Extenda 2 | Revista de Extensão da UFSM | 2015

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EXTENDA 2 | 2015 Revista de Extensão da UFSM Programa Visibilidade Pró-Reitoria de Extensão

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O ano de 2015 foi marcado por importantes pautas sobre direitos humanos, na busca por um mundo mais igualitário e com garantia da dignidade. Denunciar, dar visibilidade, celebrar, empoderar. Atitudes que estão na essência da extensão universitária e também são conjugadas por aqui. Diferentes iniciativas, no âmbito da relação da UFSM com suas comunidades, sublinham que o diálogo coletivo é a grande porta para o conhecimento e para a melhoria social. O segundo número da Extenda surge com este viés, em temas sintonizados com problemáticas centrais do nosso tempo. A publicação, editada pela Pró-Reitoria de Extensão, mobiliza mais uma vez sujeitos que fazem o dia da dia da extensão em diferentes âmbitos e linhas da Política Nacional de Extensão. Convidamos você a conhecer e a interagir com esse universo. A Universidade Pública tem um forte compromisso coletivo e humano, que se concretiza e se justifica pela atitude mediadora, pela construção partilhada. Obrigado e ótima leitura.

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EXTENDA 2 | 2015Revista de Extensão da UFSM

Programa VisibilidadePró-Reitoria de Extensão

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Universidade Federal de Santa Maria

Reitor: Prof. Dr. Paulo Afonso BurmannPró-reitora de Extensão: Profa. Dra. Teresinha H. Weiller Pró-reitor Adjunto: Prof. Dr. Ascísio dos Reis Pereira

EXTENDAEditora responsável: Profa. Dra. Angela Zamin (MTB 9591) | Núcleo Frederico Westphalen - Reportagem e fotografia: Angelita Cancian, Julia Saggioratto e Rodrigo D´Avila (bolsistas de extensão, acadêmicos de Jornalismo); Revisão: Rejane Fiepke (bolsista, acadêmica de Jornalismo); Supervisão: Prof. Dr. Reges Schwaab; Apoio: Laboratório de Relações Públicas | Núcleo Santa Maria - Reportagem e fotografia: Jocéli Bisonhim Lima; (bolsista de extensão, acadêmica de Jornalismo); Supervisão: Profa. Dra. Laura Storch; Apoio: Laboratório de Experimentação em Jornalismo (LEX) | Projeto gráfico: Angela Zamin, Angelita Cancian, Julia Saggioratto e Rodrigo D´Avila | Apoio Pró-Reitoria de Extensão: Gléce Kurzawa Cóser, Jaime Roso Cardoso e Taiani Bacchi Kienetz.

Fotos de divulgação dos projetos: Priscila Aguiar (PRE/UFSM); Rogério Pomorski (Universo da Leitura); Agricultura familiar e abastecimento de escolas institucionais na promoção da segurança alimentar e nutricional; Programa de Extensão em Música; SOM: Programa de Formação em Música; Alessandra Jungs de Almeida (MIGRAIDH).

Foto de capa: Priscila Aguiar (PRE/UFSM)

A revista EXTENDA integra o Programa Ações de Visibilidade e Divulgação dos Programas e Projetos de Extensão da UFSM.

E-mail: [email protected]: www.ufsm.br/pre

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO UFSMEndereço: Av. Roraima, nº 1.000 - Cidade UniversitáriaAdministração Central - Prédio 47 - 9º andar - Sala 945Bairro Camobi - Santa Maria (RS) - Cep.: 97105-900

expediente

Incluir na pautaO ano de 2015 foi marcado por importantes pautas sobre direitos humanos, na busca por um mundo mais igualitário e com garantia da digni-dade. Denunciar, dar visibilidade, celebrar, empo-derar. Atitudes que estão na essência da extensão universitária e também são conjugadas por aqui. Diferentes iniciativas, no âmbito da relação da UFSM com suas comunidades, sublinham que o diálogo coletivo é a grande porta para o conheci-mento e para a melhoria social.O segundo número da Extenda surge com este viés, em temas sintonizados com problemáticas centrais do nosso tempo. A publicação, editada pela Pró-Reitoria de Extensão, mobiliza mais uma vez sujeitos que fazem o dia da dia da extensão em diferentes âmbitos e linhas da Política Nacio-nal de Extensão.Convidamos você a conhecer e a interagir com esse universo. A Universidade Pública tem um forte compromisso coletivo e humano, que se concretiza e se justifica pela atitude mediadora, pela construção partilhada. Conhecer as possi-bilidades de engajamento é um dos primeiros passos para que mais ações tomem forma, para que mais pessoas e temas emergentes sejam incluídos, para que a emancipação seja plena.Reiteramos o convite para que acompanhem as pautas da Extenda também nos meios eletrôni-cos, como na série veiculada pela TV Campus, disponível no canal da emissora no You Tube.Obrigado e ótima leitura.

Equipe EXTENDA

APRESENTAÇÃO

https://www.youtube.com/user/tvcampusUFSM/playlists

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6Literatura

10Sensibilização Ambiental

4Saúde

13 Imigrantes e Refugiados

28Entrevista

22 Negritude

26Música

8 Mobilidade Urbana

21 Agricultura Familiar

EXTENDA

8Mobilidade

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A rotina das sextas-feiras no Ambulatório de Fisioterapia do Hospital da Universidade Federal de Santa Maria é total-mente diferente dos demais dias. É quando o Programa Interdisciplinar de Atenção a Hemiplégicos Pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC), desenvolvido há dez anos, recebe pacientes que sofreram AVC para recuperação.Para além de um trabalho motor, a busca pela reabili-tação social dos pacientes, com atendimento de qualida-de, torna o projeto um raro exemplo no Estado e no País. “Quando começamos com o grupo, existia um programa semelhante em São Paulo, que não atua mais. A proposta que temos hoje é única”, comen-ta a fisioterapeuta Ana Lúcia Cervi, idealizadora e coorde-nadora do Programa. Segundo ela, a falta de espaço físico fez com que pacientes que já estavam em atendimento há mais de um ano fossem agru-pados em um único horário e espaço, dando origem ao atendimento coletivo. O projeto que concilia neuro-ciência aplicada e reabilitação, atualmente atende cerca de 40 pacientes vítimas de AVC. O Acidente Vascular Cerebral, também conhecido como derrame cerebral, é a segun-da maior causa de óbitos no Brasil. Ele acontece quando há um entupimento ou rompi-mento dos vasos sanguíneos

Além da recuperação

SAÚDE

que levam sangue ao cérebro. Quando não leva à morte, o AVC pode causar várias compli-cações. A mais comum é a hemiplegia, com a paralisação de um dos lados do corpo.João Cossenego é atendido pelo projeto há pouco tempo, mas já nota mudanças. Ao contar sua história a quem passa pelo Ambulatório de Fisioterapia, “seu João” deixa que as lágrimas das lembranças doloridas se misturem às de fe-licidade pela recuperação: “Eu recebi o convite da Universidade, estou gostando muito, quan-do eu cheguei aqui, não falava nada, mas todo mundo me abraçou, me acolheu, e o que eu aprendo aqui levo para casa e faço lá também”, conta o beneficiado.Emocionante também é a forma com que a equipe de profissionais do Programa se dedica aos pacientes. Aliás, outro objetivo é propor-cionar aos acadêmicos, bolsistas e voluntários, uma capacitação diferenciada e qualificada de atendimento em grupo. “Possibilitamos a expe-riência do trabalho em equipe e maximizamos o aprendizado por meio da vivência das ações. A partir dos novos conhecimentos e experiên-cias, ampliamos o interesse por esse tipo de trabalho, pela pesquisa e pela extensão”, expli-ca a coordenadora Ana Lúcia.A equipe multidisciplinar é formada por pro-fessores e estudantes de Fisioterapia, Medicina e Terapia Ocupacional. Para a acadêmica de Fisioterapia Flávia Fabricio, o aprendizado pro-porcionado pelo projeto trouxe um conheci-mento diferenciado: “Comparando com nossos colegas que não tiveram a oportunidade que a gente está tendo, nós possuímos uma expe-riência muito importante, adquirida aqui no grupo”, relata.Ir além de um tratamento tradicional, buscan-do alternativas na extensão, tornou o grupo uma família que tem muito por construir, mas já conta com experiência para partilhar. Desde o início, o Programa tem resultados positivos, alimentando pesquisas de diversas áreas do conhecimento. >>

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Famílias parceiras na reabilitaçãoAli mesmo, no Hospital Universi-tário, outro projeto tem objetivos semelhantes. O Programa Revicar-dio busca a reabilitação cardíaca de pacientes que sofreram algum tipo de acidente cardiovascular. Aliando médicos, fisioterapeutas e educadores físicos, a coordenação está a cargo do experiente médico Sérgio Pereira.Em 2006, quando o Hospital Uni-versitário foi chancelado como uma unidade de atendimento de alta complexidade em cardiologia, surgiu a necessidade de criar um espaço onde os pacientes pudes-sem complementar sua recupe-ração. Foi o nascimento do Revi-cardio. Segundo Pereira, mais de 200 pacientes já foram atendidos. “Esse Programa proporciona que a médio e longo prazos possamos estar presentes, trabalhando junto com a rede pública de saúde, au-xiliando em processos pós-opera-tórios”, afirma.Os projetos voltados para a re-abilitação vão além de cuidados com o paciente. Os familiares das pessoas em tratamento também recebem auxílio, especialmente com informações sobre cuidados médicos e de prevenção: “A fa-mília do paciente que sofre algu-ma complicação cardíaca sempre fica muito ansiosa e não nota que é um agente muito importante. Chegar na família é um objetivo do Programa, para que ela possa ser parceira na reabilitação”, co-menta o coordenador.Os programas de reabilitação desenvolvidos na UFSM querem trazer benefícios físicos e sociais, estendendo conhecimento e in-formação para pacientes e seus familiares, construindo uma cola-boração para uma vida saudável.

por Rodrigo D´Avilla

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do estímulo aos alunos para atuarem na área da produção audiovisual, segundo a coor-denadora do Projeto. Os programas são exibidos regularmente pela TV Campus, da UFSM, Canal 15 da NET Santa Maria, buscando atingir a comunidade do município, os estudantes, os professores e os técnicos-administrativos da Universidade. Também são disponibilizados na plataforma You Tube, no canal Estúdio 21, desde setembro de 2013, o que permite a ampliação do público. Cada programa tem 30 minutos de duração, com

Compromisso com a leitura na produção audiovisual

COMUNICAÇÃO

Ciente do grande potencial da televisão e ten-tando promover o encontro entre comunicação e educação, além do incentivo à cultura do livro, o projeto de extensão Universo da Leitu-ra, do curso de Comunicação Social: Produção Editorial, da UFSM, produz programas televisi-vos com o mesmo nome do projeto. Desenvol-vidos por acadêmicos do curso, com apoio do Estúdio 21, por meio de seus técnicos-adminis-trativos e equipamentos, sob coordenação da professora Aline Dalmolin, os programas têm como objetivo o incentivo à leitura por meio do entretenimento. O Universo da Leitura promo-ve discussões acerca de questões relacionadas à inclusão social, práticas de leitura e deficiên-cia, produção de livros em comunidades indí-genas, quilombolas e em situação de insegu-rança social e na promoção da igualdade, além

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três blocos de oito minutos, além dos interva-los. O Universo da Leitura também apresenta diversos assuntos relacionados ao livro e à lite-ratura, como a cadeia produtiva do livro, lança-mentos, concursos literários, ações e eventos, além de entrevistas com personalidades, dicas e informações. A professora Aline Dalmolin destaca o Proje-to como um promissor campo de interações, que promove a cidadania e a inclusão social, segundo ela, pilares que regem a prática exten-sionista universitária: “As ações tomam como princípio o comprometimento das práticas universitárias com a sociedade e a visão pública das atividades a serem implementadas. Desse modo, efetiva-se a plena função de um proje-to de extensão, ao buscar travar pontes com a sociedade sem deixar de lado a produção de conhecimento”, acrescenta.“Os alunos atuam em todas as etapas da pro-dução do programa televisivo: pré-produção, produção e pós-produção, além de trabalha-rem na divulgação e veiculação dos conteúdos em plataformas online”, ressalta a professora. O Projeto possui uma bolsista, Paola Cervo Spen-cer, e seis alunos voluntários. A bolsista acre-dita que o Projeto pode incentivar a divulgação de autores e escritores da Região e, também, do curso de Produção Editorial. Paola Spen-cer ressalta, ainda, que o Universo da Leitura sempre traz assuntos sobre cultura, de cunho social e de diversidade: “Acreditamos que há uma necessidade nos meios de comunicação santamarienses de pautar estes assuntos. Ainda mais quando estão atrelados à leitura e aos livros, pois sabemos a importância destes para a sociedade, que nem sempre possui incentivo ou oportunidade de acesso”. Paola destaca a importância da TV pública e universitária, como a TV Campus, abrir espaço para discutir assun-tos relevantes para a comunidade. O Universo da Leitura oportuniza aos alunos desenvolve-rem atividades práticas de componentes curri-culares do curso de Produção Editorial, como Produção Audiovisual e Produção Editorial em Mídia Audiovisual.

por Julia Saggioratto

Usuários buscam informação e entretenimento na TV brasileira

Segundo a pesquisa Hábitos de consu-mo de mídia pela população brasileira, de 2015, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, os brasileiros veem televisão, em média, quatro horas e meia por dia, de segun-da à sexta-feira, e quatro horas nos finais de semana. “As pessoas assistem à tele-visão, principalmente, para se informar (79%), como diversão e entretenimento (67%), para passar o tempo livre (32%) e por causa de um programa específi-co (19%). Mas não é baixo o percentu-al de entrevistados que declaram ter esse meio de comunicação como uma companhia (11%)”, destaca a pesquisa.Influenciada quase que totalmente pelo rádio comercial, a televisão brasileira se tornou, como previu Assis Chateau-briand, em seu discurso na inauguração da TV Tupi, de São Paulo, “um sinal da mais subversiva máquina de influenciar a opinião pública”. Subversiva e merca-dológica, visando, em sua maior parte, os lucros que pode proporcionar. A qua-lidade da programação melhorou muito desde a década de 1960. Os interesses comerciais, contudo, ainda se sobrepõem aos valores educacionais e culturais. A televisão se tornou um dos mais impor-tantes agentes de formação, levando vantagem por sua linguagem ágil e sua fácil integração ao cotidiano das pessoas.

Rogé

rio P

omor

ski

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As três principais linhas de ônibus que ligam o Campus sede da UFSM aos bairros de Santa Maria (Tancredo Neves, Universidade e Bombeiros) atendem por volta de 26 mil passageiros todos os dias. Isso corresponde a 23% do total diário de usuários de ônibus do Município. A comunidade acadêmica transita também pelo Campus com carros, mo-tos, bicicletas e a pé. É nesse cenário que o Grupo de Pes-quisa em Mobilidade Urbana (GeMOB), vinculado à Pró-Rei-toria de Infraestrutura e ao Gabinete do Reitor, desenvol-ve estudos sobre transporte, sistema viário e circulação.O projeto de extensão GeMOB

Melhorias no trânsito interno da UFSM

TECNOLOGIA

é coordenado pelo professor Carlos Félix, do Departamento de Transportes do Centro de Tecnologia (CT) da UFSM. A proposta do grupo é melho-rar a mobilidade no campus. “Nosso objetivo é contribuir com a Universidade, para que a administração da UFSM crie políticas adequadas de trânsito. Nós atuamos como colaboradores, fazemos levan-tamentos, medidas, propostas, tudo visando a melhoria do trânsito interno”, comenta o professor.Em atividade desde o início deste ano, o GeMOB já reali-zou importantes modificações no Campus sede. Uma delas foi a participação na constru-

ção da pista multiuso, utilizada como ciclovia ou como lugar de circulação de pedestres. A pista conta com 3,5 quilôme-tros e foi finalizada no primei-ro semestre de 2015. O grupo ajudou na definição do traça-do, que atualmente começa no Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) e vai até o Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). O GeMOB também elaborou a sinalização da pista, para que ciclistas e pedestres possam se orientar no trajeto.Outra ação que contou com a colaboração do grupo foi o Via-UFSM, um ônibus circular interno que transporta pes-soas por diversos pontos do Campus. O GeMOB desenvol-ve estudos sistemáticos refe-rentes aos itinerários, paradas, locais e horários de circulação do Via-UFSM. Para melhorar o serviço, o Grupo projeta tornar o itinerário do circular mais abrangente e com mais paradas - atualmente ele não passa por alguns centros de ensino da Universidade. Além da circulação interna, o Grupo também participou da implan-tação do transporte inter-campi, que leva servidores e acadêmicos de um campus da UFSM para outro.O transporte coletivo munici-pal que atende a comunidade da UFSM também é avaliado pelo GeMOB. O grupo fez um levantamento da lotação das oito linhas de ônibus que LE

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Est

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chegam e partem do Campus sede, durante o período das 6h às 23h. O estudo foi feito por meio da técnica de con-traste visual e teve por obje-tivo entender os horários de pico dos ônibus, ou seja, ho-rários em que eles estão mais lotados. “Com esse estudo nós identificamos algumas ques-tões que poderão ser do âm-bito da Universidade, outras de gestão da Prefeitura Mu-nicipal e outras da empresas operadoras de ônibus. Essas questões serão apresentadas para que sejam solucionados os problemas”, destaca Félix.Recentemente o Grupo par-ticipou do planejamento das novas rótulas da BR-287, uma das rodovias de acesso à Universidade. Em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transpor-te (DNIT) de Santa Maria, a Universidade solicitou a cria-ção das rótulas, especialmente a da estrada do Pains (via de acesso secundária à UFSM). O GeMOB espera que esta rodovia seja pavimentada em sua totalidade. Com a via de acesso secundária melhorada, o trânsito nas horas de pico será menos caótico e mais rápido. Futuramente, Santa Maria contará com um Bus Rapid Transit (BRT), ônibus de trânsito rápido que servirá para levar passageiros de di-versos pontos da cidade até a UFSM. O GeMOB também vai contribuir com esse projeto

por meio do planejamento de rotas e paradas.O GeMOB fez ainda a consul-toria para instalação de esta-ções de compartilhamento de bicicletas dentro do Campus sede. O financiamento do projeto é uma parceria com o Banco do Brasil e irá ofe-recer à comunidade um tipo de deslocamento mais rápido e confortável, por meio da pista multiuso. O Grupo tam-bém pretende padronizar os mais de 200 estacionamentos de bicicletas que existem no Campus sede, para que todos sejam adequados e seguros. Além disso, uma etapa pre-liminar do projeto de sina-lização do Campus sede já

está sendo feita pelo GeMOB. Igualmente, o Grupo pretende colocar em prática um proje-to de controle de velocidade, para evitar acidentes, já que há grande circulação de pe-destres na Universidade.A sede da UFSM tem uma área de 1.128,6 hectares e circula-ção de milhares de pessoas por dia, por isso a mobilidade urbana deve ser estruturada e aprimorada. O compromisso do GeMOB é com o desenvol-vimento de políticas institucio-nais que melhorem as condi-ções de acesso e circulação na UFSM, para que todos possam circular com segurança.

por Jocéli Bisonhim Lima

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Sensibilizar para reduziros impactos do consumo

MEIO AMBIENTE

Problemas ambientais como aquecimen-to global, calor e frio em excesso e fora de época, falta de água em alguns luga-res e enchentes em outros, se intensifi-cam no nosso cotidiano. Nunca os temas ambientais ocuparam tanto espaço na mídia e nas discussões como estão ocu-pando agora. E por quê? Para alertar as pessoas de que a natureza está em co-lapso? Ou para conscientizá-las de que já passou da hora de ter atitudes mais sustentáveis?Uma pesquisa recente da Associação Bra-sileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revela que cada brasileiro produz, em média, 1,062 Kg de resíduos por dia. A produção de lixo aumentou 29% nos últimos 11 anos,

enquanto o índice populacional cresceu apenas 6%. É difícil pensar num modo de evitar o aumento da produção de lixo e de resíduos quando a sociedade está se tornando cada dia mais consumista.A boa notícia é que já há muitos proje-tos promovendo a educação ambiental em escolas e bairros, como é o caso do projeto de extensão Ações de sensibili-zação ambiental através de atividades educativas desenvolvidas na sociedade, do curso de Engenharia Ambiental e Sa-nitária da UFSM Frederico Westphalen. Esse Projeto busca rsensibilizar para os cuidados e a preservação do meio am-biente. Além disso, tem como objetivo incentivar práticas de agricultura orgâ-nica, desenvolver e aprimorar ações de

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Educação Ambiental que primem pela melhoria na qualidade de vida, reduzir a quantidade de resíduos gerados dia-riamente pelas pessoas e fazer com que os cidadãos construam valores, conheci-mentos, habilidades e atitudes voltadas à conservação do meio ambiente.Criado em 2012, o Projeto vem reali-zando diversas ações de educação am-biental. Ao todo, o Programa já atendeu quatros escolas nas cidades de Frede-rico Westphalen e Seberi, com oficinas de reaproveitamento do lixo orgânico por meio da compostagem, criação de hortas comunitárias e separação e rea-proveitamento de resíduos sólidos. O coordenador, professor Alexandre Couto Rodrigues, afirma que o Projeto é rele-vante na medida em que trabalha a im-portância da separação dos resíduos re-ciclável e orgânico, o reaproveitamento dos resíduos e a utilização da composta-

gem para gerar adubo orgânico. Ressalta também a necessidade de sensibilização para o problema ambiental e o impacto que o ser humano está ocasionando no meio ambiente.Débora Cristina Bianchini, bolsista do Projeto, explica a busca pela sensibiliza-ção ambiental e não uma conscientiza-ção: “O Projeto se baseia em ações para sensibilizar, porque você não consegue conscientizar uma pessoa, mas você a sensibiliza e a partir desse momento ela mesma toma consciência de que deve mudar algumas atitudes”. Escolas e co-munidades têm a possibilidade de atu-arem na reeducação para a responsabi-lidade pelo lixo produzido. A educação ambiental é acionada como perspectiva de trabalho, para que se dê, passo a pas-so, a construção de um pensar e de um fazer a sustentabilidade como fruto de uma consciência partilhada. >>

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Bairros serão atendidosem nova fase do projeto

O projeto Ações de sensibilização am-biental através de atividades educativas desenvolvidas na sociedade entrará em uma nova fase em que o foco deixará de ser apenas as escolas, para incorpo-rar o trabalho em bairros. O primeiro será o bairro Aparecida, de Frederico Westphalen, escolhido pelo fato de ser um dos maiores do Município e por ter uma comunidade unida e envolvida com os problemas sócio-ambientais. “Dentre as ações que pretendemos desenvolver se destacam o reaproveita-mento dos resíduos orgânicos por meio da compostagem, a criação de uma hor-ta comunitária sem o uso de agrotóxi-cos e à disposição da comunidade, além da sensibilização para a importância da separação e do reaproveitamento dos resíduos sólidos”, destaca a bolsista do Projeto, a acadêmica Jéssica Demarco.Para o integrante da diretoria da Asso-ciação dos Moradores do Bairro Apa-recida, Jocelito Ambrozio, a parceria é importante: “Inicialmente a gente fica contente por ter sido escolhido. Pelo fato de que se trata de um curso que tem como objetivo final melhorar o meio ambiente do nosso bairro, a gente resolveu entrar como parceiro. Perce-bemos que esse Projeto só tem a be-neficiar os moradores da comunidade”. Ambrozio destaca, ainda, a importância do trabalho para fazer com que a co-munidade acorde para os problemas ambientais que não afetam apenas os grandes centros, mas atingem também as pequenas localidades. Segundo o morador, com a iniciativa o bairro pode se tornar uma referência de cuidado com o meio ambiente. “Se der certo

aqui, o bairro pode virar um modelo para o resto do Município. Se o projeto tiver resultados positivos, certamente outros bairros vão querer participar e, com isso, vamos ter uma cidade mais consciente e sensibilizada para a ques-tão ambiental”, ressalta.Apesar de as atividades no bairro es-tarem na fase inicial, os moradores já estão com grandes expectativas quanto aos benefícios que o Projeto de exten-são poderá trazer. A moradora da co-munidade Maria Madalena Cocco, pro-fessora da APAE, afirma que tem muitas expectativas positivas: “Acho que com o Projeto vai ser possível mostrar para a comunidade as vantagens de uma horta comunitária, a importância do reapro-veitamento e descarte correto do lixo, os benefícios de usar o adubo orgânico, tanto para as plantas como para a nossa saúde. Eu acho que o Projeto é possí-vel e viável, dá pra fazer e vai melhorar muito o nosso bairro.”Já para a moradora Lurdes Ambrozio, aposentada e dona de casa, o Projeto vai trazer um despertar para os pro-blemas ambientais do bairro. “A gente vai aprender muito com esse Projeto e tenho certeza que ele vai melhor mui-to o ambiente onde vivemos, e nós vamos fazer o possível para participar e contribuir. Eu espero realmente que o trabalho dê certo. Nós só temos a agradecer à Universidade por nos dar a oportunidade de melhorar atitudes e de nos ensinar a cuidar do meio ambiente”, complementa.

por Angelita Cancian

MEIO AMBIENTE

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ESPECIAL

Pesquisa conjunta do Ministério da Justiça e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), com índices revelados em novem-bro de 2015, mostrou que, entre as principais dificuldades encontradas pelos imigrantes estão o domínio do idioma, o acesso à serviços públi-cos básicos e a retirada de documentação.Em meio ao cenário de crescimento da migra-ção e de busca por refúgio, diante da necessi-dade de dar respostas e de proteger os direitos humanos de imigrantes e refugiados, criou-se na UFSM, em 2013, o Grupo de Ensino, Pesqui-sa e Extensão Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (MIGRAIDH), do curso de Direito, que busca dar assessoria jurídica a estas pessoas. A partir de 2014, iniciou o trabalho de extensão no âmbito da migração em conjunto com o Núcleo de Interação Jurídica Comunitá-ria (NIJUC), também formado por estudantes de Direito, compondo o eixo NIJUC/MIGRAIDH.

Migração e refúgio: ações afirmativas por Julia

Saggioratto

Segundo a coordenadora do Projeto, professora Giuliana Redin, o MIGRAIDH busca au-xiliar imigrantes e refugiados no empoderamento, no diá-logo com órgãos públicos e na participação e inserção em espaços de pressão política. “O projeto conta com reuni-ões semanais de avaliação. As demandas pesquisadas por alunos ou vindas por solicita-ção externa são discutidas e avalia-se o encaminhamento”, explica. Segundo ela, o projeto desenvolve, sobretudo no con-texto local, canais para acesso e reivindicação de direitos que podem ser muito mais eficien-tes do que o Judiciário. >>

À procura de oportunidades ou fugindo de situações de perseguição, imigrantes e refugiados vivenciam novos embates nos países que os re-cebem. Segundo o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), dados do Ministério da Justiça, no período de 2000 a 2014, indicam que o número de registros de estrangeiros no Brasil foi de 833.682 pessoas (320.237 permanentes, três asilados, 485.238 temporários, 14.510 provi-sórios, 10.108 fronteiriços e 3.586 outros casos). De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados, órgão interministerial, em dezembro de 2015, o número de refugiados reconhecidos no Brasil era de 8.530. Des-tes 2.077 sírios, 1.480 angolanos, 1.093 colombianos e 844 congoleses.

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O Projeto, que atende estudantes estrangeiros da UFSM, imigrantes e refugiados que buscam estabelecer residência em Santa Maria, possui dois bolsistas, Luís Augusto Bitten-court Minchola, estudante do sexto semestre de Direito, e André Lopes, do quarto semestre, além de volun-tários. Luís Augusto conta que as ações do projeto foram desenvol-vidas tanto dentro da UFSM como fora dela. Segundo ele, as atividades resultam de pesquisas teóricas e de campo, capazes de apontar as de-mandas para o Grupo que, a partir disso, tenta criar uma realidade de acolhida mais adequada no Municí-pio e sensibilizar sobre a causa. Uma das ações realizadas pelo Proje-to é a promoção de formações para os novos componentes do Grupo a partir da temática imigrantes e re-fugiados. Em um destas formações, participou a irmã Maria do Carmo Gonçalves, que atua no Centro de Atendimento ao Migrante de Caxias do Sul (RS). Em outra, esteve presen-te o imigrante haitiano Renel Simon que, atualmente, trabalha no Centro de Referência de Assistência Social de Lajeado (RS), como representan-te dos imigrantes. De acordo com Simon, o Centro de Referência dá apoio e suporte social aos imigran-tes, encaminhando-os para a Polícia Federal, o Ministério do Trabalho e o Sistema Nacional do Emprego (SINE) e auxiliando-os na renovação de do-cumentos. “A Prefeitura de Lajeado e a Secretaria de Assistência Social apoiam os imigrantes em todos os sentidos. Quando precisam de algu-ma coisa, nos procuram”, destaca. O haitiano escreveu um livro sobre sua trajetória em conjunto com Margarita Rosa Gaviria Mejía, Sonhos que mo-bilizam o imigrante haitiano: biogra-fia de Renel Simon.

Outra importante ação desenvolvida pelo Projeto é a revalidação de diplo-mas de curso superior de imigrantes e refugiados. A ação se dá por meio da parceria do MIGRAIDH com a Associação Antônio Vieira, institui-ção sem fins lucrativos que mantém entidades de assistência social e insti-tuições de ensino, que encaminha ao Grupo os estrangeiros que necessi-tam da revalidação. A parceria entre o MIGRAIDH e a Associação Antônio Vieira permite, ainda, outras ativida-des conjuntas.Recentemente, o MIGRAIDH contri-buiu na revalidação de diploma de um refugiado sírio. A resolução atual exige visto permanente para a ob-tenção da revalidação, contudo, este documento só pode ser adquirido após quatro anos residindo no Brasil. Na situação específica dos refugia-dos, a exigência do visto é incoeren-te, logo, o grupo foi acionado para mais uma mediação. “Construímos um documento argumentando em favor da interpretação de que o refu-giado não precisa apresentar visto de permanência, diante de sua própria impossibilidade e do estabelecido na legislação nacional”, explica a profes-sora Giuliana Redin. A partir de uma pesquisa de campo feita em Lajeado, o MIGRAIDH obser-vou uma grande busca por acesso ao ensino superior por parte dos imi-grantes haitianos. O acesso normal, devido às documentações exigidas, inviabilizava a entrada deles nas uni-versidades. Com base nisso, o Grupo identificou as resoluções em vigor na UFSM e concluiu que eram inoperan-tes por não se adaptarem à realidade dos imigrantes e refugiados. O Grupo pesquisou resoluções de outras uni-versidade do País e elaborou o Pro-grama de Acesso à Universidade para Imigrantes em Situação de Vulnerabi-

MIGRAIDH atua em várias frentes

Entrevista sobre migração com a

pesquisadora Liliane Dutra Brignol na

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lidade e Refugiados, com o objetivo de os contemplar. O Programa está sendo analisado pelas Pró-Reitorias da UFSM. “A gente espera que passe e que realmente se efetive o acesso na Instituição”, afirma o Luís Augusto. O assunto da assistência estudantil também foi colocado em pauta pelo coletivo, pois, segundo uma resolu-ção interna da UFSM, estrangeiros não podem ter acesso à moradia estudantil, por exemplo. O Grupo entrou novamente em ação enviando um parecer técnico à Pró-reitoria de Graduação (Prograd) para alterar a resolução. “Essa diferença ‘nacional e estrangeiro’ dificulta a permanên-

cia na Instituição por um estrangeiro que demande essa política, também viola princípios de igualdade, princí-pios constitucionais e de proteção de direitos humanos”, relata o estudante de Direito.Além destas ações, o MIGRAIDH tam-bém está elaborando uma cartilha de informações sobre serviços públicos que possui acessibilidade linguísti-ca para os imigrantes. “A gente está tentando contemplar várias línguas que os imigrantes utilizam, e vamos tentar deixar disponível em lugares de uso frequente destas pessoas, como órgãos públicos e rodoviária”, relembra Luís Augusto. >>

Renel Simon,do Centro de Referência

de Assistência Social

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Apátridas: indivíduos que não são considera-dos nacionais de nenhum Estado.

Estrangeiro: em sua acepção espacial, é a pessoa que está fora, procedente de determi-nado lugar.

Migração/Migrante: migrante é toda a pessoa que se transfere de seu lugar habitual de re-sidência para outro lugar, região ou país, de modo permanente ou transitório.

Refugiado: é toda pessoa que, “temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país” (Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados, de 1951, art. 1º A, e seu Protocolo de 1967). A legislação brasileira também reconhece o status de refugiado à “pessoa que, devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigada e deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país” (Lei 9474/97, artigo 1º, inciso III).

Fonte: Guia das Migrações Transnacionais e Diver-sidade Cultural para Comunicadores – Migrantes no Brasil, de Denise Maria Cogo e Maria Badet Souza.

Em 2003, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) ini-ciou a implementação da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) em toda a Amé-rica Latina para o incentivo à pesquisa e à produção acadêmica relacionada ao Direito Internacional dos Refugiados. No Brasil, incorporou o trabalho direto com os refugiados. Como o nome indica, a Cátedra é uma homenagem ao brasilei-ro Sérgio Vieira de Mello, comissário de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), morto no Iraque, no mesmo ano. A Cátedra é articulada em centros universitários em conjunto com governos, universidades e outras organi-zações internacionais.Na UFSM, a CSVM foi implantada em setembro de 2015. Em vista disso, o MIGRAIDH recebe demandas do ACNUR e do Ministério da Justiça, colaborando com iniciativas das duas organizações. Uma das atividades executadas pelo Ministério foi a convocação das institui-ções parceiras do ACNUR que possuem a Cátedra para participarem da elabora-ção do Plano Nacional para o Refúgio. Este plano pretende contemplar várias ações que são identificadas pelos grupos e dar uma resposta a várias demandas de refugiados, especialmente no Brasil. As iniciativas propostas pelo MIGRAIDH estão relacionadas ao acesso ao trabalho e à educação, por exemplo.

Sérgio Vieira de Mello (1948-2003) tra-balhou durante 34 anos na ONU. Atuou em missões humanitárias em Bangla-desh, Kosovo, Líbano, Moçambique, Ru-anda, Sudão, Timor Leste, entre outras. Carioca, filho de Arnaldo Vieira de Mello, diplomata e historiador, e de Gilda dos Santos. A atuação de Vieira de Mello está descrita no livro O homem que queria salvar o mundo: uma biografia de Sergio Vieira de Mello, de Samantha Power.

Glossário

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiadoshttp://www.acnur.org/t3/portugues/

Associação Antonio VieiraFone/Fax: (51) 3592-7494 / (51) 3254-0140

Centro de Estudos Migratórios Cristo Reihttp://www.cemcrei.org.brFone/Fax: (51) 3334 1833

Centro de Atendimento ao MigranteE-mail: [email protected]/Fax: (54) 3227-1459

MIGRAIDHE-mail: [email protected]/migraidh

Entidades

CátedraSérgio Vieira de Mello

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O MIGRAIDH acompanha a situação de senegaleses que residem em Santa Maria, abrindo o diálogo com órgãos públicos para facilitar o acesso aos serviços oferecidos, diante da dificul-dade linguística que eles possuem. Por conta disso, acabavam criando resis-tência em buscar seus direitos, saben-do que a comunicação não seria fácil. Para resolver este problema o Grupo iniciou rodas de conversa e reuniões semanais para orientações em portu-guês. “Semanalmente fazemos uma reunião em que explicamos alguns tó-picos de português, eles vão chegan-do, vão convidando mais gente”, relata o bolsista do MIGRAIDH, Luís Augusto Bittencourt Minchola. Um dos senegaleses que participa

Desafiados pela língua portuguesa

das reuniões para aprender portu-guês é Souberou Diene, que mora há quatro meses no Brasil. O imigrante passou antes pelo Equador, Espanha, Peru, chegou no Acre e, em seguida, foi parar em São Paulo. Agora, mora em Santa Maria com o conterrâneo Ousmane Ndiaye e conta que veio ao Brasil para trabalhar. Ele atua como servente na construção civil e toda semana participa dos encontros com o MIGRAIDH. “MIGRAIDH é muito bom, me ajuda em todos os problemas que tenho aqui. O Grupo me ajuda em tudo, aprendo português toda terça--feira aqui na Universidade”, explica Souberou. O senegalês conta, ainda, que quer ajudar no Grupo e que pre-tende voltar para casa. Luís Augusto afirma que o processo de aperfeiçoamento na língua portuguesa dá aos imigrantes maior abertura de diálogo para alcançar seus direitos. Na avaliação do bolsista, “Souberou Diene ganhou bastante confiança, ele se empoderou, tem maior facilidade para reivindicar seus direitos”. >>

Souberou Diene, senegalês

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Barreiras para acessar políticas públicas

O conflito armado interno colombia-no é responsável pelo deslocamento forçado de cerca de 6 milhões de co-lombianos. Segundo o Informe Global 2015, do Observatório de Desloca-mento Interno (IDMC), do Conselho Norueguês para Refugiados, a Co-lômbia é o país com a segunda maior população de deslocados internos do mundo, o primeiro na América Lati-na. Atualmente, o número de pesso-as afetadas por conflitos no mundo aproxima-se de 60 milhões, sendo 38,2 milhões de deslocados internos, 19,5 milhões de refugiados e 1,8 milhões de solicitantes de asilo; 63% do total provenientes de apenas cinco países: Síria, Colômbia, Nigéria, República Democrática do Congo e Sudão.Na Colômbia, o conflito possui inú-meros atores - grupos guerrilheiros distintos em suas origens e propósitos,

como as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército da Liber-tação Nacional (ELN), dentre outros; grupos paramilitares, como Autodefe-sas Unidas da Colômbia (AUC), Águilas Negras, Urabeños, Rastrojos, Ejército Revolucionario Popular Anticomunista de Colombia (ERPAC) e Paisas; nar-cotraficantes; Exército e Governo - e enfrentamentos - disputas entre guer-rilhas e paramilitares pelo controle de territórios; expulsão de milhares de pessoas das suas terras, entre estes campesinos, indígenas e afrocolombia-nos; uso da terra para produção e pro-cessamento de cultivos lícitos e ilícitos, como criação de gado, e o cultivo e extração da palma africana e da coca.Jéssica Paola Morales Ovierdo é uma das vítimas do conflito armado interno colombiano. Oriunda de Ibagué, capi-tal do Departamento de Tolima, veio para o Brasil aos 11 anos, fugindo das Farc, pelo fato de que seu pai trans-portava combustível para uma empre-sa ligada ao Governo. Muitas vezes, o pai de Jéssica fora obrigado a colabo-rar com o grupo guerrilheiro, cedendo a eles parte da carga que transportava. A partir da recusa em ceder com-bustível, interpretada como apoio ao Governo, se iniciou uma perseguição à família de Jéssica Paola. A refugiada colombiana conta que ao saírem do país foram para o Equador, vizinho à Colômbia, que acolhe o maior número de colombianos na América Latina.Contudo, logo a localização da família foi descoberta e, ameaçados, procura-ram a Organização das Nações Unidas (ONU) que, por sua vez, fez contato com o Alto Comissariado das Nações

Jéssica Paola, colombiana

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Dentre os atendidos pelo MIGRAIDH, estão dois refugiados sírios. Um deles o Grupo vem auxiliando na busca da revalidação do diploma em Farmácia. Sem se identificar, o refugiado, oriun-do de Aleppo, conta que passou 27 anos de sua vida estudando e, hoje, é tudo o que tem. “Cheguei em Santa Maria para revalidar o título de far-macêutico, tenho mestrado, mostrei os papéis para eles. A resposta é que tenho que fazer algumas matérias, algumas horas de prática. Que em até seis meses dariam a resposta; já passa-ram mais de três e nada”, diz.Há cinco meses no Brasil, ele conta que foram vários os motivos que o

Revalidação do diploma

fizeram viajar para a América do Sul. Uma das razões foi por acreditar que no País não há discriminação por etnia, religião ou raça. Outro motivo foi já estar acostumado aos costumes latinos por ter estudado em Cuba. A terceira razão é, de acordo com ele, para se desenvolver na sociedade. “Poder tra-balhar na minha especialidade porque antes de vir para cá li um documento que dizia que o Brasil precisa de mé-dicos, farmacêuticos e enfermeiros. Eu pensei que o processo fosse muito mais rápido e fácil”, justifica. Sobre o Brasil, o sírio afirma que o achou mais desenvolvido do que imaginava, mas que ainda é muito burocratizado. >>

Unidas para Refugiados (ACNUR) para reassentá-los em outro país. O ACNUR os encaminhou para o Brasil, mais especificamente para o Nordeste, onde ficaram no primeiro momento. A colombiana revela que demorou para que sua família conseguisse se esta-bilizar no Brasil, pois sentiram falta de assistência das organizações, além de encontrarem muitas dificuldades no lugar onde foram instalados, na pe-riferia. Mais tarde, nova mudança, os levou a Santa Maria. “Quando o refu-giado chega, precisa de mais acompa-nhamento para poder se restabelecer, porque uma pessoa chega perdida”, afirma Jéssica Paola. “O refugiado pro-cura um refúgio, fugindo dos proble-mas políticos, sociais e econômicos do país de onde ele vem”.O encontro da família de Jéssica com o MIGRAIDH aconteceu em Santa Ma-ria, quando não conseguiam realizar o Cadastro Único na Secretaria Munici-pal de Desenvolvimento Social, que dá acesso a programas sociais do Gover-no Federal, como o Minha Casa Minha

Vida, que eles buscavam desde 2008. Conforme Jéssica Paola, os órgãos públicos não tem entendimento das legislações para imigrantes e refugia-dos, limitando o acesso à documenta-ção exigida de brasileiros natos, como o Título de Eleitor, documento que os estrangeiros não possuem. “Eles não conhecem a nossa identidade de re-fugiado, eles não sabem o que é isso”, conta. Após os integrantes do Projeto dialogarem com os órgãos públicos deu-se a resolução do problema. O MIGRAIDH acompanhou a família da colombiana na realização do Cadastro Único, e ela agora aguarda a tão espe-rada casa própria.A jovem menciona que os seus pais gostariam de trazer para o Brasil seus avós, que ficaram na Colômbia, po-rém não possuem condições para isso. Entretanto, ela conta que agora conseguem diminuir a saudade mais facilmente com ajuda da internet. “A gente se comunica, todos os dias fala-mos com eles, matamos a saudade de longe”, ressalta.

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De perto, em situações específicas como enca-minhamentos e acompanhamento, ou de longe, em atividades mais amplas como a Assistência Estudantil e a construção de políticas, o MIGRAI-DH segue atuando e os reflexos dessas ações atingem uma coletividade. O bolsista do proje-to, Luís Augusto Bittencourt Minchola, ressalta ainda que o Grupo está sempre disposto a rece-ber novas demandas e buscar orientações. Luís Augusto acredita que o Projeto tem a capa-cidade de sensibilização sobre a causa dos imi-grantes e refugiados, tanto da sociedade quanto dos órgãos públicos, por explicar e expor a re-alidade deles, além de colocá-los em evidência. “Auxiliar na visibilidade à proteção dos direitos dos imigrantes em nível local; acolher as pau-tas de imigrantes e refugiados; obter políticas específicas para eles e que a sua condição de vulnerabilidade seja considerada” são algumas das buscas do Grupo, segundo a avaliação do bolsista. O acadêmico menciona, ainda, que o diálogo com os órgãos públicos pode pautar demandas para imigrantes e refugiados em ins-tituições públicas de todo o Estado. O jovem revela que o Projeto atinge, além de seu público imediato, todos os estudantes que se envolvem nas ações, e que o conhecimen-to adquirido por eles, principalmente por se-rem graduandos de uma universidade pública e serem extensionistas, se torna essencial. “Esse contato que a gente tem com a realidade dos imigrantes nos permite ganhar uma sensibilida-de na causa, compreender melhor e aprender muito com as experiências que eles nos passam, com as dificuldades, com as lutas diárias e com o contexto”, declara.O Brasil historicamente constituiu sua cultura a partir do processo imigratório. Grande parte dos brasileiros são filhos e netos de imigrantes, es-pecialmente, africanos e europeus. Atualmente, de cada dez imigrantes dessa nova onda de imi-gração, sete se sentem discriminados, segundo a pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça e Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), divulgada em novembro de 2015.

Pautas de imigrantes e refugiados

Grupos como o MIGRAIDH vem em conso-nância com as necessidades de políticas e debates acerca de minorias e vulneráveis, que precisam de respostas urgentes. “Ten-tar viabilizar algo diferente em se falando de refugiados e de imigrantes, tentar criar políti-cas públicas, tentar criar um relacionamento diferente”, defende o bolsista Luís Augusto. O MIGRAIDH busca m espaço mais aco-lhedor tanto na Universidade como na so-ciedade, tentando estancar o preconceito e avançar na construção de políticas públicas. “Um coletivo que tenta pautar os direitos dos imigrantes aqui, em nível local, espe-cialmente, com quem também eles podem contar”, assegura o bolsista de extensão.

Da esq. para a dir., Liliane Dutra Brignol, Giuliana Redin

e Luís Augusto, pesquisadores do tema imigração

na agenda do MIGRAIDH

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GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA

Com o intuito de melhorar a qualidade da merenda escolar dos municípios, o Governo Fe-deral sancionou, em 2009, a Lei 11.947 que prevê que 30% da merenda escolar deve ser pro-vida e comprada da agricultura familiar do município, priori-zando-se assentamentos da reforma agrária, comunidades tradicionais indígenas e comu-nidades quilombolas. A aquisi-ção desses produtos pode ser realizada por meio de chama-da pública. Com essa medida a economia e a geração da ren-da da agricultura familiar au-mentariam significativamente.O Brasil tornou-se referência mundial na utilização da agri-cultura familiar como fonte de abastecimento da merenda es-colar, despertando o interesse de outros países sobre o modo de funcionamento da medida. O projeto de extensão Agricul-tura familiar e abastecimento de escolas institucionais na promoção da segurança ali-mentar e nutricional, do curso

Agricultura familiar nas escolasde Nutrição da UFSM Palmeira das Missões foi aprovado em um edital internacional para o intercâmbio entre países afri-canos, o Uruguai e o Brasil. O propósito é avaliar a implanta-ção dos produtos da agricultu-ra familiar na alimentação es-colar e trocar experiências.A coordenadora do Projeto, professora Vanessa Ramos Kirsten, explica que essa lei melhorou a qualidade da ali-mentação, porém, há desafios que impedem o bom funciona-mento da ideia. “Os municípios ainda estão em uma fase expe-rimental, têm muitas particula-ridades. Ainda, 30% da meren-da pode ser um número bem grande dependendo do tama-nho do município. Em Palmeira das Missões, por exemplo, te-mos um número muito redu-zido de pequenos produtores, isso dificulta o abastecimento”. O Projeto realizou um seminá-rio para mostrar aos agriculto-res familiares os beneficios que a participação nas chamadas

públicas pode trazer. As pró-ximas etapas serão criar carti-lhas, livros e estabelecer uma rede que servirá de banco de dados sobre os produtos.O Projeto busca ajudar a regu-larizar e melhorar as chamadas públicas, bem como aperfei-çoar a qualidade dos produtos dos agricultores. Enéia Fátima Rodrigues de Oliveira, que produz bolachas caseiras para comercialização, foi uma das atendidas. Ela comenta que o Projeto a ajudou na produção das embalagens e na avaliação das qualidades nutricionais do produto. “Participar do Projeto foi um sonho realizado, porque além de trazer uma melhoria para a renda familiar, também possibilitou que eu pudesse expandir minhas vendas para os mercados do Município. Um projeto assim é muito impor-tante para os pequenos produ-tores, e para fortalecer a agri-cultura familiar”.

por Angelita Cancian

Div

ulga

ção

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Desde 2008 a UFSM tem implantado o sistema de cotas afro nos seus processos seletivos, sen-do uma das primeiras universidades públicas a aderir ao sistema. A entrada dos alunos na Uni-versidade é garantida, mas a permanência ainda é um desafio, já que a população afro-descen-dente possui especificidades e uma realidade própria, que na maioria das vezes não é contem-plada pelo sistema acadêmico. Pensando nisso,

Negritude, protagonismo e

universidade

CULTURA

Acervo PRE

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Desde 2008 a UFSM tem implantado o sistema de cotas afro nos seus processos seletivos, sen-do uma das primeiras universidades públicas a aderir ao sistema. A entrada dos alunos na Uni-versidade é garantida, mas a permanência ainda é um desafio, já que a população afro-descen-dente possui especificidades e uma realidade própria, que na maioria das vezes não é contem-plada pelo sistema acadêmico. Pensando nisso,

Acervo PRE

a Pró-Reitoria de Extensão (PRE) tem trabalha-do na construção e aprimoramento do Projeto Negritude. Estruturado em 2014 pelo Núcleo de Direitos Humanos, que integra a Coordenadoria de Eventos e Difusão Cultural da PRE, o Projeto aposta no paradigma da educação popular para promover atividades que extrapolem o espaço físico da Universidade e, de uma forma dialó-gica e contínua, busquem reunir a comunidade acadêmica e a sociedade civil, contemplando as pautas e demandas da população negra.Conforme a PRE, a ideia é implementar ações propostas pela comunidade negra, da UFSM e de fora dela, criando uma rede de colaboração para diminuir o racismo institucional e empo-derar a população negra. O que se pretende é fomentar a geração de renda e a maior parti-cipação dos negros na implementação de po-líticas públicas. Militantes do movimento negro nacional, estadual e local, acadêmicos ou não, vêm estreitando diálogos com a Universidade para mostrar que este é um espaço público a ser ocupado por todos por um direito de fato. Segundo o acadêmico do Curso de Artes Cêni-cas da UFSM, Vilnes Gonçalves Flores Júnior Nei D’Ogum, é preciso superar um envolvimento “muito branco, muito tímido”. Nei D’Ogum, pre-sidente da Comunidade de Terreiro Ylê Axé Os-sanha Agué, vice-presidente da Escola de Sam-ba Arco Iris e membro do Coletivo Ará Dudu, é um dos proponentes do Negritude, juntamente com a professora Marta Nunes, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e igual-mente integrante do Ará Dudu. Ele relembra que os afro-cotistas têm o acesso garantido, mas a manutenção desses estudantes na Universidade depende do benefício socioeconômico, reque-rendo um processo que demora um semestre, o que pode colocar em risco a permanência de negras e negros na UFSM.Estudantes dos mais diversos cursos da Univer-sidade, cotistas ou não, e comunidade interna e externa em geral, têm participado das ações que ocorrem tanto nos campi da Universidade como fora deles. Durante o 2º Congresso de Ex-tensão da Associação Universidades Grupo de Montevidéu (AUGM), que aconteceu em Cam-

pinas (SP) em outubro de 2015, representan-tes do Negritude apontaram que as ações de extensão podem diminuir as distâncias entre a cultura universitária branca ocidental e as cul-turas afro-referenciadas. Mas ainda há muito a avançar. Um exemplo é a não aplicabilidade da Lei 10.639, que dispõe do ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas universida-des públicas, um dos fatores relembrados por Nei D’Ogum: “Temos uma grade curricular eu-rocentrada, não nos percebemos como agentes construtores e protagonistas nos estudos aca-dêmicos. O movimento negro organizado acaba executando uma tarefa que é da competência das instituições”. Para ele, é urgente o reconhe-cimento da contribuição de saberes construídos fora dos limites das universidades, citando como exemplo a outorga do título de Doutor Honoris Causa ao músico brasileiro Naná Vasconcelos pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.As ações do Negritude são construídas a par-tir de demandas de acadêmicos afrodescentes, que participam de movimentos sociais afro-re-ferenciados. O Projeto visa a dar visibilidade aos temas, valorizar a cultura, possibilitar um am-biente acadêmico onde estas pessoas se sintam contempladas, valorizando o outro da mesma forma que se é valorizado. A Universidade quer ser reconhecida como um local onde os estu-dantes negros podem propor ações que valori-zem sua cultura, afirma Priscila Aguiar, da PRE.Em função dos trabalhos desenvolvidos no Ne-gritude, como o Samba no Campus e a Muamba, e a partir da aproximação entre a Universidade com a comunidade afro, a Sociedade Beneficen-te Escola de Samba Arco-Íris, parceira do pro-jeto, escolheu a UFSM como samba-enredo do seu Carnaval 2016. O Negritude também apoia outros grupos sociais que promovem a valoriza-ção da cultura afro. A Comunidade de Terreiro Ilê Axé Ossanha Agué, os Coletivos Ara Dudu, Marias Bonitas, Voe, o Coletivo de Resistência Artístico Periférico (Co-Rap), coletivos de pro-moção da cultura negra e associações comuni-tárias são exemplos dessas parcerias. >>

por Jocéli Bisonhim Lima

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Dia da mina na periferia A I Jornada de Luta das Mulheres de Santa Ma-ria, em março de 2014, incluiu atividades volta-das para acadêmicos da Educação a Distância (EAD), profissionais da UFSM e comunidade em geral. Uma das principais ações foi a exibição do filme “Lei da mulher”, do diretor Juan Zapa-ta. O filme motivou o debate sobre os altos ín-dices de feminicídio no Rio Grande do Sul pelo recorte de gênero e classe. Pelo Negritude, o Dia da Mina na Periferia ofereceu oficinas de grafite, muralismo, stencil, show de rap e cam-panha contra a violência de gênero. Crianças, jovens e adultos participaram das atividades, que ocorreram no bairro Cipriano da Rocha, zona sul, e no bairro Cerrito, zona norte, ambos na periferia de Santa Maria.

Projeto diálogos O Projeto Diálogos promove seminários que discutem temas relacionados aos Direitos Humanos. Duas edições do projeto trataram de assuntos afro-referenciais. O painel “Cotas Afro” tratou da importância da aplicação das cotas como ação afirmativa que garante a equi-dade racial e dos desafios da permanência dos alunos negros na Universidade. “Plano Juven-tude Viva - enfrentamento à violência contra a juventude negra ” trouxe ao debate a proposta do Governo Federal para diminuir a violência contra a juventude negra, uma das prioridades desta população.

Festival da negrescência O Festival Negrescência fez parte de uma edi-ção do Viva o Campus, projeto da Pró-Reitoria de Extensão em parceria com o Gabinete do Reitor, que promove atividades recreativas e artístico-culturais nos finais de semana no cam-pus da UFSM, e da programação da 26ª Sema-na da Consciência Negra. O protagonismo do evento e a construção da programação se deu pelo movimento negro de Santa Maria. A ação promoveu uma mostra afro-referenciada de acadêmicos e comunidade externa, atividades interativas com a comunidade e apresentações de trabalhos de acadêmicos. Além dos artis-tas internos, o Festival também contou com a presença de artistas externos, com a intenção de realizar a interação entre eles e trocar expe-riências, aprofundando as relações entre comu-nidade e Universidade.

Fesman O Festival Municipal de Artes Negras (FESMAN) teve sua terceira edição em 2015 e contou com a parceria da UFSM para sua realização. Algumas atividades do evento aconteceram no espaço da Universidade, como o lançamento do documentário “Dona Lila: uma senhora de Oxum”, produzido pela Pé de Coelho filmes, além da feijoada do Fesman. Outras atividades aconteceram na Estação da Gare. Foram reali-zadas exposição de cultura, artesanato e moda afro-referenciadas. Durante o Festival, ocorre-ram oficinas nos polos de educação à distância (EaD) da UFSM.

Ace

rvo

PRE

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Muamba A Muamba é uma festa de car-

naval de rua que busca resgatar os saberes e fazeres do carnaval

de rua popular, sendo uma al-ternativa ao oficial. As principais

pautas da festa são o combate ao machismo, racismo, homo-

fobia e intolerância religiosa. A Escola de Samba Arco-Íris, em

parceria com diversos coletivos sociais, promoveu o evento,

que contou com a participação da Pró-Reitoria de Extensão.

Samba no campus É um evento cultural afro-referen-ciado, com espetáculos e oficinas realizadas no campus da UFSM. O protagonismo deste evento foi dos movimentos negros, tanto internos quanto externos à Universidade. Integrantes do movimento negro apresentaram o recém-criado coleti-vo “Ara Dudu”, organização formada por uma equipe majoritariamente negra e que realiza trabalhos com arte e produção cultural negra em Santa Maria. Foram realizadas ofici-nas e intervenções artísticas e apre-sentação da Escola de Samba Arco Íris, além de shows de artistas locais.

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Entre bons arranjos e melodias bem compostas, o projeto de extensão Som: programa de for-mação em música atua com professores que utilizam a música como ferramenta em sala de aula ou atividades didáticas. O assunto tem sido pautado em secretarias e coordenadorias de Educação no País, pensando que a capacita-ção para docentes dos primeiros níveis de es-colarização pode ajudar a tornar a música cada vez mais presente. Coordenado pela professora Luciane Garbosa, e desenvolvido desde 2005, o Projeto surgiu no Laboratório de Educação Mu-sical (LEM), que congrega várias ações do en-sino, pesquisa e extensão: "Ele está ligado às diferentes ações que realizamos no LEM e que não eram consideradas como produções. As li-nhas de ação foram abarcando a demanda que se apresentava", explica. O SOM reúne os cursos de Pedagogia, Licencia-

tura e Bacharelado em Música e Educação Es-pecial da UFSM, com atuação em espaços esco-lares da comunidade. Oferece, ainda, assessoria para escolas de Santa Maria, pretendendo esti-mular o contato com a música e o seu uso peda-gógico. Além disso, realiza concertos didáticos e aulas para integrantes de bandas.As atividades possibilitam vivências diversifica-das a quem participa: “O Programa SOM abran-ge muitos projetos. Então, pude ter contato com várias áreas da educação musical, como oficinas de instrumentos, canto coral, oficinas de bandas marciais e muitas outras”, conta a ex-aluna Edia-na Laruscain. Ela também relata que o Projeto foi decisivo para a vida profissional: “Foi deter-minante para o início da minha carreira na aca-demia pois me possibilitou ter contato com a prática do ensino. Isso ajudou a confirmar minha decisão de ser professora de música”.

Música que conduz ao conhecimento

EDUCAÇÃO

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Divulgação

Além da sala de aulaOutros projetos da área também ampliam as fronteiras do conhecimento construído na Uni-versidade. É o caso do Programa de Extensão em Música da UFSM. A ação consiste em ofere-cer um laboratório de prática pedagógica para os alunos que atualmente cursam Bacharelado em Instrumento, Composição, Música e Tecno-logia, Canto e Licenciatura em Música, ou mes-trado em Educação. O Programa já atendeu mais de 200 pessoas em pouco mais de quatro anos de existência, levan-do a arte musical a ouvidos atentos de estudan-tes da comunidade de Santa Maria. “Podemos propiciar a prática aos nossos alunos, levando o conhecimento que adquirem para a população”, explica a coordenadora do Programa, professo-ra Silvia Cristina Hasselaar.

Atualmente, as aulas são minis-tradas por cerca de 30 alunos do Departamento de Música. Elas abrangem instrumentos como violino, piano, violão, flauta, clarinete: “Tentamos oferecer o máximo aos nossos estudantes, tanto na diversi-dade de aulas como na quali-dade. Algumas aulas são mais procuradas, como as de piano e canto, mas atendemos a to-dos que nos buscam", comple-ta a coordenadora.

por Rodrigo D´Avilla

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A professora Liliane Dutra Brignol, pesquisa-dora do Programa de Pós-Graduação em Co-municação da UFSM, fala sobre migrações, práticas e processos comunicacionais em novos fluxos de migrações transnacionais. Mudança de terminologia“Trabalho com migração e a categoria do migrante, não identificando a questão do imigrante ou emigrante, porque dá um sentido do que parte e do que chega, a questão da dinâmica dos fluxos de partida e de recepção. A mobilidade humana vem sendo percebida de um modo mais complexo e amplo, como um movimento de múltiplos fluxos, contempla idas e vindas e, muitas vezes, o caráter transnacional da migração. É a perspectiva de estar entre territórios, e não só territórios geográficos, mas territórios simbólicos. Nem todo migrante vai se caracterizar como transnacional ou cosmopolita. O migrante é aquele que tem essa potencialidade de viver a experiência de múltiplos territórios e, consequentemente, múltiplas culturas. Por isso o conceito de migração se caracteriza por ser um pouco mais amplo, como um fluxo de idas e vindas. Não necessariamente o migrante constrói um projeto de vida imaginando a perspectiva de vinculação por muito tempo em um mesmo território; ele pode voltar para o seu país, como pode passar por diferentes lugares até se estabelecer em um lugar que pode vir a ser mais ou menos definitivo, mas que, às vezes, não está no projeto da migração. A migração é dinâmica. Por isso, nas minhas pesquisas, e em diálogo com outros pesquisadores, acabo optando por falar de migrante e migrações.”

Mudanças nas narrativas dos migrantes nas redes sociais e nas mídias digitais“Trabalhei, principalmente em meu douto-rado, na questão dos usos sociais da internet

Migrantes no Brasil Novas experiências da diferença

pelos migrantes latino-americanos, combinan-do etnografia no contexto cotidiano, em alguns lugares da cidade que se caracterizavam pela presença deles, com etnografia virtual, nos es-paços, nos ambientes digitais em que percebí-amos essa diáspora. Sites, blogs, sites de redes sociais que reuniam esses coletivos migrantes para falar da própria experiência migratória, para viver essa experiência de ser migrante, também nas redes digitais. Percebi que es-ses usos das redes não estão separados dos contextos offline. Existe uma dinâmica entre o digital, o online e o offline. E no caso dos sene-galeses, a pesquisa é um pouco mais ampla, tenta entender como é que se constituem as dinâmicas de comunicação desses sujeitos, que apropriações fazem da mídia, incluindo as tecnologias digitais, as interações nas redes sociais e entre atores sociais nos espaços urbanos onde eles estão instalados. Então, por exemplo, o que explica de alguma maneira que algumas cidades do Rio Grande do Sul recebam mais migrantes que outras? Em parte, a própria lógica de organização desses sujeitos em rede ajuda a entender esse contexto, porque a partir de uma rede migratória, que também oferece um certo apoio à migração, vão se constituindo associações, coletivos e organizações religiosas que ajudam no momento inicial de acolhida, permitindo uma dinâmica troca de informações entre esses sujeitos migrantes. Favorecem, ain-da, o estabelecimento deles em alguns lugares do Estado, como, por exemplo, Caxias do Sul e Bento Gonçalves, na Serra; Lajeado, no Centro; Passo Fundo e Marau, no Norte. São cidades onde identificamos esse cenário das redes so-ciais mais articuladas e que oferecem um certo apoio à migração. Também o uso das tecnolo-gias vai ser importante, porque é o que favo-rece a comunicação, às vezes antes de sair do Senegal e chegar no Rio Grande do Sul. É o que explica o fato de, ao chegar, procurarem uma cidade como Caxias, de médio porte, mas sem

ENTREVISTA

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projeção nacional, que não chamaria a atenção se não fosse pelas redes migratórias. Começa-mos a perceber, e essa pesquisa está ainda na fase exploratória, a importância central das tec-nologias para esses migrantes, principalmente o uso do telefone celular, associado à conexão móvel, a internet, os aplicativos de trocas de mensagens instantâneas e mesmo as chama-das telefônicas, facilitadores de uma interação, inclusive as transnacionais, entre quem está no Senegal, quem está no Brasil e entre os pró-prios migrantes que já se organizam aqui.”

Representações de migrantes na mídia“Essa é uma questão bem interessante. Em-bora não seja o foco central, coletamos maté-rias jornalísticas sobre os senegaleses no Rio Grande do Sul e já temos uma análise inicial do que saiu na mídia em 2014. Mapeamos tanto jornais nacionais quanto locais, de Caxias e Passo Fundo, e os jornais regionais Correio do Povo e Zero Hora. Por um lado, eles mantêm a ideia da migração dos senegaleses associada a um problema, preocupação, conflito. Ou agora, muito fortemente, na ideia de crise migratória, sem problematizar o que ela seria, suas causas, suas consequências, o porquê desse fenômeno. Por outro, mais recentemente, jornais locais, como o Pioneiro, de Caxias do Sul, tem tentado entender a ideia de integração desses migran-tes por uma perspectiva de que eles já estão entre nós, são parte da nossa comunidade. Há alguma valorização de eventos promovidos pelos migrantes e da participação deles na comunidade local. Entretanto, conseguimos perceber que ainda é em um sentido de in-tegração que não aprofunda a compreensão desse outro. Às vezes, aborda de modo fol-clorizado, como o acontecimento que ganhou repercussão em 2014 quando dois senegaleses ajudaram uma caxiense a recuperar um celular roubado. Eles apareceram como heróis, talvez contrariando a expectativa do senso comum do medo do migrante, daquele que vem ou para tomar nosso lugar no mercado de trabalho ou até associado ao crime; atitude recorrente da mídia de atrelar a migração à criminalidade. Não estamos explorando tanto isso na narrativa dos migrantes, mas conseguimos perceber nas páginas nas redes sociais que eles tendem a compartilhar matérias que mostram a presença dos senegaleses de uma forma um pouco mais

compreensiva, que valoriza a contribuição do migrante, ainda que às vezes eles sejam pensa-dos só como mão de obra. Ainda assim, eles já começam a perceber como uma consequência positiva essas matérias, não só as matérias que falam de forma distante da migração como um problema, ou a migração enquanto números e estatísticas, mas que vão falando um pou-quinho das experiências, do que está aconte-cendo na cidade. Houve uma matéria em que eles se sentiram bem representados, que saiu no Jornal do Almoço [RBS TV] nesse ano, e aí sim era uma reportagem que mostrava bem o cotidiano do migrante. A língua, o idioma, as diferenças culturais, e aí eu pude conversar um pouco com eles sobre o quanto isso era impor-tante pra mostrar o valor deles, pra mostrar um pouco da cultura, era interessante e positivo.”

Migração para quem? “Mão de obra para aquelas vagas que nem mesmo os próprios brasileiros disputam. Mui-tos deles vão ocupar e estavam ocupando vagas na indústria alimentícia dos frigoríficos, que é um trabalho extremamente mecânico, repetitivo que tem consequências em termos de saúde na vida do trabalhador. Mas, ok, ali era um espaço em que era possível, ou então na construção civil, e aí nesse sentido é possível receber enquanto mão de obra. Mas há limites para pensar contribuições do cotidiano e mes-mo da diversidade, da diferença das experiên-cias dessas pessoas que vêm.”

A universidade em relação aos migrantes“O que vem sendo discutido é a abertura de vagas para estrangeiros como possibilidade de ampliação ao acesso à universidade. Por exemplo, nas nossas seleções, a oportunidade de prestar seleção até para pós-graduação em uma outra língua, editais especiais, de maneira que esses sujeitos possam chegar a disputar uma vaga ou a concorrer num cenário tanto na graduação como na pós-graduação. A parcei-ria que a gente começa a desenvolver com a sociedade civil organizada, com associações, por exemplo, ações como as desenvolvidas pelo MIGRAIDH [ver reportagem nesta edi-ção], cursos, rodas de conversa, trazer esses sujeitos que não são meras fontes das nossas pesquisas, mas tentar aprender a partir da experiência desse outro e chamá-lo a discutir

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no espaço da universidade. Eu já participei, em outros contextos, por exemplo, de cursos de formação para jornalistas, que é algo que a gente começa a pensar como uma oportu-nidade de se desenvolver aqui, jornalistas que pensem a temática migratória por uma outra abordagem, por outras formas de representa-ção da migração, que é um desafio que a gente se coloca, também, no projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido. Já tem toda uma organização social que amplia essa possibilida-de de a gente conhecer essas culturas e essas diferenças também no contexto da universi-dade. São ideias que precisamos aprofundar, criar esses espaços de interlocução. Abrimos edital para uma vaga pra aluno estrangeiro na pós-graduação em Comunicação [na UFSM] e recebemos mais de 80 candidaturas. Quer dizer, há uma demanda. E esses são sujeitos que estão vivendo nos seus países, mas que gosta-riam de pleitear uma vaga na nossa universida-de. Abre um diálogo intercultural também, de trazer as experiências de pesquisa, de vida, de conhecimento desses sujeitos de outros países, muitos da América Latina, mas quem sabe de outras instâncias também. Se a gente for pen-sar o caso do Senegal, nós temos uma série de diferenças que pode colocar esse outro distante, mas ao mesmo tempo nós temos muitas familiaridades e é algo que está apare-cendo nas narrativas deles, por exemplo, uma aproximação Brasil - África por uma questão da dominação colonial que marca nossa história, pela própria experiência da diáspora negra, da dispersão da migração em função do trabalho forçado. Dificilmente quando a gente fala em migração no Brasil a gente lembra do escra-vo, uma migração forçada, mas uma migração que constitui o Brasil, que ajuda a entender e a constituir historicamente o Brasil enquanto nação. Então essas aproximações, mais do que talvez as nossas diferenças poderiam ser valori-zadas para projetos comuns.”

Os migrantes nas cidades“Por enquanto, o trabalho de campo da pes-quisa está mais em Porto Alegre e Caxias. Em Caixas eles já estão há mais tempo, já estão mais organizados. Há migrantes que estão co-locados como empreendedores, que já têm ne-

gócios na cidade. Começam a existir relações afetivas, casamentos, crianças que nascem que são brasileiras, filhos de pais senegaleses, mães brasileiras ou de pai e mãe senegaleses, mas que nasceram no Brasil. E essa convi-vência vai se dando no ambiente de trabalho, no ambiente de estudo, para os que voltam a estudar. A questão é que, embora isso não apa-reça tanto no relato deles, a gente acompanha casos em que, não necessariamente, há uma relação harmoniosa. Vão aparecer conflitos que tem a ver com essa dificuldade de com-preensão da diferença, com esse certo medo ou receio, de, por exemplo, associar o migrante senegalês com doença. Na época do Ebola isso apareceu bastante na representação da mídia e teve repercussão na interação desses sujeitos nas cidades onde eles moram. Por exemplo, em Porto Alegre aconteceu de um migrante que estava com suspeita de malária em um posto de saúde e haver uma dispersão de todas as pessoas que estavam no posto, porque eles estavam com medo que aquela pessoa tivesse Ebola, o contágio, a doença. Isso ainda é recor-rente nesse tipo de interação.”

Mais preconceito ou mais aceitação?“É difícil quantificar. Mas eles valorizam a aproximação, a amizade, o apoio que eles rece-bem. Algumas dificuldades que eles vão apon-tar, por exemplo, conseguir lugar pra morar, pela burocracia do papel, do avalista, entraves que mostram que não é tão simples assim. A gente percebe que nem a lei é uma lei que contempla os direitos do migrante, pelo contrá-rio, ela tende a pensar o migrante como uma questão de segurança nacional ainda, uma lei da época da ditadura e que agora está sendo rediscutida e avaliada por um novo projeto de lei, então eu tendo a pensar que ainda temos muito a avançar em termos de integração do migrante e de pensar uma sociedade que conviva com essas diferenças e que cresça a partir delas, que respeite essas diferenças. Não só busque integrar o migrante pelo traba-lho, pela mão de obra, mas que possa conviver, por exemplo, com a diferença religiosa.”

por Julia Saggioratto e Angela Zamin

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Projeto Agricultura Familiar e Abastecimento de Es-colas Institucionais na Promoção da Segurança Ali-mentar e NutricionalResponsável: Vanessa Ramos KirstenE-mail: [email protected]

Projeto Som: programa de formação em músicaResponsável: Luciane GarbosaE-mail: [email protected]

Programa de Extensão em Música da UFSMResponsável: Silvia Cristina HasselaarE-mail: [email protected]

Projeto Universo da LeituraResponsável: Aline DalmolinE-mail: [email protected]

Projeto Ações de Sensibilização Ambiental Através de Atividades Educativas Desenvolvidas na SociedadeResponsável: Alexandre Couto RodriguesE-mail: [email protected]

contatosprojetos citados na edição

Projeto Direitos Humanos e Mobilidade Humana In-ternacionalResponsável: Giuliana RedinE-mail: [email protected]

Projeto Interdisciplinar de Atenção a Hemiplégicos Pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC)Responsável: Ana Lúcia CerviE-mail: [email protected]

Projeto RevicardioResponsável: Sérgio Nunes PereiraE-mail: [email protected]

Projeto NegritudeResponsável: Pró Reitoria de Extensão E-mail: [email protected]

Projeto Grupo de Pesquisa em Mobilidade Urbana (GeMOB)Responsável: Carlos José Antônio Kümmel FélixE-mail: [email protected]

ufsm.br/pre