Fotoliteratura #2

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Foto Litera tura “Trazes os brincos compridos, Aqueles brincos que são Como as saudades que temos A pensar do coração.” {Fernando Pessoa Paulo Rossi facebook.com/fotoliteratura edição #2 | abril 2016 2

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O Espaço – esta abstração spencereanaQue abrange as re lações de coex is tênciaE só! Não tem nenhuma dependênciaCom as vér tebras morta is da espécie humana!{Augusto dos Anjos, in Gemidos de Arte

Islâne Suelen

Islâne Suelen

Mocidade, portanto, ergue o teu grito, Sirva-te a crença de fanal bendito, Salve-te a glória no futuro – avança!

{Augusto dos Anjos, A Esperança

Não! Jesus não morreu! Vive na serra

Da Borborema, no ar de minha terra,

Na molécula e no átomo... Resume

A espiritualidade da matéria

E ele é que embala o corpo da miséria

E faz da cloaca uma urna de perfume. {Augusto dos Anjos, in Poema Negro

Francisco Milhorança

“A memória vomita alta e seca | Uma turba de coisas tortas; | Um galho retorcido sobre a praia

{T S Eliot , in Rapsódia de Uma Noite de Vento

Carcomido, liso, polido | Como se o mundo entregasse | O segredo de seu esqueleto | Branco e rijo. | Uma mola quebrada numa fábrica, | Ferrugem que se prende à forma | que a força abandonara | Dura e tesa e prestes a estourar.”

Francisco Milhorança {Paulo Leminsky, in Por um Lindíssimo de Segundo

T udo em mimAnda a mi lT u do as s imTudo por um f i oT udo f e i t oT udo est i v e s s e no c i oT udo p i s ando mac i oT udo ps i uT udo em minha vo l t aAnda as tonta sComo se as co i s a sFos s em todas A f i n a l d e conta s

{T S Eliot, in Os Homens Ocos

{Paulo Leminsky, in Por um Lindíssimo de Segundo

“Nós somos os homens ocosOs homens empalhados

Uns nos outros amparados O elmo cheio de nada. Ai de nós!”

Paulo Rossi

O rebanho de cabras passoujunto às águas do rio.Na tarde cor-de-rosa e de safira,cheia de paz romântica, eu fito o grande bode.

Salve, demônio mudo!És o mais intenso animal.Místico eternodo infernocarnal...

Quantos encantostem tua barba,tua fronte larga, rude Don Juan!

Que grande acento em tua olhadamefistotélicae passional!

Vai pelos camposcom tua manada,feito um eunuco, sendo um sultão!Tua sede de sexo nunca se apaga;bem aprendestedo pai Pã!

A cabralenta te vai seguindo,enamorada com humildade;mas tuas paixões são insaciáveis;a velha Gréciate compreenderá!

{Federico Garcia Lorca, in O Bode

Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indis-

pensável: Um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um

córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas

ocultar a terrível herança que te deixou teu pai apaixonado -

a insensatez de um coração constantemente apaixonado.

E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te

quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alquei-

re, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos

da minha mais dolorosa poesia.

Da mesma forma que eu, muitas noite, me debrucei sobre o teu

berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas

mais indefe sas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades

que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua. (...)

{Vinícius de Moraes, in Pedro, Meu Filho

Paulo Rossi