A ginástica laboral na redução de queixas de estresse ocupacional ...
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UNIVERSIDADE DE ÉVORA / INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
MESTRADO EM INTERVENÇÃO SÓCIO-ORGANIZACIONAL NA SAÚDE
Curso ministrado em associação com a
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa - IPL
Adequado ao Processo de Bolonha conforme Registo na DGES nº. R/B-AD-917/2007
Publicado no DR, 2.ª série, n.º 11, 18 de Janeiro de 2010
Área de especialização
Qualidade e Tecnologias da Saúde
Prevalência de Sintomas de Lesões Músculo-
Esqueléticas Ligadas ao Trabalho: contributos para
a intervenção centrada no trabalhador
Dissertação de Mestrado apresentada por:
Andresa Bianchi Ferreira
5015
Orientador:
Prof. Doutor Florentino Manuel dos Santos Serranheira
Évora/Lisboa
Julho, 2011
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UNIVERSIDADE DE ÉVORA / INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
MESTRADO EM INTERVENÇÃO SÓCIO-ORGANIZACIONAL NA SAÚDE
Curso ministrado em associação com a
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa - IPL
Adequado ao Processo de Bolonha conforme Registo na DGES nº. R/B-AD-917/2007
Publicado no DR, 2.ª série, n.º 11, 18 de Janeiro de 2010
Área de especialização
Qualidade e Tecnologias da Saúde
Prevalência de Sintomas de Lesões Músculo-
Esqueléticas Ligadas ao Trabalho: contributos para
a intervenção centrada no trabalhador
Dissertação de Mestrado apresentada por:
Andresa Bianchi Ferreira
5015
Orientador:
Prof. Doutor Florentino Manuel dos Santos Serranheira
Évora/Lisboa
Julho, 2011
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Dedicatória:
Ao Professor Florentino Serranheira e ao Professor Carlos Alberto Silva por tudo que fizeram por mim, pois sem eles nada
disso seria possível;
À Bruno Janz pela oportunidade concedida;
Aos meus pais pelo amor incondicional, apoio, conforto, perseverança, enfim, não consigo exprimir em palavras o
tamanho de meu amor e agradecimento por eles;
À minha madrinha Tetê e tia Lourdes que estiveram comigo
desde o meu nascimento e sempre me incentivaram na vida
académica e pessoal; Ao meu marido Elton, meu grande companheiro de todas as
horas e o maior responsável por eu ter cursado este mestrado,
pois sem ele não havia chegado à Portugal;
Aos meus primos Maria, PC e Cabral pelas palavras de carinho e incentivo;
Aos colegas de mestrado e a todos os meus amigos que directa
ou indirectamente estiveram comigo nesta caminhada;
Os meus mais sinceros agradecimentos a todos vocês.
V
7
Prevalência de Sintomas de Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho: contributos
para a intervenção centrada no trabalhador
Resumo
A identificação da prevalência de sintomatologia de LMELT, assim como a
consequente necessidade de intervenção preventiva, foram estudadas numa
indústria em 2010.
Realizou-se uma análise do trabalho para identificar a exposição aos factores
de risco de LMELT. Utilizou-se adaptação do QNM para identificar a
prevalência de sintomas de LMELT. Efectuou-se formação sobre LMELT.
A amostra (n=59) foi maioritariamente feminina (94,9%). A prevalência mais
elevada de sintomatologia nos últimos 12 meses situou-se na região lombar
(52,5%), e nos últimos 7 dias na coluna dorsal (33,9%). Os resultados
identificam associações significativas entre a repetitividade gestual (1) dos
braços e cotovelos com as queixas a nível do pescoço (p=0,013) e ombro
direito (p=0,004); e das mãos e dedos com (2) punho e mão esquerda
(p=0,024) e punho e mão direita (p=0,000).
Relativamente à intervenção sócio-organizacional, efectuada com recurso à
formação em LMELT, observou-se um impacto positivo com 81,30% de boa e
excelente apreciação.
Palavra-chave: lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT),
Questionário Nórdico Músculo-Esquelético (QMN), sintomatologia músculo-
esquelética.
VII
8
Symptoms Prevalence of Work Related Musculoskeletal Disorders: contributions to the
intervention centered on the workers
Abstract
The identification of prevalence of symptoms of WRMSDs as well as the
consequent need for preventive intervention was studied in a Lisbon industry
in 2010.
It was conducted a job analysis to identify the exposure to risk factors for
WRMSDs. It was used adaptation of NMQ to identify the prevalence of
symptoms of WRMSDs. It was carried out training on WRMSDs.
The sample (n = 59) was mostly female (94.9%). The higher prevalence of
symptoms in the last 12 months was located in the lumbar region (52.5%),
and in the last 7 days in the spine (33.9%). The results indicate significant
associations between the gestural repetition (1) of the arms and elbows with
complaints at the neck region (p = 0.013) and right shoulder (p = 0.004),
and hands and fingers (2) wrist and left hand (p = 0.024) and wrist and hand
(p = 0.000).
Relatively to the socio-organizational intervention, made using the WRMSDs
training, it was observed a positive impact with 81.30% of good and excellent
evaluations.
Keyword: Work-related musculoskeletal disorders (WRMSDs), Nordic
Musculoskeletal Questionnaire (QMN), musculoskeletal symptoms.
VIII
9
ÍNDICE
ÍNDICE DE FIGURAS ......................................................................... 12
ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................ 13
ÍNDICE DE GRÁFICOS ....................................................................... 14
ÍNDICE DE TABELAS ......................................................................... 15
INTRODUÇÃO .................................................................................... 17
PRIMEIRA PARTE .............................................................................. 21
ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................. 21
1. Saúde Ocupacional e Identificação de Sintomas de Lesões Músculo-
Esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) ............................................... 21
1.1. Questionários de identificação de sintomas de LMELT ...................... 22
2. Lesões músculo-esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) .............. 24
2.1. Importância das LMELT ............................................................... 24
2.2. Definição das LMELT ................................................................... 26
3. Gestão do risco de LMELT ............................................................ 29
3.1. Modelos de gestão do risco de LMELT ............................................ 30
3.1.1. Análise do trabalho ................................................................... 31
3.1.2. Vigilância da saúde ................................................................... 31
3.1.3. Informação e formação dos trabalhadores ................................... 32
4. Factores de risco de LMELT .......................................................... 33
4.1. Factores de risco profissionais ou ligados ao trabalho ...................... 34
4.2. Factores de risco individuais ......................................................... 35
4.3. Factores de risco organizacionais/psicossociais ............................... 36
5. Prevenção de LMELT ................................................................... 36
IX
10
SEGUNDA PARTE ............................................................................... 39
6. Metodologia ............................................................................... 39
6.1. Objectivos do estudo ................................................................... 39
6.2. Delineamento do estudo .............................................................. 39
6.3. Caracterização do local do estudo ................................................. 41
6.4. Breve descrição observacional da organização e dos postos de trabalho41
6.5. População e amostra ................................................................... 44
6.6. Questionário Nórdico Músculo-Esquelético e variáveis de estudo ....... 44
6.7. Métodos de análise estatística dos dados ....................................... 50
7. Resultados ................................................................................. 53
7.1. Análise dos Resultados do Questionário Aplicado ............................ 53
7.1.1. Caracterização Sócio-Demográfica .............................................. 53
7.1.2. Caracterização do estado de saúde ............................................. 55
7.1.3. Caracterização da sintomatologia ligada ao trabalho ..................... 56
7.1.4. Caracterização da actividade de trabalho e a relação com a
sintomatologia auto-referida .................................................................. 59
7.1.4.1. Primeira Parte ....................................................................... 59
7.1.4.2. Segunda Parte ...................................................................... 65
7.1.4.3. Terceira Parte ....................................................................... 66
7.2. Análise dos resultados das relações entre as variáveis ..................... 69
7.2.1. Coluna Vertebral ...................................................................... 70
7.2.2. Membros superiores .................................................................. 70
7.2.3. Membros inferiores ................................................................... 72
7.3. Análise dos Resultados da Formação em LMELT .............................. 73
X
11
8. Análise e discussão de resultados ................................................. 75
9. Considerações finais .................................................................... 79
10. Recomendações e sugestões ........................................................ 81
BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 83
APÊNDICES ....................................................................................... 87
XI
12
Índice de Figuras
Figura 1: Percentagem de trabalhadores relatando problemas de saúde na
EU-27, 2005 ........................................................................................ 24
Figura 2: Proporção de doenças ocupacionais na União Europeia, 2005 ...... 25
Figura 3: Sector de Relojoaria ............................................................... 42
Figura 4: Sector de Contadores ............................................................. 43
Figura 5: Caracterização sócio-demográfica ............................................ 45
Figura 6: Caracterização do estado de saúde .......................................... 45
Figura 7: Caracterização da sintomatologia ligada ao trabalho................... 47
Figura 8: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os sintomas
.......................................................................................................... 48
Figura 9: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os sintomas
(Continuação I) .................................................................................... 49
Figura 10: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os
sintomas (Continuação II) ..................................................................... 49
Figura 11: Ambiente laboral 1 ............................................................... 56
Figura 12: Ambiente laboral 2 ............................................................... 57
XII
13
Índice de Quadros
Quadro 1: Diferentes nomenclaturas de LMELT ....................................... 27
Quadro 2: Síntese de LMELT ................................................................ 28
XIII
14
Índice de Gráficos
Gráfico 1: Sector de trabalho ................................................................ 53
Gráfico 2: Faixa etária.......................................................................... 54
Gráfico 3: Percentagens de desconforto sentido por zona corporal (12 meses
e 7 dias) e prevalência de absentismo ..................................................... 58
Gráfico 4: Intensidade de incómodo (fadiga, desconforto, dor, inchaço) nos
últimos 12 meses e que esteve presente em pelo menos 4 dias seguidos,
distribuídos por zonas corporais, analisadas todas as categorias profissionais
.......................................................................................................... 59
Gráfico 5: Duração da primeira pausa .................................................... 62
Gráfico 6: Duração da segunda pausa .................................................... 63
Gráfico 7: Duração da terceira pausa ..................................................... 64
Gráfico 8: Relação da actividade com os sintomas ................................... 66
Gráfico 9: Dificuldade do posto de trabalho principal ................................ 67
Gráfico 10: Rotatividade entre os postos de trabalho ............................... 68
Gráfico 11: Participação na formação em LMELT...................................... 73
Gráfico 12: Questionário pós-formação em LMELT ................................... 74
XIV
15
Índice de Tabelas
Tabela 1: Antiguidade de serviço prestado na fábrica em meses ................ 54
Tabela 2: Tipo de desporto ................................................................... 55
Tabela 3: Patologias auto-referidas ........................................................ 55
Tabela 4: Tarefas desempenhadas ......................................................... 60
Tabela 5: Trabalho no posto principal em meses ..................................... 61
Tabela 6: Número de pausas................................................................. 61
Tabela 7: Situações em que as pausas precisam ser alteradas ou reduzidas
.......................................................................................................... 64
Tabela 8: Quais situações em que as pausas são reduzidas ...................... 65
Tabela 9: Actividade que faz mais força com os braços e mãos ................. 67
Tabela 10: Tarefa mais repetitiva .......................................................... 68
Tabela 11: Com que frequência (dias) .................................................... 69
Tabela 12: Com que permanência (dias) ................................................ 69
XV
17
Introdução
De acordo com os últimos dados do European Survey on Working Conditions
(ESWC), 35,4% dos entrevistados em 27 países da União Europeia
consideram que seu trabalho afecta a sua saúde, 24,7% queixam-se de
dorsalgias, 22,8% de mialgias (European Agency for Safety and Health at
Work, 2010).
As lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) são referidas
como “ligadas ao trabalho” pois “englobam as situações de acidente de
trabalho, de doença profissional, de “doença relacionada com o trabalho” e de
doença agravada pelo trabalho”. Estas podem ser definidas como síndromes
de dor crónica, atingindo uma ou mais regiões corporais (ao nível dos
músculos, nervos, tendões e ligamentos, articulações e cartilagens),
ocorrendo no contexto do desenvolvimento de uma dada actividade
profissional (Correia, 2009; Serranheira, 2007; Uva, 2006a).
Relativamente a análise do trabalho, esta intenta contribuir para a
identificação e a avaliação dos factores de risco descrevendo, detalhando e
analisando os mesmos presentes no local de trabalho, objectivando
quantificar e evitar o risco das LMELT. Esta sistematização de procedimentos
deverá reduzir a probabilidade do trabalho e das condições de trabalho
actuarem como factores determinantes no desencadeamento de LMELT e
compõem o modelo de gestão do risco de LMELT na perspectiva ergonómica
(NIOSH, 1997).
Segundo a mesma fonte, há insuficiente evidência de critérios padronizados
para uso na avaliação do risco de Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao
Trabalho (LMELT) em todos os Estados-membros da União Europeia (UE). Tal
facto reflecte-se nos dados relatados até ao momento, bem como na
literatura de pesquisa. Os estudos que chegarem a critérios de consenso para
as avaliações destas lesões deverão ser amplamente divulgados para consulta
posterior, tendo em vista a sua padronização. No entanto, deve-se notar que
os critérios de avaliação para o uso preventivo primário em vigilância no local
de trabalho e Saúde Ocupacional são diferentes dos critérios utilizados para
algumas intervenções clínicas.
Sendo assim, ao referir os critérios de prevenção das LMELT em Saúde
Ocupacional torna-se pertinente a existência de um grupo de procedimentos
18
(com base na perspectiva ergonómica) que reduzam significativamente
ocorrência (ou ao menos reduza a probabilidade) de efeitos adversos. Tais
procedimentos podem ser denominados como “gestão do risco”, e incluem as
seguintes (ou também chamados modelos de gestão do risco) principais
componentes: (1) análise do trabalho; (2) vigilância da saúde do trabalhador
e (3) informação e formação dos trabalhadores (Uva, 2006b; Serranheira,
2007).
Geralmente na indústria tais procedimentos ergonómicos integradores da
vigilância da saúde dos trabalhadores incluem metodologias de recolha de
informação sobre a sintomatologia de LMELT e são de dois tipos: (1)
questionários e procedimentos médicos de base epidemiológica, com o
objectivo de recolher sinais e sintomas que possam ser ligados ao
aparecimento ou desenvolvimento de patologias relacionadas com o trabalho;
(2) questionários de aplicação geral com base na avaliação de sintomas auto-
referidos e consequente monitorização dos níveis de desconforto, incómodo
ou dor por zonas corporais (Stuart-Buttle, 1994).
No contexto dos questionários populacionais, Kuorinka et al. (1987)
desenvolveram o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) que apresenta
uma proposta de padronização da mensuração de relato de sintomas
osteomusculares e, consequentemente, proporciona facilidade de comparação
dos resultados entre as diversas investigações. Os autores desse questionário
indicam-no como forma de possibilitar a constituição de um importante
instrumento de diagnóstico do ambiente ou da actividade de trabalho para
eventuais intervenções futuras.
Ultimamente o NMQ foi traduzido em vários idiomas, e a adaptação da versão
portuguesa do Questionário Nórdico Músculo-Esquelético (QNM), utilizada na
maioria dos estudos na área das LMELT, está presente nos Cadernos Avulsos
da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho (Serranheira, Lopes e Uva,
2008), sendo o questionário utilizado neste estudo. Essencialmente, na
adaptação dos referidos autores, manteve-se a estrutura original do QNM com
uma singular diferença: o questionário é dirigido a grupos específicos de
trabalhadores nos quais se identificam previamente as principais exigências
contidas nas diversas situações de trabalho. E tal diferença situa-se, em
oposição aos objectivos de rastreio populacional num contexto de resposta
19
por via postal, numa perspectiva mais “ergonómica” e que o actual
questionário (QNM) pretende dar resposta.
O presente estudo teve como objectivo a identificação da prevalência de
sintomatologia auto-referida de LMELT, relacionando-as com os postos de
trabalho e promovendo estratégias de intervenção organizacional.
Na primeira parte descreve-se o enquadramento teórico sobre as LMELT, a
dimensão do problema, os factores de risco de LMELT. Na segunda parte
descreve-se a componente empírica, designadamente a metodologia, os
resultados, a discussão e as considerações finais.
Por fim, o último capítulo centra-se sobre recomendações e sugestões futuras
nesta área de estudo.
21
Primeira Parte
Enquadramento Teórico
1. Saúde Ocupacional e Identificação de Sintomas de
Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho
(LMELT)
A Saúde Ocupacional centra-se na promoção e manutenção do bem-estar
físico, mental e social dos trabalhadores de todas as actividades,
sinteticamente, direcciona-se na adaptação do trabalho ao homem e de cada
homem a sua actividade (Mendes, 1980).
“A abordagem das LMELT deve ser centrada no trabalhador como pessoa e não exclusivamente no trabalhador como elemento da
situação de trabalho ou do processo produtivo. O mundo do trabalho
“oculta” frequentemente essas interdependências. A desenvolver-se
um quadro evolutivo cada vez mais “mecanicista” (ou mesmo um automatismo) do trabalho pode-se prever o incremento da exposição
a factores de risco principalmente relacionados com a actividade
profissional, não tão ligados ao trabalho físico intenso, como
aconteceu no passado, mas sobretudo baseados na repetitividade de gestos, na adopção de posturas “contra-natura” ou, ainda, em
cadências e ritmos de trabalho que não respeitam o “limite”
fisiológico do trabalhador. (...) A perspectiva da Saúde Ocupacional
ou da Ergonomia em que o centro da sua intervenção se baseia na
pessoa, na perspectiva do seu conforto ou bem-estar ou, pelo menos, na preservação da sua saúde, na sua concepção mais
restrita” (Serranheira et al., 2008, p.10).
Relativamente as lesões músculo-esqueléticas (LME) continuam sendo a
afecção ocupacional mais frequente da União Europeia, atingindo
trabalhadores de vários contextos profissionais. Essas lesões são um
problema crescente e uma das mais importantes causas de absentismo por
doença de longa duração, reflectindo-se em elevados custos para as
empresas e sociedade no geral (EASHW, 2010).
O termo lesão músculo-esquelética ligada ao trabalho (LMELT) refere-se a
uma patologia desenvolvida ou agravada no local de trabalho,
caracteristicamente contraída perante a exposição a factores de risco
profissionais, particularmente posturas extremas, repetitividade gestual,
22
aplicações de força e exposição a vibrações (Buckle & Devereux, 2002;
NIOSH, 1997).
Algumas investigações vêm sendo desenvolvidas com o propósito de
contribuir para a identificação de factores de risco da actividade de trabalho,
em particular de ordem física e psicossocial, que influenciam no
desenvolvimento de doenças do foro osteomuscular, e consequentemente,
quando possível, analisar a relação entre essas variáveis e a ocorrência de
sintomas (Leino, 1989).
Relativamente a avaliação da exposição aos factores de risco de LMELT,
Serranheira & Uva (2009) informam que existem vários processos de
avaliação, dentre estes:
“ (1) listas de verificação que permitem evidenciar sintomas e a sua
relação com a profissão exercida ou com o título profissional (questionários auto-preenchidos pelos trabalhadores); (2) listas de
verificação para a identificação da presença (ou ausência) de
factores de risco (…); (3) métodos observacionais (…); (4) e
sistemas instrumentais com utilização sincronizada de, entre outros, registos de vídeo, EMG, electrogoniometria e pressurometria” (p.71).
1.1. Questionários de identificação de sintomas de LMELT
A utilização de questionários de aplicação periódica pode constituir,
dependendo do nível de efectividade pretendido na vigilância de saúde dos
trabalhadores, uma importante ferramenta de registo dos sintomas e queixas
baseando-se na informação que posteriormente poderá ser traduzida em
indicadores pertinentes sobre o aparelho músculo-esquelético; além de,
pretender estabelecer um “módulo de trabalho”, no sentido de intentar
relações entre as queixas e os respectivos locais de actividades de trabalho,
resultando num grupo de informações úteis para a obtenção do diagnóstico do
risco e uma possível prevenção das LMELT (Serranheira, et al. 2008), que
pode passar pela intervenção sócio-organizacional da empresa, sector, ou
outra organização.
Os métodos de recolha de informação sobre sintomas de LMELT utilizados na
indústria são normalmente de dois tipos (1) utilização de questionários e
procedimentos médicos de base epidemiológica, com o propósito de levantar
os sinais e sintomas que possivelmente deverão estar ser ligados ao
23
surgimento ou desenvolvimento de patologias ligadas ao trabalho; e (2)
aplicação de questionários de utilização geral com alicerce na avaliação de
sintomas auto-referidos e consequente monitorização dos níveis de
desconforto, incómodo ou dor por zonas corporais (Stuart-Buttle, 1994).
Para Kuorinka & Forcier (1995) os métodos de rastreio depreendem-se de
uma análise e interpretação contínua, com uma sistemática recolha de dados,
utilizando geralmente métodos que se distinguem por serem práticos,
uniformes e de fácil aplicabilidade.
O questionário desenvolvido pelos autores (Kuorinka, et al., 1987)
denominado como Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) apresenta
uma proposta para padronizar a mensuração de relato de sintomas
osteomusculares e, consequentemente, proporcionar facilidade relativamente
à comparação dos resultados entre as diversas investigações. Os autores
desse questionário não o indicam como base para diagnóstico clínico, e sim,
sugerem-no para a identificação de sintomas osteomusculares, de forma a
possibilitar a constituição de um importante instrumento de diagnóstico do
ambiente ou da actividade de trabalho para eventuais intervenções futuras.
Na última década o NMQ foi traduzido para muitos idiomas, e a adaptação da
versão portuguesa do Questionário Nórdico Músculo-Esquelético (QNM),
utilizada na maioria dos estudos na área das LMELT, está presente nos
Cadernos Avulsos da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho
(Serranheira, Lopes e Uva, 2008). Essencialmente, a adaptação dos referidos
autores manteve-se a estrutura original do QNM porém pode atribuir-se uma
singular diferença: o questionário é dirigido a grupos específicos de
trabalhadores, no qual identificam-se previamente as principais exigências
contidas nas diversas situações de trabalho. E tal diferença situa-se em
antagonismo aos objectivos de rastreio populacional num contexto
“ergonómico” e de resposta por via postal, que o QNM original solicitava dar
resposta. Face à presença de objectivos para além dos pretendidos
inicialmente, designadamente a identificação das exigências e solicitações
presentes nos locais de trabalho, foram incluídos módulos de auto-
referenciação das solicitações biomecânicas (Serranheira, et al., 2008).
24
2. Lesões músculo-esqueléticas Ligadas ao Trabalho
(LMELT)
2.1. Importância das LMELT
Todos os anos milhões de trabalhadores de diversas actividades laborais são
afectados por lesões músculo-esqueléticas através de seu trabalho (EASHW,
2010). Nos Estados Unidos da América (EUA) no ano de 1999 foram
constatados 130 milhões de actos médicos, incluindo consultas hospitalares e
externas e serviços de urgência; 1 milhão de indivíduos com horas de
trabalho perdidas e aproximadamente 45 a 54 mil milhões de dólares gastos.
Ainda em 1999, registaram 247.000 novos casos de LMELT implicando cerca
de 2,75 milhões de dias de trabalho perdidos (BLS, 2001, como citado em
Serranheira, 2007).
Segundo (Figura 1) os últimos dados do European Survey on Workimg
Conditions (ESWC), 35,4% dos entrevistados em 27 países da União Europeia
consideram que seu trabalho afecta a sua saúde, 24,7% queixam-se de
dorsalgias, 22,8% de mialgias (EASHW, 2010).
Figura 1: Percentagem de trabalhadores relatando problemas de saúde na UE-27, 2005
Fonte: European Survey on Working Conditions, 2005 (EASHW, 2010, p.30).
Legenda: (1) Efeitos do trabalho sobre a saúde; (2) Algia na região anatómica da coluna vertebral; e (3) Mialgias
Evidencia-se, ainda, 45,5% dos trabalhadores labutam em posições
desconfortáveis (dolorosas ou cansativas), enquanto 35% são obrigados a
manipular cargas elevadas no seu ambiente de trabalho (EASHW, 2010).
25
De acordo com o levantamento de dados no ano de 2005 pela European
Occupational Diseases Statistics, 12 Estados-Membros fornecem dados sobre
casos reconhecidos de doenças profissionais, as mais comuns foram síndrome
do túnel cárpico (17.395 casos), epicondilite do cotovelo (16.054 casos) e
tenossinovite da mão ou do punho (12.962 casos), (Figura 2).
Figura 1: Proporção de doenças ocupacionais na União Europeia, 2005
Fonte: EODS, 2005 (EASHW, 2010, p.35)
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho cerca de 5.000
trabalhadores morrem por dia por motivo relacionado ou agravado das
doenças “ligadas ao trabalho”. Essas doenças abrangem as situações de
acidente de trabalho, de doença profissional, de “doença relacionada com o
trabalho e de doença agravada pelo trabalho” (Uva, 2006a, p.5).
Estimativas revelam que aproximadamente dois milhões de trabalhadores
morrem devido a acidentes do trabalho e a doenças profissionais.
Mundialmente ocorrem por ano 270 milhões de acidentes de trabalho e 160
milhões de casos de doenças profissionais (Organização Internacional do
Trabalho, 2004).
A estimativa da morbilidade por LMELT, geralmente, é baseada em
questionários de auto-referência de sintomas dirigidos à população via postal.
Os resultados dos questionários identificam os valores de prevalência de
sintomas na Dinamarca, Bélgica e Holanda, respectivamente: (1) 37%, 28% e
20% na região cervical; (2) 35%, 22% e 18% na região do ombro; (3) 8%,
7% e 6% na região do cotovelo; e (4) 17%, 15% e 11% na região do
26
punho/mão (Blatter; Bongers, 1999; Borg; Burr, 1997; Jones et al., 1998
como citado em Serranheira, 2007).
A agregação das doenças e dos acidentes de trabalho têm por propósito
destacar a totalidade das situações patológicas, nos casos onde o trabalho
constitui factor adverso para a saúde, intentando uma maior visibilidade
pública além de, relevar a importância destas patologias na definição de
políticas de saúde (Uva, 2006b).
2.2. Definição das LMELT
As lesões músculo-esqueléticas (LME) são patologias que se manifestam por
alterações ao nível dos músculos, nervos, tendões e ligamentos, articulações
e cartilagens (Institut National de la Recherche Scientifique, 1997).
As lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) são referidas
como “ligadas ao trabalho” pois abrangem as situações de acidente de
trabalho, de doença profissional, de “doença relacionada com o trabalho e de
doença agravada pelo trabalho” (Uva, 2006a, p.5).
Como o conceito de LMELT não é consensual, relativamente à sua origem
alguns autores (Serranheira, Uva, Lopes, 2005) fizeram sistematizações
(Quadro 1).
27
País Nomenclatura
EUA Cumulative Trauma Disorders (CTS)
Reino Unido Repetitive Strain Injuries (RSI)
Japão Cervicobrachial Syndrome
Suécia Occupacional Carvicobrachial Disorder
Brasil Lesões por Esforços Repetitivos (LER)
Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o trabalho (DORT)
Portugal Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao trabalho
(LMELT)
Lesões Músculo-Esqueléticas Relacionadas com o trabalho (LMERT)
Austrália Occupational Overuse Syndrome (OOS)
França Lésion Attribuables aux Trauvaux Répétitifes (LART)
Canadá Repetitive Strain Injuries (RSI)
Troubles Musculosquelettiques (TMS)
Quadro 1: Diferentes nomenclaturas de LMELT (Adaptação de Serranheira et al.,
2005) Fonte: Serranheira et al., 2005, p.64
Essas lesões (Quadro 2) podem ser definidas como síndromes de dor crónica,
atingindo uma ou mais regiões corporais, muito frequentemente afectando em
simultâneo o pescoço e o membro superior e ocorrendo no contexto do
desenvolvimento de uma dada actividade profissional, repetitiva ou com
posturas estáticas e envolvendo a manipulação de cargas (Harrington, et al.,
1998).
28
Lesões
Tendinosas
Lesões
Nervosas
Lesões
Musculares
Lesões
Vasculares
Lesões
Articulares
Lesões das
Bolsas
Tendinites,
tendinoses
Síndrome
dos canais
Síndrome de
tensão cervical
Síndrome
hipotenar do martelo
Osteoartrites Bursites
Peritendinites,
tenossinovites,
sinovites
Cárpico Mialgias e miosites
Síndrome
de
Raynaud´s
Osteoartroses
Epicondilites Cubital
Lesões
musculares
de tensão, força,
entorses e
sem
diagnóstico específico
De Quervains Guyon
Dupuytren´s Radial
Dedo em
gatilho Torácico
Quistos
ganglionares
Síndrome
cervical
Neurites
digitais
Quadro 2: Síntese de LMELT
Fonte: Cooper and Baker, 1996 as cited in EASHW, 1999
As regiões anatómicas mais atingidas pelas LMELT são a região cervical, os
ombros, os membros superiores, abrangendo braço, cotovelo, antebraço,
punho, mão e dedos, e a coluna vertebral, particularmente a nível da região
lombar (NIOSH, 1997).
Um estudo (EASHW, 2010) analisou os dados por género e, admiravelmente,
verificou diferentes padrões de lesões músculo-esqueléticas: os indivíduos do
sexo feminino são mais afectados por dores no pescoço / ombros, braços /
mãos e os pés / pernas (incluindo as pernas inchadas), enquanto os do sexo
oposto são mais atingidos pelos problemas no joelhos e quadril.
De acordo com Putz-Anderson (1982) as lesões músculo-esqueléticas
possibilitam ser agrupadas em três categorias: (1) as lesões localizadas ao
nível dos tendões e bainhas, incluindo de uma forma geral, as tendinites, as
tendinoses e as tenossinovites, a doença De Quervain e os quistos das
bainhas dos tendões; (2) as lesões dos nervos, que agrupam todas as
síndromes canaliculares e (3) as lesões neuro-vasculares, que englobam
29
todas as patologias no qual exista contactam entre os nervos e os vasos
sanguíneos, também como as síndromes de exposição a vibrações. A referida
classificação não abrange as lesões osteo-articulares e as lesões das bolsas
articulares associadas com o trabalho que alguns autores também consideram
como lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho.
De acordo com o mesmo autor, relativamente aos sintomas auto-referidos
das LMELT com maior frequência: (1) dor localizada; (2) desconforto; (3)
fadiga localizada; (4) parestesia (“formigueiro”); (5) sensação de peso; (6)
sensação ou perda objectiva de força muscular; (7) edema e (8) alodinia. Os
sintomas podem variar de acordo com o quadro clínico existente, a sua
intensidade e, também, a sua localização.
O mesmo ainda afirma que, os sintomas aparecem de modo insidioso,
principalmente ao final da jornada de trabalho, ou ainda nos picos de
produção, observando um certo alívio com o repouso e nos momentos de
afastamento do local de trabalho, sobretudo nas “folgas”, aos fins-de-semana
e os períodos de férias. O quadro álgico sucede na zona afectada no qual é
agravada pela mobilização das estruturas subjacentes acometidas e pela
pressão feita no exacto local.
3. Gestão do risco de LMELT
A caracterização do risco equivale à última etapa diagnóstica das situações de
risco, compõe-se na combinação dos resultados da avaliação da exposição
profissional e dos efeitos, no âmbito da caracterização da estimativa dos
riscos para a saúde e segurança (IPCS, 2000, como citado em Uva, 2006b).
A análise do trabalho intenta contribuir, entre outros aspectos, para a
identificação e a avaliação dos factores de risco descrevendo, detalhando e
analisando os factores de risco presentes no local de trabalho, para que se
utilizem metodologias concebidas com o objectivo de quantificar e evitar o
risco destas patologias. Esta sistematização de procedimentos deverá reduzir
a probabilidade do trabalho e das condições de trabalho actuarem como
factores determinantes no desencadeamento de LMELT e compõem o modelo
de gestão do risco de LMELT na perspectiva ergonómica (NIOSH, 1997).
A gestão de riscos em Saúde Ocupacional tem como primordial finalidade a
prevenção de lesões ou doenças “ligadas” ao trabalho (Sadhra e Rampal,
30
1999 como citado em Uva, 2006b). O “risk management” ou “risk control”,
como é denominado na nomenclatura inglesa, refere-se à decisão de intervir
na sua exclusão ou contenção, obviamente, para à posteriori definir a (in)
aceitabilidade do risco em cada situação concreta de trabalho (Uva, 2006b).
No contexto deste modelo de gestão, um dos aspectos mais importantes na
prevenção é a participação de todos os trabalhadores da empresa, incluindo
os órgãos da administração/gestão e as chefias intermédias, numa
perspectiva de gestão integrada, na qual, a abordagem não deve ser centrada
apenas na prevenção de novas lesões músculo-esqueléticas, mas também na
manutenção em actividade, reabilitação e reintegração dos trabalhadores que
já sofrem de lesões músculo-esqueléticas (Serranheira, et al., 2005).
É ainda indispensável a partilha total de informação sobre os elementos das
situações de trabalho, partindo do conhecimento existente e integrando os
resultados da avaliação do risco. A prevenção das LMELT é um problema de
todos e não dos médicos e dos trabalhadores com doenças ou lesões.
Segundo Uva & Graça (2004) permite anteceder, evitar e favorecer o
incremento dos ambientes e práticas de trabalho saudáveis e promover a
saúde nos locais de trabalho (Uva, 2006b).
Ao referir prevenção das LMELT torna-se pertinente a existência de um grupo
de procedimentos ergonómicos (integradores) que, sistematicamente,
minimizem significativamente ocorrência (ou ao menos reduza a
probabilidade) de efeitos adversos. Tais procedimentos podem ser
denominados como “gestão do risco”, e incluem as seguintes principais
componentes: (1) análise do trabalho; (2) vigilância da saúde do trabalhador
e (3) informação e formação dos trabalhadores (Uva, 2006b; Serranheira,
2007).
3.1. Modelos de gestão do risco de LMELT
Os modelos de gestão do risco passam, necessariamente, por abordagens
sistémicas, integradoras que, se devidamente fundamentadas, podem dar
origem a intervenções a diversos níveis: sobre a organização (horários,
pausas, modelos hierárquicos, entre outros), sobre o ambiente, os
equipamentos e sobre os trabalhadores (formação e informação).
31
Para que a intervenção seja efectiva importa destacar a análise (ergonómica)
do trabalho, ferramenta utilizada em ergonomia e que permite uma sólida
base para qualquer harmonização entre o homem e o trabalho.
3.1.1. Análise do trabalho
Ao referenciar análise do trabalho vale ressaltar algumas componentes
metodológicas de análise para decompor o trabalho em acontecimentos
distintos e sucessivos permitindo a observação de pormenores da acção no
exacto momento da execução do labor diário (Serranheira et al., 2005).
Alguns dos principais pormenores dos factores de risco profissionais de
análise do trabalho das LMELT, segundo os mesmos autores, durante a acção
da actividade laboral, são: (1) a aplicação de força; (2) o levantamento de
cargas; (3) a frequência dos gestos com os seus estereótipos; (4) a postura
extrema (isto é, postura adoptada no desempenho da actividade de trabalho,
que atinge ângulos articulares fora dos ângulos inter-segmentares de conforto
articular); e (5) a ausência de períodos de recuperação entre as actividades
laborais.
Na sua generalidade a análise do trabalho é “uma metodologia de estudo das
situações reais de trabalho” (Serranheira, 2007, p.66)
3.1.2. Vigilância da saúde
A vigilância da saúde é um processo no qual refere-se numa antecipação de
potenciais efeitos adversos (“aquilo” que causa um efeito prejudicial a saúde)
para a saúde, ou seja, pressupõe uma observação cautelosa de um único
indivíduo ou de uma equipa de pessoas potencialmente em risco de contrair
tal enfermidade. A vigilância em Saúde Ocupacional é desenvolvida
essencialmente pela observação próxima de eventuais efeitos relacionados
com os factores de risco de natureza profissional (Uva, 2006b).
A percepção sobre vigilância da saúde ainda pode ser caracterizada como o
processo de obtenção, análise e interpretação de dados que admitem
estabelecimento do estado de saúde individual ou do grupo de indivíduos, a
deliberação da sua relação com a exposição a factores de risco profissionais,
auxiliando perspectivar/programar a prevenção dos efeitos adversos do
32
trabalho sobre o organismo exposto, ou pelo menos diminuir esse risco
(Serranheira et al., 2005).
“A exploração do estado de saúde na vigilância da saúde em Medicina do Trabalho (…) pressupõe a obtenção, a análise e a
interpretação sistemática de dados sobre efeitos adversos para a
saúde relacionados com a exposição profissional (Backer, 1989).
Pode abranger (Bell et al., 1995; ILO, 2001) exames médicos, monitorização biológica, exames imagiológicos, questionários de
sintomas ou outros métodos de avaliação da saúde/doença,
designadamente a revisão de registos médicos” (Uva, 2006b, p.77).
A vigilância de saúde é um elemento obrigatório para um efectivo programa
de gestão de riscos, pois apenas através desta metodologia torna-se possível
decidir, se for o caso de intervenção correctiva, sobre a (in) aptidão para o
trabalho (Uva, 2006b).
“Como o diagnóstico precoce (prevenção secundária) e a adopção de
outras medidas de prevenção são essenciais para travar a evolução
das LMELT e prevenir o aparecimento de novos casos, torna-se ainda mais relevante a responsabilidade da equipa multidisciplinar de
saúde ocupacional, enquadrada numa abordagem de natureza
transdisciplinar”. (Serranheira et al., 2005, p.82).
3.1.3. Informação e formação dos trabalhadores
Com a gestão do risco em Saúde Ocupacional pretende-se primordialmente
incluir a “risk perception”, ou seja, a comunicação do risco, que se institui
como o processo de tornar a informação sobre o diagnóstico e gestão do risco
em Saúde Ocupacional compreensível para os vários intervenientes do
contexto do trabalho (Fischoff et al., 1993; Faustman e Omenn, 1996 como
citado em Uva, 2006b).
Essa comunicação antevê a informação e formação em matéria dos
respectivos factores de risco, e sobretudo do conhecimento mais abrangente
possível relativamente a história natural das LMELT, compreendendo a
influência dos factores de risco não profissionais na etiologia e/ou o
agravamento dessas lesões (Serranheira et al., 2005).
A falta de mudança de comportamento reflecte factores complexos, tais como
o nível da satisfação no trabalho e percepções negativas do que as chefias,
além de colegas de trabalho, estão fazendo para melhorar a segurança a sua
33
volta. Para autores Lawren et al. (1997) o programa de formação do estudo
inclui esforços substanciais para manter e reforçar a prática de um
comportamento aprendido. Se esse reforço é, de facto, ineficaz, que
representa uma fraqueza fundamental em programas de formação dirigidos
aos trabalhadores a título individual ou em pequenos grupos no local de
trabalho. Aumentar a factores económicos e sociais, questões trabalhistas e
de gestão, pode vir a determinar o sucesso ou fracasso de tais programas.
Para Spurgeon (1999 como citado em Uva, 2006b) muitos factores podem
influenciar a percepção do risco, destes salienta-se:
“(1) Exposição ou actividade voluntária vs. Involuntária – a actividade voluntária fomenta a aceitabilidade dos riscos. O exemplo
típico é o de um guia turístico de montanha que, nessa qualidade
profissional, tem uma diferente percepção dos riscos da sua
actividade do que a que tem ao percorrer, com o filho, os mesmos trilhos num fim-de-semana;
(2) Incerteza quanto às consequências da exposição – o medo do
desconhecido pode elevar a percepção do risco;
(3) Responsabilização pelo risco e sua prevenção – a percepção do risco aumenta com a responsabilização individual;
(4) Familiaridade com o factor de risco – pode subvalorizar o risco;
Ocorrência de efeitos adversos – os riscos com efeitos mediatos é
frequentemente menos valorizada dos que têm efeitos imediatos;
(5) Perigosidade dos efeitos – a gravidade dos efeitos aumenta a percepção dos riscos” (p.79-80).
O mesmo autor ainda considera que a formação e informação sobre riscos
profissionais estabelecem possivelmente a intervenção mais importante das
medidas de prevenção centradas no trabalhador.
Vale ressaltar que a formação convém ser aplicada não apenas aos
trabalhadores que estão directamente em contacto com os factores de risco,
como também aos que se relacionam com o processo produtivo, incluindo
chefias. A ausência de formação pode constituir-se em mais um factor de
risco de LMELT (NIOSH, 1997).
4. Factores de risco de LMELT
Um factor de risco profissional é um elemento da situação de trabalho, que
apresenta possibilidade de provocar um efeito adverso no Homem, uma
potencial fonte de efeito adverso ou uma conjuntura capaz de causar dano em
termos de saúde, lesão, ambiente, ou a sua combinação (Serranheira, 2007).
34
Para Armstrong e outros (Amstrong, et al., 1996, como citado em
Serranheira, 2007) na origem das muitas lesões destacam-se:
“(1) A repetitividade de movimentos; (2) a manutenção de posturas fora dos ângulos intersegmentares de conforto por tempo
prolongado; (3) o esforço físico despendido; (4) o levantamento de
cargas; (5) a invariabilidade de tarefas; (6) a pressão mecânica
sobre determinados segmentos corporais, em particular dos membros superiores; (7) o trabalho muscular estático; (8) a
“percussões” ou impactos com as mãos; (9) as vibrações; (10) as
baixas temperaturas; (11) os vários factores organizacionais; e (12)
os diversos aspectos de natureza psicossocial” (p.80).
Estudos epidemiológicos demonstram que os factores de risco interagem num
modelo multifactorial de risco para a etiologia das LMELT, segundo Hagberg,
et al. (1995), relevando-se contributos:
(1) Factores de risco relacionados ao com a actividade (factores de risco com
origem nos “sistemas” de realização da actividade laboral), insuficientemente
valorizados pelas empresas;
(2) Factores de riscos individuais ou relativos a susceptibilidades individual,
ou também designados como co-factores de risco;
(3) Factores de risco organizacionais/psicossociais presentes no contexto de
trabalho que, apesar de também considerados factores de risco profissionais,
são habitualmente perspectivados de forma diferente dos chamados factores
profissionais “clássicos”.
4.1. Factores de risco profissionais ou ligados ao trabalho
Como já foi mencionado, as causas de lesões músculo-esqueléticas ligadas ao
trabalho são geralmente multifactoriais e existem inúmeros (e bem
estabelecidos) factores de risco relacionados com o trabalho (factores de risco
profissionais) para os diferentes tipos de distúrbios osteomusculares. Estes
incluem os factores físicos, ergonómicos e psicossociais. O levantamento para
as condições de trabalho é a principal fonte europeia de dados comparáveis,
esta aborda os factores de risco para o desenvolvimento de lesões músculo-
esqueléticas (EASHW, 2010):
35
(1) Trabalho repetitivo (repetitividade): no qual a identificação da
repetitividade numa situação de trabalho acontece quando se verifica a
realização de movimentos idênticos realizados mais de duas a quatro vezes
por minuto, acima de 50% do tempo de trabalho, em ciclos de duração
inferior a trinta segundos, ou uma acção durante mais de quatro horas
seguidas, no total do dia de trabalho (Serranheira et al., 2008);
(2) Posições cansativas (ou postura): caracterizando a postura, deve-se
considerar: “(1) o alinhamento biomecânico; (2) a orientação espacial das
várias zonas corporais; (3) a posição relativa dos vários segmentos
anatómicos; e (4) a atitude corporal assumida durante a actividade de
trabalho” (Vieira & Kumar, 2004);
(3) Transporte ou movimentação de cargas pesadas (aplicação de força):
relativamente a força como factor de risco profissional, associa-se a sua
“forma” de aplicação na realização da actividade de trabalho, isto é, a sua
intensidade, a duração, a distribuição (isto é, “picos, médias, pausas,
particularmente em acções de trabalho predominantemente estático”) e seu
grau de repetitividade (Serranheira et al., 2008).
Outros factores de risco que contribuem para distúrbios músculo-esqueléticos
e mais especifica a determinadas profissões, como a exposição a vibrações,
levantar ou transportar pessoas e prolongada de pé ou andando (EASHW,
2010).
4.2. Factores de risco individuais
Alguns autores referenciam (Malchaire; Cock, 1999 como citado em
Serranheira et al., 2008) os factores de risco individuais de equivalente forma
como co-factores de risco, pelo facto de suas particularidades contribuírem
para a génese das LMELT. Os mesmos autores ainda relatam que, os
indivíduos são “únicos” e apresentam “variações” aos mais diversos níveis que
podem ser relacionadas com a presença de LMELT, designadamente (1)
características antropométricas; (2) hábitos/estilos de vida; e (3) situação de
saúde.
“É igualmente possível falar de aspectos relacionados com o género e
com a idade como elementos que podem eventualmente contribuir
para a génese destas patologias, mas que estão principalmente associados a aspectos de cariz cultural. Com efeito, podem ser
36
cautelosamente considerados como factores de risco destas lesões
em contextos onde a sua análise seja assertiva” (p.40).
4.3. Factores de risco organizacionais/psicossociais
Segundo EASHW (2010), tanto a organização do trabalho e factores
psicossociais do trabalho são reconhecidos como associados aos transtornos
osteomusculares, no entanto, a falta de padronização dos conceitos e da
terminologia tem gerado dificuldades quando se procura interpretar
resultados da investigação e para gerar limites de acção. Hagberg, et al.
(1995) têm discutido o significado do trabalho de trabalhos organizacionais e
psicossociais: factores psicossociais no trabalho são os aspectos subjectivos
percebidos pelos trabalhadores e gestores. Eles geralmente têm os mesmos
nomes como os factores da organização do trabalho, mas são diferentes em
que eles carregam valor "emocional" para o trabalhador.
Considera ainda que, a natureza da supervisão pode ter efeitos psicossociais
(stress emocional) positivos ou negativos, enquanto os aspectos da
organização do trabalho são apenas descritivos de como a fiscalização é
realizada e não carregam nenhum valor emocional. Os factores psicossociais
são as percepções subjectivas individuais dos factores da organização do
trabalho, deve ser notado que esta não é uma definição globalmente aceite.
Em outros estudos epidemiológicos (NIOSH, 1997) revelam evidência de
relação entre a incidência de LMELT e a percepção de ritmos intensos de
trabalho, a monotonia das tarefas e o reduzido suporte social.
5. Prevenção de LMELT
“As metodologias de classificação do risco profissional apoiadas nas
variáveis “probabilidade de ocorrência”, “frequência de exposição” e
“gravidade do efeito adverso”, independentemente da sua natureza
mais qualitativa (ou semi-qualitativa), frequentemente utilizadas em Segurança do Trabalho, ou mais quantitativa característica da
Higiene do Trabalho, constituem-se como abordagens de avaliação
do risco que quase desprezam as variáveis de natureza individual
dos trabalhadores expostos, remetendo essa abordagem para os “médicos” numa perspectiva de doença individual. Acresce a
circunstância de a saúde ser muitas vezes confundida com medicina
ou, em termos profissionais, a saúde ocupacional ser muitas vezes
confundida com medicina do trabalho” (Uva, 2007, p.64).
37
Os procedimentos de prevenção passam primeiramente pela análise do
trabalho (conforme já foi abordada anteriormente).
“O aspecto determinante para que a identificação dos factores de risco e a avaliação do risco das LMELT (diagnóstico) constituam uma
fase necessária e válida é a consequente prevenção dessas lesões
(gestão). Nesse sentido, tal processo é, habitualmente, um contínuo
retroalimentado entre os momentos de diagnóstico do risco e os de intervenção nos postos de trabalho onde, numa primeira etapa se
identificou a presença de factores de risco e a probabilidade de
ocorrência dessas patologias” (Serranheira et al., 2008, p. 81).
Algumas componentes metodológicas de prevenção implicam na aplicação de
procedimentos que pretendem hierarquizar o risco e consentir às suas
equipas uma possibilidade de estudo pormenorizado e intervenção nos postos
de trabalho, por ordem decrescente de gravidade das situações de risco. No
estudo de Serranheira, Uva, Espírito-Santo (2007), o ponto de partida iniciou-
se com a formação dos trabalhadores, essencialmente nos aspectos ligados
aos riscos de LMELT. Em seguida, foi desenvolvido e distribuído um
documento que aspirou apelar ao espírito de cooperação dos trabalhadores,
onde se evidenciava a motivação da empresa em relação a prevenção das
LMELT, promovendo o pedido de sugestões dos trabalhadores.
Uma das ferramentas de prevenção de LMELT em Ergonomia passa pela
intervenção centrada no indivíduo, designadamente a formação e informação.
Nesse contexto é possível referenciar a formação em Ginástica Laboral
(Gouveia, 2009). A Ginástica Laboral consiste num método de intervenção
composto de um grupo de exercícios físicos específicos de alongamento,
fortalecimento muscular e coordenação motora. Essa prática caracteriza-se
como um programa de qualidade de vida e de promoção de lazer dentro do
horário de trabalho (Mendes & Leite, 2008).
A Ginástica Laboral, ou ainda chamada de Ginástica do Trabalho, foi assim
intitulada por ser uma actividade direccionada para a área do trabalho,
tornando-se como uma das estratégias para enfrentar a problemática das
LMELT (Canete, 2001).
Um programa de prevenção envolve alterações a nível organizacional,
ambiental e dos postos de trabalho, associados a exercícios físicos e
orientações posturais, podendo assim auxiliar na minimização das queixas
38
relacionadas à LMELT (Alexandre & Guiardelo, 1999, como citado em Macedo,
2008); tal intervenção reduziu mais a incidência da doença do que o
tratamento médico (Michelin et al. 2000, como citado em Macedo, 2008).
39
Segunda Parte
6. Metodologia
O presente estudo decorreu numa empresa situada na Grande Lisboa, cujo
ramo de actividade é a produção de contadores de água e peças de mecânica
de precisão.
A abordagem da investigação caracterizou-se pela natureza descritiva e
transversal do estudo, uma vez que se recolheu informação com o intuito de
descrever a “situação” num dado momento. Pode-se ainda classificá-la como
“o estudo de um caso”, devido ao facto de retratar a realidade de uma única
organização (Yin, 1994).
6.1. Objectivos do estudo
Contextualizando as opções epidemiológicas em função da presente
problemática, os objectivos deste estudo passam por:
(1) Identificar a prevalência de sintomas associados ao surgimento de
patologias músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho nos trabalhadores da
empresa;
(2) Relacionar os sintomas referidos pelos trabalhadores com a respectiva
actividade de trabalho, bem como a sua localização corporal, e aspectos de
qualidade de vida; e
(3) Intentar estratégias de intervenção organizacional e prevenção para a
diminuição dos resultados observados, fundamentalmente centrados no
trabalhador através de informação e formação dos trabalhadores sobre as
lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT).
6.2. Delineamento do estudo
Os vínculos estabelecidos para a concretização desta investigação iniciaram-
se em Novembro de 2009 e a autorização para o início da pesquisa de campo
foi concedida em Março de 2010, através de metodologia previamente
acordada com a empresa. O trabalho de campo decorreu entre os meses de
Março a Setembro de 2010 (aproximadamente 7 meses).
40
Sinteticamente, a metodologia assentou na recolha de informação com o
objectivo final de intervenção Sócio-Organizacional para prevenção das
LMELT, designadamente baseado no knowledge transfer e na melhoria da
literacia dos trabalhadores na área das LMELT.
A escolha dos métodos de investigação baseou-se no historial da Saúde
Ocupacional da empresa, relativamente às queixas e sintomatologia
procedentes das exigências impostas pelo “tipo” de actividade de trabalho.
Portanto, numa decisão em conjunto com as áreas de Medicina do Trabalho,
Engenharia Industrial/Qualidade e Recursos Humanos, foi definida a amostra
da investigação, integrando os sectores de (1) Relojoaria, (2) Contadores, e
(3) Laboratório de Contadores.
O principal instrumento de recolha de informação foi um questionário de auto-
reposta, baseado numa adaptação do Questionário Nódico Músculo-
Esquelético (QNM), versão portuguesa dos autores Serranheira, et al. (2008),
aplicado com o intuito de identificar a prevalência de sintomas associados ao
surgimento de patologias músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho, e
relacionar as queixas com as respectivas actividades dos trabalhadores em
questão. Houve a necessidade de alteração, mesmo que discreta, na forma de
aplicação do questionário, isto é, a aplicação foi assistida pelo investigador.
De início foi necessário recolher informação junto da organização,
designadamente: informações gerais dos trabalhadores; informações da
organização (por exemplo: direcção Industrial/Qualidade, direcção de
Recursos Humanos, chefia de engenharia de contadores, chefia de engenharia
de mecânica de precisão); informações no local da actividade de trabalho (por
exemplo: planos de trabalho de cada função, nomenclatura de
peças/instrumentos/máquinas, relato de “casos”).
Identificadas as principais queixas, sintomas e LMELT referidas pelos
trabalhadores foi efectuada Formação em LMELT a um conjunto de
respondentes e, de seguida, avaliada a Formação (“Questionário Pós-
Formação”) no sentido de identificar ganhos em conhecimento e, por
conseguinte, sensibilização para acções na organização de prevenção
centradas no trabalhador.
41
6.3. Caracterização do local do estudo
A pesquisa de campo foi efectuada numa empresa de fabricação de
contadores de água e peças de mecânica de precisão, situada em Lisboa
(Portugal).
A empresa foi fundada em 1915. O ramo de actividade da empresa centra-se
na fabricação de contadores de água e peças de mecânica de precisão.
A produção é contadores para água potável com calibres de 15mm a 50mm
DN do tipo volumétrico e de turbina multijato e monojato. Componentes para
contadores e peças (torneamento de precisão) pequenas e médias séries, e
componentes e peças de mecânica de precisão.
Relativamente à posição da empresa no mercado, são produzidos cerca de
80% de contadores de água para o mercado português e espanhol, e 20%
para o mercado mundial. A produção de componentes e peças de mecânica de
precisão são 100% destinados para a Europa Comunitária.
No total há aproximadamente 161 funcionários (número estimado pela
empresa com dados de 2008), sendo esse número variável pois há
funcionários temporários (varia devido ao volume de encomendas).
Globalmente, de uma simples análise observacional, a fábrica apresenta
condições ambientais deficitárias, quer a nível da iluminação artificial
(candeeiros) e natural (janelas), quer climáticas (ambiente mal ventilado, ar
interior com “poeiras, fuligem visível”). O piso não é antiderrapante (há água
que escorre dos contadores quando são realizados os testes que aumenta o
risco de quedas), o espaço físico é insuficiente no geral (os espaços de
trabalho e os circuitos estão subdimensionados, observa-se mau estado de
conservação de alguns equipamentos, os trabalhadores não utilizam sempre
os equipamentos de segurança, por exemplo: botas de segurança (“biqueira
de aço”), luvas, protectores auriculares, máscaras, dentre outros).
6.4. Breve descrição observacional da organização e dos
postos de trabalho
Os postos de trabalho distribuem-se na fábrica de acordo com os sectores de
Relojoaria, Contadores, e Laboratório de Contadores.
42
As tarefas e actividades de trabalho são executadas em ambientes com
algumas exigências de produtividade, devido as linhas de produção pois estes
três sectores dependem um da produção do outro, e implicam tarefas
predominantemente manuais num importante número de postos de trabalho.
No geral foi observado, empiricamente, que os trabalhadores no sector de
Relojoaria (Figura 3) adquirem habitualmente um posicionamento que
“ultrapassa, pelo menos, a metade da amplitude de movimento da articulação
envolvida na actividade” (Serranheira et al., 2005, p.7) laboral; não há pesos
ou cargas associados aos gestos; realizam movimentos mais “delicados” ou
“precisos” (coordenação oculomotora fina, em flexão cervical devido a
bancada baixa, fixa e sem regulação em altura).
Figura 2: Sector de Relojoaria
No sector de Contadores observou-se de uma forma geral (Figura 4),
empiricamente, que os trabalhadores apresentam gestos de maior amplitude
de movimento (quando comparados com os operadores do sector de
Relojoaria).
Há pesos ou cargas associados aos gestos, pelo simples facto dos operadores
precisarem segurar e/ou deslocar os contadores durante suas actividades
43
laborais, afinal eles são feitos de “metal e/ou liga de metais”, pesando
aproximadamente 3 quilogramas (peso líquido) segundo relato dos próprios
operadores. Quando os contadores são levados de um ambiente para outro
(por exemplo: do sector de contadores para o de relojoaria) têm de ser
deslocados em “carrinhos” ou caixas de papelão devido ao peso (peso
líquido), o que se traduz em peso a combinado com movimentos (ou gestos).
Foi evidenciado que os sectores de Relojoaria e Contadores têm em comum
aspectos como: (1) espaço físico reduzido, bancadas sem regulação em
altura, em mau estado de conservação, sem segurança, assentos sem
condições de utilização (alguns trabalhadores sentam-se em bancos de
madeira sem apoio lombar); (2) não há apoio a nível da articulação dos
cotovelos; (3) movimentos repetitivos nos gestos laborais (manípulos,
ferramentas de cravação, ferramentas de lacre, dentre outros – e que será
comprovado no capítulo Resultados). Apesar disso, todos têm formação sobre
as zonas ideais de trabalho, isto é, são formados para trabalhar dentro da
“zona de trabalho”, num alcance máximo de 40 centímetros (conforme está
indicado nos “planos de operação” de cada função).
Figura 3: Sector de Contadores
44
A função do sector de Laboratório de Contadores é de testar (ou ensaiar) os
contadores de água que já foram previamente testados no sector de
Contadores, para que assim possa se colocar o selo de Qualidade. Este sector
é composto por apenas 2 funcionários e observa-se uma maior flexibilidade de
horários combinada com uma menor exigência laboral (relativo à demanda de
trabalho) no geral, devido ao facto da demanda de trabalho ser menor pois a
produção do sector de Laboratório de Contadores depende do sector de
Contadores, pois os contadores de água são enviados por eles. O espaço físico
tem dimensões mais amplas (quando comparados com os outros sectores) e
existe uma maior possibilidade de pausas ou “repouso extra” visto que estão
dependentes do sector de Contadores “enviar” os contadores para os testes
do Laboratório (se não há contadores para testar não há trabalho). Condições
de temperatura e de ruído um pouco melhores que as demais, pois ficam num
espaço isolado dos restantes dos dois sectores.
6.5. População e amostra
A amostra do estudo é constituída por 59 postos de trabalho (n=59), sendo
34 do sector de Relojoaria (n=34), 23 do sector de Contadores (n=23), e 2 do
sector de Laboratório de Contadores (n=2).
Todos os trabalhadores deram a anuência e não existiram exclusões.
6.6. Questionário Nórdico Músculo-Esquelético e
variáveis de estudo
A origem das LMELT é, reconhecidamente, multifactorial. Nessa linha de
raciocínio, colaboram para o desenvolvimento dessas lesões um grupo de
factores de risco que podem ser agrupados conforme Hagberg, et al. (1995):
(1) relacionados ao com a actividade de trabalho; (2) individuais ou relativos
a susceptibilidades individual; (3) organizacionais/psicossociais.
Para realização deste estudo foi utilizado um Questionário adaptado da versão
portuguesa do Questionário Nórdico Músculo-Esquelético (QNM), presente nos
Cadernos Avulsos da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho
(Serranheira, Lopes e Uva, 2008), composto por 131 perguntas,
especialmente preparadas para recolher informação sobre a caracterização
sócio-demográfica, sobre os sintomas e sobre a relação entre os sintomas e a
45
actividade de trabalho. Tal questionário apresenta principais subdivisões
separadas de acordo com o assunto (Apêndice 1).
Inicialmente a primeira subdivisão (Figura 5) é composta de 12 questões
sobre “Caracterização Sócio-Demográfica”, que consiste em identificar as
fundamentais características sócio-demográficas e profissionais de cada
operador. Apresenta questões fechadas como: (1) nome, (2) género, (3)
idade, (4) peso, (5) altura, (6) membro superior dominante, (7) tempo do
funcionário na empresa, (8) média de horas semanal trabalhadas, (9) tipo de
horário, (10) realização de actividade extra-laboral, (11) qual actividade
extra-laboral, e (12) sector de trabalho (questão esta incluída pela
investigadora).
Figura 4: Caracterização sócio-demográfica Fonte: Serranheira et al. (2008)
Na segunda subdivisão incluem-se 13 questões referentes à “Caracterização
do Estado de Saúde dos Trabalhadores”, intentando identificar elementos
como o estado de saúde actual dos trabalhadores; o estado de saúde do
trabalhador nos últimos doze meses; e a detecção de uma eventual existência
de associação a absentismo-doença. As questões são: (1) prática de
desporto, (2) tipo de desporto, (3) tabagismo, (4) número de cigarros por dia,
(5) ingestão de bebidas alcoólicas, (6) ingestão de café, (7) presença de
doença (s), (8) tipo de doença (s), (9) Ingestão de medicamentos, (10)
realização de tratamento (s) de reabilitação, (11) qual (is) tratamento (s) de
reabilitação, (12) Consulta médica no último ano, e (13) Motivo da consulta
médica. Os itens de 1 a 8 são de grande relevância pois podem, de certa
forma, influenciar no surgimento ou evolução das lesões músculo-esqueléticas
(Figura 6).
46
Figura 5: Caracterização do estado de saúde Fonte: Serranheira et al. (2008)
A seguinte subdivisão, nomeadamente a terceira, composta de exactamente
72 questões sobre a “Caracterização da Sintomatologia Ligada ao Trabalho”
(Figura 7), ou seja, esta fase do questionário visa aferir e identificar
moléstias, tais como fadiga, desconforto, dor e inchaço, divididos em 9
regiões corporais, tais como: (1) cervical, (2) dorsal, (3) lombar, (4) ombros
(direito e esquerdo), (5) cotovelos (direito e esquerdo), (6) punhos e mãos
(direito e esquerdo), (7) coxas (direito e esquerdo), (8) joelhos (direito e
esquerdo), e (9) tornozelos e pés (direito e esquerdo).
Estas queixas devem estar presentes durante os últimos 12 meses existentes
no mínimo em 4 dias seguidos, e devem ser classificadas de acordo com sua
Intensidade e Frequência. A intensidade é aferida numa escala de 1 a 4: (1)
Ligeiro, (2) Moderado, (3) Intenso e (4) Muito Intenso. A Frequência, por sua
vez, classifica o número de vezes por ano em que a queixa é sentida pelo
respondente: (1) uma vez por ano, (2) duas ou três vezes por ano, (3) quatro
a seis vezes por ano e (4) mais que seis vezes por ano. Ainda é classificado se
a queixa referida esteve presente durante a última semana (nos últimos 7
dias), e se por acaso o respondente esteve impedido de realizar o seu
trabalho habitual devido a este problema (absentismo) e por quantos dias.
47
Figura 6: Caracterização da sintomatologia ligada ao trabalho Fonte: Serranheira et al. (2008)
Na última subdivisão, a quarta, visa-se a “Caracterização da Actividade de
Trabalho e sua Relação com os Sintomas Referidos” (Figura 8) e
essencialmente, as questões compõem o “módulo do trabalho” e pretendem
determinar eventuais relações entre os postos de trabalho, factores de risco
de LMELT, actividades consideradas com potencial risco e a referida
sintomatologia. Aqui existem 34 questões subdivididas em 3 grupos:
(1) Questões sobre os postos de trabalho que o respondente desempenha
[dentre essas a investigadora incluiu duas questões: a. existência de alguma
situação em que as pausas precisam ser alteradas de horário ou reduzidas de
tempo, e b. qual (is) situação (ões)].
48
Figura 7: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os sintomas
Fonte: Serranheira et al. (2008)
(2) Questões sobre o posto de trabalho principal envolvendo diversas
actividades (como por exemplo: trabalho sentado, repetitividade dos braços,
aplicar força com as mãos, dentre outros) classificando-as de acordo com a
relação com os sintomas referidos anteriormente (na secção de
Caracterização da Sintomatologia Ligada ao Trabalho) e utilizando o método
de classificação da escala do tipo Likert. A referida escala, é composta de
“frases-chave” enumeradas numa fracção ordinária e gradativamente entre 1
e 4 [(1) sem relação com os sintomas, (2) pouco relacionado com os
sintomas, (3) muito relacionado com os sintomas, (4) totalmente relacionado
com os sintomas], e ainda, caso haja desconhecimento de alguma questão
abordada ou ainda, se o respondente não tem resposta ou não querer
responder, é possível seleccionar alternativa correspondente para estas duas
situações [(8) não sabe, e (9) não quer responder], (Figura 9).
49
Figura 8: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os sintomas (Continuação I)
Fonte: Serranheira et al. (2008)
(3) Questões sobre a existência de dificuldade/exigência, aplicação de força e
repetitividade de movimentos em alguns dos postos de trabalho
desempenhados pelo respondente; e três questões incluídas pela
investigadora: a. Existência de rotatividade entre os postos de trabalho, b.
Com que frequência, e c. Com que permanência, (Figura 10).
Figura 9: Caracterização da actividade de trabalho e relação com os sintomas
(Continuação II)
Fonte: Serranheira et al. (2008)
Essa investigação pretende obter o “retrato da situação” actual da empresa,
identificando os factores de risco que estão intimamente relacionados com os
postos de trabalho, com as diferentes funções ou actividades, de forma a
intervir com a “ferramenta”, quer de eventual futura intervenção, quer da
Formação em LMELT, onde se espera melhorar a informação, esclarecimento
e/ou acesso à informação dos trabalhadores, relativamente às LMELT.
50
6.7. Métodos de análise estatística dos dados
A obtenção dos resultados foi alicerçada, em primeiro lugar, na análise
estatística descritiva dos dados (média, desvio-padrão, frequência simples,
percentagem). Os dados foram analisados na aplicação de tratamento
estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences versão 15.0 for
Windows).
A informação obtida foi analisada através de medidas de tendência central,
que procuram caracterizar o valor da variável sob estudo que ocorre com
mais frequência, e pelas medidas de assimetria e achatamento que são
àquelas no qual evidencia a forma de distribuição dos elementos da amostra
(Maroco, 2007).
De seguida procuraram-se relações entre as principais variáveis, a
identificação dos sintomas e dos elementos mais contributivos para a
presença de queixas, e a estratificação por classes e/ou grupos, através da
estatística do Teste do Qui-Quadrado. Este teste (representado por ²),
“serve para testar se duas ou mais populações (ou grupos)
independentes diferem relativamente a uma determinada
característica, i.e. se a frequência com que os elementos da amostra
se repartem pelas classes de uma variável nominal categorizada é ou
não idêntica; (…) e seus dados (contagens) organizam-se geralmente em tabelas de frequências absolutas” (Maroco, 2007,
p.103).
Relativamente a procura de relações entre as principais variáveis, quando
pretendemos testar as condições de aplicabilidade pelo teste do Qui-
Quadrado, consideramos: “H0) a distribuição das contagens pelos grupos é
independente da variável, versus H1) a distribuição das contagens pelas
amostras não é independente da variável” (Maroco, 2007).
Assim que o Qui-Quadrado é calculado, consideramos “para um determinado
nível de significância (a) rejeitamos H0”, ou seja, “a probabilidade de
significância é então dada pelo valor de a” (neste estudo foi considerado a
=0,05). Portanto, para p-value (Asymp. Sig 2-sided) <0,05 rejeitamos H0 (“a
distribuição das contagens pelos grupos é independente da variável”), ou em
outras palavras, rejeitando a hipótese de as amostras serem independentes
da variável consequentemente ficamos com a opção H1 onde consideramos
51
que a distribuição das dos resultados das contagens pelas amostras não é
independentes da variável, isto é, ela é dependente da variável (Maroco,
2007).
Após as constatações efectuadas no Teste do Qui-Quadrado, verificou-se a
existência de associação local entre categorias, calculando-se o Adjusted
Residual. O Adjusted Residual tem distribuição normal com médias zero e
desvio padrão igual a 1. Desta forma, caso o resíduo ajustado seja maior que
1,96, em valor absoluto, pode-se dizer que há evidências de associação
significante entre as duas categorias. Quanto maior for o resíduo ajustado,
maior a associação entre as categorias.
Também foi utilizado o programa Microsoft Office Excel para a obtenção de
interfaces intuitivas com intuito de clarificação nas análises, e também a
utilização de ferramentas de cálculo, tabelas electrónicas, e de construção de
gráficos (neste caso apenas quando o SPSS não consegue exprimir
representação gráfica de alguns conteúdos seleccionados).
A representação gráfica foi exposta por figuras, gráficos de barras, gráficos
circulares, histogramas de frequências, e tabelas de frequências.
53
7. Resultados
A totalidade da amostra da investigação é constituída por 59 trabalhadores
(n=59) divididos em 3 sectores de trabalho distintos, sendo 34 do sector de
Relojoaria (n=34, corresponde a 57,6% da amostra), 23 do sector de
Contadores (n=23, corresponde a 39% da amostra), e 2 do sector de
Laboratório de Contadores (n=2, corresponde a 3,4% da amostra).
A totalidade dos trabalhadores tem horário fixo, em média 40 horas semanais
(aproximadamente 8 horas de serviço diário). Os horários das pausas são os
próprios trabalhadores que administram, por iniciativa própria, o seu horário
desde que as 8 horas de trabalho sejam asseguradas e que não prejudique,
de certa forma, a produção.
7.1. Análise dos Resultados do Questionário Aplicado
7.1.1. Caracterização Sócio-Demográfica
O QNM foi aplicado a 59 trabalhadores, dentre esses 23 (39%) do sector de
Contadores, 34 (57,6%) do sector de Relojoaria e 2 (3,4%) do sector de
Laboratório de Contadores. A maior parte desses trabalhadores são do sexo
57,6%
39%
3,4%
Sector de trabalho
Relojoaria Contadores Laboratório de contadores
Gráfico 1: Sector de trabalho
54
feminino (94,9%), e os restantes são do sexo masculino (5,1%). A faixa
etária dos trabalhadores foi dividida em 4 grupos: (1) até 29 anos (10,2%),
(2) de 30 a 41 anos (61%), (3) de 42 a 53 anos (22%), e (4) maior ou igual
a 54 anos (6,8%). (Gráfico 2: Faixa etária).
Gráfico 2: Faixa Etária
O peso dos indivíduos está compreendido entre os 46 e 95 quilogramas. A
altura entre 1,50 e 1,80 metros. Cerca de 98,3% da população é dextra e
apenas 1 indivíduo esquerdino (1,7%).
Relativamente a antiguidade de serviço prestado na empresa, foi subdividido
em 4 grupos: (1) até 12 meses; (2) de 13 a 60 meses; (3) de 61 a 120
meses; (4) maior ou igual a 121 meses. Observou-se que maioritariamente
da amostra (59,3%) enquadra-se no grupo 4, isto é, a empresa apresenta
mais trabalhadores antigos ou que já estão na empresa já a mais de 10 anos.
(Tabela 1):
Frequência Percentagem
Válido 1) até 12 meses 14 23,7
2) de 13 a 60 meses 3 5,1
3) de 61 a 120 meses 7 11,9
4) ≥ a 121 35 59,3
Total 59 100,0
Tabela 1: Antiguidade de serviço prestado na fábrica em meses
≤ 29 anos 30 a 41 anos 42 a 53 anos ≥ 54 anos
Percentagem 10 61 22 07
00
10
20
30
40
50
60
70
Per
cen
tage
m
Faixa Etária
55
O horário laboral é fixo, equivalentemente a 40 horas de trabalho semanal.
Há ainda funcionários que possuem outro emprego (4 indivíduos, 6,8%), o
que para muitos autores pode constituir-se num factor de risco relevante para
o agravamento dos sintomas de LMELT. Desses trabalhadores, 2 Indivíduos
prestam serviços de limpeza, 1 é operador de caixa, e 1 não identificou a
classificação do seu outro trabalho.
7.1.2. Caracterização do estado de saúde
Cerca de 22% dos inquiridos pratica desporto e os desportos são variados
(Tabela2).
Frequência Percentagem
Valido BTT, bicicleta, ciclismo, atletismo, corrida 2 3,4
Ginástica 1 1,7
natação e desportos aquáticos 4 6,8
Futebol, futsal 1 1,7
caminhada 5 8,5
Total 13 22,0
Em falta Não se aplica 46 78,0
Total 59 100,0
Tabela 2: Tipo de desporto
Destaca-se maioritariamente a existência de algum problema de saúde
(52,5% apresentam alguma patologia). De entre esses, 22% tem origem
osteo-articular e muscular, representando a maior parte (Tabela 3).
Frequência Percentagem
Valido Respiratória 1 1,7
Osteo-articular e muscular 13 22,0
Metabolismo: obesidade, diabetes, hipercolesterolémia
7 11,9
mais que 1 doença 9 15,3
Total 30 50,8
Em falta Não se aplica 29 49,2
Total 59 100,0
Tabela 3: Patologias auto-referidas
56
A grande maioria foi assistida por um médico nos últimos 12 meses (94,9%),
sendo a maior procura na classe “Rotina, análises clínicas, doença crónica”.
7.1.3. Caracterização da sintomatologia ligada ao
trabalho
Antes de caracterizar a sintomatologia ligada ao trabalho, vale ressaltar
(Figuras 11 e 12) uma breve ilustração do ambiente laboral na empresa do
estudo em questão.
Figura 10: Ambiente Laboral 1
Relativamente à sintomatologia referida, em particular, o desconforto, a dor,
o inchaço e a fadiga, presentes nos últimos 12 meses é prevalente (Gráfico 3)
a região lombar (52,5%), dorsal (50,8%), cervical (44,1%), punho direito
(42,4%), ombro direito (33,9%), ombro esquerdo (30,5%), punho esquerdo
(20,3%), joelho direito (18,6%), tornozelo esquerdo (15,3%), tornozelo
direito (13,6%), joelho esquerdo (13,6%), cotovelo direito (11,9%), cotovelo
esquerdo (6,8%), coxa direita (6,8%) e coxa esquerda (6,8%).
57
Figura 11: Ambiente Laboral 2
De ressaltar também a presença de sintomatologia sentida por zona corporal
nos últimos 7 dias, nomeadamente coluna dorsal (33,9%), coluna lombar e
ombros direito e esquerdo (30,50% cada), punhos direito e esquerdo (25,4%)
e coluna cervical (23,7%).
Há ainda valores do absentismo relacionado ao trabalho associado com estes
sintomas, que atingem o valor máximo de 8,5% na região do punho e mãos.
58
Gráfico 3: Percentagens de desconforto sentido por zona corporal (12 meses e 7 dias) e prevalência de absentismo
Relativamente à intensidade, analisando o incómodo (fadiga, desconforto,
dor, inchaço) é possível evidenciar (Gráfico 4) referências próximas dos 12%
para os níveis intensos de incómodo a nível da coluna cervical (11,9%) e
muito intenso (5,1%). O maior índice de desconforto “muito intenso”
aproximou-se aos 13% na região do tornozelo esquerdo (13,6%).
Destacam-se valores de 27% e 13% para os níveis de incómodo “moderado”
a “ligeiro”, respectivamente, nas regiões da coluna dorsal (27,1%) e punho
direito (13,6%).
000% 010% 020% 030% 040% 050% 060%
tornozelo esquerdo
tornozelo direito
joelho esquerdo
joelho direito
coxa esquerda
coxa direita
col. Lombar
col. Dorsal
punho esquerdo
punho direito
cotovelo esquerdo
cotovelo direito
ombro esquerdo
ombro direito
col. Cervical
12 meses
7 dias
absentismo
59
Gráfico 4: Intensidade de incómodo (fadiga, desconforto, dor, inchaço) nos últimos 12
meses e que esteve presente em pelo menos 4 dias seguidos, distribuídos pelas zonas
corporais, analisadas todas as categorias profissionais.
Podemos observar analisando a sintomatologia auto-referida por zona
corporal das diferentes categorias profissionais, evidência dos níveis de
intensidade (Gráfico 4) de incómodos distribuídos de forma não uniforme; há
indivíduos em funções diferentes que apresentam as mesmas queixas e com
intensidade semelhantes.
7.1.4. Caracterização da actividade de trabalho e
a relação com a sintomatologia auto-referida
Com o intuito de tornar esta secção mais didáctica, pois a mesma é extensa,
dividiu-se em três partes:
7.1.4.1. Primeira Parte
Para a análise da variável “Designação dos Postos de Trabalho
Desempenhados” os três sectores em estudo (Relojoaria, Contadores e
Laboratório de Contadores) foram subdivididos:
60
1) Relojoaria A: designação para àqueles que desempenham 1 função no sector
de Relojoaria;
2) Relojoaria A+B: designação para àqueles que desempenham 2 funções no
sector de Relojoaria;
3) Relojoaria A+B+C: designação para àqueles que desempenham 3 funções
no sector de Relojoaria;
4) Contadores A: designação para àqueles que desempenham 1 função no
sector de Contadores;
5) Contadores A+B: designação para àqueles que desempenham 2 funções no
sector de Contadores;
6) Contadores A+B+C: designação para àqueles que desempenham 3 funções
no sector de Contadores;
7) Laboratório de Contadores A: designação para àqueles que desempenham
1 função no sector de Laboratório de Contadores, e
8) Laboratório de Contadores A+B+C: designação para àqueles que
desempenham 3 função no sector de Laboratório de Contadores.
Sendo assim, os resultados desta variável (Tabela 4) permite evidenciarem
que maioritariamente dos operadores desempenham três funções, sendo eles
45,8% no sector de Relojoaria (Relojoaria A+B+C), e 28,8% no sector de
Contadores (Contadores A+B+C).
Frequência Percentagem
Valido contadores A 1 1,7
contadores A+B 5 8,5
Contadores A+B+C 17 28,8
relojoaria A 3 5,1
relojoaria A+B 4 6,8
relojoaria A+B+C 27 45,8
laboratório A 1 1,7
laboratório A+B+C 1 1,7
Total 59 100,0
Tabela 4: Tarefas desempenhadas
61
Os registos de tempo de trabalho no posto principal, analisados da Tabela 5,
foram divididos em 4 grupos: (1) até 12 meses; (2) de 13 a 60 meses; (3) de
61 a 120 meses; e, (4) maior ou igual a 121 meses. Representa que 40,7%
dos trabalhadores encontram-se no posto principal de trabalho a
relativamente pouco tempo, isto é, num período de até 1 ano (12 meses), em
contrapartida, apenas 11,9% dos trabalhadores estão a um período igual ou
superior a 10 anos e 1 mês (121 meses) no seu posto de trabalho principal.
Frequência Percentagem (%)
Válido (1) até 12 meses 24 40,7
(2) de 13 a 60 meses 14 23,7
(3) de 61 a 120 meses 14 23,7
(4) maior ou igual a 121 meses 7 11,9
Total 59 100,0
Tabela 5: Trabalho no posto principal em meses
O tempo de repouso (pausa) permitido nessa fábrica é flexível (segundo
relatos), ou seja, o operador pode realizar mais pausas do que as
previamente determinadas, desde que as oito horas diárias de actividade
laboral sejam cumpridas e que as pausas não influenciem a linha de
produção.
Sendo assim, maioritariamente os operadores realizam três pausas (76,3%),
18,6% faz duas pausas, dois operadores fazem mais de três pausas (3,4%), e
apenas um operador (1,7%) executa apenas uma pausa (Tabela 6).
Frequência Percentagem
Valido uma pausa 1 1,7
duas pausas 11 18,6
três pausas 45 76,3
mais de três pausas 2 3,4
Total 59 100,0
Tabela 6: Número de pausas
De acordo com o que já foi referido anteriormente, as pausas são flexíveis,
permitidas pela iniciativa própria dos trabalhadores, desde que, as 8 horas de
trabalho sejam garantidas. E por esse facto, os horários das pausas de cada
trabalhador é determinada pelo próprio, portanto elas estão distribuídas em
horários diferentes.
62
Todos os trabalhadores realizam a primeira pausa (Gráfico 5), e estão
divididos em quatro grupos: (1) o primeiro grupo é composto por apenas 1
trabalhador (1,7%), e a duração da respectiva pausa é de 6 minutos; (2) o
segundo grupo é composto por 2 trabalhadores (3,4%), e a duração da
respectiva pausa é de 30 minutos; (3) o terceiro grupo é composto por 20
trabalhadores (33,9%), e a duração da respectiva pausa é de 10 minutos;
finalmente, o (4) quarto grupo, que corresponde a maioria, é composto por
36 trabalhadores (61%), e a duração da respectiva pausa é de 15 minutos.
Gráfico 5: Duração da primeira pausa
Praticamente todos os trabalhadores a realizam a pausa, com excepção de 1
trabalhador (1,7%), o que significa que este indivíduo durante a jornada de
trabalho de 8 horas, realiza apenas 1 pausa. A segunda pausa (Gráfico 6)
pode ser dividida em 6 grupos: (1) o primeiro grupo é composto por apenas 1
trabalhador (1,7%), e a duração da respectiva pausa é de 15 minutos; (2) o
segundo grupo é composto por também por 1 trabalhador (1,7%), e a
duração da respectiva pausa é de 20 minutos; (3) o terceiro grupo, que
corresponde a maioria, é composto por 51 trabalhadores (86,4%), e a
duração da respectiva pausa é de 30 minutos; (4) o quarto grupo é composto
por 2 trabalhadores (3,4%), e a duração da respectiva pausa é de 35
minutos; (5) o quinto grupo é composto por somente 1 trabalhador (1,7%), e
a duração da respectiva pausa é de 40 minutos; e enfim, o (6) o sexto grupo
é composto de 2 trabalhadores (3,4%), e a duração da respectiva pausa é de
1 hora (60 minutos).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 2 3 4
Duração da Primeira Pausa
Nº de operadores
Minutos
63
Gráfico 6: Duração da segunda pausa
Na terceira pausa há mais trabalhadores não a realizarem – cerca de 12
trabalhadores (20,3%) realizam 2 pausas durante a jornada de 8 hora de
trabalho.
A terceira pausa (Gráfico 7) pode ser dividida em 4 grupos: (1) o primeiro
grupo é composto por apenas 2 trabalhadores (3,4%), e a duração da
respectiva pausa é de 5 minutos; (2) o segundo grupo é composto por
também por 1 trabalhador (1,7%), e a duração da respectiva pausa é de 6
minutos; (3) o terceiro grupo, é composto por 16 trabalhadores (27,1%), e a
duração da respectiva pausa é de 10 minutos; e (4) o quarto grupo, que
corresponde a maioria, é composto por 28 trabalhadores (47,5%), e a
duração da respectiva pausa é de 15 minutos.
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5 6 7
Duração da Segunda Pausa
Nº de operadores
Minutos
64
Gráfico 7: Duração da terceira pausa
A quarta e última pausa a maioria dos trabalhadores (96,6%) não a realizam,
somente 2 trabalhadores (3,4%) realizam 5 minutos.
A maioria dos trabalhadores (57,6%) relataram que as pausas não precisam
ser alteradas de horário, e nem reduzir a duração das mesmas, o restante
(42,4%) afirmou que as mesmas precisam ser alteradas e/ou reduzidas
(Tabela 7).
Frequência Percentagem
Valido Sim 25 42,4
Não 34 57,6
Total 59 100,0
Tabela 7: Situações em que as pausas precisam ser alteradas ou reduzidas
Dos trabalhadores que relataram que as pausas em alguns momentos
necessita ser alteradas e/ou reduzidas os motivos se dividiram e 3 conjuntos:
(1) o primeiro grupo (18,6%) afirmou aumento da produção; (2) o segundo
grupo (15,3%) afirmou ser pela liberdade que eles têm, ou seja, devido a
iniciativa própria; e o (3) terceiro grupo (6,8%) confirmou ser pela
combinação dos dois motivos anteriores (Tabela 8).
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5
Duração da terceira pausa
Nº de operadores
Minutos
65
Frequência Percentagem
Valido aumento da produção 11 18,6
iniciativa própria 9 15,3
motivo 1 e 2 (acima) 4 6,8
Total 24 40,7
Em falta não se aplica 33 55,9
não sabe 1 1,7
não quer responder 1 1,7
Total 35 59,3
Total 59 100,0
Tabela 8: Quais situações em que as pausas são reduzidas
7.1.4.2. Segunda Parte
Essa secção destina-se à relação da actividade laboral com os sintomas auto-
referidos anteriormente, nomeadamente: (1) sem relação com os sintomas,
(2) pouco relacionado com os sintomas referidos, (3) muito relacionado com
os sintomas, (4) totalmente relacionado com os sintomas; (8) não sabe, e (9)
não quer responder.
Na perspectiva dos trabalhadores a sintomatologia referida está associada a
aspectos específicos da actividade de trabalho, designadamente: (a) trabalho
sentado; (b) trabalho de pé; (c) braços acima da altura dos ombros; (d)
inclinar tronco; (e) rodar tronco; (f) repetitividade dos braços; (g)
repetitividade das mãos/dedos; (h) precisão com os dedos; (i) aplicar força
com as mãos ou dedos; (j) manipular cargas entre 1 ou 4 quilogramas; (k)
deslocar cargas entre 1 ou 4 quilogramas; (l) manipular superiores a 4
quilogramas; (m) deslocar cargas superiores a 4 quilogramas; (n) levantar e
deslocar cargas entre 10 e 20 quilogramas; e (o) levantar e deslocar cargas
superiores a 20 quilogramas.
Maioritariamente os trabalhadores associaram as actividades de (f)
repetitividade dos braços e (g) repetitividade das mãos/dedos, com a
classificação de estar “totalmente relacionado com os sintomas”, (Gráfico 8).
66
Gráfico 8: Relação da actividade com os sintomas
7.1.4.3. Terceira Parte
Maioritariamente a população em estudo considera apenas um dos postos de
trabalho difícil (71,2%), e cerca de 25,4% não encontram nenhuma
dificuldade nos postos de trabalho que preenchem. Apenas um indivíduo não
soube responder, e outro classificou que todos os postos de trabalho são
difíceis.
Relativamente à dificuldade do posto de trabalho principal (Gráfico 9), 15,3%
dos indivíduos classificaram tal actividade como demasiado minuciosa. Porém
o valor mais alto ficou para aqueles que classificaram a actividade principal
sem dificuldade (28,8%).
67
Gráfico 9: Dificuldade do posto de trabalho principal
De todas as funções laborais pelo menos uma delas, em 74,6% dos
respondentes relataram ser necessário realizar força com os braços e mãos
(Tabela 9).
Frequência Percentagem
Valido Todos 3 5,1
um deles 44 74,6
Total 47 79,7
Em falta não se aplica 11 18,6
não sabe 1 1,7
Total 12 20,3
Total 59 100,0
Tabela 9: Actividade que faz mais força com os braços/mãos
Relativamente à repetitividade, cerca de 31 trabalhadores (52,5%)
consideram 1 dos postos de trabalho em que desempenha diariamente como
actividade mais repetitiva; 19 trabalhadores (32,2%) consideram todos dos
postos de trabalho com a actividade mais repetitiva, e apenas 2 trabalhadores
(3,4%) consideram que 2 dos seus postos de trabalho apresentam actividades
repetitivas. O restante não sabe responder ou não se aplica (Tabela 10).
00% 05% 10% 15% 20%
repetitividade
trabalho minucioso
postura incomoda-…
força
concentração, atenção
responsabilidade
elevada produção
ruído
2 ou mais motivos
68
Frequência Percentagem
Valido Todos 19 32,2
um deles 31 52,5
dois deles 2 3,4
Total 52 88,1
Em falta não se aplica 5 8,5
não sabe 1 1,7
não quer responder 1 1,7
Total 7 11,9
Total 59 100,0
Tabela 10: Tarefa mais repetitiva
Foi evidenciado que existe (Gráfico 10) rotatividade entre os postos de
trabalho (83,1%), com uma frequência (Tabela 11) diária de 25,4% (valor
máximo; e 1,7% anualmente, sendo o valor mínimo); e com uma
permanência (Tabela 12) máxima “nesse outro” posto de trabalho de 37,3%
em um dia inteiro (8 horas).
Gráfico 10: Rotatividade entre os postos de trabalho
16,9%
83,1%
Rotatividade entre postos de trabalho
Sim Não
69
Frequência Percentagem
Valido Diariamente 15 25,4
Semanalmente 12 20,3
mensalmente (mês) 12 20,3
bimestralmente (2 meses) 3 5,1
trimestralmente (3 meses) 1 1,7
semestralmente (6 meses) 2 3,4
anualmente (1 ano) 1 1,7
Total 46 78,0
Em falta não se aplica 11 18,6
não sabe 2 3,4
Total 13 22,0
Total 59 100,0
Tabela 11: Com que frequência (dias)
Frequência Percentagem
Valido 1) por algumas horas 22 37,3
2) o dia todo (8horas) 4 6,8
3) de 2 a 6 dias 1 1,7
4) uma semana 2 3,4
Total 29 49,2
Em falta 99 27 45,8
999 3 5,1
Total 30 50,8
Total 59 100,0
Tabela 12: Com que permanência (dias)
7.2. Análise dos resultados das relações entre as
variáveis
A procura de relações entre a sintomatologia auto-referida (relativa as
queixas de fadiga, desconforto, dor e/ou inchaço ocorridos nos últimos 12
meses) a nível da coluna vertebral, membros superiores e membros inferiores
não foi encontrada significância estatística dos segmentos anatómicos da
coluna lombar (membros superiores), tornozelos e pés direito e esquerdo
(membros inferiores), o que contrariamente ocorreu nas outras regiões
corporais (Apêndice 2: Quadro síntese do capítulo Análise dos resultados das
relações entre as variáveis).
70
A sintomatologia referida nos próximos subcapítulos (6.2.1., 6.2.2. e 6.2.3.) é
relativa as “queixas” de fadiga, desconforto, dor e/ou inchaço ocorridos nos
últimos 12 meses.
7.2.1. Coluna Vertebral
Na região do Pescoço (coluna cervical) foi observada uma associação
estatisticamente significativa com a variável “tempo de trabalho no posto
principal” (p=0,037), no qual o elemento que mais contribui para esta ligação
entre as variáveis é o “tempo de trabalho no posto principal” ser superior a 10
anos. Encontrou-se também uma associação estatisticamente significativa
com as variáveis “repetitividade dos braços” (p=0,013); onde esta apresentou
o elemento mais contributivo para a associação entre as variáveis foi o facto
da repetitividade dos braços estar “totalmente relacionada com os sintomas”;
e “rotação do tronco” (p=0,017), que por sua vez obteve o elemento de maior
contribuição para a associação entre as variáveis foi o facto de os
respondentes “não saberem” responder sobre a questão.
Na Coluna Dorsal observou-se ligações estatisticamente significativas entre as
variáveis “repetitividade das mãos e dedos” (p=0,033), sendo a variável
“totalmente relacionado com os sintomas” o elemento que mais contribui para
esta associação. Para além disso, descobriu-se a associação entre a posição
de “trabalho sentado” (p=0,046) estar “totalmente relacionado com os
sintomas”; e, a “rotação do tronco” (p=0,001) também estar “totalmente
relacionado com os sintomas”.
7.2.2. Membros superiores
A região do Ombro Direito foi encontrada significância estatística clara entre
as variáveis “repetitividade dos braços” (p=0,004) com o elemento de maior
contribuição para a associação entre as variáveis a repetitividade dos braços
estar “totalmente relacionado com os sintomas”. Ainda nesta região, foi
considerado a “repetitividade das mãos e dedos” (p=0,028) estar “totalmente
relacionado com os sintomas”; e a “aplicação de força com as mãos e dedos”
(p=0,010) também foi considerado por estar “totalmente relacionado com os
sintomas”.
As variáveis “repetitividade das mãos e dedos” (p=0,016) e “inclinação do
tronco” (p=0,044) estiveram associadas com estatística significativa pelo
71
mesmo motivo de estarem “totalmente relacionado com os sintomas”, na
região anatómica do Ombro Esquerdo.
Na região do Cotovelo Direito identificou-se uma associação clara entre a
variável “faixa etária” (p=0,026) no qual estatisticamente, o elemento que
mais contribui para a associação entre as variáveis é a faixa etária dos
trabalhadores se encontrar “superior a 54 anos”. E no Cotovelo Esquerdo
verifica-se uma relação clara entre a variável “Tarefas desempenhadas”
(p=0,039), que estatisticamente o factor que mais contribui para a associação
entre as variáveis é a “quantidade” de tarefas desempenhadas (neste
laboratório de contadores A+B+C=3 funções) pelos operadores do sector de
Laboratório de Contadores.
No punho e mão direito foi a região anatómica onde mais quantidades de
variáveis que obtiveram associações claras entre as variáveis, sendo elas:
(A) “Faixa etária” (p=0,017), no qual estatisticamente o elemento
encontrado que mais contribui para a associação entre estas referidas
variáveis é a idade dos respondentes encontrar-se “superior a 54 anos”;
(B) “Tempo de trabalho na empresa” (p=0,016), no qual estatisticamente
o elemento encontrado que mais contribui para a associação entre estas
referidas variáveis é o tempo de trabalho na empresa encontrar-se “superior a
10 anos”;
(C) “Tempo de trabalho no posto principal” (p=0,036), no qual
estatisticamente o elemento encontrado que mais contribui para a associação
entre estas referidas variáveis é a duração de prestação de serviço no posto
principal ser “superior a 10 anos”;
(D) Posição de “trabalho sentado” (p=0,034), no qual estatisticamente o
elemento encontrado que mais contribui para a associação entre estas
referidas variáveis é a posição de trabalho sentado estar “muito relacionado
com os sintomas”;
(E) “Repetitividade dos braços” (p=0,000), no qual estatisticamente o
elemento encontrado que mais contribui para a associação entre estas
referidas variáveis é a repetitividade dos braços estar “totalmente relacionado
com os sintomas”;
72
(F) “Repetitividade das mãos e dedos” (p=0,000), no qual
estatisticamente o elemento encontrado que mais contribui para a associação
entre estas referidas variáveis é a repetitividade das mãos e dedos estar
“totalmente relacionado com os sintomas”;
(G) “Precisão com os dedos” (p=0,009), no qual estatisticamente o
elemento encontrado que mais contribui para a associação entre estas
referidas variáveis é a precisão com os dedos estar “muito relacionado com os
sintomas”;
(H) “Aplicação de força com as mãos e dedos” (p=0,028), no qual
estatisticamente o elemento encontrado que mais contribui para a associação
entre estas referidas variáveis é a aplicação de força com as mãos e dedos
estar “totalmente relacionado com os sintomas”; e,
(I) “Rotação do tronco” (p=0,000), no qual estatisticamente o elemento
encontrado que mais contribui para a associação entre estas referidas
variáveis é a rotação do tronco estar “totalmente relacionado com os
sintomas”.
No punho esquerdo também foram identificados explícitas associações de
significância estatística entre as variáveis, nomeadamente a “repetitividade
das mãos e dedos” (p=0,024), “precisão com os dedos” (p=0,003), e “rotação
do tronco” (p=0,000) que estiveram relacionadas à referida região anatómica
pelo mesmo motivo de serem consideradas “totalmente relacionado com os
sintomas”.
7.2.3. Membros inferiores
Nesta última secção, a região anatómica da Coxa Direita e Coxa Esquerda
identificou-se uma associação clara entre a variável “inclinar tronco”
(p=0,033; para ambas) em que o elemento que mais contribui para a
associação entre estas variáveis é o facto de os respondentes “não saberem”
responder sobre a questão.
E no segmento dos joelhos encontraram-se associações distintas, no Joelho
Direito evidenciou-se uma relação estatisticamente significativa entre a
variável faixa etária (p=0,000), pelo facto de os respondentes estar
enquadrados numa faixa etária “superior a 54 anos”. Já no Joelho Esquerdo
identificou-se uma relação clara entre a variável posição de “trabalho
73
sentado” (p=0,036) no qual o elemento que mais contribui para a associação
entre as variáveis é a posição de trabalho sentado estar “sem relação com os
sintomas”.
7.3. Análise dos Resultados da Formação em LMELT
Foi realizada uma Formação em LMELT (Apêndice 3) logo após o término da
aplicação do QNM na empresa em estudo. Esta formação teve como objectivo
promover uma intervenção organizacional com intuito de oferecer
informações aos trabalhadores sobre as LMELT (importância das LMELT,
definição das LMELT, factores de risco, sintomas, tipo de lesões, prevenção,
realização e orientação de exercícios de ginástica laboral) ressaltando a
intervenção (com a orientação da realização dos exercícios de ginástica
laboral nos seus postos de trabalho) e prevenção dessas lesões.
Dos trabalhadores que estiveram presentes (Gráfico 11) na Formação em
LMELT (n=63), desses 27 eram do sector de Contadores (43%), 34 do sector
de Relojoaria (54%) e 2 do Laboratório de Contadores (3%).
Gráfico 11: Participação na Formação em LMELT
Em seguida ao término da Formação em LMELT, os formandos responderam a
um questionário (denominado “Questionário Pós-Formação” – Apêndice 4)
preparado para o efeito, com o intuito de avaliar a eficácia e o impacto da
Formação em LMELT.
43%
54%
3% 0%0%
Participação na Formação em LMELT
Contadores
Relojoaria
Laboratorio de Contadores
74
Vale ressaltar que os trabalhadores que estiveram presentes na Formação
foram àqueles seleccionados pela chefia de seu respectivo sector, onde foi
pré-estabelecido pelos mesmos, um número máximo compreendido de 6 a 9
operadores por secção desde que a produção ficasse assegurada. A Formação
foi realizada em 5 dias, com sessões de 1 a 2 por dia.
Relativamente ao feedback deste questionário, considera-se que apreciação
geral dos trabalhadores foi boa pois (relativamente às questões apresentadas
no questionário após a formação) cerca de 36,35% considerou excelente,
40,95% bom, 15,08% suficiente, 6,19% pouco, e 1,43% nada (Gráfico 12).
Gráfico 12: Questionário pós-formação
75
8. Análise e discussão de resultados
Primeiramente a selecção do instrumento de recolha de dados,
designadamente o QNM, deve-se ao motivo deste ser um instrumento
validado mundialmente, traduzido e utilizado em vários países, de
aplicabilidade nas diversas situações de trabalho, entre outras tantas
vantagens que este tipo de mensuração de sintomas de LMELT possui.
No decorrer do estudo, existiram obstáculos inerentes às exigências da fábrica
referentes ao “andamento” da pesquisa de campo (iniciada a pesquisa de
campo), no sentido de salvaguardar o timing de produção, que se traduz em
limitações dos resultados apresentados, discretas adaptações de
aplicabilidade prática. O estudo contou com o apoio dos sectores de Saúde
Ocupacional, das chefias hierárquicas de Engenharia e Recursos Humanos, e
de apresentação das questões, que foram ao encontro da realidade da fábrica
e, principalmente, dos objectivos desta investigação.
Diferentemente de outros estudos (Houtman, Bongers, Smulders, Kompier,
1994), este não conseguiu-se comprovar a influência da predisposição de
LMELT relativamente ao género pois a quase totalidade da amostra (94,9%) é
do sexo feminino.
Neste presente estudo foi observado maioritariamente dos indivíduos
relataram apresentar algum acometimento osteomuscular, indo em
concordância com Pinheiro, Troccóli, Carvalho (2002) que observaram o
mesmo porém em maiores proporções (86%) no qual afirmam assegurar um
bom índice de validade para o estudo.
Os resultados da sintomatologia auto-referida, de fadiga, desconforto, dor e
inchaço nos últimos 12 meses, é prevalente na região lombar (52,5%) o que
difere do estudo de (Serranheira, et al., 2003) em que apontaram para a
região cervical (83,0%), o que se compreende pois as exigências da
actividade de trabalho eram diferentes. Sugerindo que o presente estudo
apresenta uma amostra não uniforme pois a região lombar, apesar de ter tido
este resultado de maior prevalência de sintomas, na análise das relações
entre as variáveis não apresentou resultados de significância estatística. E os
resultados da mesma sintomatologia porém agora sentidos nos últimos 7
dias, as regiões mais prevalentes, foram coluna dorsal (33,9%), seguida de
coluna lombar e ombros direito e esquerdo (30,50% cada), punhos direito e
76
esquerdo (25,4%) e coluna cervical (23,7%), os dois últimos valores
apresentam certa aproximação aos valores dos autores referidos
(punhos/mão 32,08% e cervical 29,11%).
Foi observado nas associações entre as variáveis a presença de resultados
apontando para as queixas, de sintomatologia de fadiga, desconforto, dor, e
inchaço durante os últimos 12 meses, designadamente nas regiões
anatómicas do cotovelo direito, punho e mão direito, e joelho direito,
relacionadas com a quarta classe da variável faixa etária, ou seja, os sintomas
estão relacionados com os operadores mais idosos (com idade superior aos 54
anos), o que numa perspectiva pode-se considerar normal, devido ao maior
tempo de exposição aos factores de risco de LMELT. Ainda com o elemento de
associação “tempo”, evidenciou-se relações à antiguidade de serviço prestado
na empresa e ao tempo de trabalho no posto principal, no punho e mão
direito e pescoço, no qual pode-se relacionar ao facto da empresa em estudo
ser relativamente antiga pois foi fundada em 1915.
Pelo facto de existirem operadores com muitos anos de empresa e o
absentismo relacionado ao trabalho ser consideravelmente reduzido (atinge o
valor máximo de 8,5% na região do punho e mãos), associação não
estatisticamente significativa, pode-se sugerir que a presença de uma relação
com a face social da empresa, isto é, um bom suporte social e ambiente de
trabalho agradável (NIOSH, 1997), têm contribuído para a reduzida incidência
de LMELT.
Relativamente ao tempo de repouso entre as actividades laborais (as pausas),
mesmo que maioritariamente (76,3%) realizem as três preconizadas pela
empresa e que seja relativamente flexível (segundo relato de casos), a
realidade das eventuais exigências exercidas pela produção acaba por
contradizer esta flexibilidade além de sugerir uma maior pressão, com
evidente sobrecarga física de trabalho, implicando um aumento potencial da
ocorrência de sintomas e sinais de LMELT (Serranheira, 2007).
Quanto à intensidade de incómodo (fadiga, desconforto, dor, inchaço)
também referidos nos 12 meses precedentes e que esteve presente em pelo
menos 4 dias seguidos, distribuídos pelas zonas corporais, os valores
prevalentes com classificação grave (“muito intenso”) estiveram
compreendidos entre os 13,60% (tornozelo esquerdo) e os 1,7% (coluna
77
dorsal e punho esquerdo), já com a classificação intenso o maior valor foi
encontrado de 11,90% (coluna cervical), esses valores são menores do que
em outros estudos (Serranheira et al., 2003).
Em relação à sintomatologia ligada à actividade de trabalho (de uma forma
geral), apontam para um maior número de associações entre a repetitividade
gestual (1) dos membros superiores (“braços”), designadamente relacionados
ao pescoço (p=0,013), ombro direito (p=0,004), punho e mão direito
(p=0,000), com os braços; e das mãos e dedos com (2) a coluna dorsal
(p=0,033), punho e mão esquerda (p=0,024), ombro esquerdo (p=0,016),
punho e mão direita (p=0,000), e ombro direito (p=0,028). Alguns autores
consideram que a repetitividade gestual é consequente de imposições do
trabalho que comportam a exposição de muitos factores de risco profissionais
que possivelmente contribuem para o risco de surgimentos de LMELT
(Serranheira, et al., 2007).
Há resultados da EASHW (2010) significativamente superiores ao deste
estudo. De acordo com o inquérito europeu sobre condições de trabalho, em
2005, 45,5% dos trabalhadores da UE27 relataram trabalhar em posições
dolorosas ou cansativas, pelo menos 25% do tempo e 35% eram obrigados a
lidar com cargas pesadas no seu trabalho e 62,3% relataram repetitivos da
mão ou os movimentos do braço.
Em outro estudo transversal (Silverstein, 1985) também é considerado um
risco acrescido no surgimento de lesões a nível do punho e mão e indicações
de exposição-resposta de acordo com a presença de aplicação de força e/ou
repetitividade de gestos.
As posições de trabalho (ou posturas adquiridas durante a actividade laboral)
(1) sentada, (2) rotação do tronco, (3) inclinação do tronco estiveram
associadas a sintomatologia nas regiões cervical ou pescoço (2), dorsal (1, 2),
ombro esquerdo (3), punho e mão direito (1,2), punho e mão esquerda (2),
coxas direita e esquerda (3), e joelho esquerdo (1), estes resultados sugerem
a relação existente entre a posição da função desempenhada (sentada) e a
interacção do operador com o seu respectivo espaço de trabalho (disposição
das ferramentas sob a bancada associada aos movimentos e posições que
precisam ser realizados para tal). E os movimentos de precisão com os dedos
79
9. Considerações finais
Na generalidade, os resultados mais relevantes (significância estatística)
apontam para um maior número de associações entre a repetitividade gestual
(1) dos membros superiores (“braços”, “mãos e dedos”), designadamente
relacionados ao pescoço, ombro direito, punho e mão direito, com os braços;
e das mãos e dedos com (2) a coluna dorsal, punho e mão esquerda, ombro
esquerdo, punho e mão direita, e ombro direito.
Também, outros resultados apontaram para queixas (punho direito, joelho
direito e cotovelo direito) nos indivíduos com idade mais avançada (acima dos
54 anos), o que pode ser considerado como “esperável”, devido ao maior
tempo de exposição aos factores de risco. Não foi comprovada a influência da
predisposição quanto ao género pela quase totalidade da amostra feminina.
Maioritariamente da sintomatologia auto-referida (nos 12 meses precedentes)
apontaram para a região anatómica da coluna lombar que não apresentou
associações estatisticamente significativas; e a coluna dorsal que foi
prevalente nos últimos 7 dias.
Existem associações de significância estatística entre a sintomatologia auto-
referida (nos 12 meses precedentes) que indicaram elementos de associação
envolvendo repetitividade gestual e aplicação de força com as mãos e dedos,
designadamente abrangendo as regiões anatómicas dos membros superiores
(p<0,05) e coluna dorsal (p<0,05), no qual destaca-se grande importância na
contribuição para o risco de desenvolvimento de LMELT, e uma possível
possibilidade de intervenção organizacional a nível de prevenção das mesmas.
Assim, justifica-se a aplicação de questionários de identificação de sintomas
de LMELT com aplicação periódica, o que pode constituir, dependendo do nível
de efectividade pretendido na vigilância de saúde dos trabalhadores, uma
relevante ferramenta de registo dos sintomas e queixas que, a posteriori,
permitirá ser traduzida em indicadores pertinentes sobre o estado de
saúde/doença do aparelho músculo-esquelético.
Estabelecer a existência de um “módulo de trabalho”, intentando relações
entre as queixas auto-referidas e os respectivos locais de actividades de
trabalho, resulta num conjunto de informações úteis para a obtenção do
diagnóstico do risco e uma possível prevenção das LMELT (Serranheira, et al.
80
2008), que pode passar pela intervenção sócio-organizacional da empresa,
sector, ou outra organização.
Nesse sentido, da intervenção sócio-organizacional, efectuada com recurso à
formação dos trabalhadores do estudo em LMELT, foi observado um impacto
positivo da formação nos trabalhadores que participaram, obtendo-se uma
apreciação geral boa, aproximadamente 40,95% bom, e 36,35% excelente.
81
10. Recomendações e sugestões
A identificação da prevalência de sintomas associados às lesões músculo-
esqueléticas ligadas ao trabalho referidas pelos trabalhadores (relação entre
os sintomas referidos pelos trabalhadores com a respectiva actividade de
trabalho, sua localização corporal e aspectos de qualidade de vida) pretende
informação de base individual para a futura prevenção dessas patologias,
fundamentalmente através de intervenção a nível da informação e formação
dos trabalhadores sobre as LMELT, o que se espera seja um factor substantivo
para a diminuição da prevalência de LMELT. Por outras palavras o
empowerment dos trabalhadores é uma componente de intervenção centrada
no trabalhador cujos resultados se esperam, cumulativamente, com
intervenções centradas no “ambiente”, substantivos contributos para a
prevenção das LMELT.
Assim, reconhecidas as queixas e o contexto dos locais de trabalho (risk
assessment ou avaliação do risco), iniciou-se um plano de intervenção sócio-
organizacional baseado na formação dos trabalhadores em LEMLT, como
proposta exequível para promover a prevenção (ou não agravamento para
aqueles casos em que a lesão já está instalada) em LMELT (risk management
ou gestão do risco).
Numa segunda fase, futura, considera-se conveniente a reaplicação do
questionário no grupo de trabalhadores que teve formação, no sentido de
avaliar eventuais alterações sintomatológicas decorrentes de uma melhor
informação e percepção dos aspectos relacionados com as LMELT nos locais
de trabalho.
83
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87
Apêndices
Apêndice 1: Questionário Nórdico Músculo-Esquelético
(adaptação de Serranheira, Lopes, Uva, 2008)
Dia_____ Mês_____ Ano_____
A – Caracterização sócio-demográfica
1. Sector de trabalho:_______________________________
2. Nome: ______________________________________________ 3. Género: Masculino (__) Feminino (___)
4. Ano de nascimento: _____. 4. Peso: _____Kg. 5. Altura:
____m.
6. Membro superior dominante (assinale a opção correcta): Dextro (___) Esquerdo/Canhoto (___) Ambidextro (___)
7. Há quanto tempo é funcionário da Empresa? ____ anos ____ meses
8. Em média quantas horas trabalha por semana? ____ horas 9. Tipo de horário: Fixo (__) Turnos (__)
10. Realiza algum tipo de actividade fora da Empresa? Sim (__) Não
(__)
Se sim qual? ____________________________________
B - Caracterização do estado de saúde
11. Realiza regularmente algum tipo de actividade física? Sim (__)
Não (__) Se sim qual? ____________________________________
12. Fuma? Sim (__) Não (__) Nº de cigarros_____ dia
13. Bebe habitualmente bebidas alcoólicas? Sim (__) Não (__)
14. Bebe habitualmente café? Sim (__) Não (__)
15. Sofre de alguma doença? Sim (__) Não (__). Se sim qual das
seguintes?
Diabetes (__) Gota (__)
Hénia Discal (__) Tendinite (__) Hipertensão (__) Artrose (__)
Síndrome do túnel do carpo (__) Osteoporose (__)
Outra: ________________________________________
16. Toma medicamentos regularmente (incluindo calmantes ou pílula)?
Sim (__) Não (__)
17. Está a receber algum tratamento de reabilitação? (ex.: fisioterapia, TO, ...). Sim (__) Não (__).
Se sim qual? ___________________
18. Consultou algum médico no último ano? Sim (__) Não (__). Porquê? ___________________________
C - Caracterização da sintomatologia ligada ao trabalho
(1) Pescoço:
88
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não
(__)
Intensidade: 1 2 3 4
Frequência: 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias? Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias? ____________________________
(2) Zona Dorsal:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não
(__)
Intensidade: 1 2 3 4
Frequência: 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias?
Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este problema (nos últimos 12 meses)?
Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(3) Zona Lombar:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade: 1 2 3 4
Frequência: 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias?
Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(4) Ombros:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
89
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias?
Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este problema (nos últimos 12 meses)?
Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(5) Cotovelos:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias?
Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(6) Punho/Mão:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias? Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)?
90
Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(7) Coxas:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias? Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(8) Joelhos:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias? Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos dias?_____________________________
(9) Tornozelo/pé:
(A) Desconforto (nos últimos 12 meses): sim (__) não (__)
Intensidade (direito): 1 2 3 4
Frequência (direito): 1 2 3 4
Intensidade (esquerdo): 1 2 3 4
91
Frequência (esquerdo): 1 2 3 4
(B) Os sintomas referidos estão presentes durante os últimos 7 dias? Sim (__) Não (__)
(C) Impedimento (baixa) de realizar o trabalho normal devido a este
problema (nos últimos 12 meses)? Sim (__) Não (__)
Se sim, por quantos
dias?___________________________________________
D - Caracterização da actividade de trabalho e relação com os
sintomas
1. Responda às seguintes questões sobre os postos de trabalho que desempenha
Designação dos postos de trabalho desempenhados
Tempo diário por posto (horas)
1º
2º
3º
1.1 Há quanto tempo desempenha o posto principal?
______(anos/meses)
2. Quantas pausas têm ao longo do turno de trabalho? ________(nº de
pausas);
3. Qual a duração das pausas? _____ minutos às _____horas; _____
minutos às _____horas.
4. Existem situações em que a(s) pausa(s) precisam ser alteradas ou
reduzidas? ______ Qual(is) situação (ões)?
______________________________________________.
5. O seu posto de trabalho principal envolve algumas actividades;
Classifique-as de acordo com a relação com os sintomas referidos
anteriormente, utilizando a seguinte chave (pode referir vários
elementos):
Assinale com um círculo o número da sua escolha, em função
92
da seguinte chave:
1 – Sem relação com os sintomas
2 – Pouco relacionado com os sintomas referidos
3 – Muito relacionado com os sintomas
4 – Totalmente relacionado com os sintomas
8 – Não sabe
9 – Não quer responder
A) trabalho sentado 1 2 3 4 8 9
B) trabalho de pé 1 2 3 4 8 9
C) braços acima da altura dos ombros 1 2 3 4 8 9
D) inclinar o tronco 1 2 3 4 8 9
E) rodar o tronco 1 2 3 4 8 9
F) repetitividade dos braços 1 2 3 4 8 9
G) repetitividade das mãos/dedos 1 2 3 4 8 9
H) precisão com os dedos 1 2 3 4 8 9
I) aplicar força com as mãos ou dedos 1 2 3 4 8 9
J) manipular cargas entre 1 ou 4 Kg 1 2 3 4 8 9
K) deslocar cargas entre 1 ou 4 Kg 1 2 3 4 8 9
L) manipular cargas superiores a 4 Kg 1 2 3 4 8 9
M) deslocar cargas superiores a 4 Kg 1 2 3 4 8 9
N) levantar e deslocar cargas entre 10 e 20 Kg 1 2 3 4 8 9
O) levantar e deslocar cargas sup. A 20 Kg 1 2 3 4 8 9
P) outra. Qual? 1 2 3 4 8 9
93
6. Que posto de trabalho considera mais difícil?
_______________________________________________
6.1 Porquê? ___________________________________________
7. Qual é o posto de trabalho onde faz mais força com os braços/mãos?
_______________________________________________
8. Qual é o posto de trabalho com a actividade mais repetitiva?
_______________________________________________
9. Existe rotatividade entre os postos de trabalho? ______;
9.1 Com que frequência? ______(dias/meses);
9.2 Com que permanência? _______(dias/meses).
Apêndice 2: Quadro síntese do capítulo Análise dos
resultados das relações entre as variáveis
Regiões Anatómicas
Análise das relações entre as variáveis Qui-quadrado
Adjusted Residual
Coluna Vertebral Pescoço versus tempo de trabalho no posto principal
0,037 2,4
Pescoço versus repetitividade dos braços 0,013 1,9
94
Pescoço versus rotação do tronco 0,017 2,0
Coluna dorsal versus repetitividade das mãos e dedos
0,33 2,5
Coluna dorsal versus posição de trabalho sentado
0,046 2,5
Coluna dorsal versus rotação do tronco 0,001 3,0
Membros superiores
Ombro direito versus repetitividade dos braços
0,004 2,9
Ombro direito versus repetitividade das mãos e dedos
0,028 2,9
Ombro direito versus aplicar força com as mãos e dedos
0,010 2,9
Ombro esquerdo versus repetitividade mãos e dedos
0,016 2,2
Ombro esquerdo versus inclinar tronco 0,044 2,3
Cotovelo direito versus faixa etária 0,026 2,4
Cotovelo esquerdo versus tarefas desempenhadas
0,039 3,7
Punho e mão direito versus faixa etária 0,017 2,4
Punho e mão direito versus tempo de trabalho na empresa
0,016 2,8
Punho e mão direito versus tempo de trabalho no posto principal
0,036 1,9
Punho e mão direito versus posição de trabalho sentado
0,034 1,9
Punho e mão direito versus repetitividade dos braços
0,000 3,6
Punho e mão direito versus repetitividade das mãos e dedos
0,000 4,2
Punho e mão direito versus precisão com os dedos
0,009 2,5
Punho e mão direito versus aplicação de força com as mãos e dedos
0,028 2,5
Punho e mão direito versus rotação do tronco
0,000 4,4
Punho e mão esquerdo versus repetitividade das mãos e dedos
0,024 3,0
Punho e mão esquerdo versus precisão com os dedos
0,003 3,0
Punho e mão esquerdo versus rotação do tronco
0,000 3,9
Membros inferiores
Coxa direita versus inclinação do tronco 0,033 2,5
Coxa esquerda versus inclinação do tronco 0,033 2,5
Joelho direito versus faixa etária 0,000 4,3
Joelho esquerdo versus posição de trabalho sentado
0,036 2,8
Apêndice 3: Formação em LMELT
99
Apêndice 4: Questionário Pós-Formação em LMELT
Formação em Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho
(LMELT)
Este questionário pretende avaliar a eficácia e o impacto da formação em
LMELT.
Identificação do Formando
Sector: 1) Contadores. 2) Relojoaria. 3) Laboratório de contadores.
Função desempenhada:
Data da formação:
Avaliação do Curso de Formação
Instruções de preenchimento da avaliação do curso de formação em
LMELT
Utilize a escala de 1 a 5 para responder às questões:
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
Questões:
1) Considera os conteúdos relevantes para a prevenção das LMELT no seu
local de trabalho?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
2) A formação em LMELT trará contributo para a prevenção das LMELT
durante a realização da sua actividade laboral?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
3) O conteúdo da formação em LMELT contribuirá para o seu bem-estar
pessoal?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
4) Considera que a formação em LMELT foi útil para a empresa?
100
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
5) A exposição do tema de formação em LMELT foi acessível?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
6) O formador foi claro na apresentação da formação em LMELT e
dominava o assunto em questão?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
7) Os exercícios de alongamento foram de fácil compreensão?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
8) Existe a possibilidade dos exercícios de alongamento serem executados
no local de trabalho?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
9) Vai realizar os exercícios de alongamento?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente
10) O treino dos exercícios de alongamento foi suficiente?
1 - Nada 2 - Pouco 3 - Suficiente 4 - Bom 5 – Excelente