As Origens Do Tango (1850-1900)

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As Origens do Tango (Santos & Barros, 1998) Tango Como Palavra As artes, neste caso as músicas, as danças, as canções, e as palavras que as designam não possuem sempre a mesma procedência. A origem, a gênese e o nascimento das artes que chamamos Tango e os da palavra que o designa não são o mesmo. A palavra Tango já existia em culturas mais antigas que o do Rio de La Plata. Na cultura negra, na linguagem dos africanos, Tango significa aproximar-se, tocar, palpar. Em Montevidéu, desde o final do século XVIII, a cerimônia de coroação dos reis Congos se chamava semba, bámbula, chicha e tambo ou Tango. Entre os negros de Cuba também se conhecia a palavra Tango como designação de baile. No sul dos Estados Unidos, no século passado e entre músicos de cor, se chamava "tangana" a um ritmo inspirado nas raízes cubanas, assim mesmo, em uma cidade da África equatorial em Ubangui, leva o nome de Tango. Segundo Holanda (1986), é uma palavra de origem africana através do Espanhol - Platino que significa espécie de pequena tambor africano; dança executada através desse instrumento; entre outros citados anteriormente. Na cultura indígena, particularmente entre os nativos de Honduras, se denominava Tango a um instrumento de percussão e também ao rolo de tabaco para fumar envolto em uma melaça para conserva-lo fresco. Em uma cultura hispânico - latina, Tango em latim, procede de "tactum", tocar. Tem diversas acepções, entre outras a de tocar uma pessoa, terra, porto ou objeto; comover, golpear e ferir; fazer versos de vez em quando e tocar um tema. No castelhano antigo, consequentemente, o verbo "tangir" significava tanger ou tocar um instrumento. Já na cultura japonesa, havia uma região próxima a grande cidade de Osaka se denominava Tango. No antigo Japão, o conceito dos números estava associado com animais ou objetos. Assim, o número dois o associava com a idéia da vaca. A esta associação chamavam Tango. No Japão atual, a festa das crianças - que celebra o quinto dia do quinto mês de cada ano - se denomina Festa do Tango. Tango, em japonês significa vocabulário. Em conseqüência, a origem da palavra Tango e a origem da palavra criada no século XIX e desenvolvida no século XX, não são o mesmo. Formação da Sociedade Argentina e Tangueira

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Textos COPIADOS. Referências originais:Santos, L.J.M. & Barros, L.O. (1998). A Estruturação Histórica do Tango Argentino: uma análise de 1850 à 1890. Disponível em: Tango Por Si Solo (http://www.tangoporsisolo.com.br/historia_danca.html)

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As Origens do Tango (Santos & Barros, 1998)

Tango Como Palavra

As artes, neste caso as músicas, as danças, as canções, e as palavras que as designam não possuem sempre a mesma procedência. A origem, a gênese e o nascimento das artes que chamamos Tango e os da palavra que o designa não são o mesmo. A palavra Tango já existia em culturas mais antigas que o do Rio de La Plata.

Na cultura negra, na linguagem dos africanos, Tango significa aproximar-se, tocar, palpar. Em Montevidéu, desde o final do século XVIII, a cerimônia de coroação dos reis Congos se chamava semba, bámbula, chicha e tambo ou Tango. Entre os negros de Cuba também se conhecia a palavra Tango como designação de baile. No sul dos Estados Unidos, no século passado e entre músicos de cor, se chamava "tangana" a um ritmo inspirado nas raízes cubanas, assim mesmo, em uma cidade da África equatorial em Ubangui, leva o nome de Tango. Segundo Holanda (1986), é uma palavra de origem africana através do Espanhol - Platino que significa espécie de pequena tambor africano; dança executada através desse instrumento; entre outros citados anteriormente.

Na cultura indígena, particularmente entre os nativos de Honduras, se denominava Tango a um instrumento de percussão e também ao rolo de tabaco para fumar envolto em uma melaça para conserva-lo fresco.

Em uma cultura hispânico - latina, Tango em latim, procede de "tactum", tocar. Tem diversas acepções, entre outras a de tocar uma pessoa, terra, porto ou objeto; comover, golpear e ferir; fazer versos de vez em quando e tocar um tema.

No castelhano antigo, consequentemente, o verbo "tangir" significava tanger ou tocar um instrumento. Já na cultura japonesa, havia uma região próxima a grande cidade de Osaka se denominava Tango. No antigo Japão, o conceito dos números estava associado com animais ou objetos. Assim, o número dois o associava com a idéia da vaca. A esta associação chamavam Tango. No Japão atual, a festa das crianças - que celebra o quinto dia do quinto mês de cada ano - se denomina Festa do Tango. Tango, em japonês significa vocabulário.

Em conseqüência, a origem da palavra Tango e a origem da palavra criada no século XIX e desenvolvida no século XX, não são o mesmo.

Formação da Sociedade Argentina e Tangueira

Na segunda metade do século XIX, a humanidade conhece e vive um dos seus maiores movimentos migratórios, desde os países da Europa meridional até o Rio del Plata na Argentina e Uruguai.

A maioria dos imigrantes era composta de espanhóis (que originaram os crioulos - descendentes destes nascidos na América) e italianos das regiões menos afortunadas. Existiam também imigrantes humildes de Portugal, Grécia, Alemanha, Inglaterra, Suíça, Suécia e outras nações fundadas de culturas antigas. Estes chegavam buscando prosperidade econômica e os governantes "del Plata" os recebiam, pensando em absorver a mão de obra barata que propiciaria um crescente enriquecimento da nação.

Nesta insólita babel de línguas, conhecimentos e costumes sobrevive o caos que parece ordenar-se sobre as bases metafísicas do destino. A partir desta miscigenação começa a construção do mito Tango.

Os Primórdios do Tango

"As mais remotas raízes do Tango estão prefiguradas na alma do nosso povo", cita Ferrer (1996: 31). Através de quadros trazidos pelos imigrantes é notável as cenas líricas dos bairros de Madri com trios de violino, violão, bandolim e flauta, "modelo certo do que muito próximo serão os grupos tanguistas" (Silingo, 1992).

Nesta época, entre os negros, índios, crioulos, campeiros (rioplatenses) bailava-se de uma maneira livre em músicas como valsas, de origem austríaca e alpina; passo doble, chotis, de

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origem escocesa; habaneras, de origem cubana; polka; massurca; cuadrilla e milonga, mais ainda não existia o Tango, enquanto dança, propriamente dito, como explana Selles (1978), em sua obra "La Historia del Tango: La Milonga - El Vals".

Segundo Sierra (1979), "... os entretenimentos somente aos domingos ou ao sumo do fim de semana de cidades de vida unicamente alterada por motivos bélicos, políticos ou praga. Estão os bailes das coletividades italianas e espanholas, onde com pequenas canções, se intercalam habaneras ou milongas em Buenos Aires e milongones em Montevidéu". As habaneras, milongas e milongones também eram denominados genericamente Tangos devido a certa semelhança rítmica.

Próximo ao porto, estavam os "Cafés - Concert" e os tablados recreativos onde "homens e mulheres se reuniam com a finalidade de aproximar seus corpos, seus sorrisos, taças de bebidas e fumo dos tabacos provindos de Cuba, Jamaica e Filipinas", (Silingo, 1992).

Em Buenos Aires e em Montevidéu existem as tradicionais festas da coletividade africana celebrada desde o final do século XVIII. Nestas existem os, rituais religiosos e secretos, que o público branco não tem acesso. E o ato público conhecido com candomblé, também chamado de Tango, em que os negros celebram a coroação dos Reis Congos. Após distintas proibições, inclusive depois das abolição da escravatura, a cerimônia original de congos e angolas decai.

As cerimônias, atos e os espetáculos aqui relatados, resumem, guardam uma variedade de danças e canções cujos giros, alguns cujas cores, sabores e graças estarão na palheta dos criadores rioplatenses na hora de empreender a começada epopéia do Tango argentino.

ReferênciaSantos, L.J.M. & Barros, L.O. (1998). A Estruturação Histórica do Tango Argentino: uma análise de 1850 à 1890. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd16/tangob.htm> Acesso em 08 de setembro de 2015.

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Tango

O tango é a dança dos corpos entrelaçados. É um diálogo novo, a sedução feita movimento. O casal de baile roça os sapatos entre sensuais carícias, como se houvesse um romance entre os bailarinos.

A primeira expressão precursora do que seria o tango, foi a incorporação nos bailes, do casal abraçado - e figuras coreográficasa próprias dos bailes dos negros.

Nos bailes dos negros, marcando a coreografia do candombe, o som da pele do tambor deu-lhe o nome de tan-gó. De acordo com o musicólogo Ortiz Oderico, o nome tango é uma corruptela do nome Xangô, deus do trovão e das tempestades na mitologia dos Yorubás da Nigéria (África Ocidental), onde Xangô também era o nome do tambor usado nos rituais.

Como afirma Jorge Luiz Borges, o tango é negro na raiz.Segundo Horacio Ferrer, "com a Guardia Vieja há um empobrecimento da dança do

tango. Com a ampla divulgação tirada de sua privativa condição de dança de la orilla, as figuras que a adornavam foram suavizando-se, empobrecendo ou perdendo-se paulatinamente. Do bailarino de bordel da Boca ao bailarino de cabaré há tanta diferença, como deste para o bailarino dos clubes atuais".

Em 1865, o ator canadense residente em Buenos Aires, German Mckay, parodiava seus gestos e linguagem, personificando comicamente o Negro Schicoba, na interpretação de canto e dança chamados tango.O compasso foi mudando com os anos, mas o ritmo da canção entoada por Mckay, cuja partitura ainda existe, fez do velho candombe a dança oficial dos negros; o Negro Schicoba, escrita em 2/4, mostrava, em seus compassos de "habanera", certos traços do que viria a constituir-se o som e a estrutura musical do tango.

No passado eram populares várias espécies de tango: o "tango andaluz" (1855-1880), o "tango cubano" e outras variedades. Os conhecidos como "tangos africanos" eram interpretados pelos artistas das companhias espanholas que atuavam na cidade e entravam em cena caracterizados de negros, como fazia Mckay e outros atores americanos.

Em público, dançavam homens com homens. Naqueles tempos era considerada obscena a dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos aspectos do tango que o manteve circunscrito aos bordéis, onde os homens utilizavam os passos que praticavam e criavam entre si nas horas de lazer mais familiar.

O tango como é hoje conhecido era dançado nos bailes do sub-mundo, que aconteciam na periferia e arrabaldes de Buenos Aires: Corrales Viejos ( hoje conhecido como Parque Patricio); Bateria (hoje, Retiro), Santa Lucia, em Barracas al Sur (hoje Avellaneda) e em Recoleta, onde hoje existe o aristocrático parque com o mesmo nome.

Os personagens dos arrabaldes eram compadres, malandros e arruaceiros e o cenário eram as casas de danças e bordéis baratos.

É aí onde começa a tragetória do tango e a primeira etapa de sua identidade musical acontece quando é criada sua orquestra típica "criolla". Do contato com os bordéis, aparece uma série de títulos com duplo sentido: "El Choclo", "La Flauta de Bartolo", "La Cara de la Luna", "La Budinera", "Dame la Lata", "Che", "Sacame el Molde", etc.

Esse ambiente fez com que o tango fosse uma música proibida. Não só pelos personagens e lugares onde era executado, mas também pela maneira como os pares dançavam, tão agarrados, dando-lhe um caráter erótico e carnal difícil de se disfarçar.

Carlos Vega, estudioso da dança universal, expressava, num artigo publicado em 1954 no Jornal La Prensa: ""dançar tango é algo grave e profundo; quando se dança não se ri".

Texto retirado do site Tango Por Si Solo (http://www.tangoporsisolo.com.br/historia_danca.html)