Computaçao, Cognição e Semiose - UFBA

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O leitor encontrarÆ diversas alusıes s intrincadas classificaıes dos signos de Peirce (especialmente o captulo de Santaella, mas tambØm de Emmeche, Haselager, Nth). Elas tŒm atrado geraıes de filsofos, linguistas, semioticistas e, mais recentemente, de bilogos, roboticistas e lgicos. O modelo triÆdico de semiose nªo especifica a natureza (categorial) dos termos S-O-I (Colapietro 1989: 6), e nªo especifica a natureza (categorial) das relaıes entre S, O e I. As classificaıes sgnicas respondem s perguntas: (I) quantas variedades fundamentais (CP 5.488) podem ser concebidas? (ii) quais sªo estas variedades? (iii) como elas estªo relacionadas? Relativamente mais fundamental divisªo de signos, as categorias aproximadamente correspondem a cones, ndices e smbolos. Esta classificaªo Ø bem conhecida, tem sido utilizada por muitos autores, em diversas Æreas, e descreve as relaıes que se podem estabelecer entre os signos e seus objetos. Pressionado por descobertas em diferentes domnios (teoria dos grafos, fenomenologia), Peirce desenvolve diversas classificaıes sgnicas. Elas permitem uma descriªo bastante detalhada das relaıes que operam na trade S-O-I.

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  • Universidade Federal da Bahia

    ReitorNaomar de Almeida Filho

    Editora da UniversidadeFederal da Bahia

    DiretoraFlvia M. Garcia Rosa

    Conselho EditorialAngelo Szaniecki Perret Serpa

    Carmen Fontes TeixeiraDante Eustachio Lucchesi Ramacciotti

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    Srgio Coelho Borges Farias

    SuplentesBouzid Izerrougene

    Cleise Furtado MendesJos Fernandes Silva Andrade

    Nancy Elizabeth OdonneOlival Freire Jnior

    Slvia Lcia Ferreira

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  • 2007

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  • EDUFBARua Baro de Jeremoabo, s/n, Campus de Ondina

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    fevereiro de 1998.

    CapaPhillip Rodolfi

    Projeto grfico e Editorao eletrnicaCamila Nascimento Vieira

    Reviso de texto

    ISBN: 978-85-232-0454-9

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  • SUMRIO

    INTRODUO - CAPTULO 1SOBRE A SNTESE DE SISTEMAS E CRIATURAS SEMITICAS

    Joo Queiroz

    CAPTULO 2A RELEVNCIA DA SEMITICA PEIRCEANA PARA UMA INTELIGN-

    CIA COMPUTACIONAL AUMENTADAJoseph Ransdell

    CAPTULO 3APRENDIZAGEM QUA SEMIOSE

    Andr De Tienne

    CAPTULO 4ESTRUTURALISMO HIERRQUICO, SEMIOSE E EMERGNCIA

    Charbel Nio El-Hani e Joo Queiroz

    CAPTULO 5O QUE O SMBOLO

    Lucia Santaella

    CAPTULO 6ASPECTOS METODOLGICOS DA SEMITICA COMPUTACIONAL

    Alexander Mehler

    07

    19

    67

    93

    129

    145

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  • CAPTULO 7MQUINAS SEMITICAS

    Winfried Nth

    CAPTULO 8UM ROB POSSUI UMWELT? REFLEXES SOBRE A

    BIOSEMITICA QUALITATIVA DE JAKOB VON UEXKLLClaus Emmeche

    CAPTULO 9ROBOSEMITICA, COGNIO ENATIVA E INCORPORADA

    Tom Ziemke

    CAPTULO 10FORMA, FUNO E A MATRIA DA EXPERINCIA

    Pim Haselager

    CAPTULO 11ENGENHARIA IMUNOLGICA E COGNIO: DA NATUREZA

    SOLUO DE PROBLEMAS DE ENGENHARIALeandro Nunes de Castro, Janana Stella de Sousa, George

    Barreto Bezerra

    159

    185

    237

    251

    267

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  • 7CAPTULO 1

    SOBRE A SNTESE DE SISTEMAS E CRIATURASSEMITICASJoo Queiroz

    O slogan construir para explicar assume, com os computadoresdigitais, um sentido indito na histria das cincias, e hoje consi-derado uma coluna vertebral de disciplinas e departamentos. Siste-mas e criaturas computacionais de todo tipo so implementados emdiferentes plataformas, por meio de muitas tcnicas, e motivadospor diversos objetivos. Em contra-partida, para a teoria simulada,j que toda simulao traduz uma teoria para linguagem de progra-mao (Parisi 2001), significa uma oportunidade de quantificar eformalizar suas asseres. Alm disso, simulaes fornecem meiosinditos para realizao de experimentos mentais dos fenmenosinvestigados (Bedau 1998, Dennett 1998): como seriam, ou teriamsido, tais e tais fenmenos, se as condies para a emergncia edesenvolvimento fossem, ou tivessem sido, outras, e no estas?

    Em termos experimentais, so muitas as vantagens defendidas:pode-se alterar livremente os parmetros que definem os padresde eventos observados, a arquitetura dos sistemas, o ambiente e

    INTRODUO

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  • 8as leis que regem o comportamento dos objetos simulados; pode-se isolar e variar cada parmetro isoladamente, associar diversasvariaes, combin-las em cascata e observar as consequnciasdecorrentes de um, ou diversos, destes procedimentos; pode-sereplicar, sem as dificuldades tpicas de protocolos empricos, osprocedimentos, introduzir novos e subtrair antigos parmetros; pode-se rever a histria de interao de cada sistema, ou criatura, comco-especficos, com competidores, com o ambiente e seus diversoseventos.

    Quando processos semiticos esto em foco, as abordagens atu-am em diversos nveis sinttico, morfolgico, semntico, prag-mtico, comunicao entre criaturas, etc (Cangelosi & Parisi 2002,Steels 2003). Uma parte das abordagens simula a emergncia decompetncias semiticas na ausncia de qualquer adaptao pr-via. Os sistemas so capazes de produzir alguma forma de semioseem um ambiente em que esta, seus componentes ou estruturas,no foram disponibilizados. Dependendo do quadro terico, e dasferramentas computacionais, pode-se testar diversos fatores queafetam a ontognese de muitos processos, como as diferenas en-tre sistemas de signos inatos e adquiridos, o papel adaptativo deestruturas semiticas composicionais, as vantagens decorrentes doaparecimento de processos simblicos, os supostos substratos ma-teriais responsveis por estes processos, a influncia entre diferen-tes competncias semiticas (e.g. processamento simblico) e ta-refas de baixo nvel cognitivo (e.g. ateno). Enfim, pode-se (e oque se faz), experimentar livremente, se movendo em horizon-tes formais e tericos mais ou menos consolidados, assumindo-osabertamente como meta-princpios, ou aceitando-os tacitamentecomo fontes de inspirao.

    Vida Artificial, Robtica Cognitiva, ANIMATS, Etologia Sinttica eSemitica Computacional esto entre as principais reas envolvidasna construo de sistemas e criaturas semiticas artificiais. Elas sebaseiam no uso de diferentes ferramentas, e divergem em muitasde suas pretenes, mas so fortemente influenciadas por meta-princpios (formal-theoretical constraints) e por motivaesempricas (empirical constraints), para o design dos ambientes edefinio dos sistemas, como morfologia de sensores, efetores,arquitetura e processos cognitivos das criaturas concebidas. Na pr-tica, isto significa que dois conjuntos de restries informam aocientista: o que ele pretende simular? o que precisa ser considera-

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  • 9do? como saber (critrios de avaliao) se o resultado uma boasimulao?

    As relaes entre teorias, modelos e simulaes so vias de modupla. Restries tericas, como aquelas derivadas dos modelosde Jakob von Uexkull, e da semitica e pragmatismo de C.S.Peirce,combinadas a descries de fenmenos fsicos e biolgicos, tmfornecido subsdios, provocaes, alm de uma bateria de fenme-nos para modelar e simular. Boa parte do background terico en-contrado aqui se baseia nas obras de C.S. Peirce e de Jakob vonUexkull. Peirce considerado, com Frege, Russell, e Hilbert, umdos fundadores da lgica moderna (Lukasiewicz 1970: 111; Barwise& Etchemendy 1995: 211; Quine 1995: 23; Hintikka & Hilpinen1997: ix). Uexkull um dos fundadores da etologia (ver Kull 2001).

    Peirce tambm considerado o fundador da moderna teoria dosigno, ou semitica. Ele a desenvolve em um ambiente bastanteformal de especulao, baseado em uma teoria lgica-fenomenolgica de categorias. A semitica definida por Peircecomo a doutrina da natureza essencial e fundamental de todas asvariedades de possveis semioses (CP 5.484).1 Os conceitospeirceanos mais recorrentes que o leitor encontrar aqui so os designo, semiose, e suas variaes em muitas classes (cone, ndice esmbolo; qualisigno, sinsigno, legisigno, etc). A semiose (ou aodo signo) descrita como uma relao tridica irredutvel entresigno, objeto e interpretante (efeito do signo). Este modelo teminfluenciado muitos autores, e diversas comunidades cientficas (verVogt 2002, 2006; Pietarinen 2005; Freadman 2004; Queiroz & Merrell2005; Deacon 1997; Fetzer 1997; Houser 1997; Hoffmeyer 1996;Habermas 1995; Noble & Davidson 1996; Emmeche 1991; Fisch1986). Trata-se de um modelo relacional, dinmico, contexto eintrprete-dependente.2 A irredutibilidade lgica da trade (signo-objeto-interpretante, S-O-I), sua indecomponibilidade tridica, in-dica que a relao depende constitutivamente dos trs termos.

    Peirce tambm define, pragmaticamente, o signo como um meiopara a comunicao de uma forma, ou um hbito, incorporado noobjeto, de tal modo a restringir o comportamento de um intrpre-te (Bergman 2000 a,b). uma questo emprica, muito dependen-te de pressupostos fundamentais, se, e quais, criaturas (ou siste-mas) biolgicos ou artificiais, so capazes de usar signos para co-municar formas (padres de similaridade, ou cones, correlaesespao-temporais, ou ndices, relaes legaliformes, ou smbolos)

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    incorporadas em objetos, de modo a constrangir o comportamentode intrpretes. A questo tanto um desafio s discusses sobre oslimites da semiose genuina, em sistemas artificiais e em criatu-ras biolgicas no-humanas, quanto sobre a existncia de Umweltnestes sistemas e criaturas.

    O leitor encontrar diversas aluses s intrincadas classificaesdos signos de Peirce (especialmente o captulo de Santaella, mastambm de Emmeche, Haselager, Nth). Elas tm atrado gera-es de filsofos, linguistas, semioticistas e, mais recentemente,de bilogos, roboticistas e lgicos. O modelo tridico de semioseno especifica a natureza (categorial) dos termos S-O-I (Colapietro1989: 6), e no especifica a natureza (categorial) das relaesentre S, O e I. As classificaes sgnicas respondem s perguntas:(I) quantas variedades fundamentais (CP 5.488) podem ser con-cebidas? (ii) quais so estas variedades? (iii) como elas esto relaci-onadas? Relativamente mais fundamental diviso de signos, ascategorias aproximadamente correspondem a cones, ndices e sm-bolos. Esta classificao bem conhecida, tem sido utilizada pormuitos autores, em diversas reas, e descreve as relaes que sepodem estabelecer entre os signos e seus objetos. Pressionado pordescobertas em diferentes domnios (teoria dos grafos,fenomenologia), Peirce desenvolve diversas classificaes sgnicas.Elas permitem uma descrio bastante detalhada das relaes queoperam na trade S-O-I. Como exemplo, as dez classes de signos,desenvolvidas a partir de 1903, permitem responder s questes:(I) qual a natureza do signo? (ii) qual a natureza da relao signo-objeto? (iii) qual a natureza da relao entre o signo e seu objetopara seu interpretante? Um signo pode ser uma qualidade(qualisigno), uma ocorrncia (sinsigno), ou uma lei (legisigno); podeestar relacionado por similaridade com seu objeto (cone), por cor-relao espao-temporal (ndice), ou atravs de uma conveno ouhbito (smbolo); pode ser interpretado como uma hiptese (rema),como um designador (dicente) ou como uma regra (argumento).

    As classificaes sgnicas de Peirce no representam apenas re-dues de variados eventos semiticos a complicadas tipologias.Elas conectam uma variedade concebvel de eventos por meio deprincpios gerais estabelecidos em um ambiente lgico-fenomenolgico de descrio e anlise. Uma vez que a preocupa-o primria de Peirce, como lgico e matemtico, no fora com osigno lingustico, suas descries no sofreram do linguicentrismo

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    tpico das mais conhecidas vertentes semiolgicas, a partir das quaispouco pode-se fazer, ao examinar um rob ou um inseto, quesubtrair-lhes propriedades semiticas complexas (e.g. sintaxe,composicionalidade semntica etc), e, uma vez que as discussessobre Umwelt e semiose parecem estar indissociavelmenteconectadas, que subtrair-lhes mundo fenomenal, ou Umwelt.

    Para J.Uexkull, o que cognitivamente significativo para umacriatura depende de sua interao sensrio-motora com a informa-o disponvel em seu ambiente. Umwelt pode ser definido como oaspecto fenomenal das partes do ambiente de uma espcie. Aspartes que a espcie, evolutivamente, escolhe em termos sens-rio-motores, de acordo com sua organizao e suas necessidades.

    crescente o nmero de trabalhos sobre Umwelt em etologia,biossemitica, filosofia da biologia, alm de Vida Artificial, e pesqui-sas sobre sistemas autnomos. A questo, retomada aqui em diver-sas ocasies : uma criatura artificial pode viver em um mundofenomenal, de acordo com a noo de Umwelt? exatamente esta aquesto que Claus Emmeche dedica sua ateno: robs tm, oupodem ter, Umwelt? Emmeche defende a noo de Umwelt comoparticularmente relevante para a nouvelle IA, uma vez que enfatizaa interao que decorre da experincia. O captulo de Pim Haselager tambm discuo sobre o papel do Umwelt em criaturas artificias.Ele questiona a relao de co-dependncia, estabelecida por diversospesquisadores, entre Umwelt e vida, no contexto da robtica cognitivasituada e incorporada. Tom Ziemke discute a possibilidade de efetivaimplementao de semiose artificial em agentes autnomos. Ele apre-senta agentes autnomos como modelos de processos sgnicos, ecognio enativa incorporada. Ziemke est interessado na extensode autonomia e capacidade de semiose destes agentes.

    Uma discusso detalhada sobre sistemas autnomos situados, ousobre sistemas semiticos auto-organizados com propriedades qua-litativas emergentes, ainda est por ser feita. A noo de emer-gncia raramente discutida em IA e em vida artificial. O captulode El-Hani & Queiroz discute em que sentido a semiose pode sercaracterizada como um processo emergente. O problema estrelacionado s condies que precisam ser satisfeitas para desen-volver tal caracterizao. Os autores propem um modelo capaz deexplicar emergncia de semiose em sistemas que produzem, pro-cessam e interpretam signos, baseado no estruturalismo hierrqui-co de Stanley Salthe (1987).

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    Winfried Nth aborda a noo de mquina semitica, sua rela-o com as noes de semiose, e, especialmente, de quasi-semiose,definida por Peirce como uma forma de semiose no-genuna. (For-mas genunas de semiose no devem se basear em procedimentosmecnicos ou em relaes causais de eficincia.) Nth sugere, coma tese sinequista de Peirce de pano-de-fundo, que h um gradientesemitico em mquinas de diversos tipos. Esta posio lhe permitedescrever processos mecnicos, quasi-mentais, cujos atributos po-dem ser identificados em mentes (e.g. quando o raciocnio operamecanicamente) e em mquinas (quando elas exibem auto-contro-le). A associao entre semiose genuina e processos autopoieticos(mquinas auto-organizadas), confere ao tratamento de Nth umlugar de destaque nas dicusses sobre o fundamento do smbolo, eautonomia, em inteligncia computacional e vida artificial.

    H duas reas em inteligncia computacional que devem serdintinguidas em seus objetivos e pretenses inteligncia artificial(IA) e inteligncia aumentada. Elas so complementares. JosephRansdell est interessado na explorao da segunda, cujo propsito regular ou coordenar aspectos mecanizveis da inteligncia, ex-pandindo-a. A rea no est interessada em um modelo da inteli-gncia, uma vertente que tem na Mquina de Turing, e no Testede Turing, seus principais modelos. Vannevar Bush, o autor-chaveaqui, e MEMEX a mquina-modelo. Ransdell desenvolve a noode Skagestad sobre inteligncia aumentada, com nfase nos aspec-tos dialgicos de processos sgnicos materialmente incorporados.Seu texto explora as noes de inteligncia computacional, de mentecomo prtica comunicacional e discute o papel da semitica dePeirce como framework para trat-los. Para Skagestad a semiticade Peirce fornece as bases conceituais mais adequadas para enten-der e consolidar uma tradio de pesquisas em inteligncia aumen-tada. Ransdell, que est de acordo com essa viso, analisa um caso(Sistema Ginsparg) em que tcnicas computacionais so usadas paraimplementar um controle crtico de publicaes cientficas, comfoco em processos de agenciamento das prticas envolvidas na ati-vidade cientfica de publicao.

    Andre DeTienne examina a noo de aprendizagem como um pro-cesso temporal, regulado por princpios que caracterizam uma dascategorias de Peirce, a Terceiridade (Thirdness). Ele explora asdiversas restries que tal aproximao precisa satisfazer para serbem sucedida, e estabelece cinco princpios de acordo com os quais

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    Peirce descreve a aprendizagem como um fenmeno pr-psicolgi-co.

    Lcia Santaella aborda o conceito de smbolo, para Peirce, asdiversas variaes e sub-divises deste conceito, e relaes com anoo de hbito. Trata-se de um tpico recorrente em CinciasCognitivas, que identifica o smbolo com propriedades decomposicionalidade e arbitrariedade semnticas, frequentementeem um sistema declarativo de sinais, propriedades s quais Peircejamais restringiu este conceito. Os modelos desenvolvidos por Peirce,especialmente em uma fase madura de seu pensamento, permi-tem abordar a natureza legal dos smbolos dissociadamente daspropriedades mencionadas, tpicas de smbolos lingusticos.

    O captulo de Alexander Mehler fortemente metodolgico. Seufoco o que hoje conhecido como Semitica Computacional (verGudwin & Queiroz 2007). Mehler define seu escopo e sua relaocom a semitica de computadores, com a vida artificial forte eprope importantes distines entre modelagem, simulao e emu-lao.

    Leandro de Castro e colaboradores apresentam seus desenvolvi-mentos em sistemas imunolgicos artificiais, rea em que Castro considerado um dos principais fundadores. Estes desenvolvimentos,eles defendem, tm importantes consequncias para as noes derepresentao, reconhecimento de padro e informao, abrindouma nova frente nas pesquisas em vida artificial e semiticacomputacional.

    Tomados em conjunto, so abordados aqui problemas tericos,metodolgicos, polmicas, e so apresentados novos modeloscomputacionais. Cientistas cognitivos, atuando em novos frameworks(e.g. nouvelle AI), tomam em considerao a semitica de Peirce,e as abordagens de Uexkull. Alguns dos trabalhos deste livro discu-tem e desafiam a idia de semiose genuna, e de Umwelt, emsistemas artificiais; outros, a idia de emergncia de semiose e demundo fenomenal nestes sistemas; h captulos que definem compreciso as noes de semiose, aprendizagem, smbolo, e mquinasemitica; e um captulo que, inspirado no sistema imunolgico,prope novas estratgias para construo de sistemascomputacionais.

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    AGRADECIMENTOS

    Os organizadores agradecem, pela colaborao na traduo doscaptulos, a Julia Itani (Captulo 2), Luciane Rodrigues (Captulo 3),Antonio Gomes (Captulo 6), Jackeline S. de Freitas (Captulos 2 e3), e a Virginia Dazzani pela reviso do captulo 3. J.Q. financia-do por uma bolsa de ps-doutorado DCR (CNPq/FAPESB). A.L. agra-dece o apoio da FAPESB. R.G. agracede ao CNPq.

    NOTAS1 A obra de Peirce ser citada, neste livro, como: CP (seguido pelo

    nmero do volume e pargrafo), The Collected Papers of CharlesS. Peirce (1866-1913); EP (seguido pelo nmero do volume e pgi-na), The Essential Peirce (1893-1913); W (seguido pelo nmero dovolume e pgina), Writings of Charles S. Peirce (1839-1914); MS(seguido pelo nmero do manuscrito), Annotated Catalogue of thePapers Of Charles S. Peirce.

    2 Para uma comparao entre muitas abordagens e o modelopeirceano, ver Queiroz & Merrell (2006).

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    AUTORES QUE CONTRIBUIRAM PARA ESTE VOLUME

    George Barreto Bezerra pesquisador do Laboratrio de Bio-Informtica e Computao Bio-Inspirada (LBiC), Faculdade de En-genharia Eltrica e de Computao (DCA-FEEC-UNICAMP).

    Leandro N. de Castro professor do Pro-grama de Mestrado em Informtica, da Universidade Catlica deSantos (UniSantos).

    Andre De Tienne professor do Departa-mento de Filosofia da IUPUI, Indianpolis, e editor associado aoPeirce Edition Project.

    Charbel El-Hani professor do Programa dePs-Graduao em Ensino, Filosofia e Histria das Cincias, Institu-to de Biologia (UFBA); e do Programa de Ps-Graduao em Ecolo-gia e Biomonitoramento (UFBA).

    Claus Emmeche professor e diretor do Cen-tro de Filosofia da Naureza da Universidade de Copenhagen.

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    Ricardo R. Gudwin professor doDepartamento de Engenharia de Computao e Automao Indus-trial da Faculdade de Engenharia Eltrica e de Computao (DCA-FEEC- UNICAMP).

    W. (Pim) F.G. Haselager professor no Insti-tuto de Cognio e Informao da Universidade de Nijmegen, e doDepartamento de Filosofia da Universidade Estadual de So Paulo(UNESP, Marlia).

    Angelo Loula professor da reade Informtica no Departamento de Cincias Exatas da Universida-de Estadual de Feira de Santana (UEFS).

    Alexander Mehler professor e assistentecientfico de lingustica computacional e processamento de dadoslingusticos da Universidade de Trier.

    Winfried Nth professor na Univesidade deKassel, diretor do Centro Interdisciplinar para Estudos Culturais, namesma universidade.

    Joo Queiroz professor e pesquisador do Programa de Ps-Graduao em Ensi-no, Filosofia e Histria das Cincias (UFBA), Instituto de Biologia(UFBA); e do Programa de Ps-Graduao em Ecologia eBiomonitoramento (UFBA).

    Joseph Ransdell professor emritoda Texas Tech University.

    Lucia Santaella Braga professora e coorde-nadora do Programa de Ps-graduao em Tecnologias da Intelign-cia e Design Digital (PUC/SP).

    Janana Stella de Sousa pesquisadora do Laboratrio de Bio-Informtica e Computao Bio-Inspirada (LBiC), Faculdade de En-genharia Eltrica e de Computao (DCA-FEEC-UNICAMP).

    Tom Ziemke professor de Cincia Cognitivano departamento de Cincia de Computao da Universidade deSkovde

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    CAPTULO 2

    A RELEVNCIA DA SEMITICA PEIRCEANA PARA UMAINTELIGNCIA COMPUTACIONAL AUMENTADA

    Joseph Ransdell

    INTRODUOPeter Skagestad identifica duas vises distintas que tm estimulado

    as pesquisas sobre inteligncia baseada em computao. Ele as cha-ma de 'Inteligncia Artificial' e 'Inteligncia Aumentada' (Skagestad1996)1. O objetivo deste captulo , em primeiro lugar, fazer a dis-tino entre estes dois tipos de pesquisa, em intelignciacomputacional, para aqueles que podem no estar acostumados areconhec-los como partes co-ordenadas. Em seguida, vou chamar aateno para um tipo especial de pesquisa em Inteligncia Aumenta-da, onde me parece necessria uma nfase especial, tanto em razode seu importante potencial quanto porque as consideraes deSkagestad sobre as caractersticas distintivas da pesquisa em Inteli-gncia Aumentada no me parecem capturar as caractersticas maissalientes deste domnio, talvez porque pode no lhe ter ocorrido queele suficientemente distinto para exigir ateno especial.

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    A pesquisa em Inteligncia Artificial pode ser caracterizada comoprogramao de computadores com o intuito de criar mquinasque possam pensar da mesma maneira, ou melhor, do que sereshumanos. A pesquisa em Inteligncia Aumentada, por sua vez, aprogramao de computadores com o intuito de promover umabase computacional para o aumento ou incremento do pensamentohumano, assistindo-o, no tentando substitu-lo por simulao emmquinas. As duas podem ser vistas como sendo, de maneira geral,complementares em suas aplicaes, e o termo 'pesquisa em inteli-gncia computacional', ou 'Pesquisa em IC', pode ser visto comoalgo que engloba ambas as reas. O tipo particular de IntelignciaAumentada para o qual desejo chamar a ateno a programaode computadores que se presta a apoiar, expandir e aperfeioar ocontrole de publicaes e comunicaes de pesquisas baseado emcrticas.

    Embora o trabalho de C.S.Peirce seja to relevante para a Inteli-gncia Artificial quanto para a Inteligncia Aumentada2, Skagestadest especialmente preocupado em situar Peirce, no que se refereao embasamento terico para a Inteligncia Aumentada, de ma-neira comparvel posio fundamental de Alan Turing em relao Inteligncia Artificial, em virtude da concepo, deste ltimo, daMquina Universal e do famoso 'Teste de Turing' para avaliar a inte-ligncia de computadores.

    Skagestad situa Peirce desta forma explicando o que est implci-to na afirmao de Peirce de que todo pensamento em signos,que interpreta: todo pensamento materialmente corporificado.Desenvolvendo a concepo de Inteligncia Aumentada de Skagestadmais profundamente, na direo indicada, eu tambm fao uso daafirmao de Peirce, mas agora explicitando uma outra implicao(porm complementar): todo pensamento dialgico3. Como umexemplo de Inteligncia Aumentada desta natureza (porm noprototpico), eu utilizo o sistema servidor e os arquivosautomatizados de publicaes primrias criado h mais de 10 anospelo fsico Paul Ginsparg, do Laboratrio Nacional de Los Alamos, eque se encontra ainda hoje em uso, com sucesso, na rea de fsicaterica de altas energias e outras reas na fsica, astronomia ematemtica.

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    A DISTINO ENTRE AS PESQUISAS EM INTELIGNCIAARTIFICIAL E EM INTELIGNCIA AUMENTADA

    Talvez os leitores deste trabalho no necessitem de refernciaspara a literatura em pesquisas sobre a Inteligncia Artificial, masas bases para o movimento da Inteligncia Aumentada em pesqui-sas de inteligncia computacional podem no ser igualmente fami-liares. A distino est certamente implcita na literatura especulativasobre inteligncia computacional desenvolvida nas ltimas dcadas.Mas o reconhecimento destes movimentos, como dois desenvolvi-mentos igualmente importantes, na categoria mais ampla de pro-gramao em inteligncia computacional, parece ser relativamen-te recente4. Como embasamento para este artigo, recomendo trstrabalhos de Peter Skagestad, sobre este tpico, que esto dispon-veis on-line5.

    Os trs artigos so relevantes, mas estarei aqui comentando so-mente alguns poucos pontos que eles levantam, principalmente (masno exclusivamente) do artigo de 1993. Nestes artigos, Skagestaddistingue entre Inteligncia Artificial e Inteligncia Aumentada, comotipos de metas da programao que correspondem ao que ele con-sidera duas 'revolues na computao', diferentes e baseadas em'duas mquinas abstratas' bem distintas - a mquina Universal deAlan Turing, como descrita em seu artigo de 1936 sobre nmeroscomputveis, e o Memex de Vannevar Bush, como descrito no arti-go de 1945. Skagestad diz:

    Ambos, a Mquina de Turing e o Memex, tentam mecanizar fun-es especficas da mente humana. O que Turing tentou mecanizarfoi a computao e, de maneira geral, qualquer processo de racio-cnio que pudesse ser representado por um algoritmo; o que Bushtentou mecanizar foram os processos associativos por meio dosquais trabalha a memria humana. [...] O Memex, que tentareplicar a memria humana, e portanto pode ser visto comocorporificao de uma 'memria artificial', no tinha como inten-o rivalizar com a mente humana [como faz a Inteligncia Artifici-al] mas sim estender seu alcance, disponibilizando mais rapidamen-te seu contedo, e selecionando os registros mais teis para umadada situao, quando necessrio. Esta idia inspirou diretamenteo programa de pesquisas conhecido como 'inteligncia aumentada'(Inteligncia Aumentada), formulado em 1962 por Douglas Engelbart,com um agradecimento explcito a Bush.

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    Skagestad observa mais adiante que:

    A mquina de Turing o ancestral da mquina de inferncia,dentro do escopo de um computador pessoal...., enquantoo Memex de Bush o ancestral de muitas das caractersticasa que nos referimos, coletivamente, como a interface com ousurio.

    E ele nos lembra que:

    Nos anos 60, os computadores eram enormes, caros emanipulveis somente por uma elite. A idia de tornar estasmquinas ferramentas pessoais de gerenciamento de infor-mao, podendo ser adquiridas de maneira generalizada eutilizadas sem treinamento especial foi defendida somentepor uma minoria de visionrios e era vista como bizarra nosomente pelo pblico em geral, mas tambm pelas principaisindstrias eletrnicas. A segunda revoluo nos computado-res obviamente no poderia ter acontecido sem que a pri-meira a precedesse, mas a primeira revoluo podia facil-mente ter acontecido sem ter sido seguida pela segunda.

    Fenmenos de tal complexidade so freqentemente explicveis,de acordo com suas origens, por mais de uma perspectiva. As coi-sas reais tm facetas, e mltiplas perspectivas complementares,em realidades histricas complexas, so normalmente exigidas deforma a se produzir uma idia razoavelmente sofisticada destascoisas, como um todo. Neste caso, o papel de visionrios, comoTuring e Bush, sem dvida importante, mas h outras coisas aserem ditas sobre a origem da concepo (ou concepes) do com-putador. Minha suposio que, considerando a origem de suaconcepo como um instrumento de uso pessoal, utilizado paraaumentar as habilidades de se produzir texto, de se trabalhar comdocumentos de diversas maneiras, e de se comunicar com outraspessoas, esta concepo originou-se, em parte pelo menos, comoum subproduto no intencional do trabalho destinado a satisfazer anecessidade de se documentar a programao usada na computa-o em mainframes, cuja manuteno exigia que registros fossemarmazenados tanto para o uso prprio de um programador comotambm para o uso de outros programadores. Isto, por sua vez,exigia a habilidade no somente de se capturar a informao mastambm de comunic-la, o que poderia ser facilitado fazendo usodos poderes do prprio computador, como um instrumento capazde fazer tais registros e executar sua transmisso.

    No era, de maneira alguma, necessrio que se fizesse tal uso docomputador, para tal propsito. Entretanto, o registro e a comuni-

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    cao de programas e notas de programao poderiam ser feitosda maneira descrita para registrar e comunicar coisas como estas,escrevendo em folhas de papel, mo, ou utilizando mquinas deescrever. Mas uma vez que o uso do prprio computador foi reco-nhecido para tais propsitos como uma possibilidade, e foi pratica-do regularmente, no de se surpreender que surgissem algumaspessoas aqui e ali, com percepo suficiente para sugerir uma visomais ampla, e mais excitante, de suas possibilidades de uso, tor-nando atual o que Vannevar Bush teria vislumbrado com o Memex,que seria, entre outras coisas, uma viso prototpica daquilo quemais tarde se tornaria o conceito de ligao entre hipertextos.

    De qualquer forma, o prprio Skagestad apresenta trs conclu-ses preliminares a partir de suas perspectivas histricas da dife-rena dessas duas vises:

    Primeiro, a mquina de Turing e o Memex, cada um destesforneceu um pedao indispensvel da tecnologia que aca-bou sendo conhecida como o computador pessoal, e quepodemos hoje escolher por conceitualizar como uma mqui-na de Turing pessoal ou como um Memex computadorizado.Segundo, estas duas construes no so rivais, no sentidode oferecerem solues conflitantes para o mesmo proble-ma; Bush e Turing estavam abordando problemas inteiramen-te diferentes, e ento suas respectivas solues noconflituam diretamente.

    Terceiro, estas duas construes incorporam concepesdiferentes da mente humana em geral e da interao ho-mem-mquina, em particular.'

    Ele continua, afirmando:

    Turing considerava o ser humano como essencialmenteindistinguvel de uma mquina; Bush considerava o ser huma-no essencialmente como sendo um usurio de mquinas, eprocurou construir mquinas de manipulao de smbolos queseriam antes 'mquinas pensantes', no sentido de 'mquinaspara se pensar com', e no 'mquinas que pensam'. Enquan-to a viso de Bush serviu de inspirao para uma vasta inds-tria que est transformando rapidamente nossa cultura esociedade, a viso de Turing tornou-se o paradigma diretordo programa de pesquisas conhecido como Inteligncia Arti-ficial, e tambm de toda a rea interdisciplinar conhecidacomo Cincia Cognitiva. to presente a influncia desteparadigma que freqentemente ouve-se dizer que o nicomodelo de mente disponvel, compreensvel e bem detalha-do, o modelo computacional. H, entretanto, um outromodelo de mente que se encontra disponvel - um que, em-

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    bora no tenha sido elaborado por Bush, d total apoio aoprograma de pesquisas que Bush iniciou, programa hoje co-nhecido como 'Inteligncia Aumentada'. O modelo a que merefiro foi desenvolvido no sculo XIX por Charles S. Peirce, efoi recentemente defendido por James Fetzer como o mo-delo semitico da mente.

    Para sumarizar, o argumento de Skagestad equivale a dizer queas pesquisas em inteligncia computacional (Pesquisas em IC) tm,at agora, se desenvolvido principalmente em funo de duas pers-pectivas diferentes, considerando os objetivos que podem ser al-canados - Inteligncia Artificial e Inteligncia Aumentada. Tais pers-pectivas podem ser vistas como alternativas complementares, noexclusivas, de modelos de desenvolvimento em IC, que, entretan-to, podem entrar em desacordo, devido aos diferentes conceitosde mentalismo que as subsidiam. O objetivo primrio de Skagestadno foi o de encorajar o desenvolvimento de pesquisas nas quaisestas reas pudessem mutuamente ser utilizadas como suporte,embora indubitavelmente ele fosse favorvel a isso, mas deixarclaro que o segundo paradigma de pesquisas em IC conceitualmenteindependente do primeiro, uma vez que, aquilo a que nos referi-mos como sendo uma nica coisa, o computador, corresponde, naverdade, a duas coisas: um mecanismo corporificador de algoritmos,capaz, at certo ponto, de imitar funes mentais, e um instru-mento para a coordenao de diversos fatores envolvidos na inteli-gncia humana, uma vez que podem ser mecanicamente realiza-dos, de forma a aumentar a inteligncia humana.

    Skagestad considera a base terica para a concepo da Inteli-gncia Artificial como fundamentada na concepo de Turing deMquina Universal, mas no considera o respectivo personagemhistrico em Inteligncia Aumentada, Vannevar Bush, como o for-necedor da base terica para a tradio geral em Inteligncia Au-mentada. Sua viso, ao contrrio, a de que, embora Peirce notenha vislumbrado essa rea, como ela hoje, de uma maneiraconcreta como Bush fez com sua conceitualizao da mquina Memex,a filosofia de Peirce fornece uma base terica para a tradio geralda Inteligncia Aumentada, de um modo que a perspectiva maislimitada de Bush no seria capaz de fazer. Skagestad tambm re-conhece outros personagens, cujas concepes do suporte a essasbases tericas, mais particularmente Karl Popper e sua concepodo desenvolvimento evolucionrio exosomtico da mente (Skagestad1993). Mas ele considera o trabalho de Peirce, que anterior ao dePopper, como sendo o mais adequado, do ponto de vista terico.

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    EXISTE UM PRINCPIO PARA A PESQUISA EM INTELIGN-CIA AUMENTADA EM GERAL?

    Concordo com Skagestad, tanto em relao necessidade de re-conhecer que existem dois projetos de pesquisas distintos no de-senvolvimento de tecnologias em inteligncia computacional, quan-to afirmao de que a filosofia de Peirce pode fornecer uma baseterica para o segundo tipo de projeto em inteligncia computacional,trazendo, ao mesmo tempo, contribuies importantes para o pri-meiro. Assumo isso como tcito, aqui. Mas antes de seguir e expli-car os aspectos seguintes da tradio de pesquisas em IntelignciaAumentada que me interessam, devo primeiro mencionar que noacredito que Skagestad tenha sido bem sucedido, at agora, emidentificar, de maneira suficientemente precisa, o que h de fun-damental na tradio em Inteligncia Aumentada, que vai de Bush,passando por Douglas Engelbart, J.L.C. Licklider (desenvolvimentoda Internet), Ivan Sutherland (computao grfica), Ted Nelson(hipertexto), Alan Kay (design de interfaces), e outros persona-gens, at Tim Berners-Lee. Estes, que criaram o conceito de WorldWide Web e, ao mesmo tempo, o transformaram no sistema dehipertexto mundial, por volta de 1989, continuam, com seus traba-lhos, no desenvolvimento da chamada 'rede semntica' (semanticweb)6. No encontro um lugar onde Skagestad descreva a Inteli-gncia Aumentada de um modo que parea capturar o que suasdiversas facetas tm em comum, o que justificaria considerarmosesta segunda viso controladora, ela prpria, como uma viso ni-ca ou unitria. Acredito, entretanto, que h realmente alguns fa-tores unificadores a serem considerados.

    Assim, Skagestad refere-se algumas vezes Inteligncia Aumen-tada como sendo baseada na concepo de computador pessoal,em contraste com a concepo de computador que poderia serexemplificada pelo tipo de computao caracterstico da computa-o em mainframes. Isto poderia talvez ser afirmado, identifican-do-se algumas peculiaridades caractersticas em computadores pes-soais, das quais fosse possvel derivar os princpios gerais encontra-dos na Inteligncia Aumentada. Mas no creio que isto feito satis-fatoriamente. Ele tambm menciona a problemtica e os propsi-tos do design de interface com o usurio como sendo de primeiraimportncia, e isso, apesar de estar correto, tambm no defini-do de maneira adequada. Usando a viso de Bush da mquina Memexcomo uma base histrica, ele est, na realidade, privilegiando os

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    princpios do hipertexto como fundamentais, e isso certamentetambm de suma importncia. Mas, novamente, no vejo daparte de Skagestad nenhuma tentativa em demonstrar que estesprincpios esto, de alguma forma, nos fundamentos de tudo isso.O conceito de redes de computadores poderia ser ainda um outrocandidato, que ele usa como ilustrativo da segunda revoluo emcomputao, mas a idia geral que est por trs das redes teria deser colocada de maneira mais clara, alm de mostrar que a mesma conceitualmente bsica, considerando os outros fatores mencio-nados como caractersticos da pesquisa em Inteligncia Aumentadae isso no foi feito.

    Meu palpite que a chave para a identidade do que Skagestadcaracteriza como a tradio 'Inteligncia Aumentada' em pesquisascomputacionais jaz na concepo de computao interativa, queele de fato reconhece de passagem. Uma razo para se pensar queeste pode ser o fator chave que o conceito de computador pesso-al parece ter se desenvolvido historicamente, principalmente a par-tir das tentativas das primeiras comunidades hackers no MIT em seaproveitar das mquinas DEC que chegaram para competir com osmainframes IBM, uma vez que estas respondiam melhor s necessi-dades dos programadores do que os monlitos que as precediam.Estas necessidades incluam a necessidade de jogar o grande fo-mento criatividade nos desenvolvimentos em computadores, naminha opinio -- e os jogos criados eram do tipo interativo, envol-vendo a produo de texto, que deveria ser produzido pelo jogadore interpretado pelo computador, e tambm produzido pelo compu-tador e interpretado pelo jogador, em uma seqncia contnua derespostas e contra-respostas que simulava a interatividade humanacom coisas em seu ambiente, sob o contexto de uma estruturainvestigativa que d sentido a todo o processo. Refiro-me, claro,aos jogos do tipo 'aventura', em particular, que eram jogos dedescoberta baseados em pistas fornecidas por descries textuaissobre quais itens deveriam ser encontrados nos tneis labirnticosda 'Caverna Colossal'.

    Com isso, o paradigma do computador, como uma mquina queexecuta algoritmos, perde o lugar para outra viso de como ascoisas acontecem realmente. Isso porque, a despeito do que estavaacontecendo no lado da mquina assumindo que no h nadaalm do uso de algoritmos aplicados em estruturas de dados -- oque estava acontecendo no lado do jogador, que tambm parte

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    integrante do sistema interativo global, no era algortmico. Comoresultado, o sistema interativo, como um todo, no poderia serentendido simplesmente como o disparo ordenado de algoritmos,mantendo apenas uma plida semelhana com aquilo que uma m-quina parecia ser, considerando a viso de um programador demainframes, que estava acostumado a pensar em termos da m-quina como dedicada execuo de rotinas puramente dedutivasoperando sobre dados a ela fornecidos com o propsito de apenasextrair deles concluses dedutivas. Encontrar o caminho de sadada 'Caverna Colossal' exigia muita deduo, mas deduo algortmicano era exatamente a forma de atividade do sistema como umtodo ('pessoa-e-mquina' interativo), pois, na realidade, a pessoahumaniza a mquina, dotando-a da espontaneidade humana noservio da descoberta.

    A interao entre seres humanos e mquinas na soluo de pro-blemas que surgem no contexto da descoberta -- este o pontopelo qual eu comearia, na tentativa de obter uma viso clara eunitria da essncia do que Skagestad considera como sendo asegunda revoluo computacional e identifica como sendo o proje-to da Inteligncia Aumentada7. Skagestad certamente concordariacomigo neste ponto, no estou sugerindo nada discordante aqui.Mas o melhor que posso extrair daquilo que ele afirma nos artigosanteriormente mencionados, seu ponto de partida para entender aInteligncia Aumentada filosoficamente, a idia de uma localiza-o 'exosomtica' da mente no ambiente material. Deixe-me ex-plicar agora como isto se relaciona com a afirmao Peirceana deque todo pensamento em signos, que ele corretamente consi-dera, em minha opinio, como a concepo chave para se enten-der a semitica de Peirce como capaz de fornecer uma base teri-ca para a Inteligncia Aumentada em geral.

    O PENSAMENTO EM SIGNOS -- O PENSAMENTO CORPORIFICADO EXOSOMATICAMENTE (SKAGESTAD)

    Skagestad entende a afirmao 'Todo pensamento em signos'como significando que o pensamento no , primeiramente, umamodificao da conscincia (uma vez que o pensamento inconsci-ente possvel na viso de Peirce) mas , ao contrrio, uma ques-to associada ao comportamento. No , entretanto, o caso docomportamento do ser que pensa, o ato de pensar (que seria aqui

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    um caso especial), mas do comportamento do meio fsico (que seencontra disponvel publicamente) e dos artefatos nos quais o pen-samento reside na forma de um poder natural. Este poder asignificao, ou seja, o poder do signo de gerar interpretantes.Pensamento semiose, e semiose ao do signo. Um signo serealiza como tal ao gerar um interpretante, que por sua vez tam-bm um signo subseqente da mesma coisa, e que, ao ser reali-zado como um signo, gera tambm outro interpretante, e assimpor diante.

    Assim, como corretamente defende Skagestad, o desenvolvimen-to do pensamento acaba assumindo a forma do desenvolvimento domeio fsico do pensamento, ou seja, coisas como o desenvolvimen-to dos instrumentos e dos veculos de expresso, tais como siste-mas notacionais, ou meios e mdias de inscrio como livros e ins-trumentos de escrita, linguagens consideradas como entidades ma-teriais como inscries escritas e sons, instrumentos fsicos de ob-servao como tubos de ensaio, microscpios, aceleradores de par-tculas, e assim por diante. A evoluo da mente significa que acognio est se desenvolvendo, no fundamentalmente no siste-ma nervoso e no crebro, no em algum tipo misterioso e imaterialde coisa mental, mas ao invs disso nos instrumentos materiais enas mdias da cognio. Assim,

    Um psiclogo remove um lbulo do meu crebro (nihilanimale a me alienum puto) e ento, quando v que noposso me expressar, diz, 'Veja, sua faculdade da linguagemestava localizada naquele lbulo'. Sem dvida estava; e en-to, se ele tivesse surrupiado meu tinteiro, eu no estariaapto a continuar minha discusso at que conseguisse ou-tro. , [...], os pensamentos no me viriam [a nfase mi-nha]. Assim, minha faculdade de discusso est igualmentelocalizada em meu tinteiro' (CP 7.366).

    Deixem-me citar o comentrio de Skagestad sobre isso:

    Como indicado pela sentena enfatizada, Peirce no est de-fendendo o ponto trivial de que sem tinta ele no estariaapto a comunicar seus pensamentos. O ponto , ao invsdisso, que seus pensamentos lhe vm atravs do ato de es-crever, de forma que implementos de escrita so uma esp-cie de condio para certos pensamentos -- especificamen-te aqueles que surgem a partir de seqncias de pensamen-to que sejam muito longas para permanecerem na conscin-cia. Esta exatamente a idia que, sessenta anos depois,motivou Engelbart a inventar novas tecnologias para escre-ver, de forma a improvisar o processo humano de pensamen-

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    to, a idia que motivou a interpretao que Havelock fez dePlato.

    facilmente perceptvel a conexo disso tudo com o desenvolvi-mento da computao grfica, da interface com o usurio, do usodo mouse, processadores de texto, hipertextos, e assim por dian-te, que o que fundamentalmente interessa a Skagestad. Oembasamento terico de tudo isso em Peirce reside no fato destelocalizar o pensamento nos meios de sua expresso, o que ficaexpresso na afirmao de que 'todo pensamento em signos'.

    O PENSAMENTO EM SIGNOS -- O PENSAMENTO DIALGICO (RANSDELL)

    Permitam-me explicar uma coisa sobre meus prprios interessesna Inteligncia Aumentada. Concordo com Skagestad, consideran-do o que foi dito at agora, e meus interesses certamente incluemos mecanismos que constituem e controlam a interface, tanto comdocumentos quanto com dados, quanto com pessoas, e que inclu-em ou permitem capacidades de manipulao de textos e grficosque, desenvolvidos nos ltimos anos, possibilitam criar e seguir linksde hipertextos (i.e. fazer associaes livremente e rastrear as as-sociaes j feitas), trocar mensagens com outros e nos comunicarcom eles de diversas maneiras. Mas h uma interpretao posteri-or, igualmente vlida, da afirmao de que 'todo pensamento emsignos', que tambm tem implicaes para a Inteligncia Aumenta-da baseada em computao, qual seja, a de que o pensamento dialgico e portanto, comunicacional em sua forma. Se o pen-samento deve ser encontrado em signos, e se este se consolida nagerao concreta de signos interpretantes, ento o fluxo do dis-curso, visto como uma seqncia de interpretaes assimtricasdialogicamente estruturadas, levando a interpretaes consecuti-vas, que constitui o fluxo ou o processo do pensamento, e o desen-volvimento da inteligncia , no mnimo, uma questo sobre odesenvolvimento de prticas de controle crtico que se conformama normas comunicacionais que tornam o discurso mais eficiente eefetivo, qualquer que seja sua finalidade.

    Uma vez que se deseja que o discurso, ou a comunicao, sejaefetivamente mais inteligente, parece ser razovel comear traba-lhando com a comunicao, especialmente a forma como esta ocorreem processos de investigao, onde a funo das normas de con-

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    trole crtico a de tornar a investigao mais bem sucedida. Ahabilidade de ser bem sucedido, desta maneira, certamente umaparte importante daquilo que consideramos como inteligncia e ,obviamente, um lugar natural por onde comear, para qualquerfilsofo que tenha sido influenciado pelo trabalho de C.S.Peirce eJohn Dewey, como eu fui.

    Bem, at agora os tipos de investigao mais efetivos j criadospelo homem so aqueles que ocorrem em tradies de pesquisacomo as que comearam a ser desenvolvidas na antiguidade, nossculos VI ou VII a.C., e que tm se ramificado em muitas outrastradies, especialmente durante os ltimos cinco ou seis sculos,incluindo o que agora chamamos de 'cincias' e tambm o quenormalmente pensamos como tradies 'acadmicas'. Nestas tradi-es, as tcnicas de pesquisa esto incorporadas em prticas, hbi-tos, e competncias dos investigadores que podem ser divididos emdois tipos: de um lado, as que podem ser chamadas de 'tcnicasmateriais' de investigao, ou seja, que foram desenvolvidas emum campo. (Algumas sero especficas de certos campos, muitassero comuns a muitos campos, e algumas a todos os campos depesquisa.) De outro lado, h aquelas que chamarei de 'tcnicasdiscursivas' de investigao, significando com isso o domnio da-quelas prticas, hbitos e competncias de discusso e interaocomunicacional que controlam o fluxo do discurso no contexto dainvestigao, de acordo com as normas desenvolvidas nas diversastradies de pesquisa em geral: quero dizer, prticas especiais taiscomo a assero, a sugesto, o questionamento, a elaborao derespostas crticas, a elaborao de contra-respostas, a capacidadede levantar objees, o detalhamento de pontos levantados, etc.Estas habilidades tm sido pouco investigadas at ento, e queroaqui traz-las sua ateno para tentar expressar algumas idiassobre porqu as considero importantes, mesmo tendo sido larga-mente ignoradas como um tipo de pesquisa em Inteligncia Aumen-tada, at o momento.

    O tipo de Inteligncia Aumentada em que especificamente medetenho , portanto, aquele que se pode alcanar desenvolvendomecanismos e programas para aumentar a efetividade das normascomunicacionais que proporcionam uma investigao bem sucedi-da, tais como os que se desenvolveram nas tradies de pesquisas,cujas formas ancestrais algumas vezes encontram-se h mais dedois milnios atrs, e tambm aqueles que facilitariam e investiga-

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    riam as prprias normas, com o propsito de identificar aquelascom as quais uma conformidade iria, sem dvida, produzir umainvestigao mais bem sucedida. O projeto de desenvolvimento dequalquer dispositivo computacional que pudesse ser til nesta em-preitada poderia ser qualificado como uma contribuio pesquisaem Inteligncia Aumentada, desse tipo especial.

    Devo destacar, no entanto, que se o foco sobre comunicao sedetm na investigao, em particular, devemos nos questionar seesta capaz de fornecer uma base adequada para entendermos aspotencialidades da programao em Inteligncia Aumentada, con-siderando que esta deve ser projetada para realizar uma comuni-cao mais inteligente. A abordagem que privilegia a investigao um lugar natural para se comear, mas s pode nos conduzir atcerto ponto, a partir do qual ser preciso considerar outros tiposdiferentes de comunicao igualmente importantes, caso nossoobjetivo seja o de desenvolver uma Inteligncia Aumentada quevenha a ser a mais abrangente possvel. Podemos deixar esta ques-to de lado aqui. Mas compreender alguma coisa sobre apotencialidade e sobre a problemtica da Inteligncia Aumentada aeste respeito iria ao menos nos fornecer um entendimento maissofisticado do papel das normas comunicacionais na vida intelectu-al, o que nos permitiria aproveitar o trabalho filosfico de Peirce,mestre em investigao em diversos campos, para desenvolverconcepes analticas com este propsito.

    INVESTIGAO E ASSEROO suporte para este tpico na filosofia de Peirce se encontra

    principalmente em sua teoria da investigao, que o frameworkgeral no qual ele se baseia para desenvolver sua lgica. Sua Lgicainclui o desenvolvimento de notaes, tcnicas de derivao paradeduo, e desenvolvimento de metodologias de induo e abduo.Mas Peirce situa as questes lgicas tradicionais dentro de umframework de investigao concebido de tal maneira que poderiaser considerado, para alguns propsitos, como uma teoria geral daassero. Entretanto, hesito em cham-la assim pois isso poderiaser mais uma fonte de confuso do que algo til, tendo em vista amaneira pela qual a teoria dos atos da fala, da qual Peirce foi umpioneiro, foi desenvolvida depois de sua morte. Esta vem se tor-nando uma abordagem diferente para se entender o que uma

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    assero, ao minimizar, tanto quanto possvel, o aspecto social doato da fala. Isto feito, considerando que o papel do destinatriono ato fica limitado quilo que est implcito no reconhecimento deum ato. 'Pegar' um termo usualmente utilizado para expressareste tipo de aquiescncia constitutiva de um ato da fala comosendo deste ou daquele tipo, focando somente (normalmente comgrande brevidade) no aspecto do envolvimento da comunidade, emgeral, em todo ato srio de assero, uma vez que o estudo dopapel a que atos assertivos em particular se prestam, em umacomunidade de investigadores, tem sido largamente deixadoinexplorado. Isto no , entretanto, o que Peirce tinha em menteao conceber a lgica como uma teoria geral da assero.

    O leitor familiarizado com o trabalho de Peirce sabe que ele fez,como prefcio de seu primeiro relato sistemtico de compreensoda lgica da cincia, um par de ensaios -- 'The fixation of belief'(CP 5.358), 'How to make our ideas clear' (CP 5.388) -- que situama lgica, em seu sentido mais estrito, aquele ensinado em aulas delgica, dentro do framework geral de um processo de investigao8

    que poderia ser descrito assim: uma investigao particular, queocorre dentro de um processo de investigao mais demorado nodeve ser considerada como algo que tenha um incio em um mo-mento absoluto no tempo, nem em um ponto final, onde terminacompleta e definitivamente, mas deve ser idealizada como algoque chega existncia quando um processo em curso se tornainformado por duas ou mais tendncias conflituosas, com relao aceitao de algo que surgiu de um empate ou impasse conceitual(aporia), do tipo que poderamos descrever logicamente em ter-mos de duas ou mais asseres de opinio contraditrias feitassimultaneamente. Uma investigao constituda pela inabilidadedos investigadores para resolver um desacordo sobre o que deve seraceito. Tal desacordo deve ter surgido como resultado da acumula-o de entendimento at este ponto, e a direo global da investi-gao dada pela tentativa de tomar os passos necessrios paraultrapassar o impasse inicial ou aporia, a fim de se chegar a umaaceitao compartilhada e no-conflituosa dos resultados ou acha-dos. Esta aceitao compartilhada, caso ocorra, ir permitir inves-tigaes futuras do mesmo tema, usando, quando for relevante,tudo o que puder ento ser aceito como base para se chegar a umfuturo entendimento sobre este tema. Os padres tpicos de acor-do, desacordo, e estratgia de pesquisa que isso pode envolver,tm sido razoavelmente bem explorados, com relao a seu ponto

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    de vista lgico, tanto por Peirce quanto por Dewey, e no seroaqui objetos de minha preocupao.

    Agora, considerar a lgica como uma teoria da assero assu-mir uma perspectiva muito especial do processo de investigao9,tomando-o do ponto de vista do investigador, que consideradomotivado como sendo membro de uma comunidade de pesquisacom o objetivo de fazer uma contribuio para o entendimentocompartilhado do tema, ao que j foi desenvolvido pela tradio depesquisa. O ato de assero ocorre quando o investigador, tendo sepreparado para assumir o risco envolvido em faz-lo, tenta captu-rar a ateno de outros, em seu campo de pesquisa, de tal formaque eles acabem por chegar mesma concluso qual ele chegou,e assim contribuir para a tradio de pesquisa, ao format-la nadireo de um entendimento do assunto que seja, em ltimo caso,compartilhado e estvel.

    Isto feito a partir da afirmao de um achado ou, caso esteseja considerado suficientemente importante, de uma descoberta,o que feito a partir da publicao de um relato de pesquisa. Suaocorrncia, quando reconhecida, acaba por ser o disparo intencio-nal de um conjunto complexo de obrigaes e permissescomunicacionais, que se aplicam no somente ao pesquisador quefaz a afirmao mas a todos aqueles da tradio de pesquisa envol-vidos pela assero.10

    ASSERO SRIA E PUBLICAO PRIMRIAComo veremos a seguir, necessrio distinguir entre asseres

    feitas de maneira sria, de outras, feitas jocosamente ou, pelomenos, no-seriamente. Inicialmente tratarei da assero sria,tanto porque mais fcil de caracterizar, quando comparada smuitas variedades de asseres no-srias que tipicamente ocor-rem ao longo de uma investigao (constituda por um certo nme-ro de diferentes maneiras, ao mesmo tempo importantes e porvezes sutis, nas quais a fora de uma assero pode ser qualifica-da), quanto por causa do papel nico da assero sria nas interaescomunicacionais em curso, que esto continuamente estruturandoe reestruturando o processo de investigao por meio do efeito deconformidade s normas de permisso e obrigao que estas envol-vem. Considerado a partir de uma perspectiva um tanto quantoimparcial ou esttica, o curso de investigao, em uma tradio de

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    pesquisa que se encontra viva, exibe o que poderia ser visto comoum tipo de coreografia da conversao, embora seus participantesno pensem normalmente desta maneira. E, na 'dana da pesqui-sa', atos correspondentes a asseres srias provem um tipo denfase que tem um efeito de organizao nico no processo.

    Para os presentes propsitos, deixe-me caracterizar uma asserosria como a obteno de que esta (considerando uma pessoa fa-zendo a assero) deve assumir total responsabilidade por fazeruma afirmao que, uma vez considerada sria pelos outros nacomunidade, colocar sobre eles a obrigao de considerar que oque foi reinvidicado suficientemente srio para permitir que elesmesmos sejam persuadidos concluso a que o reclamante che-gou, se o reclamante na verdade apresentou seus pontos de umamaneira que pode ser vista como racionalmente persuasiva. (Quemdeve ach-la persuasiva? Na verdade, cada membro da referidacomunidade de pesquisa, tomada distributivamente, i.e. cada mem-bro tomado individualmente um a um, distintamente de um nicoindivduo considerado coletivamente. A comunidade de pesquisa nodeve ser considerada como uma entidade coletiva.11) Outras obri-gaes, envolvendo tanto o reclamante como seus colegas pesqui-sadores referenciados na afirmao, esto tambm envolvidas emuma assero sria.

    Por exemplo, exige-se do reclamante sinceridade sobre ter che-gado concluso por si prprio; aqueles que so citados pela afir-mao devem levar ao reclamante e comunidade de pesquisaqualquer objeo sria que possam ter contra a afirmao feita,caso localizem alguma falha sria que considerem importante osuficiente para avisar aos demais membros da comunidade. A qual-quer um citado pela afirmao - i.e. qualquer membro da comuni-dade de pesquisa - permitido responder apropriadamente afir-mao, de qualquer maneira que considere adequada, desde quetrate da questo sobre se a afirmao deve ou no ser aceita.Exige-se da pessoa que faz uma afirmativa que esta inclua infor-maes suficientes sobre quais os mtodos de replicao de resul-tados que poderiam ser utilizados para permitir que estes possamser testados, segundo as especificaes prprias do afirmante. Es-pera-se do afirmante uma explicao, caso alguma objeo sejafeita com relao a tentativas falhas de replicao dos resultados,e assim por diante.

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    Isso descreve o que tenho chamado de assero sria, que obvia-mente tem um papel especial no processo de investigao, devidoao poder de afirmao que uma pesquisa feita seriamente tem,desde que seja considerada como tal por todos os envolvidos, deafetar o curso atual da pesquisa em uma dada comunidade, emvirtude de suas habilidades para impor tais obrigaes aos mem-bros desta comunidade e, assim, algumas vezes obrigar os mem-bros da comunidade em geral a uma concluso em comum. Isto oque o afirmante espera como efeito ltimo ao fazer sua assero,embora no haja nenhuma maneira de garantir que tal acordo sejaatingido, de modo regular. De fato, o nmero daqueles que sobem sucedidos a este respeito so freqentemente uma minoria.No h nada como, por exemplo, um algoritmo, que garanta aaceitao de um conjunto de pesquisas, e qualquer tipo de progra-mao computacional que tome isso por objetivo seria ftil.12

    Agora, uma assero deste tipo corresponde, obviamente, quiloque normalmente chamado de 'publicao'. Mas a palavra 'publi-cao' normalmente utilizada para se referir s diferentes manei-ras de tornar pblica alguma coisa, o que no implica ou traz em siesse tipo forte e definido de vinculao a normas, que est associ-ado as afirmaes de pesquisa, propriamente ditas. Iremos, ento,nos referir a estas afirmaes srias de pesquisa como atos depublicao primria. (Um sinnimo adequado, neste contexto, po-deria ser publicao formal, e irei realmente utiliz-lo algumasvezes. Mas h algumas razes para que um termo distinto sejautilizado, e, alm disso, uma motivao especial para adotarmos apalavra 'primria' para este propsito13).

    ASSERO NO-SRIAMas o processo de investigao no envolve simplesmente serie-

    dade, como anteriormente discutido, mas tambm envolve muita(de fato, muita) atividade comunicacional de um tipo preparat-rio, que tambm afeta seus resultados consideravelmente, mas ofaz de maneira diferente, uma vez que o que dito no feito naforma de asseres srias, e portanto no demanda as mesmasobrigaes rgidas que um ato de publicao primria implica. (Istono significa que nenhuma norma se aplica: todo ato de discursoenvolve algum tipo de norma bem conhecida, e mesmo o discursomais jocoso, em um contexto de investigao, governado por

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    normas.) Seriedade ou no-seriedade, neste sentido especial, no uma questo de como as pessoas se sentem: pode-se, de umamaneira no-sria, argumentar sobre diversos assuntos com gran-de paixo e intensidade de convico, de acordo com as opiniesexistentes em um dado momento, e ainda assim argumentar no-seriamente por todos os envolvidos que o que est sendo dito nodeve ser tomado como uma invocao aplicao das normascomunicacionais rgidas que esto normalmente identificadas comafirmaes srias em resultados de pesquisa. O que torna umaafirmao sria, em termos de relevncia, o reconhecimento e aaceitao de facto da inteno que as regras especiais de discursoobtm, o que inclui as obrigaes e permisses concomitantes auma afirmao de pesquisa. Isto no assunto de como algum sesente, mas da disposio para aceitar a aplicao das normascomunicacionais, de maneira especialmente rigorosa, que estoassociadas a tais afirmaes.14

    Durante o desenvolvimento temporal das tradies de pesquisa,vrios tipos de prticas comunicacionais foram desenvolvidos, en-tre as quais poderamos encontrar algumas que qualificaramos comono-srias, no sentido indicado: por exemplo, discusses informaisde natureza ocasional com colegas de pesquisa, incluindo corres-pondncias por carta; grupos de discusso frouxamente estruturadosde vrios tipos, que podem abranger desde grupos de discussolocais, com tpicos mais ou menos definidos e agendas de discus-so, at conferncias internacionais, congressos e afins; esforoscoordenados em grupos, como parte de projetos de pesquisa com-plexos tais como os que esto se tornando crescentemente comunsnas cincias exatas; mensagens postadas em fruns pblicos enewsgroups, e tambm threads de discusso que podem ser algu-mas vezes longas e complexas, at auto-comunicao, como quan-do estamos trabalhando nossas idias, durante um isolamento mo-mentneo de indivduos da mesma tradio com a qual nos identifi-camos.

    No tenho idia de quantos tipos diferentes de prticascomunicacionais podem valer a pena reconhecer, mas eles iro,obviamente, variar imensamente, dependendo de como conside-ram as normas de controle que governam o que deve ser considera-do comunicacionalmente apropriado, e tambm como se esperaque a comunicao contribua para o objetivo geral de aprendermais, tanto em amplitude como em profundidade sobre o assunto-

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    matria da tradio de pesquisa. Algumas vezes, as pessoas preci-sam da oportunidade de experimentar novas idias, simplesmentepara descobrir se vale a pena explorar mais adiante; outras vezes,h a necessidade de expor aos outros as idias, para conseguir umrpido feedback crtico, seja ele negativo ou positivo; algumas ve-zes, as idias so colocadas adiante, de tal forma a lanar as bases,que iro permitir futuras afirmaes relacionadas ao pioneirismoda descoberta; outras vezes, certas coisas acabam sendo discutidassimplesmente porque os participantes assumem que a viso geralsobre os tpicos de pesquisa que os interessam esto demandandouma revitalizao, e portanto devem ser colocados em um contex-to fora do comum.

    Quais desses casos seriam os mais importantes, considerando osobjetivos de pesquisa? Seriam os casos de assero sria (publica-o primria) os mais importantes? A resposta que, com certeza,no se pode fazer tal julgamento a priori, fora de um contexto deconsiderao, ou sem um entendimento de quanto a tradio depesquisa em questo est florescendo, ou se est em um estgioonde no claro para onde se desenvolve. Algumas vezes, umaafirmao de publicao primria pode ser de suma importncia, efreqentemente o . Mas uma conversa casual de corredor entreum conjunto de pesquisadores de talento pode muito bem fazeruma grande diferena para o futuro da tradio de pesquisa, maisdo que um ato de publicao pode fazer. Publicaes primrias tmum papel nico no processo que estaremos considerando mais adi-ante, mas 'importncia' no a palavra certa para isso. E issodeveria ser destacado, uma vez que h uma forte tendncia nosomente a super-enfatizar a importncia de publicaes primrias,mas concomitantemente ignorar a possvel importncia de outrasprticas comunicacionais, reduzindo o conceito do que investiga-o a uma caricatura enganosa.

    A atividade de pesquisa pode ser comparada a um tipo de caa.Tratar a publicao como a coisa mais importante na comunicaode pesquisa equivale a dizer que a coisa mais importante na caa o ataque coordenado presa o que sem dvida verdade emalguns casos, mas no pode ser dito ser verdadeiro de um modogeral, uma vez que um processo complexo como caar pode muitobem envolver outras atividades que so somente preliminares tentativa, no clmax do processo, de captura ou morte da presa.Essas atividades preliminares podem ser, na verdade, muito mais

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    importantes para o sucesso da caa do que os atos finais de ataquee captura, que podem ser pouco mais do que pro forma.

    A seguir, estarei ilustrando o que tenho em mente quando merefiro a este tipo especial de Inteligncia Aumentada, chamando aateno para um caso concreto de interesse no-usual -- o sistemade publicao automatizado criado pelo fsico Paul Ginsparg parabenefcio de sua prpria comunidade de pesquisa (fsica terica dealta energia), e para diversas outras associadas a ela. O interesseespecial que podemos atribuir a este sistema se deve, em parte, aofato de que para entend-lo necessrio distinguir entre asserosria e publicao primria, alm de outros tipos de comunicaoque ocorrem no fluxo da pesquisa. importante ter em mente,entretanto, que no estou usando-o aqui como um paradigma ge-ral de comunicao em pesquisa. Ele aqui citado pela maneiracomo ilustra o papel especial que uma publicao primria pode terna pesquisa, e tambm porque o conhecimento de como foi recebi-do por pessoas de vrias comunidades de pesquisa interessadas nouso da Internet para comunicao cientfica e acadmica revela agrande confuso que existe hoje no entendimento geral de como ocontrole crtico (baseado em crticas) funciona em comunicaesde pesquisa. Esta confuso decorrente, principalmente, de ummal entendido sobre a natureza e sobre a funo da anlise porpares.

    O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE PUBLICAO DEGINSPARG

    Direcionemos nossa ateno para o caso do sistema servidor e dearquivamento automatizado para a distribuio de pr-impressesde publicaes em fsica terica de alta energia, e para diversoscampos correlatos na fsica, astronomia, e matemtica, desenvol-vidos originalmente no Laboratrio Nacional de Los Alamos, pelofsico Paul Ginsparg.15 O sistema foi recentemente transferido paraa Universidade Cornell, onde Ginsparg assumiu uma posio, e onome oficial do sistema simplesmente 'arXiv', onde o 'X' umtrocadilho visual sobre a letra Grega chi. Farei referncia a elecomo 'Sistema Ginsparg', a fim de evidenciar o trabalho de Ginspargao desenvolv-lo, considerando-o uma aplicao em IntelignciaAumentada de especial interesse para ns. Uma vez que a investi-gao uma forma de aprendizagem, cujo sucesso implica em um

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    maior entendimento das coisas, qualquer coisa que contribua paraa eficincia e efetividade da investigao , ipso facto, um aumen-to da inteligncia. O interesse pelo trabalho de Ginsparg no estassociado, entretanto, a qualquer novidade ou sofisticao especialenvolvida na programao, considerada simplesmente como pro-gramao computacional convencional, mas sim a maneira como aprogramao foi desenvolvida - como um suporte material comu-nicao, governado por normas de controle que, se espera, possamestimular o desenvolvimento da investigao nos campos a que ori-ginalmente pretendia servir. Estas normas so exatamente aquelasdiscutidas anteriormente, ou seja, as que governam aquilo a queme referi anteriormente como 'assero sria' ou 'publicao pri-mria'. O sistema Ginsparg foi obviamente preparado para ser umponto de apoio a servio deste propsito e, de fato, tem funciona-do assim desde ento.

    A maneira como o sistema funciona simples. Se algum pesquisa-dor deseja fazer uma assero, relacionada a um resultado depesquisa, e a seus pares no campo de pesquisa em questo, eleescreve um artigo contendo a assero feita (considerada comouma concluso) e suas bases de sustentao, de tal forma a incluirqualquer coisa que possa ser necessria aos propsitos de teste oureplicao dos resultados, mesmo que estes envolvam apelo a umarazo a priori, tal como nos casos de provas matemticas. Umaforma genrica para estes artigos poderia ser descrita de maneirarazoavelmente especfica, se necessrio, mas, levando-se em con-ta nossos propsitos imediatos, no h a necessidade de ir alm daafirmao de que no h nada de incomum na forma esperadapara tais publicaes, considerando as expectativas das pessoas noscampos que usam o sistema Ginsparg, como seu meio de publica-o primria. Essa forma no difere significativamente da formaque tem uma publicao primria em qualquer outro campo depesquisa. A maior parte destas observaes pode ser deduzida dofato de que o pesquisador deve sempre deixar claro o que neces-srio para a replicao de seus resultados. O sistema programadopara aceitar diversos formatos especiais de arquivos, tais comoPostscript, PDF, LateX, e HTML. Espera-se que a pessoa que deposi-ta o artigo faa a formatao e a codificao necessrias (ou ga-ranta que estes assim estejam). O ato do depsito visto pelacomunidade de pesquisa como a proposio de uma assero sria,ou seja, como um ato de publicao primria, e caso encontre

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    certas condies mnimas (e.g. a incluso de especificaes para areplicao de resultados), reconhecido como tal.16

    Alm do artigo, tambm se prepara um resumo (abstract) que oacompanha, normalmente envolvendo o uso de palavras-chaves re-ferentes aos tpicos abordados, depositando-se tanto os artigoscomo o resumo no sistema de arquivos. O resumo (no o artigo) ento automaticamente distribudo por e-mail para todos os usu-rios do sistema de publicao que tenham indicado previamente,por meio de uma descrio de seus interesses individuais de pesqui-sa, que estariam interessados em ler os artigos contendo materialpertinente a suas atividades de pesquisa. (Uma vez que o sistemade arquivos est dividido em campos e sub-campos, pode-se sim-plesmente indicar para a mquina que se est interessado em qual-quer resumo depositado em um desses campos). Se um leitor deum resumo decide que o artigo pode ser interessante, ento elepode clicar em um link, o que far com que todo o artigo sejaenviado, ou iniciar o download do artigo. Todo o processo dedepsito, notificao, e recuperao de artigos automtico.

    Caso algum no concorde com alguma assero feita no siste-ma, e considere este desacordo importante o suficiente para serformalizado, pode depositar uma resposta no mesmo local, o queser considerado como formalmente correto. Assim, intercmbiosna forma de um dilogo crtico podem ocorrer por meio do siste-ma, equivalentes aos que ocorrem em revistas profissionais tradici-onais que permitem respostas (replies) como parte do processo depublicao. Mas importante ressaltar que a estrutura do sistemano apropriada para discusses informais tpicas de, por exem-plo, um frum de discusses baseado em listas (listserver), ou gru-pos de discusses organizados, ou entre membros participantes deum projeto, bulletin boards, newsgroups, e muito menos do tipode discusso que pode ocorrer em um chat em tempo real. poss-vel que respostas inapropriadas possam ser feitas e depositadas noarquivo (no h nada que impea isso) mas o sistema foi projetadode forma a desencorajar este tipo de uso, exigindo tambm odepsito de um resumo (abstract) junto da rplica, de modo ainformar aos demais membros da rea que uma rplica foi efetua-da. Isso ajuda a assegurar, na prtica, um tipo de formalidade queest na essncia do que chamo de publicao primria. H muitacoisa em jogo, do ponto de vista profissional, naquilo que surge apartir da tentativa de se tornar apropriados os adendos

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    comunicacionais de algo como, digamos, uma discusso informalem grupo. No caso do sistema servidor de arquivos Ginsparg, noh nenhuma poltica especial para se garantir isso, da mesma for-ma como, na prtica, isso no tem se mostrado necessrio.

    A IMPORTNCIA OBSCURECIDA DO SISTEMA GINSPARGDe uma perspectiva mais restrita, o sistema servidor de arquivos

    Ginsparg no nada mais do que uma forma automatizada de umsistema de comunicao que existe h dcadas em diversos camposde pesquisa. Isto , trata-se da prtica de distribuir cpias de pr-impresses de artigos para outros membros de uma mesma reade pesquisa, entendendo-se aqui 'pr-impresses' como artigos queincorporam asseres de publicao primria, distribudos entrepares de pesquisa, antes que estes apaream como artigos publica-dos em revistas ou peridicos controlados editorialmente na rea,muitas vezes antes mesmo da submisso de tais artigos a estesmeios de publicao, e algumas vezes nem mesmo tendo em men-te tal submisso. Pr-impresses no so, entretanto, meramenteesboos ou rascunhos, uma vez que isso implicaria em uma falta depolimento e/ou completude que no seriam apropriados em algodistribudo como pr-impresso. Por outro lado, uma pr-impres-so pode ser vista como uma verso passvel de reviso, sendo quea maioria das pr-impresses que so encaminhadas para publica-o, em algum peridico, ir provavelmente sofrer alguma revisoantes de sua apario no peridico, mesmo que seja a pedido deseu editor, que est freqentemente sob presso para economizaro espao destinado aos artigos.

    Antes do estabelecimento do sistema Ginsparg em Los Alamos, adistribuio das pr-impresses significava uma distribuio paraaqueles que estivessem suficientemente bem relacionados profissio-nalmente, de forma que pudessem estar nas mailing lists,gerenciadas pelos que estavam na 'vanguarda' da rea. Isso, obvia-mente, garantiria uma grande vantagem no sucesso profissional.Desse modo, havia na verdade dois locais distintos de publicaoprimria nestas reas: o sistema de distribuio de pr-impresses eo sistema de peridicos profissionais controlados editorialmente erevisado por pares (peer-reviewed), gerando uma distino entrepesquisadores bem-relacionados, e com maiores vantagens, e aque-les no-to-bem-relacionados, excludos das posies para participar

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    da pesquisa de vanguarda. O atraso de tempo envolvido na publica-o de peridicos profissionais usualmente acaba por significar que,quando aqueles que dependem da literatura dos peridicos para en-tender o que est na vanguarda percebem o que est acontecendoali, as fronteiras da vanguarda j tero se deslocado. Qualquer reaque coloque grande nfase na prioridade de descobertas acabar porrecorrer distribuio de pr-impresses como um meio de publica-o primria, a menos que exista algo que dificulte isso, e a domina-o do direcionamento nas pesquisas em muitos campos, por aquelesque esto em posies privilegiadas uma vez que esto aptos a parti-cipar em publicaes primrias deste tipo (o que algumas vezes eradiscutido em termos da dominao da pesquisa por 'colegiados invis-veis'17 de privilegiados comunicacionalmente) era um assunto de pre-ocupao crescente nas cincias, quando Ginsparg estabeleceu seusistema servidor de pr-impresses automatizado e sem restriesde acesso em Los Alamos.

    Ginsparg e seus associados estavam conscientes, desde o come-o, de que algo de importncia potencialmente singular havia sidoconseguido pelo ato relativamente simples de se instalar um siste-ma servidor de arquivos na Internet com uma poltica de acessosem restries para depsito e recuperao. A coisa mais impor-tante para eles parece ter sido que, ao adotar este novo sistema,estavam fazendo uma transio entre um sistema de publicaesque servia principalmente aos interesses especiais de somente al-guns fsicos que, como eles mesmos, tinham a sorte de estar nopequeno grupo fechado dos mais avantajados, para um sistemacapaz de servir s necessidades de todos os fsicos do mundo quefossem capazes de acessar a Internet, mesmo que com somenteum nvel mnimo de eficincia, sem as limitaes baseadas na ne-cessidade de uma qualificao especial ou relacionamento com cer-tos colegiados. Farei referncia a isto como o motivo cosmopolita.

    Ao mesmo tempo parecem ter entendido que algo mais estavaacontecendo, e que isso tinha a ver com o fato de que ali se mos-trava que as prticas de anlise por pares utilizadas pelos peridi-cos no eram pertinentes (ou seja, no se aplicavam) ao controlecrtico da pesquisa de vanguarda. Uma vez que parte da sabedo-ria convencional o fato de que justamente a anlise por pares quegarante que os 'padres de qualidade' possam ser reconhecidos napesquisa e no controle de publicaes, a sua dispensa, sendo elatipicamente desdenhada como no-pertinente, foi entendida como

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    algo perigosamente subversivo cincia e academia, especial-mente considerando-se o fato de que as disciplinas cientficas dasquais esta prtica estava emanando so muito bem qualificadas naescala de prestgio profissional e assim no se poderia simplesmen-te dizer que estas so queixas que se poderia esperar de pessoasque no tem a capacidade para conhecer os supostos altos padresda anlise por pares. Este pode ser considerado como o aspectoanti-autoritrio do idealismo deste grupo porque de fato umarejeio concepo autoritria do papel da anlise por pares napesquisa, e penso que eles tiveram algum entendimento disto, mes-mo que no veja a uma tentativa de se re-pensar o conceito deanlise por pares, para entender exatamente o que est ou noacontecendo, e qual , e qual deveria ser, na verdade, a base parao controle crtico.

    Desta forma, Ginsparg e seus associados assumiram uma visoaltamente idealista deste fato, pelas razes anteriormente indicadas,e este zelo idealstico acabou assumindo a forma de se propor queo que eles tinham conseguido em Los Alamos para suas prpriasreas poderia ser aplicado nos demais ramos da cincia, e nosomente ali mas nas tradies gerais de pesquisa. Limitaes detempo e espao no permitem uma descrio aqui do que aconte-ceu depois, quando este entusiasmo encontrou-se com uma resis-tncia crescentemente endurecida, que finalmente acabou assu-mindo a forma de uma retrica deflacionria, e que tem tido bas-tante sucesso para induzir um tipo de confuso obscurantista sobreo sistema de publicao Ginsparg, o que acabou por silenci-lo comoum movimento reformista.18 Este objetivo foi atingido promulgan-do-se um certo mal-entendido, bastante importante, sobre a natu-reza da anlise por pares, enquanto que, ao mesmo tempo, seproibia a discusso da reforma do processo de anlise por pares nosfruns pblicos mais influentes, onde o tpico da educao on-linegratuita era discutido. Isso efetivamente reduziu a significao dosucesso deste sistema de publicao a um mnimo, uma vez que seencorajava uma recusa ao reconhecimento do sistema Ginspargcomo um sistema de publicao primria.

    Quando a existncia do sistema Ginsparg tornou-se largamenteconhecida, anos atrs, gerou-se uma viso extremamente alarmis-ta, alm de predies calamitosas sobre o declnio inevitvel naqualidade de pesquisa nos campos onde o uso do sistema era co-mum.19 Parece razoavelmente claro agora, entretanto, que este

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    declnio previsto no ocorreu e as avaliaes pessimistas parecemter dado lugar a uma admisso, por vezes rancorosa, de que osistema parece funcionar nos campos para os quais foi original-mente projetado. Por outro lado, tornou-se tambm cada vez maisclaro que no h ainda uma tendncia com relao a sua adoocomo um modelo geral de prtica de publicao em cincias, comoGinsparg e alguns de seus associados haviam imaginado que pode-ria ocorrer, muito menos no sentido de sua emulao em publica-es de pesquisa cientfica e acadmica de maneira generalizada.Conseqentemente, o interesse inicial neste, como um sistema novoe revolucionrio viabilizado pela Internet, acabou por desaparecer.

    Assim, como indicado anteriormente, o sistema foi consideradocomo no sendo um sistema de publicao, apesar de ter continua-do a ser o principal sistema para publicao primria, como defini-do aqui, nos campos para os quais foi concebido. Desta maneira,seu nico valor em relao s prticas de publicao em geral,conforme usualmente se considera, reside no fato de que ele aca-bou por fornecer um modelo para o desenvolvimento de sistemasde arquivo de Internet, de um tipo que pode ser copiado em qual-quer nmero de diferentes ns na Internet -- sistemas de arquivosdeste tipo, localizados em universidades, esto agora sendo apre-sentados como rplicas localizadas e perfeitas dele. Sua virtudevem do fato de que qualquer coisa depositada em qualquer umdestes sistemas de arquivos torna-se disponvel como um documen-to em uma nica base de dados virtual, em qualquer lugar do mun-do. Seus documentos so suscetveis a buscas, alm de ficaremdisponveis a programas desenvolvidos com o propsito de extrairmaterial dele, de modo a acompanhar o que existe ali, como qual-quer bibliotecrio poderia fazer, e tambm com o propsito deanalisar os documentos ali contidos de forma a separ-los por tipoe a descrev-los, de acordo com qualquer tipo de critrio,correspondendo aos vrios interesses que algum poderia ter neles.O valor disto inquestionvel, mas esta no , na minha opinio, acoisa mais importante a se entender sobre o sistema de publicaoGinsparg.

    Assim, embora a desinformao retrica sobre o sistema, comoum sistema de publicao, no tenha tido nenhum efeito sobre seuuso nas reas para as quais foi projetado, onde ele ainda continuaa prosperar, houve de fato um desvio de foco sobre seu aspectomais idealstico e sobre a potencialidade para encorajar reformas

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    que estavam implcitas no sistema automatizado. Sua relevnciaacabou parecendo ser (um tanto erroneamente) somente a de umexemplo de como seria possvel fazer a transio de peridicos,baseados em papel, para publicaes on-line. Isso, desconsiderandoqualquer tipo de reforma que poderia atrapalhar os sistemas jinstaurados de hegemonia exercidos pelas diversas instituies egrupos que controlam a pesquisa, dando suporte e controle aosmecanismos de publicao. Com isto, a significao do sucesso dosistema de arquivos Ginsparg, e sua contribuio para o desenvolvi-mento do que potencialmente uma parte muito importante dapesquisa em Inteligncia Aumentada tm sido obscurecidas de talforma a serem comparadas a um tipo de 'emburrecimento' de nos-so entendimento sobre as condies necessrias para o sucesso napesquisa cientfica e acadmica. Para reverter isto, necessrioinsistir sobre o desafio que o sistema Ginsparg apresentou e conti-nua a apresentar anlise por pares, como se entende hoje.

    ANLISE POR PARES E O CONCEITO DE PARDevo enfatizar que a viso de anlise por pares aqui proposta no

    deixa de considerar a anlise por pares como de importncia fun-damental no controle crtico da pesquisa. A questo que aquiloque passou a ser chamado de 'anlise por pares' no exatamenteuma anlise por pares, mas uma forma degenerada desta que ,como princpio de controle crtico, no somente de valor limitado,na melhor das hipteses, mas tambm uma subverso do prprioprincpio do que um par, o que deveria estar por trs da prticade uma autntica anlise por pares. Por qu? Porque ela trata daanlise por pares como um sistema de controle por parte das elites,o que contraditrio ao conceito de par. De acordo com a visoaqui apresentada, o funcionamento de uma anlise por pares defato autntica, poderia ser melhor observado, em ao, pelo estu-do das prticas paradigmaticamente exemplificadas pelo sistemaGinsparg (ou qualquer sistema equivalente) de publicao primria.

    Quando fiquei interessado, pela primeira vez, por este assuntopensei que seria melhor no contrariar o uso atual do termo 'anlisepor pares' como se referindo anlise de pr-publicaes por pareseditorialmente comissionados, especialmente considerando que osprimeiros entusiastas do sistema de publicao Ginsparg achavam aanlise por pares, neste sentido, como de pouca importncia real,

    MIOLO.pmd 16/5/2007, 10:2945

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    uma vez que a pesquisa de vanguarda parecia fazer pouco usodisso: quando um artigo aparece num peridico, a vanguarda javanou e ento a funo do peridico como um espao de divulga-o no pode ser a de controlar o que aparece na vanguarda, emtermos de asseres de pesquisa. Isto no equivale a dizer que umperidico editorialmente controlado no poderia estar a serviodaqueles que esto na vanguarda, mas isto teria de ser decorrentedo uso da retrospeco, de ser claro sobre o que foi alcanado,diferentemente de seu mero alcance, que no exige uma validaoeditorial baseada em uma anlise por pares. Algo assim foi, e tal-vez ainda seja, a viso dos pesquisadores que apiam o uso dosistema de publicao Ginsparg.

    A possibilidade de que a funo de controle primrio esperada naanlise por pares fosse a de controle da vanguarda, e que o sistemaautomatizado de arquivos sem filtragens fosse o lugar onde se pu-desse encontrar uma autntica anlise por pares, no parece terocorrido aos fsicos, no entanto, e muito menos ocorreu aos parti-drios dos peridicos editorialmente controlados