Glaydston Machado - Beija Flor (2015)

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Beija-flor

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Glaydston Machado - Beija Flor (2015)

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Beija-flor

BEIJA-FLOR

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BEIJA-FLOR

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Glaydston Machado

Beija-flor

3ª edição

BEIJA-FLOR

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Copyright © 2015, Glaydston Machado Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009. Coordenação editorial Ramon Ferreira Direitos desta edição reservados à editora Coqueiro Verde [email protected] www.editoracoqueiroverde.com.br Printed in Brazil/ Impresso no Brasil CIP-Brasil. Catalogação na fonte. Cadastro na Biblioteca Nacional M1802b

Machado, Glaydston Beija-flor. 2ª ed./ Glaydston Machado - Paripiranga: Coqueiro Verde, 2015. 1. Poesia brasileira. I. Título

CDD-B869.1 CDU-821.134.3(81)-1

BEIJA-FLOR

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SUMÁRIO Primeiro voo ..........................................................................................11

Começo ..................................................................................................12

Perdição ..................................................................................................14

Procura incessante ................................................................................15

Lugar nenhum .......................................................................................17

Bilhete 1 .................................................................................................18

Paradoxo ................................................................................................19

Encontro 1 .............................................................................................20

Encontro 2 .............................................................................................22

Conto de fadas ......................................................................................24

Reino mágico .........................................................................................25

Beijo ........................................................................................................26

Falta de palavras ....................................................................................27

Indescritível ...........................................................................................28

Contemplação .......................................................................................29

Escapismo ..............................................................................................30

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Outra cena .............................................................................................31

Segundo voo ..........................................................................................32

Pelo .........................................................................................................33

Jogo .........................................................................................................34

Só assim ..................................................................................................35

Esperanças .............................................................................................36

Apelação .................................................................................................37

Enquanto seu lobo não vem... ............................................................38

Ilusão ......................................................................................................39

Saindo de ti ............................................................................................40

Novamente ............................................................................................42

Perguntas ................................................................................................43

Sem fim, nem meio...............................................................................44

Novo instante ........................................................................................45

Tempo passado .....................................................................................46

Velocidade .............................................................................................47

Brotando ................................................................................................48

Bilhete 2 .................................................................................................49

Diferenças ..............................................................................................50

Cena ........................................................................................................51

Dormir ....................................................................................................52

Beija-flor .................................................................................................53

BEIJA-FLOR

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Terceiro voo ..........................................................................................56

Nada........................................................................................................57

Noite das bruxas ...................................................................................58

Abrindo palavras ...................................................................................60

Minha rua ...............................................................................................61

Notícias ..................................................................................................62

Visita .......................................................................................................63

Solidão ....................................................................................................64

Percorrendo ...........................................................................................65

Primavera ...............................................................................................66

Lembranças ............................................................................................67

Grito .......................................................................................................68

Resto .......................................................................................................69

Realidade sertaneja................................................................................70

Renúncia .................................................................................................71

Psicose ....................................................................................................72

Direitos ...................................................................................................73

Corrupção ..............................................................................................74

Mudança 1..............................................................................................75

Para quê ..................................................................................................76

Chega ......................................................................................................77

Espelho ..................................................................................................78

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Passagem ................................................................................................79

Direção ...................................................................................................81

Enigma ...................................................................................................83

Desabajo.................................................................................................84

Primeiros años .......................................................................................85

Incompleto ............................................................................................86

Busca.......................................................................................................87

Medieval .................................................................................................88

Portugal ..................................................................................................89

Paradoxo 2 .............................................................................................90

Distância.................................................................................................91

Sutil monstro .........................................................................................92

Ato final .................................................................................................93

Viagem ....................................................................................................94

Dentro do carro ....................................................................................95

Percurso .................................................................................................97

Navegar ..................................................................................................98

Mudança 2..............................................................................................99

BEIJA-FLOR

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São lugares tantos Pessoas múltiplas Amores outros Sentimento zen Há algo de luz De festa, inferno E paraíso De pecado e perdão.

BEIJA-FLOR

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O meu jardim é o mais belo, mesmo sem flores e sem primaveras e sem jardim.

BEIJA-FLOR

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Primeiro voo

No primeiro canteiro não havia nada, sem verde, nem sombra, nem flores. Joguei uma semente que brotou uma esperança...

Daí dei o meu primeiro voo...

BEIJA-FLOR

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Começo

Eternamente escuro se vivia Negro no mais preto prisma era Somente fantasmas - Nobres habitantes das trevas Durante séculos e séculos Nas noites de breu, furor e medo, Onde sapos bufantes estáticos Cobras elegantes sem veneno Aranhas de pernocas de fora Viviam na cegueira total do universo De repente, um estrondo Um gameta atômico se choca com outro A fecundar um embrião - Filhote a revolucionar Daí, duas pedras ardem em chamas Salamandras, dançarinas, duendes, Gnomos, mágicos e orixás Um choc, explosão, clarão se lança no ar E nada era preciso entender Sim, si, já, oui, yes, sei lá o quê - A luz!

BEIJA-FLOR

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E não me perguntes por que tamanho gozo - Mera sensação do nascer De repente, o tumulto, a fome o homem A fruta, o pecado, a torre, a dúvida, a procriação Sodoma e Gomorra, israel cristo, anticristo Então, o comunismo, o mundo, a sanha Palavra nazi-ordem, grita Alemanha, Hiroshima Propriedade que não U.S.A. Muro, separação, Surge a serpente de asas Pedras oxigenadas, aranhas voadoras Arigatô, por todo mundo C h e g a Não sou culpado de nada.

BEIJA-FLOR

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Perdição

Tu ainda apreciavas a pureza das fadas No teu grande reino pudico brincavas Até um dia tua perdição chegar... ... E te mostrei a malicia do pecado O gozo profundo do paraíso E tu só me olhavas, Depois extasiava-se, apertavas-me E mais querias... Teu fogo de ariano incendiavas-me Numa dúbia resposta em chamas Teu corpo, fauno de ébano, fulminava E tu surpreendias. A minha tal culpa, grande culpa É entender que, embora não haja Culpa sem culpado Que fui eu o grande responsável Pelo inevitável prazer infinito Do pecado.

BEIJA-FLOR

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Procura incessante

No primeiro instante em que meus olhos Pousaram sobre os teus Num momento em que teu visual Me surpreendia A transformar minha ansiedade num farol De violentos raios de querer, percorri Toda praça como um beija-flor Todos os canteiros Todos os becos Todos os guetos Para saber quem tu eras. Veio a noite mandigueira Onde gnomos pulavam Duendes andavam Orixás saravavam Na espera do próximo instante Em que os relógios despertariam Para um novo ano de final de século. Como fazer? Onde te achar, Arlequim do meu baile, Marujo do meu mar Príncipe encantado do meu reino de quimeras?

BEIJA-FLOR

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Só me resta mandar recados ao reino das águas Onde sereias, iaras, peixes poderão realizar-me Transformando-me num pescador de pérolas Para quando sacudir a rede, ornada a ouro, Encontrar a peça chave da minha h(e)stória.

BEIJA-FLOR

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Lugar nenhum

Inexoravelmente busco Atingir algo Que venha a ser Um nada, Mas quando me permito Significados Chego A lugar nenhum.

BEIJA-FLOR

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Bilhete 1

Olha, Muito tempo já desperdiçamos Na escuridão e no frio O importante é que já aceitamos A verdade, o nosso desafio. Muito tempo já perdermos Fechemos com dignidade a porta Vivamos nossa felicidade Desprezando subterfúgios.

BEIJA-FLOR

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Paradoxo

Todos dizem ser eu Uma fortaleza Um mouro Um espadachim Detonador de espaços Que atravessa n a história De alguém Onde sinto sempre menos.

BEIJA-FLOR

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Encontro 1

Tu preparaste todo o ambiente Convidou-me às almofadas Incenso oriental, cheiro de magia Uma música Mil viagens... Dentro da minha fantasia musical Quanto mais Bethânia Mais romântico e perceptivo Maria Callas... seria a hora Piaf invadia a áurea E a emoção mais excitada Seria... Amália, Amália, entristeceu-me Respirei fundo, algo mudou Pavarotti me reprimia, sentia meu tesão fugir Elis, paralisou tudo Águas de março Desabei num palco De múltiplas emoções Num jogo de sentimentos

BEIJA-FLOR

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Através de uma trilha sonora Que tu tentavas me seduzir ... Não saiu nada

BEIJA-FLOR

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Encontro 2

Não adiantou aquela reportagem Do leste europeu Daquela reação U.S.A. a Fidel Da miséria sempre África. ... você mais parecia inverno na Sibéria! Mudei a técnica, como nas Américas Apelei para a realidade nordestina Misturei com a problemática crise Argentina ... nada, você impassível! Lembrei-me da queda do muro de Berlim Da evasão da Albânia Da língua lusitana, do latim Da mudança do Kremlin... Tudo indevido! Resolvi falar de coisas diferentes, Apelei para a plim-plim

BEIJA-FLOR

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Para a novela. Para estrela da telinha Para aquele canastrão Você ria e me dava atenção Só que a hora vencia e eu precisava Ir embora.

BEIJA-FLOR

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Conto de fadas

Neste conto de fadas Surge na persona irreverente Um príncipe Contando histórias de um Passado infeliz Mas que o tempo Aos poucos Se incumbiu De mudar o curso... ... até chegar com o Sapatinho diante da Princesa maravilhosa.

BEIJA-FLOR

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Reino mágico

Ah, como é gostoso penetrar No seu mundo, no seu Reino mágico habitado De malabaristas, duendes E fantasias, onde sua beleza Nua encanta sem pornografias Quero jurar-me a si Mergulhar nesse infinito Mosaico de fascinações Tornando-me um maestro De palavras, um feiticeiro De adjetivos, um fazedor De emoções.

BEIJA-FLOR

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Beijo

Arpejava Inefável A carne, Sangue, Cérebro No instante Primeiro Do desejo Indispensável Beijo!

BEIJA-FLOR

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Falta de palavras

Que falar para ti? Do meu modelo de carro Do último show da Bethânia Da cidade de Pessoa Do inverno europeu Ich libe dich J’taime Ti quero I love you... Ah, por favor, me beije!

BEIJA-FLOR

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Indescritível

Nada disse. De certa forma percorri Suas mãos suaves, dedos de pelica Sobre o frêmito de meu corpo seu Nossos nervos de tal forma tensos Onde o magnetismo penetrava No extremo de nossa procura... ... suas mãos... Mãos fortes como as de um espadachim Tocaram-me intensamente Como as mãos experientes de um amante Profissional Até chegar ao transbordante Jorro final De inferno u paraíso Em que estivemos acorrentados A um desejo indescritível E aí, dormimos.

BEIJA-FLOR

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Contemplação

Contemplar Seus olhinhos Sua boca Sem palavras Seu ombro A aconchegar Minha face Seus braços A acolher-me No mais puro Dos abraços Seu silêncio A falar Por mil alto-falantes.

BEIJA-FLOR

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Escapismo

Quando a noite cessar E a nudez do silêncio Acordar, abro os olhos E vejo a nudez De teu corpo esguio A dividir comigo o Mesmo travesseiro Tu que me olhas e nada Me dizes, nada Apenas gesticula E deixa escapar Um suspiro De como se dissesses “te gosto”

BEIJA-FLOR

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Outra cena

Quando você me vir Não se assuste Silêncio gritante Fenecido pelo Desespero Causou-me mil Palavras O abandono Linguístico Transformou-se Em obra E tudo resultou Numa outra cena.

BEIJA-FLOR

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Segundo voo

O meu canteiro cresceu, a minha semente germinou, flores apareceram, e eu virei um beija-flor. ... só que, ao lado, cresceram ervas daninhas.

BEIJA-FLOR

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Pelo

Pelos múltiplos instantes que vivemos Pelas farpas que me atingiram Pelas palavras que me apedrejaram Pela coragem de chegar junto E me distanciar da maioria Pelo carinho de com força e vigor Abraçar a causa Que Depois de tanto, tanto A decepção Mas é preciso que se vá à luta Para saber o gosto da vitória Ou derrota

BEIJA-FLOR

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Jogo

Quem morreu? Quem feriu? Quem tem razão? - nós! Sobram pedaços de mim em ti Bem como pedaços de ti em mim Num jogo Onde não há culpa Sem culpado.

BEIJA-FLOR

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Só assim

Não, não me faça ir tão longe Causa-me concentração Puxa-me pela memória Não me convém negros tempos Lembrar A única ditadura Só de braços abertos e Abraços A única mudança Só para Amar Só assim chegaremos Ao real Da nossa cansável história.

BEIJA-FLOR

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Esperanças

Foram muitos encontros marcados Muitas alegrias e tristezas Compreendi que não consegui Realizar o que idealizei Ficaram pedaços de sonhos No caminho Enquanto carrego Restos de emoções E na mente A velha ideia De viver outro Encontro.

BEIJA-FLOR

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Apelação

Como no mundo mágico Salto do frasco de emoções Para habitar o mundo Dos desejos Tudo diferente Estranhas sensações Falsas quimeras Deste feitiço insípido Desta duende insossa De efeito incolor. Faça-me favor, Quero outro pedido.

BEIJA-FLOR

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Enquanto seu lobo não vem...

...Escrevo algumas palavras Para enganar a ansiedade Tomo uma caipirinha Durmo de porre Até um novo poema pintar.

BEIJA-FLOR

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Ilusão

Procuro as almofadas E tento ao seu lado Compartilhar o meu brutal Sentimento mais puro Deixo escorrer uma lágrima Cruzo os braços, depois De tanto tempo de janela, E sinto frio Relógio desperta Toca no rádio uma canção Que fala de amor Telefone não me chama Minha alma entristecida Ainda se ilude Que você ainda vem.

BEIJA-FLOR

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Saindo de ti

Abro todas as portas Todas as comportas De meu sentimento Para que tu saias Atento Ao meu ser cansado de Ilusões Solto meus braços Desprendo meus laços Apago nossos atos Para não ficar vestígios De nós. Quebro seu frasco de bebida Disfarço o ninho, a guarida Para te afugentar do meu coração Incenso meu espaço Arrumo a cama Sua foto na lama Não quero nem uma grama

BEIJA-FLOR

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De recordação Cansei de ser triste Nada mais existe Somente cansaço E decepção.

BEIJA-FLOR

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Novamente

Quão bom seria Se um dia Pudesse dizer: Novamente... Pelo prazer Que desejo, Acontecesse De repente.

BEIJA-FLOR

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Perguntas

Se me perguntares O tamanho Da minha ansiedade Pedirei que procures Meu cardiologista.

BEIJA-FLOR

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Sem fim, nem meio

De tudo o que me aconteceu Nada vos tenho a contar Sobraram palavras Pingos de emoções Saudades mutiladas Dúvidas sem fim Se houver perguntas Surgirão interrogações Infinitas De um começo que não Passou disso.

BEIJA-FLOR

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Novo instante

Buscar naquele momento De ontem Não vinga O novo é sempre presente Mesmo um dia após o outro O ritual natural do momento É inconstante Por isso Aquele beijo do dia 19 Aquela transa do dia 20 Aquela rejeição do dia 21 Permitem acreditar Num novo instante sempre Num novo momento sempre Num novo presente sempre Diferente.

BEIJA-FLOR

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Tempo passado

Meu anjo me trouxe um amuleto E nada perguntei Para não perder o doce mistério Como tudo que se gosta E não se explica.... ... de repente, a minha frente A lembrança mística De no momento acontecido Ter havido O que não mais havia Esperanças.

BEIJA-FLOR

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Velocidade

Madrugada fria Koln parece resfriada Tu saíste sem palavras O dia custava amanhecer Da janela A velocidade dos autos Na mesma quilometragem Que teu agir

Colônia.

BEIJA-FLOR

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Brotando

Daí, O amor Desejado Aclamado Vivido Acabou O sentimento Desgastado Inflamado Apareceu Do fundo Profundo D’alma Floriu Palavras Verdades Inspiração.

BEIJA-FLOR

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Bilhete 2

Momentos vão ficar Cravado no tempo A mente vai lembrar O que se foi ao vento O instante será sempre seu A saudade minha Nos seus olhos o adeus No meu peito a agonia Sinto que nada se perdeu O prazer foi dividido O amor foi só meu O seu, leve-o consigo.

BEIJA-FLOR

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Diferenças

Deixa-me dizer essas coisas que eu mal sei Deixa-me desabafar este furor incontido A transformar meus sentimentos em labaredas Minhas emoções em algo inexplicável. E na bagunça do meu coração algo faz A diferença e amordaça a palavra Traduzindo o mais belo do meu querer A mais bruta das implosões. Quero coragem para, diante de ti, Mostrar nossas diferenças. O dobro da minha vivência me situa menos E prejudica a caminhada. Vou pelo acostamento para ficar mais fácil De oprimir meu lado free Já que tenho tantas e tantas primaveras Neste sol lindo de verão. Você sabe do meu prazer E meu quarto, minha intimidade São provas da minha incansável discriminação.

BEIJA-FLOR

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Cena

Brinco com as palavras E assim me liberto De um infinito que há Invento amores, transas Beijos programados, impulsos, Cenas picantes para capítulos Emocionantes e extasiadores Quando, no meu camarim Entendo que Tudo certinho fiz, sem defeitos, Para contemplar, o lado perfeito Para os outros

BEIJA-FLOR

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Dormir

A noite é fria A cama me espera O sono me apanha. Sonho Cenas bordadas em Estrelas Universo azul e Encantador Ofereço a mais Linda das estrelas A romântica das luas E o mais puro Dos sentimentos. Acordo Os anjos tentam Através de sonhos Satisfazer-me Na mais linda e Pura das mentiras

BEIJA-FLOR

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Beija-flor

Prepare-me para hora marcada Perfume, preces, guias, Que roupa vestir Qual a cor da sorte No espelho, minha ansiedade Meus traços, minha insegurança Mas, tudo muito especial. No primeiro passo a rua, uma flor Que talvez fosse álibi Para me tornar um beija-flor Depois de te ofertar Roubar o néctar E alimentar minha libido proibida No volante do meu automóvel Mais demorada se tornava a trajetória E a mente voando, voando Bethânia a acompanhar-me no som Com uma música que fala de amor

BEIJA-FLOR

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Piso mais fundo no velô Enquanto chego e tudo advém ... não mais o carro, sim o próximo voo tap Dez horas de aflição, confusão, Coração pesado, sentido de exílio Depois de muitas árvores plantadas Saudades de papear com Dega, nos intervalos do Nobel Rir com Zuleide nos tempos do Interba Ouvir Rô Rô com Claudião... E algumas lágrimas Lisboa me acolhe, Pessoa me orienta Florbela me traz inspiração, Beto me acompanha, divide o mesmo quarto Sofre, passível observa a mesma situação Depressão social, grande papo federal Para seguir minha trajetória em Colônia Poder contar... Muitas façanhas Claudinha, Fabinho, Isabel, Joachim, Gizelda, Ana Lúcia, Salomé, Eloisa Scheffer Meus jardins E como beija-flor Povoei muitos sonhos, Alemanha, Espanha, Portugal... A Salvador novamente o beija-flor

BEIJA-FLOR

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Perderam-me por muitos instantes E a história um novo rumo tomou Retorno às origens Para os horizontes do Agenor Cumprir outra missão No voo do beija-flor.

BEIJA-FLOR

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Terceiro voo

Tu saías, em marcha fúnebre tudo ficou, a poltrona isolada no canto totalmente vazia. Segredos de alcova se partiram em lágrimas e mais quarenta graus de solidão. Correr à Mãe D’água não mais podia, nesta bela estação apagada. O jardim morreu, não há flores, não há jardim, sim concreto armado, mesas e cadeiras, vinho do porto, champanhe, numa primavera europeia.

Pobre beija-flor, seus beijos amordaçados ficarão oprimidos, somente revelados através de palavras de algum poeta de alguma era futura.

BEIJA-FLOR

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Nada

... É De luta e desejo Caminho e espera Revela minha sede Ao pote me vou ... Nada Nada acontece Cerro as cortinas E saio de cena.

BEIJA-FLOR

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Noite das bruxas

Fiquemos mais um pouco Não deixe terminar por agora Não deu meia-noite ainda Para o encanto virar abóbora. Fiquemos Os confetes ainda brilham No nosso corpo Príncipe incendeia a festa E a mágica se manifesta E o que vejo é harém De fantasias Lançar-se sobre mim; Entro na folia Desato meu pudor Arrebata-me em furor Duendes rodopiam No espetáculo sem fim. A dançar no salão do reino Rasga a minha roupa Alguém de transcendência louca Beija-me a boca

BEIJA-FLOR

[ 59 ]

E me eleva aos céus São tantas fadas, vedetes, castelos, véus. Meia-noite o sino toca As bruxas saem das tocas Busco você que me pediu pra ficar Estou sozinho Mordazes morcegos fazem a festa Zunidos de magos Tristes dragas Que ancoram no crivo De feitiços sem fim. Percorro todo o castelo Meu grito se perde Meu eco urra Choro Enquanto envelheço E o mundo me conta As mesmas estórias.

BEIJA-FLOR

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Abrindo palavras

Busquei todos os momentos interessantes Criei mil produções Invejáveis Meu ego cresceu Pai mil sonhos Sonhei realizações Muitas concretizadas Outras tantas pela metade Mesmo assim não mudei. Dei para criar palavras Inventar versos Percorrer o atingível Do me eu. Só assim poderia me mostrar Que a luta continuava E nem todas as janelas Estavam fechadas.

BEIJA-FLOR

[ 61 ]

Minha rua

Gosto da rua de tamarindeiros que moro Num pequeno castelo simples e modesto Tem um pátio pequeno e incerto Visual ameno, mas que tanto adoro.

BEIJA-FLOR

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Notícias

De cá, Algumas poucas Notícias Carnaval Favelas Futebol... ... esbarro na verdade... ... sinto saudades!

BEIJA-FLOR

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Visita

Apanho o comboio no cais do Sodré Radiante atravesso Belém, Algés A altura que escuto Amália Tradicional fado e inspiração Apanho o comboio e sigo direção Oeiras chegar Pra abraçar Xanda, Dina, Paula Minhas irmãzinhas de Luana Abençoadas por Pessoa E pela língua lusitana Nos trilhos de trem

Lisboa

BEIJA-FLOR

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Solidão

Pensamento bom, imenso Onde tudo é imenso Esta selva de pedra Este rio largo e Navegável Esta solidão tamanha Pessoas mil na cidade De Pessoa As ruas de tantos séculos Este clima, esta chuva Este Tejo Esta lembrança poética Esta história, esta nau Navegar... No meu sertão não há mar Mas lá consigo chegar De onde, até mesmo, nunca saí Mesmo estando em outro Porto Outra calle.

Lisboa

BEIJA-FLOR

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Percorrendo

Queira-me Pessoa a ti junto chegar Conhecer teu maravilhoso Tejo Navegar na baía lisboeta E em Belém ancorar Deixa-me percorrer Por entre versos Régios Flor bela me inspirar Perder-me n’alfama E nas alturas do Castelo São Jorge do dragão impotente Deixe-me de prazer embeber-me Na pura linguística docente Na velocidade da emoção Incontrolável Alcançar Rossio, Príncipe Real Até encharcar meu coração

Lisboa

BEIJA-FLOR

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Primavera

É primavera! Europa florida Clima especial Neste traje especial Nesta cidade especial É primavera! As ruas brilham Os modelitos gritam Os carros estapafúrdios E as flores me cumprimentam Num momento De inteiro silêncio Permanente Na Europa.

BEIJA-FLOR

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Lembranças

Cada passo um encontro Cada encontro um encanto Cada encanto um lugar Cada lugar uma emoção Cada emoção uma história E na história um passado E no passado uma lembrança E na lembrança a falta do Que ficou pra trás.

Santiago de Compustela

BEIJA-FLOR

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Grito

Deitar sobre as nuvens Mentalizar o amor No meio de tudo A solidão Minha cama vazia Uma música no ar A conduzir a aeronave Dos meus sonhos Num momento Que não se pode sonhar Depressão. Nada de cigarro Nem droga qualquer Que venha a me alienar Prisão. Precisamos todos gritar Soltar o eco Quebrar os grilhões Viver é para todos E não concessão de Poucos.

BEIJA-FLOR

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Resto

... meu povo Minha terra Meus amores... V a z i o Só passado Fotografias Produções E um nome.

BEIJA-FLOR

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Realidade sertaneja

Vivo no sertão Onde há vida E dureza Chuva que nunca Cai E se cai Há produção Quando não Oração Há clareza nos olhos Da raça Sofrimento nas mãos Mas há alegria Mas há garra Mas há sentimento Mas há coração.

BEIJA-FLOR

[ 71 ]

Renúncia

Essa espera bendita Esse êxtase bendito Essa frieza bendita Esse vazio bendito Esse desespero bendito Essa renúncia bendita Me faz crer Destino é meu Quem muda sou eu.

BEIJA-FLOR

[ 72 ]

Psicose

Na psicose de querer ser Nada de normal há Somente a paranoia enrustida Na mente louca De pessoas insanas Que vivem mergulhadas No submundo do poder.

BEIJA-FLOR

[ 73 ]

Direitos

Desatino os caminhos Quebro os laços Desando a roda E grito Pelo direito Aos meus direitos

BEIJA-FLOR

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Corrupção

O poder invade a razão Desvirtua o sentimento Sobe à cabeça E muda os homens.

BEIJA-FLOR

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Mudança 1

Enquanto houver preocupação De pessoas comprometidas Com o preconceito Haverá sempre guerras Precisa-se que haja Exatidão nos olhos E certeza no coração Para derrubar a máscara Da superfície Dos homens endurecidos Precisa-se de conscientização Para se fazer uma nova revolução E protestar pela bandeira Da paz.

BEIJA-FLOR

[ 76 ]

Para quê

Para quê tanta vaidade Tanto clip, tanta bossa? Por que perseguir, alienar, Maltratar, retrais? Sei que tens o poder Como também sei que Tua vaidade, tua posse, Tua pose, teu dinheiro E x t e r m i n a r ã o Quando tua fase passar.

BEIJA-FLOR

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Chega

Não me peçam querer voto São-me desonestos tais homens Que corrompem a dignidade pública A honestidade alheia Os méritos da população. Não me venham cinicamente Prometendo solução Com cara de piedade Seu ar de desonestidade Me causa ojeriza Seu teatro de caras e bocas Não me convence mais. Chega! A cidade perdeu o preço Não podemos mais pagar Pela impunidade.

BEIJA-FLOR

[ 78 ]

Espelho

Não, não, não Arranca desse peito Castrado Nojento Ardido Infestado de conceitos Quebra essa corrente Enferrujada Desgastada Pelo tempo Pula desse grilhão Atrasado Melado Pelo preconceito Que não te deixas subir - enfrenta o espelho.

BEIJA-FLOR

[ 79 ]

Passagem

Destino de aventureiro, pegadas no Chão de giz Havana, sem grana, Fidel Carência, clemência, povo mel Caribe imenso, propenso sol Mar Cor Cor também que há no Rio Quando abro a janela Favela, bala, redentor, Copacabana Que horror... até o cinza escuro De Sampa passa sem graça Como o cimento do centro da Capital De papel e de pecado mora perto Ao lado a reserva, selvas, jacarés Veados Lado do dendê Cadê a baiana malemolente, oxente, Isto é coisa do passado Axé, axé, orixá Santo aqui, santo ali, santo acolá

BEIJA-FLOR

[ 80 ]

Acolá no sertão sem água então Tudo muito russo, socialismo em gotas, Leste confuso, confuso Quero solução, solução E apressar meu passo Apanhar o primeiro viazul Banhar-me na cascata termal Papear com Maria Emília, Maricelma Num jogo de cartas, Apreciar Eraldo no Mãe D’água Onde tudo é saúde, é diversão... ... mas tem fofoca.

BEIJA-FLOR

[ 81 ]

Direção

Os tambores rufam Candy all Pelo Neoantigo Neologismo Sotaque Falar nagô Babados e babados Outdoor Por toda cidade Tranças, megahair Mulato da liberdade Moda axé Estar na barra Que é uma barra Lembrar o passado Fujo Sumo Direção S e r t ã o !

BEIJA-FLOR

[ 82 ]

Chego Oásis Águas termais Solidão Esperava festa Romeu e julieta Fogo de dragão.

BEIJA-FLOR

[ 83 ]

Enigma

Nunca se amedronte O enigma da vida É desvendar mistérios É procurar caminhos É ir além da imaginação. Todos têm que passar Pela tempestade Pra amanhã ter O que contar.

BEIJA-FLOR

[ 84 ]

Desabajo

Assim por desabajo De la tênue capa De la ocupacion Em mi corazon La imposicion coberta Administrativamente Que existe em Mi viva

Galiza, 30.05.97

BEIJA-FLOR

[ 85 ]

Primeiros años

Durante los primeiros años De expansion em mi Se regristran movimentos De resistência A la ocupación Por su poder Consierado extaño Em mi vida

Galiza, 30.05.97

BEIJA-FLOR

[ 86 ]

Incompleto

Sei que me deliciei Das tantas bocas rubras Vermelha e vermelhas Dos tipos mais exóticos E atraentes Dos sexos mais fulminantes E retraídos. Tive tudo que desejei Mas me faltou A presença De um amor.

BEIJA-FLOR

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Busca

Daí, cansado da mesmice quotidiana Implorei a Neruda me socorrer Num tradicional centro de umbanda. Entre anjos, incensos, velas, evocações Desce Pedro Arcanjo Saudando Compadre de Ogum Pedindo passagem e luz ao oju Para sua mensagem prosseguir ... lembra de Maria Machadão No reino do cacau De Gabriela no mundo dos coronéis De Tieta, a cabrita total Da Bahia, dos bordeis,

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Medieval

Eu preciso ser medieval Buscar um trovador Para em suas cantigas Me conduzir em palácios A executar O meu sentimento teu. Cantar o jogral Do meu amor menestrel Eu não quero ser moderno Preciso tirar da clausura Meu terno Deixar o coração sibilar Sua nota mais elegante Numa cantiga de amigo.

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Portugal

Ontem Lisboa sorria e eu não achava graça Sintra maravilhosamente se mostrava imponente E eu não enxergava. Cascais debruçada no mar A esvair beleza, a desbravar inspiração. Mas minha sensibilidade não alcançava. Alfama a me contar histórias do sem fim Num bonde chamado desejo Até ao castelo de São Jorge chegar. E nada, nada... Meu amigo João levava-me a Costa da Caparica Mostrava-me Seixal, o comboio até Oeiras Visitar Xanda, Dina, Paula, O auto carro à Chelas, Ilson e Roberto abraçar Papear com a goiaba Cristina Em Amora repousar. Quanta saudade que sinto agora Do Tejo que não é Itapicurú Da minha aldeia, mas que me fez Navegar até o princípio da história.

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Paradoxo 2

Não busquei este momento que ora me atrai Ora me diz pra não querer Mas para o instante feliz, te quero Só pra contrariar o meu desejo contrário Presente num jogo de palavras Que a minha mente e a minha vontade Obedecem.

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Distância

Longo espaço Vazio Saudades Aperto no coração Já desisto Pressão.

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Sutil monstro

Oh, sutil monstro desejado Penetra no escuro da existência invisível E transforma em prazer esse riacho Caudaloso que se espraia pela vegetação. Percorra a flora do meu corpo E traga para a superfície as orquídeas Do meu jardim, transformando-se em um Beija-flor. E beija-me a fundo, Prove o néctar, depois adentre na natureza Das palavras e fale de boca cheia Depois de extasiado, silhueta embebida E meu corpo totalmente renovável no seu.

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Ato final

Dessa estorinha cansei O tempo não reparou A minha idade E eu cresci. Somente o espelho Escutou as minhas súplicas E minhas mudanças E assim se passaram anos e anos A espera de um encontro Que nunca aconteceu Abro as cortinas de uma história Para encerrar o ato da desesperança.

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Viagem

Na boca sorridente da praça Onde Deus abençoou o véu da cascata Nativos e visitantes se despem Para saúde apanhar Enquanto outros trafegam Gordo, Mãe D’Água, Parques, Marques Bar É doce vislumbrar o imponente Grande Hotel Acolhendo todo horizonte da cidade E que o olho alcança e a beleza encerra. À minha frente o Reno e a lembrança Glaydston Machado produz: Saudades da minha terra.

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Dentro do carro

Depois de um terrível stress Pinta um feriado Apanho o beija-flor, Apelido do meu carro, Convido irmão Beto A sair pelo asfalto Ruas e ruas, mil rostos Estampados De repente, brequei de forma fatal - ela, a diva da canção Maravilhosa, impar, orixá Gritava irmão Beto Quando avistava Bethânia A caminho do Gantuá De alma lavada, peito leve Volante, direção – mar, orla Multidão Parecia carnaval Novamente um grito de explosão

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- Ivete, Ivete, eva do paraíso Bahia, rasga seu canto, Sangalo De paixão. Voltamos pelo Campo Grande Dobramos a primeira esquina Com um som estonteante dentro Do coração, Quando, de repente, o sinal fecha Uma trupe atravessa para o Castro Alves - Gal, Gal, fatal, plural, total Enquanto, atrás: buzinas Xingamentos, engarrafamento... Av. Sete, Carlos Gomes, teatro Vila Velha Não há mais opção para nos fazer rir De emoção Só nos resta assistir a bagagerie A última opção.

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Percurso

Meus ancestrais habitaram teu mundo Num tempo de rei e de história Qual passado que outrora vivera Cheio de nuances e (in)glórias. Dos portugais partiram Desbravando o mar tenebroso Tempestades e temporais Para aqui fixar a bandeira De um novo mundo melhor ... Que de melhoria até hoje se espera Na luta claudicante dos de agora.

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Navegar

Olvidar sempre e sempre muito Aqueles tantos e tantos desencontros De profunda alegria e encontros Quando deitado no travesseiro Do teu peito Deixamos nossas pegadas. Cá, onde busco um mundo de raízes A navegar no Tejo até o Paço Medieval, antigo, clássico passo E tu a deitar-te no meu coração.

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Mudança 2

Acordei no meio da felicidade E Paris parecia resfriada Abri minhas janelas para o Sena E minha alegria contagiava o clima. As ruas chiques, alinhadas Em contraponto como me encontrava Eu não queria significado para nada Eu não queria significados para nada Já me fugia até o nativismo Num momento que o canto da Piaf Penetrava em meu ambiente E a torre Eiffel apontava.

Paris

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Como te falar Da minha dor Se só eu sinto Só em mim dói