Artigo - Arte de Massa Em Busca Da Legitimidade Cultural Atraves de Vida e Obra de James Rosenquist

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Arte de Massa em Busca da Legitimidade Cultural, através de Vida e Obra de James Rosenquist

Art of mass in search of cultural legitimacy through life and

workmanship of James Rosenquist

Milena Anunciada Monteiro

Acadêmica do curso de Bacharelado em Design da Universidade

Federal de Pernambuco – UFPE; [email protected]

Resumo

Este artigo tem como objetivo mostrar como o artista pop James

Rosenquist conseguiu transformar a arte de massa em arte erudita,

utilizando por base os conceitos do sociólogo francês Pierre Bourdieu.

Tomando por base os seus conceitos de trajetória e posições, é possível

observar que este ao iniciar-se como profissional da área publicitária

conseguiu tornar-se um dos mais importantes artistas do movimento Pop

Art. Embora esta não seja considerada por muitos como exatamente arte

erudita, é fato que ela não pertence ao campo da arte média, fazendo

hoje parte da história da arte estudada por todos que buscam um alto

grau de consagração no campo erudito.

Palavras-chave: Rosenquist, Pop Art, Bourdieu

Abstract

This article has as objective show how the pop artist James Rosenquist

obtained to transform the mass art into erudite art, using for base the

concepts of the french sociologist Pierre Bourdieu. Taking for base his

concepts of trajectory and position, It’s possible to observe that this

when initiating itself as diligent of the area advertising executive become

one of the most important artists of the movement Pop Art. Although this

is not considered by many as accurately erudite art, it’s fact that it

doesn’t belong to the field of the average art, making today part of the

history of the studied art for that they search one high degree of

consecration in the erudite field.

Keywords: Rosenquist, Pop Art, Bourdieu

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Introdução

O Pop Art foi um movimento que teve suas raízes no campo publicitário,

mesmo que não por completamente, pois possui uma grande abordagem

política e popular através de meios artísticos, mas com muitos elementos

desta área. Por isso muitas controvérsias para alguns autores sobre a

erudição deste movimento.

Alguns termos são necessários para melhor compreensão deste artigo.

Serão utilizados conceitos de habitus e de campo, de arte média e arte

erudita segundo o autor estudado para explicar o desenvolvimento das

competências do artista James Rosenquist. O habitus pode-se dizer como

um tipo de disposição de uma prática de diversas pessoas que geram

estratégias em busca de uma solução para algum problema de ordem

social, como um costume ou mesmo uma prática. Este conceito surge de

uma necessidade de apreender relações de afinidade entre o

comportamento dos agentes e as estruturas sociais desenvolvidas:

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que,

integrando todas as experiências passadas, funciona a cada

momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de

ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente

diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas

[...] (Bourdieu, 1983)

O segundo conceito a ser abordado trata do campo. Um espaço social de

dominação e de conflitos, assim podemos defini-lo. Cada campo possui

suas regras e tem certa autonomia. Trata-se do poder simbólico. Nele se

estabelece uma relação entre os signos, o que pertence ou não a certo

código de valores pré-definidos. Estes conceitos serão usados na arte,

como objetivo desde artigo, visto que analisaremos segundo a Pop Art.

Eles definem a luta simbólica entre o que é erudito e o que pertence ao

campo industrial, aqui chamada de arte média. Dentro do campo existe o

que chamamos de graus de consagração a serem alcançados e assim

posições serem tomadas.

Segundo Pierre Bourdieu, a passagem do campo da arte média é apenas

ilusória para o campo erudito. E que os presentes da arte média muitas

vezes sofrem de um efeito aparente, desta mobilidade. Neste artigo será

demonstrado através da trajetória de James Rosenquist como ele

conseguiu alcançar a arte erudita vindo de um campo industrial,

enquanto trabalhava como artista gráfico criando campanhas

publicitárias. Analisando a Pop Art como arte erudita, segundo os

conceitos de Bourdieu.

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Pop Art e James Rosenquist: Legitimidade Cultural

O Movimento Pop Art

Considerada como arte de massa por alguns estudiosos, a Pop Art surgiu

em um contexto social de consumismo e comunicação em massa, o que

influenciou diretamente na sua forma de aparição. Deu os seus primeiros

passos na década de 50 na Inglaterra e nos Estados Unidos, lutava de

certa forma pela preservação dos valores da cultura popular. A idéia era

mostrar o mundo da forma como era mais popular possível e utilizava-se

de técnicas publicitárias e uso de personagens populares na mídia, tudo o

que fazia parte do dia-a-dia.

Enquanto movimento, podemos considerar a Pop Art a partir dos anos

60. O movimento de início buscava quebrar conceitos como os de arte

erudita e arte média de Bourdieu. Era constante o uso de ironia e

sinceridade por seus artistas e assim considerada como algo

extremamente heterogêneo. Mas tinham como objetivo fazer o

expectador pensar, nada era afinal aleatório ou apenas para vender, como

é o campo da arte média, totalmente industrial.

Nesta época do surgimento da Pop Art, os avanços tecnológicos estavam

bombardeando o mundo, e logicamente os artistas se usavam deles

tentando assim fazer com que o seu público pudesse obter uma visão

crítica de tudo que acontecia no mundo. Eles queriam transformar a arte

erudita em algo que atendesse a todos:

[...] “Arte popular, transitória, consumível, de baixo custo,

produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, chamativa,

glamorosa e um grande negócio” (Madoff, 1997 apud McCartht,

2002).

Podemos citar como elementos da Pop Art o uso de quadrinhos,

colagens, fotografias, num contexto de mudança política e otimismo. A

arte deveria ser verbal e visual, figurativa e abstrata era um jogo

ambivalente. Todas essas técnicas e elementos com influências de outros

movimentos artísticos como Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e

Surrealismo. A arte era mais que conceitual; eram obras de arte que

podiam e deviam estar à venda.

Vida e Obra de James Rosenquist

James Rosenquist é um dos grandes expoentes da Pop Art. Cresceu nos

estados de Minessota e North Dakota, nos Estados Unidos e com 14

anos, ganhou uma bolsa de estudos na Minneapolis School of Art (hoje,

Minneapolis College of Art and Design).

Começou a pintar no estilo do Expressionismo Abstrato, e ao mesmo

tempo trabalhava como artista gráfico produzindo gigantescos cartazes

publicitários nos Estados Unidos.

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São elementos comuns nas obras de Rosenquist: automóveis e suas

peças, comidas, artistas famosos, agressão, política, tudo isso em

espantosas e gigantescas colagens. São obras que tinham o intuito de

agir diretamente sobre o espectador. A pintura e as técnicas da

publicidade fascinavam o pintor, para ele as técnicas quando usadas

como ferramentas pelo pintor tornavam-se algo fantástico:

[...] “A pintura é provavelmente mais excitante do que a

publicidade. Porque não há de ser feita com a mesma potência e

entusiasmo, o mesmo impacto?" (ROSENQUIST, 2003)

Pop Art em Busca da Legitimidade Cultural

Por ser totalmente influenciada pelas técnicas publicitárias, a Pop Art

perde um pouco do conceito de arte erudita dado pelo sociólogo

Bourdieu. E os próprios artistas buscam isso: a quebra deste conceito.

Mas se o aplicarmos hoje vemos que mesmo que a arte alcance a grande

massa e seja uma arte comercial, é preciso alcançar certo grau para poder

entendê-la.

A Art Pop hoje faz parte da academia, e James Rosenquist um ícone da

formação do movimento. Suas obras têm grande poder simbólico, um

quadro ou uma escultura não é vendida apenas por caráter comercial, nos

dias de hoje é muito mais pelo poder simbólico que estas obras agregam.

Para compreender o porquê desta dificuldade de se aplicar um conceito é

necessário analisar a realidade social que começava a surgir na época. É

impossível não aceitar o fato do desenvolvimento do capitalismo

impulsionando a luta de classes e o desenvolvimento da cultura de

massa, o “produzir” e “vender” atingindo o ápice, perdendo seu valor

simbólico. Os homens produzem os bens necessários à sua vida, a forma

como ele produz é considerado como infra-estrutura pelo filósofo Karl

Marx, importante citar quando fala-se de capitalismo. A superestrutura é

a estrutura ideológica, onde a infra-estrutura determina a super.

Tomando por base os conceitos marxistas isto significa que o homem

atua sobre o aquilo que o determina. Existe certa alienação, no campo

industrial dizemos que o trabalhador quando vende sua força de trabalho

se torna estranho ao produto concebido por ele. O produtor não tem

controle sobre o seu ritmo de trabalho. Não podemos aplicar isso hoje à

Pop Art de James Rosenquist, é notório que sua obra hoje pode ser

vendida, mas às custas de um alto poder simbólico.

A Trajetória e as Tomadas de Posição

Para compreender o porquê das obras de Rosenquist terem alcançado

legitimidade cultural, é preciso entender que as posições ocupadas no

interior do sistema de produção e circulação de bens simbólicos, e a

posição que é ocupada na hierarquia propriamente cultural dos graus de

consagração, influenciam diretamente a forma das relações que os

produtores de bens simbólicos mantém com outros produtores, e com

sua própria obra.

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Todas as posições que constituem um campo de produção cultural não se

apresentam disponíveis com a mesma probabilidade dos ocupantes, ou

seja, para cada uma das posições no campo de produção e circulação

corresponde a um tipo particular de posição cultural. Uma dependa da

outra quando diz que só podem ser definidas em relação às demais

posições culturais.

Podemos entender mais facilmente a posição ocupada, ou a forma de

alcançar essa posição quando analisamos a trajetória seguida pelo artista.

Quanto maios for o grau de consagração dos membros do campo,

maiores serão suas ambições e conseqüentemente isso é relativo à

trajetória de sua posição inicial, da família de origem (origem social =

habitus). Quando nos deparamos com as escolhas nas trajetórias

intelectuais ou artísticas observamos que essa “escolha” depende da

posição atual e potencial que o campo intelectual ou artístico atribui às

diferentes categorias. É o que fez Rosenquist escolher ser um pintor ao

invés de um artista gráfico fazendo anúncios publicitários.

James Rosenquist poderia ter continuado a ser um artista gráfico fazendo

produtos e vendendo conforme as leis do campo industrial. Mas a

trajetória por ele traçada inicialmente definiu sua mobilidade para a arte

que hoje podemos chamar de erudita. Esta trajetória foi delineada, na

convivência com pais artistas, na educação nas escolas de arte

(instancias de consagração), e hoje sua obra alcançou um alto nível de

legitimidade cultural, ela faz parte de museus, para que todos aqueles

que hoje fazem parte do campo erudito possam apreciar.

Referências

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Sergio Miceli, Silvia de Almeida Prado, Sonia Miceli e Wilson Campos

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