Ensino Superior - repositorium.sdum.uminho.pt (2).pdf · José Maria Maiquez, Kátia Ramos, Liliana...
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Ensino SuperiorInovao e qualidade na docncia
Carlinda Leite e Miguel Zabalza (Coords.)
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Ficha Tcnica
Ttulo da obra Ensino Superior: Inovao e qualidade na docncia
Coordenao Carlinda Leite e Miguel Zabalza
Design da obra,
coordenao editorial e
reviso
Ana Caldas, Sara Pinheiro e Ana Sofia Faustino
Edio CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas
ISBN 978-989-8471-05-5
Data de edio Julho 2012
Depsito legal 347308/12
Comisso Cientfica Afonso Pinho Ferreira, Albertina Lima Oliveira, Alicia Rivera Morales,
Amlia Lopes, Amrico Peres, Amparo Martines March, Ana Mouraz,
Antonio Bolivar, Antnio Magalhes, Ariana Cosme, Aurlio Villa, Bento
Silva, Carles Monereo, Carlos Moya, Carolina Silva Sousa, Cleoni
Fernandes, Corlia Vicente, Cristina Rinaudo, Danilo Donolo, Elisa
Lucarelli, Elisabete Ferreira, Ftima Pereira, Ftima Vieira, Fellipe Trillo,
Fernando Remio, Flvia Vieira, Gisela Velez, Helena C. Arajo, Jesus
Maria Sousa, Joan Mateo, Joan Ru, Jorge Bento, Jos Alberto Correia,
Jos Antnio Ramalheira Corujo Vaz, Jos Augusto Pacheco, Jos Brites
Ferreira, Jos Caldas, Jos Carlos Morgado, Jos Manuel Martins Ferreira,
Jos Maria Maiquez, Ktia Ramos, Liliana Sanjurjo, Lusa Neto, Manuela
Esteves, Maria Amlia Ferreira, Maria do Rosrio Pinto, Maria Isabel
Cunha, Maria Teresa Fonseca, Marlia Morosini , Mario de Miguel Diaz,
Miguel Valero, Nilza Costa, Pedro Moreira, Pedro Teixeira, Preciosa
Fernandes, Rui Alves, Rui Trindade, Sebastian Rodrguez Espinar,
Uldarico Malaspina, Valeska Fortes de Oliveira
Capa Manuel Francisco Costa
Contactos CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas
Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do
Porto
Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto, Portugal
Tel. +351 220 400 615 | Fax. +351 226 079 726 | [email protected]
Nota: O contedo dos textos reunidos nesta obra da total responsabilidade dos seus autores.
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6.53.
Ttulo:
Formao de Professores do Ensino Superior e prticas curriculares
Autor/a (es/as):
Guimares, Edilene Rocha [Universidade do Minho Portugal / Instituto Federal de
Pernambuco Brasil]
Pacheco, Jos Augusto [Universidade do Minho Portugal]
Resumo:
A comunicao tem como objetivo analisar as relaes entre os processos de formao de
professores do ensino superior e as prticas de diversificao e diferenciao curricular. No
Campo do Currculo, o trabalho se insere no debate sobre a formao contnua docente, com
contribuies para o aprofundamento das questes sobre diversidade e diferena, que envolvem
o desenvolvimento curricular no contexto da prtica. Como campo da pesquisa elegemos os
cursos superiores do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Pernambuco
(IFPE), localizado no Brasil, e seu processo de formao contnua docente. No Brasil, a
formao de professores do ensino superior tem sido associada a uma poltica que incentiva a
contratao do professor com formao inicial em cursos superiores de Bacharelado,
relacionados s disciplinas especficas do currculo, como o caso das Engenharias, deixando a
formao docente para ser realizada como formao contnua, atravs de seminrios, palestras,
cursos complementares graduao e atravs de cursos de Ps-graduao, denotando que o
perfil dos professores do ensino superior tem se configurado como engenheiros-docentes.
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Assim, a formao docente vem se aproximando da ideia de desenvolvimento profissional, na
qual os professores necessitam renovar seus conhecimentos a fim de acompanhar as mudanas
globais. Seguindo-se uma abordagem qualitativa, para recolha dos dados empricos, escolhemos
entrevista de grupo focal, observao naturalista, anlise de documentos normativos e
orientadores, alm de documentos institucionais. Na anlise dos dados partimos dos referenciais
analticos das polticas curriculares, identificados por Pacheco (2003) como
igualdade/desigualdade e homogeneizao/diversidade, e da proposta conceptual do
tringulo da diferena desenvolvida por Wieviorka (2002), em seus trs componentes
interligados: a identidade coletiva; o indivduo moderno; o sujeito. Nos resultados da pesquisa
destacamos: a integrao ensino, pesquisa e extenso; a avaliao contnua e somativa; o
planejamento flexvel do ensino; a subjetividade da formao docente e aprendizagem.
Conclumos que as prticas de diversificao e diferenciao curricular tm se constitudo como
um processo em construo, envolvendo a formao contnua docente e o trabalho pedaggico
com a diversidade e diferena, com a preocupao de formar os alunos para alm do simples
desenvolvimento das habilidades necessrias para uma ocupao, que valoriza as aprendizagens
comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva, contribuindo para a formao integral do
ser humano e o desenvolvimento sustentvel local da sociedade.
Palavras-chave:
Formao contnua docente, desenvolvimento curricular, diversificao e diferenciao
curricular, diversidade e diferena.
1 Introduo
A comunicao parte da compreenso de que a formao inicial e continuada de profissionais do
magistrio (docentes) se constitui como um processo de preparao intelectual, tcnica e poltica,
que pretende responder s demandas e desafios presentes na realidade social. nesse sentido que
Santos (2007, p. 2) alerta queos esforos construdos pelas instituies formadoras e entidades
acadmicas e polticas caminham no sentido de apresentar propostas para a formao inicial e
continuada do professor como uma das possibilidades de mecanismos que favorece mudanas
qualitativas no trabalho docente e na educao.
Para Pimenta (2002), os processos formativos do professor tm o propsito de desenvolver
conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que possibilitem aos docentes construrem seus
saberes-fazeres docentes permanentemente, a partir das necessidades e desafios que o ensino como
prtica social lhes coloca no cotidiano. Ou seja,
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A concepo de que um projeto de formao de professores no pode visar unicamente
aquisio de conhecimentos, mas tambm ao desenvolvimento do professor quanto ao
conhecimento de si prprio e da realidade, implica necessariamente numa ao
prolongada, baseada numa reflexo contnua e coletiva sobre as questes que atingem o
trabalho pedaggico. (Nascimento, 1997, P. 78)
Essa perspectiva ressalta a importncia do desenvolvimento da prtica reflexiva no mbito dos
processos formativos do professor. O enfoque reflexivo assume um carter transformador na
medida em que possibilita o professor participar do seu processo de desenvolvimento profissional
de forma autnoma, ou seja, assumir a condio de sujeito da sua prpria aprendizagem (Santos,
2007, p. 5). Neste processo, os professores descobrem que o conhecimento e a prtica educativa so
construes sociais que emergem da realidade.
No Brasil, nas duas ultimas dcadas, as orientaes da poltica educativa vm propondo que a
atuao dos professores seja um dos elementos-chave para a efetivao das reformas educacionais,
reconhecendo a importncia da formao docente ao lado de condies favorveis ao exerccio da
docncia.
As questes apresentadas at aqui nos levam a pensar que uma nova poltica de
valorizao e profissionalizao dos educadores fundar-se-ia em referenciais, como o
estmulo qualificao profissional, recuperao da dignidade profissional pela
atribuio de salrios justos e jornada em uma nica escola, a nfase na formao
continuada, articulada construo coletiva do projeto poltico-pedaggico, permitindo ao
educador tempo para o estudo, para o trabalho coletivo e para a criao de novos projetos
pedaggicos que envolvam os sujeitos da ao educativa na escola e na comunidade em
que esto inseridos (Santos, 2001, p. 5)
A formao inicial dos profissionais do magistrio da educao bsica tem como lcus os cursos de
licenciatura, como processo de apropriao de saberes que favorea a construo de caminhos para
autonomia profissional e o desenvolvimento de uma prtica pedaggica imbuda de um carter
transformador. J a formao contnua docente parte do princpio que aprender a ser professor um
processo contnuo, que ocorre ao longo da vida profissional. Assim, a formao docente vem se
aproximando da ideia de desenvolvimento profissional, na qual os professores necessitam renovar
seus conhecimentos a fim de acompanhar as mudanas globais.
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No entanto, a formao de professores do ensino superior tem sido associada a uma poltica que
incentiva a formao inicial em cursos superiores de bacharelado, relacionados s disciplinas
especficas do currculo, como o caso das Engenharias, deixando a formao docente para ser
realizada como formao contnua, atravs de seminrios, palestras, cursos complementares
graduao e atravs de cursos de Ps-graduao (Oliveira, 2006), denotando que o perfil dos
professores do ensino superior tem se configurado como engenheiros-docentes.
nesse contexto que destacamos os processos de formao contnua docente nesta comunicao.
Segundo Costa (2004), a formao contnua docente pode ser abordada por dois grandes modelos
tericos: o modelo clssico ou estruturante; e o modelo construtivista ou interativo reflexivo.
No modelo clssico o professor que j atua profissionalmente volta universidade para renovar
seus conhecimentos em programas de atualizao, aperfeioamento, programas de ps-graduao,
ou ainda, participando de cursos, simpsios, congressos e encontros voltados para seu
desenvolvimento profissional. Esse modelo tem sido o mais promovido e aceito nos sistemas
educacionais para a formao contnua docente, mas recebe crticas por considerar a universidade
como lcus atualizado de informaes, desconsiderando assim as escolas como produtoras de
conhecimento e passa-se a consider-las como espaos meramente destinados prtica, local onde
se aplica conhecimentos cientficos e se adquire experincia profissional (Ibid., p.67).
O modelo construtivista parte de uma reflexo contextualizada para a montagem dos dispositivos
de formao continuada visando a uma regulao permanente das prticas e do processo de
trabalho. Esse um modelo que pode promover mudanas na prtica, pois considera as
necessidades dos educadores e se constitui em uma aprendizagem significativa, visto que os
estudos tericos tm ressonncia na realidade cotidiana e visam resolver questes anteriormente
identificadas pelos envolvidos. (Ibid., p. 69).
Destaca-se que esses modelos de formao contnua docente no existem isoladamente em seu
estado puro, sempre apresentam interfaces entre eles, ou seja, materializam-se de forma mista na
formao contnua docente.
Na perspectiva da reflexo contextualizada, Nvoa (1992) prope que na formao voltada para o
professor reflexivo, a escola seja vista como o lcus da formao contnua docente, atravs da
reflexo na prtica e sobre a prtica; Tardif (2002) defende que a formao dos professores no
espao escolar valorize o saber docente, o saber da experincia que se origina no trabalho cotidiano,
pois com esses saberes os professores estabelecem diferentes relaes de exterioridade e de
interioridade na atividade de ensino.
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Nesse sentido, os saberes da experincia constituem uma parte essencial na definio do modo de
ser, da maneira de ser e fazer do professor da educao superior, bem como no desenvolvimento de
sua identidade docente ao longo de sua trajetria social e temporal no exerccio da docncia, que se
refletem nas relaes entre formao docente e prticas curriculares.
Com essa compreenso, esta pesquisa toma como pressuposto que na formao contnua docente
e no saber da experincia onde se situam os processos de socializao e da construo da identidade
docente, considerando o carter histrico-cultural, no qual este constri o saber experiencial, o seu
ser e o fazer profissional (Andr; Ludke, 1986).
Assim, considera-se a formao contnua docente como um espao de recontextualizao dos
saberes docentes e construo de identidades (Hong, 2010), como tambm um espao de
recontextualizao das prticas de ensino e de construo de novas prticas curriculares, atravs da
reconceptualizao do currculo.
O currculo do passado considerava que o conhecimento se transmitia e se adquiria atravs de
formas isoladas e especializadas das disciplinas, menosprezava o possvel impacto das mudanas
polticas e econmicas e as desigualdades de acesso que diferenciavam os alunos. Young (2010)
adverte para se condiderar no desenvolvimento curricular a preocupao com o que ensinar em
diversos contextos. Essa perspectiva remete s reflexes acerca das prticas curriculares como
processos de diversificao curricular e diferenciao curricular.
O conceito de diversificao curricular ser utilizado neste estudo para designar formas
organizacionais de ofertas educativas, como tipos diferentes de cursos, de ensino, e modalidades de
formao, nas quais os alunos so confrontados com percursos escolares diferentes, na perspectiva
de currculos alternativos. Assim, compreende-se por diversificao curricular a reorganizao das
situaes de aprendizagem face s capacidades, interesses e motivaes dos alunos, mantendo uma
estrutura bsica de objetivos e contedos a que todos os alunos devem aceder (Pacheco, 2008).
Considera-se, entretanto, que a diferenciao curricular um conceito que representa, para alm de
alteraes no contedo, mudanas na metodologia e na avaliao, pressupondo que os alunos tm
um mesmo percurso nas suas opes, mas que uns precisam seguir caminhos diferentes para que
todos possam atingir o sucesso educativo (Ibid., 2008).
Os dois conceitos, por mais perspectivas tericas diferentes que os fundamentam, esto ligados
identidade, diversidade e diferena (Moreira, 2002; Silva, 2002; Fleuri, 2006).
Concorda-se com Sousa (2010) que a discusso em torno do conceito de diversidade, mais restrito
do que o conceito de diferena, de fundamental importncia para a compreenso das formas
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tradicionais de distinguir alunos, e de como essas formas de distino tendem a dar visibilidade a
algumas diferenas e ocultar outras.
O conceito de diversidade diz respeito s diferenas categorizveis, ou seja, s diferenas que
podem ser classificadas em categorias ou taxonomias. Os sistemas de categorizao das diferenas
ocultam no s os processos de construo de identidades e diferenas, mas, tambm, os aspectos
menos ostensivos dessa mesma realidade. Tais sistemas captam os aspectos mais visveis da
diferena, em detrimento de diferenas partida menos visveis, que so frequentemente
menosprezadas a nvel oficial, mas que podem ser muito significativas do ponto de vista de quem as
experiencia (Sousa, 2010, p. 28).
nesse sentido que muitos discursos sobre a diferena centram-se em dimenses visveis da
diversidade, como raa, etnia e gnero, que enfatizam a defesa das minorias, mas acabam por
privilegiar a maioria dentro da minoria.
Com essa preocupao, este estudo considera que um currculo sensvel diferena
essencialmente inclusivo e assume a preocupao em descobrir formas de fazer todos os alunos
adquirirem aprendizagens significativas e potenciadoras de novas aprendizagens, sobretudo as
aprendizagens consideradas essenciais para o exerccio da cidadania.
O debate sobre a diversidade e diferena no currculo pe em questo polticas universalistas, que
nos leva a considerar a cultura como rea substantiva e no simplesmente como elemento de
homogeneizao da sociedade (Hall, 2003).
Entendendo a educao superior como locus privilegiado de construo e socializao do
conhecimento e considerando os processos sociohistricos contemporneos e seus movimentos de
luta e resistncia pela afirmao dos direitos humanos, que geraram mudanas na educao para
atender s demandas sociais (Dias, Machado, & Nunes, 2009), possvel compreender que os
currculos, so, presentemente, instados a lidar com as diferentes representaes da diferena,
reivindicadas por diferentes grupos sociais (Silva, 2009, p. 85).
Alerta-se que o trabalho pedaggico com a diferena deve ser temperado com o juzo intelectual,
pensamento crtico, tica e autorreflexo. Conforme Pinar (2007, p. 30), os professores no deviam
ser somente especialistas de disciplinas escolares; sugiro que se tornem intelectuais privados-e-
pblicos que compreendam que a autorreflexo, a intelectualidade, a interdisciplinaridade e a
erudio so to inseparveis quanto as esferas subjectivas e social elas prprias.
nesse sentido que o trabalho pedaggico com a diferena procura caminhos diferenciados
daqueles que entende o aprender como resultado da relao estmulo-resposta e da aquisio de
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comportamentos, e assume um caminho que considera o aprender como um ato cultural sempre
contextualizado na busca da formao integral.
Para Fleuri (2006, p. 4), na formao integral as dimenses tradicionalmente excludas da prtica
profissional e cientfica, como a afetividade, a espiritualidade, ou mesmo a dimenso poltica e
ecolgica, so ressignificadas como inerentes ao cuidado com o ser humano e com seu ambiente.
A formao integral concebida como processo que valoriza a dvida e a incerteza, envolvendo
uma concepo do ensino associado pesquisa, que visa ao desenvolvimento do sujeito autnomo e
formao da conscincia crtica e emancipatria (Cunha, 2002; Santos B., 1995).
Nesse contexto, as prticas curriculares podem ser analisadas na perspectiva da diversidade e
diferena, em dois sentidos: na diversificao curricular, ou seja, no modo como as diferentes
modalidades so apresentadas como etapas diferentes e distintas de percursos escolares a serem
percorridos pelos alunos e traduzidos no projeto educativo (Gallo, 2009); na diferenciao
curricular, entendida como na forma como so organizados e materializados os processos e as
prticas no interior da organizao do prprio currculo, nomeadamente, na contextualizao do
currculo s caractersticas de cada aluno, com a finalidade de maximizar as suas oportunidades de
sucesso educativo (Sousa, 2010).
Esse processo de diversificao e diferenciao curricular exprime-se em polticas educativas
relacionadas incluso social, tais como, no Brasil com o oferecimento de cursos superiores de
tecnologia, que visam a formao do cidado trabalhor, e de formao docente para o trabalho
pedaggico com a diversidade e diferena.
O conceito de diferenciao curricular compe a maioria das problemticas em debate no campo do
currculo, no que se refere ao desenvolvimento curricular no cotidiano escolar. Muitas das questes
educativas centram-se, direta ou indiretamente, na diversidade dos alunos, considerada como uma
problemtica decorrente do processo de massificao escolar e, em consequncia, a diferenciao
curricular surge da necessidade e dificuldade de se adequar, de forma satisfatria, as respostas da
escola, enquanto instituio curricular, s funes socialmente esperadas da escola, e as respostas
dos professores, enquanto profissionais do currculo, ao trabalho pedaggico com a diferena
(Roldo, 2003).
Conforme Roldo (2000), nas sociedades ocidentais, as questes da diferenciao curricular
emergem na segunda metade do sculo XX, como resultado desse processo da extenso temporal da
escolaridade e da sua generalizao gradual a toda a populao em idade escolar, trazendo um
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conjunto de mudanas para os sistemas educativos e dificuldades para a escola lidar com um
pblico diversificado.
Surgiram tenses como resultado do acesso massificado educao, com a elevao dos indices de
reprovao e abandono escolar, diante de uma escola que no mudou estruturalmente, que
continuou a organizar-se da mesma forma, desenvolver o mesmo curriculo, utilizar as mesmas
estratgias metodolgicas e a mesma linguagem de ao pedaggica, que desenvolviam enquanto
instituio destinada a uma classe de pblico homogeneo e socialmente pr-selecionado (Ibid.)
Alertamos sobre outras tenses, caracterizadoras da sociedade atual, relacionadas com a crescente
dominncia da sociedade da informao ou do conhecimento, que revolucionam totalmente o
relacionamento tradicional com os modos de acesso, construo e circulao do conhecimento.
Pinar (2007) argumenta sobre a conversao complexa para ilustrar um currculo em que o
conhecimento acadmico, a subjetividade e a sociedade esto inextricavelmente unidos, requerendo
criatividade, intelectualidade interdisciplinar, erudio e autorreflexo.
Diante desse contexto, as questes relacionadas diferenciao curricular levou ao debate poltico a
necessidade de fazer evoluir a escola e os profissionais docentes para desenvolverem prticas
curriculares, que combinem, de forma consistente, a contextualizao significativa das
aprendizagens para cada aluno, com a garantia de consecuo de nveis de aprendizagem e
competncias mais elevados para todos.
Identifica-se algumas linhas de evoluo na poltica educativa a nvel internacional que so
incorporadas nos diversos sistemas educativos (Roldo, 2000, p. 127-128): a) o reconhecimento da
inadequao de currculos uniformes, de sistemas educativos centralistas e rigidamente
organizados; b) a necessidade de reforo do papel decisor das escolas no plano curricular e
organizacional; c) a necessidade de diferenciao curricular quer no campo da organizao dos
contedos de aprendizagem, quer no plano dos processos e mtodos de ensino.
Diante desse entendimento, esta comunicao tem como objetivo analisar as relaes entre os
processos de formao de professores do ensino superior e as prticas de diversificao e
diferenciao curricular.
2 Metodologia e mtodos
Partiu-se dos referenciais para anlise das polticas curriculares, identificados por Pacheco (2003, p.
118-119) como igualdade/desigualdade e homogeneizao/diversidade, em suas quatro
possibilidades: a) Uma poltica igual e homognea; b) Uma poltica curricular igual e diversificada;
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c) Uma poltica curricular diversificada e desigual; d) Uma poltica curricular homognea e
desigual.
Com relao anlise das relaes entre os processos de formao docente e as prticas
curriculares, consideramos a proposta conceptual do tringulo da diferena proposto por
Wieviorka (2002), em seus trs componentes interligados que balizam o espao terico da
diferena: identidade coletiva; o indivduo moderno; o sujeito.
Definir as condies em que a afirmao de uma diferena aceitvel e legtima, indica propor uma
configurao ideal do tringulo da diferena, uma vez que equivale a conciliar as exigncias das
pessoas singulares, como indivduos e como sujeitos, com as exigncias do particularismo cultural e
as exigncias da sociedade inteira (Wieviorka, 2002). Assim, as anlises dos dados empricos sero
sustentadas na possibilidade de aproximao da formao docente e das prticas curriculares com a
configurao ideal do tringulo da diferena.
Como campo da pesquisa, elegemos os cursos superiores do Instituto Federal de Educao, Cincia
e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), localizado no Brasil, e seu processo de formao contnua dos
docentes.
Dos instrumentos de pesquisa para recolha de dados empricos, seguindo-se uma abordagem
qualitativa (Tuckman, 1994; Quivy & Campenhoudt, 1997), utilizando-se como tcnicas de recolha
de dados a entrevista de grupo focal (Gatti, 2005), a observao naturalista (Estrela, 2008), alm da
anlise documental (Lee, 2002), sendo o corpus de documentos constitudo por normativos e textos
orientadores que servem de referencial para os cursos superiores no Brasil. Como estudo de caso
(Stake, 2007), foram considerados documentos produzidos no mbito institucional do Campus
Recife do IFPE, que desenvolvem o currculo do Curso Superior de Tecnologia em Gesto
Ambeintal, que tem por objetivo formar gestores ambientais para assessorar, planejar, executar e
gerir programas de gesto tecnolgica sustentvel em consonncia com a legislao ambiental
vigente, promovendo a conservao das reas naturais e do ambiente construdo quanto utilizao
dos recursos e, consequentemente, o desenvolvimento humano sustentvel.
Como principal tcnica de anlise de dados utilizada a anlise de contedos, nos procedimentos de
Bardin (1979) e no modo como analisada por Esteves (2007), com resultados agrupados nas
categorias: integrao ensino, pesquisa e extenso; avaliao contnua e somativa; planejamento
flexvel do ensino; subjetividade da formao docente e aprendizagem.
3 Resultados e discusso
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3.1 Integrao ensino, pesquisa e extenso
No trabalho pedaggico com a diversidade e a diferena, os dados empricos revelaram que o
processo de formao contnua docente tem priorizado a integrao entre ensino, pesquisa e
extenso como metodologia utilizada para desenvolver uma proposta de organizao curricular que
considera as dimenses da identidade coletiva, do indivduo moderno e do sujeito (Wieviorka,
2002), atravs da integrao dos saberes acadmicos, saberes cientficos e saberes contiadianos
comunitrios.
A formao contnua docente vem produzido uma proposta de integrao curricular que considera
as prticas de diversificao e diferenciao curricular compostas por uma rede de relaes
complexas que envolvem a formao integral e considera a diversidade e diferena. O caminho
metodolgico para a integrao curricular compreende o conhecimento como complexo e
provisrio, que se renova a partir do dilogo entre as diversas reas do saber e cultiva o prazer
cultural e a postura crtica, criativa e investigativa, que valoriza a dvida, a incerteza e o
desenvolvimento do sujeito autnomo e formao da conscincia crtica e emancipatria (Cunha,
2002; Santos B., 1995).
3.2 Avaliao contnua e somativa
O processo de avaliao interdisciplinar surge nos dados empricos como articulador das relaes
entre a formao contnua docente e as prticas de diversificao e diferenciao curricular. Este
processo de avaliao interdisciplinar considera que no trabalho pedaggico com a diversidade e
diferena a avaliao da aprendizagem deve ser continua e somativa, desenvolvida a partir de uma
conversao complexa, que considera o conhecimento acadmico, a subjetividade e a sociedade
como inextricavelmente unidos, e estimula a criatividade, intelectualidade interdisciplinar, erudio
e autorreflexo (Pinar, 2007).
No espao terico da diferena (Wieviorka, 2002), o processo de avaliao interdisciplinar trabalha
as dimenses da identidade coletiva, do indivduo moderno e do sujeito, que implica uma
capacidade por parte dos indivduos de pensar com reflexividade, de se definir numa relao
prpria, e ao mesmo tempo de se reconhecer com uma capacidade semelhante a outrem, atravs das
aes de interveno crtica na vida cotidiana das comunidades locais.
3.3 Planejamento flexvel do ensino
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Os dados empricos destacam a relao dos processos de formao docente contnuo com o
planejamento flexvel do ensino, o qual tem estruturado as prticas de diversificao e diferenciao
curricular. Esse planejamento est associado s aes de uma poltica curricular igual e
diversificada (Pacheco, 2003), na qual a igualdade reconhecida como fator de legitimao social
da escola e a diversificao entendida como uma pluralidade de caminhos que no conduzem
discriminao e desigualdade.
Destamos que o tempo pedaggico surge, nesse processo de planejamento, como um fator limitante
dessa flexibilidade. No entanto, os docentes procuram estender as aes de interveno crtica na
vida cotidiana das comunidades locais para alm da carga-horria curricular, utilizando os finais de
semana para realizao dessas atividades extraclasse, garantindo a valorizao das aprendizagens
comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva.
3.4 Subjetividade da formao docente e aprendizagem
Identificamos atravs da anlise dos dados empricos que o processo de formao contnua docente
tem considerado as condies nas prticas de diversificao e diferenciao curricular em que a
afirmao de uma diferena aceitvel e legtima, as quais tm permitido que as aprendizagens dos
alunos aproximem-se da configurao ideal do tringulo da diferena (Wieviorka, 2002). H uma
conciliao das exigncias das pessoas singulares, como indivduos e como sujeitos, valorizando a
subjetividade da formao docente que repercute na aprendizagem dos alunos, mas que consideram
nas prticas de diversificao e diferenciao curricular as necessidades das comunidades locais e
as exigncias da sociedade inteira.
4 Consideraes finais
Na analise das relaes entre os processos de formao de professores do ensino superior e as
prticas de diversificao e diferenciao curricular, os dados empricos enfatizam o processo de
formao contnua docente como estruturante do trabalho pedaggico com a diversidade e a
diferena, devido aos professores em sua maioria no possurem a graduao em cursos superiores
de licenciatura.
Diante dos achados, conclumos que as prticas de diversificao e diferenciao curricular tm se
constitudo como um processo em construo, envolvendo a formao contnua docente e o trabalho
pedaggico com a diversidade e diferena, com a preocupao de formar os alunos para alm do
simples desenvolvimento das habilidades necessrias para uma ocupao, que valoriza as
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aprendizagens comprometidas com uma prtica cidad e inclusiva, contribuindo para a formao
integral do ser humano e o desenvolvimento sustentvel local da sociedade.
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6.54.
Ttulo:
Aes para formao de professores no programa institucional de bolsa de
iniciao docncia, subprojeto matemtica da UFTM
Autor/a (es/as):
Jnior, Ailton Paulo de Oliveira [Universidade Federal do Tringulo Mineiro]
Resumo: