CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … IDOSO QUESTAO... · A pesquisa de campo...

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL TEREZA CRISTINA DE ALBUQUERQUE O IDOSO: QUESTÃO DE ABANDONO EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANENCIA FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TEREZA CRISTINA DE ALBUQUERQUE

O IDOSO: QUESTÃO DE ABANDONO EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGAPERMANENCIA

FORTALEZA

2013

TEREZA CRISTINA DE ALBUQUERQUE

O IDOSO: QUESTÃO DE ABANDONO EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGAPERMANENCIA

FORTALEZA

2013

Monografia submetida à aprovaçãoda Coordenação do Curso deServiço Social da FaculdadeCearense como requisito paraobtenção do título de Bacharel emServiço Social

Orientadora: Prof.ª Ms. CamilaOliveira de Almeida

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

A345i Albuquerque, Tereza Cristina de

O idoso: questão de abandono em uma instituição de longapermanecia / Tereza Cristina de Albuquerque. Fortaleza – 2013.

56f.Orientador: Profª. Ms. Camila Oliveira de Almeida.Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Idoso - envelhecimento. 2. Abandono - violência. 3.Institucionalização. I. Almeida, Camila Oliveira de. II. Título

CDU 364.65

Aos meus pais Maria de Lourdes de

Albuquerque e Clovis Bevilaqua de

Albuquerque (in memorian) pelo cuidado, amor

e exemplo de vida.

AGRADECIMENTOS

À meu Deus, Senhor do Universo e Criador de todas as coisas pelo sopro de

vida e permanente presença em meus caminhos.

À minha orientadora, Prof.ª Ms. Camila Oliveira de Almeida, da Universidade

Estadual do Ceará (UECE) pela disponibilidade, múltiplas revisões, paciência e

estímulo constante para a realização desse trabalho.

Às professoras Ms. Valney Rocha Maciel e Ms. Francis Emmanuelle Alves, da

FaC, pela participação na Banca de Qualificação e pelas importantes sugestões

para aprimoramento desse trabalho.

Aos professores do Curso de Serviço Social da FaC, pelo empenho no ensino

do Serviço Social em bases modernas e científicas.

À Casa de Nazaré, e em especial à Assistente Social Márcia Correia Marques e

à Irmã Josenira, pelo consentimento relativo à cessão do cenário para estudo.

Aos colegas do curso de Serviço Social da FaC pelo permanente incentivo e

parceria.

Aos meus filhos Isaac e Lucas e em especial ao meu esposo, Prof. Sérgio

Botelho Guimarães, pela paciência e compreensão de minhas ausências, durante o

Curso de Serviço Social e pelo tempo utilizado para a realização desta pesquisa.

"Devemos aprender durante toda a vida, semimaginar que a sabedoria vem com a velhice"(Platão)

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi caracterizar a questão de abandono de idosos

institucionalizados, refletindo sobre os aspectos socioeconômicos e a motivação

para a institucionalização e conhecendo a experiência subjetiva do processo de

envelhecimento dos idosos que residem no abrigo. Para tanto foi realizado um

estudo exploratório, descritivo, de abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa de

campo desenvolveu-se entre os meses de junho e julho de 2013. Os sujeitos da

pesquisa são 7 (sete) idosas albergadas em uma instituição de longa permanência,

a Casa de Nazaré, localizada em Fortaleza-Ceará. Um questionário foi utilizado para

a coleta de informações. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística

descritiva. Considerando que a concepção de abandono. pode ser muito traumática

para o idoso, o questionário utilizado não abordou diretamente a concepção de

abandono. A pesquisa identificou que 42,8% das entrevistadas tinham entre 71 e 80

anos, eram procedentes de Fortaleza (57%) e se encontravam institucionalizadas há

mais de 12 anos (71%). A falta de apoio familiar foi citada como motivação para

institucionalização pela maioria das participantes (57%). A percepção de desamparo

permeou a maioria dos discursos. Os dados obtidos nesta pesquisa visam contribuir

para uma melhor compreensão da problemática, considerando que as narrativas das

entrevistadas revelam seu cotidiano, percepções e necessidades, além de subsidiar

avanços em outros cenários do cuidado à pessoa idosa, tendo em vista a visibilidade

que proporciona aos interessados na temática.

Palavras-chave: Idoso, Envelhecimento, Violência, Abandono, Institucionalização.

ABSTRACT

The objective of this research was to characterize the issue of abandonment of

institutionalized elderly, reflecting on the socio-economic aspects and the motivation

for the institutionalization, identifying the subjective experience of the aging process

of the elderly who reside at the shelter. To accomplish this aim we conducted a

descriptive and exploratory study with a quanti-qualitative analysis. The field

research was developed between the months of June and July 2013.The research

subjects are 7 (seven) aged women housed in an institution of long permanence, the

Casa de Nazaré, located in Fortaleza-Ceará. A questionnaire was used to collect

information. The data obtained were submitted to descriptive statistical analysis.

Whereas the concept of abandonment. can be very traumatic for the elderly, the

questionnaire used did not address directly the concept of abandonment. The survey

disclosed that 42.8% of interviewed had between 71 and 80 years, were from

Fortaleza (57%) and were institutionalized for more than 12 years (71%). The lack of

family support was cited as motivation for institutionalization by the majority of

participants (57%). The perception of helplessness permeates most of the speeches,

as was clear in quotes. The data obtained in this research aim to contribute to a

better understanding of the problem. The narratives of the aged women´s daily lives

reveal their perceptions and needs, in addition to support advances in other

scenarios of elder care, bearing in mind the visibility it provides to those interested in

studying this matter.

Key words: Elderly, Aging, Violence, Abandonment, Institutionalization.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição das idades, agrupadas por faixa etária...........................

Gráfico 2 - Distribuição dos dados conforme o tempo de institucionalização na

Casa de Nazaré......................................................................................................

32

33

Gráfico 3 - Distribuição dos dados quanto a motivação para a institucionaliza-

ção.......................................................................................................................... 34

Gráfico 4 - Distribuição dos dados segundo a procedência dos idosos institucio-

nalizados na Casa de Nazaré ............................................................................... 35

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CIAPREVI Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa

Idosa

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CN Casa de Nazaré

DO Diário Oficial

FaC Faculdade Cearense

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILPI Instituições de Longa Permanência para Idosos

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

MDS Ministério Do Desenvolvimento Social E Combate À Fome

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PSE Proteção Social Especial

SERs Secretarias Executivas Regionais

STDS Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1- ENVELHECIMENTO E VELHICE: TRANSFORMAÇÕESFÍSICAS E SOCIAIS ............................................................................................ 16

1.1 (Re)conhecendo o processo de envelhecimento..........................................

1.2 As diferentes dimensões do envelhecer........................................................

16

19

CAPÍTULO 2 - VELHICE E VIOLÊNCIA: UM DESAFIO DE INVESTIGAÇÃO.... 22

2.1 Políticas sociais para idosos: em busca da cidadania.................................. 24

2.2 Instituições destinadas ao abrigo de idosos: contemplando o histórico e a

situação atual no Brasil ...................................................................................... 28

CAPÍTULO 3: APROXIMAÇÕES COM O TEMA DO ABANDONO DO IDOSO:

APONTAMENTOS E DESCRIÇÃO DA TRAJETÓRIA METODOLÓGICA..........

3.1 A Pesquisa: Resultados e Discussão............................................................

3.2 Notas sobre a pesquisa ................................................................................

32

33

39

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 42

5 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 44

APÊNDICES........................................................................................................... 52

APÊNDICE I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................ 52

APÊNDICE II Instrumento de Avaliação (Questionário) ...................................... 53

APÊNDICE III Dados sócio-demográficos de 7 idosas institucionalizadas na

Casa de Nazaré, em Fortaleza, Ceará................................................................. 55

11

INTRODUÇÃO

Não é uma tarefa simples definir o que é "ser velho". Essa definição,

segundo Camarano e Paisanato (2004, p.5) abrange não somente o fator etário.

Três limitações devem também ser consideradas:

[...] A primeira diz respeito à heterogeneidade entre indivíduos no espaço,entre os grupos sociais, raça/cor e no tempo. A segunda é associada àsuposição de que características biológicas também existem de formaindependente de características culturais e a terceira, à finalidade social doconceito do idoso.

Analisando essas limitações, compreendemos que a heterogeneidade diz

respeito ao fato que o idoso pertence à sociedade como um todo, não podendo ser

considerado como um individuo isolado do mundo que o cerca. Isso se deve ao fato

dos seres humanos não serem iguais, pois cada individuo tem sua própria

subjetividade. A segunda limitação fala da necessidade de diferenciar os aspectos

culturais e biológicos, considerando que estes estão inter-relacionados no homem. A

terceira limitação está relacionada à classificação do conceito de idoso, como é

definida pelos serviços previdenciários de saúde, mercado de trabalho,

aposentadoria e outros, para proporcionar o acesso dos longevos a esses serviços e

benefícios.

Segundo Aurélio, "idoso" é o indivíduo "que tem muitos anos; velho”

Aprofundando a definição, o autor define "velho" como aquele "Que tem idade

avançada; idoso: homem velho. / Que existe há muito tempo". No ponto de vista

jurídico e legal é considerado idoso o indivíduo que tem 60 anos ou mais.

O envelhecimento é um processo complexo que sofre influência de

fatores diversos, como: alimentação saudável, atividades físicas, questões genéticas

dentre outros aspectos. Para Duarte (2001, p.185)

O envelhecimento é um processo e, assim sendo, é algo que vai sendoconstruído no transcorrer da existência humana. Não ficaremos velhos aos60, 70 ou 80 anos,estamos envelhecendo a cada dia, porém dificilmente istoé aceito pelas pessoas em virtude de mitos e estereótipos socialmenteimpostos que colocam o velho como uma seção à parte da sociedade paraa qual só gera ônus, uma vez que já não faz mais parte do mercadoprodutivo. [...] Envelhecer é um processo fisiológico e natural pelo qualtodos os seres vivos passam e é, sem dúvida, a maior fase do

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desenvolvimento humano. Nascemos, crescemos e amadurecemos; destemomento até a nossa morte, passamos a vida toda envelhecendo. Nestafase, várias alterações fisiológicas ocorrerão de modo mais ou menosacentuado e com velocidades variáveis entre as diferentes pessoasgeralmente relacionados a variáveis pessoais.

O presente trabalho tem como objetivo compreender a percepção dos

idosos institucionalizados sobre o processo de envelhecimento e a permanência em

uma instituição de abrigo. Para atingir esse intuito fez-se necessário um

aprofundamento na análise do processo de envelhecimento e dos obstáculos à

manutenção do vínculo familiar, desencadeantes da institucionalização.

Na medida em que o envelhecimento populacional acontece no mundo

inteiro, o fenômeno da violência contra os idosos ganha visibilidade. Para a

Organização Mundial de Saúde (OMS) a violência pode ser definida como “o uso

intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra

outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande

probabilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de

desenvolvimento ou privação” (OMS, 2002). Uma outra definição foi proposta pela

Rede Internacional para a Prevenção dos Maus Tratos contra o Idoso, em 1995: “o

maltrato ao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano ou

aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de

confiança” (MINAYO, 2004). Vale esclarecer que tal ato se refere aos abusos físicos,

psicológicos, sexuais, financeiros, negligências e o abandono.

A situação do idoso no Brasil decorre do efeito cumulativo de eventos

socioeconômicos e de saúde ao longo dos anos, demonstrando que o tamanho da

prole, as separações, o celibato, a mortalidade e a viuvez vão originando, no

desenvolver das décadas, arranjos familiares, onde o morar sozinho, com parentes

ou em instituições destinadas aos idosos pode ser o resultado desses desenlaces.

As reflexões apresentadas demonstraram que o fenômeno de

envelhecimento demográfico e as demandas sociais específicas dele decorrentes

tornaram a velhice um tema privilegiado de investigação, levando a um aumento

significativo do número de obras publicadas nas últimas décadas. Assim, o presente

estudo reveste-se de grande importância na medida em que se propõe a analisar

aspectos ligados ao abandono do idoso institucionalizado, com a finalidade de

esclarecer os motivos que levaram à institucionalização, oferecendo subsídios para

dar visibilidade a situação de abandono.

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Diante do exposto destacamos que a motivação para a escolha do

referido tema surgiu após conversa informal com uma amiga, voluntária em uma

instituição de longa permanência para idosos, a qual compartilhou sua experiência

no cuidado e na convivência com idosos institucionalizados. Por outro lado as aulas

da disciplina de Gerontologia também despertaram a minha curiosidade para esse

tema tão atual.

Ressaltamos que no desenvolvimento deste estudo fez-se necessária

uma aproximação com as categorias idoso, envelhecimento, violência, abandono e

institucionalização, essenciais para respaldar o desenvolvimento da pesquisa.

Estudos prévios, com destaque para os trabalhos de Alcântara (2004), Beauvoir

(1970), Boult et al. (1993), Camarano e Paisanato (2004), Carlyle Jr. (2011),

Cupertino e Novaes (2004), Chaimowicz (1997), França (2013), Küchemann ( 2012),

Mascaro (1997), Minayo (1993, 2003, 2004), Moreira (2001), Siqueira (2004), Tier,

Fontana e Soares (2004), Torres, Reis e Reis (2010) e Veras (2007), entre outros,

forneceram importantes subsídios para a compreensão da temática.

O objetivo proposto nos direciona para a elaboração de uma pesquisa

quanti-qualitativa, exploratória, descritiva. Segundo Minayo (1992, p.10),

A metodologia qualitativa é aquela que incorpora a questão do significado eda intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturassociais. O estudo qualitativo pretende aprender a totalidade coletadavisando, em última instância, atingir o conhecimento de um do fenômenohistórico que é significativo em sua singularidade.

Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa

quantitativa podem ser quantificados. A pesquisa quantitativa tem suas raízes no

pensamento positivista lógico, enfatiza o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os

atributos mensuráveis da experiência humana (FONSECA, 2002). A pesquisa

exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a

torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses e envolve um levantamento

bibliográfico, feito a partir da análise de referências teóricas publicadas por meios

escritos e eletrônicos, e apreciação de exemplos que estimulem a compreensão do

tema pesquisado (GIL, 2007). A pesquisa descritiva exige do investigador uma série

de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende

descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987).

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Ao analisar as relações entre abordagens qualitativas e quantitativas,

Minayo (1994) afirma que as duas metodologias não são incompatíveis e podem ser

integradas num mesmo projeto, tendo em vista que uma pesquisa quantitativa pode

conduzir o investigador à escolha de um problema particular a ser analisado em toda

sua complexidade, através de métodos e técnicas qualitativas. A autora afirma ainda

que a investigação qualitativa é a que melhor se coaduna ao reconhecimento de

situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos.

A amostra deste estudo é o que Gil (1999) denomina de “amostra por

acessibilidade”, por não atender ao rigor da escolha aleatória. Sete participantes,

todas do sexo feminino, lúcidas, visão conservada, capazes de se locomover mesmo

com alguma dificuldade e que aceitaram participar do estudo foram selecionadas

sequencialmente, até atingir o número estabelecido de pesquisados.

Os aspectos éticos e legais no que se refere ao anonimato dos

entrevistados foram rigorosamente aplicados. A diretora da instituição assinou o

Termo de Consentimento relativo à cessão do cenário para estudo. Os participantes

foram previamente informados e esclarecidos dos objetivos da pesquisa e assinaram

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO I), documento obrigatório

segundo a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre

pesquisa realizada com seres humanos (BRASIL, 1996).

A pesquisa de campo foi realizada em uma conceituada instituição de

acolhimento de idosos, a Casa de Nazaré, localizada no município de Fortaleza-

Ceará. Utilizamos um questionário para coleta de dados, com 11 perguntas sobre a

condição socioeconômica, motivação para a institucionalização, relacionamento

familiar, inclusão em atividades recreativas e socioculturais desenvolvidas pela

instituição, finalizando com duas perguntas norteadoras:

a) O que é a velhice?

b) Fale sobre a sua experiência na instituição

A primeira pergunta teve a intenção de identificar qual a concepção dos

participantes com relação ao processo de envelhecimento, enquanto a segunda

possibilitou revelar se gostam de morar na instituição, se têm prazer em participar

dos programas socioculturais e demais atividades ou preferem o isolamento, entre

outras informações espontâneas.

A investigação da motivação para a institucionalização, do vínculo

familiar, e da experiência em morar no abrigo poderão contribuir para conhecer um

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pouco da realidade do idoso institucionalizado. Enquanto a sociedade não

reconhecer os idosos como cidadãos dignos de carinho e respeito, nossos longevos

continuarão a envelhecer sem autonomia, independência e qualidade de vida.

O presente trabalho foi estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo,

intitulado "ENVELHECIMENTO E VELHICE: TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS ESOCIAIS" descreveu as principais teorias do processo de envelhecimento e

implicações da velhice para a vida social e afetiva do individuo, a questão do

envelhecimento populacional no mundo, no país, na região nordeste e no estado do

Ceará, utilizando dados disponíveis nos documentos produzidos pela OMS, IBGE e

Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE.

O segundo capítulo denominado de "VELHICE E VIOLÊNCIA: UMDESAFIO DE INVESTIGAÇÃO" explorou os direitos do cidadão, enfatizou a

importância da manutenção da capacidade funcional do idoso, de forma que

permaneça autônomo e independente pelo maior tempo possível. Outros aspectos

abordados foram a carência de instituições governamentais que abrigam idosos e os

obstáculos à manutenção do vínculo familiar. Destacamos as ações realizadas pelas

instituições destinadas ao abrigo de idosos, a Proteção Social Especial, o Centro de

Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e o Centro Integrado de

Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa - (CIAPREVI), os quais

foram apresentados e comentados.

O terceiro capítulo intitulado "APROXIMAÇÕES COM O TEMA DOABANDONO DO IDOSO: APONTAMENTOS E DESCRIÇÃO DA TRAJETÓRIAMETODOLÓGICA" tratou da apresentação e análise dos dados obtidos com a

aplicação do questionário, confrontando esses resultados com outros trabalhos

disponíveis na literatura científica. Finalmente, as considerações finais foram

apresentadas, refletindo a respeito das consequências da exclusão dos idosos de

seus grupos familiares, a institucionalização e nossa percepção com relação as

atitudes, concepções e aspirações das entrevistadas.

O trabalho foi concluído destacando suas limitações e a expectativa que

sua leitura possa despertar o interesse de outros pesquisadores para a realização

de estudos mais abrangentes e com propostas de intervenção.

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CAPITULO 1 - ENVELHECIMENTO E VELHICE: TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS ESOCIAIS

1.1 (RE)CONHECENDO O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Desde a antiguidade o homem se preocupa com o processo de

envelhecimento. Na civilização oriental, Lao-Tsé (604-531 a.C), filósofo, historiador

oriental e fundador do Taoísmo, reconhecia a velhice como uma virtude. Confúcio

(551-479 a.C), outro importante filósofo oriental, tinha como filosofia conceitos

baseados no princípio da simpatia universal, obtida por meio da educação. Na sua

visão os filhos deveriam cuidar dos pais, assegurando-lhes proteção, carinho e

segurança (BEAUVOIR, 1990).

Segundo Beauvoir (1990) essa percepção é diferente no ocidente. Ptah-

Hotep (Egito - 2.500 a. C), filósofo e poeta de uma época em que se exaltava a

beleza física, redigiu o primeiro texto sobre a velhice, no qual mostra uma face cruel

e depressiva: “A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem.”

Em que pese o crescente número de idosos, persistem preconceitos e

discriminações com relação aos mais velhos pela sociedade e pelo próprio individuo,

que não se reconhece como tal. Nas palavras da escritora, “a velhice aparece mais

claramente para os outros, do que para o próprio sujeito” (BEAUVOIR, 1990).

Para Bosi (1994, p.18), ser velho,

É sobreviver. Sem projeto, impedido de lembrar e ensinar, sofrendo asadversidades de um corpo que se desagrega à medida que a memória vai-se tornando cada vez mais viva, a velhice, que não existe para si, massomente para o outro. E este outro é um opressor.

Mascaro (1997) afirma que a nossa sociedade coloca dois pontos

principais para demarcar a velhice: um é a própria idade cronológica e o outro, a

saída do mercado de trabalho, a aposentadoria. Sobre essa última questão Guidi e

Moreira (1996) assim se expressam: “Aposentadoria significa, pejorativamente,

excluir-se, alienar-se. Em francês é retraite, cuja tradução é retiro, isolamento; em

inglês é retirement, no sentido de retirada, segregação, isolamento, representando o

lado negativo de parar de trabalhar.” Nas palavras de Beauvoir (1990, p.258),

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A velhice é um outono, rico de frutos maduros: é também um inverno estéril,do qual se evocam a frieza, as neves, as geadas. Tem a serenidade dasbelas noites. Mas ela também é atribuída a tristeza sombria doscrepúsculos. A imagem do "bom velho” e a do “velho rabugento” fazem umaboa dupla.

Ainda citando Beauvoir (1990), deve-se compreender a velhice como

fenômeno biológico, cultural e bio-sóciocultural, uma vez que o envelhecimento não

é um fato estático e sim o resultado e o prolongamento de um processo.

A velhice, como todas as situações humanas, tem uma dimensãoexistencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, suarelação com o mundo e com a própria história. (BEAUVOIR,1990, p. 259)

O processo de envelhecimento do homem tem inicio a partir de seu

nascimento. A velhice pode ser entendida como o processo de desgaste do corpo e

a diminuição de suas defesas naturais deixando o idoso mais propenso e vulnerável

à doenças. Os problemas mais comuns, em termos de saúde na velhice são as

perdas sensoriais (déficit visual e auditivo), problemas nos ossos (osteoporose e

reumatismo) e os déficits cognitivos (perda de memória, dificuldades de

aprendizagem). Esses fatores impõem limites de mobilidade e independência

pessoal, afetando diretamente as relações sociais e a interação do idoso com o meio

social (CUPERTINO; NOVAES, 2004).

A ausência de uma teoria definitiva para explicar o envelhecimento

motivou o aparecimento de muitas explicações para a senectude. Diversas

presunções buscam explicar o processo do envelhecimento: Teoria dos radicais

livres: atribui o envelhecimento as alterações celulares causadas por espécies

reativas de oxigênio produzidas durante o metabolismo celular (BECKMAN; AMES,

1999); Teoria do relógio do envelhecimento: segundo essa hipótese, relógicos

biológicos, atuando através de hormônios, controlariam o ritmo do envelhecimento

(VAN HEEMST, 2010); Teoria imunológica: baseia-se em duas alterações que

ocorrem durante o processo de envelhecimento, o declínio da capacidade funcional

do sistema imune e da elevação de anticorpos séricos (TROEN, 2003); Teoria

neuroendócrina: segundo Farinatti (2002) a carência de alguns dos hormônios cuja

secreção depende do bom funcionamento do eixo hipotalâmico-pituitário anteciparia

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o processo de envelhecimento; Teoria do erro catastrófico: de acordo com Papaléo-

Neto (2002), o envelhecimento teria sua origem numa falha em uma das fases da

formação das proteínas.

A saúde pública mundial enfrenta um grande desafio face ao crescimento

acelerado do contingente de idosos, principalmente em países onde há situações de

pobreza e grande desigualdade social. Múltiplas são as formas de envelhecimento,

definidas de acordo com a condição socioeconômica, sexo, fatores genéticos e

ambientais, acesso à informação e à educação, cultura, e região onde os idosos

habitam, facilitando sua adaptação às mudanças ocorridas em si e no mundo que os

cerca (TORRES; REIS; REIS, 2010).

O envelhecimento da população brasileira acompanha uma tendência

internacional impulsionada pela queda da taxa de natalidade e pelos avanços da

biotecnologia. Uma recente revisão do IBGE mostrou que em 2008, para cada grupo

de 100 crianças de 0 a 14 anos, existiam 24,7 idosos de 65 anos ou mais e que

segundo suas projeções, no ano de 2050 o quadro deverá mudar; naquela ocasião,

para cada 100 crianças de 0 a 14 anos existirão 172,7 idosos (IBGE,2008).

O aumento da população de idosos ocorre nos diversos estados

brasileiros. No Ceará este fenômeno também está presente. De fato, no ano de

2008 a população de longevos residentes no estado ficou próxima de um milhão

(914.514) e num intervalo de 10 anos, entre 1998 e 2008, houve um incremento de

295.597 idosos. Naquela ocasião o Ceará já ocupava a 7ª posição entre todos os

estados da federação e a 3ª posição no Nordeste. No mesmo período (1998 - 2008)

ocorreu uma forte queda tanto na taxa de pobreza, como na taxa de indigência. Em

1998, 46,21% dos idosos eram pobres e 13,57% indigentes; em 2008 esses

percentuais caíram para 21,30% e 3,15%, respectivamente (SALES; BARBOSA;

OLIVEIRA, 2009).

Um dado interessante é que há um processo de "feminização" da velhice

brasileira, ou seja, quanto mais a população envelhece, mais feminina ela se torna.

Essa "feminização" dos idosos decorre de uma maior longevidade das mulheres.

Segundo Shephard (2003), as mulheres sobrevivem por mais tempo que os homens;

isto se deve a vários fatores, como o menor consumo de tabaco, álcool e a proteção

cardiovascular decorrente dos hormônios femininos. Hoje, as mulheres representam

55,5% da população idosa brasileira e 61% do contingente de idosos acima de 80

anos (IBGE, 2011).

19

Durante a primeira metade do corrente século (2000 até 2050), a

população mundial com mais de 60 anos poderá chegar a 2 milhões de idosos.

Grande parte desse aumento ocorrerá em países menos desenvolvidos - onde esse

número aumentará de 400 milhões em 2000 para 1,7 bilhões até 2050. No Brasil,

em 2008, os idosos representavam 9,5% da população. As projeções apontam para

um crescimento contínuo, devendo esse número representar aproximadamente 30%

da população brasileira no ano de 2050 (IBGE, 2008).

Segundo o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011), o contingente de

pessoas com 60 anos ou mais é de 20.590.599 milhões, ou seja, aproximadamente

10,8 % da população total, calculada em mais de 190 milhões. Para a Organização

Mundial de Saúde (OMS) o aumento desses indivíduos representa o resultado do

sucesso de políticas públicas de saúde e do desenvolvimento socioeconômico. Por

outro lado esse crescimento desafia a sociedade adaptar-se, a fim de maximizar a

saúde e a capacidade funcional dos velhos, bem como sua participação social

(OMS, 2013).

A rápida incorporação de grandes contingentes de indivíduos com idade

igual ou superior a 60 anos à população brasileira tem graves consequências para o

sistema de saúde, como o aumento de atendimentos aos portadores de doenças

crônicas não transmissíveis, complexas e onerosas, típicas da população idosa que

exige cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos (VERAS,

2007). Para se ter uma ideia do que isso representa, em termos de custos, nos

Estados Unidos, quando os idosos representavam cerca apenas 5% da população,

foram responsáveis por 62% de todas as despesas hospitalares do país (BOULT et

al., 1993). Por outro lado, aqui no Brasil, quando os idosos representavam menos de

8% da população, foram responsáveis pelo consumo de 21% dos recursos

hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) (CHAIMOWICZ, 1997).

1.2 AS DIFERENTES DIMENSÕES DO ENVELHECER

A busca da juventude eterna tem sido uma preocupação constante da

humanidade. Na Idade Média, várias viagens de exploração foram patrocinadas por

cortes reais em busca dessa fonte. Na mitologia, a fonte da juventude é um rio que

saía do Monte Olimpo e passava pela Terra. Dada a sua origem "divina", seria capaz

20

de dar a imortalidade a quem bebesse de sua água. Outras civilizações também

mencionaram águas milagrosas (HIRATA, 2013).

O mundo está envelhecendo. Esta realidade já faz parte do cotidiano

brasileiro: vemos idosos em todos os segmentos da sociedade e em diversas

ocupações. O grande desafio deste século é cuidar de uma população de mais de

20 milhões de idosos (IBGE, 2011), a maioria com nível socioeconômico e

educacional baixos e uma alta prevalência de doenças crônicas e incapacitantes.

Envelhece com saúde quem se previne das doenças que podem aparecer ao longo

da vida, de preferência através do controle dos fatores de risco, como o fumo, o

sedentarismo e o colesterol alto, sem esquecer a atividade física e a alimentação

saudável como algumas das bases para o envelhecimento com qualidade de vida.

A preparação para velhice é fundamental para que o idoso possa

desfruta-la em toda a suas plenitude. Embora a senilidade seja um processo

pessoal, natural, indiscutível e inevitável para qualquer ser humano na evolução da

vida, a maioria das pessoas não se prepara para sua chegada. Para França (2013)

há duas formas básicas de mudanças que ocorrem na idade avançada: uma

transformação consciente e tranquila, quando o indivíduo reconhece o que há de

importante na velhice, para desfrutá-la da melhor maneira, mesmo diante das suas

limitações, ou adotar uma atitude negativa, associando o envelhecimento à doença e

incapacidade.

Outro motivo que afasta as pessoas da ideia do envelhecimento inevitável

é o medo da morte, sentimento cultivado por indivíduos de todas as faixas etárias. A

este respeito, Pitta (2003, p.25) reflete:

A atitude atual dos homens diante da dor, sofrimento e morte é buscarnegá-los como fim do inexorável percurso da vida humana, prolongandoesta a não mais poder, através de todos os dispositivos disponíveis noshospitais, afastando a morte do convívio social, reforçando-lhe sempre oseu caráter de presença incômoda e mítica, e como tal, devendo serocultada e distanciada.

Um novo paradigma para avaliação da saúde do idoso é a sua

capacidade funcional, tendo em vista que a presença de uma doença, falta de

autonomia, fatores socioeconômicos e estilo de vida podem comprometê-la,

afetando o bem-estar e o processo de envelhecimento (RAMOS, 2002; FIEDLER e

PERES, 2008). Isso posto, conclui-se que o bem-estar representa a interação

21

multidimensional entre saúde física e mental, independência na vida diária,

integração social, suporte familiar e independência econômica (RAMOS, 2003).

Sabe-se há bastante tempo que a maioria dos idosos é portadora de, pelo

menos, uma doença crônica (RAMOS et al., 1993). Entretanto, a presença de uma

doença recorrente (diabetes ou hipertensão, por exemplo), não é um fator de

impedimento para uma vida saudável. Assim é extremamente importante que o

idoso seja cuidado em todos os aspectos físicos, mentais e emocionais para que

tenha uma vida de qualidade. Diante deste quadro, destacamos que muitas são as

dificuldades das instituições que oferecem acomodações aos idosos, pois os

recursos são parcos e as necessidades são muitas. Voluntários trabalham

constantemente para arrecadar doações de roupas, alimentos e medicamentos,

conforme relatos de uma voluntária já com idade bastante avançada, que dedica

parte do seu tempo para proporcionar ao idosos institucionalizados uma vida mais

confortável e de qualidade naquela instituição.

Finalizando, podemos afirmar que a velhice também configura-se numa

oportunidade de ganhos. Os conhecimentos e a experiência acumulados ao longo

de uma vida não podem ser simplesmente desprezados. O idoso, apesar de suas

limitações físicas, tem muito que oferecer à sociedade. A criatividade e a aptidão

desse indivíduos deve ser valorizada, eliminando posturas preconceituosas que

tanto aviltam a sua dignidade.

22

CAPÍTULO 2 - VELHICE E VIOLÊNCIA: UM DESAFIO DE INVESTIGAÇÃO

O ser humano, para participar plenamente da sociedade como cidadão,

tem direitos e deveres que devem ser criteriosamente observados para uma

convivência harmoniosa e sadia.

Sendo possível elencar um rol de direitos inerentes à pessoa humana, oprimeiro deles deve ser o de direito à vida, à integridade física, seguido pelodireito de poder viver condignamente, ou seja, ter acesso aos recursoscorrespondentes a um digno padrão de vida, como o alimento, o vestuário,a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociaisindispensáveis. A pessoa tem também o direito de ser amparada em casode doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, eem qualquer outro caso de privação dos meios de sustento porcircunstâncias independentes de sua própria vontade. (POZZOLI, 2001,p.95)

Diante do crescente índice de envelhecimento populacional, a

problemática deixa de ser apenas o prolongamento a vida e perpassa outras

questões como a manutenção da capacidade funcional de cada indivíduo, de forma

que ele permaneça autônomo e independente pelo maior tempo possível (SOARES

et al., 2001). À medida que a idade avança, existe uma progressiva perda de

recursos físicos, mentais e sociais, a qual tende a despertar sentimentos de

desamparo. A Lei 8.842, de janeiro de 1994, artigo 4º, parágrafo III, prioriza o

atendimento do idoso pelas famílias, ao invés de colocá-lo em instituições asilares

(MPAS, 1996). A carência de instituições governamentais que institucionalizam

idosos gera um grave problema social, resultando em abandono desses idosos e

gerando muito sofrimento àqueles que, quando produtivos, dispunham de outras

condições financeiras e sociais.

"O que mais tem caracterizado o 'Estado de Velhice' é o não saber quefazer em seus dias, é estar sempre entre o aborrecido e o melancólico".(CANOAS, 1983, p.11)

Varias são as formas de violência contra o idoso; uma das formas mais

destrutivas é a violência psicológica, que se apresenta de uma forma sutil e não

facilmente detectada. Exemplos dessa formas de violência incluem rejeição, a

humilhação, agressões verbais e ameaças. è uma forma de violência

23

frequentemente encontrada no seio da família. Faleiros e Brito (2009) afirmam que a

violência se manifesta por meio de uma relação de poder e força. Nesse contexto, o

poder assegura o lugar ao mais forte e a submissão do mais fraco, por meio de

estratégias, mecanismos e arranjos.

Além da violência que ocorre no ambiente familiar, que varia do insulto

aos espancamentos pelos familiares e cuidadores (violência doméstica), ela

também ocorre quando o idoso é vítima de maus-tratos em transportes públicos e

instituições de maneira geral (violência social). Segundo Machado e Queiroz (2006)

os principais fatores de risco no caso da violência doméstica contra idosos são:

histórico de violência familiar, psicopatologia do cuidador (associados ou não a

consumo de álcool e de drogas), incapacidade funcional do idoso, estresse causado

pelo ato de cuidar, quer por questões financeiras ou físicas e emocionais, e o

isolamento social do agressor. Nesse contexto, a forma mais frequente de maus-

tratos na família brasileira parece ser o abandono. O fato de viverem com os filhos

não garante aos idosos o respeito ou a ausência de maus-tratos (DEBERT, 2004).

A maioria dos estudos internacionais destaca a alta prevalência de violênciafamiliar, mas o estado atual dos trabalhos existentes não permite explicitar aproporção em que esse fenômeno incide sobre o conjunto das violências eacidentes em idosos. (MINAYO, 2003, p. 789)

As famílias deveriam dividir responsabilidades na busca da interação com

o idoso, mantendo cada um de seus membros, o compromisso e a afetividade.

Entretanto, segundo Tier, Fontana e Soares (2004, p.334) nem sempre essa

situação é verídica:Esta não parece ser uma prática dominante, pois muitas vezes aresponsabilidade com o cuidado ao idoso acaba recaindo sobre somenteum de seus membros, ocasionando sobrecarga de atividades eresponsabilidades, fazendo com que este, opte pela institucionalização deseus idosos.

A partir do momento que o idoso ou sua família não dispõem de respaldo

financeiro para suprir suas reais necessidades, o que é uma questão privada, passa

a ser uma questão pública.

A questão social da velhice é produzida pela expansão das classestrabalhadoras assalariadas e desprovidas, fazendo com que o idoso, antescircunscrito ao meio familiar e ao âmbito da assistência religiosa, sejatransformado em questão pública a exigir a ação institucionalizada doEstado e da Sociedade Civil. (MAGALHÃES, 1987, p.13)

24

2.1 - POLÍTICAS SOCIAIS PARA IDOSOS: EM BUSCA DA CIDADANIA

A Criação da Constituição Federal em 1988 significou uma grande

conquista para os brasileiros, em especial para a população idosa ao conceituar a

seguridade social. Ocorreram profundas modificações na rede de proteção social,

que deixou de estar vinculada apenas ao contexto estritamente social-trabalhista e

assistencialista e adquiriu uma conotação de direito de cidadania. A nova

Constituição, denominada "Constituição Cidadã", por trazer aos trabalhadores e aos

movimentos sociais a retomada do Estado democrático de direito, era uma antiga

aspiração do povo brasileiro, que sonhava com liberdades democráticas, redução

das desigualdades e acesso aos direitos sociais, reforma agrária e sobretudo

soberania da nação.

A promulgação da Constituição Federal de 1988, forneceu elementos

para a instituição da seguridade social no Brasil. Os trabalhadores passaram a pagar

uma contribuição mensal para ter acesso à previdência social. Por outro lado foram

assegurados direitos universais a todo cidadão brasileiro, independentemente de

pagamento.

(...) a seguridade social passou a ser conceituada como 'um contratocoletivo, integrante do próprio direito de cidadania, onde os benefíciosseriam concedidos conforme a necessidade e o custeio seriam feitosegundo a capacidade de cada um'. (CAMARANO; PAISANATO, 2004, p.263).

Outro importante avanço, o Estatuto do Idoso (Lei 10.741) foi aprovado

em setembro de 2003 e sancionado pelo presidente da República Luis Inácio Lula

da Silva. sendo finalmente publicado no DO de 03/10/2003 (MPAS, 2003). Até então

os direitos dos idosos estavam assegurados apenas na Política Nacional do Idoso,

lei de 1994. O Estatuto, mais abrangente que a lei de 1994, tem como objetivo

promover a inclusão social e a garantia dos direitos desses cidadãos

regulamentando os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a

60 (sessenta) anos. No Capítulo IX, artigo 37 está estabelecido que “O idoso tem

direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta ou desacompanhado

de seus familiares quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição privada ou

pública”. As instituições que oferecem abrigo aos idosos têm que cumprir o que está

25

estabelecido no §3º do artigo citado: “As instituições que abrigarem idosos são

obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles,

bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas

sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei”.

O suporte aos idosos no Brasil é da responsabilidade da família, do

Estado e da sociedade, segundo o Estatuto do Idoso (2003). Contudo, a participação

do Estado brasileiro é apenas pontual e com reduzidas responsabilidades, quando

comparadas às responsabilidades das famílias (KÜCHEMANN, 2012).

A Constituição Federal, no artigo 230 define que "A família, a sociedade e

o Estado têm o dever de amparar pessoas idosas, assegurando sua participação na

comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito a

vida" (SOUSA, 2004; SIQUEIRA, 2004). A Lei nº 8.842, que dispõe sobre a Política

Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional do Idoso, no artigo 10, inciso IV,

esclarece que é papel da justiça "promover e defender os direitos da pessoa idosa,

zelar pela aplicação de normas sobre o idoso, determinar ações para evitar abusos e

lesões a seus direitos" (SIQUEIRA, 2004).

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais define objetivos

específicos para o serviço para idosos: contribuir para um processo de

envelhecimento ativo, saudável e autônomo; assegurar espaço de encontro para os

idosos e encontros intergeracionais de modo a promover a sua convivência familiar

e comunitária; detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e

capacidades para novos projetos de vida; propiciar vivências que valorizam as

experiências e que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir. Isso

contribuirá para o desenvolvimento da autonomia social dos usuários (Resolução

CNAS n.° 109/2009).

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), originária de

deliberações da IV Conferencia Nacional de Assistência Social, realizada em

Brasília, em dezembro de 2003, denota o compromisso do governo federal em

materializar as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social. A Assistência Social

como política de proteção social configura-se como uma nova situação no Brasil.

Todos que dela necessitam, mesmo sem contribuição prévia podem ser

beneficiados. A descentralização e a criação de uma rede de serviços permite um

atendimento universal, beneficiando crianças, adultos e idosos.

26

Os centros de convivência, previstos na Política Nacional de Assistência

Social (PNAS), são fundamentais para a redução do isolamento social que costuma

ocorrer com idosos quando atingem a idade da aposentadoria. Sua participação em

atividades lúdicas e sociais contribuem decisivamente para uma a valorização da

autoestima, o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários com consequente

melhoria da qualidade de vida dos longevos. Fortaleza conta com 24 CRAS, sendo

23 unidades fixas e um CRAS Itinerante, distribuídos nas seis Secretarias

Executivas Regionais (SERs).

O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS é uma unidade

pública estatal de base territorial descentralizada da política de assistência social,

responsável pela organização e oferta de serviços de proteção social básica do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS), atuando em áreas de vulnerabilidade

social dos municípios e Distrito Federal (DF). Os CRAS executam serviços de

proteção social básica, organizam e coordenam a rede de serviços

socioassistenciais, locais da política de assistência social. Dada a sua capilaridade

nos territórios se caracteriza como principal porta de entrada dos usuários à rede de

proteção social do SUAS. Ao afirmar-se como unidade de acesso aos direitos

socioassistenciais, o CRAS efetiva a referência e a contrarreferência do usuário na

rede socioassistencial do SUAS. Para materialização da função de referência a

equipe do CRAS deve processar, no âmbito do SUAS, as demandas oriundas da

vulnerabilidade e risco social detectadas no território de abrangência, garantindo ao

usuário o acesso à renda, serviços, programas e projetos, atendendo a

complexidade da demanda. Esse acesso pode ocorrer com a inserção do usuário

em serviço ofertado pelo CRAS ou utilizando a rede socioassistencial por meio do

encaminhamento (CRAS, 2009).

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos

(SCFVI) é um Serviço da Proteção Social Básica que tem por foco o

desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento

saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento

dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de

risco social. Importante é salientar que longevos que estão em abrigos podem

participar do SCFVI, tendo em vista o que define . a Resolução CNAS n.° 109/2009,

onde se lê que idosos “com vivências de isolamento por ausência de acesso a

27

serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário” podem ser usuários do

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

Quanto ao atendimento às famílias e indivíduos em situação de risco

pessoal ou social, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados foi criado pelo

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) uma modalidade de

atendimento assistencial denominada de Proteção Social Especial (PSE). Para ser

inserido no PSE se faz necessário que o cidadão esteja enfrentando situações de

violações de direitos por ocorrência de violência física ou psicológica, abuso ou

exploração sexual; abandono, rompimento ou fragilização de vínculos ou

afastamento do convívio familiar. As atividades da Proteção Especial são

diferenciadas de acordo com níveis de complexidade (média ou alta) e conforme a

situação vivenciada pelo indivíduo ou família. O programa, para sua execução, exige

a participação de vários órgãos públicos como Poder Judiciário, o Ministério Público

e outros órgãos e ações do Executivo. (PSE, 2013).

No Ceará, ações governamentais para proteger o idoso da violência são

desenvolvidas pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do

Ceará (STDS) através do Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência

contra a Pessoa Idosa (CIAPREVI), que tem como objetivo fornecer orientação

jurídica, psicológica e social ao idoso e sua família e desenvolver ações de

prevenção da violência. Em Fortaleza, o CREAS é uma unidade pública estatal, que

oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de

ameaça ou violação de direitos. As equipes dos CREAS são formadas por

profissionais de Psicologia, Serviço Social e Direito que atendem os casos mais

sérios de violação de direitos, realizando o estudo de cada caso, acompanhando-os

mais de perto, de forma mais especializada, e encaminhando para outros serviços

públicos. Os CREAS podem ter abrangência tanto local (municipal ou do Distrito

Federal) quanto regional, abrangendo, neste caso, um conjunto de municípios, de

modo a assegurar maior cobertura e eficiência na oferta do atendimento (PSE,

2013). Existem atualmente, em Fortaleza, 4 (quatro) CREAS, localizados nos

seguintes bairros: Luciano Cavalcante, Rodolfo Teófilo, Conjunto Ceará e José de

Alencar.

28

A velhice é uma questão de grande relevância na atualidade. Durante

muito tempo, o “velho” foi visto como uma doença social, esquecido pelas políticas

governamentais. Entretanto, nas últimas décadas o idoso passou a vivenciar uma

velhice com mais dignidade, saúde e qualidade de vida, graças aos progressos

científicos e sociais que ocorreram nesse período.

Segundo Faleiros (2007), os primeiros avanços dos direitos do cidadão na

velhice foram inscritos na Constituição de 1934 sob a forma de direitos trabalhistas e

de Previdência Social. Com a promulgação da Constituição Federal (1988) esses

direitos foram ratificados e ampliados. A manutenção/ampliação da cidadania do

idoso é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Contudo,

ainda há muito por fazer, para que os longevos desfrutem de todos benefícios que

devem ser oferecidos aos cidadãos por uma sociedade mais “Democrática”.

2.2 INSTITUIÇÕES DESTINADAS AO ABRIGO DE IDOSOS: CONTEMPLANDO OHISTÓRICO E A SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL

Para os idosos que exercem uma atividade profissional, a aposentadoria

deveria representar um prêmio por uma vida inteira de esforços mas pode também

representar o inicio de uma vida de dificuldades. O sistema brasileiro de

aposentadoria é um regime de repartição simples, com prestações bem definidas,

sendo os pagamentos das cotas divididos entre os assalariados e os empregadores,

cabendo aos últimos uma maior participação. As taxas de reposição salarial no nível

macroeconômico são determinadas pelo Estado. Uma das preocupações maiores na

definição dos índices de correção, é a “crise da previdência social”, consequência do

déficit do sistema previdenciário. Isso leva a um maior controle desses números,

permitindo que a inflação corroa os salários dos aposentados (BELTRÃO;

OLIVEIRA, 1999).

Quando o idoso não dispõe de recursos vigentes de uma aposentadoria

capaz de prover seu sustento, só lhe resta a opção de residir com seus familiares.

Quando esses indivíduos apresentam incapacidades ou deficiências físicas seus

problemas são ainda maiores, pois os filhos trabalham fora de casa e os custos de

manutenção de uma "cuidadora de idosos" pode ser maior que a disponibilidade

29

financeira da família. Nessa ocasião surge a possibilidade de encaminhamento do

idoso ao asilo, uma perspectiva ao mesmo tempo assustadora e inevitável.

Instituições destinadas a albergar idosos existem há bastante tempo.

Segundo Alcântara (2004), o cristianismo foi pioneiro no amparo aos velhos: "Há

registro de que o primeiro asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590),que

transformou a sua casa em um hospital para velhos". No Brasil Colônia, por iniciativa

do Conde de Resende, surgiu em 1794, no Rio de Janeiro, a Casa dos Inválidos,

para repouso de velhos soldados que prestaram serviço à pátria, para que tivessem

uma velhice tranquila (ALCÂNTARA, 2004). Mais de 100 anos depois, em 1890,

surgiu no Rio de Janeiro o "Asilo São Luiz", a primeira instituição destinada ao

acolhimento de idosos desamparados.

Atualmente, os locais de acolhimento de idosos, denominados

Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), recebem várias

denominações, como casa de repouso, asilo, clínica geriátrica e são consideradas

um sistema social organizacional com a função de assistir ao idoso quando

verificada a inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de

recursos financeiros próprios ou da família (GORZONI; PIRES, 2006).

Carlyle Jr. (2011) relata um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) e divulgado em maio de 2011. Nesse estudo verificou-se

que o número de instituições públicas que abrigam os idosos não acompanha o

crescimento da terceira idade, que já chega a mais de 20 milhões de pessoas,

segundo o Censo de 2010. No Brasil, funcionam 3.548 asilos (públicos e privados).

O que é desanimador é o número de instituições públicas, limitado a 218 asilos no

pais, considerando as esferas municipal, estadual e municipal.

Situação deplorável encontra-se o Rio de Janeiro, onde o governo federal

tem apenas uma instituição para os idosos, o Abrigo Cristo Redentor, com

capacidade de atendimento para 298 pessoas. O estudo apontou que mais da

metade das instituições brasileiras, 65,2%, são filantrópicas e o suporte financeiro

recebido do setor público cobre apenas 22% do custo operacional dessas

instituições. Cerca de 83 mil idosos vivem em asilos no Brasil, número insignificante

diante do número de idosos necessitados de abrigo (CARLYLE Jr.,2011).

A situação de Fortaleza não é diferente. Segundo noticias veiculadas pela

TV Jangadeiro em 25/05/2011, existiam, naquela ocasião, apenas 11 abrigos para

idosos na capital cearense, sendo somente um administrado pelo poder público.

30

Aparentemente essa situação permanece inalterada. Pesquisando a rede mundial

de computadores foi localizada apenas uma unidade assistencial pública destinada

às idosos. Trata-se do Abrigo do Estado do Ceará, localizado em Fortaleza. O

Abrigo da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social é uma unidade

destinada à idosos, deficientes, doentes mentais, mendigos, migrantes e pessoas do

Estado do Ceará.

A Casa de Nazaré (CN) resulta de um trabalho da Companhia das Filhas

da Caridade, instituição constituída em 29 de Novembro de 1633, em Paris.

Fundada em 15 de novembro de 1941 como uma sociedade civil, de direito privado,

religiosa, de caráter beneficente e assistencial, funcionou inicialmente com apenas

quatro casinhas para receber as idosas. No inicio, o estabelecimento recebia

mulheres com menos de 60 anos desde que pobres e sem família(Casa de Nazaré,

2013). Isso explica a permanência de duas entrevistadas, a primeira residente há 12

anos (Iris, 65 anos) e a segunda há 34 anos (Rosa, 84 anos) na instituição.

A instituição se situa em terreno arborizado, localizado à Rua Padre João

Piamarta nº 487, no bairro do Montese, na cidade de Fortaleza e é constituída por

pequenas unidades habitacionais geminadas. As construções são antigas e

razoavelmente preservadas, embora algumas unidades necessitem de pequenas

reformas. Cada idoso tem seu quarto individual e seus pertences são guardados

em móveis de madeira, podendo ainda dispor de outras facilidades tais com uma

pequeno refrigerador do estilo frigobar em algumas unidades, adquirido pelas

próprias entrevistadas. Uma sala dotada de televisão funciona como área de

convivência. Há salas individuais para profissionais que prestam assistência aos

longevos. Uma pequena enfermaria, com cinco camas hospitalares, atende os

idosos quando doentes e necessitarem de maior cuidado. A alimentação é

preparada por cozinheiras em uma cozinha não industrial mas adequadamente

limpa e higienizada. As refeições, em número de seis, são servidas em horas

determinadas, em um pequeno refeitório, de maneira ordenada e cordial. Há

cobertura para um eventual sepultamento através de um plano funerário custeado

pela instituição (Casa de Nazaré, 2013).

A CN depende do pagamento de mensalidades pelas idosas que recebem

uma aposentadoria básica da previdência social, além de ofertas em espécie,

coletadas na pequena capela que lá existe, onde são celebradas missas

31

diariamente. Outras formas de auxilio recebidos incluem doações de alimento,

roupas e medicamentos.

32

CAPITULO 3 - APROXIMAÇÕES COM O TEMA DO ABANDONO DO IDOSO:APONTAMENTOS E DESCRIÇÃO DA TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

3.1 A PESQUISA: RESULTADOS E DISCUSSÃO

Trabalhamos, nesta pesquisa, com sete entrevistas individuais com

mulheres albergadas na Casa de Nazaré, representando 18,4% da população. Na

ocasião da pesquisa a ILP abrigava 38 idosas. As informações apresentadas a

seguir foram obtidas com a aplicação de um questionário estruturado, seguido por

duas perguntas norteadoras. As respostas foram gravadas para preservação da

fidelidade dos dados, e posteriormente transcritas, servindo de fonte para a

identificação das percepções das entrevistadas. Para preservação do anonimato,

foram atribuídos às participantes nomes fictícios, usando elementos da flora

brasileira (Acácia, Begônia, Camélia, Gardênia, Íris, Rosa e Tulipa).

A caracterização dos atores sociais foi possível através da análise do

questionário (Tabela 1, Apêndice III) e das respostas às duas perguntas

norteadoras.

Todas entrevistadas tinham mais de 60 anos. A idade variou de 65 a 84

com uma média 75,7 anos. O gráfico 1 ilustra a distribuição das idades, agrupadas

por faixas etárias.

Gráfico 1 - Distribuição das idades, agrupadas por faixas etárias

0

1

2

3

4

71 - 80 anos

65 -70 anos

81 - 84 anos

28,6% 28,6%

42,8%

Faixas etárias

nº d

e id

osos

Inst

ituci

onal

izad

os

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora (2013)

33

Observamos que três entrevistadas (42,8%) tinham idade que variava

entre 71 e 80 anos (coluna azul) enquanto que as demais se distribuíram nas faixas

de 65-70 anos (coluna vermelha, 28,6%) e 81-84 anos (coluna amarela, 28,6%).

A análise dos dados apresentados mostra que 5 (71,4%) entrevistadas já

haviam ultrapassado os 70 anos de idade e apenas 2 (28,6%) não haviam atingido

essa idade.

Gráfico 2 - Distribuição dos dados conforme o tempo de institucionalização na Casa

de Nazaré

0

2

4

6

1 - 2 anos

12 - 34 anos

29%

71%

Tempo de institucionalização

nº d

e id

osos

Inst

ituci

onal

izad

os

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora (2013)

O gráfico 2 detalha o tempo de institucionalização das entrevistadas na

Casa de Nazaré. A maioria das idosas (71%) está na instituição há mais de 12 anos.

A moradora mais antiga está institucionalizada há 34 anos (coluna vermelha).

Somente duas longevas (29%) se encontram institucionalizadas entre 1 e 2 anos

(coluna azul).

Constatamos, ao analisar os dados apresentados no gráfico 2, que as

entrevistadas têm uma longa história de permanência na instituição, traduzindo, na

nossa percepção, o cuidado proporcionado pela entidade aos seus idosos.

34

Gráfico 3 - Distribuição dos dados quanto a motivação para a institucionalização

0

1

2

3

4

5

Solidão (morava só)

Abandonada pelo esposo

Falta de apoio familiar

57%

29%

14%

Motivos da institucionalização

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora (2013)

O gráfico 3 representa a distribuição dos dados segundo a motivação

para a institucionalização. A maioria das idosas (57%) citou a falta de apoio familiar

como o fator responsável pela institucionalização (coluna vermelha). A solidão foi o

motivo citado por duas (29%) longevas (coluna azul) e apenas uma (14%),

representada pela coluna amarela, relatou ter sido abandonada pelo esposo, cujo

destino ignora, como causa para sua institucionalização.

Quanto ao vínculo familiar das entrevistadas, uma teve dois filhos

enquanto outra teve somente um, todos já falecidos. Apenas uma foi casada, mas

posteriormente abandonada pelo marido; as demais são solteiras.

Quatro idosas (57%) recebem apenas visitas anuais; uma recebe visitas

nas datas festivas e outra não recebe visitas em qualquer época. Apenas uma

afirmou receber visitas ou ligações telefônicas semanalmente.

Para Netto (2002) a decisão para ingresso em uma ILPI deve contemplar

uma análise das alternativas possíveis, buscando novos arranjos familiares ou

mesmo a contratação de "cuidadores". Na impossibilidade de uma solução viável,

resta a opção da institucionalização. Muitas vezes a decisão para a

institucionalização parte da idosa, que se sente solitária, conforme constatado nesta

pesquisa.

Em concordância com nossos resultados, uma pesquisa realizada por

Prado Telles e Petrilli (2002) constatou que o principal motivo para a

institucionalização de idosos é a falta de respaldo familiar relacionado a dificuldades,

financeiras, distúrbios do comportamento e precariedade nas condições de saúde.

35

Gráfico 4 - Distribuição dos dados segundo a procedência dos idosos

institucionalizados na Casa de Nazaré

0

1

2

3

4

557%

29%

14%

Interior do Ceará

Piaui

Fortaleza

Procedência

nº d

e id

osos

Inst

ituci

onal

izad

os

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora (2013)

O gráfico 4 ilustra a procedência das entrevistadas. Conforme os dados

apresentados, mais da metade (57%) das idosas institucionalizadas eram egressas

da capital cearense, estando representadas no gráfico pela coluna vermelha. Duas

albergadas (29%) eram procedentes de Redenção e Sobral, respectivamente,

cidades localizadas no estado do Ceará (coluna azul). Apenas uma idosa (14%) veio

de um outro estado, da cidade de Parnaíba, estado do Piauí (coluna amarela).

Constatamos ainda que todas participantes eram aposentadas pela

Previdência Social e pagavam uma mensalidade à instituição.

Quanto as percepções sobre a velhice, uma primeira análise das

respostas permitiu percebermos a dualidade da compreensão sobre o processo de

envelhecimento: para algumas participantes, é uma etapa natural da vida e deve ser

encarada de maneira tranquila enquanto que para outros, é um período tumultuado,

cheio de barreiras e dificuldades. Esses achados nos remetem ao trabalho de

França (2006) que admite duas maneiras de compreensão da velhice: uma maneira

intensa e complicada (fase ruim ou triste) e outra tranquila (processo natural). Alguns

trechos da entrevista apontam para essa compreensão:

[...] Minha velhice não é boa, sou doente dos nervos e tenho muita dor debarriga, não ando só ... (Tulipa, 69 anos).

[...] a idade vai chegando, tenho que me conformar, desesperar é pior ...(Begônia, 84 anos).

36

Para Paschoal (2000) é muito difícil para um individuo avaliar a própria

vida, definindo se é "boa" ou "ruim". Trata-se, na sua opinião, de um processo

intrapsíquico complexo, onde entram em jogo julgamentos, emoções e projeções

para o futuro. O autor prossegue, afirmando que fatores pessoais, ambientais, saúde

e doença afetam o julgamento do indivíduo na determinação de que maneira do

quanto este se sente satisfeito com sua vida. Os discursos captados durante as

entrevistas mostram duas maneiras de ver a velhice, uma boa:

[...] envelhecer é a melhor coisa do mundo, quero chegar até os 90 anos,lúcida como estou agora, faço meu café todo dia (Camélia, 83 anos).

[...] a velhice é o dom da vida; diz a frase, valoriza o idoso, cadeira debalanço é coisa do passado A velhice é um caminho que todo o mundo temque passar (Acácia, 79 anos).

e outra, ruim:

[...] a velhice para mim é um peso, sei que vai ser meu fim, tenho muitasdecepções pois sou xingada quando subo no ônibus, a família não me quermais, a vida é assim mesmo (Gardênia, 78 anos).

[...] não sei nem dizer, é ruim, perdoa Senhor, mas quem diz que é boa émentiroso, é uma fantasia, quando você ficar velha, vai ver que a velhice éruim (Rosa, 84 anos).

Segundo relata uma entrevistada (Begônia, 84 anos), a velhice é ótima

mas a saúde comprometida é um empecilho para o desempenho de atividades

corriqueiras, afirmou outra entrevistada (Tulipa, 69 anos):

[...] tenho quatro irmãos que moram no Montese, vem me visitar todasemana, mas não querem que eu more com eles por causa da minha idade(Begônia, 84 anos).

[...]não ando só, ando devagarinho (grifo nosso), tenho que andaracompanhada (Tulipa, 69 anos).

A percepção dos idosos sobre a experiência em morar na instituição é

positiva na maioria das respostas, expressada nos discursos:

[...] muita gente resmunga porque está velha, aqui é bom mas tenhosaudade da família (Iris, 65 anos).

[...] Não tenho amor de família, muita gente me xinga ... As vezes me divirtoquando tem festinha ... gosto muito da irmã Josenira (Tulipa, 69 anos).

37

[...] o acolhimento é muito bom, as amizades são sinceras, a gente podeviver em paz ... (Camélia, 83 anos).

[...]gosto de morar na instituição, graças a Deus ela existe... sourepresentante dos idosos, todo mundo gosta de mim ... (Acácia, 79 anos).

[...] Aqui eu me sinto muito bem, encontrei paz e respeito, pessoas que euamo muito ... (Gardênia, 78 anos).

Quanto a concepção do abandono, tema principal do estudo, Aurélio, em

seu dicionário, define como sendo: "Ação de deixar uma coisa, uma pessoa, uma

função, um lugar: abandono da família; abandono do posto; abandono do lar. /

Esquecimento, renúncia: abandono de si mesmo".

[...] ficar só pela perda de companheiro, filhos, familiares ou amigos. Ésentir-se sozinho, ainda que rodeado de seres humanos, pela falta de umbem-querer espontâneo e sincero, de carinho, de amor dos filhos, doaconchego da família, da intimidade com o outro. É não ter ninguém por si.É não ter a presença dos familiares, de amigos, de companhia, de visitas. Énão ter filhos, não ter nada. (HERÉDIA; CORTELLETTI; CASARA, 2005,p.310)

Percebemos nas narrativas das entrevistadas a presença de sentimentos

como solidão, angústia, sensação de abandono e inutilidade:

[...] minha irmã só me queria quando eu podia fazer a faxina, depois que euquebrei o fêmur não pude mais nada, proibida pelo médico (Acácia, 79anos).

[...] na casa da minha sobrinha eles não me querem, são ricos, casa quetem criança velho não tem vez (Gardênia, 78 anos).

[...] vivo só, preciso de carinho e não tenho ....depois que eu perdi minhamãe é só sofrimento, meus irmãos não eram bom para mim ... (Tulipa, 69anos).

Segundo Anacleto et al. (2004) a presença da família tem importância

fundamental para o idoso institucionalizado, tendo em vista que a diminuição

progressiva da capacidade adaptativa aumenta a dependência dos familiares, de

seus cuidadores e amigos. Ainda segundo os mesmos autores, o abandono, o

comprometimento dos vínculos familiares e o escasso número de visitas originam

sentimentos de dor, tristeza, revolta e muitas vezes, a perda do sentido da vida para

os institucionalizados (ANACLETO et al., 2004). Essa sensação de abandono está

presente nas narrativas das entrevistadas:

38

[...] minha família vem me visitar uma vez por ano, quando quer (Begônia,84 anos).

[...] Minha família sabe que estou aqui, mas só vem me visitar uma vez porano, tenho muita saudade da minha família (Iris, 65 anos).

[...] Não tenho ninguém da família vivo; nem meus amigos de trabalho noIBGE não me faz uma visita (Rosa, 84 anos).

O isolamento social e a sensação de abandono podem ser tão marcantes

que, mesmo residindo com familiares, o idoso apresenta tal percepção, visível em

todos os discursos:

[...] me sentia só na minha própria casa, não tenho o amor da família(Tulipa, 69 anos).

[...] na casa da minha sobrinha eles não me queriam, são ricos, a casa temcriança, velho não tem vez (Gardênia, 78 anos).

Na atividade diária, no convívio com outras pessoas, podemos perceber

que alguns jovens tratam idosos como se fossem crianças, incapazes de decisões

ou da realização de simples tarefas. Esse comportamento violento da destituição do

poder ou da restrição da autonomia pode tornar o idoso frágil, dependente,

submisso, deprimido e desmotivado com a vida. Essa situação se torna mais

evidente na institucionalização, onde há uma relativa perda da liberdade de escolha,

com a imposição de normas de convivência e horários rígidos para o exercício das

várias atividades. Esses dispositivos podem gerar sentimentos de rebeldia ou

insatisfação, percebidos nos seguintes discursos:

[...] minha vida é boa, tenho os meus direitos, aceito as ordens ...(grifonosso); ... a vida não como a gente quer, se desesperar é pior ...(Begônia, 84 anos).

[...] não sei dizer se a vida é boa ou ruim; ... quero sair e não posso porcausa da saúde que é pouca... ...(grifo nosso); (Rosa, 84 anos).

[...] quero sair daqui não, pode ser pior lá fora (grifo nosso) (Rosa, 84anos).

A impressão de perda decorrente da saída do companheiro do ambiente

familiar, fragmentando a relação conjugal é o ponto de partida para a

institucionalização, em muitos casos. Em situações onde a idosa não dispõe de

recursos para a sua manutenção essa circunstância é uma porta aberta para a

39

institucionalização (SOUZA, 2003). A fala de Gardênia, 78 anos, reflete essa

situação:[...] estou aqui há 15 anos desde que fui abandonada pelo meumarido...fiquei sem condições ...(Gardênia, 78 anos).

Diante dos relatos das entrevistadas percebe-se que

Para um indivíduo que se concebe construído socialmente, o processo deafastamento de seus pares, significa uma ruptura com as instânciasformuladoras de sua individualidade e produz uma desconstrução violentade seus referenciais. Quando uma sociedade recorre a esse expedientemostra-se incompetente para produzir as condições adequadas a seusmembros, e revela-se violenta, na medida em que agride a dignidade deseus componentes.( SOUZA, 2003, p.85)

É preciso reconhecer que o envelhecimento não é uma fase onde o idoso

deve aguardar com passividade seu último dia de vida mas sim um período que

pode trazer muitas possibilidades de aprendizagem e novos conhecimentos. As

pessoas que lidam com os idosos devem ajudá-los a buscar estratégias para o

enfrentamento desse processo, rompendo a visão passiva da velhice.

3.2 NOTAS SOBRE A PESQUISA

O contato inicial com o grupo pesquisado ocorreu logo após a

apresentação e esclarecimento do motivo da visita à instituição. A participação da

assistente social foi de grande valia para facilitar o trabalho, disponibilizando uma

área física para a realização das entrevistas e solicitando a participação das

internas. Durante a pesquisa de campo observamos que as entrevistadas foram

extremamente solícitas, respondendo todas as perguntas com atenção. Percebemos

que a nossa presença foi motivo de júbilo para elas, pela oportunidade de conversar

com alguém interessado em conhecê-las pessoalmente. Apesar dessa manifestação

carinhosa, pude perceber nos discursos sentimentos de revolta e agressividade,

especialmente quando abordados temas relacionados à família e aos motivos para a

institucionalização. Foi perceptível que esperavam receber de seus familiares

compreensão, carinho, ajuda financeira, mas nada disso lhes era oferecido. As

repetidas ausências da família nos dias de visita lhes deixavam amarguradas. Essas

40

manifestações se traduziam por olhares perdidos e choro fácil. A tristeza era tanta

que não conseguiam disfarçar a dor do abandono. Muitas manifestaram seu desejo

de receber visitas regularmente, afirmando que sentem muita saudade dos parentes.

Para amenizar essa ansiedade buscam participar dos encontros com os psicólogos

e terapeutas ocupacionais, oferecidos pela Casa de Nazaré. A religiosidade está

presente em todas as narrativas e desempenha importante papel na sublimação

dessa amargura.

Outra constatação foi que as entrevistadas manifestaram o desejo de ter

o que chamam uma "vida equilibrada": preencher seu tempo com atividades que

lhes proporcionem satisfação, tais como conversas livres ou assistindo programas

de televisão, especialmente, noticiários e novelas e a Santa Missa. As que dispõem

de rádios portáteis apreciam muito ouvir música quando recolhidas aos seus

aposentos. O fato de ter cada uma seu próprio quarto, é motivo de orgulho, o que

levou algumas delas a nos convidarem a conhecer suas acomodações. Nesse

ambiente elas podem fazer pequenas refeições, incluindo o café matinal. As idosas

que tem melhor condição física cuidam de suas roupas. Essas atividades ajudam a

passar o tempo, segundo afirmam. Por outro lado, a limpeza das acomodações é

realizada por funcionários da Casa de Nazaré.

As atividades sociais da instituição são muito apreciadas pelas idosas; ao

falar das comemorações festivas organizadas para elas, familiares e visitantes, das

irmãs de caridade e da assistente social, seus olhos brilhavam e havia uma

instintiva manifestação de alegria.

Apesar da participação espontânea das institucionalizadas, tivemos

algumas dificuldades na realização dessa pesquisa, tendo em vista a alusão da

assistente social da instituição que recomendou não utilizar a palavra "abandono",

tema central do estudo, durante as entrevistas. Sua justificativa para essa orientação

se baseava no passado das entrevistadas, que tinham estórias de abandono,

carregadas de traumas e decepções. De inicio não entendi a razão desse cuidado;

na minha percepção, naquela ocasião, esta atitude poderia impedir a livre

manifestação de expressão das idosas, ao considera-las pessoas emocionalmente

frágeis, infantilizadas. Na realidade, as lições aprendidas na luta pela sobrevivência

antes da institucionalização as tornaram fortes e preparadas para o enfrentamento

dessa difícil fase da vida, embora algumas internas exibissem suas fragilidades

41

durante as entrevistas. Ao final pudemos perceber nos discursos que as idosas não

se consideravam abandonadas pela sociedade mas sim pela própria família.

42

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o envelhecimento seja inevitável há, atualmente, uma busca

incessante por métodos, medicamentos e alimentos que retardem esse processo.

Envelhecer com saúde é a palavra de ordem para todos. A imagem do velho

"esclerosado", desdentado, quase cego e mal-humorado, confinado a permanecer

em casa, preso a uma cadeira de rodas e se alimentando de "papinhas" é vista

como coisa do passado. Embora persistam, em setores da sociedade, ideias

preconceituosas em relação ao velho e sua participação efetiva na sociedade pode-

se vislumbrar mudanças positivas nessas atitudes e estereótipos. Programas

sociais, grupos de idosos, associações e afins estimulam a busca pela "velhice

saudável".

No desenvolvimento dessa pesquisa procurou-se entender os idosos

institucionalizados, valorizando suas opiniões e percepções acerca do seu

abandono, da velhice e da instituição. Os resultados revelam a realidade vivenciada

pelos residentes da Casa de Nazaré, na cidade de Fortaleza, Ceará.

A percepção da sensação de abandono permeia os discursos, conforme

sinalizado nas narrativas apresentadas. Durante este estudo foi possível observar

que a maioria das entrevistadas tem familiares residindo nas proximidades da

instituição e gostariam muito de receber visitas com maior frequência. Mesmo assim,

suas visitas são raras, o que as fazem se sentir abandonadas.

As entrevistadas demonstraram satisfação em residir na ILPI. Entre os

motivos citados para institucionalização, a questão econômica foi a principal. Uma

constatação através de seus discursos foi que os idosos sentem dificuldades em

lidar com suas doenças e limitações físicas, decorrentes da idade avançada com o

agravante de sofrerem com sentimentos de saudades e de abandono pelos

familiares. A compreensão, diante desses fatos é que há uma premente

necessidade em se amparar financeiramente as instituições filantrópicas que

prestam esse atendimento à população carente, ampliando as oportunidades para a

institucionalização de um maior contingente de idosos que não dispõe de recursos

ou condições para uma vida digna.

Reconhecemos que a situação ideal para o idoso seria residir com sua

família, tendo em vista que o longevo institucionalizado pode apresentar alterações

de suas funções biológicas e de qualidade de vida, como diminuição da capacidade

43

funcional, dificuldade na realização das atividades de vida diária, baixa interação

social, motivação reduzida, alem de alterações de cunho biológico, psicológico e

social, levando-o à dependência e consequente perda de autonomia (SOARES et

al., 2012). Entretanto, não podemos ignorar que a carência de recursos financeiros

próprios ou da família, conflitos na estrutura familiar, somando a isso a

impossibilidade de os familiares conciliarem atividades profissionais e pessoais com

cuidado à pessoa idosa sem esquecer o próprio desejo do idoso em encontrar um

local que lhe proporcione atenção, conforto e especialmente atendimento às suas

necessidades básicas são fatores condicionantes da institucionalização (PERLINI;

LEITE;FURINI, 2007).

Devemos salientar que ficou evidente, na análise dos discursos, que o

sentimento de solidão se encontrava presente em algumas idosas mesmo quando

ainda residiam em suas casas. Ficamos sensibilizadas pelas revelações das

entrevistadas, que expressavam claramente a sensação de abandono e tristeza,

pela indiferença, distanciamento e falta de carinho dos familiares.

Ressaltamos que os dados obtidos nesta pesquisa objetivaram contribuir

para uma melhor compreensão da realidade estudada, considerando que os

discursos das entrevistadas revelam seu cotidiano, suas percepções e suas

necessidades, além de subsidiar avanços em outros cenários do cuidado à pessoa

idosa, tendo em vista a visibilidade que proporciona a problemática em pauta.

Para finalizar lembramos que uma pesquisa nunca esgota uma temática,

sempre surgem novos questionamentos a serem esclarecidos. Na área social, dada

a sua dinâmica e a complexidade do tema aqui abordado, considerando a sua

abrangência e pertinência, diante do crescente número de idosos no Brasil e no

mundo, há necessidade de se construir novos instrumentos de avaliação específicos

para a população envelhecida, contemplando uma reflexão mais profunda dos

anseios, desejos, expectativas, necessidades, medos, valores e princípios desse

segmento populacional.

44

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2007.

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A pesquisa intitulada - O IDOSO: QUESTÃO DE ABANDONO EM UMA

INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANENCIA, desenvolvida por Tereza Cristina

de Albuquerque, estudante do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense

- FaC, caracteriza-se como Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, para

obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Prof.ª

Camila Oliveira de Almeida, apresenta, como principal objetivo, caracterizar a

questão de abandono de idosos institucionalizados, em Fortaleza-Ceará.

Neste sentido, para que possamos concretizar nosso objetivo, contamos

com a sua participação e colaboração, permitindo a aplicação do questionário,

com respostas escritas/ marcadas nos quadrinhos correspondentes. Sua

identidade será preservada, mantendo-se o sigilo.

Gostaríamos de salientar que a pesquisa não trará nenhum risco à sua

pessoa, tendo como eixos norteadores a ética profissional e o compromisso

com a temática do estudo. Caso julgue necessário, você poderá entrar em

contato com a pesquisadora Tereza Cristina de Albuquerque pelo telefone (85)

3283-7851.

Tereza Cristina de Albuquerque

(Pesquisadora)

Ciente do objetivo da pesquisa que é caracterizar a questão de abandono de

idosos albergados em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos,

identificando suas principais características demográficas, seu relacionamento

familiar, suas atuais atividades sociais e de convivência proporcionadas pela

instituição, bem como concordo com a aplicação do questionário, desde que

seja resguardado meu anonimato.

Nome:

__________________________________________________________

Assinatura: ______________________________________________________

Fortaleza, _____ de _____________ de 2013

APÊNDICE II

ABANDONO DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO

Questionário1

Este questionário, destina-se a obter dados que permitam analisar as condiçõessocioeconômicas, aspirações e experiências do idoso no contexto de abandono em umaInstituição de Longa Permanência para idosos, em Fortaleza - CE

1. A s s i n a l e

Sexo: Feminino Masculino Idade: _________ anos

Estado civil:

Solteiro Casado Viúvo Divorciado União Estável Não definido

2. Onde residia antes de estar na instituição:

Na cidade onde se localiza a Casa de Nazaré

Outro Local Onde: ? ____________________________________

3. Pagamentos da mensalidade à Instituição são provenientes de:

Rendimento próprio Aposentadoria BPC Pensão

Ajuda de familiares Não paga mensalidade Outro

Qual?: ___________________________

4. Possui filhos? Não Sim Quantos? _______

5. Forma de contatos que tem com os seus familiares:

Pessoal (visitas) Telefone Carta /Email Nenhuma

Outra 4.6 - Qual? ____________________________________

6. Quantas vezes é contatado?

Uma vez por semana Uma vez por mês Uma vez por ano

Épocas Festivas No seu aniversário Férias Nunca

7. Motivação para a institucionalização

Falta de autonomia financeira Sentir-se só na própria casa

Sem apoio familiar Ausência do cônjuge

Outro 6.6 – Qual? __________________________________________

8- Quanto tempo se encontra institucionalizado? _______________________ Não lembra

9. Indique se sente falta das conversas que mantinha com os seus vizinhos? Sim Não

10 – Na sua opinião sente-se melhor a instituição ou sentia-se mais feliz no local onde residiaantes de ser institucionalizado? Na instituição No local onde residia antes de seInstitucionalizar

11 – As atividades que a instituição oferece lhe trazem satisfação e bem estar?

Sim Não

Que tipo de atividades pratica na instituição?

Ginástica Caminhada Dança Pintura

Outras Quais? ________________________________

12. Perguntas pessoais:

O que é a velhice?

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Fale sobre a sua experiência na instituição-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

1Questionário adaptado. Fonte: Pinhel, M.J.J.M. A solidão nos idosos institucionalizados em

contexto de abandono familiar. Relatório de Estágio apresentado à Escola Superior de

Educação de Bragança para obtenção do Grau de Mestre em Educação Social.2011, 67 p.

Disponível em: https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/6863/1/Relatoriofinal.pdf.

Acesso em 03 de abr 2013.

APÊNDICE III

TABELA 1 - Dados sócio-demográficos de 7 idosas institucionalizadas na Casa de Nazaré, em Fortaleza, Ceará

NOME (FICTÍCIO)

Acácia Begônia Camélia Gardênia Iris Rosa TulipaIdade (anos) 79 72 83 78 65 84 69Estado civil solteira solteira solteira casada solteira solteira solteiraResidência anterior Fortaleza -CE Fortaleza -CE Parnaiba - Pi Sobral-CE Fortaleza - CE Redenção -CE Fortaleza - CESituação atual Aposentada Aposentada Aposentada Aposentada Aposentada Aposentada AposentadaPg mensalidades? Sim Sim Sim Sim Sim Sim SimFilhos? Não Sim, já falecidos Não Sim, já falecido Não Não NãoRecebe visitas?(Tipo?) SIM (Parentes) Visitas ( Nora) Visitas /telefone Visita (sobrinha) Visita Sem parentes Visita

Qual frequência? Mensal Épocas festivas Semanal 1 Anual Anual 0 AnualSaudades dosvizinhos? Não Sim Não - Não Sim Sim NãoMotivo parainstitucionalização

Irmã mais velhafaleceu, ficandosó, sem apoiofamiliar

Sem apoiofamiliar, decisãoprópria

Sem apoio familiar Abandonada pelomarido há muitosanos

Os antigos patrõesfaleceram. Ficousem apoio familiar

Sentia-se muito sóna própria casa

Sentia-se muito sóna própria casa

Tempo deinstitucionalização 1 ano 13 anos 13 anos 15 anos 12 anos 34 anos 1 anoAtividades sãosatisfatórias? Sim Sim Sim Sim Sim Não 2 SimTipo de Atividade Dança, pintura Terapia com cães,

terapiaocupacional

Psicóloga eterapiaocupacional

Terapia com cães,terapiaocupacional

Crochê, Tricô,"fuxicos"

Não participa,apenas observa

Palestras, Terapiaocupacional

Gostava mais daresidência anteriorou agora? Casa de Nazaré Casa de Nazaré Casa de Nazaré 3 Casa de Nazaré Casa de Nazaré Casa de Nazaré Casa de Nazaré1tem quatro irmãos residindo no bairro mas não a querem em casa; 2gosta de ficar sozinha; 3"Tenho um quarto só prá mim";