Baremblitt Gregorio- Cinco Licoes Sobre a Transfer en CIA
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Este livr~estuda a TRANSFERÊNCIA segundo
Freud, Melanie Klein, Lacan, Movimento
Institucionalista e segundo as noções filosófi-
cas de Repetição e Diferença. Ele remete às
origens da noção de Transferência na psicaná-
. lise, à sua existência em outros campos do
saber, às concepções freudiana, kleiniana e
lacaniana, aos novos horizontes que se abriram
nas experiências institucionais e aos questiona-
mentos que emergem no diálogo com a filoso-fia que emergem no diál?go com a filosofia. O
autor realiza a difícil tarefa -'- fruto de vasta
experiência - de apresentar a problemática de
maneira didática e ao mesmo tempo crítica.
EDITORA HUCITEC
Copo: f
Cinco
Lições
sobre
aTransferência
GREGORIOBAREMBLIT I
3." edição
EDITORAHUCITEC
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SÉRIE ··SAÚDELOUCURA" (TEXTOS) 5
direção de
Antonio L ancett i
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Série "SAÚDELOUCURA"
TÍTULOS EM CATÁLOGO
SaúdeLoucura 1, Antonio Lancetti et ai
SaúdeLoucura 2, Félix Guattari, Gilles Deleuze et aiHospital: Dor e Morte como Ofício, Ana PittaCinco Lições sobre a Transferência, Gregorio BaremblittA Multiplicação Dramática, Hernán Kesselman e Eduardo Pav-
lovskyLacantroças, Gregorio BaremblittSaúdel.oucura 3, Herbert Daniel, Jurandir Freire Costa et aiPsicologia e Saúde: Repensando Práticas, Florianita Coelho
Braga Campos (org.)Mario Tommasini: Vida e Feitos de um Democrata Radical,
Franca Ongaro BasagliaSaúde Mental no Hospital Geral, Neury J. Botega e Paulo Dal-
galarrondoManual de Saúde Mental, Benedetto Saraceno, Fabrizio Azioli
e Gianni TognoniSaúdel.oucura 4, François Tosquelles, Enrique Pichon-Riviere,
Robert Castel et a lo
A RELAÇÃO DAS DEMAIS OBRAS DA COLEÇÃO "SAÚDE EMDEBATE", DA QUAL FAZ PARTE A SERIE "SAÚDELOUCURA",ACHA-SE NO FIM DO LIVRO.
~
CINCO LIÇOESSOBRE A
TRANSFERÊNCIA
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GREGO RIO BAREMBLITT
. -CINCO LIÇOES
SOBRE ATRANSFERÊNCIA
TERCEIRA EDIÇÃO
EDITORA HUCITEC
São Paulo, 1996
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© Direitos autorais, 1990, de Gregorio Baremblítt. Direitos de publi-
cação reservados pela Editora de Humanismo, Ciência e Tecnologia
HUCITEC Ltda., Rua Gil Eanes, 713 - 04601-042 São Paulo, Brasil.
Telefones: (011)240-9318,543-0653. Vendas: (011)530-4532. Fac-
símile: (011)530-5938.
ISBN 85-271.0140-8
Foi feito o depósito legal.
SUMÁRIO
.-\gradecimento 8
rrodução 9prcscntação 11
_-\ concepção Ircudiana 12A concepção anglo-saxônica 39
.-\ concepção lacaniana 66
.-\ concepção institucional 89
Reflexão filosófica sobre a transferência 113
A transferência. Consid era ções finais provi-
sórias 131
Bibliografia 139
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AGRADECIMENTOS
,
A equipe do Sindicato dos Psicólogosde Minas Gerais, que encampou o desafio de or-ganizar este Curso.
À Psicóloga Elizabet Dias de Sá, que, através
de pacientes horas de datilografia, soube ouvirmeus intuitos e não "ver" meus erros.
À Psicóloga Rosângela Montandon, que teve aseu cargo gestionar a publicação, e à Psicóloga Ci-bclc Ruas de Meio, que corrigiu, datilografou efez contribuições ao texto.Aos participantes do Curso, que aportaram sua
atenção e suas inteligentes perguntas.A todos os meus amigos de Belo Horizonte, queme ajudaram a sonhar com a Pátria que perdi.
o Autor
\
-INTRODUÇAO
No meu entender, nestes tempos acc-rados, todo escrito deveria ser datado. Cada umIes tem uma marcada conjunturalidadc que, quan-
_ não é levada em conta, adquire sentidos e va-s necessariamente diversos dos que teve na sua
asião inaugural.
O texto que se vai ler é produto de uma iniciativa.o preendida junto a uma equipe do Sindicato dosJ icólogos de Minas Gerais, em circunstâncias nas,uais era conveniente impulsar as atividades for-ativas da organização.
Devido à urgência do evento é que se poderáentender tanto a abrangência, demasiado ambiciosa,como a sua velocidade.Muito se tem dito e escrito sobre a transfc-
ênc ia . Esse termo, como tantos outros, não éoriundo da Psicanálise, mas é bem verdade que, no campo psicanalítico onde ela adquire seuenrido mais inspirador. O mesmo já tem sido
adotado e redefinido por outras disciplinas cien-tíficas, inscrito como categoria filosófica contem-porânea e utilizado como noção em diversos âm-bitos da cotidianidade.
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10 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
Mas, antes de tudo, trata-se de um fato, um acon-
tecer real, cujos efeitos incidem nos sujeitos e nas
sociedades que os desfrutam ou padecem, aprovei-tam ou desperdiçam.
Estas rápidas e modestas aulas nada poderão di-
zer de original ou profundo ao "expcrt" na matéria.Apenas pretendem ser sintéticas e acessíveis.
Contudo, elas levam um propósito central: mos-
trar que nem a Psicanálise, nem nenhuma corrente
psicanalítica em particular, são "proprietárias" des-
se "descobrimento", e que ninguém falou a "última
palavra" sobre o tema.As idéias, como a terra, são de quem as trabalha.
Freud costumava dizer que é perigoso transplan-
tar os conceitos para longe do seu chão nativo,
mas cabe acrescentar que quando tal coisa acontece,
e eles sobrevivem, novas espécies maravilhosasnascem.
Gregorio F. Baremblitt
APRESENTAÇAO
AMIGOS e colegas, sinto-me muito fe-
liz de poder iniciar, com vocês, esta breve série
~ aulas.
Este tipo de iniciativa, como a que empreende-
os agora, no seio de um Sindicato, de um orga-aismo representativo de classe, me é essencialmen-
c grato e afim.
Antes de começar, quero agradecer à ex-presi-
ente do Sindicato, Elizabet Dias de Sá, e à equipeue trabalhou comigo na realização do Curso. Ela
anifestou grande dedicação e especial tolerância
om algumas dificuldades que tive durante o trans-
urso da organização. Muito obrigado pelo convite,o trabalho realizado e a tolerância de meus incon-
-enientes.
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-A CONCEPÇAOFREUDIANA
A exposição não vái ser fá ~qUeresumir a questão da Itransferêné} em Freud emuma aula é um desafio o qual ignoro que alguém
seja capaz de resolver. Pessoalmente, não me sintoem absoluto certo de consegui-Io.Então, toda a exposição será centrada em torno
dos Quadros: 1 e 2. Terei de valer-me deste recursop ra expor melhor.
\1\ ..1 Transferê~cia não é um termo exclusivo da psi-Y t r~canálise, como, seguramente, e ObVIOpara vcces.
/ (y .O termo, fora das práticas psicológicas, refere-se
~ ,f ao deslocamento, a~raslado de qualquer ! i . I 2 0 de~ ~ mãtena: ransfcrência de capital, transferência de
funciônários, transferência de c1ementos, de recur-sos etc.EmG-p-s-ic-o-l-o-g~em sido muito usada na
2
~a pren Izage para desi nar transp-orte ue sepo e azer as ca aciqadcs ad ujridas..Qe a render
~\/ em relação a um~J~!9~~ento, Jara o1( o conhecimento de um novo objeto. .-= --- ---Em psiquiatria e psicoterapia, antes de reud.,
--J!.!i~va-se o te~mõ "transfcrt"-para referir-se a um
y 'A , f experimento hip~óticõ que c~nSlSiCC'm trasladar,
. A CONCEPÇÃO FREUDIANA 1 3
m estado hipnótico, a paralisia de uma pacienteistérica d~ um laQQ do ~Õrpo-:-p-araoutro, .0_ ..J./-:ue é possível - como e sabido - por melo~'
ca sugestão hipnótica.Qcomeçou a trabalhar,_ roximadamentesI.IL.l895, utilizando o famoso~.....Jt.Q.Ç!Q.ár(~o, que já se empregava bas-
nte em Paris. (Çharc2!>praticava a hipnose s)n-mática na escola da a petricr , enquanto que
-~a deU anel. ra pr'aticado o método hi -zocatártico. Todos esses investigadores já.uuili-
~am o termo 'transferência. Freud era um neu-
- logista que resolveu dedicar-se à psicoterapiaas enfermidades mentais. Inicialmente, ele pra-icou hipnose de maneira supressiva. ~omo ou:.....~os investigadores, hipnotizava paciente~llÍs-'ricoScObsessi'Vos e, no estado de hipnose, uti-zandosu CStao su eria-=Ihes _ue seus SiI1iOmasm desaparecer. Este método teve sucesso du-
nte muito tempo e ainda continua tendo, enigumas ocasiões. Mas seus resultados não sãouradouros.A artir do uso desse rocedimento começou ar ou.!!º-iLue consistia em, no estado de hipnose,
- ~LI2acientes Ql-ICevivcssern as snuaçoesm que seus sintomas agare~ram.Mais tarde, pediu para revivcrern e relatarem
urras situações mais arcaicas que, supostamente,eriarn a ver com aquela na qual os sintomas apa-::-cerarn pela primeira vez. Isto gerava nos pa-cientes uma rcviv ência e uma forte descarga detos, uma intensa descarga de emoções, e ainda
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14 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
de movimentos corporais, que produziam uma
"melhora" do sintoma, cuja permanência e estabi-
lidade eram maiores do que com o método hip-
nótico suprcssivo.Durante o uso do método, especialmente com
I2.a~ientes histéncas, 9oL comprovando ~e
muitas destas pacientes não tinham disposição para
serem hipnotiza as. sto o levou paulatinamente a'-~----~--~abandonar o método hipnocatártico e limitar-se a
sugerir aos pacientes que fossem falando de tudo
aquilo que Ihes parecia importante, de tudo aquilo
que Ihes vinha à mente. Durante este procedimento,~~----.~----
ins irado em parte por algumas de suas pacientes,
~~EcamTi1ha~a as assõc~0es dessas enferm~sna direção da explicação dos sintomas e no~ntido
.de lembrar situações assadas ue tivesse a ver
com os sintomas. Posteriormente, foi célebre a rea-
ção de uma das pacientes de Freud, que disse que
não apenas não queria hipnotizar-se, como não que-
ria falar daquilo que Freud achava importante quefosse falado. Ela ueria falar somente do ue ELA
queria falar, especialmente relatar seus sonhos, suas
fantasias... reud teve o om senso de aceitar
essas exigências.
Mas, durante o exercício desse procedimento,- - - - ~ - - - - - - - - - . ~ - - ~ - . ~eu percebia que, em determinados momentos,
a paciente não podia co~inu;r relatando ~i-
-~ -- -----nh-::a--;::-a-s::-°l":"":la"---:m=e_=-n-;::te.contecia uma interrupção do
fluxo associativo. Nesses momentos, Freud, con-
servando ainda algumas manobras do método hip-
nocatárt ico, que já havia abandonado, costumava
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 15
genr as pacientes que, quando ele tocasse em
a testa com a mão, elas conseguiriam continuar
ando sobre o que se havia interrompido. Teriam,
- im, a possibilidade de conseguir lembrar situa-que não estavam atingindo. Posteriormente,
udando O fenômeno da interru _ -o d l.XQgs-
iativo, nesse momento de im asse, depois de
' : ' - 1 0 vencido muitas vezes or m2io da sug~tão
_ da inipãSiçãõClas ITIãQ..sna testa, reu foi com-
-rccndcndo que o que acont'ecia nesse instante é
cue havia a arccido na consciência d,º-paci~nte
.~ma associação, idéia, afeto ou impulso ue ji-- ~a a v c r C o m a pessoa c!Q_m6dico, doo e r a i < . ? r,que essa idéia ou impulso_ era con~do -- de
r m a consciente ou não pelo paciente -- incon-
niente, inadequado a uma s·tlJ.aç.ão de relação
-rofissional como a que acontecia. Então, o pa-
TIte já a tinha clara, e não podia comunicá-Ia
rque a julgava imprópria, ou acabava por não
~r nenhuma idéia, isto é, a idéia desaparecia de_ a mente. 6 . rofundando mais no fenômeno reud
- ega à concllisão de ue nesse mo me to de irn-
se. a inca acidade de continuar associando deve-se
:: mp~~a revivescên.9'l de aI. uma situa ão an-
o rior em gue pessoa üv. tiI2Qde afeto, de---m~ulso, de emoção similar, mas com outra pessS!em uma situação especialmente, intcnsa c !cral- . ,)(
ente relacionada com a sexualidade. Ao retorno des- {Y!;situação anterior, passÍvc de rcConstituição ue~-
S reitera, que se renova na situa ão terapêutica Freud
_-hamou de(TRANS~ERÊNCrA.
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16 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
tj'Neste momento altmnsre,ência~m uma ],epetisã2)j e vamos encontrá-Ia no item ue chamamos "ponto
. de vista clínico". Repetição de vivências, de expe-riências, d~itua ões _Qeatitudes, <tecomportaIl!.en-
tos, de imagens de pçssoas, de interlocutores. IstoCStrdito de~aneira bastante vaga e descritiva. Nainterrupção do fluxo associativo, reud descobriua [repetiçao compl~ múlti Ia, ~e todos ~s ~Ie-me~t~s que I22diam~stal intCJ:vindo.nestas_~i.!~-ções traumáticas anteriores ~e o pacientc je etiano ambiente terapêutico de maneira in~oluJ!tária e~em supostamente inteirar-se de gue_0ajsto sueestava acontecendo.Esta é a primeira, a mais simples, a mais ingênua
definição de transferência que podemos encontrarem Freud. Nesta defini ão tão elementa é ossível
.L .l.,l( compreender gue a forma como a transferência a a-f:t" rece na situação analítica é como obstáculo comor J ' : J . r lnconvenie_nte.,: rcud propõe às suas pacientes dizer
?udo que lhes venha à mente, comentar tudo o queestão pensando e sentindo. As pacientes empe-nham-se em cumprir esta indicação. Chega um mo-mento em que isto se Ihes torna impossível e nãosabem por quê. Há, então, um obstáculo, uma di-ficúldade ara levar em frente o t aumento paracumprir um dos re uisitos exigidos ara Rossibili-tá-l o. A isto Freud (mesmo nessa época)~amou
./ ,~ \'resistência"\ --.P (RêSTStencia", como vocês sabem, tem signifi-rY :~ ",~.:ado político e târrib"énleÍ6tnco. ~e re-
fere-se Uuta_que um povo ou uma classe exerce
vy~r r ; ) J J
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 17
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18 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
das ara eliminá-Ia e ermitir que a transferência
se manifeste claramente e possa ser verbã1TZãdae
d~scarregada e;;;-ci~l~nle e, desta forma, pro-
pJc~ar ~ cu~ a desaparição duradoura do sintoria., A medida que o tempo passa, quando reu vai
1 ~ co~.preendendo mais rofund~me!!!(! qual é _º_si-f r P ~nIflcado da transferência < : . por que ela a arece
~./ como_:esistênci~ ~Ie renuncia à manobra de vencer
~;) sugeslIvan:en~e. a re~is,t,ência e confia no que ele
ttYl' chama ~~vInha. a? .(termo também ingênuo)ri' \dos motivos da rcsistcncia para conseguir a propi-
ciação de que a transferência seja claramente ma-nifestada, vcrbalizada e descarregada afetivamente .
•1 1 Pode-se dizer que, l!9 momento em 9 . ! ! . ! . :: reu
t f 6 : ~ renu~1Cia ao venci~lento sugestivo da resistência e~~0.l"onfIa no que sena o começo da ~o"
, '» ~ / 9~ t~ans~erência-resiSiCnciã, começa propriamente. : f " " o pr~cedlmento I2sicanªJítico.
A tfãIisTcrencIa continua sendo o conceito central
dura.!!.te a obra osterior de Freud, tanto na teoria~omo no método e na técni~sicanalítiql. Apa-
recem, claro, muitos refinamentos do termo trans-
ferência. Sabemos que a teoria freudiana não é sim-
ples. Ela é uma série de re-versões, de novas ver-
sões dos "modelos" com os quais Freud tenta ex-
plicar como funciona o psiquismo. Existem muitos
modelos. Há aquele utilizado no período da "Psi-
coterapia da histeria" (do qual cstarnos falando).
Existe o modelo do psiquismo enunciado no capí-
tulo 7 de A Interpretação dos Sonhos. Há o cha-
mado modelo da "Primeira tópica" (Inconsciente,
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 19
~ é-consciente, consciente). Também o modelo do
"Complexo de Édipo'', o modelo da "Teoria pu 1-
ional", e o modelo da "Segunda tópica" (Id, ego
supcrcgo). Em cada um d s.modclos está incluídoconceito de transferência como um dos rinei ais
ecanismos do ,i uismo.
Podemos resumir os vários modelos em uma
reposição que Freud formulou nos artigos de 1913_ 1915, que é a proposta de uma "rnetapsicologia "
\ -li seja, uma teoria ue está "além da sicolo ia" .
.-\ psicologia seria o método predominantemente -:/
~escritivo dos fenômenos da conduta e da consciên- Lcia manifesta. A &etapsicologialseria a teoria do~"7iquismo en uanto a uele qu .- , ·siY.el,-..não;Y°
~escritível, aquilo que está além da psicologia. Tal
etapsicologia tem quatro pontos de vista: ~
ico, dinâmTCo, tópico e estrutural. Uma forma de
atar e de entender como vai evoluindo em Freud
conceito de transferência durante a construção
c sua obra é tratar de revisar como a transferênciaadquire novos sentidos teóricos e, portanto, novos
os técnicos ou clínicos em cada um dos pontos
"c vista (econômico, dinâmico, tópico, estrutural e
clínico ).
No Quadro 1 há um quadrado, e seus quatro
ângulos são pontos referentes à transferência, C011-
ratransferên~ia, à resiSl ~ ciae à contra-resistência.
Definimos, provisoriamente, a transferência como
Frcud o fez no período inicial. A contratransferên-
cia / um termo que vai aparecer em Freud a gum
cmpo depois em uma série de artigos que vão mais
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A CONCEPÇÃO FREUDIANA 2120 UÇOES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
Quadro 2Quadro 1
Princípio da realidade )
<princípio do prazer-desprazer
Por quê?
Princípio de inércia-nirvana )
TransferênciaRecíproca e/ouContratransferência
Compulsão
de
repetiçãoTransferência •.,-------+
Formações doInconsciente
Motor da curamist osa
Posttiva < )rótica
= - Qual e
::orno? <Negativa - Hostil
ElaboraçãoRecordaçãoCura(AssinalamentoInterpretação
Construção)
:o(l)
"O
~õ .~.o
Resistência
Inibições --intomas
Na situação analítica
:::)onde?<Na vida cotidianatuações
Ponto de vista econõmico - Energias - Processo primário
Pon~o de vista dinâmico _ Forças (. Putsôes < : r eConflttos
Defesas
(
Contra-Resistênciae/ou
Resistência RecíprocaResistência •.,-------+
ou menos de 1910 a 1920.Qdiz ue se todaessoa é capaz do fenômeno de transferência, ela
/ acontece, no procedimento psicanalítico, não ape-~J nas no paciente como ~~!:!!bémno analista. A pri--
~_~ melr~ definição de contra transferência é muito si-rJf t- métnca porque Freud fala de transferências recí-
procas. Depois, sm outro~artigos, reu tenta di-eren ar o ue é a t ansíc ência do analista acor-dado ela incidência, ~ impacto da transferênciado paciente, e a transferência do analista ue talvezaconteceria com qual-uer paciente, e que de ende
m a ig d a estru tu ra ps(quica do anafÍsta do ue a uela
eculiar do acÍente. Em princípio, a contratrans-ferência ro ..!iamenle_dita ' c.mesrno fenômenoda transferência acontecendo no analista mas tal-
'l;~\ vez possamos dilerenciar uma transferência do.ana-;
jJ
Instâncias psíquicas (
Ponto de vista /
estrutural
Ego
Superego
Id
C>Jt----
\Complexo de
Édipo. posições (
Sujetto desejante
Objeto desejado
Objeto lnterditor
(
Sistema inconsciente
Representações
Afetos
Fantasmas
Estereótipos
Ponto de vista tó pico
(
D isc ursos
VivênciasExperiências
Atitudes
Comportamentos
Situações
Ponto de vista clínico
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22 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
lista e uma contra transferência propriamente dita,
que seria a resposta do analista à pw.liaridade datransferência do aciente. . ----
. Por outro lado temos~~rmo[resistênci4, ue tarn-
ú;1'tém definimos rovisoriamente segundo Freud o fa-pri>Pi)a no nodo inici C0jJ10 obstáculo, dificuldade de
{fi' cum rir a regWluldamenlal da livre-associa ão . Pelaparte do analista existe contratualmente uma exi-
gência simétrica. A sua função é a da atenção
flutuante, a da possibilidade de ouvir a livre-as-
sociação sem selecionar nenhum ponto em espe-
cial e também de manter-se abstinentc. Ou seja,
não deixar que suas convicções, seus desejos,
suas idéias incidam no tratamento e o distanciem
-" de seu objetivo fundamental, que é fazer cons-
~ ciente o ue é inconsciente no paciente. A \con-
~ tra-resistência aparece no analista como a difi-
~ ~ culdade para cumprir. com.seu olljetjv e_propó-
~ sito e também em últimª- instância,_com seu de-
sej~g~ é Q.eJespeitar a Iivr~associação do ga-
.cie~te sem violentar a regra da absli ência e con-
§ervar a capacidade de atenção flutuante para po-der.analisar. -
A linha que vai da transferência à resistência
é óbvia porque dissemos que o fenômeno da resis-
tência e o fenômeno da transferência são duas fa-
ces do mesmo rocesso - ~ma não sedá sem a
õutra. É lógico que a contra transferência e a con-
tra-resistência são também du s ces do mes o
processo no analista.
~ A linha que vai da transferência à transferência
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 23
íproca, colocando em relação a transferência do
alista com a transferência do paciente, e a linha
e vai da transferência à contratransferência e re-
iona a contra transferência própria do analista
_ m esse tipo de paciente, se corrclacionarn entre_. e são simétricas. Ou seja, transferência do pa-
_:cnte/transferência do analista, contratransferência
_ ste analista com cste aciente.
Poder-se-ia dizer a mesma coisa uanto à re ·s-
ência e contra-resistência. A impressão que dá é
-;.e~ende a dizer que, no nível das relações
e tre resistência e contra-resistência de-se fal r
diretamente em resistências recí racas r ue a re-
-i tência própria do analista, que se daria com todos
pacientes e não com este em particülar, supõe-se,ue esteja levantada, solucionada pela sua formação
órica e eiã análise ~essoal à ual ele esteve sub-
etido.
No interior do Quadro, delimitado por quatro
ntos, temos outra correlação, outra díade: ~-
2Çã~ por um lado, S elaboração, cura, repetição,
recordação, lembran a, r outro. Sabemos que ~
~enos de transferência, resistê~ontratral!.s-
rência e contra-resistência têm como caraeterístic
~al ser repetitivo;, reitera tivos, recdi~-
r~~, ão a enas de situações tr~ticas S 9 1mo de todas as situações im ortantcs e si nifiça,
iv;;-a-;- vi@ Qsíg}lica de cada sujeito. Freud dis- ~~
crimina dois tipos de repetições: a @petição fiellJl
isto é, de um símile idêntico, da traslação do antigo ~
obre o atual sob o signo da igualdade, e outra
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24 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
~dO que seria uma diferença. Em princí ia,a repetiçao é a tentativa d~ repetiç~o do igual, doidêntico, aquela situação exatamente igual a esta.
~
r I
Neste sentido é que os fenômenõs, as formas -;7i-
~
dentes, manifestas, da repetição, se milnifestam jio
r: seio do tratamento psicanalítico por meio de Isin-I ,/~ toma ou de -atuações.-~: parali~as his~I-)P ' cas, problemas sensoriais histéricos, crises de an-
gústia, idéias obsessivas, rituais, enfim, tudo quantoseja sintoma e seja registrado pelo paciente como!~l. Também inclui ~, que consistem em
comportamentos, atitudes condut~creJa$,-1:or-.20rais e sociais em ue se vai repejir.a.rcação que~oi requisitada ou 9};le_nãoconseguiu ser praticadana si tu ação traumática.- A repetição manifesta-se como sintomas e comoatuações, como fenômenos sofridos, indesejáveis,incômodos, dos sentidos ou do pensamento, ou co-mo passagem à ação repetitiva descontextualizada.
• .1 ; " No pólo contrário, uando a repetição realizada~.,.,. no contexto do tratamento é interpretada.mma....r.e-
~; sistência, como tentativa de deslocar o Rassado so-Vbre o presente, quando se consegue discriminar pre-,/" sente e passado, ela mesma provê a força necessárial para realizar uma operação que se chama @abo-
~ lembrança ou cura, cuja definição é um pou-co com licada. Vamos apelar a certo recurso, para
ter uma vaga idéia do processo. Grosso modo, po-de-se reconhecer que a repetição como tal é im-possível; com reender e aceitar que a reedi ão 'átem uma diferença, dissolver os sintomas e atua ões
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 25
transformá-Ios em verbaliza ão-com reensão, em_ue se juntam as idéias com as descargas de afeto-: rres ondcntcs. Em uma palavra: ~- &_ do. Os recursos de ue o analist dispi'ie para' /'"'?r;Segl~iresse objet"vosão rcdorninantcmcnte re- ~~vf/:ursos verbais, relacionados com o uso da palavra /. //u o silêncio. ~s recursos de uso da palavra são vJ:!~aStiDaT~escrição do que está acon- ~.if
. cendo), a mter eta ã uma tentativa de corre- tfV·,
.acionar dados do presente com dados do passado)u uma ~.ique é uma cdificação complexa
que conSZgue correlacionar, em sentido amplo, todoperíodo da vida do paciente, uma série de situa-
~ões que se retém, com a situação atual).Em realidade, estas caract('(íslicas--d(.~~ssoe transferência-r;;isíência-contra-transferência-
ontféHcslstência, cuj9 miolo é a repetição e s~uontrário~ que éa elaboração, cura, lembrança, têmIdo revisadas e recorridas or nós rinci almente
om base no ue Freud diZia du ante o eríodoinicial da psicanálise, que vai mais ou menos de1895 a 1905. Tenllo fei to isto por razões pedagó-gicas porque parece que é acessível, muito claro,porém vai se tornando cada vez mais complexo namedida em que os "modelos" de como funciona o. iquismo vão se tornando cada vez mais refinadosc sofisticados e o comportamento técnico, a mani-
pulação destes fenômenos, também varia. Acom-panhar isto detalhadamente é um objetivo que tal-vez transcenda em muito nosso propósito aqui.Mas, passo um pouco por cima do acompanha-
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26 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
mento histórico, pretendendo suplantá-Io ou solu-
cionar o problema pedagógico com o Quadro 2,
que é uma tentativa de síntese de uma questão mui-
to difícil de sintetizar. Baseio-me em perguntas pro-
cedentes para qualquer problemática: Por quê?Qual? Como? Que e quem? Quando e quanto?
Onde?
Por quê? É claro que se pode responder a partir
de todos os recursos teóricos de cada modelo. Mas,
na tradição psicanalítica Ircudiana, usa-se com fre-
qüência para se explicar f!.~ lIe os ..!incíl2ios das
l2ulsôes. cpmo dctcrrninantes último .ão as.Iorças
que movem o psiquismo. Haveria entãQ (e sempreq-;:Ie falo de- transferência refiro-me também à re-
sistência) transfcrôncia-rcsi stênci a a serviço do
rincípio do prazer e da realidade (que são dois
princípios que regem o funcionamento da pu lsão
de vida), e uma transferência-resistência a serviço
da chamada compulsão de repetição (um tipo de
repetição, que não está a serviço do prazer nem
.~da realidade), que não traz prazer a nenhuma ins-
~
tância do psiquismo (Ego, ld e Superego). Ela e<:!i
..• a serviço do repetir or re12etir está c mpromeÜ.da
s . 7com uma te~vil.. de retornar a um estado ainda
jJ prévio à existência do si uismo, como Freud de-
, fine miticamente. É o que se chamayulsão e mor-
I r : : ~ Assi~ co~o, (~s princípios ~e ...@?-e-,:-~e rca-
O}lda~e sao pr~ncl \(:s. q.ue org~nIzam_~namlca d~
)1t!.rUl~ de VIda, dirigindo seu funcl~na~~~~o, o! p:i~cípio de iné~cia, d~ ~ui~tude abs~.luta, é o prin-
t ~ c!E1o jue organiza a dinâm ica da pulsão de morte.
j J .
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 27
-::uste, então, uma repetição-transferência causada
Ia pulsão de vida, pela procura do prazer e a
_ .itação do dcsprazcr, adequação à realidade para
- Ihor satisfação e logro do princípio de prazer,
_ outra relativa ao repetir por repetir, despido, "de-oníaco", relacionado à idéia de eliminar toda ten-
_âo no aparelho psíquico e voltar à situação de _r
orte. "~Quando se pergunta ~e '\.Ç{)mo'l referimo-~~~~s a uma divisão ue Freud faz em um arti _o decfr
'cnica em 1915 onde a~é divididaj.ositiva e negativa. T~ divisão sc dCI! pelo
ip<) de afeto e de investimentos que estão em jogo.~ importante esclarecer que é assim porque habi-
ualmcntc se faz confusão quando se afirma que a
ransfcrôncia positiva é a que propicia a realização
a cura e da elaboração, e a negativa é sinônimo. d lY " /e resistência. Não é assim, porque a positiva -t~disse rcud - divide-se em amistosa e erótica.·~.ÍtP
Obviamente, amistosa é aquela na qual se cstabc- L 1 1 " "
Ieee um vínculo de colaboração, um investimentoublimado sobre o analista-:c:~qu;;;to que a erótica~
é a transferência de pulsôes. desejos, fantasmas do .
tipo amoroso-erótico sobre o analista. A ~-
rência n~gativ( é a repeti~ão de todos os elementos
hostis. E importante compreender que a trans-
ferência amistosa é o rnot(~ da cura, enqu~le- \ \
a transferência erótica e a hostil funcionam como
resistência. A transferência positiva, amistosa, pode~elacionada com a tendência à repetiçã.Q..f.Q-
.!!lº-diferença. Em todo caso é uma repetição de
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28 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
impulsos, sentimentos, fantasmas, ,'sde serem usados ara dissolver a transfe ê cia,estando mais próxima da diferença do que da re-peti ão.
rn! '" ,I~ " ,vT" O ue e liuem]. As coisas ai complicam-se, ~ 1 , . . n ' um pouco e temos de passar rapidamente, Agru-9'T de vi A ,
I parnos o ponto e vista cconornrco e o onto de, J'i>'~ vista dinâmico, O ponto de vis!!1 econômico diz~./ que o que se transfere s~.Q_q.uan1Ldadc· ísc rc ias ,/- ':..atexias,qu~ explicam_o f~lncionamento d(~siquis-
mo como sistema no qual se roduzem, se distri-~ e scdcscarregam en~rgias, Repete;:;;e dis-
r/ tribuiçôcs cncrg éticas , c~te~ ~odalidades deV descarga. Do ponto de vls,ta(dtnamlqJ, reg,etem-se
jogos de força e conflitos entre as ulsões de vidae de mo e, O con fli to estabeleceu-se em dctcrrni- 'nado momento e repete-se como jogo de forças,Poder-se-ia acrescentar aqui defesas, impulsos, de-sejos, Repetem-se como processos. Na primeira tó-ica, diferencia-se rocesso primário e processo se-cundá 'o. O que vai se repetir é uma articulaçãopeculiar que se dá entre o processo primário e osecundário que historicamente tende a reiterar-seno presente. Repetem-se desejos, Repetem-se vín-culos e suas escolhas de objeto (objeto libidinal).
I Repetem-se "rela ões ob'et is".
~~ Do ponto de vistaLestruturiJ] podemos dizer que
r Yo que se reitera na situação terapêutica são todasestas coisas ordenadas segundo o complexo ~e éfundante e constitutivo do aparelho psí :ico: o~;-- -~ o, E o c onjunto de impulsos, pul--
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 29
- ,desejos, fantasmas, escolhas de ob'etos rc-""csentações etc. ue confi Juram o famosíssimo.:onjunto constitutivo da "p-ersonalidade" ou da "na-ureza" ~o sujeito, com9., também as instâncias gue J . i !
com poe!E.:. ••1"'~;O ponto de vista tópico já o antecipamos. Vamos ~pctir: fantasmas inconscientes ,ue ~ão ce~ifka-I"-yõcs -=-~xtos em que os desejos inconscientes 'rparecem con~ realizado~, Claro que do ponto de'ista consciente e, segundo Freud, também incons-lente, repetem-se afetos cujos sinônimos são sen-timentos, paixões, emoções, Esses termos não sãoinônimos precisos. E por isto a transferência cos-luma ser um fenômeno intensamente vivido.
epresentações são as marcas que detalha~osantcnorrncntc. Têm~a característica, segundo disseFreud nos primeiros trabalhos, de que a idéia oua significa 'ão ue a arece no momento de repro-dução da transferência é um elemento Q,llç se prestatanto à emergência do re rim ido inconsciente ua -to à defesa cont ele. Sua transformação é devidaà exigência de torná-Ias mais toleráveis para as ins-tâncias superiores do psiquisrno. Esta representação, ~mista - por um lado, repetição inconsciente, e~ll.J>por outro, um "ajcitarncnto", uma solução de com- Jp;JPprornisso com o presente e os sistemas pré-cons-
ciente e consciente - é o que se chama .:.9RM~-
~. Sel~ssin.0_n~mos~ãº: f~r-ma ão t' .. . I 'lmbem denvados do 1Il-
consciente, cuja principal expressão é o sintoma.Na transferência, aparecem como a representação
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30 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
in tolerável que não pode ser cornunicada. Freud
fala ainda em estereótipos, ou seja, modelos, esque-
mas, cngramas, que se repetem exatamente assim
como são e se mostram deformados .• ~ .Ó J - Do,ponto de vista \~línic(u falamos em tudo isto
~ q~ já mencionaml~s: vivências , experiências, si-~.;JI tuaçõcs, atitudes ... ~laro que tudo que seja des-
crição da repetição não é muito valorizado na psi-
canálise or ue a transfer6ncia não é um fenômeno-:<:---"..-...,-----
. Çjue 120ssa ser descr~ E um fenômeno que deve
ser entendido, decifrado com todo o instrumental
teórico de que a psicanálise dispõe e abordado comtodos os recursos técnicos que lhe são caracterí-
sticos: interpretação, construção. Não se pode ca-
racterizar a transferência pela repetição de atos,
pensamentos ou afetos conscientes e dcscritívcis
porque a repetição transfcrcncial - é claro - tem
muitos aspectos de repetição cmpírica. O sujeito
vai apresentar, frente ao analista, uma série de ati-
tudes, idéias etc. que já teve antes. ~ transferência,digamos, tem uma repetição visível, dcscritívcl,
consciente. Mas ela é predominantemente incons-
ciente e deve ser reconstruída. < ; gue se IÇiSte
deve ser "descoberto" como tal.
A J i } , ~nte, a última pergunta: "onde'?" Isto é
~ importante explicar para concluir.~insiste que
,vepetição transferencial é um fenÔmeno universal.
Onde há su'eito sí uico, em todas as atividades
humanas, há transferência., O sujeito psíquico é
"movido a transferência", como se diz de um carro
que é movido a álcool ou gasolina. A situação ana-
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 31
lítica é uma das tantas situações em que a trans-
ferência também vai aparecer. Só que a situação
psicanalítica estaria especialmente de~enhad~ par~1 ..•,0
que a transferência a are -a com maIOr rapIdez C6yP'yintensidade (j.QJlroseà~r.illJBcrência) e com majQr ~.~~possibilidade de ser dife~encia~la ou distinguida..s;o-~
mo tal e correta me te dissolVida s~rerada ou l2er-laboral a. Por isso, Frcud insiste muito nos artigos
sobre técnica em que uma série de fenômenos, ren-
dimentos, produtos da transferência não devem ser
considerados como absurdos, ridículos e exclusi-
vamente criados elo tratamento sicanalítico, por-
que as mesmas forças 9 . i ll e .. . roduziriam rendiment s
similares' fora da análise são as ue . uoduzcmdentro. As pessoas apaixonam-se, excitam-se se-
~ente, irritam-se, agridem pelos mesmos "mo-
tivos" transfcrcnciais. Igual acontece na situação
psicanalítica, embora o analista julgue que ele não
dá pretextos "reais", "naturais", para que estas rea-
ções lhe sejam encaminhadas. Por isso deve-se dar
garantia de que a transferência não será corres-
pondida, não será utitizada. Apenas nos serviremos
de uma parte dela, da amistosa, para perlaborar,
dissolver, marcar a condição de mec.íl.D·s caico
s ! S 2 . re.àll,l.Por último, isso não quer dizer que não existam
situações na vida em que a perlaboração da trans-
ferência Iam bérn seja possível. Não devemos nos
esquecer de que os homens amavam, adoeciam e
curavam-se antes de existir psicanálise. Evidente-
mente, parece que este procedimento está desenha-
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32 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
do para conscgui-lo com maior propriedade e fa-
cilidade. Infelizmente, é impossível aprofundar e
insistir mais nesta questão. Mas, se for revisada
cuidadosamente, pelo menos servirá para levantar
alguns dos preconceitos que costumamos ter emrelação ao tema.
INTERVENÇÕES E PERGUNTAS
- Pedido de aclaração acerca da repetição ea diferença na tral1.\ferência.
Resposta: Tentarei dar uma explicação provi-
sória. Talvez seja esclarecido nas exposições se-
guintes. Quando Frcud fala em transferência po-
sitiva e a divide em amistosa e erótica, deixa
claro gue a transferência erótica é da orde-;;da
tentativa de e etir o i_Tual. ~petir uma situas.,ão
de aixão causada por desejos e investimentos
arcaicos. Reconhece também na força, nos im-
pulsos, nos fenômenos da tr ansferênc ia um efeito
amistoso em que, pode-se dizer provisoriamente,
o que se re ete é' lilo gue já foi diferente de---~--- - - - -outras situações na situação J2asgd(~ gue se
repete é uma capacidade de distinguir a.di Icrcnça.
Isto será melhor entendido talvez nas próximas
aulas, quando poderei falar das implicações filo-sóficas na transferência.
Em qualquer processo temporal, se tudo se re-
pete, não há processo. Se nada se repete, não há
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 33 '/
csso. ~a tran::.fç.rência amistosa, o que se repete ~_ Q..uecada..Yez é diferente. O que retoma, não- - igual._Retoma o diferente.
- Se a transjerência implica a repetição do su-'0 e de situações vivenciais, em que medida otexto econômico, social, político de sociedadeerjere na vida do sujeito? Existe o risco de seir em um reducionismo porque se ele vive umaIlação de repetição, seguramente tem uma so-edeterminação de múltiplas causas. É possívelcriminá-las?
Resposta: Em rigor, este é um problema parti-
cular de uma questão mais geral que consiste em
mo incidem as determinações de natureza não-
íquica ou de natureza psíquica consciente para
odclar, transformar, modular o funcionamento, as
crcrminaç õc s e as formas inconscientes. Respon-
er a isto não é brincadeira ... É um problema deIcna atualidade em psicanálise. Afeta não apenas
transferência, mas a todos e a cada um dos me-
anismos do funcionamento psíquico. A psicanáli-
, tanto a Ircudiana quanto a atual, não tem um
acordo concludcn te a este rcspci to.
Existem posições que vão desde uma afirmação
e que a psicanálise não tem recursos teóricos nem
mctodológicos ou técnicos para tomar em conta essa. ibrcdctcrminação e interferência dos outros fatores
da realidade nos processos psíquicos. Assim como
não se pode fazer feijoada com um coador, não se
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34 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
. v pode ~l~l.rco~t? de.stes fenÔ~enos com a psicanálise.V'\V A \ps,canahs4 ~erve estritamente para Isto _. dar
~j~Olll'~ d.as ~lete~mlOações "ígu~ca~ inco s "CJ1J~<;--
~. . , o ; p e,pa~d l,ncl~lr, ~~)m :ecursos ~SlqlllCOS: predoml~an-
V temente verbais e IOterpretatIvo~. EXIste a posiçãodiametralmente contrária que diz que a psicanálise
é um procedimento cujos recursos para isolar outras
variáveis incidentes, intcrvcnicntcs, que não sejam
as propriamente do psiquismo são insuficicnrcs.
Serve apenas para TRADUZIR a interferência den-
tro do si uismo das var;iíveis não-!2&.CLuic~. E um
procedimento que acontece imcrso nesta realidade
e está permanentemente sujeito a todas estas de-tcrrninaçôcs. Tanto do ponto de vista do paciente,
quanto do ponto de vista do analista, como do ponto
de vista do contrato, da situação que se cria no
dispositivo analítico, iLpsicanálise (para realmente
dar conta de seu objeto) tem de se articular com
outras leituras e outros rocedimentos. Caso con-
trário, arrisca-se a não resolver a robIcmática ue
scf..preten e transformar, porque só dará conta de~ma de suas determina~.QQi. Se se -;)~pr~u
mais ou menos qual é esta problemática muito am-
pla da disciplina e sua articulação com outras dis-
ciplinas, de sua condição de fato social-histôrico-
político-ideoI6gico, multiplamente determinado,
estará claro que a transl"crência é um dos preces-
sos-Icnôrncnos que se dá neste marco. Há quem
diga que a transferência é um fenÔmeno determi-nado por estereótipos inconscientes e que as situa-
çõcs reais, concretas, podem dar um pouco mais
b
A CONCEPÇÃO FREUDIANA 35
ou um pouco menos ocasião para que os estereó-
tipos se repitam. Mas, sua natureza inconsciente e
repetitiva vai acontecer sempre - fatalmente -
por uma dinâmica própria que não é incidida, cor-
rígida ou piorada por nenhuma outra determinação(h istórica, política, social etc.).
Existem os que afirmam que não é assim. Natransferência, quando se constitui, tudo aquilo que
vai ser repetido, e quando se repete, o faz em estrei-
ta conexão com a vida biológica, social, política
ctc, A magnitude, a intensidade da repetição não
se deve estritamente às determinações psíquicas e
sim à confluência de todos os fatores. É por isso,por exemplo, que Freud dividia as famosas séries
complementares em série disposicional e série de-
scncadcantc, sendo que talvez se possa pensar que
essas séries são obviamente situações histórico-
social-biológica complexas, embora deva cscla-
rccer que esta é uma questão em plena discussão
dentro da psicanálise. Diria que escolher uma pc-
sição a esse respeito é uma decisão não apenaspsicanalítica e cpistcrnológica, como também uma
escolha política.
Levantando o problema de maneira menos ampla
do que você colocou, ele está concctado com outras
questões circunscritas. Por exemplo, as definições
que dizem sobre o que se repete não têm igual
adesão entre os analistas. Para alguns, falar de al-
gumas das coisas que se repetem e que figuramno nosso quadro não tem o. menor sentido, porque
não são questões que tenham sido enfatizadas pelo
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36 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO FREUDIANA 37
deciframento, orientação psicanalítica que certos
psicanalistas subscrevem. Para alguns analis tas, por
exemplo, o que importa é que o que se repete são
representações, fantasmas ou, por exemplo, rcla-
çõcs objetais. Que se repitam distribuiçües econô-micas da libido não interessa demasiadamente. Me-
nos ainda que se repitam atitudes, condutas, com-portamentos, porque alguns analistas são drásticos
nesse sentido. Comportamentos, condutas, atitudes
não nos interessam ... Isto é objeto da psicologia.
Não é objeto da psicanálise. Dito de forma um
pouco grosseira, o que interessa é que se repitam
palavras, ou seja, sentidos, significados Ou signifi-cantes, como se queira chamá-Ios.
Por outro lado, isto está conectado com a famo~a
questão de que, se a transferência é um fenômeno
exclusivamente psíquico, inconsciente e objeto da
psicanálise, é mais factível afirmar que é no seio
do tratamento psicanalítico onde poderá ser enten-
dida, interpretada e pcrlaborada. Se a transferência
é um fenômeno complexo, resultante de múltiplasdeterminações, podem existir numerosas situaçôes
vitais que sejam capazes de desencadear a transfe-rência e resolvê-Ia.
- O que você colocou faz pensar nas diferentesorientaç6es teâricas da psicanálise. Até onde Freudfoi neste sentido? O que é reelaboração ou' relei-
tura de Freud?
m itaçõcs, é uma tentativa (pelo menos) não de ana-
lisar, e sim de lemhrar as características polirnorfas,
as numerosas versões que a transferência tem em
Freud. Dizer até onde foi Freud, o que é de Freud
e o que é rcclaboração posterior de outros autoresé praticamente o tema de nossas próximas cxpo-
siçõcs, ainda que muito simplificadamente. Para
responder à sua pergunta em termos muito gerais,
diria que todos os autores e analistas que têm co-
locado posições novas - digamos, invençõe s -,
com relação à definição de transferência, reconhe-
cem que nenhuma delas surge do nada. Todas têm
pinçad o, selecionado algumas definiçõ es Ircudianasda transferência. Todas elas têm hipertrofiado, cx-
clusivizado, e trabalhado produtivamente posições
frcudianas para desenvolver aspectos novos. Pode-
mos dizer que nenhuma das rcclaboraçôcs parte de
uma base inexistente. Todas escolheram diferentes
momentos da obra de Frcud, diferentes tratamentos
que ele deu à transferência no transcurso de sua
obra tão com plcxa e divcrsificada. A pergunta
que caberia aqui, talvez, seria a seguinte: Frcud
deu uma versão final, um fechamento de todo
este polimorfismo do fenômeno transfcrcncial?
N ão que eu saiba. Haverá talvez um autor que
dirá (e isso é freqüente): "Aqui está o fechamen-
to: esta é a última versão frcudiana. Por isso eu
a tomei para cdificar minha teoria". Isso é ca-
ractcrfstico dos analistas. Cada um diz isso. Eu,
por uma questão de ignorância ou de originali-
dade, direi que não sei qual é a versão definitiva.esposta: Esta exposição, com todas as suas li-
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38 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
Por isso, limito-me a transmitir a maior quantidade
de versões freudianas da transferência que conheço.A CONCEPÇAO
ANGLO-SAXÔNICA- Você disse que estaria imbuído um conceito
de transferência em cada modelo do aparelho psí-quico. Poderia fazer a exposição do modelo doaparelho psíquico da histeria e do complexo deÉd ip o com relação à transferência?
HO.lE pretendemos repassar o concei to
e transferência tal como apareceu na obra de Me-
lanie Klc in , Em rigor, tratar deste tema em Melanie
Icin é um pouco diferente de tratá-Ia em Freud.
O conceito de transferência em Mclanic Klein nãotem, em nenhuma parte da obra, um tratamento
teórico exclusivo ou deliberado. Pelo contrário, a
técnica em Melanie Klein tem dado grandes con-
iribuiçõ cs à abordagem opcracional e instrumental
da transferência. Teremos, então, de lembrar um
pouco mais as contribuições gerais da teoria de
Mc!anie Klcin, situando uma ou outra conseqüência
teórica que tais contribuições têm sobre o conceitode transferência. Trataremos de enfatizar as "me-
didas práticas" de manejo da transferência que ela
inventou e que realmente ocasionaram uma espécie
de pequena revolução no procedimento psicanalí-
tico.O primeiro caso de análise de criança que se
conhece na história da psicanálise foi a peculiar
análise feita por Freud sobre o famosíssimo Hans,o "Joãozinho". O garoto apresentou uma quantida-
de de fobias, e seu pai, que havia sido analisado
Resposta: Deus nos dê longa vida ... Realmente,
neste momento, já estava a ponto de encerrar esta
exposição. No entanto, a forma mais simples, mais
econômica e menos sofrida de pelo menos abordara questão será ler o verbete TRANSFERÊNCIA no Vo-cabulário da Psicanálise, de Laplanche e Pontalis,
onde foi feita uma explicação breve, certamente
muito clara, da transferência no período da histeria,
da transferência em A Interp reta çã o dos Sonhos,da transferência nos casos clínicos, ela transferência
nos artigos técnicos (1910-1920), da transferência
em "Inibição, sintoma e angústia". E, digamos, ospseudofechamentos com a transferência no "Esboço
de psicanálise". Nessa obra póstuma, em duas ou
três páginas, dará mais ou menos para fazer a di-
ferenciação. De qualquer maneira, esta exposição
serve para que saibamos que as diferentes exposi-
ções de transferência não fazem senão cnfatizar al-
guns destes elementos. Se aceitamos a idéia de que
não há nenhuma versão definitiva, será um grande
estímulo para continuarmos estudando a transfe-
rência.
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40 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 41
Freud e era interessado pela psicanálise, resol-
veu empreender uma espécie de análise familiar
- ele mesmo (o pai de Hans) atuando como psi-
canalista de seu filhinho sob a supervisão de Freud.
Esta primeira análise concreta de uma crianca tevecaráter um tanto esdrúxulo. O terapeuta era' o pai
do paciente e Freud - o terapeuta do pai - era
o supcrvisor. Felizmente a ortodoxia ainda não esta-
va em moda nessa ~poca, o que permitiu abrir um
capítulo interessante da psicanálise. Não houve uma
análise direta de um paciente infantil.
Anos depois, algumas terapeutas, especialmente
analistas mulheres, estavam cientes da existênciada "doença mental" nas crianças, não apenas pela
observação como também porque as obras teóricas
de Freud já haviam colocado o fato de que a neu-
rose e outras doenças começam na infância e não
apenas ocorriam na maturidade. Estas psicanalistas
tentaram aplicar a psicanálise em crianças. Uma
delas foi Sofia Morgenthal e outra F. Helmuth, que
fizeram ensaios simultaneamente com Anna Freud.As tentativas das duas primeiras não deram muito
certo, o que as desanimou, enquanto Anna Freud
desenvolveu um método sistemático de análise de
crianças. Afirmava ela que as crianças não estavam
em condições de ser diretamente analisadas porque
não possuíam o aparelho psíquico totalmente cons-
tituído. O superego não estava inteiramente implan-
tado. A capacidade de s imbolização e de compre-ensão das inte rpretações e de aceitação da regra
fundamental sobre a qual se edifica () contrato psi-
canalítico eram limitadas. Anna Freud propunha
que, para analisar crianças, elas deveriam passar
num primeiro momento por um processo educativo,
informativo, em que o terapeuta deveria reunir-se
com elas em várias oportunidades e explicar-Ihesem que consiste o trabalho psicanalítico, observar
o grau de desenvolvimento intelectual, moral etc.
Só- depois desse período é que se poderia propor
um tratamento mais ou menos similar ao modelo
do adulto.Na mesma época mais ou menos, apareceu a
célebre psicanalista Mclanic Klein, que era paciente
de Abraharn, um' dos principais colaboradores deFrcud, que afirmava o contrário. Dizia que as crian-
ças são perfeitamente passíveis de análise e que a
análise de crianças é mais fácil e direta do que a
análise de adultos em muitos sentidos: na medida
em que estão mais "próximas de seu inconsciente",
dispõem de defesas secundárias menos consolida-
das etc. Deve-se, é claro, tomar consciência de que
a atividade expressiva da criança - aquilo atravésde que a vida psíquica da criança se manifesta -,
predominantemente, em sua vida cotidiana, era a
brincadeira, o jogo.O erro de Anna Frcud consistia em querer aplicar
à criança um procedimento próprio do adulto, exi-
gindo dela material verbal associativo, o que não
6 o modo prcvalcntc de expressão da criança, em-
bora seja capaz de fazê-h O que se devia fazerera colocar a criança em condições as mais "na-
turais" possíveis e simplesmente sugerir-lhe ou dar-
..
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42 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
lh e elem entos para que bri nque, pa ra que jogue.O jogo espontâ neo da criança é, nela, um m ateri altão expressivo, significa tivo e represe n tativo dasformações inconscientes com o o discurso verballivrc -associativo do adult o , E is o que M elanie K lc in
c omeçou a fazer. Dep o is de alguns anos de expe-riência fo i se lec ionando e rcclaborando na te ori afreudiana os aspectos da doutr ina que lh e parec iam
m ais in te li g íveis e úte is na com pr eensão e in ter-
pr etação do jog« da criança , A í é qu e se cdificoua teo ria ou tendência k lciniana em ps ic análi se. M e-lanie K lc in, com o todos os continuadorcs de Frcud
.
,não tom a a teori a fr eudiana comp leta , in totum, esim se lec iona as pec tos da m esm a, qu e extra i e a r-ticula à sua m aneira , introduzin do outro s recurso s
pr oveniente s so bre tudo de correntes li ngüí sti cas efi losó fi cas anglo-sa xónicas da sua pr efe rência.
O sujeito psíquico, para M elanie K lein . com -põe-se de um a unidade que ela ch am a de sar, qu e
com preende apro xim ad am ente todas as in st âncias
psí quicas anunciadas por Fre ud em sua segundatópica.
O sc lf const itui- se desde o com eço por relações
com os objetos significativos no desenvolvim entode um a cri ança, A etapa anter ior à const itu icão dose lf é um período de to tal d ispersão e frag m e~tação
do psiquism o, qu e lem bra m uito o que Freud ch a-m ava de auto-erotism o , situação em que o aparelh o
ps íqu ic o não está constitu ído e com põe-se de uni-dades eróti cas que fu nc io nam ao acaso e geram
impulso s parc iais que podem sati sfazer-se em qual-
A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÔNICA 43
quer outra zona crógcna ou na mesma que a origina,
Cria-se um universo an árquico, disperso, fragmen-
tado. quc os al crn âcs chamavam schpaltung ou zcr-
sclrpaltung (fragmentação), O scl I constitui-se
quando o universo anárquico organiza-se. unifica-se
em uma entidade coerente. Isto acontece tendo co-
mo prccondiçáo uma relação complexa e indispcn-sávc l com os objetos que são os outros sujeitos
responsáveis pela criança. por sua criação, Existem
forças que movem esse organismo psíquico; estas
forças são o que Mclunic Klci n chama de instinto
de vida e instinto de morte, Vocês podem perguntar
se em Mclani c Klcin ex iste a diferença tão co-
nhecida entre "iusti nto" c "pulsâo". Esclarecemos
que tal diferença. para Mclunic Klcin, é irrclcvantc.
Ela lul a cru instinto algumas vezes e em outras,
de pu lsâo. N áo é uma di [crença que lhe interesse
dcmusiado.Neste caso, o instinto de morte é exatamente o
mesmo quc em Frcud - responsável pela quietude,
irnprodutividadc, dcstruiçào, fragmentação -, en-quanto o instinto de vida é responsável pelo movi-
mente. atividade, junção, uniâo, organização, dirccio-
narncnto das forças cic. Segundo Mclanic Klcin, para
que esse organismo disperso. em estado de splilfillg.
tenda ,I organizar-se, o instinto de vida c de morte
devem combinar-se entre si, de forma tal quc C) ins-
tinto e l e vida predomine e coloque () instinto de morte
a xcu serviço, aproveitando <1:--aracterísticas do ins-tinto de morte par,1 cncammb.i-lo. dirccion.i-Io para
tlL'rl'Sl'inll'ntn l· l'n1lul:d() li""r!2dnl:--l1ltl psíquic«. ela·
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44 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
ro que tal combinação é precária nos prim ó rdiosda vida psíquica, de tal modo que o instinto de
morte continua consideravelmente indomável, não
controlado, não dominado. Consegue-se, pelo me-
nos nas primeiras etapas, organizar o splitting nesteuniverso fragmentário. Mas só alcança Iazê-lo se-
parando-o em duas partes mediante o primeiro me-
canismo de defesa deste sclf, que é processo de
dissociação. Tal dissociação, de certa maneira, or-
ganiza o sclf porque evita a dispersão total, mas
não consegue uni-Io além da cisão em duas partes.
Esses dois setores não têm conexão entre si e vin-
culam-se, por sua vez, em separado com seus res-pectivos objetos. Ou seja, os objetos também so-
frem a mesma dissociação que o sei f. Esta estranha
estrutura partida, que relaciona uma parte do sclf
com uma do objeto, e outra parte do sclf com outra
do objeto, consegue, desta maneira, que o sclf in-
cipiente (que experimenta a ação da pulsão de mor-
te com uma vivênc ia muito sofrida que se chama
ansiedade) possa combater a mesma e torná-Ia não
inteiramente dcstrutiva. Ao contrário, consegue que
seja promotora, impulsiva para o desenvolvimento.
Ademais da dissociação, que divide o sele e os
objetos em maus e bons, existem outras defesas,
como por exemplo: os objetos bons e a parte boa
do sclf serão idealizados, isto é, todas as excelên-
cias scr-lhcs-ão atribuídas, todas as onipotências e
maravilhas, enquanto a outra parte do self,que se
relaciona com outro objeto parcial, será chamada
de ruim, tendo poder de pcrsccuçã o, dano, dcstru-
A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 45
tividadc. Outras defesas também serão utilizadas.
Por exemplo: a negação ou declaração da incxis-
tênc ia predominantemente do aspecto ruim.
A teoria de Melanie Klcin tem sido muito criticada
porque os teóricos perguntam-se como é possível,nesta etapa primária do psiquismo, que se resolva
chamar "bom" ou "ruim" aos dois setores do self edos objetos, quando esta etapa é pré-vcrbal, pré-jul-
gativa, pró -étic a, e o sujeito primordial não tem a
menor capacidade para fazer tais julgamentos.
Trata-se de uma crítica injusta, porque Mclanic
Klcin esclareceu muito bem que o "bom" e o
"ruim" não têm nenhuma conotação moral, obede-cendo à necessidade de denominar de algum modo
essas etapas com uma terminologia que, evidente-
mente, é mais apropriada ao investigador do que
ao sujeito.Como o sujeito chamaria esses momentos e eta-
pas, se pudesse falar, ninguém sabe ... Ocorre que
este momento é denominado por Mc\anie Klcin de
posição, da mesma maneira que pedimos nossa"posição" quando vamos verificar o saldo de nossa
conta bancária. A posição de que falamos chama-se
csquizoparanóidc. "Esquizo" pela dissociação, por-
que há separação. "Paranóidc" porque um lado da
posição é profundamente pcrsccutório. Esta posição
caracteriza-se porque o sclf e o objeto estão dis-
sociados, A" ansiedades muito intensas e predomi-
nantes são pcrsecutórias ou paranóicas, O sofrimen-
to, o medo, a sensação de destruição são intensos.
As defesas que operam no sentido de moderar tais
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46 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 47
ansiedades são mecanismos de dissociação, ideali-
zação, projeção do mau no objeto, negação etc.
Teremos formas de "representações mentais" (as-
sim denominadas por Nlf11jl,~ieKlein) do estado no
qual o psiquismo se encontra. Este estado estácomposto por um determinado equilíbrio de forças
e uma topografia onde se distribuem o self e os
objetos, defesas etc. Trata-se de reconstruir como
a chamada "mente do sujeito" consegue representar,
essa situação e - além de representá-Ia - con-'
segue de algum modo "ajeitá-Ia" para torná-Ia su-
portável. As representações que faz o sujeito nesta
etapa chamam-se fantasmas ou fantasias. Os ingle-ses têm feito uma diferenciação entre "fantasy" e
"phantasy". FANTASY refere-se aos devaneios,
sonhos diurnos que todos temos. l'Hi\NTASY é re-
lativa aos produtos inconscientes aos quais não te-
mos acesso direto, devendo ser reconstruídos, de-
cifrados. Claro que nos bebês, ainda que existissem
fantasmas, não existiria a menor possibilidade de
acesso a esses materiais. Existe no adulto, no qualos fantasmas podem ser construídos a partir do dis-
curso associativo, e nas crianças, que os manifes-
tam no brincar. Tais fantasmas s ó serão rccons-
truídos a partir da sua pcrvivência, subsistência e
permanência no sujeito simbolizante, o que nos per-
mite supor o que acontece no bebê. À medida que
se desenvolve e realiza o processo de desenvolvi-
mento psicosscxual da criança, e que a criança temexperiências boas, especialmente com o lado bom,
idealizado, em sua relação entre o sclf e os objetos,
produzem-se transformações de maneira que dimi-
nui a dissociação e tende a produzir uma integração
entre o sclf dcstruído, dani ficado, agressivo, pcr-
secutório ... e o sclf prazcroso, gratificante. O mes-
mo acontece com os objetos. Eles e o sclf vão seintegrando, tendendo a transformar 6 self em sclf
total e os objetos em objetos totais, integrados. Esse
processo faz com que as defesas sejam mais fluidas,
de maneira que tendem a diminuir sua rigidez e
transformá-Ias em técnicas de manejo das ansieda-
des. Em termos dinâmicos, predomina a pu lsã o de
vida, conseguindo-se cada ver. mais colocar a pul-
são de morte a seu serviço. Os fantasmas são cadavez mais próximos do que seria o processo secun-
dário no adulto. Passa-se, então, para uma nova
etapa, que Melanie Klcin denomina "posição de-
prcssiva", em que se utilizam provavelmente as
mesmas defesas de antes, porém mais atenuadas,
acrescentando-se outras novas. Em termos gerais,
diminuem a pr ojcção-int rojcç ão do self sobre os
objetos, a dis so ciação, id calização, negação e per-sccução, tendendo a transformar-se na discrimina-
ção e capacidade seletiva do "normal". A proje-
ção-introjc ção é utilizada para fins de empatia ou
capacidade de colocar-se "em lugar de outro" ou
incorporar aspectos positivos do outro que enrique-
cem a personalidade. A id calização transforma-se
em admiração e respeito pelos objetos reais e assim
sucessivamente. Por outro lado, diminui a onipo-tência tanto da maldade quanto da bondade, do su-
jeito e dos objetos, de acordo com o princípio de
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48 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÕNICA 49
ranóidc, enquanto sentimentos que a acompanham. .r'»Outros sentimentos aparecem com a entrada da~ ~
posição de ressiva) Por exemplo: o CIÚME - von- ~~.
ta e de ossuir um ob'eto vaI' o que outro 110s- /;V~y.~i e não necessariamente vontade de destruí-Io; a ~.CULPA - dor ou~orso pelos danos que se pode ('
eventualmente ter causado (real ou imaginariamen-
te) ao objeto; o MEDO - não tanto o medo da
vingança, da retaliação, do revide do objeto per-
secutório, porém o medo de causar-lhe dano peja
g.gressividade e ho;-tilidade do sujeito. Surge a AN-
GÚSTIA, que não deve ser confundida com ã7n-
---iedade (característica de todas as posições),~é própria da posição depressiva ou pós-depressiva.
O s ingleses diferenciam "angust" de "anxiety".
Aparecem também sentimentos de REPARAÇÃO-
vontade de curar, de consertar e construir, tanto
no que diz respeito ao self e ao objeto, e ainda o
sentimento de NOSTALGIA - capacidade de lem-
brar o perdido ou destruído com sentimento de
SAUDADE, ao mesmo tempo resignada e relativa-mente gostosa. O idioma português é privilegiado
por ser o único que possui a palavra saudade, que
é uma nostalgia gostosa. Finalmente, aparece com
maior clareza o sentimento de AMOR - anseio
do bem absoluto para o objeto e para si mesmo.
Para completar o quadro, as posições, com suas
respectivas formas de self, objetos, ansiedades, de-
fesas, instintos, sentimentos e fantasmas, coincidem
relativamente com as etapas que Freud enunciou
em sua teoria do desenvolvimento psicossexual das
realidade. Modificam-se os sentimentos - questão
que acompanhou todo o tcmpo nossa descrição e
que, voluntariamente, deixei excluída, para não
complicar as coisas,
Melanie Klcin atribui muitíssima importânciaaos sentimentos inconscientes que, em Freud, se-
gundo certas leituras, carecem desta importância.
Para Frcud os afetos e sentimentos são efeitos e
fenômenos que pertencem à ordem do consciente,
não tendo, assim, demasiada importância para a
investigação mctapsicológica psicanalítica.
Para Melanie Klcin, existem sentimentos incons-
cientes o tempo todo, desde os prirnórdios do de-senvolvimento até a vida adulta. Alguns desses sen-
timentos acompanham as características das posi-
ções. São próprios da csquizoparanóidc e da cha-
mada posição dcprcssiva e de uma nova etapa que
Melanie Klcin não enunciou, e, talvez, poder-se-ia
imaginá-Ia, a etapa pós-dcpressiva. Os sentimentos
característicos durante a posição csquizoparanóidc
são: a A V[[)EZ - vontade de esvaziar, incorporarcompletamente o objeto e, assim, anulá-to, clirni-
ná-lo; a VORACIDADE - que também é um senti-
mento de incorporação em que a destruição não
está dada porque a incorporação é exaustiva, senão
"dcsgarrantc", dcsarticuladora do objeto como se
fosse mastigá-lo; o sentimento de INVEJA - von-
tadc de colocar todo o mal do sujeito no objeto,
porém não com o fim de possuir o bom que o
objeto detém. e sim com o fim de dcstruí-ln
Estas são as características da posição esquizopa-
50 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃd ANGLO-SAXÕNICA 51
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fases crógcnas (fase oral primária e secundária, fase
anal retentiva e expulsiva, fase fálica e fase genital).
~ Alpms klcinianos afirmam que a fronteira entre a
t Y f " slcose e a neurose, o lImIte entre a posição esqui-
r,/' zoparanóide e dcprcssiva, é a fase anal secun an v
~. em ue se come a a diferençar o sujeito do objeto,
o mundo interno dQ externo o self de seus objêiãS
a.!.Çm de todas as outras integrações que vão se
realizar. Neste plano, uma diferença importariiC é
que Melanie Klcin baseia-se em suas observações
•..e acrescenta uma nova etapa intermediária entre a
(~J fase anal e a fase fálica - a ETAPA URETRAL1~ -, muito importante para ela, põr uanto as fanta-
sias relacionadas com a urina, como urinar den rodo objeto, têm muito a ver com a inveja c vcicu-(ação de iml2ulsos inY..ej.Qso-s,.
Outra~tão importante é a~diferen,Ça que eX,iste
~'f .Y \ em M. ~q~nto à concepção freudiana do gdi-
~ Q S L Essa diferença deve entender-se em dois sen-
"V tidos: o primeiro sentido é ue Freud afirma ue
o Édi o instala-se plenamente e resolve-se entre
dois e guatro anos de idade, e tudo o que aconteceantes - auto-erotismo, narcisismo primário, nar-
cisismo secundário etc. - ainda não pode ser con-
siderado Complexo de Édipo porque as posições
do Complexo de Édipo não podem estar definidas.
I Melanie Q<lei~t~falado em ÉDIPO PRECOCE.
-b~ ~firma ue o Edi está instaladodcsde o princíw
- . n Y ~ vid$L. D.!ldas as c?~acterísticas que o s~os
t " " obl..etos adquirem, ~ Edipo é uma espéêíê' de dra a
surrcalista no qual é difícil reconhecer os persona-- - _:.-.r-
gens e as escolhas do progenitor do sexo contrário
c'õmo amado ou a esco a do progenitor do mesiTiõ
sexo como odiado e temido. n im, a distribuição
<!.os personagens e impulsos que temos no Édipo
adulto e maduro é difícil de reconhecer no Édipo
precoce, porque estamos falando de ob'etos ar-ciais, nao a enas no sentido de o]),~eJ.Qs.Jlons....e..-Db-
js..tos maus. Estarnos falando em objetos parciais
enquanto Partes da anatomia fantãsmática dos cor-
pos dos pro enitores. Fala-se em seio, em pênis,
em fezes, em fluxos, de maneira tal que em uma
leitura mais "realista" do Édipo esses objetos se-
riam irreconhecíveis. De qualquer maneira, Melanie
~afirma que as fantasias correspondentes aos
períodos primários são organizáveis edipianame.rue.
Por exemplo, a fantasia clássica cIos ataques inve-
josos ou ciumentos que se ode iam .Ja zcr.nc 'di o
adÜlto ao pai é dirigida ao pênis do pai ou aos
bebês, enquanto interiores ao corpo da mãe, e assim
sucessivamente. Isto tem dado um verdadeiro ca-
tálogo, uma lista telefônica de fantasmas rccons-
truídos pelos kleinianos, cada um dos quais maisinacreditávcI do que o outro. Tem dado lugar tam-
bém a ironias e piadas e gozações das interpreta-
ções kleinianas.
Entretanto, é bom lembrar que todos os fantas-
mas que Melanie~d~obriu e catalogou são
estritamente passíveis de descoberta na clínica,
especialmente n~ica de crianças e nãCi'Ínica
de psicóticos n~da em gue as c-riançasainçlaestariam nestas etapas e que os psicó ticos perma-
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52 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
necem fixados nelas ou reg!"idem a elas _o mo-
mento de catástrofe ou cataclismo do surto. Pode-: . ; . . : . : . ; : . . : ; ; - . :: . ; ; . . . = = . • -
";;;"os discutir o achado, o deciframento da clínica
dos fantasmas, mas estão todos presentes. Para con-
cluir, podemos dizer que no momento de saída par-JÁ,,,cial da posição depressiva vai se consolida o
~/~ processo muito importante que Melanic chama de' - J ! : ' , . ; f @mb~lizaç[2,listo é,} capacidade de elaborar, cap-
- g r \ turar, orde~r os fantasmas, impulsos, instintos, de-
fesas, ansiedades e sentimentos em sistemas de [e-
wesentação simbólica conscicnjc. Este processo é,
por sua vez, causa e efeito d e t e
é o que (embora de maneira recária roduz uma.certa" alidadc". Isto fundamenta o que para
Melanie Klein é o princípio da cura, não demasiado
diferente daquele de Freud quando diz que a cura
é a instauração e dominância do processo secun-
dário. Ou seja, a capacidade adquirida pelo sujeito
por meio da expressão lúdica e sua possibilidade
de simbolizar as vicissitudes de seu mundo interno,
de dorniná-lo, ordená-Ia, em um sistema de repre-scntaçõ es conscientes.
Vejo-me obrigado a fazer toda esta passagem
pela teoria klciniana, o que deve ser, para alguns,
absolutamente supérfluo, redundante e desnecessá-
rio, mas que nunca será demais para outros. Só
assim poderei referir-me às contribuições de Me-
lanie Klein acerca da transferência; é óbvio que
todo este devir, este processo evolutivo, tem mo-mentos de estagnaç~ação, progressão e regrcs-
são. Para Melanie~.Q que fundamcntalmc~
A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÕNICA 53
incide na progressão são os vínculos gue se es~-
b~lecem com os objetos, predominantemente ~m
os objetos bons, pcrmitindo quc os sll'citos acu-
mulem experiências favoráveis, introjetcm o . o
bom c o convertam no núcleo de seu self, conse-guindo assim integrar os instintos, ansiedades etc.
~)Cesso que gera a t[cgr'essãd para Melanie
(~; o retroccsso, a fixação, são fundamental~~n-
te as ex eriências de frustra 'ão, ..9!!.a.ndoo .~UJCItO
sentc-se atacado, privado de amor, imeotente ou
abandonas.It!..r.clo OfÜf.tO.Com isto, claro, podemos
enumerar nove característica~ .das cont~ibuições \ .. . K - I '
klcinianas, não sem antes definir o que e &ransfe-~..;;y~ncia \para Mclanie ~ Não.é nada ~ais n~da ~'.-.y.
menos que a repetição gue se vaI prodUZIr, na vIçlar ~
em eral ou na situa 'ão a illili e articu r,
dos momcntos de fixa ão nos uais sc ermanece
or falta de desenvolvimento ou se. etorna devid
à re ressão originada pela frustra.c~o. Estes mo-
mentos, que implicam formas de ser do self, for-
mas de ser dos objetos, formas de articulaçãodos instintos, ansiedades típicas, sentimentos tí-
picos e fantasmas típicos, tendem a repetir-se pre-
dominantementc por efeito da pulsão de morte,
c.!J;a natureza, além de imobilizar, desarmar, con.-
sistc em re etLAs c ntribuições podem resumir-se assim:
1) A t6cnica do j~: ~ criança deve ser co-
locada em condições adequadas para desenvolvera ati~idade que lhe é completamente :natucal" e
predominante em sua vida, que é ?rincar. Não é
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54 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
necessário pedagogia de nenhum tipo. O que se
pode fazer é favorecê-Ia por meio de brinquedos
e de um ambiente ro ício ao '0 TO.
2) A segunda contribuição klciniana é a proposta
de que a inter reta ão não precisa es erar ue atransferência se estabeleça or ue esta se estabelec
imediataments... quando há o primeiro contatqçcm. ---a-f.!iança a~sim que começa o jogo, e, por v~,
ante~a relação com os pais ue consultam.
3) Se a criança está regredida a um ponto de
fixação, e se o ponto de fixação significa predo-
minância das posições primárias, quer dizer que
haverá um predomínio da pu lsão de morte, tendocomo efeito a dominância na situação psicanalítica
da transferência negativa. ~ interpretações d~em
ser reeoces, rápidas e, por outro lado, devem estar
eentradas na transferência negativa, no vínculo per-
s~cutório, destrutivQ., agressi~ Só quando for com-
p~eendido, simbolizado, capturado, é que o proces---- - -.so con eguirá continuar.
4) A transferência deve ser interpretada c2!!l0um fenômeno quc está a~cendo estritamente
aqui e agora na relação entre o aciente e o terª-:
~uta. O que ac;n~ fora, na relação com os pais
e com o mundo, só tem importância na medida
em que é manifestado para exprimir situações que
estão acontecendo entre o paciente e o terapeuta.
Por outro lado, a história pessoal que se pode re-
construir a partir do decifrarncnto do ui e agoranão tem tanta importância. O gue Freud - hamava-- ~de construções não tem tanto peso, porque o as-
A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 55
sado só é im ortante na medida em uc está pLe-
sente. Se se consegue simbolizar exaustivamente o
presente' como transferência entre o paciente e o
ànalista, ode-se tornar desneccssáno reconstruir o
-ssado.S) A quinta contribuição deve ser discutida quan-
to a ser considerada uma contribuição ou um erro.Fica em aberto. Cada sessão '0_o brincadeira, cada
instante da rela 'ão contém um fa t . 'aJúas-
ma pode e deve ser interpretado ainda ue o sujeito
pareça não estar em condições de aceitá-Ia e ainda
- ue nãa.o acene. O processo consiste em coiil'ffintar
o fantasma com a realidade. Só que a realidade,no caso, devido à formulação anterior, reduz-se
fundamentalmente à realidade da pessoa e da tarefa
do analista. Em outras palavras, reconstrói-se o fan-
tasma em que aparece a vontade de devorar o ob-
jeto, consurni-lo com avidez, o medo de ser per-
seguido por ele, destruído etc. A simbolização re-
sulta da confrontação entre os fantasmas decifrados
e a realidade da pessoa e da tare a a al'sta uenaturalmente não é assim e não re' de fa~.e nc- . ~
nhuma de as soisas. $6) L m )rtância do rocesso de simboliza ão ue~');.
~ consiste nec~ssariamente na exposição verba.l~
~e.:.:.ca do que fOl~nten I9. onslste. na mudança?
da qualidade do jogo, em que os bnnquedos ad-
quirem a característica que realmente possuem e
são manejados de maneira prazcrosa e criativa.7) Na interpretação do Édipo precoce é primor-
dial a questão da simetria sexual, cujo ponto não
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56 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 57
foi tratado por nós na parte teórica. Em poucas
,d v -r.' palavras vamos rcsurni-lo. M.~ n!o adn:ite_o
r wr rV ue Freud ostula acercaia diSers..n.sa ~...Edipo
prnJaSCldino e femininQ. Não aceita o que mode a-
r mente se chama a primazia do ltalus. Não con-cõr a com a definição que o ~ujei to faria da con-
diçâo feminina como uma espécie de carência do
órgão masculino. O modelo de compreensão Ireu-diana do Édipo é o Édipo masculino, enquanto o
Édipo feminino se desenvolve como negativo do
masculino. Para M.@ sada sexo tem seu Édipo
e um conhecimento implícito das características ana-
tômicas de seu se O homem sabe que tem pênis,e o pênis entra nas vicissitudes de seus amores edi-
pianos como: vontade de possuir genitalmente a mãe,
medo de pcrdê-lo pela castração do pai etc. A mulher
tem, muito cedo, a plena vivência da existência da
sua vagina e da capacidade de cngravidar. Por sua
vez sofre um complexo de castração articulado às
t}{yicissiiudes do com .lexo ~ ÉdifX~,~a~ aquelZ-vivi~o
X - ~ em torno de fanta~IjlLsh; destrmçao Interna, e nao~A~da , rda do ~nis il2!.?gjnári2,. Pode-se dizer q~te
f'v- conceito kleiniano do ÉdifX) femi~in() e fXJsitivo, no
sentido de que é onglDal, e um iI?<2. rQQrio. Não
precisa calcar-se ou contrapor-se ao outro como sendo
um negativo simétrico,
}. 8) A importância que os kleinianos dão aos scn-
Jl"'f~ ~~entos os t~~"ª-dQ,_ no~ bons casos (existem
Y " ti} kleinianos muito ruins), à consideração dQs. s~-Y' ~~ e tem-lhos dado uma peculiar sensibilidade
para entender o material, que se aproxima da litc-
ratura. Os literatos são os artistas do sentimento,
das mudanças, dos pequenos medos, alegrias, espe-
ranças, estados de ânimo .. , Pela importância dada
aos sentimentos, [luitos kleinianos sã_o capazes de
fazer este tipo de interpretação da transferência em"ltermos de delicados sentimentos.
9) A importâôc;jj:aãdâ à s ansiedades, defesas, r-_~fantasmas e, talvez_ menos a outros aspectos, Por ()Jf"
exemplo, os kleinianos julgam muito negativamente
~s "a tllações" e dão )llCa im[1ortância aos sonhos,
ue não sao o seu ~(Qne". Os kleinianos opinam
que, na medida em que as ansiedades são registros
do jogo instintivo e do sofrimento psíquico, e namedida em que desencadeiam defesas, instintos, an-
siedades e defesas, se exprimem nos fantasmas,
Analisando os fantasmas, as ansiedades e defesas,
consegue-se desmanchar as características adotadas
pelo sclf e os objetos em cada posição, o que torna
mais manejável a importância que pode ter, even-
tualmente, a carga dos instintos em cada uma das
posições, especialmente os instintos de morte,Resumir tudo isto não é uma tarefa fácil. Espero,
pelo menos, que tenha sido ilustrativo.
INTERVENÇÕES E PERGUNTAS
- Você poderia explicar mais sobre a transfe-
rência negativa?
Resposta: Apesar de Mclanic Klcin ter escrito
58 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 59
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um artigo chamado "Observando a conduta dos be-
bês", no qual se abre a ilusão de que também os
bebês podem ser analisados (interessante neste mo-
mento de crise de mercado que vivemos, pois, já
que no Brasil há grande natalidade, a possibilidadede analisar os bebês é empolgante ...). Mas 'parece
que os bebês não são analisáveis, até um determi
nado momento, em torno dos dois anos e meio
~(~. É quando os 5ebês ganham um apa~(~
neuromuscular, sensorial e simbólico suficiente-
mente desenvolvido para permitir-Ihes cumprir a
atividade que é a base de Icitura do analista - a
b~incadeira, o jogo. Supõe-se gue a criança eS,tejãVIvendo, neste eríodo as osi 'ões es uizo ara-
nóide e dcpressiva. Como já disse, as posições ca-
~cterizam-se por não existir uma adequada inte-
gra 'ão dos instintos. Não existe integração de nada.
Nem dos instintos, ncm do self, nem dos objetos,
o que faz com gue as ~dadcs sejam muito i i n -p~rtantes, bcm como as dcfe~ que ããiTViâa e
f A 'de s~mbolização!êja .. po~re. Portaniõ,. o que p;e-
) f dom ma, ~nLU.IQ.ç.ê.Q.! § J . 9 e a~ nega ti~.
~
Entendemos por transferência negativa o predo-t, mínio da . 'dade e a ersecução na;t -f Y " ana-lítica.:-MeIanie Klcin diz que não adianta educar
~ neste momento segundo a proposta de Anna Freud,
. pois toda tentativa de informações e educação cairá
no campo onde predomina a pu lsã o de morte, a
hostilidade e a persccução. A criança não vai as-similar o ue se ensina. Não adianta interpretar
cnl atizand o, por exemplo, a transfe rência erótica,
porque não é o erótico que predomina. O que prc.-
d.9mina não é o amor, é o ódio não simboliza~o,
não capturado no sistema de representações, nio
permitindo que o impulso de vida, o erótico, o a!!l0-
. ! : O : iO , se desenvolva e tome a seu controle 0d1re-d.omínio da tníalidad da-\&Í.Ga-p&Í.Gfuica.Por isto é
que ela prescreve que o rimeiro a ser' pr.ç.tado
~ a transferência negativa, ou seja, deve-se trabalhar
a invcia a avidez, a voracidade, o ódio, o cifune,--~a cul a crsecutó ria etc.
O que tcm ocorrido, sem entrar em muitos re-
finamentos teóricos, é que a proposta kleiniana tem
sido mal interpretada. Mpitas yczes-<t~-ções kleinianas I2arecem uma desaforo, porgue en-
{;}tizam tanto a maldade, o ódio, a ~Q~de de cks-
tr~lir ue a crianç,a ou o adulto a~ab;m ri!siàJ:lco-
lizando-sc cntendcnd2 quc são C!!!~111entcruins ou
ue nada têm de bom .. As interpretações da trans-
ferência negativa não são àrticuladas com as siri-
\1Is. ão se mostra ao paciente como o predomjnio---- - - -negativo não permite a emergência do positivo, o. -e às vezes produz incremento da cul a ~ºcutória,
da auto unição e, fundamentalmente do desalento.
Nas palavras do paciente, seria: "Ah, então é assim ...
então não tenho salvação nenhuma ..." Se isto surge
necessariamente da concepção kleiniana ou não, édiscutível. Em geral, vemos que surge da má com-
preensão da teoria e da proposta klciniana.
- Você poderia [a la r um pouco mais sobre asinterpretações qual/do predomina a pu/são de morte?
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60 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 61
Resposta: Deprccnde-se um pouco da resposta
anterior. Melanie Klein tem dois casos famosos, o
"caso Dick" e o "caso Richard", sendo um deles
descrito de maneira admirável em um livro grande,sessão por sessão, tudo que foi interpretado a Ri-
chard - Relato da psicanálise de uma criança.Independentemente de coincidir ou não com a teo-
ria k lein iana e com o tipo de intervenção que ins-
pira, o que deve ser resgatado com o maior respeito
e admiração é a vontade de ob'etivar o trabai110
que e a azo Nao sei se vocês observaram que ul -
'-imamente nin ruém ublica casos clínicos. Os psi-canalistas se ocupam em rcanalisar teoricamente
os casos de Freud. Mas não se sabe o que cada
um faz no consultório o ue é muito negativo· ara
Q dcsenvolvimento_de..n.oss<Ld.is.ciplin;I. Todos falam
das teorias que adotam, mas não falam como as
aplicam e ninguém sabe se dá certo ou não. Melanie
Klcin fez lon as exposições de seu jeito de trabal-
har. .Nesse livro, isto Rode ser a reciado.A interpretação rápida, de entrada, remete aos
primeiros brinquedos que a criança pega, aos pri-
meiros movimentos que faz, os quais Melanie Klein
já interpreta em termos de relações objetais. Volto
a insistir, há muitas críticas a fazer, porém esta é
a característica. Assinala predominantemente as
fantasias e impulsos destrutivos que atrapalham a
liberdade do jogo. Em termos do medo que a crian-ça pode ter de que o que está se repetindo com
relação ao analista esteja sendo produto da inveja,
que poderia destruir o analista, a vontade de in-
corporá-lo, csvaziá-lo, tirar-lhe todas as coisas boas,
a vontade de cort á- lo em pedacinhos, de destruí-I o,
tir á-lo de outros relacionamentos afetivos com ou-
tros pacientes, com seus familiares etc. Esses fan-tasmas arcaico.s...aconl 'cem..com grande predomínio
da ulsao de e CQm orussimas e dcsprazcro-sas ansiedades e com defesas rígidas contra a an-
ied e Na medida em que se interpreta e se coloca
em termos simbólicos, diminui a ansiedade porque
diminui o temor de que isto esteja acontecendo na
realidade. Localizando tudo isso como fantasma,
surge a ocasião de que o lado da pulsão de vida,a transferência amorosa, apareça com mais clareza
e a induza ao processo de manifestação do jogo e
da expressão mais livre, criativa e compreensível.
-Já que a teoria kleiniana dá ênfase ao jogo,ao brincar como forma de expressão, gostaria desaber se ela faz referência à criatividade, à ima-
ginação, no caso da criança, e o que faria a res-peito.
Resposta: Realmente, sim. Para os kleinianos o
2IQcesso de simboliza a ,com tudo o que implica
domínio de todos os aspectos que acabamos de
"i'nencionar, seria a base da sublimação e do uso
.....criativo da capacidade de pensamento e de imagi-
na ão e de toda atividade construtiva, não apenasat.tísüca.
Há um artigo de Melanie Klcin que se chama
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62 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 63
"Acerca da importância da formação de símbolos".
Há outros autores pó s-k lcinianos como innicoU
por exemplo, que se têm ocupado especialmente
disto. Eles afirmall! terminantemente gue a ca a-
cidade de bicar (seja espontânea ou adquirida
através de uma análise ou outros procedimentos)
é o antecedente, o prolcgôrncno de qualquer outra
capacidade criativa-construtiva-inventiva-sublima-
t ó r i a do adulto. Existe um analista klciniano ar-
gentino -@driguÇ)- que tem trabalhado sobre
uma questão que, segundo me parece, responde à
sua pergunta, que é a INTERPRETAÇÃO LÚDICA,
no sentido, por exemplo, de que o analista de crian-ças não precisa necessariamente colocar as inter-
prctaçõcs de forma verbal ou de maneira "adulta"
e "ortodoxa"; §Ie sÓ precisa hrincar, por sua vez,
de uma ane· ra ue adote o côdi!o le a crian
usa. Se ele brinca de maneira complementar e con-- 'segue transmitir significações com esfe.recurso,..nãô
recisa_ interpretar .• Com este recurso não precisa
enunciar interpretações em um sentido clássico, oque é um grande desafio, porque os analistas sabem
interpretar, mas não sabem brincar. Aí se coloca
um desafio, uma prova. Quanto o analista conserva
de uma criança brincalhona, e quanto consegue
brincar novamente com fins específicos para seu
procedimento?
Cada sessão tem um fantasma que pode e deveser intelpretado, independentemente do entendi-mento ou da aceitação do paciente. Em que sentidopode ser um erro e em que sentido pode ser uma
contribuição?
- Gostaria que você esclarecesse a quintacontribuição, quando afirma que pode ser um er-ro ou uma contribuição a questão da interpretação.
Resposta: Esta é uma excelente pergunta. Não
é fácil resumir a resposta. A proposta kleiniana éde que cada momento e segmento do que chama-
mos "material" (jogo, discurso, sessão, período)
tem um fantasma que pode e deve ser decifrado.
Uma vez decifrado, eve ser comunicado ao pa-
ciente independentemente de estar ou não em con-dições conscientes de assimilá-Io, aceitá-Ia. Isto
tem um ~10 positivo: os analistas, sabendo que
pode ser assim, que pode haver um fantasma espe-
cífico em cada segmento do material, esforçam-se
em decifrá-Io, isto é, diminuir aquelayarte do "m a-t~rial" à qual não prestam atenção por ue lhes dá
impressão de que é "conversa fiada", que não é o
caso compreender o que não "quer dizer nada".Existem analistas que tomam em demasiada con-
sideração o que eu poderia lhe explicar através de
uma metáfora que uso para isto: poder-se-ia chamar
de "engolideira" o aparelho de engolir? É um neo-
logismo. Existem terapeutas que levam em dema-
siada consideração o diâmetro da "engolideira': do
paciente. Só lhe dizem coisas as quais esteja~-
sÕÍutament;; seguros de que ele vai engolir orcwese preocu am muito com a resposta imediata. Neste
sentido, desconhecem, esquecem, não valorizam
64 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÔNICA 65
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que a interpretação só muito parcialmente está di-
rígida ao cgo e à consciência. Ela o era e outro~_
níveis e sua apropriação e rocedência não se de-
finem pela r~s osta imediata. Definem-se c diz
Freud ela capacidade qlLe=posslli de abri ovosmateriais no ue vai aparecer de ais. Neste sentido
é bom ue os klcinianos insista!l1 em interpretar
en uanto entendem;,quando entendem, interpret~
O paciente não "entende" nada, e a sua primeira
resposta é de desgosto ou rejeição. Isto não tem
importância. A questão é continuar com a atenção
flutuante, vendo o que virá. Neste sentido, é posi-
tivo. Não sei se ficou claro quais são os sentidospositivos desta idéia. Os'@fntidos~at", ou pelo
menos discutíveis, sªo os que Ereud dcixou.bem.,
claro: o "material", o "discurso" do paciente eic.
não são unif?rme e igualmente valiosos. Existem
pontos noüms ue se chamam 1 70 A Õ S DO
INCONSCIENTE, que são, como em qualquer escri--------- .to, as palavras sublInhadas, assagens rivilegiadas
ue temos de considerar es ecialmente e cuja in-terpretação permite entender, retroativamente, todo
o outro período e transcurso que não é muito ex-
r f : Y , 1 pressivo ~ significativo. A tradução, or assim di-
_ú-~_z~r, o decilrarncnto, deve ser feita a partir d<2§R.0~n-
~I tos privilegiados que vão dar sentido aos outros
~ períodos "vazios" de exrressividade. A idéia de
K tomar todo material por igual e interpretar cada
parte no momento em que "aparece" é uma pro-posta perigosa porque leva a uma espécie de atitude
de "intérprete simultâneo" de congressos na qual,
à medida que o dissertante vai falando, o tradutor
vai traduzindo (nunca soube como conseguem fazer
isso; para mim é um mistério ... ). Mas, em análise,
isto não funciona. Deve-se esperar ue se coml2lc-
tem os períodos significativos que se qualifiquemcomo tais a partir da emergência de uma formação
do inconsciente típica como o sonho, o ato falho,
o lapsus linguae; é partindo daí que dá para en-
tender o ue foi dito anteriormente peüindo asso-
ciações a respeito.Outra atitude é pegar cada passagem e procu-
rar-lhe uma tradução em termos de fantasmas, con-
sultando o "dicionário de fantasmas" que Mclanic
Klcin produziu. O conteúdo manifesto pode ter um
certo parecido com o fantasma que temos dispo-
nível, que lembramos, mas pode não ser o seu sen-
tido latente. O fantasma pode ser outro. O yerigoé ue leve a uma tradu 'ão sistemática simu ('" a
e estereoti ada. Este me parece o aspecto negativo
do assunto.
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A CONCEPÇAOLACANIANA
U M A dificuldade para expor o tema é
não sabermos até que ponto o auditório conhece
as contribuições teóricas originais dos pó s- Ireud ia-nos. Não sabemos, por conseguinte, até que ponto
podemos expor diretamente o tema, sem fazer uma
brevíssima introdução a esses apartes,
A proposta lacaniana oferece neste sentido, di-ficuldades especiais porqu&-;;-a:0 propôs um re-
torno a Freud com características eculiares que o
Iez produzir uma rcformulação temática, conceitual
e formal na qual a obra freudiana se torna, amiúde,
irreconhecível. sto se deve, sem dúvida, ao fato
de que o trabalho lacaniano produtivo gera novi-
dades consideráveis e a peculiar concepção de La-
can sobre o discurso teórico da nossa disciplina,
em concordância com a material idade peculiar que
atribui ao nosso objeto de estudo e de intervenção:
o sujeito psíquico e, em especial, o seu incons-ciente.
Todo o psi uismo é imanente à linguagem queLaca isola e redefi,llQ., como um sistema si n 'fi-
cante. Para Lacan, a seqüência significante que de-- - - - - "--~------~------~~-
A CONCEPÇÃO LACANIANA 67
nomina discurso, animada por uma força insistente
"ue é o dese'o constitui o su'cito e est or a
vez, segrega seus ob'etos sendo ue a mate I-
dade última do objeto e do chamado su'eito exige
ue a teoria ue dá conta dele, e a prática de seuconhecimento e transformação, tenham claro que
s;ctesenvolve inte ralmente no cam o da lingua-
gem ou do sentido. A teoria psica nalíti ca, em con-
seqüência deste axioma, não será uma metalingua-
gem que fala acerca de seu objeto. ~esti eculiar ue ro icia ser falado ar ele . .Qy
seia uma es écie de "drarnatização" signi íic ant e.
A sua tese mais importante, a de que o mcons-ciente é estruturado como uma linguagem . s . . ! i ! l l -
diona) segundo afirmava~com base:J e-
rações de \!cslocamentõJe d - que@)
denomina metoními e etáfora exige que a teoria
do inconsciente seja uma linguagem apropriada pa-
ra veicular estas operações. Lacan afirma daí que
a teoria deve estar formulada de maneira aproxi-
mativa -- não dentro da modalidade cartesiana das"idéias claras", e sim utilizando figuras retóricas
nas quais o sentido desliza, o que não impede, por
outro lado, que, junto a uma estilística literária e
aporética, ele se proponha uma singular precisão
em suas formulações, tal como em seus maternas,
que exprimem uma lógica, uma álg ebra peculiar,
na qual Lacan tenta circunscrever as' estruturas
constitutivas do sujeito de maneira precisa,Quanto ao tema da transferência, como tantos
outros, Lacan parte estritamente de Freud. Lcm-
68 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 69
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brames que, em ~Q)a ft@"nsferêncial segundo
vimos, pode caracterizar-se em quatro formas CU1e
forqm aparecen o sucessiVã'i'i'iCnle no peÍlsamento
{jrreudiano. Frcud entende altransfcrênci~ com"R..!Ç- 1
~ ~ petição dos rotótipos inconscientes. A lfCpêT iÇ ã9 ,. ~~.);neste sentido, é ar um lado aguilo . ue constit~Ii
P~ o motor da cura e o material a ser entendido o. 1,V.;f modificado. A tepetiçao'\tambÓ; apare~~ ~_ '2 .
~. sistência, como obstáculo à direção da cura. A osci-- - - - -ação como motor e como resistência-obstáculo
configura uma ambigüidade ue dcve sc-;' cu· 0-
samente considerada. A transferência aparece, no 3
t~rceiro sentido, como _s~' comQ...cstado--I2.e-culiar de submissão do paciente ao ~a, o que~ --em muito a ver com a id cali za ção do hipnotizador
e com o sentimento de amor que faz com que entre
hipnose, sugestão c enamoramento, exista uma co-
nexão claramente advertida por Freud, especial-
mente em Psicologia das Massasy .J1.1l4jis e de Ego.O uarto sentido Ireudiano que~sublinha é ~
o da ransferênci como o acontecimento central'------"
--dentro da enfermidade artificial 9 .l! .C come o da- .. . . • . . ~
a-;{ . e desencadeia, conhecido classicamente c.om
o nome de 'neurose de trans[erênci!!X - c2pécie~
de reedição concentrada e reformulada da neurose
cÓtidiana ela ual o aciente vem se consultar.
Lacan enfatiza a transferência tal como ela se
apresenta em A In terp re ta ção dos Sonhos, enten-
dida como ~ de sentidos ,9,ue se deslocam~ ~ uma representaç~para outr~ o.ql~~igL9ue._fI~ o conteúdo manifesto do sonho seja decifra;!2..e
interpret~do, c?nsiderando que é capaz de capturar
o analista como uma das representações dos restos
di urnas, i ual aos ue se constroem nos sonho .
A transferência como .resisiência, obstáculo, como
fenômeno amoroso, formando parte de uma enfer-midade artificial, é um fato que surpreende Freud
na ordem do acontecimento inesperado, A [ransfe-
~ncia como resistência. em rigor, localiza-se fl.ln-
damentalmente em uma infraSS.ilo o_~diillL9-º-ªmI-
lista, aceito pelo paciente, de cumprir C O ! ! ! a liv}eassociação, dizer tudo que lhe vem' ~n.te,~
rejeitar ou selecionar o ue deve ser dito,
Quando Frcud faz sua famosa classificação detransferência entre amistosa e erótica, constituindo
a transferência positiva, por outro lado, e a hostil,
constituindo a negativa (esclarecemos que, erótica
ou hostil, a transferência constitui-se como resis-
tência) Lacan 'observa. ue a amistosa não é a~ as
igual a certa forma da sugestão, embora não deixe
de contê-Ia, ela é uma res osta a uma demand
do analista, justamente,. de livre-associa ão. Esta éa única pressão que o analista se dá o direito de
exercer sobre o paciente, sendo que sua atitude, a
partir deste momento, deve ser passiva e não uma
ativa tentativa de interpretar as resistências do pa-
ciente e de procurar dissolvê-Ias ou forçá-Ias;.2-
inconsciente que vai manifestar-se no discurso do
paciente, através das formações do inconscie te
Jdas quais o analista é uma delas), não re~~,-ªpe-
nas sabe insistir em dcse'ar. A resistência vem. do
~ qu~ divide em "je"i, ç~o:L.:,...e,-1llais .
70 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO LACANIANA 71
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p~ecisamente, do "moi", porque a liberação do re-rimido roduzir-lhe-á desprazer. Em Inibição, Sin-toma e Angústia, Freud faz um quadro (ao qual jános referimos) em que@enfatiza as resistên-
cias do e o en uanto minimiza as do su ere o co-! ! !O inconsciente, e as do Id ue funciol1an segundoum automatismo de repetição que rocura a tem-poralização d;Cx eriêpcia da transferência.A transferência ue acontece na situação psica-
nalítica não é muito diferente, ara ca da ea~.9ntece na vidü~l, o que é um questionamentoda realidade mesma desta vida. Ela é a enas ro-
vocada artificialmente na situação analítica e ficaintensificada ela resistência. can dá a entenderue vivemos em um sonho e ue acordamos uandonos a roximamos dO_ct~é verdageiramente real
em nó~ i:5ejo e as pulsões).'" Par can todo aquele que emite um discursoo faz inconscienie'iiiente, encaminhando-o a um ou:-tm.... ue _ ca chama de o Grande Outro e que,
em rigor, dará o verdadeiro sentido do discurso,d e modo tal ue o sujêltoconsciente se vê surp~e-endido porque sempre diz a mais ou a menos do'-=.. .....CJ.!leensava e encontra-se com um dLto, cujo sen.:tido ele desconhec~, revelando que o inconsciente- cstruturado como uma linguagem .- contémum saber do gual o sujeito nada sabe. Quando estediscurso e sua verdade são colocados, parecem vir
de um outro ao qual, inconscientemente, ia dirigido.Para~ a importância do lugar do analista,
que por meio dos dispositivos técnic - ícos
desencadeia e condensa todo o processo na baseda proposta da lIvre-associa C1
vocar a transferência tendo fé em(por mais sem sentido que pareça) uer dizer 1 -
guma coisa ue obedece a causas. I;?Ü;:ªJ~ue dissejr.o aciente, isto uerer'- 'zer T a coisa. A1tran~-ferência é a conseqÜência imediata da estrutura dasituação analítica. Lacan pretende dar conta desta'estrutura transfcnornônica, isto é, que fundamentae explica todas as formas aparentes em que a trans-ferência se manifesta. Q analista aceita ser o suportedo Outro. Neste sentido, e transitoriamente. on-
~orda em converter-se no Amo do Sentido, isto é,
\
a:-ue~.9u~ecide o ue foi gue ? discurso incon-sciente uis dizer. Em outras palavras, o Amo da. erdade, o que implica para o analista ter clara ares onsabilidade e a dignidade de sua funç~o. Q .analista coloca o paciente em uma condição deabertura ue o torna re ara(Ío ara a transferência.O principal instrumento para deOagrar essa dispo-
siÇão é o silêncio do analista, ue faz com uena,), responda às demandas manifestas do paciente,
I Jnildo ocasião para que a demanda inconsciente semanifeste no discurso ines erado gue logo aparece.Por Isso:---rccom;'-se ao analista, di;nte de cadapaciente, esquecer o que sabe no sentido teórico-lepistemológico tradicional 9 9 termo. LNo ,grincípio de 1954,(1aca pensa· a transfe-~
rênci QQminllJ.1temenlv_comoFreud o fez em sua<t ~versão Icnornênica, copo r~la ão ima i.n.ária de ~ .amor- aixão. Dez anos dçpols Lacan retifica esta ~ : I ( » "- - .- r\r
72 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 73
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versão e coloca como mecanismo central a adiu-
dicação do analista da condição de "Sujeito Su~to
ao Saber", que_denomina piVOl do procedimento.
Deve entender-se, em princípio, que a posição de
Sujeito Suposto ao Saber não deve ser confundidacom atitudes ou convicções conscientes do paciente
pelas quais pode supor que o analista já sabe an-
tecipadamente o necessário para solucionar todos
os seus problemas. Em certas ocasiões, ·0 paciente
declara manifestamente o contrário, supõe que o
~ analista não sabe ou não entende o que ele está
~J):,dlzen.do. Trata-se de. uma posição estrutural que
~V'antenormente denominamos transfcnornênica. E o
p ... . ~1 L s u.•:,..e_l-:o_In_c_o~n~s..;.c..;;..le;;.;n;...;t;.;:.e_.,l;;;.le~s:.;:u:.&::.:;:õ:.;:e...:lu;;:;e::;..,;;o~s:;:.a::;.e::;.r~d~o~in-rO/J'
r : ' I " J t r c.onsciente já. e~tá todo prod,u~ido no lu ar do ana-~~I lIsta, o ual fana desnecessário o rocedimento ga
cJY livre-associação. Em rigor, esta mal entendida si-
tuação da coloca ão do a!lali~Q ugar de.sujei-
to-suposto-ao-sabe~ (o sujeito que sab'e não é o
mesmo sujeito suposto ao saber do inconsciente)
~se torna manifesta em uma situação peculiar -
quando o começo da análise desencadeia uma si-
cQse âlucinatória paranóica na ualo aciente cla-
ramente pensa ue o analista 'á sabe tudo o que
ele vai dize,r. Em outras palavras, ~divinha-lhe o
pensamento, o gue, em geral, adquire características
persecutórias e torna a análise especialmente difícil,senão im 2Q .SS .Ú I.el .
A demanda consciente tem múltiplos sentidos,
geralmente demanda de amor, demanda de reco-
nhecimento. Mas o que o sujeito inconsciente pro-
cura, estrutural e te é ue amando o analista o
colocara no lugar de seu Ideal do E.o e rocurara
constituir-se ele no lugar do E TO Ideal. Na a
em que a identificação é rocurada r meio do
fazer-se amar tornar-se amável or seu Ideal do
E o, fecha-se um círculo narcisístico ue restaura "
uma si tuaÇãõ especular. .egun o acan, não se trata, como muitos ana-
listas não-lacanianos pareciam entender, de colocar
o analista no lugar do Superego, porque o superego .•p Cnão tem a ver com a Lei, nem com as normas.~· .
Não é a medida da realidade. O superego é uma
instância muito . ,. le e i,e gue o sujeito J./~
ozc. Esta imposição é impossível e tem muito a ~'Jtf
ver com a Pulsão de Morte. 'lcanaz uma distin- - r . ç : , r..s;ão radical entre razer gozo. O razer é o di: 9-
ferencial ue se estabelece no su';ií;'; entre o gozo,
procurado como estado último de restauração total
do narcisismo, e o prazer, ue é l~si~ul;;'o
sucedâneo do gozo obtido em rela 'ão ao rocurac!Q.
O superego não é aquela instância que exige do
sujeito que triunfe e sim que goze. Por esse motivo,o triunfo amiúde produz efeitos paradoxais de culpa
e de desprazer, em conseqüência do dcscumprimcn-
to dos ditames arcaicos e incoerentes do superego.
Q! analistas não-Iacanianos, com exceção, tal-
vez, de Melanie lcin tcriam confundido o lu ar
analista com o do Su erego, ro iciaildo a idcn-tifica ãb.Ae divers s aneíras, o.Ego.com,o SlI-
ere TO e definido esta identifica ão como cura. Estasituação é a antítese do que Lacan definiu como
74 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 75
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cura, que não é a introjeção do analista e a iden-~~ ~ificação do paciente com este superego e sim a
~ !plerve~ç.ão ~o desejo do analista, como desejo ge~r prescindível, a tal ponto que o analista se torneuma espécie de rcsTcIuo,d'C-éf2eçâo ou resto' da
I,,-~ y opem ão. psi,cana~ítica. Por isso, ~ denominaMi,r' esse desejo r ~eseJo do analista' , que não é o mes-~ mo que dcse o de tornar-se analista nem deseio
~ ~n.alistas. !mta-se de.que é um <!ysejyde n~do o d nao-ser dese o ue ad uire neste sen-tido a d(me são do dese'o da morte.O sujeito fala a partir da posição do Outro, Ideal
do Ego, Amo da Verdade, para roduzir a mensa--?:m da qual se torna o significante: Ser amável eg?'Vernado pelo O;:!.~o.Em outras palavras, ~Ciente te ta ser halus ara o icanalista. Se oP5icanalista. não tem daro ual é seu lugar, se nãoI~ consolidado em si o desejo de analisar, podefavor~cer o desejO do paciente e, assim, produzirum I 1 o ~ resu tado no ~ o Su erego co..!.!!...
~Ith qu'!l..~ paciente o._vê.identificado_ ten~a "comido"~v:-0 su to. Lacan, ironicamente, denomina tais aná-
Il~ lises '.'ca~ibalíst~cas", provoca das por uma espécie'J I " d$._abJeçao da figura do analista. Lacan denom~
a transferência "a posta em ato da realidade doinconsciente".,..-1\. função do analista é a de "des-marcar-se", sair desse lu ar, destituir-se, fazer jus-tamente o ue não se es era dele. Para isso, deve
adotar lima a1itu~de total i norância e assi~. ' ,con;egul!:..,9ueo ~iente saia do lugar do Ego eal,amavel, gue E..0cu!:.ajsJentifica ão narcísica, irna--
g!nária, especular com O ideal do ego amador ouamante em ue colocou seu analista, O acientev~ransformar-se em sujeito de seu desejo par~q..!;!e ossa continuar demandando e associando li-vremente, e para que este processo nao se intcr-om a ou se blo ueie em uma identifica 'ão. E~~outras palavras, o analista deve rocu - 'r I ! ) I P , I
ougar do gu Laca denomina "obiet'o }" (Iê-s~#lbi )' bi vjcto pequeno a , que e o o leto dcscncadcaruc-zsdo desejo do paciente, senão operar manobras guepermitam "semblanteá-Io", como ele fala, Ou sej~,escapar da máscara pela qual o sujeito lhe atribuiesta condição, Se, ao contrário, o psicanalista pro-picia a identificaçao de diversos maneiras, ela p..Q.ceEãpturá-lo como totalidade ou Rode produzir a "irni-Úlçao", por arte do paciente, de um traço do ana-lista, que Laca denomina "traço unário", o quef~IZcom que nestas falsas curas se possa ~-hecer os analisados de certo analista ois, de umao~ de outra forma, todos acabaOL ) parecer-se J rcom ele, J J Y f , J J iO conceito do desejo do analista uflo deve sGr~
cQnfundido com a co ntratransfcrência. A [ C õ 1 1 " i ! ã - ~transferênci segundo can reduz-s' ~ , l2arií,;ão,e»::"';{na situação analítica, de todos os preconceitos e~...u:Íl~J]orâncias do analista ue o levam a cncam ar,cx- flP"cIusivamente este lugar do O~ltro, do Amo da Ver-ê,iãde, do Supcrego, do objeto a, do amador do pa-
ciente e do modelo de identificação.A situação psicanalítica não está desenhada nempara a interpretação da contra transferência do ana-- - . , - - ---
76 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO LACANIANA 77
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list, llLP-aLa-Quc esta scia usada como instru--ento de cura.
PERGUNTAS E INTERVENÇÕES
- Qual é o papel da coruratransjerénciar Está
ausente? Não cumpre nenhum papel no processo
da cura?
Resposta: A respeito disto,@disse que é
provável que ~lguma coisa como a contratransfe-
rêl1cia aconteça durante o processo analítico. Mas,
o experimento psicanalítico, a maquinaria psicana-lítica da sessão não está desenhada nem para dar
conta da contra transferência, não servindo para ana-
lisá-Ia, nem para utilizá-Ia como instrutnento com
o fim de analisar o paciente. Se existe, se acontece
no processo sicana!..ftico)_ a cQ!1tratra;sferênci-ª-. é.apcnas registrada como a ignorância do analista
~~o.s princípios teóri~os que regem o dispositivo an~-
f'" 1)ltICO. O desconhecimento do sentido da função deanalisar, o qual faz com que no lugar dos princípios
o analista coloque seus preconceitos, suas opiniões,
seus valores e até seu corpo, sua figura, alterando,
obturando sua função de ocupar o lugar do sujeito-
suposto-saber e tornando-~ lu a~ do morto, que lhecorresponde ocupar.
'Nàõ quccStcja' ausente e não jogue um papel.
Assim como o instrumental psicanalítico está de-senhado, se o analista_tQllLC o e ue cons ste
seu lugar e função, pode ~rfeitamente co lt:.olar,
governar, excluir estas ignorâncias e reconceitos
J que são a forma como a contra transferência aparece
~ dentro o processo analítico. Esta posição é muito
. di ferente da que diria reud m seus arti os téc-
r nicos, quando define a contratransferência como
transferência recí roca. Estaria em desacordo com
o que afirma a Escola Anglo-Saxônica e a Escola
Argentina, que dizem que a lCOntratransferência t-é claro - é um fenômeno indesejável dentro do
funcioname;to da sessão, mas é um fenômeno
aproveitável para o processo de analisar,
- Qual é a relação entre a função paterna -conceito característico da leitura lacaniana - ea função do analista?
r'
Resposta: Podemos responder a isto segundo os
diversos momentos da teoria laeaniana. Tentarei
responder dentro do que me parece ser o momento
mais maduro. Em realidade, a função paterna, o
Nome do Pa sua fun ão o.casnadoxsimhálico,se arador da célula-mãe-fálica-crian a narcisista
;tc. não é equiparável à funçã2 do analista; A fun-
ção do analista talvez possa abrir um espaço dentro
do sujeito para que este procure alguma coisa ou
alguém que faça nele a fun çã o e registrar o nome
do pai, a metáfora paterna, a castração simbólica
ete. Mas não é o analista que ocupa esse lugar,
porque, ,se o fizer, distorcerá de uma mane~ ou
de outra suas exigências básicas - estar no lugar~ --
78 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 79
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do morto do su.'eito-sUposlo-ao-saber -, e não vai
dcsem penhá-lo.do imagin<lrio e a 9!.;<;tra.$líQ..i da' orde!!L. do sim-~ ~.-t;.ólico, e,Pbora exisllm ouuns cnmhlna..ç
veis.--Isto se complica ai,nda mais em um quadro feito {
por Lacan e que deixaremos, momentan,e~mente~ J I Y : : Jde lado. Em todo .caso, o ~rocesso a~altlt~o e:t.al~destinado a produzir castraçao no sentIdo sim bó li -
co, ou seja, autonomização do sujeito e desa!ien:- Ição do su."eito do Outro e p~r outro lado, aceltaS:ª0\\
da erda dI' .( T " cio su' ei to. Em l in-
guagem lacaniana costumamos dizer ~eitação dj.)
sujeito em deixar de ser o p!:.Elus do outro (scpa-
;ação), Lembramos que o sujeito se constituiJladialética de duas o era ôes: aliena ão-s' a' âo.
Mas os processos relacionados com a cura, por
exemplo, recebem e~o nome específico de
castração e são da ordem do si " . Pode-se
reconhecer ou admitir que esta discriminação feita
po~ evi ta ,u ma série ~e c?n (us~~s por. uc
tanto' eu como na teofla pSlcanalttlca ostc- J .
rior, castração, privação e frustração co.n~u,ndem~e c Y " , t f ; rrermanentemente e não se vê a es e~d.Bd~_de~'VIcada um dos termos. Por exemplo, os psicanali stas
norte-americanos e anglo-saxônicos falam, pcrrna- cnentemente, em frustração. A rustração é o te o
que explica tudo em mat<:ria de falta. diz
~ a frustra -ao é fr 1st 'I -ão de amor da de anda
de amor.-~tração não se aplica ao desejo, por exel1!.-
10. NãQ se aplica à ulsão c..!!~ se aplica à rea-
lidade. no sentido de ue não há frustracão da fome.~ '
- Quando Freud fala do estado de privação
em que o paciente deve ser mantido e Lacan re-fere-se a não atender às demandas, a suportar olugar do suieito-suposto-oo-sabcr, o lugar do mor-10, estão falando da mesma coisa? Qual é a dife-rença da releitura a esse respeito?
Resposta: A questão da contribuição, da dife-
rença, é uma problemática que afeta a todos e a
cada um dos conceitos lacanianos. Não é fácil dizeronde está a diferença, a novidade e a contribuição.
Há quem afirme que novidade e a diferença são
radicais e substanciais. Há quem afirme que, na
medida em que a relcitura de Freud não toma todo
o Freud e sim a um Frcud peculiar, e rejeita o
outro ou o corrige, não é impossível dizer que o
conceito írcudiano adotado não é substancialmente
diferente do lacaniano. É apenas refinado, selecio-
nado, ressaltado em seu valor cpistcrnológico den-
tro da teoria, Neste caso particular, parece-me (não
estou muito certo) que a resposta asSa p-or uma
diferenciação com~le'xa e sutil - como to~s
cOfSas de La'can - ~ riva ã a 't .çã ~ -
0ção.l ~"",vI'j. Você usou o termo privação, ~ relaciona:\~ ,IJ:estes três ter os com os famosos e s ., eal
~ L } y imag~nário e simbólico, Abreviada~1en~e, ~-
~ s . ? 0 sdéLDrdem do real, Wrustraçao e da ordem -
v r
80 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 81
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Cada um dos termos é aplicado a um i.mpulso di-
f!;fente, a um nível diferente do requerimento (de
amor, de desejo e de necessidade), jogando-se em
registro diferente -;;imbólico, imaginário e real). O
pa el fundamental d0.3-nalista ~ 0.J?$:.!ara castração,
n~re~do simbólico.
- A questão do lempo lógico na teoria laca-nlana é de qual registro?
Resposta: Tentarei simplificar a fim de fazer-me
entender (só que a teoria lacaniana não é entusiasta
da idéia de que as pessoas entendam ... Trata-se,
pois, de um desejo meu).@diz que no registro
ue se tem do discurso do Inconsciente nela qual
o sujeito é falado, uando a· arecem as formaç.ões4
g o i c scícnic, podemos.dize que.há.um instante
d'.:.."crccber, o momento de co~ncluir e temp-o para
com rccndcr.-Os três não são a mesma coisa. Aí
estão implícitos vários assuntos, por exemplo: que
não se interpreta com base emfeelings, como dizem
os ingleses; não se interpreta com base 'no que um
sente; e não se interpreta "precocemente", como
dizem os kleinianos: "Entrou, vi-o e tive a seguinte
impressão ... "
Segundo a concepção lacaniana, a "achologia"
e a "sintologia" não adiantam (acho que.", sinto
que ... ). Lacan diz que isto corrcspondc, nos me-
lhores casos, a uma atitude fenomenológica à Jas-pers, em que a proposta de entendimento e cxpli-
caçãoestá dada pela simpatia ou pela crnpatia, isto
é, pela possibilidade de colocar-se em lugar do ou-
tro e sentir o que o outro sente. É assim que com-preendemos, explicamos e interpretamos. A idéia
lacaniana é totalmente diferente. O dispositivo, com
a pro os ta de livre-associação - dizer tudo o ue
vem à mente -, dá lugar a que o discurso incons-
cie~ manifeste. Só quando o discurso do in-
consciente manifesta-se como tal, através de suas
expressões específicas, que são as formações do
inconsciente, é que se tem o chamado "material",
sem o qual não se pode trabalhar. Há o momento
de percebê~lo, na emergência dess; elemento. Há
o momento de concluir e o tempo posterior de en-tender, estabc ecen o a re e e ígaçõese conexões
simbólicas. Isto é ilustrado por Lacan por uma
espécie de romance complexo, um jogo que se faz
entre presidiários, em que cada um deve "adivi-
nhar" o número do outro. Quem adivinha o número
do outro pode ficar livre. É uma explicação bastante
complexa em que existe o momento de perceber
alguma coisa, o de entender sua relação com outra
C o de concluir e arriscar a hipótese: "Teu número
é tal", para poder obter ou não o benefício da li-
berdade. I / • . . Y
Outra implicação é ue o(§mpª para os laca-t"'1
nianos, é o tempo do inconSCIente, e dev~ ~e-1:vado em conta porque opera como uma mt(;lli2re-
taçao.
~ õ; recursos habitua' analista são o uso
do silêncio e o uso da alava ão tendo outras
táticas (o silêncio dos lacanianos cumpre o papel--
82 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 83
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de disparador da demanda, acelerador da regrcs-
são): a intervenção - a esar das c acrcrístícasbem peculiares - e a intcr rctacão-construcão
~ c(~hecemõS'Cm Freud, a2 que denomina
untua ão.O an<llista lacaniano dispõe de um outro recurso,
que é o de q'>rte ~ se~, sua interrupção ~
momento de concluir, em que o corte faz as vezes
da inter reta ão. Propicia, dito numa linguagem
não-l ac ani ana, ingênua e incorreta, a continuação
do processo de "auto-análise".
Para compreendermos isto devemos levar em
conta que o lacaniano insiste em que o centro, oprotagonista do roccss . nanic ,_é analisando
(que é o paciente), que, em rigor, analisa-se a si
~"mo, c..Qm a nrescnça ml aus6ncia ejõ" analista.Assim, o corte no momento de conCluir-faz as ~
de uma in.rrprctação, acelerando a continuação doproccsso "auto-analítico". .
- Poderia voltar à questão do gozo e do prazer?
~esposta: É um assunto complexo, que se po-
deria responder a partir da teoria pura, o que parece
não. dar certo porque foi sobre a teoria pura q uc
falei antes, e não ficou claro. Tratarcmos de res-
ponder a partir de um Frcud mais familiar. Em
Mal-estar 170 civiliza -{/O há uma assa rem onde
Frcud diz que estamos habituados a rocurar a fe-licidade é l estado. Entretanto, sabemos qUC
a ~adc é um contraste c não um estado.' O
que se percebe como felicidade é a eliminação deum sofrimento ou aquisição de certo bem ou razer.Nos dois casos, a medida é o estado anterior e osubseqüente, embora Freud fique intrigado com os
orientais, os iogues, que parecem conseguir o nir-vana permanente. Os amigos de Freud, TomasMann e Romain Rolland falavam da obtenção donirvana por meio de técnicas orientais. Isto seriaum estado de felicidade. Apesar da multiplicaçãode academias de ioga, parece que não o consegui-mos... Procuramos um estado de felicidade mas,no entanto, sabemos que a felicidade são momen-
tos, medindo-se por contrastes. Assim, talvez secompreenda melhor o anseio de ozo e a obten ão6'de prazer, que é o diferencial que se dá entre ogozo procura o, e 1m IVO, rmanente, COl1klud_en-ft{te, e uma certa dose que se obteve e que avaliamosdepois de tê-Ia obtido. E a famosa história do queocorre após o orgasmo. Humoristicamente, o sujeito"pós-orgástico" perguntaria: "Ah ... era isto? F'õi
bom ..."
. - Solicitação de esclarecimento quanto ao pro-blema da articulação entre o desejo do analisandoe a posição do analista de alguma forma relacio-nada com o desejo de morte ou de morte, do desejo.
Resposta: Parece-me que o esejo do analisando,
dentro das .limitações da exposiçao, est mais oumenos claro. ~ um de~ que insiste na cadeia-significante, gerando demandas de ob'etos - de-
84 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 85
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mandas que podem ser qualificadas diferentemente,
segundo o momento teórico tratado - de amorde identificação, de reconh' . Q..CJc: - ,
-O \ànalista>" eve funcionar no lu rar do morto,
suporte de tr ansfer ênc ias ,' oferecendo-o como ob-jeto de transferência, suporte do sujeito-sup.n&t~a-
ber c apenas suporte), não odendo 's', r en-
quanto desejar significar demandar, por sua vez,
acionar seu desejo em busca das mesmas coisas.
Os la~ani,anos f~lam de um tdesejo do an!!lsta't-
que nao e o mesmo que o desejo de ser analista,
que é um problema de vocação profissional, e cabe
discutir se é o mesmo que desejo dos analistas. namedida em que os Iacanianos insistem que há rnui-
tos analistas que não compreendem como a coisa
funciona, Seus desejos não são o desejo do analista.
São seus próprios desejos, da forma como entendeo analisando. O desc'o do analist' é
,gm lugar estrutural, igual c com o mesmo es rauuodo sujeito-su oslo-ao-saber. Não é o desejo de ser
analista ou o desejo dos analistas ... Em que consisteo desejo do analista'! De forma um tanto ingênua,
incorreta, podemos dizer que <lo desejo de analisar,
p.,.';ra e exclusivamente. Q desejo de analisar é o
úDico desejo permitido ao psicanalista, ~Ie se de-
cornpôc nas questões de identificação não assumir
~gar de l ' J ( ; ' ; T do Ego, não oferece;-se com~ al-
guém ~e amará e será amado. Pode-se dizer que
este desejo, que não deseja nada, ocupando o lugarue lhe corres onde, é um desejo de morte, en-
q~nto renúncia de toda cxpc . (s de reali-
zação de "ser" ou "ter" em termos freudiano§.
-Ea cura?
Resposta: Sabemos q~e a~é _um processointerminável, o que não uU-d'r c ql c ão ss ia .eventualmente, sus 'nso. liás , deve ncccssaria-
mente ser suspenso, o quc não quer dizer termi-
nado, pois é por definição um proccsso intcrminá-
vel. Em termos frcudianos, o que leva à repetição
a serviço do rincír.io de iné da o l 'ão de
morte, à re eti ão a servi o do rincí io do
que constitui em rigor a característica do- insistir na demanda - é o motor do si uismo
Ç , que clinicamentc reconhecemos como transfcrên- r/cia. Curar-se n: . nifica c 'n uir isto. Significa
que isto vai continuar acontecendo, vai sc continuar
procurando e construindo imaginários fantasmáÍi-
cos ue "satisfazem" o desejo. A cura consiste em
que este rocesso ad uira a ca"--acidade de con-
tinuar fazendo-se fluidamente, ue o rocesso nãos~ctcnha, rctificando-se constantementc a artir
di) simbólico, atribuindo-lhe sua condição de irna-
~rit\ de impossível, irrealizável e irrealizado.
Produz-se. assim. toda uma transformaçao da eco-
nomia psíquica que prcscinde de seus sintomas,
atuaçôes e tudo o que oderíamos chamar de" 0-
eriça", dando um novo equilíbrio ao psiquismo,
que não é eterno nem invariávcl,_llodendo 'ê mqualquer momcnto rcgreclir novamente. Por isto
Freud dizia quc não há vacina para a~urose.
86 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 87
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A idéia lacaniana de cura coincide com certa
idéia freudiana. Não é a idéia de atingir um estado
último, permanente e invariável. Não é a idéia de
uma perfeição. Em certo 'sentido, é justamente o
contrário. É a idéia de aprender a lidar com o de-sejo. Deix á-lo falar e conhecê-Io; decifrar os Ia n-
tasma~possibilitarque o processo continue acon-
t~cendo liv~~e..! não pretenda a "realizaçãcr
A defini âo lacaniana de cura fo e deliberada-' - ~ ~ - - - - - - - - ~ - - - - - - - - - ~e túÕo gue~ con~a.J.1ormatiza~o. Ou
seja; na versão lacaniana de cura não há nenhuma
norma de como o su'eito deve ser~mniricamente
e is de estar curê.QQ. Não há nenhuma referênciaa tra os de ersonalidade,!.. comportamen ~ so-
ciais, a llorm}s morais etc. A definiçãq está estri-
tamente relacionada com a definição que o laca-
nismo faz de com~ona o sujeito.
rJ
{ Para concluir, digamos ~ como em toda teoria
r - j sistemática, na obra de --3caw a iransferênci~
~ efine or re a!;fu --..ptros t ês conceitos funda-
/ J ' { u ' ( Í l mentais da disci Una: ulsão conscie te,. e e-q }/JfpetIção. -
~~; ! ulsão, como seu nome indica, ggera ritrni-
r r c<lmente, q!ler dizer, a pulsão pnlsa Em cada pul-
c-csação, a Pulsão emite um impulso que vai em busca
do seu objeto (alguma parte do corpo erógeno que
ficou "desprendida" dela). Pretende contorná-lo pa-
ra se descarregar finalmente na própria zona eró -gena da qual partiu, fechando assim um círculo
que cIausura transitoriamente sua solução de con-
tinuidade.
O cam o das ulsões é denominado o Real e,
segundo ca, sua característica básica é de ser _dim ossívcl de se realizar. Lacan toma de Aristó- \Ju.!'reles duas modalidade: yché (causalidade con-
tingcntc, imprevisível e dcsordcnada) elÀutoma~~(cauSalidade regular, previsível e ordenada).
A Pulsão pulsa segundo tyché quando os roces-
sos, organizados segundo automaton, apresentam
uma fenda, béance). Na sua rocura de realização
no objeto, a Pulsão s6 encontra a cadeia siêli-
ficante, composta flelas marcas da ausência do
objeto-,-
Este encontro é, em rigor, um desencontro, ouum encontro falido, que gera deslizamentos na ca-
deia significante (melonímia) ue resultam em s' -
tomas e formaçôes do inconsciente (metáforas).
A reconstrução interpretativa desse processo de-
cifra uma cena Ian tasrnática na qual a Pulsão se
pscudo-rcalizou como desejo e este foi exprimido
numa Demanda. Por isso é, portanto, esse processo
cstruturado como uma linguagem, cuja realidadeest~ constituída por essas substituições significan-
tcs, animadas pelo Desejo e montadas como Fan-
tasmas. A partir deles é gue se pode situar °sill.çitocorno ocupando uma posiSão na cstrutura por r,?-
lacão aos objetos e ao Campo do Outro.
Talvez seja viável reconhecer neste andamento . ./
jl!.Qs r()rm~ dej-çpetiÇill): a cio Mesmo (automaton)" . 1 J 'em cuja falha emerge o Diferente (tyché). Segundo~o dito, então, a transferência se define como' a
posta em ato da Realidade do Inconsciente", sob
88 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
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a forma de uma repetição complexa qu~ticllla
as duas modalídades mencionadas.
(
O Real, como registro, também é dcfinido como
"o ue scm re vo ta a seu ugar , fórmula de difícil
interpretação que talvez deva-;;: entendida assi~:
<[cf~i~os a - a pulsação instantânea são i;;;edia.1a.ID.CIk-
t~recomJX)stos pelos m~ca!Jismos e instâncias taisC~) o "Ego, que restituem a ordem mo -
--- m••.wte alterada:-Pareceria que se pode atribuir a
essas operações a responsabilidade pelo efeito rc-
sistencial da transferência. O que resiste é a coe-
rência do discurso.
A CONCEPÇÃOINST ITUCIONAL
TENTAREMOS falar hoje sobre as con-
tribuições da corrente institucionalista ao tema da
transferência. Anteriormente tratamos a transferên-
cia em Freud, Mclanic Klcin c Lacan, o que nãofoi simples nem fácil. Nesta oportunidade, compli-
ca-se um pouco mais porque falaremos de um saber
que-não é tão difundido como a psicanálise. Sus-
peito que muitos tenham ouvido falar pouco ou
nada a respeito.Para abordar as contribuições do l nstitucionalis-
mo, devemos caracterizar o Movimento Institucio-
nalista e o conceito de transferência que suas di-versas correntes manejam. O assunto torna-se com-
plexo porque cstarnos acostumados a tratar proble-
mas próprios de uma disciplina em seus diferentes
enfoques. O institucionalismo é um MOVIME TO....-- .J
e não uma disci liIsto implica que não é lima ciência, não é um
saber instituído, clássico, senão um conjunto de sa-
beres e de mod d' crvir uc oderíamos ua-li icar d.f...Í11tcrdiscip-linarcs, transdisciplinares e ex-
tradisci linarcs.
90 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 91
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I J ! ; ~ ' / A última denominação btradisciplinaresb signi-
tf~l-'flca que o movimento institucionalista inte ra em
sua parafernália teórica e técn'~a o saber e o a ir
dos coletivos, dosliSWfrios, de gr~lpOS e de comu-
nidades ue produzem por srnlesmos o conheci-!!}ento, sem apelarem aos meios acadêmicos tradi-
0)nais1 convencionais ou enquadráveis nas cate-
I gorias científicas consagradas, o que se chama o
saber e o ~ber-razer popular'r,
Inevitavelmente, para lalar=da contribuicão do
Movimento Institucionalista ao tema da tran;ferên-
cia, devemos abordá- Io em duas vertentes: a GÊ-
NESE IIlSTÓRICO-SOCIAL, como se origin~transcurso da vida das sociedades, e a GÊNES ~
~ONCElTUAL, isto é, como se....QLigin GlNtllilJl.Q
fontes teóricas e saberes prévios que utilizou arac2nstituir-se, - - ---
Podemos dizer que o Movimento Institucionalis-
ta, no sentido de sua gênese histórico-social, inclui
em seu perímetro e auto-reconhecimento as inicia-
tivas históricas, sociais, coletivas, em que núcleosde pessoas e grupos têm tentado reger-se por si
mesmos, dando sua própria definição dos proble-
mas (auto-análise), gcrcnciando e realizando suas
próprias soluções (autogestão), Nã;-há tantos an-
tecedentes históricos como se poderia pensar. Al-
guns de vocês, seguramente, não desconhecem o
"jA.{exemplo máximo, que é o movimento auto estiv
~. acontecido durante a guerra civil espanhola e a irn-~ plantaça~), .~a ,R,e úblic~ espanhola, ~or volta e
~1.?J , 1926. Nesse período, boa parte da naçao espanhola,
sem inter OSI ao do Estado central se deu suas
ró rias estruturas 120líticas econômicas e sociai ,
separando-se da Monarquia espanhola rcgida pelo
Estado e construindo uma República autônoma,J.
sem Estado isto é sem exército rofissional sem
I rcia e sem nenhuma das Instituições tradicionais
ue o inte ram. Conseguiu autogerir-se, auto-orga-
nizar-se e conduzir sua vida durante quase três~ -
anos, suportando um estado de' assédio e guerra
civil permanente. Finalmente, ª experiência termi-
nou derrotada. Mas não foi fácil consegui-lo, sendo
preciso uma aliança entre o poder central es anhol
e a colabora ao da Alemanha Nazista,_12arcialmente
da União Soviética, contribuições inglesas, norte-
americanas ... Enfim, foi uma verdadeira cons-
pi ração internacional.
O::!ros exemplos do tipo são os processosw I . P 'Cautogestivos da Arrélia Albân'a ugosláaia bas-r~ltante recentes, e algumas experiências launc-a roe-. anas, que ainda não fo~xaustL.vamcntc estu-
'ãadãs: comoQ;quilombos aqui no Brasil ou o mo-
< imcnto dt)s chamados "coml1o('[Q," ~~
Enfim, todos esses movimentos sem governo cons-
tituído e com um funcionamento igualitário, fra-
terno, com lideranças absolutamente surgidas do
seio do coletivo, conseguiram seus objetivos, ainda
que de maneira transitória, mas real. Pequenas ini-
ciativas desse tipo, mut irões , comunidades de base
etc. são experiência habitual no Brasil.
A gênese conceitual do Movimento Institucio-
nalista recebe apertes de todas as áreas do conhe-
92 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 93
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cimento, sendo alguns deles rovenientes de cam-
pos científicos específicos. O '~slill!cionalisma n.!:!.:
tre-se da psicanálise, da sociologia científica, daantropologia científ ..-da-li.f.lgiiislica,-.da scmiáticae ate da biologia moIccular e outros campos do
conhecimento propriamente científico. O institucio-
nalismo nutre-se ainda do saber olítico iatuo.daciência como-dâ ~ência 120líticª dos c~letivosmili~antes, do aE.!.ístico, do saber incluído na prática
e~tética, pictórica, csc ult ó rica, poética, literária etc.
Nutre-se do pensamento filosófico e do mítico, na--- .------,medida em ue muitos institucionalistas dão valor
especial ao pensamento primitivo--ºos selva Tens.
Adotam estes recursos téôricos, aplicando-os sem
reformulação ou crítica prévia às doutrinas institu-cionalistas como tais
O 'nstitucionalismo como seu próprio nome in-
~
J;fl dica, é um movimento, uma eSl2écie de frent em
Z/-
onstante transformação, estando com osto or
f i r O muitas correntes e escolas .su~ apresentam aI uns
tsaços em comum. Mencionaremos o traço da rei-
vindicação daãiÚogest50 (como meio e fim ao mes-
mo tem d a vida )ntegral dos coletivos. Exi~te
também urna série de diferenças entre as Escolas
e Correntes, sendo difícil resumi-Ias em nossa ex-
posição, pois há um elevado número e o nosso
objetivo é ver em que contribuem para o tema da
transferência. Em todo caso, tentarei, numa brevís-sima síntese, dar o panorama das correntes insti-
tucionalistas atuais. Eu as dividiria em originárias
~õ"ntemporâi1eai)
As ngmana. são o que se chama psicotera ias
i~stT~uci~nais e psicopedagogias ou eda >ogias ins-Yd -utucíonaís,
A ,'icotera ia instituciona é um movimento que
se pode considerar fundante desta corrente. Resu-
mindo-a: começou por uma observação feita pelos
operadores de hospitais psiquiátricos, especialmente
um enfermeiro de origem basco-espanhola que to-
mou parte da República espanhola durante a guerra.
Constatou-se que os internos de uma instituição
psiquiátrica produziam espontaneamente uma série
de medidas de auto-organização, de produtos cul-
turais tendentes a criar uma es -cie de sociedade
própria, sui generis. Os internos, submetidos a to-
das as normas estatutárias e técnicas da organiza-
ção, geravam uma espécie de eultura de resistência,
autônoma e independente daquela implantada pelas
normas institucionais. Observou-se que esta cultura
de resistência resultou mais terapêutica do que qual-
quer manobra da arafernália tera êutica do esta-
belecimento. Constatou-se, por exemplo, que r-
mitindo aos acientes administrar o es aço da Qr-
ganização, conseguiam espontaneamente chegar a
um acordo sobre a utilizaçã~ do tempo, o progran;..a
diário de ativjdades~Jermitiam-se-Ihes reunir-se
para discutir publicamente suas opiniões sobre di-
retivas médico-administrativas, davam-se-lhes oca-
sião para unir-se, organizar-se segundo suas pró-
prias afinidades, permitiarn-sc-lhes manifestações
artísticas, como pintura, escultura, música, dança,respeitando suas preferências, momentos c formas
94 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
de Iaz ê- lo . .. Em última instância, permitiam-se-lhes
A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 95
C ? . ..
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ll"IDasérie de manobras dcsunadas li transformar °estabelecimento no qual estavam por razões alheias
à -;;ua vontade em uma comunidade rÓ ria auto-
an;lisada, auto ~jada, autogerida, aula-adminis-
trada. Constatava-se que a porcentagem de melho-~ " ' <t O
ria, de curas e, finalmente, de altas aumentava con-
sideravelmente, chegando a minimizar e fazer pres-
cindível °emprego de todos os recursos oficiais
deç'tratamento, como eletrochoq~les, IDSUIDa, Iso~a-
mentos, camisas-de-força até medi.Çjlmentos e J! i-tÇI.\lI2·s fo rmais,
Houve, neste sentido, dois grandes ensaios, um
iniciado na Inglaterra, que se denominou Correnteda Psicoterapia nstitucional Cõfual1l afia ng
e outra desenvolvida na França, que se denominou
~?icoterapia Instituciona . Q~o os psicotcrapeu-
tas e psicanalistas observaram esse processo, que
foi um fenômeno de fato que se foi implantando
e realizando-se, deu resultado - começaram a pen-
sar nele, a tratar de tcorizar sobre quais seriam os
mecanismos responsáveis pelos rendimentos favo-ráveis. Foi um trabalho feito em conjunto por dis-
tintas disciplinas. Mas, na participação corresp.sm-dente à sicanális ta.aennui r.a-d.' 'G-f.l.t~
""n/) fenômeno, partiu-se das formulaçôes de Freud em
f $0~s:la obra chamada social (como em Psicologia das
1 1 ' v t ' Massas e Análise do Ego), on~e explica ue uma~()/( l}J~dtidão, uma ~assa,.....!:!!.:!!-.gruo .forma-s~ orque
os sujeitos ue Integram os c ct ve "_proJeJa ou
constituem no líder do movimento seu Ideal de E o
de Ego, colocado no con utor, ame a todos por
iguaC st o esta elece uma cornposiçao nã'"CSi"rütura
lTbidi~~1ue faz com que cada sujeito identificado
com seu líder, enquanto Ideal de Ego, estabeleça
também uma identificação horizontal de um indi-
víduo a outro. Assim, forma-se uma espécie de
organismo psíquico, espécie de sujeito ampliajíoque tem características prÓprias a qualquer sujeito
isolado e outras extraordinárias, muito .difíceis de
se ver em um sujeito In IVI ual,.c amado "normal".
Algumas dessas características são altamente úteis
e benéficas. Outras são indesejáveis. Pode-se dizer, \ .•J('
em todo caso, que têm havido fenômenos de if ,j;J~·R!\NSFERENCíl.. não "bipessoal" e sim COLET r- ~~tyO"
v!\. É.verdade que tal transferência mobiliza os~
mesmos mecanismos que os que o sujeito pode
ter, por exemplo, em esta os e I nose ou ê ' " " : " i-
~u ainda dentro de uma situação psicanaIít!gJ.
Mas ela se IDscreve no dispositivo coletivo e ad-
quire características que não são encontradas na
situaçao transferencial clá~ Entre as potcncia-
lidadcs positivas está a de que a identidade comum
adquirida pela transferência coletiva dará um pe-
culiar sentimento de poder à massa, ~ma capaci-
dade ele reagir em consenso e em harmônico acor.:
d õ , uma particular disposição para a solidariedade,
p'ãrãSentimentos nobresdcfraternid~ comu-
nhãõ, uma especial se'nsação âe corâgem e algumas
m"a-nifestações de altruísmo e renúncia ao egoísmo.
que---cãfãCiC!2za habitua~ente os sujeitos isolado.
96 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 97
Claro que a assa acrescenta também algumas ca- perfeitamente ser depositário das mesmas transfe-
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racterísticas negativas como, por eXemRI(~ certa di-
minuição da capacidade de funcionar racionalmcn-
t~, tendência à explosividade, à impulsividade, di-
~~nuiçao do juízo crítico, aceitando pouco discr]-
rniriadamcntc as sugestões vindas do líder certa
tCiidência a reagir a formas sons cores e não;o
cOOteúdo conceitual do discurso que lhe é enca-minhado.
A maioria dos psicanalistas e psicoterapcutas in-
teressados em trabalhar com 'm os arte da for-
mulação freudiana da psicologia das massas. Boa
parte destes psicanalistas e psicoterapeutaslnstitu-
cionais trabalharam previamente com grupos, seja
fora seja dentro das organizações. Observando o
fenômeno de colctivização espontânea, todos tra-
taram de entendê-Io por meio da aplicação do
1_11 ' esqu~ma freudiano de Psicologia das Massas e~.' Análise do Ego. Descreveram e ' a roveitar
~.) o ue se chama ransferência institucionaI.
~ ~ havia colocado as bases para se ente'!-fi' der o fenomeno quando explica que Das massas
chamadas estáveis (diferentemente das efêmeraS),
massas como a Igreja e o Exército, a liderança
poderia estar colocada em um indivíduo ou sujeito
c:.0ncreto como o chefe da Igreja, o Papa,-.Q!Lno
chefe ou general do Exército. Mas poderia também
estar colocada em. uma entidade abstrata, Pátria,bandeira, Ideal etc.
Esta liderança não ocupada por nenhum indiví-
duo-sujeito concreto constituía um lugar que podia
rências-resistências psíquicas e rendimentos que
ocorriam nas massas artificiais ou naturais quando
esse lugar era ocupado por um chefe real.
Com base nisso descobriu-se que os pacientes
de uma or 'aniza ão si ui~ítrica e outras estabele-
ciam múltiplas transferências laterais com seus
iguais, com a equipe de enfermagem, de médicos,
a equipe administrativa, com as chefias e também
com a Organização como um todo: nao a enas co-
mo estabelecimento, figura arquitetônica, não ar.e-
nas com lugares e espaços onde se desenvolviam
sl~as atividades, se~ã~I~1bém com a ideologia da
Organiz' ':-o..J.!u seja, o Iddrio, a carta de princí-
pios, o sentido que a Organização se dava para
existir, seu conceito dos serviços que prestava e
do objeto-usuário ao qual encaminhava seu serviço.
Em outras palavras, os integrantes internos de
uma Organização estabeleciam transkrências com
todas as características que estudamos, com o con-
ceito de loucura, de psicose, que possuía a Orga-
nlzaçao, e com toda a parafernália ue arbitrava
para dar conta deste ob·eto. Isto não é mais do
que a aplicação das idéias Ircudianas da Psicologia
das Massas no campo de um estabelecimento psi-
quiátrico concreto.
Vimos nas aulas anteriores, ao abordarmos os
termos freudianos clássicos, que a transferência di-
vidia-se em positiva e negativa. A positiva por
sua vez, dividia-se em amistosa e erótica, scnd
que a erótica e a negativa funcionavam como
98 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 99
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sistência, entendida no sentido em que predominava
a tentativa imaginária de repetição do mesmo. Na
transferência amistosa existia a possibilidade de re-
petição diferenciante de experiências aconiccidas
antigamente, sendo que tal repetição poderia serutilizada a serviço do trabalho de tomada de cons-
ciência da tentativa de repetição do igual e do im-
pulso para a sua modificação ou transformação. Por
isso, chamamos a [transferência amist(9 o "motor
da cura". na qual se repete o.igJJ' . diJ:crell.1C.
enquanto na transferência eró tica e ne ativa rc-
dominava a tentativa de rep'etiçãQ.. cJ.u.Jgual, n ã
utilizável, ela qual tornava-se resistência e on.lll!,;-.seao exercício do procedi~cnto tcrapêutico.
Ao lcm brarrnos esta divisão, podemos en tender
melhor o que os institucionalistas encontraram no
fenômeno da transferência institucional ou organi-
zacional. Todas as características da transferência
freudiana que acabamos de lembrar ocorriam tam-
bém com a institucional. Há uma tentativa de pe-
tição do igual que funcionava como resistência (lro-
piciada, r,,,;;recida pelas características autoritárias,
fechadas, preestabelccidas, dominantes, mistifica-
doras ou cxploratórias das organizaçôcs psiquiátri-
cas que se estabelecia entre a transferência irisliiu-
ciona dos usuários, entendida como resistência c a,contratransfcrência institucional conservadora de toda
a Organização, seus agentes, sua ideologia etc:~
es~ie de acto ara a doensa: de tal.mancin q u . c
os usuários repetiam sua patologia rnvocados, con-.v()Cados pela Organiza ão. - - -- -
E a organização repetia, na medida em que en-
contrava nos usuários uma transferência erótico-
dependente ou negativa, ambas resistenciais, esta-
belecendo um círculo vicioso, espécie de baluarte
que conhecemos com o nome de IIOSPlTALlSMO.
Um de seus" ,. s é um ti o de wtro<Tel1la e
doença técnica gerada pela Organi/açào Il<l qu~ ()
P'lciente responde com manifestaçl)es doentias uc
surgem da imposição de respeitar os disposi~vos
ornanizacionais que as desperlamn1 c suscitaram.b __ - --
Em conseqüência, o círculo vicioso conclui-uuma
cronificação da atolo Tia dos usuá ios e um, pcr-
p~tuaçüo da estrutura autoritária e repressora JJ(~
or<Tanizaçüo.Descobriu-se, ao contrário, que, quando se per:.
mitia aos usuários assumirem ativamente o geren-
ciamento de sua existência dentro da Organização,
a produção de sua vida artística, esportiva, sexual,
sua particip aç ão na adrninistraçâo dos bens mate-
riais, do tempo, espaço ctc., formava-se um pro-
cesso de potenciaçüo da transfe'rê;Zia positiva amis-
tosa, tanto na íorrna paralela - entfc os usuános
.: c~o en~re os integra~t~s do e '\I { /b lí .\I I~ lI e p l': .~ )1
entre ~\ equipe e os usua~~. ESla transferência
;\mistosa. coletiva, organi/.acional, p-otenciada pelos
d~ ositivos de autogestf;o, tornava--;c altamenteJe-1
rapêutica, tanto para pacientes quanto para tcra-= ---eutas.Eis o que deu origem à )SICOlerapTâ institucio-
~tan~J.!....SQ..munitária ing esa como a ranccsa.Posteriormente estes achados foram transportado.
100 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
para a pedagogia, descobrindo-se que nas Organi-
A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 101
outra sene de rendimentos rodutivos.
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zaçõcs e estabelecimentos de ensino acontecia algo
similar. 6 "patologia" política, econÔmica, idcoló-gica dos organismos de ensino tendia a produzir
w > 1 uma ~ltolo~ia" correspondente d~ ;;assa de aprcn-
~ ~ dizes, ile alunos. Ambas potcncravam-sc mutua-
~;jJ -iimenié~ reforçavam-se mutuamente, tendendo a cro-r~ nificar os vícios e lim itações do ensinar e do aprcn-
lYl'~der na medida em que, obviamente, estavam em
r jogo neste processo as velhas transferências eróticas
e hostis e as defesas contra as mesmas, que con-
stituíam o substrato libidinal de todos os vícios pc-
dagógicos, tais como a passividade, o cnciclopcdi-
smo, a subserviência etc. Utilizando-se o mesmo
procedimento, permitindo-se a participação ativa do
usuário aprendiz na Organização de~ prática êm
sua gestão e planejamento, fomentavam-se, propi-
ciavam-se transferências amistosas, e os rendimZn-
t~)S no processo de ensino-aprendizagem mu.Lli.pli-
cavam-se surpreendentemente.Tudo gira em torno d-"a-'r-id-e~~i"'-a-f-u-n-d-am-e-n-ta"Je que
a transf' '"'ncia uncionava de forma [tIZ' , ;-
~te estabelecia-se entre ~ídu()s e gJu-
os . mCfetos. senão entre o todo coletivo, incluin-
do a e ui e técnica e () que poderíamos chama("a
ideologia da Organização ue era tomada C(;mO
objeto - por vezes como objeto Ideal de Ego,
sádico, inatingível, despÓtico, ou como figura idcn-
tificatória ue 'erava as condutas que pretendia rc-
e '_como ~l?ém de um superego permissivo,
democrático, ero,iÔvcl, am áxcl, ue 11 ava
sclarecemos por último que, como dizia
Sá uma série de resultados aparentemente
terapêuticos que são roduto da utiliza~ão da trans-
ferência. Se lembrarmos que a psicanálise era a
única disciplina capaz de manejar a transferênciaamistosa não só para eliminar sintomas "utilizando"
a transferência, mas também empregando-a para
resolver, dissolver, conscientizar todas as repetições
em jogo, poderia existir a dúvida de que nesta psi-
coterapia institucional o que se faz em realidade é
um uso benévolo da transferência, uso apenas amo-
roso, fraterno, o qual pode não gerar melhores efei-
tos que a união entre a transferência e a contratrans-lcrôncia hostil, que só pode dar hostilidade.
Entretanto, o que ercebemos na sicoterapia
institucion<!J} é t ; ; ; a ~s ' c r , ' " ' ' , ' stituciona co-
letiva que se estabelece, cujo uso 'era efeitos te-
raptuticos, não são a enas efeitos transitÓr" s sin-
/ tomáticos ou supressivos. Talpsicoterapia institu-
~ sional cria dispositivos de auto-análise da Organi-
zação, alimentados pela transferência amistosa, que~ão apenas sintomáticos ou su ressivos ' .irn
dw resultados estáveis do empre 'o da transferência
ara sua at.:!..0~rreensão e autodissolução, assim
como na produção "sublim ató ria " de lIma~vi-
vênci~p'rodutiva t 'Ipêutica.Referi-me às tendências originárias das várias
correntes. Direi em poucas palavras algo sobre
as tendências atuais e contemporâneas. Faremosum certo sacrifício, deixando de mencionar rnui-
A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 103
. ~W,102 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
tas e referindo-nos, restringindo-nos a umas poucas.
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. sico\.Qgia l,nstituc,ion',I. de ~IIt,~~t~oJacques de ongem Inglesa, "::'O!11grclm!c II1I1UenCld7klci niana e biouiana. Imagino que muitos a co-
~hecem porque teve grande ingerência sobre algu-
mas tendências ar rcntinas de Psicologia Insti tucio-
na l, como a 'Ble Ter nl.i!is conhecida. e a de
U\loa menos conhecida, mas também E!iE ! ! iliUW /
~~a tendência importante é a chamada(sóci; ~~
Psicanálise~de Gerard~É uma cO~1bi~açãoVde uma concepção marxIsta das Or(Tanl'/,a 'oes e
~ma concepção freudiana dasubjetividade nas clas-
ses ins titucionais, propiciando um método de aná-
lise da vida lib idinal dos coletivos, sua interven~ío
e intcr reta~üo assim como de uma militância ima,;-
ncntc Ú patologia e ~ cUGU.nst'tucional.
-Outra corrente que já tem sua histó ria no Brasil
é a chamada ' ntílise InstitllcÍ()f/u!J o criador do
termo foi Fólix uattan que hoje encabeça uma
outra tendência, criada por ele posteriormente. En-
tre os continuadores desse intuito' . ,', de Guauar i
estão George~lpassa1We René Loura, .i1,utor do
livro Análise Insritucional. que _é~I~ tentativa}le
compreender as Organil.a õcs e o psiquismo nas
Organi zações , e de propiciar intervenç.Ôes que ge-
rem um a tendê ncia au I.)-'lI1aIítica cQ..leJi ' pcrrna-
~ente e ;-utogestiva entre os inte~ran~s l~CS-
mas. Sua inspiração é também psicanalítica e ma-
tZrialista-histórica. incluindo muitas outras contri-
buicôcs, por exemplo, da rilosofia de Hcgcl, da
Sociologia das Organivaçôcs, da Antropologia, da
Não estou seguro de que esta solução seja a mais
justa.
Entre as tendências contemporâneas ·do lnstitu-
n:~cionalismo, uma das mais interessantes é a /psic,9-
F.?lo(Tia Social de (0hon Rivicr;) que se origina na
v~rgentina e resulta da~mnuência de Escohs ror-
te-americanas como a de Psicologia dos e u~11oS
gru os d Lewil a "Teoria do Campo" ~ecebendo
também inf lu ências da psicanálise k\ciniana e_de
cer to Mate-;:T;';lismo Histó rico . Esta é uma teoria da
sllbjetiviJãZí'C socTtl. Um dos seus principais instru-
mentos de análise, operação e intervenção é () cha-
mado \Grupo Operativ3 que, infelií',mente, anda
muito dcscaractcrizado. Tenho tido oportunidade de
~ ver que, em toda a América Latina e ainda na Eu-
./ ropa, chama-se hoje Grupo Operativo a qualquer
uo fr coisa feita em grupo, o que é inteiramente inc~to
~ (;o--indesejável. A teoria e técnica do urupo pera-
tíVõ como parte da Psicologia Social de Pichou
Rivicrc, é ill]1a conccp .ão e um proccdimcntoul-
tarncntc sofisticado e es ccífico. Muitas pessoas[uc lnZem praticar Grupo Operativo não apenas
não o fazem, como não têm a menor idéia de que
seu criador foi Pichou Rivicrc. Sua teoria pode ser
considerada como uma das mais importantes cor-
rentes do Institucionalismo atual. Não tenho opor-
tunidade de detalhar suas características aqui; é cla-
ro quc a resenta al<Tuns as ectos te<Íricos, técnic()~
e ideológicos qu cs tionáv cis, mas tamhém méri~osqüe ainda não foram devidaJ:!lÇ e~()xados. Ou-< --
1,~ LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 105
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~~em i6 tica. O concei t0.. .5 .le cont~atra~sf eiêI~c ·aL< L.! :s:.
f f c t ; form ulado por eles com o lm plrc açao , m ais am plg"~~olid eterm inada e coletiva.{t" o Par a conc luir, gostaria de apenas registrar a ex is-
tênc ia de um a corr ente institucionalista ul tramodc r-na ou pôs- m odern a m uito com lex a, rica e in te-ressante, que é ch am ada cs uizoanáli se cujos cri a-dores e cultivadorcs sã o o filósofo Gillcs c1 euze Félix uall ar i que abandonaram a Análi se Ins-
tituc ional para rod~lzire01 esta n ov a d isc i lin~ N ãom e atrevo a falar sobre a Esq uizo análisc aqui porse r um a concepção alt am ente com pl exa e c u jos in -
tuitos são sim il ares e dif erentes dos outros. Ou seja,pr oduzir um a corr en te de análi se m út ua e c om par -
o tilh ada em todos os co letivos de m odo qu e leve àauto-organizaçã o, auiodcc isão , autogestão da vida
socia l. Contu do, esta csquizo análisc ~s
ue um a corr en te instituc ionalis ta. Chega a ser m e-sm o um a visã o de m undo, ins iradora de nov s
~odos de viver.
Todas as tendências contem porâneas levam emcOI~· (l c .ra ç.ã .o ou m enor ra u, a te( )ria
psicanal ít ic a do suje ito psí quico, a existência qo
Id. inconsc iente e o fenôm eno de " ôr em ato" de,)f;1J ôr em m ovim ento a realid ad e do inconsc iente ,~i- que é a vran sfc rênciii JT ~(~r;;-on l~ce;;-~-
~ fc rência ue o era cóm o resistência c a trans íc -r rência q~le pode se r utilizada a serviço do auto-
con icc im cnto, do crescimento e da cura odasreconh ecem (j ,! ! e.J ! transferência ..nã ) Cde..sencadea -
da ex cl~lm entc por um interl ocuto r pontu al e
corpÓrco, podendo efe t uar-se em grandes con j un tos~ociais. Esse s conjuntos soc iais estabelec em -na
~m as pec tos abstr ;tos com o a ideo logia , os valo -res, as organizaçôes, o es tabelec im ento, ( ) Ilu xo gra-
m a, o organograrna ctc.eleuze e Guaiiãri ))talvez se' am exce 'ão or te- ,/
rem pr oduzid o, na , m inha o~in i.ão , um conceit (~ ql ~e~,é. de certa m aneIr a,. subst! tutlvo da: tra ns.f~ren c ra ~\Li(.,instituc ional ou am Irada. E o conceito da IRANS - ~~VERSAI.ID ADE N ão é fá c il ex pl icá- lo . Farei um a
tím id a tentativa . Consi.stc em po stu lar a exis tên.fia
de, um a ca ac idade de transf erência em cada di~-
posi tivo ou ag enc iam ento so cial que ta lvez possa- ter seu antecedenT ê íCOnco na trans e~êncra am is-tosa , as sim ch am ada por reud S ignific a U .! l1 re-to rn o da d iferen 'a ~ do ue defin em com o O c o .
s~:;;. N ão é um desejo narc isíst ico, cdip iano, rcpc-
titivo , insisten te, m as um dese jo de pro dução, deli berd ade, de novidade, ue se ori gin a do qu e 0-
deria ser a tra nsf erência coletiva perm an ente de sin -
gulari dades pré-subje tivas , que ~lt ravessa tod( ; oC ã i i i P õ socia e e responsável pelas T ra ndes tr a s-
rorm açôes h i~tô ricas, revolu c ionárias c ientí fi cas,
art ísti cas crc.A pro posta da esquizoanáli se consiste em poder
detec tar a existência da transversa Id a e e ro 'c', r
se u dev ir e seu desenvolvim ento em todo c ll,a l-qu er espa ço da v id a social, natL .! ! lDe técn ic a.
Dad as as lim itac ôcs da exposição , pre tendi cx-pl ic ar-lh cs as contribuiçôes do Movim ento l nstitu-c ionali sta, a tco riz ac âo e o m anejo técn ic o ou táti co
106 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 107
da transferência, bem como a contribuiçiio do con-
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ceito e das manobras cl<Íssicas da translcrõncia nosMovi me mos Inst iluciona IisIas.
I'LRC;UNTJ\S L INTLRVLNÇ()LS
metapsicologia da relação analítica. Isto não pre-
iénde descrever nenhum comportamento ancdótico,
crnpírico, Icnornênico ou "transfcrcncial manifesto"
do paciente. Pretende conceitualizar um dispositivo'
estru tmal do psiquísmc pcl qllal O "erro" do ana..;lisando que se dirige ao outro é su or ue se trata
do Outro, o sujeito do saber Inconsciente, ou me-
lhor do saber uc constitui seu Inconsciente. Para
Lacan o Inconsciente é estrutmado como lingua-
Tem é uma se Üência de sig ificantcs. Em outras
palavras, é um conjunto de "pensamentos", o qu~
Frcud chamava "pensamentos do sonho".
Ocorre que este discurso, esta seqÜência, envolveum saber mas um saber, sem su'eito -- se por
sujeito entendemos o sujeito consciente, sujeito do
ego -, e o analista é entendido como sujeito desse
saber. O analista como sujeito nao sa e uma ai vra
do saber do inconsciente do analisando.
Não há ninguém mais ignorante do que o analista,
o que é bom. Quando se diz que o sujeito em sua
topologia tem um lugar que é o lugar do sujeito su-posto ao saber, trata-se de uma questão estrutural.
não ancdótica. O disfX)sitivo estrutural que contém
esse lugar de sujeito-SufX)SIO-ao-saber fX)de funcionar
anedoticamente através de comrJrtamentos ou atitu-
des do paciente que declaram abertamente que ssanalista é um idiota, ou, como ac) ltcce nas ic
pQranÓicas de transferência, o paciente delira que _~
analista lhe adivinha o .nsamcnto.
- Gostaria de fazer uma pergunta referente ao
tema da aula passada. Tentos dúvida quanto às
Iraduç6es espanholas relativas ao "su'eilo-sll JOS-
to-ao-saher" e "sujeito-sufJosto-sa!Jer ". Existe al-
gunu: dij"erellça dos termos lia ve7s(/o lacaniana
ou é somente uma questão de tradução '!
Resposta: N ão poderia precisar como foi tradu-zido em cada língua. Referi-me ao conceito, e po-
deríamos verificar se as traduções são fiéis ao con-
ceito ou não. Se formulamos "sujeito-suposto-sa-
ber", o perigo é que o que se tenta transmitir seja
entendido no nível Icnomênico ou crnpírico. E~l
outras palavras, é a idéia de que o paciente sim-
plesmente supóc que o analista sabe tudo acerca
dele e que não precisa comunicar, associar; umsi 111ies caso de adivinhação do pensamento. Na
prática constatamos (deixo claro que Icnomcnica-
mente) que as coisas não se dão assim. Frcqlien-
t.elllCl1te () paciente em transferência negati\ra po(lc
f azer questão de mostrar que o ana lista não sabe
nada, podendo dizê-I;; t~x!ualmcn!e ou comportar-_
s~ de lal forma que o analista fique, de fonl ou
cai-a no ridículo.Na outra formulação, a idéia de "sujeito-su osto-
ao-saber", est;í-se falando, como di!ia~ d: - O sujeito-suposto-saber será então da arde
108 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 109
do imaginário 0/1 do simbólico? outro nível do complexo psíquico a natureza con-
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Resposta: Para Deleuze e Guattari o...•.i:sQ,jonão?
é o 'Iássico dese'o da sicanális c . Em termos [rcu-
J!IP'dianos é a for,ç~ que ins,iste em sua tentativa de
r r restaurar o narclslsmo pc nll.(lo, sendo, então, uma for-
ça conservadora, Não rüz mais do que repetir em<
servadora das pulsÔes, A pulsão de morte e de vida
são conservadoras se 'undo ' ' G.H~#fltI',
Para eleuze e Guallan o ~lcseiÊt não é conser-
vador. Não tenta restituir ' s aI 'um' ! ! f u . )
~ecuperar nenhum estado arcaico, Ademais,
o deseio - em certo Freud - não tem ob,i.W), .odesejo é desejo de encontrar na realid, de 1m ol,~to
alucinado e irredutivelmente perdi~, Para Dclcuzc
e Guallari o desejo "tem obieto", A diferença fun-
damental c~siste em que ~ ) t ü § ' i i 'C i l l é sinÔnimQ.jlerodu 'ão, O que tradicionalmente conhecemos no
âmbito social, político, econômico como produção,
geração de coisas novas, em Dclcuzc e Guattar~
imanente ao Deseio, O desejo é Produção, A Pn2:,
dução é Desçh) , Ambos são 1 ' ~
propiciam encontros "criadores", O~scjo,~
g(; é um devir rodutivo "em' ". '- vl1~A transversalidad ' é a rede molccular de fluxos ~ j
desejantes e produtivos que atravessa um r .anora a Isocial. uma forma 'ão olítica s ,', .' i aI for-
mando-se sin 'ularidades desc.'antes produtivas uc
entram em c~nexão entre si ara rodu/,ir novidade.
Isto é a Transversalidade, o fluir do Desejo c ~a
Producão através de um campo social, que é in-
cessan'temente desterritorializado por aquele.
Resposta: Se for como penso, Q,sujeito-supostg-saber refere-se ao su'eito com "WJ.l.i.:.:.,_c~o,
a~ito que pensa ue sabe e a seu Outro i '-ginário.:.."Por exemplo, alguém, depois de ser atro-
pelado por um lapsus, pela emergência de algo
inesperado em seu discurso, pensa que sahe por
que, ou que tem um outro cgo que sabe. Em outras
palavras, sujeito-suposto-saber é o sujeito que su-
põe que sabe sobre si mesmo, ou que um outro
pode saber "cncarnando" uma instância que lhe é
interna, "Quem pode saber mais de mim do queeu mesmo'!" É isto que inspira a formulação do
sujei to-su posto-sa bcr, se aceitamos que ela existe.
O sujeito-suposto-ao-saber mIe ter talvez uma
versão estrutural da ordem do imagin,hio e uma
~11b6Iico. Mas é ~ais importante desta~ que
é estrutural e não uma "convicção pessoal" do su-
jeito que supõe um outro ao discurso do Incons-
ciente,
fwl é (I co ncep ção do4-C.---+-
em cieuzc e Gllallar'?
Resposta: Isto é mais
110 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 111
A idéia de Deleuze e Guattari é a de que não exisLe
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um mecanismo universal de estruturação do sujeito.
E-;istem fÓrmulas múltiplas, histÓricas, de produ 'ão
de subjetividades e modos de sllb·etivação. O dipo
como equipamento produtor do sujeito não é umaforma eterna universal, ubíqua e oniprcscntc, senão-!!,a forma produzida dominante. Existem inúmeras
f2!mas de rodu ão de subjet"vação. Mas estão,
em geral, submetidas, subjugadas, hegemonizad~
r."Zlo Édi o, elo modo edi iano de_PID--iliLç.ãiL.da
subjetividade, que é uma forma de captura do de-
sejo como restitutivo, narClsístico, sem ob."eto e
que tem sua continuidade assegurada pela não-ob-
tenção de seus objetos s outras formas de sub-
jetivação, não, pois o Desejo funciona de outra ma-
neira, tem outra natureza. Sua potência é inesgo-
tável. Não porque não atinge seu objetivo, mas por
formar parte da essência de seu ser. I2Ie é produçãg,
sÓ sabe produzir, dczir.
_ Ao longo de S(/ {/ exposição me<? se reicrin à
Pedagogia e ti Psicoterapia !/ls/i/flóo/lalis/(l, centran-
do-se na psicoterapia. Gostaria ((U! 'olasse,ainda ( fie
rapidamente. sobre a LPer/agogia !/ls/i/flcio!lo!iHü
Resposta: Falarei muito rapidamente, justifica-
da mente: falei menos da Pedagogia lnstituciona-
lista porque não é meu forte. A Pedagogia lnsti-tucionalisla é posterior ~I Psicoterapia lnstitucio-
nalista. É como uma extensão de s 'li' i1C'lliQS
e experiências ao ümbito do ensino. odcndo se
in:luir grandes séries de ~-.;;;;;ências d~ chama 0 aautogestão edagólTica. Todas as experiências em
que o alunado auiogcrc, determina, em debate co-
letivo permanente, tudo o que faz - a implantação,
existência, subsistência da Organi:tação-Escola, dos
programas de ensino, das formas de seleção, ma-
neira de transmitir conhecimentos, provas, avalia-
côcs. certi ficados de formação. bens ma teria is do
estahelecimento, hierarquia do poder ete.
- Como se cO/lsli/lIl/'la 11m Desejo (J n(Jo ser
p<;.lo neka/ivo, pela [aI/a l
Resposta: Existe a longa história da positividadc
e da negatividade, do ser pleno e do ser da falta.
Para certa concepção do Desejo em psicanálise, o
Desejo constitui-se pela ausência do objeto, o de-
sejo mobiliza-se pela falta, o ser psíquico é um
ser de falta, ser de carência, é uma idéia que con-
tinua uma longa tradição que começa em Sóc ra tcs
e Platão, enquanto outras linhas filosóficas no
_ Pode citar algurn autor?
Resposta: Mannoni, Lapassadc, Lourau. Lobrot.Oury, Rcquejo e outros.
112 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
Niio é o mesmo que participacionismo pcdagó-
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gico, a famosa questão da co-gcsrão universitária.
Não se trata de eu-gestão, e sim de autogestão.
R EFL EXÃO FIL O SÓFICASO BRE A
TRANSFERÊN CIA
COMEÇJ\REMOS, como tem sido habi-
tual, fazendo uma ressalva. O tema desta aula, além
de ser sumamente complexo, exige do expositor e
do público um preparo filosófico mínimo. Comoeu não estou satisfeito com o meu preparo e des-
conheço o de vocês, devo admitir que abordarei o
tema de uma forma elementar e sintética.
Creio ue no transcorrer destas aulas sobre
Transferência tem ficado claro que a mesma é, ao
mesmo tempo, o principal obstáculo e () único mo-
tor do procedimento psicanalítico. Penso que deu
para compreender que a Transferência aparece efunciona na análise como Resistência, mas também
como a força que impulsiona para a cura e como
matéria mesma a ser trabalhada ara conse rui-Ia.
Nestes dois sentidos, a transferência está inti-
mamente linada tanto à lIestão ela Re eticão uan-to 1da O'"cre "t.
Mas Diferença e Repetição têm sido tema de
reflexão filosófica desde os começos do pensamen-to, não só filosófico como também mitológico e
114 LlÇÓES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
religioso. ~tra conceitualizar as rclaçôcs entre Re-
REFLEXÃO FILOSÓFICA 115
da Repetição e daquilo que se repete nele. Assim
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petição, Diferença e Transferência, tanto Frcud co-
mo os 6s-freuuianos se basearam, implícita ou cx-
plicitament.s...na mitologia< na religião e na filoso TIt,
tanto quanto nas ciências naturais, formais ou so-ciais de :i...euteOlpo.
Por sua parte, as Ciências e a Filosofia contem-
porâneas têm começado a prestar à Psicanálise uma
atenção crescente, tanto que é difícil encontrar um
~ensador atual da Repetição e da Diferença que
Ignore as contribuiçiics que a Psicanálise tem pro-duvido a respeito.
Seja qual for a concordância ou a dissidência
que existam entre as diversas disciplinas, as con-tribuições têm resultado proveitosas.
Na Filosofia o problema ua Re eti 'ão está ine-
vitavelmente liga~ à questão ontol6gica, ou seja,a do Ser a de seu cvi r e, conscq ücn temC'n"iC,"a
uÓ em o A pergunta pcrt incnte é: " S L < J ! ! e é tI uç
~?", e esta exige por sua vez colocacõcsacerca de se o (ue se re 'te é o mesmo oOu o
ou.tm, () um ou o múltil210, o sin~lar ou o plural,
o Igualou o desi Tual, o semelhante ou o diferente
~positivo ou o negativo, o equivalente ou o dis~
valente, o idêntico ou o diverso. Desde já se vê
que todas estas perguntas podem ser Formuladas
na ordem do qualitativo, do quantitativo, do inten-sivo ou do cronol6gico.
Por outra parte, estes temas suscitam necessa-
riamente a reflexão gnosiolcígica, ou seja, as per-
guntas sobre a possibilidade de conhecer o processo
as questões procedentes seriam: "A repetição acon-
tece no objeto a ser conhecido, no pensamento, ou
em ambos'!"; "Segundo leis e dctcrm inaçôcs ou
sem elas?"
Em todos os casos: "Esse conhecimento é pos-sível, ou não, e quais são suas condições, proce-
dimentos e recursos'! E, em última instância, tal
conhecimento é necessário ou apropriado'?"
Esta última pergunta antecipa uma terceira classe
de reflexão que conccrnc a problemática dos va-
lores, ou seja, a Axiologii.!.; A Repetição é boa ou
má, bela ou feia? Existe uma repetição que seja
boa e bela, ou má e feia, ou nem uma coisa nem
outra'? Ela é desejável, conveniente, imperiosa ou
prescindível?
Em todas as in terrog açõ es citadas vo cês terão
sentido provavelmente a necessidade de uma defi-
nição precisa de Repetição, assim como terão ex-
perimentado a tendência habitual entre nós de en-
tendê-Ia assimilando-a ou opondo-a a alguma outra
noção, conceito ou categoria. Espero que se com-
preenda que isso é justamente parte do que está
em discussão. Mas, se cedemos a essa tentaçiío
espont<'inea, diremos que correntemente são sinô-
nimos (e epetição palavras tais como re.J'l dução,
rcncracao e retorno, assim coJ1lo sã o seus antôni.;
iiiôsrl1u( ança, renovação, sendo que essa or.osiçfLO
com as precedentes costuma girar e tOJO( da idéia
de Direrença. Mas, como dizíamos anteriormente,
é indispensável saber que em Filosofia cada um
116 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
desses te rmos tem signi ficado sistem ático , ou seja,
REFLEXÃO FILOSÓFICA 117
e do caos in ic ia l com o da cri ação e do cri ado .
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qu e vari a segun do a posição pre c isa que esse vo-
cáb ul o ocupa dentro do conjunto de um a determ i-nada teoria ou do utr in a, e ain da do uso que delasse faça em cada conj untu ra h istó ri ca.
Por isso , P3H a poder abordar aceitavelm ente estaim port ante pr oblem ática no m arco de um a aula i~-l~ lda, s ó nos res ta um cam inh o: fa zer um a breve-- _ • . .r.sv isã o C fonoló rica das rinc ip ais posi 'ões a rcs-
P~), e resum ir as .Q olêm icas gue na atu alidad etêm ad uirido rele~, segun do nossa opin iã o,
no panoram a cont em porâneo do pensa m ent o fi lo -só fico e em rel açã o à psicanálise . Obviam ente estarevis ão e sín tes e não serão im pa rc iais nem in ocen-tes, segur am ent e se rão in com pl etas e até é possíve l
que sejam parcialm ente in corre tas.T ent ando o caminh o pro pos to , em prim eiro lugar
d igam os que o l2 .ensam ent o mÍ t ico e reli gioso ti -veram se m pr e com o tem a priv il egiado ' o das ori-ge ns de tu do quant o ex iste . Para mu i tos p~~
gênese foi d ivina, re alizada a partir do nada ou deum caos prim ord ial no qual os deuse s natu rais ou
so brenatu rais in tro duziram a exist ência e a ordem .
Logo , es ta cri ação, acont ec id a em um tem po divin o,dev ia re peti r-se fielm ent e igual a si m esm a.
Isso fazia com que boa part e da natu reza e dav ida h um anas se desenvolvess em no âm bito do ri -tu al e do sagrado, es tr itam ente rc it c ra ti vo , sendo
que as ativ id ad es lprofa nas careciam de toda id cn-
~id ad~ e de ord em .. A lg um (~s (~es.tas cosm og oni asinclu íam a c rença de um dcvir C IC l!COtanto do nada
Estes acont ec imen tos se reproduzir iam cons tan te-
m ente em períodos regul ares, dev endo sob revir ounão algum fim dos tem pos. O bv ia m en te neste pen-
sa m ento ou sistem a de valores, a re peti ção do m es-
m o, do sa grado , era o Bem S uprem o. (JJ'
Um a clas si fic açili.Lg r ) 's e ir a dos ensadore s ..•.ré - 6~~cráticos, que receberam enorm e in flu ênc ia do lt'~~
pens am ento m ítico , p ,ode divid i- lo s en tr e os gue f7 ~
~'ati zavam a Ilerm anÔ ltc Í1 l- .C -Í.m .pasS c ih iliÜade p ; . , 7~er e os qu e in sistiam na im ortânc ia do .m ;.i,;-
m ente e do devi r, fosse este reitera ti vo ou não ,1 1 ~ determinado ou fatal. Para d izô- lo de m aneira
pitoresca, tem os os ré-socrá ti cos est· ' 'c os e dinâ-
m icos~~ác ~ por exem plo , susten tava que O S er"devem " e qu e "nu nca nos banham os no m esm o
rio", enq uanto (nrm ênid~ declara que o S er é eo não-ser não é, send o que o m ov im ento do ser éimpossí vel. O s se res são etern am ente iguais a si
m esm os:® crate~ por sua vez - a quem conh ecem os
atr avés dos esc ri tos de se u di scípulo Platão -, s
tentava a ex istênc ia de tr ês m undos: o m undo dà sidéias puras, deten toras das essênc ia s, 'da id ent id a-de, da verdade e da etern idade. Logo, di rf , q m und o
das có pi as, que teriam chegado a ver as id éia s.m as perderam a proxim ida de com elas e as esque-cer am ; sendo assim , padecem de falta de essência ,
de identidade e verdade, e vivem parcialm ente nasem elh ança e n a aparênc ia, em bora pos sam subsa-
118 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
ná-Io por meio da rcrncmoração. Esta lembrança é
obtcnívcl mediante o ascctisrno e o diálogomaiêutico.
REFLEXÃO FILOSÓFICA 119
platonismo e (J posteriori do aristotelismo - afir-
t i , a _pelo con trá rio, ;...r:9tência..~fals2.. Q:i.Li.cam
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O terceiro dos mundos é o do simul(~ro, composto
de elementos totalmente anárquicos, carentes por com-
pleto de essência, identidade e verdade, existindo em
um mero dcvir louco e demoníaco, na pura diferença
ou na simulação.
~undo alguns autores, a doutrina socrático-pla-
~é, em rigor, um sistema moral destina o a
instituir determinados valores e a selecionar as boas
e as más cópias segundo sua semelhança com o
ideal ao qual pretendem imitar. Portanto, o valor~
máximo romovido )r essa doutrina é a tentati"w
de repetir o Ideal como o Mesmo e copiá-Io. O
Vãlor mais detestado é o da repetição das pura~
diferenças, do singular.
Com €istótelcsrp(~de-se dizer qu~iste~a
manifestamente moral socrático- latônico refina-se,
disfarça-se e transforma-se em uma lógica, uma
epistemologia c-;:;ma psicologia. As idéias puras
socràtico-platônicas são substituídas em Arist ó tclcs
pelos sistemas dos concci tos, obtidos pelo proce-
dimento da abstração, que são uma representação
do mundo que permitia a classificação dos seres
segundo sua substância, gênero, diferença especí-
fica, propriedade e acidente. As causas e e~s
são Jigorosamente classificados por Aristótelcs e
a qUlfem I( cnuc aue representada no conceito que
conseguem incluir em seus limites até o Acaso co-
mo causa e os efeitos mais diferentes.
Os ~e os - adversários J!o
o im ério do Ideal, da Verdade na Repetição de-
fendendo com sua crística. arte da luta verball a
importância dos simulacros, da opinião vulgar, da
;ida mundana ctc. __ --,ili estóico. e tPicureus\ não sem certa discor-
dância, : iÇ inscrevem em uma linha que retoma de
forma variada os pré-soc ráticos. É conhecida a afi-. .. -nidadc de Crísipo, Epicuro, Lucréc io e Zcnon pelos
pr é-soc ráticos : H crácli to, Dcm ócri to e Em pédoclcs.
Estes pensadores, a esar de afirmare Que o uni-
verso é imutável c ue dev~ém em ciclos repetitivos,
sustentam também que nele não existe uma coisa
que seja ·Igua a outra, e que toda~ elas res'u\[am
de agregações e desag regações de átomos operadas--- .-~pelo DI~';VIO de ai 'uns deles, denominado
s:.uI2§meQ. Segundo estas escolas ,º=contato entre
qs corpos (entendendo por tais as mais variadas
naturezas) gera, nas superfícies resultantes, os in-
corporais, extra-seres ou substânCIaS não-corpóreas,
. . -dotadas de um oder de efetua 'ao ue determll1a
a~ como, por exemplo, quando um juiz define
o encontro entre o corpo de uma vítima e de um
réu como sendo um delito e ao protagonista como
culpado; os atos assim produzidos como Incorpo-
rais constituem os Acontecimentos, únicos e irrc-
petíveis. Deus, primeira potência do Mundo. forma
do Acontecimento, constituíra o Mundo mesmo.
Esse panr císm o, como veremos mais adiante. será
antecedente de pensadores como Espinoza.
120 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
/
1 0C ' No críodo denominado da 'PatrÍstica e dal$sco-
tf~ lástica, ~tabe~ '.", ê '" .' mificativa
REFLEXÃO FILOSÓFICA 121
desse retorno que se pode determinar como "e[~i- ~
~~ (talvez se possa falar de "ilusões") ~ IgUal-~ .. , ) 9 -
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~í! ''.t entre Du s Escore e Santo Tomás de Aquino.
lf' Para San to Tomás a ca tegoria do Ser r.cúne ent(d
análo 'OS, ou se'~ ue são semelhantese diferent 's.
Para Duns Escoro o Ser é unÍvQcJ).,_o que implicaque da Essência de tudo quanto é só podemos dizer
que é. Isto significa que a fala acerca das seme-
lhanças e difcr~nç(ís-i-elativas ou absolutã'Critfc os
ser'cS não se aPlica ao Sa-'éon1o categona, por-
q.tTa~[()ô Sc,r j.,J.!Sutro. Não se trata- de que o Tcr
seja idêntico ou único, e sim uc sua essência ~m
si não admite iltrÜ2.!!!9.sdeste-..tWQ".
/ ./ ~ Pa;a-~ o ser é unÍvoco, mas não é n~u-
~ VJ ~ E a Diferença que o expressa e afirma em~',~;; lodos os seus modos e gra us de intensidade. fu
v - r Ic, izando com I[)-f.scart~, que afirma que só exis-
tem duas substâncias, ares cog i t a e ares extensa,~afirmava que sÓ há uma substância que
se expressa em um número fII1Ito de modos e em
um infinito de at ' ll J.Q S .
Para ieli'sche por sua vez, não se deve dizerJ,?apenas que o Ser é Substância, senão que só há
o l~ ser, o do Dcvir. Além do mais, ~ pode P ( l S -tu lar-se a semelhança a partir da afirmação daquiloCU!,eé Di feren ts...
Nictzschc, muito influenciado pelos pré-socráti-
cos ita róricos e alguns estóicos, afirmava o~o
Retorno mas não o Eterno Retorno do igual, Idên-
tico e Mesmo, e si le tudo uanto é Diferente.O que se [(,;.~.lÇ.,J,2o·s é a Diferen 'a, e é a artir
dade, Identidade, Mesmidade ou modalid"'a-d'""e~s-d"'e-~;.J
Siãs, tais como a Semelhança, E uivalência,_An;-
iõgra etc. A ~ontade de potênci nietzschiana con-
siste, entre outras coisas, na afirmação deste Serdo Devir como re eti ão das D' ~o Desejo
dos Fatos e Acontecimentos). Repetição essencial
esta que não se rege por leis, senão que sobrevém
sempre ao acaso, mais além do Estabelecido, do
Humano, do Bem e do Mal. A'lsim se emendemos lemas nietzschianos como "v' c r igosamon -te" ou a ro osta de criticar os valores mas não
Qara substituÍ-los or outros, senão ara acabar com
a necessidade de viver se 'undo valores estabe e- ~
cidos. J0fi16so(o dinamarquês QSierkegaar~cMcebe a ~' .
Repetição como um método a sccxiç . é' como
l!.,mexercício de Libcrdads Assim como em Nietz-
sche, não se trata em Kierkegaard da Repetição
segundo as leis da Natureza, ou da memória, se-
gundo a Reminiscência platônica. Não é a reitera-
ção numérica do hábito nem a r cmemoração do
Mesmo Ideal, não é uma segunda vez, e sim de
l!m querer repetidamente aquilo que se quer até o
infinito, a eternidade de cada instante' à enésima
potência. Não se trata de extrair algo novo de uma
Repetição, de compreender ou de contemplar um
repetir para ver algo novo. Trata-se de atuar como
objeto supremo da Vontade, de fazer da Re li ão
como tal uma novidade, uma tarefa de Liberdade.
} -
122 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
. ~As concepções de~tz~e de ~keg~têrn
REFLEXÃO FILOSÓFICA 123
~ negação de si que o obriga a sair de si. alie-
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~Q )'~ .istante em comum como or exemplo, pro or a~r' Repetição assumida como um movimento ue não
conclui nunca mas a resentam também diver ên-cias: ara 'erkegaard e eti ão assumida é umcaminho ara a salva ão cristã, que sempre envolvecerta resignação, enquanto para o ateu ietzsché a maneira de libertar-se definitivamente da cre~anos deuse~ e em qualquer outra entidade garanti-dora como a Igreja e o Estado. Mas talvez o maisimportante é gue o filósofo dinamarquês procura
, { v i uma '~ e(2etição Diferencia}" na qual a diferença~~Q vai estabelecer-se entre a Repetiçaoe o Repetido,{~ sendo que o ue se afuma-.não é um Jluro Acaso,
e sim a ge eti.ção renovadora de casos.Em ietzsch a proposta consiste na afirmação
~soluta da Re eti ão voluntária do Acaso. Desejaro Acaso, propiciar os encontros para gerar os acon-tecimentos se conservar ressentimento aI um"porque não foi como queríamos" e sem crer emnenhum destino. Para @erkegaar&o procedimentoda Repeti ão tem um forte com nente subjetivoe é uma probabilidade entre outras; ara Nietzscheé a única possível e corresponde ao jogti das forçasdó Devir, e não ao âmbito da subjetividade emQarticula[.
Costuma-se opor a concepção d,e Nietzsche eKierkegaard à de Hegel. É sabido que para o Idea-
l. l O Y lisrno hegeliano Q.Ser, que é o Espírito em si, con-
- \ \ ? ' O tém todas as possibilidades, mas em estado de in-determinação. O Es írito em si inicia um roce so
nando-se na existência de tudo quanto existe e . ! . Q -
duzindo assim uma diferença. Logo procede a umanova negação, a negação da negação, adquirin~oconsciência da Di [erença e tornando-se Espírito pa-
r a si.yeste novo estágio estão superados e con-servados o da afirmação inicial e o de sua negação,que subsistem rcformulads ( vidadc adquirida.Este processo, chamado dialético abran Tee diri _etodos os cam s da realidade, tanto o dJLló.gicainterna que informa o pensamento como o datureza, a subjetividade e a História da huma 'dMle,-No âmbito da consciênCIa e do pensamento esteprocesso diz como se efetua a passagem da simplesnegação à negação determinada. A "consciência in-gênua" ou "alma bela" parte da afirmação de umacerteza subjetiva. Se ela aceita, por mero uso dalinguagem em uma relação intersubjetiva com outraconsciência, questionar as condições do vivido, da-rá lugar à emergência de uma verdade objetiva co-mo resultado de uma relcitura. A mesma estaráconcluída e adquirirá pleno sentido quando conse-guir articular-se na totalidade do movimento do De-vir do Espírito (Saber Absoluto). Essa figura daalma bela, exposta na enomenologw (,0Espínlo, n l P 'se complementa com outra, não menos famosa que ~é conhecida como "Dialéticà do - do Escra- r r r aJ {~ sta caracteriza o vínculo intcrsubjetivo que ~se dá entre o Amo ou Senhor, o qual demonstrana guerra que está "mais além da vida" porque"não teme a morte ..." e o Escravo, que permaneceu
124 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA REFLEXÃO FILOSÓFICA 125
imerso nas preocupações pela sobrevivência . . . . Q
Amo, ara afirmar seu Ser e seu domínio, necessita
mo produto uma diferença definida e objetiva de-
pois da mediação de duas negações determinadas.
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que o Escravo se reconheça como tal e o ~~ça
como Amo. Assim é que ele se torna um Homem.
Mas o escravo, que nao é ainda um HonlciTI nessa
relação e não pode propriamente reconhecer nin-
guém, só pode tornar-se tal pelo reconhecimento
de outros escravos conseguido através do trabalho
compartilhado, com o que se consegue o domínio
sobre a Natureza. Neste ponto, os escravos.-1a.rna-
dos homens oderão escolher de comum aco o
um Senhor, o Estado, no ual são reconhecidos
Esta tese está a oiada em uma Ontolo ia ue afir-
IJIa que o Homem é um Ser-da-falta, um Ser 9!!.e
é porque lhe falta e ue rocura um ser de com-
pletude no Desejo similar de outro Serj•• e nunca
õ......alcança. OcDesejo que move o homem ~m
Desejo de Ser Pleno no reconhecimento dado pelo
~eJo do OutroJ falta nega o Ser o ornem
que tem a convicção subjetiva de Ser Homem, e
quando este nega esta negação de reconhecimento
(tomada de consciência só possível pela mediação
da linguagem no diálogo e a retrospecção inter-
subjetiva) produz uma Verdade objetiva e se torna
assim parte da Totalidade do Espírito recuperado
para si. Parece evidente que, para~ de alguma
forma herdeiro do pensamento socrático-platônico-
tomista-kantiano, a o eraçao res onsável do moyj-
mento é a negação e a negação da negação, estado
qUeê e denomina de "Superação". A afirmação i~
diferenciada, caótica e indeterminada inicial dá co-
O que se conserva no produto é provavelmente o
mesmo que estava contido no "em-si" vivido da
afirmação inicial, mas transformado por sua inclu-
são nos conceitos da reflexão di aléti ca . Daí a fór-
mula última de Hegel que diz que "tudo que é
racional é real e tudo que é real é racional". Para
ege é pela aquisição desse saber racional ~e
exercita a Liberdade como "consciência de neces-
;idade de repetir", da ual se é vítima quando não
se tem "conceito da repetição" do Igualou do es-
mo e do Desejo mpossível o er eno. I en-
ti a e é, pOIS, a Repetição sem conceito, a Dife-
rença se gera pelo conhecimento racional da Re-
petição.A crítica produtiva que o marxismo faz a Hegel
introduziu modificações importantes na concepção
Idealista do grande filósofo alemão, sobretudo no
que se refere à material idade do Real, mas con-
servou a Dialética como processo do Devir e como
Método do pensamento que privilegia a Razão,
especialmente a científica.Já que suportamos até aqui esta árida e insufi-
ciente versão filosófica, trataremos de ver de que
forma esta longa história do pensamento incide so-
bre a Psicanálise em geral e sobre o problema da
Transferência em particular.
É óbvio que seria interessante saber como essas
doutrinas participaram direta ou indiretamente qual
foi a influência que tiveram sobre Freud, as idéias
126 LlÇÓES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
que vimos, além de outras que não mencionamos,
como as de Kant, Herbart, Schopenhauer, Dilihcy,
REFLEXÃO FILOSÓFICA 127
inconsciente como o lugar da cadeia signif.ifante
que, animada pelo Desejo, insiste em sua rocur~
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Brentano, Bergson etc. Ninguém duvida, por exem-
plo, da in fluência que Hcidcggcr teve sobre certa
psicanálise contemporânea.
Mas aqui nos limitaremos a colocar algumas
questões que seguramente não serão neutras nem
casuais acerca da polêmica atual sobre qual seria
a inspiração filosófica que cabe melhor à concepção
psicanalítica da transferência e algumas de suas
conseqüências cpistcmológicas e éticas. No come o
desta exposição destacamos que a ransferência
tanto em suas manifesta ões "v·siv..e··" c o nas
"latentes" ou meta psicológicas, dentro e ~
análise, é um processo reprodutivo e ao mesm o'tempo imwador. Vendo esta dualidad o
ângulo, dissem~ ue a mesma funciona como Re-
sistência (desobediência involuntária da livre-asso-
ciação) e nor sua vez como motor, cam e mater
com o qual e no qual se processará a cura. Quando
revlsamosas- ivcrsas teorias Ircudianas a respeito,
destacamos uma delas, que tentava explicar essa
dualidadc da transferência atribuindo () efeito resis-
tencial à transferência de qualidade erótica e à hos-
til, e o efeito propriamente analítico ou curativo à
Amistosa. Assinalamos que essa concepção é con-
siderada puramente descritiva por Lacan. Durante
nosso breve exame da abordagem lacaniana afir-
mamos compreender que a partir da releitura de
Inibição, Sintoma e Angústia,@define o Ego
(je-moi) como instância da resistêntia e o IcL
do Falo e da repelição o mesmo narcisístico. E
cÍaro que essa cadeia significante só constitui es-
se significante falo como um mesmo ilusório, real
último buscado por detrás da série já constituída
e sistemática das máscaras significantes. 9 fatodelimita o ponto no qual a pulsãQ...CLÓ.l.i.í.:a..s.eca-
lTzaria na fusão entre sujeito e ob'~ a.iJlda Q-
gícãmente anterior à Identifica ão Primácla. En-
contro Imposs[vcldo qual cada ensaio falido, Ial-
toso dá como resultado uma forma 'ao do incons-
c~~ um~e~~ulada com as outras e
decifrada confiaura a J 'á mencionada "Re eti ãc,_ ' .::=t_
Diferencia!", a Diferença de Sentido de cada Rc-
petição. Sah~mos que esse encontro falido é cau-
sado por certa forma do Acaso que Lacan refere
à Tyché de Arístótclcs, que os efeitos que gera
são da ordem do imaginário, e que seu destino
analítico (como diria Freud) é serem ligados, su-
bordinados ao processo secundário para alimentar
um resultado de recordação e domínio dos afetos
contrários à atuaçãp ou à sintomatologização do
Desejo. Segundo@, o Imaginário deverá ser
subordinado pelo registro simbólico, para ser visto,
c9'2!.I2Ieçn I o e concluído no processo analí~ic~Sejam quais forem as sutilezas e obscundades
destas leituras (e não são poucas), é difícil deixar
de crer que a proposta analítica gira em torno das
seguintes categorias:1) Coloca a realidade não-psíquica entre parên-
c - =
128 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA REFLEXÃO FILOSÓFICA 129
teses para só ler e operar sobre a psíquica, emrespecial a Inconsciente.
mitologizando, desmistificando e sublimando inter-
minavelmente. Em termos um tanto mais empíricos
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2) Entende o ~conscientF enquanto transindivi-
dual estruturado como uma liÍ1_ua em composta
de significantes, sobre os quais "pesa proscrição"
que f~ltam à IS osiçao o ujc'to gue fa a aracompletar as falhas do discurs
3) Para poder decifrá-Io parece colocar todo sig-
nificado entre parênteses para ler e intervir apenas
so re a slgm icância, assim como exige que toda
ação corpórea ou sociaf~significativãSe]ãíiiT51da
re uzin o o l'l1l.atenal" ãseqi.jência na qual supõe
pOder lOCalizar e circunscrever as repetições trans-
ferenciais significantes. - --- 4) Define o~ como uma força que insiste
em animar a cadeia signi ficante no sentido da re-
pêtição de um significante originário que, por seu
v~lor imaginário, é a marca da alienação do sujeito
da Unidade Primitiva Perdida.
5) ~irma que na procura repetitiva do valor
imaginário do significante rimordial ~JS'ü)elto
constituído na transferência, tentará tomar o analistapor seu go deal e conformar- e e ~
a" para aquele. Mas que, em rigor, sua pulsação
inconsciente encontrará o desencontro, a falta do
objeto que, uma vez devidamente simbolizado, o
levará à recuperação de uma diferencial idade na
repetição que se plasmará como uma troca de po-
sição na estrutura. Isto lhe permitirá seguir ima _i-
nando e retificando suas ilusoes, buscando o ozo
e satisfazendo-se com o diferencial gozo- razer ...= -
ou em categorias filosóficas se poderá 'denominar
estes rendimentos como se quiser: reconstrução da
história, da novela familiar, transformação da Re-
petição da Identidade sem conceito na Repetição
Diferencial por conceitualização da Diferença, des-
construção do destino Inconsciente, aumento da ca-
pacidade de escolher etc.
Se se repassam as posições filosóficas que an-
teriormente tratamos de resumir, resultará que ~
c,Qncevção psicanalítica da Repetisão e da Diferen-
ça parece ter muito mais a ver com a linha de
Parrnênides, ,.,ocrates, Platao, Aristóteles, Santo
Agostinho, Descartes, Kant, Hegel e Kierkegaard
do que com a de Heráclito, Dcmócrito, sofistas,
estóicos, Duns Escoro, Espinoza e Nietzsche. Mas,
sem dúvida, as coisas não são tão simples.Três questões se apresentam:
1) A psicanálise adere a uma concepção da Re-
petição do mesmo como Idêntico, Igual, Seme-
lhante, Análogo ou Equivalente?
2) Ou a uma da Repetição da Diferença como
Repetição Diferencial ou conceitual e/ou signifi-
cante em qualquer das modalidades acima citadas
do Desejo como Falta? Psicanálise ciência Ociden-
tal?
3) Ou a Psicanálise traz implícita, virtual uma
concepção da Repetição do Ser como Ser da Di-
ferença, Pura Diferença, singularidades e rnultipli-
cidades, o Desejo como vontade de Potência de
130 LIÇÕES SOBRE.A TRANSFERÊNCIA
afi!:mação da Diferença, do encontro e do Acaso. A TRANSFERÊNCIA
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uase ciência dos bons encon ros.'
Estas perguntas, evidentemente, não são apenas
retóricas, nem muito menos um exercício acadêmico.
Para começar a respondê-Ias é preciso romper comtoda ortodoxia, particularmente com urna série de
crenças que lhe são características. Por exemplo: é
a psicanálise um saber e um fazer cujo grau de aper-
feiçoamento a torna a única ou preferencial opção
para entender e resolver toda e qualquer situação na
qual estejam envolvidas as subjetividades sofrentes
ou as produtivas. Existe UMA psicanálise ou UM.de-
sS!1volvimento da mesma feito por UMA escola ue
clausurc definitiv~~nte O~J?<:)ssíveis ou virtuais?
São âctíveis os empregos teóricos, metodológi~
técnicos, estratégicos ou táticos de alguns recursos
psicanalíticos por fora da especificidadc e da profis-
sionalidadc da disciplina, articulados às de outras
práticas e ainda a outros modos de produção da
vida cotidiana?
[;TudO uanto não se re ete como diferente está
~)rto, mas ainda assim pode servir como estrume.
Considerações FinaisProvisórias
SUPONIIO que tenha sido possível en-
tender, durante o transcurso destas aulas, que a
transferência é um rocesso real e material. Por
real e material quero dizer que a mesma acontecia
e acontece independentemente de que ai uém se
en a ocupaüo e ITIvestIga-la dcliberadamente e
ge intervir sobre ela Rara encam' l{- eJll-llma
ou outra di [I Gli-o.Espero que tenha ficado claro que este [ato tor-
nou-se objeto de conhecimento e de operação para
diversas disciplinas e práticas.Na existência cotidiana as pessoas costumam
percebê-Ia e designá-Ia por diferentes noções mais
ou menos vagas, assim como comportar-se a seurespeito de maneiras que poderíamos denominar de
não-específicas. Não é por casualid.a.~ 9enfatiza que a transferência que se dá na sessão
ª~alítica é similar à que acontece fora dela,~-
riando somente o uso ue se faz da mesma ...:.:.:.------ . lVárias ciências a detectaram e conccitua izararn
em seu próprio campo e a manejam com procedi-
mentos peculiares, tal é o caso da Antropologia,da Lingüística, da S crnió tica , da História, da So-
132 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 133
/-~ .sentes na obra de(Fr~ug,_cste am ~otad~
Em um de seus escritos, "M últiplcs interés deI
ciologia, da Economia, da Pedagogia e até da Psi-cologia.
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Psicoánalisis", o fundador da disciplina incursiona
em numerosas áreas da vida humana nas quais a
Psicanálise poderia vir a ter importância explicativa
e operacional. Algumas delas, como a Biologia oua Arte, não implicam necessariamente um proce-
dimento clínico, outras sup õem modos de interven-
ção que não possuem objetivos "tcrapêuticos", em-
bora exijam certas manobras estraté ricas e táticas. _
Esta Psicanálise se denomina a licada' nome'f~',
não muito feliz, enquanto a prática da Psicanálise~
consiste na aplicação da teoria e do método si-
can..alíticos mediante adequação destes a cada si-tua ao co rnoscitiva e é"~'12ê~t'al SI' _e/1Q.is.
Neste tipo de estudo enquadram-se perfeitamente
muitos dos textos freudianos em especial os que
integram a chamada "Obra Social '. Desde este pon-
to de vista ou toda a Psicanálise é "aplicada" ou
~, Por outra parte, transitamos nas aulas por uma
rápida visão de algumas novas "disciplinas" (porchamá-Ias de alguma maneira) ou saberes, tills co-
I fD: 'mo a nálise Instituciona e a~<;quizoanálise} ~
. incor oram e em t( s sicanálise e as uais' ,
não se pode qualificar nem de "Análise a licad ".
São verdadeiras 'Invenções, ou seja, novidades
cujo valor heurístico e prático não é 'ul á c\ a nas
desde os conceitos psicanalíticos. Cada uma delas
tem sua redcfinição do que é Transferência, assim
como de vários outros recursos clássicos. Em re-
Certas práticas de estatuto especial, como a Po-
Iitica e o Direito, sempre reconheceram os fenô-
menos transferenciais e atuaram em relação a eles
de forma particular, enquanto algo parecido ocorrecom a Medicina como território de confluência denumerosos saberes.
Por último, recordemos que a Filosofia refletiu
fartamente sobre a questão com base nas categorias
de repetição e diferença, em complexa intcraçã ocom todas as outras abordagens.
Sem dúvida S no domínio da (Psicanálise:..illlli-
d3 q~e uma modalidade específica de entendi-!l1..~ntoe ~go da Transferência adqúire um ní-
vel de ~ar~ct~iza 'ão teórica e i ort1JlÇiª técnica
'l!!~rnaram aradi -'má ticas em toda a cultura
J!1Qderna _e contef!l12o~ân9 de forma que os outros
saberes foram notavelmente influenciados pela con-cepção psicanalítica.
":imos também que ~ continuadores de~
partindo de algum dos aspectos (amiúde descone-xos e até contraditórios do tratamento u iador
dJ!.Psicanálise deu ao assunto), desenvolveram-nos
dentro de suas res ectivas orienta õcs.
Permiti-me insistir na afirmação de que essas
abordagens freqiientemente foram interessantes e
valiosas, mas que en s ode atribuir-seo ,érito e ser a únic a s bre
~ Muito menos pretenderão sustentar queo tema está concluído ou ue as su Ôe::; pze-
134 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIACONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 135
lação a estas inovações talvez a mesma Psicanálise
tradicional possa ter algo a aprender. Os acertos evamente insinuados naquela célebre e auto-irônica
sentença médica: "A operação foi um sucesso, mas
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erros, assim como a real transcendência destas cor-
rentes, demasiado jovens, só poderão ser avaliadoscom o tempo.
De qualquer forma, o que não Rodemos aceitaré a desqualificação do mática ue uma orientação
pSlcana ltlca faz das outras, ou a ue se tenta m
'"'nome da Psica~ii'~, com qualquer outra disciplina---,.- - ----------clássica ou recente. Segundo as escolas Iideístas~uais acabam~de nos referir, toda "Psicanálise"
que não seja como cada uma delas determina, "não
é Psicanálise", e os métodos e procedimentos as-
sumidamente não-psicanalíticos não tê m direito de
tomar nada da Psicanálise porque, supostamente,
não conseguirão Iazê-lo sem desvirtuar por com-
pleto a especificidade psicanalítica. Ademais, esta
especificidade se postula como indicada e prefe-
rencial para toda e qualquer situação, sendo que
este privilégio haverá de ser estimado exclusiva-
mente com os critérios internos da escola em pauta
e nunca com os de outras abordagens possíveis ou
ainda com os da inspiração intuitiva. Assim, toda
avaliação da inteligibilidade nas leituras de uma
conjuntura ou da eficiência de uma intervenção ca-
receria inteiramente de validade porque "não en-
tende" as premissas e metas DESSA Psicanálise que,
Ireqüentemcnte, não se esforça muito para ser en-
tendida nem para demonstrar sua utilidade.É fácil imaginar que esta atitude pode conduzir
a desenlaces do tipo dos que se tornam expressi-
o paciente faleceu;'.
I Obviamente devemos crer que qualquer argu-
mento epistemológico legitimador de uma sturã
e- aman 1a arrogânCIa nao é senão uma raciona-
liz~ção de interesses corporalIvos rofissionalistas
ou ainda místicos, mas jamais uma autêntica vo-
~cação de conhecimento c prcstaçãc.de.scrvíços.
, No âmbito da transferência nunca saberemos o
suficiente e não existe proposta que não devamos
estar dispostos a considerar.
Se para começar a pensar aceitamos, por exem-plo, a afirmativa de que "a transferência é a posta
em ato da realidade do Inconsciente", do ponto de
partida desta proposição (como de qualquer outra)
abrem-se milhares de caminhos para o questiona-
mcnto.
De certo modo tratei de sugeri-Ios nas diferentes
aulas, tentando ser coerente com a idéia de que,
nesse terreno, vivemos um tempo no qual é aindamais fecundo multiplicar e reformular constante-
mente os interrogantes do que fechá-los em con-
clusões mais ou menos fanáticas.
Este inconsciente (ou os inconscientes), seja mo-
dclizado como um espaço ou um sistema animado
por um processo que lhe é próprio, engendrado no
jogo entre as pulsões e as representações ou no do
desejo e as substituições na cadeia significante ...seja ordenado em uma estrutura na qual o sujeito
se constitui como um lugar ... seja formado como
136 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 137
um "caldeirão fervente de estímulos" tal comoFreud o define em O Ego e o Id:
sordem Produtiva da Vida ... que desarma inces~an-temente todos os territórios para criar incessante-
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É uma forma universal e invariante na qual ape-nas mudam os conteúdos que as línguas e as so-
ciedades, ou as particularidades dos sujeitos, intro-duzem nela?Ou consiste em uma substância produtiva que
se autogenera de infinitas formas, cada vez únicas,que por sua vez realizam inúmeras modalidadesdiferentes de sub jetivação?
O complexo desejo-significante-fantasma-sujei-to-Outro-outro está regido por tendências iterativas
cuja função é tentar repetir O Mesmo ... seja se-gundo um movimento regular que procura restaurarum equilíbrio "perdido" ... seja dirigido à um "maisalém" de imobilidade e silêncio total... inclinações
estas de sua materialidade relacional só alteradadesritmicamente por contin ências ulsionais?Ou sua essência é a d Produ ão em si de si, -'
e porque sim, cu'a única "lei" é a do acaso radical
que conecta multiplicidades, puras diferenças en-gendrando sem c sar devires singulares?Aransferência é um processo do sujeito que,impactado por uma diferença ocasional, mostra re-petitivamente como constitui seus objetos ... e seaparece como Resistência do Saber, do Ego, doDiscurso ou da Comunicação a verdades que re-metem finalmente à Verdade Negativa da Castra-
ção, da Falta, do Nada e de nosso Destino Mortal?Ou a ltransferêncial é o Processo do Real Mes-mo-Abstrato-Subjetivo-Universal-Positivo, a~
mente novas terras ... e só aparece como Resistênçlaao~er capturado por legalidades de qualquer ordem,
incluído órc ?E, como corolário, a Transferência ... deve ser
"dissolvida" ..."elaborada" ..."reanimada" a conti-nuar deslocando-se de significante em significantemediante a "tomada de consciência", .o "insight"ou a "repontuação" .., ou s$.-trata de intensificá-),ae liberá-Ia para deflagrar suas potências, suas vir-iualidades Intnnsecamente afirmativas até conse-qüências que nunca são últimas nem revisíveis?-Tudo consiste em assumir que valor atribuímos
à Transferência em nós mesmos, e até onde dese-jamos levar nosso "amor pelos fatos" (Amor Fati,
como dizia Nietszche).Suspendamos aqui nosso encontro, não sem an-
tes citar um jovem psicanalista que, ainda com aslimitações de sua visão, registra o "mal-estar denossa cultura profissional" através de um agudo
analisador:_ "No "Traumdeutung' Freud afirma, segundo
me parece, que aquele que interpreta o sonho équem o suporta; o analista parece não mais inter-pretar nada. Entretanto, nós, analistas, supomos queinterpretamos,. e ~rélO que isto se sustenta sobreuma espécie déSAI3ER MUITO IMPORTANTE quetemos. E digo temos porque não só acreditamoscomo também o exercemos, então parece que otemos. Eu pensava se em tudo isto que vimos sobre
138 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA
a interpretação não há algo que se relaciona com
a exposição que fazemos da teoria. Às vezes me
BIBLIOGRAFIA
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pergunto por que são tão sérias estas reuniões nas
quais todos sabemos muito. Os que estão aqui por-
que falamos, os que estão lá porque se calam, tudo
supõe saber, não se junta ao humor, essa vacilação
da palavra na qual se revela sua absoluta poliva-lência que faz surgir algo da ordem do desconhe-
cimento. Há vezes que alguém se pergunta se uma
interpretação no melhor sentido da palavra não
tZm mais a ver com o chiste, com o humor, c<?..m
esse a6surdo absoluto ue se produz, onde ai TO
não quer dizer o que diz senão que diz outra coisa'"
(Oscar Gutiérrcz, La Trasjerencia, Colección Plu-ma Rota, Madri, 19 R 2).
PRIMI::JRA AULA - "A Transfcrúncia Segundo a Obra de Frcud'
Frcud. S. r::sllldos sobre (I histcria. Trad. Christiano Mon teiro Oiricica.
hlição Standard Hrasilcira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, vol. 11. lrnago, Rio de Janeiro. 1972.. .· A . intcrprctacuo do", sonh os. Trad. Waldcrcdo Isma il de ~Ii-
---~~iril. Edição S tan da rd Hrasi lc ira , vo l. IV. lm ago, Rio de Janeiro,
1972.
· "O método psicanalítico de Frcud", Edição Stantlard .Ilrasi----I~iril. vol, VII. p. 25,,-262. Trad. Ch ristiano Montciro Oiticica.
Imago. Rio,de Janeiro, 1972. . .· "Sobre a psicorcrapia", Ediçiio S iand ard Brasileira, vol. VII,
--I~6,,-278. Tr;lll. Christiano Montciro Oitir ica. Imago. Rio de
.b ne iro , 1972.· "Tratamcnto psíquico (ou mental)", Edição S ta nda rd Btasi-
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Educação Médica e Capitalismo, Lilia Blima SchraiberEpidemiologia: Teoria e Objeto, Dina Czeresnia Costa (org.)A Saúde Pública e a Defesa da Vida, Gastão Wagner de Sousa CamposEpidemiologia da Saúde Infantil (1 1 1/ 1 Manual para Diagnósticos Comunitá-
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Terapia Ocupacional: Lógica do Trabalho ou do Capital?, Lea Beatr izTeixeira Soares
Minhas Pulgas, Giovanni Berlinguer
Mulheres: "Sanitaristas de Pés Descalços", Nelsina Melo de Oliveira DiasEpidemiologia: Economia, Política e Saúde, Jaime BreilhO Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde, Maria Cecília
de Souza MinayoSaúde Pública como Política, Emerson Elias MerhyO Sistema Único de Saúde. Guido Ivan de Carvalho e Lenir SantosReforma da Reforma: Repensando a Saúde, Gastão Wagner de S. CamposO Município e a Saúde, Luiza S. Heimann et alEpidemiologia para Municípios, J. P. Vaughan e R. H. MorrowPromovendo a Eqüidade: Um Novo Enfoque com Base na Setor da Saúde.
Emanuel de Kadt e Renato TascaDistrito Sanitário: O Processo Social de Mudança das Práticas Sanitárias do
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Questões de Vida: Ética, Ciência e Saúde, Giovanni BerlinguerO Médico e Seu Trabalho: Limites da Liberdade, Lilia B. SchraiberRuído: Riscos e Prevenção, Ubiratan Paula Santos et aloInformações etl l Saúde: Da Prática Fragmentada ao Exercício da Cidadania,
liam Harnmerli Sozzi de MoraesOdontologia e Saúde Bucal Coletiva, Paulo Capel NarvaiAssistência Pré-Natal: Prática de Saúde a Serviço da Vida, Maria Inês No-
gueiraSaber Preparar uma Pesquisa, A.-P. Contandriopoulos et aloUma História da Saúde Pública, George RosenDrogas e AlDS: Estratégias de Redução de Danos, Fábio C. Mesquita e
Francisco Inácio BastosTecnologia e Organização Social das Práticas de Saúde, Ricardo Bruno
Mendes-GonçalvesEpidemiologia e Emancipação, José Ricardo de C. Mesquita AyresOs Muitos Brasis: Saúde e População na década de 80, Maria Cecília de
Souza Minayo (org.)
Da Saúde e das Cidades, David Capistrano FilhoSistemas de Saúde: Continuidades e Mudanças, Paulo M. Buss e Maria
Eliana Labra (orgs.)AIDS: Ética, Medicina e Tecnologia, Dina Czeresnia et aI. (orgs.)A/DS: Pesquisa Social e Educação, Dina Czeresnia et al. (orgs.)Maternidade: Dilema entre Nascimento e Morte, Ana Cristina d'Andretta
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Relação Ensino/Serviços: Dez altos de integração docente assistencial (IDA)ItO Brasil, Regina Giffoni Marsiglia
Velhos e Novos Males da Saúde 110 Brasil, Carlos Augusto Monteiro (org.)O "Mito" da Atividade Física e Saúde, Yara Maria de Carvalho
Saúde & Comu nica ção : Visibilidades e Silêncios, Aurea M. da Rocha PittaProfissionalização e Conhecimento: a Nutrição em Questão, Maria Lúcia
Magalhães BosiUma Agenda para a Saúde, Eugênio Vilaça MendesÉtica da Saúde, Giovanni Berlinguer
Série DIDÁTICA (direção de Emerson Elias Merhy)
Planejamento sem Normas, Gastão Wagner de Sousa Campos, EmersonElias Merhy e Everardo Duarte Nunes
Programação em Saúde Hoje, Lilia Blima Schraiber (org.)Inventando a Mudança na Saúde, Luis Carlos Oliveira Cecilio (org.)Razão e Planejamento: Reflexões sobre Política, Estratégia e Liberda-
de, Edmundo Gallo (org.)
Saúde do Adulto: Programas e Ações na Unidade Básica, Lilia BlimaSchraiber, Maria Inês Baptistella Nemes e Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves (orgs.)
Série PHÁRMAKON (direção de José Ruben Alcântara Bonfim e VeraLucia Mercucci)
Medicamentos, Drogas e Saúde, E. A. CarliniIndústria Farmacêutica, Estado e Sociedade: Crítica da Política de
Medicamentos no Brasil, Jorge A. Zepeda BermudezPropaganda de Medicamentos: Atentado à Saúde?, José Augusto Cabra!
de Barros
pabx (011) 418-0522 fax R: 30