Amostra do Português Popular
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AMOSTRAS DO PORTUGUÊS POPULAR: TRANSCRIÇÃO DE INQUÉRITOS E ANÁLISE DE FATOS
LINGUISTICOS
ARNALDO REBELLO CAMARGO JUNIOR HOSANA DOS SANTOS SILVA
SÃO PAULO
2006
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S U M Á R I O RESUMO............................................................................................................................3 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................4 1.0 Português Popular .........................................................................................................4 2. CARACTERÍSTICAS DAS SOCIEDADES ESTUDADAS........................6 2.0 Parada de Taipas ...........................................................................................................6 2.1 Largo do Glicério...........................................................................................................7 2.2 resumo do perfil dos informantes.................................................................................9 2.2.0 Informante 1 – bairro de Parada de Taipas .............................................................9 2.2.1 Informante 2 – bairro de Parada de Taipas ...........................................................10 2.2.2 Informante 3 – bairro do Glicério ...........................................................................10 2.2.3 Informante 4 – bairro do Glicério ...........................................................................10 3. METODOLOGIA ....................................................................................................10 3.0 aspectos teóricos ...........................................................................................................10 3.1 metodologia da entrevista............................................................................................11 3.2 Coleta de Dados ...........................................................................................................13 3.2.1 Contato no bairro de Parada de Taipas .................................................................13 3.2.1 Contato na Largo do Glicério .................................................................................13 3.3 As condições das entrevistas........................................................................................14 3.3.1 Parada de Taipas ......................................................................................................14 3.3.2 Largo do Glicério .....................................................................................................14 4. FENÔMENOS LINGÜÍSTICOS ...................................................................... 15 4.1. aspectos fonêticos........................................................................................................ 15 4.2. aspectos morfossintáticos............................................................................................ 17 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................18 6. REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS...................................................................19 ANEXOS ..........................................................................................................................20
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R E S U M O
O presente trabalho pretende contribuir para a caracterização do português popular
falado em São Paulo. Para isto, descrevemos alguns fenômenos fonéticos e
morfossintáticos de duas comunidades situadas na região urbana da cidade de São Paulo. A
intenção é ressaltar algumas características do português popular brasileiro que confirme
hipóteses já existentes sobre a variedade hora aqui tratada e outras possam direcionar os
estudos futuros da área.
Para tal intento, foram utilizadas a metodologia qualitativa para a análise da
conversação, e a gravação de inquérito conforme prevê a metodologia já consagrada da
sociolingüística investigativa.
Assim, a partir da transcrição dos inquéritos, iniciou-se uma análise das
condicionantes sociais dos entrevistados e uma análise lingüística de aspectos de suas falas
que revelem elementos do português popular do Brasil, permitindo a elaboração do trabalho
ora pretendido.
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1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é descrever alguns fenômenos lingüísticos por meio da
análise de fatores sociais e lingüísticos encontrados em inquéritos obtidos a partir da fala de
pessoas com baixa escolaridade e residentes nas regiões mais pobres da cidade de São
Paulo.
Trata-se de um estudo qualitativo, que parte dos pressupostos da teoria
sociolingüística e caracteriza a variedade do português não padrão, a partir de teses já
consagradas da bibliografia da área e levantando hipóteses que fomentem o debate acerca
do tema português popular.
Logo após a introdução, no subitem 1.0, procuramos cenceituar o português
popular do Brasil, criando as bases para desenvolvimento do trabalho. No item 2
apresentamos as características gerais das comunidades estudadas, bem como o perfil social
dos informantes. No item 3 apresentamos a metodologia teórica e a metodologia adotada
para coleta do corpus. No item seguinte descrevemos alguns aspectos fonético-fonológicos
e morfossintáticos presentes no corpus. Em Considerações Finais retomamos parte da
bibliogafia que trata dos fenômenos lingüísticos destacados e tecemos alguns comentários
sobre esses fenômenos.
1.0 O português popular
O Português Popular constitui-se em uma variedade lingüística caracterizada pela
falta do processo de letramento do indivíduo, o que o levaria a adquirir a norma padrão
(standard, nos termos de Labov). Isto significa que esta variedade é definida conforme
parâmetros sócio-culturais, e a escolarização é algo decisivo para caracterizarmos este
estrato. Por não terem imposições sociais para adquirirem a norma padrão, o que é dado no
processo de escolarização, os indivíduos que se valem desta variedade tendem a manter os
costumes lingüísticos aprendidos na fase de aquisição da linguagem, não tendo acesso,
dentre outras coisas, ao processo de reavaliação que os indivíduos letrados possuem, uma
vez praticantes da norma padrão, bem aceita socialmente. Conforme Rodrigues (1987) o
português popular constitui-se em uma variedade pertencente à oralidade.
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Isto implica em considerar que o individuo que pertence a este estrato social não
passa pelos estágios de aquisição da Língua-Padrão, conforme estabelecido por Labov, o
que configura a não existência de várias etapas que o indivíduo passa para alcançar esta
norma, ou seja, nesta modalidade o individuo não adquire um desenvolvimento gradual da
norma adulta, por não haver a comparação com a norma de um individuo escolarizado, não
tendo acesso também a outros níveis de aquisição, tais como a percepção social do seu
modo de falar, as implicações que uma variação estilística poderia proporcionar em relação
à sua inserção social.
Outras implicações da não-aquisição da norma padrão podem ser observadas em
Kato (2000) sobre a gramática adquirida no processo de letramento e o tipo de estruturação
lingüística a que o individuo está exposto uma vez inserido no processo de escolarização.
No português do Brasil, Kato observa que há diferenças fundamentais entre a linguagem
adquirida pelo indivíduo na fala e a linguagem adquirida no processo de letramento. Estas
diferenças são tão relevantes que a autora trabalha com a tese de que a gramática aprendida
pela escrita no Brasil se dá por um processo semelhante a aquisição de L2 (ou seja, de uma
língua estrangeira, uma língua diferente da materna), devido, sobretudo, às diferenças
sintáticas às quais a língua escrita está estruturada em detrimento da linguagem oral.
Uma explicação de cunho diacrônico para este fenômeno se dá pelo fato do
Português Vernacular Brasileiro ter sofrido um processo de pidgnização, creoulização e
descreoulização, o que ajudou a distanciar-se do Português europeu.
Outro aspecto estrutural que é evidenciado por Kato com relação à aquisição da
escrita, é a influência que esta gera na fala, pois os processos de transformação da
linguagem oral do letrado se daria da seguinte forma:
Fala1 → Escrita 1 → Escrita 2 → Fala 2
Este esquema prevê que o indivíduo primeiramente, ao iniciar sua aprendizagem da
escrita, levaria a esta a estrutura de sua fala, assim a escrita seria, em um primeiro estágio,
representação fiel da fala. Conforme o indivíduo fosse adquirindo a norma padrão para a
escrita, o processo então se inverteria: ele começaria a levar influências estruturais,
sintáticas, morfológicas e até dialetais de sua norma escrita recém adquirida para a fala,
devido até mesmo as imposições sociais.
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Deste modo, é possível perceber como se configuram ambos os estratos lingüísticos
dos indivíduos letrados e dos que tiveram o processo de escolarização interrompido, ou até
mesmo nulo, configurando assim o que convencionamos chamar de Português Padrão e
Português Popular do Brasil.
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS COMUNIDADES ESTUDADAS
2.0 – Parada de Taipas
O bairro de Parada de Taipas pertence ao subdistrito do Jaraguá, sendo este último
atendido pela subprefeitura de Pirituba/ Jaraguá. Assim, a história de Parada de Taipas está
ligada à história destes outros dois bairros, mais populosos e desenvolvidos.
O Bairro de Pirituba teve origem no século XIX, com as grandes Fazendas de café,
sendo as principais a fazenda Barreto, de propriedade do médico paulistano Luiz Pereira
Barreto, a Fazenda do brigadeiro Tobias e a Fazenda Jaraguá. A estação de Pirituba deve-se
a necessidade de se receber o carregamento de café que se destinavam ao porto de Santos.
É interessante observar que Pirituba resulta do nome de " Piri", que significa vegetação de
brejo e com o aumentativo "Tuba", que na língua tupi significa" muito".
Com a decadência das fazendas cafeeiras e a morte do seu proprietário em 1922, a
Fazenda Barreto foi dividida entre seus herdeiros; a fazenda foi loteada e, a partir de então
surgiram vilas que se desenvolveram ao lado de seu núcleo inicial.
Posteriormente, o loteamento do restante da fazenda Barreto deu lugar às novas
vilas, dentre elas Vila Bonilha, Vila Zatt, Vila Mirante e Jardim S.José.
Sendo que Pirituba é um dos bairros mais populosos de São Paulo, com 31,84 km2,
e com uma população de aproximadamente 350 mil habitantes, está localizado na zona
Oeste e 13km da Praça da Sé. O território de Pirituba , limita-se ao sul com as margens do
Rio Tietê, ao norte com Jaraguá e Perus, a leste com o distrito da Freguesia do Ó e a oeste
com a Via Anhanguera.
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O Bairro de Parada de Taipas situa-se entre Pirituba e Jaraguá. Trata-se, de acordo
com dados do IBGE, de uma das regiões mais pobres do Brasil, sendo que a renda per
capita nessa região chega a ser dez vezes menor do que a de bairros como Morumbi.
Embora faltem informações detalhadas sobre a região, já que a subprefeitura de
Pirituba/ Jaraguá diz ter perdido1 na última mudança de prédio todos os documentos
históricos sobre o bairro de Taipas, trata-se de uma região de favela.
Evidentemente os moradores não se identificam como favelados, mas em toda a
região, mesmo bem próximo ao trecho considerado central – Largo da Parada de Taipas – ,
observa-se a presença de barracos.
A região conta com escolas públicas, um hospital, farmácias, um EMEI, um posto
de saúde no qual, segundo os moradores da região, enfermeiras atuam como médicos,
examinando e medicando pacientes.
Há rede elétrica e rede de água e esgoto, mas adentrando os bairros observa-se
esgotos a céu aberto, córregos que transbordam em dias chuvosos, diversas ruas não
pavimentadas e sem iluminação.
Segundo a informante 1 (Ane Angeli da Silva), o transporte na região é precário -
a população é atendida pelo serviço de lotações-, há poucas linhas na região e cada linha
conta com poucos veículos;
A informante aponta, ainda, a precariedade dos postos de saúde, mas enfatiza que a
região é atendida por dois hospitais públicos – Hospital Geral de Taipas e Hospital de
Perus2. Constata-se a ausência de EMEIs e creches na região.
2.1 – Largo do Glicério
1 Em visita à subprefeitura de Pirituba/ Jaraguá ( R. Luis Carneiro, 109), conversamos com a sra. Célia, assistente social, e ela nos informou que todos os documentos referentes ao histórico dos bairros desapareceram na última mudança de prédio. 2 O hospital de Perus visa atender os moradores do bairro de Perus, cuja administração é realizada pela subprefeitura Perus.
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O Largo do Glicério é uma área acimentada limitada pelo viaduto do Glicério (que
dá acesso à Radial Leste), pelos prédios de uma igreja evangélica e de orgãos
governamentais, um albergue e um conjunto habitacional, e está situado entre os bairros da
liberdade, Cambuci e Centro. É um lugar de passagem, principalmente de automóveis.
A organização de edifícios institucionais e os viadutos recortam esse plano,
impedindo a integração do fluxo urbano residencial convencional. Toda a região foi
urbanisticamente desconfigurada, o que afastou investimentos imobiliários e atraiu uma
grande massa de população carente e sem-teto. Nesta Região encontra-se a maior
concentração de entidades assistencialistas (albergues, centros comunitários, igrejas) da
cidade. Assim, percebemos que é um lugar onde grandes investimentos em circulação
resultaram num espaço onde a cidade formal não chega, dando margem à ocupação dessa
área residual por moradores de rua. A população que está na área é composta basicamente
por alberguistas e pelos moradores de rua.
O largo situa-se nos limites de diversos planos de intervenções localizadas de
revitalização da área central, como a Operação Urbana Centro, sem que essas iniciativas
tenham conseguido reorientar a ocupação da região. Ele também se localiza logo abaixo do
perímetro previsto para a área de implantação do projeto SP Tower.
Nesta região se sobrepõem a construção de grandes vias expressas, com a conseqüente falta
de investimento e ocupação informal. Isolada pelos viadutos, não pode também ser
integrada aos recentes projetos das subprefeituras regionais de desenvolvimento em grande
escala da Zona Leste. Uma situação que demanda proposições voltadas para a
reconfiguração de áreas adjacentes às vias expressas e, sobretudo, para novas formas de
ocupação de populações sem-teto.
É neste cenário que se encontra, logo abaixo do viaduto Glicério, uma cooperativa
de reciclagem de lixo originalmente organizada pelos carroceiros e catadores de papel do
local em parceria e orientação dos padres franciscanos e a pastoral do colégio Marista
Nossa Senhora da Gloria, um dos núcleos que desenvolve projetos sociais na região. No
espaço situado logo abaixo do viaduto do Glicério, por meio do esforço em conjunto, foi
possível construir um local para o armazenamento e administração do material reciclável,
recolhido pelos carroceiros. Esta cooperativa funciona ao lado do albergue público
municipal.
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Devido a todas estas características, a região é fortemente discriminada e
marginalizada. A criminalidade ali também é alta, tornando o lugar funcional, somente
utilizado como passagem entre duas regiões da cidade. Esta característica tambémculminou
por gerar grande descaso na região por parte da administração pública, cenário este que
tende mudar aos poucos devido aos recentes projetos da prefeitura, que prevê até mesmo
investimentos culturais para o local.
A referida cooperativa de reciclagem de material é administrada pelos próprios
catadores de papel, sendo um deles, Fausto Mariano (o informante no. 3). No entanto, este
cenário tende a mudar, pois a prefeitura descobriu que a cooperativa está rendendo lucros
significativos e por funcionar em área publica, está propondo projetos de intervenção e
administração do movimento de coleta de materiais recicláveis, o que seria bastante ruim
para os catadores de modo geral devido ao fato de diminuir consideravelmente os ganhos
destes trabalhadores. Isto está gerando um movimento contrário de resistência por parte
destes trabalhadores no sentido de não deixar a cooperativa ser administrada pela
prefeitura.
Esta cooperativa possui a característica de dar empregos a pessoas que normalmente
não correspondem ao perfil dos trabalhadores regulares, que possuem carteira assinada e
uma especialidades a ser exercida profissionalmente. São, em geral, migrantes do interior
do estado e do nordeste, ex-moradores de rua, ex-presidiários que, em geral, possuem baixa
escolaridade, o que culmina por excluí-los do mercado de trabalho formal. Assim, esta
cooperativa tem sido um grande projeto de inserção social da região, em boa parte, graças
às entidades católicas que auxiliou este grupo no processo de organização de uma
cooperativa, direcionando estes trabalhadores a uma capacitação profissional (como um
bom exemplo, os cursos do SEBRAP) que naturalmente não teriam acesso.
2.2 - Perfil dos informantes
2.2.0 – Informantes 1 - Bairro de Parada de Taipas
A informante Ani Angeli da Silva tem trinta anos, é solteira, tem três filhos, natural
de São Paulo-SP, cursou até a 4a.série primária e trabalha como costureira.3
3 A ficha completa contendo dados da informantes apresentamos no anexo (A)
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2.2.1 – Informante 2 – Bairro de Parada de Taipas
A informante Ariane da Silva tem 15 anos, é solteira, natural da cidade de São
Paulo, cursou até a 7ª série do ensino fundamental II, não tem filhos e trabalha cuidando
dos irmãos e casa.
2.2.2 - Informante 3 – Largo do Glicério
O informante Fausto Mariano tem 23 anos, seu estado civil é solteiro, no entanto
reside com sua companheira há cerca de três anos. Cursou até a 5a série do ensino
fundamental II, etapa esta do ensino que se encontra incompleta. Possui uma filha e ajuda a
criar outros dois filhos de sua companheira. É ex-presidiário, tendo cumprido pena de dois
anos por furto. Começou a trabalhar na cooperativa de reciclagem de lixo do Glicério como
carroceiro (catador de papel) e atualmente trabalha na parte administrativa. Reside no
município de Poá, em uma casa de três cômodos alugada.
2.2.3 - Informante 4 – Largo do Glicério
O informante José Antero Souza tem 38 anos, é casado, tem dois filhos, é residente
do município de Farraz de Vasconcellos, em um conjunto habitacional (COHAB). Estudou
até a 3a série do ensino fundamental I e também é ex-presidiário, tendo cumprido pena de
um ano na FEBEM (Fundação para o Bem Estar do Menor) e mais 3 anos em penitenciária
do interior. Trabalha como carroceiro (catador de papel) na cooperativa de reciclagem da
Baixada do Glicério.
3 METODOLOGIA
3.0 - Aspectos teóricos
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O método de análise dos dados em sociolingüística prevê principalmente a aplicação
de duas abordagens: i) a quantitativa, que leva em consideração análises de quantidades de
ocorrências de determinados fenômenos estabelecidos por porcentagens e pesos relativos
para o uso em análises contrastivas, e; ii) a qualitativa, que leva em consideração a análise
dos fenômenos por si próprios, suas particularidades e o peso que a ocorrência destes
determinados fenômenos têm na comunidade e na realidade social ao qual os indivíduos
estão expostos.
Deste modo, observa Schiffrin (1987) que essa divisão, na verdade, não deveria
acontecer, pois ambas as abordagens são complementares e devem funcionar em conjunto,
pois a análise qualitativa especifica aspectos dos fenômenos estudado atribuindo, assim,
maior peso às hipóteses levantadas a partir da análise, pois somente uma abordagem
quantitativa por vezes tende a ser vaga. De modo semelhante, uma abordagem somente
qualitativa tende a ser vaga, quanto ao alicerce que constituirá a análise pontual que esta
proporciona. No entanto, para este trabalho, utilizaremos uma abordagem apenas
qualitativa, pelo fato de estarmos tratando de elementos canônicos na literatura da área ora
abordada, ou seja, por estarmos trabalhando com idéias já consensuais na área da
sociolingüística do Português Brasileiro Vernacular.
3.1 - Metodologia da entrevista e transcrição
Os relatos de experiências colhidos na cidade de São Paulo têm em média duração
de cerca de 45 (quarenta e cinco) minutos e foram gravados em fita cassete, por meio de
gravador da marca SONY e com o auxílio de microfone de lapela.
Para condução eficaz da entrevista, elaboramos um roteiro prévio, o qual deveria
ser abandonado tão logo o informante se sentisse a vontade para relatar suas experiências
pessoais. Essa decisão visou o afastamento de realizações lingüísticas pouco naturais, bem
como de respostas elípticas ou ecóicas, como se observa quando se faz uso de questionário.
Solicitamos aos informantes que relatassem fatos referentes a sua profissão, escola,
problemas inerentes ao bairro, história de vida.
Algumas perguntas realizadas no início da entrevista com a informante 2 foram
repetidas no final. Esta decisão visou fugir de realizações lingüísticas pouco naturais, já que
a informante mostrou-se desconfortável no início da entrevista.
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Convém dizer, ainda, que neste tipo de seqüência conversacional (entrevista) há
sempre prejuízo da espontaneidade, entretanto, as marcas de inferência na conversação
analisada, evidenciam que a conversação foi sustentada pela compreensão mútua e
cooperação.
Promovemos a transcrição do texto integral dos relatos colhidos, ou seja,
transcrevemos aproximadamente 45 minutos de conversação.
Para transcrição utilizamos o modelo adotado pelo Projeto Filologia Bandeirante,
conforme sugeridas por RODRIGUES e FERREIRA NETO (1.999), com as alterações ou
acomodações discriminadas abaixo:4
a) grafamos a fala dos entrevistadores de acordo com a ortografia tradicional, ou seja, não
representamos os fenômenos fonético realizados e optamos por não indicar ênfase na
fala dos documentadores, assim, em início de frases, siglas e nomes próprios utilizamos
letra maiúscula. Ignoramos, ainda, na fala do documentador, os prolongamentos de
vogais, não grafamos fonemas repetidos e indicamos o truncamento de palavras como
proposto pela norma de transcrição adotada;
b) Os fáticos foram excluídos da fala do documentador;
c) Algumas vezes fazemos uso de vírgula para marcar pausas sintáticas;
d) Com exceção das acima descritas, todas as demais indicações para transcrição de fala
foram aplicadas à fala do entrevistador;
e) Na fala do informante as letras maiúsculas indicam ênfase, assim siglas e nomes
próprios são grafados com minúscula;
f) marcou-se, na fala do informante apenas as ênfases de maior relevância para o sentido
geral do texto;
g) o ponto de interrogação foi usado para marcar frases interrogativas e imediatamente
após marcadores conversacionais realizados com curva entonacional ascendente;
h) o alongamento de fonemas foi indicado por : :: logo após o fonema alongado;
i) ( ) indica a não compreensão de determinadas palavras/ frases realizadas pelo
informante ou pelo documentador;
É importante observar que as entrevistas 1 e 2, bairro Parada de Taipas, foram
realizadas, observadas e transcritas pela documentadora Hosana dos Santos Silva; as
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entrevistas 3 e 4, bairro do Glicério, foram realizadas, observadas e transcritas pelo
entrevistador Arnaldo Rebello Camargo Junior.
3.2 - Coleta de Dados
3.2.0 – Contato no bairro de Parada de Taipas
O contato com os informantes do bairro de Parada de Taipas foi feito através da
igreja Comunidade Evangélica Shalon, situada na Av. Raimundo Pereira de Magalhães, em
Taipas. As informantes freqüentam as reuniões e foram indicadas por outros membros da
igreja, quando perguntamos a alguns membros se havia na comunidade pais de
adolescentes.
Foram indicados três pais de adolescentes, entretanto dois foram desqualificados por
não preencher os requisitos iniciais, quais sejam, serem nascidos e criados na cidade de São
Paulo, pertencerem as duas faixas etárias – 15 a 20 anos (informante mais jovem) e 30 anos
em diante (informante mais velho).
Por ocasião do contato com a informante 1, no final de novembro de 2.005, fomos
informados de que sua filha adolescente tinha 14 anos e que completaria 15 anos em
janeiro de 2.006, assim, procedemos a entrevista com a segunda informante somente no
mês de Janeiro/2006, para que houvesse tempo para que a informante completasse 15 anos.
Assim, o corpus começou a ser coletado em dezembro de 2005 (ficha social) e só
teve sua conclusão em Janeiro de 2006.
Os informantes responderam a Ficha Social (anexo A), na qual consta dados
pessoais, financeiros e sociais sobre os informantes.
3.2.1 – Contato no Largo do Glicério
O contato com a cooperativa de reciclagem de lixo da baixada do Glicério foi
possível pelo intermédio de uma assistente da pastoral do colégio Marista Nossa Senhora
da Glória, que desenvolve um trabalho social na região e, especificamente, com os
trabalhadores desta cooperativa. Este contato facilitou bastante a interação e coleta de
4 A lista completa das normas para transcrição que alteram ou complementam o texto de RODRIGUES e
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dados junto ao grupo, pois a pastoral do colégio goza de grande confiança por parte da
comunidade.
Foram indicados para a realização da entrevista dois informantes: o primeiro
(informante 3) cuja entrevista encontra-se transcrita no anexo deste trabalho, contava com
23 anos quando da realização da entrevista (que se deu em outubro de 2005), e o segundo
informante, de 38 anos, ambos moradores da grande São Paulo. Constatou-se ainda que na
comunidade da cooperativa de reciclagem do Glicério, praticamente não havia
trabalhadores que morassem ali na região: a grande maioria reside na periferia da Zona
Leste ou em cidades vizinhas, da grande São Paulo.
3.3 - As condições das entrevistas
3.3.0 – Parada de Taipas
A entrevistas com a informante 1 foi realizada em 03 de janeiro de 2.006 e a
entrevista com a informante 2 foi realizada em 10 de janeiro de 2.006. Ambas as entrevistas
foram realizadas na cozinha da casa das informantes, sendo que a informante 1 encontrava-
se sozinha no dia da entrevista, já a informante dois estava acompanhada da mãe e dois
irmãos (6 anos e um ano), que esperaram no quarto ao lado enquanto a conversa se
desenrolava.
O irmão da informante (2) entrou na cozinha algumas vezes, olhou o gravador, mas
não chegou a interromper a entrevista.
Durante a gravação da entrevista com a informante (1) houve apenas uma
interrupção: a informante recebeu a visita de seu irmão, mas apenas cumprimentou-o, não
alterando o andamento da entrevista.
A casa das informantes situa-se em um terreno em declive, com mais três casas
construídas no mesmo terreno. Na casa há dois quartos, uma cozinha e um banheiro e deve
contar com aproximadamente 45m2.5
3.3.1 – Largo do Glicério
FERREIRA NETO segue como anexo (c) .
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A entrevista foi realizada no escritório da cooperativa, que na verdade, como eles
próprios chamam, um box construído por eles para esta finalidade. A cooperativa, para
alguns dos trabalhadores, funciona como se fosse uma segunda casa, pois muitos deles
residem longe do local, o que por vezes faz com que a locomoção do trabalho para casa (e
vice-versa) seja bastante complicado.
Deste modo, os informantes deram entrevista no próprio local, em um sábado,
quando estes estavam confraternizando-se após o trabalho, o que gerou um ambiente
bastante descontraído, favorecendo a espontaneidade da entrevista, tornando assim a
linguagem dos entrevistados bastante informal e não sujeita a contaminação de influencias
e fatores externos, de constrangimento ou outro tipo de elemento que tornasse a linguagem
dos indivíduos artificial, quanto à articulação usual e cotidiana.
Na realização das entrevistas não houve nenhum elemento externo que pudesse
compromete-las. Nenhuma interrupção aconteceu, e os informantes se sentiram bastante à
vontade para falar, o que facilitou bastante o trabalho, gerando assim muitos dados
significativos para a análise ora descrita.
4 FENÔMENOS LINGÜÍSTICOS
A amostra apresentada neste trabalho revelou-se um bom exemplo de algumas
variações já estudadas pelos sociolingüistas brasileiros. Apresentamos alguns exemplos
que auxiliam na reconstrução de parte do universo da variação presente na fala dos
paulistas com baixa escolarização.
4.0 – Aspectos fonéticos
No nível fonético-fonológico, destacam-se a tendência à:
a) monotongação dos ditongos decrescentes [ey] e [ow]
Inf 1 – “mas nunca tinha visto o que que era uma máquina industrial... e resolvi ser
custurera...”
Inf 2 – “que ela não dexa eu fazer as coisas que eu quero...”
5 no anexo (a) apresentamos ficha financeira e social completa dos informantes.
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Inf 3 – “falei é o seguinte, eu num tô fazendo nada, num tô robando ninguém, num tô
matando ninguém”
b) a alternância entre as [l] e [r] e a queda de [r] nos grupos consonantais
(problema/poblema);
Inf 1 – “pra sustentá uma casa... cum filhos... já tava difícil... aí veio mais uma...
compricou mais...”
Inf 2 – “se eu já tive otro pobrema? teve um dia que eu não fui ca camiseta... da
escola e eles me levaram lá pa diretoria...”
c) a queda do [r] pós vocálico, principalmente em infinitos (qualquer/qualquer;
costurar/costurá);
Inf 1 – “é eu go/ eu converso bastante né? Todo mundo fala que eu sou
conversadeira... faLaNte mesmo... e eu se eu tô num lugar eu num to muito afim de
conversá...”
Inf 2 – “ah: :: namorá a gente fica... a gente se vê todo dia... e ficá a gente só fica um
dia e amanhã a gente não se fala...”
Inf 3 – “Me mandá lá pro Jabari, numa usina. Uma usina coisa disativada lá há muitos
anos, um galpãozão lá enorme, o espaço é enorme, tem cinco galpão.”
d) a supressão de /d/ na seqüência -ndo (correndo/correno);
Inf 1 – “é um serviço braçal... mas eu gosto de fazê... eu não tô trabalhano nisso...”
Inf 2 – “na casa da minha avó? ... uma história que tenha acontecido... é eu tava
brincano cas minhas amigas...”
Inf 3 – “começamo a namorá, uns dois meis nóis tava morano junto já, a gente nem/
sem percebê...”
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e) a redução variável da preposição para (para, pra e pa);
Inf 1 – “e: :: lá:: pegá uma outra perua que sobe pa /pra avenida itaberaba que é
próximo da onde eu trabalho”
Inf 2 – “que eu/ que ela achou que eu não queria ir MAis... pa escola e ela me tirô”
Inf 3 – “um com o próprio emerson. por que que ele foi embora daqui? é, porque ele,
ó, ele foi robado aqui aí ele caiu pa rua...”
4.1 – aspectos morfossintáticos
No nível morfossintático, observa-se a presença de um conjunto significativo de
fenômenos. Destacam-se:
a) a variação de concordância no sintagma nominal
Inf 1 – “é o meu quarto... é a minha casa... é as minhas coisa... ((rindo)) vou te que
apren/ muitas vezes ele me corrige né?”
Inf 2 –“ falaram que...é: :: que as menina pegaram o boné do menino... e falaram
que fui eu... aí elas tinham que i pa diretoria e elas foram junto tamém...”
Inf 3 – “aí fizemo a revisão separamo as coisa minha aí...”
b) a variação de concordância entre verbo e sujeito Inf 1 – “eles qué um mínimo de produção e o mínimo de produção tem que tê... no
mínimo cinco máquinas.”
Inf 2 – “ai eles de vez em quando apronta e coloca a...a culpa nas outras
pessoas...”
Inf 3 – “foram conversá e eles virum que ali eles ia pô a mão onde num devia”
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c) emprego do pronome lexical (ele /ela) em lugar do clítico acusativo de
terceira pessoa 6
Inf 1 – “o pai ele vê como um: :: passeio... ( que nem ) o pai dele geralmente
sempre foi muito RÍgido... mas como vê ele só de vez em quando”
Inf 2 – “ah! num vejo ele muito...”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível constatar a partir da análise dos inquéritos obtidos de falantes com
baixa escolarização, alguns elementos que identificam a variedade popular do português
brasileiro, que é caracterizado sobretudo por não ser influenciada pelo fator escolaridade,
que no Brasil se torna algo muito importante, devido ao fato da modalidade falada e escrita
se distanciarem cada vez mais em sua estrutura pelos motivos já detalhados na seção 2.
Percebe-se que os fenômenos lingüísticos fonéticos-fonológicos tais como
monotongação dos ditongos decrescentes [ey] e [ow], alternância entre as [l] e [r] e a
queda de [r] nos grupos consonantais, queda do [r] pós vocálico, supressão de /d/ na
seqüência -ndo, redução variável da preposição para (para, pra e pa); ou morfossintáticos
tais quais a variação de concordância no sintagma nominal e a variação de concordância
entre verbo e sujeito estão presentes variedade popular do português brasileiro como
comprovam os estudos de Rodrigues(1987) sobre a concordância verbal, ou ainda os
estudos de Duarte (1989), Câmara Junior (1972) e Nunes (1996) acerca de questões tais
como o preenchimento do objeto direto, a função dos clíticos acusativos e usos do pronome
tônico na variedade popular do português brasileiro.
Os aspectos lingüísticos aqui destacados podem direcionar as futuras pesquisas
sobre o português vernacular do Brasil, uma vez que há diversas hipóteses que se tornam
consensuais entre diversos autores tais como os citados neste texto.
6 no PB popular houve uma profunda mudança no paradigma de terceira pessoa, enfraquecendo a função dêitica do pronome ele, reforçado pelo aspecto de concordância desinencial de pessoa e número que o referido
19
6 BIBLIOGRAFIA
CAMARA JR., J. M. A História e Estrutura da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 1985. Padrão
Livraria Editora.
DUARTE, Maria Eugenia Lamoglia Clítico acusativo, Pronome Lexical e Categoria Vazia no
Português do Brasil. in. Fotografias Sociolingüísticas. Fernando Tarallo (org.) Campinas, SP.
Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1989
FERNANDEZ, f. m. Metodologia Sociolingüística. Madrid, 1990. Gredos.
FERREIRA NETTO, W. Introdução à Fonologia da Língua Portuguesa. São Paulo, 2001. Hedra.
LABOV, W. Stages in the Acquisition of Standard English. In SHUY, R. (ed.) Social Dialects and
Language Learning. The National council of Teachers of English. Trad. Estágios na Aquisição do
Inglês Padrão. In. Fonseca, M. S. V. e Neves, M. F. (orgs). Sociolingüística. Rio de Janeiro, 1974.
Eldorado, p. 49-85.
ROBERTS, I & KATO, M. A. Português Brasileiro: Uma viagem diacrônica. Campinas, SP: Ed.
da UNICAMP, 1996.
RODRIGUES, A. C. S (1987) A concordância Verbal no Português Popular em São Paulo. São
Paulo: USP. Tese de Doutoramento
RODRIGUES, A. C. S. & FERREIRA NETTO, W (2000) Transcrição de inquéritos: problemas e
sugestões. In. MEGALE, H (org.) (2000) Filologia Bandeirante: Estudos 1. São Paulo, Humanitas,
FFLCH/USP, p. 171-193.
SCHIFFRIN, D Discovering the context of na utterance. Linguistics, 25, 11-32, 1987
TARALLO, Fernando A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo, 2004. Ed. Ática. 7a. edição
pronome comporta, como é consensual em vários autores que trataram do assunto.
20
Anexo A - Identificação do informante a) INFORMANTE 1 – FAIXA ETÁRIA 30 ANOS EM DIANTE 1- Identificação Nome: Ani Angeli da Silva Sexo: feminino Idade: 30 anos Cor: Branca Estado civil: Solteira Nacionalidade: Brasileira Naturalidade: São Paulo, SP Profissão: Costureira 1 - Dependentes A informante tem 03 filhos:
Arianne da Silva,15; natural da cidade de São Paulo; escolaridade correspondente a 6º série do ensino fundamental II; Jhonatan Machado, 06; natural da cidade de São Paulo; não escolarizado; Iasmim Machado, 01; natural da cidade de São Paulo.
Obs.: Nenhum dos filhos freqüentou escola no ano de 2.005; 3 - Filiação Mãe: Albertina da Silva, 47 anos, natural do Estado do Paraná, ensino fundamental I completo; costureira Pai: Paulo Pereira, falecido, natural do Estado de São Paulo, ensino fundamental II completo. 4 - Escolaridade A informante tem ensino fundamental I completo – 4º série do primeiro grau Realizou o ensino fundamental em diversas escolas públicas e internatos, concluindo seu estudo em uma escola pública situada no bairro da Vila Miriam, Zona Oeste de São Paulo. Estudou sempre em período diurno. 5 - Situação financeira Renda mensal familiar – R$ 700,00, sendo R$350,00 referente ao salário mensal e R$350,00 referente a pensão alimentícia oferecida pelo pai aos dois filhos mais novos. A informante não tem casa própria e paga aluguel no valor de R$300,00 por mês; No total, quatro pessoas são sustentadas por essa renda.
21
6 - Descrição dos bens Possui geladeira simples; aparelho de som; dois televisores; uma lavadora de roupas, um aparelho de rádio; um aparelho de DVD; um celular. Não há telefones fixos na residência. A casa contém três cômodos e um banheiro, sendo dois cômodos utilizados como dormitório e um cômodo utilizado como cozinha; A informante não mantém empregados, sendo que os filhos mais novos permanecem sob os cuidados da filha mais velha enquanto a informante trabalha; A informante não possui carro, não possui computadores, nunca acessou a Internet. 7 - Outros dados sobre a informante A informante sempre viveu no estado de São Paulo; por algum tempo morou em colégio interno e foi criada pela avó - até 16 anos , residindo, a maior parte do tempo, no bairro de Pirituba. Há quatro anos a informante reside no bairro de Taipas, Zona Oeste de São Paulo, mas já morou nos bairros de Pirituba, Jardim Rincão, Jardim Rodrigo, Carapicuíba, na cidade de Barueri, dentre outros. b) INFORMANTE 2 – FAIXA ETÁRIA 15 A 20 ANOS 1 - Identificação Nome: Ariane da Silva Sexo: feminino Idade: 15 anos Cor: Branca Estado civil: Solteira Nacionalidade: Brasileira Naturalidade: São Paulo, SP Profissão: estudante 2 - Dependentes A informante não tem dependentes; 3 - Filiação Mãe: Ani Angeli da Silva, 30 anos, natural do Estado de São Paulo, ensino fundamental I completo; costureira Pai: Roberto dos Luis Santos, natural do Estado de São Paulo, ensino fundamental I completo. 4 - Escolaridade A informante tem ensino a 6ª série do ensino fundamental, iniciou a 7ª série, mas não freqüentou a escola no ano de 2005, pois teve que deixar a escola por decisão da mãe.
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Realizou o ensino fundamental em diversas escolas públicas, concluindo o ensino fundamental I em um escola pública situada no bairro da Taipas, Zona Oeste de São Paulo. Atualmente está matriculada na Escola Estadual Humberto...., na 7ª série do Ensino Fundamental, no período diurno. 5 – Dados financeiros Renda mensal familiar – R$ 700,00, sendo R$350,00 referente ao salário mensal da mãe e R$350,00 referente a pensão alimentícia oferecida pelo pai dos irmãos mais novos. A informante não tem casa própria, reside em casa alugada no valor de R$300,00 por mês; No total, quatro pessoas são sustentadas por essa renda. 6 - Descrição dos bens Possui geladeira simples; aparelho de som; dois televisores; uma lavadora de roupas, um aparelho de rádio; um aparelho de DVD; um celular. Não há telefones fixos na residência. A casa contém três cômodos e um banheiro, sendo dois cômodos utilizados como dormitório e um cômodo utilizado como cozinha; A informante não mantém empregados, sendo que os filhos mais novos permanecem sob os cuidados da filha mais velha enquanto a informante trabalha; A informante não possui carro, não possui computadores, já acessou a Internet na escola. 7 - Outros dados sobre a informante A informante sempre viveu no estado de São Paulo; segundo a mãe a informante foi obrigada a deixar a escola por estar envolvida com alunos que apresentavam má conduta, inclusive uso de drogas. Morou com o pai por cerca de um ano e há quatro anos a informante reside na Parada de Taipas, Zona Oeste de São Paulo, mas já morou nos bairros Jardim Rincão, Jardim Rodrigo, Carapicuíba, na cidade de Barueri, dentre outros. A informante, num primeiro contato, aparenta ter idade mental inferior à idade biológica, entretanto, a família identifica o comportamento da adolescente como “sintomas” de timidez, introspecção. Convém notar que não há qualquer diagnóstico de problema mental, pois a informante jamais se submeteu a tratamento psiquiátrico ou psicológico. c) INFORMANTE 3 – FAIXA ETÁRIA DOS 20 A 30 ANOS 1 - Identificação Nome: Fausto Mariano Sexo: masculino Idade: 23 anos Cor: parda Estado civil: Solteiro
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Nacionalidade: Brasileira Naturalidade: São Paulo, SP Profissão: catador de papel 2 - Dependentes 1 filha e dois enteados. 4 - Escolaridade O informante estudou até a 5ª série do ensino fundamental II, não tendo concluído esta etapa. Estudou sempre em escola estadual, no bairro da penha, Zona Leste de São Paulo, onde residia com seus pais na infância. Parou de estudar quando mudou-se para Poá, município da grande São Paulo. 5 – Dados financeiros Renda mensal familiar- Entre R$ 1.000,00 e R$ 1.200,00. O informante é a única fonte de renda familiar, pois sua companheira não trabalha e seus filhos são muito novos. 6 - Descrição dos bens Possui geladeira, aparelho de som, um televisor, uma lavadora de roupas, um vídeo-game e um celular. Não há telefones fixos na residência. A casa contém três cômodos e um banheiro, sendo um cômodo utilizados como dormitório, outro como sala e um cômodo utilizado para cozinha. O informante não mantém empregados, sendo que os filhos mais novos permanecem sob os cuidados da mãe. A informante não possui carro, não possui computadores, já acessou a Internet na escola. 7 - Outros dados sobre a informante
O informante residiu até os 13 anos no bairro da Penha, Zona Leste de São Paulo, tendo se mudado para o município de Poá, na Grande São Paulo, onde reside até hoje. Teve problemas leves com drogas e furto, no entanto foram problemas pontuais, de uma determinada época da vida do informante. Atualmente, ele se encontra plenamente recuperado e tem consciência das possíveis causas destes problemas pelos quais passou. Preocupa-se muito com o futuro da filha e dos enteados, e procura conscientiza-los quanto a importância do estudo, devido ao fato de acreditar que estudar mantém as pessoas longe dos problemas.
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ANEXO (B) – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
4.1 – Transcrição da entrevista 4.1.1 – Entrevista 1 - Informante 1
Doc. – Acho que agora foi... acho que a parte branca já foi agora da fita deve gravar agora...
vamos lá... eu acho que agora vai dar certo...você... é bom é eu não posso esconder de você
que é uma entrevista, né? eu não sei como você vai se sentir porque geralmente o pessoal
não gosta muito dessa história de fazer entrevista.
Inf – bom...eu não sei nem como eu vou me sentir porque é minha primeira entrevista, eu
nunca dei entrevista ((rindo))...então vamo vê.
Doc. – Mas você gosta de falar?
Inf – é eu go/ eu converso bastante né? Todo mundo fala que eu sou conversadeira...
faLaNte mesmo... e eu se eu tô num lugar eu num to muito afim de conversá... você
pergunta alguma coisa eu respondo e pronto...agora se eu tivé afim de conversá você
conhece a minha vida inteira... e a pessoa... eu acabo conhecendo a dela também... então
depende do astral ((rindo))
Doc. – ((rindo)) EU espero que hoje seu astral esteja bom então
Inf – falante? vamo vê (rindo)
Doc. – olha, bom, primeiro eu quero saber dos dados sobre você... quantos anos... sua
faMÌlia né? o que você tiver pra falar para eu te conhecer um pouquinho também
Inf – bom...eu acabei de completá trinta anos
Doc. – Acabou de completar?
25
Inf – é... entrei na casa dos trinta (( rindo))... é:... tenho três filhos... é::... moro com eles...
só eu e meus filhos no momento... vou me casá brevemente... moro próxima de todos os
meus parentes... eles moram tudo próximo de mim... sou custureira... é... eu acho que é isso
Doc. – Já deu bastante informação né? Então me fala um pouquinho... primeiro dos seus
filhos... qual a idade... como é que eles são?
Inf – bom... a minha mais velha tem catorze anos já (é uma moçona)...maior que eu... quem
vê na rua assim nem fala que é minha filha... pergunta se é minha irmã de tão grande que
ela é ((rindo)).
Doc. – Ca/ catorze ANOS...você está com trinta... você teve filho super nova?
Inf – tive ela com dezesseis anos... também era meu sonho tê uma filha mulher né? na
época eu era muito louca pra ser mãe logo... e pra ter uma filha mulher... e realmente veio
certinho...uma menina... que era meu sonho na época
Doc. – Atrapalhou sua adolescência?
Inf – é eu acho que fui muito imatura né? de ter filho muito CEdo...amadureci na MArra...
não TIve adolescência POR causa disso... realmente... se eu falá pa/pra você que não
atrapalhou... que não interferiu no meu amadurecimento eu tô mentindo...realmente... mas
assim...eu costumo não si arrependê do que já tá feito... eu tenho que tentá me arrepende do
que não dá/ainda dá pra deixá de fazê... então do/das minhas experiências ruins eu tento
tirá: algum aproveito delas...tava aí... já tinha feito... já tinha nascido não tinha volta né? o
negócio era criá...e:: eu tentei fazê da melhor maneira possível... e:: vendo hoje em dia eu
acho que... que eu criei ela bem...ela teve uma boa educação
Doc. – E ela está estudando?
Inf – ta... ela tá na sétima série
26
Doc. – Que bom né? Já é uma moça mesmo... e os outros? Você disse que tem três né?
Inf – isso... aí eu tenho mais um minino di:: di seis anos... e tenho uma/a pequenininha que
vai fazê dois agora em fevereiro
Doc. – todas as faixas você tem então? ((rindo))
Inf – (rindo) é... pra ajudar né? quando eu tivé saindo da adolescência de um... já tá
entrando o próximo e assim em diante...tô lascada né? ((rindo)) preocupação por muito
TEMpo...muito cabelo branco que num tá pouco já aos trinta...imagina mais tarde ((rindo))
Doc. – E::: e e você? Você é costureira... você sempre foi costureira?
Inf – não... eu não fui sempre custureira...eu já trabalhei di tudo...já trabalhei di
doMÉstica...como diarista... ou por mês...já trabalhei em lanchonete... já trabalhei em
padaria...uma vida assim bem...já:: sofrida digamos né? nunca tive... uma carrera
profissional... então eu... tinha emprego que era o que tava acessível no momento... sem
podê escolhê muito...agora de custurera isso foi uma opção...aí eu posso falá... não foi uma
coisa empurrada pra mim...eu escolhi... eu falei eu quero ser custureira...era o que tava
dentro das minhas condições no momento e: :: fui atrás como funcionava... eu nunca tinha
visto uma máquina de costura na minha vida... a não ser aquela normal né? aquela máquina
reta que a vovó da gente sempre tem ((rindo))... mas nunca tinha visto o que que era uma
máquina industrial... e resolvi ser custurera... fui atrás de como funcionava...o que que
tinha... quanto que ganhava ...o que eu eu precisava... e: :: aí eu resolvi fazê o curso pelo
senai
Doc. – Você fez curso? Que bom
Inf - eu fiz o curso de duas semanas... né? e passei... terminei bem... é: :: eram quinze
dias...no tre/ no décimo terceiro dia eu já tinha terminado todos os módulos... a professora
me dispensô... e: :: no começo...aí eu consegui o meu primeiro emprego foi numa oficina...
praticamente na minha rua... que era um uns saquinhos pra celulares que a gente tinha que
27
fazê... nada tão tão compricado... e: :: nem falei que eu não tinha experiência e meti as
cara... no começo eu morria de medo porque é máquina de orveLOque... é uma máquina
que refila o tecido... ela tem um...uma navalha né? tipo um: :: que corta... e fui
conseguindo... tanto é que depois que a gente terminô esse serviço de um /que foi durante
um mês... quando a mulher da oficina me mostrou meu primeiro saquinho eu não acreditei
que era eu que fiz porque ele era horroroso ((rindo))... muito mal feito...
Doc. – Quanto tempo faz isso já Ani?
Inf – ah três anos atrás... três aninhos já...
Doc.– E é bom? Foi boa a mudança? (como foi) você trabalhava como doméstica e depois
passou pra costura? Ou como foi isso?
Inf – bom... eu já tava cansada de trabalhá de doméstica... é um serviço muito puXAdo...
forÇAdo... você num ganha bem...ganha pouco... pra sustentá uma casa... cum filhos... já
tava difícil... aí veio mais uma... compricou mais... e assim na na área de custura eu tive
mais oportunidade... eu num eu num eu tenho uma profissão...eu sou custurera e: :: eu tive
meu primeiro registro em carteira graças a esse curso... minha carteira até... aos vinte e oito
anos ainda era em branco... eu fui tê o primeiro registro de custurera, e aí vê o que que é
trabalha empregada mesmo... com todos os benefícios... porque... como doméstica eu nunca
tive registro né? eu sempre trabalhava... e ganhava salário Mínimo... custurera não digamos
que a gente ganha rios de dinheiro... mas você já TEM uma opção maior... você tem uma
hora extra... não é um salário mínimo... você tem um piso salarial que as firmas são
obrigadas a pagá... você tem benefício de férias... coisa que eu nunca tinha tido na minha
vida... décimo tercero e tudo mais... então... eu acho que tá bem melhor né? e: :: de
doméstica a gente se/ eu assim/eu acho que quase todos/ você se envergonha de falá ah eu
sou doMÈStica... e de custurera num tenho não... eu falo com orgulho...eu sou custurera.
Doc. – Tem vergonha ? Você acha que... isso mas isso é de/ isso é seu ou você acha que
todo mundo que trabalha como... doméstica acaba tenho esse... esse receio... essa vergonha
de falar?
28
Inf – Eu acho que todo mundo que trabalha uh: digamos não posso falar cem por cento...
mas a maioria ... mas não... só...é um preconceito meu... é um preconceito da sociedade...
você quando fala que é doméstica... as pessoas já VÊ com preconceito... já te TRAtam
diferente né? então não é da gente... é da sociedade mesmo...a sociedade é assim...
infelizmente... porque ela devia ser considerada uma profissão como qualqué otra... e sê
bem vista como qualqué otra... e não é...no brasil a gente tem muita discriminação...
principalmente di... classe social... então é compricado...
Doc. - E você... você sofreu algum problema como doméstica? Foi humilhada? Teve
problemas ou foi/ trabalhou em lugares bons?
Inf – ((rindo)) eu nunca fui muito sortuda na vida não...eu sou muito azarada pras coisas...
é: ::...eu nunca tive assim...eu tenho só uma patroa que eu tive que eu posso falá que ela foi
muito boa...mas.. as outras de:/ num num foi boa... já já fui muito discrimiNAda... já: ::
sofri humilhação... e: :: é uma pro /profissão muito soFRIda... quando eu desisti de ser
doméstica um dos meus /eu já tava tendo problema de SAÚde que era problema no
PULso... eu tava tendo pobrema de coLUna... eu... tinha crise de bronquite direto... por ta
sempre mexendo na água... então num /foi uma necessidade tamém... de sai dessa
profissão... então eu num num acho legal... têm pessoas que te tratam como: :: uma
profissão normal e têm otras que querem te diminuí... então é compricado... a última que eu
tive não...me tratava como se eu fosse da família...mas aí quando você vai discutir seus
direitos como... como funcionária aí a coisa pega né? ai você já não é mais da
família...você passa a sê só um funcionário né?
Doc.- Você teve problema pra receber nessa última casa que você trabalhou?
Inf - tive pobrema com as minhas férias... ela achava que não tinha que dá as minhas
férias... como eu nunca tinha tido férias... ela tentou digamos que me enrolá... ela... é:: me
deu primeiro oito dias... e os outros doze dias que faltava ela não queria dá... então nessa
daí a gente se desentendeu... e eu acabei saindo... porque eu também não consigo trabalhá
29
num ambiente que eu tô magoada com a pessoa...isso é um deFEIto meu...em qualqué
canto... se eu tivé aborrecida eu saio
Doc. - E ai... como costureira que problemas que você já encontrou? Porque dizem que/
porque em todo trabalho tem problema né? Como... como doméstica você te/ tinha esse
problema de ser discriminada muitas vezes não ser bem tratada... e como costureira?
Inf- como custureira você tem que aprendê a trabalha sob pressão...é produção MESmo...
você tem que trabalhá MESmo e::: a maioria dos lugares... noventa por cento não aceita
defeito na sua custura... e assim... é melhor você: :: tê mais trabalho pra fazer CERTO...
pelo menos eu acho né? do que você tê que concertá... digamos que você perde dez vezes
mais o tempo para fazê um concerto na custura...é hoRRÌvel... e aí um concerto nunca fica
como... deveria ser a primeira peça... mas é o negócio é a pressão... a pressão é muito
grande... quanto maior a firma maior a pressão... e é cansaTIvo mesmo... é um serviço
braçal... mas eu gosto de fazê... eu não tô trabalhano nisso... por necessiDAde financeira...
que doméstica eu trabalhava porque eu precisava de um serviço... eu precisava me sustentar
e sustentar meus filhos... eu era obrigada... por falta de OPÇÂO... mais... na na costura
não... eu gosto... apesar de todo o trabalho...a maioria das pessoas que tão nesse ramo... é tá
porque aprendeu cá vó... cá mãe... e ai aprendeu costurá... não sabe fazê outra coisa e tá ali
por por falta de opção... eu não... foi uma opção minha e eu realmente gosto de custurá...
mas a pressão é grande...é... a cobrança de produção é muito grande... mas como eu já
trabalhei em gráfica também uma época... que também é muita produção então pra mim é
normal... eu trabalho bem sobre pressão ((rindo))
Doc. –Ai que bom... hoje a sensação do mercado de trabalho é isso né? É saber trabalhar
sob pressão.
Inf – é uma correria só né? se você faz dez eles querem vinte né? e assim por diante... é
diFÍcil... é cansaTIvo...mas eu prefiro muitas vezes tê muito serviço do que ficá o dia
inteiro enrolando... (eu) acho mais cansativo
Doc.– Essa empresa que você trabalha agora como é que é?
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Inf – (bom) eu tô... no momento num tô trabalhando em empresa grande... já trabalhei...
mas a no momento... por opção... por enquanto né? eu tô trabalhando numa oficina de
custura de bairro
Doc. – E lá você tem registro...tudo direitinho ou não?
Inf – Não não... aí... a:: a questão da oficina é exatamente isso...voCÊ faz seu horário...você
determina as coisas... mas aí você perde 4 né? eu num tenho registro... num tenho férias...
num tenho décimo terceiro... não tenho nada disso... no momento não...
Doc. - E você gosta de trabalhar lá?
Inf –ah eu gosto...a dona de lá é bem tranqüila...não se estressa e::: acaba num estressando
a gente... eu dô... a produção que ela que né ... o serviço você acaba/ por que assi /eu eu
nunca me dei muito bem com chefe em cima de mim né? eu posso ter uma encarreGAda
em cima de mim ((rindo))... eu posso ter uma LÌder em cima de mim ...cobrando
produção... mas se chefe fica em cima de mim eu não consigo trabalhá... na gráfica era a
mesma coisa... então...e lá não...lá ela... já conhece meu serviço... ela me dá eu vô e faço e
pronto... num fica ninguém enchendo o saco né? e ai eu acabo trabalhando bem e fica tudo
bem... eu gosto sim de trabalha lá...
Doc. – E você tem que produzir quanto por dia?
Inf – bom como é uma oficina pequena... e a gente só é em quatro funcionários... então
você não tem uma produção cobrada assim... é que assim eu trabalho ni:: uma máquina por
dia e a outra por por produção... então eu ganho por peça... na peça então é eu que faço...
quanto mais eu ti/ faze mais eu ganho... então depende de mim mesma... então muitas vezes
eu passo até do meu horário pra tirá um dinheiro a mais...
Doc. – E em média é... quanto que você produz? Eu não vou perguntar seu salário não
((rindo))
31
Inf – ((rindo)) ainda bem né? bom no no orveloque eu chego de/ é que ai varia muito... é
difícil você dá um cálculo de produção porque você nunca faz a mesma peça... e:: como/ e
assim eu produzo modinha... modinha é sempre diferente... se você trabalha numa firma só
de camisetas... que eu abri mão que eu não queria... eu arrumei uma assim não quis porque
você nunca muda...só naquilo naquilo naquilo... aí você pode dá uma produção certa... mas
na modinha como... são muitos detalhes né? muita gente nem gosta... eu sou uma exceção
de gostar... então é difícil... mas em média... no orveloque dependendo do que... duzentas
peças por dia... na galoneira também em questão de barra né? bate barra... umas
duzentas...duzentas e pouca por dia.
Doc. – Bastante, né?
Inf – bastante...
Doc. – E você fala modinha...modinha...o que que é modinha?
Inf –((rindo)) modinha são todas as blusinhas possíveis que você pode imaginá é
modinha... saias longas... curtas justa...cuns tecidos diferente... blusinhas de alcinha... top...
isso é modinha...chamado de modinha... porque você nunca faz a mesma... cada é verão que
vem... cada estação que entra... muda os modelos...
Doc. – E você/lá vocês desenham também as peças ou só costuram?
Inf – não não ela/ é::: é como se fosse um serviço terceirizado né? oficina de costura
realmente é isso... então ela/ ela pega de uma outra pessoa... que a gente costura pra uma
outra pessoa... então ele já traz o corte... todo cortado... e a gente só só monta e costura
mesmo... num num é uma confecção né?
Doc. – E pra quem vai essas peças?
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Inf – é::: um boliviano que a gente trabalha... é vendida aqui mesmo... não é nada im/
importado...é: :: vendida no bom retiro.
Doc. – E esse esse... e você se você quisesse pegar as peças pra você fabricar na sua casa?
Inf – É o que eu pretendo mais pra frente... montá uma oficina pra mim... mas no momento
agora não dá... né? porque as máquinas são caras... eu ainda num tenho um local... você tem
que ter o local... e um: :: capital pra tá comprando os maquinários...mas pa/ pra pegar
assim.. é que o o o custo baixo dá pra pegar sim...
Doc. – E você...pra você montar/ é desculpa eu não entendi direito... pra você montar a sua
oficina você precisa do quê?
Inf – oh... pra você pegá serviço em qualqué outro lugar... ou fi/ou confecções grandes ou
não... que algumas lojas/ muitas vezes cê pode passá assim no bom retiro ce vai vê placa
né? precisa-se de oficina... muitas vezes a pessoa nem intendi o que que é... tem que tê no
mínimo cinco máquinas... sem isso... em lugar nenhum te dá serviço... porque eles qué um
mínimo de produção e o mínimo de produção tem que tê... no mínimo cinco máquinas.
((um rapaz aparece na porta olha para o gravador e balança a cabeça afirmativamente, a
informante ri e cumprimenta o rapaz, o rapaz vai para o corredor))
Inf – então... no mínimo cinco máquinas pra podê montá a oficina... então eu tenho que tê
no mínimo cinco máquinas... e um lugar pra tá montando.
Doc. – E ... você pretende mesmo abrir uma oficina? Como que é pra você ser empregadora
e não empregada?
Inf – é estranho... mas eu pretendo sim... até o final do ano quem sabe... tá comprando essas
máquinas... nem que seja o/ eu compro uma agora... otra depois...((rindo)) e e pretendo
sim... mas é estranho você deixá de ser empregada e virá... a patroa né? é bem estranho... cê
tem que sabê lidá com o pessoal
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Doc. – Que que precisa pra uma costureira se sentir bem Ani?
Inf – ((rindo)) ai não sei... como eu me sentiria como empregada? ah você não te já
já/realmente a pressão em cima de você né? muita cobrança... porque ó...o o que eu percebi
assim/ eu aprendi muito trabalhando em oficinas... então ali você todos os pobremas que
pode tê...é:: aonde a pessoa tá errando... aonde ela tá acertando... porque você tem que tê/
um uma pessoa que trabalha lá com você você tem que fazê ela se senti bem no ambiente
de trabalho dela... se a pessoa trabalha infeliz NA produção ela produz menos... então já te
atrapalha... então muita pressão muitas vezes dependendo da pessoa que não sabe lida com
isso... ela vai produzir menos de vez mais... então eu acho que menos pressão é uma das
opções... você pegá um empregado que você respeite também né? porque muitos lugares
não te respeita... cobra demais e acaba até humilhando algumas vezes... eu já trabalhei em
lugar assim... então menos pressão e respeitá o funcionário... que dizê você tem/ e nunca
mistura né? negócio com amizade... realmente num dá certo.
Doc. – E... nesse tempo que você trabalha como costureira... qual o maior problema que
você já enfrentou?
((a informante abaixa a cabeça, pensa um pouco e ri))
Doc. – Fez cara de quem não enfrentou nenhum ((rindo))
Inf- ((rindo)) não...eu já enfrentei VÁrios... é assim... eu já trabalhei em lugares que num
PAga... eu já trabalhe/ mesmo registrado cê fala assim é: :: que... o registro em carteira te
da alguma segurança... não dá... eu trabalhei em oficinas... pequenas... sem registro
nenhum ...e recebi certinho... bem melhor do que em firma registrada... porque eu já
trabalhei em firma registrada... que atrasava o pagamento até em vinte dias... dava a
condução/ seu transporte picado... e te humilhava e cobrava... então depende... eu acho que
isso varia muito né? agora ... pobrema aí aí depende do lugar porque... o ruim também...
vamos supor se fosse pra mim montar a minha oficina... eu pegar uma pessoa que não
trabalha direito e não prestá a atenção no serviço dela... ela errá muitas peças... porque: ::
34
você paga o que tá errado...para quem te te cedeu o serviço... então tem que tê muito
cuidado... e um deles é esse
Doc. – Que empresa grande você já trabalhou? Você disse que já trabalhou em empresa
grande e empresa pequena, que empresa grande que você já trabalhou? E como é que era?
Que diferença que tinha entre essa empresa e outra?
Inf - [(pra citar nomes?)
Doc. - [Ah! Se você quiser pode falar
os nomes.
Inf – a empresa maior que eu trabalhei que eu acho que todo mundo conhece é a tiptop...
que é confecções infantis... e já trabalhei numa outra que era uma confec/confecção de
médio porte digamos assim... e de restante foi oficinas.... aí se você quisé que eu coloque a
diferença é assim... digamos que na tiptop por exemplo eu tive todos os benefícios de uma
funcionária registrada... mas aí parece que a gente ta num regime militar... você não pode
olhar pro lado... você não pode levar nada pra comê... você não pode ouví um walkman que
EU ADOro... você não pode levantá muitas vezes pra i no banheiro... você não pode
levantá muitas vezes pra beber água... qué dizê cê não pode fazê nada... só trabalhá... e é
por isso que no momento eu optei pela oficina... oficina eu trabalho mais tranqüila... eu
faço a minha produção... eu posso ouví um walkman na máquina...que eu num gosto de
trabalhá em silêncio... eu num /eu posso/ se eu quero ir no banheiro eu levanto... num fica
ninguém ali me controlando... eu acho que o controle... as regras são muito grandes...
muitas vezes é é assim cê tem o benefício de registro... de toda aquele se/ aquela segurança
mas ao mesmo tempo você é muito controlada... aí se tem extra... você é obrigada a fazê ...
cê num tem a opção de falá não... então nessa parte que eu vejo diferença... então não sei
até que ponto vale a pena um registro... na minha opinião... porque numa oficina de
custura... se você pegá uma pessoa que PAgue direitinho igual onde eu to...cê trabalha mais
tranqüila e tem o seu dinheiro no final do mês do mesmo jeito de uma firma grande... você
só não vai tê assim... um décimo terceiro...umas férias né?
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Doc. – E isso prejudica?
Inf – é bom...pra/ eu acho que pra quem sempre trabalhou registrado talvez sim né? (rindo)
mas como eu sempre trabalhei sem registro...eu acho que não...não muito
Doc. – Como você faz pra ir trabalhar? Você vai de oni/ aqui só ônibus né? Aqui em Taipas
só o ônibus?
Inf – não eu sou obrigada a pegá a pirua...coisa que eu não gosto...eu sou obrigada a pegá
uma pirua até o terminal cachoeirinha... e: :: lá:: pegá uma outra perua que sobe pa /pra
avenida itaberaba que é próximo da onde eu trabalho
Doc. – E como que é a condução aqui? Como que é o bairro aqui de modo geral né? Que/
faz tempo que você mora em Taipas? Como que é?
Inf – bom... eu como moro de aluguel já morei em vários lugares...né? agora aqui em
TAIpas eu já to há há quatro anos...bom se for pra mim avaliar o bairro...não é ruim... é um
bairro que eu acho seguro...não acho periGOSO...é: :: só eu eu reclamo muito aqui só da
condução... eu acho a condução muito ruim... né? você é obrigada a pegá muito piRUa...
não acho pirua legal...e/ porque você perde a opção de de ônibus... então cê cê num tem
ônibus direto pro centro...da onde eu moro não... você não tem ônibus direto pra
lapa...então a a diferença que eu vi assim foi quando:: foi... criado o terminal pirituba né?
com o terminal pirituba a gente é obrigado a ir pra lá pra tá pegando uma outra condução
pra ir pra otro lugar... então isso eu acho que de que de / é:: digamos que alterou no tempo
de chegada no centro ou na Lapa em meia hora mais... eu acho mais demorado... mais
cansativo... mais... é um bairro que ainda tá crescendo... não tem TANto comércio né? a
gente não tem uma agência banCÁria... é:: em questão de:: tem hospital próximo tudo né?
essa parte é boa
Doc. - Que hospital que tem aqui perto?
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Inf - A – a gente tem o hospital geral de taipas e tem o perus também né?... que é/ são
prontos socorros públicos que são bem próximos
Doc. – E você pretende mudar daqui... porque logo no comecinho você disse que ia casar...
quando você casar você pretende mudar?
Inf – não...eu vou casá: :: no momento... por aqui o aluguel ser mais em conta a gente vai
continuar aqui mesmo....,mais mais pra frente eu pretendo mudá... não pretendo mora aqui
pra sempre não ((rindo))... eu num gosto muito daqui né? (pra) falá a verdade
Doc. – Só por causa da condução que você não gosta? Ou tem mais motivos?
Inf – não num é só a condução não... em questão de saúde eu acho aqui posto de saúde
preCÁrio... é em questão de de pré e creches né? as escolas aqui são boas né? a gente tem
escolas muitos boas aqui...mas pré e creche... como eu tenho duas crianças nesse período...
é é difícil...eu tentei muito ir pra cachoeirinha mas... por pobremas financeiros não deu pra
i... porque lá a creche e pré cê tem em cada esquina cê tem um...aqui já num tem... a agen/
agente só tem um emei aqui... a vaga é bem difícil de conseguí... e:: a creche também são
muito difícil de conseguí...então nessa parte eu acho ruim...
Doc. – E você morou... diz que morou em vários bairros porque morou sempre de aluguel,
né? Que outros bairros você morou? Era melhor do que Taipas?
Inf – ah com certeza... eu já morei em carapicuíba... já morei em barueri... eu cresCI em
pirituba... são todos bairros melhores do que aqui né?... barueri eu acho que eu nem preciso
falar muito né? que lá ele/ ele serve de modelo... e pirituba também... pirituba é um bairro
muito bom... JÀ desenvolvido... ele tem tudo... tem muitas conduções... escolas creches
pré... você tem um um comércio já totalmente desenvolvido... então lá é bem melhor que
aqui... também aqui eu acho mais distante de tudo né? então dependendo da onde você vai
trabalhá... você cansa mais na condução do que no próprio serviço...
Doc. – E você diz que mo/ cresceu em Pirituba, e Pirituba já é um bairro melhor?
37
Inf – é eu cresci em pirituba... pirituba é um bairro bem melhor... eu eu cresci a minha
infância/ até os dezessete anos eu morei lá... depois que eu comecei mudá de canto pra
canto igual cigano né? ((rindo)) não paro mais
Doc. – E seus pais moram lá ainda?
Inf – não...meu pai ele já é faleCIdo...já: :: há onze anos... minha mãe não... minha mãe
mora aqui em taipas mesmo... bem próximo a mim mesmo...
Doc. - E você tem mais irmãos?
Inf - eu tenho três irmãos... tenho uma irmã e dois irmãos que também moram aqui...
todos já casados... os/ só o caçula que não tem filho... os otros dois já tem filhos... e moram
bem próximo de mim também...
Doc. - Até o caçula é casado?
Inf – até o caçula é casado...com dezessete anos já é casado...
Doc.– Nossa... casaram todos muito cedo?
Inf – é pra segui o exemplo da minha mãe né? que casou aos dezesseis anos (rindo)
Doc. - E a filha? Será que vai também casar cedo?
Inf - ai não... eu pretendo que não... eu espero que não né? espero que ela saia dessa
liNHAgem dos dezesseis anos né? e... amadureça primeiro né? Muito nova... eu por
experiência própria sei que não é uma idade boa pra isso né? é uma idade... que você tá...
confusa digamos...adolescente é muito confuso... e eu fiz tudo que eu tinha que fazer na
adolescência... então... isso traz muitas conseqüências... algumas boas e outras ruins... então
num acho uma boa idade... eu acho que... cê primeiro tem que estudá: ::... que eu não tive
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oportunidade... você tem que vê que carrera cê vai querê... depois dos VINte... vinte e dois
anos começá a pensá em casamento né? não digo nem casá nessa idade... porque
adolescente qué muito curti... qué se diverti...qué tê amigos... e você casando nessa idade cê
perde tudo isso...tudo... e aí logo vem FIlho... que foi o meu caso... e ai você se priva de um
MONte de coisas né? fica compricado... (espero) que ela não case nessa idade...
Doc. – Do que você acha que se privou Ani? Tendo filho cedo?
Inf– ah... eu me privei MUIta coisa... uma coisa que /delas é a liberdade que eu tinha...que
que eu tinha... que eu queria conquistá ainda...eu ainda nem tinha ela né? mas era louca pra
tê... e:: na esCOla né? porque... eu já tinha saído da esCOla... então quando eu casei
pretendia voltá... porque tive filho não pude...num tinha quem cuiDAsse... então eu me
privei de muita coisa...
Doc. – E hoje o que que você pretende pro seu futuro?
Inf – ah hoje eu pretendo voltá pra escola esse ano de dois mil e seis... pa aprendê o que eu
não aprendi... que... eu fiz só até a quarta série né? tive que sai da escola com catorze anos
pra começá a trabalhá... pra ajudar em casa ...e depois já logo já casei... já tive filho e assim
por diante... acabei nunca estudano... sempre quando eu planejava ir pra escola acabava
tendo mais um filho e num ia... ((rindo))... e agora eu pretendo voltá pra escola... terminá a
minha es/ o o o segundo grau tudo... porque eu pretendo fazê faculdade... faculdade de
istilista
Doc. – Que ótimo né? Então tem bastante planejamento aí pro futuro?
Inf – a eu tenho muitos planos...eu pretendo fazê:: a faculDAde... pretendo começá debaixo
como todo mundo deve né? ninguém consegue começá lá de cima... montá primeiro uma
oficina... e mais pra frente eu te a minha própria confecção... com meus próprios
modelos...criados por mim
Doc. – Que ótimo né? Um plano muito sólido pro futuro
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Inf – espero que de tudo certo
Doc. – Vai dar sim... e você/ e pra sua filha? Sua filha já está pensando no futuro? Como é
que está?
Inf – ah... ela só tem tamanho né? catorze anos não pensa muito nisso... eles não tão
esquentando muito a cabeça com o que vai fazer o que vai deixar de fazê... eu também não
pressiono... é uma idade tão assim ...que num/ que eles nunca sabem quem eles é direito
quanto mais o que que eles querem... então eu num sei... por eu/ o que eu pretendo é
assim... que ela termine a escola... tudo que eu não FIZ ...e que eu não tive... eu quero que
ela tenha... eu quero que ela faça até a oitava série... faça o ginásio... faça tudo direitinho...
que mais pra frente tenha uma faculdade... porque: :: hoje em dia a gente sem estudo não
consegue nada... toda a minha dificuldade que eu tive em questão... de emprego... já veio
gerado disso... por falta de escolaridade muitas vezes... eu via empregos melhores num
tinha a oitava série num pudia... e hoje em dia até com a oitava série já ta difícil imagina
sem... então eu acho que ela tem mais é que estudá... e aproveitá a adolescência dela...no
momento eu não tô... me preocupando muito com o resto... mais pra frente a gente se
preocupa
Doc. – Isso aí...e você... um fato da infância que marcou a sua vida?
Inf – ah:: minha infância é meio compricada... eu acho que não tive muito infância né?
num/ eu não fui criada cá minha mãe...nem co meu pai... eles já eram separados des(de)...
que eu me conheço por gente... a minha mãe casou de novo... tinha outro marido... e esses
outros meus irmãos são filhos dele né? são irmãos só por parte de mãe... então eu fui criada
um pouco com Vó...um pouco com Tia... no colégio inTERno... então eu acho que não tive
muito infância né? eu acho que:: foi tão sofrido que muitas coisas eu nem lembro direito...
foi foi difícil... então eu num num sei o que marcou mais... eu acho que mais é sofrimento
do que as coisas boas
Doc. – Nossa você chegou a ir pra colégio interno?
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Inf – cheguei... eu já cheguei a ficá num colégio interno que na época era da igreja
adventista do sétimo dia... lá em pirassununga... não lembro a idade que eu tinha... que
parece que essa parte realmente apagô ...e cheguei a ficar ni um de fleiras no centro da
cidade... em dois colégios
Doc. – E mesmo assim você não conseguiu estudar? Praticamente?
Inf – eu era a rebeldia em pessoa... eu não parei em nenhum dos dois... ((rindo))
Doc. – E sozinha você ficava? Ou ou como que foi? Seus pais... sua mãe colocou você no
colégio e e desapareceu? Como que era isso?
Inf – (bom) no primeiro colégio que eu fiquei que era muito pequena... eu fiquei com uma
irmã minha que já faleCIda... que era irmã de pai e mãe MESmo... mi/ minha mãe que
arrumô com uma ex-patroa dela... e num num lembro o tanto de tempo que eu fiquei... eu
só me lembro que minha vó que me tirou de lá porque lá a gente... era muito judiada, né?
apanhava MUIto...era muito castiGAda... machuCAda... então a minha vó acabô tirando...
mas minha vó também trabaLHAva... não tinha como ficar com nós duas né? e depois
minha irmã logo ficou doente também... e: :: o segundo... já/ o segundo já era pra mim tê
ficado... não era pra mim tê saído... mas aí eu era muito rebelde... eu dava umas fugida lá de
vez em quando (rindo)... que também foi uma patroa da minha mãe que arrumo... e:: antes
de ir pro colégio e/ ela me levou na casa dessa patroa... eu era muito esperta eu marquei o
caminho e de vez em quando eu dava umas fugida pra lá...((rindo)) e descobriram né?
quando descobriram a ani foi expulsa
Doc. – Nossa... você você/ você fala / me deixou assim... falou que muito machucada...
muito maltratada? Mas como?
Inf – é o o que eu me lembro é que a gente /o seu/ o colégio era da igreja adventista do
sétimo dia... mas quem... isso era só a diretora... quem cuidava da gente eram meninas que
vinham da febem... então a gente era muito judiada nem o pessoal do próprio colégio sabia
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né? judiada (que eu falo é) assim... qualqué coisa apaNHAva... qualqué coisa ficava de
casTIgo... então... realmente eu só tenho má recordações...desse lugar... eu lembro que era
um lugar bem no meio do MAto... com hortas GRANdes... e: :: só tinha meninas né? não
tinha meninos... ALGUmas famílias moravam lá... que eram famílias também que vinham
ali pra cuidá da gente... mas é a gente era muito judiada assim... qualqué coisa apanhava...
qualqué coisa ficava... de casTIgo... era bem sofrido... aí quando minha vó discobriu... ela
fez de tudo e tirô a gente de lá
Doc. – E sua irmã? Você falou que tinha uma irmã por parte de pai e mãe né? E que
também chegou a ficar com você nesse colégio? Você falou que ela já faleceu?
Inf – é minha irmã::...até os: :: sete anos de idade era uma criança normal... depois ela
começou a ter pobremas de fraQUEza... e foi regredindo cada vez mais até ficar em cima
de uma cama... nenhum médico soube expricá o que ela tinha... se fo/ alguns dizem que
recolhimento de sarampo... é como se fosse uma paralisia infantil... foi o que ela teve... e
ela (ainda) viveu praticamente mais sete anos assim... né? aí fico: :: um período com a
minha mãe... que eu me recordo disso... minha mãe cuidando dela em casa como já era
GRANde né? dava trabalho pra dá banho... alimentação tudo... ela foi internada na casa de
davi... ficô um período bem grande lá... e: :: ... o que... eu acho que há ...três anos atrás... ela
teve um atrofiamento no/ nas pernas... foi passá por uma cirurgia e faleceu... na hora da
cirurgia no hospital das clínicas
Doc. – Ela ficou quanto tempo internada?
Inf – se eu não me engano?... quase dez anos internada
Doc. – Nossa... dez anos? E e ela... ela... só tinha paralisia? Como como que ela era?
Inf – ela tinha o tamanho de um adulto... com pé e mão de criança... tudo infantil.. criô
corpo de meNIna tudo né? mas assim... rostinho de/ o mesmo rostinho que ela tinha aos
sete quando começô a ficá assim ela tinha... depois de tantos anos passados...ela num num
anDAva... num faLAva... num sentava soZInha...num comia soZInha...usava FRALda...
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como um bebê de seis meses...que era o que o médico falava né? que ela vivia como um
bebê de seis meses... totalmente dependente de um adulto pra tá cuidano
Doc. – Nossa...mas que coisa né? E quando mesmo que ela faleceu?
Inf – vai fazer quatro anos... quatro anos
Doc. – E você pensa o que sobre isso agora?
Inf - ah eu acho que ela sofreu demais... muitos anos internada né? a gente não podia tá
vendo sempre... eu acho que Deus levou ela pra descansá... ela sofreu demais...
Doc. – Nossa... desculpa se eu for um pouco indiscreta no que eu vou perguntar... mas você
acha que essa doença que ela teve tem alguma coisa a ver com os maus tratos que vocês
disseram que sofreram?
Inf – bom... eu lembro que quando a gente era pequena minha mãe tinha o hábito de levá a
gente numa psicóloga conhecida dela... e ela faLAva que o caso da tati né...que era essa
minha irmã era um: :: uma forma que ela teve de se esconder dentro de si próprio porque
ela não aceitava o fato de não ser criada pela minha mãe... que esse motivo é porque ela
casou com outro homem que era meu padrasto que não aceitava nós duas...que eu superei
bem né? tudo isso...mas ela já não... então o que a psicóloga exprica é isso... porque na
época que ela ficou doente... levaram em um muitos hospitais tudo... ninguém sabia o que
ela tinha... e por fim falaram que era recolhimento de sarampo que afetô... uma veia do
cérebro que comandava o corpo... né? mas nisso daí... minha mãe na época fez uns
tratamentos naturais...tudo... ela teve uma certa recuperação... coisa que o médico falava
que o negócio dela era só... regredí cada vez mais... então eu acho que o poblema dela era
psicológico mesmo... emocional
Doc. – Nossa...será Ani? Que causou tanto trauma assim?
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Inf - ela era uma criança... muito doce... muito dependente da minha mãe... ela tinha
louCUra pra viver com a minha mãe né? eu acho que sim... eu acho que... a mente da gente
tem um poder muito grande... dependendo do que você quer pra si mesma... se você quiser
morrê você consegue se matá mentalmente... e ela num queria ficá sem a minha mãe né?
Doc. – E você?
Inf – ah eu acho que quando eu era criança também sentia muita falta... acho que até a
adolescência... ate uns...dezessete dezoito anos eu também senti muita falta de não ser
criada com ela... mas depois cê cresce... eu tenho meus próprios filhos eles me amam
bastante ... então aí cê acaba... amadurecendo... deixa pra lá... mas isso/ já sofri muito por
tudo isso... hoje em dia não ligo mais
Doc. – E sua mãe é viva hoje?
Inf – não minha mãe é viva... ela mora perto de casa
Doc. – E seu relacionamento com ela ?
Inf – péssimo ((rindo))...no momento a gente nem ta se falando mais...é num num dá
certo... porque eu sempre quis cobrá ...e ela nunca tem nada pra me dá né? do que eu
cobrei... então é compricado... ((a informante fica emocionada))
Doc. – Bom... é melhor a gente passar para um outro assunto né ? ((rindo)) É essas coisas
acabam sendo um pouco doloridas né? Me fala/ você falou que lo/ você falou que ia casar e
depois a gente quase não conversou sobre isso ainda... mas e aí... e essa fase nova da sua
vida?
Inf – é uma fase nova... eu acho que eu vou mudar o ciclo né? fechar um e abrir otro... eu
vou casá agora em março... a gente tem... um ano e pouco de namoro...ele se dá muito bem
cum meus filhos... meus filhos gosta dele... a família toda gosta... e:: a gente ta com
planos... firme mesmo... vamo casá agora em março... vai dar tudo certo...
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(houve uma pequena queda de energia)
Doc. - Que bom... deixa eu ver se ta gravando direitinho
(...)
(( a informante fala sobre as quedas de energia, avisa que ás vezes, no mesmo dia a luz vai
e volta))
Inf - volta ((esse comentário faz parte da conversa sobre as constantes quedas de energia))
Doc. – Espera ai ... acho acho que está gravando certo... vamos ver, deixa eu abaixar aqui
um pouquinho...você falou que foi criada pela sua vó?
Inf – Eu eu acho que minha vó é assim... minha vó é a mãe que eu não tive... ela que se
preocupa... ela que cuidou... é assim...a gente mora em casas separadas agora porque eu
moro eu e meus filhos... mas ela tá sempre preocupada... é uma pessoa MUIto especial pra
mim... muito importante.... assi/ eu fui a primeira neta né? já dei (bis) / eu sou a única que
deu bisneto pra ela (rindo)... nova também... minha vó tá com sessenta e oito anos...
Doc. - [é nova
Inf –muito nova... mas eu adoro ela... e ela sempre preocupou de verdade... sempre teve um
carinho muito especial... e tá sempre preocupada... sempre fazendo tudo... o que pode e até
o que não pode... por mim... pelos meus filhos...pelos outros netos também... e/ ela é muito
apegada... ela se preocupa muito mais cuns/ com a gente todos né? do que com si própria...
também realizou o sonho de ter a casa própria DEla... muitos anos de aluguel né? por isso
que eu também pretendo acho que eu vou realizar o meu também...
Doc. – Ela mora aqui em Taipas também?
Inf – Ela mora na cohab...bem próximo a mim... ela tem um apartamento lá...
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Doc. – Que bom né? E ela... sessenta e oito anos? Ela trabalha ainda? Não né?
Inf - não... ela já tá aposenTAda... trabalhou muitos e muitos anos de copeira né? na santa
efigênia foi o último emprego... minha vó também num num: :: num teve estudo né?
depois... é:: com sessenta anos na época... sessenta e poco que ela foi entrá no mobral pra
aprendê a escrevê o próprio nome...era o orgulho dela quando ela aprendeu a escrever o
próprio nome...((rindo)) mas largou... num continuou... ela disse que... na iDAde dela... na
caBEça dela ...já num num entra mais muita coisa...ela não conseguia aprendê direito né? e
na época ela ainda tava trabalhando...eu até preciso perguntá pra ela se ela não pretende
voltar a estudar de novo... porque eu pretendo...((rindo))
Doc. – Quem sabe as duas juntas né?
Inf – é... num/ hum/ é...quem sabe as duas juntas...
Doc. – Tá certo...o seu seu noivo estudou bastante?
Inf - é o:: leandro ele tem o segundo grau compreto... não fez faculdade porque não é o que
ele quer fazê... ele qué ir pro ramo de música né? sê::: como que se fala?... ai esqueci o
nome... deu branco... pra trabalhar em estúdio... com música... que ele tem uma banda
também... ele TOca ...
Doc. - [ é mesmo?
Inf – é... ele fa/ é couvert dos Beatles ((rindo))
Doc. - [sério? ((rindo))
Inf – sério... ele é apaixonado pelos beatles... então... ele fala/ ele tá no ramo de digitação
tudo...computação... informática... mas o negócio dele é música... então ele pretende fazê os
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cursos que precisa ser feitos... que ele é baterista né? e trabalhá como produtor musical
(lembrei)
Doc. – Ai que interessante né? Eu também gosto muito dos Beatles... e você também faz
alguma coisa na área da música?
Inf – NÃO... eu sou uma negação pra isso... ((rindo)) eu sou muito fã de ouvi música... mas
tocá nada... eu tenho vontade de aprendê a tocá violão... eu /eu acho /eu gosto muito do
alcústico... tudo que é alcústico eu gosto... então eu acho que eu ainda faço uma aula de
violão... mas ele brinca muito que eu ainda vou sê a vocalista da banda dele...impoSSÍvel
né? porque eu acho que minha voz é horrorosa... ((rindo)) e MOrro de vergonha de púbrico
né? eu na frente de uma platéia eu fico: :: ro/ ROXA... não é nem vermelha é roxa...
então... eu acho que pra mim não dá não... eu gosto muito de ouvi... adoro música... sempre
gostei... DESde pequena... gosto muito de música antiga... coisa que não é da minha
geração... mais: :: eu tocá... eu sê o foco ali... não não... não é comigo
Doc. – Mas você não parece tímida não...viu? ((rindo))
Inf – tímida pra conversar aqui né? agora... com uma platéia toda te olhando... ai eu sempre
morri de vergonha... as POUCAS vezes que eu tive... que falá em púbrico foi difícil...difícil
mesmo
Doc. – E ... e você acompanha? Ele ele no caso... ele tem uma banda é...é couvert dos
Beatles mas é profissional? Você acompanha? É profissional...
eu tô deduzindo
Inf – é eles ainda não gravaram cd ...eles sonham com isso né? só... aquele primeiro né? e::
mas toda vez que eu posso ta indo no show dele eu sempre to junto... ele faz questão
disso... adora né? tê eu lá presente...e é gostoso... é muito divertido... eu gosto muito
também... e eu adoro sair a noite né? então... também é legal
Doc. – E ele toca aonde?
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Inf – ah ele toca em bai/ ba bares né? e: :: festa... festa da igreja... depende do convite que
vem... alguns são barzinhos... outros são festas em igreja... outros são festas de firma né?
final de ano geralmente tem bastante... e assim... varia muito
Doc. – A igreja ouvindo Beatles?
Inf – é:: a:: esse ano mesmo que passo agora... de dois mil e cinco que acabô teve a festa
da:: com/do/da consciência negra né? e eles foram convidados pra: :: ...porque ai eles tocam
tudo dos anos sessenta né? não é só beatles quando a festa já é mais diversa... aí toca tudo...
e eles foram convidados pra fazer a festa da consciência negra
Doc. – Que interessante, né? Muito bom isso....
Inf - muito legal ((rindo))
Doc. – E...essa essa / ele toca a noite?
Inf – é geralmente é SEMpre a noite né? pra tocá
Doc. - E isso atrapalha ou não?
Inf– já atrapalhou bastante... porque muitas vezes eu ficava sem namorado no [final de
semana né?
Doc. - [ ( )
Inf - nem sempre eu queria ir junto... ou podia tá indo que alguns lugares são fechados pra
gente de fora né?... num podia i... alguns ele conseguia... que eu fosse... mas outros não...
então... era no começo a gente já brigou muito por causa da banda...mas se for pra falá pra
escolhê eu ou a banda é capaz de escolhê a banda... ((rindo))
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Doc. – Isso é bom né? É bom ter um hobby... e o seu hobby qual é Ani?
Inf – ah eu não sei... eu gosto muito de pintá... apesar de num tá fazendo isso no momento
né? pintá... ouvi musica... vê filmes... são coisas que eu adoro fazê... eu adoro ir pra
ciNEMA...Amo...amo vê filme
Doc. – Pintar o quê?
Inf - pinturas abstratas...eu ainda pretendo fazê o curso disso tamém... então eu acho que
pra esse ano de dois mil e seis tem bastante cursos ainda pra fazê... (rindo) tem escola...
cursos... mas eu vô fazê...ele ele cobra muito né? pra mim não desisti dos meus sonhos...
então ele sempre dá força... sempre apóia... incientiva... muitas vezes eu to esquecendo
deixando de lado... ele me lembra “o não esqueci...cê ainda vai fazê seu curso de pintura” e
eu vô fazê sim...
Doc. – Bom...e os filhos?
Inf– sobre?
Doc. - E os filhos? No caso você tem um uma série de planos, né? Mas com criança a a
coisa é mais difícil? Ou não?
Inf– é eu acho que quando eu tinha todos pequenos sim né? como eu tenho a a mais velha
já grande já ajuda bastante né? e: :: di /divido um poco com o pai deles também né?
então...( ) eu vou começá a dividi mais... vão pra casa do vô... e assim... eu e/ esses anos
todos eu deixei de fazê um monte de coisa uma delas era voltá pra escola por causa deles
né? e eu acho que agora tá na hora de eu pensá um pouco ni mim
(fim do lado A)
Doc. – (falamos) quarenta e cinco minutos?
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Inf – é... faz tempo... nem vi passá...
Doc. – É que você fala bastante hein? ((rindo))... [ô
Inf – [(mais uma pra falar que) eu falo
bastante? ((rindo))
Doc. – Mas isso pra mim é ótimo ((rindo))
Inf - realmente... eu falo bastante ((rindo))
Doc. - Mas me fala uma coisa Ani... casar depois que você tem toda a sua vida construída...
tudo né? Que você mora com seus filhos... casar não perde um pouquinho a liberdade?
Inf – é COM certeza... não só a liberdade como eu já me habituei a... fazê tudo sozinha né?
eu vou tê que: :: aprendê de novo a convivê com outra pessoa... mas eu eu acho que vale a
pena... mas vai ser difícil... (vai)...com certeza... assim... é o meu quarto... é a minha casa...
é as minhas coisa... ((rindo)) vou te que apren/ muitas vezes ele me corrige né? “não... mas
é a nossa casa”... futuramente já vai sê... a gente tá arrumando tudo pra isso... então... eu
acho que nessa parte é meio compricado sim... mas nada que dê pra / que não de pra sê
resolvido com o tempo né? eu acho que eu consigo sim... se eu consigo me dividí em quatro
que é entre três filhos e mais ele... eu consigo resolvê isso né? ((rindo)) bem fácil
Doc. – É verdade... hoje você mandou ce / a a o pai levou as duas crianças pequenas?
Inf – é hoje eles estão passeando... estão todos foras... pra gente podê conversá sossegada
((rindo)) porque senão eles não iam deixá... principalmente a pequenininha
Doc. - Ela é a que bagunça mais?
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Inf – é... ela é mais bagunceira e o outro é mais grude né? então se teria dois... danadinhos
aqui enchendo o saco... querendo falá no microfone o tempo todo... ele ia tá fazendo um
monte de pergunta no teu lugar... ((rindo)) ia sê bem assim... a a grandona não... ela é queta
né? mas a iasmim ia tá aqui em pé... querendo cata o microfone... ia sê difícil
Doc. – Mas é bo/ é gostoso ter criança pequena né?
Inf – É ... eu eu eu:: acho assim né? você tem um é uma coisa... cê tem dois é outra... cê
tem o terceiro é outra totalmente diferente... você vê as coisas diferente... e num é só pra
você né? cê tem que dividir tudo... então muitas vezes eu penso mais neles do que ni mim
mesma... e eles preenchem um espaço muito... muito grande... e: :: se acostuma tanto...por
mais que cê / porque filho cansa... uma mãe que falá que não cansa... a mãe que falá que
num cansa é mentira... mas tem hora que cê fala ai eu não güento mais ...eu preciso de
férias de vocês né? Mas por exemplo... quando eu tô em casa sem um deles que seja eu fico
sentindo falta... o:: meu namorado geralmente (que) fala isso... quem sai mais aqui é o
jhonatan com o pai dele né? então muitas vezes ele não tá aqui... eu/ ele tá aqui eu tô
recramando... porque ele sempre grudado... sempre perguntando muito...falando muito... “ai
num enche o saco... fica queto... me dá um tempo” né? porque tem hora que eu não
guento... (rindo) mas aí quando ele não tá eu falo tô com saudade do jhonatan... aí (fala
assim) “ué ...quando ele tá aqui cê recrama... quando ele não sai cê recrama” ((rindo))?...
mas mãe é assim mesmo né? quando ta in/ todo mundo em cima uma hora cansa... cê fala
CHEGA
... mas quando sai também cê tá sentindo falta... e aprendi a dividir isso porque no começo
eu num queria... é/é compricado... mas eu aprendi a convivê com esse negócio dele passá
uma noite fora... imagina quando tive grande que me la/ me largá várias noite fora como
que vai ser né?
Doc. – E a educação dele?
Inf – do jhonatan?
Doc. - (é)
51
Inf - ele é um menino bem educado... não tenho recramação... as pessoas que conhecem ele
gosta muito dele... é uma criança doce... já me deu bastante trabalho... tem um gêninho
difícil... você fala não ele num/ ele vai negociá o seu não... ele num vai aceitá o não... então
é ele é meio compricadinho
Doc. – Eu digo educação assim... você acaba dividindo a educação dele com o pai né?
Inf – eu acho que nem quando é casado você não divide muito a educação de um filho né?
na minha opinião é muito mais a mãe do que o pai... muito menos morando fora né?
separado... então acho que a educação dele é responsabilidade minha... só minha...
porque... o pai ele vê como um: :: passeio... ( que nem ) o pai dele geralmente sempre foi
muito RÍgido... mas como vê ele só de vez em quando... acaba muitas vezes nem corrigindo
o que é pra corrigí... claro que ele tem aquele respeito... quando o negócio fica feio eu falo
vou falá pro teu pai... ai ele já se preocupa... mas no fundo no fundo a educação aqui tá
dependendo de mim mesma... é mais eu...
Doc.– E ciúme? Não?
Inf – da parte dele?
Doc. – Não... da sua parte
Inf – com o pai?
Doc. – ahã
Inf – não não...eu eu tenho mais ciúme dos avós dele do que o pai... quando ele: :: vai pra lá
e não qué voltá mais... ((rindo)) é:: tipo assim né? porque... lá ele pode TUdo... e aqui... tem
um monte de regras...não é o que ele mais ouve o dia inteiro... ((rindo )) e lá não...lá ele
pode tudo né? eles mimam demais tudo... então de lá eu acho que eu tenho mais ciúme do
que o próprio pai... porque lá ele... muitas vezes ele num qué nem vim imbora... aí quando
52
eu ligo “cê ta com saudade de mim?”... “to”... “mas qué i imbora? “não mãe deixa eu ficá
mais um dia” ((rindo)) ai: :: cê sente uma pontinha de ciúme... mas eu acho que é natural
também né? mas ele também tem muito ciúme de mim... então estamos quites...
((fim da entrevista))
4.1.2 – Transcrição da entrevista - Informante 2 ( Ariane da Silva)
Doc. – Vamos lá Arianne... então? Gravar aqui um pouquinho? Bom...então começa me
falando da sua escola... você está estudando... não está... como é
Inf – eu não estou estudando... (rindo)não tô estudando e a escola é legal... é e grande...tem
bastante salas... tem bastante amigos lá também.... de: :: todas as séries
Doc. – Que série que você está?
Inf. - eu tô na sétima
Doc. – E porque que você parou de estudar?
Inf. – eu estava cabulando aula e minha mãe me tirô... porque::: ela achou que: :: eu não
tava gostando da escola... que eu/ que ela achou que eu não queria ir MAis... pa escola e
ela me tirô
Doc. – E isso aí não é verdade?
Inf. – ah eu assim que sim... eu acho que é... eu acho que é verdade sim... (aí eu num...)
Doc. – Você disse que cabulava aula... e quando você cabulava você fazia o quê?
Inf. – eu ia pra casa dos amigos ...brin/fazê bagunça
53
Doc. – E que amigos são esses?
Inf. – são bastante amigos... é: :: carol... rogério... é esses amigos que eu faço bagunça na
sala
Doc. – E onde que é a casa que você ia?
Inf. – era a casa dos o/ do amigos deles... a gente não ia pra casa deles... a gente brincava lá
cos cachorros ... ficava... olhando a rua... olhava a televisão... assistia filme... brincava...( )
Doc. – Que tipo de filme que você gosta?
Inf. – gosto de: :: de terror e comédia...
Doc. – que filme de terror que você já assistiu?
Inf. – ah... assisti bastante... PÂnico... uh... (navio fan)/ é navio fantasma...bastante filme de
terror...
Doc. – E você na escola você gostava de escrever também ou você só gosta de assistir?
Inf. – hum... gostava mais ou menos... mais gosto mais de assistí...
Doc. – E fala dos seus amigos pra mim.
Inf. – dos meus amigos... todos?
Doc. – sim
Inf. – ah...como assim?
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Doc. – Como é que eles são? Porque que você acha que eles são legais?
Inf. – não acho que meus amigos são legais porque a gente conversa bastante ... tem
bastante amigos também...conheço o Rogério... marjori... a geisse... o jean....bastante
amigos... não são só da minha sala... também são das outras...
Doc. – E eles estão em que série esses seus amigos?
Inf. – meus amigos? tão na SÉtima... e os outros tão nas outras tamém...na quinta... na
quarta...
Doc. – E você... agora tem contato com eles?
Inf. – não porque quase não vejo eles... porque fico mais em casa do que sai
Doc. – E aí? Que amigos você tem hoje em dia?
Inf. – eu acho que... só na casa da minha bisa... que é a michele... é as menininhas de lá...
dos dos prédios que eu conheço... que é a michele... a patrícia... a iolanda...os meninos
tamém...
Doc. – E namorado Ariane?
Inf. - eu num tenho namorado
Doc. – Nunca teve?
Inf. – não
Doc. – E ficante?
Inf. – uh só um
55
Doc. – Só teve um? Quem era?
Inf. – era um (emerson ) acho que é Emerson...
Doc. – Que que é ser ficante pra você?
Inf. – eu acho que é só ficá e depois... sei lá... esquecê
Doc. – qual a diferença entre ficar e namorar?
Inf. – ah: :: namorá a gente fica... a gente se vê todo dia... e ficá a gente só fica um dia e
amanhã a gente não se fala...
Doc. – Nem se fala?
Inf. – a gente pode se falá um oi tchau ... mais a gente depois a gente não fica de novo...
agora namorá sim... a gente fica quase todo santo dia... assim....
Doc. – E você... acha que é mai/ que acha mais legal o que...namorar ou ficar?
Inf. – ah eu acho que é namorá
Doc. – E as outras suas amigas que que elas pensam disso?
Inf. – eu não sei... eu acho que a mesma coisa
Doc. – Suas amigas namoravam?
Inf. – algumas sim... outras não
Doc. – Fala dessa que namorava... como que ela é?
56
Inf. – ah: :: ela era muito (grudenta) era grude assim (sabe?)... ah namorava assim como as
pessoas ... se abraçava... se beijava... ( )
Doc. – tua mãe deixa você namorar?
Inf. – é eu num acho que sim...
Doc. – você acha que sim ou que não?
Inf. - eu acho que sim ((rindo))
Doc. – e você está com vontade de arrumar um namorado?
Inf. – ah::: eu acho que sim... num sei... talvez sim... talvez não... se aparecê
Doc. – e se aparecer tem que ser como?
Inf. – ((rindo)) tem que sê roMÂntico.... a sei lá... alguma coisa (assim)...tem que sê
bonito... romântico... carinhoso... é: :: assim... que que que: :: nu/ num pode sê maloquero...
são essas coisas
Doc. – Que que é ser maloqueiro?
Inf. – é menino... que: :: que fuma... que fuma maconha assim essas coisa... que BEbe...
Doc. – Tem muito disso na sua escola... Ariane?
Inf. – mais ou menos... tem alguns que sim... alguns que não
Doc. – E esses que sim se comportam como?
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Inf. – ah: :: são muito... rebelde... eles aprontam muito... a maioria das vezes eles tão na na
diretoria... conversando com o diretor
Doc. – E o que que eles fazem?
Inf. – ah ele apronta demais... faz muita coisa errada ((rindo))na escola
Doc. – (tipo?)
Inf. – ai tipo provoca a professora... não faz a liÇÃO....é: :: responde de: :: mal assim... fala
palavrão... essas coisas... coisa feia ((rindo))
Doc. – Fala... um dia que aconteceu alguma coisa assim com o professor em sala de aula...
alguma história que tenha acontecido na sua escola e que você achou assim... horrível
Inf. – ah uma... ah::: que eu achei horrível?... teve uma vez que ((rindo)) o menino falou
palavrão a professora foi lavá a boca dele com sabão
Doc. – Nossa... nessa escola que você estudava agora?
Inf. - não... era na ôtra....
Doc. – Que série que era?
Inf. – era era na: :: na quarta...
Doc. – E aí aconteceu o que?
Inf. – aí...(ele) lavô a boca dele e levo lá pa diretoria... aí conversô com os pais dele... aí
levô uma suspensão
58
Doc. – E nessa escola com esses meninos que você disse que tem menino maloqueiro lá...
que que eles já fizeram assim de horrível? Ou pelo menos de ruim né?
Inf. – ah eles ficam mexendo com as pessoas assim.... eu acho::: eu acho ruim... fica zuano
cas pessoa sendo que elas... tão queta... num fazem nada
Doc. – Com você também?
Inf. - cumigo assim não... porque eu fico mais no meu canto... não falo muito com eles...
então eu evito conversá com eles... pra não tê confusão...
Doc. – E que confusão que eles já arrumaram que você viu que deu problema?
Inf. – ai eles de vez em quando apronta e coloca a...a culpa nas outras pessoas... aí as
pessoas vão... tem que i pra diretoria sendo que a... que num foi ela que fez... ai ela acabam
se ferrando... sendo que não foi ela...
Doc. – mas me dá um exemplo (de alguma coisa que eles fizeram)
Inf. –uma coisa que fizeram.. ah ficaram sem fazê a liÇÃO... tiveram que i pra
diretoRIA...responderam mal a a professora... assim... falá palavrão... essas coisas
Doc. – E jogar bomba em banheiro...pichar a parede não?
Inf. – ah aí... até hoje num vi disso não
Doc. – Não viu nada disso? Então eles são bonzinhos.
Inf. – ah sei lá... eu acho que são errados
Doc. – Quantos alunos estudiosos tinha na sua sala?Aliás quem era o mais estudioso
também?
59
Inf. – era mais a ana... ela era a mais quetinha e fazia bastante lição
Doc. – E quantos alunos na sala?
Inf. - oi?
Doc. – Quantos alunos?
Inf. – eu acho que era trinta... acho que era trinta alunos na sala
Doc. – E como é que era sua sala de aula?
Inf. – como é que era? ah era grandona... tinha bastante cadera... a losa... a (professora)
Doc. – E a aula como que era?
Inf. – ah era normal... assim... professores... davam a / passavam lição na losa e a gente
copiava... de vez em quando eles... é::: davam prova... explicavam ...a lição...
Doc. – E durante o/ a explicação do professor os alunos o que faziam?
Inf. – ficava conversano... conversano num fazia a lição... desebedeceno a professora...
Doc. – E a conversa era muita?
Inf. – era ... de vez em quando num dava nem pra escutá o que a professora estava falano...
de vez em quando ela tinha que chamá o diretor pra/pras pessoa cala a boca
Doc. – E você? Achava o que disso tudo?
Inf. – uh::: acho que/ achava que era uma bagunça assim...
60
Doc. – e você gostava?
Inf. – da bagunça?...
Doc. – Hum hum
Inf. - ah eu acho que não... eu acho que não...
Doc. – O que você mais gostava da escola Ari?
Inf. – o que eu mais gostava da escola? gostava mais da educação física
Doc. – Como que era? Fala pra mim um pouquinho das aulas de educação física
Inf. - a gente jogava vôlei... a gente fazia bastante coisa (assim) a gente brincava... (cos )
professores... fazia brincadera... a gente: :: é... é... como é que fala? ... fazia exercícios...
isso... essas coisa.... te/teve um professor que passô lição de educação FÍsica... ele num era
muito legal não... ele era muito sério
Doc. – E que lição que ele passou?
Inf. – ah lição de futibol... uma lição de futibol... de vez em quando ele num levava a gente
pa quadra porque a gente tava conversano... e passava lição
Doc. – Na sala ele passava lição?
Inf. – é... na sala de aula
Doc. – E aí? Que que se/ que que os alunos faziam nesse caso?
61
Inf. – tinha que copiá poque senão ele chamava o diretor porque ele era muito bravo... e:::
se ele chamasse o diretor ia todo mundo pa diretoria
Doc. – E chegava na diretoria acontecia o quê?
Inf. – a a gente num chegô a i pa diretoria inda... a gente não chego a i pa diretoria (rindo)...
a gente fi/tentava ficá queto...ai as pessoas tamém ficava queta...e os da frente falava pa
calá a boca poque sinão ia todo mundo pa diretoria... até aqueles que tava(m) queto tamém
Doc. – E você nunca foi pra diretoria?
Inf. – eu já fui uma vez mais::: eu não fiz nada
Doc. – E o que falaram que você fez?
Inf. – falaram que...é: :: que as menina pegaram o boné do menino... e falaram que fui eu...
aí elas tinham que i pa diretoria e elas foram junto tamém...
Doc. – E como que resolveu a situação?
Inf. -ah a diretora marcô meu nome lá... falô que queria falá ca minha mãe...aí depois... aí
depois ela conversô lá com uma mulhé e dexô pra lá... que aí depois ela viu que não fui
eu... aí ela chamô a mãe das menina... que tinha pegado o boné...
Doc. – E... e tua mãe não ficou nem sabendo?
Inf. – não... não
Doc. – Que outros problemas que você já teve na escola Ariane?
Inf. – oi?
62
Doc. – Você já teve outros problemas na escola? Quais outros problemas você já teve?
Inf. – se eu já tive otro pobrema? teve um dia que eu não fui ca camiseta... da escola e eles
me levaram lá pa diretoria... conversei com eles e eles deixaram pra lá ... falei porque que
eu não tinha ido... porque: :: minha mãe ainda não tinha compado camiseta... aí eles
explicaram pa mim que tinha que i ca camiseta que sinão eles da próxima vez eles num ia
deixá eu entrá...
Doc. – E você/ então tua mãe não tinha comprado a camiseta por quê?
Inf. – porque ela ainda não tinha visto... não tinha dinheiro... aí depois ela foi e comprô
Doc. – Você mora só com tua mãe... Ariane?
Inf. – minha mãe e meus irmãos
Doc. – e seu pai?
Inf. – meu pai não... eu num conheço meu pai...é::: eu coNHEço... mas eu num moro com
ele
Doc. – E onde está seu pai?
Inf. – eu num sei...
Doc. – faz tempo que você não vê?
Inf. – não: :: no no/ quando eu fiz... é treze/ca... treze... é eu acho que foi treze anos eu vi
ele... que ele foi lá casa da minha bisa e a gente conversô...aí eu vi ele... aí depois ele foi
embora... que aí teve uma festinha lá na casa da minha tia e a gente fico lá... mais... eu num
quis ficá muito com ele...
((a Informante fica emocionada))
63
Doc. – Você não quis ficar com ele?Por quê?
Inf. – porque eu tava com raiva dele...
Doc. – Mas raiva por que Ariane?
Inf. – porque ele sumiu... ele sumiu seis anos...
Doc. – ah ele sumiu seis anos? E.. e aí ele deu que justificativa pra ter sumido?
Inf. – ele num falô nada...
(( a informante começa a chorar))
Doc. – E...Não precisa chorar por causa disso... a gente muda de assunto...tá bom? E sua
mãe? Fala da sua mãe e dos seus irmãos então agora... a gente não precisa falar do seu pai
se você não quiser tá? A gente pode passar para os seus irmãos então... fala um pouquinho
dos seus irmãos... como eles são... como é que é a vida na sua casa com a sua mãe...
Inf. – meus irmãos são bagunceiros... e cá minha mãe tudo bem
Doc. – Como que sua mãe é?
Inf. – minha mãe é legal... ela...é ela é legal... ela é bonita... a gente conversa bastante
Doc. – E o que que tem...o que que tem de/nela de mais chato... o que você acha?
Inf. – que ela não dexa eu fazer as coisas que eu quero...
Doc. – E o que que você quer fazer Ari?
Inf. – ah tem bastante coisa que eu quero fazê e ela num dexa...
64
Doc. – Me dá um exemplo
Inf. – ah... saí::: assim... ah bastante coisas assim...
Doc. – sair pra onde?
Inf. – ah pra lugares legais... pra casa da minha vó... pra minha bisa... de vez em quando ela
num dexa... que eu tenho que ( )
Doc. – E como que é lá na casa da sua bisa? Você fala muito da sua bisa...como que sua
bisa é?
Inf. – minha bisa é legal tamém... uma turminha legal porque lá tem us amigos... ( lá eu
vejo ) muitos amigos...
Doc. – quais?
Inf. – a michele... a patrícia... a Iolanda... tem os meninos tamém... que são do prédio
abaixo... que aí eu tamém vejo minha tia... minha prima...
Doc. – e sua prima tem a mesma idade que você?
Inf. – não é mais velha...
Doc. – e vocês costumam sair juntas?
Inf. – não... só de vez em quando a gente foi numa festa ca minha tia... que era do trabalho
dela...
Doc. – (e aí)
65
Inf. – aí foi legal tamém... aí depois a gente voltava durmia lá na casa da minha vó...
Doc. – e com as duas primas você tem amizade, ou só com uma?
((em conversa antes da gravação da entrevista a informante já havia citado as duas primas))
Inf. – é mais cá... cá isa... a natali num é tanto... é mais... nervosas... ( )
Doc. – Falei duas, você falou minhas primas, eu falei duas, mas são várias primas que você
tem ou são só essas duas mesmo?
Inf. – é só as duas... que eu me lembro é...
Doc. – E hoje vive só você... a sua mãe e seus irmãos... e tua mãe tem um namorado...não é
isso? Como é que é o relacionamento com ele?
((utilizamos dados da entrevista anterior com a mãe da informante))
Inf. – é bom... é bom... ele é legal... ele é... engraçado
Doc. – Você não liga pra ela casar?
Inf. – não acho que vai ser bom pra ela...
Doc. – e pra você?
Inf. – também...
Doc. – em que sentido vai ser bom?
Inf. – ah::: ah num sei...talvez
Doc. – Você... acha que sua mãe casar vai mudar o que Ariane?
66
Inf. – uh::: ah... talvez ela vai ter algum parceiro... uma coisa assim?
Doc. – mas eu digo assim...na sua vida na sua família... vai mudar o quê?
Inf. – ah::: bastante coisa... porque aí ele vai entrá tamém aí vai mudá...
Doc. – Ai vai o quê?
Inf. – aí vai mudá... poque ele vai entrá... vai entrá tamém na famía...(quando ele casá ca
minha mãe)... vai mudá as coisas...
Doc. – E o pai dos seus irmãos?
Inf. – o que que tem ele?
Doc. – Como é que é?
Inf. – ah! num vejo ele muito...
Doc. – E quando você vê?
Inf. – é quando ele vai buscá lá meus irmãos... e de vez em quando a gente fala um oi
tchau... assim... a gente num conversa muito não...
Doc. – Mas como que ele é?
Inf. – ah ele é um... ele é alto... magro... branco... tem um cabelo grande...
Doc. – e a personalidade dele?
Inf. – (que)
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Doc. – Como que ele é como pessoa?
Inf. – ah ele é meio... meio ruizinho...
Doc. – Mas ruizinho como?
Inf. - de vez em quando ele é meio ruizinho... porque de vez em quando ele nega as coisas
pra minha mãe sendo que é pelos filhos dele...de vez em quando ele não vai buscá os filhos
dele... aí depois ele reclama assim .. que que::: a iasmim parece que num gosta dele... sendo
que a culta é dele mesmo...
Doc. – e faz tempo que eles se separaram?
Inf. – faz...
Doc. – e você ficou chateada quando separaram?
Inf. – NÂO...
Doc. – Por quê?
Inf. - porque eu achei que foi bom pa minha MÃE... pelo menos... ((tosse)) ele parô de
brigá cum ela...
Doc. – Eles brigavam muito?
Inf. – de vez em quando sim...
Doc. – e você chegou a ver alguma briga?
Inf. – não... não só escutava
68
Doc. – E quando você escutava eles falavam o quê?
Inf. - ah eu num tentava escutá eu tentava... escutá a televisão pa eu num escutá
Doc. – e mesmo assim escutava ou não?
Inf. – de vez em quando assim
Doc. – e quando escutava ouvia o quê?
Inf. – ah eles brigavam muito... gritavam... essas coisa
Doc. – e você não lembra nada do que falava?
Inf. – não...
Doc. – E na sua in / e você sempre morou com sua mãe Ariane?
Inf. – não...ti/teve um tempo quando eu era pequena que eu morei com meu pai...
Doc. – e você lembra alguma coisa que aconteceu quando você morou com ele?
Inf. – que aconteceu? não... não muito
Doc. – você já ia pra escola nessa época?
Inf. – ia... ia pa/pa escolinha
Doc. – e ele te levava?
Inf. – é... ele me levava pa escola...
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Doc. – E morava só você e ele?
Inf. – não morava uma moça tamém... cum marido dela seus...e o: :: filho dele... que era
dois
Doc. – E ( ) ...e seu pai tinha mais dois filhos?...você tem mais dois irmãos... é isso?
Inf. – não era da moça... da moça que morava lá tamém... eu esqueci o nome dela
Doc. – E teu pai tem mais filhos ou só você?
Inf. – teve um tempo que falô assim que ele tava cum filhos... era gêmeos
Doc. – Mas você não sabe se é verdade?
Inf. – não... eu acho que sim... eu acho que é verdade...( ) eu não tenho certeza
Doc. – Que que você pretende fazer no futuro Ariane?
Inf. – quero trabalhá de veterinária
Doc. – E o que que você achou que tem que fazer pra conseguir isso?
Inf. – estudá bastante
Doc. – e você está disposta a estudar bastante?
Inf. – tô...
(( a informante fica emocionada e parece que vai chorar... a entrevista é interrompida por
cerca de dois minutos))
(...)
70
Doc. – e você pretende trabalhar logo Ariane?
Inf. – sim... pretendo
Doc. – e você pretende / pretende trabalhar com o que?
Inf. – uh eu acho que eu vou querê trabalhá de babá
Doc. – De babá? Então você não está cansada de cuidar dos seus irmãos?
Inf. –não... não muito
Doc. – E você acha que/ ( ) com o salário de babá dá pra você viver?
Inf. – acho que sim
Doc. – Quanto você acha que ganha uma babá?
Inf. – eu não sei...não faço a mínima idéia
Doc. – Quanto você acha que precisa ganhar pra sobreviver bem?
Inf. – hum... ah...pra se vivê bem? acho que uns duzentos reais ta bom ((rindo))
Doc. –Duzentos reais? Quanto se/ vocês moram de aluguel ou casa própria ?
Inf. – de aluguel...
Doc. – e quanto paga de aluguel? Você sabe? Ou faz idéia de quanto paga?
Inf. – eu acho que é duzentos e cinqüenta
71
Doc. – E como é que você quer ganhar duzentos?
Inf. – eu num sei
Doc. – Fala um fato importante que aconteceu na sua vida
Inf. - fato importante?... ah...
Doc. – Qualquer coisa de importante que tenha acontecido.
Inf. – qualquer coisa de importante?...
Doc. – Hum hum
Inf. – eu acho que foi querer voltá cá minha mãe mora... vir morá cá minha mãe...
Doc. – como que foi isso tudo?
Inf. – uh:::
Doc. – Conta a história pra mim
Inf. – contá a história? é eu tava morando com meu pai... aí não queria mais morá com
ele... queria voltá cá minha mãe...aí eu voltei ca minha mãe e foi bom pra mim
Doc. – Fala do dia que ela foi te buscar... você lembra?
Inf. – não... eu num lembro direito...
Doc. – e você lembra porque você queria voltar a morar com ela?
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Inf. – não...
Doc. – Fala tudo que você faz no dia desde que você acorda até a hora que você vai dormir
Inf.- tomo café... dou café pros meus irmãos... banho na minha irmã... arrumo a casa...
depois arrumo almoço...i::: depois vô assisti... se a casa tive terminada ... se tive ropa pa
passa ( ) aí depois dá a hora da janta... arrumo a janta...aí se tive um filme pa passa eu
assisto... e vô durmi
Doc. – Arrumar a janta é o quê?
Inf. – arrumá a janta? é fazê coMIda... o arroz fejão... com alguma coisinha
Doc. – e que coisinha?
Inf. – ah uma mistura... uma mistura... uma salada... um suco
Doc. – você sabe fazer tudo Ariane?
Inf. – não
Doc. – O que que você sabe?
Inf. – o que eu sei fazê? um arroz... fejão... um ovo... um bife... um frango... uma coisinha
básica... não sei fazê nada de frescura
Doc. – O que que é frescura pra você?
Inf. – ah uma coisa cheia de de de: :: ingrediENte... cheia de negocinho... eu num consigo
Doc. – O que que você mais gosta?
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Inf. – de fazê?
Doc. – Hum hum
Inf. – eu acho que é macarrão mesmo... macarrão cum lingüiça
Doc. – isso é o que você mais gosta de comer?
Inf. – é...
Doc. – E você está cansada desse dia a dia... de cuidar dos irmãos... fazer comida? Que que
você queria mudar da sua rotina?
Inf. – de vez em quando cansa sim... um poco... ( ) o que eu queria mudá na minha
rotina?... é::: ... acho que é saí um pó: :: co assim... passeá...me diverti um poquinho
Doc. – ter mais amigos?
Inf. – é tamém...
Doc. – pra você/ e namorado... como tem que ser um namorado pra você?
Inf. – tem que sê cariNHOso... roMÂntico... bonzinho... não tem que sê cheio de
frescurinha... (não) pode sê maloquero...
Doc. – Como que é um namorado maloqueiro?
Inf. – é::: ... é que ma/ fuma... que fuma: :: maCOnha...( ) cigarro... que bebe... que que: ::
que apronta... que faz piche... essas coisa...
Doc. – Você conhece alguém assim... não?
74
Inf. – não
Doc. – não? ( )
Inf. – não... acho que não
Doc. – na escola não tem ninguém assim?
Inf. – ah tem mais eu... num falo muito cum eles não
Doc. – fala uma coisa pra mim, é se você começar a trabalhar o que que você acha que vai
mudar na sua vida?
Inf. – o que eu acho que vai mudá na minha vida?... uh... eu acho que... eu vô saí mais...
que eu vô tê bastante amigos no trabalho tamém... assim...
Doc. – Mas se você vai trabalhar de babá você vai cuidar só de uma criança... como você
vai ter amigos?
Inf. – ah... vô passeá com ele... ((rindo)) ca criança... sei lá... ( ) conheço lá na casa da
pessoa... é vô tê amizade cos pais dele tamém...
Doc. – e você não tem dó de deixar seus irmãos?
Inf. – ah tenho...mais...mais eu num vô tá dexando eles... vô acabá veno eles tamém...
Doc. – Mais aí é outra pessoa que tem que cuidar?
Inf. – é: :: ( ) pa creche vão pa escola tamém
Doc. – O que que você mais gosta na sua vida Ariane?
75
Inf. – que que eu mais gosto na minha vida? ... ah::: num sei... minha mãe... minha
família... é isso aí...
Doc. – E o que você menos gosta na sua vida?
Inf. – o que eu menos gosto... é... ah o que eu menos gosto eu num sei não... acho que nada
Doc. – Não tem nada que você não goste?
Inf. – eu acho que não... acho que não tem não...
Doc. – Qual que é o seu sonho?
Inf. –Sonho de que?
Doc. – Sonho de tudo...de ter... o que que você queria ter?
Inf. – o que eu queria tê? Ah... o que eu queria tê?... é eu acho que tá bom o que eu tenho já
Doc. – Não tem nada que você queria ter e não tem?
Inf. - não... tem não
(( a informante mexe no microfone))
Doc. – mas que estranho... uma moça de quinze anos... não tem vontade de ter nada?
Inf. – eu te:::nho... tenho vontade de... de::: de tê um cachorrinho... de viajá... de tê (os)
carro...assim
Doc. – Agora melhorou, poxa... como assim não tem vontade de ter coisa nenhuma? Tem
vontade de ter um cachorrinho? ( ) você nunca teve um cachorro?
76
Inf. - tive... tive um monte já...
Doc. – E aconteceu o que com eles?
Inf. – teve uma que morreu... teve uma que(minha mãe) teve que dexá lá... a maioria... eu
acho que a maiori/ é teve umas que minha mãe teve que dá... uma morreu...
Doc. – E teve que dar por quê?
Inf. – porque a casa não aceitava cachorro...
Doc. – e alguma dessas cachorro/ desses cachorros que sua mãe teve que dá era seu?
Inf. – era... a maioria era
Doc. – E... como que foi deixar o cachorrinho ir embora?
Inf. – foi ruim... foi triste... eu senti muita falta... que eu queria continuá com eles... mas
num podia...
Doc. – E você ...ficou chateada com sua mãe?
Inf. – um poquinho... mas num podia ... fazê o quê?
,
Doc. – Você não ligou muito?
Inf. – ah liguei né? mas... o que num podia fazê... num podia tê...
Doc. – Você disse que quer ser veterinária... então você não gosta só de cachorro... que
mais bicho você gosta?
77
Inf. – ah eu gosto de gato... de passarinho... gosto de bastante animais... gosto de de de de
tigre... gosto de golfinho... gosto de bastante
Doc. – e desses animais quais você já viu?
Inf. –qual que eu já vi? eu já vi o tigre... e o passarinho... gato... ((rindo))
Doc. – tigre... passarinho... gato e o que mais?
Inf. – é eu acho que é só esses... tamém...
Doc. – E você acha que um veterinário faz o quê?
Inf. – cuida dos animais...
Doc. – cuida como?
Inf. – ah... se tive doENte... ele cura... tem que dá banho... sei lá... alguma coisa assim...
tosá...dá a vaCIna
Doc. – você deve ter visto por aí muito animalzinho abandonado... né Ariane? Que que
você faz?
Inf. – que que eu faço... como assim...
Doc. – quando você vê os animaizinhos abandonados... como que fica?
Inf. – como que fica? eu tenho vontade de levá pa casa...((rindo))
Doc. – Já levou algum?
Inf. – se eu já levei algum? não...poque minha mãe não vai dexá
78
Doc. – você tem medo da sua mãe?
Inf. – se eu tenho medo da minha mãe?... ah um poquinho
Doc. – Você tem medo dela fazer o quê?
Inf. – dela brigá...(rindo)
Doc. – e quando ela briga ela (fica como)?
Inf. – ela fica nervosa...
Doc. – Mas você não apanha não?
Inf. – agora não
Doc. – Mas já apanhou?
Inf. – já
Doc. – conta um dia que você apanhou por algum motivo assim... alguma coisa que você
aprontou
Inf. – que eu aprontei?... quando eu era menor...tava ca minha colega... eu queria escutá::: a
fita e pega a minha boneca pa gente brincá... aí a gente procurô uma chave que tinha lá ...
abriu a porta... aí ela chego... abriu ela me bateu
Doc. – que fita?
Inf. – a fita de de::: do é o tchan... que a gente queria dançá
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Doc. – Aí como /eu num eu num entendi direito a história...como é que foi? Você queria
pegar a chave? Eu não entendi direito
Inf. – eu queria pegá a boneca e a fita e a porta tava trancada... e a gente procuro a chave
que tava lá na casa do vô dela e abriu a porta ... na hora que minha mãe chego ela brigô...
((fim do lado A – 30 minutos ))
Doc. – me explica direito, a... a fita estava na sua casa... e a chave estava aonde?
Inf. – a chave tava na casa do vô dela que morava... o vô dela... a mãe dela... a uma... eu
acho que era... irmã... eu num sei direito... e a chave tava co/ na casa do vô dela.. a gente
foi lá na casa do vô dela e pegô a cha/ e procurô um a chave parecida com a nossa...cá
chave da minha mãe... minha mãe tinha levado a chave... tava trancado eu tava na casa da
minha amiga... aí eu fui lá... procurei a chave... e abri a porta ... na hora que minha mãe
chego ela brigô...
Doc. – E teve alguma vez que você apanhou sem motivo?
Inf. - não.. não teve nenhuma...
Doc. – seus irmãos apanham também?
Inf. – sim... quando eles aPRONtam... desobedecem sim
Doc. – Que que eles costumam aprontar? Fala da pequenininha... o que que ela costuma
aprontar?
Inf. – ah ela pega as coisas que não POde... ela mexe na água num pode... essas coisinhas...
Doc. – só assim pouquinho que ela faz? Não faz nada assim mais?
80
Inf. – que ela faz mais de::: terrível? ... ai... no momento eu não tô lembrando de uma coisa
assim... que ela já fez de tão terrível...
Doc. – Não... não precisa ser nada tão terrível... conta um/uma história assim que aconteceu
com ela...que ela fez que te deixou preocupada
Inf. – ai teve um dia que ela subiu a escada e::: o portão tava aberto e ela foi pará lá na
rua...((rindo))
Doc.- Foi parar na rua?
Inf. – é (rindo)
Doc. – e a rua que você mora é é perigosa?
Inf. – é ... é pa/ é tipo de uma avenida... sorte que... o dono da casa tava no portão ele viu...
aí pegô ela...
Doc. – essa rua aqui de cima é perigosa?
Inf. – é... é passa muito carro... ônibus... moto.. é
Doc. – Aqui passa ônibus também? Que ônibus?
Inf. – eu não sei o nome não...((rindo))
Doc. – nunca pegou esses ônibus daqui?
Inf. – não... só uma vez... só uma vez que/ só uma vez só pa comprá ropa que eu peguei...
Doc. – sozinha?
81
Inf. – não... com meu/ ca minha mãe... ca minha mãe... o leandro e meus irmãos...
Doc. – Leandro? Leandro quem é?
Inf. – o namorado da minha mãe...
Doc. – Você falou, né? Já no começo que é o namorado da sua mãe... você falou que ele é
legal...tudo... que que tem/ fala uma história que aconteceu com ele
Inf. – uma história que aconteceu com ele? ...ah eu não sei uma história que aconteceu cum
leandro...
Doc. – Com ele e com você... claro... uma história interessante... que já tenha oco/
ocorrido... com vocês... todos
Inf. – uh: ::... acho que não tem nenhuma não... é eu acho que não tem não
Doc. – Não tem nada? E uma história que tenha acontecido lá na casa da sua avó?
Inf. – na casa da minha avó? ... uma história que tenha acontecido... é eu tava brincano cas
minhas amigas... aí já tava ficano tarde eu num queria entrá... aí minha avó foi me
procurá... aí eu me escondi pra ela num me pegá...
Doc. – E se escondeu aonde?
Inf. – me escondi atrás dos prédio... aí teve uma hora que ela me achô e brigô...
Doc. – Brigou com você?
Inf. – é
Doc. – E quando você vai pra lá seus irmãozinhos vão também? Não?
82
Inf. – só o jhonatan e de vez em quando... não é sempre
Doc. – E quando ele tá lá é melhor ou pior?
Inf. – hum ... num faz tanta diferença... acho que é a mesma coisa
Doc. – E você tem que ficar cuidando?
Inf. – não porque ele fica com os amiguinhos DEle... e ele num fica aprontano muito lá...
que ele obedece minha bisa...
Doc. – sua irmãzinha não apronta quase né? A única coisa que ela fez foi parar lá na rua
né? E seu irmão?
Inf. – meu irmão?... meu irmão ele desobedece basTANte... fica enchendo o SAco... irrita
as pessoas... irrita bastante eu e a iasmim
Doc. – Por quê?
Inf. – eu acho que ele gosta... sei lá
Doc. – Mas o que que ele faz pra te irritar?
Inf. – ah ele fica provocano...enchendo o saco...aí de vez em quando ele fica na frente da
teevisão e eu quero assisti: :: essas coisinhas... assim
Doc. – Ele fica na frente da televisão só pra você não assistir e brigar com ele?
Inf. – é... aí ele fica provocano essas coisinhas pequenas
Doc. – e você acha que... você acha que sua mãe tem que ter mais filhos?
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Inf. – não...
Doc. – você quer ter filhos? ariane?
Inf. – quero... quero te quero... eu acho que eu quero tê u/ tê um ou dois... no máximo
dois...
Doc. – E você pretende casar cedo?
Inf. – não... eu acho que lá pelos trinta anos eu vô casá...
Doc. – Trinta? E... vai esperar trintar pra casar?
Inf. – é...
Doc. – Como que tem que ser um marido pra você?
Inf. –um marido? tem que ser trabalhador... bonzinho... num pode sê chatu ... é tem que ser
romântico tamém... bonito... forte...assim
Doc. – Você é bem altona né? Pra... um namorado seu tem que ser altão também ou não?
Você acha que isso não faz muita diferença?
Inf. – tem que sê altão? não... tem que passá um poquinho de mim só
Doc. – Então tem que ser altão né?
Inf. – ah num tem que sê tão ALTÃO... assim também... num pode também sê baixinhu...
Doc. – Por quê?
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Inf. – Porque senão fica chatu ... num tem graça... aí eu vô sê mais alta? (rindo)
Doc. - Você acha que essa coisa da aparência é tão importante assim Ariane?
Inf. – não... não...
Doc. – O que é mais importante?
Inf. – acho que é mais importante: :: é: :: ... o que a pessoa é pu dentro... não o que é por
fora assim...
Doc. – mais importante é o que a pessoa é por dentro... mas você não quer namorar com um
com um baixinho... como é que fica?
Inf. – ah cum baxinho tamém não...((rindo)) pode ser até feinho ... mas baxinho não
Doc. – pode ser feinho?
Inf. – mas baxinho não
((risos))
Doc. – Que tipo de homem você acha bonito? Fala/ me dá exemplo assim da televisão
Inf. – que tipo de homem que eu acho bonito?... o leonardo di caprio... uh: :: xeu vê: :: é
que eu num sô muito boa pa nomes... uh: :: o urubu tamém é bonito...
Doc. – Quem?
Inf. – o urubu... da malhação... ((rindo))
Doc. - Ah é? Você assisti malhação?
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Inf. – assito...o miguel também da novela...
Doc. – Qual novela?
Inf. – rebelde...o diego...tamém...
Doc. – que tipo de coisa que você gosta de assisti...além de / você já falou que gosta de
assistir malhação? Aliás que que tem na malhação que você gosta?
Inf. – ah que é uma novela mais pra jovens... eu gosto de novela assim
Doc. – Como que é a novela?
Inf. – é uma novela de JOvens... uh::: ... uh::: ah... é uma novela/ ah eu num sei explica
como é que é a novela...((rindo))
Doc. – E o que acontece?
Inf. – que que acontece? ah eles estudam num colégio... aí de vez em quando acontece
umas maldades... outras não...
Doc. – Que que você acha que são as piores maldades que pode acontecer com um jovem?
Inf. - as maldades que pode acontece cum jovem? ah tipo o que o urubu faz... separá um...
casal...assim... sendo que ele nem gosta muito dela de verdade... é o que eu acho
Doc. – E o que que ele faz pra separar o casal?
Inf. – ah ele apronta... fala que/ é: :: droga o menino pra falá que ele traiu a outra...que ele
paga ela pra trair
Doc. –E você acha que na vida real acontece essas coisas também ariane?
86
Inf. – eu acho que sim... sei lá... (vai lá sabê )
Doc. – Você já viu acontecer alguma coisa assim?
Inf. – não... eu acho que não... não vi não...
Doc. – Fala um fato que aconteceu com... alguma colega sua assim de... amoroso... ou
então com você mesmo né?
Inf. – comigo? comigo não... co/ ca minha colega?... ah eu já ajudei minha colega a ficá
cum menino
Doc. – Conta essa história pra mim
Inf. – ah ela tava a fim dele... aí eu fui lá conversei com ele... aí veio as meninas tamém me
ajudaram... aí eles ficaram junto... aí de vez em quando... como ele era tímido... de vez em
quando eles num ficava... aí a gente ia lá e dava uma forcinha...
Doc. – O que que vocês falavam?
Inf. – ah a gente ia lá ... levava eles pra ficá e depois dexava eles sozinho
Doc. –e apresenta/ mostrava um pro outro, é isso? ((rindo))
Inf. – é ((rindo))
Doc. – E você precisa de uma forcinha também pra arrumar um ficante?
Inf. – ah sei lá... acho que não
Doc. – Você disse que já ficou uma vez né?
87
Inf. – já
Doc. - E como é que foi isso aí?
Inf. – ah a gente/ foi no final da aula... a gente entrô dentro da sala e ficô
Doc. – E ele era da mesma escola então?
Inf. – era da minha sala
Doc. – E como é que ele era?
Inf. – ah ele era branco... alto... meio assim... é: ::... meio pleiboizinho...é... olhinho azul...
cabelo castanho es escuro...
Doc. – já ficaram zoando você na escola ariane?
Inf. – já
Doc. – Como que foi? Conta pra mim
Inf. – ah foi ruim... é chato as pessoas ficarem zuando com você
Doc. – e o que que eles falaram?
Inf. – ah eles me chamaram de gordinha... de cabelo de bombril...
Doc. – e você zoa com alguém?
Inf. – zou
88
Doc. – E o que que você fala? Com quem você zoa e o que você fala?
Inf. – é eu só zuo com as pessoas que mexem comigo também...igual aquelas pessoas que
estão queta eu num vô zua com elas
Doc. - E o que que você fala? Com quem que você já zoou e o que você falou?
Inf. – ah já zoei com um gordinho ele veio mexê comigo...((rindo)) aí eu chamei ele de
gordinho... baleia... saco de areia... essas coisa
Doc. – e na escola acontece muito isso?
Inf. – acontece
Doc. – já aconteceu alguma coisa assim que deu realmente problema por causa de um zoar
com o outro?
Inf. – teve um... teve um... um tempo que: :: as meninas tava abaixando a calça uma da
outra pa os menino ver a calcinha...aí e/ o diretor acabô vendo uma das meninas e levô ela
pa diretoria
Doc. – E aí? Aconteceu o que?
Inf. – aí ( eu )/ ela foi suspensa e chamaram os pais dela...aí as outras meninas tamém que
tava fazendo isso eles tentaram procura pa levá e/ pá levá elas tamém
Doc. – e você estava junto?
Inf. – não
Doc. – mas você viu?
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Inf. - vi
Doc. - e aconteceu o que com essas meninas?
Inf. – ah elas foram suspensa e... chamaram os pais dela pa conversá...
Doc. – Só isso? Depois continuaram lá?
Inf. – é... mais depois elas pararam...
Doc. – e chegaram a abaixar a sua calça?
Inf. - uma vez só...
Doc. - E aí? Como é que foi?
Inf. – aí fui conversá com o diretor... aí ele procurô a menina e levô ela pa conversá...
Doc. – E sua mãe ficou sabendo?
Inf. – NÃO ...
Doc. – Você não conta as coisas que acontecem na casa/ na escola pra sua mãe?
Inf. – ah só quando é uma coisa GRAVÍssima assim...
Doc. – tipo?
Inf. – ah tipo: :: ... ah os menino/ sei lá... alguém tentá me batê... alguma coisa assim... ficá:
:: arrumando turminha pa brigá...e já aconteceu isso com uma menina
Doc. - E como foi?
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Inf. – a menina da minha sala queria batê nela e a ela num fazia nada... ela só/ ela é: :: ela
só olhava pra menina e ela achô assim que tava carando/.encarando ela... arrumo uma
turminha pa batê nela teve que ficá perto do diretor pra num acontecê nada com ela...
porque senão ela ia apanhá...
Doc. – e você já brigou na escola?
Inf. – não...
Doc. – Nunca? Está com cara de quem brigou, hein?
Inf. – não... nunca briguei... eu tento me: :: me afastar de de: ::... de briguinhas... de
turminha assim que gosta de encrenca
Doc. – E sua turma como é que é?
Inf. – minha turma? tem alguns bagunceiros... tem alguns estudiosos... tem alguns que é
mais ou menos... que de vem em quando bagunça... de vez em quando fica queto... tem
aqueles safados tamém...((rindo))
Doc. – Safados quem são?
Inf. – ah os meninos... ficam passando a mão na bunda das meninas... ficam mexendo
Doc. – Já aconteceu alguma coisa assim com você?
Inf. – só uma vez... mas aí depois eu briguei com o menino... ((rindo)) e não aconteceu
nada mais...
Doc. – Que que ele fez?
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Inf. – ele passô a mão ni mim... eu briguei com ele... ele num... veio mexê mais comigo
Doc. – Aí você falou o que pra ele?
Inf. – ah eu briguei... xinguei ele... bati nele... aí ele nunca mais mexeu cumigo...
Doc. – e ele era da sua sala?
Inf. – era...
Doc. – folgado, né?
Inf. – hum hum... é...
Doc. – Mas você brincava com ele antes pra ele fazer isso? Ou não?
Inf. – não... não porque de vez em quando os meninos quando mexe cas menina num tão
nem aí (se eu falo) com eles ou não
Doc. – Então na escola é jogo duro né? Que que é a parte melhor da escola e que que é a
pior?
Inf. – a parte melhor da escola?... uh: :: ...a parte ruim são... aqueles menininhos chatos... a
parte melhor... ah a parte melhor eu num sei... ((rindo))
Doc. – Não tem nada de bom na escola?
Inf. – a parte bo/ boa na escola? ... ah tem os amigos... aqueles professores legais... assim...
as aulas tamém que são legais
Doc. – Como que é um professor legal?
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Inf. - ah um professor bonzinho... que num pega muito no pé... que num é muito chato...
muito exigente...
Doc. – Que que os professores exigem de vocês?
Inf. – exige/ ai de vez em quando tem alguns professor que fica pegano no pé sendo que a
gente num faz nada...já aconteceu comigo
Doc. – O que por exemplo? Conta essa história aí do que já aconteceu com você...
Inf. – ah a a professora... o nome dela era Cecília... ela/ ela ( ) eu nunca fui ca cara dela
tamém... e ela tamém nunca foi ca minha ... a gente ( ) se dava muito bem não... pegava
muito no meu pé... ela ( ) tamém num obedecia muito ela
Doc. – E o que que ela fez?
Inf. - que que ela fez? ah ela era muito chata... ela fi/ qualqué coisinha que eu fazia olhava
pro lado ela já tava... brigando comigo
Doc. - E você?
Inf. – ah eu tinha que ficá queta... num podia fala ( ) sem nada...
Doc. – Ela era professora de que?
Inf. – ela era professora de tudo
Doc. – tudo?
Inf. – é
Doc. - que série que foi?
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Inf. – foi na na... eu acho que foi na terceira... eu num tenho certeza não... é foi na terceira
porque na segunda eu ainda tava ca outra (professora)
Doc. – E agora...na sexta/ se/ você não chegou a fazer a sétima série não é isso?
Inf. – eu só fiz o começo?
Doc. - só o comecinho?
Inf. – só o começo
Doc. - E agora na sexta... série... na quinta... como que era?
Inf. – como é que era? ah era mais como::: como era... na sétima tamém... só que na sétima
teve umas diferença porque eu/ é: :: no começo a gente tinha que mudá de sala... e depois
era os professores que ia mudano
Doc. – Os professores que mudavam? E vo/ no começo vocês que iam mudando de sala?
Inf. – é ma... é mais num deu certo porque de vez em quando os alunos se escondiam no
banheiro pa num / pra num i pra aula... aí depois eles começaram a fazer o professor... é: ::
mudá de sala
Doc. – E você... já se escondeu no banheiro também ou não? ((rindo))
Inf. – não... num me escondi não
Doc. – É... no dia a dia da aula Ariane... é muito cansativo? Quantos professores são...
quantas matérias... que/ como que é a avaliação?
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Inf. – uh: :: professora ce é/ professoras de todas as matérias... tem professor de portu/ de
português... de matemática... ciências... histórias... ah: :: ... ai... ah... ah otro eu num lembro
Doc. – Quantas matérias eram?
Inf. – pêra aí... eu acho que era cinco
Doc. – só cinco?
Inf. – é
Doc. – E como que era a avaliação?
Inf. – avaliação?
Doc. – Tinha que fazer trabalho... prova? Como é que era?
Inf. – tinha...tinha um/ é num era TANta prova assim... era mais no final do ano que tinha
prova... uhm: :: e trabalho ... trabalho era bastante que os professores dava
Doc. – e você chegou a fazer bastante trabalho em casa ou não?
Inf. – sim...de vez em quando era im/ em grupo... e como eu não sabia onde que...minha
colega morava ela fazia sozinha
Doc. – E botava seu nome?
Inf. - é... de vez em quando eu fazia pra ela... assim ( )
Doc. – fazer em grupo mesmo não dava certo?
Inf. – não... uma vez eu tentei mais aí... num deu pra ela ir porque ela num... num
95
achô minha casa... aí eu tive que/ aí... ela fez sozinha e eu num fiz...
Doc. – Qual que é a profissão da sua mãe Ariane?
Inf. – ela é custurera
Doc. – E você... quer ser costureira também algum dia? Já pensou nisso? Você já falou que
quer ser ba/ que pode ser babá... falou que quer ser veterinária... mas já pensou em ser
costureira também ou não?
Inf. – não... nunca pensei não...
Doc. – O que que você acha dessa profissão?
Inf. – ah... uma profissão boa ... sei lá... mas eu nunca pensei em ser custurera... nunca
passo pela minha mente assim... sê custurera...
Doc. - (por quê)
Inf. – porque: ::... ah porque eu nunca parei pa pensar em sê custurera... só parei pa pensá
nas outras coisas assim ... custurera não...
Doc. – Costureira você acha que pode ser muito cansativo?
Inf. – eu acho que sim... pelo estado da minha mãe sim... de vez em quando ela chega
muito cansada
Doc. – ah é?
Inf. - é
Doc. – Que que/ qual / fala um defeito e uma qualidade da sua mãe
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Inf. – u: ::ma qualidade... (xeu vê)... u: ::ma qualidade que de vez em quando ela é
boazinha... e: :: um defeito... que de vez em quando... é: :: ela num dexa eu fazê as coisa
assim que eu quero... é...
Doc. – Quando ela é boazinha ela faz o quê?
Inf. – quando ela é boazinha? de vez em quando ela tá de bom humor ... de vez em quando
ela tá de mal humor...
Doc. – quando ela está de bom humor como que ela é/ faz? O que que ela faz?
Inf. – ah ela é brincalhona... conversa... ela faz palhaçada...((rindo))
Doc. – e quando está de mal humor?
Inf. – quando ela tá de mal humor ela fica mais deitada na cama... assistindo televisão...
não quer mais nem conversá...((rindo))
Doc. – E você quando está de mal humor?
Inf. – quan/ ah... não é MUIto... não é sempre que eu tô de bom humor...
Doc. – Não é sempre que você está de bom humor ou de mal humor?
Inf. – de mal humor
Doc. – E du/ você geralmente está de bom humor... então?
Inf. – é...
Doc. – E aí? Como você é?
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Inf. – como eu sou de mal humor ou de (bom) humor?
Doc. – De bom humor
Inf. – de bom humor? ah eu sou boazinha cos meus irmãos...de vez em quando eu tô de mal
humor eu fico mais chata
Doc. – E aí você faz o que?
Inf. – eu tenho que ficá queta pa num fica brigano cum eles...
(( o irmão da informante puxa o fio do telefone. A entrevista é interrompida))
4.1.3 – Entrevista 2 - Informante 3
Doc. Bom, Fausto, fica à vontade, é uma conversa informal, tá?
Inf. nós vamos começar por onde?
Doc. Por onde você quiser (...) fala um pouco sobre a sua vida, né?
Inf. dos oito ano?
Doc. Humhum...
Inf. Eu estudei em duas escola até hoje, eu fiz ó, comecei na... Na... No pré, primeira,
terceira, quarta, quinta, aí mudei pra/ morei doze anos na penha, depois da penha fui morá
em poá, motivos financeiro, o aluguel começô a ficá muito caro aqui em são paulo
Doc. Sempre morou com a sua família?
Inf. humhum ((afirmando)). o custo de vida começô a ficá alto, alto, alto, alto, alto, então
meus pai decidiru achá que era melhó morá em/ um poco mais afastado de são paulo mas
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um lugar mai barato a condição de vida era melhor e... na época foi beneficiado, tinha uma
água mineral grátis da água poá
Doc. É? ((risos))
Inf. a melhor água do planeta! cê molhava todo mundo, a garrafa poá! depois de lá pra cá
eu completei dezesseis, dezessete ano comecei a a aprontá algumas besteira na vida, tinha
ido com treis ano de de de de cadeia, aí depois de lá pra cá eu saí, criei um poco de juízo...
um poco, né!... aí me chamaro pra catá papel na rua, aí eu falei ah, dá dinhero? ele falô dá!
dá pra sustentá, meu, a maioria do pessoal que trabaia lá consegue sustentá a família, mãe,
filho, consegue pagá o aluguel... eu vô, vô dá uma olhada... aí fui, dois dia tá certo... dexei o
JUCA na boa aí e escuta mano, vô trabaiá, pra mim tá opinando o dinhero e... e me
sustentá. na época meu vício era vídeo game e futebol num dá pra eu sustentá. num dá pra
eu chegá no bar e comprá um cigarro né? nesse meio tempo conheci a MICHELA, ela
morava sozinha, tava morando cum meus irmão, começamo a namorá, uns dois meis nóis
tava morano junto já, a gente nem/ sem percebê, assim, já tava morano junto, já cum as
coisa grudado na outra, aí ela falô assim é isso memo qui cê qué da sua vida? eu falei meu,
já tô no barco meu, vambora! aí passô menos de um ano meu, já existia a cooperativa aqui
já, o projeto mesmo existia já o... dois anos atrais, eu vô dá uma olhada naquilo ali meu.
nesse meio tempo tinha um conhecido dela, da michela, que trabalhava aqui, até o LUIS, tá
até hoje, falô não fala pra ele dá uma passada lá conversá cum a dona INEGI, co sinhor
NATAN, co nobu, se tivé lá, o pessoal vai consegui incaxá ele lá, aí peguei e conversei co
nolei... conversei cum ela um dia e falô não, pode voltá aqui no otro dia. eu lembro até o dia
até era dia quinze de abril de dois mil e quatro, não, pode voltá aqui no otro dia, intão tá
bom. voltei ela falô assim, ó seu box é aquele ali aí um dia cê toma conta do box. mantê ele
limpo, joga o seu lixo fora, e eu vou se dar muito bem, hum, beleza. aí como eu já tinha um
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conhecimento já cum o sistema da reciclagem, aí fui convidado pra trabalhá na
administração, junto com os catadores, aí era co ricon junto, aí passou um tempo enjoamo
da cara dos cara do otro lado, vim trabalhá sozinho. aí fizemo a revisão separamo as coisa
minha aí, sinti uma pancada da adminintração do projeto quase todo aí eu e o GIVANILDO
e um otro colega nosso que trabalha aqui, hoje tá jogando bola. aí passamo a tomá conta e
vai pra cá e vem pra lá e vai pra cá e vem pra lá. aí o FRANGO aí tamém deu uma
assistência boa pra nóis uma, né, deu um empurrão bom pra nóis falou nossa ganhei esses
rapaizinho como que vamo fazê? natan, a nedi, o bolo, o próprio emerson, vc conhece o
emerson? que trabalha lá em cima no ce fazendo hora? trabalhô aqui. o renato já foi
embora, vários otros catadores já passaram, acabou de í embora tamém esses dia o morildo,
ele falô que era muito trabaio pra ele ficá parado, porque é excesso de trabalho ficá parado,
ficá parado cansa! aí... resumino é... num consegue tê um ganho sustentável, quem ganhava
duzentos reais por semana na rua, em uma quinzena consegue fazê seicentos reais numa
quinzena, num mêis mil e duzentos reais, dependendo da estabilidade do papel até mil e
quatrocentos reais, num mês. então pra quem saiu duma penitenciária, cê chegô numa rua
do nada fazê nada pra comprá, num voltei pro crime, consegui me estabelecê hoje... eu me
sinto vitorioso, né! eu, particularmente, reclamo porque eu sô chato memo, né, quando eu
boto eu falo, reclamo que eu sô chato memo, porque se você tem a possibilidade de ganhá
duzentos, por que eu vô ganhá cem, né? então, graças a deus hoje eu tenho minha casa,
pago meu aluguel, crio meus muleque como se fosse meu, os cinco muleque, tenho uma
minininha, né, cinco meses agora, cinco meses/ ... tenho minhas coisa, tenho minha conta
no banco, dei um passo enorme, né. mais ainda tenho alguns poblemas ainda pra resolvê
ainda que num/ inclusive num prejudicô só a mim, prejudicô muita gente lá atrais tamém.
eu trombo co natan hoje em dia e ele fala meu nóis num sabe o que fazê se você num vem
100
trabalha, tal dia de vim trabalhá aqui meu. sexta-feira memo eu tava num corre-corre
danado aí atráis de dinhero pa fazê o pagamento do pessoal, sei qu’eu passei em ferraz,
dexei uma/ cheguei aqui nem almucei, saí fui pa otro banco, voltei, fui pa oto banco, voltei,
dento do ônibus, sei qu’eu conseguí almuçá era sete e meia da noite. aí eu cheguei em casa
tava a kika, falô onde cê tava? eu tava no banco, num tá vendo? falei ó, dinhero taí, fala pro
pessoal queu tô indo embora. onde cê vai? tô indo embora! não, num vô pagá... falei não, o
sr vai pagá porque eu tô indo embora, vô almoçá! aí fui aí no bar, almocei co rodrigo, o
senhor voltô, falei voltei, pagá um pessoal que tem que pagá, mandamo la o papel do banco
onde tem a conta no bradesco, aí distribui o dinhero, aí todo mundo saiu dando risada, que
nóis tinha combinado de fazê um pagamento tipo assim, fecha a quinzena dia quinze, ia tê
que pagá ou pro dia vinte ou dia vinte e um, dependendo do dia que cai o feriado, sábado i
domingo, intão eu posso dá um nó no baguio mesmo queu num vô pagá tudo duas vezes,
pra num tê qui falá uma coisa, uma pessoa que não adiantava na mão de todo mundo, ó taí
ó, né, porque nóis era/ suprimindo a falta que já seis mil reais que já tinham robado da otra
vez... um com o próprio emerson. por que que ele foi embora daqui? é, porque ele, ó, ele foi
robado aqui aí ele caiu pa rua, quano ele tá subindo pra í embora pra casa os cara roba ele
de novo. aí falô não pô parei. num tinha dado certo de prima, num tem condições! tá vindo
educador novo aí, o pessoal novo aí, qui vai... se nóis consegue, né, reerguê isso aqui, tá
meio caído já por aqui. num é nem pela falta de dinhero, que esse material que cê vê aí, aí
é, dinhero rápido. cê vendeu ali, pegou aqui, pegou aqui, ele sai da lida e tem dinhero
rápido, a maioria dos otro pagamento é tudo à vista, né. só que cê num pode tá andano co
esse dinhero pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, olhano o que cê tem no bolso, ah tô cum três
mil aqui vô lá na fêra, não, vô voltá, não... tem que catá ele aqui e vié aqui mandá po banco
lá, aí por esses pequeno motivo que nóis conseguimo abrí uma conta lá conjunta co
101
bradesco lá, que a/ tem conta no bradesco, né, a andréa foi lá e conversô co pessoal do
banco, co gerente, até o caio uma ótima pessoa, aí a conta é no nome dos catadores aqui de
dentro mesmo. dia de pagamento cada catadô tem sua conta, seus ... seus cartão aí ele que
se vire cum seus ... lá, nóis se vira cos nosso, e hoje tá faltando é a briga co a prefeitura
hoje, entendeu, na eleição da marta num tinha essa briga, pelo contrário, era quando... nóis
tava muito bem obrigado aqui embaixo memo nóis até feiz uma reforma aqui, construiu
escritório, reconstruiu os box, tem que tê uma verba já pra isso já...
Doc. E o povo reclamava da Marta, né?
Inf. é. já tem uma verba pra isso já meu, foi feita pra isso! esse não ajuda não. esse é
tucano!
Doc. ((risos)) É, todo mundo tem defeito, né?
Inf. é, fazê o quê!
Doc. ((risos))
Inf. mas ocê num é palmerense! ((breve pausa)) aliás tem até uma verba, tava todo mundo
animado tal, ganhamo uma prensa, melhor projeto de cooperativa do brasil, nóis fomo um
dos melhores, tinha cooperativa do brasil intero, nóis ficamo lá em primero lugar no prêmio
da cenp. ganhamo uma prensa hidráulica e kit de ipi né. já tava tudo certinho já pa continuá
aqui pa nóis agilizá aqui aí veio a gestão do serra. aí veio andré matarazzo, cabô caçando
todo mundo, começaro a fechá depósito (...) aí. cê pode oiá aqui ó, aqui tem monte de (...)
só não veio pra cá porque não deu mais espaço que a metade do pessoal que foi dos
depósito tá aqui já, consegui acolhê todo mundo pra cá, só que não cabe todo mundo aqui
dento, e espaço eles não querem dá pro pessoal trabalhá, né? eles vem, conversa, não sei o
quê, não sei o quê, e acaba enrolando. fomo lá, fizemo a reunião, brigamo, discutimo,
fizemo passeata, fizemo num sei o quê, fizemo papelada pra prefeitura, e defendero um
102
poquinho. aí o que eles querem fazê, eles querem montá uma mega cooperativa com duas
mil e setecentas pessoas, trabaiando para a prefeitura, qué dizê o cara ganhava mil reais
aqui ele vai ganhá quatrocentos reais.
Doc. [ Poxa!
Inf. entendeu? ah, mas os cara tão trabaiando... trabaia meu! a nossa finalidade é acabá cum
as carroça, também! é pra isso tem o caminhão! meu, a gente consegue tirá muito mais
rápido o material, coletá muito mais material, criá muito mais rápido, ia tê menas pessoas
na rua, menos tempo, consegue mais/ tá certo vai levá tempo, as carroça tão na rua aí é
quase cinquenta ano, vai levá tempo, sei que ocês precisam do cara, eliminá carroça,
precisa di um caminhão, e se a prefeitura integrasse junto conosco e conseguisse isso,
vamo, vamo fazê isso e isso, mas não, eles quisero do jeito deles, da manera deles, e a gente
vai ganhá o que eles quisé pagá. sendo que há cinco anos atrás a prefeitura num tava nem aí
pra quem catava papel. cê cata papel ó, faça bom proveito! e queira ou não queira agora
virô mercado de trabalho!
Doc. Virou, né?
Inf. é! vinte e oito por cento do material reciclado veio de pessoal que/ no interiô tá fácil
de lidá cum isso que cê vai ali não tão longe de poá, ferraz, ali, a prefeitura ajuda os cara,
pondo os caminhão, sabe o caminhão que faiz o recolho, tem acesso, tem jeito ó, é de
voceis, o material é todo de voceis, aqui já não acontece isso. tem treze centrais da gestão
da marta, treze centrais que funcionava muito bem obrigado, cada central tinha seis
caminhões pa recolho, hoje cada central tem mais/ tem mais caminhão na portaria aqui, tem
dois caminhão, as demais tem um caminhão pa rodá o dia intero pa coletá o material e pa
podê vendê esse material e nem isso dá. e trabaiá/ tava tirando seicentos reais por mês, é
um ganho sustentável, dava pra se sustentá, pagá o aluguel, a água e luz e comê, malemal
103
mas dava. hoje o cara ganha lá trezentos reais, trezentos e cinquenta reais nem bem. num
tem material, o cara num consegue coletá material suficiente, o caminhão num faiz o
circuito todo, acaba complicano. e isso num prejudicô só eles lá da central, não, prejudicô
nóis aqui tamém porque se o caminhão deles lá fornecia, ajudava nóis aqui tamém. estocava
material que num guentava, falava manda pros núcleo. aí mandava pa portel, mandava pa
santo amaro, e mandava pra cá, pros dois núcleo aqui de vaz, ia distribuindo material,
entendeu, num beneficiava só centrais, beneficiava num todo, aí a prefeitura achô que tava
gastando muito cum isso, manda cortá, cortaro os caminhão, aí veio o megaprojeto que é
do, num é nem do andré esse projeto, é do juscelino, num sei se cê conhece o juscelino, o
secretário do andré matarazzo
Doc. Hum... não.
Inf. é um chatinho que vei lá da bahia, não, o cara é chato, veio lá da bahia e lotô o quadro
dele em cima da bahia, montô toda a tucanada, montô a coleta seletiva lá, leciona lá muito
bem obrigado, mas lá funciona! lá funciona! sabe por quê lá funciona? porque o sistema de
triagem é otra, o esquema de materiais lá são oto, e quando ele vei querê implantá isso aqui,
isso aqui já existia! bom ou ruim, carroceiro sem carroceiro, cum caminhão, cum carroça,
cum pirua, cum charrete, funciona, entendeu? eles tão quereno que quereno montá uma
grande cooperativa, cum os catadores tudo lá, diminuí o serviço dos catadores, num sei o
quê, num sei o quê, num sei o que lá, biriri, biriri, biriri, biriri... aí ele veio aqui, discutimo,
conversamo, intão tá bão, cêis num vão saí, não nóis num vamo saí daqui. do centro nóis
num sai! meu único ganha pão hoje que eu tenho aqui é no centro de são paulo, saí daqui
pra procurá o quê?
Doc. Tem que brigar mesmo, né?
104
Inf. me mandá lá pro jabari, numa usina. uma usina coisa disativada lá há muitos anos, um
galpãozão lá enorme, o espaço é enorme, tem cinco galpão. o projeto é viável, é ótimo,
nossa, maravilha; mas pra quem num é do ramo, pra quem tá desempregado, taí opa vamo
trabalhá lá, opa. tão abrindo mil e setecentas vagas de emprego, é ótimo, né? pra
desempregado isso é ótimo, nossa, maravilha!
Doc. Mas pra quem já está na área...
Inf. peraí, se eu tivesse disimpregado, mano, eu era o primero a falá não, eu vou, começa
quando? mas é o seguinte amigo, eu não vô trocá aqui o certo aqui pelo duvidoso lá... que a
próxima gestão quem vai garantí quem vai sê o próximo prefeito? vai sê o serra, não? vai sê
a marta de novo? e aí?
Doc. Quem sabe, né?
Inf. a erundina? o próprio maluf?
Doc. ((risos)) esse que eleito...
Inf. [rouba mas faiz...
Doc. Não pode ser mesmo!
Inf. o cara ganhô onze por cento dos voto. e a população, tá mal da cabeça? dá onze por
cento de voto prum cara desse? aí tem uns maluco qui são fanático né?
Doc. Quem? É tradição, né? De anos é isso.
Inf. eu tava na mesa, na mesa de reunião lá na subprefeitura da sé, falei beleza, nóis vai pro
seu projeto, que garantia você me dá? ele ficou mudo na mesa. virei pro andré matarazzo e
falei que garantia você me dá? ah, num tem que tê garantia, falei lógico que tem que tê
garantia! que garantia que eu tenho que vô trabalhá pro/ vô passá o resto da minha vida
trabaiando e que que eu recebo aqui? é mas é assim o cooperado, falei não essa parte a
gente tem, amigo, fundo de cooperativismo nóis têm de monte! se moscar nóis tivé é um
105
por semana, quero sabê que garantias eu vô de trombá você lá, junto cos demais catadores.
ah, num posso dá garantia, falei então sinto muito mas eu num posso largá um espaço lá
que praticamente é nosso por um que eu num vô tê certeza que é meu.
Doc. E que não é certinho, né?
Inf. aí fiz reunião cum o movimento nacional aqui, o pessoal da lapa aqui, veio aqui nessa
igreja aqui do lado aqui, conversou cum o pessoal aqui, pá, tem até uma bandera aqui
assim, é, andré matarazzo promete e safa catadores de trabalhá no centro, só que agora o
espaço num chegô né, pelo contrário, tem que pagá pra ficá. e ali mais na frente ali no
viaduto ali mais na frente vai tê um cinema, tem lá na parede, projetô na parede, falei
beleza mano, falei falô parece desenho animado, mano, isso pra quê? pros cara cherá
farinha. aí ele é, mas isso acontece, falei amigo, acontece de tudo lá, a mulecada robando
no farol vinte e quatro horas por dia, vagabundo fumando maconha, vagabundo não sei o
quê, vagabundo não sei o quê. vocês sabe que isso acontece, mano! agora cê qué tirá um
grupo que tá trabalhando lá honestamente, dignamente pra maloquerada tomá conta. falei ó,
a próxima veiz que o jornal descê lá vô sê obrigado a falá isso, falô cê num é loco, falei tá
bom intão, tô esperano só os cara descê. esses dia aí veio a equipe da cultura aí nóis
conversando cos cara, falei não, fica aí que eu vô usá a praça espanhola aqui, aí os cara foi
lá perguntá pra ele que que é uma praça espanhola? aí ele foi explicá, e tal, e tal,
Doc. [((risos))
Inf. [ mas na baixada do glicério? ele falou é, na
baixada do glicéiro! aí o repórter começô a olhá pra cara dele, ((risos)) começava a rí, sabe,
rindo tamém, é, tão debochando de mim, falei não, num tá debochando, só que é meio
complicado né meu amigo! por que cê num mostrô lá na paulista lá, ia ficá lindo! é, mais lá
num tá precisando disso, aí eu falei ainda!
106
Doc. ((risos))
Inf. é, é, num é a primera veiz que ela num acende, falo é mano, cêis são muito chato, falei
ainda bem que nóis é chato! falei ó, você me fala isso, minha mulhé me fala isso, o guarda-
volume me fala isso, o trem me fala isso, todo mundo me fala que eu sô chato amigo! já tô
me acostumano com essa idéia, já! falô ô, cê é muito debochado, eu falei graças à deus!
não, porque eles têm mania de conversá com você assim tirando barato da sua cara, ele
acha que ele tá acima de você, e ele falô que ele tava acima da lei. falei é o seguinte, a
nossa lei lá embaixo lá quem faiz é nóis memo, pra sobrevivê no glicério quem faiz é os
catadores memo, entendeu? lá ninguém mete a mão nas coisa do otro puque sabe qual é as
consequência, e você não tem noção disso. ele é que num sei o quê, mas/ eu falei amigo, se
você fô lá tentá tomá o pão da mão dos cara, mano cê já viu uma guerra? não, não sei o
quê/ cê já viu uma guerra? aquele negócio de ... lá em cima lá, aquilo ali é fichinha, pedra,
pau, é fichinha! nóis aqui embaixo é mais pesado, cê sabe disso, convive no glicério, cê
conhece a área! aí o andré não, ele não conhece não, aí eu falei então manda ele num ficá
parado lá embaixo. ele veio aqui duas veiz ainda! veio aqui, começô a montá um grupinho
de catadô fazendo a mente das pessoa, não mas o projeto lá tá/ falei não não amigo, muito
obrigado fica cum seu projeto pra lá que eu vô ficá pra cá memo! tô muito bem ca
província! bom ou ruim nóis tem a província pelas costa! eles pode batê, brigá, xingá, nóis
tem a província! nosso maior iscudo hoje, queira ou não queira, pela sociedade, se gritá
aqui eles manda incômodo pra cá, como já veio,
Doc. [ é mesmo?
Inf. [ veio até incômodo pra
cá. pra brigá por nóis aqui. então qué dizê, então nóis pode subi na prefeitura, xingá a
prefeita, qué dizê, nóis num é loco de fazê isso, né, nóis num é loco né! mas nóis pode que
107
num ia sê ixpulso, nóis temo proteção! queira bom, ruim malemal nóis briga aqui, chega
aqui, discute, mas é porque é proteção, eles nunca vão dexá a prefeitura entrá aqui e tomá
os catadores e levá pra otro lugar, nunca! muito pelo contrário, eles tavam cum nóis lá na
reunião lá, o ..., o natan, na época da província, depois eles foram lá conversá com o
pessoal da província, né, cum cum o frei mário, frei johanes, foram conversá e eles virum
que ali eles ia pô a mão onde num devia, né, tem a ação local do são francisco tamém, né,
depois tem a ação local da álvares penteado, que num era das melhores do mundo mas/ é
que a ação local quem toma conta é a manú, num sei se vc conhece a manú
Doc. Não conheço.
Inf. ele é dono mais ou menos de umas cinco empresa de reciclagem. empresa de
reciclagem. metade do material do centro de são paulo quem recicla é ele.
Doc. Ou seja, acaba recebendo coisas de vocês também né?
Inf. não, é tipo assim, nóis viemos na rua já alguns pontos de coleta, outros foi conquistado
com determinado tempo, tamo conquistando mais alguns, e nóis vai, faz entrevista,
conversa com o pessoal, prédio, escritório, e vai tentano agregá cada veiz mais ponto, mais
ponto, mais coleta, mais coleta, pa podê se mantê ali no nível das empresa, igualado cum
eles ali.
Doc. Então na verdade é concorrência?
Inf. é, concorrência desleal! eles chega cum dinhero, nóis vai na conversa, eles chega cum
dinhero! muito dos prédio de são paulo aí o material sai, mas é pago. ó, eu te dô tanto e cê
me dá o material/ cê vai conversá cum o faxineiro, tal, portero do prédio, cum algum dono
de algumas firma, olha, se cê cedê o material eu te pago tanto e vê aí. aí o preço que tivé de
mercado nóis paga! entendeu, ele falava assim, ó tô jogando isso aqui fora, o cara me pagá
cinco real, ah me dá os cinco reais eu levo isso aí! era ali, até onti era lixo! é uma
108
concorrência desleal, que nóis num vai tê dinhero pra tá bancando isso. num tem nem
lógica tamém, se nóis já pega pra sobrevivê num tem nem lógica ficá bancando isso! cê
dexa uma caxinha ou ota, ô faxinero, ó uma caxinha aqui procê tomá um café aí final de
semana aí, deiz conto, quinze conto, cê dexa né meu amigo, até aí é troca justa, o cara vai o
trabalho lá, de buscá o material procê lá no fundo do prédio, voltá, muitos precisa até de
ajuda, que nem o dia que eu fui lá na perfumaria 2000. era uma perfumaria só, já abriu uma
otra loja em cima lá na rua direita, os cara falô retira os papel de lá tamém, e os cara vai lá,
tenta comprá, e os cara fala não não, nóis tamo trabalhando co cara já faiz treiz ano co cara
aí, o cara vem, retira, o que tivé que levá ele leva, num cobra nada por isso, pode tá
choveno, pode tá sol ele tá aí então o papelão é dele. tentaro/ falô que o manolo já foi lá
tentá comprá o material e ele falô não não, sem chance, nóis num vende, não, nóis dá. ele
falô assim ó, tem mais onze lojas espalhada por são paulo. se você conseguí arrumá um
caminho pro seu colega o papelão aí é seu. tem até em santos.
Doc. Olha só!
Inf. isso aí é, isso aí eu vô conquistano co tempo, né? já cheguei lá uma veiz pra buscá uma
caixa de papelão, uma caixa! encostá a carroça, tava lá pa mim já, uma caixa. falei só tem
isso? falô só. então brigado, (....) . noutro dia eu voltei lá daí ele falô pô meu, tinha um
monte de papelão aí dento aí meu, mas é o seguinte meu, eu tava fazendo um teste, se cê
vinha buscá memo ou só vinha quando tinha muito. agora nóis viu que cê, pode tê muito ou
pode tê poco, cê tá aqui buscano, então de hoje em diante o material é seu, todo seu. eles
(...) , agora os cara saem chegano no dinhero, dinhero infelizmente em são paulo fala mais
alto, né. o dinhero se tornô uma nota de cem, né? se cê tivé uma nota de cem cê acaba
virano um desses. em são paulo é meio complicada a situação. isso não acontece só aqui,
109
não, em vários lugares de são paulo isso acontece. que nem, nóis conseguimo coletá aquela
empresa de valores, a rrj
Doc. Transporte, né?
Inf. é, transporte de valores. vem documentos, vem cheque picado, vem cheque inteiro, um
monte de/ vem dinheiro, aí... nóis pega ó tá aqui, manda de volta lá. na fmu já achamo até
euro, né. devolve. o cara ligô e falô ó mano, perdi um dinhero assim assim, deve tá aí no
meio do lixo, o rapaz achô, falô ó aqui, um bolo assim de euro. aí dona edith, liga pra
margarida, fala pra ela vim buscá o dinhero. entendeu, ele num tinha necessidade de
devolvê, ele achô! ele num roubô, ele achô!
Doc. É, a pessoa ganha confiança, né?
Inf. ele achô, cê falá é, se num quisesse devolvê qual é o pobrema, ele ficô admirado de tê
devolvido, falei meu amigo, nóis viemo buscá aqui o quê? ele falô papel! falei intão pronto!
eu ganho dinheiro catando papel, intão pra mim
Doc. E olha que a confiança não tem dinheiro que paga, viu?
Inf. ah, entendi. hoje nóis tem acesso livre né, nóis chega lá, nóis entra, nóis sai, nóis dá a
volta, nóis sobe no prédio, nóis desce, chega o cara e fala assim ô, nóis vei retirá o material.
o portero faiz assim ó, senta na cadera lá e vai dormi, pode í lá. ó, tem num sei o quê aqui,
não, pode levá, esquenta a cabeça não! mas aí criô a tal confiança que é pro resto da vida
agora. fala ô, esse material aqui é da reciclagem? ele fala não, pode í lá buscá. nóis
chegamo lá o léo dava um curso lá, aí ele tava co a chave do escritório tava assim e liguei
pra ele e falei ó tô co/ cadê a chave? tá no meu bolso, vem aqui buscá. falei cê tá aonde? tô
na fmu, no prédio dez, tá bom. subindo, tava vindo da rua (...) pra í subi, tum tum, aí
cheguei no portero lá e falei ô eu vim aí falá cum rapaiz aí, numa sala tal assim, qual o
senhor que/ ele falô não, pode subí lá meu, vai, vai lá e vai subí! olhei pra cara dele assim
110
né, meu, subindo as sala lá, tum, tum, tum, aí passava os cara e falava ô beleza? beleza,
beleza, tava entrando na sala de aula do cara pra pegá a chave depoi voltá. ô, tá vendo? se
fô os otro cara os cara num dexa subí não, meu! põe gente pra chamá, vai chamano, vai
chamano de andá em andá, até chegá a sala do cara pro cara descê pa resolvê o problema.
mais alguma coisa, gente?
Doc. Bom...
Inf. tem mais alguma pergunta?
Doc. não, o que é... exatamente isso, o que mais você quiser falar aí sobre a sua vida...
Inf. eu tava esperano algumas pergunta!
Doc. Não, não, na verdade a intenção é essa, deixar você à vontade pra você falar mesmo,
né, o que você, o que você quiser, o que você achar importante, né, dizer, né, sobre a sua
vida, e o que você faz, você contou bastante coisa aí sobre o seu cotidiano, seu dia-a-dia,
isso é bastante importante, bastante... bastante interessante. Você contou aqui coisas que
provavelmente as pessoas, assim, num geral, não tão sabendo né?
Inf. é, né, é...
Doc. Essas coisas da prefeitura, também, né?
Inf. é que é uma coisa meio que maquiada, né, a situação da prefeitura é uma coisa meio
que maquiada, e o psdb ele num vem assim, ele num vem assim e ajuda, ele enfraquece, é
um sistema desse que já vem a trinta, quarenta ano, eles enfraquece
Doc. [ dá pra perceber, em oito anos de governo aí,né?
Inf. [ é, enfraquece, qualqué base, não, é qualqué base! eles vem assim,
enfraquece, vai enfraqueceno, depois toma posse, não, agora é meu! e pega pra eles, eles
num faiz brasir parceria; eles toma posse, isso é em qualqué lugá, qualqué projeto, é de
catadô, é de camelô, qualquém função, eles faiz isso, vem toma posse agora é meu. eles
111
num trabalha em conjunto com você, eles manda em você, você vai fazê isso, trabalhá
assim, do jeito que nóis qué. se cê num abre ralho pra debatê nem ninguém te segurá, pode
vê, se a província num tá aqui meu, já tinha ido pro saco isso há muito tempo! a intenção
deles é essa, é focá no lixo! e eles já deixaro bem claro que a intenção deles é essa
Doc. E eles ainda se acham social-democrata, né, o próprio partido diz: partido social-
democrata!
Inf. na realidade não funciona assim!
Doc. Onde? ((risos)) Onde?
Inf. e ele pode até falá, o pt cometeu falhas, falhas gravíssimas, gravíssimas, gravíssimas,
isso não tem nem nem/ dirceu, esse nunca mais vai ser eleito. difícil, né?
Doc. [É, né?!
Inf. e o povo meteu o pau, mas, na verdade os cara só queria o que a burguesia já tinha!
charuto caro e whisky pra tomá!
Doc. ((risos))
Inf. fala pra eles lá, a realidade é essa, é tudo o que eles queria, bom, vamo se igualá à
burguesia, os cara sempre teve aqui, nóis sempre teve aqui embaixo, aqui ó. vamos igualá a
coisa! só que saiu o tiro errado! cê acha que o fernando henrique num feiz a mesma coisa
em noventa e oito? cê acha que não? eu tenho certeza que ele feiz porque já estorô uma
bomba em minas, já! aconteceu a mesma coisa na reeleição, e tal, foi comprada a reeleição!
o próprio, o próprio, o próprio, o próprio governador de minas reeleito na época falô, o
próprio governadô, numa entrevista à cbn!
Doc. ((risos))
Inf. então qué dizê... o fernando henrique num feiz... então o lula num feiz! ele nunca sabe
de nada... o que me ataca no lula é isso, meu, por ele sê um cara que saiu da periferia, um
112
cara humilde, era pra sê um poco mais esperto nessas jogadas, tipo assim, tá acontecendo
tal coisa lá, faiz o seguinte, eu sei mas é o seguinte: quando a bomba estorá... (breve pausa).
então ele tinha que tê essa maldade, ele tinha que tê essa maldade
Doc. Malícia, né?
Inf. é, que...
Doc. isso é que o FHC já tinha, né, porque ele está ali há tanto tempo, se for ver há quantos
anos ele está ali, quantos anos ele passou no governo, que antes de ser presidente ele foi
ministro, né
Inf. [ foi ministro
Doc. [três anos,
Inf. [tributário, foi monte de/ passô mais de quinze ano já
Doc. [ passou mais de/ é, mais de quinze anos no governo.
Inf. agora o lula não, é desde oitenta e alguma coisa que qué sê, que qué sê, que qué sê
presidente da república! nunca vi o lula ocupá otro cargo a não sê querê sê presidente da
republica! e quando foi, foi de uma veiz tamém. era a nossa única esperança, era o lula,
meu! nossa única esperança era o lula!
Doc. Bom, enquanto tem esperança ainda dá pra fazer alguma coisa, né?
Inf. é.
Doc. E, por falar nisso, esperança né, então, eu queria saber um pouco mais sobre a sua...
é... quando você estudou, assim, algumas impressões que você tenha tido, né, da época que
você estudou, cê poderia falar um pouquinho sobre isso? O que você passou na escola, o
que que você achô, é... se houve falhas no sistema de ensino. Alguma reflexão sua sobre o
tempo que você estudou.
113
Inf. eu acho que do, do primero ano ao tercero o ensino era até, pra até, pra sê escola
pública era até razoável, né, era até razoável. agora, da quarta série em diante num, num,
num muda muita coisa!
Doc. Você estudou aonde, em Poá, aonde você morava ali?...
Inf. estudei aqui na penha
Doc. [ na Penha
Inf. no, no albergaria, aqui na, na, no aricanduva já, albergaria, até hoje tenho mó conceito
bom daquela escola, velho o ensino era/ depois que eu mudei pra poá, que eu estudava num
tal de caíque que era uma escola-modelo e num sei o quê e tal, mas o ensino era meio fraco!
eu conseguia cabulá na quinta série, eu conseguia cabulá aula e levava o material, voltava,
fazia prova e ainda tirava nota boa! então qué dizê, cê num via muito mudá, assim, da
quarta série pra quinta série num ví muita diferença, né! a única diferença é o seguinte, cê
ô, tô na quinta série, saí do primário aí, tô na quinta série agora, nossa, tô, né, tô cos grande,
tô cos pessoal da oitava, e tal. então cê via/ os cara do primero, você via certa mudança
nisso, né, o comportamento, muda as ropa, muda o estilo de/ mas o ensino memo, assim, o
ensino, pegá pesado no ensino na educação memo aí num tem/ o sistema acho que nacional,
num tem muita/ e meu, e meus irmão que vem da mema escola que eu, na mema caminhada
e tão aprendendo cada veiz menos do que eu aprendi, tem coisas que meu irmão no primero
ano eu ensino pra ele hoje que num sabe! pô, o professô falô que é isso aqui, ó. aí eu falo,
amigo, vai por aqui que é mais fácil, ele fala num é que é verdade? então qué dizê, num
sistema público a educação no brasil hoje infelizmente é falido. é falido, falido, falido,
falido, falido. e isso num vem de hoje, né!
Doc. É, está... faz tempo, né!
114
Inf. e pra completá ele então, num há repetência! qué dizê, si você fô na escola no ano
letivo durante os duzentos dia, cê fô os duzentos dia e num fizé nada o ano intero cê vai
passá e conta até os dia nos dedo. tamém assim, falo, num entendo! cê vê crianças na oitava
série que malemal sabe escrevê! pa lê uma palavra lá precisa de duas hora pa lê
pernambuco – brasil. e ainda pergunta brasil é com z ou cum s? e isso num vem de hoje,
vem vindo, vem vindo, vem vindo, vem vindo, vem vindo, vem vindo, vem vindo, e vai
piorano, piorano, piorano, eles prefere aumentá o metrô do que fortalecê a escola! é uma
mega... como é, tá escrito no painel do metrô agora, não, tem uma mega, mega construção
do metrô! cadê a mega educação? isso existe?
Doc. É, né? Infelizmente...
Inf. qué dizê é melhó cê construí um metrô, que vai tê um monte de gente pra í trabalhá
pelo um salário miserável, pelo visto é um salário miserável! e cê investí em educação boa
hoje, esquecê o metrô é investí em educação boa hoje. amanhã no futuro, você pode precisá
usá o metrô, uma condução mais barata, pra podê tê um ganho sustentável pra comprá seu
próprio carro, seu próprio veículo, vamo lá! virássim e falá ó/ eu quando era pequeno
gostava, gostava não, gosto até hoje, escuto até hoje e, e, parece que as letras de antes agora
tem muito a ver com as letra de rap, né. não, o rap num muda nunca. é porque cê desde de
oitenta, dois mil, dois mil e cinco, dois mil e deiz, dois mil e vinte, vai acontecê sempre as
mesmas coisas! pelo contrário, a violência vai aumentá um poco mais, as cadeia acho vão
superlotá um poco mais, a periferia só vai crescê um poco mais, as minina grávida vai sê,
vai, as consequencia vai sê um poco maiores, e vai indo, vai indo, vai indo, vai indo, até,
até o mundo acabá! ((breve pausa)) qué salvá falando tudo isso, é falta de dinhero investi na
educação, não, num é falta de dinhero! por enquanto era sobra de recurso! o estado que
mais paga imposto acho que no mundo, mundialmente falando, é são paulo.
115
Doc. Você vê como é isso, né...
Inf. o estado de são paulo consegue, cum o dinhero que é pago em são paulo de impostos
consegue administrá quatro estado.
Doc. Nossa!
Inf. isso o próprio governadô geraldo alckmin fala, ele memo fala! aí cê num vê resultado
dele memo que tá lá o/ passô o covas, né ó, passô o covas, o cara que mais investiu em
educação
Doc. [a Adriana está meio nervosa, hein! ((risos))
Inf. [não, o cara que mais mexeu em educação por aqui foi o
mário covas, entendeu, ele tomô paulada de professor, tomô...
Doc. Nem lembra disso!
Inf. tomô! e é aqueles assim, tome uma paulada, eles dão paulada, mas ele investia em
educação! agora, cê sabe porquê o geraldo alckmin num vai tomá paulada e nem ovada de
professô? porque ele num sai do palácio!
Doc. ((risos))
Inf. é difícil entrá lá, viu o tanto de guarda que tem lá? é complicado entrá lá! a num sê
aquele cara que conseguiu sequestrá cum silvio santos, aquele lá conseguia!
Doc. Mas ele é da elite também, né?!
Inf. é, é elite, cê num pode, é/ que nem a mulecada, vem aqui, roba bolsa no farol aqui,
nunca vai acontecê nada cos muleque, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca. a única
coisa que vai acontecê é o próprio pessoal falá meu, cê tá sujano minha quebrada, ô
muleque, ou cê pára ou cê morre! que a polícia não vai atráis do muleque, tá sussegado,
num tá nem aí cum nada, baxada do glicério, larga pra lá. agora, se o moleque subí lá na
paulista lá, roubá a mala, a bolsa de uma madame, ou de um executivo, ele tá preso, em
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treis dia ele tá morto. pode tê doze ano, quinze ano, vinte ano, ele tá morto. ele ofendeu
quem tem, e quem tem num fica preso. ora, o moleque num tem dinhero pa nem pra comê,
ele tá robano pra comê! uns pa fumá droga, mas otros tá robano pa comê! aí num dá pra
distingui quem tá robano pra comê, quem tá robano pra fumá! os caras fala é tudo
delinquentes, não são! com’eu já vi, a polícia pára eles na praça, polícia na praça, parada ali
co carro da/ co posto comunitário, parado ali, o carro dobra a esquina aqui o muleque pá!,
roba a bolsa, e a polícia olhano! no otro caso tava eu e a minha irmã didi, nóis fomo na
escola ali, duque de caxias, tamo voltano, o farol parado, a polícia na frente, o farol parado,
o moleque veio, tum, tum, tum, quebra o vidro, pega a bolsa, fisss... ((som de escape)). dois
carro assim ó, o da frente era da polícia! só dois carro! qué dizê, é o cúmulo do absurdo!
até a baloa abrí a porta pra corrê atráis dos muleque, ih, vô nada!
Doc. ((risos)) Isso aí, enquanto vocês num estão aí pra isso, né? ((risos))
Inf. infelizmente é compricado. é, hoje em dia é o seguinte, cê tem que conseguí pelo
menos salvá seu côro, conseguí salvá seu côro pelo menos, aí cê pode tentá ajudá alguém,
né. porque eu jamais vô sê roubado ali, eu jamais vô sê robado! eu vô ali, saio, volto, entro,
volto pra cá, vô pra lá, vô até o bar, volto, co a mochila/ já cheguei a largá essa mochila
aqui ó tinha três mil reais na porta do/ tava jogada lá, dexa essa porra jogada aí. falei ah, vô
lá no bar almoçá já volto. eu fui e voltei, a mochila lá jogada, de quem é essa mochila? é
do fausto, dexa aí. agora, de quem é essa mochila? é do natan, ah, então vô levá embora!
num tem um real lá dento, num tem nem um real lá dento, vô levá embora, que é do natan.
meu, os cara chega a milhão aí, fala ah, o natan, o natan ganha quatro, cinco mil reais por
mês aí. meu, tem dia que eles chega naqueles estralo, fausto me arruma um cigarro pa
fumá? pode, fuma co nóis! entendeu, mas pela postura que ele impõe, que nem ele vem
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aqui nas base aqui, não, eu tenho treis faculdade, num sei o quê, natan, cala a boca senão os
cara vai vê que cê tem dinhero!
Doc. ((risos))
Inf. ele fala, pô valdi, falo cala a boca senão eles vão vê qui cê tem dinhero! falei ó, quando
cê vim trabalhá vem cuma ropinha meio esfarrapada já, entendeu, vem cuma calça largada,
vem todo, né, melhor! meu amigo, aqui é periferia do centro de são paulo, meu, tem que
vim todo largado! o cara antes vinha todo bonitinho, não me toque, pa pegá um isquero
tinha que pegá um paninho
Doc. ((risos))
Inf. os cara olhô pra cara dele, meu, nem escalo mais esse boy aí. sei lá meu, pega mal, ele
trab/ ele veio lá do albergue lá, meu. ele falô pô os cara é fresco lá assim? falei num sei!
mas o francisco que eu conheci lá num é! ele é folgado, parece muito co natan, o francisco
né, tentá ele vestí as ropa parece muito co natan, só que ele é um poco mais firme que o
natan. e os cara que eu conheço que trabaia lá num é, meu. e se, tamém mexê co renato
tamém. chegô aí, tal, o renato já é mais maloquero, né. aí num deu otra, meu, o emerson ia
embora pra casa os cara robava óculos dele, ele vinha de manhã os cara robava celular dele,
assim no meio da rua, aí depois discubriru que ele movimentava o dinhero, num deu otra,
no dia do pagamento os cara vum, dois mil e pocos reais. aí veio otro educadô, e tal, beleza,
veio trabalhá na administração tamém, era, era vice-coordenadô do natan, começô a mexê
cum dinhero tamém e foi trocá um cheque. aqui na, na, na, comé essa rua dos banco aqui,
num é a tamandaré... tamandaré, num é? é ali perto da tamandaré né, que sobe direto? cê
num conhece por aqui não?
Doc. A Tamandaré é aquela que sobe até a Paraíso, né?
Inf. é, sobe lá em cima, é a tamandaré, num é?
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Doc. Acho que é, acho que é.
Inf. ele foi num banespa ali da vida ali, daí ele falô ah e tal, beleza, normal, sempre ia trocá
cheque, voltava. saindo do banco, dois pau e seicentos, os cara venha que é meu! dois cara
na moto e venha que é meu! aí até aí eu falei ah, até aí normal né meu, eu fiquei olhano pra
cara dele assim falei meu, cê mora/ cê/ macaco véio, um cara já vivido, trinta e poucos ano,
né, maloquero da zona norte né meu. a malandrage de são paulo é nascida e criada na zona
norte, entendeu? eu num entendo você meu, como que cê vem trabalhá num lugá desses,
meu, de terno, gravata
Doc. Realmente, né!
Inf. é meu amigo, camisa social, relógio... não, me explica isso! ele, é fausto, foi vacilo
meu. olha aí! seu vacilo prejudicô cinquenta pessoas, no mínimo! aí ele se desesperô, entrô
em depressão, chorô, esperneô, falei meu amigo num resolve mais, não, pára, pára. é, mais
no dia-a-dia infelizmente cê vê tanto poblema, tanto poblema, tanto, tanta disgraça
acontecendo, tanta disgraça acontecendo, você se torna uma pessoa gelada, meu. cê num se
abala mais cum nada. cê vê um dando um tiro no otro ali cê fala nossa, acertô o cara! aí cê
passa e vai embora, cê num se abala mais cum nada! cê vê olha assim, parece uma coisa
normal, cotidiana do dia-a-dia, normal, cê vê a polícia espancano um ali cê passa, finge que
nem vê e vai embora, e assim vai, cê tem que í viveno! que se cada caso que cê pará fô olhá
e pará pa chorá ou pará pa ajudá você vai acabá arrumano mais poblema do que você já
tem, e acaba num conseguino resolvê o que você já teve lá atráis, entendeu? esses dia a
cavalaria/ os cara tava saindo daqui e a cavalaria foi enquadrô os cara, trabalhava aqui
dento, foi enquadrô, mão pa cabeça, aí eu tinha tomado umas quatro, né, na hora do
almoço, já tava meio mamado, mão pá cabeça o caraio, aí o cara já puxô a espada né, no
que ele desceu pa dá o nobu saiu, falô opa, o que tá aconteceno aí? ele quem é o sinhô?
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falei não, os rapaizes trabalha conosco lá. e onde cê trabaia? aqui na reciclage. e se eu fô lá
dento lá num, num tivé ninhum deles lá? falei vai levá nóis quatro em cana, então. o cara
olhô prum lado, olhô pru otro, aí o nobu era adevogado, meu. é que ele parô de exercê a
função, tal, ele tem o anel até hoje. quando ele levantô a mão o otro cara do cavalo viu o
anel e falô, meu, dexa isso queto, dexa isso pra lá, dexa esses cara í embora, dexa isso pra
lá, não, vô lá cos cara vê se os cara trabaia lá memo, falei intão vamo, quando ele feiz assim
ca mão o cara viu o anel tamém. falô ó meu senhor, dexa queto, não, já era, num sei o quê,
tal, e forão embora. daí os cara que tava lá ficô sem entendê, falô ué, os cara só olharo um
véinho desse tamanho aí num levô papo e mandô os cara imbora, num sei o quê e tal, falei
cês num intendero meu, olha pra mão do cara. o que que tem na mão do cara? falei olha pra
mão do cara! ah tem um anel lá, um anel todo mundo tem! eu falei ó, presta tenção no que
tá dento do anel, o que que tem no anel. ah, pedrinha vermelha. falei na lateral do anel,
mané! que é aquela balancinha dos negócio de advocacia lá. meu, isso que acontece, sai
desse meio tem ganha um oto/ o cara que tá cursando advocacia terminano na, na, na
faculdade são francisco, cê falô são francisco, né isso?
Doc. Isso.
Inf. tem uns dois, tem um que trabalha lá e um que trabalha aqui que tá fazendo faculdade
na são francisco. adevocacia tamém. esses dia nóis tava parado ali no bar ao lado ali, uma
terça-feira, sete horas da noite, um calô, vamo tomá cerveja? vamo tomá cerveja. a muié foi
comprá o almoço, ah, vamo lá. todo mundo duro, duro, duro, duro, sem dinhero, falei
depois nóis paga, sentamo lá, vê duas cerveja, a mulher deu, caímo na bestera de colocá as
cadera aqui do lado de fora, na rua/ no lado de fora, sentamo lá, cruzamo a perna, né,
bombetinha virada, a bolsa em cima da mesa, fumano, tomano cerveja, quando eu olho pro
lado assim, fechô nove viatura do deic. até aí normal, é, vinte hora passando viatura, nem
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esquentei a cabeça né. continuei sentado, acendi um cigarro, os cara ô levanta! falô é, você
mesmo, levanta! você e o grandão aí, levanta os dois aí. falei é, vai enquadrá o bar intero
né, tinha um monte de/, falei vai enquadrá o bar intero, falô não, é só vocêis dois, pra fora!
falei beleza, segurei as ponta, tirei o boné/ posso tirá o boné? pode, tirei o boné, aí o guarda,
o civil tava meio cherado, ele tava falando se mordeno, o cara tava se mordeno, falei esse
cara tá cherado meu. aí começô a discutí co orildo, que trabalhava cum nóis, começô a
discutí, o orildo já é forgado, começô a discutí, discutí, ele falô assim ê ô, vô enfiá a mão na
sua cara, ele falô então enfia mano! aproveita que você tem tempo ainda! começô a fazê
tiração desse tipo. aí falô assim é, que num sei o quê, que num/ falô não, dá seus documento
aí, aí tirô os documento assim, primera coisa que ele fez, tirô a carterinha da faculdade,
entregô pra ele assim, ele olhô assim todo vixxx. e esse oto aí? trabalho cum ele aí, ó.
((risos))
Doc. ((risos))
Inf. então, trabaio cum ele aí, ô, trabaio aqui do lado aqui ó, esses trem aqui. cê faiz o quê
lá? falei sô carrocero! cê é carrocero? é, sô carrocero! é, em plena terça-fêra tomano
cerveja? falei ô meu amigo, enquanto os cara num proibí, eu vô bebê! é, hoje eu sei que eu
num posso fumá maconha nem cherá farinha, nem consumí pedra, isso é proibido por lei,
mas tomá cerveja, até agora num é proibido! cê é forgado, falei forgado não! falei é o
seguinte, eu num tô fazendo nada, num tô robando ninguém, num tô matando ninguém, não
tô perturbando a ordem pública, tô sentado quieto num bar tomano cerveja, a dona do bar
num tá reclamano, conversá nada de mal. aí o oto falô assim pô meu, ceis são bom de papo
hein? não, num precisa sê bom de papo meu, é questão de direito! cê num tava no seu
direito, cê num pediu preu me levantá, eu num levantei? cê num deu a geral? achou alguma
coisa? não. então, cê faiz a sua função bem feita que eu vô fazê a minha bem feita, a minha
de cidadão e os cara são de policial, ele falô é mas num sei o quê/ posso í embora? não,
num terminei ainda! tá bom então, eu vô continuá aqui di pé aqui! cruzei os braço e fiquei
lá. não, é porque nóis tá procurano uns cara assim, assim, assim, os cara parece cum você, e
num sei o quê e tal, cê num conhece não? falei não, num conheço não. falei eu trabaio/