FAPAM - FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de...

30
FAPAM - FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Maria Angela de Faria A LINGUÍSTICA TEXTUAL NO DISCURSO DOS TEXTOS JORNALÍSTICOS: AMBIGUIDADE, INCOERÊNCIA E SUBJETIVIDADE NA MÍDIA IMPRESSA DE PARÁ DE MINAS. Pará de Minas 2013

Transcript of FAPAM - FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de...

FAPAM - FACULDADE DE PARÁ DE MINAS

Curso de Letras

Maria Angela de Faria

A LINGUÍSTICA TEXTUAL NO DISCURSO DOS TEXTOS JORNALÍSTICOS:

AMBIGUIDADE, INCOERÊNCIA E SUBJETIVIDADE NA MÍDIA IMPRESSA DE

PARÁ DE MINAS.

Pará de Minas

2013

Maria Angela de Faria

A LINGUÍSTICA TEXTUAL NO DISCURSO DOS TEXTOS JORNALÍSTICOS:

AMBIGUIDADE, INCOERÊNCIA E SUBJETIVIDADE NA MÍDIA IMPRESSA DE

PARÁ DE MINAS.

Pará de Minas

2013

Monografia apresentada à coordenação de Letras

da Faculdade de Pará de Minas como requisito

parcial para conclusão do curso de Letras.

Orientadora: Professora Ma. Vanessa Faria Viana.

Maria Angela de Faria

A LINGUÍSTICA TEXTUAL NO DISCURSO DOS TEXTOS JORNALÍSTICOS:

AMBIGUIDADE, INCOERÊNCIA E SUBJETIVIDADE NA MÍDIA IMPRESSA DE

PARÁ DE MINAS.

Aprovada em: _________/__________/___________

Orientadora: Professora Ma. Vanessa Faria Viana

Examinadora: Professora Ma. Cristina Mara França Pinto Fonseca

Monografia apresentada à coordenação de Letras

da Faculdade de Pará de Minas como requisito

parcial para conclusão do curso de Letras.

Orientadora: Professora Ma. Vanessa Faria Viana.

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que me

incentivaram e me apoiaram durante a faculdade,

especialmente àquelas que estiveram ao meu lado

nos momentos difíceis.

Agradeço a Deus, meu Pai, infinitamente bondoso e

misericordioso, por todas as dádivas em minha vida.

A minha mãe, pelo amor e apoio incondicionais.

Aos meus amigos, pelo companheirismo e

compreensão.

À minha orientadora Vanessa, pela contribuição

inestimável neste trabalho.

À FAPAM, pela oportunidade de um diploma de

curso superior.

“Nossas palavras não são ‘nossas’ apenas; elas nascem, vivem e

morrem na fronteira do nosso mundo e do mundo alheio; elas são

respostas explícitas ou implícitas às palavras do outro, elas só se

iluminam no poderoso pano de fundo das mil vozes que nos rodeiam.”

Cristovão Tezza.

RESUMO

O texto jornalístico tem, por excelência, informar ao leitor fatos inéditos e/ou interessantes.

Dessa forma, deve fazer um relato fiel da realidade, estando assim, classificado como um

texto de linguagem referencial. Logo, este artigo vem apontar a importância das notícias

serem apresentadas em um texto objetivo, coerente e coeso. Através da exposição de

conceitos de fenômenos linguísticos responsáveis por uma boa estruturação textual e da

análise de notícias que apresentavam desvios da padronização desse tipo de linguagem, este

trabalho propõe-se a refletir sobre a construção de textos jornalísticos, com a intenção de

identificar e separar o vago do ambíguo, e ilustrar a construção sintática adequada, conforme

as técnicas estilísticas requerem. São também objetivos deste trabalho esclarecer aos leitores a

diferença entre ambiguidade, vaguidade e subjetividade, e por que elas ocorrem no texto;

apontar as características inerentes do texto jornalístico; relatar como coesão e coerência, na

tessitura textual, modificam semanticamente o texto; apresentar exemplos de textos

jornalísticos que contenham ambiguidade, vaguidade e subjetividade; e explicar como

construir os textos apresentados, de forma a eliminar os fenômenos apontados. A partir da

pesquisa bibliográfica e da análise das notícias selecionadas, poder-se-á responder se a má

redação desconstrói a veracidade da notícia.

Palavras-chave: Coerência. Coesão. Linguagem referencial. Notícias. Ambiguidade.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Notícia 1 ............................................................................................................... 23

Figura 2: Notícia 2 ............................................................................................................... 24

Figura 3: Notícia 3 ............................................................................................................... 25

Figura 4: Notícia 4 ............................................................................................................... 26

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9

2 APRESENTANDO CONCEITOS.................................................................................. 11

2.1 Funções da linguagem e o texto jornalístico ................................................................ 11

2.2 Notícia ........................................................................................................................... 14

2.3 Denotação e Conotação ................................................................................................ 15

2.4 Ambiguidade, Vaguidade e Subjetividade .................................................................. 16

2.5 Coerência e Coesão....................................................................................................... 19

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 21

4 ANÁLISE DAS NOTÍCIAS ............................................................................................ 22

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 27

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 28

9

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho surgiu a partir da observação de erros em um jornal impresso que circula

na cidade de Pará de Minas, ao perceber que, em seus textos, aparecia ora vaguidade ora

ambiguidade. Tal percepção se originou do imenso gosto que se tem pela leitura e à

necessidade de estar bem informada nesses dias atuais.

Ao considerar as múltiplas inferências que um enunciado pode constituir, criando

diversas possibilidades para inteligibilidade do texto, e atentando-se para a importância da

exatidão no texto jornalístico, uma vez que este busca objetividade, imparcialidade e

veracidade em suas notícias, faz-se imprescindível uma redação coesa e coerente a fim de não

se desviar o texto de sua função informativa.

Seara (1997) diz que “fatos jornalísticos publicáveis devem ser passíveis de serem

provados e devem evidenciar credibilidade, pressupondo, sempre, a univocidade da

interpretação”. Assim sendo, claro está que a ambiguidade e a vaguidade são um problema

das construções sintáticas e corrompem o propósito referencial.

Quanto à subjetividade no texto jornalístico, deve-se considerar, sobretudo, a intenção

comunicativa do emissor, que pretende, na maioria das vezes, incitar a formação da opinião

do leitor porque, de acordo com Bulhões (2007), “no jornalismo a linguagem é meio, e não

fim”.

Este estudo pretende elucidar e demonstrar que as notícias escritas em um jornal

impresso devem exercer a função referencial e, portanto, devem oferecer uma leitura exata da

realidade, não podendo ser “subjetivas”. Ora, para possibilitar uma boa informação, as

notícias devem ser bem escritas. Assim, é essencial que se faça uma construção coerente e

coesa, com uma linguagem totalmente denotativa.

É intenção deste trabalho contribuir para que haja clareza no texto veiculado na mídia

impressa, a fim de promover a informatividade, ao apontar situações nas quais ocorreram

ambiguidade, vaguidade e subjetividade, e indicar maneiras para se evitar tais construções, de

forma que a notícia alcance credibilidade e promova informações através de uma leitura livre

dos equívocos da plurissignificação.

Tendo em vista os pontos apresentados, questiona-se: "Uma única palavra, ao

desencadear dúbias ou múltiplas interpretações, modifica o contexto apresentado?". No

processo de leitura, indaga-se “Como diferenciar o ambíguo do vago?”, “Quais implicações

esses dois fenômenos acarretam na construção dos sentidos do texto?” e “A subjetividade é

aceitável em uma notícia? Por quê?”, e no processo de escrita, “Ambiguidade, vaguidade e

10

subjetividade podem ou devem figurar na função referencial?” e “Qual o formato ideal do

discurso jornalístico?”. Afinal, “A má redação realmente desconstrói a veracidade da

notícia?”.

É objetivo geral deste trabalho analisar textos jornalísticos, com a intenção de

identificar e separar o vago do ambíguo, e ilustrar a construção sintática adequada, conforme

as técnicas estilísticas requerem. Especificamente, busca-se: esclarecer aos leitores a diferença

entre ambiguidade, vaguidade e subjetividade, e por que elas ocorrem no texto; apontar as

características inerentes do texto jornalístico; relatar como coesão e coerência, na tessitura

textual, modificam semanticamente o texto; apresentar exemplos de textos jornalísticos que

contenham ambiguidade, vaguidade e subjetividade; e explicar como construir os textos

apresentados, de forma a eliminar os fenômenos apontados.

Este trabalho está organizado em quatro capítulos. O segundo corresponde ao

referencial teórico e está subdividido em cinco partes, onde são apresentados os fenômenos

linguísticos abordados neste estudo. O terceiro capítulo trata da metodologia, que explica os

procedimentos utilizados para a construção deste trabalho e para a análise das notícias

examinadas. O quarto capítulo traz a análise de tais notícias. Por fim, tem-se a conclusão,

quando são retomados os principais pontos deste trabalho.

Esta pesquisa justifica-se pela proposta aqui apresentada de esclarecimento do

propósito informativo e do processo normativo para se alcançar uma redação coerente, coesa

e objetiva.

Para atingir esses objetivos, foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o tema

abordado, no intuito de elucidar o assunto estudado e embasar as respostas propostas para as

questões levantadas. Posteriormente, procedeu-se a análise de notícias da mídia impressa da

cidade de Pará de Minas, de onde foram retirados exemplos de ocorrência de ambiguidade,

vagueza e subjetividade, e, em seguida, relatou-se o fenômeno destacado, bem como qual

recurso corretivo deve ser empregado para que tal fato não ocorra no corpo textual.

11

2 APRESENTANDO CONCEITOS

Este estudo tem por objetivo demonstrar que os textos jornalísticos, por exercerem a

função referencial, devem priorizar o sentido denotativo, posto que visam informatividade –

característica inerente de um texto jornalístico. Tais textos devem ser construídos de forma a

minimizar a subjetividade e eliminar a vagueza e a ambiguidade; para tanto, faz-se necessária

uma tessitura coesa, coerente e objetiva.

A fim de instruir e esclarecer, apresentam-se a seguir os fenômenos linguísticos

estudados neste trabalho, fornecendo-se nomenclaturas e conceitos para melhor compreensão

da descrição das futuras análises.

2.1 Funções da linguagem e o texto jornalístico

A linguagem é a ponte que une os homens em sociedade. Comunicar-se é uma

necessidade intrínseca do ser humano. No entanto, comunicar-se adequadamente, para fazer-

se entender sem equívocos e com clareza, vai além da espontaneidade da fala; requer estilo,

observância às regras que estruturam um texto. Segundo Koch (2011),

Texto será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão

ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor),

em uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,

independentemente de sua função. (KOCH, 2001:8).

Ainda definindo texto, para Halliday e Hassan citados por Fávero e Koch (2002),

“Texto é uma realização verbal entendida como uma organização de sentido, que tem o valor

de uma mensagem completa e válida num contexto dado”. Assim, “o texto é unidade de

língua em uso, unidade semântica (...) não de forma e sim de significado” (FÁVERO E

KOCH, 2002:38).

É a linguagem que possibilita o inter-relacionamento e a diversificação deste entre os

interlocutores, seus enunciados e seus referentes.

Para a elaboração de um texto escrito, deve-se considerar, primeiramente, a intenção

comunicativa: o que se quer dizer e para quem irá dizer, bem como o suporte que será

utilizado para esse fim. Dessa forma, potencializam-se as chances de se obter um texto

coerente e coeso. Para Marcuschi (1983: 12, 13), tais fatores de um texto (coerência e coesão),

juntamente com o sistema de pressuposições e implicações no nível pragmático da produção

12

do sentido, no plano das ações e intenções, constituem a temática da Linguística Textual.

Ainda, para esse autor,

(...) a Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num

complexo universo de ações humanas. Por um lado, deve preservar a organização

linear que é o tratamento estritamente linguístico abordado no aspecto da coesão e,

por outro, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear

portanto, dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto

semântico e funções pragmáticas. (MARCUSCHI, 1983: 12, 13)

O linguista russo Jakobson, citado por Marques (2009:17-18), formulou o conceito das

funções da linguagem, conforme os seus seis fatores construtivos – o remetente, o

destinatário, o contexto, a mensagem, o código e o canal – quando cada um deles determina

uma função. Ainda segundo Jakobson, o ato de comunicação se dá quando alguém diz alguma

coisa a outro alguém em um contexto onde haja um código comum a ambos e um contato

através de um canal.

Assim, a partir dessa situação, Jakobson definiu as seis funções da linguagem:

emotiva, conativa, referencial, fática, metalinguística e poética. É importante distinguir essas

funções e sua relação com os fatores da linguagem. Segundo Marques,

A função emotiva é centrada no remetente, que exterioriza suas emoções, seus

sentimentos. Essa função aparece nas frases exclamativas, nas interjeições, na

primeira pessoa dos verbos e dos pronomes.

A função conativa relaciona-se com o destinatário. Caracteriza-se por um apelo

social e aparece em frases interrogativas, frases imperativas, vocativos e na segunda

pessoa de verbos e pronomes. É utilizada, principalmente, em textos publicitários.

A função referencial tem ligação com o contexto a que se refere, com o fato em si. É

uma linguagem de caráter informativo, de constatação. Tal função aparece em

linguagem técnica e científica, em linguagem de livros didáticos, em linguagem jornalística. Nessa função, as palavras são empregadas principalmente de modo

denotativo.

A função fática está centrada no contato que se estabelece por meio de um canal

entre o emissor e o receptor. Essa função serve para iniciar, prolongar ou encerrar o

ato de comunicação.

A função metalinguística está relacionada ao código. A metalinguagem é a

linguagem falando de si mesma. Palavras que explicam palavras (como as definições

que aparecem nos dicionários), cinema que fala de cinema, teatro de teatro, poesia

de poesia.

Finalmente, a função poética é centrada na mensagem. Caracteriza-se pela seleção

vocabular na sua elaboração. O principal traço da função poética é o emprego de

palavras em sentido conotativo. No plano linguístico, tal função vem marcada pelos operadores poéticos, como as figuras de linguagem (ou de estilo), tanto na poesia

como na prosa, o emprego de rimas, etc. (MARQUES, 2009:18)

Um mesmo texto pode apresentar mais de uma, e até mesmo todas as funções. Vale

ressaltar que, sempre, haverá uma função predominante em um determinado texto.

13

Quando se considera como intenção a informatividade, especificamente como notícia

em um jornal impresso, busca-se trabalhar a narrativa de fatos em uma linguagem concisa e

realista. Para que o objetivo de informar seja alcançado, o texto precisa ser inteligível; mais

que isso: precisa ser claro e livre de plurissignificações, a fim de que o leitor compreenda,

exatamente, a informação transmitida pelo emissor. O texto deve ser, então, bem escrito.

Conforme citação de Marcuschi, acima, o texto deve ser coeso e coerente.

Como este trabalho aborda textos jornalísticos, é primordial esclarecer os principais

aspectos desse gênero textual. Uma vez que o texto esteja nos moldes supracitados no

parágrafo anterior, nota-se que o que predomina em tal mensagem é o referente, o assunto,

pois conforme Chalhub (1990), “as mensagens estruturam-se de acordo com o fator para o

qual estão inclinadas, gerando, assim, tal organização dos signos e não outra”. Dessa forma, a

função referencial, também chamada de cognitiva ou denotativa, tem seu foco em demonstrar

e elucidar determinado assunto (referente), evitando ambiguidades. Nos textos em que a

função referencial predomina, geralmente há emprego do sujeito indeterminado, da 3ª pessoa

e da ordem direta nas orações, ausência de advérbios e adjetivos com alta carga de

subjetividade, uso da objetividade e distanciamento do interlocutor.

Os meios de comunicação, dentre eles o jornal, exercem inegável influência sobre uma

sociedade tecnológica como a atual. A informação não apenas atualiza, mas também

manipula, conduz e redireciona ideias. O jornalismo é centrado na informação, e a informação

jornalística é o dado, o fato, a declaração, o fenômeno tal qual sua singularidade. Segundo

Bulhões citado por Marques (2009:14), “o jornalismo parece ter diante de si o horizonte

prescritivo daquilo que é razoável, crível ou admissível, a partir do qual deverá recolher o

factual consumado, efetivado, a ser transformado em informação”.

Ratificando esses pressupostos, Jakobson e Medel, citados por Marques (2009:20),

afirmam que “(...) no caso do discurso jornalístico deve ser dominante a função referencial,

por ser a que articula sua funcionalidade informativa a sua vontade de construir discursos

baseados em fatos reais, que correspondam a acontecimentos extradiscursivos”.

O jornalismo informativo é representado por construções imparciais, livres de

opiniões, valores e ideologias, relatando exatamente a realidade, uma vez que busca e preza

pela credibilidade.

Para melhor compreensão, listam-se abaixo os seis tipos de textos jornalísticos,

conforme a sua formação. Não haverá aprofundamento nessa temática, pois o objeto de

interesse deste trabalho é somente a notícia. Segundo Nascimento (2011), são eles:

14

ARTIGO - Texto interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve

uma ideia ou comenta um assunto a partir de determinada fundamentação.

Geralmente é assinado por algum articulista, ou jornalista do veículo de

comunicação;

EDITORIAL - Texto jornalístico opinativo, publicado sem assinatura e referente a

assuntos ou acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevância.

É a “opinião” do jornal ou da revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o

próprio modo de fazer jornalismo;

ENTREVISTA - A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com

os dados nela obtidos ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as

declarações são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também chamado "pingue-pongue". Existem dois tipos de entrevista: a de

informação ou opinião (quando entrevistamos uma autoridade, um líder ou um

especialista) e a de perfil (quando entrevistamos uma personalidade para mostrar

como ela vive e não apenas para revelar opiniões ou para dar informações). Existem

também as entrevistas de rotina, ou de amostragem, quando um grupo é entrevistado

para a abordagem de determinado tema;

MATÉRIA - Tudo o que é publicado, ou feito para ser publicado, por um veículo de

comunicação (jornal, revista, rádio, TV);

NOTÍCIA - Relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância

para a comunidade e de fácil compreensão pelo público;

REPORTAGEM - Conjunto das providências necessárias à confecção de uma notícia jornalística: cobertura, apuração, seleção dos dados, interpretação e

tratamento, dentro de determinadas técnicas e requisitos de articulação do texto

jornalístico informativo. O recurso das “grandes reportagens” (ou reportagens

especiais) tem um caráter, além de jornalístico, documental. (NASCIMENTO,

2011:2,3)

2.2 Notícia

“Notícia é um gênero textual do tipo narrativo que circula na esfera jornalística, cujo

objetivo é informar ao leitor fatos atuais de interesse público, com simplicidade, concisão e

precisão.”, dizem Sarmento e Tufano (2010:397).

Segundo Coelho (2008),

A notícia é a unidade básica de informação do jornalismo. São os fatos jornalísticos,

objeto das notícias, que constituem a menor unidade de significação. O jornalismo é,

em certo sentido, uma espécie de “simulação” da imediaticidade, já que a realidade

distante é reconstituída enquanto singularidade. (...) A comunicação jornalística é,

por definição, referencial, isto é, fala de algo do mundo exterior ao emissor, ao

receptor e ao processo de comunicação em si. Isto impõe o uso quase obrigatório de terceira pessoa, considerada como a forma verbal da não-pessoa. A linguagem do

jornalismo é, portanto “referencial” na medida em que fala de algo que, de fato, é

concretamente exterior tanto ao emissor quanto ao receptor, individualmente

considerados. Existe um fluxo objetivo na realidade, de onde os fatos são recortados

e construídos obedecendo a determinações ao mesmo tempo objetivas e subjetivas.

Quando o real se impõe, a notícia tende mais para o registro e a objetividade.

Quando prevalece o enunciador, a narrativa se revela com toda a sua liberdade de

criação. (COELHO, 2008:87,88)

15

A notícia, ao ser publicada, ganha estatuto de um novo real, passando ela própria a

significar, pois ela pode ser o fato, a versão do fato ou o metafato, afirma Motta, citado por

Coelho (2008:88).

As características da notícia são precisão, interesse e atualidade. A notícia realiza uma

abordagem sucinta de fatos recentes que interessem ao público, de maneira breve e pouco

profunda, visando informar o leitor.

Davenport e Prusak, citados por Coelho (2008:86), dizem que a informação está

classificada como meio-termo entre dado e conhecimento, posto que dados são “simples

observações sobre o estado do mundo”; informação são “dados dotados de relevância e

propósito”; e conhecimento “informação valiosa da mente humana, inclui reflexão, síntese,

contexto”. “Informação, além do mais, é um termo que envolve todos os três, além de servir

como conexão entre os dados brutos e o conhecimento que se pode eventualmente ter.”.

A notícia apresenta estrutura narrativa e busca responder às perguntas: Quem? O quê?

Onde? Quando? Por quê? ou Para quê?.

Assim sendo, as notícias são o resultado de um processo de produção, definido como a

percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima (os acontecimentos) em um

produto (as notícias), sendo que o meio utilizado para essa transformação é a linguagem, de

acordo com Coelho.

2.3 Denotação e Conotação

Muito se falou em função referencial. Porém, segundo Chalhub (1990), para tal é

necessário que se use o denotativo e o conotativo para diferenciar dois níveis de linguagem. É

amplo o campo do debate linguístico sobre a oposição desses dois conceitos, mas simplificar-

se-á aqui essa definição, posto que o que é interessante para a presente questão é que “a

diferença básica situa a denotação no campo da função referencial e a conotação no plano

expressivo da linguagem”, como diz Emediato (2004:119).

Para esse autor,

entende-se por denotação o sentido construído através de expressões lexicais que

veiculam traços estáveis e objetivos da significação. Uma expressão denotativa, de

modo geral, busca diminuir o esforço de compreensão por parte de seu interpretante,

procurando ser a expressão objetiva da referência, de modo a não depender de uma

análise do contexto discursivo para a sua compreensão. Isso ocorre porque a

expressão denotativa identifica sempre um objeto ou um ser com as palavras que

sempre são usadas para designá-los. (...) A denotação é o produto de um amplo

16

consenso na sociedade sobre o uso referencial e neutro das palavras. (EMEDIATO,

2004:119-120).

Logo, há denotação quando a palavra é expressa com significação restrita, no sentido

comum, que é encontrado no dicionário; quando faz parte de uma linguagem precisa e

objetiva.

Quanto à conotação, Emediato define-a como

sentido construído a partir de expressões lexicais que veiculam traços virtuais,

subjetivos e não estáveis da significação, exigindo uma análise contextual maior para que se compreenda o real significado de uma palavra no discurso. A conotação

é, pois, produto de um consenso particular no interior de uma certa comunidade,

correspondendo raramente a um consenso geral. (...) A conotação é bem mais

complexa do que o simples uso figurado de palavras, pois ela cumpre uma função

expressiva por excelência no cotidiano das pessoas. (EMEDIATO, 2004:120).

Conclui-se, portanto, que há conotação quando a palavra é empregada com

significação ampla, dada pelo contexto, possuindo sentido carregado de valores afetivos,

ideológicos ou sociais, ou até mesmo quando a palavra é empregada de maneira criativa,

artística, como no caso dos poemas.

“Referente, objeto, denotação são termos que se relacionam por semelhança, embora

não sejam sinônimos”, diz Chalhub (1990:10).

Em um texto jornalístico, “referente e contexto respondem a um do que se fala? Fala-

se sobre um objeto referido ao mundo extralinguístico, mundo fenomênico das coisas – coisas

essas sempre designadas por expressões denotativas. A linguagem denotativa referencial

reflete o mundo” (CHALHUB, 1990:10).

Entretanto, não devemos supor que os emissores serão capazes de construir mensagens

fechadas, 100% denotativas, que serão igualmente interpretadas por todos os receptores; mas

eles devem transmiti-las de tal forma a minimizar a condução para interpretações diversas do

sentido real do fato ocorrido.

2.4 Ambiguidade, Vaguidade e Subjetividade

Quando se faz a leitura de notícias, tem-se a impressão de que aquilo que se lê é

bastante completo e esclarecedor. Porém, após análise detalhada de tais textos, pode-se

perceber que eles, geralmente, apresentam ambiguidade, vaguidade e subjetividade. Isso se

deve a vários fatores, os quais serão expostos a seguir. Antes, faz-se necessário conceituar

esses termos.

17

De forma clara e enxuta, ambiguidade é quando a mesma palavra apresenta mais de

um significado, ou ainda, quando a mesma frase pode ser interpretada de maneiras diferentes.

A ambiguidade pode decorrer do emprego de palavras homônimas homógrafas (palavras que

têm a mesma grafia) ou da situação em que se produz o enunciado e pode ser sintática (da

estrutura da frase) ou semântica (do léxico).

A ambiguidade sintática configura um erro linguístico e é mais fácil de ser

desambiguizada, observado o contexto em que a sentença figura, enquanto que a ambiguidade

semântica ou referencial, que são os casos de duplo sentido, referentes à conjunção de

significados relacionados a um único item lexical (os dois sentidos são válidos), e os casos de

vaguidade, referentes à incompletude das sentenças, é mais complexa, visto que não é

possível se dizer tudo e sempre se pode acrescentar um termo que irá restringir, especificar ou

alterar o enunciado, em consonância com Seara (1997).

Vaguidade (ou vagueza, ambas nomenclaturas foram vistas durante a pesquisa

bibliográfica) é quando uma sentença não é precisa; quando há incompletude. Devido à

ausência precisa ou detalhada de informações, essas sentenças dão espaço a inúmeras

interpretações. Segundo Kempson, a vaguidade pode ser dividida em quatro tipos:

1. Vaguidade referencial: seria quando o significado do item lexical é claro, mas temos dificuldade de dizer se esse item pode ou não ser aplicado a determinados

seres ou objetos. Exemplo disso seria a palavra montanha: sua definição é colocada

em função da altura em metros? Não, então como dizer se temos uma montanha ou

um morro?

2. Indeterminação do significado: seria quando o significado do item ou sintagma já

parece indeterminado. Um exemplo seria o sintagma Jornal do Brasil, na frase

Comprei o Jornal do Brasil. Poderia significar que comprei, de um homem chamado

Brasil, um jornal ou uma empresa, ou ainda, simplesmente comprei um jornal

intitulado Jornal do Brasil, ou um jornal qualquer do país Brasil.

3. Falta de especificação no significado de um item: refere-se ao significado que,

embora seja claro, é muito geral, tal como: criança e adulto, pois não especificam mais do que, talvez, a idade, pois o sexo, a cor, a nacionalidade, nada disso é

esclarecido por essas palavras.

4. Disjunção na especificação do significado de um item: o significado de um item

envolve a separação de diferentes interpretações. Nota-se no exemplo “Pela lei

brasileira, o aborto é proibido, salvo em caso de estupro ou quando a mãe corre

risco de vida.” que temos um caso de ou inclusivo: na sentença, uma de suas duas

partes é verdadeira, assim como as duas. (KEMPSON APUD SEARA, 1997:64-65).

Fuchs, citado por Seara (1997:60), argumenta que “o profundo parentesco entre a

ambiguidade e a vagueza está em três propriedades fundamentais do funcionamento da

significação linguística”:

a) do ponto de vista da produção pelo emissor, que não será jamais totalmente

explícito e preciso;

18

b) do ponto de vista da interpretação pelo receptor que, ao fazer uma interpretação,

fixa um grau de determinação, reconstruindo a significação de maneira mais

“presa ou solta”, fazendo surgir diferenças ou neutralizando-as;

c) do ponto de vista da reformulação que, redizendo a significação, modifica o

equilíbrio das determinações. (SEARA, 1997:60).

Porém, esse autor também evidencia marcas distintas para a ambiguidade e a vagueza.

AMBIGUIDADE

1. pode ser verdadeira ou falsa;

2. é acidental;

3. limitada a certas expressões; 4. não suscetível a graus;

5. totalmente resolvida por processos de desambiguização;

6. opõe-se ao unívoco;

7. concernente sobretudo a expressões linguísticas;

8. significação sobre-determinada;

9. pluralidade dada à colisão de formas morfológicas ou sintáticas;

10. fenômeno linguístico, sistemático, regular, marcado.

VAGUEZA

1. não é verdadeira nem falsa;

2. é essencial;

3. afeta todas as expressões; 4. suscetível a graus;

5. parcialmente resolvida por processos de precisão;

6. opõe-se à precisão;

7. concernente tanto a objetos e conceitos quanto a expressões linguísticas;

8. significação sub-determinada;

9. falta de especificação reclamada pelo contexto e/ou situação;

10. fenômeno extralinguístico, discursivo, não-sistemático, não-regular, não-

marcado. (FUCHS APUD SEARA, 1997:59-60).

Nos textos jornalísticos, encontram-se mais facilmente ocorrências de vaguidade que

de ambiguidade, sendo que esta comumente aparece quando há emprego da conotação.

A subjetividade consiste no emprego da opinião do emissor na mensagem construída

que, assim, deixa de ser imparcial, podendo conter uma carga de julgamento e/ou sentimento.

Nos textos jornalísticos, ela é restrita a alguns tipos textuais, como o editorial e o artigo, mas,

às vezes, aparece também nas notícias e reportagens, sendo que, nessas duas últimas, figura

frequentemente nas manchetes. Entretanto, a subjetividade sempre estará presente em

qualquer produção textual, pois não há como eliminar a marca discursiva do enunciador

porque quem “fala” fala de determinada maneira, sob determinada perspectiva ideológica, ou

seja, a marca pessoal do emissor da mensagem está presente nela, mesmo que esteja oculta.

O certo é que a compreensão de qualquer enunciado pressupõe uma operação lógica de

inferência pelo leitor, a partir de seu conhecimento de mundo, que o autor do texto pode

apenas pressupor. Daí, a razão para se ter imenso cuidado na hora de se comunicar, de

procurar passar a sua mensagem da maneira mais clara possível.

19

2.5 Coerência e Coesão

A palavra texto deriva do latim textu e significa, literalmente, tecido. Produzir um

texto assemelha-se à arte de tecer: da mesma forma como se entrelaça, se posiciona os fios,

assim também deve-se proceder com as palavras, com as ideias, amarrando-as umas às outras.

Ou seja, o texto precisa ser coerente e coeso.

Tanto a coesão quanto a coerência estabelecem relações de sentido. A coesão refere-se

à conexão linear das palavras e frases que compõem um texto enquanto a coerência diz

respeito à formação de sentido do texto, à interpretabilidade deste.

“A coesão não nos revela a significação do texto; revela-nos a construção do texto

enquanto edifício semântico.”, afirmam Halliday e Hasan, citados por Nicola (2005:208). A

coerência é “a estruturação lógica das ideias, para que haja continuidade entre as sequências

ou frases e um sentido unitário para o todo”, dizem Sarmento e Tufano (2010:355). Assim

sendo, “a clareza textual ocorre quando há coerência na sequência de ideias e coesão entre os

enunciados” (SARMENTO E TUFANO, 2010:356).

Koch, estudiosa desta temática, fala com propriedade sobre o assunto na hora de

distinguir coesão e coerência. Para ela, “coesão textual diz respeito a todos os processos de

sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação lingüística significativa

entre os elementos que ocorrem na superfície textual”. (KOCH, 2004:18). Destarte, as

conjunções, as preposições, alguns pronomes e advérbios são recursos essenciais de coesão

textual, uma vez que estabelecem relações de sentido entre enunciados e palavras de um

mesmo texto, conforme colocam Sarmento e Tufano (2010). Ainda observando os

pressupostos de Koch, a autora aponta que “a coerência, responsável pela continuidade dos

sentidos no texto, não se apresenta, pois, como mero traço dos textos, mas como o resultado

de uma complexa rede de fatores de ordem linguística, cognitiva e interacional”. (KOCH,

2004:17). Isso porque é a coerência que dá significação ao texto.

Segundo Nicola (2005), um texto é sustentado pela coesão em dois sentidos diversos:

no primeiro, chamado coesão referencial, o apoio é pautado na gramática, observando-se a

estrutura e as regras das relações sintáticas possíveis e coerentes dentro de um texto; no

segundo, chamado coesão sequencial, o apoio do texto é semântico, com a articulação de

elementos linguísticos que fazem referência a determinado campo semântico.

A coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz

remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual,

20

lembrando que a remissão pode ser feita para trás e para frente, classificando-se,

respectivamente, como anafórica ou uma catafórica, segundo Koch (2004).

A coesão sequencial aborda “procedimentos linguísticos por meio dos quais se

estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e

sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se

faz o texto progredir”. (KOCH, 2004:53).

Com relação à coerência, Koch (2011) cita a classificação de Van Dijk e Kintsch para

os diversos tipos de coerência:

a) coerência semântica, que se refere à relação entre significados dos elementos das frases em sequência em um texto (local) ou entre os elementos do texto como um

todo. (...) A contradição de sentidos cria incoerências. (...) O respeito ou desrespeito

às relações de sentido entre os significados dos termos (como hiponímia ou

hiperonímia) também tem a ver com coerência semântica.

b) coerência sintática, que se refere aos meios sintáticos para expressar a coerência

semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas

nominais definidos e indefinidos etc. (...) A coerência sintática nada mais é do que

um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência.

c) coerência estilística, pela qual um usuário deveria usar em seu texto elementos

linguísticos (léxico, tipos de estruturas, frases, etc.) pertencentes ou constitutivos do

mesmo estilo ou registro linguístico. Embora essa possa ser uma exigência plausível

dentro de um contexto normativo do uso da língua, o uso de estilos diversos parece não criar problemas maiores para a coerência entendida como princípio de

interpretabilidade. Na verdade, esta é uma noção que tem utilidade na explicação de

fenômenos de quebra estilística (...) como o uso de palavras de baixo calão em uma

conversa polida ser precedido de um “com o perdão da palavra”.

d) coerência pragmática, que tem a ver com o texto visto como uma sequência de

atos de fala. Estes são relacionados de modo que, para a sequência de atos ser

percebida como apropriada, os atos de fala que a constituem devem satisfazer as

mesmas condições presentes em uma dada situação comunicativa. (KOCH, 2011:42-

46).

O objetivo dessa divisão é ressaltar os aspectos da coerência: o semântico, o

pragmático, o estilístico e o sintático, lembrando que, conforme Koch (2011), a coerência é o

resultado da ação de todos esses aspectos.

21

3 METODOLOGIA

A questão levantada neste estudo – a má redação realmente desconstrói a veracidade

da notícia? – foi construída através da leitura de jornais impressos, e sua resposta pode ser

encontrada e justifica-se na bibliografia de diversos estudiosos das normas gramaticais e

linguísticas, nos campos da Gramática Normativa, da Semântica e da Análise do Discurso.

Assim sendo, este trabalho configura-se como uma Pesquisa Exploratória, porque visa,

segundo Gil (1991), “proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo

explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico e análise de exemplos

que estimulem a compreensão.”.

Como Pesquisa Bibliográfica, foram coletadas informações científicas e, também,

analisadas e expostas notícias que continham o problema levantado, coletadas de um “Jornal

X” que circula no município de Pará de Minas, e explicado, por fim, como sanar a

problemática em questão, corroborando a análise com argumentação científica.

Primeiramente, buscou-se definir, através de pesquisa bibliográfica em livros, artigos e

publicações na internet, os conceitos dos fenômenos linguísticos abordados neste estudo, a

saber: funções da linguagem, texto jornalístico, notícia, denotação, conotação, ambiguidade,

vaguidade, subjetividade, coerência e coesão. Tal ação foi necessária porque o conhecimento

desses conceitos é crucial para identificar as “falhas” na construção do texto jornalístico,

sugerir métodos para saná-las e, posteriormente, definir a resposta buscada neste estudo.

Em seguida, procedeu-se a análise das notícias, buscando no vocabulário empregado e

na forma de estruturação desses vocábulos na frase, os efeitos de sentido oriundos da

organização do texto. Foi feita a leitura de várias edições de um “Jornal X” e a seleção das

notícias que apresentavam ambiguidade ou vaguidade. A seguir, apontou-se o erro da

construção, o motivo de ele ter ocorrido, e qual providência soluciona o problema.

22

4 ANÁLISE DAS NOTÍCIAS

Vários estudiosos foram vistos no intuito de se esclarecer os recursos necessários para

redigir, adequadamente, textos jornalísticos. Saber o que fazer para construir textos claros e

objetivos é fundamental para solucionar a problemática abordada neste estudo: a má redação

realmente desconstrói a veracidade da notícia?.

Quando se trata de texto referencial, espera-se que o enunciador tenha domínio do

código. Isto porque dessa competência resulta a produção de um texto de alta legibilidade,

embora não deixe de estar impregnado da subjetividade do enunciador. Os elementos

subjetivos serão tanto mais neutralizados quanto maior for a habilidade do redator na

utilização dos recursos do código linguístico, de acordo com Simões e Dutra (2004).

Na construção de um texto, os conceitos abordados no referencial teórico deste estudo

são recursos que devem ser trabalhados a fim de se evitar ambiguidade e vaguidade em um

enunciado, a fim de se obter clareza textual.

Durante o exame de diversos exemplares do “Jornal X” em busca de notícias que

contivessem ambiguidade ou vagueza, foi constatado outro tipo de erro bastante frequente na

redação daquelas notícias: a referenciação incorreta (tanto anafórica quanto catafórica), sem

configurar ambiguidade, comprometendo, porém, a interpretabilidade do texto, chegando,

algumas vezes, a produzir incoerência. Para os leitores capazes de realizar uma interpretação

eficaz, essas notícias mal redigidas continuam a ser compreensíveis, mas para aqueles que têm

dificuldades em aferir sentidos, a leitura pode tornar-se confusa.

Uma vez que o problema citado não é o foco deste estudo e foi citado apenas para

registro de sua constatação. Assim, volta-se a atenção, mais uma vez, para a vagueza e a

ambiguidade, que subsistem devido, principalmente, à ausência de especificações e ao

emprego errôneo de conjunções, preposições e pronomes.

É importante ressaltar que foram analisados apenas os textos entendidos como de

responsabilidade do veículo de comunicação (o jornal), produzidos pelos profissionais

vinculados a ele; ou seja, os textos apresentados entre aspas, que representam a fala de

pessoas entrevistadas, não foram considerados por não se ter certeza de essas pessoas

possuírem os conhecimentos necessários para uma construção gramatical correta do

enunciado publicado (norma padrão da língua portuguesa) – requisitos considerados

essenciais para a aptidão do profissional que redige textos para um jornal.

Por fim, apresentam-se a seguir as notícias selecionadas com as respectivas análises

sobre os problemas encontrados.

23

Figura 1: Notícia 1

Fonte: Dados da pesquisa 2013.

A primeira notícia, que tem por título “Cadeirantes questionam a lei”, apresenta

subjetividade, vaguidade e ambiguidade. No primeiro parágrafo, a expressão “o tempo todo”

traz em si a opinião do enunciador, demonstrando que este considera que são frequentes e

várias as dificuldades para a locomoção, constituindo um traço de subjetividade. Essa

expressão demonstra, ainda, vaguidade, uma vez que não especifica para o leitor a frequência

com que o fenômeno acontece, pois claro está que as dificuldades não ocorrem o tempo

“todo”, não são contínuas e ininterruptas. O emprego do pronome indefinido nessa sentença

abre espaço para que o leitor estabeleça a intensidade e a frequência do fenômeno narrado.

Quanto à ambiguidade, esta figura na frase seguinte: “Porém, acabamos nos virando, mas

como se locomovem em Pará de Minas os deficientes físicos?”. Em “nos virando” pode-se

24

atribuir dois sentidos para o verbo virar: o de buscar soluções para resolver o problema e o de

tomar outra direção, desviar dos obstáculos que dificultam a locomoção.

Para eliminar os problemas apontados o redator deveria ter-se utilizado até mesmo de

outro pronome indefinido: “várias vezes”, por exemplo, figuraria bem melhor do que “o

tempo todo” (No corrido dia a dia, várias vezes encontramos dificuldades de locomoção por

causa do grande movimento...) pois, apesar de continuar com a indeterminação, não

transmitiria a ideia de que o fenômeno não é interrompido. No caso da subjetividade, é

necessária a observância ao vocabulário escolhido e à construção sintática, pois o enunciador,

inconscientemente, expressa sua opinião no discurso. Segundo Paulino et al (2001:46),

quando a objetividade não é absoluta, evidencia-se que a notícia é um recorte do real, já que

quem a escreve o faz a partir de um lugar social, o que implica uma visão de mundo, marcada

pela subjetividade em suas relações com outras pessoas e com os fatos. Porém, ressalta-se que

por tratar-se do relato de uma situação cotidiana, da imposição do real, a notícia deve pender

para a objetividade e para o registro, de acordo com as considerações de Coelho (2008).

Para desambiguizar o enunciado, tanto poderia ser dada uma explicação do significado

do verbo “virar” no contexto em questão (“Porém, acabamos nos desviando, ou então,

acabamos pegando outro caminho”, se a intenção fosse utilizar o verbo com o significado de

voltar-se para outra direção; “Porém, acabamos buscando alternativas, ou então, acabamos

resolvendo de alguma forma”, se a intenção fosse utilizar o verbo com o significado de

esforçar-se para vencer dificuldades) como poderia ter-se empregado outro verbo que

expressasse a ação que se pretendia relatar, uma vez que “virar, locomoção, vias urbanas”

fazem parte do mesmo campo semântico.

Figura 2: Notícia 2

Fonte: Dados da pesquisa 2013.

A segunda notícia cujo título é “AJ empossado presidente” apresenta ambiguidade. Ao

examinar o texto, observou-se que não é possível determinar de quem Helen Ribas é esposa:

se do prefeito Antônio Júlio ou se do tenente Dimas de Figueiredo Ortiz. A duplicidade de

25

sentido, nesse caso, se deve ao emprego errôneo da vírgula antes do advérbio “juntamente”,

indicando que esse termo está sintaticamente deslocado na oração. Através dessa leitura,

pode-se inferir que “juntamente com sua esposa Helen Ribas”, além da posição que ocupa na

oração, poderia também aparecer no início ou no meio do período, ficando próximo tanto de

“o prefeito Antônio Júlio” quanto de “o tenente Dimas”, que são referentes potenciais nesse

texto.

É praxe colocar os termos remissivos próximos aos seus referentes, pois a distância

entre eles cria o efeito ambíguo, conforme afirma Koch (2004). Para desfazer a ambiguidade

basta retirar a vírgula que precede o advérbio “juntamente”, pois assim evidencia-se que o

pronome possessivo “sua” está fazendo remissão anafórica ao tenente Dimas.

Figura 3: Notícia 3

Fonte: Dados da pesquisa 2013.

A terceira notícia, intitulada “Deputado da terra visita o novo ministro” contém

vaguidade. É informada a visita de um deputado a um ministro, mas para que finalidade?

Quais temas foram discutidos? Cobrança de impostos, incentivos ao produtor, como

distribuição de sementes e agrotóxicos? Essas e outras hipóteses podem ser levantadas pelo

leitor, uma vez que foi falado apenas que o parlamentar está preocupado com “algumas

dificuldades”. Novamente a vaguidade foi estabelecida pelo uso de um pronome indefinido

(algumas). Essa vagueza pôde ser notada, também, no primeiro período dessa notícia,

especificamente no trecho “... para tratar dos problemas que afetam os produtores rurais de

Minas Gerais.”. De acordo com Kempson, citado por Seara (1997), a vagueza, nesse caso, foi

determinada pela falta de especificação no significado de um item – problemas – que

apresenta significação clara, porém, muito geral. Para eliminar a vaguidade, basta que se

acrescentem dados que possam restringir ou especificar a informação.

26

Figura 4: Notícia 4

Fonte: Dados da pesquisa 2013.

A última notícia analisada, “Atriz local lança o 1º livro” possui ambiguidade devido à

ausência de uma vírgula: “O Azul dos Olhos Dela com 117 páginas”. Esse trecho faz

referência ao título do livro, “O Azul dos Olhos Dela” e ao número total de páginas do

referido livro, respectivamente. Entretanto, a falta da vírgula gera outra interpretação: “O

Azul dos Olhos Dela com 117 páginas” seria o título do livro. Soluciona-se tal equívoco com

o emprego da vírgula antes da preposição “com”. Como o esquecimento do emprego da

vírgula ocasionou um erro linguístico, esse tipo de ambiguidade classifica-se como

ambiguidade sintática, segundo os apontamentos de Seara (1997).

Foi notada, também, uma incoerência nessa notícia em “A reportagem GP marcou

presença, quando conversou com Carmélia”. A presença da equipe de reportagem não pode

ter sido substancializada apenas no momento, ou devido ao momento em que ela conversou

com Carmélia.

Ao concluir as análises, ficou claro que um texto referencial mal redigido não

desconstrói a veracidade da notícia, apesar de criar outros sentidos para ela. O fato relatado

não é contradito; apenas se criam outras circunstâncias ou instâncias de sua efetivação,

alterando o contexto no qual o acontecimento se deu.

27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por intermédio da análise de textos jornalísticos, ofereceram-se ao leitor meios para

captar ou capturar o projeto do texto com que é informado sobre o que circula a sua volta pela

mídia impressa, condições ao indivíduo para atingir a tão necessária e indispensável

autonomia intelectual.

Através do estudo dos vários autores lidos e de várias notícias examinadas, pôde-se

inferir que o que torna qualquer linguagem em isto ou aquilo é a situação de uso. O contexto,

tanto linguístico como situacional, permite desfazer a ambiguidade de termos e expressões da

língua.

O emissor, além de preocupar-se com o domínio que deve exercer do código

linguístico, deve considerar as inferências que o leitor fará a partir do conhecimento de mundo

possuído, dos vários modos de interpretar que o indivíduo pode criar.

Esse trabalho reuniu informações sobre a finalidade e o modo de produzir textos

jornalísticos, que devem, sempre, fornecer uma leitura exata da realidade e as apresentou por

meio da exposição dos fenômenos linguísticos responsáveis por uma boa construção textual,

relativa ao gênero abordado, e da análise de notícias que fugiam a esse padrão de conduta.

Dessa forma, foi possível esclarecer que a má redação de um texto referencial não

desconstrói a veracidade da notícia.

28

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AJ empossado presidente. Gazeta Pará-minense. Pará de Minas/MG, 08 mar. 2013. p. 2.

ATRIZ local lança o 1º livro. Gazeta Pará-minense. Pará de Minas/MG, 28 dez. 2012. p. 3.

CADEIRANTES questionam a lei. Gazeta Pará-minense. Pará de Minas/MG, 01 mar. 2013.

p. 3.

CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. 4ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1990.

COELHO, Eulália Isabel. Notícia e informação no discurso midiático. Conexão –

Comunicação e Cultura. UCS. Caxias do Sul, v.7, n-14, jul./dez. 2008. Disponível em:

<http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/viewFile/139/130>. Acesso em: 01

abr. 2013.

DEPUTADO da terra visita o novo ministro. Gazeta Pará-minense. Pará de Minas/MG, 05

abr. 2013. p. 3.

EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto: redação, argumentação e leitura. 1ª ed. São

Paulo: Geração Editorial, 2004.

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça. Linguística Textual: introdução. 6ª

ed. São Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 19ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 18ª ed.

São Paulo: Contexto, 2011.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia

científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARCUSCHI, Luiz A. Linguística do Texto: o que é como se faz. Recife: UFPE, 1983,

Série Debates 1.

MARQUES, Fabrício. Jornalismo e literatura: modos de dizer. Conexão – Comunicação e

Cultura. UCS. Caxias do Sul, v.8, n-16, jul./dez. 2009. Disponível em:

<http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/view/124#>. Acesso em: 21 fev.

2013.

NASCIMENTO, Zilca Versânia da S. Os textos jornalísticos na internet. Uma breve

análise gramatical. Disponível em:

<http://www.artigocientifico.com.br/uploads/artc_1297254853_67.doc>. Acesso em: 21 fev.

2013.

NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume1. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2005.

29

PAULINO, Graça et al. Tipos de textos, modos de leitura. Belo Horizonte: Formato

Editorial, 2001.

SARMENTO, Leila Lauar; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática,

produção de texto. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2010.

SEARA, Izabel Christine. Ambiguidade? Um olhar sobre textos jornalísticos. Working

Papers em Linguística. UFSC, n.1, jul./dez. 1997. Disponível em:

<http://journal.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/view/1483/1627>. Acesso em: 21 fev.

2013.

SIMÕES, Darcilia; DUTRA, Vânia Lucia R. A iconicidade, a leitura e o projeto do texto.

Linguagem & Ensino. Pelotas, v. 7, n-2, p. 37-63, jul./dez. 2004. Disponível em:

<http://revistas.ucpel.tche.br/index.php/rle/article/view/207>. Acesso em: 13 fev. 2013.