Disser Ta Cao Me Strado Luis Mauro

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  • Lus Mauro Pereira Freitas Jr.

    ESTUDO DA DINMICA VERTICAL DE UMA

    SUSPENSO VEICULAR DO TIPO MACPHERSON

    Dissertao apresentada Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo, como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Mecnica

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Carlos Felcio

    So Carlos 2006

  • Dedico este trabalho e ao meu Pai (in memoriam) e minha Me ...

  • AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Luiz Carlos Felcio pelo seu empenho, dedicao e fora em fazer-me atingir meu objetivo.

    Tambm quero agradecer ao Prof. Dr. lvaro Costa Neto.

    Gratido especial minha esposa Betnia, pela ajuda, apoio, incentivo e compreenso durante estes dois ltimos anos.

    Sou grato Volkswagen do Brasil por permitir-me dedicao a este a trabalho.

    todos os colegas da Volkswagen e da Escola de Engenharia de So Carlos que ajudaram-me de alguma forma. Obrigado

  • Resumo

    Freitas, Lus M. (2005). Estudo da Dinmica Vertical de uma Suspenso

    Veicular do Tipo MacPherson. So Carlos, 2006. 122 p. Dissertao (Mestrado)

    Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.

    O sistema de suspenso de um veculo desempenha papel fundamental

    na isolao das vibraes provenientes da pista e de outras fontes de

    excitaes e tem como alguns de seus objetivos: melhoria do conforto dos

    passageiros, manuteno da integridade das cargas e das vias (asfalto),

    aumento da segurana, proporcionando melhores condies de aderncia

    pneu-piso, etc.

    A predio do desempenho de um sistema de suspenso veicular antes da

    construo de um prottipo fsico, permite o dimensionamento prvio dos

    componentes que o integram com maior preciso, otimizando-se, desta forma,

    o custo final do produto bem como custos e prazos decorrentes de

    modificaes para solucionar problemas que seriam detectados somente na

    experimentao do prottipo fsico.

    Este trabalho apresenta um comparativo entre os resultados analticos obtidos

    utilizando-se as funes transferncias de um modelo simplificado (ou clssico)

    linear de uma suspenso automotiva de 1/4 de veculo (quarter-car); dos

    obtidos atravs da utilizao de um prottipo virtual do mesmo modelo

    simplificado (ou clssico) de 1/4 de veculo e, por fim, dos obtidos utilizando-se

    um prottipo virtual de um sistema de suspenso do tipo MacPherson, sendo

    que os prottipos virtuais podem trabalhar com no-linearidades.

    So obtidas as respostas dinmicas no domnio da frequncia (0 a 30Hz) e

    tambm no domnio do tempo, neste ltimo caso utilizando-se como entrada

    um pulso no pneu, que simula a passagem do veculo sobre um obstculo a

    18Km/h.

    Os resultados so comparados objetivamente e conclui-se sobre as limitaes

    de utilizao do modelo simplificado (ou clssico) de 1/4 de veculo.

    Palavras-chave: Dinmica Vertical, Modelagem de Suspenses, Suspenso

    Macpherson

  • Abstract

    Freitas, Lus M. (2006). A Study About the Vertical Dynamic of a MacPherson

    Vehicle Suspension System. So Carlos, 2006. 122 p. M. Sc. Dissertation -

    Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, 2006.

    The performance of the suspension system of a vehicle is fundamental to

    isolate the vibrations from road and from other sources and has the following

    objetives: improve the comfort of passengers (ride), protect the cargo and the

    road (asphalt), improve vehicle handling, etc.

    The prediction of the performance of a vehicles suspension system prior to the

    real prototype construction, allows the previous optimization of the design of the

    suspensions components, obtaining a low cost product, in a shorter timming,

    with lower development costs, by solving problems that would be evident only

    during the tests with the real prototype.

    This study presents a comparison between analitycal results obtained by the

    use of transfers functions of a plain or classical linear model of a automotive

    suspension system named quarter-car; the results obtained from a virtual

    prototype of the same plain or classical model and, finally, the results obtained

    from a virtual prototype of a Macpherson suspension system, considering that

    the virtuals prototypes are be able to work with non-linearities.

    The dynamic response are obtained in the frequency domain (0 a 30Hz) and in

    the time domain too, in this last case, with a pulse input in the tire, that

    simulates the car passing over a bump with a speed of 18Km/h.

    Through the comparison of the results is possible to conclude about the

    limitations of the classical model.

    .

    Key words: Ride, Suspension Modeling, Macpherson Suspension

  • Sumrio Resumo iv

    Abstract v

    Cap. 1 Introduo 1

    Cap. 2 Reviso Bibliogrfica 4 2.1 Evoluo dos Estudos sobre Dinmica Vertical 4

    2.2 Principais Tipos de Sistema de Suspenso 21 2.2.1 - Eixos rgidos 21 2.2.2 - Suspenses Independentes 24

    2.3 Principais Componentes dos Sistemas de Suspenso 29 2.3.1 O componente Mola, tipos e caractersticas 31

    2.3.1.1 Mola Semi-elptica (feixe de molas) 31

    2.3.1.2 Mola Helicoidal 34

    2.2.1.3 Mola a Ar ou Pneumtica 40

    2.3.2 Batente ou Mola Auxiliar 41

    2.3.3 O componente Amortecedor, tipos e caractersticas 42

    2.3.3.1 Amortecimento Dependente do Curso 44

    2.3.3.2 Amortecedor utilizado nas Suspenses MacPherson 46

    2.3.4 Os Isoladores, tipos e caractersticas 49

    2.3.5 O Pneu, tipos e caractersticas 54

    2.4 Fundamentos 57 2.4.1 Introduo 57 2.4.2 Resposta Dinmica do Veculo 59 2.4.3 Influncia da Rigidez da Suspenso 62 2.4.4 Influncia do Amortecimento da Suspenso 65

    Cap. 3 Justificativa e Objetivos 67 3.1 Justificativa 67

    3.2 Objetivos 69

  • Cap. 4 Modelagem e Metodologia 70 4.1 - Modelagem 70

    4.1.1 - Modelo Simplificado (ou Clssico) de de Veculo 70

    4.1.1.1 - Modelagem Analtica 70

    4.1.1.2 - Modelagem do Prottipo Virtual relativo ao Modelo Simplificado 75

    4.1.2 - Modelagem do Prottipo Virtual da Suspenso Dianteira Macpherson 77

    4.1.3 - Principais diferenas entre o Modelo Simplificado, o PV MacPherson e o Real 79

    4.1.3.1 - Amortecedor com amortecimento dependente do curso ou posio 80

    4.1.3.2 - Atrito e carga lateral no amortecedor 81

    4.1.3.3 - Mola com Carga Lateral 82

    4.1.3.4 - Interao Pneu x Solo 83

    4.2 - Metologia 85 4.2.1 - Obteno das respostas dinmicas no domnio da frequncia 85

    4.2.1.1 - Metodologia aplicada no Modelo Simplificado (ou Clssico) 85

    4.2.1.2 Prottipo Virtual do Sistema de Suspenso MacPherson 88

    4.2.2 - Obteno das respostas dinmicas no domnio do tempo 89

    Cap. 5 Resultados e Anlises 91 5.1 - Resultados 91 5.1.1 - Resultados no Domnio da Frequncia 91

    5.1.1.1 RF utilizando o Modelo Simplificado Linear e Metdo Analitico 91

    5.1.1.2 - RF utilizando o Prottipo Virtual do Modelo Simplificado Linear 95

    5.1.1.3 - Consideraes sobre as RFs obtidas 96

    5.1.1.4 - RF utilizando o Prottipo Virtual MacPherson 97

    5.1.1.5 Anlise dos Resultados da RF 100

    5.1.1.6 Influncia do Amortecimento No-linear 104

    5.1.1.7 Concluso sobre os Resultados no Domnio da Frequncia 107

    5.1.2 - Resultados no Domnio do Tempo 108

    5.1.2.1 Deslocamento Vertical da Massa Supensa 108

    5.1.2.2 Deslocamento Vertical da Massa No-suspensa 109

    5.1.2.3 Acelerao da Massa Suspensa 111

    5.1.2.4 Acelerao da Massa No-suspensa 112

    5.1.2.5 Fora no Pneu 113

    5.1.2.6 Velocidade de Acionamento do Amortecedor 114

    5.1.2.7 Curso Utilizado do Amortecedor 116

    5.1.2.8 Carga na Mola Auxiliar e Batente 117

    5.1.2.9 Influncia do Amortecimento No-linear 120

    5.1.2.10 Concluso sobre os Resultados no Domnio do Tempo 125

  • Cap. 6 Concluses 126 Referncias Bibliogrficas 128

  • 1

    Captulo 1 - Introduo

    A dinmica vertical (ride) trata do comportamento do veculo e dos seus

    ocupantes quando submetidos a excitaes provenientes do piso em que o

    veculo trafega (externas) ou provenientes do motor, roda, transmisso, etc

    (internas).

    O sistema de suspenso dos veculos desempenha papel fundamental

    na isolao das vibraes resultantes destas excitaes e seus principais

    objetivos so:

    melhoria do conforto dos passageiros; manuteno da integridade das cargas; aumento da segurana, proporcionando melhores condies de

    aderncia no contato pneu-piso

    A eficincia ou o desempenho de um sistema de suspenso em isolar

    vibraes e em propiciar o melhor contato possvel pneu-solo pode ser avaliado

    de forma experimental, utilizando-se um prottipo fsico, mas tambm de forma

    terica, utilizando-se um modelo dinmico.

    Com o auxlio de um modelo dinmico possvel a predio do

    desempenho de um sistema de suspenso antes de sua existncia fsica.

    A predio do desempenho de um sistema de suspenso antes da sua

    construo permite a otimizao e o dimensionamento prvio dos componentes

    que o integram, com maior preciso. So minimizados, desta forma, custos e

    prazos decorrentes de modificaes de componentes para solucionar

  • 2

    problemas que seriam detectados somente na experimentao do prottipo

    fsico.

    A criao de um modelo dinmico que fornea resultados tericos mais

    prximos possveis da realidade sempre foi um grande desafio para os

    engenheiros.

    A evoluo das ferramentas computacionais permite hoje a criao dos

    chamados prottipos virtuais que fornecem predies muito mais precisas e

    prximas da realidade.

    A construo de prottipos virtuais, bem como a execuo de testes

    virtuais, possvel atravs do programa computacional ADAMS (Automatic

    Dynamic Analysis of Mechanical Systems) que utiliza simulao de sistemas

    multi-corpos.

    A construo de prottipos virtuais que forneam predies muito mais

    precisas e prximas da realidade, apesar das vantagens em relao

    prttipos fsicos, demandam recursos financeiros e tempo maiores do que

    modelos dinmicos simplificados.

    Um modelo dinmico clssico, simplificado, generalista - pode ser

    utilizado para variados tipos de suspenso - e bastante conhecido, que

    representa o sistema de suspenso de um veculo, o modelo denominado

    1/4 de veculo (quarter-car) com 2 graus de liberdade.

    Por ser um modelo dinmico simplificado e generalista, apresenta

    resultados cuja congruncia com a realidade pode depender de uma srie de

    caractersticas especficas e intrnsecas ao tipo de suspenso estudado como

    atrito, geometria, topologia dos componentes, no-linearidades, etc., as quais

    so apresentadas no captulo 2 deste trabalho.

    A anlise da influncia destas caractersticas especficas e intrnsecas a

    cada tipo de suspenso permite delimitar o uso do modelo simplificado (ou

    clssico) de 1/4 de veculo.

    Este trabalho apresenta uma anlise da influncia de algumas destas

    caractersticas especficas e intrnsecas a uma suspenso do tipo MacPherson

    de um veculo nacional, atravs da comparao dos resultados analticos

    obtidos utilizando-se as funes transferncias do modelo simplificado (ou

    clssico) de 1/4 de veculo; dos obtidos atravs de um prottipo virtual do

  • 3

    mesmo modelo simplificado e, por fim, dos obtidos utilizando-se um prottipo

    virtual de um sistema de suspenso do tipo MacPherson.

    So obtidas as respostas dinmicas no domnio da frequncia (0 a 30Hz)

    e tambm no domnio do tempo, neste ltimo caso utilizando-se como entrada

    um pulso no pneu, que simula a passagem do veculo sobre um obstculo a

    18Km/h.

    Os resultados so comparados qualitativa e quantitativamente e conclui-

    se sobre a limitao de utilizao do modelo simplificado (ou clssico) de 1/4

    de veculo.

  • 4

    Captulo 2 - Reviso Bibliogrfica

    2.1 Evoluo dos Estudos sobre Dinmica Vertical

    No incio do sculo XX j eram discutidos fenmenos bsicos da

    dinmica vertical. LANCHESTER, em 1907, aborda aspectos da frequncia

    natural no modo vertical, considerando aceitveis valores abaixo de 1.50Hz. A

    necessidade de dissipar energia de forma a eliminar as oscilaes, j era

    evidente e, como a utilizao de amortecedores era recente, LANCHESTER

    apontava como vantajosa a utilizao de feixes de molas, em funo deste

    dissipar de energia devido ao atrito entre as lminas.

    HELE-SHAW ressalta que a importncia de uma suspenso macia vai

    alm do conforto gerado, mas tambm que, por impor menores esforos,

    melhora a durabilidade do veculo e enfatiza a utilizao de amortecedores,

    considerando que a sua ao deve ser somente na trao.

    MAX LAWRENCE tambm enfatiza a ao do amortecedor somente na

    trao e considera importante a relao entre massa suspensa e no-

    suspensa, sendo que quanto menor a massa no-suspensa, menores os

    efeitos que esta ter sobre a massa suspensa. Na opinio de LANCHESTER o

    amortecedor deve atuar tanto na trao como na compresso. Defendia,

    tambm, que no era simples a definio do amortecimento.

    Ainda no incio do sculo, ARCHIBALD SHARP j fala sobre as

    vantagens de utilizao de uma suspenso a ar para automveis, obtendo-se

    desta forma, valores mais baixos para a rigidez vertical.

    Por volta de 1910, LITCHFIELD apresenta seu trabalho sobre

    pneumticos, mostrando o enorme benefcio para o conforto dos passageiros e

  • 5

    chama J. B. DUNLOP para falar de seu invento. J. B. DUNLOP instalou

    pneumticos na bicicleta de seu filho baseado em uma carroa equipada com

    pneumticos, que vira quando criana, em torno de 1845, ano em que R. W.

    THONSON patenteou o pneumtico.

    OLLEY da Rolls-Royce of America, por volta de 1921, aborda aspectos

    sobre as condies das pistas, consideradas de excelente qualidade na

    Inglaterra, de qualidade diversificada na Frana e de m qualidade nos Estados

    Unidos em geral. Com relao s suspenses dos veculos, era predominante

    a utilizao de feixes de molas tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

    Ainda no incio dos anos 20, ROWELL indica algumas limitaes para

    avaliaes de conforto como: determinao deficiente dos critrios de conforto,

    variao dos tipos de pista, difcil caracterizao do pneu e do atrito nas

    suspenses. Lista tambm funes para o sistema de suspenso, como:

    proporcionar conforto aos passageiros, reduzir danos s cargas transportadas,

    reduzir tenses no chassi e otimizar o contato entre pneu e solo. Para avaliar

    essas funes, ROWELL utiliza modelos com complexidade crescente, como

    um modelo de 1 grau de liberdade para mostrar que o comportamento da

    massa suspensa depende da razo entre a rigidez da mola e a massa

    suspensa. Com base nesse modelo, REISSNER argumenta que um veculo

    pequeno pode ser to confortvel quanto um veculo grande.

    ROWELL utiliza um modelo plano para representar os movimentos de

    arfagem e vertical da massa suspensa. proposto um estudo para

    entendimento dos modos e freqncias para avaliar a resposta de massa

    suspensa, pois a diversidade de pistas e a possvel variao de velocidade do

    veculo tornavam difcil a realizao de algo mais complexo. Ao escrever as

    equaes de movimento, observou-se a dependncia entre os movimentos

    vertical e de arfagem.

    Ainda antes dos anos 20, ROWELL j equaciona o modelo de 2 graus de

    liberdade na vertical para representar os movimentos de massa suspensa e

    no-suspensa. Bastante ateno dada para o modo de massa no-suspensa,

    avaliando-se a influncia dessa massa e da rigidez do pneu. Em seguida inclui

    mais 1 grau de liberdade para representar o motorista sobre o assento.

    ROWELL menciona que, apesar do atrito inerente aos feixes de mola

    no ser considerado no seu equacionamento, este de extrema importncia no

  • 6

    comportamento do sistema, pois em algumas situaes a rigidez efetiva ou

    dinmica da mola pode ser at 10 vezes maior do que a nominal devido ao

    atrito. Um mnimo de atrito era necessrio para dissipao de energia e

    atenuao das oscilaes, porm, no deve ser excessivo. ROWELL apresenta

    tambm o componente amortecedor, como uma opo para utilizar molas que

    possuem atrito interno desprezvel, como as helicoidais.

    No final dos anos 20, J. F. PURDY e R. B. DAY ressaltam a importncia

    dos pneus para qualidade final de conforto de um veculo e consideravam o

    valor da amplitude da acelerao vertical como a grandeza adequada para

    avaliaes de conforto, sendo os pneus responsveis por absorver boa parte

    dos choques na direo vertical. Isso motivou a construo de um dispositivo

    para avaliar as propriedades de absoro de choques dos pneus, baseado em

    valores de acelerao vertical resultante no cubo ao passar por um obstculo.

    Como resultado, verificou-se que os maiores choques ocorriam quando o pneu

    encontrava o obstculo e quando voltava a tocar o solo, no caso de perda de

    contato. Verificou-se tambm que quanto menor a rigidez vertical dos pneus,

    maior a capacidade de absoro de choques.

    Em 1928, ROY W. BROWN explicou a necessidade de medies nos

    eixos e no chassi para avaliaes relativas ao conforto. Utilizou medies de

    acelerao para mostrar a reduo nos picos de acelerao ao diminuir-se a

    presso dos pneus (efeito aceito na poca). Sugeriu a utilizao dessas

    medies para avaliar a influncia das molas, dos assentos e dos

    amortecedores na sensao de conforto dos passageiros.

    Em 1930, MOSS realizou testes com motoristas e passageiros, aps

    passarem com veculos por diferentes percursos e distncias entre 240 e 480

    quilmetros. Aps esse perodo de exposio s vibraes no veculo, os

    motoristas apresentaram diminuio da velocidade de reao, reduo da

    capacidade de clculo mental, perda de equilbrio e reduo na capacidade

    sangnea em eliminar o dixido de carbono. MOSS prope a realizao

    desses testes com os motoristas para quantificar a influncia da troca de

    elementos da suspenso no conforto. Verificou-se que os motoristas

    apresentavam alteraes mais pronunciadas do que os passageiros e que as

    manifestaes subjetivas de desconforto eram maiores do que os indicados

    pelos resultados dos testes realizados. Sugeriu-se ento, como concluso do

  • 7

    trabalho, mais estudos para verificar o que mais precisaria ser medido para

    quantificar de forma mais realista o nvel de conforto.

    Em 1932, ROY W. BROWN apresenta outros resultados da influncia da

    rigidez do pneu. Estes resultados mostravam que a rigidez do pneu alterava

    significativamente a freqncia da massa no-suspensa na vertical e pouco

    influenciava na frequncia da massa suspensa. BROWN defendia o uso de

    avaliaes objetivas para verificao de melhorias no conforto do veculo ao

    trocar os elementos da suspenso. Existiam discusses com relao melhor

    grandeza a ser utilizada para essas avaliaes. Alguns grupos sugerem a

    utilizao da acelerao, outros do deslocamento. BROWN sugere a contagem

    dos picos para cada faixa de valores de acelerao.

    Em 1933, O. E. KURT apresenta o desbalanceamento e a variao do

    raio de rolamento de rodas e pneus como formas de excitao do veculo e cita

    os fatores que podem gerar variao no raio de rolamento, incluindo a

    excentricidade do cubo e do aro da roda, a variao da rigidez do pneu para

    cada posio e o prprio desgaste irregular dos pneus. KURT estudou as

    vibraes resultantes na massa no-suspensa e na massa suspensa.

    So apresentados exemplos de veculos com diferentes sensibilidades

    para os fenmenos, necessitando de valores distintos de desbalanceamento e

    variao do raio de rolamento para que a vibrao seja sensvel na massa

    suspensa.

    GEORGES BROULHIET em 1933 apresentou nos EUA a descrio dos

    trabalhos realizados na Frana na rea de dinmica vertical e defendeu a

    importncia da aplicao da teoria de vibraes para o entendimento do

    comportamento do veculo. Tentou-se implantar essa idia na Peugeot e na

    Citren, mas a falta de entendimento por parte dos engenheiros foi um

    obstculo para o progresso.

    BROULHIET j defendia o uso de uma suspenso dianteira

    independente com objetivo principal de eliminar vibraes no sistema de

    direo. Outra vantagem apresentada foi a possibilidade de maior bitola efetiva

    para as molas deste tipo de suspenso, permitindo reduo no valor de rigidez

    das molas sem comprometer o rolamento do veculo em curvas, por no

    reduzir a rigidez ao rolamento. ANDRE DUBONNET ressalta outra vantagem

    das suspenses independentes explicando que, com eixos rgidos, ocorre

  • 8

    variao lateral significativa no contato entre pneu e pavimento, gerando

    elevado deslocamento lateral, o que prejudica a aderncia pneu-solo.

    O modo com movimento vertical da massa suspensa apresentado

    como o responsvel pelo surgimento de ondulaes na pista.

    Com relao suspenso principal, os franceses utilizavam valores de

    deflexo esttica entre 125 e 200mm na dianteira e na traseira entre 200 e

    280mm. As limitaes para o aumento nos valores de deflexo esttica

    estavam no comprometimento do rolamento do veculo em curvas e as grandes

    variaes de carga dos veculos. Os franceses tambm defendiam a

    eliminao do atrito nas suspenses sendo que amortecimento viscoso com

    maior atuao na trao, indicado para substituir o atrito seco.

    O engenheiro MAURICE OLLEY da Cadillac Motor Car Company,

    descreve em 1934, alm dos modos de massa suspensa e no-suspensa, um

    modo com toda massa do veculo oscilando sobre os pneus, no caso da

    existncia de alto nvel de atrito na suspenso. Os valores de freqncia

    observados para esse modo variam de 4,2 a 5,8 Hz.

    OLLEY em 1943, agora atuando na Rolls-Royce da Inglaterra, baseado

    em sua experincia e tambm em estudos elementares, verifica que carros de

    pequeno porte requerem valores menores de deflexo esttica nas

    suspenses. Deflexes semelhantes para um veculo de entre eixos longo e

    outro de entre eixos curto pode comprometer algumas caractersticas desse

    ltimo, como, por exemplo, mergulho em frenagem.

    Essa reduo na deflexo esttica dos veculos de pequeno porte

    alterava, mas no comprometia totalmente o conforto do veculo, pois o valor

    do ndice dinmico desses veculos era prximo da unidade.

    Outra vantagem de veculos de maior porte o fato da variao no

    nmero de passageiros ter menor influncia na massa total do veculo e,

    portanto, a variao no conforto com a variao na quantidade de passageiros

    menor do que em um veculo de porte menor.

    Sobre o conjunto motor-cmbio, o qual tem massa e dimenses

    significativas, OLLEY considera que aparentemente no existem possibilidades

    de melhoria em alterar sua localizao, entre as rodas dianteiras do veculo.

  • 9

    No ano seguinte, 1944, OLLEY faz especulaes sobre as tendncias

    dos veculos americanos no ps-guerra, alm das discusses apresentadas no

    ano anterior, mencionando que uma reduo de massa nesses veculos era

    algo fcil de ser obtido, em funo da grande quantidade de adornos

    desnecessrios existentes.

    Em 1946, atuando na Vauxhall Motors, OLLEY apresenta outro trabalho

    sobre vrios aspectos da dinmica lateral e vertical do veculo. Utilizando um

    modelo de 2 graus de liberdade, descreve os modos de massa suspensa, no-

    suspensa e o modo em que toda massa do veculo oscila sobre os pneus no

    caso de existncia de atrito excessivo no sistema de suspenso.

    A ocorrncia de saltos das rodas do veculo, excitao do modo com

    movimento predominante vertical da massa no-suspensa, respondia de modo

    diferente durante a acelerao e a frenagem. A freqncia desse modo era de

    aproximadamente 10 Hz para os veculos da poca. Durante a acelerao, a

    amplificao dos valores de acelerao da massa no-suspensa, ocorria

    prxima a essa freqncia. No entanto, durante uma frenagem, as

    amplificaes persistiam at aproximadamente 7.5 Hz.

    A ocorrncia de saltos das rodas do veculo pode existir em qualquer

    pista onde as irregularidades excitem o modo de massa no-suspensa. Apesar

    de tratar separadamente alguns fenmenos de conforto e dirigibilidade, OLLEY

    considera necessrio o veculo apresentar um bom compromisso entre ambos.

    BASTOW, em 1951, comenta sobre a mudana de eixo rgido para

    suspenso independente na dianteira que ocorreu nos ltimos 20 anos e

    acrescenta que h vantangens para uma suspenso independente tambm na

    traseira, entre elas a melhoria no conforto do veculo em funo da reduo na

    razo entre massa no-suspensa e suspensa. Com a suspenso independente

    na traseira obtm-se reduo na massa no-suspensa pois, o diferencial fixo

    massa suspensa, as molas helicoidais ou barras de toro so mais leves

    que os feixes e o conjunto de freios pode ser acoplado diretamente ao

    diferencial. Isso possibilitou uma reduo de 50 % no valor da massa no-

    suspensa. Como conseqncia obteve-se melhor conforto e menor variao

    das foras de contato entre pneu e solo. Outra vantagem da suspenso

    independente na traseira a necessidade de menor espao para instalao do

    que o requerido pela suspenso de eixo rgido.

  • 10

    BASTOW menciona a maior liberdade de escolha de amortecedores a

    partir da reduo no valor da massa no-suspensa. Defende tambm a

    reduo do atrito visando melhorar o conforto em pistas de boa qualidade.

    OLLEY participou de discusses defendendo a no necessidade de

    utilizao de suspenses independentes na traseira, acreditando que a

    suspenso do tipo DeDion seria a melhor opo.

    Alguns questionamentos foram feitos como o de J. R. RIX e o de A.

    DUDLEY sobre a necessidade de amortecimento adicional ao trocar os feixes

    de molas por molas helicoidais ou barras de toro, o de D. F. WARD sobre a

    existncia de alguma forma para clculo do valor de amortecimento necessrio

    e o de P. BAILEY que diz no ser possvel obter um coeficiente de

    amortecimento adequado para as condies de veculo carregado e vazio.

    BASTOW, no entanto, explica que, segundo sua experincia, o

    amortecimento parte necessria em uma suspenso e que melhores

    resultados eram obtidos com fludo do que com atrito. Como os feixes de molas

    dissipavam mais energia do que as molas helicoidais, ao introduzir uma

    suspenso independente com molas helicoidais, o elemento amortecedor

    torna-se mais crtico, mas no se podia rejeitar esse tipo suspenso por esse

    motivo.

    BASTOW tambm comenta que existem dvidas se todo conhecimento

    sobre a questo est disponvel a ponto de se calcular o valor de

    amortecimento ideal para o sistema de suspenso e que uma das grandes

    dificuldades, realmente propiciar uma quantidade de amortecimento que

    satisfaa todas as condies de carga e variaes de rigidez em funo do

    curso de trabalho. No entanto, verifica-se que, se os amortecedores forem

    inadequados, pode-se comprometer o conforto e o contato entre pneu e solo.

    BASTOW disse que, com a introduo de uma suspenso independente

    traseira, ocorre reduo na massa no-suspensa e afirma que isso gera uma

    melhoria no conforto do veculo.

    DEN HARTOG discute vrios exemplos de sistemas mecnicos que

    podem ser representados por modelos de poucos graus de liberdade em seu

    livro sobre vibraes mecnicas, explicando as funes das molas e

    amortecedores da suspenso de um veculo. HARTOG comenta que no

    parecem ser racionais as teorias e argumentos dados pelos fabricantes como

  • 11

    justificativa para a prtica de curva de trao dos amortecedores de

    automveis mais acentuadas do que a curva de compresso.

    Em 1955 COX cita alguns fenmenos considerados complexos para

    avaliao da dinmica vertical de veculos como: caractersticas no lineares

    das molas e dos pneus, amortecimento significativo presente nos modos de

    vibrar, dificuldade de obteno dos valores de momentos de inrcia da massa

    suspensa e da massa no-suspensa. COX acrescenta que apesar destas

    dificuldades, possvel entender caractersticas globais do comportamento

    dinmico na vertical do veculo atravs de modelos simples, contendo corpos

    rgidos, molas lineares e amortecimento proporcional velocidade. COX utiliza

    um modelo de 2 graus de liberdade para apresentar os efeitos dos modos de

    vibrar de massa suspensa e no-suspensa na transmissibilidade de vibraes

    entre pista e veculo.

    Tambm apresentada a necessidade de amortecimento para atenuar

    os picos de transmissibilidade prximos s freqncias dos 2 modos e a

    conseqncia da introduo do amortecimento para freqncias acima de

    10Hz.

    COX tambm apresenta o equacionamento para o modelo plano de 2

    graus de liberdade que representa o movimento vertical e o de arfagem da

    massa suspensa.

    As investigaes de COX tinham como principal objetivo o entendimento

    dos esforos impostos sobre a pista durante a passagem por um obstculo que

    excitava predominantemente o modo de vibrar da massa no-suspensa.

    Verificaram-se 2 picos com valores significativos de esforos, quando o pneu

    encontra o obstculo e quando o pneu retoma ao solo aps a perda de contato.

    Em ambos os picos os valores de fora normal chegaram ao dobro do valor

    esttico. COX sugere um amortecedor com maior atuao na trao do que na

    compresso visando reduzir esses 2 picos de fora.

    Com base no trabalho de COX, BASTOW expe o seguinte: a relao de

    deflexes entre a suspenso dianteira e a traseira deve ser feita de forma a

    minimizar o movimento de arfagem. A rigidez deve ser a menor possvel sem

    prejudicar outras caractersticas do veculo. O passo seguinte selecionar o

    amortecimento que proporcione maior conforto. Aps isso pode existir a

    necessidade de aumentar o amortecimento visando manter os pneus em

  • 12

    contato com o solo para manter boa aderncia durante curvas e frenagens em

    pavimento irregular. Uma das vantagens da reduo da massa no-suspensa

    a menor quantidade de amortecimento necessrio para manter os pneus em

    contato com o solo, melhorando o conforto como conseqncia.

    OLLEY, atuando na Chevrolet Motor Division, em 1955, apresenta um

    trabalho sobre suspenses de veculo comerciais, no qual so mostradas

    vantagens e desvantagens dos feixes de molas, suspenses pneumticas e

    suspenses com elementos de borracha.

    A maior desvantagem dos feixes de molas refere-se ao fato de que,

    apesar de ser possvel a obteno do valor adequado de freqncia para a

    condio de veculo carregado, este valor eleva-se significativamente com a

    reduo da carga do veculo. apresentada ento uma das grandes vantagens

    da suspenso pneumtica sobre a de feixe de molas, que a de manter o valor

    de freqncia aproximadamente constante independente da variao da carga

    do veculo. OLLEY tambm apresenta alguns conceitos de suspenses

    dianteiras independentes e traseiras de eixo rgido para nibus, nas quais

    utilizavam-se elementos cilndricos de borracha de grandes dimenses para

    conectar os elementos da suspenso na estrutura do veculo.

    KROTZ, em um trabalho anterior, apresenta valores de freqncia dos

    modos de massa suspensa de um nibus, para o qual foram utilizados

    elementos de borracha nas suspenses. Estes valores so de 1,23Hz para a

    dianteira e de 1,15Hz para traseira com o veculo vazio, e 1,03Hz e 1,00Hz

    respectivamente para a dianteira e traseira com o veculo carregado. Segundo

    KROTZ, estes valores caractersticos para as frequncias naturais, somado a

    baixo nvel de atrito no sistema de suspenso, proporciona grande conforto.

    KROTZ ainda acrescenta que, quando esses elementos de borracha so

    utilizados tambm para proporcionar a rigidez longitudinal e lateral das

    suspenses, consegue-se filtrar efetivamente as vibraes de mais alta

    freqncia, resultando em um veculo de menor aspereza e mais silencioso.

    A. E. MOULTON e P. W. TURNER, em 1956, tambm apresentaram

    elementos de borracha para servir como o componente elstico principal das

    suspenses primrias. Diversas configuraes construtivas foram

    apresentadas, com elementos trabalhando em compresso e cisalhamento.

    Citou-se o exemplo de um veculo leve com elementos de borracha que

  • 13

    proporcionavam deflexes estticas de at 127mm na dianteira e at 90mm na

    traseira. Os autores consideravam os elementos de borracha apropriados para

    as suspenses primrias dos automveis e podiam tomar o lugar das molas de

    ao. No entanto, surgiram discusses sobre a vida desses elementos e sobre a

    possibilidade de suportar altas cargas e grandes deflexes simultaneamente.

    No final dos anos 50, ELLIS apresenta o contedo dos trabalhos

    realizados por estudantes da ASAE (Advanced School of Automobile

    Engineering) em Cranfield. Entre outros estava a anlise do fenmeno de salto

    das rodas com condies de excitao que resultavam em perda de contato

    entre pneu e solo. Utilizou-se ento um modelo de 2 graus de liberdade de 1/4

    de veculo para avaliao deste fenmeno. Os elementos mola e amortecedor

    eram lineares, no entanto era previsto no modelo o efeito da perda de contato

    com o solo. Os resultados foram considerados satisfatrios, mas as diferenas

    entre os resultados fornecidos pela simulao e os experimentais eram

    perceptveis. Utilizou-se tambm um modelo plano de 4 graus de liberdade

    para representar o movimento vertical e o de arfagem da massa suspensa e os

    movimentos verticais da massa no-suspensa. Visando validar esse modelo, o

    veculo foi excitado nas regies dianteira e traseira, obtendo-se como resultado

    picos nas freqncias de 2.5, 3.0, 3.5, 5.0, 6.0 e 7.0 Hz. Com base no nmero

    maior de picos do que de graus de liberdade do modelo, chegou-se s

    seguintes explicaes:

    1- A excitao foi de baixa amplitude podendo no ser suficiente para

    que as molas trabalhassem durante todo o teste. Desta forma pode-se obter

    vrios modos de vibrar com o veculo oscilando sobre as molas ou sobre os

    pneus;

    2- Foram excitados modos de vibrar com movimento predominante do

    motor. Como proposta de continuao desse trabalho, sugeriu-se a modelagem

    com maior nmero de graus de liberdade, incluindo a movimentao vertical do

    motor, e a representao dos efeitos de atrito nas suspenses primrias;

    Ainda na dcada de 50 foram apresentados trabalhos importantes

    relativos suspenso do conjunto motor e cmbio. Os trabalhos de ANON em

    1953, HARRISON em 1956 e HOROVITZ em 1957, deixam clara a importncia

    do conhecimento da teoria de vibraes para facilitar a determinao da

    coxinizao do conjunto.

  • 14

    Os histricos apresentados por ANON e HARRISON explicam o motivo

    dos primeiros veculos motorizados apresentarem o motor fixo diretamente

    estrutura. Para os motores estacionrios tinha-se a prtica de fixao mais

    rgida possvel nas fundaes (ancoramento) e essa prtica foi mantida para

    nos primeiros veculos motorizados. Porm os resultados indesejveis de

    vibrao do chassi obtidos com essa prtica fizeram surgir fixaes mais

    flexveis para suportar o motor. ANON defende que as freqncias naturais do

    motor sobre seus coxins devem ser as mais baixas possveis, pois o objetivo

    principal da coxinizao proporcionar isolamento da estrutura do veculo das

    vibraes provenientes do motor. A introduo dos coxins fez com que o motor

    deixasse de atuar como um elemento estrutural do chassi, mas essa

    desvantagem foi mais do que compensada pelo isolamento de vibraes

    obtido.

    HARRISON e HOROVITZ mencionam que existem limites para reduo

    da rigidez, pois os coxins devem suportar excitaes provenientes de

    obstculos na pista e tambm do torque do motor.

    Em 1961 foram apresentados resultados de um estudo sobre a variao

    radial dos pneus durante o rolamento. Esse estudo surgiu da necessidade de

    se prever, durante a produo, caractersticas dos pneus relacionadas s

    vibraes resultantes em veculos, principalmente porque a qualidade das

    pistas estava melhorando. A variao radial durante o rolamento causada por

    variaes de dimenses e por variaes na rigidez radial ao longo de seu

    permetro. Inicialmente, tinha-se a idia de que a baixa rigidez das suspenses

    na vertical poderia garantir o isolamento suficiente para freqncias prximas

    freqncia de massa no-suspensa, no entanto concluiu-se que, devido ao

    amortecimento do sistema, a transmisso de vibraes era sensvel. Para

    verificar a variao da altura do centro da roda durante o rolamento do pneu,

    fez-se necessrio construir um dispositivo para medio desta caracterstica.

    Nesse dispositivo a rotao angular durante as medies possua freqncia

    17 vezes menor do que a primeira freqncia natural do sistema. Como

    resultado, obteve-se as curvas de variao radial durante o rolamento para

    pneus de automveis e tambm a composio desse sinal em suas primeiras

    harmnicas. Verificou-se que apenas as 3 primeiras harmnicas apresentavam

    amplitude significativa.

  • 15

    As medies foram realizadas para vrios conjuntos de pneus, utilizados

    posteriormente em veculos para avaliaes subjetivas. Estabeleceu-se, desta

    forma, como critrio, que a componente de 1. harmnica no devia exceder

    0.50mm na produo para evitar o surgimento de vibraes indesejveis em

    veculos de passeio.

    Em 1984, BEST relata alguns dos aspectos bsicos da dinmica do

    veculo relativa dinmica vertical, principalmente com relao aos modos de

    vibrar com movimento vertical e de arfagem da massa suspensa. BEST utilizou

    um modelo computacional que representava o movimento vertical, o de

    rolagem e o de arfagem da massa suspensa e os movimento verticais da

    massa no-suspensa. Esse um dos raros trabalhos da literatura que

    apresenta resultados relativos ao fenmeno de filtro de entre eixos.

    SHARP e CROLLA apresentaram, em 1987, uma reviso bibliogrfica

    sobre a utilizao do modelo de 1/4 de veculo para avaliao da suspenso

    com relao a conforto, reduo da variao na fora de contato pneu-solo e

    reduo nos esforos transmitidos carroaria. Esse modelo proporciona uma

    boa representao dessas propriedades quando se tem simetria das condies

    de excitao entre o lado esquerdo e o direito, suspenses longitudinalmente

    independentes e ndice dinmico igual a um. No entanto, o efeito de filtro de

    entre eixos no representado por esse modelo.

    Utilizou-se a Densidade Espectral Mdia Quadrada do deslocamento de

    um perfil de pista como fonte de excitao. Optou-se pelo modelo de ROBSON

    com duas inclinaes distintas na faixa de 0.01 a 10 ciclos/m. No entanto, os

    autores ressaltaram que para uma avaliao completa do sistema de

    suspenso, seria necessria tambm a considerao de excitaes transientes

    do tipo de buracos e lombadas, alm de excitaes regularmente espaadas,

    em funo da forma construtiva, como emendas em pontes ou em estradas de

    concreto.

    Para uma determinada severidade de pista, o nvel de conforto

    melhorado ao reduzir a rigidez da suspenso primria. No entanto, para

    determinado valor de rigidez, o amortecimento para melhor conforto menor

    do que o necessrio para minimizar a variao de fora normal. Portanto, ao

    reduzir a rigidez, a diferena entre o valor timo de amortecimento para

    conforto e para variao de fora normal, aumenta.

  • 16

    Alm das discusses apresentadas existem as restries quanto ao

    espao de trabalho. Se os parmetros da suspenso forem definidos para uma

    pista de boa qualidade, essa pode apresentar problemas de espao de trabalho

    para pistas ruins.

    A linearidade considerada nos clculos no representa adequadamente

    as condies de ocorrncia de batentes, perda de contato entre pneu e

    pavimento e as caractersticas no lineares de molas e amortecedores. Mesmo

    para pistas de boa qualidade, a melhor configurao para conforto pode

    apresentar desvantagens como: rigidez insuficiente para todas as condies de

    carga, rolamento excessivo em curvas e prejuzos na dirigibilidade.

    Em 1988, HROVAT utilizou um modelo 2 graus de liberdade (meio

    veculo) para avaliar a influncia da massa no-suspensa e do amortecimento

    da suspenso primria, no conforto e no contato pneu solo. Utilizou-se para

    descrever a pista a Densidade Espectral Mdia Quadrada da velocidade de

    rudo branco, multiplicada pela velocidade do veculo, para a obteno da

    entrada do modelo.

    A rigidez vertical do pneu e da mola primria, bem como o valor da

    massa suspensa, foram parmetros mantidos constantes. O valor da massa

    no-suspensa e o coeficiente de amortecimento foram variados verificando-se

    suas influncias no valor da Raiz Mdia Quadrada da acelerao da massa

    suspensa e no deslocamento relativo entre eixo e pista.

    HROVAT conclui que fatores de amortecimento entre 0,2 e 0,4, para o

    modo de vibrar com movimento predominante de massa suspensa,

    proporcionam os melhores resultados para os dois critrios, conforto e contato

    pneu solo.

    Ao manter constante o fator de amortecimento, pouca melhoria obtida

    no conforto ao reduzir o valor da massa no-suspensa. No entanto, para

    menores valores de massa no-suspensa, menores valores de fator de

    amortecimento so necessrios para garantir o contato pneu solo. E, ao reduzir

    o fator de amortecimento, obtm-se melhoria no conforto.

    Em 1991, um estudo realizado no Japo entre a Isuzu e a NHK visou o

    entendimento das propriedades de feixes de molas que influenciam em seu

    ciclo de histerese. O objetivo principal foi identificar as caractersticas que

    influenciam na rigidez efetiva do feixe quando sujeito a excitaes de pequena

  • 17

    amplitude. Nesse trabalho o valor da rigidez efetiva foi descrito como a

    inclinao da zona de transio do ciclo de histerese. Utilizando-se feixes

    trapezoidais com lminas de mesmo comprimento e contato apenas nas

    extremidades, foram apresentados resultados de rigidez efetiva 4 vezes maior

    que a rigidez nominal do feixe. A maior contribuio desse trabalho foi a

    descoberta de que o valor de rigidez efetiva depende da deformao elstica

    em regies prximas ao contato entre as lminas e no de pequenos

    escorregamentos entre as lminas.

    Para se chegar a esse resultado foram realizados testes em laboratrio

    com medies da curva de fora por deslocamento e de valores de deformao

    ao longo das faces superior e inferior das lminas. Esse trabalho apresentou

    tambm uma descrio sobre quais tipos de olhais para as extremidades da

    mola e quais formas construtivas prximas regio de contato propiciam

    reduo no valor de rigidez efetiva do feixe, mesmo sem a eliminao do

    contato metal-metal. Os feixes testados em laboratrio foram implementados

    em veculo para avaliaes de conforto. Comprovou-se que menores valores

    de rigidez efetiva proporcionavam menores amplitudes da Densidade Espectral

    Mdia Quadrada da acelerao da massa suspensa.

    SHARP e PILBEAM apresentaram, em 1993, um estudo sobre a

    resposta da massa suspensa de um veculo, com base em um modelo

    computacional plano de 4 graus de liberdade, com movimento vertical e o de

    arfagem da massa suspensa e os movimentos verticais dos eixos.

    As mtricas utilizadas para avaliao foram o deslocamento angular de

    arfagem e os valores de acelerao vertical da massa suspensa medidos em

    seu centro de gravidade. Tomando-se uma configurao de veculo com ndice

    dinmico igual unidade e freqncias bsicas e fatores de amortecimento

    iguais nas regies dianteira e traseira, chegou-se s seguintes concluses,

    com base nos valores de amplitude de funes transferncia:

    - Para velocidades superiores a 10 m/s, quando a razo entre

    freqncias bsicas traseira e dianteira for maior que 1, reduz-se a resposta

    em arfagem com pequeno compromisso da resposta vertical no centro de

    gravidade;

    - Para velocidades inferiores a 10 m/s, a resposta vertical no centro de

    gravidade melhora quando a razo entre freqncias bsicas traseira e

  • 18

    dianteira for maior que 1, existindo pequena deteriorao da resposta de

    arfagem;

    - Realizando-se simulaes para diversas velocidades do veculo e

    alterando-se o valor do momento de inrcia de massa em relao ao eixo Y

    (Iyy), constatou-se que valores de razo entre freqncias bsicas traseira e

    dianteira entre 1.1 e 1.25 proporcionam as menores amplitudes de resposta de

    arfagem da massa suspensa.

    Para resposta transiente ao passar por uma onda cossenoidal de

    durao igual a 0.5 s, visando excitao dos modos de vibrar de massa

    suspensa, verificou-se que a troca dos amortecedores lineares por bi-lineares,

    com coeficiente de amortecimento de trao igual ao triplo do da compresso,

    praticamente no altera o comportamento de resposta da massa suspensa. Os

    autores enfatizaram, no entanto que, no a somente amplitude do

    deslocamento angular em arfagem a responsvel pelo desconforto sentido

    pelos passageiros, mas sim as amplitudes da oscilao longitudinal elevadas

    que este deslocamento angular gera em passageiros em posio elevada no

    veculo. Em 1996 foi apresentado um trabalho, realizado em conjunto pela Ford

    Motor Company, Ohio State University e S.E.A., sobre a construo de um

    dispositivo para determinao das propriedades de inrcia das massas

    suspensa e no-suspensa de um veculo. A motivao para esse

    desenvolvimento foi a necessidade dessas informaes para a realizao de

    simulaes na rea de dinmica de veculos. Um dos grandes benefcios desse

    novo dispositivo foi a possibilidade de determinao dessas propriedades sem

    desmontar o veculo. Os resultados obtidos foram os valores de massa,

    localizao do centro de gravidade, momentos e produtos de inrcia. Eram

    necessrias medies para vrias atitudes de suspenso. Os resultados

    apresentaram maior preciso para as propriedades de massa suspensa.

    LEDESMA realizou, em 2002, um comparativo entre 3 tipos de

    suspenses com relao ao conforto. A principal diferena entre as

    suspenses eram relativas ao elemento elstico utilizado na vertical:

    1) Suspenso com feixe de molas de diversas lminas;

    2) Suspenso com mola de lmina nica;

  • 19

    3) Suspenso pneumtica.

    O comparativo foi realizado atravs de ferramentas de simulao

    computacional utilizando-se o programa ADAMS (Automatic Dynamic of

    Mechanical Systems). Como fonte de excitao utilizou-se um perfil de pista e

    uma excitao singular (impulso simulando a passagem por uma lombada). As

    respectivas mtricas para avaliao do conforto foram valores da Raiz Mdia

    Quadrada e valores de pico da acelerao vertical em pontos da massa

    suspensa. Os resultados mostraram que a suspenso de lmina nica

    apresentou melhor conforto do que a suspenso com feixe de vrias lminas. A

    suspenso pneumtica proporcionou o melhor conforto quando comparada

    com as demais.

    Em 2003, O. T. PERSEGUIM, E. PERES e C. G. FERNANDES

    realizaram avaliaes de conforto de um veculo utilitrio (camionete) utilizando

    simulao computacional, medies experimentais e avaliaes subjetivas. O

    modelo computacional em ADAMS representou as suspenses primrias, as

    coxinizaes de motor e de cabina e a flexibilidade do chassi. Foram

    elaboradas vrias propostas de alteraes na suspenso primria do veculo

    visando reduzir as freqncias e fatores de amortecimento dos modos de

    massa suspensa. O trabalho tambm avaliou as caractersticas no lineares

    dos batentes de fim de curso da suspenso primria. Como resultado obteve-

    se melhoria significativa no nvel de conforto do veculo tanto objetiva como

    subjetivamente.

  • 20

    Concluses

    A reviso bibliogrfica apresentada nesse captulo permite as seguintes

    concluses:

    - Apesar da busca por conforto ser antiga (carruagens puxadas por

    cavalos j possuam molas para filtrar parte das excitaes de pista e

    melhorar o conforto), somente a partir de 1900, surgiram os primeiros

    trabalhos que utilizaram equacionamento matemtico para avaliao do

    conforto em um veculo;

    - A grandeza acelerao a mais adequada para quantificao do

    conforto;

    - A teoria de vibraes mecnicas foi amplamente utilizada no

    desenvolvimento da teoria relativa dinmica vertical de veculos;

    - Um processo crescente de entendimento da dinmica vertical e

    sua influncia no conforto, ocorreu durante o sculo XX, sendo

    acompanhado pelo aumento da complexidade de modelos matemticos

    para representao das diversas caractersticas do veculo determinantes

    no conforto do veculo. Os primeiros trabalhos utilizaram modelos de 1 grau

    de liberdade para avaliar a influncia da mola na resposta de acelerao do

    veculo. Atualmente so utilizados modelos que podem representar

    caractersticas como a flexibilidade e no linearidades de componentes da

    suspenso.

  • 21

    2.2 Principais Tipos de Sistemas de Suspenso

    Considera-se que o conhecimento sobre os sistemas de suspenso e de

    seus componentes seja fundamental para o estudo da dinmica vertical dos

    veculos.

    Por esta razo, so apresentados abaixo vrios tipos de sistemas

    existentes, mostrando que o surgimento destes vrios tipos de suspenso foi

    impulsionado pela busca por maior conforto e segurana.

    2.2.1 Eixos Rgidos

    Segundo GILLESPIE, o primeiro sistema de suspenso, usado em

    carruagens, utilizava molas semi-elpticas (feixe de molas),

    Tem como vantagens simplicidade de construo, robustez e baixo

    custo. Foi utilizada at por volta da dcada de 60 em veculos de passeio

    (suspenso traseira) e ainda hoje usada em veculos comerciais.

    Normalmente as molas semi-elpticas eram aplicadas em eixos rgidos

    sendo que a configurao mais conhecida a Hotchkiss onde um par de molas

    semi-elpticas montado longitudinalmente em um eixo rgido conforme mostra

    a figura 2.1.

    Figura 2.1 Eixo rgido com molas semi-elpticas

  • 22

    Suas caractersticas (ver detalhes no item 2.3.1.1) dificultavam o uso

    deste sistema em veculos de passageiros onde o conforto e dirigibilidade so

    primordiais.

    Melhores resultados no aspecto conforto, rudo, vibrao e aspereza s

    comearam a ser obtidos com sistemas que passaram a utilizar molas do tipo

    helicoidal (ver detalhes no item 2.3.1.2).

    Com o advento das molas helicoidais com amortecedor em separado,

    abriram-se muitas possibilidades de novos tipos de sistemas de suspenso.

    Apesar de mais caros que o sistema com molas semi-elpticas, foram

    criados diversos sistemas de suspenso, onde era possvel a utilizao de

    molas helicoidais.

    A seguir so descritos alguns destes tipos de suspenso.

    A figura 2.2 ilustra uma suspenso de quatro barras, utilizada nas

    dcadas recentes em carros de passageiros de grande porte, com eixos

    traseiros rgidos.

    Figura 2.2 Suspenso de quatro barras

    A figura 2.3 ilustra outro esquema chamado de suspenso De Dion. Esta

    tem a vantagem de diminuir a massa-no-suspensa, pois o diferencial passa a

    ser massa-suspensa. So possveis duas configuraes: uma com semi-exos

    com estriados deslizantes e outra com tubo deslizante.

    Barras

  • 23

    Segundo GILLESPIE, sua principal desvantagem est no fato de poder

    haver adio de atrito ao sistema em funo da necessidade de haver semi-

    eixos com estriados deslizantes ou um tubo deslizante.

    Semi-exos com estriados deslizantes Tubo deslizante

    Figura 2.3 Configuraes da Suspenso De Dion

  • 24

    2.2.2 Suspenses Independentes

    As suspenses independentes se diferenciam das de eixo rgido pelo

    fato do movimento vertical de uma roda no interferir no movimento da roda

    oposta, de um mesmo eixo. Tambm tem a vantagem de prover maior rigidez

    rolagem relativamente rigidez vertical.

    A figura 2.4 mostra um dos mais simples e econmicos projetos de

    suspenso dianteira independente, foi a brao-de-arrasto (trailing-arm) usada

    pela Volkswagen e Porsche por volta da II Guerra Mundial a qual utilizava dois

    feixes de molas submetidos torso montados transversalmente (GILLESPIE).

    Figura 2.4 Suspenso Brao-de-Arrasto

    A suspenso brao curto e longo (Short-Long Arm) ou bandeja dupla

    em A (Double-A-Arm), foi muito utilizada na suspenso dianteira dos veculos

    americanos aps a II Guerra, figura 2.5.

    Figura 2.5 Suspenso Bandeja Dupla em A

    brao longo

    brao longo

  • 25

    A suspenso traseira multi-barra (multi-link) caracteriza-se pela

    utilizao de articulaes nas conexes existentes nas pontas das barras, o

    que elimina os momentos fletores, figura 2.6 (GILLESPIE).

    Figura 2.6 Suspenso traseira multi-barras

    A suspenso traseira brao-de-arrasto (trailing-arm) foi utilizada em

    veculos de alta performance e de maior custo como o Corvette americano,

    figura 2.7.

    O brao-de-arrasto absorve foras longitudinais e momentos de

    frenagem e acelerao. O semi-eixo serve como um brao de controle superior,

    alm de transmitir torque de trao s rodas e, uma simples barra serve como

    brao inferior (GILLESPIE).

    Figura 2.7 Suspenso traseira Brao-de-Arrasto Verso com mola semi-elptica

    Articulaes

    Articulaes

    braos de arrasto

    brao inf.

    Semi-eixo

    brao inf.

  • 26

    Esta suspenso tem a vantagem de reduzir a massa no-suspensa, pois

    o diferencial faz parte da massa-suspensa.

    A suspenso traseira semi-brao de arrasto (semi-trailing arm)

    popularizou-se nos carros da BMW e Mercedez Benz, figura 2.8.

    Figura 2.8 Semi-brao de arrasto

    Outro tipo bastante conhecido e muito popular de suspenso, utilizado

    na traseira pela Volkswagen e Porsche por volta da II Guerra Mundial, foi a

    brao oscilante (Swing-arm) onde as rodas descrevem arcos. As molas so

    barras de torso montadas transversalmente, uma para cada lado, figura 2.9.

    Figura 2.9 Semi-brao de arrasto

    Em curva

    Centro de rolagem

    Eixos de pivotamento

  • 27

    A suspenso MacPherson atualmente uma das mais utilizadas na

    dianteira de veculos de passeio de pequeno e mdio porte, com trao

    dianteira, figura 2.10.

    Figura 2.10 Suspenso Dianteira MacPherson

    Idealizada por Earle S. MacPherson uma derivao da suspenso de

    bandeja dupla em A, figura 2.5, na qual a bandeja superior foi eliminada

    (REIMPELL, STOLL & BETZLER).

    A fixao superior do amortecedor, que do tipo hidrulico telescpico,

    feita direto na carroaria ou chassi. O amortecedor, alm de gerar carga axial

    de sentido contrrio ao da velocidade de oscilao da roda, passa a suportar

    cargas lateral e longitudinal.

    A fixao inferior do amortecedor feita rigidamente direto na manga de

    eixo. Segundo GILLESPIE, uma das maiores vantagens da suspenso

  • 28

    MacPherson a facilidade de montagem e o espao livre para o motor quando

    montado na posio transversal.

    Por ter suas fixaes no chassi ou na carroaria separados, este

    conceito bem adaptado a veculos com carroaria monobloco. O sistema

    possui poucos componentes e distribui bem as cargas da suspenso.

    Ainda segundo GILLESPIE, uma desvantagem a grande altura do

    conjunto que limita o projetista de carroaria havendo necessidade de maiores

    alturas da parte frontal do veculo.

    Em uma configurao diferente, pode tambm ser utilizada na

    suspenso traseira, figura 2.11.

    Figura 2.11 Suspenso Traseira MacPherson

  • 29

    2.3 Principais Componentes dos Sistemas de Suspenso

    Adicionalmente ao que foi apresentado no item 2.2, importante uma

    abordagem sobre os principais componentes dos sistemas de suspenso e

    suas caractersticas, sempre com o foco no estudo da dinmica vertical.

    No so abordadas somente caractersticas de componentes utilizados

    nas suspenses MacPherson, mas tambm as de componentes utilizados em

    outros tipos de suspenso, o que permite melhor conhecimento das

    caractersticas que influenciam no comportamento dinmico do sistema de

    suspenso e do veculo.

    Os principais componentes de uma suspenso so as molas (principal e

    auxiliar ou batente), o amortecedor e os isoladores ou coxins, estando estes

    presentes na maior parte dos sistemas de suspenso atuais.

    Como exemplo, na figura 2.12 so mostrados os componentes citados

    acima de uma suspenso traseira do tipo eixo rgido com molas semi-elpticas:

    Figura 2.12 Componentes da suspenso do tipo eixo rgido com molas semi-

    elpticas

    Isoladores da mola Batente

    Mola principal Amortecedor

    Isoladores do amortecedor

  • 30

    Na figura 2.13 so mostrados os componentes citados da parte superior

    de uma suspenso dianteira do tipo MacPherson:

    Figura 2.13 Componentes de uma Suspenso Dianteira MacPherson (parte susperior)

    Nos itens seguintes 2.3.1, 2.3.2 e 2.3.3, tratam dos componentes: mola,

    amortecedor e isoladores respectivamente.

    Tambm ser abordado no item 2.3.4, embora de forma bastante

    superficial, o pneu, cujas caractersticas tem importncia fundamental no

    estudo da dinmica vertical de um sistema de suspenso.

    Alm da abordagem mais geral, sero apresentadas as caractersticas

    especficas de componentes da suspenso dianteira do tipo MacPherson,

    objeto de estudo deste trabalho.

    Isolador superior

    (Top-mount)

    Mola auxiliarou batente

    Mola principal

    Amortecedor

    Parte Superior

  • 31

    2.3.1 O componente mola, tipos e caractersticas

    2.3.1.1 Mola Semi-elptica (feixe de molas)

    A mola semi-elptica convencional composta por vrias lminas

    sobrepostas, figura 2.14.

    Figura 2.14: Mola Semi-elptica convencional

    Tem como vantagens: simplicidade de construo, robustez e baixo

    custo. Uma de suas caractersticas o atrito interno gerado pelo

    escorregamento entre as lminas, figura 2.15.

    Figura 2.15 Variao da rigidez vertical das molas semi-elpticas

    em funo da amplitude do curso da suspenso

    A alta rigidez, devido alta histerese deste tipo de mola quando

    submetida a vibraes de pequenas amplitudes e altas frequncias faz com

    Fora (lb)

    Deslocamento (pol.)

    Rigidez nominal: 100 lb/pol.

    Rigidez efetiva pequenas amplitudes, altas frequncias: 300 lb/pol.

  • 32

    que este tipo de mola tenha uma alta transmissibilidade neste modo de

    operao, com consequente deteriorao de conforto.

    Segundo GILLESPIE, outra de suas caractersticas a diminuio da

    rigidez sob carga lateral que tem, como consequncia, menor estabilidade

    lateral, quando so fabricadas mais longas para atingir menor rigidez vertical.

    Com molas mais longas tambm ocorre maior enrolamento quando

    submetida a torques de frenagem ou grandes torques de acelerao, figura

    2.16, comum em veculos do ps-guerra. Para absorver estes torques torna-se

    necessrio adicionar um brao tensor, figura 2.17.

    Sem torque Com torque

    Figura 2.16 Enrolamento das molas semi-elpticas quando submetidas torque

    Figura 2.17 Brao tensor para absorver torque e

    evitar o enrolamento das molas semi-elpticas

    Brao Tensor

    Fixado ao chassi

    Brao Tensor

  • 33

    Mais recentemente, como forma de reduzir o atrito interno das molas

    semi-elpticas, foram introduzidas pastilhas redutoras de atrito entre as lminas,

    nos pontos onde h contato entre elas, figura 2.18.

    Figura 2.18 Mola Semi-elptica com pastilhas para reduo de atrito

    A mola semi-elptica do tipo parablica, figura 2.19, assim denominada

    em funo de suas lminas possurem perfil parablico.

    Figura 2.19 Mola semi-elptica do tipo parablica

    A mola semi-elptica do tipo parablica apresenta como vantagem um

    menor atrito interno, em funo do reduzido nmero de lminas e tambm

    devido utilizao de pastilhas redutoras de atrito nos pontos de contato entre

    as lminas.

    Ela pode ter menor rigidez vertical sem comprometimento da rigidez

    lateral e do enrolamento.

    pastilhas redutoras de atrito

  • 34

    2.3.1.2 Mola Helicoidal

    A mola helicoidal fabricada enrolando-se um arame em forma

    helicoidal, figura 2.20.

    Esta mola possui histerese desprezvel, sendo o amortecimento

    totalmente realizado pelo componente amortecedor. Este tipo de mola o mais

    utilizado quando o foco conforto, pois, melhores resultados so atingidos

    somente com molas pneumticas e/ou sistemas ativos de suspenso.

    Figura 2.20 Molas helicoidais

    A cilndrica linear o tipo mais comum e de menor custo dentre as molas

    helicoidais. A direo de atuao da carga da mola coincide com o eixo

    geomtrico terico, figura 2.21.

    Figura 2.21 Direo da fora gerada nas molas helicoidais convencionais

    eixo geomtrico axial = direo da fora gerada pela mola

    Fora axial Fora axial

  • 35

    A curva de rigidez caracterstica de uma mola linear obedece

    equao:

    xKF = (2.1)

    onde: F = carga sobre a mola

    K = constante elstica da mola

    x = deformao da mola

    Em veculos equipados com este tipo de mola, portanto, ocorre

    diminuio da altura do veculo na medida em que carregado.

    A variao da frequncia de ressonncia de um sistema de suspenso

    equipado com este tipo de mola tambm diminui com o carregamento do

    veculo, figura 2.22:

    Carregamento x Frequncia natural

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1,0

    1,1

    2,7 3,2 3,7 4,2 4,7 5,2 5,7 6,2 6,7 7,2

    Carregamento do Veiculo (N*100)

    Freq

    . Nat

    ural

    (Hz)

    F

    Figura 2.22 Caractersticas dinmicas do veculo com mola helicoidal linear

    A variao da frequncia de ressonncia e da altura da suspenso

    indesejada, pois dificulta o acerto dinmico do sistema de suspenso de forma

    a obter-se o mesmo nvel de conforto e dirigibilidade, em todas as condies de

  • 36

    carregamento do veculo. Melhores resultados so obtidos com molas

    cilndricas progressivas, as quais so fabricadas partindo-se de um arame

    cnico. A curva caracterstica carga x deformao deste tipo de mola,

    progressiva ou no-linear, figura 2.23.

    Carga x Deformao Mola

    2,0

    3,0

    4,0

    5,0

    6,0

    7,0

    Compresso da Mola (mm)

    Car

    ga (N

    *100

    0)

    Figura 2.23 Curva Carga x Deformao de uma mola helicoidal progressiva

    Uma vantagem do uso deste tipo de mola que sua frequncia de

    ressonncia tem menor variao com a variao do carregamento do veculo,

    figura 2.24.

    Carregamento x Frequncia Natural

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1,0

    1,1

    2,7 3,2 3,7 4,2 4,7 5,2 5,7 6,2 6,7 7,2Carregamento (N*100)

    Freq

    . Nat

    ural

    (Hz)

    Figura 2.24 Caractersticas dinmicas de um veculo com mola helicoidal progressiva

  • 37

    Outra vantagem do uso de molas progressivas a menor variao de

    altura do veculo em relao ao equipado com molas lineares, para uma

    mesma variao de carregamento do veculo.

    As molas helicoidais do tipo Barril (Mini-block), figura 2.25, so molas

    com curva de rigidez progressiva (no-linear) e se diferenciam de uma mola

    helicoidal progressiva por sua forma de barril, o que permite que a altura de

    bloqueio (momento em que todos elos de uma mola helicoidal se tocam) seja

    menor.

    Figura 2.25 Mola do tipo Mini-block

    A vantagem deste tipo de mola, alm da rigidez progressiva, est no fato

    de requerer menor espao para instalao (altura) do que as molas cilndricas,

    para um mesmo curso total disponvel.

    Menor altura de bloqueio e Menor altura para instalao

  • 38

    As molas helicoidais com carga lateral (side-load) diferenciam-se das

    molas helicoidais cilndricas lineares convencionais, as quais geram fora

    sempre na mesma direo de seu eixo geomtrico. As molas com carga lateral

    so assim denomindas, pois podem gerar fora numa direo que forma um

    ngulo em relao ao seu eixo axial geomtrico, ou seja, alm da fora na

    direo de seu eixo geomtrico axial, geram tambm fora numa direo

    perpendicular (radial) a este eixo, figura 2.26.

    Figura 2.26 Componente axial e radial da fora gerada nas

    molas helicoidais com carga lateral

    Este tipo de mola foi desenvolvido para ser aplicada em suspenses do

    tipo MacPherson, onde a mola tem a funo de anular ou reduzir a fora lateral

    Ws1 que o amortecedor deste tipo de suspenso recebe em sua haste e

    buchas (Ws2 e Ws3) devido sua construo e geometria tpicas, figura

    2.27.

    Figura 2.27 Configurao das foras nas suspenses MacPherson

    eixo geomtrico axial da mola

    Fora da Mola ( Wm)Fora axial

    ( Wa )

    Fora radial (Wr)

  • 39

    A fora Wm gerada pela mola com carga lateral, figura 2.28, possui

    uma componente radial que permite melhorar a capacidade da mola em anular

    a fora lateral Ws1.

    Em uma mola convencional, necessrio um grande dimetro externo,

    para que a fora da mola Wm, cuja direo coincide com o eixo geomtrico

    da mola, tenha uma componente radial grande suficiente para anular a fora

    lateral Ws1.

    A mola com carga lateral substitui com vantagens a mola convencional,

    pois seu dimetro externo pode ser menor, o que a torna mais leve e compacta

    que a mola convencional, para um mesmo efeito de anulao da fora lateral

    Ws1.

    A figura 2.28 mostra a configurao de foras com uma mola

    convencional e com uma mola com carga lateral as quais tem as mesmas

    dimenses geomtricas. A fora lateral Ws1 pode ser totalmente anulada

    quando utilizada uma mola com carga lateral.

    Figura 2.28 Configurao de foras nas suspenses MacPherson

    Efeito da mola side-load

    Mola convencional

    Linha centro geomtrica do amortecedor

    Mola com carga lateral

    Wm Wm

    Ws1 = 0Ws1

  • 40

    2.3.1.3 Mola a ar ou pneumtica

    A mola a ar ou pneumtica o tipo que oferece as melhores

    caractersticas dinmicas sob variadas condies de carga entre todas as

    acima descritas, substituindo a mola helicoidal com vantagens, figura 2.29.

    Figura 2.29 Mola a ar ou pneumtica (cortesia Firestone)

    Quando associada a um sistema de controle de altura da suspenso,

    mantm as caractersticas dinmicas prximas do ideal sob qualquer condio

    de carregamento, tabela 2.1 a melhor opo em situaes onde h uma

    grande diferena de carga entre as condies do veculo vazio e carregado,

    onde h necessidade de manter-se a altura do veculo constante e tambm

    onde o conforto tem grande importncia.

    Caractersticas Dinmicas

    a uma altura de 18,5 polegadas (projeto)

    Volume da bolsa @ 100 PSI = 1,330 pol.3

    Presso

    (PSI)

    Carregamento

    (lbs)

    Rigidez

    (lbs/pol.)

    Freq. Natural

    (Hz)

    40 2.780 287 1,01

    60 4.250 425 0,99

    80 5.680 546 0,97

    100 7.120 659 0,95

    Presses em valores relativos

    Tabela 2.1 Caractersticas dinmicas mola a ar Firestone 1T15M-9

    Ar sob presso

    Parafuso prisioneiro Parafuso prisioneiro oco

    Fole ou bolsa

    Pisto

    Prato superior

  • 41

    2.3.2 Batente ou mola auxiliar

    Trata-se de uma mola de rigidez no-linear, fabricada normalmente em

    poliuretano (PU) microcelular sendo que a geometria e a densidade da pea

    definem a rigidez caracterstica.

    Na figura 2.30 mostrada a rigidez caracterstica e a geometria de um

    batente de uma suspenso dianteira MacPherson:

    Figura 2.30 Geometria e rigidez tpica de um batente

    Pode-se dizer que uma mola auxiliar diferencia-se de um batente pelo

    fato de os batentes terem caracterticas de rigidez com menor progressividade

    e de o incio de sua atuao ocorrer mais perto do final de curso de

    compresso ou de extenso da suspenso. A mola auxiliar tem a caracterstica

    de rigidez mais progressiva e sua atuao ocorre na compresso durante um

    maior curso da suspenso. Alta histerese neste tipo de componente

    compromete a sua eficincia dinmica e o bom desempenho do sistema de

    suspenso.

    Em suspenses traseiras mais frequente o uso de mola auxiliar devido

    ser maior a variao de carga do veculo de vazio para carregado.

    63mm

    50mm

  • 42

    2.3.3 O componente amortecedor, tipos e caractersticas

    Segundo DIXON os amortecedores podem ser divididos em dois tipos: o

    de atrito seco com elementos slidos e o hidrulico com elementos fludos.

    Pode-se citar dois tipos de amortecedor de atrito seco com elementos

    slidos: o com discos deslizantes (Truffault-Hartford), mostrado na figura 2.31 e

    o com cinta enrolada (Gabriel Snubber), mostrado na figura 2.32.

    Figura 2.31 Truffault-Hartford

    Figura 2.32 Gabriel Snubber

  • 43

    Pode-se citar ainda dois tipos de amortecedores hidrulicos com

    elementos fludicos: o amortecedor com alavanca (Houdaille), mostrado na

    figura 2.33 e o telescpico, mostrado na figura 2.34.

    Figura 2.33 Alavanca (Houdaille) Figura 2.34 Telescpico

    Atualmente os tipos mais comuns de amortecedores so os hidrulicos

    telescpicos.

    Existem dois tipos de amortecedores hidrulicos telescpicos no que diz

    respeito acomodao do volume inserido da haste: o de tubo simples e o de

    tubo duplo, figura 2.35:

    Tubo simples Tubo duplo

    Figura 2.35 Tipos mais comuns de

    amortecedores hidrulicos

  • 44

    Quanto s caractersticas de dissipao de energia, os tipos

    progressivos (no-lineares), so os mais comuns atualmente.

    A figura 2.36 mostra um diagrama fora x velocidade de acionamento

    com caractersticas progressiva e no-linear.

    Diagrama Fora x Veloc. de Acionamento

    -1250

    -1000

    -750

    -500

    -250

    0

    250

    500

    750

    1000

    1250

    -105

    0

    -945

    -840

    -735

    -630

    -525

    -420

    -315

    -210

    -105 0 105

    210

    315

    420

    525

    630

    735

    840

    945

    1050

    Velocidade (mm/seg)

    For

    a (N

    )

    Figura 2.36 Diagrama fora x velocidade de acionamento

    de um amortecedor hidrulico telescpico progressivo

    2.3.3.1 Amortecimento dependente do curso ou posio

    O amortecimento dependente do curso possvel com a ajuda de

    cavidades de controle.

    Estas cavidades so conformadas mecanicamente no tubo de presso

    dos amortecedores de tubo duplo, obtendo-se, desta forma, uma passagem do

    fludo hidrulico que depende da posio relativa da haste e do tubo de

    presso, figura 2.37. Com isto, a fora, que funo da velocidade de

    acionamento, passa a ser tambm funo tambm do curso ou posio da

    haste.

    Trao

    Compresso

  • 45

    Figura 2.37 Cavidades conformadas no tubo de presso formam passagens

    Na configurao mostrada na figura 2.37, a curva de amortecimento

    alterada somente na regio central do curso do amortecedor. As cavidades

    existentes nesta regio permitem a passagem do fludo hidrulico, o que

    diminui a resistncia hidrulica oferecida ao movimento da haste do

    amortecedor, alterando-se assim a curva de amortecimento (relao fora x

    velocidade).

    A configurao das cavidades feita de tal forma que haja uma transio

    suave na curva de amortecimento.

    Na figura 2.38 mostrada a alterao da caracterstica de

    amortecimento conforme a posio da haste ou pisto do amortecedor e a

    configurao das cavidades.

    Figura 2.38 Caracterstica de amortecimento x configurao das cavidades

    passagem

    passagens fechadaspassagens

    parcialmente abertas passagens abertas

    Curso Cavidades

    Compresso

    Trao

  • 46

    Na figura 2.39 so mostradas algumas configuraes possveis de

    cavidades especficas para uma finalidade ou aplicao.

    Figura 2.39 Configurao das cavidades para variadas finalidades e aplicaes

    A execuo A diminue a resistncia hidrulica oferecida ao

    deslocamento do pisto em grande parte do curso da regio central do

    amortecedor.

    A execuo B tambm diminue a resistncia hidrulica oferecida ao

    deslocamento do pisto, porm somente em um pequeno curso em torno da

    regio central.

    A execuo D aumenta a resistncia hidrulica oferecida ao

    deslocamento do pisto em um pequeno curso em torno da regio central e

    tambm em regies perto dos finais de curso do amortecedor.

    Com a execuo C, apenas nos finais de curso da suspenso existe a

    ao de um freio hidrulico no permitindo desta forma impactos,

    principalmente quando ocorre abertura total do amortecedor.

    2.3.3.2 O amortecedor utilizado nas suspenses MacPherson

    Normalmente so utilizados amortecedores do tipo hidrulico telescpico

    progressivo (no-linear) com tubo duplo e tem como caracterstica funcional

    especfica, a incidncia de significativas foras radiais (normais ao seu eixo

  • 47

    axial). As foras radiais so bem maiores do que as incidentes em

    amortecedores utilizados em outros tipos de suspenso.

    Conforme detalhado no item 2.3.1.2, molas com carga lateral, estas

    foras radiais so resultantes da geometria da suspenso MacPherson e das

    foras que nela atuam.

    Em funo da incidncia de foras radiais significativas, em relao s

    axiais, o amortecedor MacPherson tem caractersticas peculiares como maior

    dimetro da haste (cerca de duas vezes o dimetro da haste dos

    amortecedores convencionais) e tubo reservatrio mais reforado, figura 2.40.

    Figura 2.40 Caractersticas dos amortecedores para suspenses MacPherson

    Especial ateno deve ser dada aos apoios ou guias da haste,

    distncia entre elas e ao atrito gerado nestas guias, figura 2.40.

    A fora normal nas guias da haste depende da distncia entre as guias e

    tambm da fora lateral que o amortecedor recebe.

    Esta e outras relaes de dependncia entre variveis importantes dos

    amortecedores para suspenses MacPherson podem ser observadas na tabela

    mostrada na figura 2.41.

    Guia Superior da haste ( Bucha )

    Tubo reservatrio reforado

    Haste com maior dimetro

    Guia Inferior da haste ( Pisto )

    Distncia entre guias da haste

  • 48

    Figura 2.41 Dependncia entre variveis dos amortecedores nas suspenses MacPherson

    Na tabela mostrada na figura 2.41 considera-se como variveis

    independentes as assinaladas em verde sendo, as demais, dependentes.

    A anlise acima importante na medida em que mostra que a

    caracterizao do atrito em amortecedores utilizados em suspenses do tipo

    MacPherson bastante complexa.

    A importncia em caracterizar-se o atrito em suspenses do tipo

    MacPherson est no fato de que o atrito interno gerado em amortecedores

    utilizados nestas suspenses, segundo MUHR & BENDER, causa deteriorao

    do conforto quando o veculo trafega com velocidade baixa e constante, em

    linha reta, em estradas de boa qualidade e passa por pequenos degraus na

    pista (cerca de 1cm), situao bem conhecida por pilotos de testes de vrias

    indstrias automobilsticas.

  • 49

    2.3.4 Os isoladores, tipos e caractersticas

    Os isoladores ou coxins de um sistema de suspenso tm como principal

    funo, procurar isolar vibraes cujas frequncias e amplitudes no foram

    eficientemente isoladas por outros componentes do sistema de suspenso.

    Normalmente so componentes metal-borracha sendo que sua forma e

    caractersticas funcionais variam conforme a aplicao.

    Abordaremos aqui apenas os isoladores ou coxins de um sistema de

    suspenso dianteira do tipo MacPherson, que o objeto de estudo deste

    trabalho.

    Na figura 2.42 esto indicadas as posies dos trs isoladores ou coxins

    comumente utilizados em um sistema de suspenso do tipo MacPherson.

    Figura 2.42 Isoladores ou Coxins de uma Suspenso Dianteira do tipo MacPherson

    Os isoladores nas posies (2) e (3) desempenham papel importante na

    dinmica lateral e longitudinal do veculo, porm tem menor influncia na

    dinmica vertical.

    J as caractersticas funcionais do isolador da posio (1) so

    determinantes nos movimentos verticais da suspenso, e, portanto, na

    dinmica vertical do veculo.

    2

    3

    1

  • 50

    Como o foco a dinmica vertical, no sero abordados aspectos

    funcionais dos isoladores (2) e (3).

    O isolador na posio (1) da figura 2.42, denominado de isolador

    superior da suspenso ou ainda coxim superior da suspenso (Top-mount),

    geralmente composto de partes metlicas (em ao ou alumnio) que

    estruturam um composto elastomrico, figura 2.43a e 2.43b.

    Possui dois tipos: o desacoplado, figura 2.43a, e o no-desacoplado,

    figura 2.43b:

    Figura 2.43a Isolador ou coxim superior do tipo desacoplado

    Figura 2.43b Isolador ou coxim superior do tipo no-desacoplado

    A principal diferena entre o tipo desacoplado e o tipo no-desacoplado

    a forma como as cargas verticais estticas e dinmicas so absorvidas por

    eles.

    Carga Esttica

    Carga Esttica

    Carga Dinmica

    Cargas Esttica e Dinmica

    Partes metlicasElastmero

    Partes metlicasElastmero

  • 51

    No tipo no-desacoplado as cargas verticais estticas e dinmicas so

    absorvidas no mesmo ponto. Por este motivo, neste tipo de isolador ou coxim

    superior, necessria uma maior rigidez vertical para que se possa absorver a

    carga esttica com deslocamentos compatveis e ainda serem possveis

    deslocamentos adicionais para absoro das cargas dinmicas.

    A rigidez na regio de oscilao das cargas dinmicas para pequenas

    amplitudes (da ordem de +/- 1 a 2mm e frequncias mais altas) determinante

    na transmissibilidade vertical deste tipo de coxim e ainda se altera com a

    variao da massa suspensa.

    Estes aspectos so mostrados no grfico da figura 2.44:

    Figura 2.44 Rigidez vertical do isolador no-desacoplado

    O tipo no-desacoplado sofre de outro problema: com o envelhecimento do

    composto elastomrico ocorre aumento da rigidez e variao da suspenso

    (cedimento).

    Carga Esttica I(Pr-Carga)

    Carga Dinmica

    Rigidez I = 500 N/mm para amplitudes de

    +/- 1,0 mm

    Carga Esttica II(Pr-Carga)

    Rigidez II = 750 N/mm

    para amplitudes de

  • 52

    O tipo desacoplado, por trabalhar em separado com as cargas esttica e

    dinmica, permite a otimizao da rigidez para as cargas dinmicas e

    particularmente para condies de maiores frequncias e pequenas amplitudes

    conforme mostrado na figura 2.45.

    Figura 2.45 Rigidez vertical do isolador desacoplado

    As curvas F1 e F2 representam a rigidez do coxim desacoplado onde so

    absorvidas as cargas dinmicas, figura 2.43a. Estas curvas representam a

    deformao em funo da carga, aplicada conforme mostrado na figura 2.46. A

    curva F1 representa a rigidez na direo vertical no sentido de Z positivo (de

    baixo para cima) e a curva F2 representa a rigidez tambm na direo vertical,

    porm no sentido de Z negativo (de cima para baixo).

    Rigidez = 350 N/mm para amplitudes de

    +/- 1 a 2 mm

  • 53

    Figura 2.46 Esquema de aplicao de carga para levantamento das curvas F1 e F2

    O tipo desacoplado tambm possui outras vantagens sobre o tipo no-

    desacoplado como a no variao da rigidez com o aumento da massa suspensa

    ou com o envelhecimento do composto elastomrico.

    Outra caracterstica importante a rigidez dinmica que permite quantificar

    o nvel de histerese presente em peas deste tipo.

    A tabela 2.2 mostra requisitos da rigidez dinmica que devem ser atendidos

    em funo da frequncia para um isolador superior do tipo desacoplado:

    Tabela 2.2 Rigidez Dinmica Vertical do isolador desacoplado

    Percebe-se que a rigidez dinmica aumenta com o aumento da frequncia e

    a diminuio da amplitude.

    O correto casamento das caractersticas dos pneus e amortecedores

    utilizados com as do isolador superior so determinantes na absoro de

    vibraes com frequncias entre 25 e 100Hz (aspereza), pelo sistema de

    suspenso do veculo.

    Em deslocamentos de maiores amplitudes e altas velocidades que atuam

    no amortecedor, como a passagem do veculo em alta velocidade por um degrau

    F2

    F1

    Tempo de excitao

  • 54

    na pista, a progresso da curva de rigidez esttica determinante na sensao de

    conforto dos passageiros.

    2.3.5 O pneu, tipos e caractersticas

    Segundo Dr. G. HILL, considerando-se somente a dinmica vertical do

    veculo, as caractersticas de interesse do pneu so a sua deflexo radial

    (esttica) e a velocidade de deflexo (dinmica) que resultam em fora vertical.

    A fora vertical imposta pelo pneu assume somente valores positivos, em

    funo da possibilidade do pneu perder contato com o solo.

    A parcela esttica da fora vertical ( SVF ) segue aproximadamente a

    equao (2.2):

    ( )221 zazaF SV += (2.2) onde:

    SVF = carga esttica vertical;

    1a e 2a = constantes que podem ser obtidas atravs de clculo utlizando medies experimentais da deformao

    utilizando-se a carga nominal do pneu e o dobro deste valor;

    z = deformao vertical do pneu devido carga esttica S

    VF .

    Medies da rigidez radial esttica (S

    VF = Carga x z = Deflexo) podem ser feitas em dispositivos conforme o mostrado na figura 2.47.

  • 55

    Figura 2.47 Dispositivo de medio de rigidez radial esttica

    Para pneus com perfil 70 ou maior admissvel o uso de rigidez radial

    linear, figura 2.48a, porm para pneus com perfil 60 ou menor deve ser

    considerada que a rigidez radial no-linear, figura 2.481b.

    O valor da rigidez radial dos pneus de carros de passeio varia entre 150

    e 250 N/mm.

    A parcela dinmica da fora vertical ( DVF ) segue aproximadamente a

    equao (2.3):

    zdrF DV &= (2.3)

    onde: D

    VF = carga dinmica vertical;

    Figura 2.48b Rigidez radial esttica pneu 185/60

    R14 (no-linear)

    Figura 2.48a Rigidez radial esttica pneu 175/70

    R14 (linear)

    Deformao do pneu (mm) Deformao do pneu (mm)

    SVF

    z

    SVF

    SVF

    10KN10KN

  • 56

    dr = constante de amortecimento; z& = velocidade de deformao vertical do pneu devido

    carga dinmica D

    VF .

    Muitas vezes o amortecimento vertical dos pneus pode ser desprezado,

    pois seu valor pequeno quando comparado ao valor do amortecimento do

    amortecedor principal do sistema de suspenso.

    Pode ser adicionado tambm algum amortecimento ao sistema devido ao

    escorregamento relativo entre pneu e solo e ao atrito existente entre eles. Este

    escorregamento relativo devido geometria do sistema de suspenso. Quando

    a suspenso movimenta-se verticalmente, direo Z, ocorre a chamada variao

    da bitola na direo Y, transversal ao veculo e no plano do solo, cuja amplitude

    depende fundamentalmente da geometria do sistema de suspenso utilizado.

    A movimentao relativa entre pneu e solo, descrita acima, e o atrito

    existente entre eles, geram foras cujas amplitudes dependem de diversos

    parmetros como velocidade do veculo, velocidade e amplitude da movimentao

    da suspenso, tipo de pneu, presso de enchimento, etc.

  • 57

    2.4 Fundamentos

    Os fundamentos da dinmica vertical (ride) apresentados nesta seo

    foram extrados levando-se em considerao o contedo das obras de autores

    como GILLESPIE, J. REIMPELL, DIXON, W. F. MILLIKEN e D. L. MILLIKEN,

    H. B. PACEJKA e Dr. G. HILL que abordam o tema de forma semelhante,

    parcial, e/ou complementar.

    importante ressaltar que esto aqui apresentados apenas os

    fundamentos necessrios e relacionados ao tema da dissertao, com maior

    ou menor nfase, suprimindo-se os considerados no necessrios e no

    relacionados com o tema.

    2.4.1 Introduo

    Como j citado anteriormente, a dinmica vertical estuda o

    comportamento do veculo e de seus ocupantes quando submetidos a

    excitaes.

    Um veculo locomovendo-se a uma determinada velocidade excitado

    por uma ampla gama de vibraes externas ou internas. Estas vibraes so

    filtradas pelo sistema de suspenso e chegam aos passageiros na forma de

    sensaes tcteis, visuais e/ou audveis.

    Segundo A. COSTA, as vibraes, quanto s frequncias, podem ser

    divididas em 3 faixas: at 25Hz, a sensao dos passageiros somente tctil,

    em funo do ouvido humano geralmente ter capacidade de ouvir somente

    fequncias acima de 25Hz. Na faixa de 25Hz at 20.000Hz, a sensao dos

    ocupantes de rudo (audvel), e, entre 25 e 100Hz, a sensao de aspereza

    (tctil).

    Segundo GILLESPIE, a vibrao um dos mais importantes critrios,

    embora de natureza subjetiva, pelo qual as pessoas julgam a qualidade de

    contruo e o do projeto de um veculo.

    Conforme A. COSTA, a dinmica vertical pode ser dividida em 3

    subproblemas, figura 2.49:

  • 58

    a) Modelagem e caracterizao das fontes de excitao

    b) Resposta dinmica do veculo

    c) Tolerncia e percepo s vibraes dos passageiros

    Figura 2.49 Subproblemas da dinmica vertical

    So de interesse da dinmic