ARTETERAPIA

10
CLÍNICA - CLINIC O DESENHO DO HOSPITAL NA VISÃO DA ARTETERAPIA EM INTERNAÇÕES PEDIÁTRICAS. EL DIBUJO DEL HOSPITAL EN LA VISIÓN DEL ARTETERAPIA EN LOS INGRESOS PEDIÁTRICOS *Valladares, A. C., **Carvalho, A. M. P. *Doutoranda em Enfermagem. Presidente de Associação Brasil Central de Arteterapia. Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG). **Doutora em Psicologia. Professora da EERP/USP. Brasil. Pesquisa inserida no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde Integral da FEN da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG). Palavras-chave: terapia pela arte, saúde mental, criança hospitalizada, desenhos [Tipo de Publicação]. Palabras clave: terapia con arte, salud mental, niño hospitalizado, dibujos [Tipo de Publicación]. RESUMO A arteterapia é um processo terapêutico que almeja a dimensão integral do homem, bem como os processos de autoconhecimento e de transformação pessoal. Nesse sentido, pode prevenir a instalação de danos emocionais às crianças, durante o processo de internação. Objetivos: descrever, analisar e comparar a qualidade da produção gráfica - desenho do hospital, realizado por crianças em idade escolar internadas na Unidade de internação pediátrica, antes e após as intervenções da arteterapia. Metodologia: trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem metodológica qualitativa de estudo de caso instrumental, que permitiu comparar a avaliação anterior às intervenções da arteterapia com a avaliação posterior. Resultados: a análise dos dados mostrou modificação positiva nos desenhos e, conseqüentemente, na trajetória psíquica das crianças, decorrentes do processo arteterapêutico. Conclusão: o desenho do hospital serviu de guia para o acompanhamento da trajetória psíquica dos pacientes, fator que pode ser bastante explorado no contexto da arteterapia. RESUMEN

description

ARTETERAPIA

Transcript of ARTETERAPIA

  • CLNICA - CLINIC

    O DESENHO DO HOSPITAL NA VISO DA ARTETERAPIA EM INTERNAES PEDITRICAS.

    EL DIBUJO DEL HOSPITAL EN LA VISIN DEL ARTETERAPIA EN LOS INGRESOS PEDITRICOS*Valladares, A. C., **Carvalho, A. M. P.

    *Doutoranda em Enfermagem. Presidente de Associao Brasil Central de Arteterapia. Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Gois (FEN/UFG). **Doutora em Psicologia. Professora da EERP/USP. Brasil.

    Pesquisa inserida no Ncleo de Estudos e Pesquisa em Sade Integral da FEN da Universidade Federal de Gois (FEN/UFG).

    Palavras-chave: terapia pela arte, sade mental, criana hospitalizada, desenhos [Tipo de Publicao].

    Palabras clave: terapia con arte, salud mental, nio hospitalizado, dibujos [Tipo de Publicacin].

    RESUMO

    A arteterapia um processo teraputico que almeja a dimenso integral do homem, bem como os processos de autoconhecimento e de transformao pessoal. Nesse sentido, pode prevenir a instalao de danos emocionais s crianas, durante o processo de internao. Objetivos: descrever, analisar e comparar a qualidade da produo grfica - desenho do hospital, realizado por crianas em idade escolar internadas na Unidade de internao peditrica, antes e aps as intervenes da arteterapia. Metodologia: trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem metodolgica qualitativa de estudo de caso instrumental, que permitiu comparar a avaliao anterior s intervenes da arteterapia com a avaliao posterior. Resultados: a anlise dos dados mostrou modificao positiva nos desenhos e, conseqentemente, na trajetria psquica das crianas, decorrentes do processo arteteraputico. Concluso: o desenho do hospital serviu de guia para o acompanhamento da trajetria psquica dos pacientes, fator que pode ser bastante explorado no contexto da arteterapia.

    RESUMEN

  • El arteterapia es un proceso teraputico que anhela la dimensin ntegra del hombre, as como el conocimiento de s mismo y la transformacin personal. En ese sentido, puede prevenir el dao y perjuicios emocionales a los nios, durante el proceso de ingreso. Objetivos: describir, analizar y comparar la calidad de la produccin grfica - el dibujo del hospital, hecho por los nios en edad escolar ingresados en la Unidad de internacin peditrica, antes y despus de las intervenciones de arteterapia-. Metodologa: es una investigacin descriptiva, con el acercamiento metodolgico cualitativo de estudio de caso instrumental que permiti comparar la evaluacin anterior a las intervenciones del arteterapia con la evaluacin subsiguiente. Resultados: el anlisis de los datos mostr la modificacin positiva en los dibujos y, por consiguiente, en el camino psquico de los nios, siguiente del proceso del arteteraputico. Conclusin: el dibujo del hospital sirvi como gua para la asistencia del camino psquico de los pacientes, factor que se puede explorar realmente en el contexto del arteterapia.

    CONSIDERAES INICIAIS

    A hospitalizao peditrica uma experincia estressante e traumtica, podendo determinar distrbios comportamentais diversos na criana, que vo da agressividade apatia. E como a arteterapia um processo teraputico que almeja a dimenso integral do homem e ainda os processos de autoconhecimento e de sua transformao pessoal1, pode auxiliar no processo de hospitalizao peditrica, prevenindo a instalao de danos emocionais s crianas.

    A arteterapia permite trabalhar vrias modalidades de artes, sendo o desenho uma das mais freqentementes, no contexto hospitalar. O desenho, como modalidade da arteterapia, objetiva a forma, a preciso, o desenvolvimento da ateno, da concentrao, da coordenao viso-motora e espacial, estimula a funo ordenadora do paciente2. Os desenhos expressam o mundo psquico dos pacientes, evidenciando seus aspectos emocionais, fsicos e cognitivos, bem como o meio em que vivem3-7. Assim, a imagem ao ser elaborada revela dados do inconsciente da pessoa e de sua energia, e ao ser analisada assegura o acompanhamento da jornada da psique do indivduo6.

    A criana no perodo escolar, que se entende dos seis aos doze anos de idade, ao ser hospitalizada passa por alteraes significativas em sua vida, uma vez que, nesse perodo, seu raciocnio apresenta-se mais lgico, ela j compreende melhor os fatos, amplia suas relaes e se distancia do convvio familiar, movendo-se no contexto social em direo aos grupos de pares8. Tambm o percurso evolutivo da arte infantil segue paralelamente ao desenvolvimento geral da criana. Autores9-14 indicam que os desenhos dessas crianas possuem as seguintes caractersticas especficas:

    n Ela simboliza o objeto de acordo com sua aparncia visual. Nessa fase, h a tendncia da reproduo da realidade para os objetos, personagens, locais etc. A cor tambm realista; ento, substitui a transparncia pela opacidade e preocupa-se com o acabamento, deixando aparecer as propores e a linha de contorno;

    n Aumenta a busca por detalhes e o desenho da criana mostra mais claramente as influncias das mediaes sociais, histricas e culturais. Seu cotidiano aparece mais claramente nesse universo representativo de pessoas, animais, brinquedos, objetos, natureza, produes culturais e sociais de sua poca, como televiso, histrias em quadrinhos, desenho, jogos, brincadeiras;

    n Aparecem os planos deitados (axial e irradiante) e tambm h a criao de planos e sobreposies. A criana usa a descontinuidade, o rebatimento, a transparncia, a planificao e a mudana de pontos de vista. Ela mantm a linha de base e o cu, mas ainda no apresenta a luz, a sombra e a tridimensionalidade, apenas seu incio;

    n O desenho da casa torna-se mais objetivo e realista, desprovido de fantasia como acontece em idade inferior, assim, normalmente a criana, ao fazer a fachada exterior da casa, com freqncia introduz no desenho seres humanos, objetos e a natureza. Possui uma viso mais integrativa da casa, pois a percebe como um lar, com suas denominaes de calor, proteo, segurana e amor. O desenho da

  • casa simboliza o local onde encontra afeto e segurana11. Mas como as crianas hospitalizadas expressaro os desenhos do hospital? Como desenvolver-se- a trajetria desses desenhos aps as intervenes de arteterapia? Ser que esses desenhos iro registrar simbolicamente o reflexo de suas vidas intrapsquicas? Ento, vendo a arteterapia como uma possibilidade plausvel de ser aplicada no ambiente hospitalar peditrico, as autoras deste trabalho buscaram centrar seu interesse nessas problemticas. Assim, delinearam como objetivos: descrever, analisar e comparar a qualidade da produo grfica do desenho do hospital elaborado por crianas em idade escolar internadas na unidade peditrica, antes e aps as intervenes da arteterapia.

    PERCURSO METODOLGICO

    Tipo de mtodo escolhido: trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem metodolgica qualitativa de estudo de caso instrumental. O estudo permitiu comparar a avaliao realizada anteriormente s intervenes da arteterapia com a avaliao posterior, o que possibilitou s autoras descrever, explicar e comparar os fenmenos ocorridos por justaposio, alm de auxiliar no reconhecimento da eficcia das intervenes arteteraputicas. A pesquisa colocou em evidncia as cores, traados, movimentos, expresses e sentimentos apresentados por essas crianas.

    Cenrio: elegeu-se como espao para desenvolver este estudo a unidade de internao peditrica - ala C- do Hospital de Doenas Tropicais (HDT) de Goinia - Gois, instituio pblica e de ensino, especializada em doenas infecto-contagiosas e parasitrias. O hospital referncia no estado de Gois, por prestar assistncia populao de baixo poder econmico e serve de campo de estgio e de pesquisa para ps-graduandos de vrias reas da sade.

    Participantes da pesquisa: trs crianas de ambos os sexos, na faixa etria de nove anos e cinco meses a dez anos e onze ms de idade, selecionadas com base na caracterizao da populao internada no HDT e com tempo de internao maior do que cinco dias e at um ms. Como critrio de incluso, as crianas e acompanhantes deveriam ser aquiescentes pesquisa, porm excluram-se aquelas que apresentavam distrbios psicticos ou deficincia mental acentuada. Estes critrios objetivaram a padronizao dos participantes e sugeriram a utilizao de outros instrumentos especficos para esta clientela.

    Cuidados ticos: este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa Mdica Humana e Animal do HDT. Inicialmente, consultaram-se as crianas e seus responsveis quanto ao desejo de participarem do estudo e, em seguida, solicitaram-se aos responsveis a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme as normas de pesquisa com seres humanos - Resoluo n196/96 do Conselho Nacional de Sade15.

    Procedimentos: as intervenes de arteterapia adotadas consistiram de acompanhamento individual durante cinco dias consecutivos, com durao variada de uma a trs horas e meia, o que totalizou sete sesses, sem contar as avaliaes iniciais e finais. Os objetivos das sesses de arteterapia consistiam em permitir a exteriorizao de sentimentos, tenses e angstias; trabalhar a reorganizao do meio interno da criana; reconquistar a autonomia perdida; diminuir a dor e o desconforto fsico e estimular sua imaginao e criatividade. Durante as intervenes, trabalharam-se vrias modalidades de arte apoiadas s necessidades das crianas, tendo as intervenes de arteterapia favorecido a conduta focal e imediata, isto , as necessidades emergentes e conflitantes da criana e reforado seu vnculo com a arteterapeuta e com o prprio hospital.

    Nas avaliaes pr e ps-intervenes de arteterapia, solicitaram-se s crianas a confeco de desenho projetivo do hospital HDT, porm antes receberam instrues breves, que no interferiram na sua criatividade, pois o desenho do hospital era livre. Estimularam-se as crianas a darem um ttulo obra produzida e, caso quisessem, poderiam falar sobre a mesma. Para execuo da atividade, receberam materiais grficos, como lpis de cor, lpis preto e borracha, giz de cera, canetas hidrogrficas e papel branco tamanho A4 ou A3. As crianas, ao retratarem a temtica, poderiam fazer uso destes materiais sem se preocuparem com o tempo para execuo do desenho. Conseqentemente, no receberam qualquer sugesto de como deveriam expressar o desenho do hospital, nem houve interferncia do arteterapeuta nos trabalhos, assim as crianas puderam executar as atividades em seu prprio ritmo. Na coleta dos dados, as pesquisadoras utilizaram as tcnicas de observao direta e participante, levando em considerao todo o processo da construo do desenho, fazendo, especialmente, uma anlise minuciosa do produto final.

    Instrumentos de Coleta de Dados: utilizaram-se a tcnica de desenho projetivo temtico e o registro

  • fotogrfico dos desenhos, com prvia autorizao da Instituio e dos responsveis pelas crianas. O instrumento empregado para anlise dos dados foi um Roteiro de Avaliao desenvolvido pela autora principal (Anexo A), cujos fins eram padronizar os itens avaliados no desenho e servir de guia para uma explorao metodolgica dos mesmos. As pesquisadoras avaliaram no desenho os seguintes itens: descrio sucinta do trabalho, criatividade, omisses ou incluses de elementos; outras caractersticas, como: cores, nvel de desenvolvimento, e ao final emitiram comentrios subjetivos. O instrumento de avaliao empregado permitiu s pesquisadoras conhecer a complexidade, a riqueza, a profundidade e o contedo do produto produzido pela criana, o que facilitou no s a anlise interpretativa de suas projees internas, como tambm as avaliaes comparativas, to significativas no processo evolutivo de desenho da criana.

    Anlise dos Dados: os dados, por sua natureza subjetiva, foram apresentados de maneira descritiva, pelas pesquisadoras, que os analisaram sob aspectos qualitativos, que levaram em considerao a qualidade do desenho da criana, no decorrer do processo, comparando o realizado no processo anterior s intervenes de arteterapia com o posterior. Utilizaram, ainda, autores referenciais de testes projetivos e dicionrios de smbolos para auxili-las na anlise do simbolismo dos elementos vigentes6, 11, 14, 16-18, porm a compreenso simblica deste trabalho no se apoiou exclusivamente nestes livros, embora estas abordagens tenham sido importantes para o processo. A princpio, o arteterapeuta descreveu as caractersticas do desenho, separadamente, e, em seguida, agrupou-as, explorando seu significado com base nos livros. No momento seguinte, montou uma histria dos desenhos buscando dar-lhe um sentido que se afinasse com a histria pessoal e singular de cada criana.

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    As crianas no apresentaram nenhuma resistncia em desenhar o hospital tanto na pr como na ps sesso de arteterapia. Enquanto executavam o desenho, manipulavam o material de sua livre escolha, e o silncio invadia o ambiente. Percebeu-se pela expresso corporal da criana uma grande concentrao no desempenho da atividade, possivelmente pela busca interior do processo. Como se esperava, cada criana apresentou um estilo peculiar de trabalhar o desenho e de express-lo no papel nos dois momentos, isto , na pr e ps-sesso. Na maioria dos casos, as crianas na pr-sesso fizeram pouco ou nenhum comentrio verbal sobre o trabalho, diferentemente do segundo momento em que elas mostraram-se mais expansivas, verbalizando mais a dinmica adotada e os trabalhos produzidos. O tempo consumido para a confeco dos desenhos do hospital variou, aproximadamente, de dez a trinta minutos.

    A seguir, encontram-se descritos os resumos histricos das trs crianas do estudo, bem como suas respectivas imagens grficas (desenhos do hospital) e as anlises dos trabalhos:

    * Alberto2 - Uma criana do sexo masculino, com nove anos e cinco meses de idade, que cursava a 4 srie primria, com diagnstico mdico de meningite bacteriana aguda. Residia em cidade do interior de Gois, e tinha como acompanhante seu tio.

    Figura 1 Desenho do hospital produzido por Alberto durante a Avaliao Inicial. Ttulo dado: Hospital

    Figura 2 Desenho do hospital produzido por Alberto durante a Avaliao Final. Ttulo dado: O hospital HDT

  • * Vera (Nome fictcio) - Uma criana do sexo feminino, com dez anos e um ms de idade, que cursava a 4 srie primria, com diagnstico mdico de meningite bacteriana aguda. Residia em Goinia, e tinha como acompanhante seu pai.

    Figura 3 - Desenho do hospital produzido por Vera durante a Avaliao Inicial. Ttulo dado: Sala

    Figura 4 - Desenho do hospital produzido por Vera durante a Avaliao Final. Ttulo dado: O hospital

  • * Dlcio (Nome fictcio) - Criana do sexo masculino, com dez anos e onze meses de idade, cursando a 5 srie primria, com diagnstico mdico de tuberculose. Reside em cidade do interior de Gois, estando no hospital acompanhado de sua me.

  • Figura 5 - Desenho do hospital produzido por Dlcio durante a Avaliao Inicial. Ttulo dado: Hospital

    Figura 6 - Desenho do hospital produzido por Dlcio durante a Avaliao Final. Ttulo dado: O hospital

  • A compreenso dos significados dos desenhos das crianas hospitalizadas ocorreu com base na sua totalidade, isso porque eles foram previamente analisados em seus aspectos individuais, como tipo de cores, traados, direes, entre outros, mas para sua compreenso as autoras consideraram a combinao destas vrias caractersticas agrupadas num todo geral altamente entrelaado. Assim, a combinao dessas caractersticas foi capaz de esclarecer o estado da psique da criana, o que indica hipteses de uma possvel explicao e no uma interpretao analtica rgida ou conclusiva. Procurou-se, ainda, dar um sentido particular s imagens de acordo com a perspectiva da realidade da pessoa que as produziu, ao invs de fazer tradues meramente generalistas sobre seu significado, tendo em vista que os desenhos representavam as experincias individuais dos sujeitos.

    A anlise dos desenhos do hospital feitos pelas crianas permitiu desvelar os contedos do inconsciente dessas crianas, dando um sentido compreensivo tanto para o leitor como para o arteterapeuta. A anlise possibilitou, ainda, constatar que a energia das crianas estava fluindo. Os desenhos trouxeram informaes sobre o indivduo, no momento em que foram elaborados, por isso a realizao das duas avaliaes (anterior e posterior ao processo arteteraputico) foi importante, por assegurarem acompanhar

  • com bastante clareza o desenvolvimento e a evoluo da trajetria das imagens. As crianas desta pesquisa apresentaram progresso com o processo arteteraputico, nos seguintes aspectos: obtiveram um ajustamento pessoal mais equilibrado; mostraram desenvolvimento grfico adequado idade e melhor integrao com o meio hospitalar. Os desenhos ganharam cor, equilbrio, movimento, estando mais prximos de um lar aconchegante do que de um ambiente hospitalar, propriamente dito, com suas caractersticas frias e sem vitalidade. Assim, a arteterapia auxiliou as crianas no seu processo de crescimento emocional, trazendo-as de volta a um estado mais alegre, harmnico e saudvel, pois toda experincia de liberdade e criatividade serve de agente de cura para seus participantes6.

    Deve-se ressaltar, ainda, que cada criana elaborou o desenho do hospital sua maneira, de acordo com sua realidade interior, acentuando e modificando as diferentes partes em funo dos mecanismos de sua personalidade e de toda sua vivncia passada e presente. O fato que cada desenho do hospital foi expresso de forma diversa e, muitas vezes, mostrou-se distorcido da realidade. As imagens associam-se a aspectos idealizados ou patolgicos que, geralmente, refletem facilidades, dificuldades e conflitos interiores profundos do prprio eu, relacionados ao dinamismo pessoal interno das crianas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Como se sabe, a hospitalizao interrompe o desenvolvimento psicossocial das crianas, impe limites e exerce represso progressiva sobre ela. Assim, frente ao exposto, constatou-se que de fundamental importncia a realizao de um trabalho arteteraputico junto s crianas hospitalizadas, para amenizar os efeitos negativos da hospitalizao, efeitos estes que devem ser expressos, trabalhados e transformados, a fim de que sejam usados de maneira construtiva, sem contudo torn-los inacessveis criana, ou negar sua existncia, pois isso prejudicaria o seu crescimento pessoal. A arteterapia um processo teraputico eficaz que permite criana libertar emoes, sentimentos, medos e angstias, ampliar sua conscincia, criar solues ou possibilidades, com o fim de promover transformaes no seu desenvolvimento emocional e, conseqentemente, auxili-la a buscar seu crescimento psquico individual.

    Na arteterapia, a arte no apenas uma forma de auto-expresso, tambm um modo de dar criana autonomia e faz-la expressar sua subjetividade, mas cabe ao meio oferecer-lhe oportunidade e estmulo para esse fim, para que ela possa usufruir desta possibilidade19. Outra questo importante a ressaltar que o arteterapeuta dever ser flexvel e estar afinado com a singularidade de cada criana, durante as sesses de arteterapia, respeitando seu desenvolvimento, suas caractersticas cognitivas, socioafetivas e o ritmo que se encontra. Assim, cada processo teraputico dever ocorrer de maneira singular, sem receitas ou regras pr-estabelecidas, uma vez que as necessidades infantis so heterogneas e devero ser exploradas e restabelecidas de acordo com suas peculiaridades.

    A leitura do desenho do hospital significou um olhar fragmentado dentro do processo da arteterapia, mas mesmo assim foi importante, pois permitiu explorar a histria pessoal/coletiva e toda subjetividade da pessoa que a produziu, histria que serviu de guia para o acompanhamento da trajetria psquica dos pacientes, aps as intervenes arteteraputicas. Este trabalho forneceu instrues, compreendeu e avaliou a linguagem no-verbal do desenho do hospital elaborado pelas crianas, no contexto da internao peditrica, e sendo assim, as autoras sugerem que esta metodologia seja mais explorada pelos arteterapeutas durante suas avaliaes. Enfim, acredita-se que este estudo venha auxiliar os profissionais da rea, uma vez que pode ser amplamente disponibilizado no s no contexto hospitalar, mas em outros contextos, como no da sade, educao ou nos mbitos clnicos e institucionais, pois a criana pode, alm do hospital, representar locais, como a escola ou a casa. Tambm sugerem-se inserir outras faixas etrias, membros das famlias e outras modalidades artsticas.

  • REFERNCIAS

    1. Philippini AA. Cartografias da coragem: rotas em arteterapia. 3. ed. Rio de Janeiro (RJ): WAK, 2004.

    2. Valladares ACA. A arteterapia e a reabilitao psicossocial das pessoas em sofrimento psquico. In: Valladares ACA, organizadora. Arteterapia no novo paradigma de ateno em sade mental. So Paulo (SP): Vetor; 2004. p. 11-3.

    3. Driessnack M. Childrens drawing and their use in healthcare. J Pediatric Health Care 2002 april; 3(16):156.

    4. Hawkins B. Childrens drawing, self-expression, identity and the imagination. Int J Arte & Design Educ 2002 october; 3(21):209-19.

    5. Monsen RB. Drawing the pain. J Pediatric 2003 july; 18(4):284-5.

    6. Furth GM. O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela arte.So Paulo (SP): Paulus, 2004.

    7. Francisquetti AA. Arte-reabilitao com portadores de paralisia cerebral (PC). In: Ciornai S, organizadora. Percursos em arteterapia: arteterapia e educao, arteterapia e sade. So Paulo: Summus; 2005. p. 239-59.

    8. Antunha, ELG. Avaliao neuropsicolgica dos sete aos onze anos. In: Bossa NA, Oliveira VB. organizadoras. Avaliao psicolgica da criana de sete a onze anos. 11 ed. Petrpolis (RJ): Vozes: 2003. p.111-28. Cap. IV.

    9. Lowenfeld V, Brittain WL. Desenvolvimento da capacidade criadora. So Paulo (SP): Mestre Jou, 1970.

    10. Mredieu F. O desenho infantil. So Paulo (SP): Cultrix, 1974.

    11. Di Leo JH. A interpretao do desenho infantil. 3. ed. Porto Alegre (RS): Artes Mdicas, 1991.

    12. Derdyk E. Formas de pensar o desenho. 3.ed. So Paulo (SP): Scipione, 2003.

    13. Retondo MFNG. Manual prtico de avaliao do HTP (casa-rvore-pessoa) e famlia. So Paulo (SP): Casa do Psiclogo, 2000.

    14. Greig P. A criana e seu desenho: o nascimento da arte e da escrita. Porto Alegre (RS): Artmed, 2004.

    15. Brasil Ministrio da Sade. Conselho Nacional da Sade. Resoluo 196/96: pesquisa com seres humanos. Braslia (DF): Ministrio da Sade, 1996.

    16. Ocampo MLS, Arzeno MEG, Piccolo EG. O processo psicodiagnstico e as tcnicas projetivas. 9. ed. So Paulo (SP): Martins Fontes, 1999.

    17. Campos DMS. O teste do desenho como instrumento de diagnstico da personalidade. 33 ed. Petrpolis (RJ): Vozes, 2000.

    18. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionrio de smbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, nmeros. 11. ed. Rio de Janeiro (RJ): Jos Olympio, 2003.

    19. Valladares ACA. Arteterapia com crianas hospitalizadas. [dissertao]. Ribeiro Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP; 2003. Disponvel em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22131/tde-08032004-104940/publico/tese.pdf

    ISSN 1695-6141 COPYRIGHT Servicio de Publicaciones - Universidad de Murcia

    Disco localEnfermera Global - Clnica n 9