ARTETERAPIA
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UNP - UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
PR REITORIA DE PESQUISA E PS GRADUAO LATO SENSU
CURSO DE ESPECIALIZAO EM ARTETERAPIA
EDUCAO E ARTETERAPIA
UM NOVO OLHAR NA EXPRESSIVIDADE MUSICAL
SONIA DA SILVA
-
SO PAULO
2004
-
SONIA DA SILVA
EDUCAO E ARTETERAPIA
UM NOVO OLHAR NA EXPRESSIVIDADE MUSICAL
Monografia apresentada Universidade Potiguar,
(RN) e ao Alquimy Art, de So Paulo, como
parte dos requisitos para a obteno do ttulo de
Especialista em Arteterapia.
Orientadora: Prof. MsC. Deolinda
Florim Fabietti
-
SO PAULO
2004
-
SILVA, Sonia da
Educao e Arteterapia- Um Novo olhar na
Expressividade Musical / Sonia da Silva. So Paulo: [s.n.],
2004.
61p.
Orientadora: Prof. MsC. Deolinda Florim Fabietti.
Monografia: (Especializao em Arteterapia) UnP/ Universidade Potiguar (RN) Pr - Reitoria de Pesquisa e Ps - Graduao Lato Sensu e Alquimy Art (SP), 2004.
1. Arteterapia 2. Expressividade Musical
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SONIA DA SILVA
EDUCAO E ARTETERAPIA
UM NOVO OLHAR NA EXPRESSIVIDADE MUSICAL
Monografia apresentada pela aluna Sonia da Silva ao curso de Especializao
em Arteterapia em ______/_____/______ e recebendo a avaliao da Banca
Examinadora constituda pelos professores:
________________________________________________________________
______
Prof. MsC. Deolinda Florim Fabietti Orientadora e Coordenadora da
especializao.
________________________________________________________________
______
Prof. Dra. Cristina dias Allessandrini Coordenadora da Especializao.
-
________________________________________________________________
______
Prof. Dr. Liomar Quinto de Andrade Professor convidado e leitor crtico.
-
Para Lara, meus alunos e todos queles
-
que acreditam no afeto como agente transformador.
-
AGRADECIMENTOS
Prof. MsC. Deolinda Florim Fabietti que me acolheu como orientadora.
Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini pelo incentivo de trilhar mais esse
caminho.
minha filha Lara pela compreenso e respeito.
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A todos que compartilham comigo meus sonhos e anseios.
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No sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
No sou apenas a pedra que rola
nas mars do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construo e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistrio.
A quatro mos escrevemos o roteiro
Para o palco do meu tempo:
O meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos
a srio.
Lia Luft, 2004, p.12
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RESUMO SILVA, Sonia da. Educao e Arteterapia - um novo olhar na Expressividade
Musical.61p. Monografia (Ps - Graduao Lato Sensu) UnP/Universidade Potiguar RN e Alquimy Art em So Paulo. So Paulo, 2004.
Esta monografia apresenta a questo da relao entre som e movimento corporal ligada
prtica educativa e arteteraputica, com portadores de deficincia visual, fsica e mental.
uma pesquisa qualitativa que visa ressaltar a importncia da transdisciplinaridade e do olhar
sistmico no enfoque pedaggico e teraputico, estabelecendo paralelos e confrontos entre
esses dois campos de atuao, tendo a linguagem musical como foco de ateno.Baseia-se nos
fundamentos tericos de H.J. Koellreuter e R. Laban na prtica pedaggica e na teoria geral
de sistemas de Kusenbrik na Arteterapia. Demonstra por meio da anlise de dois projetos
independentes o carter expressivo e acolhedor necessrio aos objetivos de uma proposta de
Oficinas Criativas em Arteterapia.
Palavras-chave: Oficinas - Processos Criativos - Educao Musical Arteterapia.
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ABSTRACT
SILVA, Sonia da. Education and Art Therapy- a new eyesight into music expression. 61p.
Monograph: (Post Graduation Certificate) UnP/Universidade Potiguar (Potiguar University of
Rio Grande do Norte) and Alquimy Art Learning research Center in So Paulo. So Paulo,
2004.
This monograph presents the relationship between sound and body movements, related to
Educational and Art Therapeutic Practice, with seeing impaired, handicapped and mentally ill
individuals. It is a qualitative research that aims to point out the importance of using multiple
disciplines and the systemic view point in the educational and therapeutic approach,
establishing parallels and confrontations between these two fields of acknowledge, having the
musical language as the focal point. It proposes theoretical principles based on H.J.
Koellreutter and R. Laban for Education and general theory of the systems of Lusebrink for
Art Therapy. Through the analysis of two independent projects (in Education and in Art
Therapy), this work intends to show the expressive and necessary welcoming spirit needed to
achieve the goals of a proposal of Creative Workshops in Art Therapy.
Key words: Workshops - Creative process - Musical education - Art Therapy.
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SUMRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................................. 05
RESUMO................................................................................................................................... 08
ABSTRACT............................................................................................................................... 09
INTRODUO......................................................................................................................... 10
I. O CAMINHO.................................................................................................................... 10
II. COMPONDO A ESCRITA............................................................................................ 12
Captulo 1: EDUCAO......................................................................................................... 14
1.1 Teoria da evoluo da conscincia humana segundo Koellreutter............................ 16
1.2. Teoria sobre anlise do movimento segundo Rudolf Laban...................................... 18
1.3. Afinidades temporais e espaciais entre movimento corporal e sonoro..................... 23
1.4. A fluncia do movimento............................................................................................... 24
Captulo 2: ARTETERAPIA................................................................................................... 30
2.1. O ser terapeuta............................................................................................................... 30
2.2. Percursos em arteterapia.............................................................................................. 32
Captulo 3: OFICINAS DE EDUCAO MUSICAL COM PORTADORES DE
DEFICINCIA VISUAL.........................................................................................................
35
3.1. A criao de um novo territrio................................................................................... 35
3.2. A oficina de educao musical...................................................................................... 37
Captulo 4: OFICINAS DE ARTETERAPIA COM PORTADORES DE
DEFICINCIA FSICA E MENTAL.....................................................................................
44
4.1. Sujeitos e caracterizao............................................................................................... 44
4.2. Atividade: Construo da maquete coletiva................................................................ 47
4.3. Desvendando processos................................................................................................. 53
Captulo 5: EDUCAO E ARTETERAPIA....................................................................... 57
CONSIDERAES FINAIS................................................................................................... 59
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................................... 60
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10
INTRODUO
I. O CAMINHO
H 31 anos trabalho com educao musical de crianas, jovens e adultos e acredito
que minha viso de ser humano tenha seguido sempre em direo crena de que somos seres
com caractersticas nicas, prprias, individualizadas e singulares dentro de um universo
energtico comum a todos os humanos.
Meu percurso profissional sempre tentou ressaltar esse aspecto da singularidade do
desenvolvimento humano embora eu no tivesse conscincia e conhecimento de teorias a
respeito do assunto.
A constatao de que s se transmite bem aquilo que se vive, levou-me desde cedo a
indagaes sobre questes relacionadas ao processo de como aprender e de como ensinar; o
quanto a maneira, a inteno, a postura, o entusiasmo e o contedo do professor poderiam
transformar a qualidade da educao. Desde o incio, percebi que as relaes deveriam
necessariamente passar tanto pelo cognitivo como pelo afetivo. Concluso essa bastante bvia
hoje, mas em 1972, nos meus 20 anos, vinda de uma educao essencialmente positivista, no
me parecia nada comum pensar nesses aspectos.
Tive a oportunidade durante esses anos de trabalhar com outras culturas e perceber
que todas elas tinham o mesmo fundo comum de situaes e comportamentos simblicos.
Intuitivamente caminhava com o desejo de desvendar o que me parecia a grande riqueza e
desafio da educao: como podemos lidar com processos conscientes e inconscientes
simultaneamente?
Levando em considerao que processos de transformao na conscincia so para se
vivenciar mais do que para se estudar, acredito que minha trajetria profissional tenha
ocorrido no s no nvel de uma percepo desperta, como tambm numa evoluo da prpria
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conscincia. Um desenvolvimento profissional que surge como resultado de um processo
global de transformao de mente, crebro, corpo e mudanas de vida.
Fazer msica fez parte de minha rotina infantil como um gesto de participao na
sociedade onde o expressar-se encontrou seu caminho no universo sonoro.
Expresso talvez, no incio, de sensaes, sentimentos e percepes mais intuitivas e
espontneas do que pensadas e refletidas, talvez reflexo de uma cultura dominante onde o
criar individual tivesse menor espao e fosse, com certeza, sobretudo subjugado cultura
positivista herdada da velha Europa.
Tendncias a superestimar atividades com o hemisfrio esquerdo do crebro foram
vividas na medida em que nossa educao e cultura nelas se apiam em supremacia. Por ter
como aliada a prtica musical, o livre trnsito entre os dois hemisfrios felizmente fluiu no
decorrer do meu crescimento profissional. Acredito que foi rompendo uma antiga ordenao
que o meu processo de transformao ocorreu com certezas, questionamentos, aflies e
alegrias no sentido de uma maior maturidade.
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12
II. COMPONDO A ESCRITA
Podemos pensar que tenha sido uma tenso intelectual que tenha provocado uma
mudana de paradigmas. Baseando essas observaes na Conspirao Aquariana, de
Ferguson (1995), acredito que foi dando nomes s coisas que comecei a estruturar a
conscincia.
O Ponto de Entrada dentro dos estgios de transformao a que se submeteu meu
trajeto profissional ocorreu no momento em que surgiu um confronto entre o que eu aprendia
na Faculdade de Comunicaes e Artes curso de Jornalismo - e o que eu pretendia em
relao minha atuao na sociedade.
Foi um assumir efetivo entre o sentir e o fazer.
O rompimento de uma antiga ordenao.
Um novo curso.
A educao.
A msica.
A arteterapia.
A Explorao no necessitou de sistemas novos e sim de um aprofundamento e uma
maior entrega que permitissem o desabrochar do conhecimento interior .
A Integrao ocorreu com autoquestionamento, determinao, intuio: a linguagem
musical permeada de novas aventuras plsticas, corporais e teatrais.
Conhecer o novo e o desconhecido sem medo de fazer e explorar.
A Conspirao surge, ainda hoje, trazendo novos paradigmas de relaes entre o eu,
os amigos, a famlia e o social. Traz consigo as possibilidades de transformar e ajudar o outro,
tendo a solidariedade humana como condio essencial para a expanso pessoal.
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Desapego.
Tempo policrnico.
Liberao e no adio.
Leis da mutao.
Da quantidade qualidade.
Viso hologrfica.
Novos conceitos e metas que nos ajudam a discernir entre cultura e natureza.
Pensando nessa transformao social lembro-me de ter ouvido, em algum momento da
vida, que nenhuma grande idia radical pode sobreviver se no estiver incorporada em
indivduos cujas vidas sejam a mensagem .
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Captulo 1: EDUCAO
Era 1980 e eu retornava de Paris onde fizera um curso de especializao em Educao
Musical. Na bagagem eu trazia uma inquietao a ser trabalhada como dever de casa: eu
partira em busca do novo e passara dois anos mergulhada num universo de confronto
constante entre o acadmico e a vanguarda. E assim - como ningum se decepciona 100% em
Paris - voltei com o olhar mais inquieto do que quando deixei o Brasil.
provvel que essa disponibilidade do meu esprito tenha preparado tudo, mas o fato
que precisei regressar ao ponto de partida para encontrar dois mestres europeus que fizeram
o caminho inverso ao meu: H. J. Koellreutter (musiclogo e compositor) e Maria Duschenes
(bailarina e pedagoga). A reflexo do primeiro e a prtica da segunda (que me introduziu no
universo de seu prprio mestre, Rudolf Laban) tornaram-se elementos de um ato de
antropofagia que eu estava prestes a perpetrar.
Para alm da mera coincidncia - hoje vejo - tudo parece ganhar um sabor de
sincronicidade. Estive em contato com ambos durante o mesmo perodo e tornei-me eu
mesma, um ponto de convergncia, de dilogo, de interao. Era inevitvel, portanto, que
minha prtica como arte-educadora em Msica se transformasse num campo de provas, num
espao experimental para os dois sistemas que pareciam oscilar entre a polaridade e a
complementao.
O encontro com Duschenes1 impulsionou-me em direo dana, disciplina com a
qual eu mantinha uma relao informal. Decidi assumir minha formao na arte do
movimento e dediquei-me a essa prtica por cinco anos, junto dessa mestra que muito
contribuiu para minha formao profissional.
1 Anotaes feitas durante minha participao no curso Arte do Movimento para educadores com Maria
Duschenes de 1980 a 1990 em So Paulo.
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Entrei em contato com a natureza do sistema do movimento criado por Laban (1978)
que tem dupla funo: libertadora e reintegradora. Ao isolar o gesto e codific-lo, ele resgata
o indivduo dos automatismos e da massificao. Lana-o na conscincia de si mesmo, atravs
do movimento.
Os vnculos entre essa viso de Laban (1978), que intervm nas estruturas
despersonalizadoras com um olhar esmiuador e revelador do indivduo inserido em um corpo
que se reconstri - e a viso em espiral simultaneista de Koellreutter (1987), pareciam ganhar
nitidez tanto em meus processos pessoais quanto em minha prtica pedaggica. A reviso da
historicidade, luz da percepo humana que Koellreutter preconiza, tambm visa libertar - o
sujeito, a Histria da Msica - do isolamento que a tirania do linear sucessivo impe ordem
das coisas. Se que essa ordem j existiu...
Ao refletir com Koellreutter e danar com Laban, eu buscava uma nova viso
pedaggica que integrasse a linguagem da dana linguagem da msica.
A vida movimento, tal qual a conhecemos. No gesto do bailarino, no gesto do
msico, ou ainda no gesto cotidiano do homem comum, o movimento, resgatado de sua
obscuridade, representa no s um fato fsico mas um complexo de variadas expresses
mutantes.
Meu corpo e meu esprito integravam-se para criar, na prtica, uma terceira linguagem
possvel, comprometida com a Educao Musical, talvez como resposta aos modelos
hierticos com os quais eu convivera em minha experincia de Velho Mundo. Como na viso
de Koellreutter, tudo parecia sobrepor-se e projetar-se para alm do conhecido. Tradio e
ruptura interpenetravam-se, pensamento e ao, indivduo e coletivo. Barreiras pareciam
dissolver-se, opostos confraternizavam-se. (KOELLREUTTER, 1987).
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1.1. Teoria da evoluo da conscincia segundo H. J. Koellreutter
Para convidar Koellreutter a contracenar com Laban, imprescindvel que eu recupere
flashes de sua reflexo sobre a histria da evoluo humana.
Segundo Koellreutter, (1982)2 se olharmos para o passado, descobriremos 4 nveis de
conscientizao que marcam toda a vida cultural e todas as artes:
So eles:
1 Mgico.
2 - Pr-Racionalista.
3 Racionalista.
4 Integrador.
Koellreutter no se refere conscincia como conhecimento formal nem como mero
conhecimento ou qualquer processo de pensamento, mas sim como uma forma de inter-
relacionamento constante, um ato criativo de integrao.
Uma breve anlise desses nveis de conscincia, ir nos permitir uma melhor
compreenso da relao estabelecida entre o pensamento integrador de Koellreutter com a
proposta de Laban de investir nas potencialidades de crescimento do ser humano como
indivduo atuando no coletivo.
1 - No perodo Mgico, o homem comea a sonhar, a confrontar-se com o mundo, sentindo
que h 2 realidades dinmicas: ele e a natureza. No h conscincia de tempo e espao. A
msica visa a preservao da vida. O ritmo isomtrico (valores iguais) diferente de
2 Anotaes feitas durante minha participao no Curso de Especializao na Faculdade Paulista de Arte da
Academia Paulista de Msica de 1980 a 1982, ministrado por Koellreutter.
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isoritmico (valores desiguais). Isso no pulsao, porque pulsao comporta forte e fraco.
Aqui os valores so iguais e carecem de acentos. um ritmo implacvel, motor, ininterrupto,
que no se pode abrandar. Uma s intensidade, uma s ocorrncia musical, pontilhista, sem
princpio, sem fim.
A msica parece surgir por acaso e no termina. Ela interrompida. polidirecional e
monodimensional.
Exemplo desse perodo: msica dos pigmeus.
2 - Na fase Pr- Racionalista, mais ou menos nos sculos VII - VI AC, inicia-se a
preocupao com o tempo e o espao. Nessa fase, a conscientizao da alma torna-se
importante. Toma-se conscincia de que Homem-Deus so diferentes. A msica tem a funo
de comunicar-se com Deus e portanto restabelecer esse Todo. O conceito de tempo nessa fase
psquico-intuitivo. No mensurado, nem anotado: depende do fluxo. monodimensional.
polidirecional. No mais contnuo, mas no tem acentuao sistematizada, no tem carter
de pulsao, nem compasso. No tem valores de durao fixos ou pr- determinados. A base
a pulsao natural. O tempo psquico-intuitivo depende do estado de esprito das pessoas.
Exemplo desse perodo: canto gregoriano.
3 - O perodo Racionalista abrange do sculo XIV ao incio do XX. O homem descobre a
perspectiva e a perspectiva passa a dividir o mundo. A melodia um elemento musical
definido que ainda no existia na fase Pr - Racionalista, quando existiam apenas linhas
meldicas. A harmonia surge como uma conscientizao das leis da Fsica. O acorde traz a
tridimensionalidade msica. As peas musicais so divididas em movimentos. Surgem as
frases, a consonncia, a dissonncia. As especializaes em vrias reas do conhecimento se
definem no ocidente.
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Exemplo desse perodo: Bach e Beethoven.
4 - O nosso sculo representa a Conscincia Integradora. A partir das descobertas da Fsica
Quntica, a relao tempo - espao transformou-se totalmente no s na rea das Cincias Exatas,
como tambm na expresso artstica humana. Na msica surge a poliritmia (Stravinsky), o
dodecafonismo (A. Schnberg) a planimetria (G. Ligetti) e o minimalismo (Steve Reich). O
conceito de tempo transcende a metria e cria a ametria- diversa da no-metria. Cria a
transcendncia do metro e no sua negao.
1.2. Teoria sobre anlise do movimento segundo Rudolf Laban (1978)
A distino entre mente e corpo uma dicotomia artificial, um ato de discriminao baseado muito mais na peculiaridade da cognio
intelectual do que na natureza das coisas. De fato, to ntimo o inter-
relacionamento dos traos psquicos e corporais, que podemos no
somente estabelecer inferncias sobre a constituio da psique a partir
da constituio do corpo, como tambm podemos inferir caractersticas
corporais a partir das peculiaridades psquicas. (C. G. JUNG, Collected Works Vol. 6 par. 916)
3 Gostaria de focar minha reflexo partindo dos estudos feitos por Rudolf Laban (1978),
danarino e pedagogo hngaro que, na primeira metade do sculo XX, dedicou-se ao estudo
da gestualidade humana a partir de seu contexto cultural e social. Gestual este que
desembocaria na capacidade expressiva de movimentao corporal no caminho da dana.
Laban acreditava que cada ser carrega consigo uma bagagem fsica, cultural e social
que o caracteriza a ponto de podermos traar um perfil de sua personalidade atravs de sua
movimentao corporal.
3 Traduo nossa.
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19
Acredito que possam ser esses tambm os primeiros passos para a compreenso da
aproximao entre a mente e o corpo humano.
Nosso corpo o reflexo daquilo que pensamos ou pensamos aquilo que nosso corpo
nos sugere?
Se somatizar doenas o resultado de uma transformao na estrutura corprea devido
a um complexo que se constela , no podemos duvidar que a relao entre inconsciente e
consciente nos revelada atravs das sensaes que se originam dos rgos corporais e
encontram ressonncia nos smbolos do Self.
A partir da segunda metade do sculo XX, nossa sociedade tem trazido a questo
sobre a importncia do desenvolvimento da conscincia corporal e dos cuidados e
conhecimentos sobre nossa natureza fisiolgica mas freqentemente tem tambm reforado
ou enaltecido essa dicotomia artificial que privilegia ora a mente, ora o corpo.
Reconhecer a importncia do TOQUE como um meio de transformaes psquicas no
processo de individuao uma prova do desenvolvimento dessa conscincia. Por outro lado,
estimular, estereotipar e vender conceitos de beleza corporal massificados uma prova do
quanto ainda estamos distantes de um verdadeiro caminho nessa relao ego-Self.
Para que a cincia e o crescimento individual humano possam caminhar paralelamente
ser necessrio que prticas que estimulem a relao entre os opostos no processo alqumico
da coniunctio (JUNG, 2004, p.227) sejam estimuladas desde o incio do processo educacional
e relacional do indivduo, como por exemplo exerccios de respirao e automassagem nos
currculos escolares e nas rotinas familiares.
O processo criador abrange a integrao de todas as linguagens artsticas.
Partindo, ento, do pressuposto de que nossa cultura atualmente lida com uma nova
conscincia do tempo - espao, estabeleci alguns paralelos entre a viso de sntese das
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20
experincias de percepo do ser humano ao longo da histria, e a proposta de conscincia
dos movimentos corporais individuais e coletivos de Laban.
Rudolf Laban, em 1950, postulou que existem quatro fatores comuns a todo e qualquer
movimento do ser humano.
Tais fatores so: Fluncia Espao Peso Tempo.
TEMPO
O tempo no existe a no ser atravs da conscincia que cada um tem de passado,
presente, futuro. Ns podemos at dividi-lo em partes proporcionais, horas e minutos,
mnimas e colcheias, porm cada um vive o tempo de maneira pessoal. Nossa apreenso do
tempo est ligada nossa vida psicolgica. A experincia do tempo essencialmente ntima.
Pensemos aqui a referncia de Tempo (Chronos) da mitologia grega que simboliza a
fome devoradora da vida, o desejo insacivel.
Muito mais que isso: com ele comea o sentimento de durao, e mais
especificamente, o sentimento de uma durao que se esgota, i.e., que extravasa e passa entre
a excitao e a satisfao (DIEL, 1966, p.115).
FLUNCIA
Para estabelecer uma relao entre esse parmetro musical e a dana, devemos nos
dirigir ao fator Fluncia do movimento.
Dependendo da ordem em que so acionadas as diferentes partes do corpo, podemos
distinguir uma fluncia livre ou controlada. O controle da fluncia do movimento est
portanto, intimamente relacionado ao controle dos movimentos das partes do corpo.
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21
O uso da fluncia livre propicia movimentos para fora, enquanto o uso da fluncia
controlada tende a propiciar movimentos para dentro. Em outras palavras: ora a tenso
liberada, ora contida, produzindo formas e qualidades diferentes no movimento. Podemos
chamar esses movimentos de Fluncia da Tenso e Fluncia da Forma.
Quando nos expressamos com fluncia controlada (das extremidades do corpo para o
centro), o tempo pode ser medido com a mesma exatido com que medimos o ritmo, o pulso.
a chamada msica mtrica.
A fluncia livre (movimentos do centro do corpo para as extremidades) nos remete
ametria, que implica na presena do silncio; da expectativa; da tenso; do ataque. uma
outra forma de perceber as ocorrncias em torno de ns. Sem elas no existiria o tempo.
A audio no se d por partes isoladas, mas pelas relaes entre as ocorrncias
sonoras.
A importncia dessa nova conscincia do tempo fundamental dentro de uma
pedagogia preocupada com o ensino que d nfase s relaes.
nesse pressuposto que baseei meu trabalho.
ESPAO
Ao analisarmos o fator Espao, estaremos nos referindo, em termos de conscincia
corporal, ao estica - dobra. Isto nos remete expanso dos movimentos que se distanciam do
centro do corpo para em seguida retornar a ele, provocando assim uma conscincia de
prximo-distante, interior-exterior, com deslocamentos no foco do"self".
A ateno muda constantemente de um lugar para outro quando o corpo est sentindo
o espao. Quando o corpo penetra o espao todas as energias esto concentradas num ponto,
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22
em direo ao qual o movimento flui. O corpo pode envolver ou repelir o espao. O uso do
espao est submetido a direes, planos, extenses, caminho e velocidade.
Podemos observar que na msica, estaremos lidando com o parmetro Altura, na
criao de melodias, isto ,ondulaes que oscilam, espacialmente, do som mais grave ao som
mais agudo.
Brincadeiras sonoras e corporais criadas com Glissandis e Ondulaes meldicas, por
exemplo, podem sugerir a expresso de diferentes emoes manifestadas atravs de
movimentos perifricos ou no. A criao musical das crianas nessa fase pode parecer
catica ou desorganizada mas devemos nos conscientizar do fato de que isso faz parte do
processo de construo de sua musicalidade e interao com o universo. Todo movimento
sonoro e corporal a somatria de vrios componentes. Para compreend-los devemos
sempre levar em considerao essa realidade.
PESO
Existe a quantidade - peso, que pode ser medida em "pounds" ou gramas, e a
quantidade -tempo, que pode ser medida em segundos de velocidade. A qualidade de peso e
de tempo que no pode ser medida, uma questo de atitude. Um "forte desejo" ou uma
"sbita urgncia" so falas que se referem a atitudes de peso e tempo.
A conscincia do fator Peso libera atitudes de toque firme e leve , alternando a
habilidade e a vitalidade de executar fora ou delicadeza que ultrapassem a passividade. A
expresso sonora que descreve esse estado de tenso sensitiva manipula o parmetro
Intensidade do som enquanto as atitudes corporais se concentram na intensidade da
musculatura.
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23
A escolha de materiais adequados (timbres diferentes) para a pesquisa e reproduo de
ambientes sonoros de grande importncia nesse processo pedaggico musical onde a
diversidade e a qualidade sonoras enriquecem a percepo e o gesto musical.
A energia propulsora do movimento carrega consigo a inteno emocional
energtica, que seria a colorao do som. Lidamos a com o parmetro Timbre,
que embora no mensurvel, capaz de corresponder s expectativas exigidas
por tais mudanas, assim chamadas passionais.
1.3. Afinidades temporais e espaciais entre o movimento corporal e o
movimento sonoro
O gesto musical assim como o gesto corporal dependem da fora propulsora do
movimento que a energia mental, emocional e fsica. Ambos manipulam o tempo,
interagindo sucessivamente com alteraes de Lento - Sbito - Sustentado - Curto - Longo.
A criana na faixa-etria pr-escolar vivencia esse mundo mgico a qual
Koellreutter (1982) se refere de uma maneira natural e intuitiva. Da a necessidade de criao
de jogos de improvisao que estimulem a percepo da direo e durao do som no espao,
estabelecendo relaes diretas entre movimento e som, controlados ou no.
Na educao, a anlise do comportamento humano deve ser vista com a convico de
que movimento e msica esto intimamente relacionados desde a infncia ao longo de toda a
vida.
Assim como o homem primitivo, a criana percebe o mundo no metricamente. Move-
se pela respirao. medida que vai crescendo, torna-se consciente do pulso. Anda. Marcha.
Saltita.
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24
Todas as divises que o mundo sofreu desde a antiga Grcia e que culminaram na 1.
Guerra Mundial influenciaram nossa percepo de mundo. De educao. A conscincia da
ametria surge na educao neste momento histrico, cuja tendncia a integrao.
1. 4. A fluncia do movimento
Para compreendermos ainda mais a linguagem do movimento relacionada linguagem
musical e sonora necessrio o conhecimento da estrutura que compe cada uma delas.
Refiro-me Forma e ao Fraseado.
O fraseado musical resulta da seqncia de tons alternados, com variaes na
acentuao, no andamento e na intensidade. As frases corporais e musicais surgem no ser
humano progressivamente assim como surge, aos poucos, na vida, o domnio da linguagem
oral.
A criana recupera nas etapas de seu desenvolvimento os perodos de conscincia que
Koellreutter (1982) descreve. Nesse sentido, minha inteno lev-la a vislumbrar o
momento de sntese, no qual ela se descobre capaz de perceber-se e perceber o outro / o
mundo, atravs de seus movimentos corporais e sonoros.
O Fraseado corporal uma sucesso de esforos que contm uma preparao, uma
ao principal e um repouso. A expressividade da frase depende da fluncia assim como a
msica depende da dinmica e da interpretao.
Para uma melhor compreenso desses paralelos segue um quadro sintico que
facilitar a leitura e a associao dos 8 esforos de movimento classificados por Laban (1978)
(deslizar, flutuar, pontuar, agitar, talhar, torcer, pressionar, socar) com os parmetros do som:
Altura Intensidade Durao Timbre.
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25
PARMETROS TERMINOLOGIA
MUSICAL__________ DURAO_________ CURTO/LONGO
MTRICO
NO MTRICO
AMTRICO
CORPORAL________ TEMPO____________ SBITO/ SUSTENTADO
MUSICAL__________
INTENSIDADE______ FORTE/ FRACO
CORPORAL_________
PESO_______________ FIRME / LEVE
MUSICAL__________ ALTURA____________ SONS: AGUDOS
MDIOS
GRAVES
MELODIAS
CORPORAL_________ ESPAO____________ PLANOS: ALTO
MDIO
BAIXO
FLEXVEL/ DIRETO
MUSICAL__________ TIMBRE____________ COLORAO DO SOM
CORPORAL INTENO DO GESTO
O som existe no tempo, projetado no espao por uma energia que lhe d uma
determinada dinmica. O trabalho com o gesto na educao musical prope fazer sentir essa
noo de som em movimento no tempo.
A viso de Laban (1978) sobre os esforos de movimento que esto respectivamente
relacionados com atitudes internas de impulso vital, nos ajuda a um resgate revelador da
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necessidade de se poder olhar, ouvir.... sentir. Na prtica educativa podemos assim recuperar
todo o universo da simbologia no verbal que constitui a base de nossa percepo com
vivncias de :
ESPAO- que promovem a ________________________ATENO
TEMPO- que promovem a _________________________PRECISO
PESO- que promovem a ____________________________DECISO
FLUNCIA- que geram a _________________________INTENO
Ao praticar exerccios com esses elementos, podemos realizar frases de movimento
(saltitar, girar, deslizar, pular) que podem ser acompanhados com improvisaes sonoras. Os
parmetros do som so assim trabalhados na busca de uma leitura significativa e expressiva
da frase corporal. Ora o som reproduz o movimento corporal, ora o corpo movimenta-se pelo
som. A partir da tanto movimento quanto som so passveis de serem transformados em
escrita. O desenho grfico surge ento como uma conseqncia do gesto, que, fortuito no
incio, torna-se consciente mais tarde. O traado torna-se ento motivo do gesto. O efeito
transforma-se em causa. A escrita pode emergir como pesquisa coletiva de anlise sonora,
como descoberta dos mecanismos de criao e familiarizao com os mesmos, numa
apropriao do sistema de notao coreogrfica criado por Laban (1978).
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Estou convicta que esta proposta de integrao da linguagem musical e corporal
contribui para a formao de indivduos mais conscientes de um mundo em contnua
transformao e mais preparados para atuar, com equilbrio, sobre ele.
Nesse sentido, importante ressaltar que vivemos num pas onde h sinais
promissores de um feliz convvio entre esses conceitos bsicos revisitados e a disponibilidade
intelectual e emocional para se vivenciar o novo, o que nem sempre acontece em culturas do
Primeiro Mundo.
Este projeto amplia o seu significado a partir do momento em que colocamos em
prtica a noo da percepo sincrtica (integradora) em detrimento da percepo analtica
(categorizadora - classificadora) que a que estamos habitualmente acostumados a empregar
em nossas vidas.
Minha experincia profissional tem demonstrado que a verdadeira prtica educacional
est em promover o aprimoramento dos sentidos - como instrumentos que so de percepo
do mundo e da vida - e o desenvolvimento da capacidade de reconhecimento consciente das
emoes.
O trabalho educativo deve ser uma proposta dinmica, organicamente criativa, pois
acredita na ampliao de uma percepo consciente como uma das experincias
fundamentais, eu diria at vitais, para o processo do desenvolvimento humano.
Para haver crescimento e evoluo preciso ousar ser.
Ousar ser e realizar essa ousadia.
No tempo, no espao, na msica, no gesto, na vida.
A educao musical que, j por si s, tinha nas mos um material expressivo, foi
orientada no desenvolvimento da personalidade como um todo, nas faculdades de percepo,
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comunicao, concentrao, trabalho de equipe, discernimento, desembarao, autoconfiana,
reduo do medo e inibio causados por preconceitos, na sensibilidade de valores
qualitativos, memria e sobretudo no processo de conscientizao do todo.
Num processo educacional criativo, a relao aluno - professor facilmente adquire
uma horizontalidade, visto que a possibilidade do professor tambm aprender com o aluno
est presente em todos os momentos. Essa abertura na busca daquilo que o aluno quer saber e
no daquilo que o professor quer ensinar me permitiu caminhar em direo a uma
aprendizagem autodirigida. Trago, aqui, a idia de que sofrer no poder incluir algo de seu,
para reforar a questo do oferecer espao na educao, incluindo o sentimento onde - o ousar
e o romper estruturas-, fundamental .
Acreditando que vivemos num perodo da histria da humanidade onde os avanos
tecnolgicos e das cincias evoluem com tamanha rapidez que temos dificuldades em
acompanhar o desenvolvimento e a transformao da mentalidade, dos hbitos intelectuais e
psquicos dos jovens. Por isso devemos estar atentos na busca de um novo paradigma para a
educao, que seja capaz de conciliar o que est acontecendo no mundo da cincia com a
necessidade da construo e reconstruo do homem e seu mundo interior.
Minhas propostas pedaggicas foram caminhando em direo a construo de um
processo onde a criao, o dilogo e o espao para ser adquiriam importncia fundamental.
Esse foi, acredito eu, o primeiro passo concreto na busca dessa aproximao entre os
aspectos objetivos e subjetivos do aprender. O primeiro passo tambm na aproximao de um
olhar sistmico sobre a educao.
Minhas atividades educacional/artstica/teraputica tornam-se uma s no que se refere
a fomentar mudanas no indivduo, tentando criar um ponto de convergncia entre a cincia e
a intuio.
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Uma atividade expressiva que visa a busca de um sentido na estrutura formal da
linguagem musical mais do que uma informao.
Podemos ver a manipulao dos novos conceitos de tempo, diversidade de timbres,
contrastes, surpresas, imprevisibilidades, como decorrncias da Teoria dos Sistemas Gerais
(GASPARIAN, 1998) que refletem uma mudana em nossa viso geral, observando:
as transformaes
auto-regulao
retroao
relao parte e todo
rede de relaes
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Captulo 2: ARTETERAPIA
2.1. O ser terapeuta
Ter conhecimento da Tipologia Humana de Jung (VON FRANZ, 1995) trouxe
fundamentos para que eu pudesse transitar com mais segurana na observao e comunicao
com meus alunos, podendo compreender as facilidades e dificuldades na aprendizagem de
cada um deles.
Lidar com os introvertidos e extrovertidos, conhecendo os aspectos da intuio,
sensao, sentimento e pensamento, organizou-me e esclareceu questes relacionadas tambm
ao meu autoconhecimento. Ajudou-me a compreender e a procurar caminhos mais assertivos
para alunos/pacientes cujas dificuldades, por exemplo, estavam localizadas no mbito da
matemtica musical, ou na dificuldade de enxergar e expressar seus desejos pessoais numa
composio coletiva. A busca do equilbrio estava, agora, para alm da diversidade das
atividades. Fundamentava-me, tambm, na procura de onde e quando aparecem oportunidades
de ser, para pessoas de um mesmo grupo cujas tipologias so divergentes. Como favorecer
esse crescimento coletivo sem a perda do individual?
A sutileza do trnsito entre o educar e a arteterapia acontece com a chegada de um
Novo Projeto de trabalho com crianas e adultos portadores de deficincia visual.
A constatao de que o trnsito entre o educativo e o teraputico tornou-se freqente
em minha prtica profissional, veio confirmar a crena de que a arte e a criatividade so
componentes tambm de um processo de cura. Essa forma de trabalho aproximou e atraiu
pessoas, crianas e adultos portadores de deficincias e dificuldades mltiplas. O
conhecimento da arteterapia como processo de crescimento e autoconhecimento atravs de
prticas criativas que utilizam a linguagem verbal e no verbal da expresso pessoal, ajudou-
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me nesse olhar mais apurado e sensvel no percurso entre o educar ex- docere (tirar o doce),
ed- core (tocar o corao) e o curar, onde a capacidade de transformar e ser transformado o
ponto de partida .
[...] s aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos (JUNG, 1987, p.43).
Saber quem eu sou (sentimento-introvertido) empurrou-me para trabalhar e desafiar
minhas inseguranas de pensamento. Ampliou minha percepo sobre o conhecimento em
geral enxergando num macro sistema quais so e de onde vm conceitos e tradies de
comportamento, normas dominantes que regem nossa sociedade. Durante muitos sculos
permanecemos ouvindo os pensadores. Nosso novo paradigma pode ser o de dar voz aos que
intuem, sentem e percebem.
Esse se tornou meu propsito nas entidades onde desenvolvi essa pesquisa e no meu
espao pessoal de educao.
No meu processo de imerso na Tipologia Humana, (VON FRANZ, 1995) foram
enriquecedoras e pertinentes s associaes e s percepes de como outras reas do
conhecimento podem lidar com essas questes, a partir de materiais mais ou menos
convencionais. Maneiras e enfoques diversos, por exemplo, de como imaginar e visualizar
uma rvore.
Avaliar os processos aproximou-se mais de compreender os procedimentos utilizados
do que ressaltar erros e acertos. Conduzir a pessoa para uma auto-avaliao pode ser o
caminho tambm para a superao de dificuldades no caminho do autoconhecimento.
Eu tive o privilgio de poder seguir minha intuio que conduziu a busca desse novo
paradigma,antes mesmo de estudar Jung .
Hoje me sirvo dela confiante no pensamento que tenho desenvolvido inspirada nesse
grande mestre e que d diretrizes para essa pesquisa a qual proponho realizar, refletindo que,
[...] a mentalidade do inconsciente de carter instintivo, no tem funes
diferenciadas, nem pensa segundo os moldes daquilo que entendemos por
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pensar. Ele somente cria uma imagem que responde situao da
conscincia ;esta imagem to impregnada de idia como de sentimento e
poder ser tudo, menos o produto de uma reflexo racionalista. Seria mais
certo considerarmos tal imagem como uma viso artstica. (JUNG, 1987,
p.58).
Na busca de evitar classificaes fechadas e generalizadas em relao ao perfil
humano com o qual trabalhava, inspirada nos estudos da Tipologia Humana de Jung, adentrei-
me no interesse de conhecer pensadores que, como eu, buscaram reflexes dialogando com a
pluralidade, com as diferentes formas de processar e conhecer o mundo.
2.2. Percursos em arteterapia
Minhas prticas educativas j transitavam na fronteira entre o pedaggico e o
arteteraputico, quando decidi pela formao e aprofundamento dos princpios norteadores da
Arteterapia.
J h alguns anos eu trabalhava na formao de arteterapeutas, na Universidade
Potiguar (UnP), no Alquimy Art por meio de oficinas de expresso sonora tendo como eixo
a integrao das diferentes artes, buscando a compreenso dos smbolos e sua relao com a
expressividade criativa numa abordagem junguiana. E a buscas continuaram...
Eu carregava uma bagagem de vivncias pessoais que circulava entre a expresso
corpora , teatral e a plstica com pequenas ousadias literrias envolvidas sempre pelo sonoro.
Aquele era o momento de passar por um processo de experincias plsticas que pudessem me
levar a uma maior compreenso das possibilidades de encontro entre as mltiplas facetas do
ser, facilitando o dilogo entre os opostos e as diferenas.
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Entrei em contato com as Teorias Gerais dos Sistemas de Kagin e Lusebrink (1978)
que formularam um modelo conceitual de expresso e interao com o meio em diferentes
nveis, constituindo O Continuum das Terapias Expressivas (ETC).
Esses estudos propiciaram relaes e reflexes a respeito do imaginrio, dos smbolos
e das expresses criativas a partir dos nveis:
- Cinestsico / sensorial
- Perceptual / afetivo
- Cognitivo / simblico
- Criativo
As experincias das Oficinas Criativas (ALLESSANDRINI, 1996) relacionadas aos
Coordenadores Cognitivos (PIAGET apud ALLESSANDRINI, 1966) propuseram um
trabalho em atelier com uma dinmica entre essas trs aes:
- Despertar o adormecido
- Fazer restaurar o caminho adoecido
- Inaugurar novas aes
Os Coordenadores Cognitivos foram apresentados por Piaget como um
processo de aquisio do conhecimento de uma pessoa e esto presentes em
toda a sua ao. Eles tm a funo de organizar o conhecimento, ou seja ,
de colocar em ordem duas coisas distintas, mesmo que sejam independentes
entre si. (ALLESSANDRINI, 1996b, p.32).
Os Coordenadores Cognitivos se apresentam em trios:
REPETIO IDENTIFICAO - SUBSTITUIO
SEMELHANAS E DIFERENAS REUNIO - SUCESSO
ENVOLVIMENTO DIREO E DESTINO - (Tempo) - DESLOCAMENTO (Espao)
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Por trs deste encadeamento est o infra-lgico, que aquilo que sustenta, que d
suporte, que est por detrs do encadeamento, da ordenao, apontando para a eternidade e
para a transcendncia.
O caminho na busca de uma compreenso do inter-relacionamento entre forma e
contedo, significante e significado dentro de um aprender contnuo e constante se fazia
presente em minha prtica profissional.
Partindo do pressuposto que expresses auditivas tm um impacto mais direto no
indivduo do que a expresso visual, incluindo ritmo e sentimentos. (LUSEBRINK, 1990)
prossegui na busca da compreenso dos smbolos por meio do estudo da Imagtica de Arietti
(1967) relacionados ao universo Arquetpico da Humanidade (JACOBI, 1990).
Estudos, em geral, refletem sobre as grandes transies que marcam a evoluo do
indivduo e nos ajudam a lidar com essas passagens de forma mais tranqila e consciente.
Meu projeto, nesse momento, o de ater-me aos aspectos que considero relevantes
nesses relatos educativo - teraputicos a que me proponho estudar:
- A liberdade de criao que conduz a uma viagem no imaginrio possvel e
impossvel.
- O dilogo com as diferenas, buscando a incluso, no lugar da excluso.
- O brincar com os opostos e o diferente, desapegando-se do construdo e fechado.
- O ter sensibilidade para conversar e ouvir o sutil nas entrelinhas dos processos
criativos.
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Captulo 3: OFICINAS DE EDUCAO MUSICAL COM
PORTADORES DE DEFICINCIA VISUAL
3.1. A criao de um novo territrio
Em 1998 fui chamada para participar das oficinas criativas da Associao Brasileira de
Assistncia ao Deficiente Visual LARAMARA. No seria o meu primeiro contato com este
tipo de realidade, uma vez que em minha experincia na Oficina de Msica eu j atendia e
dava aula para crianas cegas.
O perfil, das pessoas com quem trabalhei no LARAMARA, era composto por dois
grupos distintos: o das crianas e o dos adultos.
As oficinas eram freqentadas por crianas acima de 4 anos, jovens e adultos cegos ou
portadores de baixa viso, assim como com mltipla deficincia. Tinham a durao de uma
hora semanal e eu contava com a parceria de uma, duas ou trs estagirias de T.O. (Terapia
Ocupacional) por grupo.
Tnhamos sala ambiente com revestimento acstico, equipamento de som,
instrumentos musicais, sala para movimento e um espelho colocado em meu piano para que
pudesse ver o que se passava por toda a sala, embora, sobretudo neste caso, no bastasse
somente possuir viso.
Durante estes cinco anos , tempo que desenvolvi meu trabalho no Laramara, colhi
resultados significativos na melhoria de vida destas pessoas, utilizando a msica como vetor
de existencializao para modificar estados de vitalidade e tendo o criar como referncia
maior. Em 2002, j freqentando o curso de Especializao em Arteterapia, meu olhar e
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minha prtica convergiam para um dilogo maior com os diferentes eus, seus poderes e
limites, e sua relaes com o outro.
Acreditando que no h vida sem movimento este trabalho de musicalizao buscaria
encontrar o desejo do movimento interno e espontneo, que natural dos seres vivos, que
permite ascender criao e s formas mais simbolizadas das aes, como por exemplo,
educao musical.
A pesquisa de sonoridades prprias e o fazer espontneo atravs de gestos corporais e
instrumentais que levam ao gesto expressivo musical o contedo que trabalhamos nestas
oficinas.
Trarei o relato de uma vivncia educativa musical para que possamos estabelecer um
paralelo entre o setting educativo e o arteteraputico e dar um exemplo de uma vivncia onde
a representao da funo simblica esteve presente e norteou seu encaminhamento.
Nos limitaremos s questes relacionadas cegueira no que concerne a alguns fatores
emocionais presentes nas crianas do grupo com o qual trabalhamos. Uma anlise
aprofundada sobre o desenvolvimento do deficiente visual num processo arteteraputico
poder ser o tema para futuras investigaes.
Citaremos alguns fatores psicodinmicos relacionados condio de cegueira,
levantados em pesquisa de Amiralian (1992):
- Condio marginalizadora
- Relao com o outro: amar e ser amado
- Sentimentos de desqualificao e insuficincia
- Aceitao ou negao da cegueira
- Solido e isolamento
- Inveja
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3.2. A oficina de educao musical
Nosso grupo era composto por crianas de 6 a 8 anos que freqentavam aquele espao
uma vez por semana com o objetivo de estabelecerem relaes de encontros com o outro,
consigo e com a msica, propiciadas pelas linguagens sonora e corporal. Era um espao de
expresso criativa do sensvel na busca de uma comunicao no verbal.
Nossa rotina era composta de muitas possibilidades e variaes de expresses sonoras.
Contvamos com vrios instrumentos de percusso, um piano, aparelho de som, bolas, tecidos
e papis como recursos materiais.
Aparentemente crivamos ambincias sonoras desarticuladas e confusas que no eram
outros territrios que os do nvel mgico e pr racionalista, caminhando para o perodo de
conscincia integradora a que se refere Koellreutter (1982).
Naquele dia tnhamos 7 crianas no grupo.
Foi proposto s crianas que lembrassem de cantigas conhecidas. Uma criana sugeriu
a cano A Casa de Vincius de Moraes (1980), cuja letra :
Era uma casa muito engraada
No tinha teto no tinha nada
Ningum podia entrar nela no
Porque na casa no tinha cho
Ningum podia dormir na rede
Porque na casa no tinha parede
Ningum podia fazer pipi
Porque pinico no tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos numero zero.
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Para surpresa do grupo, um garoto de seis anos, D. ,com cegueira congnita, ao ouvir a
letra, para ele desconhecida, no se conformou com a possibilidade da existncia de uma casa
em que no houvesse teto, paredes, cho e sobretudo tivesse o nmero zero. Conforme o
grupo ia se envolvendo com a cantiga, o garoto cada vez mais expressava em voz alta sua
incompreenso e de certa forma sua angstia por aquelas afirmaes. Eu e as outras
estagirias tentvamos tranqiliz-lo verbalmente, mas foi em vo. Ele sempre perguntava:
Por qu? Por qu?
Pude perceber claramente, que D., sentiu- se completamente desamparado diante de
uma situao de confronto entre a imaginao e a realidade. A ausncia de estruturas fechadas
e o movimento dos opostos contraditrios a que a letra se propunha causaram-lhe o que
podemos chamar de paralisaes emocionais. Sua manifestao era ora de introverso e
angstia, ora de introverso descontrolada.
Foi a que surgiu a idia de transformar a vivncia sonora da letra da msica em
movimento e dramatizao. Era o momento propcio para dialogar com a pluralidade, com
diferentes formas de processar e transformar a experincia.
Pegamos os tecidos, construmos com eles uma tenda, que s vezes possua sadas, s
vezes no. s vezes pisvamos em cima e s vezes tirvamos o pano do cho (Foto 1). s
vezes nos cobramos com ela, s vezes no. D. continuava inquieto e ansioso. Percebi que
procurava limites, com as mos, mais rgidos do que aqueles que os panos lhe ofereciam.
Peguei, ento, um basto, da dimenso de um cabo de vassoura, dei-o a ele, e sugeri que
iramos sim, tocar o teto daquela casa, to estranha. Com a ajuda das estagirias, colocamos
D. em p sobre um armrio que havia na sala, e segurando o basto ele atingiu o teto real da
nossa sala, que naquele momento havia se transformado no de sua casa muito engraada. D.
transformou-se imediatamente, diante daquela experincia sensorial- simblica.
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Foto 1
Como escreve Pelbart,
No simples fazer tudo isso e ainda estar atento para as diferenas de
tempo individuais, criando certos ritmos, em que uma modalidade temporal
possa conectar-se com outra, compor-se, combinar-se, contrapor-se,
ressoar, destoar. No para fazer bandinha, mas para no deixar que , por
solido uma temporalidade morra estrangulada, ou que um paciente
sufoque no seu ponto de horror. (1993, p.46).
E assim, cantando e manipulando os tecidos e os bastes, pudemos, em grupo,
estruturar um universo sensrio-motor que permitiu ao garoto lidar com sua dificuldade de
criar relaes simblicas, inserindo as interaes acrescidas no mundo onde ele se situava.
Diminuindo fragmentaes e ajudando-o na organizao de suas experincias, na formao de
uma individualidade, criamos condio necessria para sua integrao.
Estamos tratando aqui de como habitamos o nosso espao vital, de acordo
com todas as dialticas da vida, como nos enraizamos, dia a dia, num
canto do mundo. Porque a casa o nosso canto do mundo. Ela , nosso primeiro universo (p.24).[...] nessas condies, se nos perguntassem qual o
benefcio mais precioso da casa, diramos: a casa abriga o devaneio, a casa
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protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz. (BACHELARD, 1993,
p.26).
Ao final da aula o garoto comentou: Gostei muito desta casa.
Durante muitos encontros posteriores, ao chegar na sala, D. pedia para que
comessemos as atividades com a cano da Casa Engraada. Pedia o basto e oferecia-se
para ser pego no colo para subir no armrio.
Ampliamos essa experincia espacial por muitos encontros ainda, reforando a
importncia da espacialidade como morada do inconsciente. Usamos almofadas , papeles e
cadeiras na montagem dessas novas moradas. Histrias e cantigas foram lembradas e
criadas a partir desse projeto, reforando a potencialidade da msica, de harmonizar a
atividade dos hemisfrios cerebrais: direito e esquerdo e de estimular nveis integrativos de
conscincia relativos ao corpo, mente e ao esprito.O uso de recursos tridimensionais
possibilitou o dilogo com o orgnico, o concreto mobilizando as sensaes cinestsicas e
tteis. (FAGALLI, 2004, p.231).
O uso de materiais rgidos (bastes) favoreceu a concretizao, relacionada fora e
ao decisiva de tocar o teto, e os materiais flexveis (panos e almofadas Fotos 2 e 3)
remeteu ao aconchego das melodias, do afeto e da amorosidade.
Foto 2
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Foto 3
Acredito que o trabalho musical acontece no brincar com possibilidades mltiplas da
fala, dos gestos, das imagens, do movimento e dos sons. necessrio trabalhar com o ritmo,
que estrutura idias, conceitos, gestos e palavras; com a msica que favorece, estimula e
facilita a organizao interna e a expresso, ajudando nas relaes do sujeito consigo, com o
outro e com o mundo (Foto 4).
necessrio buscar uma integrao entre contedo e forma, segundo a fenomenologia
de Merleau-Ponty: A forma seria a organizao total dos dados que fornecida pela funo
simblica. Pelo fato de haver uma dialtica entre contedo e forma no podemos organizar
nada se no houver dados, que quando fragmentados da funo simblica de nada
adiantam. 4
4 MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepo. So Paulo: Martins Fontes, 1994. Citao retirada de
apostila feita para uso interno do curso de Especializao em Arteterapia do Alquimy Art, paginao irregular.
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Foto 4
Acredito que esta tenha sido talvez, uma proposta, uma atitude que efetivamente
trouxe uma possibilidade concreta de insero e incluso social e cultural desta criana, visto
que o perceber, o percutir, o ressoar aconteceram sem que houvesse a necessidade de retir-lo
de seu caminho.
Estamos falando da pulso do movimento que primitiva e fundamental, embora
aparentemente sem finalidade: de incio o movimento interno que se dirige gradativamente ao
exterior.
O contato direto por meio dos objetos, panos, aros, bolas, papis e instrumentos
musicais usados como transmissores de tenses podem aparecer como apoio comunicao e
expresso de sentimentos. No primeiro momento, como oposio recproca da criana para
atrair ou afastar-se de si mesma ou do outro. No momento seguinte, para alcanar um maior
equilbrio entre as tenses .Quando propomos s crianas cegas ou com demais deficincias
fsicas, atividades de deslocamento espacial, permeadas de sons vocais espontneos, estamos
partindo da aventura do risco e da criao, na construo de um universo energtico mais
especfico.
Quem cuida de quem? Quem acompanha o outro? Estamos sempre diante do grupo,
balanando entre o oferecer e o receber, entre o som e o silncio, o conhecido e o
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desconhecido e todas as oposies que nos permite a ousadia de educar e cuidar. Uma
educao que visa o ser, a arte e a alma.
Estamos falando de uma ampliao de horizontes de atuao, para entrar em conexo
com saberes vizinhos, numa atitude questionadora permanente dos papis profissionais que
eles podem usar. Limito-me a expressar uma idia de educao que visa ao ser na sua
totalidade . O fato que os atrasos no desenvolvimento do deficiente visual, assim como no
do deficiente mental ocorrem pelo empobrecimento dos aspectos perceptuais e
representacionais a que so submetidos, mas tambm ocorrem devido s dificuldades das
pessoas de se relacionarem com aqueles que so diferentes. Fao minhas as palavras de
Galletti:
Utilizar a arte ou qualquer outro domnio na terapia pode ser um caminho,
uma promessa de insero e incluso mas fazer interface com estes
domnios, conectar-se efetivamente com eles, transitar, deixar-se
contaminar, misturar-se a eles, deixar-se invadir o que possibilita
processos de diferenciao, de transmutao e de outramento. (2001, p.111)
Neste processo de ensino-aprendizagem quem cuida de quem? Quem acompanha o
outro?
Na realidade estamos sempre diante do grupo, colocando-o em contato com o oferecer
e o receber, entre o som e o silncio.
Foto 5 - O expressar- se de dentro para fora.
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Captulo 4 OFICINAS DE ARTETERAPIA COM PORTADORES DE
DEFICINCIA FSICA E MENTAL
4.1. Sujeitos: Escolha e caracterizao
Esse estgio em Arteterapia aconteceu num total de 34 encontros com adultos de 21 a
65 anos no Laboratrio 1 do Bloco 8 do prdio de Terapia Ocupacional da USP desenvolvido
no Laboratrio de Estudos e Pesquisa Arte e Corpo em Terapia Ocupacional do
Departamento de Fisioterapia , Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de
Medicina da Universidade de S. Paulo.
Sendo a Arteterapia uma atividade que evoca o processo de crescimento e
autoconhecimento por meio de prticas criativas que utilizam a linguagem verbal e no verbal
como recurso, (ANDRADE, 2000, p.31) pensei em trabalhar com pessoas em um grupo
heterogneo de adultos, usurios de servio de sade mental, que so excludas de
determinadas oportunidades da vida por questes fsicas, culturais e/ ou econmicas, e que
necessitam de ocasies para evocar a imaginao, o sensorial e o pensamento de forma que
no prevalecesse a falta, mas sim o potencial de cada um.
Os objetivos eram os de acolher, facilitar e potencializar os processos de:
- descoberta de si;
- insero e atuao em um grupo social;
- resgate de vivncias culturais adormecidas;
- traar um caminho expressivo-criativo para essa busca.
A metodologia consistiu em:
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- Sensibilizao, Expresso livre, Transposio de linguagem e Avaliao, segundo o formato
das Oficinas Criativas de Allessandrini (1996).
- Procedimentos do Continuum de Terapias Expressivas (ETC) trabalhados no nvel sensrio-
motor, perceptivo-afetivo e cognitivo simblico, de Kagin e Lusebrink (1978) que
nortearam a anlise do encadeamento das atividades propostas.
Para melhor entender o processo em atelier teraputico ser necessrio ressaltar que as
etapas propostas pelas metodologias das Oficinas Criativas no so lineares. Podem acontecer
momentos de progresso e evoluo como momentos de recolhimento e imerso. Uma breve
anlise do perfil do grupo faz-se necessria.
Foram atendidos nesse projeto em Arteterapia, adultos com transtornos psquicos,
idosos e moradores de rua e portadores de deficincia mental. Pessoas que so excludas de
determinadas oportunidades da vida por questes fsicas, culturais e/ou econmicas, que
necessitam de ocasies para evocar a imaginao, o sensorial e o pensamento de forma que
no prevalea a falta, mas sim, o potencial de cada um.
O objetivo foi o de traar um caminho criativo para essa busca, em encontros semanais
de 1:15h no Laboratrio de Estudos e Pesquisa Arte e Corpo em Terapia Ocupacional do
Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de
Medicina da Universidade de So Paulo, sob a Coordenao da Prof Dra. Eliane Dias de
Castro e da Prof. Ass. Elizabeth de Arajo Lima, na Cidade Universitria de So Paulo
Perfil sucinto dos participantes das oficinas teraputicas:
- T.: Senhora de 60 anos, portadora de Demncia de Pick. Mora com marido e filha em
Osasco no conseguindo ficar parada. Falava pouco.
- M.: Jovem de 21 anos, portador de deficincia mental .Mora com me e irmo no Jardim
ngela. No alfabetizado. Faz trabalhos domsticos.
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- F.: Jovem de 28 anos, portador da Sndrome do X frgil, descoberta aos 15 anos. Pai
falecido. Me viaja muito. Mora com 3 irmos no Butant. Passeia pela rua. Todos o
conhecem.
- W.: Jovem de 22 anos, portador de deficincia mental, analfabeto, morador no bairro de
Paraispolis, sabe escrever o nome.
- A.: Senhor de 62 anos, portador de ataxia cerebelar aps cirurgia cerebral aos 58 anos. Mora
com esposa, gosta de ler. Apresenta desequilbrio e incoordenao motora.
- R.: Senhor de 32 anos, morador de rua h 20 anos j tendo sido metalrgico, com doenas
pulmonares.
Descreverei uma das propostas realizadas com esse pblico durante esse perodo de
encontros arteteraputicos para anlise do processo de transformao pessoal em processos
criativos.
4.2. Atividade: Construo da maquete coletiva (1 etapa)
Sensibilizao
Nosso encontro foi iniciado com um aquecimento corporal com partes do corpo.
1. Batimentos dos ps
2. Braos soltos (elefantinho)
3. Cabea
4. Ombros (deixa pra l...)
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Expresso livre
Propus que fizssemos um trabalho coletivo com aqueles elementos plsticos: lpis,
grafite, guache, colagens que j conhecamos. Poderamos retomar as imagens do encontro
anterior e acrescentar novas idias. Estendemos, ento, um papel Kraft por toda a mesa e cada
um foi iniciando sua proposta.
A. retomou o carvo fazendo o asfalto da estrada que W. props, ao lado de ruas. M.
copiou os faris que W. havia feito. T. fez uma grande rvore. Surgiram casas, carros e
prdios.
Ouvimos: BACH sute solo para cello.
W. que teve um envolvimento com o processo, logo tomou a frente e foi criando uma
cidade, com ruas, semforo, faixa de pedestre, etc.
A. foi quem mais resistiu a entrar em tal atividade. Manteve-se em outra atividade que
no conseguira dar fim na da semana anterior. Neste dia, A.estava com a coordenao motora
fina mais dificultada, sua ataxia estava bastante acentuada, e logo percebera a dificuldade que
teria em realizar qualquer atividade. Mesmo assim, incentivei-o a compor o trabalho em
grupo. Sugeri que continuasse a realizar a mesma atividade que fizera no trabalho individual.
Disse-lhe que ficaria timo para o asfalto das ruas de W. continuar trabalhando com o carvo,
que daria um efeito de textura e cor muito semelhantes ao asfalto real. Animou-se com a idia
e se prontificou a fazer. Entretanto, foi muito difcil esta realizao: sentar-se no banquinho
alto, sem apoio e mudar a toda hora de lugar, uma vez que no consegue trabalhar em p. E,
as ruas que W. construra eram ruas que ocupavam todo o espao, atravessando e interligando
todo o trabalho.
Enquanto A. desenvolvia seu trabalho de pintura do asfalto, W. comeara a pintar as
caladas com pincel e guache preto e em um instante, estava pintando tambm as ruas, sem
perceber que isto sacrificava todo o trabalho de A., que parou e ficou a observar a ao de W.
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Entretanto, W., como de costume, se envolvera tanto com o processo, que ia cobrindo os
espaos, inclusive os espaos j ocupados pelo dificultoso trabalho de A.
Mantive-me um tempo s a observar, entretanto, o trabalho de W. estava sendo muito
rpido e paralisara o de A.. Logo, interferi neste processo, sinalizando o que estava
acontecendo. Imediatamente W. parou. Mas custou caro, pois A., que j no estava motivado
devido ao acrscimo de dificuldade que estava tendo naquele dia, simplesmente parou, no
deu continuidade ao asfalto.
A partir da, pode-se perceber o confrontamento de diferentes valores, um de ver seu
produto ser destrudo, o outro por expandir seu processo, e isto ser to intenso que eles no
notavam que havia outros trabalhando com eles.
Havia nesse momento uma rica possibilidade de ampliao da vivncia que seria de
grande valia para o desenvolvimento das relaes deste grupo, da expresso de
individualidades e do confrontamento das diferenas e dificuldades.
Foto 6 - Trabalho coletivo sobre papel Kraft e materiais plsticos conhecidos.
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Sensibilizao - 2 etapa
No segundo encontro iniciamos a sensibilizao com batimentos com os ps nos cho
e com as mos no corpo, com msica tnica reforando o pulso marcado, os sons fortes e
precisos conduzindo atravs da melodia o dialogar com sentimentos opostos que vinham a ser
despertados.
Nos aquecemos para a caminhada que faramos no bosque da USP antes de darmos
continuidade ao projeto. Estava um dia de sol e foi agradvel sair do prdio. A. mostrou-se
tranqilo em andar conosco.
Naquele dia, tivemos a chegada de F. no grupo, rapaz de 27 anos com sndrome do X
frgil.
Expresso livre
Ao voltar par a sala continuamos nossa construo da cidade que agora adquiria
volume e texturas. Foram usados fios, barbantes, caixas, tampinhas.
Sensibilizao 3 etapa
1. Colocar os nomes das pessoas do grupo sobre os batimentos dos ps em 2 tempos.
2. Seqncia de 4 batimentos : perna palma peito cabea ao ritmo do bong.
Cada um tocou o bong para o grupo fazer os batimentos.
Expresso livre
Foram levados para o grupo novos recursos materiais para a maquete: serragem,
palitos, celofane picado e tampinhas.(Fotos 7, 8 e 9).
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Foto 7
Foto 8
Foto 9
Conversamos que seria nosso ltimo encontro para terminar a parte plstica do
trabalho. Todos se envolveram muito e o resultado foi prazeroso para todos. Lamentamos a
falta do A.
A chegada do F. foi bem vinda pelo grupo e ele logo se envolveu com a proposta.
Pintou e construiu um carro.
Wanderley fez uma ponte, T. colocou gua e peixes nos lagos.
Todo o grupo estava muito envolvido com as idias que iam surgindo e T., s vezes,
falava nome dos elementos : peixes, casas, carros.....
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A presena do F. foi bem recebida pelo grupo. Pareceu-me que ele estava tranqilo e
vontade com as pessoas e as propostas.
Sensibilizao - 4 etapa
Aps a conversa habitual de incio dos encontros, propus um relaxamento com
visualizao da nossa cidade, ao som do ETERNAL OM, e foi oferecida uma venda para
poderem ficar mais confortveis com os olhos fechados. Fui narrando uma histria que se
passava em uma cidade, com seus habitantes, mercados, carros, casas e animais criando um
clima de tranqilidade e s vezes de tenso pela chuva e tempestade que ocorriam. Ao narrar
eu ia andando atrs de cada um do grupo fazendo um toque de massagem pelas costas e pelos
ombros.
Todos se sentiram muito confortveis com a proposta.
Expresso livre
Depois disso nos dirigimos maquete e tentamos reproduzir aquela histria
coletivamente, com narrativa de todos, orientados por mim. Introduzimos sons sonoplsticos e
algumas improvisaes no texto. Esse momento foi gravado.
Num segundo momento, interpretamos a histria ao redor da maquete, momento esse
de narrativa, sonoplastia e filmagem. Escutamos a gravao e fizemos uma avaliao.
R. sentiu-se emocionado em ser recebido pelo grupo. No esperava pela massagem
que o transportou para outro universo, segundo seu depoimento.
Combinamos de assistir ao vdeo no prximo encontro.
A. ficou surpreso com a transformao da maquete. Seu crescimento e as novas idias
que foram acrescentadas.
Todo o trabalho foi gravado em K7 e VHS.
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No ltimo encontro sentimos a falta do R., F. e M., este ltimo, tendo avisado que no
viria porque iria ao mdico com a me.
Preparamos a sala para assistir ao vdeo que seria uma novidade para W. que havia
faltado no encontro anterior.
O filme ficou expressivo e todos gostaram de se ver. Fizemos uma pequena conversa
sobre o projeto todo e encerramos esse ciclo do trabalho.
Foto 10 Detalhes da maquete.
Foto 11 Maquete finalizada.
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4.3. Desvendando os processos
Esta anlise ter um olhar relacionado ao Tempo Expectativa Olhar Oferecer-
oportunidades de vivenciar processos criativos conscientes e inconscientes simultaneamente,
baseados nas teorias do ETC e da Psicologia Analtica de Jung, que o grande desafio a que
me proponho analisar a partir dessa experincia com o projeto SENTIR E CRIAR em
Arteterapia.
O quadro abaixo traz uma sntese da anlise do projeto Construo de Maquete para
uma melhor compreenso do desenvolvimento da proposta a partir de ETC.
Nveis de Expresso
Continuum das Terapias Expressivas (ETC)
Atividade Nveis
Aquecimento com batimentos:
Caxixis e Msica tnica
Visualizao: riacho/animal da infncia
Batimentos corporais, nomes, ritmos no
bong
Nvel sensrio motor: Liberao da energia corporal
Liberao da inibio e controle
1 etapa : desenhos planos no papel craft
coletivo
Ruas, estradas, natureza, pessoas, animais
Sute de Bach
Nvel Perceptual Afetivo: Focaliza a forma
Externaliza afetos
2 etapa : criao de volumes
Casas, postes, pontes, mercado
frutas, peixes
Nvel Cognitivo simblico : Focaliza solues de problemas
Abstrao e representao
Verbalizao
3 etapa : chegada de F.
Verbalizao Detalhes
Diversidade de recursos materiais
Cantigas Infantis
Nvel Cognitivo simblico : Maior distancia reflexiva
(objetividade)
Aparecimento de smbolos regressivos
4 etapa : chegada de R.
Criao da histria
Sonorizao livre / filmagem / gravao
Nvel Criativo : Enfatiza a sntese (ego e self)
Unidade entre o material e a mensagem
Favorece o processo de cura
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Podemos verificar que a partir de um estmulo corporal e musical o grupo foi
estimulado a um vivenciar artstico encantador e envolvente com uma funo teraputica
definida e consciente, visto ter sido um processo de transformaes e melhorias no jeito de ser
e pensar a vida.
Nosso objetivo no sendo o de ensinar artes no sentido usual, nem emitindo juzos de
avaliao crtica, nos permite concordar com Liebmann que nos diz:
A arteterapia usa a arte como meio de expresso pessoal para comunicar
sentimentos, em vez de ter como objetivo produtos finais esteticamente
agradveis a serem julgados segundo padres externos. Esse meio de
expresso acessvel a todos, no apenas aos que tm talento artstico.
(2000, p.18).
Ressaltamos, aqui, no processo de arteterapia, o ldico e a expresso espontnea
trazendo tona elementos do imaginrio pessoal de cada componente do grupo e do coletivo
cultural.
Uma reflexo sobre a escuta e realizao sonora realizada durante essas oficinas nos
permite um olhar abrangente sobre o papel e a funo musicoterpica dos sons conforme os
nveis de conscincia preconizados por Koellreutter (apud BRITO, 2001, p.48 e 49).
Msica tnica (nvel mgico)
Contato com partes do corpo.
Batimentos fortes e rtmicos.
Momento de unio do grupo.
Cantigas Infantis - (cantaroladas e na flauta doce ) ( nvel pr- racional)
Melodias definidas e carregadas de sentimentos.
Frases musicais com texto e significado.
Pulsao ligada ao fluxo da respirao.
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Sute para violoncelo de Bach (nvel racionalista)
Momentos de introspeco e recolhimento.
Busca de materiais imagens e contato com seu ntimo.
Harmonia Dissonncia e Consonncia que estruturam o pensamento lgico.
Sons e rudos da sonoplastia urbana da maquete (nvel integrador)
Relao tempo - espao fragmentadas holsticas.
Ausncia de tonalidade.
Presena de ruidosidade, imprevisibilidade, surpresa.
Necessidade da inteno emocional para a comunicao.
Este projeto constiuiu-se de vrios momentos onde cada um enfocava algum aspecto
da arteterapia sem propor um destaque nas artes plsticas como expresso dominante e sim
ressaltando a integrao das linguagens expressivas.
Podemos salientar algumas consideraes sobre os resultados observados :
1. Tentativas de falar pelo outro.
2. Utilizao de instrumentos musicais como suporte rtmico da fala.
3. Trabalho corporal com limitao de espao a partir de imitaes.
4. Resgate das histrias de vida.
5. Parceria com a psiquiatra da T.
Observaes perceptveis em T. (100% de presena):
- Desenvoltura na fala;
- Alegria na expresso facial;
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- Segurana no andar;
- Independncia em casa;
- Afetividade corporal;
- Aumento da iniciativa pessoal - fala e ao.
Desse modo tivemos a possibilidade de vivenciar o olhar de Allessandrini sobre
processos criativos de expresso:
Em Arteterpia evocamos o valor e a abrangncia que a Arte tem sobre o Ser
Humano: pensante, formador, construtor, sensvel, consciente e intuitivo [...]
Nossa proposta evoca a presena do Ser Humano em pleno desenvolvimento
de sua sensibilidade e de suas competncias. (1999, p.24).
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Captulo 5: EDUCAO E ARTETERAPIA
5.1. Paralelos e interseces
Todos conhecem o compreendem o papel da psicologia dentro do ambiente
educacional. A importncia da criao de espaos da expresso espontnea e criativa vem
sendo ressaltada em nossa cultura desde incio do sculo XX com muitos pensadores que a
isso de dedicaram como um fato de aproximao de processos de transformao psquica e
emocional.
Nesse momento, trata-se de levantar quais so realmente os processos de
aprendizagem que valorizam e do destaque questo do desenvolvimento das funes:
sentimento, intuio e sensao, em detrimento da funo pensamento. Sem dvida, a
educao artstica a que pode mais se aproximar desse universo de construo e
transformao do indivduo. Estamos falando de uma educao artstica que valoriza a
espontaneidade esttica e que no se contente na transmisso e na aceitao passiva de uma
verdade ou um ideal de beleza.
At 1917, nossos mtodos de educao lidavam com o mental consciente e superficial
da criana. A nova psicologia analtica surgiu trazendo tona a importncia da vida mental
inconsciente, que o crescimento dos instintos infantis.
Reconhecemos a importncia vital para o desenvolvimento do ego da liberao de parte dos
contedos inconscientes atravs de produes artsticas e criativas.
Essas so questes abordadas tanto na educao como na arteterapia e ambas tm em
comum o fato de que nem o educador nem o arteterapeuta interpretam a expresso simblica
do trabalho artstico do aluno ou paciente. Na arteterapia, ele incentiva-o, sim, a descobrir o
significado de suas produes.
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Dentro de uma sala de aula, como em num setting teraputico o aspecto dinmico das
relaes ilimitado de possibilidades de interao. Essas interaes envolvem tambm o
inconsciente, ocasionando relaes transferenciais a serem observadas.(ANDRADE, 2000,
p.95).
A transdisciplinaridade como um fator de abertura na atuao educativa teraputica
favorece a flexibilidade para lidar com mudanas, dificuldades e conflitos, assim como para
ampliar as possibilidades de ao do sujeito.
Podemos notar que vrios pontos de interseco acontecem em ambas propostas. O
que difere, evidentemente, o sentido da busca interior de cada um, que passa por esses
processos de transformao.
O educador abre o espao da criao e desenvolve habilidades, ao mesmo tempo em
que o arteterapeuta abre caminhos para a reflexo e autoconhecimento conscientes.
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CONSIDERAES FINAIS
Lembramos que o objetivo desse trabalho foi buscar elementos que contribussem para
uma reflexo do fazer expressivo dentro da educao e da arteterapia. A importncia desse
relato foi o de mostrar o processo de transformao do aluno e do paciente, como um ritual de
iniciao, que no incio assusta porque desconhecido, mas que no decorrer do processo
torna-se claro e revelador.
Foi um grande desafio trazer esse olhar analtico prtica to intuitiva, sensvel e
orgnica do meu fazer profissional.
Perguntava-me, constantemente, quais eram as fronteiras que me separavam de uma
ou outra proposta. Vejo que as atuais transformaes na rea do saber buscam esse olhar mais
abrangente e holstico em relao ao desenvolvimento humano, aproximando campos de
atuao que at meados do sculo XX estavam separados por especializaes
compartimentadas.
Acreditando ser o SER HUMANO um integrante da natureza, ele troca com ela
energias e as modifica, transforma-as, expressando a si mesmo e suas relaes com o mundo,
com seu jeito de ser, na sua produo artstica. Quando ele se expressa em arte, possibilita um
encontro consigo mesmo, entrando em contato com seu interior facilitando uma maior
conscincia de si e do todo.
Facilitar esses processos como adentrar na magia csmica da transformao divina.
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