Comunicação Popular, Comunitária, Horizontal ou Dialógica?
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Título: Comunicação Popular, Comunitária, Horizontal ou Dialógica? Articulações e Diferenças entre os Conceitos Teóricos
Autora: ARANHA, Taís1
Instituição de origem: Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) RESUMO O presente trabalho tem o objetivo de contribuir com o campo da comunicação a partir da apresentação e análise de diferentes pressupostos teóricos que envolvem a comunicação produzida por um determinado grupo de pessoas, e não para ou sobre, de forma a se contrapor ao que é feito pela mídia hegemônica e convencional, baseada no tripé emissor-mensagem-receptor, e cm finalidades de alcançar a transformação social dos envolvidos no processo. Entre as denominações mais comuns a este tipo de comunicação, que é característico da América Latina, estão: “Comunicação Popular”, “Comunicação Comunitária”, “Comunicação Popular e Comunitária”, “Comunicação Horizontal” e “Comunicação Dialógica”. A revisão destes conceitos teóricos busca verificar o estado da arte neste campo de pesquisa, assim como observar as articulações e diferenças entre estas nomenclaturas. Palavras-chave: comunicação popular; comunicação comunitária; comunicação horizontal; comunicação dialógica; teoria da comunicação.
Foi na década de 1980 que surgiu o paradigma latinoamericano comunicacional. O
movimento teórico, baseado numa realidade local de fazer comunicação, contribuiu para o
desenvolvimento de uma forma característica de pensar e estudar o campo, de acordo com a
realidade social, política e econômica, sem a dependência ou a aplicação de teorias
“importadas” da Europa ou dos Estados Unidos, como ocorrera nas décadas anteriores.
Grosso modo, este novo olhar no campo comunicacional buscava refletir sobre uma
forma de comunicação feita por e não para ou sobre uma comunidade ou grupo de pessoas,
que segundo Beatriz Dornelles teve início nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na
América Latina, no final da década de 19602. Isto permitiu a elaboração e a aplicação de
uma práxis comprometida tanto com a leitura crítica dos meios hegemônicos quanto com a
tomada de consciência por parte das classes subalternas, com vistas à sua transformação
1 Mestranda em Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Jornalista formada pela Universidade Braz Cubas (UBC, Mogi das Cruzes-SP), com especialização em Jornalismo Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: [email protected]. 2 Divergências conceituais em torno da comunicação popular e comunitária na América Latina. In: Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação, 2007, p. 2.
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social. Desde então, diversos conceitos foram elaborados por pesquisadores da América
Latina neste sentido. Alguns deles se complementam, outros se contrapõem.
O presente trabalho tem o objetivo de apresentar e analisar estes pressupostos
teórico-metodológicos do campo popular e, desta maneira, contribuir para os estudos de
comunicação, buscando tanto as articulações como as diferenças entre os conceitos. São
eles: “comunicação popular”, “comunicação comunitária”, “comunicação popular e
comunitária”, “comunicação horizontal” e “comunicação dialógica”.
Comunicação Popular
Para Cicília Maria Khroling Peruzzo, a comunicação popular é:
“uma forma alternativa de comunicação e tem sua origem nos movimentos populares dos anos de 1970 e 1980, no Brasil e na América Latina como um todo. Ela não se caracteriza como um tipo qualquer de mídia, mas como um processo de comunicação que emerge da ação dos grupos populares. Essa ação tem caráter mobilizador coletivo na figura dos movimentos e organizações populares, que perpassa e é perpassada por canais próprios de comunicação” (2008, p. 368).
No livro “Comunicação nos movimentos populares”, ela afirma que a comunicação
popular também ganha espaço pela visibilidade que traz aos atores que dela participam:
“(...) algumas experiências de envolvimento popular na comunicação comprovam que o
homem e a mulher encerram a potencialidade de ser sujeitos da história. Ser sujeito e não
mero objeto é a essência da condição humana” (2004, p.23).
Embora diferencie os termos comunicação alternativa, participativa, horizontal,
comunitária, dialógica e radical, a pesquisadora diz que eles são comumente utilizados
como sinônimos, por serem “uma forma de expressão de segmentos empobrecidos da
população, mas em processo de mobilização visando suprir suas necessidades de
sobrevivência e de participação política com vistas a estabelecer a justiça social”.
Para Lúcia Helena Mendes Pereira, no artigo “Comunicação popular: para além do
bem e do mal”, a comunicação popular está ligada aos conceitos de cultura popular e de
multidisciplinaridade, porque é “(...) baseada nas experiências de vida de grupos sociais,
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repletos de diversidades, de conflitos de desejos de mudança, de esperança e de resistência.
Há particularidades, assimetria, não-linearidade, complexidade, singularidades”. Ela
também reforça o “caráter de oposição ao status quo” da comunicação popular,
“intrinsecamente ligada aos desejos de mudança, a um reflexivo tempo presente entrelaçado
com um tempo futuro” (2007, p.1)
Peruzzo cita diversos autores latinoamericanos que se dedicaram a estudar esta linha
de pesquisa. Além dela, destaco Mário Kaplún, Regina Dalva Festa e Juan Diaz Bordenave.
Ela também exemplifica experiências de comunicação popular, que vão desde as presentes
no movimento popular às organizações não governamentais, que se utilizam de jornais,
rádios e TVs comunitárias, ou de projetos coletivos com vistas ao desenvolvimento social
(2008, p. 372).
Porém, a pesquisadora alerta que o termo “comunicação popular” vem sendo
apropriado por outros tipos de mídia que não têm, necessariamente, o objetivo de colocar o
“povo” como protagonista do processo comunicacional.
“(...) há mais o que diferenciar entre as formas de comunicação ditas populares ou comunitárias que são dirigidas ao povo por intermédio dos meios de comunicação comerciais –ditas populares– e aquelas protagonizadas por cidadãos ou movimentos e entidades associativas de interesse público, do que entre comunicação popular e comunitária. As primeiras, apesar de desenvolverem dimensões que podem ser comunitárias ou populares, nem sempre visam a emancipação cidadã, nem modificam a lógica de manipulação característica da grande mídia comercial, ressalvando algumas exceções”. (2008, p. 375)
Comunicação Comunitária
A comunicação comunitária é encontrada como sinônimo de comunicação popular
em alguns autores. Embora não faça contraposição entre os termos em “O espírito comum”,
Raquel Paiva a define como aquela “(...) que efetivamente possa comprometer o indivíduo
com o exercício de sua cidadania, que possa permitir-lhe uma atuação no seu real-histórico,
podendo transformar, inclusive, sua existência e a das pessoas à sua volta”.
Ela ressalta que está presente na comunicação comunitária “um aspecto dinâmico e
reivindicatório”, de acordo com os interesses comuns dos grupos. “Os indivíduos
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agrupados por interesses comuns podem retomar como cidadãos a possibilidade que lhes
foi negada, de interferir nas decisões do poder público”. Ela cita também como
características os aspectos de “conscientização da realidade” e o sentimento “de
pertencimento entre seus membros” (2003, p. 56-57).
Citando Ciro Marcondes Filho, Raquel Paiva fala do fator político presente na
comunicação comunitária, uma vez que a comunicação é um instrumento de poder. “(...)
Para ele, a vinculação entre jornalismo e comunitário e conceito político faz-se no sentido
de que ‘o jornalismo comunitário é o meio de comunicação que interliga, atualiza e
organiza a comunidade, e realiza os fins a que ela se propõe’”.
Para Carlos Guimarães, do Centro de Iniciativas para la Cooperacíon, entidade
espanhola que desenvolve projetos socioculturais em países do Terceiro Mundo, e professor
da Universidad de Sevilla, a
“comunicação comunitária significa o empoderamento, a governabilidade e fortalecimento das redes sociais, do protagonismo e da cidadania. Também é um fator de desenvolvimento, uma vez que gera uma dinâmica de discussão e de mobilização social. Além de permitir a preservação da diversidade cultural, possibilita a identificação e a proximidade da população que usa diferentes suportes comunicacionais com o discurso que se emite”3.
Ele diz que, para entender a comunicação comunitária na América Latina, é preciso
compreender a história da região, que nas décadas de 60 e 70 vivenciou experiências
capitalistas, por meio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO), e outras de esquerda, construídas na clandestinidade, e que foram consolidadas nas
duas décadas seguintes pelo movimento popular, incentivadas principalmente pela Teologia
da Libertação –corrente teológica muito presente na América Latina, seguida por cristãos
que fazem a opção pelos pobres.
_________________ 3 Em entrevista publicada pelo site Observatório Jovem.
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“Existe hoje uma recuperação ideológica, (...) que parte da base social dos movimentos, e não dos partidos políticos. E que permite discutir, formar fóruns de debates e redes. (...) Eu acredito, que hoje em dia, o grande motor da coordenação da comunicação comunitária na América Latina, em questões macro, que permite posicionar frente ao movimento da globalização, é a Internet. No nível micro, de inserção social, continuam sendo os mesmos suportes tradicionais, como rádios, tvs locais, com uma grande limitação ainda do que é a legislação do espaço de radiodifusão”.4
Cicília Peruzzo alerta que o uso do termo comunitário pode ser problemático, uma
vez que “(...) vem sendo empregado para identificar diferentes processos comunicacionais,
desde formas de comunicação do ‘povo’ até experiências desencadeadas no âmbito da
mídia comercial de grande porte (...)” (2008, p. 368 e 369).
Comunicação Popular e Comunitária
Definida por Cicília Peruzzo como:
“processos de comunicação constituídos no âmbito de movimentos sociais populares e comunidades de diferentes tipos, tanto as de base geográfica, como aquelas marcadas por outros tipos de afinidades. É sem fins lucrativos e tem caráter educativo, cultural e mobilizatório. Envolve a participação ativa horizontal (na produção, emissão e na recepção de conteúdos) do cidadão, tornando-se um canal de comunicação pertencente à comunidade ou ao movimento social e, portanto, deve se submeter às suas demandas”. (2009, p. 140)
Para o pesquisador Rozinaldo Antonio Miani,
“a Comunicação Popular e Comunitária se constitui como uma comunicação baseada na realidade das classes subalternas e com o objetivo de transformação social, a partir da politização dos sujeitos destas classes e sua conseqüente emancipação, mediante a proposição de processos comunicativos participativos e de valorização das subjetividades no interior de um determinado grupo social” 5.
_________________ 4 Em entrevista publicada pelo site Observatório Jovem. 5 Os pressupostos teórico-ideológicos da Comunicação Popular e Comunitária. In: Caderno de resumos do I Simpósio de Comunicação Popular e Comunitária, p. 57.
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Por esta razão, ele entende que os termos “popular” e “comunitária”, utilizados nesta
ordem e combinadamente, são “complementares e dialeticamente interseccionados”. Ele
recorre à filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin para dizer que “é também no plano da
linguagem que se estabelecem as disputas político-ideológicas que vão dimensionar o
potencial contra-hegemônico implicado nas concepções e práticas da Comunicação Popular
e Comunitária”.
No trabalho “Natureza da comunicação popular e comunitária”, Eduardo Yuji
Yamamoto vê contradição histórico-ideológica nos termos “popular” e “comunitária”: “Isso porque o significado histórico de ‘comunitário’ e ‘popular’ indica práticas contrárias e conflitivas: ao passo que o primeiro busca a conformação com o sistema social e suas estruturas pré-estabelecidas; o segundo procura formas de ruptura, por meio da construção de uma hegemonia popular”.6
Na mesma linha que Miani, Yamamoto faz uma análise histórica do uso dos termos
“popular” e “comunitário” para concluir que, nos dias atuais,
Observa-se que a palavra ‘comunitário’ suscita um significado menos subversivo que ‘popular’; ou pelo menos não carrega as marcas de um perigo iminente. Naquela época, o uso da expressão ‘comunitário’ constituía uma estratégia política dos grupos populares para enganar a repressão ou a censura de seus veículos. Esta significação ainda hoje é preservada, mas seu uso tem a finalidade política de esvaziar o sentido histórico do ‘popular’. (p. 12)
_________________ 6 Trabalho apresentado no XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (2007).
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Ele também atenta para um “esvaziamento”, nos últimos tempos, do “sujeito
coletivo”, dentro de um sistema liberal de sociedade, em que “no fechamento de grupos é
que a ideia de comunidade constitui-se um empecilho à transformação social: nesse caso, os
indivíduos que o formam possuem interesses divergentes, às vezes conflitantes”. Em
contraponto, o pesquisador enxerga a ideia de classe social implícita no conceito de
popular. “Entra em cena não mais o indivíduo, em torno do qual se edificou alguns
conceitos existencialistas, de subjetividade (que atualmente determina a própria noção de
comunidade), mas o coletivo em sua acepção de bloco histórico, como projeto em longo
prazo”. (p. 12)
Por essa contradição ideológica, Yamamoto propõe a “(re)apropriação do ‘popular’”,
inicialmente em busca da hegemonia, para depois resultar na ruptura.
“A acepção ‘popular’, neste caso, retoma a construção do bloco histórico, a partir da luta pela mudança nas estruturas sociais pensada em âmbito coletivo. É somente a partir desta noção que a prática comunicativa deixaria de promover a conciliação com o sistema - que é bastante flexível para cooptá-lo -, para configurar-se como ferramenta histórica do homem”. (p. 15)
Ao tratar do que chama de “corrente comunicação popular, alternativa e
comunitária”, Cicília Peruzzo reflete que a ação comunicativa deve estar ancorada em
projetos mais amplos de transformação da sociedade:
“a finalidade, em última instância, é favorecer a autoemancipação humana e contribuir para a melhoria das condições de existência das populações empobrecidas, de modo a reduzir a pobreza, a discriminação, a violência etc., bem como avançar na equidade social e no respeito à diversidade cultural. Contudo, a comunicação não se presta a fazer a mudança sozinha. A visão de uso dos meios meramente para difundir conteúdos educativos está superada. Trata-se de sua inserção em processos de mobilização e de vínculo local ou identitário sintonizados a programas mais amplos de organização-ação, dos movimentos sociais populares”. (2009, p. 134 e 135)
Comunicação Dialógica
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Termo cunhado por Paulo Freire, que na obra “Extensão ou Comunicação” (de
1968, mas somente publicada no Brasil em 1971) defende que, para haver comunicação, há
que se haver reciprocidade, nunca passividade, e que o diálogo é o que caracteriza a
comunicação. “Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto pensado, que mediatiza o primeiro sujeito do segundo, e a comunicação entre ambos, que se dá através de signos linguísticos. O mundo humano é, desta forma, um mundo de comunicação”. (p. 66)
Venício Lima, no artigo “Paulo Freire, direito à comunicação e PNDH3”, explica o
pensamento do educador brasileiro:
“Freire recorre à raiz semântica da palavra comunicação e nela inclui a dimensão política da igualdade, a ausência de dominação. Para ele, comunicação implica um diálogo entre sujeitos mediados pelo objeto de conhecimento que por sua vez decorre da experiência e do trabalho cotidiano. Ao restringir a comunicação a uma relação entre sujeitos, necessariamente iguais, toda ‘relação de poder’ fica excluída. O próprio conhecimento gerado pelo diálogo comunicativo só será verdadeiro e autêntico quando comprometido com a justiça e a transformação social. A comunicação passa a ser, portanto, por definição, dialógica, vale dizer, de ‘mão dupla’, contemplando, ao mesmo tempo, o direito de ser informado e o direito à plena liberdade de expressão”. 7
Trazendo o conceito de comunicação dialógica de Paulo Freire para a atualidade,
Lima faz um vínculo com o direito à comunicação, como garantia da “circulação da
diversidade e da pluralidade de idéias existentes na sociedade, isto é, a universalidade da
liberdade de expressão individual”. 8
_________________ 7 Publicado pelo site Carta Maior. 8 Idem.
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Carlos Crespo Burgos, no artigo “Paulo Freire e as teorias da Comunicação”, afirma
que a proposta de comunicação dialógica de Paulo Freire teve grande impacto sobre a teoria
da comunicação na América Latina, além de articular com o campo social da educação. “A
comunicação adquiriu em Freire uma dimensão política, em vista do caráter
problematizador, gerador de reflexão (consciência crítica) e de transformação da realidade
que possui o diálogo. Este não é possível sem um ‘compromisso com seu processo’”.9
Para Osvaldo Trigueiro, Freire propõe uma “bilateralidade” entre emissor e receptor,
o que
“(...) contradiz os paradigmas tradicionais que estabelecem uma relação linear, simétrica e condutista entre emissão/recepção em que prevalece o poder do emissor sobre o receptor. O receptor é um depositário das idéias do emissor, é um indivíduo atomizado que não tem a capacidade de avaliar criticamente as mensagens midiáticas recebidas”. 10
Comunicação Horizontal
Influenciado por Paulo Freire e pela Nova Ordem Mundial da Informação e da
Comunicação (Nomic), Luís Ramiro Beltrán publicou em 1978 o artigo “Adeus a
Aristóteles: comunicação horizontal”, no qual defendia que:
“Comunicação é o processo de interação social democrático baseado no intercâmbio de símbolos mediante os quais os seres humanos compartilham voluntariamente suas experiências sob condições de acesso livre e igualitário, diálogo e participação”.
_________________ 9 Publicado pelo site Ciranda.net. 10 Idem.
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Osvaldo Trigueiro, em “O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e
metodológicos ensejados pela escola latinoamericana”, ao analisar a proposta de
comunicação horizontal de Beltrán, a focaliza no tripé acesso-diálogo-participação, que
para ele “exercem funções interdependentes, mas que interagem no processo de
comunicação”, sendo o primeiro quantitativo (recepção da mensagem); o segundo,
qualitativo (emissão e recepção da mensagem), e o terceiro, quantitativo e qualitativo, por
assegurar acesso e/ou diálogo. 11
O pesquisador trata a comunicação horizontal como sinônimo de comunicação
comunitária, por, segundo ele, fortalecer “a função educativa e de ações organizadoras das
classes subalternas. Portanto, é mais uma tentativa de rompimento que vai de encontro ao
modelo da comunicação vertical”. Trigueiro observa ainda que este tipo de comunicação,
apesar da carga ideológica e do compromisso com a transformação social, foi incorporada
aos demais paradigmas comunicacionais:
“No momento atual não faz mais sentido vislumbrar a comunicação comunitária/horizontal como um modelo antagônico aos paradigmas já consagrados. Mas, como um modelo inserido no contexto da sociedade globalizada e com o propósito de fortalecer as redes de comunicação interpessoais e horizontais nas organizações comunitárias do final deste século”.
Considerações Finais
Não se pretende chegar a uma conclusão definitiva por meio desta breve revisão
bibliográfica acerca do uso dos termos “comunicação popular”, “comunicação
comunitária”, “comunicação popular e comunitária”, “comunicação dialógica” e
“comunicação horizontal”. Observa-se, no entanto, que, ao mesmo tempo em que os
conceitos são utilizados como sinônimos, não há consenso entre os pesquisadores,
principalmente em relação à utilização da expressão “comunicação comunitária”.
_________________ 11 Artigo publicado no site da Universidade Metodista de São Paulo.
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Como unidade entre os conceitos, verifica-se que há, ao menos no campo teórico, a
intenção de se promover experiências populares de comunicação, seja no âmbito dos
movimentos sociais –e, portanto, mais transformadoras da realidade–, seja em ações
isoladas –consequentemente, menos compromissadas com as mudanças sociais.
Percebe-se também que, ao produzirem uma “outra” comunicação, que se distingue
do tripé emissor-mensagem-receptor da mídia tradicional, todas os conceitos acabam por
contribuir com formas alternativas de comunicação. Considera-se que este é um passo
fundamental para a democratização e a pluralização dos meios e a formação de
comunicadores populares.
Por fim, observa-se ainda que o contexto histórico a respeito do surgimento dos
termos, bem como a transformação que eles eventualmente passaram ao longo dos tempos,
tem de ser sempre levada em consideração, para se evitar distorções teórico-conceituais em
novas pesquisas.
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