EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA...

23
EL "MISTERIO ESCONDIDO" EN EL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL ARTE DE CERVANTES Una de las cuestiones que más han preocupado a la crítica cer- vantina es sin duda la de la ejemplaridad de las Novelas ejemplares, y no es de extrañar que la novela E l celoso extremeño haya suscitado quizás el mayor interés a este respecto. Como se sabe, existen dos versiones: una, en el manuscrito de Porras de la Cámara prepa- rado para el recreo del Cardenal Niño de Guevara entre 1600 y 1609, y la otra en la colección de Novelas ejemplares publicada por Cervantes en 1613. Las dos versiones exhiben ligeras variantes textuales y un cambio argumental pequeño pero de gran trascen- dencia: en la versión de Porras la esposa del extremeño sucumbe al adulterio, mientras que en la de 1613, el acto no llega a consu- marse. Este cambio fue el que notoriamente le ganó a Cervantes la acusación de hipocresía por Américo Castro, quien vio ahí el deseo por parte de un escritor marginado de congraciarse con las autoridades de una España mojigata y conformista 1 . Tan severo juicio sobre los motivos de Cervantes provocó una polémica en torno a la novela hasta que Castro mismo se retractó de la acusa- ción de hipocresía y reconoció el valor de la versión de 1613 en un ensayo titulado "Cervantes se nos desliza en E l celoso extreme- ño" 2 . Lo cierto es que unos veinte años después de este ensayo de Castro, Cervantes sigue deslizándose ante los cervantistas: no ha surgido aún un consenso acerca de la ejemplaridad de esta novela. La opinión de la crítica más reciente es que la incertidumbre misma sobre la intencionalidad artística y moral de Cervantes quizá 1 A. CASTRO, El pensamiento de Cervantes, Hernando, Madrid, 1925, p. 244. 2 A. CASTRO, "Cervantes se nos desliza en El celoso extremeño", PSA, 13 (1968), 202-222.

Transcript of EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA...

Page 1: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L CELOSO EXTREMEÑO: U N A APROXIMACIÓN A L A R T E

D E C E R V A N T E S

U n a de las cuestiones que más h a n preocupado a la crítica cer­v a n t i n a es s in d u d a la de la e j e m p l a r i d a d de las Novelas ejemplares, y n o es de extrañar que la novela E l celoso extremeño haya suscitado quizás el m a y o r interés a este respecto. C o m o se sabe, existen dos versiones: u n a , en el m a n u s c r i t o de Porras de la Cámara prepa­rado p a r a el recreo del C a r d e n a l Niño de G u e v a r a entre 1600 y 1609, y l a o t r a en la colección de Novelas ejemplares pub l i cada p o r Cervantes en 1613. Las dos versiones exh iben l igeras variantes textuales y u n cambio a r g u m e n t a l pequeño pero de g r a n trascen­denc ia : en l a versión de Porras la esposa del extremeño sucumbe al a d u l t e r i o , m ient ras que en la de 1613, el acto no l lega a consu­marse . Este cambio fue el que n o t o r i a m e n t e le ganó a Cervantes l a acusación de hipocresía p o r Amér i co Castro , q u i e n v i o ahí el deseo por parte de u n escritor m a r g i n a d o de congraciarse con las autor idades de u n a España m o j i g a t a y c o n f o r m i s t a 1 . T a n severo j u i c i o sobre los mot ivos de Cervantes provocó u n a polémica en t o r n o a l a nove la hasta que Cast ro m i s m o se retractó de la acusa­c ión de hipocresía y reconoció el va lor de la versión de 1613 en u n ensayo t i t u l a d o " C e r v a n t e s se nos desliza en E l celoso extreme­ño"2. L o c ierto es que unos ve inte años después de este ensayo de Cas t ro , Cervantes sigue deslizándose ante los cervantistas: no h a surg ido aún u n consenso acerca de la e j e m p l a r i d a d de esta nove la .

L a opinión de la crítica más reciente es que la i n c e r t i d u m b r e m i s m a sobre la intencional idad artística y m o r a l de Cervantes quizá

1 A . C A S T R O , El pensamiento de Cervantes, H e r n a n d o , M a d r i d , 1925, p. 244.

2 A . C A S T R O , " C e r v a n t e s se nos des l i za e n El celoso extremeño", PSA, 13 ( 1 9 6 8 ) , 202 -222 .

Page 2: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

794 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

resulte de u n a consciente estrategia n a r r a t i v a por parte del a u t o r . E l p r i m e r o en f o r m u l a r esta interpretación fue A . F . L a m b e r t , en u n i m p o r t a n t e artículo cuya conclusión era que al provocar reacciones contrad ic tor ias en el lector , " t h e story also w a r n s the reader , not to lapse i n t o t o ta l r e l a t i v i s m , b u t to beware o f i m p o ­s ing schemes w h i c h a t t e m p t to deny the f reedom o f people to be c omplex a n d unpred i c tab le whether i n rea l i t y or fiction"3. Esta l e c t u r a re la t iv i s ta (ya sea p a r c i a l o t o ta l ) es recogida p o r A l b a n K . Forc ione en su i n t e n t o de demostrar el erasmismo de C e r v a n ­tes en contraposición a lo que d e n o m i n a este crítico la " f i losofía de l d e s e n g a ñ o " , monológ ica y a n t i - v i t a l , que caracteriza la obra de sus contemporáneos 4 . Para Forc ione ,

the reader is compelled to undergo the enlivening experience of strug­gling to render intelligible the disturbing elements, of t ruly collabo­rat ing i n the creation of the work, and of learning that part of the elusive mystery which i t recounts lies i n the discovery of the res­ponsibil ity and uncomfortable freedom w i t h which the author dig ­nifies h i m " 5 .

E n r e s u m e n , lo que Cervantes nos ofrece con esta novela es u n a " o b r a a b i e r t a " , donde el lector es l i b r e de i n t e r p r e t a r el s i g n i f i ­cado del re lato s in tener que aceptar u n sentido único impuesto p o r el a u t o r t a l como ocurre en las narraciones " c e r r a d a s " de la t r a d i c i o n a l l i t e r a t u r a de e jemplos 6 .

Esta m a n e r a de entender E l celoso extremeño me parece acerta­d a pero , a m i j u i c i o , se corre el riesgo o b i e n de m o d e r n i z a r de­mas iado a Cervantes , extrayéndolo de su contorno ideológico, o b i e n de esc indir su personal idad l i t e r a r i a en dos facetas aparente­m e n t e incompat ib les : p o r u n lado , el escritor irónico y p lura l i s ta , heredero de Erasmo y ant ic ipador de la España liberad; por el o tro , u n a u t o r con formis ta y o r todoxo , u n m i l i t a n t e más de la C o n t r a ­r r e f o r m a española. L o que me propongo en este ensayo es buscar las ideas l i terar ias y los p r inc ip i os morales que podrían haber ins -

3 A . F . L A M B E R T , 4 4 T h e two vers ions of C e r v a n t e s ' El celoso extremeño", BHS, 57 (1980) , 219 -231 .

4 A . K . F O R C I O N E , Cervantes and the humanist vision, P r i n c e t o n U n i v e r s i t y P r e s s , P r i n c e t o n , N J , 1982, pp . 87 -88 , n . 78.

5 Ibid., p. 91 . 6 J U A N B A U T I S T A A V A L L E - A R C E señaló l a 4 ' f o r m a a b i e r t a " de El celoso ex­

tremeño de 1613 e n Deslindes cervantinos, E d s . de H i s t o r i a , Geografía y A r t e , M a ­d r i d , 1961, p p . 76-78 .

Page 3: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 795

p i r a d o la a p e r t u r a en 1613 de la versión cerrada de El celoso extre­meño i n c l u i d a en el m a n u s c r i t o de P o r r a s 7 . Antes de proceder a u n estudio de la nove la conviene detenernos en el Prólogo a las Novelas ejemplares donde parece mostrarse esta doble faz de C e r ­vantes : escurr id izo e irónico a l a vez que solemne y e jemplar .

E L PRÓLOGO COMO "OBRA ABIERTA"

L o que se n o t a de entrada en este Prólogo es la a c t i t u d irónica de Cervantes hacia su lector . E n p r i m e r l u g a r , se b u r l a de la cos­t u m b r e de muchos prologuistas de presentarle al lector tes t imo­nios de la a u t o r i d a d y ta lento del escritor . Este es u n t e m a f a v o r i ­to de Cervantes ; lo encontramos en el pró logo del Quijote de 1605 8 . A h o r a , a l i n t r o d u c i r las Novelas ejemplares, Cervantes a l u ­de d i rec tamente al pró logo anter i o r y emplea u n a técnica paródi­ca m u y parec ida : se refiere a u n a m i g o que podría ofrecer test i ­monios de la cal idad del autor . E n u n extendido pasaje se nos p i n t a u n r e t ra to v e r b a l de Cervantes como e jemplo de la clase de test i ­m o n i o que este amigo i m a g i n a r i o h u b i e r a pod ido presentar al pú­b l i c o . Es u n e jemplo de ironía t a n f ina que casi se nos escapa que todo aquello es u n a mera conjetura, u n espejismo del lenguaje pre­sentado p o r el m i s m o Cervantes en s u b j u n t i v o , no p a r a ' ' a c r e d i ­t a r su i n g e n i o " sino al c o n t r a r i o , para demostrar l a v a n i d a d de t o d o i n t e n t o de buscar respaldos que autor i cen las invenciones de u n escritor : no h a y garantías de ca l idad en el ar te , no existen m e ­didas objetivas p a r a j u z g a r las intenciones del art i s ta . E l p r o p i o Cervantes nos expl ica la razón de el lo : 6 ' Porque pensar que d icen p u n t u a l m e n t e la ve rdad tales elogios es d isparate , por no tener

7 H a s t a h a c e poco l a opinión general e r a que el texto de P o r r a s r e p r e ­s e n t a b a u n a versión t e m p r a n a de l a n o v e l a escri ta por el propio C e r v a n t e s . E n los últimos años se h a puesto e n d u d a esta opinión. Véase al respecto E . T . A Y L W A R D , Cervantes: pioneer and plagiarist, T a m e s i s B o o k s , L o n d o n , 1 9 8 3 , y l a reseña de este l ibro por G E O F F R E Y S T A G G , 4 4 T h e refracted i m a g e : P o r r a s a n d C e r v a n t e s " , Cervantes, 4 ( 1 9 8 4 ) , 1 3 9 - 1 5 3 . C u a n d o c o m p a r o las dos vers iones , m i propósito es h a c e r resal tar ciertas cual idades e n el texto de 1 6 1 3 . N o m e i n t e r e s a e n este ensayo establecer si C e r v a n t e s fue el autor del texto de P o r r a s , pero creo que es posible que el m a n u s c r i t o de P o r r a s fuera u n a copia defectuo­sa de u n o r i g i n a l de C e r v a n t e s — p o s i b i l i d a d a d m i t i d a por S t a g g — y que po­dría h a b e r i n c l u i d o este texto c e r v a n t i n o el extendido pasaje sobre l a " g e n t e de b a r r i o " , posteriormente s u p r i m i d o .

8 E n m i l ibro The half-way house offiction: "Don Quixote" and Arthurian ro­mance, C l a r e n d o n , O x f o r d , 1 9 8 4 , pp. 8 2 - 9 0 , estudio este prólogo detenidamente.

Page 4: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

796 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

p u n t o preciso n i d e t e r m i n a d o las alabanzas n i los v i t u p e r i o s " ( p . 6 3 ) 9 .

A q u í creo que tenemos el germen de la a c t i t u d irónica de Cer ­vantes hac ia su lector . Surge de u n a conciencia aguda de que no existen cr i ter ios fijos p a r a saber si u n a persona está d ic iendo la v e r d a d ; el lenguaje h u m a n o t iene múltiples recursos p a r a ocul tar o d is frazar las intenciones , y no hay m a n e r a , en consecuencia, de penetrar en la i n t e r i o r i d a d de o t r a persona para cert i f i car su b u e n a fe. D e i g u a l m o d o , en el discurso l i t e r a r i o no existe " p u n ­to p rec i so " para d e t e r m i n a r l a verdad de la o b r a 1 0 ; el lector n u n ­ca puede estar seguro de saber las intenciones del a u t o r n i t a m p o ­co éste puede asegurarse de que sus intenciones t rasc iendan a sus lectores s in malentend idos . Lejos de gozar de u n a a u t o r i d a d es­pec ia l , el escr i tor se encuentra al m i s m o n i v e l que su lector. Así pues, Cervantes nos dice que h a " q u e d a d o en b lanco y s in figu­r a " , o sea, desprovisto de testimonios y autorizaciones. Por lo t a n ­t o , " s e r á forzoso va lerme p o r m i p i c o " . A u n así, esta voz no ins ­pirará confianza porque es " t a r t a m u d a " ; pero se nos asegura que el a u t o r , " a u n q u e t a r t a m u d o , no lo será para decir verdades, que, dichas p o r señas, suelen ser e n t e n d i d a s " (p . 63) .

Tales declaraciones i n t r o d u c e n u n a técnica retórica en el Pró ­logo que c u l t i v a la i n c e r t i d u m b r e en el lector ; son como velos que se t i e n d e n sobre el s ignif icado del texto . Cervantes parece a f i r ­m a r algo p a r a después sembrar dudas sobre su sentido exacto: su voz es t a r t a m u d a , aunque dirá verdades; estas verdades se trans­m i t e n por señas, pero las señas serán entendidas ; las novelas " n o t i e n e n pies, n i cabeza, n i entrañas" , s in embargo , no moverán a malos pensamientos al lector ; aunque de ningún m o d o se podrá " h a c e r p e p i t o r i a " de estas novelas, se puede sacar f r u t o "as í de todas j u n t a s , como de cada u n a de por s í " ( pp . 63-64) . A veces inconexas o inconsistentes, estas declaraciones conv ier ten el Pró ­logo m i s m o en u n a especie de j u e g o entre el autor y el lector , y este j u e g o es solamente u n a anticipación de los encuentros lúdi-cos que Cervantes le promete al lector de sus novelas: " M i i n t e n ­to h a sido poner en la plaza de nuestra república u n a mesa de t rucos , donde cada u n o pueda l legar a entretenerse, sin daño de b a r r a s " ( p . 64) .

9 L a s referencias remiten a l a edición de las Novelas ejemplares de J U A N B A U ­T I S T A A V A L L E - A R C E e n C a s t a l i a , M a d r i d , 1982, t. 1.

1 0 También o c u r r e este t e m a en el Quijote c u a n d o se b u r l a C e r v a n t e s de l a " p u n t u a l i d a d " de C i d e H a m e t e y de M a r i t o r n e s . Véase The half-way house of fiction. . . , p p . 149-152.

Page 5: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 797

E n su Pró logo , entonces, Cervantes se b u r l a de las premisas fundamenta les de la l i t e r a t u r a e j emplar . Rechaza la idea de que u n a u t o r especialmente acreditado pueda t r a n s m i t i r u n a v e r d a d b i e n de f in ida que el lector , a su vez, podrá sacar del texto l i t e r a ­r i o c o m o u n e jemplo s in más. E l a u t o r no goza de u n a s u p e r i o r i ­d a d m o r a l sobre su lector ; el lenguaje puede ocu l tar a l a vez que dec larar la v e r d a d ; las intenciones no pueden comunicarse en es­tado p u r o . E n fin, el encuentro l i t e r a r i o es como " u n a mesa de t r u c o s " , u n juego donde dos contendientes intentarán entretenerse con las peripecias de la significación que ofrece el lenguaje h u m a n o .

Cervantes , s in e m b a r g o , no parece querer sumirse del todo en el espíritu de negación que a l ienta l a ironía, sino que su dis ­curso burlesco a p u n t a hac ia o t r o ob je t ivo . A l final del Prólogo se d i r i g e al lector de esta f o r m a : " S ó l o esto qu ie ro que consideres, que pues yo he ten ido osadía de d i r i g i r estas novelas al g r a n C o n ­de de L e m o s , algún mis te r i o t i enen escondido que las l e v a n t a " (p . 65 ) .

Las bur las y evasiones de Cervantes nos conducen hacia u n m i s t e r i o que , se dice, t iene la po tenc ia l idad de " l e v a n t a r " estas novelas e jemplares . Pero ¿cuáles son los términos de esta eleva­c ión? M e atrevo a suger ir que el mis ter i o escondido l evanta las novelas de su condición burlesca, semejante a u n a " m e s a de t r u ­c o s " , hacia o t ro p lano de comunicac ión que el lector tendrá que descubr i r p o r sí m i s m o . Es dec ir que si Cervantes ataca la idea de a u t o r i d a d l i t e r a r i a no es para negar las posibi l idades de t rans ­m i t i r la v e r d a d a través del texto , sino p a r a i n d i c a r que la verdad del arte se c o m u n i c a de u n a f o r m a más ind i re c ta y comple ja de lo que supone l a l i t e r a t u r a didáctica t r a d i c i o n a l .

L legamos al fin del Prólogo y nos quedamos con u n a i n t e r r o ­gante sobre el va lor y sentido de las Novelas ejemplares. E n cuanto creación l i t e r a r i a , el Prólogo es u n a " o b r a a b i e r t a " que presagia la mister iosa aper tura de El celoso extremeño. E fec t ivamente , el j u e ­go d iscurs ivo del Pró logo , como veremos, se r eanuda y p r o l o n g a en el a r g u m e n t o de El celoso. Pero como en aquel texto , C e r v a n ­tes nos sugiere que las posibi l idades de comunicac ión h u m a n a no se l i m i t a n a sólo dos modal idades del discurso — a u t o r i d a d o i ron ía—, sino que hay o t r a más que las supera y trasciende.

AUTORIDAD Y ENGAÑO EN EL CELOSO EXTREMEÑO

El celoso extremeño p lantea en f o r m a d irec ta la cuestión de la i n t e n ­c i o n a l i d a d h u m a n a . U n a persona celosa teme ante todo perder

Page 6: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

798 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

lo que se i m a g i n a que le pertenece 1 1 . Su relación con su pró j imo estará, en consecuencia, p lagada de sospechas por el s imple he­cho de no poder penetrar en la mente del o t ro para conocer sus más escondidas intenciones . E l celoso, p o r lo t a n t o , está agobia­do p o r las posibi l idades de engaño: busca lo c ierto , lo inequívo­co, en fin, lo a u t o r i t a r i o en las relaciones humanas p a r a poder defenderse de las intenciones encubiertas de u n enemigo . V e r d a d y engaño , a u t o r i d a d e ironía, éstas son las polaridades en que se d i v i d e l a conciencia a t o r m e n t a d a e insegura de u n h o m b r e celoso.

E n su nove la , Cervantes encarna estas polaridades en las fi­guras antagónicas de Carr iza les y Loaysa . Estos personajes re ­presentan dos maneras de ejercer el poder sobre los demás: C a ­rr iza les emplea u n discurso a u t o r i t a r i o de promesas, j u r a m e n t o s y prohib ic iones ; Loaysa u n discurso engañoso l leno de bur las , i r o ­nías, y disfraces. Pero son contrar ios que se atraen m u t u a m e n t e : el celoso a u t o r i t a r i o necesita creer en la amenaza constante del engaño , mientras que p a r a u n embaucador , los recelos de u n des­conf iado representarán u n desafío a sus mañas. H a y pues u n a es­pecie de fa ta l idad en el encuentro de Carr izales con Loaysa .

T a l como nos lo p i n t a Cervantes , el celoso extremeño no es ningún m o n s t r u o . A l contrar io , es u n ser conf l ic t ivo , presa de f a n ­tasías y temores . L o que más anhela es el sosiego después de u n a v i d a errante ejerciendo el " i n q u i e t o t r a t o de las mercanc ías " (p . 1 7 8 ) 1 2 . S i n embargo , es víctima de u n te r r ib l e d i l e m a : para encontrar asiento t iene que relacionarse de a lguna m a n e r a con otras personas, pero su carácter celoso le i m p i d e fiarse suficiente­m e n t e de su pró j imo. Carr izales permanece al ienado y solo: no vue lve a su t i e r r a n a t a l porque teme "ponerse p o r blanco de t o ­das las importunidades que los pobres suelen dar al r i c o ' ' (pp . 178-179); decide no casarse porque con sólo imaginarse casado " l e comenzaban a ofender los celos, a fat igar las sospechas y a sobre­saltar las imaginac iones" (p . 179). E l extremeño sobrevive a fuerza de i m p o n e r su v o l u n t a d defensiva sobre lo f lu ido e imprev i s ib l e de l a v i d a m i s m a . Y es precisamente lo imprev i s ib l e lo que viene a d a r al traste con la firme resolución de no casarse: u n b u e n día ve u n a bel la niña de trece o catorce años asomada a u n a ventana y se e n a m o r a perd idamente de ella " s i n ser poderoso para defen-

1 1 A L I S O N W E B E R , " « T r a g i c reparation» i n El celoso extremeño", Cervantes, 4 (1984) , 35 -51 , hace u n m i n u c i o s o estudio psicoanalítico de los celos de C a ­r r i z a l e s (pp . 39 -44) .

1 2 L a s referencias r e m i t e n a l a ed . de A v a l l e - A r c e , t. 2.

Page 7: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 799

d e r s e " (p . 179). E l azar h a destrozado la v o l u n t a d del v ie jo y lo h a expuesto a todos los riesgos de u n a relación con o tro ser h u ­m a n o . E l celoso, p o r su par te , no se deja l levar del todo p o r los caprichos de la f o r t u n a . I n t e n t a sobreponerse a este inesperado revés: se casa con la niña y l a rec luye en u n a especie de fortaleza que mater ia l i za en sus puertas cerradas y ventanas ciegas u n a m o ­n u m e n t a l desconfianza hacia el m u n d o exter ior .

E l t e r r i b l e encerramiento de la inocente L e o n o r a es u n a po­derosa metáfora de c ó m o Carr iza les se esfuerza p o r contro lar su p r o p i o dest ino , canal izando las f luidas relaciones h u m a n a s por unos cauces seguros. Su m e d i o pre fer ido de comunicarse con ex­traños es a través de órdenes, m a n d a m i e n t o s , contratos y j u r a ­mentos , modal idades del discurso h u m a n o que asp iran a g a r a n t i ­zar l a v e r d a d . Por e j emplo , Carr izales les hace " u n s e r m ó n " a todas sus esclavas y cr iadas, "encargándoles la guarda de L e o n o ­r a ' ' ; éstas ' 'prometiéronle [. . . ] de hacer todo aquello que les m a n ­d a b a " ; l a esposa " b a j ó l a cabeza y d i j o que ella no tenía o t r a vo ­l u n t a d que l a de su esposo y señor, a q u i e n estaba s iempre obe­d i e n t e " (p . 182). E l discurso a u t o r i t a r i o del celoso se empeña en p u r g a r dobleces y ambigüedades de la comunicación h u m a n a , pro ­c u r a m a n t e n e r la pa labra estrechamente l igada a u n solo s ign i f i ­cado, haciéndola única e i n q u e b r a n t a b l e 1 3 . E n fin, esta f o r m a de discurso es u n a p a r o d i a del lenguaje d i v i n o , cuyo V e r b o p u r o y verídico trasciende el fal ible balbuceo h u m a n o . T a l analogía nos la c o m u n i c a Cervantes por m e d i o de u n a metáfora que equ ipara irónicamente la sumisión de la esposa y sus sirvientas a l a v o l u n ­t a d de Carr iza les con la devoción de unas religiosas en u n con­v e n t o : " D e esta m a n e r a pasaron u n año de nov i c iado , y h i c i e ron profesión en aquel la v i d a , determinándose de l l evar la hasta el fin de las s u y a s " (p . 183).

Loaysa es la antítesis de Carr iza les . E l arra igo que busca el v i e j o , y a lo posee el j o v e n porque está b i en s ituado en u n a clase p u d i e n t e y pertenece, además, a la l l a m a d a " g e n t e del b a r r i o " , g r u p o in tegrado p o r i n d i v i d u o s procedentes de acomodadas fa­mi l ias sevillanas que, según el texto de Porras, " g o b i e r n a n el m u n ­do , casan a las doncellas, descasan a las casadas, d icen su parecer de las v i u d a s , acuérdanse de las solteras, y no p e r d o n a n a las r e l i -

1 3 E n este aspecto se parece a D o n Q u i j o t e , que también b u s c a u n a esta­b i l i d a d imposible e n el discurso h u m a n o . Véase The half-way house of fiction. . ., p p . 126-138.

Page 8: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

800 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

g iosas" (p . 2 3 3 ) 1 4 . E n fin, esta gente siente el más grande des­prec io p o r los demás. E l discurso a u t o r i t a r i o del celoso C a r r i z a ­les, basado en el excesivo t e m o r a las intenciones del pró j imo, es t r a t a d o con suma f r i v o l i d a d p o r la gente de b a r r i o , p a r a quienes las promesas y votos de casadas, v iudas o religiosas no merecen el m e n o r respeto. Loaysa viene a ser el epítome de esta a c t i t u d ; es u n virote, término de f in ido en Porras de la siguiente f o r m a : " A los mozos solteros l l a m a n también birotes, porque ansí como los b i ro tes se d i sparan a muchas partes, éstos no t i enen asiento n i n ­g u n o en n i n g u n a , y andan vagando de b a r r i o en b a r r i o " (p . 233). Grac ias a su enorme conf ianza en sí m i s m o , Loaysa puede v i v i r en u n c o n t i n u o a lboro to , mientras que el v ie jo Carr iza les de la v i d a errante ansia ante todo u n sosiego casi sobrenatura l .

L a v o l u n t a d de Loaysa es autosufic iente y despreocupada. Si se propone conquis tar a la m u j e r de Carr iza les no es porque la desee ( n i s iquiera la h a v is to ) , n i porque tenga relación a lguna con el v ie jo (no lo conoce para nada) ; es p o r l l evar la c o n t r a r i a , po rque " l e encendió el deseo de ver si sería posible expugnar , por fuerza o p o r i n d u s t r i a , fortaleza t a n g u a r d a d a " (p . 185). A l d is ­curso a u t o r i t a r i o de Carr iza les , el v i r o t e opone u n discurso enga­ñoso , l leno de equívocos y falsas apariencias, donde la pa labra "se dispara a muchas p a r t e s " sin tener asiento fijo en ningún sig­n i f i cado . Loaysa es la figura del art is ta burlón e irónico: su m o d o de ataque cont ra la fortaleza de Carr iza les es el disfraz — l o p r i ­m e r o que hace es transformarse en p o b r e — y la música —se po ­ne a cantar romances al son de u n a g u i t a r r a en la p u e r t a de la casa de su víctima.

L a novela de E l celoso extremeño, en p r i m e r a instanc ia , describe u n a cont ienda entre dos formas de a f i r m a r la v o l u n t a d mascu l ina de poder . S in embargo , el med io de su actuación es f emenino : la esposa-niña L e o n o r a . Cervantes representa estas relaciones a través de los mot ivos de la l lave y l a cera. Las vol ic iones mascu l i ­nas se resumen en el t e m a de " l a l lave m a e s t r a " que Carr izales hace " p a r a toda la casa" y que Loaysa tiene que q u i t a r l e para poder penetrar en ella y seducir a su m u j e r . E l papel de lo feme­n i n o en esta l u c h a es representado por la cera:

L a plata de las canas del viejo a los ojos de Leonora parecían cabe­llos de oro puro, porque el amor primero que las doncellas tienen

1 4 E l texto de P o r r a s se i n c l u y e , s in ortografía m o d e r n i z a d a , en l a ed . de A v a l l e - A r c e , t. 2.

Page 9: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 801

se les imprime en el alma como el sello en la cera [. . . ] No se des­mandaban sus pensamientos a salir de las paredes de su casa, n i su voluntad deseaba otra cosa más de aquella que la de su marido quería (p. 184).

Carr izales i m p r i m e su v o l u n t a d sobre la de su esposa para en­c o n t r a r el sosiego deseado. Pero cuando Loaysa quiere q u i t a r l e el sosiego a Carr iza les i n t e n t a sacar u n a copia de la l lave maestra de l a casa, imprimiéndola en u n pedazo de cera. Por e jemplo , le exp l i ca a l esclavo L u i s : " P r o c u r a d vos t o m a r las llaves a vuestro a m o , y yo os daré u n pedazo de cera, donde las imprimiréis de m a n e r a que queden señaladas las guardas en la c e r a " (p . 189). A l conocer m e j o r l a disposición de la casa, comprende Loaysa que tendrá que conseguir sólo u n a l lave , l a l lave maestra , y ésta por mediac ión única de la esposa m i s m a .

E l s ignif icado simbólico de la l lave maestra y la cera queda cla­r o . Si L e o n o r a ( la cera) se de jara " i m p r i m i r " p o r la v o l u n t a d de Loaysa , el seductor podría crear u n s imulacro de la a u t o r i d a d de Carr i za les ( la copia de la l lave maestra ) , y con este s imulacro se burlaría a gusto del extremeño. Esto es la seducción vista como p a r o d i a o ironía: u n a imitación mal ic iosa cuyo fin es subver t i r lo i m i t a d o s in destrozarlo d i rec tamente . Estamos aquí en el terre ­n o del entremés de E l viejo celoso. Pero en la novela de 1613, Cer ­vantes no se queda en este n i v e l burlesco, v a más allá en su ela­borac ión del m u y conocido tópico l i t e r a r i o de l engaño de u n vie jo casado con u n a niña. E n el m o m e n t o o p o r t u n o , la cera es recha­zada a favor de u n ungüento somnífero como medio para extraerle l a l lave maestra a Carr iza les . L a " v i r t u d " del ungüento es sobre­n a t u r a l : produce u n sueño t a n pro fundo que se asemeja a la m u e r ­te . Simból icamente, L e o n o r a " m a t a " a su m a r i d o cuando lo u n ­t a con el ungüento ( " D a m e albr ic ias , h e r m a n a , que Carr izales d u e r m e más que u n m u e r t o " , p . 203) .

N o obstante, l a sustitución de la cera p o r el ungüento repre ­senta también u n a amenaza para Leonora misma. A p r i m e r a vista, lo que el ungüento le ofrece a L e o n o r a es la l i b e r t a d absoluta. C o ­m o observa ella m i s m a : " s i el ungüento obraba como él [Loaysa] dec ía , con fac i l idad sacarían l a l lave todas las veces que quisiesen y así n o sería necesario sacarla en c e r a " (p . 202) . Esta p r o m e t i d a l i b e r t a d no tiene límites: se podrá hacer lo que se qu iera todas las veces que fuere conveniente . Pero si desarrol lamos el lenguaje simbólico veremos que, al anular la función de la cera, el ungüento anularía también l a autonomía de L e o n o r a . E l s ímbolo de la ce-

Page 10: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

802 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

r a , aunque pasivo, no le robaba la i n d i v i d u a l i d a d a la m u j e r ; per­mitía u n grado de consent imiento a la inocente niña ( la cera) a dejarse sellar p o r la v o l u n t a d de u n h o m b r e (la l lave ) , ya fuera éste Carr iza les o Loaysa .

E l ungüento , por el c o n t r a r i o , es u n símbolo de u n a fuerza m a l i g n a que se esconde bajo la a t rac t iva superficie de la l i b e r t a d que Loaysa le promete a Leonora , u n de termin ismo diabólico que podría l l evar la a u n a especie de m u e r t e : l a m u e r t e de su l i b r e albedrío 1 5 . A este pel igro se alude en la canción de la dueña, d o n ­de se encuentra en la estrofa final la última referencia a la cera:

Es de tal manera la fuerza amorosa, que a la más hermosa la vuelve quimera; el pecho de cera, de fuego la gana las manos de lana, de fieltro los pies; que si yo no me guardo, no me guardaréis (p. 252).

Es evidente aquí que el discurso engañoso de Loaysa es capaz de desatar u n a " f u e r z a a m o r o s a " que , lejos de reforzar el l i b r e a l ­bedr ío , lo aniquilaría ( " e l pecho de cera/de fuego la g a n a " ) , con­v i r t i e n d o a la víctima en u n monstruo i n f r a h u m a n o : u n a qu imera .

E n esta fase de la novela , se empieza a esbozar u n a crítica a la l i b e r t a d entendida como m e r a l icencia. L e o n o r a debe l iberarse de las restricciones impuestas por Carr izales , pero tiene que guar­darse también de Loaysa para no caer en u n d e t e r m i n i s m o aún más poderoso. E n rea l idad el estr ib i l lo de la canción no cons t i tu ­ye solamente u n a crítica al régimen del celoso extremeño, sino que alude también a la necesidad de poseer u n a v o l u n t a d autóno­m a y responsable, capaz de resistir la " f u e r z a a m o r o s a " que re ­presenta Loaysa ( " q u e si yo no me guardo /no me guardaréis" ) . Las escenas que describen las maniobras del v i ro te para conse­g u i r l a entrada a la casa del extremeño y seducir a su m u j e r re ­presentan el peligroso tránsito de L e o n o r a . E l l a tendrá que sal­v a r el Escila de la astucia de Loaysa tanto como el C a r i b d i s del

1 5 A L B A N K . F O R C I O N E , op. cit., p p . 4 7 - 5 2 , h a visto m u y b i e n el aspecto demoníaco de l a intervención de L o a y s a .

Page 11: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 803

a u t o r i t a r i s m o de Carr iza les p a r a l legar p o r fin a u n estado de auténtica l i b e r t a d m o r a l .

E n p r i m e r l u g a r , vemos c ó m o los encuentros iniciales con L o a y s a s i rven p a r a ayudar a L e o n o r a a desprenderse p o r expe­r i e n c i a p r o p i a del discurso a u t o r i t a r i o del celoso. L a incursión de Loaysa en el m u n d o cerrado de L e o n o r a evoca en la inocente m u ­chacha sensaciones desconocidas de atracción erótica. E l l a i n t e n ­t a conc i l iar su interés en el apuesto músico con la obediencia que le debe a su m a r i d o , hac iendo que Loaysa j u r e que si se le p e r m i ­te e n t r a r en la casa sólo hará lo que se le m a n d e . A g i t a d a i n u s i t a ­d a m e n t e p o r l a aparición de o t r o h o m b r e , de cuyas intenciones n o puede estar segura, L e o n o r a t o m a medidas p a r a d o m i n a r la situación. N o es de extrañar que estas medidas sean u n calco de las que u t i l i z a su m a r i d o Carr iza les para d o m i n a r l a a ella m i s m a : L e o n o r a t r a t a de c on t ro la r l a v o l u n t a d de Loaysa con u n discurso a u t o r i t a r i o de órdenes y j u r a m e n t o s . C l a r o está, en boca de la i n ­genua niña, t a n obv iamente débil ante la astucia de la dueña y el seductor, el discurso a u t o r i t a r i o aprend ido de Carr iza les e m ­pieza a cobrar u n aspecto ridículo p o r su patente inef icacia. Por e j e m p l o , L e o n o r a le dice a l v i r o t e :

Pero ha de j u r a r este señor, pr imero, que no ha de hacer otra cosa cuando esté acá dentro sino cantar y tañer cuando se lo mandaren, y que ha de estar encerrado y quedito donde le pusiéramos (p. 200).

Este m o t i v o de l j u r a m e n t o recurre varias veces y , en p a r t i c u l a r , se destaca el estrambótico y u n tanto blasfemo voto que hace L o a y ­sa antes de e n t r a r en la casa (p . 206) . Es obv io que Cervantes se está b u r l a n d o del discurso autor i ta r i o p r o m o v i d o in ic ia lmente por Carr i za les y copiado p o r la inocente L e o n o r a . E n u n a clave j oco ­sa y socarrona, el autor nos enseña lo inútil que es pretender con­t r o l a r las acciones de otras personas por discursos coercitivos en t a n t o que estas personas estén l ibres de ocu l tar sus verdaderas i n ­tenciones. Esta verdad la reconoce hasta la s imple esclava negra G u i o m a r , que exclama en su defectuoso castellano: " P o r mí , más que n u n c a j u r a , entre con todo d iab lo ; que aunque más j u r a , si acá estás, todo o l v i d a " (p . 205) . Pero la pobre L e o n o r a sigue en ­gañada: " P u e s si h a j u r a d o [. . . ] asido le tenemos ¡Oh , qué a v i ­sada anduve en hacerle que j u r a s e ! " (p . 207).

C o m o era de esperar, cuando Loaysa consigue e n t r a r en l a casa, l a situación empieza a escapársele a L e o n o r a de entre las manos . P r o n t o llegará a reconocer la inva l idez del j u r a m e n t o de

Page 12: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

804 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

Loaysa . Se verá envue l ta en u n a maraña de intenciones ocultas y palabras seductoras. L a escena en que la dueña pasa u n a vela p o r el cuerpo entero de Loaysa p a r a revelar su belleza a la asom­b r a d a niña es u n marav i l l o so e m b l e m a v e r b a l que capta u n m u n ­do diaból ico de superficies engañosas que no de jan t ras luc i r sus mot ivac iones secretas.

E l discurso engañoso de Loaysa h a c o n t r i b u i d o a l a liberación de L e o n o r a de la v o l u n t a d de Carrizales . Pero ahora queda el o tro pe l i g ro : el que representa Loaysa ; L e o n o r a está expuesta a caer víctima del seductor. S in embargo , hay indic ios de que no se apo­derará de ella p o r completo . U n a vez deshecho el discurso a u t o r i ­t a r i o , l a l i b e r t a d resultante crea u n a situación fluida donde nadie puede estar seguro de real izar sus propósitos. E n este m u n d i l l o i n q u i e t o y m u d a b l e que h a i n t r o d u c i d o Loaysa d e n t r o de l a f or ­taleza del extremeño, no se puede contar con nadie n i con nada , n i s iquiera con el ungüento somnífero cuya " v i r t u d " parece h a ­ber fal lado cuando la negra G u i o m a r anunc ia de p r o n t o que C a ­rr izales h a despertado (p . 210) . Esta no t i c ia causa el pánico , y el nefasto señorío de Loaysa , el nuevo maestro del " s e r r a l l o " , se evapora en u n instante : las mujeres salen corr iendo y se escon­d e n , " d e j a n d o solo al músico , el cua l , de jando la g u i t a r r a y el canto , l leno de turbación, no sabía qué hacerse" (p . 210) .

¿ Q u é función n a r r a t i v a podría tener esta curiosa escena? A m i j u i c i o f o r m a u n eslabón más en la cadena simbólica l lave-cera-ungüento , p o r q u e , a pesar de que la a l a r m a resulte ser falsa, la escena en sí nos c o m u n i c a que el diabólico poder de termin i s ta del ungüento n o es in fa l ib l e . O sea que la l i b e r t a d acarrea riesgos no sólo p a r a inocentes como L e o n o r a sino también para bur ladores c omo Loaysa , q u i e n "maldec ía la falsedad del ungüento y quejá­base de la c redu l idad de sus a m i g o s " (p . 211) . D u r a n t e unos m o ­mentos , la situación se le escapa al seductor. Estamos ante u n a m u y fina ironía de Cervantes, d i r ig ida en esta ocasión contra Loay ­sa. A l subver t i r el régimen a u t o r i t a r i o de Carr izales el v i r o t e h a creado u n a situación de desenfreno. N o obstante, u n a v o l u n t a d l i b r e n o t iene que s u c u m b i r necesariamente al pecado; s iempre cabe la pos ib i l idad de que el i ja el b i e n en vez del m a l . Esta ver­d a d la i g n o r a Loaysa tanto como el celoso extremeño. Así pues, con sólo u n toque l igero y gracioso de su maestría n a r r a t i v a , Cer ­vantes ant i c ipa en esta escena de la falsa a l a r m a la ironía a u n más grande que se avecina: l a ingenua esposa va a salir venciendo a su seductor.

Efect ivamente, vemos cómo al describir la manera en que Leo-

Page 13: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 805

ñora es persuadida p o r l a dueña a ent rar en la alcoba con el m ú ­sico, Cervantes da indic ios de que la j o v e n esposa es consciente de los riesgos que está a p u n t o de correr :

T o m ó Marialonso por la mano a su señora, y casi por fuerza, pre­ñados de lágrimas los ojos, la llevó donde Loaysa estaba, y echán­doles la bendición con una risa falsa de demonio, cerrando tras sí la puerta, los dejó encerrados (p. 213).

Se establece aquí u n parale l i smo m u y s igni f i cat ivo con el ré­g i m e n a u t o r i t a r i o de Carr iza les gracias a u n par de frases: " c a s i p o r f u e r z a " y " l o s dejó encerrados" , que d a n a entender que Leo­n o r a se está exponiendo a c a m b i a r su reclusión m a t r i m o n i a l p o r o t r o t i p o de encerramiento forzoso. C o n todo , se deja arras t rar a l a alcoba: " L e o n o r a se r indió, L e o n o r a se engañó y L e o n o r a se p e r d i ó " ; esta vez, el deseo h a pod ido más que la v i r t u d . S in e m b a r g o , es notable que cuando e n t r a L e o n o r a en el cuarto d o n ­de está Loaysa , viene con el ánimo d i v i d i d o , y como hemos v is to , m u c h o antes de este encuentro sexual, Cervantes ha ven ido pre ­p a r a n d o el t e r r e n o , p o r med io de la cadena simbólica de la l lave-cera-ungüento-falsá a l a r m a y otras pequeñas señas más, p a r a la negat iva de L e o n o r a a consumar el acto de adu l t e r i o . Lejos de ser u n a imposición inverosímil de l autor p a r a satisfacer la m o j i ­gatería de su públ ico , este resultado es p lenamente coherente con el desarro l lo del a r g u m e n t o de la novela .

A ú n así, hay que cuidarse de no exagerar la v i r t u d de L e o n o ­r a . Cervantes alude a su resistencia con palabras bastante vagas: L e o n o r a mues t ra su va lo r " e n el t i e m p o que más le c o n v e n í a " (p . 214). E l sentido exacto de " c o n v e n í a " en este contexto es m u y difícil de fijar, pero hay c ierto tono socarrón en el m o d o en que se nos i n f o r m a del t r i u n f o de la v i r t u d en esta bata l la de la cama. Es m u y posible que, cegada por su indudable deseo físico por Loay ­sa, l a j o v e n se h u b i e r a dejado l levar hasta el filo m i s m o del acto adúltero. E n fin, esta f o r m a t a n a m b i g u a de re fer i r su resistencia al a d u l t e r i o no excluye c ierta c o m p l i c i d a d por parte de L e o n o r a en el encuentro con su seductor. Y a se había mostrado cómplice entusiasta en la m a n i o b r a p a r a engañar a su m a r i d o con el u n ­güento , ahora también podría haber colaborado con Loaysa has­ta " e l t i e m p o que más le c o n v e n í a " para guardar su h o n o r i n t a c t o 1 6 . A l ser así, Loaysa hub ie ra sucumbido a la más p u n z a n -

1 6 R U T H E L S A F F A R , Novel to romance: A study of Cervantes 's "Novelas ejem­plares", Johns H o p k i n s U n i v e r s i t y P r e s s , B a l t i m o r e - L o n d o n , 1974, p. 45 , n o -

Page 14: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

806 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

te ironía: el engañador engañado p o r su pre tend ida víctima. A m i j u i c i o , no es posible ver u n e jemplo de heroísmo m o r a l

en l a conducta de L e o n o r a 1 7 . E l l a no está l i b r e de cu lpa ; c omo m í n i m o , ha engañado a su m a r i d o y se h a dejado encerrar en u n a alcoba con u n h o m b r e . Si esto va a dañar su relación con C a r r i ­zales, ella habrá c o n t r i b u i d o lo suyo a la destrucción del m a t r i ­m o n i o . E n efecto, Cervantes parece querer i n d i c a r c ier ta cu lpa ­b i l i d a d cuando escribe: " L l e g ó s e en esto el día, y cog ió a los n u e ­vos adúlteros enlazados en la red de sus brazos " (p . 215). Leonora n o habrá caído p lenamente en el a d u l t e r i o , pero se h a prestado a u n enredo adúltero. C u a n d o la descubre su m a r i d o en la cama con u n extraño, no será fácil convencerle de que se t r a t a solamente de u n m a l e n t e n d i d o .

L a cuestión que h a de resolverse en el desenlace es s implemen­te : ¿qué posibi l idades h a y de salvar el m a t r i m o n i o ? U n a solución pos i t i va requerirá u n alto grado de conf ianza m u t u a entre los es­posos. L a crisis provocada por la presencia de Loaysa en la casa h a enfrentado este curioso m a t r i m o n i o desigual y a u t o r i t a r i o a las realidades f luidas de la l i b e r t a d h u m a n a . Se salvará o n o , según acepten ambos esposos las responsabilidades del l i b r e albedrío. E n esto le l leva la venta ja L e o n o r a a Carr iza les . Su experiencia con Loaysa y l a dueña le ha dado la pos ib i l i dad de rechazar t a n t o el discurso a u t o r i t a r i o como el discurso del engaño. A l comienzo de l desenlace, L e o n o r a y a no es u n a ingenua n i tampoco u n de­chado de v i r t u d e s , se h a i n m i s c u i d o en el e m b r o l l o de l a c o n d i ­c ión h u m a n a , mientras que Carr iza les permanece encerrado por sus celos en u n a fortaleza de desconfianza. H a b i e n d o e x p e r i m e n ­tado las i n c e r t i d u m b r e s de la l i b e r t a d , L e o n o r a está en condic io ­nes p a r a saber m e j o r que su m a r i d o qué es lo que se requiere pa ­r a f u n d a r u n a auténtica relación con o t r a persona.

E L DESENLACE

A l i n t r o d u c i r el discurso del engaño dent ro de la fortaleza de C a ­rr iza les , Loaysa h a desencadenado u n a compl i cada serie de m a ­lentendidos y equivocaciones cuyo fin no puede ser previsto . Si

ta cómo L e o n o r a podría h a b e r efectuado u n ' ' e q u i l i b r i o " e n l a c a m a entre c o m p l i c i d a d y rechazo de su seductor .

1 7 P o r e jemplo , F O R C I O N E , op. cit., p. 72 , ve " a u t h e n t i c h e r o i s m " en l a res i s tenc ia de L e o n o r a . E s t e p u n t o aparte , su análisis del despertar de l a v o ­l u n t a d l ibre de L e o n o r a m e parece a d m i r a b l e .

Page 15: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 807

hasta la escena de la cama adúltera el discurso del engaño h a mos­t r a d o u n aspecto más b i e n desenfadado y placentero, cuando des­p i e r t a Carr iza les , el m a l subyacente hasta ahora se mani f ies ta de p r o n t o , sumiendo el desenlace en u n ambiente sombrío que roza lo trágico.

E l desenlace del a r g u m e n t o está m o n t a d o sobre dos m a l e n ­tendidos entrecruzados. E n p r i m e r l u g a r , Carr izales cree que su esposa h a comet ido el acto de a d u l t e r i o , lo cual no es v e r d a d . Por su p a r t e , L e o n o r a se i m a g i n a que la aflicción de Carr iza les h a s i ­do causada p o r el ungüento con el que ella m i s m a lo había u n t a ­do . A m b o s están profundamente dolidos: el m a r i d o por la supuesta traición de su m u j e r , L e o n o r a p o r u n sentido de c u l p a b i l i d a d al ver que el ungüento que facilitó su extraña a v e n t u r a con Loaysa h a p o d i d o dañar la salud de su anciano esposo. Estos m a l e n t e n d i ­dos no se ac laran del t odo ; aunque L e o n o r a llega a saber que el d o l o r del m a r i d o no se debe al ungüento , Carr izales m u e r e cre­y e n d o que L e o n o r a lo ha engañado. Por lo t a n t o , no hay u n a re ­conciliación sent imenta l entre los esposos, como h a n sugerido va ­r ios cr í t icos 1 8 . Por el c o n t r a r i o , como señala Stephen H . L i p -m a n n , los esposos quedan t a n distanciados entre sí al final como al comienzo de su m a t r i m o n i o : no ha nac ido u n nuevo a m o r ; no se h a r e d i m i d o este m a t r i m o n i o contra natura19.

A u n q u e negativo y hasta trágico, este desenlace obedece a u n a lógica temática y psicológica. Para desentrañar esta lógica con­viene preguntarnos ¿ c ó m o se podría haber solucionado el m a l e n ­t e n d i d o respecto al presunto adulter io? Sólo se h u b i e r a aclarado si L e o n o r a le h u b i e r a pod ido revelar la verdad a Carr iza les . Pero éste, a su vez, tendría que creer lo que le cuenta su m u j e r ; es de­c i r , tendría que demostrar u n grado de confianza en la buena fe de o t r a persona que sería inverosímil para u n personaje de c ond i ­c ión t a n extremadamente celosa. Esta solución h u b i e r a sido r a d i ­calmente inconsistente con la psicología de Carrizales. De otra m a ­n e r a , Carr izales le podría haber exig ido a L e o n o r a pruebas o ga­rantías de su buena fe. Esta solución también h u b i e r a sido ilógica p o r q u e h u b i e r a contrad icho u n t ema f u n d a m e n t a l del relato d o n -

1 8 Véase E L S A F F A R , op. cit., p. 4 7 , p a r a q u i e n " t h e first true c o m m u n i -c a t i o n " se establece entre los esposos d u r a n t e el desenlace a pesar del m a l e n ­tendido ; L A M B E R T , art . c i t . , p. 230, también ve " t e n d e r n e s s " y " p h y s i c a l i n -t i m a c y " ; F O R C I O N E , op. cit., p. 7 9 , opina que el abrazo final de la pareja cons­t i tuye " a poignant expression of i n t i m a c y , intensity a n d i n t e r i o r i t y " .

1 9 ' 'Revisión a n d exemplar i ty i n C e r v a n t e s ' s El celoso extremeño", Cervan­tes, 6 ( 1 9 8 6 ) , p. 1 1 5 .

Page 16: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

808 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

de se nos demuestra l a inef icacia del discurso a u t o r i t a r i o de p r o ­mesas, votos y j u r a m e n t o s ante el discurso del engaño. L a ver ­d a d es que el m a t r i m o n i o es insalvable porque n o existen las con ­dic iones en que se podría establecer l a conf ianza, y sobre ésta, el a m o r .

L a d i ferenc ia entre l a versión de 1613 y l a de Porras es que Cervantes hace resaltar m u y específicamente la fa l ta de con f ian ­za entre los esposos como el i m p e d i m e n t o más grande a u n a re ­conciliación. A l evitar que Leonora caiga en el adulter io , Cervantes le d a u n enfoque di ferente a l desenlace: no es u n a cuestión de cas­t i g o o venganza , sino de crédito y buena fe. L a responsabi l idad cae sobre el m a r i d o t a n t o como sobre la esposa. Si comparamos l a d i scu lpa de Isabela en la versión de Porras con l a de L e o n o r a en 1613, l a d i ferenc ia de enfoque se hace patente . E n Porras , el desenlace es confuso, ilógico y desesperanzador; en 1613, las co­sas quedan claras y consecuentes con el desarrol lo del a r g u m e n t o .

E n la versión de Porras , Isabela, que sí ha comet ido el adu l te ­r i o con Loaysa , se arrepiente y busca u n a reconciliación con su m a r i d o . Se d isculpa de esta f o r m a :

V i v i d vos muchos años, m i señor y todo m i bien; que, puesto caso que no estéis obligado a creerme ninguna cosa de las que os dixere, por las malas obras que me habéis visto, yo os prometo y os j u r o por todo aquello que j u r a r puedo, que si permite el cielo que yo os alcance de días, que yo acabe los que me quedaren en perpetuo encerramiento y clausura, y desde aquí prometo, sin vos, de hacer profesión en una religión de las más ásperas que hubiere (p. 262).

Isabela i n t e n t a rescatar su crédito m o r a l con promesas y j u r a ­mentos . Pero esta conducta es ilógica p o r dos razones. P r i m e r o , po rque la experiencia con Loaysa ha demostrado que los j u r a m e n ­tos pueden violarse fácilmente; Isabela parece no haber a p r e n d i ­do nada . D e todos modos ningún j u r a m e n t o h u b i e r a sido su f i ­c iente p a r a re iv indicarse ante los celos de su m a r i d o . Segundo, p o r q u e al r e c u r r i r a l discurso a u t o r i t a r i o , Isabela le rest i tuye t o ­da la razón a Carr iza les . Se nos dice que antes de m o r i r , el celoso extremeño quedó " a l g o satisfecho [. . . ] con el voto de I s a b e l a " (p . 263) . Este voto de Isabela de encerrarse en p e r p e t u i d a d en u n convento es u n castigo impuesto por sí m i s m a que jus t i f i ca con creces la t e r r i b l e reclusión en que Carr izales l a h a m a n t e n i d o y que en sí h a sido u n a de las causas pr inc ipales de la pérdida de su v i r t u d . L a versión de Porras es u n a h i s t o r ia cerrada como u n

Page 17: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 809

círculo vicioso: Isabela acaba p o r hacerse o t r a vez el objeto de la v o l u n t a d de su m a r i d o .

L a esposa en la versión de 1613 no h a caído en el a d u l t e r i o , y cuando es acusada falsamente, t iene que establecer su inocen ­cia a los ojos de Carr iza les . ¿ C ó m o i n t e n t a convencer a l m a r i d o de que está d i c iendo l a verdad? Se d i r i g e a él de esta f o r m a :

V i v i d vos muchos años, m i señor y m i bien todo, que puesto caso que no estáis obligado a creerme ninguna cosa de las que os dijere, sabed que no os he ofendido sino con el pensamiento.

Y comenzando a disculparse y a contar por extenso la verdad del caso, no pudo mover la lengua, y volvió a desmayarse (p. 220).

A h o r a Cervantes no hace alusión a l g u n a a promesas o j u r a ­m e n t o s ; el discurso a u t o r i t a r i o n o aparece para nada ; L e o n o r a a d m i t e su parte de la cu lpa , pero s in someterse a l a celosa a u t o r i ­d a d de su m a r i d o . A l c o n t r a r i o , reconoce que no hay garantías que va lgan p a r a ob l i gar l o a creerla ; s implemente procede con ex­p l i car " l a verdad del caso" hasta que se apodera de ella la emoción.

L e o n o r a no insiste en disculparse con repetidos j u r a m e n t o s ta l como lo hace Isabela, porque lógicamente no hay medios para h a ­cer que el celoso se fíe de ella. A u n q u e Carr iza les t a r d a siete días más en m o r i r , no se nos dice que L e o n o r a h u b i e r a t ra tado o t r a vez de hacerle conocer la v e r d a d . H u b i e r a sido u n esfuerzo inú­t i l . H a s t a cuando i n t e n t a reconocer su cu lpa en este m a t r i m o n i o desastrado, Carr iza les no puede desprenderse del discurso auto ­r i t a r i o ; su afán por contro lar las voluntades ajenas se pone de m a ­ni f iesto o t r a vez cuando pretende actuar con generosidad al r e v i ­sar su t es t imonio a favor de L e o n o r a : " y así verá que , si v i v i e n ­d o , j amás salí u n p u n t o de lo que pude pensar ser su gusto, en la muerte hago lo mismo, y qu ie ro que le tenga con el que ella debe de querer t a n t o " ( p . 2 1 9 ) 2 0 . L a rea l idad es que no hay pos ib i l i dad de ver ­dadera reconciliación p a r a esta pare ja desavenida p o r q u e no hay conf ianza entre los esposos. Es esta conciencia de la frustración inev i tab le de su relación con Carr iza les lo que explicaría, a m i j u i c i o , el segundo desmayo de L e o n o r a .

A u n así, el desenlace de 1613 no es t a n r o t u n d a m e n t e negat i ­vo como el de Porras . Se respira u n aire de l i b e r t a d ; queda c laro que ambos discursos del poder — e l a u t o r i t a r i o y el engañoso— h a n sido superados por L e o n o r a . Pero es más: se señala la exis-

2 0 Véase L I P M A N N , a r t . c i t . , p. 117: " B y r e v i s i n g his w i l l , C a r r i z a l e s i n -tends once a g a i n to shape L e o n o r a ' s l i f e " .

Page 18: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

810 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

tencia de u n discurso superior , u n plano de v ida h u m a n a que tras­c iende las mezquinas vol ic iones de Loaysa y de Carr iza les :

Quedó Leonora viuda, llorosa y rica; y cuando Loaysa esperaba que cumpliese lo que ya él sabía que su marido en su testamento dejaba mandado, vio que dentro de una semana se entró monja en uno de los más recogidos monasterios de la ciudad. E l , despechado y casi corrido, se pasó a las Indias (p. 220).

V a l e l a pena señalar que la entrada de L e o n o r a en el c onven­to e n esta versión no es ningún tópico m a n i d o sino que está fina­m e n t e in tegrado en el a r g u m e n t o de la obra . A l ser inocente de a d u l t e r i o , L e o n o r a no t iene que meterse m o n j a p a r a exp iar u n a deshonra o p a r a castigarse como l o hace Isabela; es u n a decisión l i b r e , y esta decisión f r u s t r a t a n t o lo que " d e j a b a m a n d a d o ' ' su m a r i d o como lo que esperaba de ella Loaysa . Cervantes no des­cr ibe el ingreso en el convento como si fuera algo penoso, emplea términos posit ivos : L e o n o r a "se entró m o n j a " y el monaster io es " r e c o g i d o " , lo cual i m p l i c a que es u n a especie de re fugio esco­g ido p o r la in fe l i z esposa. (Isabela, recordémoslo , promete que­darse " e n perpetuo encerramiento y c lausura [. . . ] en u n a r e l i ­gión de las más ásperas que h u b i e r e " ; el la repetirá en el conven­to l a prisión que Carr iza les le i m p u s o . ) E n fin, L e o n o r a , a pesar del trágico desenlace, h a pod ido alcanzar u n a v i d a nueva , l i be ­rándose d e f i n i t i v a m e n t e de las t rampas del poder .

M e parece obvio que si h a y algo de e jemplar en la versión de 1613 habría que buscarlo en el s ignif icado de la experiencia de L e o n o r a . Esta experiencia se puede r e s u m i r brevemente : l a inge ­n u a niña se l i b e r a del d o m i n i o celoso de su m a r i d o , haciéndose cómpl ice p o r algún t i e m p o del discurso engañoso de Loaysa , pa ­r a luego c omprender que sólo es posible salir del l aber in to de ce­los y engaños actuando de buena fe y conf iando en las buenas i n ­tenciones de otras personas. C u a n d o esta m u t u a confianza no sur­ge, el fracaso de la relación es inev i tab le ; p o r esta razón, L e o n o r a " n o puso más ahinco en d i s cu lparse " ( p . 221) : l lega a reconocer que su m a t r i m o n i o es insalvable ; finalmente, decepcionada con las relaciones h u m a n a s , profesa su devoción al a m o r d i v i n o .

E L AUTOR EJEMPLAR

Quizás la d i ferenc ia más rad i ca l , desde el p u n t o de v ista l i t e r a r i o , entre l a versión de Porras y la de 1613 es que en ésta, Cervantes

Page 19: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 811

sigue en su práctica como autor el e jemplo m o r a l que ofrece L e o ­n o r a . R e h u y e el discurso a u t o r i t a r i o de Carr iza les : no le i m p o n e al lector u n a m o r a l e j a , n i le define los términos en que se h a de leer l a h i s t o r i a . Esta a c t i t u d de Cervantes hacia su lector se hace ev idente al c o m p a r a r el final de l a novela en las dos versiones.

E l n a r r a d o r en Porras pone fin a su relato con estas palabras :

[. . . ] todos los que oyeren este casi es razón que escarmienten en él y no se fíen de torno n i criadas, si se han de fiar de dueñas de tocas largas.

El qual caso, aunque parece fingido y fabuloso, fue verdadero (p. 263).

E n estas declaraciones se encuentra u n eco de la voz perento ­r i a de Carr iza les . Se nos presenta la " v e r d a d " tanto l i t e r a r i a co­m o m o r a l del asunto . D e este m o d o , el e jemplo viene a c o n f i r m a r los celos de l extremeño: no hay que fiarse de nada n i de nadie . E n r e a l i d a d , se cu lpa solamente a las dueñas p o r hacer fa l lar las defensas c o n t r a el engaño.

E n 1613, el sentido del e jemplo es d i s t i n t o :

Y yo quedé con el deseo de llegar al fin de este suceso, ejemplo y espejo de lo poco que hay que fiar de llaves, tornos y paredes cuando queda la voluntad libre, y de lo menos que hay que confiar de verdes y pocos años, si les andan al oído exhortaciones de estas dueñas de monj i l negro y tendido y tocas blancas y luengas (pp. 220-221).

A h o r a la supuesta morale ja está contaminada por la voz falsamente pomposa, y por ello irónica, del narrador ( " e j emplo y espejo. . . " ; " d u e ñ a s de m o n j i l negro y t end ido y tocas blancas y l u e n g a s " ) . L a ironía v a d i r i g i d a , c laro está, c ontra la ilusión de que se puede r e s t r i n g i r l a v o l u n t a d l i b r e . Los celos de Carr iza les son absurdos, no h a y defensa que valga contra la m a l a intención o el engaño. ¿ Q u é se ha de hacer, pues? N o hay u n a respuesta autor i zada a esta p r e g u n t a . L o que hace el au to r es d i r i g i r n o s hacia el modelo ético a seguir p o r vía de u n " m i s t e r i o " con el que concluye el re la to :

Sólo no sé qué fue la causa que Leonora no puso más ahinco en disculparse y dar a entender a su celoso marido cuan l impia y sin ofensa había quedado en aquel suceso; pero la turbación le ató la lengua, y la prisa que se dio a mor i r su marido no dio lugar a su disculpa (p. 221).

Page 20: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

812 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

E n 1613 nos encontramos con u n autor que se ausenta del texto como intel igencia regidora , como el or igen de significados. Es real ­m e n t e u n a u t o r " e n b lanco y s in figura", p a r a emplear la frase de l Pró logo . A u n así, parece como si nos quis iera " d e c i r ve rda ­d e s " , no d i rec tamente sino " p o r señas " .

H e m o s visto ya c ó m o este Cervantes escurr id izo de 1613 ha v e n i d o señalando u n sub-texto m o r a l a través de la cadena s i m ­bólica llave-cera-ungüento-falsa a l a r m a . A h o r a , para acabar, nos ofrece o t ra " s e ñ a " , el " m i s t e r i o " de la reticencia de Leonora ante su m a r i d o . A l r e m i t i r n o s a l a conducta de L e o n o r a , Cervantes nos hace re f lex ionar sobre las cuestiones de celos, engaños, con­fianza e i n t e n c i o n a l i d a d que f o r m a n l a temática de l a novela en ­t e r a . Es decir que si h a y e j emplo , está " e s c o n d i d o " , p o r así ex­presar lo , en la f o r m a y el ar t i f i c i o de la narración m i s m a y no en las declaraciones explícitas del n a r r a d o r . Las palabras finales de la nove la nos abren el paso hacia el " m i s t e r i o " m a y o r de las i n ­tenciones del a u t o r , y hacia la cuestión de c ó m o se c o m u n i c a n és­tas al lector de l texto .

LAS RELACIONES ENTRE AUTOR Y LECTOR EN EL PRÓLOGO

Las relaciones de Leonora con Carrizales y Loaysa respectivamente p u e d e n servirnos de pautas p a r a ver a u n a nueva luz la m a n e r a en que concibe Cervantes las relaciones entre el au to r y el lector en el Prólogo a las Novelas ejemplares. L o que caracteriza estas re ­laciones es el rechazo de todo discurso a u t o r i t a r i o o coercit ivo por par te del autor . Las razones, p o r el lo , son las mismas que i n d u j e ­r o n a L e o n o r a a " n o poner más ahinco en d i s c u l p a r s e " . D a d o el hecho de que u n autor está i m p l i c a d o en el e m b r o l l o h u m a n o t a n t o como su lector , ¿con qué derecho podrá j u z g a r y escarmen­t a r a sus personajes p a r a dar ejemplo? U n a vez a d m i t i d a l a con­dic ión fal ib le del a u t o r e j emplar , sus relaciones con el lector no podrían ser otras que de i g u a l a i g u a l : no puede ob l igar al lector a que acepte la " v e r d a d " de la obra , n i tampoco puede ob l igar le a reconocer su a u t o r i d a d especial para enseñar verdades h u m a ­nas o d i v i n a s . E l au to r no t iene más remedio que "va lerse p o r su p i c o " .

Por o t r a p a r t e , el lector no puede saber a ciencia c ierta cuáles son las verdaderas intenciones del autor . Cervantes sabe m u y b ien que u n escritor puede d i s i m u l a r u ocultar sus intenciones con u n a retórica superf i c ia lmente didáctica o edi f icante . E l lector no t e n ­dría defensa garant izada contra la hipocresía de u n a u t o r m a l i n -

Page 21: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 813

tenc ionado que empleara las potencial idades irónicas de la ficción p a r a crear u n discurso seductivo y engañoso que lo condujera a la corrupción m o r a l . N i el a u to r n i el lector encontrarán, pues, pruebas p a r a establecer los límites de la verdad a través del t ex to l i t e r a r i o .

Consciente de estas di f icultades intrínsecas en toda c o m u n i ­cación h u m a n a , pero agravadas en el caso de la comunicación l i ­t e r a r i a por l a " a u s e n c i a " inev i tab le del au to r , Cervantes en el Pró logo a las Novelas ejemplares emplea u n discurso lúdico y b u r ­lón , como p a r a recordarle al lector la m u t a b i l i d a d del lenguaje h u m a n o , lo b i e n que se presta a ocu l tar las intenciones del sujeto enunc iador . Pero , p o r o t ro lado , Cervantes sigue insist iendo en que sí hay e j emplo , que sí h a y v e r d a d , que no causarán ningún daño m o r a l estas novelas. D e este m o d o crea i n c e r t i d u m b r e al ser u n a especie de " m i s t e r i o " p a r a el lector , porque n u n c a podrá és­te alcanzar con cer t idumbre u n significado plenamente autorizado.

S i n e m b a r g o , n o p o r eso debe descartarse toda pos ib i l idad de t r a n s m i t i r u n a f o r m a de la ve rdad a través del texto . E l m o d o en que esta v e r d a d puede comunicarse quizá nos lo revele l a pa labra " m i s t e r i o " en su sentido de r i t o o ceremonia arcana cuyo s i gn i f i ­cado no se puede comprender o expl icar del todo . E n esta acep­ción u n mis ter i o es como u n a vía de comunicación trascendental , u n hacer presente ciertas verdades no asequibles a l a razón h u ­m a n a . Si t ransfer imos esta idea al fenómeno l i t e r a r i o , el " m i s t e ­r i o " al que alude Cervantes al final del Prólogo significaría los r i tos mismos de la creación l i t e rar ia , la act iv idad creadora en s í 2 1 . L a h a b i l i d a d y destreza del escritor , la ca l idad de su invención, serían lo que haría trascender u n a especie de ve rdad del autor a su l e c t o r 2 2 . T o d a vez que el texto m u e v a , a d m i r e o convenza a

2 1 J . C O R O M I N A S , Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana, G r e d o s , M a d r i d ; F r a n c k e , B e r n e , 1954, t. 3, p. 340, nota bajo " m e n e s t e r " (der ivado del latín, ministerium: ' s e r v i c i o ' , ' e m p l e o ' , ' o f i c i o ' ) , que desde l a b a j a época l a t i n a se produjo u n a confusión total entre ministerium y mysterium. E s t a confu­sión se refleja aún e n inglés e n expresiones como " t h e art a n d m y s t e r y of a c r a f t " , es d e c i r , los secretos de u n oficio revelados sólo a in ic iados . E l Shorter OxfordDictionary d a , entre otros, los siguientes significados de " m y s t e r y " , de­rivado de ministerium'. (1) ' S e r v i c e ' , ' o c c u p a t i o n ' (2) ' H a n d i c r a f t ' ; ' c r a f t ' , ' a r t ' (3) ' S k i l l ' . E s posible que este complejo semántico asociado c o n " m i s t e r i o " h u ­b i e r a influido e n el empleo de este vocablo por C e r v a n t e s .

2 2 G E Ó R G E S T E I N E R , e n u n magnífico e n s a y o , " A n e w m e a n i n g of m e a -n i n g " , TLS, 8 de n o v i e m b r e Se 1985, pp . 1262 y 1275-1276, a f i r m a que l a transmisión del sentido de u n texto l i terario sólo puede concebirse c o m o u n acto trascendenta l análogo a u n rito religioso: " W e m u s t r e a d as i f the text

Page 22: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

814 E D W I N W I L L I A M S O N NRFH, X X X V I I I

u n lector cua lqu iera , se le hará presente la personal idad creadora de l a u t o r y entrará, en c ierto m o d o , en conoc imiento de sus i n ­tenciones. Esta clase de comunicación " l e v a n t a " el texto más allá de las t rampas y dobleces del discurso corr iente .

E l m a t r i m o n i o de L e o n o r a y Carrizales no l ogra establecer ese vínculo de m u t u a simpatía y conf ianza que podría servirnos de p a r a d i g m a de la posible comunicación trascendente entre el autor y el lector . Sólo L e o n o r a l lega al final a u n estado de conciencia prop i c i o para esta clase de comunicación. Carrizales y Loaysa que­d a n circunscritos en sus respectivos discursos de poder. Es en o t r a de las Novelas ejemplares, concretamente al finad de E l coloquio de los perros, l a última nove la de la colección, donde Cervantes ofre­ce p lenamente ese p a r a d i g m a de comunicac ión auténtica que no puede establecerse entre los esposos en E l celoso extremeño. M e re ­fiero al pasaje en que el L i cenc iado Peral ta t e r m i n a su lec tura del co loquio que le había entregado el Alférez C a m p u z a n o y declara que no le interesa ya vo lver a l a d i sputa sobre la verac idad de los perros habladores, d isputa que estuvo a p u n t o de destrozar su con­fianza en el alférez:

—Señor Alférez, no volvamos más a esa disputa. Yo alcanzo el ar­tificio del Coloquio y la invención, y basta. Vamonos al Espolón a recrear los ojos del cuerpo, pues ya he recreado los del entendimiento. —Vamos —di j o el Alférez. Y con esto, se fueron 2 3 .

L a l ec tura de u n misterioso texto sobre unos perros que h a ­b l a n h a reanudado la amis tad entre los dos personajes. Por u n

before us h a d m e a n i n g . [. . . ] T h i s «as if», this a x i o m a t i c condit ional i ty , is o u r C a r t e s i a n - K a n t i a n w a g e r , our leap into sense. W i t h o u t i t , l i teracy becomes trans ient n a r c i s s i s m . [. . . ] W h e r e we r e a d t r u l y , w h e r e the experience is to be that of m e a n i n g , w e do so as i f the text (the piece of m u s i c ; the w o r k of ar t ) i n c a r n a t e s (the notion is g r o u n d e d i n the s a c r a m e n t a l ) a rea l presence of s ignif icant b e i n g . T h i s real presence , as i n a n i c o n , as i n the enacted m e t a p h o r of the s a c r a m e n t a l b r e a d a n d w i n e , is , finally, i rreducib le to a n y other formal a r t i c u l a t i o n , to a n analyt ic deconstruct ion or p a r a p h r a s e . I t is a s ingulari ty i n w h i c h concept a n d form constitute a tautology, coincide point to point, energy to e n e r g y , i n that excess of signif icance over all discrete elements a n d codes of m e a n i n g w h i c h we cal l the symbol or the agency of t r a n s p a r e n c e ' ' (p . 1275). A m i j u i c i o , son estas ideas de S t e i n e r las que m e j o r explicarían el empleo por C e r v a n t e s de l a noción de u n " m i s t e r i o " que " l e v a n t a " sus novelas del plano p u r a m e n t e lúdico de l a " m e s a de t r u c o s " .

2 3 Véase l a ed. de A v a l l e - A r c e , t. 3, p. 322 .

Page 23: EL MISTERI ESCONDIDOO E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA ...aleph.academica.mx/jspui/bitstream/56789/26747/1/... · EL "MISTERI ESCONDIDOO "E ENL CELOSO EXTREMEÑO: UNA APROXIMACIÓN AL

NRFH, X X X V I I I E L " M I S T E R I O E S C O N D I D O " E N E L C E L O S O EXTREMEÑO 815

l a d o , C a m p u z a n o recobra su crédito perd ido después de haberle entregado sin condiciones el c o n t r o v e r t i d o Coloquio a Pera l ta . P o r el o t r o , Pera l ta queda satisfecho con el " m i s t e r i o " del Coloquio u n a vez que ha pod ido alcanzar su " a r t i f i c i o " e " i n v e n c i ó n " . C o ­m o viene a comprender también L e o n o r a , la única m a n e r a de su­p e r a r los celos, la i n c r e d u l i d a d o las malas intenciones es p r o c u ­r a r actuar l i b r e m e n t e en u n espíritu de entrega y conf ianza. Para el a r t i s ta esto equivale a ejercer e l ' ' m i s t e r i o ' ' de su arte de b u e n a fe, respetando la v o l u n t a d l i b r e de sus lectores, que podrán res­p o n d e r al texto como si fuera u n a " m e s a de t r u c o s " o b i en u n ' ' m i s t e r i o escondido ' ' .

L a a p e r t u r a de El celoso extremeño, t anto como la a p e r t u r a del Prólogo, se deben, en p r i m e r a instancia, a u n a pro funda conciencia en Cervantes de las t rampas de l discurso h u m a n o . S i n e m b a r g o , las burlas e ironías del autor no son señales de perspectivismo m o r a l n i de re la t iv i smo filosófico. M á s b i e n se d i r i g e n a deshacer cua l ­qu ie r ilusión s implista acerca de la pos ib i l idad de certif icar y auto ­r i z a r la v e r d a d a través del texto l i t e r a r i o . N o obstante, a l fin y al cabo, Cervantes a f i r m a su fe en la pos ib i l idad de crear u n víncu­lo con su lector gracias al " m i s t e r i o escondido" del a r t e 2 4 . E n El coloquio de los perros se representa esta comunicac ión en la amis tad renovada de Peral ta y C a m p u z a n o , m i e n t r a s que en El celoso ex­tremeño vemos lo c o n t r a r i o : c ó m o no l ogra establecerse esta c o m u ­nicación p o r fa l ta de conf ianza y buena fe de parte de Carr iza les .

EDWIN WILLIAMSON B i r k b e c k C o l l e g e , U n i v e r s i t y of L o n d o n

2 4 E s t a fe de C e r v a n t e s en l a posibi l idad de c r e a r u n vínculo con sus lec ­tores a través del texto es evidente también en el Quijote. Véase The half-way house of fiction. . . , p p . 205-207 .