EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE AUTONÔMICO CARDÍACO, DESEMPENHO CARDIORRESPIRATÓRIO, FORÇA MUSCULAR E NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS Ricardo Dias de Andrade NATAL RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM

EDUCAÇÃO FÍSICA

EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO

CONTROLE AUTONÔMICO CARDÍACO, DESEMPENHO

CARDIORRESPIRATÓRIO, FORÇA MUSCULAR E NA

COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PESSOAS VIVENDO COM

HIV/AIDS

Ricardo Dias de Andrade

NATAL – RN

2016

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EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO

CONTROLE AUTONÔMICO CARDÍACO, DESEMPENHO

CARDIORRESPIRATÓRIO, FORÇA MUSCULAR E NA

COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PESSOAS VIVENDO COM

HIV/AIDS

RICARDO DIAS DE ANDRADE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação Física da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como requisito

para obtenção do título de Mestre em Educação

Física.

ORIENTADOR: PROF. DR. PAULO MOREIRA SILVA DANTAS

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Adelino de Andrade e Liliane Dias, por terem me

educado e serem meus exemplos de vida, pela ética, humildade, resiliência e por terem me

ensinado a me esforçar ao máximo por tudo que quiser. Á minha irmã, Kivya Dias de Andrade,

por me ajudar em todos os momentos e por compartilhar todas as glórias e frustrações da vida

acadêmica.

À todos que me ajudaram e estiveram comigo todo o tempo, que entenderam a minha

ausência em diversas horas pelas atribuições da vida acadêmica, e que mesmo assim me

apoiaram para conquistar meus objetivos.

Aos membros da Base de pesquisa Atividade física e Saúde por me ajudarem a me

esforçar para atingir os objetivos, e que fazem de um local de estudos, trabalhos e estresse, mais

ameno e agradável para suportar todas as dificuldades.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente aos meus pais, por serem meus exemplos de vida, e por me

apoiarem em todos os momentos e decisões em minha vida, e desde o momento em que decidi

seguir a mesma profissão dos meus pais, saibam que são meus exemplos de atuação profissional,

por me mostrarem como ser responsável, ético e competente em tudo que me submeter a fazer,

a buscar sempre o meu melhor. Por suportarem me ver quando acordo e quando chego em casa

para dormir, e todos os meus estresses da vida acadêmica, mas vendo em seus olhos o orgulho

do filho que criaram. E também a minha irmã, que me ajuda sempre a suportar e por dividir as

angustias da vida acadêmica.

Agradeço a todos os membros da Base de Pesquisa Atividade Física e Saúde por sempre

me apoiarem, desde a época de graduação, e que me ajudaram a buscar o meu melhor em prol

do grupo. Mas especialmente à alguns que sempre estão ao meu lado, ao Jason Medeiros, por

ser parceiro nas ideias mirabolantes ou no café, à Rafaela Medeiros e a Tatiane Lima por

suportarem os estresses e ajudarem a resolver os problemas com mais paciência. Ao Prof. Paulo

Dantas, por ter me incentivado a continuar na vida acadêmica, e por ter confiado no meu

potencial desde o início, e por compartilhar o humor ácido que nos é particular.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 15

2.1. Objetivo geral ...................................................................................................... 15

2.2. Objetivos específicos ........................................................................................... 15

3. HIPÓTESES ............................................................................................................ 16

3.1. Hipótese Nula – h0 .............................................................................................. 16

3.2. Hipótese Derivada ................................................................................................ 16

4. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 17

4.1. Prescrição de exercícios para pessoas vivendo com HIV/Aids ........................... 17

4.2. Treinamento resistido para PVHA ....................................................................... 18

4.3. Treinamento aeróbico para PVHA ...................................................................... 20

4.4. Treinamento concorrente para PVHA ................................................................. 21

4.5. Controle Autonômico Cardíaco ........................................................................... 22

5. MÉTODOS .............................................................................................................. 25

5.1. Delineamento do estudo ....................................................................................... 25

5.2. Sujeitos ................................................................................................................. 25

5.3. Protocolo de treinamento ..................................................................................... 27

5.3.1. Treinamento resistido ....................................................................................... 27

5.3.2. Controle de cargas do treinamento resistido .................................................... 29

5.3.3. Treinamento aeróbico ....................................................................................... 29

5.4. Avaliação cardiorrespiratória e do controle autonômico cardíaco ...................... 29

5.5. Composição Corporal .......................................................................................... 31

5.6. Tratamento estatístico .......................................................................................... 31

6. RESULTADOS ....................................................................................................... 33

7. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 37

8. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Efeito do treinamento concorrente sobre a composição corporal de PVHA.......................... 33

Tabela 2 - Efeito do treinamento concorrente sobre o desempenho cardiorrespiratório de PVHA. ....... 33

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma das etapas da intervenção com treinamento concorrente ................................... 26

Figura 2 - Periodização do treinamento durante a intervenção. ..................................................................

Figura 3 - Modelo de periodização ondulatória de treinamento resistido. .............................................. 28

Figura 4 - Resposta da frequência cardíaca de PVHA após treinamento concorrente. ........................... 34

Figura 5 - Variação da resposta da frequência cardíaca de recuperação após treinamento concorrente. 34

Figura 6 - Efeito do treinamento concorrente sobre o controle autonômico cardíaco de PVHA. ........... 35

Figura 7 - Desenvolvimento da força muscular ao longo dos microciclos durante intervenção com

treinamento concorrente, com periodização ondulatória, para PVHA. ................................................... 35

Figura 8 - Desenvolvimento da força muscular ao longo dos mesociclos durante intervenção com

treinamento concorrente, com periodização ondulatória, para PVHA. ................................................... 36

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LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

ACSM – American College of Sports Medicine

AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

AZT – Zidovudina

ECG – Eletrocardiograma

FC – Frequência cardíaca

FCmáx – Frequência cardíaca máxima

HAART – High Active Antiretroviral Therapy

HF – High Frequency

HIV – Vírus da imunodeficiência Humana

LF – Low frequency

PSE – Escala de Percepção de Esforço Subjetivo

PVHA – Pessoas Vivendo com HIV/Aids

RM – Repetição máxima

SNA – Sistema Autonômico Cardíaco

TA – Treinamento Aeróbico

TARV – Terapia Antirretroviral

TC – Treinamento Concorrente

TR – Treinamento Resistido

VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca

VO2máx – Consumo de oxigênio máximo

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RESUMO

EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE AUTONÔMICO

CARDÍACO, DESEMPENHO CARDIORRESPIRATÓRIO, FORÇA MUSCULAR E

NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS

Autor: Ricardo Dias de Andrade

Orientador: Paulo Moreira Silva Dantas

O controle da infecção pelo HIV através da TARV, acarretou em diversos efeitos adversos as

pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA), como as síndromes lipodistrófica e de wasting. O

treinamento físico tem sido indicado como forma de retardá-los ou amenizá-los, os estudos com

treinamento físico para PVHA têm mostrado efeitos positivos sobre o controle autonômico

cardíaco, composição corporal, força muscular e na capacidade cardiorrespiratória. Sete PVHA,

do sexo masculino, sob uso da TARV, foram submetidas a uma intervenção com treinamento

concorrente durante 18 semanas. O treinamento resistido teve característica de periodização

ondulatória, e o treinamento aeróbio prescrito em intensidade leve e de forma linear. O controle

autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca através dos domínios

da frequência (HF, LF e a razão LF/HF). Foi aplicado o teste de caminhada de seis minutos para

a avaliação da capacidade cardiorrespiratória e do desempenho neuromuscular. Para a avaliação

da força muscular foi utilizado o método da tonelagem absoluta, calculada a cada microciclo e

mesociclo. As variáveis antropométricas foram analisadas por segmento corporal, sendo obtidas

a massa gorda total, do tronco e dos membros superiores e inferiores, além da massa corporal e

IMC.A análise estatística foi realizada através do cálculo do tamanho do efeito (d de Cohen),

exceto para a análise da tonelagem absoluta, que foi analisada através do teste ANOVA one-

way, com post hoc de scheffe. Foram encontrados tamanhos de efeito alto (d>0,80) para a

análise da variabilidade da frequência cardíaca para as variáveis LF e HF, mas não para a razão

LF/HF, após 18 semanas. Também foram encontrados efeitos moderados (d>0,50) ou fracos

(d>0,20) para a composição corporal e no desempenho cardiorrespiratório. Além de diferenças

significativas para a força muscular a partir do 4º mesociclo. O treinamento concorrente induziu

efeitos positivos no controle autonômico cardíaco, na composição corporal, no desempenho

cardiorrespiratório e na força muscular, assim, a prescrição de treinamentos com variações de

cargas, como aplicado neste estudo, deve ser indicado como forma de intervenção não

medicamentosa para PVHA.

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ABSTRACT

EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE AUTONÔMICO

CARDÍACO, DESEMPENHO CARDIORRESPIRATÓRIO, FORÇA MUSCULAR E

NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS

Autor: Ricardo Dias de Andrade

Orientador: Paulo Moreira Silva Dantas

The control of HIV infection by HAART, brought a many of adverse effects to people living

with HIV/Aids (PLHA), as a lipodystrophy and wasting syndromes. The physical training has

been indicated as means to delay or soften then, the studies with physical training to PLHA have

been showed positive effects on cardiac autonomic control, body composition, muscular

strength and cardiorespiratory fitness. Seven PLHA, male and under HAART use, Underwent a

concurrent training protocol during 18 weeks. The resistance training has an ondulatory

periodization, and the aerobic training was conducted in low intensity and linear model. The

cardiac autonomic control was evaluated by heart rate variability, through frequency domains

(LF, HF and LF/HF ratio). Was applied the six minute walking test evaluate the

cardiorespiratory fitness and neuromuscular performance. For the muscular strength evaluation

was used the absolute tonnage method, calculated for each microcycle and mesocycle. The

anthropometric variables were analyzed for each body segment, being get the total fat mass,

trunk and the upper and lower limbs, further body mass and BMI. The statistical analyze was

conducted by effect size formula (Cohen’s d), except the absolute tonnage, that was analyzed

by ANOVA one-way test, with scheffe post hoc. Were found high effect sizes (d<0,80) to

analyze the heart rate variability to the LF and HF variables, but not to LF/HF ratio, after 18

weeks. Also were found moderate (d>0,50) and lower (d>0,20) effect size to body composition

and cardiorespiratory fitness. Further the significant difference in muscular strength since fourth

mesocycle. The concurrent training induced positive effects on cardiac autonomic control, body

composition, cardiorespiratory fitness and the muscular strength, so, the training prescription

with load variations, as applied in this study, have be indicated as non-medicine intervention to

PLHA.

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1. INTRODUÇÃO

As infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da

imunodeficiência humana (AIDS), síndrome causada pela ausência de controle da infecção,

começaram a ser descobertas no início da década de 1980, com o aumento dos inicialmente na

África, mas com um aumento posterior em todo o mundo, se tornando uma pandemia. No início

da pandemia, não se tinham opções de tratamento para o controle da infecção, assim, o

diagnóstico da infecção pelo HIV era considerado uma pena de morte. Contudo, entre o fim da

década de 1980 e o início da década de 1990, foram desenvolvidos medicamentos que foram

capazes de controlar a infecção de forma mais eficaz, sendo a mais conhecida a zidovudina

(AZT), porém, com muitos efeitos colaterais, e sem garantias de sobrevida ao paciente.

Em 1996, com a inclusão da classe de medicamentos inibidores de protease ao

tratamento medicamentoso, surgiu a conhecida High Activity Antiretroviral Therapy (HAART),

que a partir deste momento, houve um controle eficaz da infecção, dando a paciente infectado

sobrevida. No Brasil, desde o início dos registros dos casos de infecção pelo HIV, foram

registrados 798.366 casos de Aids, sendo o público mais afetado gays e homens que fazem sexo

com homens, travestis e transexuais, pessoas que usam drogas e profissionais do sexo. Vale

ressaltar que mesmo com as estratégias de prevenção adotadas pelo Ministério da Saúde do

Brasil, nos últimos 10 anos vêm se verificando um aumento nos casos de infecção na população

jovem (de 15 à 24 anos).

Contudo, apesar da HAART ter levado a um controle da infecção e sobrevida, são

observados diversos efeitos adversos às Pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA), como

hiperglicemia, hipertrigliceridemia, dislipidemia, síndrome metabólica, doenças

cardiovasculares, síndrome lipodistrófica e síndrome de wasting. Entre os efeitos adversos mais

conhecidos do tratamento medicamentoso, estão as alterações corporais, como as síndromes

lipodistrófica e Wasting, estas alterações corporais são as responsáveis por alguns estigmas da

doença, por caracterizar de forma visível o quadro da infecção, servindo como uma marca para

as PVHA, influenciando diretamente em fatores psicossociais, como depressão, isolamento

social e redução na qualidade de vida. A síndrome lipodistrófica está relacionada com a

redistribuição de gordura corporal, reduzindo a concentração de gordura nas periferias (Face,

membros superiores e inferiores) e aumento da adiposidade na região central (tronco superior,

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tronco inferior e nuca). Já a síndrome de wasting, se caracteriza pela perda de massa muscular

ao longo da infecção. A perda de massa muscular gera prejuízos à saúde de PVHA, por reduzir

a capacidade funcional destes indivíduos, acentuando ainda mais os efeitos deletérios da

infecção.

Outra alteração fisiológica com alta prevalência em PVHA, são as doenças

cardiovasculares, que estão associadas as demais alterações, como a lipodistrofia e no perfil

lipídico. Estudos relatam modificações desde doenças controláveis, como a hipertensão, até

alterações no controle autonômico cardíaco, como um aumento na dispersão das curvas Q-Tc

em eletrocardiogramas, e reduzida variabilidade da frequência cardíaca.

Como forma de prevenção e/ou controle dos efeitos colaterais da HAART, são indicadas

terapias não-medicamentosas, como a adesão de a um estilo de vida mais saudável, como a

prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação equilibrada, para que tais efeitos

adversos sejam reduzidos ou retardados. Tais terapias não-medicamentosas tem a capacidade de

influenciar parâmetros fisiológicos e psicológicos.

Entre as terapias não-medicamentosas indicadas para o tratamento da infecção pelo vírus

HIV, tem tido destaque o exercício físico, por ter ação em diversos parâmetros biológicos e

psicossociais, como o retardo ou redução dos efeitos adversos da HAART, ressocialização e

melhora na qualidade de vida. Contudo, a prática de exercícios físicos no início da pandemia de

infecção foi vetada às PVHA, por gerar estresse ao organismo, e como no período não se tinha

o controle da infecção pela terapia antirretroviral, poderia gerar um quadro de imunossupressão,

favorecendo o acometimento por doenças oportunistas.

Após o surgimento da HAART, e consequente controle da infecção e de efeitos adversos,

estudos envolvendo exercícios físicos específicos para esta população começaram a ser

publicados, mostrando efeitos positivos clinicamente, como o aumento da massa muscular, da

aptidão cardiorrespiratória e capacidade funcional. A partir dos resultados dos primeiros estudos

surgiram as primeiras diretrizes para a prescrição de exercícios para PVHA, onde foi sugerida a

prática de exercícios com intensidade leve a moderada, com frequência de três vezes por

semana, e com o objetivo de desenvolvimento de capacidades físicas globais. Vale ressaltar, que

inicialmente os exercícios físicos para PVHA, foram orientados por médicos.

Atualmente, os manuais e diretrizes para a prescrição de exercícios físicos para PVHA

tem mostrado cada vez mais a importância de práticas de exercícios físicos, se aproximando da

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prescrição de exercícios para a população geral, ou seja, com variações de intensidades,

estímulos e duração tais como as recomendações para outros grupos.

A prescrição de exercícios para PVHA têm sido focadas em métodos tradicionais de

treinamento, o treinamento resistido e o treinamento aeróbico, ou mesmo o treinamento

concorrente, a combinação entre o treinamento resistido e aeróbico. O treinamento aeróbico

(TA) para PVHA, visa a melhora nos sistemas cardiovascular e respiratório, e na redução dos

adipócitos, agindo como modulador do perfil lipídico, reduzindo o risco cardiovascular(7-9). Já

o treinamento de força (TF), tem como objetivo o aumento da massa e força muscular, reduzindo

as características das síndromes lipodistrófica e wasting, refletindo na capacidade funcional do

indivíduo (7, 10-12). O TC tenta unificar as adaptações neuromusculares e metabólicas dos TA

e TF, sendo indicado como método de desenvolver melhor a capacidade funcional, por

desenvolver uma quantidade maior de sistemas, porém as adaptações decorrentes dos

treinamentos aeróbico e de força disputam e não ocorrem as adaptações máximas propostas

pelos métodos de treinamento(4, 5).

Os estudos que objetivam verificar o efeito de métodos de treinamento físico sobre

diversos parâmetros fisiológicos, funcionais ou psicossociais, se baseiam nas diretrizes e

manuais para a avaliação e prescrição de exercícios para PVHA, principalmente nas diretrizes

do American College of Sports Medicine (ACSM). Porém, as diretrizes indicam para a

prescrição de exercícios moderados e com frequência de 3 vezes por semana, com duração de

30 a 60 minutos.

Até o presente momento, que se tenha conhecimento, nenhum estudo verificou o efeito

de algum método de treinamento físico com variações de cargas, chegando a intensidades altas

(>80%), a variação de estímulos proposta pelo método de prescrição ondulatória tem se

mostrado eficiente nas adaptações neuromusculares ao treinamento em diversas populações,

mas até o presente momento não há estudos com PVHA. Para a prescrição de exercícios em

intensidades maiores para PVHA são necessários cuidados prévios, já que esta população é

acometida por um quadro de infecção crônica, mesmo que a infecção esteja controlada. Entre

os cuidados prévios, destaca-se o estado de saúde (Contagem de CD4 > 500 células/mm³ e carga

viral indetectável), histórico de doenças oportunistas e a presença de doenças crônicas não-

transmissíveis (Doenças cardiovasculares e diabetes).

Verificando se a condição de saúde do indivíduo, a prescrição de exercícios deve ter um

controle de cargas de treinamento adequado, já que o exercício físico se trata de um estresse ao

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organismo, que pode levar a quadros agudos de imunossupressão, caso não haja os devidos

cuidados. Assim, o controle das cargas de treino se torna fundamental para a prescrição de

exercícios independente da intensidade. Este controle pode ser realizado por parâmetros

fisiológicos, como a frequência cardíaca, percentuais da força muscular máxima (%RM), ou por

parâmetros psicofisiológicos, com destaque a percepção subjetiva de esforço (PSE).

Para PVHA sedentárias, a prescrição deve considerar a PSE como método prioritário,

pois a infecção pelo HIV altera algumas reações fisiológicas, com destaque a cinética do lactato,

observando se um quadro de acidose lática nesta população quando comparada a pessoas sem a

infecção. O que pode subestimar a carga de treino, fato que a PSE pode reverter nos períodos

iniciais de treinamento.

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2. OBJETIVOS

2.1.Objetivo geral

O estudo teve como objetivo principal avaliar o efeito de 18 semanas de treinamento

concorrente sobre o controle autonômico cardíaco, desempenho neuromuscular e

cineantropométrico em Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA).

2.2.Objetivos específicos

Avaliar o efeito do treinamento concorrente sobre componentes do domínio do tempo

da variabilidade da frequência cardíaca de PVHA;

Avaliar o efeito do treinamento concorrente sobre a Frequência cardíaca de recuperação

após 1 e 2 minutos;

Avaliar o efeito do treinamento concorrente sobre a força muscular de PVHA;

Avaliar o efeito do treinamento concorrente sobre a composição corporal de PVHA;

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3. HIPÓTESES

O presente estudo antecipa a existência de uma relação entre o treinamento concorrente

e benefícios controle autonômico cardíaco, no desempenho neuromuscular e em parâmetros

cineantropométricos de pessoas vivendo com HIV/AIDS.

As hipóteses estatísticas serão enunciadas na sua forma nula (H0) e derivada, para cada

um dos grupos de variáveis dependentes: variabilidade da frequência cardíaca, frequência

cardíaca de recuperação, na força muscular e na composição corporal, com mais de 95% de

probabilidade ou p < 0,05 para que a hipótese seja aceita, ou seja, não se cometa o erro do tipo

I.

3.1.Hipótese Nula – h0

Não há influência do treinamento concorrente após 18 semanas sobre o controle

autonômico cardíaco, desempenho neuromuscular e cineantropométrico em Pessoas Vivendo

com HIV/Aids (PVHA).

3.2.Hipótese Derivada

O treinamento concorrente após 18 semanas tem influência sobre o controle autonômico

cardíaco, desempenho neuromuscular e cineantropométrico em Pessoas Vivendo com HIV/Aids

(PVHA).

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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1.Prescrição de exercícios para pessoas vivendo com HIV/Aids

A prática de exercícios físicos regulares é indicada para qualquer população, por trazer

benefícios a diversos parâmetros fisiológicos, psicológicos e sociais, e para as PVHA não é

diferente (GARBER et al., 2011). A prática regular de exercícios físicos em PVHA têm ganhado

cada vez mais notoriedade da comunidade científica por ser uma ferramenta com potencial de

modificar os efeitos deletérios da infecção. Assim, o exercício físico tem sido indicado como

uma das principais formas de tratamento não-medicamentoso (SOUZA et al., 2009;

LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ, 2010).

Após o advento da terapia antirretroviral de alta atividade (HAART), houve o controle

da infecção e uma maior sobrevida as PVHA, a adesão a um estilo de vida saudável se tornou

indispensável para a melhora do estado de saúde das PVHA (FELEKE; FEKADE;

MEZEGEBU, 2012). A prática de exercícios físicos regulares é uma das mudanças

indispensáveis para a adoção de um estilo de vida saudável, pois tem o potencial de melhorar a

capacidade funcional, a qualidade de vida, controlar os perfis lipídico e glicêmico e reduzir a

presença de doenças cardiovasculares e lesões osteomioarticulares (LAZZAROTTO; DERESZ;

SPRINZ, 2010; GOMES-NETO et al., 2013).

A prescrição de exercícios físicos para PVHA tem sido voltada para a prática de

exercícios aeróbicos e de força, de forma individual ou conjunta, se caracterizando como

treinamento concorrente (TC) (SOUZA et al., 2009; LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ,

2010). O treinamento aeróbico (TA) para PVHA, visa a melhora nos sistemas cardiovascular e

respiratório, e na redução dos adipócitos, agindo como modulador do perfil lipídico, reduzindo

o risco cardiovascular. Já o treinamento de força (TF), tem como objetivo o aumento da massa

e força muscular, reduzindo as características das síndromes lipodistrófica e wasting (DE

SOUZA et al., 2013; GOMES NETO et al., 2013). O TC tenta unificar as adaptações

neuromusculares e metabólicas dos TA e TF, sendo indicado como método de desenvolver

melhor a capacidade funcional, por desenvolver uma quantidade maior de sistemas, porém as

adaptações decorrentes dos treinamentos aeróbico e de força disputam e não ocorrem as

adaptações máximas propostas pelos métodos de treinamento (DE SOUZA et al., 2013; FYFE;

BISHOP; STEPTO, 2014).

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4.2.Treinamento resistido para PVHA

A prescrição de exercícios físicos resistidos para PVHA tem como principais objetivos

o aumento da massa e força muscular, melhora na capacidade funcional e modificações na

composição corporal (SOUZA et al., 2009; SANTOS; OLIVEIRA; CARVALHO, 2014).

Alguns dos principais efeitos adversos da HAART são as síndromes lipodistrófica e de wasting,

que alteram a composição corporal, na lipodistrofia as modificações ocorrem através da

redistribuição da gordura, reduzindo a concentração de adipócitos nas periferias e aumentando

na região central, com destaque na área visceral, sendo um risco para o desenvolvimento de

doenças cardiovasculares (DUDGEON et al., 2006; SINGHANIA; KOTLER, 2011; FELEKE;

FEKADE; MEZEGEBU, 2012). Já a síndrome de wasting é caracterizada pela perda de massa

muscular ao longo do tempo de infecção. O diagnóstico da síndrome de wasting pode ser feita

ao se observar perdas superiores a 10% por ano, ou maiores que 5% em dois semestres

consecutivos (NAHLEN et al., 1993). Assim, o treinamento resistido é capaz de reverter,

retardar ou reduzir os efeitos das síndromes lipodistrófica e de wasting (DUDGEON et al., 2006;

GLOVER; PHILLIPS, 2010).

Estudos com treinamento resistido têm mostrado modificações significativas na

composição corporal, na força muscular, na capacidade funcional e na qualidade de vida de

PVHA (BRITO et al., 2013). Os treinamentos são prescritos em sua maioria em intensidades

moderadas, entre 60-80% da repetição máxima (RM), adotando se o método de periodização

linear, onde a carga é fixada em todo o período de intervenção, com frequência de 3 vezes por

semana e duração entre 16 e 24 semanas, na maioria dos estudos (SOUZA et al., 2009). Vale

ressaltar, que em alguns estudos com treinamento resistido o uso de agentes anabólicos, como a

testosterona, foram utilizadas como forma de induzir um aumento de massa muscular (BHASIN

et al., 2000; GRINSPOON et al., 2000).

O uso de agentes anabólicos em PVHA começaram desde o início da pandemia, com o

objetivo de reduzir os efeitos colaterais da infecção e dar sobrevida as pessoas infectadas. Estes

estudos com agentes anabólicos mostraram diferenças significativas no aumento da massa e da

força muscular em comparação ao grupo controle (sem uso de agentes anabólicos). Contudo, a

falta de um grupo controle sem uso de agentes anabólicos, porém com a intervenção de

exercícios físicos, impede que os resultados sejam atribuídos a intervenção com o treinamento

resistido (BHASIN et al., 2000; GRINSPOON et al., 2000).

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Os estudos que objetivaram avaliar somente o efeito do treinamento resistido, também

mostraram resultados positivos. Em relação a composição corporal, são mostrados um aumento

da massa muscular e redução da adiposidade, porém não observadas mudanças significativas na

massa corporal e no índice de massa corporal, o que demonstra a necessidade de estudos à longo

prazo para se observar modulações significativas na composição corporal (ROUBENOFF et al.,

1999; SOUZA et al., 2009; SANTOS; OLIVEIRA; CARVALHO, 2014).

Todos os estudos com treinamento resistido observaram aumentos significativos da força

muscular, independentemente do tempo de intervenção. Em relação a indivíduos sedentários, a

literatura descreve que os ganhos de força nas semanas iniciais (entre 8 e 12 semanas) são mais

relacionadas as adaptações neuromusculares ao treinamento, ocorrendo uma redução dos ganhos

nas semanas seguintes, mas com tendências a incrementos na força muscular (FLECK;

KRAEMER, 2006; WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2013). Em PVHA, devido à síndrome

de wasting, os ganhos de força muscular podem ser retardados, devido à perda crônica de massa

muscular (SANTOS; OLIVEIRA; CARVALHO, 2014). Roubenoff e Wilson (2001)

compararam o efeito de 16 semanas de treinamento resistido em sujeitos com e sem presença

da síndrome de wasting, onde observaram que os sujeitos com a presença da síndrome de

wasting apresentaram ganhos próximos ou até maiores, a partir da variação bruta dos dados, de

força muscular nos exercícios testados (supino reto, Leg press, extensão de joelhos e puxada

aberta), porém sem diferenças significativas entre os grupos, mostrando que o treinamento

resistido teve efeitos maiores em sujeitos com a síndrome de wasting.

Outro benefício do treinamento resistido são alterações em indicadores de risco

cardiovascular, por promover melhoras nos perfis lipídicos e glicêmicos (YARASHESKI et al.,

2001), redução da adiposidade visceral (GLOVER; PHILLIPS, 2010; DUDGEON et al., 2012;

BRITO et al., 2013) e também no controle autonômico cardíaco, mesmo que em menor

magnitude em comparação ao treinamento aeróbico (BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012).

O efeito do treinamento sobre o controle autonômico cardíaco pode ser avaliado a partir de

métodos diretos, sendo os mais comuns o eletrocardiograma, a variabilidade da frequência

cardíaca e a frequência cardíaca de recuperação após um esforço máximo ou submáximo

(MALIK et al., 1996).

Alguns estudos apontam para a melhora no controle autonômico cardíaco após a prática

de exercícios físicos, contudo, são escassos os estudos que avaliaram o efeito de intervenções

com treinamento físico sobre o controle autonômico cardíaco em PVHA. A literatura aponta

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para uma alta prevalência de doenças cardiovasculares em PVHA, desta forma, se fazendo

necessária alternativas para o controle destas doenças. O treinamento físico tem sido indicado

como uma das principais formas de modulação do controle autonômico cardíaco, sendo assim,

fundamental o desenvolvimento de estudos que avaliem o efeito do treinamento sobre

parâmetros da saúde cardiovascular.

4.3.Treinamento aeróbico para PVHA

Desde os primeiros estudos sobre o efeito de programas de exercícios físicos para PVHA,

o treinamento aeróbico tem tido a atenção da comunidade científica, pois desde as primeiras

diretrizes para a prescrição de exercícios para PVHA, o TA tem sido indicado em intensidades

moderadas por se mostrar seguro para o sistema imune. Os primeiros estudos foram realizados

no início da década de 1990, momento em que foi possível através da TARV, o controle da

infecção, assim, se buscando alternativas para o desenvolvimento de parâmetros fisiológicos, da

capacidade funcional e psicossociais.

Os primeiros estudos com TA para PVHA, mostraram benefícios sobre a capacidade

cardiorrespiratória, na qualidade de vida e sem efeitos deletérios ao sistema imunológico. Lox,

McAuley e Tucker (1995) compararam o efeito do TA, com o TR e um grupo controle, sem

exercício, onde verificaram o aumento da capacidade cardiorrespiratória (VO2máx) em

comparação com o TC e o grupo controle, aumento da força muscular em comparação ao grupo

controle e melhoras no humor e na satisfação de vida nos grupos TA e TC em comparação ao

grupo controle. Os resultados deste estudo, demonstra que a prática de exercícios físicos

regulares é capaz de reverter ou amenizar efeitos deletérios da infecção.

Após o advento da HAART, um controle mais eficaz da infecção foi possível, fazendo

com que a AIDS passasse a ser considerada como uma doença crônica, onde quando há o

controle da infecção pela terapia medicamentosa não haverá risco de morte em decorrência da

doença. Assim, alguns estudos investigaram o efeito de intervenções com TA em alta

intensidade. Terry, Sprinz e Ribeiro (1999) comparam os efeitos do TA em intensidades

moderada (55-60% FCmáx) e alta (75-85% FCmáx), com duração de 12 semanas. Os resultados

demonstraram que o TA em alta intensidade aumentou a capacidade cardiorrespiratória, sem

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alterações significativas no sistema imunológico (contagem de células CD4 e carga viral),

mostrando que o TA em alta intensidade não é capaz de causar imunossupressão crônica.

Atualmente, as intervenções têm associado o TA ao TR, se caracterizando como

treinamento concorrente, este método tem sido indicado por desenvolver uma quantidade maior

de sistemas em um menor período de tempo. Porém, até os dias de hoje, o TA foi o método mais

utilizado para a prescrição de exercícios para PVHA, se mostrando seguro e eficaz.

4.4.Treinamento concorrente para PVHA

O treinamento concorrente tem como principal objetivo a junção das adaptações aos

métodos de treinamento resistido e aeróbico, assim, desenvolvendo uma quantidade maior de

sistemas em um menor tempo. Porém, as adaptações aos métodos de treinamento competem e

impedem que ocorram de forma máxima. O TC tem sido indicado para PVHA pelo potencial de

desenvolvimento da capacidade funcional, considerando que PVHA são acometidas de efeitos

deletérios em diversos sistemas.

As prescrições do TC para PVHA em sua maioria são compostos por exercícios

resistidos de séries múltiplas ou simples (circuito), com exercícios aeróbicos contínuos. As

sessões de treino têm em torno de 60 a 90 minutos, sendo de 20 a 30 minutos de exercícios

aeróbicos. Para os exercícios resistidos são adotadas intensidades moderadas, entre 60-80% da

repetição máxima, e os exercícios aeróbicos com intensidade de leve a moderada, entre 50 e

70% da frequência cardíaca máxima ou do consumo máximo de oxigênio. A frequência de

treinamento na maioria dos estudos fica em três vezes por semana, com variação entre 2 e 4

vezes por semana.

Os estudos com TC para PVHA em sua maioria adotam intensidades lineares, ou seja,

fixam a intensidade durante toda o período de intervenção, até o presente momento, que se tenha

conhecimento, apenas um estudo utilizou a variação da intensidade como método de

treinamento, contudo, a variação ocorreu dentro da faixa de intensidade leve a moderada, entre

50 e 80%. Os estudos apontam para resultados positivos para o desenvolvimento da força

muscular e da capacidade cardiorrespiratória, revertendo os efeitos deletérios da infecção, do

uso crônico da HAART e da síndrome de wasting. Tiozo et al. (2013) avaliaram 37 PVHA,

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randomizadas em grupos intervenção e controle, onde a intervenção com TC foi prescrita com

progressão de cargas, 60% FC/RM a 75% FC/RM, neste estudo foi possível encontrar diferenças

significativas no consumo máximo de oxigênio (VO2máx), em componentes da qualidade de

vida, nas funções imunológicas (contagem de células CD4 e Carga viral) e na força muscular,

quando comparados ao grupo controle no mesmo período.

Desde os primeiros casos de infecção pelo HIV são observadas modificações corporais.

Inicialmente, a perda de massa corporal ocorria devido à falta de controle da infecção, o que

aumentava a taxa metabólica basal, consequentemente o gasto energético, reduzindo a massa

corporal. Após o advento da HAART, as modificações corporais são associadas às síndromes

lipodistrófica e de wasting. Então, intervenções com o objetivo de reverter, retardar ou reduzir

os efeitos adversos de tais síndromes são fundamentais. O TC tem sido utilizado como forma de

intervenção para melhora da composição corporal. Em estudos com TC, mostram em sua

maioria manutenção da massa corporal, com aumento da massa muscular e redução da massa

gorda, contudo como são em geral proporcionais, não é possível se verificar as modificações a

partir da massa corporal. Vale ressaltar que a composição corporal sofre grande influência da

dieta, o que não é controlado na maioria dos estudos.

4.5. Controle Autonômico Cardíaco

O sistema cardiovascular tem como principal objetivo a circulação sanguínea através dos

vasos sanguíneos, para o suprimento de oxigênio e nutrientes para as células, tendo o coração

como a bomba responsável por esta circulação. O controle do coração ocorre através dos nodos

sinoatrial e atrioventricular, que recebem impulsos nervosos involuntários para a contração e

relaxamento do músculo liso cardíaco.

O controle cardíaco é autônomo, ou seja, os batimentos cardíacos são controlados de

forma involuntária através do sistema nervoso autônomo (SNA), pelos sistemas nervosos

simpático e parassimpático. Estes sistemas agem por feedback positivo, quando há um estímulo

a um dos sistemas ocorre uma redução da atividade do outro sistema, contudo, eles não deixam

de agir pela ação do outro, ocorrendo apenas uma ação maior de um dos sistemas. O controle

autonômico cardíaco sofre alterações advindas de diversos estímulos, como visuais, sensitivos

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ou térmicos, as respostas autonômicas cardíacas ocorrem a partir de liberações hormonais,

principalmente de hormônios adrenérgicos, como a epinefrina e norepinefrina, onde regulam a

frequência cardíaca, pressão arterial e o ritmo cardíaco.

Em Pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA), são observadas alterações no controle

autonômico cardíaco, com alto índice de presença de doenças cardiovasculares. Estas alterações

são associadas ao tratamento medicamentoso (HAART), principalmente à classe de

medicamentos inibidores de protease, à síndrome lipodistrófica e ao estilo de vida destes

pacientes. Desta forma, intervenções com o objetivo de reduzir ou retardar o acometimento de

doenças cardiovasculares são de fundamental importância.

Clinicamente, o controle autonômico cardíaco fornece informações importantes da

saúde cardiovascular, onde através da avaliação dele pode se diagnosticar doenças

cardiovasculares, como hipertensão e arritmia cardíaca. A avaliação do controle autonômico

cardíaco pode ser realizada por diversos equipamentos, em sua maioria de forma não-invasiva,

sendo considerado gold standard para a sua avaliação o Eletrocardiograma (ECG), porém com

pouca facilidade de acesso e aplicação para grandes grupos. Desta forma, a Variabilidade da

Frequência Cardíaca (VFC) tem sido amplamente utilizada para a avaliação e diagnóstico de

doenças cardiovasculares. A VFC é analisada através de domínios do tempo (SDNN, SDANN,

pNN50, entre outros), pelo domínio da frequência (Low Frequency, High Frenquency e a razão

das frequências) e pela análise espectral (análise de point of care).

A VFC têm sido o método não-invasivo mais utilizado para o monitoramento do controle

autonômico cardíaco por ser de fácil aplicação em grandes populações e por fornecer dados

fidedignos, quando comparado ao exame de ECG. A variabilidade da frequência cardíaca utiliza

o intervalo entre batimentos cardíacos consecutivos (intervalo R-R), como forma de análise da

ação do SNA. Entre as análises possíveis da VFC, a análise por domínio da frequência tem sido

utilizada mais comumente, por ser de mais fácil interpretação, comparado aos demais métodos.

A análise do domínio da frequência é feita através de registros da intensidade das ondas

verificadas em intervalos de tempo menores, sua unidade de medida é o Hertz e seus

componentes espectrais são: High Frequency (HF): variação de 0,15 a 0,4Hz, que corresponde

à modulação respiratória e é um indicador da atuação do nervo vago sobre o coração; Low

Frequency (LF): variação entre 0,04 e 0,15Hz, decorrente da ação conjunta dos componentes

parassimpático e simpático sobre o coração, com predominância do simpático; VLF Very Low

Frequency (VLF) e Ultra Low frequency (ULF): são indicadores menos utilizados por não ter

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uma explicação fisiológica bem estabelecida (FRANCESCO et al., 2012; XHYHERI et al.,

2012).

Além da VFC, o controle autonômico cardíaco pode ser avaliado de forma indireta por

outros índices, como a frequência cardíaca de recuperação (FCR). A FCR fornece um índice da

redução de batimentos cardíacos após um estresse máximo ou submáximo. A recuperação da

frequência cardíaca nos dois primeiros minutos é um indicativo de risco cardiovascular, onde

quanto maior a recuperação, menor será o risco (30). A melhora nas funções cardiovasculares é

importante para PVHA devido apresentarem alta prevalência de doenças cardiovasculares (31,

32). Desta forma, reduzindo o risco cardiovascular.

Alterações nos padrões da VFC podem servir como diagnóstico da ação do SNA,

podendo representar a presença de alterações cardiovasculares. O exercício físico tem sido

amplamente utilizado como forma de modulação do SNA, tanto para condições clínicas quanto

para atletas de alto rendimento.

A variabilidade da frequência cardíaca tem sido utilizada amplamente por se tratar de

um método indireto de fácil aplicabilidade e baixo custo em comparação com o ECG. Quando

se analisa a VFC a partir do domínio da frequência, se associa os dados da high frequency (HF)

ao predomínio da atividade parassimpática e da low frequency (LF) a atividade simpática, já a

razão LF/HF ao balanço simpatovagal (VANDERLEI et al., 2009). O exercício físico então tem

sido indicado por ter o potencial de melhorar o controle autonômico cardíaco, devido ao seu

efeito crônico levar a uma braquicardia de repouso, através do tono parassimpático aumentado

e redução das respostas cronotrópicos e da frequência cardíaca de repouso (KINGSLEY;

FIGUEROA, 2014).

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5. MÉTODOS

5.1. Delineamento do estudo

A pesquisa realizada se caracteriza como semi-experimental, em que a variável

independente foi manipulada para medir seus efeitos sobre as variáveis dependentes, com o

propósito maior de determinar o grau de mudança produzido pelo treinamento concorrente,

estabelecendo uma relação de causa e efeito (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012)

5.2. Sujeitos

A amostra foi composta por 7 homens vivendo com HIV/Aids, sob uso da HAART,

sedentários, com idade média de 41,57 ± 11,31 anos, contagem de linfócitos TCD4 igual ou

superior à 350 cópias/mm³ (901 ± 542) e carga viral indetectável (≤ 50 cópias/mm³). Todos os

sujeitos obtiveram liberação prévia do médico infectologista responsável por seu

acompanhamento médico para a participação na pesquisa.

Todos os procedimentos, riscos e benefícios foram esclarecidos previamente a realização

do estudo, e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido. O estudo foi aprovado no

comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob protocolo

229/11, seguindo a resolução 466/12 do CONEP.

As avaliações aconteceram em um ambiente reservado, com temperatura variando entre

23º e 25ºC, e umidade relativa do ar entre 40-60%, controladas por um termohigrômetro digital,

no mesmo turno em que os sujeitos realizam a prática de exercícios físicos. Em momento prévio

às avalições, todos os sujeitos foram familiarizados com os procedimentos, com o objetivo de

reduzir os vieses de erro sobre a execução dos testes.

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Figura 1 - Fluxograma das etapas da intervenção com treinamento concorrente

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Figura 2 - Periodização do treinamento durante a intervenção.

5.3.Protocolo de treinamento

5.3.1. Treinamento resistido

O protocolo de treinamento adotado foi o do método concorrente, treinamento resistido

e aeróbico de forma conjunta, com enfoque nas regiões mais afetadas pela lipodistrofia

(Membros superiores, inferiores e tronco) e respeitando os princípios de treinamento

(LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ, 2010; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS, 2013). A

prescrição do treinamento resistido se baseou no modelo de periodização ondulatória semanal,

onde ocorre a variação de estímulos através de mudanças no volume dos treinos a cada

semana(AMERICAN COLLEGE OF SPORTS, 2013; PRESTES et al., 2015). A variação

ocorreu através de estímulos de força, hipertrofia e resistência. A periodização foi dividida em

macrociclo, mesociclos e microciclos. O macrociclo com duração de 18 semanas foi separado

em dois momentos, a cada 9 semanas, para a realização das avaliações, sendo os macrociclos

subdivididos em 3 mesociclos, com 3 microciclos cada (1 força, 1 hipertrofia e 1 resistência). A

intensidade do treinamento foi controlada pela escala de percepção subjetiva de esforço OMNI-

Res (ROBERTSON et al., 2003). Cada sessão de treinamento teve duração entre 60 e 80

minutos. Com intervalo de 1 minutos entre as séries. Os treinos foram prescritos e controlados

de acordo com o quadro 1.

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Figura 3 - Modelo de periodização ondulatória de treinamento resistido.

Os microciclos foram formados por três sessões de treinamento, que foram aplicadas nas

segundas, quartas e sextas-feira, das respectivas semanas. O intervalo de treinamento teve como

o objetivo de se ter entre 48 e 72h entre as sessões de treino para o favorecimento da regeneração

muscular e evitar a imunossupressão, overreaching e overtraining. Os treinos foram divididos

de acordo com os grupamentos musculares, em formato A-B-C, nos treinos A tiveram como

foco as musculaturas Dorsal, tríceps braquial e Bíceps femoral, o treino B no Peitoral, Bíceps

braquial e Quadríceps, e o treino C nas musculaturas abdominais, deltoide e panturrilha.

AVALIAÇÃO INICIAL

1º Semana 2º Semana 3º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

4º Semana 5º Semana 6º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

7º Semana 8º Semana 9º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

AVALIAÇÃO APÓS 9 SEMANAS

10º Semana 11º Semana 12º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

13º Semana 14º Semana 15º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

16º Semana 17º Semana 18º Semana

Força Hipertrofia Resistência

PSE 8 – 9 PSE 7 - 8 PSE 6 - 8

4 Séries - 6 - 8 Repetições 3 Séries - 8 - 12 Repetições 3 Séries - 12 - 15 Repetições

AVALIAÇÃO FINAL

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5.3.2. Controle de cargas do treinamento resistido

O desenvolvimento da força muscular foi avaliado de forma contínua, através do método

da tonelagem absoluta. Onde é calculado a carga de treinamento de cada sessão, semanal e de

cada mesociclo, como mostrado na equação abaixo (HISCOCK; DAWSON; PEELING, 2015).

Desta forma, controlando de forma individualizada a carga de treinamento. A tonelagem foi

analisada ao fim de cada semana de treinamento e de cada mesociclo (a cada três semanas).

Sendo considerado como Mesociclo 1 (1ª a 3ª semana), Mesociclo 2 (4ª a 6ª semana), Mesociclo

3 (7ª a 9ª semana), Mesociclo 4 (10ª a 12ª semana), Mesociclo 5 (13ª a 15ª semana) e Mesociclo

6 (16ª a 18ª semana).

𝑇𝑜𝑛𝑒𝑙𝑎𝑔𝑒𝑚 = 𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑥 𝑅𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖çõ𝑒𝑠 𝑥 𝑆é𝑟𝑖𝑒𝑠

5.3.3. Treinamento aeróbico

O treinamento aeróbico foi controlado através da escala de percepção subjetiva de

esforço de Borg adaptada (BORG, 1998), com intensidade leve (escala 5), caracterizando como

uma caminhada rápida. O exercício aeróbio foi realizado após a sessão de treino resistido, com

duração de 20 minutos. A ancoragem com a escala de Borg era realizada a cada dois minutos

com o intuito de manter a intensidade constante.

O treinamento aeróbico foi prescrito com intensidade leve com o objetivo de reduzir a

possibilidade de lesões osteomioarticulares, por ser realizado após o treinamento, assim, já tendo

um desgaste muscular e metabólico, e por se aproximar da característica do teste de caminhada

de seis minutos, teste de esforço submáximo aplicado para a avaliação.

5.4.Avaliação cardiorrespiratória e do controle autonômico cardíaco

Para se avaliar o desempenho cardiorrespiratório foi utilizado o teste de caminhada de

seis minutos (TC6M), onde foram verificadas as frequências cardíacas em quatro momentos,

em repouso (FC repouso), ao final do teste (FC máxima), e em recuperação após 1 e 2 minutos

(FCRec1 e FCRec2). Além da frequência cardíaca, forma analisadas durante o teste, a distância

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percorrida e número de passos. Para a análise do controle autonômico cardíaco foi utilizado o

método de variabilidade da frequência cardíaca (VFC).

A VFC foi verificada com os sujeitos deitados em decúbito dorsal para reduzir influência

de fatores externos e internos. Em um ambiente sem estímulos visuais ou auditivos, durante 10

minutos. Para a aquisição dos dados da VFC foi utilizado um frequencímetro Polar® RS800CX,

com registros das curvas R-R. A análise dos dados da VFC foi realizada através do software

Kubios HRV® (TARVAINEN et al., 2014), considerando os parâmetros dos domínios da

frequência, low frequency (LF) power (0,04–0,15 Hz; units: ms2), High frequency (HF) power

(0,15–0,40 Hz; units: ms2) e a razão LF/HF.

Posteriormente foram direcionados ao local de realização do TC6M, dando-se início ao

teste de caminhada de 6 minutos. Para o TC6min, os sujeitos seguiram as recomendações do

protocolo sugerido pela American Thoracic Society (ATS) (ENRIGHT, 2003). Os indivíduos

foram orientados a usarem roupas confortáveis, calçados adequados para caminhada, a não

consumirem alimentos e bebidas cafeinadas nas 24h precedentes aos testes. Os testes foram

realizados em local coberto, em uma pista de 20 metros demarcada nas extremidades e a cada

cinco metros. Os avaliados foram instruídos a cam inhar (sem correr) pelo corredor de 20m,

indo de uma extremidade à outra, num ritmo contínuo o mais rápido possível sendo estimulado

verbalmente pelo avaliador como recomendado pela ATS. Após o teste os avaliados se

mantiveram em pé na posição ortostática sem movimentos para serem coletados a frequência

cardíaca de um minuto (FCRec60”) e dois minutos (FCRec120”).

Através da análise da distância percorrida e do tempo de teste, foi analisada a velocidade

média a partir do cálculo Vmédia = ΔS/ΔT(s) x 3,6. Desta forma, se obtendo o valor em Km/h.

Também foi calculado o comprimento da passada, a partir da divisão do número de passos e da

distância percorrida.

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5.5.Composição Corporal

A avaliação da composição corporal seguiu as diretrizes da International Society of

Advancement of Kinanthropometry (ISAK) (MARFELL-JONES; STEWART; RIDDER,

2012). Foram mensuradas as medidas de massa corporal, estatura, circunferências do braço,

cintura e coxa medial, dobras cutâneas de tríceps, bíceps, subescapular e suprailiaca, e a altura

trocantérica maleolar lateral.

A composição corporal foi avaliada através da massa corporal, IMC, razão cintura-

quadril (RCQ), e do cálculo da massa livre de gordura, massa gorda total e de cada segmento

corporal (Tronco, membros superiores e membros inferiores), através da fórmula proposta para

homens vivendo com HIV (BERALDO et al., 2015).

5.6. Tratamento estatístico

Para a inferência da significância dos dados foi utilizado o effect size, onde compara a

variação dos dados, refletindo a significância clínica dos resultados da intervenção. A análise

através do effect size é indicada para se avaliar o efeito de intervenções em populações clínicas,

com amostras inferiores a 20 sujeitos, para se verificar a relação dose-resposta, pois a análise de

diferenças estatísticas em pequenas amostras através da significância (p value) pode não refletir

de forma real a importância clínica dos dados (RHEA et al., 2003; SULLIVAN; FEINN, 2012).

Desta forma, a análise da variabilidade da frequência cardíaca, do desempenho

cardiorrespiratório e da composição corporal foram realizadas através do effect size.

O cálculo do effect size foi realizado através do teste de Cohen’s (d), como proposto por

Rhea et al. (2003), como mostrado na fórmula abaixo. Os valores de referência do Effect size

são os mesmos adotados para os testes de correlação, onde d > 0,80 = forte, d > 0,50 = Moderado,

d > 0,20 = Fraco.

𝐸𝑓𝑓𝑒𝑐𝑡 𝑠𝑖𝑧𝑒 =(𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑝ó𝑠 − 𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑝𝑟é)

𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜 𝑝𝑟é

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Somente as análises da tonelagem nos microciclos e mesociclos foram realizadas através

da significância estatística, devido a prescrição do protocolo de treinamento resistido objetivar

a homogeneização das cargas entre os microciclos, assim, se fazendo necessária a comparação

das diferenças significativas das cargas de treinamento. Para a análise da significância

estatística, foi aplicado o teste ANOVA one-way, adotando-se nível de significância p < 0,05,

ou seja, mais de 95% de chance de não se cometer o erro estatístico do tipo I.

As comparações foram realizadas entre os microciclos do mesmo mesociclo, com o

objetivo de se verificar a homogeneidade das cargas dentro dos mesociclos, e também foram

comparadas as cargas entre os mesociclos, com o objetivo de verificar o aumento da carga de

treinamento ao longo da intervenção.

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6. RESULTADOS

Tabela 1 - Efeito do treinamento concorrente sobre a composição corporal de PVHA.

Variável Pré 9 semanas 18 semanas Cohen’s d –

Pré - 9 semanas

Cohen’s d –

Pré – 18 semanas

Cohen’s d –

9 – 18 semanas

Massa corporal 67,83 (± 7,27) 67,87 (± 7,78) 67,81 (± 7,60) -0,03 0,00 0,02

IMC 23,76 (± 2,10) 23,68 (± 2,26) 23,51 (± 2,16) -0,04 -0,12 -0,08

RCQ 0,96 (± 0,06) 0,97 (± 0,06) 0,97 (± 0,07) 0,01 0,05 0,03

∑DC 51,86 (± 19,51) 51,73 (± 20,22) 42,03 (± 13,97) -0,01 -0,50* -0,48†

MLG 49,90 (± 6,52) 49,79 (± 6,94) 51,44 (± 6,33) -0,02 0,24† 0,24†

Gordura MMSS 0,73 (± 0,19) 0,73 (± 0,20) 0,71 (± 0,20) -0,04 -0,11 -0,06

Gordura tronco 7,88 (± 2,01) 8,08 (± 2,22) 7,41 (± 1,99) 0,10 -0,24† -0,30†

Gordura MMII 1,81 (± 0,50) 1,78 (± 0,52) 1,74 (± 0,49) -0,05 -0,14 -0,57*

MGT 17,92 (± 3,33) 17,84 (± 3,46) 16,36 (± 2,64) -0,02 -0,47† -0,43†

AM braço 29,62 (± 3,15) 30,26 (± 3,26) 31,08 (± 3,28) 0,20† 0,20† 0,25†

AM coxa 46,25 (± 2,89) 46,11 (± 2,92) 45,69 (± 2,74) -0,05 -0,19 -0,14

IMC – Índice de massa corporal; RCQ – Relação cintura-quadril; ∑DC – Somatório de dobras cutâneas; MLG – Massa livre de

gordura; MMSS – membros superiores; MMII – Membros inferiores; MGT – Massa gorda total; AM – Área muscular; * - Effect size >

0,50 (Moderado); † - Effect size > 0,20 (Fraco);

Tabela 2 - Efeito do treinamento concorrente sobre o desempenho cardiorrespiratório de PVHA.

Variável Pré 9 semanas 18 semanas Cohen’s d –

Pré - 9 semanas

Cohen’s d –

Pré – 18 semanas

Cohen’s d –

9 – 18 semanas

Distância percorrida 663,13 (± 41,05) 671,88 (± 37,41) 671,43 (± 39,34) 0,21† 0,20† -0,01

VO2 máximo predito 27,17 (± 1,66) 27,22 (± 1,65) 27,20 (± 1,73) 0,03 0,02 -0,01

Velocidade média 6,63 (± 0,41) 6,72 (± 0,37) 6,71 (± 0,39) 0,21† 0,20† -0,01

Taxa de trabalho 44.955 (± 5.560) 45.389 (± 5.537) 45.554 (± 6.109) 0,08 0,11 0,03

FC repouso 68,75 (± 9,41) 69,13 (± 8,10) 67,71 (± 12,30) 0,04 -0,11 -0,17

FC máxima 144 (± 25) 153 (± 19) 151 (± 24) 0,33† 0,26† -0,08

FCR 60 segs. 111 (± 22) 114 (± 16) 107 (± 21) 0,16 -0,18 -0,46†

FCR120 segs. 99 (± 17) 105 (± 15) 96 (± 19) 0,30† -0,18 -0,55*

ΔFCmáxima_FCR60” 29 (± 15) 39 (± 8) 44 (± 12) 0,62* 1,01‡ 0,74*

ΔFCmáxima_FCR120” 39 (± 20) 48 (± 9) 55 (± 12) 0,44† 0,77* 0,76*

VO2 – Consumo de oxigênio; FC – Frequência cardíaca; FCR – Frequência cardíaca de recuperação; Δ – Variação;

‡ - Effect size > 0,80 (forte); * - Effect size > 0,50 (Moderado); † - Effect size > 0,20 (Fraco)

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34

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0

P ré in te rv e n ç ã o

9 s e m a n a s

F C re p o u s o F C m á x im a F C R 6 0 s e g s . F C R 1 2 0 s e g s

Ba

tim

en

to p

or

min

uto

(b

pm

)

1 8 s e m a n a s

Figura 4 - Resposta da frequência cardíaca de PVHA após treinamento concorrente.

Figura 5 - Variação da resposta da frequência cardíaca de recuperação após treinamento

concorrente.

Page 35: EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca ... autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca

35

* - Nível de significância (p<0,05)

Figura 6 - Efeito do treinamento concorrente sobre o controle autonômico cardíaco de PVHA.

M ic r o c ic lo s

To

ne

lag

em

(U

A)

10º

11º

12º

13º

14º

15º

16º

17º

18º

0

7 0 0 0

1 4 0 0 0

2 1 0 0 0

2 8 0 0 0

3 5 0 0 0

*

U A - U n id a d e s a rb itrá r ia s ; * - p < 0 .0 5

Figura 7 - Desenvolvimento da força muscular ao longo dos microciclos durante intervenção

com treinamento concorrente, com periodização ondulatória, para PVHA.

Page 36: EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca ... autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca

36

Figura 8 - Desenvolvimento da força muscular ao longo dos mesociclos durante intervenção

com treinamento concorrente, com periodização ondulatória, para PVHA.

Page 37: EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca ... autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca

37

7. DISCUSSÃO

O presente estudo objetivou avaliar o efeito de um programa de 18 semanas de

treinamento concorrente sobre o controle autonômico cardíaco, composição corporal e força

muscular. O principal achado do estudo, aponta para uma melhora no controle autonômico

cardíaco, analisado através da variabilidade da frequência cardíaca, onde foi observado um

aumento do HF com redução do LF, e manutenção da razão LF/HF. Esta melhora também ser

observada pelo aumento das variações das FCR 60 segundos e 120 segundos, que são indicativos

de reativação parassimpática após um esforço máximo ou submáximo.

Um dos principais efeitos adversos do tratamento medicamentoso são alterações

fisiológicas, com destaque a alterações cardíacas, tanto no controle autonômico quanto pela alta

incidência de doenças cardiovasculares (LEBECH et al., 2007; ASKGAARD et al., 2011;

LIPSHULTZ et al., 2012). A melhora nas funções cardiovasculares é importante para PVHA

devido apresentarem alta prevalência de doenças cardiovasculares, o que fortalece o uso de

programas de exercícios físicos como forma de tratamento não-medicamentoso com o objetivo

de reverter, retardar ou amenizar os efeitos deletérios da infecção e do tratamento

medicamentoso, assim, reduzindo o risco cardiovascular (ROUTLEDGE et al., 2010;

BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012; KOCHER et al., 2015).

A literatura aponta para uma disfunção autonômica prejudicada, com uma atividade

simpática aumentada e com redução da atividade parassimpática (LEBECH et al., 2007;

ASKGAARD et al., 2011; BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012). Esta disfunção

autonômica pode ser observada em nosso estudo, onde apresentaram uma atividade simpática

(LF) aumentada com redução da atividade parassimpática (HF) em repouso. Os resultados deste

estudo apresentam que após a intervenção com treinamento concorrente os pacientes

apresentaram uma melhora no controle autonômico, com aumento da atividade parassimpática

e redução da atividade simpática. Porém, vale ressaltar que a razão LF/HF não foi alterada, o

que indica que a disfunção autonômica não pode ser considerada como revertida, mas com um

melhor controle.

Clinicamente, esse aumento da ação parassimpática pode ser considerado como uma

ação benéfica do treinamento concorrente, pois PVHA apresentam alterações no CAC, como

uma baixa variabilidade da frequência cardíaca e reduzida recuperação da frequência cardíaca

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após esforço. Clinicamente, esse aumento da ação parassimpática pode ser considerado como

uma ação benéfica do treinamento concorrente, pois PVHA apresentam alterações no controle

autonômico cardíaco, como uma baixa variabilidade da frequência cardíaca e reduzida

recuperação da frequência cardíaca após esforço. A literatura tem apontado que o treinamento

físico e o uma melhora no desempenho físico está associado a um aumento na VFC e redução

da frequência cardíaca de repouso(STEIN et al., 1999). O treinamento físico tem como efeito

uma braquicardia de repouso, através do tono parassimpático aumentado e redução das respostas

cronotrópicos e da frequência cardíaca de repouso (LEVY et al., 1998; PEDRO et al., 2016).

A FCR tem se mostrado como um indicador da reativação parassimpática após um

estresse, como um teste de esforço máximo ou submáximo (COLE et al., 2000; CADE et al.,

2008), pode ser observada no gráfico 1, onde houve um effect size forte após a intervenção. Os

resultados do presente estudo apontam para uma maior atividade parassimpática, ou uma ação

parassimpática mais rápida, após o TC6M. A FCR tem sido utilizada como forma de análise do

efeito de programas de treinamento em diversas populações, contudo, em PVHA tem sido pouco

investigada a validade do uso da FCR como um indicador de modulação do CAC

(LINDEMBERG et al., 2014). A recuperação da frequência cardíaca nos dois primeiros minutos

é um indicativo de risco cardiovascular, onde quanto maior a recuperação, menor será o risco

(COLE et al., 2000; CADE et al., 2008; LINDEMBERG et al., 2014).

No presente estudo, pode se observar nos gráficos 2 e 3 que o treinamento concorrente

foi capaz de influenciar de forma positiva a resposta da FCR após o TC6M. Após 18 semanas

de treinamento concorrente foi observada uma maior recuperação da FC após 60 e 120 segundos.

Esta melhora indica que o treinamento concorrente induziu alterações cardiovasculares, como

melhora no CAC, o que clinicamente é importante devido a PVHA apresentarem alterações

cardiovasculares. Cade et al. (2008) avaliaram a resposta da FCR após um teste de esforço

máximo, avaliando a FCR a cada 30 segundos. Neste estudo observou que a FCR de PVHA

apresenta alterações, sendo assim, um importante indicador de risco cardiovascular.

Alterações na composição corporal são observadas em PVHA desde os primeiros casos

de infecção, contudo no início as modificações corporais eram devido ao não controle do quadro

de infecção, que atualmente com a H AART não há esta possibilidade. Atualmente, as alterações

corporais são observadas, principalmente pelas síndromes lipodistrófica e de wasting, que têm

impacto tanto em parâmetros fisiológicos, devido a redistribuição de gordura para a região

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central (visceral) e pela sarcopenia, mas também por caracterizar um estigma da Aids

(NAHLEN et al., 1993; DUDGEON et al., 2006; SINGHANIA; KOTLER, 2011; FELEKE;

FEKADE; MEZEGEBU, 2012). Então, estratégias que corroborem com o combate ou

amenização de tais efeitos adversos são necessárias para a saúde física e mental de PVHA

(DUDGEON et al., 2006; SOUZA et al., 2009).

Em nosso estudo, foram encontradas reduções na gordura da região central e nos

membros inferiores, porém com o effect size fraco ou moderado (d= 0,30 e 0,57,

respectivamente). Contudo, mesmo pequenas modificações na composição corporal de PVHA

devem ser consideradas, pois clinicamente, seu impacto na saúde deste paciente é importante.

A literatura tem reportado que mesmo após longos períodos de intervenção não são capazes de

alterar de forma significativa a composição corporal, principalmente quando observada a massa

corporal, que tende a se permanecer estável(PAES et al., 2014). Paes et al. (2015) avaliou o

comportamento da composição corporal de PVHA durante dois anos de intervenção com

treinamento concorrente e alongamentos, e não observou modificações significativas ou com

percentuais de variação (Δ%) consideráveis.

Alguns estudos com treinamento concorrente para PVHA apresentam modificações

significativas na composição corporal, principalmente no aumento da área muscular transversal

dos membros e na massa livre de gordura, contudo, a maioria destes estudos utilizaram de

agentes anabólicos (metformina e testosterona) de forma conjunta com a intervenção com

treinamento concorrente (DRISCOLL et al., 2004). De forma isolada, Garcia et al. (2013)

verificou aumento significativo da massa livre de gordura após 20 semanas de treinamento

concorrente, mas com manutenção da massa corporal e da massa gorda. A maioria dos estudos

que objetivam avaliar a composição corporal de PVHA após treinamento concorrente não

conseguem verificar modificações significativas, o que reforça o uso da análise do effect size

para se verificar a magnitude de mudança das variáveis (RHEA et al., 2003).

A sarcopenia causada pela síndrome de wasting é um fator a ser considerado como

limitante para a observação de modificações na composição corporal de PVHA (NAHLEN et

al., 1993; DUDGEON et al., 2006). Somente o fato de observar a manutenção da massa

muscular nesta população deve ser considerado como benefício da intervenção proposta, pois a

perda crônica de massa muscular impacta diretamente sobre a capacidade funcional e na

qualidade de vida, levando a uma maior dependência física e a quadros de isolamento social e

de depressão. A perda de massa muscular também pode refletir na força muscular, onde alguns

Page 40: EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca ... autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca

40

estudos mostram que a infecção e a o tratamento medicamentoso associado a comportamentos

sedentários, favorecem a presença da síndrome de wasting (ROUBENOFF; WILSON, 2001).

O desenvolvimento da força muscular em PVHA também pode sofrer interferência de

outra doença associada a infecção, a neuropatia, dificulta a indução de impulsos nervosos,

apresentado quadros de dor muscular periférica, com isso, potenciais de ação de grandes

magnitudes não são induzidos, reduzindo a capacidade de gerar força (SANDOVAL et al., 2013;

KAKU; SIMPSON, 2014). A neuropatia associada ao HIV pode dificultar a execução de

exercícios em intensidades moderada alta e alta, por gerar desconforto ao sujeito. Contudo, em

nosso estudo, foram prescritos exercícios resistidos em intensidade alta, e foram observados

ganhos de força significativo a partir do 4º mesociclo em comparação com o 1º mesociclo.

Aponta-se que as semanas iniciais (entre a 8º e 12º semanas) do treinamento os ganhos de força

são prioritariamente relacionados as adaptações neurais, ocorrendo uma estabilização dos

ganhos de força nas semanas seguintes (KRAEMER et al., 2002; FLECK; KRAEMER, 2006).

Os ganhos de força observados no nosso estudo, acompanha os achados da literatura

tanto quando são prescritos treinamento resistidos de forma isolada ou de forma conjunta com

o treinamento aeróbico. Paes et al. (2015) verificou que homens vivendo com HIV/Aids

conseguem desenvolver a força muscular ao longo do primeiro ano de adesão ao treinamento

concorrente, com manutenção da força muscular após este período. Mas os ganhos de força não

são observados somente a longo prazo, a maioria dos estudos com intervenções com treinamento

concorrente variam entre 12 e 24 semanas, e também são observados ganhos significativos de

força muscular (LAZZAROTTO; DERESZ; SPRINZ, 2010).

Os estudos com treinamento concorrente para PVHA tem focado nos modelos de

prescrição do ACSM, onde objetiva a prescrição de exercícios em intensidades moderadas, e de

forma linear (GARBER et al., 2011; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS, 2013). Contudo, a

periodização linear acaba por não abranger o princípio de treinamento de variação de cargas,

fato que a periodização ondulatória objetiva (BARTOLOMEI et al., 2014; PRESTES et al.,

2015). A periodização ondulatória tem se mostrado eficiente no desenvolvimento de adaptações

neuromusculares à curto prazo em outras populações (SOUZA et al., 2014) Em PVHA, Zanetti

et al. (2016), avaliou o efeito do treinamento de força com periodização ondulatória diária sobre

parâmetros da síndrome metabólica (composição corporal, perfil lipídico e glicêmico),

encontrando redução na massa gorda e aumento da massa magra, e melhoras significativas no

perfil lipídico e glicêmico. Em nosso estudo, tal modelo de periodização foi utilizado como

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ferramenta para a indução das adaptações neurais mais rápidas, com o intuito de reverter os

efeitos deletérios da síndrome de wasting e da neuropatia associada ao HIV.

Os resultados do presente estudo devem ser considerados como indicativos importantes

do uso de treinamentos periodizados para PVHA, porém é importante ressaltar que há limitações

nos resultados do estudo. A falta de um grupo controle pode interferir na confiabilidade dos

resultados, mas a ausência do grupo controle é justificada pela dificuldade de se ter um controle

adequado ao grupo de intervenção, pois além da infecção, outros fatores podem interferir, como

o tempo de infecção, classe de medicamentos, faixa etária e hábitos de vida. Além do reduzido

tamanho amostral que pode ser observado no fluxograma de seleção da amostra, onde neste

estudo, houve uma perda amostral relevante (≈ 50%), o que se caso fosse incluído um grupo

controle, poderia refletir em um tamanho amostral ainda menor, o que invalidaria os dados.

Outro fator que poderia potencializar os resultados do estudo é o controle da dieta, pois a

ingestão energética e de macronutrientes principalmente de carboidratos e proteínas, podem

modular modificações na composição corporal e ganho de força(HASHIMOTO et al., 2016;

ZIBELLINI et al., 2016).

8. CONCLUSÃO

A partir dos achados deste estudo, é possível concluir que o treinamento concorrente

após 18 semanas apresentou melhorias no controle autonômico cardíaco, a partir da análise da

variabilidade da frequência cardíaca (domínios da frequência) e pela frequência cardíaca de

recuperação após teste de esforço submáximo. Também foi capaz de induzir o aumento da força

muscular, e a manutenção da composição corporal, com indicativos (effect size fraco a

moderado) de efeito sobre a redistribuição de gordura corporal causada pela lipodistrofia e do

aumento da massa muscular, combatendo os efeitos deletérios da síndrome de wasting.

Considerando os achados do estudo, deve ser indicada a prescrição de treinamentos com

variações de cargas, tal como a periodização ondulatória, por seguir os princípios de treinamento

e segundo a literatura induz adaptações neuromusculares e metabólicas mais rápidas em

comparação aos métodos lineares. Além disso, este método, mesmo atingindo intensidades altas,

não foi capaz de gerar malefícios ao estado de saúde de PVHA.

Page 42: EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO CONTROLE … · VFC – Variabilidade da Frequência cardíaca ... autonômico cardíaco foi avaliado pela variabilidade da frequência cardíaca

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9. REFERÊNCIAS

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ANEXOS

Anexo 1 – Ficha de avaliação cineantropométrica

Anexo 1 – Ficha de avaliação cineantropométrica

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Anexo 2 – Escala de Borg adaptada

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Anexo 3 – Escala OMNI-res para treinamento resistido

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