Ensino Superior - repositorium.sdum.uminho.pt (2).pdf · José Maria Maiquez, Kátia Ramos, Liliana...

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Ensino Superior Inovação e qualidade na docência Carlinda Leite e Miguel Zabalza (Coords.)

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  • Ensino SuperiorInovao e qualidade na docncia

    Carlinda Leite e Miguel Zabalza (Coords.)

  • Ficha Tcnica

    Ttulo da obra Ensino Superior: Inovao e qualidade na docncia

    Coordenao Carlinda Leite e Miguel Zabalza

    Design da obra,

    coordenao editorial e

    reviso

    Ana Caldas, Sara Pinheiro e Ana Sofia Faustino

    Edio CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas

    ISBN 978-989-8471-05-5

    Data de edio Julho 2012

    Depsito legal 347308/12

    Comisso Cientfica Afonso Pinho Ferreira, Albertina Lima Oliveira, Alicia Rivera Morales,

    Amlia Lopes, Amrico Peres, Amparo Martines March, Ana Mouraz,

    Antonio Bolivar, Antnio Magalhes, Ariana Cosme, Aurlio Villa, Bento

    Silva, Carles Monereo, Carlos Moya, Carolina Silva Sousa, Cleoni

    Fernandes, Corlia Vicente, Cristina Rinaudo, Danilo Donolo, Elisa

    Lucarelli, Elisabete Ferreira, Ftima Pereira, Ftima Vieira, Fellipe Trillo,

    Fernando Remio, Flvia Vieira, Gisela Velez, Helena C. Arajo, Jesus

    Maria Sousa, Joan Mateo, Joan Ru, Jorge Bento, Jos Alberto Correia,

    Jos Antnio Ramalheira Corujo Vaz, Jos Augusto Pacheco, Jos Brites

    Ferreira, Jos Caldas, Jos Carlos Morgado, Jos Manuel Martins Ferreira,

    Jos Maria Maiquez, Ktia Ramos, Liliana Sanjurjo, Lusa Neto, Manuela

    Esteves, Maria Amlia Ferreira, Maria do Rosrio Pinto, Maria Isabel

    Cunha, Maria Teresa Fonseca, Marlia Morosini , Mario de Miguel Diaz,

    Miguel Valero, Nilza Costa, Pedro Moreira, Pedro Teixeira, Preciosa

    Fernandes, Rui Alves, Rui Trindade, Sebastian Rodrguez Espinar,

    Uldarico Malaspina, Valeska Fortes de Oliveira

    Capa Manuel Francisco Costa

    Contactos CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do

    Porto

    Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto, Portugal

    Tel. +351 220 400 615 | Fax. +351 226 079 726 | [email protected]

    Nota: O contedo dos textos reunidos nesta obra da total responsabilidade dos seus autores.

  • 5249

    UNESCO. (2005). Hacia las sociedades del conocimiento. En Informe Mundial de la UNESCO.

    Paris.

    UNAM, FES Zaragoza. (1977). Plan de Estudio de la carrera de Cirujano Dentista. Mxico.

    UNAM, FES Zaragoza. (1998). Plan de Estudio de la carrera de Cirujano Dentista. Mxico.

    Schn, D. A. (1987). La formacin de profesionales reflexivos. Barcelona: Paids.

    Stenhouse, L. (1984). La investigacin y el desarrollo del curriculum, 4.ed. Madrid: Morata

    Zarzar, C. Carlos. (compilador). (1988). Formacin de Profesores Universitarios, Anlisis y

    Evaluacin de experiencias, Mxico: SEP. Nueva Imagen.

    6.53.

    Ttulo:

    Formao de Professores do Ensino Superior e prticas curriculares

    Autor/a (es/as):

    Guimares, Edilene Rocha [Universidade do Minho Portugal / Instituto Federal de

    Pernambuco Brasil]

    Pacheco, Jos Augusto [Universidade do Minho Portugal]

    Resumo:

    A comunicao tem como objetivo analisar as relaes entre os processos de formao de

    professores do ensino superior e as prticas de diversificao e diferenciao curricular. No

    Campo do Currculo, o trabalho se insere no debate sobre a formao contnua docente, com

    contribuies para o aprofundamento das questes sobre diversidade e diferena, que envolvem

    o desenvolvimento curricular no contexto da prtica. Como campo da pesquisa elegemos os

    cursos superiores do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Pernambuco

    (IFPE), localizado no Brasil, e seu processo de formao contnua docente. No Brasil, a

    formao de professores do ensino superior tem sido associada a uma poltica que incentiva a

    contratao do professor com formao inicial em cursos superiores de Bacharelado,

    relacionados s disciplinas especficas do currculo, como o caso das Engenharias, deixando a

    formao docente para ser realizada como formao contnua, atravs de seminrios, palestras,

    cursos complementares graduao e atravs de cursos de Ps-graduao, denotando que o

    perfil dos professores do ensino superior tem se configurado como engenheiros-docentes.

  • 5250

    Assim, a formao docente vem se aproximando da ideia de desenvolvimento profissional, na

    qual os professores necessitam renovar seus conhecimentos a fim de acompanhar as mudanas

    globais. Seguindo-se uma abordagem qualitativa, para recolha dos dados empricos, escolhemos

    entrevista de grupo focal, observao naturalista, anlise de documentos normativos e

    orientadores, alm de documentos institucionais. Na anlise dos dados partimos dos referenciais

    analticos das polticas curriculares, identificados por Pacheco (2003) como

    igualdade/desigualdade e homogeneizao/diversidade, e da proposta conceptual do

    tringulo da diferena desenvolvida por Wieviorka (2002), em seus trs componentes

    interligados: a identidade coletiva; o indivduo moderno; o sujeito. Nos resultados da pesquisa

    destacamos: a integrao ensino, pesquisa e extenso; a avaliao contnua e somativa; o

    planejamento flexvel do ensino; a subjetividade da formao docente e aprendizagem.

    Conclumos que as prticas de diversificao e diferenciao curricular tm se constitudo como

    um processo em construo, envolvendo a formao contnua docente e o trabalho pedaggico

    com a diversidade e diferena, com a preocupao de formar os alunos para alm do simples

    desenvolvimento das habilidades necessrias para uma ocupao, que valoriza as aprendizagens

    comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva, contribuindo para a formao integral do

    ser humano e o desenvolvimento sustentvel local da sociedade.

    Palavras-chave:

    Formao contnua docente, desenvolvimento curricular, diversificao e diferenciao

    curricular, diversidade e diferena.

    1 Introduo

    A comunicao parte da compreenso de que a formao inicial e continuada de profissionais do

    magistrio (docentes) se constitui como um processo de preparao intelectual, tcnica e poltica,

    que pretende responder s demandas e desafios presentes na realidade social. nesse sentido que

    Santos (2007, p. 2) alerta queos esforos construdos pelas instituies formadoras e entidades

    acadmicas e polticas caminham no sentido de apresentar propostas para a formao inicial e

    continuada do professor como uma das possibilidades de mecanismos que favorece mudanas

    qualitativas no trabalho docente e na educao.

    Para Pimenta (2002), os processos formativos do professor tm o propsito de desenvolver

    conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que possibilitem aos docentes construrem seus

    saberes-fazeres docentes permanentemente, a partir das necessidades e desafios que o ensino como

    prtica social lhes coloca no cotidiano. Ou seja,

  • 5251

    A concepo de que um projeto de formao de professores no pode visar unicamente

    aquisio de conhecimentos, mas tambm ao desenvolvimento do professor quanto ao

    conhecimento de si prprio e da realidade, implica necessariamente numa ao

    prolongada, baseada numa reflexo contnua e coletiva sobre as questes que atingem o

    trabalho pedaggico. (Nascimento, 1997, P. 78)

    Essa perspectiva ressalta a importncia do desenvolvimento da prtica reflexiva no mbito dos

    processos formativos do professor. O enfoque reflexivo assume um carter transformador na

    medida em que possibilita o professor participar do seu processo de desenvolvimento profissional

    de forma autnoma, ou seja, assumir a condio de sujeito da sua prpria aprendizagem (Santos,

    2007, p. 5). Neste processo, os professores descobrem que o conhecimento e a prtica educativa so

    construes sociais que emergem da realidade.

    No Brasil, nas duas ultimas dcadas, as orientaes da poltica educativa vm propondo que a

    atuao dos professores seja um dos elementos-chave para a efetivao das reformas educacionais,

    reconhecendo a importncia da formao docente ao lado de condies favorveis ao exerccio da

    docncia.

    As questes apresentadas at aqui nos levam a pensar que uma nova poltica de

    valorizao e profissionalizao dos educadores fundar-se-ia em referenciais, como o

    estmulo qualificao profissional, recuperao da dignidade profissional pela

    atribuio de salrios justos e jornada em uma nica escola, a nfase na formao

    continuada, articulada construo coletiva do projeto poltico-pedaggico, permitindo ao

    educador tempo para o estudo, para o trabalho coletivo e para a criao de novos projetos

    pedaggicos que envolvam os sujeitos da ao educativa na escola e na comunidade em

    que esto inseridos (Santos, 2001, p. 5)

    A formao inicial dos profissionais do magistrio da educao bsica tem como lcus os cursos de

    licenciatura, como processo de apropriao de saberes que favorea a construo de caminhos para

    autonomia profissional e o desenvolvimento de uma prtica pedaggica imbuda de um carter

    transformador. J a formao contnua docente parte do princpio que aprender a ser professor um

    processo contnuo, que ocorre ao longo da vida profissional. Assim, a formao docente vem se

    aproximando da ideia de desenvolvimento profissional, na qual os professores necessitam renovar

    seus conhecimentos a fim de acompanhar as mudanas globais.

  • 5252

    No entanto, a formao de professores do ensino superior tem sido associada a uma poltica que

    incentiva a formao inicial em cursos superiores de bacharelado, relacionados s disciplinas

    especficas do currculo, como o caso das Engenharias, deixando a formao docente para ser

    realizada como formao contnua, atravs de seminrios, palestras, cursos complementares

    graduao e atravs de cursos de Ps-graduao (Oliveira, 2006), denotando que o perfil dos

    professores do ensino superior tem se configurado como engenheiros-docentes.

    nesse contexto que destacamos os processos de formao contnua docente nesta comunicao.

    Segundo Costa (2004), a formao contnua docente pode ser abordada por dois grandes modelos

    tericos: o modelo clssico ou estruturante; e o modelo construtivista ou interativo reflexivo.

    No modelo clssico o professor que j atua profissionalmente volta universidade para renovar

    seus conhecimentos em programas de atualizao, aperfeioamento, programas de ps-graduao,

    ou ainda, participando de cursos, simpsios, congressos e encontros voltados para seu

    desenvolvimento profissional. Esse modelo tem sido o mais promovido e aceito nos sistemas

    educacionais para a formao contnua docente, mas recebe crticas por considerar a universidade

    como lcus atualizado de informaes, desconsiderando assim as escolas como produtoras de

    conhecimento e passa-se a consider-las como espaos meramente destinados prtica, local onde

    se aplica conhecimentos cientficos e se adquire experincia profissional (Ibid., p.67).

    O modelo construtivista parte de uma reflexo contextualizada para a montagem dos dispositivos

    de formao continuada visando a uma regulao permanente das prticas e do processo de

    trabalho. Esse um modelo que pode promover mudanas na prtica, pois considera as

    necessidades dos educadores e se constitui em uma aprendizagem significativa, visto que os

    estudos tericos tm ressonncia na realidade cotidiana e visam resolver questes anteriormente

    identificadas pelos envolvidos. (Ibid., p. 69).

    Destaca-se que esses modelos de formao contnua docente no existem isoladamente em seu

    estado puro, sempre apresentam interfaces entre eles, ou seja, materializam-se de forma mista na

    formao contnua docente.

    Na perspectiva da reflexo contextualizada, Nvoa (1992) prope que na formao voltada para o

    professor reflexivo, a escola seja vista como o lcus da formao contnua docente, atravs da

    reflexo na prtica e sobre a prtica; Tardif (2002) defende que a formao dos professores no

    espao escolar valorize o saber docente, o saber da experincia que se origina no trabalho cotidiano,

    pois com esses saberes os professores estabelecem diferentes relaes de exterioridade e de

    interioridade na atividade de ensino.

  • 5253

    Nesse sentido, os saberes da experincia constituem uma parte essencial na definio do modo de

    ser, da maneira de ser e fazer do professor da educao superior, bem como no desenvolvimento de

    sua identidade docente ao longo de sua trajetria social e temporal no exerccio da docncia, que se

    refletem nas relaes entre formao docente e prticas curriculares.

    Com essa compreenso, esta pesquisa toma como pressuposto que na formao contnua docente

    e no saber da experincia onde se situam os processos de socializao e da construo da identidade

    docente, considerando o carter histrico-cultural, no qual este constri o saber experiencial, o seu

    ser e o fazer profissional (Andr; Ludke, 1986).

    Assim, considera-se a formao contnua docente como um espao de recontextualizao dos

    saberes docentes e construo de identidades (Hong, 2010), como tambm um espao de

    recontextualizao das prticas de ensino e de construo de novas prticas curriculares, atravs da

    reconceptualizao do currculo.

    O currculo do passado considerava que o conhecimento se transmitia e se adquiria atravs de

    formas isoladas e especializadas das disciplinas, menosprezava o possvel impacto das mudanas

    polticas e econmicas e as desigualdades de acesso que diferenciavam os alunos. Young (2010)

    adverte para se condiderar no desenvolvimento curricular a preocupao com o que ensinar em

    diversos contextos. Essa perspectiva remete s reflexes acerca das prticas curriculares como

    processos de diversificao curricular e diferenciao curricular.

    O conceito de diversificao curricular ser utilizado neste estudo para designar formas

    organizacionais de ofertas educativas, como tipos diferentes de cursos, de ensino, e modalidades de

    formao, nas quais os alunos so confrontados com percursos escolares diferentes, na perspectiva

    de currculos alternativos. Assim, compreende-se por diversificao curricular a reorganizao das

    situaes de aprendizagem face s capacidades, interesses e motivaes dos alunos, mantendo uma

    estrutura bsica de objetivos e contedos a que todos os alunos devem aceder (Pacheco, 2008).

    Considera-se, entretanto, que a diferenciao curricular um conceito que representa, para alm de

    alteraes no contedo, mudanas na metodologia e na avaliao, pressupondo que os alunos tm

    um mesmo percurso nas suas opes, mas que uns precisam seguir caminhos diferentes para que

    todos possam atingir o sucesso educativo (Ibid., 2008).

    Os dois conceitos, por mais perspectivas tericas diferentes que os fundamentam, esto ligados

    identidade, diversidade e diferena (Moreira, 2002; Silva, 2002; Fleuri, 2006).

    Concorda-se com Sousa (2010) que a discusso em torno do conceito de diversidade, mais restrito

    do que o conceito de diferena, de fundamental importncia para a compreenso das formas

  • 5254

    tradicionais de distinguir alunos, e de como essas formas de distino tendem a dar visibilidade a

    algumas diferenas e ocultar outras.

    O conceito de diversidade diz respeito s diferenas categorizveis, ou seja, s diferenas que

    podem ser classificadas em categorias ou taxonomias. Os sistemas de categorizao das diferenas

    ocultam no s os processos de construo de identidades e diferenas, mas, tambm, os aspectos

    menos ostensivos dessa mesma realidade. Tais sistemas captam os aspectos mais visveis da

    diferena, em detrimento de diferenas partida menos visveis, que so frequentemente

    menosprezadas a nvel oficial, mas que podem ser muito significativas do ponto de vista de quem as

    experiencia (Sousa, 2010, p. 28).

    nesse sentido que muitos discursos sobre a diferena centram-se em dimenses visveis da

    diversidade, como raa, etnia e gnero, que enfatizam a defesa das minorias, mas acabam por

    privilegiar a maioria dentro da minoria.

    Com essa preocupao, este estudo considera que um currculo sensvel diferena

    essencialmente inclusivo e assume a preocupao em descobrir formas de fazer todos os alunos

    adquirirem aprendizagens significativas e potenciadoras de novas aprendizagens, sobretudo as

    aprendizagens consideradas essenciais para o exerccio da cidadania.

    O debate sobre a diversidade e diferena no currculo pe em questo polticas universalistas, que

    nos leva a considerar a cultura como rea substantiva e no simplesmente como elemento de

    homogeneizao da sociedade (Hall, 2003).

    Entendendo a educao superior como locus privilegiado de construo e socializao do

    conhecimento e considerando os processos sociohistricos contemporneos e seus movimentos de

    luta e resistncia pela afirmao dos direitos humanos, que geraram mudanas na educao para

    atender s demandas sociais (Dias, Machado, & Nunes, 2009), possvel compreender que os

    currculos, so, presentemente, instados a lidar com as diferentes representaes da diferena,

    reivindicadas por diferentes grupos sociais (Silva, 2009, p. 85).

    Alerta-se que o trabalho pedaggico com a diferena deve ser temperado com o juzo intelectual,

    pensamento crtico, tica e autorreflexo. Conforme Pinar (2007, p. 30), os professores no deviam

    ser somente especialistas de disciplinas escolares; sugiro que se tornem intelectuais privados-e-

    pblicos que compreendam que a autorreflexo, a intelectualidade, a interdisciplinaridade e a

    erudio so to inseparveis quanto as esferas subjectivas e social elas prprias.

    nesse sentido que o trabalho pedaggico com a diferena procura caminhos diferenciados

    daqueles que entende o aprender como resultado da relao estmulo-resposta e da aquisio de

  • 5255

    comportamentos, e assume um caminho que considera o aprender como um ato cultural sempre

    contextualizado na busca da formao integral.

    Para Fleuri (2006, p. 4), na formao integral as dimenses tradicionalmente excludas da prtica

    profissional e cientfica, como a afetividade, a espiritualidade, ou mesmo a dimenso poltica e

    ecolgica, so ressignificadas como inerentes ao cuidado com o ser humano e com seu ambiente.

    A formao integral concebida como processo que valoriza a dvida e a incerteza, envolvendo

    uma concepo do ensino associado pesquisa, que visa ao desenvolvimento do sujeito autnomo e

    formao da conscincia crtica e emancipatria (Cunha, 2002; Santos B., 1995).

    Nesse contexto, as prticas curriculares podem ser analisadas na perspectiva da diversidade e

    diferena, em dois sentidos: na diversificao curricular, ou seja, no modo como as diferentes

    modalidades so apresentadas como etapas diferentes e distintas de percursos escolares a serem

    percorridos pelos alunos e traduzidos no projeto educativo (Gallo, 2009); na diferenciao

    curricular, entendida como na forma como so organizados e materializados os processos e as

    prticas no interior da organizao do prprio currculo, nomeadamente, na contextualizao do

    currculo s caractersticas de cada aluno, com a finalidade de maximizar as suas oportunidades de

    sucesso educativo (Sousa, 2010).

    Esse processo de diversificao e diferenciao curricular exprime-se em polticas educativas

    relacionadas incluso social, tais como, no Brasil com o oferecimento de cursos superiores de

    tecnologia, que visam a formao do cidado trabalhor, e de formao docente para o trabalho

    pedaggico com a diversidade e diferena.

    O conceito de diferenciao curricular compe a maioria das problemticas em debate no campo do

    currculo, no que se refere ao desenvolvimento curricular no cotidiano escolar. Muitas das questes

    educativas centram-se, direta ou indiretamente, na diversidade dos alunos, considerada como uma

    problemtica decorrente do processo de massificao escolar e, em consequncia, a diferenciao

    curricular surge da necessidade e dificuldade de se adequar, de forma satisfatria, as respostas da

    escola, enquanto instituio curricular, s funes socialmente esperadas da escola, e as respostas

    dos professores, enquanto profissionais do currculo, ao trabalho pedaggico com a diferena

    (Roldo, 2003).

    Conforme Roldo (2000), nas sociedades ocidentais, as questes da diferenciao curricular

    emergem na segunda metade do sculo XX, como resultado desse processo da extenso temporal da

    escolaridade e da sua generalizao gradual a toda a populao em idade escolar, trazendo um

  • 5256

    conjunto de mudanas para os sistemas educativos e dificuldades para a escola lidar com um

    pblico diversificado.

    Surgiram tenses como resultado do acesso massificado educao, com a elevao dos indices de

    reprovao e abandono escolar, diante de uma escola que no mudou estruturalmente, que

    continuou a organizar-se da mesma forma, desenvolver o mesmo curriculo, utilizar as mesmas

    estratgias metodolgicas e a mesma linguagem de ao pedaggica, que desenvolviam enquanto

    instituio destinada a uma classe de pblico homogeneo e socialmente pr-selecionado (Ibid.)

    Alertamos sobre outras tenses, caracterizadoras da sociedade atual, relacionadas com a crescente

    dominncia da sociedade da informao ou do conhecimento, que revolucionam totalmente o

    relacionamento tradicional com os modos de acesso, construo e circulao do conhecimento.

    Pinar (2007) argumenta sobre a conversao complexa para ilustrar um currculo em que o

    conhecimento acadmico, a subjetividade e a sociedade esto inextricavelmente unidos, requerendo

    criatividade, intelectualidade interdisciplinar, erudio e autorreflexo.

    Diante desse contexto, as questes relacionadas diferenciao curricular levou ao debate poltico a

    necessidade de fazer evoluir a escola e os profissionais docentes para desenvolverem prticas

    curriculares, que combinem, de forma consistente, a contextualizao significativa das

    aprendizagens para cada aluno, com a garantia de consecuo de nveis de aprendizagem e

    competncias mais elevados para todos.

    Identifica-se algumas linhas de evoluo na poltica educativa a nvel internacional que so

    incorporadas nos diversos sistemas educativos (Roldo, 2000, p. 127-128): a) o reconhecimento da

    inadequao de currculos uniformes, de sistemas educativos centralistas e rigidamente

    organizados; b) a necessidade de reforo do papel decisor das escolas no plano curricular e

    organizacional; c) a necessidade de diferenciao curricular quer no campo da organizao dos

    contedos de aprendizagem, quer no plano dos processos e mtodos de ensino.

    Diante desse entendimento, esta comunicao tem como objetivo analisar as relaes entre os

    processos de formao de professores do ensino superior e as prticas de diversificao e

    diferenciao curricular.

    2 Metodologia e mtodos

    Partiu-se dos referenciais para anlise das polticas curriculares, identificados por Pacheco (2003, p.

    118-119) como igualdade/desigualdade e homogeneizao/diversidade, em suas quatro

    possibilidades: a) Uma poltica igual e homognea; b) Uma poltica curricular igual e diversificada;

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    c) Uma poltica curricular diversificada e desigual; d) Uma poltica curricular homognea e

    desigual.

    Com relao anlise das relaes entre os processos de formao docente e as prticas

    curriculares, consideramos a proposta conceptual do tringulo da diferena proposto por

    Wieviorka (2002), em seus trs componentes interligados que balizam o espao terico da

    diferena: identidade coletiva; o indivduo moderno; o sujeito.

    Definir as condies em que a afirmao de uma diferena aceitvel e legtima, indica propor uma

    configurao ideal do tringulo da diferena, uma vez que equivale a conciliar as exigncias das

    pessoas singulares, como indivduos e como sujeitos, com as exigncias do particularismo cultural e

    as exigncias da sociedade inteira (Wieviorka, 2002). Assim, as anlises dos dados empricos sero

    sustentadas na possibilidade de aproximao da formao docente e das prticas curriculares com a

    configurao ideal do tringulo da diferena.

    Como campo da pesquisa, elegemos os cursos superiores do Instituto Federal de Educao, Cincia

    e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), localizado no Brasil, e seu processo de formao contnua dos

    docentes.

    Dos instrumentos de pesquisa para recolha de dados empricos, seguindo-se uma abordagem

    qualitativa (Tuckman, 1994; Quivy & Campenhoudt, 1997), utilizando-se como tcnicas de recolha

    de dados a entrevista de grupo focal (Gatti, 2005), a observao naturalista (Estrela, 2008), alm da

    anlise documental (Lee, 2002), sendo o corpus de documentos constitudo por normativos e textos

    orientadores que servem de referencial para os cursos superiores no Brasil. Como estudo de caso

    (Stake, 2007), foram considerados documentos produzidos no mbito institucional do Campus

    Recife do IFPE, que desenvolvem o currculo do Curso Superior de Tecnologia em Gesto

    Ambeintal, que tem por objetivo formar gestores ambientais para assessorar, planejar, executar e

    gerir programas de gesto tecnolgica sustentvel em consonncia com a legislao ambiental

    vigente, promovendo a conservao das reas naturais e do ambiente construdo quanto utilizao

    dos recursos e, consequentemente, o desenvolvimento humano sustentvel.

    Como principal tcnica de anlise de dados utilizada a anlise de contedos, nos procedimentos de

    Bardin (1979) e no modo como analisada por Esteves (2007), com resultados agrupados nas

    categorias: integrao ensino, pesquisa e extenso; avaliao contnua e somativa; planejamento

    flexvel do ensino; subjetividade da formao docente e aprendizagem.

    3 Resultados e discusso

  • 5258

    3.1 Integrao ensino, pesquisa e extenso

    No trabalho pedaggico com a diversidade e a diferena, os dados empricos revelaram que o

    processo de formao contnua docente tem priorizado a integrao entre ensino, pesquisa e

    extenso como metodologia utilizada para desenvolver uma proposta de organizao curricular que

    considera as dimenses da identidade coletiva, do indivduo moderno e do sujeito (Wieviorka,

    2002), atravs da integrao dos saberes acadmicos, saberes cientficos e saberes contiadianos

    comunitrios.

    A formao contnua docente vem produzido uma proposta de integrao curricular que considera

    as prticas de diversificao e diferenciao curricular compostas por uma rede de relaes

    complexas que envolvem a formao integral e considera a diversidade e diferena. O caminho

    metodolgico para a integrao curricular compreende o conhecimento como complexo e

    provisrio, que se renova a partir do dilogo entre as diversas reas do saber e cultiva o prazer

    cultural e a postura crtica, criativa e investigativa, que valoriza a dvida, a incerteza e o

    desenvolvimento do sujeito autnomo e formao da conscincia crtica e emancipatria (Cunha,

    2002; Santos B., 1995).

    3.2 Avaliao contnua e somativa

    O processo de avaliao interdisciplinar surge nos dados empricos como articulador das relaes

    entre a formao contnua docente e as prticas de diversificao e diferenciao curricular. Este

    processo de avaliao interdisciplinar considera que no trabalho pedaggico com a diversidade e

    diferena a avaliao da aprendizagem deve ser continua e somativa, desenvolvida a partir de uma

    conversao complexa, que considera o conhecimento acadmico, a subjetividade e a sociedade

    como inextricavelmente unidos, e estimula a criatividade, intelectualidade interdisciplinar, erudio

    e autorreflexo (Pinar, 2007).

    No espao terico da diferena (Wieviorka, 2002), o processo de avaliao interdisciplinar trabalha

    as dimenses da identidade coletiva, do indivduo moderno e do sujeito, que implica uma

    capacidade por parte dos indivduos de pensar com reflexividade, de se definir numa relao

    prpria, e ao mesmo tempo de se reconhecer com uma capacidade semelhante a outrem, atravs das

    aes de interveno crtica na vida cotidiana das comunidades locais.

    3.3 Planejamento flexvel do ensino

  • 5259

    Os dados empricos destacam a relao dos processos de formao docente contnuo com o

    planejamento flexvel do ensino, o qual tem estruturado as prticas de diversificao e diferenciao

    curricular. Esse planejamento est associado s aes de uma poltica curricular igual e

    diversificada (Pacheco, 2003), na qual a igualdade reconhecida como fator de legitimao social

    da escola e a diversificao entendida como uma pluralidade de caminhos que no conduzem

    discriminao e desigualdade.

    Destamos que o tempo pedaggico surge, nesse processo de planejamento, como um fator limitante

    dessa flexibilidade. No entanto, os docentes procuram estender as aes de interveno crtica na

    vida cotidiana das comunidades locais para alm da carga-horria curricular, utilizando os finais de

    semana para realizao dessas atividades extraclasse, garantindo a valorizao das aprendizagens

    comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva.

    3.4 Subjetividade da formao docente e aprendizagem

    Identificamos atravs da anlise dos dados empricos que o processo de formao contnua docente

    tem considerado as condies nas prticas de diversificao e diferenciao curricular em que a

    afirmao de uma diferena aceitvel e legtima, as quais tm permitido que as aprendizagens dos

    alunos aproximem-se da configurao ideal do tringulo da diferena (Wieviorka, 2002). H uma

    conciliao das exigncias das pessoas singulares, como indivduos e como sujeitos, valorizando a

    subjetividade da formao docente que repercute na aprendizagem dos alunos, mas que consideram

    nas prticas de diversificao e diferenciao curricular as necessidades das comunidades locais e

    as exigncias da sociedade inteira.

    4 Consideraes finais

    Na analise das relaes entre os processos de formao de professores do ensino superior e as

    prticas de diversificao e diferenciao curricular, os dados empricos enfatizam o processo de

    formao contnua docente como estruturante do trabalho pedaggico com a diversidade e a

    diferena, devido aos professores em sua maioria no possurem a graduao em cursos superiores

    de licenciatura.

    Diante dos achados, conclumos que as prticas de diversificao e diferenciao curricular tm se

    constitudo como um processo em construo, envolvendo a formao contnua docente e o trabalho

    pedaggico com a diversidade e diferena, com a preocupao de formar os alunos para alm do

    simples desenvolvimento das habilidades necessrias para uma ocupao, que valoriza as

  • 5260

    aprendizagens comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva, contribuindo para a formao

    integral do ser humano e o desenvolvimento sustentvel local da sociedade.

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    6.54.

    Ttulo:

    Aes para formao de professores no programa institucional de bolsa de

    iniciao docncia, subprojeto matemtica da UFTM

    Autor/a (es/as):

    Jnior, Ailton Paulo de Oliveira [Universidade Federal do Tringulo Mineiro]

    Resumo: