A PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS NO PIBID · apresentam sempre um valor de verdade e são conectivas...

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27 SILVA. Ailane Dias da. A PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS NO PIBID. REVISTA DISCENTIS. 1ª EDIÇÃO. DEZEMBRO 2012. A PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS NO PIBID Ailane Dias da Silva 1 Márcia Regina Mendes Santos 2 Resumo: A partir de vivências em sala de aula e em diálogo com a metodologia utilizada no subprojeto PIBID/UNEB “O Papel das Inferências na Compreensão Textual”, coordenado pela professora Márcia Regina Mendes Santos M.S, e com o texto O estudo das inferências na compreensão do texto escrito, propõe-se uma reflexão sobre as experiências e expectativas que envolvem o subprojeto PIBID/UNEB. Nesse sentido, o exercício da leitura, produção de texto e utilização de inferência serão destacados como sendo uma prática educativa eficaz para o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Palavras-chave: Docência; Inferências; PIBID. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” Paulo Freire INTRODUÇÃO No presente trabalho, tem-se como objetivo refletir sobre a importância da utilização das inferências no subprojeto PIBID/UNEB O Papel das Inferências na Compreensão Textual, coordenado pela professora Márcia Regina Mendes Santos M.S, destacando as principais atividades realizadas e refletindo sobre a prática docente. O projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) tem como lema a docência partilhada: universidade e escola como espaço que favorece a construção dos elementos essenciais à docência e como principal objetivo promover a 1 Graduanda do Curso de Letras, turma 2009.2, Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias - Campus XVI Irecê/ BA. 2 Orientadora. Mestre em Linguística pela Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras - Portugal e Professora na Universidade do Estado da Bahia Campus IV - Jacobina/BA.

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2.

A PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS NO PIBID

Ailane Dias da Silva

1

Márcia Regina Mendes Santos2

Resumo: A partir de vivências em sala de aula e em diálogo com a metodologia utilizada no

subprojeto PIBID/UNEB “O Papel das Inferências na Compreensão Textual”, coordenado pela

professora Márcia Regina Mendes Santos M.S, e com o texto “O estudo das inferências na

compreensão do texto escrito”, propõe-se uma reflexão sobre as experiências e expectativas que

envolvem o subprojeto PIBID/UNEB. Nesse sentido, o exercício da leitura, produção de texto e

utilização de inferência serão destacados como sendo uma prática educativa eficaz para o

desenvolvimento cognitivo dos alunos.

Palavras-chave: Docência; Inferências; PIBID.

“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende

ensina ao aprender.”

Paulo Freire

INTRODUÇÃO

No presente trabalho, tem-se como objetivo refletir sobre a importância da utilização

das inferências no subprojeto PIBID/UNEB O Papel das Inferências na Compreensão

Textual, coordenado pela professora Márcia Regina Mendes Santos M.S, destacando as

principais atividades realizadas e refletindo sobre a prática docente.

O projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) tem

como lema a docência partilhada: universidade e escola como espaço que favorece a

construção dos elementos essenciais à docência e como principal objetivo promover a

1 Graduanda do Curso de Letras, turma 2009.2, Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências

Humanas e Tecnologias - Campus XVI – Irecê/ BA.

2 Orientadora. Mestre em Linguística pela Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras - Portugal e Professora

na Universidade do Estado da Bahia – Campus IV - Jacobina/BA.

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inserção dos estudantes das licenciaturas no cotidiano das escolas da Educação Básica a fim

de compreender a docência em suas diferentes e complexas dimensões.

O subprojeto O Papel das Inferências na Compreensão Textual está alocado no

Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, campus XVI – UNEB, em Irecê/ BA, e

funciona em duas escolas públicas estaduais da referida cidade (Colégio Luís Eduardo

Magalhães – Modelo / Colégio Polivalente Antônio Carlos Magalhães). A reflexão será feita a

partir do trabalho da equipe que atua no Colégio Polivalente, tendo como público partícipe

turmas que estão cursando o primeiro ano do ensino médio.

Este subprojeto enquadra-se na área de Linguística Educacional e é fruto de

indagações que sempre fizeram parte de inquietações da Professora Márcia Regina diante das

dificuldades encontradas no trabalho com texto escrito frente a uma classe diversificada em

que poucos produzem sentido no texto lido. O subprojeto visa trabalhar a criticidade dos

alunos envolvidos, levando-os a refletir sobre os textos e temas estudados e,

consequentemente, refletindo também sobre a sua realidade e atitudes cotidianas, aflorando

assim a formação do seu papel enquanto cidadãos.

Este subprojeto trabalha com vários gêneros textuais e com três tipos de inferências:

inferências lógicas, inferências elaborativas e inferências avaliativas. A partir da aplicação de

textos e questionários com as inferências supracitadas, está sendo avaliado o desenvolvimento

cognitivo dos alunos e a atuação das bolsistas de supervisão em sala de aula.

INFERÊNCIAS: UMA PRÁTICA EFICAZ PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

DO ALUNO

Por não haver um único conceito de inferência, visto que cada pesquisador a define

de maneira distinta, isto é, de acordo com o tipo de pesquisa que está sendo feita, o subprojeto

O Papel das Inferências na compreensão textual adotou para o estudo em questão o seguinte

conceito:

Inferência é o resultado de uma estratégia cognitiva cujo produto final

é a obtenção de uma informação que não está totalmente explícita no

texto. Ou seja, inferir não é mais do que fazer emergir informação

adicional a partir daquela que é disponibilizada no texto. (MENDES

SANTOS, 2009)

Inferência, pois, é uma operação mental em que o leitor constitui novas proposições a

partir de outras já oferecidas e isto acontece quando o leitor busca informações e

conhecimentos que são adquiridos ao longo de sua vida. O leitor traz para o texto um mundo

individual que afeta sua leitura, uma vez que se deve levar em consideração o seu contexto

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psicológico, social, cultural, situacional, dentre outros no momento da extração das

inferências.

Na compreensão da leitura, interferem tanto o texto, com sua forma e conteúdo,

como o leitor, com suas expectativas e conhecimentos prévios. Para ler, o indivíduo carece

desenvolver habilidades de decodificação, bem como levar para o texto seus objetivos, suas

ideias e suas experiências. Além disso, para ler, o leitor se envolve em um processo contínuo

de inferenciação, que se apóia na informação proporcionada pelo texto e em sua bagagem

cultural, cognitiva, emocional, com o objetivo de encontrar evidências para confirmar ou

rejeitar as previsões e inferências construídas ao longo do processo de leitura.

Quanto à tipologia das inferências, há uma variedade de classificações. No

subprojeto, trabalhamos com três conceitos que Morles (1986) e Gtiérrez-Calvo (1999)

propuseram para os tipos de inferências relacionadas com as estratégias cognitivas:

1. Inferências Lógicas - proposição necessária à interpretação do texto, ligada aos

aspectos linguísticos e gramaticais.

2. Inferências Elaborativas – que estabelece a ligação entre os conhecimentos

prévios e o conhecimento fornecido pelo texto.

3. Inferências Avaliativas - proposição centrada no conteúdo do texto, consistindo

de um comentário, juízo ou outra reação do leitor frente ao texto.

A partir dessas inferências, começamos a trabalhar em sala de aula com aplicação de

textos e questionário para a coleta de dados que nos dariam uma resposta de como estavam

estes sujeitos em relação à interpretação textual.

Nosso subprojeto tem como enfoque a capacidade de produção de inferências na

leitura e na compreensão do texto escrito. Os textos nunca explicitam totalmente seu

significado, de modo que grande parte do conteúdo de um texto deve ser inferida por meio de

operações sócio-cognitivas e psicolingüísticas, com base tanto no conhecimento de mundo

que o leitor detém em sua memória, como no conhecimento que tem da língua.

Neste subprojeto, trabalhamos com os mais variados tipos e gêneros textuais não só a

interpretação de texto, como também a produção. Para controlar a pesquisa da compreensão

de leitura dos textos que aplicamos em sala de aula, são elaborados gráficos dos questionários

de compreensão. Os questionários são formulados contendo perguntas de compreensão

inferencial de acordo com os tipos de inferências que nos propomos averiguar (inferências

lógicas, elaborativas e avaliativas).

Vale ressaltar uma atividade que foi feita a partir de um texto escrito por uma aluna.

Depois de trabalharmos em grupos separados com gêneros textuais diferentes, o grupo que

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ficou com o gênero crônica escolheu uma das crônicas produzidas pelos alunos e elaborou um

questionário contendo os três tipos de inferências para ser aplicado para toda a turma.

Por ser escrito por um aluno e por ser uma crônica, o texto é constituído por um

vocabulário acessível ao público leitor, sua tipologia é narrativa e tem um caráter reflexivo.

O texto escolhido foi da aluna D. S. Tem como título Festa. Sete questões foram

feitas: três questões foram feitas para a identificação de inferências lógicas, duas para a

construção de inferências elaborativas e duas para a construção de inferências avaliativas.

Todas as perguntas exigiam do leitor uma capacidade cognitiva que o levava a inferir

significados com base no texto, no contexto e no seu conhecimento de mundo.

Para que este trabalho acontecesse, foi necessário um estudo mais aprofundado dos

três tipos de inferências (lógicas, elaborativas e avaliativas) com o grupo, pois já havíamos

apresentado esses tipos de inferências para toda a turma.

Pretendíamos observar como os alunos se sairiam em uma atividade elaborada pelos

colegas com a ajuda de uma bolsista de iniciação à docência e, ao mesmo tempo, os alunos

que elaboraram o questionário poderiam se avaliar, pois cada grupo teve que apresentar o

gênero trabalhado em grupo para os demais colegas através de seminários.

Como já vínhamos trabalhando com as inferências, não foi tão difícil para os alunos

elaborarem questões que solicitavam os tipos de inferências já mencionados. Este trabalho foi

de grande importância para percebermos o quanto os alunos do primeiro ano do ensino médio

do Colégio Polivalente de Irecê haviam melhorado sua interpretação textual, visto que o

trabalho de interpretação com os alunos começou a ser realizado desde o início do ano letivo

(2011) e a realização das oficinas aconteceu na quarta unidade.

As questões 03, 04 e 05 são as que deveriam apresentar inferências lógicas, as quais

apresentam sempre um valor de verdade e são conectivas porque permitem ligar informação

distribuída no texto, sendo a 03 aberta e as demais de múltipla escolha. Na questão 03, 100%

conseguiram extrair do texto o tipo de inferência solicitado, na questão 04, 90% e na questão

05, 84% acertaram a alternativa correta. Esta facilidade, talvez, seja pelo fato de as inferências

lógicas estarem sempre explícitas no texto e também como consequência das outras atividades

antes realizadas.

A questão 01 foi de caráter elaborativo, ou seja, essas inferências surgem de

informações textuais e contextuais (informação prévia). São representadas por um modelo de

situação e sempre legitimadas pelo texto base, havendo com isso a possibilidade de

eliminarmos alternativas não comprováveis no texto. Esta foi uma questão de múltipla escolha

e 84% da turma conseguiram fazer esse tipo de inferência.

As questões 02, 06 e 07 deveriam apresentar a construção das inferências por meio

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de um posicionamento, comentário, apreciação, reflexão crítica, crenças e juízo de valor sobre

um tópico. São informações existentes no texto base, porém realizadas independentemente

dele, ou seja, são as inferências avaliativas. Na questão 02, era para marcar (C) para

CORRETO e (F) para FALSO, com seis alternativas. Nas alternativas A, B, C e F, em média,

80% da turma conseguiram responder corretamente, na alternativa D, a quantidade de acertos

diminuiu, no entanto, alçou a quantidade de 50%. Já na alternativa E, apenas 48% da turma

conseguiram realizar o tipo de inferência proposta.

As questões 06 e 07, como já foi dito, também foram formuladas no sentido de

obterem inferências avaliativas. Estas questões eram abertas, nas quais os alunos poderiam

formular suas próprias respostas utilizando o texto como base e o conhecimento adquirido ao

longo de suas vidas. Na questão 06, 56% conseguiram realizar o tipo de inferência instituída,

enquanto que na questão 07, 90% alcançaram o intento estabelecido.

Com esta atividade, conseguimos despertar nos alunos o desejo de querer escrever e

de perceber que são capazes, pois o texto trabalhado foi fruto da escrita dos próprios alunos.

Alguns alunos até disseram que “aquele texto parecia ser de alguém que não fazia parte

daquele mundo”, mundo este repleto por sujeitos tímidos, porém criativos e capazes de

escrever textos que os deixavam surpresos.

Em relação ao questionário, foi de grande valia, tanto para os alunos quanto para as

bolsistas de iniciação, pois alguns alunos ficaram conhecendo mais a fundo as inferências e,

assim, pudemos perceber o quanto estes ainda precisam melhorar no que diz respeito à leitura

e à interpretação textual. Consequentemente quanto a nós, bolsistas de iniciação, tivemos a

chance de refletir sobre a prática, no sentido de melhorá-la.

Trabalhando no subprojeto O Papel das Inferências na Compreensão Textual,

conseguimos perceber que a prática de leitura, produção de texto e inferências é uma prática

educativa eficaz para o desenvolvimento cognitivo dos alunos, pois a leitura de diferentes

tipos de texto adiciona nos alunos conteúdos para que textos sejam escritos por eles mesmos,

pois os textos são como mosaicos, ou seja, compostos por partes de leituras que fazemos no

decorrer de nossa trajetória leitora. E, no momento em que estão fazendo a leitura dos textos,

vivenciam o processo de inferenciação que os possibilita compreender, entender o texto e, ao

final da leitura, posicionar-se criticamente.

Trabalhando neste subprojeto, percebemos ainda que existe um grande déficit no que

diz respeito à leitura e à interpretação textual, mesmo em alunos que estão cursando o

primeiro ano do ensino médio. Muitos desses alunos passam regularmente por todos os

processos do ensino básico, mas não conseguem desenvolver as habilidades cruciais para um

sujeito enquanto estudante e enquanto cidadão, no caso a habilidade leitora e escritora. São

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justamente essas duas habilidades que o subprojeto PIBID/Irecê visa desenvolver em cada

aluno envolvido, e o aspecto pensado para o desenvolvimento de tais habilidades foi

precisamente o trabalho com inferências.

Diante disso, nota-se que o trabalho do PIBID tem alcançado resultados, mesmo que

de forma paulatina. A ponte entre a Universidade e a Escola Básica tem se firmado a cada dia

e produzido frutos para ambas as partes. Nesse sentido, faz-se necessário que os dois lados

permaneçam intrínsecos para que a produção de saberes cresça de forma prazerosa e fecunda.

REFLETINDO A PRÁTICA NO PIBID

Estar em sala de aula hoje, no ensino público, principalmente, é algo desafiador. A

escola pública está em um patamar preocupante, pois a sala é composta por um universo

multifacetado e os professores acabam se sentindo desvalorizados por não receberem

incentivos para exercer a profissão. Um dos aspectos mais dolorosos é o fato de que grande

parte dos alunos não considera a escola como um espaço criativo, sério e crucial para a vida

de um ser humano.

O PIBID foi inserido nas escolas públicas a fim de pensar uma nova política para o

ser professor, são docentes e discentes do ensino superior envolvendo-se com professores e

alunos do ensino público. Envolvimento este que dá origem a uma aprendizagem mútua, pois

os alunos de licenciatura entram em contato com a sala de aula mais cedo. Segundo Nóvoa

(1999, p. 70) (apud FEIMAN-NEMSER, 1983), “a sala de aula não é somente um lugar para

ensinar, mas também de aprendizagem para o docente: as influências informais na

socialização são mais decisivas do que as formais, mais eficazes do que o curso de formação”.

Embora não estejamos assumindo uma sala de aula, estamos ali no processo, o que

tem proporcionado experiências decisivas para a nossa formação enquanto discentes e futuros

docentes. Estar em contato com a sala de aula nos dá a oportunidade de chegarmos ao

“verdadeiro e sábio educador, que através do seu nobre ato de ensinar, ajuda o aprendiz e o

“se educando” a fazer sua vida, a criar sua consciência existencial” (MENEGOLLA, 1989.

p.45).

O PIBID está mostrando que é indispensável compreender o universo cultural do

aluno. A partir do trabalho com a leitura, inferenciação e produção de textos, podemos

perceber que os saberes dos alunos e professores, juntos, produzem novos saberes. E,

consequentemente, será desenvolvida nos alunos a habilidade de identificação dos elementos

ideológicos presentes nos diversos textos, não só dentro da sala de aula, como fora dela.

Para que a habilidade citada anteriormente seja desenvolvida no aluno, faz-se

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necessária a capacitação do professor para analisar criticamente os mais diversos discursos,

criticar os mais variados tipos de textos, práticas, experiências e padrões culturais, trazendo às

claras as ideologias subjacentes. E o PIBID está sendo categórico no desenvolvimento desta

habilidade não só com os bolsistas de iniciação, como também com os alunos do Ensino

Médio.

A ponte entre Universidade e a escola está sendo feita e elementos fundamentais

estão sendo tecidos para a formação dos discentes de licenciatura que atuam no projeto. Esta

formação está acontecendo de forma diferenciada, pois os discentes que atuam no projeto, ao

chegarem ao estágio, já sabem como a sala de aula funciona e chegam seguros para passarem

por mais este processo da graduação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão de um texto é o grande desafio que ocorre na leitura, principalmente,

na escola, cujo contexto deve oferecer aos alunos a possibilidade de adquirir habilidades

necessárias para que eles se tornem leitores proficientes capazes de refletir, formular juízo de

valor, reconstruir o texto e produzir novos textos.

Temos agora mais consciência da importância da realização de inferências na leitura

e compreensão de um texto escrito e oral. Esta realização mobiliza conhecimentos cognitivos

diversos e, de acordo com o tipo de inferências produzidas sejam lógicas, elaborativas ou

avaliativas, ocorre um processo de (re) construção textual, pois cada leitor pode ser reescritor

de tal texto.

Todos os tipos de inferências são importantes para o entendimento de um texto, pois

uma completa a outra no processo da leitura. A atividade com inferências realizadas nas

turmas do primeiro ano do Colégio Polivalente de Irecê está sendo importantíssima para o

desenvolvimento cognitivo dos mesmos. Uma nova forma de ver o texto está sendo

apresentada aos alunos, uma forma crítica, explorando o que está manifesto no texto e

também o que está implícito, ajudando-os a construírem, (re) avaliarem, refletirem e atuarem

sobre o texto como um ser ativo, construindo, através dele, a sua própria forma de ver o

mundo.

O PIBID veio para somar com a formação do discente de licenciatura, pois, através

deste, o processo da docência pode ser entendido em suas complexas dimensões. A cada mês

trabalhado, nós bolsistas relatamos nossas práticas e reflexões sobre ser professor. Não é

apenas na formação dos bolsistas de iniciação que o PIBID está fazendo a diferença, a

Universidade e a Escola como um todo, estão sendo favorecidas, já que, com o PIBID, tanto a

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Universidade está presente na Escola como a Escola está presente na Universidade. Os

discentes bolsistas estão fazendo a ponte que liga uma à outra.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paul. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1996.

LINHARES, Celia. A Formação de Professores e o Aluno das Camadas Populares:

Subsídios para Debate. In: Formação de Professores: Pensar e Fazer. São Paulo: Cortez,

2002.

MENDES SANTOS, Márcia Regina (2009). O Estudo das Inferências na Compreensão do

Texto Escrito. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

____________. Subprojeto: O Papel das Inferências na Compreensão Textual. 2010

MENEGOLLA, Maximiliano. E Agora Professor. Porto Alegre: Mundo Jovem, 1989.

NÓVOA, Antônio. Profissão Professor. 2 ed. Porto Alegre: Porto Editora, 1999.

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ANEXOS

Atividade do PIBID

Festa

Paulo era o mais popular de sua turma, e Rafael o que menos chamava atenção. Um

dia, os dois combinaram de irem a uma festa, mas, ao chegar lá, Paulo percebendo que o

ambiente estava um pouco monótono resolveu animar o lugar com uma aposta.

__ Esta festa está muito chata! Rafael vamos fazer uma aposta para agitar esta festa?

Vamos ver quem consegue ficar com mais mulheres?

__ Vamos! Respondeu Rafael

Logo Paulo começou a ficar com uma mulher atrás da outra, sem previsão de quando

parar. Enquanto Rafael só tinha ficado com uma menina, na verdade sua ex-namorada.

No dia seguinte, os dois sentaram para comentar sobre a festa. Rafael pergunta para

Paulo:

__ Paulo, você ficou com quantas mulheres no dia da festa?

Paulo, todo orgulhoso responde:

__ Eu... Eu fiquei com tantas que até perdi a conta.

No embalo da pergunta de Rafael, Paulo interroga-o:

__ E você Rafael, ficou com quantas?

__ Eu fiquei só com a minha ex-namorada. Respondeu Rafael procurando se afastar.

Como Paulo tinha ficado com mais mulheres, começou a sorrir de Rafael.

__ Há, há... há, Rafael, você é uma vergonha para o sexo masculino.

Rafael ficou com tanta raiva que disse:

__ Paulo, um dia Deus há de te castigar e não pense que você não vai sofrer as

consequências não, viu?

Alguns dias se passaram e acabaram descobrindo que Paulo, além de ter ficado com

um homem sexual naquela festa, acabou sendo infectado pelo vírus da AIDS.

Daniela Suzarte

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Turma Vespertina

Gráficos de Inferências – 1º Ano V1

Texto: Festa (Daniela Suzarte)

Inferências Lógicas:

As inferências lógicas apresentam sempre um valor de verdade, são conectivas porque

permitem ligar informação distribuída no texto e estabelecer relações semânticas através de

pistas linguísticas disponíveis no texto.

Gabarito Questões Lógicas:

Questão 03: Aberta

Questões 04: Alternativa correta B

Questão 05: Alternativa correta A

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Inferências Elaborativas

As inferências elaborativas surgem de informações textuais e contextuais (informação

prévia). São representadas por um modelo de situação e sempre legitimadas pelo texto base

havendo com isso a possibilidade de eliminarmos alternativas não comprováveis no texto.

Gabarito Questões Elaborativas:

Questão 01: Alternativa correta D

Questão 02: Verdadeiro: A; C; D; E; F ─ Falso: B

Alternativa A Aternativa B Alternativa C Alternativa D Alternativa E Aternativa F

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5648

72

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Inferências Elaborativas

Verdadeiro Falso

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01

2.

Inferências Avaliativas

As perguntas analisadas a seguir devem apresentar a construção das inferências por

meio de um posicionamento, comentário, apreciação, reflexão crítica, crenças e juízo de valor

sobre um tópico. São informações existentes no texto base, porém realizadas

independentemente dele.

Gabarito Questões Avaliativas Abertas:

Questão 06

Questão 07