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Propriedade Fundador Director Editor Co-editor Conselho Editorial Endereço / Address Publicidade Apoios Design Gráfico e Paginação Pré-impressão e Impressão Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias NIPC - 501 334 327 João Viegas Paula Nogueira José Pimentel de Carvalho Yolanda Vaz José Alexandre Leitão Cristina Lobo Vilela José Robalo Silva José Pedro Lemos José Oom Vale Henriques Luís Anjos Ferreira Telmo Pina Nunes FMV Pólo Universitário do Alto da Ajuda Av. da Universidade Técnica 1300-477 Lisboa Tel: +351 213580222, Fax: +351 213580221 Email: [email protected] Internet: http://www.fmv.utl.pt/spcv/ Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa Maria José Beldock Direcção Geral de Veterinária Lisboa Ano 108º Vol. CIV Nº 569-572 pp 1 - 90 Jan - Dez 2009 Publicação Semestral Tiragem 1000 exemplares Preço 25,00 Euro A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902 É permitida a reprodução do conteúdo desta revista The reproduction of the contents of this publication is permitted Desejamos estabelecer permutas com outras publicações We wish to establish exchange with other publications Os trabalhos submetidos para publicação são analisados por especialistas Papers submitted for publication are peer reviewed REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE

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Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias

Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa

Maria José Beldock

Direcção Geral de Veterinária

Lisboa • Ano 108º • Vol. CIV • Nº 569-572 • pp 1 - 90 • Jan - Dez 2009

Publicação SemestralTiragem 1000 exemplaresPreço 25,00 Euro

A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902

É permitida a reprodução do conteúdo desta revistaThe reproduction of the contents of this publication is permitted

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CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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Índice

Artigos de revisão

Nutrigenômica: situação e perspectivas na alimentação animalNutrigenomics: state of the art and perspective in animal feedingFernanda M. Gonçalves, Marcio N. Corrêa, Marcos A. Anciuti, Fabiane P. Gentilini,Jerri Teixeira Zanusso, Fernando Rutz

Abordagem clínica de feridas cutâneas em equinosClinical approach in equine skin woundsJúlio C. Paganela, Leandro M. Ribas, Carlos A. Santos, Lorena S. Feijó, Carlos E.W. Nogueira,Cristina G. Fernandes

Utilização de bloqueio anestésico para exodontia do dente carniceiro em cãoBlock anesthesic used to do exodontia of canassial tooth in dogVíviam N. Pignone

Memórias científicas originais

Transferência embrionária em bovinos leiteiros na Ilha Graciosa (Açores): programa experimental de transferência de embriões sexados e congelados da raça Holstein FrísiaEmbryo transfer in dairy cattle at Graciosa Island (Azores): an experimental trial of sexedand frozen-thawed transfer of Holstein Friesian embryosJoão Chagas e Silva

Exatidão da ultra-sonografia para diagnóstico de gestação aos 28 dias após inseminação e sua contribuição na eficiência reprodutiva em fêmeas Nelore e cruzadasAccuracy of the ultrasonography for pregnancy diagnosis at 28 days after insemination and its contribution in the reproductive efficiency on Nelore and crossbred femalesAdriana Gradela, Thiago Danieli, Tiago Carneiro, Denílson Valin Torres,Cássio Roberto Gradela, Vanessa Sobue Franzo

Estudo do balanço eletrolítico alimentar para suínos machos castrados em acabamento mantidos em ambiente de alta temperaturaStudy of feed electrolyte balance of finishing castrated male pigs under high environmental temperatureAnilce A. Bretas, Rony A. Ferreira, Patrícia C.B. Vale, Humberto P. Couto, Walter E. Pereira

Estudo casuístico de dermatites por reacção de hipersensibilidade em cães e gatosCase study of dermatitis hypersensitivity reaction in dogs and catsSílvia Silva, Sara Peneda, Rita Cruz, Helena Vala

Parâmetros ecocardiográficos de cães cronicamente infectados com Trypanosoma cruzi(Cepa Colombiana)Echocardiographic parameters of dogs chronically infected by Trypanosoma cruzi(Colombian strain)João P.E. Pascon, Marlos G. Sousa, Aparecido A. Camacho

Caracterização de agressões entre canídeos (83 casos)Characterization of dog-to-dog aggression (83 cases)Sofia Mouro, Cristina L. Vilela, Manuela R.E. Niza

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Avaliação bacteriológica de anéis de lula, Dorytheutis plei (Blainville, 1823) (Mollusca:Cephalopoda), congelados e irradiadosBacteriological evaluation of squid rings, Dorytheutis plei (Blainville, 1823) (Mollusca:Cephalopoda), frozen and irradiatedFlávia A. A. Calixto, Robson M. Franco, Eliana F. M. Mesquita, Helio C. Vital, Erika Murayama

Comunicações breves

Redução de fenda palatina, secundária a tumor venéreo transmissível, com obturador palatinoReduction of cleft palate, secondary to transmissible venereal tumor, with palatal prosthesisLiliana M. R. Silva, Fernando J. R. Magalhães, Ana Margarida A. Oliveira, Maria Cristina O. C.Coelho, Sílvia V. Saldanha

Tronco celíaco-mesentérico em gatoCeliac mesenteric trunk in catMagno S. Roza, Fernanda M. Pestana, José M.F. Hernandez, Bárbara X. Silva, Marcelo Abidu-Figueiredo

Electrocution accident in free-ranging bugio (Alouatta fusca) with subsequent amputationof the forelimb: case reportAcidente elétrico em bugio de vida livre (Alouatta fusca) com consequente amputação domembro torácico: relato de casoMelissa P. Petrucci, Luiz A. E. Pontes, Fábio F. Queiroz, Márcia C. Cruz, Diogo B. Souza,Leonardo S. Silveira, Ana B. F. Rodrigues

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Nutrigenômica: situação e perspectivas na alimentação animal

Nutrigenomics: state of the art and perspective in animal feeding

Fernanda M. Gonçalves*, Marcio N. Corrêa, Marcos A. Anciuti,Fabiane P. Gentilini, Jerri Teixeira Zanusso, Fernando Rutz

Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

Resumo: O objetivo desta revisão é relatar a situação de estudos em nutrigenômica em sistemas de produção animal discutindo perspectivas quanto à utilização prática das inter-ações entre nutrição e genótipo e os benefícios produtivos relacionados. A importância da nutrição para a saúde e suainfluência na ocorrência de doenças já é comprovada cientifica-mente por instituições de pesquisa. A conversão metabólica decomponentes da dieta atua como um mecanismo de controlepara a expressão genética. Desta forma, estudos em nutri-genômica têm despertado o interesse de cientistas, buscandoentender a maneira como a alimentação regula a expressão degenes. O conhecimento de que a interação dieta-genoma possacontribuir para resolução de doenças crônicas ainda é discutidomundialmente, e o mecanismo de atuação de componentesdietéticos em nível molecular, ainda não foi evidenciado. Emsistemas intensivos de produção animal, esta área de estudoscontribuirá para um melhor aproveitamento dos ingredientesdas rações os quais representam um percentual considerável noscustos de produção. A necessidade em fornecer ingredientesnaturais e biodisponíveis em dietas para animais, motiva a pes-quisa em nutrição e alimentação animal para o conhecimento decomo determinados nutrientes irão atuar nos sistemas orgânicose, conseqüentemente, melhorar o desempenho zootécnico epadrão sanitário dos efectivos animais. De acordo com o que foidescrito, o artigo de revisão abordará a aplicação desta ciênciaem sistemas de produção animal bem como os estudos já desenvolvidos nesta área.

Summary: The aim of this review is to discuss the worldwidestudies in nutrigenomics applied in farm animals systems, considering the perspectives about practical applications ofnutrition gene interaction for animal health and the related benefits. The value of nutrition for health and its influence inmany diseases is proved by researches laboratories and institu-tions. The metabolic conversion of chemical elements of dietsalso acts like a control mechanism for genetic expression.Therefore, the interest of nutrigenomics researches appears tobe stronger, were scientific communities searches for answersabout how food can regulated gene expression. The evidences ofdiet and genome interaction contribution for the wellness inchronic diseases conditions still remains in discussion, and themechanisms by which nutrients perform molecular changes arestill to be explained. In intensive animal production systems,

this area of knowledge will contributed for a better used of dietsingredients, which represented a considerable high cost in theactivity. The needed to offer natural and available ingredients inanimal diets motivates research in animal nutrition and feedinginto the explanation of the acting mechanism of the nutrients inorganics systems in order to increase the performance and sanitary condition of animals. According to that, this review willaddress the application of nutrigenomics concepts in animalproduction systems and the research development in this field.

Introdução

Em sistemas de produção animal que visam obteralimentos para consumo humano, a maior parte doscustos, independente da espécie animal a ser explora-da, concentra-se nas despesas com a alimentação dosrebanhos. Estima-se que tal despesa represente de 70 a 80% do total de recursos despendidos em um sistema de produção animal intensivo. A precisão na determinação dos ingredientes ideais que irãofavorecer índices zootécnicos de interesse pode ser asolução para reduzir esse custo com alimentação(Berchielli et al., 2006).

Um adequado consumo de macro e micronutrientesque considere a idade, a constituição genética e ometabolismo de cada indivíduo, permite uma melho-ria na saúde e na eficiência produtiva a um baixo custoem relação a outros procedimentos (Ames, 2004).

A importância da interação entre nutrição e saúde éevidente em um sistema de produção animal, aindaque fatores ligados a ambiente e manejo tambéminfluenciem o desempenho produtivo do indivíduo edo rebanho por conseqüência. Nesse contexto, algunsalimentos poderão apresentar-se como componentesbioativos na proteção do organismo contra enfermi-dades que possam acometer os rebanhos (Afman eMuller, 2006; Ferguson, 2006), sendo que alguns elementos como, selênio, vitamina E, ácido ascórbicoe carotenos, por exemplo, já foram identificados comoagentes protetores.

Com o desenvolvimento de métodos bioquímicos ede técnicas de biologia molecular, a elucidação dos

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

ARTIGO DE REVISÃO

*Correspondência: [email protected]/fax: +55 53 32757274

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mecanismos químicos de ação de constituintes dadieta, assim como seus efeitos subseqüentes emmecanismos homeostáticos relacionados à condiçãode saúde ou doença, está avançando de forma rápida egradual. O mapeamento do genoma humano e ensaiosrealizados em modelos biológicos também possibili-taram a condução de estudos e a identificação degenes responsáveis por reações específicas ligadas amudanças dietéticas em indivíduos susceptíveis adeterminadas enfermidades. Ainda que parte da informação sobre os genes que constituem o códigogenético, suas respectivas localizações no cromosso-ma, estrutura e função tenham sido identificadas,ainda serão necessários estudos sobre a formaorquestrada em que os genes atuam no metabolismo(Marti et al., 2005). Essas interações são estudadaspela genômica da nutrição, ciência conhecida comonutrigenômica. O termo faz referência ao modo comocertos nutrientes interagem com os genes de um sistema orgânico em particular, favorecendo a síntesede proteínas de forma benéfica ao indivíduo.Atualmente, muitas publicações na área de nutrição esaúde humana têm utilizado conceitos de nutri-genômica para estudar a prevenção e, em menorpotencial, o tratamento de doenças multifatoriais(Sedová e Seda, 2004; Ferguson, 2006; Trujillo et al.,2006). Assim, trata-se de uma área da ciência emexpansão e que ainda necessita de muitos estudos paraque ações sejam adotadas a fim de maximizar osbenefícios do melhor entendimento das interaçõesgene-nutrientes. Ainda são escassos na bibliografiamundial, estudos ou revisões que procurem informartécnicos e pesquisadores dedicados as áreas de ciências biológicas e agrárias sobre os conceitos eaplicações da nutrigenômica em sistemas de produçãoanimal.

O objetivo desta revisão é relatar a atual situação de estudos de nutrigenômica bem como discutir perspectivas do conhecimento e entendimento dasinterações entre nutrição e genótipo para a saúde animal e, conseqüentemente, os benefícios produtivosrelacionados.

Nutrigenômica: estado da arte

A combinação de dados através de projetos para mapeamento do genoma das espécies, e adisponibilidade de ferramentas de alta tecnologia paraa investigação da expressão gênica, permitem oesclarecimento sobre a complexa interação entrenutrição e genoma a qual afeta diretamente a funçãocelular. Embora a nutrigenômica seja uma ciênciarecentemente descoberta, o conhecimento de quecomponentes dos alimentos afetam a expressão dedeterminados genes e, por conseqüência, a expressãofenotípica, já esta claramente evidenciada (Bergmannet al., 2006).

As informações obtidas a partir de estudos de nutri-genômica poderão orientar para a elaboração de umadieta mais específica considerando a condição desaúde dos animais e a composição nutricional dos alimentos, o que poderá proporcionar melhoresrespostas metabólicas e, conseqüentemente, de produção. Esta nova ciência permitirá a prevenção dedoenças importantes em humanos como obesidade,hipertensão e diabetes, bem como otimizar as terapiaspara estas enfermidades. Em animais também poderãoser prevenidas enfermidades prevalentes, em especialàquelas ligadas a condição nutricional do indivíduo(Sedová e Seda, 2004), como é o caso da cetose, porexemplo, uma enfermidade de etiologia metabólica aqual acomete principalmente rebanhos leiteiros comcondição corporal acima do preconizado no momentodo parto (Ingvartsen, 2006). Desta maneira, poderãoser prevenidas doenças de origem metabólica emfunção de uma correta nutrição dos rebanhos(Goodacre, 2007), através do mapeamento de genesrelacionados a expressão de determinadas característi-cas da espécie, sexo, padrão racial, genético e quepotencialmente sejam suprimidos por componentesfuncionais das dietas. Em aves domésticas, já foramdescritas várias diferenças no pareamento de bases(2,8 milhões) entre linhagens (International ChickenPolymorphism Map Consortium, 2004), evidenciandoa ampla diversidade genética em uma mesma espéciee, até mesmo, em um mesmo gênero.

A utilização das ferramentas para a pesquisa emnutrigenômica permitirá estudar os mecanismo denutrientes ou alimentos bioativos sobre a expressão(transcrição e tradução) e sobre o metabolismo degenes, especialmente sobre o mecanismo molecular erequerimento de nutrientes (Jiang et al., 2004; Trujilloet al., 2006), bem como sobre a forma em que alimentos bioativos podem interagir entre si. Nestecontexto a nutrigenômica apresenta algumas premis-sas básicas (Trujillo et al., 2006):

- a dieta e os componentes dietéticos podem alteraro risco de desenvolvimento de doenças, modulando osprocessos múltiplos envolvidos com o início, aincidência, a progressão e/ou severidade;

- os componentes do alimento podem agir no genoma, direta ou indiretamente, alterando aexpressão dos genes e dos produtos destes;

- a dieta pode potencialmente compensar ou acentuar efeitos de polimorfismos genéticos;

- as conseqüências de uma dieta são dependentes doestado da saúde ou da doença e da genética de cadaindivíduo;

- intervenções na dieta baseadas fundamentalmenteno conhecimento das necessidades nutricionais e nogenótipo, podem ser utilizadas para o desenvolvimen-to de planos nutricionais individualizados queotimizem a saúde e previnam ou minimizem os efeitosdas doenças crônicas.

A possibilidade de adequar a alimentação às carac-

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terísticas do código genético de cada indivíduo, a fimde prevenir o desenvolvimento de certa enfermidadeidentificada geneticamente, tem estimulado pesquisa-dores de todo o mundo a aprofundar conhecimentosnesse segmento de pesquisa. Em estudos de labo-ratório, pesquisadores já verificaram que a lunasinaencontrada na soja, influencia 123 genes envolvidosno surgimento do câncer de próstata auxiliando ainterrupção no crescimento do tumor. Também foi evidenciado que o brócolis estimula a ação de genesenvolvidos na produção de antioxidantes que atuammantendo as artérias saudáveis (Moraes e Colla,2006). Assim como a soja e o brócolis apresentamefeitos benéficos para saúde humana, atuando comocoadjuvantes na prevenção de doenças, outros alimentos poderão igualmente atuar como suportes em tratamentos de doenças crônicas em animais deprodução, uma vez que sejam estudadas e evidencia-das suas propriedades terapêuticas. Alguns alimentostêm sido estudados a fim de elucidar seus princípiosativos, entretanto, informações concretas de comoestes componentes nutricionais atuam no processo de síntese de aminoácidos e proteínas, em nível decódigo genético, e a maneira como serão aplicadas,ainda não são totalmente esclarecidas.

Na área de clínica veterinária, alguns marcadoresbiológicos têm sido utilizados como ferramentas paradiagnóstico definitivo de alguma doença ou, atémesmo, como medida de profilaxia. Um exemplo, é autilização de biomarcadores para a detecção deexposição à aflatoxinas (Lino et al., 2007), as quaisinibem a síntese proteica e do DNA, promovem stressoxidativo, induzem a fragmentação do DNA e inter-rompem o ciclo celular (Lino et al., 2004). Nos estu-dos em nutrigenômica, utilizam-se técnicas como omicroarranjo para analisar as adaptações metabólicasque são induzidas pelas variações da nutrição (Baueret al., 2004). O microarranjo (gen chip) é uma técnicaexperimental da biologia molecular que busca mediros níveis de expressão de transcritos em larga escala,isto é, medindo muitos (em alguns casos todos) transcritos simultaneamente. O desenvolvimento datecnologia de microarranjo permite aos cientistas umaferramenta para examinar sítios potenciais de ação decomponentes alimentares e suas interações com váriosprocessos celulares. Com o uso desta ferramenta,diversos genes e sua expressão relativa são avaliadossimultaneamente em células normais e doentes, antesou depois da exposição a diferentes componentesdietéticos. Como exemplo de tal evolução, cita-se oprogresso do projeto do genoma suíno e de aves, oqual apresentou consideráveis avanços quanto aoentendimento da seqüência de nucleotídeos associadaa genes específicos de suínos permitiu a produçãocomercial de microarranjos individuais (gen chip) quepodem ser utilizados para avaliação de 23256 transcrições correspondentes a 20201 genes do geno-ma desta espécie (Caetano et al., 2004).

Estas informações podem auxiliar a descoberta denovos biomarcadores para o diagnóstico de doenças ea predição de prognóstico, além de novas alternativasterapêuticas (Trujillo et al., 2006).

O surgimento dos estudos em nutrigenômica e emnutrigenética, dois campos com diferentes abordagenspara a elucidação da interação entre dieta e genes, possui um objetivo final em comum: otimizar a saúdeatravés de uma dieta personalizada e fornecerpoderosa aproximação para decifrar a complexarelação entre moléculas nutricionais, polimorfismogenético e o sistema biológico por inteiro (Mutch etal., 2005). A nutrigenômica descreve o uso de ferra-mentas para investigar um sistema biológico em particular, de acordo com um estímulo nutricional que irá permitir o conhecimento de como nutrientesinfluenciam mecanismos metabólicos e de controleshomeostáticos. Por outro lado, a nutrigenética visacompreender como o tipo genético de um indivíduocoordena a resposta deste a uma dieta, e isto con-siderando o polimorfismo genético. O polimorfismogenético é reconhecido como um fator que pode alterar a resposta a componentes da dieta (efeito datranscrição nutricional) por influenciar a absorção,metabolismo ou sítio de ação (Kussmann et al., 2006).

A nutrigenômica em sistemas de produçãoanimal

Os estudos que estão sendo realizados na área danutrigenômica são, em maior parte, desenvolvidos emhumanos. Desta maneira, ainda serão necessáriosmuitos ensaios para determinar e compreender osbenefícios advindos de nutrientes que sabidamentesão responsáveis por contribuir para um desempenhoprodutivo satisfatório, mas que ainda não foram consolidados em relação a possíveis interações comdeterminados genes em diferentes espécies. Nestecontexto inserem-se os minerais, nucleotídeos,aminoácidos, as vitaminas, dentre outros elementosorgânicos que podem modificar a transcrição de genescom o potencial de alterar as respostas biológicas emetabólicas envolvidas em processos como o cresci-mento e a diferenciação celular.

Siske et al. (2000) observaram maior peso dos ovosquando utilizaram zinco e manganês, ambos na formaorgânica, nas dietas de aves produtoras de ovos. Emuma primeira análise, não se observa uma correlaçãoentre a suplementação de tais minerais e o incrementode solutos e líquidos na composição do ovo. No entanto, estes elementos atuam ativamente como co-fatores em processos enzimáticos importantes parao organismo. A enzima anidrase carbônica, por exemplo, necessita da presença de zinco para catalisara reação que produz ácido carbônico a partir de águae dióxido de carbono (Slattery et al., 2004), necessáriapara a formação da casca. É possível que outras

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reações orgânicas sejam direta ou indiretamente influenciadas por diferentes minerais, e que interaçõesentre estes e o conteúdo genético do indivíduo ocorram durante a exposição. A utilização de nutri-entes com maior biodisponibilidade ao organismopoderá fornecer as quantidades ideais de um determi-nado mineral após o estabelecimento da dieta gênicapara uma raça ou linhagem.

Em um experimento com cobaias, observou-se queratos alimentados com uma dieta pobre em selêniodemonstraram um aumento na expressão de genesenvolvidos no processo de danificação do DNA, noestresse oxidativo e no controle do ciclo celular e,ainda, apresentaram redução na expressão de genesenvolvidos na detoxificação (Sreekumar et al., 2002).Blanchard et al. (2001) utilizaram arranjos de cDNApara demonstrar mudanças na expressão gênica intes-tinal induzida por deficiência de zinco em roedores.Estes estudos indicam que o perfil de expressãogenética pode ser utilizado para a detecção de dosessubótimas de micronutrientes essenciais utilizados nas dietas comerciais para as diversas espécies deinteresse zootécnico.

Os componentes do alimento com potencial bioati-vo modificarão diversos processos simultaneamente.Assim, um dos desafios no campo da pesquisa é aidentificação de quais processos, ou a interação entreprocessos, serão mais importantes para proporcionaruma mudança fenotípica (Trujillo et al., 2006). Outroaspecto relevante a ser observado é a identificação dequais doenças poderão ser prevenidas ou debeladaspor uma intervenção através da dieta. No estudo darelação nutrição-gene também deverá ser consideradoo fator ambiental como um agente modulador daresposta, a qual será única frente às variadascondições ambientais. A progressão de um fenótiposaudável para um fenótipo de doença crônica deveocorrer por mudanças na expressão de genes ou pordiferenças na atividade de proteínas e enzimas (Kaput e Rodriguez, 2004), sendo estas ativadas ousuprimidas por agentes extrínsecos ao animal.

Um grande número de componentes dietéticos podealterar eventos genéticos e, de tal modo, influenciar a saúde. Além dos nutrientes essenciais, tais como cálcio, zinco, selênio, folato, vitaminas C e E, existeuma variedade de classes de nutrientes não essenciaise de componentes bioativos que parecem influenciarde maneira significativa a saúde. Estes compostosessenciais e não essenciais do alimento, sabidamentemodificam um número de processos celulares associados à prevenção de doenças, incluindo ometabolismo carcinogênico, o balanço hormonal,mecanismos de sinalização celular, controle do ciclocelular, apoptose e angiogênese (Davis e Uthus,2004). A vitamina E, por exemplo, é um potenteseqüestrador de radicais livres e o mais poderosoantioxidante lipossolúvel da natureza (Souza et al.,2006), sendo associada à defesa das membranas extra

e intracelulares contra espécies reativas que danificamas células, conferindo, conseqüentemente, proteção aoconteúdo genético destas estruturas. Souza et al.(2006) relataram efeitos positivos para força de cisalhamento (força de corte) em músculos de frangosde corte suplementados com níveis crescentes de vitamina E nas dietas, atribuindo esta maior firmeza à função de proteção da vitamina E às injúrias na membrana celular durante o processo de congelamen-to. Contudo, tal resultado pode ser utilizado para umainvestigação mais profunda, associando a composiçãoestrutural muscular de frangos suplementados comvitamina mais firme à expressão de genes para a síntese de proteínas estruturais da fibra muscular, porexemplo. Desta forma, uma avaliação genômica daação da vitamina E no organismo animal conduziria auma determinação mais específica sobre a funçãoestrutural deste nutriente.

Uma questão sobre o selênio interessante de serdestacada é que estudos demonstraram que este mineral reduz a incidência de câncer no fígado, próstata e nos pulmões de humanos (Clark et al.,1996). Entretanto os indivíduos não respondem damesma forma a suplementação com selênio, já que avariabilidade genética consiste em um dos fatores quecontribuem para o nível e o tipo de resposta. A glutationa peroxidase é uma enzima dependente deselênio que atua no sistema antioxidante da membranacelular. Um polimorfismo no códon 198 da glutationaperoxidase em humanos resulta em uma substituiçãode leucina por prolina, sendo este mecanismo associa-do ao aumento do risco de câncer de pulmão (Singh etal., 2006). Não foram identificadas neste estudo ascausas que influenciaram este polimorfismo, noentanto, tal alteração pode estar relacionada a quanti-dade de selênio que é necessária para otimizar a atividade da enzima. A eficácia do uso de selênio comdiferentes alelos para a glutationa peroxidase não étotalmente conhecida (Hu e Diamond, 2003).

A atividade da vitamina D constitui um outro exemplo sobre os efeitos mediados pela expressãogenômica de receptores para a mesma. Por sua vez, a expressão de genes para estes receptores são dependentes dos níveis de cálcio na dieta e do consumo de Vitamina D (Slattery et al., 2004). Dada aimportância desta vitamina nos mais diferentesprocessos fisiológicos dos animais, informações quepossam maximizar os benefícios de seus efeitos,implicaram em novas aplicações de conceitos nutricionais na formulação de dietas para animais deprodução.

A nutrigenômica em nutrição animal promete seruma alternativa de grande utilidade principalmente emsistemas de produção intensiva, onde a alimentaçãocontribui, associada a outros fatores inerentes aoambiente e métodos de manejo, com uma parcela significativa para a melhoria do desempenho zootéc-nico dos lotes, bem como na rentabilidade econômica

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das unidades. Para este aumento na eficiência biológica, a aplicação de novas tecnologias em produção animal serão responsáveis por custos de produção mais baixos e competitivos. Nos domíniosmetabólico, genético, reprodutivo e produtivo, novastécnicas que não apresentem riscos à saúde pública e que sejam eticamente aceitas pelo consumidor, permitirão aplicar no próximo século e nos sistemasde produção intensiva, tecnologias de produção que incrementem o setor primário de produção de alimentos (Portugal, 2002).

Os princípios de nutrigenômica a serem aplicadospara animais de produção, poderão não ter somente oobjetivo de prevenir doenças relacionadas a alteraçõesgenéticas, mas também correlacionar à utilização decerto nutriente em uma dieta animal com o aumentode índices produtivos. As descobertas a serem reali-zadas na próxima década utilizando ferramentas moleculares, tais como os microarranjos, irão revolu-cionar nosso entendimento básico sobre a fisiologiados rebanhos e auxiliarão a definir novos métodospara o controle nutricional dos animais. Em longoprazo, provavelmente a transcrição destes perfis serácapaz de fornecer diversas ferramentas elementarespara a avaliação do status nutricional e fisiológico deum indivíduo, animal ou grupo de animais (Dawson,2006). As técnicas utilizadas para a elucidação dagenômica nutricional não são diferentes daquelas utilizadas nas pesquisas em genética molecular. Umarede integrada que simultaneamente examina a genética e associa polimorfismo com doenças ligadasa dietas (nutrigenética), nutrientes induzindo a metilação do DNA e a alteração da cromatina (epigenômica nutricional), nutrientes que induzemmudanças na expressão gênica (transcriptômica nutri-cional) que alteram a formação e/ou bioativação deproteínas (proteômica) irá permitir um completoentendimento da inter relação entre dieta e desen-volvimento de doenças (Davis e Milner, 2004).

Alimentos funcionais

O termo “funcional”, bioativo ou nutracêutico, vemsendo aplicado como conceito de alimentos que proporcionam um benefício fisiológico adicional alémdas qualidades nutricionais básicas. Tais alimentostambém são vistos como promotores de saúde, sendomuitas vezes associados a um tratamento profilático àinstalação ou retardo de alterações pré- estabelecidas(Moraes e Colla, 2006).

Variações entre os alimentos ingeridos não somenteinfluenciam o consumo de componentes bioativoscomo alteram o metabolismo celular, influenciando ossítios de ação de ambos nutrientes essenciais e nãoessenciais (Milner, 2004).

Segundo Diplock et al. (1999) foi definido consen-sualmente o conceito europeu de alimento funcional

como “um alimento em que está satisfatoriamentedemonstrado possuir efeito benéfico em uma ou maisfunções fisiológicas alvo, para promover a saúde ebem-estar e/ou reduzir o risco de doença”. Um alimento funcional deve assim configurar-se, e seusefeitos devem ser demonstrados em doses que possamser normalmente esperadas em uma dieta. Emboraassociado, este conceito não deve ser confundido com o conceito de nutracêutico, o qual se refere a um composto químico presente naturalmente nos alimentos ou substâncias encontradas naturalmente na natureza possíveis de ser ingeridas, como as ervas aromáticas, por exemplo, que sabiamente sãobenéficas para o organismo humano na prevenção outratamento de uma ou mais doenças, reforçando asreações fisiológicas.

Embora, a maioria das substâncias de ocorrêncianatural benéficas a saúde originem-se de plantas, também existem diversos componentes fisiologica-mente ativos em produtos de origem animal quedevem ser destacados devido a função em potencial napromoção de saúde como, por exemplo, os ácidosgraxos conjugados encontrados em produtos cárneos,principalmente (Prates e Mateus, 2002).

As recomendações nutricionais variam conforme a espécie, sexo, categoria linhagem ou raça e, considerando estas características, diversos manuaissão elaborados baseados em exigências específicas.Em muitas situações a formulação das dietas não permitem a máxima expressão do potencial genéticodos animais de produção, desconsiderando o manejonutricional como favorecedor do desempenho. Amaioria das vezes, tal medida é realizada através de ensaios que avaliam o desempenho dos animaissubmetidos a uma dieta e também por estudos dedigestibilidade que determina, através das excretas doanimal, a porção do alimento ingerido que realmentefoi aproveitada pelo organismo. Estes ensaios, comunsnos estudos de nutrição animal, necessitam de ummelhor aproveitamento de seus resultados, sendonecessário o conhecimento do sistema orgânico queestá sendo favorecido por determinado nutriente.Nesse sentido, estudos de nutrigenômica permitiriamo entendimento do efeito de alimentos bioativos nasdiversas funções celulares.

Embora os estudos em nutrigenômica tenham progredido consideravelmente, a complexidade dainteração entre nutrientes e genes promove questiona-mentos ainda não esclarecidos, impossibililitando aaplicação dos benefícios relacionados a este novoconceito nos sistemas de produção animal.

Conclusão

Considerando o que foi relatado nessa revisão,entende-se que a variação genética individual podeinfluenciar a maneira com que nutrientes são assimi-

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lados, metabolizados, armazenados e excretados peloorganismo.

Certamente o estudo da nutrigenômica permitiráuma maior compreensão de fatores ambientais e comportamentais que influenciam o fenótipo, possi-bilitando a formulação de dietas que favoreçam acondição de cada sistema de produção animal emespecial, personalizando estas unidades de produção.O sucesso em aplicação deste novo conceito emnutrição possibilitará a maximização dos índices deprodutividade e, conseqüentemente, a rentabilidade daatividade agropecuária.

Para tal, muitos estudos ainda precisam ser desen-volvidos a fim de identificar e validar o potencial de alimentos ou componentes nutricionais que deter-minarão características ou condições desejáveis no organismo animal ou mesmo minimizar as nãodesejáveis.

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Abordagem clínica de feridas cutâneas em equinos

Clinical approach in equine skin wounds

Júlio C. Paganela*, Leandro M. Ribas, Carlos A. Santos, Lorena S. Feijó,Carlos E.W. Nogueira, Cristina G. Fernandes

Universidade Federal de Pelotas – RS – Brasil

Resumo: Problemas cutâneos são comuns em eqüinos e freqüentemente determinam complicações e dificuldades diagnósticas. Devido à alta incidência de lesões cutâneas emeqüinos registrados no HCV no período de 2000 a 2008, e aofato de que abordagem de feridas cutâneas em eqüinos está ligada à rotina dos profissionais especializados nessa espécie,acredita-se na importância do estudo desse assunto. Assimsendo, o artigo tem por objetivo realizar uma revisão do temaabordando os aspectos clínicos do processo cicatricial, compli-cações na cicatrização e as principais formas de tratamentoalopático e fitoterápico, com o objetivo de auxiliar o profis-sional desde o manejo inicial da ferida até o completo reparotecidual.

Palavras-chave: feridas cutâneas, cicatrização, eqüinos

Summary: Skin problems in the horse are a common occur-rence and can often be complicated and difficult to diagnose.Due to the high incidence of equine cutaneous injuries, regis-tered in Veterinarian Clinical Hospital, during the period of2000 to 2008, and considering that the approach of cutaneouswounds in equines stand together with the routine of equinepractioneers, its necessary to clarify this issue. In this way, clini-cal aspects about healing process, proud flesh complicationsand the major allopathic or phytotherapic therapy are rewiwedwith the aim to support practitioners conduct from the initialmanipulate of wound until the complete tissue repair.

Keywords: cutaneous wounds, proud flesh, equine

Introdução

Devido ao comportamento ativo e de reações rápi-das, o cavalo está predisposto a traumatismos (ouagressões traumáticas ou lesões), principalmentequando sua função está associada a atividades esporti-vas ou de tração. Além dos fatores ligados a suanatureza, as pastagens sujas e instalações inadequadaspodem ser consideradas fatores de risco a ocorrênciade feridas traumáticas. Segundo Neto (2003), os feri-mentos de pele representam uma das mais freqüentesocorrências na clínica de eqüídeos, principalmente os

ferimentos localizados nos membros locomotores.O Hospital de Clínicas Veterinária (HVC) da

Universidade Federal de Pelotas/RS disponibilizaatendimento clínico a eqüinos provenientes da regiãoSul do Estado do Rio Grande do Sul. Os cavalos daraça Crioula e os cavalos de tração (carroça) compõema maioria dos atendimentos na rotina hospitalar. A partir de um estudo retrospectivo dos casos clínicosregistrados no HVC entre os anos 2000 e 2008, pôde--se registrar alta incidência (37%) de afecçõescutâneas entre os eqüinos atendidos. Destes, 63%sofreram lesões que variaram entre lacerações, perfurações, incisões e contusões. Os 37% restantesforam acometidos por neoplasias, dermatites e prolife-ração de tecido de granulação exuberante. A grandemaioria destas lesões evoluíram para cicatrização,sendo que as neoplasias e as cicatrizes exuberantesforam as alterações com maiores complicações edemora para resolução.

Para alguns autores, a cicatrização da pele é alvo deestudos pelo interesse clínico, científico e econômico(Hussini et al., 2004; Ribas et al., 2005). Em geral acicatrização de feridas apresenta prognóstico favo-rável, porém as feridas cutâneas freqüentemente não evoluem do modo desejado. Neto (2003) cita oexemplo de feridas localizadas nas extremidades distais, as quais são, em geral, complicadas pela faltade tecido de revestimento, má circulação, movimentoarticular, maior predisposição para contaminação econseqüente infecção.

Este artigo de revisão tem por objetivo descreveraspectos clínicos da cicatrização por segunda intençãode feridas cutâneas na espécie eqüina, buscando contribuir para a definição da abordagem adequadadeste tipo de lesão na rotina clínica eqüina.

Tipos de feridas cutâneas em eqüinos

A classificação das feridas é útil para a seleção dotratamento apropriado, assim como para a previsão darecuperação final. As classificações que se baseiam no

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

ARTIGO DE REVISÃO

*Correspondência: [email protected]

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grau de contaminação microbiana incluem lesõeslimpas, limpas-contaminadas, contaminadas e sujasou infectadas. Segundo Romatowski (1989) este sis-tema de classificação foi desenvolvido para humanose classifica o nível de contaminação potencial tantoem feridas eletivas como traumáticas.

Muitas feridas abertas em cavalos estão contami-nadas ou sujas no momento inicial do exame devido à natureza do animal e seu ambiente. Feridas contaminadas são lesões traumáticas com menos deseis horas de evolução, na qual pêlo e outros fragmen-tos teciduais estão presentes (Daly, 1985). Feridassujas são caracterizadas pela presença de edema esupuração. Entretanto, o tempo entre a ocorrência deexposição, aderência e subseqüente multiplicação einvasão bacteriana do tecido varia dependendo do tipoe quantidade de organismos presentes. Muitas feridaspodem ser elevadas à categoria de limpas-contami-nadas e fechadas após meticulosa limpeza e debrida-mento completo ou radical (Romatowski,1989).

Classicamente as feridas são divididas em abrasões,contusões, hematomas, incisões, lacerações e per-furações. As lacerações são provavelmente as maiscomuns entre os eqüinos. São geralmente produzidaspor objetos angulares, tais como cercas de aramefarpado e por mordidas. Os bordos deste tipo de lesãosão geralmente irregulares e o dano se estende aostecidos subjacentes. Outro tipo comum de ferida sãoas perfurações, produzidas por objetos cortantes quese caracterizam por serem superficiais, pequenas e deprofundidade variável. São tipos especiais de ferida,porque embora a perda tecidual seja mínima, a injúriadas estruturas mais profundas após penetração poderesultar em debilidade (Neto, 2003). Para Ribas et al.(2005) outro tipo comum de ferida na espécie eqüinaestá relacionada ao ambiente e ou tipo de instalaçãoem que o animal está, tais como cercas, porta decocheira, mata-burro, onde o animal coloca o membroem local estreito e a partir de movimento brusco,ocorre a laçada causando dano interno sem lesãoexterna aparente além da alopecia. Nestes casosocorre lesão de tecido subcutâneo com edema, exsu-dação e ruptura da pele.

Processo (mecanismos) de cicatrização

A cicatrização é um processo corpóreo natural deregeneração concomitante dos tecidos epidérmico edérmico. Após uma lesão, um conjunto de eventosbioquímicos complexos e orquestrados se estabelecepara reparar a o dano. Usualmente o processo cicatri-cial é dividido em cinco fases principais: coagulação,inflamação, proliferação, contração da ferida e remo-delação (Fazio et al., 2000; Mandelbaum e Santis,2003).

A fase de coagulação marca o início do processo,imediatamente após o surgimento da ferida. Nesta

fase, substâncias vasoativas, proteínas adesivas,fatores de crescimento e proteases são liberadas editam o desencadeamento de outras fases (Terkeltaube Ginsberg, 1998). A vasoconstrição descrita nestemomento ocorre a fim de minimizar a hemorragia.Em seguida, o processo inflamatório inicia-se com avasodilatação, migração de células brancas e proteínasplasmáticas, propiciando uma barreira de defesa naferida (Stashak, 1994). Nesta fase se consolida asecreção de proteases como hialuronidase, colagenasese hemolisinas são responsáveis por inibir a ação bacte-riana durante a cicatrização, visto que as bactériasagem prolongando a fase inflamatória (Hackett et al.,1983)

A proliferação é dividida em três subfases:reepitelização, fibroplasia e neovascularização. Nareepitelização ocorre a migração de queratinócitosnão danificados das bordas dos anexos epiteliaisquando a ferida é de espessura parcial, e apenas dasmargens epidérmicas em casos de feridas de espessuratotal. Os diferentes fatores de crescimento são respon-sáveis pelos aumentos de mitoses e conseqüentehiperplasia do epitélio (Mandelbaum e Santis, 2003).A fibroplasia ocorre a partir de fibroblastos, os quaissão células mesenquimais diferenciadas que proliferamna região mais superficial da ferida. Concomitante-mente há o desenvolvimento de novos capilares porbrotamento endotelial (Stashak, 1994). A neovascu-larização verificada nesta fase fornece metabólitos eoxigênio para nutrir tecido de reparação que proliferana área lesional. A nova rede vascular expande-se para o centro da lesão proporcionando uma aparência rosada e exuberante (Neto, 2003).

Neste momento, se estabelece o tecido de granulaçãoque consiste primariamente em vasos sangüíneos neo-formados, fibroblastos e produtos de fibroblastos,incluindo o colágeno fibrilar, elastina, fibronectina,proteases, glicosaminoglicanas sulfatadas e não sulfa-tadas. O tecido de granulação é produzido três a quatrodias após a indução da lesão como um passo inter-mediário entre o desenvolvimento da malha formadapor fibrina/fibronectina e a reestruturação de colágenoBerry e Sullins (2003). À medida que o fluxo sangüí-neo e a oxigenação são restabelecidos, o principal fatordesencadeador da angiogênese é reduzido e os vasosneoformados começam a diminuir (Neto, 2003).

A partir deste evento, inicia-se a fase de contraçãodas paredes marginais da lesão. Esta ação é realizadapelos fibroblastos ativados, os quais se diferenciamem miofibroblastos. Os miofibroblastos contêm fibrasintracelulares de actina e miosina e formam conexõesespecializadas, ou fibronexus, com a matriz extracelu-lar e outras células dentro da cavidade da lesão.Segundo Borjrab (1982) estas propriedades possibili-tam aos miofibroblastos contrair ativamente e gerar atensão necessária para fechar o defeito. Os miofibrob-lastos aproximam as margens da ferida, forçando asfibras de colágeno a se sobreporem e se entrelaçarem

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e, desta maneira, dar o suporte para diminuir o tama-nho da lesão.

A fase final do processo cicatricial consiste naremodelação tecidual. Ao contrário das outras fases decicatrização, a remodelação dos componentes docolágeno e matriz, como ácido hialurônico e proteo-glicanas, persiste por longo tempo após o ferimento eé o período no qual os elementos reparativos da cica-trização são transformados para tecido maduro de características bem diferenciadas (Neto, 2003).

As várias fases da reparação não devem ser consideradas como ações seqüenciais. Cada fase dacicatrização deve contribuir com seu efeito no tempoe intensidade certos (Fazio et al., 2000; Mandelbaume Santis, 2003). Os mecanismos moleculares que regulam as diferentes fases da cicatrização ainda nãosão totalmente compreendidos, porém aparentemente,as citocinas são mediadores celulares críticos.Citocinas são glicoproteínas sinalizadoras lançadaspela maioria das células nucleadas no corpo, queatuam através de receptores específicos na superfíciecelular para causar estimulação autócrina, parácrina eou endócrina causando migração celular, proliferaçãoe síntese (Theoret, 2005).

Tipos de cicatrização

Cicatrização por primeira intenção

A cicatrização por primeira intenção ocorre quandoos bordos da ferida estão próximos e se unem nova-mente com rapidez. Ocorre em feridas não contami-nadas (McGavin e Zachary, 2007).

O manejo de uma ferida como passível de cicatriza-ção por primeira intenção é indicada após incisõescirúrgicas, e consiste em aproximar os bordos da lesãopor meio de suturas, favorecendo a cicatrização devi-do a diminuição do tempo da fase inflamatória e deremodelação do colágeno, obtendo uma melhor con-tração da ferida e posterior reepitelização (Auer eStick, 1999; Mandelbaum e Santis, 2003).

Cicatrização por segunda intenção

As feridas cujos bordos estão distantes, não apresentam uma aposição dos mesmos ou ainda queestejam contaminadas por agentes infecciosos ou contenham corpos estranhos, geralmente cicatrizampelo processo de segunda intenção (McGavin eZachary, 2007).

A cicatrização por segunda intenção é complexa euma ferida é tratada como tal, quando a cicatrizaçãopor primeira intenção não é justificável. Dependeinteiramente da neovascularização e remodelação damatriz celular para restaurar a perda de tecido atravésda contração da ferida para restabelecer a tensão nor-mal do tecido e reduzir o tamanho da cicatriz (Auer eStick, 1999).

Fatores que contribuem para a utilização da cica-

trização por segunda intenção no manejo de feridassão: o nível de contaminação, volume de tecido perdi-do e situações em que a cicatrização por primeiraintenção falhou (Neto, 2003).

Complicações na cicatrização cutânea em eqüinos

As complicações na cicatrização cutânea decorremde anormalidades em qualquer um dos componentesbásicos do processo de reparo e pode ser agrupadasem: 1) formação excessiva de componentes do reparo;2) formação de contraturas e 3) a deficiência de formação de tecido cicatricial (McGavin e Zachary,2007).

Em eqüinos são reconhecidas especialmente as difi-culdades decorrentes da formação excessiva de tecidode granulação em feridas cutâneas localizadas emextremidades. Este aspecto constitui um desafio parao médico veterinário que elege, para determinadoscasos, a cicatrização por segunda intenção comométodo de tratamento, seja pelas condições locais etempo decorrente da lesão ou pela falta de tecido pararecobrimento.

A cicatrização por segunda intenção na porção distal dos membros em eqüinos pode ser lenta e complicada. Estas feridas curam mais lentamente queaquelas no tronco por exibirem taxas relativamentebaixas de epitelização e contração (Wilmink et al.,1999). Berry e Sullins (2003) afirmam que o menorsuprimento sanguíneo, menor tensão de oxigênio,temperatura mais baixa e a presença de quantidadesinsuficientes de citocinas determinam os diferentespadrões de cicatrização entre as diversas regiõesanatômicas do eqüino.

Wilmink et al. (1999) relatam que há diferenças nacicatrização entre eqüinos e pôneis. Feridas similaresna região dorsal do metatarso cicatrizam lentamenteem eqüinos se comparados com pôneis, devido à contração da ferida nos pôneis ser mais intensa ocor-rer em maior. Análises histológicas das lesõesmostraram uma fase inflamatória prolongada noseqüinos embora com menos organização dos miofi-broblastos comparado com os pôneis (Wilmink et al.,1999). As taxas lentas de epitelização foram atribuídasà inibição de células migratórias e inibição da ativi-dade mitótica pelo tecido exuberante de cicatrização(Bertone et al., 1985).

Embora não se possa definitivamente acelerar oprocesso de cicatrização, é importante entender quevários fatores afetam adversamente a taxa de cica-trização das feridas. Entre estes fatores está a mánutrição, hipovolemia, hipotensão, hipóxia, hipoter-mia, infecção, trauma e o uso de medicamentos deação anti-inflamatória (Neto, 2003). Vale lembrar quepara Blackford et al. (1991) o efeito de uma únicadose de esteróides em cavalos pode não criar umimpacto nas diferentes fases de cicatrização, assimcomo flunixina de megluminaqualitativamente não

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parece influenciar a fase proliferativa ou as fases subseqüentes da cicatrização de feridas (Lefebvre-Lavoie et al., 2005).

Sabe-se ainda que a presença de um número maiorque 105 bactérias por grama de tecido lesional significa que, se a ferida não tiver assistência, nãocicatrizará por primeira nem por segunda intenção(Hackett et al., 1983).

Tratamento

Ainda que muitas alternativas diferentes de trata-mento sejam reconhecidamente satisfatórias para omanejo de determinada ferida, o método selecionadodeve fornecer um ambiente favorável, permitindo progressão natural para não retardar processo dereparação (Neto, 2003).

Em relação à conduta clínica, a cicatrização porsegunda intenção é recomendada em função do tempodecorrido, do grau de contaminação e da perda detecido lesado (Hussni et al., 2004). O tratamentobaseia-se na higienização da lesão e conseqüente-mente o curativo local com pomadas que favorecem acicatrização. Existe uma variedade de preparaçõestópicas para a cicatrização de feridas em eqüinos,porém, a escolha e composição do fármaco a ser usadadeve ser avaliada criteriosamente, já que muitos destesprodutos são ineficientes e caros, ou prejudiciais àcicatrização, por serem irritativos ou estimularem aproliferação de tecido de granulação exuberante(White e Maltodextran, 1995). Além disso, é neces-sário avaliar a localização anatômica da lesão paraestabelecer o prognóstico e tratamento adequado.

Embora Wilmink et al. (1999) tenha mostrado que amelhor taxa de contração é a razão pela qual as feridasno corpo curam significativamente mais rápidas doque as localizadas nos membros de eqüinos, nenhumtratamento é ainda viável para superar os fenômenosparticulares na cicatrização, tal como a proliferação detecido de granulação exuberante. Hanson (2006) rela-ta que para este caso é indicada a remoção cirúrgicapor ser um método simples e eficaz, comparada a outros métodos como o uso de drogas cáusticas.Pomadas a base de Ketanserina são efetivas na prevenção da formação de tecido exuberante nosmembros dos eqüinos. Este princípio tem açãoantagônica na indução de serotonina, um mediador daatividade de macrófagos.

O manejo inicial é direcionado para isolar a feridade contaminantes de origem exógena e endógena epreparar a pele vizinha para a manipulação durante otratamento e cicatrização. Na área ao redor da feridadeve-se realizar tricotomia e preparação antissépticapara facilitar uma avaliação precisa da mesma e estru-turas adjacentes (Auer e Stick, 1999).

O aspecto mais importante na preparação de feridastraumáticas para cicatrização é o desbridamento cirúr-

gico, o qual consiste na remoção de tecido morto edesvitalizado para reduzir os níveis de bactériaspatogénicas e oportunistas. A irrigação ou lavagem éum meio comum para limpeza de feridas traumáticas.Os benefícios gerais da lavagem da ferida incluem aremoção de pequenas e grandes partículas endógenas,bactérias e tecido desvitalizado (Auer e Stick, 1999).

O uso de bandagens ou gesso minimiza a formaçãode tecido exuberante de granulação pelo seu efeito deimobilização e por evitar contaminações. O enfaixa-mento da ferida ainda protege contra traumas e dissecação, além de aplicar pressão superficial e manter o medicamento tópico na área lesionada.

As combinações de anti-inflamatórios esteróides eantibióticos tópicos diminuem marcantemente a produção de líquidos, permitindo trocas menos freqüentes de bandagens. Em estudo realizado comum pequeno grupo de animais, as lesões tratadas comesteróides tópicos cicatrizaram mais rápido do queaquelas nas quais eles não foram utilizados (Barber,1989). São necessários mais estudos, com um maiornúmero de animais para avaliar o seu benifício nestescasos. Histologicamente, não se observou nenhumadiferença entre feridas tratadas com combinação deesteróides e antibióticos e aquelas tratadas de outramaneira (Blackford et al., 1991).

Tratamento alopático

Para o tratamento de feridas recomenda-se a aplicação de antimicrobianos na lesão, no qual desta-ca-se o uso do iodo-povidine (Moens et al., 1980).Soluções de iopo-povidine estão disponíveis comer-cialmente em várias formulações (solução, creme,spray). Diversos estudos in vitro realizados por Payneet al. (1999) evidenciaram a eficácia do iodo-povidinecomo um agente anti-séptico, já que seus compo-nentes possuem ação de amplo espectro contra bactérias, esporos, fungos, leveduras, vírus e proto-zoários. Este composto é disponível comercialmenteem várias formulações como solução, creme e spray,sendo sua concentração ideal entre 0,1 e 0,2% (10-20ml p/ 1000 ml) para a lavagem da ferida, pois soluçõesmais concentradas podem ser citotóxicas para os neu-trófilos (Stashak, 1994). Solução de iodo-povidinecom açúcar cristal, combinados até atingir uma consistência pastosa, constitui um agente hipertônicoque age por osmose para retirar o exudato da ferida(Berry e Sullins, 2003).

A água oxigenada tem sido amplamente usada comoanti-séptico e desinfetante e é amplamente utilizadacomo anti-séptico na concentração de 3%, devido aoseu largo espectro antibacteriano, principalmente parabactérias Gram positivas e algumas Gram negativas(Drosou et al., 2003).

Soluções tópicas a base de clorexidina são fre-quentemente utilizadas no tratamento de feridas. Temação antibacteriana em Staphylococcus aureus,

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Pseudomonas aeruginosa e bactérias não esporuladas(Payne et al., 1999).

A eficácia do tratamento a base de clorexidina nãoé bem caracterizada. Em revisão feita por Drosou etal. (2003), vários trabalhos relatam a utilização declorexidina, porém o autor conclui que os resultadossão insuficientes para afirmar sobre a melhora nacicatrização, principalmente em feridas abertas.

Embora a nitrofurazona tenha efeito antimicrobianocontra microorganismos Gram-positivos e Gram--negativos, segundo Berry e Sullins (2003) não deveser utilizada, já que demonstrou retardo na contraçãoda ferida, epitelização e reparação no geral.

O mel de abelha tem muitas propriedades, incluindoum amplo espectro com ação antimicrobiana, açãoantiinflamatória além de estimular novos fatores decrescimento de tecido. O efeito estimulatório do melna cicatrização de feridas pode estar relacionado aauto regulação de citocinas inflamatórias nos monó-citos (Tonks et al., 2003).

Os enxertos biológicos derivados de tecidos comopele ou placenta são relatados como promotores dacicatrização por retardarem a formação do tecido exuberante de cicatrização, visto que induzem umaresposta inflamatória branda, promovem e mantém umambiente úmido que conduz a regeneração e migraçãode células epiteliais e agem como uma barreira anti-bacteriana que protege a ferida contra infecções(Purna e Babu, 2000).

Tratamento fitoterápico

A literatura refere o uso de fitoterápicos em diferentes enfermidades com diversas indicações terapêuticas, sendo alguns deles de uso consagrado epertencentes à farmacopéia (Heggers e Kucukcelebi,1995).

Muitos estudos são realizados na tentativa de sedetectar a eficácia do uso de plantas na cicatrização deferidas. Segundo Solorzano et al. (2001) as fitoesti-mulinas do Triticum vulgare ativam fenômenos dacicatrização ao estimular a mitose e motilidade dosfibroblastos, além de aumentar a síntese de fibrascolágenas e glicosaminoglicanas pelos fibroblastos.De acordo com Souza et al. (2006) o uso do creme àbase de Triticum vulgare aumentou o número de vasossangüíneos neoformados encontrados durante o perío-do inicial da reparação das feridas tratadas em relaçãoaos controles, demonstrando que o tratamento influen-ciou de maneira positiva no processo de cicatrização.

A babosa (Aloe vera) é um excelente cicatrizante eantinflamatório, devido aos seus constituintes, principalmente os mucilaginosos, o que a torna umaboa opção para o tratamento tópico de lesões de pele(Rovatti e Brennan, 1959). Ribas et al. (2005) comparou o extrato aquoso de Triticum vulgare(Bandvet®) com o extrato aquoso de babosa. Oprimeiro apresentou tempo de cicatrização menor,

sem processos irritativos ou presença de secreções.Martins e Alves (2003) compararam o uso tópico de

fitoterápicos na cicatrização cutânea em eqüinos,avaliando as observações macroscópicas, histopa-tológica e a retração centrípeta do halo da lesão nosprimeiros quinze dias. Esse estudo demonstrou que obarbatimão (Stryphnodendron barbatimao Martius)teve efeito benéfico na cicatrização, seguido pelacalêndula (Calendula officinalis). Os resultados dogrupo controle foram superiores ao confrey(Symphitum officinalis).

Considerações finais

A elevada incidência de lesões cutâneas na espécieeqüina, demonstrada na rotina do Hospital de ClínicasVeterinária, mostra a demanda por técnicos capacita-dos, seja tratador ou cavalariço que realizem serviçosde enfermagem, tal como curativos. Pois o MédicoVeterinário intervindo de maneira correta, na rotina declínica de eqüinos mostra que protocolos baseados nahigiene diária, com limpeza das feridas, retirada dotecido morto, proteção e hidratação são efetivos namaioria dos casos, exceção nas neoplasia.

E que apesar de a cicatrização, principalmente nosmembros locomotores dos equinos ser mais lenta devido a fatores como: maior facilidade de contatocom sujidades, pouco tecido e menor vascularização.A orientação de pessoal treinado para seguir realizan-do curativos diários é essencial para o sucesso dotratamento.

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Utilização de bloqueio anestésico para exodontia do dente carniceiro emcão

Block anesthesic used to do exodontia of canassial tooth in dog

Víviam N. Pignone*

Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (ABOV) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Resumo: A utilização de bloqueios anestésicos pelos médicosveterinários está sendo mais empregada na rotina, associada àanestesia geral, especialmente na odontologia veterinária. Osbloqueios regionais de nervos são os mais empregados, destacando-se aqueles realizados no nervo infra-orbitário, maxilar, mentoniano e alveolar inferior. O quarto pré-molarsuperior, também conhecido como "dente carniceiro", é o maiordente dos carnívoros, responsável por rasgar os alimentos. Porser um dente muito utilizado, é mais predisposto a afecções,como fratura dental com ou sem exposição pulpar, lesão periapical e doença periodontal podendo o cão desenvolver umafístula infraorbitária. Embora existam tratamentos que zelampela preservação do elemento dental, como cirurgia periodontale tratamento endodôntico, muitas vezes os proprietários optampela exodontia deste dente, sendo o custo do procedimento umdos fatores limitantes. O presente artigo tem como objetivoapresentar as principais causas de exodontia do dente carniceiro, mostrando como é feita a exodontia mediante des-sensibilização da área através de bloqueio anestésico.

Summary: The utilization of anesthetic blocks by veterinariansis becoming more widely employed in the routine, pertaining togeneral anesthesia, especially in veterinary dentistry. Theregional nerve blocks are the most commonly used, especiallythose performed on the nerves infraorbital, maxillary, mentaland inferior alveolar. The fourth upper premolar, also known as"carnassial tooth," is the largest carnivorous tooth, used for tear-ing meat. Being a very used tooth, it is more prone to affection, such as dental fracture with or without pulpal expo-sure, periapical lesion and periodontal disease, predisposing the dog to develop an infraorbitary fistula. Although there are treatments which strive for dental preservation, such as periodontal surgery and endodontic treatment, most of the timesowners opt for exodontia, being the procedure cost the leadingfactor. This article aims to show the main causes of carnassialtooth exodontia, demonstrating the exodontia technique throughdesensitization of the area through anesthetic block.

Introdução

O controlo da dor, tanto na medicina humana comona veterinária, tem se destacado nos últimos anos. Autilização de bloqueios anestésicos tem sido cada vezmais empregada na rotina, associada à anestesia geral,sobretudo durante os procedimentos odontológicosem animais (Lopes e Gioso, 2007).

A anestesia local apresenta alguns benefícios destacando-se a diminuição da sensibilização central àdor, a minimização da reação tissular inflamatória,redução da quantidade de anestésico geral requeridadurante o procedimento cirúrgico, e diminuição dadose e freqüência dos analgésicos empregados no pós--operatório (Hellyer e Gaynor, 1998; Holmstrom eFrost-Fitch, 1998; Gross e Pope, 2002).

Os bloqueios regionais de nervos são mais comu-mente empregados nos procedimentos odontológicosem animais, sendo que os mais utilizados são o bloqueio infra-orbitário e bloqueio maxilar, na maxila,e bloqueio mentoniano e bloqueio alveolar inferior, namandíbula (Lopes e Gioso, 2007; Holmstrom e Frost-Fitch, 1998).

Dentre os 42 dentes permanentes apresentados pela espécie canina, o quarto pré-molar, tambémdenominado "dente carniceiro", é um dos principaisdentes, responsável por rasgar os alimentos (Wiggs eLobprise, 1997; Harvey e Emily, 1993; Gioso, 2007).Por ser um dente muito utilizado pelo cão, torna-semais predisposto a afecções como fratura dental comou sem exposição pulpar, lesão periapical, e doençaperiodontal, podendo evoluir para uma fístula infra--orbitária (Wiggs e Lobprise, 1997; Bolson e Pachaly,2004; Roza, 2004; Gioso, 2007).

Entretanto, apesar da existência de tratamentos que zelam pela preservação do elemento dental, comocirurgia periodontal e tratamento endodôntico, a realização da extração dental, denominado exodontia,ainda é uma das intervenções cirúrgicas mais fre-qüentes na clínica de cães e gatos, sendo o custo umdos fatores limitantes (Gioso, 2007).

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

ARTIGO DE REVISÃO

*Correspondência: [email protected]: +55 51 33773900; 92499962

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Todavia, o quarto pré-molar superior, por se tratarde um dente tri-radicular, necessita alguns cuidadosespeciais, como conhecimento anatômico, além datécnica de exodontia complexa (Gioso, 2007), sendo obloqueio anestésico do nervo maxilar o indicado paraa dessensibilização da área na realização do procedi-mento (Wiggs e Lobprise, 1997; Lopes e Gioso,2007).

Anestesia local

Os anestésicos locais consistem em substânciasquímicas responsáveis por impedir geração e con-dução de impulso nervoso de maneira reversível, poração direta na membrana da fibra nervosa (Muir eHubbell, 1995; Mclure e Rubin, 2005; Lopes e Gioso,2007).

Na odontologia veterinária, os anestésicos locaismais utilizados são a lidocaína e a bupivacaína, comperíodo de ação curto e longo, respectivamente (Lanz,2003; Klaumann et al., 2007). Entretanto, outrosanestésicos locais como a mepivacaína, a prilocaína ea articaína são amplamente utilizados na odontologiahumana e vêm sendo empregados na prática veteri-nária odontológica, sendo estes com duração de açãomoderada (Fantoni e Cortopassi, 2002; Malamed,2005; Mclure e Rubin, 2005). Além desses, ainda seencontra a ropivacaína, caracterizada por apresentarperíodo hábil e de latência semelhantes ao da bupiva-caína, efeito vasoconstritor e menor toxicidade cardíacae no SNC (De Negrini e Ivani, 2005; Malamed, 2005;Mclure e Rubin, 2005).

A adição de vasoconstritores aos anestésicos locaispossui a função de controlar as ações vasodilatadoras,retardando a absorção deste pelo sistema vascular,

minimizando os riscos de toxicidade anestésica(Cortopassi e Fantoni, 1999), além de prevenir ouminimizar a hemorragia no trans-operatório (Gross ePope, 2002). Contudo, é importante ressaltar que atoxicidade dos anestésicos locais está associada com aadministração intravascular acidental ou a adminis-tração de altas doses do agente anestésico (Klaumannet al., 2007).

A escolha do agente anestésico varia de acordo como procedimento cirúrgico a ser realizado, períodohábil de analgesia e necessidade de controlo da dorpós-operatória. A dose utilizada para dessensibiliza-ção dos nervos da mandíbula e da maxila varia deacordo com o porte do animal, porém preconiza-se ouso de volumes pequenos de anestésico, aplicadoslentamente, evitando lesar pequenos ramos nervosos(Holmstrom e Frost-Fitch, 1998; Cediel e Sanches,1999).

As dose dos anestésicos locais utilizados em cãescitados anteriormente estão representadas na Tabela 1,exceto da articaína que não foi encontrada a dose para a espécie canina, sendo que em humanos, foiencontrada na literatura apenas a dose máxima destefármaco (7 mg/kg) (Lopes e Gioso, 2007).

Bloqueio anestésico do nervo maxilar

A realização de qualquer bloqueio anestésico deveser precedida de anti-sepsia tópica, com intuito dediminuir transitoriamente a microbiota bacterianalocal (Malamed, 2005), sendo o gluconato de clorexi-dina 0,12% o anti-séptico de eleição na prática odon-tológica veterinária (Evers e Haegerstam, 1991).

O bloqueio do nervo maxilar é um método bem eficaz para promover dessensibilização de uma hemi-

Tabela 1 - Principais agentes anestésicos locais utilizados na odontologia veterinária na espécie canina

Agente anestésico Dose/volume recomendados Dose máxima Período de latência Período de duração

Lidocaína 2% 2 mg/kg 5 mg/kg 5 a 10 minutos 1h a 1h e 30min

Lidocaína com 0,1 ml de 1:1.000 ND ND 3h e 30minepinefrina (0,1 mg epinefrina)

Bupivacaína 0,5% 1 mg/kg 2 mg/kg 20 a 30 minutos 4 a 6 h

Lidocaína + 1 mg/kg + ND 5 a 10 minutos Efeito mais rápido,Bupivacaína 0,25 mg/kg porém menor duração

Morfina 0,1 mg/kg ND ND Maior eficácia eprolongamento da analgesia

Buprenorfina 0,01 mg/kg ND ND Maior eficácia eprolongamento da analgesia

Mepivacaína 3% Não disponível 9 mg/kg 1,5 a 2 minutos ND

Ropivacaína 0,5% 0,5 a 2 mg/kg Não disponível 8 a 10 minutos ND

Fontes: Lopes e Gioso (2007); Egger e Love (2009). ND = não disponível.

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maxila, reduzindo o volume dos demais fármacosadministrados (Malamed, 2005; Lopes e Gioso, 2007).

Este bloqueio é efetuado a partir da administraçãodo anestésico local na região da fossa pterigopalatina,localizada caudalmente ao último molar superior(segundo molar), ao final do processo alveolar do ossomaxilar (Figura 1). O bloqueio do nervo maxilar promove a dessensibilização dos ramos deste nervo –nervo infra-orbitário, nervo alveolar maxilar caudal,nervo pterigopalatino e nervo nasal caudal (Cediel eSanches, 1999).

O bloqueio também pode ser realizado através da via percutânea. Neste caso a agulha deverá serintroduzida através da pele formando um ângulo de 90 graus em direção medial, ventral a borda do arcozigomático e aproximadamente 0,5 cm caudal aocanto lateral, e então avança para a fossa pterigo-palatina. Caso a agulha tocar o ramo da mandíbula,esta deverá ser direcionada para fora no sentido cranial (Egger e Love, 2009).

O diâmetro da agulha para realizar o bloqueio deveser de 25 a 29 G. A cabeça do paciente deve ser elevada, fazer a aspiração da seringa antes de injetar e aplicar uma pressão digital sobre o forame, seguidoda administração lenta do anestésico local com afinalidade de facilitar este movimento caudamente aoforame. Não é recomendável avançar com a agulhadentro do forame, pois aumenta a chance de lacerar onervo (Egger e Love, 2009).

Afecções no "dente carniceiro"

O quarto pré-molar superior ou "dente carniceiro" éo maior dente da arcada superior dos cães, responsávelpor rasgar os alimentos. Por este motivo, fica evidentesua predisposição a afecções, como a doença perio-dontal e os problemas endodônticos (Wiggs e

Lobprise, 1997; Gioso, 2007).A doença periodontal avançada, a lesão periapical e

lesões iatrogênicas são as causas mais freqüentes defístula deste dente (Bolson e Pachaly, 2004; Roza,2004). Na doença periodontal, a fístula resulta quandouma bolsa periodontal maxilar profunda progride parao ápice do dente, lisando o osso entre o ápice doalvéolo e a cavidade nasal ou o seio maxilar (Hedlund,2007). Essa afecção geralmente é causada por trauma,fratura ou periodontite. Um trauma contusivo semtraumatismo evidente na superfície dental pode causarnecrose pulpar com abcesso periapical secundário(Birchard e Sherding, 2003).

Os sinais clínicos apresentados pelo paciente comalteração pulpar evidente consistem em dor à per-cussão, fístula, fractura coronal ou radicular, escure-cimento dental, sialorreia, além de dificuldade de alimentação e fricção do focinho no chão ou com apata (Wiggs e Lobprise, 1997).

O diagnóstico é baseado na anamnese, nos sinaisclínicos e no exame físico. Entretanto, o diagnósticodefinitivo é feito através da radiografia intra-oral realizada com o paciente sob anestesia geral utilizan-do a técnica da bissetriz (Gioso, 2007).

O tratamento frente a uma doença periodontalavançada, lesão periapical extensa, presença de fístulainfra-orbitária consiste na exodontia deste dente(Gioso, 2007).

Exodontia

A exodontia ou extração dentária é uma das inter-venções cirúrgicas mais freqüentemente realizada empequenos animais, sendo que o paciente deve estar sobanestesia geral, com ou sem bloqueio regional ouanestesia local (Gioso, 2007; Lopes e Gioso, 2007).Para executar tal procedimento é fundamental o conhecimento anatómico, bem como os princípiosbásicos que devem ser tomados quando se realizar aexodontia, seja por via alveolar (dente luxado dentrodo próprio alvéolo) ou extra-alveolar, quando o acesso se dá pela remoção do osso da face vestibular(Wiggs e Lobprise, 1997; Gioso, 2007):

- Lesar o mínimo possível as estruturas vizinhas;- Separar a gengiva do dente antes de luxá-lo

(sindesmotomia) (Figura 2A);- Realizar odontosecção em dentes multiradiculares

(Figura 2B);- Luxar o ligamento periodontal com alavancas;- Promover a avulsão total do dente com o fórceps,

sem fraturar a raiz (Figura 2C).O quarto pré-molar do cão é o maior dente da

arcada superior, e apresenta 3 raízes, a mesiovesti-

Figura 1 - Técnica anestésica para o bloqueio do nervo maxilar em cãona fossa pterigopalatino (seta preta). Notar a área dessensibilizada pelobloqueio em destaque. Fonte: Lopes e Gioso, 2007.

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bular, a mesiopalatina e a distal, considerada umaexodontia complexa. Portanto, a separação das raízes,denominada odontosecção, facilita a exodontia devidoà divergência destas (Harvey e Emily, 1993; Wiggs eLobprise, 1997; San Roman et al., 1999; Roza, 2004;Gioso, 2007). A odontosecção é realizada com umabroca diamantada FG (friction grip) acoplada a caneta de alta rotação, devendo-se ter o cuidado denão lesar os tecidos moles (Gioso, 2007).

Técnicas inapropriadas de extração do quarto pré-molar superior podem resultar em complicaçõesoftálmicas graves causadas pela penetração do eleva-dor na órbita ou no globo ocular, provocando celuliteorbitária, abscesso orbitário ou endoftalmite (Bircharde Sherding, 2003).

Após realizada a exodontia, recomenda-se a síntesedos tecidos moles com fios absorvíveis, dentre eles apoliglactina 910 é a mais utilizada (Conn et al., 1974;Horton et al., 1974) (Figura 2D).

As complicações da exodontia que podem existirconsistem na fratura de raiz, hemorragia intensa,infecção, alveolite seca, deiscência dos pontos, fístulae corrimento nasal (Gioso, 2007).

Discussão

O emprego dos anestésicos locais para a realizaçãode bloqueios de nervos regionais tem-se destacado naodontologia veterinária, sendo a lidocaína e a bupiva-caína os mais utilizados, embora já existam outros fármacos que possuem efeito mais prolongado emenor toxicidade, como a ropivacaína, que são utilizados geralmente em humanos (Fantoni eCortopassi, 2002; Gross e Pope, 2002; Lanz, 2003; DeNegrini e Ivani, 2005; Malamed, 2005; Mclure eRubin, 2005; Klaumann et al., 2007; Lopes e Gioso,2007).

O "dente carniceiro" possui importante papel na alimentação dos carnívoros, porém na presença dadoença periodontal não tratada, pode evoluir para umalesão perio-endodôntica, causando lesão periapical edesencadeando a fístula infra-orbitária. Esta lesão promove muita dor e sinais clínicos muitas vezesimperceptíveis pelo proprietário e pelo clínico geral,sendo tratada por longos períodos somente com aadministração de antibióticos, não removendo oagente desencadeante (Wiggs e Lobprise, 1997;

Figura 2 - Passos da exodontia do dente carniceiro.(A) Sindesmotomia; (B) Realizando odontosecção; (C) Avulsão dentária; (D) Síntese com fio poliglactina 910 (Víviam Nunes Pignone).

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Birchard e Sherding, 2003; Roza, 2004; Gioso, 2007).Mesmo existindo tratamento endodôntico e cirurgias

periodontais que se preocupam com a manutenção doquarto pré-molar superior, estas necessitam de umacompanhamento clínico e radiográfico em um períodode tempo predeterminado pelo cirurgião, precisando opaciente passar por uma nova anestesia o que elevaainda mais o custo do tratamento. Por esse motivo, aexodontia é um dos tratamentos mais realizados, commaior chance de sucesso e resolução imediata e menorcusto (Harvey e Emily, 1993; Wiggs e Lobprise, 1997;Gioso, 2007).

As regras básicas para executar a exodontia dedentes devem ser seguidas passo-a-passo, consideran-do a odontosecção uma etapa fundamental, principal-mente do quarto pré-molar superior que é tri-radicular,a menos que haja uma reabsorção óssea com intensamobilidade dental (Gioso, 2007).

Conclusão

A utilização do bloqueio anestésico para a exodontiados dentes é uma técnica fácil de ser realizada e muitoútil na rotina odontológica veterinária, contudo, é desuma importância o conhecimento anatómico da cavi-dade oral, principalmente sua inervação, para evitarcomplicações.

A doença periodontal e as afecções endodônticassão as patologias que mais atingem o quarto pré-molarsuperior, causando destruição do periodonto e abces-sos periapicais, que podem resultar em fístula infra-orbitária. Nestes casos, a radiografia intra-oraltorna-se necessária para obter o diagnóstico definiti-vo. Um dos tratamentos mais realizados consiste naexodontia do elemento dental.

A realização da odontoseccção em dentes tri-radicu-lares, como o "dente carniceiro", deve ser relevante,principalmente se tratando de raízes divergentes, facilitando a extração dentária, impedindo danos aostecidos adjacentes, sendo indicado a realização desutura gengival com fio absorvível.

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Transferência embrionária em bovinos leiteiros na Ilha Graciosa (Açores):programa experimental de transferência de embriões sexados e congeladosda raça Holstein Frísia

Embryo transfer in dairy cattle at Graciosa Island (Azores): an experimentaltrial of sexed and frozen-thawed transfer of Holstein Friesian embryos

João Chagas e Silva*

Secção de Reprodução e Obstetrícia/CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária,Avenida da Universidade Técnica, Polo Universitário da Ajuda, 1300-477 Lisboa, Portugal

Resumo: A transferência de embriões obtidos in vivorepresenta a 2ª geração das tecnologias reprodutivas e é aplicada comercialmente, no caso dos bovinos, há mais de 30anos. Actualmente, são transferidos em todo mundo, mais demeio milhão desse tipo de embriões, o que representa um significativo negócio internacional. A Secretaria Regional daAgricultura e Florestas do Governo da Região Autónoma dosAçores, através da sua Direcção Regional do DesenvolvimentoAgrário, tendo em conta o elevado estatuto sanitário e o apre-ciável efectivo bovino leiteiro da Ilha Graciosa, considerou-acomo cenário privilegiado para a execução de um programaexperimental de transferência de embriões sexados e congela-dos. Foram transferidos, ao longo de um período de 16 meses,um total de 76 embriões congelados, 65 sexados e 11 não sexados. Os resultados agora registados, face aos obtidos poroutros autores, podem ser considerados bastante bons: 63,1%(41/65) de taxa de gestação aos 45-60 dias para os embriõessexados e 63,6% (7/11) para os não sexados. Este facto revelaque, nas condições de maneio produtivo a que as novilhas daIlha Graciosa estão sujeitas, é possível a transferência comsucesso de embriões sexados e congelados.

Summary: Embryo transfer collected in vivo is the second generation of reproductive biotechnologies and has been usedon cattle farms for more than thirty years. More than 500.000embryos of these kinds are transferred worldwide annually,which represents a great international trade. The RegionalSecretary of Agriculture and Forestry from Government ofAzores, by the way of its Regional Direction of AgriculturalDevelopment, considering the high sanitary level and the number of dairy cattle females, chose Graciosa Island as theright location for the implementation of an experimental program of transfer of sexed and frozen Holstein Friesianimported embryos. 76 frozen-thawed embryos have been transferred, during a 16 months’ time period, 65 sexed and 11non sexed. The results obtained in this experimental work maybe considered good, compared to the field trials from othersworkers: 63,1% (41/65) of 45-60 days pregnancy rate withsexed embryos and, 63,6% (7/11) with non sexed embryos.

These results show that it was possible, with success, to transfersexed frozen-thawed Holstein Friesian imported embryos to virgin heifers recipients raised on local management conditionsof Graciosa Island.

Introdução

Há mais de três décadas que a transferência deembriões (TE) obtidos in vivo é aplicada comercial-mente nos bovinos (Thibier, 2005). Relativamente àinseminação artificial (IA), apesar dos custos de apli-cação serem superiores e a eficiência inferior, o futuroda TE encontra-se garantido, pois está intimamenteassociado a programas de melhoramento genético,sendo de registar que a grande maioria dos touros IAde todo o mundo, são obtidos através dela. É igual-mente ferramenta privilegiada para a conservação exsitu de genes de espécies/raças ameaçadas de extinçãoe ainda, com o desenvolvimento de protocolos eficientes de congelação-descongelação, tem vindo ademonstrar ser a forma mais segura, em termos sanitários, de intercâmbio de genes entre regiões econtinentes (Hasler, 2003; Thibier, 2005). Em 2002,foram transferidos em todo o mundo, 538 312embriões bovinos colhidos in vivo (Thibier, 2002),valor (ainda que sub-estimado, pois inúmeras equipasde TE não fornecem dados) que revela, desde 1975,uma tendência para estabilização (Thibier, 2005) erepresenta um expressivo negócio de cariz interna-cional (Hasler, 2003).

Em Portugal, a bovinicultura leiteira valoriza muitomais as vitelas (para substituição ou para venda) queos machos (quase sem valor comercial, com excepçãodos raros que são recrutados por Centros de IA). Osvitelos obtidos por TE representam pois, globalmente,um sério prejuízo económico para a exploração leiteira (Lopes da Costa et al., 2002).

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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*Correspondência: [email protected]. +351213602053; Fax +351213652827

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A utilização de embriões sexados permite aumentara eficiência económica dos programas de TE (Willette Hillers, 1994) e a taxa de ganho genético, quer aonível de uma exploração, quer de um núcleo deselecção (Colleau, 1991). A determinação do sexo deembriões pré-implantação de bovinos com recurso àtécnica da reacção em cadeia da polimerase (PCR) eprotocolo electroforético (Shea, 1999) ou não-electro-forético (Bredbacka, 1998) é um serviço oferecido poralgumas unidades comerciais de TE, revelando ele-vadas taxas de eficiência e de precisão (Hasler, 2003).Porém, a necessidade da obtenção de uma biópsiaembrionária (6-8 blastómeros) exige um técnicoexperimentado (Hasler, 2003), eleva o risco de conta-minação do embrião por agentes patogénicos(Wrathall e Sutmöller, 1998) e diminui a sua viabili-dade após a congelação (Shea, 1999).

A Ilha Graciosa, uma das nove ilhas do arquipélagodos Açores, situada no extremo noroeste do GrupoCentral (Longitude 28º 05’ W e Latitude 39º 05’ N),possui um elevado estatuto sanitário, sendo considera-da Ilha oficialmente indemne de brucelose (Decisãoda Comissão nº 2002/588/CE, de 11 de Junho), de tuberculose e leucose, facto que poderá estar associado, até ao momento, à ausência de uma expres-siva importação de animais vivos do exterior. Aimportância de manter esse estatuto sanitário aliada ànecessidade de promover o melhoramento genético,de uma forma rápida e sustentada, levou a SecretariaRegional da Agricultura e Florestas, do Governo daRegião Autónoma dos Açores, através da sua DirecçãoRegional do Desenvolvimento Agrário, a assinar umprotocolo de cooperação com a Faculdade deMedicina Veterinária de Lisboa. Foi então, delineado eexecutado, por um período inicial de 18 meses, umPrograma Experimental de Transferência Embrionáriaem Bovinos Leiteiros, naquela Ilha, com a finalidadede aferir resultados do uso da técnica para a obtençãode fêmeas de elite, a partir da aquisição de embriõescongelados da raça Frísia Holstein (na sua grandemaioria sexados), adaptadas às condições ambientaislocais, que poderão vir a contribuir decisivamente,para o melhoramento genético dos efectivos leiteirosda região.

Material e métodos

Os trabalhos decorreram entre Janeiro de 2008 e Maio de 2009, distribuídos por 4 períodos de trans-ferências embrionárias: Fevereiro de 2008, Abril de2008, Janeiro de 2009 e Abril de 2009.

Embriões

Foram adquiridos 65 embriões sexados e congeladospara transferência directa: 43 de origem canadiana,

provenientes de 13 diferentes emparelhamentos eprocessados por 4 equipas de TE distintas; e 22 deorigem francesa, de 6 emparelhamentos, processadospor uma única equipa. Todos os embriões tinham 7dias (dia 0 = dia do cio superovulatório - SOV).

Adicionalmente, foram adquiridos 11 embriões nãosexados e congelados para transferência directa, de 4emparelhamentos diferentes, processados por únicaequipa e pertencentes ao Núcleo OMTE (OvulaçãoMúltipla e Transferência Embrionária) Juvenil daextinta Divisão de Selecção e Reprodução Animal(Venda Nova-Amadora). Todos os embriões tinham7,5 dias (dia 0 = dia do cio SOV).

Animais

Maneio geral das novilhas na Ilha

Na Ilha Graciosa, as fêmeas são enviadas para apastagem ("os cerrados") a partir dos três meses deidade e aí permanecem até parirem. Durante todo ano,as novilhas alimentam-se dos pastos, sem qualquersuplementação, com excepção dos meses de Julho eAgosto. Nesse período, com os pastos secos, é-lhesfornecida silagem de milho ou de erva e feno deazevém. Não é administrado concentrado.

Em função da qualidade da pastagem, são visitadasde 4 em 4 ou de 8 em 8 dias, para mudança das cercasou de pastagem. De uma forma geral, as novilhas sãobeneficiadas por cobrição.

As fêmeas seleccionadas para o programa eramtodas novilhas, na sua grande maioria da raça Frísia,com idades compreendidas entre os 14 e os 24 mesese pelo menos 350 kg de peso vivo.

Profilaxia médica e sanitária

As novilhas disponibilizadas (n = 263), pertencentesa 20 produtores, foram desparasitadas com fenbenda-zole (7,5 mg/kg de peso vivo, administrados por viaoral, em dose única, Panacur® Suspensão 10%,Intervet Portugal-Saúde Animal, Lda.), vacinadas contra o IBR/IPV com a vacina viva e marcadaBovilis® IBR (2 mL de vacina reconstituída, adminis-trados por via IM, Intervet Portugal-Saúde Animal,Lda.) e sujeitas a uma colheita de sangue parapesquisa do antigénio BVD para a identificação eeliminação de animais persistentemente infectados.Estas intervenções ocorreram sempre, a mais de 3semanas da data das transferências.

Selecção das novilhas

As fêmeas foram seleccionadas para o programa desincronização de cios em função da sua condição corporal (≥ 2,25 e < 4) e ciclicidade (só foramaprovadas, as fêmeas cíclicas) (n = 136).

As novilhas foram sujeitas a um exame do estadogeral e a um exame ginecológico, tendo sido elimi-

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nadas todas as novilhas que não pudessem ser admitidas no programa de sincronização ou que dealguma forma inviabilizassem uma transferênciaembrionária (n = 127).

Protocolo de sincronização e de detecçãode cios

O protocolo de sincronização de cios escolhido foio da dupla aplicação de dose luteolítica de um análogode síntese da PGF2alfa (2 mL administrados por viaIM, com onze dias de intervalo, Veteglan, CalierPortugal, S.A.).

A detecção dos cios teve início 24 horas após asegunda administração do análogo de síntese daPGF2alfa e prolongou-se por 3 dias (com, pelo menos,três períodos de observação diários, de cerca de 30minutos cada), tendo sido os respectivos proprietáriosos responsáveis pelo registo da data e hora dos eventos comportamentais e físicos da fêmea em cio.Só foram aceites para TE as novilhas com uma assincronia de +12 horas a –12 horas (n = 99), relati-vamente à idade do embrião a transferir.

Transferência directa dos embriões

As transferências foram executadas sempre pelomesmo técnico e tiveram lugar em 4 locais distintos: 2explorações particulares, com "cornadis" como dis-positivo de imobilização das fêmeas (pelo pescoço ediante da mangedoura) e 2 estações de pesagem deanimais, dispondo cada uma delas do seu tronco balança.

Todas as novilhas com cio detectado e registo dereflexo de imobilização (RI) foram sujeitas a umexame ginecológico prévio para a identificação, localização e avaliação de um corpo lúteo (CL) comdesenvolvimento adequado, relativamente ao dia daTE (dia 7 do ciclo éstrico).

As fêmeas seleccionadas (n = 76) foram imobi-lizadas, com os membros anteriores elevados 35 cm,relativamente ao pavimento e foram sujeitas a umaanestesia epidural baixa com cloridrato de lidocaína (5 mL por animal, Anestesin®, Laboratório Sorológico,Portugal).

Os embriões foram descongelados de acordo com oprotocolo aconselhado pela equipa de TE responsávelpelo seu processamento e transferidos por via não-cirúrgica com auxílio da cânula de transferênciaminiaturizada Cassou (IMV Technologies, L’ Aigle,France), um por receptora, para o corno uterino ipsilateral ao ovário com o CL, profundamente e semprovocar traumatismo (Figura 1). Entre a desconge-lação do embrião e o final da transferência foram dispendidos entre 5 a 12 minutos (7,63 ± 0,15 minutos).

Diagnóstico de gestação

O diagnóstico de gestação realizou-se por palpaçãotransrectal aos 45-60 dias (dia 0 = dia do cio da recep-tora) e foi efectuado sempre pelo mesmo técnico.

Foi aconselhado aos proprietários de receptorassujeitas à TE que mantivessem o sistema de detecçãode cios para registo de eventuais situações de retornoao cio, aos 12 dias após a transferência e por um período de 5 dias. A detecção inequívoca de um ciodeveria ser aproveitada para a beneficiação da fêmea.

Análise estatística

Na análise dos dados foi usado um programa informático de estatística (SPSS® Statistics, versão17.0). Para além dos métodos descritivos (Média ±E.P.) foi utilizado o Teste de Mann-Whitney U nacomparação de idades e de condição corporal entrereceptoras aprovadas e rejeitadas para o programa desincronização de cios e entre as aprovadas e rejeitadaspara TE, em virtude da distribuição não paramétricados dados. O Teste de Qui-Quadrado de Pearson foiusado na comparação das taxas de gestação em funçãoda origem do embrião sexado (Correcção de Yates) eem função da época da TE. O nível de significânciafoi determinado para um grau de confiança de 5% (p < 0,05).

Resultados

Das 263 novilhas pertencentes a 20 produtores, comidade e condição corporal médias de 18,01 ± 0,31meses e 2,60 ± 0,02, respectivamente, apresentadaspara o programa de desparasitação e vacinação, apenas 136 (idade e condição corporal médias, respec-tivamente de 17,53 ± 0,37 meses e de 2,63 ± 0,03),

Figura 1 - Transferência não-cirúrgica com recurso à cânula de trans-ferência miniaturizada Cassou.

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pertencentes a 19 produtores, foram seleccionadaspara a fase seguinte. As causas para a rejeição de 127fêmeas (idade e condição corporal médias, respectiva-mente de 18,52 ± 0,50 meses e de 2,55 ± 0,04) foramas seguintes: gestação (39); anestro (31); deficientecondição corporal (27); free-martinismo (7); quistosováricos (6); infecção por descorna (3); idade exces-siva (3); infantilismo genital (3); útero unicórnio (2);aplasia segmental (2); fotossensibilização (1);agenésia ovárica (1); fêmea repetidora (1); e luxaçãoda bacia (1).

As receptoras aprovadas para o programa de sincronização revelaram, relativamente às nãoaprovadas, diferenças não significativas quanto àidade (17,53 ± 0,37 versus 18,52 ± 0,50 meses, p >0,05), mas significativas quanto à condição corporal(2,63 ± 0,03 versus 2,55 ± 0,04, p < 0,01).

Noventa e nove das novilhas tratadas com PGF2alfa(72,8%) foram detectadas pelos seus proprietários (n =17) como tendo revelado RI e a sincronia desejada.Previamente à TE, todas elas foram sujeitas a umexame ginecológico para ser avaliada a sua adequaçãoà condição de receptora, tendo sido eliminadas 23fêmeas (23,2%) pelas seguintes razões: anovulação (n = 7); cobrições não desejadas (n = 6); quistos ováricos (n = 5); anestro (n = 2); CL de desenvolvi-mento inadequado (n = 2; e deficiente condição corporal (n = 1).

Não foram registadas diferenças significativas entrea idade e a condição corporal das receptoras aprovadas

para TE e as rejeitadas (17,46 ± 0,52 meses e 2,67 ±0,04 versus 16,93 ± 0,66 meses e 2,57 ± 0,06, p >0,05).

Por conseguinte, foram realizadas 76 TE, para asquais se utilizaram 65 embriões sexados, 43 canadia-nos e 22 franceses e, os 11 não sexados, de origem portuguesa. Os dados relativos à eficiência do processo e as taxas de gestação aos 45-60 dias paracada um dos tipos de embrião e para as diferentesépocas de transferência são apresentados nos Quadros1 a 3.

Apesar de numericamente superior, a taxa de gestação obtida com embriões sexados de origemcanadiana (67,4%) não foi significativamente diferente da obtida com os de origem francesa(54,5%) (p = 0,46). Não foram igualmente encon-tradas, diferenças significativas entre as taxas de gestação em função da época de TE (71,4% x 64,0% x56,3% x 57,1%, p = 0,76), a despeito de as duasprimeiras fases de TE terem revelado valores numeri-camente superiores.

Discussão e conclusões

A rejeição de 48,3% (127/263) das novilhas para oprograma de sincronização de cios resultou, essencial-mente, do elevado número de fêmeas gestantes, emanestro e com deficiente condição corporal. Estecenário sugere um medíocre controlo reprodutivo dos

Quadro 1 - Taxa de gestação em função do tipo de embrião

Tipo do Embrião Nº de Transferências Nº de Gestações Taxa de Gestação (%)

Sexado 65 41 41/65 (63,1)*

Não Sexado 11 7 7/11 (63,6)*

Totais 76 48 48/76 (63,2)* não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos (p > 0,05)

Quadro 2 - Taxa de gestação em função do tipo e origem do embrião

Tipo de Embrião Origem do Embrião Nº de Transferências Nº de Gestações Taxa de Gestação (%)

Sexado Canadiana 43 29 29/43 (67,4)*

Francesa 22 12 12/22 (54,5)*

Não Sexado Portuguesa 11 7 7/11 (63,6)* não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos (p > 0,05)

Quadro 3 - Taxa de gestação em função da época das transferências

Época das TE Tipo de Embrião Nº de Transferências Nº de Gestações Taxa de Gestação (%)

1ª Fase Sexado 17 13 13/17 (76,5)

Fev. 2008 Não Sexado 4 2 2/4 (50,0)

Totais 21 15 15/21 (71,4)*

2ª Fase Sexado 18 11 11/18 (61,1)

Abr. 2008 Não Sexado 7 5 5/7 (71,4)

Totais 25 16 16/25 (64,0)*

3ª Fase Sexado 16 9 9/16 (56,3)*

Jan. 2009

4ª Fase Sexado 14 8 8/14 (57,1)*

Abr. 2009* não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos (p > 0,05)

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efectivos no que às cobrições indesejadas diz respeitoe, igualmente, um aproveitamento por parte dos proprietários do programa gratuito de desparasitação evacinação, com a apresentação de animais sem ascondições ideais (por ex. idade e peso). O facto de aidade média das fêmeas reprovadas ter sido numerica-mente superior (ainda que a diferença não tenha sidosignificativa), em conjunto com uma condição corporal média inferior e significativamente diferente,relativamente às novilhas aprovadas, parece ter dadomaior evidência à eficiência do processo selectivo,quanto à eliminação das fêmeas menos capazes.

Por seu turno, a taxa de detecção de cios (72,8%) foiindicadora de boa eficácia dos produtores no registodos dados comportamentais e físicos das fêmeas queexibiram estro, tendo em conta as condições demaneio a que as novilhas estão sujeitas na Ilha. Porém,onze das eliminadas para TE (47,8%: anovulação – 7;anestro – 2; e CL de desenvolvimento inadequado – 2)poderão tê-lo sido em virtude de uma incorrecta inter-pretação dos sinais de cio. No entanto, na globalidade,os produtores demonstraram que foram capazes dealterar a rotina habitual das suas explorações de formaa respeitarem as exigências de um correcto protocolode detecção visual de cios.

São vários os trabalhos que referem resultados decampo com embriões sexados e congelados: Chagas eSilva e Cidadão (1997) obtiveram uma eficiência de54,5%, após a transferência de 22 embriões da raçaFrísia Holstein, importados do Canadá; Shea (1999)registou uma taxa de gestação de 37% (91/244) entre1992 e 1997 e atribuíu a baixa eficiência à falta deexperiência técnica, uma vez que, em 1998, ainda quecom apenas 29 transferências, já tinham melhorado osresultados para 66%; Lacaze et al. (2007), após atransferência de 205 embriões, ao abrigo de um programa comercial, conseguiram uma taxa de gestação de 51,7%.

Tendo em consideração os dados atrás referidos, opresente trabalho, com os registos de uma taxa de gestação global de 63,2% (48/76) e das parcelares de63,1% (41/65) para os embriões sexados e de 63,6%(7/11) para os embriões não sexados, revelou elevadaeficiência.

Os resultados agora obtidos indicam que, nascondições de maneio produtivo a que as novilhas daIlha Graciosa estão sujeitas, é possível a transferência,com sucesso, de embriões sexados e congelados.

Porém, apenas foi ultrapassada a primeira fase doPrograma. Resta esperar que os proprietários, com acolaboração/supervisão dos Serviços, saibam recriareficientemente, as fêmeas de elite que já estão anascer, de forma que as mesmas possam expressarcabalmente o seu potencial genético, quer em termosde produção de embriões de 2ª geração, perpetuando ociclo com menores custos, quer em termos produtivos.

Agradecimentos

O autor agradece ao Director Regional doDesenvolvimento Agrário, Eng. Joaquim Pires, o con-vite para elaborar um protocolo de colaboração entrea Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário e aFaculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, para oque garantiu todas as condições necessárias àobtenção dos resultados agora registados.

Agradece igualmente ao Presidente do ConselhoDirectivo da Faculdade de Medicina Veterinária, Prof. Doutor Luís Tavares, a autorização para a participação/execução da componente técnica do protocolo e pelo apoio a cada momento.

À Eng. Ana Luísa Pavão (DRDA) e ao Eng. HélderBettencourt (SDAG) pela colaboração na elaboraçãodo protocolo, na selecção e acompanhamento dos produtores nas várias fases do trabalho de campo e,sobretudo, pelo espírito de equipa que se estabeleceu.

A todos os técnicos do SDAG que, de algumaforma, participaram no Programa, pois também a elesse devem os resultados agora obtidos.

A todos os produtores que cederam as suas novilhaspara receptoras e que, interiorizando as exigências datecnologia, contribuiram activamente para o sucessodesta fase do Programa

Por fim, à Prof. Doutora Isabel Neto pela ajuda notratamento estatístico dos dados.

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Exatidão da ultra-sonografia para diagnóstico de gestação aos 28 dias apósinseminação e sua contribuição na eficiência reprodutiva em fêmeas Neloree cruzadas

Accuracy of the ultrasonography for pregnancy diagnosis at 28 days afterinsemination and its contribution in the reproductive efficiency on Neloreand crossbred females

Adriana Gradela1*, Thiago Danieli2, Tiago Carneiro3, Denílson Valin Torres3,Cássio Roberto Gradela4, Vanessa Sobue Franzo5

1Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Ciências Agrárias, Petrolina-PE, Brasil.2Curso de Medicina Veterinária, Unicastelo, Descalvado, SP, Brasil.

3DG Torres, São João da Boa Vista, SP, Brasil.4Médico Veterinário Autônomo. Naviraí, MS, Brasil.

5Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína, Araguaína-TO, Brasil.

Resumo: Este estudo avaliou a acurácia do diagnóstico de gestação em fêmeas cruzadas (G1) e Nelore (G2) aos 28 diasapós inseminação e seu efeito sobre perdas embrionárias e a eficiência reprodutiva. A acurácia do método foi obtida calcu-lando-se a sensibilidade, especificidade e valores preditivospositivo e negativo (VPP e VPN). Fêmeas que não retornaramao estro entre 18 e 24 dias após a primeira inseminação (n= 170)foram examinadas por ultra-sonografia no dia 28 e por palpaçãotransretal no dia 42 para confirmação da gestação. As não prenhes receberam prostaglandina e uma segunda inseminaçãoapós visualização do estro. Das 44% (22/50; G1) e 80%(96/120; G2) prenhes à primeira inseminação, 0% retornou aoserviço, 0% apresentou perdas embrionárias e 0% apresentouabortamentos, resultando numa taxa de parição de 69,4%(118/170). Das 100% (28/28; G1) e 100% (24/24; G2) prenhesà segunda inseminação, 0% retornou ao serviço, 0% apresentouperdas embrionárias e 0% abortamentos, resultando numa taxade parição de 100% (52/52). A taxa de parição total foi de 100%(170/170) e o intervalo de partos foi reduzido de 15 para 12,9meses. A sensibilidade, a especificidade e VPP e VPN foram de100%, sem a ocorrência de dúvidas ou erros. Este estudo sugere que a ultra-sonografia aos 28 dias após inseminação éexata para o diagnóstico precoce de gestação, não causa perdasembrionárias e, quando associada à re-sincronização do estro,contribui para o aumento da eficiência reprodutiva.

Palavras-chave: acurácia, ultra-sonografia, sensibilidade,especificidade, VPP, VPN

Summary: This study evaluated the accuracy of pregnancydiagnosis in crossbred (G1) and Bos indicus (G2) females at 28days after insemination and its effect on embryonic losses and

reproductive efficiency. The accuracy of the method wasobtained calculating sensibility, specificity, positive and nega-tive predictive values (PPV and NPV). Females that did notreturn to estrus between 18 and 24 days after the first insemina-tion (n = 170) were examined by ultrasound at day 28 and bytransrectal palpation at day 42 for confirmation of pregnancy.The non pregnant received prostaglandin and a second insemi-nation after viewing of estrus. Of 44% (22/50; G1) and 80%(96/120; G2) pregnant at first insemination, 0% returned toservice, 0% showed embryonic losses and 0% had abortions,resulting in a calving rate of 69.4% (118/170). Of 100% (28/28;G1) and 100% (24/24; G2) pregnant at the second insemination,0% returned to service, 0% showed embryonic losses and 0%had abortions, resulting in a calving rate of 100% (52/52). Thetotal birth rate was 100% (170/170) and the calving interval hasbeen reduced from 15 to 12.9 months. The sensitivity, specifici-ty, PPV and NPV were 100% without any occurrence of questions or errors. This study suggests that ultrasound at 28 days after insemination is accurate for the early diagnosis of pregnancy, does not cause embryonic losses and, when combined with resynchronization of estrus, contributes to theincrease in reproductive efficiency.

Keywords: accuracy, ultrasound, sensibility, specificity, PPV,NPV

Introdução

O diagnóstico de gestação é um componente chavedos programas de manejo reprodutivo de rebanhos que visam melhorar o desempenho reprodutivo(Thompson et al., 1995), pois contribui para adiminuição do tempo para re-inseminação de vacasvazias e, conseqüentemente, para redução dos diasabertos (Oltenacu et al., 1990). Ademais, o diagnósti-co precoce da gestação torna-se aconselhável quando

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CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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protocolos para sincronização do estro com insemi-nação artificial em tempo fixo (IATF) e transferênciade embriões são utilizados. Nestes casos, os animaisnão prenhes podem ser alocados em novo protocolo desincronização ou no rol de receptoras muito mais rapidamente, o que pode desempenhar uma funçãochave numa estratégia de manejo reprodutivo paraoperações comerciais com gado bovino.

Os benefícios econômicos do diagnóstico de gestação dependem de vários fatores como: o períodoem que o diagnóstico é realizado após inseminação, aacurácia do diagnóstico, seu efeito na mortalidadeembrionária, a eficiência da detecção do estro e asmedidas adotadas quando as vacas são encontradasvazias (De Vries et al., 2005). Embora a palpaçãotransretal seja ainda o mais popular método para diagnosticar se vacas estão prenhes ou vazias, quandoelas não são vistas em estro (Rosenbaum e Warnick,2004), o uso da ultra-sonografia vem crescendo a cadaano (Fricke, 2002). A data para realização da ultra-so-nografia tem sido objeto de estudo (Pierson e Ginther,1984; Boyd et al., 1988; Kastelic et al., 1989; Badtramet al., 1991; Szenci et al., 1995; Nation et al., 2003),entretanto sem um consenso. Sabe-se que a acurácia écomprometida se os exames são realizados muito pre-cocemente (Kastelic et al., 1989; Badtram et al., 1991;Nation et al., 2003) e, embora melhores resultadostenham sido observados após o dia 25 pós-IA (Fissoreet al., 1986; Pieterse et al., 1990; Fricke, 2002),Nation et al. (2003) verificaram que diagnósticos realizados antes do dia 30 eram precoces e pouco confiáveis, devido ao risco de perdas embrionárias.

A diminuição da acurácia do diagnóstico pode levara conclusões errôneas, fazendo com que mais vacasverdadeiramente vazias sejam diagnosticadas comoprenhes (falso positivos) e mais vacas verdadeira-mente prenhes sejam diagnosticadas como vazias(falso negativos) (Badtram et al., 1991; Szenci et al.,1995; Filteau e Descôteaux, 1998). Erros no diagnós-tico geram altos custos, pois um diagnóstico falso positivo resulta em atraso na re-inseminação de vacasvazias (De Vries et al., 2005) e um falso negativo podelevar a abortamento se prostaglandina é administrada(Romano et al., 2004; De Vries et al., 2005). Como ocusto de um animal prenhe ser induzido ao aborta-mento é muito maior, um teste de prenhez deve apresentar valor preditivo negativo (VPN) de 100%(De Vries et al., 2005). Ademais, altos valores de sensibilidade e especificidade são desejáveis, devidoao grande impacto econômico que causam, poisaumento da sensibilidade e especificidade de 95%para 97,5% resulta num ganho de U$0,10 a U$4,70por vaca (Oltenacu et al., 1990), enquanto que umaredução na sensibilidade e especificidade de 98% para92% reduz a receita líquida de U$0,10 a U$0,20 porvaca por ano (De Vries et al., 2005).

Com base em dados da literatura e diante da falta de consenso sobre a melhor data para realização do

diagnóstico precoce de gestação, este estudo teve por objetivo avaliar a acurácia da ultra-sonografiatransretal aos 28 dias pós-IA e seu efeito sobre perdasembrionárias e a eficiência reprodutiva em fêmeascruzadas e Nelore.

Material e métodos

Foram utilizadas fêmeas Girolando (Bos taurus XBos indicus) (n=50, G1), em regime confinado de criação da parição até a secagem e sediadas nomunicípio de São João da Boa Vista/SP, localizada auma latitude de 21º 58´ 0´´ S, longitude de 46º 47´ 0´´O e altitude de 767 m e Nelore (Bos indicus) (n= 120,G2), criadas em regime extensivo no município deNaviraí/MS, localizado a uma latitude de 23º 8´ 0´´ S,longitude de 54º 13´ 0´´ O e altitude de 362 m. Emambos os grupos, o intervalo entre partos (IDP) dosanimais era de 15,08 ± 3,90 meses. Após um períodode espera voluntário da parição à primeira insemi-nação de 45 dias, o trato reprodutivo de cada animalfoi examinado por palpação transretal e ultra-sono-grafia para avaliação da involução uterina normal econdições de ciclicidade (presença de corpo lúteo).

Dez dias após esta avaliação, fêmeas cíclicas foramsubmetidas ao seguinte protocolo de IATF: no dia 0receberam um dispositivo intravaginal de liberação deprogesterona (CIDR®, Pfizer, Brasil) e uma injeção de2 mg de benzoato de estradiol (Estrogin®, Farmavet,São Paulo, Brasil) i.m.; no dia 7, 0,530 mg de cloprostenol sódico (Ciosin®, Schering-Plough,Brasil) i.m e no dia 9, o dispositivo foi removido e 1,0 mg de cipionato de estradiol (ECP, Pfizer, Brasil)i.m., administrado simultaneamente. No dia 11 (48 hapós a retirada do dispositivo) foram administradas400 UI de hCG (Vetecor®, Calier, Brasil) i.v. e a IArealizada 12 h depois com sêmen proveniente daLagoa da Serra, Sertãozinho-SP, e por um insemi-nador experiente.

Animais que não retornaram ao estro entre 18 e 24dias após inseminação (n=170) foram examinados porum técnico experiente para diagnóstico da gestaçãopor ultra-sonografia transretal (Aloka® Modelo SSD500 e sonda de 5 MHz) no dia 28. A visualização davesícula embrionária, do concepto e de sua viabilidade(Curran et al., 1986; Kastelic et al., 1988) através daecogenicidade do líquido amniótico e presença de batimentos cardíacos (Fissore et al., 1986) foi considerada como prenhez positiva. Aos 42 dias odiagnóstico foi confirmado por palpação transretal.Um animal diagnosticado como prenhe no primeiroexame, mas como não prenhe no segundo exame, devido à alteração da econogenicidade do líquidoamniótico e ausência de batimentos cardíacos (Fissoreet al., 1986), foi estabelecido como morte embrio-nária. Quando o diagnóstico era negativo aos 42 diasapós a inseminação, os animais foram tratados com

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prostaglandina F2α (PGF2α) e inseminados após a visu-alização do estro.

Foram calculadas as taxas de prenhez, de morteembrionária (total de prenhes aos 28 dias - total deprenhes aos 42 dias/total de animais avaliados x 100);abortamento (total de prenhes aos 42 dias - total deparidas/total de animais avaliados x 100); de dúvidas(diagnósticos inconclusivos decorrentes de artefatosde técnica, animais inquietos e da dificuldade devidoao posicionamento do trato genital entre animaiscruzados e puros/total de avaliações x 100); de erros(total de falsos positivos e negativos/total de avaliaçõesx 100) e de acertos (total de prenhes e não prenhescorretamente identificadas/total de avaliações). Paraanalisar os resultados foi utilizado o teste quiquadrado(X2) com nível de significância de 0,05%. Nas situações em que os valores foram menores do que 5utilizou-se o Teste de Fisher.

Os resultados ultra-sonográficos foram comparadoscalculando-se a sensibilidade, a especificidade e osvalores preditivos positivo (VPP) e negativo (VPN)usando uma tabela de contingência 2x2. A sensibili-dade é a probabilidade que a vaca prenhe seja diagnosticada como positiva pelo ultra-som, a especi-ficidade é a probabilidade de que o ultra-som tenhadetectado uma vaca vazia, o VPP é a probabilidade deque a vaca detectada como prenhe está realmenteprenhe, enquanto que o VPN é a probabilidade de queuma vaca não prenhe é detectada como vazia pelométodo do ultra-som (Broaddus, 2006).

Resultados

Os resultados dos exames ultra-sonográficos paraavaliar as taxas de gestação, perdas embrionárias,abortamentos e animais paridos após a primeira esegunda inseminações são apresentados na Tabela 1.Aos 28 dias após a primeira inseminação, as taxas deprenhez foram menores (p<0,05) no GI (44%) do queno G2 (80%) e, das 170 fêmeas avaliadas, 69,4%(118/170) foram classificadas como prenhes e 30,6%

(52/170) como não prenhes e aos 42 dias esses índicesforam mantidos à palpação transretal. Aos 28 diasapós a segunda inseminação, as taxas de prenhez nãodiferiram (p>0,05) entre os G1 (100%) e G2 (100%) eaos 42 dias esses índices também foram mantidos àpalpação transretal.

As taxas de dúvidas, erros e acertos no diagnósticoprecoce de gestação não diferiram entre os grupos(p>0,05) tendo sido de 0%, 0% e 100% em ambos osgrupos. Deste modo, a sensibilidade, a especificidade,o VPP e o VPN foram todos de 100%, resultandonuma acurácia (proporção de prenhes e não prenhescorretamente identificadas) de 100%.

As taxas de perdas embrionárias e abortamentos nãodiferiram entre os grupos (p>0,05) tendo sido de 0% e0%, respectivamente, após as duas inseminações.Deste modo, ambos os grupos apresentaram, após orepasse da IA, taxa de prenhez total de 100% (p>0,05)e o IDP foi reduzido de 15 para 12,9 meses em ambosos rebanhos.

Discussão

Embora alguns estudos tenham sugerido a possibilidade de diagnóstico de gestação usando ultra-sonografia transretal aos 25 ou 26 dias de gestação (Fissore et al., 1986; Pieterse et al., 1990;Barros e Visintin, 2001; Fricke, 2002), poucos abor-daram a acurácia (sensibilidade, especificidade, VPP eVPN) do método. Este foi o objetivo deste estudo quetambém avaliou as conseqüências práticas do diagnós-tico precoce da gestação, comparando-os em fêmeasbovinas cruzadas e Nelore.

O ultra-som foi capaz de detectar 100% das fêmeasprenhes aos 28 dias após a inseminação, as quaisforam confirmadas por palpação transretal aos 42dias. A sensibilidade foi ligeiramente superior à relata-da por Pieterse et al.. (1990) entre os dias 26 e 33(97,7%), Hanzen e Laurent (1991) entre 26 e 70 diaspós-IA (97%), Nation et al. (2003) entre os dias 28 e35 de gestação (96%) e Real et al. (2006) entre os dias

Tabela 1 - Taxas de gestação, de perdas embrionárias e de abortamentos aos 28 (por ultra-sonografia) e 42 dias (por palpação tran-sretal) após a primeira e segunda inseminações artificiais e taxa de prenhez total de fêmeas Girolando (G1) e Bos indicus (G2)

Grupos G1 G2 Total

Categorias (n=50) % (n=120) % (n=170) %

Animais gestantes aos 28 dias pós-1ª IA 22 44a 96 80b 118 69,4

Perdas embrionárias 0 0a 0 0a 0 0

Animais gestantes aos 42 dias pós-1ª IA 22 44 96 80 118 69,4

Abortamentos 0 0 0 0 0 0

Animais gestantes aos 28 dias pós-2ª IA 28 100 24 100 52 100

Perdas embrionárias 0 0 0 0 0 0

Animais gestantes aos 42 dias pós-2ª IA 28 100 24 100 52 100

Abortamentos 0 0 0 0 0 0

Animais paridos 50 100 120 100 170 100a,b Valores na mesma linha indicam diferença estatística (p < 0,05).

IA

1ª IA

2ª IA

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26 e 30 de gestação (79%). Apenas Filteau eDescôteaux (1998) após o dia 32 e Romano et al.(2003) observaram resultados semelhantes aos 29 diaspós-estro em vacas e aos 26 dias em novilhas. Aespecificidade foi de 100%, não tendo havido perdada capacidade de detecção de fêmeas vazias, ao contrário de outros relatos da literatura (Pieterse et al.,1990; Hanzen e Laurent, 1991; Real et al., 2006).Com isto, não foram observados falsos negativos oupositivos, reforçando a exatidão do método. Estesresultados contradizem outros relatos (Barros eVisintin, 2001; Romano, 2004), que atribuíram a ocor-rência de erros à maior dificuldade na interpretaçãodas imagens quando os batimentos cardíacos não sãoobservados. A persistência de falsos positivos duranteos estágios iniciais da prenhez pode explicar porque a especificidade e o VPP nunca atingem 100%(Romano, 2004). Neste estudo, a não ocorrência deerros resultou em VPP e VPN máximos, fato apenasobservado por Filteau e Descôteaux (1998) e Szenci etal. (1999) em relação ao VPN.

No presente estudo, o exame ultra-sonográfico nãoocasionou morte embrionária (Ball e Logue, 1994;Hughes e Davies, 1989; Barros e Visintin, 2001), contradizendo o observado por Nation et al. (2003) eVasconcelos et al. (1997), que consideraram, respecti-vamente, os períodos de 28 a 35 dias e 28 a 42 diasapós inseminações precoces para detecção segura da gestação, devido à alta incidência de mortalidadeembrionária. Isto se deveu à facilidade de visualizaçãodos batimentos cardíacos e à experiência do técnicoem não ocasionar trauma à vesícula amniótica, poismanipulações excessivas do trato genital foram evi-tadas, e sugere que aos 28 dias a técnica pode serinócua para a detecção precoce da gestação.

O tratamento de fêmeas não prenhes com prosta-glandina aos 42 dias após a IA diminuiu o intervaloentre partos dos animais estudados, o qual foi inferiorao reportado tanto para fêmeas Nelore (Souza et al.,1994; Gonçalves et al., 1996; Viu et al., 2008) comoGirolando (Facó et al., 2005; Ruas et al., 2007;McManus et al., 2008). Entretanto, a exatidão do diagnóstico aos 28 dias após inseminação permiteinferir que a PGF2α poderia ter sido administrada nestedia sem a necessidade de confirmação do diagnósticoaos 42 dias após IA, o que teria reduzido ainda mais ointervalo entre partos.

Este estudo demonstra a exatidão da ultra-sono-grafia transvaginal aos 28 dias após inseminação, poisdúvidas ou erros são eliminados se os batimentoscardíacos fetais são visualizados, resultando em altosVPP e VPN. A ultra-sonografia não causa morteembrionária e, se associada à re-sincronização doestro, contribui para o aumento da eficiência reprodu-tiva, aumentando as taxas de prenhez e reduzindo ointervalo entre partos.

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Estudo do balanço eletrolítico alimentar para suínos machos castrados emacabamento mantidos em ambiente de alta temperatura

Study of feed electrolyte balance of finishing castrated male pigs underhigh environmental temperature

Anilce A. Bretas1*, Rony A. Ferreira2, Patrícia C.B. Vale1, Humberto P. Couto3,Walter E. Pereira4

1Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)Avenida Alberto Lamego, 2000. Campus dos Goytacazes-RJ CEP: 28013-600

2Faculdade de Ciências do Departamento de Zootecnia Campus II – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)3Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)

4Centro de Ciência Agrária – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Resumo: Avaliou-se o efeito do Balanço Eletrolítico (BE) emrações com diferentes níveis eletrolíticos para suínos na fase determinação (acabamento) criados em alta temperatura. Foramutilizados 200 suínos machos castrados com peso médio de68,8±3,4 kg, distribuídos em delineamento experimentalinteiramente aleatório, com cinco tratamentos: T1s/supl raçãosem suplementação de eletrólitos com 191 mEq/kg; T2 raçãosuplementada com bicarbonato de sódio com 250 mEq/kg; T3ração suplementada com NaHCO3 e cloreto de potássio 250mEq/kg; T4 ração suplementada com NaHCO3 300 mEq/kg; eT5 ração suplementada com NaHCO3 e KCl 300 mEq/kg.Utilizando quatro repetições, sendo 10 animais por unidadeexperimental. No encerramento do experimento o peso médiofoi 110,1 ± 2,6 kg. As variáveis avaliadas foram consumo deração (CR), ganho de peso (GP), consumo de nitrogênio (CN),consumo de lisina (CL), eficiência de utilização de nitrogêniopara ganho (EUNG), eficiência de utilização de lisina paraganho (EULG), conversão alimentar (CA) e os parâmetros fisiológicos frequência respiratória (FR), temperatura retal(TR). A temperatura média manteve-se em 29,34±2,06 °C comumidade relativa (UR) do ar de 70,4 ± 9,2% e TGN de 31,59 ±2,53 °C e ITGU em 80,98 ± 2,89. Os níveis de BE melhoraram(P<0,05) o GP, CL e a EULG. Os demais parâmetros de desem-penho avaliados não foram afetados pelos tratamentos (P>0,05).A suplementação com 250 ou 300 mEq/kg com bicarbonato desódio e/ou cloreto de potássio pode ser usada para corrigir obalanço eletrolítico no stresse calórico.

Palavras-chave: equilíbrio ácido-base, suínos, stresse calórico,bicarbonato de sódio, cloreto de potássio

Summary: The effect of Dietary Electrolyte Balance (EB) inrations with different levels of electrolytes for growing swineunder high environmental temperatures was evaluated. Twohundred male castrated pigs with initial average weight of25,3±1.3 kg were allocated in five treatments, using a completely randomized experimental design: T1 diet withoutsupplemented electrolyte 191with mEq/kg; T2 diet supplemented

with sodium bicarbonate (NaHCO3) with 250 mEq/kg; T3 dietsupplemented with NaHCO3 and potassium chloride (KCl) with250 mEq/kg; T4 diet supplemented with NaHCO3 with 300 mEq/kg; T5 diet supplemented with NaHCO3 and KCl 300 mEq/kg. Ten pigs and 4 replications were used per experi-mental unit. The study was finished when the average weight ofthe animals was 110.1±2.6 kg. The performance parametersevaluated were the feed intake, the daily gain (DG), finishedweight, nitrogen intake, lysine intake (LI), efficiency of N utilization for weight gain, efficiency of L utilization for weightgain (ELUWG) and the gain:feed ratio and physiologic parameters to respiratory frequency and rectal temperature. Theaverage temperature was 29.34±2.06 °C with relative humidityof 70.4 ± 9.2% and black globe temperature of 31.59 ± 2.53 °Cand black globe humidity index calculated 80.98 ± 2.89. Thelevels of EB improved (P<0.05) the DG, LI and ELUWG. Theothers performance parameters evaluated weren’t influenced bytreatments (P>0.05). The supplementation with sodium bicar-bonate and or potassium chloride with 250 or 300 mEq/kg canbe used to correct electrolyte balance under heat stress.

Keywords: electrolyte balance, swine, heat stress, sodiumbicarbonate, potassium chloride

Introdução

A região Nordeste do Brasil possui um rebanhosuíno com alto potencial genético, porém com produ-tividade inferior em comparação às demais regiões dopaís, em virtude, principalmente, das característicasclimáticas da região (Carvalho et al., 2004). É impor-tante considerar a temperatura ambiente, como um dosprincipais elementos climáticos não só por causa doefeito direto sobre a intensidade das trocas térmicas,como indiretamente pela influência que exerce sobreos demais componentes do bioclima.

Segundo Perdomo (1998), a adequação do meiodeve ter caráter permanente, independentemente damaior ou menor habilidade genética do suíno, uma vez

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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*Correspondência: [email protected]

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que a estabilização e melhoria do conforto térmico sãofundamentais para elevar o nível de independência dasedificações em relação ao clima, visando a otimizaçãodo desempenho.

A manutenção do equilíbrio ácido-básico temgrande importância fisiológica e bioquímica, vistoque as atividades das enzimas celulares, as trocaseletrolíticas e a manutenção do estado estrutural das proteínas são profundamente influenciadas porpequenas alterações na concentração hidrogeniônica(H+) do sangue (Macari e Furlan, 1994). O balançoeletrolítico da ração pode exercer influência no equilíbrio ácido-básico e, consequentemente, afetar osprocessos metabólicos relacionados ao crescimento, àresistência a doenças, à sobrevivência ao stresse e aodesempenho do animal (Vietes et al., 2005).

Segundo Mogin (1980), o sódio, o potássio e ocloreto são fundamentais na manutenção da pressãoosmótica e equilíbrio ácido base dos líquidos corpo-rais. Como forma de prevenção para o desequilíbrioácido básico a suplementação de rações através do usode compostos como bicarbonato de sódio (NaHCO3) e cloreto de potássio (KCl) tem sido utilizada emregiões de clima quente. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivos avaliar o desempenho desuínos em terminação (acabamento) mantidos emcondições naturais de calor recebendo rações comdiferentes balanços eletrolíticos.

Material e métodos

Foram utilizados 200 suínos cruzados (Landrace XLarge White) machos castrados, em fase de acaba-mento, em delineamento experimental inteiramentealeatório, cinco tratamentos com diferentes níveis demEq/kg de ração suplementadas ou não com bicar-bonato de sódio e/ou cloreto de potássio e quatrorepetições, onde a unidade experimental foi compostapor 10 animais na baia. Os animais foram alojados emgalpão (alpendre) de alvenaria, coberto com telha defibrocimento em duas águas, sem forro, com piso decimento parcialmente ripado, dividido em baias iguaisde 3,25 m x 2,60 m cada baia, provido de bebedourotipo chupeta e comedouro fixo semi automático deconcreto com cinco divisões.

As rações experimentais (Tabela 1) foram formu-ladas seguindo as recomendações de Rostagno et al.(2005), preparadas à base de sorgo e farelo de soja,sendo que suas fórmulas serviram para satisfazer asexigências nutricionais de suínos machos castrados dealto potencial genético com desempenho médio nafase de terminação.

Foram utilizadas cinco rações experimentais T1(s/supl): ração sem suplementação de eletrólitos formulada com 191 mEq/kg; T2 (supl B): ração comsuplementação de bicarbonato de sódio (NaHCO3) ou(B) formulada com 250 mEq/kg; T3 (supl B+C): ração

Tabela 1 - Composição das rações experimentais

Ingredientes Tratamentos

1 2 3 4 5

Sorgo 72,680 71,900 71,415 71,484 70,479

Farelo de soja 19,600 19,600 19,600 19,600 19,600

Óleo de soja 3,400 3,400 3,400 3,400 3,400

Suplemento mineral:vitamínico2 4,000 4,000 4,000 4,000 4,000

Sal comum 0,220 0,240 0,225 0,230 0,235

L- lisina HCl 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100

Bicarbonato de sódio - 0,760 0,760 1,186 1,186

Cloreto de potássio - - 0,500 - 1,000

Total 100,000 100,000 100,000 100,000 100,000

Composição Nutricional

Proteína Bruta (%)1 17,70 17,69 17,61 17,64 17,63

EM (kcal/kg)1 3,450 3,440 3,415 3,420 3,410

BE (mEq/kg)3 199 250 250 300 300

Lisina total (%)1 0,890 0,880 0,870 0,880 0,870

Cloro (%)4 0,190 0,260 0,250 0,270 0,280

Sódio (%)4 0,270 0,400 0,390 0,510 0,500

Potássio (%)4 0,530 0,590 0,600 0,610 0,630

Cálcio (%)4 0,700 0,702 0,701 0,703 0,701

Fósforo total (%)4 0,530 0,529 0,528 0,527 0,5281Composição calculada segundo Rostagno et al. (2005).2Conteúdo em kg: selênio 8 mg, flúor 485 mg, vitamina B12 520 mg, ácido fólico 8,8 mg, vitamina A 93.000 ui/kg, vitamina D3 24.000 ui/kg, manganês 836 mg, fósforo 49 g, cálcio 190 g, ácido pantotênico 173 mg, promotor de crescimento (mananoligossacarídeos) 1.485 mg, vitamina K3 53 mg, iodo 29,5 mg, cobalto 3,6 mg, vitamina E 106 mg, niacina 426 mg, riboflavina 71 mg, antioxidante (betahidroxitolueno-BHT) 9 mg, tiamina 13,3 mg, sódio 58,5 g, cobre 2.126 mg, solubilidade de fósforo (P) em ác. Cítrico a 2% (mín) 90%, zinco 2.049 mg, ferro 1.820 mg, piridoxina 13,3 mg, biotina 0,42 mg, qsp1000 g.3BE - Balanço Eletrolítico da ração calculado conforme Patience (1990), BE = (Na/23 + K/39 – Cl/35,5)x 1000.4Análises realizadas no Laboratório de Solos – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

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com suplementação de NaHCO3 ou (B) e cloreto depotássio (KCl) ou (C) formulada com 250 mEq/kg; T4(supl B): ração com suplementação de NaHCO3 ou (B)formulada com 300 mEq/kg; T5 (supl B+C): raçãocom suplementação de NaHCO3 ou (B) e KCl ou (C)formulada com 300 mEq/kg. Para a correção do balanço eletrolítico, as rações dos tratamentos T2 e T4continham apenas bicarbonato de sódio (NaHCO3) eas rações dos tratamentos T3 e T5 continham(NaHCO3) e cloreto de potássio (KCl), que foram adicionados em substituição ao sorgo da ração, sendoos demais ingredientes mantidos em sua concentração.Os valores de balanço eletrolítico (BE) das raçõesexperimentais foram calculados, considerando o pesomolecular de cada elemento químico, de acordo com a recomendação de Patience (1990), por meio da fórmula: BE = (Na/23 + K/39 – Cl/35,5).

As condições ambientais do galpão foram moni-toradas (7, 12 e 17 horas), utilizando termohigrômetrodigital, termômetro de máxima e mínima e termô-metro de globo negro, mantidos em uma baia vazia nocentro do galpão à meia altura do corpo dos animais.As leituras dos equipamentos foram utilizadas para ocálculo do índice de temperatura de globo e umidade(ITGU), segundo metodologia de Buffington et al.(1981). Para o cálculo do ITGU foi utilizada seguinteequação a seguir "ITGU = Tgn + 0,36 Tpo – 330,08",onde: ITGU = índice de temperatura de globo e umi-dade; Tgn = temperatura de globo negro (em Kelvin);Tpo = temperatura do ponto de orvalho (em Kelvin).

Foram realizadas as pesagens diárias das sobras e doresíduo de ração. As pesagens dos animais foram realizadas no início e no final do experimento, para aavaliação do ganho de peso. Para cálculo do CN, foiconsiderado consumo de proteína bruta (PB) divididopelo coeficiente 6,25. A eficiência de lisina e denitrogênio, ambos para ganho, foi avaliada através doconsumo médio de lisina necessário para os animaisconverterem em ganho de peso.

O modelo estatístico utilizado foi Yij = µ + ti + eij,em que Yij (Completely Randomized Design) = efeitodo tratamento i na repetição j, µ = média geral das var-iáveis, ti = efeito do tratamento i, eij = erro aleatórioassociado a cada observação ij. As análises estatísticasde desempenho foram realizadas utilizando-se os procedimentos do SAS versão 7.0 (SAS, 2005), efetuando-se a soma de quadrados dos tratamentosdecomposta em contrastes ortogonais para análise dosefeitos de balanço eletrolítico sobre as variáveis dedesempenho em 5% de probabilidade.

Resultado e discussão

Durante todo o período experimental a temperaturamédia manteve-se em 29,34 ± 2,06 °C, com umidaderelativa do ar de 70,4 ± 9,2% e temperatura do globonegro de 31,59 ± 2,53 °C. O índice de temperatura de

globo e umidade (ITGU) foi de 80,98 ± 2,89. A uti-lização de índices bioclimatológicos na suinoculturapermite a precisão de uma avaliação da situação ambiental, e também uma comparação de animaismantidos em diferentes regiões (Ferreira, 2005).

Em pesquisa realizada por Whittemore (1980) foiobservado uma faixa estreita de conforto térmico parasuínos na fase de terminação com valores entre 16 a27 °C para suínos acima dos 50 kg de peso vivo. Deacordo com Pointer (1978) e (Baêta e Souza, 1997), atemperatura de conforto térmico para esta categoriaanimal é de 25 °C.

A temperatura média observada 29,34 °C foi superior à temperatura máxima da zona de confortotérmico para os animais na fase de terminação, dessaforma há evidência que os suínos estavam emcondições de moderado stresse por calor.

O valor do ITGU obtido neste estudo demonstrouque os animais durante todo o período experimentalestavam submetidos ao stresse por calor. SegundoFerreira (2005), os valores de ITGU próximos de 80podem caracterizar o efeito do stresse calórico parasuínos em fase de terminação. Outros valores deITGU foram observados por (Tavares et al., 2000;Tavares et al., 2005), Kiefer et al. (2005), Ferreira etal. (2007) e Orlando et al. (2007), sendo respectiva-mente 81,1 e 79,7; 82,8; 82,2 e 82,9 caracterizando ostresse por calor para suínos em fase de terminação.

Os resultados de consumo de ração (CR), ganho depeso (GP), conversão alimentar (CA), peso final (PF),consumo de nitrogênio (CN), consumo de lisina (CL),eficiência de utilização de lisina para ganho (EULG)e eficiência de utilização do nitrogênio para ganho(EUNG) são apresentados na Tabela 2.

Os resultados observados sobre o consumo de ração(CR) não foram diferentes (P>0,05) entre os tratamen-tos avaliados.

Pelos resultados obtidos pode-se notar que a suplementação de eletrólitos melhorou (P<0,05) oganho de peso (GP) dos animais. Observou-se que ossuínos que receberam a suplementação de eletrólitosnas rações apresentaram um aumento médio de 3,59%no ganho de peso quando comparado com os suínosque receberam ração sem correção do balançoeletrolítico.

Silva (1999) relatou que elevadas temperaturasambientais parecem ter efeito depressivo mais pro-nunciado em suínos modernos com alto potencialgenético, uma vez que o ganho diário de peso é preju-dicado. Por outro lado, em um estudo conduzido porMoreira et al. (2003), utilizando suínos com médiopotencial genético, o menor ganho diário de peso pro-porcionado pela elevada temperatura foi compensadopela melhora na conversão alimentar.

Não foram observados diferenças (P>0,05) na conversão alimentar e peso final dos animais, demons-trando que a suplementação contribuiu efetivamentepara melhora de desempenho dos suínos.

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O balanço eletrolítico obtido pela suplementação de sódio, potássio e cloreto nas rações (tratamentos 3 e 5) pode ter deprimido o apetite dos suínos.Provavelmente, em função de que as concentrações de potássio (0,60 e 0,63%) e sódio (0,39 e 0,50%)ultrapassaram a tolerância dos animais. Rostagno et al. (2005) prescreveram, respectivamente, 0,52% de potássio e 0,17% de sódio para suínos de altopotencial genético e desempenho médio na fase de terminação.

Hannas (1999), em sua revisão, relatou que ossuínos em stresse por calor não apresentaram piora naconversão alimentar, entretanto, os prejuízos econômi-cos podem ser decorridos em função do maior númerode dias para que os animais atinjam o peso de abate.

Os resultados observados para a consumo denitrogênio (CN) e eficiência de utilização denitrogênio para ganho (EUNG) não foram diferentes(P>0,05) quando se utilizou a correção de balançoeletrolítico. Contudo, os tratamentos 3 e 5 apresen-taram diminuição no CN, valores não-significativos,quando as rações apresentaram suplementação comcloreto de potássio (KCl).

Provavelmente, o KCl pode ter ocasionado ainclusão de compostos ácidos, dessa maneira propor-cionando uma diminuição sobre o valor do balançoeletrolítico no organismo. A quantidade consumidadesses íons nas rações produz uma estreita relaçãocom os mecanismos compensatórios que envolvem amobilização desses íons fundamentais para o equi-líbrio acidobásico.

Houve influência dos tratamentos (P<0,05) sobre oconsumo de lisina (CL) e eficiência de utilização delisina para ganho (EULG). Pelos resultados obtidospode-se notar que a suplementação de eletrólitos melhorou (P<0,05) o consumo de lisina (CL) e aEULG dos animais. Observou-se que os suínos quereceberam a suplementação de eletrólitos nas raçõesapresentaram um aumento médio de 3,24% no consumo quando comparado com os suínos que nãoreceberam rações com o balanço eletrolítico corrigido.

Observou-se que os suínos que receberam a suple-mentação de eletrólitos nas rações apresentaram umaumento médio de 5,44% na eficiência de utilizaçãode lisina quando comparado com os suínos que nãoreceberam rações com tratamento do balançoeletrolítico corrigido.

O valor obtido para o consumo diário de lisina 30,13g/dia em rações com 0,90% de lisina, trabalhando comsuínos machos castrados com 95 aos 122 kg obtidopor Arouca et al. (2007) foi superior ao obtido nestetrabalho (21,49 g/dia) onde os suínos receberamrações com 0,89% de lisina. A ingestão de lisina totalexigida pelo suíno depende do apetite ou do potencialde ingestão de alimento, da taxa de deposição de carnemagra e da eficiência desta deposição, o que poderiaexplicar as diferenças observadas de acordo comHannas et al. (1999).

O consumo de lisina diário é responsável peladeposição de tecido muscular na carcaça e o desem-penho pode estar associado diretamente ao nível delisina nas rações (Oliveira et al., 2002).

Os resultados de consumo diário de sódio, do consumo de potássio e consumo de cloro estãodemonstrados na Tabela 3.

A correção do balanço eletrolítico da ração para 250ou 300 mEq/kg proporcionou maiores consumos(P<0,05) dos três elementos estudados. Uma vez queo consumo voluntário de ração não foi influenciadoentre os tratamentos, os consumos de sódio, de potássioe de cloreto variaram de acordo com a concentraçãodestes eletrólitos nas formulações.

Dentre os animais que receberam ração suplementadacom eletrólitos, aqueles que receberam rações com300 mEq/kg apresentaram maior consumo de potássio(P<0,05) em relação aos que consumiram rações com250 mEq/kg.

O teor de ingestão de sódio na dieta, a concentraçãode sódio plasmática e a carga de sódio filtrado podeminfluenciar as taxas de excreção do potássio. Nestecaso, o excesso de potássio na dieta provoca umaumento da eliminação deste e uma diminuição naeliminação de hidrogênio (H+). Como os íons sódio epotássio aumentaram sua concentração em relação àconcentração do cloreto, ocasionou dessa maneirauma diminuição da eliminação de H+, sendo estareação caracterizada como resposta à alcalosemetabólica provocada por uma alimentação aniônica(Swenson e Reece, 1993).

A taxa de excreção de K+ pela urina é variável,estando ligada à concentração plasmática de Na+ e aoestado de hidratação dos animais, sendo que as perdaspodem ser causadas pelo aumento no consumo deágua, já que o gradiente osmótico favorece o movi-mento de água do fluído intracelular para urina,podendo transportar o K+. O aumento de K+ resulta emmaior perda urinária, sendo que os suínos têm poucacapacidade de conservar o K+ corporal (Salvador etal., 1999).

O maior consumo de sódio apresentado pelos animais que receberam rações com eletrólitos pode terinfluenciado o resultado observado para consumo decloreto quando comparado ao tratamento 1 sem suple-mentação oferecido aos suínos apresentado na Tabela3. Assim, caso ocorra no organismo excesso de sódio,o excesso de cloreto acompanha a excreção de sódioque será eliminado pela urina através da ação dos rins.Este mecanismo do organismo tem como objetivo a manutenção do equilíbrio das quantidades decátions-ânions (Del Claro, 2003; Pound et al. 2005).As necessidades de cloro para animais em terminaçãopoderiam atingir 2,5 g/dia dependendo das condiçõesambientais, conforme NRC (1998).

O aumento no consumo de Cl- deprime a excreçãode H+ e a reabsorção de HCO3- pelos rins. Isto podecontribuir com uma acidificação do sangue e esta

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complementa com as necessidades de sódio.Conforme observado pela proporção Na:Cl no trata-mento 2, esta foi a relação que mais se aproximou dovalor 1,58:1, recomendado pelo NRC (1998), paraesta categoria animal.

Os resultados referentes às respostas fisiológicas defreqüência respiratória (FR) e temperatura retal (TR)apresentados pelos animais estão apresentados naTabela 4.

Os resultados observados para freqüência respi-ratória (FR) e da temperatura retal (TR) não foramdiferentes (P>0,05) entre os tratamentos analisados.Os resultados encontrados pelos tratamentos indicamque este mecanismo de controle homeotérmico foi eficiente nestes animais.

Tabela 2 - Consumo de ração (CR), ganho de peso (GP), conversão alimentar (CA), peso final (PF), consumo de nitrogênio (CN),consumo de lisina (CL), eficiência de utilização de nitrogênio (EUNG) e eficiência de utilização de lisina (EULis) de suínos em terminação, mantidos em condições naturais de calor recebendo rações com diferentes balanços eletrolíticos

Tratamentos CR GP CA PF CN CL EUNG EULis

(g/dia) (g/dia) (kg) (g/dia) (g/dia) (gGP/g) (gGP/gLis)

1 (s/supl) 2.528 766 3,30 110,50 71,58 21,49 10,60 33,73

2 (supl B)

250 mEq/kg 2.536 811 3,13 111,19 71,60 22,31 11,33 36,36

3 (supl B+C)

250 mEq/kg 2.440 776 3,14 109,82 69,75 22,23 10,84 35,12

4 (supl B)

300 mEq/kg 2.557 821 3,11 112,69 71,18 22,30 10,69 34,14

5 (supl B+C)

300 mEq/kg 2.415 770 3,14 109,03 70,13 22,01 11,43 37,04

CV (%) 4,97 5,54 3,31 4,98 4,95 3,20 4,17 4,72

QMresíduo 0,187 0,355 0,298 0,187 0,290 0,197 0,426 0,153

Contrastes Significância

T1vs T2+T3+T4+T5 NS * NS NS NS * NS *

T2+T3 vs T4+T5 NS NS NS NS NS NS NS NS

T2 vs T3 NS NS NS NS NS NS NS NS

T4 vs T5 NS NS NS NS NS NS NS NS

* significativo 5% pelo teste T.

Tabela 3 – Consumos de sódio, de potássio e de cloreto por suínos em fase de terminação, alimentados com rações contendo difer-entes balanços eletrolíticos

Tratamentos Consumo diário Proporção

Sódio Potássio Cloreto Na K Cl

1 (s/suplementação) 7,29 14,32 5,13 1,42 2,79 1,00

2 (B) 250 mEq/kg 11,15 16,45 7,25 1,54 2,69 1,00

3 (B+C) 250 mEq/kg 10,73 16,89 7,04 1,52 2,40 1,00

4 (B) 300 mEq/kg 13,55 16,21 7,18 1,89 2,26 1,00

5 (B+C) 300 mEq/kg 13,70 17,26 7,67 1,79 2,50 1,00

CV(%) 4,97 4,93 4,92 - - -

QMresíduo 0,956 0,683 0,901 - - -

Contrastes Significância

T1vs T2+T3+T4+T5 * * * - - -

T2+T3 vs T4+T5 * NS NS - - -

T2 vs T3 NS NS NS - - -

T4 vs T5 NS NS NS - - -

* significativo 5% pelo teste T.

parece ser uma resposta apropriada para a alcalose(Salvador et al., 1999).

As funções do cloreto estão relacionadas à regu-lação da pressão osmótica extracelular e à manutençãodo equilíbrio ácido-base no organismo animal(Andrigueto et al., 2002; Bertechini, 2006).

Os tratamentos 4 e 5 utilizando o balanço eletrolíticode 300 mEq/kg apresentaram maior relação Na:Cl queos demais tratamentos. O bicarbonato de sódio temsido usado na tentativa de minimizar as perdas pelostresse calórico, particularmente durante o verão, alémde contribuir com sódio sem incorporar o cloro.

As necessidades de cloro são inferiores às de sódioe o uso de cloreto de potássio deve ser limitado até asatisfação das necessidades de cloro, assim que este se

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Ferreira (2005) citou que a FR de suínos poderá passar de 44 mov/min aos 21 °C, para 82 mov/min aos32 °C. Os resultados encontrados neste estudo, tantode FR quanto de TR são característicos de suínos emcondições de stresse por calor. Os valores de TRobservados são semelhantes àqueles obtidos porTavares et al. (2000) (39,6 °C) e por Orlando et al.(2001) e Tavares et al. (1999), (39,4 °C), sendo queambos estudaram suínos em stresse por calor.

O dióxido de carbono é o produto final da oxidaçãocompleta de carboidratos, lipídeos e proteínas. Assim,o metabolismo animal gera, de forma contínua,grandes quantidades de CO2 nas células, tornando apCO2 tecidual mais elevada do que a pCO2 sangüínea.Dessa maneira, uma vez que existe diferença depressão, o CO2 difunde-se a partir das células para osangue e o plasma.

Os pulmões são responsáveis por uma maior taxa deexcreção diária de ácido carbônico (H2CO3) e CO2 emcomparação com os rins. Por essa razão, a ventilaçãoalveolar e a excreção de CO2 têm grande influência noequilíbrio acidobásico. O incremento da tensão deCO2 do sangue e a depleção de íons bicarbonatocausam um aumento na profundidade respiratória.Nesse caso, os suínos conseguem aumentar o volumede ar inspirado e expirado através do aumento da pro-fundidade respiratória, ou seja, o ar inspirado penetracom mais profundidade nos pulmões, permitindo queo volume de ar seja trocado por números menores demovimento respiratório (Dibartola, 2007).

Conclusão

A correção do balanço eletrolítico em rações contendo 250 ou 300 mEq/kg, suplementadas combicarbonato de sódio e/ou cloreto de potássio influen-ciou o desempenho para ganho de peso, consumo delisina e eficiência de utilização de lisina para suínosem terminação (70-100 kg). Os resultados encontra-dos pelos tratamentos indicam que o mecanismo decontrole homeotérmico foi eficiente nestes animais.

Agradecimentos

Aos funcionários, em especial, ao Gerente Geral oSr. José de Souza da Granja Agrolusa S/A, localizadaem São Luis – Maranhão.

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Tabela 4 - Resultado de freqüência respiratória (FR) em movimento por minuto (mov/min) e temperatura retal (TR) em (ºC) de suínosem terminação dos 68,8 aos 110,1 kg alimentados com rações contendo diferentes balanços eletrolíticos

Tratamentos FR (mov/min) TR (ºC)

1 (s/suplementação) 71,57 ± 0,73 39,49 ± 0,02

2 (supl B) 250 mEq/kg 70,64 ± 0,27 39,57 ± 0,07

3 (supl B+C) 250 mEq/kg 69,64 ± 0,20 39,59 ± 0,05

4 (supl B) 300 mEq/kg 70,00 ± 0,80 39,54 ± 0,17

5 (supl B+C) 300 mEq/kg 69,99 ± 0,38 39,35 ± 0,10

CV(%) 4,22 2,96

QMresíduo 0,322 0,561

Contrastes Significância

T1vs T2+T3+T4+T5 NS NS

T2+T3 vs T4+T5 NS NS

T2 vs T3 NS NS

T4 vs T5 NS NS

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Estudo casuístico de dermatites por reacção de hipersensibilidade em cãese gatos

Case study of dermatitis hypersensitivity reaction in dogs and cats

Sílvia Silva1, Sara Peneda2, Rita Cruz1, Helena Vala1,3*1Escola Superior Agrária de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu. Estrada de Nelas, Quinta da Alagoa, Ranhados,

3500-606 Viseu, Portugal2Hospital Veterinário do Porto, Travessa Silva Porto 4200-475 Porto

3Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, Escola Superior Agrária de Viseu, IPV, Estrada de Nelas, Quinta da Alagoa, Ranhados, 3500-606 Viseu

Resumo: Os autores apresentam um estudo das dermatites causadas por reacção de hipersensibilidade em animais de companhia, dando enfoque à sua distribuição por sexo, raça eidade, baseado na análise da casuística dermatológica doHospital Veterinário do Porto.Num total aproximado de 1177 consultas de canídeos, 554diziam respeito a consultas dermatológicas e, num total de 388consultas em felinos, 109 eram do foro dermatológico. Emcanídeos, foram diagnosticados 73 casos de hipersensibilidadecutânea e em felídeos foram diagnosticados 13 casos. Na popu-lação canina, a reacção de hipersensibilidade que obteve maiornúmero de casos foi a Dermatite Alérgica à Picada de Pulga,tendo-se seguido a Urticária e o Angioedema, a DermatiteAtópica e, por último, a Hipersensibilidade Alimentar.Em felídeos verificou-se maior incidência da Atopia, tendo-seseguido a Dermatite Alérgica à Picada de Pulga e a Hipersen-sibilidade Alimentar.

Palavras-chave: Reacção de hipersensibilidade cutânea,Dermatite Alérgica à Picada de Pulga, Urticária, Angioedema,Dermatite Atópica, Hipersensibilidade Alimentar, canídeo,felídeo.

Summary: The authors present a study of cutaneous hypersen-sitivity reaction distribution in small animals, by age, sex andbreed, based on the dermatologic cases of the VeterinaryHospital of Porto. Among a total of 1177 examined dogs, 554presented dermatological findings, in 73 of which, cutaneoushypersensitivity reaction diagnosis was established, while in thefeline population, in a total of 388 cases, 109 dermatologicalconditions were observed, of which 13 were hypersensitivityreactions. In the canine population, the more representativehypersensitivity was Flea Bite Hypersensitivity, followed by the Urticaria and Angioedema, Atopic Dermatitis and, for last,Food Hypersensitivity. The feline population revealed largerincidence of Atopic Dermatitis, followed by Flea BiteHypersensitivity and Food Hypersensitivity.

Keywords: Cutaneous hypersensitivity reaction, Flea BiteHypersensitivity, Urticaria, Angioedema, Atopic Dermatitis,Food Hypersensitivity, canine, feline.

Introdução

As consultas de dermatologia em pequenos animaisrepresentam 25 a 30% do total das consultas veterinárias, merecendo, cada vez mais, maiordestaque na prática clínica diária, sendo objecto deestudos constantes devido, não só à sua incidência,mas também à relação de proximidade crescente entre animais e humanos (Machicote, 2005; Yotti, 2005;Brazis, 2007). Um dos motivos de procura de consultasdesta especialidade é o aparecimento de doenças doforo alérgico, cuja principal manifestação clínica é oprurido. Nestas, incluem-se a Dermatite por Alergia àPicada da Pulga, a Dermatite Atópica, a Hipersensi-bilidade Alimentar e a Urticária e o Angioedema.

Apesar de existirem muitos factores imunológicosque contribuem para as reacções de hipersensibilidadecutânea (Olivry et al., 2001), outros defendem aexistência, simultânea, de uma relação directa com asreacções de hipersensibilidade retardada, associadas àImunoglobulina E (IgE), em resposta à exposiçãodirecta (inalação, ingestão) a alergenos ambientais,como o fundamento para o aparecimento deste tipo dereacção de hipersensibilidade cutânea (Deboer, 2004;Hillier et al., 2001).

A Dermatite Alérgica à Picada de Pulga (DAPP) é areacção de hipersensibilidade com maior incidênciaem Portugal, devido ao clima propício ao desenvolvi-mento do ciclo da pulga, principalmente na Primaverae no Verão, seguindo-se a Dermatite Atópica (DA),causada principalmente pela inalação de alergenos(Day, 1999; Medleau e Knilica, 2006).

A Hipersensibilidade Alimentar (HA) é a terceirareacção de hipersensibilidade cutânea mais comum e

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

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*Correspondência: [email protected]

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tem como principal etiologia a ingestão de proteínas,nomeadamente a ingestão de carne bovina, a qual seencontra presente na maior parte das rações comerciali-zadas, podendo estas estar na origem do aparecimentodeste tipo de reacção de hipersensibilidade (Jeffers etal., 1994; Wills et al., 1996; Day, 1999; Medleau eKnilica, 2006).

A Dermatite Alérgica de Contacto é o quarto tipo dereacção de hipersensibilidade mais frequente e é causada pela exposição directa da pele a materiais de natureza variada que incluem desde materiaisorgânicos, vegetais e urinários, até materiais sintéticos(produtos de limpeza com base amoniacal, solventes,fenóis, entre outros). Esta reacção de hipersensibili-dade pode também ocorrer devido ao contacto directocom material plástico de bebedouros, tapetes e carpetes.A Urticária e o Angioedema são as reacções de hiper-sensibilidade menos frequentes (Day, 1999; Medleau eKnilica, 2006) e neste trabalho serão analisadas emsimultâneo.

São inúmeras as terapêuticas utilizadas na resoluçãodos casos de reacção de hipersensibilidade cutâneaque, de um modo geral, incluem desde o controlo deectoparasitas, no caso da DAPP, passando pelas dietasde restrição alimentar, no caso da HA, até terapiamédica com imunomoduladores, no caso da Urticária edo Angioedema, bem como a utilização de autovacinase técnicas de hipossensibilização especifica na DA(Ackerman e Nesbitt, 1998; DeBoer e Hillier, 2001;Scott et al., 2001; DeBoer, 2004; Medleau e Knilica,2006). O principal desafio na abordagem terapêuticadas reacções de hipersensibilidade cutânea é selec-cionar a combinação farmacológica mais eficaz, deforma a manter sob controlo todos os sinais clínicosespecíficos destas dermatopatias, contribuindo para amelhoria da qualidade de vida dos animais.

O presente estudo foi realizado no HospitalVeterinário do Porto, durante o primeiro semestre de2007, e teve como objectivo o acompanhamento dasconsultas de Dermatologia de animais de companhia eo registo dos casos diagnosticados como reacção dehipersensibilidade cutânea, de forma a aprofundar a sua distribuição nos utentes das consultas destaespecialidade num hospital do Norte de Portugal.

Material e métodos

Os dados apresentados foram obtidos durante oacompanhamento das consultas de Dermatologia doHospital Veterinário do Porto (HVP), no período compreendido entre Janeiro e Junho de 2007. Nesteperíodo, foram realizadas um total de 1177 consultasa canídeos e 388 a felídeos, tendo-se registado 554 e109 casos do foro dermatológico, em cada espécie,respectivamente.

A informação respectiva foi recolhida através do

Programa de Computador (QVET) do HVP.A selecção de amostras de casos a considerar neste

estudo baseou-se na recolha de informações sobre oanimal, com base na análise dos questionários,disponibilizados pelo Serviço de Dermatologia doHVP, aos proprietários dos pacientes com sintoma-tologia do foro dermatológico (Quadro 1), na anamnese, no exame clínico, na avaliação das lesõesdermatológicas e outros eventuais sinais clínicos,procedendo-se posteriormente à realização dos meiosauxiliares de diagnóstico.

O diagnóstico dos casos de reacção de hipersensi-bilidade cutânea foi efectuado com base na anamnese,no exame clínico e ainda com recurso aos seguintesmeios auxiliares de diagnóstico:

Meios auxiliares de diagnóstico imediatosa) Raspagens cutâneas: superficiais (Notoedes,

D. gatoi) e profundas (D. cati);b) Observações com a Lâmpada de Wood

(O. cynotis);c) Colheitas de pêlos (DTM - dermatofitose,

Tricograma - alopécia auto-infligida);d) Escovagens de pêlos (observação de fezes de

pulga);e) Provas da fita adesiva (Cheyletiella).Meios auxiliares de diagnóstico não imediatos [HI];f) Culturas fúngicas;g) Biópsias cutâneas (Auto-imune/Neoplasia);h) Testes serológicos (Hipersensibilidade);i) Dietas de restrição (HA);j) Controlo de pulgas (DAPP).O diagnóstico de reacção de hipersensibilidade

cutânea foi estabelecido após a exclusão do diagnósticode ectoparasitoses, incluindo sarna sarcóptica e demo-décica e quando, concomitantemente, se observaramlesões dermatológicas provocadas por auto-traumatis-mo, bem como otites recidivantes, mesmo na ausênciade prurido corporal.

As dietas de restrição e o controlo de pulgas forammais utilizados como meio de diagnóstico terapêuticode exclusão, devido ao seu baixo custo e à sua fiabili-dade, enquanto os testes serológicos se realizaramcom o intuito de prevenir o contacto com os alergenose para eleger a composição alergénica, em caso deimplementação de imunoterapia específica doalergeno (dessensibilização).

Resultados

Foram diagnosticados 73 casos de reacção dehipersensibilidade cutânea em canídeos, ou seja,13,2% do total de casos que se apresentaram nas 554consultas dermatológicas realizadas nesta espécie,durante o período de realização deste trabalho.

Na espécie felina, foram diagnosticados 13 casos dereacção de hipersensibilidade cutânea, ou seja, 11,9%

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Quadro 1 - Questionário Dermatológico do Hospital Veterinário do Porto

Queixa principal Há quanto tempo surgiram as primeiras lesões? ___

Como iniciaram e evoluíram as lesões? ___

Existe história prévia de lesões de pele? ___

Prurido Tem prurido? Sim___ Não ___

Classificar na escala de 1-5: ___

Quando? Constantemente ___Esporadicamente ___À noite ___

Onde? Cabeça ___ Membros ___ Axilas ___ Região Lombar ___ Generalizado ___

Dieta O que come habitualmente? Ração enlatada ___ Ração seca ___ Restos de mesa ___ Carne___

Bebe mais água do que o habitual? Sim___ Não ___

Come mais algum tipo de alimentos (ex: vitaminas, tostas biscoitos)? ___

Variação das lesões Caso a dermatite ocorra com periodicidade anual, as lesões pioram: Na Primavera? ___ No Verão? ___

No Outono? ___ No Inverno? ___

As lesões estão presentes durante todo o ano? Sim ___ Não ___

Se sim, existem períodos em que se atenuam? Sim ___ Não ___

Existe algo que contribua para a melhorar ou agravar a sintomatologia? ___

Quando se iniciaram as lesões? E como evoluíram? ___

Há história prévia de lesões cutâneas? ___

Habitat Coabita com outros animais? Sim ___ Não ___

Se sim, com quais? Gatos ___ Cães ___ Aves ___ Outros ___

Tem conhecimento se algum destes animais teve ou tem problemas de pele? Sim ___ Não ___

Existem humanos coabitantes com problemas de pele? Sim ___ Não ___

Onde dorme o animal? ___

Banho e Pulgas O banho exerce influência? Melhora ___ Agrava ___ Indiferente ___

Que produto/champô utiliza? ___

Qual a frequência dos banhos? Semanal ___ Mensal ___ Semestral ___ Outra ___

Quando foi a última vez que observou pulgas neste animal? E nos cohabitantes? ___

Qual é o tratamento e a frequência que tem utilizado para controlo de pulgas? ___

O tratamento é instituído aos coabitantes? Sim ___ Não ___

Medicação Utilizou medicação prévia? Sim ___ Não ___

Se sim, qual o tipo de medicação? Champôs ___ Banhos ___ Injectáveis ___ Comprimidos ___

Cremes/Pomadas ___ Outro ___

Data do último tratamento: __/__/__

Resposta obtida: Nenhuma ___ Alguma ___ Boa ___

do total de casos das 109 consultas dermatológicasrealizadas nesta espécie.

Em canídeos, as reacções de hipersensibilidadecutânea foram a quarta dermatopatia mais observadanas consultas de dermatologia, depois das doenças deetiologia bacteriana, dos tumores e das doenças decausa idiopática. As reacções de hipersensibilidadecutânea em felídeos também foram a quarta dermatopatia cutânea mais verificada, em simultâneocom as alterações de queratinização, depois dasdoenças de etiologia fúngica, das doenças de causaidiopática e das neoplasias.

Caracterização da população canina com quadrode reacção de hipersensibilidade cutânea

As dermatites causadas por reacção de hipersensi-bilidade, diagnosticadas na amostra de canídeos deste

estudo, incluíram a DAPP (Figura 1), a DA, a HA, aUrticária e o Angioedema. A DAPP foi a que obtevemaior número de diagnósticos (n=35; 47,9%), seguin-do-se a Urticária e o Angioedema (n=18; 19,1%), aDA (n=14; 16,5%) e, por último, a HA (n=6; 5,5%)(Figura 2).

A média de idades dos canídeos que se apresen-taram à consulta de dermatologia foi de 4,5 anos.Contudo, todos os casos de reacções de hipersensibili-dade cutânea diagnosticados, surgiram em canídeoscom idades compreendidas entre os 8 meses e os 3anos de idade, tendo sido a idade média de 1,55 anos.Os casos com diagnóstico de Urticária e Angioedema(Figura 3) obtiveram a média de idades de 3 anos,seguindo-se a DA com a média de 1,5 anos e, por fim,a HA e a DAPP que registaram as médias de idadesmais baixas, respectivamente 8 e 9 meses (Figura 4).

Dos canídeos consultados (n=554) durante esse

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período, houve maior incidência do número demachos (n=298; 53,8%) do que de fêmeas (n=256;46,2%). Esta predisposição sexual também se mantevenos casos diagnosticados como reacção de hipersensi-bilidade cutânea (machos n=45; 61,6% e fêmeasn=28; 38,8%), conforme distribuição apresentada naFigura 5.

A raça que evidenciou maior incidência de doençasdo foro dermatológico foi a SRD (n=286), tendo-seseguido a raça Labrador Retriever (n=47) e a PastorAlemão (n=42). Quanto aos casos diagnosticadoscomo reacção de hipersensibilidade cutânea, a SRD(n=37) também foi a raça com maior incidência,seguindo-se as raças Labrador Retriever (n=14) e aPastor Alemão (n=9).

A raça que apresentou mais casos de DAPP e deUrticária e Angioedema foi a SRD (n=29 e n=7, respectivamente), a raça predominante na DA (Figura6) foi a Labrador Retriever (n=7) e na HA (Figura 7)contabilizaram-se mais casos na raça Pastor Alemão(n=3), conforme distribuição apresentada no Quadro 2.

Caracterização da população felina com quadro dereacção de hipersensibilidade cutânea

Os tipos de reacção de hipersensibilidade cutâneadiagnosticados em felídeos incluíram a DA (Figura 8),a DAPP e a HA.

A DA (n=6; 46,1%), foi a que obteve maior númerode casos clínicos, seguindo-se a DAPP (n=5; 38,5%)e, por último, a HA (n=2; 15,4%) (Figura 9).

Os felídeos com problemas do foro dermatológicoapresentaram uma média de idades de 3,9 anos.

A idade dos felídeos com casos de reacção dehipersensibilidade cutânea situou-se entre os 6 mesese os 2 anos de idade, tendo sido a média de idades de1,4 anos. A DA registou-se em felídeos com a médiade idades de 2 anos, a DAPP com a de 1,5 anos e a HA(Figura 10) com a de 6 meses (Figura 11).

Durante o período no qual decorreu este estudo, registou-se um total de 109 felídeos consultados noHVP, havendo maior incidência do número de machos(n=69; 63,3%) do que de fêmeas (n=40; 36,7%).

Quanto aos quadros de reacção de hipersensibili-dade cutânea diagnosticados, a espécie felina reveloua predominância do número de fêmeas (fêmeas n=7;53,8% e machos n=6; 46,2%), conforme distribuiçãoapresentada na Figura 12.

Os felídeos que se apresentaram à consulta de dermatologia eram maioritariamente da raça EuropeuComum (n=103), seguindo-se as raças Persa (n=5) eSiamês (n=1).

Todos os casos de reacção de hipersensibilidadecutânea em felídeos foram diagnosticados unicamentena raça Europeu Comum.

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Discussão

No primeiro semestre de 2007, foram realizadas 554consultas dermatológicas a canídeos e 109 a felídeos,representando, respectivamente, 47,1% e 28,1% dototal de consultas do HVP, o que significa que asdoenças do foro dermatológico mantêm elevadaexpressão no número de consultas realizadas a animais de companhia, o que está de acordo com abibliografia (Mur, 1997; Ackerman e Nesbitt, 1998;Scott et al., 2001; Medleau e Knilica, 2006).

Os tipos de reacção de hipersensibilidade cutâneaobtiveram, em ambas as espécies de animais de companhia, o 4º lugar entre as dermatopatias mais frequentemente diagnosticadas. Estes resultados estãode acordo com Brazis (2007), que referem que aincidência desta doença, tal como na MedicinaHumana, tem vindo a manter-se elevada (Deboer,2004).

Os canídeos observados apresentavam idades compreendidas entre os 8 meses e os 3 anos de idade,pelo que se encontravam enquadrados nas faixasetárias descritas para as situações de reacção dehipersensibilidade cutânea (Medleau e Knilica, 2006),ao contrário de outras dermatopatias (Debraekeleer,2006; López, 2007).

Nos canídeos, a DAPP foi a hipersensibilidade maisdiagnosticada, o que está de acordo com a bibliografiaconsultada (Day, 1999; Beugnet et al., 2009), que aindica como a hipersensibilidade mais frequente, devido às condições climatéricas favoráveis ao desenvolvimento do ciclo da pulga, o que, conse-quentemente, vai determinar a sua grande incidêncianos meses mais quentes.

A média de idade obtida na DAPP foi de 8 meses deidade, o que está de acordo com o facto da DAPP seencontrar descrita em cães muito jovens, podendo, namaioria dos casos, surgir em animais com menos deseis meses de idade (Ackerman e Nesbitt, 1998).

O segundo tipo de reacção de hipersensibilidadecutânea mais identificado foi a Urticária e oAngioedema, contudo segundo Day (1999), estasreacções de hipersensibilidade deveriam ocupar umlugar com menor destaque, uma vez que são conside-radas menos frequentes, contradizendo, desta forma,os resultados obtidos. Julgamos que estes resultadoscontraditórios se devem ao aparecimento de um maiornúmero de insectos provocado pelo volume crescentede resíduos urbanos produzidos na cidade do Porto etambém devido às temperaturas elevadas que se regis-taram nos últimos anos.

A Urticária e o Angioedema foram observados emcães com a idade média de 3 anos, contudo os autoresMedleau e Knilica (2006) referem que estas são poucocomuns em cães, podendo ocorrer em qualquer faseda vida do animal.

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Figura 4 - Média de idades dos canídeos com quadro de reacção dehipersensibilidade cutânea.

Figura 6 - DA congestão e alopécia periocular em canídeo (Fotografiagentilmente cedida pelo HVP, 2007).

Figura 7 - HA eritema abdominal em canídeo (Fotografia gentilmentecedida pelo HVP, 2007).

Figura 5 - Distribuição por sexo dos canídeos com quadro de reacção dehipersensibilidade cutânea.

Figura 3 - Urticária (à esquerda) e Angioedema (à direita) em canídeo (Fotografia gentilmente cedida pelo HVP, 2007).

Figura 2 - DAPP - Tipos de reacção de hipersensibilidade cutânea emcanídeos.

Figura 1 - DAPP Dermatite pruriginosa na zona dorsolombar acompa-nhada de hiperqueratose, em canídeo (Fotografia gentilmente cedidapelo HVP, 2007).

4035302520151050

DA

PP

DA

HA

Urt

icár

ia e

Ang

ioed

ema

35

1814

6

4035302520151050

DA

PP

DA

HA

Urt

icár

ia e

Ang

ioed

ema

Sexo FSexo M

4

3

2

1

0

DA

PP

DA

HA

Urt

icár

ia e

Ang

ioed

ema

3

1,5

0,9

0,8

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Medleau e Knilica, 2006; Fraser et al. 2008). A DA foi diagnosticada em canídeos das raças West

Highland White Terrier, Labrador Retriever e tambéma Weimaraner, o que é confirmado por Scott et al.(2001), que referem as raças West Highland WhiteTerrier e Labrador Retriever como as mais afectadaspor este tipo de reacção de hipersensibilidade e porPico et al. (2008) que referem a West Highland WhiteTerrier.

A HA foi a quarta reacção de hipersensibilidadecutânea mais frequente, no entanto, segundo Jackson(2007), esta dermatopatia é considerada o terceiro tipode hipersensibilidade mais frequente.

Segundo Jackson (2007), os sinais clínicos da HAtornam-se evidentes nos cachorros ou em adultosjovens, antes dos 3 anos de idade, contudo, asprimeiras manifestações podem surgir desde os seismeses até aos doze anos de idade. Os resultados obtidos enquadram-se neste intervalo, embora maispróximos do limite inferior, com uma média de idadesde 0,9 meses.

Neste estudo, a HA foi observada em canídeos das

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50

DAPP

Urticária e

Angioedema

DA

HA

35

4

7

Quadro 2 - Distribuição por raça dos canídeos com reacção de hipersensibilidade cutânea

Diagnóstico Raça Sub-total Total

SRD 29

P. Alemão 6

G. Afegão 1

Labrador Retriever 5

Jack Russel 3 18

Pinher 1

Beagle 1

SRD 7

West Highland

White Terrier

Labrador Retriever 14

Weimaraner 3

P. Alemão 3

Labrador Retriever 2 6

SRD 1

Para o caso da DAPP, assim como para a Urticária eo Angioedema, não foi encontrada nenhuma predis-posição racial, uma vez que estas surgiram em animaisde varias raças, o que está de acordo com Scott et al.(2001), que defendem a não predisposição racialdestas reacções de hipersensibilidade cutânea.

Não se registaram casos de Dermatite Alérgica deContacto, no período em que este estudo decorreu,apesar de Day (1999) considerar esta reacção dehipersensibilidade como sendo mais frequente do que a Urticária e o Angioedema. Podemos atribuir a ausência de registo de casos com este tipo de hipersen-sibilidade à sua dificuldade de diagnóstico.

A terceira reacção de hipersensibilidade cutâneacom maior incidência foi a DA o que está de acordocom a bibliografia consultada, que a refere comosendo uma das mais frequentes em cães (Day, 1999;Medleau e Knilica, 2006).

A DA apresentou uma média de idades de 1,5 anos,o que está de acordo com alguns autores que defen-dem que os primeiros sintomas se manifestam entre oprimeiro e o terceiro ano de idade (Scott et al., 2001;

Figura 8 - DA lesão alopécica na zona inguinal de um felídeo. Figura 9 - Tipos de reacção de hipersensibilidade cutânea em felídeo.

8

6

4

2

0

DA

PP

DA

HA

65

2

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raças Labrador Retriever, Pastor Alemão e SRD,estando de acordo com alguns autores consultados(Jackson, 2007) que referem a Labrador Retrievercomo a raça que apresenta um risco acrescido dedesenvolver este tipo de manifestação de reacção dehipersensibilidade, contrariamente ao verificado porPicco et al. (2008) num estudo retrospectivo realizadona Suiça, em que estas três raças não foram registadascomo predispostas para este tipo de reacção dehipersensibilidade.

Todos os casos de reacção de hipersensibilidadecutânea em canídeos apresentaram uma ligeira predominância do número de machos em relação aonúmero de fêmeas, contudo, estes resultados não estãoexactamente de acordo com alguns autores que defen-dem que não existe predisposição sexual em nenhumadestas reacções de hipersensibilidade (Ackerman eNesbitt, 1998; Matheus, 1998; Scott et al., 2001;Jackson, 2007). A justificação pode ser encontradadevido ao maior número de machos que se apresentouàs consultas de dermatologia.

As reacções de hipersensibilidade cutâneas diagnos-ticadas em felídeos registaram o total de 13 casos,tendo sido a DA a que obteve maior número de casos,seguindo-se a DAPP, e, por último, a HA. Contudo, tal

Figura 11 - Média de idades com quadro de reacção de hipersensibili-dade cutânea em felídeos.

Figura 12 - Distribuição por sexo, dos felídeos com quadro de reacçãode hipersensibilidade cutânea.

Figura 10 - HA queílite (à esquerda) e blefarite unilateral (à direita) num felídeo (Fotografia gentilmente cedida pelo HVP, 2007).

como acontece na espécie canina, a DAPP é descritacomo sendo a que afecta maior número de felídeos,seguindo-se a DA e a HA (Day, 1999). No entanto, adiferença obtida entre o número de casos obtidos naDAPP e na DA não foi significativa, pelo quepodemos afirmar que os resultados vão de encontro aoque é defendido pela bibliografia.

No que se refere à idade, verificou-se que asreacções de hipersensibilidade cutâneas afectaram osfelídeos entre os 6 meses e os 2 anos de idade, contu-do, os autores defendem que, de um modo geral, estasdermatopatias em felídeos podem surgir em qualqueridade (Medleau e Knilica, 2006).

Ackerman e Nesbitt (1998) referem que, emfelídeos, a idade do aparecimento da DA é variável,podendo surgir desde os seis meses aos oito anos deidade, embora, a maioria dos casos observados ocor-ram em gatos jovens, com idade variável entre os seismeses e os três anos de idade. A média de idades obti-da (2 anos) encontra-se na faixa etária, mencionadapelos autores, como sendo a mais frequente. Tambémas médias de idades obtidas nos casos diagnosticadoscomo DAPP (1,5 anos) e HA (0,6 meses) seenquadravam nas faixas etárias descritas para estasreacções de hipersensibilidade (Medleau e Knilica,

76543210

DA

PP

DA

HA

3 3

3

2

2

2,5

2

1,5

1

0,5

0

DA

PP

DA

HA

2

1,5

0,6

Sexo FSexo M

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maioritariamente gatos jovens, da raça EuropeuComum.

A distribuição obtida encontra-se de acordo comoutros estudos de casuística internacionais, ressaltan-do, contudo, o número elevado de casos deAngioedema e Urticária em canídeos, bem como aausência de casos diagnosticados de DermatiteAlérgica de Contacto e a DA com maior número decasos registados do que a DAPP, em felídeos.

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2006).A espécie felina revelou a predominância quase

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A única raça afectada por estas reacções dehipersensibilidade foi a Europeu Comum. Contudo, osautores Guaguère e Prélaud (1999) referem que nãoexiste predisposição racial para nenhum tipo dereacção de hipersensibilidade cutânea na espécie felina. Como tal, os resultados obtidos podem significar, apenas, que a raça Europeu Comum foi amais consultada, facto também verificado nasrestantes doenças do foro dermatológico.

A abordagem terapêutica seguida nos casos clínicosdescritos consistiu numa terapia convencional conser-vativa, que incluiu desde o controlo de ectoparasitas,passando pelo tratamento médico sintomático (anti-histaminícos, anti-inflamatórios e suplementoscom ácidos gordos essenciais), com antibioterapiadirigida nos animais afectados com piodermatitessecundárias, até à implementação de técnicas deimunoterapia alergeno-específicas, sempre baseadanum bom algoritmo de diagnóstico (clínico eserológico), de acordo com os manuais de dermatolo-gia e artigos científicos (Ackerman e Nesbitt, 1998;Scott et al., 2001; DeBoer e Hillier, 2001; DeBoer,2004; Medleau e Knilica, 2006). De acordo com estesautores, e com base nos fundamentos imunológicos,os testes serológicos realizados não devem ser utiliza-dos na avaliação inicial do paciente como testes detriagem mas sim após a obtenção de um diagnósticoclínico definitivo, com o objectivo de identificar osalergenos específicos, com vista à realização de autovacinas (DeBoer e Hillier, 2001; Griffin e Hillier, 2001; Deboer, 2004; Prélaud, 2005) e da sua implementação, no âmbito de um programa dedessensibilização. Este programa consiste na aplica-ção, a um animal sensível, de doses gradualmentecrescentes de extratos do alergeno, em intervalos detempo predeterminados, na tentativa de reverter oestado de hipersensibilidade.

Foi possível concluir que as consultas do foro dermatológico continuam a representar um númeromuito significativo das consultas em canídeos efelídeos e que as reacções de hipersensibilidadecutânea constituem um número significativo dessasconsultas (13,2%) no Norte do Portugal.

Em canídeos, a DAPP foi a reacção de hipersensi-bilidade mais frequente, seguida do Angioedema eUrticária, da DA e da HA, afectando os animais maisjovens, pertencentes às raças SRD, Labrador Retrievere Pastor Alemão.

Em felídeos, a DA foi a hipersensibilidade mais frequente, seguindo-se a DAPP e a HA, afectando

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Parâmetros ecocardiográficos de cães cronicamente infectados comTrypanosoma cruzi (Cepa Colombiana)

Echocardiographic parameters of dogs chronically infected byTrypanosoma cruzi (Colombian strain)

João P.E. Pascon1*, Marlos G. Sousa2, Aparecido A. Camacho1

1Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP,Câmpus de Jaboticabal – SP, Brasil

2Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins,Câmpus de Araguaína – TO, Brasil

Resumo: No continente Americano, aproximadamente 15 milhões de pessoas são acometidas pela doença de Chagas. Ocão é considerado modelo experimental, mas também é afetadopor essa doença ainda desconhecida pelos médicos veterinários.Desta forma, foram caracterizadas, as anormalidades ecoDop-plercardiográficas de cães cronicamente infectados com a cepaColombiana do Trypanosoma cruzi. A ecoDopplercardiografiarevelou inversão das ondas E e A mitral (0,71±0,17), dimi-nuição no tempo de relaxamento isovolumétrico e hipocinesiaseptal, confirmando a disfunção diastólica presente nos cãesavaliados. Portanto, a caracterização ecocardiográfica destescães, traz subsídios técnicos que possibilitam o reconhecimentodesta afecção, que a despeito de sua importância é pouco conhecida na espécie canina.

Palavras-chave: Animal, cardiomiopatia, doença de Chagas

Summary: On the American continent, almost 15 million people are affected by Chagas disease. Dogs are considered tobe an excellent experimental model to study Chagas disease,and are also affected by although the disease is infrequently recognized by Veterinarians. As a result, the characterisation ofechocardiograph abnormalities was performed in dogs whichhad a chronic experimental infection with Trypanosoma cruzi(the Colombian strain). The spectral Doppler echocardiographyshowed E and A mitral wave reversal (0.71±0.17), decrease in the isovolumetric relaxation time and septal hypokinesy confirming the presence of diastolic dysfunction present. In thisway, the echocardiograph characterisation of the animals in thisstudy increases the knowledge about this condition, increasingthe awareness for recognition of this frequent and important disease, but until now obscure for the canine species.

Keywords: Animal, cardiomyopathy, Chagas disease

Introdução

A cardiomiopatia chagásica ou tripanossomíase sul-americana é uma doença que há muitos anos afligeo continente Americano. Evidências foram encon-tradas em cadáveres mumificados, na América do Sul,com aproximadamente 4.000 anos de idade, contendomaterial gênico do Trypanosoma cruzi (Guhl et al.,1997). Popularmente conhecida como doença deChagas, é provocada pelo protozoário hemoflageladoTrypanosoma cruzi (Chagas, 1909abc), pertencente àordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae,gênero Trypanosoma, seção Stercoraria, e transmitidapor intermédio das fezes dos vetores conhecidos popularmente no Brasil como barbeiros, nos paíseslatino-americanos como “chinche” e nos EstadosUnidos da América como “Kissing bug”, pertencentesà ordem Hemítera, família Reduviidae, subfamiliaTriatominae (WHO, 1974).

Atualmente, 15 milhões de pessoas que habitam oterritório compreendido entre o México e a Argentinasão afetadas por esta doença (WHO, 2007), e 28 milhões vivem sob o risco de adquiri-la (WHO, 1991),representando assim um dos maiores problemas desaúde das Américas do Sul e Central (Prata, 1994).Segundo Wanderley e Corrêa (1995), Marin Neto etal. (1999), a globalização imprime importante partici-pação na disseminação da doença, a exemplo da estimativa sorológica positiva para doença de Chagasem meio milhão de pessoas nos Estados Unidos daAmérica.

Nos cães, pouco se conhece acerca da real incidên-cia e suas implicações clínicas ao longo do tempo, emcondições naturais. Estudos envolvendo 50 cães deproprietários portadores da doença de Chagas, na cidadede Botucatu-SP, e regiões próximas, indicaram 86%de cães positivos para T. cruzi, em pelo menos um dostestes aplicados (xenodiagnóstico, hemocultura e

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

RPCV (2009) 104 (569-572) 55-60

*Correspondência: [email protected]: +55 (16) 3209-2626

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PCR), demonstrando a ocorrência do ciclo de trans-missão e disseminação da doença, ainda nos dias dehoje (Lucheis et al., 2005). A prevalência sorológicapositiva em cães, na região rural do estado do MatoGrosso do Sul, foi recentemente descrita em 22,7%(Souza et al., 2009). Embora presente, menorprevalência foi observada nos cães do estado norteamericano do Texas, com 2,6% de positividade(Shadomy et al., 2004).

Clinicamente, os cães afetados apresentam vastagama de sinais clínicos, variando de assintomáticos àocorrência de óbito súbito, dificultando o diagnóstico.Neste intuito, a ecocardiografia vem se mostrando ferramenta fundamental, com capacidade de detectaralterações prévias a anormalidades eletrocardiográficasou radiográficas, auxiliando no diagnóstico e controledo quadro patológico. Em adição, a ecocardiografia é um exame dotado de singular sensibilidade, de execução rápida, não possuindo caráter invasivo(Acquatella et al., 1980; Mady et al., 1997; Borges-Pereira et al., 1998; Marques et al., 2006). Entretanto,o desconhecimento do clínico veterinário sobre estaafecção, aliado a diferenças de comportamento naturalentre as cepas e a falta de estudos a longo prazo,subestimam a real incidência desta doença nesta espécie.

Desta forma, concebeu-se o presente ensaio com ointuito de se avaliar as possíveis alterações ecoDop-plercardiográficas de cães cronicamente infectadospelo T. cruzi, cepa Colombiana, na tentativa de suprirparte da deficiência encontrada pelo profissional atuante na cardiologia e clínica médica de pequenosanimais, bem como na conscientização dos mesmossobre a importância deste diagnóstico para saúdepública.

Material e métodos

Indução da cardiomiopatia chagásica crônica ecronologia experimental

O T. cruzi (cepa Colombiana), cultivado emcamundongos albinos pelo Departamento deParasitologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticasde Ribeirão Preto, pertencente à Universidade de SãoPaulo – Brasil, foi inoculado, via intraperitoneal, emtreze cães, sem raça definida, fêmeas, com idade entreum e dois anos e peso corporal médio de 11,64±3,5,na dose de 1.000 tripomastigotas por quilograma depeso vivo. Antes e após três anos da inoculação, osanimais foram submetidos ao teste sorológico deimunofluorescência indireta (RIFI), na diluição de1:20 até 1:5120. Cada soro-controle negativo foi diluído a 1:40.

Os animais foram mantidos em canis individuais,higienizados diariamente, recebendo água e ração “ad libitum”, durante todo período experimental.

Previamente, os cães foram imunizados para os vírusda cinomose, hepatite infecciosa canina, parvovirose,rotavirose e dois sorovares da bactéria leptospira.Durante os 10 anos de infecção, amostras sanguínease eletrocardiográficas mensais foram coletadas, inter-pretadas e retratadas em publicação recente (Pascon etal., 2010). Entretanto, ao final do protocolo experi-mental (10 anos) e aquisição do recurso diagnóstico,os sete cães sobreviventes e assintomáticos foram submetidos à avaliação ecocardiográfica única. Seiscães apresentaram morte súbita durante este período e,portanto, não participaram deste estudo.

Ecocardiografia

O estudo ecocardiográfico foi realizado por meio deaparelho de ecodopplercardiografia (Aparelho 300 SPandion Vet – Pie Medical). Os modos bidimencional,modo – M e Doppler (pulsado, contínuo e de fluxo emcores) foram desenvolvidos com transdutor bifreqüen-cial de 5,0 – 7,5 MHz, sendo os dados armazenados namemória do aparelho para posterior mensuração e cálculo. As variáveis ecocardiográficas analisadasincluíram: diâmetro interno do ventrículo esquerdo(DIVE) e direito (DIVD), espessura do septo interventricular (SIV) e espessura da parede livre doventrículo esquerdo (PLVE), sendo todas as referidasvariáveis verificadas no fim da diástole (d) e no fimda sístole (s), somente o DIVD foi mensurado apenasna diástole. As variáveis foram calculadas com baseem imagens ecocardiográficas obtidas através domodo-M da janela paresternal direita, em seu eixotransversal, no plano das cordas tendíneas, sendo considerado como valor final a média de três cicloscardíacos.

Os índices funcionais, como fração de encurtamen-to [FS=(DIVEd-DIVEs)/DIVEd x 100] e fração deejeção (EF) foram calculados por meio do modo-M(método de Teicholz), o débito cardíaco (DC), por suavez, foi obtido pela imagem espectral bidimensionaldo fluxo sanguíneo pulmonar, utilizando o recursoDoppler pulsado. O tempo de relaxamento isovolu-métrico (TRIV), também foi calculado na janelaparesternal esquerda, corte apical cinco câmaras, peloDoppler da via de saída do ventrículo esquerdo. Odiâmetro da aorta e do átrio esquerdo foram mensura-dos no modo bidimensional, na janela paresternaldireita, eixo transversal, plano dos vasos da base, e posteriormente foi calculada a relação átrio esquerdo/aorta.

Por meio da ecocardiografia Doppler, foram identi-ficados os fluxos sangüíneos no coração, grandesvasos e quantificados quanto à direção, velocidade eturbulência, estabelecendo a presença ou ausência deinsuficiência valvar decorrente de regurgitações(Möise, 1988, 1994; Bond, 1991; Henik, 1995; Kienlee Thomas, 1995).

A função diastólica do miocárdio foi analisada pelos

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parâmetros ecocardiográficos de TRIV, relação dasondas E/A do fluxo mitral e observação dos padrõesde relaxamento miocárdico.

Comitê de ética

O presente estudo foi aprovado pelo comitê de éticapara o uso de animais, por respeitar os critérios adota-dos pela Escola Brasileira de Experimentação (nº doprotocolo: 017551-07).

Resultados

As variáveis ecoDopplercardiográficas descritas nametodologia acima, encontram-se organizadas sob aforma de tabelas (Tabelas 1, 2 e 3). A disfunçãodiastólica foi alteração mais frequentemente observadae constatada pelo padrão invertido da relação Dopplerespectral transmitral das ondas E/A (Figura 1A e Tabela3), juntamente com a hiposinesia do septo interventri-cular (Figura 2) e diminuição do TRIV (Tabela 2).

Tabela 1 - Valores individuais, médios e desvios-padrão das dimensões ventriculares durante a sístole e diástole, atriais esquerdas,aórticas e índices funcionais obtidos de sete cães adultos, fêmeas, portadores de cardiomiopatia chagásica crônica.

AnimaisMédia±DPM8 R1 R2 M1 M4 M5 M10

DIVDd 0,47 0,81 0,34 0,4 0,36 1,03 0,72 0,59±0,26SIVd 0,86 0,86 0,81 0,81 0,74 0,74 0,92 0,82±0,06DIVEd 3,2 2,9 3,08 3,26 2,95 2,54 3,38 3,04±0,27PLVEd 1,08 0,81 0,97 0,81 0,58 0,76 1,01 0,86±0,17SIVs 1,12 1,1 1,03 1,08 0,99 0,99 1,62 1,13±0,22DIVEs 1,55 2,09 1,82 1,89 1,6 1,84 1,89 1,81±0,18PLVEs 1,15 1,26 1,19 1,35 1,08 1,03 1,44 1,21±0,14EF% 84 56 73 74 79 56 76 71,14±10,96FS% 52 28 41 42 46 27 44 40,00±9,25dAO 2,21 1,94 2,34 1,8 1,55 1,53 1,33 1,81±0,37dAE 2,35 1,99 2,48 2,1 2 1,75 2,32 2,14±0,25AE/AO 1,06 1,03 1,06 1,17 1,29 1,14 1,74 1,21±0,25Área AE 6,97 7,36 9,58 11,35 7,41 4,97 9,39 8,15±2,10ES 0,29 0,31 0,22 0,29 0,45 0,4 0,25 0,32±0,08Slope 7,3 12,1 1,01 5,3 5,9 12,2 10,1 7,70±4,06Peso (Kg) 10,8 12 15,5 16,4 8,3 6,7 11,8 11,64±3,51

DIVDd - Diâmetro interno do ventrículo direito em cm; SIVd/s - Septo interventricular durante a diástole/sístole em cm; DIVEd/s- Diâmetro interno do ventrículo esquerdo durante a diástole/sístole em cm; PLVEd/s - Parede livre do ventrículo esquerdo durante a diástole/sístole em cm; EF% - Fração de ejeção; FS% - Fração de encurtamento; dAO - Diâmetro da artéria aorta em cm; dAE - Diâmetro do átrio esquerdo em cm; AE/AO - Relação AE/AO;Área AE - Área do AE em cm2; ES - Distância do ponto E ao septo em cm; Slope - Slope da onda E mitral em cm/s; DP - Desvio Padrão.

Tabela 2 - Valores individuais, médios e desvios-padrão do DC, TRIV e PPE obtidos de sete cães adultos, fêmeas, portadores de cardiomiopatia chagásica crônica.

AnimaisMédia±DPM8 R1 R2 M1 M4 M5 M10

DC L/minuto 1,08 2,61 2,1 2,34 1,25 1,15 0,84 1,62±0,70L/kg 0,1 0,21 0,13 0,14 0,15 0,17 0,07 0,14±0,04

TRIV 69 54 64 61 42 54 58 57,43±8,6PPE 61 58 61 61 64 70 75 64,29±6,04Peso (Kg) 10,8 12 15,5 16,4 8,3 6,7 11,8 11,64± 3,51

DC - Débito cardíaco; TRIV - Tempo de relaxamento isovolumétrico em milisegundos; PPE - Período de pré-ejeção em milisegundos; DP - Desvio padrão.

Figura 1 - Imagens ecocardiográficas, obtidas de cães adultos, fêmeas, portadores de cardiomiopatia chagásica crônica. A, imagem paresternal apicalesquerda e fluxo Doppler transmitral espectral, ilustrando a inversão das ondas E e A (disfunção diastólica). B, imagem apical esquerda quatro câmaras,evidenciando regurgitação em valva tricúspide em Doppler em cores e contínuo (setas).

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Apenas um cão (M5) apresentou regurgitaçãotricúspide com velocidade 3,23 m/s e gradiente deregurgitação 41,8 mmHg (Figura 1B). As imagensecocardiográficas deste animal foram compatíveiscom o diagnóstico de degeneração mixomatosa devalva tricúspide, não correlacionada à doença deChagas. Não foi observada cardiomegalia em nenhumcão, a luz deste exame complementar.

Discussão

O exame auxiliar ecoDopplercardiográfico mostrou--se exequível e muito eficiente na observação dafunção hemodinâmica dos cães com cardiomiopatiachagásica crônica. Embora existam diversos indica-dores ecocardiográficos da função diastólica, os picosde velocidades das ondas E (PEV) e A (PAV), arelação PEV/PAV e TRIV se destacam pela fácil realização e extrema relevância (Nishimura e Tajik,1997). No presente trabalho, a disfunção diastólica doventrículo esquerdo foi principalmente evidenciadapelo padrão invertido da relação Doppler espectraltransmitral das ondas E/A, corroborando os dados deBarros et al. (2002), Alves (2003) e Carod-Artal et al.(2003). Em menores proporções, o TRIV e a hipocine-sia septal também indicaram a presença de disfunçãodiastólica.

Segundo Schober e Fuentes (2001), a idade dos cãesinfluencia inversamente nos índices PEV/PAV e TRIV.Pereira et al. (2009), porém, não observaram corre-lação significativa entre a idade e o TRIV de cães.

Neste contexto, a idade dos cães aqui avaliados exigecautela na interpretação dos resultados. Entretanto, aanálise macro e microscópica do miocárdio dos cãesinfectados revelaram intensa fibrose cardíaca, nãodeixando dúvidas quanto à presença de disfunção noscães deste ensaio.

Clinicamente, a disfunção cardíaca apresentada nãoresultou em sintomatologia, exceto pela ocorrência demorte súbita em seis dos sete cães estudados, emperíodo de 30 dias (M10) há 13 meses (M5) apósavaliação ecocardiográfica. Um cão (M8) foi sacrifi-cado após tentativas terapêuticas mal sucedidas paramastocitoma em região distal de membro torácico epescoço, diagnosticado três anos após o fim do perío-do experimental. Desta forma, assim como observado

Tabela 3 - Valores individuais, médios e desvios-padrão dos fluxos mitral, pulmonar, aórtico e tricúspide, obtidos de sete cães adultos, fêmeas, portadores de cardiomiopatia chagásica crônica.

AnimaisMédia±DPM8 R1 R2 M1 M4 M5 M10

Mitral

PEVm/s 0,45 0,5 0,43 0,46 0,55 0,43 0,57 0,48±0,05

PAVm/s 0,68 0,74 0,63 0,64 0,82 0,73 0,51 0,68±0,09

PEV/PAV 0,66 0,67 0,63 0,71 0,67 0,58 1,11 0,71±0,17

PPGE mmHg 0,8 1 0,7 0,8 1,2 0,7 1,3 0,93±0,24

PPGA mmHg 1,8 2,2 1,6 1,6 2,7 2,1 1 1,86±0,54

Pulmonar

VMAX m/s 0,5 0,7 - 0,74 0,84 0,84 0,64 0,71±0,12

GMAX mmHg 1 2 - 2,2 2,8 2,8 1,6 2,07±0,70

Aorta

VMAX m/s 0,78 0,9 0,65 0,87 1,04 0,86 1,02 0,87±0,13

GMAX mmHg 2,4 3,3 1,7 3 4,3 3 4,1 3,11±0,90

Tricúspide

PEVm/s - - - - 0,9 0,45 0,51 0,62±0,24

PAVm/s - - - - 0,55 0,65 0,25 0,48±0,20

PEV/PAV - - - - 1,63 0,69 2,04 1,45± 0,69

PPGE mmHg - - - - 3,3 0,8 1 1,70±1,38

PPGA mmHg - - - - 1,2 1,7 0,3 1,07±0,70

Peso (kg) 10,8 12 15,5 16,4 8,3 6,7 11,8 11,64± 3,51

PEV - Pico de velocidade da onda E; PAV - Pico de velocidade da onda A; PPGE - Pico do gradiente de pressão da onda E; PPGA - Pico do gradiente de pressão da onda A; VMAX - Velocidade máxima do fluxo; GMAX - Gradiente máximo do fluxo; DP - Desvio padrão.

Figura 2 - Imagen paresternal direita, eixo transversal, em nível cordal,evidenciando hipocinesia de septo interventricular (seta), obtida de cãoadulto, fêmea, portador de cardiomiopatia chagásica crônica.

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para outras afecções cardíacas (Werner et al., 1993),a disfunção diastólica comportou-se como indicadorprognóstico para cardiopatia experimental utilizada.

Em seres humanos com cardiomiopatia chagásica,durante o período assintomático, o exame ecocardio-gráfico também se destaca por detectar alteraçõesdiastólicas precoce às sistólicas, mesmo na ausênciade sinais clínicos ou eletrocardiográficos sugestivos(Marin-Neto et al., 2000, Marques et al., 2006).Embora as considerações descritas para sereshumanos se assemelhem aos resultados aqui apresen-tados, não foi observada disfunção sistólica, nem realizada avaliação ecocardiográfica pareada que permitisse tais considerações.

De acordo com Barros et al. (2002), a miocarditechagásica implica danos às fibras do miocárdio, componentes do sistema de sustentação, interstício,sistema excitocondutor e integridade vascular, deforma focal, podendo culminar em disfunção ventri-cular, detectável por meio da ecocardiografia Doppler.Possivelmente, a fibrose miocárdica promovida pelainfecção experimental pelo T. cruzi, em sua fasecrônica, possa ser responsável pela disfunção diastóli-ca observada, bem como pela ocorrência de mortesúbita por arritmias ventriculares.

Cardiomegalia pode ser percebida durante o exameecocardiográfico de animais (Meurs et al., 1998;Alves, 2003) e seres humanos com doença de Chagas(Barros et al., 2002; Carod-Atal et al., 2003; Nunes etal., 2004). Todavia, no presente estudo experimental,não houve dilatação de câmaras, mostrando o com-portamento da cepa Colombiana envolvida, levandoprincipalmente a um quadro de fibrose do miocárdio,resultando em disfunção diastólica. Hipocinesia desepto interventricular foi detectada nos cães experi-mentados, corroborando os dados de Alves (2003) emcães, Borges-Pereira et al. (1998) e Marques et al.(2006) em seres humanos, portadores de cardiomiopa-tia chagásica crônica.

De acordo com as condições em que esse estudo foirealizado, conclui-se que a cardiomiopatia chagásicacrônica (cepa Colombiana), em cães, é caracterizadasob o aspecto ecocardiográfico por disfunção diastólica.Desta forma, o presente ensaio ajuda a desmistificar adoença de Chagas na espécie canina, chamando atençãopara sua característica ultrasonograficas, trazendo infor-mações singulares para o clínico veterinário.

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Caracterização de agressões entre canídeos (83 casos)

Characterization of dog-to-dog aggression (83 cases)

Sofia Mouro*, Cristina L. Vilela, Manuela R.E. Niza

CIISA/Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de LisboaAv. da Universidade Técnica, Pólo Universitário Alto da Ajuda, 1300-477 Lisboa – Portugal

Resumo: A agressividade é considerada um comportamentomultifactorial, frequentemente observada em canídeos, dirigidana sua maioria contra animais da mesma espécie. Este estudo,que teve como objectivo fazer uma primeira abordagem sistematizada das agressões entre canídeos, reuniu 83 casosobservados na Faculdade de Medicina Veterinária, UniversidadeTécnica de Lisboa, e na Clínica Veterinária Azevet, em Azeitão.A informação foi recolhida através de um questionário aplicadoaos proprietários dos animais presentes à consulta, aqui consi-derados como "agredidos". Verificaram-se em média 7,5agressões mensais, tendo a maior parte ocorrido no exterior,quer na via pública (43,4%) quer no exterior das habitações(42,2%). Do total dos canídeos envolvidos nas agressões, 54,2%eram de raça pura, a maioria eram machos inteiros e 13,3% dosagressores pertenciam a raças legalmente consideradas comopotencialmente perigosas. A maioria dos canídeos habitava noexterior e tinha acesso à via pública. Observou-se uma proba-bilidade significativamente mais elevada de animais jovensagredirem outros mais idosos. Pelo menos 52,8% dos agressores eram reincidentes e 13,2% tinham previamentedemonstrado agressividade dirigida contra humanos. As medi-das de contenção legalmente estipuladas não eram cumpridasem 34,4% dos animais. Pelo menos 16,3% não possuiam vacina anti-rábica actualizada e em 39,2% o estado vacinal era desconhecido. As características multifactoriais da agressividade em canídeos, com aspectos inerentes ao animal,ao proprietário e ao ambiente envolvente, requerem o estabele-cimento de parcerias multidisciplinares, que possibilitem adelineação de medidas preventivas eficazes.

Summary: Aggression is a multifactorial behavior pathologyfrequently observed in dogs, mostly directed to the same animalspecies. This study, that aimed at performing a first evaluationof aggression between dogs, comprises 83 cases presented at theFaculty of Veterinary Medicine, Technical University of Lisbon,and at a private practice (Azevet, Azeitão). The information wasgathered though a questionnaire applied to the owners of thedogs present to consultation, here considered as "bitten dogs".The average number of monthly aggressions was 7.5, the majority of which (43.3%) took place outdoors, either in publicplaces or outside the houses (42.2%). From the total of dogsinvolved in the aggressions, 54.2% were from pure breeds,mostly intact males, and 13.3% of the aggressors belonged tobreeds legally considered as potentially dangerous. The majori-ty of the dogs lived in yards and had access to public spaces. Asignificant higher probability of younger animals to injure older

dogs was observed. At least 52.8% of the aggressors were re-incident, and 13.2% had previously shown aggressive behavior patterns towards humans. The legally stipulatedrestraining methods were not followed in 34.4% of the animals.At least 16.3% of the dogs were not immunized against rabies,and the vaccinal status was unknown in 39.2% of the cases. Themultifactorial scope of dog-to-dog aggressions, with aspectsrelated to the animal itself, to the owner and to the environment,requires the establishment of multidisciplinary partnerships,which may allow for the design of efficient preventive measures.

Introdução

As agressões por canídeos são frequentes, geralmentedirigidas contra animais da mesma espécie (Kolata etal., 1974), embora a maioria das publicações se refirasobretudo às dirigidas contra seres humanos (Goldsteinet al., 1978; Ordog, 1986; Feder et al., 1987; Griego etal., 1995; Freud et al., 1997; Garcia, 1997), sendoescassas as informações disponíveis na literatura veterinária (Kelly et al., 1992; Griffin e Holt, 2001;Shamir et al., 2002; Meyers et al., 2007).

A agressividade é considerada uma patologia comportamental de origem multifactorial. O compor-tamento padrão de um canídeo, a demonstração deagressividade para animais da mesma ou de outraespécie, e a reincidência como agressor ou como agredido, são importantes para a caracterização comportamental dum animal (Overall, 1997). A deter-minação do local onde as agressões ocorrem, bemcomo a caracterização dos animais envolvidos, sãoessenciais para o estabelecimento de medidas preven-tivas (Cornwell, 1997). Estes factores não têm sidodevidamente valorizados, pelo que se sabe muitopouco sobre o comportamento dos cães envolvidos emagressões, havendo aspectos que necessitam ser apro-fundados. Não se encontram documentados numabase de dados nacional, o número e gravidade deagressões infligidas por canídeos a seres humanos. Noentanto, dados recolhidos nos Estados Unidos revelamum aumento do número e da gravidade destasagressões (Sacks et al., 2000; CDC, 2003) o que,

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*Correspondência: [email protected]

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aliado à maior divulgação mediática, levou a quemuitos países, incluindo Portugal, tivessem desen-volvido legislação com o objectivo de diminuir a suaincidência.

Este estudo teve como objectivo fazer uma primeiraabordagem sistematizada de agressões entre canídeoscujos proprietários habitam nas regiões de Lisboa e deSetúbal. De entre os parâmetros estudados incluem-sea determinação do local onde as agressões ocorreram,a caracterização dos animais envolvidos, o seu habitat,o seu acesso à via pública e o seu eventual envolvi-mento prévio noutras agressões. Foi ainda avaliado ograu de cumprimento da legislação vigente quanto àutilização dos métodos de contenção obrigatórios, eestado de imunização contra a raiva.

Material e métodos

Este estudo decorreu entre Outubro de 2004 eAgosto de 2005 e incidiu sobre 83 casos de agressãoentre canídeos. As vítimas foram apresentadas paraconsulta no Hospital Escolar da Faculdade deMedicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa(61,4%) e na Clínica Veterinária Azevet (38,6%), emAzeitão, Setúbal. A informação foi recolhida atravésde um questionário, preenchido pelo médico veteri-nário assistente em conjunto com o proprietário. Foiobtido consentimento informado de todos os proprie-tários para a inclusão dos seus animais no estudo. Faceà impossibilidade de determinar com rigor qual ocanídeo que despoletou a agressão, o animal presenteà consulta é aqui considerado como "agredido", e ooutro animal envolvido como "agressor". Assim, umcanídeo foi definido como agredido quando o motivoda consulta foi a presença de lesões devidas à agressãolevada a cabo por outro cão. Contudo neste estudo nãofoi averiguado se a agressão foi ou não despoletadapelo próprio animal.

O questionário visou determinar o local onde ocorreu a agressão e recolher dados referentes ao animal agredido. Sempre que o proprietário assistiu àagressão, foram também recolhidos dados sobre oagressor.

Foi recolhida informação sobre o sexo, raça, idade,estado reprodutivo e anterior envolvimento doscanídeos em agressões, tanto contra humanos comocontra animais. Os canídeos foram considerados cruzados quando descendiam de progenitores de raçasdiferentes, podendo um deles ser de raça indetermina-da. Foram considerados de raça indeterminada quandodefinidos pelos proprietários do agredido como"rafeiros". Os animais foram considerados de raçadesconhecida quando esta não foi determinada oureconhecida. A idade foi registada em anos completos.Foram ainda registados o local da agressão e o habitatdos animais envolvidos (via pública, exterior ou interior das habitações). Outro dos dados colhidos foi o

acesso dos animais à via pública e, em caso afirmativo,a utilização de meios de contenção, nomeadamentetrela e/ou açaimo. Por fim, foi averiguada a existênciade história de envolvimento anterior em agressões, sejacomo agressor ou como agredido e se, mesmo sem concretizar a agressão, os animais demonstravam sinaisde agressividade em relações a outros animais e/ouseres humanos. O estado vacinal em relação à pre-venção da raiva foi determinado com base no boletimde vacinação; sempre que este não foi apresentado, oestado vacinal foi considerado desconhecido.

Os dados foram processados com o auxílio das aplicações informáticas EXCEL 2000 e SPSS 12.0 forWindows. A análise descritiva foi realizada através dadistribuição de frequências. A média foi utilizada paracaracterizar as tendências centrais das variáveis. Aanálise estatística foi realizada através do teste t.

Resultados

As agressões foram documentadas principalmentedurante os meses de Fevereiro (16,7%), Novembro(14,5%) e Janeiro, Maio e Junho (9,6% cada), comoexplicitado no Gráfico 1.

As agressões ocorreram principalmente no exterior,quer na via pública (36/83, 43,4%) quer em proprie-dade privada, no exterior das habitações (35/83,42,2%). Os registos com caracterização completa de animal agredido e agressor corresponderam maio-ritariamente a casos de canídeos pertencentes aomesmo proprietário.

Dos 83 canídeos agredidos, 22 (26,5 %) eram deraça indeterminada, 14 (16,9%) eram cruzados e 47(56,6%) de raça pura. Estes últimos pertenciam a 20raças diferentes (Gráfico 2a), estando mais represen-tadas as raças Caniche e Labrador Retriever (ambas

Gráfico 1 - Distribuição mensal das agressões entre canídeos (n=83).

Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

14

12

10

8

6

4

2

0

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com 8/83, 9,6%), seguidas de Husky Siberiano e deRottweiler (ambas com 4/83, 4,8%). A raça dos agres-sores foi apurada em 65/83 (78,3 %) dos casos, sendo43 (66,2%) animais de raça pura, distribuidos por 17raças (Gráfico 2b). As mais representadas foram a PitBull e a Pastor Alemão, ambas com 7/83 (8,4%). Oscanídeos agressores de raça indeterminada foramresponsáveis por 19 das agressões (22,9%).

Tabela 1- Relação entre o sexo e o estado reprodutivo dos agredidos e dos agressores (n=83)

Agredidos Agressores

Macho Macho Macho Fêmea Fêmea Fêmea Desconhecidointeiro castrado ? inteira castrada ?

Macho inteiro 29 0 6 3 0 2 25

Macho castrado 1 1 0 0 0 0 0

Fêmea inteira 1 0 2 5 0 2 2

Fêmea castrada 1 0 0 1 1 1 0

Gráfico 2 - Raça dos canídeos envolvidos em agressões intra-específi-cas (N=83). Distribuição de frequências para esta variável: a) dos agredidos; b) dos agressores.

Gráfico 3 - Relação entre a idade do canídeo agredido e a do canídeoagressor, em cada agressão (n=39).

A idade média dos animais agredidos foi 5,5 anos (1a 15), tendo a maioria menos de 5 anos de idade(50/83, 60,2%) (Gráfico 3). A idade dos agressores foiapurada em 39 casos (47%), sendo inferior a 5 anosem 30 animais (76,9%), e apresentando um valormédio de 3,79 anos (1 a 12) (Gráfico 3). O teste t paravariáveis dependentes, efectuado a partir dos resulta-dos das 39 agressões em que a idade de ambos os animais envolvidos foi determinada, demonstrou aexistência de uma diferença estatisticamente signifi-cativa entre a idade do agressor e do agredido(p=0,0211). Estes resultados revelam que, em cadaagressão, o agressor é mais jovem do que o respectivoagredido, de forma estatisticamente significativa

A maior parte das agressões ocorreu entre animaisdo mesmo sexo (n=47, 56,6%), principalmente entremachos (n=37, 44,6%), na sua maioria inteiros (78,3%dos agredidos e 38,6% dos agressores eram machosinteiros) (Tabela 1).

Dos 83 animais agredidos, a grande maioria habitava em propriedade privada, 36 no exterior(43,4%), e 26 no interior (31,3%) das habitações. Ohabitat do canídeo agressor foi apurado em 55 casos(66,3%). Destes, a maioria também habitava em propriedade privada, 35 no exterior (42,2%) e 11 no interior (13,3%) das habitações. Habitavam na via pública um dos agredidos (1,2%) e dois dos agressores (3,6%). A maioria dos machos inteirosenvolvidos em agressões tinha acesso à via pública(N=60); destes, 43 foram agredidos e 17 identificadoscomo agressores.

Tinham acesso à via pública 56 dos 83 animais agre-didos (67,5%). Destes, e de acordo com a informaçãodos proprietários, 22 utilizavam sempre trela (39,3%),15 utilizavam-na esporadicamente (26,7%) e 19 nuncaa utilizavam (34%), sendo o açaimo utilizado apenas

INDETERMINADACRUZADACANICHE

LABRADOR RETRIVIERHUSKY SIBERIANO

EPAGNEUL BRETONROTTWEILER

DOBERMANBOXER

FILA BRASILEIROCÃO ÁGUA

COCKER INGLESCOCKER SPANIEL

POINTERFOX TERRIER

GOLDEN RETRIVIERPASTOR ALEMÃO

PASTOR BELGAPEQUINOIS

PERDIGUEIROPINCHERSHAR-PEI

0 5 10 15 20 25N

a)

INDETERMINADADESCONHECIDA

PASTOR ALEMÃOPITT BULL

LABRADOR RETRIVIERBOXER

CRUZADAEPAGNEUL BRETON

GRAND’ANOISHUSKY SIBERIANO

ROTTWEILERSERRA DA ESTRELA

BRACOBOUVIER FLANDRES

CÃO ÁGUADOGUE ARGENTINOGOLDEN RETRIVIER

MASTIM PIRINÉUSMALAMUTE DO ALASCA

SHAR-PEI

0 5 10 15 20N

b)

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em um dos canídeos agredidos (1,8%). Dos 36 animais agredidos na via pública (43,4%), 12 não utilizavam trela (33,3%), e destes, apenas 11 a usavamsempre (30,6%) (Gráfico 4a); apenas um dos animaisvítima de agressão na via pública utilizava açaimo. Avariável "acesso à via pública" foi apurada em 58 dosagressores (69,9%), tendo-se verificado 34 (58,6%)respostas afirmativas. Observou-se ainda que 77% dosagressores de raça indeterminada com respostas válidas tinham acesso à via pública, comparativa-mente a 53,7% dos canídeos de raça pura. Dos 34agressores com acesso à via pública, a trela nunca era utilizada em 12 deles (35,3%). Este método de contenção era sempre usado em 19 dos casos (55,9%),sendo-o esporadicamente em 3 dos canídeos (8,8%)(Gráfico 4b). O açaimo era utilizado em 3 dos agressores com acesso à via pública (8,8%), quando aí transitavam. Dos 90 animais com acesso a esselocal, 34,4% (19 agredidos e 12 agressores) nunca utilizavam trela.

Pelo menos 31 dos 83 animais agredidos (37,3%) já tinham sido anteriormente vítimas de agressão por outros cães. Os agressores reincidentes corres-ponderam a 19 das 36 respostas válidas (52,8%). Amanifestação prévia de agressividade pelos agressoresfoi apurada em 38 (45,8%) casos. Essa manifestaçãotinha sido dirigida contra outras espécies em 42,1%das respostas válidas, nomeadamente contra gatos(n=12), seres humanos (n=5) e outros (n=1).

Em 65 dos 166 animais envolvidos nas agressões,incluindo agressores e agredidos, não foi possíveldeterminar o estado vacinal contra a raiva de 39,15%,o que corresponde a 18,1% dos agredidos e 60,2% dosagressores (Gráfico 5). A vacinação dos canídeosagredidos estava actualizada em 50 dos casos (60,2%)e desactualizada em 18 (21,7%). Nos agressores, verificou-se que 24 estavam vacinados (28,9%) e 9 não estavam vacinados ou tinham a vacinação ematraso (10,8%).

Gráfico 5 - Estado vacinal contra a raiva: a) dos agredidos; b) dos agressores.

Gráfico 4 - Utilização de trela (%): a) nos animais agredidos na via pública (n=36) ; b) nos agressores com acesso à via pública (n=34).

a)

a)

b)

b)

13,89

35,3

55,9

8,8

18,1

60,221,7 60,2

28,9

10,8

30,56

33,33

22,22

SimÀs vezesNãoNão responde

VacinadoNão vacinadoDesconhecido

VacinadoNão vacinadoDesconhecido

SimÀs vezesNão

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Discussão

Este estudo incidiu sobre 83 casos de agressão entrecanídeos. Não foi possível estimar a incidência eprevalência destas agressões nas regiões em estudo,uma vez que a amostra foi definida por conveniência,incluindo apenas animais levados à consulta pelo seuproprietário. Os resultados referentes à caracterizaçãodas agressões e dos animais envolvidos, correspon-dem assim a frequências relativas face ao total daamostra considerada.

Devido a agressão, foram assistidos mensalmente,em média, 7,5 canídeos, valor muito semelhante aodescrito na literatura (Kelly et al., 1992; Griffin eHolt, 2001; Shamir et al., 2002). Contudo, outros trabalhos referem resultados diferentes, tanto no sentido de valores superiores como inferiores, o quepoderá refletir diferenças existentes nos países ondeos estudos foram realizados (Sherman et al., 1996;Baranyiová et al., 2003).

As agressões ocorreram ao longo de todo o ano,com picos nos meses de Fevereiro e Novembro (16,7%e, 14,5%, respectivamente), seguidos de Janeiro, Maioe Junho (9,6% cada). Estes dados não estão em con-cordância com outros, que reportam, nos EstadosUnidos, picos de agressão nos meses de Verão(Langley, 1994; Kahn et al., 2003), o que foi atribuídoa um maior acesso ao exterior ou a alterações de habi-tat em períodos de férias, em que tanto os donos comoos animais passam mais tempo no exterior (Shamir etal., 2002). Os resultados por nós obtidos podem serdevidos ao facto de haver um maior número de animais com acesso à via pública durante todo o ano eao facto de a fiscalização sobre o cumprimento dolegalmente instituído sobre meios de contenção sermuito deficiente.

Os canídeos agressores foram identificados em78,3% das agressões, o que está de acordo com oreferido por outros autores (Kahn et al., 2003).

Em relação à raça dos animais envolvidos verificou--se que a maioria dos animais envolvidos nasagressões era de raça pura, o que está de acordo comoutros autores (Beaver, 1993; Roll e Unshel, 1997;Sherman et al., 1996; Griffin e Holt, 2001). No entanto, um número apreciável de animais agredidos(n=36, 43,4%) e de agressores (n=22; 33,8%) não pertenciam a raças puras. Do total dos agressores,13,3% pertenciam a raças, ou cruzamentos de raças,consideradas "potencialmente perigosas" pela actuallegislação portuguesa (Port nº 422/2004), nomeada-mente Pit Bull, Rottweiler e Dogue Argentino. Estesresultados poderão, à semelhança do observadonoutros países (Clifford, 1984; Wright, 1991;Williams e Williams, 1992; Quinlan e Sacks, 1999;Monti, 2000; Sacks et al., 2000; Wapner e Wilson,2000), colocar em causa a discriminação racial doscanídeos patente na legislação. No entanto, os resulta-dos poderão ter sido influenciados pela legislação

vigente desde 2004, reflectindo uma melhor conten-ção dos animais ou uma maior consciencialização dosproprietários de outros cães, que os levará a evitar ocontacto com animais de raças consideradas poten-cialmente perigosas. No presente trabalho, PastorAlemão (8,4%) e Pit Bull (8,4%) foram as raças maisrepresentadas no grupo dos agressores. Estas raçasforam referidas como as mais implicadas em agres-sões fatais a humanos (Wright, 1991; CDC, 1997;Sacks et al., 2000; Allen, 2001). Para determinar comrigor qual a verdadeira perigosidade de determinadaraça, é necessário conhecer não apenas o número de agressões perpetradas por cães dessa raça, mastambém o número de animais dessa raça que existe napopulação em geral, e o tempo que estes têm de con-tacto com seres humanos e/ou com outros animais(Williams e Williams, 1992; Quinlan e Sacks, 1999).

A educação de um cachorro é de extrema importân-cia na modelação do seu comportamento (Roll eUnshelm, 1997). Contudo, alguns autores defendemque a agressividade tem uma base hereditária, sendomais comum em certas raças (Abraham, 1995; Allen,2001). Outros, pelo contrário, alegam que os animaiscruzados são os principais responsáveis não só pelasmordeduras a seres humanos (Wright, 1991), mastambém pela maioria das mortes (Overall e Love,2001). São por isso necessárias algumas precauçõesna interpretação dos resultados respeitantes à raça doagressor, uma vez que é consensual que a avaliação da agressividade dum cão deve ter em conta outrosfactores, sendo defendido que a variabilidade indivi-dual seria o factor mais importante (Clifford, 1984). Aeleição de raças perigosas depende, junto da opiniãopública, mais da sua popularidade do que de estudosepidemiológicos realizados em grande escala. Osmeios de comunicação social têm, em muito, con-tribuído para a opinião generalizada de que algumasraças de cães são inerentemente violentas (Wapner eWilson, 2000). Tem sido contestada a imposição deleis rígidas, baseadas apenas na raça do animal, com afinalidade de prevenir situações de agressão, devido aesta medida se ter revelado notoriamente insuficiente(Monti, 2000). Estas decisões são frequentemente oresultado de processos políticos pragmáticos, porvezes sujeitos a interesses económicos, nomeada-mente por parte das seguradoras (Wapner e Wilson,2000). Acresce ainda que, a identificação de raças emcanídeos se reveste de alguma complexidade, sendonecessário criar métodos práticos e objectivos paraeste fim (Sacks et al., 2000). Não podemos ignorarque o facto de determinadas raças serem consideradasperigosas se deve, sobretudo, ao seu mau uso ou descuidada posse pelos proprietários de animaisdessas raças, o que pode resultar em casos de morteinaceitável de cidadãos. Actualmente é difícil, em termos legais, determinar quais os proprietários obrigados a cumprir legislação especial. Tal como amaioria dos autores, defendemos ser mais importante

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penalizar o proprietário de um animal com comporta-mento agressivo, que seja cronicamente irresponsável,do que os proprietários cujos canídeos pertençam adeterminada raça (Monti, 2000; Sacks et al., 2000).

Relativamente à idade dos animais envolvidos nasagressões, verificou-se que os agressores eram emmédia mais jovens do que os agredidos, sendo patente,em ambos os grupos, um declínio do número de animais com o avanço da idade. Este facto foi constatado por outros autores (Baranyiová et al.,2003), podendo ser determinado não só pela distri-buição etária da população em geral, mas também pelaexperiência adquirida nos confrontos ao longo davida, pela educação proporcionada pelos proprietáriosou pelos hábitos adquiridos com a idade, que podemcom o envelhecimento conduzir a um menor contactocom outros animais. Na amostra em estudo observou--se um risco significativamente maior de agressão poranimais mais jovens a outros mais velhos, do que oinverso.

Verificou-se que a maioria dos canídeos envolvidosnas agressões pertencia ao mesmo sexo e erammachos inteiros, o que está de acordo com outrasdescrições (Kolata et al., 1974; Hart e Hart, 1985;Beaver, 1993; Sherman et al., 1996; Overall, 1997;Griffin e Holt 2001; Shamir et al., 2002; Baranyiováet al., 2003). A castração, ao afectar a componentehormonal modeladora do comportamento (Overall,1997), pode reduzir em 50 a 60% a agressividadedirigida contra outros cães (Hart e Hart, 1985), peloque a legislação que determina a esterilização obrigatória de canídeos, sempre que esteja em risco asegurança de pessoas ou outros animais (Decreto-Leinº 312/2003) pode ter algum papel preventivo destasagressões.

Foram recentemente introduzidas no nosso paísdeterminações legais (Despacho nº 10819/2008),aplicáveis aos animais de raças definidas como poten-cialmente perigosas, bem como aos resultados decruzamentos daquelas raças entre si ou com outras(Portaria nº422/2004). A legislação actual obriga à suaesterilização a partir dos 4 meses de idade, e proíbe asua reprodução ou criação, se os animais nãoestiverem inscritos nos livros de origem oficialmentereconhecidos, bem como a sua entrada em territórionacional sem a autorização da Direcção-Geral deVeterinária. Em Portugal, os canídeos machos não sãocastrados por rotina. Não é possível concluir no nossoestudo se os machos inteiros apresentam maiorestendências agressivas, ou se apenas se encontram maisrepresentados na população.

Os resultados deste estudo revelam que 43,4% dos agredidos e 63,6% dos agressores habitavam noexterior. Esta variável não foi incluída nos outros estudos disponíveis na bibliografia. Apesar de não ter sido possível incluir a variável "habitat" como umfactor de risco para o envolvimento em agressões,devido ao tamanho da amostra e à inexistência dum

grupo de controlo, os resultados sugerem que o localonde os animais vivem diariamente pode influenciarnão apenas o seu carácter, mas também a probabili-dade do seu envolvimento em agressões.

Dado que a maioria dos animais na nossa amostratinha acesso à via pública, local onde ocorreu a maiorparte das agressões, considerámos importante avaliaro cumprimento das disposições legais relativas à utilização de métodos de contenção. Verificámos que,do total de animais com acesso a locais públicosenvolvidos em agressões, 34,4% nunca utilizavamtrela, não cumprindo com as determinações legais.Apenas 30,6% dos animais agredidos na via pública, e55,9% dos agressores com acesso a este local, utilizavam sempre trela. É possível que a maior fre-quência de utilização constante de trela em agressorescom acesso à via pública possa advir do facto de estesanimais serem reconhecidos pelos proprietários comomais agressivos, do que os pertencentes ao grupo dosagredidos. No entanto, este resultado pode ter sidoafectado pelo número reduzido de agressores em queesta variável foi apurada.

Verificou-se que apenas um pequeno número dosanimais pertencentes ao grupo dos agressores utilizava açaimo quando circulava na via pública.Estes canídeos pertenciam a raças consideradas poten-cialmente perigosas, nomeadamente Pit Bull Terrier e Rottweiler, em que a utilização deste método de contenção é obrigatória. Duas destas agressões ocorreram no interior das habitações, e a outra noexterior, mas em propriedade privada. Estes agres-sores só utilizavam açaimo na via pública, não o utilizando nos locais onde ocorreram as agressões.Apenas um dos animais vítimas de agressão na viapública utilizava açaimo. Alguns proprietários rejeitama utilização de açaimo nos seus canídeos, alegandoque a sua utilização, ao encontrar-se muito poucodifundida no nosso país, pode impedir o animal de sedefender, o que conduzirá ao agravamento das lesõessofridas em caso de agressão. No entanto, esta posiçãoserá completamente indefensável assim que a legislação for efectivamente cumprida por todos osproprietários.

A análise dos resultados obtidos neste estudo revelou que 52,8% dos agressores eram reincidentes.Uma taxa de reincidência de 88% é referida por Rolle Unshelm (1997), realçando que 31% dos cãesenvolvidos em agressões tinham sido previamentereconhecidos pelos seus proprietários como "inimigos".Estes resultados sugerem que as agressões entrecanídeos não são um acontecimento esporádico,encontrando-se frequentemente associadas a compor-tamentos declaradamente agressivos. Neste enquadra-mento, grande parte das agressões entre canídeospodem ser evitadas se os proprietários as preveniremcom base em comportamentos prévios (Roll eUnshelm, 1997).

De entre os animais em estudo, mais de um oitavo

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dos agressores tinham demonstrado anteriormenteagressividade dirigida contra humanos. Apesar disto,verificou-se que 60% destes animais tinha livre acesso à via pública, e que apenas 20% utilizava trelae nenhum utilizava açaimo. Estes resultados vêmreforçar a importância da utilização dos métodos decontenção estipulados legalmente para quando os animais circulam em espaços públicos (Decreto-Lei nº 314/2003). A vigilância dos animais pelos proprie-tários, quando circulam nestes locais, é tambémextremamente importante, porque os canídeos quevagueiam na rua podem tornar-se mais agressivos doque os vadios (Overall e Love, 2001). No nosso estudoregistámos que 1,2% dos agredidos e pelo menos3,6% dos agressores habitavam na via pública. O controlo dos animais vadios ou errantes é tambémessencial para diminuir o número de agressões, peloque a lei vigente que estipula que esses animais devemser capturados e recolhidos no canil municipal(Decreto-Lei nº 314/2003) se reveste de uma extremaimportância.

A possibilidade de transmissão da raiva através de mordedura por canídeos constitui uma grande preo-cupação em termos de saúde pública. No presenteestudo, não foi possível determinar o estado vacinalcontra esta doença em 18,1% dos agredidos e em60,2% dos agressores. Acresce ainda o facto de,mesmo com esta elevada taxa de vacinação desco-nhecida, 16,3% dos animais envolvidos em agressõesnão estarem protegidos contra esta doença. Entre osagressores, a vacinação actualizada foi confirmadaatravés da apresentação do boletim de saúde apenasem 28,9% dos casos, valor bastante inferior aodescrito no estudo realizado por Freud et al., (1997),em que a taxa vacinal de canídeos que agrediram sereshumanos foi de 67%. No entanto, nesse trabalho não é referido se a vacinação foi confirmada pela apre-sentação do boletim de vacinas, ou se foi apenasbaseada na informação fornecida pelo proprietário.Verificámos que, quando um canídeo é vítima deagressão por outro cão, nem sempre é possível deter-minar se o agressor está convenientemente vacinadocontra esta doença, não só pela ausência de confir-mação pela apresentação do boletim de vacinas, mastambém porque em alguns casos o agressor não podeser sequer identificado. Para manter o nosso paísindemne de raiva, a profilaxia realizada através davacinação é obrigatória para todos os canídeos.Contudo não existem dados completos sobre a taxa devacinação contra a raiva.

A prevenção de agressões levadas a cabo porcanídeos é um tema polémico, muito discutido na literatura científica (Cornwell, 1997; Rieck, 1997;Chevallier e Sznadjer, 1999; Monti, 2000; AVMA,2001; Presutti, 2001; Keuster et al., 2005). Ao serreconhecido e aceite que a agressividade é um problema multifactorial, a sua prevenção envolve adeterminação do local onde estas ocorrem, a

caracterização dos animais envolvidos, a avaliação do cumprimento das normas impostas legalmente,para além da educação e responsabilização dos proprietários no sentido de evitarem situações e comportamentos de risco. O presente estudo demons-trou que o risco de agressão é superior na via públicae que, as normas relativas à obrigatoriedade legal dautilização de métodos de contenção são raramentecumpridas nos canídeos que circulam em locais públicos. Outro facto que se constatou foi a presençade animais errantes ou vadios na via pública, o queaumenta a probabilidade de ocorrência de agressões,pelo que estes animais deveriam ser controlados deforma mais eficaz.

Embora o nosso país esteja indemne de raiva, a vacinação dos canídeos não deve ser descurada, umavez que esta doença existe em alguns países europeus(WHO, 2005).

O número de agressões por canídeos poderá serdiminuído através do melhoramento dos serviços decontrolo animal, da actualização e divulgação dasmedidas legais existentes e de estratégias políticas eeducacionais que visem diminuir os comportamentosinapropriados tanto dos animais como dos seus proprietários (Sacks et al., 2000; Keuster et al., 2005).É urgente a realização de mais estudos sobre factores derisco que possam contribuir para o estabelecimento denormas de protecção contra agressões, levadas a cabopor canídeos (Ozanne-Smith et al., 2001; Lakestani etal., 2005). A redução da incidência de mordeduras porcanídeos requer o envolvimento activo de toda acomunidade, tendo os meios de comunicação socialum papel essencial na divulgação de informaçãoresponsável que possa contribuir para a educação dasociedade civil.

São necessários estudos futuros, que avaliem osmotivos que despoletaram a agressão e o perfil dosproprietários dos cães envolvidos.

Face às características multifactoriais da agressivi-dade em canídeos, com aspectos inerentes ao animal,ao proprietário e ao ambiente envolvente, o aprofun-damento deste tema só será possível através da elaboração de parcerias multidisciplinares, que permi-tam a compreensão da agressividade nas suas váriascomponentes e assim possibilitem a delineação demedidas preventivas eficazes.

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Avaliação bacteriológica de anéis de lula, Dorytheutis plei (Blainville, 1823)(Mollusca: Cephalopoda), congelados e irradiados

Bacteriological evaluation of squid rings, Dorytheutis plei (Blainville, 1823)(Mollusca: Cephalopoda), frozen and irradiated

Flávia A. A. Calixto1*, Robson M. Franco1, Eliana F. M. Mesquita1,Helio C. Vital2, Erika Murayama3

1Universidade Federal Fluminense/UFF, Faculdade de Veterinária, Departamento de Tecnologia dos Alimentos, Rua Dr. Vital Brazil Filho n. 64 – Niterói, Rio de Janeiro 24230-340

2Laboratório de Irradiação de Materiais da Divisão de Defesa Química, Biológica e Nuclear do Centro Tecnológico do Exército (CTEx)

3Médica Veterinária graduada pela UFF

Resumo: Cerca de 80% dos desembarques pesqueiros decefalópodes, na costa sul do Brasil, são de duas espécies delulas neríticas (Dorytheutis plei e D. sanpaulensis). Sabendo-seque pescado é um produto altamente perecível, exigindo cuidados especiais na manipulação e preparo. O tratamento comradiações ionizantes destrói microrganismos existentes no alimento e inibe alterações bioquímicas decorrentes da deterio-ração. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade bacteriológica de anéis de lula, Dorytheutis plei (Blainville,1823), congelados e irradiados e comparar os resultados obtidosentre o grupo controle e grupos irradiados. Foram analisadas 24amostras, separadas em três grupos, de acordo com a dose deradiação absorvida: 0 kGy (controle), 1,5 kGy e 3,0 kGy.Realizaram-se contagens de unidades formadoras de colónias bactérias heterotróficas aeróbias mesófilas e psicrotróficas paraa verificação da qualidade bacteriológica das amostras e com-parar os resultados obtidos com o uso da irradiação, analisandoa eficiência do processo. As amostras estavam abaixo do limitesugerido para degradação de pescado. Observou-se umaredução acentuada (aproximadamente dois ciclos logarítmicos)na população de bactérias mesófilas e psicrotróficas nasamostras irradiadas em comparação com a amostra controle,sendo a radiação gama eficaz na melhoria da qualidade bacteriana, semelhante ao processo de pasteurização. Dentre asdoses investigadas, 1,5 kGy mostrou-se a mais apropriada paraos microrganismos mesófilos, enquanto que a dose de 3,0 kGyse mostrou mais eficiente para os microrganismos psicrotróficos.

Summary: Approximately 80% of cephalopods captured alongthe southern coast of Brazil belong to two species of neriticsquids (Dorytheutis plei and D. sanpaulensis). Due to their veryshort shelf-lives, special procedures have to be followed in orderto handle and processe safely and adequately those products.This work had evaluated the efficiency of irradiation in the conservation of meat samples of Dorytheutis plei (Blainville,1823). Its main aim was to study the effects of the exposure to gamma radiation on the microbiological stability of frozensquid rings. Twenty-four selected samples were grouped

according to the absorbed dose: 0 kGy (control), 1.5 kGy and3.0 kGy. The monitoring of the samples throughout the storagetime was undertaken by microbiological (aerobic mesophilicand psycotrophic bacteria) analyses. A substantial reduction inthe population of bacteria was found in the irradiated samples(about two log cycles). Among the investigated doses, 1.5 kGyproved to be most suitable for mesophilic while the dose of 3.0kGy was more efficient for psychrotrophic microorganisms.

Introdução

Moluscos cefalópodes são importantes recursospesqueiros. No Brasil, a sua captura é bastante signi-ficativa, quer seja feita de maneira indireta por rede dearrasto ou direta por linha. A principal espécie decefalópodes pescada na costa brasileira e comerciali-zada é a Dorytheutis plei.

Os cefalópodes podem ser consumidos de váriasformas, seja fresco como "sashimi", seja após diversostipos de processamento como produto seco, enlatado,congelado e em alimentos à base de pescado. Possuemalto valor protéico e baixo teor de gordura, o que ostorna elemento importante na dieta humana.

Quando beneficiada em anéis, a lula é muito manipulada, o que pode levar ao aumento da microbio-ta contaminante, sobretudo se existirem deficiênciasnas Boas Práticas de Fabrico. Conseqüentemente, otempo de conservação do pescado, que, em geral, já é limitado, pode diminuir com o aumento da contaminação por microrganismos deteriorantes e atépatogênicos, o que pode pôr em risco a saúde do consumidor (Germano e Germano, 2003).

O tratamento com radiações ionizantes tem comofinalidade prolongar a vida útil dos alimentos, peladestruição da microbiota ou inibição de alteraçõesbioquímicas, sem que ocorra aumento significativo de

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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*Correspondência: [email protected]/Fax: +55 21 2629-9533

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sua temperatura (Ordóñez et al., 2005; Fellows, 2006).Em geral, a maioria das bactérias patogênicas não se

reproduz em temperaturas abaixo de 5 ºC, logo oemprego combinado de conservação em baixas temperaturas com a irradiação pode ser bastante vantajoso (Herson e Hulland, 1980).

O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidadebacteriológica de anéis de lula, Dorytheutis plei(Blainville, 1823), congelados e irradiados e compararos resultados obtidos entre o grupo controle e gruposirradiados.

Material e métodos

Foram utilizadas 24 amostras de 250 g cada de anéisde lula congelados, Dorytheutis plei (Blainville,1823), provenientes do Município de Cabo Frio,Estado do Rio de Janeiro, Brasil. As amostras foramtransportadas em caixas de poliestireno expandidopara o Laboratório de Irradiação de Materiais daDivisão de Defesa Química, Biológica e Nuclear doCentro Tecnológico do Exército (CTEx).

As 24 amostras foram separadas aleatoriamente emtrês grupos de 08 amostras e identificados: o grupocontrole (0 kGy), o grupo irradiado com 1,5 kGy e ogrupo irradiado com 3,0 kGy. O grupo controle nãofoi submetido à radiação gama. Os outros gruposforam expostos a uma fonte de Césio-137 (Cs137) noirradiador de pesquisa do CTEx.

O irradiador de pesquisa do CTEx é do tipo "cavidade blindada" e sua fonte de Césio-137 (Cs137)de 46 kCi é capaz de suprir as duas câmaras de irradiação (cujo volume total efetivo é de aproximada-mente 100 litros) com uma taxa de dose máxima de1,8 kGy/h.

As amostras a serem irradiadas com 1,5 e 3,0 kGyforam inseridas em duas gavetas metálicas, as quaisforam posicionadas próximas do centro das câmarasde irradiação, no interior do irradiador. Todas asamostras foram posicionadas de forma a minimizarvariações na taxa de dose.

Estima-se um erro máximo de ±10% na dose deuma determinada amostra, atribuído principalmenteaos gradientes verticais e horizontais da taxa de dosepresentes nas câmaras de irradiação (Vital, 2000).

O grupo controle permaneceu durante todo oprocesso armazenado em caixa de poliestirenoexpandido, colocada do interior da sala do irradiador,para que permanecesse em condições semelhantesàquelas experimentadas pelos grupos irradiados.

Imediatamente após a irradiação, as amostras foramnovamente acondicionadas nas caixas de poliestirenoexpandido para o transporte e posteriormente armaze-nadas sob congelação, onde foram mantidas até a realização das análises. Para a realização das análises,as amostras foram descongeladas em geladeira de umdia para o outro.

As análises bacteriológicas foram realizadas noLaboratório de Controle Microbiológico de Produtosde Origem Animal do Departamento de Tecnologia deAlimentos da Faculdade de Veterinária daUniversidade Federal Fluminense (UFF), baseadas naInstrução Normativa da Secretaria de DefesaAgropecuária nº 62 (Brasil, 2003).

As análises foram realizadas sobre uma amostra de cada grupo/dia, as quais descongelavam durante a noite anterior. As análises foram realizadas comtodas as medidas de assépsia, evitando contaminaçãoexterna.

Foram retiradas, homogenea e aleatoriamente, 25 g de cada amostra. De maneira asséptica, a porçãofoi transferida para um envelope de polietileno, previamente esterilizado. A unidade analítica foihomogeneizada em 225 mL de solução salina peptonada a 0,1%, necessário para obter-se a diluiçãoinicial (1:10) com auxílio de "Stomacher"® em veloci-dade média por dois minutos.

As diluições por miniaturização de cada amostraforam realizadas pela transferência, com auxílio depipeta automática, de 100 µL, homogeneizada, emmicrotubos tipo "eppendorf", estéreis e contendo 900 µL de mesma solução diluente, produzindo asegunda diluição (10-2). As diluições subseqüentesforam obtidas da mesma maneira, transferindo 100 µLda diluição 10-5 (Franco e Leite, 2005).

A contagem de bactérias heterotróficas aeróbiasmesófilas (CBHAM) e contagem de bactérias heterotróficas aeróbias psicrotróficas (CBHAP), porsementeira por incorporação, foi realizada pela inocu-lação de 100 µL das diluições homogeneizadas, comauxílio de pipeta automática, em placas de Petri esteri-lizadas e descartáveis, previamente identificadas como grupo de amostra, diluição e tipo de contagem. Emcada placa de Petri inoculada, foi vertido o meio decultura Ágar Padrão para Contagem (APC) fundido earrefecido à temperatura de 45 ºC, em quantidadesuficiente para cobrir a superfície da placa (cerca de20 mL). O inóculo foi homogeneizado com o APCatravés de movimentos circulares suaves, em formatode oito, por cinco vezes, no sentido horário e anti-horário, sobre superfície plana.

Após a solidificação do meio, as placas foram inver-tidas e incubadas e em estufa, com temperatura a 35 ºC, por 48 horas para CBHAM e em geladeira, comtemperatura próxima a 7 ºC, por 10 dias (APHA,1985) para a CBHAP.

Passado o tempo de incubação, as colónias desenvolvidas foram contadas com auxílio de lupa em contador de colónias tipo Quebec®.

Na análise estatística foram utilizados métodos nãoparamétricos pela não constatação da normalidade. Oteste de Kruskal Wallis comparou mais de dois gruposde dados independentes simultaneamente e o teste deMann-Whitney foi utilizado para as comparaçõesmúltiplas.

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Tabela 2 - Descrição estatística dos resultados obtidos na CBHAP dos grupos de anéis de lula não irradiados (controle) e irradiadoscom dose 1,5 e 3,0 kGy, expresso em Unidade Formadora de Colônia por grama do alimento (UFC/g)

Grupos Desvio Intervalo

padrão interquartílico

Controle 8 4,9 x 104 3,7 x 104 2,1 x 104 1,4 x 105 3,8 x 104 9,2 x 103

1,5 kGy 8 7,3 x 102 7,7 x 102 0 1,9 x 103 3,2 x 102 1,5 x 103

3,0 kGy 8 1,9 x 102 2,6 x 102 0 6,5 x 102 1,0 x 102 4,5 x 102

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Resultados

A descrição estatística da CBHAM consta na Tabela 1. As amostras do grupo controle teve a médiade contagem de 1,2 x 106 UFC/g. Nas amostras irradiadas com dose de 1,5 kGy foi constatado umamédia de 1,1 x 104. Os que receberam 3,0 kGy tiveram valores superiores ao outro grupo irradiado,encontrando média de 4,2 x 105. Apesar da diferençaentre os grupos não ser estatisticamente significativa,houve uma redução de até dois ciclos logarítmico nosgrupos de amostras irradiadas comparados ao grupocontrole.

Na Tabela 2, encontram-se demonstrados os dadosestatísticos da CBHAP. As amostras controle tiverammédia de 4,9 x 104 UFC. O grupo irradiado com 1,5 kGy teve a média de 7,3 x 102. As amostras quereceberam dose de 3,0 kGy, apresentaram uma médiade 1,9 x 102. Os resultados foram decrescentes à medi-da que o alimento foi submetido ao processamento eao aumento de dose.

Os valores em UFC/g foram convertidos para logaritmos (log UFC) para caracterizar o crescimentomicrobiano normal e levar a uma projeção de prazo devida comercial do produto a fim de analisar os dadosdo ponto de vista da tecnologia e produção. A Figura 1compara graficamente os dados dos três grupos.

O teste de Kruskal-Wallis, ao nível de significânciade 0,05, evidenciou diferença estatisticamente signifi-cativa entre os grupos analisados (H = 16,838; g.l. = 2;valor-p = 0,033).

O teste de Mann-Whitney, ao nível de significânciade 0,05, indicou as seguintes diferenças estatistica-

Quadro 2 - Comparações múltiplas entre os três grupos deamostras para a CBHAP pelo teste de Mann-Whitney

Grupos 1,5 kGy 3,0 kGy

U = 0 U = 0

Controle valor-p = 0,0003 valor-p = 0,002

SIM SIM

U = 10

1,5 kGy ------ valor-p = 0,268

NÃO

Tabela 1 - Descrição estatística dos resultados obtidos de CBHAM dos grupos de anéis de lula não irradiados (controle) e irradiadoscom dose 1,5 e 3,0 kGy, expressa em Unidade Formadora de Colônia por grama do alimento (UFC/g)

Grupos Desvio Intervalo

padrão interquartílico

Controle 8 1,2 x 106 2,1 x 106 3,1 x 104 5,2 x 106 2,0 x 105 3,0 x 106

1,5 kGy 8 1,1 x 104 2,1 x 104 0 6,0 x 104 2,5 x 102 1,7 x 104

3,0 kGy 8 4,2 x 105 1,2 x 106 0 3,3 x 106 5,1 x 103 1,0 x 104

n Média Mínimo Máximo Mediana

n Média Mínimo Máximo Mediana

mente significativas apresentadas no Quadro 1, ondese comparou o grupo indicado na linha com o grupoindicado na coluna da tabela.

Observou-se diferença estatisticamente significativaentre o grupo controle e os grupos irradiados, e inex-istência da mesma entre os grupos irradiados, carac-terizando uma eficácia na redução da CBHAM com ouso do processo de conservação por radiação ion-izante, independentemente da dose utilizada.

Quanto à CBHAP, o teste de Kruskal-Wallis, aonível de significância de 0,05, evidenciou diferençaestatisticamente significativa entre os grupos estuda-dos (H = 14,330; g.l.= 2; valor p= 0,001).

O teste de Mann-Whitney, ao nível de significânciade 0,05, indicou as diferenças estatisticamente signi-ficativas apresentadas no Quadro 2.

Quadro 1 - Comparações múltiplas entre os três grupos deamostras para a CBHAM pelo teste de Mann-Whitney

Grupos 1,5 kGy 3,0 kGy

U = 3 U = 6

Controle valor-p = 0,028 valor-p = 0,045

SIM SIM

U = 8,5

1,5 kGy ------ valor-p = 0,730

NÃO

BAC FRIALog

(UF

C M

édio

)

Mes–filos

PsPsicrotróficos

7

6

5

4

3

2

1N= 8 8 4 7 5 5

Controle 1,5 kGy 3,0 kGy

GRUPO

Figura 1 - Diagrama de caixa e hastes expressando os resultados em logde UFC médio da CBHAM e CBHAP nos diferentes grupos.

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Da mesma forma que para a CBHAM, para aCBHAP notou-se diferença estatisticamente significa-tiva (Quadro 2) entre o grupo controle e os gruposirradiados, e inexistência de diferença estatisticamentesignificativa entre os grupos irradiados, sendo o usoda radiação gama justificável assim como o referenteao da CBHAM.

Portanto, em comparação com o grupo controlehouve uma redução estatística do crescimento logarít-mico de UFC/g de dois e um ciclo nas contagens dosgrupos irradiados a 1,5 kGy e 3,0 kGy, respectiva-mente. Com base nestes dados sugere-se menor cargamicrobiana deteriorante no alimento, e conseqüente-mente uma melhor qualidade bacteriológica dos produtos irradiados.

Comparando as médias obtidas nas CBHAM eCBHAP entre os grupos irradiados e grupo controle, aredução do logaritmo de UFC de mesófilas e de psicrotróficas apresentou comportamento diferente.Em CBHAM, observou-se uma redução de dois e umciclos logarítmicos dos grupos irradiados a 1,5 kGy e3,0 kGy, respectivamente, sendo o grupo com maiordose de irradiação com resultado inferior ao de menordose. Diferentemente na CBHAP, houve uma diminui-ção de dois ciclo logarítmicos em ambos os gruposirradiados comparados com o controle, e ainda ogrupo com maior dose de irradiação obteve melhorresultado. Esses dados refletem que a dose de 1,5 kGyse mostrou mais efetiva para as bactérias mesófilas e a dose 3,0 kGy apresentou melhor dose para as psicrotróficas.

Discussão

Segundo Forsythe (2002), a degradação de peixesocorre ao atingir valores de contaminação de cargabacteriana superiores a 108 /g, assim, todas as amostrasencontravam-se dentro do limite estabelecido, indican-do que não presenciavam índices de deterioração.

Pelos padrões de limites microbiológicos da FAO(2007), pescados podem ter até 105 /g de crescimentode bactérias aeróbias mesófilas e moluscos até 5 x 105 /gde crescimento de bactérias aeróbias, o que indicariaque o grupo controle encontrava-se fora deste limitepara as bactérias mesófilas.

A radicidação, processamento de irradiação de ali-mentos com aplicação de dose entre 1 e 10 kGy, temação de pasteurização e é empregada em sucos de fru-tas, carnes e pescado retardando a deterioração dosalimentos (Evangelista, 2005). A redução bacterianaencontrada neste estudo assemelha-se ao pretendidocom o processo de pasteurização.

Pesquisa realizada com duas diferentes marcas comdeterminação de contagem média de bactérias heterotróficas aeróbias mesófilas com Loligo [sic]plei congelado na Venezuela teve como resultados 3,1 x 106 UFC/g na Marca A e 3,8 x 106 UFC/g

(Briceño e Bejarano, 2007) números superiores aosencontrados no trabalho, indicando que essasamostras analisadas na Venezuela possuem um índicemais alto de contaminação. Enquanto que, no mesmoestudo venezuelano, a contagem média de bactériasheterotróficas aeróbias psicrotróficas obtiveram resultado ainda mais expressivos de 1,0 x 107 UFC/gna Marca A e 1,4 x 107 UFC/g na B que indica queessas bactérias podem deteriorar os alimentos sobcongelação (Briceño e Bejarano, 2007), valores muitomais elevados do que os determinados nesse ensaio.

Estudo realizado com Loligo [sic] plei armazenadoem contato direto (CD) com gelo e sem contato direto(CI) com gelo, em CBHAP após um dia de capturaobteve o número de 8 x 102 UFC/g de amostra. Estenúmero teve um crescimento após 12 dias deestocagem aparecendo 5 x 106 para amostras CD e 4 x106 UFC/g para CI (Lapa-Guimarães et al., 2005). Noprimeiro dia de análise Lapa-Guimarães et al. (2005)obtiveram menor contaminação desse pescado do que os desse experimento para os grupos controle e1,5 kGy, embora no segundo exame (após 12 dias)encontraram resultados superiores que pode ser expli-cado porque o produto foi estocado refrigerado aoinvés de congelado.

Dias (2002) encontrou resultados positivos nasCBHAM e CBHAP comparando as amostras não irradiadas e irradiadas com 2,0 kGy de dose, resfria-das e congeladas de ostra-de-mangue (Crassostrearhizophorae), constatando um crescimento muito significativo de microrganismos aeróbios mesófilosem amostras do grupo controle observando eficáciado tratamento na conservação do produto. Neste estudo,Dias (2002) verificou nas amostras congeladas umaredução média de 98,91% para as bactérias heterotró-ficas aeróbias mesófilas, resultado semelhante aoencontrado com dose de irradiação de 1,5 kGy nosanéis de lula, contudo, os números determinados porCBHAP na ostra-de-mangue foram em insignificantetanto para o grupo controle como para o irradiado a2,0 kGy, diferentemente dos psicrotróficos presentesnos anéis de lula congelados.

Valente (2002), em estudo da eficácia da radiaçãogama em mexilhões (Perna perna), encontrou nasamostras irradiadas com 2,0 kGy uma redução dacarga de bactérias heterotróficas aeróbias mesófilas(57,95%) e psicrotróficas (91,18%) comparados aosaltos valores encontrados no grupo controle, estaredução foi inferior ao presente estudo tanto paras asdoses de 1,5 kGy quanto 3,0 kGy para mesófilos euma redução superior a dose de 1,5 kGy aplicada aosanéis de lula e abaixo da encontrada na dose mais alta.

Diferença expressiva de valores de variâncias érelatada entre os diferentes dias de estocagem emrefrigeração ou congelamento nas bactérias aeróbiaspsicrotróficas do grupo controle e irradiadas (Dias,2002). Este trabalho não determinou a variação decrescimento entre períodos de estocagem.

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Conclusão

Conclui-se, pelos resultados encontrados na análisebacteriológica, que a irradiação gama é eficaz naredução da carga bacteriana, de aproximadamentedois ciclos logarítmicos, mesófilos e psicrotróficos,nas doses de 1,5 e 3,0 kGy, semelhante ao processo depasteurização.

Dentre as doses investigadas, 1,5 kGy mostrou-se amais apropriada para promover uma redução da cargamicrobiana dos microrganismos mesófilos – a maiorparte dos microrganismos patogênicos tem ótimocrescimento desta faixa de temperatura. Enquanto quea dose de 3,0 kGy mostrou mais eficiente para osmicrorganismos psicrotróficos, que, atualmente, sãoos principais responsáveis por deterioração de alimen-tos resfriados e congelados.

Agradecimento

À Médica Veterinária Ivone Costa Soares por todoauxílio durante a realização das análises.

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Redução de fenda palatina, secundária a tumor venéreo transmissível, comobturador palatino

Reduction of cleft palate, secondary to transmissible venereal tumor, withpalatal prosthesis

Liliana M. R. Silva1*, Fernando J. R. Magalhães2, Ana Margarida A. Oliveira1,Maria Cristina O. C. Coelho2, Sílvia V. Saldanha2

1Universidade de Évora, Portugal2Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, Recife, Brasil

Resumo: Um canídeo, de raça Pastor Alemão, de 5 anos, recebido na clínica cirúrgica do Hospital Veterinário daUniversidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), apresen-tava uma fenda no palato duro, central e longitudinal, de 15 mmpor 39 mm, secundária a um tumor venéreo transmissível(TVT). Após a realização de duas cirurgias reconstrutivas semsucesso, a fenda foi encerrada com um obturador palatino emresina acrílica autopolimerizável, cuja confecção, em alginato,foi feita com base num molde da maxila do animal. O aumentodo peso corporal, a ausência de sinais clínicos e a boa adaptaçãodo paciente ao obturador confirmam a eficácia do sistema obtu-rador palatino como alternativa à reconstrução clássica, com autilização dos tecidos regionais, para o encerramento da fendapalatina.

Palavras-chave: fenda palatina, obturador palatino, placapalatina

Summary: A 5 years old, German shepherd dog, examined at the surgical services of UFRPE ´s Veterinary Hospital, presented a cleft palate, central longitudinal with 15 mm by 39 mm, secondary to transmissible venereal tumor. After twounsuccessful reconstructive surgeries, it was occluded by apolymethylmethacrylate palatal prosthesis, which was madebased on the animal´s maxilla mold. The body weight increase,the lack of clinical signs and the patient´s adjustment to theprosthesis confirm the efficacy of reduction cleft palate withpalatal prosthesis.

Keywords: cleft palate, palatal prosthesis

Introdução

O palato duro separa as cavidades oral e nasal. Éformado pelos ossos palatino, maxilar e incisivo.Dorsalmente é revestido por epitélio nasal e na facebucal por epitélio cornificado (Contesini et al., 2004).Tem oito a dez rugas palatinas de cada lado da rafemediana (Ellenport, 1998). O palato duro é delimitado

lateralmente pelos sulcos palatinos, caudalmentepelos forâmenes palatinos maiores e rostralmentepelas fissuras palatinas. A artéria palatina maioremerge no forâmen palatino e dirige-se rostralmentepelo respectivo sulco. Como é uma estrutura vascularfundamental para a mucosa, merece especial atençãodurante os procedimentos cirúrgicos, de modo agarantir a sua integridade (Gioso e Carvalho, 2005).

A fenda palatina pode ser de origem congénita ouadquirida. Constitui uma comunicação anormal entreas cavidades oral e nasal, permitindo a passagem dealimentos e líquidos para a cavidade nasal (Santin etal., 2008). As fendas palatinas adquiridas podem serconsequência de traumas, infecções crónicas,extracções dentárias ou outras odontopatias, ou sersecundárias a intervenções cirúrgicas anteriores,radioterapia ou neoplasias (Smith, 2000;Sivacolundhu, 2007). As neoplasias estão entre asprincipais causas de lesão óssea palatina. Contesini etal. (2004) referem que o mastocitoma, a epúlidefibromatosa, o fibrossarcoma, o fibromeloblastoma eo osteossarcoma são as neoplasias mais frequentes. Otumor venéreo transmissível (TVT) foi descrito porPapazoglou et al. (2001) como sendo causa de fendapalatina em 2 dos 6 cães presentes no seu estudo.

O TVT é um tumor de células redondas, cuja disseminação ocorre principalmente por via venéreaou por transplante directo de células neoplásicas(Santos et al., 2008).

Está descrito como uma patologia cosmopolita,principalmente em países tropicais e subtropicais, emque existam cães errantes (Santos e Shimizu, 2004).No Brasil, embora o TVT seja bastante frequente(Lefebvre et al., 2007), existem poucos trabalhos queavaliem estatisticamente a sua incidência (Dabus etal., 2008).

Apesar da sua localização mais frequente ser o aparelho genital externo de machos e fêmeas, podeapresentar outras localizações, como o tecido subcutâ-

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

COMUNICAÇÃO BREVE

*Correspondência: [email protected]: 93 730 36 50; Fax: 252 372 181

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neo (Santos e Shimizu, 2004), ou a cavidade nasal ouoral, justificado pelo comportamento social de lamberou farejar a genitália externa de outros animais(Papazoglou et al., 2001; Dabus et al., 2008).

Sousa et al. (2000) referem que o LabradorRetrivier, o Rottweiller, o Pastor Alemão e o Boxer,são algumas das raças mais predispostas.

O diagnóstico definitivo é realizado por avaliaçãocitológica, pois para além de ser uma técnica simples,minimamente invasiva e indolor, é realizada com rapidez e baixo custo, produz menos distorção da morfologia celular, e tem eficácia de 90 % para odiagnóstico de neoplasias (Dabus et al., 2008).

O sulfato de vincristina, na dose de 0,025 mg/kg(Santos et al., 2008) ou 0,5 a 1,0 mg/m2, adminis-trado semanalmente por via endovenosa, durante 6 a 7semanas consecutivas, é eficaz para a regressão totaldo tecido tumoral, em todas as suas localizações (genital ou não) (Sousa et al., 2000; Papazoglou et al.,2001).

As fendas palatinas congénitas apresentam maiorincidência em raças braquicéfalas (Tobias, 2006).Uma vez que podem ser hereditárias, animais que asapresentem não devem ser utilizados como reprodu-tores (Griffiths e Sullivan, 2001). Segundo Hedlund(2007), as fendas palatinas adquiridas não apresentampredisposição racial, sexual ou etária.

Os sinais clínicos mais frequentes são rinite, descarga nasal serosa ou mucopurulenta, tosse, espirros (Lee et al., 2006), pneumonia por aspiração eperda de condição corporal (Tobias, 2006).

Várias técnicas cirúrgicas têm sido descritas para acorrecção de defeitos no palato duro. Griffiths eSullivan (2001), Contesini et al. (2004), Hedlund(2007), Sivacolundhu (2007) e Souza et al. (2007) referem a utilização de enxertos mucoperiosteais, deenxertos da mucosa palatal ou gengival ou lingual, aaplicação de próteses de resina acrílica autopolimeri-zável, de cartilagem auricular ou outras membranasbiológicas, ou de botões para septo nasal de silicone,entre outros. Recentemente Ophof et al. (2008)realizaram um estudo sobre um implante substituto damucosa para a correcção de fenda palatina.

A utilização de próteses de resina acrílicaautopolimerizável está indicada em casos de recidivasde cirurgias correctivas (Smith, 2000; Roehsig et al.,2001; Lee et al., 2006). Roehsig et al. (2001) utilizaram a resina acrílica directamente no defeito dopalato do animal para a sua obliteração, enquanto queLee et al. (2006) fixaram a prótese de resina com colainstantânea e bandas plásticas no seu paciente.

As complicações mais frequentes deste tipo decirurgia estão relacionadas com a tensão da linha desutura, hemorragia, infecção e retracção cicatricial daferida cirúrgica (Contesini et al., 2004).

O sucesso da cirurgia reconstrutiva depende, emlarga escala, da preservação da vascularização dosenxertos (Smith, 2000) e da capacidade do enxerto

resistir ao stress mecânico induzido pela mastigação,deglutição e movimentação traumática permanente dalíngua no palato regional (Sivacolundhu, 2007).

O prognóstico é favorável nos pacientes com peque-nas fendas (Tobias, 2006) ou nos pacientes em que sãocorrigidas cirurgicamente, pois elimina-se o risco deaspiração de alimentos para a via respiratória (Silva etal., 2006). Animais que não sejam tratados cirurgica-mente geralmente são eutanasiados ou acabam pormorrer devido a pneumomia por aspiração (Corrêa,2008).

Descrição do caso

Um canídeo, de raça Pastor Alemão, de 5 anos deidade, macho inteiro, foi referenciado para a clínicacirúrgica do Hospital Veterinário da UniversidadeFederal Rural de Pernambuco, por apresentar umafenda palatina. O proprietário referiu dificuldades naalimentação do animal e os frequentes espirros esecreção nasal mucopurulenta. Três meses antes, opaciente tinha sido tratado com sulfato de vincristinadevido a um tumor venéreo transmissível (TVT) localizado nas cavidades nasal e oral. Após o trata-mento e remissão do TVT, os médicos veterinários queo acompanhavam verificaram a existência de umafenda palatina, o que levou à realização de uma cirurgia reconstrutiva com um enxerto de avanço.Contudo, ocorreu a deiscência da sutura no períodopós-cirúrgico.

Ao exame físico, o paciente apresentava as constantes vitais dentro dos parâmetros fisiológicos e o peso corporal de 25 kg. Os exames hematológicose as radiografias torácicas não revelaram alteraçõespatológicas. Uma vez que o paciente não permitia um detalhado exame da cavidade oral, procedeu-se à tranquilização com acepromazina (0,1 mg/kg, IM) eatropina (0,044 mg/kg, IM). Para a anestesia administrou-se propofol (4 mg/kg, IV). Comprovou-sea presença de uma fenda central longitudinal no palato duro, de 15 mm por 39 mm (Figura 1).Recomendou-se ao proprietário a administração dealimentação pastosa e prescreveu-se ampicilina (20 mg/kg, PO, TID, 7 dias).

Na segunda visita (Dia 7) realizou-se um moldepara se confeccionar um obturador palatino quevedasse a fenda, até à realização de nova cirurgiareconstrutiva. O paciente foi sedado, utilizando o pro-tocolo anteriormente referido, e entubado com sondaendotraqueal nº. 8,5. Previamente à moldagem efec-tuou-se uma citologia por aposição, sendo negativa paraa presença de células de TVT na amostra analisada.Utilizou-se um molde individualizado preenchidocom alginato. Introduziu-se o molde no fundo de sacogengivolabial até à tuberosidade maxilar, aplicandopressão no sentido ventrodorsal, até completa gelifi-cação do alginato. Removeu-se o molde da cavidade

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bucal do animal e preencheu-se com gesso pedra melhorado tipo IV, para obter o modelo de trabalho(Figura 2). Neste modelo foi aplicado isolante pararesinas acrílicas (seco com jactos de ar). O obturadorpalatino foi confeccionado em resina acrílicaautopolimerizável e com grampos de retençãoortodônticos (Figura 2).

O proprietário continuou a administrar ampicilina(20 mg/kg, PO, TID, 14 dias) e alimentação pastosa.

No 21º dia após a primeira consulta, procedeu-se auma cirurgia reconstrutiva, utilizando uma membranade pericárdio bovino conservada em glicerina a 98%,e à colocação do obturador palatino. Após pré-medi-cação e indução conforme acima descrito, a anestesiafoi mantida com isoflurano. Para a cobertura da anal-gesia e antibioterapaia pré-cirúrgicas, administrou-setramadol (2 mg/kg, IV) e ampicilina (20 mg/kg, IV).O paciente foi colocado em decúbito dorsal e procedeu-se à assepsia da fenda palatina, comclorhexidina a 2,0% e soro fisiológico, sob pressãocom seringa de 10 mL, para remoção da secreçãonasal mucopurulenta e dos resíduos alimentares presentes (Figura 3). Para evitar falsos trajectos colo-cou-se gaze cirúrgica dobrada no pós boca.

Procedeu-se ao reavivamento dos bordos da fenda efixou-se uma película de pericárdio bovino, do mesmotamanho da fenda, através de uma sutura interrompidasimples com poliglatictina 910 com triclosan (VicrylPlus 2/0). Após obliteração da fenda, provou-se eadaptou-se o obturador. Em seguida iniciou-se oprocesso de remoção mecânica da placa bacteriana naface vestibular dos dentes pré-molares e molares compedra-pomes. Este processo permitiu ainda aumentaro atrito da superfície dentária, para que aumentasse ograu de adesão do sistema obturador à região a inter-vencionar. De seguida, procedeu-se à lavagem comsoro fisiológico e posterior fixação da placa palatina.A fixação dos grampos efectuou-se com ionómero devidro.

Depois da recuperação da anestesia, o paciente ten-tou remover o obturador com os membros anteriores.Verificou-se que os grampos ortodônticos interferiamcom a oclusão e optou-se pela remoção da prótesepara correcção dos defeitos apresentados. Foirecomendado ao proprietário, mais uma vez, a admi-nistração de alimentação líquida e fria. Prescreveu-semeloxican (0,1 mg/kg, PO, BID, 5 dias), metronida-zole 125 mg e espiramicina 750.000 UI (12,5 mg/kg e75.000 UI/kg, PO, SID, 7 dias) e higienização da cavidade oral com gluconato de clorhexidina a 0,12%,TID.

Cinco dias depois, o animal regressou ao HospitalVeterinário para colocação do novo obturador palati-no. O proprietário referiu que, durante este período, oanimal tinha espirrado frequentemente, causando aruptura da membrana biológica. Para a construção donovo modelo palatino, seguiram-se os mesmos princí-pios do anterior, sendo modificado na sua estrutura de

fixação. Neste caso, criaram-se 6 pontos de tensão (3em cada aresta maior da placa), com fio ortodônticoduro elástico de 0,7 mm, em forma helicoidal, paragarantir maior resistência da placa de resina acrílicaautopolimerizável. O animal foi submetido aos mesmos procedimentos descritos anteriormente até àfixação do obturador. Os fios de cerclage 0,6 mmforam introduzidos nos pontos de tensão do obturadore nos espaços interproximais, e apertados em tornodos dentes 107, 108, 109, 207, 208 e 209 para fixar oobturador (Johnstone, 2002) (Figura 4).

De forma a impedir o traumatismo da mucosa bucal,as extremidades dos fios de cerclage foram recobertascom resina composta fotopolimerizável. Utilizou-sepedra-pomes na face vestibular dos dentes pré-molares e molares para aumentar o atrito e removermecanicamente a placa bacteriana. Lavou-se com sorofisiológico e secou-se para evitar humedecimento daface dentária. Aplicou-se ácido fosfórico a 37% noesmalte dentário, por 15 s para promover o embrica-mento da resina fotopolimerizável. Lavou-se com sorofisiológico, secou-se a superfície e aplicou-se a resinafluída, fotopolimerizando-a em seguida. Aplicou-se aresina composta fotopolimerizável e polimerizou-sede novo.

Após a remoção da sonda endotraqueal, verificou--se a perfeita oclusão dentária, comprovando que afixação com fios de cerclage não impedia a correctamastigação do animal. Indicou-se ao proprietário acontinuação da medicação anteriormente prescrita,utilização de colar isabelino e reavaliação em 7 dias.

Na reavaliação, 7 dias após a colocação do obturador, o animal tinha aumentado 1,5 kg de pesocorporal e o proprietário referiu a ausência dos sinaisclínicos iniciais. Para uma mais cuidadosa e segurareavaliação, realizou-se o mesmo protocolo desedação já referido. Verificou-se que a porção cranialda fenda não estava totalmente encerrada pelo obtu-rador, permitindo a passagem de alimentos líquidospara a cavidade nasal. Decidiu-se anestesiar o animal e corrigir o obturador palatino para perfeita obliteração da fenda. Depois de remover a cerclagedos dentes 207, 208 e 209, limpou-se o obturador, adicionou-se a resina acrílica autopolimerizável e procedeu-se ao acabamento e polimento. Voltou-se afixar o obturador como anteriormente relatado.Indicou-se ao proprietário que seguisse os mesmoscuidados pós-cirúrgicos anteriores e agendou-sereavaliação em 15 dias.

Na visita seguinte, 21 dias após a colocação doobturador, o animal apresentava ganho de 1,0 kg depeso corporal desde a última reavaliação (26,5 kg),continuava sem sinais clínicos e o seu estado geral erasatisfatório.

No último contacto com o proprietário (dia 36), opaciente apresentava peso corporal de 29 kg, reve-lando um ganho de 5 kg desde a colocação do obtu-rador palatino modificado.

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Discussão

No caso descrito, a fenda palatina surge como resul-tado da natureza invasiva e localmente destrutiva doTVT (Papazoglou et al., 2001).

Devido à comunicação entre as cavidades oral enasal e à possibilidade de ocorrência de pneumoniapor aspiração, considera-se importante para a avalia-ção pré-cirúrgica a realização de radiografias torácicas, que não revelaram alterações patológicas(Lee et al., 2006).

A limpeza das cavidades oral e nasal no período pré-cirúrgico é indispensável para evitar contami-nação nos pontos de sutura e rinite (Silva et al., 2006).O anti-séptico mais adequado é a clorhexidina, por ter uma acção antibacteriana e supressora dos mecanismos adesivos das bactérias (Goelzer et al.,2003).

A cirurgia da fenda palatina está associada a umaelevada taxa de insucesso, sendo a deiscência da sutura a complicação mais comum no pós-operatório,entre o sétimo e o décimo dias (Souza et al., 2007).Para Smith (2000) e Griffiths e Sullivan (2001), a tensão no local da sutura é a causa mais frequente dedeiscência. O insucesso da correcção pode estar também relacionado com a cronicidade da fendapalatina, o estado de saúde do paciente (Souza et al.,2007) e a irritação e inflamação causadas pelo movi-mento da língua sobre a ferida cirúrgica (Lee et al.,2006), como ocorreu no presente caso após a cirurgiareconstrutiva com a membrana biológica. O facto dopaciente ter acesso ao exterior da casa e a alimentosgrosseiros e rígidos também contribuiu para a recidivada fenda palatina.

As complicações da cirurgia são minimizadas seforem considerados princípios básicos da cirurgia dopalato, como refere Sivacolundhu (2007). Estesincluem: realizar enxertos de dimensões um poucomaiores que o defeito, manter a vascularização doenxerto, reavivar os bordos do tecido a suturar, evitarcolocar as suturas sobre o defeito e manipular o tecido delicadamente.

A escolha do tipo de fio utilizado na cirurgia dereconstrução prendeu-se com o facto de ser o fio maisadequado de entre os disponíveis no Hospital nomomento da cirurgia.

A utilização de uma prótese palatal foi referida por vários autores. Lee et al. (2006) consideram-naefectiva na protecção da vascularização e da feridacirúrgica. Neste caso, o obturador palatino encerroucompletamente a fenda palatina como referido porRoehsig et al. (2001).

A realização de um modelo de trabalho a partir doqual se confeccionou o obturador foi referido por Leeet al. (2006), mas Roehsig et al. (2001) e Goelzer etal. (2003) moldaram a resina acrílica, na sua fase demassa plástica, directamente no defeito. Essa técnicaapresenta como vantagens o completo preenchimento

do defeito ósseo e a interdigitação do acrílico com osbordos irregulares do osso, o que favorece a sua esta-bilidade, mas tem como principal desvantagem aexposição dos tecidos à reacção exotérmica queocorre durante a polimerização do acrílico (Goelzer etal., 2003).

Devido à moldagem natural, após a adaptação e fixação do obturador palatino, verificou-se a existência de uma pequena fenda não encerrada peloobturador, e que foi preenchida com resina acrílica.Segundo Lee et al. (2006), uma vez que este defeitonão era funcional e o paciente não apresentava sinaisclínicos, não havia necessidade de correcção do obtu-rador. Estes autores não corrigiram o defeito no seucaso e o animal permaneceu com a prótese durante 30meses, sem quaisquer sinais clínicos.

A fixação do obturador palatino recorrendo a fio decerclage constitui uma desvantagem desta prótese,pois é necessário anestesiar o paciente para a colo-cação e remoção da mesma, ao contrário da fixaçãoadoptada por Lee et al. (2006) com cola instantânea ebandas plásticas, que permite os mesmos procedimen-tos com o paciente consciente. Contudo, a fixaçãocom fio de cerclage não interfere na oclusão, sendoessa a sua principal vantagem.

A alimentação pastosa ou fluida nas primeiras semanas no pós-operatório é defendida por Smith(2000), Griffiths e Sullivan (2001), Contesini et al.(2004), Silva et al. (2006) e Sivacolundhu (2007). Noentanto, Roehsig et al. (2001) referem a utilização desonda nasogástrica, orogástrica ou faringostomia, atécompleta cicatrização. O acesso a objectos duros quepossam causar trauma, como brinquedos ou ossos,devem ser evitados (Tobias, 2006; Sivacolundhu, 2007).

A administração de antibiótico no pós-operatório éimportante para o êxito da reparação da fenda palatina(Contesini et al., 2004). A antibioterapia de largoespectro de acção, como a associação metronidazol eespiramicina, deve ser administrada durante 10 a 14dias, especialmente se existirem sinais clínicos derinite (Smith, 2000).

A higiene da cavidade oral no pós-operatório deveser realizada com gluconato de clorhexidina a 0,12%,pois, como referido anteriormente, apresenta acçãoantibacteriana e supressora dos mecanismos adesivosdas bactérias (Goelzer et al., 2003).

O uso do colar isabelino foi indicado para osprimeiros dias após a colocação do obturador palatino,para evitar que o animal tentasse removê-lo com osmembros anteriores.

A incompatibilidade da resina acrílica com tecidosdo organismo não foi encontrada na revisão de literatura, tal como descrito por Roehsig et al., 2001.No paciente não foram registadas quaisquer alteraçõesdos tecidos em contacto com a resina acrílica. Foirecomendado o acompanhamento do paciente a cada30 dias, para reavaliação do obturador palatino e docomportamento dos tecidos contíguos.

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O aumento do peso corporal, a ausência de sinaisclínicos e a boa adaptação do paciente ao obturadorconfirmam a eficácia do obturador palatino modifica-do na redução da fenda palatina.

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Figura 4 - Obliteração da fenda palatina, secundária a TVT, com obtu-rador palatino.

Figura 1 - Mensuração de fenda palatina de canídeo, Pastor Alemão, de5 anos de idade, do sexo masculino.

Figura 3 - Resíduos alimentares removidos da cavidade nasal, compro-vando a comunicação entre cavidades oral e nasal.

Figura 2 - Modelo de trabalho em gesso pedra melhorado tipo IV eobturador palatino (seta amarela).

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Tronco celiaco-mesentérico em gato

Celiac mesenteric trunk in cat

Magno S. Roza, Fernanda M. Pestana, José M.F. Hernandez,Bárbara X. Silva, Marcelo Abidu-Figueiredo*

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/Instituto de Biologia/Anatomia Animal. Br 465 Km 07 s/n.Seropédica

Resumo: Com o objetivo de relatar uma variação vascular nãodescrita anteriormente em felinos, descreve-se neste trabalho aorigem comum das artérias celíaca e mesentérica cranial atravésde um tronco comum em três gatos, sem raça definida, machos,adultos e de porte médio. Esta variação denominada então detronco celíaco-mesentérico já foi descrita em algumas espéciesde animais domésticos, como em cães, ovinos, caprinos, bovinos, e também em humanos. Essa variação foi analisada,medida e descrita no presente trabalho. O conhecimento da presença do tronco celíaco-mesentérico em felinos contribuirápara um melhor entendimento das alterações anatômicas quepossam ocorrer na vascularização abdominal desta espécie, bemcomo é de fundamental importância para realização deangiografias e procedimentos clínico-cirúrgicos que envolvamesta região.

Palavras-chave: tronco celíaco-mesentérico, gato, variaçãovascular

Summary: With the intention to report a vascular variation notpreviously noticed in felines, this article describes the singleorigin of the celiac and cranial mesenteric arteries through acommon trunk in three adult, cross breed male cats. This vascu-lar variation is called celiac mesenteric trunk and was alreadydescribed in some species of domestic animals, such as dogs,sheep, goats, cows and also in humans. This variation was analyzed, measured and described in this report. The knowledgeof the presence of the celiac mesenteric trunk in cats will contribute to a better understanding of the anatomical altera-tions that may occur in the abdominal vascularization, and isalso important for angiographic and surgical procedures thatinvolve this region.

Keywords: cat, vascular variation, celiac mesenteric trunk

Introdução

Dentre os ramos viscerais da porção abdominal daaorta, as artérias celíaca e mesentérica cranial possuem grande relevância em anatomia clínico –cirúrgica e nos procedimentos angiográficos, pois sãoresponsáveis pela irrigação de importantes vísceras

como fígado, estômago, baço, pâncreas e intestinos(Nayar et al., 1983).

Esses vasos emergem da face ventral da artéria aortaabdominal em sua porção mais cranial. Geralmente, aartéria celíaca origina-se logo após a passagem daartéria aorta pelo hiato aórtico do diafragma, enquanto a artéria mesentérica cranial situa-se caudal-mente em relação à primeira, afastando-se pormilímetros de distância (Getty, 1981; Berg, 1978;Evans e Christensen, 1979; Nickel et al., 1981; Dyceet al., 1997; Schaller, 1999; König e Liebich, 2004).

Vários autores estudaram a ramificação da artériacelíaca em animais domésticos (Sleight e Thomford,1970; Enge e Flatmark, 1972; Borelli e Boccalletti,1974; Schmidt et al., 1980; Bednarova e Malinovsky,1984; Machado et al., 2000; Niza et al., 2003; Abidu-Figueiredo et al., 2005, 2008), demonstrando que seuarranjo e ramificações são muito variáveis e que oconhecimento exato desta variabilidade é de grandeimportância no estudo prático e teórico, em animaisde experimentação e domésticos (Bednarova eMalinovsky, 1984).

Estudos sobre as diferenças da vascularizaçãoabdominal existente entre ovinos, cães, suíno e coelhosdemonstraram que as artérias celíaca e mesentéricacranial têm sua emergência separadamente uma daoutra, sendo a primeira mais cranial (Nayar et al.,1983). Entretanto, na literatura existem relatos decasos em que as ambas as artérias tiveram sua origemem um único ramo denominado de tronco celíaco-mesentérico. Esta variação anatômica foi relatada emovinos (Langenfeld e Pastea, 1977); bubalinos(Machado et al. 2000); caprinos (Ferreira et al. 2001);cães (Schmidti e Schoenaui, 2007) e humanos (Çavdaret al., 1997; Çiçekcibasi AE et al., 2005).

Tendo em vista que esta é uma variação vascularrara em gatos, e que possui importância clínico-cirúr-gica, relatamos a origem das artérias celíaca e mesen-térica cranial por um tronco comum, denominadotronco celíaco-mesentérico.

No decorrer das atividades práticas de dissecçãorealizadas nas disciplinas do Laboratório de Anatomia

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

COMUNICAÇÃO BREVE

*Correspondência: [email protected]

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Animal do Departamento de Biologia Animal daUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ), observou-se alteração na origem da artériacelíaca em três gatos.

Os gatos foram posicionados em decúbito lateraldireito. Em seguida, o tórax foi aberto e dissecadopara evidenciação da porção torácica da artéria aorta,que foi canulada utilizando sonda plástica flexível deaproximadamente 0,4 cm de diâmetro e 10 cm decomprimento. Desse modo, o sistema arterial foi"lavado" com solução fisiológica de NaCl a 0,9%,sendo realizado a seguir a fixação com solução deformaldeído a 10% conforme técnica anatômicapadrão. Os vasos foram preenchidos com solução dePetrolátex S65 corado. As peças permaneceram acon-dicionados em cubas com solução de formaldeído a10% por 5 dias para polimerização do látex. Oscadáveres foram dissecados, rebatendo-se as víscerasabdominais para a evidenciação dos ramos visceraisda porção abdominal da artéria aorta. Com umpaquímetro de precisão, foram obtidas medidas delargura e comprimento do tronco e de seus ramos, bemcomo da distância entre a emergência do tronco até aemergência da artéria renal esquerda. Todas asfotomacrografias foram obtidas com máquina digitalNikon coolpix 4300.

Animal 1: Gato de aproximadamente três anos deidade, mestiço, do sexo masculino. O tronco comumdenominado celíaco-mesentérico emergiu entre asegunda e terceira vértebras lombares (L2-L3).Apresentou 0,3 cm de comprimento e 0,5 cm de largura, desde a sua origem até a bifurcação nasartérias celíaca e mesentérica cranial. A artéria celíacaapresentou 0,5 cm de comprimento e 0,3 cm de largura, enquanto para a artéria mesentérica cranial asmedidas foram 3,5 e 0,3 cm, respectivamente. Essavariação vascular posicionou-se a 2,4 cm da artériarenal esquerda. Os principais ramos da artéria celíacaforam a artéria hepática, seguida pela formação de umtronco comum entre as artérias gástrica esquerda e alienal, o tronco gastro-lienal.

Animal 2: Gato de aproximadamente três anos deidade, mestiço, sexo masculino. O tronco celíaco-mesentérico emergiu na segunda vértebra lombar(L2). Apresentou 0,4 cm de comprimento e 0,44 cm delargura, desde a sua origem até a bifurcação nasartérias celíaca e mesentérica cranial. A artéria celíacaapresentou 0,9 cm de comprimento e 0,3 cm de largura e a artéria mesentérica cranial 2,1 cm de com-primento e 0,34 cm de largura. Essa variação vascular posicionou-se a 2,2 cm da artéria renalesquerda. Os principais ramos da artéria celíaca observados foram a artéria hepática, seguida pela formação de um tronco comum entre as artérias gástrica esquerda e a lienal, o tronco gastro-lienal.

Animal 3: Gato de aproximadamente 4 anos deidade, mestiço, sexo masculino. O tronco comumdenominado celíaco-mesentérico emergiu na terceira

vértebra lombar (L3). Apresentou 0,3 cm de compri-mento e 0,4 cm de largura, desde a sua origem até abifurcação nas artérias celíaca e mesentérica cranial.A artéria celíaca apresentou 0,5 cm de comprimento e0,3 cm de largura e a artéria mesentérica cranial 3,1 cmde comprimento e 0,3 cm de largura. Essa variação vascular posicionou-se a 2,2 cm da artéria renalesquerda. Os principais ramos da artéria celíacaobservados foram a artéria hepática, seguida pela formação de um tronco comum entre as artérias gástrica esquerda e a lienal, o tronco gastro-lienal.

Discussão

Embora vários autores tenham descrito com uniformidade a artéria celíaca e os seus ramos, estevaso apresenta freqüentes variações, que podem ocorrer em todos os níveis (Niza et al., 2003).

Em relação ao local da origem, o tronco celíaco-mesentérico emergiu da porção ventral da aortaabdominal, próximo ao hiato aórtico do diafragma,concordando com os resultados obtidos por outrosautores, que estudaram o comportamento da artériacelíaca em outros mamíferos e relataram que ambas asartérias celíaca e mesentérica cranial emergem da faceventral da aorta abdominal (Kennedy and Smith,1930; Sleight and Thomford, 1970; Enge andFlatmark, 1972; Berg, 1978; Evans and Christensen,1979; Schmidt et al., 1980; Getty, 1981; Nickel et al.,1981; Bednarova and Malinovsky, 1984; Dyce et al.,1997; Schaller, 1999; Niza et al., 2003; König eLeibich, 2004; Abidu-Figueiredo et al., 2005, 2008).Machado et al. (2000) porém relatam que a origem daartéria celíaca em fetos de bubalinos ocorre em nívelda aorta torácica, independentemente da artéria

Figura 1 - Fotomacrografia da origem comum entre as artéria celíaca(ac) e a artéria mesentérica cranial ( amc ) formando o tronco celíaco-mesentérico (tcm) no animal 1.aa = artéria aorta ; tcm= tronco celíaco-mesentérico ; amc = artériamesentérica cranial; ac = artéria celiaca; ah = artéria hepática; tgl = tronco gastro-lienal ; age= artéria gástrica esquerda; al = artéria lienal.

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mesentérica cranial.Variações na forma da emergência da artéria celíaca

têm sido relatada em outros mamíferos, como a presença do tronco celíaco-mesentérico formado pelaartéria celíaca e mesentérica cranial em ovinos(Lancenfeld e Pastea, 1977), búfalos (Machado et al.,2000), caprinos (Ferreira et al., 2001), bovinos azebuados (Peduti Neto e Santis Prada, 1970), cães(Schmidti e Schoenaui, 2007) e humanos (Çavdar etal., 1997; Çiçekcibasi AE et al., 2005). Ainda nohomem uma ocorrência rara tem sido verificada, queé a formação de um tronco único denominado troncocelíaco-bimesentérico, formado pelas artérias celíaca,mesentérica superior e mesentérica inferior (Bergmanet al., 1988; Nonent et al., 2001).

Variações anatômicas, raridades e má formações sãoachados clínicos pouco freqüentes, e como os própriosnomes sugerem, fogem do padrão pré-estabelecidopara a espécie em questão, aquele que ocorre commaior freqüência, claramente conhecido como nor-mal. Na tentativa de adotar uma nomenclatura maisesclarecedora possível, será considerada variação

aquela alteração morfológica ou topográfica de certoórgão, desde que não altere sua fisiologia (Sykes etal., 1963), embora Willam e Humpherson (1999) correlacionem estas variações com predisposições àcertas enfermidades. Já Sanudo et al. (2003), afirmamque anomalias e má formações acarretam de algumaforma alterações na fisiologia do órgão. De acordocom Didio (1998), pode ser considerada raridade todaestrutura que ocorra com uma freqüência de 1 a 2%dentro de uma população.

Estudos complementares com número maior de animais podem esclarecer em que situação seenquadra os gatos. A observação da emergênciacomum das artérias celíaca e mesentérica cranial porum tronco comum observado em gato diverge daorigem individualizada dessas artérias mencionadapor Getty (1981), Nickel et al. (1981) e Dyce et al.(1997).

Conclusão

A emergência das artérias celíaca e mesentérica cranial por tronco comum em gatos é um achadoimportante, pois esta variação, mencionada por diversos pesquisadores em outras espécies, é rara emgatos. A existência do tronco celíaco-mesentériconessa espécie tem importância significativa do pontode vista clínico-cirúrgico, com aplicabilidade práticanos procedimentos que envolvam a vascularização

Figura 2 - Fotomacrografia da origem comum entre a artéria celíaca (ac)e a artéria mesentérica cranial (amc) formando o tronco celíaco-mesen-térico (tcm) no animal 2.aa = artéria aorta; tcm = tronco celíaco-mesentérico; amc = artériamesentérica cranial; ac = artéria celiaca; ah = artéria hepática; tgl = tronco gastro-lienal; age = artéria gástrica esquerda; al = artéria lienal.

Figura 3 - Fotomacrografia da origem comum entre a artéria celíaca (ac)e a artéria mesentérica cranial (amc) formando o tronco celíaco-mesen-térico (tcm) no animal 3.aa = artéria aorta; tcm = tronco celíaco-mesentérico; amc = artériamesentérica cranial; ac = artéria celiaca; ah = artéria hepática; tgl = tronco gastro-lienal; age = artéria gástrica esquerda; al = artéria lienal.

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da região abdominal. Além disso, estudos futuros,baseados na freqüência da aparição dessa alteraçãovascular, poderão elucidar a sua classificação, sendoconsiderada raridade ou variação anatômica, propor-cionando a inclusão do assunto nos compêndios deanatomia veterinária comparativa.

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Electrocution accident in free-ranging bugio (Alouatta fusca) with subsequent amputation of the forelimb: case report

Acidente elétrico em bugio de vida livre (Alouatta fusca) com consequenteamputação do membro torácico: relato de caso

Melissa P. Petrucci, Luiz A. E. Pontes*, Fábio F. Queiroz, Márcia C. Cruz,Diogo B. Souza, Leonardo S. Silveira, Ana B. F. Rodrigues

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENFHospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Campos dos Goytacazes/RJ – Brasil

Summary: Bugios as well as other species of the Brazilianfauna, are animals of wide geographic range which have beenincluded in the endangered species list. In Brazil, these monkeys can be found in the Atlantic Forest, between the statesof Bahia and Rio Grande do Sul. They are also known as guariba or barbado according to the region they live. This reportdescribes a high voltage wire electric shock accident thatburned the left anterior limb of a six-month old bugio (Allouattafusca) that took place in the region of Campos dosGoytacazes/RJ. After a clinical evaluation of the limb, loss ofsensibility in the arm and forearm affected area was diagnosed,accompanied by a loss of muscular mass and overall superficialnecrosis. The muscle-skeleton damage to that member requiredits amputation. After the animal recovery, it was reintegratedinto its natural habitat without any adaptation problems.

Keywords: Bugio, Alouatta fusca, electric shock, burn

Resumo: Os Bugios, bem como outras espécies da faunabrasileira, são animais de distribuição geográfica ampla, queforam incluídos na lista de espécies ameaçadas. No Brasil, essesmacacos podem ser encontrados na Mata Atlântica, entre osestados da Bahia e Rio Grande do Sul. Eles também são conhecidos como guariba ou Barbado, segundo a região em quevivem. Este relato descreve um acidente por choque elétrico emfio de alta tensão que queimou o membro anterior esquerdo deum bugio (Allouatta fusca) de seis meses de idade na região deCampos dos Goytacazes / RJ. Após uma avaliação clínica domembro afetado, foi diagnosticada a perda de sensibilidade nobraço e antebraço e a área foi acompanhada por perda de massamuscular e necrose superficial global. Devido ao dano ao músculo-esquelético foi necessária a amputação do membro.Após a recuperação do animal, este foi reintegrado ao seu habi-tat natural, sem quaisquer problemas de adaptação.

Palavras-chave: Bugio, Alouatta fusca, choque elétrico,queimaduras

Bugios are primates placed in the family Cebidae,genus Alouatta, which occupy a large geographic areafrom Mexico to Argentina. In Brazil they can be foundin the Atlantic Forest, from the state of Bahia up to thestate of Rio Grande do Sul, and they receive differentnames, guariba or barbado, according to the regionthey inhabit (Silva, 1994; Silva et al., 1996). There aretwo subspecies known in Brazil, the Alouatta fuscafusca, in the south part of the state of Bahia throughEspírito Santo, and Alouatta fusca clamitans, found inthe south of Espírito Santo up to the state of RioGrande do Sul and farther to the north of Argentina(Buss et al., 1997).

As many other species of the Brazilian fauna, thebugio is part of the list of endangered species(IBAMA, 1989; Fonseca et al., 1994). Their habitat isdistributed along the most populated areas of thecountry, jeopardizing its survival due to hunting,deployment of their environment and accidentalkilling in areas next to the cities. The ever expandingurban areas, mainly those related to non planed orillegal human settlements, is the most common causeof devastation of these monkeys’ habitats (Buss et al.1997). The negative impact becomes worse becausethe capture of bugios for pets is a common practice,since finding young orphan monkeys occurs frequently.They are also victims of dog attacks, electrocution andgun shots.

Bugios are herbivore, thus their diet is made up offruit, leaves, seeds and flowers. They are mostly activeduring the day and have the vocal communication astheir main characteristic. Like other species of thegenus Alouatta, bugios have large bodies, prehensiletails and hairless faces. Male monkeys have a reddish-brown color shifting to gold on the back and theirbeards might be red or black. The females are usuallypaler in color, going from dark brown to light yellow

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

COMUNICAÇÃO BREVE

*Correspondência: [email protected]

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(Buss et al., 1997; Chiarrelo, 1992). Aside from thedifferences between primates and humans, there aresimilarities in the body structure related to posturingand to the existence of five fingers on each hand(Champneys, 1871; Di Dio et al., 2003). Differencesin structure, location, origin and insertion of somemuscles reflect the diversity among species (Aversi-Ferreira et al., 2005 e 2006). Different species of primates that live in distinct areas, there can be foundmuscles of same anatomy and function, as in thepronator quadratus that assists in pronation of theforearm and hand (Champneys, 1871).

In September of the year 2006, a six-month oldbugio (Alouatta fusca) was conducted to theVeterinary Medical Center at UENF, the northern Riode Janeiro state university veterinary hospital. Theanimal had severe electrical burns on its left anteriormember, caused by high voltage electrical wire contact.

That monkey was found fainted on the ground, in aprivate rural land, within the vicinities of Imbé, in thecity of Campos dos Goytacazes/RJ. According to whatthe people who found it said, the animal had the firstaid procedures done in a veterinary clinic. Theinjuries, caused by the electrical shock, were cleansedand administered of enrofloxacin oral solution. Themedication was administered for ten days showing noobvious results. After that period, the bugio was takento the Wild Animal Research Center, "Núcleo deEstudos e Pesquisa de Animais Selvagens – NEPAS",at UENF.

At the first physical examination the animal showedsigns of severe dehydration, anorexia, apathy, tachy-cardia and body temperature close to 37.9 ºC. A clinical evaluation of the injured member indicated alow temperature and any movements in the fingers,lack of sensitivity on the arm and forearm, loss ofmuscle mass, dispersed superficial necrosis, pus andexposed epiphyses of the radius and ulna bones.

Blood and urine samples were collected and analyzed. The evaluation of the biochemical com-pounds of the blood, including the plasma, did notreveal any important alterations, but confirmed thesevere dehydration condition. Excrement examinationby sedimentation showed no endoparasites eggs.

A macroscopical examination of the wounded areashowed muscle-bone injuries throughout the carpusregion up to the body of the humerus. Superficial anddeep muscle layer damages in the medial and lateralregions of the limb were also observed (Figure 1).Parts of the humerus, radius, ulna, the carpus bonesand the interosseous ligaments of the forearm -radioulnar, dorsal, lateral collateral and medial collat-eral radiocarpal, ulnocarpal palmar and accessorymetacarpal - were affected as well, characterizing anoverall lesion of the member.

The bugio, who weighed 1 kg, was anesthetizedwith cetamin (7.0 mg/kg) and diazepam (0.5 mg/kg),followed by the debridement of the wounds. After

doing the debridement of the injuries, necrotic tissue,they were covered with bandages impregnated withointment containing silver sulfadiazine.

The next step was the administration of enrofloxacinoral solution (5 mg/kg), once a day, during ten daysand banamine (0.5 mg/kg), IM once a day for fourdays. The first evaluation took place after seven days,being necessary a new debridement procedure. Thetreatment, including the bandage, was carried out fortwenty one days. Since the wounds were not healedafter that period of time, the animal was sent to thesurgery center for the amputation of the affected limb(Figure 2). Intramuscular cetamin (15 mg/kg) anddiazepam (1 mg/kg) were administered for the bugioto undergo surgery, being necessary, afterwards, intravenous cetamin (2 mg/kg). For maintenance,isoflurane administration was initiated, set at universalcalibration.

The limb was amputated near the umeral-radioulnararticulation (Figure 2). As for the post-surgical treat-ment, carprofen was prescribed (4 mg/kg once a dayfor five days), enrofloxacine (5 mg/kg once a day forten days), both PO, and rifocin was sprayed over thesurgery wound for ten days. After the tenth day, the

Figure 1 - Superficial and deep muscle layer damages in the medial andlateral regions of the limb of a bugio.

Figure 2 - Amputation of the affected limb in the surgery center.

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stitches were removed and the proper cicatrisation,according to the elapsed time, could be observed. Thesurgical cut borders joined without the need for posttreatment.

Choosing to amputate part of the limb was a deci-sion made because of the extent of the area affected bythe lesions - necrosed areas, muscular degenerationand ligament ruptures - which were the cause of lost ofsensitivity on the extremity of the member (Figure 2).

Once amputated, the bugio was placed into a naturalhabitat in the private propriety where it was first foundand was taken care of by the people of the area, whogave it the right food and water. Its adaptation to a lifewithout one of the limbs, even living in the treetops,was surprisingly faster considering the period betweenthe animal’s release, after the surgery, and the time itwas last seen back into the propriety.

The main concern about the survival of wild animals with amputated limbs is about post-surgicalstress and adapting to new circumstances. The bugiowas adopted by the owner of the hotel "Bicho Souto",located in an area of environmental preservation,where it is being fed and monitored over the past threeyears (1095 days) and were not observed stress be-haviors, demonstrating a positive adaptation to thenew situation. The animal reported has completelyadapted to limb loss, managing to get around withoutdifficulty (Figure 3) with the help of the tail for over-

coming obstacles (Figure 4). The surgical wound andburn achieved a satisfactory outcome, only stillremaining the presence of alopecia in the burn area.

Other cases have been reported with success, a deer(Mazana gouazoubira) with amputated forelimb wasobserved for thirty days, adapting well to amputation(Quessir, 1993). A wolf with amputation of the rightforelimb was observed for ten months and no clinicalcomplications were noted (Carissimi et al., 2005) anda southern tamandua (Tamandua tetradactyla) showedgood recovery from ambulation, appetite and responseto external stimuli after 45 days of surgery (Robinsonet al., 2009).

Figure 3 - Bugio viewing the left limb amputated, three years after theamputation surgery.

Figure 4 - Animal with the left limb amputated using the tail as a sup-port and moving in telephone wires at the Hotel.

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