A elipse como estratégia narrativa

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Artigo de Carlos Gerbase

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    A elipse como estratgia narrativa nos seriados de TV

    Carlos Gerbase1

    1. Ps-doutor em Cinema pela Universit Sorbonne Nouvelle Paris 3 e doutor em Comunicao Social pela PUCRS. professor titular no Curso de Produo Audiovisual e no Programa de Ps-Graduao em Comunicao da PUCRS. cineasta, com sete longas lanados. autor de quatro obras literrias de fico e de trs obras ensasticas na rea de cinema. E-mail: [email protected].

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    Resumo

    Palavras-chave

    Abstract

    Keywords

    Este ensaio examina o uso de elipses (buracos temporais na trama) como uma das principais estratgias narrativas dos roteiristas de seriados de TV contemporneos. Diversos exemplos so apresentados, de modo a caracterizar as elipses como um desafio cognitivo para o espectador, quebrando a linearidade e a excessiva redundncia das sries mais antigas (antes de 1990), que subestimavam a inteligncia do espectador.

    Televiso, seriados, elipse, narrativa, cinema.

    This paper examines the use of ellipses (holes in the temporal plot) as a key narrative strategy of the writers of contemporary TV series. Several examples are presented in order to characterize the ellipse as a cognitive challenge to the public, breaking the linearity and excessive redundancy of the older series (prior to 1990) that would underestimate the intelligence of the viewer.

    Television, TV series, ellipse, narrative, cinema.

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    simples, ns vamos fazer filmes e pass-los na televiso, isso tudo. Que a televiso v para o inferno.

    (Jonh Huston, apud ROSS, 2005.)

    A previso de John Huston, feita em 1950, quando a televiso tinha pouco mais de dez anos, no se concretizou, pelo menos enquanto ele estava vivo. O cineasta morreu em 1987, ano em que a TV norte-americana exibia a nona temporada de Dallas com grande sucesso. Criado pelo roteirista David Jacobs, que nunca escreveu para cinema, e produzido pela CBS, o seriado um tpico produto televisivo. Embora utilize a mesma linguagem audiovisual dos filmes, Dallas tem convenes narrativas muito mais prximas das radionovelas dos anos 40 e 50 ( bom lembrar que a CBS, a NBC e a ABC nasceram como empresas radiofnicas) do que das obras de Huston e seus colegas cineastas.

    Em 1990, contudo, os dois mundos comearam a se aproximar, graas colaborao do cineasta David Lynch (dos longas Veludo azul e O homem elefante) com o experiente roteirista de televiso Mark Frost (de Hill Street Blues). Twin Peaks quebrou muitas regras, apresentou muitas novidades estticas e abriu caminho para uma nova maneira de fazer fico na TV. Mesmo sendo uma histria estranha para boa parte dos espectadores, Twin Peaks, escudada pela boa recepo da crtica, teve excelente audincia nos EUA e foi vendida para muitos pases, inclusive o Brasil. De certo modo, David Lynch comeou a fazer o que Huston previu. No entanto, a fico televisiva contempornea de qualidade, mesmo absorvendo estratgias narrativas cinematogrficas, tem sua

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    prpria personalidade. O objetivo deste ensaio refletir como esta personalidade foi construda.

    Ataque ao reino da redundncia

    Entre as caractersticas dos bons seriados de TV contemporneos, que rivalizam ou at superam em qualidade longas-metragens feitos para o cinema, est o uso de elipses narrativas, o que pressupe a crena na inteligncia do espectador. A TV tradicionalmente tratava o espectador como um ser que transitava entre a infantilidade e a absoluta precariedade mental. Adultos com trs neurnios em funcionamento e acostumados com as tramas cinematogrficas no suportavam o grau de redundncia e obviedade das novelas, ou soap-operas, com seus enredos lineares eternamente repetidos em centenas de captulos.

    Adayr Tesche, ao estudar a fico seriada tradicional na TV, explica que

    O modo como a televiso manipula tanto no sentido tcnico de montagem, de elaborao do texto audiovisual, quanto no de operaes de produo de sentido que no poderiam, evidentemente, estar imunes s variveis ideolgicas est marcado pela reiterao, pelo esforo de legibilidade, plasticidade, auto-referencialidade e permeabilidade no tecido social. (TESCHE, 2006, p. 76)

    O foco principal de Tesche a telenovela, mas a grande maioria das sries e seriados pr-anos 1980 seguem, a nosso ver, as mesmas regras. O termo legibilidade fundamental. O que facilmente lido e compreendido deve ser perseguido; o que corre o risco de gerar um esforo grande de interpretao deve ser evitado. Tesche complementa:

    uma estruturao temporal regulada da fico televisual que prov, efetivamente, o marco ordenado, slido e seguro sobre o qual as frmulas seriais desdobram o que dizem e, mais do que isso, mostram sua prpria temporalidade e a oferecem experincia do espectador. (TESCHE, 2006, p. 83)

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    Havia excees para tal segurana narrativa? claro, mas estas serviam apenas para confirmar a regra. Eis que, a partir de meados da dcada de 1980, num processo lento e gradual, o cenrio foi mudando, primeiro nos Estados Unidos e na Europa, e depois no resto do mundo, graas ao surgimento de histrias seriadas mais curtas, normalmente divididas em temporadas. O nmero tradicional nos Estados Unidos de 13 episdios por temporada, mas esta conveno foi se diluindo com o passar do tempo e a entrada de outros pases no mercado.

    Muitas das regras da seriao audiovisual que foram estabelecidas pelo cinema no comeo do sculo vinte (com The Perils of Pauline, EUA, 1914; e Les Vampires, Frana, 1925), absorvidas pelas radionovelas (a partir de Painted dreams, EUA, 1930) e depois levadas para a TV (comeando com Faraway Hill, EUA, 1946), ainda esto em vigor. Outras regras, contudo, foram criadas, e as antigas foram atualizadas. O gancho (cliffhanger), por exemplo, ainda um recurso extensamente usado, mas hoje ele pode ser muito mais sofisticado e exigir maior capacidade interpretativa do espectador.

    importante tentar estabelecer, logo no incio desta reflexo, a fronteira entre sries e seriados. Esses conceitos ainda esto em construo e podem originar mal entendidos. No mbito desse ensaio, seriado um produto audiovisual baseado em uma histria longa, que contada ao longo de vrios episdios que se sucedem em ordem pr-estabelecida. praticamente impossvel acompanhar a narrativa se o espectador no estiver presente desde o primeiro episdio. Seria como entrar num filme de longa-metragem tradicional depois de meia-hora de projeo. Alguns exemplos de seriados bem sucedidos: Twin Peaks, Homeland, Breaking Bad, House of Cards, Mad Men e Downton Abbey.

    J uma srie constituda por pequenas histrias com comeo, meio e fim, vividas por um grupo de personagens fixos, normalmente compartilhando um mesmo espao de atuao (um edifcio, uma cidade, um escritrio). O espectador pode acompanhar qualquer episdio, em qualquer ordem, embora, claro, o objetivo seja torn-lo fiel srie como um todo. As sries tambm so divididas em temporadas. Alguns exemplos de sries bem sucedidas: Friends, Sex & The City, Office e The Big-Bang Theory. Esses ttulos de sries e seriados, pinados entre centenas de obras lanadas, atendem a

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    dois critrios: so, inegavelmente, bastante conhecidas, e foram integralmente assistidas pelo autor deste ensaio. A partir desse ponto, falaremos apenas de seriados.

    Elipses como estratgia narrativa e dramtica

    A elipse um buraco temporal na trama. Acompanhamos a ao at determinado momento e, no plano seguinte, nos deslocamos para o futuro. Esse buraco pode ter cinco minutos, uma hora, um dia, alguns meses, alguns anos, alguns sculos, ou at alguns milnios. Ao contrrio de um flash-forward, que, como o prprio nome diz, nos proporciona uma breve anteviso (um flash) do futuro, aps a qual voltamos para o presente narrativo, a elipse nos leva ao futuro e no permite um retorno to rpido.

    Regra geral, a histria segue adiante, ficando o buraco para trs. Cabe ao espectador presumir o que aconteceu no tempo suprimido e fazer as relaes necessrias entre o antes e o depois para que a elipse seja bem sucedida, tanto narrativa quanto dramaticamente. O cinema usa as elipses desde a sua inveno, mas elas se tornaram mais comuns e mais radicais a partir da dcada de 1940, que marca a mudana do cinema clssico para o cinema moderno. Aqui vo dois exemplos de elipses cinematogrficas muito bem sucedidas.

    Em 2001, Uma Odissia no Espao (2001, A Space Odyssey, 1968), de Stanley Kubrick, um animal que est, evolutivamente falando, entre um macaco e um homindeo, usa um osso para bater em outros ossos, destruindo-os. Vamos supor que o animal que usa o osso como ferramenta seja um dos primeiros australopitecos, o que situa a sua ao h aproximadamente quatro milhes de anos, embora o filme no fornea qualquer data precisa. O ser joga o osso para cima e acompanhamos sua trajetria ascendente no cu azul, em cmera lenta. De repente, com a mgica instantaneidade do corte cinematogrfico, vemos uma nave espacial em movimento sobre um fundo negro pontuado por estrelas.

    Como o ttulo indica, estamos em 2001. A elipse, portanto, cobre um perodo que inicia com a descoberta do uso de ferramentas pela linhagem do homo sapiens, at a representao de uma ferramenta que, no imaginrio do final da dcada de 60 (o filme de 1968), constitua o mximo de sofisticao tecnolgica construda por

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    essa mesma linhagem num futuro no muito distante. Bela elipse, que cumpre trs funes. A primeira narrativa, ao ligar eventos muito distantes no tempo, mas muito prximos conceitualmente. A segunda dramtica, permitindo uma identificao emocional do espectador com a espcie humana como um todo. E a terceira esttica, criando um momento de pura beleza flmica, logo depois acentuado pelo uso da valsa Danbio Azul, de Johann Strauss.

    O segundo exemplo vem do filme dipo rei (Edipo Re, 1967), de Pier Paolo Pasolini. dipo j matou um desconhecido numa encruzilhada, j derrotou a esfinge, j foi empossado como rei de Tebas, j casou com Jocasta e est, neste momento, em sua noite de npcias, indo para a cama com a rainha (que, claro, no sabe ser sua me). dipo e Jocasta se olham, com evidente desejo sexual, e deitam-se. Vemos a ao a uma certa distncia, pudicamente, mas bvio para todos os espectadores o que est acontecendo: um ato, mesmo que, involuntrio de incesto.

    Sem qualquer transio, com a mesma instantaneidade que encontramos no exemplo anterior, vemos agora um cadver em decomposio, representado com grande realismo. Esta elipse, embora seja muito menor na durao temporal, exige do espectador maior esforo interpretativo: a relao entre o sexo e a morte ficar mais evidente quando a trama original de Sfocles desdobrar-se nas prximas cenas. Com dados posteriores, principalmente a constatao de que dipo e Jocasta tm quatro filhos, a mais velha uma pr-adolescente, possvel dizer que a elipse de dez anos, ou perto disso.

    Mais uma vez, podemos verificar a trplice funo da elipse. Na narrativa, liga o sexo incestuoso com a peste que assola a cidade de Tebas, embora nem o casal, nem a populao, desconfiem disso. Enquanto ferramenta dramtica, provoca uma radical mudana emocional no espectador, que pula de uma cena romntica de carter sexual para uma cena de morte, tragdia e podrido. Esteticamente falando, como se, num passeio no Louvre, passssemos imediatamente de um quadro de Rafael para um de Francis Bacon.

    Ganchos em seriados televisivos

    Quando falamos em seriados, no h como desconsiderar suas caractersticas prprias, que determinam sua identidade como obra

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    audiovisual. A estrutura narrativa precisa ser analisada a partir das fragmentaes normalmente apresentadas ao espectador, que geram pausas em pelo menos trs diferentes nveis: entre os blocos de um mesmo episdio, divididos pelos intervalos comerciais na TV; entre os episdios de uma mesma temporada, normalmente separados por uma semana; e entre as temporadas, normalmente separadas por alguns meses.

    Tudo isso cai por terra, claro, se o espectador estiver com todos os episdios de todas as temporadas armazenados em seu computador e tiver, portanto, o poder de determinar seu prprio fluxo de consumo. Por outro lado, a obra em si continuar obedecendo s convenes criadas para o espectador mais comum, que acompanha ao vivo na TV, ou que compra as temporadas quando estas so lanadas em DVD.

    O que importa aqui refletir como as elipses se relacionam com a fragmentao tpica dos seriados. Antes de falarmos de elipses, contudo, somos obrigados a falar de ganchos. Na j citada The Perils of Pauline, surgiu uma das convenes mais tradicionais dos seriados: o perigo de morte de um personagem importante nos instantes finais do episdio.

    A ao suspensa no exato momento em que o espectador teme pela sorte do personagem, que, por exemplo, est amarrado aos trilhos de uma ferrovia e percebe uma grande locomotiva aproximando-se a toda velocidade. A soluo narrativa (com o inevitvel salvamento do personagem), acontece no comeo do prximo episdio, e o espectador, nesse meio tempo, fica enganchado na histria, aflito para saber como a peripcia ser resolvida.

    O teatro e a literatura tambm podem utilizar esse recurso, e Jonathan Culler, no mbito da teoria literria, fala em epistemofilia, ou o desejo de saber o final da histria. Entretanto os seriados de TV criaram uma estrutura muito mais rgida, que virou ferramenta narrativa quase onipresente nos finais dos episdios. O perigo de morte, claro, pode ser substitudo por alguma outra situao que gere grande suspense. O importante deixar o espectador enganchado.

    Ganchos e elipses

    A relao entre gancho e elipse no muito simples. A princpio, numa cena de ao suspensa em seu momento de mxima tenso (o

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    termo suspense vem exatamente deste procedimento narrativo de suspender), no h uma elipse, pois a histria, no episdio seguinte, segue exatamente do ponto em que foi interrompida. A pausa na fruio do espetculo, e no na trama propriamente dita.

    No entanto, em outros tipos de gancho, mais sofisticados, pode haver a interveno de uma elipse. Vamos usar como exemplo o final do ltimo episdio da terceira temporada do seriado ingls Downton Abbey. Um dos personagens principais, Matthew Crawley, que est extremamente feliz por ter se tornado pai, sofre um grave acidente automobilstico, e vemos seu corpo imvel, estendido na estrada, o rosto sangrando, os olhos abertos. Est morto, sem sombra de dvida.

    No um gancho tradicional. A ao, pelo menos em relao ao personagem, foi apresentada de forma completa. Os ganchos para o espectador so os seguintes: (1) como os demais personagens, em especial sua esposa e sua me, vo reagir emocionalmente tragdia?; e (2) que consequncias a morte vai trazer para as relaes econmicas e sociais da grande propriedade que d nome srie? Como se trata do final de uma temporada, o gancho precisa ser poderoso, e a eliminao de um personagem principal cria ao mesmo tempo uma surpresa no presente ( uma peripcia imprevisvel) e uma grande expectativa para o futuro, que, no entanto, s ser oferecido no comeo da prxima temporada, o que normalmente implica numa espera de alguns meses para o espectador.

    No incio da quarta temporada, o espectador, que provavelmente esperava a tradicional sucesso de cenas de reconhecimento da tragdia (Seu marido morreu, Seu filho morreu, etc.), seguidas pela narrativa do enterro, surpreendido com uma sequncia relativamente desdramatizada envolvendo a famlia que habita Downton Abbey. As mulheres esto de luto, vestem preto, mas em poucos minutos fica evidente que o enterro aconteceu h algum tempo e a vida de todos, mesmo que marcadas pelo evento terrvel, seguiu em frente.

    O buraco cronolgico entre o rosto do personagem, que acaba de morrer no fim da terceira temporada, e a primeira cena do primeiro episdio da temporada seguinte, em que a morte comentada, mas no representada, uma elipse criada pelos roteiristas, que habilmente complementa o efeito do gancho entre as temporadas.

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    Numa trama novelesca televisiva tradicional, seria quase impensvel ignorar as possibilidades dramticas (e sensacionalistas) proporcionadas pela elaborao de cenas que representassem os diversos reconhecimentos da tragdia, seguidos pelo velrio e pelo enterro. A elipse, assim, vai de encontro expectativa do espectador e, de certo modo, contraria a conveno. Esta uma das diferenas mais importantes dos seriados de TV contemporneos: embora estejam sujeitos aos procedimentos usais, no esto escravizados por eles.

    Eliminando tempos mortos

    A elipse tambm pode ser definida como uma maneira de evitar tempos mortos e manter um bom ritmo na histria. Se no h nada de importante acontecendo do ponto de vista narrativo, para que perder tempo contando? No caso da elipse relatada em Downton Abbey, o espectador poupado de cenas desnecessrias (embora potencialmente dramticas) e vai logo ao que interessa: o que a morte traz de novidades para a trama?

    Em Homeland vamos encontrar uma elipse semelhante. Sabemos, no final da segunda temporada, que um dos personagens principais, Nicholas Brody, um ex-fuzileiro que pode ser (ou no) um terrorista perigoso, ir concorrer a uma vaga de deputado no Congresso norte-americano, apoiado pelo atual vice-presidente dos EUA. No comeo da terceira temporada no h qualquer meno ao processo eleitoral. Brody j est em seu gabinete no Congresso, e a sua esposa faz grande esforo para apoi-lo na vida pblica. O espectador, que talvez estivesse esperando um relato das eleies, que eventualmente proporcionariam um gancho tradicional (ser que Brody receber o nmero de votos necessrios?), convidado a simplesmente imaginar o que aconteceu nos meses omitidos (o nmero de votos necessrios foi obtido).

    Uma elipse desse tipo, ao solicitar a imaginao criativa do espectador, faz com que ele se sinta inteligente, o que uma estratgia eficaz para fideliz-lo trama. O perigo passa a ser uma eventual dificuldade do espectador para preencher o buraco temporal. Nesse caso, em vez de se sentir inteligente o espectador vai se sentir desorientado e pode se afastar da trama. o mesmo medo que acompanha os roteiristas que gostam de usar muitos flash-backs e flash-forwards em seus enredos. Se

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    o espectador no compreender a manipulao do tempo, pode retaliar desistindo do espetculo.

    Uma das formas de minimizar esse perigo nas elipses explicitar o perodo do buraco temporal. No mesmo seriado, no ltimo episdio da terceira temporada, assistimos morte de Brody, sabemos que a personagem principal da trama (Carrie Mathison) est grvida dele e a gestao j tem cinco meses. Um letreiro com as palavras Quatro meses depois aparece para que o espectador compreenda, sem sombra de dvida, que o momento do nascimento se aproxima. Um signo bem claro, a barriga pronunciada de Carrie, com certeza no foi considerado suficiente pelos roteiristas (ou pelos produtores). Em outras palavras: a elipse no poderia comprometer o gancho.

    Num longa-metragem para cinema, no so raros os cartes que explicitam as elipses. Mas eles no so obrigatrios. As elipses citadas em 2001, Uma Odissia no Espao e dipo Rei no utilizam esse recurso. De modo geral, o cinema tem o direito de ser mais misterioso e menos redundante que a TV.

    Adaptando os tempos narrativos aos intervalos de exibio

    Um fenmeno interessante, que surgiu na srie I Love Lucy (EUA, 1951-1960), a tentativa de adequar o universo diegtico (ficcional) da trama com a vida real do elenco. Produzido durante nove anos, a trama incorporou a gravidez da atriz principal, Lucille Ball. Assim, o que seria um transtorno (esconder a barriga e o nascimento) acabou se transformando num trunfo.

    Alguns seriados contemporneos, especialmente os que atingem um nmero considervel de temporadas, tambm trabalham com essa relao entre o tempo ficcional e o real. Personagens podem, ao longo dos anos/temporadas, adquirir caractersticas inexistentes no comeo, ou at sofrer transformaes em seu carter.

    evidente que a Peggy Olsen do comeo do seriado Mad Men, uma secretria ingnua e indefesa, muito diferente da Peggy da quinta temporada (cinco anos depois), uma publicitria de sucesso, independente, com ideias feministas.

    Se essa estratgia for seguida, os intervalos entre as temporadas (quando assistidas na TV), normalmente de oito meses para seriados de 13 episdios, podem funcionar como elipses de oito

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    meses na narrativa. uma alternativa sempre sedutora para os roteiristas.

    Peripcias e elipses

    Aristteles, em sua Potica (1991), ensina que Os principais meios por que a tragdia move os nimos tambm fazem parte do mito; refiro-me a peripcias e reconhecimentos. (p. 253). E, pouco depois, conceitua: Peripcia a mutao dos sucessos no contrrio. (p. 258)

    Caso reste alguma dvida ao leitor, o exemplo dado absolutamente claro: Assim, no dipo, o mensageiro que viera no propsito de tranquilizar o rei e de libert-lo do terror que sentia nas suas relaes com a me, descobrindo quem ele era, causou o efeito contrrio. (ARISTTELES, 1991, p. 258)

    Embora a narrativa tenha uma longa e rica histria depois das tragdias gregas, o conceito continua vlido. A mutao de sucessos, isto , a mudana brusca na expectativa do leitor/espectador em relao a determinado episdio, uma das mais poderosas estratgias dos narradores contemporneos, e pode ser facilmente verificada nos seriados de TV de qualidade.

    interessante notar que Aristteles j considerava a peripcia (ao lado do reconhecimento) como um elemento capaz de separar uma ao simples de uma complexa:

    Chamo ao simples aquela que, sendo una e coerente, (...), efetua a mutao de fortuna, sem peripcia ou reconhecimento; ao complexa, denomino aquela em que a mudana se faz pelo reconhecimento ou pela peripcia, ou por ambos conjuntamente. (ARISTTELES, 1991, p. 258)

    Manipulaes do tempo narrativo (incluindo elipses) e um cuidadoso gerenciamento das informaes disponveis para cada personagem e para o espectador cumprem um papel muito importante na construo de peripcias. Vamos usar o exemplo de Aristteles. Na tragdia de Sfocles, a ao propriamente dita linear, dura um dia e acontece em frente ao palcio de Tebas, o que considerado um ponto positivo por Aristteles (h unidade de tempo e espao). Parece no haver elipses.

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    medida em que a trama avana, contudo, percebemos que o passado vai se intrometendo no presente, com fora cada vez maior, e essa intromisso no linear. fragmentada e cheia de elipses. necessrio notar que estas elipses podem adquirir diferentes contornos de acordo com a sua funo narrativa:

    (1) elipse objetiva ou de tempo um buraco temporal na narrativa acompanhada pelo espectador; essa elipse pode ser facilmente descrita na prpria estrutura audiovisual (conforme fizemos nos exemplos de 2001, Uma Odissia no Espao e no dipo Rei de Pasolini;

    (2) elipse subjetiva ou de conhecimento uma lacuna importante no conhecimento de determinado personagem sobre a narrativa.

    Em O roteiro de cinema, Michel Chion adota o termo paralipse como um caso particular de elipse, que j fora descrito em mbito da teoria da literatura por Grard Genette. Para Chion, a paralipse acontece quando a narrativa feita do ponto de vista de uma das personagens ou de um ponto de vista onisciente, e algo de capital escondido do pblico (CHION, 1989, p. 218). Preferimos o termo elipse de conhecimento, por ser auto-explicativo.

    David Bordwell, em La narracin em el cine de ficcin, confirma essa relao entre os dois tipos de elipse: Si el perodo omitido contiene informacin significativa, la elipsis puede crear una narracin supresiva que configure nuestra actividad de formacin de hiptesis. (BORDWELL, 1996. p. 83)2.

    Uma elipse de tempo pode criar inmeras elipses de conhecimento (e, em decorrncia disso, a gerao de hipteses pelo espectador). A primeira elipse de conhecimento explcita em dipo Rei declarada quando Tirsias volta do orculo, no comeo da trama, e sustenta que a causa da peste na cidade a ausncia de punio para o assassino do rei Laio, que antecedeu dipo no trono. Abra-se um buraco imenso na histria da morte de Laio ao presente (a peste), passando pela prpria coroao de dipo como soberano.

    2. Se o perodo omitido contm informaes, pode criar supresses na narrativa que configuram nossa

    atividade de formao de hipteses. (Traduo nossa)

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    A genial arquitetura da trama de Sfocles, muitas vezes comparada dos bons romances policiais, est baseada no preenchimento lgico e cronolgico desta e de outras elipses. dipo age como um detetive, procurando pistas para uma verdade que lhe ser trgica, mas de que no pode escapar.

    Para Laio e Jocasta, por exemplo, h uma grande elipse de conhecimento entre a entrega do filho de ambos, ainda um beb, para um pastor, encarregado de abandon-lo no monte Citron para que morra, e o encontro trgico com um homem que vem do estrangeiro. Laio no o reconhece antes de ser assassinado na encruzilhada, mas acompanhamos cada um dos passos de Jocasta no rumo do reconhecimento de que dipo, seu marido, tambm seu filho.

    Estas elipses de conhecimento acontecem graas a uma grande elipse de tempo planejada por Sfocles. dipo Rei tem um ponto narrativo inicial cuidadosamente escolhido: a populao exige que o rei faa alguma coisa em relao peste que assola Tebas. Esse presente, rapidamente contaminado pelo passado, est separado por muitos anos do ponto inicial do mito: uma maldio proferida contra o jovem Laio, que seduz um adolescente quanto ainda era apenas o filho do rei Lbdaco.

    Filmes e seriados contemporneos, por sua natureza, no seguem o princpio da unidade de ao e de espao, to til no teatro da Grcia clssica. Assim, as elipses contemporneas citadas no so construdas pelos dilogos (que apontam para eventos pretritos), e sim encenadas no presente narrativo. No dipo Rei de Pasolini, o roteiro colocou em ordem cronolgica o que, na pea, eram eventos recapitulados aos poucos, sem uma ordem rgida, a partir de um procedimento investigativo que vai juntando peas de um quebra-cabea mitolgico.

    H, em algumas tramas literrias e audiovisuais, um evidente jogo de esconde-esconde proposto ao leitor/espectador para obter determinados efeitos. essencial, para o efeito trgico de dipo Rei, que este v descobrindo aos poucos quem . Jocasta com certeza sabe antes, e o prprio leitor/espectador tem condies de anteceder-se ao personagem principal, sabendo ou no dos detalhes do mito que deu origem pea. As elipses de conhecimento, sempre subjetivas, so a base do artesanato narrativo de Sfocles, rumo ao grande e catrtico reconhecimento final.

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    Elipses na elaborao narrativa de Homeland

    Elipses de conhecimento, peripcias e reconhecimentos tambm so a base do seriado Homeland. E no coincidncia o fato de que h uma grande elipse de tempo na trama. Nicholas Brody, fuzileiro naval, casado, dois filhos, enviado para o Iraque. Capturado pelo inimigo, fica um longo tempo preso, at ser libertado pelas tropas norte-americanas. De volta ptria, recebido como heri e torna-se um joguete poltico nas mos do vice-presidente dos Estados Unidos.

    Carrie Mathison, agente da CIA, acha que talvez ele no seja um heri de volta ao lar, e sim um terrorista recrutado para uma ao de grandes propores em territrio americano depois de sofrer uma espcie de lavagem cerebral. Ela no tem certeza e precisa investigar, colocando microfones e cmeras na casa de Brody e seguindo todos os seus passos.

    A elipse objetiva, de tempo (explicitada logo no incio da trama) de oito anos. Ela corresponde elipse subjetiva de todos os personagens da trama, com a exceo, claro, do prprio Nicholas Brody. Assim, o espectador passa a ser parceiro dos agentes da CIA (em especial de Carrie) em sua luta para desvendar o verdadeiro carter do soldado que voltou ao lar, preenchendo o buraco temporal.

    Mais uma vez, o ponto de partida da trama cuidadosamente escolhido. Homeland no comea com a ida de Brody para o Iraque, nem com a sua priso, e sim com a sua libertao. Poderamos resumir assim os pontos de contato entre as peripcias das duas obras:

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    H, no entanto, uma grande diferena nas concluses das duas tramas. dipo caminha inexoravelmente para sua prpria destruio (ao saber o que realmente fez), enquanto o destino de Brody tem mais peripcias. Ao longo de 36 episdios, divididos em trs temporadas, ele balana entre a confirmao de sua converso ao terrorismo e uma possvel reconverso aos seus ideais patriticos. Acaba transformando-se num clssico agente-duplo, cuja fidelidade sempre dbia.

    HOMELANDDIPO REIOrigem do personagem dipo, natural de Corinto,

    derrota a esnge, vira heroi e rei de Tebas

    Brody, fuzileiro capturado no Ira-que, resgatado e vira heroi em Washington

    AmbienteA peste assola TebasO terrorismo assola os EUA

    Ponto de ataque da trama

    Orculo diz que dipo no resolveu o assassinato de Laio

    Carrie diz que um prisioneiro foi recrutado pelo terror

    Consequncia do ponto de ataque

    dipo talvez no seja um bom rei (e sim o causador da peste)

    Brody talvez no seja um verda-deiro heri (e sim um terrorista)

    Surge uma elipse de tempo

    Entre o nascimento de dipo e sua coroao (por volta de 20 anos)

    Entre a priso de Brody e sua libertao (8 anos)

    Surgem elipses de conhe-cimento

    Para o prprio dipo, para Jocasta, para Creonte e para o espectador

    Para a famlia de Brody (esposa, lha e lho), para a CIA, para o espectador

    Surge uma investigaoConduzida pelo prprio dipoConduzida por Carrie Mathison (e CIA)

    Reconhecimentosdipo, demais personagens e o espectador reconhecem que dipo matou seu pai e casou com sua me

    Carrie, CIA e o espectador recon-hecem que Brody realmente planejava uma ao terrorista de grandes propores

    Consequncia para o personagem

    Automutilao e exlioNo nal da terceira temporada, morte

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    De qualquer forma, dentro da grande elipse temporal que nascem as mltiplas elipses de conhecimento. Cabe ao espectador preencher as lacunas ao lado dos investigadores e sofrer com eles nos momentos de reconhecimento.

    O fato de Carrie e Brody se apaixonarem diminui a distncia entre investigador e investigado. Cria-se uma espcie de dipo duplo. Carrie tenta transformar o terrorista num agente do bem, mas permanece sempre em dvida sobre suas reais intenes. Brody prova que um assassino a servio dos EUA e morre no fim da terceira temporada em consequncia de seu ato herico. Mas antes engravida Carrie e abre caminho para uma quarta temporada.

    Finalmente, necessrio lembrar que dipo Rei tambm tem sequncia, nas peas Antgona e dipo em Colono. A quarta temporada de Homeland talvez permita a continuao de nossa reflexo sobre as elipses.

    Consideraes finais

    O desprezo de muitos tericos e crtico de cinema pelas sries e seriados de televiso no tm mais qualquer razo de existir. evidente que obras atualmente produzidas para a TV podem ser at melhores que muitos filmes. As razes desta sbita mudana no panorama esttico do sculo 21 so muitas, e neste ensaio apontamos apenas uma, mas que julgamos essencial: o uso de elipses.

    Num meio em que a redundncia e a obviedade davam as cartas, a elipse surgiu como uma estratgia inovadora e capaz de atrair o espectador do cinema para a frente da TV (ou do home-theater). Ao usar buracos temporais e de conhecimento na histria, os roteiristas de alguns seriados contemporneos apelam para a inteligncia e para a capacidade interpretativa do espectador. O que era simples pode ficar complexo, e o que era bvio pode ficar mais difcil de entender.

    Contrariando a linearidade das soap-operas, certos seriados tambm usam as elipses para dar ritmo edio e aproximar sua esttica dos bons filmes de longa-metragem. Com temticas variadas e ritmo de produo em alta no mundo todo, esse novo paradigma est cada vez mais forte nos anos 2010 e pode, quem sabe num futuro bem prximo, desafiar o modelo de fico hegemnico proposto por Hollywood desde a dcada de 1920 para a indstria audiovisual.

    A elipse como estratgia narrativa nos seriados de TV | Carlos Gerbase

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    Referncias

    ARISTTELES. Potica. So Paulo: Nova Cultural, 1991.

    BERCIANO, Rosa lvarez. La comedia enlatada: de Lucille Ball a Los Simpson. Barcelona: Gredisa, 1999.

    BORDWELL, David. La narracin em el cine de ficcin. Barcelona: Paids, 1996.

    CARLOS, Cssio Starling. Em tempo real: Lost, 24 horas, Sex and the city e o impacto das novas sries de TV. So Paulo: Alameda, 2006.

    CHION, Michel. O roteiro de cinema. So Paulo: Martins Fontes, 1989.

    CULLER, Jonathan. Teoria Literria: uma introduo. So Paulo: Becca, 2001.

    FURQUIM, Fernanda. Sitcom: definio e histria. Porto Alegre: FCF Editora, 1999.

    MATTOS, Srgio. Histria da televiso brasileira: uma viso econmica, social e poltica. Petrpolis: Vozes, 2002.

    PALLOTTINI, Renata. Dramaturgia de televiso. So Paulo: Moderna, 1998.

    ROSS, Lillian. Filme. So Paulo: Companhia das Letras 2005.

    SOUZA, Jos Carlos Aronchi. Gneros e formatos na televiso brasileira. So Paulo: Summus Editorial, 2004.

    TESCHE, Adayr. Gnero e regime escpico na fico seriada televisual. In: DUARTE, Elizabeth B. & DE CASTRO, Maria L.D. Televiso: entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006

    THOMPSOM, Robert. Televisions second golden age: from

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    Hill Street Blues to ER. New York: Continuum, 1996

    WOLTON, Dominique. Elogio do grande pblico: uma teoria crtica da televiso. So Paulo: tica, 1996

    Filmografia (ordem cronolgica de produo)

    dipo Rei (Edipo Re), Itlia, 1967. Direo: Pier Paolo Paolini.

    2001, Uma Odissia no Espao (2001, A Space Odyssey), EUA, 1969. Direo: Stanley Kubrick.

    O homem elefante (The Elephant Man), EUA, 1980. Direo: David Lynch.

    Veludo azul (Blue Velvet), EUA, 1986. Direo: David Lynch.

    Sries e seriados (em ordem cronolgica de produo)

    The Perils of Pauline, EUA, 1914. Criao: George Seitz e Charles Goddard.

    Les Vampires, Frana, 1925. Criao: Louis Feuillade.

    Painted Dreams, EUA, 1930-1943. Criao: Irna Phillips.

    Faraway Hill, EUA, 1946. Criao: David Lewis.

    A elipse como estratgia narrativa nos seriados de TV | Carlos Gerbase

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    I love Lucy, EUA, 1951-1960. Criao: Lucille Ball e Desi Arnaz.

    Dallas, EUA, 1978-1991. Criao: David Jacobs.

    Hill Street Blues, EUA, 1981-1987. Criao: Michael Kozoll e Steven Bochco.

    Twin Peaks, EUA, 1990-1991. Criao: David Lynch e Mark Frost.

    Friends, EUA, 1994-2004. Criao: David Crane e Marta Kauffman.

    Sex & The City, EUA, 1998-2004. Criao: Darren Star.

    The Office, Inglaterra, 2001. Criao: Rick Gervais e Stephen Merchant.

    Mad Men, EUA, 2007-2014. Criao: Matthew Weiner.

    The Big-Bang Theory, EUA, 2007-2013. Criao: Chuck Lorre e Bill Prady.

    Breaking Bad, EUA, 2008-2013. Criao: Vince Gilligan.

    Downton Abbey, Inglaterra, 2010-2014. Criao: Jullian Fellowes.

    Homeland, EUA, 2012-2014. Criao? Howard Gordon e Alex Gansa.

    House of ards, EUA, 2013-2014. Criao: Beau Willimon.

    Artigo recebido em maro e aprovado em junho de 2014.

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