Epidemias que abalaram a humanidade

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H1n1 (América do norte) Começam na Ásia e terminam na América , a Ásia é o berço mundial das cepas de vírus da gripe, e a América do Sul é onde as epidemias vêm morrer. Entre um extremo e outro, o vírus pega carona até a América do Norte e Europa quase que simultaneamente, informa um grupo internacional de pesquisadores que, finalmente, determinaram com precisão como o tipo mais comum de gripe varre o mundo anualmente. Trata-se de um trabalho que promete ajudar as autoridades sanitárias a preparar melhor a vacina anual contra a doença. O monitoramento já está sendo reforçado em partes do sudeste e leste asiático, na esperança de obter previsões mais precisas de qual será a variedade do vírus que percorrerá os continentes nos próximos anos. O mapa da progressão anual da gripe pelo mundo. Imagem: Nasa e Science Fora da Ásia, as variedades de gripe não parecem ganhar força à medida que migram entre os continentes. "Uma vez que o vírus tenha deixado a região, ele está a caminho do cemitério evolutivo", disse um dos líderes da equipe responsável pelo mapa da gripe, Derek Smith, da Universidade Cambridge. O grupo analisou 13 mil amostras de gripe coletadas ao longo dos últimos cinco anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui de 250 mil a meio milhão de mortes anuais à gripe. O vírus evolui tão depressa que cepas ligeiramente diferentes circulam a cada inverno, e especialistas suspeitavam, há tempos, que a China é a principal incubadora da doença. O novo trabalho, publicado na edição desta semana da revista Science, mostra que a evolução anual da gripe é bem complexa. A cada ano, a Rede Global de Vigilância da Gripe da OMS coleta

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H1n1 (América do norte)

Começam na Ásia e terminam na América , a Ásia é o berço mundial das cepas de vírus da gripe,

e a América do Sul é onde as epidemias vêm morrer. Entre um extremo e outro, o vírus pega

carona até a América do Norte e Europa quase que simultaneamente, informa um grupo

internacional de pesquisadores que, finalmente, determinaram com precisão como o tipo mais

comum de gripe varre o mundo anualmente.   Trata-se de um trabalho que promete ajudar as

autoridades sanitárias a preparar melhor  a vacina anual contra a doença. O monitoramento já

está sendo reforçado em partes do sudeste e leste asiático, na esperança de obter previsões mais

precisas de qual será a variedade do vírus que percorrerá os continentes nos próximos anos.   O

mapa da progressão anual da gripe pelo mundo. Imagem: Nasa e Science   Fora da Ásia, as

variedades de gripe não parecem ganhar força à medida que migram entre os continentes.   "Uma

vez que o vírus tenha deixado a região, ele está a caminho do cemitério evolutivo", disse um dos

líderes da equipe responsável pelo mapa da gripe, Derek Smith, da Universidade Cambridge. O

grupo analisou 13 mil amostras de gripe coletadas ao longo dos últimos cinco anos.   A

Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui de 250 mil a meio milhão de mortes anuais à

gripe. O vírus evolui tão depressa que cepas ligeiramente diferentes circulam a cada inverno, e

especialistas suspeitavam, há tempos, que a China é a principal incubadora da doença.   O novo

trabalho, publicado na edição desta semana da revista Science, mostra que a evolução anual da

gripe é bem complexa.   A cada ano, a Rede Global de Vigilância da Gripe da OMS coleta

material do nariz e da garganta de vítimas da gripe em mais de 80 países, a fim de identificar

quais variedades do vírus estão em circulação.  Os autores da pesquisa na Science selecionaram

amostras do subtipo mais comum, uma versão chamada H3N2.   Primeira surpresa: a gripe é um

problema de inverno na maior parte do mundo, mas o vírus H3N2 está sempre em circulação em

alguma parte do leste e sudeste asiático. Em países tropicais, prefere a estação chuvosa; nas

zonas temperadas, prospera em tempo mais frio. Há sobreposição suficiente entre essas nações

de alta densidade demográfica que "o que vemos... são vírus passando de epidemia em epidemia,

como corredores de revezamento passando o bastão", disse o principal autor do trabalho, Colin

Russell .   Segunda surpresa: como um relógio, a cada ano novas versões do vírus chegam à

Austrália, América do Norte e Europa de seis a nove meses depois de surgirem na Ásia. Vários

meses mais tarde, alcançam a América do Sul e se extinguem.  De acordo com Russell, comércio

e viagens explicam essa progressão. Há menos linhas aéreas ligando a Ásia à América do Sul

que á Europa, por exemplo. Quando o vírus finalmente chega à América do Sul, a tendência é

que desapareça, porque o restante do mundo já adquiriu imunidade. O cientista adverte que a

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áfrica também pode ser uma "linha de chegada" dos vírus, mas não há dados suficientes sobre o

continente para permitir a avaliação.

Malária (América do sul)

A malária é uma doença infecciosa, potencialmente grave, causada por parasitas (protozoários do

gênero Plasmodium), que são transmitidos de uma pessoa para outra pela picada de mosquitos

(Anopheles). A malária, contra a qual não estão disponíveis vacinas, é a principal preocupação

dos viajantes atendidos pelo Cives.

Tem como criadouro grandes coleções de água, é o principal transmissor na Região Amazônica.

Na faixa litorânea, inclusive no Rio de Janeiro, o Anopheles aquasalis, que prolifera em coleções

de água salobra, predomina sobre o A. darlingi. Esses mosquitos tem maior atividade durante a

noite, do crepúsculo ao amanhecer e, geralmente picam no interior das habitações.

A transmissão ocorre em países da América Central, América do Sul, América do Norte

(México), África sub-saariana, da Índia, do Sudeste da Ásia, do Oriente Médio, e da Oceania,

entretanto,  mais de 90% dos casos ocorrem em países africanos, com um número de mortes

entre 1 e 1,5 milhões. A situação da malária parece estar piorando, especialmente nas

"fronteiras" de desenvolvimento econômico da América do Sul e do Sudeste da Ásia. Os

problemas são mais graves em áreas de conflitos armados e deslocamentos de refugiados.

A distribuição do risco de aquisição de malária não é uniforme dentro de um mesmo país e,

freqüentemente, é desigual para locais situados em uma mesma região, além de sofrer variações

com as estações do ano e ao longo do tempo. Em  geral, o risco é elevado na África (sub-

saariana), América do Sul (Bacia Amazônica), Irian Jaia, Madagascar, Papua-Nova Guiné,

Sudeste da Ásia e Vanuatu. É relativamente baixo no Afeganistão (leste), América Central,

América do Sul (exceto na Bacia Amazônica), América do Norte (áreas rurais do México), China

(norte), Egito, Índia, Indonésia, Iraque, Irã, Malásia, Sri Lanka, Sul do Iraque, Oriente Médio,

Paquistão e Península Arábica (sudeste).

A malária não é novidade para o mundo das doenças epidêmicas. Há registros de seu impacto

nas populações humanas de mais de 4 mil anos atrás, quando os escritores gregos observaram

seus efeitos destruidores. A descrição da doença transmitida por mosquito surgiu nos textos

médicos antigos da Índia e da China. Até então, os cientistas associavam a doença às águas

paradas onde os mosquitos proliferavam. A malária é causada por protozoários do gênero

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Plasmodium comuns a duas espécies: mosquitos e seres humanos. Quando os mosquitos

infectados se alimentam do sangue humano, eles transmitem esses protozoários. Uma vez no

sangue, eles crescem dentro dos glóbulos vermelhos, destruindo-os. Os sintomas variam de

moderados a fatais, mas, normalmente, incluem febre, calafrios, sudorese, cefaléia e dores

musculares Há uma grande dificuldade de se obter números específicos relacionados às antigas

epidemias de malária. É possível ver melhor os efeitos anteriores da doença se analisarmos os

grandes empreendimentos nas regiões infestadas pela malária. Em 1906, os Estados Unidos

empregaram mais de 26 mil trabalhadores para a construção do Canal do Panamá. Os

organizadores hospitalizaram mais de 21 mil deles por conta da doença [fonte: CDC]. Apenas na

Guerra Civil Americana (em inglês), 1.316.000 homens supostamente tiveram a doença e 10 mil

morreram. Durante a Primeira Guerra Mundial, a malária imobilizou as forças britânicas,

francesas e alemãs durante três anos. Aproximadamente, 60 mil soldados norte-americanos

morreram da doença na África e no Pacífico Sul durante a Segunda Guerra Mundial [fonte: site

da malária]. No fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tentaram impedir a

epidemia da malária. No início, o país progrediu bastante usando o inseticida DDT (Dicloro-

difenil-tricloroetano), hoje proibido, e depois, tomou medidas preventivas para manter baixas as

populações do mosquito. Depois que o CDC (Centro de Controle de Doenças) declararou que a

malária tinha sido erradicada nos Estados Unidos, a Organização Mundial da Saúde começou a

erradicá-la no mundo inteiro. Entretanto, os resultados foram heterogêneos e os custos, a guerra,

a política, assim como o surgimento de mosquitos resistentes a inseticidas e de cepas de malária

resistentes aos medicamentos, finalmente, levaram ao abandono do projeto. Atualmente, a

malária continua representando um problema em boa parte do mundo, especialmente na África

(em inglês) subsaariana, área que foi excluída da campanha de erradicação da OMS.

Anualmente, entre 350 e 500 milhões de casos de malária ocorrem na região [fonte: CDC].

Desses casos, mais de 1 milhão resultam em morte. Mesmo nos Estados Unidos, ocorrem mais

de mil casos e várias mortes por ano, apesar das declarações anteriores de erradicação.

Dengue (América do sul)

O Brasil foi atingido por uma das piores epidemias de dengue na sua história. Seis anos depois, o

mosquito da dengue volta a atacar o Rio de Janeiro. Dados oficiais revelam que a epidemia já

infectou mais de 45.000. 67 pessoas já morreram - 40% delas são crianças menores de 12 anos.

O governo do Rio, que precisa de mais médicos para atender milhares de pessoas infectadas pela

dengue, pediu ajuda a outros estados e agora considera a possibilidade de solicitar a ajuda de

Cuba. A dengue nem sempre é fatal, mas precisa ser tratada, e causa febre alta e fortes dores de

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cabeça e musculares. Há, porém, uma forma mais virulenta da dengue - a hemorrágica, que causa

sangramento interno e pode levar à morte. Os hospitais do Rio de Janeiro estão superlotados com

pacientes infectados pela dengue. Mais de 1200 homens das forças armadas brasileiras chegaram

ao estado para ajudar a combater a epidemia, mas a falta de médicos complica os esforços do

governo.

Alguns peritos sobre a dengue afirmam que a epidemia pode ser atribuída ao crescimento, mal

planejado, de centenas de favelas no Rio de Janeiro. O mosquito da dengue precisa apenas de um

pouco de água parada para reproduzir. Infelizmente, é bastante difícil eliminar poços de água

parada em lugares onde a coleta do lixo ocorre com pouca freqüência e o sistema de esgoto é

precário. Epidemias de dengue atingiram o Rio em 1986, 1995 e 2002, mas a deste ano vem

provando ser mais letal que as anteriores. A cidade está coberta de anúncios pedindo para que a

população use repelente e elimine qualquer fonte de água parada. Jarbas Barbosa, um médio

brasileiro que encabeça a Organização de Saúde Pan-Americana, declarou para a imprensa

internacional que o mosquito da dengue, o Aedes aegypti, encontrou um ambiente favorável em

cidades no Brasil onde há muito crescimento populacional e uma falta de infraestrutura.

As primeiras epidemias que foram relatadas ocorreram em 1779-80 na Ásia, África e América do

Norte. Durante essa época, a doença era considerada não-letal e que atingia os visitantes dos

trópicos. Em geral, houve grandes intervalos (10-40 anos) entre as epidemias, principalmente por

que a virose só podia ser transmitida entre as populações que viajavam de barco para outras

partes do mundo. Uma epidemia global de dengue teve início no Sudeste da Ásia durante a

Segunda Guerra Mundial, e tem se intensificado nos últimos 15 anos. Por volta de 1975, a

dengue tornou-se uma das maiores causas de hospitalizações e morte entre crianças de diversos

países do sudeste asiático. Na década de 1980, a dengue hemorrágica começou a se expandir no

Sri Lanka e na Índia. Na década de 1980, após uma ausência de 35 anos, a dengue epidêmica

voltou a atingir Taiwan e China. Cingapura também sofreu um ressurgimento da doença de 1990

a 1994, apesar de ter adotado um programa de prevenção à dengue que havia evitado significante

a transmissão da doença no país por mais de 20 anos. A dengue epidêmica também se expandiu

pela África desde 1980, e atingiu a África Oriental, especialmente Quênia, Moçambique e

Somália.

A emergência da dengue e dengue hemorrágica tem sido mais grave nas Américas. Numa

tentativa de evitar a febre amarela urbana, que também é transmitida pelo Aedes aegypti, a

Organização Pan Americana de Saúde desenvolveu uma campanha que erradicou o mosquito de

grande parte da América do Sul e Central, nas décadas de 1950 e 1960. Mas o programa de

erradicação do Aedes aegypti foi oficialmente interrompido nos Estados Unidos na década de

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1970, e foi também deixado de lado em outros países das Américas. Conseqüentemente, esta

espécie de mosquito começou a infestar novamente países nos quais havia sido erradicado. Em

1997, a distribuição geográfica do mosquito tornou-se ainda maior que antes de seu programa de

erradicação: 18 países na região das Américas confirmaram casos de dengue hemorrágica.

A expansão global da dengue é comparada à da malária. Um número estimado em 2,5 bilhões de

pessoas vive em áreas de risco de transmissão da epidemia. Todo ano, ocorrem dezenas de

milhões de casos de dengue, e dependendo do ano, centenas de milhares de casos do tipo

hemorrágico. A média de fatalidade desta espécie de dengue é aproximadamente 5% - na maioria

dos casos são crianças e adolescentes. Diversos fatores importantes podem ser identificados para

explicar a dramática emergência global da dengue.

Primeiramente, o controle efetivo do mosquito virtualmente não existe na maioria dos países que

são atingidos pela dengue. Na maioria dos países não existe um programa para evitar a

multiplicação do mosquito Aedes aegypti.

Além disto, a urbanização descontrolada facilita o surgimento de uma epidemia de dengue.

Mudanças geográficas mal-planejadas, moradias sujas e sistemas inadequados de água, esgoto e

administração do lixo facilitam a transmissão da doença pelo mosquito.

Para agravar a situação, muitos países atingidos pela dengue têm uma estrutura de saúde pública

precária. A falta de recursos financeiros e humanos vem resultando na negligência de programas

para desenvolver um vasto programa de prevenção à doença. Países como o Brasil recorrem a

medidas de emergência para combater a doença. Raramente são implantadas medidas para

prevenir futuras epidemias. Portanto, não é de se surpreender que o País esteja passando por mais

uma crise no âmbito de saúde pública.

Peste bubônica (Oriente Médio)

epidemia se deve à expansão dos cultivos de cana-de-açúcar e do costume de fazer queimadas. A

peste bubônica é uma doença infecciosa aguda causada pela bactéria 'yersinia pestis', que se

encontra nas pulgas e nos ratos. É transmitida aos seres humanos através da mordida direta das

pulgas ou roedores infectados ou através do contato direto com o tecido dos animais doentes.

A pulga oriental de rato tem uma característica física que a torna bastante eficaz na transmissão

da peste. O sistema digestivo dela pode ficar obstruído por uma grande quantidade de bactérias

da peste. Quando uma pulga obstruída pica um hospedeiro, ela costuma regurgitar o sangue

infectado com peste dentro da ferida. As pulgas que não tendem a ficar obstruídas, como a pulga

humana, ainda podem transmitir a peste levando a bactéria em suas bocas.

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Atualmente o quadro de letalidade é mínimo devido à administração de antibióticos, como a

tetraciclina e a estreptomicina. Também existem vacinas específicas que podem assegurar a

imunidade quando aplicadas repetidas vezes. No entanto, a maneira mais eficaz de combate à

doença continua a ser a prevenção com o extermínio dos ratos urbanos e de suas pulgas.

Em muitos momentos da história, populações foram arrasadas por mortes em grande escala. A

diferença em relação às epidemias atuais é que, antigamente, não eram conhecidas as causas de

muitas doenças e não era possível, como hoje, fazer um trabalho preventivo.Com um mundo

globalizado e grande acesso a informação e tecnologia, podemos controlar mais facilmente o

desenvolvimento dos casos. Uma definição de epidemia é dada pelo infectologista do Hospital

Alemão Oswaldo Cruz e autor de "A Historia e Suas Epidemias", Stefan Cunha Ujvari: " são

ocorrências de casos de uma doença em número superior ao esperado – esperado com base em

cálculos, não em adivinhação." Meados do século XIV foi uma época marcada por muita dor,

sofrimento e mortes na Europa. A Peste Bubônica, que foi apelidada pelo povo de Peste Negra,

matou cerca de um terço da população européia. A doença mortal não escolhia vítimas. Reis,

príncipes, senhores feudais, artesãos, servos, padres entre outros foram pegos pela peste.

Nos porões dos navios de comércio, que vinham do Oriente, entre os anos de 1346 e 1352,

chegavam milhares de ratos. Estes roedores encontraram nas cidades européias um ambiente

favorável, pois estas possuíam condições precárias de higiene. O esgoto corria a céu aberto e o

lixo acumulava-se nas ruas. Rapidamente a população de ratos aumentou significativamente.

Estes ratos estavam contaminados com a bactéria Pasteurella Pestis. E as pulgas destes roedores

transmitiam a bactéria aos homens através da picada. Os ratos também morriam da doença e,

quando isto acontecia, as pulgas passavam rapidamente para os humanos para obterem seu

alimento, o sangue.

Após adquirir a doença, a pessoa começava a apresentar vários sintomas: primeiro apareciam nas

axilas, virilhas e pescoço vários bubos (bolhas) de pus e sangue. Em seguida, vinham os vômitos

e febre alta. Era questão de dias para os doentes morrerem, pois não havia cura para a doença e a

medicina era pouco desenvolvida. Vale lembrar que, para piorar a situação, a Igreja Católica

opunha-se ao desenvolvimento científico e farmacológico. Os poucos que tentavam desenvolver

remédios eram perseguidos e condenados à morte, acusados de bruxaria. A doença foi

identificada e estudada séculos depois desta epidemia Relatos da época mostram que a doença

foi tão grave e fez tantas vítimas que faltavam caixões e espaços nos cemitérios para enterrar os

mortos. Os mais pobres eram enterrados em valas comuns, apenas enrolados em panos.

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O preconceito com a doença era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados,

pela própria família, nas florestas ou em locais afastados. A doença foi sendo controlada no final

do século XIV, com a adoção de medidas higiênicas nas cidades medievais.

Vaca louca: A encefalopatia espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença da

vaca louca ou BSE (do acrônimo inglês bovine spongiform encephalopathy), é uma doença

neurodegenerativa que afecta o gado doméstico bovino. A doença surgiu em meados dos anos 80

na Inglaterra e tem como característica o facto de ter como agente patogénico uma forma

especial de proteína, chamada prião (Portugal) ou príon. É transmissível ao homem, causando

uma doença semelhante, a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, abreviadamente vCJD.

Desde abril de 1985 alguns veterinários clínicos de campo dos países pertencentes ao Reino

Unido começaram a relatar aos seus serviços de vigilância de saúde animal que alguns bovinos,

na maior parte vacas com mais de 4 a 5 anos de idade estavam adoecendo de uma doença fatal

que se apresentava com sinais associados a disfunções do Sistema Nervoso Central

(abreviadamente SNC).

Eram os casos iniciais de uma epidemia que avançou muito rapidamente. Quando a doença foi

descrita em novembro de 1986 pelos pesquisadores, ocorriam cerca de 8 casos por mês. Ao final

de outubro de 1987, quando foi relatada na Veterinary Record, a revista da associação dos

veterinários britânicos, a incidência já era de 70 casos por mês. No auge da epidemia, dezembro

de 92 e janeiro de 93, mais de 3.500 casos ocorreram por mês. Em 2003, ocorreram 51 casos por

mês. Durante 2004 ocorreram cerca de 20 casos por mês.

Os sinais nervosos eram desordens comportamentais causadas por alterações do estado mental

(apreensão, nervosismo, agressividade), falta de coordenação dos membros durante a marcha e

incapacidade de se levantar.

O animal afetado deixava de se alimentar e rapidamente perdia condição corporal. Em duas a três

semanas é necessário que o animal seja sacrificado pois não respondem a nenhum tratamento.

No início da epidemia a doença incidia apenas sobre animais adultos, a maior parte entre vacas

entre 4 a 5 anos de idade, mas também ocorria em machos. Rebanhos bovinos leiteiros eram

mais afetados que os rebanhos de corte. Todas as raças de bovinos eram afetadas.

O governo britânico tornou a doença de notificação obrigatória em junho de 1988 e proibiu o uso

de proteína originada de tecidos de ruminantes na alimentação de ruminantes no mês seguinte

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(HMSO de julho de 1988). Esta proibição foi relativamente eficaz, pois a incidência da doença

começou a declinar em 1993, quando a epidemia atingiu seu auge.

Estes cinco anos de demora foram necessários para que os animais infectados pelo príon

apresentassem os sinais da doença (pois como sabemos, o período de incubação das

encefalopatias espongiformes transmissíveis(TSE)é muito longo).

Em função de, antes da epidemia de EEB, o Reino Unido ser um grande exportador de animais

para reprodução e de farinha de carne e ossos, a EEB acabou atingindo sucessivamente outros

países. Ocorreram mais de 5.068 casos (aproximadamente 2,75% do total mundial de casos) de

EEB até dezembro de 2004 em diversos países no resto do mundo.

Embora haja poucos casos de EEB em outros países, o aparecimento de um único caso é

catastrófico para as exportações do país. Epidemiologistas de diversas nações entendem que

apenas um caso indica que toda a cadeia de produção do país é instável em relação ao risco dos

príons da EEB alcançarem produtos bovinos como a carne.

A incidência em relação ao número de animais do rebanho acima de 24 meses dá uma idéia do

risco de se importar um animal com BSE de um país. Em 1993, na França a incidência relativa

foi de 12 e na Alemanha de 8,7 casos por milhão de bovinos acima de 24 meses. Em 2003 a

incidência relativa da EEB na Grã-Bretanha foi de 130 casos por milhão de bovinos acima de 24

meses (contra 7.596 em 1992, no auge da epidemia).

10 das piores epidemias que assolaram a humanidade

1 varíola

Essa pintura representa a conquista da capital asteca Tenochtitlán pelo explorador espanhol

Hernando Cortez, em 13 de agosto de 1521. O que garantiu sua vitória não foi nenhuma arma de

fogo moderna, mas a varíola que os conquistadores levaram acidentalmente para o continente. A

principal dessas doenças foi à varíola, causada pelo vírus da varíola. Esse vírus começou a afetar

os humanos há milhares de anos, sendo que a forma mais comum da doença foi responsável por

uma taxa de mortalidade de 30% [fonte: CDC]. A varíola provoca febre alta, dores no corpo e

erupções que logo passam de protuberâncias e crostas cheias de líquido para cicatrizes

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permanentes. A doença é transmitida principalmente pelo contato direto com a pele ou com os

líquidos do corpo de uma pessoa infectada, mas também pode se espalhar pelo ar em ambientes

fechados. Apesar da criação de uma vacina, em 1796, a epidemia da varíola continuou se

espalhando. Em 1967, o vírus matou dois milhões de pessoas e assustou outros milhares em todo

o mundo [fonte: Choo]. Nesse mesmo ano, a Organização Mundial da Saúde liderou uma

campanha para erradicar o vírus por meio de vacinações em massa. Como resultado, 1977

marcou o último caso de varíola que ocorreu naturalmente. Efetivamente eliminada do mundo

natural, a doença existe apenas em laboratório.

2 Gripes espanhola

Enfermeiras cuidam de vítimas da epidemia de gripe espanhola de 1918 dentro de barracas de

lona, em Massachusetts. A gripe de 1918 não foi causada pelo vírus típico da gripe que vemos

anualmente. Era uma nova cepa de micróbio da gripe, o vírus A da gripe aviária H1N1. Os

cientistas suspeitam que a doença tenha sido transmitida dos pássaros para os humanos no meio-

oeste americano pouco antes do surto. Foi batizada, posteriormente, de gripe espanhola depois

que uma epidemia na Espanha matou 8 milhões de pessoas [fonte: NPR]. No mundo inteiro, o

sistema imunológico das pessoas estava totalmente despreparado para o novo vírus – assim como

os astecas não esperavam a chegada da varíola, por volta de 1500. O transporte de tropas e as

linhas de abastecimento no fim da Primeira Guerra Mundial permitiram que o vírus chegasse

rapidamente a proporções pandêmicas, espalhando-se para outros continentes e países. A gripe

de 1918 apresentava os sintomas típicos de uma gripe normal, como febre, náusea, dores e

diarréia. Além disso, os pacientes freqüentemente desenvolviam manchas escuras nas bochechas.

Quando seus pulmões se enchiam de líquido, eles corriam o risco de morte por falta de oxigênio.

Aqueles que morreram se afogaram com a própria secreção. A epidemia desapareceu em um ano,

quando o vírus mudou para outras formas menos fatais. A maioria das pessoas, hoje, apresenta

algum grau de imunidade a essa família de vírus H1N1, herdada daqueles que sobreviveram à

pandemia.

3 Peste negra

Carroças cheias de cadáveres, famílias agonizantes isoladas, reis e camponeses implorando

libertação – quando se trata de doenças epidêmicas, poucas têm imagens tão terríveis quanto à

peste negra. Considerada a primeira doença verdadeiramente pandêmica, a peste negra matou

metade da população da Europa, em 1348, e dizimou partes da China e da Índia. Essa “grande

agonia” seguiu os caminhos do tráfico e da guerra, exterminando cidades e mudando para

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sempre a estrutura das classes, as políticas globais, o comércio e a sociedade. Para obter mais

informações sobre essa doença, acesse Como funcionava a peste negra (em inglês). Por muito

tempo, a peste negra foi considerada uma epidemia de peste, viajando em sua forma bubônica

nas pulgas de rato, e pelo ar, na forma pneumônica. Estudos recentes colocaram isso em dúvida.

Alguns cientistas afirmam que a peste negra pode ter sido um vírus hemorrágico semelhante ao

ebola. Essa forma de doença resulta em forte hemorragia. Os cientistas continuam estudando

material genético de supostas vítimas da peste na esperança de descobrir provas genéticas que

confirmem suas teorias. Causada pela bactéria Yersínia pestis, a doença ainda pode representar

um problema em áreas pobres e infestadas por ratos. A medicina moderna permite o tratamento

fácil da doença em seus estágios iniciais, tornando-a uma ameaça bem menos fatal. Os sintomas

são glândulas linfáticas inchadas, febre, tosse, muco com sangue e dificuldade para respirar.

4 Malária

A malária não é novidade para o mundo das doenças epidêmicas. Há registros de seu impacto

nas populações humanas de mais de 4 mil anos atrás, quando os escritores gregos observaram

seus efeitos destruidores. A descrição da doença transmitida por mosquito surgiu nos textos

médicos antigos da Índia e da China. Até então, os cientistas associavam a doença às águas

paradas onde os mosquitos proliferavam. A malária é causada por protozoários do gênero

Plasmodium comuns a duas espécies: mosquitos e seres humanos. Quando os mosquitos

infectados se alimentam do sangue humano, eles transmitem esses protozoários. Uma vez no

sangue, eles crescem dentro dos glóbulos vermelhos, destruindo-os. Os sintomas variam de

moderados a fatais, mas, normalmente, incluem febre, calafrios, sudorese, cefaléia e dores

musculares Há uma grande dificuldade de se obter números específicos relacionados às antigas

epidemias de malária. É possível ver melhor os efeitos anteriores da doença se analisarmos os

grandes empreendimentos nas regiões infestadas pela malária. Em 1906, os Estados Unidos

empregaram mais de 26 mil trabalhadores para a construção do Canal do Panamá. Os

organizadores hospitalizaram mais de 21 mil deles por conta da doença [fonte: CDC]. Apenas na

Guerra Civil Americana (em inglês), 1.316.000 homens supostamente tiveram a doença e 10 mil

morreram. Durante a Primeira Guerra Mundial, a malária imobilizou as forças britânicas,

francesas e alemãs durante três anos. Aproximadamente, 60 mil soldados norte-americanos

morreram da doença na África e no Pacífico Sul durante a Segunda Guerra Mundial [fonte: site

da malária]. No fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tentaram impedir a

epidemia da malária. No início, o país progrediu bastante usando o inseticida DDT (Dicloro-

difenil-tricloroetano), hoje proibido, e depois, tomou medidas preventivas para manter baixas as

Page 11: Epidemias que abalaram a humanidade

populações do mosquito. Depois que o CDC (Centro de Controle de Doenças) declararou que a

malária tinha sido erradicada nos Estados Unidos, a Organização Mundial da Saúde começou a

erradicá-la no mundo inteiro. Entretanto, os resultados foram heterogêneos e os custos, a guerra,

a política, assim como o surgimento de mosquitos resistentes a inseticidas e de cepas de malária

resistentes aos medicamentos, finalmente, levaram ao abandono do projeto. Atualmente, a

malária continua representando um problema em boa parte do mundo, especialmente na África

(em inglês) subsaariana, área que foi excluída da campanha de erradicação da OMS.

Anualmente, entre 350 e 500 milhões de casos de malária ocorrem na região [fonte: CDC].

Desses casos, mais de 1 milhão resultam em morte. Mesmo nos Estados Unidos, ocorrem mais

de mil casos e várias mortes por ano, apesar das declarações anteriores de erradicação.

5 Tuberculose

A tuberculose causou grande impacto na humanidade e destruiu populações. Os textos antigos

detalham a maneira como as vítimas da doença eram afetadas. Houve, inclusive, evidências de

DNA da doença descobertas em múmias egípcias. Provocada pela bactéria Mycobacterium

tuberculosis, a tuberculose é transmitida de pessoa para pessoa através do ar. A bactéria

geralmente chega aos pulmões, causando dores no peito, fraqueza, perda de peso (em inglês),

febre, sudorese noturna e crises de tosse com sangue. Em alguns casos, a bactéria também afeta o

cérebro, os rins ou a coluna vertebral. No início do século 17, a epidemia de tuberculose na

Europa, conhecida como a grande peste branca, matou aproximadamente uma em cada sete

pessoas infectadas. A tuberculose era um problema comum na América colonial. Mesmo no fim

do século 19, 10% de todas as mortes nos Estados Unidos eram atribuídas à tuberculose [fonte:

Departamento de Saúde e Serviços Públicos de Nebrasca]. Em 1944, os médicos desenvolveram

o antibiótico estreptomicina, usado no combate à doença. Foram feitos mais avanços nos anos

seguintes e, depois de 5 mil anos de sofrimento, a humanidade finalmente tinha uma cura para o

que os gregos antigos chamavam de tísica, “a doença devastadora”. Apesar das curas e dos

tratamentos modernos, a tuberculose continua infectando cerca de 8 milhões de pessoas

anualmente, matando, conseqüentemente, cerca de 2 milhões [fonte: Departamento de Saúde e

Serviços Públicos de Nebrasca]. A doença reapareceu com força na década de 90 devido à falta

de programas de prevenção e tratamento, à pobreza mundial e ao surgimento de novas cepas

resistentes a antibióticos. Além disso, pacientes com HIV/AIDS ficam com o sistema

imunológico comprometido, tornando-se mais suscetíveis à doença. Assim como o vírus da

AIDS se propagou em todo o mundo, a tuberculose também reapareceu.

Page 12: Epidemias que abalaram a humanidade

6 AIDS

O surgimento da AIDS, nos anos 80, levou a uma pandemia mundial, matando cerca de 25

milhões de pessoas desde 1981. De acordo com estatísticas recentes, 33,2 milhões de pessoas são

HIV-positivas e 2,1 milhões de pessoas morreram de AIDS apenas em 2007 [fonte: Avert]. Um

banner contra a AIDS na cidade de Gaborone, na Botsuana, em outubro de 1999. Na época, mais

de um em cada quatro adultos, em Botsuana, estavam infectados com o vírus HIV/AIDS. A

AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida) é causada pelo HIV (vírus da imunodeficiência

humana). O vírus é transmitido pelo contato com sangue, sêmen e outros líquidos do corpo, e

afeta o sistema imunológico humano. Com o sistema imunológico enfraquecido, abrem-se

caminhos para infecções, chamadas de infecções oportunistas, que, de outra forma, não

representariam um problema. A infecção pelo vírus HIV se transforma em AIDS quando o

sistema imunológico é gravemente afetado. Os cientistas acreditam que o HIV foi transmitido

aos humanos através de certas espécies de macacos e símios em meados do século 20. Durante a

década de 70, a população da África cresceu e a guerra, a pobreza e o desemprego assolaram as

áreas urbanas. A prostituição e o abuso de drogas injetáveis chegaram ao caos, e o HIV passou a

ser transmitido através de relações sexuais sem preservativo (em inglês) e da reutilização de

seringas e agulhas contaminadas. Mesmo nos hospitais, o reaproveitamento de seringas e

agulhas, e as transfusões de sangue contribuíram para a epidemia. Ainda não há cura para a

AIDS, embora certos medicamentos possam impedir que o HIV se transforme na doença. Outros

medicamentos podem ajudar a combater as infecções oportunistas. Várias organizações

promoveram campanhas de tratamento, conhecimento e prevenção da AIDS. Como já

mencionamos, o HIV geralmente é transmitido através da relação sexual e do uso de agulhas

compartilhadas. Os médicos continuam recomendando o uso de preservativos e agulhas

descartáveis

7 Febre amarela

Quando os europeus começaram a importar escravos africanos para as Américas, eles também

levaram uma série de novas doenças, como a febre amarela. Essa doença arrasou as colônias,

dizimando fazendas e até grandes cidades. Uma moradora de Águas Lindas, em Goiás, é

vacinada contra a febre amarela durante uma epidemia em 2008 Quando o imperador da França,

Napoleão Bonaparte, enviou um exército com 33 mil homens às terras francesas na América do

Norte, a febre amarela matou 29 mil deles. Napoleão ficou tão chocado com a quantidade de

mortos que decidiu que o território não valia o risco de mais perdas. A França vendeu essas

terras aos Estados Unidos em 1803 – um acontecimento conhecido na história como a Compra

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da Louisiana (em inglês) [fonte: Yount]. A febre amarela, assim como a malária, é transmitida de

uma pessoa a outra através da picada de mosquitos. Os sintomas são febre, calafrios, cefaléia,

dor muscular, dor nas costas e vômito. A gravidade dos sintomas varia de moderada a fatal e as

infecções graves podem levar a sangramento, choque e insuficiência renal e hepática. A

insuficiência hepática provoca icterícia (em inglês), ou seja, a coloração amarelada da pele, que

dá à doença seu nome. Apesar da vacinação, dos procedimentos de tratamento aprimorados e do

controle do mosquito, as epidemias da doença persistem até hoje na América do Sul e na África.

8 Tifo epidêmico

Aglomere uma certa quantidade de pessoas em péssimas condições de higiene e você

provavelmente terá uma infestação de piolhos. As cidades miseráveis e as tropas acampadas, por

toda a história, tiveram que suportar as ameaças dos parasitas e das bactérias devastadoras. O

minúsculo micróbio Rickettsia prowazekii causa uma das doenças infecciosas mais arrasadoras

que o mundo já viu: o tifo epidêmico. Essa foto de 1945, mostra um soldado britânico

pulverizando uma prisioneira recém-libertada das condições imundas no campo de concentração

de Bergen-Belsen – medida necessária para combater o tifo epidêmico. Essa doença assolou a

humanidade durante séculos, causando milhares de mortes. Dada sua freqüência entre as tropas

acampadas, geralmente era chamada de “febre do campo” ou “febre da guerra”. Durante a

Guerra dos Trinta Anos (em inglês) [1618-1648], na Europa, o tifo, a peste e a fome atingiram

cerca de 10 milhões de pessoas. Algumas vezes, os surtos de tifo determinaram o resultado de

guerras inteiras [fonte: Conlon]. Quando as forças espanholas ficaram cercadas na fortaleza

moura (em inglês) de Granada, em 1489, um surto de tifo fez com que passassem de 25 mil para

8 mil soldados em um único mês [fonte: Conlon]. Devido à destruição causada pela doença,

passou-se mais um século sem que os espanhóis conseguissem expulsar os mouros da Espanha.

Tão recente quanto a Primeira Guerra Mundial, a doença provocou milhões de mortes na Rússia,

na Polônia e na Romênia. Os sintomas do tifo epidêmico normalmente são cefaléia, falta de

apetite, mal-estar e um rápido aumento da temperatura, que logo se transforma em febre,

acompanhada de calafrios e náusea. Se não for tratada, a doença afeta a circulação sangüínea,

resultando em pontos de gangrena, em pneumonia e em insuficiência renal. A febre muito alta

pode evoluir para um quadro de delírio, coma e insuficiência cardíaca. Melhores métodos de

tratamento e condições sanitárias diminuíram bastante o impacto do tifo epidêmico nos tempos

modernos. O surgimento de uma vacina contra o tifo durante a Segunda Guerra Mundial e o uso

difundido de DDT em populações com piolho ajudaram a eliminar efetivamente a doença no

mundo desenvolvido. Os surtos ainda ocorrem em partes da América do Sul, da África e da Ásia.

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9 Poliomielite

Os pesquisadores suspeitam que a poliomielite foi uma epidemia que atingiu os humanos durante

milênios, paralisando e matando milhares de crianças. Por volta de 1952, estima-se que houve 58

mil casos da doença apenas dos Estados Unidos – 1/3 dos pacientes estava paralisado. Desses,

mais de 3 mil morreram. Um operário, em 1956, no Glaxo Laboratories, mistura três cepas

distintas de poliovírus mortos para preparar a vacina final A causa da poliomielite é o poliovírus,

que atinge o sistema nervoso do homem. Dissemina-se por material fecal, normalmente sendo

transmitido através de água e alimento contaminados. Os sintomas iniciais são febre, fadiga,

cefaléia, vômito, rigidez e dor nos membros. Com isso, aproximadamente 1 em 200 casos evolui

com paralisia [fonte: OMS]. Embora normalmente afete as pernas, a doença às vezes atinge os

músculos respiratórios geralmente com resultados fatais. A poliomielite ocorre com mais

freqüência em crianças, mas também pode atingir adultos. Tudo depende de quando a pessoa

encontra o vírus pela primeira vez e desenvolve sua primeira infecção. O sistema imunológico

está mais bem preparado para combater a doença em crianças, por isso, quanto mais idade a

pessoa tiver na primeira infecção, maior será o risco de paralisia e de morte. A poliomielite é

uma enfermidade antiga para o homem e circula pelo mundo há séculos. Com a elevada

exposição ao vírus, a imunidade ficou mais alta, especialmente em crianças. No século 18, os

métodos de saneamento melhoraram em muitos países. Isso limitou a disseminação da doença,

diminuiu a imunidade natural e as chances de exposição ainda na infância. Conseqüentemente,

uma quantidade cada vez maior de pessoas mais velhas contraiu o vírus e o número de casos de

paralisia nas nações desenvolvidas disparou. Não existe uma cura efetiva para a poliomielite,

mas os médicos aperfeiçoaram a vacina contra a doença no início da década de 50. Desde então,

os casos nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos caíram drasticamente, e apenas

algumas nações em desenvolvimento ainda apresentam a doença em níveis epidêmicos. Como os

seres humanos são os únicos portadores conhecidos do vírus, a vacinação em massa praticamente

garante a extinção da poliomielite. Em 1988, a Organização Mundial da Saúde organizou a

Iniciativa de Erradicação Global da Poliomielite para alcançar esse objetivo.

10 Gripe de 1918

Em 1918, o mundo assistia ao fim da Primeira Guerra Mundial. No fim daquele ano, o número

estimado de mortos chegaria a 37 milhões no mundo inteiro e milhões de soldados tentavam

voltar para casa. Então, surgiu uma nova doença. Alguns a chamaram de gripe espanhola, outros

de a grande gripe ou ainda de gripe de 1918. Independe disso, a doença matou aproximadamente

20 milhões de pessoas em questão de meses [fonte: Yount]. Em um ano, a gripe desapareceria,

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mas apenas depois de causar um número espantoso de mortes. As estimativas globais variam

entre 50 e 100 milhões de fatalidades naquele ano [fonte: NPR]. Muitos a consideram a pior

epidemia (depois pandemia) registrada na história da humanidade.