Fichamento - Cultura da convergência - JENKINS, 2009

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1. Indicação bibliográfica Jenkins, Henry – Cultura da convergência. São Paulo, 2ª edição, Aleph, 2009. Introdução: Venere no altar da convergência – Um novo paradigma para entender a transformação midiática – páginas 27 a 53. 2. Tópicos principais 2001 – Dino Ignacio, estudante filipino-americano criou no Photoshop uma colagem do Beto (de “Vila Sésamo”, 1970) interagindo com o líder terrorista Osama Bin Laden. Esta foi uma parte da série de imagens denominada “Beto é do Mal”, que Ignacio postou em sua página na Internet. De seu quarto, o estudante desencadeou uma controvérsia internacional. Suas imagens cruzaram o mundo, veiculadas por meios comerciais e/ou alternativos, inspirando seguidores de sua própria seita. Dino ficou preocupado e retirou o site do ar. Na cultura da convergência as velhas e as novas mídias colidem; mídias corporativa e alternativa se cruzam; o poder do produtor de mídia e o do consumidor interagem de formas imprevisíveis. Convergência define transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. No mundo da convergência toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é assediado por várias plataformas de mídia. A circulação de conteúdos depende fortemente da participação ativa dos consumidores. A transformação cultural ocorre à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. Os consumidores de mídia assumiram papel de protagonistas, interagindo de acordo com um novo conjunto de regras. Alguns consumidores apresentam maior habilidade para participar dessa cultura emergente. Corporações ainda exercem maior poder que os consumidores. 2003 – outuvbro – “New Orleans Media Experience” – conferência organizada pela HSI Productions Inc., empresa sediada em Nova Iorque que produz vídeos musicais e publicitários. Slogan: ‘Venere no altar da convergência’. Além de ser um festival de cinema, a conferência em N. Orleans expôs lançamentos de videogames, um espaço para vídeos musicais e comerciais, shows e teatro. Uma verdadeira Meca da convergência midiática. A convergência ocorre dentro do cérebro de consumidores individuais e suas interações com outros. Inteligência coletiva (expressão de Pierre Lévy): o consumo tornou-se um processo coletivo – significa unir os recursos e habilidades de cada um, criando uma fonte alternativa de poder midiático. 2004 – dezembro – filme de Bolywood, “Rok sako to rok lo” foi exibido em diversas partes da Índia através de celulares com tecnologia EDGE e recurso de “vídeo streaming”. Esta foi a primeira vez que um longa- metragem esteve totalmente acessível por celular. Não existe mais aparelho celular com função única (fazer/receber chamadas). Ninguém quer. Essa é uma poderosa demonstração de como os celulares foram fundamentais na convergência das mídias. Os velhos meios de comunicação eram passivos e os novos são interativos. Foi o colapso da radiodifusão (broadcasting) em favor da difusão estreita (narrowcasting). Para o revolucionário digital George Gilder, o computador não veio para transformar a cultura de massa, mas para destruí-la. Os líderes da indústria começam a reconhecer a importância do papel que os consumidores podem assumir, não apenas aceitando a convergência, mas conduzindo o processo. Cada vez mais, os magnatas do cinema consideram os games como um meio de expandir a experiência narrativa. 1983 – o cientista político Ithiel de Sola Pool escreve “Technologies of Freedom”, o primeiro livro a delinear o conceito de convergência como um poder de transformação dentro das indústrias midiáticas. Novas tecnologias midiáticas permitiram que o mesmo conteúdo fluísse por vários canais diferentes e assumisse formas distintas no ponto de recepção. Suas necessidades e expectativas quanto ao e-mail são diferentes se você está em casa, no trabalho, na escola etc., e esses diferentes aparelhos são projetados para acomodar suas necessidades de acesso a conteúdos dependendo de onde você está – seu contexto localizado. O aumento de funções dentro de um aparelho diminui sua capacidade de cumprir sua função original. Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência dos meios de comunicação impacta o modo como consumimos esses meios.

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Cultura da convergência - Edit. Aleph, 2009 - JENKINS, Henry. Fichamento: Introdução: Venere no altar da convergência – Um novo paradigma para entender a transformação midiática – páginas 27 a 53 (livro).

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1. Indicação bibliográfica

Jenkins, Henry – Cultura da convergência. São Paulo, 2ª edição, Aleph, 2009.

Introdução: Venere no altar da convergência – Um novo paradigma para entender a transformação midiática –

páginas 27 a 53.

2. Tópicos principais

� 2001 – Dino Ignacio, estudante filipino-americano criou no Photoshop uma colagem do Beto (de “Vila Sésamo”, 1970) interagindo com o líder terrorista Osama Bin Laden. Esta foi uma parte da série de imagens denominada “Beto é do Mal”, que Ignacio postou em sua página na Internet. De seu quarto, o estudante desencadeou uma controvérsia internacional. Suas imagens cruzaram o mundo, veiculadas por meios comerciais e/ou alternativos, inspirando seguidores de sua própria seita. Dino ficou preocupado e retirou o site do ar.

� Na cultura da convergência as velhas e as novas mídias colidem; mídias corporativa e alternativa se cruzam; o poder do produtor de mídia e o do consumidor interagem de formas imprevisíveis.

� Convergência define transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando.

� No mundo da convergência toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é assediado por várias plataformas de mídia.

� A circulação de conteúdos depende fortemente da participação ativa dos consumidores. � A transformação cultural ocorre à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações

e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. � Os consumidores de mídia assumiram papel de protagonistas, interagindo de acordo com um novo conjunto

de regras. Alguns consumidores apresentam maior habilidade para participar dessa cultura emergente. � Corporações ainda exercem maior poder que os consumidores. � 2003 – outuvbro – “New Orleans Media Experience” – conferência organizada pela HSI Productions Inc.,

empresa sediada em Nova Iorque que produz vídeos musicais e publicitários. Slogan: ‘Venere no altar da convergência’. Além de ser um festival de cinema, a conferência em N. Orleans expôs lançamentos de videogames, um espaço para vídeos musicais e comerciais, shows e teatro. Uma verdadeira Meca da convergência midiática.

� A convergência ocorre dentro do cérebro de consumidores individuais e suas interações com outros. � Inteligência coletiva (expressão de Pierre Lévy): o consumo tornou-se um processo coletivo – significa unir os

recursos e habilidades de cada um, criando uma fonte alternativa de poder midiático. � 2004 – dezembro – filme de Bolywood, “Rok sako to rok lo” foi exibido em diversas partes da Índia através de

celulares com tecnologia EDGE e recurso de “vídeo streaming”. Esta foi a primeira vez que um longa-metragem esteve totalmente acessível por celular.

� Não existe mais aparelho celular com função única (fazer/receber chamadas). Ninguém quer. Essa é uma poderosa demonstração de como os celulares foram fundamentais na convergência das mídias.

� Os velhos meios de comunicação eram passivos e os novos são interativos. Foi o colapso da radiodifusão (broadcasting) em favor da difusão estreita (narrowcasting).

� Para o revolucionário digital George Gilder, o computador não veio para transformar a cultura de massa, mas para destruí-la.

� Os líderes da indústria começam a reconhecer a importância do papel que os consumidores podem assumir, não apenas aceitando a convergência, mas conduzindo o processo.

� Cada vez mais, os magnatas do cinema consideram os games como um meio de expandir a experiência narrativa.

� 1983 – o cientista político Ithiel de Sola Pool escreve “Technologies of Freedom”, o primeiro livro a delinear o conceito de convergência como um poder de transformação dentro das indústrias midiáticas.

� Novas tecnologias midiáticas permitiram que o mesmo conteúdo fluísse por vários canais diferentes e assumisse formas distintas no ponto de recepção.

� Suas necessidades e expectativas quanto ao e-mail são diferentes se você está em casa, no trabalho, na escola etc., e esses diferentes aparelhos são projetados para acomodar suas necessidades de acesso a conteúdos dependendo de onde você está – seu contexto localizado.

� O aumento de funções dentro de um aparelho diminui sua capacidade de cumprir sua função original. � Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações,

estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. � A convergência dos meios de comunicação impacta o modo como consumimos esses meios.

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� A antropóloga Mizuko Ito documentou o papel crescente que o celular vem assumindo entre os jovens japoneses. Muitos casais mantêm contato constante diariamente por meio do acesso às tecnologias móveis. Fazem tudo juntos, embora a quilômetros de distância. Isso é chamado de “telecooning” (do inglês “cocoon” = casulo – tendência ao isolamento social).

� A convergência não envolve apenas materiais e serviços produzidos comercialmente, nem as reuniões entre empresas de telefonia celular e produtoras de cinema sobre a estreia de um filme – a convergência também ocorre quando as pessoas assumem o controle das mídias.

� Nossa vida, nossos relacionamentos, memórias, fantasias, também fluem pelos canais de mídia. � Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os resultados podem ser muito criativos; porém, isso

pode significar uma má notícia para os envolvidos (o privado torna-se público). � As transformações culturais, as batalhas jurídicas e as fusões empresariais que estão alimentando a

convergência midiática são mudanças antecedentes na infraestrutura tecnológica. O modo como essas diversas transições evoluem irá determinar o equilíbrio de poder na próxima era dos meios de comunicação.

� Se por um lado, as novas tecnologias reduziram os custos de produção e distribuição, expandiram o raio de ação dos canais disponíveis e permitiram aos consumidores arquivar e comentar conteúdos, por outro, tem ocorrido alarmante concentração de propriedade dos grandes meios de comunicação comerciais. Pequenos conglomerados dominam todos os setores da indústria do entretenimento.

� A convergência é tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto de consumidor, de baixo para cima.

� Empresas de mídia estão aprendendo a acelerar o fluxo de conteúdo pelos canais de distribuição para aumentar as oportunidades de lucros, ampliar mercados e consolidar sua posição junto ao público.

� Consumidores aprendem a utilizar diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo de mídia e interagir com outros consumidores.

� Os novos consumidores são migratórios e não muito leais a redes ou meios de comunicação. � Comunidades de conhecimento formam-se em torno de interesses intelectuais mútuos. Essas comunidades

revelam como o conhecimento pode se tornar poder na era da convergência das mídias. � Segundo a lógica da economia afetiva, o consumidor ideal é ativo, comprometido e parte de uma rede social.

Ver o anúncio ou comprar o produto não basta: a empresa convida o público a entrar na comunidade da marca.

� A franquia de “Matrix” é um exemplo de narrativa ‘transmídia’ (“transmedia storytelling”) – depende da participação ativa de comunidades de conhecimento.

� Para viver uma experiência plena no universo ficcional, os consumidores assumem o papel de caçadores e coletores, perseguindo pedaços da história pelos diferentes canais, comparando suas opiniões com as de outros fãs, em grupos de discussão online, e colaborando para que todos que investiram tempo e energia tenham uma experiência de entretenimento rica.

� Os produtores e diretores de “Guerra nas estrelas” (“Star wars”), bem como os dos games, estão remodelando a mitologia de George Lucas para satisfazerem seus desejos e fantasias. No entanto, é necessário analisar como os consumidores reagem ao serem convidados a participar da vida das franquias. Se a comunidade se torna muito boa no jogo, os produtores temem ser incapazes de proteger os direitos autorais. Os artistas alternativos estão entrando em conflito com produtores de mídia comercial, que querem exercer maior controle sobre sua propriedade intelectual.

� Os cidadãos são melhor servidos pela cultura popular do que pelo noticiário ou discurso político. A cultura popular assumiu novas responsabilidades ao instruir o público sobre o que está em jogo nas eleições e inspirá-lo a participar mais plenamente do processo.

� À medida que os cidadão foram obrigados a fazer o serviço sujo das campanhas eleitorais, candidatos e partidos perderam parte do controle sobre o processo político. Este foi um importante processo de transição no relacionamento entre a mídia e os políticos.

� Nem todos os consumidores têm acesso às habilidades e aos recursos necessários para que sejam participante ativos das práticas culturais (exclusão digital).

� Nos EUA, os usuários são pioneiros, e são, em sua maioria, brancos, do sexo masculino, pertencentes à classe média e com nível de escolaridade superior. Essas pessoas têm maior acesso às novas tecnologias midiáticas e dominam as habilidades necessárias para participar das culturas de conhecimento.

� A cultura da convergência é complexa e contraditória; nenhum grupo consegue ditar as regras ou controlar o acesso e a participação.

� Produtores de mídia só encontrarão a solução de seus problemas atuais na readequação do relacionamento com seu público.

� Aqueles que não conseguirem fazer as pazes com a nova cultura participativa terão que enfrentar o declínio da clientela e, consequentemente, dos lucros.

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3. Citações

� “A indústria da informática está convergindo com a indústria da televisão no mesmo sentido em que o automóvel convergiu com o cavalo, a TV convergiu com o Nickelodeon, o programa de processamento de texto convergiu com a máquina de escrever, o programa de CAD convergiu com a prancheta , a editoração eletrônica convergiu com o linotipo e a composição tipográfica.” (GILDER, 1990). Pág. 32.

� “Houve uma época em que empresas publicavam jornais, revistas e livros e não faziam muito mais do que isso; seu envolvimento com outros meios de comunicação era insignificante.” (POOL, 1983). Pág. 37.

� “Um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as comunicações ponto a ponto, como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. [...] De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio – seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo.” (POOL, 1983). Pág. 37.

� “Convergência não significa perfeita estabilidade ou unidade. Ela opera com uma força constante pela unificação, mas sempre em dinâmica tensão com a transformação...” (POOL, 1983). Pág. 38

� “O eterno emaranhado de fios que há entre mim e meu centro de entretenimento caseiro reflete a incompatibilidade e a disfunção existentes entre as diversas tecnologias midiáticas. E muitos dos meus alunos no MIT carregam para lá e para cá múltiplas caixas pretas: laptops, celulares, iPods, game boys, BlackBarrys, e o que mais você imaginar.” Pág. 42.

4. Comentários

A convergência de mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. Ela altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. Altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. A convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Ela define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura. Em seu livro, Henry Jenkins demonstra como instituições arraigadas estão se inspirando nos modelos das comunidades de fãs e se reinventando para uma era de convergência de mídias e de inteligência coletiva. Para ele, a convergência representa uma mudança no modo como encaramos nossas relações com a mídia. Neste capítulo de introdução, Jenkins deixa bem claro o termo convergência, que, num conceito mais amplo, se refere a uma situação em que múltiplos sistemas de mídia coexistem e em que o conteúdo passa por eles fluidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas de mídia, não uma relação fixa.