido em estudos com pelo

menos 1.000 pacientes entre 20 e 40 ng/dl/ng.ml-1.h-1 e 1,108 pmol/l/ng.ml-1.h-1,

embora ainda tenha algumas discordâncias entre os estudos (14).

Desde que a razão aldosterona/renina foi validada como o método de rastreio

padrão para o hiperaldosteronismo primário, diversos estudos ao redor do mundo

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demonstraram um aumento da taxa global de detecção de casos de 3-22% com

taxas mais altas em populações específicas de 13-33%, o que justifica um rastreio

mais amplo pela possibilidade de subdetecção da doença por falta de um rastreio

adequado (15).

Quando o teste da taxa aldosterona/renina apresenta uma discrepância entre

os níveis plasmáticos de aldosterona e renina, o próximo passo no algoritmo de

diagnóstico é a realização de testes confirmatórios, entretanto, como a aldosterona

apresenta uma secreção pulsátil pela adrenal, é mandatório repetir novas

mensurações da aldosterona e renina, a fim de descartar um falso-positivo no teste

(16).

Pelo seu último guideline, a Sociedade de Endocrionologia recomenda que

pacientes com rastreio positivo devem se submeter a testes confirmatórios com o

intuito de evitar custos adicionais e riscos a saúde por procedimentos invasivos em

pacientes que apresentem um falso positivo (4). São quatros testes confirmatórios

estabelecidos pela Sociedade, três são baseados na sobrecarga de sódio, através

da administração venosa de sal, pela ingesta oral de seis gramas de sal durante três

dias e pelo teste de supressão da fludrocortisona. Como uma alternativa a pacientes

cuja condição clínica não permite uma sobrecarga acentuada de sal, há o teste do

captopril que diminui os níveis plasmáticos de aldosterona pela inibição da

conversão de angiotensina I em angiotensina II, bloqueando sua ação em relação a

aldosterona (4, 16). Em todos os casos, a não supressão da aldosterona indica uma

secreção anômala do mineralocorticoide não responsiva aos mecanismos de

feedback. O uso de anti-hipertensivos que atuem no SRAA deve ser descontinuado

para a realização dos testes confirmatórios, dando preferência para os bloqueadores

do canal de cálcio e alfa-bloqueadores (16).

O objetivo principal do teste confirmatório é eliminar a possiblidade de falso

positivo no teste de rastreio, portanto o melhor teste é aquele que apresenta o maior

valor preditivo negativo. No entanto, não há um consenso na literatura sobre qual o

melhor teste, com uma predileção pela infusão intravenosa de sal e o teste de

supressão com fludrocortosina, pelo mais alto valor preditivo negativo que ambos

apresentam (16).

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Ao ser confirmado o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário, os

pacientes devem ser submetidos a um exame de imagem abdominal, comumente

uma tomografia computadorizada com contraste (TCC), a fim de avaliar a glândula

adrenal (13). Os achados na TCC podem variar bastante, desde hiperplasia

unilateral ou bilateral a unilateral ou bilateral micro (< 1cm) ou macronódulos (>

1cm). A visualização de tumores maiores que 4 cm são sugestivas de carcinoma

adrenal. A tomografia apresenta, entretando, algumas limitações, mesmo a variante

de alta resolução com cortes < 3 mm, podendo falhar na identificação de

microadenomas, além de nao fornecer informações sobre a funcionalidade desses

nódulos, o que pode ser especialmente fundamental quando são encontrados

nódulos bilaterais (8).

Pelo fato do exame de imagem da adrenal apresentar uma sensibilidade e

especificidade limitada, principalmente nos casos em que o hiperaldosteronismo é

causado por microadenomas e hiperplasia adrenal bilateral, o exame considerado

padrão ouro para diferenciar causas unilaterais de bilaterais do excesso de

aldosterona é a amostra de veias adrenais (AVD), o qual é realizado através da

cateterização das veias adrenais por um radiologista intervencionista. Entretanto,

apesar de ser atualmente recomendado por todos os guidelines, ainda existem

críticas em relação a realização do exame em todos os pacientes, visto o alto custo

da realização do procedimento, o seu grau de invasividade e as potenciais

complicações inerentes a técnica (6).

Em pacientes jovens há muitas controvérsias se há uma real necessidade em

realizar o AVD, pois é de largo conhecimento que a presença de incidentalomas

adrenais é rara em pacientes jovens, o que não justificaria a realização de tal

procedimento invasivo em um paciente jovem que apresente uma imagem

abdominal com lesão em adrenal que justifique o hiperaldosteronismo. Em estudo,

21 pacientes com menos de 40 anos foram submetidos a cirurgia sem a realização

de AVD, pois a TCC e as manifestações clínicas, tais como hipertensão grave,

hipocalemia espontânea e alto nível de aldosterona eram extremamente sugestivos

de adenoma de Conn. Contudo, durante o seguimento pós-cirúrgico, 7 deles foram

diagnosticado como portadores de hiperplasia adrenal bilateral e foram submetido

ao tratamento medicamentoso com antagonistas da aldosterona para controle da

pressão arterial e hipocalemia (12).

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Consequentemente, torna-se evidente que o AVD é fundamental no

diagnóstico dos subtipos de hiperaldosteronismo, visto que a TCC não permite essa

distinção, pois não avalia a funcionalidade das glândulas. Mesmo assim, é

imperativa a realização da TCC em todos os pacientes com hiperaldosteronismo

para a exclusão de grandes massas adrenais (>4-6 cm) pela ampla possibilidade de

um carcinoma adrenal (12).

O adenoma produtor de aldosterona e a hiperplasia adrenal bilateral são as

formas mais comuns de hiperaldosteronismo primário, representando cerca de 95%

dos casos (17). Portanto, devem ser investigados logo em seguida após a

confirmação da produção excessiva de aldosterona.

A diferença fundamental entre essas duas patologias é a lateralização da

produção excessiva de aldosterona, onde encontra-se uma secreção excessiva

unilateral nos casos de adenoma e bilateral na hiperplasia. O AVD é altamente

efetivo em diagnosticar a lateralização da produção em excesso da aldosterona,

apresentando 95% de sensibilidade e 100% de especificidade em detectar

hipersecreção unilateral de aldosterona (17).

É crucial fazer a distinção entre a produção excessiva de aldosterona

unilateral ou bilateral, uma vez que a adrenalectomia nos casos de hipersecreção

unilateral é potencialmente curativa e nos casos de bilateralidade não apresenta

melhora no quadro clínico.

As lesões diagnosticadas através de exames de imagem podem ser

classificadas em benignas e malignas dependendo da características radiológicas

que tais lesões apresentem, tal diferenciação é fundamental no momento do

diagnóstico visto a diferença entre os prognósticos que cercam cada patologia.

Por isso, o principal objetivo da tomografia de abdome é diferenciar as

massas adrenais em adenomas e não-adenomas, cujo leque de diagnóstico é

amplo, carcinoma de adrenal, feocromocitoma, metástase de tumores sólidos. É de

conhecimento vasto que a glândula adrenal é o 4º sítio mais comum de metástase

de tumores sólidos (18).

Através da tomografia de abdome é possível aferir algumas características do

tumor, tais como tamanho, e através da realização de exames seriados o grau de

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crescimento do tumor, formato, grau de atenuação de radiação medido em unidade

de Hounsfield (UH) e se o aspecto do tumor é homogêneo ou heterogêneo, além de

presença de calcificação intratumoral, necrose central (18).

Em uma análise superficial, alguns dados podem indicar certas características

dos tumores, valores menores ou iguais a +10 indicam uma elevada porcentagem de

gordura na composição tumoral, o que sugere uma origem adenomatosa (

sensibilidade de 71% e especificidade de 98%). Em tais casos, não há necessidade

de avanço na propedeutica de imagens. Caso, uma massa apresente valores de UH

maiores que 30 é muito sugestivo de malignidade e feocromocitoma (18).

Caso a tomografia de abdome não for conclusiva, pode ser utilizado um

exame mais acurado como a ressonância nuclear magnética (RNM). Tal exame é

escolha também em casos de pacientes com contraindicação ao uso de constrate

iodado, como alergia, insuficiência renal, hipertireoidismo, além daqueles que devem

ser resguardados da radiação ionizante utilizada na tomografia, como grávidas (18).

Como vantagens para o método, pode-se apontar a alta sensibilidade no

diagnóstico de adenomas com baixa porcentagem de gordura, cerca de 90%.

Em uma análise sucinta do exame, pode-se extrair algumas informações, tais

como, adenomas e hiperplasia adenocortical apresentam uma diminuição

significativa da intensidade do sinal na fase final, diminuição da intensidade do sinal

em cerca de 16% é indicativo de adenoma. Enquanto que em aproximadamente

70% dos casos de feocromocitoma é observado um aumento na intensidade de sinal

em comparação com o baço e o fígado na fase T2 (18).

Um adenoma é tipicamente um tumor pequeno, comumente detectado

acidentalmente em um exame de imagem realizado para outra finalidade (19).

Pesam cerca de 50 gramas, apresentam-se bem circunscrito, podendo ser

encapulados ou não. Ao exame macroscópico, exibem estrutura uniforme, de

aspecto homogêneo, sólida, com coloração amarelada ou amarelo alaranjada mais

frequentemente (18). Podem ser divididos em dois grupos: adenomas com alto

percentual de gordura e com baixo percentual de gordura, é interessante que o

percentual de gordura é responsável pela aparência do adenoma nos exames de

imagem.

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A maioria dos adenomas, cerca de 70%, apresentam um alto percentual de

gordura as custas de um acúmulo intracitoplasmático de lipideos e apresenta-se

com densidade menor de 10 UH em tomografia de abdome. Infelizmente, os casos

de adenomas com baixo percentual de gordura, apresenta uma alta densidade nos

exames de imagem o que causa dificuldades no diagnóstico diferencial com tumores

malignos (19).

Em comparação aos adenomas, os carcinomas adrenais se caracterizam por

apresentar um tamanho maior, pesando mais de 100 gramas e medindo mais de 6

cm. Ao exame macroscópico, apresenta formas heterogêneas, coloração variada (

de amarelo até marrom), estrutura lobulada com fibrose, frequentemente com focos

de necrose e hemorragia (18). Eles podem invadir estruturas ao redor e se propagar

através do vasos, veia adrenal, veia renal e veia cava inferior (19).

Tais características radiológicas são tão importantes que determinam uma

cirurgia oncológica quando a imagem obtida através da tomografia é considerada

maligna por ter densidade maior que 30 UH, tumores com diâmetro maior que 5 cm

e com taxa de crescimento alta (18).

A biopsia em casos de tumores adrenais não é usual, visto que na hipóstese

de feocromocitoma e carcinoma adrenal a biopsia é contraindicada pois corre-se o

risco de romper a cápsula do tumor e disseminá-lo na retroperitôneo, além do

diagnóstico histopatológico ainda permanecer um desafio para os patologistas,

principalmente em ocasiões onde o principal objetivo do estudo histopatológico é a

diferenciação entre adenomas e carcinomas. O seu uso está resguardado para

algumas situações específicas, tais como, pacientes com metástase adrenal cujo

sitio primario ainda não foi identificado, linfoma ou tuberculose adrenal (18).

4.3 TRATAMENTO

O tratamento para o hiperaldosteronismo primário depende da sua causa

base, variando desde de terapeutica medicamentosa a cirurgia.

A sociedade americana em seu último guideline recomenda tratamento

medicamentoso com antagonistas da aldosterona para os casos de acometimento

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bilateral das glândulas adrenais, com a espironolactona como primeiro opção e o

eplerone como uma alternativa (10). Estudos em diferentes centros demonstram que

o controle dos níveis pressóricos é menos eficiente mediante a escolha da opção

medicamentosa, assim como em reduzir a rigidez arterial induzida pela aldosterona

e hipertrofia ventricular esquerda (20). Em relação a resolução da hipocalemia, o

tratamento com antagonistas da aldosterona se mostrou tão efetivo quanto a opção

cirúrgica (20).

Nos casos de produção excessiva de aldosterona unilateral, a sociedade

americana recomenda a adrenalectomia por videolaparoscopia (10). Com exceção

do carcinoma de adrenal, as lesões adrenais costumam ser pequenas, o que as

torna ideais para a ressecção por técnica laparoscópica, que apresenta uma menor

taxa de complicações pós-operatórias quando comparada com a cirurgia aberta (21).

A adrenalectomia por videolaparoscopia é segura e efetiva no tratamento do

hiperaldosteronismo unilateral, tanto em casos de adenomas produtores de

aldosterona quanto para hiperplasia adrenal unilateral. Em virtude da variedade de

fatores que estão envolvidos no desenvolvimento das patologias, é dificil prever

quem se beneficiará mais com o tratamento (11).

As taxas de normalização dos níveis pressóricos após a cirurgia são cerca de

40%, com variações entre estudos. Aqueles pacientes que não normalizaram os

níveis pressóricos apresentaram uma melhora significativa, com reduções

significantes da pressão arterial e do número de medicações em uso. Cerca de 25 %

dos pacientes submetidos a cirurgia não apresentaram melhora alguma (22).

A vantagem inquestionável da opção cirúrgica comparada ao tratamento

medicamentoso consiste no custo a longo prazo e a suspensão do uso crônico de

medicamentos. Entretanto, as desvantagens são o alto custo imediato da cirurgia e

os riscos operatórios, que apesar de baixos, existem (22). Portanto, a escolha do

tratamento deve levar em conta não apenas a patologia, mas também, o aspecto

clínico do paciente, expectativa de vida, impossibilidade de se submeter a uma

cirurgia, aderência ao tratamento medicamentoso.

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5. DISCUSSÃO

Hiperaldosteronismo primário é a causa mais comum de hipertensão arterial

sistêmica, correspondendo a aproximandamente 10% dos casos (3). Pacientes com

hiperaldosteronismo apresentam-se tipicamente com hipocalemia, fadiga muscular,

espasmos, cefaleia, palpitações, poliuria, polidpsia e nocturia (3). Entretanto, ao

contratário do que foi suposto por muitos anos, a hipocalemia é um achado pouco

comum nos pacientes.

No caso exposto, a paciente manifestou um quadro clínico típico, composto

por hipertensão arterial de inicio precoce e dificil controle associada a hipocalemia

sintomática, com fraqueza muscular difusa dificultando a deambulação, paresia da

musculatura cervical e disfagia. Tais achados direcionaram a investigação para a

hipótese de hiperaldosteronismo, iniciando a propedêutica com dosagem de

aldosterona sérica, determinação da taxa de aldosterona/renina e ressonância

magnética de abdome, na qual foi evidenciada uma massa em topografia de adrenal

direita, medindo em seu maior eixo 10 centímetros.

Os incidentalomas adrenais são raros em jovens (12), tal fato respalda a

escolha pela não realização da cateterização da veia adrenal para coleta de amostra

de sangue, procedimento invasivo com riscos que diagnostica a lateralização da

produção excessiva de aldosterona.

No caso exposto, após confirmação do hiperaldosteronismo primário e

descoberta de massa adrenal que justifica a produção excessiva de aldosterona, foi

optado por prosseguir para o procedimento cirúrgico, sem a necessidade de

cateterização.

É consenso na literatura que tumores maiores que 6 cm são geralmente

malignos (18), entretanto no caso descrito apesar do tumor medir 8,5 x 7,5 x 5,4 , no

exame de imagem, o tumor não apresentava características de malignidade, o que

foi confirmado no momento da cirurgia o mesmo não apresentava nenhuma

caracteristica de malignidade, tais como, heterogenicidade, coloração variada,

estrutura lobulada com fibrose, áreas de necrose e hemorragia (18). Ao contrário, os

achados cirúrgicos foram de um tumor bem delimitado, encapsulado, sem invasão

macroscópica para outros órgãos. Tais achados refutaram a hipótese de

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malignidade, apesar das dimensões tumorais indicarem, divergindo do que é

exposto na literatura.

A cura da paciente durante o seguimento pós-cirurgico ratifica a origem do

hiperaldosteronismo pelo tumor e sua benignidade.

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6. CONCLUSÃO

A relevância deste caso está em mostrar uma paciente jovem, com

hipertensão arterial sistêmica de dificil controle e inicio precoce, diagnosticada com

hiperaldosteronismo primário e durante a investigação da causa subjacente foi

evidenciado uma massa tumoral com maior diamêtro medindo 10 cm em

ressonância magnética. Apesar do tamanho tumoral ser compativel com malignidade

segundo os dados da literatura, durante o ato cirúrgico pode-se observar que o

mesmo apresentava características semelhantes a tumores benignos. Durante o

seguimento pós-cirúrgico, a paciente apresentou-se curada da hipertensão arterial e

hipocalemia, corroborando a hipótese de neoplasia benigna.

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7. REFERÊNCIAS

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20. PECHÈRE-BERTSCHI A, HERPIN D, LEFEBVRE H. SFE/SFHTA/AFCE consensus on primary aldosteronism, part 7: Medical treatment of primary aldosteronism. Ann Endocrinol (Paris). 2016 Jul;77(3):226-34. doi: 10.1016/j.ando.2016.01.010. Epub 2016 Jun 14. 21. HU, Ya-Hui et al. Laparoendoscopic single-site adrenalectomy in patients with primary hyperaldosteronism: A prospective study with long-term follow up. Asian Journal of Surgery , Volume 0 , Issue 0 , 22. STEICHEN, O et al. SFE/SFHTA/AFCE consensus on primary aldosteronism, part 6: Adrenal surgery. Ann Endocrinol (Paris). 2016 Jul;77(3):220-5. doi: 10.1016/j.ando.2016.01.009. Epub 2016 Jun 11.

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8. ANEXOS

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Relato de Caso

Título do Estudo: HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO CAUSADO POR UM TUMOR

ADRENAL INFREQUENTE – RELATO DE CASO

Pesquisador responsável: Mariana

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa médica. Este documento

chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido visa assegurar seus direitos

como participante e é elaborado em duas vias: uma ficará com você e a outra com o

pesquisador.

Leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer todas as dúvidas. Se houve

alguma pergunta, antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá tirar as suas

dúvidas com o pesquisador.

Se preferir pode levar para sua casa e conversar com seus familiares ou outras

pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou quiser sair da

pesquisa a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de prejuízo para você. Poderá

inclusive continuar a ser atendimento normalmente pela equipe que já o atende.

Objetivo do Estudo

Você foi escolhido(a) para participar deste trabalho, pois o seu caso clínico

representou um momento de aprendizado para a equipe de Clínica Médica e necessita

ser divulgado para outros profissionais da área. Esta apresentação será em forma de

artigo, de forma oral na Conclusão de Curso de Residência Médica na área de Clínica

Médica. O conhecimento da sua doença por outros médicos pode possibilitar um

tratamento mais rápido para outros pacientes.

Risco e Benefícios para o participante

Os riscos serão mínimos, mas existem, pois as informações registradas em seu

prontuário como dados pessoais, resultados de exames, relatos de suas apreensões, de

seu comportamento estarão expostos ao pesquisador. Além disso, as fotos de seus

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exames poderão ser visualizadas e manipuladas por outras pessoas que não da área da

saúde.

Confidencialidade

Os resultados desta pesquisa poderão ser apresentados em reuniões e/ou

publicações (revistas, jornais científicos e de circulação), contudo, sua identidade não

será revelada durante essas apresentações.

Declaração de Consentimento

Concordo que meu caso seja apresentado ou publicado.

Li e entendi o documento de consentimento e o objetivo do estudo, bem como a

importância deste estudo, seus possíveis benefícios e riscos. Tive oportunidade de

perguntar sobre o estudo e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas. Entendo que

estou livre para decidir não participar desta pesquisa.

Eu autorizo a utilização dos meus registros médicos (prontuário médico) e obtenção de

fotografias dos meus exames pelo pesquisador, autoridades regulatórias e pelo Comitê

de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição.

Receberei uma via assinada e datada deste documento.

Entendo que ao assinar este documento, não estou abdicando de nenhum de meus

direitos legais.

____________________________________________________________________________

Nome em letra de forma do participante da pesquisa

______________________________ _______________ ____:____

Assinatura Data Hora

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_________________________________________________________________________

Nome em letra de forma do Médico que aplicou a discussão do Termo de Consentimento

____________________________________ __________________ ____:____

Assinatura Data Hora

_________________________________________________________________________

Testemunha

_________________________________ _________________ ____:____

Assinatura Data Hora

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9. APÊNDICE

IMAGENS

Figura 1. Lesão em topografia de

glândula adrenal direita.

Figura 2. Lesão em adrenal direita

em videolaparoscopia.

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Figura 3. Lesão após ressecção por

videolaparoscopia, com extensão

aproximada a um bisturi cirúrgico.