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JORNAL DO TEATRO SETEMBRO DE 2007 ^ BIMESTRAL PUBLICAÇÃO GRATUITA 14 Emmanuel Demarcy-Mota estreia TANTO AMOR DESPERDIÇADO de William Shakespeare

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TANTO AMOR DESPERDIÇADO Emmanuel Demarcy-Mota estreia de William Shakespeare JORNAL DO TEATRO SETEMBRO DE 2007 ^ BIMESTRAL PUBLICAÇÃO GRATUITA

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Emmanuel Demarcy-Mota estreia TANTO AMOR DESPERDIÇADO de William Shakespeare

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DIRECÇÃO> Conselho de Administração do TNDM II COORDENAÇÃO EDITORIAL> A. Ribeiro dos SantosREDACÇÃO> A. Ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos Reis (colab.), Ricardo PaulouroDOCUMENTAÇÃO> André CamecelhaCOORDENAÇÃO DE IMAGEM> Joana EstevesGRAfISMO> Nuno PatríciofOTOGRAfIA> Margarida DiasPROPRIEDADE> TNDM II, EPE

CAPA> fotografia de ensaio “Tanto Amor Desperdiçado”CONTRACAPA> fotografia de ensaio “Sweeney Todd”

ficha técnica

editorial (Re)começos na nova temporada

A aproximação de uma nova temporada reveste-se sempre de grande expectativa. Tra-çam-se novos objectivos, fazem-se balanços e, acima de tudo, deseja-se sempre algo mais que continue a aproximar os espectadores do teatro em Portugal. É certo que, como tem vindo a ser provado por vários estudos, continua a persistir a mentalidade que é contra a mudança. Facto paradoxal, sobretudo pela História que conta o nosso passado. O “medo de existir”, do pensador José Gil, refere-se, de algum modo, à não inscrição das coisas na história e na existência individual.

Mas a dimensão humana continua a ser alcançada pela arte, sendo o teatro uma das suas melhores concretizações. “A Minha Mulher”, de José Maria Vieira Mendes, reforça justamente a dimensão humana e familiar que é comum a todos. Vencedora do Prémio António José da Silva, numa parceria do TNDM II com o Instituto Camões, a Direcção-Geral das Artes e a Funarte (Brasil), esta produção reflecte a internacionalização de um criador português cuja peça faz carreira em Lisboa, seguida de uma carreira no Brasil. Dois países, com uma História comum, abrem novas portas na cultura, e isso é para nós motivo de orgulho e de satisfação, não só pela projecção de um jovem e já promissor dra-maturgo, como pelo estabelecimento de redes culturais ao nível internacional.

Tal é o caso da grande produção que o TNDMII apresenta em conjunto com La Comé-die de Reims, o clássico de William Shakespeare, “Tanto Amor Desperdiçado”. Emmanuel Demarcy-Mota regressa ao palco do Teatro Nacional, após ter marcado a sua presença nas duas edições da MITE (Mostra Internacional de Teatro), com “Rhinocéros”, de Ionesco e “Homme Pour Homme”, de Bertolt Brecht. Justamente, essa será talvez a principal característica a reter relativamente a esta produção: a partir das cumplicidades estabele-cidas, nasce agora uma produção que aproxima dois países como Portugal e França, sob a direcção de um grande artista como o é Demarcy-Mota. Em “Tanto Amor Desperdiça-do”, Emmanuel Demarcy-Mota articulou, como poucos o saberiam fazer, duas línguas e duas culturas que convivem no mesmo palco, uma equipa artística e técnica portuguesa e francesa. Acolhendo talvez a melhor opção – um espectáculo bilingue – consegue-se aqui um efeito de diversidade que resulta, curiosamente, numa unidade onde a língua é virtuosa, com o trabalho de tradução de Nuno Júdice e François Regnault.

Dez anos depois, o público português tem oportunidade de ver uma nova versão do musical “Sweeney Todd” que, para muitos, ficou gravado na memória. Com versão por-tuguesa de João Lourenço, Vera San Payo de Lemos e José Fanha, a história do terrível barbeiro de Fleet Street, com música e letra do mundialmente reconhecido Stephen Son-dheim, conhece tradução em português, numa parceria com o Teatro Aberto, um trabalho onde é de ressalvar o dinamismo de um director como João Lourenço que tornou possível a realização deste grande espectáculo.

Destaque ainda para “Boneca”, uma versão de Nuno Cardoso, a partir de Ibsen, um texto clássico da nossa dramaturgia, ou para o leque de propostas apresentadas quer no Teatro da Politécnica, quer no Palácio Nacional de Mafra, com a reposição do sucesso que já é “O Memorial do Convento”, inseridas numa das mais importantes linhas de progra-mação – “Teatro, Educação e Comunidade”. É, justamente, em nome de um serviço pú-blico à comunidade que o TNDM II assume a gestão artística do Teatro Villaret, durante os próximos dois anos. Porque a nossa missão enquanto Teatro Nacional reside também aí: olhar em redor, criar novos públicos, impedir que os teatros fechem. Ao falarmos de um espaço como o Teatro Villaret, referimo-nos a um teatro que, em dois meses, tem a capa-cidade para acolher 23 040 espectadores. Torna-se assim imprescindível preservar esta casa do teatro em Lisboa, abri-la novamente a todos, inclusive ao público mais jovem. Porque o serviço público, no sentido em que empregamos esta expressão, é um espaço de comunicação, um lugar de transformação individual, cujo poder é o de transformar e de se tornar múltiplo, pondo à prova, todos os dias, a sua própria “verdade”.

Carlos fragateiro

sumário4 > 5 Tanto Amor Desperdiçado

6 > 7 A Minha Mulher

10 > 11 Boneca, no Teatro da Politécnica

12>13 Teatro para a famíliaO TNDM II apresentará, nos próximos meses, uma programação diver-sificada para jovens e menos jovens. Assim, reunindo o interesse dos espectadores de todas as idades, o encenador argentino Claudio Ho-chman dirige um espectáculo a partir de William Shakespeare: “Sonho de uma Noite de Verão”. Trata-se de um trabalho que pretende desper-tar o prazer de ver teatro e que se oferece como primeira abordagem dos mais jovens à leitura das complexas peças do bardo isabelino. No Palácio Nacional de Mafra, o espectáculo “Memorial do Convento”, de filomena Oliveira e Miguel Real, a partir de José Saramago, vai re-gressar à cena para uma nova temporada, destinada sobretudo a servir os públicos pré-universitários. finalmente, no espaço da Politécnica, o Teatro Nacional apresentará uma programação virada para a revelação dos grandes temas da ciência: “O que sabemos” Conferência de R. feynman (de 28 de Set. até 15 de Dez.).

14 Notícias e lançamentos da Livraria do Teatro 15 Programação

4 >5 Tanto AmorDesperdiçadoÉ o regresso do encenador Emmanuel Demarcy-Mota à Sala Garrett, desta feita num espectáculo que assinala a colaboração entre o Teatro Nacional D. Maria II e La Comédie de Reims e que juntará, no mesmo palco, ac-tores de ambos os países em volta de um clássico de William Shakespeare muito pouco representado entre nós. A comédia, que relata o encontro amoroso entre dois grupos da nobreza francesa e espanhola, será dita no palco do Teatro Nacional em registo bilingue: portu-guês e francês, sendo que a tradução do texto português é assinada pelo poeta Nuno Júdice. O espectáculo, com legendagem, fará carreira em Lisboa até 28 de Outu-bro, partindo depois para frança, onde se apresentará no espaço da Comédie de Reims.

6>7 A Minha MulherA peça que ganhou a primeira edição do Prémio António José da Silva e que inicia a troca regular – entre Por-tugal e o Brasil – de dramaturgos de ambos os países, é da autoria de um dos mais promissores jovens escri-tores portugueses: José Maria Vieira Mendes, que tem feito uma carreira exemplar no teatro português e que aqui nos apresenta um texto que questiona as razões profundas do eterno conflito geracional e apresenta a fa-mília como sistema que se perpetua nas suas formas de funcionar, tantas vezes irracionais. O espectáculo tem lugar marcado para a Sala Estúdio do Teatro Nacional e será dirigido por uma encenadora que reparte os seus talentos entre o teatro e o cinema, Solveig Nordlund, que nos últimos anos tem assinado espectáculos prefe-rencialmente intimistas.

8>9 Sweeney Todd João Lourenço encena o musical “Sweeney Todd” de Stephen Sondheim, que conta uma história já elevada à categoria de mito: a história de um homem que, in-justamente castigado pela sociedade, arquitecta uma vingança sem precedentes e consegue lançar o pânico na capital inglesa, ao livrar-se dos seus inimigos sem deixar quaisquer vestígios dos seus crimes. O TNDM II é parceiro desta aventura que terá direcção musical do maestro João Paulo Santos.

10>11 BonecaO clássico com que Henrik Ibsen chocou a sociedade do século XIX vai ser revisto pelo encenador Nuno Car-doso, que apresentou recentemente, no Teatro Nacional D. Maria II, “Ricardo II”, de William Shakespeare. No pa-pel principal, estará Ana Brandão, actriz que deu corpo a Annie da Silva Pais em “A filha Rebelde” e que agora tem pela frente o desafio de dar corpo a uma mulher que tem de quebrar todos os laços e de romper total-mente com o seu passado, para se reconstruir enquanto pessoa. O espectáculo é co-produzido pelo TNDM II, Cassiopeia, Centro Cultural Vila flor e Theatro Circo e fará carreira em Lisboa, no Teatro da Politécnica.

14 > TNDMII > 03

8 > 9 Sweeney Todd

12 > 13 Teatro para a família, no Palácio Nacional de Mafra

Tanto Amor DesperdiçadoEmmanuel Demarcy-Mota encena o clássico de William Shakespeare

com um elenco que junta actores portugueses e franceses

A. Ribeiro dos Santos

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> De 20 de Setembro a 28 de Outubro

Um colectivo formado por ac-tores portugueses e franceses dará corpo, na Sala Garrett, de 20 deste mês a 28 do próximo, a um clássico menos conhecido de William Shakespeare e que assi-nala a primeira co-produção en-tre o Teatro Nacional D. Maria II e La Comédie de Reims, estrutura francesa dirigida por Emmanuel Demarcy-Mota. O encenador, que já nos trouxe leituras cénicas de “Rhinocéros”, de Eugene Iones-co, e “Homme pour Homme”, de Bertolt Brecht, apresentará desta feita a sua versão de “Tanto Amor Desperdiçado”, uma comédia que escapa um pouco aos padrões convencionais – não termina em casamento, por exemplo – e cujo tema principal é o amor e a lin-guagem. O enredo é simples: uma delegação da corte francesa di-rige-se à corte de Navarra para discutir a posse da Aquitânia, mas, inesperadamente, o amor acontece, e as questões políticas vêem-se repentinamente secun-darizadas, em nome do coração.

Sendo este um trabalho reali-zado por equipas criativas de dois países e destinado a ser apresen-tado tanto em Portugal como em França, para plateias portugue-sas e francesas, o resultado será bilingue – algo que Emmanuel há muito cobiçava fazer e que, garante, não ofereceu grandes dificuldades. Até porque a acção da peça já contempla essa possi-bilidade. “No texto, assistimos ao confronto entre dois grupos com culturas diferentes, e que se se-duzem de forma distinta. Como é que o amor nasce num contexto desta natureza? Foi a própria peça de Shakespeare que despertou em mim o desejo de trabalhar os encontros entre as personagens e as suas consequências segundo uma pertinência linguística. As-sim, por exemplo, a atracção fí-sica entre os dois grupos na peça torna-se mais forte graças ao trabalho sobre as diferenças lin-guísticas. Além disso, o facto de “Tanto Amor Desperdiçado” ser representado em francês e em português é, para mim, uma ten-tativa para valorizar as músicas das duas línguas”, explica.

Ao texto – para o qual foi pedida uma nova tradução portuguesa ao poeta Nuno Júdice – junta-se um

grupo de actores lusos, vindos de horizontes diferentes, que o en-cenador diz ter escolhido também pela sua capacidade de integrar o grupo e de se prestar a toda a espécie de experiências interpre-tativas. “Preocupa-me constituir um grupo de trabalho que se arti-cule bem, constituído por pessoas que tenham abertura para ensaiar e experimentar coisas diferentes. Inclusivamente esta aventura de ter de usar outras línguas. A di-ficuldade em constituir um grupo com actores de países diferentes transforma-se num trampolim para a interpretação e a invenção. O bilinguismo parece-me ser uma nova porta para o teatro hoje em dia. As línguas devem sempre atravessar as fronteiras.”

Importante, também, é a dis-ponibilidade física dos intérpre-tes, já que os espectáculos de Emmanuel Demarcy-Mota solici-tam muito os actores: “Fui sempre um espectador atento de teatro e também de dança contempo-rânea. E tentei sempre provocar o corpo dos actores no espaço teatral para criar significados e desenvolver as oposições entre a palavra e o corpo.”

Sobre Shakespeare, de quem o encenador já fez “A Midsummer Night’s Dream”, “Love’s Labour’s Lost”, “Much Ado About Nothing”, Emmanuel diz que lhe interessa, acima de tudo, como exemplo de liberdade criativa. “Shakespeare é uma inspiração. Deve ser um dos autores da História do Teatro que trabalhou com maior liberda-de, quer na elaboração das peças, quer na construção das persona-gens. Inspirou-se em aconteci-mentos reais e em figuras histó-ricas mas usou-os livremente”, comenta. “Depois, obrigou os actores a uma grande mobilidade interpretativa. As suas persona-gens são extremamente expressi-vas, estão em mudança constan-te de registo. Em “Love Labour’s Lost”, onde tudo o que é perdido é ganho ao mesmo tempo, será tal-vez essa a lógica do amor: o amor pela poesia, a poesia pelo amor. Não há outra lição. A língua é feita para ser desfrutada e o amor dá-se bem com ela. E aqui o teatro é a união dos dois.”

Perfil NUNO JúDICE Poeta e ficcionista, formado em filologia Românica e Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa, publicou o primeiro livro de poesia em 1972 e, desde então, tem mantido uma pre-sença regular no mundo editorial português. Recebeu os principais prémios de poesia portugue-ses, tendo também sido distinguido na qualidade de romancista (Prémio Bordalo da Casa da Imprensa ou Prémio da Crítica da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, entre outros). Em teatro, publicou as obras “flores de Estufa” e “Teatro”, e traduziu as peças “Sertório” e “Ilusão Cómica”, ambas de Pierre Corneille, e “D. João”, de Molière.

Perfil fRANÇOIS REGNAULT Com Emmanuel Demarcy-Mota, já traduziu “ Léonce et Léna” de Büchner, “Six Personnages en Quête d’Auteur” de Pirandello, “Homme pour Homme” de Bertolt Brecht. “Agrégé” de filosofia, professor no Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII. Trabalhou como escri-tor, tradutor e colaborador artístico com Patrice Chéreau e Brigitte Jaques. Co-dirigiu o Théâtre de la Commune Pandora em Aubervilliers, de 1991 a 1997. É autor de traduções, publicações e escritos sobre teatro, nomeadamente : “Dire le vers, avec Jean-Claude Milner” (Le Seuil, 1987), “Le Théâtre et la Mer” (autour du Soulier de Satin) (Imprimerie Nationale, 1989), “Théâtre-Equi-noxes” (Actes Sud, 2001), “ Théâtre-Solstices” (Actes Sud, 2002).

Tanto Amor Desperdiçado

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Perfil EMMANUEL DEMARCy-MOTADirector do Centro Dramático Nacional – La Comédie de Reims, desde 2002, é um encenador cujo trabalho prima simultaneamente pelo rigor com que persegue o sentido da palavra – e a respectiva elocução – e pela inventividade cé-nica. formado em filosofia, levou à cena textos de Ramuz, Peter Weiss, Georg Büchner e William Shakespeare, de quem trabalhou – para além de “Tanto Amor Desperdiçado” – os textos “Sonho de uma Noite de Verão” e “Muito Baru-lho para Nada”. Desenvolveu uma colaboração regular com um jovem autor, fabrice Melquiot, de quem encenou várias peças. Em Portugal, apresentou “Seis Personagens à Procura de Autor”, de Pirandello, “Rinoceronte”, de Ionesco, e “Homem Vale Homem”, de Bertolt Brecht, estes dois últimos no Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito da Mostra Internacional de Teatro. A encenação de “Peine d’Amour Perdue” recebeu o prémio de Revelação de Teatro, pelo Sindicato Nacional da Crítica Dramática e Musical.

de WILLIAM SHAKESPEARE tradução para Português NUNO JúDICE tradução para Francês fRANÇOIS REGNAULT encenação EMMANUEL DEMARCy-MOTA cenografia e desenho de luz yVES COLLET música original JEffERSON LEMBEyE figurinos CORINNE BAUDELOT

com ANA DAS CHAGAS, AURÉLIE MERIEL, CLÁUDIO DA SILVA, DALILA CARMO,ELMANO SANCHO, GUSTAVO VARGAS, HEITOR LOURENÇO, HORÁCIO MANUEL,MARCO PAIVA, MARIA JOÃO PINHO, MIGUEL MOREIRA, MURIEL INES AMAT,NELSON MONfORTE, NUNO GIL, SARAH KARBASNIKOff e VÍTOR D’ANDRADE

co-produção TNDM II > LA COMÉDIE DE REIMS com o apoio da CULTURESfRANCE

SinopseO Rei de Navarra, acompanhado por três jovens príncipes, faz o juramento de se dedicar exclu-sivamente ao estudo durante três anos: pouco sono, pouca comida e nenhum contacto com o sexo feminino é o contrato que os une. A Princesa de frança, acompanhada por jovens damas da sua Corte, vem negociar em nome do seu pai, Rei de frança, o domínio da Aquitânia, per-turbando para sempre este cenário. Os quatro homens apaixonam-se secretamente pelas quatro mulheres mas são obrigados a esconder os seus sentimentos uns dos outros – para não falhar ao juramento combinado. Depois de um encontro onde homens e mulheres se disfarçam, desenham-se os vários pares amorosos mas, no meio da festa, anuncia-se a morte do Rei de frança. A Princesa terá de re-gressar ao seu país e as damas impõem aos seus apaixonados um ano de afastamento, como nova prova de amor.

Sobre William Shakespeare (1564-1616)O nome de William Shakespeare associa-se a teatro a partir de 1592, altura em que a sua reputação é conhecida nos palcos londrinos, sobretudo como autor, embora também gostasse de representar. Numa altura em que a profissão teatral era emergente e havia muita procura de dramaturgos, Shakespeare vendia os seus escritos e era tão bem sucedido que, em 1594, torna-se sócio da companhia de Lord Chamberlain’s Men. Entre 1594 e 1598, escreve alguns dos seus textos mais importantes, entre os quais “Tanto Amor Desperdiçado”, “Sonho de uma Noite de Verão”, “Romeu e Julieta” e “Ricardo II”. Em 1598, a sua companhia muda-se para a zona sul do rio Tamisa e aí constrói The Globe, dando início ao período mais florescente da escrita de Shakespeare. Entre 1599 e 1608, escreve “Muito Barulho por Nada”, “Tudo Está Bem Quando Acaba Bem”, “Júlio César”, “Hamlet”, “Otelo” ou “Coriolano”. A companhia passa a ser patrocina-da pelo próprio rei, mas em 1613 o Globe é destruído pelo fogo e Shakespeare, que perdera o ascendente no panorama teatral londrino, retira-se para Stratford, onde morre em 1616.

Fotografia de ensaio de “Tanto Amor Desperdiçado”

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> Prémio António José da Silva, de 19 Setembro a 14 de Outubro, na Sala Estúdio

“A Minha Mulher” é a primeira parte de uma trilogia de José Maria Vieira

Mendes sobre a família. É um

olhar geracional. É uma visão

sobre a relação entre pais e filhos,

sobre a tensão entre o passado e

o futuro. Isto porque “não há

uma recordação perfeita”

Margarida Gil dos Reis

A Minha Mulher

Em 2003, José Maria Vieira Mendes trazia ao palco uma peça, reflectindo sobre o começo da vida adulta, que mostrava como a vida podia ser cruel no espaço exíguo de um “quarto e sala”. Todas as personagens estavam presas nas relações humanas caóticas e no espaço sufocante de um aparta-mento-modelo contemporâneo Quatro anos depois, com um ex-tenso trabalho feito pelo meio, “A Minha Mulher” reescreve a rela-ção entre gerações, o perdido e o incerto, o fim das ilusões. Tra-ta-se, afinal, da “ideia de que se está sempre a escrever a mesma peça”.

A obra resultou num livro pu-blicado recentemente na Cotovia, na colecção Livrinhos de Teatro/Artistas Unidos, em conjunto com

outro título igualmente pertur-bante, “Onde Vamos Morar”. Per-turbante porque se percebe que “o doce dilema de uma geração” é, afinal, irresolúvel.

“Há tempos ouvi Bruno Ta-ckels, crítico e filósofo francês, numa conferência dedicada ao dramaturgo Jean-Luc Lagarce, falar de uma geração sem pais, ou onde os filhos se acham de certo modo órfãos, porque o ‘pai’ deixou de desempenhar o papel de muro a abater. É um pai que não quer ser pai. É esse o doce dilema da minha geração, parece-me.”

“A Minha Mulher” é a primeira parte de uma trilogia, seguida de “O Avarento”, uma adaptação de Molière que fez para o Teatro Pra-ga e que subiu a 27 de Junho ao palco do Teatro Nacional S. João,

e concluída com “Onde Vamos Mo-rar”, a ser apresentada pelos Ar-tistas Unidos no final do ano. “Abri com ‘A Minha Mulher’, abordando o tema de um modo mais parti-cular, mais ‘familiar’, e tentando pensar sobre a relação entre pais e filhos no meu tempo e no meu país”, diz Vieira Mendes.

Este drama familiar, apresen-tado pela primeira vez na Suécia, venceu, por unanimidade, o Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva (2007) criado pelo Instituto Camões e a Fundação Nacional de Arte do Brasil (Funar-te), em colaboração com a Direcção Geral das Artes e o TNDM II. “Não consigo pensar numa escrita que não reflicta em si os problemas que encontra enquanto se faz”, reforça José Maria Vieira Mendes.

O espectador-leitor começa por encontrar uma família reu-nida à noite na sala de uma casa de férias. Nuno e a sua mulher, Laura, o pai e a mãe de Nuno par-tilham um espaço tão aglutinador quanto as suas relações. Presos nesse espaço (cá fora, os mosqui-tos ameaçam-nos, “atravessam as paredes”) e na noite (é quase sempre noite), os horizontes de vida tornam-se tão sufocantes como a sala onde todos falam e ninguém se ouve. A chegada do amigo, Alexandre, é mais um mo-tivo para a indefinição das rela-ções e dos objectivos da geração mais nova, afinal “temos de povo-ar para provar a existência e ga-rantir o futuro, não é assim?”

Para Vieira Mendes, a repetição funciona aqui como um “meca-

nismo de escrita”. “Sempre quis fazer uma peça inspirada na ideia das ‘Variações’ musicais – e Bach será o exemplo mais conhecido. Interessava-me trabalhar uma se-gunda parte da peça que repetisse a primeira, cujas cenas começas-sem em ambas as partes com as mesmas falas, mas uma pequena variação contribuísse para uma guinada e um acrescento narrati-vo. Apareceu depois Kierkegaard que me ajudou a ligar a ideia da repetição à ideia da recordação”.

O leitor que abra o livro come-ça por encontrar uma epígrafe, justamente, de Kierkegaard, onde repetir é recordar. Mas “há sem-pre qualquer coisa que falha, por-que não há recordação perfeita”.

A partir daqui compreendemos que essa é a melhor forma para

SinopseUm pai, uma mãe, o fi-lho destes, a sua mulher e um amigo de família, todos numa casa de férias, num Verão quen-te. Os dias repetem-se, pastosos, secos e amargos, num carrossel fechado e agoniante. Noites intermináveis de discussões interminá-veis e por baixo do tom irónico e espirituoso das conversas, há uma tremenda mordacidade e uma luta pelo poder.É uma peça sobre o embate travado por duas gerações, uma reflexão sobre a memó-ria, sobre a repetição e o amor.

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> Prémio António José da Silva, de 19 Setembro a 14 de Outubro, na Sala Estúdio 14 > TNDMII > 07

de JOSÉ MARIA VIEIRA MENDESencenação SOLVEIG NORDLUNDcenografia ULISSES COHNfigurinos ANA PAULA ROCHAbanda sonora PEDRO MARQUES desenho de luz CARLOS GONÇALVEScom DINARTE BRANCO, ISABEL MUÑOZ CARDOSO, JOANA BÁRCIA, JOÃO LAGARTO e JOSÉ AIROSA

co-produção TNDM II > DGArtes > fUNARTE parceria INSTITUTO CAMÕESprémio ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

A Minha MulherPerfil José Maria Vieira MendesNascido em 1976, José Maria Vieira Mendes dedica-se à escrita e à tradução para teatro. Escre-veu “Dois Homens”, “Morrer”, “Crime e Castigo”, “Lá Ao fundo o Rio e Chão”, “T1”, “Duas Pági-nas” (2007), “O Avarento ou A última festa – Comédia em Cinco Actos” (2007) ou as peças curtas “Proposta Concreta” (2005), “Intervalo” (2006) e “Domingo” (2007). Traduziu “À Espera de Godot” de Samuel Beckett, três peças curtas de Duncan McLean (com Clara Riso), “Vai Vir Al-guém” de Jon fosse (com Solveig Nordlund), “Comemoração” de Harold Pinter e “filoctetes” de Heiner Müller, sendo um dos responsáveis pela nova edição portuguesa do Teatro de Bertolt Bre-cht nos Livros Cotovia. O seu trabalho no teatro está desde sempre e de vários modos ligado aos Artistas Unidos e também, mais recentemente, ao Teatro Praga. Em 2000, frequentou a Internatio-nal Summer Residency do Royal Court Theatre de Londres e esteve, em 2005, em Berlim, com uma bolsa da fundação Calouste Gulbenkian. foi distinguido com o Prémio Revelação Ribeiro da fonte 2000 do Instituto Português das Artes do Espectáculo, Prémio ACARTE/Maria Madalena Azeredo Perdigão 2000 da fundação Calouste Gulbenkian, Prémio Casa da Imprensa de 2005 para a área de Teatro, e Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva 2006, pela peça “A Minha Mulher”. A sua obra, mais especificamente a peça “T1”, foi traduzida para inglês, francês, italiano, espanhol, polaco, norueguês e alemão. “A Minha Mulher” conhece tradução em inglês, sueco, francês, eslovaco e italiano. Obras suas foram já representadas, recentemente, na Alemanha (Berlim) e na Suécia (Estocolmo). Algumas das suas peças encontram-se publicadas na colecção Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos/Livros Cotovia, casos de “T1”, “Se o mundo não fosse assim”, “A minha mulher” e a sua mais recente peça “Onde vamos morar” (estreia prevista para fevereiro de 2008 pelos Artistas Unidos).

definir as relações entre as per-sonagens desta peça: falha. Não interessa quem são aquelas per-sonagens ou porque não nos con-seguimos afastar dos seus diálo-gos. A palavra é acutilante, nem sempre racional. Estamos peran-te uma inquietação, uma “falha” que não sabemos porque existe mas que sabemos ser real.

O desafio de Solveig Nordlund

A encenadora e cineasta Solveig Nordlund lançou-lhe o desafio: adaptar “Brincar com o Fogo”, uma das peças mais autobiográficas de Strindberg. Mas dessa leitura, e de tantas outras, nasceu “A Minha Mu-lher”. “Ficou a casa de verão, ficou o núcleo familiar, a promiscuidade, parte das relações entre eles e não sei dizer mais o quê”.

Numa estrutura quase labirín-tica, são muitas as perguntas que se podem colocar. O que é que não se pode repetir? Repete-se para esquecer, mas serão os instantes, o amor, as palavras, repetíveis? Quem é afinal esse outro com quem se partilha uma casa? Qual é a verdade? A do tempo, a de que morremos quando nascemos?

‘A Minha Mulher’ “esconde parte da peça, parte da acção. Interessa-me o teatro que conta com o espec-tador. É o espectador que completa esta peça”, acrescenta Vieira Men-des. Que fazer para a completar? Voltar ao início ou, como diz o Pai: “E pomo-nos a pensar e dá que pensar, sabes, dá que pensar esta sensação de que nos estamos a re-petir.”

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> De 5 de Out. a 30 de Dez., na Sala Azul do Teatro Aberto

Pensa-se que a história de “Sweeney Todd” terá as suas ori-gens remotas no século XV, numa balada medieval francesa, can-tada primeiro pela tradição oral e depois por cantores populares que narravam a lenda de um ter-rível barbeiro que matava os seus clientes e utilizava os seus corpos para o recheio de empadas feitas por uma mulher, sua cúmplice. “Le Jeune Homme Empoisonné” (O Jovem Envenenado), uma bala-da para assustar as crianças, deu origem a várias versões, a partir do século XIX. Publicada, primei-ro, em forma de folhetim, e de-pois apresentada no cinema e em peças radiofónicas, a história de Sweeney Todd permaneceu, até aos nossos dias, envolta em mis-

tério e terror. A versão de 1979, do compositor Stephen Sondheim, que sobe agora ao palco da Sala Azul, no Teatro Aberto, contribuiu para tornar esta história lendária também um marco no teatro mu-sical.

O ‘thriller’ musical estreou a 1 de Março, no Uris Theatre, em Nova Iorque, e, para além de ter sido distinguido com vários pré-mios, manteve-se em cena com mais de 500 representações. A sétima obra da carreira músico-teatral de Sondheim, baseada na peça de Christopher Bond, faz hoje a crítica hesitar entre o “ex-celente musical” e uma “autênti-ca ópera”. Conjugando, de forma invulgar, a tragédia com a comé-dia e com a música, utilizada de

forma contínua mesmo enquanto se fala, a vida de Sweeney Todd, sem esperança e sem sentido, atrai o público pela forma como a personagem principal alcança, progressivamente, o estatuto de herói trágico. Assassino em série, Sweeney Todd é, também, uma vítima da sociedade corrupta em que se deseja vingar, ficando em aberto se a sua regeneração mo-ral teria ou não lugar.

Levada ao palco em Outubro de 1997, numa versão de João Lou-renço, Vera San Payo de Lemos e José Fanha, esta peça regressa numa nova produção, mostrando como a sátira político-social, con-jugada com a inventiva teatralida-de da música, continua fascinante e actual.

Repleto de surpresas, eis um ‘thriller’ musical de paixões e vingança que reflecte a violência

que se apoderou da sociedade. Uma história espantosa que

regressa ao palco dez anos depois da sua estreia em Portugal

Ricardo Paulouro

SinopseDepois de anos passa-dos nas galés devido a uma condenação injusta, Sweeney Todd regressa a Londres para procurar a mulher e a filha e se vingar daqueles que lhe destruíram a vida. A sua vingança manifesta-se em múltiplos crimes que o tornaram conhecido como “o terrível barbei-ro de fleet Street”.Sweeney Todd é um thriller musical cheio de acção e emoção, com uma partitura inspirada e momentos de comé-dia, tragédia, tensão dramática e crítica so-cial que lhe conferem as características especta-culares do teatro total.

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de STEPHEN SONDHEIM libreto HUGH WHEELERadaptação CHRISTOPHER BOND versão JOÃO LOURENÇO, VERA SAN PAyO DE LEMOS e JOSÉ fANHAencenação JOÃO LOURENÇOdirecção musical JOÃO PAULO SANTOScenografia JOCHEN fINKE figurinos RENÉE HENDRIXdramaturgia VERA SAN PAyO DE LEMOScoreografia CARLOS PRADOcom MÁRIO REDONDO, MARCO ALVES DOS SANTOS, SÍLVIA fILIPE, ANA ESTER NEVES, JOSÉ CURVELO, CARLOS GUILHERME, CARLA SIMÕES, HENRIQUE fEIST e TIAGO SEPúLVEDA

co-produção TNDM II > TEATRO ABERTO

Stephen Sondheim e o teatro musical Compositor e letrista norte-americano, nascido em Nova Iorque, Stephen Sondheim contactou, desde muito jovem, através de Oscar Hammerstein II, com o teatro musical. formado no Williams College, estudou ainda Teoria e Composição com Milton Babbit. Na sua obra, são muitos os musi-cais para os quais escreveu a música e a letra. “A funny Thing Happened on the Way to the forum”, “Company”, “A Little Night Music”, “follies”, “Sweeney Todd”, “Into the Woods”, “Sunday in the Park with George” e “Assassins”, bem como as letras para “West Side Story” e “Gypsy” são apenas al-gumas das suas composições mais conhecidas. Definido pela crítica como um dos maiores artistas do teatro musical americano, Sondheim ganhou vários Tony Awards, o Prémio Pulitzer (1985), o Prémio da Academia para a Melhor Música, “Sooner or Later”, no filme “Dick Tracy” (1990), entre outros. “Sweeney Todd” recebeu o Grammy Award e o Tony Award, em 1979. Tendo-se dedicado, sobretudo, ao teatro musical, onde se distingue pelas inovações e incursões em vários estilos, Ste-phen Sondheim tem visto algumas das sua peças, especialmente “Sweeney Todd”, apresentadas em salas de ópera em todo o mundo.

Iniciou-se na rádio, em 1952, como intérprete da Emissora Nacional mas, logo em 1957, es-treou-se no teatro, na Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro (TNDM II), em “D. Inez de Portu-gal”, de Alexandre Casona, en-cenado por Robles Monteiro. Em 1966/67 funda, com Irene Cruz, Rui Mendes e Morais e Castro, o Grupo 4 mas não deixa de se estrear, em 1973, como encenador, na Casa da Comédia com a peça “Oh Papá, Po-bre Papá a Mamã Meteu-te no Ar-mário” e “Eu Estou Tão Triste”, de Arthur Kopit. João Lourenço ocupa hoje um lugar de destaque no te-atro em Portugal pela construção, em 1974, de um novo teatro em Lisboa: o Teatro Aberto, que funda com Melim Teixeira, Francisco Pes-tana e Irene Cruz (a cooperativa de teatro Novo Grupo). Premiado com várias distinções de melhor ence-nador e melhor espectáculo, dirige agora, numa co-produção do TND-MII e o Teatro Aberto, um grande espectáculo que esteve nos princi-pais palcos de todo o mundo.

Quais os motivos que o levaram a dirigir, dez anos depois da estreia em Portugal, esta produção?

“Sweeney Todd” é um “objecto” musical muito especial. Tanto a sua música como a sua história deixam sempre em quem a ouve e a vê a vontade de a voltar a ouvir e a ver. Depois de ter feito o espectácu-lo há 10 anos, pensei várias vezes em voltar a fazê-lo, exactamente pelo fascínio que ele produz. Outro motivo é aquilo que na história de Sweeney Todd permanece actu-al: as diversas motivações para o exercício da justiça pelas próprias mãos, o poder, o dinheiro, a vingan-ça passional etc., temas que, infe-lizmente, continuam na ordem do dia. A estes dois motivos junta-se um outro, que para mim é funda-mental: o factor artístico, a possibi-lidade de criar um espectáculo que convoca muitas artes (e por isso se torna também dispendioso e difícil de realizar) com o maestro João Paulo Santos, o cenógrafo Jochen Finke e a figurinista Renee Hendrix, o coreógrafo Carlos Prado, a Vera

San Payo de Lemos e o José Fa-nha na transposição da ópera para português, e com um maravilhosos conjunto de cantores, actores, bai-larinos e uma orquestra ao vivo.

Na sua opinião, quais as carac-terísticas que melhor definem este espectáculo?

É para mim a ópera que possui o argumento mais empolgante e imprevisível que eu conheço. A mú-sica está muito bem entrosada na acção. Para mim é o melhor traba-lho de Stephen Sondheim.

O que mudou, em termos de opções estéticas e artísticas, nesta nova produção?

Tudo ou quase tudo. A música é a mesma, claro, mas vejo que o João Paulo Santos a está a dirigir de um modo diferente. O cenário e os figurinos têm uma concepção mais actual e mais iconográfica. É preciso ver que passaram 10 anos e eu próprio, a dirigir o espectácu-lo, tenho um olhar diferente sobre as personagens e o espectáculo no seu conjunto.

A crítica tem considerado esta peça como um espectáculo inova-dor em termos de género teatral. Em que reside esta inovação?

“Sweeney Todd” é e será sem-pre um espectáculo inovador, por-que a sua história e a sua música permitem múltiplas interpretações e abordagens estéticas. É uma obra que só pode ser cantada e representada por cantores com formação musical, mas que tanto pode ser apresentada num teatro, como uma peça de teatro musical, como numa sala de ópera, como um espectáculo de ópera. Em Lon-dres, por exemplo, a peça tanto pode estar 5 dias na Royal Opera House em Covent Garden como 3 ou 4 meses no National Theatre. Existe em “Sweeney Todd” aquela fórmula mágica que determinados espectáculos, de cinema, teatro ou música, têm: quem o viu, nun-ca mais o esquece! É uma máxima que, de facto, se aplica a esta his-tória com música do Terrível Bar-beiro de Fleet Street.

João Lourenço dirige “Sweeney Todd”“Quem o viu nunca mais o esquece!”

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> Estreia em Guimarães 14 > TNDMII > 11

Perfil Ana BrandãoA cantora-actriz tem o curso de formação de actores do Insti-tuto franco-Português e uma vasta experiência teatral: traba-lhou com a companhia A Barraca, integrou o elenco do teatro O Bando durante quatro anos, e foi dirigida por encenadores como João Brites, Hélder Costa, João Lourenço, Helena Pi-menta, Bruno Bravo, Paulo filipe, Miguel Moreira ou Claudio Hochman. Em cinema, entrou em vários filmes de produção nacional, como “Corte de Cabelo”, de Joaquim Sapinho, “El-les”, de Galvão Telles, “Chuva”, de Luís fonseca, “Branca de Neve”, de João César Monteiro ou “Rasganço”, de Raquel frei-re. Como cantora, tem um projecto com Carlos Bica, o DIZ, com quem já lançou um disco.

Perfil Nuno CardosoNuno Cardoso é actor e encenador e reside no Porto, onde desempenhou funções de director artístico do Teatro Carlos Alberto. Tendo-se iniciado em teatro no CITAC, de Coimbra, durante a década de 90, foi, em 1994, um dos fundadores da companhia Visões úteis. Encenou – para o Teatro Nacional S. João, TECA, Ao Cabo Teatro e Cão Danado, textos de Shakes-peare, Garcia Lorca, Carlos J. Pessoa, Sófocles, Ésquilo, Sa-rah Kane, Don DeLillo, Marius von Mayenburg, Wedekind ou Büchner e como actor interpretou Dostoievski, Eric-Emmanuel Schmitt, Gregory Motton ou Bernard-Marie Koltès. No Teatro Nacional D. Maria II apresentou “Ricardo II”, de Shakespeare, e “R2”, um projecto inspirado na mesma peça e desenvolvido em atelier com jovens de bairros periféricos de Lisboa.

Boneca

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Ana Brandão, a actriz que deu vida a Annie Silva Pais no espec-táculo “A Filha Rebelde”, peça de Margarida Fonseca Santos cons-truída a partir do livro dos jorna-listas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz, vai voltar ao palco do Teatro Nacional com um espec-táculo que estreia em Guimarães e chegará ao Teatro da Politécnica em Novembro. Trata-se de uma nova montagem de uma das pe-ças mais emblemáticas de Henrik Ibsen (1828-1906) – “Uma Casa de Bonecas” – projecto da respon-sabilidade da produtora do Porto, Cassiopeia, com encenação de Nuno cardoso, que depois de “Ri-cardo II”, de William Shakespeare, se propõe reler um dos maiores clássicos de sempre do teatro no-rueguês.

A peça – escrita em 1879 e que aquando da estreia, em Copenha-ga de finais do século XIX, provo-cou um escândalo enorme – conta a história de uma mulher que an-tecipa, em mais de um século, a emancipação feminina e que aban-dona casa e família para descobrir quem é e qual o seu real lugar no Mundo. Ao fim de oito anos de ca-samento, Nora percebe que tudo o que fez até então foi tentar agradar, primeiro ao pai, depois ao marido, e por isso parte. O final, abrupto, do drama foi tão fortemente con-testado que quando a peça estreou na Alemanha, na década de 80 do século XIX, os produtores decidi-ram arranjar-lhe outro desfecho, para tranquilizar o público.

A um dia do início dos ensaios, Ana Brandão confessava ao Jornal do Teatro que ainda estava numa fase de conflito com a persona-gem. Algo que, de resto, não é novo no seu processo de trabalho. “Já ti-nha lido a peça há uns cinco ou seis anos, e agora voltei a lê-la – com uma reacção muito semelhante de

incompreensão face às decisões da personagem. Não compreendo como é que uma mulher é capaz de abandonar os filhos, por exemplo, embora eu não os tenha…”, revela a actriz. “Acho que estou naquela fase em que ainda não gosto da personagem, situação que tem sido habitual nos meus últimos trabalhos, e que depois se inverte, para se transformar numa gran-de paixão. Falei com o encenador sobre isso e ele disse-me que era bom sinal, e que não me preocu-passe.”

Ana Brandão, que tinha traba-lhado com Nuno Cardoso no pro-jecto “Plasticina”, estreado no Tea-tro Carlos Alberto, no Porto, define o trabalho deste criador como um misto entre o negro e o poético e acrescenta que, como director de actores, ele é extremamente res-peitador do espaço dos intérpre-tes. “Quando vejo espectáculos do Nuno (Cardoso) identifico, por um lado, a sua faceta dura, porque há um lado dele que é um pouco ne-gro… Por outro, há um lado poético muito bonito, e é por aí que trans-parece a sua fragilidade. Porque ele é humano e frágil, e essa é a parte mais bela dos espectáculos dele.”

Antes de começar a ensaiar, porém, Ana Brandão não tinha qualquer indicação sobre a leitura dramatúrgica que Nuno Cardoso pretende fazer de “Boneca”. “Ele não me disse nada, só me disse que desta vez vou ter de lhe obe-decer (risos). Trabalhar com ele é uma experiência muito intensa, porque ele é viciado no trabalho, mas é também um encenador que tem muito respeito pelos actores. Não se pode dizer que seja um bem disposto, mas é capaz de sen-tir a energia que nós transmitimos e de se adaptar a isso. Talvez por ser actor, também…”

SinopseNora Helmer pediu emprestada, em segredo, uma larga soma de di-nheiro para que o marido pudesse recuperar de uma doença grave. Nunca lhe falou do empréstimo que secretamente foi pagando com o que poupara. Quando é nomeado director do Banco Comercial, a primeira medida do seu marido, Torvald, é despedir um homem cuja reputação tinha sido desgraçada por forjar a assinatura de um documento. Este homem, Nils Krogstad, é a pessoa a quem Nora pediu o dinheiro emprestado. Nora também forjou a assinatura do seu pai para conseguir obter o dinheiro. Para defender o emprego, Krogstad ameaça revelar o crime de Nora e, assim, destruir a vida do casal. Nora tenta influenciar o marido, mas para ele Nora é uma criança que não compreende decisões de negócios. Desesperada, Nora prepara-se para a descoberta da verdade pelo marido.

Nuno Cardoso encena a peça mais comentada de Henrik Ibsen. No principal papel, estará a actriz Ana Brandão

A. Ribeiro dos Santos

texto HENRIK IBSEN tradução fERNANDO VILLAS-BOASencenação NUNO CARDOSOdesign luz JOSÉ ÁLVARO CORREIAcenografia fERNANDO RIBEIROfigurinos STORyTAILORSapoio ao movimento MARTA SILVAcom ANA BRANDÃO, fLÁVIA GUSMÃO, JOSÉ NEVES,LúCIA MARIA, PETER MICHAEL e SÉRGIO PRAIA

co-produção CASSIOPEIA > CENTRO CULTURAL VILA fLOR TNDM II > THEATRO CIRCO

CARREIRA >

18 a 20 Outubro > Centro Cultural Vila flor > GUIMARÃES

15 Novembro a 16 Dezembro > Teatro da Politécnica > LISBOA

11 e 12 Janeiro > Theatro Circo > BRAGA

7 a 16 fevereiro > Teatro Helena Sá e Costa > PORTO

Sobre Henrik Ibsen (1828-1906)Ibsen começou a interessar-se muito cedo pelo teatro, em-bora vivesse num país onde a actividade teatral estava mo-ribunda. Os seus primeiros textos – escritos sob a influência dos ventos revolucionários que sopravam de frança – foram de pendor fortemente nacionalista, mas durante uma viagem de estudo a Dresden e Copenhaga, quando lê o livro “The Modern Drama”, de Herman Hettner, Ibsen reforça a sua convicção de que o conflito psicológico é a base de todo o teatro. As ideias de Kierkegaard constituíram também uma influência decisiva para a sua obra, onde personagens a bra-ços com profundos dilemas interiores têm de descobrir a sua vocação e de definir um caminho próprio, que muitas vezes se faz contra a corrente social.

Boneca

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> Teatro, Educação e Comunidade

Nem sempre é fácil surpreen-der o público, sobretudo o mais jovem. Ainda há alguma resistên-cia aos clássicos e nem sempre o espectador é fácil de conquis-tar. Foi a pensar nos mais novos, no público escolar, mas também nas famílias, que o TNDM II pro-gramou um conjunto de espectá-culos, todos diferentes, mas com um denominador comum: o teatro pode ser algo divertido. E se es-tas escritas teatrais são ágeis e coloridas, com um ritmo próprio, elas oferecem-se, para além de momentos para reflectir e pen-sar, como pretextos para rir e passar um bom bocado. Não será por acaso que, em muitos países, existe uma ténue fronteira entre as palavras “actuar” e “jogar”. A dimensão pedagógica que o teatro pode ter cruza-se aqui com mo-mentos de puro divertimento.

Teatro e Conhecimento

Nos últimos anos, têm ganho cada vez mais protagonismo pe-ças cuja ideia principal é pôr o pú-blico a interrogar-se sobre vários aspectos científicos, ao mesmo tempo que se divulga a ciência. De facto, a proximidade entre arte e ciência foi traçada de formas di-ferentes no decorrer da História. O escultor, pintor, engenheiro e cientista Leonardo da Vinci (1452-1519), por exemplo, afirmava que ciência e arte se completavam e constituíam o âmago da activida-de intelectual. Por isso, entre 28 de Setembro e 15 de Dezembro, o público poderá assistir, no Teatro da Politécnica, a “O que sabemos” — Conferência de R. Feynman. No Lab. de Química do Museu da Ciênca, percorre-se com o No-bel da Física e pedagogo Richard Feynman algumas das descober-tas mais significativas da ciência

da segunda metade do séc. XX, o modo como estas alteraram a percepção que temos do mundo, as transformações que este so-freu e que pode vir a sofrer. Com encenação de Amândio Pinheiro, “O que sabemos” conta a história de um professor que se encontra no seu gabinete a preparar uma conferência cujo tema é: “O que sabemos?” Enquanto pensa no que vai dizer, faz um balanço da sua vida: a participação no desen-volvimento da bomba atómica, a relação com a música, a memória da sua primeira mulher, a paixão pela Física e por países desco-nhecidos.

Um espectáculo estimulante é também aquele a que o público pode assistir na Sala Estúdio. “Af-ter Darwin”, de Timberlake Wer-tenbaker, revela o pensamento darwiniano de uma forma profun-damente humana. Dois actores e uma encenadora encontram-se

a ensaiar um espectáculo onde é retratada a relação entre Darwin e o comandante do navio Beagle, o capitão Fitz-Roy, homem de es-pírito religioso e colérico, pouco atraído pelas descobertas cientí-ficas que Darwin foi realizando ao longo da viagem de circum-nave-gação que ambos realizaram. No desenrolar dos ensaios, a relação entre o capitão Fitz-Roy e Darwin vai tornando-se cada vez mais tensa, assim como a relação entre os actores que os representam e a encenadora. A partir deste enre-do, uma complexa luta pela afir-mação da individualidade de cada personagem vai-se desenhando. A selecção natural do mais apto irá ditar o vencedor. Mas haverá ven-cedores nas questões mais pro-fundas sobre o sentido da vida?

“Sonho de uma Noite de Verão” na Sala Garrett

Com encenação do argentino Claudio Hochman, “Sonho de uma Noite de Verão” faz-nos regres-sar ao universo dramatúrgico de William Shakespeare. Na conti-nuação do trabalho já realizado ao nível do Teatro Musical – “O Navio dos Rebeldes”, “Fungágá”, “Con-certo para Einstein”, “A Dança do Universo” e um exercício sobre “O Último Tango de Fermat” – Clau-dio Hochman encena um projec-to musical que teve a sua base a partir de uma colaboração com o Departamento de Comunicação e Arte (DeCA) da Universidade de Aveiro.”O espectáculo a que va-mos poder assistir foi reformulado e conta, desta vez, com um elenco profissional. Esta produção é um musical que integra cerca de uma dezena de actores e quatro músi-cos que interpretam 30 canções

Na nova temporada, surgem propostas para públicos de várias gerações. Teatro e ciência, clássicos da dramaturgia ou uma adaptação de “Memorial do Convento” de José Saramago, são as ideias que vão colocar o teatro ao alcance de todos Ricardo Paulouro

Espectáculos para todas as idades

Anfiteatro do Lab. de Química, no Museu da Ciência, onde decorre o espectáculo “O Que Sabemos - Conferência de R. Feynman” “Memorial do Convento”, no Palácio Nacional de Mafra

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Na nova temporada, surgem propostas para públicos de várias gerações. Teatro e ciência, clássicos da dramaturgia ou uma adaptação de “Memorial do Convento” de José Saramago, são as ideias que vão colocar o teatro ao alcance de todos Ricardo Paulouro

Espectáculos para todas as idades

que reflectem o estado anímico das personagens”, explica Cláu-dio Hochman.

A acção decorre em Atenas. O conde e a condessa vão casar dentro de quatro dias. Um gru-po de artesãos é incumbido de preparar uma peça de teatro. Li-sandro e Hérnia, dois jovens ate-nienses, estão apaixonados, mas a mãe de Hérnia quer que ela se case com Demétrio. Helena, outra jovem ateniense, ama Demétrio, mas este quer Hérnia. Diante da pressão do conde e de sua família, Leandro e Hérnia decidem fugir para o bosque…Helena, que tudo sabe, conta a Demétrio que de-sesperado, segue Hérnia. Helena segue Demétrio. Assim, entram os quatro na floresta. No final, pode-se adiantar que para quase todos é um final feliz, digno de uma noite de verão.

“Sonho de uma Noite de Ve-rão” é um espectáculo para toda

a família, que cruza o real com o sobrenatural e que conta com a participação de um elenco profis-sional de duas dezenas de jovens talentos, recrutados através de audições. “Sonho de uma Noite de Verão” sobe ao palco da Sala Gar-rett em Novembro.

O regresso de “Memorial do Convento”

Depois do sucesso, na tempo-rada de 2006/2007, de “Memorial do Convento”, de José Sarama-go, esta peça, com encenação de Filomena Oliveira, regressa ao simbólico espaço do Convento de Mafra. Ao longo de 80 minutos, o espectador pode assistir à sínte-se da essencialidade das perso-nagens, dos seus conflitos e dos seus dramas, determinados e en-volvidos pela construção do con-vento de Mafra, símbolo do poder institucional, político e religioso, e

aos amores de Baltasar e Blimun-da que, unidos a Bartolomeu de Gusmão pelo sonho de voar, cons-troem uma passarola, símbolo do poder da ciência, do sonho e da vontade humana.

“Ana e Hanna” sobe ao palco do Teatro Villaret

Com encenação de António Feio e movimento de Olga Roriz, “Ana e Hanna”, com Vânia e Rita Calçada Bastos como protagonis-tas, é uma história que reflecte sobre a necessidade de viver em comunidade, apesar das diferen-ças sociais, culturais ou étnicas. Ana tem 16 anos, vive em Tavira com a avó e abandonou os estu-dos. Hanna tem 16 anos, é alba-nesa, recém-chegada do Kosovo e procura asilo político. A vida des-tas duas adolescentes cruza-se no Verão de 1999, em Tavira, um encontro que as mudará numa

troca de experiências e de emo-ções. Apesar das diferenças que as separam, Hanna, mesmo que proveniente de uma cultura dife-rente e, por isso, vítima de uma certa exclusão social, cedo acaba por conquistar a amizade de Ana que, curiosamente, nunca saiu do país. Será a paixão pela mú-sica pop o elo de ligação entre os dois mundos tão diferentes das duas personagens. Britney Spe-ars, Kylie Minogue, Fatboy Slim, Natalie Imbruglia, entre outros, darão o mote. Primeiro para que ambas cantem em conjunto e de-pois para que partilhem as suas vidas e dessa partilha nasça uma verdadeira amizade, indestrutível até com a distância.

“Memorial do Convento”, no Palácio Nacional de Mafra “Ana e Hanna”, agora no Teatro Villaret

“Casa da Boneca”Henrik Ibsen > Europa-América, 1998

(117 pp.) LIVRO

No final do século XIX, a crise das ins-tituições e a moral burguesa entram em cena. Nora Helmer é uma esposa da classe média que se recusa a con-tinuar a viver numa «casa de boneca», metáfora de um casamento sufocante e sem liberdade. A mulher-boneca re-nuncia à confortável mentira e elege o risco de ser ela mesma. Precisa de uma nova identidade, de uma nova moral. Para viver, abandona marido e filhos, rompendo amarras e derruban-do tabus. Nesta que é uma das peças mais encenadas de Ibsen, as persona-gens livram-se das máscaras e vivem, mesmo que solitárias, a sua verdade. Um tema considerado chocante para o público da época mas revelador do papel determinante de Ibsen para o desenvolvimento da prosa dramáti-ca. “Casa de Bonecas”, uma peça de 1879, retrata a luta humana contra as convenções da sociedade. Com tra-dução de Elsa Uva, a obra é publicada na colecção «Grandes Clássicos de Teatro» da Europa-América.

“O fim / Diálogo na Alhambra” António Patrício > Assírio & Alvim, 2007

(91 pp.) LIVRO

Editado um ano antes da queda do regime monárquico em Portugal (1909), “O fim. História Dramática em dois quadros” é o único dos dra-mas patricianos no qual o autor situa a acção na actualidade do seu tempo. Curiosamente, a peça estreou apenas cerca de 60 anos depois, na Casa da Comédia, pela mão de Jorge Lis-topad. Um conjunto de situações dá o tom apocalíptico de uma tragédia colectiva cuidadosamente retratada por António Patrício: uma Rainha louca que aguarda uma recepção de um aniversário que não se realizará; o país a ser invadido por potências es-trangeiras; a resistência popular con-tra as forças ocupantes; a perturbante personagem do Desconhecido, que relata a batalha mortal que ocorre nas ruas. Com edição de Armando Nasci-mento Rosa e colaboração heurística de Maria Manuela Martins Gamboa, esta edição da Assírio & Alvim inclui ainda uma nota biobibliográfica sobre o autor.

“Artaud: la fiction – en compagnie d’Antonin Artaud” Arte Vidéo, 2005 > 4h20mn

(Dolby Digital Stereo) DVD

Para descobrir o autor de “O Teatro e o seu Duplo”, esta edição é composta por dois DVD. O primeiro é um docu-mentário a cores de Gérard Mordillat e Jérôme Prieur, intitulado “La Vérita-ble Histoire d’Artaud le Mômo“. Em Maio de 1946, Antonin Artaud sai do asilo de Rodez e regressa a Paris onde desenvolve uma extraordinária actividade criativa até à sua morte. O segundo DVD intitula-se “En Com-pagnie d’Antonin Artaud”. Uma ficção de Gérard Mordillat, a preto e branco, escrita por Gérard Mordillat e Jérôme Prieur a partir da obra homónima de Jacques Prével, com Sami frey, Marc Barbé, Julie Jézéquel, Valérie Jeannet, Clothilde de Bayser et Charlotte Va-landrey. O DVD tem ainda um bónus: “Jacques Prével, de Colère et de Hai-ne”, um “retrato íntimo” do poeta Jac-ques Prével a partir dos testemunhos dos seus próximos. Destaque ainda para o pequeno livro (20 pp.) que acompanha os DVD’s e que inclui, en-tre outros conteúdos, entrevistas aos realizadores.

“L’Avant-Scène Théâtre” Nº 1225 > JUL’07 REVISTA

Esta revista bimensal lança a sua edição de Julho dividindo-se em dois grandes blocos temáticos. Destaque para o dossier sobre a peça “Un Rêve de Théâtre”, uma criação dos Tréteaux de france, a partir de textos de Moliè-re, Pierre Corneille, Alfred de Musset e Edmond Rostand, numa adaptação de françois Bourgeat, seguida de “L’Impromptu de Douai”, de françois Bourgeat. Para além da reprodução da peça, incluem-se vários comentá-rios e críticas ao espectáculo. Numa segunda parte da publicação, intitu-lada “L’actualité”, reflecte-se sobre acontecimentos vários do panorama teatral, como a crítica ao espectácu-lo “Angels in America”, no festival de Avignon, o perfil do dramaturgo René de Obaldia, um dos autores mais lidos e representados em frança, uma en-trevista a artistas de rua, a homena-gem ao actor e encenador Jean-Clau-de Brialy e recensões críticas.

“ADE Teatro – Teatro de Calle / El Vestuario y la Escena” Nº 116 > JUL/SET’07 REVISTA

A revista trimestral da Associação de Directores de Cena de Espanha aborda, nesta edição de Julho/Setem-bro, dois grandes temas: o teatro de rua e a importância do vestuário no espectáculo. Contando com vários ensaios, onde se destaca o texto de Roland Barthes, “Las enfermedades de la indumentaria teatral” ou o artigo de Javier Martínez, “1, 2, 3… Res-ponda outra vez”, sobre teatro de rua, esta edição conta ainda com várias reflexões sobre as leis para o teatro em Espanha, os vários prémios euro-peus para teatro ou três artigos sobre texto teatral. Destaque ainda para as críticas a espectáculos por Eduardo Alonso, Etelvino Vázquez, Jorge Cas-sino, Adolfo Simón, Karol Wisniewski e Ana Zamora, recensões críticas ou o ensaio de Alfonso Zurro, “Pasión por los muertos”, sobre o papel do ence-nador e os autores “vivos e mortos”.

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> Notícias

Teatro Nacional vai gerir o VillaretO Teatro Nacional D. Maria II acaba de assegurar a gestão artística do Teatro Villaret, em Lisboa, durante os próximos dois anos. O espaço acolherá as produções de peças contemporâneas destinadas ao grande público, nomeadamente os textos premiados no estrangeiro e que estão a fazer carreira nos teatros das principais capitais europeias. O Teatro Nacional pretende assim colmatar uma lacuna na oferta cultural lisboeta, oferecendo ao público a possibilidade de assistir a espectáculos que, ao mesmo tempo, têm textos de grande qualidade e exigência mas são simultaneamente muito abrangentes a nível temático.

Ricardo II faz carreira no Carlos AlbertoO espectáculo “Ricardo II”, que Nuno Cardoso assina a partir de William Shakespeare e que estreou na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II na temporada passada, chega no mês que vem ao Porto para fazer carreira no Teatro Carlos Alberto (TeCA), entre 31 de Outubro e 4 de Novembro. Trata-se de uma peça que traça o retrato de um rei sem perfil para o governo mas que, ainda assim, não quer largar o trono. Ricardo faz uma sucessão de erros e acaba por virar contra si grande parte da nobreza inglesa. Aliados a Henrique de Bolingbroke, rival de Ricardo, os nobres acabarão por derrotar o rei e fazê-lo substituir por um novo rei, Henrique IV. O novo monarca, porém, parece tão sanguinário e pouco escrupuloso quanto o seu antecessor, e inicia o seu governo com uma série de assassinatos: manda matar todos os seus potenciais rivais.O espectáculo de Nuno Cardoso, que tem por base uma tradução de fernando Villas-Boas, conta com cenografia de f. Ribeiro, figurinos dos Storytailors e, no elenco, com as interpretações de João Ricardo como Ricardo II e Gonçalo Amorim como Henrique IV.

Leituras dirigidas no Teatro NacionalO Teatro Nacional D. Maria II, La Comédie de Reims e a Culturesfrance realizam, nos próximos dias 27 e 28 de Setembro, às 18h00, leituras dirigidas das peças “Casamento” (“Mariage”) e “Anjos no Cabelo do Diabo” (“Le Diable en Partage”), da autoria, respectivamente, de David Lescot e fabrice Melquiot, pelo elenco português do espectáculo “Tanto Amor Desperdiçado”.“Casamento” conta-nos a história de um casal unido por um laço de conveniência - a mulher é francesa e o homem não - que se encontra para imaginar os pormenores de uma vida em comum que nunca teve e preparar a separação e esta leitura tem direcção de Amândio Pinheiro, com a colaboração de Emmanuel Demarcy-Mota.Na peça “Anjos no Cabelo do Diabo”, seguimos uma personagem chamada Lorko, um desertor em tempo de guerra, que arrasta na sua fuga os fantasmas das pessoas que lhe são próximas. Esta leitura será dirigida por Emmanuel Demarcy-Mota. Com entrada livre.

> Novas edições na Livraria do TNDM II

TEATRO NACIONAL SET > OUT 2007

SALA LOCAL VALOR Unit.

Plateia 16,00 €Sala Garrett 1ª Balcão 10,00 € 2ª Balcão 7,50 €

Sala Estúdio

SALA LOCAL VALOR Unit. HORÁRIO BILHETEIRA

Sala 1 12,00 € Sala 2 12,00 € Lab. Química 12,00 € Jardim Botânico* 6,00 €

Palácio Nacionalde Mafra

Em dias de espectáculo, abertura 2 horas antes e encerra 30 min. após início do mesmo(Encerrada em dias sem espectáculo)

Teatro da Politécnica

DESCONTOS Bilhete do dia 6,00 € (3ª a Dom. 14h às15h)

3ª feira, dia do espectador 50% de desconto25% a 30% desconto Jovens até 25 anos; + 65 anosGrupos 20% a 40% de descontoGrupos de escolas 6,00 € (excepto sessões nocturnas 6ª a Dom.)

INfORMAÇÕES e RESERVAS [email protected] tel. 213 250 835Reservas válidas até 1h30 antes do inicio do espectáculo

HORÁRIO 3ª a Sáb. 13h às 22h Dom. 13h às 17h(Dias sem espectáculo: 3ª a Sáb. 13h às 19h, encerrada ao Dom.)

Plateia 12,00 €Capela do Campo Santo

*Não são praticados quaisquer descontos.

8,00 € Consoante a marcação.

Tanto Amor Desperdiçadode WILLIAM SHAKESPEARE

encenação EMMANUEL DEMARCy-MOTAco-produção TNDM II > LA COMÉDIE DE REIMS com o apoio da CULTURESfRANCE

TNDM II > Sala Garrett20 SET a 28 OUT 3ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00

A Minha Mulherde JOSÉ MARIA VIEIRA MENDES

encenação SOLVEIG NORDLUNDco-produção TNDM II > DGArtes > fUNARTE parceria INSTITUTO CAMÕESprémio ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

TNDM II > Sala Estúdio19 SET a 14 OUT 3ª a Sáb. 21h45 Dom. 16h15

Leituras DirigidasTNDM II > LA COMÉDIE DE REIMS > CULTURESfRANCE

Casamento (“Mariage”)de DAVID LESCOT leitura dirigida por AMÂNDIO PINHEIROem colaboração com EMMANUEL DEMARCy-MOTA

Anjos no Cabelo do Diabo (“Le Diable en Partage”)de fABRICE MELQUIOT leitura dirigida por EMMANUEL DEMARCy-MOTA

27 e 28 SET 18h

Concertos Antena 2TNDM II > Átrio09 OUT 19h GONÇALO PESCADA (Acordeão)

10 OUT 19h PEDRO CAMACHO (flautista) ANA MONTEIRO (piano)

Sweeney Todd O Terrível Barbeiro de fleet Streetde STEPHEN SONDHEIM

libreto HUGH WHEELERencenação JOÃO LOURENÇO

direcção musical JOÃO PAULO SANTOSco-produção TNDM II > TEATRO ABERTO

Teatro Aberto > Sala Azul05 OUT a 30 DEZ 4ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00

Bonecatexto HENRIK IBSEN

encenação NUNO CARDOSOco-produção CASSIOPEIA > CENTRO CULTURAL VILA fLOR > TNDM II > THEATRO CIRCO

Teatro da Politécnica > Sala 115 NOV a 16 DEZ 4ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00

Memorial do Conventode JOSÉ SARAMAGOa partir da adaptação dramatúrgica de fILOMENA OLIVEIRA e MIGUEL REAL

encenação e direcção fILOMENA OLIVEIRAprodução TNDM II em colaboração com o PALÁCIO NACIONAL DE MAfRA

Palácio Nacional de Mafra > Capela do Campo Santoa partir de 3 OUT 4ª a 6ª (sob marcação)

O Que Sabemos Conferência de R. feynmana partir de Q.E.D. de PETER PARNEL

encenação AMÂNDIO PINHEIRO produção TNDM II

Museu da Ciência > Anfiteatro do Lab. de Química28 SET a 15 DEZ 6ª e Sáb.21h Dom.16h 3ª a 6ªf (sob marcação)

João Lourenço encena SWEENEy TODDO TERRÍVEL BARBEIRO DE fLEET STREET

de Stephen Sondheim