Ano VIII, Número 27, Julho - 2017
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Ano VIII Nuacutemero 27 Julho - 2017
ISSN 2518 - 2242
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Equipa Editorial
Direcccedilatildeo Directora - Stela Mithaacute Duarte Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Director-Adjunto - Feacutelix Singo Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Comissatildeo Editorial
Daniel Dinis da Costa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Juliano Neto de Bastos Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Geraldo Deixa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Suzete Lourenccedilo Buque Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Benvindo Maloa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Conselho Editorial
Adelino Chissale Universidade S Tomaacutes de Moccedilambique
Alberto Graziano Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Argentil do Amaral Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Azevedo Nhantumbo Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Begontildea Vitoriano Villanueva Universidade Complutense de Madrid
Camilo Ussene Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Carla Maciel Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Crisalita Djeco Funes Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Cristina Tembe Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Daniel Agostinho Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Elizabeth Macedo Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Feacutelix Mulhanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Francisco Maria Januaacuterio Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Gil Gabriel Mavanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Isaac Paxe Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo (ISCED) - Luanda Angola
Jefferson Mainardes Universidade Estadual de Ponta Grossa Paranaacute Brasil
Joacute Capece Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Joseacute Manuel Flores Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Joseacute Matemulane Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Laurinda Sousa Ferreira Leite Universidade do Minho Portugal
Lourenccedilo Cossa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Manuel Guro Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Maria Cristina Villanova Biazus Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil
Marielda Ferreira Pryjma Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil
Nevensha Sing Universidade de Johannesburg Aacutefrica do Sul
Oseacuteias Santos de Oliveira Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil
Rogeacuterio Joseacute Uthui Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Equipa Teacutencica
Claacuteudia Jovo Universidade Pedagoacutegica (Coordenadora da Equipa Teacutecnica)
Germano Diogo Universidade Pedagoacutegica
Armando Machaieie Universidade Pedagoacutegica
Tiacutetulo UDZIWI Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica
Periodicidade Semestral
Propriedade Centro de Estudos de Poliacuteticas Educativas (CEPE) da Universidade Pedagoacutegica de
Moccedilambique (UP) de Moccedilambique - Maputo
DISP REGordmGABINFO-DEC2008
ISSN 2518-2242
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Iacutendice Nota Editorial 4
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8
Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins
Ricardo Capiberibe Nunes
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20
Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de
Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33
Agnes Clotilde Novela
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52
Stela Mithaacute Duarte
Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69
Acircngelo Guiloviccedila Niquice
Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83
Herciacutelio Paulo Munguambe
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98
Yavalane Sergio Parruque
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade
Pedagoacutegica 111
Faque Tuair Chare
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124
Arauacutejo Manuel Arauacutejo
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da
Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136
Antoacutenio Domingos Cossa
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150
Domingos Carlos Mirione
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira
Moccedilambique 162
Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo
Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183
Rafael Renaldo Laquene Zunguze
Amorosidade como componente pedagoacutegica 198
Elisabeth Jesus de Souza
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da
configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da
STV 210
Acircngelo Ameacuterico Mauai
Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226
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Nota Editorial
Estimados leitores
Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica
Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos
O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que
marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida
da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia
envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil
relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las
O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino
contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique
analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que
concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado
de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas
escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de
Microbiologia
O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os
livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da
autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades
Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no
ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas
escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as
perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e
desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do
livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os
actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros
didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico
de Geografia
5
O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de
professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de
reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com
vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da
sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os
formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as
percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a
melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de
Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no
Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o
sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo
no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo
do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no
desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos
problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo
formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos
O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior
atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa
compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam
a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e
sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil
docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem
O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de
Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor
analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra
e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se
resolver este problema
O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
6
Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua
portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute
outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se
associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi
O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das
crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os
jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os
resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do
sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito
O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-
Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo
em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento
somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira
Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de
Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais
estudos contextualizados
O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade
do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a
necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no
sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela
comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento
numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como
componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na
atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de
autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na
sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia
O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para
Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai
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pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre
interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias
discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces
Desejamos a todos uma oacuteptima leitura
A Direcccedilatildeo
8
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma
experiecircncia
Antoacutenio Sales1
Lis Regiane Vizolli Favarin2
Smenia Aparecida da Silva Moura3
Milene Martins4
Ricardo Capiberibe Nunes5
Resumo
Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar
pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de
tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos
professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de
aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos
alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da
pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de
proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado
Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino
Meacutedio
Abstract
This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based
teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school
for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a
research project during class hours where students were also included considering content demands
teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work
also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents
alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal
Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School
1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto
Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -
profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-
smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -
professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador
associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom
9
Introduccedilatildeo
Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso
do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os
trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso
a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da
autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o
potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao
afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute
o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo
tipicamente escolarrdquo
Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na
escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das
pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo
que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO
20077)
Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa
ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define
como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o
aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento
dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros
copistas
Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute
impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber
institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre
professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte
questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da
Educaccedilatildeo Baacutesica
10
O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo
para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A
pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante
Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um
trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente
Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves
encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola
acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o
espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas
No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita
inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente
determinadas tais como
1 Certa incredulidade por parte de alguns professores
2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto
estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve
sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo
permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel
de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa
simples
3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o
aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa
4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute
um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes
representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso
visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a
possibilidade de natildeo cumpri-la
5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou
conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela
memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses
bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo
6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes
de actividades complementares
11
6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute
outro factor interveniente
7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores
revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em
abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o
professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser
quantificado
8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem
nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor
anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas
que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem
sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da
internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor
9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso
levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que
esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de
literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas
apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo
problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal
(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo
simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas
vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho
fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos
Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns
professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de
equiacutevocos conceituais e histoacutericos
Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos
precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre
certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr
em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas
verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees
bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores
12
Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade
disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja
suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes
Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do
pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a
necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum
problema
No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No
entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e
outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo
nunca passou de oito professores
Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de
iniacutecio na proposta
A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os
contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de
estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)
A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia
em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do
desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via
frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia
pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em
uma experiecircncia de investigaccedilatildeo
A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos
O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma
experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na
Educaccedilatildeo Baacutesica
O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo
integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo
relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou
nessa tarefa
8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como
determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida
13
Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar
um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica
sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia
A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com
alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de
poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante
Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que
poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da
disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se
predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus
estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na
nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos
na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor
independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo
que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata
relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o
investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele
incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um
conhecido site de busca
Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que
se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa
orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos
cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar
do estudante
O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor
forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa
primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar
Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a
qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de
poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao
professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo
Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a
questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio
14
Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute
existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na
Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente
encontraremos um debate dessa natureza
COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades
de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a
[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando
mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas
accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema
da orientaccedilatildeorsquordquo
Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de
encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar
atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da
observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais
caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente
como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses
autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto
evidencia-se que haacute a necessidade de orientar
[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do
aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da
capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com
elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos
procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de
ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de
informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados
gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave
capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de
pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)
Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante
ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto
possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto
Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos
experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer
dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto
deve apresentar para ser o objeto que se procura
15
Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles
[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de
orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e
a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade
alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a
segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na
apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a
orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos
(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)
Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do
estudante eacute resultado de um processo
VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo
acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos
administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam
garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a
delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo
Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave
natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos
estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar
Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da
sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la
A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa
experiecircncia
A Experiecircncia
Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta
mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato
que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o
aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua
aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos
invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo
hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um
preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e
vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a
experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde
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a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho
como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo
quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em
seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro
experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e
componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo
central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo
era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de
quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado
poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas
Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute
relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem
percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se
verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos
estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos
assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar
com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de
orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o
conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos
experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que
poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na
disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os
conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a
discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-
los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula
fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi
adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos
o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos
entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando
propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as
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aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo
resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada
experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte
fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as
aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de
que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora
tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns
estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos
Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os
experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada
para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles
Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da
gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do
experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada
uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um
problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber
aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior
Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os
postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de
acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de
campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma
investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a
seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas
feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do
Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul
(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas
dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia
da maior parte dos alunos da disciplina
Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um
pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de
maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o
caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o
direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo
18
Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o
seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse
caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante
Consideraccedilotildees finais
Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de
pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de
sucesso podem ser relatados
Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos
professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias
burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso
Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um
aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova
visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de
graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar
Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma
vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete
sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute
confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente
Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos
inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema
mais provocaraacute o aluno
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19
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ago 2016
20
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de
Microbiologia em Moccedilambique
Manecas Cacircndido9
Laurinda Leite10
Briacutegida Singo11
Resumo
Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique
no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de
conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da
Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees
identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo
fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram
que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os
documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o
Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de
ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado
dos conteuacutedos de Microbiologia
Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique
Abstract
This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in
Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The
documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary
Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those
documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the
literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a
contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though
evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the
documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt
teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents
Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique
Introduccedilatildeo
O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23
de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg
692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo
9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia
21
moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta
mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de
modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida
De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao
conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)
que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma
tarefa na vida quotidiana
Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de
conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para
a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar
Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino
secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para
enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos
microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente
Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que
todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e
relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem
abordados ou natildeo de um modo contextualizado
Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada
para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)
torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino
anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo
de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o
caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os
documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma
abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em
Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida
pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados
deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de
sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado
das ciecircncias
22
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos
Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que
natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a
que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)
considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a
ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em
algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos
aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006
Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um
ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos
cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto
ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante
para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o
preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas
da comunidade a que pertence
Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos
conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a
existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos
intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode
(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim
contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees
satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de
significados e ao desenvolvimento dos conceitos
Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu
ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No
entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees
(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute
realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta
apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre
ela envolvendo os alunos nesse trabalho
Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente
assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de
aprendizagem (Wartha et al 2013)
23
Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte
modo
Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a
adotar
Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o
estudo das questotildees centrais que criam o contexto
Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de
conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais
Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo
praticadas
O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e
a teoria que os explica
Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de
aulas e o trabalho de campo
Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em
grupo
Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do
pensamento criacutetico
Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode
contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como
realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo
didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para
contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp
Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp
Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki
2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)
Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do
ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo
realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de
ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por
exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das
24
quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas
No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de
Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees
em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam
no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e
a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus
efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar
estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem
significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso
da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado
o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e
profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos
Metodologia
Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da
disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim
de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de
Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de
anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do
conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo
explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo
Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692
sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do
Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem
os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por
isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas
de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral
Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma
delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise
consideradas foram as seguintes
- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees
25
concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com
conhecimentos cientiacuteficos
- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de
conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno
enquanto pessoa
- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos
designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos
e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)
- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos
conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de
conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)
- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das
ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo
- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo
com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki
2011 Leite Et al 2016)
Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas
tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute
sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados
Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas
diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de
Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O
resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1
Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG
Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos
1deg ciclo
8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)
- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos
9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo
Unidade 7 - Organismos no solo
- Organismos decompositores
10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema
- Ciclo de Nitrogeacutenio
2deg ciclo
11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da
sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)
Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas
26
- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e
teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo
- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)
sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas
- Reino fungi
12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio
- Tuberculose
Resultados
A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as
afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees
no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as
dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica
(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola
deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o
desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem
disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de
desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a
abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares
Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo
Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a
escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo
individualldquo (art 2ordm b)
ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa
equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)
Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que
respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf
b)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento
socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)
De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da
presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da
dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam
27
apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite
ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois
ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio
realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa
Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano
Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja
tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e
aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os
conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos
Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG
Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a
eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e
da
Comunidaderdquo (p20)
ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica
socialrdquo (p44)
Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo
conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a
natureza e a sociedaderdquo (p20)
ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao
desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente
escolar e fora desterdquo (p20)
Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas
diferentes aacutereas de estudordquo (p20)
ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo
(p44)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a
linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando
os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo
acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do
patrimoacutenio culturalrdquo (p20)
2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na
comunidaderdquo (p57)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica
e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)
ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta
28
social responsaacutevelrdquo (p58)
Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo
cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou
adopccedilatildeordquo (p22)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de
investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da
Biologiardquo (p58)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a
preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)
No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees
metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas
metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi
identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste
trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e
ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos
de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas
sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas
comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais
Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de
Biologia do ESG
Classe Dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo
Extrato ilustrativo da dimensatildeo
8ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco
grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser
utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia
desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade
e sociedaderdquo (p16)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas
caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os
grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)
9ordf
Quotidiano do
aluno
ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas
alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar
informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se
produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de
29
fermentaccedilatildeordquo (p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos
de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto
com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de
produccedilatildeordquo (p29)
ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo
aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo
dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala
de aulasrdquo (p36)
10ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo
(p29)
ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do
ambientehelliprdquo(p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas
relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)
ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas
identificadosrdquo (p29)
11ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os
estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)
Quotidiano do
aluno
ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns
na sua comunidaderdquo (p22)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos
incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na
aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos
agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada
um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e
classes de cada um dos reinosrdquo (p22)
ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos
sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por
exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo
(p17)
12ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos
relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)
No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia
(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie
Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas
metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A
tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria
sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o
quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas
30
da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo
em causa mais relevante para os alunos
Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki
(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos
fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros
analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia
Conclusotildees
A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute
uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No
entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino
contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na
verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as
dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do
Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas
Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise
de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila
nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo
A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na
medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de
Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar
significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o
cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os
alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma
educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos
alunos
Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem
mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas
pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais
escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da
dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave
questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos
reais
31
Agradecimentos
A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de
Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com
verbas nacionais
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33
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares
e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12
Agnes Clotilde Novela13
Resumo
O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas
metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal
objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares
de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e
utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um
estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf
classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo
as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades
ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade
temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das
ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e
praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia
Abstract
The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their
methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main
objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8
Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and
use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with
grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the
city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the
three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the
determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human
Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed
by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not
related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences
Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology
Introduccedilatildeo
A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico
sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da
qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos
diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular
estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e
12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na
Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia
34
consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute
reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas
O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas
escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de
um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em
geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas
adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua
vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos
capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos
meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades
Laboratorias (ALs)
Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em
Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de
Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades
para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade
O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos
materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta
forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua
consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a
complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao
PEA em Ciecircncias
Objectivo geral
Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades
laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino
Revisatildeo da literatura
Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia
Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos
intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em
muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a
utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se
35
como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a
aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a
concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)
Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo
contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo
proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos
conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)
Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino
Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias
e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo
conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que
falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para
realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante
na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos
pelo professor
Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que
acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado
teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um
guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em
caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta
sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito
investigativo
Os livros escolares de Biologia
O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar
(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006
Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor
dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento
influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como
o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)
Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro
escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas
podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a
36
ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a
impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os
professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem
respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis
ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o
livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala
de aula
Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino
Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no
paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)
do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de
acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros
Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes
a) Curriculum e conteuacutedo
b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua
c) Valores e Questotildees Transversais
d) Estrutura e Organizaccedilatildeo
Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo
Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores
para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo
soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas
perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de
professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira
adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina
Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros
de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos
programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees
bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp
Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais
estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees
De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias
actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de
resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de
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desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das
mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de
desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno
deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e
estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente
construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)
Metodologia
A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o
outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O
primeiro estudo consistiu em trecircs etapas
1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas
escolas
Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber
Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf
Classe
Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe
Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber
Biologia
2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo
Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica
existem actividades laboratoriais propostas
3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica
Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos
protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade
Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise
comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave
tipologia
Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)
Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos
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1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de
ALs proposto
2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e
conceptual que a AL exige do aluno
No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de
7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco
Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para
as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que
corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8
professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde
a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em
Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel
baacutesico
Resultados e discussatildeo
Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe
Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa
de ensino da 8ordf Classe
ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas
Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero
reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na
unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute
que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades
estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo
Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a
unidade apresenta
De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda
assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios
conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta
sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de
Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo
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de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas
unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com
livros escolares de Ciecircncias Naturais
Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois
(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf
unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros
apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)
contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes
livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus
estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas
Tipos de ALs propostas pelos livros escolares
Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de
Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes
autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos
exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas
orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem
procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos
livros analisados
Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado
Tipo de Actividade Manual
A B C
Investigaccedilatildeo - - -
Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -
Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2
Actividades ilustrativas 1 5 5
Exerciacutecio - - -
Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos
fenoacutemenos
1 1
Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam
quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que
acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram
encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da
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Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de
terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao
realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute
aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do
conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na
execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos
procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares
que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo
para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes
cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)
responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais
curriacuteculos de Ciecircncias
Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos
objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de
competecircncias2
No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos
que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees
realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC
2007 p 44)
Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da
Cidade de Maputo
Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs
Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma
diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de
Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3
L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos
Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores
estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da
implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos
Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de
autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que
estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para
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um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute
feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar
sobre a actividade que executa
A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente
estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com
que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou
visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade
que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se
uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais
A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no
estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no
presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos
actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas
mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta
de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas
privdas
A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias
Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem
com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das
Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e
Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas
salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo
esperada melhoria no ensino de Ciecircncias
Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de
uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo
(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois
professores responderam o seguinte
P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo
P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu
enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos
respectivos conteuacutedos teoacutericos
A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal
de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo
42
pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta
pesquisa
Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica
mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos
envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima
opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este
professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs
Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma
relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos
tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos
Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do
horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a
reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores
justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora
natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada
Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu
enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu
estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou
natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos
conteuacutedos abordados
Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs
pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente
e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados
relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de
graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a
melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo
cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de
desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre
determinados fenoacutemenos ou processos
43
Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades
Laboratoriais
Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs
especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a
frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que
objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de
apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos
conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas
Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores
afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente
cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim
A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois
duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os
fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)
em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores
revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas
escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo
desenvolvimento de actividades laboratoriais
Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que
disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o
professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs
realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades
existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de
abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos
Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos
professores
Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5
Uso das ALs Freq
Pelo menos duas por semestre 4
Uma a duas por semestre 1
44
As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K
escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na
tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo
implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu
estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu
trabalho de estaacutegio
Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs
de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando
tambeacutem outro tipo de actividades
Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as
ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o
desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito
ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo
K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo
K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo
M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo
A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para
as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam
desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de
actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que
tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico
As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo
executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo
fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o
niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com
este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia
adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis
e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que
sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve
ser encontrada
Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da
realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma
45
aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos
objectivos por eles defendidos
J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem
soacutelidardquo
Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo
Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores
envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro
aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica
como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento
cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora
em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes
contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito
valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode
proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si
podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados
confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado
que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de
diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de
ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo
lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia
Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para
desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas
aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees
apesentados para desenvolverem com os seus alunos
Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e
por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram
os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a
execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor
limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os
alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades
laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte
destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais
46
Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves
condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs
propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um
laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande
factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios
alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos
Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e
adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia
Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave
adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos
livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas
encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as
escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da
editora Longman
Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de
Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria
nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar
para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo
que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um
determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise
Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a
selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a
concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino
apresentando as seguintes opiniotildees
J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo
Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo
Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de
ensinordquo
Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados
dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida
entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de
ensino como o principal criteacuterio utilizado
47
Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na
escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos
Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de
pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por
Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos
livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e
a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito
importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material
acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que
estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem
considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas
entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas
como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras
Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em
particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores
dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados
para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos
anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e
na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e
Fracalanza (2003)
Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o
caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez
et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana
contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica
que mutila o pensamento das crianccedilas
No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas
diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de
alguns considerarem estas muito poucas
48
Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades
laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas
As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas
pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores
fazem acerca das mesmas
Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam
pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam
Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo
aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo
apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do
tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas
pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma
constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades
deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas
docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e
aprendizagem das Ciecircncias
Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os
procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para
que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas
Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as
ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs
natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um
professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de
teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que
acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto
Consideraccedilotildees finais
A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos
preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees
14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte
49
Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo
para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que
concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem
concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no
organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-
muscularrdquo
Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo
tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece
com um baixo niacutevel de abertura
Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs
proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas
envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em
que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com
baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a
construccedilatildeo de novos conhecimentos
Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no
processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como
razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco
frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas
escolas onde satildeo desenvolvidas
A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos
O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os
programas de ensino da disciplina
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MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros
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52
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios
Stela Mithaacute Duarte15
Resumo
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao
longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi
a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias
etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se
reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem
sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda
natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e
complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia
Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em
Moccedilambique
Abstract
The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout
the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was
the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes
through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological
question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in
the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is
not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary
textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography
Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique
Introduccedilatildeo
O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem
Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo
observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma
integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos
encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as
semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido
pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido
que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de
projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no
futuro (Tedesco 201526)
15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino
de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e
Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)
Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo
53
A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que
se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores
potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem
dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem
Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo
nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula
assim a ideologia dominante de um paiacutes
A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos
constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se
adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo
possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de
Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios
Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia
antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro
didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro
didaacutectico de Geografia
O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do
tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo
necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os
aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos
professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento
A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia
informada da autora
O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)
o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo
da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees
finais e as referecircncias bibliograacuteficas
1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia
Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros
meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares
54
mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser
usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal
A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada
a questotildees ideoloacutegicas e de poder
O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos
marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida
O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos
teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos
uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no
passado presente e ainda perspectiva o futuro
Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do
nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio
geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais
adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de
conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir
o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem
ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica
Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do
aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero
objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do
pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o
aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes
e no mundo
O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute
importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom
professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)
Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e
desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de
aprendizagem
Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que
ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos
adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que
sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas
55
materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades
teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)
Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a
importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um
de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional
de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de
aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio
entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas
No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a
compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da
paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e
para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)
Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da
7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o
meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material
didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas
escolas entre outros (Buque 1999)
O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf
classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo
predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O
custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste
importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a
importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo
contiacutenua de professores (Mesquita 2002)
Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias
Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a
formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em
prol da sua comunidade (p 219)
Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no
geral e em particular o de Geografia
56
1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e
exclusatildeo
Chorou e chora Moccedilambique
Pelas riquezas que lhe usurpam
Sem os filhos as utilizarem
Moccedilambique chorou e chora
(Jackson 197918)
O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de
Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo
aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o
sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito
O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave
estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva
de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os
interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por
ser discriminatoacuterio elitista e selectivo
Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham
mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura
portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano
(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das
descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura
(Mondlane 199558)
O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no
1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf
classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte
estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia
Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia
(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)
Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino
Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino
natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de
57
estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino
especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de
Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de
Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira
e Moura 1974)
Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados
os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e
cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428
com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -
distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas
possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de
Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as
principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial
de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com
exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores
Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade
lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves
necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e
potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava
uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro
para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente
2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do
marxismo-leninismo ao neoliberalismo
I Repuacuteblica
Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma
grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais
como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea
da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento
entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais
16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar
58
fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a
Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco
(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa
principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a
ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo
revolucionaacuterio( Machel 198059)
Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo
do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra
angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)
(201572)
Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia
Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO
que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade
A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da
sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir
agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei
que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes
na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio
comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo
eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade
no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo
(Moccedilambique 1983)
Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros
actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da
educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era
dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em
1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal
provedor dos serviccedilos educativos
Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o
Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria
consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo
59
cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos
vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola
atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo
(Ibid)
Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado
Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda
Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a
Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar
e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e
que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)
Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro
em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro
intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC
1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo
ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas
colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia
o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura
transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma
sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes
aeacutereos
Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com
a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional
esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos
internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por
uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)
Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande
importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais
internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)
O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma
influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido
especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto
Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e
limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo
17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975
60
administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o
autor afirma
Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf
ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18
mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se
atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo
Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)
Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal
como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees
Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)
Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria
da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com
vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria
e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que
tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso
Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data
A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia
elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da
10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)
Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia
(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)
O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com
138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia
Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a
sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo
geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena
Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)
O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por
Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)
18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo
61
Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos
Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)
Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas
condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade
cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do
Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia
da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-
se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e
dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da
agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias
Comunais (Ibid80)
O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro
produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5
capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os
ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e
a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32
paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim
estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera
4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta
obra (Matos e Ramalho 1989)
As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -
9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo
portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial
para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste
apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)
Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes
da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o
seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes
no mundo (Matos e Ramalho 1990)
II Repuacuteblica
Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito
Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras
62
entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo
(Moccedilambique 1992)
Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol
I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos
com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)
Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)
Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e
Santos 1992)
Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia
de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da
Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)
Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de
comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)
Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro
intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da
Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)
Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)
Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80
paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)
Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)
A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino
Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do
livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)
Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico
no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao
preccedilo do mercado
Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este
ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de
alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima
de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos
alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas
(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-
63
caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do
livro escolar
Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo
os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo
fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado
Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar
constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao
processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno
do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior
durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro
gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)
O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma
produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete
2007339)
Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita
apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de
livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado
em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo
(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)
Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da
populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico
Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo
colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no
aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e
interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)
Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam
para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os
livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio
encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas
Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do
Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados
pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de
64
Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo
as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e
questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro
prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos
sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave
venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos
professores (Moccedilambique 2016)
Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e
espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas
diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com
todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un
importante instrumento de trabalho de alunos e professores
Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico
Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico
tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de
aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo
de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)
Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-
se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de
aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino
Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a
aprendizagem fica comprometida
No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias
encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do
conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou
entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis
para os alunos
Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o
facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo
ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da
65
ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo
de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente
A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que
nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com
muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em
Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado
O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um
consumidor passivo
Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem
dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis
Consideraccedilotildees finais
Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias
fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no
processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-
educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico
O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica
dos governantes
Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro
produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador
Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente
e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de
Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade
Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio
Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis
do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito
insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro
Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu
potencial
Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos
alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura
complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro
66
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Secundaacuterio Porto Porto Editora 1974
69
Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf
classe + 3 anos
Acircngelo Guiloviccedila Niquice21
Resumo
O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica
docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os
anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual
formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de
Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica
Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de
competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar
continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos
Abstract
The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the
teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the
aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current
teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary
Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the
option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges
persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order
to promote innovative pedagogical practices
Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years
Introduccedilatildeo
As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique
e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em
transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente
inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na
leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e
2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de
professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e
coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com
21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz
70
uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente
ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um
curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3
anos
O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute
baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e
social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se
de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos
diferentes moacutedulos
Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade
dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de
competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os
graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo
didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a
interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)
e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo
adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias
A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que
durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que
vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma
abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da
percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer
do professor primaacuterio ou secundaacuterio
Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees
Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos
baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos
Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas
docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em
acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade
Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento
na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e
o sistema de avaliaccedilatildeo
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Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e
descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e
aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia
usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)
Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em
Moccedilambique
A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no
regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias
(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente
formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a
primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas
de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar
As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores
eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza
aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como
forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria
o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por
professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962
A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do
ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da
preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos
procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde
resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de
professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo
questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo
colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos
escolarizado e excluiacutedo
Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e
transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o
paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As
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transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes
qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo
Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram
organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e
entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses
Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo
da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou
a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)
Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava
responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que
estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se
refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos
mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos
em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais
disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma
flexibilidade e iniciativas por parte dos professores
Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que
primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles
ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave
grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica
ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com
o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de
10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo
diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)
de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as
reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos
formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso
actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos
transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da
escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas
Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de
aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo
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de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de
aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula
Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em
implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes
criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta
materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)
A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino
seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis
pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em
nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande
dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com
destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos
A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos
exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da
pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa
Criatividade e qualidade dos formadores
As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de
imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de
aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e
criativa
Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e
criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os
formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com
um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas
vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no
ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando
ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no
curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo
utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao
pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso
moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que
desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados
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Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo
da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e
formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao
desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da
formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade
e muito menos da problematizaccedilatildeo
A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual
colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-
acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas
quotidianas
O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da
formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave
praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992
p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em
sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de
professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos
formandos
Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores
A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do
novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente
de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da
qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no
Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas
no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo
Competecircncia
O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar
que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)
define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir
adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a
capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em
conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a
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competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar
para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto
Formaccedilatildeo de professores por competecircncias
Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do
Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco
desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a
qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino
Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como
alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute
efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)
A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da
sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos
conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto
convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em
reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por
Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum
sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a
mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta
parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo
A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute
cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como
alternativa
Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores
Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno
estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo
de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento
Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de
competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute
assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas
de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo
do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a
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necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito
para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud
1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na
prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de
uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias
Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os
formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as
necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios
de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel
a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo
formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor
Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias
A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de
Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores
criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No
entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a
avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo
Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o
sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves
finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos
conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma
mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa
e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender
desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica
O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias
Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um
modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-
aprendizagem assumem novos papeacuteis
A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de
conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo
baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
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metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O
formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos
formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar
informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que
atinja as metas
Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura
concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da
exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas
sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos
De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a
necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito
Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da
resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no
paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem
conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas
interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza
vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto
que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio
seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo
Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de
professores
O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em
competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que
demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O
curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo
operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos
moacutedulos (op cit79)
Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo
e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um
estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de
aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo
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a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores
Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto
curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes
escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias
Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud
(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de
pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos
como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou
utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar
uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato
didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho
Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)
Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final
mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e
progressatildeo
Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a
mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em
detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem
Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita
por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias
descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo
de formaccedilatildeo
Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio
encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo
basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os
outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor
argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua
formativa diferenciada e multidimensionalrdquo
A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de
professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel
da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo
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dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera
perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de
autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois
controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos
Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3
anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos
consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que
esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece
estarem a corrigir relatoacuterios iguais
Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha
que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco
dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O
autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo
diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-
aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares
Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os
testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram
ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala
(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua
opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a
verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de
vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo
facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada
Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande
estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas
escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para
anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a
identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo
informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas
sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los
80
Consideraccedilotildees finais
A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um
modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos
Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e
secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo
de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica
De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios
feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular
na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores
assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos
prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente
desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos
professores
Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a
promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de
conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias
educativas promotoras de desenvolvimento de competecircncias
Bibliografia
ALARCAtildeO I Professores reflexivos em uma escola reflexiva Satildeo Paulo Cortez 2003
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Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas
Herciacutelio Paulo Munguambe22
Resumo
O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e
pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas
de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos
professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de
ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos
professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em
exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No
que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se
agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio
tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles
tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas
limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os
dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que
as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de
recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via
disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees
Abstract
The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims
to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context
The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the
teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for
the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature
review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was
carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen
respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation
and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it
was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our
respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in
Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they
use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is
quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context
in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among
learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of
Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their
appropriate use in the Lower Secondary School
Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions
22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email
herciliomunguambeyahoocombr
84
1 Introduccedilatildeo
No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica
chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem
constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de
aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual
a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender
Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta
via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e
por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico
que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos
professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo
podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu
manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica
Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso
das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a
importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como
instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos
assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os
professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas
Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica
do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas
Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa
Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de
aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)
Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala
de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo
Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo
11 Justificativa
A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um
aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a
85
partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras
como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem
Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a
melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf
9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez
mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras
para enfrentar o ensino superior com sucesso
A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de
calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado
e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos
2 Revisatildeo da literatura
Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas
profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser
alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI
ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que
defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta
na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas
de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso
Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste
modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar
os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)
Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um
instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira
que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para
inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco
Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam
grandes dimensotildees e peso
Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras
mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer
energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees
baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica
86
revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de
escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora
electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos
e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem
a niacutevel pessoal
Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e
diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram
de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a
populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba
auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)
Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas
construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a
qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo
desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees
trigonomeacutetricas
Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e
a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica
conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a
cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos
interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser
encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo
do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica
A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das
diferenccedilas referidas previamente
Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados
Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica
5+4x5 25 45
4x5+5 25 25
20+4x10+5x2+5 75 495
44011x4 160 160
10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor
87
Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para
resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados
diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se
pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente
Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com
prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado
Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito
apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em
09999997
Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre
a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de
calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os
mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar
A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as
reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas
tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova
escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica
direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias
(MORAES 20007)
Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos
curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de
formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de
Matemaacutetica
As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma
reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)
ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da
escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas
dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora
por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a
calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a
aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias
de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no
ambiente escolar como fora
88
De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando
resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo
de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a
partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na
proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas
Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em
Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma
vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento
de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do
aluno
De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um
instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do
tempo
Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de
calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com
criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com
nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo
de graacuteficos entre outros aspectos
Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos
preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o
raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental
As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso
Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se
refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)
explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a
resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como
geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar
diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees
inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos
confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)
Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de
calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de
89
reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e
abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel
A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-
las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem
disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc
que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os
objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa
forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa
(FERREIRA 2007 51)
Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos
como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em
estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se
tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo
de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na
assimilaccedilatildeo da mateacuteria
3 Metodologia
Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e
quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim
com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do
presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser
feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser
quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras
na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio
entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais
No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa
quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e
consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste
contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com
base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados
Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher
mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas
para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas
90
socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo
respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado
Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na
recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa
baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-
Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento
pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em
2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram
assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13
professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos
dados aplicou-se um questionaacuterio
O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene
Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e
Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf
classe haacute mais de 7 anos
Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma
anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de
aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por
P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315
onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15
4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-
se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito
As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas
dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de
Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica
aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de
professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora
Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm
um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem
estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados
91
Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde
se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros
compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos
ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com
conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo
feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto
Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves
Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio
formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma
economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das
conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na
famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da
sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora
Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias
da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao
uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de
Novembro de 2016
Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as
respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da
questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11
Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5
P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13
Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de
Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia
de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)
licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos
92
Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538
Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462
Fonte Organizado pelo autor
O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro
podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm
Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da
calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385
Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615
Fonte Organizado pelo autor
Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os
professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos
verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria
correspondente a 615 natildeo o tinham feito
Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma
informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das
calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas
93
Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem
()
Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7
professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees
matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para
caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os
restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios
exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em
que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental
Sim 538
Natildeo 462
Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10
professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)
como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria
caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os
restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder
Algumas 769
Sem
resposta 231
Fonte Organizado pelo autor
Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos
professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra
o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute
necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-
se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta
tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo
nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora
Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()
Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica
11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem
nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais
Sim 85
94
tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na
determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros
irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a
explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na
mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem
Natildeo 15
Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas
de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo
existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos
simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao
resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para
resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu
anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2
responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio
Algumas 85
Natildeo 15
Fonte Organizado pelo autor
A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um
equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois
tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que
responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram
Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido
dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo
especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute
receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao
uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta
tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica
Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13
Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46
Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54
Fonte Organizado pelo autor
Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)
correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente
para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo
a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno
95
jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do
resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o
aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em
que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as
maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam
usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos
(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio
Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das
maacutequinas simples e cientiacuteficas
Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais
uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no
processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema
referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente
em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um
professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo
pelo universo
4 Conclusotildees e sugestotildees
Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras
em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte
Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a
assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora
limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e
livro do aluno
Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da
Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)
afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos
alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a
preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a
calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos
simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental
96
Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo
fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo
limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica
Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma
orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas
Sugestotildees
Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos
como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho
que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de
calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das
calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento
das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a
calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora
Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades
cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de
aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia
entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos
Referecircncias bibliograacuteficas
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Matemaacutetica 7ordm Ano 2014
98
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem
Yavalane Sergio Parruque23
Resumo
O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo
visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da
progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por
competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de
reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em
Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as
lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de
ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de
literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a
falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos
ciclos de aprendizagem
Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem
Abstract
This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to
Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced
in the country and its relation with the competence model
In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high
number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen
as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students
failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development
of prescribed competences in the education programs
To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and
document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation
in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences
registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles
Key wordsexpression management learning cycles progression
Introduccedilatildeo
Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que
conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um
sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive
Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino
Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)
23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles
pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e
colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde
2010
99
Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a
necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem
(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a
progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o
outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo
(INDE 2003) 24
Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o
Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e
equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de
07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)
Problema
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de
ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo
mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso
a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem
as competecircncias exigidas em cada ciclo
Objectivo da pesquisa
Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em
Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes
Perguntas de pesquisa
I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo
esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem
II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos
alunos
III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias
exigidas para cada ciclo
24 Citado por Nhantumbo (2009)
100
Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no
contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda
parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique
e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira
discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo
Metodologia
Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na
revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa
justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise
qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais
Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode
estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo
obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na
tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados
Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram
analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino
Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo
A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo
sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
Avaliaccedilatildeo
O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que
permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o
processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem
como objectivos
I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico
subsequente
II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste
curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e
recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas
101
III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de
decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu
funcionamento
IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no
ensino baacutesico
Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo
A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos
pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens
remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos
comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre
o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para
hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens
mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos
2006)
A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)
que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude
inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para
Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente
na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de
comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo
Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de
hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno
no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio
de selecccedilatildeo no mundo laboral
A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores
Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes
escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o
processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)
A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou
para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das
aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta
102
abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las
adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de
ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos
Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela
que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em
Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo
de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em
Moccedilambique
Ciclos
No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no
ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do
tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da
repetecircncia
O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais
recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como
promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem
Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)
Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo
escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de
ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania
Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem
uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes
taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela
atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria
verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa
forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de
aprendizagem (Freitas 2003)
A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)
sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo
rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no
aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa
103
Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi
introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica
O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm
grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo
que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute
constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes
Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino
primaacuterio satildeo
O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita
contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir
observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as
outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio
O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas
no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e
tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes
O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades
adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a
vida
Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de
aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um
determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo
predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas
fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir
o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com
base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos
alunos com dificuldades de aprendizagem
A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor
sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-
aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades
Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de
aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao
aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch
104
(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a
aprendizagem do aluno
Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa
natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus
intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva
Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em
Moccedilambique
prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura
classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo
ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno
a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte
et al 2012)
Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como
nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure
eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida
Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio
de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio
e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees
Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas
ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria
homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o
seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a
reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta
A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)
explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar
e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir
Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo
relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns
casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de
ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos
alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da
turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios
cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma
progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de
aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e
isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos
primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)
105
A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de
desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de
aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo
Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o
fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de
aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se
conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva
Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo
sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino
Uma das razotildees eacute que
a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de
aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala
de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma
fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus
saberes (Duarte et al 2012)
O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees
para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem
Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes
da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio
Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os
alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e
quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)
Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo
entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa
A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas
curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem
aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores
directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos
da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)
Dias (2009291) explica que em Moccedilambique
ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de
aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos
106
repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados
temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a
ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente
mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso
Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um
lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa
por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de
aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)
A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de
aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo
que natildeo revelam o real desempenho dos alunos
Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em
Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os
alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem
consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o
autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo
visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para
os professores alunos e paisrdquo
Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a
promoccedilatildeo semi-automaacutetica
As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim
como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores
consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o
sistema de ciclos de aprendizagem
Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo
tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus
filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado
A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a
avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo
contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que
traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e
que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas
107
vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados
(Mainardes amp Stremed 2012)
Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os
professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as
escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o
segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua
implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e
desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior
Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-
se as seguintes
i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos
conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar
ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do
desperdiacutecio de recursos financeiros
iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se
encontra fora da escola
iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de
escolaridade em termos de anos de estudo
v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as
condiccedilotildees adequadas
vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas
vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se
preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo
conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela
necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo
regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo
E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona
i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou
para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da
qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento
ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto
pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou
108
ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves
praacuteticas anteriores
Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro
lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados
preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas
de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a
sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos
natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias
prescritas para cada ciclo
A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a
implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto
na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o
outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos
seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e
Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo
instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este
cenaacuterio
Conclusatildeo
Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees
da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de
aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de
reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo
deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo
permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das
competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias
(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do
sistema educacional eacute desastrosa
Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar
efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as
109
competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das
estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por
parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se
graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia
deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente
para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que
recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique
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111
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-
docente na Universidade Pedagoacutegica
Faque Tuair Chare25
Resumo
O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica
manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da
instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de
Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de
avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de
Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma
pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de
dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras
que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia
de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento
de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que
continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo
das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de
ensino e aprendizagem
Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo
Abstract
The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University
manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of
management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in
Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers
in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of
Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that
this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection
of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we
did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the
conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the
institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of
disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises
awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning
Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception
25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo
(faquetuairyahoocombr)
112
Introduccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta
interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios
contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou
um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud
CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre
estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes
tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir
daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas
com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da
instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia
de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea
a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os
estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras
relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas
Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e
ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na
mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014
Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos
anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo
dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser
percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de
percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores
susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo
Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na
perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo
enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas
113
atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo
algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo
Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da
sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas
palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo
que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos
no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)
apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores
coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e
rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis
retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes
convecircm
Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou
explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de
dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise
de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que
fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto
Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior
O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas
tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e
praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo
Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)
avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de
avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um
instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos
atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os
objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no
processo de ensino-aprendizagem
Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo
como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa
comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como
foi o propoacutesito deste trabalho
114
Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute
consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do
verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir
compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A
medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)
Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e
promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e
posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo
ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma
relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou
fonte de stress destrutivo
Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera
que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto
acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que
acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa
seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a
caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso
agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la
Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento
Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16
onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu
desempenho acadeacutemico
Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as
valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes
factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva
como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que
formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua
vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute
compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e
exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre
se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de
aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do
aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a
115
aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)
apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o
que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso
natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se
chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do
factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo
Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e
SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar
decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute
preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que
isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a
avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma
BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito
aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para
a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos
na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas
estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer
sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a
possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos
trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor
dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade
Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser
justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito
mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos
e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as
praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em
desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de
diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de
estudantes mais favorecido do que outro
MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino
superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas
capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo
que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer
116
Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o
Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a
avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber
trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo
praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-
profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-
avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E
ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e
em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas
docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e
correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo
avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os
docentes usufruem dessa abertura do regulamento
O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel
conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo
autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na
decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)
McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o
processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como
e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles
conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute
que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de
estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior
Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a
avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta
doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um
processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro
para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria
mas esperanccedilosa
Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)
apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida
e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de
117
qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de
implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo
O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute
isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria
quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos
professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a
partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova
escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados
natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)
Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos
universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam
Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de
aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos
conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as
capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de
problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc
Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem
incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor
lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados
com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo
alunoprofessor
Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e
professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e
construccedilatildeo do conhecimento
Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os
resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a
sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo
Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista
pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo
faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o
desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas
sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos
118
contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o
acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)
Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do
conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou
actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores
arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas
reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos
Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade
deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos
avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes
soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do
comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos
professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto
Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)
que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes
No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo
fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles
jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de
como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo
conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente
aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos
foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os
resultados foram satisfatoacuterios
Metodologia
Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para
que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e
seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem
BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um
processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados
como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer
acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal
Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os
problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA
119
2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem
entre eles e seus docentes
Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)
de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que
preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas
que o afectam
A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que
auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir
de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise
documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees
em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias
como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que
aqui foram usados
O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o
curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de
forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do
problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram
dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que
a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem
livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)
Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as
intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas
ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os
que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)
Resultados
Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de
conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos
anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o
comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar
Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base
de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico
120
orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias
tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da
Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem
de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo
conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias
Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais
surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns
docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames
orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo
32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri
constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de
Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um
uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes
Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral
por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o
que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos
Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se
estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se
falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo
existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes
consideraram de impossiacutevel
Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem
a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas
satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes
Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes
aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais
questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo
Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes
falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo
acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees
de notas
121
Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo
que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos
temaacuteticos dos docentes
Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses
conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem
com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees
ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes
Consideraccedilotildees finais
O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP
Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os
docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses
conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares
apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a
perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em
realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em
Miacutedias entre outros
Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a
compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito
Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos
docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute
incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados
responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do
regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que
exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes
E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou
CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os
docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de
estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior
Assim propomos que
- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular
- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma
postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo
122
- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim
como dos estudantes
- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees
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124
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais
Arauacutejo Manuel Arauacutejo26
Resumo
Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas
relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas
ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento
para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-
fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram
concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite
intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de
mecanismos para reduzir o impacto do fracasso
Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor
Summary
This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the
student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school
indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the
instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-
closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and
guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to
conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows
intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring
mechanisms to reduce the impact of failure
Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher
Introduccedilatildeo
O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute
muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica
pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados
de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte
bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo
moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram
26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico
na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica
125
especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas
e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando
Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os
professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos
O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100
estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de
108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria
Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes
e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do
tema de fracasso escolar
Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute
defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do
sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo
201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando
insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias
dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias
Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo
fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas
definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso
num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo
(Rangel sd9)
Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no
seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute
relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma
inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer
mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso
A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos
socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na
escola
O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o
papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a
sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa
126
Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a
mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste
artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as
causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao
meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo
do problema do fracasso escolar
1 Revisatildeo da literatura
O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo
actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente
estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma
missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar
Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir
o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de
lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como
cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor
(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave
a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante
dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo
escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma
posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O
correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer
coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve
ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo
chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso
escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como
sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo
(Lahire 1997 285)
Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um
estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por
uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de
127
um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo
visa alargar o conceito de insucesso escolar
A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos
factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes
apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia
conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo
Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da
profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo
(Lourenccedilo 2007 5)
No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos
professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o
nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa
Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal
das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da
capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser
intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz
Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a
percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos
estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do
meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema
2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas
Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que
surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste
trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo
Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui
uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das
diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute
estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso
escolar pelo natildeo empenho e maus resultados
Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar
satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos
no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado
128
como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-
escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a
fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta
No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100
estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a
favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala
de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o
professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por
turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12
estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes
argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do
trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes
entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo
convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no
iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que
50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o
nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas
que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por
turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos
Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos
levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas
zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex
facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado
para que um estudante se dedicasse aos estudos
3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar
O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os
factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo
da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos
corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd
10-12)
O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em
trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e
129
aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que
o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas
privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em
relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes
afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas
permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para
imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico
e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo
interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe
de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar
Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas
escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do
primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como
usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades
bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos
Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees
psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais
incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e
exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em
bom ou mau professor
4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz
com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras
instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo
deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares
Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos
pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a
certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero
O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra
claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a
130
falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados
para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar
Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo
natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio
dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor
natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo
de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e
fracassam
Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao
questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm
constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas
casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades
escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas
zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas
e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores
5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar
O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua
eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se
como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se
mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo
Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair
algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros
agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um
trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo
fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte
deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal
natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de
educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem
(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas
orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)
131
Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo
das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo
entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga
Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a
autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que
se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura
digna de valor
O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute
necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se
vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar
Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor
acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do
Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular
escolaharrfamiacuteliaharrGoverno
Conclusatildeo
O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que
acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser
tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo
nesta luta
Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as
causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de
saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e
resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e
tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)
Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo
destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar
da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a
profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga
criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas
132
Bibliografia
COMENIUS Didaacutectica mMagna Trad de Ivone Castilho Beneditti Satildeo Paulo Livraria Martins
Fontes Editora 2002
COSTA Joatildeo Dicionaacuterio Moderno da Liacutengua Portuguesa Lobito Escolar Editora 2011
LAHIRE Bernard Sucesso escolar nos meios populares ndash as razotildees do improvaacutevel Satildeo Paulo
Editora Aacutetica 1997
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LOURENCcedilO Joatildeo Hoje natildeo haacute aulas Lisboa Texto Editores 2007
MADALOacuteZ Rodrigo Joseacute O fracasso escolar sob olhar docente alguns apontamentos In
wwwucsbretcconferenciasindexphpanpedsul9anpedsulpaperviewFile945527 de
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1036
RANGEL Annamaria Insucesso escolar Lisboa Horizontes Pedagoacutegicos sd
133
APEcircNDICES
Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)
Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
21 21 21 16 21
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
4 37 32 12 15
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
16 41 16 16 11
Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
11 16 16 37 20
15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
16 21 21 42 0
Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
26 53 0 21 0
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
11 32 21 32 4
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32
Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72
Totais 445 685 380 513 260
Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________
Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________
_____________________________________________________________________________
134
Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)
Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
IC SO ID
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
42 21 37
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
41 32 27
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
57 16 27
Total em numeral 653 207 323
Percentagem () 56 17 27
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
27 16 57
15 O director da escola visita as turmas 49 11 40
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
37 21 42
Total em numeral 142 94 264
Percentagem () 28 19 53
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
79 0 21
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
43 21 36
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57
Total em numeral 335 79 186
Percentagem() 56 13 31
135
Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo
1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)
b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________
2 O que entende por fracasso escolar
________________________________________________________________________________
3 Como acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
4 Porque acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5 Como pode ser superado o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
136
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos
alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi
Antoacutenio Domingos Cossa27
Resumo
O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o
fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright
Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no
processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na
disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O
tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo
sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma
L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de
outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos
inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada
em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do
portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as
liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso
escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2
Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem
Abstract
This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon
of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov
Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on
school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to
analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language
relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana
students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in
inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14
speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu
languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit
grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning
situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School
failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in
secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages
are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle
and the lack of imput from second language associate
Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning
27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade
de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza
137
0 Introduccedilatildeo
A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e
se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas
diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o
mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um
indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas
Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a
importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se
essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como
um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de
um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da
glossemaacutetica e do gerativismo
As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de
WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos
sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute
precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse
estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se
encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa
Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a
heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e
que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser
o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica
Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor
dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia
dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo
linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema
ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf
Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo
No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos
alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis
a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os
alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a
verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica
138
do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos
niacuteveis imediatamente superiores
A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo
do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos
No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico
como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco
domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees
enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a
aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto
mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e
domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos
tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo
Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30
das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma
ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua
confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia
e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo
Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do
desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do
pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso
escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da
crianccedila
Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem
sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)
em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida
em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior
parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997
analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos
moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere
que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano
STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo
escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos
falantes
139
Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos
seguintes objectivos
- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-
aprendizagem liacutengua portuguesa
- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe
Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas
Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de
Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de
textos em liacutengua portuguesa
A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um
questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute
subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de
interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra
os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no
universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta
bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho
Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e
no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as
razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi
na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates
acadeacutemicos
10 Referencial teoacuterico
Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer
conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do
presente trabalho
11 Linguagem
Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre
si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de
140
comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo
utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens
Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de
meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos
Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a
Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e
permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas
gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e
uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal
funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da
comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma
informaccedilatildeo colocada em coacutedigo
Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias
de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em
uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma
determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees
12 Liacutengua
Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja
de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do
estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma
Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute
Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os
organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que
deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer
Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida
como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua
= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda
pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social
Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de
signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de
GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos
servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo
Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como
28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE
141
um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como
um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em
vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico
semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio
social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade
Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais
abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como
lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na
funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e
discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a
interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)
13 Liacutengua Materna (L1)
Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira
liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto
GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a
mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante
14 Liacutengua Segunda (L2)
Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna
que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante
Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia
oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda
a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do
paiacutes
Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos
Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a
presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O
outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o
principal objecto de estudo
142
15 Insucesso Escolar
No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois
duma mateacuteria bastante complexa e inerente
SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas
pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos
Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas
geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E
ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente
as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees
Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se
esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as
probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do
sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente
quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito
Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de
conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)
ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de
capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem
desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com
a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo
20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar
21 Argumentaccedilatildeo
Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave
superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem
observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP
COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico
moccedilambicano concluiu que
30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de
Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica
Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia
143
as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam
de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos
aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura
veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas
enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da
aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem
satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)
Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos
alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e
Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria
aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram
recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo
Xichangana e Cicopi
22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados
Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes
sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no
instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e
pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as
dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a
compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos
no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1
correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28
de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8
Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro
sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram
mais de trecircs livros fora do ambiente escolar
Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos
inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram
dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)
Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-
se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao
144
passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito
Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau
23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados
Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso
escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos
dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta
reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1
tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita
Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar
em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente
como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da
liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as
caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois
pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1
moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes
de outras liacutenguas Bantu nacionais
Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem
uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos
formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs
como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a
diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades
no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm
sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute
bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este
imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte
do seu tempo ao longo do dia
Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a
maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem
passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a
33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM
145
linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante
eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados
para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo
linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui
que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo
coacutedigo escolarrdquo
Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da
televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a
confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa
a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos
alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo
prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano
e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos
Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e
a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de
insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo
Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-
se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e
crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por
eles vivido durante o ensino primaacuterio
A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a
mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de
outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado
que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela
gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos
Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim
repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano
eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e
desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem
34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em
25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros
Horizontes 1976 pp20-39
146
Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir
conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na
praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos
falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita
DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de
semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue
em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila
natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa
fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a
estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo
Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo
domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes
na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona
urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos
alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do
ensino primaacuterio
Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia
os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43
alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram
responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a
qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o
coacutedigo elaborado praticado no PEA
A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe
um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-
pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento
de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no
acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da
liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e
insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias
das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas
e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel
Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da
avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do
147
insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no
PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado
caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino
Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento
impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem
concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o
lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos
influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal
Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia
semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o
primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro
Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem
tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes
alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de
leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes
Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia
de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos
as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram
problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por
conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes
3 Consireraccedilotildees Finais
O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a
fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola
que foi o campo do estudo
No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes
para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas
liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou
indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na
aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo
concreta de bilinguismo em Moccedilambique
148
Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um
impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica
massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado
coincidente com a liacutengua-alvo de ensino
A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa
etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na
apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute
condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo
Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de
vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o
insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem
todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica
linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno
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150
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas
suburbanas
Domingos Carlos Mirione36
Resumo
O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos
da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com
registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo
predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas
localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos
passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir
profundamente sobre essa tendecircncia
Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede
Abstract
This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of
the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive
record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for
male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the
female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for
this generation and should be deeply reflected on this trend
Keywords Game Recreation Physical activity Health
Introduccedilatildeo
O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas
pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo
Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)
cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste
do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo
36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do
Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula
151
O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de
todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser
uma das atividades mais realizadas pela mesma
Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem
diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber
qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros
Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que
podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa
Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros
comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo
prazo
O jogo e suas caracteriacutesticas
O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de
distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)
O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns
significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como
afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias
possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na
actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo
CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores
elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva
teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente
1 O jogo daacute prazer e diverte
2 Constitui um desfrute dos meios
3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido
4 Representa uma fonte de aprendizagem
5 Supotildee um acto de expressatildeo
6 Implica participaccedilatildeo activa
7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias
8 Constitui um mundo a parte
Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por
conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo
152
Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento
evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se
relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o
jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede
CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental
emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo
No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o
caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria
depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o
indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma
patologia o jogo patoloacutegicordquo
Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas
bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino
e apostas pela internet (SPRITZER 2009)
Classificaccedilatildeo dos jogos
O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil
Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)
OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros
classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na
literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos
Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que
distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos
desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia
de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que
mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se
divertir-se entreter-se
Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas
subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por
ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem
os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e
natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO
(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade
153
que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou
super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos
envolvidos
Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS
(1958) que distingue os jogos em
Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou
equipa de jogadores
Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria
natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de
cartas bingo lotaria etc
Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica
principal eacute a representaccedilatildeo
Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que
potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de
ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo
Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e
subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de
ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1
Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos
O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos
bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Jogo
Desportivo
Recreativo
Superactivo
Activo
Passivo
Agonal
Aleatoacuterio
Ilusoacuterio
Vertiginoso
154
Metodologia
O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos
suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o
Posto Administrativo de Muatala
Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo
complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente
treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00
horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas
semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar
registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de
desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns
membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento
Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a
frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes
Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos
predilectos das crianccedilas
Resultados
A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas
crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados
Tabela 2 Frequecircncia de jogos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem
1 Futebol 40 336
2 Naripito 19 16
3 Berlinde 8 67
4 Cheia 7 59
5 Neca 6 5
6 Namacachantho 6 5
7 Banana 6 5
8 Zero 5 42
9 Phada 5 42
10 Pino 3 25
11 Saca 3 25
12 Isa-isa 2 17
13 Matraquilho 2 17
14 Salto a Corda 2 17
155
15 Desconto 2 17
16 Corrida de Pneus 1 08
17 Trinta e Cinco 1 08
18 Dama 1 08
Total 119 100
Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia
se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336
seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma
frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59
Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6
que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5
vezes cada que corresponde a 42
Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde
a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto
com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada
Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados
1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada
Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do
sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)
Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Futebol 40 667 667
2 Berlinde 8 133 800
3 Pino 3 50 850
4 Naripito 3 50 900
5 Desconto 2 33 933
6 Matraquilhos 2 33 966
7 Dama 1 17 983
8 Corrida de pneus 1 17 1000
Total 60 1000
Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por
crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)
Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Naripito 13 271 271
2 Neca 6 125 396
156
3 Zero 5 104 500
4 Namacachantho 5 104 604
5 Banana 5 104 708
6 Phada 5 104 812
7 Cheia 4 83 895
8 Salto de corda 2 42 937
9 Isa-isa 2 42 979
10 Trinta e cinco 1 21 1000
Total 48 100
Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de
sexo feminino (tabela 5)
Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia
1 Saca 3 273
2 Naripito 3 273
3 Cheia 3 273
4 Banana 1 91
5 Namacachantho 1 91
Total 11 100
Discussatildeo
Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas
O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades
diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente
estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim
inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo
como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo
definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo
cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das
regras do jogo
Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador
galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou
entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que
mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se
A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-
se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique
ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos
Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por
crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto
157
para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda
persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e
actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de
futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais
oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino
Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o
futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres
O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas
cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino
usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou
seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias
chamadas na liacutengua local de ripitos
Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em
que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma
mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino
Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas
vezes apostam dinheiro
Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo
feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais
provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de
dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados
em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)
OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam
no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e
raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos
pelo jogador para financiar o jogo
Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por
conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo
soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios
nessas crianccedilas
Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-
se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o
que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um
158
estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de
pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado
lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma
frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo
para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no
facto de ser um jogo de sorte
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem
aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente
Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e
cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola
Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de
activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou
que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece
ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de
aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)
desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por
linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para
que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100
desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e
corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam
em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de
aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros
paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo
lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a
bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo
efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma
moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro
quadriculado)
Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e
foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos
verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma
159
variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que
se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se
procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em
diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com
beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para
ganhar)
Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de
passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho
Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em
termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas
Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem
mais jogos recreativos passivos do que os meninos
De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de
matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser
classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de
agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas
Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas
crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino
O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o
mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave
medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e
consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual
Conclusatildeo
Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os
predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e
berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos
pelas crianccedilas do sexo feminino
Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos
o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de
Nampula
Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais
diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos
160
as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no
entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que
as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no
entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar
O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere
implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente
sobre essa tendecircncia
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162
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em
alunos da Cidade da Beira Moccedilambique
Djossefa Joseacute Nhantumbo37
Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38
Resumo
O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave
Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter
descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432
raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O
crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)
tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico
SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas
como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades
consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na
maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes
evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o
maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos
enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes
em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o
presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre
estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC
cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos
Abstract
The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health
in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and
transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to
Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated
according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the
value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was
performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The
results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the
ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges
the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the
tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both
genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above
recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although
there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an
interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more
contextualized studies
Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students
37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)
163
Introduccedilatildeo
A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode
favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo
o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces
(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de
habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os
halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre
outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o
ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do
centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada
coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)
Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos
niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria
diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de
desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que
o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME
2003)
O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica
traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees
ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp
OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que
ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo
domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar
um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)
A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes
estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do
desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica
o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza
positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)
164
Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes
pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no
presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das
crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada
em casa na escola e nas brincadeiras
Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da
AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede
colectiva
Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em
Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA
et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com
crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste
domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em
contextos rurais (NHANTUMBO 2007)
Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos
padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por
conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a
populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de
avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no
acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no
sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da
cidade da Beira
Crescimento somaacutetico
As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees
sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos
haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees
significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)
Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento
internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um
determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o
165
crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do
que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)
Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma
populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos
educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as
necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al
2007)
A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de
primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas
tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al
2006)
Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos
componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a
fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)
Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal
como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem
ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da
sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes
comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute
nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)
Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular
fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que
traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia
ambiental (SILVA NETO 1999)
O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis
agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos
estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da
famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o
crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e
quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para
uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)
No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo
particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos
166
aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que
o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma
particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de
aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)
Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o
estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros
as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam
toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON
amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)
A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos
paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das
condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de
qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia
e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados
pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de
possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)
Aptidatildeo fiacutesica
O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem
sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como
ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma
oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)
O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas
ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo
intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)
Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas
principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades
fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave
forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-
dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um
comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp
PETROSKI 1999)
167
Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de
determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem
por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em
termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)
Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na
melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as
actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas
principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)
A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio
aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede
e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea
de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada
populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)
Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas
e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse
para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008
CLELAND et al 2008)
Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo
manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de
inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas
cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores
condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto
em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal
necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes
conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o
facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se
daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas
(BOumlHME 2003)
Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado
que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas
168
de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES
2002)
Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a
consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito
escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa
praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as
necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos
qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim
como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou
menos activo (Boumlhme 2003)
Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave
totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as
suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo
adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo
das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu
fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores
motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo
cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e
comportamentais (PEZZETA et al 2003)
Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis
com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de
sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser
aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar
factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas
Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende
a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida
(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo
Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua
realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado
fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de
sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a
participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)
169
Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e
vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas
que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988
ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de
mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa
possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados
estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza
hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de
executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo
tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de
desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)
Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo
de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de
componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta
vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com
aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao
dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas
perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as
funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)
Metodologia
A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e
comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da
Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432
raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira
pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da
Beira seleccionadas aleatoriamente
Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados
A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca
Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et
al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
170
(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave
bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros
(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees
de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do
tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram
concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi
considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto
nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre
avaliados pelos mesmos observadores
Procedimentos estatiacutesticos
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150
com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1
Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da
distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de
estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas
nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas
independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar
o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a
interacccedilatildeo idade-sexo
Consideraccedilotildees eacuteticas
Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a
sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados
para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram
realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos
da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da
metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de
educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa
171
Resultados
Crescimento somaacutetico
A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da
OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da
amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os
resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade
significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo
significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de
dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES
et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos
(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados
iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas
Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)
Altura (cm) Peso (Kg) IMC
Idade
(anos) Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 443)
6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223
7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197
8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331
9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231
10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442
11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366
12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265
13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231
14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326
Anova II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais
Sexo F=4229 pgt001
Idade F=125433 plt0001
Interacccedilatildeo F=0462 pgt005
Sexo F=6115 pgt001
Idade F=94163 plt0001
Interacccedilatildeo F=2285 plt005
Sexo F=3579 pgt005
Idade F=28333 plt0001
Interacccedilatildeo F=3206plt005
Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas
e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com
os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o
impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos
apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de
11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as
normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos
172
da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico
mais alto
Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela
2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao
niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos
meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-
se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo
do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das
variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa
etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados
Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas
e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et
al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007
NHANTUMBO et al 2010)
Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas
apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6
8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados
anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos
Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039
Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049
IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097
No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de
IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas
(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal
decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados
meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais
proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria
Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial
evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da
173
mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por
NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC
com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado
com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos
valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de
referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS
Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento
somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA
1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de
Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)
espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional
residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes
Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da
maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo
feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no
presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental
especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo
Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede
Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em
anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em
todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas
de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma
tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades
embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram
encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes
do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al
2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et
al 2010)
Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste
efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da
idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de
174
acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de
desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia
directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal
(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos
apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas
idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na
prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade
sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os
meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das
idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso
Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute
interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo
mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos
Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos
A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos
meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8
anos
Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados
aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os
resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma
das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho
da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos
indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas
como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e
abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer
sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o
objectivo principal eacute terminar a prova
Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia
plusmn desvio padratildeo)
Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)
Idade
(anos)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 431)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 425)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 451)
6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619
7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258
175
8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335
9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219
10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109
11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90
12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151
13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120
14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134
Anova
II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001
Idade F= 3630 plt0001
Interacccedilatildeo F= 087 pgt005
Sexo F=12850 plt0001
Idade F=15355 plt0001
Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005
Sexo F=41891 plt0001
Idade F= 1918 p=005
Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005
Sexo F=24770 plt0001
Idade F= 211067 plt0001
Interacccedilatildeo F= 2215 plt005
Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo
etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao
analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram
situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer
situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos
sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os
maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14
anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta
faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da
massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)
Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de
os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em
tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al
2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas
somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o
desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best
como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos
indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De
facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo
evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em
praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados
Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003
176
Abdominais 1303985 1556997 380 0000
Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000
Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000
Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das
crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas
diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis
(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)
A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do
Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos
anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto
urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais
(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade
destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos
Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em
idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547
crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo
de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em
aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas
respectivamente
Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da
milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de
um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade
de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva
destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria
mais inteligiacutevel
Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos
sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos
rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus
pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e
clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico
com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano
177
Consideraccedilotildees finais
Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam
valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades
consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior
parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com
o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em
quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de
elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de
corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do
recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas
para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas
as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da
idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece
existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja
inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo
sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais
ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com
abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente
variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal
estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos
factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da
Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da
actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo
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183
Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema
educativo moccedilambicano
Rafael Renaldo Laquene Zunguze39
Resumo
Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo
vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as
implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da
qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a
estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que
todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane
A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que
todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou
profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses
serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir
ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade
civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade
ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo
de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade
Abstract
With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or
professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the
implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the
quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique
to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted
that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The
sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all
respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into
the education system Although they do not have any reference or experience of these services
respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social
sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society
especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and
community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to
enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education
in the country
Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community
39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia
Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela
Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de
Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP
184
Introduccedilatildeo
Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo
dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano
realizada em 2015
A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo
vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou
estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de
graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas
nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam
as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria
Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados
do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino
moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio
destacando o papel preponderante da famiacutelia
O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional
e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do
trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de
educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se
conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso
natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os
problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar
para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de
certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto
final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa
determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa
actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida
Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e
Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser
fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado
deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios
185
com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave
velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional
Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em
Moccedilambique
No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a
metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as
consideraccedilotildees finais
Metodologia
Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes
e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe
Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da
Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por
questionaacuterio
No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir
da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram
elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de
informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que
facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e
pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos
Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a
apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em
alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de
desenvolvimento humano
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de
busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais
bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se
traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da
qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa
real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)
186
Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma
avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve
incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo
profissional
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais
podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias
nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo
Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e
aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou
ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas
Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho
Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze
2013293)
Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no
indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e
desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias
vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
Projecto de vida
Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo
no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos
e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea
cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)
Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano
os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que
a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do
niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer
profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos
Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo
Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique
Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o
que vai incrementar a melhoria da qualidade
187
Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o
aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e
profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de
terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente
O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo
inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a
consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral
e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as
pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias
Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de
cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das
competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar
a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)
Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de
assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de
todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento
humano
Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam
pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do
lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)
Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados
Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da
introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha
necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano Porquecirc
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de
Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce
em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes
Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos
serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas
caracteriacutesticas e vontades
188
Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da
orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino
Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias
objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo
nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees
(Greaney e Kellaghan 201187)
No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias
vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as
competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute
incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees
Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da
Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento
estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o
diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o
desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em
grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam
apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade
Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na
qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como
instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar
Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento
estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para
que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias
professores e o proacuteprio estudante
Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio
exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos
conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino
Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e
aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o
189
proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o
desenvolvimento pessoal e social
Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza
uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades
destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas
puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra
inserido
A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco
tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras
De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo
procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na
anaacutelise dos dados
A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se
definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre
os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do
avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos
sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo
O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa
encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo
teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o
materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)
A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo
ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o
interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita
inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e
na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social
Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os
objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)
tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as
pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo
interpretativo
A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador
como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo
190
fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu
ambiente natural
Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com
os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o
processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista
como importantes
O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o
dinamismo interno das situaccedilotildees
Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo
fenoacutemeno como um todo na sua complexidade
Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido
polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo
Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade
natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma
vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em
orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e
exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico
satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade
Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a
orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para
quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na
universidade
Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens
modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar
em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a
concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e
profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter
informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego
eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa
Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram
que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino
191
De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo
iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho
para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor
A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser
humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em
funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e
sociais (Lassance 200515)
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias
para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema
educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas
Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e
profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela
orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de
desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino
Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o
desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver
humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento
da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro
Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o
benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento
Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos
instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia
Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do
desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de
formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional
processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a
necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais
A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da
formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das
competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos
projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)
192
Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades
comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo
da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais
Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca
incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos
Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver
cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar
projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver
economicamente principalmente a minha localidade
Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as
capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados
para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como
colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e
cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio
No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos
tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas
antigas do trabalho social
Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo
vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria
A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo
concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da
Psicologia Vocacional
Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades
e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma
ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma
unidade em funcionamento
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a
superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de
desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a
participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos
problemas locais
193
Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes
segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum
desenvolvimento franco envolvente e permanente
Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o
apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto
frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da
educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento
(Greaney e Kellaghan 2011 9)
Consideraccedilotildees finais
A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar
em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse
pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade
em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo
Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e
Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento
Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional
conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino
Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico
acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela
populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento
eacute um ideal a ser alcanccedilado
A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com
cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre
as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e
oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)
Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos
de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de
vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a
ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e
enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo
194
As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade
na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de
expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees
Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos
populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo
no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes
comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo
O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre
buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e
pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante
da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do
desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou
profissionalmente
Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas
desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o
desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do
jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas
Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico
soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os
conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)
Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor
qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as
capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional
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195
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DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz
e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)
196
Apecircndices
Universidade Pedagoacutegica
Questionaacuterio dirigido aos docentes
O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e
possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo
moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado
para fins meramente acadeacutemicos
Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________
NiacutevelGrau onde lecciona________________________________
1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional
vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por
competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da
qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no
Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________
Porque______________________________________________________________________
197
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____
Porquecirc______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______
8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional
devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento
humano________Justifique__________________________________________________
_
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo
198
Amorosidade como componente pedagoacutegica
Elisabeth Jesus de Souza40
Resumo
O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo
Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica
como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade
Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de
Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo
eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista
pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma
consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha
minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica
Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil
Abstract
The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early
Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the
practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a
Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de
Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education
is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for
respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path
of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary
choice love is only a pedagogical utopia
Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education
Introduccedilatildeo
O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado
de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em
situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista
em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele
veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como
40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom
elisabethjesusdesouzagmailcom
199
possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de
meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os
sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar
Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da
discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um
consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da
educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso
O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como
Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos
uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e
dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo
ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores
poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja
ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a
importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases
teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma
base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional
1 O que eacute amorosidade
() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da
libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato
de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de
manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute
amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o
amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo
amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo
Paulo Freire
Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a
praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora
para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma
corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta
200
Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor
uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao
fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor
seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila
Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre
educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel
mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando
de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser
sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador
Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando
O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de
libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a
crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu
olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente
Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos
quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem
desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse
contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de
vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia
A seguir relato de experiecircncia
Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de
trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus
favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte
fala
― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver
uma delas morta
(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)
Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com
essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute
trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se
traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos
201
Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes
educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus
favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas
apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam
que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar
A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele
momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo
que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto
que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo
como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila
Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir
nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido
Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas
No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros
colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente
uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo
alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para
ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz
Schettini
Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual
ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute
talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a
importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma
pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)
Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo
afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que
temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para
manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude
Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo
deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe
despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia
202
A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que
cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a
amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido
Relato a seguir uma experiecircncia
Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois
meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila
resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar
No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de
inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo
em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia
mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de
sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com
forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente
se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque
trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos
um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem
A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de
permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se
bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e
prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia
bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades
cotidianas da escola
Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de
socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as
brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e
apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras
disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora
chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de
Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo
somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de
memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc
(Caderno de campo- junho de 2016)
A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas
felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos
nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o
que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus
tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma
relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites
sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo
203
A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo
na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente
consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas
de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem
duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica
sob a responsabilidade da avoacute materna
Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de
que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma
repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que
era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas
possiblidades
Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se
minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no
ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a
exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala
seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades
pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de
contextualizaccedilatildeo
A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma
crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa
crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute
perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito
constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque
o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo
hegemocircnica
2 Os Sujeitos da Amorosidade
Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como
sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade
acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e
vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo
ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade
204
Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que
assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos
soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave
dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e
praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo
gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)
Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o
educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua
proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao
mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia
Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo
Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por
parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade
epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo
ensino-aprendizagem na praacutetica educativa
Segundo a professora Cristiane
Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim
sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais
significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)
Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos
da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o
educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo
somente ensina como tambeacutem aprende
A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno
motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua
praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo
significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando
3 Amorosidade e Inclusatildeo
Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo
essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para
mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete
Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo
205
Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem
sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo
para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu
necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma
simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma
movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo
como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O
ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem
amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente
Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A
questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande
relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do
amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo
Segundo a professora Letiacutecia Lucas
Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como
saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos
do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)
Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia
entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do
fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao
enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica
seraacute maior
Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos
das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta
permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos
Conforme Martins
Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da
nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de
intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos
(MARTINS 2015 P 47)
De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do
educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo
206
como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra
resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver
sendo acolhedora ou excludente
A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem
determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador
social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da
educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo
satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz
respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora
Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando
no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres
humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo
fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor
A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao
amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees
docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos
podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc
professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica
Para a professora Anoil
Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de
magisteacuterio)
Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade
eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas
atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A
amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o
aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial
4 O que eacute amor
A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos
coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a
introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente
207
Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior
destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)
Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima
de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos
esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu
efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens
entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes
que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me
acrescentaraacute
Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e
o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo
que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da
outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os
que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria
experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade
Podemos ver a seguir de forma praacutetica
Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo
quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor
explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida
atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta
passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas
que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era
um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados
segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves
pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)
Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o
amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como
componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a
amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores
intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute
ultrapassar os muros da sala de aula e da escola
A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo
infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
208
Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi
realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o
funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas
respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade
escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos
a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas
como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico
que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor
humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro
de 2016)
Conclusatildeo
Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma
questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da
conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da
aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade
o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos
precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na
maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema
capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes
educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta
indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com
maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute
sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou
simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas
salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na
educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de
nossas praacuteticas docente
Referecircncias Bibliograacuteficas
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo
Paz e Terra 2011
209
MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo
Paulo Expressatildeo e Arte 2015
SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis
RJ Vozes 2010
YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento
Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016
210
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um
contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
Acircngelo Ameacuterico Mauai41
Resumo
Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na
interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia
e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos
de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo
que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que
usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam
entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-
se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese
defendida no discurso
Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva
Abstract
The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between
interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in
the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo
program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors
claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or
compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The
deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner
and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse
Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy
1 Introduccedilatildeo
Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a
consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido
ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras
assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura
manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42
41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses
Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na
Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de
problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da
Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)
211
Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um
comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de
Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo
ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero
discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob
moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do
comentador Fernando Lima (FLL2)
O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos
acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia
de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo
qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como
um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees
dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva
tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos
interlocutores (Gumpez 1989)
Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo
(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da
face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam
discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo
como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas
pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de
Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos
basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada
Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da
anaacutelise efectuada
2 Consideraccedilotildees teoacutericas
Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-
imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos
negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando
43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos
212
aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em
termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de
face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma
eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico
John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica
Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem
cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e
atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com
ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes
sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006
4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas
lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de
poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave
interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e
contribuem na construccedilatildeo do significado
As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas
dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem
culturalmente Assim
uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por
especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo
necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de
seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que
faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2
apud Almeida 2012 14)
As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do
geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora
da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o
contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo
interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia
sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo
213
3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia
discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
31 A (des)cortesia verbal
A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das
faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza
negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de
cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo
na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto
interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45
na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo
haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento
comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo
(Almeida 2013 61)
311 Rituais verbais na abertura do Programa
Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute
investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem
em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar
as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das
comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees
interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao
equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes
No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional
estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves
necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi
directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos
interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de
acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees
O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva
assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional
relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas
45 Citado por Almeida (2013 61)
214
principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que
modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os
assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem
organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de
equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman
1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo
A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma
conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo
instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e
fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a
interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como
componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em
contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte
JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com
mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um
novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico
pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro
substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este
ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste
Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa
(hellip)
As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a
manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)
reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a
coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo
46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees
natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades
discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque
se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito
ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)
215
Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas
discursivas
JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite
Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram
mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo
sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo
e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge
Ferratildeo
Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o
ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os
interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo
(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do
toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial
da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o
entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo
Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a
estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e
despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia
Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012
112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento
conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo
e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face
threatening acts - (Brown e Levinson 1987)
312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como
forma de persuasatildeo
Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz
perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos
observar nas sequecircncias abaixo
216
[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai
sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e
regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para
Jorge Ferratildeo]Pergunta
De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias
satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na
construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado
natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros
ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos
ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item
intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da
face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os
admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto
uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um
acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O
locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que
revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo
O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com
objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta
mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)
esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta
interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da
expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom
emocionado
FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles
espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem
ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem
palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas
natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim
tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional
sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a
questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste
217
sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu
tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de
moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado
Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve
ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute
uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel
social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de
valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica
da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos
conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)
Veja-se o enunciado
ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos
ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou
levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema
educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento
O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos
telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens
de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro
foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o
do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila
da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A
convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo
discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez
reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar
o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de
Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador
218
[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente
que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um
sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo
mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece
muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o
Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese
Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que
modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante
natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como
tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud
Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de
contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo
dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais
descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu
exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional
criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia
constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2
apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do
Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca
incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo
O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila
intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto
de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui
estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma
anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo
para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo
podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a
educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem
pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a
47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do
uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr
Jorge Ferratildeo
219
educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar
adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de
assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua
e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este
juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e
eacute uma forma de descortesia
313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo
O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e
passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado
para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo
L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute
nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu
um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com
a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo
democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica
destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o
reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder
poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico
Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave
nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua
aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo
nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos
respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se
encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs
nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo
por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor
Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo
e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior
220
onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem
participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa
sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das
Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse
sentido o L2 reage nos seguintes termos
L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e
tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo
dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um
processo que encerra em si esta nuance de democracia
Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por
um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista
da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de
diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo
desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de
conferir a legalidade da decisatildeo tomada
O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este
filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes
processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para
dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe
eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante
O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a
aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma
encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo
invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da
conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa
evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o
argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo
avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade
geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser
221
interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho
Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade
pessoal do Presidente
314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo
Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das
ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman
1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP
expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector
em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme
podemos entender no excerto
A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que
universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais
diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem
sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras
credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-
se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a
si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada
ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir
Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face
nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo
quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do
locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e
outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua
face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o
diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem
reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia
ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um
comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos
actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um
programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar
que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do
222
funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo
que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais
A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas
muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na
interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo
(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de
conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de
intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos
quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua
licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus
conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes
32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo
O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino
vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de
ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse
sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a
transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e
tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema
educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo
em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo
O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos
quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra
maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os
graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia
pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus
de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as
faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante
os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge
Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua
nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute
um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou
223
impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio
criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a
melhorar a sua imagem puacuteblica
4 Conclusotildees
Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se
manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as
estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As
sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das
faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo
conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou
comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a
intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma
descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de
que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo
Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua
nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica
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226
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de submissatildeo do artigo O autor teraacute de fazer uma breve descriccedilatildeo dos seus dados acadeacutemicos e
profissionais (no maacuteximo 3 linhas)
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Compete a Comissatildeo Editorial
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trabalhos estatildeo fora dos requisitos editoriais)
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- Enviar as propostas de melhoria do texto ao autor e posterior reenvio do artigo jaacute reformulado
aos mesmos avaliadores
Soacute satildeo publicados artigos aprovados pela Comissatildeo Editorial
227
Sobre o artigo
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subtiacutetulo)
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- Resumo apresentado em Portuguecircs Inglecircs Espanhol Francecircs ou uma liacutengua nacional escrito
a tamanho de letra 11 e espaccedilo simples com o maacuteximo de 250 palavras e com indicaccedilatildeo de
palavras-chave (4 a 5 palavras-chave) Artigos escritos em Portuguecircs Espanhol Francecircs ou
numa liacutengua nacional devem apresentar resumo em Inglecircs Artigos escritos em Inglecircs devem
apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar
ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a
metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees
- Caso haja agradecimentos estes satildeo feitos junto ao tiacutetulo e em nota de rodapeacute natildeo se
admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto
- Depois do resumo segue-se a Introduccedilatildeo Desenvolvimento Conclusatildeo e Referecircncias
Bibliograacuteficas (apenas o que foi referenciadocitado no texto)
- Os quadros tabelas e figuras que constem do trabalho devem estar em formato editaacutevel Todas
as imagens devem ser apresentadas em formato JPG permitindo ampliar ou reduzir o seu
tamanho sem prejuiacutezo
- As citaccedilotildees com mais de 3 linhas devem ter um recuo de 4cm na margem esquerda sem aspas
e em tamanho 11
2 A apresentaccedilatildeo dos artigos cientiacuteficos deve obedecer aos seguintes requisitos
a O texto deve ter no miacutenimo 10 e no maacuteximo 20 paacuteginas Se for necessaacuterio ultrapassar as
20 paacuteginas eacute necessaacuterio contactar com a Comissatildeo Editorial
b A revisatildeo linguiacutestica eacute da competecircncia do autor
c O tipo de letra deve ser Times New Roman
d A fonte deve ser 12
e O espaccedilamento entre linhas deve ser 15
f Devem ser usadas as seguintes margens
Margem superior 3 cm
228
Margem inferior 2 cm
Margem esquerda 3
Margem direita 2 cm
3 As referecircncias bibliograacuteficas devem ser apresentadas da seguinte forma
Apelido do autor
Nome do autor
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Ediccedilatildeo (primeira ediccedilatildeo natildeo se coloca)
Local de publicaccedilatildeo
Editora
Ano de publicaccedilatildeo
Exemplos
AUAREK Wagner NUNES Ceacutelia e PAULA Maria Joseacute ldquoPesquisa e formaccedilatildeo com
professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e
OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo
Horizonte Editora UFMG 2014 (pp 120-132)
DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na
mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012
MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do
Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica
2014 (natildeo publicado)
MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995
NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em
sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI
- Revista de Educaccedilatildeo da UP Nordm 22 Junho de 2015 (pp 4-21) In
htppswwwupacmzcepe Consultado em 14022016
SOARES Wilson ldquoAs memoacuterias de um grupo de professores aposentados sobre suas formaccedilotildees
e as praacuteticas pedagoacutegicas em Rondonoacutepolis ndash MTrdquo Revista Interfaces Cientiacuteficas ndash
Educaccedilatildeo Aracaju V 2 Nordm 2 Fev 2014 (pp 37-46) In httpperiodicossetedubr
Consultado em 15012016
2
Equipa Editorial
Direcccedilatildeo Directora - Stela Mithaacute Duarte Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Director-Adjunto - Feacutelix Singo Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Comissatildeo Editorial
Daniel Dinis da Costa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Juliano Neto de Bastos Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Geraldo Deixa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Suzete Lourenccedilo Buque Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Benvindo Maloa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Conselho Editorial
Adelino Chissale Universidade S Tomaacutes de Moccedilambique
Alberto Graziano Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Argentil do Amaral Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Azevedo Nhantumbo Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Begontildea Vitoriano Villanueva Universidade Complutense de Madrid
Camilo Ussene Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Carla Maciel Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Crisalita Djeco Funes Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Cristina Tembe Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Daniel Agostinho Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Elizabeth Macedo Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Feacutelix Mulhanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Francisco Maria Januaacuterio Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Gil Gabriel Mavanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Isaac Paxe Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo (ISCED) - Luanda Angola
Jefferson Mainardes Universidade Estadual de Ponta Grossa Paranaacute Brasil
Joacute Capece Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Joseacute Manuel Flores Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Joseacute Matemulane Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Laurinda Sousa Ferreira Leite Universidade do Minho Portugal
Lourenccedilo Cossa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Manuel Guro Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique
Maria Cristina Villanova Biazus Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil
Marielda Ferreira Pryjma Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil
Nevensha Sing Universidade de Johannesburg Aacutefrica do Sul
Oseacuteias Santos de Oliveira Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil
Rogeacuterio Joseacute Uthui Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique
Equipa Teacutencica
Claacuteudia Jovo Universidade Pedagoacutegica (Coordenadora da Equipa Teacutecnica)
Germano Diogo Universidade Pedagoacutegica
Armando Machaieie Universidade Pedagoacutegica
Tiacutetulo UDZIWI Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica
Periodicidade Semestral
Propriedade Centro de Estudos de Poliacuteticas Educativas (CEPE) da Universidade Pedagoacutegica de
Moccedilambique (UP) de Moccedilambique - Maputo
DISP REGordmGABINFO-DEC2008
ISSN 2518-2242
3
Iacutendice Nota Editorial 4
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8
Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins
Ricardo Capiberibe Nunes
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20
Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de
Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33
Agnes Clotilde Novela
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52
Stela Mithaacute Duarte
Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69
Acircngelo Guiloviccedila Niquice
Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83
Herciacutelio Paulo Munguambe
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98
Yavalane Sergio Parruque
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade
Pedagoacutegica 111
Faque Tuair Chare
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124
Arauacutejo Manuel Arauacutejo
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da
Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136
Antoacutenio Domingos Cossa
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150
Domingos Carlos Mirione
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira
Moccedilambique 162
Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo
Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183
Rafael Renaldo Laquene Zunguze
Amorosidade como componente pedagoacutegica 198
Elisabeth Jesus de Souza
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da
configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da
STV 210
Acircngelo Ameacuterico Mauai
Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226
4
Nota Editorial
Estimados leitores
Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica
Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos
O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que
marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida
da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia
envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil
relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las
O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino
contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique
analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que
concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado
de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas
escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de
Microbiologia
O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os
livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da
autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades
Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no
ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas
escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as
perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e
desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do
livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os
actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros
didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico
de Geografia
5
O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de
professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de
reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com
vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da
sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os
formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as
percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a
melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de
Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no
Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o
sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo
no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo
do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no
desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos
problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo
formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos
O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior
atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa
compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam
a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e
sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil
docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem
O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de
Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor
analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra
e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se
resolver este problema
O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
6
Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua
portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute
outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se
associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi
O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das
crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os
jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os
resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do
sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito
O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-
Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo
em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento
somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira
Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de
Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais
estudos contextualizados
O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade
do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a
necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no
sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela
comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento
numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como
componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na
atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de
autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na
sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia
O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para
Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai
7
pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre
interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias
discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces
Desejamos a todos uma oacuteptima leitura
A Direcccedilatildeo
8
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma
experiecircncia
Antoacutenio Sales1
Lis Regiane Vizolli Favarin2
Smenia Aparecida da Silva Moura3
Milene Martins4
Ricardo Capiberibe Nunes5
Resumo
Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar
pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de
tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos
professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de
aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos
alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da
pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de
proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado
Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino
Meacutedio
Abstract
This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based
teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school
for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a
research project during class hours where students were also included considering content demands
teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work
also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents
alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal
Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School
1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto
Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -
profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-
smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -
professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador
associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom
9
Introduccedilatildeo
Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso
do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os
trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso
a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da
autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o
potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao
afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute
o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo
tipicamente escolarrdquo
Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na
escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das
pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo
que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO
20077)
Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa
ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define
como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o
aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento
dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros
copistas
Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute
impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber
institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre
professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte
questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da
Educaccedilatildeo Baacutesica
10
O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo
para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A
pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante
Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um
trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente
Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves
encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola
acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o
espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas
No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita
inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente
determinadas tais como
1 Certa incredulidade por parte de alguns professores
2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto
estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve
sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo
permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel
de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa
simples
3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o
aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa
4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute
um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes
representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso
visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a
possibilidade de natildeo cumpri-la
5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou
conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela
memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses
bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo
6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes
de actividades complementares
11
6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute
outro factor interveniente
7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores
revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em
abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o
professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser
quantificado
8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem
nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor
anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas
que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem
sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da
internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor
9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso
levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que
esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de
literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas
apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo
problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal
(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo
simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas
vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho
fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos
Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns
professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de
equiacutevocos conceituais e histoacutericos
Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos
precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre
certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr
em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas
verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees
bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores
12
Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade
disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja
suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes
Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do
pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a
necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum
problema
No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No
entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e
outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo
nunca passou de oito professores
Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de
iniacutecio na proposta
A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os
contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de
estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)
A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia
em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do
desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via
frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia
pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em
uma experiecircncia de investigaccedilatildeo
A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos
O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma
experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na
Educaccedilatildeo Baacutesica
O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo
integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo
relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou
nessa tarefa
8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como
determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida
13
Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar
um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica
sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia
A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com
alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de
poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante
Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que
poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da
disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se
predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus
estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na
nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos
na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor
independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo
que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata
relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o
investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele
incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um
conhecido site de busca
Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que
se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa
orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos
cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar
do estudante
O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor
forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa
primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar
Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a
qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de
poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao
professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo
Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a
questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio
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Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute
existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na
Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente
encontraremos um debate dessa natureza
COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades
de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a
[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando
mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas
accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema
da orientaccedilatildeorsquordquo
Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de
encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar
atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da
observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais
caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente
como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses
autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto
evidencia-se que haacute a necessidade de orientar
[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do
aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da
capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com
elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos
procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de
ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de
informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados
gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave
capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de
pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)
Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante
ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto
possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto
Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos
experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer
dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto
deve apresentar para ser o objeto que se procura
15
Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles
[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de
orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e
a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade
alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a
segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na
apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a
orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos
(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)
Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do
estudante eacute resultado de um processo
VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo
acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos
administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam
garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a
delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo
Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave
natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos
estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar
Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da
sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la
A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa
experiecircncia
A Experiecircncia
Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta
mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato
que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o
aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua
aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos
invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo
hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um
preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e
vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a
experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde
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a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho
como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo
quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em
seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro
experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e
componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo
central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo
era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de
quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado
poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas
Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute
relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem
percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se
verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos
estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos
assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar
com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de
orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o
conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos
experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que
poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na
disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os
conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a
discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-
los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula
fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi
adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos
o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos
entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando
propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as
17
aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo
resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada
experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte
fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as
aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de
que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora
tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns
estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos
Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os
experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada
para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles
Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da
gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do
experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada
uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um
problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber
aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior
Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os
postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de
acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de
campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma
investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a
seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas
feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do
Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul
(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas
dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia
da maior parte dos alunos da disciplina
Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um
pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de
maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o
caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o
direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo
18
Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o
seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse
caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante
Consideraccedilotildees finais
Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de
pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de
sucesso podem ser relatados
Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos
professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias
burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso
Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um
aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova
visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de
graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar
Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma
vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete
sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute
confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente
Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos
inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema
mais provocaraacute o aluno
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ago 2016
20
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de
Microbiologia em Moccedilambique
Manecas Cacircndido9
Laurinda Leite10
Briacutegida Singo11
Resumo
Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique
no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de
conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da
Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees
identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo
fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram
que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os
documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o
Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de
ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado
dos conteuacutedos de Microbiologia
Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique
Abstract
This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in
Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The
documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary
Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those
documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the
literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a
contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though
evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the
documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt
teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents
Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique
Introduccedilatildeo
O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23
de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg
692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo
9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia
21
moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta
mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de
modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida
De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao
conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)
que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma
tarefa na vida quotidiana
Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de
conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para
a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar
Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino
secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para
enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos
microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente
Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que
todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e
relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem
abordados ou natildeo de um modo contextualizado
Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada
para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)
torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino
anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo
de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o
caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os
documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma
abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em
Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida
pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados
deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de
sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado
das ciecircncias
22
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos
Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que
natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a
que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)
considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a
ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em
algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos
aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006
Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um
ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos
cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto
ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante
para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o
preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas
da comunidade a que pertence
Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos
conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a
existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos
intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode
(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim
contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees
satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de
significados e ao desenvolvimento dos conceitos
Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu
ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No
entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees
(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute
realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta
apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre
ela envolvendo os alunos nesse trabalho
Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente
assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de
aprendizagem (Wartha et al 2013)
23
Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte
modo
Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a
adotar
Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o
estudo das questotildees centrais que criam o contexto
Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de
conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais
Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo
praticadas
O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e
a teoria que os explica
Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de
aulas e o trabalho de campo
Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em
grupo
Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do
pensamento criacutetico
Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode
contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como
realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo
didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para
contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp
Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp
Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki
2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)
Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do
ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo
realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de
ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por
exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das
24
quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas
No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de
Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees
em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam
no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e
a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus
efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar
estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem
significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso
da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado
o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e
profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos
Metodologia
Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da
disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim
de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de
Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de
anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do
conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo
explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo
Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692
sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do
Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem
os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por
isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas
de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral
Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma
delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise
consideradas foram as seguintes
- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees
25
concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com
conhecimentos cientiacuteficos
- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de
conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno
enquanto pessoa
- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos
designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos
e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)
- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos
conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de
conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)
- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das
ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo
- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo
com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki
2011 Leite Et al 2016)
Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas
tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute
sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados
Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas
diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de
Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O
resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1
Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG
Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos
1deg ciclo
8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)
- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos
9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo
Unidade 7 - Organismos no solo
- Organismos decompositores
10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema
- Ciclo de Nitrogeacutenio
2deg ciclo
11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da
sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)
Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas
26
- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e
teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo
- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)
sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas
- Reino fungi
12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio
- Tuberculose
Resultados
A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as
afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees
no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as
dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica
(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola
deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o
desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem
disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de
desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a
abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares
Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo
Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a
escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo
individualldquo (art 2ordm b)
ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa
equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)
Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que
respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf
b)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento
socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)
De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da
presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da
dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam
27
apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite
ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois
ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio
realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa
Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano
Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja
tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e
aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os
conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos
Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG
Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a
eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e
da
Comunidaderdquo (p20)
ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica
socialrdquo (p44)
Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo
conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a
natureza e a sociedaderdquo (p20)
ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao
desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente
escolar e fora desterdquo (p20)
Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas
diferentes aacutereas de estudordquo (p20)
ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo
(p44)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a
linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando
os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo
acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do
patrimoacutenio culturalrdquo (p20)
2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na
comunidaderdquo (p57)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica
e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)
ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta
28
social responsaacutevelrdquo (p58)
Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo
cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou
adopccedilatildeordquo (p22)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de
investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da
Biologiardquo (p58)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a
preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)
No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees
metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas
metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi
identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste
trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e
ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos
de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas
sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas
comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais
Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de
Biologia do ESG
Classe Dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo
Extrato ilustrativo da dimensatildeo
8ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco
grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser
utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia
desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade
e sociedaderdquo (p16)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas
caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os
grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)
9ordf
Quotidiano do
aluno
ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas
alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar
informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se
produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de
29
fermentaccedilatildeordquo (p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos
de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto
com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de
produccedilatildeordquo (p29)
ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo
aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo
dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala
de aulasrdquo (p36)
10ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo
(p29)
ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do
ambientehelliprdquo(p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas
relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)
ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas
identificadosrdquo (p29)
11ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os
estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)
Quotidiano do
aluno
ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns
na sua comunidaderdquo (p22)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos
incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na
aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos
agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada
um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e
classes de cada um dos reinosrdquo (p22)
ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos
sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por
exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo
(p17)
12ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos
relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)
No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia
(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie
Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas
metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A
tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria
sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o
quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas
30
da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo
em causa mais relevante para os alunos
Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki
(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos
fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros
analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia
Conclusotildees
A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute
uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No
entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino
contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na
verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as
dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do
Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas
Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise
de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila
nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo
A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na
medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de
Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar
significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o
cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os
alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma
educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos
alunos
Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem
mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas
pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais
escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da
dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave
questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos
reais
31
Agradecimentos
A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de
Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com
verbas nacionais
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na escola Vol 35 Ndeg 2 84-91 2013
33
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares
e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12
Agnes Clotilde Novela13
Resumo
O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas
metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal
objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares
de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e
utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um
estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf
classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo
as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades
ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade
temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das
ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e
praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia
Abstract
The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their
methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main
objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8
Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and
use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with
grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the
city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the
three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the
determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human
Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed
by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not
related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences
Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology
Introduccedilatildeo
A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico
sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da
qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos
diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular
estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e
12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na
Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia
34
consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute
reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas
O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas
escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de
um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em
geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas
adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua
vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos
capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos
meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades
Laboratorias (ALs)
Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em
Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de
Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades
para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade
O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos
materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta
forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua
consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a
complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao
PEA em Ciecircncias
Objectivo geral
Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades
laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino
Revisatildeo da literatura
Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia
Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos
intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em
muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a
utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se
35
como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a
aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a
concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)
Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo
contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo
proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos
conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)
Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino
Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias
e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo
conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que
falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para
realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante
na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos
pelo professor
Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que
acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado
teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um
guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em
caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta
sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito
investigativo
Os livros escolares de Biologia
O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar
(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006
Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor
dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento
influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como
o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)
Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro
escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas
podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a
36
ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a
impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os
professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem
respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis
ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o
livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala
de aula
Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino
Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no
paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)
do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de
acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros
Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes
a) Curriculum e conteuacutedo
b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua
c) Valores e Questotildees Transversais
d) Estrutura e Organizaccedilatildeo
Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo
Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores
para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo
soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas
perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de
professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira
adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina
Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros
de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos
programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees
bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp
Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais
estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees
De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias
actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de
resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de
37
desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das
mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de
desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno
deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e
estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente
construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)
Metodologia
A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o
outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O
primeiro estudo consistiu em trecircs etapas
1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas
escolas
Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber
Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf
Classe
Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe
Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber
Biologia
2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo
Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica
existem actividades laboratoriais propostas
3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica
Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos
protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade
Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise
comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave
tipologia
Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)
Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos
38
1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de
ALs proposto
2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e
conceptual que a AL exige do aluno
No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de
7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco
Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para
as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que
corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8
professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde
a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em
Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel
baacutesico
Resultados e discussatildeo
Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe
Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa
de ensino da 8ordf Classe
ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas
Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero
reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na
unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute
que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades
estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo
Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a
unidade apresenta
De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda
assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios
conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta
sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de
Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo
39
de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas
unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com
livros escolares de Ciecircncias Naturais
Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois
(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf
unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros
apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)
contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes
livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus
estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas
Tipos de ALs propostas pelos livros escolares
Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de
Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes
autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos
exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas
orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem
procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos
livros analisados
Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado
Tipo de Actividade Manual
A B C
Investigaccedilatildeo - - -
Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -
Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2
Actividades ilustrativas 1 5 5
Exerciacutecio - - -
Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos
fenoacutemenos
1 1
Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam
quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que
acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram
encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da
40
Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de
terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao
realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute
aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do
conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na
execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos
procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares
que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo
para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes
cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)
responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais
curriacuteculos de Ciecircncias
Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos
objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de
competecircncias2
No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos
que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees
realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC
2007 p 44)
Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da
Cidade de Maputo
Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs
Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma
diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de
Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3
L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos
Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores
estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da
implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos
Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de
autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que
estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para
41
um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute
feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar
sobre a actividade que executa
A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente
estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com
que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou
visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade
que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se
uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais
A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no
estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no
presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos
actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas
mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta
de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas
privdas
A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias
Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem
com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das
Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e
Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas
salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo
esperada melhoria no ensino de Ciecircncias
Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de
uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo
(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois
professores responderam o seguinte
P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo
P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu
enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos
respectivos conteuacutedos teoacutericos
A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal
de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo
42
pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta
pesquisa
Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica
mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos
envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima
opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este
professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs
Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma
relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos
tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos
Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do
horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a
reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores
justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora
natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada
Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu
enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu
estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou
natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos
conteuacutedos abordados
Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs
pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente
e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados
relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de
graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a
melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo
cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de
desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre
determinados fenoacutemenos ou processos
43
Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades
Laboratoriais
Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs
especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a
frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que
objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de
apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos
conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas
Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores
afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente
cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim
A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois
duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os
fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)
em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores
revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas
escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo
desenvolvimento de actividades laboratoriais
Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que
disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o
professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs
realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades
existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de
abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos
Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos
professores
Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5
Uso das ALs Freq
Pelo menos duas por semestre 4
Uma a duas por semestre 1
44
As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K
escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na
tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo
implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu
estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu
trabalho de estaacutegio
Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs
de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando
tambeacutem outro tipo de actividades
Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as
ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o
desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito
ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo
K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo
K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo
M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo
A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para
as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam
desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de
actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que
tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico
As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo
executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo
fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o
niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com
este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia
adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis
e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que
sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve
ser encontrada
Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da
realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma
45
aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos
objectivos por eles defendidos
J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem
soacutelidardquo
Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo
Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores
envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro
aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica
como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento
cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora
em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes
contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito
valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode
proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si
podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados
confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado
que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de
diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de
ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo
lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia
Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para
desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas
aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees
apesentados para desenvolverem com os seus alunos
Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e
por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram
os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a
execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor
limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os
alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades
laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte
destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais
46
Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves
condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs
propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um
laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande
factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios
alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos
Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e
adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia
Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave
adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos
livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas
encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as
escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da
editora Longman
Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de
Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria
nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar
para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo
que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um
determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise
Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a
selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a
concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino
apresentando as seguintes opiniotildees
J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo
Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo
Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de
ensinordquo
Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados
dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida
entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de
ensino como o principal criteacuterio utilizado
47
Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na
escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos
Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de
pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por
Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos
livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e
a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito
importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material
acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que
estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem
considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas
entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas
como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras
Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em
particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores
dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados
para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos
anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e
na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e
Fracalanza (2003)
Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o
caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez
et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana
contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica
que mutila o pensamento das crianccedilas
No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas
diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de
alguns considerarem estas muito poucas
48
Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades
laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas
As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas
pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores
fazem acerca das mesmas
Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam
pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam
Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo
aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo
apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do
tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas
pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma
constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades
deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas
docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e
aprendizagem das Ciecircncias
Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os
procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para
que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas
Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as
ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs
natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um
professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de
teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que
acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto
Consideraccedilotildees finais
A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos
preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees
14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte
49
Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo
para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que
concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem
concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no
organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-
muscularrdquo
Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo
tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece
com um baixo niacutevel de abertura
Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs
proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas
envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em
que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com
baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a
construccedilatildeo de novos conhecimentos
Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no
processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como
razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco
frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas
escolas onde satildeo desenvolvidas
A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos
O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os
programas de ensino da disciplina
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MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros
2012
52
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios
Stela Mithaacute Duarte15
Resumo
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao
longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi
a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias
etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se
reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem
sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda
natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e
complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia
Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em
Moccedilambique
Abstract
The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout
the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was
the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes
through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological
question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in
the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is
not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary
textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography
Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique
Introduccedilatildeo
O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem
Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo
observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma
integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos
encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as
semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido
pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido
que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de
projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no
futuro (Tedesco 201526)
15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino
de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e
Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)
Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo
53
A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que
se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores
potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem
dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem
Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo
nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula
assim a ideologia dominante de um paiacutes
A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos
constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se
adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo
possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de
Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios
Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia
antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro
didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro
didaacutectico de Geografia
O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do
tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo
necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os
aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos
professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento
A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia
informada da autora
O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)
o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo
da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees
finais e as referecircncias bibliograacuteficas
1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia
Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros
meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares
54
mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser
usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal
A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada
a questotildees ideoloacutegicas e de poder
O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos
marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida
O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos
teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos
uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no
passado presente e ainda perspectiva o futuro
Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do
nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio
geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais
adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de
conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir
o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem
ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica
Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do
aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero
objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do
pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o
aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes
e no mundo
O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute
importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom
professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)
Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e
desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de
aprendizagem
Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que
ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos
adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que
sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas
55
materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades
teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)
Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a
importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um
de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional
de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de
aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio
entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas
No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a
compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da
paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e
para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)
Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da
7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o
meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material
didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas
escolas entre outros (Buque 1999)
O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf
classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo
predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O
custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste
importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a
importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo
contiacutenua de professores (Mesquita 2002)
Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias
Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a
formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em
prol da sua comunidade (p 219)
Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no
geral e em particular o de Geografia
56
1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e
exclusatildeo
Chorou e chora Moccedilambique
Pelas riquezas que lhe usurpam
Sem os filhos as utilizarem
Moccedilambique chorou e chora
(Jackson 197918)
O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de
Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo
aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o
sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito
O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave
estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva
de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os
interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por
ser discriminatoacuterio elitista e selectivo
Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham
mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura
portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano
(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das
descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura
(Mondlane 199558)
O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no
1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf
classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte
estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia
Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia
(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)
Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino
Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino
natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de
57
estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino
especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de
Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de
Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira
e Moura 1974)
Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados
os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e
cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428
com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -
distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas
possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de
Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as
principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial
de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com
exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores
Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade
lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves
necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e
potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava
uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro
para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente
2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do
marxismo-leninismo ao neoliberalismo
I Repuacuteblica
Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma
grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais
como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea
da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento
entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais
16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar
58
fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a
Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco
(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa
principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a
ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo
revolucionaacuterio( Machel 198059)
Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo
do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra
angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)
(201572)
Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia
Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO
que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade
A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da
sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir
agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei
que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes
na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio
comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo
eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade
no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo
(Moccedilambique 1983)
Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros
actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da
educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era
dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em
1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal
provedor dos serviccedilos educativos
Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o
Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria
consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo
59
cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos
vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola
atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo
(Ibid)
Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado
Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda
Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a
Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar
e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e
que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)
Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro
em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro
intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC
1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo
ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas
colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia
o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura
transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma
sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes
aeacutereos
Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com
a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional
esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos
internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por
uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)
Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande
importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais
internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)
O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma
influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido
especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto
Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e
limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo
17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975
60
administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o
autor afirma
Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf
ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18
mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se
atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo
Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)
Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal
como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees
Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)
Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria
da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com
vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria
e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que
tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso
Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data
A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia
elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da
10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)
Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia
(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)
O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com
138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia
Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a
sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo
geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena
Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)
O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por
Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)
18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo
61
Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos
Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)
Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas
condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade
cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do
Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia
da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-
se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e
dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da
agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias
Comunais (Ibid80)
O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro
produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5
capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os
ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e
a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32
paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim
estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera
4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta
obra (Matos e Ramalho 1989)
As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -
9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo
portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial
para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste
apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)
Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes
da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o
seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes
no mundo (Matos e Ramalho 1990)
II Repuacuteblica
Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito
Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras
62
entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo
(Moccedilambique 1992)
Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol
I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos
com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)
Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)
Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e
Santos 1992)
Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia
de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da
Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)
Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de
comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)
Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro
intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da
Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)
Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)
Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80
paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)
Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)
A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino
Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do
livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)
Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico
no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao
preccedilo do mercado
Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este
ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de
alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima
de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos
alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas
(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-
63
caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do
livro escolar
Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo
os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo
fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado
Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar
constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao
processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno
do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior
durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro
gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)
O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma
produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete
2007339)
Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita
apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de
livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado
em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo
(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)
Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da
populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico
Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo
colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no
aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e
interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)
Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam
para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os
livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio
encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas
Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do
Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados
pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de
64
Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo
as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e
questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro
prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos
sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave
venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos
professores (Moccedilambique 2016)
Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e
espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas
diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com
todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un
importante instrumento de trabalho de alunos e professores
Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico
Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico
tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de
aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo
de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)
Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-
se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de
aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino
Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a
aprendizagem fica comprometida
No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias
encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do
conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou
entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis
para os alunos
Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o
facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo
ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da
65
ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo
de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente
A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que
nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com
muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em
Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado
O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um
consumidor passivo
Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem
dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis
Consideraccedilotildees finais
Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias
fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no
processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-
educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico
O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica
dos governantes
Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro
produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador
Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente
e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de
Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade
Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio
Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis
do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito
insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro
Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu
potencial
Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos
alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura
complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro
66
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Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf
classe + 3 anos
Acircngelo Guiloviccedila Niquice21
Resumo
O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica
docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os
anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual
formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de
Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica
Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de
competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar
continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos
Abstract
The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the
teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the
aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current
teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary
Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the
option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges
persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order
to promote innovative pedagogical practices
Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years
Introduccedilatildeo
As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique
e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em
transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente
inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na
leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e
2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de
professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e
coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com
21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz
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uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente
ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um
curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3
anos
O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute
baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e
social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se
de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos
diferentes moacutedulos
Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade
dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de
competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os
graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo
didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a
interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)
e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo
adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias
A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que
durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que
vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma
abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da
percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer
do professor primaacuterio ou secundaacuterio
Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees
Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos
baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos
Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas
docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em
acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade
Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento
na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e
o sistema de avaliaccedilatildeo
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Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e
descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e
aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia
usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)
Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em
Moccedilambique
A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no
regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias
(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente
formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a
primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas
de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar
As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores
eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza
aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como
forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria
o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por
professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962
A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do
ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da
preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos
procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde
resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de
professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo
questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo
colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos
escolarizado e excluiacutedo
Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e
transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o
paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As
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transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes
qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo
Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram
organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e
entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses
Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo
da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou
a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)
Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava
responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que
estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se
refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos
mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos
em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais
disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma
flexibilidade e iniciativas por parte dos professores
Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que
primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles
ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave
grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica
ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com
o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de
10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo
diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)
de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as
reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos
formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso
actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos
transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da
escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas
Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de
aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo
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de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de
aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula
Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em
implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes
criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta
materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)
A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino
seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis
pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em
nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande
dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com
destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos
A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos
exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da
pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa
Criatividade e qualidade dos formadores
As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de
imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de
aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e
criativa
Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e
criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os
formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com
um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas
vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no
ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando
ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no
curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo
utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao
pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso
moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que
desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados
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Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo
da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e
formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao
desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da
formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade
e muito menos da problematizaccedilatildeo
A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual
colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-
acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas
quotidianas
O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da
formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave
praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992
p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em
sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de
professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos
formandos
Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores
A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do
novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente
de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da
qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no
Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas
no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo
Competecircncia
O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar
que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)
define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir
adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a
capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em
conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a
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competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar
para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto
Formaccedilatildeo de professores por competecircncias
Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do
Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco
desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a
qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino
Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como
alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute
efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)
A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da
sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos
conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto
convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em
reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por
Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum
sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a
mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta
parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo
A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute
cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como
alternativa
Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores
Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno
estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo
de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento
Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de
competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute
assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas
de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo
do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a
76
necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito
para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud
1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na
prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de
uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias
Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os
formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as
necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios
de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel
a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo
formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor
Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias
A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de
Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores
criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No
entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a
avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo
Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o
sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves
finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos
conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma
mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa
e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender
desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica
O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias
Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um
modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-
aprendizagem assumem novos papeacuteis
A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de
conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo
baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
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metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O
formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos
formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar
informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que
atinja as metas
Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura
concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da
exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas
sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos
De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a
necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito
Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da
resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no
paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem
conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas
interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza
vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto
que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio
seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo
Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de
professores
O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em
competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que
demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O
curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo
operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos
moacutedulos (op cit79)
Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo
e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um
estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de
aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo
78
a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores
Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto
curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes
escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias
Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud
(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de
pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos
como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou
utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar
uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato
didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho
Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)
Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final
mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e
progressatildeo
Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a
mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em
detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem
Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita
por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias
descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo
de formaccedilatildeo
Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio
encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo
basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os
outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor
argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua
formativa diferenciada e multidimensionalrdquo
A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de
professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel
da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo
79
dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera
perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de
autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois
controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos
Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3
anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos
consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que
esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece
estarem a corrigir relatoacuterios iguais
Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha
que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco
dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O
autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo
diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-
aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares
Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os
testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram
ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala
(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua
opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a
verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de
vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo
facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada
Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande
estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas
escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para
anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a
identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo
informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas
sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los
80
Consideraccedilotildees finais
A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um
modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos
Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e
secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo
de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica
De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios
feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular
na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores
assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos
prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente
desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos
professores
Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a
promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de
conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias
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Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas
Herciacutelio Paulo Munguambe22
Resumo
O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e
pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas
de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos
professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de
ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos
professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em
exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No
que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se
agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio
tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles
tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas
limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os
dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que
as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de
recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via
disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees
Abstract
The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims
to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context
The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the
teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for
the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature
review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was
carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen
respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation
and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it
was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our
respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in
Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they
use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is
quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context
in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among
learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of
Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their
appropriate use in the Lower Secondary School
Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions
22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email
herciliomunguambeyahoocombr
84
1 Introduccedilatildeo
No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica
chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem
constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de
aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual
a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender
Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta
via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e
por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico
que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos
professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo
podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu
manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica
Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso
das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a
importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como
instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos
assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os
professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas
Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica
do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas
Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa
Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de
aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)
Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala
de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo
Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo
11 Justificativa
A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um
aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a
85
partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras
como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem
Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a
melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf
9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez
mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras
para enfrentar o ensino superior com sucesso
A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de
calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado
e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos
2 Revisatildeo da literatura
Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas
profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser
alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI
ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que
defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta
na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas
de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso
Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste
modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar
os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)
Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um
instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira
que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para
inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco
Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam
grandes dimensotildees e peso
Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras
mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer
energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees
baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica
86
revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de
escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora
electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos
e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem
a niacutevel pessoal
Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e
diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram
de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a
populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba
auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)
Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas
construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a
qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo
desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees
trigonomeacutetricas
Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e
a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica
conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a
cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos
interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser
encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo
do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica
A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das
diferenccedilas referidas previamente
Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados
Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica
5+4x5 25 45
4x5+5 25 25
20+4x10+5x2+5 75 495
44011x4 160 160
10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor
87
Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para
resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados
diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se
pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente
Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com
prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado
Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito
apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em
09999997
Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre
a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de
calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os
mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar
A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as
reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas
tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova
escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica
direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias
(MORAES 20007)
Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos
curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de
formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de
Matemaacutetica
As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma
reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)
ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da
escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas
dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora
por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a
calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a
aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias
de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no
ambiente escolar como fora
88
De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando
resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo
de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a
partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na
proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas
Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em
Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma
vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento
de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do
aluno
De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um
instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do
tempo
Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de
calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com
criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com
nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo
de graacuteficos entre outros aspectos
Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos
preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o
raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental
As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso
Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se
refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)
explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a
resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como
geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar
diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees
inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos
confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)
Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de
calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de
89
reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e
abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel
A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-
las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem
disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc
que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os
objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa
forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa
(FERREIRA 2007 51)
Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos
como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em
estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se
tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo
de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na
assimilaccedilatildeo da mateacuteria
3 Metodologia
Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e
quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim
com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do
presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser
feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser
quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras
na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio
entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais
No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa
quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e
consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste
contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com
base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados
Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher
mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas
para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas
90
socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo
respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado
Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na
recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa
baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-
Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento
pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em
2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram
assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13
professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos
dados aplicou-se um questionaacuterio
O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene
Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e
Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf
classe haacute mais de 7 anos
Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma
anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de
aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por
P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315
onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15
4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-
se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito
As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas
dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de
Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica
aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de
professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora
Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm
um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem
estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados
91
Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde
se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros
compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos
ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com
conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo
feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto
Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves
Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio
formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma
economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das
conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na
famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da
sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora
Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias
da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao
uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de
Novembro de 2016
Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as
respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da
questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11
Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5
P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13
Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de
Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia
de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)
licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos
92
Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538
Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462
Fonte Organizado pelo autor
O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro
podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm
Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da
calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385
Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615
Fonte Organizado pelo autor
Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os
professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos
verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria
correspondente a 615 natildeo o tinham feito
Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma
informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das
calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas
93
Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem
()
Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7
professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees
matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para
caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os
restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios
exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em
que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental
Sim 538
Natildeo 462
Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10
professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)
como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria
caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os
restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder
Algumas 769
Sem
resposta 231
Fonte Organizado pelo autor
Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos
professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra
o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute
necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-
se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta
tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo
nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora
Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()
Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica
11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem
nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais
Sim 85
94
tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na
determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros
irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a
explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na
mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem
Natildeo 15
Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas
de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo
existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos
simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao
resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para
resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu
anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2
responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio
Algumas 85
Natildeo 15
Fonte Organizado pelo autor
A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um
equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois
tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que
responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram
Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido
dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo
especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute
receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao
uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta
tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica
Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13
Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46
Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54
Fonte Organizado pelo autor
Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)
correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente
para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo
a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno
95
jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do
resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o
aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em
que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as
maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam
usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos
(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio
Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das
maacutequinas simples e cientiacuteficas
Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais
uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no
processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema
referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente
em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um
professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo
pelo universo
4 Conclusotildees e sugestotildees
Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras
em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte
Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a
assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora
limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e
livro do aluno
Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da
Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)
afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos
alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a
preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a
calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos
simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental
96
Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo
fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo
limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica
Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma
orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas
Sugestotildees
Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos
como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho
que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de
calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das
calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento
das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a
calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora
Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades
cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de
aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia
entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos
Referecircncias bibliograacuteficas
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SANTOS Adriano C Centro de Ensino e pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo Plano de Ensino de
Matemaacutetica 7ordm Ano 2014
98
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem
Yavalane Sergio Parruque23
Resumo
O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo
visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da
progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por
competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de
reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em
Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as
lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de
ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de
literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a
falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos
ciclos de aprendizagem
Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem
Abstract
This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to
Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced
in the country and its relation with the competence model
In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high
number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen
as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students
failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development
of prescribed competences in the education programs
To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and
document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation
in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences
registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles
Key wordsexpression management learning cycles progression
Introduccedilatildeo
Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que
conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um
sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive
Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino
Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)
23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles
pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e
colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde
2010
99
Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a
necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem
(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a
progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o
outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo
(INDE 2003) 24
Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o
Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e
equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de
07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)
Problema
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de
ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo
mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso
a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem
as competecircncias exigidas em cada ciclo
Objectivo da pesquisa
Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em
Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes
Perguntas de pesquisa
I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo
esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem
II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos
alunos
III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias
exigidas para cada ciclo
24 Citado por Nhantumbo (2009)
100
Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no
contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda
parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique
e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira
discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo
Metodologia
Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na
revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa
justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise
qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais
Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode
estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo
obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na
tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados
Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram
analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino
Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo
A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo
sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
Avaliaccedilatildeo
O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que
permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o
processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem
como objectivos
I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico
subsequente
II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste
curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e
recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas
101
III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de
decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu
funcionamento
IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no
ensino baacutesico
Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo
A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos
pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens
remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos
comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre
o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para
hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens
mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos
2006)
A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)
que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude
inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para
Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente
na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de
comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo
Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de
hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno
no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio
de selecccedilatildeo no mundo laboral
A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores
Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes
escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o
processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)
A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou
para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das
aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta
102
abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las
adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de
ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos
Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela
que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em
Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo
de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em
Moccedilambique
Ciclos
No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no
ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do
tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da
repetecircncia
O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais
recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como
promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem
Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)
Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo
escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de
ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania
Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem
uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes
taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela
atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria
verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa
forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de
aprendizagem (Freitas 2003)
A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)
sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo
rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no
aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa
103
Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi
introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica
O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm
grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo
que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute
constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes
Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino
primaacuterio satildeo
O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita
contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir
observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as
outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio
O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas
no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e
tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes
O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades
adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a
vida
Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de
aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um
determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo
predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas
fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir
o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com
base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos
alunos com dificuldades de aprendizagem
A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor
sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-
aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades
Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de
aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao
aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch
104
(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a
aprendizagem do aluno
Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa
natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus
intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva
Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em
Moccedilambique
prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura
classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo
ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno
a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte
et al 2012)
Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como
nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure
eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida
Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio
de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio
e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees
Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas
ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria
homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o
seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a
reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta
A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)
explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar
e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir
Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo
relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns
casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de
ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos
alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da
turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios
cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma
progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de
aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e
isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos
primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)
105
A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de
desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de
aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo
Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o
fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de
aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se
conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva
Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo
sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino
Uma das razotildees eacute que
a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de
aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala
de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma
fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus
saberes (Duarte et al 2012)
O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees
para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem
Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes
da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio
Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os
alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e
quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)
Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo
entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa
A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas
curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem
aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores
directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos
da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)
Dias (2009291) explica que em Moccedilambique
ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de
aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos
106
repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados
temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a
ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente
mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso
Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um
lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa
por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de
aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)
A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de
aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo
que natildeo revelam o real desempenho dos alunos
Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em
Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os
alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem
consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o
autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo
visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para
os professores alunos e paisrdquo
Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a
promoccedilatildeo semi-automaacutetica
As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim
como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores
consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o
sistema de ciclos de aprendizagem
Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo
tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus
filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado
A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a
avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo
contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que
traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e
que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas
107
vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados
(Mainardes amp Stremed 2012)
Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os
professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as
escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o
segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua
implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e
desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior
Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-
se as seguintes
i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos
conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar
ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do
desperdiacutecio de recursos financeiros
iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se
encontra fora da escola
iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de
escolaridade em termos de anos de estudo
v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as
condiccedilotildees adequadas
vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas
vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se
preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo
conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela
necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo
regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo
E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona
i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou
para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da
qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento
ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto
pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou
108
ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves
praacuteticas anteriores
Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro
lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados
preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas
de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a
sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos
natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias
prescritas para cada ciclo
A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a
implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto
na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o
outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos
seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e
Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo
instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este
cenaacuterio
Conclusatildeo
Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees
da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de
aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de
reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo
deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo
permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das
competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias
(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do
sistema educacional eacute desastrosa
Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar
efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as
109
competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das
estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por
parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se
graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia
deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente
para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que
recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique
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111
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-
docente na Universidade Pedagoacutegica
Faque Tuair Chare25
Resumo
O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica
manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da
instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de
Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de
avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de
Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma
pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de
dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras
que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia
de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento
de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que
continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo
das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de
ensino e aprendizagem
Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo
Abstract
The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University
manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of
management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in
Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers
in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of
Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that
this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection
of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we
did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the
conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the
institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of
disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises
awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning
Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception
25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo
(faquetuairyahoocombr)
112
Introduccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta
interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios
contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou
um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud
CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre
estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes
tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir
daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas
com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da
instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia
de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea
a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os
estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras
relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas
Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e
ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na
mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014
Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos
anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo
dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser
percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de
percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores
susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo
Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na
perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo
enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas
113
atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo
algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo
Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da
sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas
palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo
que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos
no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)
apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores
coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e
rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis
retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes
convecircm
Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou
explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de
dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise
de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que
fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto
Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior
O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas
tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e
praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo
Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)
avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de
avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um
instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos
atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os
objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no
processo de ensino-aprendizagem
Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo
como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa
comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como
foi o propoacutesito deste trabalho
114
Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute
consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do
verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir
compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A
medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)
Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e
promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e
posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo
ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma
relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou
fonte de stress destrutivo
Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera
que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto
acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que
acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa
seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a
caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso
agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la
Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento
Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16
onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu
desempenho acadeacutemico
Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as
valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes
factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva
como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que
formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua
vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute
compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e
exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre
se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de
aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do
aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a
115
aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)
apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o
que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso
natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se
chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do
factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo
Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e
SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar
decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute
preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que
isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a
avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma
BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito
aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para
a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos
na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas
estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer
sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a
possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos
trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor
dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade
Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser
justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito
mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos
e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as
praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em
desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de
diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de
estudantes mais favorecido do que outro
MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino
superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas
capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo
que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer
116
Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o
Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a
avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber
trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo
praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-
profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-
avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E
ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e
em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas
docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e
correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo
avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os
docentes usufruem dessa abertura do regulamento
O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel
conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo
autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na
decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)
McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o
processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como
e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles
conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute
que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de
estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior
Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a
avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta
doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um
processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro
para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria
mas esperanccedilosa
Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)
apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida
e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de
117
qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de
implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo
O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute
isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria
quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos
professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a
partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova
escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados
natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)
Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos
universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam
Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de
aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos
conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as
capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de
problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc
Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem
incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor
lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados
com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo
alunoprofessor
Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e
professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e
construccedilatildeo do conhecimento
Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os
resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a
sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo
Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista
pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo
faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o
desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas
sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos
118
contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o
acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)
Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do
conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou
actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores
arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas
reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos
Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade
deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos
avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes
soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do
comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos
professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto
Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)
que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes
No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo
fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles
jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de
como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo
conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente
aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos
foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os
resultados foram satisfatoacuterios
Metodologia
Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para
que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e
seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem
BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um
processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados
como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer
acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal
Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os
problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA
119
2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem
entre eles e seus docentes
Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)
de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que
preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas
que o afectam
A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que
auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir
de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise
documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees
em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias
como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que
aqui foram usados
O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o
curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de
forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do
problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram
dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que
a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem
livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)
Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as
intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas
ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os
que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)
Resultados
Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de
conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos
anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o
comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar
Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base
de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico
120
orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias
tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da
Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem
de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo
conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias
Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais
surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns
docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames
orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo
32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri
constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de
Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um
uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes
Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral
por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o
que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos
Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se
estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se
falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo
existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes
consideraram de impossiacutevel
Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem
a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas
satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes
Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes
aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais
questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo
Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes
falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo
acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees
de notas
121
Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo
que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos
temaacuteticos dos docentes
Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses
conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem
com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees
ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes
Consideraccedilotildees finais
O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP
Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os
docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses
conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares
apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a
perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em
realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em
Miacutedias entre outros
Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a
compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito
Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos
docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute
incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados
responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do
regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que
exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes
E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou
CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os
docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de
estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior
Assim propomos que
- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular
- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma
postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo
122
- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim
como dos estudantes
- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees
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124
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais
Arauacutejo Manuel Arauacutejo26
Resumo
Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas
relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas
ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento
para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-
fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram
concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite
intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de
mecanismos para reduzir o impacto do fracasso
Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor
Summary
This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the
student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school
indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the
instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-
closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and
guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to
conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows
intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring
mechanisms to reduce the impact of failure
Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher
Introduccedilatildeo
O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute
muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica
pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados
de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte
bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo
moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram
26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico
na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica
125
especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas
e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando
Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os
professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos
O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100
estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de
108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria
Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes
e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do
tema de fracasso escolar
Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute
defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do
sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo
201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando
insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias
dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias
Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo
fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas
definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso
num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo
(Rangel sd9)
Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no
seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute
relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma
inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer
mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso
A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos
socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na
escola
O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o
papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a
sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa
126
Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a
mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste
artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as
causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao
meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo
do problema do fracasso escolar
1 Revisatildeo da literatura
O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo
actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente
estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma
missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar
Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir
o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de
lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como
cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor
(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave
a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante
dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo
escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma
posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O
correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer
coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve
ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo
chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso
escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como
sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo
(Lahire 1997 285)
Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um
estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por
uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de
127
um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo
visa alargar o conceito de insucesso escolar
A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos
factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes
apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia
conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo
Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da
profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo
(Lourenccedilo 2007 5)
No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos
professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o
nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa
Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal
das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da
capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser
intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz
Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a
percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos
estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do
meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema
2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas
Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que
surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste
trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo
Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui
uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das
diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute
estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso
escolar pelo natildeo empenho e maus resultados
Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar
satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos
no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado
128
como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-
escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a
fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta
No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100
estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a
favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala
de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o
professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por
turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12
estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes
argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do
trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes
entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo
convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no
iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que
50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o
nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas
que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por
turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos
Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos
levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas
zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex
facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado
para que um estudante se dedicasse aos estudos
3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar
O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os
factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo
da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos
corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd
10-12)
O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em
trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e
129
aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que
o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas
privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em
relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes
afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas
permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para
imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico
e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo
interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe
de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar
Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas
escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do
primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como
usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades
bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos
Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees
psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais
incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e
exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em
bom ou mau professor
4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz
com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras
instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo
deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares
Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos
pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a
certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero
O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra
claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a
130
falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados
para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar
Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo
natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio
dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor
natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo
de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e
fracassam
Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao
questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm
constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas
casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades
escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas
zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas
e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores
5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar
O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua
eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se
como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se
mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo
Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair
algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros
agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um
trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo
fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte
deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal
natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de
educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem
(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas
orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)
131
Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo
das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo
entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga
Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a
autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que
se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura
digna de valor
O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute
necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se
vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar
Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor
acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do
Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular
escolaharrfamiacuteliaharrGoverno
Conclusatildeo
O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que
acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser
tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo
nesta luta
Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as
causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de
saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e
resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e
tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)
Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo
destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar
da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a
profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga
criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas
132
Bibliografia
COMENIUS Didaacutectica mMagna Trad de Ivone Castilho Beneditti Satildeo Paulo Livraria Martins
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LOURENCcedilO Joatildeo Hoje natildeo haacute aulas Lisboa Texto Editores 2007
MADALOacuteZ Rodrigo Joseacute O fracasso escolar sob olhar docente alguns apontamentos In
wwwucsbretcconferenciasindexphpanpedsul9anpedsulpaperviewFile945527 de
23022016 as 1036
MONTAGNER Huber Acabar com o insucesso na escola Traduccedilatildeo de Maria de Leiria
Lisboa Instituto Piaget 1996
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perioacutedicosuemsbrnovoiacutendexphpanaisphaarticleviewFile15085 de 23022016 as
1036
RANGEL Annamaria Insucesso escolar Lisboa Horizontes Pedagoacutegicos sd
133
APEcircNDICES
Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)
Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
21 21 21 16 21
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
4 37 32 12 15
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
16 41 16 16 11
Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
11 16 16 37 20
15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
16 21 21 42 0
Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
26 53 0 21 0
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
11 32 21 32 4
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32
Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72
Totais 445 685 380 513 260
Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________
Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________
_____________________________________________________________________________
134
Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)
Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
IC SO ID
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
42 21 37
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
41 32 27
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
57 16 27
Total em numeral 653 207 323
Percentagem () 56 17 27
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
27 16 57
15 O director da escola visita as turmas 49 11 40
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
37 21 42
Total em numeral 142 94 264
Percentagem () 28 19 53
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
79 0 21
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
43 21 36
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57
Total em numeral 335 79 186
Percentagem() 56 13 31
135
Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo
1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)
b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________
2 O que entende por fracasso escolar
________________________________________________________________________________
3 Como acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
4 Porque acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5 Como pode ser superado o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
136
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos
alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi
Antoacutenio Domingos Cossa27
Resumo
O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o
fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright
Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no
processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na
disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O
tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo
sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma
L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de
outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos
inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada
em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do
portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as
liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso
escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2
Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem
Abstract
This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon
of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov
Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on
school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to
analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language
relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana
students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in
inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14
speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu
languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit
grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning
situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School
failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in
secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages
are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle
and the lack of imput from second language associate
Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning
27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade
de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza
137
0 Introduccedilatildeo
A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e
se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas
diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o
mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um
indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas
Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a
importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se
essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como
um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de
um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da
glossemaacutetica e do gerativismo
As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de
WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos
sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute
precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse
estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se
encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa
Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a
heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e
que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser
o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica
Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor
dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia
dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo
linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema
ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf
Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo
No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos
alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis
a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os
alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a
verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica
138
do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos
niacuteveis imediatamente superiores
A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo
do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos
No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico
como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco
domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees
enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a
aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto
mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e
domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos
tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo
Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30
das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma
ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua
confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia
e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo
Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do
desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do
pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso
escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da
crianccedila
Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem
sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)
em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida
em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior
parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997
analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos
moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere
que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano
STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo
escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos
falantes
139
Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos
seguintes objectivos
- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-
aprendizagem liacutengua portuguesa
- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe
Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas
Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de
Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de
textos em liacutengua portuguesa
A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um
questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute
subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de
interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra
os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no
universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta
bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho
Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e
no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as
razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi
na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates
acadeacutemicos
10 Referencial teoacuterico
Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer
conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do
presente trabalho
11 Linguagem
Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre
si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de
140
comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo
utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens
Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de
meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos
Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a
Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e
permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas
gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e
uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal
funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da
comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma
informaccedilatildeo colocada em coacutedigo
Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias
de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em
uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma
determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees
12 Liacutengua
Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja
de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do
estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma
Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute
Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os
organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que
deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer
Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida
como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua
= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda
pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social
Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de
signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de
GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos
servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo
Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como
28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE
141
um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como
um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em
vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico
semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio
social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade
Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais
abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como
lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na
funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e
discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a
interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)
13 Liacutengua Materna (L1)
Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira
liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto
GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a
mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante
14 Liacutengua Segunda (L2)
Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna
que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante
Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia
oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda
a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do
paiacutes
Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos
Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a
presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O
outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o
principal objecto de estudo
142
15 Insucesso Escolar
No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois
duma mateacuteria bastante complexa e inerente
SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas
pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos
Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas
geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E
ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente
as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees
Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se
esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as
probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do
sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente
quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito
Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de
conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)
ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de
capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem
desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com
a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo
20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar
21 Argumentaccedilatildeo
Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave
superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem
observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP
COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico
moccedilambicano concluiu que
30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de
Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica
Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia
143
as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam
de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos
aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura
veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas
enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da
aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem
satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)
Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos
alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e
Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria
aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram
recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo
Xichangana e Cicopi
22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados
Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes
sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no
instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e
pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as
dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a
compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos
no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1
correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28
de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8
Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro
sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram
mais de trecircs livros fora do ambiente escolar
Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos
inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram
dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)
Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-
se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao
144
passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito
Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau
23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados
Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso
escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos
dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta
reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1
tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita
Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar
em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente
como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da
liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as
caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois
pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1
moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes
de outras liacutenguas Bantu nacionais
Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem
uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos
formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs
como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a
diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades
no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm
sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute
bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este
imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte
do seu tempo ao longo do dia
Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a
maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem
passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a
33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM
145
linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante
eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados
para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo
linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui
que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo
coacutedigo escolarrdquo
Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da
televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a
confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa
a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos
alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo
prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano
e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos
Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e
a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de
insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo
Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-
se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e
crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por
eles vivido durante o ensino primaacuterio
A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a
mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de
outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado
que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela
gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos
Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim
repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano
eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e
desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem
34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em
25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros
Horizontes 1976 pp20-39
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Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir
conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na
praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos
falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita
DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de
semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue
em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila
natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa
fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a
estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo
Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo
domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes
na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona
urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos
alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do
ensino primaacuterio
Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia
os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43
alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram
responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a
qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o
coacutedigo elaborado praticado no PEA
A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe
um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-
pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento
de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no
acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da
liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e
insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias
das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas
e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel
Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da
avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do
147
insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no
PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado
caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino
Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento
impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem
concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o
lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos
influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal
Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia
semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o
primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro
Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem
tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes
alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de
leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes
Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia
de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos
as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram
problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por
conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes
3 Consireraccedilotildees Finais
O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a
fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola
que foi o campo do estudo
No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes
para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas
liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou
indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na
aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo
concreta de bilinguismo em Moccedilambique
148
Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um
impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica
massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado
coincidente com a liacutengua-alvo de ensino
A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa
etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na
apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute
condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo
Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de
vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o
insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem
todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica
linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno
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150
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas
suburbanas
Domingos Carlos Mirione36
Resumo
O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos
da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com
registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo
predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas
localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos
passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir
profundamente sobre essa tendecircncia
Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede
Abstract
This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of
the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive
record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for
male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the
female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for
this generation and should be deeply reflected on this trend
Keywords Game Recreation Physical activity Health
Introduccedilatildeo
O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas
pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo
Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)
cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste
do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo
36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do
Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula
151
O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de
todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser
uma das atividades mais realizadas pela mesma
Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem
diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber
qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros
Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que
podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa
Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros
comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo
prazo
O jogo e suas caracteriacutesticas
O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de
distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)
O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns
significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como
afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias
possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na
actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo
CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores
elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva
teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente
1 O jogo daacute prazer e diverte
2 Constitui um desfrute dos meios
3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido
4 Representa uma fonte de aprendizagem
5 Supotildee um acto de expressatildeo
6 Implica participaccedilatildeo activa
7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias
8 Constitui um mundo a parte
Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por
conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo
152
Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento
evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se
relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o
jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede
CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental
emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo
No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o
caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria
depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o
indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma
patologia o jogo patoloacutegicordquo
Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas
bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino
e apostas pela internet (SPRITZER 2009)
Classificaccedilatildeo dos jogos
O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil
Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)
OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros
classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na
literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos
Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que
distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos
desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia
de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que
mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se
divertir-se entreter-se
Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas
subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por
ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem
os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e
natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO
(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade
153
que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou
super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos
envolvidos
Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS
(1958) que distingue os jogos em
Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou
equipa de jogadores
Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria
natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de
cartas bingo lotaria etc
Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica
principal eacute a representaccedilatildeo
Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que
potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de
ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo
Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e
subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de
ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1
Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos
O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos
bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Jogo
Desportivo
Recreativo
Superactivo
Activo
Passivo
Agonal
Aleatoacuterio
Ilusoacuterio
Vertiginoso
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Metodologia
O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos
suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o
Posto Administrativo de Muatala
Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo
complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente
treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00
horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas
semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar
registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de
desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns
membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento
Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a
frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes
Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos
predilectos das crianccedilas
Resultados
A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas
crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados
Tabela 2 Frequecircncia de jogos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem
1 Futebol 40 336
2 Naripito 19 16
3 Berlinde 8 67
4 Cheia 7 59
5 Neca 6 5
6 Namacachantho 6 5
7 Banana 6 5
8 Zero 5 42
9 Phada 5 42
10 Pino 3 25
11 Saca 3 25
12 Isa-isa 2 17
13 Matraquilho 2 17
14 Salto a Corda 2 17
155
15 Desconto 2 17
16 Corrida de Pneus 1 08
17 Trinta e Cinco 1 08
18 Dama 1 08
Total 119 100
Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia
se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336
seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma
frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59
Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6
que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5
vezes cada que corresponde a 42
Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde
a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto
com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada
Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados
1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada
Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do
sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)
Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Futebol 40 667 667
2 Berlinde 8 133 800
3 Pino 3 50 850
4 Naripito 3 50 900
5 Desconto 2 33 933
6 Matraquilhos 2 33 966
7 Dama 1 17 983
8 Corrida de pneus 1 17 1000
Total 60 1000
Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por
crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)
Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Naripito 13 271 271
2 Neca 6 125 396
156
3 Zero 5 104 500
4 Namacachantho 5 104 604
5 Banana 5 104 708
6 Phada 5 104 812
7 Cheia 4 83 895
8 Salto de corda 2 42 937
9 Isa-isa 2 42 979
10 Trinta e cinco 1 21 1000
Total 48 100
Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de
sexo feminino (tabela 5)
Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia
1 Saca 3 273
2 Naripito 3 273
3 Cheia 3 273
4 Banana 1 91
5 Namacachantho 1 91
Total 11 100
Discussatildeo
Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas
O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades
diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente
estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim
inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo
como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo
definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo
cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das
regras do jogo
Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador
galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou
entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que
mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se
A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-
se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique
ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos
Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por
crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto
157
para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda
persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e
actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de
futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais
oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino
Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o
futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres
O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas
cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino
usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou
seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias
chamadas na liacutengua local de ripitos
Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em
que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma
mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino
Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas
vezes apostam dinheiro
Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo
feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais
provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de
dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados
em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)
OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam
no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e
raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos
pelo jogador para financiar o jogo
Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por
conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo
soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios
nessas crianccedilas
Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-
se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o
que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um
158
estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de
pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado
lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma
frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo
para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no
facto de ser um jogo de sorte
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem
aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente
Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e
cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola
Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de
activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou
que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece
ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de
aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)
desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por
linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para
que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100
desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e
corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam
em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de
aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros
paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo
lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a
bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo
efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma
moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro
quadriculado)
Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e
foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos
verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma
159
variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que
se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se
procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em
diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com
beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para
ganhar)
Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de
passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho
Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em
termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas
Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem
mais jogos recreativos passivos do que os meninos
De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de
matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser
classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de
agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas
Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas
crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino
O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o
mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave
medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e
consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual
Conclusatildeo
Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os
predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e
berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos
pelas crianccedilas do sexo feminino
Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos
o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de
Nampula
Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais
diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos
160
as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no
entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que
as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no
entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar
O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere
implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente
sobre essa tendecircncia
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162
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em
alunos da Cidade da Beira Moccedilambique
Djossefa Joseacute Nhantumbo37
Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38
Resumo
O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave
Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter
descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432
raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O
crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)
tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico
SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas
como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades
consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na
maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes
evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o
maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos
enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes
em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o
presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre
estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC
cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos
Abstract
The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health
in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and
transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to
Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated
according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the
value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was
performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The
results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the
ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges
the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the
tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both
genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above
recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although
there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an
interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more
contextualized studies
Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students
37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)
163
Introduccedilatildeo
A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode
favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo
o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces
(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de
habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os
halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre
outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o
ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do
centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada
coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)
Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos
niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria
diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de
desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que
o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME
2003)
O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica
traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees
ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp
OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que
ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo
domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar
um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)
A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes
estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do
desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica
o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza
positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)
164
Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes
pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no
presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das
crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada
em casa na escola e nas brincadeiras
Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da
AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede
colectiva
Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em
Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA
et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com
crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste
domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em
contextos rurais (NHANTUMBO 2007)
Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos
padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por
conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a
populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de
avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no
acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no
sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da
cidade da Beira
Crescimento somaacutetico
As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees
sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos
haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees
significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)
Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento
internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um
determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o
165
crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do
que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)
Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma
populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos
educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as
necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al
2007)
A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de
primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas
tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al
2006)
Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos
componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a
fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)
Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal
como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem
ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da
sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes
comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute
nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)
Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular
fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que
traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia
ambiental (SILVA NETO 1999)
O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis
agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos
estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da
famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o
crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e
quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para
uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)
No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo
particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos
166
aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que
o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma
particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de
aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)
Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o
estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros
as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam
toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON
amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)
A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos
paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das
condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de
qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia
e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados
pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de
possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)
Aptidatildeo fiacutesica
O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem
sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como
ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma
oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)
O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas
ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo
intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)
Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas
principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades
fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave
forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-
dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um
comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp
PETROSKI 1999)
167
Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de
determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem
por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em
termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)
Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na
melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as
actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas
principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)
A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio
aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede
e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea
de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada
populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)
Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas
e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse
para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008
CLELAND et al 2008)
Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo
manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de
inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas
cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores
condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto
em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal
necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes
conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o
facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se
daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas
(BOumlHME 2003)
Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado
que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas
168
de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES
2002)
Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a
consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito
escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa
praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as
necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos
qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim
como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou
menos activo (Boumlhme 2003)
Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave
totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as
suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo
adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo
das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu
fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores
motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo
cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e
comportamentais (PEZZETA et al 2003)
Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis
com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de
sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser
aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar
factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas
Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende
a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida
(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo
Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua
realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado
fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de
sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a
participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)
169
Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e
vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas
que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988
ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de
mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa
possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados
estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza
hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de
executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo
tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de
desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)
Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo
de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de
componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta
vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com
aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao
dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas
perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as
funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)
Metodologia
A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e
comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da
Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432
raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira
pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da
Beira seleccionadas aleatoriamente
Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados
A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca
Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et
al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
170
(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave
bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros
(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees
de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do
tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram
concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi
considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto
nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre
avaliados pelos mesmos observadores
Procedimentos estatiacutesticos
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150
com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1
Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da
distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de
estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas
nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas
independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar
o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a
interacccedilatildeo idade-sexo
Consideraccedilotildees eacuteticas
Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a
sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados
para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram
realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos
da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da
metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de
educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa
171
Resultados
Crescimento somaacutetico
A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da
OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da
amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os
resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade
significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo
significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de
dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES
et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos
(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados
iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas
Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)
Altura (cm) Peso (Kg) IMC
Idade
(anos) Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 443)
6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223
7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197
8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331
9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231
10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442
11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366
12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265
13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231
14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326
Anova II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais
Sexo F=4229 pgt001
Idade F=125433 plt0001
Interacccedilatildeo F=0462 pgt005
Sexo F=6115 pgt001
Idade F=94163 plt0001
Interacccedilatildeo F=2285 plt005
Sexo F=3579 pgt005
Idade F=28333 plt0001
Interacccedilatildeo F=3206plt005
Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas
e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com
os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o
impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos
apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de
11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as
normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos
172
da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico
mais alto
Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela
2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao
niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos
meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-
se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo
do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das
variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa
etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados
Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas
e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et
al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007
NHANTUMBO et al 2010)
Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas
apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6
8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados
anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos
Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039
Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049
IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097
No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de
IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas
(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal
decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados
meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais
proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria
Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial
evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da
173
mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por
NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC
com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado
com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos
valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de
referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS
Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento
somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA
1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de
Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)
espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional
residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes
Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da
maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo
feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no
presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental
especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo
Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede
Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em
anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em
todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas
de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma
tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades
embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram
encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes
do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al
2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et
al 2010)
Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste
efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da
idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de
174
acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de
desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia
directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal
(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos
apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas
idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na
prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade
sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os
meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das
idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso
Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute
interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo
mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos
Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos
A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos
meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8
anos
Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados
aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os
resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma
das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho
da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos
indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas
como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e
abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer
sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o
objectivo principal eacute terminar a prova
Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia
plusmn desvio padratildeo)
Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)
Idade
(anos)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 431)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 425)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 451)
6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619
7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258
175
8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335
9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219
10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109
11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90
12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151
13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120
14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134
Anova
II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001
Idade F= 3630 plt0001
Interacccedilatildeo F= 087 pgt005
Sexo F=12850 plt0001
Idade F=15355 plt0001
Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005
Sexo F=41891 plt0001
Idade F= 1918 p=005
Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005
Sexo F=24770 plt0001
Idade F= 211067 plt0001
Interacccedilatildeo F= 2215 plt005
Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo
etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao
analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram
situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer
situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos
sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os
maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14
anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta
faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da
massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)
Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de
os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em
tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al
2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas
somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o
desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best
como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos
indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De
facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo
evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em
praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados
Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003
176
Abdominais 1303985 1556997 380 0000
Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000
Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000
Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das
crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas
diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis
(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)
A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do
Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos
anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto
urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais
(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade
destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos
Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em
idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547
crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo
de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em
aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas
respectivamente
Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da
milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de
um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade
de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva
destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria
mais inteligiacutevel
Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos
sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos
rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus
pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e
clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico
com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano
177
Consideraccedilotildees finais
Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam
valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades
consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior
parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com
o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em
quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de
elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de
corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do
recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas
para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas
as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da
idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece
existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja
inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo
sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais
ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com
abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente
variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal
estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos
factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da
Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da
actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo
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Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema
educativo moccedilambicano
Rafael Renaldo Laquene Zunguze39
Resumo
Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo
vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as
implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da
qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a
estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que
todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane
A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que
todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou
profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses
serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir
ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade
civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade
ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo
de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade
Abstract
With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or
professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the
implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the
quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique
to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted
that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The
sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all
respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into
the education system Although they do not have any reference or experience of these services
respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social
sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society
especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and
community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to
enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education
in the country
Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community
39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia
Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela
Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de
Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP
184
Introduccedilatildeo
Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo
dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano
realizada em 2015
A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo
vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou
estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de
graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas
nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam
as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria
Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados
do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino
moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio
destacando o papel preponderante da famiacutelia
O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional
e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do
trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de
educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se
conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso
natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os
problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar
para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de
certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto
final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa
determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa
actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida
Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e
Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser
fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado
deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios
185
com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave
velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional
Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em
Moccedilambique
No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a
metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as
consideraccedilotildees finais
Metodologia
Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes
e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe
Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da
Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por
questionaacuterio
No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir
da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram
elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de
informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que
facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e
pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos
Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a
apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em
alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de
desenvolvimento humano
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de
busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais
bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se
traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da
qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa
real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)
186
Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma
avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve
incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo
profissional
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais
podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias
nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo
Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e
aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou
ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas
Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho
Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze
2013293)
Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no
indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e
desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias
vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
Projecto de vida
Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo
no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos
e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea
cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)
Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano
os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que
a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do
niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer
profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos
Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo
Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique
Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o
que vai incrementar a melhoria da qualidade
187
Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o
aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e
profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de
terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente
O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo
inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a
consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral
e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as
pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias
Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de
cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das
competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar
a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)
Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de
assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de
todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento
humano
Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam
pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do
lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)
Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados
Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da
introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha
necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano Porquecirc
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de
Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce
em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes
Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos
serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas
caracteriacutesticas e vontades
188
Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da
orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino
Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias
objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo
nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees
(Greaney e Kellaghan 201187)
No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias
vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as
competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute
incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees
Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da
Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento
estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o
diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o
desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em
grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam
apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade
Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na
qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como
instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar
Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento
estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para
que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias
professores e o proacuteprio estudante
Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio
exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos
conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino
Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e
aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o
189
proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o
desenvolvimento pessoal e social
Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza
uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades
destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas
puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra
inserido
A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco
tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras
De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo
procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na
anaacutelise dos dados
A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se
definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre
os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do
avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos
sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo
O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa
encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo
teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o
materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)
A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo
ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o
interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita
inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e
na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social
Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os
objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)
tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as
pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo
interpretativo
A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador
como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo
190
fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu
ambiente natural
Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com
os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o
processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista
como importantes
O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o
dinamismo interno das situaccedilotildees
Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo
fenoacutemeno como um todo na sua complexidade
Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido
polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo
Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade
natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma
vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em
orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e
exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico
satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade
Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a
orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para
quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na
universidade
Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens
modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar
em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a
concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e
profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter
informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego
eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa
Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram
que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino
191
De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo
iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho
para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor
A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser
humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em
funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e
sociais (Lassance 200515)
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias
para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema
educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas
Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e
profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela
orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de
desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino
Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o
desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver
humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento
da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro
Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o
benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento
Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos
instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia
Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do
desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de
formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional
processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a
necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais
A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da
formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das
competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos
projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)
192
Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades
comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo
da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais
Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca
incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos
Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver
cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar
projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver
economicamente principalmente a minha localidade
Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as
capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados
para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como
colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e
cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio
No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos
tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas
antigas do trabalho social
Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo
vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria
A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo
concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da
Psicologia Vocacional
Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades
e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma
ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma
unidade em funcionamento
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a
superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de
desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a
participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos
problemas locais
193
Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes
segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum
desenvolvimento franco envolvente e permanente
Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o
apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto
frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da
educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento
(Greaney e Kellaghan 2011 9)
Consideraccedilotildees finais
A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar
em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse
pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade
em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo
Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e
Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento
Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional
conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino
Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico
acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela
populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento
eacute um ideal a ser alcanccedilado
A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com
cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre
as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e
oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)
Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos
de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de
vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a
ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e
enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo
194
As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade
na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de
expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees
Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos
populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo
no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes
comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo
O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre
buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e
pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante
da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do
desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou
profissionalmente
Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas
desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o
desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do
jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas
Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico
soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os
conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)
Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor
qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as
capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional
Referecircncias bibliograacuteficas
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Superiorndash Manual de avaliaccedilatildeo Externa de Instituiccedilotildees Maputo CNAQ 2012
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GODOY Arllda Schmidt Introduccedilatildeo agrave Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades Satildeo Paulo
1995
195
GREANEY Vincent e KELLAGHAN Thomas Avaliaccedilatildeo dos niacuteveis de desempenho
educacional Rio de Janeiro Elsevier 2011
LASSANCE Maria Ceacutelia Pacheco Adultos com Dificuldades de Ajustamento ao Trabalho
Ampliando o Enquadre da Orientaccedilatildeo Vocacional de Abordagem Evolutiva Revista
Brasileira de Orientaccedilatildeo Profissional nuacutem 6 2005
PASCAL Roggero Avaliaccedilatildeo dos sistemas educativos nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia de uma
necessidade problemaacutetica a uma praacutetica complexa desejaacutevel EccoS Revista Cientiacutefica
vol 4 nuacutem 2 2002 Satildeo Paulo
PASQUALINI Juliana Campregher GARBULHO Norma de Faacutetima e SCHUT Tannie
Orientaccedilatildeo Profissional com Crianccedilas Uma Contribuiccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Infantil Revista
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SILVA Janaila dos Santos A Influecircncia dos Meios de Comunicaccedilatildeo Social na Problemaacutetica da
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TENOacuteRIO Robinson e LOPES Uaccedilai (org) Avaliaccedilatildeo e gestatildeo teorias e praacuteticas Salvador
EDUFBA 2010
ZUNGUZE Rafael Importacircncia das Ciecircncias de Educaccedilatildeo nos temas transversais In
DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz
e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)
196
Apecircndices
Universidade Pedagoacutegica
Questionaacuterio dirigido aos docentes
O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e
possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo
moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado
para fins meramente acadeacutemicos
Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________
NiacutevelGrau onde lecciona________________________________
1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional
vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por
competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da
qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no
Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________
Porque______________________________________________________________________
197
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____
Porquecirc______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______
8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional
devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento
humano________Justifique__________________________________________________
_
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo
198
Amorosidade como componente pedagoacutegica
Elisabeth Jesus de Souza40
Resumo
O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo
Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica
como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade
Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de
Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo
eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista
pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma
consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha
minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica
Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil
Abstract
The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early
Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the
practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a
Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de
Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education
is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for
respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path
of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary
choice love is only a pedagogical utopia
Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education
Introduccedilatildeo
O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado
de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em
situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista
em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele
veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como
40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom
elisabethjesusdesouzagmailcom
199
possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de
meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os
sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar
Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da
discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um
consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da
educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso
O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como
Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos
uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e
dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo
ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores
poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja
ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a
importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases
teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma
base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional
1 O que eacute amorosidade
() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da
libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato
de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de
manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute
amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o
amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo
amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo
Paulo Freire
Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a
praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora
para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma
corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta
200
Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor
uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao
fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor
seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila
Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre
educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel
mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando
de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser
sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador
Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando
O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de
libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a
crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu
olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente
Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos
quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem
desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse
contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de
vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia
A seguir relato de experiecircncia
Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de
trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus
favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte
fala
― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver
uma delas morta
(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)
Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com
essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute
trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se
traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos
201
Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes
educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus
favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas
apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam
que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar
A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele
momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo
que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto
que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo
como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila
Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir
nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido
Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas
No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros
colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente
uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo
alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para
ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz
Schettini
Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual
ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute
talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a
importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma
pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)
Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo
afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que
temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para
manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude
Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo
deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe
despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia
202
A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que
cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a
amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido
Relato a seguir uma experiecircncia
Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois
meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila
resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar
No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de
inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo
em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia
mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de
sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com
forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente
se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque
trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos
um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem
A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de
permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se
bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e
prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia
bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades
cotidianas da escola
Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de
socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as
brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e
apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras
disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora
chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de
Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo
somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de
memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc
(Caderno de campo- junho de 2016)
A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas
felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos
nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o
que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus
tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma
relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites
sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo
203
A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo
na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente
consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas
de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem
duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica
sob a responsabilidade da avoacute materna
Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de
que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma
repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que
era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas
possiblidades
Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se
minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no
ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a
exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala
seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades
pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de
contextualizaccedilatildeo
A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma
crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa
crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute
perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito
constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque
o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo
hegemocircnica
2 Os Sujeitos da Amorosidade
Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como
sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade
acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e
vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo
ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade
204
Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que
assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos
soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave
dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e
praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo
gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)
Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o
educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua
proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao
mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia
Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo
Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por
parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade
epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo
ensino-aprendizagem na praacutetica educativa
Segundo a professora Cristiane
Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim
sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais
significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)
Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos
da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o
educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo
somente ensina como tambeacutem aprende
A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno
motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua
praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo
significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando
3 Amorosidade e Inclusatildeo
Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo
essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para
mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete
Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo
205
Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem
sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo
para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu
necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma
simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma
movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo
como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O
ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem
amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente
Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A
questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande
relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do
amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo
Segundo a professora Letiacutecia Lucas
Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como
saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos
do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)
Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia
entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do
fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao
enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica
seraacute maior
Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos
das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta
permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos
Conforme Martins
Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da
nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de
intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos
(MARTINS 2015 P 47)
De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do
educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo
206
como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra
resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver
sendo acolhedora ou excludente
A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem
determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador
social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da
educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo
satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz
respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora
Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando
no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres
humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo
fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor
A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao
amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees
docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos
podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc
professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica
Para a professora Anoil
Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de
magisteacuterio)
Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade
eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas
atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A
amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o
aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial
4 O que eacute amor
A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos
coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a
introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente
207
Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior
destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)
Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima
de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos
esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu
efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens
entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes
que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me
acrescentaraacute
Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e
o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo
que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da
outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os
que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria
experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade
Podemos ver a seguir de forma praacutetica
Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo
quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor
explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida
atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta
passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas
que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era
um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados
segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves
pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)
Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o
amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como
componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a
amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores
intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute
ultrapassar os muros da sala de aula e da escola
A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo
infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
208
Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi
realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o
funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas
respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade
escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos
a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas
como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico
que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor
humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro
de 2016)
Conclusatildeo
Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma
questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da
conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da
aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade
o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos
precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na
maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema
capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes
educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta
indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com
maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute
sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou
simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas
salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na
educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de
nossas praacuteticas docente
Referecircncias Bibliograacuteficas
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo
Paz e Terra 2011
209
MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo
Paulo Expressatildeo e Arte 2015
SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis
RJ Vozes 2010
YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento
Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016
210
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um
contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
Acircngelo Ameacuterico Mauai41
Resumo
Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na
interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia
e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos
de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo
que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que
usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam
entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-
se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese
defendida no discurso
Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva
Abstract
The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between
interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in
the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo
program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors
claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or
compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The
deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner
and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse
Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy
1 Introduccedilatildeo
Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a
consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido
ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras
assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura
manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42
41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses
Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na
Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de
problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da
Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)
211
Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um
comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de
Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo
ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero
discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob
moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do
comentador Fernando Lima (FLL2)
O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos
acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia
de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo
qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como
um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees
dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva
tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos
interlocutores (Gumpez 1989)
Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo
(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da
face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam
discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo
como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas
pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de
Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos
basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada
Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da
anaacutelise efectuada
2 Consideraccedilotildees teoacutericas
Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-
imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos
negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando
43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos
212
aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em
termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de
face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma
eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico
John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica
Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem
cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e
atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com
ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes
sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006
4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas
lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de
poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave
interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e
contribuem na construccedilatildeo do significado
As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas
dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem
culturalmente Assim
uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por
especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo
necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de
seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que
faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2
apud Almeida 2012 14)
As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do
geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora
da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o
contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo
interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia
sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo
213
3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia
discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
31 A (des)cortesia verbal
A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das
faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza
negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de
cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo
na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto
interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45
na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo
haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento
comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo
(Almeida 2013 61)
311 Rituais verbais na abertura do Programa
Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute
investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem
em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar
as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das
comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees
interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao
equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes
No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional
estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves
necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi
directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos
interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de
acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees
O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva
assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional
relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas
45 Citado por Almeida (2013 61)
214
principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que
modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os
assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem
organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de
equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman
1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo
A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma
conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo
instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e
fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a
interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como
componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em
contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte
JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com
mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um
novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico
pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro
substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este
ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste
Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa
(hellip)
As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a
manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)
reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a
coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo
46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees
natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades
discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque
se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito
ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)
215
Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas
discursivas
JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite
Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram
mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo
sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo
e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge
Ferratildeo
Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o
ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os
interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo
(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do
toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial
da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o
entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo
Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a
estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e
despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia
Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012
112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento
conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo
e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face
threatening acts - (Brown e Levinson 1987)
312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como
forma de persuasatildeo
Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz
perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos
observar nas sequecircncias abaixo
216
[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai
sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e
regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para
Jorge Ferratildeo]Pergunta
De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias
satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na
construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado
natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros
ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos
ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item
intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da
face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os
admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto
uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um
acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O
locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que
revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo
O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com
objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta
mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)
esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta
interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da
expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom
emocionado
FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles
espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem
ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem
palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas
natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim
tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional
sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a
questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste
217
sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu
tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de
moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado
Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve
ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute
uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel
social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de
valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica
da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos
conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)
Veja-se o enunciado
ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos
ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou
levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema
educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento
O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos
telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens
de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro
foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o
do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila
da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A
convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo
discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez
reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar
o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de
Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador
218
[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente
que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um
sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo
mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece
muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o
Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese
Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que
modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante
natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como
tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud
Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de
contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo
dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais
descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu
exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional
criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia
constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2
apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do
Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca
incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo
O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila
intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto
de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui
estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma
anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo
para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo
podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a
educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem
pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a
47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do
uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr
Jorge Ferratildeo
219
educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar
adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de
assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua
e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este
juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e
eacute uma forma de descortesia
313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo
O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e
passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado
para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo
L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute
nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu
um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com
a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo
democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica
destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o
reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder
poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico
Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave
nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua
aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo
nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos
respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se
encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs
nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo
por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor
Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo
e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior
220
onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem
participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa
sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das
Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse
sentido o L2 reage nos seguintes termos
L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e
tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo
dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um
processo que encerra em si esta nuance de democracia
Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por
um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista
da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de
diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo
desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de
conferir a legalidade da decisatildeo tomada
O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este
filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes
processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para
dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe
eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante
O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a
aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma
encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo
invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da
conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa
evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o
argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo
avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade
geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser
221
interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho
Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade
pessoal do Presidente
314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo
Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das
ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman
1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP
expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector
em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme
podemos entender no excerto
A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que
universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais
diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem
sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras
credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-
se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a
si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada
ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir
Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face
nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo
quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do
locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e
outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua
face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o
diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem
reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia
ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um
comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos
actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um
programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar
que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do
222
funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo
que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais
A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas
muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na
interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo
(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de
conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de
intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos
quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua
licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus
conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes
32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo
O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino
vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de
ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse
sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a
transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e
tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema
educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo
em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo
O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos
quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra
maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os
graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia
pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus
de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as
faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante
os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge
Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua
nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute
um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou
223
impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio
criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a
melhorar a sua imagem puacuteblica
4 Conclusotildees
Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se
manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as
estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As
sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das
faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo
conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou
comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a
intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma
descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de
que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo
Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua
nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica
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______ A Construccedilatildeo da Ordem Interaccional na Raacutedio Contributos para uma anaacutelise
linguiacutestica do discurso em interacccedilotildees verbais Porto Afrontamento Biblioteca das
Ciecircncias SociaisPlural 2012a
______ ldquoActos de discurso estrateacutegias discursivas e figuraccedilatildeo histoacuterias de vida em contexto de
entrevistardquo In REDIS Revista de Estudo do Discurso Nordm 1 2012b disponiacutevel em
httplerletrasupptuploadsficheiros12714pdf acesso 13112016
224
______ ldquo(hellip) eacute um rapaz cheio de sorte digo-lhe jaacute (risos)rdquo o humor como estrateacutegia discursiva
de mitigaccedilatildeo do conflito (potencial) em interacccedilotildees verbais na raacutedio In Brito et alTextos
Seleccionados XXV Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Portuguesa de Linguiacutestica Porto
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encontro-nacional-da-aplhtml
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verbais na raacutedio sequecircncias de actos ilocutoacuterios e lsquoestrateacutegias de alinhamentorsquo em
programas de raacutedios especiacuteficos In FROTA Soacutenia e SANTOS Ana Luacutecia (orgs) 2008
XXIII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Portuguesa de Linguiacutestica Textos Seleccionados
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ATALLAH Mariana de Castro e NOGUEIRA Mayara de OliveiraldquoE Eu Tocirc aqui Sofrendordquo
Uma Entrevista e os Vaacuterios Fenoacutemenos Sociolinguiacutesticos Interacionais 2013 disponiacutevel
emhttpperiodicosufesbrpercursosarticleview4019 acesso 1102016
BIAR Liana de Andrade Pistas Linguiacutesticas na Construccedilatildeo do Fenoacutemeno Collor 2006
disponiacutevel httpwwwpgletrasuerjbrlinguisticatextoslivro02LTAA02_a12pdf acesso
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DUARTE Isabel Margarida (orgs) O Fasciacutenio da Linguagem ndash Actas do Coloacutequio de
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MATEUS et al Gramaacutetica da Liacutengua Portuguesa 5 ed Lisboa Editorial Caminho 2003
MAUAI Acircngelo Ameacuterico Elementos para uma Anaacutelise Linguiacutestica do Discurso Realizado em
Situaccedilatildeo de Entrevista contributos para o seu estudo semacircntico-pragmaacutetico Dissertaccedilatildeo
de Mestrado Lisboa Departamento de Humanidades da Universidade Aberta 2015
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FONSECA Joaquim (org) A Organizaccedilatildeo e o Funcionamento dos Discursos Estudos
sobre o Portuguecircs Tomo II Porto Porto Editora 1998 (pp 11-220)
SANTOS Aline Reneacutee Benigno dos amp HACK Joseacute Ricardo ldquoAs marcas linguiacutesticas da
sequecircncia argumentativa no geacutenero artigo de opiniatildeordquo XIX Seminaacuterio do CELLIP
UNIOESTE Cascal Paranaacute 2009 disponiacutevel em httpwwwhackcceprofufscbrwp-
contentuploads201001Cellip2009pdf acesso 13112016
SILVA Gonccedilalves PINTO Casimiro Imagens da Cultura Actas do VI Seminaacuterio Imagem da
Cultura Cultura das Imagens E-book Ediccedilatildeo Centro de Estudos das Migraccedilotildees e
Relaccedilotildees Interculturais ndash CEMRI ndash Universidade Aberta 2010 p 122-130 disponiacutevel em
httpsrepositorioabertouabptbitstream10400222011IMAGENS20DA20CULTU
RApdf
226
Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI
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227
Sobre o artigo
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a tamanho de letra 11 e espaccedilo simples com o maacuteximo de 250 palavras e com indicaccedilatildeo de
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numa liacutengua nacional devem apresentar resumo em Inglecircs Artigos escritos em Inglecircs devem
apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar
ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a
metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees
- Caso haja agradecimentos estes satildeo feitos junto ao tiacutetulo e em nota de rodapeacute natildeo se
admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto
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Bibliograacuteficas (apenas o que foi referenciadocitado no texto)
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2 A apresentaccedilatildeo dos artigos cientiacuteficos deve obedecer aos seguintes requisitos
a O texto deve ter no miacutenimo 10 e no maacuteximo 20 paacuteginas Se for necessaacuterio ultrapassar as
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b A revisatildeo linguiacutestica eacute da competecircncia do autor
c O tipo de letra deve ser Times New Roman
d A fonte deve ser 12
e O espaccedilamento entre linhas deve ser 15
f Devem ser usadas as seguintes margens
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228
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Margem esquerda 3
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Exemplos
AUAREK Wagner NUNES Ceacutelia e PAULA Maria Joseacute ldquoPesquisa e formaccedilatildeo com
professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e
OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo
Horizonte Editora UFMG 2014 (pp 120-132)
DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na
mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012
MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do
Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica
2014 (natildeo publicado)
MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995
NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em
sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI
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Educaccedilatildeo Aracaju V 2 Nordm 2 Fev 2014 (pp 37-46) In httpperiodicossetedubr
Consultado em 15012016
3
Iacutendice Nota Editorial 4
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8
Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins
Ricardo Capiberibe Nunes
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20
Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de
Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33
Agnes Clotilde Novela
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52
Stela Mithaacute Duarte
Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69
Acircngelo Guiloviccedila Niquice
Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83
Herciacutelio Paulo Munguambe
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98
Yavalane Sergio Parruque
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade
Pedagoacutegica 111
Faque Tuair Chare
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124
Arauacutejo Manuel Arauacutejo
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da
Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136
Antoacutenio Domingos Cossa
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150
Domingos Carlos Mirione
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira
Moccedilambique 162
Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo
Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183
Rafael Renaldo Laquene Zunguze
Amorosidade como componente pedagoacutegica 198
Elisabeth Jesus de Souza
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da
configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da
STV 210
Acircngelo Ameacuterico Mauai
Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226
4
Nota Editorial
Estimados leitores
Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica
Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos
O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que
marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida
da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia
envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil
relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las
O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino
contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique
analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que
concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado
de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas
escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de
Microbiologia
O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os
livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da
autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades
Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no
ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas
escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as
perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e
desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do
livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os
actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros
didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico
de Geografia
5
O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de
professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de
reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com
vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da
sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os
formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as
percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a
melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de
Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no
Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o
sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo
no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo
do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no
desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos
problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo
formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos
O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior
atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa
compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam
a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e
sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil
docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem
O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de
Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor
analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra
e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se
resolver este problema
O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
6
Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua
portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute
outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se
associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi
O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das
crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os
jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os
resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do
sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito
O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-
Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo
em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento
somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira
Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de
Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais
estudos contextualizados
O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade
do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a
necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no
sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela
comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento
numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como
componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na
atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de
autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na
sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia
O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para
Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai
7
pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre
interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias
discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces
Desejamos a todos uma oacuteptima leitura
A Direcccedilatildeo
8
Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma
experiecircncia
Antoacutenio Sales1
Lis Regiane Vizolli Favarin2
Smenia Aparecida da Silva Moura3
Milene Martins4
Ricardo Capiberibe Nunes5
Resumo
Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar
pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de
tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos
professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de
aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos
alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da
pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de
proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado
Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino
Meacutedio
Abstract
This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based
teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school
for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a
research project during class hours where students were also included considering content demands
teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work
also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents
alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal
Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School
1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto
Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -
profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-
smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -
professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador
associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom
9
Introduccedilatildeo
Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso
do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os
trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso
a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da
autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o
potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao
afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute
o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo
tipicamente escolarrdquo
Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na
escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das
pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo
que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO
20077)
Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa
ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define
como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o
aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento
dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros
copistas
Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute
impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber
institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre
professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte
questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da
Educaccedilatildeo Baacutesica
10
O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo
para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A
pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante
Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um
trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente
Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves
encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola
acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o
espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas
No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita
inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente
determinadas tais como
1 Certa incredulidade por parte de alguns professores
2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto
estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve
sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo
permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel
de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa
simples
3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o
aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa
4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute
um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes
representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso
visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a
possibilidade de natildeo cumpri-la
5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou
conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela
memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses
bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo
6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes
de actividades complementares
11
6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute
outro factor interveniente
7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores
revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em
abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o
professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser
quantificado
8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem
nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor
anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas
que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem
sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da
internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor
9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso
levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que
esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de
literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas
apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo
problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal
(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo
simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas
vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho
fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos
Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns
professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de
equiacutevocos conceituais e histoacutericos
Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos
precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre
certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr
em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas
verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees
bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores
12
Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade
disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja
suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes
Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do
pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a
necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum
problema
No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No
entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e
outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo
nunca passou de oito professores
Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de
iniacutecio na proposta
A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os
contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de
estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)
A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia
em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do
desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via
frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia
pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em
uma experiecircncia de investigaccedilatildeo
A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos
O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma
experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na
Educaccedilatildeo Baacutesica
O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo
integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo
relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou
nessa tarefa
8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como
determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida
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Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar
um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica
sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia
A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com
alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de
poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante
Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que
poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da
disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se
predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus
estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na
nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos
na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor
independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo
que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata
relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o
investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele
incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um
conhecido site de busca
Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que
se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa
orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos
cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar
do estudante
O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor
forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa
primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar
Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a
qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de
poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao
professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo
Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a
questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio
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Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute
existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na
Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente
encontraremos um debate dessa natureza
COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades
de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a
[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando
mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas
accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema
da orientaccedilatildeorsquordquo
Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de
encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar
atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da
observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais
caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente
como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses
autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto
evidencia-se que haacute a necessidade de orientar
[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do
aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da
capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com
elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos
procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de
ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de
informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados
gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave
capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de
pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)
Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante
ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto
possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto
Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos
experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer
dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto
deve apresentar para ser o objeto que se procura
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Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles
[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de
orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e
a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade
alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a
segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na
apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a
orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos
(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)
Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do
estudante eacute resultado de um processo
VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo
acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos
administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam
garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a
delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo
Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave
natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos
estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar
Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da
sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la
A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa
experiecircncia
A Experiecircncia
Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta
mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato
que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o
aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua
aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos
invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo
hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um
preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e
vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a
experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde
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a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho
como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo
quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em
seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro
experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e
componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo
central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo
era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de
quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado
poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas
Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute
relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem
percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se
verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos
estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos
assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar
com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de
orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o
conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos
experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que
poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na
disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os
conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a
discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-
los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula
fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi
adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos
o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos
entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando
propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as
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aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo
resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada
experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte
fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as
aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de
que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora
tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns
estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos
Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os
experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada
para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles
Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da
gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do
experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada
uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um
problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber
aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior
Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os
postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de
acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de
campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma
investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a
seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas
feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do
Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul
(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas
dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia
da maior parte dos alunos da disciplina
Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um
pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de
maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o
caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o
direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo
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Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o
seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse
caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante
Consideraccedilotildees finais
Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de
pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de
sucesso podem ser relatados
Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos
professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias
burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso
Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um
aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova
visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de
graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar
Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma
vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete
sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute
confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente
Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos
inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema
mais provocaraacute o aluno
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ago 2016
20
O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de
Microbiologia em Moccedilambique
Manecas Cacircndido9
Laurinda Leite10
Briacutegida Singo11
Resumo
Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique
no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de
conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da
Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees
identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo
fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram
que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os
documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o
Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de
ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado
dos conteuacutedos de Microbiologia
Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique
Abstract
This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in
Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The
documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary
Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those
documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the
literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a
contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though
evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the
documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt
teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents
Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique
Introduccedilatildeo
O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23
de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg
692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo
9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia
21
moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta
mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de
modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida
De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao
conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)
que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma
tarefa na vida quotidiana
Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de
conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para
a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar
Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino
secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para
enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos
microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente
Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que
todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e
relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem
abordados ou natildeo de um modo contextualizado
Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada
para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)
torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino
anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo
de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o
caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os
documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma
abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em
Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida
pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados
deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de
sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado
das ciecircncias
22
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos
Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que
natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a
que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)
considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a
ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em
algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos
aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006
Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um
ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos
cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto
ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante
para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o
preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas
da comunidade a que pertence
Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos
conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a
existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos
intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode
(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim
contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees
satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de
significados e ao desenvolvimento dos conceitos
Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu
ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No
entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees
(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute
realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta
apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre
ela envolvendo os alunos nesse trabalho
Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente
assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de
aprendizagem (Wartha et al 2013)
23
Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte
modo
Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a
adotar
Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o
estudo das questotildees centrais que criam o contexto
Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de
conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais
Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo
praticadas
O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e
a teoria que os explica
Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de
aulas e o trabalho de campo
Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em
grupo
Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do
pensamento criacutetico
Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode
contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como
realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos
A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo
didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para
contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp
Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp
Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki
2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)
Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do
ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo
realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de
ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por
exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das
24
quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas
No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de
Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees
em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam
no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e
a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus
efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar
estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem
significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso
da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado
o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e
profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos
Metodologia
Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da
disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim
de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de
Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de
anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do
conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo
explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo
Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692
sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do
Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe
(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem
os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por
isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas
de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral
Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma
delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise
consideradas foram as seguintes
- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees
25
concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com
conhecimentos cientiacuteficos
- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de
conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno
enquanto pessoa
- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos
designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos
e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)
- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos
conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de
conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)
- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das
ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo
- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo
com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki
2011 Leite Et al 2016)
Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas
tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute
sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados
Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas
diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de
Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O
resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1
Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG
Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos
1deg ciclo
8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)
- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos
9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo
Unidade 7 - Organismos no solo
- Organismos decompositores
10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema
- Ciclo de Nitrogeacutenio
2deg ciclo
11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da
sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)
Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas
26
- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e
teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo
- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)
sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas
- Reino fungi
12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio
- Tuberculose
Resultados
A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as
afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees
no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as
dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica
(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola
deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o
desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem
disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de
desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a
abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares
Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo
Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a
escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo
individualldquo (art 2ordm b)
ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa
equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)
Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que
respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf
b)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento
socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)
De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da
presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da
dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam
27
apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite
ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois
ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio
realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa
Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano
Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja
tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e
aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os
conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos
Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG
Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo
1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a
eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e
da
Comunidaderdquo (p20)
ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica
socialrdquo (p44)
Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo
conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a
natureza e a sociedaderdquo (p20)
ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao
desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente
escolar e fora desterdquo (p20)
Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas
diferentes aacutereas de estudordquo (p20)
ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo
(p44)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a
linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando
os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo
acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do
patrimoacutenio culturalrdquo (p20)
2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na
comunidaderdquo (p57)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica
e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)
ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta
28
social responsaacutevelrdquo (p58)
Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo
cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou
adopccedilatildeordquo (p22)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de
investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da
Biologiardquo (p58)
Histoacuterica ---
Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a
preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)
No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees
metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas
metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi
identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste
trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e
ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos
de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas
sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas
comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais
Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de
Biologia do ESG
Classe Dimensotildees de
contextualizaccedilatildeo
Extrato ilustrativo da dimensatildeo
8ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco
grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser
utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia
desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade
e sociedaderdquo (p16)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas
caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os
grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)
9ordf
Quotidiano do
aluno
ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas
alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)
Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar
informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se
produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de
29
fermentaccedilatildeordquo (p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos
de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto
com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de
produccedilatildeordquo (p29)
ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo
aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo
dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala
de aulasrdquo (p36)
10ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo
(p29)
ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do
ambientehelliprdquo(p29)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas
relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)
ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas
identificadosrdquo (p29)
11ordf
Histoacuteria das
ciecircncias
ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os
estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)
Quotidiano do
aluno
ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns
na sua comunidaderdquo (p22)
Formaccedilatildeo Pessoal
ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos
incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na
aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos
agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)
Processo de
construccedilatildeo do
conhecimento
ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada
um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e
classes de cada um dos reinosrdquo (p22)
ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos
sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por
exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo
(p17)
12ordf Quotidiano do
aluno
ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos
relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)
No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia
(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie
Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas
metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A
tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria
sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o
quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas
30
da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo
em causa mais relevante para os alunos
Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki
(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos
fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros
analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia
Conclusotildees
A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute
uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No
entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino
contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na
verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as
dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do
Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas
Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise
de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila
nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo
A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na
medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de
Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar
significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o
cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os
alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma
educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos
alunos
Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem
mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas
pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais
escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da
dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave
questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos
reais
31
Agradecimentos
A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de
Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com
verbas nacionais
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na escola Vol 35 Ndeg 2 84-91 2013
33
Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares
e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12
Agnes Clotilde Novela13
Resumo
O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas
metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal
objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares
de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e
utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um
estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf
classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo
as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades
ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade
temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das
ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e
praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias
Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia
Abstract
The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their
methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main
objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8
Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and
use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with
grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the
city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the
three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the
determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human
Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed
by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not
related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences
Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology
Introduccedilatildeo
A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico
sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da
qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos
diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular
estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e
12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na
Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia
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consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute
reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas
O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas
escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de
um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em
geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas
adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua
vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos
capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos
meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades
Laboratorias (ALs)
Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em
Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de
Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades
para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade
O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos
materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta
forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua
consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a
complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao
PEA em Ciecircncias
Objectivo geral
Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades
laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as
representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino
Revisatildeo da literatura
Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia
Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos
intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em
muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a
utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se
35
como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a
aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a
concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)
Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo
contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo
proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos
conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)
Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino
Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias
e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo
conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que
falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para
realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante
na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos
pelo professor
Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que
acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado
teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um
guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em
caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta
sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito
investigativo
Os livros escolares de Biologia
O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar
(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006
Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor
dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento
influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como
o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)
Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro
escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas
podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a
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ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a
impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os
professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem
respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis
ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o
livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala
de aula
Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino
Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no
paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)
do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de
acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros
Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes
a) Curriculum e conteuacutedo
b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua
c) Valores e Questotildees Transversais
d) Estrutura e Organizaccedilatildeo
Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo
Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores
para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo
soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas
perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de
professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira
adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina
Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros
de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos
programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees
bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp
Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais
estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees
De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias
actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de
resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de
37
desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das
mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de
desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno
deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e
estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente
construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)
Metodologia
A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o
outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O
primeiro estudo consistiu em trecircs etapas
1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas
escolas
Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber
Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf
Classe
Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe
Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber
Biologia
2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo
Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica
existem actividades laboratoriais propostas
3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica
Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos
protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade
Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise
comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave
tipologia
Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)
Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos
38
1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de
ALs proposto
2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e
conceptual que a AL exige do aluno
No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de
7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco
Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para
as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que
corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8
professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde
a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em
Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel
baacutesico
Resultados e discussatildeo
Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe
Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa
de ensino da 8ordf Classe
ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas
Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero
reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na
unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute
que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades
estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo
Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a
unidade apresenta
De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda
assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios
conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta
sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de
Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo
39
de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas
unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com
livros escolares de Ciecircncias Naturais
Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois
(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf
unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros
apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)
contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes
livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus
estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas
Tipos de ALs propostas pelos livros escolares
Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de
Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes
autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos
exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas
orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem
procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos
livros analisados
Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado
Tipo de Actividade Manual
A B C
Investigaccedilatildeo - - -
Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -
Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2
Actividades ilustrativas 1 5 5
Exerciacutecio - - -
Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos
fenoacutemenos
1 1
Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam
quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que
acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram
encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da
40
Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de
terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao
realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute
aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do
conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na
execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos
procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares
que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo
para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes
cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)
responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais
curriacuteculos de Ciecircncias
Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos
objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de
competecircncias2
No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos
que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas
especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees
realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC
2007 p 44)
Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da
Cidade de Maputo
Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs
Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma
diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de
Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3
L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos
Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores
estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da
implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos
Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de
autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que
estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para
41
um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute
feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar
sobre a actividade que executa
A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente
estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com
que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou
visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade
que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se
uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais
A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no
estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no
presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos
actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas
mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta
de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas
privdas
A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias
Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem
com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das
Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e
Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas
salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo
esperada melhoria no ensino de Ciecircncias
Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de
uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo
(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois
professores responderam o seguinte
P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo
P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu
enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos
respectivos conteuacutedos teoacutericos
A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal
de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo
42
pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta
pesquisa
Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica
mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos
envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima
opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este
professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs
Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma
relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos
tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos
Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do
horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a
reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores
justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora
natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada
Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu
enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu
estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou
natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos
conteuacutedos abordados
Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs
pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente
e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados
relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de
graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a
melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo
cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de
desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre
determinados fenoacutemenos ou processos
43
Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades
Laboratoriais
Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs
especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a
frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que
objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de
apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos
conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas
Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores
afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente
cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim
A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois
duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os
fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)
em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores
revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas
escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo
desenvolvimento de actividades laboratoriais
Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que
disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o
professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs
realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades
existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de
abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos
Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos
professores
Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5
Uso das ALs Freq
Pelo menos duas por semestre 4
Uma a duas por semestre 1
44
As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K
escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na
tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo
implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu
estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu
trabalho de estaacutegio
Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs
de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando
tambeacutem outro tipo de actividades
Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as
ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o
desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito
ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo
K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo
K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo
M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo
A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para
as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam
desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de
actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que
tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico
As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo
executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo
fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o
niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com
este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia
adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis
e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que
sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve
ser encontrada
Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da
realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma
45
aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos
objectivos por eles defendidos
J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem
soacutelidardquo
Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo
Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores
envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro
aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica
como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento
cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora
em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes
contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito
valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode
proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si
podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados
confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado
que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de
diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de
ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo
lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia
Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para
desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas
aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees
apesentados para desenvolverem com os seus alunos
Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e
por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram
os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a
execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor
limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os
alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades
laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte
destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais
46
Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves
condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs
propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um
laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande
factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios
alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos
Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e
adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia
Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave
adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos
livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas
encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as
escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da
editora Longman
Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de
Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria
nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar
para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo
que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um
determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise
Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a
selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a
concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino
apresentando as seguintes opiniotildees
J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo
Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo
Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de
ensinordquo
Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados
dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida
entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de
ensino como o principal criteacuterio utilizado
47
Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na
escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos
Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de
pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por
Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos
livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e
a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito
importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material
acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que
estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem
considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas
entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas
como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras
Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em
particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores
dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados
para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos
anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e
na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e
Fracalanza (2003)
Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o
caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez
et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana
contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica
que mutila o pensamento das crianccedilas
No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas
diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de
alguns considerarem estas muito poucas
48
Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades
laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas
As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas
pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores
fazem acerca das mesmas
Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam
pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam
Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo
aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo
apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do
tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas
pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma
constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades
deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas
docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e
aprendizagem das Ciecircncias
Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os
procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para
que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas
Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as
ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs
natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um
professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de
teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que
acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto
Consideraccedilotildees finais
A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos
preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees
14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte
49
Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo
para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que
concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem
concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no
organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-
muscularrdquo
Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo
tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece
com um baixo niacutevel de abertura
Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs
proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas
envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do
laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em
que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com
baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a
construccedilatildeo de novos conhecimentos
Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no
processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como
razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco
frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas
escolas onde satildeo desenvolvidas
A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos
O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os
programas de ensino da disciplina
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MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros
2012
52
Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios
Stela Mithaacute Duarte15
Resumo
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao
longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi
a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias
etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se
reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem
sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda
natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e
complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia
Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em
Moccedilambique
Abstract
The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout
the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was
the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes
through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological
question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in
the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is
not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary
textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography
Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique
Introduccedilatildeo
O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem
Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo
observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma
integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos
encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as
semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido
pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido
que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de
projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no
futuro (Tedesco 201526)
15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino
de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e
Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)
Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo
53
A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que
se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores
potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem
dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem
Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo
nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula
assim a ideologia dominante de um paiacutes
A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos
constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se
adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo
possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes
O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de
Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios
Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia
antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro
didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro
didaacutectico de Geografia
O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do
tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo
necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os
aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos
professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento
A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia
informada da autora
O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)
o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo
da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees
finais e as referecircncias bibliograacuteficas
1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia
Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros
meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares
54
mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser
usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal
A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada
a questotildees ideoloacutegicas e de poder
O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos
marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida
O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos
teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos
uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no
passado presente e ainda perspectiva o futuro
Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do
nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio
geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais
adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de
conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir
o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem
ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica
Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do
aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero
objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do
pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o
aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes
e no mundo
O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute
importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom
professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)
Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e
desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de
aprendizagem
Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que
ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos
adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que
sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas
55
materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades
teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)
Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a
importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um
de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional
de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de
aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio
entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas
No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a
compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da
paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e
para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)
Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da
7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o
meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material
didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas
escolas entre outros (Buque 1999)
O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf
classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo
predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O
custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste
importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a
importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo
contiacutenua de professores (Mesquita 2002)
Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias
Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a
formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em
prol da sua comunidade (p 219)
Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no
geral e em particular o de Geografia
56
1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e
exclusatildeo
Chorou e chora Moccedilambique
Pelas riquezas que lhe usurpam
Sem os filhos as utilizarem
Moccedilambique chorou e chora
(Jackson 197918)
O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de
Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo
aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o
sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito
O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave
estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva
de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os
interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por
ser discriminatoacuterio elitista e selectivo
Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham
mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura
portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano
(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das
descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura
(Mondlane 199558)
O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no
1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf
classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte
estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia
Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia
(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)
Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino
Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino
natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de
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estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino
especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de
Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de
Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira
e Moura 1974)
Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados
os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e
cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428
com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -
distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas
possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de
Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as
principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial
de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com
exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores
Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade
lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves
necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e
potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava
uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro
para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente
2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do
marxismo-leninismo ao neoliberalismo
I Repuacuteblica
Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma
grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais
como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea
da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento
entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais
16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar
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fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a
Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco
(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa
principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a
ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo
revolucionaacuterio( Machel 198059)
Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo
do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra
angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)
(201572)
Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia
Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO
que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade
A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da
sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir
agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei
que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes
na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio
comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo
eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade
no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo
(Moccedilambique 1983)
Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros
actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da
educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era
dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em
1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal
provedor dos serviccedilos educativos
Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o
Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria
consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo
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cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos
vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola
atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo
(Ibid)
Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado
Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda
Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a
Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar
e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e
que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)
Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro
em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro
intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC
1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo
ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas
colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia
o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura
transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma
sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes
aeacutereos
Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com
a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional
esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos
internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por
uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)
Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande
importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais
internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)
O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma
influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido
especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto
Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e
limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo
17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975
60
administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o
autor afirma
Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf
ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18
mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se
atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo
Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)
Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal
como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees
Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)
Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria
da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com
vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria
e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que
tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso
Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data
A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia
elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da
10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)
Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia
(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)
O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com
138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia
Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a
sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo
geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena
Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)
O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por
Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)
18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo
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Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos
Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)
Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas
condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade
cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do
Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia
da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-
se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e
dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da
agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias
Comunais (Ibid80)
O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro
produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5
capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os
ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e
a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32
paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim
estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera
4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta
obra (Matos e Ramalho 1989)
As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -
9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo
portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial
para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste
apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)
Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes
da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o
seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes
no mundo (Matos e Ramalho 1990)
II Repuacuteblica
Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito
Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras
62
entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo
(Moccedilambique 1992)
Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol
I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos
com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)
Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)
Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e
Santos 1992)
Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia
de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da
Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)
Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de
comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)
Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro
intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da
Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)
Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)
Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80
paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)
Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)
A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino
Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do
livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)
Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico
no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao
preccedilo do mercado
Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este
ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de
alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima
de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos
alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas
(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-
63
caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do
livro escolar
Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo
os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo
fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado
Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar
constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao
processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno
do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior
durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro
gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)
O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma
produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete
2007339)
Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita
apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de
livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado
em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo
(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)
Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da
populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico
Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo
colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no
aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e
interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)
Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam
para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os
livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio
encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas
Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do
Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados
pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de
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Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo
as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e
questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro
prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos
sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave
venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos
professores (Moccedilambique 2016)
Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e
espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas
diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com
todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un
importante instrumento de trabalho de alunos e professores
Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico
Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico
tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de
aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo
de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)
Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-
se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de
aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino
Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a
aprendizagem fica comprometida
No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias
encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do
conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou
entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis
para os alunos
Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o
facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo
ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da
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ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo
de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente
A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que
nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com
muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em
Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado
O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um
consumidor passivo
Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem
dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis
Consideraccedilotildees finais
Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias
fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no
processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-
educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico
O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica
dos governantes
Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro
produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador
Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente
e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de
Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade
Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio
Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis
do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito
insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro
Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu
potencial
Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos
alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura
complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro
66
Referecircncias bibliograacuteficas
ARAUacuteJO Manuel Noccedilotildees elementares de Geografia de Moccedilambique 2 ed Maputo INLD
1979
BARCA Alberto da e SANTOS Tirso Geografia de Moccedilambique Vol I Parte Fiacutesica - 10ordf
classe Maputo INDE Editora Escolar 1992
BARCA Alberto da Geografia de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica - 10ordf classe Maputo
Editora Escolar 1993
BASTOS Juliano e DUARTE Stela Mithaacute Necessidade e possibilidade da Educaccedilatildeo Patrioacutetica
em Moccedilambique In DUARTE Stela Mithaacute e MACIEL Carla Ataiacutede Temas
Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz e Cidadania Maputo Editora Educar-UP
2015
BUQUE Suzete Lourenccedilo Os meacutetodos de ensino e o uso do livro do aluno da disciplina de
Geografia na 7ordf classe Monografia Cientiacutefica para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura
Maputo Universidade Pedagoacutegica 1999 (natildeo publicado)
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Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf
classe + 3 anos
Acircngelo Guiloviccedila Niquice21
Resumo
O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica
docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os
anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual
formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de
Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica
Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de
competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar
continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras
Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos
Abstract
The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the
teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the
aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current
teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary
Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the
option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges
persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order
to promote innovative pedagogical practices
Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years
Introduccedilatildeo
As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique
e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em
transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente
inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na
leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e
2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de
professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e
coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com
21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz
70
uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente
ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um
curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3
anos
O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute
baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e
social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se
de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos
diferentes moacutedulos
Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade
dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de
competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os
graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo
didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a
interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)
e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo
adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias
A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que
durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que
vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma
abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da
percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer
do professor primaacuterio ou secundaacuterio
Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees
Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos
baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos
Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas
docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em
acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade
Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento
na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e
o sistema de avaliaccedilatildeo
71
Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e
descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e
aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia
usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)
Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em
Moccedilambique
A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no
regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias
(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente
formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a
primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas
de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar
As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores
eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza
aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como
forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria
o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por
professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962
A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do
ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da
preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos
procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde
resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de
professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo
questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo
colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos
escolarizado e excluiacutedo
Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e
transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o
paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As
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transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes
qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo
Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram
organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e
entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses
Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo
da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou
a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)
Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava
responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que
estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se
refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos
mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos
em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais
disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma
flexibilidade e iniciativas por parte dos professores
Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que
primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles
ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave
grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica
ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com
o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de
10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo
diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)
de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as
reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos
formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso
actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos
transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da
escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas
Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de
aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo
73
de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de
aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula
Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em
implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes
criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta
materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)
A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino
seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis
pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em
nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande
dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com
destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos
A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos
exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da
pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa
Criatividade e qualidade dos formadores
As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de
imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de
aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e
criativa
Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e
criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os
formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com
um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas
vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no
ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando
ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no
curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo
utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao
pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso
moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que
desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados
74
Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo
da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e
formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao
desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da
formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade
e muito menos da problematizaccedilatildeo
A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual
colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-
acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas
quotidianas
O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da
formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave
praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992
p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em
sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de
professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos
formandos
Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores
A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do
novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente
de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da
qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no
Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas
no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo
Competecircncia
O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar
que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)
define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir
adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a
capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em
conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a
75
competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar
para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto
Formaccedilatildeo de professores por competecircncias
Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do
Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco
desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a
qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino
Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como
alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute
efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)
A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da
sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos
conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto
convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em
reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por
Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum
sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a
mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta
parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo
A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute
cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como
alternativa
Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores
Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno
estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo
de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento
Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de
competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute
assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas
de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo
do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a
76
necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito
para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud
1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na
prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de
uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias
Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os
formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as
necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios
de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel
a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo
formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor
Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias
A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de
Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores
criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No
entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a
avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo
Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o
sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves
finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos
conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma
mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa
e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender
desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica
O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias
Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um
modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-
aprendizagem assumem novos papeacuteis
A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de
conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo
baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
77
metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O
formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos
formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar
informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que
atinja as metas
Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura
concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da
exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas
sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos
De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a
necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito
Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da
resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no
paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem
conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas
interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza
vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto
que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio
seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo
Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de
professores
O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em
competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que
demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O
curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo
operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos
moacutedulos (op cit79)
Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo
e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um
estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de
aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo
78
a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores
Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto
curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes
escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias
Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias
metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud
(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de
pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos
como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou
utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar
uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato
didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho
Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)
Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final
mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e
progressatildeo
Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a
mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em
detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem
Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita
por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias
descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo
de formaccedilatildeo
Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio
encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo
basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os
outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor
argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua
formativa diferenciada e multidimensionalrdquo
A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de
professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel
da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo
79
dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera
perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de
autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois
controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos
Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3
anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos
consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que
esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece
estarem a corrigir relatoacuterios iguais
Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha
que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco
dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O
autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo
diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-
aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares
Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os
testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram
ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala
(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua
opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a
verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de
vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo
facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada
Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande
estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas
escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para
anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a
identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo
informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas
sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los
80
Consideraccedilotildees finais
A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um
modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos
Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e
secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo
de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica
De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios
feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular
na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores
assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos
prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente
desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos
professores
Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a
promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de
conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias
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Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em
salas de aulas
Herciacutelio Paulo Munguambe22
Resumo
O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e
pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas
de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos
professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de
ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos
professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em
exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No
que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se
agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio
tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles
tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas
limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os
dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que
as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de
recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via
disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo
Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees
Abstract
The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims
to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context
The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the
teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for
the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature
review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was
carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen
respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation
and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it
was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our
respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in
Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they
use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is
quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context
in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among
learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of
Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their
appropriate use in the Lower Secondary School
Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions
22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email
herciliomunguambeyahoocombr
84
1 Introduccedilatildeo
No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica
chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem
constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de
aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual
a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender
Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta
via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e
por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico
que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos
professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo
podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu
manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica
Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso
das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a
importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como
instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos
assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os
professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas
Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica
do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas
Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa
Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de
aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)
Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala
de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo
Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo
11 Justificativa
A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um
aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a
85
partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras
como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem
Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a
melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf
9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez
mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras
para enfrentar o ensino superior com sucesso
A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de
calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado
e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos
2 Revisatildeo da literatura
Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas
profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser
alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI
ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que
defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta
na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas
de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso
Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste
modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar
os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)
Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um
instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira
que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para
inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco
Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam
grandes dimensotildees e peso
Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras
mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer
energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees
baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica
86
revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de
escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora
electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos
e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem
a niacutevel pessoal
Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e
diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram
de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a
populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba
auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)
Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas
construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a
qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo
desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees
trigonomeacutetricas
Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e
a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica
conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a
cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos
interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser
encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo
do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica
A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das
diferenccedilas referidas previamente
Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados
Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica
5+4x5 25 45
4x5+5 25 25
20+4x10+5x2+5 75 495
44011x4 160 160
10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor
87
Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para
resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados
diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se
pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente
Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com
prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado
Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito
apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em
09999997
Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre
a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de
calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os
mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar
A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as
reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas
tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova
escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica
direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias
(MORAES 20007)
Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos
curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de
formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de
Matemaacutetica
As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma
reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)
ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da
escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas
dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora
por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a
calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a
aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias
de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no
ambiente escolar como fora
88
De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando
resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo
de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a
partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na
proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas
Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em
Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma
vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento
de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do
aluno
De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um
instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do
tempo
Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de
calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com
criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com
nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo
de graacuteficos entre outros aspectos
Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos
preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o
raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental
As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso
Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se
refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)
explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a
resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como
geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar
diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees
inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos
confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)
Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de
calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de
89
reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e
abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel
A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-
las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem
disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc
que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os
objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa
forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa
(FERREIRA 2007 51)
Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos
como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em
estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se
tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo
de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na
assimilaccedilatildeo da mateacuteria
3 Metodologia
Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e
quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim
com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do
presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser
feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser
quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras
na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio
entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais
No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa
quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e
consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste
contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com
base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados
Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher
mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas
para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas
90
socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo
respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado
Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas
de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na
recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa
baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-
Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento
pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em
2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram
assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13
professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos
dados aplicou-se um questionaacuterio
O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene
Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e
Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf
classe haacute mais de 7 anos
Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma
anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de
aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por
P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315
onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15
4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-
se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito
As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas
dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de
Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica
aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de
professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora
Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm
um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem
estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados
91
Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde
se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros
compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos
ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com
conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo
feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto
Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves
Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio
formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma
economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das
conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na
famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da
sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora
Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias
da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao
uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de
Novembro de 2016
Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as
respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da
questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11
Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5
P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13
Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de
Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia
de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)
licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos
92
Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538
Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462
Fonte Organizado pelo autor
O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro
podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm
Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da
calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385
Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615
Fonte Organizado pelo autor
Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os
professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos
verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria
correspondente a 615 natildeo o tinham feito
Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma
informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das
calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas
93
Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem
()
Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7
professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees
matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para
caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os
restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios
exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em
que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental
Sim 538
Natildeo 462
Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10
professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)
como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria
caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os
restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder
Algumas 769
Sem
resposta 231
Fonte Organizado pelo autor
Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos
professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra
o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute
necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-
se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta
tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo
nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora
Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12
Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()
Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica
11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem
nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais
Sim 85
94
tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na
determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros
irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a
explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na
mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem
Natildeo 15
Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas
de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo
existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos
simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao
resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para
resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu
anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2
responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio
Algumas 85
Natildeo 15
Fonte Organizado pelo autor
A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um
equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois
tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que
responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram
Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido
dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo
especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute
receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao
uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta
tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica
Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13
Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora
Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()
Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46
Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54
Fonte Organizado pelo autor
Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)
correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente
para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo
a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno
95
jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do
resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o
aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em
que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as
maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam
usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos
(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio
Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das
maacutequinas simples e cientiacuteficas
Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais
uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no
processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema
referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente
em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um
professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo
pelo universo
4 Conclusotildees e sugestotildees
Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras
em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte
Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a
assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora
limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e
livro do aluno
Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da
Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)
afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos
alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a
preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a
calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos
simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental
96
Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo
fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo
limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica
Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma
orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas
Sugestotildees
Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos
como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho
que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de
calculadoras nas aulas de Matemaacutetica
Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das
calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento
das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a
calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora
Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades
cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de
aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia
entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos
Referecircncias bibliograacuteficas
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Concepccedilotildees de Professores em exerciacutecio e em formaccedilatildeo Proviacutencia da Zambeacutezia Maputo
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FONSECA J J S Metodologia da Pesquisa Cientiacutefica Fortaleza UEC 2002
INDEMINED-Moccedilambique Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 2007
KISTEMANN Marco A O Uso da Calculadora nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
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97
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MOURA Rui Aprendizagem Transformativa Uma Abordagem ao Conceito Lisboa Ed UL
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MOURA Andrea de A Educaccedilatildeo Matemaacutetica Retrospectivas e Perspectivas Contribuiccedilotildees da
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Educaccedilatildeo Matemaacutetica Pesquisa em Movimento Satildeo Paulo Cortez 2004
OLIVEIRA Edvaldo Fialho de A Calculadora Como Ferramenta de Aprendizagem
Guaratinguetaacute UNESP 2011
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Ensino Fundamental PUCPR 2005
SANTOS Adriano C Centro de Ensino e pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo Plano de Ensino de
Matemaacutetica 7ordm Ano 2014
98
Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem
Yavalane Sergio Parruque23
Resumo
O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo
visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da
progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por
competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de
reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em
Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as
lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de
ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de
literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a
falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos
ciclos de aprendizagem
Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem
Abstract
This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to
Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced
in the country and its relation with the competence model
In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high
number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen
as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students
failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development
of prescribed competences in the education programs
To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and
document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation
in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences
registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles
Key wordsexpression management learning cycles progression
Introduccedilatildeo
Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que
conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um
sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive
Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino
Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)
23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles
pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e
colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde
2010
99
Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a
necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem
(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a
progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o
outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo
(INDE 2003) 24
Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o
Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e
equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de
07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)
Problema
A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de
ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo
mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso
a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem
as competecircncias exigidas em cada ciclo
Objectivo da pesquisa
Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em
Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes
Perguntas de pesquisa
I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo
esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem
II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos
alunos
III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias
exigidas para cada ciclo
24 Citado por Nhantumbo (2009)
100
Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no
contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda
parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique
e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira
discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo
Metodologia
Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na
revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa
justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise
qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais
Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode
estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo
obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na
tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados
Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram
analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino
Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo
A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo
sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
Avaliaccedilatildeo
O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que
permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o
processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem
como objectivos
I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico
subsequente
II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste
curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e
recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas
101
III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de
decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu
funcionamento
IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no
ensino baacutesico
Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo
A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos
pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens
remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos
comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre
o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para
hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens
mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos
2006)
A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)
que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude
inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para
Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente
na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de
comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo
Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de
hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno
no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio
de selecccedilatildeo no mundo laboral
A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores
Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes
escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o
processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)
A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou
para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das
aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta
102
abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las
adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de
ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos
Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela
que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em
Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo
de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em
Moccedilambique
Ciclos
No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no
ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do
tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da
repetecircncia
O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais
recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como
promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem
Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)
Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo
escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de
ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania
Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem
uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes
taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela
atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria
verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa
forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de
aprendizagem (Freitas 2003)
A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)
sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo
rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no
aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa
103
Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi
introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a
progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica
O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm
grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo
que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute
constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes
Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino
primaacuterio satildeo
O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita
contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir
observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as
outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio
O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas
no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e
tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes
O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades
adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a
vida
Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de
aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um
determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo
predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas
fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir
o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com
base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos
alunos com dificuldades de aprendizagem
A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor
sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-
aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades
Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de
aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao
aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch
104
(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a
aprendizagem do aluno
Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa
natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus
intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva
Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em
Moccedilambique
prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura
classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo
ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno
a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte
et al 2012)
Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como
nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure
eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida
Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio
de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio
e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees
Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas
ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria
homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o
seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a
reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta
A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)
explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar
e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir
Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo
relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns
casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de
ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos
alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da
turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios
cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma
progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de
aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e
isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos
primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)
105
A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de
desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de
aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo
Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o
fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de
aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se
conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva
Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo
sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino
Uma das razotildees eacute que
a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de
aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala
de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma
fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus
saberes (Duarte et al 2012)
O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees
para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem
Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes
da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio
Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os
alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e
quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)
Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo
entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa
A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas
curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem
aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores
directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos
da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)
Dias (2009291) explica que em Moccedilambique
ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de
aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos
106
repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados
temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a
ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente
mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso
Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um
lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa
por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de
aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)
A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de
aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo
que natildeo revelam o real desempenho dos alunos
Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em
Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os
alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem
consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o
autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo
visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para
os professores alunos e paisrdquo
Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a
promoccedilatildeo semi-automaacutetica
As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim
como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores
consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o
sistema de ciclos de aprendizagem
Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo
tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus
filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado
A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a
avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo
contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que
traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e
que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas
107
vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados
(Mainardes amp Stremed 2012)
Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os
professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as
escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o
segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua
implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e
desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior
Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-
se as seguintes
i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos
conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar
ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do
desperdiacutecio de recursos financeiros
iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se
encontra fora da escola
iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de
escolaridade em termos de anos de estudo
v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as
condiccedilotildees adequadas
vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas
vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se
preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo
conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela
necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo
regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo
E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona
i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou
para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da
qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento
ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto
pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou
108
ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves
praacuteticas anteriores
Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro
lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados
preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas
de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a
sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos
natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias
prescritas para cada ciclo
A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a
implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto
na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o
outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos
seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e
Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo
instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este
cenaacuterio
Conclusatildeo
Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees
da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de
aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de
reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo
deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo
permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das
competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias
(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do
sistema educacional eacute desastrosa
Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de
preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar
efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as
109
competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem
entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das
estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por
parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se
graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia
deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente
para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que
recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique
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111
Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-
docente na Universidade Pedagoacutegica
Faque Tuair Chare25
Resumo
O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica
manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da
instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de
Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de
avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de
Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma
pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de
dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras
que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia
de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento
de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que
continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo
das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de
ensino e aprendizagem
Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo
Abstract
The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University
manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of
management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in
Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers
in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of
Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that
this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection
of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we
did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the
conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the
institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of
disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises
awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning
Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception
25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo
(faquetuairyahoocombr)
112
Introduccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta
interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios
contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou
um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud
CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre
estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes
tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir
daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas
com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da
instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia
de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea
a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os
estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras
relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas
Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e
ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na
mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014
Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos
anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo
dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio
processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem
Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser
percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de
percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores
susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo
Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na
perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo
enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas
113
atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo
algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo
Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da
sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas
palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo
que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos
no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)
apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores
coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e
rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis
retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes
convecircm
Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou
explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de
dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise
de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que
fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto
Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior
O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas
tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e
praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo
Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)
avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de
avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um
instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos
atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os
objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no
processo de ensino-aprendizagem
Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo
como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa
comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como
foi o propoacutesito deste trabalho
114
Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute
consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do
verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir
compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A
medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)
Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e
promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e
posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo
ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma
relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou
fonte de stress destrutivo
Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera
que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto
acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que
acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa
seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a
caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso
agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la
Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento
Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16
onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu
desempenho acadeacutemico
Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as
valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes
factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva
como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que
formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua
vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute
compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e
exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre
se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de
aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do
aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a
115
aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)
apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o
que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso
natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se
chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do
factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo
Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e
SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar
decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute
preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que
isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a
avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma
BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito
aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para
a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos
na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas
estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer
sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a
possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos
trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor
dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade
Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser
justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito
mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos
e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as
praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em
desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de
diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de
estudantes mais favorecido do que outro
MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino
superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas
capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo
que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer
116
Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o
Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a
avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber
trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo
praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-
profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-
avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E
ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e
em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas
docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e
correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo
avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os
docentes usufruem dessa abertura do regulamento
O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel
conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo
autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na
decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)
McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o
processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como
e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles
conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute
que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de
estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior
Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a
avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta
doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um
processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro
para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria
mas esperanccedilosa
Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)
apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida
e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de
117
qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de
implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo
O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute
isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria
quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos
professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a
partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova
escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados
natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)
Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos
universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam
Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de
aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos
conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as
capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de
problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc
Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem
incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor
lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados
com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo
alunoprofessor
Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e
professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e
construccedilatildeo do conhecimento
Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os
resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a
sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo
Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista
pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo
faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o
desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas
sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos
118
contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o
acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)
Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do
conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou
actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores
arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas
reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos
Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade
deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos
avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes
soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do
comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos
professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto
Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)
que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes
No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo
fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles
jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de
como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo
conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente
aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos
foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os
resultados foram satisfatoacuterios
Metodologia
Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para
que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e
seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem
BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um
processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados
como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer
acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal
Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os
problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA
119
2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem
entre eles e seus docentes
Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)
de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que
preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas
que o afectam
A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que
auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir
de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise
documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees
em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias
como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que
aqui foram usados
O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o
curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de
forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do
problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram
dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus
docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que
a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem
livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)
Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as
intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas
ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os
que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)
Resultados
Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de
conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos
anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o
comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar
Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base
de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico
120
orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias
tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da
Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem
de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo
conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias
Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais
surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns
docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames
orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo
32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri
constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de
Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um
uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes
Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral
por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o
que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos
Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se
estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se
falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo
existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes
consideraram de impossiacutevel
Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem
a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas
satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes
Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes
aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais
questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo
Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes
falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo
acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees
de notas
121
Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo
que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos
temaacuteticos dos docentes
Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses
conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem
com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees
ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes
Consideraccedilotildees finais
O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP
Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os
docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses
conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares
apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a
perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em
realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em
Miacutedias entre outros
Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a
compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito
Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos
docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute
incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados
responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do
regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que
exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes
E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou
CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os
docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de
estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior
Assim propomos que
- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular
- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma
postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo
122
- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim
como dos estudantes
- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees
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124
Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais
Arauacutejo Manuel Arauacutejo26
Resumo
Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas
relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas
ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento
para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-
fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram
concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite
intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de
mecanismos para reduzir o impacto do fracasso
Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor
Summary
This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the
student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school
indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the
instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-
closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and
guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to
conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows
intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring
mechanisms to reduce the impact of failure
Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher
Introduccedilatildeo
O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute
muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica
pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados
de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte
bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo
moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram
26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico
na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica
125
especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas
e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando
Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os
professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos
O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100
estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de
108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria
Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes
e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do
tema de fracasso escolar
Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute
defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do
sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo
201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando
insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias
dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias
Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo
fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas
definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso
num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo
(Rangel sd9)
Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no
seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute
relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma
inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer
mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso
A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos
socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na
escola
O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o
papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a
sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa
126
Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a
mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste
artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as
causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao
meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo
do problema do fracasso escolar
1 Revisatildeo da literatura
O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo
actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente
estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma
missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar
Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir
o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de
lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como
cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor
(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave
a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante
dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo
escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma
posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O
correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer
coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve
ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo
chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso
escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como
sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo
(Lahire 1997 285)
Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um
estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por
uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de
127
um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo
visa alargar o conceito de insucesso escolar
A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos
factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes
apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia
conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo
Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da
profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo
(Lourenccedilo 2007 5)
No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos
professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o
nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa
Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal
das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da
capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser
intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz
Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a
percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos
estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do
meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema
2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas
Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que
surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste
trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo
Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui
uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das
diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute
estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso
escolar pelo natildeo empenho e maus resultados
Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar
satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos
no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado
128
como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-
escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a
fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta
No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100
estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a
favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala
de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o
professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por
turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12
estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes
argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do
trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes
entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo
convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no
iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que
50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o
nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas
que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por
turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos
Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos
levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas
zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex
facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado
para que um estudante se dedicasse aos estudos
3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar
O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os
factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo
da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos
corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd
10-12)
O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em
trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e
129
aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que
o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas
privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em
relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes
afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas
permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para
imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico
e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo
interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe
de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar
Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas
escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do
primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como
usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades
bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos
Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees
psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais
incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e
exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em
bom ou mau professor
4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz
com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras
instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo
deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares
Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos
pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a
certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero
O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra
claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a
130
falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados
para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar
Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo
natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio
dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor
natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo
de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e
fracassam
Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao
questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm
constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas
casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades
escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas
zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas
e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores
5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar
O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua
eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se
como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se
mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo
Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair
algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros
agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um
trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo
fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte
deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal
natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de
educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem
(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas
orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)
131
Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo
das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo
entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga
Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a
autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que
se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura
digna de valor
O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute
necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se
vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar
Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor
acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do
Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular
escolaharrfamiacuteliaharrGoverno
Conclusatildeo
O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que
acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e
encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser
tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo
nesta luta
Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as
causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de
saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e
resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e
tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)
Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo
destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar
da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a
profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga
criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas
132
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133
APEcircNDICES
Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)
Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
21 21 21 16 21
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
4 37 32 12 15
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
16 41 16 16 11
Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
11 16 16 37 20
15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
16 21 21 42 0
Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
CP C SO D DP
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
26 53 0 21 0
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
11 32 21 32 4
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32
Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72
Totais 445 685 380 513 260
Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________
Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________
_____________________________________________________________________________
134
Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)
Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)
Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas
Questotildees
Escala
IC SO ID
1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49
2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4
3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53
4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12
5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39
6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0
7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41
8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12
9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo
profissional aos alunos
42 21 37
10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de
Ensino e Aprendizagem
41 32 27
11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22
12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos
conteuacutedos
57 16 27
Total em numeral 653 207 323
Percentagem () 56 17 27
Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62
14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas
puacuteblicas
27 16 57
15 O director da escola visita as turmas 49 11 40
16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63
17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das
aulas
37 21 42
Total em numeral 142 94 264
Percentagem () 28 19 53
Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar
Questotildees
Escala
IC SO ID
18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52
19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola
quando convocados para tal
79 0 21
20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o
decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem
43 21 36
21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0
22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20
23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57
Total em numeral 335 79 186
Percentagem() 56 13 31
135
Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo
1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)
b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________
2 O que entende por fracasso escolar
________________________________________________________________________________
3 Como acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
4 Porque acontece o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5 Como pode ser superado o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
136
A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos
alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi
Antoacutenio Domingos Cossa27
Resumo
O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o
fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright
Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas
xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de
Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no
processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na
disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O
tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo
sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma
L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de
outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos
inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada
em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do
portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as
liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso
escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2
Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem
Abstract
This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon
of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov
Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on
school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to
analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language
relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana
students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in
inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14
speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu
languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit
grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning
situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School
failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in
secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages
are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle
and the lack of imput from second language associate
Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning
27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade
de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza
137
0 Introduccedilatildeo
A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e
se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas
diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o
mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um
indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas
Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a
importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se
essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como
um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de
um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da
glossemaacutetica e do gerativismo
As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de
WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos
sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute
precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse
estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se
encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa
Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a
heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e
que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser
o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica
Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor
dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia
dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo
linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema
ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf
Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo
No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos
alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis
a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os
alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a
verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica
138
do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos
niacuteveis imediatamente superiores
A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo
do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos
No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico
como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco
domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees
enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a
aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto
mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e
domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos
tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo
Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30
das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma
ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua
confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia
e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo
Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do
desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do
pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso
escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da
crianccedila
Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem
sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)
em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida
em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior
parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997
analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos
moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere
que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano
STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo
escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos
falantes
139
Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos
seguintes objectivos
- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-
aprendizagem liacutengua portuguesa
- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as
influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe
Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas
Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de
Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de
textos em liacutengua portuguesa
A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um
questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute
subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de
interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra
os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no
universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta
bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho
Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e
no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as
razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi
na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates
acadeacutemicos
10 Referencial teoacuterico
Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer
conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do
presente trabalho
11 Linguagem
Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre
si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de
140
comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo
utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens
Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de
meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos
Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a
Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e
permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas
gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e
uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal
funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da
comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma
informaccedilatildeo colocada em coacutedigo
Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias
de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em
uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma
determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees
12 Liacutengua
Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja
de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do
estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma
Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute
Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os
organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que
deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer
Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida
como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua
= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda
pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social
Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de
signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de
GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos
servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo
Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como
28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE
141
um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como
um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em
vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico
semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio
social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade
Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais
abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como
lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na
funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e
discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a
interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)
13 Liacutengua Materna (L1)
Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira
liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto
GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a
mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante
14 Liacutengua Segunda (L2)
Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna
que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante
Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia
oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda
a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do
paiacutes
Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos
Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a
presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O
outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o
principal objecto de estudo
142
15 Insucesso Escolar
No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois
duma mateacuteria bastante complexa e inerente
SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas
pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos
Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas
geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E
ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente
as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees
Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se
esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as
probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do
sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente
quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito
Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de
conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)
ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de
capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem
desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com
a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo
20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar
21 Argumentaccedilatildeo
Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave
superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem
observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP
COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico
moccedilambicano concluiu que
30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de
Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica
Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia
143
as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam
de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos
aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura
veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas
enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da
aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem
satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)
Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos
alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e
Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria
aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram
recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo
Xichangana e Cicopi
22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados
Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes
sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no
instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e
pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as
dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a
compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos
no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1
correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28
de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8
Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro
sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram
mais de trecircs livros fora do ambiente escolar
Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos
inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram
dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)
Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-
se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao
144
passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito
Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau
23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados
Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso
escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos
dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta
reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1
tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita
Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar
em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente
como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da
liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as
caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois
pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1
moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes
de outras liacutenguas Bantu nacionais
Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem
uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos
formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs
como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a
diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades
no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm
sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute
bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este
imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte
do seu tempo ao longo do dia
Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a
maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem
passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a
33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM
145
linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante
eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados
para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo
linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui
que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo
coacutedigo escolarrdquo
Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da
televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a
confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa
a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos
alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo
prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano
e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos
Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e
a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de
insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo
Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-
se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e
crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por
eles vivido durante o ensino primaacuterio
A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a
mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de
outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado
que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela
gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos
Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim
repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano
eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e
desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem
34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em
25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros
Horizontes 1976 pp20-39
146
Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir
conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na
praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos
falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita
DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de
semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue
em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila
natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa
fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a
estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo
Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo
domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes
na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona
urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos
alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do
ensino primaacuterio
Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia
os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43
alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram
responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a
qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o
coacutedigo elaborado praticado no PEA
A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe
um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-
pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento
de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no
acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da
liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e
insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias
das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas
e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel
Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da
avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do
147
insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no
PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado
caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino
Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento
impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem
concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o
lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos
influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal
Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia
semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o
primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro
Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem
tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes
alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de
leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes
Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia
de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos
as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram
problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por
conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes
3 Consireraccedilotildees Finais
O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a
fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo
para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola
que foi o campo do estudo
No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes
para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas
liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou
indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na
aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo
concreta de bilinguismo em Moccedilambique
148
Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um
impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica
massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado
coincidente com a liacutengua-alvo de ensino
A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa
etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na
apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute
condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo
Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de
vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o
insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem
todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica
linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno
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Cadernos de Pesquisa nordm 24 INDE 2001
150
Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas
suburbanas
Domingos Carlos Mirione36
Resumo
O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos
da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com
registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo
predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas
localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos
passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir
profundamente sobre essa tendecircncia
Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede
Abstract
This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of
the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive
record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for
male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the
female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for
this generation and should be deeply reflected on this trend
Keywords Game Recreation Physical activity Health
Introduccedilatildeo
O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas
pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo
Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)
cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste
do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo
36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do
Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula
151
O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de
todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser
uma das atividades mais realizadas pela mesma
Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem
diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber
qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros
Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que
podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa
Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros
comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo
prazo
O jogo e suas caracteriacutesticas
O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de
distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)
O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns
significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como
afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias
possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na
actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo
CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores
elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva
teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente
1 O jogo daacute prazer e diverte
2 Constitui um desfrute dos meios
3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido
4 Representa uma fonte de aprendizagem
5 Supotildee um acto de expressatildeo
6 Implica participaccedilatildeo activa
7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias
8 Constitui um mundo a parte
Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por
conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo
152
Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento
evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se
relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o
jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede
CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental
emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo
No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o
caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria
depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o
indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma
patologia o jogo patoloacutegicordquo
Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas
bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino
e apostas pela internet (SPRITZER 2009)
Classificaccedilatildeo dos jogos
O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil
Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)
OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros
classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na
literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos
Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que
distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos
desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia
de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que
mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se
divertir-se entreter-se
Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas
subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por
ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem
os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e
natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO
(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade
153
que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou
super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos
envolvidos
Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS
(1958) que distingue os jogos em
Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou
equipa de jogadores
Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria
natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de
cartas bingo lotaria etc
Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica
principal eacute a representaccedilatildeo
Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que
potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de
ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo
Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e
subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de
ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1
Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos
O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos
bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Jogo
Desportivo
Recreativo
Superactivo
Activo
Passivo
Agonal
Aleatoacuterio
Ilusoacuterio
Vertiginoso
154
Metodologia
O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos
suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o
Posto Administrativo de Muatala
Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo
complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente
treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00
horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas
semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar
registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de
desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns
membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento
Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a
frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes
Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos
predilectos das crianccedilas
Resultados
A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas
crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados
Tabela 2 Frequecircncia de jogos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem
1 Futebol 40 336
2 Naripito 19 16
3 Berlinde 8 67
4 Cheia 7 59
5 Neca 6 5
6 Namacachantho 6 5
7 Banana 6 5
8 Zero 5 42
9 Phada 5 42
10 Pino 3 25
11 Saca 3 25
12 Isa-isa 2 17
13 Matraquilho 2 17
14 Salto a Corda 2 17
155
15 Desconto 2 17
16 Corrida de Pneus 1 08
17 Trinta e Cinco 1 08
18 Dama 1 08
Total 119 100
Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia
se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336
seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma
frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59
Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6
que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5
vezes cada que corresponde a 42
Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde
a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto
com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada
Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados
1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada
Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do
sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)
Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Futebol 40 667 667
2 Berlinde 8 133 800
3 Pino 3 50 850
4 Naripito 3 50 900
5 Desconto 2 33 933
6 Matraquilhos 2 33 966
7 Dama 1 17 983
8 Corrida de pneus 1 17 1000
Total 60 1000
Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por
crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)
Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino
Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada
1 Naripito 13 271 271
2 Neca 6 125 396
156
3 Zero 5 104 500
4 Namacachantho 5 104 604
5 Banana 5 104 708
6 Phada 5 104 812
7 Cheia 4 83 895
8 Salto de corda 2 42 937
9 Isa-isa 2 42 979
10 Trinta e cinco 1 21 1000
Total 48 100
Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de
sexo feminino (tabela 5)
Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos
Nordm Nome do jogo Frequecircncia
1 Saca 3 273
2 Naripito 3 273
3 Cheia 3 273
4 Banana 1 91
5 Namacachantho 1 91
Total 11 100
Discussatildeo
Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas
O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades
diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente
estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim
inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo
como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo
definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo
cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das
regras do jogo
Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador
galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou
entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que
mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se
A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-
se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique
ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos
Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por
crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto
157
para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda
persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e
actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de
futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais
oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino
Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o
futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres
O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas
cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino
usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou
seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias
chamadas na liacutengua local de ripitos
Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em
que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma
mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino
Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas
vezes apostam dinheiro
Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo
feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais
provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de
dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados
em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)
OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam
no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e
raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos
pelo jogador para financiar o jogo
Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por
conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo
soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios
nessas crianccedilas
Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-
se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o
que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um
158
estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de
pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado
lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma
frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo
para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no
facto de ser um jogo de sorte
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem
aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente
Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e
cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola
Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de
activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou
que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece
ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula
Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de
aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)
desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por
linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para
que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100
desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e
corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam
em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel
O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de
aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros
paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo
lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a
bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo
efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma
moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro
quadriculado)
Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e
foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos
verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma
159
variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que
se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se
procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em
diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com
beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para
ganhar)
Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de
passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho
Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em
termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas
Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem
mais jogos recreativos passivos do que os meninos
De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de
matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser
classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de
agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas
Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas
crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino
O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o
mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave
medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e
consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual
Conclusatildeo
Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os
predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e
berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos
pelas crianccedilas do sexo feminino
Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos
o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de
Nampula
Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais
diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos
160
as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no
entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que
as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no
entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar
O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere
implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente
sobre essa tendecircncia
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162
Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em
alunos da Cidade da Beira Moccedilambique
Djossefa Joseacute Nhantumbo37
Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38
Resumo
O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave
Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter
descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432
raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O
crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)
tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico
SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas
como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades
consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na
maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes
evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o
maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos
enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes
em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o
presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre
estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC
cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos
Abstract
The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health
in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and
transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to
Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated
according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the
value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was
performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The
results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the
ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges
the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the
tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both
genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above
recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although
there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an
interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more
contextualized studies
Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students
37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo
especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)
163
Introduccedilatildeo
A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode
favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo
o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces
(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de
habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os
halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre
outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o
ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do
centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada
coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)
Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos
niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria
diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de
desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que
o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME
2003)
O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica
traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees
ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp
OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que
ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo
domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar
um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)
A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes
estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do
desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica
o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza
positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)
164
Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes
pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no
presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das
crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada
em casa na escola e nas brincadeiras
Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da
AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede
colectiva
Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em
Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA
et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com
crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste
domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em
contextos rurais (NHANTUMBO 2007)
Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos
padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por
conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a
populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de
avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no
acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no
sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da
cidade da Beira
Crescimento somaacutetico
As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees
sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos
haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees
significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)
Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento
internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um
determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o
165
crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do
que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)
Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma
populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos
educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as
necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al
2007)
A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de
primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas
tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al
2006)
Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos
componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a
fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)
Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal
como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem
ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da
sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes
comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute
nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)
Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular
fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que
traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia
ambiental (SILVA NETO 1999)
O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis
agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos
estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da
famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o
crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e
quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para
uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)
No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo
particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos
166
aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que
o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma
particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de
aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)
Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o
estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros
as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam
toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON
amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)
A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos
paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das
condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de
qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia
e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados
pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de
possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)
Aptidatildeo fiacutesica
O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem
sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como
ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma
oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)
O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas
ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo
intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)
Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas
principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades
fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave
forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-
dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um
comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp
PETROSKI 1999)
167
Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de
determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem
por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em
termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)
Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na
melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as
actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas
principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)
A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio
aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede
e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea
de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada
populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)
Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas
e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse
para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008
CLELAND et al 2008)
Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo
manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de
inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas
cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores
condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)
O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas
de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto
em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal
necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes
conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o
facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se
daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas
(BOumlHME 2003)
Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado
que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas
168
de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES
2002)
Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a
consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito
escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa
praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as
necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos
qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim
como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou
menos activo (Boumlhme 2003)
Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave
totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as
suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo
adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo
das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu
fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores
motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo
cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e
comportamentais (PEZZETA et al 2003)
Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis
com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de
sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser
aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar
factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas
Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende
a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida
(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo
Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua
realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado
fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de
sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a
participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)
169
Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e
vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas
que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988
ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de
mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa
possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados
estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza
hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de
executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo
tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de
desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)
Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo
de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de
componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta
vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com
aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao
dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas
perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as
funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)
Metodologia
A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e
comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da
Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432
raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira
pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da
Beira seleccionadas aleatoriamente
Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados
A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca
Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et
al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros
170
(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave
bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros
(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees
de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do
tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram
concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi
considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto
nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre
avaliados pelos mesmos observadores
Procedimentos estatiacutesticos
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150
com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1
Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da
distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de
estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas
nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas
independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar
o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a
interacccedilatildeo idade-sexo
Consideraccedilotildees eacuteticas
Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a
sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados
para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram
realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos
da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da
metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de
educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa
171
Resultados
Crescimento somaacutetico
A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da
OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da
amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os
resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade
significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo
significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de
dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES
et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos
(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados
iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas
Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)
Altura (cm) Peso (Kg) IMC
Idade
(anos) Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 429)
Meninos
(n= 443)
6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223
7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197
8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331
9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231
10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442
11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366
12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265
13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231
14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326
Anova II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais
Sexo F=4229 pgt001
Idade F=125433 plt0001
Interacccedilatildeo F=0462 pgt005
Sexo F=6115 pgt001
Idade F=94163 plt0001
Interacccedilatildeo F=2285 plt005
Sexo F=3579 pgt005
Idade F=28333 plt0001
Interacccedilatildeo F=3206plt005
Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas
e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com
os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o
impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos
apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de
11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as
normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos
172
da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico
mais alto
Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela
2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao
niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos
meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-
se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo
do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das
variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa
etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados
Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas
e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et
al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007
NHANTUMBO et al 2010)
Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas
apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6
8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados
anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos
Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039
Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049
IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097
No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de
IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas
(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal
decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados
meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais
proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria
Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial
evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da
173
mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por
NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC
com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado
com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos
valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de
referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS
Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento
somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA
1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de
Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)
espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional
residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes
Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da
maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo
feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no
presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental
especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo
Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede
Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em
anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em
todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas
de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma
tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades
embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram
encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes
do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al
2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et
al 2010)
Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste
efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da
idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de
174
acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de
desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia
directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal
(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos
apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas
idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na
prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade
sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os
meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das
idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso
Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute
interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo
mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos
Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos
A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos
meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8
anos
Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados
aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os
resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma
das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho
da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos
indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas
como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e
abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer
sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o
objectivo principal eacute terminar a prova
Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia
plusmn desvio padratildeo)
Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)
Idade
(anos)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 431)
Meninos
(n= 450)
Meninas
(n= 425)
Meninos
(n= 444)
Meninas
(n= 432)
Meninos
(n= 451)
6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619
7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258
175
8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335
9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219
10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109
11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90
12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151
13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120
14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134
Anova
II
Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001
Idade F= 3630 plt0001
Interacccedilatildeo F= 087 pgt005
Sexo F=12850 plt0001
Idade F=15355 plt0001
Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005
Sexo F=41891 plt0001
Idade F= 1918 p=005
Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005
Sexo F=24770 plt0001
Idade F= 211067 plt0001
Interacccedilatildeo F= 2215 plt005
Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo
etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao
analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram
situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer
situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos
sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os
maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14
anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta
faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da
massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)
Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de
os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em
tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al
2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas
somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o
desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best
como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos
indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De
facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo
evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em
praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados
Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo
Variaacuteveis
Meninas
(n=432)
Meninos
(n=451)
t
p
Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003
176
Abdominais 1303985 1556997 380 0000
Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000
Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000
Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das
crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas
diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis
(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)
A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do
Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos
anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto
urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais
(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade
destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos
Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em
idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547
crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo
de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em
aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas
respectivamente
Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da
milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de
um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade
de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva
destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria
mais inteligiacutevel
Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos
sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos
rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus
pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e
clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico
com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano
177
Consideraccedilotildees finais
Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam
valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades
consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior
parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com
o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em
quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de
elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de
corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do
recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas
para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas
as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da
idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece
existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja
inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo
sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais
ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com
abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente
variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal
estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos
factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da
Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da
actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo
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Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema
educativo moccedilambicano
Rafael Renaldo Laquene Zunguze39
Resumo
Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo
vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as
implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da
qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a
estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que
todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane
A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que
todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou
profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses
serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir
ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade
civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade
ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo
de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes
Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade
Abstract
With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or
professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the
implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the
quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique
to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted
that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The
sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all
respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into
the education system Although they do not have any reference or experience of these services
respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social
sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society
especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and
community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to
enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education
in the country
Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community
39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia
Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela
Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de
Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP
184
Introduccedilatildeo
Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo
dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano
realizada em 2015
A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo
vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou
estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de
graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas
nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam
as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria
Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados
do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino
moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio
destacando o papel preponderante da famiacutelia
O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional
e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do
trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de
educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se
conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso
natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os
problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar
para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de
certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto
final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa
determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa
actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida
Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e
Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser
fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado
deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios
185
com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave
velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional
Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em
Moccedilambique
No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a
metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as
consideraccedilotildees finais
Metodologia
Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes
e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe
Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da
Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por
questionaacuterio
No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir
da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram
elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de
informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que
facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e
pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos
Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a
apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em
alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de
desenvolvimento humano
Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de
busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais
bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se
traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da
qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa
real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)
186
Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma
avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve
incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo
profissional
A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais
podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias
nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo
Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e
aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou
ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas
Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho
Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze
2013293)
Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no
indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e
desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias
vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um
Projecto de vida
Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo
no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos
e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea
cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)
Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano
os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que
a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do
niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer
profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos
Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo
Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique
Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o
que vai incrementar a melhoria da qualidade
187
Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o
aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e
profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de
terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente
O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo
inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a
consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral
e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as
pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias
Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de
cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das
competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar
a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)
Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de
assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de
todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento
humano
Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam
pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do
lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)
Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados
Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da
introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha
necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano Porquecirc
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de
Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce
em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes
Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos
serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas
caracteriacutesticas e vontades
188
Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da
orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino
Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias
objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo
nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees
(Greaney e Kellaghan 201187)
No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias
vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as
competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute
incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees
Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da
Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento
estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o
diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o
desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em
grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam
apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade
Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na
qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como
instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar
Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional
poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento
estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para
que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias
professores e o proacuteprio estudante
Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio
exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos
conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino
Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e
aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o
189
proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o
desenvolvimento pessoal e social
Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza
uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades
destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas
puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra
inserido
A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco
tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras
De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo
procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na
anaacutelise dos dados
A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se
definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre
os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do
avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos
sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo
O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa
encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo
teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o
materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)
A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo
ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o
interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita
inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e
na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social
Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os
objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)
tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as
pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo
interpretativo
A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador
como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo
190
fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu
ambiente natural
Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com
os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o
processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista
como importantes
O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o
dinamismo interno das situaccedilotildees
Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo
fenoacutemeno como um todo na sua complexidade
Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido
polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo
Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade
natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma
vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em
orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e
exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico
satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade
Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a
orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para
quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na
universidade
Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens
modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar
em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a
concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e
profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter
informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego
eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa
Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram
que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino
191
De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo
iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho
para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor
A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser
humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em
funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e
sociais (Lassance 200515)
Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias
para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema
educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas
Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e
profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela
orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de
desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino
Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o
desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver
humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento
da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro
Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o
benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento
Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos
instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia
Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do
desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de
formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional
processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a
necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais
A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da
formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das
competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos
projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)
192
Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades
comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo
da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais
Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca
incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos
Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver
cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar
projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver
economicamente principalmente a minha localidade
Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as
capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados
para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como
colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e
cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio
No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos
tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas
antigas do trabalho social
Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo
vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria
A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo
concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da
Psicologia Vocacional
Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e
profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades
e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma
ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma
unidade em funcionamento
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a
superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de
desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a
participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos
problemas locais
193
Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes
segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum
desenvolvimento franco envolvente e permanente
Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o
apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto
frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da
educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento
(Greaney e Kellaghan 2011 9)
Consideraccedilotildees finais
A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar
em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse
pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio
A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade
em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo
Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e
Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento
Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional
conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino
Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico
acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela
populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento
eacute um ideal a ser alcanccedilado
A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com
cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre
as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e
oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)
Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos
de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de
vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a
ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e
enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo
194
As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade
na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de
expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees
Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos
populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo
no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes
comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo
O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre
buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e
pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante
da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do
desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou
profissionalmente
Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas
desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o
desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do
jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas
Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico
soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os
conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)
Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor
qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as
capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional
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1995
195
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LASSANCE Maria Ceacutelia Pacheco Adultos com Dificuldades de Ajustamento ao Trabalho
Ampliando o Enquadre da Orientaccedilatildeo Vocacional de Abordagem Evolutiva Revista
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PASCAL Roggero Avaliaccedilatildeo dos sistemas educativos nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia de uma
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vol 4 nuacutem 2 2002 Satildeo Paulo
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Orientaccedilatildeo Profissional com Crianccedilas Uma Contribuiccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Infantil Revista
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TENOacuteRIO Robinson e LOPES Uaccedilai (org) Avaliaccedilatildeo e gestatildeo teorias e praacuteticas Salvador
EDUFBA 2010
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DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz
e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)
196
Apecircndices
Universidade Pedagoacutegica
Questionaacuterio dirigido aos docentes
O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e
possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo
moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado
para fins meramente acadeacutemicos
Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________
NiacutevelGrau onde lecciona________________________________
1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema
educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional
vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por
competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da
qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no
Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________
Porque______________________________________________________________________
197
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____
Porquecirc______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos
serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______
8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de
orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional
devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos
de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento
humano________Justifique__________________________________________________
_
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo
198
Amorosidade como componente pedagoacutegica
Elisabeth Jesus de Souza40
Resumo
O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo
Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica
como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade
Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de
Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo
eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista
pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma
consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha
minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica
Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil
Abstract
The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early
Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the
practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a
Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de
Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education
is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for
respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path
of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary
choice love is only a pedagogical utopia
Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education
Introduccedilatildeo
O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado
de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em
situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista
em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele
veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como
40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom
elisabethjesusdesouzagmailcom
199
possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de
meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os
sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar
Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da
discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um
consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da
educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso
O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como
Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos
uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e
dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo
ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores
poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja
ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a
importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases
teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma
base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional
1 O que eacute amorosidade
() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da
libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato
de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de
manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute
amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o
amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo
amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo
Paulo Freire
Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a
praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora
para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma
corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta
200
Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor
uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao
fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor
seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila
Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre
educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel
mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando
de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser
sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador
Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando
O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de
libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a
crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu
olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente
Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos
quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem
desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse
contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de
vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia
A seguir relato de experiecircncia
Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de
trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus
favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte
fala
― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver
uma delas morta
(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)
Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com
essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute
trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se
traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos
201
Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes
educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus
favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas
apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam
que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar
A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele
momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo
que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto
que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo
como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila
Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir
nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido
Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas
No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros
colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente
uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo
alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para
ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz
Schettini
Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual
ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute
talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a
importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma
pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)
Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo
afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que
temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para
manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude
Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo
deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe
despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia
202
A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que
cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a
amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido
Relato a seguir uma experiecircncia
Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois
meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila
resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar
No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de
inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo
em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia
mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de
sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com
forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente
se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque
trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos
um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem
A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de
permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se
bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e
prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia
bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades
cotidianas da escola
Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de
socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as
brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e
apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras
disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora
chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de
Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo
somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de
memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc
(Caderno de campo- junho de 2016)
A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas
felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos
nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o
que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus
tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma
relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites
sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo
203
A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo
na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente
consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas
de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem
duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica
sob a responsabilidade da avoacute materna
Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de
que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma
repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que
era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas
possiblidades
Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se
minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no
ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a
exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala
seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades
pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de
contextualizaccedilatildeo
A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma
crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa
crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute
perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito
constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque
o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo
hegemocircnica
2 Os Sujeitos da Amorosidade
Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como
sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade
acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e
vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo
ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade
204
Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que
assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos
soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave
dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e
praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo
gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)
Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o
educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua
proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao
mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia
Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo
Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por
parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade
epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo
ensino-aprendizagem na praacutetica educativa
Segundo a professora Cristiane
Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim
sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais
significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)
Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos
da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o
educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo
somente ensina como tambeacutem aprende
A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno
motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua
praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo
significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando
3 Amorosidade e Inclusatildeo
Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo
essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para
mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete
Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo
205
Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem
sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo
para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu
necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma
simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma
movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo
como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O
ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem
amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente
Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A
questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande
relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do
amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo
Segundo a professora Letiacutecia Lucas
Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como
saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos
do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)
Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia
entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do
fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao
enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica
seraacute maior
Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos
das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta
permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos
Conforme Martins
Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da
nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de
intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos
(MARTINS 2015 P 47)
De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do
educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo
206
como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra
resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver
sendo acolhedora ou excludente
A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem
determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador
social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da
educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo
satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz
respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora
Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando
no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres
humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo
fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor
A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao
amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees
docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos
podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc
professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica
Para a professora Anoil
Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de
magisteacuterio)
Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade
eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas
atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A
amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o
aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial
4 O que eacute amor
A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos
coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a
introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente
207
Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior
destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)
Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima
de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos
esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu
efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens
entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes
que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me
acrescentaraacute
Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e
o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo
que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da
outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os
que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria
experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade
Podemos ver a seguir de forma praacutetica
Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo
quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor
explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida
atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta
passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas
que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era
um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados
segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves
pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)
Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o
amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como
componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a
amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores
intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute
ultrapassar os muros da sala de aula e da escola
A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo
infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
208
Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi
realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o
funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas
respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade
escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos
a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas
como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico
que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor
humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro
de 2016)
Conclusatildeo
Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma
questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da
conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da
aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade
o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos
precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na
maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema
capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes
educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta
indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com
maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute
sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou
simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas
salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na
educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de
nossas praacuteticas docente
Referecircncias Bibliograacuteficas
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo
Paz e Terra 2011
209
MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo
Paulo Expressatildeo e Arte 2015
SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis
RJ Vozes 2010
YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento
Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016
210
ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um
contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e
incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
Acircngelo Ameacuterico Mauai41
Resumo
Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na
interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia
e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos
de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo
que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que
usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam
entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-
se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese
defendida no discurso
Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva
Abstract
The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between
interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in
the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo
program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors
claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or
compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The
deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner
and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse
Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy
1 Introduccedilatildeo
Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a
consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido
ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras
assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura
manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42
41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses
Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na
Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de
problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da
Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)
211
Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um
comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de
Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo
ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero
discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob
moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do
comentador Fernando Lima (FLL2)
O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos
acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia
de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo
qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como
um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees
dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva
tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos
interlocutores (Gumpez 1989)
Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo
(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da
face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam
discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo
como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas
pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de
Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos
basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada
Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da
anaacutelise efectuada
2 Consideraccedilotildees teoacutericas
Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-
imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos
negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando
43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos
212
aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em
termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de
face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma
eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico
John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica
Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem
cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e
atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com
ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes
sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006
4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas
lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de
poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave
interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e
contribuem na construccedilatildeo do significado
As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas
dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem
culturalmente Assim
uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por
especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo
necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de
seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que
faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2
apud Almeida 2012 14)
As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do
geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora
da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o
contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo
interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia
sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo
213
3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia
discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV
31 A (des)cortesia verbal
A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das
faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza
negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de
cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo
na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto
interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45
na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo
haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento
comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo
(Almeida 2013 61)
311 Rituais verbais na abertura do Programa
Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute
investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem
em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar
as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das
comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees
interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao
equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes
No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional
estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves
necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi
directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos
interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de
acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees
O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva
assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional
relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas
45 Citado por Almeida (2013 61)
214
principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que
modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os
assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem
organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de
equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman
1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo
A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma
conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo
instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e
fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a
interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como
componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em
contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte
JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com
mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um
novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico
pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro
substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este
ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste
Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa
(hellip)
As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a
manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)
reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a
coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo
46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees
natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades
discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque
se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito
ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)
215
Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas
discursivas
JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite
Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram
mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo
sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo
e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge
Ferratildeo
Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o
ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os
interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo
(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do
toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial
da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o
entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo
Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a
estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e
despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia
Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012
112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento
conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo
e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face
threatening acts - (Brown e Levinson 1987)
312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como
forma de persuasatildeo
Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz
perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos
observar nas sequecircncias abaixo
216
[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai
sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e
regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para
Jorge Ferratildeo]Pergunta
De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias
satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na
construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado
natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros
ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos
ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item
intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da
face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os
admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto
uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um
acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O
locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que
revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo
O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com
objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta
mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)
esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta
interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da
expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom
emocionado
FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles
espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem
ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem
palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas
natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim
tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional
sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a
questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste
217
sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu
tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de
moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado
Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve
ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute
uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel
social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de
valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica
da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos
conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)
Veja-se o enunciado
ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos
ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou
levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema
educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento
O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos
telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens
de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro
foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o
do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila
da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A
convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo
discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez
reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar
o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de
Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor
da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador
218
[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente
que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um
sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo
mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece
muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o
Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese
Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que
modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante
natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como
tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud
Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de
contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo
dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais
descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu
exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional
criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia
constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2
apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do
Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca
incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo
O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila
intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto
de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui
estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma
anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo
para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo
podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a
educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem
pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a
47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do
uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr
Jorge Ferratildeo
219
educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar
adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de
assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua
e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este
juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e
eacute uma forma de descortesia
313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo
O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e
Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e
passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado
para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo
L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute
nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu
um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com
a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo
democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica
destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o
reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder
poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico
Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave
nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua
aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo
nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos
respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se
encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs
nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo
por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor
Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo
e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior
220
onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem
participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa
sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das
Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse
sentido o L2 reage nos seguintes termos
L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e
tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo
dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um
processo que encerra em si esta nuance de democracia
Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por
um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista
da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de
diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo
desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de
conferir a legalidade da decisatildeo tomada
O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este
filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes
processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para
dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe
eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante
O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de
argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a
aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma
encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo
invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da
conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa
evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o
argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo
avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade
geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser
221
interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho
Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade
pessoal do Presidente
314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo
Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das
ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman
1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP
expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector
em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme
podemos entender no excerto
A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que
universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais
diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem
sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras
credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-
se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a
si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada
ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir
Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face
nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo
quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do
locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e
outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua
face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o
diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem
reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia
ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um
comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos
actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um
programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar
que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do
222
funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo
que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais
A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas
muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na
interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo
(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de
conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de
intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos
quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua
licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus
conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes
32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo
O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino
vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de
ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse
sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a
transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e
tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema
educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo
em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo
O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano
teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos
quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra
maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os
graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia
pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus
de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as
faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante
os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge
Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua
nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute
um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou
223
impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio
criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a
melhorar a sua imagem puacuteblica
4 Conclusotildees
Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se
manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as
estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As
sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das
faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo
conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou
comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a
intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma
descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de
que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua
nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo
Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua
nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica
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RApdf
226
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apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar
ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a
metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees
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admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto
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228
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Editora
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Exemplos
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professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e
OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo
Horizonte Editora UFMG 2014 (pp 120-132)
DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na
mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012
MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do
Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare
Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica
2014 (natildeo publicado)
MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995
NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em
sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI
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