Entrevista Janaina Marques Baiocchi

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Texto e fotos: Nathália Kneipp cqv2010.blogspot.com Brasília, 12 de março de 2010. Como será desenvolvido o trabalho de educação nutricional que começa com a oficina de hoje? Essa intervenção que estamos fazendo no MCT faz parte de um dos três projetos de educação nutricional concebidos no UniCeub: Projeto Vida Leve, para a população em geral, especialmente aqueles que pertençam a algum grupo de risco ou com histórico de problemas de saúde. Projeto Sabor a Vida que é voltado para os diabéticos e o Projeto Nutri Jovem, focado em pessoas dessa faixa etária. No MCT, o Projeto iniciado é o Vida Leve. Esse Projeto engloba um ciclo de oficinas que ocorre com uma dinâmica de grupo para que a educação nutricional ocorra de forma interativa, por meio de jogos cooperativos e atividades lúdicas. A participação em uma comunidade que busca reeducação alimentar é mais vantajosa que a interação individual em um consultório. Aprender sozinho é completamente diferente de aprender juntos em um contexto social. A atividade de hoje é para fazer uma triagem nutricional e identificar o perfil do grupo da Secis. Explicaremos quais foram os parâmetros avaliados e faremos uma breve orientação sobre alimentação saudável. Para as próximas etapas, as pessoas devem se inscrever nas oficinas que acontecerão no UniCeub, localizado no Edifício União, SCS, em frente ao Hospital de Base. É nesse local que funcina o Laboratório de Culinária Experimental. A próxima oficina está programada para o dia 25 de março às 9h. com a disponibilidade de 20 vagas.

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Entrevista realizada com a nutricionista Janaina Baiocchi, para o blog do CQV, por ocasião da oficina sobre educação nutricional, realizada no auditório do MCT em 12 de março de 2010.Entrevista realizada com a nutricionista Janaina Baiocchi, para o blog do CQV, por ocasião da oficina sobre educação nutricional, realizada no auditório do MCT em 12 de março de 2010.Entrevista realizada com a nutricionista Janaina Baiocchi antes da oficina de educação nutricional, realizada no auditório do MCT no dia 12 de março de 2010. Atividade promovida pelo CQV-Secis e UniCeub

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Page 1: Entrevista Janaina Marques Baiocchi

Texto e fotos: Nathália Kneipp cqv2010.blogspot.com Brasília, 12 de março de 2010.

Como será desenvolvido o trabalho de educação nutricional que começa com a oficina de

hoje?

Essa intervenção que estamos fazendo no MCT faz parte de um dos três projetos de educação

nutricional concebidos no UniCeub: Projeto Vida Leve, para a população em geral, especialmente

aqueles que pertençam a algum grupo de risco ou com histórico de problemas de saúde. Projeto

Sabor a Vida que é voltado para os diabéticos e o Projeto Nutri Jovem, focado em pessoas dessa

faixa etária. No MCT, o Projeto iniciado é o Vida Leve. Esse Projeto engloba um ciclo de oficinas que

ocorre com uma dinâmica de grupo para que a educação nutricional ocorra de forma interativa, por

meio de jogos cooperativos e atividades lúdicas. A participação em uma comunidade que busca

reeducação alimentar é mais vantajosa que a interação individual em um consultório. Aprender

sozinho é completamente diferente de aprender juntos em um contexto social. A atividade de hoje é

para fazer uma triagem nutricional e identificar o perfil do grupo da Secis. Explicaremos quais foram

os parâmetros avaliados e faremos uma breve orientação sobre alimentação saudável. Para as

próximas etapas, as pessoas devem se inscrever nas oficinas que acontecerão no UniCeub, localizado

no Edifício União, SCS, em frente ao Hospital de Base. É nesse local que funcina o Laboratório de

Culinária Experimental. A próxima oficina está programada para o dia 25 de março às 9h. com a

disponibilidade de 20 vagas.

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Ouve-se com frequência a queixa de que a alimentação saudável significa relegar o

paladar, as comidinhas saborosas, ao segundo plano. Você considera que esse seja o

maior empecilho à reeducação alimentar?

É exatamente essa percepção que nós queremos mudar com as oficinas. A culinária experimental

existe para isso. Além da pessoa aprender os conceitos, o que faz bem à saúde, quais são as

melhores escolhas, ela também poderá provar, degustar, e descobrir que o processo de preparo do

alimento pode ser muito prazeroso, bem como os pratos que são feitos primam por um sabor que

agrade. Há algumas boas surpresas quando alguém descobre que uma saladinha de tomate, na

medida em que é cortada corretamente e bem temperada , proporciona um sabor até então

desconhecido. É na culinária experimental que a gente quebra esse tabu.

Existem trabalhos na área de Hematologia que relacionam a tipagem sanguínea com a

necessidade de escolhas diferenciadas de alimentos, levando-se em consideração cada

indivíduo e o seu tipo sanguíneo. Você trabalha com essa abordagem?

Não seguimos essa abordagem, preferimos o que está estabelecido nos Dez Passos para uma

Alimentação Saudável, pelo Ministério da Saúde, é um conjunto de escolhas que fazem bem para

qualquer pessoa, independente do tipo sanguíneo. Em vez de observarmos isso, preferimos

considerar as diferenças culturais, por exemplo, a história e hábitos da pessoa. A alimentação

saudável é muito básica e simples, não são necessários artifícios.

Muito se esperava da engenharia de alimentos como ferramenta de aprimoramento da

nutrição humana, você considera que essa área correspondeu às expectativas nas últimas

décadas? O mesmo pode ser questionado em relação à biotecnologia.

A engenharia de alimentos pode avançar mais, ao levar em consideração as questões relacionadas à

ecologia, à sustentabilidade. A alimentação tem que voltar a ser sustentável, pois com a produção

de alimentos em massa, com sua distribuição mais acessível em supermercados, houve uma perda

de qualidade dos alimentos. Conservantes, corantes, embalagens e transporte são elementos que se

encontram entre a produção do alimento in natura e seu consumo em nossas mesas. Por isso,

estamos voltando a ter comportamentos de consumo diferenciados, em que se privilegia o agricultor

local, aquele que produz sem agrotóxico. Busca-se consumir os alimentos in natura e não o alimento

conservado. Por isso, penso que a engenharia de alimentos esteja passando por uma “virada de

página”, em que esse novo pensar e novas atitudes se encontram presentes. Nos últimos 20 anos,

ela trabalhou pela industrialização e fácil acesso aos alimentos, o que não é condenável, pois na

escala em que se dá o comércio de alimentos, se não fosse assim, estaríamos passando fome. Já a

biotecnologia permite aprimorar o estudo da produção de alimentos que podem ser enriquecidos

com nutrientes, sem nada artificial, simplesmente por meio da administração genômica da planta. A

Embrapa tem um papel importante pois atua nessa administração genômica e regionalização da

produção, respeitando a vocação geoclimática e a cultura de cada região.

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Quais são os projetos ou iniciativas relacionadas à segurança alimentar que você

apontaria como exemplares no Brasil?

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde; a Associação Brasileira do

Direito Humano – Alimentação Saudável; o Projeto de Emenda Constitucional (PEC 047/2003) que

inclui o Direito Humano à Alimentação entre os direitos sociais da Constituição Federal; a ação dos

Núcleos de Atenção à Saúde da Família, que contam com a colaboração de nutricionistas; todas

iniciativas bem-vindas, entre muitas outras.

A osteoporose é hoje uma verdadeira epidemia. Uma em cada três mulheres e um em

cada oito homens acima de 50 anos são portadores da doença, segundo a OMS. Entre as

causas, está a “desmineralização dos solos”. Nos fóruns que você frequenta, esse aspecto

é discutido? Existe interdisciplinaridade?

Só nas universidades, nos departamentos, na Agricultura Biodinâmica, com ações pontuais, mas não

tenho conhecimento disso como política nacional. Sei que, no Centro-Oeste, o solo é deficiente em

iodo e existem iniciativas para corrigir isso. No caso da osteoporose é preciso analisar um conjunto

de fatores que além da deficiência de minerais no solo que produz os alimentos, há o processo de

refino e industrialização das matérias-primas

naturais, e uma alimentação pouco

diversificada no dia-a-dia, que podem

contribuir para a carência desse mineral. E

não basta simplesmente tomar cálcio, é

preciso analisar todo o contexto. Pode ser

preciso tomar magnésio e vitamina D para

que haja absorção do cálcio, ou vitamina B12

para que ele seja processado direito. É o

contexto geral e não o focal que vai ser

determinante no sucesso do tratamento

dessa doença.