Boletim7 Edicao Jan Fev 2009

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Publicação Bimestral do Núcleo Avançado do Tórax do Hospital Sírio-Libanês Janeiro / Fevereiro - 2009 7ª edição Do cigarro ao narguilé pág. 4 Edema agudo de pulmão pág. 2 Obstrução nasal pág. 3 Nesta edição: Dra. Andrea Arvai Pereira e Dr. Wlademir Pereira Júnior, Pneumologistas do Núcleo Avançado de Tórax do HSL Perigos do ar condicionado Nas últimas décadas, devido ao processo progressivo de ur- banização, as pessoas costumam passar mais de 90% do tempo dentro de casa ou escritório. A cidade de São Paulo, durante a maior parte do ano, apre- senta não somente temperaturas elevadas (15°C a 35°C), como também umidade relativa do ar bastante alta (60% a 95%). Conse- quentemente, para se evitar tais situações, o ar condicionado tem sido cada vez mais utilizado. Embora traga conforto e bem-estar, o ar-condicionado traz alguns prejuízos para o aparelho respiratório. Os possíveis efeitos adversos do ar condicionado decorrem de fatores tanto relacionados ao aparelho em si (odores, contami- nantes biológicos – bactérias, fungos, amebas, compostos orgâni- cos voláteis e toxinas bacterianas) quanto aos usuários (presença ou não de alergias). Os indivíduos alérgicos podem manifestar sintomas como asma, tosse seca, falta de ar, chiado, além de opressão no peito, rinite alérgica marcada por crises de espirros, coriza, obstrução e coceira nasal, conjuntivite alérgica, caracterizada por coceira e ver- melhidão nos olhos, sensação de areia e lacrimejamento. É interessante perceber que os efeitos do ar condicionado são variáveis nos indivíduos alérgicos. Por exemplo, muitos asmá- ticos são sensíveis aos ácaros, que sobrevivem devido à umidade do ar. Estes poderiam ter sua concentração no ambiente bastante diminuída com o uso do ar condicionado, que tende a reduzir a umidade. Por outro lado, o próprio ar seco é extremamente irritan- te para a mucosa nasal, podendo desencadear também crises de rinite e conjuntivite. Não se pode esquecer que pessoas não alérgicas também podem apresentar problemas respiratórios quando expostas ao ar condicionado. Desde a “febre do umidificador” – mal-estar leve que aparece em geral no primeiro dia da semana de volta ao trabalho - até o “pulmão do umidificador” – quadro mais grave, que se as- semelha a uma gripe forte, que aparece entre quatro e seis horas após a exposição, caracterizado por febre alta, dores no corpo, ca- lafrios, dor de cabeça, tosse e falta de ar. Os pacientes com febre do umidificador apresentam as “Pneumonias de Hipersensibilidade”, que aparecem devido à exposição dos indivíduos a pequenas gotas de água contaminadas por bactérias (Actinomyces thermophilic) ou amebas (Naegleria gruberi), que estavam no sistema de refrigeração do sistema do aparelho e foram borrifadas no meio ambiente. Em 1976, na Filadélfia (Estados Unidos), cem delegados que participaram de uma convenção da “American Legion” apresenta- ram quadro de pneumonia, que resultou em quatro mortes. Este foi o primeiro surto descrito sobre a contaminação da água utiliza- da para a refrigeração das unidades de ar por um organismo aquá- tico, a Legionella pneumophilia, responsável por inúmeros casos simultâneos de pneumonia. Não há evidências de que este tipo de pneumonia possa ser transmitido de pessoa a pessoa e, portanto, quando aparecem casos, a origem do organismo tem sido a água contaminada dos aparelhos de ar condicionado. Além disso, não existe comprovação científica de que a exposição ao ar condicionado, semelhantemen- te ao frio, poderia predispor ao aparecimento de pneumonias que não a provocada por legionella. Apesar de o ar condicionado contribuir eficientemente para o conforto das pessoas, ele também acarreta problemas de saúde. E, a longo prazo, existem repercussões mais complexas, como o fato de metade da energia consumida pelo trabalho de climatização ser simplesmente lançada na atmosfera na forma de calor, o que re- presenta uma perda muito grande de energia e um prejuízo sem retorno para o ecossistema.

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Publicação Bimestral do Núcleo Avançado do Tórax do Hospital Sírio-Libanês Janeiro / Fevereiro - 2009 7ª edição

Do cigarro ao narguilé pág. 4

Edema agudo de pulmão pág. 2

Obstrução nasal pág. 3

Nesta edição:

Dra. Andrea Arvai Pereira e Dr. Wlademir Pereira Júnior, Pneumologistas do Núcleo Avançado de Tórax do HSL

Perigos do ar condicionado

Nas últimas décadas, devido ao processo progressivo de ur-banização, as pessoas costumam passar mais de 90% do tempo dentro de casa ou escritório.

A cidade de São Paulo, durante a maior parte do ano, apre-senta não somente temperaturas elevadas (15°C a 35°C), como também umidade relativa do ar bastante alta (60% a 95%). Conse-quentemente, para se evitar tais situações, o ar condicionado tem sido cada vez mais utilizado. Embora traga conforto e bem-estar, o ar-condicionado traz alguns prejuízos para o aparelho respiratório.

Os possíveis efeitos adversos do ar condicionado decorrem de fatores tanto relacionados ao aparelho em si (odores, contami-nantes biológicos – bactérias, fungos, amebas, compostos orgâni-cos voláteis e toxinas bacterianas) quanto aos usuários (presença ou não de alergias).

Os indivíduos alérgicos podem manifestar sintomas como asma, tosse seca, falta de ar, chiado, além de opressão no peito, rinite alérgica marcada por crises de espirros, coriza, obstrução e coceira nasal, conjuntivite alérgica, caracterizada por coceira e ver-melhidão nos olhos, sensação de areia e lacrimejamento.

É interessante perceber que os efeitos do ar condicionado são variáveis nos indivíduos alérgicos. Por exemplo, muitos asmá-ticos são sensíveis aos ácaros, que sobrevivem devido à umidade do ar. Estes poderiam ter sua concentração no ambiente bastante diminuída com o uso do ar condicionado, que tende a reduzir a umidade. Por outro lado, o próprio ar seco é extremamente irritan-te para a mucosa nasal, podendo desencadear também crises de rinite e conjuntivite.

Não se pode esquecer que pessoas não alérgicas também podem apresentar problemas respiratórios quando expostas ao ar condicionado. Desde a “febre do umidificador” – mal-estar leve que aparece em geral no primeiro dia da semana de volta ao trabalho - até o “pulmão do umidificador” – quadro mais grave, que se as-semelha a uma gripe forte, que aparece entre quatro e seis horas após a exposição, caracterizado por febre alta, dores no corpo, ca-lafrios, dor de cabeça, tosse e falta de ar. Os pacientes com febre do umidificador apresentam as “Pneumonias de Hipersensibilidade”, que aparecem devido à exposição dos indivíduos a pequenas gotas

de água contaminadas por bactérias (Actinomyces thermophilic) ou amebas (Naegleria gruberi), que estavam no sistema de refrigeração do sistema do aparelho e foram borrifadas no meio ambiente.

Em 1976, na Filadélfia (Estados Unidos), cem delegados que participaram de uma convenção da “American Legion” apresenta-ram quadro de pneumonia, que resultou em quatro mortes. Este foi o primeiro surto descrito sobre a contaminação da água utiliza-da para a refrigeração das unidades de ar por um organismo aquá-tico, a Legionella pneumophilia, responsável por inúmeros casos simultâneos de pneumonia.

Não há evidências de que este tipo de pneumonia possa ser transmitido de pessoa a pessoa e, portanto, quando aparecem casos, a origem do organismo tem sido a água contaminada dos aparelhos de ar condicionado. Além disso, não existe comprovação científica de que a exposição ao ar condicionado, semelhantemen-te ao frio, poderia predispor ao aparecimento de pneumonias que não a provocada por legionella.

Apesar de o ar condicionado contribuir eficientemente para o conforto das pessoas, ele também acarreta problemas de saúde. E, a longo prazo, existem repercussões mais complexas, como o fato de metade da energia consumida pelo trabalho de climatização ser simplesmente lançada na atmosfera na forma de calor, o que re-presenta uma perda muito grande de energia e um prejuízo sem retorno para o ecossistema.

2 Boletim do NAT janeiro/fevereiro - 20092 Entre em contato com o NAT pelo telefone: (11) 3155-0854 ou e-mail: [email protected]

Os pulmões apresentam intensa vas-cularização, ou seja, são cheios de veias, artérias e capilares. O edema pulmonar se caracteriza por um acúmulo súbito na quan-tidade de plasma e sangue nos pulmões. O paciente sente falta de ar, que piora com o esforço e ao se deitar. A tosse também pode estar presente, sendo em geral seca, piorando ao se deitar. Nos casos mais gra-ves, pode aparecer uma expectoração ró-sea, espumosa ou mesmo com sangue. O edema de pulmão é uma condição clínica grave, que exige atenção médica e trata-mento imediato.

O edema pulmonar pode ser resul-tante de defeitos nas válvulas cardíaca ou infarto agudo do miocárdio (edema pulmo-nar cardiogênico). Mas também pode ser secundário a uma doença infecciosa ou in-flamatória pulmonar ou em outros órgãos. Neste segundo caso, o edema pulmonar não foi causado por falha no funcionamen-to do coração. O mecanismo de desenvolvi-mento de edema pulmonar é diferente nas duas situações.

No caso de edema pulmonar por pro-blema cardíaco, o sangue se acumula nos vasos pulmonares por defeito no bombe-amento, aumentando a pressão interna, ocorrendo extravasamento de plasma e sangue para os alvéolos, que se enchem de

líquido, dificultando a respiração, levando à crise de falta de ar e chiado no peito, que podem ser confundidos com Asma, tam-bém conhecida por Asma Cardíaca.

Muitas são as situações que podem desencadear o edema pulmonar de origem não cardíaca como a pneumonia, trauma-tismos extensos, trans fusão de sangue ou de seus derivados, infecção generalizada, etc. Este quadro também é chamado de Síndrome do Desconforto Respiratório Agu-do. Neste caso, a função do coração está preservada. Substâncias e toxinas liberadas na corrente sanguínea por trauma ou por

Dra. Elnara Márcia Negri, Pneumologista do Núcleo Avançado de Tórax do HSL

Edema agudo de pulmão

infecção generalizada levam à inflamação da parede dos capilares pulmonares, que se abrem deixando passar plasma e sangue para o interior dos alvéolos.

Seja qual for a causa do edema pul-monar, o quadro é grave e requer diagnós-tico e tratamento imediatos. A pronta inte-ração entre vários especialistas experientes tem um impacto significativo na evolução do paciente. A história clínica e o exame físico são fundamentais para se fazer o diagnósti-co correto. Alguns exames complementares como a radiografia, a tomografia de tórax e exames de sangue podem ajudar. O tra-tamento deve ser prontamente instituído e individualizado de acordo com a doença. In-dependente da causa, em geral é necessária a administração de oxigênio. Se a causa for cardíaca, o tratamento se baseia no uso de vasodilatadores e diuréticos e na pesquisa do defeito do coração. Nos casos de infarto, até o cateterismo cardíaco pode ser necessário. Se o edema pulmonar é de causa não cardía-ca, é importante saber qual foi o fator desen-cadeante. Em geral, o quadro é resultante de uma infecção pulmonar ou em outro órgão, e a escolha e administração do antibiótico correto são fundamentais.

Novamente é importante ressaltar que para o tratamento destas emergências é necessária uma estrutura física adequada, assim como a presença de profissionais ca-pacitados como no NAT - Núcleo Avançado do Torax. Nestas situações, minutos podem valer uma vida.

Pulmão

Acúmulo de líquido nos alvéolos

3Boletim do NAT janeiro/fevereiro - 2009www.hospitalsiriolibanes.org.br/torax

Dra. Mônica Aidar Menon Miyake, Otorrinolaringologista e Alergologista do Núcleo Avançado de Tórax do HSL

Obstrução nasal:abordagem multidisciplinar

Hoje chama a atenção o grande número de crianças e ado-lescentes que respira pela boca e os transtornos relacionados a este fato: a frequência do uso de aparelhos ortodônticos; crianças com ronco e apneia noturna (uma breve interrupção respiratória em meio ao sono), com alterações no desenvolvimento e com a frequente ri-nite alérgica. A causa da respiração pela boca é a obstrução do nariz. Quando a respiração nasal não acontece, ficam prejudicadas funções como a filtração, o aquecimento, a umidificação do ar, e também o olfato, a função imunológica e a fala. Esta situação clínica é muito comum e por vezes de manejo difícil, cujo diagnóstico e tratamento têm enfoque multidisciplinar, envolvendo o otorrinolaringologista, o pediatra, o ortodontista e a o fonoaudiólogoa.

Através de uma história clínica, um bom exame físico e análises laboratoriais, o otorrinolaringologista vai saber as possíveis causas da obstrução nasal e avaliar os prejuízos sobre o desenvolvimento da arcada dentária e a fala. A resolução da obstrução nasal é fundamen-tal, pois se o nariz se mantiver obstruído, o tratamento ortodôntico e fonoaudiológico não evoluem adequadamente.

O aumento das adenóides (“amigdalas”) além do que normal-mente é esperado é uma das causas mais comuns de impedimen-to das vias aéreas nas crianças, levando a ronco noturno e apneia. Adenóides aumentadas também podem predispor a infecções como otites e sinusites na criança. Dependendo da gravidade do quadro, o tratamento pode envolver a retirada cirúrgica das adenóides.

O resfriado e a gripe são responsáveis por obstrução nasal passageira, mas que comumente se repetem em certas crianças que frequentam creches e pré-escolas. Hidratação, boa alimentação e lavagem nasal com soro fisiológico fazem parte do tratamento na maioria dos casos. Remédios, sempre a critério do médico. A sinu-site pode acontecer como uma complicação das rinites de qualquer etiologia e, além de obstrução do fluxo aéreo, observamos coriza amarelo-esverdeada e tosse noturna. Nesse caso, o tratamento se faz com antibióticos.

A rinite alérgica leva a inflamação da mucosa nasal e aumento de outras estruturas da cavidade do nariz, conhecidas como conchas ou cornetos. Isto dificulta a respiração de maneira crônica. Em alguns casos, até cirurgia é necessária para desobstruir a passagem de ar.

A obstrução nasal na criança pode ter causas congênitas ou ainda ser provocada por vários outros fatores: corpo estranho nasal, trauma e polipose (pequenas bolsas claras e cheias de água no nariz, também conhecida como “carne esponjosa”).

A criança que respira pela boca desenvolve a alteração dos músculos da mastigação e da língua e vai se alimentar mal, devagar e engolindo ar. Tipicamente a criança tem boca entreaberta, língua entre os dentes, dentes superiores projetados para frente, retração da mandíbula e pálato em ogiva (céu da boca com o arco bem pro-fundo). Ao falar, o fonema “s” se projeta entre os dentes incisivos e

recebe o nome de “ceceio”. Estas disfunções serão avaliadas e trata-das por um especialista em fonoaudiologia, em sessões de exercícios e orientação de hábitos. É importante orientar a ingestão de alimen-tos mais duros, verduras e legumes crus, para desenvolvimento da musculatura da mastigação e mandíbula. As crianças hoje preferem alimentos fáceis de engolir, como iogurte e hambúrguer. Vícios como usar chupeta, chupar dedos ou roer unhas, têm impacto negativo no tratamento.

O ortodontista vai avaliar as deformidades da arcada dentária visando corrigi-las com aparelhos móveis, fixos ou extrabucais.

Concluindo, o desenvolvimento craniofacial é mais importante até os 10 anos de idade, daí a importância de um início precoce do tratamento. O bom engajamento dos participantes da equipe multi-disciplinar faz toda a diferença no resultado.

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ExpEdiEntE: EDiTOr: Prof. Dr. Riad Younes - GErêNciA DE cOMuNicAçãO: Katia Camata Ribeiro - cOOrDENAçãO DE cOMuNicAçãO: Marjorie Sapatel - EDiçãO E PrODuçãO: Estela Ladner (Espaço 2 Comuni cações - Tel: (11) 3815-3686) ArTE: Adriana Cassiano - JOrNALiSTA rESPON SávEL: Simon Widman (MTb. 15460) - ENDErEçO: R. Dona Ad ma Jafet, 91 - Cep 01308-050 - Tel: (11) 3155-0949 - Fax: (11) 3155-1265 E-MAiL: [email protected] - TirAGEM: 12.000 exemplares

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Existe atualmente uma nova onda, a do uso do narguilé (um cachimbo d´agua utilizado para fumar) nas rodas sociais, bares e restaurantes da cidade e nas praias do li-toral. Popularmente divulgado como inofen-sivo, o narguilé vem conquistando jovens a partir dos 12 anos com o mito de não causar dependência ou danos à saúde, incentivan-do o uso.

O cheiro agradável dos aromas fruta-dos produzido pela mistura de suas diferen-tes essências, como maçã verde e mel, e pela falsa ideia de purificação da substância pela água são justificativas dadas pelos jovens para a utilização do narguilé.

Além do nome, de origem árabe, tam-bém é chamado de arguilé e há diferenças re-gionais no formato e no funcionamento, mas o princípio comum é o fato de a fumaça pas-sar pela água antes de chegar ao fumante.

Assim como a maconha era divulgada como uma erva do bem, o narguilé vem mas-carando a atenção dos pais e dos próprios usuários com sua aparência charmosa que produz fumaça a partir de um lúdico vidro colorido de formas arredondadas.

Devido às cores vibrantes, o narguilé ilude os olhos e camufla seu real conteúdo: um fumo especial feito com tabaco, mela-ço de frutas ou aromatizantes. Geralmente consumido em grupo, este hábito foi sendo introduzido no Brasil pela mídia e propaga-do pelos jovens.

Dados da Organização Mundial da Saúde comprovam que os fumantes de nar-guilé estão sujeitos as mesmas doenças do cigarro, com um risco adicional – o do taba-gismo passivo produzido pela grande quan-tidade de fumaça.

O tabagismo é responsável por cerca de 90% dos quatro principais tipos de câncer de pulmão, aceitando-se hoje um aumento de 20 vezes no risco de desenvolvimento da doença nos fumantes em comparação aos não fumantes. As políticas de prevenção do câncer de pulmão são fundamentais, espe-cialmente relacionadas ao tabagismo. Sua erradicação é nossa principal arma.

Portanto, o Programa Nacional de Controle do Tabagismo passa a incluir orien-

tações sobre os problemas no uso do nar-guilé, realizando campanha nacional de es-clarecimento sobre os riscos que esse hábito carrega. O objetivo é reduzir o consumo do tabaco, estimular e apoiar fumantes a dei-xarem o vício e os jovens a não começarem a fumar. O Núcleo Avançado do Tórax do Hospital Sírio-Libanês faz parte deste pro-grama, oferecendo tratamento aos tabagis-tas que queiram parar de fumar, baseado em consultas médicas e psicológicas, cujo objetivo é atacar a dependência química e comportamental do vício.

A Associação Brasileira de Álcool e Drogas divulgou alguns dos malefícios e con-seqüências do uso do narguilé como as do-enças infecciosas que podem surgir a partir do compartilhamento das piteiras, entre elas herpes bucal e tuberculose. O contato com o fumo traz prejuízos ao pulmão iguais ao do cigarro como enfisema pulmonar, câncer de pulmão e doenças alérgicas, como asma e rinite. A fumaça quente inalada provoca micro queimaduras na pele do lábio, língua e nas cordas vocais, que também podem le-var ao câncer.

O Instituto Nacional do Câncer alerta que o fumo passivo é a inalação por não-fumantes dos derivados do tabaco como cigarro, cigarro de palha, cigarro de cravo, cigarrilha, charuto, cachimbo e narguilé.

No narguilé, a presença da água em ebulição torna a fumaça mais úmida e agra-dável, fazendo com que se aspire mais fuma-ça, inalando maior quantidade de toxinas e nicotina.

A Organização Mundial de Saúde aler-ta que a fumaça inalada em uma sessão de narguilé com duração de 80 minutos corres-ponde à inalação de 100 cigarros. Portanto,

não é só o fumante que corre risco. Seus efeitos se estendem às pessoas que ficam em volta da fumaça.

Pesquisas com crianças libanesas mos-tram que aquelas expostas à fumaça do nar-guilé em casa apresentavam mais propensão a ter problemas respiratórios - o mesmo ní-vel observado em crianças expostas à fuma-ça de cigarros comuns.

Vale lembrar que não existem níveis seguros para o consumo do tabaco e que al-guns jovens usam o narguilé para disfarçar o cheiro da maconha. O narguilé é uma nova ameaça, pela suposição que ao passar pela água, a fumaça do tabaco seria “filtrada”, causando menos perigo ao organismo. Esta crença é infundada, apesar de alguns fabri-cantes a rotularem como “livre de tabaco”. O quadro pode ser mais perigoso quando as pessoas substituem a água por bebida destilada e ao tabaco são misturadas outras drogas.

Dr. Ronaldo Adib Kairalla, Pneumologista, e Dra. Rosely Glazer, Psicóloga do Núcleo Avançado de Tórax do HSL

Nova onda para o mesmo hábito nocivo:

do cigarro ao narguilé