bordados e rendas - GitLab · 2015. 2. 20. · • identificação de pontos fortes e fracos e das...

116
bordados e rendas para cama, mesa e banho ESTUDOS DE MERCADO SEBRAE/ESPM 2008 Relatório Completo

Transcript of bordados e rendas - GitLab · 2015. 2. 20. · • identificação de pontos fortes e fracos e das...

  • bordados e rendaspara cama, mesa e banho

    E S T U D O S D E M E R C A D O S E B R A E / E S P M 2 0 0 8

    R e l a t ó r i o C o m p l e t o

  • 2008, Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

    Adelmir Santana

    Presidente do Conselho Deliberativo Nacional

    Paulo Tarciso Okamotto

    Diretor-Presidente

    Luiz Carlos Barboza

    Diretor Técnico

    Carlos Alberto dos Santos

    Diretor de Administração e Finanças

    Luis Celso de Piratininga Figueiredo

    Presidente Escola Superior de Propaganda e Marketing

    Francisco Gracioso

    Conselheiro Associado ESPM

    Raissa Rossiter

    Gerente Unidade de Acesso a Mercados

    José Ricardo Mendes Guedes

    Gerente Unidade de Atendimento Coletivo - Comércio e Serviços

    Patrícia Mayana

    Coordenadora Técnica

    Laura Gallucci

    Coordenadora Geral de Estudos ESPM

    Durcelice Cândida Mascêne

    Coordenadora Carteira de Artesanato

    Patrícia Salamoni Bastos

    Coordenadora Carteira de Artesanato

    Denise Von Poser/Reynaldo Dannecker Cunha

    Pesquisadores ESPM

    Laura Gallucci

    Revisora Técnica ESPM

  • bordados e rendaspara cama, mesa e banho

    Relatório Completo

    E S T U D O S D E M E R C A D O S E B R A E / E S P M

    S E T E M B R O D E 2 0 0 8

  • Índice

    I. Panorama Atual do Mercado . de Artesanato: Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho .......................................................................................................7

    1. Introdução .............................................................................................................8

    1.1. Metodologia utilizada..............................................................................................9

    2. Panorama Histórico: Tecidos, Bordados e Rendas ........................................... 10

    2.1. Introdução ao tema: Bordados ............................................................................. 102.2. História dos Tecidos .............................................................................................. 112.3. História dos Bordados .......................................................................................... 122.4. História das Rendas .............................................................................................. 132.4.1. Classificação das Rendas ..................................................................................... 16

    3. Histórico do Mercado de Bordados e Rendas .................................................... para Cama, Mesa e Banho no Brasil ................................................................. 18

    3.1. Bordados em Ibitinga (SP); ................................................................................... 183.2. Bordados e Rendas na Região Nordeste do Brasil ............................................... 193.3. Características Específicas dos Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho .223.3.1. Definições sobre Artesanato e Tipologias; ...........................................................22

    4. Mercado Setorial de Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho ..................26

    4.1. Diagnóstico do Mercado Setorial .........................................................................264.1.1. Principais Aspectos do Mercado Externo (setor de tecnologia têxtil) ..................264.1.2. Barreiras Comerciais ............................................................................................294.2. Principais Aspectos do Mercado Interno (Setor de Tecnologia Têxtil) ...................314.2.1. Cama, Mesa e Banho ...........................................................................................314.2.2. Setor de Tecnologia Têxtil .....................................................................................32

    5. Mercado de Bordados e Rendas para Cama, ...................................................... Mesa e Banho .....................................................................................................36

    5.1. Origem da Produção ..........................................................................................36

  • 5.2. Volume de Produção ............................................................................................405.3. Balança Comercial ................................................................................................445.3.1. Exportações do Setor Têxtil e Confecções ...........................................................445.3.2. Exportações de Bordados e Rendas ....................................................................465.3.2.1. Dimensão dos Mercados de Destino ...................................................................475.3.2.2. Potencial dos Mercados de Destino para Têxteis .................................................495.4. Importações .........................................................................................................50

    6. Cadeia Produtiva ...............................................................................................51

    6.1. Cadeia Produtiva da Linha Lar ..............................................................................526.2. Estruturas de Apoio à Produção de Bordados e de Rendas .................................546.3. Projetos do Setor ..................................................................................................566.3.1. Projeto Bordados de Ibitinga-SP ...........................................................................576.3.2. Projeto voltado ao Bordado Artesanal no Paraná ..................................................586.3.3. Programas e Projetos Institucionais direcionados para o Artesanato Nordestino 586.3.4. Projetos SEBRAE .................................................................................................626.4. Casos de Sucesso ................................................................................................626.5. Comparativo de Investimento Inicial e Recuperação de Capital ...........................636.6. Produtores ............................................................................................................646.6.1. Principais Fabricantes ...........................................................................................66

    7. Produtos ..............................................................................................................68

    7.1. Principais Produtos de Artesanato por Tipologia e por Estado .............................687.1.1. Principais Produtos de Artesanato – SEBRAE Top 100 .........................................69

    8. Consumidor ........................................................................................................ 74

    9 Concorrência .......................................................................................................75

    9.1. Produtos Substitutos ............................................................................................759.2. Consumo .............................................................................................................. 769.3. Consumo per Capita .............................................................................................77

    10. Política de Preços ..............................................................................................77

    11. Canais de Distribuição .......................................................................................82

    11.1. Varejo Especializado de Luxo ...............................................................................83

    12. Comunicação: Análise sob a Perspectiva das Arenas da Comunicação ........84

    12.1. As Arenas da Comunicação ..................................................................................8512.2. Propaganda Tradicional .........................................................................................8612.3. Varejo....................................................................................................................8712.4. Entretenimento ....................................................................................................8812.5. Moda ....................................................................................................................8912.6. Marketing Esportivo .............................................................................................8912.7. Eventos Promocionais ..........................................................................................89

  • 12.8. Varejo Digital, Internet etc. ...................................................................................93

    II. Diagnóstico do Mercado de Artesanato: Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho .....................................................................................................94

    1. Análise PFOA ......................................................................................................95

    2. Fatores-chave de Sucesso (FCS) .......................................................................98

    2.1. Fatores-chave de Sucesso para Exportação ....................................................... 100

    3. Tendências para o Setor de Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho 101

    4. Estratégia Competitiva ..................................................................................... 104

    5. Conclusão e Recomendações Estratégicas ......................................................... para o Setor ...................................................................................................... 105

    5.1. Problemas Relativos à Comunicação .................................................................. 1055.2. Problemas Relativos à Comercialização ............................................................. 1065.3. Problemas Relativos à Competitividade ............................................................. 1065.4. Problemas Relativos à Produção ........................................................................ 106

    III. Referências ........................................................................................................ 107

    1. Bibliografia ........................................................................................................ 108

    2. Associações, Ministérios, Entidades Setoriais etc. ......................................................110

    3. Fontes jornalísticas ............................................................................................111

    4. Sites ....................................................................................................................111

  • I. Panorama Atual do Mercado de Artesanato: Bordados e Rendas para Cama, Mesa e Banho

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    8

    1. Introdução

    É aceito como fato que o sucesso e o futuro de uma empresa dependem do nível de aceita-ção dos seus produtos e serviços pelos consumidores, da sua capacidade de tornar acessí-veis esses produtos nos pontos de venda adequados ao mercado potencial - na quantidade e na qualidade desejadas e com preço competitivo - e do grau de diferenciação entre sua oferta de produtos e serviços frente à concorrência direta e indireta.

    A análise mercadológica insere-se nesse contexto como um instrumento fundamental para os empresários das micro e pequenas empresas. A dinâmica dos mercados mo-difica-se continuamente e as exigências dos consumidores alteram-se e se ampliam na mesma velocidade. A falta de um conhecimento abrangente sobre o ambiente de negócios, a cadeia produtiva do setor de atuação, os mercados atuais e potenciais e os avanços tecnológicos que impactam da produção à comercialização de produtos e serviços pode levar o empresário a perder oportunidades significativas de negócios, além de colocar em risco não só seu crescimento e sua lucratividade, como a própria sobrevivência da empresa.

    A maior parte dos empresários que gerem micro e pequenas empresas não tem uma com-preensão ampla sobre características, desejos, necessidades e expectativas de seus consu-midores e de seus clientes atuais (por exemplo, os inúmeros intermediários que participam da cadeia produtiva entre o produtor e os consumidores finais). Conseqüentemente, esses empresários tendem a desenvolver produtos, colocar preços e selecionar canais de distri-buição a partir de critérios que atendem à sua própria percepção (às vezes, parcial e viesa-da) sobre como deve ser seu modelo de negócios.

    Uma identificação mais precisa do perfil dos clientes e consumidores atuais e potenciais, bem como dos meios e das ferramentas que podem ser utilizadas para atingir (fisicamente) e atender esses mercados ajudam o empresário a concentrar seus investimentos, suas ações e seus esforços de marketing e vendas nos produtos/serviços, mercados, canais e instru-mentais que lhe garantam maior probabilidade de aceitação, compra e, principalmente, fidelização de consumidores. Esta é, indiscutivelmente, uma das principais razões do su-cesso das empresas de qualquer porte.

    As tendências e as ações apresentadas neste conjunto de estudos fornecem elementos nor-teadores ao empresário com dois objetivos principais:

    no curto prazo, apontar caminhos quase prontos para detectar, adaptar-se e atender •às demandas de novos mercados, novos canais de distribuição e novos produtos, sem-pre visando agregar valor à sua oferta atual valor este definido a partir dos critérios do mercado, e não do empresário.

    no médio e longo prazo, pela sua familiarização com o uso dos instrumentos apresen-•tados e com a avaliação dos resultados específicos dos vários tipos possíveis de ação, o

  • 9b

    ord

    ado

    s e

    re

    nd

    as p

    ara

    cam

    a, m

    esa

    , b

    anh

    o e

    cas

    a

    empresário estará habilitado a aumentar a sua própria capacidade de detecção e análi-se de novos mercados, novos canais de distribuição e novos produtos com maior valor agregado, acompanhando a evolução do ambiente de negócios (inclusive em termos tecnológicos), de forma a melhorar, cada vez mais, a qualidade de suas decisões com foco estratégico de médio e longo prazo.

    O empresário, tendo as informações destes estudos como suporte, será capaz de descorti-nar cenários futuros e de antecipar tendências que o auxiliarão a definir suas estratégias de atuação, tanto individuais quanto coletivas.

    Além de informações detalhadas sobre consumidores, é fundamental que o empresário tenha levante, sistematicamente, informações sobre os concorrentes e seus produtos, o am-biente econômico regional e nacional e as políticas governamentais que possam afetar o seu negócio. Assim, antes de estabelecer estratégias de marketing ou vendas, é preciso que o empresário busque acesso a informações confiáveis sobre o mercado em que atua, seja em nível nacional, regional e local.

    A informação consistente, objetiva e facilmente encontrada é uma necessidade estratégica dos empresários. A competitividade do mercado exige hoje o acesso imediato a informa-ções relevantes que auxiliem a tomada de decisões empresariais. Com esse conjunto de es-tudos, o SEBRAE disponibiliza um relatório abrangente sobre diferentes setores, com forte foco na análise mercadológica e que visa suprir as carências do empreendedor em relação ao conhecimento atualizado do mercado em que atua, seus aspectos críticos, seus nichos não explorados, tendências e potencialidades.

    Esta Análise Setorial de Mercado é mais uma das ferramentas que o SEBRAE oferece aos empresários de micro e pequenas empresas para que possam se desenvolver, crescer e lucrar com maior segurança e tranqüilidade, apoiados em informações que possibilitam a melhoria na qualidade da tomada de decisões gerenciais.

    As informações contidas no conjunto de relatórios foram obtidas, primordialmente, por meio de dados secundários, em âmbito regional e nacional, com foco no mercado interno. Cada relatório disponibiliza para as MPEs atuantes no segmento estudado:

    informações de qualidade sobre oferta, demanda, estrutura de mercados, cená-•rios e tendências;

    identificação de pontos fortes e fracos e das principais oportunidades e ameaças que se •delineiam para cada setor;

    proposições de ações estratégicas que visam ampliar a visão estratégica do empresário •sobre seu negócio e, sobretudo, apontar caminhos para a agregação de valor aos pro-dutos e serviços atualmente comercializados por essas empresas.

    1.1. Metodologia utilizada

    De forma sintética, o estudo foi desenvolvido de acordo com o seguinte processo metodológico:

    predominância de pesquisas documentais (ou seja, via dados secundários), coletados •junto a diversas fontes públicas, privadas, de caráter nacional, regional ou local, sem-

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    10

    pre obtidas de maneira ética e legal;

    para complemento, correção e confirmação dos dados obtidos por via secundária, • e na medi-da da disponibilidade para colaborar por parte de acadêmicos, experts e profissionais dos respectivos setores, foram realizadas pesquisas qualitativas (por telefone e/ou e-mail).

    Para tornar transparente a origem das informações contidas nos relatórios, todas as fontes pri-márias e secundárias consultadas são adequadamente identificadas no capítulo Referências.

    2. Panorama Histórico: Tecidos, Bordados e

    Rendas

    2.1. Introdução ao tema: Bordados1

    O bordadoAutor desconhecido

    “Quando era pequeno, minha mãe costurava muito. Eu sentava perto dela e perguntava o que estava fazendo. Ela respondia que estava bordando.

    Eu observava seu trabalho de uma posição mais baixa que ela e sempre perguntava o que estava fazendo, pois de onde eu estava, o que ela fazia parecia muito confuso. Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente dizia:

    “Filho, saia um pouco para brincar e quando terminar meu bordado chamo-te e sento-te ao meu colo, então poderás ver o bordado desde a minha posição”.

    Perguntava-me porque ela usava alguns fios de cores escuras e porque, de onde eu estava, pareciam tão desordenados. Minutos mais tarde, escutava-a chamando-me:

    “Filho, vem, senta-te em meu colo”.

    Era o que eu fazia de imediato. Surpreendia-me e emocionava-me ao ver uma linda flor ou um belo entardecer no bordado. Não podia crer! Lá de baixo parecia tão confuso.

    Então minha mãe me dizia:

    “Filho, de baixo para cima vias tudo confuso e desordenado, porém, não te ocorria que havia um plano em cima. Havia um desenho, eu só o estava seguindo. Agora, olhando-o da minha posição saberás o que estava fazendo”. Muitas vezes na minha vida olhei para o céu e disse:

    1 Fonte: LAZER ARTESANATO. Nova mania: bordado em fita – o bordado. In: USP (Universidade de São Paulo). CDCC (Centro de Divulgação Científica e Cultural). Programa Educ@r (Educação à distância usando a internet). São Carlos: CDCC-USP, 2001. Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2007.

  • 11

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Pai, o que estais fazendo?

    Ele responde:

    Estou bordando tua vida.

    Mas está tudo tão confuso e em desordem - replico. Os fios parecem tão escuros, porque não são mais brilhantes?

    O Pai parece dizer-me: Meu filho, ocupa-te de teu trabalho... e Eu farei o meu. Um dia, trago-te ao céu e então, sentado em meu colo, verás o Plano - desde a minha posição.” (LAZER ARTESANATO, 2001, p.1-2)

    2.2. História dos Tecidos

    A partir de informações obtidas em artigo disponível no site da Universidade Anhembi Morumbi,2 apresenta-se um breve panorama da história dos tecidos.

    Presentes desde que o homem criou sua primeira vestimenta, o algodão e o linho reinaram soberanos até meados do século XIX, quando surgiram as primeiras fibras sintéticas – aceta-to e viscose. O primeiro fio sintético de acetato de celulose foi criado na Alemanha em 1869.

    No princípio do século XX os químicos suíços Camille e Henri Dreyfus deram continui-dade ao desenvolvimento da fibra, sendo bruscamente interrompidos com a chegada da Primeira Guerra Mundial, quando o acetato foi usado na fabricação de encerados para revestir os aviões franceses e britânicos. Somente em 1920 o acetato voltou a ser produzido comercialmente, pela British Celanese Ltda, utilizando o método Dreyfus. A viscose, fibra sintética de celulose derivada da polpa de madeira, passou a ser produzida em 1905.

    A segunda geração de sintéticos teve início em 1938 com o lançamento do nylon – termo ge-nérico para uma fibra sintética em que a substância formadora é qualquer poliamida sintética de cadeia longa que possua grupos recorrentes de amidas. As primeiras meias finas de nylon foram lançadas em 1940. Alguns anos depois apareceu a fibra sintética acrílica, usada para substituir a lã. Lançada em 1947, só foi produzida em escala comercial na década de 50, quando surgiu no mercado a fibra de poliéster. Utilizada inicialmente na fabricação de tecidos para de-coração, o poliéster foi usado com sucesso na fabricação de todos os tipos de roupa por ter como características o fato de não amarrotar, não deformar e secar rapidamente. Quem não se lembra do slogan lançado anos mais tarde que dizia: “Senta, levanta, senta, levanta e nunca amarrota?”.

    Apesar de a tecnologia ser a favor do aperfeiçoamento das fibras sintéticas, os anos 80 foram marcados por períodos de rejeição aos sintéticos. Quase um século após o apareci-mento da primeira fibra sintética, a população mundial descobriu inúmeras desvantagens dos tecidos produzidos dessa forma. Preterida no mercado têxtil, a indústria iniciou uma série de pesquisas para o aprimoramento do tecido, tendo como objetivo principal a elimi-nação das propriedades de desconforto amplamente difundidas nesse período.

    2 Fonte: FERRAZ, Paula. História dos tecidos. In: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI. Jornalismo Anhembi Morumbi. Parada obrigatória. São Paulo, 2003. Disponível em: . Acesso em: 21 maio 2007.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    12

    2.3. História dos Bordados

    Um bordado é uma forma de criar à mão ou à máquina desenhos e figuras ornamentais em um tecido, utilizando para este fim diversos tipos de ferramentas como agulhas, fios de algodão, de seda, de lã, de linho, de metal, de maneira que os fios utilizados formem o desenho desejado.

    No que se refere especificamente à atividade artesanal, a maior concentração de tipos de bordados se encontra na região nordeste do Brasil. No Ceará, por exemplo, os bordados são provenientes de artesãos de todo o estado, e ficaram conhecidos por sua beleza e sua arte peculiar. Através dos tipos de bordados denotam-se traços característicos regionais de seus habitantes, aspectos inerentes à cultura e história.

    O bordado, executado sobre o tecido com agulha e linha, difere da renda porque esta não é aplicada sobre fundo já existente: ela mesma é um tecido de malhas abertas e com textura delicada, cujos fios se entrelaçam formando um desenho. Já as rendas mais famosas são as de bilros. Tanto com o bordado, quanto com as rendas, são confeccionados artigos de cama e mesa e peças de vestuário.

    No estado de São Paulo, a cidade de Ibitinga é conhecida por projetos e atividades comer-ciais baseadas em bordados. Todos os anos nesta cidade realiza-se tradicional Feira do Bordado, o que desperta a curiosidade de turistas vindos de diferentes regiões do país.

    De acordo com informações obtidas da revista Ponto Cruz Manequim3 os registros históri-cos do ponto cruz coincidem com a pré-história. No tempo em que os homens moravam em cavernas, o ponto cruz servia para costurar as vestimentas, feitas de pele de animal. Eles usavam agulha de osso e, no lugar de linhas, tripas de animais ou fibras vegetais. Fragmentos de linho datam de 5000 a.C.; retirados de túmulos egípcios em escavações arqueológicas, revelaram que o ponto cruz era usado para cerzir peças de tecido. Na Anti-güidade, os romanos descreviam o bordado como a “pintura de uma agulha”, mas foram os babilônicos que batizaram esta técnica. Existem controvérsias sobre a origem do ponto cruz, da forma como é utilizado hoje. Há quem acredite que ele tenha surgido na China e depois levado para a Europa.

    No século XVIII diversas pessoas de diferentes posições sociais faziam o ponto cruz e nes-ta época surgiram os mostruários, a fim de facilitar a escolha dos motivos das cores.

    Em termos do que era criado em ponto cruz, são exemplos as letras do alfabeto, borboletas, flores, casas, bordas floridas e as famosas amostras. Nos motivos, aparecia ou a assinatura de quem realizava o trabalho, a data e, às vezes até mesmo, a idade da bordadeira.

    Desde a Idade Média até os dias atuais o prestígio do ponto cruz nunca diminuiu. Os moti-vos ganharam novas inspirações e muita vitalidade, levando os trabalhos às possibilidades de enriquecer a decoração, dar ares à criatividade e também valorizar a habilidade manual. A seguir, mencionam-se as principais técnicas de bordado:

    • Hardanger: elaborado com pequenos vazados, quadrados e formas geométricas, o har-danger segue a trama do tecido. É trabalhado com quatro fios, tanto na vertical quanto

    3 Fonte: REVISTA MANEQUIM PONTO CRUZ, São Paulo, n.58, novembro 1999. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2007.

  • 13

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    na horizontal. Caseado, ponto de cetim, ponto de cabo, ilhós, enchimento com fios cruzados e barras tecidas são alguns dos pontos usados nesta técnica;

    • Ajour: a expressão francesa a jour significa “claridade” ou “aquilo que deixa passar a luz”. Por meio de pontos específicos, o bordado introduz aberturas e orifícios no tecido que criarão desenhos de diferentes tipos. Cada país ou região acabou por criar seus próprios desenhos surgindo, assim, o a jour americano, dinamarquês, norueguês e italiano. Alguns desenhos são tão complexos e sofisticados que acabam se aproximando da renda;

    • Pedrarias: técnica de bordado que faz uso de miçangas, vidrilhos, canutilhos, paetês, lantejoulas, pérolas e cristais. Registros arqueológicos mostram que as pessoas costu-mavam fazer uso das pedrarias há mais de cinco mil anos;

    • Assis: técnica que tem sua origem na cidade italiana de Assis. Muito utilizada na con-fecção de peças sacras, esta técnica é uma variação do ponto cruz. A diferença está no fundo do trabalho, que é preenchido e faz com que o desenho central apareça delinea-do pelos contornos;

    • Ponto cruz: conforme já mencionado anteriormente, primeiros trabalhos que mostram pon-tos semelhantes ao ponto cruz foram encontrados por pesquisadores na Ásia Central e da-tam de cerca de 850 a.C. Mas é no Renascimento que o ponto cruz toma a forma pela qual se tornou conhecido atualmente. A mouliné é uma das linhas mais utilizadas nesta técnica;

    • Blackwork: arte embasada em formas geométricas. Foi Catarina de Aragão, mulher de Henrique VIII, quem deu a este tipo de arte um caráter popular e não mais sacro como aconteceu até o século XVI. Originalmente, o bordado era feito sobre um linho branco com fios de seda pretos, entremeados com fios de ouro;

    • Pattern darning: culturas de todo o mundo costumavam usar esta técnica de bordado para decorar artigos de roupa e linho de família. O ponto é simples e é conhecido entre as bordadeiras por “ponto de correr”, que pode ser feito na horizontal, vertical e diagonal.

    2.4. História das Rendas

    Historicamente, a renda pode ser muito antiga, caso esta seja considerada exemplo de al-gumas espécies de tramas de fios produzidas ainda no período neolítico.4 Porém, na forma de sua configuração atual, este artesanato têxtil é relativamente recente. É apenas entre os séculos XV e XVI que a história começa a apontar indícios de sua origem, com Flandres e Itália reivindicando sua paternidade. Flandres intitulando-se inventora da renda de bilros e a Itália pedindo a patente da renda de agulhas, da qual nasce a renda renascença.

    Mesmo antes do século XV, em meados dos séculos XII e XIII, a história explora a possibilida-de de a renda ter aparecido na Espanha e em Portugal, para onde os mouros a teriam levado. Mas, nesse caso, não se trata da renda como viemos a conhecer por volta dos anos 1500, e sim de alguns tipos especiais de bordados e tramas desenvolvidos com maestria pelos árabes.

    4 Fonte: NÓBREGA, Christus. Renda renascença: uma memória de ofício paraibana. João Pessoa: SEBRAE, 2005. 224 p.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    14

    Conforme Nóbrega,5 avaliando os acontecimentos dos séculos XII e XIII, período marcado por grandes confrontos entre cristãos e árabes em decorrência das Invasões Bárbaras e das Cruzadas, pode-se levantar a hipótese de que tais momentos históricos de grandes embates e grandes trocas culturais suscitaram inúmeras conseqüências para ambas as regiões, entre as quais se destacam a influência da arte oriental para manifestações estéticas européias.

    Ao se analisar atentamente a arte árabe, encontra-se semelhanças tipológicas entre esta e a renda produzida na Europa a partir do século XV. Seu estilo artístico é fundamentado em princípios religiosos e desaconselha qualquer representação da figura humana. Dentro dessa aparente limitação criativa, seus artistas desenvolveram muito as formas abstratas como linguagem para sua expressão visual, adotando a geometria, a caligrafia e os motivos florais como principais elementos de sua estética. Essa forma de representação imagética ficou conhecida como arabesco e foi largamente usada na decoração de prédios e artefatos de uso cotidiano. Os arabescos árabes configuram tramas visuais complexas e rebuscadas, e essas tramas, quando comparadas morfologicamente com as tramas das rendas do século XV, apresentam vários aspectos semelhantes. Por isso, é provável a hipótese desta arte ter influenciado de algum modo a criação da renda européia.

    As pioneiras investigações foram no sentido de produzir bordados com linha branca so-bre fundos claros e em tecidos leves e transparentes, como tule e musselina. Em seguida, criaram a técnica de cortar certos espaços vazios do tecido entre os motivos bordados, vazando-se áreas estratégicas ao redor deste. Os italianos batizaram essa invenção de pun-to tagliato, os franceses de point coupé, ou seja, ponto cortado. Estava, nesse momento, dado o primeiro passo à criação da renda, e nascia também o que tempos depois ficou conhecido como a técnica para a produção do richelieu.

    Após o ponto cortado, as experimentações dos artesãos continuaram e criaram o que foi chamado pelos italianos de fili tirani, e pelos franceses de fils tires, ou fios puxados. Esse processo consistia em retirar do tecido alguns fios, conservando apenas os necessários para estruturar e interligar os pontos e os motivos bordados. Esta técnica específica do des-fio deu origem a um tipo especial de renda, conhecida no Brasil como crivo ou labirinto.

    A esse bordado cortado e agora feito sobre tecidos propositalmente desfiados, os artesãos acrescentaram pequenas barras serrilhadas ao seu redor, para dar-lhe acabamento lateral e mais sustentação. Sem o fundo de tecido e com a barra ao redor o bordado já poderia ser considerado, praticamente, uma peça de renda.

    Para estes novos pontos foram criados inúmeros desenhos de padrões para serem produzi-dos em diferentes modelos. Estes padrões popularizaram-se através dos livros de padrões, desenvolvidos e editados na Itália durante todo o século XVI.

    As pesquisas para a feitura de novos pontos continuaram especialmente na Itália. Entre todos os pontos cortados criados, aquele que se apresentava como inteiramente novo ficou conhecido como ponto no ar. O que o divergia dos demais era o fato de ele não precisar de um tecido de base para ser executado, diferentemente do ponto cortado, no qual, embora o tecido praticamente desaparecesse após o desfio, ainda assim, só era possível de ser produ-zido tendo um tecido como base.

    5 Fonte: NÓBREGA, 2005, op. cit.

  • 15

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    O ponto no ar era feito de maneira livre do tecido; isso possibilitou uma ruptura completa entre o bordado e a renda, a qual acabava de nascer. Em decorrência desta descoberta, é possível reconhecer a Itália como a grande responsável pelo invento deste novo artesanato têxtil. Mesmo assim, dentro do país passou a existir uma disputa entre as cidades de Ra-gusa e Veneza pela paternidade da criação deste ponto. Porém, Veneza veio a se tornar um centro bem mais famoso e respeitado na produção de rendas de agulhas, exportando tanto seu artesanato como seu conhecimento para outros países europeus.

    O ponto no ar, após a fama de Veneza, também ficou conhecido como ponto de Veneza e começou a ser utilizado amplamente na França, juntamente com seus precursores artesa-natos têxteis, como o ponto cortado e os fios tirados.

    Mais tarde, na França, entre 1754 e 1793, as artesãs trabalharam para aperfeiçoar o ponto de Veneza e criaram o point de France, ou ponto da França, que logo consolidou a supremacia daquele país na produção de rendas de agulhas em toda a Europa. Este novo ponto era mais fino e trazia em sua composição formas mais rebuscadas de folhagens e arabescos, diferentemente dos padrões mais geométricos das rendas italianas.

    A Itália procurou reagir ao crescimento do artesanato têxtil francês e Veneza criou o punto di rosa, ou ponto de rosa. Embora tenha sido descoberto em Veneza, outra cidade italiana, Burano, acabou por se tornar a sua principal produtora, mudando o nome de ponto de rosa para ponto de Burano.

    Mesmo com o advento do ponto de Burano, a Itália não conseguiu reconquistar a antiga hegemonia na produção da renda de agulha, pois foi justamente o ponto da França que se propagou por toda a Europa. Com essa ampla disseminação, outros países se sentiram encorajados a também produzirem este novo e original artesanato têxtil, principalmente no espaço de tempo em que a França cessou provisoriamente a sua produção durante a Revolução Francesa.

    Porém, além da Itália e da França, é importante verificar que outras nações contribuíram profundamente para a disseminação e consolidação da renda de agulha pelo mundo, e neste contexto pode-se reconhecer Espanha, Inglaterra, Islândia e Portugal, como países funda-mentais no processo de divulgação da renda. Contudo, a França continua sendo decisiva para a implantação da renda renascença no Brasil, especialmente no estado da Paraíba.

    Originalmente, a renda de agulha teve seu uso atrelado ao vestuário. Historicamente, a renda foi introduzida nas indumentárias entre os séculos XV e XVI como elemento decora-tivo que pudesse substituir o bordado. A diferença entre o bordado e a renda é bem clara. O primeiro é a aplicação de motivos sobre o tecido de forma que este se torne uno ao pano. O segundo, a renda, constitui-se em uma trama auto-estruturada independente de um su-porte, no caso, o tecido. Assim, o bordado quando aplicado em uma peça de vestuário não pode ser retirado desta, diferentemente da renda. Com essa possibilidade de ser removível, este novo artesanato têxtil tornou-se uma das maneiras encontradas por homens e mulhe-res para diferenciar uma mesma peça de roupa nas diversas ocasiões de seu uso.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    16

    Divergindo dos dias atuais, em que prevalece a aplicação de renda em roupas femininas, inicialmente não foi exclusivamente nas vestimentas de mulheres que ela teve destaque, pois suntuosas peças desse artesanato foram produzidas para os trajes masculinos. Nesses séculos, durante o Renascimento, encontram-se vários personagens nobres usando renda em seus trajes, concedendo a esta um grau de sofisticação que ajudou em muito a difundi-la por toda a Europa.

    Com o passar dos anos, a renda ganhou ainda mais destaque nas indumentárias, sendo empregada com magnificência, além de seu predomínio em golas, mas também em pu-nhos e em lingerie feminina e masculina. Além desses usos, também foram usadas na or-namentação dos canos das botas altas, surgindo a moda dos canhões (ornamentos de rendas que se prendiam ao longo das pernas).

    O uso das rendas foi de tal proporção que seu valor social em possuí-las era de elevado status, a ponto de a Igreja Católica proibir o uso excessivo desse artefato, embora também a Igreja a usasse em suas vestes eclesiásticas e na decoração dos altares.

    2.4.1. Classificação das Rendas

    “Sobre a almofada, nos bilros, curtidas mãos exercitam líquida paciência.Os bilros têm sons de infância. As mãos avultam, tranqüilas, no alegre bater dos bilros.Mãos e bilros, mãos e bilros de um fundo a outro do abismo tecendo a renda do tempo.” (Anderson Braga Horta6)

    Figura 1

    Almofada com bilros

    Fonte: HORTA, Anderson Braga. Artesanato. In:

    Garatujando. 14 maio 2005.

    As rendas, segundo Nóbrega,7 podem ser classificadas em duas categorias distintas, diferenciando-se pela forma como são produzidas, bem como pelas características materiais obtidas em cada processo produtivo, que confere a elas diferente lisura, delicadeza e fluidez.Na primeira classe de rendas encontram-se aquelas produzidas com o auxílio de bilros. O bilro é um pe-queno instrumento constituído de uma curta haste que em uma das pontas apresenta uma terminação esférica. Na ponta oposta enrola-se uma quantida-de de linha que é presa a um padrão que contém o desenho da renda a ser executada. Para se produzir

    uma renda desse tipo se faz necessário trabalhar com vários bilros simultaneamente, que vão sendo embaralhados em um dado sentido e com isso vão se cruzando os fios presos a eles, fazendo a renda surgir gradativamente. A quantidade de bilros empregados varia de acordo com a complexidade da renda a ser confeccionada.

    6 Fonte: HORTA, Anderson Braga. Artesanato. In: Garatujando. 14 maio 2005. Disponível em: . Acesso em: 14 maio 2007.7 Fonte: NÓBREGA, 2005, op. cit., p. 35.

  • 17

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Com esse instrumento se produz um tipo de renda que leva o mesmo nome da ferramenta; no Brasil conhecida como renda de bilros.

    Na segunda classe estão aquelas confeccionadas com o uso de agulhas. As agulhas empre-gadas para a execução de algumas dessas peças artesanais são as mesmas utilizadas para a costura doméstica em geral, e são com elas produzidas a renda renascença, o filé e o labi-rinto. Em outros casos utilizam-se agulhas especiais, como para a produção do tricô e do crochê. Essas últimas são rendas extremamente populares e produzidas por um número muito maior de mulheres quando comparado ao número de artesãs que dominam o ofício de tecer uma renda renascença ou labirinto, por exemplo.

    Entre as rendas de agulhas e de bilros existem aquelas que são rendadas em cima de al-mofadas ou grades. Dessas rendas, aquelas feitas em grades são o labirinto e o filé. Tanto a renascença como a renda de bilro são produzidas em cima de almofadas. Para a primeira, a renascença, a almofada é menor e mais leve e fica repousada sobre o colo da artesã durante o trabalho. Para a segunda, o bilro, a almofada é grande e pesada e fica assentada em cima de um cavalete de madeira e a artesã tece geralmente sentada no chão de fronte a esta.

    A renda renascença é um tipo de renda de agulha, que mantém o mesmo princípio formal das outras rendas de sua classe, as quais são constituídas basicamente por desenhos con-cêntricos. Porém, dentre todas as de sua família, a renascença é tida como a de qualidade superior, haja vista seu árduo e complexo processo de produção, sua beleza e delicadeza, o que reflete diretamente em seu preço elevado no mercado.

    Além de renascença, esta renda de agulha também é conhecida por outros nomes, tais como, inglesa ou irlandesa.

    O termo “inglesa”, utilizado para designar este tipo de renda apenas em algumas regiões brasileiras (em especial, na Bahia) deve-se ao fato do estabelecimento de for-tes laços comerciais entre este estado e a Inglaterra durante a colonização do Brasil. Nessa região concentrou-se o comércio de muitas manufaturas advindas deste país. Entre os diversos produtos importados encontrava-se a renda, o que fez com que esse artesanato têxtil fosse associado ao país inglês que a comercializava, recebendo então seu nome como referência.

    O nome “irlandesa” está relacionado ao país, que muito colaborou para sua perduração durante a Revolução Industrial. Em meados de 1872, no momento histórico marcado pela acelerada caminhada da máquina para a substituição dos fazeres artesanais, Margarida Sávoa, na Irlanda, estimulou fortemente essa produção artesanal em conventos de todo o território irlandês. Sabe-se que as freiras irlandesas foram algumas das principais respon-sáveis pela educação de vários países colonizados, a exemplo do Brasil. E como em suas es-colas era indispensável o ensino de trabalhos manuais femininos, as mulheres aprenderam com as religiosas a fazer essa renda, o que ajudou a criar uma correlação entre esse país e a renda, daí a sua designação.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    18

    3. Histórico do Mercado de Bordados e Rendas

    para Cama, Mesa e Banho no Brasil

    Quando se pensa em bordados e rendas no país, duas regiões saltam aos olhos: Su-deste, mais especialmente Ibitinga pela sua tradição histórica, e o Nordeste (pela diversidade de tipos, cidades envolvidas e referência turística).

    A apresentação dessas duas regiões presta-se a exemplificar melhor características de um mercado extremamente diverso no país e sua escolha prende-se não apenas à importância no cenário nacional, dentre tantas outras, mas pela disponibilidade de dados organizados sobre o segmento, facilitando o processo de compreensão e aná-lise deste estudo.

    3.1. Bordados em Ibitinga (SP)8;9

    A indústria e o comércio de bordados têm sido os grandes responsáveis pelo desenvolvi-mento econômico de Ibitinga há várias décadas.

    Nos anos 30, o bordado se propagou através das mãos mágicas de mulheres como dona Dioguina Martins Sampaio Pires, dona Maria Gonçalves Amorim Grilo, dona Marieta Ma-cari Pires e dona Maria Braga. Elas ensinavam a arte do bordado em máquinas de costurar, conhecida como “maquininha”, para as moças e jovens senhoras de Ibitinga. O bordado representava um complemento na renda familiar.

    Figura 2

    Bordado à máquina feito em Ibitinga (SP)

    Fonte: FEIRA DO BORDADO DE IBITINGA. Site institucional.

    Ibitinga (SP), 2008.

    A evolução na forma de produção e nas matérias-primas utilizadas foi rápida e as máquinas elétricas chegaram através da Escola de Bordados Singer, que foi montada por Gottardo Juliani, revendedor da marca, que projetou a máquina elétrica especialmente para atender o mercado de Ibitinga.

    8 Fonte: FEIRA DO BORDADO DE IBITINGA. Bordado – história. Site Institucional. Ibitinga (SP), 2006. Disponível em: . Acesso em: 20 jan. 2008.9 Fonte: FLORIAN, Fabiana. Arranjos produtivos locais: formação, desenvolvimento evínculos nas indústrias de bordados de Ibitinga – SP. 2005. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente) – Centro Universitário de Araraquara (UNIARA). Araraquara (SP), 2005.

  • 19

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Neste momento, o bordado passava a se tornar fonte principal de renda. Atualmente, a tecnologia aprimorou as máquinas e os produtos utilizados na fabricação das con-fecções bordadas, mas o grande segredo do sucesso é a mão-de-obra, com acabamen-tos e processos artesanais, que se especializa a cada dia.

    3.2. Bordados e Rendas na Região Nordeste do Brasil10

    Os principais aspectos envolvendo a produção e comercialização de artigos artesanais, dentre os quais bordados e rendas se incluem, adotam como referência o estudo denominado “Ações para o desenvolvimento do artesanato no Nordeste”,11 realizado com o apoio do Banco do Nordeste.

    O Estado de Pernambuco, assim como toda a região Nordeste, apresenta uma grande varieda-de de produtos artesanais. Além do tipo figurativo, composto por peças que são verdadeiras obras de arte, há uma enorme quantidade de produtos utilitários, indispensáveis no dia-a-dia da população. Pelos principais ramos, o artesanato pernambucano está assim dividido: cestaria e trançados; bordados e rendas; cerâmica; couro; tecelagem; madeira; metal; tapeçaria.

    Tabela 1 – Principais localidades produtoras de artigos artesanais no Estado

    Principais localidades produtoras de artigos artesanais no Estado

    Ramos Localidades

    Poção, Pesqueira, Tacaimbó, Alagoinha, Bezerros, Caetés, Carpina, Fazenda Nova, Limoeiro, Jataúba, Paudalho, Paulista, Ribeirão, São Lourenço da Mata, Recife.

    Bordados e Rendas

    Fonte: BNB. Ações para o desenvolvimento do artesanato no Nordeste: relatório. Recife, 2000.12

    A grande concentração de municípios com ocorrência em diversos tipos de artesanato está na região nordeste do Brasil, conforme dados ilustrados a seguir.

    10 Fonte: ARTE E CULTURA: artesanato, Pernambuco de A/Z, Recife, sd. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2007.11 Fonte: BNB (Banco do Nordeste do Brasil). Ações para o desenvolvimento do artesanato no Nordeste: relatório. Recife, 2000. 356 p. Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2007.12 Fonte: BNB, 2000, op. cit.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    20

    Tabela 2 – Número de municípios com ocorrência de artesanato por estado do NE

    Estados Ocorrências Municípios %

    Alagoas 58 101 57,4

    Bahia 127 415 30,6

    Ceará 140 184 76,1

    Maranhão 19 217 8,8

    Paraíba 62 223 27,8

    Pernambuco 72 185 38,9

    Piauí 36 221 16,3

    Rio Grande do Norte 35 166 21,1

    Sergipe 65 75 86,7

    TOTAL 614 1.787 34,4

    Fonte: BNB, 2000.

    Tabela 3 – Número de municípios com ocorrência de rendas e bordados por estado do NE

    Estados Ocorrências %

    1. Ceará 104 38,5

    2. Sergipe 59 21,8

    3. Paraíba 35 13,0

    4. Bahia 23 8,5

    5. Pernambuco 21 7,8

    6. Rio Grande do Norte 9 3,3

    7. Alagoas 7 2,6

    8. Piauí 7 2,6

    9. Maranhão 5 1,9

    TOTAL 270 100,0Fonte: BNB, 2000.

  • 21

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Tabela 4 – Número de municípios com ocorrência de artesanato com tecidos por estado do NE

    Estados Ocorrências %

    1. Alagoas 1 20,0

    2. Bahia 1 20,0

    3. Ceará 1 20,0

    4. Paraíba 1 20,0

    5. Pernambuco 1 20,0

    6. Maranhão 0 0

    7. Piauí 0 0

    8. Rio Grande do Norte 0 0

    9. Sergipe 0 0Fonte: BNB, 2000.

    Outro exemplo a ser mencionado refere-se a Tobias Barreto, no estado do Sergipe.13 Este município tem sua atividade econômica voltada para o setor de confecção e artesanato que, direta ou indiretamente, movimenta grande parte de sua economia. Trata-se de um local que reúne características únicas em relação a outros municípios sergipanos, no que diz res-peito ao setor de confecção-artesanato, que é a sua experiência e vocação nessa atividade, com possibilidade de impactar outros municípios deste e de outros estados.

    A produção artesanal de tecidos bordados para cama, mesa e banho é uma atividade tradi-cional em Tobias Barreto, desenvolvida, sobretudo, nos diversos povoados dos municípios por artesãs em suas próprias residências ou em associações.

    Em relação à produção artesanal, o conhecimento predominante para formação dos recur-sos humanos ocorre de forma empírica, através do repasse de experiências de mãe para filha. Nos poucos cursos promovidos por instituições de desenvolvimento, houve uma boa absorção de tecnologia, constituindo-se esses novos conhecimentos em uma nova fonte de renda para a comunidade.

    Os desenhos das peças são, em geral, definidos pelas próprias artesãs, ainda que, muitas vezes, elas recebam encomendas em que já ficam estabelecidos o tipo e o formato de bor-dado solicitado.

    Em termos de suprimento de insumos e componentes, as empresas médias e pequenas (com mais de 10 empregados) adquirem os principais insumos diretamente do fabricante, enquanto micro empresas, associações produtivas e artesãos que trabalham de forma indi-vidual, fazem-no junto ao comércio atacadista e varejista local.

    No que tange aos mercados mais relevantes, grande parte da produção local (90%) é escoada para o estado da Bahia. Os outros 10% restantes são repassados para os demais municípios de Sergipe e para os estados de Pernambuco, Alagoas, Piauí, Maranhão e Minas Gerais.

    13 Fonte: MUNICÍPIO DE TOBIAS BARRETO. Site institucional. Disponível em: . Acesso em: 14 maio 2007.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    22

    Um dos principais estrangulamentos da produção de bordados tem sido a precariedade de capitalização das artesãs. De maneira geral, diante da necessidade de subsistência imedia-ta, elas não dispõem de reservas para o giro da produção. Essa insuficiência faz com que percam diversas oportunidades de mercado, tendo muitas vezes de rejeitar encomendas de produtos por escassez de capital de giro ou vender suas peças a preço abaixo dos custos.

    Disseminou-se em Tobias Barreto um grande número de pequenas fábricas de confecção de shorts, bermudas, mosquiteiros e produtos de cama, mesa e banho. A produção, em parte, é feita nessas pequenas fábricas ou são repassadas para a produção doméstica de costureiras das zonas rural e urbana dos municípios.

    Outras informações mais detalhadas sobre bordados e rendas em outras localidades brasi-leiras serão apresentadas no decorrer deste relatório.

    3.3. Características Específicas dos Bordados e Rendas para Cama,

    Mesa, Banho e Casa

    3.3.1. Definições sobre Artesanato e Tipologias14;15

    Para se chegar a uma definição realista, pragmática e útil a este relatório, recorreu-se a vários estudos disponibilizados no site da ONG Candeeiro Aceso,16 que visa melhorar as condições do artesão no Nordeste brasileiro.

    Conforme consta na pesquisa Ações para o desenvolvimento do artesanato do Nordeste,17 a fragili-dade econômica do setor artesanal, causada fundamentalmente pela falta de estrutura deste setor, somada às formas simplificadas de abordagem das manifestações de cunho popular, determinam visões múltiplas do artesanato, evidenciadas nas inúmeras definições existen-tes para o termo. Vale ressaltar que bordados e rendas para Cama, Mesa e Banho estão dire-tamente relacionados a questões normativas específicas para os artesanatos no Brasil, daí a importância de se avaliar a natureza e a regulamentação da atividade artesanal no país.

    14 Fonte: ARAÚJO, A. M. M. et al. Estudos fundamentais: subsídios para uma política de artesanato no estado do Ceará. In: CANDEEIRO ACESO. Artesanato. Site institucional. Arapiraca (AL), sd. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2007.15 Fonte: BNB, 2000, op. cit.16 Fonte: CANDEEIRO ACESO. Site Institucional. Arapiraca, 2007. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2007.17 Fonte: BNB, 2000, op. cit.

  • 23

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Figura 3 – Definições de artesanato e artesão

    • Artesanato: É a forma de ocupação ou trabalho, geradora de bens materiais, produzidos por meios técnicos, geralmente tradicionais, com a utilização de instrumentos rudimentares.Fonte: ROCHA, José Maria Tenório. Arte/Artesanato de Alagoas, sem paginação, APUD SUDENE.

    • Artesanato: (É) o fruto gerado da cultura popular, a feitura de objetos relacionados à temática folclórica dos países, com emprego de técnicas primitivas de fabricação.Fonte: SILVA FILHO, Francisco Pereira. Perfil e Problemática do Artesanato do Litoral Piauiense, p. 16.

    • Artesanato: Resultado de uma habilidade bem treinada e de uma sabedoria própria do mitier. Constitui-se expressão espontânea de criatividade de um povo. Fonte: Perfil do Artesanato Cearense: Tipologias Selecionadas, sem paginação.

    • Artesanato: Toda e qualquer atividade do tipo industrial predominantemente manufatureira, executada com a finalidade de comercialização imediata, em oficinas de equipamentos rudimentares (domésticos ou não), em que os produtores se encarregam, individualmente ou mediante auxiliares, de todas ou quase todas as fases de produção.Fonte: SILVA FILHO, Francisco Pereira. Perfil e Problemática do Artesanato do Litoral Piauiense, p. 17, apud PEREIRA, Carlos José da Costa In Recursos e Necessidades do Nordeste, BANCO DO NORDESTE, 1964.

    • Arte Folclórica: Todo trabalho é feito normalmente, sem auxílio de máquinas industriais; a matéria-prima é a mais simples possível; o trabalho é realizado com técnicas rudimentares, sem auxílio de técnicas eruditas aprendidas em escolas superiores; A temática usada na obra é popular; Porque feita sem o sentido de concepção em mostras de arte, a obra possui liberdade de expressão e espontaneidade; e a ausência de assinaturas nas peças.Fonte: ROCHA, José Maria Tenório. Arte/Artesanato de Alagoas, sem paginação.

    • Artesão: Aquele que, por criatividade, habilidade própria ou adquirida, exerce uma atividade predominantemente manual, sem elementos repetidores industriais, transformando determinada matéria-prima na produção de bens artísticos ou de consumo e realiza todas as etapas do processo produtivo.Fonte: ROCHA, José Maria Tenório. Arte/Artesanato de Alagoas, sem paginação, APUD SUDENE

    Fontes: BNB 2000; CANDEEIRO ACESO. Artesanato. Site institucional. Arapiraca (AL), sd.18

    Cada uma das definições acima apresenta uma visão conceitual diferente, privilegiando determinados aspectos componentes da atividade artesanal ou mesmo excluindo outros tantos. Já a definição abaixo estabelece critérios de identificação para produtos considera-dos artesanais, visando excluir atividades manuais que não sejam artesanais:

    “Artesanato é a atividade predominantemente manual de produção de bens, exercida em ambiente doméstico ou em pequenas oficinas, postos de trabalho ou centros associativos, no qual se admite a utilização de máquinas ou ferramentas, desde que não dispensem a criati-vidade ou a habilidade individual e de que o agente produtor participe, diretamente, de todas ou quase todas as etapas da elaboração do produto”.19

    Para uso neste relatório, devem ser excluídos do conceito de artesanato trabalhos manuais que não possuam uma dimensão cultural popular, historicamente transmitida por tradi-ção oral e/ou aprendizado direto dos chamados mestres-artesãos.

    Quanto ao artesão, “este sequer existe como categoria ocupacional nos registros oficiais do país, o que torna ainda mais difícil situá-lo, conceituá-lo e obter uma visão coerente de sua história presente ou passada, para não mencionar a quase impossibilidade de antever suas perspectivas futuras”.20

    O Relatório e a Proposta da Comissão Consultiva de Artesanato sobre Conceituação do Artesanato para efeito do PNDA (Programa Nacional de Desenvolvimento do Artesanato e Caracterização do Artesão) apenas inferem que “artesão é aquele que faz artesanato nas condi-

    18 Fonte: CANDEEIRO ACESO, sd, op. cit.19 Fonte: CANDEEIRO ACESO, sd, op. cit.20 Fonte: CANDEEIRO ACESO, sd, op. cit.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    24

    ções acima descritas” (ou seja, segundo a definição anteriormente apontada para artesanato). E prosseguem: “os centros credenciados atestarão o exercício da atividade artesanal. Tal atestado, será documento hábil para a identificação trabalhista que se dará inicialmente sob a categoria geral de ‘artesão’. Com o desenvolvimento do PNDA, será aplicada a classificação dos diferentes níveis da qualificação profissional, tais como aprendiz, mestre-artesão e outras, bem como as especificações aplicáveis à atividade artesanal”.21

    Para a caracterização profissional do artesão, em alguns estados, a exemplo de Pernam-buco e da Bahia, são exigidos alguns pré-requisitos para que seja reconhecido e cadastra-do como tal. Da mesma forma, no Ceará adotam-se normas para inscrição e emissão de identidade de artesão. Este deverá ter habilidade para exercício da atividade, comprovada através de teste prático de capacitação supervisionado por comissão especializada. O can-didato também deverá ter no mínimo 16 anos de idade, apresentar documento de identi-dade e comprovante de residência. Este procedimento assegura a exclusão de pessoas não qualificadas e garante algumas vantagens como a isenção do ICMS quando da venda dos produtos artesanais no estado.

    No Estado do Piauí, aos artesãos mais qualificados, de reconhecido saber e que já tenham repassado este saber a aprendizes, é conferido o status de mestre-artesão, simbolizando uma hierarquia de conhecimento importante e o reconhecimento do valor do artesão e do artesanato de um modo geral.

    Outro conceito apresentado considera o artesão como “um produtor tipicamente não assalaria-do (sem vínculo empregatício), que produz em condições de baixa capitalização, dispondo-se e utili-zando-se de sua própria força de trabalho e dos seus meios de produção para produzir artesanato”.22

    Assim, propõe-se para este relatório uma classificação tipológica fundamentada a partir da análise das diversas classificações anteriormente apresentadas. Esta classificação, in-dicada no quadro seguinte, tem por finalidade identificar, segundo categorias unificadas, segmentos artesanais diversamente ordenados nos Estados nordestinos.

    Vale ressaltar que se trata de uma classificação esquemática, não se detalhando possíveis subclassificações, a exemplo da tipologia rendas e bordados, em que o segmento labirinto ainda é subclassificado segundo a origem (cearense ou alagoano), ou entre as cerâmicas trabalhadas em Cascavel, Ipu ou Viçosa (três municípios do Ceará). Esta classificação exclui alguns segmentos artesanais de pouca relevância no contexto do artesanato nordestino, seja por apresentarem ocorrências não significativas (como a foguetearia), seja por não se enquadrarem na definição estabelecida para artesanato (como marcenaria e funilaria).

    Os produtos apresentados estão ordenados de forma genérica, destacando-se a existência de inúmeros produtos para cada uma das segmentações apresentadas.

    21 Fonte: CANDEEIRO ACESO, sd, op. cit.22 Fonte: CANDEEIRO ACESO, sd, op. cit.

  • 25

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Tabela 5 – Tipologias para o artesanato nordestino

    Tipologias Segmentação Produtos

    Alimentos • Doces• Bebidas• Doces de frutas regionais típicas• Bebidas de frutas regionais típicas

    Cerâmica

    • Barro• Argila• Terra cota• Porcelana• Gesso

    • Vasos, jarros, panelas e similares• Imagens sacras e populares• Miniaturas diversas• Luminárias e arandelas• Placas decorativas• Utilitários para o lar

    Cestarias e Trançados

    • Fibra de sisal• Palha de carnaúba• Folha de bananeira• Junco• Taboa• Vime

    • Fibra de catolé• Fibra de ouricuri• Fibra de buriti• Folha de piaçava• Palha da costa

    • Mobiliário• Tapetes• Acessórios do vestuário• Sacolas diversas• Artigos para copa e cozinha• Painéis divisórios

    Couro • Bovino• Caprino

    • Acessórios do vestuário• Calçados• Arreios para montarias

    Madeira • Ipê• Massaranduba

    • Mobiliário• Imagens sacras e populares• Miniaturas diversas• Molduras para espelho• Produtos para copa e cozinha• Brinquedos populares• Instrumentos musicais

    Metal

    • Aço• Ferro• Bronze• Alumínio• Latão

    • Cobre• Níquel• Estanho• Prata

    • Peças sacras• Utilitários para o lar• Artigos para copa e cozinha• Instrumentos musicais

    Pedras

    • Preciosas• Semipreciosas• Granitos• Pedra sabão• Mármore

    • Imagens sacras e populares• Utilitários para o lar• Artigos para decoração

    Reciclados • Papel• Vidros

    • Utilitários para o lar• Brinquedos populares• Sacolas• Mobiliário

    Rendas e Bordados

    • Labirinto• Vagonite• Frivolite• Richielieu• Rendendê• Ponto de cruz

    • Ponto-cheio• Bilro• Crochê• Irlandesa• Renascença• Filé

    • Produtos de cama, mesa e banho• Artigos para copa e cozinha• Trajes típicos• Bonecas

    Tecelagem

    • Fio de algodão cru• Linha• Linho• Lã

    • Redes• Mantas• Tapetes• Almofadas• Artigos para copa e cozinha

    Tecidos• Algodão• Retalhos diversos• Linho

    • Vestuário popular• Artigos de cama, mesa e banho• Artigos de copa e cozinha

    Fonte: Elaboração da autora, a partir de fontes diversas utilizadas ao longo deste relatório.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    26

    A existência dessas tipologias é observada em todos estados nordestinos, ainda que não de maneira homogênea, destacando-se rendas e bordados, cerâmica e cestarias e trançados, tanto pelo volume produzido como pela recorrência nos principais pólos e pelo valor his-tórico e comercial dos produtos.

    O artesanato, em sua forma mais tradicional (aquele em que o artesão utiliza essa ativi-dade apenas para prover seu sustento e o de seus familiares, não utilizando formas mais elaboradas para otimizar a administração, a produção e a comercialização do produto ar-tesanal), foi considerado neste relatório como artesanato de subsistência. A necessidade de desenvolvimento de uma atividade segundo modelos mais adequados ao mercado, que a torne competitiva, rentável e produtiva, gerenciada por indivíduos profissionalizados, sem perder suas características singulares de expressão da arte popular, será chamada de artesanato de mercado.

    Os aspectos demarcatórios entre artesanato de subsistência e o artesanato de mercado são difíceis de serem operacionalizados, implicando em radicais transformações que envolvem não só o artesão e sua atividade laborial, como também visões políticas e sociais arraigadas ao longo da formação histórica e cultural do artesanato no Brasil.

    Com relação à forma habitual do artesanato - o regime familiar de produção e comerciali-zação - percebem-se os impasses na organização da atividade, visto que inexistem relações profissionais definidas entre os membros componentes da família e, conseqüentemente, claros direitos e deveres de empregadores e empregados.

    A fim de evidenciar alguns destes problemas no âmbito da produção e da comercialização, foi realizada uma pesquisa direta com artesãos durante a Feira Nacional de Negócios do Artesanato de Recife, em julho de 2000. Nessa feira (escolhida como referência para o es-tudo por ser de âmbito nacional e congregar especialistas e artesãos de várias localidades) procurou-se enfocar alguns aspectos administrativos do artesanato.23 Os resultados apon-tam fragilidade dos modos de administração, produção e comercialização do artesanato a partir do levantamento das dificuldades encontradas pelos artesãos em cada uma das etapas do processo.

    4. Mercado Setorial de Bordados e Rendas para

    Cama, Mesa e Banho

    4.1. Diagnóstico do Mercado Setorial

    4.1.1. Principais Aspectos do Mercado Externo (setor de tecnologia têxtil)

    O setor de tecnologia têxtil é um dos segmentos de maior tradição dentro da indústria mundial; em 2005, o PIB têxtil mundial era de US$350 bilhões, com previsão de expansão

    23 Fonte: BNB, 2000, op. cit.

  • 27

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    pelo menos até 2010. Assumem posições de destaque na economia de países desenvolvidos (por exemplo, Estados Unidos da América e Itália) e também constitui o carro-chefe do desenvolvimento de países emergentes como China e Índia. O setor têxtil mundial vem registrando significativa expansão, tanto que no que se refere aos montantes produzidos como ao comércio em geral (em função do aumento de consumidores e aberturas no mer-cado internacional).24

    O gráfico seguinte apresenta as maiores cadeias produtoras de setor têxtil no mundo.

    Gráfico 1 – Maiores Cadeias Produtivas do Setor Têxtil em 2004 (em ton./mil)

    18.000,016.000,014.000,012.000,010.000,08.000,06.000,04.000,02.000,0

    China EUA Índia Taiwan Córeiado Sul

    Brasil

    4.6335.301

    8.849

    12.63712.63713.265

    15.737

    Fonte: Reproduzido de Reunião APIMEC, 2005.25

    Outro estudo apresenta dados sobre a União Européia, Estados Unidos e China.26 A União Euro-péia (antiga Comunidade Econômica Européia) é constituída por 25 países, dos quais dez foram admitidos em 2004. Com relação aos padrões de consumo dos artigos têxteis para o lar há dife-renças significativas nos países europeus, em virtude da diversidade dos níveis de renda, hábitos culturais e condições climáticas. Assim, por exemplo, verifica-se que o consumo de alguns desses produtos é maior no norte do que no sul da Europa, por causa do clima mais rigoroso.

    A produção de têxteis para o lar na Europa tem sido declinante nos últimos anos, a exem-plo do sucedido com o setor têxtil em geral, cujo faturamento sofreu redução de 12,5% entre 2000 e 2003. A razão principal para esta evolução desfavorável é a perda de competi-tividade em face de novos países produtores, que caracterizam por custos muito inferiores aos dos europeus, em particular no que se refere à mão-de-obra. Cabe observar que o custo do trabalho é especialmente importante em indústrias tecnologicamente modernas, como é o caso do setor têxtil.

    24 Fonte: Reunião APIMEC. 15 mar. 2005. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2007. 25 Fonte: Reunião APIMEC, 2005. op. cit.26 Fonte: ROSA, Sergio Eduardo. Silveira da; COSENZA, José Paulo. Linha lar. BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 24, 2006. Disponível em . Acesso em: 20 maio 2007.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    28

    No que se refere aos Estados Unidos, a produção de têxteis para o lar atingiu 803.900 t em 2001. Considerando-se que a produção total da indústria têxtil dos EUA foi de 3,8 milhões de toneladas naquele ano, a linha lar foi cerca de 12,3%.

    Diferentemente do que ocorre em outros países, quase a metade dos produtos têxteis para o lar norte-americano era fabricada com base em fibras sintéticas e artificiais.

    Quanto ao comércio exterior, as exportações são insignificantes; as importações alcança-ram US$ 8,9 bilhões em 2003, o que equivale a 11,5% em valor de bens finais têxteis. Os principais países de origem desses produtos são China, Índia e Paquistão, sendo desprezí-vel – com exceção parcial do Brasil – a participação da América Latina. Isso configura um padrão bastante diverso do que se verifica nas importações de artigos de vestuário, nas quais a América Central tem papel preponderante e se deve, provavelmente, à menor in-tensidade da mão-de-obra da linha lar, se comparada à linha de confecção para vestuário.

    Sobre a China, a produção de artigos têxteis para o lar foi, em 2002, equivalente a quatro milhões de toneladas, em termos de consumo industrial de fibras, o que representa um valor de produção da ordem de US$ 36 bilhões. Esse montante correspondeu a 16,2% do valor da produção da cadeia têxtil chinesa e representou um crescimento de 25% compara-tivamente ao ano de 2001. O setor de têxteis para o lar foi o que apresentou o maior cresci-mento industrial na China (algo em torno de 7,8% do PIB chinês de 2002).

    Embora a indústria têxtil para o lar chinesa tenha sido tradicionalmente composta por grandes empresas estatais, nos últimos anos tem havido um crescimento no número de empresas coletivas e privadas de pequeno e médio porte que atuam nesse setor. Além disso, houve ainda um processo de entrada de empresas chinesas tradicionais para o ramo de cama, mesa, banho e decoração. Tal fato acabou por expandir o setor e conferiu grande vitalidade ao mercado de artigos têxteis para o lar na China.

    A produção chinesa de artigos têxteis para o lar tem sido crescente nos últimos anos, basi-camente em razão do surgimento de um mercado interno novo e fortalecido, com grande potencial para absorver a produção desse país. Atualmente, cerca de 81% do total produ-zido para a linha lar na China é consumido internamente pela população. No entanto, o consumo de têxteis para o lar na China ainda é relativamente baixo, frente aos padrões mundiais. Em parte por causa dos hábitos tradicionais do consumidor chinês que conside-ra esses tipos de produtos (toalhas, lençóis, cortinas etc.) artigos independentes.

    No que se refere ao comércio exterior, a China importou em 2002 US$ 1,9 bilhão de produ-tos têxteis para o lar, visando atender suas necessidades internas de consumo, sobretudo aquelas associadas à demanda por artigos de qualidade superior. Isso equivaleu a 30,6% do total de importações de bens finais têxteis, superando a importação de confeccionados têxteis e de produtos têxteis industriais que, respectivamente, foi de 27,2% e 33,2%.

    No que concerne às exportações chinesas de artigos da linha lar, observa-se um incremen-to de 14% no ano de 2002, comparado ao ano anterior. No período de 1990 a 2001, houve um crescimento de 40% nas exportações chinesas nesse setor. Todavia, a competitividade internacional dos produtos da linha lar chinesa é ainda inferior, quando comparada com os artigos de confecção para vestuário, exportados por esse país. Em 2002, a exportação chinesa de produtos da linha lar alcançou US$ 7,1 bilhões, equivalentes a 14,2% do total de produtos finais têxteis confeccionados (representou cerca de 82%).

  • 29

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Os produtos têxteis para o lar da China que têm maior penetração no mercado internacio-nal são as roupas de cama e as toalhas de banho, correspondendo a 39% e 31%, respectiva-mente, do valor exportado em 2001. No entanto, esse país exporta também outras catego-rias de produtos têxteis para o lar como a linha copa e cozinha, cortinas e cobertores, sendo os países asiáticos os principais destinos das exportações chinesas, em especial o Japão, seguidos da União Européia e dos Estados Unidos, conforme consta nos dados abaixo:

    Tabela 6 – Dez maiores importadores mundiais de produtos têxteis para o lar da China – 2003

    Nº PaísesIMPORTAÇÕES

    US$ Bilhões %

    1 Estados Unidos 1.779 57,0

    2 Japão 1.342 43,0

    3 Hong Kong 0,303 0,010

    4 Reino Unido 0,236 0,008

    5 Alemanha 0,211 0,007

    6 Austrália 0,210 0,007

    7 Rússia 0,195 0,006

    8 Canadá 0,159 0,005

    9 Emirados Árabes Unidos 0,134 0,004

    10 Coréia do Sul 0,115 0,004

    TOTAL 3.123 100,0Fonte: Reproduzido de ROSA, Sergio Eduardo. Silveira da; COSENZA, José Paulo. Linha lar. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 24,

    p. 211-240, set. 2006

    4.1.2. Barreiras Comerciais

    Praticamente em todos os países desenvolvidos a Cadeia Têxtil e de Confecção (CTC) con-tam com maior proteção tarifária do que o conjunto da indústria.27

    A proteção à CTC é proporcionalmente maior nos países desenvolvidos onde, curiosa-mente, a participação da CTC na produção e comércio é menor. Também se observa que a proteção ao setor vestuário é geralmente maior do que a proteção ao setor têxtil. Este é um indicador de escalada tarifária. De fato, as tarifas à importação cobradas pelos países desenvolvidos aumentam com o nível de processamento do produto. Isto introduz um viés na estrutura produtiva dos países em desenvolvimento, pois favorece, relativamente mais, a produção de bens menos refinados.

    27 Fonte: PROCHNIK, Vitor. A cadeia têxtil/confecções perante os desafios da Alca e do acordo comercial com a União Européia. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2007.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    30

    Tabela 7 – Tarifas médias de países selecionados, ponderadas pelas importações

    PAÍS Manufaturas Têxteis Vestuário

    PAÍSES DESENVOLVIDOS 3.1 8.1 12.2

    Canadá 3.2 10.0 18.3

    União Européia 3.5 8.2 11.7

    EUA 3.0 8.1 12.0

    AMÉRICA LATINA 14.1 19.0 28.3

    Argentina 15.3 20.1 22.8

    Brasil 15.9 18.9 22.4

    Chile 9.0 9.0 9.0

    Colombia 10.5 17.1 19.5

    Costa Rica 3.9 7.6 13.9

    Republica Dominicana 17.8 21.1 27.1

    México 14.8 20.3 34.7Fonte: Reproduzido de PROCHNIK, Vitor. A cadeia têxtil/confecções perante os desafios da Alca e do acordo comercial com a União

    Européia. Rio de Janeiro, 2002.

    Nota-se, principalmente nos EUA e Canadá, a existência de picos tarifários, que prejudi-cam, sensivelmente, as exportações dos produtos mais intensivos em valor. De fato, nos EUA, 13% das tarifas para têxteis e vestuário estão acima do nível de 15% que as categoriza como altos picos tarifários.

    Entre os países e acordos regionais aos quais os EUA concedem preferência tarifária, no comércio da CTC, destacam-se seguintes:

    • Países da Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), Canadá e México;

    • Israel (acordo de livre comércio) e Jordânia (lado oeste do Rio Jordão);

    • Países africanos indicados pela AGOA (Lei de Crescimento e Oportunidades para a África);

    • Países andinos da Lei de Preferência Comercial para a Região Andina (ATPA);28

    • Países indicados na Lei de Recuperação Econômica da Bacia do Caribe (CBERA);29

    4.2. Principais Aspectos do Mercado Interno (Setor de Tecnologia

    28 Para maiores informações sobre NAFTA, AGOA, ATPA e demais acordos comerciais dos EUA, acesse o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos – Programas Internacionais de Informação: .29 Para maiores informações sobre CBERA, consultar:

  • 31

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    Têxtil)30

    No que se refere ao setor têxtil no Brasil, atualmente é formado por mais de 30 mil empre-sas em toda a cadeia produtiva (tecelagens, malharias, estamparias, tinturarias e confec-ções), que geram 1,6 milhões de empregos formais e informais.

    Em termos de faturamento, em 2006, resultou no total de US$ 33 bilhões, sendo que as ex-portações do setor foram de 2, 08 bilhões e as importações de US$ 2,14 bilhões.

    O Brasil é o sexto maior produtor têxtil mundial, ocupando o segundo lugar na produção de denim. O setor têxtil de confecções é um dos que mais emprega no País, sendo o segun-do maior empregador da indústria de transformação da qual representa 18,6% do produto interno bruto.

    O parque têxtil nacional consome, anualmente, mais de 1.400.000 t de diversas matérias-primas, dentre elas: pluma de algodão, lã, fio de seda, juta, poliéster, sisal e outras, sendo liderado pela fibra de algodão, cujo consumo na safra 2005/2006 foi de 890.000 t.

    É importante frisar que o Brasil foi, por muito tempo, um tradicional produtor de algodão, produzindo o que necessitava e exportando o excedente. Na década de noventa, com a queda acentuada da área cultivada e da produção, passou à condição de segundo maior importador de algodão do mundo, chegando a importar cerca de 400.000 t/ano de pluma, além de outros subprodutos do algodão, ao custo de US$ 1.2 bilhões.

    A partir do ano 2000, o País, voltou a ser auto-suficiente em algodão, abastecendo a in-dústria têxtil interna e exportando o excedente; por exemplo, na safra 2006/2007 foram exportadas 437.000 t de pluma de excelente qualidade. O Estado de Mato Grosso lidera a produção nacional de algodão, tendo produzido 1,5 milhões de toneladas de algodão em caroço no ano agrícola 2005/2006, com produtividade de 3.660 kg/ha, considerada a maior produtividade do planeta em condições de chuvas naturais.

    4.2.1. Cama, Mesa e Banho

    O segmento para o lar, um dos muitos que compõem o setor nacional de confecções têxteis, também é representado por vestuário, artigos de decoração e artigos não-tecidos, entre ou-tros. Contudo, os produtos mais comumente classificados dentro da linha lar são os artigos têxteis para cama, mesa, banho e decoração.

    Cada empresa procura criar uma marca própria para seus produtos, para com isso obter maior participação no mercado. Em geral, as empresas atuam sob um regime de concor-rência em que a principal característica é a criação de produtos diferenciados, com dese-nhos e padrões sempre renovados, acompanhando ou ditando a moda. Dessa forma, por meio da diferenciação de produtos, procuram conquistar uma vantagem competitiva que lhes permita manter a participação de mercado e a rentabilidade das vendas.

    30 Fontes: ABIT (Associação da Indústria Têxtil e de Confecção). São Paulo, 2007; CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), 2006; EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), 2000.

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    32

    O Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade de suas confecções – e o setor de cama, mesa e banho, nos últimos anos, tem ganhado merecido destaque (por conta, princi-palmente, dos investimentos feitos em sofisticação – como será visto posteriormente).

    Para se ter uma idéia da representatividade expressiva desse segmento no setor de confec-ções, os artigos de cama, mesa e banho encerraram o ano de 2006 com cerca de US$ 4,54 bi-lhões em faturamento – o que representa um crescimento de 10% nos negócios em relação a 2004 e algo em torno de 8,5% do total previsto como receita da indústria têxtil para 2005.31

    Historicamente, os produtos para banho têm tido a maior participação de mercado dentro da linha lar no Brasil. No entanto, de acordo com o IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial), no período compreendido entre 1990 e 2004, observou-se um aumento signifi-cativo na participação de produtos têxteis para decoração, que apresentaram uma variação de cerca de 136% no volume em peças e 112% no valor em dólares.

    Por outro lado, existe a expectativa de que os artigos de cama venham a ter maior perspec-tiva de crescimento, já que além desse segmento ser visto como potencialmente superior, apresenta melhor rentabilidade em razão da facilidade para a criação de produtos mais so-fisticados e de preços mais altos e também por não enfrentar tão fortemente a concorrência, como nos demais segmentos. O segmento de produtos de banho, que tradicionalmente tem sido o mais importante dentro da linha lar, tem sofrido grande pressão no mercado interno nos últimos anos, por conta da importação de produtos asiáticos já prontos.

    4.2.2. Setor de Tecnologia Têxtil32

    Com base em estudos realizados pelo IEMI, foi possível identificar as principais mudanças ocorridas ao longo dos anos no setor têxtil brasileiro. A partir das estatísticas, análises e comentários, foram destacados alguns resultados relevantes ilustrar essa evolução.

    Unidades Fabris

    Tabela 8 – Unidades fabris

    Segmento 1995 2005 2006Evolução % 1990/2006

    Fiação 661 370 383 -42,1%

    Tecelagem 984 493 593 -39,7%

    Malharia 3.019 2.582 2.421 -19,8%

    Confecção 17.066 20.853 21.808 -28,3%Fonte: IEMI. Brasil Têxtil 2007: relatório setorial da indústria têxtil brasileira.

    31 Fontes: IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial). Brasil Têxtil 2007: relatório setorial da indústria têxtil brasileira.32 Fonte: IEMI, Brasil Têxtil 2007, op. cit.

  • 33

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    “Comentários: na produção de fios e tecidos o setor registrou uma grande redução no número de unidades fabris, entre 1995 e 2006, resultado de fusões e aquisições, especialização (menos verticali-zação) e ganhos de escala, combinado com o fechamento de unidades pouco eficientes. Na produção de confeccionados, a terceirização de partes do processo produtivo, criou espaço para entrada de um grande número de novos pequenos produtores.”

    Empregos Diretos na Indústria

    Tabela 9 – Empregos diretos gerados pela indústria

    Segmento 1995 2005 2006Evolução % 1990/2005

    Fiação 132.497 80.132 79.422 -40,1%

    Tecelagem 162.269 100.507 102.216 -37,0%

    Malharia 114.973 116.349 118.292 +2,9%

    Confecção 1.468.127 1.196.311 1.193.918 -18,7%Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

    “Comentários: a modernização dos processos de produção e do parque de máquinas, e a busca in-cessante por ganhos de eficiência e competitividade, tiveram efeitos significativos na redução dos empregos gerados pelo segmento na década de 90.”

    Produção (em toneladas)

    Tabela 10 – Produção por segmento (em toneladas)

    Segmento 1995 2005 2006Evolução % 1990/2005

    Fiação 1.066.914 1.294.159 1.345.408 +26,1%

    Tecelagem 875.153 1.314.312 1.369.382 +56,5%

    Malharia 350.760 554.229 609.485 +73,8%

    Confecção 1.325.738 1.662.029 1.732.451 +30,7%

    Geral(1) 1.325.738 1.662.029 1.732.451 +30,7%Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

    Nota: (1) produção de fios + filamentos.

    “Comentários: o traumático processo de modernização do setor, ao contrário do que se imagina, não resultou em perda de produção, que ao todo cresceu 30,7%, com destaque para os produtos mais elaborados, como os tecidos e os confeccionados.”

  • ES

    TU

    DO

    S

    DE

    M

    ER

    CA

    DO

    S

    EB

    RA

    E/

    ES

    PM

    34

    Produtividade

    Tabela 11 – Produtividade do setor

    Ano Prod./funcionário/ano

    1995 691,4 kg

    2005 1.091,3 Kg

    2006 1.136,8Kg

    Crescimento 1995/2006 +64,4%Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

    “Comentários: a utilização de tecnologia mais moderna, pode ser medido pelo crescimento da produ-tividade média do segmento, que aumentou 64,4% no período.”

    Produção e Consumo per capita

    Tabela 12 – Produção e consumo per capita

    Ano Prod./habitante/ano Consumo/habitante/ano

    1995 8,3 kg 8,7 kg

    2005 9,2 kg 9,8 Kg

    2006 9,3 Kg 10,7 kg

    Crescimento 1990/2005 +12,0% +23,0%Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

    “Comentários: os esforços consumidos na modernização do parque fabril, nos ganhos de escala e nos movimentos de fusão e aquisição de empresas, não permitiram que o crescimento dos volumes de produção, acompanhassem o crescimento do mercado, que ampliou em 28 milhões o número de pessoas residentes. Parte desta demanda, então, foi suprida pelas importações.”

    Investimentos em Máquinas

    Tabela 13 – Investimentos em máquinas (em US$ milhões)

    Ano Nacionais Importadas Total

    1990 316 737 1.053

    1995 185 453 638

    2001 200 410 610

    2002 214 297 511

    2003 208 211 419

    2004 266 293 559

    2005 230 320 550

    2006 202 461 663

    Total 1990 a 2006 4.050 7.020 11.070Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

  • 35

    bo

    rdad

    os

    e r

    en

    das

    par

    a ca

    ma,

    me

    sa,

    ban

    ho

    e c

    asa

    ‘Comentários: De 1990 a 2006 a cadeia têxtil investiu mais de 10 bilhões de dólares na modernização do seu parque de máquinas. As máquinas nacionais representaram 37% desse montante, ficando as estrangeiras com 63%.”

    Importância na Economia Nacional

    Tabela 14 – Importância econômica do setor têxtil

    Receita Bruta 2006 (US$ bi) Pessoal Ocupado 2006 (mi func.)

    Têxteis básicos 21,8 Têxteis básicos 330,0

    Confeccionados 30,2 Confeccionados 1.193,0

    Total da cadeia (1) 33,0 Total da cadeia 1.523,9

    PIB Ind. Transformação(2) 196,3 Emprego Ind. Transformação (2) 8.833,4

    Participação % 16,8 Participação % 17,3

    PIB Geral 1.066,9 População Econ. Ativa 93.831,3

    Participação % 3,1 Participação % 1,6Fonte: Reproduzido de IEMI, 2007, op. cit.

    Nota: (1) Valor consolidado da produção nacional; (2) Não inclui indústria extrativa mineral e construção civil.

    “Comentários: Particip