Demetra 2012

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A GEOMETRIA DA MODA A GEOMETRIA DA MODA

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esta revista foi resultado da colaboração da turma de Moda em Revisa

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A GEOMETRIADA MODAA GEOMETRIADA MODA

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Equipe DemetraEditorias-ChefesSimone Barros e Teresa Poças

Coordenação de produção gráficaTemístocles Gonçalves

Equipe de produção gráficaNathália MouraLuiza BarrocasAyodê FrançaJuliana Francine

REDAÇÃOMaria Luiza AragãoCarolinne SabinoGéssica PoloRaisa BrennichiMariana RodriguesTainan Paiva

DIAGRAMAÇÃONathalia Moura Juliana FrancineIsabela FreireAlex BarrosPriscila VitaTemístocles gonçalvesLuiza Barrocas

FOTOGRAFIABruno LeiteGéssica PoloPriscila ViatalinoIsadora AlvesLucas CavalcantiGildson Campelo

ILUSTRAÇÃOAyodê França Heitor MartinsJuliana FrancineGabriel FerreiraIsadora Alves

EDITORIALRaisa Brennichi Heitor MartinsIgor SantosBruno LeiteCássia CostaMatheus

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Demetra2012

Mais um número da Demetra, sai do forno e está pronto para vocês. Viver, mais uma vez, a experiência de produzir uma revista-laboratório atravessada pela interdisciplinaridade de três campos teóricos como o Design, a Comunicação e a Moda, foi um grande prazer, compartilhado com os alunos da turma 2012.1 do grupo de estudos Moda em Revista.

Envolvendo atividades como a pesquisa para produção da revis-ta (projeto prático), com acompanhamento ao longo do semes-tre, e atividades semanais apresentadas nas reuniões, e ativi-dades semanais apresentadas nas reuniões e debatidas entre os participantes, nossa sala de aula se transformou na redação que precisávamos para que os alunos do curso de Design da UFPE descobrissem, de forma lúdica, novas possibilidades de apli-cação do design editorial. Simone Barros e Teresa Poças (editoras-chefes)

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Simone Barros e Teresa Poças (editoras-chefes)

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consumoindústria

academia

perfil

editorial

cultura

empreendedo rismo

A moda classe D

Consumo responsável

Escambo

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Moda inteligente

Cursos de moda

Consumos de marcas de moda - por Ana Paula Miranda

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Rave do fim do mundo

Edição de moda com Phelippe Rodrigues

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A Geometria da moda 94

Circo: magia, moda e perfeição

Livros

Nudez e moda

Crítica de moda

Moda e arte

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Pólo de confecçõesdo agreste

Estamparia digital

Peles que habito

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O Espaço Garimpo e a economia criativa

Nichos de mercado

Comércio justo

Moda artesanal

Moda sustentável em Pernambuco

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consumoindústria

academia

perfil

editorial

cultura

empreendedo rismo

A moda classe D

Consumo responsável

Escambo

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Moda inteligente

Cursos de moda

Consumos de marcas de moda - por Ana Paula Miranda

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Rave do fim do mundo

Edição de moda com Phelippe Rodrigues

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A Geometria da moda 94

Circo: magia, moda e perfeição

Livros

Nudez e moda

Crítica de moda

Moda e arte

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Pólo de confecçõesdo agreste

Estamparia digital

Peles que habito

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O Espaço Garimpo e a economia criativa

Nichos de mercado

Comércio justo

Moda artesanal

Moda sustentável em Pernambuco

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academia

moda inteligente

Cursos de Moda

artigo - por ana paula miranda

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Moda InteligenteA tecnologia à serviço da modaPor Mariana Rodrigues

Herself: Catalytic clothing

O mundo da moda muda tão depressa que certos detalhes acabam despercebidos, todo o brilho e glamour do lançamento de uma nova tendência muitas vezes acaba ofuscando o trabalho de pesquisa e desenvolvimento que só pessoas mais antenadas e ligadas diretamente com a

moda percebem. Com a popularização e consequentemente barateamento da tecnologia, grandes marcas e até mesmo estilistas não tão famosos estão investindo em tecidos, pigmentos e tintas que conferem as roupas características singulares. Para facilitar a vida de pessoas mais ocupa-das, ou auxiliar em tratamentos estéticos, já é possível encontrar roupas que fazem mais do que somente vestir, elas são capazes de mudar de cor no sol, proteger dos raios solares, combater a celulite, não amassar, secar rapidamente e até mesmo purificar o ar.

Sair na rua vai ser uma tarefa incrível de ser vista quando as ideias criadas e desenvolvi-das pela estilista e designer Amy Winters em parceria com laboratórios londrinos for disponibilizada no mercado. A ideia é simples; com a incidência dos raios solares ou o contato de líquidos com o tecido, a roupa passará, gradativamente a mudar de cor, sendo o responsável pelos efeitos a tinta usada nos tecidos. ‘’Eu queria criar uma experiência interativa, toda minha inspiração veio da indústria do entretenimen-to. Comecei com a ideia do artista e sua audiência, tipo Lady Gaga, interagirem juntos através das roupas que eles estejam usando’’ Amy Winters.

Mas a moda não busca inspiração apenas nas celebridades, o ramo da con-strução também foi fonte de inspiração para Helen Storey e Tony Ryan, ela estilista, ele químico, juntos pesquisaram cimentos, tintas e vidro que possuem em sua composição fotocatalisadores que transformam os poluentes do ar em substancias químicas não nocivas à saúde, e criaram em parceria com as Universidades de Sheffield, Arts of London e do London College of Fashion um projeto chamado Catalytic Clothing: ’’somos os maiores catalisadores da puri-ficação do ar, uma pessoa sozinha não faz diferença, mas se muita gente passar a usar, podemos, juntos, fazer um im-pacto’’ Helen Storey.

A ideia é o uso coletivo de calças jeans que ao caminhar purificam o ar ao redor de quem a usa. Por enquanto o projeto só conta com protótipos, mas há expecta-tivas de que em alguns anos já esteja disponível no mercado.

Informações:http://www.catalytic-clothing.org/who.htmlhttp://www.rainbowwinters.com/

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As marcas esportivas são as que atualmente mais investem em novi-dades por justamente querer proporcionar aos esportistas o melhor

desempenho possível e proteção para a prática de diversas atividades. Criada pela Nike, a tecnologia Dry-fit é utilizada em uniformes de di-

versos times e atletas em todo o mundo; como as seleções brasileira e croata, Maria Sharapova, Tiger Woods. Feito com poliamida e elastano

o tecido proporciona conforto para roupas esportivas que exigem uma alta capacidade de transpiração, além de ter a capacidade de tirar

a umidade do corpo e transportá-lo para fora do tecido.

Informações:http://www.kenia.com.br/tecidos.html

http://www.ehow.com/about_6361649_nike-dri_fit-technology_.html

E para quem pratica atividades ao ar livre, as marcas UV. Line e Sun Cover garantem serem capazes de filtrar mais de 98% dos raios so-

lares. Quer saber como isso tudo é possível? Dois processos são utilizados, em alguns tecidos a trama é composta por fios a base de

dióxido de carbono; já em peças de algodão, aditivos são adicionados no tingimento dos tecidos. Podem ser lavados normalmente seguindo

instruções da etiqueta e não precisam de nenhum cuidado especial. Há modelos para crianças, adultos e adolescentes de todas as faixas

etárias.

Informações: http://www.uvline.com.br/tecnologia.html

http://www.suncover.com.br/protecao_textil.phphttp://www.proteksol.net/

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Cursos de ModaAs instituições de ensino brasileiras esforçam-se para oferecer cursos de qualidade, adaptados ao contexto local. Porém, os alunos ainda percebem deficiências.Por Juliana Francine e Isadora Alves

Embora seja dono do quinto maior parque têxtil do mundo, o Brasil representa apenas 0,2% do comércio internacional da moda. Tal dispari-

dade inquieta nossos estilistas, modelos e produtores, que vêm reunindo esforços para aumentar a expres-sividade brasileira nos mercados estrangeiros. Parte desses esforços direciona-se na criação e aperfeiçoa-mento de cursos de moda: desde 1987 foram abertos mais de 20 cursos de ensino superior, sediados em maior número nos grandes centros urbanos, cujas di-retrizes curriculares ainda permanecem em discussão.

Apesar da Academia ter iniciado seus primeiros cursos voltados à indumentária ainda no século XVII, foi somente no último que eles proliferaram-se em abundância no mundo, impulsionados pelo novo ritmo da economia. A confecção de vestuário havia deixado de ser uma atividade de pequena escala,

normalmente relegada à mulher ou a alfaiates e costureiras nos casos mais especiais. Os avanços da indústria têxtil aliados ao crescimento do poder da comunicação configuraram a necessidade de refle-tir sobre a produção da moda nos centros de ensino superior, além de oferecer capacitação técnica de qualidade. Talvez, por esse motivo os cursos da área tenham encontrado apoio em departamentos de artes e comunicação que deram ao setor o olhar de ramos das ciências tradicionais, como a semiótica, história e sociologia. Mas, esse apoio só pôde ser concretizado à medida que a Academia articulou-se junto aos setores da indústria têxtil.

Percebendo o potencial de um mercado que atual-mente representa mais de 4% do PIB nacional, gera emprego para 1,7 milhões de pessoas e movimenta aproximadamente US$ 50 bilhões ao ano, os empre- Il

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sários da moda brasileira e professores universitários sentiram a urgência de superar uma defasagem cria-tiva em relação à Europa, que ainda dita a maior parte das tendências. Assim, surgiu em 1986, na Universida-de Federal de Minas Gerais, um dos primeiros cursos de moda do país: o Curso de Extensão de Estilismo e Modelagem do Vestuário, resultante da parceria entre a professora Delfina Miranda e a Associação Mineira das Indústrias de Confecções. Esse curso havia sido idealizado anos antes pelas estilistas e ex-alunas da Esmod (l’Ecole Supérieure des Arts et Techniques de la Mode, de Paris) Angélica Maria Diniz de Oliveira e Aline Goubert, além da própria Delfina, mediante soli-citação da Escola de Belas Artes. O primeiro projeto previa duração de oito semestres, baseado em mode-los estrangeiros de ensino e oferecendo aos alunos especializações em Estilismo, Modelagem ou Desenho Têxtil. Entretanto, o curso acabou implantado dois anos depois, com a metade da duração prevista no início do projeto e foi remodelado devido às carências detectadas por Delfina Miranda na indústria mineira enquanto ela trabalhava para a Companhia Industrial Belo Horizonte.

Seguiram-se à criação deste curso muitas outras iniciativas, concentradas principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Porém, o processo de adaptação do modelo europeu de ensino da moda à realidade brasi-leira já havia iniciado junto ao surgimento dos cursos de desenho industrial no país: Pierre Cardin ministrou disciplinas voltadas ao estilismo como professor convidado da Escola Superior de Desenho Industrial, do Rio de Janeiro; e Eugenie Jeanne Villien, religiosa de origem suíça, estabelecida em São Paulo, minis-trou em 1967 aulas de desenho de moda às turmas de Desenho e Plástica — que mais tarde formariam a base do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina. Além dos esforços dos industriais em oferecer capa-citação para formar profissionais qualificados, e dos intelectuais que traziam do exterior teorias e modelos de ensino, persistiu ainda uma tradição apegada à prática, repassada nos ateliês de costura de geração para geração. Essas três modalidades constituem hoje o heterogêneo cenário de formação do profissional da moda no Brasil, e elas também podem ser sentidas nas próprias diretrizes curriculares dos centros de ensino: algumas enfatizam a criação, outras o mercado e há ainda aquelas que focam nas questões relacionadas à produção e à modelagem, dependendo da produção local que incentivou a instalação do curso.

Os cursos técnicos e de curta duração são os que mais sofrem interferência dos parâmetros da indústria na construção das disciplinas, resultando em muito conhecimento prático e pouco aprofundamento na reflexão teórica. Neste perfil, enquadra-se o já citado curso da UFMG e o CETIQT, do SENAI. É importante ressaltar que ensino técnico nem sempre significa

que é de baixa qualidade: o CETIQT, por exemplo, é considerado referência para muitas instituições de ensino do país, oferecendo ao aluno um aprendiza-do baseado na linha de produção, que inicia na con-strução da fibra têxtil e vai até a peça finalizada na passarela. Do outro lado da moeda estão os cursos de graduação, cujos professores frequentemente advêm de outras áreas de pesquisa e fornecem uma orientação mais superficial da produção em série, enquanto discutem com mais atenção outras facetas da moda, como a construção de uma iden-tidade brasileira que seja capaz de elevar o valor do produto nacional no mercado externo.

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Para a estudante Julia Barbosa, da Universidade Veiga de Almeida, a multidisciplinaridade é um ponto forte do seu curso, que contribui na qualidade dos projetos desenvolvidos e amadurece a visão pessoal da moda. Estimulada a estar sempre atualizada e a combinar conhecimentos nas áreas de criação, história, cultura, prática, sociologia, mercado e afins, ela afirma que sua visão de mundo e seus hábitos foram rearticulados a fim de capturar novas tendências e reconhecer a moda como um estilo de vida. Porém, ela também admite que o conhecimento transmitido pelo curso não é suficiente: “Aprendemos mesmo na vida real, porque há vários métodos. Muitos alunos validam o conhecimento trabalhando, outros preferem buscar formação fora – Central Saint Martins College of Art and Design, no Reino Unido, e Fashion Institute of Technology, nos Estados Unidos, são os destinos mais cobiçados no momento.”

mateus Barros, 20, não limita o aprendizado ao dia

a dia na universidade federal de pernambuco e

complementa a formação fora da academiA

Em Pernambuco, os cursos de moda estão dis-tribuídos tanto na região metropolitana quanto no interior, nos níveis superior e técnico. Muitos têm duração curta e são estruturados para otimizar e conferir uma identidade à produção regional. Mas, ao contrário do Rio de Janeiro que recebe incentivos do governo do Estado, e de São Paulo que oferece o melhor cenário para estudo e trabalho na área de moda do país, falta uma maior articulação do governo e dos empresários para fortalecer a produção local. Na Universidade Federal de Pernambuco, a moda é uma das áreas tratadas pelo curso de Design, do qual fazem parte os estudantes Manuella Lima e Mateus Barros. Por situar-se no pólo de confecção do agreste, o campus de Caruaru disponibiliza mais disciplinas sobre o assunto em relação ao campus de Recife,

abordando desde a história e estética dos estilistas até as técnicas da modelagem plana, moulage, design de superfície, planejamento de coleção e estudo dos materiais têxteis. Aluna do Centro Acadêmico do Agreste, Manuella lamenta que a Universidade ainda não tenha conseguido alcançar um intercâmbio maior com a indústria pernambucana, que poderia absorver as discussões sobre a prática levantadas na Academia. Já Mateus Barros diz que entrou no curso em Recife desejando uma formação mais abrangente, enquanto especializa-se em moda através de cursos técnicos, como de corte e costura, e estágios fora da Universidade. “Não se deve parar ou limitar o apre-ndizado, pois cada experiência acumulada irá servir para formular alguma criação, projeto ou ideia. Além disso, os novos conhecimentos são um diferencial em processos seletivos ou concursos. A novidade, para os empregadores, é indispensável”, defende.

Apesar dos avanços nas tentativas de adaptação ao comportamento da indústria têxtil regional con-siderando a curta existência dos cursos de moda e desprezando as diferenças entre os investimentos do Nordeste e Sudeste, há um longo caminho a percor-rer. Ainda não existe autonomia criativa no Brasil (e é isso que faz tantos optarem por cursos de moda em instituições no exterior): as tendências europeias continuam sendo reproduzidas aqui, pois é dispend-ioso para uma marca nacional gerar uma identidade própria através de longos processos de pesquisa para detectar tendências, criação de estampas próprias e assim por diante, enquanto a mão-de-obra e a carga tributária nacional são mais caras quando com-paradas às facilidades disponibilizadas pela Ásia às concorrentes estrangeiras. Os debates sobre temas relevantes, como sustentabilidade e novas tecnolo-gias têxteis, ainda não ganharam espaço efetivo nos centros de ensino, tampouco na indústria brasileira. Não é raro nem surpreendente que a prática profis-sional no Brasil esteja fortemente vinculada à aptidão artística e tenha um “quê” de amadorismo. O maior desafio talvez seja o preconceito de que a moda é fútil e alienada – quando na verdade tem um grande potencial empregador e de afirmação cultural. Para alavancar o valor da moda brasileira, as relações entre Academia e indústria, bem como os investimentos no setor, precisam ser alargados.

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Consumo de marcas de moda: aspectos funcionais e simbólicosAna Paula de MirandaDoutora em Marketing pela FEA/USP e professora adjunta do Núcleo de Design, UFPE, Centro Acadêmico do Agreste

ResumoEsta pesquisa tem o objetivo de apresentar os aspectos procurados pelas consumidoras de marcas de moda. Os resultados encontrados em ordem de importância foram: Busca de resultado – marcas funcionais, Busca pela sedução – marcas “peruas”, Busca pelo look – marcas “estilosas”, Busca pela liberdade – marcas independentes, Busca pela autoria – marcas individualizadoras, Busca pela novidade – marcas modernas, Busca pela indivi-dualidade – marcas metidas, Busca pela segurança – marcas maternais, Busca pelo prestigio – marcas suntuárias.O de maior grau de significância é o funcional, ou seja, cumprir com os aspectos funcio-nais é condição básica para o consumo; os aspectos simbólicos passam a ser os diferenciadores.

Palavras-chave: moda, consumo, marcas.

IntroduçãoProdutos, comportamentos de consumo, compras, mercados, escolhas, decisões, podem ser encarados como trocas simbólicas que se fazem na sociedade contemporânea. O consumo, sob essa perspectiva, é processo de comunicação e classificação de pessoas e objetos (ROCHA, 1995). Portanto, o consumo pode ser visto como dimensão simbólica da cultura.

O objetivo deste trabalho foi considerar a relação entre identidade social e interação social mediante a escolha das mensagens de comunicação embutidas na decisão de compra relativa a marcas de moda.

O reconhecimento do valor simbólico de bens e ser-viços é o caminho para a criação de atitudes positivas em relação a produtos, a marcas e lojas que expres-sam os valores individuais das pessoas. Todo o objeto comercial tem caráter simbólico: o ato de comprar envolve a avaliação do seu simbolismo, para decidir se é ou não adequado ao seu comprador.

As empresas em geral devem vigiar para que as suas expectativas de sucesso, ligadas ao objetivo de obten-ção de lucro, se consolidem; elas dependem, funda-mentalmente, de uma atuação mercadológica voltada para a compreensão do valor simbólico associado a produtos e marcas, e como esta dimensão pode auxi-liar o indivíduo no desempenho dos diferentes papéis assumidos na vida cotidiana e perante a sociedade.

Significado das marcasDesmond (2003) chama a atenção de que o pro-duto inicialmente não possui significado próprio, um perfume é um perfume, tem função de perfu-mar, passa a assumir uma personalidade quando é atribuído de marca que o distingue como a marca Chanel que não só herdou o nome, mas os significa-dos de sua fundadora . Bem como usou imagens do sistema de celebridades como Catherine Deneuve, Marylin Monroe e Nicole Kidman, de onde extrai da imagem destes “modelos” os significados para seu perfume e demais produtos. Esta atribuição de sig-nificados serve, principalmente e onde é atribuída sua importância, em diferenciar a mesma categoria de produto para marcas diferentes.

O indivíduo ao manifestar-se no ato de consumo, imita, representa e cria mecanismos simbólicos para instaurar a comunicação, abrindo assim, o diá

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logo com o mundo. Desempenha o papel de ator, de observador e observado, estabelecendo relação com o meio em que vive atuando no tempo e espaço. A imagem, como uma cena silenciosa ou como textos aparentemente sem vida, mas intensos, embora apresentados como composições fisicamente estáti-cas, são capazes de contar, comunicar, transmitir uma idéia, um sentimento, utilizando essencial-mente elementos visuais entrelaçados e estrutura-dos, que necessariamente afetam quem observa.

No perfume Chanel o significado atribuído à marca é sofisticação e para Givenchy é feminilidade, antes de Nicole Kidman outro nome associado à Chanel nas campanhas publicitárias foi Catherine Deneuve e para Givenchy quem melhor personificou o valor simbólico da marca foi Audrey Hepburn. De forma que, quando alguém consome o perfume Chanel, passa a ser ou se sente como ou ainda é percebido pelos outros como sofisticada; já no caso de Given-chy, a percepção é de ser extremamente feminina. Assim o produto passa a ser um gerador de signifi-cados (DESMOND, 2003). Lembrando que estes sím-bolos e signos tanto podem dizer a verdade quanto podem mentir.

Segundo Sartre (1997), o desejo é falta de ser e é di-retamente sustentado no ser do qual é falta, sendo assim o homem é o que não é e não é o que é. Sendo a realidade humana o empenho em ser e o desejo exprime este empenho. O desejo leva a busca do ob-jeto que mediante a sua posse, ou seja, se desejo me arrumar, ter um objeto de adorno, fazer compras, significa que desejo ter uma determinada aparência, definindo assim a relação: fazer, ter, ser.

O conceito de marca resume bem as possibilidades da “linguagem do consumo”. Quase todos os pro-dutos se propõem hoje sob uma sigla imposta: cada produto tem marca que pode chegar até a substituir o nome, como Levi’s foi durante certo tempo sinôni-mo de calça jeans. Em princípio, a função da marca é indicar o produto; mas em segundo, e não menos importante, é mobilizar as conotações afetivas.

A razão é de ordem econômica: sendo calculadora, a sociedade industrial está condenada a formar consu-midores que não calculam. Para que haja o consumo antes do desgaste, se faz necessário um imaginário constituído para despertar o desejo: não é o objeto, é o nome que o faz desejar; não é o sonho, é o símbolo que faz vender (BARTHES, 1981)

Elliot (2004) apresenta a perspectiva do consumo como vocabulário simbólico, onde o consumo é ele-mento da prática da identidade, por ser fonte de ação social e interpretações compartilhadas. A teoria da autocongruência de Sirgy (1982) contribui afirmando que consumidores preferem produtos e marcas com significado que são consistentes com seus autoconceitos, assim sendo, motivados por autocon-sistência consumidores comparam seus autoconceitos com a imagem dos produtos e preferem produtos cujas imagens são congruentes com suas auto-ima-gens. Existe uma interação entre a percepção dos consumi-dores sobre eles mesmos e sobre o uso que eles fazem dos produtos de moda e suas marcas como símbolos, existe uma relação entre esses produtos e suas marcas com o eu (BANISTER in HINES et al, 2001).

Aaker (1999) encontrou evidências do efeito da congru-ência de personalidade. Pessoas preferem marcas com as quais elas compartilham características de persona-lidade.

Govers & Schoormans (2005) apresentam resulta-dos de significante congruência positiva na relação produto-personalidade na preferência do consumidor para produtos de apelo privado como chaves de fenda, máquinas de café, porta-sabão líquido e vinhos de mesa.

O desafio está em desvendar este sentido, que objeti-va maximizar a eficácia da comunicação; o símbolo é constituído de significante e de significado que lhe cor-responde (LÉVI-STRAUSS, 1989; BARTHES, 1979); um significante pode possuir vários significados, diversos entre si, para várias pessoas, ou um significado pode ser atribuído a vários significantes diversos entre si; a linguagem do consumo só vai alcançar o seu objetivo, se a comunicação for efetiva, se os códigos forem com-partilhados. Estes são convencionados e compartilha-dos; assim os significados atribuídos aos produtos são transferidos com grande facilidade (ENGEL et al, 1991).

As marcas contam histórias. Consumidores interpre-tam imagem associadas com produtos ou marcas, que são altamente influenciadas por estereotipo generali-zados do tipo de usuário deste produto (BANISTER et al in HINES et al, 2001).

Quadro 1 - Sistema de referência

Nicole Kidman

Liv Tyler Sistema de Modelos

Sistema de Produtos

= =

Chanel Givenchy

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O Brand Concept Management (BCM) de Park et al (1986) propõe que toda imagem de marca deve ser baseada em um conceito de marca ou um significa-do abstrato específico da marca. Em forma geral, o conceito de marca deve ser tanto simbólico como funcional. Marcas funcionais satisfazem aspectos práticos de necessidades imediatas. Marcas sim-bólicas satisfazem necessidades simbólicas como auto-expressão e prestigio. Por exemplo, um relógio Casio atende a necessidade funcional de informar o horário exato, já um Movado, pode ser considerado uma marca simbólica, pois é usado principalmente por seu apelo de status, fornecer a informação em relação ao passar das horas é um mero detalhe.

Ou seja, marcas apresentam aspectos simbólicos e funcionais. Segundo Bhat e Reddy (1998), faz-se ne-cessária uma investigação empírica para identificar se simbolismo e funcionalismo são dois conceitos distintos ou são dois fins de um conceito de marca in continuum. Em seus estudos, eles apresentam três fatores que explicam este tipo de consumo, sendo um funcional e dois simbólicos (prestígio e expressão pessoal). Sendo assim, há dois conceitos distintos e não dois fins em comum para um con-ceito de marca.

As competências simbólicas são freqüentemente referenciadas na literatura enquanto característi-cas representacionais. Os adjetivos e as frases que pertencem às competências simbólicas incluem o representacional, a expressão emocional, do eu, a imagem do eu, a personalidade, o valor e o ícone. Marcas funcionam como uma sugestão para refletir a associação de consumidores com determinados grupos. Sendo assim, as características emocio-nais do simbólico (reflexo da auto-expressão) e os fatores representacionais (associação com grupos sociais) são incorporados à marca simbólica. (BRID-SON & EVANS, 2004).A literatura sobre simbolismo de produtos e marcas mostra que roupas é uma categoria de consumo de alto envolvimento simbólico, pois pessoas avaliam as outras pelo que está visível, ou seja, suas rou-pas. A natureza simbólica do vestuário pode ser incorporada também por estilos, marcas, marcas de varejo, uniformes, hábitos de membros de uma subcultura em particular (BANISTER et al in HINES et al, 2001) .

Produtos de vestuário são ótimos veículos de co-municação para os seus proprietários. As marcas de moda possuem as características essenciais para o consumo simbólico: visibilidade, variabilidade no uso e personalização. Para que produtos tenham associações com a personalidade, têm de ser consu-midos de forma que estejam visíveis; a variabilidade no uso é também importante, porque, sem esta, não

Quadro 2 – Caracterização da amostra

População ou universo

Mulheres com idade entre 16 e 55 anosClasses sociais A, B e CResidentes em São Paulo

Abrangência São Paulo

existe diferenciação entre os indivíduos, com base no uso do produto; a personalização do produto de-nota a extensão mediante da qual o uso do produto pode se atribuído para uma imagem estereotipada de um uso generalizado. (SIRGY, 1982) Por exem-plo, ao escolher uma roupa pode-se escolher entre vários estilos (variabilidade), que podem comunicar diferentes mensagens que serão entendidas como expressões do eu (personalização) por todos os que a virem (visibilidade); já que a roupa é destinada ao ambiente público, a falta pode ser punida com a sua prisão; não ao privado, porque aí se pode ficar sem ela, se assim o desejar.

A dinâmica está em se identificar, a lógica deste pro-cesso se constitui na personalização e integração que caminham em paralelo: é o “milagre do sistema”, do qual fala BAUDRILLARD (1995); esta integração é o processo pelo qual o indivíduo se ajusta à socieda-de e se socializa. (AUGRAS, 1967; SOLOMON, 1983; ENGEL et al, 1995).

MetologiaA pesquisa trabalhou com as classes sociais A, B e C conforme o Critério de Classificação Econômica Brasil.

A população foi feminina; de acordo com o trabalho de SOLOMON (1982) as mulheres são mais envolvi-das com vestuário do que a população masculina; a relação entre autopercepção pública e a dimensão relativa ao vestuário são muito fortes para o sexo feminino. McCracken & Roth (1989) encontraram em suas pesquisas que as mulheres são significati-vamente melhores habilitadas que os homens para interpretar a sintaxe do código do vestuário. Pode-mos afirmar que a moda tem historicamente criado uma associação forte entre feminilidade e a busca do “estar na moda”, onde se realça a importância da aparência na construção social da feminilidade. Logo, mulheres são mais suscetíveis às mensagens de moda que os homens (THOMPSON, 1997).

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Em relação à distribuição da amostra entre as classes sociais e os grupos de idade foram definidas quotas de 27 questionários aplicados por segmento de classe social e de grupo de idade conforme o que está apresentado, totalizando 324 questionários. O questionário foi construído após fase qualitativa onde foi analisado o discurso de 24 consumidoras sobre os motivos que as levam a consumir (ou não) marcas de moda.

Análise dos resultadosPara o desenvolvimento da tipologia das marcas baseada nos resultados da aplicação das escalas referentes aos aspectos sociais, motivacionais e co-municacionais do consumo de marcas de moda, foi utilizada a análise de cluster. Na análise do dendo-grama, optou-se por fazer o corte em 9 grupos por ser o nível intermediário e, portanto o mais repre-sentativo, nem tão abrangente, nem tão segmentado.

Foram identificados 09 tipos de marcas, onde 08 apresentam características simbólicas e 01, o clus-ter 09, apresenta aspectos funcionais.

Descrição dos clusters:

Cluster 1 = (o diferente + o novo + que seja exclu-siva + exclusividade)/4 = grupo das marcas dos que querem se destacar na multidão. Busca pela indi-vidualidade mediante o consumo de marca de moda.

Cluster 2 = (interessada em moda + sabe o que esta acontecendo no mundo + não sair da moda + estar na moda + tendência)/5 = grupo das marcas dos modernos. Busca pela novidade mediante o consumo de marca de moda.

Cluster 3 = (identidade da marca + chamativo + sucesso + aceitação + rica + poder aquisitivo + status)/7 = grupo das marcas suntuárias. Busca pelo prestigio mediante o uso de marcas de moda.

Cluster 4 = (eu + veste bem + elegância + original + estilo + criatividade + design)/7 = grupo das marcas estilosas. Busca pelo look mediante o consumo de moda.

Cluster 5 = (moderna + alternativa + mostrar que tem personalidade + diferente sem exagero + estilo

dendrogramaamalgamação via método de warddistância 1-spearman rho

Figura 1 – Apresentação dos Clusters

lin

ka

ge

dis

tan

ce

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próprio)/5 = grupo das marcas individualizadoras. Busca pela autoria mediante o uso de marca de moda.

Cluster 6 = (atraente + sexy + bom gosto + bonita + beleza)/5 = grupo das marcas peruas. Busca da sedu-ção mediante o uso de marca de moda.

Cluster 7 = (auto estima + espantar tristeza + formal)/3= grupo das marcas maternais. Busca de segurança mediante o uso de marca de moda.

Cluster 8 = (feliz + não importa o que os outros pensam + não gastar muito + valor)/4 = grupo das marcas independentes. Busca de liberdade median-te o uso de marcas de moda.

Cluster 9 = (bem estar + conforto + durabilidade + qualidade + qualidade)/5 = grupo das marcas funcio-nais. Busca de resultado mediante o uso de marcas de moda.

O cluster 09, o das marcas funcionais, apresenta maior grau de significância, o que nos leva a afirmar que as questões relativas ao produto em si como qualidade do material, durabilidade, acabamento,

modelagem são vitais para o sucesso de uma marca de moda, sem estas atribuições a marca não tem competitividade no mercado. Trabalhar a imagem esquecendo os aspectos técnicos do produto é ina-ceitável por parte do consumidor.

Sedução (cluster 06) e o Look (cluster 04) vem em seguida, demonstrando que os aspectos mais “femi-ninos” do consumo que são os relativos a seduzir, a ter um estilo, ou seja, tudo o que leva a admiração do outro e que pode obter elogios que podem ser em forma de olhares ou palavras são extremamente importantes para o consumo de marca de moda, sem esquecer que o look é processo de construção de identidade. Por outro lado, a Liberdade (clus-ter 08) mostra a preocupação em afirmar que tem liberdade de escolher de forma inteligente, não está disposta a pagar por este reconhecimento e que apresenta um nível de significância tão alto quanto os outros dois, ou seja, existem tanto mulheres que vivem em função do outro como as que não estão preocupadas com isso.

Seguindo a ordem temos o cluster 05, o da autoria, que apresenta uma mulher que quer consumir mar-cas que não estejam sintonizadas com a massi

Figura 2 - A importância dos clusters

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ficação, que tenham uma assinatura, com a qual elas possam se identificar se projetar, como uma alter-nativa ao que foi definido como bonito ou de bom gosto pelo gosto comum.

Novidade e individualidade estão bem próximos, mostrando que a preocupação de estar na moda, de ser moderna, de ter a informação da tendência, a verdadeira espinha dorsal do que se acostumou chamar de fashion perde, numa visão geral, para aspectos de individualização e de bom senso que a marca pode atribuir ao seu proprietário como é o caso dos clusters anteriores, mas ainda apresenta um alto nível de relevância para a consumidora.

A busca pela segurança das marcas maternais está presente mostrando que as mulheres ainda fazem terapia fashion com mais freqüência do que seria o recomendável, a fuga dos problemas e o uso do consumo de marcas como amuletos de transfor-mação em pessoas mais corajosas, interessantes ou qualquer outro atributo que gere a aceitação e admiração do grupo e logo, a sua própria, é relevan-te para este consumo.

Por último e apresentando baixa relevância para as consumidoras em geral estão as marcas suntuá-rias, ou seja, a busca pelo prestígio, ser reconhecida como uma pessoa que tem dinheiro não é interes-

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sante para as mulheres em geral, parece que não está na moda aparentar, é cafona ser perua.

Considerações finaisInteressante o resultado de que por mais que todos os outros clusters sejam de atribuição simbólica, o de maior grau de significância é o funcional, ou seja, cumprir com os aspectos funcionais é condição si ni qua non, os aspectos simbólicos passam a ser os diferenciadores.

Assim, podemos afirmar que, só quando as questões utilitárias estão resolvidas, a consumidora trans-cende para as questões simbólicas.

iAo ser perguntado, em uma entrevista, em que parte do corpo a mulher deveria passar perfume, Chanel respondeu: Onde ela quiser ser beijada (AMARAL, 2004).

iiEssas subculturas existem dentro de comunidades maiores mas têm gostos, interesses, preferências, tabus, estilos e atitudes próprios com relação à moda. Por exemplo, na sociedade norte--americana, os negros representam uma subcultura da cultura estadunidense, diferentes na sua essência dos brancos WASP (sigla para abreviar o termo White, Anglo-Saxan and Protestant, ou seja “branco, descendente de ingleses e protestante”).

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pólo de confecçõesdo agreste

estamparia digital

peles que habito

INDÚSTRIA

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pólo de confecçõesdo agrestea trama do negócio que aquece a economia pernambucanaPor Igor Santos

A indústria têxtil, principalmente confecção e vestuário, ocupa espaço de grande relevân-cia na economia internacional, nacional e

regional em geração de renda e empregos. Ela tem auxiliado o processo de industrialização de inúme-ros países (revolução industrial inglesa dos séculos XVIII e XIX, ou o caso atual de Bangladesh), não sendo diferente no Brasil, onde a produção tem sido de grande importância desde a década de 50.

Atualmente em nosso país podemos destacar duas situações distintas: somos o 6º maior produtor mundial de confeccionados, atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos, Turquia e México; no entanto, ainda possuímos participação modesta no comércio internacional do segmento, ocupando apenas a 41ª posição no ranking dos maiores exportadores e a 45ª dos importadores. Ainda assim, o setor se man-tém com leve crescimento na geração de empregos e em faturamento, sendo o que maior se destaca dentro da CTC – Cadeia Têxtil de Confecções, repre-sentando mais de 60% do montante de empregos e metade do faturamento do setor.

Nesse cenário se insere o Pólo de Confecções do Agreste de Pernambuco, que tem se destacado como importante pólo na produção de vestuário na-cional. No início, ao longo da década de 90, produzia peças de baixa qualidade para consumidores com baixo nível de exigência e, atualmente, já começa a se inserir num cenário de maior abrangência e de valor agregado mais elevado, seguindo conceitos e tendências nacionais e internacionais.

Caruaru, juntamente com Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, despontam como principais pontos de escoamento e comercialização de produtos de confecções em Pernambuco, formando o destacado triângulo de confecções do agreste pernambucano. Hoje, segundo o SENAI, Santa Cruz do Capibaribe é o segundo maior pólo de confecções do Brasil, su-perada apenas pela cidade de São Paulo, possuindo o maior parque de confecções da América Latina em sua categoria, o Moda Center Santa Cruz.

No início, a produção local era realizada de uma ma-neira bastante doméstica. As costureiras da região produziam em suas casas roupas simples, que pelo

vitrine da loja rota do mar.

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preço irresistivelmente baixo derrubavam qualquer concorrência. Essa facilidade na comercialização foi atraindo mais e mais costureiras, fazendo com que os homens da região se transformassem em mascates e partissem para ínumeras feiras do nosso nordeste comercializando a produção, enquanto as mulheres tentavam diversificar a seus artigos (saias, camisas, blusas, anáguas, roupas infantis, etc.). Com o tempo, os mercados da região foram aos poucos conquistados e a produção começou a chamar a atenção nacional, se tornando o maior Pólo de Con-fecções do Nordeste.

Já a cidade de Toritama lidera a confecção do je-ans, sendo uma das maiores produtoras do país e possuindo o parque de Feiras, onde se centraliza o comércio da cidade. E em Caruaru, o escoamento da produção se dá principalmente pela Feira de Caru-aru, conhecida como a maior feira livre do mundo, sendo que grande parte do que é vendido nela tem sua produção localizada em Toritama e Santa Cruz do Capibaribe.

Mas engana-se quem pensa que o Pólo de Confec-ções se concentra apenas nesse triângulo, atu-almente mais cidades apresentam crescimento destacado e fortalecem a produção do Pólo (Agres-tina, Belo Jardim, Brejo da Madre de Deus, Cupira, Gravatá, Pesqueira, Riacho das Almas, Surubim, Taquaritinga do Norte, Vertente e Vitória de Santo

Antão). Somadas, elas produzem 800 milhões de peças por ano, movimentando cerca 3,5 bilhões de reais, concentrando mais de 18 mil empresas do setor e 120 mil empregados diretos.

Essas cidades todas unidas constituem o famoso Pólo de Confecções de Agreste. Segundo Fredi Maia, diretor administrativo do Sindicato da Indústria do Vestuário de Pernambuco (Sindvest), o termo começou a ser utilizado em 2002, a partir da elabo-ração do projeto feito pelo SEBRAE, denominado Projeto de Desenvolvimento do Pólo de Confecções do Agreste, “O objetivo era conhecer a realidade e desenvolver empresas nos municípios de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe”.

No momento, ainda há um planejamento estratégi-co para fazer de Pernambuco o melhor ambiente de negócios para a moda, exigindo esforços por parte de entidades como a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD/Diper), SEBRAE e Sindivest, realizados no intuito de estimular, entre outros, a pesquisa tecnológica e geração de alterna-tivas de desenvolvimento sustentável.

Entretanto, ressalva-se que a produção do tecido ainda é deficitária. O montante gerado no próprio estado não alcança 30% do total, demandando a importação principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Ceará, entre outros estados. “Com melhorias

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Desde 2001, o SEBRAE vem promovendo anual-mente o Projeto Negócios da Moda Pernambuca-na. Esse projeto, que é realizado pela Associação Comercial de Caruaru, consiste na promoção do encontro entre empresas que confeccionam peças e compradores de todo o território nacional. Neste ano, o evento foi realizado nos dias 16, 17 e 18 de Março no estacionamento do Empresarial Shopping Difusora, um espaço com aproximadamente 4,5 mil m², com estandes de 8m². No total, 120 empre-sas de 11 municípios expuseram seus produtos e realizaram negócios com mais de 300 compradores, incluindo grifes conhecidas nacionalmente.

As empresas e os vendedores que participaram do evento passaram por uma avaliação que levou em conta os interesses do lojista e uma e uma inspeção de todos os documentos, a fim de vetar a participação de informais e empresas com problemas de crédito.

Mário César Freitas, que é o responsável pela área de Confecções no SEBRAE em Caruaru, explica que a cadeia têxtil sempre foi forte no Agreste pernam-bucano, e que essa força vem crescendo a cerca de oito anos para cá, através do apoio do SEBRAE, que promove treinamentos na área de gestão empresarial, consultorias em desenvolvimento de coleções, processos produtivos e de organização de área comercial. “Muitas vezes confeccionistas que participaram de oficinas oferecidas no SENAC tentam abrir seu próprio negócio, eles tem bastante conhecimento técnico, porém possuem carência em um treinamento de gestão empresarial e dificulda-de de se projetar no mercado” explicou Mário César Freitas.

Projeto Negócios da Moda Pernambucana

na infra-estrutura, nas políticas fiscais e na quali-ficação de mão-de-obra, teremos plenas condições de ser o maior produtor do setor no Brasil, tanto em qualidade como em quantidade. Existem aqui duas coisas fundamentais: coragem de empreender e um centro emissor de tendências: Pernambuco tem uma cultura própria, capaz de emitir ideias para todas as regiões”, pontua o diretor do Sindivest.

O empreendedorismo familiar ainda continua sendo marca no desenvolvimento industrial do Agreste. “O trabalho produzido nesses municípios vem somar aos centros comerciais para fornecer novos produ-tos para os compradores da região. Essas cidades começam a formar um pólo prestador de serviços, através do surgimento de facções que produzem uma diversificação do nicho de produtos”, destacou o consultor do SEBRAE, Laudemiro Ferreira.

Corroborando com a profissionalização desses mu-nicípios e cidades maiores do Pólo, o SEBRAE Caru-aru desenvolve projetos para apoiar novas e antigas empresas (vide box Projeto Negócios da Moda Pernambucana). “Temos três programas em funcio-namento para as empresas desses municípios: o de melhoramento da imagem, de competitividade e um programa de consciência limpa, para as lavanderias”, destacou Mário Cesar, gestor de projetos de confec-ção do SEBRAE Caruaru.

“Aqui você encontra todo tipo de configuração, você encontra do que só monta a peça, do que monta parte da peça, do que cria a peça toda e entrega pra alguém, daquele que só costura, do que cria, cos-tura e faz tudo. No SEBRAE, SENAI e no SENAC, nós temos feito com muita frequência cursos de consultoria para desenvolvimento de coleção. Evi-dentemente que você não atinge todo o universo (...) porque é uma grande engrenagem que envolve des-de a indústria têxtil, que são compradores específi-cos, até o consumidor final, e o papel do consumi-dor final é muito preponderante porque é ele quem define o perfil da produção, levando em considera-ção que a economia do país ascendeu pra classe C. A pirâmide brasileira mudou muito, é a classe C e D que define muito qual o perfil do consumo.” Resume Mario César.

Em suma o Pólo de Confecções do Agreste vem crescendo dentro do cenário geral da produção brasileira e ainda possui grande potencial e oportu-nidades de crescimento. Depende agora de inves-timentos do governo e ampliação de iniciativas de qualificação da mão-de-obra e do produto final da região. A pujança da capacidade de produção local já rende bons frutos, mas ainda há muito espaço para crescimento, em volume de vendas, de empregos e na valorização da produção.

Por Thomás Soares

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Estamparia Digital

A revolução na indústria têxtil Por Carolinne Sabino

A tendência do mercado da moda é a diversificação, pois o consumidor se satisfaz com a variedade e a exclusividade dos produtos. Essas exigên-cias acarretaram na necessidade produtiva de metragens cada vez meno-

res, onde só o sistema de impressão rotativa não consegue atender a demanda.

O surgimento da estamparia têxtil digital chegou para revolucionar a indústria, tra-zendo inúmeras vantagens sobre os processos tradicionais (cilindros, plana, transfer, silk-screen e sublimação). São alguns diferenciais os desenhos ilimitados que podem ser criados, as estampas com qualidade fotográfica, a personalização e exclusividade, as múltiplas escolhas de cores, a redução do consumo de água e energia, corantes e soluções, atuando como ferramenta ecológica, entre outros benefícios.

Sim, mas como funciona o processo de estampar tecidos por impressão digital? De uma maneira geral, a estampa digital inicia-se com a preparação do tecido, que recebe um pré-tratamento com agentes químicos especiais para permitir a aderência da tinta e controlar sua penetração na fibra. Após a impressão, o tecido é vaporizado em equipamentos próprios para o processo de satura-ção e fixação das cores e, em seguida, é lavado para a retirada dos produtos químicos e aí já esta pronto para a secagem. Não pode esquecer-se da escolha correta dos tecidos e mesmo a qualidade das tintas para a exata finalidade do que se deseja.

As tintas para impressão direta sobre o tecido são à base de água e podem ser divididas em:

• Corantes dispersos: utilizados para estamparia em poliéster. São insolúveis em água, mas penetram e se difundem nas fibras de poliéster durante o processo de vaporização após a estampagem e tal penetração rende excelentes propriedades de solidez a fricção e lavagem;

• Corantes reativos: consistem numa das grandes classes de corante utilizadas para estamparia em algodão, viscose e outros materiais celulósicos. Como os corantes reagem quimicamente com as fibras, proporcionam alta solidez à fricção, à lavagem e à transpiração;

• Corantes ácidos: oferecem excelentes propriedades para uso final sobre uma enorme gama de cores na seda, nylon e lã. Tais propriedades são específicas para se adequar a aplicações apropriadas de soli-dez a água do mar e cloro para roupa de banho.

Na estampa digital, as imagens são desenvolv-idas, digitalizadas e enviadas para a gravação/impressão através de softwares gráficos Fo

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encontrados facilmente no mercado. As imagens são produzidas a partir de uma criação própria, ou através de uma foto, uma gravura e, antes de a ima-gem chegar ao tecido, o software ainda corrige falhas de impressão e sobrepõe cores com mais precisão. Hoje, a tecnologia de impressão desenvolvida é de fácil uso que, mesmo os designers podem fazer seus produtos, sem ter a ajuda de designers têxteis.

Empresas pernambucanas também aderiram à utilização da impressão digital; o Estúdio Zero, criado em 2002 pelo casal de designers Roberta Leão e Gilberto Bezerra, é o principal representante. Ele também foi o pioneiro dessa técnica no Nordeste devido à dificuldade de encontrar estamparia perso-nalizada, com variedades de desenhos e quantidade de metragem suficiente que permitisse criar sem limites.

Desde 2006 desenha e fabrica produtos de marca própria, como tecidos, almofadas, pufes, futons, papéis de parede, roupas femininas e infantis. No Estúdio Zero a tecnologia da estampa digital é uma ferramenta a serviço da arte, do design, da individu-alidade e foi introduzida para viabilizar os produtos têxteis, dando oportunidade de ter uma grande varie-dade de estampas com tiragens pequenas.

Além dessas vantagens, a estamparia digital é uma boa escolha, segundo Roberta, porque é um processo lim-po que consome pouca água e permite o uso de tintas biodegradáveis. O que vai de acordo com o interesse da empresa de causar menor impacto ambiental tanto nos processos internos de produção quanto na esco-lha dos fornecedores. Por causa da preocupação com o meio ambiente, o Estúdio Zero trabalha com tecidos de fibras naturais, principalmente o algodão e o linho. A empresa apresenta um leque variado de clientes aos quais presta serviços de estamparia digital, como a Rede Globo, Delta Expresso e Maria Casa.

O processo de criação das estampas normalmente começa com rascunhos feitos a mão ou colagens. A inspiração para fazer tantas peças originadas vem de absolutamente todos os lugares. Tudo que é visto, lembranças de infância, fotos de viagem viram refe-rência, pois quem trabalha com processo criativo vive numa eterna pesquisa.

O objetivo da empresa é criar e oferecer produtos que façam parte do dia a dia da família e provoquem alguma reação, seja um item de decoração que deixa a casa mais alegre ou uma roupinha engraçada que fique na lembrança no álbum de fotos do bebê.

Quer saber mais sobre o estúdio zero? Acesse:www.estudiozero.com

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Algumas empresas que fornecem o serviço de estamparia digital:

• RValentimEmpresa paulista que presta serviço de estampa digital em tecidos para moda, decoração, acessórios e propagandas. Imprimem tecidos a base de algodão, linho, viscose e poliéster. Para mais informações: acesse www.rvalentim.com

• CriataEmpresa mineira com foco totalmente direcionado para impressão/tingimento digital em tecidos para moda, decoração, publicidade e eventos. Para mais informações: acesse www.criata.com.br

• Prima DigitalEmpresa paulista que oferece serviços de impressão digital direta, em sublimação, plissados, amassados ou com aplicações por espatulagem como, foil, metali-zado, coating, entre outros. Para mais informações: acesse www.primadigital.com.br

interessado em aprender mais sobre a técnica da estamparia digital? Segue alguns locais de curso:

• Estamparia Têxtil Digital Escola São Paulo: Rua Augusta, 2239 Jardins, São Paulo — SP www.escolasaopaulo.org • O Desenho de Estamparia Têxtil Belas Artes: Rua Doutor Álvaro Alvim, 90 Vila Mariana, São Paulo — SPwww.belasartes.br

Criação das Peças Família Ovo

1. Modelagem | 2. Criação da Estampa | 3. Impressão do Tecido pela máquina Dupont Artrist 2020 e secagem | 4. Corte e Costura | 5. Primeiro Guarda-Roupas | 6. Personagens da Ovo

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Peles que habitocouro natural, sintético ou ecológico, qual o melhor pra salvar a pele do planeta?Por Igor Santos

O couro invadiu de vez os looks dos fashio-nistas, foi tendência no inverno 2012, será tendência no verão 2013 e não deve parar

por aí. Nesse cenário, surgem as mais variadas propostas, cores e texturas, podendo criar um visual rocker, casual, sofisticado ou mais moderno com os novos tons de metalizados. Mas nesse mar de varie-dades surge a dúvida: com que couro eu vou?

A moda, obviamente, não ignora o movimento global pró meio ambiente e os mais diversos termos começam a figurar as etiquetas das peças de couro nas vitrines, como bio, ecológico, sintético, vegetal, etc., causando confusão não só para os consumido-res na escolha do que faz bem ao guarda-roupa e ao planeta, como para os designers e estilistas na defi-nição da melhor opção para a proposta comercial e conceitual da marca.

O couro natural nesse contexto já parece obsoleto, carregado de maus tratos animais, grande geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos no processo de produção, demanda grandiosa de água, enfim, não faltam motivos para abolir de vez seu uso. Nada mais fora de moda que matar animais para vestir.

O couro sintético, por sua vez, estende-se à maior parte dos tipos de couro no mercado, simulando peles animais como a de crocodilo, cobra, avestruz, além da bovina. É um termo com o qual os con-sumidores já estão habituados há um tempo e é bastante comum também no desenvolvimento de produtos de moda como uma definição estratégica para novos tipos de couro. Assim, nas lojas, o couro natural e o sintético muitas vezes aparecem na etiqueta apenas como couro, cuja intenção capciosa é “misturar o joio e o trigo nas araras”. Im

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Na realidade, o couro sintético não chega a ser couro, muito menos ecológico. “Existem vários materiais chamados de couro sintético, mas que são feitos de PVC, um derivado de petróleo”, afirma Luiz Carlos Faleiros, 49, responsável pelo laboratório de couros e calçados do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológi-cas). O próprio termo couro sintético, na verdade, é uma denominação errada, até mesmo do ponto de vista legal: o artigo 8º da lei 11.211/05 diz “é proibido o emprego (…) da palavra “couro” e seus derivados para identificar as matérias-primas e artefatos não constituídos de produtos de pele animal”.

Ainda assim – com o passar do tempo e o reforço da moda sustentável e ecológica – por não neces-sitar do abate de animais, o termo couro sintético se estabeleceu e passou a ser sinônimo de couro ecológico, o que vem a ser uma definição ainda mais inapropriada e oportunista.

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Já em outra frente, o termo couro ecológico tem sido utilizado para as peles de peixes, sendo mais comuns as de tilápia, salmão, pescada amarela e dourado. Mas como couros derivados de peixes po-dem ser ditos ecológicos? Isso se deve a proposição aproveitadora de que, com o abate dos peixes para a alimentação, suas peles, ao invés de descartadas, se-riam reaproveitadas no setor de moda. Justificativa questionável por validar também o couro comprado pelos curtumes após o abate de bovinos. Todavia, esses couros ecológicos passaram a ser conhecidos também como couros alternativos, incluindo ainda no pacote até mesmo o couro de rã.

O fato é que o couro verdadeiramente ecológico, como gostaríamos que fosse, ainda não possui uma definição técnica ou legal, mas costuma estar re-lacionado a processos de fabricação menos impac-tantes que os tradicionais. “Couros ecológicos são menos poluentes, usam substâncias naturais

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Tecidos criados pelo Instituto “e”

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ou biodegradáveis, têm menos restrição de mer-cado e usam menos água”, diz Gerusa Giacomolli, 32, técnica responsável pelo Centro Tecnológico do Couro do Senai.

Como bom exemplo podemos citar a Nova Kaeru, com destaque na produção nacional de couros ecológicos – que possui inclusive produtos homolo-gados pelo respeitado Instituto-e (ONG originada na Osklen, mas que hoje opera de forma independente) – que oferece o denominado bio couro. Esse Termo refere ao método de curtimento aliado ao concei-to de “Análise do Ciclo de Vida”, conceito criado pelos pesquisadores italianos Ezio Manzini e Carlo Vezzoli (autores de “O desenvolvimento de produ-tos sustentáveis”). Nesse método, de acordo com o fornecedor, utilizam-se exclusivamente produtos orgânicos para que o couro possa retornar à natu-reza – daí a justificativa do prefixo “bio”, de biode-gradável. A relevância desse método se estabelece

por se contrapor ao uso de metais pesados, como o cromo, das indústrias tradicionais.

Não obstante, o real couro ecológico é aquele que de nenhuma maneira agride a natureza. O legítimo couro ecológico apresenta-se como couro vegetal ou ainda encauchado, material proveniente do látex da seringueira (árvores do gênero Hevea) ou do caucho (árvores da espécie Castilloa ulei). Princi-palmente produzido pelas empresas Amazon Life e Treetap, com consumo bastante popular em meados da década passada com o auge da sustentabilidade nas rodas de discussão.

Entretanto, como já foi dito, em consideração à proibi-ção legal do uso da denominação couro para produtos que não são de pele originária de animais, a indústria tem preferido o uso do termo “laminado vegetal” fren-te ao couro vegetal, tendo como um bom exemplo, a empresa Ecológica Laminado Vegetal do Brasil.

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Da esquerda pra direita, de cima para baixo:

Produto Amazon Life, Manta de pescada,

Tecidos criados pelo Instituto “e”, Sapatos

Gucci biodegradáveis, Manta de couro de

rã, Produto Amazon Life, couro vegetal

cultivado em laboratório e Pele de salmão

com aplicação de estampa

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Essa empresa (parceira do Sebrae, Senai e Instituto de Pesquisas Tecnológicas), apresenta um Índice de Sustentabilidade de Produtos – indicando a compo-sição da matéria prima – além de unir a alta tecno-logia industrial com técnicas artesanais centenárias. Tem seu laminado vegetal produzido em Magda-SP e não na tradicional Amazônia sergingueira, signi-ficando redução nas emissões de CO2 ouriundas do transporte da produção para o mercado final. So-bretudo o couro vegetal da empresa possui diversas gramaturas, cores e estampas, fundamentando uma alternativa válida ao uso do couro animal e de cou-ros sintéticos, derivados do petróleo. Como bônus, segundo o fabricante, “os processos de espalmagem do látex e secagem em estufa não produzem resídu-os de qualquer espécie”.

Infelizmente, apesar do esforço de alguns fabrican-tes, como a Ecológica, mais conscientes na tentativa de inserir o couro vegetal ou laminado vegetal no mercado, esse material continua com números pou-cos expressivos de venda. De maneira geral, falta padronizar o material, aperfeiçoar os processos de

produção, principalmente no tocante ao seu estado ótimo de catalisação: a apresentação final do pro-duto ainda permanece de certa maneira “grudenta”. Fora isso, os couros sintéticos ainda permanecem com um preço mais competitivo de mercado.

Sem dúvida a moda e demais negócios sustentáveis ainda possuem muito chão pra cobrir. São muitos os obstáculos e desafios, mas o importante nesse momento é a disseminação do pensamento ecológi-co da ética sustentável. A moda verde está cada vez mais próxima e crescente, mas ainda não se apre-senta acessível à grande massa: não haverá mercado sustentável enquanto não houver consumidores sustentáveis. A moda ecológica mesmo só deverá surgir no momento em que, na consciência do con-sumidor, ética e estética se fundirem.

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consumo

A Moda Classe D

Consumo Responsável

Escambo

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a Moda Classe DA Classe D não economiza na hora de se vestir e investe em marcas famosas.Por Tainan Paiva

Usando roupas de grifes famosas, ou adaptando os looks da classe A com peças semelhantes e de preços mais acessíveis, os integrantes da classe D querem estar na moda independente da sua realidade financeira. O que vale é se incluir no grupo e fazer parte da tribo, seja

comprando no camelô, em brechós, ou em lojas da marca preferida.

Com o consumismo sendo bastante explorado na nossa sociedade, ao se tratar de moda devemos também pensar em economia. Para o Instituto Data Popular, as famílias com renda entre três e seis salários mínimos (R$ 1.395 e R$ 2.790) são consideradas pertencentes à classe D. Com esse rendimento se torna difícil ter acesso às novidades a cada coleção nova que aparece. A indústria da moda voltada para essa classe surge para suprir as necessidades da mesma; gente que quer se vestir com roupas de grife, mas com preços acessíveis a sua realidade financeira.

Hoje, é possível encontrar modelos inspirados em coleções de grandes estilistas, em grandes lojas de departamento nos shopping centers e até mesmo nos pequenos estabelecimentos comerciais no centro da cidade. O tecido, as cores e as estampas podem ser um pouco distintas, mas é possível reconhecer a semelhança com as roupas figuradas nas revistas de moda.

Cada classe tem sua personalidade e seus conceitos, as mais altas (A/B) são mais ousadas ao se vestir, arriscam mais, querem se destacar das outras classes e se autoafirmarem como elite, enquanto que as mais baixas (C/D/E) preferem o básico, sempre com marcas famosas, mas tentando acompanhar a elegância classe A e conseguem isso graças à facilidade de compra com cartão de crédito e divisão do valor total em infinitas parcelas. Usar acessórios de grife passou a ser uma ferramenta de inclusão social. Segundo levantamento do Instituto Data Popular, a elite escolhe a marca para se diferenciar da massa e costuma se concentrar no exclusivo. “Já as classes da base da pirâmide escolhem marcas conhecidas para fazer parte do grupo, da tribo”, observa Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.

Esse desejo das pessoas de serem inseridas em determinados grupos é um dos motivos pelos quais as falsificações estão sendo cada vez mais procuradas, já que nem todos podem pagar até 200 reais em uma única blusa, por exemplo, as grifes conseguem atingir todas as camadas da sociedade, o que acontece com a marca Colcci, mesmo que o canal de compra seja o camelô ou a pirataria. De acordo com o Correio do Estado em 2011 a classe B foi a maior responsável pelo consumo de moda no País, tendo gasto R$ 56,3 bilhões com roupas e acessórios. As classes D e E gastaram R$ 8,8 bilhões nesse segmento, sendo que parte desse montante foi absorvida pelo comércio informal.

Mas a pirataria não é a única alternativa para quem quer se vestir bem. Com facilidades de pagamento, brechós e feiras de troca, o preço deixou de ser a principal variável para a decisão de compra dos consumidores da classe D que estão cada vez mais preocupados com a qualidade do produto adquirido.

Imagens: Bruno Leite e Lucas Cavalcanti

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De acordo com o estudo “Mudanças no Mercado Brasileiro”, realizado pela Nielsen, o

comportamento do consumidortem mudado nos últimos anos. Tanto que os pertencentes às classes D

e E passaram a consumir produtos mais caros e com benefícios garantidos.

De acordo com o analista de mercado da Nielsen, Ramon Cassel, a preferência por produtos de marcas famosas

ocorre pela menor condição de erro, ou seja, na percepção desses consumidores, as marcas mais caras garantem

satisfação em relação à qualidade do produto. “O cliente das classes mais baixas tem menos espaço para errar, por

isso procura produtos de marcas líderes, cujos benefícios são garantidos”, completa.

Juliana Ferreira é atendente de call center e mora no centro de Paulista, pelo rendimento ela faz parte da classe D, ela compra

roupa a cada dois meses e confessa que a maior parte do salário é destinado ao guarda-roupa. Suas marcas preferidas são Colcci,

Calvin Klein, Puma e Everlast. Ela afirma ser fiel às marcas pela qualidade comprovada e as peças durarem mais tempo. “Não vale a

pena trocar o certo pelo duvidoso”, afirma Juliana.

Existem também as pessoas que conseguem fazer sua moda substituindo os artigos caros por outros mais em

conta, encontrados em brechós e bazares, um tipo de comércio de segunda mão que é na verdade uma fonte de estilos. Com bom gosto e

customização as classes mais baixas conseguem acompanhar a moda sem precisar gastar muito. “Os brechós surgiram no fim século XIX, como lojas

de artigos de segunda mão, para pessoas que não gozavam de um poder aquisitivo razoável para adquirir roupas em estabelecimentos convencionais.

A partir daí, surgiu o conceito de que brechós são redutos de traças e velharias. No entanto, esse fato começou a mudar. Os brechós modernos dispõem de

acervos de marcas famosas a preços acessíveis, constituindo um verdadeiro templo retrô para os artistas e quem gosta de criar um estilo próprio.” Site

Portais da Moda.

Deve-se levar em consideração que existe na classe D quem queira usar roupas de marca e se inspirar nas classes altas para se vestir, mas, existe uma parte dessa

população que não compartilha desse pensamento, pelo contrário, elas querem ser diferentes e estar na moda por isso, apenas se vestindo como gostam. Algumas

inclusive, nem admiram o estilo mais “elegante”, enquanto nas classes A/B o chique é descoordenar as cores, na D elas fazem questão de combinar bolsa e sapato. Acreditam

que a combinação passa a ideia de que se dedicaram na hora de se arrumar. O brilho que aparece no jeans se repete na alça da bolsa e há sempre um detalhe da estampa do sutiã

aparecendo que provavelmente vai combinar com o cinto ou com o sapato.

As calças do tipo saruel são rejeitadas pela maioria das mulheres de classe D, por esconderem as formas, elas se preocupam muito mais com a valorização do corpo e suas

curvas do que com seguir tendências. Por isso, preferem calças justas e de cintura baixa, as blusas geralmente são decotadas, deixando o corpo à mostra e nos calçados apostam em

plataformas.

O fato é que o termo “estar na moda” é a aspiração de todos independentes do seu poder aquisitivo, só que nem sempre a “moda” do indivíduo é aquela que está nas passarelas do São Paulo Fashion

Week. A classe D cria sua moda, seja para imitar as classes altas, seja para se diferenciar por completo, ela está sempre buscando personalidade e claro, preços baixos.

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1 – Refletir: Lembre-se de que qualquer ato de consumo causa impactos do consumo no planeta. Procure potencializar os impactos positivos e minimizar os negativos;

2- Reduzir: Exagere no carinho e no amor, mas evite desperdícios de produtos, serviços, água e energia;

consumo reponsavelTudo quo o consumidor precisa saber antes de adquirir qualquer produto.

Consumo responsável e sustentabilidade são temas bastante atuais na sociedade moderna. Eles podem ser aplicados em vários setores da economia, desde a produção, passando pela venda, comercialzação, até o descarte. Isso sem falar nos R’s, que estão entrando no vocabulário das pessoas. São dicas muito

simples e valiosas que fazem a diferença. Podemos ainda listar outros exemplos a respeito de sustentabili-dade. Já existem automóveis híbridos, que reaproveitam a energia dos freios para fazer funcionar motores elétricos. Isso acarreta em economia de combustível, e menos emissão de poluentes. Dar carona é outra solução: economia de tempo, dinheiro, e menos carros na rua, o que melhora o trânsito. O uso de bicicletas também é outra saída, ajuda o meio ambiente e estimula a prática de exercícios.

por Alex Barros e Gabriel Ferreira

3- Reutilizar: Use até o fim, não compre novo por impulso. Invente, inove, use de outra maneira. Talvez vire brinquedo, talvez um enfeite, talvez um adereço;

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4 – Reciclar: Mais de 800 mil famílias vivem da reciclagem hoje no Brasil, quer fazer o bem? Separe em casa o lixo sujo do limpo. Só descarte na co-leta comum o sujo. Entregue o limpo na reciclagem ou para o catador;

5 – Respeitar: A si mesmo, o seu trabalho, as pessoas e o meio ambiente. As palavras mágicas sempre funcionam: “por favor” e “obrigado”;

POR FAVOR!OBRIGADO!

consumo reponsavel

6 – Reparar: Quebrou? Conserte. Brigou? Peça desculpas e também desculpe;7 – Responsabilizar-se: Por você, pelos impactos bons e ruins de seus atos, pelas pessoas, por sua cidade;

8 – Repassar: As informações que você tiver e que ajudam na prática do consu-mo consciente. Retwite, reenvie e-mails.

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Falar de consumo responsável na moda é meio paradoxal. A moda é um universo efêmero, onde tendências surgem e são substituídas rapidamente por outras. A indústria da moda depende muito da indústria têxtil, e a produção dos tecidos mais utilizados no mercado tem um impacto muito negativo na saúde do planeta. Por exemplo, as fibras naturais com linho, seda, lã e algodão, vêm de uma exploração agrícola intensiva, onde são utilizados fertilizantes e pesticidas em excesso ameaçando assim a saúde humana e do ambiente. Por outro lado existem as fibras sintéticas como nylon, lycra, poliamida e tergal cuja sua produção química gera resíduos altamente poluentes.

Então, é impossível estar na moda sem comprar um monte de roupas novas, seguir as tendências. E aumentar a poluição, com o aumento da produção de tecidos, que são matéria-prima para fabricação de outras roupas, que sairão de moda rapidamente, nesse ciclo sem fim.

Errado!

Várias ideias estão surgindo para ajudar a ficar na moda sem consumir tanto. A americana Marisa Lynch se propôs um desafio: criar, todos os dias (durante um ano), um vestido, com peças compradas em brechó. E cada peça não poderia custar mais de 1 dólar. Ela usou os mais variados recursos: person-alização, seus dotes de costura. Inclusa na experiên-cia, estava a criação de um blog, o New Dress a Day. Lá, pode ser visto o resultado dessa experiência.

Já existem no mercado tecidos feitos de fibras têxteis alternativos que causam menos impacto no ambiente e são de alta qualidade. Alguns exemplos são os tecidos de fibras naturais tradicionais pro-duzidas em modo biológico (algodão e lã biológicos), o modal e lyocell produzidos a partir de celulósicas de faia, fibras de bambu e cânhamo.

Com a preferência de consumo desses tecidos alter-nativos no mercado, a indústria têxtil será obrigada a utilizar produtos mais sustentáveis, impactando também na indústria da moda que terá a seu dispor tecidos de alta qualidade e baixo impacto ambiental.

é possívelestar na moda respeitandoa natureza

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E os brechós? É uma ótima alternativa para econo-mizar e conseguir roupas diferentes. O brechó compra roupas dos mais variados estilos, em bom estado de conservação, e as revende a preços mais baratos, quando compramos em um lugar como esse, estamos movimentando a economia local e evitando a entrada de novas peças no mercado. É economia na certa!

Outra alternativa é apostar em peças atemporais. Aqui temos algumas sugestões:

Camisas e blusas de cores básicas: branco e preto lisos nunca saem de moda. Outras cores primárias, como o vermelho, o verde, e o azul também podem ser usados sem problema nenhum.

Roupas sociais: dependendo do local, e da mes-clagem no figurino, podemos utilizar peças sociais com roupas casuais, sem nenhum problema.

Calça jeans: O jeans era um tecido grosseiro, usado pra fazer farda pra operários nos Estados Unidos. Atualmente, os jeans têm vários outros tecidos em sua composição, estão mais confortáveis e podem ser usados como “coringa” na maior parte dos looks.

Só para refletir um pouco sobre o assunto:

“(...) Falar de consumo e falar de consumo respon-sável e desenvolvimento sustentável... ao decidir o consumo devíamos considerar não apenas o as-pecto econômico, mas também a maneira como foi elaborado o produto, quais foram os efeitos desta produção sobre o meio ambiente, se as pessoas envolvidas na produção foram tratadas justamente pelos seus empresários, se o produto foi rotulado ou anunciado sem afirmações falsas sobre as suas características (...)”

Essa citação resume tudo àquilo que qualquer con-sumidor deve ter em mente ao adquirir qualquer produto ou serviço, pensar antes de comprar e não se deixar levar só pelo impulso do momento.

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A moda está sempre em criação e mutação, lançando e reaproveitando tendências e conceitos a todo o momento. Apesar disso,

algumas pessoas tentam ir contra o fluxo no qual o mercado da Moda gira em volta e, com uma velocidade diferente, procuram novas formas de consumir adquirindo novas preocupações com as consequências sociais e ambientais dos seus hábitos de consumo.

Desses questionamentos surgem novas ideias e formas muito interessantes de consumir sustentavelmente. Uma delas deu origem ao Escambo, um grupo no Facebook, criado e utilizado por pessoas que moram na RMR (Região Metropolitana do Recife), que já acumula 8.500 membros.

A palavra escambo é utilizada quando existe uma troca de mercadorias ou serviços entre as partes envolvidas sem a utilização do dinheiro, mas, no Escambo do Facebook também se faz vendas. O importante mesmo é passar adiante objetos que os donos já não tenham mais interesse para pessoas que os queiram, diminuindo assim a demanda de confecção de produtos novos, a extração de matéria e o descarte no meio-ambiente.

O grupo funciona basicamente assim: Os usuários postam as fotos dos produtos que querem vender ou trocar em álbuns separados por temas, nas fotos se colocam especificações próprias de cada produto (como tamanho, preço, etc.).. Quem está precisando de algo, procura nos álbuns e entra em contato com a pessoa que postou a foto, as duas partes marcam um local, e fazem a transação.

O Escambo surge como uma alternativa confortável aos brechós, outra forma de comprar com consciência ecológica que já tem uma dimensão histórica muito profunda e antiga, sinônimo de antiguidade que vem sendo associado ao alternativismo recentemente. O Escambo se torna uma evolução aos brechós pelo fato de que as peças são visualizadas virtualmente, diminuindo o desgaste da procura pelas peças em montanhas e araras com cheiro de mofo e naftalina.

Os criadores do Escambo se baseiam num conceito ecológico muito novo, que se chama: Upcycling. O primeiro a usar esse termo foi Reine Pilz, da empresa de tecnologia da automação Pilz, em uma entrevista em 1994: “Reciclagem”, disse, “Eu chamo isso de downcycling. (...) O que precisamos é de upcycling, onde é dado mais valor aos produtos antigos e não menos”.

Praticar o conceito de “Upcycling” significa criar novos ciclos para os objetos, sem tornar necessária a destruição para reobter a matéria prima e se construir outra coisa, como na Reciclagem. No Upcycling os artefatos continuam do jeito que estão ou são reformadas ou reformuladas, de forma que são gastos menos recursos para que essa peça se torne útil de novo para alguém.

Pra acessar o Escambo é preciso ter uma conta na rede social Facebook e solicitar participar do grupo no endereço: http://www.facebook.com/groups/skambbo/ ou ser inserido por algum “amigo” que já esteja no grupo.

EscamboFormas alternativas de consumo sustentável e o Escambo como caso particularPor Heitor Martins e Gabriel Ferreira

Exemplo de Peças negociadas no escambo

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o que os membros pensam do escambo?

Julia Nogueira, 24estudante de Arquitetura:

“Descobri o Escambo através de um amigo que me adicionou no grupo, assim que ele foi criado. Achei a ideia incrível, porque sempre dei minhas roupas usadas, que não me serviam mais, às minhas primas (que acabavam não dando o devido valor, só porque eram usadas) e também sempre rolou aqueles empréstimos entre amigos. Adorei a ideia porque posso pegar o que já não uso mais, que está em perfeitas condições de uso e trocar por algo que estou precisando. Evita que eu gaste dinheiro com algo novo, diminui a produção de lixo, porque se eu não usava e tinha pena de dar, ia acabar no lixo cedo ou tarde. Além de você saber o destino das suas coisinhas, que você pegou apego, alguém que compra ela de você com certeza vai fazer bom uso, seja o destino qual for ninguém vai comprar pra “fazer de pano de chão”. Quando quero alguma coisa já procuro no Escambo, pergunto se alguém tem. E também são muito legais as histórias que vêm com o objeto, teve um dono, tem sempre alguma história por trás da aquisição”.

Abner Dantas, 20,estudante de Arquitetura:

“Pra mim, Escambo é sinônimo de amor. É você trocar ou vender pro um preço simbólico, um objeto, seja ele uma roupa, um livro, um disco, um ar-condicionado, ou até mesmo um anel que não lhe faz falta. É dar utilidade a alguma coisa que provavelmente ficaria enfiada na sua estante ou iria para o lixo”.

Carol Plácido, 20estudante de Letras:

“Sempre dou uma olhada no grupo pra ver se tem algo que me interesse e para avisar aos meus amigos se tem algo que interesse, fui adicionado por um amigo e adoro o Escambo. É muito legal ter um lugar tão acessível de consumir de forma sustentável.”

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Rave dO fim do mundo

edição de moda

perfil

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rave do fim do mundo

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Por Igor Santos e Lucas Cavalcanti

De acordo com a profecia Maia, o mundo acabará no dia 21 de dezembro de 2012. Mais que isso, diz que apenas as pessoas

que estiverem vibrando na mesma frequência do planeta se salvarão.

Então perguntamos: Qual seria a rave perfeita para todos entrarem na mesma frequência no fim do mundo? E, principalmente, qual seria o look implacável na última das noites?

“Música eletrônica na rua, a cidade toda pintada de tinta fluorescente, os carros, os prédios, pessoas dançando em todos os lugares, canhões de luz, bebidas para todos, pessoas com pouca roupa, caos em harmonia.”

Anna Priscilla21 anos – Designer

“Apenas uma bermuda (da osklen) sem cueca. Mas se pudesse, iria nu.”

Agnaldo Carvalho 24 anos – Ortodontista

“Sabe o clipe daBritney? Pronto.”

Allan Henrique21 anosDesigner Gráfico

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“Toca aê o cd da Gaby Amarantos que o povo TREME todo!”O look seria específico do Viktor & Rolf. ”Sério, isso é o ápice da glória!”

Antonio Roque27 anosEstudante de Design Gráfico

“Um lindo vestido mullet, meio de gala! E sapatos con-fortaveis para não parar de dançar nunca!”Não poderia faltar: “Um par de óculos gatinha do Marc Jacobs.”

Beatriz20 anos – Estudante de Design

“Música eletrônica.” Usaria uma“Bandana.”

Marcelo23 anos – Radialista

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“Iria com uma roupa justa de estampa de zebra turquesa e rosa”

Bernardo Costa25 anos – Mídia Social

“De gladiador!”

Bruno Carvalho26 anosDesigner

“Um sapato muito alto”

Camila Coelho 17 anos – Estudante Colegial

“Paletó. De bom corte. Linho, revestimento de seda. Quero morrer elegante.”

Emiliano24 anosEmpresário e estudante de Design

“Não sei a roupa específica, mas me

vestiria de uma forma bem original. Uma

coisa Gaga + Rock + Clássica... Acho que uma mistura + ou -

assim... :D”

Cristiano Moura 20 anos – Estudante

de Design

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“Uma rave onde as pessoas só se importassem em curtir, sem exibi-cionismo, sem vaidades e disputas. Onde rolasse boa musicas de todos os segmentos, sem nenhum tipo de discriminação. Uma rave com open bar, boca livre, onde todos os prazeres fossem permitidos, mas que predominasse a atmosfera de celebração e alegria.” Estaria satis-feito com meu “tênis all-star”.

Enrico Vargas39 anosIlustradorLocutorProdutor de eventos

“A melhor rave seria com shows ao vivo do Modeselektor, Justice, Squarepusher, Glaucia +++ e algumas bandas de rock e indie tocando em outros palcos. Além

disso, com meus amigos ao meu lado e bebendo muito, porque tem que dançar e se jogar até o mundo acabar.” Vestiria “Uma calça preta, com um mini coturno,

sendo a calça para dentro dele. Uma camisa florida de manga curta, no estilo anos 50’s e alguma jaqueta.”

Diego Nery22 anos – Jornalista e Empresário

“Uma festa que tivesse várias estações de som diferentes, para atrair todo mundo.

Queria muitas opções de comida pra larica que bate no meio da balada, queria estação

de massagens e o som nunca parar...”

Julio24 anos

Social Media

“Eu iria preferir que todo mundo estivesse nu.” Usaria “Apenas, UM anel de rubi.”

Heitor Martins20 anos – Estudante de Design

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“Festa do Desapego no aterro da Muribeca”

Filipe24 anosEstudante de História

“Rave dos óculos escuros. O dress code seria óculos escuro, obvia-mente e apenas isso.” Estaria usando “Meu relógio de morfar dos power rangers (eu sou o ranger azul).”

Leandro Melo26 anosEstudante de Engenharia

“Bota de couro.”

Lucas Henrique21 anos – Estudante de Design

“Tudo que preciso: jockstrap branca, shorts barroco da Dolce & Gabbana, óculos escuros, sneakers de cano alto e meu melhor amigo.”

Pedro Andrade 24 anos – Estudante de Design de Moda

“Apenas um mocassim de veludo pink que ganhei no último aniversário e meu aviador

ray ban, clássico.”

Igor S.24 anos

Estudante de Design

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“Camisa de tecido fluorescente, calçajeans e tênis adidas jeremy scott wings”

Lucas Cavalcanti22 anosEstudante de Design

“Um tutu bem bonito”

Luiza21 anosEstudante de DesignBailarina

“Um eclipse lunar regado a muita música eletrônica, umas 2 mil pessoas, fogos, luzes,

sabores e, o principal, LIBERDADE.”

Leonardo LopesMúsico Independente

“Camiseta branca sem estampa, jeans, jaqueta de couro e um allstar verde (rockstar, n)”Não esqueceria: “meias”

Luiz Furlan24 anosEstudante de Sistemas deInformação e Direito

“Todo mundo jogando Dragon Age e Fable em vários xbox e dançando Blackmore’s Night na pista”

Michelle23 anosEstudante de DesignArtista de jogos

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“Nada demais... Meu jeans, camiseta de sempre e all star.”

Pedro Parentes27 anos – Estudante de Publicidade

“Tropicalismo selvagem feat. Carnaval. Ficaria pelado!” Mas

se fosse usar algo, seriam“meus óculos.”

Pedro Toscano19 anos

Assistente de Produção

“É uma questão complicada: não dá pra ser uma rave tocando uma música que eu goste, nem uma que outra pessoa goste. Cada uma ouvindo o fone de ouvido a sua música favorita, talvez seja melhor. Tem o problema da interação social, mas talvez seja uma única alternativa.” Calçaria apenas “O meu tênis favorito.”

Raony22 anosDiretor de Arte

“Seria uma festa a fantasia onde só tocariam músicas defilmes, séries, desenhos e jogos nostálgicos. E onde todos poderiam ser quem quisessem.” Em apenas uma peça: “Um salto preto de 15cm com spikes no calcanhar.”

Raísa20 anosEstudante de Design e Blogueira de Moda

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“Uma rave na qual o convite seria um LSD, todo mundo pelado e com os corpos coladinhos. Sem preconceito, sem pudor e sem super ego para controlar. Liberdade pura!” Peça indispensável: “Apenas óculos escuros”

Thiago Liberdade28 anosEstudante de Design

“Eu usaria nada além de pintura corporal e aplicação de cristais swarovski. A pintura seria bem chamativa com cores fortes e sensuais e um arranjo na cabeça com penas de faisão dourado e cristais.”

Tonny22 anosEstudante de Letras

“Uma festa com todos os amigos, tocando música boa, atual e antiga, musica pop, trash, brega, 80’s... com open bar e open food.

Ambientes diferentes, com puffs, iluminação especial, telões com música sincronizada com os vídeos, cenários temáticos na

decoração.” Apenas “tênis”.

Túlio24 anos – Fotógrafo

“Leather boots”

Venâncio Andrade18 anosEstudante de Publicidade e Propaganda

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Edição de moda com phelippe rodriguesUm pouco mais sobre o editor-assistente da Revista Aurora, como foi sua caminhada e um pouco da sua história.por Cássia Costa e Mateus Andrade

Phelipe Rodrigues tem 38 anos e, atualmente, é editor-assistente da Revista Aurora e responsável pelas páginas de moda. Formou-se em Comunicação Social (Jornalismo) pela

UFPE em 1999, nessa época estagiou no caderno de Cidades do Jornal do Commercio e fez “uma ponta” na coluna social. Porém, todos já sabiam que sua área era Moda e Design e, em casa, foi treinado para escolher o melhor do melhor sempre. As mulheres e os homens de sua família eram viciados em proporção, acabamento e material de tudo.

Aos 12 anos comprava a Elle France e, entre 1985 e 1995, acompanhava o Ponto de Vista, uma coluna de moda que ia ao ar nos sábados. Isso tudo estimulava ainda mais sua vontade de aprender e conhecer sobre a área. Antes de descobrir o jornalismo, pensou em ter uma confecção, pois quando era novo trabalhou com sua mãe produzindo roupas bem populares, mas sempre pesquisando em feiras e revistas internacionais. “Juntávamos shortinho do É o Tchan com estampas inspiradas em Vivienne Westwood” lembra Philipe.

Já no estágio, sempre arrumava uma forma de oferecer seus textos sobre moda ao editor Marco Polo, do Caderno C. Essa era uma forma de tentar divulgar seu trabalho e mostrar do que era capaz. Com o tempo, o estágio chegou ao fim e Phelipe não se candidatou a nenhuma vaga em outro caderno porque resolveu viajar para São Paulo em busca de empregos em revistas. Mas, como o destino às vezes muda o nosso caminho, com a decisão em ir para São Paulo já concreta, eis que surgiu uma vaga na editoria de suplementos femininos do Diário, na qual Phelipe disputou com pessoas muito qualificadas e conseguiu ficar. A responsável pela equipe, Lydia Barros, permitia que ele fizesse todas as experiências com texto e soluções gráficas. Além de obrigá-lo a cobrir todas as semanas de moda do País, Lydia também abriu portas e estimulou a criatividade de Phelipe, mostrando a importância de ler muito sobre assuntos diversos e fazer cursos.

A avó de Phelipe teve grande influência na sua opção por seguir a carreira de moda, pois quando

Imagem inspirada no calendário da Pirelli de 1972, assinado por Sarah Moon. A beleza foi assinada por Fabiana Gomes, make up artist senior da MAC no Brasil. Direção de Phelipe Rodrigues. Crédito: Ronald Luv

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criança ela proporcionou o acesso a todas as publicações de moda como, Cláudia Moda, Moda Brasil e Depeche Mode. Contribuiu ainda mais porque falava sobre linho belga, a melhor cambraia e dizia: “Dinheiro e bom gosto são coisas quase excludentes, às vezes quem tem muito acesso não dá valor ao luxo de verdade”.

Phelipe considera o período que passou na faculdade de jornalismo a base de tudo. Gastava as tardes na biblioteca consumindo revistas suíças de design. Segundo ele, “se você desperdiçar o contato com a academia, textos mais densos, ideias realmente frescas e instigantes cai no clichê das revistas de moda, pois existem profissionais que só fazem repetir um padrão”. E, foi essa repetição no mercado editorial brasileiro que fez ele cancelar suas assinaturas como a Elle, a Vogue, entre outras. Phelipe comentou que se houvesse um contato maior com as pessoas que criticam, se angustiam, pesquisam, ou seja, com a academia, as revistas teriam um cenário diferente.

A falta de um mercado de moda na cidade do Recife foi uma barreira encontrada por Phelipe e por diversos outros, jornalistas ou não, que decidiram seguir a área de moda na Cidade. Ele define quem faz moda como um bandeirante, que precisa abrir caminho sozinho. Ainda hoje ele faz isso com suas produções, já que colocar na cabeça de um empresário que as peças de um editorial é uma vitrine sensacional é tarefa difícil.

Hoje, quando escreve ou monta imagens de moda gosta de pensar em Alceu Penna e Gruau como inspiração e admiração e como esses dois ilustradores traduziam a moda de uma forma quase didática. Adora cada sessão de fotos que faz, as conversas para definir a execução, o styling, o casting, combinar a beleza com os maquiadores e a angústia de fazer um texto mais criativo. Sente que isso faz parte de toda a construção e que o conjunto o torna bastante realizado.

Phelipe tem como sonho lançar uma série de livros infantis sobre moda, os primeiros com inspiração no O Cangaço e O Batik da Indonérsia. Acredita que será um projeto diferenciado acarretando grandes desafios e satisfação.

Phelipe diz que os maiores conselhos para um jovem iniciante no estudo de moda é ler títulos fora da moda, pois não há nada pior que auto-referência. Comprometimento é o básico, mas ser pontual, saber reconhecer erros, tratar todo mundo com educação e ter uma poderosa rede de contatos também ajuda muito no diferencial. Acredita que “agir como executivo de multinacional funciona mais do que fazer carão”. Não é possível ser politeísta na moda, ou você reza pelo melhor resultado, pela perfeição, ou fica fazendo caricatura de si mesmo.

Ao ser perguntado como se imagina daqui há 20 anos, Phelipe não hesita e diz: “sonho em estar aposentado e ter liberdade pera escolher o que fazer, incluindo a paixão para se dedicar exclusivamente à fotografia”.

Editorial Look Girfriend na Aurora do dia 10 de junho. O modelo Sergio Fonseca usa bijoux feminina com look rapper. Crédito: Renato Filho

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cultura

Circo: Magia, moda e perfeição

livros

Nudez e Moda

Crítica de Moda

Moda e Arte

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CIRCO: MAGIA, MODA E PERFEIÇÃOEstudando o case do figurino do Circo de Soleil, é fácil comprovar como a tecnologia tem sido utilizada para aumentar a sua magia e perfeição, deixando a arte circense cada vez mais lúdica e emocionante!Gildson Leandro

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A magia do circo consegue nos levar a outro universo. Imersos nessa atmosfera de total abstração e liberdade, somos convidados a experimentar sentimentos e sensações que fogem completamente

à nossa realidade cotidiana e rotineira. É aí que se encontra a grandiosi-dade da arte circense. Um espetáculo de cores, formas, ações, movimen-tos, música e figurino é formado para nos levar a uma viagem que ger-almente nos transporta para lugares incríveis nunca antes visitados.

Há referências sobre o circo desde a antiguidade. Dos chineses aos gregos, dos egípcios aos indianos, quase todas as civilizações antigas já praticavam algum tipo de arte circense há pelo menos 4.000 anos - mas o circo como o conhecemos hoje só começou a tomar forma durante o Império Romano, onde grupos de pessoas ganhavam a vida fazendo apresentações na rua, nas casas de famílias nobres ou até mesmo em arenas destinadas às apresentações (anfitea-tros). O primeiro circo propriamente dito a se tornar famoso foi o Circus Maximus, que teria sido inaugurado no século VI a.C., com capacidade para 150.000 pessoas. A atração principal eram as corridas de carruagens, mas, com o tempo, foram acrescentadas as lutas de gladiadores, as apresentações de animais selvagens e de pessoas com habilidades incomuns, como engolidores de fogo. Destruído por um grande incên-dio, esse anfiteatro foi substituído, em 40 a.C., pelo Coliseu, cujas ruínas até hoje compõem o cartão postal número um de Roma, na Itália.

Na Idade Média, grupos de malabaristas, artistas de teatro e comediantes viajavam pelas cidades da Eu-ropa com suas apresentações. Essa grande estrutura envolvendo o espetáculo circense trouxe o desen-volvimento de novas tecnologias ao mundo do circo. As constantes mudanças de cidade para cidade incentivaram a criação de técnicas logísticas que facilitavam o deslocamento dos espetáculos. Tudo isso, porém, não passa de uma pré-história das artes circenses, porque foi só na Inglaterra do

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século XVIII que surgiu o circo moderno, com seu picadeiro circular e a reunião das atrações que com-põem o espetáculo ainda hoje.

Atualmente, podemos observar um circo muito mais elaborado, trazendo elementos do cinema, pintura, artes plásticas e dança com alta qualidade e riqueza de detalhes que impressionam. Um dos maiores exemplos disto é o Cirque du Soleil, que funciona como uma grande empresa, trazendo re-quinte e grandiosidade a todos os elementos do seu espetáculo, desde o conceito e roteiro, até a ilumi-nação, cenários e figurinos.

Para ter uma melhor ideia deste fato, vamos ex-plorar um pouco o universo do Cirque du Soleil, adentrando no projeto do figurino do espetáculo “Varekai”. Para dar vida ao “mundo extraordinário”, a premiada figurinista Eiko Ishioka (vencedora do Oscar de melhor figurino por seu trabalho no filme Drácula, de Bram Stocker, em 1992) foi es-colhida para desenvolver as peças usadas pelos artistas em cena. No entanto, criar figurinos para o Cirque é bem diferente de desenvolver peças para o cinema, já que os artistas precisam vestir roupas confortáveis e que não prejudiquem os movimentos durante os números acrobáticos. Os mais de 130 figurinos feitos para Varekai tiveram a lycra como matéria-prima principal, sem esquecer os 600 acessórios que completam o visual, também com-postos com este tipo de material.

De acordo com Gatien, foram mais de seis meses trabalhados para que todo o armário do espetáculo ficasse pronto. “Além da lycra, usamos titânio flexív-el, espoja de náilon e outros materiais resistentes ao fogo”, revela. A equipe de figurino da empresa

canadense é composta por seis pessoas, respon-sáveis por produzir, engomar, retocar a pintura dos sapatos e restaurar as roupas. “As roupas de Var-ekai foram inspiradas no universo da floresta, dos animais e das plantas. No decorrer do espetáculo, há uma explosão fantástica de cores. As crianças adoram”, conta a figurinista.

Depois de desenhados, os croquis são repassados para a turma de desenvolvimento, que adapta cada roupa para o biotipo de cada artista. “Todo o nosso figurino é feito à mão na sede da nossa companhia (em Montreal, no Canadá). O shape das peças é bem justo, já que o artista, principalmente o acrobata, não pode ter muita sobra de tecido, pois pode se enroscar”.

Ao todo, 400 artesãos trabalham nas oficinas e produzem mais de 25 mil itens, entre fantasias, vestidos e sapatos, que são feitos de couro tingido e adaptados para não prejudicar a performance do ar-tista. Já os chapéus, que seguem a linha das roupas, são moldados com base plástica na cabeça dos artis-tas que irão usá-los. “Não podemos falhar, por isso, temos um cuidado redobrado com os figurinos, que tem de ser impecáveis”, conclui Gatien.

Mesmo com um circo super modernizado pelo advento das novas tecnologias e com o propósito de, cada vez mais, aumentar o nível de perfeição, ele ainda preserva a atenção de multidões pela sua natureza nostálgica e lúdica. Reinventando antigas tradições e criando novos números, os picadeiros espalhados pelo mundo provam que a criatividade artística do homem nunca estará subordinada ao fascínio exercido pelas máquinas. Por isso, podemos dizer que “o show deve continuar”, sempre!

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- O guarda-roupa de Varekai conta com mais de 130 peças de roupas.

- A criação do figurino envolveu a procura de soluções técnicas que garantissem o conforto e a segurança dos artistas e levou mais de 33 mil horas de trabalho para ser finalizada.

- Além da lycra, foram utilizados outros materiais como aplicações em titânio flexível, esponja de nylon e alguns tipos resistentes ao fogo.

- Para manter todo o guarda-roupa em boas condições durante as viagens de temporada, são necessárias cerca de 250 horas semanais de trabalho.

- A equipe de figurinos, constituída por 6 pessoas, é encarregada de limpar, restaurar, engomar, retocar a pintura dos sapatos, etc.

- A maquiagem dos artistas, feita por eles mesmos, leva entre 45 minutos a 1 hora e meia para ficar pronta.

Algumas curiosidades sobre o figurino do Varekai:

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A moda sustentável, em seu princípio, era vista como algo rudimentar e de gosto duvidoso; apenas alguns entusiastas na indústria da

moda viam a questão ecológica como um ponto sig-nificativamente importante. Desde o final do século XX, contudo, o tema ganhou destaque na mídia, nos guarda roupas de pessoas ilustres e nas coleções de estilistas “ecofriendly” bastante engajados com a causa, tais como Stella McCartney, Vivienne West-wood e Katharine Hamnett. Esse interesse pelo sus-tentável tornou-se mais intenso ao longo dos anos devido à mudança da percepção que o consumidor teve sobre si mesmo; tomando, portanto, consciên-cia que sua forma de consumo afeta diretamente o ambiente em que vive, e em cadeia, a ele próprio.

No ritmo de todo esse contexto de preocupação sócio-ambiental vivenciado pela moda contem-porânea, o livro Eco Chic, escrito pela jornalista inglesa Matilda Lee, encontra-se como um material de leitura rico em informações e de fácil entendi-mento. A autora também escreve para o jornal The Independent e para a revista The Ecologist, importantes órgãos de mídia britânicos, além de pesquisar e redigir guias éticos de vestuário para a London Fashion Week, onde trabalha na exibição de moda ética Estethica. Toda a experiência e conheci-mento de Matilda desdobram-se no decorrer das 224 páginas de seu livro, o qual servirá ao leitor como um guia prático com exposição de fatos sobre o quadro atual industrial da moda e às questões eco.

Eco Chic é dividido em 10 capítulos e discute temas como: a exploração dos trabalhadores pelas con-fecções, o consumismo crescente e o desperdício de roupas, tecidos não sustentáveis e seus danos, tecidos sintéticos e reciclados, uso de pesticidas na plantação de matérias primas têxteis, teci-dos orgânicos e sustentáveis, perigos a saúde do homem, bem estar animal, processos industriais da moda que são danosos ao meio ambiente e moda ecológica como fonte de lucro. Lee ainda vai adiante e destaca projetos, parcerias e estilistas que inve-stiram na moda ecológica e conquistaram espaço no mercado; ela também mostra como a moda verde está sendo aplicada ao consumo em massa.

O livro contempla um formato bastante dinâmico com entrevistas, dados, estatísticas, pesquisas, notas e quadros explicativos, depoimentos, citações, endereços eletrônicos e nome de livros. No último capítulo, a autora dá dicas de como comprar melhor, cuidar de suas peças e reaproveitar o que você já tem em seu armário. E, para finalizar, o guia ético de moda contempla um diretório com uma lista de lojas e designers recomendados.

Eco Chic - O Guia de Moda Ética para a Consumidora Consciente De Matilda Lee, 2004.224 páginas - Editora Larousse -R$ 29,90.

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Do Lado Negro na Indústria da Moda ao Verde da Eco Fashionpor Isadora Alves

eco chic: guia de moda ética para a consumidora consciente

Acessórios da marca

Calamarie: produtos

artesanais que com-

binam formas de arte,

técnicas e materiais

reciclados com de-

sign contemporâneo.

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Desde que o efeito bubble-up ganhou destaque no mundo da moda após Vivienne Westwood levar o Punk às passarelas, as subculturas

nunca mais saíram de moda. A cada década, um novo movimento de street-style aparecia e algum tempo depois elementos dele podiam ser vistos na passarela. E ninguém soube retratar melhor o surgimento e massificação das subculturas que o fotografo britânico Iain McKell.

Há mais de 30 anos, ele percorre as ruas da Ingla-terra retratando os movimentos jovens que surgem a todo o momento e que acabam revolucionando o modo como vemos as roupas. Antes do advento da internet e da fotografia digital, McKell foi o respon-sável por mostrar ao mundo as novas tribos urba-nas que se espalhavam pela Inglaterra. Boa parte desse trabalho está reunida no livro Fashion Fore-ver: 30 years of subculture, escrito e editado por Liz Farrelly.

Farrelly copilou algumas das fotos mais marcantes dos 30 anos de carreira de McKell para fazer esse livro, elas mostram como a juventude britânica se transformou durante essas três décadas. Dos protestos punks à extravagância dos new romantics, passando pelo colorido dos clubbers e os topetes dos rockabillys, o livro mostra “a verdadeira moda, não mera ditadura de passarela. Isso é como as pessoas vivem.”

Além de fotos de grupos, também são apresentados retratos individuais para mostrar como, mesmo dentro de um subcultura, as pessoas podem ter es-tilos pessoais. Alguns desses retratos são de perso-nalidades do mundo da moda e das artes como, por exemplo, Madonna, Boy George e Dita Von Teese.

Conhecer um pouco do trabalho de McKell é indis-pensável para todos que se interessam por fotografia de moda, moda e tribos urbanas, e o livro é um bom modo de conhecer um pouco dele. Porém ele não pos-sui edição brasileira e só está disponível em inglês.

de Iain McKell e Liz Farrellypor Raisa Brennichi

Fashion Forever: 30 years of subculture

imagens scanneadas do livro

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Fashion Forever: 30 years of subcultureDe Iain McKell e Liz Farrelly, 2004.180 páginas - Editora Immprint R$68,00.

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nudez e modaUm breve ensaio sobre a relação paradoxal e íntima entre o corpo e a roupapor Heitor Martins e Bruno Leite

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A relação da Moda com o nu é muito próxima: o que seriam das roupas sem as formas do corpo? Quando se criam roupas e figurinos, é impossível fugir das nossas formas, e com a evolução da Moda e os movi-mentos de liberdade, as roupas foram diminuindo, de década a década, se tornando cada vez menores.

Com um tempo a Moda foi percebendo que é possível aproveitar o corpo à mostra para se manter excitante, provocante. Foi uma forma que esse mercado encontrou de se manter sempre no centro das atenções, de vender, marcar gerações e manter sempre um pé na Arte. Essa característica inclui o abuso de paradoxos e contradições: a mesma moda que é paga para cobrir é a que vende descobrindo. E para impactar, chamar atenção da Moda que vem abusando da nudez, que marca quer passar despercebida?

Acaba sendo com o choque que se faz a diferença na hora de algo ser apresentado ao público, e isso é percebido mais claramente na fotografia e na publicidade de moda. É muito comum encontrar anún-cios de grifes com modelos nuas ou seminuas, expondo toda sua “perfeição”. Anúncios esses onde não apenas o corpo é perfeito e o cenário luxuoso, mas os acessórios e peças de roupa também. Tudo é pensado meticulosamente para compor uma imagem luxuosíssima, onde o corpo é o foco e objeto de desejo principal e tudo em volta endossa essa ideia. Segundo a editora de Moda da revista QUEM, Biti Averbach, “o corpo nu foi elevado à categoria de artigo de luxo”. Sem dúvida o corpo esculpido, perfeito, apolíneo é o objeto de desejo máximo numa sociedade que “coisifica” tudo. Pode-se dizer que os meios de comunicação de Moda atuais não apenas fazem desejar as coisas materiais, mas também o corpo.

Também se pode dizer que as roupas que são feitas atualmente, continuam a revolução da minis-saia na década de 60 na sociedade ocidental. Essa década foi um marco do movimento de dimi-nuição das roupas e da liberdade corporal, onde houve uma revolução no comportamento geral com o surgimento da pílula anticoncepcional - o sexo por prazer! As roupas cada vez mostram mais o corpo, constituídas por fendas, transparências, comprimentos, etc. E obrigam os esti-listas a aprenderem a pensar nas formas corporais, como valorizar os shapes, basicamente, brincar com o mostra/esconde. Ironicamente, a moda que ganha vestindo segue um fluxo em que tem que aprender a vestir bem, cobrindo cada vez menos. É de se pensar que estamos gradualmente mais nus. E pode-ser dizer que cada vez mais livres?

Alguns movimentos feministas e grupos de protesto - com destaque para o ucraniano Fe-men - costumam usar a nudez como forma de chamar atenção, da mídia e do povo, para as questões sobre as quais eles protestam. Existe uma relação aparentemente muito vazia com a Moda, mas que a um olhar mais profundo percebe-se que tem tudo a ver, já que para “vestir a camisa” da sua causa, essas pessoas tiram, literalmente, a sua camisa. Há um diálogo muito próximo com a práxis libertária da Moda.

A nudez também é usada pela moda de outras formas, mais alternativas, que fogem do simples fomento de desejo e que mais se aproximam da arte, criando imagens mais chocantes e menos necessariamente “bonitas”. Esse lado tem sido mais exerci-do por pessoas que trabalham numa parte do mercado de Moda menos comercial, gente pouco preocupada com vender e sim com a informação que a Moda transmite. Nesses casos, a nudez é usada pra transmitir outros signos. E o choque da pessoa nua pretende causar uma sensação diferente, de Arte, de algo superior, existe uma ruptura com o simples ato de mostrar a perfeição para fazer-se desejar. Há a pre-tensão de se fazer sentir coisas diferentes, como quebrar tabus com o corpo e a nudez e assim outros significados podem ser defendidos. como quebrar tabus com o corpo e a nudez e outros significados podem ser defendidos.

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estamos cada vez

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mais livres?

Freja Beha para a vogue paris

agosto 2010

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por Géssica Polo e Heitor Martins

cRíTICA DE MODA: QUANDO, ONDE E QUANTOO que os veículos de moda na internet e seus críticos precisam para fazerem uma boa crítica

Nem tudo que vai para as passarelas é usado pelas pessoas em seu cotidiano, muitas vezes, algumas roupas estão ali para chocar e serem

readaptadas ao seu uso no dia-a-dia. Através dos pontos fracos e fortes das coleções mostradas num desfile, blogs e sites de moda passam a ser veículos de crítica delas. Quando deve, onde fazer e quanto custa uma crítica de moda?

A crítica é um instrumento muito importante para a moda. É por meio dela que são estimuladas novas percepções e apresentadas outras perspectivas para o objeto analisado, contribuindo assim para a correção e o crescimento dele. Ela é resultado das sensações obtidas pelo que foi visualizado, porém é preciso dominar todo o cenário no qual uma coleção está inserida, pois criticar vai além do gosto pessoal e da afinidade com determinado estilista e o crítico deve ter certa responsabilidade ao fazê-la.

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A Folha de São Paulo também tem um espaço de moda onde se fazem críticas, a Revista Serafina, que são publicadas também em seu site www.folha.com. Seu editor era Alcino Leite Neto, grande crítico de moda, que deixou essa área em 2010 quando foi chamado para trabalhar na Publifolha com livros de referência com Ciências, Humana e Literatura. Em janeiro do mesmo ano, quando ainda trabal-hava nessa área, Alcino deu uma entrevista, para o Colherada Cultural (site formado por cinco jornal-istas e uma publicitária), e nela ele falou o quanto era difícil se fazer crítica de moda. Segundo ele, nela não existe um bom repertório desenvolvido como existe na crítica do cinema, literatura ou música, é algo muito recente e que o que existe é um comen-tarismo muito amplo, que se difere da crítica. Falou também que os elementos que usava para fazer suas críticas eram a informação dentro do possível da proposta do estilista sobre a coleção, estar com os olhos bem atentos aos elementos que ele coloca em cena durante o desfile e ver se os elementos estão conectados, desenvolvidos e se expressam de maneira rica e complexa às idéias do estilista. Após sua saída da Revista Serafina, sua posição foi assu-mida pela jornalista Vivian Whiteman.

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Sites como o Portal FFW (www.ffw.com.br) são o foco quando o assunto é a crítica de moda. Esse site é um veículo de comunicação de moda muito importante nacionalmente, que já criticou muitas coleções que aparecem no São Paulo Fashion Week e no Fashion Rio. Hoje em dia, porém, como a sua empresa é a Luminosidade e ela é dona também desses dois eventos de desfiles citados, o site parou de criticar os pontos fracos das coleções das marcas que desfilam neles. Com isso, foi perdendo um pouco a sua credibilidade e algumas pessoas que trabalhavam nele o deixaram, resolvendo ir para veículos menores, onde a ética do jornalismo per-manecesse intacta. Um exemplo disso é a jornalista Erika Palomino, que saiu do FFW e atualmente tem seu espaço de colunista na parte de moda do site da IG.

Apesar das críticas negativas da moda dos des-files do São Paulo Fashion Week e do Fashion Rio serem abafadas no FFW, outros sites de moda a fazem, como o próprio IG citado anteriormente e blogs como o Garotas Estúpidas comandadas pela recifense Camila Coutinho. Esse blog, voltado ao público jovem, obteve um grande crescimento devido à sua demanda e hoje se tornou um site, o www.garotasestupidas.com, que possui uma média de 70.000 visitantes únicos por dia sendo o 21º na lista dos 99 blogs de moda mais influentes do mudo.

para estar bem vestido não é necessário uma car-teirarecheada.

Ele trata de assuntos como dicas de como se vestir na hora de viajar, guias de estilos para casamentos e até mesmo fofocas sobre as celebridades, fora os desfiles, sempre partindo da ideia de “para estar bem vestido não é necessário uma carteira rec-heada”.

Além desses, existem muitos outros críticos de modas pela internet, nos blogs, sites e redes sociais, porém nem todos são de confiança. O que se deve analisar é se eles, para fazerem suas críticas, pos-suem opiniões com contextualização ou criticam apenas pelo que acham, sem nenhum conhecimento de moda. E o mais importante, que eles saibam res-peitar o trabalho do criador mesmo que não tenham gostado da sua coleção.

Em uma palestra feita pelo filósofo dinamarquês Lars Svendsen no Pense Moda de 2009 (seminário anual de moda que reúne profissionais nacionais e internacionais), foi dito por ele que uma boa análise deve passar por quatro pilares: descrição, com-paração, contextualização e interpretação. De fato, um crítico de moda precisa saber dar a opinião com cautela, comparar com outros produtos já analisa-dos, obter um embasamento teórico sobre o assunto e saber interpretar o objeto em análise.

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Todos concordam que a moda, assim como a arte, é uma forma de comunicação que traduz à comunidade valores e anseios do indivíduo.

Entretanto, as fronteiras da obra artística obscu-receram-se quando a Revolução Industrial poten-cializou a comunicação de massa, que aplicou ao seu discurso convenções estéticas da arte para os fins práticos da modernidade. As novas relações interpessoais exigem que diga-se o máximo no menor tempo possível, transformando a indumen-tária num porta-voz do pensamento coletivo. Assim pode justificar-se o interesse surgido nos anos 80 dos museus Victorian & Albert Museum, Metro-politan Museum e Musée de la Mode et du Téxtile em incluir nos seus acervos peças de roupas e acessórios. Por outro lado, a criação de moda envol-ve finalidades e preocupações distintas das obras de arte tradicionais, gerando alguma relutância em aceitá-las como manifestações artísticas.

Quando fala-se em arte, muitos imaginam objetos de alto valor simbólico, que chamam a atenção pela singularidade na interpretação de algo. Singularidade não quer dizer necessariamente beleza, embora no senso comum e na própria história da arte ela assuma um papel importante, e até totalitário, na composição de uma obra. Sob o véu do deslumbramento que a geração de valor impõe, vê-se que arte é fruto das experiências diárias do homem, e como tal está inti-mamente ligada ao posicionamento do artista entre as correntes de pensamento existentes. Em outras palavras, arte é um diálogo com o conhecimento, sendo possível concordar ou discordar de temas específicos, inclusive dela mesma.

Em 1967, Sol LeWitt contestou a materialidade da obra artística através do movimento da arte concei-tual. Para ele e os demais adeptos, “a ideia ou conceito é o aspecto mais importante do trabalho. Quando o artista usa uma forma conceitual de arte, significa que todas as decisões são tomadas antes e que a execução é um processo mecânico”. Essa premissa estava por trás da criação de muitas peças cujo modo de cons-trução era descrito, mas nem sempre executado, e impulsionou novas manifestações que aproximam-se mais do cotidiano e estimulam outros sentidos além da visão, como a performance, a videoarte e a obra de arte telepática. As novas possibilidades, influencia-das pelo ready-made, quebraram as barreiras dos

museus e galerias, colocando a “arte pela arte” (onde apenas o prazer estético interessa) contra a parede.

A substituição dos pinceis, tintas, lápis e telas por instrumentos e suportes diretamente extraídos do dia a dia, como o urinol em A Fonte, além de chocar o público, contestou as convenções de autoria. Uma vez que Duchamp não esculpiu a peça e assinou nela o nome do fabricante (R. Mutt), induziu o observador a constatar que qualquer objeto pode virar uma obra de arte, e que já não é mais preciso dominar técnicas para produzi-la. Essa experiência introduzida em 1917 não só ecoou na arte concei-tual, mas condizia com o ritmo e as necessidades sociais do pós-guerra, diluindo-se na produção de bens de consumo. Ao encontro da arte com função prática deu-se o nome de arte aplicada, que é o oposto do esteticismo característico da arte pela arte e promove o transporte de ideias originadas em manifestos artísticos para artigos que não servem apenas para serem apreciados. A flexibilização dos conceitos de autoria e obra tornou possível trans-formar o banal em arte enquanto as artes aplicadas diluíram a boa estética em artigos de consumo, por períodos cada vez mais curtos.

Enquanto a revolução industrial modificava o cenário urbano, ditava novas rotinas centradas no trabalho e criava artefatos que automatizavam pro-cessos frequentes e demorados (como a máquina de lavar roupas), a indumentária era também absorvida pela indústria no inventário de objetos de desejo. Além de proteger o corpo, as roupas e acessórios sempre indicaram posições e ideologias dentro de um grupo, mas nem sempre permitiram a expressão individual. Antes enquadravam o singular em padrões de articulação social: delimitando classes, gêneros, atividades, faixas etárias ou qualquer outro marco estabelecido por meio de convenções. A repetição de estilos de outras épocas e a camufla-gem, presente tanto nas vestes militares quanto em tintas e lama aplicada no corpo por índios, exempli-ficam respectivamente a preocupação em posicio-nar-se no tempo e no espaço.

A linguagem da indumentária não deriva da relação com a roupa em si, mas com o corpo. Através dele percebe-se e faz-se perceber no ambiente, e a partir desse reconhecimento é que se constroem os papeis

Moda é arte em Potencial O debate sobre a importância da moda no cotidiano , que mobiliza leigos e Especialistas no Assunto, também questiona se ela pode ser considerada uma forma de arte.Por Juliana Francine

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do indivíduo. Quanto se diz sobre ele é também produto de normas sociais: enquanto algumas mulheres afegãs ocultam todos os traços físicos sob a burca, permitindo apenas identificação de gênero, no outro extremo está a supervalorização do estilo particular, desencadeada a partir da década de 60 pelo que o filósofo francês Gilles Lipovetsky inti-tula hipermodernidade. A exaltação das facilidades proporcionadas pela tecnologia, liberação sexual, reorganização das relações sociais no pós-guerra, entre outros fatores, incitaram a postura de consu-mo hedonista em detrimento das lutas e memória do grupo. Embora as peças industrializadas de vestuário não sejam exclusivas, o conceito por trás da sua criação e o arranjo dado pelo usuário é que transmitem um significado único, um posiciona-mento na comunidade. Porém, antes de ser enten-dida como linguagem, a moda precisou percorrer um longo caminho entre artesãos, elite, artistas e empreiteiros.

Inicialmente produzido em pequena escala por artífices e sem muito glamour envolvido no pro-cesso, o desenho do vestuário sofria interferência direta das clientes, que descreviam a peça com exatidão e escolhiam o tecido e os aviamentos. Até que em 1858 o inglês Charles Frederick Worth adotou uma estratégia diferente: ele mesmo criava as roupas e em seguida as divulgava usando mulhe-res como manequins, convidando figuras da alta sociedade para as exibições. Dez anos depois de lançar o formato dos atuais desfiles de moda, ele criou junto com o filho a Câmara Sindical de Alta Costura, que reúne até hoje um número restrito de maisons sob regras específicas de criação e funcio-namento, entre elas a exigência da confecção estri-tamente manual e exclusividade de cada peça. As requintadas obras da alta-costura tiveram, desde o começo, boa aceitação entre os membros da nobreza europeia e asiática, mas foi através das estrelas de cinema de Hollywood que elas tornaram-se conheci-das do público, influenciando o gosto e subordinando as indústrias às tendências da moda de luxo.

Havia uma gritante defasagem entre as roupas de alta-costura e industrializadas que só foi amenizada no pós-guerra. Em 1955, quando já respirava-se os ares da hipermodernidade e os produtos industria-lizados já estavam integrados à rotina social, surgiu o prêt-à-porter, vertente estilística que também lançava coleções periodicamente, embora voltadas para a escala industrial. Esse novo eixo criativo tinha o intuito de democratizar o acesso a roupas de melhor qualidade técnica e estética, além de ofere-cer opções de estilo que atendessem os emergentes nichos sociais. O prêt-à-porter não subordinava-se aos ditames da alta-costura, atraindo rapidamente a curiosidade de membros desse grupo seleto, como

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Pierre Cardin. Interessava-os intermediar as rela-ções entre indústria e sociedade através da griffe, justificados pelos manifestos pós-modernistas que validaram a produção em série como meio de comunicação, enquanto revelava-se mais economi-camente viável produzir moda para muitos que atender poucas centenas de clientes em produções dispendiosas. Apoiado pelos avanços qualitativos na indústria têxtil e pela boa disposição dos grandes estilistas, o prêt-à-porter despertou na sociedade um desejo mais ardente pelos requintes da elegân-cia no dia a dia, tomando da alta-costura a tarefa de lançar tendências e até ameaçando a sobrevivência dela.

O desenvolvimento da arte e da moda não deixa dúvidas de que elas ajudaram a construir a história social e são provas concretas do pensamento da época. Em vários períodos, além do pós-guerra ilustrado aqui, ambas as áreas foram afetadas pelas mesmas ideias e manifestaram reações semelhan-tes em seus artefatos. Também não foram raras as oportunidades em que artistas criaram ou reprodu-ziram moda em suas obras, e que estilistas trans-puseram as criações artísticas para o espaço das passarelas. Como exemplo recente do primeiro caso pode-se citar o polêmico desfile “A Costura do Invisível”, concebido por Jum Nakao no São Paulo Fashion Week em 2004, onde vestidos feitos de

papel, ricamente ornamentados por cortes e dobra-duras com motivos orgânicos e geométricos foram destruídos diante do público pelas próprias modelos. Já no segundo caso é possível enquadrar o trabalho de Jean-Charles de Castelbajac, que desenha coleções fortemente inspiradas na pop-art de Andy Warhol, podendo ser interpretadas até como um eco do movimento artístico no prêt-à-porter.

Deve-se observar também que o manifesto da arte conceitual abriu caminhos para que o vestuário fosse também considerado arte. Tornou-se comum dizer que qualquer objeto construído com esmero ou destacado entre os demais por sua proposta é uma obra de arte, no intuito de alavancá-lo a um universo mítico. Mas os dois universos nem são tão diferentes ou excludentes assim. Essa afirmação vale mais como um reconhecimento de que a arte pode manifestar-se num objeto funcional, alheio às galerias e museus e suscetível à ressignificação. Apesar dos jogos de poder que envolvem a legitima-ção do gosto, que reluta em desfazer-se de precon-ceitos (como o que rege a ditadura da magreza), o crescente intercâmbio entre as áreas de conhecimento fragiliza toda e qualquer fronteira que possa haver entre elas. Entre moda e arte, há muitos paralelos na hierarquização criativa, distinção de grupos e leitura da sociedade. A moda é, no mínimo, uma obra de arte em potencial.

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O Espaço Garimpo e a Economia Criativa

Nichos de Mercado

Comércio Justo

moda artesanal

Moda sustentável em Pernambuco

EMPREENDEDORISMO

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O espaço garimpo e a economia criativaGermana Uchôa é uma pernambucana que se descobriu garimpando o que de melhor existia na moda, e no design, em Pernambuco. Por Luiza Barrocas

Germana Uchôa tem uma experiência impres-sionante: passou por artes cênicas, publici-dade, consultoria e marketing. Passou por

grandes empresas de comunicação, mas foi na moda que ela descobriu o seu verdadeiro caminho. Segun-do a entrevista que ela cedeu à revista Algomais de maio de 2012, ela afirma que a moda está ligada em tudo, cultura, música, arte e resolveu fazer dessas interações todas um único projeto juntando toda a sua experiência. Foi assim que o espaço garimpo nasceu, na união das paixões de Germana com o re-cém formado conceito de economia criativa, área de investimento nova nascente no Brasil e que casou direitinho com o projeto. Mesmo com tanta paixão por moda, sua aventura com o garimpo começou há seis anos. Foi tentando encontrar um espaço, falando com fornecedores, fazendo cursos que ela descobriu uma falha interes-sante. O conhecimento dos alunos de moda da capi-tal, com foco em produto não estava se encontrando com a parte de negócios que estava do outro lado, na indústria do Agreste Pernambucano. Negócio esse que tem um faturamento anual de seis bilhões de reais e que vem se tornando referência no Brasil, E assim o Garimpo foi criado, na tentativa de suprir a carência de designers no agreste e na necessidade de uma educação para negócios na capital. E foi nessa abertura que ela definiu o campo de atuação do espaço garimpo, pensando em como juntar os dois mundos de modo a favorecer a pró-pria moda pernambucana. Focando em três pilares, sua atuação é extensa, mas tem por preferência pela Comunicação (plataforma online para divulgação), pela Educação (oferencendo qualificação a quem precisa e por Negócios (com oportunidades para o mercado). Segundo a entrevista à revista Algomais, Germana até tentou ser estilista, mas logo percebeu que o Espaço Garimpo podia ser um movimento maior e abriu espaço para outros estilistas exporem seus produtos, funcionando como um grande cole-tivo , comunicando-se com outras áreas, como foto-grafia e música. A loja gerou eventos e uma grande rede de contatos, sendo o último feito em dezembro

de 2010, com 35 marcas participantes.Após ter atuado bastante em Pernambuco, o Espaço Garimpo entrou em contato com o que hoje é a sua bandeira, a Economia Criativa. Esse novo ramo de é definido como “São atividades na quais resultam em indivíduos exercitando a sua imaginação e explo-rando seu valor econômico. Pode ser definida como processos que envolvam criação, produção e dis-tribuição de produtos e serviços, usando o conhe-cimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos.” (John Howkins no livro “The Creative Economy”).

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Como esse conceito se juntava tão bem com o trabalho que estava sendo feito, o Garimpo deu um salto em estratégia, somando MODA, DESIGN e CRIATIVIDADE e tudo e todos que estavam envolvi-dos de certa forma com esses três ramos.

Para divulgar e aprofundar mais essas atividades e conceitos, tentando causar verdadeiros impactos na geração de renda e no social o Espaço Garimpo se aliou à Fundação Gilberto Freyre, dando conti-nuidade ao pilar relacionado à Educação. Transfor-mar a sua paixão em um negócio bem sucedido é contagiante e inspira muitos outros a perseguirem o mesmo sucesso, tocando várias esferas da socie-dade, desde o artesão de alguma comunidade, até algum grupo de atores, de dança, artistas.

A missão do espaço garimpo é bem extensa: difun-dir a imagem e criatividade da moda da região NE, através de qualificação, oportunidades de negócios

e divulgação de marcas e dos seus criadores, com ferramentas e soluções adequadas para viabilizar a realização de negócios com lojistas, fornecedores, parceiros e consumidores no Brasil e no exterior. Mas Germana e seus parceiros tem conseguido divulgar e impulsionar marcas juntos ao SEBRAE. Palestrante do 1⁰ Encontro Pernambuco Criativo, Germana afirma que o estado está recebendo pesa-dos investimentos em criativida e Recife, Olinda e o interior tem muito potencial para serem verdadei-ras cidades criativas. É um momento privilegiado no estado e nos resta uma intensa preparação para aproveitarmos tudo o que há de bom que chega.

Acesse:http://espacogarimpo.com.br

POr que as indústrias criativas são importantes?

As indústrias criativas estão marcando for-temente o cenário, em contraste com outros setores menos ágeis e dinâmicos da economia: interpretam e fazem uma aplicação criativa do conhecimento adquirido de forma inovadora, adotam tecnologias e novos modelos de negócios e de cooperação com facilidade, pensam em funçã de planos internacionais e utilizam a tecnologia para se aproximarem de seus clientes. Ao mesmo tempo , possuem uma elevada carga de estudos, tendo em suas forças muitas pessoas com ensi-no superior completo, diferente do restante dos setores tradicionais.

Mas a maior importância dessas indústrias não está restrito ao impacto econômico, cultural ou social, mas sim no novo modelo ofertado para outros segmentos da economia, balançando antigos modelos que hoje não funcionam mais na era digital. Assim como a revolução indus-trial moldou sociedade, economia e educação, a expansão das indústrias criativas formam uma visão sobre a economia mundial num futuro próximo. Em pesquisa feita na Europa temos a seguinte constatação: “ as indústrias criativas não são apenas um fator econômico importante em si mesmo, mas também abastecem a economia com conhecimento e dinamismo”.

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de olho nos nichossegmentações do mercado representam não só as preferências de um grande grupo de consumidores, como também uma ótima oportunidade de investimentopor Nathália Moura e Temístocles D’Anunciação

Já se passou o tempo em que empresas competiam apenas com a qualidade do produto. Hoje em dia, focar em públicos-alvo específicos vem se tornando uma efetiva maneira de alcançar estabilidade no mercado. Os chamados nichos podem surgir a qualquer momento, dependendo da demanda e cultura

da população, ou podem representar uma parcela da população que sempre esteve carente de produtos, apenas esperando uma resposta à altura do mercado com coragem de investir no setor. É importantíssimo ao profissional que se envolve com o mundo da moda estar sempre atento a quais são os direcionamentos da vez, por isso a Demetra traz aqui exemplos de nichos que estão em franca ascensão:

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VINTAGE

Ao contrário do que muitos pensam vintage e retrô não são a mesma coisa. Os ciclos de moda se renovam a cada estação e por vezes se inspiram no passado para criar coleções novas. Essas novas criações, com elementos que lembram outras décadas, são chamadas de retrô. Já as roupas que foram realmente produzidas em outras épocas, nor-malmente encontradas em brechós, são chamadas de vintage. O estilo retrô entra e sai de moda de acordo com as variações do mercado; o vintage, por não ser uma tendência, não sai de moda nunca. As pes-soas que procuram por peças vintage normalmente buscam a estética ou o modo de vida de uma época em que não viveu, mas que de certa forma admira. Os brechós mais conceituados costumam ter curadoria de profissionais que fazem um levantamento histórico de moda e arte e apresentam peças exclusivas. Além disso, a moda vintage incentiva o reaproveitamento e reciclagem de peças, apresentando um discurso mais sustentável dentro do consumismo desenfreado do mundo da moda.

Um exemplo é o Brechó Vintage Móvel, brecho-vintage-movel.tumblr.com, criado por duas estudantes de moda de Recife, que, além da cura-doria das peças, fazem um trabalho de divulgação e venda na internet com produções fotográficas muito bem elaboradas.

LINKS

Pariswww.freepstar.com Londreswww.absolutevintage.co.uk Brasilninaflores.net/modadebrecho

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comportado

É fato que o crescimento de adeptos à religião evangélica só cresce a cada ano. Representando mais de 20% do total de brasileiros segundo o IBGE, os evangélicos são uma categoria especial de consumidores, com gostos e dogmas influenciando a maneira de vestir. Isso significa prato cheio para as lojas que se adequam a esse tipo de público. Lojas como Jeans Moda ou Kauly passaram a atender exclusivamente esse público e ob-tiveram aumentos no faturamento de até 150%. O segredo está caprichar no acabamento. Como o público (majoritariamente formado por mulheres) buscam não valorizar o corpo, é na própria roupa que se busca a beleza, através de roupas mais “comportadas” nome alternativo deste segmento.

LINKS

www.evangelicamoda.com.brhttp://loja.kauly.com.br

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nerds

Pode não parecer, mas quem é nerd também se preocupa com o look. Este público específico é representado em sua maioria por homens de 15 a 40 anos de idade, e são propensos a se vestir de maneira a defender o próprio estilo de vida. Não à toa o artigo mais procurado pelo nicho nerd é o de camisetas, sempre com mensagens que tenham a ver com suas prefer-ências de livros, quadrinhos, jogos, etc. Várias são as lojas de camisetas personalizadas, como Camiseteria e Nerdstore, que têm que lidar com um público cada vez mais atento, exigente e disposto a gastar grandes quantias por artefatos de colecio-nador. A internet é sem dúvida o meio certeiro pra conquistar esse público, mas não é o único: Boa divulgação e bom rela-cionamento com o cliente são indispensáveis nesse setor.

LINKS

www.camiseteria.comwww.nerdstore.com.brwww.thinkgeek.com

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plus sizE

Além de roupas que escondam o excesso de peso eles querem acompanhar as tendências da moda e ter várias opções de compra. O nicho de mercado para os gordinhos está ganhando cada vez mais espaço e diversi-dade graças, principalmente, ao público jovem e antenado que gosta de estar na moda, mas que não tem o corpo esbelto dos modelos-padrão. Marcas como a Elegance Plus Size e Kauê Plus Size são exemplos bem sucedi-dos e que trazem opção de venda pela internet para homens e mul-heres. Por conta do crescimento desse nicho o número de mod-elos plus size vem aumentando e diversificando o mundo da moda, quebrando as regras da ditadura da magreza. Eles mostram que é possível ser feliz com um corpo mais avantajado e que o peso ideal pode ser relativo. Ainda não há um consenso, mas as marcas que trabalham para esse público costumam oferecer roupas nos tamanhos 44 até o 60, para mul-heres, e até 70, para homens.

LINKS

www.vkmodafeminina.com.brwww.posthaus.com.br www.eleganceplussize.com.br

Vale a pena Investir?

Com essas e muitas outras opções de onde investir, ainda restam dúvidas do sucesso de se passar a vender para um público segmentado. Mas exemplos não faltam. Um deles, a Kauly Moda Evangélica, mostra que fo-car em nichos muitas vezes pode ser a melhor solução. A loja, que existe desde 1990, passou a vender artigos de moda para evangélicos em 2002. Desde então, viu seu volume de vendas crescer 20% a cada ano, fabri-cando cerca de 30 mil peças por mês. A empresa de confecções tinha o público evangélico como seu maior comprador mesmo antes da segmentação, mostrando que o processo foi natural e bastante acertado.

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Comércio JustoPromover a equidade social, proteção do ambiente e segurança econômica através do comércio e da promoção de campanhas de conscientização.Por Maria Luiza Aragão

Fair Trade, (comércio justo em inglês) é um mo-vimento social e uma modalidade de comércio internacional que busca o estabelecimento

de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados, nas cadeias produtivas. Surgido na década de 60, a certificação Fair trade representa uma iniciativa que congrega responsa-bilidade social, sustentabilidade e competitividade para pequenos e médios produtores. A Fair trade Labelling Organizations (FLO) é uma sociedade comercial sem fins lucrativos que tem como finali-dade garantir a equidade no comércio internacional usando uma certificação, que funciona como uma cadeia, onde não apenas o produtor (na forma de cooperativa ou associação) é certificado, mas as indústrias também, de forma que toda a cadeia produtiva segue as regras do comércio justo. Um de seus mecanismos é dispensar o uso de atravessa-dores, desta forma, a indústria que utiliza matéria--prima com a certificação Fair trade paga diretamente ao produtor.

O movimento dá especial atenção às exportações de países em desenvol-vimento para países desenvolvidos, como artesanato e produtos agrícolas. Em poucas palavras, é o comércio onde o produtor recebe remuneração justa por seu trabalho. Principalmente nos países da América Central e do Sul este sistema por si só já melhora-ria e muito o preço pago ao produtor pela mercadoria. Mas, a FLO conta ainda com outra ferramenta: para cada produto é estipulado um preço mínimo que deve ser pago ao produ-tor por unidade de produto comprado, caso o valor de mercado esteja abaixo deste valor. Se o valor de mercado estiver acima, deve-se então pagar o preço de mercado, garantindo desta forma que o produtor jamais será alvo de especulação. Este preço mínimo estipulado pela FLO visa suprir não apenas os custos de produção ou a margem de lucro dos investimentos,

A certificação Fair

trade representa

uma iniciativa

que congrega

responsabilidade

social,

sustentabilidade e

competitividade para

pequenos e médios

produtores.

mas também, garantir a estabilidade econômica e financeira das famílias produtoras. Além do preço mínimo, é ainda estipulado um prêmio (Premium) a ser pago ao produtor por unidade de produto com-prado (lb, sacas, quilo…), o qual deve ser investido pelo produtor na comunidade onde ele se localiza.

Os produtos que fazem parte da certificação fair trade são: banana, cacau, café, algodão, flores, frutas frescas, mel, sucos, nozes e oleaginosas, arroz, ervas aromáticas e especiais, açúcar, chá, vinho, entre outros. O café foi o primeiro produto a seguir o padrão de certificação desse tipo de comércio, em 1988. A experiência se espalhou pela Europa e, no ano seguinte, foi criada a International Fair Trade Association, que reúne atualmente cerca de 300 organizações em 60 países.

Todas as organizações envolvidas no circuito do fair

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Produtos com certificação fair trade

trade devem obedecer aos seguintes princípios:

• A preocupação e o respeito pelas pessoas e pelo ambiente, colocando as pessoas acima do comer-ciante;

• A proteção dos direitos humanos, nomeadamente os das mulheres, das crianças e dos povos indígenas;

• A criação de meios e oportunidades para os pro-dutores melhorarem as suas condições de vida e de trabalho, incluindo o pagamento de um preço justo;

• Abertura e transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua atividade, e informação mútua, entre todos os intervenientes na cadeia comercial, sobre os seus produtos e métodos de comercialização;

• Envolvimento dos produtores, voluntários e em-pregados nas tomadas de decisão que os afetam;

• A promoção da igualdade de oportunidades para ambos os sexos;

• A promoção da sustentabilidade através do estabe-lecimento de relações comerciais estáveis de longo prazo;• A educação e a participação em campanhas de sensibilização;

• A produção tão completa quanto possível dos pro-dutos comercializados no país de origem.

Nos últimos cinco anos, as vendas de produtos com a certificação fair trade tem crescido em uma média de 40% ao ano, até alcançar o valor de aproximada-mente 2.300 milhões de EUROS no ano de 2007. No ano de 2009 as vendas seguiram crescendo, porém, em um ritmo inferior ao dos últimos anos. Em uma conferência de caráter informal de oito das 22 ini-ciativas fair trade a previsão geral era que o cresci-mento seria de 10 a 25% ao longo desse ano.

O impacto final da crise financeira mundial é incer-to. O impacto para os agricultores e trabalhadores nos países do Sul poderá ser terrível – um grande passo atrás para a pobreza ao perder estes recur-sos na qual vivem comunidades inteiras. Ainda se desconhece as implicações da crise ao longo prazo e é evidente que o Comércio Justo certificado é mais necessário que nunca. Os consumidores estão demonstrando lealdade ao fair trade e isso permite que esse sistema siga funcionando e perseguindo o objetivo de apoiar quantos produtores do Sul sejam possíveis em sua luta para sair da pobreza.

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México

Guatemala

nicarágua

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colombia

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chile

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zimbábue

áfrica do sul

tanzânia

quênia indonésia

uganda

etiópiaSri Lanka

camboja

tailândia

filipinas

micronésia

nauruquiribati

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índia

bangladesh

palestina

nepal

Países fornecedores de Produtos para o fair trade. fonte: http://www.tradeaid.org.nz

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Moda ArtesanalO Conforto, a elegância e a feminilidade das técnicas artesanais.Por Tainan Paiva

As técnicas artesanais vêm ganhando seu es-paço na moda atual nas coleções de estilistas da alta costura. Associando materiais de

aspecto natural, como o crochê e a renda, a mate-riais mais modernos como os tecidos metalizados, conseguiram unir conforto e elegância, resultando em looks bem sofisticados.

Vamos falar de moda arte, aquela executada pelo cuidado e capricho do produto artesanal e não pelo processo industrial. Muitos ainda veem os materiais artesanais como peças rústicas e são relutantes em relação ao seu uso, mas, o artesanato está em foco na moda atual. Rendas, ráfia (material usado para produzir sacos de café), palha, cordas e até tapeçaria conferem um charme rústico aos looks.

Ana Karina Hahn, consultora de moda e personal stylist, nos mostra alguns números nacionais a respeito do artesanato:1. O segmento envolve 8,5 milhões de pessoas em suas cadeias produtivas, movimentando cerca de R$ 28 bilhões por ano.2. O artesanato com fios promove a inserção da mulher e de adolescentes em atividades produtivas, além de estimular a prática do cooperativismo e manter a artesã na comunidade.

A moda artesanal vem ganhando o país inteiro. Alguns nomes como Márcia Bergantin (SP), Alyny Melari (SP) e Cristine Ban (RJ) usam artesanato nas suas peças já há algum tempo. Cristine acredita que os materiais artesanais tornam possível a união entre conforto e elegância, além de considerar a nobreza das fibras naturais. As peças com fibras e tramas naturais, como o linho, o algodão, a seda, o tricô, crochê, o macramê e os bordados manuais deixam os looks mais femininos e delicados.

Já a estilista Alyny Melari, do Atelier Sob Medida também aderiu ao uso das técnicas artesanais na alta costura. Ela produziu uma coleção completa de vestidos de festa usando pedaços de sobra de tecidos para a confecção de patchworks e fuxicos. Ela admite que o processo de produção seja mais lento e requer mão de obra dobrada, mas afirma que o resultado compensa o trabalho.

Falando da cena artesanal em Pernambuco, temos

a renda Renascença.,técnica têxtil que teve sua origem em Veneza, na Itália, no século XVI, e foi introduzida no Brasil por freiras europeias. O bor-dado delicado difundiu-se por aqui pelas mãos das rendeiras nordestinas, que passam a arte de geração em geração. Hoje, a renda renascença faz parte da cultura da cidade de Pesqueira, Agreste de Pernam-buco. É um trabalho exclusivamente artesanal. Sua trama é executada a partir de um desenho riscado em papel manteiga, fixado em almofada e executa-da com agulha comum, utilizando linha e lacê (fita de algodão que une as tramas). Originalmente era utilizado apenas lace branco, mas depois do contato com designers e estilistas ganharam cores como preto, marrom, laranja e azul marinho. As peças demoram de semanas a um ano para ficar pronto, dependendo do tamanho.

O estilista pernambucano Eduardo Ferreira produ-ziu em 2002, junto com as rendeiras de Pesqueira, peças que foram exibidas na novela Desejos de Mulher, da Rede Globo. Isso aumentou a notorieda-de do artesanato local. Também fruto desta parceria com o estilista, algumas peças integraram o projeto Designers e Artesãos - Extratos da Moda Brasilei-ra, promovido pela Marles (Indústria Têxtil – www.marles.com.br), sendo expostas em São Paulo e na França..

Além da renda, outros materiais podem ser citados ao falar em moda artesanal, principalmente em terras pernambucanas. A palha e a ráfia tem tudo a ver com o nosso clima, a palha se transforma em tecido e a ráfia ganha tramas e texturas em roupas. Podem ser combinadas com roupas leves durante o dia a dia. Não combina com eventos noturnos nem roupas sofisticadas, a menos que seja um vestido em ráfia negra como o apresentado por Reinaldo Lourenço em sua coleção de verão no SPFW. Lou-renço também ousou em apresentar requintados ternos, vestidos e saias feitos de ráfia nas cores coral, marrom e bege, no desfile da coleção de Verão do Espaço Fashion em 2010.

Além da renda, outros materiais são citados ao falar em moda artesanal, principalmente em terras per-nambucanas. A palha e a ráfia tem tudo a ver com o nosso clima: a palha se transforma em tecido e a ráfia ganha tramas e texturas em roupas.

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Podem ser combinadas com roupas leves durante o dia a dia, não combinando com eventos noturnos nem rou-pas sofisticadas, a menos que seja um vestido em ráfia negra Reinaldo Lourenço, apresentado em sua cole-ção de verão no SPFW. Lourenço também ousou em mostrar requintados ternos, vestidos e saias feitos de ráfia nas cores coral, marrom e bege, no desfile da coleção de Verão do Espaço Fashion em 2010. Bem, falamos de renda, palha, ráfia, tricô, fuxicos, mas não podemos esquecer um elemento da produção artesanal que causa um efeito visual belíssimo. O crochê. Vem ganhando destaque principalmente nas coleções de verão devido ao seu aspecto natural, mas pode se adequar muito bem ao inverno. O crochê vai bem desde shorts leves até aos casacos mais pe-sados e unindo materiais mais modernos, como tecidos metalizados e sintéticos com brilho, é possível conseguir looks bem sofisticados utilizando o rústico.

Outro nome pernambucano que va-loriza o artesanal em suas coleções é Melk Z-Da estilista formado em artes plásticas pela UFPE, cujo diferencial é o gentil manuseio dos fios, dos tecidos e dos bordados. Merece atenção de quem busca um serviço rebuscado e único. Uma de suas principais caracte-rísticas é justamente a referência arte-sanal em releituras contemporâneas. Cada vez mais as roupas com aspecto de feito à mão se sobressaem no mun-do fashion, e os detalhes artesanais são os grandes responsáveis por isso. Essas peças lembram conforto, por isso, po-dem ser utilizadas em vários momentos e ocasiões, se adequando as estações do ano. É importante ressaltar também o ponto de vista econômico e social, que o artesanato trás para o estado. Inserção das mulheres em atividades produtivas, estímulo à prática do cooperativismo, sem falar na geração de renda para o estado e para o turismo. Vale destacar que com peças assim, mais artesa-nais conseguimos fugir um pouco das peças industriais que são reproduzidas a exaustão.

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moda sustentável em pernambucoEmpresas transformam materiais inusitados e tecidos orgânicos e biodegradáveis em objetos de desejopor Isabela Freire

A preocupação com meio ambiente é um assunto cada vez mais discutido ao longo dos últimos anos. E na moda não é diferen-

te. Neste ano, o Brasil será palco mais uma vez da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvi-mento Sustentável, a Rio+20, que acontece entre os dias 20 e 22 de junho, e o tema já ganhou espaço na discussão.

Para pensar sobre o design de moda sustentável temos que levar em consideração todo o processo da cadeia produtiva, desde a reutilização de mate-riais, o uso de matéria-prima de origem orgânica, à valorização da mão de obra local. Esse é o diferen-cial em algumas marcas pernambucanas de empre-endedores que perceberam o potencial criativo de materiais inusitados para criar objetos de desejo.

A Mar & Arte é uma distribuidora de artesanatos, acessórios de moda e decoração, feitos a partir de couro e escamas de peixes, materiais que seriam descartados. Essa matéria-prima é transformada em bolsas, sandálias, pulseiras, acessórios de cabelo, pufes, cadeiras, mesas, porta-retratos. Dos 200 itens produzidos, o mais conhecido é a rosa de escamas. A equipe de artesãs são moradoras dos bairros de Brasília Teimosa e Curado. A marca participa das maiores feiras nacionais e internacionais e expor-ta seus produtos para países da Europa e Estados Unidos. No ano de 2009, foi ganhadora do prêmio SEBRAE Top 100 na categoria de projeto susten-tável. A idealizadora do projeto é Camila Haeckel Blanke, designer de moda pela Faculdade Boa Viagem e economia pela Universidade Católica de Pernambuco.

Rosa de escamas e bolsa de couro de peixe Mar & Arte. Foto

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Já a designer de moda Maria Ribeiro, cria aces-sórios, como anéis, tiaras, flores, bolsas, cintos, pulseiras, com linha, arame e latão. Ela começou produzindo tiaras e presilhas para uso próprio que viraram sucesso, e hoje os diversos acessó-rios geram encomendas pelo Brasil e países da América do Norte e Europa. Com o uso desse material, muitos são acessórios multifuncionais, ou seja, o consumidor pode moldar e adaptar as suas peças. Tiaras podem virar cinto, colar ou pulseira, ou um anel pode se transformar em pingente ou presilha para o cabelo. Recente-mente a marca participou da Mostra de Design Criativo Sustentável, na 2º edição da Expoi-dea - Feira do Futuro e do Festival Abril Pro Rock com uma parceria com a marca Converse - All Star transformando diversos

Acessórios Maria Ribeiro.

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materiais, como cadarços e lona, em acessórios.A marca 2primas, das sócias Mayara Pimentel e Patrícia Brito, surgiu depois de um curso na Ecotece, uma ONG que tem a pro-posta de gerar soluções criativas na moda que promovam o vestir consciente, com o desenvolvimen-to de produtos sustentáveis. O diferencial da marca está na ideia da gestão sustentá- vel. O processo produtivo e admi nistrativo é base-ado em regras básicas de sustenta-bilidade, como o questionamento da durabilidade dos produtos, a qualidade e design das peças, que são produzidas apenas com naturais, orgânicos ou biodegradá-veis. A produção das peças é feita

Essas peças

inovadoras desafiam

o óbvio em se

falando de moda

sustentável.

através cooperativas e associações. Essas peças inovadoras desafiam o óbvio em se falando de moda sustentável. Empresas com essa criatividade, capazes de enxergar o potencial em materiais inusitados, e preocupação com a sustentabili-dade, trazem destaque e visibilidade para cena da moda em Pernambuco. Fo

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O processo

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é baseado em

regras básicas de

sustentabilidade,

como o

questionamento

da durabilidade

dos produtos e a

qualidade e design

das peças.

www.marearte.com.br/ www.acessoriosmariaribeiro.com/www.2primas.com/

Coleção solstício Inverno 2012

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editorial

a Geometria da moda

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Assim como a casa, a roupa tem uma estrutura de habitação, de lar onde o corpo se abriga. Tanto a arquitetura,

como a moda tem o papel de expressar o espírito, vontades, desejos e sentimentos de uma determinada época, só que com matérias e formas diferentes.

As linhas, texturas e combinações de cores em representações geométricas remetem ao conceito de cada um. A harmonização estética do ambiente com a roupa cria uma linguagem consistente, um estilo dos tempos de hoje.

Com um mundo em constante mudança, nossos sentimentos e vontades são construídos e desconstruídos, montados, desmontados, conectados... São desejos em linhas retas, são sonhos em um ciclo circular, somos nós, em constante transformação.

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