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Anais da
Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435
XX Semana de Pedagogia da UEM VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
Universidade Estadual de Maringá, 17 a 20 de setembro de 2013.
JOHN LOCKE: CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
MARTINS, Raquel Fernandes [email protected]
ZANATTA, Regina Maria Zanatta (orientador) [email protected]
Universidade Estadual de Maringá Fundamentos da Educação
INTRODUÇÃO
Este artigo explicita os princípios do experimentalismo fundado por John Locke, no
século XVII. Caracteriza o conhecimento e o seu desenvolvimento educativo tendo a
experimentação como seu fundamento. Este pensador confronta seus princípios educativos
que são adquiridos pela prática, pelos sentidos, pela experimentação aos de Descartes,
pensador do mesmo período, que entende que o conhecimento é inatista, ou seja, que nasce
com o homem, e que para desenvolvê-lo necessita do raciocínio, desprezando os órgãos dos
sentidos. Portanto, expõe este trabalho duas versões sobre o mesma tema: o conhecimento,
aquisição e desenvolvimento.
Trata-se de uma pesquisa exploratória, de cunho bibliográfico, cujas fontes primárias
reportam-se ao período inicial da Modernidade, sendo as obras utilizadas: Cadernos sobre a
Educação e Ensaio Sobre o Entendimento Humano, de John Locke; e o Discurso do Método
de Descartes. As fontes secundárias servem de suporte teórico para esclarecer questões
abordadas acerca do experimentalismo e do racionalismo.
Neste período, século XVII, surgem muitas discussões a respeito de como se adquire o
conhecimento e várias teorias são formuladas. É diante destas formulações que John Locke e
Descartes expressam suas ideias, o primeiro sobre o desenvolvimento do pensamento, do
conhecimento humano, tendo como base fundamental o experimentalismo; o segundo
abordando as bases do racionalismo que levam ao desenvolvimento do conhecimento.
Anais da
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XX Semana de Pedagogia da UEM VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
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Portanto, esta pesquisa torna-se relevante para os profissionais da educação, uma vez
que busca o esclarecimento sobre o pensamento de John Locke e de Descartes acerca da
educação de seu tempo e, ainda, porque suas formulações são de importância para a
atualidade na compreensão do processo do desenvolvimento do pensamento, tendo a
educação como seu caminho de expansão, e na direção de muitas pesquisas.
RACIONALISMO E EXPERIMENTALISMO: CONTRAPOSIÇÕES TEÓRICAS
A partir do século XVII, surgiram muitas discussões acerca de como se processava o
pensamento humano diante do conhecimento. Vários autores se destacaram procurando
encontrar uma resposta aceitável para as questões de como era adquirido o conhecimento e
como este se processava no pensamento. As indagações mais frequentes eram sobre: se o
indivíduo já nascia com o conhecimento ou se o adquiria. As discussões realizadas resultaram
em várias teorias sobre o conhecimento, sobre o raciocínio, sobre o experimentalismo, sobre o
próprio pensamento. Teorias que atualmente são estudadas para fundamentar variadas
pesquisas. É deste período que se caracterizaram as teorias racionalistas, as sensualistas
(sentidos) chamadas também de experimentalistas e que influenciaram vários autores em
períodos subsequentes. Entre conhecidos autores que foram influenciados pelo pensamento
racionalista e sensualista pode-se citar: Kant e Rousseau, e outros mais.
As mudanças ocorridas na sociedade feudal provocaram muitas transformações no
mundo. A visão do próprio universo, a visão da vida e o pensamento do homem
acompanharam as mudanças. Assim, a maneira de entender o mundo, a sociedade, os homens,
foi se reformulando e modificando todos os setores da sociedade, todas as suas instituições,
fosse no âmbito religioso, educacional, intelectual, político e ou econômico.
Pessanha (1999, p. 7) afirma que “O século XVI foi uma época de profundas
transformações na visão de mundo do homem ocidental, época marcada por verdadeira paixão
pelas descobertas”, sendo assim, o próprio homem passou a se pesquisar, a se descobrir como
homem que pensa e formula seus pensamentos por intermédio de seus conhecimentos.
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Vários pensadores começaram a preocupar-se com a organização do pensamento.
Iniciaram sua investigação com estudos e observações a respeito do raciocínio, e buscaram
fundamentação em autores da Antiguidade, como Platão e Aristóteles.
Descartes (século XVII) formulou suas ideias sobre o pensamento e foi cognominado
o pai do racionalismo, porque toda a sua elaboração filosófica se constituiu pelo raciocínio,
desprezando os sentidos que acreditava não levarem à verdade absoluta. Suas ideias foram
predominantes naquele período, mesmo sendo contestado com várias controvérsias. Este
pensador partiu do pressuposto de que o indivíduo já nascia com o conhecimento.
Descartes, procurando conhecer a si mesmo e utilizando a dúvida como seu método,
acreditava que o conhecimento era inato, ou seja o conhecimento estava no interior do homem
desde o seu nascimento e que para desenvolvê-lo era necessário duvidar de cada coisa,
duvidar de qualquer conhecimento sobre as coisas que pensava até que o pensamento não
pudesse mais gerar ou encontrar nenhuma dúvida. Quando atingisse esse ponto de não mais
poder duvidar sobre o que pensava teria chegado à verdade.
Assim, o conhecimento para este autor era a busca da verdade por intermédio do que
se constituiu como seu método: a dúvida. Com seu método encontrou em si mesmo o que
chamou de "primeiro princípio da filosofia", a verdade indubitável: cogito, ergum suum,
"penso, logo existo". Sua obra principal foi o Discurso do Método, expressando suas
angustias para encontrar a verdade das coisas e demonstrando como o método da dúvida o
havia auxiliado. Foi considerado o “pai da filosofia moderna”, pai do racionalismo, uma vez
que usava apenas o raciocínio para chegar à verdade não dando importância aos órgãos dos
sentidos, às experiências ou à práxis. Esta teoria sobre o conhecimento mesmo provocando
muitas controvérsias, foi na esteira de seus pensamentos que outros pensadores expuseram
suas teorias ora se aproximando, ora se afastando delas, mas buscando encontrar um caminho
que os levassem a encontrar como se formula e como se desenvolve o pensamento.
Diante deste contexto, em que muitos buscavam compreender o mundo sob uma nova
visão, John Locke, como Descartes, também, expressou seus pensamentos. O móvel do
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conhecimento para este autor se distanciou do de Descartes. Enquanto Descartes valorizava o
raciocínio, a razão pura, Locke valorizou os sentidos a experimentação, a práxis. Seus estudos
abordaram a formação do pensamento, o desenvolvimento do conhecimento e do raciocínio
por intermédio do experimentalismo, por isto foi considerado o pai do experimentalismo.
Investigou como a criança adquire o conhecimento e como as formas de pensamento mais
complexas são, também, elaboradas e desenvolvidas.
Assim é que John Locke divergindo das ideias de Descartes, mas influenciado por ele,
porque é partindo de um conhecimento construído que se pode criar e desenvolver outro,
formulou seus pensamentos sobre o conhecimento e elaborou a teoria do experimentalismo
que se opõe à ideia inatista do conhecimento, em que o sujeito nasce com o conhecimento e
que é preciso usar somente o raciocínio para desenvolvê-lo, ou seja, se opôs ao racionalismo,
valorizando os sentidos.
Os Cadernos sobre a Educação são escritos por Locke expressando sua preocupação
com a educação das crianças e dos jovens. Elabora situações que exemplificam como os
adultos influenciam, com sua conduta e seu caráter, a educação das crianças. Demonstra como
se deve educar em situações reais do cotidiano, questões que atualmente nos servem de
indicativos para a educação, seja no âmbito familiar, seja no escolar. Comenta sobre como a
falta de moderação do adulto pode desviar o comportamento da criança fazendo dela uma
pessoa adulta de maus hábitos ou princípios.
As obras de Locke se diferenciam muito das de Descartes porque enquanto Descartes
busca em si mesmo encontrar a verdade pelo caminho do racional, Locke busca na vivência
das pessoas, os exemplos que influenciam o conhecimento, o pensamento e as ações das
crianças, uns que favorecem a boa educação e outros que a impedem.
No entanto, com propostas diferentes, tanto John Locke quanto Descartes foram
pensadores que com suas importantes obras influenciaram e impulsionaram tantos outros
pesquisadores a se aventurarem em pesquisas sobre a formação do pensamento humano, sobre
a educação.
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DESCARTES, O PAI DO RACIONALISMO
Nascido aos 31 de maio de 1596, na aldeia de La Haye, filho de Joaquim, conselheiro
do Parlamento da Bretanha, e de Jeanne, que faleceu antes que Descartes completasse dois
anos de idade. Morreu em 1650, em Estocolmo, vítima de pneumonia.
Descartes estudou no colégio jesuíta La Fleche durante os anos de 1614 e 1618 quando
foi para a Holanda realizar a instrução militar. É o início da Guerra dos Trintas anos, no ano
posterior foi para a Alemanha. Renunciou à vida militar em 1620 e retornou à França em
1622. Durante suas viagens pela Europa, Descartes escreveu sobre suas teorias acerca do
pensamento e outros temas, incluindo temas espirituais. Algumas das suas obras não foram
publicadas por temer que a Inquisição o condenasse, como havia feito com Galileu em 1633.
Descartes buscava respostas que pudessem satisfazer suas inquietações, assim como
Sócrates e Platão o fizeram na Antiguidade quando buscavam explicações em discussões
exaustivas e quase que intermináveis sobre uma determinada questão, como se pode verificar
em uma passagem da obra A República de Platão:
Sócrates: -Pronunciadas estas palavras, julgava eu que estava livre da discussão. Mas, de fato, era apenas o início, ao que parece. Efetivamente, Glauco, que é sempre o mais destemido em tudo, também nessa altura não aceitou a retirada de Trasímaco, e disse: Glauco: -Sócrates, queres aparentar que nos persuadistes ou persuadiu-nos de verdade, de que toda a maneira é melhor ser justo do que injusto? (PLATÃO, 2004, p. 44).
Embora o contexto seja diferente, mas ilustra como as discussões se alongavam até
que se encontrasse um comum acordo sobre determinada definição ou conceituação. Neste
caso se apresentava uma discussão dialogada e que tinha como método a dialética. No caso de
Descartes, não se apresenta um diálogo, mas um raciocínio que explora seus próprios
pensamentos para atingir a verdade ou a definição última, mas um raciocínio que se alonga
enquanto toda e qualquer dúvida não é totalmente excluída.
Descartes em suas reflexões introduzia os mais diversos temas como a paixão, o ódio,
o amor, o espanto, a admiração, a indignação, as lágrimas, a estima, o desprezo, a esperança, a
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coragem, o medo, o remorso, a zombaria, o pensamento e outros. Este autor, não fixava sua
atenção apenas em um assunto, pois uma reflexão levava à outra, formando uma colcha de
retalhos intelectual que cobria sua forma de pensamento, uma cadeia de pensamentos. Porém,
em todas as suas respostas havia o pressuposto de que o homem já nasce com o conhecimento
formado e a partir de sua experiência, com o já conhecido, construía sua cadeia de razões.
Essas longas cadeias de razões, todas simples e fáceis, de que os geômetras costumam se utilizar para chegar às demonstrações mais difíceis, haviam-me dado oportunidade de imaginar que todas as coisas passíveis de cair sob o domínio do conhecimento dos homens seguem-se umas às outras da mesma maneira e que, contanto que nos abstenhamos somente de aceitar por verdadeira alguma que não o seja, e que observemos sempre a ordem necessária para deduzi-las umas das outras, não pode haver, quaisquer que sejam, tão distantes às quais não se chegue por fim, nem ocultas que não se descubram (DESCARTES, 1989, p. 45).
Segundo Pessanha (1999, p.17) as obras de Descartes são focadas nas ciências,
compreendendo sua insuficiência em pesquisar e resolver problemas científicos sem
conseguir justificar a legitimidade da ciência. Seu objetivo era comprovar matematicamente a
existência de Deus, uma vez que a matemática, por ser exata, deveria levar a um conceito
indubitável. Mas sempre suas pesquisas foram buscadas por intermédio do seu interior como
ponto de partida para o encaminhamento de seus raciocínios e do verdadeiro conhecimento.
Dentre essas ideias, umas se me afiguram ter nascido comigo, outras ser estranhas a vir de fora, e as outras ser feitas inventadas por mim mesmo. Pois, que eu tenha a capacidade de conceber o que é aquilo que em geral se chama uma coisa ou uma verdade, ou um pensamento, parece-me que não tenho ou obtenho em outra parte que não seja em minha própria natureza; mas se ouço agora um barulho, se vejo o sol, se sinto o calor, até o presente julguei que estes sentimentos se originavam de algumas coisas que existem fora de mim; e, enfim, parece-me que as sereias, os hipogrifos e todas as outras quimeras semelhantes são ficções e invenções do meu espírito (DESCARTES, 1999 p. 273).
Assim, uma das máximas de Descartes era de nunca aceitar algo como verdadeiro
antes de comprovar sua veracidade, ou seja, compreender profundamente qualquer assunto
antes de tê-lo como verdade era imprescindível antes estabelecê-lo como algo indubitável.
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JOHN LOCKE, PAI DO EMPIRISMO
Jonh Locke nasceu na Inglaterra, em 1632, filho de advogado calvinista liberal,
recebeu uma formação fortemente religiosa. Estudou em Oxford e teve vários cargos
importantes na sociedade monarquista inglesa. Assim como Descartes, realizou muitas
viagens pela Europa. Sua preocupação sobre a formação do homem levou-o a sedimentar
alguns estudos sobre o pensamento humano. Em 1681, este estudioso, foi acusado por
conspiração contra a monarquia, refugiando-se na Holanda. Morreu em Harlow, em 1704.
Foi considerado como pai do Liberalismo e do individualismo liberal, além de fundador do
Empirismo. Sua obra mais importante foi Ensaio sobre o entendimento humano escrita em
1690. Desenvolveu sua teoria sobre o conhecimento propondo que a fonte do conhecimento
está na experiência e que é desenvolvida por intermédio da razão.
Ao defender sua teoria, o autor, se contrapôs à teoria de Descartes. Este dizia que o
homem nasce com o conhecimento e Locke afirmava que o homem nasce sem nenhum
conhecimento, que o conhecimento é adquirido pela experiência, por meio dos sentidos.
Explicava, então, que o homem ao nascer era como uma tabula rasa, termo utilizado pela
expressão latina que significa “tábua raspada” como se fosse uma “folha de papel em branco”.
Estas tábuas, cobertas com uma fina camada de cera, eram usadas na Roma Antiga para
escrever com o auxílio de um estilete. Eram denominadas de tabula rasa, porque as inscrições
poderiam ser apagadas e novamente inscritas.
Assim, Locke se opondo às ideias inatistas de Descartes, deu exemplos dessa
discordância na sua obra Ensaio sobre o entendimento humano. Sem discordar da existência
de Deus, Locke atribuiu ao próprio homem a capacidade de produzir seu pensamento e
expressá-lo por intermédio da palavra, da linguagem, de maneira diferente dos animais que o
fazem por repetição ou imitação:
É por isso que o homem tem naturalmente órgãos aptos a formar sons articulados a que chamamos palavras. Mas isso não chegava para produzir a linguagem; porque podemos ensinar os papagaios e várias outras aves a
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pronunciar sons articulados e bastante diferenciados, e nem por isso eles são capazes de linguagem (LOCKE, 1999, p. 541).
Locke defendia que é impossível alguém que não tenha recebido, antes no seu espírito,
pela via natural, a ideia simples que representa qualquer palavra, chegar a saber seu
significado por meio de outras palavras ou sons, porque é necessário primeiro aplicar aos seus
sentidos o próprio objeto para depois produzir a ideia de conhecimento, já produzida na
sociedade, fazendo a conexão entre o vocábulo expresso oralmente ou escrito e o seu
significado (LOCKE, 1999, p. 577).
Apesar de não concordar com as ideias inatistas de Descartes, Locke (199, p. 856)
acreditava que cogito, ou seja, eu penso, o sujeito, é pressuposto inevitável de todo o
conhecimento. Diante disto, afirmava que a mente humana só conseguia obter conhecimento a
partir de suas experiências vividas. Este processo era denominado por Locke de "empirismo”,
contrariando algumas ideias de Descartes tais como a de extensão, de perfeição e outras.
Nos cadernos Alguns pensamentos sobre a Educação (1693) o autor demonstrou como
a criança deve ser tratada em seu mundo exterior. A preocupação sobre a educação da criança
recaia sobre o fortalecimento do corpo para enfrentar qualquer situação, sobre o
desenvolvimento da inteligência para poder receber qualquer conhecimento e saber
desenvolvê-lo. Deveria a criança receber uma formação que a constituísse in corpore sano,
mente sana.
Para adquirir esta constituição Locke escreve nestes cadernos muitas recomendações
aos pais, aos mestres, aos preceptores. Estas recomendações são baseadas nas observações
que fazia sobre a educação realizada no período. Explica que a criança não deve ser educada
para se tornar um fidalgo, ou para exibir certa erudição, deve receber uma educação para a
vida prática, para homens de negócios, ou seja uma educação burguesa.
Uma das recomendações é sobre como o sono. A criança deveria acordar cedo,
independente do horário que fosse dormir, pois esta atitude o ajudaria a evitar a ficar em
estado de sonolência na melhor parte e mais útil da sua vida, quando homem. Recomendava
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que o leito da criança deveria ser duro porque fortaleceria seu corpo e o sono seria o tônico da
natureza. Estas recomendações se faziam necessárias, para que as crianças após o
crescimento, quando tivessem que viajar a negócios não estranhassem o leito e nem as
intempéries do tempo que deveriam enfrentar (LOCKE, 1999, p.166-7).
Outra questão fundamental que Locke defendeu para administração da educação da
criança, foi a necessidade de se empregar o castigo.
Assim, não se lhe pode indulgenciar. Porém, para curá-la, deve-se preferir a vergonha à aspereza. Portanto, se, quando um filho for questionado por qualquer razão, sua primeira resposta for uma desculpa, adverti-o com seriedade a contar a verdade. Então, se persistir esquivando-se com uma falsidade, precisa ser castigado. Mas, se confessar diretamente, deveis distingui-lo pela sinceridade e perdoar-lhe a falta, seja ela qual for. E perdoá-la de tal modo, que jamais torneis a mencioná-la ou a repreendê-lo. Porque, se quereis que ele ame a sinceridade e que, pelo exercício constante, torne-a um hábito, é imperioso que tenhais o cuidado de fazer com que ela jamais lhe cause o mínimo inconveniente. Entretanto, de modo contrário, sua própria confissão, além de ser sempre acompanhada de perfeita impunidade, deve ser encorajada por alguns sinais de aprovação (LOCKE, 1999)
Desta forma, Locke acreditava que a criança deveria adquirir consciência de seus erros
desde cedo, sofrendo as devidas consequências. No entanto a confissão de qualquer erro
deveria ser levada em consideração como estímulo para não esconder seus erros ou não
mentir sobre atitudes errôneas.
Contudo, para Locke o meio em que a criança vive é essencial para sua aprendizagem,
bem como a presença do adulto para dar-lhe uma orientação correta e segura. Por isto refere-
se, constantemente, ao local em que a criança está vivenciando suas experiências, seja em
relação ao sono, à alimentação, à realização das funções físicas primárias (intestinais), aos
brinquedos, aos exercícios físicos, etc. Seus escritos são fundamentais para pesquisa sobre a
aprendizagem, para os cursos de formação de professores que terão oportunidade de
reconhecer, neste autor, os fundamentos filosóficos teórico e práticos que constituem a base
da educação ainda para a atualidade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O período vivido pelos autores abordados, Descartes e Locke, se constituíram em
importantes balizadores educacionais. Foi um período de grande descobertas, de discussões
acerca da formação do pensamento humano, do processo de conhecimento e do próprio
raciocínio. Os escritos destes autores influenciaram inúmeros outros pensadores no século
vivido por eles e nos séculos posteriores, são reconhecidos até hoje pelos estudiosos de várias
áreas e suas obras são fontes importantes para fundamentar variadas pesquisas.
Tanto um quanto outro, estes autores produziram grande polêmica com suas obras,
Descartes escreveu algumas considerações em resposta às controvérsias. Os estudos que
realizou sobre a matemática despertou-lhe a vontade de encontrar uma fórmula que pudesse
levá-lo à conceitos verdadeiros como o raciocínio matemático levava à exatidões irrefutáveis.
O Discurso sobre o Método demonstra o esforço do autor para encontrar meios de provar a
existência de Deus e o uso da dúvida como um meio de chegar à verdade de todas as coisas,
criando assim o que considerou como primeiro princípio da filosofia: cogito, ergum suum.
Todo o desenvolvimento de suas pesquisas se basearam no racionalismo, tendo a priori que o
conhecimento é inato no homem, e o raciocínio é o móvel para a descoberta e o seu
desenvolvimento.
Locke, por sua vez, também produz suas obras despertando muitas discussões entre os
intelectuais do período. Principalmente por se posicionar contrário às ideias do inatismo,
desenvolvida por Descartes, que eram bastante aceitas pelos cristãos. As ideias de Locke
afastando-se deste caminho, observa o mundo exterior para elaborar seus pressupostos
teóricos. Em vista disto enuncia que o conhecimento é adquirido pela prática, pela
experiência, pelo convívio com as pessoas que poderão ser eficazes na educação da criança
como poderão ser prejudiciais.
Locke, considerou, então, que o homem ao nascer era uma tabula rasa e todo o
conhecimento era formado em interação com o meio, com outros indivíduos que, com suas
atitudes e com as atitudes em relação à criança, proporcionariam exemplos educativos, um
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modelo a imitar ou seguir. Locke considerou, portanto, que todo ato cognitivo implica na
dualidade sujeito-objeto, e este é cognoscível (LOCKE,1999, p. 856).
Desta forma, para Locke, o indivíduo só podia adquirir o conhecimento e formar seu
pensamento por meio do que era percebido pelos sentidos. Nos cadernos Pensamentos sobre a
Educação, Locke exemplifica como deve ser a educação da criança e do jovem, em variadas
situações visando o desenvolvimento de um físico saudável, uma mente sã e uma conduta
moderada. Uma educação mais compatível com para homens de negócios e não para fidalgos.
As observações delineadas nesta pesquisa, sobre os dois autores, se apresentam como
um esboço a ser, ainda, aprofundado, mas possui elementos que poderão esclarecer aspectos
diferenciados entre as teorias expostas, no que diz respeito à educação, o que vem conferir-lhe
relevância.
REFERÊNCIAS BATTISTI, C. Augusto. O método de análise em Descartes: da resolução de problemas à constituição do sistema do conhecimento. Cascavel: Edunioeste, 2002.
DESCARTES, Renè. Discurso do método. Tradução de E. M. Marcelina. São Paulo: Ática, 1989.
GHIGGI, G. Cad. Educ. FAE/UF – Pelotas. v. 8, n.13. Ago/dez. 1999. Editora da Universidade de Pelotas: RS.
LOCKE, John. Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Livro III e IV. vol. II. Edição da Calouste Gulbenkian. Lisboa: 1999.
___________. Alguns pensamentos acerca da educação. Tradução de Avelino da Rosa Oliveira e Gumercindo Guiggi. IN: Cadernos de educação. Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Educação, ano 9, nº 13, ago./dez.1999. ___________. Alguns pensamentos acerca da educação. Tradução de Avelino da Rosa Oliveira e Gumercindo Guiggi. IN: Cadernos de educação. Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Educação, ano 10, nº 14, jan./jun.2000. ___________. Alguns pensamentos acerca da educação. Tradução de Avelino da Rosa Oliveira e Gumercindo Guiggi. IN: Cadernos de educação. Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Educação, ano 10, nº 15, jul./dez.2000. PESSANHA, J. A. M. Descartes: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
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PLATÃO. A República. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Editora Martin Claret, 2004.