A Ordem de Deus Bruce Anstey

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A Ordem de Deus PARA OS CRISTÃOS CONGREGAREM PARA ADORAÇÃO E MINISTÉRIO A Resposta Bíblica à Ordem Eclesiástica Tradicional Bruce Anstey

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  • A Ordem de Deus

    PARA OS CRISTOS CONGREGAREM PARA ADORAO E MINISTRIO

    A Resposta Bblica Ordem Eclesistica Tradicional

    Bruce Anstey

  • A Ordem de Deus

    PARA OS CRISTOS CONGREGAREM PARA ADORAO E MINISTRIO

    A Resposta Bblica Ordem Eclesistica Tradicional

    Bruce Anstey

  • Traduzido do original ingls: GODS ORDER FOR CHRISTIANS MEETING TOGETHER FOR WORSHIP AND MINSTRY - B. Anstey Edio em ingls publicada por: CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING 12048 59th Ave. Surrey, BC V3X 3L3 CANADA Primeira Edio (Ingls) - Junho 1993 Segunda Edio (Ingls) - Abril 1998 Terceira Edio (Ingls) - Maro 1999 Quarta Edio (Ingls) - Julho 2010 Traduo para o Portugus: Mario Persona - 2011 Reviso: Maria Cristina Marucci Os versculos citados so da Bblia Verso Almeida Corrigida Fiel ou Almeida Revista e Atualizada.

  • APRESENTAO

    H alguns anos li o livro "God's Order", escrito por Bruce Anstey, um irmo canadense com o qual tenho comunho por estarmos congregados somente ao nome do Senhor Jesus, ele no Canad e eu no Brasil. O que chamou minha ateno foi que o autor conseguia colocar em ordem os principais tpicos que todo cristo sincero deveria buscar nas Escrituras para saber se est congre-gado segundo a ordem estabelecida por Deus, ou se ape-nas segue tradies criadas por homens.

    O livro em ingls est agora na quarta edio, e rece-bi do autor autorizao para traduzi-lo para o portugus. A fim de assumir um compromisso comigo mesmo de dedicar algum tempo traduo, decidi criar este blog. Um blog pblico uma excelente forma de eu me lem-brar de que h pessoas esperando por novos trechos do livro, e isso me motiva a continuar traduzindo.

    Espero que o livro "A Ordem de Deus" seja de auxlio para muitos irmos e irms em Cristo, e tambm se transforme em um instrumento a mais para glorificar a Deus, que no apenas "quer que todos os homens se salvem", mas tambm que "venham ao conhecimento da verdade" 1 Tm 2:4.

    Mario Persona

  • SUMRIO

    PREFCIO ...................................................................................... 11 DENOMINACIONALISMO: UMA ORDEM DE DEUS OU DO HOMEM? . 12

    Um desafio ao fundamento bblico do cristianismo denominacional....................................................................... 14 Precisamos desaprender algumas coisas............................... 20 Podemos fazer qualquer coisa no definida nas Escrituras? 21

    A RUNA DO TESTEMUNHO CRISTO .............................................. 23

    As "segundas" epstolas .......................................................... 24 O testemunho de Paulo .......................................................... 24 O testemunho de Mateus ....................................................... 26 O testemunho de Pedro .......................................................... 28 O testemunho de Joo............................................................. 29 O testemunho de Judas .......................................................... 29 O testemunho do Senhor ........................................................ 31 O contraste entre o "um s corpo" e as muitas seitas............ 32 Terminologia convencional versus terminologia bblica ..... 36 Estado de esprito - O pr-requisito necessrio .................... 41 1) Passar um tempo na presena do Senhor em comunho . 41 2) Ter o desejo de fazer (praticar) a vontade de Deus .......... 42 3) Ter o exerccio espiritual de aplic-la a si mesmo ............ 43 4) Ter inteireza de corao para reconhecer a Verdade ........ 44 No somos chamados a consertar a runa .............................. 44

    UM CHAMADO SEPARAO ........................................................ 47

    Por que nos separarmos?........................................................ 48 Os trs tipos de mal existentes na cristandade ..................... 48 O remanescente de judeus que partiu da Babilnia ............. 52 Sete desculpas para no se separar dos sistemas .................. 54 1) No devemos julgar outros cristos .................................. 54 2) Separar-se no demonstrar amor .................................... 57

  • 3) Nossa igreja esta crescendo ................................................ 58 4) Deus esta usando as denominaes .................................. 60 5) Posso ser muito til permanecendo onde estou ............... 61 6) No devemos deixar a nossa congregao ........................ 64 7) Separar-se de outros cristos destri a unidade ............... 64 Separar-se NO significa isolar-se ........................................... 68 Mais luz! .................................................................................. 68

    A QUAL IGREJA DEVO IR? ............................................................... 69

    O padro da igreja apostlica ................................................ 70 A igreja NO aparece no Antigo Testamento ....................... 71 Para o cristo o Antigo Testamento um livro de tipos ...... 72 O judasmo NO um padro para a adorao crist ....... 73 Igrejas de pedras e tijolos ajudam ou atrapalham?............... 75 O cristianismo tipicamente celestial ................................... 77 O verdadeiro cristianismo est "fora do arraial" ................... 78 A adorao crist em "esprito e verdade".......................... 80 Sacrifcios espirituais ou um 'ministrio de msica'? ............. 81 Vinho novo em recipientes novos.......................................... 84 Os cristos devem se reunir em nome do Senhor ................. 85 A prtica bblica para cristos congregados .......................... 87 Consequncias prticas de se abandonar as quatro ncoras .. 91 Trs ou quatro coisas tangveis no cristianismo ................... 93

    QUEM DEVERIA LIDERAR A CONGREGAO? ................................. 94

    O sacerdcio de todos os crentes ........................................... 97 A diferena entre sacerdcio e dom .....................................100 Dons ........................................................................................100 A diferena entre habilidade e dom .....................................101 O que ministrio? ................................................................103 O ministrio na igreja ............................................................106 Cristo deve ser exaltado em todo ministrio .......................107 A assembleia local necessita de todos os dons .....................107 O Esprito de Deus deveria usar quem ele quisesse ............109 Os dons devem ser regidos pelo amor e discernimento.....110 A assembleia deve guardar a s doutrina ............................113 Quer dizer que vocs no acreditam emter um pastor?" ....114 Ttulos lisonjeiros ...................................................................114

  • A eleio de um "Pastor" .......................................................116 O Senhor da seara dirige os dons .........................................118 No correto contratarmos um servo de Deus ...................121 Como os servos do Senhor devem ser mantidos? ...............123 Organizaes para-eclesisticas: Auxlio ou empecilho? ....125 Resumo dos principais erros do sistema clerical .................126 O que pensam disso os "Pastores" e "Ministros"? ................128

    A ADMINISTRAO LOCAL NA IGREJA ..........................................129

    A diferena entre dom e ofcio ..............................................129 Ancios, presbteros [bispos] e guias ....................................130 Diconos .................................................................................134 A escolha dos ancios ............................................................135 Hoje no h apstolos para ordenar ancios e diconos .....136 Trs qualificaes para o apostolado ....................................138 Existem ancios hoje? ............................................................139 Hoje no h mais ordenao .................................................141 "Mas na Bblia as pessoas eram ordenadas!" ........................141 A imposio de mos.............................................................142 Coleta ou dzimo? ..................................................................146 Disciplina na Igreja ................................................................149 Recepo Uma responsabilidade da assembleia local ......152 Quem decide quem deveria estar em comunho? ...............152 Seria suficiente o testemunho pessoal? ................................154 Colocando a profisso de f da pessoa prova ...................156 Exclusivo demais! ..................................................................159 A responsabilidade individual .............................................161 Cartas de recomendao .......................................................163

    A ESFERA DE MINISTRIO DAS IRMS NA IGREJA............................163

    O ministrio das irms ..........................................................165 Trs razes pelas quais as irms ocupam um lugar de subordinao no cristianismo ...............................................167 Mas a Bblia diz que as mulheres devem orar e profetizar .170 Mas no devemos fazer distino entre homem e mulher ..172 Mas aquelas coisas se aplicavam apenas a Corinto ............174 Mas no queremos afugentar as pessoas do cristianismo ..174 Isso coisa do velho Paulo ....................................................175

  • Cobertura para a cabea ........................................................176 Cobrir a cabea era um costume cultural antigo .................178 Mas o cabelo da mulher o seu vu .....................................179 Levando o Seu vituprio .......................................................180

    CONCLUSES ................................................................................181

    A qual denominao Pedro, Paulo e Joo se filiariam? ......181 Deveramos iniciar uma comunho crist? ..........................183 O terreno do "um s Corpo" ..................................................183 Cabe a cada crente buscar a comunho ................................185 Outra seita? ............................................................................189 Vocs acham que so os nicos que esto certos .................189 Um apelo ................................................................................192

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    PREFCIO

    Este livro tem por objetivo exaltar o Senhor Jesus Cristo, e estabelecer o fato de que a Palavra de Deus deve ter a supremacia sobre quaisquer ideias e tradies hu-manas. Confiamos que estas pginas no apenas resulta-ro em glria e honra ao nosso Senhor Jesus Cristo, co-mo tambm sero para bno dos filhos de Deus.

    Ao longo das pginas deste livro procuramos apon-tar, com fidelidade e cremos que tambm com amor, a falta de fundamento bblico para a ordem de governo e prtica tradicionalmente aceita entre os cristos profes-sos. Ao mesmo tempo nosso objetivo apresentar princ-pios bblicos da ordem estabelecida por Deus para o funcionamento de uma assembleia crist. No temos a inteno de denegrir qualquer uma das denominaes existentes na cristandade ou os cristos associados a elas. No tivemos por objetivo fazer uma anlise crtica das vrias denominaes religiosas existentes no cristianismo professo apenas pela crtica em si mesma, mas para apon-tar os erros do sistema como um todo. Nosso grande desejo tornar conhecida a ordem bblica dada por Deus para os cristos se congregarem para adorao e minist-rio da Palavra, de maneira que todos os que tiverem tal exerccio possam conhecer esse padro em sua simplici-dade. Confiamos que nas muitas coisas que comentamos aqui possa ficar notrio o nosso genuno amor e preocu-pao para com toda a famlia de Deus.

    O autor no reivindica para si a originalidade da ver-dade que est compilada aqui. Estas coisas tm sido escri-

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    tas e ensinadas por irmos por mais de 150 anos. Nesta obra procuramos meramente fazer uma nova apresenta-o dessas verdades. Salvo indicao em contrrio, as citaes bblicas utilizadas na edio em Portugus foram extradas da Bblia traduzida por Joo Ferreira de Almei-da em suas verses Fiel, Revista e Corrigida, e Revista e Atualizada.

    Encomendamos agora o leitor ao Senhor e verdade que est aqui compilada. Nossa orao que cada cris-to que vier a ler este material ser honesto, espiritual e maduro o suficiente para reconhecer a verdade que aqui apresentada. Que Deus possa nos dar graa para cumprirmos a Sua vontade.

    DENOMINACIONALISMO: UMA ORDEM DE DEUS OU DO HOMEM?

    Todos os cristos, em maior ou menor medida, bus-cam na Palavra de Deus (a Bblia) o caminho da salva-o, mas parece que so muito poucos os que, aps te-rem sido salvos, buscam na Palavra para saber como o Senhor gostaria que se reunissem para a adorao e o ministrio da Palavra. Apesar de todos acreditarem que s existe uma forma de serem salvos, muitos consideram que deve ficar a critrio de cada um escolher como de-vem adorar. No cristianismo de nossos dias, parece que os cristos esto agindo como os filhos de Israel no tem-po dos Juzes: "Cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos" (Jz 17:6; 21:25; Dt 12:8; Pv 21:2). Como resul-tado disso, existe hoje uma imensa variedade de opini-es sobre a adorao crist, e boa parte conflitante entre si. Ao longo dos anos a maioria dos cristos tem adorado

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    cada um sua maneira ou segundo um estilo peculiar s suas preferncias pessoais e afiliao denominacional. Por geraes os cristos tm literalmente aceitado o que a tradio legou igreja sem questionar. Na verdade, a maioria acha que assim que Deus quer que seja.

    Ser que Deus se importa com a maneira como o Seu povo O adora, ou o modo como se renem para o mi-nistrio da Palavra? Ser que Ele tem uma opinio a respeito deste assunto? J hora de voltarmos aos fun-damentos do cristianismo e buscarmos novamente nas Escrituras o que Deus tem a dizer sobre o assunto da ordem na igreja. J que ela a "igreja de Deus" (At 20:28), certamente Ele deve ter algo a dizer sobre o modo como os cristos devem adorar. Cremos que o padro para a adorao crist e o ministrio da Palavra, e tambm para o governo da igreja, estejam na Bblia, mas parece que a maioria dos cristos perdeu isto de vista.

    J que devemos estar "sempre preparados para res-ponder com mansido e temor a qualquer que vos pedir a razo da esperana que h em [ns]" (1 Pd 3:15), precisamos ser capazes de dar uma resposta vinda da Palavra de Deus quanto razo de adorarmos do jeito que o fazemos. Sendo assim, ser que podemos apontar a autoridade das Escrituras para o modo como nos reu-nimos como cristos para a adorao e o ministrio da Palavra? Ou ser que estamos apenas seguindo as tradi-es dos homens?

    A fim de estimular nossos pensamentos ao longo des-tas linhas, faremos algumas perguntas como um desafio a todos os crentes quanto autoridade bblica da sua forma de adorao. As perguntas a seguir no tm por objetivo criticar a ordem adotada pela igreja dos dias atuais na adorao e ministrio da Palavra, mas sim esti-

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    mular nossos pensamentos quanto a qual seria realmente a ordem estabelecida por Deus.

    Um desafio ao fundamento bblico do cristianismo denominacional

    1. Que autoridade nos d a Palavra de Deus para estabelecermos igrejas denominacionais ou no de-nominacionais em meio ao testemunho cristo, quando as Escrituras condenam a criao de seitas e divises entre os crentes? (1 Co 1:10; 3:3; 11:18-19)

    2. Com que autoridade vinda de Deus os cristos de-nominam suas assim chamadas "igrejas" como Pres-biteriana, Batista, Pentecostal, Aliana, Crist Refor-mada, Anglicana etc., quando no h na Bblia ins-trues para nos reunirmos em qualquer outro no-me alm do nome do Senhor Jesus Cristo? (Mt 18:20; 1 Co 5:4)

    3. Com que autoridade os cristos denominam seus grupos eclesisticos em honra de proeminentes e do-tados servos do Senhor, como Luterana (Martinho Lutero), Menonita (Menno Simons), Metodista-Wesleyana (John Wesley) etc., quando as Escrituras denunciam a formao de grupos de cristos em torno de um lder na igreja? (1 Co 1:12-13; 3:3-9)

    4. Que autoridade os homens receberam de Deus para estabelecerem essas igrejas segundo distines naci-onais, como "Igreja da Inglaterra", "Irmos Menonitas Chineses", "Igreja Ortodoxa Grega", "Batista Filipina", "Igreja de Deus Alem" etc., quando as Escrituras nos dizem que no existem distines nacionais ou sociais na igreja de Deus? (Cl 3:11)

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    5. Que autoridade tm os cristos para ornamentarem seus lugares de adorao semelhana do tabern-culo e do templo da ordem judaica do Antigo Tes-tamento? Muitos desses edifcios, chamados de "igrejas", so ornamentados com ouro e outros mate-riais preciosos. Muitos desses edifcios, chamados "igrejas", tm um altar. Outros tm partes do prdio destacadas como sendo mais sagradas do que ou-tras. Que autoridade tm os cristos para empresta-rem coisas assim do judasmo, quando a Bblia indi-ca que o cristianismo no uma extenso da ordem judaica, mas possui um carter totalmente novo de aproximar-se de Deus? (Hb 10:19-20; 13:13; Jo 4:23-24)

    6. Acaso existe qualquer fundamento na Palavra de Deus para a existncia de campanrios, cruzes e ou-tras coisas que so construdas nessas assim chama-das "igrejas"?

    7. Ser que existe qualquer base na Palavra de Deus para chamar esses edifcios de "igrejas"? A definio bblica de "igreja" de uma reunio de crentes que, pelo evangelho, foram chamados para fora, tanto dentre os judeus como dentre os gentios, e so uni-dos em um nico corpo a Cristo, sua Cabea no cu, pela habitao do Esprito Santo. (At 11:22; 15:14; 20:28; Rm 16:5; 1 Co 1:2; Ef 5:25)

    8. Que autoridade as Escrituras do para se colocar um homem na igreja (chamado de Ministro ou Pastor) para "conduzir" a adorao? As Escrituras ensinam que o Esprito de Deus foi enviado ao mundo para guiar a adorao crist (Fp 3:3; Jo 4:24; 16:13-15). A Bblia indica que o Senhor, por intermdio do Es-prito, quem preside na assembleia dos santos e di-

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    rige os procedimentos do modo como Lhe apraz. (1 Co 12:11; Fp 3:3)

    9. Com que autoridade das Escrituras os cultos de adorao nessas igrejas so organizados com ante-cedncia? Em algumas se costuma distribuir um programa descrevendo a ordem como se dar a ado-rao naquele dia em particular.

    10. Com que autoridade das Escrituras esses cultos nas igrejas so chamados de "adorao", quando eles ge-ralmente se constituem de apresentaes musicais e de um homem ministrando um sermo?

    11. Que autoridade o Novo Testamento d para se utili-zarem instrumentos musicais na adorao crist? A adorao crist aquela produzida no corao pelo Esprito de Deus, e no por meios mecnicos atravs de mos humanas. (At 17:24-25)

    12. Com que autoridade das Escrituras so repetidas oraes escritas previamente e impressas em livros de orao durante as reunies da igreja? A Bblia diz que no deveramos usar de vs repeties em nos-sas oraes, mas que estas deveriam ser nossas pr-prias palavras sadas do corao. (Mt 6:6-8; Tg 5:16; Sl 62:8)

    13. Que autoridade h para se ensaiar os Salmos nos chamados "cultos de adorao", quando os Salmos expressam os sentimentos de pessoas que no esta-vam sobre um fundamento cristo e nem conheciam os privilgios cristos?

    14. Por que a maioria das igrejas celebra a ceia do Se-nhor uma vez por ms ou a cada 3 meses, quando o costume da igreja nas Escrituras, inicialmente estabe-

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    lecido pelo ministrio de Paulo, era de se partir o po a cada dia do Senhor? (At 20:7)

    15. Que autoridade h nas Escrituras do Novo Testa-mento para se designar um coro de cantores treina-dos para ajudar na adorao crist?

    16. Que autoridade h nas Escrituras para o uso de ves-timentas especiais durante os cultos de adorao crist? Os corais costumam estar vestidos assim e dependendo do lugar o Ministro tambm usa uma vestimenta caracterstica.

    17. Que autoridade tm essas igrejas para permitir que mulheres preguem e ensinem publicamente, quando a Bblia diz que o papel das irms no uma atua-o pblica na igreja, seja na administrao, seja no ensino e pregao? As Escrituras dizem que elas devem permanecer em silncio na assembleia. (1 Co 14:34-38; 1 Tm 2:11-12)

    18. Que autoridade h para as mulheres dessas igrejas orarem e profetizarem (ministrarem a Palavra) com suas cabeas descobertas, quando a Palavra de Deus diz que deveriam cobrir a cabea? (1 Co 11:1-16)

    19. Que autoridade as Escrituras do para permitir que apenas certas pessoas (como o Pastor ou Ministro) se ocupem do ministrio da Palavra de Deus? Por que no h liberdade nessas igrejas para todos os que forem capacitados ministrarem guiados pelo Espri-to? A Bblia ensina que quando os cristos se re-nem em assembleia, todos (os vares) devem ter li-berdade para ministrar conforme o Senhor gui-los por intermdio do Esprito. (1 Co 12:6, 11; 14:24, 26, 31)

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    20. Que autoridade as Escrituras do para apoiar a ideia de que uma pessoa precisa ser ordenada para estar no ministrio? No existe na Bblia um pastor, mestre, evangelista, profeta ou sacerdote que tenha sido ordenado para pregar ou ensinar! As Escrituras ensinam que o simples fato de uma pessoa possuir um dom espiritual sua garantia para us-lo! (1 Pd 4:10-11)

    21. Que autoridade as Escrituras do para fundamentar a ideia de que existem hoje no mundo homens que te-riam poder para ordenar outros? Onde eles conse-guiram tal poder?

    22. Acaso existe qualquer autoridade para dar a pessoas ttulos de "Pastor" (por exemplo, "Pastor Joo"), quando nas escrituras esse dom nunca foi atribudo a algum como um ttulo?

    23. Onde nas Escrituras existe autoridade para fazer de um homem o Pastor de uma igreja local quando as Escrituras nunca falam do dom de pastor como um ofcio local? (Ef 4:11)

    24. Com que autoridade das Escrituras os assim cha-mados Ministros se denominam a si mesmos "Reve-rendos", quando a Bblia diz que "Reverendo" o nome do Senhor? (Sl 111:9 verso inglesa) Alguns clrigos adotam o nome "Padre" ("Pai"), apesar de as Escrituras deixarem claro que no deveramos chamar ningum de "Pai"! Outros adotam o ttulo de "Doutor" (que significa 'mestre' ou 'instrutor' em latim) quando as Escrituras tambm dizem para no procedermos assim. (Mt 23:8-10)

    25. Seria a escolha de seu "Pastor" ou "Ministro" por uma igreja uma prtica com base nas Escrituras? O proce-

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    dimento usual que o candidato a "Pastor" seja con-vidado por uma igreja para ter a oportunidade de provar que qualificado para o posto ministrando alguns sermes. Se a sua pregao for aceitvel, en-to a igreja (geralmente atravs de um corpo de di-conos) ir eleg-lo para ser seu "Pastor" local. Estaria este procedimento de acordo com a Palavra de Deus?

    26. Onde nas Escrituras h autoridade para essas igre-jas escolherem seus ancios? No existe na Bblia uma nica igreja que tenha escolhido seus ancios.

    27. Com que autoridade das Escrituras as igrejas tor-nam alguns dias "santos" e observam festas crists como Sexta Feira Santa, Dia de Todos os Santos, Quaresma, Natal etc.? As Escrituras dizem que o cristianismo no tem nada a ver com pocas e dias especiais. (Gl 4:10; Cl 2:16)

    28. Que autoridade das Escrituras tm aqueles que mi-nistram nos plpitos dessas igrejas para ensinar dou-trinas erradas como Teologia do Pacto, Amilenialis-mo, Segurana Condicional, Purgatrio, Absolvio, Guarda da Lei etc.?

    29. Acaso existe autoridade das Escrituras para se pro-mover reunies de "Testemunho", onde um homem se levanta e diz para a audincia como ele foi salvo, geralmente descrevendo sua vida passada de peca-dos?

    30. Que autoridade h no Novo Testamento para se recolher dzimo (10 % de nossa receita) da audincia, quando o dzimo claramente uma lei Mosaica dada para Israel? (Lv 27:32, 34; Nm 18:21-24)

    31. Onde h nas Escrituras base para campanhas para se levantar fundos e pedir doaes de audincias mis-

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    tas de salvos e perdidos nessas igrejas? A Bblia in-dica que os servos do Senhor no tomavam "coisa al-guma" das pessoas deste mundo que no eram salvas, quando pregavam o evangelho a elas. (3 Jo 7)

    32. Seriam o s seminrios e escolas bblicas o modo de Deus preparar um servo para o ministrio? Conceder e receber diplomas e ttulos (como Doutor em Di-vindade) seria uma prtica fundamentada nas Escri-turas? A Bblia diz que no devemos dar ttulos ho-norficos uns aos outros. (J 32:21-22; Mt 23:7-12)

    33. Ser que existe qualquer fundamento na Palavra de Deus para essas igrejas enviarem Ministros e Pasto-res para um determinado lugar para executarem uma obra para o Senhor? Costumamos ouvir co-mentrios como, "o Pastor fulano foi enviado por tal organizao". As Escrituras mostram que Cristo, a Cabea da igreja e Senhor da seara, quem envia os Seus servos para a obra que preparou para eles, por meio da direo do Esprito, e que a igreja deve to somente reconhecer isso estendendo ao servo a destra comunho. (Mt 9:38; At 13:1-4; Gl 2:7-9).

    34. Onde nas Escrituras vemos a ideia da igreja ser uma organizao que ensina? Costumamos ouvir pessoas dizendo, "Nossa igreja ensina que..." Na Bblia no vemos a igreja ensinando, mas sendo ensinada por indivduos que so levantados pelo Senhor. (At 11:26; Rm 12:7; Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 1 Ts 5:27)

    Precisamos desaprender algumas coisas

    Antes de tentarmos apresentar a ordem de Deus en-contrada em Sua Palavra, de como os cristos devem se

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    reunir para a adorao e ministrio da Palavra, e tam-bm a ordem de Deus para o governo da Igreja, infeliz-mente existem algumas falsas ideias que primeiro preci-sam ser descartadas. Do mesmo modo como um constru-tor cava fundo para remover uma grande quantidade de resduos e solo ruim antes de assentar uma nica pedra do alicerce (Lc 6:48), sentimos ser necessrio descartar algumas ideias que passaram a ser aceitas no mundo cris-to e que simplesmente no tm qualquer base nas Escri-turas.

    Com o tempo, muitas coisas passaram a ser aceitas pe-las massas no testemunho cristo como se fossem a ma-neira de Deus fazer as coisas. Parece que pouqussimas pessoas se deram ao trabalho de verificar se essas coisas estavam em conformidade com a Palavra de Deus, que o mapa e guia do cristo. As pessoas simplesmente acei-taram tudo do jeito que receberam. Um dos problemas disso que, aps convivermos com certas coisas por mui-to tempo, elas tendem a ficar arraigadas em nossa mente como se fossem verdades, quando na realidade no pas-sam de tradio. Essas ideias pr-concebidas anuviam nossos pensamentos e nos impedem de enxergar a ver-dade. Portanto, para muitos de ns, aprender a verdade da ordem de Deus de como os cristos devem se reunir para adorao e ministrio ir significar desaprender algumas coisas que equivocadamente assimilamos ao longo dos anos. E isso nem sempre algo fcil de fazer.

    Podemos fazer qualquer coisa que no tenha sido definida nas Escrituras?

    Alguns cristos respondem a estes questionamentos argumentando que se a Palavra de Deus no trata especi-ficamente de algo ou no o probe, ento Deus no v

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    problema nisso. Eles acham que se a Bblia no abordar diretamente o assunto de como os cristos deveriam se reunir para adorao e ministrio, ento isso ficaria escolha e gosto de cada um. Consequentemente, no veem nada de errado em implementar no cristianismo coisas que no estejam na Bblia.

    Tal posio exime a igreja de nossos dias da respon-sabilidade pelo atual estado de coisas. Todavia, esse ar-gumento est completamente equivocado, pois a Bblia aborda sim a questo de como os cristos devem se reu-nir para adorao e ministrio. O ideal de Deus pode ser claramente encontrado na Bblia. Talvez o padro para a adorao e ministrio cristo seja to simples que as pes-soas acabam passando por cima dele e achando que ele no exista. Boa parte da ordem tradicional do governo da igreja, que encontrada no cristianismo denominacional hoje, no apenas carece de fundamento na Palavra de Deus na verdade, ela chega at a contradizer o que Deus estabelece em Sua Palavra.

    Alm disso, no se trata de um princpio sadio racio-cinar sobre o que no est na Bblia para aprendermos a vontade de Deus a respeito de qualquer assunto (2 Tm 1:7). Em essncia, o que se est insinuando que "Pode-mos fazer o que quisermos na adorao e ministrio, desde que no seja proibido pela Bblia"! Isto no faz sentido. Faz-nos lembrar do que um irmo de boas in-tenes, mas equivocado, disse certa vez: "Na Bblia exis-tem mais entrelinhas do que linhas"! Certamente esta no pode ser uma maneira sadia de buscarmos a von-tade de Deus sobre qualquer assunto. Se aplicarmos o mesmo princpio sobre outros assuntos que dizem respei-to doutrina e prtica crists, no haveria limites para o nmero de situaes em que poderamos aplicar um

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    raciocnio assim. A verdade concernente a um assunto em particular seria imediatamente perdida. Na verdade, justamente isso o que est acontecendo de uma ma-neira geral com a prpria questo de como os Cristos deveriam se reunir para a adorao e ministrio da Pala-vra. A razo de Deus nos dar a Sua Palavra foi para que conhecssemos a Sua vontade (1 Co 2:12-13). Se existe uma prtica louvvel para ns, esta "buscar" a verda-de em Sua Palavra e procurarmos, por Sua graa, prati-c-la (Pv 25:2; At 17:11-12). O hbito do apstolo Paulo era de discutir "sobre as Escrituras", isto , a partir delas. (At 17:2); ele no introduzia nelas os seus pensamentos. Isto mostra que jamais temos o direito de inserir nossos prprios pensamentos na Palavra de Deus, tentando fa-zer com que ela diga algo que ns queremos que diga.

    T. B. Baines disse, "Ou Deus estabeleceu uma ordem para a assembleia, ou Ele deixou para o homem fazer isso segundo a sua prpria vontade. Se Ele estabeleceu uma ordem, todos ficam claramente obrigados a ela, e qual-quer distanciamento dessa ordem um ato de desobedi-ncia". Se buscarmos honestamente a vontade de Deus, a nica maneira lgica de obtermos ajuda sobre este assun-to seria voltarmos Palavra de Deus e, por assim dizer, comearmos do zero, dizendo, "Que tal no fazermos coisa alguma em nossa adorao e ministrio, exceto aquilo que mencionado na Bblia?" isso que tenta-remos fazer ao abordarmos este assunto em nosso livro.

    A RUNA DO TESTEMUNHO CRISTO

    Quando nos voltamos para a Palavra de Deus vemos que quase todos os escritores do Novo Testamento previ-

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    ram que a runa e o abandono da Palavra de Deus entra-riam no testemunho cristo. Portanto no deveria ser uma grande surpresa para ns quando vssemos esse abandono da ordem de Deus na criao de igrejas deno-minacionais e no denominacionais.

    As "segundas" epstolas

    As "segundas" epstolas do Novo Testamento se ocu-pam particularmente deste assunto. Cada epstola revela algum aspecto da f crist sendo abandonado e, conse-quentemente, assinala o caminho para aqueles que so fiis seguirem em cada situao.

    1. A 2 epstola aos Efsios descreve o abandono do pri-meiro amor (Ap 2:1-7).

    2. A 2 epstola aos Tessalonicenses trata do abandono da bendita esperana a vinda do Senhor (no Arre-batamento).

    3. A 2 epstola de Joo considera a gravidade de se abandonar a doutrina de Cristo.

    4. A 2 epstola de Pedro apresenta o abandono da pie-dade prtica.

    5. A 2 epstola aos Corntios trata, dentre outras coisas, do abandono da autoridade apostlica conforme encontrada nas Escrituras.

    6. A 2 epstola a Timteo nos fala do abandono da or-dem na casa de Deus. (Esta est particularmente co-nectada ao assunto que estamos considerando).

    O testemunho de Paulo

    O apstolo Paulo nos alertou para o fato de que ha-veria um grande abandono da Palavra de Deus entre os cristos professos. Ele disse, "Porque eu sei isto que,

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    depois da minha partida, entraro no meio de vs lobos cruis, que no pouparo ao rebanho; e que de entre vs mesmos se levantaro homens que falaro coisas per-versas, para atrarem os discpulos aps si" (At 20:29-30).

    Em suas epstolas a Timteo, ele mencionou aqueles que naufragariam na f (1 Tm 1:19-20), que apostatariam da f o conjunto formado pela verdade crist (1 Tm 4:1-3), que se afastariam da f (1 Tm 6:10) , que se desviari-am da f (1 Tm 6:20-21), que perverteriam a f de ou-tros por meio de seus ensinos errneos (2 Tm 2:18), e que se tornariam reprovados quanto f (2 Tm 3:8). Ele dis-se que viria um tempo quando os cristos professos, de um modo geral, no suportariam a s doutrina, mas desviariam seus ouvidos da verdade, voltando-se para as fbulas que no tm qualquer fundamento na Palavra de Deus (2 Tm 4:2-4). Ele disse que os padres morais no testemunho cristo tambm se degenerariam at che-garem ao mesmo nvel dos praticados entre os pagos (2 Tm 3:1-5; compare com Rm 1:28-32). Ele falou de impos-tores que se levantariam professando conhecer a verda-de, os quais imitariam os poderes miraculosos de Deus numa tentativa de resistirem verdade (2 Tm 3:7-8). Ele tambm falou que as coisas no melhorariam, mas que "homens maus e enganadores" dentro do testemunho cristo (pois este o contexto do captulo) iriam "de mal para pior" (2 Tm 3:13). Basta darmos uma olhada su-perficial no testemunho cristo de nossos dias para ver-mos que todas essas previses chegaram ao seu triste cumprimento.

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    O testemunho de Mateus

    Nas parbolas do reino dos cus o apstolo Mateus indica o mesmo abandono. Nelas o Senhor Jesus disse que um inimigo (Satans) viria e semearia "joio no meio do trigo". Isto indica que no reino dos cus haveria a intromisso de professantes falsos e sem vida. Como resultado disso, o reino teria uma mistura de crentes (trigo) e falsos professantes (joio), os quais no seriam separados at o fim desta era (Mt 13:24-30, 38-41).

    Mateus registra que o Senhor Jesus ensinou as multi-des que um vasto sistema cresceria a partir da simpli-cidade original do cristianismo, e que no final no guar-daria qualquer semelhana quilo que era no princpio. Ele usou a figura de uma "semente de mostarda" sendo plantada na terra e crescendo demais, at se tornar uma imensa rvore, na qual as aves do cu viriam se ani-nhar. A grande rvore nos fala de domnio e poder (Ez 31:3-7; Dn 4:10-11, 2-22, 34). O Senhor indicava assim que a profisso crist se desenvolveria na forma de uma grande instituio mundana, dando ao cristianismo um aspecto de grandeza e pretenso. A profisso crist aca-bou se transformando em um grande sistema de reli-gio, poltica e negcios. Nela os homens se esforam para conseguir honra, grandeza e poder. As "aves do cu" nos falam de espritos malignos (Ap 18:2) que se apoderariam das mentes dos homens e os influenciariam para que ensinassem doutrinas errneas (Tm 4:1).

    Se j tivemos a oportunidade de presenciar o barulho que sai de uma rvore cheia de pssaros, entenderemos o quo exata essa figura da confuso que existe no tes-temunho cristo. As aves esto todas gorjeando ao mes-mo tempo, todas elas aparentando ter algo a dizer, mas suas vozes so todas conflitantes. isso o que ouvimos

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    quando atentamos para os milhares de vozes das vrias assim chamadas igrejas existentes na cristandade (Mt 13:31-32).

    O Senhor Jesus continuou, falando da mulher que in-troduziu "fermento" em "trs medidas de farinha" (Mt 13:33). Isto nos fala de outro aspecto da runa que se aba-teu sobre a profisso crist. Se as aves na imensa rvore ilustram a grande profisso externa que iria se desenvol-ver, o fermento na massa nos fala da grande corrupo interna que acabaria permeando a cristandade. Nas Escri-turas o fermento uma figura ou tipo do mal (Mt 16:6; Mc 8:15; 1 Co 5:6-8; Gl 5:7-10). A "massa" uma figura de Cristo, que "o Po da vida". Ele o alimento espiri-tual dos filhos de Deus (Jo 6:33-35, 51-58). Portanto, o Senhor indicou que a igreja professa (a mulher) iria cor romper o alimento dos filhos de Deus ao introduzir m doutrina, misturando-a com a verdade acerca da Sua Pessoa. Foi exatamente o que aconteceu. Na vasta profis-so da cristandade, muitos ensinos errneos e malignos tm sido associados Pessoa de Cristo.

    Sendo assim, estas trs parbolas no evangelho de Ma-teus indicam que haveria a introduo de pessoas malig-nas (Mt 13:24-30), espritos malignos (Mt 13:31-32; 1 Tm 4:1), e doutrinas malignas (Mt 13:33).

    Algumas outras similaridades do reino, no evangelho de Mateus, tambm indicam essa runa que acabaria se introduzindo. Por exemplo, Mateus 25:1-13 diz que to-das as dez virgens tosquenejaram e adormeceram. Elas estavam dormindo quando deveriam estar vigilantes.

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    O testemunho de Pedro

    O apstolo Pedro tambm falou dos ensinos malignos que surgiriam no testemunho cristo. Ele disse que fal-sos mestres se levantariam dentre os santos de Deus e introduziriam "heresias de perdio" que muitos seguiri-am at ao ponto de falarem mal do caminho da ver-dade (2 Pd 2:1-3; 3:16).

    Heresia no ensinar m doutrina, mas criar seitas. Uma "heresia" ou "seita" , por definio, a criao de um partido ou diviso dentro de uma igreja, o qual rompe com os demais e forma sua prpria comunho em torno de uma opinio particular. verdade que a m doutrina costuma estar conectada formao de seitas, e provavelmente por isso que muitos cristos pensam em heresia como o ensino de coisas heterodoxas e blas-femas, mas a heresia , na essncia, a formao de uma diviso notria na igreja. A mais sutil de todas as here-sias aquela que se desenvolve em torno de alguma par-cela da verdade at excluir outras verdades. Podem exis-tir muitos verdadeiros crentes conectados a essas heresi-as. Mas uma "heresia de perdio", da qual Pedro fala, uma seita que constri sua causa em torno de doutrinas destruidoras de almas.

    Quando observamos a vasta profisso da cristandade, vemos todas as inmeras divises e seitas que existem na igreja. Ouvimos que existem hoje mais de mil comunhes denominacionais e no denominacionais! Felizmente podemos dizer que a maioria desses grupos eclesisticos no so heresias "de perdio", mas mesmo assim so divises na igreja e se configuram em sectarismo. Alm disso, no vamos nos esquecer de que as Escrituras dizem que devemos rejeitar a heresia porque uma obra da carne (Tt 3:10-11; 1 Co 11:19; Gl 5:20).

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    O testemunho de Joo

    Enquanto o apstolo Paulo alerta sobre aqueles que retrocedem da revelao da verdade crist (Hb 10:38-39), o apstolo Joo adverte a respeito daqueles que a ultra-passam (ou "prevaricam") e no permanecem nela (2 Jo 9). Joo falou desse desvio como resultado do trabalho de mestres anticristos. A respeito deles, Joo afirma: "Saram de ns, mas no eram de ns" (1 Jo 2:19).

    Ao dizer "ns", aqui e em muitos outros lugares de sua epstola, Joo est se referindo aos apstolos. Sair da comunho e doutrina dos apstolos era o mesmo que abandonar. Enquanto Joo se referia primariamente ao abandono da doutrina concernente Pessoa de Cristo, podemos ver que o testemunho cristo no parou a. Muito daquilo que aceito como ordem na igreja no tem qualquer fundamento nos ensinos dos apstolos. O que vemos nos faz lembrar o que o Senhor disse aos Fariseus, ao afirmar que eles estavam "ensinando dou-trinas que so mandamentos de homens". Ele tambm disse: "Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradio" (Mc 7:7, 9).

    O testemunho de Judas

    Judas tambm nos diz que certos homens se introdu-ziriam furtivamente entre os cristos e converteriam "em dissoluo a graa de nosso Deus" (Jd 4). Ele descreve o carter dos que corromperiam o testemunho cristo co-mo pessoas que entrariam "pelo caminho de Caim", sen-do levadas "ao erro de Balao", e perecendo "na rebe-lio de Cor" (Jd 11). Estas trs coisas descrevem muito bem o tipo de erro eclesistico que hoje prevalece na cris-tandade.

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    Primeiro, h o "caminho de Caim", que descreve a ten-tativa de se mostrar boas obras para Deus como forma de ser aceito por Ele. Caim era um homem religioso por ter oferecido um sacrifcio, mas o que ele ofereceu a Deus, numa tentativa de obter aceitao, foi obra de suas prprias mos, sendo rejeitado por isso (Gn 4:1-5). Sua oferta no tinha o sangue que prefiguraria o sacrif-cio cabal do sangue derramado do Senhor Jesus Cristo, sem o qual ningum pode ser abenoado por Deus. Hoje est sendo pregado nos plpitos de muitas igrejas um evangelho sem sangue, o qual nem mesmo o evange-lho. Por meio dele muitos tm sido levados a crer que podem apresentar suas boas obras a Deus em troca de aceitao e salvao, mesmo que a Bblia indique clara-mente que a salvao "no vem das obras" (Ef 2:8-9; Tt 3:5; Rm 4:4-8).

    Em seguida vemos o "erro de Balao", que nos fala do desejo de ensinar coisas que no vm de Deus em troca de dinheiro e posio. Balao se apresentou a Balaque e aos moabitas como um profeta com a inteno de profe-tizar para eles visando prejudicar o povo de Deus (Nm 22-24). Ainda que talvez no tenham a inteno de pre-judicar o povo de Deus, muitos pregadores na cristan-dade esto do mesmo modo ensinando doutrinas preju-diciais que no so encontradas nas Escrituras e igual-mente buscando posies elevadas na igreja.

    Finalmente temos a "rebelio de Cor", que a orga-nizao de um partido de homens para desafiar a ordem dada por Deus para o sacerdcio. Cor e seus homens queriam uma posio acima do povo de Deus, a qual no lhes havia sido concedida por Deus. Na profisso crist existe uma organizao similar de uma classe es-pecial de homens para presidirem sobre o rebanho de

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    Deus, o que conhecido como clero. Esses homens fa-lam deliberadamente do rebanho de Deus como se fosse o rebanho "deles". Esse tipo de organizao pode muito bem ter surgido com boas intenes, e podem existir mui-tos que atualmente ocupam esse lugar de boa mente, mas mesmo assim trata-se de um sistema de coisas que no tem qualquer fundamento na Palavra de Deus. Em essncia, ele desafia o genuno sacerdcio que pertence a cada crente.

    O testemunho do Senhor

    Finalmente, o prprio Senhor condena um grupo de pessoas que se levantaria na igreja, chamados de "nicola-tas" (Ap 2:6, 15). Essas pessoas introduziram impurezas no testemunho cristo; e pelo significado de seu nome, muitos estudiosos da Bblia concluram que estas podem muito bem ter sido as primeiras sementes do clericalis-mo. A palavra "nico" significa "governar", e "laitan" que a mesma palavra para laico significa "povo". Os nicolatas eram um partido formado por pessoas que aparentemente buscavam meios de "governar sobre o povo", e por isso poderiam muito bem ter sido o incio do sistema que faz distino entre clero e leigos. O Se-nhor nos diz especificamente que as "obras" e as "dou-trinas" dos nicolatas so coisas que Ele odeia (Ap 2:6, 15).

    Temos nisso tudo um testemunho abundante de qua-se todos os escritores do Novo Testamento sobre o fato de que haveria um grande distanciamento da simplici-dade da f crist (2 Co 11:3-4). Os apstolos nos disse-ram que, em sua ausncia, surgiria um sistema de coisas que no teria qualquer fundamento na Palavra de Deus. verdade que em algumas igrejas ocorre uma parcela

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    maior desse erro eclesistico do que em outras. Mas, seja na baslica de So Pedro em Roma, seja na menor capela evanglica, a maioria delas se no todas trazem os princpios bsicos do clericalismo inseridos em seus sis-temas de governo.

    O crente que instrudo segundo os pensamentos de Deus no tem alternativa seno admitir que aquilo que se apresenta aos homens como a igreja de Deus tem pouca ou nenhuma semelhana com a igreja de Deus conforme apresentada na Palavra de Deus. Sua pergunta poder ser: "O que aconteceu?" Em poucas palavras, a resposta que ns (a igreja) fracassamos.

    O contraste entre o "um s corpo" e as muitas seitas e divises

    Talvez a mais triste de todas essas evidncias de abandono sejam as muitas seitas e divises. As Escrituras ensinam claramente que Deus odeia divises, pois o cisma e a heresia (formao de partidos) so obra da carne (Gl 5:20). Quo grande o contraste entre a vontade do Senhor e essas numerosas seitas e divises que exis-tem no testemunho cristo! Enquanto ainda estava aqui no mundo, o Senhor orou para que pudssemos ser um. Ele disse, "E no rogo somente por estes, mas tambm por aqueles que pela sua palavra ho de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, Pai, o s em mim, e eu em ti; que tambm eles sejam um em ns, para que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17:11- 21). Ele estava pronto a morrer "para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos" (Jo 11:51-52). O Senhor tambm disse que depois de morrer Ele procura-ria reunir Suas ovelhas em "um rebanho" para que hou-vesse "um Pastor" Ele prprio (Jo 10:15-16). Apesar do

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    desejo do Senhor para que o Seu povo expressasse uma unidade coesa, visvel e prtica neste mundo, estamos todos divididos em diferentes seitas cada uma com suas prprias crenas e prticas peculiares sua prpria seita. Como poderia algo assim ter a aprovao do Se-nhor?

    Diante dos primeiros indcios de diviso na igreja primitiva, o apstolo Paulo foi dirigido pelo Esprito a escrever "Rogo-vos, porm, irmos, pelo nome de nos-so Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que no haja entre vs dissenses... cada um de vs diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Est Cristo dividido?" (1 Co 1:10-13; 12:25). Aqui, na linguagem mais clara possvel, Paulo roga em nome de Deus a todos os crentes, pela glria do Nome do Senhor Jesus, que no tenham divises! Todavia, quando olhamos ao redor no cristianismo professo de nossos dias, vemos que aquilo que as Escrituras denunciavam aconteceu igreja! Quantos milhares de cristos esto dizendo "Eu sou de Roma" (Catlica Romana), "Eu sou de Lutero" (Luterana), "Eu sou de Wesley" (Metodista), "Eu sou de Menno Simons" (Menonitas) etc. Se outrora entristecia ao Esprito escutar cristos dizendo "Eu sou de Paulo" e "Eu sou de Apolo" etc., ser que agora agra-da ao Esprito ouvi-los dizer "Eu sou de Lutero", "Eu sou de Wesley" etc.? Se naqueles dias do princpio da igreja isso foi denunciado como carnalidade, poderia a mesma coisa ser hoje chamada de espiritualidade? (1 Co 3:1-5). As muitas denominaes colocaram de lado a ordem de Deus para a adorao e o ministrio, e tambm para o governo da igreja, e estabeleceram uma ordem prpria, completa, com todos os seus credos e regulamentos ecle-sisticos. E, ao agir assim, criaram uma triste diviso na igreja.

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    O Senhor Jesus ensinou Seus discpulos a orar "seja feita a tua vontade, assim na terra como no cu" (Mt 6:10). A pergunta que fazemos : Haver divises sect-rias no cu? Todos os cristos sero unnimes em con-cordar que as divises desaparecero quando estivermos l. Todos no cu estaro reunidos em redor do Senhor Jesus Cristo em perfeita unidade, sem qualquer afiliao sectria. Ento, como podem os cristos desejar se reunir para adorao na terra em divises sectrias, quando no existe tal coisa no cu?

    O apstolo Paulo disse que a primeira responsabili-dade que temos como cristos andando como digno da vocao a que fomos chamados de procurarmos "guardar a unidade do Esprito pelo vnculo da paz". Ele segue explicando a razo, ao dizer que "h um s corpo" (Ef 4:1-4). Isto significa que, como cristos, dever-amos buscar expressar na prtica a verdade de que so-mos "um s corpo". Assim o mundo seria capaz de en-xergar uma unidade visvel na igreja, mas infelizmente tudo o que o mundo v o testemunho cristo partido em pedaos. Evidentemente no possvel que a igreja toda se congregue sob um mesmo teto em um nico lu-gar, mas ainda assim ela deveria expressar uma unidade na forma como funciona, em suas relaes prticas entre as vrias assembleias espalhadas pela terra.

    Costumamos ouvir cristos se referirem s diferentes denominaes como "o grupo deles" e "o nosso grupo", como se existissem muitos corpos! Eles falam de sua co-munho eclesistica particular como um "corpo" em si mesmo, distinto de outros grupos eclesisticos que tam-bm se enxergam como corpos independentes. Pelo que costumamos ver e ouvir entre os cristos, a verdade do um s corpo foi perdida de vista.

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    Uma ilustrao usada por Charles Stanley (1821-1890) descreve bem a confuso existente no testemunho cristo. Suponha que sua Majestade, a Rainha da Inglaterra, en-viasse um oficial a uma de suas colnias, e durante al-gum tempo o exrcito ali se colocasse totalmente sob o comando deste oficial. Aquele exrcito seria adequada-mente chamado de "Exrcito de Sua Majestade". Mas se aquele exrcito colocasse de lado o comandante que lhes fora designado, e elegesse outro segundo a sua prpria escolha, ou se aquele exrcito se dividisse em pores separadas e cada diviso adotasse seu prprio coman-dante, mesmo que cada soldado continuasse sendo um soldado britnico, poderia tal exrcito dividido ser apropriadamente chamado de "Exrcito de Sua Majesta-de"? Depois de ter deixado de lado a autoridade do co-mandante designado por Sua Majestade, acaso no seria cada uma daquelas divises um motim? No seria uma deslealdade Rainha juntar-se s fileiras de qualquer uma daquelas divises amotinadas?

    Oras, se aplicarmos o mesmo igreja, poderemos fa-cilmente enxergar que a mesma coisa aconteceu na for-mao das igrejas denominacionais e no denominacio-nais. Durante um tempo, a igreja primitiva esteve sob a autoridade do Esprito Santo, que foi enviado do cu para governar a igreja, do mesmo modo como o exrcito britnico de nosso exemplo reconheceu, por algum tem-po, a autoridade do oficial enviado por Sua Majestade. Quando a igreja afastou-se da Palavra de Deus isso deu origem s divises, e ento foram implementadas orga-nizaes humanas para manter essas divises funcionan-do. Sem dvida alguma essas iniciativas humanas foram introduzidas com a melhor das intenes, mas sem a au-toridade dada pela Palavra de Deus. medida que as seitas dentro da profisso crist se multiplicaram, mais

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    autoridades humanas (com seus credos e regulamentos) foram estabelecidas dentro das vrias denominaes visando sua administrao. A coisa toda cresceu e hoje existe um vasto sistema com muitas comunhes separa-das de cristos, e muito pouco de sua autoridade est fundamentada na Palavra de Deus.

    Acaso no era previsvel que os incrdulos deste mundo viessem a olhar para a igreja e a balanar a ca-bea em sinal de desaprovao? Se perguntarmos a eles por que no creem no evangelho, costumam usar como desculpa para rejeitarem a Cristo o estado dividido e confuso da cristandade, com as suas muitas vozes confli-tantes. Que triste testemunho damos neste mundo. No h dvida de que devemos baixar a cabea e confessar ao Senhor que pecamos, como fizeram Daniel, Esdras e Neemias, ao reconhecerem que tambm eram respons-veis pelo fracasso do testemunho de Israel (Dn 9:1-19; Ed 9:1-15; Ne 9:4-38).

    Terminologia convencional versus terminologia bblica

    Boa parte da confuso existente no testemunho cris-to vem da terminologia que os telogos criaram para simples verdades da Bblia. F. B. Hole disse certa vez que a teologia moderna pegou muitos termos das Escrituras e os esvaziou de seu sentido bblico, dando depois a es-ses termos significados inventados pelos homens para fundamentarem seus prprios sistemas teolgicos. Quan-do comparamos essas ideias com a Palavra de Deus, ve-mos que elas esto distantes da verdade.

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    A Igreja

    Um dos exemplos mais evidentes de como a termino-logia convencional criou um novo sentido para um ter-mo bblico "a igreja". A maioria dos cristos usa este termo para se referir a um edifcio, aonde os cristos vo quando se congregam para adorao. Essas pessoas di-zem "Vamos igreja" ao se referirem sua reunio nesse edifcio. Todavia, a Bblia nunca utiliza a palavra "igreja" desta maneira. A Bblia fala da igreja [em Grego eclsia] como um grupo de pessoas redimidas que foram "cha-madas para fora" de entre judeus e gentios, por meio de sua crena no evangelho. Essas pessoas compem o cor-po de Cristo e um dia iro reinar com Ele, como Sua noi-va, sobre este mundo.

    A Bblia mostra claramente que a igreja no um edi-fcio material, pois ela diz que Cristo amou a igreja e Se entregou morte por ela (Ef 5:25-26). Fica claro que isso no poderia ser dito de um mero edifcio construdo por mos humanas. A Palavra de Deus tambm nos diz que a igreja costumava ser encontrada na casa de algumas pessoas (Rm 16:5; 1 Co 16:19; Cl 4:15; Fl 2). Ela diz que a igreja tinha ouvidos para receber instruo (At 11:22, 26); que tinha poder de discernimento para saber a von-tade do Senhor (At 15:22); que podia orar (At 12:5), ser saudada (Rm 16:5), e ser perseguida (At 8:1; 1 Co 15:9). A partir dessas referncias bvio que a igreja um gru-po de pessoas salvas pela graa de Deus, e no um mero edifcio de pedras e madeira.

    Uma irm das Antilhas, que havia aprendido algo so-bre a verdade da igreja, foi questionada pelo "Ministro" de uma denominao local da razo de ela no "ir mais igreja". Sua resposta foi: "A nica igreja que encontro na Bblia aquela que se lanou ao pescoo de Paulo e o

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    beijou", referindo-se a Atos 20:37. Ento, apontando para o edifcio no final da rua, continuou: "Se aquela coisa ali se lanar ao meu pescoo, ela vai me matar!".

    Os cristos tambm usam erroneamente este termo para descrever uma seita na igreja. Eles falam de algum ser membro de uma igreja, quando o que querem dizer ser membro de uma seita denominacional (ou no de-nominacional) na igreja. A verdade que as Escrituras no falam de sermos membros de qualquer outra coisa que no seja o corpo de Cristo. Todo crente no Senhor Jesus Cristo um membro desse corpo (1 Co 12:12, 27).

    Tambm ouvimos cristos falando de pessoas "se afi-liarem igreja", quando esto se referindo na realidade a pessoas que se unem a uma seita na igreja. A. H. Rule disse certa vez: "A igreja no uma associao qual os homens podem voluntariamente se ligar, ou dela se desligarem conforme a sua vontade, como acontece no caso das seitas". A Bblia no ensina que devemos "nos fazer membros" de uma igreja. S existe uma igreja na Bblia: a ela o Senhor (e no ns) acrescenta pessoas quando elas creem nEle para salvao (At 2:47; 5:14; 11:24; 1 Co 6:17). Uma vez perguntaram a um irmo, que entendia esta verdade, a que igreja ele pertencia. Ele respondeu: "Perteno igreja da qual ningum capaz de se fazer membro!" Evidentemente a pessoa que fez a pergunta ficou bastante surpresa, e indagou: "Ento como vocs conseguem os novos membros?" Ele respondeu: "Ah, o Senhor quem os acrescenta pelo Esprito quando so salvos, mas as pessoas no podem acrescentar-se a si mesmas por sua prpria vontade" (1 Co 12:13). A nica coisa qual nos poderamos "juntar", e deveramos bus-car faz-lo, comunho dos santos (At 9:26), mas no podemos fazer a ns mesmos membros da igreja.

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    H quem s vezes pergunte: "Quem que dirige a sua igreja?". As pessoas pensam que vamos falar o no-me de algum "Ministro". Todavia, a Cabea da igreja mencionada na Bblia est no cu o prprio Cristo! (Cl 1:18)

    Tambm costumamos ouvir pessoas dizendo: "Nossa igreja ensina tal e tal coisa..." Todavia, no existe qualquer pensamento na Palavra de Deus de que a igreja ensine alguma coisa. Tal ideia totalmente humana. Se os ho-mens criassem uma organizao com certas doutrinas e credos formulados segundo o padro de sua seita, as pessoas at que no estariam erradas se dissessem que aquela organizao ensina. Mas uma organizao de ho-mens no a igreja! A verdade que a igreja no um corpo legislativo que estabelece regras, leis e doutrinas. Ela no ensina, mas ensinada! E isso feito por indi-vduos com dons que so levantados pelo prprio Cristo, a Cabea da igreja, que est hoje ressuscitado no cu (At 11:26).

    Santo

    Outro exemplo da confusa terminologia existente na cristandade encontrado no significado da palavra "san-to". Muitos cristos pensam em um santo como algum que vive ou viveu uma vida exemplar. Porm a Bblia usa o termo para descrever todos os crentes at mesmo aqueles em Corinto, que eram notrios por suas divises e carnalidade (1 Co 3:1-4). Eles estavam associados ao mal moral (1 Co 5) e alguns professavam uma m doutri-na que atacava os prprios fundamentos do cristianismo (1 Co 15). No existe um grupo de cristos na Bblia que esteja numa situao mais precria, exceto talvez pelos glatas. Mesmo assim, apesar de todo o fracasso deles, a Palavra de Deus chama os corntios de "santos"! (1 Co

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    1:2) Com base nisso fica claro que a Bblia define "san-to" de um modo diferente daquele normalmente usado pelas pessoas nos dias de hoje.

    William Kelly disse que na mente da maioria das pes-soas ser santo ser algo mais do que um mero cristo. Mas, na realidade, o que acontece que um cristo algo mais do que um santo! Ele disse: "Muitos diriam que minha doutrina estranha, por todos nesta regio serem considerados cristos, porm pouqussimos em todo o mundo serem considerados santos e talvez nenhum deles seja visto assim at chegar ao cu. Mas est muito claro no h nada mais evidente que um cristo um santo, e muito mais que isso!".

    Santo algum "santificado". Ser santificado, posicio-nalmente falando, ter sido "colocado parte" ou "sepa-rado" por Deus para bno. Isso acontece quando nas-cemos de novo. Aqueles que so nascidos de Deus fo-ram colocados parte ou separados da massa da huma-nidade que caminha rumo destruio. Todos os crentes desde o incio dos tempos so santos. Por isso podemos chamar de "santos" aqueles que viveram nos tempos do Antigo Testamento (Dt 33:3; 1 Sm 2:9; 2 Cr 6:41 etc.). Todavia eles no eram cristos. Apenas os crentes a par-tir de Pentecostes e at o Arrebatamento esto nessa posio diante de Deus. Um "cristo" algum que creu "no evangelho da vossa salvao" e, por conseguinte, foi selado com o Esprito, tendo assim sido feito parte da igreja (Ef 1:13). Ele foi deste modo colocado em uma po-sio muito mais abenoada (estando ligado a Cristo, a Cabea da igreja) do que um santo do Antigo Testamen-to. O cristo um santo, mas muito mais que isso ele membro do corpo de Cristo (1 Co 12:12-13) e filho de Deus (Rm 8:14-15; Gl 4:5-7; Ef 1:5). Estas so coisas que

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    os santos do Antigo Testamento no eram. (Existe tam-bm a santificao prtica, que tem a ver com o aperfei-oamento da santidade na vida do crente que significa tornar nossa vida praticamente consistente com nossa posio Jo 17:17; 1 Ts 4:3-4; 5:23; Hb12:14; 2 Co 7:1).

    O espao no permite que continuemos discorrendo e enumerando todos os diversos termos que so errone-amente usados por cristos atualmente. Examinaremos alguns deles medida que avanarmos com nosso tema.

    Estado de esprito - O pr-requisito necessrio para se aprender a verdade

    Ocorre-nos a pergunta: "Por que tantos cristos acei-tam essa ordem de coisas que foi criada pela inventivi-dade humana na cristandade, sem sequer questionarem sua veracidade?" Podemos tambm perguntar: "Por que a ordem de Deus na Bblia para a adorao e o ministrio passou despercebida a tantos cristos?" A resposta est no fato de que existe uma exigncia moral necessria para se compreender a verdade. Esse importante pr-requisito encontrado em um estado de esprito. Os pontos a seguir so absolutamente necessrios para quem deseja ter um estado de esprito adequado compreenso da verdade das Escrituras:

    1) Passar um tempo na presena do Senhor em co-munho com Ele

    A Palavra de Deus diz: "O teu caminho, Deus, es-t no santurio" (Sl 77:13). Considerando que ali que est o caminho dEle, precisamos estar ali com Ele, se quisermos discernir qual a Sua vontade. Para o cristo, estar em Seu santurio significa viver na Sua presena,

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    na companhia dEle e em comunho com Ele. A vontade do Senhor a respeito destas coisas nos ser revelada quando estivermos no secreto lugar da Sua presena. "Na tua luz, veremos a luz" (Sl 36:9). No existe um substituto para a comunho com o Senhor. Este tremen-do privilgio de comunho com Ele est nossa disposi-o para dele desfrutarmos a qualquer momento, pois te-mos livre acesso Sua presena atravs da orao. "Bem-aventurado o homem que me d ouvidos, velan-do s minhas portas cada dia, esperando s ombreiras da minha entrada" (Pv 8:34).

    2) Ter o desejo de fazer (praticar) a vontade de Deus

    A Bblia diz que "Se algum quiser fazer a vontade de Deus, h de saber se a doutrina dele, ou se eu falo por mim mesmo" (Jo 7:17). A maioria dos cristos se no a totalidade deles deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida. Mas isso no o que este versculo diz. Ele fala do desejo de "fazer" a vontade de Deus, no apenas do mero conhecimento dela. Muitos cristos pas-saram a vida inteira sem saber qual era a vontade de Deus para eles. Isso pode acontecer em muitas reas, inclusive onde e como Deus gostaria que eles se reunissem com outros cristos para a adorao e o ministrio. A razo disso que no basta ter o desejo de conhecer a vontade de Deus. "A alma do preguioso deseja, e coisa nenhu-ma alcana" (Pv 13:4). O conhecimento da vontade de Deus revelado queles que esto desejosos de fazer essa mesma vontade, custe o que custar. Quando estivermos comprometidos em fazer a vontade de Deus, Ele a torna-r conhecida para ns.

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    3) Ter o exerccio espiritual de aplic-la a si mesmo a fim de aprender a Verdade

    A Bblia diz que "Esdras tinha preparado o seu cora-o para buscar a lei do SENHOR e para cumpri-la... Ento apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para lhe pedirmos caminho seguro para ns, para nossos filhos e para todos os nossos bens" (Ed 7:10; 8:21). Precisamos fazer o mesmo, e sermos diligentes em buscar a verdade examinando a Palavra de Deus (At 17:11).

    No livro de Apocalipse, o apstolo Joo deveria "to-mar" o "livrinho" que continha a verdade dos conselhos de Deus concernentes a Cristo e Sua herana na terra, caso o desejasse. Ele pediu o livrinho, mas pedir apenas no bastava o anjo lhe respondeu: "Toma-o, e come-o" (Ap 10:9). Isso nos mostra que a verdade no automa-ticamente dada queles que simplesmente pedem por ela, mas sim queles que possuem energia espiritual para tom-la. Isto requer diligncia. "A alma dos diligentes se farta" (Pv 13:4). Paulo disse a Timteo: "Procura apre-sentar-te a Deus aprovado, como obreiro que no tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15). Ele tambm falou das "palavras da f e da boa doutrina que tens seguido" nos estudos diligentemente feitos por Timteo (1 Tm 4:6). De um modo geral, existe entre os cristos de hoje uma triste falta de estudo pessoal das Escrituras. Alguns cristos se apoiam to somente naquilo que recebem como alimento espiritual do assim chamado pastor de sua igreja, ou do que escutam no rdio. Atravs desses meios muito improvvel que os ouvintes recebam a verdade sobre o assunto que estamos tratando. Consequentemente, no de surpreender que muitos cristos no conheam a or-

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    dem de Deus para os cristos se congregarem para a adorao e o ministrio.

    4) Ter inteireza de corao para reconhecer a Ver-dade quando esta apresentada

    A Palavra de Deus diz: "Aos retos nasce luz nas tre-vas" (Sl 112:4). Podemos no gostar da verdade quando ela apresentada, mas se tivermos um corao reto e honesto, reconheceremos que se trata da verdade. Al-gum disse que quando a verdade nos incomoda isso pode ser um sinal de que no estamos olhando na dire-o correta, pois a verdade no machuca, a menos que seja preciso.

    Nossa nica concluso quanto razo de muitos cris-tos simplesmente aceitarem toda essa ordem de coisas da profisso crist sem questionar, que est faltando um ou todos esses pontos. Paul Wilson costumava dizer que se existir algum impedimento nossa compreenso de uma passagem das Escrituras, isso ocorrer por uma das trs razes a seguir, ou por todas elas:

    1) No lemos a passagem atentamente. 2) Adotamos uma ideia ou ensino pr-concebido do

    assunto, e isso est nos impedindo de enxergar seu verdadeiro significado.

    3) Nossa prpria vontade est no comando, portanto no queremos a verdade.

    No somos chamados a consertar a runa do teste-munho cristo

    Muitos crentes sinceros e preocupados perguntam: "O que eu posso fazer para ajudar a restaurar as coisas no

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    testemunho cristo? Talvez fosse bom apresentar isso ao meu 'Pastor' para termos uma igreja mais bblica".

    Se buscarmos outra vez a Palavra de Deus veremos que a condio de runa do testemunho cristo no ser restaurada, mas sim julgada por Deus e removida da terra. Em Romanos 11 o apstolo Paulo fala da "olivei-ra", cujos ramos foram "quebrados", ilustrando de forma figurada como a nao de Israel seria colocada de lado quanto ao lugar de privilgio que ocupava com Deus. Isso foi feito porque eles rejeitaram todo o testemunho de Deus em Cristo (conforme registrado nos evange-lhos) e o Esprito Santo (conforme vemos no livro de Atos). Ento ele fala dos ramos de uma "oliveira brava" sendo enxertados no tronco da oliveira. Ele usou isso para ilustrar como Deus iria introduzir os gentios em um lugar de privilgio por meio do evangelho. Aqueles que professam conhecer o Senhor esto agora neste lugar de privilgio e associao com Ele. este o lugar que a cris-tandade ocupa pela graa de Deus.

    Mas o apstolo segue dizendo que se os ramos da oli-veira brava (cristandade) no permanecessem na bonda-de de Deus, eles seriam cortados do lugar de privilgio, e os ramos que foram antes cortados (Israel) seriam colo-cados de volta naquele lugar de favor. Como temos de-monstrado, a cristandade fracassou em todos os aspec-tos de sua responsabilidade e aguarda esse julgamento, o qual ocorrer depois que o Senhor chamar os verdadei-ros crentes para fora dela em Sua vinda (no arrebatamen-to). Assim vemos que a cristandade termina em juzo, no em restaurao. Uma figura disso nas Escrituras Vasti (a rainha gentia, uma figura da cristandade) sendo colocada de lado, enquanto Ester (a judia, uma figura

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    de Israel) trazida para ocupar o lugar de sua antecesso-ra (Ester 1 a 2).

    Alm disso, nas palavras que o Senhor dirige s sete igrejas na sia, que apresentam profeticamente os suces-sivos estgios de declnio pelos quais a igreja professa passaria, Ele no mostra qualquer indcio de que o tes-temunho cristo seria restaurado, pelo contrrio, mostra que seria cuspido de Sua boca no final (Ap 3:16). Ao invs de uma promessa de restaurao, o Senhor diz: "Outra carga vos no porei; mas o que tendes, retende-o at que eu venha" (Ap 2:24-25). Tampouco h qualquer meno nas epstolas de que haveria uma restaurao do testemunho cristo.

    Indo alm, em Mateus 13:28-30 encontramos a prpria palavra do Senhor de que deveramos desistir de tentar consertar a condio arruinada do testemunho cristo. Quando o inimigo semeou o joio em meio ao trigo, os servos do proprietrio perguntaram: "Queres, pois, que vamos arranc-lo?" Eles perguntaram se deviam tentar remediar a situao. O proprietrio respondeu: "No, para que, ao colher o joio, no arranqueis com ele tambm o trigo. Deixai crescer ambos juntos at a cei-fa". A "ceifa" o fim do mundo (Mt 13:39). Portanto est claro que no somos chamados a consertar a confuso existente na cristandade, mas a deixar isso tudo para o Senhor cuidar no fim do mundo.

    Oras, se Deus diz que o testemunho cristo no ser restaurado, ento certamente ser ftil qualquer esforo de nossa parte de tentar remediar sua presente condio. Acaso Ele iria nos pedir para fazer algo que a Sua Pala-vra nos diz ser impossvel? Iria Ele querer que fizsse-mos algo que Ele prprio disse em Sua Palavra para no fazermos?

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    UM CHAMADO SEPARAO

    Apesar de no sermos chamados a consertar a confu-so que existe no testemunho cristo, existe algo que somos chamados a fazer para nos colocarmos na posio correta em relao a essa confuso. O apstolo Paulo descreveu o abandono da Verdade no testemunho cris-to como algo to confuso que apenas o Senhor seria capaz de distinguir entre os que so reais e os que so falsos. Ele segue dizendo que nossa responsabilidade nisso tudo nos apartarmos daquilo que sabemos que est errado, e que inconsistente com a verdade das Escrituras. "Qualquer que profere o nome de Cristo [o Senhor] aparte-se da iniquidade" (2 Tm 2:19).

    A fim de ilustrar este ponto to importante, Paulo usou a figura de uma "grande casa" para descrever a confusa condio existente na cristandade. Na casa h uma mistura de vasos "de ouro e de prata" (os verdadei-ros crentes), e tambm de "pau e barro" (os falsos, me-ros professos). Alguns desses vasos so "para honra" e alguns "para desonra". Se um cristo pretende ser um vaso "santificado" para honra, adequado para todo e qualquer uso para o qual o Mestre possa convoc-lo, ele precisa passar pela experincia de se purificar, separan-do-se daqueles vasos que se misturaram no atual e con-fuso estado de coisas. Paulo diz: "De sorte que, se al-gum se purificar destas coisas, ser vaso para honra, santificado e idneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra" (Tm 2:20-21).

    Portanto, o chamado do Senhor para cada cristo que se encontra identificado com a confuso na "grande casa" separar se. Apesar de no podermos sair da "grande casa" (pois isto significaria deixar completamente de professar

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    que somos cristos), podemos e devemos nos separar da desordem que existe na casa. Veja tambm 2 Corntios 6:14-18; 2 Timteo 3:5; Apocalipse 18:4.

    Por que nos separarmos?

    Algum poderia perguntar: "Por que a separao to importante?" A resposta simplesmente porque pode-mos ser e efetivamente seremos contaminados por nossas associaes! A maioria dos cristos acredita poder se associar a qualquer coisa que for de sua vontade sem que sejam afetados por isso. A Bblia, porm, ensina que somos afetados por aqueles com quem nos associamos. "As ms companhias corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33; 1 Tm 5:22; Ag 2:10-14; Dt 7:1-4; Js 23:11-13; 1 Rs 11:1-8 etc.).

    Entendemos que este no um tpico muito popu-lar entre os cristos hoje em dia, mas Deus nos disse essas coisas para que pudssemos ser preservados das sutis corrupes orquestradas pelo inimigo de nossa al-ma, Satans. As coisas que Deus disse em Sua Palavra so para o nosso bem, e no por Ele ser um estraga pra-zeres. Deus nos ama e se importa conosco, e sabe o que melhor para ns. E lembremo-nos de que nunca so-mos mais sbios do que a Palavra de Deus.

    Os trs tipos de mal existentes na cristandade

    A Bblia indica que o cristo deve se separar de trs tipos de mal, pois a associao com essas coisas iro nos afetar e nos contaminar. So eles:

    1) Mal Moral Um exemplo deste tipo de mal encon-trado no problema existente em Corinto, onde havia uma pessoa imoral entre eles. Por ser um grupo de cristos

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    que estavam associados a uma pessoa m em seu meio, eles corriam o risco de serem levedados pelo pecado daquela pessoa. O apstolo disse a eles: "No sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alim-pai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa" (1 Co 5:6-7). Ele lhes disse que deviam se dissociar disso excomungando aquela pessoa (1 Co 5:11-13). Se permitissem que ela continuasse no meio deles, isso iria dessensibilizar seus padres morais e todos eles tambm acabariam caindo na imoralidade.

    Alm do mais, ao continuarem assim associados com o pecado (pelo descuido de permitir que o pecado no fosse julgado) eles se tornariam coletivamente culpados daquele mesmo pecado, mesmo que no o tivessem co-metido pessoalmente! Compare com o caso do pecado de Ac. Quando ele pecou, o Senhor disse: "Israel pecou" (Js 7:1, 11). Mesmo que apenas um homem e sua famlia fossem os culpados pelo erro, o Senhor acusou todo o Israel dessa culpa, pois estavam todos associados com Ac.

    2) M Doutrina Um exemplo disso o caso da "senhora eleita" na Segunda Epstola de Joo. Ela foi advertida de que se viesse a ela algum que no trouxesse a doutrina de Cristo, ela no deveria receber tal pessoa em sua casa, e nem tampouco saud-la, pois se o fizesse estaria sendo participante do seu erro. As palavras do apstolo Joo foram estas: "Se algum vem ter convosco, e no traz esta doutrina, no o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o sada tem parte nas suas ms obras" (2 Jo 9-11). Repare: se ela saudasse ou recebesse tal pessoa, seria participante da m doutrina daquela pessoa, mesmo que ela prpria no professasse tal ensi-no maligno! Sua responsabilidade, portanto, era de se

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    manter longe desses ensinos errneos e isso precisava ser feito por meio da separao.

    Os glatas eram outro exemplo disso. Entre eles havi-am se infiltrado mestres que tentavam judaiz-los, ensi-nando que eles precisavam guardar a lei. Paulo disse a eles: "Correis bem; quem vos impediu, para que no obedeais verdade? Esta persuaso no vem daquele que vos chamou. Um pouco de fermento leveda toda a massa" (Gl 5:7-9). Vemos aqui que o ensino errneo dos mestres judaizantes que havia entre eles possua o mes-mo efeito de fermentar o grupo como um todo. Eles es-tavam sendo levedados por aquelas doutrinas judaizan-tes com as quais estavam associados.

    Vemos tambm que alguns dentre os corntios haviam adotado ensinos errneos quanto doutrina da ressurrei-o. Paulo identificou esses ensinos como originrios da associao deles com alguns mestres existentes em seu meio que eram tendenciosos quanto doutrina. Ele os alertou que se continuassem associados com essas pesso-as, acabariam todos sendo afetados. Suas palavras fo-ram: "No vos enganeis. As ms companhias corrom-pem os bons costumes" (1 Co 15:33).

    Paulo tambm disse a Timteo que se ele encontrasse algum ensinando coisas que no estivessem de acordo com a s doutrina, deveria "apartar-se" desse, pois se no o fizesse acabaria se tornando participante do pecado daquela pessoa (1 Tm 6:3-5).

    3) Mal Eclesistico O mesmo princpio vale tambm para a falta de ordem e o mal eclesistico (isto , o cleri-calismo sistema formado por clero e leigos). Ao nos associarmos a alguma comunho em particular de cris-tos que tenham um sistema de coisas que no est em conformidade com a Palavra de Deus, quer ns concor-

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    demos ou no com suas prticas estaremos mesmo as-sim identificados com elas. Este princpio claramente estabelecido por Paulo em 1 Corntios 10:14-22. Ele mos-tra que, independente de ser no cristianismo, judasmo ou paganismo, o princpio da identificao sempre exis-te. Participar de prticas religiosas, quaisquer que sejam elas, expressar comunho com tudo o que existe ali.

    No que diz respeito ao cristianismo, Paulo diz: "Por-ventura o clice de bno, que abenoamos, no a comunho do sangue de Cristo? O po que partimos no porventura a comunho do corpo de Cristo?" (1 Co 10:16). Desta passagem fica evidente que nossa ao de partir o po (participar da ceia do Senhor) a expres-so de nossa comunho com aqueles com quem partimos o po.

    Em relao a Israel, Paulo mostrou que o mesmo princpio existia, ao dizer: "Vede a Israel segundo a car-ne: aqueles que comem os sacrifcios no esto porven-tura em comunho com o altar?" (1 Co 10:18 verso J. N. Darby). Algum que participasse dos sacrifcios sobre o altar no qual eram oferecidos tais sacrifcios estava identi-ficado com tudo o que o altar representava.

    E o apstolo mostrou tambm que o mesmo princpio valia para a idolatria no paganismo, ao dizer: "Mas o que os gentios sacrificam, eles sacrificam aos demnios, e no a Deus. E no quero que estejais em comunho com os demnios" (1 Co 10:20 verso J. N. Darby). Nes-te caso aqueles que participavam do "clice dos dem-nios" estavam em comunho com demnios.

    Em tudo isso permanece o fato de que o ato de parti-ciparmos de um grupo eclesistico em particular signifi-ca nossa identificao com tudo o que acontece ali. Se eles ensinam m doutrina, estamos em comunho com a

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    m doutrina. Se eles esto envolvidos com prticas de adorao que no tm fundamento nas Escrituras, es-tamos tambm em comunho com elas. E Deus no gos-taria de ver o Seu povo em comunho com m doutrina ou prticas errneas (2 Co 6:14-18). por isso que Paulo diz que quando a confuso religiosa se alastrasse pela casa de Deus, deveramos nos "purificar" dessas coisas separando-nos delas (2 Tm 2:20-21).

    O remanescente de judeus que partiu da Babilnia

    O Antigo Testamento nos fornece uma ilustrao deste exerccio de separao da confuso religiosa. Ao acom-panharmos a histria dos filhos de Israel nos livros de Reis e Crnicas, vemos que depois de terem se estabeleci-do em sua terra prometida com o culto de adorao que Deus lhes havia ordenado, eles foram pouco a pouco se distanciando dessas instrues. Eles introduziram coisas que Deus nunca ordenou que fizessem (por exemplo 1 Reis 11:7-8; 2 Reis 16:10-18).

    Por causa de sua desobedincia e de seu fracasso em depender do Senhor, pouco a pouco eles foram perden-do a terra para os seus inimigos, at que finalmente chegaram os babilnios e os tiraram completamente da terra. Eles foram levados para fazer parte do imenso sis-tema da Babilnia (nome que significa "confuso"), que uma figura da confuso religiosa. Muitos dos vasos que havia no templo foram levados e incorporados ao paga-nismo da Babilnia. Enquanto os filhos de Israel perma-neciam na terra da confuso religiosa de Babilnia, mal havia um resqucio sequer da adorao peculiar que Deus lhes havia ordenado. Seus vasos de adorao esta-vam ali (Dn 1:2; 5:2, 5), mas eles estavam completamente

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    misturados com aquele enorme sistema que no provi-nha de Deus. Que triste imagem de fracasso.

    O que iremos ver nessa triste figura uma correla-o com a histria da igreja. No muito tempo depois de Deus haver estabelecido a igreja na simplicidade da adora-o e do culto cristo, tambm ocorreu um distanciamen-to da Sua Palavra. No demorou para que a grande runa e fracasso que temos mencionado cassem sobre o testemunho cristo. Consequentemente, a igreja tambm foi levada para a confuso religiosa. Hoje esse distanci-amento da Palavra de Deus to grande, que o verda-deiro cristianismo bblico mal reconhecido entre todos os acessrios estranhos que tm sido associados ao nome de Cristo. Que triste testemunho da runa daquilo que foi o depositrio da mais elevada verdade jamais revelada ao homem!

    Depois de setenta anos de permanncia dos filhos de Israel na Babilnia, houve um exerccio entre alguns de-les para que retornassem a Jerusalm, aps ouvirem o decreto de Ciro, rei da Prsia. A preocupao deles na-quele momento era adorar Jeov no lugar e da maneira que Deus havia originalmente designado. Por isso Jesu e Zorobabel (e mais tarde Esdras e Neemias), juntamente com alguns milhares de judeus, par tiram de Babilnia (Esdras 1-2). Para retornar a Jerusalm eles precisariam deixar Babilnia, isto , separar-se dela. Sair de Babilnia significava deixar muitos de seus irmos que no esta-vam preocupados em abandonar a confuso que havia naquela terra. A correlao bvia. Deixar as denomi-naes significar a mesma coisa para ns, e implicar tambm em separar-se de verdadeiros crentes que esto bem contentes com esses lugares.

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    Sete desculpas para no se separar dos sistemas denominacionais

    Antes de comentarmos as desculpas que costumam ser dadas para no se separar dos sistemas denominacionais, gostaramos de deixar claro que no temos a inteno de tentar convencer algum a fazer algo contra a sua vonta-de. As Escrituras dizem que, entre outras coisas, "...subverter o homem no seu pleito, no so do agrado do Senhor" (Lm 3:36). Se algum est contente em sua igreja, no com ele que estamos falando. Estamos nos dirigindo a cristos genuinamente preocupados com a questo de onde e como Deus gostaria que eles estives-sem congregados para a adorao e o ministrio.

    Alm disso, no queremos apresentar estas coisas com um esprito contencioso; certamente no nossa inteno criticar outros cristos. Ao comentarmos estas desculpas, cremos que o leitor ir entender que no nos consideramos melhores do que outros cristos que fre-quentem alguma organizao humana na casa de Deus. Nosso objetivo revelar a falsidade dos argumentos que as pessoas utilizam quando desejam permanecer numa posio da qual a Palavra de Deus diz claramente para se separarem. "Quem tem ouvidos para ouvir, oua" (Mt 11:15).

    1) "No devemos julgar outros cristos!"

    s vezes as pessoas diro: "Eu no me separaria de minha igreja mesmo que visse algumas coisas que no esto corretas, pois se me separasse estaria julgando os que praticam essas coisas, e a Bblia diz que no deve-mos julgar uns aos outros".

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    Percebemos que, para alguns, nossos comentrios pa-recem estar carregados com um esprito de farisasmo, como se estivssemos julgando outros cristos. De boa conscincia diante de Deus, cremos que no estamos jul-gando os motivos dos outros, pois somente Deus o Juiz dos motivos (Mt 7:1; 1 Sm 2:3;1 Co 4:4-5), mas somos instrudos pelas Escrituras a julgar as doutrinas de uma pessoa (1 Co 10:15; 14:29), suas aes (1 Co 5:12-13), e seus frutos (Mt 7:15-20).

    Com a ajuda do Senhor, iremos demonstrar a partir das Escrituras que a atual ordem de coisas praticadas em todos os lugares da cristandade, para a adorao e o ministrio da Palavra, no est de acordo com a Palavra de Deus, e que ela (a Palavra de Deus) julga essa ordem de coisas e a considera errada. Como cristos, somos exortados a exercer juzo sobre aquilo que a Palavra de Deus exerce juzo. O princpio claramente apresentado em Apocalipse 18:20: "Alegra-te sobre ela, cu, e vs, santos e apstolos e profetas; porque j Deus julgou o vosso juzo quanto a ela" (Verso J. N. Darby). Depois que os verdadeiros crentes so tirados dessa cristandade no Arrebatamento, toda a ordem humana de coisas nela culminar na falsa igreja do livro de Apocalipse (apresen-tada como "Mistrio, a grande Babilnia"). Deus execu-tar o Seu julgamento sobre ela Ele utilizar a Besta para faz-lo, e ela terminar para sempre (Ap 17:16).

    Quando isso acontecer, o cu todo se regozijar em uma celebrao, e aos santos de Deus ser dito: "Deus julgou o vosso juzo quanto a ela" (Ap 18:20 Verso J. N. Darby). Isto demonstra que antes daquele tempo, os crentes sensatos j fizeram o seu juzo dela. Naquele dia vindouro Deus far com que o julgamento que eles fize-ram seja publicamente reconhecido, ao executar o Seu julgamento sobre ela. Isto mostra claramente que os cris-

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    tos devem julgar aquilo que no bblico na cristandade e separar -se disso.

    O Antigo Testamento traz uma figura que ilustra es-te ponto. Jeroboo introduziu em Israel um novo siste-ma de adorao que no passava de uma inveno sua. Ele no tinha qualquer autorizao de Deus para faz-lo. Todavia, ele criou dois novos centros de adorao em Israel, um em Betel e outro em D. Ele tambm estabele-ceu uma nova ordem sacerdotal nesses lugares, a qual era "como" a ordem instituda por Deus em Jerusalm. Ele fez tudo isso para dar ao povo a sensao de que essa nova ordem de coisas vinha de Deus, pois era pare-cida com a ordem instituda por Deus em Jerusalm. Mas com isso ele levou Israel a pecar, ao encorajar o povo a adorar ali (1 Reis 12:28-33). Nem precisaria ser mencio-nado que isso desagradou ao Senhor.

    No muito tempo depois, o Senhor enviou um profe-ta a Betel para clamar contra o altar que Jeroboo havia construdo ali. O profeta "clamou contra o altar por or-dem do Senhor, e disse: Altar, altar! Assim diz o Se-nhor... E deu, naquele mesmo dia, um sinal, dizendo: Este o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fender, e a cinza, que nele est, se derramar" (1 Reis 13:1-3). Repare com ateno: o profeta clamou contra o altar, no contra as pessoas que adoravam ali! O altar, com seu bezerro, era o ponto focal da adorao em Betel, representada por todo um sistema de coisas que Jero-boo havia estabelecido. Isso ilustra nosso ponto. No julgamos ou clamamos contra nossos irmos que esto misturados com a confuso existente na casa de Deus, mas contra o sistema, pois ele no de Deus.

    A mensagem do profeta deixou Jeroboo muito abor-recido, e ele estendeu sua mo contra o profeta, mas ao

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    faz-lo, sua mo secou-se. Mesmo assim, o profeta rogou pela recuperao da mo de Jeroboo. Isto prova que o profeta no tinha inteno de atacar Jeroboo ou o povo, mas desejava apenas o bem e a bno deles. Do mesmo modo, quando o assunto da separao da confuso na casa de Deus mencionado, muitos cristos que desejam seguir adiante com esse sistema de coisas sentem-se pes-soalmente ofendidos, como ocorreu com Jeroboo. Toda-via, no nossa inteno atacar quem quer que seja, mas sim revelar a verdade de Deus em amor (Ef 4:15). Jamais deveramos fazer ofensas pessoais, mas quando a verdade atinge algum que no a deseja, essa pessoa po-der sentir-se ofendida pela verdade (Mt 15:12; Gl 4:16). Se for este o caso, devemos deixar que o Senhor trate com ela.

    2) "Separar-se no demonstrar amor!"

    Alguns cristos acham que separar-se de outros cren-tes que tm "diferentes opinies" uma medida extrema demais e que isso no seria uma demonstrao de amor.

    Todavia a Bblia diz que a maior prova de amor que podemos demonstrar pelos filhos de Deus por meio de nossa obedincia pessoal a Deus. "Nisto conhe-cemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos" (1 Joo 5:2-3). A pergunta que fazemos : "O que mais importante, a obedincia a Deus, que uma demonstrao de nosso amor por Ele, ou continuar numa posio contrria B-blia por querermos mostrar que amamos as pessoas que esto ali?" Desobedecer as Escrituras no amor.

    Uma coisa fazer parte de uma organizao chamada "igreja" por ignorar a ordem de Deus dada nas Escritu-ras, e outra bem diferente permanecer ali quando sa-

  • A Ordem de Deus

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    bemos o que correto (Tiago 4:17). Jamais deveramos colocar o povo de Deus antes de Deus Deus quem deve vir primeiro. O Senhor Jesus disse: "Se me amais, guardai os meus mandamentos... aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse o que me ama" (Joo 14:15, 21).

    3) "Nossa igreja esta crescendo!"

    Outros reagem dizendo: "Mas nossa igreja est cres-cendo. Isto prova que Deus est abenoando. E se Deus est abenoando nossa igreja, ela no pode estar errada! Por que eu deveria me separar de algo que Deus est claramente abenoando?".

    O problema de definio. Quando as pessoas falam de crescimento elas geralmente se referem ao nmero de pessoas. A Bblia, porm, quando fala de crescimento, se refere ao desenvolvimento e maturidade espiritual no crente (1 Pedro 2:2; 3:18; Ef 4:15-16: Cl 1:10; 2:19; 1 Ts 3:12; 4:10; 2 Ts 1:3; At 9:22).

    Crescimento numrico no sinal da aprovao ou bno do Senhor. presuno achar que o aumento no nmero de pessoas seja uma bno vinda de Deus. Se fosse assim, ento a Igreja Catlica Romana seria a de-nominao que Deus aprova, pois ela se gloria de possuir o maior nmero de pessoas dentre todas as igrejas! As Testemunhas de Jeov se gloriam de um crescimento fenomenal em seus nmeros. Ser que isto significa que Deus os esteja abenoando?

    A Palavra de Deus diz que a nica classe de pessoas que ir crescer em nmeros na igreja nos ltimos dias a dos "homens maus e enganadores" e dos "muitos" que iro segui-los (2 Tm 3:13; 2 Pd 2:2). Ao nos vangloriar-

  • Bruce Anstey

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    mos de possuir um grande nmero de pessoas, podemos estar inadvertidamente nos identificando com o erro que as Escrituras nos alertam que viria a aumentar nos lti-mos dias. Embora no seja sempre o caso, entender isso pode nos impedir de sucumbirmos ao desejo de nos glo-riar nos nmeros. Est claro nas Escrituras que, medida que os dias forem se tornando mais sombrios, o nmero de crentes fiis e piedosos ser cada vez menor (2 Tm 1:15; Sl 12:1).

    Em um sistema de coisas mantido principalmente por doaes e ofertas da congregao, o nmero de pessoas importante para as organizaes eclesisticas. Mas Deus no est preocupad