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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA CARLOS ANTONIO WUNDERLICH GUERRAS ASSIMÉTRICAS e TERRORISMO: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno. Rio de Janeiro 2012

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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

CARLOS ANTONIO WUNDERLICH

GUERRAS ASSIMÉTRICAS e TERRORISMO: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

Rio de Janeiro 2012

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CARLOS ANTONIO WUNDERLICH

GUERRAS ASSIMÉTRICAS e TERRORISMO: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Inf EB R/1 Heleno Moreira

Rio de Janeiro 2012

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C2012 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.

____________________________

Carlos Antonio Wunderlich – Cel Inf EB

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Wunderlich, Carlos Antonio

Guerras Assimétricas e Terrorismo: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno / Cel Inf EB Carlos Antonio Wunderlich. - Rio de Janeiro: ESG, 2012.

53 f.: il.

Orientador: Cel Inf EB R/1 Heleno Moreira Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2012.

1. Terrorismo. 2. Guerras Assimétricas. I. Título.

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À minha mãe, Silvia Lux Wunderlich,

orgulhosa adesguiana de Porto

Alegre/RS, por me inspirar ao longo

deste curso de altos estudos.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores e instrutores que tive ao longo de toda a minha vida, pela

dedicação e paciência que tiveram com a construção do meu aprendizado.

Aos amigos da Turma Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR – pela

amizade e consideração ao longo deste ano de 2012.

Aos mestres do corpo docente da ESG, pela dedicação durante o processo de

construção do conhecimento que me transformou em um esguiano orgulhoso e

preparado para melhor servir ao Brasil.

A minha família, pela já tradicional compreensão nos momentos de ausência.

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo estudar o

fenômeno do Terrorismo e das Guerras Assimétricas no ambiente em que está

inserido o Brasil. A metodologia científica adotada apoiou-se em pesquisa

bibliográfica e documental e no aproveitamento das experiências profissionais

no trato do assunto, enquanto especialista. O campo do estudo, quanto aos

aspectos históricos, teve ênfase nos séculos mais recentes, em particular pelos

exemplos e referenciais teóricos mais atuais. Quanto ao ambiente geográfico, a

pesquisa limitou-se ao subcontinente sul-americano. O objetivo da monografia

é compreender os fenômenos – terrorismo e guerras assimétricas - e

contextualizá-los no ambiente político e geográfico em que se insere o Brasil,

de maneira a avaliar o grau de segurança oferecido pela estrutura atual e

alinhavar novas medidas que possam ser adotadas para proporcionar melhores

condições para a prevenção da ocorrência do terrorismo em território nacional.

O primeiro capítulo trata de introduzir o assunto ao leitor. Na sequência,

apresenta-se o problema central, os objetivos, a delimitação da pesquisa e

outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. No terceiro

capítulo versa-se sobre a relação entre as guerras assimétricas e o terrorismo

no mundo, incluindo os conceitos e definições necessários à compreensão de

tais fenômenos. No quarto capítulo, os fenômenos - já estudados - são trazidos

para o contexto nacional, onde a estrutura de combate ao terrorismo existente

no Brasil é apresentada. Por fim, o último capítulo analisa a ocorrência da

hipótese formulada e apresenta medidas a serem adotadas pelo Brasil para

enfrentar de maneira mais efetiva o fenômeno terrorista.

Palavras chave: Guerras Assimétricas. Terrorismo Internacional. Estruturas de

Combate.

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ABSTRACT

This end of course paper focuses on the study of the phenomenon of

Terrorism and Asymmetric Wars in the environment in which it is inserted in

Brazil. The scientific methodology adopted was based on bibliographic and

documentary research and the use of the experiences of the author in dealing

with the matter as a specialist. The field of study in relation to the historical

aspects, focuses in the last century, specifically in the most recent examples

and bibliography. Regarding the geographical environment, the research was

limited to the subcontinent of South America. The aim of this study is to

understand the phenomenon of terrorism and asymmetric warfare, and

contextualize them in the geographical and political environment in which it

operates within Brazil, in order to assess the level of security offered by the

current structure and adopting new measures that can provide better conditions

for the prevention of terrorist activity in the country. The first chapter introduces

the reader to the subject. Following, it presents the central problem, the

objectives, the definition of the research and other information necessary to

frame the study. The third chapter focuses on the relationship between

Asymmetric Warfare and Terrorism in the world, including the concepts and

definitions needed to understand this phenomena. Fourth chapter looks at the

phenomena already studied and brought to a national context, where the

structure of combating terrorism within Brazil is presented. Finally, the last

chapter examines the occurrence of hypothesis and presents the measures to

be adopted by Brazil to face more effectively the phenomenon of terrorism.

Keywords: Asymmetric Wars. International Terrorism. Structures Combat.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 7 2 O PROBLEMA ........................................................................................... 11 2.1 OBJETIVOS ............................................................................................... 12 2.1.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 12 2.1.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 12 2.2 HIPÓTESE ................................................................................................. 12 3 GUERRAS ASSIMÉTRICAS E TERRORISMO ......................................... 14 3.1 AS GERAÇÕES DAS GUERRAS .............................................................. 14 3.2 A GUERRA ASSIMÉTRICA ........................................................................ 16 3.2.1 Guerras Assimétricas no Mundo ............................................................ 18 3.2.2 Guerras Assimétricas com reflexos no Brasil ....................................... 20 3.2.2.1 Colômbia X FARC-EP ................................................................................ 20 3.2.2.2 Peru X Sendero Luminoso.......................................................................... 22 3.2.2.3 A Guerra ao Terror e o Brasil ..................................................................... 23 3.3 O TERRORISMO ....................................................................................... 24 3.3.1 O Terrorismo ao Longo da História ........................................................ 24 3.3.2 O Terrorismo na Tríplice Fronteira ......................................................... 26 3.3.2.1 O Fundamentalismo Islâmico na América do Sul ....................................... 27 4 O BRASIL DIANTE DO TERRORISMO..................................................... 31 4.1 POLÍTICA E ESTRATÉGIAS NACIONAIS ................................................. 31 4.1.1 Mecanismos e Instrumentos Legais ....................................................... 31 4.1.1.1 Legislação Nacional ................................................................................... 31 4.1.1.2 Legislação, Convenções e Mecanismos Internacionais ............................. 33 4.2 O PODER NACIONAL NO COMBATE AO TERRORISMO ....................... 36 4.2.1 Estruturas de Prevenção e Repressão ................................................... 36 4.2.1.1 Ministério das Relações Exteriores ............................................................ 38 4.2.1.2 Departamento de Polícia Federal ............................................................... 38 4.2.1.3 Conselho de Controle de Atividades Financeiras ....................................... 39 4.2.1.4 Agência Brasileira de Inteligência ............................................................... 39 4.2.1.5 Ministério da Defesa ................................................................................... 39 4.2.1.6 Forças Auxiliares das Forças Armadas e Outros Órgãos do SISBIN ......... 40 4.2.2 O PN e o Enfrentamento do Terrorismo – Considerações .................... 40 5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 43 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 46 ANEXO A – LISTA DE ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS ...................... 49 ANEXO B - TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE TERRORISMO SEGUNDO O ANTEPROJETO DO NOVO CÓDIGO PENAL ...................................... 51

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1 INTRODUÇÃO

Os atentados ocorridos nos Estados Unidos da América (EUA) em 11 de

setembro de 2001, assistidos por milhões de pessoas ao vivo, de imediato

indicaram ao observador mais atento que suas consequências iriam repercutir

de maneira marcante em todo o planeta. A potência militar hegemônica,

atacada em seu próprio território, antes considerado inexpugnável,

desencadeou um feroz combate ao terrorismo internacional, envolvendo países

e organizações e culminando com as invasões do Iraque e do Afeganistão.

Nos dias atuais, mais do que nunca, o terrorismo não respeita fronteiras

ou qualquer conceito de área de limitação de conflitos. Não existem territórios

neutros. Os grupos terroristas espalharam-se e estão capacitados a utilizar a

violência deliberada como forma de inspirar o medo e atrair publicidade para

seus objetivos políticos.

A tarefa de estudar o terrorismo, no contexto das guerras assimétricas,

conduz à necessidade de entender-se os dois fenômenos e as suas

interligações. Tradicionalmente, a guerra dos mais fracos contra os mais fortes

pressupõe o emprego, por parte dos primeiros, de formas de luta alternativas

ao tradicional combate convencional entre duas ou mais forças armadas. O

emprego da violência – por meio de ações terroristas – pode justificar-se, para

seus autores, pela legitimidade da causa defendida.

O terrorismo, segundo definição do Gabinete de Segurança Institucional

da Presidência da República (GSI/PR), é o “ato premeditado, ou sua ameaça,

por motivação política e/ou ideológica, visando atingir, influenciar, intimidar ou

coagir o Estado e/ou a Sociedade, com o emprego da violência ...”.

Atualmente, entende-se por Guerra de 4ª Geração (ou Guerra

Assimétrica) o conflito multidimensional envolvendo ações terrestres, fluviais,

marítimas, aéreas, espaciais, ou ainda no espectro eletromagnético e no

ciberespaço. Nesse atual e desafiador contexto estratégico, o inimigo pode ser

tanto um Estado independente, uma coligação de Estados, como também um

grupo terrorista ou uma organização criminosa qualquer.

No momento em que este trabalho está sendo elaborado, eventos

terroristas ocorrem em todo o planeta, como que a lembrar que este é um

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fenômeno universal e onipresente. Além da Guerra ao Terrorismo,

implementada a partir de setembro de 2001 pelos EUA e aliados, diversos

outros conflitos estão sendo permeados por atos terroristas. Em sua maioria,

tais conflitos são caracterizados pela luta

entre dois ou mais atores de força

absolutamente desigual, marcadamente

assimétrica.

A imagem ao lado1 ilustra o contexto

atual – 22 de março de 2012 - de ameaça

proporcionada pelo terrorismo sem fronteiras,

que tem potencial para se fazer presente em

qualquer país, desenvolvido ou não.

O Brasil adota, historicamente, uma postura de condenação do

terrorismo, tendo aderido a todos os instrumentos internacionais criados para

este fim. Contudo, o país mantém uma considerável autonomia em relação às

pressões internacionais, em particular advindas das potências mais afetadas

pelo fenômeno. Não há alinhamento automático aos Estados Unidos da

América (EUA) ou outros países no que diz respeito ao assunto.

O fenômeno tem sido causa de apreensão

por parte da comunidade internacional desde

tempos remotos até os dias atuais. Como exemplo

emblemático mais recente que ainda permeia o

subconsciente coletivo da geração atual, o

atentado de Munique2, ocorrido em 1972, lembra, a

cada ciclo olímpico, da necessidade de cuidados

com a segurança. Recente reportagem de “O

Globo”, de 17 de junho de 2012 (imagem ao lado),

recorda aquele evento trágico e chama a atenção

das autoridades e organizadores dos grandes

1 Disponível em: http://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-11851141

2 No dia 5 de setembro de 1972, durante os Jogos Olímpicos, oito terroristas do grupo palestino

Setembro Negro invadiram as acomodações dos atletas israelenses em Munique e mataram dois esportistas a sangue-frio. O despreparo dos órgãos de segurança alemães ficou patente após a morte de nove israelenses durante uma tentativa fracassada de ação em força.

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eventos esportivos que terão palco no Brasil nos próximos anos – Copa das

Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos (2016) –

para a necessidade do preparo antecipado e permanente, como fator de

dissuasão diante de possíveis atores hostis.

Para enfrentar o terrorismo, uma nação deve preparar e empregar a

parcela necessária de seu Poder Nacional (PN). O PN, segundo a ESG, é “a

capacidade que tem o conjunto de Homens e Meios que constituem a Nação

para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em conformidade com a

Vontade Nacional”.

O Poder do Estado é derivado do PN. Segundo o Manual Básico da

ESG – Vol 1 – Elementos Fundamentais: “... é fundamental que sua aplicação

se efetue com eficiência e eficácia, ... para isso, as ações a empreender

deverão estar ajustadas com a conjuntura e envolver a sociedade nacional,

como agente beneficiária direta que é dos resultados”.

No que diz respeito à Segurança e Defesa Nacionais, há que se

compreender a prioridade dada pelo Governo à aplicação da parcela do PN no

trato da ameaça do terrorismo, em função das prioridades político-estratégicas.

No prefácio da publicação oficial gerada a partir do II Encontro de

Estudos sobre o Terrorismo, realizado em 2004, em Brasília, pela Secretaria de

Acompanhamento e Estudos Institucionais do Gabinete de Segurança

Institucional, era feita a seguinte advertência:

O Brasil, mesmo distanciado do epicentro físico e ideológico do problema, não pode deixar de prevenir-se diante de tais ameaças. O Governo brasileiro está consciente de que deve assumir posições práticas diante do perigo. O combate ao terrorismo deverá dispor de equipamento bélico moderno e de uma estrutura de inteligência especialmente preparada.

O objetivo deste trabalho é compreender os fenômenos – terrorismo e

guerras assimétricas - e contextualizá-los no ambiente político e geográfico em

que se insere o Brasil, de maneira a avaliar o grau de segurança oferecido pela

estrutura atual e alinhavar novas medidas que possam ser adotadas para

proporcionar melhores condições para a prevenção da ocorrência do terrorismo

em território nacional.

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O trabalho será organizado em cinco capítulos, incluída esta Introdução.

O segundo capítulo apresentará o problema central, os objetivos, a delimitação

da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho.

O terceiro capítulo versará sobre a relação entre as guerras assimétricas

e o terrorismo no mundo, incluindo os conceitos e definições necessários à

compreensão de tais fenômenos.

No quarto capítulo, os fenômenos - já estudados - serão trazidos para o

contexto nacional, onde a estrutura existente no País será apresentada.

No quinto capítulo, como conclusão, pretende-se analisar a ocorrência

da hipótese formulada e, se for o caso, apresentar medidas a serem adotadas

pelo Brasil para enfrentar de maneira mais efetiva o fenômeno terrorista.

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2 O PROBLEMA

Com papel destacado no concerto internacional das nações, o Brasil

também é alvo potencial do fenômeno do terrorismo, embora sua postura,

ações e decisões políticas históricas possam impregnar-lhe da temerária

sensação de imunidade diante dos perpetradores de atentados terroristas.

A qualquer tempo, a dinâmica da atuação do Brasil em âmbito regional e

mundial poderá levar à adoção de posturas e medidas que contrariem os

interesses de grupos radicais, provocando antagonismos com potencial para

trazer para o território nacional eventos terroristas. Sabe-se que existem as

condições básicas necessárias para a realização de atentados no Brasil, ou

seja, alvos e meios. Além disso, os megaeventos que se realizarão no país

(Copa das Confederações – 2013; Copa do Mundo de Futebol – 2014 e Jogos

Olímpicos – 2016) por si só justificam a preocupação com o tema.

Guerras assimétricas e outras ameaças existem por toda a parte.

Atualmente, pode-se citar o recrudescimento das atividades do Sendero

Luminoso, no Peru; a guerra civil na Colômbia; ou a própria guerra ao

terrorismo internacional, em andamento em vários países do mundo.

Os EUA, em sua guerra ao terrorismo, conseguiram envolver todos os

governos dos países onde acreditam ter identificado células terroristas,

elementos simpatizantes ou áreas de apoio e homizio. Tal atitude da potência

militar hegemônica provoca forte pressão sobre países como o Brasil, que

apesar de não terem histórico de atos terroristas em seu território, possuem

alguns dos fatores potenciais, como regiões pretensamente suspeitas de apoio

logístico e\ou financiamento.

Com o advento da Doutrina Bush de combate ao terrorismo, após o 11

de setembro de 2001, o Brasil vem respondendo às pressões internacionais

por uma crescente participação no combate ao terrorismo, na medida de seus

interesses e de acordo com a visão nacional pragmática acerca do fenômeno.

O histórico de atuação das Forças Armadas em operações conjuntas

com órgãos de segurança pública federais, estaduais e outras instituições em

ações voltadas para o combate à criminalidade, em particular nas fronteiras,

tem demonstrado que é necessária uma maior integração, além de uma

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preparação mais adequada ao enfrentamento das ameaças assimétricas da

atualidade, inclusive aquelas que têm potencial de envolvimento com atos

terroristas, como o crime organizado a partir do tráfico de drogas e armas, do

contrabando e do jogo ilegal, dentre outros.

O Problema que se descortina é se a resposta brasileira ao desafio

representado pelo terrorismo internacional, em particular aquele advindo dos

conflitos assimétricos, está adequada à realidade regional e atende às

expectativas atuais?

2.1 OBJETIVOS

2.1.1 Objetivo Geral

Avaliar o grau de eficiência da estratégia adotada atualmente pelo Brasil

para o enfrentamento ao terrorismo, considerando o aprestamento da parcela

do Poder Nacional empregado e o potencial de crise existente diante das

ameaças representadas pelas guerras assimétricas e outros antagonismos.

2.1.2 Objetivos Específicos

- Identificar os antagonismos com potencial de gerar eventos terroristas

com reflexos no Brasil, inclusive as guerras assimétricas em curso.

- Conhecer as estruturas do Poder Nacional voltadas para o

enfrentamento do terrorismo, e identificar o papel de cada ator nesse contexto.

- Identificar medidas a serem adotadas para aperfeiçoar o combate ao

terrorismo.

2.2 HIPÓTESE

O Brasil deveria formular políticas, estabelecer estratégias e criar

mecanismos de enfrentamento ao fenômeno do terrorismo, envolvendo todas

as estruturas de segurança e defesa do País, com foco na manutenção da

Soberania Nacional, de maneira a estar permanentemente preparado para

fazer frente ao terrorismo.

A Hipótese é a de que as estruturas do Poder Nacional voltadas para o

enfrentamento do terrorismo, em particular aquele advindo de guerras

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assimétricas, estão parcialmente adequadas à realidade atual, exigindo

aperfeiçoamentos no que diz respeito à legislação específica, bem como à

aplicação coordenada das medidas de prevenção e repressão.

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3 GUERRAS ASSIMÉTRICAS E TERRORISMO

3.1 AS GERAÇÕES DAS GUERRAS

A partir do Tratado de Westphalia, em 1648, o Estado criou o monopólio

de guerra, estabelecendo-se o conceito de guerra moderna. Anteriormente,

muitas entidades diferentes haviam combatido em guerras: famílias, tribos,

religiões, cidades e empresas, usando diversos meios, não somente exércitos

e marinhas.

A Primeira Geração da guerra moderna - guerra de linha e coluna -

onde as batalhas eram formais e o campo de batalha era ordenado, durou de

1648 a 1860. A sua relevância advêm do fato de que o campo de batalha

organizado criou uma cultura militar de ordem. A maioria das características

que distinguem o militar do civil (uniformes, continências, graus hierárquicos

etc.) são produtos da primeira geração, com a intenção de reforçar a cultura da

ordem.

Em meados do Século XIX, o campo de batalha começou a se

desordenar. Exércitos concentrados, soldados motivados para a guerra (já que

o objetivo do soldado do Século XVIII era desertar), mosquetes raiados e, mais

tarde, armas de retrocarga e metralhadoras tornaram as táticas de linha e

coluna obsoletas. Desde então, o problema tem sido a crescente contradição

entre a cultura militar e o aumento da desordem no campo de batalha. A cultura

da ordem, que outrora foi coerente com o ambiente no qual operava, tem ficado

cada vez mais incoerente e ultrapassada.

A guerra de Segunda Geração foi uma resposta ao desalinhamento

observado no campo militar nos últimos decênios do século XIX. Desenvolvida

pelo Exército francês durante e depois da I GM, a guerra de segunda geração

procurou uma solução no fogo concentrado, a maior parte dele de Artilharia. O

objetivo era o atrito e a doutrina foi resumida pelos franceses como sendo “a

artilharia conquista, a infantaria ocupa”. O poder de fogo era cuidadosamente

sincronizado (usando-se planos e ordens detalhados e específicos) para a

Infantaria, carros de combate e Artilharia, em uma “batalha conduzida”.

A guerra de Segunda Geração atingiu seu objetivo, porque chegou

trazendo um grande alívio para os soldados (ou ao menos para os seus

oficiais), uma vez que preservava a cultura da ordem no campo de batalha. O

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enfoque era voltado para dentro, sobre regras, processos e procedimentos, e a

obediência, mais importante do que a iniciativa. A iniciativa não era bem-vinda,

pois colocava a sincronização em perigo. A disciplina era vertical,

hierarquizada, imposta.

A guerra de Terceira Geração foi desenvolvida pelo Exército Alemão,

também conhecida como “blitzkrieg” ou guerra de manobra. Foi baseada não

no poder de fogo e no atrito, mas na velocidade, na surpresa e no

deslocamento mental e físico. Taticamente, durante o ataque, o militar da

terceira geração procura adentrar nas áreas de retaguarda do inimigo,

causando-lhe o colapso da retaguarda para frente. Ao invés de “aproximar e

destruir”, o lema era “ultrapassar e causar o colapso”. Na defesa, a ideia era

atrair o inimigo para, então, cortar-lhe a retirada. A guerra deixava de ser um

concurso de empurrar, onde as forças tentavam segurar ou avançar uma linha,

transformando-se em não linear. Não foram apenas as táticas que mudaram,

mas também, a cultura militar. O combatente dessa nova forma de guerrear

focava exteriormente, na situação, no inimigo e no resultado exigido pela

situação, e não interiormente, no processo ou na metodologia.

Características como a descentralização e a iniciativa, foram passadas

adiante, da terceira para a Quarta Geração da guerra moderna, que marca a

mudança mais radical desde a Paz de Westphalia. Diferentemente da guerra

convencional, a guerra de Quarta Geração não se desenvolve em teatros de

operação visíveis. Não há frentes de batalha com elementos materiais: a

guerra se desenvolve em cenários combinados, sem ordem aparente e sem

linhas visíveis de combate; os novos soldados não usam uniformes e se

misturam aos civis. Já não existem os elementos da ação militar clássica, por

meio das grandes unidades de combate (tanques, aviões, soldados, frentes,

linhas de comunicação, retaguarda, etc.). As bases de planejamento militar são

substituídas por pequenos centros de comando e planejamento clandestinos,

desde onde se desenham as modernas operações táticas e estratégicas. As

grandes batalhas são substituídas por pequenos conflitos localizados, com

violência social extrema e sem ordem aparente de continuidade. Grandes

forças militares são substituídas por pequenos grupos de operação dotados de

grande mobilidade e de tecnologia de última geração, cuja função é

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desencadear acontecimentos sociais e políticos mediante operações de guerra

psicológica.

3.2 A GUERRA ASSIMÉTRICA

A guerra assimétrica é um tipo de conflito violento onde existe uma

grande desproporção entre as forças em combate, tanto em termos militares,

quanto em termos políticos. Tal fato obriga os mais fracos a usarem métodos

de combate não ortodoxos, considerados fora dos padrões tradicionais

militares. Entre esses métodos pode-se citar a guerrilha, a resistência, todos os

tipos de terrorismo, inclusive o terrorismo de Estado, a contra-insurgência, e a

desobediência civil, dentre outros.

Nas guerras assimétricas não existem frentes determinadas, nem ações

militares convencionais. Ao contrário, se baseia fortemente em ações políticas

e militares combinadas, com implicações para a população civil.

A guerra assimétrica ao longo dos tempos visa a quebrar a vontade de

lutar do oponente mais forte. A associação com o crime organizado, o uso do

terrorismo contra a população civil e alvos não-militares, podem ser

consideradas, por combatentes revolucionários ou extremistas, formas

“legítimas” de luta contra uma força oponente opressora muito superior.

Um exemplo emblemático é o tipo de conflito assimétrico proposto por

Mahatma Ghandi, durante o processo de independência da Índia, na década de

50, quando a Desobediência Civil consistia em descumprir as leis inglesas sem

se importar em sofrer as consequências do ato, boicotar os produtos ingleses e

fazer greves de fome. Apesar de a independência ter sido conquistada com

confrontação, a “arma” de Ghandi se mostrou bastante eficaz.

Outro exemplo de assimetria são as

Intifadas – Guerras das Pedras – palestinas

nos territórios ocupados por Israel. Trata-se

de um movimento emblemático onde

homens e crianças desarmados, ou armados

apenas com pedras (foto ao lado), enfrentam

soldados israelenses armados de fuzis.

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Existem outras dimensões ainda mais modernas, oriundas do avanço

científico-tecnológico e da globalização, em especial por meio do uso de meios

eletrônicos, da sabotagem econômica e de outros meios civis como arma

(aviões, usinas nucleares, redes, etc). As ameaças representadas pelos novos

tipos de possibilidades terroristas, como o terrorismo biológico, químico,

nuclear, radiológico e cibernético, têm causado crescente preocupação às

forças de segurança de todos os países.

Segundo Pinto Silva, a guerra assimétrica não é somente a guerra do

fraco contra o forte; é a introdução de um elemento de ruptura, tecnológico,

estratégico ou tático, um elemento que muda a idéia preconcebida; é a

utilização de um ponto fraco do adversário. Não existe, pois, conflito

assimétrico somente pela desigualdade entre os adversários, senão quando os

adversários adotam formas de combate diferentes em sua concepção e

desenvolvimento.

Pinto Silva afirma que “derrotar estas novas ameaças exige a

adequação de nossos sistemas decisórios para operações e a reorganização

de nossas estruturas para as necessidades da Inteligência (obtenção e

consolidação). Requer equipes híbridas de pensadores, cientistas e

profissionais militares escolhidos, trabalhando juntos sob pressão. Depende de

combinar a atuação das diversas agências de inteligência, com acesso ao

ambiente operacional, considerando isto como assunto de interesse nacional”.

Diante desse novo ambiente, há que se estudar formas de utilizar em

benefício próprio a realidade atual. Recentemente, autores chineses retrataram

uma nova visão acerca do campo de batalha onde serão travados os conflitos

futuros. O livro “A Guerra Além dos Limites”, dos coronéis Qiao Liang e Wang

Xiangsui, escrito em 1999, é uma das primeiras obras, senão a primeira, que

trata sobre as guerras assimétricas futuras em grande escala. Segundo os

autores, em uma luta contra um oponente de força absolutamente superior será

legítimo o uso de qualquer tipo de luta, sem nenhum tipo de obstáculo de

natureza ética.

Qiao Liang e Wang Xiangsui propõem atitudes e procedimentos que

transcendem as táticas militares, a serem implementados por países em

desenvolvimento - a China em particular - visando compensar a sua

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inferioridade militar em relação aos EUA, em um conflito envolvendo meios de

alta tecnologia.

Segundo Qiao Liang (1999, não

paginado): “a primeira regra na guerra

irrestrita é a de que não existem regras,

nada é proibido”. Os novos princípios de

guerra, segundo os autores, não

prescrevem mais “o emprego da força

armada para compelir um inimigo a

submeter-se à nossa vontade”, e sim, “a

utilização de todos os meios, militares e

não-militares, letais e não-letais, para compelir um inimigo a submeter-se aos

nossos interesses”. Isto representa uma mudança, tanto na guerra em si,

quanto no modelo de guerra provocado por essa transformação.

Estarão os chineses já explorando este novo tipo de arma cibernética?

Será por acaso que, nos últimos anos, têm-se multiplicado os casos de

ciberataques com fortes indícios de serem originados na China?

3.2.1 Guerras Assimétricas no Mundo

As guerras assimétricas no mundo atual, em sua maioria, ou são

decorrentes da reação dos EUA diante do atentado de 11 de setembro, ou são

antigas guerras de guerrilha com décadas de duração.

Com o fim da Guerra Fria, que definitivamente não era um conflito

assimétrico, o ambiente global de segurança estratégica mudou

dramaticamente e o equilíbrio de forças pelo mundo deu lugar a um ambiente

dinâmico de novas ameaças, repleto de adversários irregulares combatendo

em guerras de estilo assimétrico.

A Guerra ao Terror levou à ocupação de países considerados como

patrocinadores do terrorismo transnacional, como o Afeganistão, invadido em

2001, e o Iraque, invadido em 2004. Uma rápida análise dos conflitos

demonstra que a enorme disparidade de forças entre os inimigos (EUA e

Aliados X Afeganistão; e EUA e aliados X Iraque) vem sendo compensada pelo

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lado mais fraco com o amplo emprego de meios já citados anteriormente, tais

como o terrorismo (carros-bomba, homens-bomba, etc), a sabotagem de meios

de infraestrutura e de produção econômica, os sequestros, os assassinatos,

dentre outros.

Como reflexo das ocupações militares por parte da superpotência e

aliados – leia-se OTAN -, tem-se a instalação de um novo governo,

forçadamente democrático, à moda ocidental. Logicamente, tanto no

Afeganistão, quanto no Iraque invadidos, aparecem forças insurgentes contra a

nova ordem estabelecida, as quais têm mantido o caráter assimétrico da luta,

sob o enfoque da guerra de resistência. Resistência para uns, terrorismo para

outros!

Os vultosos gastos das ocupações militares dos EUA têm sido, em

média, de 16 milhões de dólares por mês3, com um orçamento total na casa

dos trilhões de dólares, o que afeta negativamente até mesmo a maior

economia do planeta. Manter a resistência “heroica”, provocando um custo

financeiro - e em vidas humanas – tão grande que seja inviável

economicamente a permanência na guerra, é um dos principais objetivos

estratégicos do lado mais fraco.

O Brasil, atualmente, não é palco de lutas internas ou externas, porém,

existem países onde as guerrilhas e outros movimentos revolucionários que

utilizam a luta armada de característica assimétrica, inclusive o terrorismo,

ainda estão ativos4, a saber:

- Colômbia;

- Peru;

- Porto Rico;

- México;

- Espanha;

- França;

3 Disponível em: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/427/artigo77136-1.htm

4 Disponível em: http://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Movimientos_guerrilleros

Page 22: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

20

- Filipinas;

- Turquia;

- Palestina;

- Angola;

- Etiópia;

- Chade;

- África do Sul;

- Sudão; e

- Zâmbia, dentre outros.

3.2.2 Guerras Assimétricas com Reflexos no Brasil

O Brasil convive há muitas décadas em harmonia com todos os seus

vizinhos e não existem fatores visíveis que possam modificar esse cenário em

curto ou médio prazo. Um eventual conflito militar entre o Brasil e qualquer um

dos países do entorno regional é improvável e, caso ocorresse, poderia vir,

sim, a ser considerado um conflito assimétrico, em virtude do poderio militar

superior pelo lado brasileiro.

Contudo, existem conflitos de longa duração em andamento nos países

vizinhos com potencial para causar problemas para o Brasil e seus interesses.

É o caso das guerrilhas na Colômbia e no Peru.

Além disso, a Guerra ao Terror também se faz sentir no subcontinente

sul-americano, por meio da permanente pressão externa no sentido do

acompanhamento de estrangeiros que circulam pelo país; pela existência de

comunidades estrangeiras de interesse, inclusive em regiões de fronteira; e

pela ocorrência de grandes eventos internacionais no Brasil, com grande afluxo

de pessoas, dentre outros motivos.

3.2.2.1 Colômbia X FARC-EP

Ao norte, no chamado Arco Amazônico, a Colômbia sofre, há décadas,

os efeitos de uma guerra de guerrilha patrocinada pelas Forças Armadas

Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) e pelo Exército de

Page 23: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

21

Libertação Nacional (ELN), grupos de nacionais colombianos que têm por

objetivo a derrubada do regime atual e sua substituição por um regime

comunista.

Dentre esses dois movimentos, as FARC-EP, maior grupo paramilitar da

América do Sul, que conta com milhares de integrantes em várias “Frentes”,

são de longe o mais poderoso e influente adversário do Estado colombiano.

As FARC-EP praticam a extorsão e o sequestro indiscriminado de

pessoas e o tráfico de drogas como forma de financiamento de suas atividades,

normalmente emoldurados por extrema

violência contra as forças policiais e

militares. Atos tipicamente terroristas

são frequentemente perpetrados com

finalidade política, como por exemplo,

a recente explosão de uma bomba

junto ao veículo do ex-ministro do

interior colombiano Fernando Londoño,

em 15 de maio do corrente ano5 (figura

ao lado).

Atualmente, o Governo de Juan Manuel Santos vem mantendo forte

pressão militar sobre as FARC-EP, tendo o objetivo estratégico de negociar a

transformação do movimento em um partido político. Dentre as medidas

adotadas pelo governo colombiano está a negociação de libertação de reféns e

as ações militares para capturar ou

eliminar os principais líderes guerrilheiros.

A operação realizada pelas forças

armadas da Colômbia, em 2008, em

território equatoriano que levou à morte

de Luis Edgar Devia Silva6, o “Raúl

Reyes”, segundo homem na hierarquia

5 Imagem disponível em http://www.meionorte.com/noticias/internacional/numero-de-mortos-em-atentado-na-capital-da-colombia-chega-a-5-166360.html 6 Foto disponível em http://www.latinamericanstudies.org/raul-reyes-2.htm

Page 24: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

22

das FARC-EP, provocou uma grave crise diplomática envolvendo Colômbia,

Equador e Venezuela.

As FARC-EP possuem estruturas voltadas para a busca de apoio e

articulação internacionais. Representantes participam de eventos políticos em

toda a América do Sul, inclusive no Brasil. É o caso, por exemplo, de Francisco

Antonio Cadena Collazos, conhecido no Brasil como “Padre Olivério Medina”,

que é membro do Secretariado Internacional das FARC, tendo sido seu

representante no Brasil durante anos.

Frentes guerrilheiras das FARC-EP também circulam dentro dos

territórios de países vizinhos, por vezes permanecendo acampadas em áreas

inóspitas sem serem importunadas. Os exemplos mais recentes são as crises

surgidas entre o governo colombiano e a Venezuela, por um lado, e do mesmo

governo colombiano com o Equador, na fronteira sul. No caso da crise com a

Venezuela, o então presidente colombiano Álvaro Uribe acusou aquele país de

dar abrigo a guerrilheiros da FARC.

A postura brasileira diante da questão interna colombiana é de

neutralidade, sendo que o Brasil não considera os movimentos guerrilheiros

como entidades terroristas (os EUA mantém as FARC-EP e o ELN como

grupos terroristas em sua “lista negra”). Contudo, as forças armadas brasileiras

mantém cerrado acompanhamento dos grupos guerrilheiros que circulam na

fronteira entre os dois países. Segundo as forças armadas brasileiras, a

ameaça representada pelas FARC-EP não indica, atualmente, a possibilidade

de ataques terroristas no território brasileiro.

3.2.2.2 Peru X Sendero Luminoso

O Sendero Luminoso (SL), de ideologia marxista-leninista-maoísta, foi

fundado em 1978 por Abimael Guzman, o “Presidente Gonzalo”, para a

conquista do poder no Peru através da luta armada. De 1980 a 2000, provocou

a morte de cerca de 70.000 (setenta mil) pessoas. Com a prisão de Gonzalo,

em 1992, o movimento se desarticulou bastante, até quase ser extinto.

A partir dos anos 2000, o SL readquiriu força sob o novo formato de

narcoguerrilha, em decorrência do aumento da produção de cocaína no Peru.

Page 25: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

23

Nesse mesmo ano, O Peru ultrapassou a Colômbia no “ranking” dos maiores

produtores mundiais da folha de coca7.

Fortemente pressionado pelo Exército peruano nos últimos tempos, o SL

atualmente conta com algumas centenas de guerrilheiros atuando na área rural

nas encostas dos Andes, em regiões de grande produção de coca em

Huallaga, no Nordeste, e em Apurímac-Ene, no Sudeste.

Quanto aos riscos para o Brasil, pode-se concluir que os objetivos e a

atuação terrorista do SL estão praticamente restritos ao território peruano. Os

guerrilheiros, eventualmente, podem ultrapassar o território brasileiro para

adquirir medicamentos e comida nas cidades lindeiras.

A droga produzida no Peru, sob a proteção do SL, destina-se

principalmente ao mercado norte-americano e europeu. Porém, especialistas

no assunto alertam que o Brasil tem se tornado importante rota de tráfico de

drogas para a Europa.

3.2.2.3 A Guerra ao Terror e o Brasil

O Brasil, por sua crescente visibilidade no cenário político internacional,

possui alguns dos ingredientes para vir a se tornar palco de atos terroristas em

virtude de guerras assimétricas. Os grandes eventos, as infraestruturas criticas

como alvos potenciais, a presença de comunidades estrangeiras, o fluxo de

turistas estrangeiros e as extensas fronteiras terrestres e marítimas são alguns

dos fatores de risco que servem como alerta para as autoridades se

preocuparem seriamente com o fenômeno.

O país, como de resto a maioria das nações do mundo, foi instado a se

manifestar solidário diante do atentado de 11 de setembro, mesmo porque três

brasileiros estavam entre as vítimas da tragédia. A partir daquela data, a

atenção das forças de segurança internacionais passou a ser direcionada para

7 O Peru tornou-se o maior produtor mundial de folha de coca, em 2009, com 119 mil toneladas

métricas, ultrapassando a Colômbia, que registrou 103 mil toneladas, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) Disponível em http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/WDR2010/Informe_Mundial_sobre_las_Drogas_2010.pdf

Page 26: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

24

as comunidades islâmicas espalhadas pelo mundo que pudessem abrigar

terroristas e simpatizantes.

O Brasil atendeu prontamente às demandas, de maneira efetiva e

afirmativa, somando-se aos esforços da comunidade internacional de combate

aos terroristas que perpetraram o atentado. Com o tempo, surgiram novas

pressões no sentido da adoção de medidas de acompanhamento cerrado das

comunidades estrangeiras existentes no território nacional.

Na atualidade, não há como negar que é pouco provável que

organizações terroristas queiram realizar atentados no Brasil, em função do

não alinhamento e da tradicional postura brasileira de defesa do

multilateralismo e da autodeterminação dos povos. Tal condição, longe de

oferecer tranquilidade, deve servir de alerta para a necessidade de manter um

acompanhamento ainda mais cerrado do fenômeno, pois qualquer tipo de

acomodação ou letargia pode ser fatal.

3.3 O TERRORISMO

3.3.1 O Terrorismo ao Longo da História

As raízes históricas do terrorismo estão fincadas na Antiguidade. Há

cerca de 2.500 anos, na imortalizada obra “A Arte da Guerra”, Sun Tzu

apontava a essência do terrorismo: “Mate um; amedronte dez mil”.

Dentre as primeiras referências históricas, vale citar duas organizações

religiosas: os fanáticos Vicarai e os Assassinos. O primeiro grupo, que existiu à

época de Jesus Cristo, opunha-se à ocupação da Palestina pelo Império

Romano e assassinava romanos e judeus colaboracionistas.

Os Assassinos, ou Smailis-Nizaris, agiram no período entre 1090 e 1275

e tinham como meta a divulgação do “islamismo puro” tal qual os extremistas

islâmicos de hoje.

O vocábulo “terrorismo” surgiu para designar o período da Revolução

Francesa, conhecido como “Reino do Terror” (1793-1794), quando os líderes

revolucionários, tendo à frente Robespierre, sentenciaram cerca de 17.000

(dezessete mil) pessoas à morte pela guilhotina. Os jacobinos, facção mais

Page 27: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

25

radical daquela revolução, foram os primeiros a utilizar o chamado “Terrorismo

de Estado”.

No século XX, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)

tornou-se a principal provedora de organizações extremistas, como as Brigadas

Vermelhas, na Itália; a Facção do Exército Vermelho, na Alemanha; o

Movimento da Esquerda Revolucionária, no Chile; e o Congresso Nacional

Africano, na África do Sul, dentre muitos outros.

Após a Segunda Guerra Mundial, a expansão do terrorismo foi

impressionante. As guerras de independência na África e na Ásia foram palcos

do uso e aperfeiçoamento de técnicas e táticas terroristas. Na Argélia e no

Quênia, o terrorismo tornou-se estratégia principal na luta de libertação. Na

Europa, o Exército Republicano Irlandês (IRA) vitimou um número considerável

de civis inocentes na luta contra a ocupação britânica da Irlanda do Norte.

Na década de 70 do século passado, organizações palestinas que

lutavam contra a ocupação israelense, passaram a usar o terror fora do

ambiente geográfico do Oriente Médio, atuando agressivamente em território e

espaço aéreo europeu. Era a internacionalização do terrorismo. O ataque

terrorista do Grupo Setembro Negro contra integrantes da delegação de atletas

judeus, na Olimpíada de Munique em 1972, na Alemanha, já referenciado no

capítulo inicial, foi um ato ousado que transformou a concepção das ações

terroristas em uma forma de pressão psicológica e emocional nunca antes

experimentada. Esses grupos passaram a “exportar” suas técnicas para

militantes de outras facções extremistas do mundo inteiro, que se internavam

em campos de treinamento na Palestina e em outros locais do mundo árabe,

para adquirirem experiência.

A década de 80 foi marcada pelo surgimento do terrorismo de inspiração

religiosa. Influenciados pela Revolução Islâmica no Irã, grupos como o

Hezbollah (“Partido de Deus”) e o Hamas fizeram uso intensivo de ataques

terroristas contra cidadãos israelenses, incorporando um novo elemento nesse

conflito, o terrorista suicida.

No mundo pós-Guerra Fria, conflitos étnico-religiosos, instabilidades

regionais, insurgências e guerras civis tornaram-se um campo de experimento

Page 28: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

26

apropriado para grupos terroristas de todos os matizes. O ódio decorrente da

assimetria social entre os povos vem sendo explorado pelos extremistas, em

particular os islâmicos, como consequência da aversão ao chamado

“imperialismo ocidental”.

Um evento marcante da evolução do novo terrorismo transnacional foi o

surgimento da Al-Qaeda (“A Base”). Fundada por Osama Bin Laden, a Al-

Qaeda difere dos demais grupos terroristas por conceber uma guerra global

contra o Ocidente, particularmente, os Estados Unidos da América (EUA) e

seus aliados europeus. Os ataques terroristas da Al-Qaeda em cidades como

Nova Yorque (2001), Madri (2004) e Londres (2005) resultaram em milhares de

mortos e definitivamente marcaram um ponto de inflexão na guerra contra o

terror.

Os ataques da Al-Qaeda trouxeram um componente extremamente

perigoso e letal: a possibilidade de ataques pelo mundo afora, perpetrados por

organizações inspiradas na Al-Qaeda, muitas das quais com pouco ou nenhum

vínculo com os principais líderes.

Liderado pelos EUA, o Ocidente logrou

sufocar as bases da Al-Qaeda no Afeganistão, ao

mesmo tempo em que apertou o cerco às fontes de

financiamento dos terroristas ao redor do mundo. A

morte de Osama Bin Laden (foto ao lado) em seu

esconderijo no Afeganistão foi um duro golpe na Al-

Qaeda, porém está longe de significar o último

capítulo, ou melhor, a última batalha da Guerra ao

Terror. Quem assumirá a liderança?

O Departamento de Estado dos EUA (DoS/EUA) mantém uma lista de

organizações consideradas terroristas (“List of Designated Foreign Terrorist

Organizations”), as quais sofrem forte pressão diplomática, financeira e, muitas

vezes, militar. O anexo A contém a relação dessas organizações.

3.3.2 O Terrorismo na Tríplice Fronteira

A América do Sul é uma região do planeta que tem se mantido

relativamente à margem dos eventos terroristas desde o “11 de setembro”.

Page 29: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

27

Contudo, em um passado não tão distante, o subcontinente foi palco de

atentados que causaram - e ainda provocam - preocupação por parte das

autoridades e instituições regionais e internacionais encarregadas de combater

as suas causas e efeitos. É o caso dos ataques ocorridos na Argentina em

1992 e 1994, de origem no fundamentalismo islâmico, e dos atos criminosos

violentos praticados, ainda hoje, pelas guerrilhas colombiana e peruana.

Considerando que os casos colombiano e peruano já foram identificados

anteriormente, passaremos a estudar o terrorismo de origem fundamentalista

islâmico.

3.3.2.1 O Fundamentalismo Islâmico na América do Sul

No caso dos atentados na Argentina, que interessa mais de perto ao

Brasil pelos efeitos que causou para o país

durante o processo de identificação dos

culpados, tratou-se do terrorismo de caráter

transnacional, de cunho fundamentalista

islâmico, contra alvos judeus. Naquela

oportunidade, as investigações levantaram

forte suspeita sobre a participação do

Hezbollah, com apoio de iranianos e

conexões com a comunidade islâmica que

habita a Tríplice Fronteira (TF) entre Brasil –

Argentina – Paraguai. A destruição causou

85 (oitenta e cinco) mortos e mais de 300

(trezentos) feridos8.

Em resposta aquela situação de crise, foram tomadas iniciativas no

sentido de esclarecer a situação na TF, particularmente com relação a melhor

compreensão da natureza da comunidade estrangeira local – origens, efetivos,

ocupação, atividades, etc.

Para alguns especialistas, aquele momento foi um ponto de inflexão no

processo de envolvimento do Estado brasileiro no problema do terrorismo

8 Foto disponível em http://www.porisrael.com/porisrael/

Page 30: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

28

internacional. Desde então, os norte-americanos têm pressionado no sentido

de um acompanhamento cerrado sobre as atividades da comunidade islâmica

que vive naquela área.

A região da Tríplice Fronteira é formada pelas cidades de Foz do Iguaçu

(Brasil), Ciudad Del Este (Paraguai) e Puerto Iguazu (Argentina), que juntas

somam uma população de mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes. As

cidades se localizam junto à confluência dos rios Paraná e Iguaçu.

A imigração árabe no Brasil tem mais de um século de história. No fim

do século XIX desembarcaram no Brasil os primeiros árabes e, no início do

século XX, esse fluxo migratório cresceu e passou a se tornar importante para

o desenvolvimento socioeconômico do País. Aproximadamente 15 milhões de

brasileiros possuem ascendência árabe, a maioria - cerca de 7 milhões - de

origem libanesa.

Em fins do século XIX, os árabes cristãos, em sua maioria partindo da

Síria e do Líbano, passaram a se espalhar pelo mundo e os principais destinos

foram a América do Norte e a América do Sul, particularmente, o Brasil.

A Guerra Civil no Líbano, entre os anos de 1975 e 1990, formou uma

nova corrente migratória em direção ao Brasil, desta feita incluindo um número

considerável de árabes muçulmanos.

Os árabes foram atraídos para Foz do Iguaçu, na região da TF,

principalmente, pelo potencial da atividade comercial, uma vez que a cidade

passou a receber um forte fluxo de trabalhadores para a construção da

Hidrelétrica de Itaipu, nos anos 80. Atualmente, a cidade possui a segunda

maior concentração da comunidade árabe no Brasil e, ao contrário de outras

cidades brasileiras, 90% são islâmicos (sunitas e xiitas).

Ao longo das últimas décadas, a TF se tornou um importante polo

regional de comércio – legal e ilegal -, criando as condições para a ocorrência

de uma grande variedade de modalidades criminosas, tais como o tráfico de

drogas e armas; o contrabando e o descaminho; além da lavagem de dinheiro

e a corrupção.

Desde os atentados na Argentina, o DoS/EUA vêm emitindo relatórios

periódicos alertando acerca da presença de atividades relacionadas com o

Page 31: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

29

terrorismo internacional da região da TF. Em 1999, os EUA alertavam que a

Colômbia, o Peru e a região da Tríplice Fronteira experimentavam atividades

terroristas e que esta última era um ponto focal para o extremismo islâmico.

Em 2000, o DoS/EUA citava que a região era vista com preocupação

pelas autoridades dos EUA, pois os escassos recursos aplicados na área, as

fronteiras porosas e a corrupção eram obstáculos para a atuação e controle

dos agentes estatais dos respectivos países.

Após o 11 de setembro de 2001, houve um aumento do interesse sobre

a potencial atividade do terrorismo internacional na região. Renovou-se o

interesse pelo Hezbollah9 e Hamas10, que estariam levantando milhões de

dólares, anualmente, por meio de atividades criminosas. A pressão sobre a TF

passou a fazer parte da estratégia dos EUA de envolver todos os países na sua

cruzada internacional contra o terror.

Em 2002, como forma de aliviar a pressão e demonstrar o espírito de

cooperação no acompanhamento de atividades suspeitas, os países

fronteiriços convidaram os EUA para integrar a Comissão Tripartite da Tríplice

Fronteira – “Comissão 3+1” - formada pelo Brasil, Argentina, Paraguai e,

doravante, os EUA. Estabelecido em dezembro daquele ano, o fórum até hoje

reúne autoridades da Coordenação Geral de Luta contra a Delinquência

Transacional, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, da

Representação Especial para Assuntos de Terrorismo e Delitos Conexos, da

Chancelaria Argentina, da Direção de Temas Especiais do Paraguai e do

Gabinete de Contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA.

Naquela oportunidade, a iniciativa foi entendida pelos EUA como um

exemplo de associação para o combate às atividades terroristas. Desde então,

os EUA mantém o aporte de recursos econômicos aos três países, que são

9 O Hezbollah teve o seu nascimento formal em 1982, tendo sido criado por um grupo de

clérigos xiitas com o objetivo de expulsar as forças armadas israelenses do sul do Líbano e de estabelecer um estado islâmico no país, nos moldes do estado islâmico criado no Irã. 10

O Hamas foi criado em 1987 pelos Xeques Ahmed Yassin, Abdel Aziz al-Rantissi e Mohammad Sham’ah, entre outros integrantes da Irmandade Islâmica, no dia seguinte à eclosão da primeira Intifada. O grupo é notório pelos seus ataques suicidas e outros ataques sobre civis e as forças armadas israelenses. A Carta Fundamental do Hamas exorta a recaptura do Estado de Israel. A organização mantém hospitais, escolas, bibliotecas e outros serviços na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

Page 32: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

30

empregados em treinamentos de agentes e no aperfeiçoamento do controle da

fronteira e dos fluxos financeiros locais.

Atualmente, a postura do governo norte-americano é a de elogiar as

ações desenvolvidas pela “Comissão 3+1” na luta contra a criminalidade

transfronteiriça, no combate à lavagem de dinheiro e no controle de potenciais

atividades terroristas na região. Isso apesar de alertar sobre a presença de

representantes do Hezbollah e do Hamas em atividades ilícitas no local,

principalmente sob a forma de financiamento de atividades terroristas.

Apesar do potencial de crise latente na TF, fortemente aumentado após

os ataques terroristas na Argentina em 1992 e 1994, até hoje não há registro

da presença de células terroristas naquela região. No entanto, há um potencial

considerável para o surgimento de crises, pela ocorrência de uma grande

quantidade de crimes transfronteiriços, que poderiam acobertar atividades

ilícitas ligadas ao terrorismo internacional, desde o seu financiamento até o

refúgio de suspeitos.

Page 33: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

31

4 O BRASIL DIANTE DO TERRORISMO

4.1 POLÍTICA E ESTRATÉGIAS NACIONAIS

O Brasil tem, historicamente, adotado uma postura de apoio ao

multilateralismo e à defesa intransigente da autodeterminação dos povos, o

que é permanentemente demonstrado pela Diplomacia nacional em todos os

foros internacionais. Esse posicionamento político tem contribuído para o país

se manter longe da ocorrência de atentados terroristas.

Após o 11 de setembro, dada a comoção advinda daquele evento, o

Brasil teve que aderir ao esforço mundial para dar uma resposta firme aos

executores do atentado. Em atenção às medidas propostas pela ONU, e como

forma de somar-se aos esforços dos EUA para combater as organizações

terroristas, o Brasil elevou o grau de comprometimento com o combate ao

terrorismo transnacional, pela adoção de medidas que, de maneira geral,

também foram tomadas por grande parte da comunidade internacional. Com

isso, mesmo que sem intenção, o país passou a envolver-se em maior grau

com o tema, automaticamente aumentando o risco de ter seus interesses –

território, pessoas, estruturas – atingidos.

A percepção da opinião pública nacional sobre o terrorismo é a de que é

muito pouco provável a ocorrência de atentados no Brasil. Contudo, os

especialistas no assunto identificam a existência de riscos que, ainda que

remotos, indicam a necessidade de enfrentamento do fenômeno com medidas

de contraterrorismo. Vale citar:

- o Brasil como local de homizio de terroristas;

- o Brasil como local de recrutamento de terroristas;

- o Brasil como local de planejamento de atos terroristas;

- o Brasil como local de financiamento ao terrorismo;

- o Brasil como palco de atentados; e

- o Brasil (ou brasileiros) como alvo de atentados.

4.1.1 Mecanismos e Instrumentos Legais

4.1.1.1 Legislação Nacional

Page 34: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

32

A Constituição Federal brasileira trata especificamente do assunto

terrorismo, ainda que de maneira sucinta. Mais que simples citação, observa-se

que o legislador constituinte quis destacar o fenômeno dentre os demais.

Verifica-se a preocupação em identificar que o cometimento de atos de

terrorismo viola princípios como o da dignidade da pessoa humana, da

prevalência dos direitos humanos e da solução pacífica dos conflitos:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana. Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] II – prevalência dos direitos humanos.

A primeira referência direta ao terrorismo consta no art. 4º, que aborda

os princípios relativos à comunidade internacional, isto é, que regem o Brasil

em suas relações internacionais, determinando o comportamento do Brasil

como pessoa jurídica de Direito Internacional:

Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo”.

A segunda referência direta consta no art. 5º, que trata dos direitos e

das garantias fundamentais, determinando que o terrorismo seja equiparado a

crime hediondo, e que por isso seja inafiançável e insuscetível de graça ou

anistia:

Art. 5º. [...]: XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

Além desses artigos, claros e objetivos, a Carta Magna estatui ainda

tratar-se de crime inafiançável e também imprescritível, a “ação de grupos

armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado

Democrático” (Art. 5º, XLIV).

A negação ao terrorismo, indiretamente, também se apresenta na

vedação de associação de caráter paramilitar (art. 5º, XVII – é plena a

Page 35: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

33

liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar), ou

ainda de sua utilização por partidos políticos (art. 17, § 4º - é vedada a

utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar).

A Lei 10.744, de 2003, dispõe sobre a responsabilidade de pessoas no

caso de atentados terroristas contra aeronaves brasileiras.

O Supremo Tribunal Federal (STF), por intermédio do Ministro Celso de

Mello, em 2004, assim manifestou-se sobre o terrorismo:

"Os atos delituosos de natureza terrorista, considerados os parâmetros

consagrados pela vigente Constituição da República, não se subsumem à

noção de criminalidade política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio

ao terrorismo como um dos princípios essenciais que devem reger o Estado

brasileiro em suas relações internacionais (CF, art. 4º, VIII), além de haver

qualificado o terrorismo, para efeito de repressão interna, como crime

equiparável aos delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a

tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-o inafiançável e

insuscetível da clemência soberana do Estado e reduzindo-o, ainda, à

dimensão ordinária dos crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII)”.

Cabe citar que está em tramitação no Congresso Nacional o anteprojeto

de lei do novo Código Penal11, que deverá contemplar a tipificação do crime de

terrorismo12.

4.1.1.2 Legislação, Convenções e Mecanismos Internacionais

Quanto às convenções internacionais, o Brasil endossa o que prescreve

as resoluções abaixo, da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da

ONU:

- Resolução 2.625, de 1970 - estipula que “todos os estados têm o dever

de não organizar ou encorajar atos de guerra civil e terrorismo em territórios de

11

O Anexo B contém o texto do Anteprojeto do Novo Código Penal - “Tipificação do Crime de Terrorismo”, enviado ao Congresso Nacional recentemente. 12

A Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1083), em seu artigo 20º, prevê a punição para os crimes de terrorismo (reclusão de 3 a 10 anos), mesmo sem definir o que constitui tais atos.

Page 36: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

34

outros Estado ou de tolerar em seu próprio território atividades organizadas

com vistas a perpetrar tais atos”.

- Resolução 1373, de 2001 - (..) todos os Estados devem: (...)

- tomar as medidas necessárias para prevenir o cometimento de

atos terroristas (...)

- impedir a movimentação de terroristas ou grupos terroristas,

mediante o efetivo controle de fronteiras e o controle da emissão de

documentos de identidade e de viagem (...)

A resolução 1373 é executada no Brasil sob a norma estabelecida pelo

Decreto 3.976, de 18 de outubro de 2001. A Polícia Federal é o órgão

encarregado de realizar as operações de inteligência policial e repressivas em

cooperação com os países associados.

O Brasil aderiu e ratificou os 16 (dezesseis) instrumentos legais da ONU

de combate ao terrorismo13, a saber:

- 1963 – Convênio sobre infrações e atos cometidos dentro de

aeronaves;

- 1971 – Convênio para a repressão ao apoderamento ilícito de

aeronave;

- 1971 – Convênio para a repressão de atos ilícitos contra a

segurança da aviação civil;

- 1973 - Convênio sobre a prevenção e punição de delitos contra

as pessoas internacionalmente protegidas;

- 1979 – Convenção contra a tomada de reféns;

- 1987 – Convenção sobre a proteção dos materiais nucleares;

- 1989 – Convenção para a repressão de atos de violência em

aeroportos;

- 1988 – Convenção para a repressão de atos ilícitos contra a

segurança da navegação marítima;

13

Consulta à página eletrônica http://www.un.org/es/sc/ctc/laws.html

Page 37: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

35

- 1988 – Protocolo para repressão de atos ilícitos contra a

segurança de plataformas fixas na plataforma continental marítima;

- 1991 – Convênio sobre a marcação de explosivos plásticos;

- 1997 – Convênio para a repressão de atentados terroristas

cometidos com bombas;

- 1999 - Convenção para a repressão do financiamento do

terrorismo;

- 2005 - Convenção para a repressão dos atos de terrorismo

nuclear;

- 2005 – Protocolo adicional ao protocolo para repressão de atos

ilícitos contra a segurança de plataformas fixas na plataforma continental

marítima;

- 2005 – Protocolo adicional à convenção para a repressão de

atos ilícitos contra a segurança da navegação marítima; e

- 2005 – emendas sobre a proteção física dos materiais

nucleares.

Em âmbito regional, o Brasil aderiu à Convenção Interamericana contra

o Terrorismo, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Quanto aos mecanismos internacionais, o Brasil participa de todos os

fóruns internacionais existentes para o qual é convidado, inclusive:

- Mecanismo 3 + 1, já citado (Brasil, Argentina, Paraguai e EUA);

- Grupo de Trabalho Especializado do Mercosul contra o

Terrorismo;

- Comando Tripartite;

- Força Tarefa contra Crimes Financeiros;

- Rede Interamericana Antiterrorismo; e

- Comitê Interamericano contra o Terrorismo.

Page 38: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

36

4.2 O PODER NACIONAL NO COMBATE AO TERRORISMO

4.2.1 Estruturas de Prevenção e Repressão

O Brasil mantém estruturas especializadas em contraterrorismo em

condições de responder de forma efetiva às demandas correntes, na situação

de normalidade e em eventuais casos de crise, ou durante grandes eventos em

que há a necessidade de reforço nas medidas de contraterrorismo.

De acordo com legislação brasileira, a missão de prevenir e combater o

terrorismo está a cargo do GSI/PR, das Forças Armadas e dos órgãos de

Segurança Pública Federal, do Distrito Federal e dos Estados da Federação.

A Estratégia Nacional de Defesa também trata do assunto, ao atribuir ao

Ministério da Defesa e ao Ministério da Justiça a responsabilidade pela

prevenção de atos terroristas e de atentados massivos aos direitos humanos,

bem como a condução de operações contraterrorismo. (BRASIL, 2008, p.65)

A Política de Defesa Nacional faz a seguinte consideração sobre esta

questão:

O Brasil considera que o terrorismo internacional constitui risco à paz e à segurança mundiais. Condena enfaticamente suas ações e apoia as resoluções emanadas pela ONU, reconhecendo a necessidade de que as nações trabalhem em conjunto no sentido de prevenir e combater as ameaças terroristas. (BRASIL, 2005, p. 9).

Para fazer face à ameaça do terrorismo internacional e atender aos

acordos firmados com organismos internacionais, foi criado na Câmara de

Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDEN)14 um Grupo Técnico (GT)

de Contraterrorismo, pela Portaria nº 16 CH/GSI, de 11 de maio de 2004, o

qual é presidido pelo Ministro-Chefe do GSI/PR.

O GT propôs a criação da Autoridade Nacional de Prevenção e Combate

ao Terrorismo (ANPCT) com uma estrutura permanentemente ativada junto ao

GSI/PR, chefiada por um Secretário e composta por representantes das

seguintes entidades: Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério

14

É um órgão do Conselho de Governo que tem como missão formular políticas públicas e diretrizes, aprovar, promover a articulação e acompanhar programas e ações a serem implantados em matérias relacionadas: à cooperação internacional em assuntos de segurança e defesa; ... ao narcotráfico e a outros delitos de configuração internacional; ... e às atividades de inteligência, além do permanente acompanhamento de questões ... com potencial de risco à estabilidade institucional...”. Fonte: http://geopr1.planalto.gov.br/saei/colegiado-e-grupos-de-trabalho/creden

Page 39: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

37

da Justiça; Diretoria de Inteligência Policial, do Departamento de Polícia

Federal, do Ministério da Justiça; Departamento de Recuperação de Ativos e

Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça; Departamento de

Inteligência Estratégica, do Ministério da Defesa; Coordenação-Geral de

Combate a Ilícitos Transnacionais, do Ministério de Relações Exteriores;

Agência Brasileira de Inteligência, do Gabinete de Segurança Institucional;

Comando da Marinha; Comando do Exército; Comando da Aeronáutica; e

Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda.

Além da ANPCT, o GT propôs a criação do Grupo de Trabalho de

Prevenção e Combate ao Terrorismo (GTPCT) e de uma Política Nacional de

Prevenção e Combate ao Terrorismo (PNPCT).

O decisor político não aprovou a criação da ANPCT, do GTPCT e da

PNPCT, no entanto, no dia 9 de junho de 2009, foi criado, pela Portaria nº 22

do Ministro-Chefe do GSI/PR, o Núcleo do Centro de Coordenação das

Atividades de Prevenção e Combate ao Terrorismo15, com as seguintes

atribuições:

- realizar o acompanhamento de assuntos pertinentes ao

terrorismo internacional e de ações voltadas para a sua prevenção e

neutralização;

- promover estudos, reuniões e outras iniciativas destinadas a

ampliar o conhecimento estratégico sobre o fenômeno terrorista e crimes

conexos, bem como sobre políticas, estratégias, programas e atividades de

prevenção e combate ao terrorismo;

- participar e receber subsídios para a elaboração da avaliação de

risco de ameaça terrorista;

- estudar e propor, no âmbito do GSI/PR, subsídios para a

CREDEN, do Conselho de Governo, visando à elaboração de políticas,

estratégias e programas voltados para a ação integrada dos órgãos

governamentais na prevenção e neutralização do terrorismo; e

15

Conforme https://sistema.planalto.gov.br/infracritica/paginas/legislacao/ Portaria196DOU10jun09pag5e6agua.pdf

Page 40: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

38

- promover, por intermédio dos seus integrantes, pertencentes aos

quadros do Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores e

Ministério da Defesa e à disposição do Gabinete de Segurança Institucional da

Presidência da República, a articulação dos órgãos governamentais com

interesse na questão.

Atualmente, o Núcleo encontra-se inativo.

As principais estruturas de prevenção e repressão ao terrorismo são:

4.2.1.1 Ministério das Relações Exteriores (MRE)

- Coordenação-Geral de Combate a Ilícitos Transnacionais (COCIT) -

compete à COCIT propor diretrizes de política externa para a prevenção e

combate aos ilícitos transnacionais e coordenar as atividades de cooperação

internacional entre os órgãos governamentais brasileiros e seus congêneres

estrangeiros nas áreas de prevenção e combate ao crime organizado

transnacional, inclusive o tráfico de drogas ilícitas, de armas, de pessoas,

especialmente mulheres e crianças, e o contrabando de migrantes; a

corrupção, o suborno, a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo; o

terrorismo internacional; e o crime cibernético16.

4.2.1.2 Departamento de Polícia Federal (DPF)

- Serviço Antiterrorismo (SANTER) da Diretoria de Inteligência Policial

(DIP) - tem por objetivo prevenir, obstruir, identificar e neutralizar as ações do

terror, a partir da busca do dado negado e de operações. Realiza o intercâmbio

de informações operacionais com órgãos de inteligência e policiais de vários

países, além de operações de inteligência policial voltadas para atuação de

extremistas no território nacional.

- Comando de Operações Táticas (COT) – tem por missão atuar em

missões de contraterrorismo com características especiais, como

apoderamento de aeronaves, apreensão de drogas, resgate de reféns, dentre

outros.

16

Disponível em; http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/subsecretaria-geral-politica-i/coordenacao-geral-de-combate-a-ilicitos-transnacionais-cocit )

Page 41: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

39

4.2.1.3 Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)

- O COAF é a Unidade de Inteligência Financeira do Brasil, órgão

responsável por prevenir a utilização do sistema econômico para os crimes de

lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, promovendo a cooperação

e o intercâmbio de informações entre os setores públicos e privados.

4.2.1.4 Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)

- Departamento de Contraterrorismo (DCT) – compete ao DCT

atividades de prevenção ao terrorismo no território nacional, e a obtenção de

informações e produção de conhecimentos sobre tais atividades, mantendo um

banco de dados atualizado sobre as OT de interesse.

4.2.1.5 Ministério da Defesa

- Subchefia de Inteligência Estratégica (SCIE)/Chefia de Assuntos

Estratégicos – gerencia o Sistema de Inteligência de Defesa e obtém dados de

interesse das aditâncias militares.

- Centro de Inteligência do Exército (CIE), Centro de Inteligência da

Marinha (CIM) e Centro de Inteligência da Aeronáutica (CIAer) – órgãos

centrais dos sistemas de inteligência das três forças armadas, que produzem

conhecimentos específicos, de acordo com os planos internos e as solicitações

do SISBIN.

- EB - As tropas de Operações Especiais do Exército Brasileiro estão

localizadas na Brigada de Operações Especiais (Bda Op Esp), que possui

como principais meios para a condução de operações especiais o 1º Batalhão

de Forças Especiais, o 1º Batalhão de Ações de Comandos, a 3ª Companhia

de Forças Especiais e o Destacamento de Operações Psicológicas.

- MB – Os elementos de Operações Especiais da Marinha são os

Comandos Anfíbios (COMANF), do Corpo de Fuzileiros Navais, e o

Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC), da Armada.

Page 42: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

40

- FAB - O Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (EAS), mais

conhecido como PARASAR, é um esquadrão de busca e resgate da Força

Aérea Brasileira, sediado na cidade do Rio de Janeiro. O Brasil possui sete

equipes SAR, distribuídas por todo o país.

4.2.1.6 Forças Auxiliares das Forças Armadas e Outros Órgãos do Sistema

Brasileiro de Inteligência (SISBIN)

As unidades táticas de operações especiais que existem no Brasil

empregam, normalmente, a doutrina norte-americana. O Batalhão de

Operações Especial (BOPE), da PMRJ, é o típico exemplo de tropa

especializada. Grupos táticos estão estruturados nas policias militares e civis

de grande número de estados brasileiros, equipados e instruídos para

cumprirem missões especiais que exijam alto grau de risco e adestramento

tático no combate às ações terroristas por parte de organizações criminosas.

O SISBIN está estruturado em todos os estados brasileiros e possui boa

capilaridade. Colaboram com o Sistema os órgãos de inteligência das

instituições federais e estaduais de interesse, tais como polícias civis e

militares, ANVISA, Receita Federal, etc.

4.2.2 O PN e o Enfrentamento do Terrorismo – Considerações

Recordando o que foi apresentado no capítulo introdutório, segundo a

doutrina da ESG, PN é “a capacidade que tem o conjunto de Homens e Meios

que constituem a Nação para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em

conformidade com a Vontade Nacional”.

O Brasil tem apresentado, desde os anos noventa, nítida evolução em

sua estrutura de contraterrorismo, incluindo as atividades de inteligência, de

investigação e a montagem das equipes especializadas no combate aos

terroristas em caso de necessidade. Fazendo uma reflexão sobre a própria

definição de PN acima, verifica-se que o cerne do problema não está nas

estruturas de CT, mas sim na identificação, com clareza, do objetivo de tais

aparatos de segurança nacional. Uma questão fundamental que se descortina

é “existe uma autoridade constituída para o combate ao terrorismo, capacitada

Page 43: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

41

e detentora do poder (nacional) de reunir os meios difusos, coordená-los,

orientá-los e empregá-los com efetividade, de maneira a dissuadir ameaças e

mitigar efeitos de eventuais atentados?”

O Brasil possui todas as infraestruturas necessárias ao enfrentamento

do terrorismo em seu território. As instituições diplomáticas, militares, policiais

(e afins) e financeiras, respectivamente nas expressões política, militar,

psicossocial, e econômica do PN, estão ativadas desde o tempo de paz,

diuturnamente, em condições de fazer frente ao desafio que o fenômeno

apresenta.

Os servidores civis e militares envolvidos na tarefa estão em constante

aperfeiçoamento, havendo frequentes intercâmbios, em todos os níveis, com

os melhores especialistas dos mais renomados órgãos de combate ao

terrorismo do mundo, tanto no que diz respeito às operações de inteligência,

quanto às ações repressivas especializadas.

O trabalho de acompanhamento (Inteligência) é feito em parceria com

órgãos internacionais especializados congêneres de cada uma das instituições.

Assim é que, a Polícia Federal se comunica com o FBI/EUA, a Interpol e outras

polícias federais do mundo; a ABIN liga-se com a CIA, o MOSSAD, e inúmeros

outros órgãos de inteligência (OI) internacionais; as Forças Armadas brasileiras

mantém contato permanente com os OI das Forças Armadas de todos os

países vizinhos; o COAF está em ligação permanente com outras unidades de

inteligência financeira no mundo; e assim por diante. Tal rede de inteligência

possibilita um preparo adequado para a antecipação a um possível ataque

terrorista.

Ocorre que, diante do tipo de conflito atual, verdadeira guerra

assimétrica, torna-se muito difícil a antecipação desejada sem que as

estruturas de inteligência estejam operando em harmonia, inclusive com

doutrina comum. Para isso, o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN)

deveria funcionar conforme prevê a legislação específica17, o que não ocorre.

Trata-se de um desafio não só para a comunidade brasileira de inteligência,

17

O SISBIN foi instituído pela Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999 e regulamentado pelo decreto 4.376, de 13 de setembro de 2002.

Page 44: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

42

como para os dirigentes políticos, que deveriam primeiramente valorizar a

atividade.

Além disso, a inexistência de uma Política Nacional de Prevenção e

Combate ao Terrorismo e de uma Autoridade Nacional que coordene e oriente

o seu combate, em particular distribuindo as tarefas e gerando as condições de

sinergia necessárias para o pleno aproveitamento do potencial humano

existente, são os fatores que contribuem para a sensação de ineficiência no

trato das questões relacionadas com o terrorismo.

Não é por falta de iniciativa dos grupos de especialistas que lidam

especificamente com o assunto, os quais há tempo já identificaram as

necessidades e propuseram a adoção de medidas cabíveis. Trata-se de falta

de vontade política por parte dos decisores de mais alto nível, no sentido de

manter-se o esforço para coordenar as atividades de prevenção e repressão

em âmbito nacional.

É necessário que seja estabelecida, efetivamente, a Autoridade Nacional

de Prevenção e Combate ao Terrorismo para que o Poder Nacional possa ser

empregado a partir de um comando único, e para que as inúmeras tarefas e

funções tenham definidos seus executores responsáveis. Sem isso, corre-se o

risco do retrabalho, da ineficiência operacional e/ou dissuasória, da

sobreposição de esforços, da perda de tempo e da consequente perda de foco

e de credibilidade.

Page 45: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

43

5 CONCLUSÃO

A estatura político-estratégica que o Brasil alcançou no concerto das

nações impõe, cada vez mais, a adoção de posturas firmes diante de questões

internacionais sensíveis e polêmicas, o que pode levar, a qualquer momento, a

uma condição de crise com sérios reflexos dentro do território nacional.

Ainda que, atualmente, não seja provável a ocorrência de atentados

terroristas no país, a existência de condições facilitadoras (inúmeros alvos e

extensas fronteiras permeáveis), aliadas à realização de grandes eventos

(cimeiras, Copa, Olimpíadas, etc), tendem a elevar o grau de preocupação com

a segurança de autoridades, comitivas e do público em geral que acorre ao

país, cuja proteção é responsabilidade dos setores do PN voltados para a

defesa e segurança nacionais.

Ao longo dos últimos meses, buscou-se estudar o tema proposto a partir

da ampla gama de fontes de consulta disponíveis, tanto nas bibliotecas, quanto

na Internet. Os objetivos do trabalho foram atingidos, principalmente, por meio

da identificação:

- dos antagonismos com potencial para gerar eventos terroristas;

- das estruturas do PN voltadas para o combate ao terrorismo

transnacional; e

- das medidas a serem adotadas para o aperfeiçoamento do sistema,

traduzidas nas iniciativas que se contraponham aos principais óbices, conforme

abaixo:

- a formulação de uma Política Nacional de Prevenção e Combate

ao Terrorismo;

- a criação da Autoridade Nacional de Prevenção e Combate ao

Terrorismo;

- o desenvolvimento pleno do SISBIN; e

- o fomento da integração entre os órgãos de combate ao

terrorismo, dentre outros.

Quanto à hipótese formulada, “as estruturas do Poder Nacional voltadas

para o enfrentamento do Terrorismo, em particular aquele advindo de guerras

Page 46: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

44

assimétricas, são parcialmente adequadas à realidade atual, exigindo

aperfeiçoamentos no que diz respeito à legislação específica, bem como à

aplicação coordenada das medidas de prevenção e repressão”, verifica-se que

realmente se faz necessária a criação de um órgão central, sob comando

único, que tenha a delegação de competência e o preparo político-estratégico

para coordenar os esforços de combate ao terrorismo.

Quanto aos antagonismos assimétricos com potencial de gerar eventos

terroristas com reflexos no Brasil, e que devem ser permanentemente

acompanhados e avaliados, cabe relembrar:

- a “guerra de guerrilha” que assola o território da Colômbia, com

potenciais reflexos, ainda que de baixo impacto, na fronteira com o Brasil;

- em menor grau, as atividades do Sendero Luminoso no Peru,

com características semelhantes as da guerrilha colombiana; e

- os reflexos mundiais da Guerra ao Terror dos EUA, que

repercutem inclusive no Brasil e, atualmente, demandam a maior parcela dos

esforços de contraterrorismo.

A primeira linha de defesa contra o terrorismo é a proporcionada pela

Inteligência, sem a qual as medidas de combate serão meramente reativas e

apenas no sentido de diminuir os danos causados. O SISBIN, coordenado pela

ABIN, tem um papel importantíssimo na produção e difusão oportuna de

conhecimentos, para que o princípio da oportunidade possa ser atendido e

permita a ação direta e eficiente sobre os atores que planejem realizar

terrorismo no país. Contudo, o sistema está longe de ser o ideal, havendo

problemas de falta de sincronismo, de falta de doutrina comum, de carência de

ligações e comunicações, dentre outros. Há que se estruturar efetivamente o

SISBIN como forma de proporcionar a necessária antecipação aos eventos

terroristas.

Ainda, devem ser eliminadas as frequentes disputas políticas entre as

instituições, traduzidas pela busca de primazia do comando das operações,

pelo monopólio da obtenção e difusão de dados de inteligência, e pelos

conflitos advindos da disputa por recursos e vantagens. Nessas condições, a

Page 47: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

45

cisão tende a levar ao fracasso, o que, em caso de atentados terroristas,

significa graves prejuízos para a Nação.

Grande parte da responsabilidade pela falta de coordenação deve-se,

em última análise, à falta de definição acerca do que vem a ser o terrorismo. A

própria ONU esquiva-se de defini-lo e, ao não fazê-lo, gera a insegurança

jurídica que se espalha por todo o mundo. No caso brasileiro em particular, a

atuação de movimentos sociais, cuja forma de reivindicar por vezes envolve o

uso da violência com traços de terrorismo, tem inibido o avanço no sentido de

obter uma definição.

Com novidade positiva, cabe citar a recente apresentação ao Congresso

Nacional do anteprojeto do novo Código Penal, o qual contempla a tipificação

do crime de terrorismo. Caso seja aprovado, trata-se de um marco importante

para o desencadeamento de medidas definidoras dos papéis a serem

desempenhados pelos diversos atores partícipes dos processos de combate ao

fenômeno, inclusive encaminhando a definição de seu ordenamento jurídico e o

estabelecimento de uma estrutura mais adequada.

Por fim, pode-se concluir que a intensidade da resposta dada pelo Brasil

diante do fenômeno do terrorismo transnacional na atualidade está em

consonância com a tradicional postura de não intervenção da diplomacia

brasileira e de respeito ao princípio da autodeterminação dos povos. As

estruturas existentes permanecem preparadas para, na medida do aumento

das necessidades e dispondo dos instrumentos adequados, inclusive os que

estão por vir, oferecerem respostas cada vez mais adequadas e que

assegurem a manutenção da soberania e da segurança nacionais.

Page 48: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

46

REFERÊNCIAS

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Page 49: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

47

Combate ao terrorismo. 2011. 76 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos, Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2011. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual para elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso: monografia. Rio de Janeiro, 2012. ______ (Brasil). Manual Básico: Elementos Fundamentais. Rio de Janeiro, 2009. v.1 HAIKEL, José Ricardo. O Terrorismo e os Riscos à Estabilidade Nacional. 2010. 91 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2010. HOBSBAWM, Eric J. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações e a recomposição da Ordem Mundial. São Paulo: Objetiva, 2001. LIANG, Qiao; Xiangsui, Wang. A Guerra Além dos Limites. 1999. Disponível em: < https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/cepe/GUERRAALEMLIMITES.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2012. MARTINS, Eduardo Tavares. Necessidade de criação de uma estrutura de combate ao terrorismo para o Exército Brasileiro. 167 f. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Curso de Altos Estudos Militares) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2007. MESSESER, Marcus Vinicius Mansur. O terrorismo Contemporâneo e seus reflexos para o Estado Brasileiro. 2011. 143 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Comando e Estado-Maior do Exército) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2011. NETO, José Cretella. Terrorismo internacional: Inimigo sem rosto – combatente sem pátria. Campinas: Millennium Editora, 2008.

Page 50: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

48

PANIAGO, Paulo de Tarso Resende et al. Uma cartilha para melhor entender o terrorismo internacional: conceitos e definições. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, DF: ABIN, v.3, n. 4, set. 2007. PINHEIRO, Álvaro de Souza. O conflito de 4ª geração e a evolução da guerra irregular. PADECEME, Rio de Janeiro, n. 16, p. 17, 2007. Quadrimestral. Disponível em: <http://www.eceme.ensino.eb.br/eceme/index.php/publicacoes/cat_view/77-publicacoes/93-colecao-meira-mattos/94-2007>. Acesso em: 23 abr. 2012. SANTOS FILHO, Alfredo Ferreira dos. Terrorismo Internacional: um estudo sobre a definição e a estrutura de combate para o Estado brasileiro. 2009. 147 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2009. SILVA, Carlos Alberto Pinto. Guerra Assimétrica: adaptação para o êxito militar. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/4533157/Guerra1-Assimetricas-e-4-Geracao>. Acesso em: 22 abr. 2012. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; CHAVES, Daniel Santiago. (Orgs.). Terrorismo na América do Sul: uma ótica brasileira. 1 ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.

Page 51: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

49

ANEXO A - LISTA DE ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS

O Brasil reconhece apenas as organizações terroristas definidas como

tal pela ONU, quais sejam, a Al Qaeda e o Talibã.

Elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA em janeiro de 2012, a

“List of Designated Foreign Terrorist Organizations” mais atualizada é a que

contém as 51 (cinquenta e uma) organizações abaixo:

- Abdallah Azzam Brigades (AAB);

- Abu Nidal Organization (ANO);

- Abu Sayyaf Group (ASG);

- Al-Aqsa Martyrs Brigade (AAMS);

- Al-Shabaab;

- Ansar al-Islam (AAI);

- Asbat al-Ansar;

- Aum Shinrikyo (AUM);

- Basque Fatherland and Liberty (ETA);

- Communist Party of the Philippines/New People's Army

(CPP/NPA);

- Continuity Irish Republican Army (CIRA);

- Gama’a al-Islamiyya (Islamic Group);

- HAMAS (Islamic Resistance Movement)

- Harakat ul-Jihad-i-Islami/Bangladesh (HUJI-B);

- Harakat ul-Mujahidin (HUM);

- Hizballah (Party of God);

- Islamic Jihad Union (IJU);

- Islamic Movement of Uzbekistan (IMU);

- Jaish-e-Mohammed (JEM) (Army of Mohammed);

- Jemaah Islamiya organization (JI);

- Jemmah Anshorut Tauhid (JAT);

- Kahane Chai (Kach);

- Kata'ib Hizballah (KH);

- Kongra-Gel (KGK, formerly Kurdistan Workers' Party, PKK,

KADEK);

Page 52: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

50

- Lashkar-e Tayyiba (LT) (Army of the Righteous);

- Lashkar i Jhangvi (LJ);

- Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE);

- Libyan Islamic Fighting Group (LIFG);

- Moroccan Islamic Combatant Group (GICM);

- Mujahedin-e Khalq Organization (MEK);

- National Liberation Army (ELN);

- Palestine Liberation Front (PLF);

- Palestinian Islamic Jihad (PIJ);

- Popular Front for the Liberation of Palestine (PFLP);

- PFLP-General Command (PFLP-GC);

- Al-Qaida in Iraq (AQI);

- Al-Qaida (AQ);

- Al-Qa'ida in the Arabian Peninsula (AQAP);

- Al-Qaida in the Islamic Maghreb (formerly GSPC);

- Real IRA (RIRA);

- Revolutionary Armed Forces of Colombia (FARC);

- Revolutionary Organization 17 November (17N);

- Revolutionary People’s Liberation Party/Front (DHKP/C);

- Revolutionary Struggle (RS);

- Shining Path (Sendero Luminoso, SL);

- United Self-Defense Forces of Colombia (AUC);

- Harakat-ul Jihad Islami (HUJI);

- Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP);

- Jundallah;

- Army of Islam (AOI); e

- Indian Mujahideen (IM).

Page 53: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

51

ANEXO B - TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE TERRORISMO SEGUNDO O ANTEPROJETO DO NOVO CÓDIGO PENAL

TÍTULO VIII

CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA Capítulo I

Do crime de terrorismo

Art. 239. Causar terror na população mediante as condutas descritas

nos parágrafos deste artigo, quando:

I – tiverem por fim forçar autoridades públicas, nacionais ou

estrangeiras, ou pessoas que ajam em nome delas, a fazer o que a lei não

exige ou deixar de fazer o que a lei não proíbe;

II – tiverem por fim obter recursos para a manutenção de organizações

políticas ou grupos armados, civis ou militares, que atuem contra a ordem

constitucional e o Estado Democrático; ou

III – forem motivadas por preconceito de raça, cor, etnia, religião,

nacionalidade,sexo, identidade ou orientação sexual, ou por razões políticas,

ideológicas, filosóficas ou religiosas.

§ 1º Sequestrar ou manter alguém em cárcere privado;

§ 2º Usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer

consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos ou outros

meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;

§ 3º Incendiar, depredar, saquear, explodir ou invadir qualquer bem

público ou privado;

§ 4º Interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática e bancos de

dados; ou

§ 5º Sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com grave ameaça ou

violência a pessoas, do controle, total ou parcial, ainda que de modo

temporário, de meios de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos,

estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas,

estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços

públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia e

instalações militares:

Page 54: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

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Pena – prisão, de oito a quinze anos, além das sanções

correspondentes à ameaça, violência, dano, lesão corporal ou morte, tentadas

ou consumadas.

Forma qualificada

§ 6º Se a conduta é praticada pela utilização de arma de destruição em

massa ou outro meio capaz de causar grandes danos:

Pena – prisão, de doze a vinte anos, além das penas correspondentes à

ameaça,violência, dano, lesão corporal ou morte, tentadas ou consumadas.

Exclusão de crime

§ 7º Não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de

pessoas movidas por propósitos sociais ou reivindicatórios, desde que os

objetivos e meios sejam compatíveis e adequados à sua finalidade.

Financiamento do terrorismo

Art. 240. Oferecer ou receber, obter, guardar, manter em depósito,

investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativos, bens e

recursos financeiros com a finalidade de financiar, custear ou promover a

prática de terrorismo, ainda que os atos relativos a este não venham a ocorrer:

Pena – prisão, de oito a quinze anos.

Favorecimento pessoal no terrorismo

Art. 241. Dar abrigo ou guarida a pessoa de quem se saiba ou se tenha

fortes motivos para saber, que tenha praticado ou esteja por praticar crime de

terrorismo:

Pena – prisão, de quatro a dez anos.

Escusa Absolutória

Parágrafo único. Não haverá pena se o agente for ascendente ou

descendente em primeiro grau, cônjuge, companheiro estável ou irmão da

pessoa abrigada ou recebida. Esta escusa não alcança os partícipes que não

ostentem idêntica condição.

Page 55: adequabilidade da resposta brasileira ao fenômeno.

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Disposição comum Art. 242. As penas previstas para os crimes deste Capítulo serão

aumentadas até a metade se as condutas forem praticadas durante ou por

ocasião de grandes eventos esportivos, culturais, educacionais, religiosos, de

lazer ou políticos, nacionais ou internacionais.