ESTUDO DA EFICÁCIA DA VIDEOLAPAROSCOPIA NA AVALIAÇÃO …

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DILERMANDO PEREIRA DE ALMEIDA FILHO ESTUDO DA EFICÁCIA DA VIDEOLAPAROSCOPIA NA AVALIAÇÃO DE PACIENTES COM ENDOMETRIOSE PÉLVICA Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre ao Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR. Orientadora: Prof. a Dr. a Vivian Ferreira do Amaral Coordenador: Prof. Dr. Roberto Pecoits CURITIBA 2006

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DILERMANDO PEREIRA DE ALMEIDA FILHO

ESTUDO DA EFICÁCIA DA VIDEOLAPAROSCOPIA NA AVALIAÇÃO

DE PACIENTES COM ENDOMETRIOSE PÉLVICA

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre ao Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR.

Orientadora: Prof.a Dr.a Vivian Ferreira do Amaral Coordenador: Prof. Dr. Roberto Pecoits

CURITIBA

2006

DILERMANDO PEREIRA DE ALMEIDA FILHO

ESTUDO DA EFICÁCIA DA VIDEOLAPAROSCOPIA NA AVALIAÇÃO

DE PACIENTES COM ENDOMETRIOSE PÉLVICA

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre ao Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________

Prof.a Dr. Vivian Ferreira do Amaral Orientadora

_____________________________________

Prof. Dr. Rui Alberto Ferriani

_____________________________________

Prof. Dra. Lúcia de Noronha

Curitiba, 12 de maio de 2006

Dedico este trabalho aos meus pais

Dilermando e Lory que com amor

carinho e sacrifício me orientaram e

incentivaram a trilhar o caminho

desta profissão.

À minha querida esposa Cristina,

o meu eterno agradecimento

pela ajuda inestimável, amor e

companheirismo.

Aos meus filhos, Dilermando Neto,

Mariana, Juliana e Olavo, fonte do

meu amor e orgulho inesgotável.

AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Vivian Ferreira do Amaral, que, soube orientar

com experiência e espírito crítico o aprendizado para o desenvolvimento

deste trabalho. Meu respeito e gratidão.

Ao Professor Doutor Roberto Pecoits, coordenador do Programa de

Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do

Paraná pela sua colaboração.

Ao Professor Doutor Renato Araújo Bonardi, companheiro e amigo,

que com apoio e orientações ajudaram a transpor as dificuldades deste

estudo. Minha grande amizade gratidão e respeito.

Ao Dr. Hamilton Calderari Leal, que me deu o privilégio de conviver e

trabalhar nestes longos anos, o agradecimento pelo carinho, incentivo e

amizade. Exemplo a ser seguido na dedicação e respeito profissional

Ao Professor Doutor Laerte Justino de Oliveira, mestre e amigo por

ter despertado a motivação para a realização deste trabalho.

Ao Professor Doutor Marcelo Távora Mira, pela sua colaboração

científica e valiosos ensinamentos.

Ao Professor Doutor Samuel Jorge Moyses pela atenção,

ensinamentos e colaboração na avaliação deste estudo.

Aos amigos Dr. Murillo Gonçalves Coimbra, Dr. Joel Roberto Garcez

e Dr. Francisco Furtado Filho e, equipe cirúrgica, que iniciou o Serviço de

Videolaparoscopia Ginecológica do Hospital Santa Cruz e permitiu a

realização deste trabalho.

À Dr.a Ana Paula Martins Sebastião e demais médicos do Serviço de

Anatomia Patológica do Hospital Santa Cruz pela dedicação no atendimento

aos nossos pedidos de análises e revisão histológica do material.

Ao Dr. Emerson Nihi, colega e amigo que colaborou nas revisões

deste trabalho.

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

Saúde, nível de mestrado da Pontifícia Universidade Católica do Paraná pelos

inestimáveis ensinamentos.

Aos colegas ginecologistas da Paraná Clínicas pela seleção e

encaminhamento das pacientes.

À Dr.a Mônica Lima Cat pelas análises estatísticas e orientações

neste trabalho.

À Dr.a Prof.a Márcia Olandowski pelos ensinamentos nas coletas de

dados e análise estatística.

Ao Dr. Eduardo Egídio de Oliveira, Dr. Rafael Pazzello, Dra. Mery

Lubna Estephan, Dra. Juliana Pereira de Almeida e Dr. Dilermando Pereira de

Almeida Neto, pelo apoio e colaboração na coleta de dados para a realização

deste trabalho.

Ao Professor Doutor Arlindo Teodolindo Brun Jr., pela amizade e sua

valiosa participação no atendimento as pacientes.

À Técnica em Enfermagem e Instrumentadora Sonia Bandim Arruda que

com profissionalismo e dedicação participou ativamente nas videolaparoscopias,

colaborando na coleta de dados.

À Técnica em Enfermagem Bertília Bruginski, pela eficiência e ajuda

no levantamento de dados para a execução deste estudo.

Aos Médicos do Serviço de Anestesia do Hospital Santa Cruz pela

paciência e dedicação no atendimento primoroso e profissional às pacientes

deste estudo.

Ao Professor Leomar de Jesus Brito, pela disponibilidade ao realizar

o estudo fotográfico deste trabalho.

À Srt.a Rosemari Presser, pelo seu trabalho de digitação.

Às Funcionárias e Enfermeiras do Centro Cirúrgico Obstétrico do

Hospital Santa Cruz, pela atenção no atendimento às pacientes estudadas.

Aos Funcionários do Serviço de Anestesia do Hospital Santa Cruz,

pelo carinho e dedicação dispensados às nossas pacientes.

Aos Funcionários do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital

Santa Cruz, que no anonimato deram a sua inestimável colaboração a feitura

deste trabalho.

A todos que direta ou indiretamente, contribuíram para a realização

deste trabalho e que involuntariamente omitimos, a certeza de que este fato

não diminui a nossa gratidão.

Meu especial agradecimento a todas as pacientes que colaboraram

como sujeitos da pesquisa.

RESUMO

A endometriose pélvica é uma doença complexa, de alto impacto sobre a qualidade de vida

das pacientes e sobre os sistemas nacionais de saúde pública. Apesar disso, pouco se

conhece sobre a epidemiologia e as bases moleculares da patogênese da doença. Estudos

epidemiológicos em diferentes populações indicam resultados discordantes para diversas

variáveis associadas a endometriose, em parte possivelmente devido ao baixo grau de

concordância entre suspeita clínica e o diagnóstico definitivo da doença. Neste sentido, a

videolaparoscopia tornou-se, nos últimos 30 anos, um exame indispensável para o

diagnóstico preciso da endometriose. O objetivo geral deste estudo é: avaliar as

manifestações clínicas da endometriose pélvica, os locais de acometimento e estadiamento,

correlacionando os achados macroscópicos com a comprovação histológica Os objetivos

específicos são: a) avaliar a eficácia da videolaparoscopia isolada no diagnóstico da

endometriose de acordo com os aspectos macroscópicos e o resultado do exame

histopatológico. b) observar a tendência a lateralidade da endometriose pélvica na

população de estudo. Foram analisadas 976 pacientes submetidas à videolaparoscopia no

Serviço de Ginecologia do Hospital Santa Cruz, em Curitiba, no Paraná. Destas, 468

(47,95%) apresentaram ao exame, quadro clínico e videolaparoscópico compatíveis com

endometriose e 337 (34,5% do total) tiveram o diagnóstico confirmado pelo estudo

histopatológico. De 508 pacientes submetidas à videolaparoscopia por outras causas, o

estudo histopatológico detectou, além da doença principal, endometriose pélvica em oito

pacientes, totalizando 345 mulheres (35,3%) com a doença confirmada na amostra

populacional estudada. Não foi observada associação estatisticamente significativa entre

diagnóstico confirmado de endometriose e (I) dor pélvica aguda (p = 0,07); (II) dismenorréia

(p= 0,23; (III) infertilidade primária (p = 0,39), e (IV) infertilidade secundária (p = 0,26).

Evidência positiva para associação foi detectada entre diagnóstico de endometriose e dor

pélvica crônica (p = 0,03). Além disso, observou-se um aumento significativo na freqüência

de dor pélvica crônica conforme o aumento do estádio da endometriose (estádio I, 20,00%;

estádio II, 13,07%; estádio III: 24,11%; estádio IV: 28,57%, p = 0,03). Com o objetivo de

estabelecer a eficácia da videolaparoscopia isolada como método diagnóstico para

endometriose, os resultados deste exame foram comparados com dados obtidos a partir da

análise histopatológica. O experimento resultou em valores de sensibilidade de 97,88%,

especificidade de 79,23%, valor preditivo positivo de 72%, valor preditivo negativo de

98,42% e acurácia de 85,75%. Estes resultados sugerem uma eficácia limitada para a

videolaparoscopia isolada, porém quando associada ao estudo histopatológico mostrou

melhor resultado no diagnóstico da endometriose.

Palavras-chave: Endometriose, Dor pélvica, Videolaparoscopia.

ABSTRACT

Endometriosis is a disease that causes a high impact on women quality of life and on public

health. The epidemiology and molecular basis are still a challenge. Epidemiologic studies in

different populations disagree between clinical findings and definitive diagnosis. In the past

30 years laparoscopy became more important for a more precise diagnosis of endometriosis.

The aim of this study is: (a). as a general purpose, to evaluate the clinical manifestations of

pelvic endometriosis, sites of involvement and staging, correlating the macroscopic with the

histopathologic findings. As a specific purpose, (a) to test the efficacy of laparoscopy alone in

the diagnosis of endometriosis according to the macroscopic aspects and the histopathologic

finding;, (b) to evaluate the laterally tendency of pelvic endometriosis in the studied

population. There were analyzed 976 patients from the Gynecology Department of Hospital

Santa Cruz in Curitiba submitted to laparoscopic examination. 468 (47.95%) women had

clinical and laparoscopy findings of endometriosis and 337 (34.50%) had histological

confirmation of endometriosis. The other 508 patients that had laparoscopy for other

reasons, 8 had endometriosis on pelvic specimens. Therefore 345 patients (35.30%) were

confirmed for the disease. There was no statistical significance between endometriosis and

(I) acute pelvic pain (p = 0.07), (II) dysmenorrheal (p=0,23), (III) primary infertility (p = 0,39),

(IV) secondary infertility (p = 0.26), but statistical evidence (p = 0.03) was found in

association of chronic pelvic pain that worsened with the stages of endometriosis: stage I

20,00%; stage II, 13,07%; stage III: 24,11%; stage IV: 28,57%,(p = 0,03). Laparoscopy alone

was compared with pathologic report and had 97.88% of sensibility; 79.23% of specificity.

Predict positive value of 72.00% and predict negative value of 85.75%; so laparoscopy

associated with histopathology was necessary to improve the diagnosis of endometriosis.

Key-words: Endometriosis, Pelvic Pain, Videolaparoscopy.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1 FLUXOGRAMA DO ATENDIMENTO DAS PACIENTES DO AMBULATÓRIO DA DOR

PÉLVICA .................................................................................................................................. 27

2 DEFEITO PERITONIAL DE FUNDO DE SACO DE DOUGLAS POR LESÃO

ENDOMETRIÓTICA ................................................................................................................ 28

3 HIPERVASCULARIZAÇÃO, LESÃO PIGMENTADA EM PERITÔNIO VESICAL .................... 28

4 ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS EM PREGA PARIETOCÓLICA ...................................... 29

5 DEFEITO PERITONIAL EM FUNDO DE SACO DE DOUGLAS ............................................ 29

6 ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS EM FOSSETA OVARIANA ESQUERDA .................... 30

7 SÍNDROME ADERENCIAL ENDOMETRIÓTICA EM PREGA VESICOUTERINA ................. 30

8 ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS PÉLVICAS................................................................... 31

9 APARELHO DE ANESTESIA ................................................................................................... 32

10 PORTAIS DE INTRODUÇÃO DOS TROCATERES ............................................................... 33

11 CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOMA HEMORRÁGICO OVARIANO .................... 34

12 CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE PERITÔNIO ........................................... 35

13 CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE PREGA VESICOUTERINA ................... 35

14 CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE INTESTINO GROSSO (40X E 400X) ........ 36

15 FLUXOGRAMA DA DISTRIBUIÇÃO DAS PACIENTES SELECIONADAS PARA O ESTUDO .... 38

16 CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA ................................ 39

17 SINAIS E SINTOMAS NOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA ............................... 39

18 SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO DAS LESÕES ENDOMETRIÓTICAS NOS CASOS DE

ENDOMETRIOSE CONFIRMADA .......................................................................................... 40

19 NÚMERO DE SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO DAS LESÕES ENDOMETRIÓTICAS NOS

CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA....................................................................... 40

20 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE ENDOMETRIOSE, DE ACORDO COM A IDADE,

NOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA .............................................................. 41

21 FREQÜÊNCIA DE DISMENORRÉIA NO GRUPO DE PACIENTES COM E SEM

ENDOMETRIOSE .................................................................................................................... 45

22 VARIAÇÃO DA IDADE ENTRE OS GRUPO I, II E III ............................................................. 46

LISTA DE TABELAS

1 FREQÜÊNCIA DE DOENÇAS AUTO-IMUNES EM PACIENTES COM E SEM

ENDOMETRIOSE .................................................................................................................... 22

2 RESULTADOS GERAL DAS VIDEOLAPAROSCOPIAS REALIZADAS COM SUSPEITA

DE ENDOMETRIOSE .............................................................................................................. 37

3 COMPARAÇÃO DA IDADE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE PACIENTES COM

ENDOMETRIOSE, CONFORME A CLASSIFICAÇÃO VIDEOLAPAROSCÓPICA ................ 43

4 LOCAL DAS LESÕES SEGUNDO O ESTÁDIO DA ENDOMETRIOSE ................................. 44

5 NÚMERO DE SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO SEGUNDO O ESTÁDIO DE ENDOMETRIOSE ..... 44

6 ACHADOS VIDEOLAPAROSCÓPICOS, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E FAIXA

ETÁRIA DOS GRUPOS I, II E III ............................................................................................. 47

7 CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA DE ENDOMETRIOSE, CONFORME EXAME ANÁTOMO-

PATOLÓGICO ......................................................................................................................... 47

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AFS - American Fertility Society

ANOVA -Análise da Variância

ASRM - American Society for Reproductive Medicine

CA-125 - Câncer Antigen número 125

EEUU - Estados Unidos da América

ESHRE - European Society of Human Reproduction and Embryology

GTSM1 - Glutathione S Transferase 1

ICAM-1 - Intercellular Adhesion Molecular 1

NAT2 - N-System Amino Acid Transporter

PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná

VHS - Velocidade de Hemossedimentação

VPN - Valor preditivo negativo

VPP - Valor preditivo positivo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13

1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16

1.1.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 16

1.1.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 16

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 17

2.1 ETIOPATOGÊNESE .............................................................................................. 17

2.2 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................... 18

2.3 EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................... 19

2.4 APRESENTAÇÃO CLÍNICA ................................................................................... 20

2.5 FATORES DE RISCO ............................................................................................ 21

2.6 GENÉTICA DA ENDOMETRIOSE.......................................................................... 22

2.7 DIAGNÓSTICO ...................................................................................................... 23

3 CASUÍSTICA E MÉTODOS ..................................................................................... 26

3.1 TÉCNICA OPERATÓRIA ....................................................................................... 31

3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................................ 36

4 RESULTADOS ........................................................................................................ 37

4.1 DESCRIÇÃO GERAL ............................................................................................. 37

4.2 DESCRIÇÃO DO GRUPO I - PACIENTES COM ENDOMETRIOSE CONFIRMADA

(N = 345) ................................................................................................................ 38

4.2.1 Grupo I – Subgrupo com Estádio I ou Endometriose Mínima (n = 15) ................. 41

4.2.2 Grupo I – Subgrupo com Estádio II ou Endometriose Leve (n = 176) .................. 42

4.2.3 Grupo I – Subgrupo com Estádio III ou Endometriose Moderada (n = 112) ......... 42

4.2.4 Grupo I – Subgrupo com Estádio IV ou Endometriose Grave (n = 42) ................. 42

4.2.5 Comparação Entre os Grupos de Acordo com a Classificação da Endometriose

(Mínima, Leve, Moderada e Grave) ..................................................................... 43

4.3 GRUPO II - PACIENTES COM SUSPEITA DE ENDOMETRIOSE SEM

CONFIRMAÇÃO HISTOLÓGICA (N = 131) ............................................................ 44

4.4 GRUPO III - PACIENTES SUBMETIDAS À VIDEOLAPAROSCOPIA POR OUTRAS

CAUSAS E SEM EVIDÊNCIA DE ENDOMETRIOSE (N = 500) .................................. 45

4.5 COMPARAÇÃO ENTRES OS GRUPOS I, II E III ................................................... 46

4.6 SENSIBILIDADE, ESPECIFICIDADE, VALOR PREDITIVO POSITIVO E

VALOR PREDITIVO NEGATIVO DA VIDEOLAPAROSCOPIA PARA O

DIAGNÓSTICO DE ENDOMETRIOSE ................................................................... 47

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................... 48

5.1 EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................... 48

5.2 FAIXA ETÁRIA ....................................................................................................... 49

5.3 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E CONFIRMAÇÃO DE ENDOMETRIOSE NO

EXAME HISTOPATOLÓGICO ................................................................................ 51

5.4 CLASSIFICAÇÃO DA ENDOMETRIOSE PÉLVICA ............................................... 51

5.5 CONFIRMAÇÃO DO EXAME HISTOPATOLÓGICO .............................................. 53

5.6 CORRELAÇÃO DA VIDEOLAPAROSCOPIA E CONFIRMAÇÃO HISTOLÓGICA ..... 54

5.7 PACIENTES COM ENDOMETRIOSE CONFIRMADA: ACHADOS LOCAIS,

PRESENÇA DE DOR PÉLVICA, DISMENORRÉIA E INFERTILIDADE ................. 55

6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 61

APÊNDICES

APÊNDICE A - PROTOCOLO DE VIDEOLAPAROSCOPIA ......................................... 68

APÊNDICE B - PROTOCOLO DE DOR PÉLVICA ......................................................... 70

APÊNDICE C - LAUDO DE EXAME/CIRURGIA ............................................................ 74

ANEXOS

ANEXO A - CLASSIFICAÇÃO DA AMERICAN SOCIETY FOR REPRODUCTIVE

MEDICINE, REVISADA EM 1996 .............................................................. 77

ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....................... 79

ANEXO C - TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA ........... 81

13

1 INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença que atinge mulheres no menacme; sua

primeira descrição remonta à idade Média e foi feita por Shröen, em 1690. Desde

então, inúmeros estudos têm demonstrado um alto impacto desta patologia sobre a

qualidade de vida da mulher moderna. No Brasil, a endometriose é considerada problema

de saúde pública pelo Ministério da Saúde desde 2003 (http/www.portalmedico.org.br/

includ/consultas/CPn1_15-08-03_Endometriose.pdf).

A endometriose acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva, e

consiste na presença de tecido semelhante ao endométrio em locais fora do útero

(KNAPP1, 1948; JAVERT2, 1949, apud OLIVE e SCHWARTZ, 1993) Os locais mais

comuns de implantação ectópica do endométrio são o fundo de saco de Douglas, o

septo reto-vaginal, as trompas, os ovários, a superfície do reto, os ligamentos do

útero, a bexiga, e parede da pélvis (OLIVE e SCHWARTZ, 1993).

O principal sintoma da endometriose é a dor pélvica, às vezes de alta

intensidade, e a dismenorréia, que ocorre no período menstrual (DAVID e HENDERSON,

1987). Outras queixas incluem dispareunia e infertilidade (MATORRAS et al., 1996).

A hipótese diagnóstica da endometriose é baseada na história clínica,

exame ginecológico, exames laboratoriais e ultra-som endovaginal (HOUSTON, 1984;

REDWINE, 1987a).

Apesar da existência de diversas teorias para explicar as causas da

endometriose, a exata natureza dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos ainda

não é amplamente conhecida (MURPHY et al., 1998). Mesmo que células do endométrio

possam ser encontradas no líquido peritonial próximo ao útero em grande parte das

1 KNAPP, V. J. How old is endometriosis? Late 17™ and 18™ century European descriptions of

disease. Fértil Steril, v.72, p.10-4, 1948.

2 JAVERT, C. T. Pathogenesis of endometriosis based on endometrial homeoplasia, direct extension

exfoliation lymphatic and hematogenous metastasis. Cancer, v.45, p.399-410, 1949.

14

mulheres, apenas uma pequena fração delas desenvolve a doença (OLIVE e

SCHWARTZ, 1993). Estudos de substâncias presentes no fluido peritonial em

pacientes com endometriose tais como as citocinas, fatores angiogênicos e de

crescimento podem diminuir a função reprodutiva alterando a motilidade tubária e a

ovulação (MUSSE e WILSON, 1982). Evidências sugerem uma base genética de

controle da doença, há estimativa de que cinco a 7% de parentes de primeiro grau

de mulheres afetadas por endometriose também desenvolvem a doença (SIMPSON

e BISHOFF, 2003). Pacientes propensas à doença quando submetidas ao estresse e

dificuldades no relacionamento familiar podem facilitar o desenvolvimento da

endometriose (HARRISON, ROWAN e MATHIAS, 2004).

O diagnóstico definitivo da doença é eminentemente cirúrgico, no entanto,

algumas características clínicas, o próprio exame físico, exames laboratoriais, e

evidências de exames de imagem podem sugerir o diagnóstico indicando a abordagem

e via cirúrgica de acesso quando a endometriose se localiza em septo retovaginal

(ABRÃO, NEME e AVERBACH, 2003). A confirmação do diagnóstico da doença só pode

ser mediante o exame histopatológico do material biopsiado (VERCELLINI et al., 1996).

A dificuldade maior consiste no diagnóstico das lesões mínimas e leves.

Nestes casos o acesso ideal para confirmação é sempre pela da videolaparoscopia,

pois os exames complementares disponíveis não oferecem a especificidade necessária

(TARDIF et al., 1999). Estudo de avaliação da acurácia da videolaparoscopia no

diagnóstico da endometriose demonstrou elevada precisão na sua exclusão,

representando, desta maneira, um auxílio para o médico na tomada de decisões

terapêuticas (WYKES, CLARCK e KHAN, 2004).

A incidência exata de endometriose é de difícil determinação, porque as

lesões existentes em algumas pacientes não causam sintomas.

O uso da videolaparoscopia resultou em aumento dos achados da doença.

Na maioria das vezes a acurácia pré-operatória é de 20% variando de 4 a 82%,

entretanto existe um desacordo entre o diagnóstico operatório e histopatológico o

15

qual é descrito acima de 60% mas é usualmente menor que 10% (GERBIE e

MERRIL, 1988).

Apesar das vantagens do uso da videolaparoscopia no diagnóstico da

endometriose, é importante ressaltar alguns aspectos negativos associados ao

método: por exemplo, o fato de o procedimento ser invasivo reflete negativamente

na determinação da real freqüência da doença em populações (HOUSTON, 1984).

O tempo que ocorre entre o início da doença e seu diagnóstico também é fator

dificultador pois pode ser em média de sete a 12 anos, sendo mais precoce o seu

achado nos casos de infertilidade pois a procura da resolução é conseqüência da

expectativa da paciente (ARRUDA, 2003). Conseqüentemente, a prevalência

da endometriose depende em parte do diagnóstico realizado em cirurgias

videolaparoscópicas indicadas por problemas como dor pélvica, infertilidade, massas

anexiais e apendicite (BARBIERI, 1990). Nisolle et al. (1993) demonstraram que áreas

de peritônio normal podem revelar endometriose em 6% dos casos em pacientes

assintomáticas, e naquelas com clínica de endometriose a biópsia de peritônio

normal foi positiva em 13%. Além disso, apesar de que o diagnóstico definitivo da

endometriose possa ser estabelecido somente pela visão direta das lesões, usualmente

por meio da videolaparoscopia, em alguns casos a biópsia pode ser necessária para

confirmar a presença da doença (ADAMSON, 1990; VERCELLINI et al., 1996).

Embora a endometriose seja hoje considerada como um problema de

saúde pública, devido às limitações e desconforto causado às mulheres acometidas,

as bases fisiopatológicas da doença ainda não estão perfeitamente entendidas, e

não existe consenso quanto à eficiência dos métodos atuais de diagnóstico (MARTIN,

HUBERT e VANDER, 1989; ANDREW et al., 2001). O diagnóstico por videolaparoscopia,

considerada “padrão ouro”, pode depender, em grau ainda desconhecido, de

confirmação por avaliação histopatológica. Nesse sentido, o Ministério da Saúde,

mediante a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos publicou, em

15 de julho de 2003, a Consulta Pública n.o 1, entendendo ser necessário estabelecer

Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da endometriose.

16

As principais metas do tratamento da endometriose são aliviar ou reduzir a

dor, diminuir o tamanho dos implantes, reverter ou limitar a progressão da doença,

preservar ou restaurar a fertilidade e evitar ou adiar a recorrência da doença.

O tratamento atual da endometriose é cirúrgico através da videolaparoscopia, com a

ressecção das lesões visando restaurar a anatomia pélvica e eliminar os implantes.

O tratamento clínico consiste na inibição da ovulação através de análogos da

gonadotrofinas coriônicas e (ou) hormônios progestogênios sintéticos (HULL et al.,

1987; BARBIERI, 1990). Algumas vezes sintomas dolorosos com suspeita da doença

podem ser tratados com hormônios que reduzem o fluxo menstrual ainda que o

diagnostico definitivo não tenha sido realizado (ESHRE, 2005). Paralelamente, pode

ser adotado tratamento sintomático baseado em antiinflamatórios e analgésicos.

Finalmente, casos nos quais a paciente tem demora na remissão dos sintomas indica-se

atividade física regular e acompanhamentos psicológicos, visando a uma maior

aceitação e melhor convivência com a doença.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Avaliar as manifestações clínicas da endometriose pélvica, os locais de

acometimento e estadiamento, correlacionando os achados macroscópicos e

comprovação histológica

1.1.2 Objetivos Específicos

- Avaliar a eficácia da videolaparoscopia isolada no diagnóstico da

endometriose, de acordo com os aspectos macroscópicos e o resultado

do exame histopatológico.

- Observar a tendência à lateralidade da endometriose pélvica na população

de estudo.

17

2 REVISÃO DA LITERATURA

A primeira descrição detalhada da endometriose pélvica foi feita na Europa, por

Shröen, em 1690, no seu livro Disputatio Inauguralis Medica de Ulceribus Uteri. Shröen

descreveu lesões ulcerosas, as quais seriam primariamente processos inflamatórios,

que possibilitariam a formação de aderências entre os órgãos abdominais, podendo

ainda determinar tumores com tendência a infectar-se ou evoluir com hemorragias.

Shröen3 (1690, apud OLIVE e SCHWARTZ, 1993), categoricamente, afirmava que:

“esta é uma patologia de mulheres que tinham atingido a maturidade sexual”.

Hoje, a endometriose pélvica é descrita como uma doença benigna do

aparelho genital feminino, cuja característica principal é a presença de tecido endometrial

com glândulas e (ou) estroma fora da cavidade uterina. Este tecido possui histologia

e resposta fisiológica semelhante ao endométrio, ocorrendo, porém, em localização

ectópica (SAMPSON, 1927; JANSEN e RUSSEL, 1986). A presença do tecido com

características glandulares idênticos ao endométrio em outros locais que não a

cavidade uterina determina uma doença multissistêmica, que pode afetar órgãos tais

como o peritônio pélvico, trompas, ovários, tecido subcutâneo, trato urinário,

pulmões, musculatura diafragmática, fígado, intestinos, coração e sistema nervoso

central (OLIVE e SCHWARTZ, 1993; HEBST, MISHELL e STENCHVER, 1997).

2.1 ETIOPATOGÊNESE

Atualmente, três teorias são consideradas clássicas na tentativa de explicar

a etiopatogenia da endometriose: a do desenvolvimento metaplásico, a da menstruação

retrógrada e a teoria da indução. A primeira postula o desenvolvimento metaplásico,

mediante a transformação de células do peritônio pélvico, o qual Meyer4 (1900, apud

3 SHRÖEN, Disputatio Inauguralis Medica de Ulceribus Uteri, 1690.

4 MEYER, 1.a teoria sobre metaplasia celômica, 1900.

18

OLIVE e SCHWARTZ, 1993) e Novak5 (1931, apud OLIVE e SCHWARTZ, 1993) definiram

como metaplasia celômica. O conhecimento de que as células do endométrio e do

peritônio derivam do mesmo epitélio celômico justificam esta teoria. A segunda

teoria, baseada no conceito de menstruação retrógrada, foi inicialmente proposta por

Sampson (1921), que observou a saída de sangue pelas tubas uterinas em mulheres

submetidas a laparotomias no período menstrual, com a presença de fragmentos de

tecido endometrial no lúmen das trompas. O mesmo autor, mais tarde, postulou que

a disseminação, invasão ou penetração do endométrio ectópico à distância poderia

dar origem a focos de endometriose (SAMPSON, 1927). A terceira teoria, denominada

“teoria da indução”, seria uma combinação duas primeiras: por condição desconhecida,

substâncias produzidas pelo endométrio espalhado na cavidade pélvica no período

menstrual se transformariam em mesênquima, semelhante ao tecido endometrial

(OLIVE e SCHWARTZ, 1993).

Observações mais recentes abriram novo espaço de pesquisa em direção

ao esclarecimento da etiopatogênese da endometriose: dados experimentais

indicam a existência de um componente genético de controle da suscetibilidade do

ser humano à doença (SIMPSON e BICHOFF, 2003). Apesar de promissoras, estas

observações, bem como o intenso trabalho acumulado no sentido de se investigar

as hipóteses citadas anteriormente, a exata natureza da patogênese desta intrigante

doença ainda permanece amplamente conhecida.

2.2 CLASSIFICAÇÃO

Diversos esquemas de classificação da endometriose têm sido propostos e

utilizados, com base nos diferentes aspectos da doença. Considerando as várias

teorias da etiopatogenia da doença e o comportamento diverso da endometriose

pélvica quanto ao local de acometimento, Nisolle e Donnez (1997) propuseram a

5 NOVAK, Confirmação da teoria sobre metaplasia celômica, 1931.

19

seguinte classificação: (a) Endometriose peritonial: baseada na regurgitação tubária

de fragmentos endometriais, determinando, nos locais comprometidos, alterações

como neovascularização, proliferação e migração celular; (b) endometriose ovariana:

onde se originam os endometriomas e os cistos de inclusão, resultando em

invaginação do córtex ovariano, e (c) endometriose de septo-retovaginal: também

denominada adenomiose externa, pode ser remanescente mülleriano localizado

naquela musculatura, os quais se transformariam em glândulas e (ou) estroma.

Outro sistema de classificação, baseado no diagnóstico macroscópico da

endometriose, atribui à doença uma nova classificação avaliando a localização e o

comprometimento do peritônio acometido. A doença pode ser então classificada

como mínima, leve, moderada ou grave (American Fertility Society, 1985). Este

sistema permaneceu em uso até 1996, quando a American Society for Reproductive

Medicine, com o objetivo de padronizar a forma do estudo clínico, no diagnóstico e

no prognóstico dos tratamentos da infertilidade, reviu e classificou as lesões

considerando, tamanho, profundidade, localização da endometriose e gravidade das

aderências, adicionando estes valores aos quatro estádios da antiga classificação

(AFS, 1985).

2.3 EPIDEMIOLOGIA

Nas mulheres com vida reprodutiva ativa, estima-se a freqüência da

endometriose em 10 a 15% (OLIVE e SCHWARTZ, 1993). Dados epidemiológicos

indicam que pacientes com endometriose têm 20 vezes mais probabilidade de se

tornarem inférteis, sendo que entre 25% e 60% das pacientes com infertilidade

apresentam implantes endometrióticos (OLIVE e HANEY, 1986; OLIVE e SCHWARTZ,

1993; KONINCKX, BRAET e KENNEDY, 1994). Segundo Koninckx (1991), a freqüência

da endometriose é de 68% em mulheres inférteis, de 71% naquelas com dor pélvica

e de 84% em pacientes com ambas as queixas. Oosterlynck et al. (1991) relatam

uma freqüência da doença de 77% em mulheres com infertilidade e de 82% naquelas

20

com algia pélvica. Nas mulheres jovens, a doença manifesta-se habitualmente entre

cinco e sete anos após a menarca (ARRUDA et al., 2003) e tem seu ápice na idade

reprodutiva (de 25 a 29 anos) em 47% a 65% dos casos. Endometriose é um achado

raro na pré-menopausa (2% a 4%) (OLIVE e SCHWARTZ, 1993). Da mesma forma, a

doença raramente ocorre na pós-menopausa, exceto quando da utilização de

hormonioterapia (STACEY, MISSMER e CRAMER, 2003).

Estudos epidemiológicos como o de Viganò et al. (2004) evidenciam que

mulheres nulíparas e com menarca precoce, ciclos menstruais curtos e densos

apresentam maior risco de desenvolver a endometriose. Observa-se maior

prevalência da doença em mulheres de raça branca em comparação com aquelas

de raça negra, enquanto as de origem asiática têm risco igual ou maior que aquelas

de raça branca (KLEPPINGER, 1964; HASSON, 1976).

2.4 APRESENTAÇÃO CLÍNICA

A apresentação clínica da endometriose é complexa, variando conforme

sua localização ou o tipo de lesão presente no local de implantação. A presença de

lesões endometrióticas típicas está associada à dispareunia (VERCELLINI et al., 1996),

assim como dismenorréia e dor pélvica estão associadas à presença de lesões

ativas (PARAZZINI et al., 2001). Embora muitas pacientes sejam assintomáticas, as

queixas, quando presentes, podem variar de acordo com a extensão, a profundidade

e o local de implantação. A suspeita de endometriose deve existir quando dor pélvica,

dismenorréia, dispareunia e infertilidade estejam presentes (MATORRAS et al., 1996).

Nas pacientes púberes, quando se suspeita de endometriose, deve-se investigar a

presença de malformações do trato genital, que bloqueiam o fluxo menstrual (OLIVE

e SCHWATRZ, 1993; RODRIGUES, FREITAS e ZAMITH, 1995).

A dor pélvica de caráter cíclico, a dispareunia de profundidade e a dismenorréia

são os principais sintomas, enquanto outras queixas dolorosas como dor no ato de

defecar, dor suprapúbica, disúria, diarréia no período menstrual, puxo, tenesmo,

21

proctalgia e dor ao exame ginecológico também podem estar presentes nesta doença

(DAVID e HENDERSON, 1987; HEBST, MISSHEL e STENCHVER, 1997; TINELLI, MAIS

e FALSETTI, 2000).

2.5 FATORES DE RISCO

Numerosas variáveis têm sido sugeridas na literatura como fatores de risco

para endometriose. Entre as principais destacam-se mulheres entre a 3.a e 4.a década

da vida, de classe social mais favorecida, normolíneas, ansiosas, com história de dor

pélvica e que habitualmente retardam o casamento e a concepção (HOUSTON, 1984).

Viganò et al. (2004) afirmam que o uso de anticoncepcional oral pode diminuir a

manifestação da doença. O que se observa de fato é que pacientes com endometriose

que fazem uso deste método contraceptivo podem ter atrofia das lesões, que,

entretanto, são reativadas quando da interrupção da medicação. Tem-se sugerido

que índices de massa corporal elevados estão associados a um menor risco de

desenvolvimento de endometriose, relacionado a ciclos anovulatórios e aumento da

infertilidade (VIGANÒ et al., 2004). Já foi demonstrado por Corson (1992) que exercícios

físicos regulares, e eventualmente o tabagismo, determinam uma diminuição dos níveis

de estrogênio, podendo atuar como fatores de proteção contra a endometriose.

O aumento das dioxinas nos alimentos e no ar atmosférico, resultante das

incinerações de detritos biológicos, tem sido descrito como um possível fator de risco

para endometriose (ZONDERVAN, CARDON e KENNEDY, 2000). Segundo os autores, os

efeitos das dioxinas sobre fatores de crescimento, citoquinas e hormônios dos sistemas

imunitário e endócrino são prováveis meios de mediação do desenvolvimento da

endometriose. Em algumas regiões, onde este elemento químico apresenta-se em

níveis elevados, observa-se maior incidência de endometriose, embora esta

observação ainda mereça confirmação e novos estudos (KONINCKX, BRAET e

KENNEY, 1994; BIRBAUM e CUMMINGS, 2002).

22

É freqüente a associação da endometriose com dor pélvica e doenças

auto-imunes. O hipotireoidismo, por exemplo, acomete cerca de 10% das pacientes

com endometriose comparado a apenas 1,5% naquelas sem a doença (SINAII et al.,

2002). Fenômeno semelhante é observado para outras doenças auto-imunes,

conforme resumido na tabela 1.

TABELA 1 - FREQÜÊNCIA DE DOENÇAS AUTO-IMUNES EM PACIENTES COM E SEM

ENDOMETRIOSE

DOENÇAS AUTO-IMUNES COM ENDOMETRIOSE

(%)

SEM ENDOMETRIOSE

(%)

Hipotireoidismo 9,6 1,5

Fibromialgia 5,9 3,4

Síndrome da fadiga crônica 4,3 0,03

Artrite reumatóide 1,8 1,2

Lupus eritematoso sistêmico 0,8 0,04

Síndrome de Sjögren 0,6 0,03

Esclerose múltipla 0,5 0,07

Asma e alergias 61,0 12,0

FONTE: Sinaii et al. (2002)

2.6 GENÉTICA DA ENDOMETRIOSE

A existência de um componente genético no controle da suscetibilidade à

endometriose é amplamente aceita pela comunidade científica, com observações de

risco de ocorrência da doença em parentes de primeiro grau estimado em 5 a 7%

dos casos (SIMPSON e BISHOFF, 2003). Indivíduos apresentando história familiar

positiva, ou seja, mãe ou irmãs com endometriose, têm maior risco de ter a doença;

além disso, a gravidade do acometimento é maior neste grupo (MALINAK, BUTTRAM

e ELIAS, 1980). A prevalência da endometriose foi estimada em 6,9% em irmãs e

mães de pacientes com a doença, em comparação com 1% em irmãs e mães do

marido da paciente com a doença (SIMPSON et al., 1980). Renney (1971), estudando

123 pacientes com endometriose, encontrou 7% das filhas, 5,8% das irmãs e 8,1%

das mães com a doença confirmada. O risco relativo identificado em mães e irmãs

das pacientes com a doença foi de 7,2%. A taxa de concordância de acometimento

pela doença entre gêmeas monozigóticas foi de 75% (MOEN e MAGNUS, 1993).

23

Estudos observacionais como os citados acima, embora indiquem a presença

de um forte componente genético controlando a suscetibilidade do ser humano à

endometriose, não fornecem nenhuma informação quanto à natureza deste efeito.

Avanços neste sentido têm sido alcançados mediante estudos moleculares de

associação. Por exemplo, associação de fenótipos da endometriose foi encontrada

para genes envolvidos no processo de detoxificação celular, tais como: os genes

GTSM1 e NAT2, e genes de adesão celular como o ICAM-1 (BARANOVA et al., 1997).

Debra (2005), no estudo da origem molecular do câncer ovariano,

observou que um pequeno grau de carcinomas endometrióides provém de mutações

de genes (codificado β-cateninas) em tecido de lesões endometrióticas, e dados

morfológicos sugerem que a endometriose pélvica tem origem nas células claras dos

carcinomas. Steed, Chapman e Laframboise (2004) referem que lesões atípicas da

endometriose podem constituir estado pré-canceroso em mulheres jovens,

aumentando o risco de câncer de ovário.

2.7 DIAGNÓSTICO

Métodos não invasivos podem sugerir o diagnóstico de endometriose, mas

não diagnosticá-la de modo definitivo. O quadro clínico, os recursos de imagem e

exames bioquímicos sugerem o seu diagnóstico, porém com baixa especificidade,

especialmente nos estádios iniciais da doença (REDWINE, 1987a). Os níveis de CA-

125, uma glicoproteína de alto peso molecular, presente na superfície do epitélio

celômico e tecidos müllerianos apresentam-se habitualmente elevados em doenças

como o carcinoma de ovário, mas podem estar também aumentados em outras

condições não malignas como na endometriose avançada (OLIVE e SCHWARTZ, 1993;

TARDIF et al., 1999).

Novos recursos de imagem aplicados à investigação da dor pélvica,

dismenorréia e infertilidade na mulher, a exemplo da ultra-sonografia transvaginal e

trans-retal tomografia computadorizada, da ressonância magnética e do método

24

invasivo da videolaparoscopia, determinaram um maior sucesso no diagnóstico da

endometriose (TOPALSKI et al., 2002). Dependendo da ecogenicidade da lesão, a

ultra-sonografia realizada com o transdutor vaginal pode alcançar uma especificidade

de 91% no diagnóstico da endometriose pélvica (WEINER, BEECK e BRANDES, 1994).

A ultra-sonografia pode ser particularmente eficiente na sugestão do diagnóstico de

endometriose em casos especiais, como, por exemplo, na presença de lesão

hipoecogênica localizada na região entre o reto e a vagina, especialmente se

realizada no período perimenstrual e pós-menstrual (ABRÃO, NEME e AVERBACH,

2003). Nos estudos de Bazot et al. (2003), a ultra-sonografia pélvica transvaginal

teve acurácia de 77%, sensibilidade 75% e especificidade 83% no diagnóstico de

lesões profundas. Este mesmo estudo elegeu a ultra-sonografia transvaginal como o

exame de imagem de primeira linha, dada a maior e melhor aceitação pelas pacientes

e os resultados satisfatórios no que se refere à acurácia. Comparativamente, estudo

da acurácia do exame de ressonância magnética concluiu que as lesões em três

dimensões são diagnosticadas em 75% dos casos, e em 61%, naquelas com defeito

peritonial (STRATTON et al., 2003). A confirmação histopatológica foi verificada,

porém, em somente 50% dos casos. A tomografia computadorizada e a ressonância

magnética são métodos sofisticados e caros, e nem sempre superam a ultra-

sonografia na eficiência diagnóstica (SIEGMELMAN, OUTWATER e MITCHELL, 1994).

Hasson (1976) realizou um estudo envolvendo 515 mulheres que foram

separadas em dois grupos: no primeiro, com 212 pacientes com indicação de

videolaparoscopia por dor pélvica, observaram-se 34 pacientes (16%) com

endometriose e 16 (7,5%) com pelve normal. No segundo grupo (grupo controle) de

303 pacientes, no qual a cirurgia foi realizada para tratamento de patologias já

diagnosticadas previamente, a endometriose foi encontrada em 1,3% dos casos.

O autor concluiu que a videolaparoscopia tem permitido maior eficiência no diagnóstico

da doença (HASSON, 1976).

25

Na avaliação prospectiva de 35 pacientes com suspeita de endometriose

Zanardi et al. (2003) compararam as imagens obtidas na ressonância magnética

com as obtidas no estudo videolaparoscópicos, conforme a classificação da American

Fertility Society (AFS). A ressonância magnética apresentou baixa sensibilidade nos

graus I (mínimo), II (leve) e III (moderado), mesmo em lesões extensas. Nos

endometriomas, a ressonância magnética apresenta sensibilidade de 69% e

especificidade de 75%, índices semelhantes aos obtidos com o exame de ultra-som

transvaginal (78%).

26

3 CASUÍSTICA E MÉTODOS

Este estudo foi submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética da

mesma entidade, como também da Comissão de Ética da PUCPR, com o Registro

no CEP de n.o 530, Folha de rosto 056.476 (Anexo C).

Foram analisadas 976 mulheres submetidas à videolaparoscopia, atendidas

no Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Cruz, em período compreendido

entre 1994 e 2004. Destas 806 retrospectivamente (de fevereiro de 1994 até março

de 2003) e 170 prospectivamente a partir desta última data até junho de 2004. Essas

mulheres eram portadoras de queixas ginecológicas como dor pélvica, dispareunia,

dismenorréia, infertilidade, massa pélvica, processos infecciosos, inflamatórios, gravidez

ectópica, cistos anexiais hemorrágicos ou não e abdome agudo. Todas as cirurgias

foram realizadas no Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Para o estudo de eficácia da

videolaparoscopia, foi realizada a revisão dos prontuários médicos e seleção de

pacientes com suspeita clínica de endometriose. As pacientes do estudo prospectivo

tiveram acesso e ciência dos riscos da cirurgia ao assinarem o termo de consentimento

informado (Anexo B).

Os critérios para a realização das videolaparoscopias foram: pacientes no

menacme com clínica de dor pélvica, dispareunia, dismenorréia, infertilidade e

exames complementares indicativos da presença de suspeita de lesões pélvicas ou

de líquido livre na cavidade pélvica. A dor pélvica foi classificada de acordo com a

intensidade, o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a sua persistência.

Assim, a dor pélvica foi considerada crônica quando presente por mais de seis

meses, e aguda, quando presente por tempo inferior a seis meses.

Durante o atendimento ambulatorial, as pacientes que apresentavam queixas

de dor pélvica, dispareunia, dismenorréia e infertilidade foram submetidas a um

questionário específico direcionado para algia pélvica e suspeita de endometriose

(Apêndice B). Depois de investigadas clinicamente, foi iniciado o tratamento clínico

com antiinflamatórios não hormonais, analgésicos e anticoncepcionais, de forma

contínua, para a obtenção de amenorréia e alívio da algia pélvica. Todas as pacientes

27

com suspeita de endometriose foram tratadas desta forma por um tempo mínimo de

seis meses e a ausência de melhora dos sintomas ou agravação dos mesmos era

considerada como um fator de indicação de avaliação videolaparoscópica. Ainda no

Serviço de Videolaparoscopia, foram realizados exames complementares laboratoriais

como hemograma, VHS, parcial de urina com sedimento corado e pesquisa de

doenças inflamatórias pélvicas como clamídia e citomegalovirus. A ultra-sonografia

transvaginal, como parte da rotina dos exames, foi novamente indicada quando o

último exame foi realizado há mais de três meses. A dosagem do Ca-125 foi

solicitada nos casos de endometriomas e lesões suspeitas em septo retovaginal.

FIGURA 1 - FLUXOGRAMA DO ATENDIMENTO DAS PACIENTES DO AMBULATÓRIO DA DOR PÉLVICA

As pacientes foram selecionadas para cirurgia videolaparoscópica

conforme a gravidade das queixas. Nas videolaparoscopias realizadas por dor

pélvica foram excluídas as pacientes na pré-menarca, na menopausa e casos de

reintervenção videolaparoscópica. Durante a videolaparoscopia foram consideradas

alterações anatômicas com aspecto macroscópico de endometriose as lesões típicas

como “chamuscado de pólvora”, colorações avermelhadas, amareladas, marrons ou

pretas, ou ainda de aspecto fibrótico. Lesões atípicas, como defeitos de peritônio e

28

petéquias, lesões em “chama de vela”, excrescências glandulares, aderências

subovarianas ou áreas de hipervascularização passaram por biópsia e submetidas a

estudo histopatológico no Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Santa Cruz.

As figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 ilustram casos de endometriose de ovário,

peritônio e septo vaginal.

FIGURA 2 - DEFEITO PERITONIAL DE FUNDO DE SACO DE DOUGLAS POR

LESÃO ENDOMETRIÓTICA

FIGURA 3 - HIPERVASCULARIZAÇÃO, LESÃO PIGMENTADA EM PERITÔNIO

VESICAL

29

FIGURA 4 - ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS EM PREGA PARIETOCÓLICA

FIGURA 5 - DEFEITO PERITONIAL EM FUNDO DE SACO DE DOUGLAS

30

FIGURA 6 - ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS EM FOSSETA OVARIANA

ESQUERDA

FIGURA 7 - SÍNDROME ADERENCIAL ENDOMETRIÓTICA EM PREGA

VESICOUTERINA

31

FIGURA 8 - ADERÊNCIAS ENDOMETRIÓTICAS PÉLVICAS

As pacientes que foram submetidas à videolaparoscopia foram classificadas

em três grupos: a) Grupo I, constituído de pacientes com suspeita de endometriose

no qual a doença foi confirmada (n = 345); b) Grupo II, constituído pelas pacientes

com suspeita de endometriose no qual a doença não foi confirmada pelo estudo

anátomo-patológico (n = 131). As pacientes submetidas à videolaparoscopia por

outras causas que não a endometriose foram incluídas no denominado grupo III

(n = 500) cuja análise não foi valorizada para o presente estudo.

3.1 TÉCNICA OPERATÓRIA

O procedimento videolaparoscópico foi realizado pela mesma equipe

médica, especializada nesta abordagem cirúrgica, no Hospital Santa Cruz em Curitiba.

Todas as pacientes foram submetidas à anestesia geral e entubação endotraqueal,

induzidas com fentanil (Fentanil®) ou propofol (Diprivan®) (bomba de diprifusor de

indução alvo controlada). Opióides (fentanil ou remifentanil - Ultiva 77®) e Oxigênio

a 100% também foram usados para a manutenção anestésica. Foram utilizados

relaxantes musculares como o vercurônio (Norcuron®) ou rocurônio (Esmeron®) e

monitorização da freqüência cardíaca, oximetria de pulso, capnografia, pressão arterial

32

invasiva, temperatura, freqüência respiratória, análise de gases e análise do segmento

ST por meio do monitor Hewlet-Packard®. A ventilação mecânica foi realizada

por meio do respirador Ohmeda Aestiva 3000®, respirador em circuito fechado com

cal sodada.

Foi utilizado o aparelho de videolaparoscopia marca Sollos® (EEUU),

composto de processador de imagem, endocâmera, fonte de luz de xenon, ótica de

10 mm a zero grau de visão, insuflador, sistema de irrigação e aspiração,

videocassete VHS 200 a 300 linhas (Gradiente®), videoprinter (Sony®) e monitor de

300 linhas (Sony®).

FIGURA 9 - APARELHO DE ANESTESIA

33

FIGURA 10 - PORTAIS DE INTRODUÇÃO DOS TROCATERES

A paciente, sob anestesia geral, era colocada em decúbito dorsal e posição

ginecológica, e iniciada a instalação do pneumoperitônio com gás carbônico até

atingir a pressão de insuflação de 12 a 14mmHg com a agulha de Verrés na região

umbilical. Em seguida um trocáter de 10mm era introduzido na região umbilical para

colocação da óptica, e três outros trocáteres de 5mm, eram utilizados: um a três

centímetros acima do ramo superior da região medial da pube e outros dois nas

fossas ilíaca direita e esquerda, respectivamente. Era realizado o inventário da

cavidade pélvica e abdominal. A presença de lesões suspeitas de endometriose era

classificada conforme a American Fertility Society (1985) quanto à sua localização e

aspecto macroscópico. A biópsia era realizada com pinça preensora de 5mm (Edlo)

e a retirada das lesões, com tesoura laparoscópica. Obteve-se uma média de quatro

biópsias para cada paciente, sendo a escolha do material baseada nos aspectos

macroscópicos compatíveis com lesões endometrióticas. Nas lesões profundas, era

utilizado gancho de corrente monopolar para a realização da biópsia.

A hemostasia era realizada com cautério bipolar da marca Edlo® e o

material biopsiado fixado em formol a 10% (formalina) em volume aproximado de 20

vezes o tamanho dos espécimes e enviado ao laboratório de anatomia patológica.

O exame macroscópico era realizado, selecionando a área a ser estudada na

34

microscopia. O material foi processado segundo o método de rotina, incluindo as

etapas de desidratação gradativa, diafanização, infiltração e emblocamento em

parafina. A partir dos blocos de parafina obtiveram-se cortes histológicos de quatro

micrômetros e corados pela hematoxilina-eosina. A análise dos cortes histológicos

foi realizada em microscópio óptico binocular. O critério histológico básico utilizado

para o diagnóstico de endometriose foi o achado de glândulas de padrão endometrial

contendo estroma ao seu redor (ROBBOY, ANDERSON e RUSSEL, 2002). Os resultados

foram comparados aos achados videolaparoscópicos.

As figuras 11, 12, 13 e 14 ilustram o aspecto histológico da endometriose

em parede de endometrioma hemorrágico ovariano, em peritônio e prega

vesicouterina e no intestino grosso.

FIGURA 11 - CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOMA HEMORRÁGICO

OVARIANO

A - Estroma ovariano

B - Lesão cística com sinais de hemorragia antiga

C - Luz

A

B

C

35

FIGURA 12 - CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE PERITÔNIO

A - Revestimento mesotelial

B - Glândulas e estroma de padrão endometrial

C - Tecido conjuntivo da parede

D - Luz

FIGURA 13 - CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE PREGA

VESICOUTERINA

A - Tecido conjuntivo denso

B - Glândula de padrão endometrial com sinais de hemorragia antiga

C - Luz

A A

B

C

A

B

B

C

D

36

FIGURA 14 - CORTE HISTOLÓGICO DE ENDOMETRIOSE DE INTESTINO GROSSO (40X E 400X)

A - Camada muscular do intestino

B - Serosa do intestino

C - Glândula e estroma de padrão endometrial

Os resultados foram analisados de acordo com a localização da doença, a

classificação da American Fertility Society (1985) e as lesões características da

endometriose (vermelhas, brancas e negras) encontradas na videolaparoscopia

divididas em mínima (estádio I), leve (estádio II), moderada (estádio III) e grave

(estádio IV).

3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Todos os dados foram obtidos pelo pesquisador e foram digitados em

planilha eletrônica (Microsoft Excel®), conferidos e exportados para o programa

Statistica®. Estes dados constituem-se fundamentalmente da idade das pacientes, das

manifestações clínicas e dos resultados de biópsia do local da endometriose. Os testes

estatísticos aplicados foram selecionados de acordo com o tipo da variável (contínua ou

categórica) e seu caráter de independência, de acordo com as análises realizadas.

Para avaliar as possíveis diferenças das proporções entre os grupos com e

sem endometriose foram aplicados os testes de qui-quadrado de Pearson, qui-

quadrado para tendências lineares e Teste Exato de Fisher. As diferenças entre as

variáveis contínuas foram estudadas pelo modelo de Análise da Variância (ANOVA).

Foram calculados também os índices de sensibilidade, especificidade, valores

preditivos positivo e negativo, falso positivo e negativo. Para todos os testes, foi

considerado um nível mínimo de significância de 5%.

A

B

C

A

C

37

4 RESULTADOS

4.1 DESCRIÇÃO GERAL

De 976 pacientes submetidas à videolaparoscopia, 468 (47,95%) foram

selecionadas para inclusão no presente estudo por apresentarem quadro clínico e

videolaparoscópico sugestivo de endometriose. Destas pacientes com suspeita

clínica e videolaparoscópica de endometriose, em 337 (72,0%) o diagnóstico foi

confirmado pelo estudo histopatológico (tabela 2).

TABELA 2 - RESULTADOS GERAL DAS VIDEOLAPAROSCOPIAS REALIZADAS

COM SUSPEITA DE ENDOMETRIOSE

BIÓPSIAS N.o

%

Confirmadas 337 72,0

Não confirmadas 131 28,0

TOTAL 468 100

Às 337 pacientes com diagnóstico confirmado de endometriose foram

somadas as oito pacientes referidas acima, totalizando 345 pacientes com a doença

(figura 15).

Com a finalidade de avaliar a distribuição da doença de acordo com a faixa

etária, as pacientes foram divididas em: a) 11 a 19 anos (05 pacientes); b) 20 a 40

anos (427 pacientes); e c) acima de 41 anos (36 pacientes). Esta divisão concentra

doenças específicas para as diferentes faixas etárias.

38

FIGURA 15 - FLUXOGRAMA DA DISTRIBUIÇÃO DAS PACIENTES SELECIONADAS PARA O ESTUDO

Dessa forma, para fins de análise, as pacientes foram classificadas em três

grupos, quais sejam:

- Grupo I (n = 345) – pacientes cujo diagnóstico de endometriose foi

confirmado pelo exame videolaparoscópico e estudo histopatológico;

- Grupo II (n = 131) – pacientes cuja suspeita de endometriose não foi

confirmada pelos estudos histopatológicos;

- Grupo III (n = 500) – pacientes que foram submetidas à videolaparoscopia

por outras causas que não a endometriose e nas quais não foi

encontrada a doença (tabela 6, p.47).

4.2 DESCRIÇÃO DO GRUPO I - PACIENTES COM ENDOMETRIOSE

CONFIRMADA (n = 345)

Em 345 casos a endometriose pélvica foi determinada pela visualização dos

implantes a videolaparoscopia com biópsia confirmada pelo exame histopatológico. A

média de idade destas pacientes foi de 30,85 ± 5,54 anos. Em 15 casos (4,34%), a

endometriose foi classificada como mínima; em 176 (51,01%), como leve; em 112

(32,46%), como moderada, e em 42 pacientes (12,17%) como grave (figura 16).

39

4,36

51,01

32,46

12,17

0

10

20

30

40

50

60

Mínima Leve Moderada Grave

%

FIGURA 16 - CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA

Das 345 pacientes, 341 (98,84%) apresentavam dor pélvica aguda ou crônica.

A dismenorréia foi queixa registrada em 129 casos (37,39%), a infertilidade primária

e secundária em 69 (20,0%) e 23 casos (6,66%), respectivamente (figura 17).

98,84

37,39

20,00

6,66

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00

Dor pélvica

Dismenorréia

Infertilidade Prim.

Infertilidade Sec.

%

FIGURA 17 - SINAIS E SINTOMAS NOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA

Em 77 (22,31%) casos o exame histopatológico confirmou endometriose em

ovário D, em 89 (25,79%) em ovário E. Duzentos e sessenta pacientes (75,36%)

apresentaram endometriose em peritônio e em 41 (11,88%) no septo retovaginal

(figura 18). Não se observou diferença estatisticamente significativa entre as freqüências

de endometriose em ovário direito e esquerdo (22,31% versus 25,79, p = 0,54).

40

22,31

25,79

75,36

11,88

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00

Ovário D.

Ovário E.

Peritônio

Septo

Retoperitoneal

%

FIGURA 18 - SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO DAS LESÕES ENDOMETRIÓTICAS NOS

CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA

Em 233 pacientes (67,53%) a endometriose foi confirmada em apenas um

dos locais biopsiados; 102 (29,56%) em dois locais; oito (2,31%) em três locais e em

dois casos (0,57%) em quatro locais (figura 19). Em 29 pacientes (8,40%) houve

acometimento de ambos os ovários.

29,56

2,31

0,57

67,53

0 20 40 60 80 100

1 local

2 locais

3 locais

4 locais

%

FIGURA 19 - NÚMERO DE SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO DAS LESÕES

ENDOMETRIÓTICAS NOS CASOS DE ENDOMETRIOSE

CONFIRMADA

41

Identificou-se maior freqüência de endometriose entre as pacientes com

idade superior a 20 anos e inferior a 40 anos, independente da gravidade da mesma

(p = 0,001) (figura 20).

2,32

50,72

42,03

4,64

0,29

0

10

20

30

40

50

60

< 20 20-30 30-40 40-50 > 50

%

Idade (anos)

FIGURA 20 - DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE ENDOMETRIOSE, DE ACORDO

COM A IDADE, NOS CASOS DE ENDOMETRIOSE CONFIRMADA

4.2.1 Grupo I – Subgrupo com Estádio I ou Endometriose Mínima (n = 15)

As quinze pacientes classificadas como portadoras de endometriose

(mínima) apresentaram média de idade de 31,40 + 6,74 anos. Doze (80,0%)

apresentaram dor pélvica aguda, três dor pélvica crônica (20,0%), cinco dismenorréia

(33,33%), três infertilidade primária (20,0%) e um com infertilidade secundária

(6,66%) (tabela 3, p.43). Os locais de acometimento foram o ovário direito em um

caso (6,66%), ovário esquerdo em dois casos (13,33%), peritônio em 12 casos

(80,0%) e nenhuma paciente apresentou doença no septo retovaginal (tabela 4,

p.44). Todos os casos de endometriose mínima apresentavam apenas um local de

acometimento e em nenhum dos casos houve acometimento de ambos os ovários

(tabela 5, p.44).

42

4.2.2 Grupo I – Subgrupo com Estádio II ou Endometriose Leve (n = 176)

As 176 pacientes classificadas como portadoras de endometriose leve

apresentavam média de idade de 30,78 + 5,80 anos. Cento e cinqüenta e cinco

(88,06%) apresentavam dor pélvica aguda, 21 dor pélvica crônica (11,93%), 59

(33,52%) dismenorréia, 34 (19,31%) infertilidade primária e 15 (8,52%) infertilidade

secundária (tabela 3, p.43). Os locais de acometimento foram: o ovário direito, em 32

casos (18,18%); ovário esquerdo, 36 (20,45%); peritônio, 136 (77,27%) e 18 (10,22%),

septo retovaginal (tabela 4, p.44). Uma grande maioria dos casos de endometriose

leve apresentavam apenas um local de acometimento (130/176 = 73,86%). Quarenta

e cinco pacientes (25,56%) em dois locais e duas mulheres (1,16%), em três locais

(tabela 5, p.44). Em apenas oito casos (4,54%) houve acometimento de ambos

os ovários.

4.2.3 Grupo I – Subgrupo com Estádio III ou Endometriose Moderada (n = 112)

As 112 pacientes classificadas como portadoras de endometriose moderada

apresentavam média de idade de 30,84 + 5,15 anos. Oitenta e seis (76,78%)

apresentavam dor pélvica aguda, 26 (23,21%) dor pélvica crônica, 44 (39,28%)

dismenorréia, 27 (24,10%) infertilidade primária e sete (6,25%) infertilidade secundária

(tabela 3, p.43). Os locais de acometimento foram: ovário direito em 35 (31,25%)

casos; ovário esquerdo em 38 (33,92%); peritônio em 78 (69,64%) e 1 (9,82%) caso

em septo retovaginal (tabela 4, p.44). Em 66 (58,92%) pacientes, a endometriose foi

identificada em apenas um local, em 41 (36,60%) em dois locais em cinco (4,46%)

em três locais (tabela 5, p.44). Em apenas 17 (15,17%) casos houve acometimento

de ambos os ovários.

4.2.4 Grupo I – Subgrupo com Estádio IV ou Endometriose Grave (n = 42)

As 42 pacientes classificadas como portadoras de endometriose grave

apresentaram média de idade de 30,97 + 5,14 anos. Trinta e duas pacientes

43

(76,19%) apresentaram dor pélvica aguda, 12 (28,57%) dor pélvica crônica, 21 (50,0%)

dismenorréia, cinco (11,90%) infertilidade primária e nenhuma com infertilidade

secundária (tabela 3, p.43). O ovário direito foi acometido em nove (21,42%), o

ovário esquerdo em 13 (30,95%), o peritônio em 34 (80,95%) e o septo retovaginal

em 12 (28,57%) pacientes (tabela 4, p.44). Em 22 (52,38%) a endometriose foi

identificada em apenas um local, em 16 (38,09%) em dois locais; (4,76%) em três

locais e em dois casos (4,76%) em quatro locais (tabela 5, p.44). Em apenas quatro

casos (9,52%) houve acometimento de ambos os ovários.

4.2.5 Comparação Entre os Grupos de Acordo com a Classificação da Endometriose

(Mínima, Leve, Moderada e Grave)

Não se observou diferença estatisticamente significativa entre os grupos

em relação à idade (p=0,97). A dor pélvica aguda foi mais freqüente nas formas mais

leves de endometriose enquanto a dor pélvica crônica foi mais freqüente nas formas

mais graves (p=0,03). Verificou-se uma tendência de maior freqüência de

dismenorréia nas formas mais graves, e a freqüência de infertilidade primária ou

secundária foi semelhante entre os grupos (tabela 3).

TABELA 3 - COMPARAÇÃO DA IDADE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE PACIENTES COM ENDOMETRIOSE,

CONFORME A CLASSIFICAÇÃO VIDEOLAPAROSCÓPICA

MÍNIMA

ESTÁDIO I

(n = 15)

LEVE

ESTÁDIO II

(n = 176)

MODERADA

ESTÁDIO III

(n = 112)

GRAVE

ESTÁDIO IV

(n = 42)

p

Idade (anos) 31,40± 6.74 30,78 + 5.80 30.84 + 5,15 30.97 + 5,14 0,97

DP crônica (n/%) 03 (20%) 21 (11,93%%) 26 (23,21%) 12 (28,57%) 0,03

DP aguda (n/%) 12 (80%) 155 (88,06%) 86 (76,78%) 32 (76,19%) 0,07

Dismenorréia (n/%) 05 (33,33%) 59 (33,52%) 44 (39,28%) 21 (50,00%) 0,23

Infertilidade. 1.a (n/%) 03 (20%) 34 (19,31%) 27 (24,10%) 05 (11,90%) 0,39

Infertilidade 2.a (n%) 01 (6,66%) 15 (8,52%) 07 (6,25%) 0 (0,00%) 0,26

O acometimento do ovário direito foi mais freqüente nas formas moderada

e grave do que nas formas mínima e leve 35 (31,25% e 09 (21,42%) versus 01

(6,67%) e 32 (18,18%) - p = 0,02). O mesmo foi observado no ovário E 38 (33,93%)

44

e 13 (30,95%) versus 02 (13,33%) e 36 (20,45%) (p = 0,04). Não houve variação

significativa no acometimento de peritônio entre as formas de endometriose mínima

(80,0%), leve (77,27%), moderada ( 69,64%) e grave ( 80,95%). (p = 0,36).

Notou-se, entretanto, que no septo retovaginal foi mais freqüente quanto

maior a gravidade da endometriose (0,00%, 10,23%, 9,82% e 28,57% – p = 0,002)

(tabela 4).

TABELA 4 - LOCAL DAS LESÕES SEGUNDO O ESTÁDIO DA ENDOMETRIOSE

ESTÁDIO I

(n/%)

ESTÁDIO II

(n/%)

ESTÁDIO III

(n/%)

ESTÁDIO IV

(n/%) p

Ovário Direito 01 ( 6,67%) 32 (18,28%) 35 (31,25%) 09 (21,42%) 0,02

Ovário Esquerdo 02 (13,33%) 36 (20,45%) 38(33,93%) 13 (30,95%) 0,04

Peritônio 12 ( 80,0%) 136 (77,27%) 78 (69,64%) 34 (80,95%) 0,36

Septo Retovaginal 0 (0,00%) 18 (10,23%) 11 (9,82%) 12 (28,57%) 0,002

Existe uma relação de proporcionalidade entre o número de locais de

acometimento e a gravidade da endometriose de forma que quanto mais grave maior

o número de locais acometidos (p = 0,0001) (tabela 5).

TABELA 5 - NÚMERO DE SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO SEGUNDO O ESTÁDIO DE ENDOMETRIOSE

ENDOMETRIOSE

(estádio)

NÚMERO DE SÍTIOS DE IMPLANTAÇÃO (%)

1 sítio 2 sítios 3 sítios 4 sítios

Mínima 15 (100%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%)

Leve 130 (73,87%) 45 (25,57%) 01 (0,57%) 0 (0,00%)

Moderada 66 (58,93%) 41 (36,60%) 05 (4,46%) 0 (0, 00%)

Grave 22 (52,38%) 16 (38,10%) 02 (4,76%) 02 (4,76%)

Teste qui-quadrado para tendências lineares - p = 0,0001

4.3 GRUPO II - PACIENTES COM SUSPEITA DE ENDOMETRIOSE SEM

CONFIRMAÇÃO HISTOLÓGICA (n = 131)

Em 131 casos a endometriose não foi confirmada por biópsia e exame

histopatológico. A média de idade destas pacientes foi de 31,14 + 6,87 anos.

O diagnóstico videolaparoscópico de endometriose mínima foi sugerido em 17 pacientes

(12,97%); em leve 63 (48,09%); moderada em 35 (26,71%) e grave em 16 (12,21%).

45

Cento e doze (85,49%) pacientes apresentavam dor pélvica aguda,

enquanto 18 delas (13,74%) apresentavam dor pélvica crônica. Dismenorréia foi

queixa registrada em 35 (26,71%) casos e infertilidade primária e secundária em 20

(15,26%) e 08 (6,10%), respectivamente.

4.4 GRUPO III - PACIENTES SUBMETIDAS À VIDEOLAPAROSCOPIA POR OUTRAS

CAUSAS E SEM EVIDÊNCIA DE ENDOMETRIOSE (n = 500)

Em 500 mulheres a videolaparoscopia foi realizada para investigação de

outras patologias. A média de idade destas pacientes foi de 31,42 + 8,25 anos.

Trezentos e nove (61,80%) apresentaram dor pélvica aguda, enquanto 71 (14,20%),

dor pélvica crônica. Dismenorréia foi uma queixa registrada em 21 casos (4,20%) e

infertilidade primária e secundária em 57 (11,40%) e 15 (3,0%), respectivamente

(tabela 6, p.47).

Não foi observada diferença significativa na freqüência de dor pélvica (p =

0,65), infertilidade primária (p = 0,30) ou secundária (p = 0,91) entre estas pacientes

e a dos outros grupos estudados. Observou-se, entretanto, maior freqüência de

dismenorréia neste grupo de pacientes (p = 0,03) (figura 21).

78,18

26,47

68,35

31,65

0

20

40

60

80

100

Com dismenorréia Sem dismenorréia

EDT Não EDT

%

FIGURA 21 - FREQÜÊNCIA DE DISMENORRÉIA NO GRUPO DE PACIENTES

COM E SEM ENDOMETRIOSE

46

4.5 COMPARAÇÃO ENTRES OS GRUPOS I, II E III

Não se observa diferença estatisticamente significativa entre os grupos em

relação à idade, sendo de 30,85 + 5,54 anos no primeiro grupo, de 31,14 + 6,87 no

segundo e de 31,42 + 8,25 no terceiro grupo (p = 0,52) (figura 22).

Min - Max

Desvio Padrão

Média

Variação da Idade entre os Grupos I, II e III

ANOVA (p = 0,52)

Idade (

anos)

0

20

40

60

80

100

Grupo I Grupo II Grupo III

FIGURA 22 - VARIAÇÃO DA IDADE ENTRE OS GRUPO I, II E III

A dor pélvica foi mais freqüente nos grupos I e II (98,84% e 97,79% versus

75,56%, p = 0,001). A dismenorréia foi a queixa significantemente mais freqüente

entre as pacientes que foram submetidas à videolaparoscopia por suspeita de

endometriose, confirmada ou não (37,39% e 26,72% versus 4,20%, p = 0,001). A

infertilidade primária foi também mais freqüente nos 2 primeiros grupos, 23,80% e

15,26% versus 11,40%, (p = 0,002), assim como a infertilidade secundária, 6,67% e

6,11% versus 3,0%, (p = 0,03) (tabela 6).

47

TABELA 6 - ACHADOS VIDEOLAPAROSCÓPICOS, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E FAIXA ETÁRIA DOS GRUPOS I, II E III

GRUPO I GRUPO II GRUPO III

p Endometriose confirmada

no AP

(n = 345)

Endometriose não

confirmada no AP

(n = 131)

Indicação de vídeo

por outras causas

(n = 500)

Idade (anos) 30,85 + 5,56 31,14 + 7,94 31,42 + 7,18 0,524

Dor pélvica 98,84% 97,79% 75,56% 0,001

Dismenorréia 37,39% 26,71% 4,20% 0,001

Infertilidade1.a

23,80% 15,26% 11,40% 0,002

Infertilidade 2.a

6,66% 6,10% 3,0% 0,033

4.6 SENSIBILIDADE, ESPECIFICIDADE, VALOR PREDITIVO POSITIVO E

VALOR PREDITIVO NEGATIVO DA VIDEOLAPAROSCOPIA PARA O

DIAGNÓSTICO DE ENDOMETRIOSE

Considerando os achados do exame histopatológico como o diagnóstico

verdadeiro para endometriose, a suspeita clínica e (ou) videolaparoscopia apresentou:

sensibilidade de 97,68%; especificidade de 79,23%; valor preditivo positivo de

72,0%; valor preditivo negativo de 98,42% com acurácia de 85,75%. O índice de

exames falsos positivos foi de 27,99% e o de falsos negativos de 1,57% (tabela 7).

TABELA 7 - CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA DE ENDOMETRIOSE, CONFORME EXAME ANÁTOMO-

PATOLÓGICO

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

E/OU

VIDEOLAPAROSCOPIA

EXAME ANÁTOMO-PATOLÓGICO

TOTAL Positivo Negativo

Positivo 337 (34,52%) 131 (13,42%) 468 (48,15%)

Negativo 08 (0,81%) 500 (51,22%) 508 (52,04%)

TOTAL 345 (35,34%) 631 (64,65%) 976 (100%)

48

5 DISCUSSÃO

Apesar dos esforços da comunidade científica para aumentar a eficiência

dos métodos de diagnóstico da endometriose, estes ainda apresentam várias limitações

que dificultam a confirmação da doença. Os parâmetros clínicos, como a dor pélvica,

dismenorréia, dispareunia e infertilidade, não são suficientes para confirmar o

diagnóstico. Da mesma forma, exames laboratoriais, como a dosagem do Ca-125 e

os métodos de imagem, como a ultra-sonografia, tomografia e ressonância magnética,

quando associados, têm valor relativo para a conclusão diagnóstica (WEINER,

BEECK e BRANDES, 1994; KONINCKX, 1991; STRATTON et al., 2003; KENNEDY et al.,

2005). Atualmente, a videolaparoscopia é o principal exame de acesso à cavidade

abdominal para o diagnóstico da endometriose pélvica. A videolaparoscopia, como

todo procedimento cirúrgico, envolve riscos; porém, a abordagem é menos invasiva

que a laparotomia e, quando aplicada no diagnóstico de endometriose, permite uma

visão direta, com aumento de até 10 vezes, das lesões suspeitas. Segundo Falcone

e Mascha (2003), a videolaparoscopia ainda é o melhor método diagnóstico para

endometriose, apesar de hoje sabermos que o estudo histopatológico é o verdadeiro

“padrão ouro” na confirmação da doença. Com o objetivo de avaliar a freqüência da

endometriose em uma determinada população estudamos um grupo de 976 mulheres

submetidas à videolaparoscopia. Pacientes com suspeita clínica de endometriose

pélvica tiveram os achados laparoscópicos supostamente positivos quando comparados

com a análise histopatológica das biópsias. Desta maneira, pudemos avaliar a

eficácia da videolaparoscopia isolada como método de diagnóstico definitivo da

endometriose, utilizando-se resultados dos estudos histopatológicos como referência.

5.1 EPIDEMIOLOGIA

A freqüência da endometriose em 976 videolaparoscopias realizadas neste

estudo foi de 35,3%. Este resultado está de acordo com estudos anteriores,

49

realizados em amostras populacionais menores. Arnold et al. (1984) estudaram uma

população de 100 mulheres com queixa de dor pélvica e encontraram a doença em

32% dos indivíduos. Da mesma forma, Nogueira et al. (1996) observaram, em seu

estudo de 105 pacientes com dor pélvica, das quais 31.3% com achados compatíveis

com endometriose. Zondervan, Cardon e Kennedy (2000), estudando 559 mulheres

com queixa de infertilidade encontraram a endometriose pélvica em 39%.

Hasson (1976) na avaliação da freqüência do achado da endometriose em

pacientes submetidas a videolaparoscopia por diversas causas e sem supeita de

endometriose, em 303 cirurgias encontrou 4 pacientes com a doença 1,3%. Em nosso

estudo obtivemos índices semelhantes pois em 508 videolaparoscopias realizadas

por outros indicativos encontramos 8 pacientes 1,5% com endometriose pélvica.

5.2 FAIXA ETÁRIA

Em estudo com 244 pacientes sintomáticas para endometriose a idade

média das pacientes foi de 30 anos (VERCELINI et al., 1996), Nogueira et al. (1996)

realizaram 105 videolaparoscopia para o estudo da dor pélvica em mulheres com

endometriose pélvica, observaram que 55,2% possuíam idade entre 21 e 30 anos.

Andrew et al. (2001), em estudo comparativo entre achados histológicos e achado

videolaparoscópico, realizado em uma população de 44 mulheres, observaram idade

média de 33 anos no grupo avaliado. Para Parazzini et al. (2001), a idade média da

afecção foi de 31 anos em 469 pacientes estudadas para avaliação da freqüência e

severidade da dor pélvica. Todos esses estudos concordam com uma idade média

em torno de 30 anos para mulheres com endometriose. Esse trabalho corrobora com

os dados da literatura. De acordo com a observação, as 345 mulheres portadoras de

endometriose tinham idade entre 20 e 30 anos (média de 30,85 + 5,54).

A população estudada incluiu 28 videolaparoscopias realizadas em pacientes

com idade entre 11 e 19 anos; destas, cinco (17,85%) foram diagnosticadas com

endometriose. Já em 36 mulheres com idade acima de 41 anos, três delas (8,33%)

50

apresentaram a doença. Nos estudos de Bai et al. (2002), foram analisadas 39

videolaparoscopias em adolescentes de 14 a 21 anos com suspeita de

endometriose, e 10 (25,7%) foram diagnosticadas como portadoras da doença.

Embora possivelmente diferentes esta observação deve ser interpretada com

cautela, dado o pequeno número de pacientes nesta faixa etária analisada em

ambos os estudos. Arruda et al. (2003) observaram o início dos sinais clínicos da

endometriose em um período entre cinco a 12 anos após a menarca e que o atraso

no diagnóstico da endometriose varia conforme a clínica apresentada pela paciente.

Nas investigações de infertilidade o tempo médio para o diagnóstico é de 4 anos e

nas pacientes com dor pélvica é mais longo, em média 7,4 anos. Isto pode justificar

a detecção clínica da doença acontecer geralmente após os 20 anos de idade,

observação confirmada em nosso estudo.

Mette e Berit (1997), em estudo epidemiológico da endometriose na

Noruega, observaram que em grupos aleatórios após os 40 anos, a freqüência da

endometriose foi de 2,0% e que dificilmente se diagnostica um primeiro episódio da

doença após esta idade. A endometriose foi citada com uma freqüência de 0,9% em

todas as mulheres com idade entre 15 e 44 anos e 0,4% entre as idades 45 a 64

anos. A presença de endometriose é baixa nos grupos de mulheres abaixo de 15

anos e acima dos 64 anos devido à menor produção de estrógenos pelos ovários

(BARBIERI et al., 1990). Observa-se no presente estudo resultados semelhantes, com

baixa freqüência de endometriose em mulheres com idade inferior a 18 anos

(1,44%). Em pacientes acima de 41 anos (8,33%), nossos achados foram diferentes,

pois a população estudada foi especificamente direcionada por suspeita de

endometriose e as avaliações de Mette e Berit (1997) foram realizadas em grupos

aleatórios de mulheres.

51

5.3 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E CONFIRMAÇÃO DE ENDOMETRIOSE NO

EXAME HISTOPATOLÓGICO

Nas avaliações de Nogueira et al. (1996), em 105 videolaparoscopias de

pacientes com dor pélvica, os autores encontraram alterações anatômicas pélvicas

semelhantes a lesões endometrióticas em 85,7% dos casos, dos quais 31,1% foram

confirmados histologicamente como endometriose. No estudo de Andrew et al. (2001)

o diagnóstico histopatológico de biópsias nos locais suspeitos de endometriose

teve valor preditivo positivo de 45% comparado ao de biópsias de locais isentos

de lesões.

Neste trabalho, na avaliação de 468 pacientes com alterações anatômicas

com lesões típicas e atípicas características de endometriose e dor pélvica, foram

confirmados 337 (72%) casos da doença, enquanto que 131 (28%) casos não se

obteve confirmação. Estes achados foram similares aos encontrados por Nogueira

et al. (1996). O valor preditivo positivo verificado neste estudo foi de 72%, enquanto

no estudo de Andrew et al. (2001) foi de 45%. Porém, o método de avaliação

utilizado neste estudo difere do nosso, pois não fizemos biópsias em locais isentos de

alterações anatômicas.

5.4 CLASSIFICAÇÃO DA ENDOMETRIOSE PÉLVICA

De acordo com o estadiamento da endometriose observado nas

videolaparoscopias, conforme a American Fertility Society (1985), no presente

estudo foram encontradas 4,36% classificadas como estádio I (mínima), 51,01%

estádio II (leve), 32,46% estádio III (moderada) e 12,17% estádio IV (grave). Petta et

al. (1990), em 44 pacientes submetidas à videolaparoscopia por dor pélvica crônica,

registraram, endometriose estádio I em 50% dos casos, estádio II em 12,5%, estádio

III em 25% e estádio IV em 12,5%. Joioso et al. (1997) em estudo das manifestações

clínicas da endometriose em 52 pacientes com sintomatologia de dor pélvica

verificaram que a incidência de endometriose pélvica conforme a extensão da

52

doença foi de 77% em estádio I, 13,4% estádio II, 3,8% estádio III e 5,8% estádio IV.

Muzii et al. (1997) relataram os seguintes resultados: estádio I em 23,07% dos

casos, estádio II em 12,30%, estádio III em 43,07% e estádio IV em 21,5%. Já

Fontana (2000) observou a endometriose estádio I em 52,7% dos casos, estádio em

II 12,74%, estádio em III 9,9% e estádio IV em 25,45%. Em estudo semelhante o

“Gruppo Italiano per Lo Studio dell’ Endometriosi", em 469 pacientes, observaram

uma freqüência de 11,3% de lesões estádio I; 12,2% de lesões estádio II, 51% de

lesões estádio III e 21,7% de lesões estádio IV (PARAZZINI et al., 2001).

Avaliando a endometriose, de acordo com os aspectos infiltrativos e a

distribuição anatômica das lesões, Chapron et al. (2003) tiveram, na sua casuística,

endometriose estádio I em 13,5% dos casos; estádio II em 38,1%; estádio III em

24,2% e estádio IV em 24,2%. No estudo da endometriose em 39 adolescentes,

Bai et al. (2002) encontraram os estádios da doença no estádio I, em 10% delas,

estádio II em 44%, estádio III em 28% e estádio IV em 18%. Ainda observa-se

discrepância entre os estádios encontrados, pois, apesar de existir um mapeamento

macroscópico da endometriose pélvica preconizado pela ASRM (1997), muitos

estudos são analisados conforme a formação e experiência do profissional executor

da videolaparoscopia. Por isso, a avaliação comparativa fica prejudicada.

Estudo comparativo foi realizado entre 108 cirurgiões ginecologistas avaliando

a dificuldade no diagnóstico visual da endometriose e correlacionado resultados de

suas observações de fitas de três videolaparoscopias realizadas e a histopatologia

das mesmas conforme questionário específico. Os observadores eram 42 com títulos

de especialidade, 42 residentes de três a cinco anos e 10 residentes do primeiro e

segundo ano. Foram observados três vídeos de pacientes selecionadas conforme

ASRM (1997). O primeiro vídeo com endometriose mínima (Estádio I) o segundo

endometriose leve (Estádio II) e o terceiro sem lesões endometrióticas. Foram

confirmadas pela histopatologia cinco lesões endometrióticas. Os comparativos entre

os avaliadores tiveram resultados diferentes: em 53% dos casos, não observaram

lesões endometrióticas, em 47%, identificaram uma ou mais lesões: em 18%,

53

observaram quatro lesões endometrióticas. Este estudo confirma a dificuldade das

avaliações macroscópicas apresentadas entre os diversos observadores. A diversidade

de resultados justifica a análise histológica para a confirmação diagnóstica da

endometriose (OLAF, PIA e EDMUND, 2005). Sempre que se observa a existência de

múltiplas classificações sobre uma doença, considera-se que nenhuma conseguiu

unanimidade na sua aceitação (ABRÃO, AMARAL e RAMOS, 1998). Sendo a avaliação

macroscópica de caráter subjetivo, distorções no estudo comparativo podem ocorrer

pela própria dificuldade do método.

5.5 CONFIRMAÇÃO DO EXAME HISTOPATOLÓGICO

A visualização das lesões de endometriose à videolaparoscopia sem a

complementação do exame histopatológico tem suas limitações. A associação das

duas avaliações para a confirmação definitiva da doença evita erros diagnósticos,

conforme afirmaram Andrew et al. (2001), ao avaliarem a correlação entre a histologia

e os achados na videolaparoscopia.

Em um estudo retrospectivo de Martin e Ling (1989), em 1.440 videolaparoscopia

por infertilidade e dor pélvica, encontraram a endometriose pélvica em 42% dos

casos. Posteriormente, em trabalho prospectivo de 568 videolaparoscopias, os

autores descreveram 72% de lesões endometrióticas em pacientes com as mesmas

queixas (MARTIN, HUBERT e VANDER, 1989). Rojas, Dias e Euzébio (1995), para

avaliação dos achados em 887 videolaparoscopias, obtiveram um índice de

endometriose de 50,68%, enquanto Andrew et al (2001), analisando 44 pacientes,

observaram 52% de pacientes com endometriose macroscópica e microscópica.

Gogorza et al. (2001), em 78 adolescentes, diagnosticaram endometriose pélvica em

53,8% das análises histopatológicas de lesões endometrióticas. Fontana (2000), em

estudo com 110 pacientes, confirmou a doença em 80,0%.

No presente estudo, avaliamos 468 pacientes com suspeita clínica de

endometriose e encontramos 72% de confirmação pela anatomia patológica. Nossos

54

resultados equivalem-se aos achados de Martin, Hubert e Vander (1989) e Fontana

(2000), que realizaram seus estudos comparando a histopatologia e as biópsias das

lesões endometrióticas. Nosso estudo difere parcialmente da literatura consultada

devido a indicação da cirurgia videolaparoscópica. Os demais trabalhos tinham como

referência a infertilidade e a dor pélvica e nosso estudo foi baseado em 98,84% dos

casos nas pacientes portadoras de dor pélvica e suspeita clínica de endometriose

pélvica. A infertilidade em nosso estudo foi indicação secundária para a realização

das cirurgias. Apesar de a videolaparoscopia ser um método efetivo no diagnóstico

da endometriose não obtivemos neste estudo índices de confiabilidade para

dispormos desta como um único método de diagnóstico. Faz-se necessário a análise

histológica para a confirmação definitiva das lesões. Conforme a publicação do

consenso ESHRE em 2005 o diagnóstico definitivo da endometriose pélvica tem a

inspeção visual da pelve na videolaparoscopia como “padrão ouro” e o estudo

histológico positivo confirma o diagnóstico porém a sua negatividade não exclui a

doença (KENNEDY et al., 2005).

5.6 CORRELAÇÃO DA VIDEOLAPAROSCOPIA E CONFIRMAÇÃO HISTOLÓGICA

Os achados macroscópicos à videolaparoscopia e o resultado da histopatologia

foram objetos de comparação, para avaliar a eficácia dos métodos isolados no

diagnóstico. A correlação entre os resultados positivos e negativos para a doença e

os achados de endometriose em pacientes com outros tipos de indicações cirúrgicas

permitiu o cálculo da sensibilidade de 97,88%, especificidade de 79,23%, valor

preditivo positivo (VPP) de 72%; valor preditivo negativo (VPN) de 98,42% e acurácia

de 85,75%. Bustos et al. (1996) encontraram, em 45 pacientes, valores de

sensibilidade de 64,8%, especificidade de 73,1%, VPP de 70,3% e VPN de 72,1% e

acurácia de 70,9%. Andrew et al. (2001) obtiveram em 44 pacientes a sensibilidade

de 97%, especificidade de 77,0%, VPP de 45% e VPN de 99%, muito se

assemelhando aos achados de nosso estudo. O comparativo destes estudos revela

55

que apesar da validade da videolaparoscopia para o diagnóstico da endometriose,

seu uso isolado apresenta discrepâncias entre os achados macroscópicos e a

confirmação histológica.

Martin e Ling (1989), avaliaram a endometriose e dor pélvica e observaram

um aumento do diagnóstico histológico desta doença de 62%, em 1982, para 99%,

em 1987. Demonstraram que a videolaparoscopia é um excelente exame para o

diagnóstico da endometriose, porém seus achados dependem da sistemática

adotada e da experiência do observador. A necessidade de um consenso informal

nos desenhos dos estudos e a boa prática cirúrgica reforçada com documentação

detalhada foi contemplada no consenso ESHRE (2005) com a finalidade de

sistematizar o diagnóstico (KENNEDY, 2005).

5.7 PACIENTES COM ENDOMETRIOSE CONFIRMADA: ACHADOS LOCAIS,

PRESENÇA DE DOR PÉLVICA, DISMENORRÉIA E INFERTILIDADE

A extensão da endometriose em pacientes com dor pélvica não tem

correlação positiva estatisticamente significante quando comparada com a gravidade

da doença. Em estudo abordando 124 pacientes inférteis com dismenorréia e

diagnóstico de endometriose, Fedele, Bianchi e Bocciolone (1992) não acharam

correlação entre o estádio da doença e a presença ou gravidade da dor pélvica ou

da dismenorréia, com freqüência e intensidade similares tanto nos estádios III e IV

como nos estádios I e II (ASRM, 1997).

Vercellini et al. (1996) estudaram a dor pélvica, estádio da endometriose e

a sua localização em 244 pacientes. Encontraram maior gravidade da dor pélvica

conforme os estádios de endometriose; de forma que nos estádios I e II era de

36,07%, e nos estádios III e IV de 63,93%. A localização em apenas um ovário foi

observada em 108 (44,2%) pacientes, somente implantes peritoniais em 37 (15,1%)

casos, a combinação de ovário e peritônio em 57 (23,3%) e a endometriose vaginal

em 42 pacientes (17,2%). Quando comparada a severidade da dor pélvica com o

56

local da lesão, verificaram que a dismenorréia era menor quando acometia somente

um local (ovário) e maior quando se encontrava em, pelo menos, dois locais.

Na avaliação da dismenorréia em relação aos estádios da endometriose,

Topalski et al. (2002) observaram no estádio I, presença deste sintoma em 48% dos

casos, no estádio II 44,19%, no estádio III, 50% e no estádio IV, 44,44%. Parazzini

et al. (2001) afirmaram que a gravidade da dismenorréia, analisada de acordo com o

estádio e a localização da doença, não tem associação significativa. Estudos

realizados por Abrão et al. (2002) correlacionam a análise histológica com a dor

pélvica, observaram a maior intensidade dolorosa quando o padrão histológico era

bem diferenciado ou com doença estromal presente. Quando correlacionaram a

infertilidade com o estudo histológico, observaram que as pacientes com formas

histológicas indiferenciadas tinham pior prognóstico para uma futura gestação.

No presente estudo a dor pélvica ocorreu em 98,84% dos casos em todos

os estádios da endometriose pélvica. Observou-se, que a dor pélvica crônica

apresentou-se de forma significativa conforme a gravidade do estádio da

endometriose (p=0,03). Resultado similar ao estudo de Vercellini et al (1996).

Porém, a dismenorréia não teve valor significativo conforme a maior gravidade da

doença (p= 0,07). Achados semelhantes foram publicados por Parazzini et al.

(2001). Wardle e Hull (1993) concluíram que, não há associação entre dismenorréia

e endometriose, porém pacientes com a doença apresentam dor pélvica mais

intensa do que aquelas com videolaparoscopia normal. O presente estudo sugere

que pacientes com endometriose confirmada, e, com clínica de endometriose e análise

histológica negativa, independente do estadiamento, apresentam maior incidência de

dor pélvica quando comparadas com pacientes com outras causas de indicação

videolaparoscópica (Grupos I e II, 98,84% e 97,79% versus 75,56% Grupo III, p =

0,0001).

A dismenorréia neste estudo foi encontrada conforme o grau da

endometriose em estádio I em 33,33% dos casos, no estádio II em 33,52%, no

estádio III 39,28% e no estádio IV em 50,0% dos casos (p = 0,23). Existe uma

57

concordância neste trabalho com os resultados encontrados por e Topalski et al.

(2002) na afirmativa de que não existe correlação positiva do grau da endometriose

com a dismenorréia. A dismenorréia neste estudo esteve presente em 37,39% das

pacientes com endometriose e em 26,71% de pacientes sem endometriose embora

sem diferença estatisticamente significativa.

Como a dor é um sintoma de avaliação subjetiva, não consideramos neste

estudo a intensidade da dor e sim o percentual de pacientes com a clínica de dor pélvica

e dismenorréia comparando-as com os diferentes estádios da endometriose pélvica.

Na avaliação das alterações clínicas, Cramer et al. (1986), confirmaram a

associação da dor pélvica, dismenorréia e infertilidade com a endometriose pélvica.

Redwine (1987b) estudou a distribuição da endometriose na pelve em grupos etários

mais suscetíveis à doença. Registrou a dor pélvica em 72% dos casos, infertilidade em

29% e dismenorréia em 45% dos casos. Joioso et al. (1997), no estudo de

manifestações clínicas da endometriose, verificaram a dor pélvica em 27% dos

casos, infertilidade em 24,1% e dismenorréia em 8,6% respectivamente. Já Stacey,

Missmer e Cramer (2003), nos seus estudos, encontraram a prevalência de

endometriose nos casos de dor pélvica em 21%, dismenorréia em 50% e infertilidade

em 50% dos casos. Foi observado, no presente estudo em pacientes com

endometriose, dor pélvica 98,84%, dismenorréia 37,39% e infertilidade primária e

secundária 26,66%.

O diagnóstico de endometriose confirmada pela histologia teve associação

estatisticamente significativa com dor pélvica crônica (p = 0,03). Porém, a dor pélvica

aguda (p=0,07), dismenorréia (p=0,23) infertilidade primária (p = 0,39) e infertilidade

secundária (p = 0,26) não tiveram significado estatístico no diagnóstico de

endometriose, concordando com os achados de Wardle e Hull (1993). Em virtude da

dor pélvica crônica e a dismenorréia tenham sido fatores decisivos para indicação da

cirurgia explica-se o alto índice de dor pélvica encontrado.

Hassa, Tanir e Uray (2004) observaram que a dor pélvica em pacientes

inférteis tem maior prevalência nos estádios mais avançados da endometriose. Entre

58

as pacientes férteis com a endometriose peritonial observou-se maior relação com a

dor pélvica.

Na avaliação de 500 mulheres inférteis, Topalski et al. (2002) realizaram

um estudo comparativo com grupo controle de 200 mulheres férteis e apontaram

uma freqüência de 32% de endometriose em mulheres inférteis e de 5% da doença

em mulheres férteis, diferença esta estatisticamente significativa (p = 0,001).

No presente estudo, infertilidade primária foi mais freqüente nos dois

primeiros grupos com suspeita clínica de endometriose comparado ao de outras

indicações da cirurgia, 23,80% e 15,26% versus 11,40% (p = 0,002), assim como a

infertilidade secundária, 6,67% e 6,11% versus 3,0% (p = 0,03).

As localizações dos implantes endometrióticos neste estudo evidenciaram

lesões nos ovários, peritônio e septo retovaginal, foi considerada a presença da

doença em um sítio até quatro sítios, após a confirmação da biópsia. Fontana

(2000), em 110 mulheres, indicou a presença da doença nos ovários em 54,94%, no

peritônio, especialmente ligamento largo e folheto posterior, em 35,1% e no

ligamento útero sacro em 28% dos casos. No “Gruppo Italiano per lo Studio dell”

Endometriose”, Parazzini et al. (2001), em 469 mulheres com endometriose,

encontraram uma freqüência de 29,6% somente no ovário, de 17,5% no peritônio, de

49,7% em ambos os ovários e peritônio, e no septo reto vaginal de 3,2%. Hassa,

Tanir e Uray (2004), na avaliação de implantes endometrióticos em 68 pacientes,

observaram a freqüência de 31% em peritônio, de 15% nos ovários e de 57% no

peritônio e ovário.

Na avaliação dos cistos ovarianos endometrióticos vários estudos foram

realizados e concluíram que a predisposição das leões do lado esquerdo foram

maiores. Vercellini et al. (1998) em 561 mulheres encontraram quanto a lateralidade,

freqüência lado esquerdo 255 casos (45,45%), lado direito 148 casos (26,38%) e

bilateral 158 casos (28,16%). O estudo em 154 mulheres, Sznurkowski (2005),

também versando sobre a lateralidade da lesão endometriótica ovariana observou

59

no lado esquerdo, 81 pacientes (52,59%), lado direito 39 pacientes (25,32%) e

lesões bilaterais em 34 pacientes (22,07%).

Trabalhos como o de Vercellini et al. (1996) referem a presença da doença

confinada aos ovários em 44% dos casos nas endometrioses estádios III e IV. Em

um trabalho comparativo na avaliação da distribuição dos cistos benignos de ovários

quanto à lateralidade, Ferrero, Ragni e Fulcheri (2005) observaram que os cistos

endometrióticos são mais freqüentes no lado esquerdo que no direito (p < 0,001) e

ainda que cistos endometrióticos bilaterais são mais freqüentes que os outros cistos

ovarianos (19,3% versus 7,2%).

No presente estudo em 345 mulheres encontramos freqüências semelhantes

quando comparamos a lateralidade do acometimento dos ovários (ovário esquerdo

25,79% versus ovário direito 22,31%) ambos os ovários (8,40%) sem diferença

estatística (p = 0,54). O estudo também resultou independente do estádio da

endometriose, maior incidência da doença no peritônio (75,36%) e no septo

retovaginal (11,88%). Conforme o estádio da doença o resultado encontrado foi; no

ovário direito maior freqüência nas formas moderada e grave do que nas formas

mínima e leve; 31,25% e 21,42% versus 6,67% e 18,18% (p = 0,02). O mesmo

foi observado no ovário esquerdo 33,93% e 30,95% versus 13,33% e 20,45%

(p = 0,04). Este resultado corrobora com Tinelli et al (2001) cujo estudo sugere que a

freqüência da endometriose ovariana é menor porém a dor tem maior intensidade

quanto maior a gravidade do acometimento.

60

6 CONCLUSÃO

Os achados do presente estudo permitem concluir que:

1. A endometriose pélvica demonstrou uma relação positiva com dor pélvica

crônica, porém, não significativa com a dismenorréia e infertilidade;

Observou-se maior freqüência da endometriose peritonial quando

comparada ao acometimento de outros locais como septo retovaginal

ou ovários;

2. Os resultados obtidos sugerem uma eficácia limitada para a

videolaparoscopia isolada, que necessitou estar associada ao exame

histopatológico para a confirmação diagnóstica da endometriose.

3. Não houve diferença na lateralidade dos casos de endometriose ovariana.

61

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Site consultado:

http/www.portalmedico.org.br/includ/consultas/CPn1_15-08-03_Endometriose.pdf

67

APÊNDICES

68

APÊNDICE A

PROTOCOLO DE VIDEOLAPAROSCOPIA

69

PROTOCOLO DE VIDEOLAPAROSCOPIA

Nome: n.o

Idade: Suspeita clínica:

Queixa principal:

( ) Dor pélvica aguda

( ) Dor pélvica crônica

( ) Infertilidade 1.a

( ) Dispareunia

( ) Infertilidade 2.a

( ) Dismenorréia

Localização da lesão na videolaparoscopia:

( ) Ligamento útero sacro

( ) Fosseta ovariana

( ) Prega vesicouterina

( ) Endometrioma ovariano

( ) Reto sigmóide

( ) Outros locais

Processos aderenciais

( ) Sim

( ) Não

Sítios da lesão:

( ) Peritônio

( ) Ligamento útero sacro D.

( ) Ligamento útero sacro E.

( ) Ovário Direito

( ) Ovário Esquerdo

( ) Septo reto vaginal

Grau da endometriose:

( ) Mínima

( ) Leve

( ) Moderada

( ) Grave

Laudo anátomo patológico:

( ) Endometriose Confirmada

( ) Endometriose Não Confirmada

70

APÊNDICE B

PROTOCOLO DE DOR PÉLVICA

71

PROTOCOLO DE DOR PÉLVICA

Data:____/____/____ Registro:_______________

Nome: __________________________________________________ DN: ____/____/____

Profissão: _________________________________________________________________

Idade: __________________________

Endereço: _________________________________________________________________

Cidade: _________________________ UF:________ CEP: ______________________

Telefone: ________________________

Escolaridade:

( ) Nenhuma

( ) 1.o grau

( ) 2.o grau

( ) Superior

Estado Civil/União:

( ) Casada

( ) Solteira (sem união estável)

( ) Solteira (sem união estável)

Cor/Raça:

( ) Branca

( ) Negra

( ) Asiática

Natural: _________________________

Tipo sangüíneo: __________________

Queixa e Duração

( ) Dismenorréia

( ) Dor pélvica aguda.....................

( ) Dor pélvica crônica: Há ( ) <6meses ( ) >6meses ( ) Tempo ______ meses

( ) Dor do meio: ______ meses

( ) Dispareunia: ( ) Penetração ( ) Profundidade ______ meses

( ) Infertilidade: ( ) 1.a ( ) 2ª Se 2.a: ______ meses

( ) Irregularidade menstrual ______ meses

( ) Alterações:

Urinárias Cíclicas ( ) Polaciúria. ______ meses

( ) Noctúria. ______ meses

( ) Pressão supra-púbica urgência miccional. ______ meses

( ) Dor vesical durante o enchimento. ______ meses

Intestinais Cíclicas ( ) Dor à evacuação. ______ meses.

( ) Constipação. ______ meses

( ) Sangramento à evacuação. ______ meses

72

Antecedentes menstruais

Menarca ______ anos

Menopausa ______ anos

Método Anticoncepcional em uso: ( ) Sim ( ) Não

( ) ACHO

( ) Injetável

( ) DIU

( ) LT

( ) Preservativo

( ) Mét. Naturais

Está em uso há __________________ meses.

Antecedentes Obstétricos

G_____ P______ C______ A_____

Parto ( ) Normal ( ) Fórceps

Aborto ( ) Provocado ( ) Espontâneo

Cirurgias anteriores:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

História Prévia de Tratamento de Endometriose

( ) Cirúrgico: ( ) Laparotomia: N.o _________________ Última há ______ meses.

( )Laparoscopia: N.o _________________ Última há ______ meses.

( ) Clínico: ( ) Análogo: Parou há ______ meses. Usou por ______ meses.

( ) ACHO: Parou há ______ meses. Usou por ______ meses.

*Atualmente em uso de: ( ) Nenhum medicamento ( ) Análogo ( ) ACHO

Patologias Associadas

( ) Sim ( ) Não

Qual(is): ________________________________________________________________

Antecedentes Familiares

( ) HAS

( ) DM

( ) Infertilidade

( ) Mal formação uterina

( ) Ca de Mama

( ) Ca de Ovário

( ) Ca de Endométrio

( ) Endometriose: Familiar: ______________________________

( ) Doença Auto-imune: _________________________________

73

Exame Físico Geral

Peso: _______ kg Altura: _______ m IMC: _______ kg/m2

PA: _______ mmHg Pulso _______ bpm Fr_______ cpm

Abdome: ( ) Dor: ___________________________________________________________

Tumoração: Tipo: __________________________________________________________

OBS.: ____________________________________________________________________

Data___/___/___ Médico ________________________________________ CRM_________

Este protocolo é utilizado no ambulatório de endometriose na Irmandade da Santa Casa de

Misericórdia de Curitiba – PUCPR.

74

APÊNDICE C

LAUDO DE EXAME/CIRURGIA

75

76

ANEXOS

77

ANEXO A

CLASSIFICAÇÃO DA AMERICAN SOCIETY FOR

REPRODUCTIVE MEDICINE, REVISADA EM 1996

78

CLASSIFICAÇÃO DA AMERICAN SOCIETY FOR

REPRODUCTIVE MEDICINE, REVISADA EM 1996

Estádio I Mínima 1 – 5

Total_____Estadiamento_______ Estádio II Leve 6 – 15

Estádio III Moderada 16 – 40

Estádio IV Grave > 40

Endometriose < 1 cm 1 – 3 cm > 3 cm

Peritônio Superficial 1 2 4

Profunda 2 4 6

Ovário D Superficial 1 2 4

Profunda 4 16 20

E Superficial 1 2 4

Profunda 4 16 20

Obliteração do FSP Parcial 4 Completa 40

Aderências < 1/3 1/3 – 2/3 > 2/3

Ovário D Velamentosa 1 2 4

Densa 4 8 16

E Velamentosa 1 2 4

Densa 4 8 16

Trompa D Velamentosa 1 2 4

Densa (1)

4 (1)

8 16

E Velamentosa 1 2 4

Densa (1)

4 (1)

8 16

(1) Se as fímbrias tubárias estiverem totalmente envolvidas por aderências, mude o escore para 16

79

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

80

Termo de consentimento livre esclarecido de acordo com o Comitê de Ética em pesquisa da

PUCPR e de acordo com a Direção Clínica do Hospital Santa Cruz Curitiba-PR.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A paciente abaixo assinada DECLARA, em atendimento ao quanto estabelecido

pelo item II da Resolução 196/96 que disciplina pesquisa envolvendo seres humanos, que

recebeu do Médico Dilermando Pereira de Almeida Filho explicações completas e

pormenorizadas a respeito da natureza, objetivos e métodos de sua pesquisa, bem como

dos riscos e incômodos que a mesma possa me acarretar, razão pela qual dá, sem qualquer

constrangimento a sua total e voluntária anuência para participar da pesquisa.

Curitiba, ______ de __________de 2003.

Nome ________________________________________________ RG:_________________

Endereço _______________________________________________ N.o________________

Telefone _______________ CEP________________ Cidade ________________________

Testemunha: _______________________________________________________________

81

ANEXO C

TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA

82