EIXO 2 PRÁTICAS 30 · 2017-09-14 ·...
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ROCHA; SILVA & FONSECA (2017)
A REFORMA DO ENSINO MÉDIO (LEI 13.415/2017) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NATAL, RN – 24 A 27 DE JULHO DE 2017 – CAMPUS NATAL CENTRAL -‐ IFRN
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PROJETO INTEGRADOR DO CAMPUS AVANÇADO SÃO JOÃO DA BARRA
Alessandra da Rocha; Maria Lúcia Ravela Nogueira da Silva;
Paola Barros de Faria Fonseca
RESUMO O presente artigo apresenta o Projeto Integrador do Instituto Federal Fluminense Campus Avançado São João da Barra como proposta pedagógica de interdisciplinaridade, integração das diversas áreas de conhecimento e momento privilegiado de união entre o ensino e a pesquisa, a teoria e a prática. Através da metodologia da problematização os discentes do curso Integrado de Construção Naval e Petróleo e Gás são incentivados a buscar soluções para problemas reais propostos pelos coordenadores dos projetos e apresentar, ao final de cada ciclo letivo, os resultados
obtidos e as possíveis soluções. O Projeto Integrador tem motivado docentes, discentes, técnicos administrativos e colaboradores a se envolverem em pesquisa e extensão, a não pensarem o ensino/teoria dissociado da prática e a descobrir que a sala de aula não é o único lugar em que acontece o processo de ensino-‐aprendizagem. O projeto integra todo o campus unindo docentes, discentes, técnicos e colaboradores em prol do conhecimento, transformando-‐o em um campus educador, em que, independente da função que cada um desempenhe todos se sentem participantes e contribuem para o processo educacional.
PALAVRAS-‐CHAVE: Interdisciplinaridade, Projeto Integrador, Ensino, Pesquisa.
Campus Avançado São João da Barra Integrated Project
ABSTRACT
This paper presents the integrated project of the Instituto Federal Fluminense campus Avançado São João da Barra as a pedagogical proposal of interdisciplinarity, integration of diverse areas of knowledge and privileged moment of unity between teaching and research, theory and practice. Through the Problematization Methodology, the students of the integrated courses of Shipbuilding and Oil and Gas are encouraged to seek solutions to real-‐world problems proposed by the coordinators of the project and present at the end of each academic cycle, the results obtained for solving the problem.
The Integrated Project has motivated teachers, students, administrative staff and collaborators to engage in research and extension, not to think of teaching / theory dissociated from practice and to discover that the classroom is not the only place in which the teaching-‐learning process happens. The project by integrating teachers, students, administrative staff and collaborators integrates not only knowledge, but the entire campus, transforming it into an educational campus, in which, regardless of the function that each performs all feel involved and contribute to the educational process.
KEYWORDS: Interdisciplinarity, Integrated Project, Teaching, Research..
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A REFORMA DO ENSINO MÉDIO (LEI 13.415/2017) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NATAL, RN – 24 A 27 DE JULHO DE 2017 – CAMPUS NATAL CENTRAL -‐ IFRN
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1 INTRODUÇÃO
Ao oferecermos cursos de Ensino Médio Integrado no campus, nos deparamos com o grande dilema de como efetivar, na prática a integração entre o propedêutico e o técnico, em como estabelecer relação entre a teoria e a prática e entre o ensino e a pesquisa. Dilema esse que perpassa não só a Educação Profissional, mas toda a Educação.
Segundo Japiassu (1999), a estruturação da educação básica brasileira, separada em séries e componentes curriculares, divide e distancia os saberes científicos e “a crise, em nosso sistema de ensino, pode ser percebida na frustração dos alunos, na fraqueza dos estudantes, na ansiedade dos pais, na impotência dos mestres. A escola desperta pouco interesse pela ciência” (p. 52).
O dilema da fragmentação do saber e do processo ensino-‐aprendizagem pode ser evidenciado no pensamento de Lück (1994) de que há no contexto educacional uma “despreocupação por estabelecer relação entre ideias e realidade, educador e educando, teoria e ação, promovendo-‐se assim a despersonalização do processo pedagógico” (p. 30).
Diante do exposto acima, o Projeto Integrador do IF Fluminense Campus Avançado São João da Barra constitui-‐se numa estratégia de aprendizagem que tem como objetivo integrar teoria e prática valorizando a investigação individual, coletiva e como um espaço inter e transdisciplinar na formação dos futuros profissionais dos cursos Integrados de Construção Naval, Petróleo e Gás e Concomitante de Eletromecânica oferecidos em nosso campus.
Ao desenvolver os projetos, os discentes têm a oportunidade de aproximarem-‐se da forma como atuarão na vida profissional, ou seja, agindo na solução de problemas técnicos, sociais, políticos e econômicos, visando o desenvolvimento local por meio da aplicação dos conhecimentos construídos durante o curso, tendo em vista a intervenção no mundo do trabalho e na realidade social a partir da produção de conhecimentos e do desenvolvimento de tecnologias.
A problematização da realidade aliada ao senso crítico e ao espírito criador contribui para o crescimento da comunidade acadêmica, assim como, para o desenvolvimento da região atendida pelos projetos de pesquisa contextualizando e solidificando o aprendizado, fazendo-‐se presente durante todo o curso e não apenas em alguns momentos específicos.
Entendendo o Projeto Integrador como momento privilegiado de ensino e pesquisa, união entre teoria e prática, desenvolvimento do senso crítico e da responsabilidade social do discente e de toda comunidade escolar, foi adotada uma metodologia que permitisse que essas premissas fossem alcançadas -‐ a Metodologia da Problematização (BERBEL, 1996) onde o ensino e a aprendizagem ocorrem a partir de problemas extraídos da realidade pelas observações realizadas.
O Projeto Integrador permite que os discentes sejam apresentados, desde o primeiro momento dos cursos Integrados e concomitantes, aos pressupostos da pesquisa, da investigação, da apresentação para bancas, da participação em congressos e torneios e da publicação de artigos. Além disso, apresenta-‐se como uma possiblidade interdisciplinar de
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aprendizagem, onde os saberes dialogam e se complementam, trazendo um novo olhar onde o estudante atua como protagonista, construindo coletivamente seus saberes, imerso em sua realidade problematizada, de onde não é extraído para um mundo abstrato, tornando-‐se capaz de utilizar conhecimentos em prol do desenvolvimento da sociedade.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As mudanças propostas para a Educação brasileira, principalmente no Ensino Médio, trazem a reflexões a respeito das expectativas e necessidades dos jovens e da sociedade. Os altos índices de evasão e retenção escolar demonstram que o modelo educacional brasileiro precisa de mudanças para que se adequar à nova realidade.
Entre as propostas defendidas por educadores aparece a interdisciplinaridade como uma alternativa de dinamização do currículo escolar e (re) significação dos saberes construídos na escola.
Segundo Morin (2005), a pedagogia tradicional caminha na contramão da globalização, não considera o avanço do pensamento humano ao reproduzir uma formação cartesiana, reducionista e mecânica, que traz consigo uma visão de mundo disjuntiva e separadora. A compartimentalização de saberes provoca um conflito entre estes e as realidades multidisciplinares, transversais, globais, multidimensionais e planetárias. Se a escola pretende preparar o cidadão para atuar criticamente e inseri-‐lo no mercado produtivo não pode dispor uma especialização setorizada, descontextualizada da realidade global que não pode ser fragmentada e encerrada em departamentos. Esta construção extrai o objeto de estudo do seu contexto e do seu conjunto, rejeitando as intercomunicações com seu meio, introduzindo-‐o na abstração da disciplina compartimentada, que estabelece fronteiras, desconsiderando a relação das partes com o todo:
(...) fragmentam arbitrariamente a sistematicidade (relação das partes com o todo) e a multidimensionalidade dos fenômenos; conduz à abstração matemática que opera de si própria uma cisão com o concreto, privilegiando tudo que é calculável e passível de ser formalizado. (MORIN: 2005, p. 41)
As questões levantadas sugerem o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras que rompam com uma redução simplista do conhecimento, fundamentado em regras rígidas e fórmulas inquestionáveis.
A Doutora em Antropologia Ivani Fazenda (2011), estudiosa do tema interdisciplinaridade, a defende como forma de substituição de uma visão fragmentária por uma unitária de ser humano. A escola caracteriza-‐se por ser lócus de formação técnica e cultural, que deve contribuir para a formação de seres totais, capazes de transformar o mundo em que vivem e que, para isso, necessitam ler e conhecer a realidade multicultural, multidimensional e global. Nesse sentido torna-‐se obsoleta uma proposta pedagógica que extrai o ser de sua realidade para encaixotá-‐lo em compartimentos. Para rever o hiato existente entre educação e atividade
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profissional, a interdisciplinaridade surge como uma proposta facilitadora da aprendizagem e da formação integral na medida em que promove o diálogo entre os saberes e consequente contextualização.
O reconhecimento da importância de todos os saberes é indispensável para a superação da dicotomia entre o vivido e o estudado, a integração necessita de abertura e da quebra de preconceitos. Uma educação permanente potencializa a capacidade transformadora do conhecimento quando o concebe como um todo indissolúvel, resgatando a unidade humana, o papel da escola e o do homem.
Trata-‐se de uma questão bastante complexa que envolve a desconstrução de saberes arraigados, perpetuados na educação brasileira. Interdisciplinaridade demanda aceitação e dedicação pra se concretizar, é um processo de vivência e não de ações isoladas. Segundo Fazenda (2011), entre os inúmeros obstáculos existentes podemos citar a falta de formação adequada dos profissionais da educação, acomodação pessoal e coletiva e “um certo medo de perder o prestígio pessoal ao abrir mão do trabalho individualizado”. A classificação dos conhecimentos segundo uma hierarquia de disciplinas é o reflexo de valores sociais vigentes. É urgente a libertação do mito da supremacia dos saberes e o desenvolvimento de propostas pedagógicas capazes de articulá-‐los, contextualizá-‐los, ampliando a visão do conhecimento como algo vivenciado cotidianamente por todos.
Na busca por estratégias pedagógicas que deem conta da contextualização dos conhecimentos e do permanente diálogo entre eles surge o Projeto Integrador do IF Fluminense Campus Avançado São João da Barra. O projeto caracteriza-‐se como um eixo articulador do currículo, proporcionando momentos de encontro entre teoria e prática, constituindo a pesquisa como forma de aprendizagem, articulando ação e reflexão.
3 METODOLOGIA
A metodologia adotada no Projeto Integrador foi a Metodologia da Problematização, onde o ensino e a aprendizagem ocorrem a partir de problemas, e cujos problemas são extraídos da realidade pela observação realizada pelos discentes.
A primeira referência a essa metodologia é o Método do Arco, de Charles Maguerez (BORDENAVE; PEREIRA: 1989). Nesse esquema constam cinco etapas que se desenvolvem a partir da realidade ou um recorte da realidade: 1) Observação da Realidade; 2) Pontos-‐Chave; 3) Teorização; 4) Hipóteses de Solução; 5) Aplicação à Realidade (prática).
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Figura 1. Arco de Maguerez (apud BORDENAVE; PEREIRA, 1989).
Na Metodologia da Problematização, os problemas são identificados pela observação da realidade, na qual as questões de estudo estão acontecendo. Observada de diferentes ângulos, a realidade manifesta-‐se para discentes e coordenadores com suas características e contradições, nos fatos concretos de onde são extraídos os problemas.
Após o estudo de um problema poderão surgir outros, como desdobramento do primeiro, só percebidos pelos alunos com o estudo aprofundado deste. Os conhecimentos são buscados na etapa da teorização, onde os diferentes tipos de saberes são conjugados pelos discentes envolvendo relações entre os conhecimentos técnico-‐científicos, sociais, políticos e éticos.
Nessa metodologia, o grupo trabalha junto o tempo todo, com a supervisão do coordenador. Em alguns momentos poderão distribuir tarefas, mas retornam sempre para o grupo, que vai construindo o conhecimento através das etapas do Arco.
Completa-‐se assim o Arco de Maguerez, com o sentido especial de levar os alunos a exercitarem a cadeia dialética de ação – reflexão -‐ ação, a relação prática – teoria – prática, tendo como ponto de partida e de chegada do processo de ensino e aprendizagem a realidade.
Segundo Berbel (1996), a última etapa da Metodologia da Problematização ultrapassa o exercício intelectual, pois implica num compromisso dos discentes com o seu meio. Do meio observam os problemas e para o meio levarão uma resposta de seus estudos, visando transformá-‐lo em algum grau.
A Metodologia da Problematização volta-‐se para a realização do propósito maior que é preparar o aluno/ser humano para tomar consciência do seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-‐lo, sempre para melhor, para um mundo e uma sociedade que permitam uma vida mais digna para o próprio homem.
Baseado na metodologia citada acima o Projeto Integrador se estrutura no campus da seguinte maneira: permeia os três anos de formação dos Cursos Médios Integrados e os quatro módulos do Curso Concomitante; ocorre uma vez por semana, em horário comum a todas as turmas, propiciando assim, a oportunidade de unir em um mesmo projeto, alunos oriundos de
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diversos anos e até de diferentes cursos; contabiliza 20% da nota de todos os componentes curriculares oferecidos pelos cursos de Construção Naval, Petróleo e Gás e Eletromecânica em todos os ciclos letivos; os temas/problemas são propostos pelos coordenadores do projeto, que podem ser docentes, técnicos administrativos e colaboradores; os projetos são escolhidos pelos discentes ao início do ano letivo; e coordenadores de curso, direção de ensino e equipe pedagógica são responsáveis pelo monitoramento e avaliação do Projeto Integrador de cada ano letivo.
Ao contemplar como coordenadores do Projeto técnicos e cooperadores terceirizados abrem-‐se os caminhos para a construção de um campus educador, em que o processo de ensino-‐aprendizagem não se resume ao espaço da sala de aula e não fique restrito a relação professor-‐aluno, mas aconteça em diversos espaços e por meio de toda comunidade escolar.
Segundo Eliezer Pacheco (2011),
todos aqueles que interagem com educandos são educadores, cada um dentro da especificidade de sua tarefa. Professores, técnicos, funcionários etc. são todos trabalhadores em educação e suas atuações na escola devem ser integradas pedagogicamente, tendo o reconhecimento da escola enquanto ação educativa (PACHECO: 2011, p. 8).
Ao final do primeiro e segundo ciclo os alunos do Projeto Integrador apresentam para uma banca, formada pelo coordenador do projeto, um docente e um técnico administrativo, os resultados parciais alcançados até o momento e são avaliados quanto ao desenvolvimento do projeto, a apresentação oral e ao conhecimento sobre o assunto proposto.
No terceiro ciclo acontece a culminância, onde todos os projetos apresentam para a comunidade escolar o resultado de toda pesquisa desenvolvida durante o ano, ou seja, apresentam os resultados/soluções encontrados pelo grupo para o problema proposto no início do ano letivo.
Os discentes são apresentados, desde o primeiro ano, aos pressupostos da pesquisa, da investigação, da apresentação para bancas, tendo a oportunidade de desenvolver habilidades técnicas, orais, artísticas e de cooperação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Histórico do Projeto Integrador Os Planos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) do Ensino Médio Integrado de Construção Naval e
Petróleo e Gás do Campus Avançado São João da Barra foram pensados, discutidos e elaborados levando em conta a proposta de um Projeto Integrador que permeie os cursos e todas as séries, das iniciais às finais, que crie oportunidade de interação entre professores das diversas áreas e alunos de diferentes cursos, que se organize em torno de temas geradores e englobe toda a
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comunidade escolar: gestão, docentes, discentes, técnicos administrativos e colaboradores do campus.
Desde que o campus iniciou suas atividades educativas em 2015 o Projeto Integrador seguiu em linhas gerais os seguintes critérios: integrar diversos componentes curriculares de áreas de conhecimento distintas, um tema gerador proposto a cada início de ano letivo, coordenado por docentes divididos por número de turmas, desenvolvido por discentes que a cada ciclo apresentavam seus projetos para uma banca de docentes e técnicos administrativos e também em uma culminância para a comunidade escolar.
Os projetos apresentados em 2015 e 2016 proporcionaram resultados positivos contribuindo de forma enriquecedora para o crescimento dos alunos e da Instituição. Os alunos melhoraram sua capacidade de expressão, adquiriram eloquência e ao fim do projeto apresentaram trabalhos bem elaborados, evoluindo significativamente a cada ciclo comprovando assim a eficácia do projeto.
Apesar de todos os avanços citados acima, analisamos que existia uma grande insatisfação por parte dos docentes e de alguns discentes, que não se sentiam atraídos e motivados pelo tema definido ao início do ano e pelos passos que deveriam ser seguidos para a execução do projeto. Diante dessa insatisfação, passamos a utilizar o horário de nossas reuniões pedagógicas para discutir e reformular o nosso Projeto Integrador.
Nas reuniões levantamos e debatemos temas como: a viabilidade de continuarmos trabalhando com Projeto Integrador; e se decidíssemos trabalhar, qual modelo de projeto escolher? Anual ou por ciclo? Com tema único ou variado? Por turma ou por escolha do discente? Nas reuniões os docentes e a equipe pedagógica tiveram oportunidade de expressar suas análises positivas e negativas ao projeto atual e apresentar sugestões de novos projetos ou argumentar para que o trabalho com projeto fosse extinto.
Após o ciclo de discussões houve uma reunião para que os temas levantados fossem votados. A votação apresentou o seguinte resultado: o Projeto Integrador foi considerado viável, por representar a natureza do Campus Avançado São João da Barra, a sua identidade; que o Projeto não tem o objetivo de integrar apenas componentes curriculares, mas conhecimentos e habilidades; quer sejam de docentes, técnicos administrativos, discentes ou de cooperadores; e que ao invés de um tema gerador proposto pela Direção de Ensino/Coordenação ao início do ano letivo, teríamos um Projeto trabalhando vários temas escolhidos pelos docentes/técnicos administrativos /cooperadores, seguindo a metodologia da problematização e ofertado de modo que os discentes escolhessem individualmente, por meio de inscrição, o projeto e o servidor/cooperador que o orientaria durante todo o ano letivo.
4.2 Projeto integrador atual e seus resultados O trabalho interdisciplinar apresenta algumas dificuldades em sua execução que
demandam discussões e revisões constantes. O Projeto Integrador do Campus Avançado São João da Barra está em constante (re) construção e, diante da análise dos resultados apresentados nos
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anos anteriores foi reformulado e apresenta-‐se com uma nova abordagem, fruto de discussões, análises, debates e contribuições de toda a equipe pedagógica do campus.
A partir de discussões com a comunidade acadêmica sobre os resultados dos projetos integradores dos anos 2015 e 2016, chegou-‐se a proposta de que todos os servidores do campus poderiam submeter projetos e contribuir para formação técnica e social do discente. Teve-‐se como resultado a submissão de 16 projetos, abrangendo uma rica diversidade de saberes.
Seguem abaixo os temas/problemas propostos para o ano letivo de 2017:
1. A Instituição do Debate como Projeto Integrador;
2. Bilingual Labs;
3. Casa Inteligente;
4. Cineclube da Imaginação Sociológica: A Sociologia vai ao Cinema;
5. Construindo práticas e saberes em Biologia e Química;
6. Desafio Solar Brasil 2017;
7. Desenvolvimento de protótipos de embarcações para regata;
8. Marketing Digital;
9. Mini Usina Hidrelétrica e Eólica;
10. Modelagem Matemática: vivenciando a Matemática aplicada ao cotidiano;
11. Montagem de materiais interativos de Física experimental;
12. Musicalização;
13. O Jovem na cena contemporânea: seu lugar no mundo!;
14. Operação Robótica via aplicativos móveis com arduíno: desenvolvimento de múltiplas competências e habilidades;
15. Tire essa ideia da cabeça!
16. Voltando as raízes: horta e jardinagem no campus SJB.
Propuseram projetos individuais ou coletivos 100% dos docentes, 50% dos técnicos administrativos e um colaborador terceirizado; e participaram das bancas ao final do primeiro ciclo toda a comunidade escolar.
Nos quatro meses de experiência, o Projeto Integrador, neste novo formato, alcançou como resultados:
• Integração com toda a comunidade interna do Instituto Federal Fluminense Campus Avançado São João da Barra, promovendo uma interação de conhecimentos e saberes, tendo como protagonistas os discentes, os docentes, os técnico administrativos em educação e os funcionários com vínculo terceirizado. Além de recebermos convidados e parceiros de outras instituições.
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• Autonomia conquistada pelos alunos, que são em sua maioria adolescentes, com empoderamento para decidirem pelo projeto que consideraram com maior afinidade, o que tem levado a um maior envolvimento e comprometimento com as ações e intervenções do grupo, propondo atividades, participando das ações.
• Estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento da oratória e da argumentação, ao desenvolvimento artístico (teatro, música e poesia), à valorização da ciência e à realização de experimentos, à inclusão digital, à informação e formação crítica, ao respeito à diversidade e ao ambiente.
• O caráter extensionista que vários projetos estão ganhando ao levar para comunidade sanjoanense o resultado de sua pesquisa e estudo em forma de oficinas e minicursos.
Abaixo apresentamos as fotografias (da figura 2 a 6), que exemplificam o percurso que
o Projeto Integrador trilhou de sua apresentação aos discentes até a avaliação da banca.
Figura 2: Apresentação do Projeto Integrador 2017 aos discentes.
Figura 3: Alunos do projeto “Desafio Solar Brasil (DSB)”.
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Figura 4: Alunos do projeto modelagem Matemática.
Figura 5: Alunos do projeto “Clube de debate”.
Figura 6: Banca do projeto “O jovem na cena contemporânea”.
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5 CONCLUSÃO
Entendemos que o Projeto Integrador estruturado atualmente proporciona ao campus uma gama de oportunidades ímpares de promover a interdisciplinaridade, a integração da comunidade escolar e a inserção dos docentes, discentes, técnicos e colaboradores no universo da pesquisa e da extensão. De promover a união do ensino e prática e da teoria e técnica; de fazer com que os conhecimentos não sejam estanques e divorciados da realidade; de envolver a comunidade local e os seus problemas no ambiente escolar, promovendo a discussão e a pesquisa de possíveis soluções para questões que inquietam a sociedade.
Nos quatro meses que a nova proposta do Projeto foi implantada sentimos que a escola renasceu. Há motivação entre os docentes, entre os discentes e técnicos administrativos que se sentem protagonistas do processo ensino-‐aprendizagem e parte de um todo.
Sabemos, portanto que uma proposta dessa magnitude também apresenta desafios da mesma proporção. E que se as oportunidades são múltiplas as dificuldades também as são. Como fazer com que a falta de recursos não inviabilizem os projetos que precisam de materiais para a elaboração e conclusão de suas pesquisas? Como organizar a oferta de vagas dos projetos para que cada vez mais os alunos estejam inseridos em projetos de sua escolha e de sua afinidade? Como envolver os demais Técnicos Administrativos e colaboradores que não participam do Projeto? São algumas perguntas que teremos que enfrentar e buscar respostas para o crescimento e êxito do Projeto Integrador.
Embora os desafios sejam imensos sabemos que são eles que nos forçam a buscar novos caminhos e novas práticas que dinamizem e estimulem o processo-‐ensino aprendizagem, que tornem a Educação um processo dinâmico e conectado a realidade e ao mundo em que os discentes estão inseridos.
6 REFERÊNCIAS
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas:
diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunic, Saúde, Educ, 1998.
______. A Metodologia da Problematização no Ensino Superior e sua contribuição para plano da
práxis. Semina, 1996.
BORDENAVE, J.; PEREIRA, A. Estratégia de ensino aprendizagem. 4 ed., Petrópolis: Vozes, 1989.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1979.
_______. Desafios e perspectivas do trabalho interdisciplinar no Ensino Fundamental: contribuições das pesquisas sobre interdisciplinaridade no Brasil: o reconhecimento de um percurso. In Interdisciplinaridade / Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI) v. 1, São Paulo: PUCSP, 2011, p. 10-‐23.
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______. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1991. Coleção Educar. v. 13.
______. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976
LÜCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teórico-‐metodológicos. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2005.
PACHECO, Eliezer. Os Institutos Federais uma revolução na educação profissional e tecnológica. São Paulo: Moderna, 2011.