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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO Aves silvestres criadas em cativeiro em Santa Bárbara do Pará: aspectos sócio-culturais e etológicos Viviany Amaral da Costa Belém 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO

COMPORTAMENTO

Aves silvestres criadas em cativeiro em Santa Bárbara do Pará: aspectos

sócio-culturais e etológicos

Viviany Amaral da Costa

Belém

2012

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Viviany Amaral da Costa

Aves silvestres criadas em cativeiro em Santa Bárbara do Pará: aspectos

sócio-culturais e etológicos

Belém

2012

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Viviany Amaral da Costa

Aves silvestres criadas em cativeiro em Santa Bárbara do Pará: aspectos

sócio-culturais e etológicos

Exame de defesa de dissertação,

apresentado ao Programa de Teoria e

Pequisa do Comportamento da

Universidade Federal do Pará, como

parte dos requisitos para obtenção do

grau de Mestre.

Área de Concentração: Ecoetologia

Orientadora: Profa. Drª Maria Luisa da Silva.

Belém

2012

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COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Maria Luisa da Silva

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Biólogicas

Orientadora

Profª. Drª. Ariadne da Costa Peres

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Biólogicas

Membro

Profª Drª Maria de Jesus Conceição Ferreira Fonseca

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação

Membro

Profº. Dr. Marcos Pérsio Dantas Santos

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Biólogicas

Suplente

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i

Aos meus pais, Vicente e Odimay

por todo amor, carinho e apoio.

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ii

O Passarinho e Sua Esperança

(Crombie)

Numa gaiola vive preso por quem deseja ouvi-lo cantar

Como os que vivem livres e voam pra qualquer lugar

E fica olhando o dia passando pra noite chegar

E fica olhando a noite passando até clarear

Seu universo tão pequeno espaço suspenso no ar

Viveu a vida inteira aprendendo a esperar

E canta sua esperança deixa a tristeza pra lá

Quem sabe ainda hoje seja livre pra voar

Voar...

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iii

AGRADECIMENTOS

É difícil agradecer a todos que de alguma forma contribuíram, mas tentarei lembrar das

pessoas, as quais a participação foi extrema importância para a realização desse trabalho.

À Profª Drª. Maria Luisa da Silva, pela oportunidade, apoio e orientação;

À doutoranda Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues, por suas orientações, apoio e

encorajaramento.

Aos meus pais, Vicente Ribeiro da Costa e Odimay Cambraia do Amaral, pelo apoio,

patrocínio, carinho e por todos os ensinamentos, os quais foram essenciais para minha

formação acadêmica e pessoal.

À todos os professores do Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do

Comportamento pelos ensinamentos e contribuições para o trabalho.

Aos meus amigos de laboratório: Amanda de Almeida Monte, Duan Silva Brito, João

dos Prazeres Lopes, Leiliany Negrão de Moura, Luis Fernando Nascimento, Rodrigo

Matos, por todo auxílio e companheirismo.

Aos meus familiares e amigos: Cristiane Moraes, Haila Vaz dos Santos, Nataliqueli

Cambraia do Amaral, Joilson Roberto Guimarães Silva, Rafael Cambraia do Amaral,

Gilviany Ribeiro da Costa, Miguel Angelo Costa, Nathan Hugo Nunes, Neusa Renata

Emin e Sara Lopes, obrigada por me apoiarem nos momentos críticos e me

proporcionarem tantas ocasiões felizes.

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iv

Aos que me ajudaram no campo de pesquisa: Amanda de Almeida Monte, Danielson

Aleixo, Duan Brito, Leiliany Negrão de Moura, Maria Luisa da Silva e Raimundo

Santos Oliveira.

À CAPES pelo apoio financeiro que foi fundamental para realização da pesquisa.

Aos moradores de Santa Bárbara do Pará que aceitaram participar da pesquisa;

À Deus, que me deu forças e coragem para seguir sempre em frente.

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v

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS vi

RESUMO viii

1 - INTRODUÇÃO 1

1.1- AVES SILVESTRES E O HOMEM: RELAÇÃO HISTÓRICA 3

1.2- O COMÉRCIO ILEGAL : GRANDE AMEAÇA ÀS AVES SILVESTRES 5

1.4 – CONSEQUÊNCIAS DA DESTRUIÇÃO AMBIETAL SOBRE AS AVES 9

1.5- A CAÇA PREDATÓRIA DE AVES SILVESTRES 11

2 – JUSTIFICATIVA 13

2 – OBJETIVOS 13

4 – METODOLOGIA 166

5 – RESULTADOS 20

6- DISCUSSÃO 38

7- CONCLUSÃO 44

REFERÊNCIAS 44

ANEXO I 54

ANEXO II 57

ANEXO III 62

ANEXO IV 64

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vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Mapa da localização de município de Santa Bárbara do Pará e dos três bairros

visitados, Fonte: INPE.4.2 –

Participantes...............................................................................Erro! Indicador não

definido.6

Figura 2- Escolaridade da amostra populacional do município de Santa Bárbara do Pará. Erro!

Indicador não definido.

Figura 3- Histograma sobre o tempo de moradia dos entrevistados na comunidade de Santa

Bárbara do Pará.........................................................................................................................21

Tabela 1- Profissões encontradas na comunidade do município de Santa Bárbara do Pará.....22

Tabela 2- Atividade complementar ao trabalho dos entrevistados, município de Santa Bárbara

do Pará......................................................................................................................................23

Figura 4- Gráfico referente à motivação da criação de aves silvestres como animais de

estimação no município de Santa Bárbara do Pará................................................................... 25

Tabela 3- Qui-quadrado dos criadores e não criadores distribuídos para cada categoria de

escolaridade.. ............................................................................................................................ 26

Figura 5- Gráfico das espécies encontradas nas residências dos criadores de aves de Santa

Bárbara do Pará.........................................................................................................................27

Tabela 4- Espécies encontradas nas residências dos criadores de aves de Santa Bárbara do

Pará............................................................................................................................................28

Figura 6- Gráfico sobre a alimentação oferecida as aves silvestres em cativeiro residência,

pelos entrevistados em Santa Bárbara do Pará. ....................... Erro! Indicador não definido.0

Figura 7- Gráfico indicando a percentagem de pessoas que consideram a ave criada como um

membro da

família....................................................................................................................Erro!

Indicador não definido.1

Figura 8- Gráfico evidenciando se os entrevistados conhecem a vida das aves no ambiente

silvestre. ................................................................................... Erro! Indicador não definido.2

Figura 9- Gráfico sobre a percepção dos entrevistados perante o bem estar das aves silvestres

na residência.. .......................................................................... Erro! Indicador não definido.2

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vii

Figura 10- Gráfico evidenciando o que os criadores idealizam como necessário para a

sobrevivência das aves

silvestres..............................................................................................Erro! Indicador não

definido.3

Figura 11- Gráfico mostrando a origem da ave silvestre. ....... Erro! Indicador não definido.4

Figura 12- Gráfico mostrando os locais onde as aves foram encontradas.Erro! Indicador não

definido.4

Figura 13- Gráfico sobre a percepção dos entrevistados quanto ao aumento e diminuição da

criação de aves silvestres em Santa Bárbara do Pará................................................................35

Figura 14- Histograma evidenciando o tempo das aves silvestres nas residências visitadas em

Santa Bárbara do Pará...............................................................................................................36

Figura 15- Ninhos nos troncos de árvores quebrados até a base para a retirada dos filhotes de

papagaios no Parque ecológico Gunma....................................................................................63

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viii

RESUMO

Ações antrópicas podem ocasionar a diminuição da avifauna amazônica, dentre estas temos a

criação de aves silvestres em cativeiro doméstico, uma atividade que estimula a proliferação

do comércio ilegal. Essa preocupação foi o que objetivou este estudo, no qual analisamos as

motivações que fazem com que os moradores de Santa Bárbara do Pará, Amazônia, Pará -

Brasil (N = 120) utilizem a avifauna silvestre como animais de estimação. Verificamos se a

criação de aves silvestres como pets estava relacionada com a escolaridade e os resultados

indicaram que esta ação ocorre independente do grau acadêmico, sugerindo que tal costume

seja influenciado por transmissão cultural (entre pais e filhos). Foram evidenciadas 64 aves

criadas, com destaque para as seguintes espécies Curió Sporophila angolensis, Sabiá Turdus

leucomelas, Coleira Sporophila nigricollis, Papagaio Amazona amazonica, Patativa

Sporophila americana e Tem-tem Euphonia violacea. O uso de aves silvestres como animais

de estimação causa prejuízos para as várias espécies, principalmente para as que são

capturadas indiscriminadamente, a exemplo pela espécie Sporophila angolensis, que

raramente é encontrada em ambiente natural nesse município. A partir destes achados

constatamos a necessidade da elaboração de estratégias para a diminuição da demanda de

animais silvestres para manutenção em cativeiro, principalmente por meio de ações de

educação ambiental.

Palavras-chaves: criação de aves silvestres, ações antrópicas, cultura.

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ix

ABSTRACT

Human actions can cause the decrease of Amazonian birds, among them we have the creation

of wild birds in domestic captivity, an activity that stimulates the proliferation of illegal trade.

This concern was which aimed the present study. From this, we analyze the motivations that

cause the residents of Santa Barbara Para, Amazonia, Pará - Brazil (N = 120) using the wild

birds as pets. We verified if the creation of wild birds as pets was related to schooling and the

results indicated that this action occurs regardless of academic degree, suggesting that such

custom is influenced by cultural transmission (from parents to children). Were seen 64 birds

created, especially the species Sporophila angolensis (Chestnut-bellied Seed-Finch), Turdus

leucomelas (Pale-breasted Thrush), Sporophila nigricollis (Yellow-bellied Seedeater),

Amazona amazonica (Orange-winged Parrot), Sporophila americana (Wing-barred Seedeater)

and Euphonia violacea (Violaceous Euphonia). The use of wild birds as pets cause damage to

various species, especially for those who are caught indiscriminately, like the Sporophila

angolensis, which is rarely found in the natural habitat in this county. From these findings we

see the need for developing strategies to reduce the demand for wild animals to be kept in

captivity, mainly through environmental education.

Keywords: wild birds creation, anthropic actions, culture.

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1

1 - INTRODUÇÃO

As aves são consideradas um dos grupos de vertebrados com maior diversidade,

estima-se que o total aproximado de avifauna atinge hoje 9.920 espécies (Birdlife

International, 2010). O Brasil apresenta uma das mais atrativas avifauna do mundo, onde se

encontram 1.832 espécies nativas (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos/CBRO,

2010). Dentre essas, mais ou menos 1.000 são encontradas na região amazônica, sendo 32

endêmicas deste território. Tal amostra corresponde a 11% do total mundial de espécies de

aves silvestres. Entretanto, ainda faltam trabalhos de levantamento de avifauna para

quantificar de forma concreta a região amazônica (Oren, 2001).

A criação de aves silvestres no Brasil é um costume advindo das populações

indígenas, que incorporam elementos avifaunísticos em suas lendas, mitos, supertições,

canções, rituais e desenhos rupestres. Além disso, eles também utilizam aves para a “diversão

doméstica”, mantendo-as como xerimbabos, palavra de origem indígena, Tupi-Guarani, que

significa "minha coisa querida" (Andrade, 1993). Nas aldeias brasileiras era possível

encontrar uma diversidade de espécies sendo usadas como “xerimbabos”, tais como

periquitos, papagaios, araras, bem-te-vis e muitas outras espécies (Nogueira-Neto, 1973).

Em Belém, no estado do Pará, o costume de criar aves silvestres como animais de

estimação também é uma cultura herdada dos índios (Polido & Oliveira, 1997). Porém a

manutenção desses animais em cativeiro, seja por afeto ou hobby, representa um grande

estímulo para a comercialização ilegal, redução e/ou extinção de espécies de aves nativas

(Casotti & Vieira, 1991; Robinson & Relford, 1991; Birdlife, 2010).

As aves são descritas como o grupo de animais com maior quantidade de espécies

pertencentes à lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção (Sick, 1997). Cerca de

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2

quatro bilhões de aves são comercializadas ilegalmente por ano, com 70% destinadas ao

comércio nacional e 30% ao mercado internacional (Vannucci-Neto, 2000). As ordens

Psittaciformes e Passeriformes são as mais capturadas e, consequentemente, encontradas com

mais frequência em apreensões feitas por autoridades ambientais (Wanjtal & Silveira, 2000;

Ferreira, 2001). Os exemplares da família Psittacidae são os que mais despertam interesse,

devido à habilidade em imitar a voz humana, inteligência, beleza e docilidade (Ribeiro &

Silva, 2007), menos procuradas apenas que cachorros e gatos (Rede Nacional de Combate ao

Tráfico de Animais Silvestres/RENCTAS, 2009). Os proprietários de papagaios acreditam no

bem estar do animal em ambiente domiciliar, pois esses animais têm a liberdade de andar pela

casa e recebem alimentação regularmente, além de poderem se “comunicar” com seus donos a

partir da imitação de sons provenientes da cidade ou de palavras usadas diariamente ao seu

redor (Moura, Vielliard & Silva, 2008).

O estresse é um estado comum entre as aves encontradas em cativeiro. Acredita-se que

isto se deve a falta de interações sociais com indivíduos conspecíficos, além da privação de

suas reais atividades cotidianas, como: forragear, cortejar a fêmea (no caso de machos),

copular e realizar o cuidado parental. O estresse se manifesta com a exibição de

comportamentos anormais, como movimentos estereotipados (balançar a cabeça

constantemente ou andar de um lado para o outro). No caso de papagaios, estes são altamente

sociais, interagem não só com os seus companheiros, mas também com outros de sua espécie.

Quando privados do contato conspecífico, eles tentam se socializar com seus proprietários a

partir da imitação da voz humana ou sons encontrados no meio urbano (Young, 2003; Mason

& Rushen, 2006; Graham, 1998).

As intervenções humanas afetam, significativamente, as espécies de aves que habitam

os ecossistemas naturais brasileiros. A resposta das mesmas a essas alterações varia desde

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3

aquelas que se beneficiam com as alterações do habitat e aumentam suas populações, até

aquelas que foram extintas da natureza (Sick, 1997).

Com a crescente diminuição do número de espécies de aves na natureza, faz-se

necessário uma forte iniciativa educacional, no sentido de desestimular a compra de animais

oriundos do comércio ilegal e a criação dos mesmos em residências sem a devida autorização

de um órgão público (RENCTAS, 2009). O objetivo desse trabalho é analisar como e por que

as aves silvestres são usadas em residências do município de Santa Bárbara do Pará,

descrevendo quais espécies são encontradas em cativeiro e a origem das mesmas para

posteriormente considerar necessidades conservacionistas e propor ações mitigadoras destes

impactos.

1.1- AVES SILVESTRES E O HOMEM: RELAÇÃO HISTÓRICA

A fauna silvestre tem sido explorada por nossos ancestrais desde os primórdios e antes

mesmo do uso da agricultura como um processo para fonte de subsistência, fato demonstrado

em desenhos rupestres nas cavernas em que habitavam. Apesar de haver informações sobre o

impacto que essas explorações tenham causado em várias espécies no Pleistoceno (Verdade,

2004; Broderick 1972, Martin 1972), a “pequena” população humana na época não parece ter

sido capaz de causar estragos muito grandes, tendo até o presente mais espécies sido extintas

em decorrência de alterações antrópicas de seus habitats causadas pela expansão da

agricultura e urbanismo, que propriamente pela sua utilização humana direta através da caça

(Myers, 1994; Wilson, 1993).

Os índios participaram do início da exploração da fauna silvestre. Domesticavam

espécimes unicamente para uso doméstico como animais de estimação, alegria e curiosidade

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para os olhos. Os animais permaneciam nas aldeias como xerimbabos, que significa “coisa

muito querida”, nome dado aos mantidos como de estimação, pelos índios brasileiros

(Carvalho, 1951 ; Cascudo, 1973 ; Spix & Martius, 1981). Por terem grande conhecimento do

modo de vida das espécies, os índios mantiam a alimentação correta de cada animal

(Nogueira-Neto, 1973 ; Sick, 1997).

Anteriormente a utilização da fauna silvestre pelos índios acontecia com critérios,

causando poucas ameaças a sobrevivência das espécies. Um exemplo era voltado para os

casos onde os mesmo, não abatiam fêmeas grávidas ou animais em idade reprodutiva. No

entanto, esse comportamento mudou após o contato com os colonizadores e exploradores

europeus. Começaram a explorar os recursos naturais mais seletivamente e em grande

quantidade, então começaram a ser usados como agentes predadores desses recursos, além de

caçarem para subsistência também comercializam pele e animais vivos (RENCTAS, 2009 ;

Polido & Oliveira, 1997).

No decorrer da exploração europeia, trazer animais desconhecidos era motivo de

orgulho para os viajantes, pois tais exemplares serviam, principalmente para comprovar o

encontro de novos continentes (Sick, 1997). As apresentações dos animais encontrados seriam

então, mais sugestivas do que somente narrações. Esses animais eram levados à Europa e

expostos e comercializados em feiras das cidades e despertavam interesse e curiosidade do

povo. Foi a partir dessa ação que o comércio de animais silvestres foi percebido como uma

atividade lucrativa, pois a fauna brasileira se constituía como atrativos para o público europeu

(Hangenbeck, 1910).

No final do século XIX a comercialização da fauna silvestre do Brasil para Europa se

sistematizou e a partir disso foi iniciado o processo de extermínio de varias espécies de

animais brasileiros para atender a “necessidade” do mercado estrangeiro (RENCTAS, 2009).

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5

O mercado interno ficou bem estabelecido na década de 60, disponibilizando mais

facilidade no acesso à fauna silvestre, sobretudo aves, seus produtos e subprodutos ficavam

expostos em feiras livres por todo o Brasil (Carvalho, 1951; Sick & Teixeira, 1979; Santos,

1990; Sick, 1997).

1.2- O COMÉRCIO ILEGAL : GRANDE AMEAÇA ÀS AVES

SILVESTRES

O comércio ilegal de aves continua a ser um problema sério, as aves são os animais

mais procurados por esse tipo de tráfico no Brasil, por sua beleza, canto e alta diversidade

(Sick, 1997), representando 82% apreendidos nos anos de 1999 e 2000 (36.370 espécimes)

(IBGE, 2004). Papagaios, coleiros, cardeais e pintassilgos constam nas apreensões em todos

os anos, indicando serem as espécies comumente criadas (Araújo, 2007).

Entre os inúmeros problemas de ordem socioambientais, o comércio ilegal de aves

silvestres é reconhecido hoje como uma atividade prejudicial ao meio ambiente em virtude da

alta importância ecológica dos mesmos. Esses animais são destinados a coleções particulares,

lojas de mascotes, feiras livres ou mercado exterior. Fato que pode aumentar o risco de

extinção das espécies, reduzindo consequentemente a biodiversidade local (Rocha et al.,

2006; Souza & Soares Filho, 2005).

Os traficantes de aves silvestres saqueiam vários ecossistemas para a obtenção de

lucro (Calhau, 2004). Essa ação provavelmente está associada a problemas culturais, de

educação, pobreza e falta de opções econômicas. É provável que os fornecedores ilegais que

vivem desprovidos de uma boa condição econômica, busquem no comércio da avifauna uma

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6

fonte de renda complementar. Esta prática é a terceira maior atividade ilícita do mundo, sendo

excedida apenas pelos tráficos de armas e drogas (RENCTAS, 2009).

Com a captura de filhotes de papagaios ainda não emplumados e não desenvolvidos,

ocorre o afastamento dos pais e destruição de ninhos, tornando quase impossível as chances

de sobrevivência e os que possivelmente conseguem, tornam-se animais de estimação em

várias residências familiares. Sabe-se que vários desses animais morrem por falta de boas

condições postas pelos criminosos que os transportam. Os proprietários dos papagaios

acreditam que estão fazendo bem às aves mantendo-as no ambiente domiciliar, pois imaginam

que a liberdade de andar pela casa e receber alimentação regularmente são ações que

possibilitam que o animal se torne membro da família. Imaginam que o fato da ave reproduzir

os sons da cidade ou palavras usadas diariamente diante da mesma, é o modo com que ela se

comunica com eles e isto mostra o “bem estar” do animal (Moura, Vielliard & Silva, 2008).

Recentemente diversos trabalhos têm abordado o comércio ilegal de aves silvestres, os quais

têm servido de subsídio para a diminuição dessas ações, que foram constituídas crimes

ambientais desde a promulgação da lei Federal nº 5.197 de 03 de janeiro de 1997 (Wolff,

2000).

Atualmente, várias espécies da fauna brasileira costumam ser tratadas como

mercadoria e tendem a assumir um novo status de conservação mais crítico. Não há fauna que

resista quando se torna alvo do comércio ilegal, como no caso da ararinha-azul Cyanopsitta

spixii da família Psittacidae, que foi categorizada como extinta da natureza, desapareceu do

Brasil quase no final do ano 2000. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste concentram

as áreas de captura (Lopes, 2002). Os animais retirados da natureza perdem a habilidade de

caçar seu alimento e de se protegerem de condições adversas. Além disso, um animal preso é

privado do processo reprodutivo, ficando incapacitado de gerar descendentes, aumentando o

risco de extinção de várias espécies (Ribeiro & Silva, 2007).

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7

No ano de 2011, 1.253 espécies foram consideradas ameaçadas com a extinção. Estes

representam 12,5% do total de 9.920 espécies de aves descritas no mundo. Um adicional de

843 espécies são consideradas quase ameaçadas e quatro estão extintas no ambiente silvestre,

no total de 2.082 espécies que necessitam urgentemente de medidas de conservação. Embora

extinções tenham sido melhor documentadas em aves que em outros grupos de organismos,

este total está aparentemente sendo subestimado porque extinções são difíceis de documentar

(Birdlife International, 2010). O corvo da ilha do Havaí, espécie conhecida como Hawaiian

Crow Corvus Hawaiiensis, da família Corvidae, também foi classificado como extinto, pois

desapareceu em junho de 2002. Uma espécie do Havaí, conhecida como Po‘ouli

Melamprosops phaeosoma da família Fringilidae, foi considerada criticamente ameaçada ou

possivelmente extinta, o último indivíduo documentado morreu em cativeiro em novembro de

2004 (Sick, 1997 ; Birdlife International, 2010).

De qualquer modo, pessoas que queiram adquirir animais da fauna como animais de

estimação aqui no Brasil, devem agir com responsabilidade e procurar os criadores

comerciais, que vendem animais nascidos em cativeiro e legalizados, conforme estabelecem

as leis ambientais brasileiras. Para aqueles que têm em casa animais silvestres e que por

algum motivo queiram se desfazer dos mesmos, a atitude correta é ir a uma sede do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) ou Secretaria Municipal de Meio Ambiente

(SEMMA) e fazer a entrega voluntária sem risco de sofrer qualquer penalidade. Não é

recomendado liberar esses animais novamente na natureza, pois mesmo libertos em locais

propícios, dificilmente sobreviverão, além de poderem estar levando doenças para os demais

animais florestais (Ribeiro & Silva, 2007).

Para preservar espécies com sucesso, os biólogos de Conservação devem identificar as

atividades humanas que afetam a estabilidade de populações e levam as espécies à extinção. É

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necessário também determinar os fatores que tornam uma população vulnerável à extinção

(Primack & Rodrigues, 2001).

1.3- LEGISLAÇÃO AMBIENTAL DA AVIFAUNA SILVESTRE

De acordo com o art. 3º da Lei 5.197/67 (lei de proteção à fauna), a fauna silvestre

constitui todos aqueles animais pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer

outras, aquáticas ou terrestres, reproduzidos ou não em cativeiro, que tenham seu ciclo

biológico ou parte dele ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território

Brasileiro ou em suas águas jurisdicionais. No âmbito do direito civil, os animais eram

considerados “coisas sem dono” e passíveis de apropriação a partir das modalidades de

aquisição descritas nos arts. 592º e 598º do Código Civil de 1916. Somente no fim da década

de 80, foram criadas portarias específicas sobre a implantação, o funcionamento e a

comercialização de animais silvestres, de acordo com as portarias de nº 117 e 118 do ano de

1997.

A partir da lei de nº 5.197/67, considera-se crime ambiental, matar, perseguir, caçar,

apanhar ou utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida

permissão, licença ou autorização de órgãos ambientais.

No ano de 2008, com a instrução normativa do IBAMA de nº 169, foram instituídas e

normatizadas novas categorias para o manejo da fauna silvestre e após este período, 28

espécies de aves foram liberadas para comercialização e para o uso como animal de

estimação, a resolução de nº 394 do ano de 2007 do Conselho do Meio Ambiente estabeleceu

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critérios para sua criação e para uso no comércio. No ano de 2010 surgiu uma nova normativa

de nº 15, como uma lista atualizada das novas espécies permitidas para o manejo e a criação

da avifauna brasileira.

Essa nova instrução normativa modernizou o setor faunístico, permitindo o uso de

aves silvestres. A partir disso, espera-se uma maior oferta de espécies disponíveis para criação

(para criatórios comerciais, científicos, conservacionistas ou amadores), talvez com isso as

demandas de exemplares capturados da natureza diminuam (leis mais detalhadas no anexo

IV).

1.4 – CONSEQUÊNCIAS DA DESTRUIÇÃO AMBIETAL SOBRE AS

AVES

As aves quando pertencem a um ambiente equilibrado, com condições ambientais

adequados apresentam melhor qualidade de vida. Esse conjunto de fatores ambientais

favoráveis ao desenvolvimento, são então intitulados como “hábitat ótimo”, o qual é

selecionado por um processo de evolutivo de adaptação ao habitat. Contudo, essas regiões são

alvos de vários interesses econômicos e explorações de seus recursos naturais, por seu grande

valor biológico (Morrison et al., 1998). Tais ações reduzem a área disponível,

consequentemente, ocasiona um aumento no grau de isolamento e severas consequências

sobre a variedade dessas aves, pois estas ações afetam a taxa de crescimento e

desenvolvimento populacional, diminuindo e alterando as interações das espécies e gerando a

deterioração da qualidade dos hábitats remanescentes ao longo do tempo (Forero-Medina &

Vieira, 2007 ; Saunder et al. 1991; Andrén 1994; Turner 1996; Laurance et al. 2002).

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Espécies que necessitam de alimentação e hábitats específicos são mais diversas e

abundantes em ambientes bem preservados, enquanto fragmentos e áreas cuja vegetação tenha

sofrido algum tipo de alteração tendem a perder tais espécies (Gray et al. 2007, O’Dea &

Whittaker, 2007). Os fragmentos florestais podem representar uma barreira para muitas

espécies de aves adaptadas a viverem no interior das florestas, o que impede o fluxo de

indivíduos entre os fragmentos, podendo com o tempo diminuir a variabilidade genética

dessas populações (Hayes, 1995).

Indivíduos isolados normalmente tem dificuldade de se reproduzir, caso consigam, a

reprodução acontecerá entre poucos indivíduos presentes no fragmento, trazendo um efeito

negativo para a sobrevivência da espécie, denominada “depressão endogâmica” que poderá

levar a perda da adaptabilidade da espécie (Young et al., 2000). Grandes desmatamentos

podem manter características bióticas adequadas para a sobrevivência de espécies viventes no

mesmo. Porém as que necessitam de maiores ambientes de vida ou com características

ambientais que não conseguem ser mantidas em fragmentos podem ser extintas. (Loiselle &

Blake, 1991).

O grau de tolerância de cada espécie às modificações no seu ambiente varia conforme

sua capacidade de modificar ou ampliar seu nicho, ajustando-o às novas condições do hábitat

(Welty & Baptistal, 1962). A partir disto, a destruição florestal pode ser tão prejudicial que o

hábito de vida dessas espécies sofrerão alterações, não permitindo a sobrevivência das mais

sensíveis a tais acontecimentos (Janzen 1983, Wiens 1992). Insetívoros forrageadores de solo,

por exemplo, os seguidores de formigas são aves que mais declinam com a fragmentação

(Stouffer & Bierregaard 1995), pois tais aves utilizam grandes áreas de florestas sem

atravessar áreas abertas (Willis & Oniki, 1978).

Insetívoros de dossel sofrem redução populacional com ocorrências de fragmentação,

porém não tendem a diminuir totalmente sua diversidade (Willis, 1979). Já os carnívoros,

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granívoros e frugívoros são mais afetados e tendem a diminuir de forma considerável o seu

tamanho populacional, resultado da perda de microhábitats, devido à redução da área da mata

(Aleixo & Vielliard, 1995). Entre essas espécies estão muitos falconiformes, que necessitam

de amplas áreas florestais (Galli et al., 1976) e os grandes frugívoros, que necessitam de

diferentes espécies vegetais frutificando sazonalmente, o que só ocorre em grandes florestas.

Por outro lado, espécies onívoras e que se adaptam bem a ambientes alterados podem se

beneficiar com a fragmentação (Willis, 1979).

A maioria das espécies endêmicas que utilizam as clareiras e bordas de mata também

foram beneficiadas pela degradação da vegetação florestal ao longo do tempo (Harris &

Pimm, 2004). Mas quando o equilíbrio de um ecossistema é alterado, a tendência é que o

mesmo busque um novo equilíbrio (Rosique & Barbieri, 1992) e para manter a integridade da

avifauna regional é necessário a conservação das grandes florestas (Diamond, 1975; Moore e

Hooper, 1975; Galli et al., 1976; Aleixo e Vielliard, 1995).

1.5- A CAÇA PREDATÓRIA DE AVES SILVESTRES

Os seres humanos constantemente caçaram ou exploraram a fauna e flora para sua

sobrevivência, quando os métodos de coleta eram mais rudimentares, as ameaças de extinção

não eram tão consideráveis (Primack & Rodrigues, 2001).

A caça é descrita como uma importante atividade para obtenção de proteína animal

para diversas comunidades (Bonaudo et al., 2003). Na Amazônia as aves são caçadas tanto

para alimentação quanto para domesticação. Estudos sobre os impactos das atividades

socioeconômicas e da captura predatória que influenciam a sobrevivência da avifauna são

comumente estudadas, com isso, foi estabelecido que caçadores amazônicos pratiquem a caça

apenas como uma atividade de subsistência.

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A caça pode ser classificada em cinco diferentes categorias: comercial, esportiva, para

fins científicos, subsistência e para controle: a) Caça comercial: que consiste basicamente em

vendas de carne e subprodutos, ou do animal vivo para uso doméstico, b) esportiva:

geralmente praticada pela classe média ou alta urbana que exercem aos fins de semana como

recreação, junto a clubes ou fazendas, c) fins científicos: basicamente usada para zoológicos,

estudos ou investigações biomédicas, d) subsistência: com o principal objetivo de suprir

necessidades alimentares, onde os caçadores geralmente são pobres ou pertencem a uma

comunidade simples, próximo a áreas rurais, normalmente constituem dois grupos distintos,

indígenas ou trabalhadores rurais, e) para controle: a caça é empregada como instrumento na

redução de populações silvestres que são consideradas pragas, que ocasionam prejuízos à

saúde pública, agricultura ou a ecossistemas nativos, assim que caçados os animais podem ser

vendidos (Ojasti, 2000).

De acordo com Baia Júnior (2006), nos anos de 2005 e 2006, foi registrado um total de

5.827 kg de carnes abatidas de animais silvestres. O autor relata que há deficiência na punição

para com os comerciantes de carne silvestres das feiras-livres de Abaetetuba.

Antigamente existia varias restrições para evitar a superexploração da fauna silvestre,

como por exemplo, controlar a caça de acordo com o território em que a mesma permanecia;

proibir a prática em certos horários do dia, em fêmeas ou jovens ou em certas épocas do ano

(Begossi, 1993).

Segundo Jupira e Anderson (1991) a Amazônia é uma das principais regiões que

exporta animais silvestres, esses usados no comércio brasileiro são comumente nativos das

regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. As espécies são transportadas por rodovias federais

por meio de caminhões, carros particulares e ônibus, para as regiões Sul e Sudeste do país.

Porém esse comércio é mais bem remunerado nos centros urbanos mundiais, como EUA e

países da Europa (Lopes, 2003; Pontes, 2003).

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2 – JUSTIFICATIVA

Muitas aves caçadas ou usadas como animais de estimação possuem uma função

essencial no meio ambiente, assim, com a diminuição da população das mesmas, há uma

influência negativa para o funcionamente adequado do ecossistema (Redford, 1992; Robinson

et al.,1999).

Sabendo da importância e funcionalidade desses animais para com o ecossistema,

recentemente surgem várias pesquisas sobre o que acontecerá com a retirada ou ausência de

tantas aves silvestres. Os frequentes saques que ocorrem no ambiente natural das aves

silvestres prejudicam a sobrevivência de algumas espécies como foi constatado por Moura

(2011) em sua tese de doutorado intitulada “Comportamento Reprodutivo e Dialetos

Populacionais do Papagaio-do-mangue Amazona amazonica”. A referida autora se deparou

com dificuldades como os roubos de filhotes de papagaio e destruições dos ocos (ver anexo

III). Essas ações impossibilitaram a continuação da busca de dados nesses ninhos. O autor

Lopes (2011) da dissertação “Comportamento vocal do Curió Oryzoborus angolensis”

também enfrentou problemas com a captura de aves silvestres, pois em sua pesquisa não

obteve indivíduos silvestres suficientes para a análise.

O Lobio, (Laboratório de Ornitologia e Bioacústica – LoBio/UFPA) grupo ao qual me

integro, já possuía trabalhos prévios na área de Ecoetologia no município de Santa Bárbara

do Pará, como estudos comportamentais de aves silvestres encontradas no Parque Ecológico

de Gunma e em seus arredores. Durante o desenvolvimento destes trabalhos em áreas do

entorno do município citado pudemos testemunhar que várias espécies silvestres estavam

sendo criadas como animais de estimação, especialmente o Curió Sporophila angolensis.

Atividades semelhantes, como as capturas de papagaios da espécie Amazona amazonica

foram registrados, na ordem de 70% dos ninhos monitorados (Moura, Vielliard & Silva,

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2008). Desse modo, tivemos interesse de obter informações sobre a origem das aves

silvestres, analisar a motivação para mantê-los dentro de um ambiente doméstico, averiguar

proporção da criação na comunidade e tentar entender a percepção dos proprietários das aves

criadas em cativeiro sobre a relação entre a comunidade humana e o ecossistema.

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3- OBJETIVOS

O principal objetivo desta pesquisa foi realizar um diagnóstico da percepção da

comunidade de três bairros (Bairro do Centro, Novo e Paraíso) do município de Santa Bárbara

(PA), sobre as aves silvestres mantidas como animais de estimação.

A proporção da criação de aves silvestres nesses três bairros;

Qual a percepção e motivação para a população possuir o costume de criação de aves

silvestres;

Se os entrevistados possuíam conhecimento quanto à vida das aves silvestres no

ambiente natural;

O tipo de alimentação que essas aves recebiam em ambiente domiciliar;

Se existe relação afetuosa entre ave silvestre e criador.

Quais as famílias de aves comumente criadas nos três bairros;

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4 – METODOLOGIA

4.1 – Área de estudo

O município de Santa Bárbara do Pará foi criado através da Lei nº 5.693, de 13 de

dezembro de 1991. Foi desmembrado do município de Benevides, com sede na localidade da

antiga vila de Santa Bárbara, que passou à categoria de Cidade, com a denominação de Santa

Bárbara do Pará. Localiza-se entre as coordenadas 01º13’25” de latitude sul e 48º17’40” de

longitude oeste da região metropolitana de Belém, a 50 km da capital. Apresenta uma área

territorial de 278 Km² às margens da rodovia PA-391 (Belém-Mosqueiro). Possui uma

população estimada de 17.141 habitantes (IBGE, 2009).

Figura 2- Mapa da localização de município de Santa Bárbara do Pará e dos três bairros visitados, Fonte:

INPE.4.2 – Participantes

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Do total de 120 moradores entrevistados, residentes nas comunidades da área de

estudo, 69 pertencem ao Bairro Centro, 42 ao Bairro Novo e 9 residem no Bairro Paraiso, de

ambos os sexos, maiores de 18 anos. O cálculo do tamanho amostral foi realizado através da

equação para uma amostra aleatória simples:

N= Tamanho da população estudada;

no= Primeiro valor aproximado do tamanho da amostra;

E0= Erro amostral.

Segundo a prefeitura do município de Santa Bárbara do Pará, o número de residências

dentre os três bairros visitados (Bairro Novo, Centro e Paraíso) é de 1.955 moradias, dessa

forma utilizando a equação acima e um erro amostral de 0,10.

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4.3 – Procedimento

Fase 1

As visitas para aplicação de questionários foram realizadas entre os meses de abril a

dezembro de 2011. As 120 residências foram selecionadas elegendo-se a primeira casa da rua,

suprimindo as cinco posteriores, voltando a realizar as entrevistas na sexta casa e assim

sucessivamente. Nesse período a metodologia adotada para o cumprimento do trabalho foi a

realização de sondagens por meio de entrevistas no decorrer de excursões em três bairros. Ao

nos identificarmos, apresentamos ao proprietário o termo de consentimento livre e esclarecido

(em anexo I), no qual estava explícito qual o cunho da pesquisa e como a mesma seria

realizada, dando ao mesmo o direito de aceitar participar ou não da entrevista. Os

questionários continham perguntas referentes a dados pessoais dos proprietários (em anexo

II), além de dados sobre o animal como: origem (em anexo II), o comportamento do animal

na residência (em anexo II).

Participaram das entrevistas tanto pessoas que criavam aves silvestres quanto pessoas

que não criavam, para que pudéssemos inferir uma proporção de quantos moradores possuíam

estes animais. As pessoas que afirmaram não possuir aves silvestres responderam apenas à

parte do questionário relativa aos dados pessoais, enquanto que as que afirmaram possuir

responderam questionário semiestruturado completo, ou seja, contendo questões abertas e

fechadas.

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Fase 2

Como segunda etapa do estudo, foram analisados os questionários de moradores que

criam aves silvestres em domicílio, verificando o modo em que o animal se encontra e como

ele é tratado pelos membros da família.

As análises quantitativas foram feitas com o programa Statistica (Stasoft) e Microsoft

Excel, através de análises descritivas, mostrando as porcentagens de indivíduos que criam e

que não criam aves silvestres em Santa Bárbara do Pará, bem como gráficos de espécies

criadas e preferidas, tempo de criação, origem do animal, etc. Realizamos o teste de Qui-

quadrado para verificar se havia diferenças significativas quanto à escolaridade dos criadores

de aves silvestres.

As análises qualitativas foram descritas e interpretadas por meio de uma revisão do

material obtido, a partir das anotações em campo e questionários preenchidos, a qual criará

uma observação pessoal por parte do pesquisador com relação ao comportamento e a

percepção dos entrevistados.

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5 – RESULTADOS

A comunidade do município Santa Bárbara do Pará foi criada recentemente, seus

moradores apresentam tempo de moradia que se diversifica entre um mês a 82 anos (Figura

3). Todos os indivíduos eram de ambos os sexos e maiores de 18 anos. Quanto à

caracterização de escolaridade, verificamos que no município há uma grande variabilidade

referente aos níveis escolares, apresentando desde o ensino básico à pós-graduação, de todos

os entrevistados, a maioria concluiu o ensino médio (Figura 4).

Figura 3 - Escolaridade da amostra populacional do município de Santa Bárbara do Pará.

A maioria dos respondentes era proveniente do estado do Pará (91%) e configurava

uma família, 32% são casados e 28% possuem cônjuge informal e ambos com vários filhos

(as), os solteiros (as) frequentemente aparecem como jovens estudantes ou mães solteiras

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(34%). As entrevistas foram aplicadas na maior parte para o sexo feminino, pois os homens

além de se apresentarem mais reservados às entrevistas também as evitavam, possivelmente,

por temor às autoridades governamentais relacionadas ao tráfico de animais silvestres.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Tempo de moradia/meses

0

5

10

15

20

25

30

35

40

ob

se

rva

çõ

es

Figura 4- Histograma sobre o tempo de moradia dos entrevistados na comunidade de Santa Bárbara do Pará.

Em relação à atividade profissional dos entrevistados, 24% do sexo feminino, declarou

que se dedica inteiramente a cuidar do lar, 10% são estudantes, 9% afirmam atuar como

autônomos (as), trabalham com vendas (papelarias, mercados de conveniências e roupas) ou

possuem empregos sem a carteira assinada (diaristas, mecânicos, etc), 7% são aposentados,

6% professores e outros 6% motoristas, os demais atuam em diversas profissões que podem

ser visualizadas na tabela 1 (lista completa das profissões encontradas).

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Tabela 1- Profissões encontradas na comunidade do município de Santa Bárbara do Pará.

PROFISSÕES DOS ENTREVISTADOS QUANTIDADE

Higienizador 1

Técnica na área da saúde 1

Secretária Administrativa 1

Mecânico 1

Carpinteiro 1

Servidora Pública 1

Serviços gerais 1

Eletricista 1

Mecânico industrial 1

Op. de Carregadeira 1

Cozinheira 1

Ajudante de Mecânico 1

Sociólogo 1

Sapateiro 1

Tec. Enfermagem 1

Pescador 1

Aux. Produção 1

Estoquista 1

Agente Comunitário de Saúde 1

Educador Social 1

Pintor 1

Costureira 1

Ferreiro 1

Caseiro 1

Serralheiro 1

Tratorista 1

Babá 2

Cobrador (a) 2

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Pensionista 2

Carregador 2

Pedreiro 2

Empregada doméstica 2

Servente 2

Motorista 8

Professor (a) 8

Aposentado (a) 9

Autônomo (a) 11

Estudante 13

Dona de Casa 30

Para a complementação da renda familiar dos entrevistados, além da profissão, os

mesmos recorrem a outras atividades. Verificamos que do total, 57% trabalham com vendas,

8% atuam esporadicamente em vendas de artesanato e 5% em armazéns como carpinteiros

(Figura 8), as demais atuações podem ser encontradas na tabela 2 (lista completa das

atividades complementares).

Tabela 2- Atividade complementar ao trabalho dos entrevistados, município de Santa Bárbara do Pará.

ATIVIDADE PARA COMPLEMENTAR AO

TRABALHO

QUANTIDADE

Agricultor (a) 1

Pescador 1

Motorista 1

Pedreiro 1

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Pintor 1

Soldador 1

Voluntário da Igreja 1

Vigilante 1

Professor de reforço 1

Carpinteiro 2

Artesã (o) 3

Autônomo (a) 20

5.1- Aspectos do costume de criar aves silvestres

De acordo com as respostas obtidas a partir dos questionários aplicados, a motivação

para a criação de aves silvestres está relacionada a diversos fatores, como a melodia do canto,

37% dos entrevistados afirmam que a vocalização das aves é o principal atrativo para a

criação: “Me sinto bem ouvindo o canto dos pássaros, é muito bonito” (V.O, motorista, 37

anos). O costume (17%) é a segunda razão, os respondentes acreditam que esse

comportamento foi passado de pai para filho: “Minha mãe gosta de criar galinhas, mas meu

pai sempre gostou de passarinhos, ensina meu sobrinho e ele gosta bastante, inclusive sai

bem cedo pra passarinhar” (L.P, Professora de educação geral, 35 anos), outros descrevem o

costume como uma atividade de entretenimento: “Nem sei por que gosto, acho que é como

um esporte, gosto de ver os bichinhos” (A.F, motorista, 49 anos). A beleza (15%) que está

relacionada às cores das penas, tamanhos variados e distração, também aparece como

justificativa para esta prática: “Eles são tão bonitos, engraçados e coloridos” (C.C, estudante,

19 anos). Os 13% da amostra populacional demonstra que o entretenimento que os animais

proporcionam ao lar, também desencadeia o uso das aves como animais de estimação: “Gosto

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de ter aves, por que é um lazer pra mim, principalmente quando é papagaio” (A.G, ferreiro,

36 anos). A imitação (4%) foi indicada em apenas duas espécies encontradas, uma é o

Papagaio (Amazona amazonica) e outra é o Tem-tem (Euphonia violacea), que imitam outros

animais, sons conhecidos, assobios, nome de pessoas e produzem sons musicais como o hino

nacional e outras músicas: “Gosto de criar papagaio, tudo o que eu ensino, ele fala” (M,

babá, 18 anos) e “O pai tinha um que falava quero café e cantava o hino nacional” (C.S,

dona de casa, 29 anos). As demais razões podem ser observadas na Figura 4.

Figura 4- Gráfico referente à motivação da criação de aves silvestres como animais de estimação no município

de Santa Bárbara do Pará.

Foi realizado o teste qui-quadrado com o intuito de verificar se frequência de criação

de aves silvestres está relacionada com a escolaridade. A partir do qui-quadrado conclui-se

que as variáveis analisadas são consideradas independentes (p > 0,05), isto é, pressupõe-se

que não há associação entre o nível de escolaridade e o costume de criar aves silvestres, pois

X² = 13,18; p = 0,21. A quantidade de criadores e não criadores está distribuída em suas

respectivas caselas para cada categoria de escolaridade na tabela 3.

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ESCOLARIDADE

NÃO CRIA CRIA TOTAL

Analfabeto (a) 2 0 2

Alfabetizado (a) 3 0 3

Ensino Fundamental Incompleto 22 17 39

Ensino Fundamental Completo 3 4 7

Ensino Médio Incompleto 14 5 19

Ensino Médio Completo 26 7 33

Magistério 2 0 2

Curso Técnico 2 0 2

Ensino Superior Incompleto 5 2 7

Ensino Superior Completo 1 1 2

Pós-graduação 4 0 4

Total 84 36 120

Tabela 3- Qui-quadrado dos criadores e não criadores distribuídos para cada categoria de escolaridade.

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5.2- Aspectos da manutenção das aves como animais de estimação

Foram encontradas em três bairros do município de Santa Bárbara do Pará, 64 aves

silvestres, 17 espécies de oito famílias (Figura 5 e Tabela 4).

Figura 5- Gráfico das espécies encontradas nas residências dos criadores de aves de Santa Bárbara do Pará.

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Tabela 1- Espécies encontradas nas residências dos criadores de aves de Santa Bárbara do Pará.

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO QUANTIDADE

ENCONTRADA

FAMÍLIA

Canário Sicalis columbiana 1 Emberizidae

Rolinha-cinzenta Columbina passerina 1 Columbidae

Papagaio-moleiro Amazona farinosa 1 Psittacidae

Periquito australiano Melopsittacus undulatus 1 Psittacidae

Aracuã Ortalis motmot 1 Cracidae

Bigodinho ou Bigode Sporophila lineola 1 Emberizidae

Caboclo-lindo Sporophila minuta 1 Emberizidae

Carreteiro Molotrus bonariensis 1 Icteridae

Saí-azul Dacnis cayana 1 Thraupidae

Cigarra Ammodramus aurifrons 2 Emberizidae

Trinca-ferro Saltator similis 2 Thraupidae

Tem-tem Euphonia violacea 4 Fringilidae

Brejal ou Patativa Sporophila americana 5 Emberizidae

Papagaio-do-mangue Amazona amazonica 6 Psittacidae

Coleira ou Gola-preta Sporophila nigricollis 6 Emberizidae

Sabiá-branco Turdus leucomelas 7 Turdidae

Curió Sporophila angolensis 23 Emberizidae

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A partir do questionário preenchido abordando a nutrição e origem das aves silvestres

mantidas como animais de estimação e da relação do mesmo com pesquisas já existentes,

obtivemos explicações plausíveis para o uso das três famílias mais criadas, que são:

i. Os emberizídeos são os pássaros mais procurados pelos criadores de aves silvestres no

município de Santa Bárbara do Pará, isso ocorre provavelmente por três motivos

principais: (1) Hábito alimentar, pois a maioria é granívoro, herbívoro ou frugívoro e

isso os torna animais “econômicos” para se ter em casa; (2) Hábitat natural, sendo

encontradas em campo aberto, o que os torna mais facilmente visíveis para a captura;

(3) Comportamento vocal, que chama a atenção de “passarinheiros” através da

melodia suave de seu canto, extremamente variado e ressonante (Sick, 1997).

ii. Os psitacídeos são bastante encontrados em residências como animais de estimação

por serem aves graciosas, com capacidade de imitação, proporcionarem “boa

companhia” e serem considerados animais onívoros no ambiente familiar.

iii. Os turdídeos conquistam a simpatia de todos por seus cantos “múltiplos”, assobios

prolongados e altos timbres (Sick, 1997), por serem onívoros, além da facilidade de

sua visualização na natureza, por se adaptarem bem a ambientes urbanos.

O principal aspecto da criação de aves silvestres como pets está mais relacionado ao lazer.

Apesar desta última estar vinculada à captura de exemplares selvagens dificilmente servirá

para subsistência, prevalecendo assim a apreciação pelas características comportamentais das

espécies (vocalização, imitação, inteligência).

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A maioria dos entrevistados afirmou não possuir dificuldade na manutenção dessas

aves, isso ocorre pelas características supracitadas, pois as aves que são normalmente criadas

na comunidade não possuem uma alimentação financeiramente dispendiosa. E as que são

consideradas onívoras aceitam facilmente diversos tipos de alimentos, dessa forma, quando os

mantenedores não possuem condições para comprar frutas, grãos ou ração adequadas para as

aves, eles as alimentam com a mesma refeição que há no cardápio cotidiano deles, tais como:

feijão, ovo cozido, macarrão, café, leite em pó e outros manufaturados (Figura 6).

Figura 6- Gráfico sobre a alimentação oferecida as aves silvestres em cativeiro residência, pelos entrevistados

em Santa Bárbara do Pará.

Dos criadores de aves silvestres de Santa Bárbara, 78% pessoas as consideram como

membros da família e 22% as tinham apenas como animais de estimação (Figura 7), 78%

afirmaram que sabem que o animal estaria com melhor qualidade de vida na natureza, porém

mesmo assim os criam, 14% acreditam que as aves fiquem com maior longividade em

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ambiente domiciliar, 5% não souberam dizer onde acham que as aves teriam melhor

qualidade de vida e 3% afirmaram que não importa onde elas estejam contanto que haja

abrigo para as mesmas.

Figura 7- Gráfico indicando a percentagem de pessoas que consideram a ave criada como um membro da

família.

Dentre os criadores de aves silvestres, 64% não possuem conhecimento do

comportamento selvagem das mesmas e 36% afirmam reconhecerem fatores básicos, como:

onde encontrar, o que comem e o tipo de vocalização (Figura 8). Essa falta de informação,

possivelmente é um fator influenciador do costume de possuir animais silvestres como

mascotes (Figura 11).

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Figura 8- Gráfico evidenciando se os entrevistados conhecem a vida das aves no ambiente silvestre.

Figura 9- Gráfico sobre a percepção dos entrevistados perante o bem estar das aves silvestres na residência.

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A ideia que a maioria das pessoas entrevistadas possui é que para a sobrevivência das

aves silvestres em cativeiro é necessário que elas possuam três principais elementos , 36%

afirmam que a “alimentação” correta é o elemento chave, 28% alegam que a água é

indispensável para esses animais e 13% asseguram que o “cuidado” é a melhor forma de

conservação para os mesmos (Figura 10).

Figura 10- Gráfico evidenciando o que os criadores idealizam como necessário para a sobrevivência das aves

silvestres.

Segundo os respondentes, a origem dos animais encontrados é bem variado, porém a

maioria é decorrente, possivelmente, do comércio ilegal, já que 45% dos animais foram

comprados, 30% foram cedidos por familiares ou amigos que já não queriam a

responsabilidade dos cuidados e 20% foram supostamente “encontrados”, um próximo a rua

da residência, dois no quintal de parentes e cinco no quintal da própria residência (Figuras 11

e 12).

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Figura 11- Gráfico mostrando a origem da ave silvestre.

Figura 12- Gráfico mostrando os locais onde as aves foram encontradas.

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Dos entrevistados, 66% acham que o hábito de criar aves silvestres no município de

Santa Bárbara está aumentando: “Acho que tá aumentando, porque se o pai cria, o filho vai

no mesmo costume e quando vê, tá pai e filho criando” (E.C, dona de casa, 37 anos) e “A

prática tem se mantido, há um comércio em relação aos que são considerados bons, vendem

os bichos até por mil reais” (L.P, professora de educação geral, 35 anos), 31% acreditam que

o costume está diminuindo na região, “Acho que a criação aqui tá diminuindo, porque o

pessoal pega e leva pra fora como venda clandestina” (A.G, ferreiro, 36 anos) e “Porque

agora eles pegam mais pra traficar os bichinhos e alguns não tem paciência” (R.R, dona de

casa, 50 anos). Somente 3% alegaram não ter informação sobre a criação de aves na

comunidade (Figura 13).

Figura 13- Gráfico sobre a percepção dos entrevistados quanto ao aumento e diminuição da criação de aves

silvestres em Santa Bárbara do Pará.

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O tempo de permanência dessas aves nas residências dos entrevistados oscila entre

uma criação recente (um mês) ou mais antiga (oito anos) (Figura 14). Talvez essa longevidade

de criação seja o motivo pelo qual os criadores presumam que as mesmas estejam melhor em

sua residência, concluem que no ambiente natural esses animais não teriam a mesma

qualidade de vida.

01 -

04

me

se

s

05 -

12 m

ese

s

18 -

48

me

se

s

49 -

96

me

se

s

Tempo da criação de aves

0

2

4

6

8

10

12

14

de o

bse

rva

ções

Figura 14- Histograma evidenciando o tempo das aves silvestres nas residências visitadas em Santa Bárbara do

Pará.

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A escolha das respostas dos entrevitados que aparecem como exemplo ocorreu de

acordo com sua compacticidade ao texto da dissertação, também usamos as pessoas que

melhor exibiram opinião quanto a questões aplicadas a eles, encontradas no formulário (anexo

II).

A análise referente aos questionários exploratórios nos permitiu uma visão geral a

respeito da percepção dos moradores da área de estudo quanto ao hábito de criação aves

silvestres no ambiente domiciliar. A partir disso haverá a possibilidade de realização de

estudos relacionados à pesquisa em conservação e a etnoornitologia, o que permitirá a

construção de planos para conceber atividades minimizadoras de impactos negativos que o

uso dessas aves para animais de estimação e outros fatores antrópicos causam, assim

integrando a população ao contato direto e indireto com a fauna, por meio de visitas ao

ambiente natural dessas aves e cartilhas informativas, ambas as estratégias para a construção

de um processo afetivo e contínuo no contexto da educação ambiental.

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6- DISCUSSÃO

A fauna silvestre vem contribuindo para a humanidade de forma direta e indireta ao

longo de sua existência, para vários fins: medicinais, estéticos, ornamentais, de

entretenimento e comerciais (Barrera - Bassols & Toledo, 2005; Pattiselanno, 2004; Zapata,

2001).

Na área pesquisada não encontramos evidências de que a população utilizavam os

animais para fins medicinais ou estéticos, o uso somente estava referente a fins ornamentais,

de entretenimento ou comerciais. Da posse dos entrevistados, as aves possivelmente eram

originadas do comércio ilegal, isto é, compradas de pessoas que provavelmente as obtiveram

de forma não legalizada, onde a captura animal ocorreu em um hábitat natural, sem o almejo

de criação, apenas para a comercialização. De tal forma que os mesmos não usem condições

de transportes e armazenamentos adequados, o que consequentemente ameaçam a

sobrevivência dessas (anexo III). A maior parte das espécies em risco de extinção encontram-

se nesta situação ocasionadas pela ação do homem (Primack & Rodrigues, 2001). Atualmente

essas ameaças ambientais aparecem como contribuintes para o declínio de diversas espécies

de aves (BirdLife International, 2011).

Estas ações necessitam de grande atenção, pois estes costumes, aparentemente com

apelo cultural, se proliferam diariamente, levando muitas espécies a um alto grau de

vulnerabilidade. Na comunidade estudada verificamos que poucos entendem a necessidade

das aves silvestres permanecerem na natureza ou não reconhecem que cada ser vivo pode ter

uma função determinada para o funcionamento adequado do ecossistema. O entendimento de

que cada espécie é um item importante para a sobrevivência do planeta é essencial para a

percepção de que atitudes como o tráfico ilegal de animais silvestres e sua manutenção em

cativeiro tem consequências muito mais graves e irreversíveis.

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Para o uso de qualquer recurso natural, é necessária a utilização do manejo silvestre,

de acordo com as normas governamentais. Dessa forma, a atividade se torna um ciclo de

auxílio para o consumo desses produtos biológicos sem prejuízos aos mesmos, além de gerar

empregos e por tanto um melhoramento socioeconômico.

A interação entre seres humanos e a biodiversidade representa um viver que se

perpetuou ao longo da história da humanidade. No Brasil, essa prática se iniciou a partir de

sociedades indígenas e posteriormente por descendentes dos europeus desde o período

colonial (Alves & Pereira Filho, 2007).

Levando em consideração que os resultados evidenciaram que a criação de aves

silvestres não está relacionada com os níveis baixos de escolaridade e nem com a classe

social, talvez a razão para o costume esteja ligado aos valores culturais que são repassados de

pais para filhos ou possivelmente com o sexo masculino, visto que os criadores, na maioria

das visitas nas residências, eram do homens, sendo que as mulheres ficavam com a função de

alimentar os animais caso os donos não estivessem presentes. O afeto e o cuidado que os

proprietários possuem com as aves, geram conflitos familiares, já que as mulheres afirmavam

que os companheiros disponibilizavam muito mais atenção e cuidados para as aves silvestres

que para elas.

O enfoque central do comércio de aves está mais relacionado ao lazer, pois mesmo

atividades como a caça/captura de exemplares, não estão vinculadas à práticas de consumo

para subsistência e sim para apreciação de alguma característica comportamental animal

(vocalização, imitação, inteligência). A maioria das espécies de aves citadas como animais de

estimação na comunidade de Santa Bárbara do Pará eram canoras, evidenciando que a

vocalização é o principal fator para a obtenção das aves. Outra curiosa característica

visualizada no município, é que estas aves comumente pertenciam aos entrevistados do sexo

masculino, já psitacídeos eram mais procurados pelo sexo feminino (na maioria das vezes

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senhoras), podendo demonstrar de alguma forma, que a capacidade de imitação da voz

humana, vocalização de animais domésticos (cachorro, gato, etc) , sons de objetos urbanos

(buzinas, sirenes, apitos, etc) e o “companheirismo” que o animal ocasiona, possivemente,

são características que servem para suprir a falta de atenção de algum membro da família.

No âmbito conservacionista, a manutenção da diversidade de espécies tem se

transformado em um dos objetivos mais importantes da atualidade. A diversidade de aves não

se restringe a um conceito pertencente ao mundo natural, a mesma é também uma construção

cultural e social. As espécies são fontes de conhecimento, de domesticação e uso, de

inspiração para mitos e rituais das sociedades tradicionais, e finalmente, mercadoria nas

sociedades modernas (Diegues & Arruda, 2001).

Para que haja preservação ambiental, o ser humano deve se ajustar às leis que

conduzem a sua forma de agir e interagir com o meio ambiente, mas de nada adianta, se as

mesmas não forem aplicadas ou exercidas. As autoridades públicas devem fazer com que a

sociedade cumpra tais leis através do ato fiscalizatório. E para que exista uma fiscalização

funcional, é necessária a destinação de recursos financeiros e recursos humanos (Zago, 2008).

Com a preocupação de entender o comportamento relacionando ao ponto de vista

genético e cultural, pesquisadores focaram seus estudos em quatro objetivos: comparar

sistemas de herança genético e cultural, entender as forças de transmissão cultural (seleção

cultural, por exemplo), entender as principais estratégias de aprendizado humano em termos

evolutivos (tentativa-e-erro, imitação e aprendizado social). De acordo com isso obtiveram o

coeficiente de similaridade cultural, um grau onde ações são influenciadas pelos pais, com

isso é estudado a probabilidade de indivíduos dividirem a mesma idéia (Pulliam & Dunford,

1980).

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É importante entender as relações que existem entre os humanos e não humanos, a

maneira que animais silvestres são usados e as espécies mais utilizadas. As aves são de grande

importância para a comunidade humana, considerando contextos econômicos e culturais.

Estudos etnoornitológicos são fundamentais para a elaboração de estratégias de conservação e

gestão (Bezerra et al., 2011).

Enfatiza-se que uma boa alternativa para amenizar os problemas relativos ao meio

ambiente é começar a construir diálogos de saberes referentes à contextos ecológicos na

sociedade, modificando a visão de superioridade do homem em relação à natureza (Zago,

2008).

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7- CONCLUSÃO

O município de Santa Bárbara do Pará é caracterizado por apresentar grande

quantidade de indústrias madeireiras, consequentemente se torna muito visado por órgãos de

fiscalizações ambientais, este fato fez com que alguns moradores (principalmente

funcionários dessas indústrias) evitassem responder ao questionário, dificultando e

enviesando a coleta de dados.

A criação de aves silvestres na comunidade representa uma prática relacionada a um

costume local, o qual é influenciado pela cultura indígena da região amazônica, que os

acompanha muito antes da colonização do Brasil e com isso desconsideram-se os níveis

sociais e de escolaridade como fatores de influxo.

Além da transferência cultural, outros fatores acarretam no manejo tradicional de aves

silvestres, como a proximidade do município às áreas naturais. Isto favorece um maior contato

da população com animais silvestres, causando interesse e facilitando sua captura. A maioria

dos proprietários conhece a alimentação adequada de cada espécie, com exceção dos

psitacídeos, pois os “passarinheiros” presumem que os animais sejam onívoros, porém na

realidade são granívoros e frugívoros. Além disso, há carência de conhecimento acerca da

vida silvestre dessas aves. Poucos conhecem de fato seu hábitat, seu comportamento em

ambiente natural e sua importância para a manutenção do ecossistema.

As famílias, Fringilidae, Turdidae, Psittacidae e principalmente Emberizidae

compreendem os grupos mais encontrados nas residências. E o Curió (Sporophila

angolensis), o Sabiá-branco (Turdus leucomelas), o Papagaio-do-mangue (Amazona

amazonica), a Coleira ou Gola-preta (Sporophila nigricollis), o Brejal ou Patativa (Sporophila

americana) e o Tem-tem (Euphonia violacea) são as espécies comumente criadas. A origem

dessas aves é diversa, além do apanhe, também ocorre a compra e troca desses animais, que

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de acordo com os resultados foram escolhidos como animais de estimação devido à beleza,

melodia do canto, capacidade de imitação, entretenimentos que os mesmos proporcionam às

famílias e na maioria dos casos, devido uma transmissão cultural ocasionada por um membro

da família (normalmente do sexo masculino), visto que os homens se mostram como

principais compartes na interação entre aves silvestres e os mais jovens da família.

Não encontramos evidências de que a população utiliza animais silvestres para fins

medicinais ou cosméticos. Observamos o uso somente para fins ornamentais, de

entretenimento ou comerciais. As aves encontradas nas residências possivelmente eram

originadas do comércio ilegal, isto é, compradas de pessoas que as obtiveram por meio da

captura em um ambiente natural, almejando criação ou comercialização.

O costume regional de criar aves silvestres se prolifera diariamente, levando muitas

espécies à vulnerabilidade. Na comunidade estudada verificamos que poucos entendem a

necessidade das aves - permanecerem na natureza ou não reconhecem que cada ser vivo possa

ter uma função determinada para o funcionamento adequado do ecossistema. Entender que

cada espécie é um item importante para a sobrevivência do planeta é essencial para a melhoria

de costumes como o tráfico ilegal de animais silvestres.

Neste contexto, visualizamos a carência de se planejar projetos que além de instruírem

novos conceitos ambientais, também sejam capazes de construir ou modificar atitudes

incoerentes com a manutenção da vida silvestre, com condições para a construção de saberes

de cunho ecológico, a partir de processos educativos, com metodologias que atribuam

sensibilidade ambiental, de modo que os atuais e possíveis criadores de aves silvestres possam

se capacitar para analisar as consequências dessa criação para com a qualidade de vida animal

e entender que esta atividade pode favorecer o tráfico silvestre.

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ANEXO I

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Universidade Federal do Pará

Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento

Laboratório de Ornitologia e Bioacústica

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Nome da Pesquisa: Percepção sobre a criação de aves silvestres como

animais de estimação no município de Santa Bárbara do Pará.

Estou realizando uma pesquisa que tem como objetivo desempenhar um

levantamento da população de aves silvestres mantidas em cativeiro no município

de Santa Bárbara do Pará. A participação dos sujeitos se dará por meio de uma

única entrevista que terá duração de aproximadamente 40 minutos. A sua

colaboração nesta pesquisa será de grande importância, por isso estou solicitando

sua aceitação ao responder algumas perguntas relacionadas ao local onde reside e

sobre os animais existentes em sua casa.

Não haverá o uso de câmeras fotográficas ou gravadoras sem o

consentimento do entrevistado. Os resultados desta pesquisa poderão fundamentar

futuros projetos de educação ambiental e servir de ferramenta para programas de

conservação de aves silvestres. Servirá também para aumentar o conhecimento a

respeito da biologia e ecologia desses animais a partir dos conhecimentos

tradicionais. Esses resultados poderão ser publicados e apresentados em eventos

científicos, sendo garantido o mais absoluto sigilo da identidade do sujeito

entrevistado.

O Sr. ou Sra. poderá desistir de participar da pesquisa a qualquer momento,

com a garantia de que nenhum prejuízo ocorrerá para sua pessoa. Caso você tenha

quaisquer dúvidas, estarei disponível para fazer os devidos esclarecimentos por

meio dos seguintes contatos: Cel.: (91) 8291-8014 / 8801-4068 ou e-mail:

[email protected].

______________________________

Viviany Amaral Costa

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56

Declaro que li esse documento, assumindo que entendi com clareza todas

as informações aqui registradas. Declaro que espontaneamente aceitei participar

como voluntário na pesquisa, cooperando com as informações solicitadas.

Data __/__/__

Assinatura do responsável

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ANEXO II

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Apêndice A - Roteiro da entrevista semi-estruturada

Número:______ Data da aplicação: ___/___/___ Bairro: _____________________.

I. Identificação

1. Código/nome:

2. Sexo: ( ) M ( ) F Solteiro ( ) Casado ( ) Outro ( )

3. Data de nascimento: ______/______/______

4. Naturalidade:

5. Profissão/Ocupação:

6. Escolaridade:

7. Tempo de residência na área de estudo:

8. Atividades complementares ao trabalho

( ) Agricultura

( ) Caça

( ) Pesca

( ) Comercio

( ) Trabalha fora

( ) Outro ____________________________.

II. Conhecimentos sobre a criação de aves:

1. Qual espécie você possui e qual você prefere criar?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

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59

2. Qual a razão da escolha de aves como animal de estimação?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. Há quanto tempo você possui este animal? ___________________________.

4. Você considera seu animal um membro da família?

( ) Sim ( ) Não

5. Origem do animal:

( ) Cedido ( ) Encontrado ( ) Comprado

6. Se o encontrou especificar o local?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

7. Você encontra alguma dificuldade na manutenção deste animal dentro de casa?

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60

( ) Sim ( ) Não

8. Vocaliza todos os dias?

( ) Sim ( ) Não

9. Se for papagaio, o que ele mais vocaliza?

( ) Som de buzina.

( ) Nome de pessoas ou de outros animais.

( ) Barulhos estranhos.

( ) Assobios

( ) Outros ____________________________________.

10. Qual a preferência alimentar do animal?

________________________________________________________________

11. O que você conhece sobre o animal (o indivíduo que cria) (hábitos, dormitório,

origem, etc.)?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

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12. O Sr.(a) acha que ele é mais “feliz” na natureza ou na sua residência? Justifique.

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

13. O que você acredita ser o mínimo necessário para a sobrevivência deste

animal?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

14. O Sr.(a) tem observado se a presença desses animais na região tem aumentado

ou diminuído? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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62

ANEXO III

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Figura 15- Ninhos nos troncos de árvores quebrados até a base para a retirada dos filhotes de papagaios no

Parque ecológico Gunma.

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64

ANEXO IV

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65

Condições exigidas para um criatório comercial

O interessado em implantar criadouro com fins econômicos e industriais de animais da

fauna silvestre brasileira deverá protocolar carta-consulta na Superintendência do IBAMA

onde pretende instalar o empreendimento, conforme modelo constante no Anexo I da presente

Portaria, com documentos e informações necessárias a partir do que é exigido pelo órgão

responsável, levando em consideração o art. 6º da portaria nº 118 de outubro do ano de 1997.

Para os efeitos desta Portaria, após a aprovação das informações contidas na carta

enviada ao IBAMA, um projeto deve ser elaborado e assinado por um responsável técnico

devidamente habilitado pelo respectivo conselho de classe regional. A responsabilidade

técnica pelo projeto e execução do empreendimento poderá ser assumida por órgão estadual

ou municipal de extensão rural, de acordo com o caput deste artigo e se ocorrer qualquer tipo

de alteração, o proprietário deverá comunicar ao IBAMA em até 30 dias (art. 8º).

Para a formação de plantel inicial, o criadouro poderá utilizar matrizes e reprodutores

de animais da fauna silvestre brasileira proveniente de estabelecimentos registrados ou

cadastrados junto ao IBAMA e de ações de fiscalização na ausência destes, poderá solicitar a

captura na natureza, mediante requerimento que informe o nome do responsável pela captura

e pelo transporte, local de captura, quantidade de animais a serem capturados, métodos de

captura, meio de transporte e apresentação de censo populacional estimativo (art. 11º)

A área criadouro deve possuir instalações capazes de possibilitar o manejo, a

reprodução, a criação ou recria de animais pertencentes à fauna silvestre brasileira (art. 2º), o

mesmo deve ser implantado em propriedade que possua Reserva Legal averbada em Cartório

ou área declarada como Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, devidamente

comprovada, será isentado da apresentação do Documento de Recolhimento de Receitas - DR

para registro inicial e do recolhimento da taxa de renovação de registro anual (art. 10º).

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Condições exigidas para um criatório científico

A manutenção e ou criação em cativeiro da fauna silvestre brasileira com finalidade de

subsidiar pesquisas científicas em universidades, centros de pesquisa e instituições oficiais ou

oficializadas pelo poder público art. 1º, portaria nº 016, de 04 de março de 1994, ocorre a

partir de uma solicitação do registro junto às Superintendências Estaduais do IBAMA,

mediante requerimento encaminhando junto a um projeto de Pesquisa, contendo informações

relevantes para a mesma, sujeitar-se-ão às normas desta Portaria art. 2º.

A utilização de espécies constantes na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçadas de Extinção, somente poderá ser autorizada quando houver, comprovadamente,

benefício da pesquisa em favor da espécie (art. 3º).

Como as Instituições de Pesquisa são normalmente localizadas em área urbanas, as

mesmas necessitaram possuir sistemas de segurança contra fuga de animais, apetrechos para

sua captura e pessoal habilitado para tais ações (art. 4º). A forma para solicitar a obtenção e

instalações para os mesmo ocorre da mesma maneira que a criação comercial.

Se por algum motivo a instituição não necessitar mais do uso animal, a mesma deve

buscar outro centro de pesquisa para que haja a transferência dos animais e deverá mantê-los

até que surja oportunidade de transferência (art. 6º). Os locais ficam condicionados a vistorias

técnicas frequentes do IBAMA (art. 9º).

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Condições exigidas para um criatório conservacionista

Os criatórios conservacionistas deverão ter áreas especialmente delimitadas e

preparadas, dotadas de instalações capazes de possibilitar a criação racional de espécies da

fauna silvestre brasileira, com assistência adequada, art. 1º da portaria de nº 139 de 29 do mês

de dezembro de 1993.

Os espécimes do plantel conservacionista, em hipótese alguma poderão ser objeto de

venda (art. 5º). As permutas de animais entre criadouros brasileiros devem ser objeto de

consulta prévia ao IBAMA e as internacionais, além disso, deverão obedecer as normas da

Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens em

Perigo de Extinção - CITES. E assim como outros criatórios serão postos a frequentes

vistorias.

Condições exigidas para um criatório amador

O interessado em possuir uma ave silvestre como animal de estimação deve estar

ciente que a ação é considerada uma grande responsabilidade, a respeito das características

comportamentais do animal, cuidados com alimentação, prevenção e tratamento de doenças,

fornecimento de abrigo e segurança adequada às leis vigentes e deve procurar um

estabelecimento comercial autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O criador será inscrito automaticamente no

Cadastro Técnico Federal, conforme determina a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, sendo

expedido o número de registro, senha pessoal e intransferível que deverão ser utilizados para

acessar ao Sistema de Passeriformes SISPASS e receberão anilhas. No caso de óbito de aves

as respectivas anilhas deverão ser encaminhadas ao IBAMA para fins de baixa no plantel.

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Aves silvestres mesmo em cativeiro doméstico e mediante autorização do poder

público na forma da Lei n. 5.197/67 permanecem sendo um bem de propriedade da União.

Em caso de desaparecimento, roubo, furto ou fuga de indivíduo(s) da(s) espécie(s), o criador

deverá registrar ocorrência policial, que deverá ser informada no SISPASS (art. 3º). A

validade para a criação tem validade anual, devendo ser requerida uma nova licença 30 dias

antes do vencimento.

Penalidades para irregularidade

A inobservância desta Instrução Normativa implicará na aplicação das penalidades

previstas nas Leis nº 5.197, de 3 (três) de janeiro de 1967 e n.º 9.605, de 12 de fevereiro de

1998, no Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999, e demais legislações pertinentes (art.

17º). Na comprovação de irregularidade o infrator será autuado e terá os pássaros

apreendidos, podendo as aves permanecer sob a guarda do infrator até que o IBAMA

providencie a destinação final dos mesmos. Em nenhuma hipótese os órgãos fiscalizadores

que mantêm convênio com o IBAMA poderão efetuar solturas aleatórias de pássaros oriundos

de criadores amadoristas registrados.