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CADERNO CRH, Salvador, v. 25, n. 66, p. 451-464, Set./Dez. 2012 451 Marina de Souza Sartore DA FILANTROPIA AO INVESTIMENTO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL: novas distinções 1 Marina de Souza Sartore * DOSSIÊ As transformações no mundo organizacional e das finanças geram oposições as quais definem as posições dos atores atuantes no espaço social, que denomino de “Espaço das Práticas Sociais dos Empresários”. Meu principal argumento é o de que essas transformações recentes ficam mais evidentes a partir da incorporação das ideias da Sustentabilidade Empresarial (SE) por atores ligados ao campo das finanças, a qual ocorre a partir da criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo em 2005. Concluo este artigo apresentando a cartografia desse espaço social formado a partir de polariza- ções entre a filantropia, o velho, o tradicional, o local versus o meio ambiente, o novo, o moderno e o global ou ainda, de um lado, as finanças e o investimento socialmente responsável versus a responsabilidade social empresarial e a sustentabilidade empresarial. PALAVRAS-CHAVE: Espaço social. Sustentabilidade empresarial. Responsabilidade social empre- sarial. Investimento socialmente responsável. Sociologia econômica. INTRODUÇÃO As práticas de Responsabilidade Social das Empresas (RSE) ganham ênfase no espaço organizacional a partir da década de noventa, prin- cipalmente pela atuação de atores sociais associa- dos ao Instituto Ethos de Responsabilidade Social das Empresas, criado em 1998. No entanto, a ideia de que o empresário possui um papel social a ser desempenhado em prol da sociedade antecede os anos noventa e vem passando por transformações, criando novas formas de atuação no mundo dos negócios. Essas transformações, dentre as quais situo a RSE, geram oposições as quais definem as posições dos atores sociais atuantes na emergên- cia do espaço social, o qual denomino de Espaço das Práticas Sociais dos Empresários. O espaço social a que faço referência é o conceito utilizado por Pierre Bourdieu, o qual é “construído sobre a base de princípios de diferen- ciação ou de distribuição, constituídos pelo con- junto de propriedades que agem no universo soci- al considerado” (Bourdieu, 1984, p. 3). Para esboçar os contornos desse espaço so- cial, a pesquisa realizada, da qual este artigo é o resultado, recupera os agentes envolvidos com o tema das práticas sociais dos empresários, focando principalmente as suas transformações recentes. O meu principal argumento é de que essas distin- ções recentes ficam mais evidentes a partir da in- corporação das ideias da Sustentabilidade Empre- sarial (SE) ocorrida a partir da criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo, em 2005. Ao de- senhar esse espaço, busco contribuir para a dis- cussão sobre a especificidade do modelo de capi- talismo que está se formando no Brasil, no qual, segundo Grün (2009, p. 159), “o campo financeiro adquiriu centralidade e sua dinâmica interna é decisiva para a conformação dos demais setores da economia”. * Doutora em Ciências Sociais. Professora da Universida- de Federal de Goiás (UFG). Campus II, Samambaia. Caixa Postal: 131. Cep: 74001- 970 - Goiânia - Goiás. [email protected] 1 Agradeço à CAPES pelo financiamento da tese de douto- rado da qual este artigo é o resultado. Agradeço ao orientador dessa tese, Roberto Grün, aos colegas do Núcleo de Estudos de Sociologia Econômica e das Fi- nanças (NESEFI), e à banca examinadora de minha de- fesa pelos valiosos comentários.

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DA FILANTROPIA AO INVESTIMENTO SOCIALMENTERESPONSÁVEL: novas distinções1

Marina de Souza Sartore*

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As transformações no mundo organizacional e das finanças geram oposições as quais definemas posições dos atores atuantes no espaço social, que denomino de “Espaço das Práticas Sociaisdos Empresários”. Meu principal argumento é o de que essas transformações recentes ficammais evidentes a partir da incorporação das ideias da Sustentabilidade Empresarial (SE) poratores ligados ao campo das finanças, a qual ocorre a partir da criação do Índice deSustentabilidade Empresarial (ISE) na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo em 2005.Concluo este artigo apresentando a cartografia desse espaço social formado a partir de polariza-ções entre a filantropia, o velho, o tradicional, o local versus o meio ambiente, o novo, o modernoe o global ou ainda, de um lado, as finanças e o investimento socialmente responsável versus aresponsabilidade social empresarial e a sustentabilidade empresarial.PALAVRAS-CHAVE: Espaço social. Sustentabilidade empresarial. Responsabilidade social empre-sarial. Investimento socialmente responsável. Sociologia econômica.

INTRODUÇÃO

As práticas de Responsabilidade Social dasEmpresas (RSE) ganham ênfase no espaçoorganizacional a partir da década de noventa, prin-cipalmente pela atuação de atores sociais associa-dos ao Instituto Ethos de Responsabilidade Socialdas Empresas, criado em 1998. No entanto, a ideiade que o empresário possui um papel social a serdesempenhado em prol da sociedade antecede osanos noventa e vem passando por transformações,criando novas formas de atuação no mundo dosnegócios. Essas transformações, dentre as quaissituo a RSE, geram oposições as quais definem asposições dos atores sociais atuantes na emergên-cia do espaço social, o qual denomino de Espaçodas Práticas Sociais dos Empresários.

O espaço social a que faço referência é oconceito utilizado por Pierre Bourdieu, o qual é“construído sobre a base de princípios de diferen-ciação ou de distribuição, constituídos pelo con-junto de propriedades que agem no universo soci-al considerado” (Bourdieu, 1984, p. 3).

Para esboçar os contornos desse espaço so-cial, a pesquisa realizada, da qual este artigo é oresultado, recupera os agentes envolvidos com otema das práticas sociais dos empresários, focandoprincipalmente as suas transformações recentes.O meu principal argumento é de que essas distin-ções recentes ficam mais evidentes a partir da in-corporação das ideias da Sustentabilidade Empre-sarial (SE) ocorrida a partir da criação do Índice deSustentabilidade Empresarial (ISE) na Bolsa deValores do Estado de São Paulo, em 2005. Ao de-senhar esse espaço, busco contribuir para a dis-cussão sobre a especificidade do modelo de capi-talismo que está se formando no Brasil, no qual,segundo Grün (2009, p. 159), “o campo financeiroadquiriu centralidade e sua dinâmica interna édecisiva para a conformação dos demais setoresda economia”.

* Doutora em Ciências Sociais. Professora da Universida-de Federal de Goiás (UFG).Campus II, Samambaia. Caixa Postal: 131. Cep: 74001-970 - Goiânia - Goiás. [email protected]

1 Agradeço à CAPES pelo financiamento da tese de douto-rado da qual este artigo é o resultado. Agradeço aoorientador dessa tese, Roberto Grün, aos colegas doNúcleo de Estudos de Sociologia Econômica e das Fi-nanças (NESEFI), e à banca examinadora de minha de-fesa pelos valiosos comentários.

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Para a recuperação dos atores sociais, utili-zei a pesquisa documental e a busca emminibiografias publicadas em páginas eletrônicas.Para uma melhor compreensão analítica, dividi esteartigo em três momentos distintos, poréminterdependentes. O primeiro momento remete àramificação da filantropia empresarial para as prá-ticas da Responsabilidade Social das Empresas(RSE). O segundo consiste na distinção entre aResponsabilidade Social das Empresas (SER) e aSustentabilidade Empresarial (SE). No terceiro, aSE é incorporada pelo setor financeiro, desdobran-do-se em Finanças Sustentáveis (FS), as quais abri-gam as práticas de Investimento Socialmente Res-ponsável (ISR).

Concluo este artigo apresentando esse espaçosocial e mencionando o potencial analítico da socio-logia das gerações para explicar suas distinções.

FILANTROPIA EMPRESARIAL VERSUS RES-PONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

O surgimento da filantropia empresarial noBrasil tem uma pré-história nos anos 60, com acriação da Associação Cristã dos Dirigentes deEmpresas do Brasil, criada para chamar a atençãopara o papel social dos empresários (Cappellin;Giuliani, 2004).

No entanto, Beghin (2005) situa as origensda RSE nos anos 80, quando o Brasil vivenciava ofim do regime militar, o advento da globalizaçãoeconômica e financeira, a novidade gerencial dareestruturação do trabalho e o encolhimento dopapel social do Estado. Essas mudanças criaramum cenário brasileiro paradoxal nos moldes des-critos por Castel (1998) para a França, e Guilhot(2006) para os Estados Unidos: o aumento da po-breza da população e a acumulação de riquezaspelas empresas levaram ao surgimento de açõessociais por parte dos empresários.

Beghin (2005) separa a criação das práticassociais dos empresários em dois momentos dis-tintos: o primeiro pertence à década de 80, quan-do a preocupação era a de erradicar a pobreza atra-

vés da filantropia empresarial, impulsionada porum sentimento religioso através do qual a ajuda édada por esmolas e doações por parte dos empre-sários. Esse tipo de filantropia empresarial é ques-tionado na década de 90 por instituições que irãoimplantar a neofilantropia empresarial (Beghin,2005), a qual propõe gerir continuamente a pobre-za e não mais erradicá-la.

Como porta-voz da filantropia empresarialaparece a Fundação Instituto de DesenvolvimentoEmpresarial e Social (FIDES), criada em 1986. Essafundação foi precedida pelo Instituto de Desen-volvimento Empresarial, o qual tem suas origensbaseadas em princípios religiosos (Agüero, 2005).

A FIDES foi fundada e institucionalizadapor empresários e executivos de São Paulo, Rio deJaneiro, Bahia e Rio Grande do Sul (FIDES, 2010).O conselho curador do ano de 2010 é formado porAlberto Augusto Perazzo, Alberto Luiz GonçalvesSoares, Álvaro Conde Lemos Filho, JanWiegerinck, Nelson Gomes Teixeira (que chegou aser presidente da Associação dos Dirigentes Cris-tãos no Brasil) e Peter Nadas (FIDES, 2010b). Aoanalisar a minibiografia desses agentes, é possívelverificar que, em sua maioria, eles pertencem àgeração de empresários tradicionais da década desessenta e setenta, orientados por uma ação socialcatólico-cristã, atuantes como conselheiros emOrganizações Não Governamentais (ONGs) e mili-tantes a favor do ensino da Ética nos cursos deadministração e negócios.

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais eEconômicas (IBASE) foi criado em 1980 com o “ca-ráter suprapartidário e suprarreligioso, dedicado ademocratizar a informação sobre as realidades eco-nômicas, políticas e sociais no Brasil” (IBASE,2010). O IBASE possui uma característica inter-mediária, pois, ao mesmo tempo em que foi fun-dado por um líder de orientação cristã católica,nascido em 1935 – o que o aproxima da filantropiaempresarial –, esse mesmo líder passou a cobraruma atuação social mais sistemática das empre-sas, que seria monitorada pela publicação do Ba-lanço Social – atitude que o aproxima das bases daneofilantropia empresarial.

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Como porta-vozes da neofilantropia empre-sarial estão o Grupo de Instituições, Fundações eEmpresas (GIFE), o Pensamento Nacional das Ba-ses Empresariais (PNBE) e o Instituto Ethos.

O GIFE foi formado por 25 representantesde grupos privados nacionais (Carrion; Garay, 2000)e tem como principal contribuição a implementaçãoda ideia de investimento social privado. Segundoo GIFE (2009), o investimento social privado con-siste no “repasse voluntário de recursos privadosde forma planejada, monitorada e sistemática paraprojetos sociais, ambientais e culturais de interes-se público”.

Os profissionais que participaram na fun-dação do GIFE têm em comum a atuação profissi-onal em empresas de grande porte, o que os levoua assumir a direção das fundações sociais dessasempresas. Trata-se de um grupo de executivos atu-antes na década de 80 e que incorporaram a ideiade atuação social mais sistemática peloempresariado nacional.

Estamos na década de 80, quando, segun-do Diniz e Boschi (1993), a crise política opunhaempresários simpáticos à ideia de intervenção es-tatal na economia versus aqueles crédulos em umaideologia neoliberal. Essa dualidade culminou naformação de novos grupos de representação deinteresses, dentre os quais o Instituto de Estudospara o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e o Pen-samento Nacional das Bases Empresariais (PNBE).

O PNBE foi criado em 1987, a partir de umaaudiência pública convocada por, naquele momen-to, jovens lideranças, com o intuito de debater aspropostas dos empresários submetidas àAssembleia Constituinte, assim como resolver acrise de representatividade do empresariado nes-se período (Bianchi, 2001). Segundo Assis (2008),o grupo que formou o PNBE era constituído deempresários que participavam da Federação deIndústrias do Estado de São Paulo (FIESP), masque, no entanto, criticavam-na, pois acreditavamque “os empresários queriam mais independênciae consideravam a FIESP muito ligada ao governo eem constante posição de confronto com os sindi-catos.” Em sua visão, o PNBE procurava moderni-

zar as relações entre os empresários e a sociedade(Agüero, 2005) e, inicialmente, pregava uma parti-cipação conjunta do Estado e do empresariado paraa construção de uma sociedade democrática brasi-leira, assim como de uma maior participação dostrabalhadores (Bianchi, 2001).

Oded Grajew e Emerson Kapaz são os prin-cipais executivos que lideraram a formação doPNBE. Engenheiros (o primeiro formado pela Uni-versidade de São Paulo e o segundo formado peloInstituto Mackenzie) e com pós-graduação na Fun-dação Getúlio Vargas, ambos trabalhavam em mé-dias empresas com atuação na fabricação de jogose brinquedos (o primeiro fundou a Grow – jogos ebrinquedos – em 1972, enquanto o segundo assu-miu a Elka Plásticos, empresa familiar que haviasido fundada por seu pai).

A década de 90 representou um aumentodo setor de serviços no Brasil, mudando a compo-sição do PNBE, que passou a ser majoritariamentecomposto por pequenos e médios empresários atu-antes principalmente no setor de serviços, os quaisdefendiam uma participação dessa parcela doempresariado para a constituição da democraciano Brasil (Bianchi, 2001).

Segundo Agüero (2005), a criação da Fun-dação Abrinq pelos direitos da criança e do ado-lescente foi fundamental para o desenvolvimentodo conceito de RSE no Brasil. A fundação foi cria-da por membros associados ao PNBE, com o in-tuito de defender os direitos da criança e do ado-lescente, principalmente no que concerne ao tra-balho infantil. Não surpreende o fato de que o gru-po tenha fundado uma organização não governa-mental na busca de soluções para problemas soci-ais, visto que o PNBE acreditava que oempresariado poderia “dar conta, com êxito, dasfunções sociais do Estado” (Membro de PNBE en-trevistado por Diniz e Boschi, 1993, p. 101).

Seguindo a reconstituição de Agüero (2005),um pequeno grupo da Abrinq passou a estudar comoa RSE era desenvolvida nos Estados Unidos e naEuropa. Essas pesquisas levaram-no a entrar emcontato com o Business for Social Responsibility(BSR), culminando na fundação do Instituto Ethos

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de Responsabilidade Social das Empresas em 1998.Segundo Young (2008), o grupo que come-

çou o Instituto Ethos era composto por “Oded[Grajew], Guilherme [Peirão Leal], Helio [Mattar],eu [Young], Sérgio Mindlin, Emerson [Kapaz],Eduardo Capobianco”. Enquanto Oded assumiua presidência do Instituto Ethos, seguido porRicardo Young, Hélio Mattar assumiu a presidên-cia do Instituto Akatu para o consumo consciente;Eduardo Capobianco assumiu a presidência daTransparência Brasil, organização não governamen-tal fundada para combater a corrupção.

Segundo Young (2008), o grupo que fun-dou o Instituto Ethos pertenceu ao PNBE e todosos seus membros estavam ligados à fundaçãoAbrinq. Em sua maioria, os fundadores do Insti-tuto Ethos passaram pela Fundação Getúlio Vargase vieram do PNBE. A trajetória desses agentes re-vela a convergência existente entre essas organiza-ções não governamentais, as quais, à primeira vis-ta, parecem distintas, mas foram criadas a partirde um mesmo grupo geracional de atores sociais.Segundo Gomes (2007, p. 170), o “desenvolvimen-to da RSE no Brasil foi um desdobramento de umanova orientação política de um setor doempresariado, que incorporou ‘exemplos práticos’de intervenção social como parte de sua atuaçãopolítica, nos final dos anos 80". Portanto, pode-seinferir que esse grupo se caracteriza por incluir exe-cutivos atuantes na década de 90, ligados à FIESP,ao PNBE e à Fundação Abrinq, com circulação in-ternacional, e que passaram a atuar no terceiro se-tor, criando suas próprias instituições e distinguin-do-se dos empresários industriais tradicionais.

A criação do Instituto Ethos pode ser con-siderada uma das evidências do surgimento de umnovo tipo de empresário que, para distinguir-sedo empresariado industrial tradicional, criou umanova maneira de pensar associada aoempreendedorismo (pois muitos eram ligados apequenas e médias empresas) e à participação ati-va do empresariado brasileiro em questões soci-ais. A partir dessa diferenciação, esses atoresviabilizaram sua inserção como empresários nasociedade brasileira.

O discurso escolhido por esse novoempresariado demonstrou ser profícuo e consti-tuiu uma nova polarização entre os empresários: ado empresariado socialmente responsável versuso empresário tradicional, sem preocupações soci-ais. Mais ainda: surge uma primeira distinçãogeracional entre os empresários com foco na éticados negócios e (ou) direcionados por crenças reli-giosas (década de 60/70) versus esses novosentrantes, que pensavam na atuação social do em-presário de maneira mais política, ampla e siste-mática.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIALVERSUS SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

O conceito de desenvolvimento sustentávelse difundiu por meio da United Nations Conferenceon Environment and Development (UNCED-92).Porém a origem oficial do conceito é comumenteatribuída ao relatório divulgado pelas Nações Uni-das em 1987, intitulado, Our common future ouRelatório de Brundtland, segundo o qual “a hu-manidade tem a habilidade de realizar o desenvol-vimento sustentável para garantir que ela satisfaçaas necessidades do presente sem comprometer ahabilidade das gerações futuras de satisfazeremsuas próprias necessidades” (World Commissionon Environment and Development, 1987, s/p).

A UNCED-92 teve como um de seus desdo-bramentos a inserção mais explícita dos empresá-rios nas questões do meio ambiente a partir dacriação da Fundação Brasileira para o Desenvolvi-mento Sustentável (FBDS) por Israel Klabin e, noplano internacional, da criação do World BusinessCouncil for Sustainable Development (WBCSD). AWBCSD é uma associação global que reúne execu-tivos envolvidos com a sustentabilidade e os ne-gócios e que, em 1997, lançou a sua filial brasilei-ra, o Conselho Empresarial Brasileiro para o De-senvolvimento Sustentável (CEBDS), sob o coman-do de Fernando Almeida.

As características de seus fundadores con-vergem para um tipo ideal de empresário localizado

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no Rio de Janeiro: ambos adotam a postura de exe-cutivos que operam na esfera pública, ou via parti-cipação política – Klabin foi prefeito do Rio de Ja-neiro em 1979 – ou via trabalho acadêmico em agên-cias público-estatais como o fez Fernando Almeida.

Ao analisar as minibiografias dos atores so-ciais citados até então, é possível observar umadistinção baseada na localização geográfica dosagentes. Por um lado, tanto a FBDS quanto oCEBDS apareciam no Rio de Janeiro, associandoas ações sociais do empresariado, principalmente,ao meio ambiente e a uma visão do longo prazo.Por outro, em São Paulo, aparecia a ideia de inves-timento social privado e de responsabilidade soci-al empresarial, associando as ações sociais dosempresários a uma dimensão estratégica voltadapara os públicos interessados.

Paralelamente, enquanto as ideias em tornodas práticas sociais dos empresários seinstitucionalizavam, outra ideia também ganhavaforças: a governança corporativa.

O retorno à ideia de Friedman (1970) deque as empresas deveriam prestar contasprioritariamente aos seus acionistas ocorreu a par-tir da nova conotação atribuída ao termo“governança corporativa”, o qual foi criado na for-ma de práticas para que a relação entre o executivoe o acionista fosse transparente, priorizando osinteresses dos acionistas. Essa concepção foi am-plamente difundida no Brasil pelo Instituto Brasi-leiro de Governança Corporativa (IBGC) na segun-da metade da década de noventa.

Observa-se, portanto o surgimento de doismovimentos, à primeira vista, paradoxais: enquan-to a RSE, representada pelo Instituto Ethos, pregao foco das ações do executivo nos públicos inte-ressados (stakeholders), a governança corporativa,representada pelo Instituto Brasileiro deGovernança Corporativa, orienta seu foco nas boasrelações das empresas com seus acionistas.

Esse paradoxo é solucionado no âmbito dosetor financeiro por meio da progressiva incorpo-ração da dimensão da responsabilidade socialempresarial como um dos pilares da governançacorporativa. Segundo Sartore (2006), essa união é

particularmente bem evidente no setor bancáriobrasileiro. Para os bancos, incorporar as dimen-sões sociais e ambientais da empresa junto à suadimensão financeira passou a significarSustentabilidade Empresarial (SE).

SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL VERSUS

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS (INVESTIMENTOSOCIALMENTE RESPONSÁVEL)

O início do século XXI apresenta a constru-ção de uma nova distinção cognitiva devido à in-corporação das práticas de SE pelo setor financei-ro. Essa nova distinção cria duas novas polarida-des entre a responsabilidade social das empresas,gerada pelos empresários paulistas, e o Investimen-to Socialmente Responsável (ISR) concebido pe-los investidores e gestores de fundos de investi-mentos, os quais buscam, através de inovações fi-nanceiras, situar a profissão que exercem no cam-po financeiro.

No Brasil, a difusão do mercado do ISR estáintrinsecamente relacionada à objetivação da SEno índice de sustentabilidade empresarial (ISE),na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo. O ISEreúne, em sua carteira de investimentos, empre-sas consideradas socialmente responsáveis e re-presenta, portanto, a atribuição de valor àsustentabilidade pelo mercado financeiro.

Assim, para compreender quem foram osagentes de criação do mercado ISR, é necessárioolhar para os agentes sociais que constituíram oISE mais detalhadamente.

ABN AMRO Real

O primeiro fundo socialmente responsávellançado no Brasil surgiu como resultado do pro-cesso de concentração bancária no final dos anosnoventa. A aquisição do Banco Real pelo BancoABN AMRO gerou uma série de estratégias paracriar uma nova imagem do banco associada às ideiasde preservação do meio ambiente e da sociedade.

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Um de seus resultados consistiu na criação dofundo Ethical do então Banco ABN AMRO Real2

em 2001 (Fundos..., 2006).Os profissionais ligados ao Banco ABN

AMRO REAL têm, em sua maioria, formação emnegócios, pertencem a uma geração de profissio-nais atuantes no mundo das finanças através dosetor bancário e possuem estudo ou experiênciaprofissional no exterior.

Fábio Barbosa, particularmente, construiu aimagem do “Banqueiro Verde” (Prado; e Rosenburg,2007) ao inserir as ideias de sustentabilidade em-presarial na estratégia do Banco ABN AMROREAL. A figura de Fábio Barbosa é emblemática,pois não apenas criou um nicho de atuação dosdirigentes dos bancos a partir da ótica da SE, comoa expandiu como um diferencial de gestão e deatuação política dos bancos.

A expressiva presença de executivos doABN AMRO REAL em diretorias de entidades derepresentação de classe, como a Federação Brasi-leira dos Bancos (FEBRABAN) ou ainda no BancoCentral (Minella, 2009) pode ter contribuído paraa expansão das ideias de SE no mercado financei-ro. Não é por acaso que, em 2002, a FEBRABANcriou uma Comissão de Responsabilidade Sociale Sustentabilidade, iniciando o ciclo “café comsustentabilidade” em 2007 e, por fim, em 2009,realizou o Seminário FEBRABAN de FinançasSustentáveis.

Ainda não é por acaso que a crescente reali-zação de eventos que discutem finanças esustentabilidade tenha ocorrido a partir do ano de2007, quando Fábio Barbosa assumiu a diretoriaexecutiva da FEBRABAN.

Junto a Fábio Barbosa, o personagem de LuizEduardo Passos Maia é relevante para se compre-ender a emergência dos investimentos socialmen-te responsáveis no Brasil. Luiz Eduardo PassosMaia trabalhou no Banco ABN AMRO REAL naimplementação do Fundo Ethical e, posteriormen-

te, em 2003, procurou a Bovespa,3 com o intuitode desenvolver um índice para servir de parâmetroao Fundo Ethical. Para tal tarefa, requisitou a par-ceria do Instituto Ethos e do Instituto Brasileiro deGovernança Corporativa.

Luiz Eduardo Passos Maia é um dos direto-res executivos da Associação Nacional dos Ban-cos de Investimento (ANBID) e foi seu primeirorepresentante no grupo que forma o Conselho doÍndice de Sustentabilidade Empresarial. Possuiampla circulação no espaço internacional, pois tra-balhou em bancos comerciais no exterior. Essa cir-culação pelo espaço internacional lhe rendeu oaumento de seu capital social, evidenciado pelaparticipação como palestrante em fóruns nacionais(Fórum do Investidor e Seminário FEBRABAN deFinanças Sustentáveis) e internacionais sobre otema (Triple Bottom Line Investing Conference,Fórum de Lideres em Sustentabilidade). Dessamaneira, tanto Fábio Barbosa quanto Luiz Eduar-do Passos Maia apresentam um novo perfil profis-sional no espaço das finanças: o perfil do finan-cista preocupado com o meio ambiente, o lucro e asociedade e que ocupa cargos de diretoria em as-sociações de representação de interesses de classea que eles pertencem, com alta circulação na esferados negócios financeiros internacionais.

Existem mais dois protagonistas desse pro-cesso: Luiz Ribeiro e Pedro Angeli Villani. Ambosconstruíram carreira no Banco ABN AMRO REALe também circulam em conferências internacionaissobre investimento socialmente responsável. LuizRibeiro passou a atuar no International FinanceCorporation (IFC), enquanto Pedro Angeli Villanimanteve a sua carreira no Banco ABN AMRO REAL.Ambos também possuem uma atuação profissionalvinculada ao setor bancário associada a uma circu-lação no plano internacional das finanças.

2 O Banco ABN AMRO REAL foi comprado em 2008 peloBanco SANTANDER. Porém, como os desdobramentosde nossa história ocorreram quando o banco era chama-do BANCO ABN AMRO REAL, será assim referido aolongo do texto.

3 Informação obtida em entrevista realizada com LuizEduardo Passos Maia em dezembro de 2008, na ocasiãoda realização do Fórum do Investidor Responsável doprograma New Ventures. O entrevistado não autorizou agravação da entrevista, que ocorreu na forma de anota-ções em bloco de notas.

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Academia e Terceiro Setor

O grupo de analistas de investimentos doBanco ABN AMRO REAL, particularmente pormeio da figura de Luiz Eduardo Passos Maia, con-vergiu com atores ligados ao setor acadêmico e aoterceiro setor. No ano de 2000, a Organização daSociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Ami-gos da Terra lançou o programa Eco-Finanças(2012), que visa a monitorar e assegurar que osinvestimentos e financiamentos das instituiçõesfinanceiras estejam dentro dos padrões dasustentabilidade. Uma das atividades do projetoconsistiu no treinamento de mais de 1500 funcio-nários do Banco ABN AMRO Real em 2002 (Mano,2007). Esse treinamento é emblemático, pois apre-senta uma convergência entre uma organização nãogovernamental (Eco-finanças, 2012), liderada poratores sociais atuantes na Fundação Getúlio Vargas(EAESP), e foi aplicado em um banco comercialprivado (ABN AMRO Real). Esse encontro permi-tiu a criação de um espaço de convergência entreos líderes do Banco ABN AMRO REAL que vi-nham desenvolvendo projetos na área daSustentabilidade com líderes interessados em cri-ar e monitorar essas práticas a partir da área acadê-mica e do terceiro setor.

A Fundação Getúlio Vargas já estava atuan-do em estudos sobre a ética nos negócios atravésda criação do Centro de Estudos de Ética nas Or-ganizações (CENE) em 1997. Esse centro coopera-va com a FIDES. Dentre os projetos do CES, en-contramos o desenvolvimento da metodologia paraa elaboração da carteira teórica do Índice deSustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa.

A participação do CES no ISE é por eles en-tendida como uma atividade dentro de um campomaior, que o instituto denomina “finanças susten-táveis”, o qual não apenas diria respeito aos inves-timentos financeiros, mas também “à atuação dosistema financeiro de forma economicamente viá-vel, socialmente justa e ambientalmente correta.”(CES, 2010). Assim, finanças sustentáveis procuraenglobar todas as atividades desenvolvidas pelosetor financeiro para alcançar a sustentabilidade

tanto na questão do investimento como na conces-são de crédito e inclusão bancária. Para consolidaressa ideia, o CES, convergindo com o Internacio-nal Finance Corporation (IFC) e com o apoio daFEBRABAN, lançou, em 2005, o Fórum LatinoSobre Finanças Sustentáveis (LASFF), com o in-tuito de promover as finanças sustentáveis naAmérica Latina.

A partir dos desdobramentos das estratégi-as da convergência desses agentes, é possível iden-tificar a criação da nova polarização que é traduzidapela Responsabilidade Social Empresarial, de umlado, e pelo seu desdobramento em InvestimentoSocialmente Responsável, de outro. Vale ressaltarque tanto o mundo empresarial da responsabili-dade social das empresas quanto o mundo finan-ceiro das finanças sustentáveis defendem o mes-mo ponto de vista, mas o fazem com vocabuláriosespecíficos de seu campo de atuação, criando umefeito de teoria (Bourdieu, 1982), no qual, ao secriarem distinções na linguagem, novas realidades,subsequentemente, são criadas.

Assim, o CES, em parceria com o Banco ABNAMRO REAL e com o ECO-FINANÇAS, cria umanova linguagem, associada às finanças sustentáveis,vinculada a novas ferramentas de análise para defi-nir o que é ser financeiramente sustentável ou não.Ao fazê-lo, cria e legitima um mercado próprio deatuação. A militância do CES pela difusão do ISRfica explícita na fala de Monzoni (2008) em pales-tra, quando afirma que a “Sustentabilidade será omainstream – não haverá outra possibilidade deinvestimento que não incorpore questões degovernança, sociais e ambientais.”.

Na França, o mercado do Investimento So-cialmente Responsável ganhou impulso a partirda criação de uma agência de notação social cha-mada Agence de Rating Environnemental et Socialdes Entreprises (ARESE) em 1997, ou seja, a partirda existência de um grupo reconhecido comoexpert na temática em atribuir notas para as empre-sas sustentáveis (Loiselet, 2003). O CES da Fun-dação Getúlio Vargas ocuparia no Brasil uma posi-ção análoga à ARESE no começo do mercado ISRna França, pois consiste no único grupo de profis-

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sionais que não atua no mercado financeiro adisponibilizar este tipo de serviço de notação soci-al a partir da elaboração da metodologia do Índicede Sustentabilidade Empresarial.

O grupo que formou o CES constitui umaprimeira geração de profissionais formados na áreade negócios, que também atuaram no terceiro se-tor. Esse grupo, que atuou no treinamento dos ge-rentes do ABN AMRO Real, era constituído doentão seu coordenador, Mário Monzoni, e a entãoresponsável pela comunicação do projeto, GladisRibeiro. Se esses primeiros atores foram relevan-tes para a criação das ideias associadas ao ISR, já épossível observar o desdobramento dessa atuaçãono aparecimento de uma segunda geração de ato-res que circularam pelo projeto Eco-Finanças ecriaram a consultoria “Finanças Sustentáveis”.Seus idealizadores, Cássio Trunkl e VictorioMattarozzi, são ex-bancários com circulação inter-nacional. Ambos realizaram a elaboração dos crité-rios socioambientais do Índice de Sustentabilidade,em suas versões de 2005 e 2006.

Assim, os desenvolvimentos institucionaisna área da sustentabilidade e das finanças, no co-meço do século XXI, abriram o espaço para queprofissionais da área de negócios com passagempelo terceiro setor, ou seja, por organizações nãogovernamentais, encontrassem um nicho de atua-ção: enquanto o primeiro grupo buscou a consa-gração pela esfera acadêmica, o segundo buscou aconsagração na esfera do conselho especializado apartir da criação de uma consultoria. Ambos osgrupos têm uma ligação com o índice desustentabilidade empresarial, reforçando a hipó-tese de que uma passagem pela esfera do ISE tornao profissional legítimo para a atuação no âmbitodas finanças sustentáveis e mais particularmente,no âmbito do investimento socialmente responsá-vel no Brasil.

Influência internacional

A iniciativa financeira do Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-FI)

foi lançada em 1991 pelas Nações Unidas em par-ceria com bancos comerciais. A UNEP-FI tem umadupla importância para o desenvolvimento do in-vestimento socialmente responsável, na medida emque desenvolve debates internacionais sobre otema, ao mesmo tempo em que possui um Grupode Trabalho, em parceria com o InternationalFinance Corporation, braço privado do Banco Mun-dial, com atuação direcionada ao desenvolvimentodo sistema financeiro em mercados emergentes.

Ao se analisarem as temáticas das conferên-cias da UNEP-FI a partir de 1994, é possível obser-var claramente suas transformações: inicialmente,o foco era as relações do setor financeiro com omeio ambiente; em seguida, as conferências incor-poraram o termo “sustentabilidade” e, por fim,inseriram a temática “investimentos” a qual incor-pora o investimento socialmente responsável.

A UNEP-FI possui uma área de atuação cha-mada “Investimentos”. Dentre as diversas ativida-des desenvolvidas pela linha de Investimentos dainiciativa financeira, uma nos é de particular inte-resse: o projeto “Investimento Responsável emMercados Emergentes” (Emerging MarketResponsible Investing), iniciado em 2004 com acolaboração com o International FinanceCorporation (IFC) e com o suporte financeiro doMinistério de Relações Internacionais da Holandae da Agência de Desenvolvimento Internacional daSuécia.

O International Finance Corporation parti-cipa desse projeto por meio de seu programa inici-almente chamado Sustainable Financial MarketsFacility, que atualmente se subdivide em dois pro-gramas: o Programa de Investimento Sustentável(Sustainable Investing Program) e a Sustentabilidadenos Mercados Financeiros (Financial MarketsSustainability).

O programa de Investimentos Sustentáveisatua através de instituições financeiras internacio-nais para promover o desenvolvimento das finan-ças sustentáveis em mercados emergentes. Esseprograma foi o financiador do Índice deSustentabilidade Empresarial da Bovespa lançadoem 2005 (Camba; Fariello; Pavini, 2005). O IFC

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financiou o indicador com um primeiro investi-mento de U$ 85.000,00 com trabalho de consultoriapara o desenvolvimento da metodologia do índi-ce. Em janeiro de 2007, foi aprovado mais um in-vestimento de U$120.000,00 (Manasseh, 2007).

Para englobar grandes investidoresinstitucionais, como os fundos de pensão, o pro-grama das Nações Unidas chamado Pacto Global,junto à UNEP-FI, lançaram, em 2006, os Princípi-os para o Investimento Responsável (PRI). No en-tanto, já em 2003, havia no Brasil uma iniciativado Instituto Ethos junto à Associação Brasileirados Fundos de Pensão (ABRAPP) para lançaremos princípios básicos de responsabilidade social,os quais fariam parte de uma cartilha para o inves-timento socialmente responsável.

O PRI tem como base a incorporação da ideiapor parte dos investidores institucionais de queinvestir com critérios de governança, sociais eambientais pode afetar positivamente o desempe-nho das carteiras de investimento. Assim, a pro-posta é a de criação de um referencial para que osinvestidores possam incorporar essas práticas aoseu dever de gerir recursos de terceiros.

Segundo Rebouças (2006), a caixa de pre-vidência dos funcionários do banco do Brasil (PRE-VI), junto ao Fundo de Pensão da Tailândia, foramos únicos dois grupos do terceiro mundo convida-dos para participar da elaboração destes princípios.

Esse posicionamento dos Fundos de Pen-são pode ser atribuído ao que Jardim (2009) de-monstra em seu trabalho que sobre a financeirizaçãodos fundos de pensão brasileiros sob a direção deuma “elite sindical”. Esse grupo, para se diferen-ciar de seus antecessores, estaria mais disposto aaderir à filosofia do ISR. Os fundos de pensão bra-sileiros ganham cada vez mais destaque no cená-rio econômico-financeiro, como evidencia a edi-ção de fevereiro do Valor Investe, ao chamar os fun-dos de pensão de “Novas Estrelas da Bolsa”(AsEstrelas..., 2010).4 Assim, Monzoni, entrevistadopor Mattos (2007), afirma que, “com o poder eco-

nômico desses fundos, mesmo que entrem discre-tamente no mercado, já fará uma bela diferença”.Dessa forma, os agentes ligados ao ISR acreditamque a adesão dos fundos de pensão às práticas doISR é fundamental para o sucesso desse mercadoem escala nacional e mundial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A (RE)CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO DAS PRÁTICASSOCIAIS: da filantropia ao investimentosocialmente responsável

O presente artigo apresentou uma cronolo-gia a partir de instituições e atores sociais relevan-tes para a compreensão do espaço das práticas so-ciais dos empresários.

As distinções que foram criadas na evolu-ção histórica das práticas sociais dos empresáriossituam os indivíduos em quatro polos distintos,como é ilustrado na Figura 1: ao norte, os executi-vos de gerações empresariais das décadas de 60/70 e 80, ligados ao tradicionalismo, à filantropia eàs ações mais nacionais (pois não têm ampla circu-lação internacional. No polo oposto, ao sul, os exe-cutivos da década de 90 e início do século XXI, avanguarda, ligados ao meio ambiente e com alta cir-culação internacional. À direita, os indivíduos liga-dos ao mundo das finanças sustentáveis e ao inves-timento socialmente responsável versus, à esquer-da, os indivíduos ligados ao mundo das empresas,da RSE e do desenvolvimento sustentável.

Vale ressaltar que essa reconstituição nãoapenas “tira uma fotografia” do espaço das práti-cas sociais do empresário como demonstra a suaevolução histórica e geracional. Mesmo não sendopossível mapear o ano de nascimento de todos osatores sociais envolvidos, é possível inferir que aevolução das diferentes conotações atribuídas àspráticas sociais dos empresários pode ser vista peloviés da sociologia das gerações.

Karl Mannheim (1928) argumenta em proldo potencial explicativo e analítico das geraçõesvistas como grupos formados a partir de uma mes-ma idade cronológica, que compartilham de uma

4 A revista evidencia a crescente participação dos fundosde pensão no financiamento de empresas deinfraestrutura no Brasil.

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mesma unidade histórico-social e possuem moti-vações similares. Nesse sentido, os dados analisa-dos convergem com a ideia de Mannheim (1928),pois, apesar de não ser extremamente conclusivo,tudo se passa como se o pertencimento a um de-terminado período histórico e a uma determinadageração de empresários com motivações comunspossa ser considerado um dos fatoresdeterminantes para as diferentes concepções so-bre as práticas sociais dos empresários apresenta-das neste artigo.

No primeiro quadrante, situamos os prota-gonistas que pertencem ao primeiro momento(Filantropia Empresarial), ou seja, atores ligados àFIDES, ao IBASE e ao GIFE. No segundo e no quar-

to quadrante, situamos os protagonistas que per-tencem ao segundo e terceiro momento respectiva-mente (Responsabilidade Social Empresarial, De-senvolvimento Sustentável e SustentabilidadeEmpresarial). E, por fim, no terceiro quadrante,situamos os protagonistas do Investimento Social-mente Responsável.

Essas oposições demonstram que a tomadade posição no espaço da responsabilidade socialempresarial depende muito menos da área de for-mação acadêmica, pois todos são, em sua maioria,formados na área de negócios, do que pela suatrajetória profissional, idade e instituições pelasquais passaram. Demonstra também que se tratamuito menos de um espaço de práticas divergen-

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tes do que de um espaço homogêneo para a con-vergência de novas elites empresariais.

Também é possível observar uma polariza-ção entre, de um lado, os atores ligados à esfera daresponsabilidade social empresarial e do desen-volvimento sustentável, e, de outro, atores ligadosàs finanças e à governança corporativa. A princi-pal distinção é a de que os primeiros focam assuas práticas para os executivos das empresas,enquanto os segundos focam as suas práticas paraos investidores.

A incorporação da Sustentabilidade Empre-sarial pelo mundo das finanças recria, por exem-plo, as distinções existentes entre a categoria deproprietário/acionista/investidor e a do gerente: deum lado, há executivos que desenvolvem ações“sustentáveis” baseados nas diretrizes do Institu-to Ethos; de outro, os acionistas e ou investidoresque reconstroem a sua própria noção do que sig-nifica ser “sustentável”.

Trata-se, portanto, de uma recolocação doclássico problema da agência. Assim, de um lado,há o executivo de uma empresa buscandoimplementar as práticas de responsabilidade soci-al no dia a dia da empresa, ao mesmo tempo emque deve atender às diferentes exigências desustentabilidade para a criação de valor para o aci-onista. Este dilema fica evidente no caso do cres-cente número de questionários que são submeti-dos às empresas nos últimos anos como por exem-plo, os indicadores Ethos, o questionário do Índi-ce de Sustentabilidade Empresarial, os indicado-res do Fundo Ethical, etc. São diferentes institui-ções utilizando os seus critérios específicos paraavaliar a Sustentabilidade de uma empresa. Estesquestionários acabam por definir quais são as pau-tas prioritárias no que concerne a SustentabilidadeEmpresarial para o dia-a-dia das empresas.

Essa relação recoloca em questão quem é que“dita” as regras sobre o que gera valor para a empre-sa em termos de sustentabilidade empresarial. Sãoos agentes que fomentaram o movimento da res-ponsabilidade social empresarial na década de 90,ou as instituições ligadas ao mercado financeiro?

Esta questão ainda não possui uma respos-

ta. O que é possível identificar é a existência dedistinções no espaço das práticas sociais do em-presário brasileiro a partir da incorporação destaspráticas pelo espaço das finanças. A incorporaçãodestas práticas é resultado de uma convergênciade elites associadas ao mercado financeiro, ao ter-ceiro setor, ao espaço acadêmico e até mesmo aoespaço sindical. Uma evidência da distinção se-mântica que se forma é a adoção de termos distin-tos como People, Planet and Profit (PPP) versusEnvironment, Social and Governance (ESG) que,na prática, são a mesma coisa. A tríade PPP é re-presentada pelos que advogam em prol da Res-ponsabilidade Social Empresarial por meio da ideiade Triple Bottom Line cunhada por John Elkingtonda consultoria SustainAbility a partir da qual aempresa deve atuar em prol das People (Pessoas),Profit (Lucro) e Planet (Planeta) (Elkington, 2004).No entanto, no espaço das finanças, esta tríade ésubstituída pela Environment, Society andGovernance - ESG5 Esta distinção entre duas si-glas que à primeira vista querem dizer a mesmacoisa demonstra uma nova estruturação da per-cepção subjetiva do mundo das finanças atravésda linguagem que é “o produto das lutas simbóli-cas anteriores e exprime, de forma mais ou menostransformada, o estado das relações de forças sim-bólicas” (Bourdieu, 1994, p. 139).

Desse modo, é possível afirmar que, princi-palmente a partir da incorporação da sustentabilidadepelo mercado financeiro, estamos diante de umareconfiguração no espaço das práticas sociais dosempresários por meio do aparecimento de novosatores e novas formas de expressão que tornammais claras as disputas no espaço das suas práti-cas sociais.

(Recebido para publicação em 20 de dezembro de 2011)

(Aceito em 27 de abril de 2012)

5 Para maiores detalhes ver por exemplo, o relatório lança-do pelo International Finance Corporation em parceriacom o grupo Mercer “Gaining ground: integratingenvironmental, social and governance (ESG) factors intoinvestment processes in emerging markets“ Março 2009.

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DA FILANTROPIA AO INVESTIMENTO SOCIALMENTE ...

Marina de Souza Sartore - Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Professorada Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Integra o Programa de Pós-Graduaçãoem Ciência Política da Universidade Federal de Goiás desenvolvendo pesquisas na área de investimento,Estado e sustentabilidade. Sua mais recente publicação: O mercado socialmente responsável. Revista Espaçode Diálogo e Desconexão. v. 4, 2012.

FROM PHILANTHROPY TO SOCIALLY

RESPONSIBLE INVESTMENT: new

distinctions

Marina de Souza Sartore

The transformations in the organizationaland financial world are creating oppositionswhich define the positions of the actors in thesocial arena, which I call “Corporate SocialPractices Arena.” My main argument is that theserecent transformations have become moreevident with the incorporation of the ideas ofCorporate Sustainability by actors in the field offinance, which has occurred since the creationof the Business Sustainability Index (ISE) in theSão Paulo State Stock Market in 2005. I concludethis article by presenting a map of this socialspace made up of the polarization betweenphilanthropy, the old, the traditional, the localversus the environment, the new, the modernand the global; or also, on one hand finance andsocially responsible investment, and on the other,social responsibility of companies and companysustainability.

KEY WORDS: Social arena. Company responsibility.Social responsibility of companies. Economicsociology.

DE LA PHILANTROPIE A

L’INVESTISSEMENT SOCIALEMENT

RESPONSABLE: de nouvelles distinctions

Marina de Souza Sartore

Les transformations du monde de la financeet de l’organisation engendrent des oppositionsqui définissent les postures des acteurs qui agissentdans l’espace social et que je désigne sous le nomde “Espaces des Pratiques Sociales desEntrepreneurs”. L’argument principal avancé estque ces changements récents deviennent de plusen plus évidents avec l’incorporation de l’idée deDurabilité des Entreprises (DE) par des acteursappartenant au domaine des finances et qui datede la création, en 2005, d’un Indice de Durabilitédes Entreprises côté en Bourse de l’Etat de SaoPaulo. Pour conclure, l’article présente lacartographie de cet espace social formé à partirde polarisations entre la philanthropie, l’ancien,le traditionnel, le local versus l’environnement, lenouveau, le moderne et le global ou encore lesfinances d’un côté et l’investissement socialementresponsable versus la responsabilité sociale et ladurabilité des entreprises.

MOTS-CLÉS: Espace social. Durabilitéentrepreneuriale. Responsabilité socialeentrepreneuriale. Investissement socialementresponsable. Sociologie économique.